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CONVERSÃO AGROECOLÓGICA DE HORTAS E POMARES Um processo de aprendizagem pela prática de agricultores e agricultoras na região semi-árida brasileira Tainah REGUEIRA - [email protected] Maria Aparecida de AZEVEDO – [email protected] Luis Cláudio MATTOS – [email protected] Todos os autores são técnicos do Projeto Dom Helder Camara PDHC – Rua Francisco Alves, 84 - Ilha do Leite CEP. 50070-490 Recife/PE RESUMO Os sistemas de hortas e pomares cumprem na Região Semiárida brasileira um papel crucial na segurança alimentar das famílias agricultoras. Recentemente, investimentos notadamente públicos, para promoção e consolidação de feiras de agricultores tem gerado uma demanda por produtos oriundos da agricultura familiar, ampliando o mercado para frutas e hortaliças. Por outro lado, a crise ambiental que afeta a Região Semiárida brasileira, por um lado as estiagens e por outro as enchentes, trazem efeitos imediatos no balanço de oferta de produtos, e por conseqüência fragilizam o abastecimento das feiras. Nas últimas décadas, esta questão tem sido o centro do debate em diferentes setores que buscam alternativas sustentáveis de produção para a agricultura familiar, sejam eles da sociedade ou do governo. O caminho vislumbrado para a sustentabilidade da agricultura na região tem sido a adoção de abordagens agroecológicas, que representam uma nova forma de abordar a busca por alternativas 1 . Isto quer dizer que a conversão agroecologica depende fundamentalmente de processos e educação ambiental para o seu sucesso. As ações do Projeto Dom Helder Camara (PDHC) 2 tem seguido os princípios da agroecologia, que na Região Semiárida ganha a feição de conceito de convivência com o semi árido, incorporando questões sócio-políticas, ambientais, culturais, econômicas e tecnológicas. Através da parceria com a sociedade civil. O PDHC adota princípios agroecológicos como referência para Assessoria Técnica, tornando premente a reversão de processos de degradação de terras na região. No âmbito do trabalho do PDHC e suas parcerias, está em curso um processo de Formação de Agricultores e Agricultoras pela Experimentação nos territórios 3 do Cariri Paraibano e Região do 1 Gliessman (2005) define agroecologia como ciência definida como a aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de ecossistemas sustentáveis. 2 O PDHC é um projeto governamental voltado para promover ações referenciais para o desenvolvimento sustentável do semi-árido do Nordeste do Brasil, fruto de um acordo de empréstimo com o Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Agricultura (FIDA) e do Global Environment Facility (GEF). 3 Território compreende um conjunto de municípios que guardam uma identidade entre si, seja do ponto de vista ambiental ou cultural.

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CONVERSÃO AGROECOLÓGICA DE HORTAS E POMARES

Um processo de aprendizagem pela prática de

agricultores e agricultoras na região semi-árida brasileiraTainah REGUEIRA - [email protected]

Maria Aparecida de AZEVEDO – [email protected] Cláudio MATTOS – [email protected]

Todos os autores são técnicos do Projeto Dom Helder Camara

PDHC – Rua Francisco Alves, 84 - Ilha do Leite CEP. 50070-490 Recife/PE

RESUMO

Os sistemas de hortas e pomares cumprem na Região Semiárida brasileira um papel crucial na

segurança alimentar das famílias agricultoras. Recentemente, investimentos notadamente públicos, para

promoção e consolidação de feiras de agricultores tem gerado uma demanda por produtos oriundos da

agricultura familiar, ampliando o mercado para frutas e hortaliças. Por outro lado, a crise ambiental que

afeta a Região Semiárida brasileira, por um lado as estiagens e por outro as enchentes, trazem efeitos

imediatos no balanço de oferta de produtos, e por conseqüência fragilizam o abastecimento das feiras.

Nas últimas décadas, esta questão tem sido o centro do debate em diferentes setores que

buscam alternativas sustentáveis de produção para a agricultura familiar, sejam eles da sociedade ou

do governo. O caminho vislumbrado para a sustentabilidade da agricultura na região tem sido a adoção

de abordagens agroecológicas, que representam uma nova forma de abordar a busca por alternativas1.

Isto quer dizer que a conversão agroecologica depende fundamentalmente de processos e educação

ambiental para o seu sucesso.

As ações do Projeto Dom Helder Camara (PDHC)2 tem seguido os princípios da agroecologia,

que na Região Semiárida ganha a feição de conceito de convivência com o semi árido, incorporando

questões sócio-políticas, ambientais, culturais, econômicas e tecnológicas. Através da parceria com a

sociedade civil. O PDHC adota princípios agroecológicos como referência para Assessoria Técnica,

tornando premente a reversão de processos de degradação de terras na região.

No âmbito do trabalho do PDHC e suas parcerias, está em curso um processo de Formação

de Agricultores e Agricultoras pela Experimentação nos territórios3 do Cariri Paraibano e Região do

1 Gliessman (2005) define agroecologia como ciência definida como a aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de ecossistemas sustentáveis.2 O PDHC é um projeto governamental voltado para promover ações referenciais para o desenvolvimento sustentável do semi-árido do Nordeste do Brasil, fruto de um acordo de empréstimo com o Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Agricultura (FIDA) e do Global Environment Facility (GEF). 3 Território compreende um conjunto de municípios que guardam uma identidade entre si, seja do ponto de vista ambiental ou cultural.

Apodi Potiguar. O objetivo deste trabalho é estimular a conversão agroecológica em áreas de produção

irrigada de hortaliças e frutas, atendendo o mercado local de feiras agroecológicas. A estratégia

pedagógica central é a formação pela prática, aliada à reflexão.

PALAVRAS CHAVE: Agricultura, agroecologia, educação ambiental, recursos naturais,

sustentabilidade ambiental.

INTRODUÇÃO

A região semi-árida do Nordeste Brasileiro possui 882.081 Km², correspondendo a 53,10% da

área do território nordestino. Essa região é caracterizada por duas estações bem definidas, um período

seco e um curto período chuvoso, proporcionando um enorme contraste entre a época seca e de chuva,

evidenciando seu potencial, com sua rica diversidade biológica da fauna e flora. Nessa área as

principais atividades econômicas é a agricultura e a pecuária.

A região, assim como toda as regiões agrícolas do país, sofreu também influência da chamada

Revolução Verde na segunda metade do século XX, quando a intensificação do uso de tecnologias,

mecanização e produção de insumos químicos propunha resolver os desafios da agricultura de

proporcionar alimentos suficientes para uma população humana em expansão. Durante este período,

havia a crença na maximização da produtividade e do lucro entendida como processo de modernização.

O que houve de fato foi a artificialização da agricultura.

Apesar da inegável ampliação da oferta bruta de alimentos no mundo, a revolução verde não

resolveu o problema da fome, que tem outras causas além da oferta de alimentos. Além disso, teve uma

série de repercussões ambientais tais como: (i) a degradação do solo - perda contínua de fertilidade,

declínio na qualidade da sua estrutura, alagamento, salinização, contaminação química e processos

erosivos graves; (ii) esgotamento e comprometimento da qualidade dos mananciais - desperdício

da água em sistemas de irrigação intensivos, assoreamento de cursos d’água, poluição química da

água com resíduos de agrotóxicos; (iii) perda da diversidade genética – substituição de variedades

tradicionais de cultivos por variedades ou híbridos, uniformização genética progressiva, substituição

de formações nativas por monocultivos. De acordo com um estudo das Nações Unidas, em 1991, 38%

da terra hoje cultivada foi danificada em algum nível por prática agrícola desde a 2º guerra mundial.

No Nordeste brasileiro os agricultores que dispunham de capital e incentivados pela

propaganda da Revolução Verde adotaram as práticas da agricultura convencional. Por sua vez, os

agricultores excluídos do sistema oficial de crédito, mesmo não aplicando as técnicas em seu conjunto,

absorveram seus conceitos, de modo que consideram que esta é a “agricultura moderna”. Ainda hoje,

o crédito proporcionado pelas políticas públicas para os agricultores familiares nordestinos é o maior

incentivador do uso de insumos químicos aos sistemas produtivos, a despeito da repercussão negativa

observada a longo tempo.

Do ponto de vista educacional, a Revolução Verde contou com um forte apoio das políticas de

assistência técnica e extensão rural pública brasileira, além de um amparo da pesquisa agropecuária de

universidades e institutos de pesquisa.

A conversão destes sistemas convencionais de produção agrícola para a agroecológica

exige portanto também uma mudança de padrões de formação e educação ambiental vinculado-os

à investigação local e inovação tecnológica. Por um lado, a agroecologia pode ser definida como

o manejo ecológico dos recursos naturais através de formas de ação social coletiva que apresentam

alternativas à atual crise de modernidade (Sachs, 1992; Toledo, 1990), incorporando propostas de

desenvolvimento participativo (Norgaard, 1994). A formação para agroecologia deve ir portanto

além da conversão tecnológica. Deve enfocar a crise ecológica e social, e com isso a restaurar o curso

alterado da co-evolução social e ecológica.

No caso da região semiárida, a formação para a agroecologia tem um desafio adicional

de destacar e valorizar o rico potencial da região, frente ao estigma de ser uma região de baixas

produtividades. Neste sentido, já existem experiências em curso desde a década de 80, que tem sido

desenvolvidas por inúmeras ONGs, com apoio dos movimentos sociais, e envolvimento de famílias

de agricultores familiares, que inovaram, experimentaram e desenvolveram sistemas de produção

que se tornaram referências para a região e para o país. Tais experiências tem promovido mais

sustentabilidade social, econômica e ambiental via a conversão agroecológica de agroecossistemas de

gestão familiar4.

Através do PDHC e parceiras é possível verificar-se muitos aprendizados, que se configuram

concretamente na viabilização de feiras agroecológicas. Foram 11 novas feiras implantadas de 2002 a

2008 e 9 já existentes por iniciativa de ONGs fortalecidas na região de atuação do PDHC.

O diagnóstico das áreas de produção, efetuado em 2008, mostra que houve um significativo

avanço da horticultura e fruticultura rumo à Agroecologia. No entanto, em geral, as áreas de hortaliças

e fruteiras estão ainda mais próximas de uma agricultura orgânica, baseada na substituição de insumos

convencionais por insumos alternativos (não tóxicos e de fácil acesso às famílias).

Atualmente incorporadas à estratégia do Projeto Dom Helder na forma de assessoria técnica

permanente, esta ação de formação ambiental está apoiada por instrumentos de experimentação

4 Neste texto o agroecossistema é definido como a área de produção de hortaliças e/ou frutas , o seu entorno e a família que o maneja.

participativa e investimentos produtivos com as famílias agricultoras. Dentre estas experiências

de formação para a conversão agroecológica está o aprendizado na produção e comercialização de

hortaliças e frutas irrigadas, proposta que teve inicio em 2008 nos territórios dos Sertões do Apodi-RN

e Cariri-PB e que são objeto do presente trabalho.

O objetivo desta iniciativa, além da conversão agroecológica em áreas de produção de hortaliças

e frutas, é estabelecer sistemas referenciais baseados em práticas de mais sustentáveis ambientalmente.

A manutenção de uma produção diversificada e de qualidade para atender ao mercado consumidor das

feiras agroecológicas está também entre as preocupações deste processo de formação.

METODOLOGIA

Como já mencionado anteriormente, para se alcançar uma condição de sustentabilidade

ambiental e conseqüentemente socioeconômica das áreas de plantio de hortaliças e frutas, faz-

se necessário uma abordagem metodológica e técnica que vá além da substituição de insumos. É

fundamental que as famílias dominem conhecimentos relacionados com as relações inerentes ao

agroecossistema, sobretudo aquelas complementares entre as espécies plantadas numa mesma área.

Isto implica em manejar a

sucessão de espécies

plantadas nos canteiros e em seu

entorno, visando arranjos espaciais

de biodiversidade. Por sua vez, a

maior biodiversidade tem

relação com a fertilização

progressiva do solo, melhor uso da

água e fortalecimento das plantas

contra as pragas e doenças.

Com melhoria do equilíbrio natural, o

sistema como um todo ganha

resiliência.

Estes aspectos ajudam na manutenção do potencial produtivo ao longo do tempo, que em

determinadas épocas do ano chegam a comprometer o pleno potencial de produção.

É importante destacar que o processo de formação está direcionado para superar os desafios

identificados pelos agricultores e agricultoras familiares é desenvolvido através de um processo de

Figura 2 – Encontro de aprendizagem no Cariri/PB

formação pela prática experimental. A metodologia adotada para o alcance dos objetivos propostos,

busca elevar o nível de conhecimento das famílias no sentido de fortalecer a estruturação de seus

agroecossistemas.

A estratégia pedagógica central é a formação pela prática aliada à reflexão: a formação prática

acompanha o ciclo dos cultivos, com conteúdos que seguem a recomendação técnica para horticultura

agroecológica, com os temas dispostos em ordem de prioridade em relação aos desafios enfrentados

pelos agricultores/as na produção. A formação segue as seguintes orientações metodológicas:

• O aprendizado é realizado em uma área produtiva de horticultura orgânica, onde o campo

fornece a maior parte do material para o aprendizado (plantas, solo, pragas, problemas). Estas

áreas são os agroecossistemas de referência, ou, campo de aprendizagem.

• Utilizar linguagem e instrumentos visuais simples, para trazer os elementos da teoria que sejam

necessários para ampliar o conhecimento e resolver problemas concretos.

• Iniciar com as práticas mais pontuais e específicas, porém considerar o agroecossistema como

um todo e ir avançando com o grupo nesta compreensão.

• As atividades da formação devem potencializar as atividades produtivas já realizadas pelas

famílias, se adequando ao manejo diário da produção das hortaliças e frutas. Esperando a

obtenção de uma produção mais diversificada e uma oferta mais equilibrada, mesmo em épocas

de maior ocorrência de doenças e pragas.

• O itinerário metodológico segue o ciclo natural do cultivo das hortaliças (preparo de solo,

planejamento e plantio de consórcios, rotação de cultivos, pousio e adubação verde, preparação

de mudas, plantio, transplante, desbaste, manejo da água, colheita). A ordem dos temas deve

ser estabelecida com os participantes, especialmente com agricultores/as que manejam a área

produtiva que sedia a formação.

• O aprendizado é estruturado em ciclos: 1. Identificação de problemas 2. Formulação de

hipóteses 3. Montagem de experimentos simples, integrados à prática produtiva 4. Análise

participativa/reflexão sobre os resultados e repercussão da experiência sobre a prática produtiva.

• Experiências de aprendizagem: para cada tema trabalhado são implantados pequenos

experimentos para fortalecer o aprendizado das famílias participantes e fazendo com que os

agricultores tirem suas próprias conclusões do experimento.

• Entre os encontros, os/as agricultores/as participantes são estimulados/as a replicar os

experimentos em suas áreas de produção.

A formação se divide em três módulos constituídos por períodos trimestrais com dias de

aprendizagem com freqüência quinzenal, que acompanham os ciclos produtivos ao longo de 10 meses,

possibilitando o acompanhamento dos cultivos sob condições ambientais distintas, durante o período

seco e o chuvoso, o que implica em estratégias distintas de manejo da água, manejo fitossanitário e

outros. O conjunto de seis encontros de aprendizagem constitui um módulo, que é intercalado com

Seminários Territoriais, de um dia e meio.

O Seminário Territorial envolve os grupos de agricultores/as de cada território que produzem

hortaliças e frutas e as equipes da assessoria técnica permanente contratadas pelo Projeto Dom Helder e

mobilizadores sociais5, e tem focos complementares:

• Trazer subsídios e debater com os agricultores do território o porquê da agroecologia,

introduzindo o tema ou aprofundando aspectos conceituais, avaliando sua pertinência diante

da crise atual da agricultura moderna e contextualizando eventuais desafios observados no

território.

• Olhar para o território e para o que mobiliza esta formação pela prática, introduzindo manejo

agroecológico de hortas e pomares.

• Avaliar e replanejar a formação em curso, quanto à metodologia, eficiência e operacionalização,

debatendo com os participantes como ela pode repercutir mais efetivamente no território.

• Acordo sobre os papéis dos participantes e estabelecimento de compromissos comuns.

Os/as agricultores/as em formação são das comunidades e assentamentos acompanhados pela

assessoria técnica do Projeto Dom Helder nos territórios mencionados, tendo como critério principal

para a participação o fato de já trabalharem com a produção de hortaliças e frutas em estágio de

substituição de insumos convencionais por insumos alternativos.

No Apodi a área proposta como sede da formação é no Assentamento de Lagoa Vermelha,

Município de Upanema e em Sombras Grandes e Milagres, Município de Caraúbas e no Cariri a área

proposta como sede é na comunidade de Tinguí, Município de Monteiro. A turma em formação é

constituída de dois agricultores/as por comunidade representantes do grupo de interesse de horticultura

e fruticultura irrigada, mais os técnicos da assessoria técnica permanente e os mobilizadores sociais

parceiros do Projeto Dom Helder que acompanham as comunidades participantes. Os grupos de

interesse nas comunidades têm tamanho variável de 7 a 12 famílias por grupo. Estabeleceu-se 10 como

número médio de famílias que serão envolvidas na experimentação por comunidades, de modo que são

5 Os mobilizadores sociais são agricultores/as das próprias áreas de atuação do Projeto Dom Helder, que cumprem o papel de mobilização e articulação das ações juntos as famílias nas comunidades e assentamentos.

entre 70 a 120 agricultores/as que devem experimentar em suas próprias áreas. Os/as agricultores/as

envolvidos/as devem experimentar nas áreas produtivas dos grupos de interesse as mesmas práticas que

serão desenvolvidas na área referencial, ampliando o número de famílias envolvidas neste processo de

formação pela prática.

Materiais utilizados na experimentação na área referencial, tais como sementes de

espécies utilizadas na adubação verde, mudas de espécies nativas, pós de rocha para o preparo de

biofertilizantes, sementes de novas variedades para experimentar efeitos alelopáticos entre as plantas

cultivadas, entre outros são distribuídos aos participantes para apoiar a replicação da experimentação

nas comunidades de origem dos/as agricultores/as.

RESULTADOS

Para contribuir para a evolução dos agroecossistemas rumo à sustentabilidade foi estruturada a

formação apresentada e nesta foram realizados até 15 de maio:

• 10 Encontros de Aprendizagem no território do Apodi, envolvendo em média 45 participantes

por encontro

• 8 Encontros de Aprendizagem no Cariri, envolvendo em média 35 participantes por encontro

• 2 Seminários Territoriais de Planejamento Monitoramento e Avaliação no Apodi, envolvendo

100 pessoas em média

• 1 Seminário Territorial no Cariri, envolvendo 60 pessoas.

Experimentos em curso:

• Análise da vazão de diferentes sistemas de irrigação (tradicionais desenvolvidos pelos/as

próprios/as agricultores/as, sistemas montados segundo parâmetros técnicos).

• Preparo de canteiro a diferentes profundidades.

• Preparo de composto, biofertilizante e bokashi (tipo específico de composto orgânico).

• Utilização de composto X utilização de esterco parcialmente curtido no preparo de canteiros.

• Semeadura com e sem cobertura morta.

• Viveiragem de plântulas.

• Podas de condução em frutíferas.

• Rotação e plantio consorciado segundo relações de alelopatia entre plantas cultivadas.

• Canteiros em pousio com adubação verde (diversas espécies: Mucuna sp, Crotalaria sp, girassol,

cunha, feijão guandu, etc).

• Recuperação de faixas de caatinga no entorno e entre setores de irrigação, com plantio de

espécies nativas e leguminosas arbóreas.

• Semeadura em canteiros preparados com adubação verde mais composto X apenas composto.

• Manejo de sombra: sombreamento parcial da área produtiva no verão X canteiros a pleno sol.

• Plantio de espécies arbóreas entre os canteiros para manejo de sombra, produção de massa

verde no verão e incorporação de nitrogênio em profundidade.

• Aperfeiçoamento de sistemas de irrigação desenvolvidos pelos agricultores.

A partir da realização dos experimentos, contextualizados no desafio cotidiano da produção, o

aprendizado é potencializado.

Às vezes basta olhar com um olhar diferente: foi observado em área produtiva em Sombras

Grandes que o canteiro de coentro estava com melhor desenvolvimento em área parcialmente

sombreada, na época do verão. Isto deu oportunidade para se refletir na insolação adequada às plantas

e manejo de microclima numa época crítica dos ciclos de plantio. Já no auge do período chuvoso

poderão ser avaliadas as mesmas práticas, em outro contexto.

Avaliação dos participantes ao final de cada evento de formação, indicam, reiteradamente, que a

metodologia é um aspecto positivo determinante no sucesso da formação. Isto tem sido destacado tanto

por técnicos quanto pelos/as agricultores/as em ambos os territórios onde esta ação se desenvolve.

Como resultado os Encontros de Aprendizagem têm sido concorridos e o público beneficiário

se mantém constante. Isto é especialmente significativo uma vez que é comum a formações de

longo prazo que haja alternância dos/as agricultores/as participantes ou mesmo certo esvaziamento,

em especial em eventos que se sucedem com certa freqüência e que concorrem com as atividades

produtivas, que nas hortas significa trabalho intenso e cotidiano. No Apodi a turma inicial chegou a ser

ampliada, e no segundo seminário territorial realizado, diante da proposta da turma crescer ainda mais,

foi avaliado de forma aberta que a turma estava em seu limite quanto a oferecer de forma qualificada a

oportunidade do aprendizado.

Foi observado também no

Apodi, no segundo seminário

realizado a 13 e 14/04/2009 que está

sendo realizado o repasse dos

conteúdos da formação e

avaliado pelos participantes que a

forma mais eficiente de transmitir Figura 1. Agricultor/a trabalhando na horta

os aprendizados é organizar uma

tarde de campo na comunidade onde se experimenta as mesmas técnicas experienciadas na área sede

da formação. Nem todos os/as representantes das comunidades estavam repassando desta maneira e o

seminário contribuiu para se definir coletivamente que esta maneira é mais produtiva.

Quanto a diversificação de cultivos e a experimentação das relações alelopáticas entre as

plantas cultivadas, a experimentação ainda é tímida, esbarra-se com o hábito de produção, consumo

(e, conseqüentemente comercialização) de poucas espécies, usualmente o coentro, alface, cenoura,

beterraba, cebolinha e cebola, com destaque para o coentro.

CONCLUSÃO

Observa-se que processos educativos e de formação baseados na prática dos/as agricultores/as

tem grande potencial transformador quanto ao aperfeiçoamento dos sistemas produtivos.

As experimentações que envolvem os agricultores e agricultoras tornam-se mais próximas

da pratica cotidiana e tentem a ser mais eficientes tanto na resolução de problemas específicos dos

sistemas produtivos como no aproveitamento dos potenciais ainda inexplorados.

É essencial que a teoria ou aprofundamento conceitual esteja presente, porém em estreita

correlação com a prática em experimentação, com linguagem simples e de preferência utilizando-se de

imagens.

Os eventos de planejamento e avaliação participativos são essenciais para assegurar a qualidade

e flexibilidade da ação em curso e são oportunidades de concertação entre diferentes organizações que

prestam assessoria técnica nos territórios e os agricultores, maiores beneficiários desta ação.

Para promoção da sustentabilidade dos sistemas produtivos esta ação de formação pela

experimentação é bastante promissora, pois oferece múltiplas frentes de experimentação, que

contemplam os desafios recorrentes dos processos produtivos nos agroecossistemas.. BIBLIOGRAFIA

GLIESSMAN, Stepehn R. Agroecologia. Porto Alegre: Ufrgs, 2005REIJNJES, Coen; HAVEKORT, Bertus; WATERS-BAYER, Ann. Agricultura para o futuro – Uma

introdução à agricultura sustentável e de baixo uso de insumos externos. AS-PTA Assessoria e

Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa. Rio de Janeiro, 1994

SILVEIRA, L., PETERSEN, P., SABOURIN, E. Agricultura Familiar e Agroecologia no Semi-Árido.

Rio de Janeiro: AS-PTA, 2002

JALFIM, F. Agreoecologia e agricultura familiar em tempos de globalização: O caso dos sistemas

tradicionais de criação de aves no semi-árido brasileiro.