união de facto em portugal e no reino unido (2)[1]

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FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA DIREITO COMPARADO Prof. Eduardo dos Santos Júnior Dr. Miguel da Câmara Machado A UNIÃO DE FACTO EM PORTUGAL E NO REINO UNIDO Mariana Antunes da Silva Subturma 2, nº19418 Estoril, 2011

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Page 1: União de Facto Em Portugal e No Reino Unido (2)[1]

FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA

DIREITO COMPARADO

Prof. Eduardo dos Santos Júnior

Dr. Miguel da Câmara Machado

A UNIÃO DE FACTO EM PORTUGAL E NO REINO UNIDO

Mariana Antunes da Silva

Subturma 2, nº19418

Estoril, 2011

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

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I. BIBLIOGRAFIA

A) Portuguesa

VICENTE, DÁRIO MOURA, Direito Comparado, Volume I, Introdução e Parte Geral. Coimbra, 2008; PINHEIRO, JORGE DUARTE, O Direito da Família Contemporânea, 3ºEdiçao, AAFDL, 2011; PITÃO, JOSÉ ANTÓNIO DE FRANÇA, Uniões de Facto e Economia Comum, 3ºediçao, Almedina,2011; ALMEIDA, GERALDO DA CRUZ, Da União de Facto, Convivência More Uxorio em Direito Internacional Privado, Pedro Ferreira Editor, 1999; LIMA, PIRES DE/ VARELA, ANTUNES, Código Civil Anotado, Volume I. 4ª Edição, Coimbra, 2010; CORTE-REAL, CARLOS PAMPLONA, vidade: a respectiva situação jurídico-

Famílias: uma perspectiva luso-Brasileira, Magister editora, porto alegre, 2008; GRAVITO, LISETE/ LEITÃO MARIA, Casamento e outras formas em comum entre pessoas do mesmo sexo, DILP, Lisboa, 2007; Setembro de 2010; CANOTILHO, J.J. GOMES/ MOREIRA, VITAL, Constituição da República Portuguesa - Anotada - Vol. 1,Coimbra Editora, 2007; OLIVEIRA, GUILHERME DE/ COELHO, FRANCISCO PEREIRA, Curso de Direito da Família, Volume I, 4ª Edição, Coimbra, 2008

Leis:

Lei n.º 6/2001, de 11 de Maio

Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, alterada pela Lei n.º 23/2010, de 30 de Agosto

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

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B) Reino Unido DUFFIELD, NANCY/ THEOBALD, JO, Family law and practice,London, Jordans, 2002; BOND, TINA/ M. BLACK, JILL/ BRIDGE, A. JANE, Family law, Oxford university press, 2002; Internet: EQUALITY IN MARRIAGE INSTITUTE, http://www.equalityinmarriage.org/bmagreements.html; MURFIN, ANTONIA, May 2006, http://www.direct.gov.uk/prod_consum_dg/groups/dg_digitalassets/@dg/@en/documents/digitalasset/dg_067362.pdf; Cohabitation Bill, Moved by LORD LESTER OF HERNE HILL, http://www.publications.parliament.uk/pa/ld200809/ldhansrd/text/90430-0013.htm#09043036000262;

http://www.cornwall.gov.uk, 2001; http://www.publications.parliament.uk/pa/ld200809/ldbills/008/2009008.pdf; http://www.alternativefamilylaw.co.uk/en/cohabitation/, 2009.

II. ABREVIATURAS

CC Código Civil Português;

CRP - Constituição da República Portuguesa;

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

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Indice

I. Introdução 5

II. União de facto em Portugal 7

a) União de Facto em Portugal 7

b) Breve distinção entre união de facto, casamento e economia comum. 7

III. Evolução da união de facto na legislação 8

a) Antes da Lei n.º135/99, de 28 de Agosto 8

b) Após a Lei n.º 135/99, de 28 de Agosto e Na Vigência da lei 7/2001 9

c) União de facto com a nova alteração 23/2010 10

IV. União de facto no Reino Unido 11

a) Unmarried family / cohabitation 11

b) Civil Partnership 13

V. Grelha comparativa e Síntese comparativa 14

a) Grelha Comparativa 14

b) Síntese Comparativa 15

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

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I. INTRODUÇÃO

As uniões de facto ou parcerias civis entre pessoas, quer sejam de sexos diferentes

ou do mesmo sexo, são um assunto actual e por isso são objecto de estudo em diversos

países. Procuram-se, progressivamente, acompanhar as exigências dos cidadãos, em

cada país, no sentido de aprovar normas que permitam às pessoas outras formas de

união, com reconhecimento de igualdade de direitos e obrigações.

Actualmente a questão surge à volta de uma aceitação da união de facto como

regime semelhante ao casamento e retentora dos seus efeitos jurídicos, e da aceitação do

casamento entre pessoas de sexos diferentes.

Hoje em dia já são atribuídos efeitos de direito na união de facto, por semelhança

ao regime do casamento, em diversos países.

Por um lado, temos a Holanda que com recurso aos contratos de coabitação 1

permite as relações em união de facto e também permite o casamento entre casais do

mesmo sexo atribuindo-lhes direitos e obrigações idênticos aos dos casais

heterossexuais.

A França também recorre a estes contratos de coabitação mas só atribui às

parcerias civis do mesmo sexo, parte dos direitos e deveres dos casais heterossexuais.

Por outro lado, outros países, como a Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Noruega,

Reino Unido e Suécia, ainda que não permitam o casamento entre pessoas do mesmo

sexo, consagram as parcerias de vida registada com grande parte dos direitos e

deveres do casamento.2

Em Portugal, à união de facto são atribuídos pela lei direitos e deveres semelhantes

ao regime de casamento, artigo n 1 e 2 7/2001, de 11 de Maio tendo sofrido algumas

adaptações com a sua alteração a 23/2010, onde se destaca a aceitação da união de facto

em casais do mesmo sexo.

Deste modo, os países em estudo neste trabalho, tendo sido escolhidos, por serem

sistemas jurídicos representativos de cada família jurídica, para analise, Portugal e o

1 ALMEIDA, GERALDO DA CRUZ , DA UNIÃO DE FACTO, CONVIVÊNCIA MORE UXORIO EM DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO, PEDRO FERREIRA EDITOR, 1999, Página 203. 2 GRAVITO, LISETE/LEITÃO MARIA, CASAMENTO E OUTRAS FORMAS DE VIDA EM COMUM ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO, DILP LISBOA, 2007 Página 9.

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

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Reino Unido, a família jurídica romano-germânica, Civil Law e família jurídica de

Common Law, respectivamente.3

3 VICENTE, DÁRIO MOURA, DIREITO COMPARADO, VOLUME I, INTRODUÇÃO E PARTE GERAL. COIMBRA, 2008, Página 70 e 71.

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

7

II. UNIÃO DE FACTO EM PORTUGAL

a) União de Facto em Portugal

A união de facto consiste na convivência de duas pessoas em condições análogas

as dos cônjuges ou com uma coabitação, na tripla vertente de comunhão de leito, mesa

e habitação.4

A união de facto em Portugal esta estabelecida na Lei n.º 7/2001 de 11 de Maio

sobre medidas de protecção das uniões de facto. Esta lei não permite a celebração de

casamentos entre pessoas do mesmo sexo. As pessoas que vivem em união de facto nas

condições previstas na lei referida, apenas podem usufruir de alguns direitos dos

cônjuges. A dissolução da união de facto efectivasse com o falecimento de um dos

membros, pela vontade de um dos seus membros ou com o casamento de um dos

membros.

Na actualização a esta lei, 23/2010 há alterações nomeadamente na sua definição,

situação jurídica de duas pessoas que independentemente do sexo, vivam em

condições análogas as dos cônjuges há mais de dois anos 5. Deste, modo passa a não

existir discriminação entre sexos no regime da União de facto.

b) Breve distinção entre união de facto, casamento e economia comum.

Define-se o casamento como um contrato entre pessoas que pretendem

constituir família mediante uma plena comunhão de vida , art.1577 da lei 9/2010 de 31

de Maio.

O casamento pressupõe contratualidade, assunção do compromisso recíproco de

plena comunhão de vida, personalidade e solenidade.6

Distingue-se união de facto de casamento pela liberdade de forma, não se

verificando a exigência de um contrato como no casamento. A união de facto inicia-se

assim que os sujeitos vivam em coabitação sem exigência de uma cerimónia; porque a

lei não prevê regras próprias em matéria de administração e disposição de bens e dividas

4 PINHEIRO, JORGE DUARTE, O Direito da Família Contemporânea, 3ºEdiçao, AAFDL, 2011, página 713. 5 Lei 23/2010, de 30 de Agosto, Artigo nº 1 e 2. 6 PINHEIRO, JORGE DUARTE, O Direito da Família Contemporânea, 3ºEdiçao, AAFDL, 2011, página 421.

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

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para este regime e ainda porque a sua dissolução é feita meramente pela força da

vontade de uma das partes sem formalidades.

A união de facto, nos termos do artigo 1576º do CC, não é uma relação familiar,

uma vez que esta surge do casamento, parentesco, afinidade ou da adopção. Contudo,

esta não é uma posição unânime na doutrina nacional. Os constitucionalistas GOMES

CANOTILHO e VITAL MOREIRA partilham da opinião que a união de facto é uma relação

familiar, baseando-se no artigo 36º, n.º 1 da CRP,

família e de contrair casamento em condições de plena igualdade A jurisprudência

portuguesa argumenta que se pode conceder o direito de constituir família antes do

direito de contrair casamento, pelo que assim se conclui ser possível a constituição de

família fora do casamento, nomeadamente através das uniões de facto.

A economia comum, ao invés do que acontece com a união de facto, vem definida

na lei que a reconhece e lhe concede medidas de protecção. Assim, no artigo 2º da Lei

n.º 6/2001, de 11 de Maio, entende-se por economia comum a situação de pessoas que

vivam em comunhão de mesa e habitação há mais de dois anos e tenham estabelecido

uma vivência em comum de entreajuda ou partilha de recursos.

Distingue-se união de facto de economia comum porque na economia comum as

pessoas vivem em comunhão de mesa e habitação sem o elemento de comunhão sexual.

III. EVOLUÇÃO DA UNIÃO DE FACTO NA LEGISLAÇÃO

a) ANTES DA LEI N.º135/99, DE 28 DE AGOSTO

A Lei n.º 135/99, de 28 de Agosto, vem alterar a inexistência de qualquer

sistematização jurídica relativa à união de facto em Portugal.

Existiam normas em diplomas avulsos que atribuíam um ou outro direito/restrição a

quem vivesse em condições análogas às dos cônjuges. A maioria ainda em vigor porque

a Lei n.º 135/99 e a Lei n.º 7/2001, nos seus n.º2 do artigo 1º estabeleceu que nenhuma

das suas normas prejudicaria a aplicação de qualquer outra disposição legal ou

regulamentar em vigor tendente à protecção jurídica de uniões de facto.

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

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b) APÓS A LEI N.º 135/99, DE 28 DE AGOSTO E NA VIGÊNCIA DA LEI 7/2001

A Lei n.º 135/99, veio estabelecer um regime de efeitos jurídicos que se aplicava às

uniões heterossexuais. Posteriormente, a Lei n.º 7/2001vem revogar essa lei e introduzir

a união de facto, quer heterosexual, quer homosexual. Foi ainda, nesta revogação,

exigido que uma união de facto subsistisse mais de dois anos, para obter relevância

jurídica. Assim, se cumpridos os dois anos passariam a ser garantidos direitos, tais

como, a tutela de casa de morada, em casos de arrendamentos, matéria de segurança

social, entre outros efeitos previstos pela lei no artigo nº3.7. Apesar da existência deste

artigo, a lei não estabelece para a união de facto as regras semelhantes ao casamento em

matéria de regime de bens, administração e dívidas. Deste modo, é analogicamente

aplicável o artigo 169 nº1 alínea b).

Os impedimentos à atribuição de efeitos às uniões de facto são os mesmos na Lei

n.º 135/99, de 28 de Agosto e na Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio. São estes os referidos

no artigo nº2, nomeadamente, idade inferior a 16 ano; demência notória, mesmo com

intervalos de lúcidos (.); casamento anterior não dissolvido, salvo se tiver sido

decretada a separação judicial de pessoas e bens;

Note-se que a demência de um dos unidos de facto não impede que a união produza

efeitos jurídicos, artigo nº2 alínea b) 2ºparte, assegurados que estejam os requisitos

legais previstos no artigo 1º, n.º 1, da Lei n.º 7/2001, isto é a convivência em união de

facto há mais de dois anos. Assim como, o impedimento, artigo nº1 alínea c) defesa da

moralidade.

A lei, ao não atribuir efeitos jurídicos a uma união de facto(...), pretende que o

cônjuge separado de facto e que viva em união de facto regularize a situação, se não

através de um divórcio, pelo menos através de uma separação judicial de pessoas e

bens.8

7 Lei 7/2001 de 11 de Maio 8 PITÃO, JOSE ANTONIO DE FRANÇA, Uniões de Facto e Economia Comum, 3ºediçao, Almedina,2011;

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

10

Segundo PEREIRA COELHO e GUILHERME DE OLIVEIRA, o facto de a Lei n.º7/2001

se destinar a uniões de facto, independentemente do sexo, não significa que todos os

efeitos sejam heterossexuais ou homossexuais, nomeadamente o artigo 7º que se dedica

à adopção.

A condição de eficácia deste artigo é explicitamente a heterossexualidade assim

como por exemplo os dos artigos 1911º, n.º 3 e 1871º, n.º 1, alínea c) do Código Civil.

Ao contrário do que acontece na Lei n.º 135/99, a Lei n.º 7/2001 estabeleceu um

conjunto de regras no que concerne à dissolução da união de facto. Assim, postula o

artigo 8º desta última lei que a união de facto dissolve-se com o falecimento, vontade ou

casamento de um dos seus membros.

Quanto aos direitos, O artigo 4 e 5 , que vem regular a protecção da csa de morada

da família em caso de ruptura ou de morte, respectivamente. O membro sobrevivente na

união de facto com relevância jurídica nos termos das Leis em apreço tem, igualmente,

direito à transmissão do arrendamento da habitação, por morte do unido de facto.

Existe uma grande diferença relativa a este direito nas Leis n.º 135/99 e no 7/2001 e que

reside hierarquia do gozo deste direito. A segunda lei coloca o membro sobrevivo a

seguir aos descendentes, enquanto a primeira colocava em último lugar, depois de

descendentes com menos de um ano ou que com ele convivesse há mais de um ano,

ascendentes que com ele convivesse há mais de um ano e afins na linha recta nas

condições referidas para os descendentes e ascendentes. Esta alteração traduz-se num

fortalecimento do direito e da posição do membro sobrevivo.

Outros dos direitos do membro sobrevivente são o direito a uma prestação por

morte e à pensão de sobrevivência, previstos no art. 3º e), f) e g) da Lei n.º 7/2001.

Para que o membro sobrevivente possa usufruir destes direitos, deverá obter sentença

que reconheça estarem verificadas as exigências do artigo 2020º do Código Civil.

c) UNIÃO DE FACTO COM A NOVA ALTERAÇÃO 23/2010

A publicação da Lei n.º 23/2010, apresenta significativas alterações, numa dupla

perspectiva9. Vem proceder à primeira alteração da Lei n.º 7/2001, e adoptar novas 9 ro de 2010;

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

11

medidas de protecção das uniões de facto. É agora estipulado na lei a forma de prova da

união de facto, artigo nº2-A; o direito a indemnização por danos não patrimoniais, por

morte da vítima que vivesse em união de facto (alteração ao artigo 496.º do Código

Civil); a possibilidade do membro sobrevivo beneficiar das prestações por morte artigo

nº3; protecção da casa de morada de família em caso de morte, artigo nº5 ou ruptura,

artigo nº4, entre outras medidas que visam a aproximação directa ao regime do

casamento.

Apesar da existencia de um regime concreto da Uniao de facto há ainda,

contrariamente ao casamento, há ainda problemas que podem ser levantados. A

constituição da união de facto não obedece a qualquer requisito especial de forma, como

um contrato um registo obrigatório e a sua dissolução opera por mera vontade de uma

das partes.

Outra diferença do casamento passa por não considerar o unido de facto herdeiro

legitimário, só o sendo legalmente considerado herdeiro testamentário se o unido

outorgar testamento a favor do parceiro, mas sempre limitado à quota disponível da sua

herança.

IV. UNIÃO DE FACTO NO REINO UNIDO

a) UNMARRIED FAMILY / COHABITATION

No Reino Unido há tradicionalmente a ideia de favorecer o regime de casamento, considerado apenas o casamento moral e socialmente aceitável. Embora, já se comece a

verificar também no Reino Unido um aumento deste regime sendo que a coabitação

pode apresentar uma verdadeira alternativa ao casamento. Há mais de quatro milhões de casais que vivem juntos em Inglaterra10 e País de

Gales em coabitação. No entanto, os sujeitos e as suas famílias têm menos direitos e

responsabilidades do que as pessoas que são casadas ou que formaram uma parceria

civil. Isto acontece porque não há legislação formal de direitos nem de

responsabilidades para o regime de coabitação.

10 MURFIN ANTONIA, LIVING TOGETHER MAY 2006,

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

12

Coloca-se a questão se os benefícios de um casamento não serão também gerados

por relações em união de facto, nomeadamente na questão da divisão e suporte

familiar11.

A maioria desta lei, que regula a coabitação, tem desenvolvido através

de jurisprudência, em vez de intervenção legal. À medida em que os tribunais têm sido

capazes de responder às mudanças costumes sociais tem sido limitado pelas

restrições gerais sobre jurisprudência como uma forma de legislar. Em particular, uma

descoberta que um convivente tem uma parte da propriedade na casa da família (ou

qualquer outra propriedade) deve depender de prova de algum direito a ele com base

em ações passadas ou intenções. Por outro lado, um divórcio ou dissolução de

uma parceria civil os tribunais poderão exercer um poder discricionário judicial para

ajustar propriedade entre as partes, tendo em conta as suas necessidades futuras e

pesando as contribuições não financeiras feitas por cada um para o bem-estar da família

durante a o relacionamento.

Há projectos de lei, como o desenvolvido pelo Lord Lester of Herne Hill. Este

projecto de lei pretendia fornecer determinadas protecções para as pessoas que vivem

juntos como um casal ou viveram juntos como um casal. Realizou-se a first reading a

11 de Dezembro de 2008, a Second Reading ocorreu a 13 de amrço de 2009, em que os

membros da Câmara dos Lordes discutiram os princípios gerais de Cohabitation Bill12 .

Relativamente à lei existente, algumas indicações da lei referem a situação dos pais

não casados13, levando a definir a coabitação como o acto de viver juntos, semelhante a

um estado de casamento. Podem ser considerados alguns factores como: viver sobre o

mesmo tecto, partilhar as tarefas domésticas, manter uma relação estável e com

durabilidade, administrar em conjunto as finanças do casal e manter uma relação

sexual.14

Como forma de minimizar os problemas jurídicos e financeiros que podem

surgir, visto que há inexistência de um regime de protecção do unido de facto concreto,

existem os acordos de coabitação ou acordo de convivência.

11 Pag 30 XXXX 12 COHABITATION BILL, MOVED BY LORD LESTER OF HERNE HILL 13 DUFFIELD, NANCY/THEOBALD, JO, FAMILY LAW AND PRACTICE, LONDON, JORDANS, 2002 14 Pagina59 sugestão de Tyrer J in Kimber v Kimber

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

13

Um acordo de coabitação é um contrato privado entre coabitantes, que

normalmente tenta estabelecer contratualmente para as partes os mesmos direitos e

obrigações que as pessoas casadas obtêm pelo costume, estatuto, e acordo 15 . São

vinculativos como contrato, desde que cumpra os requisitos básicos do direito dos

contratos. Este acordo é apenas para uso quando as partes pretendem viver na Inglaterra

ou no País de Gales. O acordo tem deste modo, dois propósitos principais, proteger a

nível financeiro: em regime de bens e casa própria em caso de morte, e tomar

providências para um rompimento da coabitação.

A responsabilidade parental é exercida mediante Responsability agreement

regulations 16. Em caso de não existir um acordo apenas a mãe tem algum direito

automático em relação à criança. No entanto, desde 1 de Dezembro de 2003 (S111 da

Adoção & Children Act 2002) é agora mais fácil para um pai para adquirir direitos

similares, este pode recorrer ao Family proceedings court, High court ou county court,

para a responsabilidade parental conjunta, uma ordem de residência ou para um fim de

contato regular).

b) CIVIL PARTNERSHIP

No Reino Unido é permitida a celebração da união civil, Civil Partnership17 , 2004.

Todavia isso não significa que é permitido, o casamento entre duas pessoas do mesmo

sexo. Os casais homossexuais podem, através das uniões civis, usufruir de quase todos

os direitos consagrados para os casados, sendo que até o processo de dissolução de uma

parceria civil é semelhante ao do divórcio de um casamento heterossexual. Os parceiros

registados podem ainda adoptar conjuntamente crianças nacionais ou

estrangeiras e os filhos do outro parceiro.

Alguns direitos garantidos por este regime: relacionados com impostos, incluindo

imposto sobre herança, benefícios de emprego, benefícios de pensão, rendimentos

relacionados com benefícios, créditos fiscais e de apoio à criança, capacidade de aplicar

para a responsabilidade parental para a criança o seu parceiro civil, herança de contratos

15 P263, DUFFIELD, NANCY/THEOBALD, JO, FAMILY LAW AND PRACTICE, LONDON, JORDANS, 2002 16 P 271 Family law and pratice, jordans, 2002 17 http://www.cornwall.gov.uk

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

14

de arrendamento, proteção contra violência doméstica, fins de imigração e

nacionalidade.

V. GRELHA COMPARATIVA E SÍNTESE COMPARATIVA

a) Grelha Comparativa

Em Portugal Reino Unido

Cohabitation / Civil Partnership

Lei específica Sim Não Sim

Requisitos Sim Não Sim

Distinção entre sexos Não Sim Sim

Benefícios Sim Não, mas há

possibilidade de

acordo de

convivência

sim

Protecção em caso de

morte

Sim Não

Protecção em caso

separação

Sim Não

Regime de bens e casa de

partilha

Sim Não

Adopção Sim mas sujeitos

de sexo diferente

Não Sim

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A UNIÃO DE FACTO Em Portugal e no Reino Unido

15

b) Síntese Comparativa

Em Portugal verifica-se a existencia de um regime de aproximação ao casamento

que pretende garantir o máximo de direitos e deveres eqeuivalente aos dos conjugues.

No Reino Unido não exite uma regulação por lei de união de facto. Através da

Jurisprundecia são por vezes garantidos alguns direitos dos unidos de facto ou podem

ser garantidos através de acordos de convivência, nomeadamente acordos feitos pelo

parceiros.

Por outro lado, so em 2010, o regime de união de facto de portugal passou a integrar as

relações entre pessoas do mesmo sexo, enquanto o reino unido, consagram as parcerias

de vida registada com grande parte dos direitos e deveres do casamento.18

Assim constituição da união de facto não obedece a qualquer requisito especial de

forma, como um contrato ( no caso de cohabitaçao no Reino Unido) ou um registo

obrigatório (civil paternship), e a sua dissolução opera por mera vontade de uma das

partes.

Outra diferença do casamento passa por não considerar o unido de facto herdeiro

legitimário, só o sendo legalmente considerado herdeiro testamentário se o unido

outorgar testamento a favor do parceiro, mas sempre limitado à quota disponível da sua

herança.

18 Pagina 9, Gravito, Lisete/Leitão Maria, CASAMENTO E OUTRAS FORMAS DE VIDA EM COMUM ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO, DILP Lisboa, 2007