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B. Indústr. anim., Nova Odessa,SP, 42( 1):107-113, jan./jun. 1985 TRANSlOCAÇÃO ROBERTSONIANA 1/29 E QUIMERISMO EM BOVINOS DA RAÇA SUfÇA PARDA P) (1/29 Robertsonian trans/ocation and chimaerism in brown Swiss cattle) RITA MARIA LADEIRA PIRES (2), ROSANA APARECIDA POSSENTI (3), JULlANA RODRIGUES POZZI (3) 8 ANTONIO DE OLIVEIRA LOBÃO (~, 3) RESUMO: Amostras de sangue periférico de 80 bovinos (45 fêmeas e 18 machos nasci- dos no pais e 17 fêmeas importadas dosEUA),da raça surça parda, foram submetidas a exame de cariótipo, de 1980 a 1983, no Instituto de Zootecnia, Nova Odessa, SP, através de cromossomos metafásicos de cultura de linfócitos. Anomalias cromossômicas foram encontradas em cinco animais: três nascidos de partos gemelares heterossexuais (um ma- cho e duas fêmeas "freemartins") apresentaram quimerismo 60,XX/60,XY; uma fêmea nascida no pais (crioula) e outra importada apresentaram translocação robertsoniana 1/29. INTRODUÇÃO Translocação robertsoniana, também chamada fusão cêntrica, é a união de um segmento cromossô- mico em uma região fragmentada de outro, resul- tando em um cromossomo metacêntrico ou subme- tacêntrico. Esse processo ocorre após a quebra de dois cromossomos acrocêntricos em regiões próxi- mas ao centrômero. A translocação robertsoniana 1/29 é formada pela fusão dos cromossomos 1e 29, e foi descrita, pela primeira vez, em 1964, por GUSTAVSSON & ROCKBORN 12 . Essa translocação é a mais encontrada, mas outros tipos podem ocorrer em bovinos, a saber: t 2/4 (POLLOCK 22 ), t 3/4 (POPESCU 23 ), Dt 5/15 e 6/15 (ELDRIDGE 6 ). t 5/18 (PAPP & KOVACS 18 ), t 14/20 (LOGUE & HARVEylS). t 14/24 (DI BERARDINO et alii s ). t 25/27 (SUCCI et alii 27 ). t '27/29 (BONGSO & BASRUR 2 ) e t 8/9 (TSCHUDI et alii 28 ). De acordo com GUSTAVSSON 11 e PO- PESCu 2 5, a translocação robertsoniana foi obser- vada em aproximadamente 30 raças européias, entre as quais: hereford, red poli, chianina, charo- lesa, marchigiana, holandesa, guernesey, su (ça parda e blond d'aquitaine, criadas em vários países. No Brasil, pesquisadores relatam a detec- ção da referida translocação: CARRARA et alii 3 , estudando oito touros da raça marchigiana usados para coleta de sêmen, observaram que quatro animais aparentados apresentavam um tipo de translocaçãe cuja morfologia indicava ser 1/29. PINHEIRO et a1ii 20 , analisando onze touros da raça marchigiana, filhos de pais importados, obser- varam que 36% deles eram portadores da translo- cação 1/29 e aparentados. Percentagens elevadas foram encontradas, também, por PINHEIR0 19 , que. analisou animais de nove raças, constatando a translocação em quatro delas (marchigiana, reg poli, blond d'aquitaine e pitangueiras). O número de animais examinados e o de portadores, por raça, foram os seguintes: marchigiana: 12 e 4 (33,3%), (1) Parte do Projeto IZ-106. Recebido para publicação em julho de 1984. (~) Da Seção de Reprodução e Inseminação Artificial, Divisão de Técnica Básica e Auxiliar. (3) Bolsista do CNPq. 107

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Page 1: TRANSlOCAÇÃO ROBERTSONIANA 1/29 E QUIMERISMO P ) · mes correspondentes aos animais examinados e a ocorrência de quimerismo e translocação robert-soniana 1/29. A translocação

B. Indústr. anim., Nova Odessa,SP, 42( 1):107-113, jan./jun. 1985

TRANSlOCAÇÃO ROBERTSONIANA 1/29 E QUIMERISMOEM BOVINOS DA RAÇA SUfÇA PARDA P )

(1/29 Robertsonian trans/ocation and chimaerism in brown Swiss cattle)

RITA MARIA LADEIRA PIRES (2), ROSANA APARECIDA POSSENTI (3), JULlANA RODRIGUES POZZI (3)8 ANTONIO DE OLIVEIRA LOBÃO (~, 3)

RESUMO: Amostras de sangue periférico de 80 bovinos (45 fêmeas e 18 machos nasci-dos no pais e 17 fêmeas importadas dosEUA),da raça surça parda, foram submetidas aexame de cariótipo, de 1980 a 1983, no Instituto de Zootecnia, Nova Odessa, SP, atravésde cromossomos metafásicos de cultura de linfócitos. Anomalias cromossômicas foramencontradas em cinco animais: três nascidos de partos gemelares heterossexuais (um ma-cho e duas fêmeas "freemartins") apresentaram quimerismo 60,XX/60,XY; uma fêmeanascida no pais (crioula) e outra importada apresentaram translocação robertsoniana 1/29.

INTRODUÇÃO

Translocação robertsoniana, também chamadafusão cêntrica, é a união de um segmento cromossô-mico em uma região fragmentada de outro, resul-tando em um cromossomo metacêntrico ou subme-tacêntrico. Esse processo ocorre após a quebra dedois cromossomos acrocêntricos em regiões próxi-mas ao centrômero. A translocação robertsoniana1/29 é formada pela fusão dos cromossomos 1 e29, e foi descrita, pela primeira vez, em 1964, porGUSTAVSSON & ROCKBORN12.

Essa translocação é a mais encontrada, masoutros tipos podem ocorrer em bovinos, a saber:t 2/4 (POLLOCK22

), t 3/4 (POPESCU23), Dt5/15 e 6/15 (ELDRIDGE6). t 5/18 (PAPP &

KOVACS18), t 14/20 (LOGUE & HARVEylS).t 14/24 (DI BERARDINO et aliis). t 25/27(SUCCI et alii27). t '27/29 (BONGSO &

BASRUR2) e t 8/9 (TSCHUDI et alii28).

De acordo com GUSTAVSSON11 e PO-PESCu2 5, a translocação robertsoniana foi obser-

vada em aproximadamente 30 raças européias,entre as quais: hereford, red poli, chianina, charo-lesa, marchigiana, holandesa, guernesey, su (ça

parda e blond d'aquitaine, criadas em váriospaíses.

No Brasil, pesquisadores relatam a detec-ção da referida translocação: CARRARA etalii3, estudando oito touros da raça marchigianausados para coleta de sêmen, observaram quequatro animais aparentados apresentavam um tipode translocaçãe cuja morfologia indicava ser 1/29.PINHEIRO et a1ii20, analisando onze touros daraça marchigiana, filhos de pais importados, obser-varam que 36% deles eram portadores da translo-cação 1/29 e aparentados. Percentagens elevadasforam encontradas, também, por PINHEIR019,

que. analisou animais de nove raças, constatandoa translocação em quatro delas (marchigiana, regpoli, blond d'aquitaine e pitangueiras). O númerode animais examinados e o de portadores, por raça,foram os seguintes: marchigiana: 12 e 4 (33,3%),

(1) Parte do Projeto IZ-106. Recebido para publicação em julho de 1984.(~) Da Seção de Reprodução e Inseminação Artificial, Divisão de Técnica Básica e Auxiliar.(3) Bolsista do CNPq.

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red poli: 5 e 2 (40%), blond d'aquitaine: 1 e 1(110%) e pitangueiras: 100 e 32 (32%). Esses acha-dos correspondem, em geral, à freqüência de19,86%. MORAES et alii17, examinando sanguede número variado de bovinos de diferentes raças,encontraram uma freqüência de 2,5%, num totalde 81 animais charoleses. Na raça, su íça parda, oprimeiro registro do encontro da robertsoniana1/29, no Brasil, foi feito por PIRES et alii21 , emuma fêmea com sintomas de baixa fertilidade, eque faz parte do plantei analisado no presentetrabalho.

Levantamentos realizados em outros paísesrevelam incidência da referida translocação, naraça estudada. Nos EUA, os primeiros relatosforam feitos por ELDRIDGE & BLAZAK7.

Os AA. observaram tal anormalidade em trêsfêmeas, não aparentadas, em três gerações, conclu-indo que essa aberração pode estar espalhada dentroda raça. BLAZAK & ELDRIDGE1 examinaram299 animais pertencentes a diferentes rebanhos,encontrando 10,4% de animais portadores, Emalguns dos rebanhos estudados, havia sido utilizadosêmen de um touro portador da translocação, emheterozigose. As análises revelaram que se os paren-tes desse reprodutor fossem eliminados do estudo,a anomalia diminuiria para 1,34%. Os AA. esti-mam que, na raça su Iça, nos EUA, a freqüênciamínima dessa translocação deva ser de 2,4%.TSCHUDln 1lii28 encontraram 0,23% da translo-cação ao examinar cromossomos de 430 reprodu-tores su íços de centros de inseminação artificial,na Suíça. Na Itália, GUANTI & MINOIA8 encon-traram a referida translocação nas células femininasde um macho portador de quimerismo.

Alguns pesquisadores estudaram os efeitos datranslocação robertsoniana 1/29 sobre a fertilidadedos bovinos. GUSTAVSSON9 selecionou, de váriosrebanhos, na Suécia, 263 novilhas que apresen-taram retorno ao cio, pelo menos quatro vezes, ecujas causas não puderam ser diagnosticadas. Exa-minando o cariótipo desses animais, o A. encon-trou uma freqüência de 30,8% de portadores da

translocação robertsoniana. KOVAcs &

CSUKLy14, trabalhando com filhas de touros nor-mais e 'touros heterozigotos para essa translocação,não encontraram diferença significativa no inter-valo entre partos. Esses AA. apontam diferençassignificativas no número de inseminações, que foimaior para as fêmeas descendentes de touros comtranslocação e que apresentaram menor taxa deconcepção. GUSTAVSSON10 e REFSDAL26

evidenciaram, em seus estudos com filhas de tourosportadores de translocação 1/29, que elas reter-navam ao cio com mais freqüência do que as filhasde touros normais, provavelmente devido à morteembrionária precoce, o que redundaria em retornoao cio. GUSTAVSSON 10 sugere que a ocorrênciade segregação adjacente, produzindo gametas ezigotos de cariótipos não balanceados, seja conce-bível, mas tais indiv íduos não são encontrados napopulação. A existência desses zigotos pode serrefletida pela redução da fertilidade ou peloaumento de abortos e natimortos ou, ainda,peloaparecimento de anomalias congênitas. KING etalii13

, trabalhando com embriões de um, três esete dias, e POPESCU24

, com embriões de trezedias, observaram cariótipo não balanceado.BLAZAK & ELDRIDGE1, estudando a fertili-dade de fêmeas su íças portadoras de translocacão,em heterozigose, não detectaram redução signifi-cativa em seu índice. Sugerem a necessidade detrabalhar com amostra maior, e acreditam que asegregação trivalente ou a completa ausência desegregação adjacente possam tornar a fertilidadeaparentemente normal.

Outra aberração cromossômica encontrada embovinos é o quimerismo (60,XX/60,XY), resul-tante de duas populações de células somáticas deorigem genética diferente. Segundo CHAPMAN etalli", cerca de 90% das fêmeas nascidas de partosgemelares heterossexuais apresentam o quimerismo.Geralmente, são intersexos e chamadas de "free-rnartlns", e seus irmãos apresentam também quime-rismo. WILKES et alii2 9, estudando novilhas "free-rnartins", observaram vários graus de masculini-zação em suas genitálias internas.

MATERIAL E M~TODOS

Foram realizados exames de cariótipo de oiten-ta bovinos da raça su Iça parda, dos quais 63 (45 fê-meas e 18 machos) eram nascidos no país, sendo

sessenta sediados na Estação Experimental Centralde Nova Odessa e três reprodutores usados emcruzamento, na Estação Experimental de Zootec-

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nia de Andradina. Os dezessete bovinos restanteseram fêmeas, em gestação, importadas dos EUA,em 1982, com o objetivo de reestruturar o rebanhosu íço do Instituto de Zootecnia e permitir estudoscomparativos do seu desempenho com o dos ani-mais aqui nascidos e oriundos de ascendentesimportados.

Amostras de sangue da veia jugular dos ani-mais foram coletadas, em tubos com heparina, eenviadas ao laboratório, no período máximo de12 horas, para estudo dos cromossomos metafá-sicos obtidos através de cultura de linfócitos, deacordo com a técnica de MOOR HEAD et alii16

modificada na UNICAMP.

Para obtenção de metáfases, distribu íram-se

assepticamente as amostras em tu bos contendomeio de cultura TC 199 enriquecido com sorofetal bovino e fitoemaglutinina, incubando-os por72 horas a 37,50C. Para interromper a divisão rnitó-tica na fase de metáfase, quando os cromossomosse tornam evidentes ao microscópio óptico, usou--se colquicina. Para cada amostra, foram feitasduas culturas, observando-se a morfologia e o nú-mero cromossômico de vinte células íntegras, porindivíduo amostrado. Nas amostras procedentesdos animais que apresentaram quimerismo, foramcontadas cem células,

Todas as vezes que se constatou translocação,fez-se banda G, fotografando-se as melhores célulaspara identificação dos crornossornos envolvidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esse levantamento, que inclu i a reprodutoramen~ionada por PI R ES et alii2 1 ,revela que o assun-to deve merecer outros estudos, principalmente de-vido ao fato de que essa translocação pode estarespalhada dentro da raça (ELDRIDGE & BlAZAK7).

Além disso, registros da incidência da translocação1/29 em bovinos, feitos em outros oa íses. porGUSTAVSSON!! e POPESCU25, após sua des-crição inicial por GUSfAVSSON & ROCKBORN!2,essa raça figura entre as mais estudadas (BlAZAK &ELDRIDGE!, ELDRIDGE &BLAZAK7, GUANTI& MINOIA8 e TSCHUDI et aliiza).

O quadro 1 apresenta os resultados dos exa-

mes correspondentes aos animais examinados e aocorrência de quimerismo e translocação robert-soniana 1/29.

A translocação foi primeiramente. detectadaem uma fêmea da Estação Experimental Centralde Nova Odessa, com sintomas de baixa fertilidade,estimulando, assim, o estudo nos outros animaisdesse plantei, em número de 62, incluindo 10 be-zerros de vacas importadas. A freqüência da trans-locação - 59,XX + t 1/29 - nesse lote, foi de1,6% e a do quimerismo - 60,XX/60,XY - foide 4,8%.

QUADRO 1. Resultado do exame de cariótipos de um plantei da raça suíça parda

SexoNúmero

de animaisCariótipos

60,XX 60,XY 60,XX/60,XY 59,XX + t( 1/29)

Fêmeas nascidas no País (crioulas) 45 42 2 (*)

Fêmeas importadas 17 16

Machos 18 17 1 (*)

80 58 17 3 2

(*) Produtos de partos gemelares heterossexuais.

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No lote de dezessete vacas importadas, poste-riormente a esse achado, e submetidas à análisecitogenética, encontrou-se uma fêmea com a refe-rida translocação, sendo a freqüência, nesse caso,de 5,9%. Nem a bezerra dessa vaca nem os' noveprodutos das outras dezesseis vacas apresentaramanormalidade cromossômica.

Em todas as células estudadas das duas fêmeascom o complemento cromossômico 59,XX + t, nolugar de um cariótipo normal 2n = 60, encontrou--se 2n = 59, sendo 56 autossômicos acrocêntricos,dois submetacêntricos sexuais XX e outro cromos-somo submetacêntrico de maior dimensão: que foidiagnosticado como sendo, provavelmente, translo-caçâo robertsoniana 1/29 (Figura 1). Posterior-mente, o diagnóstico foi confirmado pela téc-nica de banda G (Figura 2).

Em termos de plantei examinado, a freqüên-cia geral foi de 2,5%, o que está de acordo coma estimativa feita para a raça, nos EUA, porBLAZAK & ELDRIDGE1 e dentro do previsto,considerando que as freqüências obtidas em exa-mes realizados em outros países variaram de 0,23%(TSCHUDI et alii28) a 10,4% (BLAZAK & EL-DRIDGE1).

No Brasil, para outras raças, a freqüência tam-bém foi variada, oscilando de 2,5%, quando se exa-minaram 81 animais (MORAES et aliiI7), a 100%,quando se examinou apenas um reprodutor (PI-NHEIROI9). As freqüências mais elevadas encon-tradas por CARRARA et alii3, PINHEIROl9 ePINHEIRO et alii20 são devidas ao número redu-zido e ao parentesco dos animais examinados.Ficou evidente, pelos trabalhos consultados, que,eliminando-se do rebanho os portadores da trans-locação robertsonianal /29, aparentados, a freqüên-cia é reduzida significativamente (BLAZAK & EL-DRIDGE1 ).

O exame da ficha zootécnica das duas fêmeasportadoras de translocação revelou problemas deordem reprodutiva.

A fêmea crioula, portadora de translocação1/29 nunca produziu um feto viável e teve doisabortos (seis meses de gestação), entrando em

lactação. Depois de algumas inseminações, semdiagnóstico positivo de gestação, passou a serutilizada como manequim em coleta de sêmen.Após uma cobrição acidental, abortou um fetocom, aproximadamente, 60 dias. A segunda fêmea,importada, em gestação, produziu uma bezerra

com cariótipo normal. Decorridos quatro meses doparto, foi coberta duas vezes, em intervalo de 58dias. Setenta dias após a última cobrição, realizou--se o exame por palpação retal, não se detectandogestação.

Apesar de o número de animais portadores serreduzido, observaram-se alguns distúrbios mencio-nados por GUSTAVSSON9,1 o, KOVÁCS & CSU-KLyl4 e REFSDAL26.

Para que estudos mais completos. como osde BLAZAK & ELDRIDGE1, GUSTAVSSON1 o,KING et aliil3 e POPESCU24, sejam reali-zados, há necessidade de trabalhar com maior nú-mero de animais, como afirmaram BLAZAK &ELDRIDGE1.

No plantei estudado, só foi observada a trans-locação envolvendo os cromossomos 1 e o 29.Outros tipos, como os citados por BONGSO &BAS-RUR2, DI BERARDINO et aliis, ELDRIDGE6,LOGUE &HARVEylS, PAPP &KÚVACS18, POL-LOCK22, POPESCu23, SUCCI et alii2 7 e TSCHU-DI et aliia, não foram encontrados, talvezem virtude de a primeira ser prevalente. Na litera-tura consultada, para raça suíça, além da translo-cação 1/29, houve apenas a citação de um animalportador da 8/9 (TSCH UDI et alii28).

Como mostra o quadro 1, os indivíduos comcariótipo 60,XX/60,XY (quimerismo) eram ani-mais nascidos de partos gemelares heterossexuais,dos quais foram analisadas duas fêmeas e um ma-cho. Esse encontro já era esperado, de acordo comas afirmações de CHAPMAN et alii". Os exameshistológicos dos aparelhos genitais das fêmeas"freemartins" mostraram a existência de vesículaseminal e útero com hipoplasia da mucosa glan-du!ar. Esses achados confirmam as asserções feitaspor WILKES et alii2 9.

CONCLUSÕES

1. A translocação robertsoniana 1/29 ocorreno Brasil, entre os bovinos da raça su íça parda.

2. A translocação robertsoniana 1/29 descrita,no Brasil, em algumas raças da subespécie 80S

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Fig. 1. Metáfase corada por giemsa. Seta indicando a translocação robertsoniana 1/29.

figo 2. Metáfase com banda G, evidenciando il translocação robertsoniana 1/29.

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taurus taurus e em produtos de seus cruzamentos,continua sendo introduzida com novas impor-tações.

3. Os animais portadores de translocação nãosão reconhecidos pelo fenótipo, exigindo, assim, acariotipagem dos doadores de sêmen e maior rigor

quanto às importações de animais que serão utili-zados como reprodutores.

4. Outros levantamentos sobre a incidência datranslocação robertsoniana e estudos mais comple-tos de sua influência na reprodução são necessários.

SUMMARY: Blood samples of 63 head of Brown Swiss cattle born in Nova Odessa,Stateof São Paulo, Brazíl, took from 1980 to 1983 and 17 imported from the United Stateswere submitted to a cytogenetic analysis through the chromosome metaphasic culture ofIymphocytes. Five animais showed abnormalities in their chromosomes. Three animais(one male and two females freemartins) of heterosexual twins showed chimerism(60,XX/60,XY). Two females, on"eborn in Brazil and one imported showed 1/29 Robert-sonian translocation.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Ora. Iris Ferrari, da Faculdade de Medicina de Ribeirão PretoUSP, a execução de técnica de banda G, e ao Or. Romeu Macruz, do Instituto Biológico (ePA - SAA),

os exames histológícos.

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