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UMA PUBLICAÇÃO DO OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE LISBOA VERSÃO ELECTRÓNICA EM http://www.oal.ul.pt/oobservatorio/ Um planeta extra-solar, uma visão distante mas tão familiar.

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UMA PUBLICAÇÃO DO OBSERVATÓRIO ASTRONÓMICO DE LISBOA

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Um planeta extra-solar,uma visão distante mas tão familiar.

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PRÉMIO NOBEL PARA A ASTROFÍSICA

FICHA TÉCNICA

O Observatório é uma publicação do Observatório Astronómico de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa, Telefone: 213616739, Fax:213616752; Endereço electrónico: [email protected]; Página web: http://oal.ul.pt/oobservatorio. Edição: José Afonso,Nuno Santos, João Lin Yun, João Retrê. Composição Gráfica: Eugénia Carvalho. Impressão: Tecla 3, Artes Gráficas, Av. Almirante Reis, 45A,1150-010 Lisboa. Tiragem: 2000 exemplares. © Observatório Astronómico de Lisboa, 1995.

ED

ITO

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L

João Lin Yun, Director do Boletim O Observató[email protected]

O PRÉMIO Nobel de Física do ano de 2006 foi atribuído a dois astrofísicosnacionais dos Estados Unidos da América. O prémio foi atribuído pelosseus trabalhos sobre a origem do Universo (Big Bang) utilizando dadosobtidos pelo satélite COBE. A imagem do céu obtida por este satéliterepresenta a fotografia da época mais recente do Universo que é possívelobter, quando este tinha cerca de trezentos mil anos. Com a atribuição

deste prestigiante prémio, a Astronomia e a Astrofísica vêem assim mais umavez reconhecido o seu valor, sendo que nos últimos anos foram vários os prémiosNobel atribuídos a trabalhos de Astrofísica, tendo o último sido o de 2002.

Note-se que os prémios Nobel de Química e de Medicina foram atribuídos atrabalhos na área da Genética comprovando a importância crescente das ciênciasmedico-biológicas, genéticas e bio-tecnológicas. No geral, como se esperava,vivemos a “época de ouro das ciências da saúde” e podemos pois afirmar que aAstronomia se junta à Genética neste início de milénio, como ciências de grandevalor e grande interesse para a Humanidade. Esta associação, das “coisas doEspaço” (Astronomia) com os mecanismos de comunicação e informação celulares(Genética), é inesperada, dado que o interesse desta última é eminentementeprático enquanto que o interesse da primeira parece ter pouca aplicação prática.Quiçá para o cérebro humano seja tão importante a procura de maior longevidadecomo a procura de entender o Universo em que vive!

Curiosamente, em paralelo com o crescimento generalizado do consumismo eda perseguição de valores materiais, da luta por poder e por prestígio social, temaumentado também a inquietação e a procura de significado para a vida e para omundo em que vivemos. Esta procura manifesta-se pela valorização de tudo oque possa nos aproximar do transcendente ou daquilo que mais se lhe assemelha,neste caso o Espaço, o Universo, cheio de mistérios, de perguntas e de algumasrespostas. Por isso, por muito materialista que a nossa sociedade se torne,haverá sempre algumas mentes que preferirão investigar o universo e que tomarãoa decisão de estudar Física e Astronomia para poderem compreender o Universo.E os outros, que porventura os olham com desdém, não se importarão de lhes darlugares de destaque, pois bem no fundo admiram e reconhecem o seu valor.

Ainda mais curiosamente, de entre os conceitos filosóficos ou religiosos que oHomem concebeu ao longo da sua curta estadia na Terra, é a filosofia e a religiãoorientais milenares que mais se aproximam da visão científica moderna do mundoonde observador e observado começam a não ser distintos. E as religiões pagãspoliteístas, antes consideradas mais atrasadas que as religões monoteístas,revelam-se hoje ser mais adequadas. Um deus único adaptava-se talvez à épocados imperadores ou da realeza. Nas democracias modernas, uma visão politeístaparece ser mais adequada e actualizada. A Terra como entidade global (a deusaGaia) com os seus problemas que não conhecem fronteiras. E os vários deuses damitologia grega no Olimpo, cada um dos quais simbolizando uma actividadehumana ou processos mais ou menos autónomos do cérebro humano.

A Ciência é uma criação da mente humana e essa criatividade tem sido premiadade muitas formas, especialmente com a atribuição do prémio Nobel. A atestar oseu enorme valor para o cérebro humano, a Astronomia tem sido generosamentecontemplada. Apesar da sua fortuna ter sido obtida em grande parte devido àacção de explosivos, e portanto estar relacionada com a guerra, Alfred Nobel tevevisão suficiente para deixar um legado que perdura após a sua morte e lhe conferea melhor imagem possível: a de alguém amante das artes, das ciências e da Paz.Mais ainda do que no seu tempo, urge unirmos esforços e ultrapassar fronteiras.E que ciência pode melhor unir os povos e nações? A Astronomia sem dúvida!Estudamos todos o mesmo céu, há só um Universo, há só uma Terra...

NA CAPA:

Ilustração artística de um planetaextra-solar em torno da sua estrelaanfitriã. A propósito do anúncio darecente descoberta de 16 possíveisplanetas extra-solares, esta imagemmostra um planeta comaproximadamente a massa deJúpiter, em órbita de uma estrelasemelhante ao Sol. Quando oplaneta passa em frente à suaestrela (fenómeno designado portrânsito), a luminosidade querecebemos desta decresceligeiramente, permitindo assiminferir a presença de um objecto nasua órbita. Até hoje foramdescobertos 14 planetas extra--solares que transitam a sua estrela.Estas descobertas permitirammedir com rigor o raio e adensidade média destes planetas, eassim inferir a sua composição.Todos os planetas em trânsito atéhoje descobertos são planetasgigantes gasosos como Júpiter, eorbitam as respectivas estrelas comperíodos orbitais inferiores a 4 dias.Cortesia: ESO.

Cortesia: NASA, ESA e H.E. Bond (STScI).

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&

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A ESTRELA, A ANÃ E O PLANETA Nuno Santos CAAUL/OAL

Uma equipa internacional deastrofísicos descobriu uma pequenaestrela anã a orbitar uma outra estrelasemelhante ao Sol. Esta última era jáconhecida por possuir um planeta emórbita. Esta descoberta pode ajudar acompreender melhor as condições emque se podem formar sistemasplanetários.

Ao longo da última década osastrofísicos têm descoberto centenas deplanetas extra-solares, a orbitar estrelassemelhantes ao nosso Sol. Na maioriados casos estes planetas orbitam estrelassimples. No entanto, alguns planetasdescobertos encontram-se em sistemasbinários de estrelas. Embora as duasestrelas estejam em geral muito distantesuma da outra (o planeta orbita apenasuma delas), um hipotético habitante deum desses mundos poderia sem dúvidaobservar um céu com dois “sóis”.

Em primeira análise, a existência de planetas em sistemasmúltiplos de estrelas poderia não ser inesperada, já que a maioriadas estrelas que vemos no céu são elas próprias sistemas binários.No entanto, a presença de uma estrela companheira podeinfluenciar, ou mesmo impedir, o processo de formação dosplanetas. Por exemplo, se uma estrela tiver uma companheirapróxima, o disco de gás e poeira onde os planetas se formam(quando a estrela é ainda jovem) pode ser destruído, impedindo

que o material se condense dandoorigem a um sistema planetário.

Agora, uma nova descoberta realizadapor uma equipa internacional deastrofísicos trouxe mais dados sobreesta questão. Utilizando o telescópioUKIRT de 3.8-m, no Hawaii, e otelescópio NTT (ESO, La Silla, Chile)os investigadores descobriram que aestrela HD3651, uma estrela para a qualfoi descoberto em 2003 um planeta emórbita, possui uma pequena estrelacompanheira (denominada deHD3651B). Esta pequena estrelaencontra-se 16 vezes mais distante daHD3651 do que Neptuno dista do Sol,e é uma das estrelas menos brilhantesdescobertas até hoje. Segundo oscálculos dos astrofísicos, a HD3651Bé uma estrela de tipo anã-castanha, edeverá ter apenas entre 20 e 60 vezes a

massa de Júpiter (entre 2 e 6 centésimas da massa do Sol). AHD3651, é por si uma estrela semelhante ao nosso Sol que seencontra a aproximadamente 36 anos-luz da Terra, e pode serobservada na direcção da constelação de peixes.

Neste caso, o planeta que orbita a HD3651 encontra-se muitomais perto da estrela do que a estrela companheira, o que explicaque este se tenha podido formar. No entanto, é interessanteobservar que planetas e anãs castanhas se podem formar emsimultâneo em torno de estrelas semelhantes ao Sol.

Novas observações do TelescópioEspacial Hubble revelam o crescimento deuma galáxia de grande massa, à medida quegaláxias mais pequenas vão colidindo comela e sendo absorvidas. Esta é a melhorvisualização até hoje obtida de umprocesso que se crê estar na origem daformação de galáxias de grande massa noUniverso.

Pensa-se que a formação de galáxias noUniverso se processa, fundamentalmente,num cenário hierárquico de formação degaláxias grandes a partir da aglomeraçãode galáxias mais pequenas. Embora oprocesso de colisão entre galáxias tenhasido observado numerosas vezes, e pareçaser mais frequente no Universo primitivo,o modo como este crescimento galácticose dá é ainda essencialmente desconhecido.As observações do Hubble agorapublicadas mostram precisamente este processo a desenrolar-se.

A rádio galáxia MRC 1138-262, denominada pelos autores dainvestigação de galáxia “teia de aranha”, era já conhecida comouma galáxia gigante com um super buraco negro activo no seuinterior (revelado pela emissão rádio), a cerca de 10.6 mil milhõesde anos-luz de distância. Sabia-se também que esta galáxia seencontrava rodeada de outras galáxias, um proto-enxame de galáxias

em formação.Com o recurso ao Telescópio Espacial

Hubble, os astrónomos efectuaram umaobservação muito profunda de toda a zonaenvolvente da MRC 1138, capaz de revelartoda a “acção” que se encontra a decorrernas vizinhanças da galáxia. O resultado foielucidativo: as galáxias que rodeiam a MRC1138, até mais de 100,000 anos-luz dedistância, apresentam sinais morfológicos(aparência alongada) indicativos de forteatracção gravitacional da galáxia massiva.As cores ópticas destas galáxias “mosca”(porque apanhadas na teia, segundo ospróprios autores…) são indicativas deformação estelar apreciável (várias vezesa formação estelar observada na Via--Láctea), o que seria de esperar se estasgaláxias se movimentam rapidamente,capturadas pela gigantesca MRC 1138,

no ambiente denso do proto-enxame em formação.Este é o ambiente ideal para testar os modelos teóricos da

formação de galáxias de grande massa. A complexidade da estruturaque engloba a MRC 1138, agora observada com um detalhe semprecedentes, concorda qualitativamente com as previsões de taismodelos, mas a presença das galáxias alongadas acima referida éainda motivo de surpresa por parte dos investigadores.

A FORMAÇÃO DE UMA GALÁXIA José Afonso CAAUL/OAL

A complexidade da galáxia MRC 1138-262,rodeada de galáxias satélite presas no seu abraçoderradeiro. Esta imagem do Hubble revela, em fla-grante, a formação de uma galáxia de grandemassa no seio de um proto-enxame de galáxias,agregando galáxias mais pequenas e crescendo àmedida que as absorve. Cortesia: ESA, NASA,George Miley e Roderik Overzier (Observatório deLeiden, Países Baixos).

A estrela HD3651 e a sua pequena companheira agoradescoberta, a HD3651B. As outras pequenas estrelas naimagem são estrelas de fundo, não associadas ao sistemaagora descoberto. Cortesia do ESO.

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Nos últimos anos temos vindo a perceber a importância doequilíbrio frágil em que a Terra se encontra. A Naturezaencarregou-se de fazer com que todos os elementos seconjugassem de uma forma harmoniosa e adequada para odesenvolvimento da vida. Podemos hoje pôr em evidência aforma como os fenómenos terrestres estão interligados, e queé esta ligação que conduz a um ambiente protector, que permitea existência de vida no nosso pequeno planeta. Osmecanismos que regulam este equilíbrio revelam-se nãoapenas nos ciclos quotidianos que observamos, mas tambémnoutros que não conseguimos observar tão directamente.

Começa a existir uma consciência crescente de que todos osactos irreflectidos perante o meio ambiente que nos suportatêm uma consequência nefasta não só directamente nos seresvivos mas também no próprio suporte da vida, a Terra.Contudo, ainda que possamos optar por salvaguardar a nossacasa, quando a Natureza segue o seu percurso natural, existemfenómenos naturais perante os quais, apesar do enormeavanço intelectual e tecnológico que conseguimos efectuarnos últimos 100 anos, nada podemos fazer. Referimo-nos aameaças ou catástrofes cósmicas!

OS EVENTOS MAIS PODEROSOS DO UNIVERSOTal como tudo no Universo, uma estrela possui um ciclo

de vida; nascimento, adolescência, vida adulta e por fim,inevitavelmente a morte. Com tempos de vida que vãodesde muitos milhões de anos até vários milhares demilhões de anos, a morte de uma estrela é anunciadaquando esta deixa de ter hidrogénio para alimentar asreacções nucleares que ocorrem no seu interior e quefazem delas objectos tão poderosos. Quando uma estrelamorre, os átomos de hidrogénio, de hélio e de outroselementos podem tornar-se parte integrante da formaçãode novas estrelas. Quando uma estrela de grande massachega ao final da sua vida dá origem a elementos pesadoscomo o ferro e carbono que por sua vez têm um papelfundamental no nascimento de planetas e dos seres vi-vos que neles possam habitar. Este processo traduz-senuma reciclagem a nível cósmico, onde nada se perde,onde tudo está interligado de forma a que o fim de umevento seja o início de outro.

O tempo de vida de uma estrela e a formacomo esta morre está directamenteassociada à sua massa. A morte de umaestrela, com uma massa entre 1 e 8 massassolares, como é o caso do Sol, é um eventorelativamente calmo e pacífico, no qual oobjecto inicial se transforma num outro(através de processos e fasesintermediárias) a que damos o nome deanã branca. No entanto poderá dizer-se omesmo de uma estrela de grande massa?

Após consumir todo o seu combustível,uma estrela de grande massa termina asua vida num evento cataclísmico onde oseu núcleo colapsa e a maioria da suamatéria é ejectada para o Espaço avelocidades colossais. Esteacontecimento, um dos mais violentos e

espectaculares de todo o Universo, é designado por Su-pernova (Tipo II). Durante esta explosão é libertada quaseinstantaneamente uma quantidade enorme de energia, 100vezes maior que toda a energia que o Sol tem vindo alibertar desde a sua formação há 4,6 mil milhões de anosatrás. Pode então verificar-se um aumento exponencialdo brilho da estrela, que pode perdurar por dias ou atémeses e chega a ser superior ao brilho combinado detodas as estrelas de uma galáxia.Porém, existe outro tipo de supernovas (Tipo Ia) que

ocorrem devido a um processo totalmente diferente dodescrito anteriormente. Uma supernova de Tipo Ia ocorreem sistemas binários em que está presente uma anã branca.Este objecto, altamente denso, possui uma força gravitacionalintensa e no caso de se encontrar suficientemente perto dasua estrela companheira, acaba por “roubar” matéria a esta,adicionando-a a si. Esta adição de matéria na anã brancaorigina um aumento de massa que, ao atingir um certo limiteacaba por fazer com que este objecto compacto se desintegrede uma forma catastrófica originando assim uma super-nova de Tipo Ia.É difícil imaginar algo tão poderoso como uma super-

nova, no entanto existe um outro fenómeno que emboramenos compreendido possui o brilho extremo de biliõesde “Sóis” – as explosões de raios-gama (ERG). Há váriasdécadas que os astrónomos sabem da existência de doistipos de ERGs: as de longa duração, que duram algumasdezenas ou centenas de segundos, e as de pequenaduração, que duram entre uns poucos milisegundos a umsegundo. Na última década, investigações intensasmostraram que as explosões de longa duração são o“grito” de morte de estrelas de grande massa em jovensgaláxias distantes. Embora não se saiba muito bem aorigem das explosões de curta duração, pensa-se queestas são o produto final de uma classe de estrelas bináriascomposta por duas estrelas de neutrões velhas, ou umaestrela de neutrões e um buraco negro, que se aproximamlentamente um do outro à medida que as suas órbitasdiminuem ao longo de centenas de milhões de anos.Eventualmente os objectos ficarão tão próximo um dooutro, que se desfazem numa explosão inimaginável.

RADIAÇÃO E RAIOS CÓSMICOSNo nosso dia a dia estamos

constantemente imersos em radiação deorigem artificial e natural. Cerca de 15%de toda a radiação com que convivemosprovem de fontes artificiais como osaparelhos de raios-X utilizadosfrequentemente em medicina. Os outros85% provêm de fontes naturais, seja nointerior do nosso planeta, como é o casodo urânio das centrais nucleares e dopotássio que consumimos habitualmente nanossa alimentação, ou no exterior do nossoplaneta. Todos os dias chega até nós, numlargo espectro de energias, radiaçãoproveniente do Espaço. Esta radiação, defontes variadas como estrelas, supernovas

CATÁSTROFES CÓSMICASO PERIGO DO QUE NÃO VEMOS

Um dos remanescentes maisconhecidos de uma supernova, aNebulosa do Caranguejo. A explosãodesta estrela ocorreu em 1054 e foiregistada por astrónomos chineses.Cortesia: NASA, ESA, J. Hester e A.Loll (Universidade do Arizona).

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João Retrê

e explosões de raios-gama variaentre as pouco energéticasondas de rádio e infravermelhose os mais perigosos ultravioletase raios-gama. Quanto maisenergética a radiação, maior é

o perigo que esta representa para um organismo biológico.Para além da radiação, existe um outro tipo de perigopara qualquer ser vivo: os raios cósmicos. Formados porfluxos de partículas, os raios cósmicos são constituídosprincipalmente por protões que viajam a velocidades daordem de 90% da velocidade da luz, e por outraspartículas, nomeadamente partículas alfa (núcleos dehélio) e uma pequena porção de núcleos de outros átomosleves. Embora ainda em estudo, acredita-se que estaspartículas possam representar um risco potencial paratecidos biológicos danificando directamente o ADN dascélulas.

Sabe-se que as supernovas e as explosões de raios-gama,para além de emitirem fotões altamente energéticos (i.e.radiação gama, ultravioleta, raios-X), aceleram também raioscósmicos tornando-os extremamente energéticos econsequentemente perigosos.

A ATMOSFERA DA TERRAO nosso planeta possui as condições ideais à formação

da vida como a conhecemos. A distância aque se encontra do Sol, a sua massa e a suacomposição são exemplos de um conjunto maisvasto de factores que se conjugaram para queo nosso planeta esteja repleto de vida. Todosos seres vivos possuem mecanismos de defesae adaptação ao seu meio ambiente. Pensandona Terra não como um ser vivo mas sim comoum suporte de vida, podemos facilmenteconcluir que para o fazer tem de possuirtambém defesas contra o meio externo – oUniverso. A primeira e mais eficaz defesa detodas é a sua atmosfera. A atmosfera da Terraé um escudo perfeito tanto contra colisões deobjectos com o nosso planeta como contra umavariedade de tipos de radiação e partículascósmicas nocivas aos seres que a habitam.Constituída por várias camadas, cada uma com a suadensidade, temperatura e outras características, aatmosfera é constituída por 77% de azoto, 21% deoxigénio e 2% de outros gases, nos quais estão incluídoso dióxido de carbono e o ozono.

A cerca de 20-30 km acima da superfície terrestre, numacamada da atmosfera designada por estratosfera, o azotomolecular aí presente absorve os perigosos raios-X e raios--gama, não permitindo que estes atinjam a sua superfície.Certamente que todos já ouvimos falar acerca da crescentepreocupação com a redução da camada de ozono. Estapreocupação advém do facto de esta camada ser uma dasbarreiras que possuímos contra a radiação ultravioleta nocivaque tem origem no Sol e em outros objectos exteriores aonosso planeta. Sem a camada de ozono, os raios ultravioletafacilmente chegam até nós, aumentando os casos de cancroassim como um número crescente de doenças.

EXTINÇÕES NA TERRAExistem teorias que defendem que algumas das

extinções em massa ocorridas na Terra terão sidoconsequência de eventos como supernovas ou explosõesde raios gama que ocorreram relativamente próximosda Terra. Esta proximidade levaria a que a nossaatmosfera sofresse uma incidência de um fluxo intensode radiação altamente energética.

A pergunta que terá mais lógica colocar a esta alturaé: se a atmosfera da Terra nos protege contra a radiaçãonociva, qual o perigo que esta representa? É um factoque a radiação energética proveniente de uma super-nova ou explosão de raios-gama, relativamente próxima,seria absorvida pelas moléculas de azoto na atmosfera.O problema reside no facto de que após esta absorção,as moléculas de azoto ficariam ionizadas e mais tardecombinar-se-iam com as moléculas de oxigénio paraformarem óxido nítrico e outros compostos de azoto.Estas novas moléculas actuam como catalisadores paraa destruição do ozono, o qual sabemos ser essencial paraimpedir os raios ultravioletas de chegarem até nós.Estudos mostram que estes novos compostos de azotodemorariam uma ou duas décadas a serem destruídos, oque faria com que o nosso planeta ficasse, durante esseperíodo de tempo, imerso em radiação ultravioleta. Istoacabaria por destruir inevitavelmente a maioria dasformas de vida à face da Terra.

Juntamente com a radiação, seríamos tambémbombardeados por raios cósmicos. Quando um raio

cósmico colide com o núcleo de uma moléculade azoto ou de oxigénio da atmosfera terrestre,é produzida uma partícula altamente energética,com aproximadamente 270 vezes a massa deum electrão, a que se dá o nome de pião. Estapartícula acaba por decair e originar electrões,muões e neutrinos, partículas sub-atómicas quevão acabar por bombardear a superfícieterrestre, juntamente com radiação gama queacompanha este decaimento.Embora todos os dias estejamos expostos aos

raios cósmicos, o nível e a intensidade com queestes chegam à superfície da Terra é diminuto.No entanto, se uma supernova ou explosão deraios-gama ocorresse perto da Terra, aexposição a estas partículas nocivas aumentariaexponencialmente, aumentando também o risco

de vida no nosso planeta.Embora deparados com esta realidade, a de uma

possível catástrofe, existe uma outra que se torna a cadadia uma certeza. Não será necessário um evento tãodramático para mudar a vida à face da Terra, quando nofundo ela já está a ser mudada. Não pelos processosmais poderosos em todo o Universo, mas sim pela mãohumana. A questão é se estaremos um dia sujeitos atodos estes perigos devido a algo que não podemoscontrolar, ou devido à pura e simples negligência dosseres humanos, incapazes de tomar bem conta da sua“casa”: a Terra, até agora o único planeta que temos acerteza de albergar vida.

Imagem de uma molécula de DNA. Aradiação e raios cósmicos são capazes dedanificar estes “tijolos” da vida. Cortesia:Accelrys, www.accelrys.com

Ilustração artísticados efeitos de umaexplosão próxima deraios-gama a atingir aTerra. Cortesia: NASA.

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Sandra Raimundo

As auroras sempre foram uma fonte de fascínio para quem asobserva. Os povos nórdicos tentavam explicar as luzes no céunocturno, a que chamavam “luzes do norte”, através de históriasque envolviam espíritos, ou lutas de deuses nos céus. Nofolclore Dinamarquês, existe um mito que descreve as aurorascomo o reflexo das asas dos cisnes, no gelo do pólo norte. Ofascínio é o mesmo, mas conhecemos hoje, a explicaçãocientífica para as auroras. Estas são o resultado da interacçãode partículas provenientes do Sol, com o campo magnéticoterrestre.

Na parte exterior líquida do núcleo terrestre, existem partículascom carga eléctrica. Estas partículas movimentam-se e geramcorrentes eléctricas, que por sua vezoriginam um campo magnético que seestende para além da atmosfera terrestre.O campo magnético terrestre pode serconsiderado como um dipolo, ou seja,vamos ter um pólo sul magnético, e umpólo norte magnético, tal como acontecenum íman. As linhas azuis que vemos nafigura 1, são as chamadas linhas docampo magnético, que unem o pólo nortee o pólo sul magnéticos. Estas linhasrepresentam o percurso que umapartícula com carga eléctrica faria, sefosse colocada naquela zona do Espaço.

Proveniente da superfície do Sol, temosum fluxo de partículas, chamado ventosolar. Este fluxo é constituído, na maiorparte, por electrões e protões (partículascom carga eléctrica), que se propagampelo Espaço. Ao chegar perto da Terra, com velocidades quepodem atingir os 400 km por segundo, o vento solar vai interagircom o campo magnético terrestre. As partículas vão serdeflectidas, tal como a água quando encontra a proa de umbarco em movimento. O campo magnético terrestre vai agirassim como um escudo, criando uma zona em torno da Terra, amagnetosfera, na qual a pressão do campo magnético dominaa pressão do vento solar. A magnetosfera vai ser moldada pelovento solar, assumindo uma forma semelhante à da cauda deum cometa. Esta região só foi descoberta nos anos 50, pelosprimeiros satélites que foram postos emórbita.

Quando a magnetosfera fica sobre-carregada de partículas provenientes dovento solar, algumas conseguem passar, esão conduzidas pelas linhas do campomagnético até aos pólos magnéticos,atingindo a parte superior da atmosfera.Aqui dá-se a reacção que vai produzir a au-rora. As partículas vão colidir com os átomosde diversos gases, presentes na atmosfera,transferindo-lhes energia. Os átomos vãolibertar esta energia em excesso sob a formade fotões, ou seja, luz. Este processo ésemelhante ao que ocorre nas luzes de néon,que devem o nome ao facto do gás que sofre as colisões sernéon. Para as auroras serem vistas a olho nu, é necessário quesejam emitidos perto de 100 milhões de fotões. A cor da luz

emitida pelas auroras varia, já que a atmosfera é constituídapor vários gases, e cada gás emite luz com uma cor característica.O resultado vai ser um jogo de luzes coloridas no céu, movendo--se, à medida que as partículas vão atingindo a camada supe-rior da atmosfera.

A luz das auroras provém de uma altitude entre 100 e 200 km,e está confinada a uma região oval, que pode chegar aos 4000ou 5000 km de diâmetro, em torno dos pólos magnéticos. Narealidade, temos de distinguir os pólos geográficos (pelos quaispassa o eixo de rotação da Terra), e os pólos magnéticos. Sefizermos passar um eixo pelos pólos magnéticos, vemos queeste se afasta em 12º do eixo de rotação, o que faz com que os

pólos magnéticos estejam, para efeitospráticos, muito próximos. Em termos denome, são distinguidas as auroras queocorrem no hemisfério norte das dohemisfério sul. As do hemisfério nortesão chamadas de auroras boreais, quevem do latim para “luzes do norte”, e asdo hemisfério sul são chamadas de au-roras austrais, “luzes do sul”.

Podemos perguntar-nos, agora queconhecemos o mecanismo de formaçãode auroras, onde e quando podemosobservar uma. Estas perguntas sãomuito difíceis de responder, já que nãose consegue prever, com mais do quealgumas horas de antecedência, quandovai ocorrer uma aurora. Existe umaprobabilidade crescente de vermos umaaurora, à medida que nos afastamos do

equador, devido ao facto das partículas serem conduzidas pelocampo magnético até aos pólos. Em geral, podem ser observadasaté latitudes afastadas de 30º dos pólos magnéticos.

Por vezes, ocorre um evento violento no Sol: é ejectada umagrande quantidade de partículas com carga eléctrica da suacamada superior. Estas partículas vão sobrecarregar amagnetosfera e produzir auroras mais brilhantes, a latitudesmais baixas, ou seja, em regiões onde normalmente não seavistavam auroras. No entanto, a ejeccão de grandesquantidades de partículas pode também ter efeitos nocivos,

como perturbar transmissões rádio e danificarsatélites de comunicações. As auroraspodem ser observadas a partir do Espaço, etambém podem ser observadas nasatmosferas de outros planetas, como Júpiterou Saturno, onde ocorrem por motivossemelhantes aos da Terra.

O fenómeno das auroras, só começou a sercompreendido nas últimas décadas, aoestudar o campo magnético terrestre. Istomostra-nos o quanto ainda há por descobriracerca do nosso planeta, e como isso nospode ajudar a compreender melhor osfenómenos que ocorrem no Sistema Solar.

Nota: Para mais informações, consultar: http://meted.ucar.edu/ do projecto COMET.

AURORAS

Figura 1 - Podemos ver uma montagem a partir deuma imagem real do Sol, onde se representa o ventosolar a incidir na magnetosfera. Créditos: SOHO(ESA e NASA).

Figura 2 - Fotografia de uma aurora noscéus da Finlândia. Créditos: Tom Eklund– http://www.personal.inet.fi/koti/tom.eklund/aurora.html

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PARA OBSERVAR EM NOVEMBRO

VISIBILIDADE DOS PLANETAS

Mercúrio: Dia 3 de Novembro, deixará de ser visível ao fim da tarde e passará a ser visível como estrela da manhã,a partir de dia 15.Vénus: Não será visível durante o mês de Novembro.Marte: Em finais do mês irá reaparecer como estrela da manhã na constelação da Balança.Júpiter: Até meados do mês, será possível observar este planeta logo após o ocaso do Sol na constelação da Balança.Saturno: Com a sua elongação Oeste a aumentar gradualmente, poderá observar-se este planeta cada vez mais cedo,durante a segunda metade da noite.Urano e Neptuno: Poderá observar estes planetas na primeira metade da noite. Será possível encontrar Urano naconstelação do Aquário e Neptuno na constelação do Capricórnio. Utilize um telescópio para visualizar estes planetas.

Maarten Roos SeroteCatarina Fernandes

Carla Natário

ASTRO S

UDOKUA

STRO SUDOKU

18 de Novembro - Haverá máxima actividade das Leónidas, umachuva de meteoros associada ao cometa Tempel-Tuttle.

ALGUNS FENÓMENOS ASTRONÓMICOS

Complete a grelha de modo a que cada linha, coluna e grelha 3x3contenha as letras AFLMOPRTU. Depois de a grelha totalmente

preenchida, descubra o nome de duas partículas subatómicas constituintesdos raios cósmicos e o de uma terceira que é um dos resultados da colisão

destes raios com a atmosfera terrestre. Os nomes destas partículas poderãoestar escritos segundo qualquer direcção e sentido.

FASES DA LUA

Quarto Crescente 28 Nov - 06hLua Cheia 05 Nov - 13hQuarto Minguante 12 Nov - 18hLua Nova 20 Nov - 22h

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1 de Novembro às 0h16 de Novembro às 23h

O CÉU DE NOVEMBRO

Sol Mercúrio Vénus Marte Júpiter Saturno Urano Neptuno

Dia Nasc./Ocaso Nasc. Ocaso Ocaso Nasc. Nasc. Ocaso Nasc. Pass. Pass. Ocaso Pass. Ocaso

01112130

07h 03m/17h 37m

07h 14m/17h 27m

07h 25m/17h 20m

07h 35m/17h 16m

08h 28m

06h 47m

05h 48m

05h 57m

18h 09m

17h 10m

16h 31m

16h 20m

17h 43m

17h 39m

17h 40m

17h 45m

06h 50m

06h 45m

06h 40m

06h 36m

08h 24m

07h 56m

07h 27m

07h 02m

18h 26m

17h 54m

17h 22m

16h 53m

00h 52m

00h 15m

23h 34m

22h 59m

07h 41m

07h 04m

06h 26m

05h 52m

20h 44m

20h 04m

19h 24m

18h 49m

02h 23m

01h 43m

01h 04m

00h 29m

19h 11m

18h 32m

17h 53m

17h 18m

00h 24m

23h 42m

23h 03m

22h 28m

(para Lisboa; são necessárias pequenas correcções para outros locais do país. Veja em www.oal.ul.pt para outros dias)NASCIMENTO, PASSAGEM MERIDIANA E OCASO DOS PLANETAS

O mapa mostra o céu como pode ser observado em Portugal (latitude 38º N) nos dias e horas (legais) indicados. Orienteo mapa com a direcção para onde olha virada para si, p.e. se estiver a olhar para o Norte, vire esta página ao contrário.Este mapa pode ser usado igualmente noutros dias e horas de Novembro, apresentando-se o céu um pouco diferente.