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UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” TERAPIA DE FAMÍLIA O ATENDIMENTO À FAMÍLIA DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA MENTAL ROSILENE PEREIRA FERREIRA PIEDADE Orientadora :FABIANE MUNIZ

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Page 1: UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A … · melhor o lugar da criança com deficiência mental e, consequentemente, o papel da família na sociedade contemporânea. A

UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

TERAPIA DE FAMÍLIA

O ATENDIMENTO À FAMÍLIA DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA

MENTAL

ROSILENE PEREIRA FERREIRA PIEDADE

Orientadora :FABIANE MUNIZ

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2UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

TERAPIA DE FAMÍLIA

O ATENDIMENTO À FAMÍLIA DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA

MENTAL

Monografia apresentada a Pós-Graduação “Lato Sensu”

para obtenção do Título de Especialização em Terapia de

Família.

ROSILENE PEREIRA FERREIRA PIEDADE

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AGRADECIMENTOS

A todos os amigos que direta e indiretamente contribuíram para que

eu fizesse o curso e me incentivaram a construir este trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu amado Edivaldo, que tanto colaborou com

seu aperfeiçoamento também ao meu filho Pedro Lucas pela alegria e

realização de sonhos.

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RESUMO

Pesquisa realizada sobre a família da criança com deficiência mental e seu olhar

dispensado a essa criança tanto no âmbito educacional quanto social, bem

como dentro do seu próprio seio. Buscou-se a partir dessa perspectiva o

entendimento da dinâmica relacional da família com todos os sujeitos envolvidos

no processo. Resgatara-se o histórico da deficiência mental, focalizando sua

problemática e evolução científica adotando-se o entendimento de que dada

conceituação embora apresente avanços há equívocos e uma constante

construção. Ressalta-se que a família é pouco estudada e que a maior atenção

está quase que exclusivamente voltada para o entendimento do sujeito e suas

necessidades e que a família às vezes é deixada de lado, não sendo

devidamente estudada e acompanhada. A pesquisa nos possibilitou o

conhecimento das potencialidades da família e a possibilidade e a necessidade

desta de readaptação e apoio com a chegada de uma criança dita “anormal”.

Palavras-chave: Família, Deficiência Mental.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................7 1-CONFIGURAÇÃO HISTÓRICO-CONCEITUAL DA DEFICIÊNCIA

MENTAL..............................................................................................................12

2-A FAMILIA DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA MENTAL .............................20

2.1-A família como contexto de desenvolvimento para a criança com

deficiência mental .............................................................................................24

2.2-Sentimentos, estresse e expectativas de pais e mães de crianças com

deficiência mental ...........................................................................................26

2.3-Como a família percebe sua criança com deficiência mental? ...........28

3-O ATENDIMENTO À FAMÍLIA DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA

MENTAL..............................................................................................................31

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................38

REFERÊNCIAS ..................................................................................................41

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INTRODUÇÃO

O conceito de deficiência mental possui uma história que esteve sempre

muito próxima das concepções sócio-econômicas e de homem vigentes em uma

determinada sociedade. Neste trabalho, apresentamos algumas reflexões

relativas à concepção de deficiência mental, a dinâmica e funcionamento de

famílias com crianças deficientes e, principalmente, o apoio a família da criança

com deficiência mental. A compreensão desses aspectos e de suas inter-

relações constitui a base para a promoção da saúde psicológica e o bem-estar

destas crianças e de suas famílias.

É importante conhecer as idéias que norteiam a concepção acerca da

deficiência mental, em cada período histórico, para que possamos compreender

melhor o lugar da criança com deficiência mental e, consequentemente, o papel

da família na sociedade contemporânea.

A partir do século XX começa a se estabelecer propriamente dita uma

definição para a Deficiência Mental como o sujeito que tem funcionamento

inferior à média estatística das pessoas. Há muitas críticas em relação aos

testes de avaliação de QI (quociente intelectual), pois não colocam em

discussão o aspecto cultural, educacional, a motivação e o desejo do sujeito em

realizar o teste.

O CICID (Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e

Desvantagens) situa a deficiência mental ou intelectual quando a pessoa tem as

limitações na aprendizagem, memória, percepção, no estabelecimento das

relações, n

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8a consciência que trazem como consequência maior o comprometimento da

capacidade ocupacional e na integração social.

Segundo a descrição do DSM IV e o retardo mental é quando a pessoa

apresenta “funcionamento intelectual significativamente inferior à média,

acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo

menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, auto-cuidado,

vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento interpessoal, uso de

recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer,

saúde e segurança”.

É comum que a deficiência mental seja pensada como uma condição em

si mesma, um estado patológico bem definido. Entretanto, a Deficiência Mental é

uma condição que está bastante permeada por um mecanismo social que atribui

a essa limitação um valor de morbidade, que é sempre comparativo. Isso

significa dizer que essa pessoa pode ser considerada deficiente em uma

determinada cultura não em outra, de acordo com a capacidade dessa pessoa

satisfazer aos ideais culturais.

A deficiência mental está inserida em sistemas categoriais há séculos,

figurando como demência e comprometimento permanente da racionalidade e

do controle comportamental. Essa compreensão pode ter contribuído para a

manutenção de preconceito e influenciado pensamentos e atitudes

discriminatórios acerca da deficiência mental, como se verifica em muitas

sociedades modernas.

Coerente com a prática classificatória e categorial, a deficiência mental

tem sido identificada como uma condição individual, inerente, restrita à pessoa.

Essa posição encontra fundamento nas perspectivas organicistas e psicológicas,

atribuindo-se pouca importância à influência de fatores socioculturais.

O rótulo de deficiente mental apresenta, por sua vez, uma dupla função, isto é, a

de determinar como a pessoa com deficiência mental vai se comportar na

sociedade e, também, os padrões de conduta dos outros ao interagirem com ela.

Esta idéia coloca em evidência a questão de que a deficiência é construída pelo

contexto social em que a pessoa vive. Segundo Omote (1995), o deficiente

mental é uma pessoa que possui algumas limitações em suas capacidades e

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9desempenhos; porém, há outras pessoas em nossa sociedade que também são

limitadas e que não são consideradas deficientes.

Atualmente, utiliza-se o termo "necessidades especiais" ou

"necessidades educativas especiais", incluindo todas as crianças avaliadas

como apresentando algum tipo de necessidade educativa especial; porém, este

conceito, apesar de muito abrangente, perde na precisão e pode estar

significando a incorporação de um grande número de crianças, sobre as quais

temos grandes dúvidas se teriam, efetivamente, algum tipo de necessidade

especial (Bueno, 1997, p. 41).

Outra noção construída socialmente e que merece ser destacada aqui,

por estar impregnada na própria noção de deficiência mental, refere-se à

posição de desviante. Para Omote (1995) e Martins (1996), a concepção de

desvio tem uma relação direta com as práticas coletivas no trato com as

pessoas deficientes. Segundo Glat (1995), a rejeição da sociedade às pessoas

deficientes mentais reflete a própria fragilidade social, pois tudo que é diferente e

anormal chama atenção e pode causar variadas reações. Para Crochík (1997), a

"diferença" é parte inerente ao conceito de deficiência e traz em si mesmo a

possibilidade do preconceito, uma vez que este caracteriza-se pela aversão ao

diferente. Contudo, essa diferença poderia não traduzir esta forma de

preconceito se ela (a diferença) fosse reconhecida como fazendo parte da

essência humana.

Diante desse contexto, o Ministério da Educação do Brasil (MEC) adotou

um enfoque multidimensional para a caracterização da DM, inspirado no modelo

proposto pela Associação Americana de Deficiência Mental (AAMR), incluindo a

função intelectual e as habilidades adaptativas, a função psicológico-emocional,

as funções física e etiológica e o contexto ambiental (MEC, 1995a). Este modelo

enfatiza a funcionalidade do sujeito e o aspecto orgânico da deficiência, o que

não deixa de estar coerente com as concepções que prevalecem na nossa

sociedade, as quais refletem os valores estabelecidos pelo sistema vigente,

conforme ressaltado por Aranha (1991, 1995).

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10 A importância da família da pessoa com deficiência não vem recebendo

nas discussões acadêmicas e as propostas de atendimento o papel de destaque

que merece. A nível de Brasil essa questão tem sido muito pouco contemplada.

Em nosso país existe, é certo, um número razoável de pesquisas e trabalhos

sobre famílias com deficientes, porém a maioria deles se concentra na análise

das falas das mães.

Talvez uma das causas dessa lacuna esteja no fato de que essas

discussões continuam de maneira geral centradas no individuo e nas

possibilidades – ou mais freqüentemente, as dificuldades do sistema de absorvr

essas pessoas.

O indivíduo passa a maior parte do seu tempo com a família, é ela em

primeira instância que moldará seus valores, sua concepção de mundo, sua

auto-imagem.

Omote (1995) lembra que não se pode entender a deficiência sem se

levar em contar as relações interpessoais. E, especialmente, para essas

pessoas, cujos horizontes sócio-afetivos são limitados, a família representa a

primeira e mais permanente das audiências. É com os membros de sua família

que a pessoa com deficiência mantém as relações pessoais mais próximas e

importantes, em muitos casos a única.

Em outro ângulo observa-se que a família que em sociedades pré-

capitalistas era apontada como vítima da pessoa com deficiência por

demonstrar-se incapaz, estranha ou culpada pela condição do filho, nos tempos

atuais aparece como elemento fundante para que o aspecto prestação de

serviços à pessoa com deficiência aconteça, isto a partir da gestação de

instituições especializadas.

É a partir desta análise que visamos compreender dentro do Centro de

Atendimento Popular da Leopoldina elementos que descortinarão a atenção à

família da criança com deficiência mental, bem como as implicações para o

desenvolvimento dessa criança e suas inter-relações. No alcance de tal

propósito começamos pelo resgate histórico-conceitual da deficiência mental.

O surgimento desta inquietação deu-se na oportunidade em que fizemos

um acompanhamento de convênios firmado entre a instituição e a Prefeitura

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11Municipal do Rio de Janeiro, onde passamos a observar a atenção dada às

famílias usuárias dos serviços.

Destacamos aspestos importantes para o nosso estudo como: o apoio à

família da criança com deficiência mental desencadeado na instituição em tela.

Desta forma o trabalho aqui apresentado fora baseado numa perspectiva

crítico-dialética da realidade e está dividido nos seguintes capítulos: Primeiro

Capítulo: Configuração Histórico Conceitual da DM Segundo Capítulo: A Família

da Criança com Deficiência Mental; Terceiro Capitulo: O Atendimeto à Família

da Criança com Deficiência. Ao longo dos três capítulos nos ativemos à

pesquisa bibliográfica.

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CAPÍTULO I

CONFIGURAÇAO HISTÓRICO-CONCEITUAL DA

DEFICIÊNCIA MENTAL

A própria pessoa com deficiência vem ao longo da história passando por

diversos processos de exclusão. É, em sua maioria, alvo de curiosidade e

estigmatização, dificultando, assim, o exercício pleno de sua cidadania.

A indiferença, o medo do desconhecido, a rejeição são sentimentos que

tem acompanhado essas pessoas ao longo de anos. Tal situação é resultado de

especulações construídas nas diversas épocas da história da humanidade. Mas,

para entender melhor esse processo, fizemos uma reconstrução da trajetória

histórica da Deficiência Mental, segundo Pessotti (1984) e outros autores, tendo

em vista que várias idéias nortearam a concepção acerca da deficiência mental

e que influenciaram as atitudes da sociedade em relação à condição, fazendo-se

importante, também, pelo fato de que ao conhecermos melhor a trilha percorrida

por esta, identificaremos o lugar da família nesse processo.

Ressalvando, entretanto, que para fazermos essa reconstrução histórica,

pressupomos uma consciência do que representava a deficiência mental para

cada grupo cultural.

Durante a Antiguidade as crianças com deficiência eram abandonadas a

própria sorte. Essa atitude era congruente com ideais morais da sociedade

clássica e classista da época, em que a eugenia e a perfeição do indivíduo eram

extremamente valorizadas. “Em Esparta, crianças com deficiência físicas ou

mentais eram consideradas sub-humanas, o que legitimava sua eliminação ou

abandono” (Pessotti, 1984, p. 46). Na Idade Média, a deficiência mental era

concebida como um fenômeno metafísico e espiritual desvio a influência da

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13Igreja; à deficiência era atribuída um caráter “divino” ou “demoníaco” e esta

concepção, de certa forma, conduzia o modo de tratamento das pessoas com

deficiência. Com a influência da doutrina cristã, essas pessoas começaram a ser

vistas como possuindo uma alma e, portanto, eram filhas de Deus. Desta forma,

não eram mais abandonadas,e sim, acolhidas por instituições de caridade. Ao

mesmo tempo em que imperava esse ideal cristão, as pessoas com deficiência

mental eram consideradas como produtos da união entre mulher e demônio, o

que justificava a queima de ambos, mãe e filho. Além dessa prática, usavam-se

também outras mais “amenas” como punições, torturas e diversos tipos de

maus-tratos. Essa era a postura da sociedade numa época, em que a

ambivalência caridade-castigo constituía, de acordo com Pessotti (1984, p.6): “a

marca definitiva da atitude medieval diante da deficiência mental”.

Com o advento da sociedade burguesa, surge uma nova sensibilidade

social marcadamente a partir dos séculos XVII e XVIII. Esta deslocou um

problema essencialmente político para alçada técnica. A deficiência não se

referia à diferença, mas à doença, à imperfeição. Muitas, decorrentes de

patologias ainda não passíveis de tratamento, acabavam por ocasionar a morte.

Ainda assim, esta passou a ter uma conotação mais direta com o sistema

econômico que se propunha, sendo considerada atributo dos indivíduos não

produtivos economicamente. Além disso, com o avanço da medicina, houve uma

prevalência da visão organicista sobre a deficiência mental, esta sendo vista

como um problema médico e não mais, apenas, como uma questão espiritual.

O avanço da medicina vai fazer com que a morte não seja mais a única

certeza para muitas pessoas com patologias diversas, mas a certeza de que

seriam para sempre incapazes, deficientes.

Ainda nos séculos XVII e XVIII, ampliaram-se as concepções a respeito

da deficiência mental em todas as áreas do conhecimento, favorecendo

diferentes atitudes frente ao problema, isto é, da institucionalização ao ensino

especial. Mas, foi somente no século XIX que se observou uma análise da

evolução histórica e científica da deficiência mental que segundo Mendes (1995)

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14permitiu identificar três momentos claros de notáveis transformações teóricas,

levando em consideração os estudos dos determinantes, das características (...).

O primeiro momento surge com o nascimento do estudo científico

sistemático, ocorrido praticamente no início do século XIX, até o início o

presente século.

Um segundo momento pode ser identificado na primeira metade do

século XX, quando houve uma multiplicação na maneira de compreender a

deficiência mental.

O terceiro momento mais contemporâneo pode ser observado a segunda

metade do século XX, que está sendo caracterizado por mudanças bastante

dinâmicas na teoria e na prática relacionada à deficiência mental.

O primeiro momento mais conhecido como o advento do estudo científico

da deficiência mental, ocorreu quando Esquirol (1818), partindo da observação

das características anatom-fisiológicas de adolescentes e adultos

institucionalizados com acentuação da incapacidade, estigmas físicos bem

visíveis e inadequações pessoais, inquietou-se com a população

institucionalizada em hospitais para os chamados alienados da razão, distinguiu

definiu a condição por ele denominada como “idiotia”. A partir de então, pode-se

observar o estudo mais sistemático desta condição.

Três pressupostos básicos são adotados por Esquirol (1818) e Seguin

(1846) que passaram a ser continuamente reforçados nas condições

posteriores, são eles: a base orgânica, o déficit intelectual e a noção de

incredulidade.

Apesar das proposições teóricas de Esquirol e Seguin que acreditavam

na possibilidade que a condição de deficiência mental era adquirida, Pessotti

(1894) nos leva a crer que houve o predomínio da idéia de que a idiotia era

hereditária e indicadora de um mecanismo de degenerescência da espécie

humana.

A crença na hereditariedade, na incurabilidade e na ameaça social que

representava a condição na época parecem ter sido responsáveis pela

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15marginalização, rejeição social, confinamento em instituições e outros

mecanismos visando o controle da idiotia.

Na perspectiva teórica a categoria genérica denominada por Esquirol

como “idiotia” se subdividia nas subcategorias de “idiotia” e “imbecilidade” e era

concebida como condição à parte, numa relação dicotômica entre idiotia e

normalidade.

A existência das diferenças entre idiotas e normais era ligada a fatores

orgânicos, sempre considerados como patológicos, e a descrição das

características comportamental era predominantemente compostas por atributos

negativos ameaçadores.

Mudanças nestas concepções clássicas da teoria relacionadas a

chamada idiotia puderam ser observadas no final do século XIX, estas devido a

vários fatores entre eles a mudança no modo de produção das sociedades.

O segundo momento, o da expansão do objeto de estudo da área. A

idiotia e a imbecilidade passaram a ser coletivamente interpretadas como

condições de desvio social e intelectual.

Na virada do século pode-se perceber que ocorre uma expansão dos

atributos comportamentais relacionados à inteligência subnormal.

A incapacidade de atender as exigências acadêmicas da escola pública

recém instituída resultou na criação de classes especiais em tais escolas a esta

população.

As descrições acerca desta categoria eram ainda carregadas de atributos

negativos, que envolviam capacidades ausentes, deficitárias, ou ainda a

presença de comportamentos aberrantes ou anti-sociais, que reforçavam o

caráter de estranheza historicamente conferido à categoria de um modo geral.

A explicação da natureza das diferenças entre o comportamento da

pessoa com deficiência mental e do normal era ainda atribuída à

hereditariedade. E como conseqüências desta modificação teórica podem

apontar: o aumento do temor e alarmismo frente a categoria em função da

associação dos graus leves e severos; o reforço da crença na hereditariedade e

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16a própria deficiência mental passou a ser foco das associações profissionais de

eugenia do inicio do século; a ênfase na hereditariedade e a desconsideração

dos fatores ambientais prejudicaram o avanço no estudo do comportamento e do

desenvolvimento destes indivíduos, o surgimento do desafio de explicar a

gênese e evolução da grande maioria dos casos de deficiência mental,

especificamente as de grau leve.

Os historiadores assinalam de forma geral a década de 30 e 40 desse

século como marco onde se iniciaram novas modificações no estudo científico

da deficiência mental, que vieram se concretizar após segunda guerra mundial.

Além do progresso científico determinadas condições sociais parecem ter

contribuído para uma mudança na representação pública da deficiência e do

papel do Estado frente a tal categoria.

Tem-se ainda o terceiro momento, que corresponde ao período

contemporâneo da evolução do conceito de deficiência mental. Neste, observa-

se a partir das décadas de 30 e 40 um maior questionamento dos pressupostos

de organicidade patológica e da incurabilidade, provavelmente porque em

muitos casos identificados não era mais possível coligar fatores orgânicos, e

também em função do pessimismo que tais noções geravam frente as

possibilidades de intervir na categoria.

A antiga categoria genérica de idiotia, agora denominada como retardo ou

deficiência mental, passa a ser subdividida em debilidade mental, imbecilidade e

idiotia.

As diferenças que podem ser observadas nestas definições foram a

inclusão de um ainda vago conceito de competência social, que tentava ir além

das capacidades acadêmicas, e que indicavam um certo descontentamento

crescente em relação a utilização de um critério psicométrico unitário para

embasar as decisões educacionais.

Novas terminologias são assumidas para as subcategorias e a condição

perde a referência à etiologia orgânica e incurabilidade, são elas: deficiência

mental leve, moderada, severa e profunda.

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17 Durante este momento pode-se inferir que até meados do século XX não

foram observadas grandes evoluções a área pedagógica da deficiência mental,

a despeito da evolução nos serviços. Um modelo médico ou clínico, embasado

numa concepção organicista, como foco básico na classificação dos indivíduos

pode ser observado na prática.

A partir da década de 60 é que se observa uma evolução maior na

metodologia do ensino especial. Só então na perspectiva do sistema

educacional as pessoas com diferentes graus de deficiência ou retardo mental

começam a ser classificados como “educáveis”, “treináveis” e “dependentes” ou

“custodiais”.

Há também outra visão, a histórico-crítica, que segundo Aranha (1991,

1995), propõe ser deficiência mental mais uma das categorias pertencentes

àquelas que não cabem na produção obrigatória e para todos exigida pela

sociedade capitalista, isto por não se adequar às normas e padrões ditados por

esta já que é caracterizada pela sociedade vigente como sendo desviante, tendo

em vista sua incapacidade.

O mercado não tinha projetos para pessoas que apresentavam

seqüelas sensoriais, motoras ou cognitivas na produção, ou seja, elas estavam

fora da produção de riqueza. Tampouco poderiam ser um exército de reserva.

Mas, então por que investir nelas? Pela lógica capitalista, não faz sentido investir

na formação de um sujeito que não vá atuar na produção de mais-valia, que na

vá repor esse investimento.

De acordo com essa visão, a deficiência mental é multideterminada por

fatores que aliados aos valores desse sistema, levam a segregação e

estigmatização desses indivíduos. Portanto, a deficiência mental é vista como

uma condição desvalorizada em nosso contexto social.

Ainda no século XX começa a se estabelecer uma definição para a

Deficiência Mental como o sujeito que tem funcionamento inferior à média

estatística das pessoas. Há muitas críticas em relação aos testes de avaliação

de QI (quociente intelectual), pois não colocam em discussão o aspecto cultural,

educacional, a motivação e o desejo do sujeito em realizar o teste.

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18 O CICID (Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e

Desvantagens) situa a deficiência mental ou intelectual quando a pessoa tem as

limitações na aprendizagem, memória, percepção, no estabelecimento das

relações, na consciência que trazem como consequência maior o

comprometimento da capacidade ocupacional e na integração social.

Segundo a descrição do DSM IV o retardo mental é quando a pessoa

apresenta “funcionamento intelectual significativamente inferior à média,

acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo

menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, auto-cuidado,

vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento interpessoal, uso de

recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer,

saúde e segurança”.

Diante desse conjunto, percebe-se a multiplicidade em modelos que

tentam a luz de uma determinada época histórica ou embasados na evolução

científica, definir deficiência e, que se estende a própria pessoa com deficiência.

Observa-se, também, que a partir dessas concepções não é muito simples

definir um pessoa com deficiência mental, em virtude de esta apresentar

limitações associadas a vários aspectos, como: psicológico, social, biológico, e

estes por sua vez estarem ligados também a um contexto da deficiência mental,

tornando-se complexo delimitar ou formular termos adequados capazes de

abranger todas estas especificidades.

Costumou-se pensar na deficiência mental como uma condição em si

mesma, um estado patológico bem definido. Entretanto, na grande maioria das

vezes essa condição é relativa. Ou seja, a deficiência será sempre relativa em

relação aos demais indivíduos de uma mesma cultura, pois, a existência de

alguma limitação funcional, principalmente nos graus mais leves, não seria

suficiente para caracterizar um diagnóstico de deficiência mental, se não existir

um mecanismo social que atribua a essa limitação um valor de morbidade. E

esse mecanismo social que atribui valores é sempre comparativo, portanto,

relativo.

Ainda pode-se inferir que:

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191) O termo deficiência mental é um constructo cientifico, ou um artifício

lingüístico que tem permitido classificar eventos de acordo com normas

particulares de grupos, normas estas que são circunstanciais e que tem variado

ao longo o tempo.

2) Deficiência Mental é um conceito que tem sido manipulado ao longo do

tempo e que tem se tornado cada vez mais complexo e destituído de uma

correspondência direta com o mundo real.

3) As contradições nas relações entre significado e referente têm sido

solucionadas através de um sistema de crenças, ou de outros construtos

científicos, que tentam relacionar o conceito com eventos do mundo real.

E essa gama de definições está impressa na própria sociedade civil que

adota vários termos quando se refere à pessoa com deficiência, seja ela mental,

física.

Assim, volta-se a dizer que a deficiência mental não pode ser entendida

como algo inscrito no sujeito, que testes de QI ou exames irão detectar. Nem os

problemas da definição devem ser atribuídos a uma imprecisão de instrumentos

ou falhas no uso dos mesmos.

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CAPÍTULO II

A FAMÍLIA DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA MENTAL

A família em si mesma constitui uma unidade social significativa. Ela é

parte de uma unidade social maior, a comunidade imediata e a sociedade.

Ocorrências sócio-patológicas dentro da sociedade mais ampla também

exercerão efeitos sobre a família. Entretanto esta deverá assumir parte da

responsabilidade, pois é dentro dos limites desta unidade social que a criança

aprenderá a ser o tipo de pessoa que a sociedade determina como normal. É na

família que se aprende a ser único, a desenvolver a individualidade e a tornar-se

uma pessoa criativa, em busca da auto-realização (ASSUMPÇÃO JUNIOR,

1993).

As famílias possuem uma estrutura razoavelmente estável, papéis bem

definidos, suas próprias regras estabelecidas em comum acordo e os seus

próprios valores. Porém, mesmo em tais famílias saudáveis, uma ocorrência

brusca exigirá dos membros uma redefinição de seus papéis e o aprendizado de

novos valores e padrões de comportamento, a fim de se ajustarem ao novo

estilo de vida. Em outras palavras, a cada impacto a família deve ser

reestruturada (ASSUMPÇÃO JUNIOR, 1993).

Certa dotação e forças maturativas predispõem fortemente ao apego e a

intimidades, que trazem o bebê para a raça humana, relacionamento após

relacionamento, mas é a família que, em última análise, encampa a promessa

de amadurecimento da criança, através de poderosas forças interativas

recíprocas, convertendo tecidos e instintos em desenvolvimento humano

(PRUETTI, 1995).

A família é o primeiro campo de treinamento significativo da criança. É

neste campo de treinamento que a criança descobre a existência de outras

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21pessoas (pai, mãe, irmão, irmã, avós e outros), cada qual com um papel

previamente definido, que por suas experiências únicas e uma personalidade

essencial torna-se uma pessoa diferente das demais, com forças e fraquezas,

temores e amores, fixações e necessidades, desejos e sonhos. A criança

aprende sobre o mundo e a vida através de cada pessoa na família. Assim, se

os integrantes da família, como um grupo, reagirem a elas de modo positivo, é

provável que as crianças se vejam sob uma luz positiva, pois cada pessoa na

família diz às outras quem elas são e se, provavelmente, serão bem sucedidas

ou não, mesmo antes de entrarem em contato com a sociedade maior, além dos

limites do lar (ASSUMPÇÃO JUNIOR, 1993).

Dessa forma, a melhor coisa que uma família pode fazer por seus filhos é

expressar a sua condição humana em todas as acepções do termo. Seres

humanos que buscam e lutam pelo seu próprio crescimento, uma vez que a

palavra chave para o processo de crescimento encontra-se na oportunidade que

a família oferece à criança de ter um lugar seguro para descobrir a si mesma e

as outras pessoas no seu mundo (ASSUMPÇÃO JUNIOR, 1993).

Os integrantes da família, que até determinado momento estiveram

seguros em seus papéis bem definidos, quando se defrontam com um indivíduo

deficiente terão de passar por uma mudança significativa, ou seja, a redefinições

de papéis e mudanças de atitudes e valores e novos estilos de vida

(ASSUMPÇÃO JUNIOR, 1993).

Por vezes, a presença da criança deficiente pode suspender certos

componentes do ciclo familiar, podendo, por exemplo, ocupar permanentemente

a posição social do filho mais novo na família, não desenvolvendo a

independência e autonomia da idade adulta.

As reações a esta criança podem trazer à tona vários tipos de

comportamentos, como encarar o problema de um modo realista; negação da

realidade da deficiência; lamentações e comiseração dos pais para com a sua

própria sorte; ambivalência em relação à criança, ou seja, rejeição e projeção da

dificuldade como causa da deficiência; sentimentos de culpa, vergonha e

depressão e padrões de mútua dependência (TELFORD, 1976).

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22Entretanto, nenhuma dessas reações é peculiar aos pais em geral, ou aos

pais de crianças deficientes; são reações comuns de pessoas normais à

frustração e conflito. Os pais, no decorrer de suas vidas, também manifestarão

ou sentirão essas mesmas reações com seus filhos não deficientes, como parte

do processo da vida, sendo, portanto, fundamental que os pais de crianças

deficientes tomem ciência destes fatos, pois muitos de seus conflitos e

sentimentos são compartilhados por outros pais em alguma fase da vida

(TELFORD, 1976).

Muitos pais de crianças deficientes não só experimentam sentimentos de

culpa e vergonha, mas sentem-se culpados e envergonhados por experimentá-

los; ou seja, além de se sentirem culpados, eles se sentem culpados por se

sentirem culpados. Essa culpa é uma fonte secundária de perturbação

emocional para os pais, que já suportam uma sobrecarga emocional. A presença

de uma criança deficiente na família constitui um motivo adicional de tensão,

sendo provável que as reações defensivas ocorram mais freqüentemente e em

um grau mais elevado do que naquelas cujos membros são razoavelmente

normais (TELFORD, 1976).

Além das pressões internas com as quais a família terá que lidar com o

nascimento de uma criança deficiente, esta também terá de enfrentar as

pressões exercidas pelas forças sociais externas, uma vez que a sociedade tem

dificuldade em conviver com as diferenças, sendo este talvez um dos principais

conflitos vividos pelas famílias.

A maneira como esta criança deficiente será aceita na família e o

resultante clima emocional posterior, dependerão, em grande parte, da atitude

da mãe. Se ela for capaz de lidar com o fato com aceitação e segurança

razoáveis, de uma forma bem ajustada, a família será capaz do mesmo

(ASSUMPÇÃO JUNIOR, 1993).

A mãe tem sido, historicamente, considerada a figura central da família;

ela é considerada o foco dos mais significativos alinhamentos familiares.

Quando a criança age a mãe reage e, por sua vez, a criança reage à mãe, de

um modo circular. Em muitas famílias, ainda hoje, o pai, em seu papel, reage à

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23sua percepção da interação mãe-criança, influenciando tanto no comportamento

da criança como na interação mãe-criança. À medida que as relações

intrafamiliares vão se estabelecendo, as relações interfamiliares tornam-se mais

acessíveis, facilitando a aceitação social desta criança (TELFORD, 1976).

O comportamento da criança deficiente é talhado pelas ações e atitudes

de outros e os ajustamentos da família de uma criança deficiente tanto podem

limitar e distorcer como encorajar e facilitar a potencialidade de desenvolvimento

da criança.

Esses ajustes familiares geram ansiedade que, segundo Amaral (1994) é

resolvida sob duas grandes formas, lidar com a realidade ou fazer uso de

mecanismos de defesa.

Após o nascimento da criança deficiente, praticamente inexiste um

aconselhamento psicológico aos confusos pais e grande parte do que farão com

as crianças basear-se-á em ensaio e erro. Nos períodos cruciais do nascimento,

quando os pais mais precisam de ajuda, esta não existe ou é muito pequena.

É vital que os pais sejam conscientizados da importância dos primeiros

meses de vida e dos problemas e ansiedades que podem ser criados. Devem

ser informados de sua responsabilidade e dos efeitos profundos e duradouros de

suas ações ou omissões sobre o crescimento e desenvolvimento de seus filhos,

pois é nesta tenra idade que os pais deverão iniciar a estimulação e buscar o

apoio e serviços de profissionais de habilitação e reabilitação, com objetivo de

detecção precoce de processos que poderão tornar-se altamente incapacitantes,

de avaliação integral da criança e do ambiente, assim como de um programa de

intervenção onde considere principalmente a família como co-terapeuta do

processo de diagnóstico e intervenção (AMARAL, 1994).

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242.1 A família como contexto de desenvolvimento para a criança

com deficiência mental

A família constitui o primeiro universo de relações sociais da criança,

podendo proporcionar-lhe um ambiente de crescimento e desenvolvimento,

especialmente em se tratando das crianças com deficiência mental, as quais

requerem atenção e cuidados específicos. A influência da família no

desenvolvimento de suas crianças se dá, primordialmente, através das relações

estabelecidas por meio de uma via fundamental: a comunicação, tanto verbal

como não verbal. Como afirmam Rey e Martinez (1989), a família representa,

talvez, a forma de relação mais complexa e de ação mais profunda sobre a

personalidade humana, dada a enorme carga emocional das relações entre

seus membros (p. 143).

A gama de interações e relações desenvolvidas entre os membros

familiares mostra que o desenvolvimento do indivíduo não pode ser isolado do

desenvolvimento da família (Dessen & Lewis, 1998). A família constitui um

grupo com dinâmicas de relação muito diversificadas, cujo funcionamento muda

em decorrência de qualquer alteração que venha a ocorrer em um de seus

membros ou no grupo como um todo. Para Kreppner (1992), a rede de relações

da família possui características específicas de unicidade e complexidade,

constituindo um contexto em desenvolvimento. Segundo este autor, a

complexidade das relações familiares pode, também, ser entendida por meio da

perspectiva da família como um ambiente não compartilhado, onde as relações

desenvolvidas entre seus membros geram experiências diferenciadas para

cada um. Portanto, cada membro da família vivencia, de maneira particular, a

chegada de uma criança com deficiência.

O impacto sentido pela família com a chegada de uma criança com

algum tipo de deficiência é intenso. Segundo Brito e Dessen (1999), esse

momento é traumático, podendo causar uma forte desestruturação na

estabilidade familiar. O momento inicial é sentido como o mais difícil para a

família (Petean, 1995), a qual tem que buscar a sua reorganização interna

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25(Taveira, 1995) que, por sua vez, depende de sua estrutura e funcionamento

enquanto grupo e, também, de seus membros, individualmente.

A família passa, então, por um longo processo de superação até chegar

à aceitação da sua criança com deficiência mental: do choque, da negação, da

raiva, da revolta e da rejeição, dentre outros sentimentos, até a construção de

um ambiente familiar mais preparado para incluir essa criança como um

membro integrante da família. Segundo Casarin (1999), a reorganização

familiar fica mais fácil quando há apoio mútuo entre o casal. Nesse caso, o

ambiente familiar pode contribuir para o desenvolvimento e crescimento dessa

criança. Contudo, o ambiente pode também dificultar essa reorganização

interna da família, principalmente porque o nascimento de uma criança, por si

só, já acarreta alterações que constituem um desafio para todos os membros

familiares (Dessen, 1997; Kreppner, 1989, 1992).

As famílias restabelecem o seu equilíbrio de maneira variada,

dependendo dos recursos psicológicos utilizados para tal fim. Gallimore, Coots,

Weisner, Garnier e Guthrie (1996) mostram que as adaptações das famílias de

crianças pré-escolares com atraso no desenvolvimento apresentam um

panorama misto de continuidades e mudanças em seus padrões de interação

até a segunda infância da criança. De acordo com estes autores, em todas as

idades, a adaptação da família está relacionada às características da criança,

as quais exercem um impacto direto na rotina diária dos membros familiares.

São muitas as variáveis que afetam o desenvolvimento da criança. Para

Zamberlan e Biasoli-Alves (1996), tanto fatores macrosistêmicos a renda

familiar, grau de instrução dos pais e profissão, como microsistêmicos a

qualidade das interações e relações entre os membros familiares e pessoas

próximas, particularmente no que tange às práticas psicossociais de cuidados

implementadas nesses contextos, associam-se na promoção de um

desenvolvimento adequado e saudável da criança. Aprofundar o conhecimento

sobre o funcionamento de famílias de crianças deficientes mentais constitui um

caminho promissor para a compreensão do desenvolvimento destas crianças e

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26de sua adaptação ao meio. Assim, destacamos, a seguir, algumas pesquisas

que descrevem aspectos das relações dessas crianças com suas famílias.

2.2 Sentimentos, estresse e expectativas de pais e mães de

crianças com deficiência mental

Os sentimentos dos genitores em relação à sua criança com deficiência

constituem fatores preponderantes para a adaptação e o bem-estar da família.

Segundo Leary e Verth (1995), as mães de seu estudo relataram mágoa e

sofrimento em relação à difícil situação de suas crianças deficientes mentais. A

culpa foi também relatada por essas mães, porém, com uma freqüência menor.

No estudo de Ali, Al-Shatti, Khaleque, Rahman, Ali e Ahmed (1994), esse

sentimento foi relatado tanto pelos pais como pelas mães, os quais se

responsabilizavam pela deficiência mental de suas crianças. Em geral, as

pressões vindas do meio social geram sentimentos desagradáveis, levando os

genitores a limitarem as atividades culturais de seus filhos deficientes, bem

como os contatos com amigos, parentes e vizinhos (Ali & cols., 1994; Brito &

Dessen, 1999). Ali e seus colaboradores identificaram vários fatores que

poderiam constituir uma sobrecarga para os genitores, como: (a) o tempo a os

genitores gastam muito tempo no cuidado e atenção às suas crianças

deficientes, reduzindo seus contatos sociais e culturais; (b) os recursos

financeiros a os genitores arcam financeiramente com a maioria dos

atendimentos à sua criança; (c) os limites sociais e psicológicos a as atitudes

da sociedade em relação às pessoas com deficiência mental, geralmente, não

são positivas.

Alguns estudos demonstram níveis altos de estresse em genitores de

crianças com deficiência mental, com as mães apresentando níveis superiores

aos dos pais (Dyson, 1997; Hornby, 1995; Lamb & Billings, 1997; Sloper &

cols., 1991). Devido ao fato de as mães ficarem, geralmente, responsáveis pela

maior parte dos cuidados adicionais dispensados à criança, elas tendem a

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27relatar níveis mais altos de estresse. Em contraposição os pais relatam,

freqüentemente, menor satisfação com a vida familiar, como um resultado de

demandas extras de acomodação à criança deficiente. Os resultados de

Hornby revelam que o estresse experienciado pelos pais de crianças com

síndrome de Down está relacionado ao status empregatício, à satisfação

marital e a variáveis de personalidade, apresentando uma relação inversa com

o nível educacional e a condição financeira. Já os dados de Dyson mostram

que o estresse parental está relacionado à própria avaliação do genitor e do

seu cônjuge a respeito do funcionamento da família, em aspectos como

educação, promoção do crescimento pessoal e habilidade para manter o

sistema familiar. Portanto, tanto variáveis internas como externas colaboram

para aumentar o estresse vivenciado pelos genitores e exercem, direta ou

indiretamente, influência nas interações e relações familiares.

Nem sempre os genitores adotam uma forma adequada para lidar com

as situações advindas de se ter uma criança com deficiência na família,

mostrando-se ora condescendentes, ora impacientes e, às vezes, revelando

atitudes de depreciação em relação ao próprio filho (Petean, 1995). As

estratégias de enfrentamento adotadas por eles são diversificadas. As mais

utilizadas, segundo Rodrigue, Morgan e Geffken (1992), são a procura por

informações sobre a deficiência e as fantasias de satisfação de desejos, de

como eles poderiam lidar com as situações difíceis e de como seria o progresso

no desenvolvimento de sua criança. Lamb e Billings (1997) afirmam que os pais

freqüentemente têm expectativas mais altas em relação aos filhos do que às

filhas; eles ficam particularmente desapontados quando um filho é

diagnosticado como tendo retardo mental (p. 181). Porém, Hornby (1995) não

encontrou diferença significativa com relação à adaptação dos pais de meninos

e meninas com síndrome de Down. Esses dados mostram a necessidade de

pesquisas sobre os aspectos psicoemocionais dos genitores de crianças com

deficiência mental.

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282.3 Como a família percebe sua criança com deficiência mental?

Considerando a perspectiva do funcionamento da família, Carr (1988)

efetuou um estudo longitudinal com uma amostra de 41 crianças com síndrome

de Down e 30 não deficientes que foram acompanhadas em sete ocasiões,

desde a sexta semana de vida até os quatro anos de idade e, novamente, aos

11 e aos 21 anos. Foi enviado, também, por correio, um questionário às

famílias das crianças com síndrome de Down quando elas completaram 16

anos de idade. Este estudo visou investigar aspectos do desenvolvimento

cognitivo e acadêmico da criança, além dos aspectos relativos ao

funcionamento da família. A respeito deste último, foram analisadas duas

categorias gerais: (a) o manejo prático da criança, englobando as habilidades

para a realização de atividades diárias (tomar banho, enxugar-se, vestir-se

etc.), o manejo dos comportamentos da criança e o conseqüente

monitoramento por parte dos pais; (b) os efeitos da criança sobre a família

como um todo, particularmente sobre os irmãos e o casamento dos pais.

Os resultados mostram que as mães consideram que, aos 21 anos, os

filhos são mais fáceis de manejar, sendo o domínio das habilidades apropriadas

para a realização das atividades diárias visto como significativo, tanto para a

família como para o deficiente em questão. Nenhuma desvantagem advinda do

fato de se ter uma criança com síndrome de Down na família foi constatada,

principalmente em relação aos efeitos sobre os irmãos. No entanto, esses

dados são contraditórios aos encontrados por Turnbull e Ruef (1996), em uma

amostra de famílias que possuía uma criança com deficiência mental. Segundo

esses autores, seus respondentes afirmaram haver problemas específicos de

relacionamento entre irmãos e, também, em relação à família extensa,

principalmente nos casos de crianças com deficiência mental que

apresentavam problemas de comportamento. Os genitores dessas crianças

relataram que permaneciam 24 horas por dia "a serviço" da criança: em

supervisão, intervenção e tentativas para prevenir os seus problemas de

comportamento.

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29No estudo de Leary e Verth (1995), 45% das mães de crianças com

deficiência mental relataram que seus outros filhos aceitavam inteiramente a

criança com deficiência, enquanto 27% percebiam problemas de

comportamento, que foram atribuídos à presença da criança deficiente. Já

Cuskelly e Dadds (1992) apontaram a depressão como um problema de

comportamento freqüentemente observado nos irmãos das crianças com

síndrome de Down e Bagenholm e Gillberg (1991), por sua vez, descreveram

as percepções dos irmãos de crianças com deficiência mental, autistas e

crianças não deficientes, na perspectiva dos próprios irmãos. Os resultados

mostram que todos eles foram positivos em suas expressões ao se referirem

aos seus irmãos com deficiência, embora 65% dos irmãos do grupo de

deficiência mental não soubessem explicar o porquê de seu irmão ser diferente

dos outros. Não foram relatados problemas de solidão entre os irmãos das

crianças com deficiência mental, embora no grupo de autistas, 35% tenham

relatado sentir solidão. Os dados também revelam que os irmãos do grupo de

crianças com deficiência mental brincavam mais que os outros grupos de

irmãos.

Os estudos realizados com o pai de crianças com deficiência mental são

escassos (Herbert & Carpenter, 1994; Hornby, 1995; Rodrigue & cols., 1992). A

maioria deles procura enfatizar a percepção do pai a respeito de sua criança;

no entanto, há outros estudos cuja ênfase é dada ao engajamento do pai na

vida familiar. O estudo de Rodrigue e seus colaboradores, por exemplo,

descreve a adaptação psicossocial de pais de crianças com autismo, síndrome

de Down e com desenvolvimento normal, evidenciando maiores desequilíbrios

no planejamento familiar nas famílias de crianças com autismo e síndrome de

Down e, também, um crescente desajuste financeiro por causa dessas

crianças. Esses pais revelaram, ainda, níveis de competência parental,

satisfação marital e apoio social compatíveis àqueles relatados pelos pais de

crianças com desenvolvimento normal.

Segundo Sloper e seus colaboradores (1991), para os pais de crianças

deficientes, a qualidade do relacionamento marital está, primordialmente,

relacionado à satisfação com a vida e com a família como um todo. Os pais de

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30sua amostra sentiam-se mais satisfeitos com a paternidade, porém,

apresentavam baixos níveis de satisfação financeira, sugerindo que os efeitos

da criança sobre eles eram menores que os efeitos ambientais externos. Esses

autores concluíram que fatores como a criança, o ambiente social e os

aspectos parentais interagem, produzindo a satisfação e o estresse familiar.

Contudo, para as mães, os fatores como baixa resistência e alta excitabilidade

da criança estão fortemente relacionados à baixa satisfação com a vida.

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31

CAPÍTULO III

O ATENDIMENTO À FAMÍLIA DA CRIANÇA COM

DEFICIÊNCIA MENTAL

A questão do atendimento às crianças deficientes sempre foi tratada no

Brasil, tanto na área governamental como na não governamental (MEC, 1994),

embora ela só tenha sido incluída na política educacional brasileira no século

XX. MAZZOTTA (1996) analisa o atendimento às pessoas deficientes dividindo-

o em dois períodos: o primeiro, de 1854 a 1956, e o segundo, de 1957 a 1993. O

atendimento às pessoas deficientes mentais inicia em 1874, em um hospital da

cidade de Salvador, Bahia, caracterizando-se por assistência médica e não

educacional. Neste primeiro período (1854 a 1956), foram criadas várias

instituições e escolas de atendimento aos deficientes mentais. Até 1950,

existiam quarenta estabelecimentos públicos de ensino que ofereciam algum

tipo de atendimento escolar especial; destes, quatorze prestavam também

atendimentos a alunos com outros tipos de deficiências.

O segundo período (1957 a 1993) é marcado por iniciativas de

atendimento aos deficientes, por parte do Governo Federal, que promoveu uma

série de campanhas destinadas a este fim. A primeira delas foi a Campanha

para a Educação do Surdo Brasileiro - CESB, seguida da Campanha Nacional

de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais -CADEME, instituída em

1960. A CADEME, durante onze anos, estimulou e promoveu ações destinadas

à educação, treinamento e reabilitação das pessoas com deficiência mental.

Na década de 70, foi criado o CENESP -Centro Nacional de Educação

Especial, cuja finalidade era a de "promover, em todo o território nacional, a

expansão e melhoria do atendimento aos excepcionais" (Mazzotta, 1996, p. 55),

sendo então extinta a CADEME. Assim, vários órgãos foram criados e extintos e,

Page 32: UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A … · melhor o lugar da criança com deficiência mental e, consequentemente, o papel da família na sociedade contemporânea. A

32somente em 1992, foi criada a Secretaria de Educação Especial (SEESP), a

qual faz parte do Ministério da Educação. Sua atribuição é "coordenar a

elaboração da Política de Educação Especial do país; estimular, supervisionar e

fomentar sua implantação; e assistir técnica e financeiramente sua

implementação" (MEC, 1994, p. 16). Portanto, o atendimento especializado,

regulamentado e público às crianças deficientes passou por um processo longo

e de conquistas gradativas.

O atendimento a estas crianças, na esfera estadual, fica a cargo das

Secretarias de Educação, cuja função é coordenar a política educacional local,

levando em consideração as características regionais e de seus alunos. Das 27

Secretarias Estaduais de Educação, 25 possuem atendimento especializado não

somente para pessoas deficientes mentais, mas também para aqueles que

possuem condutas típicas (síndrome do autismo e psicoses infantis) e altas

habilidades (superdotação). Já o atendimento na esfera municipal é mais

precário, atingindo apenas 45% do total dos municípios brasileiros. Este fato se

deve, em parte, ao "desconhecimento dos governantes, agravado pelos baixos

níveis de conscientização da comunidade e, ainda, pelo alto custo e

complexidade de que se reveste a educação especial" (MEC, 1994, p. 17).

Assim, dada a necessidade deste tipo de atendimento, entendemos ser de

fundamental importância mais investimentos nessa área, atingindo mais estados

e municípios brasileiros.

Considerando que, na maioria das cidades brasileiras, as crianças

deficientes ficam sem atendimento durante os seus primeiros anos de vida, a

família passa a exercer um papel fundamental, na medida em que propicia o

crescimento e desenvolvimento dessas crianças através de um ambiente

estimulador e de interações e relações saudáveis. Segundo Kreppner (1992), a

família exerce este papel, principalmente, por meio de sua rede de relações

sociais.

A família constitui o primeiro universo de relações sociais da criança e

"...representa, talvez, a forma de relação mais complexa e de ação mais

profunda sobre a personalidade humana, dada a enorme carga emocional das

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33relações entre seus membros" (Rey & Martinez, 1989, p. 143). A complexa rede

de relações familiares apresenta características específicas de unicidade e

complexidade, constituindo um contexto em desenvolvimento (Kreppner, 1992).

Portanto, essa gama de interações e relações desenvolvidas no micro-universo

da família mostra que o desenvolvimento do indivíduo não pode ser isolado do

desenvolvimento da família (Dessen & Lewis, 1998).

Conforme já mencionado o nascimento de um bebê é considerado um

momento de transição no desenvolvimento da família, em que os

relacionamentos entre seus membros são alterados, devendo os genitores se

adequar ao seu novo papel (Dessen, 1997; Kreppner, 1989, 1992). Em se

tratando do nascimento de uma criança com deficiência, o momento é de grande

impacto para o casal, causando uma desestruturação e interrupção (em alguns

casos, de forma traumática) na estabilidade familiar (Brito & Dessen, 1999). São

inúmeras as dificuldades enfrentadas pelas famílias. Por exemplo, os genitores

experienciam diversos sentimentos em relação ao seu bebê com deficiência tais

como raiva, rejeição, revolta, culpa etc.. Glidden & Floyd (1997) e Negrin &

Cristante (1996) concluíram que as mães de crianças com deficiência

apresentam uma maior tendência à depressão do que os pais, o que sugere que

estes não experienciam a depressão ou a experienciam de forma mais branda

do que as mães. A superação desses sentimentos constitui um fator

preponderante para a adaptação e bem-estar da família enquanto grupo que

busca de alguma forma, uma reorganização, na qual tenta incluir a criança

deficiente mental como um membro pertencente àquele grupo (Taveira, 1995).

Nesta fase, é fundamental o apoio mútuo entre o casal, para que a aceitação e

integração da criança ocorram de modo mais fácil e saudável (Casarin, 1999).

A família mediante sua função socializadora, é espaço indispensável e

salutar para a garantia da sobrevivência do desenvolvimento das estruturas

psíquicas, compreendendo toda a multiplicidade de seus aspectos internos

determinados historicamente através da diversidade de condições sociais,

econômicas, éticas e culturais.

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34Sabe-se que a convivência em família deve ser uma experiência de

cuidados mútuos, devido a tal grupo de pessoas, com personalidades diversas,

onde se unem no primeiro momento por razões consangüíneas e/ou razões

afetivas, objetivando um projeto de vida em comum, compartilhado e

experienciado a cada dia. Nessa perspectiva, mediante trocas afetivas no meio

familiar, que serão registradas marcas e vínculos que seus integrantes

carregaram por toda a vida.

A família passa a ter maior visibilidade na área de saúde mental a

partir dos anos 1980, através do processo de redemocratização da nação e

devido ao movimento de reforma psiquiátrica. Por conseguinte a partir dos anos

1990 fica indiscutível a participação de forma mais efetiva e dinâmica das

famílias nesse âmbito.

No tocante a relação da família com o deficiente mental, o primeiro

momento é árduo e complexo, pois a ciência e a aceitação da doença

desencadeiam na mesma um processo simultâneo de culpa e medo, tornando-

se um ponto dificultador no tratamento, gerando consequentemente ansiedade e

desgaste na relação intrafamiliar. Faz-se apropriado destacar o posicionamento

de Coheni quando afirma que “frequentemente a deficiência mental surge com

um evento imprevisto, que impacta, produz um resultado na organização do

grupo doméstico”.

Percebe-se que a própria invisibilidade da deficiência ocasiona

diversos questionamentos e dúvidas acerca do transtorno, causas e

conseqüências concomitantes a expectativas do tratamento. Contudo, sabe-se

que maioria das famílias não estão devidamente aptas para lidar com a pessoa

com deficiência, pois é fato que na sociedade atual o diferente acaba tornando-

se alvo de “preconceito” sendo perceptível que continua freqüente a rejeição

dentro e fora do contexto familiar.

Enfatiza-se que a família exerce um papel fundamental junto a

criança, devendo proporcionar toda a proteção, acolhimento, bem como aportes

afetivos e cuidados distintos. Concernente à concepção conceitual do papel da

família Rosa (2003) enfatiza quando diz: “o grupo familiar deve exercer a

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35condição de parceria e co-responsável nos projetos terapêuticos dos Serviços

de Saúde Mental”.

Diante do exposto observa-se, que desde a sociedade primitiva até a

contemporaneidade que a influência da família é edificante e fundamental para

seus integrantes, principalmente para a pessoa com deficiência mental, seus

cuidadores proporcionando toda a proteção, cuidados especiais e um bom

desenvolvimento das estruturas psicossociais.

No espaço onde aguçou nossa curiosidade a respeito da temática

pudemos observar que o perfil dos familiares dos usuários investigados é

constituído em sua grande maioria por pessoas do sexo feminino, possuindo

faixa etária que varia entre 51 e 70 anos, configurando famílias conjugais. No

tocante à escolaridade, os entrevistados cursaram até o Ensino Fundamental,

onde apenas um único familiar exercia atividade laborativa, enquanto cinco

encontravam-se fora do mercado de trabalho e três são aposentados.

Quanto aos profissionais da instituição estudada, seu perfil é

constituído, predominantemente, por pessoas do sexo feminino, com idades

compreendidas entre 20 e 59 anos, com tempo de formação que varia entre 3 e

27 anos, sendo 4 (quatro) profissionais pós-graduados.

A atuação do profissional na área da saúde mental como atribuição

promover ações de acolhimento, de assistência às famílias no momento do

diagnóstico, fomentando o vínculo entre a família e o usuário,

independentemente da deficiência. Os familiares afirmaram como sendo bom

uma vez que são orientados e bem tratados, mas segundo os profissionais, a

dificuldade reside na falta de conhecimento dos familiares quanto a uma série de

questões que vão desde os direitos sociais ao entendimento da própria

deficiência.

No tocante à atuação do Serviço Social na dinâmica institucional, ficou

evidente que os familiares possuem conhecimento da área, bem como dos

serviços prestados, uma vez que a partir dos depoimentos, confirmou-se a

atuação deste profissional pautada num trabalho voltado ao acolhimento, à

orientação, aos encaminhamentos, enfim à mediação da pessoa com deficiência

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36mental e a família. Os demais profissionais também consideram o assistente

social como um sujeito de relevância no contexto do CAPL.

O Serviço Social na instituição surgiu da construção das novas formas de

conceber atendimento às pessoas com deficiência mental. Foram implantados

serviços substitutivos, à rede hospitalar, através do acolhimento, projeto

terapêutico individual, atividades terapêuticas (individual e em grupo), como

também presta assistência de benefícios como visitas domiciliares, ações junto à

família e à sociedade, atividades externas (passeios e outros eventos), oficinas

de reabilitação com atividades culturais, esportivas, atendimento individual do

usuário e familiares e apoio matricialii junto ao Programa de Saúde da Família. É

importante mencionar que todas as ações relatadas não são de

responsabilidade exclusiva do Serviço Social, mas de todos os profissionais da

instituição.

Considerando a importância da família para a compreensão do processo

de desenvolvimento de crianças com deficiência mental, fica claro que a atenção

dada a mesma ainda é posta em um plano secundário. Dizemos isso baseado

em pesquisa bibliográfica realizada em que comprova a escassez de trabalhos

sobre o cuidado à família da criança com deficiência.

Os artigos de pesquisas e teóricos, os livros e capítulos de livros foram

agrupados por tema investigado. A maioria (41%) dos artigos trata de temas

sobre o "conceito de DM", enquanto que 33,7% referem-se a aspectos gerais

relacionados à "família e sua criança com deficiência mental". Os trabalhos

sobre as "interações familiares" (18,7%) e em outros contextos (6,6%)

constituem minoria dos temas investigados.

A análise efetuada com base no levantamento bibliográfico, embora não

exaustiva,

proporcionou uma visão geral a respeito da produção científica, tanto estrangeira

como nacional, no que tange à família e deficiência mental. É preciso ressaltar

as limitações decorrentes das fontesconsultadas, particularmente, no Brasil,

onde muitas das revistas na área de psicologia não estão indexadas, além de

não estarem disponíveis nas bibliotecas. Os resultados mostram uma

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37predominância de artigos, tanto estrangeiros como nacionais, que tratam do

conceito de deficiência mental, da família e sua criança DM e também de

suasinterações sociais. O fato de haver um percentual maior de artigos sobre o

conceito de deficiência mental, deve-se, em parte, a uma certa confusão do

próprio conceito e, conseqüentemente, da necessidade de melhor entender os

aspectos que caracterizam a DM e de identificar os fatores mais relevantes para

a sua constituição. No entanto, parece não haver um interesse muito grande

pelo tema “conceito de DM” em se tratando de trabalhos de teses/dissertações.

Isto é compreensível, na medida em que há uma tradição sobre a natureza

empírica de tais trabalhos. De qualquer forma, é imprescindível que os

pesquisadores tenham clareza sobre o conceito de DM, uma vez que este é

fundamental para o planejamento de pesquisas na área.

Por outro lado, verifica-se, também, uma preocupação crescente com o

tema “família e sua criança deficiente mental”. Esta preocupação está centrada

no “bem-estar psicológico” das famílias, especialmente dos genitores. Assim,

aspectos tais como estresse parental, satisfação marital e depressão são

priorizados em tais estudos, particularmente em artigos de pesquisa e

teses/dissertações estrangeiras. As teses/dissertações nacionais enfatizam não

somente o tema “família e sua criança” como também o tema “interações

sociais”. Dentre este último, destacam-se as “interações familiares”

desenvolvidas pela díade mãe-criança, enquanto as teses/dissertações

estrangeiras focalizam as interações e relações entre irmãos.

Em síntese, as fontes consultadas revelam que a família não vem sendo

analisada como um todo, isto é, enquanto um grupo distinto, que possui

características próprias e desenvolve interações contínuas entre seus diversos

subsistemas diádicos, triádicos ou poliádicos. É preciso ter em mente que a

família não é estática, ela muda constantemente e, desta forma, deve se adaptar

às demandas advindas de cada um dos membros que a compõe,

principalmente, em se tratando de crianças com deficiência mental. Tampouco a

própria instituição tem dado a devida atenção à família.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão dos aspectos mais amplos que cerceiam as famílias que

possuem crianças com deficiência mental passa por questões relacionadas aos

conceitos de deficiência mental e de família e sua importância para o

desenvolvimento infantil. Com relação ao conceito de deficiência mental,

verificamos uma multiplicidade de concepções, as quais acabam por não

delimitar com clareza o fenômeno que se pretende estudar. Sobre o conceito

de família, observamos uma mudança ocorrida ao longo dos anos, indicando

que, com o desenvolvimento e mudanças nas sociedades, os estilos de família

mudaram. Portanto, considerar a família como uma unidade nuclear tradicional

já não satisfaz, tendo em vista as diversas variáveis que se combinam para a

caracterização da família atual (Brito & Dessen, 1999; Dessen & Lewis, 1998;

Petzold, 1996). As mudanças ocorridas e que vem ocorrendo no contexto social

e histórico (Crouter & Seery, 1994) têm acarretado modificações nos diversos

padrões de relacionamento dentro do contexto familiar. Além desses aspectos,

Menaghan (1994) ainda inclui os fatores econômico e ocupacional como

afetando drasticamente as relações familiares, principalmente aquelas entre os

genitores e a sua criança.

Dada a importância do ambiente para o desenvolvimento da criança,

tanto "normal" quanto "deficiente", no que tange à organização de suas

atividades de vida diária e ao processo de estimulação, torna-se fundamental

compreender como o ambiente influencia o desenvolvimento das crianças,

principalmente daquelas que apresentam algum tipo de deficiência. Vygotsky

(1994) afirma que a influência do ambiente sobre o desenvolvimento infantil, ao

lado de outros tipos de influências, também deve ser avaliada levando em

consideração o grau de entendimento, a consciência e o insight do que está

acontecendo no ambiente em questão (p. 343). Essa afirmativa traz às nossas

mentes indagações importantes do tipo: a criança DM recebe menos influência

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39do ambiente por ter menos condições cognitivas para a compreensão e

consciência das situações vivenciadas? Para este autor, as crianças deficientes

mentais severas, que não têm as aquisições cognitivas preservadas, acabam

sendo poupadas e protegidas de situações que, para as crianças não

deficientes, poderiam causar extremo sofrimento. É interessante destacar que a

vivência da criança DM, em comparação à criança não DM, ocorre de forma

diferenciada devido às suas limitações, mas isso não significa que os

acontecimentos do ambiente não tenham um impacto sobre ela. Na verdade,

ainda não há respostas prontas para as indagações que nós nos fazemos,

enquanto pesquisadores.

O microsistema da família não é o único que precisa ser estudado. Há

também o ambiente da escola, que constitui mais um espaço de socialização

para a criança com deficiência. Em relação a isso, muito se tem discutido a

respeito da inclusão da criança deficiente em ambiente coletivo, mostrando a

sua importância e necessidade. Aranha (1995) afirma que, ao impedir a

integração social do deficiente, há perdas tanto para a pessoa (deficiente) em

desenvolvimento como para a sociedade. Com isto, todos perdemos em

consciência, em comportamento e, conseqüentemente, em possibilidade de

transformação (p. 70). Apesar da importância da escola, não devemos

esquecer que as intervenções devem ocorrer, primeiramente, na família

enquanto um grupo em desenvolvimento. Contudo, não basta somente estudar

a família, é preciso focalizá-la inserida dentro de um contexto ecológico mais

amplo, se quisermos, de fato, compreender a sua dinâmica e funcionamento.

Em relação a este aspecto, muito ainda tem que ser feito em se tratando de

famílias com crianças que apresentam algum tipo de deficiência.

Cabe ressaltar que ainda há questões que precisam ser aprofundadas

com relação ao conceito de DM. Apesar dos esforços de alguns autores, o

discurso da maior parte dos órgãos públicos e dos programas de formação de

pessoal mostra que a DM continua sendo considerada como estando dentro do

indivíduo, descontextualizada e sem nexo social (Nunes & Ferreira, 1994),

quando, na verdade, este conceito deveria englobar o contexto sócio-econômico

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40e político de nossa época, bem como as influências culturais que estão

presentes na construção deste sujeito concreto.

Para finalizar, é importante ressaltar a necessidade de mais orientação

para as famílias de crianças DM, as quais devem ser melhor informadas sobre

o tipo de deficiência e suas conseqüências para o desenvolvimento da criança,

bem como dos recursos necessários para favorecê-lo. Nesse contexto, as

políticas públicas têm um papel muito importante, especialmente para as

famílias de baixa renda, uma vez que o gasto com profissionais e com

atendimento especializado torna-se oneroso. O Ministério da Educação do

Brasil (MEC) é o responsável, em nosso país, pela organização e

administração do ensino especial, juntamente com a participação estadual e, às

vezes, municipal (MEC, 1994). Esse atendimento é garantido por lei; contudo,

ele ainda é deficitário e conta com o despreparo dos profissionais. Além disso,

os currículos escolares não contemplam o ensino especial como uma disciplina

necessária nos cursos de magistério e pedagogia (Martins, 1996). Mas, merece

ser destacado aqui um programa de estimulação precoce, que faz parte dos

diversos tipos de atendimentos planejados pelo MEC para beneficiar as

crianças de zero a três anos com atraso no desenvolvimento ou com

deficiências (física, mental, visual, auditiva, múltipla). Esse programa tem, em

sua essência, um papel preventivo, buscando intervir nas diversas áreas do

desenvolvimento infantil: motora, cognitiva, sensório-perceptiva, socioafetiva e

da linguagem (MEC, 1995b). Assim, considerando a necessidade desse tipo de

atendimento, entendemos ser de fundamental importância mais investimentos

nessa área, atingindo mais estados e municípios brasileiros que,

concomitantemente ao aumento do número de pesquisas sobre crianças DM e

suas famílias, proporcionariam uma compreensão mais profunda do seu

desenvolvimento.

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