uma introduÇÃo À histÓria

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    Cire Flamarion S. Cardoso'

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    terminismo amplo); 2) para garantir 0 carater objetivodo conhecimento, a ciencia emprega urn conjunto de-finido de formas de agir que se conhece como "metodocientifico" (de que nos ocuparemos em outros capi-tulos deste livro); 3) no metodo cientifico existem doisniveis qualitativamente diferentes, embora ligados,que nao podem ser reduzidos ou subordinados urn aooutro; 0 te6rico e 0 empirico: 4) 0 sujeito do processode conhecimento cientifico nao e individual e sim cole-tivo: a ciencia e s6cio-historicamente determinada, ese vincula em forma complexa ao conjunto material ecultural de cada epoca da hist6ria humana (0 que naoquer dizer que seja possivel, por exernplo, deduzir asleis e teorias cientlficas, de maneira linear e simples,de outras estruturas* da totalidade social: a cienciatern um conteiido proprio e, no seio do todo social,goza de autonomia relativa); 5) a ciencia e hist6rica eportanto falivel: nao pretende acumular verdades eter-nas, imutaveis e absolutas, mas tende a urn conheci-mento completo pela acumulacao de verdades par-ciais, de aproximacoes sucessivamente mais abran-gentes; isto e, passa de estados de menor conheci-mento a outros de conhecimento mais avancado.Hlstorla: 1 1 m s o termo, varios significados

    "Historia" e urn termo polissemico, 0 que signi-fica que possui significados variados. Devido a isto,convem deixar sempre bern claro em qual sentido estasendo empregado em cada contexto do seu uso.Os significados basic os sao tres. Assim, por exem-plo, se tomarmos a expressao "historia do Brasil", elapode querer dizer:

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    CIRO FLAMARION S. CARDOSOrias Antiga, Medieval ModHistoria Agraria a H' t' , erna e Contemporanea: aM' ,IS ona Urbana H' t' 'entahdades a Historia d T' . ,a IS oria dast' 'E A as ecmcas etc' H'ona conomica a Histori D ' '. ., e a IS-Politica, e assi~ por d?n~ ernografica, a Historiaplinas especiais integraml~n e, Todas ~st~s, sub disci-ria, mas eada umad I eaml?o da disciplina Histo-cados especi ficos quee ~s Pdos.sUlconotacoes e signifi-, nao erxam derater ~ol issemico da palavra "historia" ~umentar 0 ca-Fmalmente, a polissemia ta beplano das concepcoes sobre 0 r r ; ~m, r~aparece noquer dos sent idos basicos itado historia, em qual-apon a os no pri " Tmemos alguns exemplos rei f ' . "nclplo, 0-ciplina: a IVOSa Historia como dis-

    1) houve aqueles qu t tteria da historia como ual ra aran: de definir a ma-tecimento processo pe .quer coisa passada (aeon-, , essoa etc)' a H' t' 'caso, apareceria como a di . J " ' , IS ona, nestepassado; ISClPma que se ocupa do2) outros trataram de ' ,que a Historia so se int prec~sar mars, esclarecendo"d eressana por aco t .estacados" " I n ecimentos. ' re evantes" 'leocial": em relacao it Historia d d f!ll, :epercus,sao so-aparece como disciplina m .a edlm~ao antenor, estatornos e ao mesmo tern ais re u.zlda em seus con-

    dependendo, naturalm!~e algo m~I~.~laborada (tudodo que e "d t d"'" dos cntenos de definicaoes aca 0 relevante" d 'tern "repercussa? social"); ,ou aquilo que

    3) outros ainda enfim d f ',tudo cientifico das s~ciedad' ah e mmam como 0 es-S es umanas no tempem entrar agora no me ' 0,que nos interessa e salientarento destas concepcoes, 0d~ferentes posicoes filosofica que, ~~ serem a~sumidasgicas acerca da disciplina H' S t ' t~or~as e epistemolo-"Historia" nao estara si '/s ordla, e fato este termogm ican 0 exatamente a mes-

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    32 ClRO FLAMARJON S. CARDOSOAqueles anos foram OS da redetigos, e tambem da disc _ scoberta dos textos an-Contra-Reforma ussado - Iigada ii . Reforma e ii .- acerca a ' ,sagrados (0 que se vincul f canoll1cld~de dos textoscidade), Como tal preoc ap or5osa:n,ente a sua autenti-tos e dados, sem ser condicao . c r~t~ca com textos, fa-trucao da Hi l'. .5a~ suficients para a cons-s ona como ciencra e se d' idcondicao necessaria J'a q _', m UVI a alguma

    f ,ue nao e p ossivel "em orma rigorosa a part' d raciocmarum conjunto de dados falso e urn a , documentacao eum passe significativo n sos ou duvidosos, constituiutorica, 0 progresso da disciplina his-No seculo XVII a critica d 'da mais. De novo f os textos progride ain-

    Historia-disciplina'strortam preocupacoes estranhas ii .IC 0 sensu as que Iavanco Em reaca ' evaram a este, ', ... 0 a acusacao dos prot t t dos catolicos manifestava . es an es e queto its lendas religiosas (vi~a~x~esslva cred~lidade quan-havia surgido entre os ro ri e san~o.s, milagres, etc.),hipercritica: 0 jesuita J~se~hl~o~:to~cos uma c?rr~nteseus seguidores, por exemplo han, de Antuerpia, enegar-se a aceitar com 'AC ~garam ao ponto demento de epoca merovin 0, autentJco, qualquer docu-Alta Idade Media Or gl~ ou, carolingia, ou seja, daordem recente mas a, os j esuitas eram na epoca umavelhas, cujos bens eo~~~a,stordens rel igiosas bern maisdiam, para sua compro~ o~ e~ certos cas os depen-antigos documentos medi ae~o, J.ustamente dos maist dA , evais viram umaen encia hipercritica de B n' d ameaca naque em 1681 Dom M bill 0 an . Neste contexto foi. ' a 1 on publicou D di Itica, obra que demonstrav ,e re lp oma-didos materiais pr a ser p~s~lvel, atraves de in-~e urn documento. ~v:a:a~~~e::l~dade ou .falsidadetinuado pelos monges da om Mabillon con-foi mais urn passe de mc?~g~egaeaoA de, Saint-Maur,U a importancia na consti-

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    34 cmo FLAMARION S. CARDOSOmentos, principaimente no campo da Hist6ria Antigae Medieval; 2) 0 surgimento de grandes escolas histo-ricas nacionais europeias, com nomes como Ranke,Macaulay, Guizot, Thierry, Michelet e outros, quegozavam de grande prestigio acadernico e universi-tario: 3) finalmente, fora do mundo dos historiadores"oficiais", Marx e Engels propuseram, com 0 "Mate-rialismo Historico", a primeira teoria global coerentedas sociedades humanas, vistas tanto nas suas leis es-truturais quanto - e sobretudo - nas suas leis dina-micas ou de transformacao, Porem, se observarmos 0ambiente dos historiadores "profissionais", 0 seculopassado assistiu tambem ao predorninio da pesquisaerudita voltada de preferencia para a elaboracao demonografias* que se preocupavam somente (ou emforma prioritaria) com 0 estabelecimento de fatos sin-gulares - "unicos", "irrepetiveis" e absolutamenterebel des a leis, Durante numerosas decadas, os his to-riadores universitarios se mos traram imunes a Hist6riacientifica que 0marxismo proclamava, e mesmo as in-juncoes de alguns deles que, pioneiramente, defen-diam a sintese hist6rica contra a pura analise e relatode fatos singulares (por exemplo Fustel de Coulanges),Em suma, a urn inegavel progresso e sistematizacaodas tecnicas, somava-se um retrocesso quanto a cons-trucao hist6rica em relacao aos bri lhantes precursoresdo seculo XVIII_Este estado de coisas esteve muito ligado a grandeinfluencia de duas correntes filos6ficas, cujo impactosobre os historiadores foi duravel, s6 comecando a ce-der j:i bem entrado 0 seculo XX: 0positivismo e 0 cha-made historicismo* ou idealismo alemiio (com seusprolongamentos posteriores, entre os quais 0 presen-tismo*),o sistema filos6fico posit ivista de Augus te Comte

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    mento das leis principals da categoria precedente, e seto~nasse por sua vez 0 fundamento da categoria se-guinte. A partir dai, oferecia-se a seguinte !ista naordem direta do aumento decomplexidade dos obJetose na ordem inversa do grau de generalidade das leisdescobertas em cada campo: Matematica Astro-no~ia, Pis.ica, Quimica, Fisiologia (Biologi~), PisicaSocial (Sociologia),Quais as conseqfiencias destas teses ou "leis" do

    positivismo para a concepcao da discip!ina historicaq~e pre~endesse basear-se nelas? Em primeiro Ingar, aafirrnacao dos/afos - seu estabelecimento atraves dacritica erudita das fontes - como tarefa primordial.p?~ outro lado, ~m certo pessirnismo quanto a possi-bilidade de explicar tais fatos atraves de leis. Comopode ser observado, na lista de Comte nao figura a His-t6ria; os fatos hist6ricos, a cuja coleta se dedica 0 his-toriador, eram vistos como a materia-prima da Socio-logia, esta sim capaz de descobrir nexos legais entre osfatos sociais. Esta relacao Hist6ria/Sociologia foi acei-ta pela maioria dos historiadores positivistas essen-cialmente preocupados com a acumulacao de fatos es-t~belecidos se?undo criterios rigorosos de erudicao cri-tica. Como tats "fatos hist6ricos" eram consideradospor definicao, como fatos passados iinicos e irrepe-tiveis - ou seja, singulares -, efetivamente nao po-deria ser tarefa facil achar entre eles "relacoes cons-tantes de sucessao e similitude"; pois, mesmo nestesen~i~o restrito do conceito de "lei", nao pode, pordefinicao, haver lei do que e unico e irrepetivel. Influiutarnbern, neste ponto, a concepcfio - mais ou menosiI?plici~a no. s~stema de Comte - segundo a qual aFilosofia positiva sedesenvolve no quadro da ciencia ea ciencia sefecha sobre simesma, enquanto os demaisfenomcnos culturais e historicos sao, no fundo, os for-

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    porem, nao lhes atribuiam 0 carater de fatos reais, ex-ternos ao observador: viam-nos como "fates de pensa-mento", como uma criacao subjetiva. Urn metodo ba-seado na cornpreensao intuitiva, e uma concepcaosubjetivista e relativista da Historia so poderiam ser -como de fato foram - freios aos progressos da cons-trucao da Historia como ciencia, Isto nao mudou, acomecos do seculo atual, com a corrente chamada"presentista" (Croce, Collingwood): apesar de al-gumas diferencas filosoficas, as consequencias episte-mologicas e metodologicas sao bastante similares emambos os casos.A fins do seculo passado, entre os historiadoresprofessava-se com frequencia, em materia de metodo-logia, uma sintese das posicoes positivistas e histori-cistas. 0 "otimisrno cientificista" proprio da con-cepcao positivista se manifestava no plano da cri ticaexterna e interna, com seus metodos rigorosos postos aservico do "estabelecimento dos fatos"; jii no dominioda sintese historica, da construcao de textos e expli-cacoes a partir de tais fatos, aparecia 0 pessimismoradical do historicismo e a primazia da subjetividade.Emuito significativo, a respeito, urn manual que, im-presso pel a primeira vez na Franca em 1897, teveenorme influencia na formacao dos historiadores emdiversos paises durante meio seculo: Charles-VictorLanglois e Charles Seignobos, Introduciio aos EstudosHistoricos, t rad. deL.de Almeida Morais, Sao Paulo,Editora Renascenca, 1946.Embora as concepcoes positivist as e historicistastenham predominado entre os historiadores profissio-nais ate meados do seculo xx, desde fins do seculopassado vemos levantar-se vozes contra elas. Haviahistoriadores que, alem dos acontecirnentos isolados,procuravam estabelecer regularidades, corn frequen-

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    4D CIRO FLAMARION S, CARDOSOTopolski, consideram como ponto "da concepcao marxista da H' t" mars importanteexplicacao que une a abord IS orra 0 ,s~u modelo detural numa visao inte r agem genetica e a estru-rico-social. E verdad; a~a do dese?-volvimento histo-muit~ dificil, razao peia e ~aTaneJo deste metodo emarxistas com freq ..A ~ ,mesmo em estudos, uencra predornimente seja a orientacao geneti re _amma unilateral-mais que 0 postulado metoedlcl~' ,seJa a estrutural, por" , ooglco da sua ,_cess ana seja reconhecido, urnao ne-o marxismo desd 'culo XIX se cara'cter' e suasl origens a meados do se-" IZOUpe a bus d I 'volvimento historico-social (lei d' c~ ~ ezs do desen-terminem, para cada ,IS _mamICas), e que de-, ' ' orgaruzacao s6ci hi t' 'pecifica, os seus fatores " 0- IS onca es-" mvanantes e 0reiterativos ou repetitivos (lei s ~eus processosnizacao), Por outro lado se s estm_tu:a~s, ou de orga-pelos marxistas como u~ :do a hls!ona consideradamico ou autodeterminad esenvolv~mento autodina-ambito explicativo quais 0, 0 ~arxIsmo expulsa dometafisicas, extern as aoquer, en?dades ou entelequiasDeus, 0 "Espirito" "p~oprlO _processo hist6rico:, 0 geruo naci I" (Vi Ideterminismos de tipo eo r" ana" 0ksgeist),a visao da hi t' ' g g ~fICO, ecologico ou racial]" " s ona como realizacao de al " 'ogica ( darwinismo so ' I") guma lei bio-de grande importancia ~~a , ~c, _Estes sao aspectosque pretenda ser cientifica,cons ucao de uma Hist6ria_ Para 0marxismo, hist6ria n tu I ",sao subsistemas da r I'd d a ra e historia sociald ea I a e cada . ,esenvolvimento autod t ' ' urn sujeito a um, e ermmado eP ? , em vinculacao reciproca A " ,ao mesmo tern-dialetica reconhecida I M ~n?-clPal contradicaoseja, pela teoria mar~~t~ dea~enah~mo !iistorico (oudam as sociedades hum ,omo uncionam e mu-tre as sociedades hum anash) ~ a ~ue se estabelece en-anas istoricamente dadas e a

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    sociedade (por exemplo, as leis economic as so tern va-lidade necessaria para 0 sistema economico em fun-cao do qual forem descobertas); 4) alguns dos mem-bros do grupo dosAnnales - mas certamente nao todos- coincidem em atribuir uma grande importanciaexplicativa it base economica, aproximando-se em cer-tos casos a nocao marxista da determinacao em ultimainstancia; 5) a aceitacao da inexistencla de fronteirasestritas entre as ciencias sociais, embora 0 marxismoseja muito mais radical quanto a sua unidade; 6) avinculacao da pesquisa historica com as preocupacoese responsabilidades do presente.

    Por outro lado, seria possivel igualmente cons-tatar diferer:c;as. de peso, a menor delas nao sen do, porcerto, a ausencia, entre os historiadores dos Annatesdeuma teoria da mudanca social e da luta de classes:Seja como for, achamos que a confluencia - nao des-provida de atritos - entre estas duas correntes deideias constitui, em nosso seculo, a forca mais pede-rosa que age no sentido de fazer da Historia uma cien-cia.

    Conclusiio: uma ciencla em construesoVoltemos agora as opinioes contrarias a cientifi-

    cidade da Hi~toria, expostas ao principiar este capi-tulo. Uma Ieitura atenta mostrara que 0 argumentocentral, em quase todos os casos, e urn so: a Historianao pode ser cientifica porque seu objeto sao fatos ouacontecimentos "unicos", "singulares", "individuais"nao passiveis de lei, por conseguinte. No caso de PaulVey~e, 0 que se afirma e urn pouco diferente: seriapossivel fornecer uma explicacao cientifica de certosconjuntos de fatos historicos, mas a cientificidade glo-

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    quencia e irrelevante. 0 historiador nada pode fazercom ela: nao e redutivel a uma interpretacao racional,carece de significado tanto para 0 passado quantopara 0 presente" (E. H. Carr, t iQue es la historia?,trad. de 1. Romero, Barcelona, Seix Barral, 1976, 6:'ed., pp. 141-142; existe publicado em portugues).Querera isto dizer, entao que a Historia zzie ple-namente cientifica? Nao chegamos tao longe em nossootimismo. 0 que nos parece e que ela pode vir a se-lo(ou, em outras palavras, que inexistem obstaculos:pistemol6gicos de peso em tal sentido), e na pratica 0e cada vez mais - claro que ao observa-la nos seusmelhores expoentes da atualidade, nao em quaisquertrabalhos hist6ricos mesmos atuais.Quanto ao primeiro aspecto da questao, vimosque 0 neopositivismo nega a possibilidade da cientifi-cidade plena, nao s6 da Hist6ria mas mesmo da Bio-logia, por achar que os fatos da hist6ria humana e osda evolucao biologica sao "acontecimentos unicos".Os "acontecimentos" de qualquer tipo sao, de fato,sempre unicos: um corpo que cai aqui e agora e aeon-tecimento unico que jamais se repetira, e nao e objetoda teoria gravitacional, ja que a ciencia fisica s6 se in-teressa pelas propriedades ou caracteristicas comuns aurn conjunto de fenomenos e processos (e nao pelos fe-nomcnos e processos tornados individualmente em siepor simesmos). Da mesma forma, em Historia, ao su-perar-se a fase em que os historiadores selimitavam acoletar "fatos singulares", tornou-se possivel obter ex-plicacoes (e nao apenas "interpretacoes" nao contro-laveis) aplicaveis a grandes conjuntos de Iatos e pro-cessos. Como 0 sabe qualquer historiador, afirmar queos "acontecimentos hist6ricos" sao unicos irredutivel-mente, supoe urn postulado inaceitavel: 0de que a his-t6ria humana tem-se desenvolvido monoliticamente,

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    48 CIRO FLAMARION S. CARDOSOporqu- transcende a massa dos fatos de experiencia,imaginando como pode ter sido a passado e como po-dera ser a futuro". Sobre estes pontos de inadequaCaOpelo menos parcial, dizia Rama que a Histaria e aomesmo tempo geral e particular, ja que "lhe corres-ponde precisar aquilo que cada process a historico ternde distinto"; e que, embora a busca de leis e da pre-dicao devam ser objetivos tidos como legitim os pel ashistoriadores, na sua/ase atual a Historia ainda nao ascumprs cabalmente, como alias tambem ocorre comas demais ciencias sociais .

    Sendo as imperfeicoes no aspecto da legalidade eda prediCao algo comum a Histaria e as outras cienciassociais - como 0 sao, mais geralmente, series pro-blemas no que diz respeito a forma em que constroemteorias -, vemos que 0 obstaculo mais especi/ico quese ergue no caminho da Historia cientif ica e a preocu-pacao persistente com "0particular".

    Deve notar-se, porem, que nao se trata ja de queos fatos singulares continuem esgotando as preocu-pa,,5es dos historiadores: vimos que tal fase foi dei-xada para tras. Trata-se, agora, de que a historiadorcontinua com muita freqiiencia pretendendo limitar-sea apreender cada estruturacao au processo histarieoparticular em toda a sua complexidade, portanto emsua originalidade irredutiveI, mesmo se, ao mesmotempo, jii nao desdenha a procura de regularidades,generalizac5es e leis. Enquanto alguns - Michel deCerteau, Paul Veyne, Robert Berkhofer Jr. e outros _veriam nisto algo necessaria, achamos, quanto a nos,que a supera