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04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Opinião: D. Manuel Linda18 - A semana de... Octávio Carmo20 - Dossier Natal46- Internacional52 - Sínodo dos Bispos

54 - Multimédia56 - Estante58 - Vaticano II60 - Agenda62 - Por estes dias64 - Programação Religiosa66 - Pastora Juvenil68 - Liturgia70 - Pastoral da Saúde72 - Ano da Vida Consagrada78 - Fundação AIS80 - Lusofonias82 - Opinião: Manuel de Lemos

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Por um mundosem escravos[ver+]

Parlamentodistingue JRS-Parlamento[ver+]

Viver e cantar oNatal[ver+]

Paulo Rocha | D. Manuel Linda |José Carlos Patrício|FernandoCassola Marques |Manuel Barbosa|Paulo Aido Tony Neves | Pedro Gil

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Esparguete à bolonhesa pelo Natal

Paulo RochaAgência ECCLESIA

A história vai ser contada na televisão, num dosprogramas Ecclesia a emitir na semana do Natal.Insere-se na apresentação de vivências daquadra natalícia, sempre únicas para cadapessoa, família ou comunidade e quase sempreinspiradas no nascimento que inaugura umanova era na humanidade, o nascimento de JesusCristo.A escritora Alice Vieira tem um especial gosto porreunir presépios que representam culturasdiversificadas. Predominam as africanas porquesão muitos os missionários que lhe oferecemvárias formas de apresentar Jesus com Maria eJosé e ganha um relevo crescente o imagináriodos netos na forma de apresentar história donascimento de Jesus, onde até se incluem meiosde socorro para o Menino, caso sejamnecessário nos primeiros dias de vida.A referência à escritora não acontece por causados presépios, mas pela forma como apresentouo Natal vivido em família: a Noite é passada emcasa de um filho, com os sabores tradicionais, eo almoço do Dia na da filha, onde o pratoapresentado é sempre esparguete à bolonhesa.Não por qualquer capricho, apenas porque énoutros gostos que não o culinário que exploradons recebidos... Mas essa circunstância não é,de todo, um impedimento para que se viva oNatal, em família (e convenhamos que para osmais novos é mesmo um ajuda para fazer festa!).A este ciclo familiar acresce ainda o dos amigos:o fim do dia de Natal é em casa da escritora,onde reúne amigos e também quem não temamigos.

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Um apontamento circunstancial queapenas quer ser uma ilustraçãoentre muitas que atesta a certezaafirmada cada vez com maisargumentos: o que se vive, diz oufaz nestes dias tem por referênciaapenas uma Pessoa, Jesus deNazaré. Mesmo quando Ele nãoemerge como protagonista do quevai acontecendo ou não consta dediscursos ditos ou escritos, ésempre a referência das emoçõesdesta quadra (e de todas, afinal).Sons, cores, sabores, luzes, fitas,bolas, imagens e pinheiros, tudo éalusão do Natal, uma “marca” docristianismo com um potencial

de exploração enorme. Motivode orgulho, sem dúvida, e sobretudoum desafio para os “titulares” da“marca Natal”: todos os cristãos.Com uma “marca forte” e umambiente favorável, o Natal ofereceaos que seguem a proposta de vidaque nasceu numa gruta de Belémuma oportunidade única de aanunciar. E não serão outrasmúsicas ou palavras a calar amensagem que marcou a história aolongo de mais de 2000 anos. Bastaque seja proclamada nos sons ecores que preenchem o ambientenatalício. Sem reservas!

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"Assume-se que o turismo nacionalque chega a Lisboa, não chegarágenericamente por via aérea,chegará via carro e de comboio oude outras formas de transporte, epor isso todos os residentes emterritório nacional estarão isentos."Fernando Medina, vice-presidenteda CM de Lisboa, sobre a TaxaMunicipal Turística a partir de 2015(Rádio Renascença, 10 dezembro2014)

“Asia Bibi apenas cometeu duasfaltas, ter bebido água de um poçocomo camponesa e a outra foi sercristã.” Deputado do CDS/PP, JoséRibeiro e Castro, esta quarta-feira,num encontro da Fundação Ajuda àIgreja que Sofre e da editoraAlêtheia.

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“Veja bem a dificuldade: substituiruma marca que tem 145 anos dehistória por uma marca branca ecom símbolo inicial efémero.” Antigopresidente do Banco Espírito Santo,Ricardo Salgado, esta terça-feira,na Comissão de Inquérito naAssembleia da República.

“Quem governa não pode olhar sópara os aspetos materiais docrescimento económico, tem queolhar para as pessoas. Todo ocrescimento só faz sentido se estiverao serviço das pessoas e não é issoque tem acontecido.” Presidente daCáritas Portuguesa, EugénioFonseca, em entrevista à AgênciaECCLESIA na RTP2 (8 dezembro2014)

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JRS-Portugal distinguidona Assembleia da RepúblicaO Serviço Jesuíta aos Refugiados(JRS) em Portugal recebeu estaquarta-feira na Assembleia daRepública uma medalha de ourocomemorativa do 50º aniversário daDeclaração Universal dos DireitosHumanos.No discurso da cerimónia, o diretordo JRS, André Costa Jorge, realçouo papel desta instituição que selançou “na aventura de estar aolado dos mais vulneráveis e dosmais pobres”.“Acompanhar, servir e defender osrefugiados, migrantes e todas aspessoas deslocadas à força dosseus países de origem, territórios efamílias”, referiu.A vaga de migrantes do lesteeuropeu e da Ásia que Portugalacolheu, no final da década de 90do século passado motivou o JRS ainiciar “um conjunto de serviçosalargado” que teve o contributo de“muitos voluntários”, sublinhou odiretor.Os trabalhos “de apoio jurídico”,“médico e medicamentoso” eformação na língua portuguesa paraestrangeiros foram algumasatividades lançadas pelo ServiçoJesuíta aos Refugiados.O júri do Prémio Direitos Humanos,

constituído no âmbito da Comissãode Assuntos Constitucionais,Direitos, Liberdades e Garantiasdecidiu distinguir o JRS, "umaorganização especializada emmigrações que desenvolve umaforte ação no terreno, na defesa dosdireitos e na integração dapopulação imigrante em situação degrande vulnerabilidade", bem como"na promoção do diálogo em tornoda imigração, diversidade einterculturalidade".O Serviço Jesuíta aos Refugiados(JRS – Jesuit Refugee Service,designação em inglês), tem comomissão “acompanhar, Servir eDefender” pessoas e famíliasrefugiadas, deslocadas ouemigradas da sua terra natal.André Costa Jorge assinalou que,atualmente, estão a exercermedicina em Portugal “cerca de 200médicos imigrantes” que tiveramapoio do JRS e da FundaçãoCalouste Gulbenkian.Nos últimos tempos, o JRS tem sidouma organização parceira do Estadoportuguês “no acolhimento derefugiados” e desenvolveuiniciativas “na proteção derequerentes de asilo e dosmigrantes irregulares”.

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No contexto europeu, o ServiçoJesuíta aos Refugiados estápresente em 14 países e em zonas“fortemente atingidas pelofenómeno das migrações emmassa”, como Malta, Grécia e Itália.No ano transato, o diretor dainstituição em Portugal referiu queforam acompanhados “meio milhãode migrantes” em todo o mundo,com presença na Europa, Ásia eAmérica.André Costa Jorge apelou aosportugueses e, em especial, aosdeputados, “para que semantenham fiéis aos valoresfundamentais subjacentes àdemocracia e que

mostrem solidariedade concretapara com os migrantes e refugiados”.Para além do JRS, o júri do PrémioDireitos Humanos, constituído noâmbito da Comissão de AssuntosConstitucionais, Direitos, Liberdadese Garantias distinguiu também oInstituto de Apoio à Criança (IAC) eMaria Regina Tavares da Silva.Fundada em 1980, a organizaçãointernacional da Igreja Católica soba responsabilidade da Companhiade Jesus conta com cerca de 1400colaboradores e está presente emcerca de 50 países.

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Arcebispo de Braga criticacomportamentos manchados pelacorrupçãoO arcebispo de Braga alertou paraa necessidade de “construircomunidades verdadeiras onde aentreajuda e a partilha destruam apobreza e trabalhem pelaintegração de todos os cidadãos”.Na celebração da memória de SãoGeraldo, padroeiro da cidade deBraga, D. Jorge Ortiga abordoudiversas realidades que podemajudar este sonho a sair da sombra,a começar pela realidade política.“Não precisará a política da luz da fée não deverão os políticos cristãosser protagonistas de uma açãorenovadora da sociedade?”,questionou o prelado na suahomilia, enviada à AgênciaECCLESIA.Inspirado na parábola do“administrador fiel e prudente”,retirada das leituras do dia,o arcebispo de Braga lembrou que

a política é uma "vocação" e realçoua importância de colocar “o bemcomum” acima de “interessespessoais” e de erradicar“comportamentos manchados pelacorrupção”. “Creio não serinoportuno, e muito menosinterpretado como intromissão emcasa alheia, reconhecer anecessidade de políticos – homense mulheres – que, sem rótulosartificiais, se assumam comoconstrutores ativos de umasociedade mais digna”, disse D.Jorge Ortiga.O presidente da ComissãoEpiscopal da Pastoral Social eMobilidade Humana apontou depoispara a urgência de uma sociedadeonde “a solidariedade” seja “práticaquotidiana”, onde a “vida social”seja “marcada pela liberdade”, onde“a família” seja “protegida edefendida como célula vital” dahumanidade.

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Dimensão evangelizadora da família

O padre Andrea Ciucci, do ConselhoPontifício para a Família (Santa Sé),esteve em Portugal, a convite daPaulus Editora, na conferência«Família e Transmissão da Fé», eapelou à “pastoral evangelizadoradas famílias”.“Estou firmemente convencido deque os primeiros evangelizadoresdas famílias não-praticantes eindiferentes à proposta cristã são asfamílias crentes, as suas palavras, oseu exemplo, e que tudo issoacontece muitas vezes fora dosmuros da paróquia”, disse, na suaintervenção em Lisboa.O sacerdote explicou que estadimensão evangelizadora não émais um empenho que a “Igreja põeàs costas das famílias”, mas aexplicitação da estrutura dosacramento do matrimónio.

O processo de secularização e afalta de transmissão da fé em váriasfamílias são as razões apontadaspara existir um “acesso diferente àexperiência cristã”.“Uma pastoral que apoie as famíliasevangelizadoras das novasgerações e das famílias afastadasdescobre-se mais rica e mais alegre,capaz de apoiar também osmomentos mais trabalhosos daexistência e as passagens decisivasda experiência eclesial. É naverdade em família que se aprendea acolher a novidade inaudita efecunda do outro e a companhiarecíproca no amor”, explicou opadre Andrea Ciucci.A duas conferências sobre o tema«Família e Transmissão da Fé»estavam inseridas nascomemorações dos 60 anos darevista ‘Família Cristã’.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Diocese do Funchal encerra comemoração dos 500 anos de criação einaugura monumento evocativo

Festival Nacional Jovem da Canção Mensagem 2014

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Mensagem de Natal“Ele é a nossa paz” (Ef 3, 14)

D. Manuel LindaBispo das ForçasArmadas e das Forças deSegurança

No conhecido e belíssimo conto “Os três reis doOriente”, a grande poetisa católica Sophia deMello Andresen escreve que, já madrugada,depois de um lauto banquete e de os convivas seterem retirado, o rei Baltasar deu umas voltas apé, nos jardins do palácio, para rememorar afesta acabada de acontecer e ajudar a difícildigestão. É então que depara com um homemjovem, encostado a um muro. Pergunta-lhe quemé. Mas este apenas consegue balbuciar que temfome. O rei imediatamente se prontifica a servir-lhe toda a comida que ele deseje. E manda-oentrar para o palácio. Porém o mendigo imaginouque, estando indocumentado em propriedadereal, certamente seria preso. Desconfiou do rei efugiu em louca correria. Baltasar ordenou aosseus guardas que procurassem o jovemesquálido, esfomeado e roto e que oconvencessem que o rei apenas pretendia dar-lhe de comer. Ao fim do dia, os guardasregressaram dizendo que não conseguiramidentificar tal homem, pois mais de metade dacidade se encontrava em semelhantescondições. E o rei sofreu com a realidade que eledesconhecia.Na manhã seguinte, Baltasar foi à esplanada dostemplos pedir o auxílio dos deuses para ospobres e sofredores. Aproximou-se de todos osaltares, dos dos desuses da riqueza, do poder,da glória, do comércio, da fertilidade, dasabedoria… Mas em nenhum viu referência aossofredores. Encontrou os responsáveis pelostemplos e pediu-lhes:

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“Dizei-me onde está o altar do deusque protege os humilhados eofendidos para que eu o implore eadore”. Ao fim de longo silêncio,responderam: “Desse deus nadasabemos”. Nessa noite, Baltasarsubiu ao terraço do palácio, olhoupara o céu, na direcção de umaestrela mais brilhante e que semovimentava lentamente e rezouassim: “Senhor, eu vi. Vi a carne dosofrimento, o rosto da humilhação, oolhar da paciência. E como podeaquele que viu estas coisas não tever? E como poderei suportar o quevi se não te vir?”.

Caros amigos, não é da minhamaneira de ser passar a vida a dizermal do nosso mundo. Mas há queencarar a realidade de frente. E oque por aí vemos é que muitos seprostram demasiadamente diantedos altares dos falsos deuses, dosídolos que não libertam, masoprimem. Por isso, não chegam acontemplar o verdadeiro rosto deDeus porque O não descobrem noirmão carente. Não «vêem» a Deusporque fecham os olhos aossofrimentos dos irmãos ou nãosuportam o que vêem porque seprivam da força d’Aquele que

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redime o mal pela sua cruz. Cultuamao deus do êxito. Como tal, do Deusverdadeiro têm de confessar comoos pagãos: “Desse deus… nadasabemos”.A forma como estamos a celebrar oNatal faz-nos compreender isto.Deixamo-nos possuir por um sem-número de preocupações ecorrerias e… nem sequer pensamosque o Natal é o nascimento doMenino Jesus, o Filho que o Paienvia a visitar o seu povo; fazemosiluminações e a nossa almacontinua às escuras; armamospresépios e fechamos o coração aoDeus-Menino; colocamos lá asfiguras da família de Nazaré e nadafazemos para que a nossa se tornemais sólida; representamos ospastores pobremente vestidos e emnada nos comprometemos com agrande multidão dos carenciados;suspendemos um anjinho de barrocom a faixa onde se lê “Glória aDeus nas alturas e paz na terra aoshomens que Ele ama” e nem damosglória a Deus pela prática dos actosreligiosos –nem sequer pela Missade Natal- nem somos construtoresda paz porque o seu fermento nãoreside dentro de nós. Foi assim nopassado e é assim hoje; dá-se istoem nós e

acontece no mundo que nos rodeia.Porque se cultuam falsos altares,tivemos e temos de conviver com«eras do massacre», com o terrorem estado puro, quer esse terror sechame «Grande Guerra», da qualcomemoramos o centenário, quer setrate do «califado islâmico do Isis».Seria ocasião de voltar às palavrasde Baltasar: “E como podereisuportar o que vi se não te vir?”.Alguns anos depois do verdadeiroNatal, Paulo de Tarso, aquele queantes «não via porque não O via» edepois que O viu passou atestemunhá-l’O apostolicamente, aorememorar a obra e a acção deCristo, escrevia assim: “Ele é anossa paz. Ele destruiu o muro deinimizade entre os povos. […] Elefez um homem novo, edificou a pazreconciliando-nos com Deus” (Ef 2,14-16). Sim, a paz, esse qualificativosupremo do homem novo, só seconstrói mediante a abolição dosmuros que nos separam dos irmãose da sua sorte e pela reconciliaçãocom Deus, expressa numa fé vivida,cultivada e celebrada nossacramentos.Caros membros do OrdinariatoCastrense, se a vossa profissão éserdes «trabalhadores da paz»,

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não vos esqueçais: começai pelodifícil trabalho de a edificar em vós,na vossa família e com os vossoscamaradas. Que este Natal de 2014seja vivido sob o signo daautenticidade. Não matemos oNatal! Respeitemos a verdade dascoisas e dos nomes e nãochamemos Natal ao nossomaterialismo, ao nosso consumismo,à nossa falta de solidariedade, aonosso ateísmo prático. Limpemos opó e as impurezas que seagarraram às nossas celebraçõespara que brilhe aquilo que asmotiva, a única razão que lhes deuorigem. E a razão é esta:

procedermos à abertura de coraçãoa um Deus que nos ama tanto que,«por nós homens e para nossasalvação», veio habitar entre nóspara nos reconciliar uns com osoutros e nos conduzir à verdadeiraintimidade com Deus Pai. No mínimodos mínimos, neste Natal, seremoscapazes de exprimir esta verdadenum gesto de carinho aos outros ena prática religiosa da Missa e,porventura, da confissão e dacomunhão?A todos, votos de santo e feliz Natal,abençoado pelo Autor da nossasalvação.

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Acolher a riqueza do Natal

José Carlos PatrícioAgência ECCLESIA

O tempo de Natal aproxima-se e com ele chegamtambém os habituais desejos de um ano melhor,de uma vida mais próspera e plena, de umasociedade mais justa, a esperança de que, àsemelhança do Menino que nasce, o mundopossa renascer também.As ruas enchem-se de luzes, as pessoas passamsorridentes, as famílias juntam-se parapartilharem os seus presentes e contaremhistórias que ficaram por contar ao longo do ano.De repente, já há tempo… tempo para conversar,para encontrar o outro, para sentar à mesmamesa ou à volta da lareira, pais, avós e netos,tempo para a solidariedade, para darmos amoeda que alguém todos os dias nos pedia epedia sem sucesso, tempo para ir à missa.Imaginemos como seria o mundo se aquilo queconstitui a riqueza do tempo de Natal, estacomunhão de pessoas e de vontades, não fosseuma coisa quase exclusiva desta época?O que é que nos impede de fazermos do tempode Natal um tempo de todos os dias?A realidade é que o tesouro da quadra natalíciafica, no resto do ano, adormecido no coraçãodas pessoas, de um mundo, de uma vida cadavez mais espartilhada por premissas da maisvariada ordem, política, económica,comportamental, social e cultural.Premissas que muitas vezes, em vez dereplicarem a Luz que o Menino veio trazer,mostram o lado mais escuro da humanidade, aviolência, a intolerância, a ganância, oindividualismo.

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O Natal é cada vez mais um oásis,um enxerto de paz e harmonia queimporta cuidar e fazer crescer, umideal que urge viver em vez deagendar.Como recordou o Papa Franciscona sua primeira homilia de Natal,Jesus-Menino “é o Amor feito carne”.“Não se trata apenas dum mestre desabedoria, nem dum ideal para o

qual tendemos e do qual sabemosestar inexoravelmente distantes,mas é o sentido da vida e da históriaque pôs a sua tenda no meio denós”, frisou Jorge Bergoglio.Que neste tempo e ao longo dopróximo ano, o calor dessa tendaaqueça e proteja todas as nossasfamílias e amigos.Um excelente Natal para todos!

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A importância da música que cantao Natal e a alegria do Menino-JesusRui Vieira Nery nasceu em Lisboa em 1957 e iniciou os seus estudosmusicais na Academia de Música de Santa Cecília, prosseguindo-os noConservatório Nacional de Lisboa. Licenciado em História pela Faculdade deLetras de Lisboa (1980), doutorou-se em Musicologia pela Universidade doTexas, em Austin (1990), que frequentou como Fulbright Scholar e bolseiroda Fundação Calouste Gulbenkian. Como musicólogo e historiador cultural,é autor de diversos estudos sobre História da Música Portuguesa, dois dosquais receberam o Prémio de Ensaísmo Musical do Conselho Português daMúsica (1984 e 1991), bem como de largo número de artigos científicospublicados em revistas e obras coletivas especializadas, tanto portuguesascomo internacionais.Numa entrevista à Agência ECCLESIA, o musicólogo e professoruniversitário explica a alegria e o júbilo da música que é uma característicana quadra natalícia. O antigo secretário de Estado da Cultura assinala que amúsica é necessária “em todas as celebrações” e comenta algumasparticularidades de regiões e compositores em Portugal.

Entrevista: Paulo RochaFoto: Luís Filipe Santos

Agência Ecclesia (AE) - O que é quea música diz ao Natal?Rui Vieira Nery (RVN) - O Natal éantes de mais, pelo menos para nóscristãos, um momento de festaespecial. Tudo aquilo queassociamos à quadra do Natal éuma aura de celebração, de júbilo,de festa e a música não escapa aessa realidade.Historicamente, desde que temos a

possibilidade de reconstruir ahistória da música ocidental, vemosque é precisamente na quadra doNatal que encontramos umaconcentração de músicas festivas,umas mais formais, umas maisinformais, umas de naturezapopular, outras de natureza líricamas basicamente há esta ideia dejúbilo, de revelação e esta ideia defesta.

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AE - Percebe-se também na músicao tempo de espera, no Tempo doAdvento que antecede o Natal, edepois essa celebração da luz quechega no presépio?RVN - Eu julgo que a música deAdvento, apesar de tudo, é menoscaracterística. É mais difícil falar deuma atmosfera de recolhimento, demeditação ou até de penitência,associada à música de Advento. Aí amúsica deixa espaço para que sejaa consciência individual a fazer essameditação e apostamos sobretudona boa-nova que vem a seguir.

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RVN - Por exemplo, no caso datradição musical portuguesa, temosnos séculos XVI e XVII, uma tradiçãoriquíssima dos chamados vilancicosde Natal que são um reportórioabsolutamente extraordinário, comuma espécie de diálogos muitogrande entre músicas eruditas epopulares, onde temos o canto dospastores, o canto dos militares, dosescravos negros. Ou seja, todas asclasses sociais representadas comas suas músicas e as suas dançasna adoração do Deus-Menino emBelém através das suas músicas. Eisso é um fenómeno muitointeressante, um bocadinho oequivalente aos presépios deMachado de Castro, a ideia doretrato num caso plástico noutrocaso musical do próprio tecidosocial que é chamado a Epifania. AE - Cingindo-nos à músicaportuguesa, cada uma das regiõesfoi construindo a sua forma deadorar o Menino pela música, comtraços muito característicos atravésdo país?RVN - Os traços são aqueles quesão gerais na identificação de cadauma das tradições musicais do país.As festas de Natal são de talmaneira

importantes, sobretudo numuniverso rural em que no fundo oano é medido pelo calendáriolitúrgico, as pessoas casam lá parao São João, os filhos nascem lá paraa Páscoa, na mesma maneira emque o dia era medido pelas horascanónicas, as coisas hoje estão emtransformação, mas há umamentalidade anterior que faz comque, naturalmente, na quadra deNatal haja uma concentração demúsicas particularmente intensa.E como existe uma concentraçãomais intensa também ascaracterísticas específicas estãomais evidentes. Temos desde oCante Alentejano que é coral, que éum canto essencialmente masculino,às canções e danças do norte quesão diferentes, praticamente emtodas as tradições de músicatradicional rural portuguesaencontramos uma presença muitosignificativa até porque o Nataltambém incentiva muito a projeçãode valores humanos na esfera dodivino. A ideia da maternidade éalgo com que nós nos identificamos,a presença de Maria e do menino, éuma coisa que nos acontece nafamília. Temos pelo menino Jesus ocarinho que se tem por um bebé emuitos dos textos

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dessas cantigas de Natal, ondequer que sejam, falam precisamentedisso, de embalar o menino, de nãofazer barulho para ele dormir, doamor de Maria pelo Menino Jesus, aideia da festa à volta do nascimento.Tudo isso são sentimentos que sãofestivos, são jubilosos, e a músicatransmite em geral essa ideia por

um lado de mistério, de fascínio,como é que uma coisa tãopequenina e tão frágil é o filho deDeus e por outro lado uma ideia decarinho e de sensação derenovação ao mesmo tempo. Aquelacriança é o símbolo de todas ascrianças, de eternidade, por um ladoda criação e em geral.

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AE - Há alguma obra popular quelhe seja particularmente marcante?RVN - É-me difícil escolher. Estou alembrar-me de uma cantiga dasbeiras, “José embala o menino”, queé uma coisa muito carinhosa. Quemestá a embalar o menino não é aVirgem, é São José, uma espécie decumplicidade à volta daquelacriança especial que tem de serprotegida pela mãe e pelo pai e éuma melodia lindíssima. Há tantas,tantas, depois

existem todas que vão desde o ciclodo Natal até ao Reis, também à voltada adoração, da festa. AE - Mesmo na música portuguesamais erudita, como a de FernandoLopes-Graça, houve grandeinvestimento neste ciclo do Natal?RVN - Sim, desde logo já napolifonia do século XVI e XVIIencontramos muitos, sobretudoresponsórios de Natal, que asmatinas de Natal eram

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uma festa muito importante. Narealidade eram até antecipadaspara a véspera de Natal, de maneiraa poder ter a concorrência depessoas e fazia-se muita músicaimportante para essa grandecerimónia que depois acabava coma Missa do Galo e continuava. E, portanto, há música deNatal polifónica do século XVI e XVII,nomeadamente Duarte Lobo.Há muita música no século XVIII,Carlos Seixas inclusive, e depois noséculo XX, em particular o Lopes-Graça, com as cantatas de Natalbaseadas em músicas tradicionaisportuguesas.Fernando Lopes-Graça, como tinhauma veneração muito especial pelamúsica popular e achava que erauma espécie identitária muito forte,percebeu muito bem o peso queesta temática natalícia tinha naidentidade popular e captou-a muitobem. AE - Para celebrar de facto o Natalhoje precisamos da música?RVN - Precisamos da música emtodas as celebrações. O lema daAcademia de Santa Cecília ondeestudei era “quem canta para Deusreza duas

vezes” e acho que de facto emtodos os momentos, de júbiloe penitenciais, a presença damúsica ajuda-nos a fazer a pontecom o sagrado. AE - Ajuda também a fazer a ponteentre o espaço sagrada e o espaçodas cidades, das ruas?RVN - Claro, a festa religiosatambém é a festa e portanto a ideiade que a presença na Igreja tem deser uma coisa solene, tristonha,enfadonha e que não haja espaçopara a alegria, para o própriofascínio, para o deslumbramento,acho que é alheia à nossa tradição.Aliás, foi uma das coisas que aContra-Reforma, que normalmente éconsiderada uma coisa tão solene etão austera sempre percebeu muitobem, e em particular em Portugal,esta ideia de que tinha de haver umespaço de festa e que ir à Igreja nãoera uma espécie de penitência, eraum momento de felicidade e amúsica ajuda a criar esse momentode felicidade, essa ponte com o domde Deus que é a própria música.

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Da clausura para o MP3

As religiosas do Carmelo de SãoJosé, em Fátima, lançaram o CD“Quem vistes, Pastores?” commúsicas de Natal para “tocarinteriormente cada pessoa que ouviros cânticos ao Menino Jesus”.“O grande objetivo deste trabalho étocar as pessoas, que toqueinteriormente através dos cânticosao Menino Jesus e se deixem entrarno espirito de Natal, clima degratidão pelo mistério daencarnação”, afirmou a Irmã CristinaMaria

em declarações à AgênciaECCLESIA.O CD é composto por 24 temas,alguns tradicionais portugueses eoutros “cantados no interior doCarmelo”, todos acompanhados porvários instrumentos.“No Carmelo o Natal é especial ecantamos muitas músicas ao MeninoJesus, algumas delas estão nesteCD, e todas são coloridas cominstrumentos de percussão,pandeiretas, castanholas etambores tocados pelas irmãs”,conta a religiosa.

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Algumas músicas foram trazidas porirmãs belgas e tornaram-se tradiçãocantar nos “momentos em que estãocom o Menino”.“Na oitava do Natal, e até à Epifania,num momento depois da oração dasvésperas, rezamos e cantamos aoMenino Jesus.Abrimos ao público esse tempo deoração e há pessoas assíduas querezam connosco e já muitascrianças ficaram fãs”, partilha a irmãCristina Maria.A religiosa há 25 anos partilhouainda que a gravação do CD foidifícil pois cada musica éacompanhada de “sete ou oitoinstrumentos e

todos têm de ser gravadosseparadamente”, o que foi possívelapenas com a paciência do técnicoMiguel Noronha de Andrade, “umtécnico santo”.Outra curiosidade é que o CD foigravado no tempo da Quaresma eas religiosas fizeram um presépio“para se inspirarem e conseguiremum ambiente natalício”. “Porque otempo de Natal no Carmelo se vivede outra forma, muito profundo, epor toda a casa fazemos presépiospara nos lembrar o mistério eencontrar o Menino”, partilhava airmã Cristina Maria.

A Fundação AIS vai promover este ano dois concertos de Natal, nascidades de Lisboa e de Évora, ambos a favor dos refugiados cristãos doIraque e da Síria. Com atuação do grupo musical Figo Maduro, cujotrabalho tem sido objeto de apoio por parte da Fundação AIS, osconcertos vão ocorrer no próximo domingo, dia 14 de dezembro, pelas 16horas, na Sala de Portugal da Sociedade de Geografia de Lisboa (RuaPortas Santo Antão, 100) e em Évora, no Auditório dos Salesianos(Avenida S. João Bosco, 4), dia 19 de dezembro, pelas 21 horas.Ambos os concertos têm entrada livre e visam sensibilizar a opiniãopública para o drama que se vive atualmente no Médio Oriente, emconsequência da guerra civil na Síria e da extrema violência exercidacontra os Cristãos pelos jihadistas do autoproclamado “Estado Islâmico”.Assim, no final dos concertos, haverá uma recolha de fundos que sedestina a ajudar os milhares de cristãos obrigados a fugir de suas casas.

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Música ajuda a reavivar a féO padre Nuno Queirós, membro doserviço de música-sacra da Diocesede Aveiro, falou à AgênciaECCLESIA sobre a importância damúsica para uma vivência mais“enriquecida” e “radical” dos temposde Advento e Natal.De acordo com o sacerdote, “amúsica tem um papel muitoimportante” pois as melodias,harmonias e ritmos apelam ao maisfundo das pessoas, “à suaexperiência enquanto sereshumanos”, ao modo como vivemneste caso o “mistério” de Deus.“Só o ato de cantar já implica apelara uma série de questões na pessoa,não é só a respiração, ela está aexprimir algo que vem de dentro, epor isso é que as músicas de Nataltransmitem serenidade, paz, talcomo as de Advento a expetativa ea esperança”, frisa o vigárioparoquial da Unidade Pastoral deÁgueda.Através da música, sobretudodaquela que está “enraizada naprópria experiência vital” daspessoas - como acontece com asmelodias de Natal, cantadas anoapós ano - é possível “reavivaraquilo que a fé tem de fundamental”.“O cântico e a forma como

foi composto, terá de ter emconsideração aquilo que écelebrado, aquilo que é o sentircomum, e isso pode ser feito demodo diverso, através dos sons, dosinstrumentos, dos timbres”,complementa o padre Nuno Queirós.

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Um das peças mais emblemáticasda liturgia portuguesa de Natal é ohino “Adeste Fideles”, atribuído aorei D. João IV (1604-1656) e queestá hoje traduzido em diversaslínguas e é usado pelas maisvariadas culturas.Para o sacerdote da Diocese deAveiro, o “Adeste Fideles” ilustraperfeitamente a forma como amúsica de Natal consegue ser“ecuménica”, uma vez que ele estáintegrado por exemplo na tradiçãonatalícia da Igreja Anglicana.

“Acho que toda a gente o conhece.Este hino é cantado várias vezes ecom várias roupagens”, realçapadre Nuno Queirós.“Em toda a história da música”, asalusões ao tema do Advento e doNatal também estão bem vincadas.O especialista em música-sacra dácomo exemplo a peça “Messias”,escrita pelo compositor GeorgeHandel em 1741, “que apesar de tersido composta para a Páscoacuriosamente não há Natal nenhum

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no mundo onde não sejaapresentada, sobretudo a suaprimeira parte”.Outros artistas emblemáticos quededicaram trabalhos a esta temáticaforam Johann Sebastian Bach(1685-1750) e Camille Saint-Saëns(1835-1921), cujas “oratórias deNatal” estão ainda hoje muitopresentes no reportório litúrgico dascomunidades.No tempo de Advento, uma dastradições mais enraizadas é a das“antífonas do Ó”, cantadas entre osdias 17 e 23 de dezembro.“São sete antífonas que a liturgiaoferece nas vésperas desses dias eque exaltam também esta vinda doMessias que é sabedoria, o Adonai,o esperado da Casa de Israel, a raizde Jessé”, explica o padre NunoQueirós.As “antífonas do Ó”, cantadas aseguir à entoação do “Magnificat”de Nossa Senhora, foramintegradas na tradição cristã entreos séculos VII e VIII.“Muito mais tarde” foi adotado umhino, o “Veni Emmanuel”, que“curiosamente também teve umaroupagem musical variadíssima e foitraduzido em muitas línguas”.Além de estar muito presente “namúsica reformada das IgrejasAnglicana e Luterana”, tem sido

trabalhado por diversoscompositores, como o húngaroZoltan Kodály (1882-1967).“Um hino que apesar de serbastante mais tardio do que asantífonas do Ó”, acrescenta osacerdote aveirense, “pode sertambém uma boa marca daquilo quese faz no Advento”.O Pe. Nuno Duarte é sacerdote daDiocese de Aveiro desde 17

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de novembro de 2013, onde écolaborador do Serviço Diocesanode Pastoral Litúrgica como membrodo Serviço de Música Sacra. De2002 a 2008 foi monge beneditinoda Abadia de S. Bento deSingeverga, sendo organista, cantore membro da comissão de Liturgiado mosteiro.

É mestre em Teologia pelaFaculdade de Teologia daUniversidade Católica Portuguesa,onde apresentou em 2013 adissertação “Sacramentum NatalisDomini: História, celebração eteologia do Natal numa perspetivagenética”, no âmbito da TeologiaLitúrgica.

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Campanhas mostram valorda «solidariedade»“Jesus aproximou-se. Quem é o teupróximo?”, é o lema de umacampanha de Natal do Colégio doSagrado Coração de Maria, emLisboa, que envolve toda acomunidade estudantil, desde o pré-escolar ao secundário.Em entrevista à Agência ECCLESIA,a professora Marília Gouveiasublinha a importância que o projetotem, por um lado, para apoiarfamílias mais carenciadas e poroutro para sensibilizar os maisnovos para “realidades às vezes tãocarenciadas e difíceis que têm à suavolta”.Para a docente de História, a“solidariedade” tem de ser parteintegrante da formação daspessoas.“Tentar que os alunos saiam umbocadinho de si próprios e olhempara o outro”, pois se eles “nãoestiverem despertos para essasrealidades” é impossível“aproximarem-se”, complementou.A campanha de natal envolve osalunos na recolha e doação dosmais variados produtos, desdebrinquedos novos ou usados,alimentos ou produtos de higiene.Entre o 5.º e o 9.º ano, osestudantes são incentivados a“apadrinharem

uma família”, acompanhando-a“regularmente” e, com o apoio dodiretor de turma, “verem quais é quesão as dificuldades que têm etrazerem produtos de acordo comessas necessidades”.Para Teresa Côrte-Real, de 13anos, este projeto tem ajudado aestar atenta a toda “uma realidadeparalela” que existe em relação àvida que tem, uma realidade feitapor pessoas que têm de lutardiariamente para sobreviver.Ao mesmo tempo, tem-na alertadopara a necessidade de mobilizar asociedade para uma causa que,muitas vezes, é esquecida mesmoem tempo de Natal.Na memória guarda sempre a vezem que contente, chegou com osseus colegas com um conjunto desacos para doar a famílias maiscarenciadas, pensando que esteesforço era suficiente.“Fomos todos pousar os sacosnuma sala. Era uma sala muitopequenina, não estava cheia, echocou-me bastante, haver lá tantagente e ver que o que nós trazíamossó servia para alimentar uma parte”,recorda a jovem.

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A campanha do Colégio do SagradoCoração de Maria é feita a partir doCentro Jean Gailhac, o braçosolidário das religiosas quecoordenam a instituição.No próximo dia 15 de dezembro osresultados do projeto, bensalimentares, brinquedos, produtosde higiene e saúde, entre outrosartigos recolhidos, vão serentregues a famílias maisnecessitadas do Bairro dasGalinheiras e da Quinta do Mocho,em Lisboa.

Há 25 anos que as irmãs doConvento dos Cardaes, em Lisboa,promovem uma venda de Natal parareunir verbas que permitamcontinuar a apoiar mulheres comdeficiência profunda.Em entrevista à Agência ECCLESIA,Ana Maria Vieira, uma das seisreligiosas dominicanas empenhadasnesta causa, destaca a “redesolidária” que está por trás desteprojeto e que envolve cerca de 40voluntários a trabalharem todos osfins-de-semana.“Um processo de muita entrega

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e muito amor de toda a gente”, quepermite deixar depois as estantesda loja do Convento “carregadinhasde doces” para venda.Compotas e marmeladas dos maisvariados sabores, desde aframboesa à abóbora com amêndoae limão, da maça com gengibre àameixa à búlgara, passando pelolemon curd, ex libris da ementa,tudo é confecionado em casa epraticamente a partir de ofertas daspessoas.“Quase não compramos frutas paraestes produtos, pois ficaria tudomuito caro. O açúcar também é todooferecido por empresas, é precisobaixar os custos porque então nãoseria solidário, seria trabalhar semqualquer resultado”, realça a irmãAna Maria Vieira.A loja do Convento dos Cardaesestá aberta todos os dias, sempre apartir das 14h30.A variedade de produtos, fruto de“um conjunto de saberes eexperiências passadas de irmãspara irmãs”, deixa quem chega pelaprimeira vez “fascinado”.“Os clientes habituais, esses játrazem a lista do que querem”,salienta a religiosa.À disposição das pessoas, entre

vários produtos, estão também“biscoitos de erva-doce, de canela ede limão, de lemon curd, chás evinagre balsâmico”.Todos os anos, os contributoschegam de muitos lados, “porque aspessoas dão-se conta que vale apena, é uma causa que vale apena”, frisa a irmã Ana Maria Vieira.O Convento dos Cardaes apoiaatualmente 35 mulheres comdeficiência profunda, a maior partejá sem pais nem outro tipo deligação afetiva.“Dia a dia, semana a semana, horaa hora”, as religiosas dominicanasprocuram ser a “casa e a família”que estas “mulheres-meninasperderam ou nunca tiveram”.Além da venda de natal, acomunidade do Convento promovevárias iniciativas ligadas a estacausa, ao longo do ano, e quemquiser pode ajudar integrando arede “Família do Convento”.O monumento situado no Bairro Alto,historicamente ligado às IrmãsCarmelitas, está aberto a visitasguiadas, de segunda a sábado,através das quais as pessoaspodem contactar com um espólioreligioso e artístico rico e bemconservado.

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A Fundação Fé e Cooperação (FEC) lançou a campanha ‘PresentesSolidários 2014’ que pretende apoiar 11 causas em “comunidadescarenciadas dos oito países lusófonos” em áreas como educação, saúde,alimentação e infraestruturas.“Estes presentes foram identificados pelos parceiros da FEC no terreno -Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, SãoTomé e Príncipe e Timor-Leste - e vão permitir dar resposta àsnecessidades mais prioritárias das comunidades de cada um dos paísesenvolvidos”, explica a organização católica, em comunicado enviado àAgência ECCLESIA.Os Presentes Solidários estão disponíveis em www.presentessolidarios.pt,até ao dia 6 de janeiro de 2015, e em cada um a FEC apresenta umadescrição do que se está a oferecer e metas a alcançar.

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Dar sentido ao NatalO presidente da Cáritas Portuguesadisse que a solidariedade quecontagia muitos cidadãos no tempodo Natal deve ter presente a“dignidade e o respeito pelaprivacidade das pessoas”. “Épreciso dar sentido ao Natal”, apelaEugénio Fonseca, numa entrevistaà Agência ECCLESIA em que alertapara as iniciativas que não seenquadram no “sentido próprio doNatal” e até “o contrariam”.Para o responsável não se devem

transformar os “pobres em ricos”apenas no Natal, com o “frigoríficocheio” que durante o ano “se vaiesvaziando até não ter nada”,porque as pessoas “não têmnecessidades” só nesta quadra.Nesse sentido, e a nível paroquial éaconselhado que quem promovecampanhas específicas neste temponão pense na “lógica daquilo queparece ser bem” mas que “pode nãoser o necessário” e procurem

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informar-se com o grupo que“conhece a realidade social daparóquia”.“O Natal é para todos, tem de tocaro coração e não pode ser umanestesiante para a minhaconsciência. Devíamos reduzir omuito de consumo que contraria osvalores desta época e traduzir emfavor daqueles que não podemcomprar bens essenciais”,desenvolve Eugénio Fonseca.O presidente da Cáritas Portuguesaexplicou a campanha «10 milhõesde estrelas», que se repete nesteNatal, em todo o país.“Não é o preço que valorizamos, ovalor desta vela é o que queremosque as pessoas percebam. Estavela tem um preço elevado mas temum valor inestimável”, disseO responsável explicou que comesta ação, promovida há 12 anos,se pretende que as famílias digamaos seus vizinhos na noite de Natal,“a quem passar na rua”, que têm“preocupações com a solidariedade,com a justiça” porque só destaforma “pode haver harmonia”.

Para participar é necessário adquiriruma vela, por um euro, ou um packde quatro velas, por quatro euros,que inclui um presépio para colorir.“65% são as dioceses queadministram em projetos sociaisembora o enfoque esteja napobreza infantil que é das famíliasonde estão integradas. Os outros35% vão para ajudar as criançasque estão em campos de refugiadosno Médio Oriente, nos diferentesconflitos que existem”, explica opresidente da Cáritas Portuguesa.Eugénio Fonseca destaca que sãoformas de “pobreza diferente” eapela à aquisição das velas dacampanha «10 Milhões de Estrelas– Um Gesto pela Paz», ou outras,para que se acendam à janela decasa a partir das 20h00 do dia 24de dezembro.“Depois um gesto de solidariedadeporque há muita pobreza encobertaque vive ao nosso lado”, observou.A solidariedade no tempo queantecede o Natal ganha maisexpressividade entre osportugueses, “uma intensificaçãomuito forte de gestos e iniciativas”,mas que depois “diminui muito”.

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Entre o nascimento de Jesuse os brinquedos do Pai NatalExplicar o significado do nascimentode Jesus num tempo em que o PaiNatal é rei na televisão é um desafiopara os pais com filhos pequenos.“A parte comercial é muito difícil debater. Começamos este tempo e atelevisão inunda-nos comcomerciais de brinquedos e nós sóouvimos «Quero, quero, quero»”,aponta Nuno Lemos, pai de trêsfilhos entre os oito e os três anos.Habituados a crescer com a certezade que era o menino Jesus quetrazia os presentes, Nuno e VeraLemos, de 39 e 40 anos, chegarama um entendimento com os trêsfilhos.“O Pai Natal vem à noite, aí pelas21h/22h para nos entregar algunspresentes, e o menino Jesus, pensoque vem à meia-noite, entregar opresente. Mas esse, só recebemosna manhã do dia 25”, recorda a filhamais velha, Marta.“Na nossa infância sempre foi omenino Jesus, hoje comercialmentesó se vê o Pai Natal. Nós quisemosmanter a tradição de esperarempelo menino Jesus, porque achamosque é ele que faz a diferença”,sustenta Nuno Lemos.Na sala uma Bíblia aberta e a árvore

de Natal a piscar faz as delícias dafilha mais nova, a Rita. A mãe Veratratou da estrutura, o pai Nunocolocou as luzes e a Marta colocouos enfeites vermelhos e as bolas.O presépio, montado no exterior dacasa, contém peças adquiridas notempo de namoro do casal. Hoje sãoos filhos que correm a identificar asfiguras e que alegremente assumemter ajudado a colocar no jardim.“Natal é quando se celebra onascimento do menino Jesus”, sabea Marta; “um bebé que está deitadoporque ainda não sabe andar, temzero anos”, acrescenta o Vasco,com cinco anos.A mãe Vera não esconde quegostaria que este tempo fosse maisvivido, “inclusivamente o Advento”,mas, assume, “é o possível”.A participação eucarística é umhábito na família Lemos.“Vamos habitualmente à missa eeles, aos poucos, vão ganhandoesse hábito. O Vasco ainda não temcatequese mas já fala na bondadede Jesus, o que significa quealguma coisa vai ficando. A Ritadispersa muito mas vem para casa acantar o Santo ou o Aleluia”, afirmao pai que lembra

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o esforço de a cada noite se juntaraos filhos para agradecer o dia e“rezar ao menino Jesus”.A Marta costuma fazer presentespara oferecer: no ano passado fezpara o pai um Iphone de cartão epara a mãe uma “caixa de tesouros”com frases dentro «Gosto muito deti», «Amo-te muito».“Estes presentes são especiais.Pode ser mais fácil ir a uma loja earranjar qualquer coisa paraoferecer. Mas o facto de serem elesa fazer, é importante e tentamosincentivar para oferecer aos avós”,assume a mãe.A noite de Natal na família Lemosreparte-se entre duas casas, explicaa filha mais velha: “vamos para casada minha avó materna,onde jantamos e onde o Pai natalvai

entregar os presentes. Depoisvamos para casa da minha avópaterna, que faz uns docinhos muitobons. O Pai natal já passou por lá edeixa-nos outros presentes. E anossa avó guarda-os para quandonós lá chegarmos”.O pai Nuno Lemos aponta que omais importante é a família e que ascrianças “adquiriram já essanecessidade”.“Fazemos o esforço de nos dividir.Já aconteceu passarmos a meia-noite no carro, mas para nós éfundamental. Também o dia de Natalque é repartido nas duas casas – oalmoço em casa de uma mãe e ojantar em casa de outra. Infelizmentenão conseguimos juntar as duasfamílias só num local, mas fazemoso esforço porque é o que dásentido”.

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Os cheiros, as cores, os saborese as prendas do Natal da infânciaQuatro religiosos, uma irmãCarmelita Descalça do convento deSão José em Fátima e três daOrdem dos Frades MenoresCapuchinhos, partilharam com aAgência ECCLESIA, as recordaçõesque guardam do Natal da suainfância. O ponto central é onascimento do Menino Jesus que naIgreja ou em casa reuniacomunidades e famílias seja emAngola, Brasil ou Portugal.“Não era um Natal fora do normal,havia sempre o encanto dasprendas que se iam receber masacima de tudo fui sempre muitoeducada pelos meus pais para ver oNatal como o nascimento do MeninoJesus”, começa por explicar a irmãCristina Maria.Para a religiosa Carmelita Descalça,do convento de São José emFátima, o fundamental no Natal dasua infância era o “presépio”, “maisdo que a árvore de Natal”.“Era sempre rodeado de umagrande magia, o tirar as peças decima do armário, desembrulhar ospapelinhos, tudo cheirava a Natal.Parecia que nascia para mim,depois fazer a

cabaninha, pôr o musgo, aspedrinhas, eram encantos únicosque pelo menos a mim marcou-meprofundamente”, recorda a IrmãCristina Maria.Descendo no mapa o responsávelpela Província angolana da Ordemdos Frades Menores Capuchinhos,assinala que o Natal da suameninice, “das aldeias, é “muitodiferente do de hoje”.“O Natal da minha aldeia era beberuma gasosa, estar com o grupo demeninos e ir à igreja fazer teatros”,comenta o frei Afonso Nteka.Natural da aldeia de Quimazebo,Município da Damba e Província doUíge, deste tempo revela “momentosbonitos que vale a pena recordar”como a celebração do dia de Natalque normalmente era orientada pelocatequista mas antes teatralizavam“o nascimento do Menino Jesus”.No domingo seguinte, o padrepassava pela aldeia para “celebrar oNatal do Senhor” com estacomunidade numa celebração euincluía “cânticos, danças, umfolclore”, revela o frei Afonso Nteka.Rumo ao outro lado do Oceano

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Atlântico aterramos em Vera Cruz,nas memórias e vivências de umfrade menor capuchinho donordeste brasileiro.“Como criança era mais a festa,foguetes, na cidade os enfeites,música na noite de Natal”, conta freiFrancisco Barreto, cujo Natal, vividocom a família, era acompanhadodos cheiros de quem vive numazona rural.“Com o cheiro da vaca, do boi, dojumento, trabalhando na produçãode alimento para sustento familiarcom

o meu pai”, acrescenta o frei menorcapuchinho que destaca o“deslumbramento das estrelas, dosanimais e a maravilhosa noite deNatal de Jesus”.Frade há mais de 40 anos comentaque só descobriu o “verdadeiroNatal” quando fez os votosreligiosos: “O verdadeiro Natal é aalegria de viver a paz no coração, afraternidade com todas as pessoasque estão ao nosso lado, frades etambém com as famílias.”A vida na “roça” não permitia

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a abundância ou mesmo chocolates,bolos e doces mas a refeição noNatal, como explica frei FranciscoBarreto, era “normal de pessoaspobres” que alimentavam-se do que“melhor” que produziam.“No tempo todo do natalacrescentava-se um pouco mais deleite, de milho, farinha, pão”,explicou.Por terras lusas, o frei LopesMorgado, também franciscanocapuchinho, recorda memórias doseu Natal com os oito irmãos e ospais em Vilar de Frades, atualmenteAreias de Vilar, no concelho deBarcelos.“Sem o presépio na minha casa nãohavia Natal estava como centro dafesta toda”, destaca.As memórias do sacerdote dividem-se em duas e começam em casa, noambiente familiar à lareira: “Ahistória mais viva é de facto a ceia àlareira com os potes de ferro, e nósa cantarmos. O pai era músico etocávamos flautas de cana era umanoite muito feliz. Éramos pobres masa ceia era de facto uma ceia farta”.No Museu do Presépio, em Fátima,rodeado da família de Belém, ofrade menor há 60 anos conta aoutra

memória que guarda do Natal dasua infância, a celebração religiosana Igreja que era a casa-mãe dosfrades Loios (Congregação dosCónegos Seculares de São JoãoEvangelista - C.S.J.E.) em Portugal.“Quando tinha oito anos com o meuirmão de 10, o meu pai dirigia a tunaque tocava na novena do menino,fomos cantar como pastores. Um emcada púlpito, escondidos atrás dasramagens, dialogávamos com aassembleia, cantávamos umaestrofe e eles o refrão”, desenvolve.Nesse tempo, da infância de quemnasceu em 1938, “todos iam àmissa” mas nem todos entendiam o“tempo do latim”, do padre de costas“lá em cima”: “Entendíamos oscânticos e quando o padre fazia ahomilia e explicava”.Em Vilar de Frades, havia ainda aencenação de Natal e depois daMissa do Galo “um leilão”, faziamtambém “um auto de Reis Magos”onde as crianças “levavam grandessustos” porque havia quem levasseo papel de soldados “quase a sério,atrás das crianças com espadasreluzentes”.Nas memórias da irmã Cristina Mariatambém existem encenações

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de peças de Natal, com os trêsprimos e a sua irmã, mas maiscaseiras apenas para a família.As cores, os cheiros e os sabores,especialmente das filhosesespeciais da avó beirã, ainda estãoguardadas: “Eram os bolos-reis, osvermelhos, aquelas luzinhas todas,as crianças ficam maravilhadas.”“Depois há aquele ambiente defamília que se cria muito próximo, dapaz, da alegria”, conta ainda areligiosa carmelita descalça, ondeos pais conversavam enquanto ascinco crianças brincavam no quartoantes de irem à Missa e, a partir de

uma certa idade, “desembrulhar asprendas à meia-noite” oferecidaspelo Menino Jesus.Noutro tempo e lugar, o Natal do freiLopes Morgado, quanto às prendas,era mais parecido com o dos seusconfrades de Angola e Brasil.“As prendas eramos uns para osoutros, era termos saúde, comermoso necessário para cada dia: O restonão tínhamos comparação, nãovíamos se as outras crianças eramricas ou pobres, não tínhamostelevisões, se os outros estavambem ou mal vestidos mas nãotínhamos complexos”, conclui ofrade menor capuchinho.

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Encontra-te no Presépio Encontra-te no PresépioE sê silêncio, que espera a cada momento a hora divina. Encontra-te no PresépioE sê abrigo, onde o Amor deseja habitar. Encontra-te no PresépioE sê luz, que retira da noite o que é vida. Encontra-te no PresépioE sê família, que acolhe o dom da vida. Encontra-te no PresépioE sê parto de Deus, que te visita. Encontra-te no PresépioE sê voz, que de tudo faz canto de paz. Encontra-te no Presépio.E sê olhar, que sabe que é a ovelha quem contempla o Pastor. Encontra-te no PresépioE sê forma de vida ajoelhada, perante Aquele que é a Vida. Encontra-te no PresépioE nasce Presépio!

(Eugénia Magalhães)

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Papa condena escravaturae tráfico de pessoasO Papa Francisco denuncia na suamensagem para o 48.º Dia Mundialda Paz o “fenómeno abominável” daescravatura e do tráfico de pessoas,apelando ao compromisso degovernos, empresas, religiões esociedade civil. “Ainda hoje milhõesde pessoas – crianças, homens emulheres de todas as idades – sãoprivadas da liberdade econstrangidas a viver em condiçõessemelhantes às da escravatura”,escreve, no texto apresentado peloVaticano.Na segunda mensagem para estacelebração anual, assinalada a 1 dejaneiro, o Papa escolheu como tema‘Já não escravos, mas irmãos’,condenando a “rejeição do outro,maus-tratos às pessoas, violação dadignidade e dos direitosfundamentais, institucionalização dedesigualdades”. Francisco falasobre as “múltiplas faces daescravatura”, recordandotrabalhadores e trabalhadoras,incluindo menores, “escravizadosnos mais diversos setores”; osimigrantes remetidos para aclandestinidade ou para “condiçõesindignas” de vida e trabalho.

“Sim! Penso no «trabalho escravo»”,alerta o Papa, desafiando asempresas a “garantir aos seusempregados condições de trabalhodignas e salários adequados” e a“vigiar para que não tenham lugar,nas cadeias de distribuição, formasde servidão ou tráfico de pessoashumanas”.A mensagem alude ainda às redesde prostituição, aos casamentosforçados, ao tráfico ecomercialização de órgãos, àscrianças-soldados, aos pedintes, aorecrutamento para produção ouvenda de drogas e a formasdisfarçadas de adoçãointernacional. O Papa chama aatenção para “aqueles que sãoraptados e mantidos em cativeiropor grupos terroristas”, servindocomo “combatentes” ou como“escravas sexuais”.“O flagelo generalizado daexploração do homem pelo homemfere gravemente a vida decomunhão e a vocação a tecerrelações interpessoais marcadaspelo respeito, a justiça e acaridade”, assinala a mensagem.Face à dimensão atual do problema,Francisco propõe um compromissoglobal de “prevenção, proteção dasvítimas e ação judicial contra

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os responsáveis” pelas formas deescravatura e tráfico humanos. “Talcomo as organizações criminosasusam redes globais para alcançaros seus objetivos, assim também aação para vencer este fenómenorequer um esforço comum eigualmente global por parte dosdiferentes atores que compõem asociedade”, explica.O Papa espera uma “mobilização dedimensões comparáveis às dopróprio fenómeno” para combater o“flagelo da escravidãocontemporânea”, pedindo àsinstituições e a cada um que “nãose tornem cúmplices deste mal, nãoafastem o olhar à vista dos

sofrimentos de seus irmãos e irmãsem humanidade, privados deliberdade e dignidade”.No início deste mês, o Papa uniu-sea vários líderes religiosos mundiais,no Vaticano, numa declaraçãocomum pela erradicação daescravatura até 2020.A mensagem para o Dia Mundial daPaz 2015 deixa uma oração “a fimde que cessem as guerras, osconflitos e os inúmeros sofrimentosprovocados quer pela mão dohomem quer por velhas e novasepidemias e pelos efeitosdevastadores das calamidadesnaturais”.

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O verdadeiro SínodoO Papa apresentou no Vaticano asua visão sobre o último Sínodoextraordinário dos Bispos,lamentando que os media e aopinião pública tenham vistos ostrabalhos como os de um“parlamento” ou uma competiçãodesportiva. “Nenhuma intervençãocolocou em discussão as verdadesfundamentais do sacramento doMatrimónio, nenhuma intervenção,isto é: a indissolubilidade, aunidade, a fidelidade e a abertura àvida. Isto não foi tocado”, declarou,durante a audiência públicasemanal que decorreu na Praça deSão Pedro, perante milhares depessoas.Francisco iniciou um ciclo decatequeses sobre a família, o temaque foi abordado na assembleiasinodal extraordinária em outubrodeste ano e que vai estar tambémno centro do próximo Sínodo dosBispos, em 2015. “Temos de saberque o Sínodo não é um parlamento:vem o representante desta Igreja,desta Igreja, daquela Igreja… Não,não é isso”, precisou.Segundo o Papa, em vez de umestrutura parlamentar, o Sínodo é“um espaço protegido para que oEspírito Santo possa trabalhar” e,neste caso, houve “transparência”

para que se soubesse “aquilo queestava a acontecer”.Francisco assinalou que “durante oSínodo, os media fizeram o seutrabalho”, agradecendo essaatenção, mas lamentou que a visãoapresentada seguisse “o estilo dascrónicas desportivas ou políticas”.“Falava-se muitas vezes de duasequipas, prós e contras,conversadores e progressistas, etc.Hoje gostaria de contar aquilo quefoi o Sínodo”, disse.

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46 perguntas para o Sínodo 2015O Vaticano apresentou esta terça-feira o documento preparatório(‘lineamenta’) para o Sínodo 2015,no qual se apresentam 46perguntas sobre temas como apastoral dos divorciados ouacolhimento dos homossexuais,para além das propostas sobre o“Evangelho da Família”. “A pastoralsacramental em relação aosdivorciados recasados precisa deum novo aprofundamento”, assinalao texto, que acrescenta as questõese algumas reflexões ao relatóriofinal da assembleia geralextraordinária do Sínodo quedecorreu em outubro deste ano.O documento pede sugestões para“precaver formas de impedimentosindevidos ou desnecessários”, nocaso destas pessoas, que estãoatualmente afastadas do acesso àComunhão. “Como tornar maisacessíveis e ágeis, de preferênciagratuitos, os

procedimentos para oreconhecimento dos casos denulidade?”, é outra das perguntas.O texto foi enviado às ConferênciasEpiscopais, aos responsáveis dosInstitutos Religiosos e aosorganismos da Cúria Romana, pararecolha de contributos. “O cuidadopastoral das pessoas com tendênciahomossexual coloca hoje novosdesafios, devido também à maneiracomo são socialmente propostos osseus direitos”, pode ler-se, naversão original, em italiano,divulgada pela sala de imprensa daSanta Sé, no qual se fala nanecessidade de uma pastoral com a“arte do acompanhamento”.Os ‘lineamenta’ apelam ainda a umcompromisso mais efetivo na“transmissão da vida” e paraenfrentar o “desafio da quebra danatalidade”. “Como é que a Igrejacombate a chaga do aborto,promovendo uma cultura eficaz davida?”, questiona-se.Os vários organismos que recebemo documento são chamados aenvolver, na sua discussão, ascomunidades católicas e“instituições académicas,organizações, movimentos laicais eoutras instâncias eclesiais”, a fim de“promover uma ampla consultasobre a família segundo aorientação e o espírito do processosinodal”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Papa acendeu luzes da maior árvore de Natal do Mundo

Homenagem do Papa à Imaculada Conceição

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Um Sínodo em amadurecimentoPassado quase um mês após aconclusão do Sínodo dos Bispos edepois de se ter lido os textosdivulgados, é convicção deste grupode leigos que, desde Fevereiro de2012 se tem empenhado em acolhertodos os casais recasados cujoprimeiro casamento foi católico, oSínodo não acabou. Pelo contrário,começou agora verdadeiramentecom a aprovação do «RelatioSínodo» em 18 de Outubro,documento este que será colocadoà discussão nas dioceses eparóquias.Citando o Papa Francisco nodiscurso de encerramento doSínodo: «agora temos ainda um anopara amadurecer, com verdadeirodiscernimento espiritual, as ideiaspropostas e encontrar soluçõesconcretas às muitas dificuldades einumeráveis desafios que asfamílias devem enfrentar; darrespostas aos tantosdesencorajamentos que circundame sufocam as famílias.»Por outro lado, no próprio «RelatioSínodo», no seu ponto 52, é abertaa possibilidade de um acolhimentonão generalizado à comunhão paraos recasados, nalgumas situaçõesparticulares e com condições bemdefinidas, precedido de um

caminho penitencial, sob aresponsabilidade do bispodiocesano. Este ponto foi votadopela maioria dos presentes, emboranão tenha obtido os dois terços queeram exigidos inicialmente.Sendo certo que a realidade socialobriga a Igreja a repensar a suaação pastoral para a família não épossível afastar-se, como referiu oSanto Padre, “das verdadesfundamentais do sacramento domatrimónio: a indissolubilidade, aunidade, a fidelidade e aprocriatividade, ou abertura à vida”.No entanto, a Igreja, verdadeiraesposa de Cristo, tem de estarpreparada para assumir a suamissão de acolher a todos, justos epecadores.Realçamos a sensibilidade de todosos que participaram no sínodo paraas feridas que resultam de umaseparação ou de um divórcio querpara os cônjuges quer para osfilhos, reconhecendo a urgência decaminhos pastorais novos. Partindoda efetiva realidade das fragilidadesfamiliares e dos diversos fatoresdespoletadores, é necessário “umolhar diferenciado”, como sugeriu S.João Paulo II na suaencíclica Familiaris Consortio.

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Ainda que os resultados do sínodonão tenham correspondido àsexpectativas iniciais que algunsmeios de comunicação socialdivulgaram, fica a certeza de quenão há perdedores, a Igreja nãoestá dividida antes está viva.Debateram-se ideias, expressaram-se opiniões e,

citando o padre Anselmo Borges“criou-se um clima e abriram-seportas que já não são possíveisfechar”. É isto que nos anima e alenta paracontinuar o caminho a que nospropusemos.

O grupo de leigos«Recasados na Igreja»

(www.facebook.com/recasados)

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Um Presépio na Cidadehttp://www.presepionacidade.org/

Porque já estamos a caminhar apassos largos para o Natal de Jesus,esta semana propomos uma visita aosítio de um “projeto de leigoscatólicos que nasceu em Lisboa noano 2000 - ano do Jubileu - com aintenção de celebrar em grandefesta o Nascimento de Jesus,convidando a cidade a aproximar-see a participar deste grandeAcontecimento”.Ao entrarmos neste espaçoencontramos um ambienteeminentemente informativo com umaapresentação gráfica bemenquadrada e uma distribuição deconteúdos perfeitamente ajustada.Dar a conhecer o Menino Jesus àCidade, repor o verdadeiro sentidodo Natal, juntar o maior número depessoas na Via da Alegria, procurarque muitas grávidas recebam abênção pela sua maternidade eainda levantar os valores da Famíliae da Vida, são os objetivos quepresidem a este projeto e quepodem ser consultados na opção“presépio na cidade”.Um dos momentos mais altos desteprojeto é a “bênção das grávidas”.

Esta é uma “bênção especial àsgrávidas e seus bebés, bem comoàs suas famílias, para que sesintam amadas e protegidas porJesus Cristo e Sua Mãe MariaSantíssima, que também seencontra grávida de Seu Filho, poresta ocasião”. É nesta opção quenos podemos inscrever paraparticipar nesta bênção.No dia 20 de dezembro acontece aVia da Alegria que “é uma procissãopelas ruas de Lisboa, e quesimboliza o caminho que a SagradaFamília fez até Belém, onde Mariadeu à Luz, Jesus, o Salvador doMundo”. Naturalmente que étambém neste item que nospodemos inscrever para participarnesta procissão.Caso pretenda conhecer ao detalhetoda a programação que foidelicadamente preparada paraestar presente, pelo décimo quintoano consecutivo, de 5 a 22 deDezembro entre as 14 e as 19h, naRua Garrett em Lisboa, basta queaceda a “agenda”.Na opção “construção depresépios” fica a conhecer umpouco mais sobre a construção defiguras do Presépio, que tem “comoobjetivo fazer com que a sociedadeparticipe para um

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Bem comum, e que é dar um poucodo nosso tempo, da nossa alegria,da nossa capacidade de “fazer”,aqueles que sofrem, que estão sóse que como todas as pessoasprecisam e gostam de se sentiramados”.Caso viva perto de Lisboa ou se for

visitar a nossa capital nesteAdvento, porque não passar pelaRua Garret e assim participar numprojeto que mostra o verdadeirosentido do Natal num espaçopúblico.

Fernando Cassola Marques

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Os católicos no 25 de AbrilO Centro de Estudos dos Povos eCulturas de Expressão Portuguesa(CEPCEP), da Universidade CatólicaPortuguesa, lançou um númeroespecial da revista ‘Povos eCulturas’, dedicada ao papel doscatólicos no 25 de Abril. “Asociedade portuguesa sabe que oscatólicos no antigo regime tiveramum papel importante, através dasassociações e dos grupos dejovens, numa ação dirigente, semalaridos, feita com muitapersistência”, refere à AgênciaECCLESIA Artur Teodoro de Matos,da direção do CEPCEP.O responsável sublinha que estetrabalho foi fundamental na“instauração do novo regimedemocrático”, porque além do golpemilitar houve “aspetos que já vinhamde antes”. “Pouco se falou sobre aação dos católicos e foi por isso queentendemos chamá-los, através deestudos e de depoimentos”,acrescenta.A obra, com contributos de mais de30 autores, foi lançada esta terça-feira em Lisboa.Roberto Carneiro, presidente dadireção do CEPCEP, fala nanecessidade de sublinhar o papeldos católicos, 40 anos depois do 25

de Abril, através de “um bomcontributo para a historiografiacontemporânea”.‘Católicos portugueses edemocracia’ é a reflexãoapresentada por Guilhermed’Oliveira Martins, presidente doCentro Nacional de Cultura, quesublinha à Agência ECCLESIA a“importância muito significativa” dosmembros da Igreja neste processo.O especialista sublinha que a partirde 1945, após o fim da II GuerraMundial, houve uma grandeexpetativa de abertura e “um gruposignificativo de católicos, aindaassim, se afirmou, inclusive noMovimento de Unidade Democrática”.Guilherme d’Oliveira Martins recordaainda a candidatura de HumbertoDelgado, em 1958, e a ação deFrancisco Lino Neto “ao reivindicar aabertura do regime” com um “forteempenhamento social”, bem como arevista ‘O tempo e o modo’, que sepublicou pela primeira vez em 1963,ligada ao Centro Nacional deCultura, sob a direção de AntónioAlçada Batista.Manuel Braga da Cruz, antigo reitorda UCP, apresenta reflexões sobre‘A Igreja e a ordem democrática’ eoutro texto sobre Adérito Sedas

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Nunes, realçando que muitoscatólicos “contribuíram para que aordem democrática se fosseinstalando em Portugal”.“Há aqui alguma componentedoutrinária, não apenas histórica

e testemunhal, com elementos parao futuro que colocam aos católicosresponsabilidades de construção deuma ordem democrática mais livre,mais justa”, refere, a respeito domais recente número da ‘Povos eCulturas’.

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II Concílio do Vaticano: O leigona perspetiva de Karl Rahner

O teólogo Karl Rahner teve um papel central nostrabalhos conciliares (1962-1965) e foi um dosprincipais divulgadores do II Concílio do Vaticano.Este sacerdote jesuíta (Friburgo 5 de março de 1904- Innsbruck, 30 de março de 1984) foi um dos maisinfluentes teólogos do século XX.Para muitos especialistas, sua teologia marca aentrada da Igreja Católica na modernidade. Entreoutros temas, Karl Rahner aborda o pluralismoreligioso, a espiritualidade, o pós-modernismo, oecumenismo, a ética e seus desdobramentos napolítica e na teologia feminista. Em 1965, foi um dosfundadores da revista «Concilium», juntamente comAntonie van den Boogaard, Paul Brand, YvesCongar, O.P., Hans Küng, Johann Baptist Metz eEdward Schillebeeckx, O.P.Karl Rahner constata que a situação dos leigos naIgreja é fruto da situação global desta porque desdeo fim da época patrística, a Igreja transformou-senuma “sociedade institucional em que os leigos eramobjetos de direção, mas não eram sujeitos ativos” (IN:«A identidade laical à luz do Concílio»; TeresaMartinho Pereira; Lisboa, UCP).Foi nesta linha que a palavra «leigo» foicompreendida durante muito tempo. Ele era aqueleque estava excluído da hierarquia e esta era vistacomo a representação da Igreja junto do laicado. “Énecessário retomar a dimensão positiva daidentidade laical”, sublinha Teresa Martinho Pereira.Pelo batismo, os leigos são ungidos para seremtemplo de Deus, destinados “à comunidade dos quesabem e professam que Deus se apiedou do

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mundo e que chamou à sua própriavida” (IN: «Fundamentaciónsacramental del estado laical en laIglesia»; Karl Rahner, Madrid). Aidentidade positiva dos leigosreside, portanto, na qualidade demembros da Igreja.Eles distinguem-se da hierarquiaporque “não gozam dos poderes denatureza sacramental conferidospela Ordem, nem têm jurisdição” (IN:«A identidade laical à luz doConcílio»; Teresa Martinho Pereira;Lisboa, UCP). A diferença entreleigos e os religiosos, por seu turno,está no estado de vida. “Osreligiosos vivem os conselhosevangélicos como estado de vida,representando no mundo atranscendência da origem da Igreja.Os leigos vivem o seu estado decasados e envolvidos no mundo

secular como opção de vida” (Cfobra de Teresa Martinho). KarlRahner escreveu na obra«Fundamentación sacramental delestado laical en la Iglesia» que amissão do leigo batizado no contextoda missão da Igreja não é, “nem emprimeiro nem em último lugar,entreter-se piedosamente aosdomingos, nem é tomar parte naprocissão do Corpus justo dosmembros mais destacadosda paróquia, do partido ou docatolicismo local, não é votar acandidatura católica, não é pagarpacientemente o impostoeclesiástico, mas é a consciênciaradical, e que revoluciona tudo, deque um batizado tem uma infinitamissão como cristão precisamenteao encontrar-se e ao viver na suaprofissão normal, na sua família”que a Igreja está ali.

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Dezembro2014Dia 12 * Aveiro - Encontro de Natal daCáritas da Diocese de Aveiro com apresença de D. António Moiteiro * Porto - Igreja dos Clérigos -Reabertura da Igreja dos Clérigos * Lamego - O bispo de Lamego, D.António Couto, participa na festa deNatal dos reclusos. * Vaticano - Basílica de São Pedro -Celebração presidida pelo PapaFrancisco pela América Latina paraassinalar a festa de Nossa Senhorade Guadalupe. * Braga - Auditório Vita - Conversasobre a obra «Na noite mora apromessa» com o padre TolentinoMendonça e Isabel Varandas * Braga - Famalicão (UniversidadeLusíada) - Conferência sobre«Ciência e Religião: O avanço daciência e o recuo de Deus?» comCarlos Fiolhais e o padre ÁlvaroBalsas promovida pela UniversidadeLusíada de Vila Nova de Famalicão.

* Porto - Espinho (CentroMultimeios) - Mesa redonda sobre«Histórias de Perseguição»integrada na caminhada de Advento«Poderá uma luz nascer aqui?» * Coimbra - Sé Nova - Concertosolidário de Natal com a participaçãode Choral Poliphónico de Coimbra,Coro Misto da Universidade deCoimbra e Orpheon Académico deCoimbra. * Braga – Sé - Concerto de Natal naSé de Natal com atuação do Coro eOrquestra Sinfónica doConservatório de Música CalousteGulbenkian de Braga. * Santarém - Torres Novas (Irmãs deSão José de Cluny) - Retiro deAdvento para jovens com o tema«Bem-Aventura-te!» (12 e 13) Dia 13 de dezembro * Santarém - Igreja da Piedade -Missa Cantada pela ScholaCantorum Catedral Santarém

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* Algarve – Ferragudo - Retiro deAdvento para membros da ACEGEorientado pelo padre jesuíta, LuisFerreira do Amaral. * Coimbra - Paróquia de São José -A Paróquia de São José (Coimbra)promove (até 21 de dezembro) o«Natal na Rua» * Fátima - Peregrinação nacional deautocaravanistas * Setúbal - Festa de Natal da CáritasDiocesana * Aveiro – Sé - Concerto de Natal naSé de Aveiro com recital de órgãode tubos * Lisboa - Fórum Picoas - Colóquiosobre «A dimensão social daevangelização» promovido pelaComissão Nacional Justiça e Pazque conta com a presença dopresidente da Cáritas Internacional,cardeal Oscar Maradiaga. * Aveiro - Seminário de Aveiro -Retiro para agentes de pastoral deAveiro orientado pelo padre JoséAntónio Carneiro

* Lisboa - Igreja do SagradoCoração de Jesus - Simpósio paraanalisar o primeiro guião do SínodoDiocesano * Porto - Casa de Vilar - OMovimento de Educadores Católicosda Diocese do Porto promove umaconferência sobre «A comunicaçãonão verbal do Papa Francisco»proferida por Maria João Ribeiro. * Lamego - Encontro dosconsagrados (Irmãs Franciscanas)com D. António Couto. * Coimbra - Mosteiro de Santa aClara-a-Nova - Inauguração daexposição «Tesouros espirituais daRainha Santa Isabel». * Guimarães – FNAC - Lançamentodo livro «A Mística do Instante» daautoria do padre TolentinoMendonça com apresentação dopadre Marcelino Paulo. * Évora - Convento do Calvário -Escola Diocesana de Responsáveiscom reflexão de Teresa CostaPereira sobre «Igreja, que dizes de timesma?».

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Este sábado decorre o colóquio «A dimensão social daevangelização» promovido pela Comissão NacionalJustiça e Paz que conta com a presença do presidenteda Cáritas Internacional, cardeal Oscar Maradiaga.O evento, no Fórum Picoas em Lisboa, a partir das09h00, vai contar também com a presença dopatriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. O músico e compositor português Rão Kyao vai lançaro cd «Sopro de Vida – Maria», este sábado, pelas21h30, na Capela do Seminário de S. Paulo deAlmada, sendo a entrada livre. O Papa Francisco vai visitar este domingo, 14 dedezembro, a paróquia da Igreja São José, na periferialeste de Roma. A iniciativa vai decorrer entre as 16h00e as 20h00 e surgiu na sequência de “um convite feitoao Papa argentino a 22 de abril de 2013”, poucotempo depois do início do seu pontificado. Nasua deslocação àquela localidade, o Papa vaiencontrar-se com uma comunidade de etnia “Rom”que estão a ser acompanhados pela paróquia, comfamílias que batizaram as suas crianças durante esteano, com jovens, doentes e agentes pastorais dosdiversos setores.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h18Domingo, dia 14 - Religiosidade na Madeira: aFesta do Natal e outrasfestas RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 15 -Entrevista a Alfredo Bruto daCosta, até agora presidenteda Comissão Nacional Justiçae Paz.Terça-feira, dia 16 - Informação e apresentaçãode projetos de preparação doNatal nas aulas de MERC;Quarta-feira, dia 17 - Informação e entrevista ao padreFernando Sampaio e Fernando Oliveira sobre aPastoral da Saúde;Quinta-feira, dia 18 - Informação e entrevista ao padreTony Neves sobre o Ano da Vida Consagrada;Sexta-feira, dia 19 - Apresentação da liturgia dedomingo pelos padres Robson Cruz e Vitor Gonçalves. Antena 1Domingo, dia 14 de dezembro - 06h00 - A Espera noAdvento e na vida: a expetativa do nascimento de umacriança na familia Amado e a espera de um empregopor Gonçalo Pio. Comentário com José Miguel Sardica. Segunda a sexta-feira, 15 a 19 de dezembro - 22h45 -A Música no Natal: CD das Irmãs Carmelitas, Musicade Advento e Natal, Musicólogo Rui Vieira Nery,Antífonas Ó e CD do grupo Figo Maduro

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O X Festival Nacional Jovemda Canção MensagemOs jovens que representaram aDiocese de Vila Real com a música“És a minha bússola”, conseguiramo primeiro lugar no X FestivalNacional Jovem Canção Mensagemque realizou-se no dia 6 dedezembro em Fátima. Com a música“Missionário daesperança”. A Diocese do Funchalconseguiu o segundo lugar evenceu também a distinção demelhor vídeo clip e osrepresentantes do Patriarcado deLisboa conseguiram o terceirolugar com a música “Fé e Caridade”.A letra “Bem-Aventurados”, daDiocese do Algarve, venceu nacategoria de Melhor Mensagem. > Vídeo da música vencedora> Letras das músicas do festival Diocese de Vila Real“Foi com muito orgulho que nós,Grupo Christianorum,representamos a Diocese de VilaReal. Foi sem dúvida um grande diaem que partilhámos experiências e amesma fé num só Deus que é amor!Saímos de Fátima com o coraçãocheio de sorrisos e alegria poisfomos

capazes de louvar a Deus emuníssono e ao ritmo de um mesmolema!Queremos que o Senhor seja anossa bússola, e que nos ilumine nagenerosa missão de evangelizarcada vez mais através do dom damúsica!Grupo Christianorum Diocese do Funchal“É maravilhoso louvar o Senhorrodeado de jovens que acreditam nomesmo que nós e que não têmmedo de partilhar a alegria que éser cristão. Em cada canção há umamensagem que nos chega e quepodemos transmitir e é através delaque Deus também nos fala.Hoje temos que saber fazer adiferença e sermos rosto de Jesus,e poder verificar isso durante estedia foi único pois, o importante foi oque levámos dentro. Semcompetitividade, o maior prémio foilevar Jesus a todos os que nosouviam.Regressamos com o 2º Lugar eMelhor Video-clip mas mais que issofoi voltarmos transformados emotivados para continuarmos a ser“Missionários da Esperança”.Grupo de Jovens Verbum Dei

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Patriarcado de LisboaO nosso objetivo era criar algodiferente, uma música com que osjovens se identificassem.Em cada fase que ultrapassámos(Paroquial, Vicarial, Diocesano)sentimos que a música deixava deser só nossa e passava a ser detodos e no Nacional fomos como umsó. Espalhámos a mensagem aosoutros e acolhemos também amensagem do próximo. Foi umaexperiência fantástica ondecompreendemos que esta é umaforma missionária de chegar atodos. O júri foi composto por quatroelementos: em representação do

Secretário de Estado da Juventudee Desporto, Ivo Santos; SebastiãoAntunes, músico e compositor,sobejamente conhecido pela bandaQuadrilha; a jornalista e escritoraLaurinda Alves e o padre AntónioJorge, da pastoral juvenil daDiocese de Viseu, que representouo Departamento Nacional daPastoral Juvenil. No palco do Centro Paulo VI oalinhamento foi: Bragança-Miranda;Guarda; Viana do Castelo; Lisboa;Algarve; Setúbal; Vila Real;Coimbra; Funchal; Lamego; Leiria-Fátima; Aveiro; Beja; Porto.

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Ano B – 3º domingo do Advento Viver alegresna esperança

Os textos bíblicos deste 3º Domingo do Adventogarantem-nos que Deus tem um projeto de salvação ede vida plena para propor aos homens e para os fazerpassar das trevas à luz.Na primeira leitura, um profeta ungido pelo Espíritoanuncia um tempo novo, de vida plena e de felicidadesem fim, um tempo de salvação que Deus vai ofereceraos pobres.Na segunda leitura, Paulo diz-nos qual a atitude que épreciso assumir enquanto se espera o Senhor quevem. O convite é bem concreto para todos nós: viveisempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todasas circunstâncias, não apagueis o Espírito, nãodesprezeis os dons proféticos, conservai tudo o quefor bom, afastai-vos de toda a espécie de mal, acolheio Deus da paz que vos santifica totalmente.O Evangelho apresenta-nos João Batista, a voz queprepara os homens para acolher Jesus, a luz domundo. Que significa isso para nós?Implica abandonar a mentira, os comportamentosegoístas, as atitudes injustas, os gestos de violência,os preconceitos, a instalação, o comodismo, aautossuficiência, tudo o que desfeia a nossa vida, nostorna escravos e nos impede de chegar à verdadeirafelicidade.Implica olhar para Jesus, pois só Ele é a luz e só Eletem uma proposta de vida verdadeira para apresentaraos homens. À nossa volta abundam propostas defelicidade que nos seduzem, manipulam e nos deixaminfelizes. Só Jesus é a luz que liberta os homens daescravidão e das trevas e lhes oferece a vidaverdadeira e definitiva.Implica pensarmos sobre a forma de Deus atuar nahistória humana e sobre as responsabilidades que

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Deus nos atribui na recriação domundo. Deus não utiliza métodosespetaculares e assombrosos paraintervir na nossa história e pararecriar o mundo; mas Ele vem aoencontro dos homens e do mundopara os envolver no seu amoratravés de pessoas concretas, comum nome e uma história, pessoasnormais a quem Deus chama e aquem confia determinada missão. Atodos nós, seus filhos, Deus confiauma missão no mundo, dartestemunho da luz e de tornarpresente, para os nossos irmãos, aproposta libertadora de Jesus.Levemos a Palavra para o coraçãodo

nosso quotidiano, em esperança ealegria. O nosso olhar sobre osoutros e sobre o mundo devecontinuar a ser transformado nestaterceira semana de Advento: passarda contestação à bondade, procurarter uma expressão de sorriso emcada encontro, saudar o outro comoum irmão que Deus ama e desejar-lhe todo o bem que Deus quer paraele. A alegria cristã não está aonível de um otimismo simplista, mascoloca a esperança, possível ecredível pela Palavra feita carne, nocoração da vida quotidiana.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Também no Hospital eu possoe quero viver e celebrar a féO SAER: o serviço daespiritualidadeO internamento hospitalar nãoimpede a vivência e a prática de fée culto. Pelo contrário, os hospitaisnão só reconhecem o direito a umavida espiritual e prática religiosalivre, como também promovem essedireito e reconhecem os seusbenefícios na luta contra osofrimento. Existe, por isso, noshospitais públicos (e porque é quesó existe em alguns privados?) umSERVIÇO DE ASSISTÊNCIAESPIRITUAL E RELIGIOSA (SAER),antes designado de Capelania. Esteserviço é regulado pelo Decreto –lei 253/2009. São aí descritos osdireitos do doente ao nível daprática religiosa, os direitos edeveres dos assistentes espirituaise o modo de funcionamento doSAER para que, de uma formaorganizada e regular, responda àsnecessidades espirituais e religiosasdos doentes internados. Como aceder ao SAER?A assistência espiritual e religiosa éum direito do doente, afirmamos.

A Assistência espiritual ereligiosa é prestada ao utentea solicitação do próprio oudos seus familiares ou outroscuja proximidade ao utenteseja significativa, quando estenão a possa solicitar e sepresuma ser essa a suavontade.

(Decreto Lei 253/2009, art. 4)

Sendo assim e porque é do seuinteresse, é o doente quem tem odever e o direito de solicitar a visitado assistente espiritual e religiosoou capelão aos enfermeiros deserviço.

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Assistência religiosa e cuidados de saúde:tema apresentado aqui semanalmente

e no programa Ecclesia, RTP2, em cada quarta-feiraEntrevista ao padre Fernando Sampaio e Fernando Oliveira

“Se tiver de ser internado(a), não esqueça, peça avisita do capelão aos enfermeiros logo no início dointernamento. Não fique à espera”. (Comissão Nacional daPastoral da Saúde) Deve fazê-lo por si mesmo de vivavoz ou por escrito. Não o podendofazer por si mesmo, devem fazê-loos familiares ou alguém para elesignificativo. Não deve, por isso, odoente ficar à espera que oassistente espiritual ou capelãopasse pelas

enfermarias ou alguém da capela. Odoente deve tomar a iniciativa. Aofazê-lo, realiza um ato de liberdade;em segundo lugar, afirma os seusdireitos; e, em terceiro, garante osdireitos de outros doentes crentesdesde agora e para o futuro.

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Vocação de clausura surgiu pelainternetAs religiosas de clausura doMosteiro de Santa Clara, em MonteReal, Diocese de Leiria-Fátima,celebraram este domingo aprofissão perpétua de uma vocaçãoque nasceu há mais de umadécada, com a ajuda da internet.“Interrogava-me sobre o caminho

a seguir e qual seria a vontade deDeus e foi nesse caminho quefui percebendo que Deus mechamava à vida consagrada”, contaa irmã Marina Sofia, com 28 anos deidade.A religiosa explicou à AgênciaECCLESIA que considera a escolharesponsabilidade “do Senhor”, apartir do momento em que recebeuo sacramento do Crisma, aos 18anos. Como “não conhecia muito”sobre vida consagrada, a jovempesquisou na internet e encontrou osítio online das Irmãs Clarissas, doMosteiro de Santa Clara e doSantíssimo Sacramento de MonteReal e decidiu conhecê-las.“Foi o primeiro que encontrei e nãoprocurei mais. Acho que acertei”,acrescentou a freira que segue aregras de Santa Clara de Assis. Airmã Marina Sofia revela que depoisda primeira experiência no mosteiro,“passado mais ou menos um mês”, decidiu ingressar na ordem religiosa de clausura.

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“Fiquei encantada pela alegria dasirmãs, pela paz que se sente nestelugar, não entrei propriamente naparte do mosteiro, e também pelofacto desta comunidade teradoração eucarística permanente,foi o que principalmente me atraiu”,desenvolveu.Segundo a irmã Marina Sofia, foi“um bocadinho difícil” comunicar àsua família a opção de vida pelaclausura, porque não estavam àespera.“Embora para algumas pessoas dafamília fosse um pouco estranho e,não aceitassem muito bem, não seopuseram, antes pelo contrário”,desenvolve a irmã clarissa queneste contexto destaca o seu pai.“Para ele foi um pouco difícil decompreender, mas não se opôs efez questão de me vir trazer”,recorda.Para a entrevistada, a consagraçãoperpétua “já é um testemunho” paraque surjam mais vocações, paraaqueles que “estiverem atentos”procurem “onde o Senhor oschama, espera”.A Igreja vive até 2 de fevereiro de

2016 o Ano da Vida Consagrada,convocado pelo Papa Francisco, epara a irmã Marina Sofia o ‘sim’definitivo neste contexto é“um momento bonito” porque passa“a fazer parte da grande família quesão os consagrados”.“Através da minha oração, dosilêncio na clausura, na adoração,também ajudo esta Igreja a levarCristo aqueles que não Oconhecem, que mais necessitam deajuda”, destacou.O dia-a-dia no Mosteiro de SantaClara, em Monte Real, DiocesedeLeiria-Fátima, começa às 07h00com as irmãs clarissas reunidaspara o canto de laudes e oração daprimeira hora intermédia. Depois, aolongo do dia têm diversos momentosde oração, meditação e trabalhosespecíficos; ao fim do dia, às 17h20,rezam o rosário; segue-se aEucaristia, e no fim do jantar acomunidade reúne-se, diverte-se einforma-se sobre “notícias do mundoe da Igreja”, antes da última oraçãocomunitária, às 21h30, quandorecolhem “às celas para o descansoda noite”.

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Religiosas contra o tráfico dePessoasFrancisco, na sua mensagem para o48.º Dia Mundial da Paz (1 dejaneiro de 2015), deixa uma palavrade apreço pelo trabalho que muitascongregações religiosas realizamcontra o tráfico de pessoas. “Apraz-me mencionar o enormetrabalho que muitas congregaçõesreligiosas, especialmente femininas,realizam silenciosamente, há tantosanos, a favor das vítimas. Taisinstitutos atuam em contextosdifíceis, por vezes dominados pelaviolência, procurando quebrar ascadeias invisíveis que mantêm asvítimas presas aos seus traficantese exploradores; cadeias, cujos elossão feitos não só de subtismecanismos psicológicos quetornam as vítimas dependentes dosseus algozes, através de chantageme ameaça a eles e aos seus entesqueridos, mas também através demeios materiais, como a apreensãodos documentos de identidade e aviolência física. A atividade dascongregações religiosas estáarticulada a três níveis principais: osocorro às vítimas, a suareabilitação sob o perfil psicológicoe formativo e a sua reintegração nasociedade de destino ou de origem.

Este trabalho imenso, que requercoragem, paciência e perseverança,merece o aplauso da Igreja inteira eda sociedade. Naturalmente oaplauso, por si só, não basta parase pôr termo ao flagelo daexploração da pessoa humana. Fazfalta também um triplo empenho anível institucional: prevenção,proteção das vítimas e ação judicialcontra os responsáveis. Além disso,assim como as organizaçõescriminosas usam redes globais paraalcançar os seus objetivos, assimtambém a ação para vencer estefenómeno requer um esforço comume igualmente global por parte dosdiferentes atores que compõem asociedade”.

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Ovos Moles - trata-se de um doce regional, tradicional da pastelariaaveirense, cuja fórmula e método de produção original se deve às freirasdos vários conventos aqui existentes até ao século XIX - dominicanas,franciscanas a carmelitas. As religiosas utilizavam a clara de ovo paraengomar os hábitos, enquanto que as gemas, para que não fossemdesperdiçadas, se constituíram na base para a feitura do doce. Extintosos conventos, o fabrico dos ovos moles manteve-se, graças a senhoraseducadas pelas referidas religiosas.

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Vida consagrada:a visão de um não consagradoDesta vez sou mesmo um "leigo" namatéria. Foi o que me pediram: umolhar vindo "de fora" da vidaconsagrada.Foi em casa, era eu pequeno. Duassimpáticas freiras de hábito negro,responsáveis do instituto nossovizinho para jovens carenciadas,vieram visitar-nos.Naquela idade tudo é mistério, masaquelas freirinhas pareceram-meum mistério do outro mundo. Peloque faziam, pelo sorriso, pelamansidão. Vinham do além, e aminha intuição era certa.Depois soube que aquilo era "vidaconsagrada". E soube que, estandotodos na Igreja chamados a vivertotalmente em Deus, também háoutra acepção diferente e ampla de'consagração' que é a baptismal,que transforma em filhos de Deus,nos une a Ele, e a cada umresponsabiliza pelo anúncioevangelizador.Porém, em sentido rigoroso, a "vidaconsagrada", própria deste Ano, é avida dos que "se puseram aoserviço da humanidade, à qual eramenviados pelo Espírito servindo-ados mais diversos modos: com aintercessão,

a pregação do Evangelho, acatequese, a instrução, o serviçoaos pobres, aos doentes…" (citei oPapa Francisco).O leigo, que não é chamado a umasantidade menor, tem uma missãodiferente. Ao leigo é confiada aconstrução do mundo. Deve não sóencontrar Deus no mundo – masconstruir o mundo. Como Jesus atéaos 30 anos. Após a morteresponderá às previsíveis perguntas"foste caridoso?", "ajudaste opobre?", "visitaste o preso?", eperguntas "laicais" como "puseste amesa?", "votaste na junta?","combateste o nemátodo dopinheiro", "fizeste desporto?","descobriste novos usos para acortiça?", "contaste anedotas aosfilhos?", "respondeste aos emails?".O mundo dos cidadãos comuns tem,porém, imenso a ver com a vidaconsagrada. Num encontro do"Passo a Rezar" no Carmelo deFátima, a Madre superior explicou-nos que ela, e as outras carmelitas,não estavam atrás das grades pornão gostarem do mundo – dotrabalho, da família, da confusão davida em sociedade – mas porgostarem "demasiado"

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do mundo, ao ponto de entregarema vida para pedir a Deus pelos queandam no mundo.É mesmo assim e é impressionante,qualquer que seja a expressão,mais contemplativa ou activa, davida consagrada. Pertencemo-nosuns aos outros e estamos ligadospor dentro. O leigo quer eagradece: a dedicação dosconsagrados que ensinam, aclausura dos que oram, o hábito dosque têm habito, o carinho dos que

confortam desvalidos, o estudo dosque pensam a imensidão de Deus.O leigo precisa que o consagradoseja alegre na sua vocação, a vivagenuína sem adaptações artificiais,fale dela e a proponha, e acrediteque o seu carisma faz cada vez maisfalta ao mundo de hoje.

Pedro GilDirector do Gabinete de imprensa

do Opus Dei

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LEI DA BLASFÉMIA CONTINUA A ATERRORIZARCRISTÃOS NO PAQUISTÃO

A última esperançaA vida de Asia Bibi está nas mãosdos juízes do Supremo depois de otribunal de recurso ter confirmado aprimeira sentença: condenação àmorte. Só uma forte campanhainternacional poderá salvar estacristã, mãe de 5 filhos. A sua vidaestá agora nas nossas mãos.É uma lei cobarde e mentirosa. Aoabrigo de falsas acusações deblasfémia, centenas de pessoasperderam a vida no Paquistão coma cumplicidade criminosa dasautoridades. Basta uma mentirapara se lançar uma multidão contraalguém, normalmente os maisfracos. Normalmente alguém quepertence a uma minoria religiosa.Como Asia Bibi.No início de Novembro, duaspessoas foram queimadas vivas noPunjab, por uma multidãoenfurecida, depois de alguém tergritado que eles teriam destruídofolhas de um livro do Corão.Ele, Shehzab, tinha 26 anos. Ela,Shama, apenas 24. Eram marido emulher. Pobres, muito pobres,analfabetos, trabalhavam numafábrica de argila, num forno detijolos onde acabaram por morrer.

Dezenas de pessoas assistiram atudo mas ninguém os defendeu.Regressemos a Junho de 2009. Dia14. Asia Bibi está no campo, atrabalhar, quando decide ir a umpoço beber um copo de água. Estámuito calor. Ao regressar, ofereceuágua a duas muçulmanas, quetrabalhavam ali com ela. Elasacusaram-na de ter conspurcado afonte, por ser cristã, infiel. Depois,acusaram-na de blasfémia, de terinsultado o profeta Maomé. Aconversão resolveria tudo. Mas elasempre recusou isso, mantendo-sefiel a Cristo, apesar do medo, dosinsultos, da violência.Vida na cadeiaDesde então, Asia Bibi estáconfinada a uma cela minúscula. Elaprópria descreveu o medo e aangústia de estar ali fechada atrásde grades. “Não vejo mais nadasenão as grades, o chão húmido eas paredes sujas de porcaria. Umcheiro a gordura, suor e urinainvade tudo. Uma misturainsuportável, mesmo para umarapariga do campo. Eu pensava queisto iria passar, mas não. É o cheiroda morte, ou do desespero…”

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Dia 8 de Novembro de 2010. O juizNaveed Iqbal está prestes a proferira sentença sobre o caso de AsiaBibi. A sala está cheia de pessoas.“Asia Noreen Bibi, em virtude doartigo 295º C do códigopaquistanês, o tribunal condena-vosà pena capital por enforcamento e auma multa de 300 mil rupias.” Mal omartelo soou sobre a secretária,proclamando que a sessão estavaterminada, ouviram-se gritos dejúbilo na sala.Dezembro de 2014. Depois de mais

uma sentença desfavorável, AsiaBibi só tem como único recurso oSupremo Tribunal de Justiça. Cadavez tem menos tempo. Quando seesgotam os argumentos jurídicos,sobra apenas a possibilidade de acomunidade internacionalpressionar as autoridades doPaquistão para que Asia Bibi sejalibertada e possa voltar para casa. Eisto é também para si. O que sefizer, pode ser, para Asia Bibi, aúltima esperança!

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt BEBA UM COPO DE ÁGUA POR ASIA BIBI

Beber um copo de água devia ser um gesto livre e natural para toda agente. Ninguém deve ser condenado á morte por causa disto. Dia 10 deDezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos), pelas 17h00, venhabeber um copo de água por Asia Bibi à Alêtheia (Rua do Século, 13Lisboa) ou tire uma selfie a beber um copo de água e envie-nos por mailpara [email protected] ou coloque directamenteno facebook.com/SalvemAsiaBibi. Ao final da tarde, pelas 18h30,estaremos no Chiado no Presépio na Cidade a rezar por esta mesmaintenção. Junte-se a nós!

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Pelos Imigrantes, contra a Imigração traficada

Tony Neves

O Papa Francisco foi a Lampedusa, a Ilhaitaliana no Mediterrâneo onde estão sempre achegar imigrantes ilegais vindos do Norte deÁfrica. Foi a 8 de Julho de 2013, na primeiraviagem fora de Roma deste Papa. Quis chamar aatenção da comunidade internacional para estedrama, até porque são muitos os que morremnas águas do mar e quase todos são vítimas dotráfico humano. Há muita gente enganada porredes mafiosas que prometem uma Europa desucesso e, no fim da linha, aparece-lhes a morteou o acantonamento provisório num dos camposde retenção temporária. Francisco agradeceu ahospitalidade e sentido de acolhimento por partedo povo da Ilha, mas lançou uma denúnciainternacional contra a situação de um mundo emque há gente que tenta tudo e até arrisca a vidapara sobreviver ou tentar viver com um poucomais de dignidade. Momento alto desta visita foio lançamento uma coroa de flores ao mar com oobjetivo de chorar os mortos que ninguém chora.Os tempos passaram e os dramas na costamediterrânica continuaram a acontecer, perantea passividade da comunidade internacional.A 25 de Novembro passado, Francisco foi aoParlamento Eurpeu,a Estrasburgo e disse aosEurodeputados: ‘É necessário enfrentar juntos aquestão migratória. Não se pode tolerar que oMar Mediterrâneo se torne um grande cemitério!Nos barcos que chegam diariamente às costas

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europeias, há homens e mulheresque precisam de acolhimento eajuda. A falta de um apoio mútuo noseio da União Europeia arrisca-se aincentivar soluções particularistaspara o problema, que não têm emconta a dignidade humana dosmigrantes, promovendo o trabalhoservil e contínuas tensões sociais. AEuropa será capaz de enfrentar asproblemáticas relacionadas com aimigração, se souber propor comclareza a sua identidade cultural eimplementar legislações adequadascapazes de tutelar os direitos doscidadãos europeus e, ao mesmotempo, garantir o acolhimento dosimigrantes; se souber adoptarpolíticas justas, corajosas econcretas que ajudem os seuspaíses de origem nodesenvolvimento sociopolítico e nasuperação dos conflitos internos –

a principal causa deste fenómeno– em vez das políticas interesseirasque aumentam e nutrem taisconflitos. É necessário agir sobre ascausas e não apenas sobre osefeitos’.Nesse mesmo dia, o Papa Franciscodiscursou no Conselho da Europa eapontou: ‘são numerosos osdesafios do mundo contemporâneoque necessitam de estudo e de umempenhamento comum, a começarpelo acolhimento dos imigrantes,que precisam primariamente doessencial para viver, mas sobretudoque lhes seja reconhecida a suadignidade de pessoas’.A imigração está no coração daagenda do Papa Francisco e temque passar, com urgência, paratodas as agendas que tem mandaneste mundo. E isto deve acontecerantes que seja tarde demais!

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Identidade e valores

Manuel de LemosPresidente da Uniãodas MisericórdiasPortuguesas

Chegamos ao fim de mais um ano. Um ano que nãofoi especialmente fácil para o nosso País.Dificuldades financeiras assolaram as famílias, odesemprego, apesar de ter registado ligeirasdescidas, continua a ser uma realidade entre muitosportugueses. Mas a época natalícia enche-nos atodos de esperança. Todos desejamos que o futuroseja melhor, para nós, para as nossas famílias, paraos nossos amigos, vizinhos etc. Por isso tudo,importa aproveitar esta quadra para a reflexão.Devemos todos, em conjunto e sempre, refletir sobrea sociedade que temos e queremos.Vivemos numa sociedade cada vez maisindividualista e imediatista. A oportunidade domomento parece ter mais importância que aperenidade dos valores comuns, que a todosinfluencia. O descartável vai ganhando cada vezmaior espaço e já não se limita a bens variados.Hoje, aquilo a que o Papa Francisco chamou decultura do descarte chega mesmo a atingir sereshumanos.Vivemos numa sociedade em que os idosos sãomuitas vezes descartados pelas suas famílias, ostrabalhadores descartados pelas empresas quedeslocalizam núcleos de produção para países maisvantajosos em termos fiscais e salariais, os jovensveem descartado o seu futuro quando nãoconseguem o trabalho que dignifica e os sonhos vãosendo protelados no tempo. Há ainda outros tantosgrupos frágeis na nossa sociedade. São pessoaspara quem o Natal nem sempre traz prendas, nemsempre traz algo ainda mais essencial: família, calorhumano, afetos.Por todos eles, importa refletirmos sobre asociedade que estamos a construir. Uma sociedadeque privilegia os fins em detrimentos dos meios. Nãoimporta

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a que preço social, interessaapresentar bons resultados ao fimde cada ano de trabalho, mesmoque isso represente uma populaçãocada vez mais vulnerável.Por isso, as Misericórdias têm umaresponsabilidade acrescida. Além deapoiar as pessoas naquilo que sãoas suas necessidades maisprementes, as Santas Casas devemtambém saber transmitir os seusvalores tão bem expressos nas 14obras de misericórdia. Fraternidadee amor ao próximo serão porventuraa essência deste idealprogramático. Todos os dias e hámais de 500 anos, as obras demisericórdia têm vindo a sofreralterações naquilo que é a suaconcretização no terreno, mas hánelas algo de inerente, perene edistinto: a noção de que o bem-estar “do outro” importa tanto como“o meu próprio” bem-estar.Nisso reside o fundamental danossa missão. É esta noção de quetodos somos iguais, não importandoa nossa fragilidade, idade,deficiência, situação financeira ououtra, que devemos saber valorizare difundir. Esta é a marca quedetermina a nossa diferença. É amarca que assegura uma existênciajá com tantos séculos de passado eoutros tantos, tenho a certeza, defuturo.Serviços humanizados, em que omeio não é preterido em relação aofim,

constituem a nossa identidade.Importa saber ouvir, saber ajudar eacarinhar todos aqueles que todosos dias passam por nós através dehospitais, unidades de cuidadoscontinuados, lares de idosos,centros de dia, serviços de apoiodomiciliário, lares de infância ejuventude, centros de acolhimentopara vítimas de violência, cantinassociais, entre tantas outrasrespostas que por todo o Paísdisponibilizamos para melhorar avida daqueles que estão emsituação de maior fragilidade.Interessa sempre cumprir requisitosde qualidade e padrões técnicos,assegurar a sustentabilidade quenos permite perdurar no tempo, masestes fins não são colocados àfrente das necessidades daquelesque nos procuram. Mais do quemetas de gestão, importa ter acerteza de que aquele que temosdiante de nós sente que tem voz,que tem valor e que poderá ter umfuturo melhor.Esta é a nossa identidade.Prestamos serviços com valor sociale, ao mesmo tempo, humanizados.Que em 2015 saibamos todosdifundir ainda mais esta ideia dedignidade e respeito que todosqueremos e merecemos. Asdificuldades do País poderão nãoter fim à vista mas que saibamostambém transformar asadversidades em oportunidadespara construção de uma sociedademais coesa e mais justa. Boasfestas.

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