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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo

Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia Neves

Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.

Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: 218855473. [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: João Aguiar Carmpos06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14- Opinião D. Pio Alves16- A semana de... Paulo Rocha18- Entrevista Paulo Fontes26- Dossier Pontificado em revista

40 - Internacional46 - Cinema48 - Multimédia50 - Estante52 - Vaticano II54- Agenda56 - Por estes dias58 - Programação Religiosa59 - Minuto YouCat60 - Liturgia62 - Fundação AIS64 - Luso Fonias

Foto da capa: Lusa.Foto da contracapa: Agência Ecclesia

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Opinião

Papa apela àConversão[ver+]

Uma Quaresmapara os maisnovos[ver+]

1.º aniversáriodo pontificado[ver+] D. Pio Alves|João AguiarCampos|Rosa Lima|JoséMoreira|José Manuel Pureza|TonyNeves

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Um ano de graça

João Aguiar CamposSecretariado Nacional dasComunicações Sociais

Assinala-se, no próximo dia 13 deste mês deMarço, o primeiro aniversário da eleição do PapaFrancisco. É natural, por isso, que nestes dias sefaça o balanço de um ano de pontificado.Não prevejo críticas acesas, dentro ou fora dosmuros da Igreja. Pelo contrário, entendo que oestado de graça de Francisco vai sentir-se noscomentários; mesmo que um ou outro possaesboçar, timidamente, algum desencanto poruma qualquer reforma ainda não operada oupelo ritmo da renovação.Não falta, de facto, quem deseje ver na Igreja adinâmica de uma multinacional, cujaAdministração reforma sistemas e infra-estruturas, respondendo à concorrência e àsondas do mercado. Para estes, o Papa é umCEO vestido de branco, mais que um pastor cujatarefa é confirmar na fé os seus irmãos e ajudá-los a abrir inteligência e coração ao fogo doEspírito.Visto nesta última perspectiva, penso que esteprimeiro ano do pontificado de Francisco foi umano de graça: os seus gestos e palavras têm-nosreconduzido ao essencial: o amor de Deus e asua misericórdia para com todos. Por isso, atarefa da Igreja é viver a alegria deste amor epropô-lo a quantos o desconheçam -- com umaurgência apaixonada e incarnando nas situaçõesdeste tempo; tocando e deixando-se tocar;desprendendo-se de peias administrativas queatrasam a pastoral.

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Não podemos admitir que nosroubem a força missionária – alertao Papa na Exortação “A alegria doEvangelho”, que constitui o seuverdadeiro programa. E aí nos dizcomo salvaguardar essa força:vivendo uma espiritualidademissionária e não fazendo dosdeveres um apêndice; centrando-nos em Deus e não no relativismodas seguranças humanas;rejeitando o egoísmo que afasta aentrega; actuando pelas razõescertas e não vivam obcecados peloresultado imediato. Definitivamente,vivendo a fraternidade e acomunhão e empenhando-nos narevolução da ternura – centrados noanúncio explícito de Jesus comoSenhor.Neste ano, o Papa Francisco não selimitou, porém, a dizer. Ocupou-se,sobretudo, em mostrar como sechega ao coração

dos homens e das mulheresdeste tempo: fazendo-se próximo e– pelo menos para a sensibilidadede alguns – não temendo o“escândalo da normalidade”.Para os que pensam que aautoridade se alicerça na distância,Francisco revelou que aautenticidade e o encontro valemdefinitivamente mais. Tudo o quedisse e fez na Jornada Mundial daJuventude, na deslocação aLampedusa, nos seus percursos eparagens na Praça de S. Pedro, talcomo nas breves homilias matinaisem Santa Marta são disso eloquenteexemplo.Falando simples e claramente, oPapa tem mostrado a força suavede um apaixonado por Deus e pelaspessoas. E a verdade é que,olhando-o, o mundo está a percebermesmo o que Francisco não diz!

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Papa Francisco usou chapéu militar alpino durante a audiência geralde quarta-feira © Créditos: noticias.uol.com.br

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- “A todos os sonhadores do mundoque estão a ver esta noite,Venezuela, quero dizer-lhes:estamos aqui por vocês. E enquantolutam para que vossos sonhos setornem realidade, para viver oimpossível, estaremos a pensar emvocês”, Jared Leto, cerimónia deentrega dos Óscares de Hollywood,02.03.14 - “O objetivo da presença russa noterritório é dar às pessoas o poderpara decidir o seu destino, seja emque região for. Não queremosintervir, mas acreditamos que todosos ucranianos devem ter os mesmosdireitos para moldar o futuro do seupaís.”, Vladimir Putin, presidente daRússia, jornal “Público”, 04.03.14

- “Houve uma mudança delinguagem que não tem a ver sócom as palavras mas também comgestos e comportamentos. O PapaFrancisco conseguiu tocar ocoração das pessoas e, de certaforma, superar distâncias ebarreiras. O coração desta novalinguagem é o anúncio do amor deDeus, o tema da misericórdia e doperdão para todos. Enquanto antesnos meios de comunicação socialdifundia-se o preconceito de que aIgreja dizia sempre ‘não’, e nãoestava próxima das pessoas”. PadreFrederico Lombardi, diretor da Salade Imprensa do Vaticano, AgênciaZenit, 05.03.14 - “Os polícias amedrontadosdepressa serão ignorados mas nósnão vamos deixar que issoaconteça, estamos aqui para lutar,para o que der e vier. Eles[Governo] podem ter a faca e oqueijo na mão mas nós temos arazão. Eles podem estar no podermas nós somos o poder”, EmíliaMartins, agente da PSP, jornal“Expresso”, sobre a manifestaçãodas forças de segurança noParlamento, 06.03.14

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Crianças e jovens de Santarémdesafiadas a colocarem fé em açãoA caminhada quaresmal nacomunidade católica de Santarémvai ter na solidariedade as suasimagens de marca, com iniciativasque envolverão mais de 8000crianças e jovens, preparadas peloSecretariado Diocesano daCatequese.Em entrevista concedida à AgênciaECCLESIA, o diretor daqueleorganismo realça a urgência depotenciar a capacidade agregadorada fé e utilizá-la para atender àsnecessidades daqueles que, nestemomento de crise, estão a enfrentarmaiores dificuldades, quereconómicas quer sociais.A partir desta Quarta-feira deCinzas e durante os próximos 40dias, as crianças e jovens daCatequese são desafiados, emmomentos específicos, a colocarema sua fé “em ação” e a cuidarem dequem mais precisa, “visitando osque estão sozinhos, os doentes,dando uma atenção especial aoscolegas de escola ou do prédio”,explica Paulo Campino.Esta iniciativa, inserida na

campanha que o Secretariado daCatequese preparou para a vivênciada Quaresma e da preparação daPáscoa, inclui também “uma recolhade bens que depois vão seroferecidos a instituições sociais dasdiversas paróquias da região.“A nossa intenção é que estes benssejam levados à eucaristia da Ceiado Senhor e que possam fazer partedo ofertório da missa de Quinta-feiraSanta, retomando aqui esta ideia deque o ofertório também tem comoobjetivo recolher bens para os maispobres, e desta forma levando-os àcelebração”, explica Paulo Campino.O itinerário de Quaresma preparadopelo setor de Catequese ésubordinado ao tema “EncontrarCristo, Amar o Irmão”, umaexpressão que dá também umaênfase especial à necessidade derevitalizar a fé e de tornar ascelebrações deste tempo litúrgicomais ricas e participadas.Paulo Campino chama a atençãopara o papel que as famílias,

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que os pais e avós podem ter namobilização das novas gerações, jáque “é à família que competeeducar para a fé, a catequese éapenas um meio para ajudar”.Aquele responsável apela ainda atodos os catequistas que procuremenvolver os seus catequizandos nascelebrações da Quaresma e doTríduo Pascal, que incentivem a suapresença, porque essascelebrações são “a melhorcatequese” que os mais novospodem ter.“O tempo mais forte da vivência de

um cristão é este, portanto nãodevemos fazer férias da catequesemas procurar com todas as nossasenergias esforçarmo-nos para queos catequizandos participem deforma ativa”, conclui.As propostas que compõem acampanha da Diocese de Santarémpara a caminhada da Quaresma e apreparação da Páscoa estãodisponíveis na página doSecretariado da Catequese deSantarém na internet, emcatequese-santarem.blogspot.pt.

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Desafios para os religiosos emPortugalA presidente da Conferência dosInstitutos Religiosos de Portugal(CIRP) considera que a 29ª Semanade Estudos sobre a VidaConsagrada, que decorreu entresábado e terça-feira em Fátima,lançou “muitos desafios” aosreligiosos. “Daqui saíram muitosdesafios, que vão desde a arte desaber que Deus cuida de nós, aténós próprios cuidarmos de nós, dasnossas próprias comunidades, dasnossas fraternidades, o cuidar quetemos de ter com a ação pastoral”explica a irmã Lucília Gaspar, emdeclarações à Agência ECCLESIA.A Semana de Estudos sobre a VidaConsagrada foi “um momento deformação dos religiosos presentes”algo determinante “para aumentar afidelidade de todos para com a suamissão”, realça Lucília Gaspar.O padre Abílio Pina Ribeiro,presidente da comissãoorganizadora da iniciativa revela àAgência ECCLESIA que “osconsagrados por natureza, porfunção são cuidadores de outraspessoas” sendo “que uns sededicam às crianças, outros

aos jovens, aos doentes ou aosidosos” mas todos têm por base“uma maneira de cuidar humana eespiritualmente”.A CIRP iria participar na próximaAssembleia Geral da União dasConferências Europeias dosSuperiores e Superioras Maiores(UCESM), entre 10 e 15 de março,“num sinal de comunhão para comas homólogas Conferências deReligiosos/as Ucranianas, numaafetiva e efetiva peregrinaçãoàquela “periferia” que anseia justiça,paz e liberdade”, mas os líderes daUCESM viram-se obrigados acancelar esta Assembleia, devido àinstabilidade em que vive o país.

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Bispo de Coimbra no Dia daUniversidadeD. Virgílio Antunes pediu àUniversidade de Coimbra quepromova um “amadurecimentocultural” capaz de contrariar“assimetrias, divisões, atentados àliberdade e ao respeito pelo serhumano” e conduza à “justiça e àpaz”.“Possa a Universidade de Coimbracom a sua longa e gloriosa históriaenraizada nos ideais humanistas dematriz judeo-cristã ser parteprivilegiada neste caminho deconstrução da cidade dos homens”,referiu na homilia da missa do Diada Universidade de Coimbra.Na capela de São Miguel, estesábado, o bispo de Coimbra disseque as universidades são os“principais agentes” da “purificaçãoe amadurecimento cultural”enquanto lugares de “conhecimentoe de cultura, autêntico protagonistado desenvolvimento civilizacional”“A história do passado, mas tambéma história recente tem sido prolixaem projetos de investigação econhecimento, em programas deconstrução e desenvolvimento quecarecem de respeito por Deus e quenão servem o bem do homem”,

recordou D. Virgílio Antunes,acrescentando que “a cidade doshomens continua ainda hoje muitolonge de garantir a todos o respeitopela sua condição de pessoa, pelasua liberdade e pela sua dignidade”.D. Virgílio Antunes pediu àuniversidade que desenvolva oconhecimento capaz de construir a“cidade dos homens caraterizadapelo amor e pela paz, nos objetivose nas realizações” e de “edificar ummundo unido e justo, onde aspessoas se compreendam e serespeitem”, onde “se viva e setrabalhe dando a primazia absolutaao sentido dos outros”.“Edificar sem respeito pelo que háde mais sagrado, Deus e o homem,perverte o sentido original daconstrução e torna-se pernicioso”,advertiu.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Projeto Cáritas pretende combater desemprego

Comunicar com arte e alegria

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Quaresma

D. Pio AlvesPresidente da ComissãoEpiscopal da Cultura,Bens Culturais eComunicações Sociais

“Rasgai o vosso coração” é o grito do profetaJoel (2, 13) num veemente apelo à penitência.Este aparente exagero é a premissa para averdadeira realização pessoal. Rasgar o coração, romper as muralhas do egoísmo, é abrir asportas a Deus, senhor e pai, para que, com Ele,entre na nossa vida toda a criação e todos osSeus filhos.Temos que saber descobrir no normal ritmo diárioda vida, na continuidade do ano litúrgico, umconvite a começar de novo essa tarefa quenunca está terminada; uma tarefa que, pelo pesodas nossas fragilidades, deixamos cairreiteradamente. A quaresma, que agorainiciamos, é uma dessas oportunidades, que nãopodemos desaproveitar. “Rasgai o vossocoração”, isto é, com palavras do Papa Franciscona sua Mensagem para este tempo litúrgico,percorramos “o caminho pessoal e comunitárioda conversão”.“Este é o tempo favorável, este é o dia dasalvação”, recorda S. Paulo (2Cor 6, 2). Averdade desta afirmação, que é de agora e é desempre, consolida a decisão de regresso à casapaterna na certeza de que, como nos diz Joel,Deus “é clemente e compassivo, paciente emisericordioso, pronto a desistir dos castigos quepromete”.Jesus Cristo (cf. Mt 6, 1-6. 16-18) desenha-nos oquadro do nosso modo verdadeiro de estar comDeus, connosco próprios e com o próximo. Umquadro que é de qualquer

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tempo, mas que a Igreja aplica demodo especial ao tempo daquaresma: a oração, o jejum, aesmola. A simplicidade, a verdade, osegredo de Deus marcam todosesses cenários. O espetáculo, aostentação, a consideração alheiaminam o mérito de qualquer umdesses gestos.O Papa Francisco, nasua Mensagem, propõe-nos ainteriorização (e a exteriorização) daafirmação de S. Paulo (cf 2Cor 8, 9):Deus “fez-se pobre para nosenriquecer com a Sua pobreza”.“Cristo, o Filho eterno de Deus,igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio,aproximou-Se de cada um de nós;despojou-Se,

«esvaziou-Se», para Se tornar emtudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7;Heb 4, 15)”. O caminhoda pobreza de Deus marca a nossaidentidade e o itinerário da nossarelação com Deus e com opróximo. Esvaziar-se, assumirrealmente a nossa condição decriaturas, liberta-nos para a relaçãoamorosa com Deus, descobre-nos opróximo, sempre igual a nós emdignidade. O amor ao próximo senão é verdadeiramente humano équalquer coisa, mais ou menosinstrumental, mas não é amor.Despojados de nós próprios,cidadãos do mundo de Deus,seremos, a sério, cidadãos do nossomundo, concidadãos dos nossoscontemporâneos.

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13 de março de 2013. O registo domomento aconteceu com os meiospossíveis. E todos eram ótimos paratirar uma fotografia à imensidão daBasílica Vaticana no momento emque surgia, na Varanda Central, um“desconhecido” vestido de branco.Bastava, naquele momento, umacerteza: era o Papa.Na Praça de S. Pedro, eraimpossível definir contornos dorosto que, passo a passo, se foirevelando diante da multidão. A nãoser pelos ecrãs plantados entreaglomerados de pessoas.Naquele momento, mais do ver ououvir, foi possível sentir. Cadainstante, vivido a partir das 20 horase 22 minutos de Roma, eramgrandes conquistas acerca doeleito, vindo “do fim do mundo”. Aspalavras, os gestos, o silêncio, aoração, as palmas…

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As palavras, os gestos, o silêncio, aoração, as palmas… Emoções quefixaram a personalidade do Papaque se ia revelando, tal como se deuma fotografia se tratasse.Mais do que a fórmula latina queanunciava o nome do novo Papa, asua proveniência e o nome queescolhera, bastaram quatro minutosde presença do Papa na distanteloggia para cativar mulheres ehomens que o fixavam lá longe eaqueles que o viam bem pertoatravés dos media.Olhando à esquerda ou à direita, arevelação da pessoa que a partirdesse dia era o Papa transpareciaem cada rosto. E não mais parouessa surpresa. Como nessemomento primeiro, pelas palavras epelos gestos.Uma semana de há um ano, massempre muito presente…

Paulo Rocha

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Um ano para a HistóriaO historiador e professor universitário Paulo Fontes, daUniversidade Católica Portuguesa, afirma que a popularidade doPapa Francisco, que celebra no dia 13 de março um ano depontificado, se inscreve num movimento “de grande visibilidade dopapado”, nas últimas décadas.

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Agência ECCLESIA (AE) –Enquanto historiador que balançofaz sobre o primeiro ano depontificado do Papa Francisco?Paulo Fontes (PF) – Talvez aprimeira coisa a dizer sobre estePapa é que a figura do PapaFrancisco se inscreve nummovimento de maior adoração, degrande visibilidade do papado, pelomenos na segunda metade doséculo XX. Quando olhamos desdePio XII com as peregrinações paraRoma, com Paulo VI com a ida aalguns lugares simbólicos como sejaa Jerusalém, à Assembleiadas Nações Unidas nos EUApassando pelas suas visitas aalguns países de

diversidade religiosa como a India,etc. Quando olhamos para o Papaperegrino que foi João Paulo II umpouco por todo o mundo e a suaatenção ao diálogo inter-religioso,quando olhamos para algumasreflexões e gestos de Bento XVI,nomeadamente para aquele queficará como o mais marcante, a suaprópria resignação. Olhando paratodos estes casos o Papa Franciscoinscreve-se dentro deste movimentoque concita uma grande atençãopor parte de um mundo cada vezmais numa lógica global e numalógica comunicacional muito forte.

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AE – Depois da surpresa com aresignação de Bento XVI haviamuita expetativa em saber o queviria a seguir?PF – Francisco correspondeu porum lado a uma expetativa muitogrande que havia e que tinha a verpor um lado com algum desencantoe críticas muito acesas que no finaldo pontificado de Bento XVI setinham concentrado sobre amaneira não tanto do Papa mas dacúria romana, e por via dele dolugar do papado, na forma comoforam geridos alguns dossiers.Nomeadamente nas questões deescândalos ligados a casos depedofilia, sobretudo nos EUA e naIrlanda e depois a gestão doInstituto das Obras Religiosas, tudoisso gerava críticas muito fortes oque submeteu o papado de BentoXVI a um desgaste na sua fase finalmuito grande por isso havia umaexpetativa relativamente ao modoem saber como quem lhe ia sucederia reagir a isso e que perspetivas iatrazer.

AE – Francisco disse no momentoda sua eleição que vinha ‘do fim domundo’. Até que ponto a sua origeme a sua vivência latina marcam o seupontificado?PF – O Papa Francisco é marcadodesde logo pela sua origem, vem deuma zona, de um continente degrande tradição e presença doscristãos, e uso aqui expressamentea palavra cristãos porque existenaquela zona uma cristandade muitoatravessada pelo confronto e peladiversidade entre setores católicos,evangélicos e protestantestradicionais. A América, onde fica aArgentina, é um continente emgrande ebulição e emergência comquestões novas, a posicionar-se denovo no mundo global”.Por outro lado Francisco é marcadopela sua postura pessoal e creioque é isso que tem concitado umagrande atenção e diria até adesãopor parte de muitos setores não sócatólicos mas da opinião pública emgeral”.

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AE – Como se explica essa atençãogeneralizada?PF – Explica-se pelo seuposicionamento do ponto de vistacomunicacional e do entendimentoque ele faz do lugar do papado, elecoloca-se como um testemunho deum crente, de alguém que nosgestos que têm, naquilo que diz, se

envolve, parte de si e da suaexperiência numa linguagem degrande proximidade. E issotransmite a muitas das pessoas umsentimento de autenticidade na suacomunicação e de facilidade deempatia num grande sentido dehumanidade.Por outro lado eu diria queFrancisco através do seu

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discurso, no seu apelo ao serviçoda missão da Igreja acabou porrecentrar o papel do papado seja doponto de vista da Igreja como doponto de vista da sociedade, domundo global. As suas atitudes mostram que opapado está ao serviço da Igreja noserviço e na terminologia teológica epastoral católica do anúncio da BoaNova de Jesus Cristo, ou seja naperspetiva de servir esse movimentode evangelização com alegria e comesperança como ele diz. E, portanto,trazendo logo aí um olhar maisfresco e atento às periferias por umlado e por outro aos dinamismos dehumanização que atravessam aprópria humanidade.

AE – Que análise faz à primeiraexortação apostólica ‘EvangeliiGaudium’ (A Alegria do Evangelho)deste Papa?PF – É curioso que Francisco vábuscar referências de vários pontosda tradição da Igreja, citando nãoapenas por exemplo São Tomás deAquino mas citando também aexortação apostólica ‘Evangeliinuntiandi’ de Paulo VI, que se centramuito no tema da evangelização.Também muito interessante é ver aideia que ele tem sobre qual deveser o papel da Igreja diante dummundo cada vez mais global. E aí areflexão do Papa sobre a economiaglobal, o sistema financeirointernacional e a sua desregulaçãosão alvo de palavras muito fortes econtundentes expressas por ele naexortação apostólica ‘A Alegria doEvangelho’.E isso criou grandes expetativas namaneira como as Igrejas depois àescala local vão ser capazes decorresponder a esta expetativa derenovação em cada lugar, em cadadiocese, em cada continente.

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AE – Este primeiro ano depontificado fica também marcadopela convocação do Sínodo dosBispos para abordar o tema dafamília?PF – A convocação do Sínodo dosBispos sobre o tema da família éoutro dos pontos importantes nesteano de pontificado porque veio aoencontro também de expetativasporque se essas questões relativasao entendimento plural econtraditório entre a doutrina e asvivências, entre a proposta cristã emuitas das vivências sociais,culturais em geral não existisse nãoteria havido o movimento deresposta que houve nestapreparação do próximo Sínodos dosBispos.

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AE – Um ano depois e analisandoos pontos principais do pontificadode Francisco até agora, que sepode esperar do futuro?PF – Resta saber, e penso que essaé uma questão é muito cedo aindapara avaliar, como é que o todo daIgreja, desde cada cristão, cadacomunidade à escala local até àsdioceses, aos vários episcopadoslocais e aos vários organismos daIgreja no seu todo, inclusive a CúriaRomana que o Papa Franciscopretende reformular e já inicioupassos

nesse sentido, como é que vãocorresponder a este desejo derenovação, como é que isso se vaitraduzir na tal necessidade deconversão pastoral da Igreja e poroutro lado de expressão numalógica de empenhamento epresença cívica dos cristãosenquanto crentes na sociedaderetomando para hoje uma teologiachamaríamos de política, devalorização desse empenho doscristãos na cidade para anunciarcom alegria e com esperança apalavra de Jesus Cristo.

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Papa recusa culto de personalidadeO Papa concedeu uma entrevista aojornal italiano ‘Corriere della Sera’,publicada esta quarta-feira, na qualmanifesta o seu desacordo com oque qualifica como “interpretaçõesideológicas” do seu pontificado,iniciado a 13 de março de 2013.“Gosto de estar com as pessoas,junto a quem sofre, ir às paróquias;não me agradam

as interpretações ideológicas, umacerta mitologia do Papa Francisco,como quando se diz, por exemplo,que [o Papa] sai do Vaticano, ànoite, para dar de comer aos sem-abrigo, na Avenida Ottaviano. Nuncapensei nisso”, refere, em resposta auma questão sobre a‘franciscomania’.Francisco considera que a suarepresentação como “uma espéciede super-homem, uma espécie deestrela”, lhe parece “ofensiva”.O primeiro pontífice sul-americanofoi eleito pela revista Time como‘personalidade do ano’ de 2013.“O Papa é um homem que ri, chora,dorme descansado e tem amigos,como todos. Uma pessoa normal”,precisa Francisco.Neste contexto, revela que mantémo hábito de telefonar a quem se lhedirige, embora agora seja “maisdifícil”, e dá como exemplo umasenhora de viúva, de 80 anos, quelhe escreveu quando perdeu o filho.“Telefono-lhe todos os meses. Elafica feliz, eu faço o meu papel depadre, que me agrada”, explica.

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Francisco elogia o seu predecessor,Bento XVI, frisando que o Papaemérito “não é uma estátua nummuseu, é uma instituição”, que nãomereceria “acabar numa casa derepouso”. “Ele é discreto, humilde,não quer perturbar. Falamos disso edecidimos juntos que seria melhorque visse pessoas, que saísse eparticipasse na vida da Igreja”,adianta.A entrevista aborda, entre outrasquestões, os casos de abusos sexuais por membros do clero, como Papa a afirmar que “ninguém fezmais" do que a Igreja na luta contraa pedofilia, considerando-a "talvez aúnica instituição pública a reagircom transparênciae responsabilidade" nesta matéria.“Os casos de abuso são terríveisporque deixam feridasprofundíssimas. Bento XVi foi muitocorajoso e abriu um caminho e aIgreja fez muito, nesta estrada,talvez mais do que todos”, sustenta.

Francisco é questionado sobre asua forma de governar a Igreja e,em particular, sobre o facto deaparentemente decidir “sozinho”. “OPapa não está só no seu trabalho,porque é acompanhado eaconselhado por muitos, seria umhomem só se decidisse sem ouvir oufingindo ouvir. Há um momento,contudo, quando se trata de decidir,de assinar, no qual está só com oseu sentido de responsabilidade”,revela.Admitindo que não gosta de“balanços”, Francisco adianta queeste primeiro ano de pontificadocomeçou sem “qualquer projeto demudança da Igreja”. “Não esperavaesta mudança de diocese, digamosassim. Comecei a governarprocurando colocar em prática oque surgiu nos debates entrecardeais nas várias congregações[pré-conclave]”, sublinha.O Papa renovou as suas críticas

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à globalização económica efinanceira, lamentando que o“dinheiro” tenha tomado o lugarcentral de cada pessoa. É verdadeque a globalização salvou muitaspessoas da pobreza, mas condenoumuitas outros a morrer de fome,porque se tornou seletiva com estesistema económico”, assinalaFrancisco.O Papa explica que a decisão decentrar as próximas assembleias doSínodo dos Bispos nas questões dafamília derivou da “crise muito séria”que esta atravessa. “Os jovenscasam-se pouco, há muitas famíliasseparadas nas quais o projeto devida comum falhou, os filhos sofremmuito: temos de dar uma resposta,mas para isso é preciso refletirmuito em profundidade”, assinala.Neste contexto, Francisco reafirmaque o matrimónio é “entre umhomem e uma mulher” e que osEstados laicos podem quererregular as outras “situações deconvivência”.O Papa retoma a sua reflexão sobrea necessidade de uma maiorpresença das mulheres nos “lugaresde decisão da Igreja”, um tema quediz estar em

“aprofundamento teológico”.Em relação à contraceção e aoplaneamento familiar, Franciscoelogia a “genialidade profética” dePaulo VI, que há meio séculoassinou a encíclica ‘Humanae Vitae’,que diz ter funcionado como um“travão cultural”.A entrevista revela uma troca decorrespondência entre o Papa e opresidente, da China, e que ospróximos destinos das viagenspontifícias serão “a Terra Santa, aÁsia e a África”.Francisco diz que não tem saudadesda Argentina, embora gostasse de irvisitar a sua irmã, que se encontradoente. “Gostaria de vê-la, mas issonão justifica uma viagem àArgentina: ligo-lhe por telefone eisso basta. Não penso ir lá antes de2016, porque já estive na AméricaLatina, no Rio de Janeiro”, recorda oPapa.Jorge Mario Bergoglio, de 77 anosde idade, foi eleito como sucessorde Bento XVI a 13 de março doúltimo ano, após a renúncia doagora Papa emérito. Francisco é oprimeiro Papa jesuíta na história daIgreja e o primeiro pontífice sul-americano.Em doze meses, o Papa argentinovisitou o Brasil (Rio de Janeiro

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e Aparecida) e realizou três viagensà Itália, incluindo uma passagempela ilha de Lampedusa.Entre os principais documentos doatual pontificado estão a encíclica‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), querecolhe reflexões de Bento XVI, e aexortação apostólica ‘EvangeliiGaudium’ (A alegria do Evangelho),tendo ainda sido convocado um

Sínodo sobre a Família, que vaidecorrer em duas sessões: umaextraordinária em 2014 e outraordinária, em 2015.Francisco criou uma Secretaria paraa Economia e um Conselho deCardeais, com membros dos cincocontinentes, para o aconselharemno Governo da Igreja e na reformada ‘Constituição’ do Vaticano,aprovando nova legislação pararegular a atividade financeira daSanta Sé.

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Uma Igreja mais de irmãos,menos de classesO prefeito da Congregação para osInstitutos de Vida Consagrada e asSociedades de Vida Apostólica, dizque o Papa Francisco está aconstruir uma Igreja Católica mais“próxima” das pessoas e menos“pesada” nas suas estruturas.Em declarações concedidas àAgência ECCLESIA, no âmbito doprimeiro ano do pontificado do Papaargentino que vai ser assinalado dia13 de março, o cardeal João Brazde Avis realça que Jorge MarioBergoglio “trouxe um ar novo àIgreja”, em primeiro lugar devido àsua postura acessível e à suaautenticidade.“As pessoas amam o Papa porqueele está próximo, não tem duascaras, não está a viver um papel,ele é o que diz ser”, salienta ocardeal brasileiro, que fala depoisdo seu contacto pessoal comFrancisco.A marcação de uma simplesaudiência, que antes tinha depassar por uma multiplicidade depessoas e processos, hoje éresolvida através de “um contactotelefónico, com o secretário doPapa”.

“A relação com o Papa tornou-semuito simples, ele não trata aspessoas como se fossemfuncionárias, ele acredita naspessoas, é tudo mais fácil e issoindica o amor que o Papa tem pelaIgreja e pela Cúria Romana”,sublinha D. João Braz de Avis.A reforma da Cúria Romana temsido uma das apostas maispresentes no pontificado do PapaFrancisco, tocando não só asestruturas e ministérios da Santa Sémas também o coração doscardeais, com apelos a umamudança de mentalidade.O prelado brasileiro lembraparticularmente a mensagem queFrancisco dirigiu aos membros doColégio Cardinalício, a 23 defevereiro último, depois do primeiroconsistório do seu pontificado, emque criou 19 novos cardeais.“Todos sabem que existem coisasque têm de ser corrigidas,carregaram a verdade nos ombrosmas sentem-se felizes porquesabem que é por esse lado que têmde ir”, salienta o prefeito

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da Congregação para os Institutosde Vida Consagrada e asSociedades de Vida Apostólica.Para aquele responsável, amensagem do Papa pretende ajudara Igreja a “voltar” a ser uma “família,mais de irmãos, menos de classes,uma Igreja mais comunhão, maispróxima das pessoas, que não seescandaliza com um erro mas queajuda a resolver aquele erro”.De acordo com D. João Braz de

Avis, durante este primeiro ano depontificado, ficou no Vaticano asensação de que a Igreja Católicaestá a ser alvo de uma “renovaçãoprofunda”. Olhando para asalterações que Francisco jáconcretizou, aquele responsávelacredita que as comunidadescatólicas ainda vão assistir no futuroa “muitas coisas novas”.

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O Papa e a Economia de MercadoMuitos dos que defendem maisdéfice e mais dívida são os mesmosque elogiam a parte da Exortaçãoapostólica Evangelli Gaudium (AAlegria do Evangelho) ondeFrancisco denuncia a economia –de exclusão e desigualdades – quemata. Daí os louvores à crítica doPapa à “autonomia absoluta dosmercados” e ao seu apelo aospolíticos para que consertem o quea economia andou a destruir.Onde parará a distinção, daCentesimus annus, entrecapitalismo bem e mal entendido?Que tanto ajudaria a perceber porque a pobreza não é um fenómenocontemporâneo e por que aseconomias de mercado fizeram maispela diminuição da pobreza a nívelmundial, do que o poder político etodos os esforços que foramdesenvolvidos no passado.A impressão com que se fica é quea Igreja continua sem entender anatureza do Estado e parece teraprendido pouco com os excessosestatais do século XX, quecontinuam no presente. Certamenteconsequência da concepçãomoderna da Igreja

e do Estado como se fossemduas sociedades perfeitas. Só assimse explica a identificação com oEstado em tantos sectores da Igreja,ainda que se critique a razão deEstado. E se compreende que numdocumento centrado numa novaevangelização – capaz de atendermais aos pobres e aos excluídos –esteja ausente a distinção entre asolidariedade como virtude e comosentimento. Falha que nos impedede ver que esta conduz àpostulação do Estado de Bem-estarem que a solidariedade se organizaburocraticamente à custa doorçamento do Estado e dando azo atodo o tipo de abusos, fraudes ecorrupções. Enquanto a virtude dasolidariedade leva à generosarealização de actuações concretasde ajuda, material, moral cultural,com sacrifício pessoal, de que estárepleta a história da humanidade,sobretudo quando a solidariedadeburocrática não impede a virtude dasolidariedade pessoal.O que foi feito do legado de umaIgreja que vivia do dízimo voluntárioe que durante centenas de anos foia principal

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e talvez a única instituição de ajudaos pobres sem necessidade decobrar ou aumentar impostos aoscidadãos?Não fossem tais omissões e seriafácil relacionar o desemprego com oexcesso de regulamentações eperceber que o muito criticadosistema financeiro, longe de seruma criação do mercado, éum sistema altamente regulado edependente do Estado. E tambémperceber que, ironicamente, são justamente os países maisrelutantes em aceitar a globalizaçãoos que mais se ajustam aosexemplos de tragédia do mundoactual. Tragédia resultante dadificuldade de nos darmos conta deque a solidariedade é um valor queo governo não pode impor, sópromover ou facilitar. Não é possíveltornar os pobres prósperos atravésde legislação, nem multiplicar ariqueza dividindo-a.Torna-se difícil perceber comoDomingo de Soto (1494-1560),

apoiando-se em Santo Agostinho, foicapaz de ver que “os vícios doscomerciantes não são próprios docomércio, mas das pessoas que oexercem.” E que, hoje, 460 anosdepois, uma parte tão importante daIgreja continue incapaz de distinguir– tanto no mercado económicocomo político – entre as regras dejogo e os jogadores.Termino com Philip Both (em “HasPope Francis misunderstood themarket economy?”, IEA): “devemostodos ter sempre presente anecessidade da actividadeeconómica estar embebida navirtude, de modo a assegurar queos mercados sirvam os pobres enão os interesses instalados. (...) Noentanto, ao contrário da maioria deoutros aspectos da Exortação e, porexemplo, da Caritas in veritate, éprovável que as secções sobreeconomia gerem mais calor do queluz e mais conflito do que síntese.”

José Manuel MoreiraProfessor Universitário

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Um Papa normal

Na última reunião para escolha dasfiguras do ano – uma tradição naredacção do Expresso que setraduz, normalmente, em horas deacalorada discussão em plenário– apersonalidade internacional do anofoi escolhida em menos de umfósforo. E por unanimidade. Nos 25anos que levo como jornalista destacasa, nunca a tal tinha assistido. Eduvido que se repita.Pode parecer estranho, começar umtexto sobre o primeiro ano depontificado com um exemplo tão«doméstico». Se calhar é. Mas, naverdade, o episódio marcou-me.

Tanta unanimidade ao mesmotempo, pareceu-me ao mesmotempo, estranha e muitosignificativa. Nestas eleições doExpresso, há sempre divergências,discussão de personalidades,confronto de ideias. Com o PapaFrancisco, nada. Ateus eagnósticos, concordaram. Esquerdae direita, também. Novos e velhosjornalistas, que sempre falam tanto,calaram-se.Há um mistério, sem dúvida, nafigura deste Papa. Desde logo, porser alguém que consegue agradarmesmo a tudo e todos. E isto éainda mais bizarro no reino dosmedia –tradicionalmente crítico edistante das figuras da Igreja – ondeo Papa ganhou uma

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rápida e inegável simpatia.Francisco foi figura internacional doano no Expresso. Mas também naTime ou na «Visão». Ou na revista«Sábado», que abriu pela primeiravez na sua história a corrida à figurade 2013 e… escolheu o novo Papa.Do outro lado do Oceano, mesmo arevista ‘gay’ «Advocate» achouFrancisco digno de destaque.Isto é bom? É óptimo, sem dúvida.Mesmo tendo em conta os que jáfazem presságios sobre a queda dapopularidade do Papa. Ou os queantecipam o desgosto – e a revolta -do mundo, quando perceber que adoutrina da Igreja não desaparecenum pontificado (grande surpresa,hã?) A verdade é que Francisco jános fez ganhar a todos. E à Igrejaem primeiro lugar.Não apenas pelo seu sorrisoirresistível. Ou pela sua inteligênciaclara, que se vê nos gestos e naspalavras. Ou ainda pelo seuexemplo de simplicidade. O grandecontributo do Papa, até agora, foitrazer a Igreja para a terra. Aproximá-la dos homens e do mundo,

para os quais se dirige. Porque foiaqui que Cristo se situou. E é aquique tem de continuar.E, infinitamente melhor do que eu, oPapa sabe explicar a sua missão,definindo exactamente a sua missãocomo sucessor de Pedro. Na suaúltima entrevista, ao Corriere dellaSera, afirma: «Gosto de estar entreas pessoas, junto de quem sofre, deandar pelas paróquias. Não gostodas interpretações ideológicas, de uma certa mitologia do PapaFrancisco. Quando se diz, porexemplo que saio de noite doVaticano para andar a dar comidaaos sem-abrigo na rua. Nunca mepassou isso pela cabeça! SigmundFreud dizia, se não me engano, queem cada idealização há umaagressão. Definir o Papa como umaespécie de super-homem, umaespécie de estrela, parece-meofensivo. O Papa é uma homem queri, que chora, que dorme tranquilo eque tem amigos. É uma pessoanormal».

Rosa Pedroso LimaJornalista

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Um cristão como PapaDo fim do mundo, disse ele. E logoaí se fez a primeira das diferençasessenciais. Um Papa trazido do fimdo mundo, a quebrar, portanto, oplurissecular eurocentrismo e osseus vícios e fantasmas. Acatolicidade mundial exigia umpastor que trouxesse no coração ena mente a condição, largamentemaioritária, da periferizaçãoeconómica e da subalternidadepolítica. Um Papa que desseexpressão à pobreza como condiçãoestrutural de povos inteiros. Só umpastor assim, que trouxesse com elea centralidade dos pobres nodiscurso e na prática, estaria emcondições de ter autoridade notestemunho dos gestos simples dedesprendimento quotidiano e defazer da conversão a um estilo devida pobre a prioridade de todo opovo de Deus.O discurso de Francisco ao longodeste ano foi totalmente fiel a estaconversão necessária. Tudo estaráresumido no nº 198 da EvangeliiGaudium: “desejo uma

Igreja pobre para os pobres. Estestêm muito para nos ensinar. (…) nassuas próprias doresconhecem Cristo sofredor. Énecessário que todos nos deixemosevangelizar por eles. A novaevangelização é um convite areconhecer a força salvífica dassuas vidas e a colocá-los no centrodo caminho da Igreja.”. E, por serassim, Francisco deu maisdensidade à crítica à fetichização domercado: “Não podemos maisconfiar nas forças cegas e na mãoinvisível do mercado. (…) aeconomia não pode mais recorrer aremédios que são um novo veneno,como quando se pretende aumentara rentabilidade reduzindo o mercadode trabalho e criando assim novosexcluídos.” (EG, 204)Feita de palavra, a conversão àcentralidade dos pobres faz-setambém de gestos. A abdicação deviver nos aposentos papais, oconvívio com os sem-abrigo, acompaixão para com os doentes –tudo foi bem compreendido nessesentido por um mundo carente daforça do exemplo de vida.

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Como bem compreendida foi atónica na colegialidade do governoda Igreja, o “nunca mais” àcumplicidade do Banco Ambrosianocom a lavagem de dinheiro e ocapitalismo de casino e, mais quetudo, a mudança do registoprescritivo do juíz para o registocuidadoso do pastor.

Disse-me há dias um amigo poucodado a simpatias com a Igreja: “Oscardeais enlouqueceram –escolheram um cristão para Papa”.O acolhimento que Francisco teveneste ano de pontificado exprimeque, bem vistas as coisas, não ésenão isso que o mundo espera daIgreja neste tempo.

José Manuel PurezaProfessor Universitário

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O Papa pelo qual os cristãos rezaramA responsável pelo setor dacatequese do Secretariado Nacionalda Educação Cristã (SNEC), CristinaSá Carvalho acredita que o PapaFrancisco tem “uma presença fortee reveladora” que correspondeàquilo que os cristãos desejavam“para o mundo e para a Igreja”.“A presença do Papa é tão forte, tãoreveladora e vem ao encontrodaquilo que seriam as nossasexpetativas, daquilo que desejamospara o mundo e para a Igreja quetem sido um gozo permanente, umaalegria” pedindo apenas “a cada uma generosidade da comunhão entretodos os cristãos”, revela CristinaSá Carvalho em declarações àAgência ECCLESIA.Para a responsável pelo setor dacatequese do SNEC “o PapaFrancisco traz a atualidade à vidada Igreja, sente-se que nas mãos,no coração daquele homem osproblemas concretos das pessoas eda vida quotidiana estão bementregues”.Cristina Sá Carvalho nota ainda quecom Francisco “chegou umarenovação típica da América Latina,uma fé mais alegre”

falando de uma forma “simples” paraque “as pessoas o possamentender”.“Ele centra o seu discurso, a suapalavra na conversão da pessoa, nosentido espiritual da religião e énesse sentido que ele vê a Igreja eo sentido que deve ter atransformação da Igreja que deveser um corpo de gente que caminhaconforme Cristo, ao encontro e demão dada com Cristo”, acrescenta.A psicóloga teve a oportunidade decumprimentar o Papa Francisco a27 de setembro a propósito doCongresso Internacional deCatequese que decorreu noVaticano.A responsável pelo setor dacatequese do Secretariado Nacionalda Educação Cristã, aproveitou omomento para convidar o PapaFrancisco para vir a Fátima em2017, data em que se assinala oCentenário das Aparições a que elerespondeu afirmativamente.“A sensação que dá é que ele tem acapacidade de mesmo no meio deuma multidão se concentrar emcada pessoa, é alguém que valorizao outro a esse ponto,

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ouve o que lhe é dito e a grandesurpresa que tive é queefetivamente responde ao que lhedizemos.”Analisando a exortação apostólica‘A Alegria do Evangelho’ Cristina SáCarvalho lembra, em declarações àAgência ECCLESIA que “o Papaestudou psicologia” e por isso nota-se

“que ele conhece profundamente apessoa humana, na exortação elefaz algumas elaborações quedenotam um conhecimentoaprofundado de linhas deinvestigação de raiz psicológica eisso também o ajuda a olhar para aspessoas com transparência”.

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Quaresma, tempo de conversãoO Papa Francisco assinalou o inícioda Quaresma presidindo à Missa deQuarta-feira de Cinzas, em Roma,na qual alertou para o risco de“esquecer” os sofrimentos dosoutros. “Só quando as dificuldadese sofrimentos dos nossos irmãosnos interpelam é que podemoscomeçar o nosso caminho deconversão para a Páscoa. É umitinerário que compreende a cruz ea renúncia”, declarou, na homilia dacelebração que decorreu naBasílica de Santa Sabina.O começo do tempo litúrgico daQuaresma, que antecede ascelebrações pascais, foi marcadopor uma procissão, nas ruas dacapital italiana, desde a igreja deSanto Anselmo, acompanhada porcardeais, bispos, religiosos e leigos.Francisco precisou que a“conversão”, uma das mensagenscentrais destes 40 dias, “não sereduz a formas exteriores oupropósitos vagos”, mas deve levar a“desafiar as rotinas”.“Vivemos num mundo cada vez maisartificial, numa cultura do fazer, doútil, no qual excluímos Deus donosso horizonte, sem

nos apercebermos”, advertiu.O Papa passou em revista três“elementos” tradicionalmente ligadosà Quaresma: a oração, o jejum e aesmola. “A Quaresma é tempo deoração, de uma oração maisintensa, mais assídua, mais capazde assumir as necessidades dosirmãos, de interceder diante deDeus por tantas situações depobreza e sofrimento”, disse.Francisco alertou para a prática deum “jejum formal”, que não leva à“escolha de uma vida sóbria, quenão desperdiça, que não descarta”.Em relação à esmola, o Papadestacou que este gesto simboliza agratuidade, porque se dá “a alguémde quem não se espera receberalgo em troca”.Durante a manhã, na audiênciageral, Francisco afirmou que ahumanidade se habituou a situaçõesde miséria ou sofrimento humano equestionou os católicos sobre a“indiferença” da sociedade face aDeus.“Viver a fundo o Batismo significaque não podemos habituar-nos àssituações de degradação e misériaque encontramos, ao caminharpelas ruas das nossas cidades edos nossos países”,

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alertou, na Praça de São Pedro.Francisco falou no risco de “aceitarpassivamente certoscomportamentos” e deixar de reagiràs “tristes realidades” que rodeiamcada um. “Habituamo-nos àviolência, como se fosse uma notíciadiária normal; habituamo-nos airmãos e irmãs que dormem na rua,que não têm um teto para seabrigar.

Habituamo-nos a refugiados embusca de liberdade e dignidade quenão são acolhidos como deveriam”,lamentou.“Habituamo-nos a viver numasociedade que pretende deixarDeus de lado, na qual os pais já nãoensinam aos filhos a rezar bem afazer o sinal da cruz”, prosseguiu.

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Papa desafia padresa estarem ao lado das pessoas

O Papa Francisco encontrou-sehoje no Vaticano com o clero deRoma, a quem desafiou a estaremperto das pessoas com uma atitudede “misericórdia” e de perdão. “Opadre é um homem de misericórdiae de compaixão, próximo da suagente e servidor de todos. Este éum critério pastoral que gostariamuito de sublinhar: a vizinhança. Aproximidade e o serviço”, sublinhou,num encontro que durou cerca deuma hora, na sala Paulo VI.Segundo o Papa, cada padre temde imitar Jesus, cuja vida erapassada “nas ruas”, ao encontro de“quem quer que se encontre feridona sua vida”, com “atenção”. “Ohorizonte alarga-se e vemos queestas cidades e estas aldeias nãosão apenas Roma e a Itália, massão o mundo, as multidões infinitassão as populações de tantos paísesque estão a passar por situaçõescada vez mais difíceis”, observou.A intervenção começou com o Papa

a manifestar a sua solidariedadeaos membros do clero romano queforam acusados de estaremenvolvidos em casos de prostituiçãoinfantil. “Fiquei muito tocado epartilhei a dor causada pelasacusações feitas contra um grupode vós. Vi a dor das feridas destasferidas injustas: uma loucura”,afirmou, mostrando-se“publicamente ao lado dopresbitério”.Francisco adiantou ainda que está atratar do “afastamento” de um dosacusadores, que se encontra aoserviço diplomático da Santa Sé, porcausa deste “ato grave de injustiça”.

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Vida Consagrada: Responsável doVaticano esteve em PortugalA 29.ª Semana de Estudos deEstudos sobre a Vida Consagrada,promovida pela Conferência dosInstitutos Religiosos de Portugal,contou com a presença doresponsável pelo setor no Vaticano,o cardeal João Braz de Avis. Ementrevista à Agência ECCLESIA,esta terça-feira, no encerramentodo evento em Fátima, orepresentante da Santa Sé falouacerca dos desafios atuais da VidaConsagrada e também do ano de2015, que o Papa Franciscodedicou especialmente a todosquantos enveredaram pela via da“pobreza, castidade e obediência”.A iniciativa vai começar já a serassinalada em novembro de 2014,para marcar o 50.º aniversário dapublicação de documentos como osdecretos “Perfectæ Caritatis”, sobrea renovação da vida consagrada, e“Apostolicam Actuositatem”,referente ao apostolado dos leigos.Até 2 de fevereiro de 2016, DiaMundial da Vida Consagrada, vãodecorrer “muitos eventos para osreligiosos e religiosas,

em Roma, nas dioceses, nosdiversos continentes”, realçou D.João Braz de Avis. O prefeito daCongregação para os Institutos deVida Consagrada e as Sociedadesde Vida Apostólica destacou a formadecidida como o Papa argentino“pegou” na proposta da realizaçãodesse projeto e a rapidez com que a“confirmou”. Segundo o prelado, aSanta Sé tem seguido com particularatenção o surgimento de “novasexpressões de Vida Consagrada”:Novos “movimentos eclesiais,religiosos ou apostólicos” que, “deum modo geral, têm provocado umgrande bem na Igreja”.D. João Braz de Avis recordou que avocação de toda a vida consagradaé “sobretudo ajudar” a sociedade “aexperimentar Deus".

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial a nível internacional, nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Santa Sé divulga calendário do Papa até à Páscoa

Audiência geral na Quarta-feira de Cinzas

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Judaica – 2ª mostra de cinema eculturaDe 27 a 30 de março próximodecorre a segunda edição da‘Judaica – Mostra de Cinema eCultura’ com todas as sessõesprogramadas para o Cinema S.Jorge, em Lisboa.O objetivo primordial da mostra é ode trazer até a Portugal filmesrecentes, na sua maioria inéditosentre nós, em génerosdiversificados que vão do dramahistórico à comédia, passando pelodocumentário. Além daprogramação cinematográfica, comsessões ‘oficiais’, especiais e paraescolas, são contempladas aindapropostas de partilha e debate emtorno dos filmes, propostasliterárias, musicais e gastronómicas.Entre os filmes a exibir na secção‘oficial’, destaca-se ‘O CardealJudeu’, um filme originalmenteconcebido para televisão, em tornodo qual se encontrarão o PadreJosé Tolentino de Mendonça,biblista e diretor do SecretariadoNacional da Pastoral da Cultura, eEliezer di Martino, rabino nasinagoga Shaaré Tikva (Portas daEsperança) de Lisboa. A história é ade Jean-Marie Lustiger, nascido emParis em

1926 e filho de emigrantes judeuspolacos, que manteve a suaidentidade cultural judaica apósconverter-se ao catolicismo e de serordenado padre. NomeadoArcebispo de Paris pelo Papa JoãoPaulo II, em 1981, estabeleceu umanova postura que respeitasse a suaidentidade enquanto judeu católico,contribuindo, inequivocamente eapesar do algum mau estarprovocando em setores de ambosos lados, para um entendimentosobre a pessoa una de Jesus Cristo,e da Igreja, na sua matriz judaica ecristã.Lustiger, de seu primeiro nomeAaron, que perdeu a mãe emAuschwitz, esteve em Lisboa em2003, a convite do Patriarcado noâmbito da preparação do ICNE(Congresso Internacional para aNova Evangelização. Aquando dasua passagem, em entrevista aojornalista António Marujo (disponívelna sua obra ‘Deus Vem a Público’),afirmou que ‘sem o judaísmo, ocristianismo ficaria truncado’ e que‘do ponto de vista cristão, oproblema da relação com o povojudeu é o teste da verdade do amora Cristo e da fé. Não é um problemade relação com

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alguém estrangeiro…’.Aprofundar o nosso conhecimentosobre a cultura, a história, aidentidade e a atualidade judaica,também parte da nossa matrizportuguesa, com séculos deatualização a clamar desde asténues impressões que ficaram,para muitos, dos manuais dehistória da escola ou, para outros,do que a indústria cinematográficaamericana oferece – sem qualquermenorização das narrativas doholocausto, acha agora excelenteoportunidade nesta mostra.Um novo ‘lugar do cinema’, deaprofundamento, encontro e partilhaonde poderemos ainda conhecer orealizador libanês convidado ZiadDoueri; ‘A Última viagem de PetrGinz’ - a extraordinária e comoventehistória verídica de um rapazchecoslovaco que, ao morrer numcampo de concentração na II Guerracom apenas dezasseis anos, deixaum legado composto por cincoromances, uma multiplicidade dedesenhos e pinturas e um diáriosobre a ocupação nazi de Praga;ou, ainda, interrogar-nos sobre aspossíveis origens da associaçãoentre ‘Os Judeus e o Dinheiro’

que muitos de nós fazemos, numdocumentário de origem canadianacomentado por Richard Zimler,Manuela Franco e Jorge Martins.

Margarida Ataíde

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Passo a rezar na netwww.passo-a-rezar.net Como é sabido, iniciamos napassada quarta-feira, dia 5 demarço, mais uma quaresma.Pensamos que uma das melhoresformas de nos prepararmos para aPáscoa do Senhor, é através daoração e meditação pessoal. Apesarde já não ser a primeira vez que oaconselhamos, torna-se inevitávelque, mais uma vez, façamos asugestão de visita atenta e cuidadaao sítio deste extraordinário projetocatólico nacional sustentado nainternet.Este projeto inspirado no sítio pray-as-you-go (originalmente concebidopelos Jesuítas Ingleses) daresponsabilidade do Apostolado daOração, pretende “chegar à culturada vida daqueles que rezam todosos dias e que, no encontro comJesus Cristo, ganham força paratransformar o mundo”.O conceito subjacente a esteespaço virtual passa peladisponibilização de um ficheirogratuito em formato de áudio, quepode ser guardado no computadore distribuído pelas diferentesplataformas e dispositivos

(email, leitor de música digital, pendrive, smartphone, tablet, etc.). Estearquivo áudio é composto por “umaprece diária de 10 a 12 minutos,com música de fundo, introdução,uma leitura – normalmente oEvangelho do dia – e pontos deoração inspirados na espiritualidadede Santo Inácio de Loyola”.Logo na página inicial temos aodispor os registos áudio dasorações distribuídas pelos dias dasemana de segunda a sexta, sendoainda permitido a possibilidade dedescarregarmos um ficheiro únicoque é composto por todas asorações dessa semana. No item“quem somos”, ficamos a conhecera equipa que compõe este projectoda iniciativa do SecretariadoNacional do Apostolado da Oração,uma obra da Companhia de Jesus(jesuítas) que se dedica à promoçãoda oração pessoal. Em “Inácio deLoyola”, conhecemos um pouco dahistória da conversão deste Santoda Igreja. Na opção “músicas dasemana”, descobrimos quais são ascomposições musicais que fazemparte da cada oração diária, paraisso, encontramos todas

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as informações relativas a cadamúsica. Caso pretenda automatizara descarga regular das oraçõesdiárias, basta efectuar a subscriçãodo podcast, que “em vez de irmosao sítio buscar um ficheiro diária ousemanalmente, pode-se deixar odispositivo de podcast (software)fazê-lo automaticamente”.Fica lançado o repto para queaceda diariamente, durante estaquaresma, a este espaço virtual,realizando assim a sua oração deuma forma diferente e bastanteenriquecedora.

Fernando Cassola Marques

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Libellus: A nova revista de músicasacraÉ sob o auspício de “cultura paracultura” que nasce a revista demúsica sacra «Libellus» que temperiodicidade semestral e pretendeser um alicerce musical nos temposactuais.“Uma cultura do ser musical que sequer excelente ao serviço do agircultural muito próprio e intrínseco daIgreja”, lê-se no texto introdutório.Com diferentes olhares musicais,«Libellus» reúne em si 12composições inéditas de váriosgraus de complexidade e/ousimplicidade que estão ao alcancede um vasto número de pessoasquer tenham formação no âmbitomusical ou não.Acima de tudo, nesta obra procura-se que na "música sacra, Deus sejasempre louvado de maneiracompreensível à culturacontemporânea.”Esta publicação lança novo espaçoaos compositores cujoreconhecimento é inegável e assina,também, as participações de novasvozes no contexto da composiçãosacra e litúrgica do panoramanacional.

Do gregoriano à polifonia, dos jogosde timbres vocais aosacompanhamentos organísticoscontrastantes, cabem em «Libellus»a diversidade e originalidade quevêm marcar, de forma decisiva, opanorama da música sacra emPortugal.De forma sui generis, o editorial doprimeiro número do «Libellus» abrecom a conjugação dos diversosgraus de perfeição em músicasacra. Um olhar conciso que sededuz a partir do inexcedível poderde síntese da morfologia latina numpasso de Santo Agostinho e nosleva numa viagem recheada decenários e momentos que, de umaforma ou outra, serão algo familiaresao leitor.“Verdadeira ponte, de Cultura paraCultura, é esta que nos honramosde inaugurar sob o nome de LibellusUsualis. O nome alude a esse estojoprecioso que é a colação da Missa edo Ofício num só livro, que se queriapara uso frequentíssimo dosmúsicos ministros do culto. Odiminutivo põe-se pela humildeaspiração

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à mímesis. Mas não deixa de sertambém, da parte dos autores, umatapeínosis merecedora do aplausodo seu público, a saber, todosaqueles que aspiramos outrabalhamos para que, na MúsicaSacra, Deus seja sempre louvado

de maneira compreensível à Culturacontemporânea”, lê-se na revista.

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II Concílio do Vaticano:O carácter «laborioso e complicado»das discussões conciliares

A 04 de Dezembro de 1963, o Papa Paulo VI,sucessor de João XXIII, ao encerrar a segundasessão do II Concílio do Vaticano, promulgou oprimeiro documento oficial da grande assembleia: AConstituição sobre a Sagrada Liturgia«Sacrosanctum Concilium» (SC). O Papa evoca ocarácter “laborioso e complicado” das discussõesconciliares, mas rejubila com o nascimento da SC. Onovo documento vai introduzir “algumassimplificações no culto, torná-lo mais compreensívelaos fiéis e mais próximo da sua linguagem actual” (In:Fesquet, Henri «O Diário do Concílio», volume 1,página 356, Publicações Europa-América).No entanto, antes da «Sacrosanctum Concilium» vera luz do dia, os padres conciliares tiveram muitotrabalho preparatório. Em Outubro de 1960 foiconstituída uma comissão, com 13 subcomissões,presidida pelo cardeal G. Cicognani e depois pelocardeal A. Laraona, que elaboraram um documentoapresentado à comissão central do Concílio, naPrimavera de 1962. “O tema da renovação daLiturgia da Igreja ocupou 15 assembleias plenárias,tendo havido 326 intervenções orais, cerca de 600escritas, resultando em centenas de emendas aotexto apresentado” (In: Morujão, Manuel «Ser Cristãoà luz do Vaticano II, página 65, Editorial A.O. Braga).Um documento “profundamente inovador de

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hábitos seculares” teve umaunanimidade considerável. No livro«Vivre la foi avec le Concile VaticanII, Rey Mermet considera estaaprovação como “a maior reformalitúrgica de todos os tempos” e quefoi também “a maior reforma dospróprios cristãos”. A relação final doSínodo Extraordinário dos Bispos,em 1985, celebrando os 20 anos daconclusão do concílio convocadopelo Papa João XXIII, afirma que a“renovação litúrgica é fruto maisvisível de toda a obra conciliar”.Para muitos cristãos, o II Concílio doVaticano como que se resumiu àreforma litúrgica que pôs emandamento: “a Eucaristia e outrossacramentos tornaram-seacessíveis em língua comum; osacerdote passou a celebrar voltadopara o povo; o ambientedistanciante de mistério de umacelebração litúrgica tornou-se maispróximo e fraterno. A renovaçãolitúrgica foi como que o fermento darenovação global de toda a Igreja”(In: Morujão,

Manuel «Ser Cristão à luz doVaticano II, página 66, Editorial A.O.Braga).É o próprio João Paulo II que afirma,em Fevereiro de 1980, que existe,“de facto, uma ligação muito íntima eorgânica entre a renovação daliturgia e a renovação de toda a vidada Igreja. A Igreja não somente age,mas exprime-se também na liturgia edela vive; e à liturgia vai buscar asenergias para a vida”.Se o II Concílio do Vaticano, que seconcluiu há cerca de 50 anos, nãotivesse feito “mais nada do que pôrem andamento a reforma litúrgica,só por isso ficaria na história. É quea vida litúrgica é um justo aferidordo nível da vida cristã de um pessoaou comunidade”, escreveu o padreManuel Morujão, na obra citadaanteriormente. Por outro lado, HenriFesquet escreveu “há que sacudir opó imperial que se acumulou sobrea cátedra de São Pedro desdeConstantino”.

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Março 2014Dia 07* Algarve - Alvor (Igreja daMisericórdia de Alvor) (18h00m) - Tertúlia sobre «Igrejas de Alvor:Singularidade, relação com o meio eturismo». * Leiria - Ourém (salão paroquial deNossa Senhora da Piedade)-Conferência sobre «Os desafiospastorais sobre a família nocontexto da evangelização» porMargarida Neto. * Aveiro - Avanca (Centro paroquial)(21h30m) - Debate sobre«Divorciados, recasados: Integradosna Igreja?» pelo padre GeorginoRocha e o professor Universitário,Carlos Borrego. * Bragança - Casa Episcopal -Conselho Presbiteral.* Lisboa - Lançamento do livro «Ummundo que falta fazer», antologia decrónicas de frei Bento Dominguescom organização de António Marujoe pela irmã Maria Julieta MendesDias com a chancela da «Temas &Debates».* Porto - Igreja de Nossa Senhorada Areosa - Celebração do diamundial da oração «Manaciais dodeserto».

* Aveiro - ISCRA - Início da acção deformação sobre «Desafios actuais àtrilogia educativa: pais-filhos-escola» orientado por DárioTavares, director pedagógico doColégio de Mogofores.* Coimbra - Casa de Retiros dePenacova - Retiro da Quaresmapromovido pelo SecretariadoDiocesano de CoordenaçãoPastoral com orientação do padreAlexandre Pinto dos Santos. (07 a09)* Fátima - Abrigo de PeregrinosPaulo VI - Estágio da Orquestra «OsViolinos da Verney». (07 a 09)* Fátima - Encontro nacional dasMissionárias do Amor Misericordiosodo Coração de Jesus. (07 a 09)* Fátima - Encontro nacional doMovimento Famílias de Nazaré. (07a 09)* Braga - Salão nobre do Museu PioXII - Exposição «Via Crucis - ViaLucis». (07 a 20 de abril)

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Dia 08* Dia da Mulher.* Vaticano - Iniciativa «Vozes de fé,tornar visíveis as mulheresinvisíveis» para celebrar o dia damulher.* Guarda - Museu da Guarda -Abertura da exposição sobre apresença da Ordem Hospitaleira deSão João de Deus na Diocese daGuarda.* Coimbra - Centro Pastoral RainhaSanta (15h00m) - Sessão «Comoser família no mundo de hoje» porAlexandre Mendes e promovidaParóquia de Santa Clara.* Beja - Instalações da CáritasDiocesana de Beja - Assembleiageral da Cáritas de Beja.* Porto - Igreja evangélicametodista do Mirante - Celebraçãodo dia mundial da oração«Manaciais do deserto».* Coimbra - Teatro Académico de GilVicente (21h30m) - Concerto«Coimbra Solidária» para o FundoSolidário e Grupo Mateus 25. * Leiria - Aula magna do SeminárioDiocesano de Leiria (15h00m) - Ação de formação sobre oRegulamento da Administração dosBens da Igreja (RABI) e outrosassuntos de natureza legal e fiscalreferentes administração dos bensmateriais das comunidades cristãspelo padre Cristino Saraiva.

* Évora - Seminário de Évora -Jornada Diocesana do Apostoladoda Oração.* Leiria - Seminário de Leiria - Acçãode formação para catequistas sobre«Olhares de Fé» orientada pelopadre Rui Ribeiro. * Évora - Auditório da Escola dosSalesianos - Encontro sobre «Omundo hoje! Que desafios para aeducação?» dinamizado por freiFernando Ventura e promovido peloagrupamento 320 do CNE.* Lisboa - Reunião da ComissãoDiocesana da Escola Católica comD. Joaquim Mendes.* Lamego - Vários locais da diocese- Dia de vivência quaresmalpromovido pelo SecretariadoDiocesano da Pastoral Juvenil.* Lisboa – Mosteiro dasDominicanas do Lumiar – Iniciativa«O pórtico da segunda virtude» (deCharles Péguy) lido e comentadopor Luís Miguel Cintra. * Fátima - Encontro da AcçãoCatólica Rural (ACR) da Diocese deSantarém. (08 e 09)* Fátima - Centro Pastoral Paulo VI - Encontro/Peregrinação Nacional daCPM Portugal com o tema «O casalna Igreja e no Mundo». (08 e 09)

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Decorre este fim-de-semana no Centro Pastoral Paulo

VI, em Fátima, o Encontro/Peregrinação Nacional daCPM Portugal com o tema «O casal na Igreja e noMundo». O encontro destina-se a todas as equipasde CPM que queiram refletir sobre a temática,colocando o casal cristão no centro da vida emsociedade. A diocese de Aveiro junta-se em celebração deação de graças pelo ministério episcopal de D.António Francisco dos Santos este domingo,numa missa às 17h, na Sé Catedral. A 19 demarço, pelas 21h00, vai decorrer a sessãopública de agradecimento com apresentação dolivro ‘Diocese de Aveiro - Subsídios para a suahistória’, da autoria de Monsenhor João Gaspar,no Auditório da reitoria da Universidade deAveiro. O prelado em abril vai assumir a missãode bispo do Porto. No próximo dia 9 de março o Papa Francisco daráinício aos tradicionais exercícios espirituais da CúriaRomana que, este ano, têm uma novidade: vãodecorrer fora do Vaticano, em Albano Laziale,localidade dos arredores de Roma. No dia 13 de março celebra-se o primeiro ano depontificado do Papa Francisco e na Sé de Lisboavai haver um concerto de homenagempromovido pela Paulus Editora, Patriarcado deLisboa e Rádio Renascença. Os Coros daCatedral de Lisboa e da Escola Diocesana deMúsica Sacra do Patriarcado vão ser dirigidospor Marco Frisina, compositor italiano econvidado especial para o concerto.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 09 - Pontificadodo Papa Francisco: um emrevista. RTP2, 18h00Segunda-feira, dia 10 -Entrevista a Joaquim Cadetee André Costa Jorge sobre opontificado do PapaFrancisco;Terça-feira, dia 11 -Informação e entrevista aAlfredo Bruto da Costa sobreo pontificado do Papa Francisco;Quarta-feira, dia 12 - Informação e entrevista aocónego João Aguiar sobre o pontificado do PapaFrancisco;Quinta-feira, dia 13 - Informação e entrevista a Antóniomarujo sobre o pontificado do Papa Francisco;Sexta-feira, dia 14 - Apresentação da liturgia dominicalpela irmã Luísa Almendra e cónego António Rego Antena 1Domingo, dia 09 de março, 06h00 - Proposta dosMissionários da Consolata na Quinta do Castelo.Comentário à mensagem do Papa para a Quaresma.Atualidade vista por José MIguel Sardica.Segunda a sexta-feira, 22h45 - 10 a 14 de março - Umano de pontificado do Papa Francisco: análise deAlfredo Teixeira, Eugénio Fonseca, D. José Ponce deLéon, Cristina Sá Carvalho e Frei Francisco Sales.

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O que é o pecado?

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Ano A - 1º Domingo da Quaresma Caminhar dascinzas para aluz pascal

Estamos no primeiro Domingo da Quaresma, tempo decaminhada de vida, levados pela Palavra de Deus.Esta convida-nos à conversão, a recolocar Deus nocentro da nossa existência, a aceitar a comunhão comEle, a escutar as suas propostas, a concretizar nomundo, com fidelidade, os seus projetos.O gesto das cinzas de quarta-feira deu início a esteprocesso: recordou-nos que somos nada, somos pó,somos cinzas que é preciso renascer. É na nossahumanidade, no húmus da terra do ser, é no nossocoração que a conversão se decide, como resposta aodom da presença de Deus. Os gestos ditos exteriores– renúncias, asceses, penitências, sacrifícios, jejuns eabstinências – só fazem sentido na interioridade donosso ser, onde habita Deus. Somos convidados afazer das cinzas do nosso ser a passagem de fundopara a luz pascal.Aí está a primeira leitura, Palavra vinda das origens, aafirmar que Deus criou o homem para a felicidade epara a vida plena. Se dele prescindimos e nosfechamos em nós próprios, inventamos esquemas deegoísmo, de orgulho e de prepotência, construímoscaminhos de sofrimento e de morte. Daí a conversão,hoje e sempre.A segunda leitura propõe-nos dois exemplos: Adão eJesus. Adão representa o homem que escolhe ignoraras propostas de Deus e decidir, por si só, os caminhosda salvação e da vida plena; Jesus é o homem queescolhe viver na obediência às propostas de Deus eque vive na obediência aos projetos do Pai. Somoslivres de escolher,

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é certo. Mas se vamos por Adão,ficamos fora do processo doseguimento de Cristo.E o Evangelho apresenta, de formamais clara, o exemplo de Jesus. Elerecusou, de forma absoluta, umavida vivida à margem de Deus. Umavida que ignora os projetos de DeusPai e aposta em esquemas só derealização pessoal é uma vidaperdida e sem sentido. O cristãodeve rejeitar firmemente toda atentação diabólica de ignorar Deuse as suas propostas.A vida é decisão. Depois donascimento, em cada dia decidimosviver. Decidimos comer, trabalhar,repousar, cuidar, ter tempo delazer… Diante de tantascontrariedades que é preciso

aceitar, assumir, ultrapassar,também é preciso decidir. A maiorparte de nós não decidiu serbatizada; outros fizeram-no por nós.Mas depois, decidimos crer, rezar,aprofundar a nossa fé, viversegundo o Evangelho. Muitosoutros, na nossa própria famíliatalvez, decidiram de modo diferente.Nesta semana, decidamos dar umpasso ao encontro de Deus. Comtoda a liberdade. Façamos destasemana a semana da liberdade, ados filhos de Deus. Deus quer-noslivres. Quer que vamos até Ele, emplena liberdade do nosso ser, dascinzas à luz pascal. Não háquaresma sem Páscoa.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Tanzânia: Será este o novo alvo dos radicais islâmicos?

Dias de medo em ZanzibarAtaques com motivação religiosacomeçam a ser cada vez maisfrequentes na Tanzânia,especialmente no arquipélago deZanzibar, onde um grupo terroristaquer implantar um Estado islâmico.Alvo principal das ameaças: acomunidade cristã.Já são vários os ataques contracristãos nestas duas ilhas (Zanzibare Pemba) que compõem um estadosemiautónomo da Tanzânia e quefazem temer um crescendo deviolência instigada por diversosgrupos radicais islâmicos.O Bispo D. Augustine Shao falamesmo de uma “onda deintolerância” religiosa a queninguém parece estar a salvo.“Alguns defendem que a maioriaislâmica não deve tolerar quaisqueroutras religiões”, afirma o prelado,recordando ameaças que foramsendo proferidas contra “sacerdotese bispos”. E que se cumpriram. OBispo de Zanzibar, D.AugustineShao, fala numa onda de medo nacomunidade cristã. “Todos têm

receio: sacerdotes, religiosas,paroquianos… Até eu tenho medo.Vivemos como se fossemosdelinquentes que querem capturar”,diz o prelado à Fundação AIS.A comunidade cristã na Diocese deZanzibar é pequena. Não são maisdo que cerca de 10 mil fiéis,inseridos numa população de quase1 milhão de habitantes, de maioriamuçulmana. Mais ataquesDurante os últimos tempos, houvevários ataques a igrejas, tendomuitas delas sido incendiadas. Umadata ninguém esquece: 28 de Maiode 2012. Decorria uma Missa emZanzibar quando um grupo dejovens extremistas islâmicos entrouno templo, armados de paus ebarras de ferro, e, sem que alguémtivesse sequer tempo para reagir,deitaram fogo aos bancos da igreja,partiram portas, destruíram cálices,vandalizaram a sacristia. Imagine-seo pânico que se instalou entre osCristãos. Em Agosto de anopassado, duas

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jovens inglesas, de 19 anos, que seencontravam em Zanzibar emtrabalho voluntário, foram atacadascom ácido no rosto e nos braços emplena zona histórica da cidade. Despertar para a violênciaO Bispo Barnardin Mfumbusa, quese encontra há três anos à frente daDiocese de Kondou, no coração daTanzânia, teme uma radicalizaçãoda violência religiosa. Diz ele à Fundação AIS: “A Tanzânia temuma população maioritariamentemuçulmana. Um grupo, conhecidocomo Uamsho, que quer dizer'despertar', tem vindo a incitar àviolência, especialmente emZamzibar.Têm aparecido panfletos commensagens contra os Cristãos. Atéjá foi encerrada uma emissora derádio por incitamentos à violênciareligiosa”.Separar Zanzibar da Tanzânia einstaurar aí um Estado islâmico,parece ser o propósito destes

grupos radicais. Por causa disso,também neste país os cristãos sãoameaçados pelo extremismoislâmico. Uma tendência que temvindo a ganhar contornosalarmantes nos últimos anos. Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Mulher com Missão

Tony Neves

Foi na África que eu percebi melhor aimportância da mulher na sociedade e na Igreja.É curioso isto porque todos sabemos que, regrageral, boa parte de África é muito machista e oshomens acham que mandam em tudo e todos,incluindo nas mulheres. Como se enganam…A mulher em África é o pilar da sociedade. Ela équem educa e isso diz tudo, ou quase. Em muitospaíses, a família nuclear, como a pensamos naEuropa, quase não existe e o que vale é a famíliaalargada. O que quer dizer que muitas meninasde 15 ou 16 anos começam por ser mães e, naprática, são as avós e bisavós que seencarregam da educação. A figura paterna, namaioria dos casos, está ausente ou, pelo menos,não tem muito impacto na vida das crianças.Quantas vezes não vi mulheres a trabalhar noscampos, a transportar água ou lenha levando acriança nas costas. Esta relação que se cria napresença constante dá á mãe um lugar na vidados filhos que os pais nunca ousarão contestar.E se é verdade que a mãe africana marca o ritmodo crescimento dos filhos, também é certo que amulher desempenha um papel fundamental naIgreja. Sempre presente na vida da comunidadecristã, ela garante a participação das criançasnas celebrações e catequeses e serve de ligaçãoentre a comunidade e a Missão. Há momentos nahistória dos povos onde elas se levantam eimpõem as suas convicções. Recordo

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apenas, a título de exemplo, asmulheres angolanas que fundarama PROMAICA (movimento para apromoção da mulher angolana naIgreja católica) que seria, na minhaopinião, o movimento que levaria àpacificação de Angola, pois gritavamcontra a morte dos maridos e filhosnas linhas da frente dos combates.Estive recentemente na América doSul e percebi que a vitalidade dascomunidades de base dependemuito das mulheres. Em muitoscasos, tal como na Europa, são elasque mais lideram os

serviços das Paróquias e Missões ese responsabilizam pela transmissãodos conteúdos da Fé às novasgerações, mesmo quando osmaridos não ligam nada à Igreja eaté, nalguns casos, são do contra.Por ocasião do Dia Mundial daMulher, a 8 de março, queriaprestar-lhes uma grandehomenagem e dizer a cada uma queo mundo é mais terno e a Igrejamais fraterna por causa dasmulheres. Por isso, repudio toda adescriminação e violência de quemuitas são vítimas por esse mundoalém. Há que lhes dar mais vez evoz, para bem de todos.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Como dizer a quem não tem trabalho e tem filhos: “Felizes ospobres”?... Como dizer aos excluídos: “Felizes os que têmfome e sede de justiça”?...Como dizer às vítimas: “Felizessereis quando, por minha causa, vos insultarem, vosperseguirem e vos caluniarem”?Se queres evitar que as palabras saibam a gozo, ironia ouofensa, talvez mais que perguntar como se pode dizer sejaconveniente perguntar quem o pode dizer.Notarás que o disse um pobre aos pobres, um excluído aosexcluídos, uma vítima às vítimas. Notarás que o disse quemse fez pobre pelos pobres; quem, por ti, desceu até à tuapobreza para te fazer justiça e te enriquecer com a suariqueza!...

(Mons. Santiago Agrelo)

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