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PRODUÇÃO DE SABÃO A PARTIR DE ÓLEOS DE FRITURAS: UM TEMA

GERADOR NO ENSINO DE CONHECIMENTOS QUÍMICOS

Maria Rosa Tolardo Ruiz1

Maria Aparecida Rodrigues2

RESUMO

No presente artigo, discutimos os resultados de um trabalho desenvolvido em 2011

no contexto do Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná (PDE). O

objetivo foi desenvolver, com uma turma de 22 alunos da 3ª série do curso

Formação de Docentes, uma proposta didática elaborada com base na

contextualização de conhecimentos científicos, a qual contemplou discussões e

reflexões sobre problemas ambientais acarretados pelo descarte dos óleos de

frituras, bem como o reaproveitamento destes na produção de sabão. Para o

desenvolvimento da proposta, utilizamos diferentes recursos didáticos:

problematização, leitura e discussão de textos, trabalhos em grupo, atividades

experimentais investigativas, pesquisas e autoavaliações. Como resultados,

pudemos observar o envolvimento dos alunos no processo ensino-aprendizagem, na

apropriação de conhecimentos científicos e atitudinais.

Palavras-chave: descarte de óleos, contextualização, sabões.

1 Professora de Química do Colégio Estadual Dr. Ivan F. do A. e Silva Filho - Nossa Senhora das Graças (PR).2 Professora Associada do Departamento de Química da Universidade Estadual de Maringá - Doutora em Ciências pela Universidade Estadual de Campinas.

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1 INTRODUÇÃO

A compreensão dos conteúdos da disciplina de Química tem sido motivo de

muitas discussões e debates, em relação à forma de apresentar e trabalhar esses

conteúdos. Nesse sentido, partindo do cotidiano e buscando meios de compreendê-

lo, mas com um novo olhar, uma nova leitura, torna-se evidente que, para o cidadão

participar da vida em sociedade, é necessário que disponha de conhecimentos para

poder argumentar a respeito dos problemas sociais que afetam o cidadão, podendo,

assim, solucioná-los. Para isso, temos que elaborar estratégias de ensino

apropriadas aos estudantes, uma vez que há muito a fazer em termos pedagógicos

para que a Educação Química atinja seus objetivos na formação do aluno cidadão.

O fio condutor de nossas atividades foi o estudo e reflexões acerca do

descarte inadequado de óleos de frituras no meio ambiente. Esse tema foi escolhido

por permitir o estabelecimento de relações entre os conteúdos químicos e questões

ambientais.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A importância da contextualização no ensino de química

O alto nível de rejeição dos estudantes à ciência química é atribuído por

vários autores à falta de contextualização nas aulas de química. Dentre eles,

destacamos Zanon e Palharini (1995) e Bernadelli (2004), ao enfatizarem que se os

conteúdos não forem contextualizados, tornam-se desinteressantes e,

consequentemente, difíceis para o entendimento dos alunos. Para superar esse

quadro, Bernadelli (2004, p. 2) recomenda:

[...] criar condições favoráveis e agradáveis para o ensino e aprendizagem da disciplina aproveitando no primeiro momento, a vivência dos alunos os fatos do dia-a-dia, a tradição cultural e a mídia, buscando com isso reconstruir os conhecimentos químicos para que o aluno possa refazer a leitura do seu mundo.

Esses autores também argumentam que nem sempre os professores

possuem a devida preparação para relacionar o contexto do aluno com os

conteúdos escolares.

Além disso, em geral, os professores fazem uso de livros didáticos de

química que trazem uma padronização dos conteúdos e também da ordem em que

estes são desenvolvidos. Todas essas questões afetam significativamente o

processo ensino-aprendizagem da disciplina de química.

Diante dessas questões, queremos ressaltar a importância de contextualizar

os conhecimentos químicos, de forma a torná-los significativos para os alunos. De

acordo com os PCNEM, uma forma de superar o atual ensino praticado é dar

prioridade à “construção de uma visão de mundo mais articulada e menos

fragmentada, contribuindo para que o indivíduo se veja como participante de um

mundo em constante transformação” (BRASIL, 1999, p. 241).

Se seguirmos essas recomendações dos PCNEM, o ensino de química

poderá perder o estigma de ser aquele que se preocupa em apresentar um

amontoado de inúmeras fórmulas e nomes complexos que devem ser memorizados,

tornando-se aquele que provoca alterações no comportamento dos alunos e os

prepare, de uma forma mais eficaz, para as exigências da sociedade

contemporânea (SANTOS; SCHNETZSLER , 2003).

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Lufti (1992) também destaca o contexto do aluno como um campo muito rico

para a atuação dos professores. Isto porque muitas das atividades do nosso

cotidiano envolvem processos físicos, químicos e bioquímicos, os quais, muitas

vezes, passam despercebidos. O autor defende a importância de refletir sobre esses

processos para atingir níveis acima da cotidianidade.

Nesse contexto, o conteúdo a ser desenvolvido pelo professor deve ser

relacionado aos fatos que acontecem no dia-a-dia do educando, de forma que o

aluno perceba a importância dos conhecimentos químicos para entender situações

do seu meio social e, assim, tenha um aprendizado mais significativo.

A abordagem de temas no ensino de química tem sido uma maneira bastante

eficiente que os professores encontram para contemplar a contextualização. Dessa

forma, é possível desenvolver aulas mais dinâmicas e despertar o interesse dos

alunos pelos conteúdos químicos.

Destino dos óleos de frituras versus questões ambientais

Os óleos e gorduras, quando usados diversas vezes em frituras, sofrem

degradação por reações hidrolíticas e oxidativas, processo denominado

rancificação. A alta temperatura a que esses óleos são submetidos é a principal

responsável pela modificação das suas características físico-químicas e

organolépticas. O óleo se torna escuro, viscoso, com acidez aumentada e odor

desagradável, comumente chamado ranço.

A recuperação desses óleos para fins alimentícios é possível, no entanto

inviável economicamente. Depois de exauridos, não é aconselhável a utilização

desses óleos para novas frituras, tendo em vista o seu odor e sabor desagradáveis

e, ainda, por suas características químicas comprovadamente nocivas à saúde. Não

havendo utilização prática para os resíduos domésticos e comerciais, em geral, são

lançados na rede de esgotos. (REIS; ELLWANGER; FLECK, 2007).

Essa prática de descartar tais materiais na rede de esgotos vem causando

sérios problemas ao meio ambiente, tanto que tem sido objeto de preocupação o

aumento do uso do óleo de cozinha, frequentemente utilizado em frituras, sem falar

do mal que o “excesso” pode causar ao organismo humano. O dano que se produz

ao meio ambiente, quando se jogam esses óleos no ralo da pia, é o mau cheiro que

exalam e o entupimento das tubulações das redes de esgoto, uma vez que a

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gordura fica incrustada na parede das tubulações, impedindo o tratamento, além de

danificar as redes (BIODIESEL, 2011).

De acordo com Alberici e Pontes (2004), o óleo usado em residências e

estabelecimentos comerciais lançados na rede de esgoto chega aos rios ou oceanos

pelas tubulações e fica flutuando por ser menos denso que a água, dificultando,

assim, a penetração da luz solar e, consequentemente, a oxigenação da água. Essa

deficiência de oxigênio prejudica a base da cadeia alimentar aquática, o fitoplâncton,

espécie de alga microscópica, causando desequilíbrio ambiental. Já o descarte do

óleo no solo pode causar sua impermeabilização, deixando-o poluído e impróprio

para o uso.

Uma forma de minimizar os problemas ambientais citados seria o

aproveitamento de óleos de frituras na produção de sabão, como uma alternativa

bastante viável de reciclagem desses materiais.

Encontramos na literatura alguns trabalhos que abordam a utilização de óleos

de frituras exauridos para a obtenção de sabão, como proposta para ensinar

conhecimentos científicos, articulando-os com as questões ambientais. Dentre eles,

ressaltamos os estudos realizados por Silva, Vila Nova e Freitas (2010) e Azevedo

et al. (2009).

Com base nesses trabalhos, elaboramos uma proposta, na qual partimos do

tema “óleos de frituras residuais3” para contextualizar alguns conteúdos de Química

Orgânica, estabelecendo relações com problemas ambientais. Isto porque

concordamos com Carvalho (2001), ao afirmar que uma educação ambiental crítica

pode contribuir para uma mudança de valores e atitudes, formando um sujeito capaz

de identificar e problematizar as questões socioambientais e agir sobre elas.

3 Disponível no site www.diaadiaeducacao.gov.pr.br.

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3 DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

A sequência didática foi desenvolvida com uma turma de 22 alunos da 3ª

série do Curso Formação de Docentes, turno matutino, do Colégio Estadual Dr. Ivan

Ferreira do Amaral e Silva Filho, do Município de Nossa Senhora das Graças/PR. A

unidade didática direcionou-se para a produção de sabão a partir de óleos de

frituras. Para o desenvolvimento da proposta, utilizamos diferentes recursos

didáticos: problematização, leitura e discussão de textos, trabalhos em grupos,

atividades experimentais investigativas, pesquisas, autoavaliações, entre outras. A

sequência didática envolveu cinco etapas com suas respectivas atividades,

conforme sintetiza o quadro a seguir:

Tabela 1 – Síntese das atividades desenvolvidas com os alunos

Título/Tema Metodologia Carga Horária

1ª Etapa: Questionário diagnóstico

- Elaboração e aplicação de questionário;- Reflexão sobre as respostas. - 3 aulas.

2ª Etapa: Composição química dos sabões, suas implicações tecnológicas e sociais.2.1 Analisando rótulos de sabões industrializados.

2.2 Sabão: Um antigo conhecido.

2.3 Propriedades físicas e químicas dos ácidos graxos.

- Análise e discussão de rótulos;- Leitura do texto: “Biodegradabilidade do Sabão”;

- Elaboração e aplicação de um questionário a moradores do município;- Análise e discussão dos resultados da pesquisa;- Pesquisa e discussão sobre a História do sabão;- Investigação dos conhecimentos dos alunos sobre óleos e gorduras;- Leitura e discussão do texto: Óleos e Gorduras na Fabricação de Sabões;- Apresentação conceitual sobre o assunto por meio de aula discursiva dialógica;- Apresentação em “Power Point” das estruturas químicas dos óleos e gorduras.

- 4 aulas.

- 3 aulas.

- 6 aulas.

3ª Etapa: Produção de sabão em laboratório a partir de óleos de frituras.

- Realização de experimento;- Análise e discussão das características físicas das amostras de sabão.

- 4 aulas.4ª Etapa: Ação do Sabão no processo de limpeza.

- Investigação dos conhecimentos dos alunos sobre o poder de limpeza do Sabão;- Leitura e discussão do texto: “A Química dos Sabões e Detergente”, extraído do livro Química & Sociedade (SANTOS; MÓL,

- 2 aulas.

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2005, p.285-286);- Realização de experimento;- Discussão dos resultados;

- 2 aulas.

5ª Etapa: Desenvolvimento de uma oficina (produção de sabão) com a comunidade.

- Discussão de um vídeo sobre o descarte do óleo de frituras no meio ambiente e obtenção de sabão.- Produção de sabão.

- 2 aulas.

- 2 aulas.

Na sequência, trazemos cada uma das atividades desenvolvidas, explicitando

os recursos didáticos e os resultados obtidos.

1ª Etapa: Questionário diagnóstico

Considerando a importância de valorizar os conhecimentos que os alunos

possuem sobre o tema que desenvolvemos, bem como a participação deles no

processo de ensino-aprendizagem, iniciamos o percurso com os estudantes,

fazendo uma sondagem a respeito do que sabiam acerca do destino dos óleos de

frituras, questões ambientais e alternativas de aproveitamento.

Para isso, os alunos responderam individualmente a um questionário,

contendo cinco questões abertas, relacionadas a seguir:

1) Vocês sabem qual o destino que geralmente é dado para os óleos usados

em frituras? E em sua casa? Você sabe o que é feito com eles?

2) Se esses óleos forem descartados no ambiente, vocês acham que podem

acarretar alguns problemas? Cite alguns que você conhece.

3) Em sua opinião, qual seria o melhor destino para esses resíduos?

4) Você conhece alguma forma de reaproveitar os óleos de frituras?

5) Você já assistiu ou leu alguma reportagem sobre o descarte de óleos de

frituras na natureza? Qual?

As respostas dos alunos em relação a esse questionário foram importantes e

nortearam as atividades subsequentes da intervenção pedagógica. Na primeira

questão, que se referia ao conhecimento sobre o destino dado aos óleos de frituras,

a grande maioria dos alunos respondeu que os óleos de frituras são reaproveitados

para produzir sabão. Dos 21 respondentes, 17 mencionaram esse aproveitamento,

conforme ilustram as respostas abaixo:

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Em minha casa todo óleo que não será mais utilizado eu guardo, e quando eu vou à casa da minha avó eu levo pra ela fazer sabão.

Sim. Na minha casa é guardado e utilizado para fazer sabão, mas com relação às outras pessoas eu não tenho conhecimento.

Após a fritura é colocado em litros plásticos, quando tem certa quantia é utilizado para fazer sabão.

Houve também um número significativo de alunos (04) que afirmaram que

esses resíduos podem ser misturados à alimentação de porcos. As respostas abaixo

confirmam:

Muitas pessoas jogam na pia, na minha casa raramente fazemos frituras, quando faço, coloco o óleo na lavagem para meu vizinho dar aos porcos.

Como meu pai cria porco, nós colocamos na lavagem porque é uma pouca quantidade.

Com relação ao descarte dos óleos de frituras no ambiente, todos os alunos

conhecem as consequências que essa prática pode acarretar. Alguns dos

problemas apontados foram: entupimento de encanamentos, contaminação do solo,

do lençol freático e dos rios. Isso pode ser observado em algumas de suas

respostas:

Sim, pois pode acabar com a fertilidade da Terra e prejudicar as planta.

Sim. Nos rios matam os peixes, os óleos no solo prejudicam o lençol freático.

Sim. Se jogar na pia irá entupir canos. Quando jogado no solo, a terra não produzirá que for plantado.

Nas respostas relacionadas à questão n° 4, quando os alunos mencionam as

formas de reaproveitamento dos óleos que eles conheciam, pudemos identificar

algumas concepções errôneas, apesar de a grande maioria ter destacado o uso para

a produção de sabão.

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Três alunos responderam que o óleo de fritura pode ser usado na produção

de alvejante, detergente e amaciante.

Essas concepções foram retomadas nas atividades de ensino subsequentes,

sendo, portanto, minimizadas no processo.

Em relação à questão n° 5, os alunos foram instigados a responder se haviam

lido ou assistido alguma reportagem que tratasse do descarte dos óleos de frituras

na natureza. A grande maioria afirmou desconhecer. No entanto, sete alunos

forneceram respostas afirmativas: três citaram globo repórter, dois citaram Rede TV,

dois disseram ter lido reportagem em revista.

As respostas levantadas com o questionário diagnóstico foram discutidas em

sala, possibilitando aos alunos uma reflexão sobre suas ideias iniciais e, assim,

ampliar a visão a respeito dos efeitos que os óleos de frituras podem provocar ao

meio ambiente.

Para complementar essa atividade, os alunos fizeram em grupo pesquisas em

sites e vídeos fornecidos pela professora, que tratam do descarte dos óleos de

fritura, em destaque a seguir:

http://www.scielo.br/scielo.php/oleos de fritura

http://www.youtube.com/jornal gazeta oleos de frituras

Os resultados das pesquisas de cada grupo foram sintetizados e

apresentados em cartazes, promovendo uma discussão geral da sala, com a

mediação da professora, que fez as complementações necessárias. Essa etapa foi

importante tanto para valorizar as respostas fornecidas pelos alunos, como para

esclarecer algumas dúvidas e nortear as próximas situações de aprendizagem

planejadas.

2ª Etapa:

2.1 Analisando rótulos de sabões industrializados

O objetivo dessa atividade foi explorar alguns aspectos importantes dos

sabões, particularmente a composição e a biodegradabilidade. Além disso,

procurou-se desenvolver nos alunos a habilidade de leitura e o entendimento de

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informações sobre produtos que costumam consumir, assim como utilizar

conhecimentos químicos para analisar e entender essas informações.

Antes de analisarem os rótulos, os alunos responderam algumas questões,

entre elas: Do que é feito o sabão? Que substâncias químicas são usadas para

produzi-lo? O que vem a ser um sabão biodegradável? As suas respostas foram

anotadas na lousa para serem retomadas no decorrer da atividade.

Na sequência, os alunos foram organizados em grupos. Cada grupo recebeu

quatro rótulos de sabão de diferentes marcas e uma tabela que deveria ser

preenchida com as informações dos rótulos (marca, composição e

biodegradabilidade) e o preço de cada uma das marcas, fornecido pela professora.

Os dados levantados pelos diferentes grupos foram dispostos no quadro de giz e

promoveu-se um debate com todos os alunos, visando a uma comparação das

semelhanças e diferenças quanto aos aspectos químicos das diferentes marcas de

sabão.

No desenvolvimento da análise de rótulos, com relação à composição do

sabão, os alunos encontraram vários termos para as substâncias presentes nas

diferentes marcas de sabão: sabão de ácidos graxos de coco babaçu, ácidos graxos

de sebo, ácidos graxos de soja, coadjuvante, glicerina, agente antirredepositante,

sais inorgânicos, emolientes, corante, mascarante- aromático, umectante, essência,

alcalinizante, branqueador óptico, entre outros. Os alunos se surpreenderam com a

enorme quantidade de nomenclatura apresentada nos rótulos. Porém,

compreenderam que a matéria-prima principal para a produção de sabão são os

ácidos graxos. Nesse contexto, foi possível relacionar com suas respostas

referentes à composição do sabão. A maioria tinha respondido óleo e gordura;

assim, foi possível explicar que os óleos e gorduras são ácidos graxos, assunto

explorado posteriormente.

Como enfatizado, outro item da tabela é a biodegradabilidade. No início do

questionamento prévio, percebemos que os alunos não tinham noção do que seria

biodegradabilidade. Fez-se necessário a leitura e discussão do texto:

“Biodegradabilidade do Sabão”, extraído do livro Trabalhando a Química dos

Sabões e Detergentes (ZAGO NETO; DEL PINO, [1993?]). A partir da leitura do

texto, os alunos compreenderam o significado de biodegradabilidade e a importância

do uso de produtos biodegradáveis, pelo fato de não se acumularem na natureza.

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Em seguida, os alunos leram também o texto: “O sabão e a Legislação

brasileira”, adaptado da portaria n° 96 de 22 de agosto de 1997. Com base nesse

texto, os alunos identificaram se as informações dos rótulos estavam condizentes

com a Legislação. Identificaram também ausência de informações em algumas

marcas de sabão. A biodegradabilidade foi um dos exemplos encontrados por eles.

Essa atividade foi importante, tanto pelo interesse despertado nos alunos,

como pela oportunidade de discutirem conhecimentos científicos para o estudo de

óleos e gorduras, objeto da próxima atividade.

2.2 Sabão: Um antigo conhecido

Nessa atividade, o objetivo foi fazer com que os alunos compreendessem e

reconhecessem a larga utilização do sabão pelo homem, bem como sua importância

para a sociedade desde a antiguidade.

Para tanto, os alunos, em grupos, foram orientados a entrevistar pessoas

mais velhas de suas famílias ou pessoas conhecidas de sua comunidade, buscando

informações, por meio de um questionário com as seguintes questões:

1- De que substâncias eram feitas o sabão antigamente? E atualmente?

2- Quais as principais diferenças identificadas na produção antiga e atual?

3- Na opinião deles, quais as vantagens (ou desvantagens) que sabões atuais

possuem em relação aos mais antigos?

As pesquisas se deram em momentos extraclasse. As respostas obtidas

pelos diferentes grupos foram organizadas pela professora pesquisadora no quadro

de giz para discussão e confronto dos resultados com a turma.

Os alunos foram surpreendidos com as respostas da 1ª questão fornecidas

pelos respondentes, os quais relataram que antigamente os sabões eram feitos de

amendoim, abacate, mamona, barrigada de animais, cinzas, dentre outros materiais.

Outro aspecto importante, identificado nas respostas referentes à 2ª e 3ª

questões fornecidas pelos participantes, foi quanto à dificuldade de se obter sabão

antigamente. Eles responderam que hoje é mais fácil de obter o sabão, uma vez que

se usa o óleo já separado de sua fonte primária.

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Com essa pesquisa, os alunos ampliaram seus conhecimentos a partir de

saberes populares trazidos por outras gerações. Puderam perceber também

mudanças na sociedade ao longo do tempo. Nesse sentido, nos apoiamos em

Chassot apud Resende, Castro e Pinheiro (2010), que argumentam a respeito da

possibilidade de compreender melhor a história da sociedade e o papel da ciência e

da tecnologia na vida moderna, por meio de estudos de saberes populares na

escola.

Para aprofundar questões acerca do uso do sabão pela sociedade e também

desenvolver competências de leitura e interpretação de textos, os alunos

pesquisaram sobre a história do sabão em textos fornecidos em classe e no site:

http:/ /www.scielo.br/scielo.ph.

2.3 Propriedades físicas e químicas dos ácidos graxos

Para abordar as propriedades dos ácidos graxos, instigamos os alunos a

responderem à seguinte questão: Há diferença entre óleos e gorduras?

Após a valorização das respostas dos alunos, trabalhamos o texto: “Óleos e

Gorduras na Fabricação de Sabões”, extraído do livro Trabalhando a Química dos

Sabões e Detergentes (ZAGO NETO; DEL PINO, [1993?], p.16). Na sequência,

discutimos o texto e apresentamos em “Power Point” as estruturas químicas dos

óleos e gorduras (Matéria-prima dos Sabões), expostas nas figuras1 e 2:

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O

OH

Algumas estruturas foram desenhadas na lousa para a compreensão dos

alunos, por exemplo, o ácido oléico, um dos componentes do óleo de oliva (figura 3)

e o ácido octadecanóico (figura 4), constante em carne bovina, suína e ovina (ZAGO

NETO; DEL PINO, [1993?]).

Figura 3 - Ácido oléico

Figura 4 - Ácido octadecanóico

Durante os questionamentos a respeito da diferença entre óleos e gorduras,

poucos alunos sabiam diferenciar essas matérias com relação ao estado físico. Após

leitura e discussões do texto, bem como explicações da professora PDE, todos os

alunos compreenderam que, em temperatura ambiente, os óleos são líquidos e as

gorduras sólidas. Esse comportamento está relacionado à presença de duplas

ligações nos ácidos graxos que compõem os óleos e ausência de duplas em ácidos

graxos que compõem as gorduras.

Na sequência, com os conhecimentos adquiridos sobre as propriedades

físicas e químicas dos ácidos graxos, os alunos desenvolveram, com a mediação da

professora, o experimento da produção do sabão.

OH

O

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3ª Etapa: Produção de sabão em laboratório a partir de óleos de frituras

As aulas teóricas sobre a produção de sabão foram preparadas de forma a

evidenciar aos alunos que tal produção não se resume ao trabalho manual de

misturar diferentes ingredientes e que existem teorias que explicam adequadamente

os fenômenos ocorridos, como é o caso da reação de saponificação, discutida após

a produção do sabão.

Para a realização dessa atividade, os alunos foram organizados em três

grupos. Cada grupo produziu uma amostra de sabão, utilizando as mesmas

quantidades dos ingredientes: 5 litros de óleo usado, 2 litros de água, 1Kg de

hidróxido de sódio em escamas, 50 ml de essência, com variações das temperaturas

da água e do óleo. Os alunos foram questionados se a temperatura interferiria na

obtenção do sabão. Dessa forma, cada grupo realizou um procedimento diferente,

conforme descrito a seguir.

No primeiro procedimento, utilizou-se água a temperatura ambiente e o óleo a

60°C. No segundo, utilizou-se a água a 40°C e o óleo a 80°C. No terceiro

experimento, a temperatura da água foi também de 40°C e o óleo a 100°C. Buscou-

se respeitar as normas de segurança, com a utilização de máscaras, óculos e luvas,

mantendo o laboratório com janelas abertas e ventiladores ligados e usando

utensílios plásticos e pá de madeira no momento de misturar os ingredientes. Os

alunos foram alertados a respeito do fato de o hidróxido de sódio ser uma substância

corrosiva.

Nos três procedimentos, as misturas foram agitadas até atingirem o ponto de

um mingau espesso. A seguir, as misturas foram transferidas para formas plásticas,

deixando em repouso para esfriar.

Na sequência, os alunos preencheram uma tabela para avaliação dos sabões

oriundos de cada procedimento realizado, com base nas seguintes especificações:

Consistência (mole, firme ou dura); textura (macia ou quebradiça); capacidade de

fazer espuma (excelente, boa, pouca, não faz espuma); detergência (excelente, boa,

média, ruim). No desenvolvimento dessa atividade, os alunos mantiveram-se atentos

às diferentes amostras de sabão, trocavam informações entre eles e recorreram à

professora para esclarecerem dúvidas.

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A partir dos dados organizados na tabela, os alunos puderam concluir que:

com relação à consistência, o sabão obtido a partir do primeiro experimento

apresentou consistência mole; o do terceiro, dura; e o do segundo procedimento,

firme. Quanto à textura dos diferentes sabões, aqueles obtidos a partir do primeiro e

terceiro procedimentos apresentaram-se quebradiços. Já o produto do segundo

procedimento ficou com uma textura macia.

Para verificar a capacidade de espumar e o poder de detergência dos

diferentes produtos obtidos, os alunos os testaram por meio da lavagem de tecidos

de algodão usados para limpeza na escola. Observaram que apenas o sabão obtido

a partir da menor temperatura (primeiro procedimento) não apresentou boa

produção de espuma. Quanto ao grau de divergência, as três diferentes amostras de

sabão apresentaram resultados excelentes.

O envolvimento dos alunos na produção e análise do sabão se deu de forma

intensa. Eles observaram que a temperatura influenciou no tempo da reação de

saponificação e também nas características do produto obtido. Puderam concluir

que o melhor sabão foi aquele originado do segundo procedimento.

A reação geral da saponificação foi discutida com os alunos com auxílio do

quadro de giz, conforme ilustra a figura 5, exposta a seguir.

Figura 5 - Reação geral para a obtenção de um sabão

A produção de diferentes amostras de sabão com os alunos foi de grande

importância, considerando que os experimentos desenvolvidos tiveram um caráter

investigativo, contribuindo para a construção de conhecimentos dos alunos. Nesse

aspecto, concordamos plenamente com Ribeiro, Maia e Wartha (2010, p.171), pelo

fato de considerarem que alguns experimentos podem ser realizados em qualquer

ambiente, até mesmo na sala de aula, “por meio de materiais alternativos e do uso

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da criatividade e, nesse ponto, os alunos sempre nos surpreendem na discussão

dos conceitos”.

4ª Etapa: Ação do sabão no processo de limpeza

Para problematizar com os alunos a respeito do poder de limpeza do sabão,

fizemos os seguintes questionamentos sugeridos por Santos e Mól (2005):

1- Será que quanto mais espuma um sabão produzir, melhor será o seu poder

de limpeza?

2- De que forma a Química pode contribuir para o conhecimento sobre a

detergência dos pratos gordurosos?

Após a discussão de suas respostas, as dúvidas foram sanadas por meio do

texto: “A Química dos sabões e Detergentes”, extraído do livro Química &

Sociedade (SANTOS; MÓL, 2005, p. 285-286). Com a discussão desse texto, os

alunos refletiram e estabeleceram relações entre as características e diferenças de

Sabões e Detergentes. E, ainda, foi possível abordar a polaridade das moléculas do

sabão e ações dos sabões em águas duras.

Com o conhecimento de que os sabões são constituídos de sais orgânicos

cujas moléculas possuem uma parte apolar e outra polar, e que estes formam um

grupo de substâncias denominado agentes tensoativos (redutores da tensão

superficial da água), os alunos realizaram um experimento simples: colocar

suavemente sobre a superfície da água em um copo uma gilete, a qual, apesar de

ser mais densa que a água, flutua, devido à tensão superficial desse líquido. Quando

se adiciona uma ou duas gotas de detergente sobre o líquido, a tensão superficial da

água diminui, fazendo com que a gilete afunde.

A partir das observações do experimento e da leitura do texto, foi possível

discutir com os alunos a ação do sabão no processo de limpeza. Eles

compreenderam que, quando o sabão é agitado com água, forma-se um sistema

coloidal contendo agregados denominados micelas (figura 6). Em uma micela, as

cadeias de carbono (lipofílicas) ficam voltadas para o centro e as partes com carga

(hidrofílicas) ficam em contato com a água e os íons positivos (Na+), próximos à

micela. No processo de limpeza, as partículas de sujeira são cercadas por uma

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camada de gordura ou óleo. Assim, moléculas de água não conseguem penetrar na

camada oleosa e separar as partículas individuais umas das outras ou da superfície

à qual se grudaram. Soluções de sabão são capazes de fazer essa separação, pois

suas cadeias de hidrocarbonetos conseguem dissolver a camada “gordurosa”.

Quando isso acontece, cada partícula individual desenvolve uma camada exterior de

ânions carboxilados e apresenta a fase aquosa com um exterior mais compatível,

uma superfície polar. Os glóbulos individuais agora repelem um ao outro e assim se

dispersam na fase aquosa.

Figura 6 - Micelas

Foi possível discutir também o comportamento do sabão em água dura.

Conforme Vanin (2005, p. 67), “a eficiência de um sabão fica comprometida quando

a água possui concentrações elevadas de íons cálcio e magnésio”. Águas desse tipo

são chamadas águas duras.

O sabão comum é um sal de sódio. Esses sais são solúveis em água,

formando a micela. Já os sais de Ca2+, Mg2+ ou Fe3+ são insolúveis em meio aquoso.

Por isso, um sabão não age de forma eficiente em um meio que contenha esses

íons.

Essa atividade oportunizou aos alunos a apropriação de conhecimentos

químicos importantes para entender situações cotidianas, além de reflexões acerca

do desperdício de produtos de limpeza e suas consequências para o meio ambiente.

Assim, foi possível desenvolver atitudes críticas, motivo pelo qual concordamos com

Santos (2007, p. 475):

[...] o letramento dos cidadãos vai desde o letramento no sentido do entendimento de princípios básicos de fenômenos do cotidiano até a capacidade de tomada de decisão em questões relativas à ciência e tecnologia em que estejam diretamente envolvidos.

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5ª Etapa: Desenvolvimento de uma oficina (produção do sabão) com a

comunidade

Uma vez concluída essa proposta (unidade didática) com os alunos do Curso

Formação de docentes, foi desenvolvida uma oficina (produção de sabão) com a

comunidade pelos alunos participantes do projeto com a mediação da

professora/pesquisadora. Para tanto, os próprios alunos fizeram o convite aos seus

pais e também aos alunos frequentes do Curso Educação de Jovens e Adultos do

Colégio. A oficina se deu no período noturno com a participação de quarenta

pessoas.

A oficina consistiu de: uma parte teórica na qual foram discutidos aspectos

ambientais relacionados ao descarte de óleos de frituras. Complementando as

discussões, fez-se uso de um vídeo que trata da reciclagem do óleo na produção do

sabão (http://www.youtube.com/jornal gazeta oleos de fritura). O conteúdo do vídeo

permitiu uma reflexão a respeito dos problemas causados pelo descarte dos óleos

de frituras e a importância da reciclagem desses materiais como forma de melhorar

a vida das pessoas de uma comunidade.

Como segunda parte da oficina, os participantes produziram sabão, utilizando

óleo trazido pelos alunos ministrantes da oficina. Os alunos utilizaram a receita que

obteve melhor resultado, como discutido na terceira etapa, ou seja, fez uso do óleo a

temperatura de 80o C e a água a 40o C.

O desenvolvimento dessa oficina com a comunidade foi muito importante para

os alunos, pois possibilitou uma reciprocidade entre informações e experiências

sobre a reciclagem de óleos de frituras para a produção de sabão. Os alunos

desenvolveram as atividades com bastante entusiasmo e conseguiram repassar

para a comunidade conhecimentos aprendidos em sala de aula. Essa atividade foi

finalizada com a escolha do laboratório do colégio como ponto de coleta de óleos

usados, com o intuito de motivar a reciclagem de óleo de fritura para a produção de

sabão e evitar o descarte inadequado no meio ambiente.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Avaliações dessa proposta em diferentes momentos, por meio de

observações, respostas a questionário, registros escritos e, mais especificamente,

uma autoavaliação realizada pelos alunos no final do processo, revelaram que os

alunos aprovaram as atividades desenvolvidas e responderam positivamente aos

diferentes momentos de estudo. Alguns fragmentos extraídos de suas

autoavaliações confirmam o envolvimento dos alunos e a apropriação que tiveram

em relação aos conhecimentos abordados:

Consegui explicar para minha mãe como se forma a reação do sabão, e os cuidados que temos que ter ao preparar o sabão. Sempre em lugar aberto, para evitar danos a nossa saúde pois, o hidróxido de sódio é altamente tóxico e corrosivo. Essa aula foi uma das mais importantes do ano, porque não entendia nada do assunto.

Bom, antes dessas aulas eu não tinha idéia dos cuidados que devemos ter com óleo sobre a natureza e os problemas que um descuido pode causar, então acho que nesta primeira etapa aprendi muito.

No meu dia-a-dia ter esses conhecimentos me levou a pensar em verificar todos os rótulos, não só do sabão, mas de todos os produtos usado para meu consumo.

Gostei muito de saber da biodegradabilidade do sabão e o seu significado.

Conseguir relacionar, que as substâncias que as pessoas mais velhas usavam, para fazer sabão são os óleos de ácidos graxos que aprendi na aula.

Gostei muito de repassar conhecimentos para outras pessoas da comunidade, que aprendi durante essas aulas que foram bem diferentes das outras.

Com o desenvolvimento deste trabalho, foi possível refletir que não basta

ensinar conteúdos que fazem parte de um currículo escolar, mas sim relacioná-los

com temas atuais que tenham significado para a vida dos alunos.

Vivenciando essa experiência, pudemos perceber que o uso de um tema que

permite a contextualização, no caso deste trabalho, o descarte e reaproveitamento

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de óleos de frituras, proporciona aos alunos a construção de conhecimentos

científicos e também a formação de atitudes cidadãs.

Este trabalho também foi importante para repensarmos nossas limitações

associadas à prática pedagógica. A partir dessa experiência, percebemos que

buscar alternativas para contextualizar os conhecimentos na sala de aula possibilita

uma reelaboração do saber docente.

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