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decisao judicial

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  • TRIBUNAL DE JUSTIAPODER JUDICIRIO

    So Paulo

    Registro: 2014.0000728813

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053, da Comarca de So Paulo, em que so apelantes SERGIO TEOFILO FONSECA (E OUTROS(AS)) e EDNA DA SILVA FONSECA, apelado FAZENDA DO ESTADO DE SO PAULO.

    ACORDAM, em 9 Cmara de Direito Pblico do Tribunal de Justia de So Paulo, proferir a seguinte deciso: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acrdo.

    O julgamento teve a participao dos Exmos. Desembargadores MOREIRA DE CARVALHO (Presidente sem voto), DCIO NOTARANGELI E OSWALDO LUIZ PALU.

    So Paulo, 12 de novembro de 2014

    JOS MARIA CMARA JUNIOR

    RELATOR

    Assinatura Eletrnica

  • TRIBUNAL DE JUSTIAPODER JUDICIRIO

    So Paulo

    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 2

    Voto n. 9238

    Apelao n. 1013941-50.2014.8.26.0053

    Comarca: So Paulo

    Natureza: Responsabilidade Civil do Estado

    Apelantes: Srgio Tefilo Fonseca e outro

    Apelada: Fazenda do Estado de So Paulo

    RELATOR JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM 2 GRAU JOS MARIA CMARA JUNIOR

    APELAO. AO INDENIZATRIA. IMPROCEDNCIA DO PEDIDO MEDIATO.

    RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. Interveno cirrgica de vasectomia. Posterior gravidez da mulher e nascimento da filha.

    RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. CONFIGURADA. A controvrsia envolve to somente a existncia de orientao mdica e profissional sobre os riscos de ineficcia da cirurgia. Necessidade de observncia dos requisitos do artigo 10 da Lei Federal n. 9.263/96. O pronturio mdico no indica que os autores tenham sido cientificados dos riscos da vasectomia. Ausncia de prova dos encontros necessrios para a prvia orientao sobre o planejamento familiar. Dever de indenizar que resulta do no atendimento do dever de informao, previsto em lei e do resultado danoso experimentado pelos autores. Repercusso danosa reconhecida.

    DANOS MATERIAIS. PENSO MENSAL. TEORIA DOS DANOS DIRETOS E IMEDIATOS. Desdobramento da teoria da causalidade adequada. Somente se reconhece o dever de indenizar se for demonstrado o dano certo e atual. Precedentes do STJ. O nascimento de um filho, propriamente dito, no pode representar fato imponvel de uma obrigao decorrente de responsabilidade aquiliana. O fardo da criao de um filho certamente algo custoso e de difcil execuo, mas no pode ser entendido como consequncia direta e imediata do erro cometido pela Administrao ao no cumprir o dever de informao sobre os riscos da cirurgia. Se assim fosse admitido, qualquer evento futuro e eventual que gerasse um prejuzo esfera patrimonial da prole poderia ser imputado ao ato originrio de que derivou o seu nascimento.

    DANO MORAL. Prejuzos extrapatrimoniais derivados dos

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    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 3

    constrangimentos a que foram submetidos os autores com a surpresa de uma gravidez inesperada e a suspeita de infidelidade conjugal. Adequao, razoabilidade e proporcionalidade. Critrios que devem ser empregados para o arbitramento da indenizao compensatria. Fixao em R$ 10.000,00, para cada autor.

    CRITRIO DE INCIDNCIA DOS CONSECTRIOS LEGAIS. Juros de Mora. Smula 54 do STJ. Incidncia desde a data do ilcito. Correo monetria devida desde o arbitramento. Smula 362 do STJ. Aplicao da Tabela Prtica do Tribunal de Justia. Inaplicabilidade do artigo 1-F da Lei n. 9.494/97. Reconhecimento da inconstitucionalidade do artigo 5 da Lei n. 11.960/09. Aplicao do artigo 406 do Cdigo Civil.

    HONORRIOS ADVOCATCIOS. Sucumbncia. Pedido indenizatrio por danos morais. Aplicao da Smula 326 do STJ. Fixao em R$ 5.000,00.

    RECURSO PROVIDO.

    SRGIO TEFILO FONSECA e OUTRO, inconformados com a

    respeitvel sentena de fls. 72/75, que julgou improcedente o pedido mediato,

    interpuseram recurso de apelao, sustentando, em sntese, (i) a falha na

    prestao do servio pblico; (ii) a caracterizao de erro na cirurgia de

    vasectomia realizada pela r; (iii) a ausncia de informaes sobre a falibilidade

    da cirurgia de vasectomia; (iv) a falta de credibilidade do documento juntado aos

    autos demonstrando a cincia dos riscos da cirurgia.

    O ru apresentou suas contrarrazes (fls. 99/108) e o

    recurso foi regularmente processado.

    o relatrio.

    O recurso de apelao merece provimento.

    O artigo 37, 6, da CF/88 estabelece a responsabilidade

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    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 4

    civil das pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito privado prestadoras

    de servios pblicos pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a

    terceiros.

    A discusso em torno do dever estatal de pagamento de

    indenizao, decorrente de sua responsabilidade pelo risco administrativo, parte

    da premissa de que o dano efetivamente ocorreu e de que esse dano guarda

    relao de causalidade com a atuao ou a falha na atuao estatal.

    No entanto, a responsabilidade por 'falta de servio',

    falha do servio ou culpa do servio (faute du service, seja qual for a traduo

    que se lhe d) no , de modo algum, modalidade de responsabilidade objetiva,

    ao contrrio do que entre ns e alhures, s vezes, tem-se inadvertidamente

    suposto. responsabilidade subjetiva porque baseada em culpa (ou dolo), (...)

    para sua deflagrao no basta a mera objetividade de um dano relacionado com

    um servio estatal. Cumpre que exista algo mais, ou seja, culpa (ou dolo),

    elemento tipificador da responsabilidade subjetiva (Celso Antonio Bandeira de

    Mello, Curso de Direito Administrativo, 29 edio, Ed. Malheiros, 2012, p. 1.024 p.

    1.020)

    No caso dos autos, os autores ajuizaram a demanda

    buscando indenizao por danos materiais e morais em face da r, sustentando

    que Srgio Tefilo Fonseca foi submetido a cirurgia de vasectomia no Hospital

    Estadual de Interlagos e que no foi orientado sobre a eficcia da cirurgia.

    Acontece que, a despeito da cirurgia, sua esposa (coautora) engravidou,

    sobrevindo o nascimento de sua quarta filha. Apontaram que o exame de

    espermograma ps-cirrgico indicou negativo para espermatozoides e que o

    Estado falhou ao no informar os autores sobre a possvel ineficcia do

    procedimento, como exige a lei federal n. 9.263/96.

    O juzo a quo julgou improcedente o pedido mediato,

    considerando, para tanto, que a cirurgia de vasectomia atingiu o objetivo, qual

    seja, inviabilizar a fertilizao.

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    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 5

    Interessa saber, portanto, se esto presentes os elementos

    de configurao da responsabilidade do Estado por falta de informaes

    completas sobre a cirurgia de vasectomia.

    No h dvidas sobre a paternidade. O apelante Srgio

    confessa a paternidade biolgica da sua filha. Nesse cenrio, tambm

    incontroverso que houve a fecundao envolvendo seu material germinativo, em

    junho de 2013. Tambm no se discute eventual falha mdica na cirurgia

    realizada.

    A controvrsia, na realidade, gravita apenas em torno do

    dever de informao do Estado quanto aos riscos e possibilidade de insucesso da

    cirurgia.

    Estatue o artigo 10 da Lei 9.263/96:

    Art. 10. Somente permitida a esterilizao voluntria nas seguintes situaes:I - em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mnimo de sessenta dias entre a manifestao da vontade e o ato cirrgico, perodo no qual ser propiciado pessoa interessada acesso a servio de regulao da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilizao precoce;II - risco vida ou sade da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatrio escrito e assinado por dois mdicos. 1 condio para que se realize a esterilizao o registro de expressa manifestao da vontade em documento escrito e firmado, aps a informao a respeito dos riscos da cirurgia, possveis efeitos colaterais, dificuldades de sua reverso e opes de contracepo reversveis existentes. 2 vedada a esterilizao cirrgica em mulher durante os perodos de parto ou aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores. 3 No ser considerada a manifestao de vontade, na forma do 1, expressa durante ocorrncia de alteraes na capacidade de discernimento por influncia de lcool, drogas, estados emocionais alterados ou incapacidade mental temporria ou permanente. 4 A esterilizao cirrgica como mtodo contraceptivo somente ser executada atravs da laqueadura tubria, vasectomia ou de outro mtodo cientificamente aceito, sendo vedada atravs da histerectomia e ooforectomia. 5 Na vigncia de sociedade conjugal, a esterilizao depende do consentimento expresso de ambos os cnjuges.

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    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 6

    6 A esterilizao cirrgica em pessoas absolutamente incapazes somente poder ocorrer mediante autorizao judicial, regulamentada na forma da Lei.

    O pronturio mdico indica que o autor foi cientificado,

    em 13.04.2013, dos riscos sobre a laqueadura. O documento de fls. 57 indica

    que os autores estavam cientes da cirurgia de esterilizao, indica com a cirurgia

    a ser realizada era a laqueadura tubria, e no a vasectomia.

    Alm disso, o estudo de evoluo social no tem potencial

    para demonstrar que os autores estavam cientes dos riscos de insucesso da

    cirurgia realizada.

    Embora o relatrio de atendimento mdico (fls. 52)

    anuncie que os autores tiveram oportunidade de esclarecer as dvidas em relao

    ao mtodo e as falhas que foram abordadas verbalmente em mais de uma

    ocasio, quais sejam, a palestra do Planejamento Familiar e a Consulta Mdica

    com Urologista, no h provas cabais de que as informaes foram prestadas

    previamente ao ato cirrgico.

    De outra banda, dos documentos juntados pela Fazenda

    no se evidencia a realizao dos dois encontros mencionados. No h prova de

    que os autores participaram da Palestra do Planejamento Familiar e tambm no

    h prova da prvia passagem por mdico Urologista.

    Como se sabe, o dever de indenizar estar caracterizado

    se houver a conjugao entre os elementos que expressam a conduta culposa, o

    dano e o nexo causal. A identificao do ilcito determinada pela conduta

    culposa, que registra a omisso do Hospital quanto ao dever de informao,

    estabelecido em lei. O dano est representado pelos prejuzos extrapatrimoniais

    derivados das consequncias vexatrias derivadas da omisso do Estado. O nexo

    causal fica bem evidenciado, porquanto os danos decorreram da conduta omissiva

    na prestao do servio pblico.

    Assim, presentes tais elementos, resta configurado o dever

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    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 7

    de indenizar. Isso porque se o Estado, devendo agir, por imposio legal, no

    agiu ou o fez deficientemente, comportando-se abaixo dos padres legais que

    normalmente deveriam caracteriz-lo, responde por esta incria, negligncia ou

    deficincia, que traduzem um ilcito ensejador do dano no evitado quando, de

    direito, devia s-lo. (...) (Celso Antonio Bandeira de Mello, Curso de Direito

    Administrativo, 27 edio, Ed. Malheiros, 2010, p. 1014).

    Reconhecido o dever de indenizar da apelada, sobeja

    apurar a existncia e a dimenso dos danos.

    A gravidade da falha do servio acentua a repercusso

    danosa e os abalos experimentados no deixam dvida de que a ofensa

    psicolgica evidente. No h como negar que a o nascimento inesperado de

    prole fora das expectativas do sucesso esperado da cirurgia no implique em

    prejuzos extrapatrimoniais aos genitores. Alm disso, a Fazenda no controverte

    sobre as repercusses danosas e os episdios narrados pelos autores so crveis,

    considerando a situao em que provavelmente se encontravam no momento em

    que receberam a notcia de que Edna estava grvida.

    Porm, preciso considerar que os abalos psquicos

    indenizveis somente podem ser aqueles diretamente derivados do ilcito

    constatado. Como se sabe, aferio do nexo de causalidade, luz do

    ordenamento jurdico brasileiro (artigo 1.060 do Cdigo Civil de 1916 e artigo

    403 do Cdigo Civil de 2002), destacam-se os desenvolvimentos doutrinrios

    atinentes teoria da causalidade adequada e quela do dano direto e imediato.

    Considera-se, assim, existente o nexo causal quando o dano efeito necessrio

    e/ou adequado de determinada causa (STJ, REsp n. 1.067.332/RJ, rel. Min. Marco

    Buzzi, 4 Turma, j. 05.11.2013).

    Logo, no se pode falar em responsabilidade civil ou em

    dever de indenizar se no houve dano (...) (Carlos Roberto Gonalves,

    Responsabilidade Civil, 9 edio, 2005, Ed. Saraiva, p. 546). Isso significa que

    nenhuma indenizao ser devida se o dano no for 'atual' e 'certo' (Carlos

    Roberto Gonalves, Responsabilidade Civil, 9 edio, 2005, Ed. Saraiva, p. 546).

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    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 8

    Atual o dano que j existe no momento da ao de responsabilidade; certo,

    isto , fundado sobre um fato preciso e no sobre hiptese (Carlos Roberto

    Gonalves, Responsabilidade Civil, 9 edio, 2005, Ed. Saraiva, p. 546)

    Bem por isso, no h como reconhecer elevado potencial

    de repercusso danosa a algo que est mais associado felicidade do que

    tragdia. O nascimento de um filho, propriamente dito, no pode representar

    fato imponvel de uma obrigao decorrente de responsabilidade aquiliana.

    O fardo da criao de um filho certamente algo custoso

    e de difcil execuo, mas no pode ser entendido como consequncia direta e

    imediata do erro cometido pela Administrao ao no cumprir o dever de

    informao sobre os riscos da cirurgia.

    Se assim fosse admitido, qualquer evento futuro e

    eventual que gerasse um prejuzo esfera patrimonial da prole poderia ser

    imputado ao ato originrio de que derivou o seu nascimento (o erro da

    Administrao).

    Nesse cenrio, no h como admitir o pedido atinente

    penso mensal para o sustento da quarta filha dos autores, que representa

    desdobramento direto das obrigaes inerentes ao poder familiar, e no

    propriamente da falha do servio pblico.

    O que deve ser indenizado so apenas os prejuzos

    extrapatrimoniais derivados dos constrangimentos a que foram submetidos os

    autores com a surpresa de uma gravidez inesperada e os episdios narrados pelos

    autores. Constata-se dos autos que houve inclusive suspeita de que a autora Edna

    teria sido infiel em relao ao autor Srgio. Dessa forma, no h como negar que

    a suspeita da infidelidade, associada surpresa da gravidez inesperada so

    eventos que podem gerar abalos emocionais e constrangimentos dentro do

    contexto em que se desenrolaram os fatos.

    A indenizao por dano moral tem sido admitida como

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    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 9

    forma de mitigar o sofrimento experimentado pela vtima, compensando-se suas

    angstias, dores, aflies, constrangimentos e, enfim, as situaes vexatrias em

    geral, impondo-se ao seu responsvel pena pecuniria pelo mal causado.

    Como se sabe, danos morais so leses sofridas pelo

    sujeito fsico ou pessoa natural de direito em seu patrimnio ideal, em

    contraposio a patrimnio material, o conjunto de tudo aquilo que no seja

    suscetvel de valor econmico. (...) o patrimnio moral decorre dos bens da alma

    e os danos que dele se originam seriam, singelamente, danos da alma, para usar

    da expresso do evangelista So Mateus, lembrada por Fischer e reproduzida por

    Aguiar D (WILSON MELLO DA SILVA, O Dano Moral e sua Reparao, Editora Forense,

    2 edio, p. 13).

    Nesse cenrio, o julgador dever decidir de acordo com

    os elementos de que, em concreto, dispuser (Carlos Alberto Bittar, O Direito Civil

    na Constituio de 1988, RT, 1990, p. 104), valendo-se, para tanto, de certa

    discricionariedade na apurao da indenizao, de molde a evitar o

    enriquecimento sem causa. Neste aspecto, imprescindvel considerar o grau de

    culpa, o dano em si, as condies econmicas e sociais da vtima e do ofensor.

    Buscando inibir distores e evitar quantificaes

    inexpressivas ou exageradas, fixo a indenizao em R$ 10.000,00, para cada

    autor, que entendo ser suficiente para superar os constrangimentos sofridos.

    De outra parte, a incidncia dos juros deve observar a

    Smula 54 do Superior Tribunal de Justia, que estabelece que os juros

    moratrios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade

    extracontratual. Os juros moratrios, portanto, devero incidir desde a data do

    ilcito at a data do efetivo pagamento.

    Por seu turno, a correo monetria deve ter incidncia a

    partir da data do arbitramento que se deu com sentena, nos termos da Smula

    362 do STJ, de acordo com a Tabela Prtica do Tribunal de Justia.

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    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 10

    No mais, tratando-se de responsabilidade aquiliana, no se

    aplica ao caso, o artigo 1-F, da Lei 9.494/97, devendo, portanto, os juros incidir

    a razo de 1% ao ms, na forma do artigo 406, do Cdigo Civil.

    Isso porque, recentemente, o Supremo Tribunal Federal

    procedeu ao julgamento conjunto das Aes Diretas de Inconstitucionalidade de

    nmeros 4.357, 4.372, 4.400 e 4.425, declarando, por arrastamento, a

    inconstitucionalidade do artigo 5 da Lei Federal n. 11.960/09, em acrdo cuja

    publicao ainda pendente.

    Como se sabe, o modelo de controle constitucionalidade

    brasileiro segue, desde h muito, a tendncia que reconhece, na declarao de

    inconstitucionalidade, a pronncia de nulidade do ato normativo fulminado (das

    gesetz ist verfassungwidrig und daher nichtig, isto , a lei inconstitucional e,

    portanto, nula). Em razo disso, a doutrina registra, dentre os vrios efeitos da

    declarao de inconstitucionalidade, os repristinatrios, incidentes sobre a

    legislao derrogada ou revogada, como se v:

    Por fim, a declarao de inconstitucionalidade de lei ou atos normativos, em sede de controle abstrato de constitucionalidade, acarreta os denominados efeitos repristinatrios, uma vez que a decretao de sua nulidade torna sem efeito a antiga revogao que produzira, ou seja, a lei anterior supostamente revogada por lei inconstitucional declarada nula com efeitos retroativos (ex tunc) jamais perdeu a sua vigncia, no sofrendo soluo de continuidade (Alexandre de Moraes, 'Direito Constitucional', 23 ed, 2 reimpr., So Paulo: Atlas, 2008, p. 762).

    Isto significa que a deciso proferida no bojo daquelas

    aes diretas determina a imediata incidncia do artigo 1-F da Lei Federal n.

    9.494/97 com a redao que vigia antes da modificao perpetrada pelo artigo 5

    da Lei Federal n. 11.960/09, que est adstrita s condenaes derivadas de

    relao funcional. Tratando-se de responsabilidade civil extrapatrimonial, no

    havendo regramento especfico, incide a regra contida no artigo 406 do Cdigo

    Civil e a Tabela Prtica do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, para fins

    de atualizao monetria.

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    So Paulo

    Apelao n 1013941-50.2014.8.26.0053 - n 9238 11

    importante registrar que no pode haver compensao

    de honorrios, especialmente em razo da Smula 326 do STJ, que determina que

    na ao de indenizao por dano moral, a condenao em montante inferior ao

    postulado na inicial no implica sucumbncia recproca.

    Portanto, sendo incabvel a compensao de honorrios

    pela sucumbncia no pedido de indenizao por danos morais, deve o nus

    sucumbencial ser direcionado r, arcando com as custas e despesas processuais

    pagas pelos autores.

    A fixao da verba honorria, in casu, deve ter arrimo

    no 4, do art. 20 do CPC, fundada no princpio da equidade, levando-se em

    conta o grau de zelo do profissional; o lugar de prestao do servio; e, a

    natureza e importncia da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo

    exigido para o seu servio, conforme alneas "a", "b" e "c", do 3, do art. 20, do

    CPC.

    evidente que fixar honorrios por equidade no

    significa, necessariamente modicidade (Nelson Nery Junior e Rosa Maria de

    Andrade Nery, Cdigo de Processo Civil Comentado e Legislao Extravagante, RT, 11

    edio, 2010, p.237), logo, dadas as peculiaridades do caso concreto, e, atento s

    diretrizes legais, fixo os honorrios advocatcios em R$ 5.000,00, valor suficiente

    para remunerar a atividade do patrono dos autores.

    Ante o exposto, dou provimento ao recurso.

    JOS MARIA CMARA JUNIOR

    Relator

    2014-11-12T16:58:06+0000Not specified