fundamentos filosóficos para o serviço social

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  • 8/20/2019 Fundamentos Filosóficos Para o Serviço Social

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    Fundamentos

    Filosóficos para oServiço Social

    Sônia Maria de Almeida Figueira

    Adaptada/Revisada por Sônia Maria de A. Figueira

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    APRESENTAÇÃO

    É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Fundamentos Filosófi-

    cos para o Serviço Social , parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendiza-

    do dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar

    aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina.

    A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-

    ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail .

    Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,

    a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,bem como acesso a redes de informação e documentação.

    Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-

    mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para

    uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.

    A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!

    Unisa Digital

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    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5

    1 O NEOTOMISMO .................................................................................................................................... 71.1 O que é o Neotomismo .................................................................................................................................................81.2 O que é o Tomismo .........................................................................................................................................................81.3 A Retomada das Ideias de Tomás de Aquino .....................................................................................................101.4 O Neotomismo e o Serviço Social ..........................................................................................................................131.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................14

    1.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................14

    2 O POSITIVISMO ..................................................................................................................................... 152.1 O que é o Positivismo..................................................................................................................................................152.2 Principais Características do Positivismo .............................................................................................................162.3 O Positivismo no Brasil ...............................................................................................................................................182.4 O Positivismo e o Serviço Social ............................................................................................................................ 192.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................202.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................20

    3 O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO ........................................................................ 213.1 O que é o Materialismo Histórico Dialético ........................................................................................................223.2 O Desenvolvimento do Pensamento Marxista..................................................................................................273.3 As Leis Básicas da Dialética .......................................................................................................................................283.4 O Materialismo Histórico Dialético e o Serviço Social ....................................................................................293.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................303.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................30

    4 A FENOMENOLOGIA .........................................................................................................................314.1 O que é a Fenomenologia .........................................................................................................................................314.2 Principais Ideias da Fenomenologia ......................................................................................................................33

    4.3 A Fenomenologia e o Serviço Social .....................................................................................................................354.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................364.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................36

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 37

    RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 39

    REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................41

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    INTRODUÇÃO

    Esta disciplina visa ao estudo das correntes filosóficas que fundamentam as bases históricas e teó-

    ricas da profissão em seu processo de desenvolvimento no Brasil, buscando apreender o Serviço Social

    enquanto processo histórico, resultado das determinações criadas pelas relações sociais e pelos projetos

    de sociedade.

    Tem como objetivo, ainda:

      possibilitar o conhecimento dos valores expressos na profissão, na sua emergência e trajetória

    histórica;

      contribuir para que se identifique e utilize os pressupostos filosóficos que fundamentam a aná-

    lise das teorias sociais;

      apresentar as principais correntes filosóficas e suas influências no Serviço Social.

    Não podemos afirmar que existe uma filosofia do Serviço Social, porém esta profissão foi fortemen-te influenciada por algumas correntes filosóficas que embasaram e embasam sua teoria e sua prática nosdiferentes momentos históricos.

    Neste texto, vamos falar de algumas dessas correntes: o neotomismo, o positivismo, a fenomeno-

    logia e o materialismo histórico dialético, que estão presentes nos diferentes momentos da história doServiço Social e suas influências na formação e na prática dos Assistentes Sociais.

    O positivismo, a fenomenologia e o marxismo são as principais correntes teóricas do pensamentocontemporâneo, que, juntamente ao neotomismo, servem como nosso guia, pois nos baseamos nosconceitos das mesmas em nossas intervenções e em nossas pesquisas.

    Pretendemos apresentar os conceitos fundamentais destas correntes do pensamento, analisandoprimeiramente o neotomismo, sua origem nas ideias de Santo Tomás de Aquino e de que modo marcouo Serviço Social. Em seguida, apresentaremos o positivismo, sua concepção e a influência que exerceuno pensamento do Serviço Social, bem como as marcas que ainda hoje persistem da linha positivista emnossa profissão.

    O marxismo é mais uma corrente a ser analisada, quando pretendemos destacar suas principais ca-racterísticas e como esta linha de pensamento marxista acompanha o Serviço Social, desde o Movimentode Reconceituação até os dias atuais. A teoria marxista está comprometida com um projeto de transfor-mação da realidade social muito próximo do que propõe o projeto ético político dos assistentes sociais.

    Abordaremos, ainda, a fenomenologia, procurando destacar seus aspectos importantes, contex-tualizando seu surgimento e influências que teve e ainda tem, até a atualidade, na prática dos assistentessociais.

    Este texto tem, portanto, a intenção de demonstrar como essas correntes se constituem, desta-cando os traços fundamentais que as distinguem e como influenciam o Serviço Social ao longo de sua

    história.

    Sônia Maria de Almeida Figueira

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    O NEOTOMISMO1

    A presença do neotomismo no Serviço So-

    cial marca profundamente a profissão desde a

    fundação da primeira escola de Serviço Social no

    Brasil. O Serviço Social, ao surgir atrelado ao pro-

     jeto da reforma social da Igreja, a serviço de sua

    ideologia, carrega, além de sua prática, o seu pon-

    to de vista teórico. Toda a visão de homem e desociedade adotada na profissão se dará a partir

    da visão católica, tendo como sustentação filosó-

    fica o neotomismo.

    A formação cristã do profissional em Serviço

    Social foi objeto de estudo de alguns encontros

    de Assistentes Sociais. Segundo Aguiar (1982), até

    1967, quando é realizado o Seminário de Araxá,

    houve 14 convenções da Associação Brasileira de

    Ensino de Serviço Social (ABESS), atual Associação

    Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

    (ABEPSS)1, onde o pano de fundo era a doutrinacatólica. Os encontros da ABESS comumente ini-

    ciavam-se com a celebração de uma missa e, por

    vezes, eram precedidos de um dia de recolhimen-

    to, aos moldes dos retiros espirituais promovidos

    pela Igreja a seus fiéis, tal era estreita a relação da

    profissão com a prática cristã católica.

    Na IV Convenção da ABESS, que ocorreu em

    São Paulo em 1954, o tema foi “A formação cristã

    para o Serviço Social e a Metodologia de Ensino

    de Serviço Social de Grupo e Organização de Co-munidade”. Em 1959, em convenção realizada em

    Porto Alegre para discussão do currículo dos cur-

    sos de Serviço Social, foram reafirmadas como im-

    portantes para a formação integral do Assistente

    Social as disciplinas de Religião e Doutrina Social

    da Igreja. No discurso de encerramento deste

    evento foi salientada a missão dos Assistentes

    Sociais do seguinte modo: “o cristianismo huma-

    nizante para a conquista da paz. E a exemplo deMaria, os assistentes sociais têm a tarefa de Anun-

    ciar a Redenção.” (AGUIAR, 1982, p. 38). Em 1960,

    um novo encontro realizado em Fortaleza teve

    como tema “Formação da Personalidade do Assis-

    tente Social em todos os Aspectos” e os aspectos

    analisados foram: a formação psicológica, moral e

    AtençãoAtenção

     Toda a visão de homem e de sociedade adotadana profissão se dará a partir da visão católica, ten-do como sustentação filosófica o neotomismo.

    1 A ABEPSS foi fundada em 10 de outubro de 1946, sob a denominação Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social. Emdezembro de 1998, o estatuto sofreu reformulações, passando a designar-se ABEPSS. É uma entidade civil de natureza científica,de âmbito nacional, sem fins lucrativos, constituída pelas Unidades de Ensino de Serviço Social, por sócios institucionais,colaboradores e por sócios individuais.

    Saiba maisSaiba mais

    O Seminário de Araxá ocorreu em 1967 em Araxá (MG).Foi o primeiro Seminário de Teorização do Serviço So-cial e se constituiu em evento histórico no processode “teorização” e “reconceituação” do Serviço Socialbrasileiro, propondo ações profissionais mais vincula-das à realidade social e política do país. Foi organizadopelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbiode Serviços Sociais e reuniu 38 assistentes sociais devários estados brasileiros, produzindo o “Documentode Araxá”.

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    espiritual. No que se refere ao aspecto espiritual,

    enfatizou-se que o Assistente Social deve buscar

    a perfeição e que esta busca da perfeição seja ilu-

    minada pelo espírito comunitário e pela doutrina

    do Corpo Místico de Cristo.

    Fica evidente, portanto, a importância dos

    ideais cristãos na formação dos primeiros Assis-tentes Sociais e a forte presença da postura hu-

    manista com base na doutrina social da Igreja e

    no neotomismo. Os princípios de dignidade da

    pessoa humana, do bem comum, explicitados

    por Santo Tomás de Aquino, predominaram no

    Serviço Social brasileiro até a década de 1960, e

    podemos afirmar que ela continua presente ain-

    da hoje, através da ação de vários profissionais.

    AtençãoAtenção

    Os princípios de dignidade da pessoa humana,do bem comum, explicitados por Santo Tomásde Aquino predominaram no Serviço Social bra-sileiro até a década de 1960.

    O neotomismo é uma corrente filosófica

    surgida no século XIX com o objetivo de reviver

    a filosofia de Santo Tomás de Aquino, do século

    XIII, o tomismo, a fim de atender aos problemas

    contemporâneos.

    A condição de exploração e miséria em que

    vivem os operários na Europa do final do século

    1.1 O que é o Neotomismo

    XIX, decorrentes da industrialização e do desen-

    volvimento do capitalismo, leva a Igreja a se po-

    sicionar, pois este momento era visto por esta

    como de crise e decadência da moral e dos costu-

    mes cristãos. A Igreja vê, então, no ressurgimento

    das ideias de Tomás de Aquino o caminho para o

    enfrentamento desta realidade.

    Se o neotomismo, que é a corrente que in-

    fluencia o Serviço Social, é uma retomada do to-

    mismo, então é preciso entender o que é o tomis-

    mo.

    O Tomismo é a doutrina filosófica cristã

    elaborada pelo domini-cano Tomás de Aquino,

    estudioso do filósofo gre-

    go Aristóteles. Tomás de

    Aquino dedicou-se ao es-

    clarecimento das relações

    entre a verdade revelada

    e a filosofia, isto é, entre a

    fé e a razão. Segundo sua interpretação, tais con-

    ceitos não se chocam nem se confundem, mas

    são distintos e harmônicos.

    Segundo Aguiar (1982), Santo Tomás parte

    da reflexão feita por Aristóteles e a reinterpreta à

    1.2 O que é o Tomismo

    luz do cenário filosófico de sua época, marcado

    por questões como: as relações entre Deus e o

    mundo, fé e ciência, teologia e filosofia, conheci-

    mento e realidade.

    Para Santo Tomás, a primeira realidade a ser

    explicada deve ser Deus,que é a fonte de todos os

    seres. Após analisar a exis-

    tência de Deus, analisa

    o homem,  a  pessoa hu-

    mana, entendendo que

    a pessoa humana é com-

    posta de duas substâncias

    incompletas: alma e corpo. É da transformação

    destas duas substâncias em uma substância úni-

    ca que resulta o ser humano, distinto de qualquer

    outro ser. Este ser dotado de razão é capaz de es-

    colha, de saber, de vontade. Por ser inteligente,

    AtençãoAtenção

     Tomás de Aquino dedicou-se ao esclarecimentodas relações entre a verdade revelada e a filosofia,isto é, entre a fé e a razão.

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    afirma Santo Tomás, “a pessoa significa o que há

    de mais perfeito em todo o universo.” (AGUIAR,

    1982, p. 42).

    Esta perfeição se apresenta no aspecto físi-

    co e espiritual. Para Santo Tomás, o corpo huma-

    no é o mais perfeito, o mais funcional e o mais

    complexo e a pessoa humana tem também umaperfeição espiritual que se manifesta através da

    racionalidade. Esta racionalidade produz o prin-

    cípio da consciência em si e da liberdade, que o

    distingue dos outros seres. Portanto, a liberdade

    e a capacidade de escolha é também manifesta-

    ção da inteligência do homem. Mas o homem é

    também dotado de vontade, o que lhe permite

    a escolha dos caminhos a percorrer na busca da

    virtude, do bem e no alcance do fim último, que

    é Deus.

    O homem é, também, um ser social em

    decorrência da própria natureza humana. Como

    Aristóteles, Santo Tomás afirma que “o homem é

    naturalmente um animal social” e para desenvol-

    ver-se necessita viver em sociedade. Para Santo

    Tomás a sociedade é “a união dos homens com o

    propósito de efetuar algo comum” (COOK apud

    AGUIAR, 1982, p. 43).

    Por ser um ser social, o homem é também

    um “animal político”. Sendo o homem um animalsocial, a sociabilidade natural já existia no Paraí-

    so, antes da queda e da expulsão dos seres hu-

    manos. Após o pecado original, os seres humanos

    não perderam sua natureza sociável e, por isso,

    naturalmente organizaram-se em comunidades,

    deram-se leis e instituíram as relações de man-

    do e obediência, criando o poder político. Para

    que haja o bem comum, é necessário o Estado e

    este supõe autoridade. Segundo Sciacca (apudAGUIAR 1982, p. 43), “toda forma de autoridade

    deriva de Deus, respeitá-la é respeitar a Deus;

    toda forma de governo, desde que garanta os di-

    reitos da pessoa e o bem-estar da comunidade é

    boa” e o Estado deve respeitar a Igreja, assim não

    existe conflito entre fé e razão.

    Esta visão com relação à autoridade e ao

    Estado, reafirmada posteriormente no neotomis-

    mo, explica a posição inicial do Serviço Social bra-

    sileiro de não questionamento da ordem vigente,

    buscando sempre reformar a sociedade.

    Quem foi Tomás de Aquino

    Figura 1 –  São Tomás de Aquino.

    AtençãoAtenção

    Santo Tomás, assim como Aristóteles já o fizera,afirma que “o homem é naturalmente um animalsocial” e para desenvolver-se necessita viver emsociedade.

    AtençãoAtenção

    “Toda forma de autoridade deriva de Deus,respeitá-la é respeitar a Deus.” (SCIACCA apudAGUIAR, 1982, p. 43).

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    Nasceu em 1225, no castelo de Roccasec-

    ca, na Campânia, da família feudal dos condes de

    Aquino. Era unido pelos laços de sangue à família

    imperial e às famílias reais da França, da Sicília e

    de Aragão. Recebeu a primeira educação no gran-

    de mosteiro de Montecassino, passando a moci-dade em Nápoles. Depois de ter estudado artes

    liberais, entrou na ordem dominicana, renuncian-

    do a tudo, menos à ciência.

    Dedicou-se ao estudo da teologia, tendo

    como mestre Alberto Magno, primeiro na univer-

    sidade de Paris (1245-1248) e depois em Colônia.

    Em 1252, voltou à Universidade de Paris, onde en-

    sinou até 1269. Em 1272, voltou a Nápoles, onde

    lecionou teologia. Dois anos depois, em 1274,

    viajando para tomar parte no Concílio de Lião2

    ,por ordem de Gregório X, faleceu no mosteiro de

    Fossanova, entre Nápoles e Roma, com apenas 49

    anos de idade.

    Saiba maisSaiba mais

     Tomás de Aquino viveu de 1225 a 1274 e teve umavida dedicada aos estudos, inicialmente sob a orien-tação de monges beneditinos e, posteriormente, emParis sob a orientação de Alberto Magno.Era um estudioso metódico, que se empenhou em or-

    denar o saber teológico e moral acumulado na IdadeMédia, produzindo uma extensa obra com mais desessenta títulos.

    Saiba maisSaiba mais

    Santo Alberto Magno, frade dominicano, foi bispo deRegensburg, na Alemanha e tornou-se famoso porseu vasto conhecimento e por sua defesa da coexis-tência pacífica da ciência e da religião. É considerado omaior filósofo e teólogo alemão da Idade Média e foio primeiro intelectual medieval a aplicar a filosofia deAristóteles no pensamento cristão.

    2 O segundo Concílio de Lião, décimo-quarto concílio ecumênico do cristianismo, ocorreu na cidade francesa de Lyon em 1274.

    A filosofia tomista marca a história da filoso-fia e do homem até o século XVIII e começa a serretomada no final do século XIX e início do séculoXX.

    Através da encíclica  Aeterni Patris, o papaLeão XIII propõe a restauração da filosofia tomista

    1.3 A Retomada das Ideias de Tomás de Aquino

    com a clara intenção de “unir os pensadores cató-licos para a conquista do pensamento modernotal é, ao que parece, o propósito da Igreja ressus-

    citando o tomismo.” (THONNARD apud AGUIAR,

    1982, p. 40).

     Aeterni Patris é uma Encíclica do Papa Leão

    XIII, de 1879, que se tornou um dos prin-

    cipais responsáveis pelo renascimento dafilosofia de Tomás de Aquino. A Epístola

    leonina teve por objetivo reagir ao espírito

    laico provindo, sobretudo, do racionalismo

    iluminista e do materialismo positivista.

     Tais sistemas pareciam adentrar nas ca-

    madas católicas. Esta Encíclica gerou uma

    nova geração de pensadores católicos e

    conseguiu, uma vez mais, levar a filosofia

    escolástica para as cátedras universitárias.

    CuriosidadeCuriosidade

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    Para o neotomismo, toda a filosofia moder-

    na a partir de Descartes se constituiria em erros

    e equívocos, responsáveis pela crise do mundo

    moderno. Entendida como um desvio metafísi-

    co e espiritual, essa crise só poderia ser superada

    com um retorno ao tomismo.

    Segundo Aguiar (1982), o retorno desta fi-

    losofia não servirá apenas para a formação dos

    padres, mas se estenderá também aos leigos, for-

    mando também magistrados, homens políticos,

    diretores de obras sociais etc.

    No campo social, a presença da filosofia de

    Santo Tomás de Aquino se fará fortemente pre-

    sente e marcará profundamente o Serviço Social.

    O site do Conselho Regional de Serviço So-

    cial de São Paulo (CRESS-SP) por ocasião da co-

    memoração do dia do Assistente Social, em 2009,publica: “O mês de maio traz data muito especial

    para os Assistentes Sociais: o dia 15, quando se

    comemora o seu dia e marca a profissão desde o

    seu nascimento.”

    Saiba maisSaiba mais

    O filósofo francês René Descartes foi um dos funda-dores do movimento racionalista, que introduziu adúvida como elemento primordial para a investigaçãofilosófica e científica. A partir dele as ciências físicase naturais liberaram-se da escolástica e da religião. Éconsiderado o pai da filosofia moderna.

    Saiba maisSaiba mais

    A própria data definida para comemorar o dia dos As-sistentes Sociais é a data de aniversário da publicaçãode uma importante encíclica papal, a Rerum Novarum.

    Saiba maisSaiba mais

    Em 15 de maio de 1891, o Papa Leão XIIIpublicava a Encíclica Rerum Novarum (Dascoisas novas), apresentando ao mundocatólico os fundamentos e as diretrizesda Doutrina Social da Igreja. Era a primei-ra Encíclica Social já escrita por um papae marcava o posicionamento da Igrejafrente aos graves problemas sociais quedominavam as sociedades europeias. Paraos assistentes sociais europeus, a Encíclicapublicada naquele dia 15 de maio traziaum conteúdo muito especial.

    Atônitos frente à complexidade dos proble-

    mas existentes e teoricamente fragilizados em

    consequência de sua formação ainda bastante

    precária, aqueles profissionais assumiam o do-

    cumento e os ensinamentos ali contidos como

    base fundamental de seu trabalho. Desse modo

    se aproximavam cada vez mais da Igreja Católica  europeia que, por sua vez, assumia progressiva-

    mente a sua liderança sobre o enfoque das práti-

    cas sociais daqueles profissionais.

    No Brasil, o Serviço Social foi criado em

    1936, a partir das iniciativas dos grandes líderes

    da Igreja Católica no país, inspirados na Doutrina

    Social da Igreja, então enriquecida por uma nova

    Encíclica Social: a Quadragésimo Anno.

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    Desse modo – gestada no seio da prática

    da “Ação Social Católica”, ou simplesmente “Ação

    Católica” –, no Brasil a profissão cresceu sob a lide-

    rança da Igreja e, até o início dos anos 1960, rece-

    beu a influência direta e decisiva da sua “Doutrina

    Social”.

    Seguidores das ideias de Santo Tomás de Aqui-

    no

    Alguns representantes do pensamento to-

    mista influenciaram, especialmente, a formação

    dos Assistentes Sociais brasileiros, dentre elesdestacamos os nomes a seguir.

    Leonardo Van Acker 

    Discípulo de Santo Tomás de Aquino, nas-

    cido na Bélgica em 1896, doutor em Filosofia e

    Letras pela Universidade de Lovaine. Veio para o

    Brasil em 1921 e foi lecionar na Faculdade de Fi-

    losofia de São Bento. Segundo Aguiar (1982), esta

    faculdade é um foco de irradiação do tomismo

    em São Paulo e no Brasil, formando grandes no-

    mes da filosofia e da cultura brasileira, inclusive

    alguns assistentes sociais que fizeram filosofia

    antes do curso de Serviço Social, como é o caso

    de Helena Junqueira. Van Acker foi também pro-

    fessor de Princípios da Doutrina Social na Escola

    de Serviço Social de São Paulo, evidenciando sua

    forte influência no Serviço Social brasileiro.

    Pe. Roberto Sabóia de Medeiros

    Pe. Sabóia, jesuíta, era conhecido como o

    apóstolo da Ação Social, desenvolveu um traba-

    lho intenso junto aos patrões e aos operários em

    meados do século XX. Desenvolveu estudos na

    área social, sempre seguindo a doutrina social daIgreja, buscando a harmonia entre as classes so-

    ciais.

    O Serviço Social recebeu também o impul-

    so de Pe. Sabóia através da Ação Social e do As-

    sistente Social, como um elemento importante,

    como pode ser observado em um relato que faz a

    seu provincial, em 1941, apresentado por Aguiar

    (1982, p. 48):

    [...] ocupa-se no momento com umaintensa campanha entre os industriaispaulistas para que cada um tome para asfábricas um assistente social. A medida éde alcance, porque os conflitos de traba-lho que se amiúdam e que às vezes sãopropositadamente provocados, subindoàs Juntas de Conciliação e Julgamento,têm recebido, na maior parte das vezes,soluções indesejáveis. O suborno vai de

    mãos dadas com a petulância. Aceitan-do tiradas ocas sobre a miséria de clas-ses proletárias, vai-se espalhando entreos operários e a persuasão de que sem-pre tem direito contra os patrões, e sevai solapando o princípio da autoridade.Quando não, o dinheiro do patrão há deintervir para ter ganho de causa [...] Se háremédio parece este consistir em que oassistente social, penetrando na fábrica,eduque o operário, apazigúe os ânimos,

    seja intermediário dos conflitos, e os en-caminhe a um Círculo Operário, onde elepossa achar o equilíbrio entre as suas exi-gências e as possibilidades sociais.

    Saiba maisSaiba mais

    A Quadragésimo Anno  foi redigi-da pelo Papa PioXI, publicada nodia 15 de maio

    de 1931, em co-memoração aosquarenta anos daRerum Novarum.

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    Fundamentos Filosóficos para o Serviço Social

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     Jacques Maritain

    Figura 2 – Jacques Maritain.

    Jacques Maritain foi um grande filósofo cris-

    tão que retomou, com muita propriedade, no sé-

    culo XX, as ideias de Santo Tomás de Aquino. Um

    dos grandes discípulos deste filósofo no Brasil foi

    Alceu de Amoroso Lima, que afirmou, em artigo

    publicado em 1972, que os escritos de Maritain

    possibilitaram um reencontro entre a intelectua-

    lidade e a Igreja, visto que no final do século pas-

    sado havia uma separação entre intelectuais e a

    religião.

    No Brasil, as posições de Maritain influencia-

    ram diretamente no movimento por uma legisla-

    ção social, que emerge em toda a América Latina;

    na Constituição Federal promulgada em 1934;

    e fundamentalmente nos partidos democrata--cristãos que surgem neste período. Também foi

    fortemente influenciada pelas ideias de Jacques

    Maritain a Juventude Universitária Católica (JUC)

    e suas ideias chegarão ao Serviço Social através

    da Ação Católica.

    Sobre Santo Tomás de Aquino, Jacques Ma-

    ritain (apud AGUIAR, 1989, p. 51) afirma:

    [...] não só transportou para o domínio dopensamento cristão a filosofia de Aristó-teles na sua integridade, para fazer delao instrumento de uma síntese teológicaadmirável, como também e ao mesmotempo superelevou e, por assim dizer,transfigurou essa filosofia. Purificou-a detodo vestígio de erro [...] sistematizou-apoderosa e harmoniosamente, aprofun-dando-lhe os princípios, destacando asconclusões, alargando os horizontes, e se

    nada cortou, muito acrescentou, enrique-cendo-a com o imenso tesouro da tradi-ção latina e cristã.

    Como já dissemos, a repercussão do neoto-

    mismo na teoria e na prática profissional dos As-

    sistentes Sociais pode ser percebida até hoje.

    A idealização de um projeto societário que

    contemple as duas dimensões do homem: o cor-

    po e a alma, e a visão da sociedade como a ins-

    tância na qual o homem pode completar-se e

    realizar-se como pessoa humana leva os Assisten-

    tes Socais a recusa, como sugeria a Igreja Católica,

    do comunismo e do liberalismo. O comunismo é

    interpretado, pelos primeiros Assistentes Sociais

    como uma teoria social refutável porque postulaum projeto societário erigido por uma compreen-

    são materialista do homem e era tido como uma

    1.4 O Neotomismo e o Serviço Social

    doutrina totalitária com princípios dissonantes

    com o conceito de pessoa humana. O liberalismo,

    por sua vez, também era incompatibilidade coma natureza humana, pois era tido como uma dou-

    trina individualista.

    Nesse contexto, o trabalho dos primeiros as-

    sistentes sociais dirigia-se, sobretudo, à classe tra-

    balhadora, porém na perspectiva da conciliação

    das classes sociais. A visão de homem do Serviço

    Social era a pessoa humana, portadora de valor

    soberano, criado por Deus, único ser no universo

    capaz de se aproximar da perfeição. O objetivo doServiço Social era moldar este homem, integrá-lo

    à sociedade, aos valores, a moral e aos costumes

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    Sônia Maria de Almeida Figueira

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    de uma sociedade cristã, a fim de que ele alcan-

    çasse a perfectibilidade.

    Somente na década de 1960 estas ideias

    vêm a ser questionadas, porém ainda hoje pode

    ser observada a presença de princípios cristãos

    no discurso de profissionais e alunos de Serviço

    Social. Não é incomum o relato de alunos que

    buscaram o Curso de Serviço Social a partir de

    uma prática ligada à Igreja.

    1.5 Resumo do Capítulo

    Vimos neste capítulo uma importante influência teórica na formação histórica do Serviço Social. O

    neotomismo marca profundamente o início da profissão. É importante apreendermos que o pensamen-

    to de São Tomás de Aquino influencia as bases teóricas do Serviço Social desde o seu início e, consequen-

    temente, a Igreja Católica tem uma importante participação na constituição do pensamento e da prática

    dos Assistentes Sociais nesse processo.

    1. O que é o tomismo?

    2. Como podemos refletir sobre a importância do neotomismo no Serviço Social?

    1.6 Atividades Propostas

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    13/39Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br  15

    A presença do Positivismo no Serviço Social

    pode ser percebida quando a profissão passa a

    dar ênfase à instrumentalização técnica, ou seja,

    quando se soma à preocupação do “o que” fazer a

    preocupação de “como” fazer, embora esta preo-

    cupação tenha feito com que o Serviço Social

    caísse muitas vezes no metodismo.

    O positivismo, no Serviço social, vem acom-

    panhado do funcionalismo e adentra esta profis-

    O POSITIVISMO2

    são através da influência do Serviço Social norte-

    -americano, trazida, na década de 1940, pelos

    assistentes sociais brasileiros que foram estudar

    nos Estados Unidos. Esta influência vai marcar so-

    bremaneira o Serviço Social brasileiro. Inicialmen-

    te temos a importação das técnicas norte-ameri-

    canas para aplicação na realidade brasileira. Nãoé preciso dizer que isto causou alguns problemas,

    pois, segundo Aguiar (1984), a fundamentação

    do método e das técnicas não era analisada e tra-

    duzida para a nossa realidade, era tão somente

    transplantada.

    Nesta fase, o Serviço Social brasileiro ainda

    estava marcado pelo neotomismo e pela doutri-

    na social da Igreja, havendo, portanto, uma jun-

    ção dos pressupostos neotomistas e das técnicas

    vindas do Serviço Social norte-americano.

    AtençãoAtenção

    A presença do Positivismo no Serviço Social podeser percebida quando a profissão passa a dar ên-fase à instrumentalização técnica.

      O positivismo é uma corrente filosóficasurgida na primeira metade do século XIX. Foifundado por Augusto Comte, em contraposição

    às ideias que nortearam a Revolução Francesa noséculo XVIII. A doutrina de Comte parte do pres-suposto de que a sociedade humana é reguladapor leis naturais invariáveis, que independem davontade e da ação humana. Para ele, as leis queregulam o funcionamento da vida social, eco-nômica e política são do mesmo tipo que as leisnaturais, logo, o que predomina na sociedade éuma organização semelhante à da natureza.

    Para o positivismo, a filosofia baseada nos

    dados da experiência é a única verdadeira. O co-nhecimento se afirma numa verdade comprova-

    da, portanto, considera o método experimental o

    2.1 O que é o Positivismo

    caminho para o pensamento científico e a verda-

    de comprovada jamais é questionada.

    Quem foi Augusto Comte

    Figura 3 – Augusto Comte

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    Sônia Maria de Almeida Figueira

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    Aos 16 anos de idade, Comte ingressou na

    Escola Politécnica de Paris, fato que teve signifi-

    cativa influência em seu pensamento, a ponto de

    ele vir a considerá-la a primeira comunidade ver-

    dadeiramente científica que deveria servir como

    modelo de toda educação superior. Embora per-manecesse por apenas dois anos nessa escola, ali

    Comte recebeu a influência do trabalho intelec-

    tual de cientistas como o físico Sadi Carnot (1796-

    1832), o matemático Lagrange (1736-1813) e o

    astrônomo Pierre Simon de Laplace (1749-1827).

    Um ano depois de sair da Escola Politécnica,

    em 1817, Comte tornou-se secretário de Saint-

    -Simon3 (1760-1825), do qual receberia profunda

    influência. Essa ligação intelectual foi extrema-mente proveitosa para Comte, porém terminou

    de maneira tempestuosa quando Comte come-

    çou a sentir-se independente do mestre, discor-

    dando de suas ideias sobre as relações entre a

    ciência e a reorganização da sociedade. Comte

    não aceitava o fato de Saint-Simon, nesse perío-

    do, deixar de lado seus planos de reforma teórica

    do conhecimento e dedicar-se às tarefas práticas.

    A separação entre os dois ocorreu em 1824. No

    Saiba maisSaiba mais

    Isidore Auguste Marie François Xavier Comte nasceuem Montpellier, no sul da França, em 19 de janeiro de1798 e morreu em 5 de setembro de 1857.Filho de um fiscal de impostos, teve sempre uma re-lação bastante conturbada com a família. Frequente-

    mente acusava os familiares de avareza, culpando-ospor sua precária situação econômica.Foi o fundador do Positivismo e da Sociologia.

    mesmo ano, Comte casou-se com Caroline Mas-

    sin e, não tendo mais os proventos de secretário

    de Saint-Simon, passou a ganhar a vida dando

    aulas particulares de matemática. Dois anos de-

    pois, exatamente no dia 2 de abril de 1826, iniciou

    em sua própria casa um curso, do qual resultou

    uma de suas principais obras: o Curso de FilosofiaPositiva, em seis volumes, publicados a partir de

    1830. Em 1842, separa-se da esposa e dois anos

    depois publica o Discurso sobre o Espírito Positi-

    vo. No mesmo ano, edita o volume do Curso de

    Filosofia Positiva, onde ataca os especialistas em

    matemática e afirma ter chegado o tempo de os

    biólogos e sociólogos ocuparem o primeiro posto

    no mundo intelectual.

    Os últimos anos da vida de Comte transcor-

    reram em grande solidão e desencanto, sobretu-

    do por ter sido abandonado por Littré, seu mais

    famoso discípulo, que não concordava com a

    ideia de uma nova religião.

    3 Saint-Simon, teórico francês e um dos fundadores do chamado socialismo cristão.

    Em 1844, Comte conheceu Clotilde de Vaux, a

    mulher que iria transformar sua vida e dar nova

    orientação ao seu pensamento. Comte apaixo-

    nou-se perdidamente por Clotilde, que veio a

    falecer um ano depois. Comte transformou-a,

    então, no gênio inspirador de uma nova religião,

    cujas ideias se encontram numa extensa obra em

    quatro volumes, publicados entre 1851 e 1854:

    Política Positiva ou Tratado de Sociologia Instituindo

    a Religião da Humanidade.

    CuriosidadeCuriosidade

    2.2 Principais Características do Positivismo

    O positivismo rejeita o conhecimento me-

    tafísico e considera que devemos nos limitar ao

    conhecimento positivo, aos dados imediatos da

    experiência. Defende a ideia de que tanto os fe-

    nômenos da natureza como os da sociedade são

    regidos por leis invariáveis. A filosofia positiva se

    coloca no extremo oposto da especulação pura,

    exaltando, sobretudo, os fatos.

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    Os princípios fundamentais do positivismosão: a busca da explicação dos fenômenos através

    das relações destes e a exaltação da observação

    dos fatos, porém, para ligar os fatos, existe a “ne-

    cessidade de uma teoria”, sem a qual é impossí-

    vel que os fatos sejam percebidos. “Desde Bacon

    se repete que são reais os conhecimentos que

    repousam sobre fatos observados, mas para en-

    tregar-se à observação nosso espírito precisa de

    uma teoria.” (TRIVIÑOS, 1987, p. 34).O positivismo prega a submissão da imagi-

    nação à observação, mas isto não deve transfor-

    mar “a ciência real numa espécie de estéril acu-

    mulação de fatos incoerentes, porque devemos

    entender que o espírito positivo não está menos

    afastado, no fundo, do empirismo do que do mis-

    ticismo.” O positivismo proclama como função

    essencial da ciência sua capacidade de prever. “O

    verdadeiro espírito positivo consiste em ver paraprever.” (TRIVIÑOS, 1987, p. 35).

    Para o positivismo, não interessa as causas

    dos fenômenos, isso não é tarefa da ciência. Isso

    é metafísico, e um dos traços mais característicos

    do positivismo é sua rejeição ao conhecimento

    metafísico, à metafísica.

    Há no positivismo uma recusa consciente a

    mergulhar naquilo que não tem existência empí-

    rica. A razão só pode conhecer verdadeiramente

    aquilo que pode ser verificado empiricamente,

    seguindo o exemplo das ciências naturais. Quan-do a razão procurar ir além da matéria empírica,

    ela se perde ou retorna para o terreno da metafí-

    sica. Portanto, a essência não pode, e nem deve,

    AtençãoAtenção

    O positivismo rejeita o conhecimento metafísicoe considera que devemos nos limitar ao conhe-cimento positivo, aos dados imediatos da expe-riência.

    ser conhecida, porque ela está além das possibi-

    lidades de conhecimento do ser humano. Assim

    como com a essência, também acontece com os

    fins últimos da ação humana (os valores sociais),

    eles também não podem ser conhecidos racio-

    nalmente. Esta cisão entre meios racionais e fins

    irracionais aparece, por exemplo, na análise dasformas de ação social em Max Weber e tem gran-

    de importância para o Serviço Social, como vere-

    mos adiante. 

    O único objeto da ciência, na visão positi-

    vista, portanto, são os fatos que podem ser obser-

    vados. A atitude positivista consiste em descobrir

    as relações entre as coisas. A busca científica não

    está a serviço das necessidades humanas para re-

    solver problemas práticos. O investigador estuda

    os fatos, estabelece relações entre eles, pela pró-

    pria ciência, pelos propósitos superiores da alma

    humana de saber, não está interessado em conhe-

    cer as consequências de seus achados. “A ciência

    estuda os fatos para conhecê-los, e tão-somente

    para conhecê-los, de modo absolutamente desin-

    teressado.” (TRIVIÑOS, 1987, p. 36-37).

    O papel do investigador é exprimir a reali-

    dade, não julgá-la, considerando, portanto, o co-

    nhecimento científico neutro, visão esta que foi

    combatida, principalmente, por parte dos cientis-

    tas sociais que não podiam conceber que a ciên-

    cia humana pudesse ficar à margem da influência

    do ser humano que investigava.

    Segundo Triviños (1987, p. 33), é possível

    distinguir três momentos na evolução do positi-

    vismo:

    A primeira fase chamaremos de positivis-mo clássico, na qual, além do fundadorComte, também se sobressaem os nomesde Littré, Spencer e Mill. Logo após o finaldo século XIX, o empiriocriticismo   deAvenarius e Mach. A terceira etapa deno-mina-se de neopositivismo e compreen-de uma série de matizes, entre os quaisse podem anotar o positivismo lógico, oempirismo lógico, vinculados ao Círculode Viena (Carnap, Schlick, Frank, Neurath,etc.); o atomismo lógico (Russell, 1872-1970, e Witgenstein, 1889-1951); a filoso-fia analítica (Witgenstein e Ayer, n.1910)

    AtençãoAtenção

    Para o positivismo, não interessa as causas dosfenômenos, isso não é tarefa da ciência e, sim, dametafísica.

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    que acham que a filosofia deve ter por ta-refa elucidar as formas da linguagem embusca da essência dos problemas; o be-haviorismo (Watson, 1878-1958) e o neo-behavorismo (Hull, 1884-1952, e Skinner,n. 1904).

    O Neopositivismo, ou Empirismo Lógico ouPositivismo Lógico, foi fundado por um grupo defilósofos e cientistas, conhecidos como o “Círculode Viena”, que, no decorrer da década de 1920, sereuniram em Viena, fundando uma das mais in-fluentes correntes filosóficas e epistemológicasde nosso tempo. O Círculo de Viena foi ganhan-do cada vez mais influência, sobretudo nos paí-ses anglo-saxões, onde suas investigações nãose limitaram ao campo da teoria da ciência, mas

    estenderam-se aos domínios da ética, da filosofiada linguagem e da filosofia da história (CARVA-LHO, 1997).

    Uma das principais aspirações dos positivis-tas é alcançar resultados na pesquisa social quepossam generalizar-se e, para tal, utilizam-se detécnicas de amostragem, tratamentos estatísticose estudos experimentais severamente controla-

    dos como instrumentos para concretizar estes

    propósitos. Mas, na visão de Triviños (1987, p. 38):

    a flexibilidade da conduta humana, a va-riedade dos valores culturais e das condi-ções históricas, unidas ao fato de que napesquisa social o investigador é um atorque contribui com suas peculiaridades(concepção do mundo, teorias, valoresetc.), não permitirão elaborar um conjun-to de conclusões frente à determinada

    realidade com o nível de objetividadeque apresenta um estudo realizado nomundo natural.

    No positivismo procura-se utilizar o “méto-do científico” das ciências naturais para analisartambém a sociedade. Esta é uma das principaiscaracterísticas do positivismo. Para isto, é neces-sário tratar a vida social da mesma forma que é

    tratada a natureza, ou seja, faz-se a naturalização,ou coisificação, da sociedade.

    O positivismo, sem dúvida, representa, es-pecialmente através de suas formas neopositivis-tas, uma corrente do pensamento que alcançou,de maneira singular na lógica formal e na meto-dologia da ciência, avanços muito meritórios para

    o desenvolvimento do conhecimento (TRIVIÑOS,

    1987).

    2.3 O Positivismo no Brasil

    O positivismo, que teve origem no sécu-

    lo XIX, expandiu-se no Brasil durante o Império,

    contrapondo-se a este e defendendo a República.

    O Brasil foi o país onde o positivismo teve grandepenetração, sendo que o Rio Grande do Sul, sob a

    influência de Júlio de Castilho, chegou a ter uma

    constituição inspirada no positivismo.

    O positivismo no Brasil não é uma mera

    reprodução da filosofia de Comte, como esta se

    desenvolveu no cenário francês de sua origem,

    e sim uma versão temperada pelo ecletismo que

    marcava os pensamentos dos intelectuais da se-

    gunda metade do século XIX, formadores de opi-nião dentro dos partidos políticos e das famílias

    de prestígios da época.

    Segundo Vieira (1987), as ideias positivis-tas eram debatidas e divulgadas através de seusadeptos, congregados na primeira associação po-

    sitivista fundada no Rio de Janeiro, em 1876. Osmembros mais atuantes eram Benjamim Cons-tant, Teixeira Mendes, Miguel Lemos e Álvarode Oliveira. Esta associação transformou-se, em1881, na Igreja Positivista do Brasil.

    Devido a esta posição religiosa do positi-vismo, a Igreja Católica se coloca radicalmentecontra as ideias positivistas, apesar dos pontoscomuns entre o pensamento tradicional da Igrejae o positivismo, como o respeito à autoridade, à

    ideologia da ordem e à crença de que através daselites se educa o povo (RODRIGUES, 1981 apud

    VIEIRA, 1987).

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    Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br  19

    Segundo Brandão (2006), a vertente reli-

    giosa do positivismo foi a que mais progrediu no

    Brasil. O conservadorismo católico, que caracte-rizou os anos iniciais do Serviço Social brasileiro,

    especialmente a partir dos anos 1940, começa a

    ser tecnificado ao entrar em contato com o Servi-

    ço Social norte-americano.

    As propostas brasileiras de trabalho foram

    permeadas pelo caráter conservador da teoria

    social positivista. Esta reo-

    rientação da profissão,

    que exige a qualificaçãoe sistematização de seu

    espaço sócio-ocupacio-

    nal, tem como objetivo

    atender às novas configu-

    rações do desenvolvimento capitalista e, conse-

    quentemente, às requisições de um Estado que

    começa a implementar políticas sociais.

    Desse modo, a matriz positivista terá um

    importante papel na legitimação do profissionalde Serviço Social brasileiro, na medida em que

    amplia os referenciais técnicos para a profissão.

    Iamamoto (1998) chama esse processo de “ar-

    ranjo teórico-doutrinário”, que se caracteriza pela

     junção do discurso humanista-cristão, vindo do

    neotomismo com o suporte técnico científico na

    teoria social positivista.

    Segundo Tonet (1984), o positivismo não

    se interessa pelo o que é, julgando isto um pro-blema irrelevante porque inatingível, mas apenas

    pelo modo como as coisas acontecem.

    A realidade social torna-se, nessa perspecti-

    va, um aglomerado de dados, elementos, fatores

     justapostos sem uma razão essencial que os es-

    truture. Não há contradições, na realidade social,

    há apenas diferenças, disfunções, desvios, proble-

    mas, sendo que a tendência normal da sociedade

    é a ordem harmônica.A história para o positivismo, enquanto in-

    tervenção do sujeito humano, não existe, porque

    a evolução da sociedade é regida por leis idênti-

    cas às leis naturais.

    O homem é o indivíduo, por sua vez, é o ele-

    mento irredutível, o menor fragmento, justaposto

    a outros fragmentos que vão compor a estrutura

    social. Ou seja, o positivismo descreve o homem

    não como um resultado produzido pelo sistema

    capitalista, mas simplesmente como O HOMEM.

    A partir desse fun-

    damento, para o positi-

    vismo, o conhecimento

    torna-se uma descriçãodo dado empírico, cole-

    cionado e ordenado pelo

    sujeito, e esse sujeito é,

    ao mesmo tempo, quem

    elabora e quem conduz o conhecimento e, por se

    tratar de um ser limitado, não tem condições de

    apreender a integralidade, o objeto, mas apenas

    elementos superficiais deste.

    A posição do estranhamento em que se en-contram sujeito e objeto é o fundamento da neu-

    tralidade social do conhecimento preconizada

    pelo positivismo. O sujeito só descreve, não toma

    partido. Quanto mais imparcial, mais objetivo e,

    quanto mais objetivo, mais científico, cabendo ao

    rigor metodológico garantir a obtenção da obje-

    tividade.

    Nesse sentido, a matriz positivista oferece

    ao Serviço Social o primeiro suporte teórico-me-todológico necessário à qualificação técnica de

    sua prática e à sua modernização através da apro-

    priação de um instrumental de trabalho. Segun-

    do Brandão (2006), esta teoria social assentada no

    positivismo aborda as relações sociais dos indiví-

    duos no plano de suas vivências imediatas, como

    fatos que se apresentam em sua objetividade e

    imediaticidade. Tal perspectiva restringe a visão

    de teoria ao âmbito do verificável, da experimen-tação e da fragmentação, tal qual propõe a leitura

    positivista da realidade. As mudanças apontam

    2.4 O Positivismo e o Serviço Social

    AtençãoAtenção

    O conservadorismo católico que caracterizou osanos iniciais do Serviço Social brasileiro começa aser tecnificado ao entrar em contato com o Servi-ço Social norte-americano.

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    19/39Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br  21

    A partir da década de 1960, passamos a ter

    a forte influência de outra corrente de pensamen-

    to filosófico no Serviço Social brasileiro, o Mate-

    rialismo Histórico Dialético. Os assistentes sociais

    neste período passam a fazer uma análise crítica

    da sociedade, a partir das contradições identifica-

    das e da percepção da necessidade de mudanças.Vale dizer que persiste neste período a postura

    tradicional do Serviço Social numa linha conser-

    vadora, porém passam a surgir movimentos que

    defendem a intervenção do Serviço Social numa

    perspectiva crítica e que se somam a outros movi-

    mentos, naquele momento, em busca de mudan-

    ças estruturais na sociedade brasileira.

    Estes profissionais começam a rever suas

    posições e vão rompendo gradativamente com

    a visão tradicional do Serviço Social. Isto leva os

    assistentes sociais a levantar questionamentos,tais como: há serviço de quem está sua prática

    profissional? Do poder instituído ou do povo? Es-

    tes profissionais buscam firmar um vínculo com

    as classes trabalhadoras e se engajar na luta pela

    organização das mesmas, participando dos mo-

    vimentos desencadeados na sociedade brasilei-

    ra nesse período. A sociedade já não é mais vista

    como um todo harmônico, mas como uma reali-

    dade que carrega contradições e antagonismosresultantes das relações de dominação.

    O MATERIALISMO HISTÓRICODIALÉTICO3

    Esta postura ganha força no Serviço Social

    brasileiro a partir da década de 1970, principal-

    mente em algumas escolas de Serviço Social.

    Obviamente, esta não é uma postura unitária na

    profissão e é marcada por vários enfoques a par-

    tir de diferentes leituras marxistas. Os assistentes

    sociais entram em contato com teoria marxista,principalmente, a partir das leituras de Althusser,

    Gramsci e outros.

    Passa a haver na profissão, também, um

    esforço para conhecer mais apropriadamente as

    ideias de Karl Marx.

    AtençãoAtenção

    Os assistentes sociais, a partir de meados da dé-cada de 1960, passam a fazer uma análise críticada sociedade. Esta é a marca da influência do Ma-terialismo Histórico Dialético no Serviço Social.

    Saiba maisSaiba mais

    Louis Althusser (1918-1990) foi um filósofo francês, deorigem Argelina, autor do livro Ideologias e AparelhosIdeológicos do Estado, onde expõe sua teoria de que háuma ligação umbilical entre Estado e aparelhos ideo-lógicos. Para ele, as instituições se comportam comoaparelhos ideológicos do Estado, reproduzindo suaideologia.

    Saiba maisSaiba mais

    Antonio Gramsci (1891-1937) foi um pensador italia-no, uma das referências essenciais do pensamento deesquerda no século XX, cofundador do Partido Comu-nista Italiano. Suas noções de pedagogia crítica e ins-trução popular foram teorizadas e praticadas décadasmais tarde por Paulo Freire, no Brasil. Gramsci se dispôsa estabelecer uma unidade entre a teoria e a prática domarxismo, criticou o elitismo dos intelectuais e exer-

    ceu profunda influência sobre o pensamento marxista.

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    O materialismo Histórico Dialético, ou seja,

    a filosofia marxista, foi desenvolvido por Karl

    Marx e Frederich Engels.

    É importante frisar que antes de Marx e En-

    gels a doutrina socialista já existia, porém o avan-

    ço que estes autores apresentam consiste no fato

    de assegurar aos homens o conhecimento da

    ideia do desenvolvimento através da dialética e

    a interpretação materialista da natureza. Trata-se

    de um avanço com relação ao pensamento filosó-

    fico alcançado pela filosofia alemã em fins do sé-

    culo XVIII e início do século XIX, com o idealismode Hegel e o materialismo de Ludwig Feuerbach.

    A grande contribuição de Hegel foi os ensi-

    namentos que deram origem ao desenvolvimen-

    to da ideia e da consciência, interpretadas pela

    dialética. Por outro lado, a contribuição de Feuer-

    bach consiste na interpretação materialista da na-

    tureza em confronto com o idealismo de Hegel e

    com a religião.

    A dialética teve sua origem na Grécia, po-rém por muito tempo ocupa uma posição secun-

    dária e vem ressurgir com força no Renascimento.

    Significa a arte do diálogo, da controvérsia, a evo-

    lução do pensamento a partir das contradições.

    Porém este termo não foi utilizado na história da

    filosofia com significado unívoco, recebeu signifi-

    cados diferentes, com diversas inter-relações, não

    sendo redutível a um significado comum.

    Para Platão, dialética é sinônimo de filoso-

    fia, o método mais eficaz de aproximação entre as

    ideias particulares e as ideias universais ou puras.É a técnica de perguntar, responder e refutar, que

    ele teria aprendido com Sócrates. Platão conside-

    3.1 O que é o Materialismo Histórico Dialético

    ra que apenas através do diálogo o filósofo deve

    procurar atingir o verdadeiro conhecimento, par-

    tindo do mundo sensível e chegando ao mundodas ideias, pois é pela decomposição e investiga-

    ção racional de um conceito que se chega a uma

    síntese, que também deve ser examinada, num

    processo infinito de busca da verdade.

    Aristóteles define a dialética como a lógica

    do provável, do processo racional que não pode

    ser demonstrado.

    Kant retoma a noção aristotélica quando

    define a dialética como a “lógica da aparência”.Para ele, a dialética é uma ilusão, pois se baseia

    em princípios que, na verdade, são subjetivos.

    Hegel apresenta a dialética como um movi-

    mento racional que permite transpor uma contra-

    dição. Uma tese inicial contradiz-se e é ultrapas-

    sada por sua antítese. Essa antítese, que conserva

    elementos da tese, é superada pela síntese, que

    combina elementos das duas primeiras, num pro-

    gressivo enriquecimento. A dialética hegeliananão é um método, mas um movimento conjunto

    do pensamento e da realidade. Segundo Hegel,

    a história da humanidade cumpre uma trajetória

    dialética marcada por três momentos: tese, antí-

    tese e síntese.

    Materialismo designa, em geral, toda dou-

    trina que atribua causalidade apenas à matéria,

    vem a ser tudo que resulta da evolução da maté-

    ria, tendo, portanto, como elemento fundamen-tal a realidade primária. Este termo foi utilizado

    pela primeira vez por Robert Boyle, em sua obra

    de 1674, porém Feuerbach é considerado o ver-

    dadeiro fundador do materialismo ao designar o

    homem como princípio real e fundamental dos

    seres e da teoria. Ele rompe com o idealismo de

    Hegel substituindo a ideia pela matéria, para ele

    a compreensão do pensamento parte do objeto e

    da interpretação da natureza.

    AtençãoAtenção

    Dialética significa a arte do diálogo, da controvér-sia, a evolução do pensamento a partir das con-tradições.

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    Marx e Engels partem da dialética idealista

    de Hegel e avançam com relação às ideias mate-

    rialistas de Feuerbach. Na verdade, eles colocam

    a dialética com os pés no real, no material. Os ma-

    terialistas antes de Marx consideravam apenas a

    influência da natureza sobre o homem e não a

    influência do homem sobre a natureza. Marx in-

    verte esta ordem. A filosofia marxista vai além da

    interpretação materialista da natureza e aplica omaterialismo também à vida social, o que se de-

    nomina materialismo histórico, ou seja, o método

    desenvolvido por Marx permite uma interpreta-

    ção materialista da história através do método

    dialético.

    Marx e Engels, podemos dizer, reformam o

    conceito hegeliano de dialética, utilizam a mesma

    forma, mas introduzem um novo conteúdo e de-

    nominam essa nova dialética de materialista, por-

    que o movimento histórico, para eles, é derivadodas condições materiais da vida.

    A dialética materialista analisa a história

    do ponto de vista dos processos econômicos e

    sociais e a divide em quatro momentos: Antigui-

    dade, feudalismo, capitalismo e socialismo. Cada

    um dos três primeiros é superado por uma con-

    tradição interna chamada “germe da destruição”.

    A contradição da Antiguidade é a escravidão; do

    feudalismo, os servos; e do capitalismo, o prole-tariado. O socialismo seria a síntese final, em que

    a história cumpre seu desenvolvimento dialético.

    Para eles, o desaparecimento do capita-

    lismo e sua substituição pelo socialismo seriam

    resultado da ação de determinadas “leis do de-

    senvolvimento da história” e não da vontade de

    alguns reformadores.

    Analisando a realidade social em que vi-

    viam, Marx e Engels perceberam que ela era di-nâmica e contraditória. Enquanto o avanço técni-

    co permitia o domínio crescente do ser humano

    sobre a natureza, gerando o progresso e o enri-

    quecimento de alguns, a classe operária era cada

    vez mais explorada, empobrecida e afastada dos

    bens materiais de que necessitava para sua sobre-

    vivência. Portanto, era fundamental estudar os fa-

    tores materiais (econômicos e técnicos) e a forma

    pela qual os bens eram produzidos, para então

    compreender a sociedade e explicar seu desen-

    volvimento.

    Pelo trabalho o ser humano transforma a

    natureza, produzindo bens para atender às suas

    necessidades. Nesse processo de produção de

    bens, as pessoas estabelecem relações entre si. As

    relações criadas entre trabalhadores (detentores

    da força de trabalho) e proprietários dos meios de

    produção (terra, matéria-prima, fábricas, máqui-

    nas e instrumentos de trabalho) são chamadas de

    relações sociais de produção.

    Essas relações de produção correspondem,

    em cada etapa da história, a um determinado es-

    tágio de desenvolvimento técnico e econômico,

    ou seja, a determinadas forças produtivas. O con-

     junto das relações de produção e das forças pro-

    dutivas constitui a base econômica da sociedade,

    ou a infraestrutura. Para Marx, a infraestrutura

    de uma sociedade determina sua superestrutu-ra, que corresponde à organização do Estado, às

    normas do Direito e à ideologia dominante dessa

    mesma sociedade.

    Na análise marxista, os proprietários dos

    meios de produção, os donos do capital, explo-

    ram a maioria operária que é obrigada a vender

    sua força de trabalho em troca de salários. Este

    salário, porém, não corresponde, sendo inferior,

    ao valor produzido pelo operário. Esta diferença,chamada mais-valia, é apropriada pelos donos do

    capital e constitui a base da acumulação capitalis-

    AtençãoAtenção

    Materialismo designa, em geral, toda doutrinaque atribua causalidade apenas à matéria, vema ser tudo que resulta da evolução da matéria,tendo, portanto, como elemento fundamental arealidade primária.

    AtençãoAtenção

    A filosofia marxista vai além da interpretação

    materialista da natureza e aplica o materialismotambém à vida social.O método desenvolvido por Marx permite umainterpretação materialista da história através dométodo dialético.

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    ta. Estes interesses antagônicos de capitalistas e

    proletários geram continuamente a luta de clas-

    ses.

    Quem foi Marx

    Figura 4 – Karl Marx.

    Marx foi o terceiro de sete filhos de uma

    família judia, de classe média. Sua mãe era judia

    holandesa e seu pai, advogado e conselheiro de

    Justiça, era descendente de uma família de rabi-

    nos que se converteu ao cristianismo luterano de-

    vido às restrições impostas à presença de judeus

    no serviço público.

    Dentre suas diversas atividades, Marx sem-

    pre demonstrou mais interesse pela história e

    pela filosofia. Quando tinha 24 anos, começou a

    trabalhar como jornalista em Colônia, na Alema-

    nha, escrevendo artigos que provocavam grande

    irritação nas autoridades do país. Integrante de

    um grupo de jovens que tinham afinidade com a

    teoria pregada por Hegel, Marx, em sua atividade

    como jornalista, começou a ter mais familiaridade

    com os problemas econômicos.

    Após seu casamento com uma amiga de in-

    fância, Jenny von Westphalen, foi morar em Paris,

    onde conheceu Friedrich Engels, com o qual man-

    teve amizade por toda a vida. Na capital francesa,

    a produção de Marx tomou um grande impulsoe, nesta época, redigiu Contribuição à crítica da fi-

    losofia do direito de Hegel . Depois, escreveu, com

    Engels,  A Sagrada Família, Ideologia Alemã – que

    só foi publicado após a sua morte –, e muitas ou-

    tras obras. Depois se mudou para Bruxelas, onde

    intensificou os contatos com operários e partici-

    pou de organizações clandestinas.

    Em 1848, Marx e Engels publicam o “Mani-

    festo do Partido Comunista”, o primeiro esboçoda teoria revolucionária. Neste trabalho, Marx e

    Engels apresentam os fundamentos de um movi-

    mento de luta contra o capitalismo e defendem a

    construção de uma sociedade sem classe e sem

    Estado. No mesmo ano, expulso da Bélgica, volta

    a morar em Colônia, onde lança a “Nova Gazeta

    Renana”, jornal onde escreveu muitos artigos fa-

    voráveis aos operários. Expulso da Alemanha, foi

    morar refugiado em Londres, onde viveu na misé-

    ria. Foi na capital inglesa que Karl Marx intensifi-

    cou os seus estudos de economia e de história e

    passou a escrever artigos para jornais dos Estados

    Unidos sobre política exterior.

    Em 1864, foi cofundador da Associação In-

    ternacional dos Operários, que mais tarde recebe-

    ria o nome de 1ª Internacional . Três anos mais tar-

    de, publica o primeiro volume de sua obra-prima,

    O Capital . O segundo e o terceiro volumes do livro

    foram publicados por seu amigo Engels, em 1885e 1894.

    Karl Marx morreu no dia 14 de março de

    1883, foi então que Engels reuniu toda a docu-

    mentação deixada por ele para atualizar “O Capi-

    tal”.

    Sobre Marx, seu amigo Engels escreve:

    Marx era, antes de tudo, um revolucioná-rio. Sua verdadeira missão na vida era con-tribuir, de um modo ou de outro, para aderrubada da sociedade capitalista e das

    Saiba maisSaiba mais

    Karl Heinrich Marx, filósofo, economista, cientista so-cial, jornalista, militante político, revolucionário socia-lista, viveu em vários países da Europa no século XIX.

    Nasceu em 5 de maio de 1818, na Alemanha, cursouFilosofia, Direito e História nas Universidades de Bonne Berlim.Faleceu em Londres, Inglaterra, em 14 de março de1883.

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    instituições estatais por esta suscitadas,contribuir para a libertação do proletaria-do moderno, que ele foi o primeiro a tor-nar consciente de sua posição e de suasnecessidades, consciente das condiçõesde sua emancipação. A luta era seu ele-mento. E ele lutou com uma tenacidade eum sucesso com quem poucos puderam

    rivalizar. [...] Como conseqüência, Marx foio homem mais odiado e mais caluniadode seu tempo. Governos, tanto absolutis-tas como republicanos, deportaram-node seus territórios. Burgueses, quer con-servadores ou ultrademocráticos, porfia-vam entre si ao lançar difamações contraele. Tudo isso ele punha de lado, comose fossem teias de aranha, não tomandoconhecimento, só respondendo quandonecessidade extrema o compelia a tal. E

    morreu amado, reverenciado e prantea-do por milhões de colegas trabalhadoresrevolucionários - das minas da Sibéria atéa Califórnia, de todas as partes da Europae da América - e atrevo-me a dizer que,embora, muito embora, possa ter tidomuitos adversários, não teve nenhum ini-migo pessoal.

    Quem foi Engels

    Figura 5 – Friedrich Engels.

    Engels foi protetor e principal colaborador

    de Karl Marx, desempenhando papel de destaque

    na elaboração da doutrina comunista, escreveu li-

    vros de profunda análise social e soube analisar a

    sociedade de forma muito eficiente.

    A atitude intelectual de Engels diferencia-se

    da de Marx, pois este tem sua análise centrada nocaráter concreto dos fenômenos que estudava,

    enquanto Engels trabalha com um alto nível de

    abstração, característica esta que se mantém ao

    longo de toda a sua obra.

    Engels era o mais velho de nove filhos de

    um rico industrial de Barmen, na Alemanha. Na

     juventude, fica impressionado com a miséria em

    que vivem os trabalhadores das fábricas de sua

    família e, quando estudante, adere a ideias deesquerda, o que o leva a aproximar-se de Marx.

    Assume por alguns anos a direção de uma das fá-

    bricas do pai em Manchester e suas observações

    nesse período formam a base de uma de suas

    obras principais:  A situação das classes trabalha-

    doras na Inglaterra, publicada em 1845.

    Muitos de seus trabalhos posteriores são

    em colaboração com Marx, mas escreveu sozi-

    nho algumas das obras mais importantes para odesenvolvimento do marxismo, dentre as quais

    podemos citar: Ludwig Feuerbach e o fim da filo-

    sofia alemã, Do socialismo utópico ao científico  e

     A origem da família, da propriedade privada e do

    Estado.

    Quem foi Hegel

    Figura 6 – Georg Hegel.

    Saiba maisSaiba mais

    Friedrich Engels, filósofo, considerado o mais notávelsábio e mestre do proletariado contemporâneo emtodo o mundo civilizado. Nasceu na Alemanha em 28de novembro de 1820 e morreu em Londres, na Ingla-terra, em 5 de agosto de 1895.

    Foi coautor de diversas obras com Marx e tambémajudou a publicar, após a morte de Marx, os dois últi-mos volumes de O Capital .

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    Hegel é considerado por muitos como o

    principal representante do idealismo do século

    XIX, que teve forte influência no Materialismo His-

    tórico Dialético.

     Hegel estudou no seminário de Tübingen,

    de 1788 a 1793, porém não se torna pastor e vai

    trabalhar como tutor particular em Berna por três

    anos, nesse período escreveu alguns trabalhosque só seriam publicados depois de sua morte.

    Nesta primeira época interessa-se pela teologia.

    Em 1796, escreve Crítica da Idéia da Religião Positi-

    va. Em seguida passa a se interessar intensamente

    pela filosofia e pela política, recebendo influência

    das ideias políticas de Rousseau.

    Leciona na Universidade de Jena, de 1801

    a 1806, onde entra em contato com Schelling e

    adota a sua filosofia da natureza. Abandona a Uni-versidade após a vitória de Napoleão e torna-se

    reitor da escola de latim de Nuremberg. Em 1807,

    publica a Fenomenologia do Espírito  e, em 1812,

    a Propedêutica Filosófica, que constituem uma

    introdução à sua doutrina. Em 1816, ocupa uma

    cátedra na Universidade de Heidelberg e publi-

    ca, em 1817, um resumo dos seus ensinamentos,

    intitulado Enciclopédia das Ciências Filosóficas em

    Epítome. Em 1818, sucede Fichte como professor

    na Universidade de Berlim, onde permanece até

    sua morte, aos 61 anos de idade, de uma epide-

    mia de cólera. 

    As principais obras de Hegel são:  A Feno-

    menologia do Espírito, A Lógica, A Enciclopédia das

    Ciências Filosóficas e A Filosofia do Direito. Sua cul-

    tura foi vastíssima, bem como sua capacidade sis-

    temática, sendo considerado o Aristóteles e o To-

    más de Aquino do pensamento contemporâneo.

    Quem foi Feuerbach

    Figura 7 – Ludwig Feuerbach.

    Feuerbach inicialmente estudou teologia

    em Heidelberg, porém abandona os estudos de

    teologia para tornar-se aluno do filósofo Hegel

    durante dois anos, em Berlim. Tornou-se um fer-

    voroso hegeliano, chegando a declarar em uma

    carta a seu pai: “Aprendi com Hegel em quatro

    semanas tudo o que antes não aprendi em doisanos”.

    Em 1828, passa a estudar ciências naturais

    e, em 1830, quando já lecionava em Erlagen, pu-

    blica anonimamente seu primeiro livro, “Pensa-

    mentos sobre Morte e Imortalidade”. Nesse tra-

    balho ataca a ideia da imortalidade, sustentando

    que, após a morte, as qualidades humanas são

    absorvidas pela natureza, explicitava nesta obra

    Saiba maisSaiba mais

    Georg Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo e teólogo ale-mão, nasceu em Stutgart, em 27 de agosto de 1770 efaleceu em Berlim, em 14 de novembro de 1831.Era seguidor de Spinoza, Kant e Rosseau e fascinadopela Revolução Francesa.

    Saiba maisSaiba mais

    Ludwig Andreas Feuerbach, filósofo e moralista ale-mão. Nasceu em 28 de julho de 1804, na cidade deLandshut, na Baviera (atual Alemanha) e faleceu em1872, em Nuremberg, na Alemanha.É reconhecido pela teologia humanista e pela influên-cia que seu pensamento exerce sobre Marx.

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    a hostilidade às ideias religiosas. A polêmica queeste trabalho gerou fez com que sua carreira aca-dêmica fosse interrompida, levando-o a mudar-separa Burckberg. A partir daí, dedicou-se somenteaos estudos, vivendo uma vida solitária.

    Em 1841, publica o seu trabalho mais im-portante,  A Essência da Cristandade  (Das Wesendes Christentums), de onde resulta a noção de queDeus é meramente uma aparência exterior danatureza íntima do homem. Refere, ainda nestaobra, que Deus tem uma existência independen-te da existência humana, mas a crença no divinoé orientada pela fé e revelada pelos sacramentos.Para Feuerbach, no entanto, estes são itens de umindesejável materialismo religioso.

    Em 1848, retornou para lecionar um curso

    em Heidelberg, a convite de alguns alunos, oca-sião esta em que produz a obra: Lições sobre a es-sência da religião, publicada em 1851. Este foi ummomento raro na vida de Feuerbach, que viveusempre isolado dos demais e na miséria.

    Para Feuerbach, o homem é quem cria Deuse não o contrário. Segundo o autor, a filosofia pre-

    cisa dar conta deste homem como um todo e nãosomente da razão que o compõe. Deve abraçara religião, enquanto fato humano, considerandoeste homem em comunhão com outros homens,caminho este através do qual ele pode sentir-selivre e infinito. Feuerbach acreditava que somentea religião dá conta do homem em sua totalidade

    e sugere que a religião desempenha um impor-tante papel na vida do homem concreto. Paraele, a consciência que o homem tem de Deus é aconsciência que o homem tem de si.

    A postura teórica de Feuerbach diante domaterialismo mecânico e do idealismo alemãoapresenta-se de grande valor e influência direta-mente para Marx, que a partir daí inicia toda umareflexão em torno de seu materialismo. A riquezado materialismo de Feuerbach pode ser apreen-dida no fato de ser um pensamento que se situano processo de decomposição do “espírito abso-luto”. Em Feuerbach, o materialismo tem seu fun-

    damento no homem, é um materialismo que gira

    em torno do humanismo.

    O pensamento filosófico de Marx e Engels

    torna-se conhecido em meados do século XIX, em

    meio à efervescência dos movimentos operários

    pela libertação econômica e política, ou seja, sur-

    ge sob a influência da luta dos proletários contra

    a exploração e a opressão. Desse modo, o Ma-

    terialismo Histórico Dialético, de Marx e Engels,

    surge como uma nova interpretação do mundo,

    voltado para aos interesses de defesa da classe

    trabalhadora.

    O materialismo dialético torna-se, então,

    um método de análise da realidade, de acordo

    com o qual tudo se desenvolve e se transforma.

    Os homens não se limitam a contemplar o mun-

    do, mas exercem influência sobre o mesmo e o

    modificam. Procuram a ideia, a consciência na

    própria realidade; ao contrário do idealismo, ondea prioridade é a consciência em relação ao ser, ou

    a prioridade do pensamento em relação ao real.

    3.2 O Desenvolvimento do Pensamento Marxista

    Também é uma concepção que diverge do pen-

    samento filosófico que vê os fenômenos como se

    fossem imutáveis e fossilizados.

    A dialética materialista compõe-se de leis

    básicas que conduzem o desenvolvimento do

    mundo objetivo e do pensamento do homem na

    realidade concreta em que vive.

    AtençãoAtenção

    O materialismo dialético torna-se, então, um mé-todo de análise da realidade, de acordo com oqual tudo se desenvolve e se transforma.

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    As três leis básicas da dialética são: a lei da

    unidade e dos contrários, a lei da transição das

    mudanças quantitativas em qualitativas e a lei danegação da negação.

    A Lei da Unidade e Luta dos Contrários

    O princípio básico desta lei é que os con-

    trários estão inseparavelmente ligados e consti-

    tuem um único processo contraditório, são inter-

    dependentes, isto é, um só existe porque o outroexiste. O fato, portanto, de estarem ao mesmo

    tempo ligados entre si formando uma unidade e

    repelindo-se mutuamente resulta na luta desses

    contrários. Nesse sentido, o papel principal é de-

    sempenhado não pela unidade, mas pela luta dos

    contrários, assim a unidade é relativa, temporária

    e transitória; enquanto a luta é absoluta, como é

    o movimento.

    A Lei da Transição das Mudanças

    Quantitativas em Qualitativas

    O princípio básico desta lei é que as mudan-

    ças quantitativas que podem parecer pequenas e

    imperceptíveis, inicialmente, vão se acumulando

    e atingem uma fase em que se tornam mudanças

    qualitativas. A antiga qualidade dá lugar a uma

    nova qualidade, que na sequência também se

    transforma pelo mesmo movimento e leva a no-

    vas mudanças. A mudança quantitativa pode ser

    lenta, mas quando dá o salto para uma nova qua-

    3.3 As Leis Básicas da Dialética

    lidade é brusca e transformadora, revolucionária.

    Esta transformação não é possível sem o acúmulo

    de pequenas e sucessivas mudanças quantitati-vas.

    A Lei da Negação da Negação

    O princípio básico desta lei é que cada fase

    superior nega ou até mesmo elimina a fase ante-

    rior. Implica a passagem de um fenômeno para

    uma nova fase, num processo contínuo de supe-

    ração a partir da negação.

    O materialismo dialético, então, apresenta-

    -se como um método científico e ao mesmo tem-

    po um método de intervenção na realidade socialcom vistas à transformação e, para tal, é regido

    por estas leis. A realidade, portanto, é concebida

    como uma totalidade onde tudo se relaciona e

    tudo se transforma.

    AtençãoAtenção

    Para a Lei da Unidade e Luta dos Contrários, oscontrários estão ao mesmo tempo ligados entresi formando uma unidade e repelindo-se mutua-mente.

    AtençãoAtenção

    Para a Lei da Transição das Mudanças Quantita-tivas em Qualitativas, as mudanças quantitativasque podem parecer pequenas e imperceptíveis,inicialmente, vão se acumulando e atingem umafase em que se tornam mudanças qualitativas.

    AtençãoAtenção

    Para a Lei da Negação da Negação, cada fase su-perior nega ou até mesmo elimina a fase anterior.

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    A presença do materialismo histórico dialé-

    tico no Serviço Social se dá a partir do início da

    década de 1960, quando alguns grupos de As-sistentes Sociais passam a questionar o Serviço

    Social quanto à sua natureza e operacionalidade

    e partem para uma análise crítica da sociedade.

    Estes grupos de profissionais começam a rever

    as posições tradicionais do Serviço Social, ques-

    tionando a prática e o posicionamento político

    dos profissionais, tornando explícita a análise da

    dimensão política da prática profissional. Este

    grupo passa a se posicionar na defesa da classetrabalhadora, não considerando mais a sociedade

    como um todo harmônico, mas, sim, como uma

    realidade onde estão presentes interesses anta-

    gônicos.

    Os acontecimentos da década de 1960

    constituem um campo fértil para a busca de uma

    corrente que se pautasse pela mudança, pela

    transformação, especialmente a crise das ciências

    sociais de origem norte-americana; a renovação

    da Igreja Católica, embalada pela Teologia da Li-

    bertação, onde se tem um diálogo entre marxis-

    tas e cristãos; o movimento estudantil, o Movi-

    mento da Cultura Popular, a contracultura etc. A

    efervescência contestatória da década de 1960,

    que se retrata na profissão através do Movimen-

    to de Reconceituação, traz no seu bojo as ideias

    marxistas.

    Inicialmente as ideias marxistas penetram o

    Serviço Social a partir da interpretação de Louis

    Althusser, que exerce influência sobre autores

    brasileiros do Serviço Social.

    3.4 O Materialismo Histórico Dialético e o Serviço Social

    Segundo Netto (1995), a análise da tradiçãomarxista e o Serviço Social no Brasil tem que con-

    siderar dois elementos importantes. O primeiroé o fato desta interlocução se dar efetivamentenos anos 1960, depois de quase três décadas deimplantação da profissão no Brasil e quando amesma já se caracterizava por uma significativainstitucionalização. O segundo elemento é quea tradição marxista, até a década de 1980, chegaao Serviço Social através de referências indiretasda teoria social de Marx, ou seja, através de inter-pretações das obras de Marx e não do acesso às

    fontes originais.Somente a partir do amadurecimento inte-

    lectual e político experimentado pela profissãonos anos 1980 foi possível ao Serviço Social dialo-gar com as fontes originais e, consequentemente,apreender o método marxista.

    Netto (1995) afirma que a relação entre a tra-dição marxista e o Serviço Social tem que ser com-preendida dentro de um quadro mais amplo de

    renovação profissional. A crise do Serviço Socialtradicional passa primeiramente por um processoque o autor chama de “modernização conserva-dora”, implementada pela ditadura que se instalano Brasil a partir de 1964 e que investe em políti-cas sociais e força a laicização do Serviço Social. Nasegunda metade da década de 1970, explicita-seo que o autor chama de vertente alternativa, inspi-rada na fenomenologia, até o surgimento da ver-tente que, segundo o autor, buscará a real ruptura

    com a herança conservadora, dialogando efetiva-mente com o pensamento marxista.

    Essa vertente emerge nos anos 1970 na Es-cola de Serviço Social da Universidade Católica deMinas Gerais, como projeto de formação, inter-venção e extensão, mas é efetivamente na déca-da de 1980 que ganha maturidade teórica, quan-do alguns autores, que por força de suas posturaspolíticas estavam fora do país, retornam e passama produzir teoricamente no país. Os escritos de

    Marilda Iamamoto e José Paulo Netto contribuemfortemente com este momento histórico do Ser-viço Social.

    AtençãoAtenção

    A presença do materialismo histórico dialéticono Serviço Social se dá a partir do início da déca-

    da de 1960, quando alguns grupos de Assisten-tes Sociais passam a questionar o Serviço Socialquanto à sua natureza e operacionalidade.

  • 8/20/2019 Fundamentos Filosóficos Para o Serviço Social

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    Sônia Maria de Almeida Figueira

    Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br30

    Como vimos, o Materialismo Histórico Dialético tem importância vital para a profissão. Além da

    representatividade teórica, essa corrente de pensamento significou a mudança radical na forma e na

    conduta de ação dos assistentes sociais em todas as frentes de ação. Além da importância teórica, o Ma-terialismo é também importante pela sua influência na práxis profissional.

    3.5 Resumo do Capítulo

    1. O que é a dialética materialista?

    2. Qual é a relação do Materialismo Histórico Dialético e o Serviço Social?

    3.6 Atividades Propostas

  • 8/20/2019 Fundamentos Filosóficos Para o Serviço Social

    29/39Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br  31

    Na década de 1970, no bojo do Movimen-

    to de Reconceituação, ganha espaço no Serviço

    Social brasileiro a presença da fenomenologia.

    Segundo Aguiar (1984),

     já se encontram sinais

    desta postura no Serviço

    Social