trabalho de direitos civil doação

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1 1. ESPÉCIES DE DOAÇÃO Antes de enumerar as espécies de doação, vale salientar seu conceito dado por Maria Helena Diniz: Código Civil: Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. “ • O dispositivo conceitua o contrato de doação, translativo de domínio, pelo qual o doador, em ato espontâneo e de liberalidade (animus donandi), transfere, a título gratuito, bens e vantagens que lhes são pertencentes ao patrimônio de outrem que, em convergência de vontades, os aceita expressa ou tacitamente. É contrato unilateral (obrigação unicamente exigida ao doador, salvo modal ou com encargo), gratuito, consensual e, em geral, solene (forma escrita). • O contrato serve de título de aquisição, a rigor não “transfere”. A translatividade do domínio ocorre pela tradição (coisa móvel)”. 

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1. ESPÉCIES DE DOAÇÃO 

Antes de enumerar as espécies de doação, valesalientar seu conceito dado por Maria Helena Diniz:

Código Civil: Art. 538. Considera-se doação o contratoem que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seupatrimônio bens ou vantagens para o de outra.

“ • O dispositivo conceitua o contrato de doação,translativo de domínio, pelo qual o doador, em atoespontâneo e de liberalidade (animus donandi),transfere, a título gratuito, bens e vantagens que lhessão pertencentes ao patrimônio de outrem que, em

convergência de vontades, os aceita expressa outacitamente. É  contrato unilateral (obrigaçãounicamente exigida ao doador, salvo modal ou comencargo), gratuito, consensual e, em geral, solene(forma escrita).• O contrato serve de título de aquisição, a rigor não“transfere”. A translatividade do domínio ocorre pela

tradição (coisa móvel)”. 

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ESPÉCIES DE DOAÇÃO: 

1.1 PURA E SIMPLES (TÍPICA) – É quando o doador não

impõe nenhuma restrição ou encargo ao beneficiário.Nesta modalidade uma das partes aufere somentelucro e a outra sofre uma diminuição patrimonial. É umato de pura liberalidade. Destarte, o seu cumprimentonão pode ser exigido judicialmente, nem sujeita odoador às conseqüências dos vícios redibitórios ou daevicção, pois, não seria justo que surgissem obrigações

para quem praticou uma liberalidade.

1.2 ONEROSA (MODAL, COM ENCARGO OU GRAVADA)– É aquela em que, junto com a doação, o donatáriorecebe também uma restrição ou encargo, destarte elaaufere um proveito, mas com a obrigação de...Obrigação esta que será definida pelo doador. O

encargo em geral representado pela locução com aobrigação de não suspender a aquisição, nem oexercício do direito. Diferentemente da condiçãosuspensiva da doação condicional, que é identificadapela partícula se (a doação concretizará se...), quesubordina o efeito da liberalidade a um evento futuro eincerto. Enquanto este não se verificar o donatário não

adquirirá o direito.O encargo pode ser imposto a benefício do doador, deterceiro ou do interesse geral. O seu descumprimento(em caso de mora), pode ser exigido judicialmente,observado o limite do serviço prestado ou ônusimposto, pois o excesso é considerado puraliberalidade, não podendo ser cobrado.

O benefício pode ser em proveito: a) do doador; b)terceiro identificado; c) no interesse coletivo.

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Havendo morte do doador e se recusando o donatário acumprir o encargo tem o MP legitimidade para cobrá-lo? O MP tem legitimidade somente quando se tratar

do interesse público, p.ex., Maria doou a José100.000m2 de terreno com a obrigação de que elecedesse 1.000m2 para se fazer uma horta comunitária.Morrendo Maria e negando-se José a cumprir oencargo, poderá o MP intervir para obrigar José acumpri-lo, pois, neste caso o que se tem é a proteção dointeresse público. Mas, em nenhuma hipótese o MP tem

legitimidade para propor a revogação da doação porinadimplemento no cumprimento do encargo. Comonão pode haver cancelamento do contrato de doação oMP pode, p.ex., cobrar de José uma multa diária deR$1.000,00, que será paga até que ele cumpra oencargo determinado no contrato.Quando o encargo é em favor do próprio donatário tem

caráter de mero aconselhamento, não podendo odoador impor, coercitivamente, o encargo aodonatário.

1.3 REMUNERATÓRIA – Tem-se quando uma dívida seencontra prescrita, não sendo mais exigíveljudicialmente, é uma retribuição por serviços

prestados. Exemplo clássico cliente que adimpli umadívida para com seu médico, quanto a ação de cobrançajá estava prescrita, fazendo uma doação a quem lhesalvou a vida. Se o valor pagão exceder o dos serviçosprestados, o excesso “não perde o caráter deliberalidade”, isto é, de doação pura. Mas no valor dadoação referente a retribuição do serviços prestados,

responde o doador pela evicção, pelos víciosredibitórios, podendo ser exigível judicialmente.

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1.4 CONTEMPLAÇÃO DE MERECIMENTO – É feita emretribuição de serviços prestados, cujo pagamento nãopode ser mais exigível pelo donatário. O motivo édeterminante para a realização do ato (CC 140). ParaCarlos Roberto Gonçalves tanto a remuneração deserviços médicos realizados após a prescrição, comoaquela que se faz a um salva-vidas que impede o

afogamento da vitima são doações remuneratórios. Oprofessor Edgar diverge desta opinião para ele: sóteríamos doação remuneratória no primeiro caso, poisno caso dos salva-vidas o que se tem é doação emcontemplação de merecimento, pois não se pode exigirjudicialmente um quantum por se ter salvo a vida deoutrem. Como seria possível equilatar o valor de uma

vida? Como, obviamente, não é possível tal equilatação,não há que falar em doação remuneratória. Nãopodendo destarte, o salva-vidas intentar ação judicialna esperança de receber da vítima alguma retribuição,mesmo que esta tenha lhe oferecido tal benesse e, porqualquer motivo, não tivesse adimplido com apromessa. Já a prestação de serviços médicos, salvando

a vida de uma pessoa, pode ser considerada doaçãoremuneratória, pois a prestação do serviço médico épossível de equilatar-se.

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1.5 DONATÁRIO NASCITURO – A doação feita aonascituro é indispensável a aceitação do seurepresentante legal (CC 542). Neste dispositivo legalencontramos uma incoerência, qual seja: se a doaçãoao absolutamente incapaz tem aceitação presumida,

independente da anuência do representante legal, adoação feita à futura (e eventual) prole dos nubentestem sua aceitação presumida com o casamento, porquea doação, pura e simples, feita ao nascituro, precisa deaceitação do representante? Incoerência jurídica. Poisse a doação só trará benefícios ao donatário, não háporque se impor este tipo de restrição. Ademais, caso o

doador esteja mesmo decidido a fazer a doação, e ospais determinados à não aceitá-la, por mero capricho,poderá o doador aguardar o nascimento com vida dodonatário e fazer-lhe a doação, pois, a partir donascimento com vida passa a ser sujeito de direitos eobrigações, não impondo mais a lei tal óbice à doação,ou seja, ela passa da condição de nascituro à

relativamente incapaz, podendo a doação ser efetivadasem a anuência dos pais.

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1.6 DONATÁRIO ABSOLUTAMENTE INCAPAZ – Adoação feita ao absolutamente incapaz tem suaaceitação presumida (decorre de lei CC 543)dispensando, assim, a aceitação do representante, pois,sendo a doação pura e simples só trará benefício aodonatário.

1.7 SUBVENÇÃO PERIÓDICA – É uma espécie depensão, efetiva-se em períodos pré-determinadoscomo favor pessoal ao donatário (que pode ser opróprio doador ou terceiro por ele indicado), ou seja,em vez de entregar a este um objeto, o doador assume

a obrigação de ajudá-lo com um auxílio pecuniário. Opagamento termina com a morte doador, salvo se ocontrário houver estipulado o doador, ocasião em que,após a sua morte, o monte mor do de cujus responderápelo adimplemento do subvenção, respeitadas asforças da herança. Não pode, contudo, a obrigaçãoultrapassar a vida do donatário. Assim temos três

situações:a) morrendo extingue-se a subvenção;b) o doador pode determinar a continuação dorecebimento da subvenção após a sua morte,respeitadas as forças da herança;c) a morte do donatário extingue a subvenção.

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1.8 EM CONTEMPLAÇÃO DE CASAMENTO FUTURO propter nuptias  – Constitui liberalidade realizada emconsideração às núpcias próximas do donatário com

certa e determinada pessoa. Encontra-se sob condiçãosuspensiva, pois é mister a realização do casamentopara a sua efetivação. Uma vez ocorrido o casamentopresume-se a sua aceitação.A lei permite tal doação pelos nubentes entre si (de umnubente ao outro), de um terceiro a um dos nubentes,ou a ambos, ou aos futuros filhos do casal, neste último

caso são duas as condições suspensivas: o casamentose realizar e o nascimento com vida do filho. A doação propter nuptias não se resolve pela separação, nempodem os bens doados para o casamento serreivindicados pelo doador por ter o donatárioenviuvado ou divorciado e passado a novas núpcias.

1.9 DOAÇÃO ENTRE CÔNJUGES – Constituiadiantamento da legítima, aplica-se na hipótese que ocônjuge participa da sucessão do outro na qualidade deherdeiro, em concorrência com os descendentes, sendoesta doação efetivada no regime de comunhão total debens, será, por obvio, inócua. Na comunhão parcial debens o conjugue concorre somente se o autor não

houver deixado bens particulares, no da separaçãoobrigatória o cônjuge não concorre na sucessão.Importante lembrar que, no regime de separaçãoobrigatória de bens a doação não pode ser utilizada deforma simulada para burlar a lei. Assim, não épermitido, p.ex., em um casamento onde o marido tem80 anos e a esposa 18 anos, aquele não pode doar a

este todos os seus bens, pois, isso seria o mesmo queum casamento em comunhão total de bens.

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A regra instituída no mencionado art. 544 do CC não é,todavia, cogente, pois os arts. 2005 e 2006 do mesmoinstituto autorizam o doador, ascendente ou cônjuge, a

dispensar o donatário da colação no próprio título deliberalidade, ou seja, o doador pode fazer a doação dasua metade disponível.

1.10 DOAÇÃO CONJUNTIVA (em comum a mais de umapessoa) – quando a doação é feita em comum a váriaspessoas, não se determinando o quinhão de cada parte,

entende-se distribuída entre os beneficiados por igual.Não sendo a doação conjuntiva, ou seja, sendo elarealizada a somente um dos cônjuges, não haverá, porparte do outro, direito de acrescer do cônjugesobrevivo, mesmo que o casamento seja em comunhãototal de bens. Assim, conclui-se que todo o patrimônioobedecerá a vocação hereditária.

1.11 DOAÇÃO DE ASCENDENTE A DESCENDENTE – Configura adiantamento da legítima. Assim, quando doinventário do doador, o beneficiado com a doação teráde trazer a colação os bens recebidos como doação,pelo valor que lhes atribuir o ato de liberalidade ou aestimativa feita naquela época, para que seja igualado

os quinhões dos herdeiros necessários, salvo se oascendente expressamente especificou que aqueladoação sairá da sua metade disponível. Caso isso nãoocorra entende-se que a doação do pai ao filho nadamais é que adiantamento da legítima daquilo que pormorte do doador o donatário receberia.

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1.12 DOAÇÃO UNIVERSAL – É aquela em que o doadorfaz uma doação de todos os seus bens. Se o doador nãotiver condição de subsistência a doação será nula,

atingindo, essa nulidade, toda a doação. Assim, p.ex.,João doa todo o seu patrimônio o Maria no valor de500.000,00, ficando aquele sem condições desobrevivência. Esta doação é totalmente nula, ou seja,atinge toda a doação, retornando todo o patrimônio aJoão. Mas, se João tivesse, v.g., uma pensão do INSS novalor de 1.500,00, mais um pecúlio equivalente

a3.000,00 a doação seria perfeitamente válida, pois,João teria condições de sobrevivência.

1.13 DOAÇÃO INOFICIOSA – É o que excede o limiteque o doador no momento da liberalidade, poderiadispor em testamento, ou seja, é aquela cujo valor queextrapola a sua parte disponível. Segundo o CC 549 é

nula somente a parte que exceder a tal limite e nãotoda a doação, p.ex., a metade disponível do doador erade 10.000,00 e este faz uma doação de 15.000,00, nestecaso, é possível ajuizar uma ação declaratória denulidade (também chamada ação de redução), para quese tenha nulidade do valor que excedeu a metadedisponível, ou seja, 5.000,00, permanecendo a doação

do valor disponível (10.000,00) perfeitamente válida. OCC549 tem por objetivo a preservação da legítima dosherdeiros necessários. Destarte, pode-se inferir que sótem plena liberdade doar quem não tem herdeirosdessa espécie, a saber: cônjuge, ascendente oudescendente.

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1.14 DOAÇÃO EM FRAUDE CONTRA CREDOR - Existepresunção absoluta de fraude quando o insolvente doaseus bens. Quem está em dificuldades financeiras não

pode fazer doação para não prejudicar seus credores(158).

1.15 DOAÇÃO ILEGÍTIMA - É feita a donatário semlegitimidade (= autorização) para receber doação, ex:550. O tutor também não tem legitimidade para doarbens do órfão que ele cuida, nem com ordem judicial

(1749, II).

1.16 DOAÇÃO COM CLÁUSULA DE REVERSÃO -Cláusula expressa onde o doador determina que caso odonatário morra primeiro do que ele, os bensretornarão ao patrimônio do doador, ao invés deseguirem para os filhos do donatário. Nesta espécie de

doação, a propriedade do donatário é resolúvel, ouseja, não é plena, podendo ser resolvida (= extinta)caso o donatário morra antes do doador. Morrendo odoador primeiro, a propriedade torna-se plena para odonatário (547).

1.17 DOAÇÃO EM ADIANTAMENTO DE LEGÍTIMA -

Ocorre quando o pai doa um bem ao filho comoantecipação de herança (544, 2018). Alguns autorescriticam essa doação por se tratar de um  pactacorvinavedado pelo art. 426, afinal o filho sempre podemorrer antes do pai.

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2. INVALIDADE DE DOAÇÃO

Segundo Maria Helena Diniz:

Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reservade parte, ou renda suficiente para a subsistência dodoador.

• A norma impede a doação de todos os bens (doaçãouniversal), inibindo o ato de dissipação patrimonial,que expõe o doador ã falta de condições de sua própriasubsistência. Trata-se de tutela de amparo ao doadorirrefletido, sob o risco de penúria, capaz, pelaliberalidade arrimada em total desprendimento, decomprometer o mínimo existencial para viger a vida.

Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte queexceder à de que o doador, no momento daliberalidade, poderia dispor em testamento.

• É cediço na jurisprudência o comando legal:  “A

doação naquilo que ultrapassa a parte de que poderia odoador dispor em testamento é de que se qualificainoficiosa e, portanto, nula” (STX, 43 T., REsp 86.518-MS, rei. Mm. Sálvio de Figueiredo, DJU de 3-11-1998).

Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice

pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus

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herdeiros necessários, até dois anos depois dedissolvida a sociedade conjugal.

• É assegurada proteção ao acervo patrimonial doscônjuges, durante a constância do casamento, dizendoa lei ser anulável a doação feita pelo cônjuge ao seucúmplice no adultério. O ato de doação não implicanulidade absoluta, cabendo ao outro cônjuge ou aosherdeiros necessários o pedido de anulação por fraude.

Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação emcomum a mais de uma pessoa entende-se distribuídaentre elas por igual.Parágrafo único. Se os donatários, em tal caso, foremmarido e mulher, subsistirá na totalidade a doaçãopara o cônjuge sobrevivo.

• Cuida-se da doação conjuntiva, feita em comum e emsimultâneo a mais de um donatário, com a presunçãode que seja distribuída em partes iguais entre eles,salvo cláusula dispondo diferentemente a proporçãodos valores. No caso dos donatários casados entre si,há uma perfeita mutualidade legal para o direito de

acrescem: o cônjuge sobrevivo assume, por direitoexclusivo, em substituição, a proporção igualitária dooutro que faleceu, subsistindo a totalidade da doaçãoem seu favor, não passando o bem aos herdeirosnecessários.

Art. 552. O doador não é obrigado a pagar jurosmoratórios, nem é sujeito às conseqüencias da evicção

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ou do vício redibitório. Nas doações para casamentocom certa e determinada pessoa, o doador ficarásujeito à evicção, salvo convenção em contrario.

• A não-responsabilidade do doador por jurosmoratórios e, ainda, pelas conseqüências da evicção(arts. 447 a 457) ou dos vícios redibitórios (arts. 441 a446) da coisa doada é a regra geral. Isso decorre de sera doação um contrato não oneroso, ditado pelaliberalidade daquele que doa. A garantia da evicção é

ressalvada, contudo, na doação feita em contemplaçãode casamento futuro com certa e determinada pessoa(donatio propter nuptias), de que trata o Art. 546,instituída na dependência daquele acontecimento(doação condicional), ficando, desse modo, sujeito odoador à evicção, exceto por cláusula que o exclua.

Art. 553 0 donatário é obrigado a cumprir os encargosda doação, caso forem a benefício do doador, deterceiro, ou do interesse geral.Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo,o Ministério Público poderá exigir sua execução, depoisda morte do doador, se este não tiver feito.

• A doação gravada com encargo ou modal (Art. 540),obriga ao donatário, podendo o doador revogá-la porinexecução do encargo (Art. 555, 2ª parte), salvoquando o encargo beneficiar o próprio donatário. Estefica sujeito ao adimplemento da obrigação, no prazoestipulado, desde que incorrer em mora (Art. 562).

Quando a incumbência cometida pelo doador for dointeresse geral, e tendo aquele falecido, sem exigir a

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execução do encargo, o Ministério Público temlegitimação superveniente, assegurada por lei (Art.553, parágrafo único, última parte do CPC), para exigir

o cumprimento da obrigação do donatário. O MP não étitular da relação jurídica de direito material ou dosinteresses em conflito, tendo atuação somente pormorte do doador, aparelhando no próprio contrato apretensão da execução direta.• A constituição em mora do donatário se faz pelovencimento do prazo. Não o havendo, para o

cumprimento, obriga-se o doador a notificarjudicialmente o donatário, assinando-lhe, então, prazorazoável para que cumpra a obrigação assumida (RI’,

204/252).

Art. 554. A doação a entidade futura caducará se, em

dois anos, esta não estiver constituída regularmente.

• A eficácia da doação feita a entidade finura (portantoinexistente) é submissa a uma condição suspensiva: aconstituição regular da entidade, no prazo assinado emlei. A doação, nessa espécie, ficará sem validade, se aentidade não se constituir. A aceitação há de se

pressumida concomitante , portanto, com a existênciada entidade donatária.

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3. REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO

Segundo Maria Helena Diniz:

Art. 555. A doação pode ser revogada por ingratidão dodonatário, ou por inexecução do encargo.

• O doador pode, exercendo o direito personalíssimo,pleitear a revogação da doação pura e simples, emvirtude da ingratidão do donatário, por este revelada

na insensibilidade e desrespeito ao valor ético-jurídicoda liberalidade feita em seu benefício. A ingratidãoafronta o doador, pelo inadimplemento de um devermoral — o do reconhecimento ou recognição dodonatário pelos favores recebidos.

•O dispositivo não oferece conceito jurídico de

ingratidão, podendo ser considerado como uma normaaberta.

• A revogação por inexecüção do encargo tem porfundamento o inadimplemento de obrigação dodonatário.Mais precisamente, é a resolução do contrato desde

que o donatário incorra em mora.

Art. 556. Não se pode renunciar antecipadamente odireito de revogar a liberalidade por ingratidão dodonatário.

• O direito de revogação é de ordem pública. Assim, a

faculdade do exercício de direito de o doador revogar adoação por ingratidão é irrenunciável por antecipação.

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A renúncia prévia corresponderia conceder aodonatário carta ele indenidade para ele vulnerar odever ético-jurídico de corresponder, dignamente, à

liberalidade do doador e, desse modo não ser-lhe grato.A renúncia posterior coabita tacitamente, diante dosatos da ingratidão, se o doador não exercitar o direitono prazo prescricional, ou, de modo expresso, quandocomunica ao donatário o perdão concedido. Nula será acláusula dispondo, de antemão, a renúncia dessedireito.

Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão asdoações:I— se o donatário atentou contra a vida do doador oucometeu crime de homicídio doloso contra ele;II — se cometeu contra ele ofensa física;III — se o injuriou gravemente ou o caluniou;

IV —  se, podendo ministrá-los, recusou ao doador osalimentos de que este necessitava.

• O inciso I introduz, ao lado do homicídio tentado, ohomicídio consumado. Desse modo, e exclusivamentenessa hipótese, a ação revocatória caberá aos herdeiros(Art. 561), enquanto as fundadas nos demais casos

cumprirão somente ao próprio doador. A ofensa doinciso Il corresponde à lesão corporal dolosa,independente do seu grau de gravidade, representandomotivo para a revogação.

• O inciso III não arrola a difamação, delito típico,apenas tratado em sua autonomia com o Código Penal

de 1940, razão pela qual o CC de 1916 não ocontemplou. Entretanto, o NCC não poderia, por boa

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técnica e em harmonia com a doutrina penal, omiti-lo,o que exige a devida correção.

• O inciso IV, por sua vez, refere-se à ausência deassistência material ao doador, privado por causasuperveniente, de condições para sobreviver, quando odonatário, embora apto a prestá-la, deixa de ministrar-lhe os alimentos necessários.

Art. 558. Pode ocorrer também a revogação quando o

ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cônjuge,ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmãodo doador.

• Omitiu-se, o legislador, de cuidar de extensãoanáloga, com semelhante identidade de razões, no quediz respeito aos atos praticados pelo filho ou cônjuge

do donatário, mesmo que beneficiários diretos ouindiretos da liberalidade e, como tais, sujeitos aosmesmos deveres éticos, por uma conduta humanasuscetível de representante a elevação do espírito cmcomunhão de vida familiar.

Art. 559. A revogação por qualquer desses motivos

deverá ser pleiteada dentro de um ano, a contar dequando chegue ao conhecimento do doador o fato quea autorizar, e de ter sido o donatário o seu autor.

• O termo inicial do prazo decadencial para arevogação judicial da doação é apurado doconhecimento do doador quanto ao fato da ingratidão

que a autorizar. Com a regra, assegura-se ao doador aefetividade da revocatória, prejudicada que estaria

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com o conhecimento tardio, se o prazo tivesse emconta a data do evento.

Art. 560. O direito de revogar a doação não setransmite aos herdeiros do doador, nem prejudica osdo donatário. Mas aqueles podem prosseguir na açãoiniciada pelo doador, continuando-a contra osherdeiros do donatário, se este falecer depois deajuizada a lide.

• O direito de o doador revogar a doação épersonalíssimo e, como tal, não se transmite aosherdeiros. Entretanto, havendo o doador promovido ademanda, cabe aos seus herdeiros continuá-la,inclusive contra os herdeiros do donatário, se estefalecer depois da propositura da ação contra siintentada.

• Uma exceção é a do Art. 561, conferindo legitimidadeaos herdeiros para a demanda revocatória, no caso dehomicídio doloso do doador praticado pelo donatário,já consagrada em jurisprudência (Ri’, 524/65). 

Art. 561. No caso de homicídio doloso do doador, a

ação caberá aos seus herdeiros, exceto se aquelehouver perdoado.

• A regra decorre do inciso 1 do Art. 557 . Aimpossibilidade material de o doador exercitar a açãofaz transferir aos seus herdeiros a iniciativa, certo queagora autorizada, com bastante lucidez. O homicídio

frustro (tentativa) serve de causa revocatória, mas oexitoso não era previsto para a revogação, sob o pálio

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do direito personalíssimo do doador assassinado. Operdão do doador, todavia, elide a admissibilidade dademanda.

Art. 562. A doação onerosa pode ser revogada porinexecução do encargo, se o donatário incorrer emmora. Não havendo prazo para o cumprimento, odoador poderá notificar judicialmente o donatário,assinando-lhe prazo razoável para que cumpra aobrigação assumida.

• A regra decorre da parte final do Art. 555. Incorrendoem mora o donatário sujeitasse ao desfazimentointegral da doação, pronunciado judicialmente, nãocabendo a revogação fora de juízo, por ato unilateral dodoador.

• A mora do donatário onerado opera-se pelo simplesvencimento do prazo para o cumprimento, facultandoao doador a ação de resolução do contrato. Nãoexistindo prazo clausulado, o donatário incidirá emmora, quando lhe assinando o doador prazo razoávelpara o adimplemento do encargo, este escoar sem quea obrigação seja cumprida.

Art. 563. A revogação por ingratidão não prejudica osdireitos adquiridos por terceiros, nem obriga odonatário a restituir os frutos percebidos antes dacitação válida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e,quando não possa restituir em espécie as coisas

doadas, a indenizá-la pelo meio termo do seu valor.

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• Os direitos adquiridos por terceiros não sãoprejudicados, porquanto os efeitos da revogação nãoretroagem (ex nunc).

• Dar-se-á a indenização em caso de impossívelrestituição em espécie, como sucede por nãoprejudicar direitos de terceiros, apurando-se oquantum indenizatório pela média do valor que a coisadoada experimentou ao longo do períodocompreendido entre a liberalidade prestada e a

revogação da doação.

Art. 564. Não se revogam por ingratidão:I— as doações puramente remuneratórias;II — as oneradas com encargo já cumprido;III — as que se fizerem em cumprimento de obrigaçãonatural;

• São insuscetíveis de revogação por ingratidão asdoações puramente remuneratórias, isto é, aquelas queremuneram um serviço prestado pelo donatário , noque não exceder ao valor de tal serviço (inciso 1).

• Refere o inciso II às doações com encargo já

cumprido, ou seja, com a condição satisfeita.

• A doação decorrente da liberalidade feita paraatendimento de obrigação não exigível (v. g, dívida dejogo ou dívida prescrita) também não pode serrevogada por ingratidão (inciso III).

• No caso da doação feita em contemplação decasamento (casamento futuro), ela se toma irrevogável,

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com a celebração deste, tendo alcançado o fim a que sepropôs (inciso IV).

Referências Bibliográficas 

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RODRIGUES, Silvio. Dos Contratos e das DeclaraçõesUnilaterais de Vontade. Ed.Saraiva. 2004.

DINIS, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro,volume III: teoria das obrigações contratuais eextracontratuais. 25. ed. reformulada. São Paulo:Saraiva, 2009.

GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil ,volume IV: contratos, tomo 1: teoria geral / Pablo

Stolze Gagliano, Rodolfo Panplona Filho. 5 .ed. rev. eatual. São Paulo: Saraiva, 2009.

GONÇALVES, Carlos Roberto.  Direito civil brasileiro,volume III: contratos e atos unilaterais. 6. ed. rev. eatual. São Paulo: Saraiva, 2009.

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MATIELLO, Fabrício Zamprogna, Curso de direito civil,

volume III: dos contratos e dos atos unilaterais. SãoPaulo: LTR, 2008.

VENOZA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das

obrigações e teoria geral dos contratos.  8. ed. SãoPaulo: Atlas, 2008. (Coleção direito civil; v.2).