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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: 218855473. [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: Sandra Costa Saldanha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14- Opinião D. José Cordeiro18- A semana de... Lígia Silveira20- Entrevista Alfredo Teixeira34- Dossier Família e futuro da Igreja

44 - Internacional50 - Cinema52 - Multimédia54 - Estante56 - Vaticano II58- Agenda60 - Por estes dias62 - Programação Religiosa63 - Minuto YouCat64 - Liturgia66 - Fundação AIS68 - Opinião Margarida Corsino

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência Ecclesia

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Opinião

Pastoral corajosapara a Família[ver+]

Combate àpobreza eexclusão[ver+]

Desafiospastorais dafamília[ver+] Sandra Costa Saldanha|D. JoséCordeiro|D. Antonino Dias| AntónioMarujo| Margarida Corsino

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Uma inércia desastrosa

Sandra Costa Saldanha

Motivo de indignação e opiniões diversas, tem-sedito de quase tudo sobre a intervenção na ÚltimaCeia do Santuário de Nossa Senhora as Preces(Aldeia das Dez, Oliveira do Hospital). Doescárnio ao choque, a sociedade em geralmanifesta-se com expressões de repúdio,classificando-a como uma “aberração” e“tragédia”, acção de “terrorismo” e desrespeito.Retrato de uma realidade que muitos conhecem,a intervenção levada a cabo está na ordem dodia, trazida a público pelas redes sociais. Tem amais-valia de chamar a atenção para uma práticareiterada, como bem sabemos, de norte a sul dopaís. Acções que estão na base da perda demuito património, têm por alvo todo o tipo deobjectos devocionais. Concretizadas porindivíduos sem competência técnica, reina oamadorismo. Todos - excepto os profissionais -parecem aptos a intervir no património cultural daIgreja, escudados num singular sentimento deposse e num espírito de autonomia altamentenocivo. Atropelando os mais elementaresprincípios de conservação e restauro,transformam-se obras de arte religiosa emverdadeiras caricaturas carnavalescas, semcritério nem rigor.Situações frequentemente irreversíveis (peloemprego de técnicas e materiais inadequados),adulteram as obras e determinam, não rarasvezes, a perda do seu valor patrimonial.Coloridas e brilhantes

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(como “novas”), mais doque a descaracterização material,uma intervenção danosa perverte omais profundo sentido da obra dearte religiosa, uma das maisnotáveis heranças da igreja católica:a sua identidade, comprometendotodo o propósito pastoral para oqual foi concebida, como meio deevangelização e catequese.Não é, pois, por falta de informaçãoque as situações se repetem. Ela éabundante e sistemática, em acçõespromovidas por várias entidades.Normas e toda a espécie deorientações existem, masprosseguem os atropelos aosprocedimentos. É aos serviçosvocacionados para os BensCulturais da Igreja (que existem emtodas as dioceses) que competeaconselhar e promover aimplementação de boas práticas.Por eles devem passar todos osprocessos de intervenção nosespaços religiosos.

Os Bens Culturais da Igreja nãopodem, pois, continuar sujeitos àimprudência e à arbitrariedade dosgostos pessoais. Trabalho fácil epouco oneroso, frequentemente doagrado das comunidades, é tambéma essas mesmas comunidades - tãosolícitas na defesa e preservaçãodo seu património - que competepromover uma acção escrupulosa,procurando orientaçãoespecializada, fiscalizando edenunciando semelhantesatrocidades.Felizmente, aumentam os exemplosde boas práticas, em intervençõesprudentes e responsáveis. Mais doque a crítica fácil, seria bom que amediatização do caso de Aldeia dasDez tivesse um alcance pedagógico,alertando e motivandotransformações nos modos deactuação de todos quantos que têmresponsabilidade na salvaguarda eprotecção do património cultural daIgreja.

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Confrontos em Kiev, Ucrânia© Lusa

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“O Presidente da Repúblicadevolveu à Assembleia da Repúblicaa proposta de referendo sobre apossibilidade de coadoção pelocônjuge ou unido de facto domesmo sexo e sobre a possibilidadede adoção por casais do mesmosexo, casados ou unidos de facto”Presidência da República, Lisboa,20.02.2014 "O FMI dá notícia de que estáconstituído um grupo de trabalho(como o PS tinha anunciado) quetem como objetivo cortes naspensões e salários, reduzir asituação dos funcionários públicosenquanto rendimentos do trabalho.Esta situação é grave"Alberto Martins, no final a reuniãosemanal do Grupo Parlamentar doPS, Lisboa, 20.02.2014

"Queremos aliviar a carga fiscalsobre o trabalho e sobre o consumode modo permanente num prazo tãocurto quanto possível"Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, Lisboa, 18.02.2014 “Baseado nos resultados dareunião, as partes anunciaram umatrégua e o início de negociaçõesque visam acabar com oderramamento de sangue eestabilizar a situações do país embenefício da paz civil”Presidência da Ucrânia, Kiev,19.02.2014 “Não podem conviver gruposarmados ilegais com a paz emsociedade. Ao Governo cabe aresponsabilidade de desarmar estegrupo”Ramón Guillermo Aveledo, Mesa daUnidade Democrática, Venezuela,19.02.2014

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Compromisso alargadocontra pobreza e exclusão

A Cáritas Portuguesa e as suascongéneres europeias assinalamhoje o Dia Mundial da Justiça Socialcom um apelo “a todos os decisorespolíticos” para que reconheçamaquele princípio como “fundamentalno combate à pobreza e exclusão”.Num comunicado conjunto enviadoà Agência ECCLESIA, osorganismos católicos realçam que apromoção da justiça social é umadas diretivas presentes no “Tratadoda União Europeia” e um primadofundamental, “particularmente noatual ambiente social,profundamente alterado”. Segundoa mesma nota, “as estatísticas maisrecentes mostram que, em 2012,mais de 124 milhões de pessoasdos 28 estados-membros viviam emrisco de pobreza ou exclusão social”.“Em Portugal este número foi de25,3 por cento da população, o quesignifica que mais de dois milhões eseiscentas mil pessoas estavam emrisco de pobreza

ou exclusão social”, pode ler-seainda.A Cáritas Portuguesa lamenta que,“embora a Comissão Europeia etodos os estados-membros setenham comprometido a tomarmedidas sérias para reduzirsignificativamente estes números”,existam “mais pessoas nestasituação em Portugal e muitas nãoestão sequer na estatística oficial”.No n.º 201 do compêndio daDoutrina Social da Igreja Católica éreferido que “a conquista da JustiçaSocial diz respeito aos aspetossociais, políticos e económicos e,sobretudo, à dimensão estruturaldos problemas e às suas respetivassoluções”. “Isto significa que osgovernos devem desenvolverpolíticas e legislação que respeitema interdependência e a interligaçãodo desenvolvimento económico esocial de forma sustentável”, realçaa organização solidária, presididapor Eugénio Fonseca.

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A mesma entidade sublinha que “averdadeira Justiça Social requer umforte compromisso entre estesaspetos, porque sem crescimentoeconómico não há recursosadequados para o desenvolvimentosocial e sem investimento numsistema de proteção social, inclusãosocial e serviços sociais não hádesenvolvimento económico estávela longo prazo”.O Dia Mundial da Justiça Social

foi instituído pelas Nações Unidasem 2009, na sequência doreconhecimento da necessidade deenfrentar questões como a pobreza,a exclusão e o desemprego. A datapretende mobilizar os países para aimplementação de atividades einiciativas que permitam responderaos objetivos e metas traçadas naCimeira Mundial sobreDesenvolvimento Social, realizadaem Copenhaga, em 1995.

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Bispo de Vila Real pede combate àapatiaO bispo de Vila Real, D. AmândioTomás, tornou hoje pública a suamensagem quaresmal, na qual incitaos diocesanos a viver a Quaresma“imitando Jesus”, para fugir à“apatia e desinteresse”.“A Quaresma prepara a Páscoa daRessurreição, a nova criação e avida gloriosa, com a ascese, aconversão e a passagem obrigatóriapela morte e dom de si, imitandoJesus que veio, para dar a vida pornós, renunciando ao poder e àglória” por isso “a Quaresma develevar à imitação de Cristo, àrenúncia, ao êxodo, à partilha e aoamor fraterno”, começa porescrever D. Amândio Tomás. “Oamor a Deus e ao próximo faz felizquem vive e aposta, no dom dasolidariedade, na empatia com ooutro, no bem comum, compaixão eperdão”, porque “o remédio contra omal e apatia é fazer bem, retirar oódio, o desinteresse e aescravização do próximo”,acrescenta.O bispo de Vila Real sublinha que“há que anunciar Cristo, comcoragem, alegria e convicção, semmedo, nem vergonha, e amar os

pobres, com fraterna solicitude, poisDeus quer ser encontrado e servidoneles”.D. Amândio Tomás lamenta que “ainformação torne o mundodiversificado e plural, uma aldeiaglobal, bombardeada por váriaspropostas e modos de viver e ver omundo, que não ajudam,automaticamente, a gente a criarentendimento, amizade ereconciliação”.A mensagem adianta também que arenúncia quaresmal vai reverter,este ano, a favor das Conferênciasde São Vicente de Paulo. “O cristãoama, partilha e dá, com solicitude,para mitigar a dor e miséria dosoutros”.

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Realidade angustiantedo desemprego jovemLisandra Rodrigues é a novacoordenadora nacional daJuventude Operária Católica e vaiiniciar funções no próximo dia 1 deabril. Em entrevista concedida àAgência ECCLESIA, a novaresponsável traça como prioridadepara o seu mandato envolver cadavez mais o movimento na procura desoluções que permitam contrariar a“realidade angustiante” dodesemprego jovem.A partir do trabalho nas dioceses,com base na mensagem cristã enuma filosofia que assenta muito nadinâmica de grupo, é possível daraos mais novos “esperança,confiança” e ao mesmo tempo ajudá-los a “perceber”, diante dasdificuldades, onde estão “asrespostas e o alento que precisampara continuarem o seu caminho”,realça Lisandra Rodrigues.Por outro lado, a novacoordenadora da JOC queraprofundar a intervenção domovimento junto das entidadespolíticas e sociais que têm “umpoder de decisão muito maisconcreto e direto”.

Aqui estão incluídas não só asinstâncias governamentais mastambém “os sindicatos” eplataformas como “o ConselhoNacional da Juventude e outrosmovimentos de jovens que semobilizam face aos problemas”. “Nãofaz sentido a JOC estar fechada emsi própria, ela não faz passar a suamensagem, a sua proposta de vidase não a partilhar com outros”,sublinha Lisandra Rodrigues.A JOC lançou uma campanhanacional de combate aodesemprego que pretende levar acabo ações por todo o país paraajudar a encontrar trabalho, emparticular para os jovens. Estacampanha vai terminar em agostode 2015.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Diretora do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja alerta para«atos criminosos» no restauro

Entrevista a Inês Leitão e Daniela Leitão

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O Bracarense, santo bispo conciliar

D. José Manuel CordeiroBispo de Bragança-Miranda

O Beato D. Bartolomeu dos Mártires nasceu há500 anos (03.05.1514) e foi dominicano enomeado Arcebispo de Braga, sendo por issotambém Pastor das actuais Dioceses de Viana doCastelo e Vila Real e ainda do presenteArciprestado de Moncorvo da Diocese deBragança-Miranda, que pertenceu a Braga até1881. Este insigne Pastor participou no Concíliode Trento, onde ficou conhecido pelobracarense. Aquando do seu regresso doConcílio à Arquidiocese de Braga entrou no vastoterritório pela magnífica vila de Freixo de Espadaà Cinta. Para assinalar esta data, precisamentehá 450 anos (23.02.1564), celebraremos amemória com a Eucaristia na igreja matriz deFreixo de Espada à Cinta no domingo,exactamente o dia 23 de fevereiro de 2014.Este santo bispo conciliar, encarnou o perfil debispo ideal por ele defendido em Trento eescreveu no seu livro Estímulo de Pastores: «trêscoisas se requerem no prelado: 1ª – pureza deintenção, que consiste nisto: desejar mais servirque presidir; procurar em tudo não a honra, nãoa própria comodidade, mas a pura vontade deDeus e a salvação das almas; 2ª – conversãosanta e irrepreensível, para que de nenhummodo se possa objectar-lhe: médico, cura-te a timesmo; 3ª – humildade interior e sincera, paraque não presuma interiormente ou se glorie daprópria santidade, como usurpador e ladrão daglória que só a Deus é devida, em quem

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deve confiar e de quem devedepender». É um programa queabre à coragem da esperança esublinha no coração do bispo:

a caridade, a sabedora, a rectidão ea justiça.Santo Agostinho já havia recordado:«como quer que

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sejamos, que a vossa esperançanão esteja posta em nós: se formosbons, somos ministros; se formosmaus, ministros somos. Mas só seformos ministros bons e fiéis, é queseremos verdadeiramenteministros». A Igreja coloca-se numaatitude de serviço, que não impõe afé, mas solicita a coragem pelaverdade. O Bispo torna-se “pai”,exactamente porque é plenamente“filho” da Igreja. A própria vida diz-nos que nem todos podemos serpais, mas todos somos filhos naconfiança, qual dom de Deus.Confiança, com efeito, é o nomeinfinitamente nobre que o amorassume neste mundo, quando a fé ea esperança se unem para permitir-lhe de nascer.A Visita Pastoral é um autênticotempo de graça e momentoespecial, antes único, para oencontro e o diálogo do Bispo comos fiéis. O grande Bispo, Bartolomeudos Mártires, entendia que a visitapastoral é quase a alma do governoepiscopal, como uma expansão dapresença espiritual do Bispo entreos seus fiéis. Com

efeito, para o Bispo ou o Pastor,como o recordam tantos santosMestres, «o mais importante éconhecer o povo do Senhor que lheestá confiado».O Papa João Paulo II beatificou oarcebispo no dia 4 de novembro de2002, e referiu-se a ele ao falar daimportância da visita pastoral naexortação apostólica PastoresGregis sobre o bispo,

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servidor do evangelho de JesusCristo para a esperança domundo. A memória litúrgica celebra-se a 18 de julho.S. Carlos Borromeu era um grandeamigo e admirador do bispoportuguês tão influente no Concíliode Trento. O cardeal Carlo Martinitambém se referiu a Bartolomeu noseu livro O Bispo: «Tudo o querespeita à autoridade é reconduzidoao pastor supremo, do qual osresponsáveis são colaboradores. Asvirtudes indicadas são:disponibilidade, desinteresse,humildade, tornar-se modelos dorebanho. Este é o ponto de partidapara aqueles que serão os grandestratados acerca do exercício daautoridade na Igreja, da Regulapastoralis de S. Gregório Magnoaos vários escritos do século XVI,como o Stimulus pastorum deBartolomeu dos Mártires, Arcebispode Braga, muito estimado por S.Carlos Borromeu até ao

documento Ecclesiae Imago,directório para o ministério pastoral dos bispos (1973) depoisreapresentado sob o nomede Apostolorum sucessores em2004».

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A notícia silenciosa

Lígia SilveiraAgência Ecclesia

Há alguns anos fui desafiada por uma revista adar a conhecer leigos que, em variadasgeografias e vocações, se mostravamempenhados no serviço à Igreja e respondiamcom um testemunho alegre e desinteressado.Do Minho ao Algarve encontrei pessoas de todasas idades e de múltiplos carismas: desde apresidência da Celebração da Palavra em terrasinóspitas à promoção do encontro entrediferentes confissões religiosas, passando pelavisita a doentes, dinamização de jovens ecrianças e acompanhamento de estudo ouoração, entre outras atividades voluntárias.Muitas e boas histórias com um denominadorcomum: o profundo sentido de serviço espiritual.Encontrei muitos sorrisos e grande humildade empessoas que disseram sim à vocação que foramdiscernindo na vida como apelos pessoais a quederam respostas comprometidas.Regresso a esses momentos porque osreencontrei há dias, quando andei por Setúbal àprocura de retratos de uma diocese construída avárias mãos na procura cristã do ser e do fazer:cultura e património, ação social e educação,formação contínua e oração.É esta a Igreja que acontece todos os dias e queé uma notícia silenciosa que não procuramanchetes, câmaras ou microfones.

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O primeiro contentamento queencontra é a «alegria doEvangelho» que «enche o coraçãoe a vida inteira daqueles que seencontram com Jesus», comoescreve o Papa Francisco naabertura da exortação «EvangeliiGaudium».

Quando queremos sondar a açãoda Igreja, batemos muitas vezes àporta de diretores, dirigentes epresidentes, esquecendo-nos dequem, no silêncio, testemunha que avida é sempre maior quando se dá.

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Concertação no horizonteAlfredo Teixeira, teólogo e antropólogo, analisa o alcance e asnovidades da auscultação sobre a família no contexto do Sínodo dosBispos. Mais do que a oportunidade de um sínodo, o professor daUniversidade Católica considera que a Igreja deverá passar a um estadode sinodalidade. O “efeito” Papa Francisco pode ajudar a essarenovação, onde já não é possível contar com dispositivos como umConcílio e em contextos que personalizam lideranças. Para contar coma família, Alfredo Teixeira afirma que um discurso ideológico tem de sersubstituído na Igreja por reais investimentos pastorais.

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Agência ECCLESIA (AE) – Em todoo processo de auscultação parapreparar o Sínodo dos Bispossobre a Família, o que surge comonovidade?Alfredo Teixeira (AT) – O que éverdadeiramente novo é a atençãoque sociedade em geral e emparticular os católicos mostraramface a esta inquirição.O processo de auscultação nocontexto de sínodos não é algonovo. Noutros sínodos e noutrascircunstâncias, em mobilizações emtorno de determinados interessespastorais, por exemplo, é frequenteque se faça algum tipo deauscultação, tendo como objetivo asensibilização do terreno eclesialpara as questões que vão serdebatidas. E normalmente aspessoas que respondem sãoescolhidas pelas dioceses, comotendo particular interesse poraqueles assuntos.Esta auscultação ganhou umadimensão que qualquer dispositivodeste género nunca teve, pelointeresse que as pessoasmostraram. Com uma marca: aspessoas perceberam que o Papaestava genuinamente interessadoem ouvi-las.

AE – E é essa a marcadiferenciadora em relação a outrosinquéritos?AT – Sim, é essencial. As pessoasnão se mobilizam para responder senão perceberem que aquilo que vãodizer pode ser ouvido. O que gerouum problema: todo este processo foium pouco caótico. A Igreja, nas suasestruturas locais, não terá pensadosuficiente no modo deoperacionalizar a auscultação.Nalguns países o processo deorganização da auscultação foientregue a institutos sociopastorais,que têm competências nessa área eprocuraram recolher essainformação, como aconteceu naSuíça. Noutros houve metodologiasdiferentes, por dioceses ou

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em iniciativas espontâneas fora dosquadros normalizados da vidaeclesial.Há um problema relativo à gramáticada participação que não está aindapensado e operacionalizado, o quenão deve esconder a extraordináriaadesão e a perceção dos cristãosde que havia uma vontade genuínade os ouvir sobre os temas dafamília a partir de sensibilidades eexperiências de vida próprias. Da ficção à realidade AE – Numa entrevista às revistasdos jesuítas, o Papa Franciscoafirma: “Os Consistórios e osSínodos são, por exemplo, lugaresimportantes para tornar verdadeirae ativa esta consulta. É necessáriotorná-los, no entanto, menos rígidosna forma. Quero consultas reais,não formais”. É isso que já está aacontecer?AT - Diria até que antes eramconsultas fictícias. Se o dispositivonão se dirigia à realidade, o reflexoque tinha era de uma certa ficçãosobre essa realidade.

AE – Quer isso dizer que muitossínodos partiram de pressupostoserrados?AT – Muitos sínodos não tiveram osdispositivos necessários para fazeruma real auscultação e osproblemas foram pensados a partirdas experiências pastorais que osbispos conhecem. E eles nãoexistem fora da realidade, presidemà comunhão das comunidades,estão em contacto com elas…É nova a possibilidade dacomunidade, a partir da iniciativapessoal dos cristãos, tomar apalavra desta forma. Os cristãosperceberam que o Papa tinha umavontade diferente relativamente aeste processo de auscultação. AE – Trata-se de uma determinaçãodo Papa ou de uma atitude quecontagiou a estrutura do sínodo e aprópria Igreja?AT – Acho que contagiou. Mas osínodo é um dispositivo institucional.E requer canais e modos própriospara que a vida possa chegar até aesse dispositivo, existindo umadificuldade em perceber

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se essas vias estão suficientementeabertas e organizadas.Que existe um efeito PapaFrancisco, quer na cena públicaquer no terreno eclesial, issoparece-me evidente! Mesmo emrelação a indicadores sociométricosmuito simples. Por exemplo, umsociólogo italiano que tem estudadoalguns aspetos da religiosidade emItália, observando com detalhe asflutuações da prática dominical nopaís mostrava recentemente que emrelação ao indicador da práticacatólica existe na Itália um efeitoFrancisco.Há também uma reflexão que temosde fazer: as dinâmicas sociais têmhoje condições para serrelativamente efémeras, porestarem associadas aoprotagonismo de alguém,

desaparecendo com esseprotagonismo. Não me parece, porisso, que um discurso vazio eotimista seja aqui interessante. AIgreja Católica tem antes deencontrar novas formas de pensaras comunidades, a suacomunicação com o espaço público.E este Papa abriu claramente aIgreja para esse elã, sem dizer emmuitos casos como é que isso setem de fazer.Há, assim, uma granderesponsabilidade das igrejas locais,enquanto estruturas animadoras elugares de inscrição da vida cristã,que não estão em muitas das suasdimensões no mesmo dinamismo.Não podemos ter a ilusão de que aoentusiasmo da identificação diretado católico com o Papa correspondea mesma transformação em todasas outras estruturas eclesiais.

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AE – Como enfrentar esse desafio,no Vaticano e nas igrejas locais?AT – O espaço comunicativotransformou-se muito nas últimasdécadas, pelo menos desde JoãoPaulo II. As novas plataformas decomunicação permitem que umaliderança religiosa possa ter umcontacto quase direto com a suabase social. Mas temos de ter emconta que essa relação

pode subsistir nesse planocomunicativo sem transformar oresto.No caso do Papa João Paulo II, olugar de inscrição foi o espaço“massmediático”. Os católicostinham uma relação com o Papa demuita proximidade, mas mediadapelos mass media, não pelasestruturas eclesiais.Bento XVI teve de lidar

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também com essa transformação,com as dificuldades geradas peloseu estilo e pelo percursointelectual, que não se dá muitobem com a multidão, a “massa” queo espaço mediático convoca.Com Francisco encontramos umarealidade nova: a comunicação jánão é com a multidão, mas adquireuma dimensãopersonalizado.Quando observamosas caricaturas, o humor que seconstrói em torno de uma pessoa, épossível perceber o que está emcausa porque o humor é umacelerador da mensagem. No casodo Francisco, os humoristas têmexplorado o Papa que é capaz detelefonar a alguém através dotelemóvel, que é capaz deresponder a um problema c

oncreto que alguém lhe coloca.Há uma imagem diferente, queprivilegia a dimensão comunicativa,já não na grande praça de multidão,mas afirmando-se numa relaçãoquase pessoal, que pode subsistirde uma forma um pouco paralela aoque são as estruturas eclesiais.O grande desafio deste pontificadoserá, assim fazer refluir uma coisasobre outra:como é que uma relação nova, umestímulo novo que é dado por umPapa e pela relação que quer tercom os católicos e com o espaçopúblico em geral pode refluir, podetransformar as estruturas eclesiaisque, em todo o caso, sãonecessárias para dar corpo a estavida.

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Reformar com novosdispositivos: a concertação AE – Por aí se irá avaliar acapacidade reformista destepontificado?AT – Uma instituição como a Igrejatransforma-se na medida em queincorpora dinâmicas reformistas. Aideia de reforma é interior à suaprópria história.Neste momento é necessárioperceber atá que ponto este elã temuma dimensão reformista. E ainda érelativamente cedo para tirarconclusões, embora haja já sinaisdisso (como o interesse pelareforma da Cúria Romana),

num contexto em que já não épossível contar com os mesmosmeios que outros propósitosreformistas tinham.João XXIII tinha um Concílio que éum instrumento de reforma muitoimportante. Pensar hoje um Concíliorequer uma análise da situaçãomuito mais completa e efetivá-loimplica pensar a Igreja numacomplexificação à escala mundial.Basta ter presente o simples factode que há um número muito maiorde bispos…Um dos desafios deste Papa é terde pensar os dispositivos quepodem organizar uma reforma.

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Há no desígnio de Francisco umintuito reformista. Mas ele próprioterá algumas dificuldades emperceber que dispositivos podemagir sobre as estruturas eclesiaispara os dinamizar nesse impulsoreformista. AE – A reforma do próprio sínodoserá o meio para desencadear areforma?AT – Sim, é possível. Sobretudo namedida em que seja expressão edesencadeie uma cultura sinodalmais alargada. AE – Passar da existência de umsínodo a uma existência emsinodalidade…?AT – Exatamente. Os Sínodosdiocesanos que têm acontecido, emparticular no espaço europeu,tiveram impactos muito diferentes.Na França, por exemplo, osdinamismos sinodais introduziramalterações significativas na formade organização dascomunidades, nos dinamismos deevangelização. EmPortugal, pareceu-me que de umaforma geral os sínodos ficaram poruma certa

celebração da identidade da própriaIgreja local, uma espécie deencontro fraterno que alimenta aidentidade, mas não estavamimbuídos de um espírito detransformação. Isso requerdispositivos concretos, meios paraintroduzir dinamismos novos nascomunidades.Não é o simples facto de juntarmosas pessoas que vai produzir efeitos.Há uma cultura de sinodalidade departicipação que é necessáriodesenvolver, o que tem de ser feitoem diferentes âmbitos. Um delespode ser a do próprio Sínodo dosBispos, na sua estruturação interna,na forma como as vozes das igrejaslocais vão ser ouvidas e respeitadaspode conduzir a um alargamento doespírito de sinodalidade.

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O termo sinodalidade transcreve oque, num ponto de vista mais neutro,chamaríamos a concertação.Quando falamos em concertaçãosocial, a tentativa chegar a lugaresde encontro dos diferentesinteresses e sensibilidades emrelação a um determinado problemasocial, é algo semelhante ao queencontramos no espaço eclesial.Mas o espaço eclesial tem maiscompetências para o fazer, porque apartir de uma vocação comum, deuma missão. Assim, deveria ser maisfácil encontrar esses caminhos desinodalidade.Seria muito interessante que dopróprio sínodo saísse um dinamismoque pudesse contagiar as estruturaslocais da Igreja sob este impulso dasinodalidade.

AE – O processo de análise e daelaboração de conclusões, nestesínodo, poderá ser objeto tambémde mudanças? O Papapermanecerá como o único apropor conclusões de uma reflexãoabrangente?AT – Não tenho conhecimentodetalhado dos aspetosorganizativos deste sínodo. Parece-me que as alterações que o Papa jáfez à sua dinâmica visam superar oproblema de chegarmos ao fim etermos uma espécie de um textoliso, ideal, distanciado da realidadee dos problemas que as pessoasvivem. A linguagem deste Papa nãotem sido essa, antes a de procuraruma formulação muito simples,direta, dirigida à vida das pessoasnos seus problemas.Parece-me, por isso, legítimoesperar que a metodologia que oPapa quererá implementar nosínodo facilite a chegada de todaessa sensibilidade aos textosautorizados.

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AE – O Papa continuará a chamarsi todo o processo de decisão,também nesta temática?AT – Se a sinodalidade envolvertodas as dimensões do sínodo, nãopodemos ter uma dinâmicacaraterizada por uma assembleiaque discute diferentessensibilidades e depois toda essariqueza é como que esmagada porum qualquer processo de sínteseglobal, feito por ator, mesmo oprotagonista ou um dos atoresprivilegiados. Há um problema demetodologia.Algumas dos grandes desafioseclesiológicos hoje, relativos ao queé a compreensão da Igreja, passamessencialmente pelo saber fazer. Enesse ponto de vista a memóriaeclesial é tão rica! Basta pensar naHistória da Igreja desde as primeirasgerações, ondeencontramos continuamente arecomposição dos modos

de agir e de pensar em comum. AIgreja tem na sua própria tradiçãomuitos contextos e oportunidadespara pensar o que podem ser osmodos de fazer. A questão essencialnão seria tanto refletir de novosobre os grandes sentidos daexperiência eclesial, aprofundadacom grande riqueza pelo ConcílioVaticano II e em sínodos sobre a suareceção, mas no como fazer. Seeste sínodo pudesse ser um pontode partida para uma grande reflexãosobre a gramática que organiza avida das comunidades, nas suasmúltiplas relações - deste ainterparoquial, a interdiocesana, àrelação das igrejas locais comRoma, com as outras igrejas - seencontrássemos um impulso nestesínodo para esse “como fazer”, seriaum contributo muito interessante!

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Um primado social AE – O próprio conceito do Primadode Pedro pode ser reconsiderado?AT – Essa é uma questão bastantedifícil. Mais uma vez, os contextosde transformação social têm muitomais impacto do que parece sobreuma realidade que poderíamosconsiderar apenas pelo carácterdogmático, disciplinar ouadministrativo.Os textos do Concílio Vaticano IIfornecem-nos uma grande dinâmicada afirmação das igrejas locais,contrastando muito com o que tinhasido com o Concílio Vaticano I, ondese afirma com uma intensidademuito grande o Primado de Pedro,do ministério Petrino.A figura do Papa como aquele quepreside à comunhão católica nãotem de todo a mesmapreponderância no Vaticano II,afirmando-se antes as igrejas locais,a centralidade da autoridadeepiscopal.No entanto, acontece umatransformação social muito grandeque conduz facilmente a umextraordinário protagonismo dasdiferentes lideranças.

Qualquer dos padres conciliaresestaria longe de pensar nestatransformação, que já é um poucovisível no pontificado de Paulo VI esê-lo-á extraordinariamente no deJoão Paulo II, oferecendo-lhe apossibilidade de se singularizar e depoder estabelecer uma relaçãopersonalizada com o espaçocatólico.Se perguntar a um católico o nomede batismo de algum dos papasanteriores a João Paulo II, rarosserão os que saberão o nomeitaliano de Paulo VI ou João XXIII.Mas muitos saberão o nome polacode João Paulo II ou o nome alemãode Bento XVI, assim como o nomehispano-italiano do Papa Francisco.Isso significa que o Papa passou atransportar para o seu próprioministério uma biografia, umahistória que permite umaidentificação pessoal com o Papa.Assim, o seu primado passou a teruma outra mediação, que não éapenas a eclesiológica e canónica.Há um primado de outra ordem, queé de reconhecimento e moral, quese viu fortalecido. E não vejo como éque isso possa ser ultrapassado,como é

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que a Igreja, com uma liderançauniversal numa pessoa que presideà comunhão (o que não acontececom as Igrejas protestantes) se vaipoder dispensar desta centralidadecomunicativa.Ainda não se refletiuconvenientemente sobre as novascondições do exercício do Primado,que não só as estritamentecanónicas e eclesiológicas, mas quesão agora de índole social e quetem uma enorme eficácia.

AE – E é aí que a sociedade serevê?AT – É aí que podemos encontrarum espaço de comunhão, comcaraterísticas novas. O próprio Papapode também tornar-se num elo deligação e dinamização com outrasinstituições, incluindo as eclesiais,de forma diferente.O primado tem hoje outrossignificados. A possibilidade deliderar uma certa consciênciapública acerca dos efeitos perversosde um determinado modelo deorganização económica e financeiraé também uma forma nova doexercício do primado. Não é apenaseclesiástico, mas também moral,passando a ter uma extraordináriaimportância na nossa sociedade.

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Família: de um discursoideológico ainvestimentos pastorais AE – Que aproximação é necessárioacontecer para que o discursonormativo e moral sobre a Igreja seadeque à realidade familiar daatualidade, tornando-a também poressa via um espaço de transmissãoda identidade crente?AT – Historicamente, a família foi olugar da grande aliança que fezpenetrar o cristianismo nas culturas.Nas sociedades do Atlântico-Norte,que fizeram história com ocristianismo e construíram umcristianismo

histórico que chega até nós, areligião penetrou culturalmente apartir da centralidade que famíliaocupou nessas sociedades.Seria muito importante permitir queo que a Igreja diz sobre a famílianão se tornasse facilmente umaarma de luta ideológica. Penso quea Igreja se pode claramenterefontalizar mais, pensar aquilo quena sua própria história foi o lugar dafamília nos processos deevangelização, sem se vincular a umdeterminado modelo, que chamariaideológico de família. Deve haverum espaço mais alargado para adiversidade das famílias se poderemafirmar.

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Por outro lado, parece-me que háuma certa contradição nosprocessos pastorais. Apesar de aIgreja ter um discurso muitocentrado sobre a família, muitopresente na cena pública, quandochegamos ao terreno, à realidadeparoquial, não é de todo claro que afamília seja um lugar deinvestimento pastoral. Por exemplo,quando uma família chega a umaparóquia para pedir o Batismo paraas suas crianças, se disser que ofaz porque sente uma obrigaçãofamiliar, isso será imediatamentedesvalorizado: do outro ladoteremos alguém que chamará aatenção para aspetos importantes,como a responsabilidade individual,a consciência crente de adesão aJesus Cristo mais do que umatradição familiar.Como é difícil a uma família comcrianças pequenas encontrar umespaço dominical para a celebraçãoda Eucaristia onde possa estarcomo família, onde as crianças nãose tornem um estorvo e possam teruma imagem da missa que não sejaapenas a do horizonte do troncodos adultos que encontram àfrente…!Apesar de discurso muito

moralizante sobre a família, não éevidente que nas comunidades elassejam um interlocutor dos processospastorais. A catequese, porexemplo, é dirigida às crianças sema consciência de que ela só poderáproduzir efeito se for dirigida àsfamílias. É necessário passar daênfase excessiva acerca de umanorma moral para as condutasfamiliares para uma lógica pastoralem que a família, como ela existe,possa ser interlocutor das práticaspastorais, do que são as lógicas daação pastoral nas comunidades. AE – Só assim poderá realizar aexperiência crente?AT – Só na medida em que se sentirinterlocutor pode tornar-se sujeitoeclesial. Enquanto a família se virapenas como lugar precário face aum modelo moral que em muitasdimensões pode ser visto comoinalcançável, exigente e deixando-asesmagadas com essa exigência, édifícil pensar o lugar da família comoum contexto de experiência eclesial.

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Pastoral para além das proibiçõesA propósito do Inquérito sobre afamília, entreabriram-se janelas,ouviram-se zunzuns curiosos,gerou-se entusiasmo, leu-se,escreveu-se, debateu-se, sacudiu-se o pó e muitos esperam vê-loassentar, sobretudo ver como é queele vai assentar. Não ignoramos quea causa do afastamento e de muitassituações pastoralmente difíceisestá no distanciamento que existeentre a moral católica e osentimento comum em vários temas,sobretudo relacionados com afamília, a afetividade e asexualidade. Possivelmente porisso, a temática e o processo de aabordar provocaram mais interesse,sobretudo porque talvez sepensasse que o inquérito fosse umaespécie de referendo sobre adoutrina. O próprio Documento quenos foi enviado previne que não é amensagem bíblica sobre a famíliaque está em causa mas anecessidade de saber como é que aIgreja, dentro do espírito da NovaEvangelização, há de dar respostaaos novos desafios pastorais quelhe são colocados

por tantas e novas problemáticasrelacionadas com a mesma.Precisamos de perceber como é quea doutrina da fé sobre o matrimóniopode e deve ser apresentada demodo comunicativo e eficaz. Mesmoque não seja tarefa fácil, é sempremuito importante o esforço que sepossa fazer para melhor evangelizarno meio de todo este processo desecularização que, se tem aspetosnegativos, não lhe faltam tambémvalores positivos. Propor a verdadesobre o matrimónio e a famíliacontinua a ser uma tarefanecessária e urgente.O que a Igreja defende e propõe,mesmo que nem todos a sigam, teminteresse no seio da comunidadehumana porque o cristianismo éuma questão pública, é anunciado atodos sem se confinar a limites dequalquer espécie e sem andar aosom dos ventos, mesmo queincomode. Cristo foi incómodo,ninguém ficava indiferente perante oque Ele dizia e fazia, todos reagiam,negativa ou positivamente. AEvangelização é feita

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numa sociedade aberta, livre epluralista e, por isso, está sujeita àsreações, positivas e negativas, bemcomo ao debate que as suaspropostas provocam. Tudo faz parteda missão de evangelizar e dumprocesso de crescimento salutarque promove e liberta. Perceber oque pensa e sugere o corpo eclesiale a sociedade em geral é deimportância capital paraincrementar, de facto, uma

pastoral que sirva melhor oEvangelho na cultura que nosenvolve, com outra linguagem eoutros métodos, uma pastoral quefaça valer a mensagem quepropomos e que está muito paraalém de proibições e regras.

D. Antonino DiasBispo de Portalegre-Castelo BrancoPresidente da Comissão Episcopal

do Laicado e Família

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Uma experiência de reflexãoparticipadaA preparação do Sínodo dos Bispossobre a Família motivou o interessedum número significativo de leigosna paróquia de Nª Srª da Conceiçãoem Setúbal, certamente, pelo temae algumas questões “sensíveis” epelo facto de se sentiremvalorizados. Decidida em Conselhopastoral paroquial a estratégia delevar ao conhecimento doQuestionário e de preparar a suasrespostas, o documento foidistribuído a todos os Movimentos eGrupos. O Questionário foisimplificado, reduzindo-se o númerode perguntas em cada capítulo àsque pareciam mais abrangentes oususcetíveis de carecerem de maisaprofundamento, pela sua acuidadeou novidade.Foi elaborada uma Folha Paroquialque convidava os fiéis leigos aescreverem no intervalo dasperguntas as suas respostas.Um outro patamar de reflexão foi arealização dum Debate numa tardede domingo e que durou mais dequatro horas aberto a todosquantos aí quisessem conhecermelhor os ensinamentos da Fé cristã

sobre a Família, dialogarem entre sie debaterem as várias questões.Da riqueza da reflexão produzidadestaco, apenas, os aspetos queconsidero mais pertinentes.Assim, as pessoas, em geral,desconhecem os diversosdocumentos pós-conciliares no quese refere à família, confinando-se oseu conhecimento a leigos que têmmais preocupação com a formaçãoda sua fé.Os cristãos praticantes concordamcom a visão cristã da família, mascontestam fórmulas estereotipadasenvoltas em roupagens culturaisultrapassadas. Dentro desta linhade pensamento sobressai odistanciamento da cultural juvenil, eas dificuldades que sentem paraacompanharem os seus filhos na fédevido ao clima de secularização e arevolta em que estes vivem eincapacidade da Igreja em os cativare atrair. Um dos pontos mais sensíveis dodebate foi o tocante ao elevadonúmero de “uniões de facto”, àsrelações pré-matrimoniais, aocasamento civil de pessoas

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do mesmo sexo e ao recurso aosmétodos artificiais para a regulaçãoda natalidade no seio das suaspróprias famílias. As pessoas não sesentem culpabilizadas, e, por isso,acedem normalmente à Eucaristia eacham que a Igreja deverá tornar-semais compreensiva e mudaralgumas das suas orientações coma ternura e compaixão de Jesus quenão discriminava as pessoas. Pediu-se à Igreja que olhe pastoralmentede modo diferente para osdivorciados, separados, em uniãode facto ou recasados no que serefere ao acesso aos sacramentos,particularmente à

Eucaristia e à recusa de padres embatizarem os seus filhos. Nãocompreendem, também, se “estãoem pecado” por que não podemabeirar-se do Sacramento daReconciliação.O Encontro terminou com areafirmação da família comoambiente de amor e de afetos, eespaço privilegiado para adescoberta de Jesus Cristo e aconsciência da necessidade dumaespiritualidade laical forte assenteno Evangelho.

Constantino Alves(Pároco de Nª Srª da Conceição

em Setúbal)

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Inquérito preparatóriodo Sínodo dos Bispos

Quando, a finais de Outubropassado, foi recebido o inquéritopreparatório do Sínodo dos Bispossobre o tema “Os desafiospastorais sobre a família nocontexto da evangelização”, o Sr.Patriarca encarregou o SectorDiocesano da Pastoral Familiar dasua divulgação nas vigararias eparóquias e posterior tratamento.A equipa reflectiu sobre odocumento, e rapidamente verificouque o mesmo, tendo as perguntasformuladas para respostas abertas,iria resultar numa difícilsintetização. Por outro lado, oacesso às novas tecnologias iriapermitir uma divulgação muito maisabrangente, permitindo não sórespostas ao inquérito na sua formaoriginal, como também umtratamento informatizado dasrespostas electrónicas.Procedeu-se portanto àreformulação do inquérito, deixandopara cada pergunta espaço parapermitir a expressão de opiniões,como alias era o esprírito dodocumento original.

O Inquérito foi disponibilizado no siteda Pastoral Familiar, de 18 deNovembro a 8 de Dezembro, tendorecebido um número de respostasque excedeu em muito asperspectivas iniciais. Para além dedisponibilizados através do site daPastoral Familiar do Patriarcado deLisboa, ambos os questionáriosforam enviados por email emformato digital a todo o clero e responsáveis de movimentos do Patriarcado de Lisboa, permitindo o seu preenchimentoatravés do site internet ou porresposta em papel.Até ao final do prazo, foramsubmetidas cerca de 14.000 respostas no questionário online,algumas de carácter individual,outras manifestamente resultantesda reflexão de grupos, movimentosou comunidades paroquiais. Destasrespostas cerca de 3.500 foram deoutras dioceses.Embora o inquérito não tenha valorde sondagem, pois não foielaborado neste intuito, o númerosignificativo de respostas

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permite evidenciar uma imagem darealidade da família de hoje,imagem essa reforçada pelosnumerosos comentários livres queacompanharam as respostas deescolha multipla. Com efeito, asrespostas foram de um universomuito diversificado, tanto á níveletario como de pratica religiosa(catolicos praticantes ou não , nãocatolicos, ateus). Os meiostecnólogicos utilizados permitiramverificar que a divulgação doinquerito chegou a cerca de 100paises,

abrangendo assim a comunidadeportuguesa no estrangeiro.A equipa do Sector Diocesano daPastoral Familiar procedeu a análisedas respostas e dos comentárioslivres, e elaborou um documento desíntese com cerca de 70 páginas, oqual foi apresentado a conferênciaepiscopal em início de Janeiro de2014.

Setor da Pastoral Familiardo Patriarcado de Lisboa

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Participação, pluralismo,sinodalidade1. A primeira ideia foi a daparticipação. Sentimos, osresponsáveis do blogue Religionline– Manuel Pinto, Joaquim Franco eeu próprio –, que estávamosperante uma oportunidade de abrirao maior número possível depessoas a participação numprocesso de reflexão importantepara todos os crentes e desejadopelo Papa.O pretexto era o inquéritopreparatório do Sínodo dos Bispossobre a Família, que decorrerá emOutubro. A consciência pessoal dobaptismo, que segundo a doutrinabíblica e do Concílio Vaticano II, nosdá a todos a mesma cidadania naIgreja, era o ponto de partida paraessa participação o mais alargadapossível.Recebemos 76 respostas o que, nocontexto português, para um blogueque não é muito conhecido, nosparece muito positivo. E confirma arelevância da iniciativa, quandosabemos que algumas diocesesrecolheram poucas respostas.Em vários países da Europa, oinquérito tinha já sido colocado nainternet e, em Portugal,

várias dioceses tinham anunciado amesma intenção. Por isso, pareceu-nos estranha a decisão da CEP deremeter a dinamização dasrespostas apenas para asestruturas diocesanas e paroquiais.Isso foi entendido, mesmo se nãoera essa a intenção, como umadesvalorização das possibilidadesque o inquérito oferecia, no sentidode dinamizar as comunidades cristãspara um debate alargado sobre aexperiência familiar nas sociedadesplurais de hoje. O número derespostas confirmou o acerto dadecisão. 2. As respostas que recebemostraduzem uma grande diversidadede pontos de vista, quer nodiagnóstico, quer nas soluções queapontam. Talvez as questões quemais concordância mereçam sejamas relativas à discordância com adoutrina tradicional da Igreja para asquestões familiares, das quais opensamento sobre o planeamentofamiliar e contracepção, naquilo queficou consagrado naencíclica Humanae Vitae,

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são exemplo.Parece ser esse, aliás, o tom demuitas respostas chegadas aoVaticano. O que indicia que o cismasilencioso provocado por aqueledocumento, com o afastamento detanta gente em relação à Igreja, éainda maior neste aspecto, tendoem conta que muitos crentes não serevêem mais em muitos aspectos dadoutrina familiar. A Igreja não podecontinuar a insistir em aspectosmecanicistas (colocar uma cargamoral em técnicas de contracepção,por exemplo), quando a verdadeiraantropologia cristã remete para acentralidade da pessoa. 3. Finalmente, a sinodalidade. Oconhecimento e o debate dasrespostas diocesanas e

nacionais (como é o caso dasconferências episcopais daAlemanha e do Japão, quedivulgaram os seus contributos)permite encetar um verdadeirocaminho sinodal, de debate ereflexão eclesial sobre os assuntosque a todos dizem respeito.O próprio Papa já afirmou que oprocesso sinodal deve serdesenvolvido no catolicismo. Nestecaso, ele pode ajudar a descobrirnovas formas de presença dasfamílias cristãs nas sociedadesactuais. Que é como quem diz,formas de dizer Deus e a fé emJesus de modo a interpelar (e nãoafugentar) os nossoscontemporâneos.

António Marujo

Este texto é escrito de acordo com a anterior norma ortográfica

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A hora das reformasO Sínodo dos Bispos sobre afamília, que está a ser preparadopor estes dias no Vaticano com umasérie de encontros de debate econsulta, será o primeiro teste àintenção mostrada pelo PapaFrancisco de valorizar os espaçosde colegialidade e sinodalidade nogoverno da Igreja. Um ano após oinício do pontificado, pode dizer-seque começa a chegar a hora dasreformas.“Quero consultas reais, nãoformais”, referia, em declarações àsrevistas do Jesuítas, divulgadas emPortugal pela ‘Brotéria’ no últimomês de setembro.O Papa argentino tem procuradosublinhar que qualquer reformacomeça sempre por iniciativas“espirituais e pastorais”, mais doque com “mudanças estruturais”.Essas mudanças, como o próprioassume, exigem tempo ediscernimento para que qualquertransformação possa ser verdadeirae eficaz.No Brasil, Francisco afirmou que a“mudança de estruturas” não é frutode um “estudo de organização dosistema

funcional eclesiástico”, mas é“consequência da dinâmica damissão”.A primeira exortação apostólica dopontificado, ‘Evangelii Gaudium’ (aalegria do Evangelho), refere-se auma “conversão do papado” equestiona uma “centralizaçãoexcessiva” que complica a vida daIgreja e a sua dinâmica missionária.Francisco diz sonhar com “umaopção missionária capaz detransformar tudo” e sublinha anecessidade de fazer crescer aresponsabilidade dos leigos,mantidos "à margem nas decisões"por um "excessivo clericalismo", bemcomo a de “ampliar o espaço parauma presença feminina maisincisiva”.O pontificado tem sido marcado porsinais de valorização do diálogo eda colaboração entre os bispos eentre eles e o bispo de Roma. Namissa que assinalou a solenidadede São Pedro e São Paulo, a 29 dejunho, o Papa deixava um elogio à“diversidade” na Igreja, na qual acomunhão

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“não significa uniformidade”. Aintervenção destacou anecessidade de “seguir o caminhoda sinodalidade”, dentro da IgrejaCatólica.Pouco depois de ser eleito, o Papacriou um Conselho de Cardeais, ochamado ‘C8’, com membros doscinco continentes para oaconselharem no governo da Igreja.Este sábado, o primeiro consistóriopara a criação de cardeais traz parao Colégio Cardinalício um conjuntode novos membros das “periferias”,geograficamente falando.

O perfil dos conselheiros decorreda convicção, manifestada peloPapa, de que “o povo de Deus querpastores e não funcionários ouclérigos de Estado”. A Igreja “pobrepara os pobres” não admite bisposcom mentalidade de “príncipes”,porque, tal comoFrancisco afirmou na Missa de iníciode pontificado, “o verdadeiro poderé o serviço”, especialmente aos“mais pobres, os mais fracos, osmais pequeninos”.

Octávio CarmoAgência ECCLESIA

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Família exige pastoral corajosaO Papa Francisco iniciou hoje ostrabalhos do consistórioextraordinário que reúne cerca de185 prelados no Vaticano, entrehoje e amanhã, com alertas para asdificuldades que a família enfrentena atualidade. “Hoje, a família édesprezada, é maltratada, pelo quenos é pedido para reconhecermoscomo é belo, verdadeiro e bomformar uma família, ser família hoje;reconhecermos como isso éindispensável para a vida domundo, para o futuro dahumanidade”, declarou.Segundo o Papa, os trabalhosdestes dois dias devem colocar emevidência “o plano luminoso deDeus para a família” e delinear uma"pastoral inteligente, corajosa echeia de amor". “Ajudemos osesposos a vivê-lo com alegria aolongo dos seus dias,acompanhando-os no meio detantas dificuldades”, acrescentou.Francisco sublinhou que a família é“a célula fundamental da sociedadehumana”, convidando osparticipantes nesta reunião

a ter “sempre presente a beleza dafamília e do matrimónio, a grandezadesta realidade humana, tão simplese ao mesmo tempo tão rica, feita dealegrias e esperanças, de fadigas esofrimentos, como o é toda a vida”.“Desde o início, o Criador colocou asua bênção sobre o homem e amulher, para que fossem fecundos ese multiplicassem sobre a terra; eassim a família torna presente, nomundo, como que o reflexo de Deus,Uno e Trino”, precisou.Em ano de assembleiaextraordinária do Sínodo dosBispos, dedicada a este tema, oPapa defendeu a necessidade de“aprofundar a teologia da família e apastoral que se deve implementarnas condições atuais”. “Façamo-locom profundidade e sem cairmos na«casuística», porque decairia,inevitavelmente, o nível do nossotrabalho”, apelou.Os trabalhos da reuniãoextraordinária continuaram com umaintervenção do cardeal WalterKasper, que abordou,

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entre outros assuntos, a questãodos católicos divorciados quevoltaram a casar pelo civil.O Vaticano anunciou participaçãode 150 cardeais ou futuros cardeaisno consistório extraordinário, umainiciativa convocada pelo Papa parauma “reflexão sobre a família”.“Saúdo-vos cordialmente e,convosco, agradeço ao Senhor quenos proporciona estes dias deencontro e trabalho em comum.

Damos as boas-vindas de formaparticular aos irmãos que vão sercriados cardeais, no Sábado, eacompanhamo-los com a oração e aestima fraterna”, disse Francisco.A reunião conta com a presença dostrês cardeais portugueses, D. JoséPolicarpo, D. José Saraiva Martins eD. Manuel Monteiro de Castro.

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Em defesa da vida humana

O Papa Francisco exigiu hoje ummaior respeito por todos os idosos,renovando as suas críticas àeconomia que “mata”, numamensagem dirigida à AcademiaPontifícia da Vida (APV), da SantaSé, que assinala o seu 20.ºaniversário. “Nas nossassociedades existe um domíniotirânico de uma lógica económicaque exclui e por vezes mata, daqual hoje muitíssimos são vítimas,a começar pelos nossos idosos”,escreve. Francisco destaca que a“privação mais grave” de que osidosos sofrem não é a falta deforças físicas, mas “o abandono, aexclusão, a privação de amor”, quebrotam de uma "cultura dodescartável". O Papa sublinha quea saúde é “um valor importante”,mas que não esta não pode“determinar o valor da pessoa”. “Aplenitude a que tende toda a vidahumana não está em contradiçãocom uma condição de doença esofrimento. Portante, a falta desaúde e a deficiência não sãonunca uma boa razão para excluir,ou pior, para eliminar uma pessoa”,sustenta.

Neste contexto, Francisco apresentaa família como “mestra deacolhimento e solidariedade”, umespaço no qual se pode “aprenderque a perda da saúde não é umarazão para discriminar qualquer vidahumana”.A assembleia geral da APV está adecorrer até sábado, sobre o tema‘Envelhecimento e deficiência’,incluindo um Workshop destinado ainvestigadores, estudiosos,profissionais da área da saúde eestudantes.Segundo o Papa, este é um tema de“grande atualidade”, que a IgrejaCatólica tem no seu “coração”. “Asituação sociodemográfica doenvelhecimento revela-nosclaramente esta exclusão da pessoaidosa”, alerta.

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Papa sublinha importância daConfissãoO Papa Francisco destacou estaquarta-feira no Vaticano aimportância do Sacramento daReconciliação e disse que éinsuficiente pedir perdão “apenas aDeus” pelos pecados. “Alguém podedizer: ‘Eu confesso-me apenas aDeus’. Sim, podes pedir perdão aDeus e dizer os teus pecados, masos nossos pecados são tambémcontra os irmãos, contra a Igreja,por isso é necessário pedir perdãoà Igreja, aos irmãos, na pessoa dosacerdote”, declarou, na catequeseque apresentou durante a audiênciapública semanal.Perante dezenas de milhares depessoas reunidas na Praça de SãoPedro, o Papa disse ser saudável“ter um pouco de vergonha” doserros e dos pecados que secometem. “Quando sentimos operdão de Jesus, ficamos em paz”,acrescentou.Francisco abordou a evoluçãohistórica do Sacramento daReconciliação, na Igreja Católica, efrisou que “embora a formaordinária da Confissão seja pessoale secreta”, hoje em dia, “não sedeve perder de vista a suadimensão eclesial”.

“Por isso não basta pedir perdão aDeus no interiormente, mas énecessário confessar os pecadoscom humildade ao sacerdote, querepresenta Deus e a Igreja”,destacou.Segundo o Papa, a comunidadecatólica reconhece-se “nafragilidade dos seus membros” e“constata comovida o seuarrependimento, reconcilia-se comeles e encoraja-os no caminho deconversão e amadurecimentohumano e cristão”.“O perdão dos pecados não é frutodo nosso esforço pessoal, mas domdo Espírito Santo que nos purificacom a misericórdia e a graça doPai”, prosseguiu.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial a nível internacional, nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Papa encontrou-se com 19 presos

Apelo do Papa Francisco pela paz na Ucrânia

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A grande belezaJep, sessenta e cinco anos,escreveu um único livro na sua vida,‘O Aparelho Humano’, que lhegranjeou o sucesso ereconhecimento de que vive atéhoje. Premiado e com estatuto defigura pública, leva desde entãouma vida financeiramenteconfortável, deambulando por umacerta burguesia que gravita à suavolta, perdendo-se e achando-seem discussões de algumasuperficialidade intelectual em queparticipa com o seu ar quasesempre complacente.Do seu terraço, com a distância quemantém como misantropo que seassume, lança um olhar sobreRoma. Um olhar que varre a cidadeabarcando esplendor esuperficialidade, artifício esignificância. E enquanto é a cidadeque a seus olhos nos desvenda,feita de identidades nem sempreharmoniosas, é também Jep que sebusca e se nos revela no seuvazio… na procura de um sentidopara a existência.Aos sessenta e cinco anos, umponto de chegada e uma

promessa de partida com o seu quêde encanto e desencanto…Paolo Sorrentino, realizador italianooriundo de Nápoles, desde cedo nasua carreira mereceu a atençãoparticular da crítica, dosprofissionais e dos juradosinternacionalmente firmados nomundo do cinema. A comprová-lo,as cinco nomeações para a Palmade Ouro de Cannes desde 2004, asquatro nomeações ao Prémio deCinema Europeu, finalmentearrecadado com

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‘Grande Beleza’, ou o Prémio do JúriEcuménico (em Cannes) em 2011,atribuído a ‘Este é o meu lugar’.Longe de ser consensual, o que seestende ao público, a opinião sobreos seus filmes reflete bem a formapeculiar como os cria e nos quais,goste-se ou não da forma eresultado, explora aspotencialidades do cinema com amesma amplitude e destemor, porvezes quase ‘desaforo’ com que ofaz na observação do humano. Omais belo e o mais ‘feio’, o maisvazio e o mais significativo, expondofragilidades que mesmo quando oaparentam não são gratuitas. ‘AGrande Beleza’ bebe da fonte de

Fellini no seu estilo barroco eimersivo, no seu humor particular eno fascínio com que olha ohedonismo, numasociedade sôfrega de eternajuventude. Cinematograficamentecomplexo, cuidado na escolha dosplanos e laboriosamente montado, ofilme é um estudo de personagembem assumido pelo ator ToniServillo, na pele de um homemestranho ao mundo que habita,insatisfeito consigo e com os outros,capaz de identificar o que lhe faltamas incapaz de encontrar osentimento de pertença. A si e aosdemais.

Margarida Ataíde

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Jornal do Vaticano onlinewww.osservatoreromano.va/pt No final do ano de 2013 o jornal doVaticano, “L’Osservatore Romano”,renovou a sua presença na internet,quer ao nível do grafismo bem comodos próprios conteúdosdisponibilizados. Este jornal teve asua primeira edição em 1861, tendosofrido “uma profundatransformação para responder àsexpectativas de Bento XVI”. “Adimensão universal, o encontroentre fé e razão, a amizade com asmulheres e os homens de hoje sãoas diretrizes que o jornal dovaticano exprime ao apresentar,com carácter documentário e aomesmo tempo jornalístico, todos ostextos pontifícios e os documentosda Santa Sé em italiano e na línguana qual foram pronunciados ouescritos, e acompanhando com umainformação completa e escrupulosa,a vida internacional, os debatesculturais, as vicissitudes da Igrejaem todos os continentes comparticular atenção ao ecumenismo eao diálogo com as religiões”.

Ao digitarmos o endereçowww.osservatoreromano.va/pt encontramos um espaçograficamente interessante, e comuma distribuição e organização deconteúdos muito bem conseguida.Através da página inicial temosacesso aos mais recentesconteúdos de cada uma dassecções do jornal, bem como,podemos descarregar, em formatodigital, a edição diária em papelredigida em Italiano ou as restantesedições semanais em diversosidiomas (Inglês, Polaco, Português,Francês, Italiano, Espanhol).Em secções podemos aceder atodas as notícias, agrupadas portemas (Vaticano, Internacional,Cultura, Religião, Editoriais,Entrevistas, Mulher Igreja..., SantaMarta) que são publicadas no jornalgerido pelo Pontifício Conselho paraas Comunicações Sociais, emcolaboração com os departamentosmultimédia da Santa Sé queenglobam: a Agência Fides, oL’Osservatore Romano, a Sala deImprensa da Santa Sé, o Serviço deInformação Vaticano,

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a Rádio Vaticano, o CentroTelevisivo do Vaticano (CTV) e osetor de Internet da Santa Sé.Existe um serviço que estádisponível em arquivo, que temcomo objetivo disponibilizar umacervo completo desta publicação“a estudiosos, historiadores,jornalistas ou simples leitores”,permitindo percorrer “a história daIgreja e da sociedade,

desde 1861 até hoje, através dosdocumentos, das reflexões, dastomadas de posiçãode «L'Osservatore Romano»”.Fica então lançada a sugestão deacompanharem, inteiramente grátis,este interessante sítio que nosapresenta os conteúdos do órgãonoticioso oficial da Santa Sé.

Fernando Cassola Marques

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Itinerário bíblico sobre JesusA Paulus Editora lançou este mês acoleção "O mestre e o discípulo", daautoria do presidente do PontifícioConselho da Cultura, cardealGianfranco Ravasi."Encontrar o Mestre - E vós, quemdizeis que Eu sou?", "Segui-lo nocaminho - Nunca ninguém faloucomo este homem", "Procurar averdade - João, o discípulo amado","Comprometer-se - Paulo,arrebatado por Cristo", "Conhecer

o próprio coração - Aprendei demim", "Viver no amor - Amai-vos unsaos outros", "Gerar a vida - Homeme mulher os criou", "Suportar o pesoda dor - A ti clamo, ó Senhor" e"Alcançar a meta - Hoje estaráscomigo no paraíso" são os títulos dobiblista italiano.A aquisição de toda a coleção tem ocusto de 27 euros.

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Ao Lado dos Pobres“Ao Lado dos Pobres. A Teologia daLibertação é uma Teologia da Igreja”(Paulinas Editora) reúne doisautores, teólogos católicos,oriundos de diferentes formações eexperiências do mundo, quedemonstram neste livro que existe auni-los um património fundamentalde convicções comuns. Gutiérrez éo lendário teólogo peruano daTeologia da Libertação e GerhardMüller, teólogo alemão e antigobispo de Ratisbona, é o atualprefeito da Congregação para aDoutrina da Fé.O que une autores de origens tãodiversas pode ser percebido porestas palavras de D. Müller, numarecente entrevista: “Fui com muitafrequência à América Latina, aoPeru e a outros países. Pudeconstatar que há que distinguirentre uma teologia da libertaçãoequivocada e uma teologia dalibertação correta. Considero quetoda a boa teologia está relacionadacom a liberdade e a glória dos filhosde Deus”.Este é um encontro que se diriaimprovável, ainda que exista umaamizade de décadas entre ambos.

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II Concílio do Vaticano: A ReformaLitúrgica e a inflação das imagens

O primeiro documento nascido do II Concílio doVaticano foi a Constituição «SacrosanctumConcilium», publicado a 04 de dezembro de 1963 noencerramento da segunda sessão do II Concílio doVaticano (1962-65). O papa emérito Bento XVI, naaltura o jovem Joseph Ratzinger, foi um dos peritosdeste grande acontecimento do século XX.Um ano após a sua resignação, convém recordaralguns pensamentos de Bento XVI durante o seupontificado (2005-2013) sobre o II Concílio doVaticano. Em relação à «Sacrosanctum Concilium»,Bento XVI escreveu, a 07 de Julho de 2007, que nahistória da liturgia, “há crescimento e progresso, masnenhuma ruptura”. Num discurso proferido a 02 demarço de 2006, o papa alemão disse em relação aomagno acontecimento convocado pelo Papa JoãoXXIII que se deve “aceitar a novidade, mas tambémamar a continuidade” e ver o Concílio “nesta ópticada continuidade”.Esta linha de pensamento do papa emérito ajuda aperceber que é importante cuidar da liturgia, a qual,como ensina o II Concílio do Vaticano,“quotidianamente edifica os que estão dentro,fazendo deles um templo santo no senhor…”. Umavida intensa de oração e a assídua participação naliturgia devem continuar “a ser o vosso primeirocompromisso como indivíduos e como associação”,sublinhou a 17 de junho de 2006.

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A Constituição «SacrosanctumConcilium» refere o facto de que éna liturgia que “se manifesta omistério da Igreja”, na sua grandezae na sua simplicidade (cf. nº2). Porconseguinte, “é importante que ossacerdotes se esmerem nascelebrações litúrgicas, de maneiraparticular na Eucaristia”, pediuBento XVI. É necessário que ascelebrações se realizem no respeitopela tradição litúrgica da Igreja,“com uma participação ativa daparte dos fiéis, em conformidadecom o papel que corresponde acada um deles, unindo-se aomistério pascal de Cristo”, afirmou a08 de maio de 2010.Ao falar do culto das imagens, oantecessor do Papa Franciscorevela que “a nova etapa é que esteDeus misterioso” liberta “da inflaçãoas imagens, também de um tempocheio de imagens de divindades, edá-nos a liberdade da visão doessencial”, acentuou num discursoproferido a 07 de fevereiro de 2008.Para Bento XVI foi “excessivo

o período iconoclástico do pós-concílio, que tinha contudo umsentido, porque talvez fossenecessário libertar-se de umasuperficialidade das demasiadasimagens”, acrescentou no mesmodiscurso. A reforma litúrgica atuadaa partir do II Concílio do Vaticanoteve um benéfico influxo na vida daIgreja e “inúmeros foram os elogios”(Exortação apostólica«Sacramentum Caritatis», nº 3).Apesar das dificuldades e “algunsabusos assinalados não podemofuscar a excelência e a validade dareferida renovação litúrgica”,escreveu no mesmo documento oPapa Bento XVI.A liturgia da Igreja vai além da“própria reforma conciliar”(«Sacramentum Caritatis», nº 1),cuja finalidade “não eraprincipalmente mudar os ritos e ostextos, mas sim renovar amentalidade e colocar no centro davida cristã e da pastoral acelebração do mistério pascal deCristo”.

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fevereiro 2014Dia 21* Vaticano - Encontro do PapaFrancisco com a presidente daRepública do Brasil, DilmaRousseff. * Leiria - Marinha Grande (SalãoParoquial) (21h00m) - Primeirareunião para pessoas divorciadas erecasadas, uma iniciativa daparóquia da Marinha Grande. * Lisboa - Igreja de Carcavelos - Concerto com os grupos «Panocru» e «Prova dos nove».* Aveiro - Aradas (21h00m) -Conferência sobre «Somos Povo deDeus com muitos rostos nadimensão social» pelo padre JoãoGonçalves. * Lisboa - Ericeira (Auditório JaimeSilva) (21h15m) - Conferência sobre«A família, a primeira educadora dafé» por D. Nuno Brás.* Guarda - Seminário Maior -Conselho Presbiteral.* Madeira - 1º Congresso dasIPSS’S e das Misericórdias daMadeira sobre o tema «NovosCompromissos, Novas Respostas.Repensar o Terceiro Sector!». (21 e22)* Fátima - Encontro dosSecretariados diocesanos daPastoral Juvenil. (21 e 22)

* Aveiro - ISCRA - Acção deformação sobre «A disciplina deEMRC no 1º ciclo - desafios emateriais» (21 e 22)* Lamego - Seminário de Lamego - Curso de animadores juvenis. (21 a24)* Coimbra - Centro UniversitárioManuel da Nóbrega (CUMN) - Fimde semana para noivos orientadopelo padre Gonçalo CastroFonseca. (21 a 24) Dia 22* Vaticano - Consistório para acriação de novos cardeais.* Castelo Branco - Salão da Casa deSanta Maria - Jornada sobre«Educar para a Fraternidade»organizada pela «HumanidadeNova», expressão social doMovimento dos Focolares.* Évora - Seminário Maior -Encontros de formação litúrgica.* Braga - Barcelos (Centro EspíritoSanto e Missão) - Tertúlia sobre«Crise: oportunidade para novosrumos e inspiração para o futuro»com Artur Rodrigues e Lígia Cunhae integrada no ciclo «Missão naPraça».

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* Açores - Ilha de São Miguel(Ribeira Grande) - Jornada culturaldedicada ao tema «Doar écomunicar, comunicar é evangelizar».* Fátima - Reunião nacional daPastoral Penitenciária.* Vaticano - Encerramento (início a19 de fevereiro) do simpósio«Envelhecimento e deficiência»para celebrar os 20 anos daAcademia Pontifícia para a Vida.* Vaticano - Celebração dos 30 anosda Fundação João Paulo II para oSahel.* Lisboa - Moscavide - Conferência«O Sacramento da Ordem» por D.Joaquim Mendes.* Coimbra - Santa Clara (Rotundade Jericó) (23h00m) - AFraternidade de Nuno Álvares(Associação dos antigos filiados doCorpo Nacional de Escutas)homenageia o fundador do CNE,Baden Powell.* Aveiro - Seminário de Aveiro -Retiro espiritual para agentespastorais orientado pelo padre JoãoAlves.* Évora - Arraiolos - Dia diocesanodo adolescente.* Évora - Montemor-o-novo(Auditório da União das Freguesiasde Vila, Bispo e Silveiras) - Jornadasdo Património Religioso.

* Évora - Seminário de Évora -Acção de formação para organistase salmistas.* Beja - Fórum Diocesano daEducação Cristã sobre «Mestre,ondes Moras?» e Festival Jovem daEducação Cristã.* Leiria - Seminário Diocesano - Encontro Diocesano das Bem-Aventuranças.* Santarém - Seminário de Santarém- Encontro diocesano de acólitos.* Coimbra – Colégio de SãoTeotónio – Encontro diocesano doMovimento da Mensagem de Fátima.* Lisboa - Convento dosDominicanos - Colóquio sobre «Oscatólicos na luta contra a ditadura»promovido pelo Instituto São Tomásde Aquino. * Coimbra - Instituto Justiça e Paz - Acção de formação de animadoresde jovens intitulada «Anima».* Lisboa - Colégio do SagradoCoração de Maria (09h00m)-Assembleia geral do Fórum AbelVarzim.* Setúbal - Casa da Cultura - Sessão sobre “Frei Agostinho daCruz e os seus herdeiros” integradano colóquio «Arrábida, Candidaturaa Património da Humanidade».

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Decorre este sábado, dia 22 de fevereiro, no Vaticano

o consistório para a criação de 19 novos cardeais, oprimeiro no pontificado do Papa Francisco. O ColégioCardinalício vai passar a ter 218 cardeais vindos de68 países, entre eles Portugal, representado por D.José Saraiva Martins, prefeito emérito daCongregação para as Causas dos Santos, D. ManuelMonteiro de Castro e D. José Policarpo, patriarcaemérito de Lisboa. Também no dia 22 de fevereiro comemora-se odia do aniversário do fundador do escutismo,Baden-Powell. Uma data que vai ser assinaladapor todos os escuteiros em Portugal e no mundo. Na segunda-feira, dia 24 de fevereiro tem lugar emFátima, no Hotel Cinquentenário o encontro nacionalda Confederação Nacional das Instituições deSolidariedade (CNIS) centrado no tema “NovosDesafios e Compromissos para uma Infância eJuventude Protegidas”. Dia 25 de fevereiro, terça-feira inicia-se em Romao congresso internacional da Associação CatólicaMundial para a Comunicação (SIGNIS), que em2014, pretende reforçar o compromisso daorganização em trabalhar e inspirar os jovens napromoção da paz no mundo. Na quarta-feira, dia 26 de fevereiro começam emLisboa, na Universidade Católica Portuguesa, asJornadas de estudos teológicos sobre "«Imaginar aIgreja» – Sinodalidade, Colegialidade, Ministério dePedro".

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 23 - Reforma daliturgia no Concílio Vaticano II. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 24 -Entrevista a Elisabete Silva,presidente nacional daJuventude Operária Católica;Terça-feira, dia 25 -Informação e entrevista sobrea campanha de ajuda àsvítimas do tufão nas Filipinas;Quarta-feira, dia 26 - Informação e entrevista deapresentação do grupo Simplus;Quinta-feira, dia 27 - Informação e entrevista deapresentação do inquérito preparatório do Sínodo dosBispos sobre a Família;Sexta-feira, dia 28 - Apresentação da liturgia dominicalpelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio. Antena 1Domingo, dia 23 de fevereiro, 06h00 - Apresentaçãodas Jornadas de Teologia «Imaginar a Igreja», com opadre João Lourenço. Comentário com a jurista PaulaMartinho da Silva. Segunda a sexta-feira, dias 24 a 28 de fevereiro,22h45 - Um ano de pontificado do Papa Francisco:análise com a antiga deputada Maria do RosárioCarneiro, desde a surpresa, às atitudes e aos desafioslançados pelo Papa.

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Por que razão a Igreja é Santa?

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Ano A - 7º Domingo do TempoComum Ser santoé ser de Cristo

A liturgia do sétimo domingo do tempo comumconvida-nos à santidade. Sugere que o caminhocristão é um caminho nunca acabado, que exige decada homem ou mulher, em cada dia, um compromissosério e radical, feito de gestos concretos de amor epartilha com a dinâmica do Reino de Deus.A primeira leitura apresenta um apelo veemente àsantidade: ser santo é viver na comunhão com Deus eno amor ao próximo. «Sede santos, porque Eu, oSenhor, vosso Deus, sou santo. Amarás o teu próximocomo a ti mesmo. Eu sou o Senhor».Na segunda leitura, Paulo convida-nos a sermos deCristo, a sermos o lugar onde Deus reside e Se revela,a renunciar definitivamente à sabedoria do mundo eoptar pela sabedoria de Deus, qual dom da vida, amorgratuito e total. «Não sabeis que sois templo de Deuse que o Espírito de Deus habita em vós? Tudo évosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus».No Evangelho, Jesus propõe, de forma muito concreta,a sua Lei da santidade, no contexto do sermão damontanha. «Amai os vossos inimigos e orai poraqueles que vos perseguem, para serdes filhos dovosso Pai que está nos Céus... Sede perfeitos, como ovosso Pai celeste é perfeito».O convite à santidade pode soar como algo deestranho para as pessoas de hoje. Uma certamentalidade contemporânea vê os santos comoextraterrestres, seres estranhos que pairam um poucoacima das nuvens sem se misturar com os seus irmãose que passam ao lado dos prazeres da vida, ocupadosem conquistar o céu a golpes

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de renúncia, de sacrifício e delongos trabalhos ascéticos. Asantidade não é uma anormalidade,mas uma exigência da comunhãocom Deus. É o estado normal dequem se identifica com Cristo,assume a sua filiação divina e quercaminhar ao encontro da vida plenaem Cristo. A santidade deve estarno horizonte diário que procuramosconstruir sem dramas nemexaltações, com simplicidade enaturalidade, na fidelidade aoscompromissos.Ser santo não significa viver deolhos voltados para Deusesquecendo as pessoas. Asantidade implica um realcompromisso com o mundo,

passa pela construção de uma vidade verdadeira relação com osirmãos, implica o banimento dequalquer tipo de agressividade,vingança e rancor, implica amar ooutro como a si mesmo.Aí está a santidade que é caminhopara todos. O Concílio Vaticano IIveio repor este essencial dinamismoda vida cristã. A santidade é paratodos, o que foi esquecido duranteséculos na Igreja, e não apenaspara o grupo de consagrados,religiosos e clero. Há que procurarno quotidiano da existência essedom de Deus para cada um de nós.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Egipto. Comunidade cristã vive dias de perseguição emedo

“Ninguém está a salvo”No Egipto, os cristãos sentem-seabandonados. Homens,mulheres, crianças, todospodem ser alvo de sequestro outortura. Nem as meninasescapam. Cada vez há maishistórias de raptos econversões forçadas ao Islão. A comunidade cristã no Egiptocontinua a viver dias de terror apósa deposição, em Agosto, pelosmilitares, do presidente Mursi, eleitopela Irmandade Muçulmana. Osseus partidários têm procuradovingar-se nos cristãos, acusando-osde terem incentivado a acção doexército. Desde então, 43 igrejasforam destruídas e mais de 200propriedades de cristãos foramatacadas.Mas isso não é tudo. Todosconhecem a história de alguém quetenha sido sequestrado e torturado.Normalmente são cristãos. A tácticaé sempre a mesma. Raptam eexigem da família um avultadoresgate. De tal maneira se vive umclima de terror, que os cristãoscriaram uma rede de apoio.Ninguém

os ajuda. A comunidade cristã viveencurralada nas suas casas, commedo de sair à rua. Até crianças jáforam sequestradas. Muitas vezes,os raptores usam uma violênciaarrepiante para fazerem valer osseus intentos. Raptar cristãostornou-se um dos negócios maisrentáveis neste país sem lei nemordem.Conversões forçadasNos últimos anos, centenas demeninas e adolescentes cristãs têmdesaparecido misteriosamente noEgipto. Quando as famíliasconseguem localizá-las, já é tardede mais. As suas filhas foramforçadas a converter-se ao Islão e équase impossível voltar a recebê-lasna família. Oficialmente tornaram-semuçulmanas.Nos poucos casos em queconseguiram fugir, descrevemhistórias terríveis. Quase sempresão violadas e drogadas. Apóssemanas de tortura, acabam pordeclarar-se convertidas ao Islão.A reversão ao Cristianismo, apósconversão ao Islão é quaseimpossível no Egipto.

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O castigo mais grave por apostasiado Islamismo é a morte.Uma jovem, que conseguiu fugir,contou à Fundação AIS, sobanonimato, o tormento por quepassou. “Não podia comer, beber,nem dormir. Tudo o que elesqueriam era drogar-me e violar-me.Não sei como sobrevivi. Nãoconseguia distinguir o dia da noite.Não conseguia dormir nada. Pelomenos cinquenta homens violaram-me durante esse mês. E pelo factode eu ser cristã, não se fez nada”.Em Minya, a diocese criou um localde abrigo das raparigas molestadasou que estejam em risco. O padreBoulos Nasif dirige A Casa daVirgem Mãe do Salvador. Uma dasraparigas

é Nura Suleiman Aryan. “Havia umgrupo de muçulmanos quetencionava raptar-me. É por essarazão que estou aqui. Tenho muitomedo deles. Olham-me fixamente.Quando estou em casa, fico sempredentro e nunca saio. Ninguém está asalvo”.Continua a haver um enorme mantode silêncio sobre os raptos e aviolência que é exercida sobre oscristãos no Egipto. É um assuntoperturbador. O mundo parece fingirque não sabe, que nunca ouviu falarde nada.

Texto: Paulo AidoDepartamento de Informação da

Fundação AIS www.fundacao-ais.pt |[email protected]

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Quentes, frios ou mornos?

Margarida Corsino daSilva Professora/ComunidadeMagis de Braga

Há dias, numa homilia, marcaram-me as palavrasque ouvi. Surgiram a propósito de David e detudo quanto ele é capaz de fazer. Mas poderiamter sido a propósito de tantos outros que povoama Bíblia ou de tantos que, hoje, desejam construira sua história com Deus. O melhor e o pior. Obem e o mal. O quente e o frio. Em luta. Atéacolher Aquele que marca uma vida e dá sentidoà existência. E fui convidada a olhar para esteestado morno no qual, sem me aperceber, possoviver. Sem paixão. Sem intimidade com Deus.Sem permitir que a vida aconteçaverdadeiramente e que Deus Se revele nela.Rapidamente, a minha memória se encheu detantos que, quando marcados por Deus, sefizeram paixão. Se ajoelharam. Derramaramlágrimas. Se entregaram aos outros. Seentregaram a Deus. E, assim, falaram da Suapresença.E pensei na Igreja. Morna, fria ou quente nestaresposta a Deus que Se propõe - não Se impõe!-, variando na forma de apresentar a Suaproposta? Que resposta dão os movimentos deleigos, as comunidades religiosas, os sacerdotes,as comunidades paroquiais, as famílias cristãs?Faz diferença ter este Deus como Senhor? É Elequem guia os nossos gestos, os nossos passos,as nossas palavras, o nosso olhar, a nossapresença? Individualmente e em comunidade?

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Ou, pelo contrário, quem nos olhanão consegue ver que Lheconfiamos a nossa vida e queacreditamos que é Ele quem nosconduz? Não será que a nossa vidacristã se tornou tão morna que jánada, ou apenas muito pouco, nossurpreende? Quando foi a últimavez que nos deixámos tocarprofundamente pela palavra deDeus? Quando foi que deixámosque ela nos transformasse? Quandolemos que Jesus falava comautoridade em que é que istomodifica a nossa vida? Com queautoridade vivemos nós? Tantasvezes ouvimos alguém que canta outoca ou alguém que declama umpoema, vemos alguém que dança,observamos um quadro e nãoconseguimos ficar indiferentes aoque nos transmite. Porque o fazemcom autoridade. De tal forma quesujeito (aquele que faz) e objecto(aquilo que faz) se (con)fundem nãonos permitindo ver onde acaba um ecomeça o outro.

Questiono-me se a nossa vidarevela esta intimidade com Deus. Sea nossa vontade e a Sua vontadesão uma só. Se é Ele quem ageatravés de nós. Se nos atrevemos ausar a palavra fé. E a dar-lhesentido, numa maneira (inteira econfiada) de estar diante de Jesus.Pois a fé não serve apenas aoreconhecimento de Jesus. Servepara entabular com Ele uma relaçãode vida: tão essencial que dispensamesmo as palavras, tãotransformadora que não apenasmodifica a existência, masverdadeiramente a salva.[1] É destarelação com Jesus, no Espírito, quecrescerá a relação com os outros enelas nos encontraremos ereconheceremos.

[1] JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, Aconstrução de Jesus, Assírio e Alvim,2004, 239, 209

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A família é a célula originária da vida social. É ela asociedade natural em que o homem e a mulher sãochamados ao dom de si no amor e no dom da vida(Catecismo da Igreja Católica, 2207)

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