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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO AUTOR SUMARA FARIA CHAVES ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO

“LATO SENSU”

ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO

AUTOR

SUMARA FARIA CHAVES

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO

“LATO SENSU”

ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Sumara Faria Chaves

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, pois ele é meu alicerce. Posteriormente aos meus pais pelo incentivo, em especial minha mãe, minha irmã Soraia e o meu pai Derval que nunca me deixam desistir.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus e aos meus pais que são a minha base, sem eles eu nada seria.

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RESUMO

O assédio moral está presente no ambiente de trabalho e é um tema muito discutido em todo o mundo. Assédio Moral é toda situação constragedora e humilhatória que o trabalhador é exposto, é um ato atentório contra a dignidade da pessoa humana que reflete diretamente na vida do trabalhador e acarreta consequências graves para o trabalhador e para sociedade como um todo. O assédio moral pode ser praticado de forma horizontal, vertical ou mista e atinge a saúde física e mental do trabalhador, causando um efeito devastador na sua vida e na vida de todos que o cercam. Comprovada a prática do assédio moral pelo empregador, o mesmo será enquadrado no artigo 483 da CLT e suas alíneas. A legislação autoriza o empregado a pleitear judicialmente, a rescisão indireta do contrato de trabalho, ficando o empregador obrigado a arcar com todas as verbas rescisórias pertinentes, bem como indenização por danos morais.

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METODOLOGIA

Esta monografia é o resultado de uma pesquisa aprofundada e explicativa

a respeito de um problema real e continuo em que muitos trabalhadores brasileiros

são expostos anualmente, e trata portanto de um tema muito debatido no Brasil e em

todo mundo, visto que é causa de adoecimento físico e psicológico do trabalhador.

O foco desta obra não foi somente sobre o que é assédio moral, mas

apresentar a forma de identificação, distinção e combate a esta prática que está

presente na vida de vários trabalhadores brasileiros.

Como base de estudo foi utilizado livros, cartilhas, material da internet,

citações diretas e indiretas de diversos autores, revistas jurídicas, artigos de autores,

material de palestra.

E como complemento ao estudo apresentado foi utilizado jurisprudências,

publicações e outros periódicos especializados, como na Webgrafia, além da

legislação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................08

CAPÍTULO I

O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.............................................10

1.1 - O ASSÉDIO MORAL...........................................................................................11

1.2 - CONCEITOS.......................................................................................................12

CAPÍTULO II

FORMAS DE ASSÉDIO MORAL.................................................................................16 2.1 - AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL..................................................19

CAPÍTULO III

RESPONSABILIDADE CIVIL ....................................................................................23

3.1 – RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DO TRABALHO...........................25

CAPÍTULO IV

ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO........................................................................29

CONCLUSÃO............................................................................................................35

BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................37

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INTRODUÇÃO

Este trabalho monográfico aborda a proteção ao bem da vida, o direito que

todo cidadão trabalhador precisa ter para uma vida digna, com a manutenção dos

direitos da personalidade e ainda aborda como o princípio da dignidade da pessoa

humana pode influenciar na defesa do assédio moral no ambiente de trabalho.

O presente estudo vai além do conceito do assédio moral, está retratado

como ocorre, quem pratica, os efeitos dessa violência moral sofrida no ambiente de

trabalho, em destaque as consequências não só no trabalhador vítima como também

na sociedade, e ainda os meios jurídicos apresentados em nosso ordenamento

Jurídico.

O primeiro tema retratado nesta obra são os Direitos Fundamentais e os

Princípios fundamentais do Direito do Trabalho, encontrados na Constituição Federal

de 1988, entre vários artigos um se destaca, o art. 7º, XXII, CRFB/88, dispõe sobre os

direitos dos trabalhadores rurais e urbanos – “redução dos riscos inerentes ao

trabalho, por meio de normas de saúde higiene e segurança do trabalho”.

É um verdadeiro aprofundamento no conceito do instituto do assédio moral

seus elementos caracterizadores, as consequências resultantes do assédio, sendo

elas a psíquica, a moral e a profissional. Como está sendo trabalhada a proteção do

trabalhador não só o aspecto material, como a simples garantia do emprego ou

melhores condições físicas e econômicas de trabalho, mas sim a proteção em todos

os aspectos, inclusive o moral.

No presente trabalho foi esmiuçado como assédio moral pode ser

praticado, o que é considerado elemento caracterizador de assédio, quais são os

sujeitos passiveis de praticar ou de sofrer o assédio, sendo conhecidos como sujeito

ativo e passivo do assédio moral no ambiente de trabalho.

O assédio moral no ambiente de trabalho é sem dúvida uma das principais

causas de dano moral na esfera do Direito do Trabalho, e ainda é um dos fatores que

levam ao adoecimento de milhares de trabalhadores em todo o mundo, atingindo

diretamente ao órgão da Previdência Social, por afetar diretamente a saúde física e

mental do trabalhador.

Há vários anos são realizadas algumas ações para reprimir o assédio

moral, entretanto ainda são insuficientes. Como a relação entre empregado e

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empregador é uma relação desigual, onde o empregado é a parte hipossuficiente

geralmente eles não denunciam, o que faz com que haja o agravamento do problema

se estendendo e fazendo com que outras pessoas sofram o mesmo mal.

Este estudo ainda desmembra como o Poder Judiciário vem tratando o

tema, como é a punição quanto ao valor quantitativo, quais são as formas de

punições e porque precisa ser tratado severamente quem atinge a dignidade

coagindo moralmente o trabalhador.

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CAPÍTULO I

PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O ASSÉDIO MORAL

A Constituição Federal de 1988 traz como fundamentos da República

Federativa do Brasil e consequentemente, do Estado Democrático de Direito, a

dignidade da pessoa humana.

É o que dispõe o art. 1º, III da Constituição Federal:

“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel

dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em

Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III – a dignidade da pessoa humana.”

A partir da Constituição Federal de 1988 os direitos fundamentais tiveram

um avanço significativo, passaram a ser tratados como centro da proteção da

dignidade da pessoa humana.

O "Princípio da dignidade da pessoa humana" é considerado em todo o

mundo como um valor moral e espiritual inerente à pessoa, ou seja, todo ser humano

é dotado desse preceito, e em nosso ordenamento jurídico se constitui o princípio

máximo do estado democrático de direito, sendo o principal e mais amplo princípio

constitucional.

Elencado no rol de direitos fundamentais da Constituição Brasileira de

1988, a dignidade da pessoa humana abrange valores existentes na sociedade,

tratando de adequar a realidade e a evolução da sociedade com as necessidades

básicas do ser humano

Desta forma, preceitua Ingo Wolfgang Sarlet ao conceituar a dignidade da

pessoa humana (SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos

Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2007. p. 62):

[...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade

intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do

mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da

comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e

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deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e

qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe

garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável,

além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável

nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os

demais seres humanos.

Ainda nesse contexto de conferir à dignidade da pessoa humana

um status de princípio fundamental, essencial, fonte de todo ordenamento jurídico

brasileiro, manifesta-se o STF:

(...) o postulado da dignidade da pessoa humana, que

representa - considerada a centralidade desse princípio essencial

(CF, art. 1º, III) - significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-

fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional

vigente em nosso País e que traduz, de modo expressivo, um dos

fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e

democrática consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo

(...). (HC 95464, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda

Turma, julgado em 03/02/2009, DJe-048 DIVULG 12-03-2009 PUBLIC

13-03-2009 EMENT VOL-02352-03 PP-00466).

A partir da Constituição Federal de 1988, a dignidade da pessoa humana, é

considerada como fundamento da República, princípio fundamental do ordenamento

pátrio, que traz consigo um rol mínimo de direitos que garantem uma existência digna,

direitos estes que não podem ser relativizados por constituir valor absoluto.

1.1 - O ASSÉDIO MORAL

O Assédio Moral constitui-se através das humilhações e situações

vexatórias impostas aos empregados, pelos seus empregadores para que os mesmos

consigam obter melhores resultados, não podendo deixar de cumprir metas ou

obrigações impossíveis e impraticáveis, sob o efeito de medo e ameaça.

No mesmo instante que vem crescendo o mercado de trabalho aumenta

à ocorrência do assédio moral, isto porque, aumenta a concorrência estando o

trabalhador mais vulnerável e mais oprimido pelo medo da perda do emprego.

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Nos dias atuais a uma constante insegurança por parte do empregados,

gerando a estes condições de desvalorização do trabalho humano, fatores externos,

mas interligados a saúde física e mental dos empregados, alguns irreversíveis,

atuando como uma verdadeira tortura psicológica, levando as vítimas a situações

1.2 - CONCEITOS

A doutrina trouxe vários conceitos, que foram se ampliando e

aprofundando com com o passer dos anos.

Margarida Barreto, professora e psicóloga, apontada como pioneira no

estudo sobre o assédio moral no Brasil, define o tema da seguinte maneira

(BARRETO, Margarida. O que é assédio moral. 2000. Disponível em:

http://www.assediomoral.org/site/assedio/AMconceito.php, p. 1.):

Assédio moral é a exposição dos trabalhadores e

trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas

e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas

funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e

assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações

desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes

dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da

vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a

desistir do emprego. Caracteriza-se pela degradação deliberada das

condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas

negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo

uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e

emocionais para o trabalhador e a organização.

Para Vólia Bonfim nas palavras de Vilja Marques (ASSE, apud CASSAR,

2011, p.976) psicoterrorismo ou assédio moral “é a exposição dos trabalhadores e

trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas,

durante a jornada de trabalho e no exercício das funções profissionais.”

A autora francesa Marie-France Hirigoyen, psiquiatra, psicanalista e

psicoterapeuta, considerada como a grande responsável pela divulgação mundial do

tema, define o fenômeno da seguinte forma (HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-estar

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no trabalho: redefinindo o assédio moral. Tradução de Rejane Janowitzer. 3. ed. Rio

de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, p. 17):

O assédio moral no trabalho é definido como qualquer conduta

abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por

sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade

psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou

degradando o clima de trabalho.

Já Sergio Gamonal e Pamela Prado definem o assédio moral como sendo

(Gamonal, 2006, p. 23):

Processo constituído por um conjunto de ações ou omissões, no

âmbito das relações de trabalho públicas e privadas, em virtude do

qual um ou mais sujeitos assediadores criam um ambiente laboral

hostil e intimidatório em relação a um ou mais assediados, afetando

gravemente sua dignidade pessoal e causando danos à saúde dos

afetados com vistas a obter distintos fins de tipo persecutório.

Martha Halfeld Furtado de Mendonça Schmidt conceitua assédio moral da

seguinte forma (SCHMIDT, Revista do Tribunal..., p. 179.):

Existem várias definições, que variam segundo o enfoque

desejado (médico, psicológico ou jurídico). Juridicamente, pode ser

considerado como um abuso emocional no local de trabalho, de forma

maliciosa, não-sexual e não-racial, com o fim de afastar o empregado

das relações profissionais, através de boatos, intimidações,

humilhações, descrédito e isolamento.

Márcia Novaes Guedes (GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no

trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 33):

No mundo do trabalho, assédio moral significa todos aqueles

atos comissivos ou omissivos, atitudes, gestos e comportamentos do

patrão, da direção da empresa, de gerente, chefe, superior

hierárquico ou dos colegas, que traduzem uma atitude de contínua e

ostensiva perseguição que possa acarretar danos relevantes às

condições físicas, psíquicas, morais e existenciais da vítima.

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Já Marcelo Rodrigues Prata dá a seguinte definição para o Assédio Moral (PRATA,

Anatomia do assédio moral no trabalho:..., p. 57.):

O assédio moral no trabalho se caracteriza por qualquer tipo de

atitude hostil, individual ou coletiva, dirigida contra o trabalhador por

seu superior hierárquico (ou cliente do qual dependa

economicamente), por colega do mesmo nível, subalterno ou por

terceiro relacionado com a empregadora, que provoque uma

degradação da atmosfera de trabalho, capaz de ofender a sua

dignidade ou de causar-lhe danos físicos ou psicológicos, bem como

de induzi-lo à pratica de atitudes contrárias à própria ética, que

possam excluí-lo ou prejudicá-lo no progresso em sua carreira.

No mesmo sentido é o posicionamento do Tribunal Superior do Trabalho:

“A i. Magistrada ALICE MONTEIRO DE BARROS sintetiza com precisão a matéria no aresto cuja ementa segue transcrita:

DANO MORAL – ASSÉDIO MORAL - CARACTERIZAÇÃO - Requisitos - 'assédio moral’. Caracterização. O termo ' assédio moral' foi utilizado pela primeira vez pelos psicólogos e não faz muito tempo que entrou para o mundo jurídico. O que se denomina assédio moral, também conhecido como mobbing (Itália, Alemanha e escandínávia), harcèlement moral (França), acoso moral (Espanha), terror psicológico ou assédio moral entre nós, além de outras denominações, são, a rigor, atentados contra a dignidade humana. De início, os doutrinadores o definiam como 'a situação em que uma pessoa ou um grupo de pessoas exercem uma violência psicológica extrema, de forma sistemática e freqüente (em média uma vez por semana) e durante um tempo prolongado (em torno de uns 6 meses) sobre outra pessoa, a respeito da qual mantém uma relação assimétrica de poder no local de trabalho, com o objetivo de destruir as redes de comunicação da vítima, destruir sua reputação, perturbar o exercício de seus trabalhos e conseguir, finalmente, que essa pessoa acabe deixando o emprego' (CF. Heinz Leymann, médico alemão e pesquisador na área de psicologia do trabalho, na suécia, falecido em 1999, mas cujos textos foram compilados na obra intitulada 'Mobbing: Emotional Abuse in the American Workplace'). O conceito é criticado por ser muito rigoroso. Esse comportamento ocorre não só entre chefes e subordinados, mas também na via contrária, e entre colegas de trabalho com vários objetivos, entre eles o de forçar a demissão da vítima, o seu pedido de aposentadoria precoce, uma licença para tratamento de saúde, uma remoção ou transferência. Não se confunde com outros conflitos que são esporádicos ou mesmo com más condições de trabalho, pois o

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assédio moral pressupõe o comportamento (ação ou omissão) por um período prolongado, premeditado, que desestabiliza psicologicamente a vítima. Se a hipótese dos autos revela violência psicológica intensa sobre o empregado, prolongada no tempo, que acabou por ocasionar, intencionalmente, dano psíquico (depressão e síndrome do pânico), marginalizando-o no ambiente de trabalho, procede a indenização por dano moral advindo do assédio em questão.' (TRT 3ª R. - RO 01292.2003,057.03.00.3 - 2ª T. - Relª Juíza Alice Monteiro de Barros - DJMG 11.08.2004 - p. 13).

Após todas as análises citadas, conclui-se o tema da seguinte forma: O

assédio moral no ambiente laboral significa a prática de qualquer ato direcionado

contra o trabalhador seja pelo chefe direto superior hierárquico ou colega do mesmo

nível hierárquico, que, de maneira, abusiva e reiterada, por meio de gestos, palavras,

comportamentos ou atitudes, provoque, uma afronta ao ambiente de trabalho

degradando a dignidade da pessoa humana.

Para ser considerado Assédio Moral é necessário que haja uma exposição

reiterada de atos danosos direcionados ao trabalhador, ou seja deve haver uma lesão

a personalidade do trabalhador, atingindo diretamente sua honra, sua saúde e sua

imagem, todos descritos são direitos básico para sobrevivência humana, conhecidos

como princípio da dignidade da pessoa humana.

Desta forma, toda conduta praticada no ambiente de trabalho que

degradam as condições de trabalho, trazendo consigo, humilhações e palavras

vexatórias, que cause ao trabalhador uma situação de vergonha, tem que ser

reprimida, pois todo trabalhador merece ser respeitado.

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CAPÍTULO II

AS FORMAS E CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL

FORMAS DE ASSÉDIO MORAL

O assédio moral, pode ser praticado de três formas:

• Assédio vertical (descendente ou ascendente);

• Assédio horizontal; e

• Assédio misto.

a. O assédio moral vertical caracteriza-se pela existência de uma situação

onde o agressor é o empregador ou o superior hierárquico da vítima, e este passa a

ser o agredido pela violência moral.

b. O assédio moral vertical descendente é o mais comum no ambiente de

trabalho é aquele praticado pelo empregador ou superior hierárquico contra seus

subordinados. Neste caso é utilizado a posição de superioridade empresarial e das

prerrogativas da função, valorizando e enfatizando o próprio poder frente ao

assediado. É um tipo de violência agressivo que age principalmente na vida

psicológica do subordinado.

A intenção do assédio vertical descendente pode ser simplesmente a

valorização do próprio poder, através de meios cruéis, que visam abaixar a auto

estima do subordinado para a simples satisfação do ego do agressor.

Este tipo de assédio é considerado como o mais desumano porque impõe medo à

vítima, por ser praticado pelo superior hierárquico ou seu empregador, o que faz a

vítima temer o medo da perda do emprego e se submeter a situações humilhantes.

Nesse sentido, Marie-France Hirigoyen ensina (HIRIGOYEN, Mal-estar no

trabalho:..., p. 112.):

A experiência mostra que o assédio moral vindo de um superior

hierárquico tem consequências muito mais graves sobre a saúde do

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que o assédio horizontal, pois a vítima se sente ainda mais isolada e

tem mais dificuldade para achar a solução do problema.

c. O assédio moral vertical ascendente é aquele em que a vítima é o

superior hierárquico, que passa a ser agredido moralmente por um ou vários de seus

subordinados. Destaca-se que, apesar de esta modalidade ser mais incomum, seus

efeitos podem ser (e certamente serão) do mesmo modo destrutivo para a vítima do

evento.

Marie-France Hirigoyen aponta algumas hipóteses em que o assédio moral

ascendente pode ocorrer, como na hipótese de uma pessoa vinda de fora da empresa

e que não é aprovada pelo grupo ou no caso da promoção de um empregado da

própria empresa sem a consulta ou contra a vontade dos demais trabalhadores

(HIRIGOYEN, Mal-estar no trabalho:..., p. 74):

É um caso bem raro. Pode dar-se no caso de uma pessoa vinda

de fora, cujo estilo e métodos sejam reprovados pelo grupo, e que

não faça o menor esforço no sentido de adaptar-se ou impor-se a ele.

Pode ser também o caso de um antigo colega que tenha sido

promovido sem que o serviço tenha sido consultado. Em ambos os

casos, a direção não levou suficientemente em conta as opiniões do

pessoal com o qual esta pessoa será levada a trabalhar.

Leciona Marie-France Hirigoyen, acerca das reações coletivas de grupo

para a prática do assédio moral contra superior hierárquico (HIRIGOYEN, Mal-estar

no trabalho:..., p. 116):

É a cumplicidade de todo um grupo para se livrar de um superior

hierárquico que lhe foi imposto e que não é aceito. É o que acontece

com freqüência na fusão ou compra de um grupo industrial por outro.

Faz-se um acordo relacionado à direção para ‘misturar’ os executivos

vindos de diferentes empresas, e a distribuição dos cargos é feita

unicamente por critérios políticos ou estratégicos, sem qualquer

consulta aos funcionários. Estes, de um modo puramente instintivo,

então se unem para se livrar do intruso.

d. O assédio moral horizontal é quando o agressor é uma pessoa com o

mesmo grau hierárquico da vítima. Pode ocorrer entre um ou mais colegas de

trabalho. As causas mais comuns de motivação para a prática dessa violência moral:

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competitividade com relação ao emprego; conflitos interpessoais; intolerância com

relação às diferenças étnicas, religiosas, políticas, sexuais, profissionais ou de

qualquer outra natureza; e inveja em face do destaque profissional do assediado ou

do seu prestígio com o chefe.

Marie-France Hirigoyen acerca da omissão ou tolerância das

empresas diante do assédio moral entre colegas de trabalho (HIRIGOYEN, Assédio

Moral:..., p. 67):

Mesmo quando a perseguição é horizontal (um colega agredindo

outro colega), a chefia não intervém. Ela se recusa a ver, ou deixa as

coisas acontecerem. Por vezes nem toma consciência do problema, a

não ser quando a vítima reage de maneira muito ostensiva (crise de

nervos, choro...) ou quando falta muito seguidamente ao trabalho. O

conflito, na verdade, degenera porque a empresa se recusa a

interferir: ‘Vocês já estão bem grandinhos para resolver isso

sozinhos!’ A vítima não se sente defendida, por vezes pode até sentir-

se enganada pelos que estão assistindo à agressão sem intervir, pois

a chefia raramente propõe uma solução direta: ‘Mais tarde tratamos

disto!’ A solução proposta é, na melhor das hipóteses, uma mudança

para outro posto, sem que se pergunte se o interessado está de

acordo.

e. O assédio moral misto ocorre quando a vítima sofre o assédio moral

vertical concomitantemente com o assédio moral horizontal.

Acerca do tema, vale citar Marie-France Hirigoyen (HIRIGOYEN, Mal-estar

no trabalho:..., p. 114):

Quando uma pessoa se acha em posição de bode expiatório,

por causa de um superior hierárquico ou de colegas, a designação se

estende rapidamente a todo o grupo de trabalho. A pessoa passa a

ser considerada responsável por tudo que dê errado. Bem depressa

ninguém mais a suporta e, mesmo que alguns não sigam a opinião do

grupo, não ousam anunciar.

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2.1 - AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL

As consequências do assédio moral vão muito além da saúde física,

afetando a vida em geral do assediado, como a sua saúde psíquica, vida social,

econômica, produtividade na empresa e na sociedade.

Cecchin (2006, p. 148), discorre sobre os danos a saúde física e mental

da vítima de assédio moral:

Há um sistêmico e constante abalo físico e mental da vítima

humilhada. Nesta investida o assediador é capaz das mais

inusitadas atitudes perversas. Deteriora propositadamente as

condições de trabalho, isola a vítima recusando-se se comunicar

com ela, desqualifica-a para atingir a dignidade de sua alma. Não

satisfeito, pode partir para as violências verbais, físicas e até sexual.

Como consequência dessa barbárie, os sintomas e alterações físico-

biológicas são constantes podendo levar a vítima a óbito.

As consequências do Assédio Moral podem afetar o assediado, o

ambiente de trabalho e ainda a sociedade.

Para o indivíduo:

♦ Dores generalizadas;

♦ Palpitações;

♦ Distúrbios digestivos;

♦ Dores de cabeça;

♦ Hipertensão arterial (pressão alta);

♦ Alteração do sono;

♦ Irritabilidade;

♦ Crises de choro;

♦ Abandono de relações pessoais;

♦ Problemas familiares;

♦ Isolamento;

♦ Depressão;

♦ Síndrome do pânico;

♦ Estresse;

♦ Esgotamento físico e emocional;

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♦ Perda do significado do trabalho;

♦ Suicídio;

Para a organização/empresa:

♦ Redução da produtividade;

♦ Aumento na rotatividade de pessoal;

♦ Aumento de erros e acidentes;

♦ Absenteísmo;

♦ Aposentadoria prematura;

♦ Clima desfavorável para o trabalho;

♦ Exposição negativa da marca;

♦ Passivos trabalhistas decorrentes de indenizações;

♦ Multas administrativas por manifestações de discriminação;

♦ Licenças médicas;

♦ Demissões.

Para sociedade:

♦ Custos com tratamento médico e reabilitação;

♦ Despesas com benefícios sociais (dependência de auxílio doença e aposentadoria

precoce);

♦ Custos dos processos administrativos e judiciais.

De acordo com uma entrevista realizada com 870 homens e mulheres

vítimas de opressão no ambiente profissional revelam como cada sexo reage a essa

situação (em porcentagem). (www.assédiomoral.org,acesso em 31/08/2012) :

Sintomas

Crises de choro

Mulheres

100

Homens

- Dores generalizadas 80 80

Palpitações, tremores 80 40

Sentimento de inutilidade 72 40

Insônia ou sonolência 69,6 63,6

Depressão 60 70

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21

Diminuição da libido 60 15

Sede de vingança 50 100

Aumento da pressão arterial 40 51,6

Dor de cabeça 40 33,2

Distúrbios digestivos 40 15

Tonturas 22,3 3,2

Idéia de suicídio 16,2 100

Falta de apetite 13,6 2,1

Falta de ar 10 30

Passa a beber 5 63

Tentativa de suicídio - 18,3

Fonte: BARRETO, M. Uma jornada de humilhações. São Paulo: Fapesp; PUC, 2000.

Sobre essas teorias, Hirigoyen afirma (p. 219):

Muitas vezes foi perguntado se existiria um perfil psicológico que

predestinaria à posição de vítima. Reafirmamos que qualquer um

pode ser vítima de assédio moral; contudo, os agressores e as

testemunhas incrédulos continuam a atribuir este tipo de problema

somente às pessoas frágeis ou portadoras de uma patologia

particular, vítimas natas de alguma maneira.

Se não existe um perfil psicológico específico para as pessoas

que são assediadas, existem incontestavelmente, como acabamos de

ver, contextos profissionais nos quais o assédio moral transita mais

livremente. Existem também situações em que as pessoas correm

maior risco de se tornar visadas.

De acordo com a psicológa Marie- France (HIRIGOYEN,2011,p.118) :

As práticas de assédio moral, que, vistas de fora, parecem

insignificantes, têm um efeito devastador sobre a saúde física e

psíquica das vítimas. Portanto, todos nós podemos suportar uma

limitada dose de hostilidade, salvo se esta hostilidade for

permanente ou repetitiva, ou se estivermos colocados em uma

posição que nos impeça de replicar ou nos justificar.

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Segundo os ensinamentos de Sérgio Pinto Martins (Martins,2006, p. 365):

Os atos mencionados quanto à honra e boa fama do

empregador ou superior hierárquico, ou de qualquer pessoa,

originam calunia, injuria e difamação, podendo ser praticados por

palavras e gestos. Importante salientar que a legitima defesa excluirá

a justa causa.

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CAPÍTULO III

RESPONSABILIDADE CIVIL E NO DIREITO DO TRABALHO

RESPONSABILIDADE CIVIL

Como reza a melhor doutrina, o assédio moral é tipo de violência

psicológica contra o empregado. Exigir dos empregados metas inatingíveis, agir com

rigor excessivo e pressionar os empregados de forma abusiva são alguns dos

exemplos que configuram o assédio moral.

É certo, portanto, que esta situação humilhante perpetrada pelo

empregador resulta não só em ofensa à dignidade humana (inc. III, do artigo 1º), ao

direito à inviolabilidade da honra (inc. X, do art. 5º), ao abuso do poder diretivo do

empregador (abuso de direito), além de violação ao direito à saúde mental, como

previsto no artigo 6º, todos da CF/88.

A obrigação de indenizar está regulada pelo Código Civil, cujo art. 927

assim preceitua:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar

dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

O ato ilícito, por sua vez, está definido no art. 186, igualmente do Código

Civil, que assim dispõe:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que

exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Francisco Amaral (p. 545) assim define a responsabilidade civil:

Em sentindo amplo, tanto significa a situação jurídica em que

alguém se encontra de ter de indenizar outrem quanto a própria

obrigação decorrente dessa situação, ou, ainda, o instituto jurídico

formado pelo conjunto de normas e princípios que disciplinam o

nascimento, conteúdo e cumprimento de tal obrigação. Em sentido

estrito, designa o específico dever de indenizar nascido de fato lesivo

imputável a determinada pessoa.

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Desta forma, conforme Vólia Bonfim (CASSAR, 2011,P.962) :

Excede o patrão que pratica os seguintes atos: não dar

trabalho ao empregado no curso do contrato, obrigando-o a

manter-se à mesa, à espera de serviço, enquanto os demais

empregados o observam; diminuir a capacidade laborativa do

empregado através de comentários maliciosos, divulgações, notas e

publicações; dispensar o empregado por furto, roubo, desfalque

etc.,divulgando tais informações e imprimindo no trabalhador a

estampa ímprobo; impedir nova colocação de empregado faltoso

difundindo o ato que praticou para outras empresas, de forma que

ninguém queira contratá-lo. Em suma, é abusivo o empregador

lançar dúvidas sobre o empregado, seja durante o contrato, antes

(pré-contratual) ou na ruptura, a pecha ou descrédito sobre

honestidade, moralidade, competência, diligência e responsabilidade

no exercício das atribuições profissionais.

Para reforçar a compreensão do instituto, faz-se necessário explicar que a

ocorrência do fato lesivo, mencionada por Francisco Amaral, corresponde ao ato

ilícito, qual seja: ato contrário ao ordenamento jurídico.

É importante salientar, nesse momento, que ato contrário ao ordenamento

jurídico não é tão somente aquele que ataca a legislação, mas também aquele que

contraria os bons costumes, a moral ou a ordem pública.

Historicamente, pode-se perceber, ainda que de forma rudimentar e

primitiva, a reparação do dano moral no Código de Hamurabi (século XIII a.C.), que

tinha por princípio básico a garantia do mais fraco. Marcus Vinícius Lobregat (p. 59-

60) traz de maneira clara essa evidência histórica:

À época, o Código estabelecia uma ordem social baseada nos

direitos do indivíduo, sobre os quais continha ideias bastante claras e

demonstrava a preocupação de Hamurabi em conferir ao lesado uma

reparação equivalente ao dano que sofreu, sendo certo que as

ofensas pessoais restavam reparadas na mesma classe social e à

custa de ofensas idênticas, consoante se infere dos parágrafos 196,

197 e 200 do referido Código:

“Parágrafo 196. Se um awilum destruir um olho de um (outro) awilum

destruirão seu olho.

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“Parágrafo 197. Se quebrou o osso de um awilum: quebrarão o seu

osso.

“Parágrafo 200. Se um awilum arrancou um dente de um awilum igual

a ele arrancarão seu dente”.

A Constituição Federal de 1988, trouxe ao ordenamento jurídico a

possibilidade real de reparação do dano moral:

Art. 5º, X. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e

a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano

material ou moral decorrente de sua violação.

Alkimin acrescenta que (ALKIMIN, apud, RAMOS, 2012, p.104) :

O dano moral ou extrapatrimonial não é valorável

economicamente, haja vista invadir a afetar a esfera subjetiva e

psíquica da personalidade humana, atingindo a honra, a intimidade,

a integridade psíquica, a autoestima, enfim, é derivado de práticas

que atentam contra o constitucional e universal princípio da

dignidade humana, causando na vítima reação psíquica e

consequente dor, mal-estar e profundo sofrimento.

3.1. RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DO TRABALHO

Para Amauri Mascaro Nascimento, o “dano moral no Direito do Trabalho

tem como efeito três causas principais: a agressão moral, o assédio sexual e o

assédio mora”.

Se o empregador ou o empregado praticar assédio moral, restará

configurado o dano moral, o que enseja a possibilidade de uma justa reparação; neste

ponto, consegue-se perceber a incidência do instituto da responsabilidade civil nas

relações de trabalho.

Maria Aparecida Alkimin (p. 113), subsidiada por Jorge Pinheiro Castelo,

assim define tal problematização:

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26

O assédio moral é uma violência invisível, e o dano moral

proveniente do assédio moral, como bem coloca Jorge Pinheiro

Castelo, “não é algo passível de ser objetivamente demonstrado, já

que estamos tratando de fenômenos relacionados às vivências do

indivíduo. Mas, nem por isso, deixa de produzir efeitos concretos”.

O assédio moral é capaz de produzir efeitos concretos, ou seja, danos em

diversas searas da vida de um indivíduo (familiar, profissional, pessoal etc.) e, por

essa razão, a apuração do quantum indenizatório amolda-se como uma tarefa

bastante difícil.

Decisão acertada sobre o tema foi proferida pelo TRT da 3ª

Região no Recurso Ordinário 00514-2007-074-03-00-0, de relatoria

do Desembargador convocado Rodrigo Ribeiro Bueno: Fixação do

valor da indenização de danos morais – Critérios. A indenização por

dano moral não é o preço da dor, que nenhum dinheiro paga. O

dinheiro serve, tão somente, para mitigar, para consolar, para

estabelecer certa compensação causada pelo ofensor ao ofendido. A

fixação do valor pecuniário da indenização, por dano moral, serve

para atingir resultados próprios: compensação a um e sancionamento

a outro. Assim, são indicados alguns critérios para esta quantificação:

extensão do fato inquinado; permanência temporal; intensidade;

antecedentes do agente, situação econômica do ofensor; e

razoabilidade do valor.

Segundo Ferreira (2004, p. 106), ao buscar a tutela jurídica do assédio

moral de forma indenizatória o trabalhador teria duas opções, sendo o pedido de

demissão, diante da insuportável situação que se desencadeia no ambiente de

trabalho com o processo do assédio moral, ou então, arcar com o aumento das

práticas abusivas, arriscando a sua saúde por temer o desemprego.

Nenhum tipo de indenização paga o preço da dor, razão essa que obriga o

julgador a se ater a critérios específicos de quantificação, quais sejam: extensão do

fato inquinado; permanência temporal; intensidade; antecedentes do agente, situação

econômica do ofensor; e razoabilidade do valor.

Conforme lição de Yussef Said Cahali, conceitua-se dano moral como

(CAHALI, apud, RAMOS,2012,p.104) :

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Tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-

lhe gravemente os valores fundamentais inerentes á sua

personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está

integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral; não

há como enumerá-lo exaustivamente, evidenciando-se na dor, na

angústia, no sofrimento, na tristeza pela ausência de um ente

querido falecido; no desprestígio, na desconsideração social, no

descrédito á reputação, na humilhação pública, no devassamento da

privacidade; no desequilíbrio da normalidade psíquica, nos

traumatismos emocionais, na depressão ou no desgaste psicológico,

nas situações de constrangimento moral.

Conforme aduz Facchini Neto (FACCHINI NETO, apud, RAMOS, 2012,

p.166):

Trata-se da obrigação que incumbe a uma pessoa de reparar o

dano causado a outrem por ato seu, ou pelo ato de pessoas ou

fato de coisas que dela dependam. Ademais, conforme sustenta

Facchinni Neto, o dano ocorrido não se cancela mais da sociedade:

o ressarcimento não o anula. Trata-se simplesmente de transferi-lo

de quem o sofreu diretamente para quem o deverá ressarcir.

Nesta esteira de raciocínio, aduz Caio Mário: (PEREIRA, apud, RAMOS,

2012,P.161):

Resta claro que a vida social é cada vez mais complexa, e compõe

situações várias, em que ao anseio da justiça ideal não satisfaz proclamar apenas

que o indivíduo responde pelo dano que causa, sendo mister ir mais além,

estendendo a responsabilidade além da pessoa do ofensor, seja em conjunto com

este ou independentemente dele, ensejando a responsabilidade indireta na qual a lei

chama uma pessoa a responder pelas consequências do ato ilícito alheio.

Desta forma, conforme Vólia Bonfim (CASSAR, 2011,P.962) :

Excede o patrão que pratica os seguintes atos: não dar

trabalho ao empregado no curso do contrato, obrigando-o a

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manter-se à mesa, à espera de serviço, enquanto os demais

empregados o observam; diminuir a capacidade laborativa do

empregado através de comentários maliciosos, divulgações, notas e

publicações; dispensar o empregado por furto, roubo, desfalque

etc.,divulgando tais informações e imprimindo no trabalhador a

estampa ímprobo; impedir nova colocação de empregado faltoso

difundindo o ato que praticou para outras empresas, de forma que

ninguém queira contratá-lo. Em suma, é abusivo o empregador

lançar dúvidas sobre o empregado, seja durante o contrato, antes

(pré-contratual) ou na ruptura, a pecha ou descrédito sobre

honestidade, moralidade, competência, diligência e responsabilidade

no exercício das atribuições profissionais.

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CAPÍTULO IV

ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO

ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO

Existe atualmente vários projetos de Lei que tentam criminalizar e até

mesmo, encerrar esta prática no Brasil.

Contudo, ainda não temos uma legislação em vigor, porém temos como

aliado o Ministério Público que visa à defesa dos interesses coletivos, a promoção da

ação civil pública no âmbito da justiça do trabalho. Mas antes de utilizar tal recurso,

no que tange ao âmbito extrajudicial a Instituição vem utilizando o Termo de

AJuste de Conduta (TAC), no qual as empresas firmam obrigações de não fazer

e pagar, sendo penalizadas com multas, no caso de descumprimento do comando

judicial.

Mesmo não havendo lei específica para coibir a prática do assédio moral,

o ordenamento jurídico vigente tem demonstrado preocupação em coibir o Assédio

Moral.

Por oportuno, colaciona-se o projeto de Lei Federal nº 5.970/01

(www.assediomoral, apud,RAMOS,2012,p.84):

É importante salientar que tramita na câmara dos Deputados o

Projeto de Lei Federal nº 5.970/01 com o escopo de alterar o art.

483 as CLT, inserindo com a alínea “h” a figura da coação moral,

prevendo a seguinte redação para a alínea: “ Art.483 (...) h) praticar

o empregador ou seus prepostos, contra ele, coação moral, através

de atos ou expressões que tenham por objetivo ou efeito atingir

sua dignidade e/ou criar condições de trabalho humilhantes ou

degradantes, abusando da autoridade que lhe conferem suas

funções.” O Projeto prevê, ainda, a inserção da alínea h na redação

do § 3º, bem como a inserção do art. 484-A, o qual, terá a seguinte

redação: Art.484-A: Se a rescisão do contrato de trabalho foi

motivada pela prática de coação moral do empregador ou de seus

prepostos contra o trabalhador, o juiz aumentará. Pelo dobro, a

indenização devida em caso de culpa exclusiva do empregador.” (A

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íntegra do mencionado projeto encontra-se disponível em <HTTP://

www.assdiomoral.org.br> link: legislação;federal,acessado em

01.07.2009.

O artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho relaciona essas faltas

graves que dão origem à rescisão indireta:

Art. 483. O empregado poderá considerar rescindido o contrato

e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços

superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons

costumes, ou alheios ao contrato [...]

Estabelece o parágrafo 1º do artigo 483 da CLT que: “empregado poderá

suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de

desempenhar obrigações legais, incompatível com a continuação do serviço”.

O parágrafo 3º do referido artigo, elenca as hipóteses das alíneas “d” e “g”

expõe que:

Art. 483. [...]

§ 3º. Nas hipóteses das letras “d” e “g”, poderá o

empregado pleitear a rescisão do seu contrato de trabalho e o

pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não

no serviço ate final decisão do processo.

d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;

g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça

ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos

salários.

Neste sentido, podemos citar Maria Aparecida (ALKIMIN, 2005, p.92):

Sob o prisma das obrigações contratuais, todas as atitudes,

gestos e comportamentos, palavras caracterizadores do assédio

moral se enquadram nas hipóteses tipificadas no art.483 da CLT,

consubstanciando grave violação patronal das obrigações legais e

contratuais, além de violar o dever geral de respeito á dignidade e

intimidade a despedida indireta por justa causa ou falta grave do

empregador.

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A visão da Jurisprudência:

“ASSÉDIO MORAL. CONTRATO DE INAÇÃO. INDENIZA-

ÇÃO POR DANO MORAL. A tortura psicológica, destinada a golpear

a auto-estima do empregado, visando forçar sua demissão ou

apressar sua dispensa através de métodos que resultem em

sobrecarregar o empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe

informações e fingir que não o vê, resultam em assédio moral, cujo

efeito é o direito à indenização por dano moral, porque ultrapassa o

âmbito profissional, eis que minam a saúde física e mental da vítima

e corrói a sua auto-estima. No caso dos autos, o assédio foi além,

porque a empresa transformou o contrato de atividade em contrato

de inação, quebrando o caráter sinalagmático do contrato de

trabalho, e por conseqüência, descumprindo a sua principal

obrigação que é a de fornecer trabalho, fonte de dignidade do

empregado.” (TRT 17ª R., RO nº 1315.2000.00.17.00.1, Ac. nº

2.276/2001, Rel. Juíza Sônia das Dores Dionízio, DJ de 20.08.2002,

publicado na Revista LTr 66-10/1237).

TRT da 3ª Região (jurisdição no Estado de Minas Gerais),

relatado pela Juíza e Professora Alice Monteiro de Barros, pela

abordagem teórica e analítica da figura em estudo: “ASSÉDIO

MORAL. CARACTERIZAÇÃO. O termo ‘assédio moral’ foi utilizado

pela primeira vez pelos psicólogos e não faz muito tempo que entrou

para o mundo jurídico. O que se denomina assédio moral, também

conhecido como mobbing (Itália, Alemanha e Escandinávia),

harcèlement moral (França), acoso moral (Espanha), terror

psicológico ou assédio moral entre nós, além de outras

denominações, são, a rigor, atentados contra a dignidade humana.

De início, os doutrinadores o definiam como ‘a situação em que uma

pessoa ou um grupo de pessoas exercem uma violência psicológica

extrema, de forma sistemá- D O U T R I N A 34 Rev. TST, Brasília,

vol. 73, no 2, abr/jun 2007 tica e freqüente (em média uma vez por

semana) e durante um tempo prolongado (em torno de uns 6 meses)

sobre outra pessoa, a respeito da qual mantém uma relação

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assimétrica de poder no local de trabalho, com o objetivo de destruir

as redes de comunicação da vítima, destruir sua reputação,

perturbar o exercício de seus trabalhos e conseguir, finalmente, que

essa pessoa acabe deixando o emprego’ (cf. Heinz Leymann,

médico alemão e pesquisador na área de psicologia do trabalho, na

Su- écia, falecido em 1999, mas cujos textos foram compilados na

obra de Noa Davenport e outras, intitulada Mobbing: Emotional

Abuse in The American Work Place). O conceito é criticado por ser

muito rigoroso. Esse comportamento ocorre não só entre chefes e

subordinados, mas também na via contrária, e entre colegas de

trabalho com vários objetivos, entre eles o de forçar a demissão da

vítima, o seu pedido de aposentadoria precoce, uma licença para

tratamento de saúde, uma remoção ou transferência. Não se

confunde com outros conflitos que são esporádicos ou mesmo com

más condições de trabalho, pois o assédio moral pressupõe o

comportamento (ação ou omissão) por um período prolongado,

premeditado, que desestabiliza psicologicamente a vítima. Se a

hipótese dos autos revela violência psicológica intensa sobre o

empregado, prolongada no tempo, que acabou por ocasionar,

intencionalmente, dano psíquico (depressão e síndrome do pânico),

marginalizando-o no ambiente de trabalho, procede a indenização

por dano moral advindo do assédio em questão.” (TRT-RO-01292-

2003-057-03-00-3, 2ª T., Rel. Juíza Alice Monteiro de Barros, DJ

11.08.2004).

“ASSÉDIO MORAL. ADESÃO PDV. DANO MORAL

CONFIGURADO. Adesão ao PDV deve ser espontânea, de acordo

com a conveniência do trabalhador, livre de pressão. O reclamante

não aderiu ao PDV, tendo sido colocado em ‘licença remunerada’,

por trinta dias, prorrogada sucessivamente até culminar com o

desligamento imotivado. Nesse ínterim, recebeu vários ‘convites’ a

aderir ao Plano. Evidente que a licença, palestras, cartilhas, ‘Disque

– PDV’, demonstrativo das verbas, formulários de inscrição etc.,

tinham o propósito de ‘convencer’ o reclamante a aderir ao PDV. No

entanto, desses expedientes, mais o contexto da prova oral coligida,

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infere-se atitudes que extrapolam a mera divulgação e ciência ao

pessoal do programa demissional. O modus D O U T R I N A Rev.

TST, Brasília, vol. 73, no 2, abr/jun 2007 35 operandi desse

‘processo de convencimento’ transcende aspectos informacionais,

enveredando-se pela seara da pressão psicológica, do assédio

moral, com a finalidade de obter ilicitamente a adesão ao PDV,

mormente quando o intento não é conseguido, o ferroviário acaba

sendo descartado, como se fosse ‘um dormente de trilhos’. Dano

moral configurado. Sentença mantida” (TRT-RO-02170-2003-001-15-

00-4, Rel. Juiz Edison dos Santos Pelegrini, DJ 16.09.2005).

“REPARAÇÃO POR DANO MORAL. MONTANTE DA

INDENIZAÇÃO. CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO. A indenização por dano

moral, segundo remansosa doutrina e jurisprudência, deve observar

a noção de razoabilidade entre o abalo sofrido e o valor a ser pago, o

qual deve ser suficiente não só para amenização do dano direto,

mas de todas as suas consequências, além de ostentar o caráter

punitivo, indissociável da indenização por dano moral, que tem por

finalidade evitar que o empregador continue a cometer excessos no

gerenciamento do negócio a ponto de fazer passar pelos mesmos

constrangimentos os demais empregados sob o manto da

impunidade.” (TRT-RO-00612-2005-471-04- 00-3, 4ª T., Rel. Juiz

Milton Varela Dutra, DJ 31.05.2006).

Com aprovação de uma lei específica sobre o assunto pode até não

resolver o problema, mas ajudará na diminuição, como já ocorre em alguns países,

mesmo que de forma preventiva, e é claro que na aplicação de devidas sanções,

responsabilizando os assediadores administrativamente, civilmente e penalmente, já

que seus efeitos atingem diversos âmbitos da vida do assediado, sobretudo no

ambiente de trabalho e na qualidade de vida do trabalhador.

Destaca-se que, em 16 de junho de 2009, foi aprovada a Lei Federal n.

11.948, que, em seu art. 4º, veda empréstimos do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a empresas que tiveram seus

dirigentes condenados por prática de assédio moral, nos seguintes termos:

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Art. 4º. Fica vedada a concessão ou renovação de quaisquer

empréstimos ou financiamentos pelo BNDES a empresas da

iniciativa privada cujos dirigentes sejam condenados por assédio

moral ou sexual, racismo, trabalho infantil, trabalho escravo ou crime

contra o meio ambiente.

Entretanto, o dever de punir é da Justiça do Trabalho, mas pune com

base em legislações esparsas, como há uma lacuna no nosso ordenamento jurídico

as punições adotas pelos nossos tribunais, acabam sendo brandas ou muito

severas, o que traz consigo um desequilíbrio nas punições.

O que o trabalhador brasileiro quer é finalmente, que dentre tantos

projetos que tramitam atualmente no Congresso Federal, seja aprovado para

disciplinar o instituto jurídico chamado assédio moral.

É necessário que o Poder Legislativo acabe com a lacuna existente e

aproveite a oportunidade para tomar uma posição efetiva na prevenção e repressão

do assédio moral.

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CONCLUSÃO

Como vimos, o assédio moral, é toda ofensa à integridade física/moral do

assediado que atinge a sua dignidade humana, afligindo diretamente sua vida

pessoal, moral e psíquica, desencadeado através de várias atitudes que atentam

contra a dignidade da pessoa humana.

Ademais, o assédio moral trata-se de ato ilícito e abuso de direito, sendo

um fato público e notório o total desrespeito à dignidade da pessoa humana do

trabalhador que é um princípio amparado pela Carta Magna de 1988.

Muito empregados por medo do desemprego, se sujeitam a situações

humilhantes e vexatórias, que prejudicam sua saúde afetando o seu comportamento

no emprego para garantir o próprio sustento e da s u a família.

Na maioria dos casos, o empregador ou seu preposto assedia o

trabalhador por meio de gestos, palavras, práticas de isolamento, ou seja, por meio

de atitudes imorais e este passa a ter comportamentos de reserva; a cultivar

pensamentos negativos e derrotistas que o fazem desacreditar de si mesmo e da sua

capacidade profissional.

O País está em pleno desenvolvimento econômico, mas competitividade

entre as empresas aumentaram e as cobranças pela produtividade, focaram mais em

seu principal objetivo que é gerar lucros e mais lucros, se perderam em relação a

valores éticos e individuais, e deixaram de lado a qualidade de vida dos

trabalhadores.

O aumento na taxa de desemprego, leva a submissão, a condições

degradantes e aviltantes, a nova realidade econômica experimentada tem elevado a

competição e agravado as cobranças por maior produtividade, tornando tensas as

relações entre empregados e empregadores.

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No entanto, c abe ao Poder Judiciário, exigir o cumprimento dos

princípios norteadores do direito do trabalho e garantias constitucionais, trazidos pela

Constituição Federal.

Não há dúvidas de que o dano moral deve ser ressarcido, para o

reconhecimento da indenização, não basta simplesmente alegar a prática do Assédio

Moral, o nexo causal deve estar presente, pois a violência psicológica há de ser

intensa e insistente, com repercussão intencional geradora do dano psíquico e/ou

físico deverá o empregado demonstrá-lo por meio de provas concretas, sob pena de

banalização do instituto.

Mesmo sem haver uma lei vigente, a jurisprudência é pacífica quanto à

rescisão indireta do contrato de trabalho quando ocorre o assédio moral, aplicando a

justa causa do empregador pelo descumprimento dos deveres legais e contratuais do

contrato de trabalho, amparados pelo (art.483 da CLT), e a justa causa do

empregado assediante disposto no (art. 482 da CLT), além de ensejar indenização

pelos danos morais e materiais causados ao assediado por conta das agressões

morais e psíquicas.

Vem sendo realizado de forma preventiva através da atuação de

Sindicatos, dentre outras instituições que visam proteger o trabalhador e o

empregador dos males que atingem o ambiente de trabalho, campanhas, cartilhas

informativas e ainda previsão de punição nos Acordos e Convenções Coletivas.

Os conceitos trazidos por psicólogos que estudam o assunto têm sido de

grande valia para a construção doutrinária, jurisprudencial e edições de projetos de

leis que coíbam essa pratica.

Conclui-se que não há nenhuma outra forma de crescimento profissional,

pessoal e empresarial, que um profissional respeitado e conceituado no seu ambiente

de trabalho, para isso é necessário haver mudanças por partes das empresas e dos

trabalhadores em qualquer nível de hierarquia.

Este assunto ainda está longe de ser finalizado, por ser amplo e

interessar a todos uma vida profissional saudável, pois, é inaceitável, qua lquer

tipo de afronta que atente quanto a dignidade do trabalhador, pois fere, princípios

constitucionais e universais.

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ÍNDICE

RESUMO.....................................................................................................................05

METODOLOGIA..........................................................................................................06

SUMÁRIO....................................................................................................................07

INTRODUÇÃO.............................................................................................................08

CAPÍTULO I

O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.............................................10

1.1 - O ASSÉDIO MORAL...........................................................................................11

1.2 - CONCEITOS.......................................................................................................12

CAPÍTULO II

FORMAS DE ASSÉDIO MORAL.................................................................................16 2.1 - AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL..................................................19

CAPÍTULO III

RESPONSABILIDADE CIVIL ....................................................................................23

3.1 – RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DO TRABALHO...........................25

CAPÍTULO IV

ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO........................................................................29

CONCLUSÃO............................................................................................................35

BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................37