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Como a Fênix: das cinzas e óleos de frituras ao sabão

Autora: Sandra Cecilia Biagini

Orientador: Dr.Luís Guilherme Sachs

Artigo apresentado à Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED)

como requisito final das atividades desenvolvidas no âmbito do Programa de

Desenvolvimento Educacional 2012 (PDE), realizado em parceria com a

Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Campus Luiz Meneghel

(CLM).

Resumo:

O presente artigo apresenta, o resultado de um trabalho realizado

com estudantes da 3ª série do Ensino Médio regular e dos 3º e 4º Anos do

curso de Formação de Docentes do Colégio Estadual Rio Branco – Ensino

Fundamental, Médio e Normal, localizado em Santo Antônio da Platina, no

estado do Paraná. A partir do trabalho desenvolvido em contexto escolar,

objetiva-se discutir, neste texto, a importância da utilização de aulas práticas

em Química, na sala de aula ou em laboratório. Além disso, pretende-se

mostrar que é possível desenvolver os conteúdos de forma contextualizada

e significativa, de acordo com a realidade de cada série/turma. Como

resultado geral do trabalho desenvolvido, observou-se que a metodologia

adotada auxiliou o trabalho docente em sala de aula e contribuiu para o

sucesso dos alunos, possibilitando a eles uma aprendizagem eficaz e

significativa dos conteúdos de química.

Palavras chaves: Contextualização. Aulas práticas. Aprendizagem significativa. Saponificação.

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1. Introdução:

As atividades apresentadas neste artigo se ligam às minhas

experiências enquanto professora de Química do Colégio Estadual Rio

Branco, no município de Santo Antônio da Platina/PR, há 10 anos. Ao longo

dessa trajetória, percebi que apesar de a química estar presente em tudo à

nossa volta, geralmente, os alunos apresentavam dificuldades de entender

conteúdos específicos e, consequentemente, não conseguiam associá-los

ao seu cotidiano. Observei também que, do ponto de vista ambiental e da

otimização do tratamento de esgotos, os procedimentos de descarte de

óleos usados pelos alunos/comunidade se mostraram inadequados e

incidiam em grandes erros, que, infelizmente, são muito comuns na

sociedade. Sabemos que não há como negar as estreitas relações da

Química com as necessidades básicas dos seres humanos, como:

alimentação, saúde, transporte, moradias, vestuários, entre outras. Partindo

dessas constatações, no âmbito do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE/2012), propus a realização de um trabalho voltado para o

reaproveitamento do óleo de cozinha, cujo projeto de intervenção proposto

foi “Como a Fênix: das cinzas e óleos de frituras ao sabão”, título homônimo

deste artigo. A Fênix simboliza a própria química que recicla as substâncias

transformando-as. Os óleos de frituras e as cinzas são as substâncias no

estado bruto, ou seja, o lixo que através da Fênix (química) são

transformados em substâncias úteis ao homem.

O trabalho foi organizado de forma a contemplar diferentes aspectos,

entre eles: a importância da experimentação no ensino de química; a história

do sabão e sua definição; substâncias utilizadas na reação química de

produção de sabão; forma de atuação do sabão no momento da limpeza;

problemas ambientais gerados pelo descarte inadequado das cinzas e do

óleo de fritura usado; propostas de atividades de dramatização e de

experimentos com produção de sabão; tensão superficial da água e testes

de pH e de dureza da água. O material utilizado no projeto foi recolhido das

casas de meus alunos e de doações realizadas pela comunidade escolar,

após um trabalho de divulgação e conscientização. O resgate histórico da

fabricação do sabão, que se originou na produção do sabão de cinzas,

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contribuiu significativamente para enfatizar a importância da realização de

atividades práticas no ensino de conteúdos específicos de química. Tal

atividade mostrou que a experimentação pode ser nossa aliada, uma vez

que pode aproximar os alunos dos conteúdos específicos da disciplina.

De modo geral, o trabalho realizado possibilitou o desenvolvimento de

habilidades e competências nos alunos, bem como a capacidade de

compreender os fenômenos químicos presentes em seu dia a dia. Os

assuntos desenvolvidos nas aulas foram iniciados sempre a partir de algum

acontecimento recente ou do próprio cotidiano, propiciando ao aluno

acumular, organizar e relacionar as informações necessárias na elaboração

dos conceitos fundamentais da disciplina. O sucesso do projeto evidenciou

ser possível adotar em contexto escolar a abordagem teórica e experimental

do conteúdo de saponificação.

Cabe salientar que, ao ser apresentado para os alunos professores

cursistas, participantes do GTR/2012 (Grupo de Trabalho em Rede), no qual

foram socializados o Projeto de Intervenção e a Produção Didático

Pedagógica que estava sendo implementado no Colégio Estadual Rio

Branco, o trabalho desenvolvido teve boa recepção. Alguns com maior

profundidade, outros de modo mais superficial, porém todos comprometidos

com as leituras e a realização das atividades propostas no âmbito do curso,

os professores cursistas contribuíram com sugestões de atividades práticas,

reconhecendo que é preciso contextualizar o ensino de química nas escolas,

visto que as atividades experimentais são capazes de proporcionar um

melhor conhecimento ao aluno.

Do mesmo modo, as reflexões ocorridas nos fóruns e diários desse

GTR abordaram a importância da contextualização dos conteúdos

específicos de Química com as atividades experimentais. Os professores,

em sua maioria, consideram que, tendo em vista que a química é uma

ciência experimental, fica muito difícil aprendê-la sem a realização de

atividades práticas (laboratório). Vale lembrar que essas atividades podem

incluir demonstrações de práticas feitas pelo professor em sala de aula, caso

não disponha de laboratório. Os experimentos podem ser utilizados para

confirmação de informações já dadas ou para despertar a curiosidade dos

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alunos, objetivando a interpretação de dados de tabelas, gráficos e à

elaboração de conceitos, entre outros.

É oportuno lembrar que houve manifestação dos cursistas em relação

a metodologias que proporcionem a aprendizagem dos alunos, no processo

de construção do conhecimento químico. Os professores cursistas

concordam que as aulas práticas por mais simples que sejam, quando bem

planejadas, conduzem os alunos ao êxito, no processo ensino-

aprendizagem, propiciando uma maior interação destes com o seu mundo,

levando-os a serem capazes de realizar intervenções em seu meio.

Mencionaram sites com práticas simples que auxiliam muito na

compreensão de determinados conteúdos químicos e também consideram o

PDE uma excelente oportunidade para o professor aprofundar seus

conhecimentos e revitalizar a sua prática pedagógica. Enfim, todos os

professores cursistas contribuíram, em algum momento de sua fala, para

que a implementação desse Projeto de Intervenção fosse realizada de forma

eficaz, efetivando a aprendizagem significativa dos educandos.

2. Fundamentação Teórica

2. 1 A Experimentação

A química é uma ciência experimental, ficando, por isso, muito difícil

aprendê-la sem a realização de atividades práticas (laboratório). Essas

atividades podem incluir demonstrações feitas pelo professor, experimentos

para confirmações de informações já dadas, experimentos cuja interpretação

leve à elaboração de conceitos etc. Todas essas técnicas constituem

recursos valiosos para se ensinar o conhecimento químico.

A disciplina de Química deve revelar uma maneira inédita de relacionar

teoria e prática, integrando as disciplinas e as séries por meio de um

enfoque filosófico, pois a sociedade exige dos indivíduos competências e

habilidades específicas, que são desenvolvidas por alguns no contexto da

educação familiar, mas que para outros, estão atrelados ao processo de

escolarização.

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“Assim a escola, muito mais que ser vista como reprodutora do conhecimento, deve ser pensada nas suas amplas possibilidades de fazer uma Educação crítica” (CHASSOT,

2001).

A escola deve ter o compromisso de inter-relacionar as disciplinas,

permitindo ao aluno compreendê-las no sentido global da cultura, da ciência

e da vida, procurando sempre favorecer a harmonia entre o que é

necessário aprender e a maneira mais adequada, significativa e motivadora

de ensinar os alunos. Conforme as Diretrizes Curriculares Orientadoras da

Educação Básica, referente ao ensino de Química, a abordagem

experimental está no seu papel investigativo e na sua função pedagógica de

auxiliar o aluno na explicitação, problematização, discussão, enfim, na

significação dos conceitos químicos. O experimento deve ser parte do

contexto de sala de aula e seu encaminhamento não pode separar a teoria

da prática, num processo pedagógico em que os alunos se relacionem com

os fenômenos vinculados aos conceitos Químicos a serem formados e

significados na aula (NANNI, 2004).

Ainda de acordo com o documento mencionado acima, a

compreensão e apropriação do conhecimento químico devem acontecer

pensando a experimentação como mais um estímulo à curiosidade, levando

os alunos às discussões e reflexões, por meio de contato com o objeto de

estudo da química, promovendo dessa forma a elaboração de hipóteses

sobre os fenômenos cotidianos, favorecendo uma relação entre a ciência e a

tecnologia. Para superar as dificuldades, propõe-se como estratégia didática

a realização de atividades diversificadas, como experimentos investigativos,

com proposições de problemas.

Através da experimentação, ocorre a aproximação do aluno com os

conteúdos, porém, faz necessário um trabalho pedagógico com o

conhecimento químico que propicie ao aluno compreender os conceitos

cientificos para entender algumas dinâmicas do mundo e mudar a sua

atitude em relação a ele. Então, conhecer quimicamente o processo de

reciclagem ou de tratamento de resíduo urbano, bem como a fabricação do

sabão pode acarretar em ações de manuseio correto e atitudes mais

conscientes.

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De acordo com Bernardelli (2004), muitas pessoas resistem ao

estudo da Química pela falta de contextualização de seus conteúdos. Muitos

estudantes do Ensino Médio têm dificuldade de relácioná-los em situações

cotidianas. Portanto,

[...] devemos criar condições favoráveis e agradáveis para o ensino e aprendizagem da disciplina, aproveitando, no primeiro momento, a vivência dos alunos, os fatos do dia-a-dia, a tradição cultural e a mídia, buscando com isso reconstruir os conhecimentos químicos para que o aluno possa refazer a leitura de seu mundo (BERNARDELLI, 2004 ,p. 02).

O estudo dos conteúdos de Química deve ser relacionado à natureza

e à própria vida, com aulas experimentais bem planejadas, que permita aos

estudantes vivenciar alguma situação de investigação que lhes possibilite

aprender como se processa a construção do conhecimento químico.

2.2 A Invenção do sabão

Ninguém sabe exatamente quando o sabão foi descoberto. Os gregos

e os romanos já o conheciam, mas não o usavam para se lavar. No século

IV, em Roma, o sabão era usado apenas para lavar os cabelos. Os romanos

o misturavam com outras substâncias para fabricar perfumes, cosméticos e

uma espécie de xampu para os cabelos. No século VIII, Geber, alquimista

árabe, refere-se ao sabão como agente de limpeza. No século XIII, os

árabes descobrem o processo de saponificação que origina o sabão sólido.

O processo envolve a mistura de óleos naturais, gordura animal e soda

cáustica. O nome “sabão” vem de monte Sapo, um monte dos Romanos. A

rainha Isabel da Espanha (1451-1504) tomou apenas dois banhos com

sabão, quando nasceu e quando se casou. Já a rainha Isabel I da Inglaterra

(1558-1603) tomava banho a cada três meses. Naquela época, as pessoas

usavam a mesma roupa o inverno todo. Quando iam dormir, colocavam uma

camisola por cima das roupas, para não sujar a cama. O hábito de tomar

banho e de lavar as roupas surgiu há cerca de 150 anos. As pessoas

perceberam que o banho faz bem à saúde, além de ser gostoso.

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Nos Séculos XV e XVI, o sabão, então um produto de luxo, era

produzido em diversas cidades da Europa. No século XIX, o químico James

Gamble consegue identificar como produzir sabão branco, cremoso e

perfumado, e, atualmente, temos uma variedade de tipos, cores e formatos

de sabão.

De acordo com o texto “A Invenção do Sabão e do detergente” ,

disponível no livro didático Química & Sociedade , no século XVIII, o

químico francês Nicolas Leblanc (1742 – 1806) deu o primeiro grande passo

rumo à fabricação comercial de sabão em larga escala, utilizando sal comum

para produzir barrilha, substância que reage com a gordura para fazer

sabão. Ao obter a soda a partir do sal de cozinha se inicia a criação do

processo de saponificação das gorduras, o que dá grande impulso à

fabricação do sabão. Ainda no século XVIII foi concedida a primeira patente

de um processo de fabricação de sabão.

Hoje em dia, existe uma grande variedade de sabões, detergentes,

xampus e outros produtos semelhantes. O primeiro detergente sintético foi

produzido em 1890 pelo químico alemão A. Krafft, após observar que

pequenas cadeias de moléculas ligadas ao álcool funcionavam como sabão,

pois a água sozinha não consegue remover a sujeira aderida ao corpo ou à

roupa. Óleos, gorduras e sebo são moléculas orgânicas chamadas ésteres,

bem diferentes da molécula de água. Uma molécula de sabão ou detergente

tem uma parte que é parecida com as moléculas de gordura e outra que se

dissolve muito bem na água. O sabão forma uma camada em volta das

moléculas de óleo ou gordura, que permite que elas se misturem com água.

Uma parte do sabão se dissolve na água e outra, na gordura. Ao se

dissolver, ele faz com que as moléculas da água se misturem com as

moléculas de gordura.

3. Metodologias e atividades desenvolvidas

Para desenvolver o projeto em questão foram usadas aulas teóricas e

práticas, bem como a aplicação de questionários, que foram respondidos

pelos alunos antes e depois das aulas expositivas e de experimentação.

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Durante o período de 07/02/2013 a 28/06/2013 foram aplicados dois

questionários a uma amostra de 13 alunos da 3ª série do Ensino Médio, 27

alunos do 3° Ano do Curso de Formação de Docentes e 10 alunos do 4 º

Ano do Curso de Formação de Docentes.

O primeiro questionário foi aplicado antes de qualquer atividade com o

objetivo de avaliar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre os

conteúdos de Química que seriam abordados. Já o segundo, foi dado após a

realização das aulas expositivas e práticas para avaliar o conhecimento

apreendidos por eles. Nessas aulas foram usados como recursos didáticos

livros didáticos, TV pen drive e quadro de giz.

As aulas destinadas à experimentação de práticas da fabricação do

sabão caseiro foram realizadas em dois momentos, que foram muito

importantes para explicar alguns conceitos de química. No primeiro

momento, foram explicadas aos estudantes as regras de segurança para a

utilização dos ingredientes, bem como a separação destes para produção do

sabão. Em seguida, no âmbito do segundo momento, foi realizada uma aula

teórica para os alunos da 3ª série do Ensino Médio e do 4º Ano do Curso de

Formação de Docentes sobre a formação de cadeias carbônicas, grupos

funcionais e a reação de saponificação. Já com o 3°Ano do Curso de

Formação de Docentes foi trabalhado alguns conceitos da Química, tais

como: propriedade física e química da matéria, substâncias simples e

compostas, misturas homogêneas e Heterogêneas, classificação periódica,

ligações químicas iônicas covalentes polar e apolar, termoquímica (reações

endotérmicas e exotérmicas), pH e pOH (medida de acidez e basicidade). É

significativo ressaltar que esses conteúdos foram estudados de forma

superficial, uma vez que não houve tempo para desenvolvê-los com maior

profundidade.

Nesse sentido, de acordo com a crítica especializada, a metodologia

adotada em meu projeto recebe uma abordagem qualitativa, desenvolvida

com referências da pesquisa-ação, uma vez que foi aplicada pesquisa de

campo para verificar o que os alunos já sabiam sobre a química do sabão,

com vistas a reeducar os hábitos dos alunos que não reciclam o óleo de

cozinha.

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“Cabe salientar que a pesquisa qualitativa parte do pressuposto de que as

pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos e

valores, e que para todo comportamento humano há um sentido, uma

interpretação” (Minayo, 1998, apud Tozoni-Reis, 2004, p.151).

Segundo Franco (2005, p. 486), a pesquisa-ação tem caráter

formativo:

[...] pois o sujeito deve tomar consciência das transformações que vão ocorrendo em si próprio e no processo. É também por isso que tal metodologia assume o caráter emancipatório, pois mediante a participação consciente, os sujeitos da pesquisa passam a ter oportunidade de se libertar de mitos e preconceitos que organizam suas defesas à mudança e reorganizam sua auto-concepção de sujeitos históricos.

Franco (2005, p. 489) afirma ainda que a pesquisa-ação:

[...] é uma pesquisa eminentemente pedagógica, dentro da perspectiva de ser o exercício pedagógico, configurado com uma ação que cientifica a prática educativa, a partir de princípios éticos que visualizam a contínua formação e emancipação de todos os sujeitos da prática.

Assim, para que o projeto se desenvolvesse de forma satisfatória

foi preciso fazer um levantamento de dados através de pesquisa qualitativa,

uma vez que a qualificação trabalha com um universo mais profundo, que

não pode ser resumido apenas à operacionalização de variáveis.

Seguem as estratégias de ação e recursos didáticos pedagógicos

que foram implantadas e executadas no âmbito escolar durante o

desenvolvimento do projeto de intervenção “Como a Fênix: das cinzas e

óleos de frituras ao sabão”:

Aplicação de uma entrevista coletiva com o objetivo de verificar qual o

conhecimento do grupo sobre o problema;

Exposição do problema aos alunos por meio de vídeos e slides;

Leitura de textos relativos ao tema;

Realização de atividades propostas referentes aos textos lidos;

Experimentação;

Exposição dos diversos tipos de sabão produzidos pelos alunos.

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4. Resultados e Discussão

Conforme já mencionado, no ensino de Química percebe-se grande

dificuldade dos alunos em relacionar a teoria exposta na sala de aula com a

realidade. Geralmente, as teorias são concebidas a partir de conceitos

quase sempre abstratos. Por se tratar de um trabalho em que os conceitos

abstratos de química são de difícil assimilação por parte dos educandos,

muitas vezes, os livros didáticos dão a impressão de que esses conteúdos

estão muito longe da realidade cotidiana desses adolescentes. Desta forma,

deduz - se que o aluno não aprende as teorias e conceitos científicos

trabalhados em química, quando estão muito distante das situações reais de

seu cotidiano.

Por isso, o trabalho aqui apresentado foi desenvolvido tendo em vista a

aplicação de conceitos científicos, através de aulas práticas. A prática do

preparo de sabão como modelo unidade didática para as aulas de química

foi escolhido porque além de ser atividade corriqueira nos lares, desperta

prazer, curiosidade e satisfação no ato de aprender, proporcionando melhor

aproveitamento. Notou-se que, com o preparo do sabão caseiro, os alunos

puderam aprender diversos conteúdos específicos da Química.

A realização de práticas, como atividade metodológica, mostrou-se

adequada e indispensável para promover uma aprendizagem eficiente e

motivadora em Química, de forma vinculada ao conhecimento adquirido na

vida cotidiana dos alunos. Essa constatação pode ser confirmada pelo

aumento dos acertos nos questionários pós-aula prática.

“Com o conhecimento cada vez maior das ciências da educação, é natural

que os métodos também passem a ser afetados pelos novos conhecimentos

que se adquirem dia a dia a respeito da aprendizagem” (PILETTI, 1995, p.

103).

As análises das respostas aos dois questionários evidenciaram que a

metodologia utilizada foi eficiente para o ensino e aprendizagem dos

estudantes participantes do projeto. O questionário inicial, que foi aplicado

apenas para avaliar o conhecimento prévio dos estudantes, apresentava

dezesseis questões objetivas. Este foi aplicado em uma entrevista coletiva,

com o objetivo de verificar qual o conhecimento do grupo sobre o tema.

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A tabela abaixo apresenta as 16 questões propostas e os resultados da

pesquisa com os 50 alunos.

Tabela 1 Desempenho dos alunos no questionário antes da intervenção

Total de questões: 16 Nº de respostas corretas

Nº de respostas incorretas

a) Como surgiu o sabão? 3 47

b) Como descartar o óleo utilizado na cozinha sem prejudicar o Meio Ambiente?

28 22

c) Como é a estrutura química de uma molécula de sabão?

0 50

d) Como é a estrutura química de uma molécula de gordura?

0 50

e) Como descartar as cinzas de pizzarias sem prejudicar o meio Ambiente?

11 39

f) O que é a tensão superficial da água? 1 49

g) Para onde vão os esgotos domésticos? 21 29

h) Que as cinzas podem ser empregadas na fabricação de sabão?

15 35

i) Como se faz o sabão? 26 24

j) O que são tensoativos? 0 50

k) Que no processo de limpeza uma parte da molécula de sabão se liga a gorduras e a outra a água?

6 44

l) Por que o sabão em uma lavagem consegue remover a gordura dos objetos?

10 40

m) Para que serve o hidróxido de sódio ou soda cáustica?

20 30

n) Escrever a fórmula química do sabão? 1 49

o) A diferença entre sabão mole e o sabão duro?

6 44

p) Os produtos que podem ser utilizados na fabricação do sabão?

30 20

Uma observação atenta da tabela 2 aponta que os resultados do

questionário aplicado após as aulas teóricas e práticas foi bem melhor.

Tabela 2 Desempenho dos alunos no questionário após a intervenção

Total de questões 16 Nº de respostas

corretas Nº de respostas

incorretas

a) Como surgiu o sabão? 48 2

b) Como descartar o óleo utilizado na cozinha sem prejudicar o Meio Ambiente?

50 0

c) Como é a estrutura química de uma molécula de sabão?

47 3

d) Como é a estrutura química de uma molécula de gordura?

46 4

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e) Como descartar as cinzas de pizzarias sem prejudicar o meio Ambiente?

48 2

f) O que é a tensão superficial da água? 47 3

g) Para onde vão os esgotos domésticos? 46 4

h) Que as cinzas podem ser empregadas na fabricação de sabão?

50 0

i) Como se faz o sabão? 50 0

j) O que são tensoativos? 48 2

k) Que no processo de limpeza uma parte da molécula de sabão se liga a gorduras e a outra a água?

48 2

l) Por que o sabão em uma lavagem consegue remover a gordura dos objetos?

49 1

m) Para que serve o hidróxido de sódio ou soda cáustica?

50 1

n) Escrever a fórmula química do sabão? 40 10

o) A diferença entre sabão mole e o sabão duro?

47 3

p) Os produtos que podem ser utilizados na fabricação do sabão?

49 1

Tabela 3 – Análise estatística dos dados antes e após a intervenção Teste-t: duas amostras em par para médias

Antes da intervenção Após intervenção

Média de respostas corretas por questão 11,1 47,7

Variância 116,7 6,1

N 16 16

P(T<=t) 1,77x10-10

t crítico 2,13

A tabela acima mostra o aumento da porcentagem de acertos no 2º

questionário, evidenciando uma melhora na retenção do conhecimento.

Embora as aulas práticas sejam amplamente reconhecidas, elas

representam uma pequena parcela das aulas de Química, pois não temos

um número de aulas suficiente para desenvolver aulas práticas atreladas a

todos os conteúdos que devem ser trabalhados no Ensino Médio, de acordo

com as DCEs (Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica).

Além disso, o professor precisa dispor de tempo para a preparação do

material, pois é fundamental que ele tenha segurança para controlar a classe

e conhecimento para organizar as experiências.

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Conforme já foi mencionado, as aulas teóricas sobre a História do

sabão foram preparadas de forma a evidenciar aos alunos que a obtenção

de sabão não é simplesmente um trabalho manual de misturar ingredientes

e sim relacionar com as teorias químicas que explicam o que de fato

acontece. A figura 1 registra a aula em questão.

Figura 1 – Professora PDE apresentando o projeto de intervenção para os alunos do 3º e 4º Ano do Curso de Formação de Docentes e do 3º ano do Ensino Médio regular.

Com o recurso do vídeo “ A Química do Fazer” ocorreu a explicação

sobre a produção do sabão, que traz diversas informações sobre a origem,

produção e utilização do sabão no dia a dia. Na abordagem do vídeo com os

estudantes, foram considerados os aspectos relevantes para a

aprendizagem, à produção do conhecimento e também a ação. Nesse

momento, reservou-se um tempo para que os alunos refletissem e

opinassem sobre o conteúdo do vídeo. Aqui a noção prévia dos estudantes

foi aproveitada para engatar um debate, considerando suas experiências e

os aspectos culturais.

A escrita das fórmulas dos principais produtos químicos utilizados na

fabricação do sabão, as reações químicas de hidrólise, a neutralização e a

saponificação com as explicações de como é a sua estrutura química, bem

como as funções químicas presentes nas reações e as proporções entre as

espécies, foram estudadas com os alunos da 3ª série do Ensino Médio e

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com o 4º Ano do Curso de Formação de Docentes do período vespertino, do

C. E. Rio Branco.

Com os alunos do 3º Ano do curso de Formação de Docentes do

período vespertino, do mesmo colégio, além da realização de práticas da

fabricação do sabão, foram trabalhadas questões relacionadas às forças de

coesão, às reações químicas, assim como propriedade física e química da

matéria, substâncias simples e compostas, misturas homogêneas e

Heterogêneas, classificação periódica, ligações químicas iônicas, covalentes

polar e apolar.

No laboratório, com a formação dos grupos de alunos, houve a

divisão de responsabilidades, bem como a troca de informações, com

filmagens ou foto dos experimentos. Após a escrita de textos e elaboração

de slides foi feita a exposição e apresentação dos slides na TV pen drive,

que viabilizou a troca de idéias e conhecimentos entre os alunos e a

professora, com a finalidade de estimular a reconstrução dos conhecimentos

em estudo, valorizando a experimentação como um recurso essencial à

aprendizagem dos alunos.

As figuras 2, 3, 4, 5, 6 e 7 registram esses momentos.

Figura 2 – Demonstração dos materiais utilizados na fabricação do sabão.

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Figura 3 – Misturando os ingredientes.

Figura 4 – Testando o pH da reação de saponificação.

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Figura 5 – Mistura homogênea do sabão preparado

Figura 6 – Amostras de sabão preparadas pelos alunos.

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Figura 7 – Aspecto do sabão após desenformá-lo

Como podemos observar, a função do experimento no trabalho que

desenvolvi junto aos alunos do Colégio Estadual Rio Branco é a de fazer

com que a teoria, isto é, o conteúdo estudado, dialogue com a realidade dos

educandos. O trabalho realizado demonstrou ser possível a experimentação

como atividade educacional, que pode ser feita em vários níveis,

dependendo do conteúdo, da metodologia adotada e dos objetivos que se

quer atingir com a atividade.

O sucesso do trabalho pode ser constatado nos relatórios dos alunos

em que mencionam ser importante estabelecer relação entre o conteúdo

aprendido e o cotidiano. Segundo os estudantes, muitas vezes, leis,

fórmulas, conceitos e modelos não são compreendidos. Assim como

palavras e frases de línguas estrangeiras, que no primeiro momento, como

nunca as vimos, são incompreensíveis, o conteúdo trabalhado em sala de

aula também pode produzir esse efeito de estranhamento nos alunos.

Cabe ainda lembrar que o relato da laboratorista Ana Claúdia Néspoli

ratifica a importância do projeto implementado para a comunidade. Para ela,

o trabalho realizado foi de grande relevância, sobretudo, porque, atualmente,

é de grande importância que possamos ter novos meios de

reaproveitamento dos materiais, pensando sempre em amenizar os

prejuízos causados pelo homem ao meio ambiente. Ela cita também a

empolgação dos alunos em transformar óleos de frituras e cinzas em sabão,

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uma vez que, para muitos, esse processo era ainda desconhecido. O

interesse dos estudantes também foi destacado por ela, já que as aulas

ultrapassaram os limites d e uma aula apenas teórica. Ao contrário, os

alunos viram na prática a reação de saponificação, não ficando o ensino da

química só na teoria, com escritas de fórmulas e leituras de textos.

Considerações Finais

O projeto realizado no âmbito do PDE/2012, realizado em parceria

com a Universidade Estadual do Norte do Paraná, Campus Luiz Meneghel,

mostrou ser de extrema importância à utilização de aulas práticas para o

ensino de conceitos químicos. Os alunos precisam ser motivados e

estimulados a entrar em contato com atividades renovadoras, que os tirem

da rotina. Do mesmo modo, é primordial que se incentive, na educação

básica, o trabalho em grupo, com vistas a promover a aproximação dos

conteúdos teóricos, com os de suas vidas cotidianas.

As aulas práticas realizadas, nas quais foram preparados vários tipos

de sabão evidenciaram ser possível despertar e motivar os alunos, para

trabalhar vários conteúdos da Química, de forma mais eficiente, em um

ambiente alegre e descontraído, favorecendo o processo de ensino-

aprendizagem. A produção do sabão favoreceu muito a aprendizagem. Os

alunos ficaram muito entusiasmados com a atividade e se interessaram em

reciclar óleos de frituras e cinzas para produzir sabão.

A experiência aqui relatada é uma boa alternativa de metodologia que

pode ser implementada no contexto escolar sem nenhum problema,

podendo ser usada tanto no ensino fundamental quanto no médio, visto que

os alunos cobraram mais receitas sobre sabão e sabonetes em outras aulas,

demonstrando, dessa forma, maior interesse em relação às aulas de

Química.

5. Referências AUSUBEL, David Paul, Novak, Joseph e Hanesian, Helen. Psicologia Educacional, Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.

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