tese mestrado m cecilia arq res anos 60_70

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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE ARQUITETURARUY OHTAKE: ARQUITETURA RESIDENCIAL DOS ANOS 1960-1970MARIA CECLIA TAVARESDISSERTAO DE MESTRADO APRESENTADA COMO REQUISITO PARA A OBTENO DO TTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA ORIENTADORPROF. Dr. FERNANDO FREITAS FUOPORTO ALEGRE ABRIL DE 2005

2. E essa polmica hoje sobre arquitetura atual est baseada nisso:o que vamos fazer?Arquitetura com histria ou sem histria? Vilanova Artigas 3. Dedicatria A meus pais, Jsi e LuizAo Mrcio, amigo e companheiro, sempre presente Aos meus filhos,Jlia e RafaelDedico com amor 4. AgradecimentosArquiteto Ruy Ohtakesempre acessvel, e receptivo, pelas longas conversas agradveis, verdadeiras aulas dearquitetura, agradeo.Professor Fernando Freitas Fuo,pela segura orientao ao longo do desenvolvimento deste trabalhoAos amigosCleusa de Castro e Salvador Gnoato,pelo constante incentivo.Aos colaboradores,Tabata Fujioka, Talita Panstein, Taylor Sevegnani e Fabrcio Dobner.A todos que direta ou indiretamente colaboraram com o desenvolvimento destadissertao. 5. SumrioICONOGRAFIA VILISTA DE TABELASXIRESUMO / ABSTRACT XIIINTRODUO141 A FORMAO DE RUY OHTAKE E O CONTEXTOCULTURAL DA DCADA DE 1960191.1 A viso de Agnaldo Farias e Roberto Segre 221.2 Escola Paulista ou Brutalismo Paulista341.3 Os metabolistas japoneses 521.4 O Pavilho da Exposio Mundial de 1970 em Osaka552 A ARQUITETURA JAPONESA E O ABSTRACIONISMO:DUAS INFLUNCIAS592.1 Os princpios da arquitetura japonesa 602.1 A via do abstracionismo 703AS RESIDNCIAS DE RUY OHTAKE: 1960 1975833.1 Residncia Rosa Okubo 1964863.2 Residncia Chiyo Hama 1967923.3 Residncia Tomie Ohtake 1968983.4 Residncia Nadir Zacarias 19701073.5 Residncia Jos Egreja 1975 1143.6 Sntese da arquitetura residencial de Ruy Ohtake1184EDIFCIOS PBLICOS: BREVE CONTRAPONTO1244.1 Central Telefnica da Telesp em Campos do Jordo 1973 1264.2 CETESB Laboratrio Telemtrico de Controle Ambiental1284.3 BANESPA Agncia Butant 1976130CONSIDERAES FINAIS134REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS140ANEXOS149 V 6. ICONOGRAFIACAPTULO 1Figura 1.1 Alison e Peter Smithson, Escola secundria de Hustanton, 1949-54. Projetoque simboliza o Brutalismo britnico.Fonte: www.open2.net/modernity/3_9_frame.htmlFigura 1.2 Le Corbusier,Unit dHabitation de Marseille, 1946.Fonte: www.galinsky.com/buildings/marseilleFigura 1.3 Le Corbusier,Unit dHabitation de Marseille, 1946.Fonte: www.galinsky.com/buildings/marseilleFigura 1.4 Carlos Millan, residencia Roberto Millan, 1961.Fonte: FAGGIN, 1994: 102.Figura 1.5 Oswaldo Bratke, casa Oscar Americano, 1952.Fonte: SEGAWA e DOURADO, 1997: 126Figura 1.6 Rino Levi, Edificio Gravat, 1964.Fonte: ANELLI, 2001: 250.Figura 1.7 Kisho Kurokawa, Torre Cpsula, Tokio, 1972.Fonte: www.kisho.co.jp/works/nagakin/index.htmlFigura 1.8 Kisho Kurokawa, Torre Cpsula, Tokio, 1972.Fonte: www.kisho.co.jp/works/nagakin/index.htmlFigura 1.9 Noriaki Kurokawa, Pavilho Takara Beautillion , Osaka, 1970.Fonte: www.arch.nus.edu.sg/expo/pavilions/takara/pics/takarapics3.htmlFigura 1.10 Paulo Mendes da Rocha, Pavilho Brasileiro , Osaka, 1970 croqui comelevao do Grande Parque.Fonte: ROCHA, 2000: 79.Figuras 1.11 - Paulo Mendes da Rocha, Pavilho Brasileiro , Osaka, 1970 corte comdetalhe da estrutura.Fonte: ROCHA, 2000: 77.Figura 1.12 Paulo Mendes da Rocha, Pavilho Brasileiro , Osaka, 1970 Vista dorecinto do Pavilho com o painel contnuo da exposio.Fonte: ROCHA, 2000: 78.VI 7. CAPTULO 2Figura 2.1 Rothko ,Untitled.Fonte: www.udel.edu/Arthistory/werth/arth154/rothko.jpgFigura 2.2 Max Bill, Unidade Tripartida.Fonte: AMARANTE,1989, p. 22.Figura 2.3 Roger Chastel, Namorados no Caf.Fonte: AMARANTE,1989, p. 23.Figura 2.4 Lygia Clark, Superfcie modulada, 1957.Fonte: COCCHIARALE e GEIGER, 1987, p.67.Figura 2.5 Hlio OiticicaFonte:http://aol.klickeducacao.com.br/conteudo/referencia/content/1140/images/icpa5410.jpgFigura 2.6 Tomie Ohtake, 1964.Fonte: HERKENHOFF, 2001: 38.Figura 2.7 - Tomie Ohtake,Fonte: HERKENHOFF, 2001: 74.Figura 2.8 Tomie OhtakeFonte: HERKENHOFF, 2003: 102.CAPTULO 3Figura 3.1 Residncia Rosa Okubo, elevao frontal.Fonte: FARIAS: 1995, 47Figura 3.2 - Residncia Rosa Okubo, acesso lateral.Fonte: FARIAS: 1995, 46Figura 3.3 - Rosa Okubo: estar.Fonte: Cadernos Brasileiros de Arquitetura: 1975:15Figura 3.4 - Rosa Okubo: estar.Fonte: Acervo do escritrio do arquiteto Ruy OhtakeFigura 3.5 Rosa Okubo, vista da esquinaFonte: Cadernos Brasileiros de Arquitetura: 1975:14 VII 8. Figura 3.6 - Rosa Okubo: PlantasFonte: Desenho da autoraFigura 3.7 - Rosa Okubo: PerspectivaFonte: Desenho da autoraFigura 3.8- Chiyo Hama, fachadaFonte: FARIAS: 1995, 48Figura 3.9 Chiyo Hama, estante que configura espaos internosFonte: Revista Acrpole, n 367,1969:28Figura 3.10 Efeitos criados pela incidncia da luzFonte:Revista Acrpole, n 386,1971:14Figura 3.11 - Croquis do arquitetoFonte: Cadernos Brasileiros de Arquitetura: 1975:16Figura 3.12 Chiyo Hama: PlantaFonte: Desenho da autoraFigura 3.13 - Chiyo Hama: PerspectivaFonte: Desenho da autoraFigura 3.14 - Tomie Ohtake: Pontos de luz como referncia do espao internoFonte: Acervo do escritrio do arquiteto Ruy OhtakeFigura 3.15 Iluminao zenital destaca espaos pontuaisFonte: FARIAS: 1995, 38Figura 3.16 - Acesso de carro sugere continuidade do espao urbanoFonte: Cadernos Brasileiros de Arquitetura: 1975:19Figura 3.17 Continuidade do espao internoFonte: FARIAS: 1995, 38Figura 3.18 - Interpenetrao dos espaos interno e externoFonte: FARIAS: 1995, 39Figura 3.19 - Sucesso de planosFonte: ACAYABA: 1975, 266Figura 3.20 - Laje finaliza em curvaFonte: PrpriaFigura 3.21 Novo atelierFonte: PrpriaVIII 9. Figura 3.22 - Abertura zenital no atelier novo.Fonte: PrpriaFigura 3.23 - PerspectivaFonte: Desenho da autoraFigura 3.24 - PlantaFonte: Desenho da autoraFigura 3.25 - Nadir Zacarias: Vista da casa com a paisagem urbanaFonte: Acervo do escritrio do arquiteto Ruy OhtakeFigura 3.26 Vista frontal da casaFonte: Cadernos Brasileiros de Arquitetura: 1975:19Figura 3.27 Vista Lateral da casaFonte: FARIAS: 1995, 32Figura 3.28 - Vista do estarFonte: Acervo do escritrio do arquiteto Ruy OhtakeFigura 3.29 - PerspectivaFonte: Desenho da autoraFigura 3.30 Casa Paulo Mendes da RochaFonte:PION: 2002,68Figura 3.31 - Casa Paulo Mendes da RochaFonte:PION: 2002,69Figura 3.32 - PlantaFonte: Desenho da autoraFigura 3.33 Edificao em torno do jardim-pteoFonte: FARIAS: 1995, 42Figura 3.34 Estudo volumtricoFonte: Acervo do escritrio do arquiteto Ruy OhtakeFigura 3.35 Estar com vrios elementos em concretoFonte: FARIAS: 1995, 45Figura 3.36 Vista do Pteo jardim com a edificao circundanteFonte: Acervo do escritrio do arquiteto Ruy OhtakeFigura 3.37 Elemento decorativo que limita o pteoFonte: FARIAS: 1995, 45 IX 10. Figura 3.38 - PlantaFonte: Desenho da autoraFigura 3.39 - PerspectivaFonte: Desenho da autoraCAPTULO 4Figura 4.1 - Telesp Campos do Jordo, vista da avenida principalFonte: FARIAS: 1995, 98Figura 4.2 Corte TransversalFonte: FARIAS: 1995, 94Figura 4.3 - Corte LongitudinalFonte: FARIAS: 1995, 94Figura 4.4 Planta baixa subsoloFonte: FARIAS: 1995, 115Figura 4.5 - Planta baixa Pavimento trreoFonte: FARIAS: 1995, 115Figura 4.6 - Fachada PrincipalFonte: FARIAS: 1995, 115Figura 4.7 Agncia Banespa ButantFonte: www.ruyohtake.com.brFigura 4.8 - Detalhe iluminao zenitalFonte: Acervo do escritrio do arquiteto Ruy Ohtake X 11. LISTA DE TABELAS3 AS RESIDNCIAS DE RUY OHTAKE: 1960 19753.1 Tabela de dados residncia Rosa Okubo923.2 Tabela de dados residncia Chiyo Hama983.3 Tabela de dados residncia Tomie Ohtake 1073.4 Tabela de dados residncia Nadir Zacarias 1143.5 Tabela de dados residncia Jos Egreja118 XI 12. RESUMO Este trabalho pretende colaborar com o registro e esclarecimento da histria daarquitetura moderna brasileira, a partir da produo do arquiteto Ruy Ohtake na dcada de1960. Para isso, inicialmente apresenta o contexto histrico, poltico e cultural, nacional einternacional do perodo. Trata-se de um segundo momento para a arquitetura brasileira, aps afundao de Braslia, que faz com que a arquitetura brasileira seja respeitada e reconhecidainternacionalmente. Focaliza a arquitetura paulista e a formao do arquiteto, em meio a umperodo de efervescncia cultural. Aponta contingncias e influncias que vieram colaborar coma formao de um grupo coeso de arquitetos com uma produo que se destaca no cenriointernacional. Em um segundo momento o trabalho se concentra na produo residencial do arquitetono perodo em estudo, identificando particularidades e semelhanas dentro desta produopaulista. Busca referenciais nos precedentes nacionais, na arquitetura japonesa, e noraciocnio plstico vinculado ao abstracionismo geomtrico derivado da convivncia com asartes plsticas atravs de sua me, Tomie Ohtake. Uma breve apresentao de trabalhos decarter pblico contrape a produo residencial. Enfim, trata-se de uma reflexo sobre a produo individual do arquiteto Ruy Ohtake,inserida na pluralidade de uma escola arquitetnica, atravs do exerccio analtico de suaproduo. Procurou-se identificar as razes desta obra, suas bases conceituais, seusprecedentes e suas particularidades e com isso colaborar para a compreenso de uma histriarecente em que a arquitetura protagoniza relaes sociais, polticas e estticas. XII 13. ABSTRACT This work aims at collaborating with the registration and enlightenment of Brazilianmodern architecture seen from the perspective of architect Ruy Ohtakes production set in the1960s. To start with, it presents the periods national and international historical, political andcultural context. That context concerns a second moment in Brazilian architecture, after thefoundation of Braslia, which led to Brazilian architecture to become respected and recognizedinternationally. It focuses on the architecture in So Paulo and on the formation of Ruy Ohtakeas an architect amidst a period of exciting cultural production in Brazil. It points to thecontingencies and influences that came to corroborate for the formation of a cohesive group ofarchitects who had a production which was well positioned in the international scenario. In a second moment, the work turns to the residential production of the architect withinthe period chosen for study, and identifies particularities and resemblances that apply to all thearchitectural production of the time in So Paulo. It seeks references in the national precedents,in Japanese architecture and in the plastic rationale linked to the geometrical abstractionism thatderives from his co-participating in Fine Arts through his mother, Tomie Ohtake. A briefpresentation of public works is shown as a counterpoint to the residential production. Finally, it can be said that this work is a reflection on the individual production of thearchitect Ruy Ohtake as inserted in the plurality of an architectural school, by means of ananalytical exercise of his production. It was sought to identify the roots underlying his work, hisconceptual basis, his precedents and his particularities and thus collaborate towardunderstanding a recent history in which architecture enacted social, political and aestheticsrelations. XIII 14. INTRODUO Este trabalho tem como tema a reviso crtica do trabalho do arquiteto RuyOhtake, no perodo de 1960 a 1975 principalmente pautada em suas residncias. Envolveum perodo da arquitetura brasileira posterior inaugurao de Braslia, quando oMovimento Moderno mostrava-se consolidado e o Brasil tinha um trabalho representativo erespeitado internacionalmente. A importncia de Ruy Ohtake e de sua produo se justificam por sua extenso epor terem recebido vrios prmios em sua fase inicial. Seu trabalho assume as vriasescalas das competncias do arquiteto desde o design at o urbano, evidenciando umaidentidade em toda a sua obra. Inicialmente dedicou-se a projetos residenciais,verdadeiros laboratrios para a continuidade de sua obra e aumentou sua escalaprojetando edifcios industriais e institucionais. Esses edifcios foram desenvolvidos dentrode uma estratgia urbana que o levou tambm a desenvolver projetos nessa escala, comoo do Parque Ecolgico do Tiet que, alm de projeto de parque urbano, foi responsvelpela requalificao da regio. Entre 1979 e 1982 foi presidente do CONDEPHAT, em SoPaulo, sendo responsvel por vrios tombamentos importantes como os ncleos histricosde Iporanga, So Lus do Paraitinga e Santana do Parnaba e ainda do Jardim da Luz, daEstao da Luz, da Pinacoteca do Estado, do MASP e da FAU no campus daUniversidade de So Paulo (projeto do mestre Vilanova Artigas). O arquiteto temaproximado os limites da arquitetura e do design atravs de desenhos de mveis. Jlecionou e ainda hoje participa de eventos importantes, atravs de seminrios econferncias, como sua participao no Congresso da Unio Internacional dos Arquitetosem Pequim, em 1999. Seu trabalho vincula-se chamada escola paulista, porm adquire caractersticaspessoais que iro relacion-lo tambm tradio personalista da obra de Niemeyer. Por outro lado, este trabalho procura resgatar os vnculos histricos na obra deRuy Ohtake, sua relao com seus precedentes modernos, explicitando o trabalhoarquitetnico, como disciplina esttica e conceitual; sem inteno de desmerecimento, oude encontrar uma filiao ou paternidade mas no sentido de correlacionar espaos etempos distintos. No perodo que envolve este estudo (dcada de 60) as artes refletiam umdiscurso unssono, como em raros momentos da histria. A arquitetura, a poesia e as artesplsticas, tinham uma mesma linguagem engajada, consciente de seu papel detransformao social. Era um segundo tempo para a modernidade, a evoluo dos14 15. acontecimentos polticos, econmicos e tecnolgicos cria os argumentos crticos e fazcom que a experincia artstica amadurea, criando argumentos crticos, incorporando-ose realinhando sua trajetria. No panorama internacional, o movimento brutalista inglsrepresentou a expresso deste novo momento, assim como o prprio Le Corbusier e suaUnidade de Habitao de Marseille. No Brasil podemos traar um paralelo com osurgimento de uma escola paulista que se sobressai com uma linguagem prpriaassociada a um discurso poltico engajado. A arquitetura tradicional japonesa assim comoa arquitetura inovadora dos metabolistas fonte de pesquisa para os arquitetos doMovimento Moderno e ser citada como inspirao para os Novos Brutalistas britnicos.Ruy Ohtake, filho de imigrantes japoneses, traz em sua bagagem cultural refernciasconceituais que o aproximam desta arquitetura. Essa dissertao monta-se atravs de um jogo de relaes que envolve oMovimento Brutalista ingls, o Brutalismo corbusiano, a escola paulista, o concretismo nasartes e a incluso do prisma da arquitetura tradicional e moderna japonesa, oentrelaamento destes conceitos se configurou como o universo da nossa pesquisa,demonstrando que, como diz o prprio Ohtake: qualquer projeto tem compromisso com acidade e testemunho de uma poca (Revista Projeto, 171, pagina K1). O universo desta pesquisa foi delimitado entre 1960, quando o arquiteto seformou, at 1975. Quinze anos de atividade profissional, em que se procurou focalizar odesenvolvimento de sua linguagem projetual e formal. A produo de Ruy Ohtake nesteperodo tambm revelou o discurso poltico da poca. Nas residncias, uma nova proposta para os espaos comuns: a integrao quefavorece o convvio, para os espaos de servio e ntimos as dimenses mnimas, e nosmateriais utilizados, a experimentao do material industrializado, com a perspectiva doaperfeioamento da mo de obra. Ruy Ohtake obteve vrios prmios nesses quinze anos,o que incentivou a criar este limite. A metodologia utilizada para este resgate histrico foi, num primeiro momento, areviso da literatura especfica da histria da arquitetura, para compor o cenrio mundial eo contexto brasileiro. Num segundo momento, a busca especfica da obra de Ruy Ohtake,com a reviso de dois livros capitais publicados sobre a sua obra: A arquitetura de RuyOhtake, com textos de Agnaldo Farias e Ruy Ohtake, e Contemporaneidade daarquitetura brasileira, com textos de Roberto Segre. Os livros citados se caracterizamprincipalmente por documentar suas principais obras, como verdadeiros portflios, e porapresentarem ensaios crticos generalizados sobre a obra total do arquiteto. Foi feita umavarredura nas publicaes de revistas brasileiras de arquitetura (Acrpole, Mdulo,Projeto, AU e Finestra) a partir do ano de 1960, ano de sua formatura at os dias atuais. 15 16. Realizou-se tambm um levantamento nos sistemas de busca da web, onde foramencontrados vrios registros de obras, artigos e tambm palestras proferidas peloarquiteto. Aps este levantamento foram registrados alguns depoimentos diretos com RuyOhtake. Os artigos pesquisados e encontrados nas revistas desde o incio enfatizam ouso de uma linguagem relacionada ao abstracionismo geomtrico, um trabalho concisocom a criao de espaos que buscam a essncia (formal e conceitual) e o uso restrito demateriais. A leitura dos ensaios crticos e referenciais de Agnaldo Farias e Roberto Segrelevou identificao de dois temas que pareceram relevantes para delimitar o universodesta pesquisa: o comprometimento do trabalho de Ruy Ohtake com a continuidade dospreceitos ditados pelo Movimento Moderno e a afirmao de ambos de que as residnciasdo arquiteto representam um aspecto essencial em sua obra. Ento, este trabalhodirecionou-se para o estudo especfico dessa categoria de obras. Nos quinze anos delimitados nesta pesquisa, o arquiteto desenvolveu cerca de28 projetos residenciais1. Entre esses projetos foram selecionados dez trabalhos cominformaes suficientes para que se pudesse fazer um estudo adequado, ou seja: plantase cortes em escala, detalhes e fotos. Esse material foi colhido em publicaes da poca(principalmente Revistas Acrpole, o principal veculo de divulgao e debates na rea deArquitetura e Urbanismo da poca), no livro de Agnaldo Farias e na edio da srieCadernos Brasileiros de Arquitetura, que focaliza sua obra (op. cit.). Este ltimo, lanadoem 1976, traz uma relao dos trabalhos realizados nesses quinze anos de atividade deRuy Ohtake e serviu de base cronolgica para este estudo. Nas revistas Acrpole foramlocalizadas publicaes de alguns projetos isolados de residncias e uma edio especialdedicada ao trabalho do arquiteto. Uma reviso sistemtica e criteriosa foi feita nasrevistas nacionais e internacionais entre os anos de 1960 a 1981como a Revista Mdulo, ,e as Revistas Finestra, AU e Projeto, que apresentam a produo mais recente. Emalguns casos foram encontradas publicaes diferentes do mesmo projeto, propiciandoum enriquecimento de fontes. No foi possvel trabalhar com os desenhos originais, poisestes conforme informaes de Ruy Ohtake se encontram armazenados em um guarda-mvel, onde s se poderia ter acesso atravs de autorizao prvia do arquiteto, e,mesmo assim com a sua companhia. No escritrio de Ruy Ohtake foram localizadas egentilmente cedidas fotos de poca das construes, nico material disponvel sobre esteperodo. Assim sendo durante este trabalho estes projetos foram redesenhados, o que1 Dado obtido na publicao Cadernos Brasileiros de Arquitetura Ruy Ohtake: 15 anos deatividade.16 17. possibilitou uma compreenso dos conceitos e estratgias projetuais do arquiteto. EnriqueBrowne, no artigo Ler plantas e aprender arquitetura disserta sobre a importncia daleitura das plantas arquitetnicas para a compreenso da essncia intencional de seuautor, assim como o fascnio provocado pela observao dos desenhos bem sucedidos2.Realizou-se um fichamento dessas obras, com o levantamento de critrios que auxiliarama tecer comparaes entre elas. Os critrios utilizados foram: ano da construo, reaconstruda, tipo do terreno, nmero de pavimentos, soluo estrutural, materiais utilizados,fontes de luz natural, uso de cores, mobilirio fixo, detalhes significativos, volumetria,recuos, material disponvel e publicaes. Assim o trabalho se estruturou inicialmente com a apresentao de alguns dadosbiogrficos do arquiteto e tambm do contexto cultural da poca de sua formao. Noprimeiro captulo apresenta-se o enfoque dos ensaios de Farias e Segre e uma revisosobre o Brutalismo Paulista, com a incluso do Pavilho da Feira de Osaka, em 1970,como obra sntese de encerramento deste movimento. O segundo captulo focaliza os conceitos da arte e da arquitetura japonesa esuas relaes com Movimento Moderno. No decorrer da pesquisa, aps uma revisobibliogrfica dirigida a este tema foram traados alguns paralelos que se tornarampertinentes para nosso objeto de estudo. Ainda, neste captulo foi desenvolvido o tema doabstracionismo geomtrico, uma via de raciocnio e expresso desenvolvida pelainfluncia da convivncia com o trabalho da me, Tomie Ohtake, assim como pela sntesedas artes que se propunha naquele momento histrico. O terceiro captulo dedicado aos projetos residenciais. Em um primeiromomento estas obras foram identificadas pelas categorias tipolgicas propostas por MariaLuza Sanvitto para, em seguida, serem vistas pelo foco das proposies de MarleneAcayaba nos seus dez mandamentos da arquitetura residencial paulista de 1960. Dessasanlises surgiram cinco exemplares considerados como os mais representativos da obrado arquiteto que so apresentados atravs de plantas, isomtricas e fotos, assim como asrelaes formais, compositivas, tecnolgicas e programticas de cada um. Considerou-serelevante relacionar os elementos encontrados nesta anlise a projetos de outrascategorias. Assim, no captulo quatro foram selecionados trs projetos de categorias2 BROWNE, Enrique. REVISTA PROJETO, No. 198, de julho de 1996, pginas 86 a 91. Neste artigoo autor faz uma relao com um maestro, para quem foi perguntado se ouvia muita msica, e querespondeu que alm de ouvir muita msica ele tambm lia muita msica. Algo semelhante acontececom os desenhos de arquitetura: ao l-los aparece mentalmente a imagem construda, os espaos,os percursos. 17 18. distintas: uma central telefnica em Campos do Jordo, um laboratrio telemtrico decontrole ambiental e uma agncia bancria. Foram identificadas diferenas e semelhanasentre estas categorias e as residncias. O trabalho finaliza com as consideraesextradas destas anlises. A identificao das razes na obra de Ruy Ohtake se oferece como um caminhopara que a arquitetura brasileira contempornea enxergue sua memria e se vincule suahistoricidade, originando trabalhos mais conscientes. importante resgatar a discusso tica, poltica e social da arquitetura em que oarquiteto de maneira objetiva, procura interpretar as necessidades de determinadomomento histrico e dar a sua contribuio para a sociedade. O compromisso tico doprofissional para com a sociedade se encontra um tanto esquecido hoje, tanto no ensinocomo nos meios profissionais. O exerccio crtico proposto procura elucidar a obra inicialdesse arquiteto brasileiro e a inserir no panorama poltico social do pas como contribuiopara o resgate de nossa histria arquitetnica.18 19. 1 A FORMAO DE RUY OHTAKE E O CONTEXTOCULTURAL DA DCADA DE 1960 O arquiteto Ruy Ohtake formou-se na FAUUSP, no histrico incio da dcada de60, ano da inaugurao de Braslia. Dez anos aps sua formatura, em 1971, foi editadoum nmero especial da revista Acrpole sobre sua obra e, no currculo de apresentaoda edio, enumeram-se os prmios recebidos j durante este perodo, entre Bienais econcursos.1 Certamente a premiao do Pavilho do Brasil na EXPO-70, mesmo comomembro da equipe de Paulo Mendes da Rocha, foi um fator importante para sua carreira,nesta poca em que os concursos eram instrumentos eficazes para o reconhecimento dotrabalho dos arquitetos. O arquiteto alm de seu trabalho no escritrio tambm davaaulas nos cursos de Arquitetura do Mackenzie, na FAU de Santos, na FAAP (Fundaolvares Penteado) e na IAD (Instituto de Artes e Decorao). Na FAU de Santosministrava uma das disciplinas de Projeto e na EADE dava aulas de Composio . Recm sado da faculdade trabalhou meio perodo no Centro dePesquisas de Estudos de Urbanismo da FAUUSP que na poca desenvolvia os planosdiretores para as estncias paulistas. Ruy Ohtake nasceu em 1938 em So Paulo, filho de imigrantes japoneses. Suame, Tomie Ohtake, se tornou bastante conhecida a partir da dcada de 60 como um dosexpoentes do abstracionismo nacional. Certamente foi uma influncia marcante naeducao dos filhos, Ricardo e Ruy, pois ambos seguiram caminhos artsticos, o primeirocomo designer grfico, e o segundo como arquiteto. Em entrevista concedida revistaProjeto2 o arquiteto confirma esta suposio, afirmando que o ambiente familiar, aconvivncia com esculturas, cores e as discusses sobre arte, tornaram-se fator decisivona sua opo de curso. Em entrevista concedida `a autora Ruy descreve um pouco de sua formao: oCurso de Arquitetura da USP funcionava no prdio da Rua Maranho, um palacete art-nouveau, haviam 200 alunos no total com 40 alunos em cada fase, isto propiciou aformao de um grupo coeso e todos se conheciam pelo nome. O curso de Arquitetura doMackenzie se localizava a menos de 50 metros da Rua Maranho e haviam 60 alunos1 ACRPOLE.So Paulo, n. 386, julho. 19712 PROJETO. So Paulo, n 272, outubro de 2002. 19 20. por fase que freqentavam constantemente a biblioteca da USP. Portanto todos osestudantes de arquitetura de So Paulo em meados da dcada de 50, aproximadamente500 pessoas, se conheciam. A FAUUSP era um ponto em que se concentravam asdiscusses sobre arquitetura, poltica e arte, propiciando a formao desse grupo coesoconceitualmentee responsvelpelo reconhecimento da arquitetura chamada paulista .A poca era de efervescncia cultural: na msica temos o surgimento da bossanova, de Tom Jobim e Joo Gilberto afirmando que os desafinados tambm tmcorao , no cinema de Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha, o cinemanovoe no teatro a presena de grandes diretores que interpretaram textos clssicoscom a viso brasileira (Jos Celso, Antunes Filho). Uma nova identidade cultural firmava-se. Na arquitetura o Brasil j era reconhecido internacionalmente e havia uma grandeexpectativa em torno da nova capital, Braslia. A revoluo militar de 1964 viria sufocaresse clima de efervescncia.Ohtake foi aluno de Artigas, responsvel direto por sua formao e suaspreocupaes como cidado e pela demonstrao da ampla relao entre arquitetura,cultura e poltica e por sua influncia integra-se UJC (Unio da Juventude Comunista).Conforme o arquiteto, Artigas foi aquele que abriu a conscincia sobre a realidadebrasileira 3. Outros professores importantes para sua formao, conforme seudepoimento, foram Lourival Gomes Machado e Flvio Motta e entre os colegas cita JlioKatinsky e Abraho Sinovics como personalidades tambm marcantes para suaformao. A formatura foi comemorada na prpria FAU da Rua Maranho e comdecorao criada por Flvio Imprio, colega de turma.Ainda neste primeiro depoimento, ao ser questionado sobre a adoo do uso dascurvas em seus projetos Ruy Ohtake explica ter vindo de duas influncias: a maislongnqua de Aleijadinho e a mais prxima de Niemeyer. Sua justificativa data de umaviagem na poca estudantil a Minas Gerais, em que se impressionou com o trio da Igrejade Congonhas do Campo e seus profetas. As imagens, sempre no alto, sugeriam duranteo percurso da caminhada, o movimento da dana. A cada momento vislumbrava um novomovimento. A contradio do material rgido, a pedra sabo, sugerir esta leveza,complementou este fascnio. De volta para casa projetava os slides na parede e compapel manteiga reproduzia e estudava as infinitas curvaturas e os jogos de claro-escuro3 Dados obtidos do depoimento direto do arquiteto, em anexo. 20 21. provocados por estes efeitos. Na mesma viagem conheceu a Pampulha com a Capela deSo Francisco e a marquise da Casa do Baile. A admirao pelo trabalho de OscarNiemeyer (ou simplesmente Oscar, como Ohtake se refere ao arquiteto), o levou a seuescritrio no Rio de Janeiro. Aps uma demorada espera, pois chegara semagendamento prvio, foi recebido pelo arquiteto e a visita terminou em um jantar dandoincio a uma grande amizade.Em dois perodos houve uma proximidade profissional. A primeira, quandoNiemeyer foi convidado por Jnio Quadros a executar alguns trabalhos em So Paulo,durante sua administrao, em 1996. O arquiteto definiu uma equipe tcnica sediada emSo Paulo para auxili-lo, entre eles estava Ruy Ohtake. Durante este perodo Oscaragendava visitas mensais capital paulista, oportunizando a Ohtake observar seu mtodode trabalho. A segunda, em 1992, quando Braslia se candidatava a sediar os JogosOlmpicos, Niemeyer convidou Ohtake para desenvolver alguns projetos de estdios,dentro de um plano nico, pr-definido.Assim, Artigas e Niemeyer tornaram-se mestres confessos, no s de arquitetura,mas de atitudes e modelos perante a vida.O escritrio de Ruy Ohtake passou por alguns endereos: Avenida Vieira deCarvalho, 40, Rua 24 de Maio, 35, Rua Baro de Itapetininga, 188 (local anteriormenteocupado por Carlos Millan), Alameda Tiet, 618, (ocupando as casas 5 e 9). Na dcadade 70 muda-se para o atual escritrio, na Av. Faria Lima.4O primeiro projeto foi a garagempara a casa de um tio, na Aclimao. Afirma sempre ter tido uma grande curiosidade emrelao a obras, tcnicas, materiais, tintas, pincis e cores. Isto o levou ter necessidadede domnio destes elementos. A primeira obra que trouxe satisfao como profissional foia residncia Rosa Okubo, onde se percebe alguma influncia de Carlos Millan, como averdade do material. Nesse projeto ele trabalhou com o bloco de concreto de vriasformas, sempre aparente e afirma que a casa continua em bom estado. Carlos Millan foioutro arquiteto que Ohtake costumava visitar para observar seu mtodo de trabalho eaprimorar seus conhecimentos em arquitetura.Para o arquiteto um trabalho tem trs fases: a do anteprojeto, a do projeto executivodetalhado e a fase do acompanhamento de obra, a qual acompanha de maneira bastanteprxima e fazendo os ajustes necessrios in loco .4 FARIAS: 1994, 23521 22. 1.1 A viso de Agnaldo Farias e Roberto Segre Os crticos Agnaldo Farias e Roberto Segre so os responsveis pelas duas obraseditadas que focalizam a obra do arquiteto Ruy Ohtake. O primeiro, de Agnaldo Farias foieditado em 1995, em Madri; e o segundo, de Roberto Segre, em 1999, uma ediopatrocinada pela Associao Brasileira de Cimento Portland. As duas obras tm emcomum o carter de porfoliodo arquiteto, introduzidas por ensaios que inserem acarreira de Ruy Ohtake no contexto da arquitetura moderna. Farias traz uma viso daobra no contexto nacional e Segre faz uma insero no contexto latino americano. O livro de Agnaldo Farias tem a apresentao de Oscar Niemeyer, que enalteceduas qualidades da obra de Ruy Ohtake: simplicidade e beleza. Um ponto importantepara Niemeyer o fato da produo de Ruy refletir uma soluo derivada do desenho eseu rigor pelo detalhamento que integra efeitos de iluminao e ambientao interna aocorpo de seus projetos.Para Agnaldo Farias as casas constituem-se no ponto essencial da obra do arquiteto.Renem estratgias definidoras de seu repertrio, como a interpenetrao do ntimo e dopblico, o conceito da grande laje apoiada nos muros, as aberturas zenitais e a integraoda casa e da cidade atravs de espaos de transio. Na casa Tomie Ohtake, por exemplo,desde a entrada tem-se a percepo da totalidade do espao. A lareira, os mobilirios emconcreto fixos e os dormitrios se incorporam como acontecimentos na paisagem, comodiria Artigas As cidades como as casas. As casas como as cidades. (ARTIGAS:1999, 85)Para Farias a arquitetura de Ruy Ohtake associa elementos como a luz e a sombra,o piso, o teto e as paredes, e a casa e a cidade, e as relaes entre estes. H umtratamento integrado a cada um desses conjuntos de elementos: o piso, o teto e asparedes sugerem continuidades, a incidncia da luz surpreende nos espaos sombreadosevidenciando-os e a casa se insere na cidade com a inteno de orden-la. O que sedestaca nesses elementos seu carter essencial, como uma atitude miesiana, ou quemsabe zen, oriental. Ruy Ohtake se prope a utilizar os mnimos elementos necessrios edeles tirar o mximo de proveito. Ainda segundo o autor o fato da formao do arquiteto coincidir com o momento emque a arquitetura moderna brasileira se consolida internacionalmente atravs daconstruo de Braslia o vincula ao discurso modernista. Na arquitetura brasileira desde22 23. os anos 50, distinguem-se dois ncleos: o carioca e o paulista. O trabalho de Ruy Ohtake nos parece refletir a sntese das influncias dos dois grupos. O ncleo carioca demonstra-se uma vertente mais culturalista, descendente do racionalismo lrico de Le Corbusier. O papel de Lcio Costa decisivo para a formao deste grupo, tanto no que concerne ao campo da herana colonial quanto no seu compromisso com o Estado ps-30, de representar a emancipao brasileira tcnica e intelectualmente. Para Farias, este grupo resgata de Le Corbusier a relao entre a arquitetura e a paisagem5 e o transcende ao acrescentar o uso arrojado do concreto, atravs do raciocnio estrutural, na busca da leveza e da plasticidade, representado pela obra gestual de Niemeyer. J em So Paulo, sede do poder econmico e plo industrial, as grandes referncias so Rino Levi e Vilanova Artigas que tm em comum a primazia pela execuo, prezam o detalhamento meticuloso e a experimentao constante de materiais industrializados.6 A lio de Artigas a relao da arquitetura com a sociedade, seu papel revolucionrio. A importncia da funo plstica minimizada em favor de um resultado mais asctico e despojado e, na sua relao social, explicita o trabalho humano na materializao da obra. Assim, o Brutalismo Paulista se caracteriza, na viso de Farias, por elevar a tcnica ao status de arte. Artigas desenvolve o raciocnio estrutural ao produzir grandes vos, e grandes coberturas convergindo para poucos pilares, levando a resultados de grande impacto formal, como o prdio da FAU em So Paulo. Ele utiliza tecnologia de ponta para estimular respostas inovadoras, e o material era usado sempre em estado bruto. No que se refere distribuio espacial, privilegia os espaos coletivos, coerentes com o seu objetivo de socializao. Nas residncias esses espaos so representados pelas reas de convvio. Para Farias as duas escolas tm em comum a relao persistente entre a arquitetura e a natureza. Na escola paulista esta relao resulta nas coberturas de grandes vos, propiciando um espao arejado, iluminado e de fcil acesso, combinando com o clima e a personalidade dos brasileiros. Ruy Ohtake oscila entre estes dois plos, carioca e paulista. Assume a responsabilidade social da escola paulista, mas no abandona jamais a atividade projetual, como aconteceu com outros colegas (Sergio Ferro, por exemplo) aps o golpe militar. no aspecto da valorizao individual que Farias v a influncia da escola carioca, principalmente da figura de Oscar Niemeyer.5FARIAS:1995,666FARIAS:1995,6723 24. O grande convvio entre artistas, pintores, escultores, escritores, msicos, atores eintelectuais na poca evocava a promessa de um futuro melhor, mais igualitrio nadistribuio da renda e a arquitetura parte integrante desse processo revolucionrio. Ogolpe de 64 acentuou o processo de politizao em 1968, tempo marcado pelo AI-5, emuitos arquitetos se distanciam da produo, trocando a atividade projetual por atividadesmais ligadas sociologia e economia. Ruy Ohtake persiste no trabalho projetual e,segundo Farias, demonstra o amadurecimento de seus prprios conceitos em relao arquitetura: a importncia da inteno plstica no objeto edificado, a compreenso de quea obra fruto de um momento histrico e, portanto, deve expressar claramente uma visode mundo e a responsabilidade social da obra em induzir a melhoria da qualidade devida. Ainda entre estes conceitos que, para Farias, Ruy Ohtake incorpora em seu trabalhoest a crena do carter reguladorda obra em relao ao meio ambiente e, paratanto, busca a liberao do solo urbano atravs de principalmente duas estratgias: ou aopo de no edificar neste plano (a opo do modelo corbusiano da estrutura domin)ou optar pela sugesto de continuidade do meio urbano na edificao. De Niemeyer oarquiteto assimila o conceito da arquitetura se dividir entre edificaes destinadas habitao ou administrao submetidas a um plano de massas rigoroso responsvelpelo desenho da cidade e edificaes de caractersticas individualizadas. Outrosconceitos presentes em sua obra so: a integrao do espao interno obtido atravsateno especial s reas de convvio (amplitude, iluminao e continuidade do espaoexterno) e da compactao das reas privadas e de servio; a racionalizao daconstruo direcionando para o processo industrial e a utilizao da tecnologia como responsabilidade cultural , esta mais vinculada s lies de Artigas, com ocomprometimento do desenvolvimento tecnolgico. Farias v em Ohtake o uso de procedimentos especficos da arquitetura, como porexemplo o raciocnio processado pela via do desenho. E atravs deste processo queOhtake sintetiza os elementos da obra; algumas vezes deixando que a natureza exterior,revelada no terreno, na topografia, conduza a resposta formal; outras vezes partindo deum impulso formal advindo do interior. Para Farias, a linguagem de Ohtake sempre derivado abstrato, o que indica a ligao entre sua obra e a obra pictrica de sua me. Fariasilustra esta afirmao atravs das obras: o Parque Ecolgico Tiet representa oentendimento da paisagem, o resultado uma releitura da paisagem natural do rio,quando este se estreita as avenidas se afastam e no Ncleo Comunitrio o programa 24 25. funcional abrigado por uma grande laje que estrutura os diversos espaos comoverdadeiras ilhas funcionais reforando a compreenso da linguagem da natureza. Ainda para Farias, desse mesmo processo de abstrao que se originam ascurvas, constantes no repertrio de Ohtake. Dada a proximidade desse elementogeomtrico com a linguagem da natureza so usadas inmeras vezes como artifcios dodilogo entre o edifcio e a paisagem. Pode-se observar essa estratgia no edifcio daCetesb e nas residncias de Tomie e Egreja quando as coberturas recebem curvas nolimite entre a edificao e o espao externo. Farias acredita que estes elementos foramresgatados do edifcio Copan, de Niemeyer e, para ele, no projeto da Embaixada doBrasil em Tquio que Ohtake demonstra o domnio ao utilizar uma curva cncava e outraconvexa na composio do edifcio. Nos casos em que a forma gerada de um impulso interior Ohtake resgata alinguagem abstrata da geometria e revela sua descendncia direta do movimentomoderno e do abstracionismo geomtrico. O arquiteto demonstra uma preocupao ematender racionalmente a organizao espacial e para Farias atravs da geometria queOhtake revela sua inteno de repensar o vocabulrio da arquitetura, fazendo com queportas, janelas, paredes e fachadas se transformem em slidos simples, em planos, linhase pontos. Pode-se ilustrar estas afirmaes de Farias atravs da residncia Chiyo Hamaonde Ohtake usa apenas elementos essenciais: a cobertura se apia nos muros,cobertura e piso so os delimitadores do espao, a fachada se reduz a um cilindrolimitado por estas linhas e a responsabilidade de qualificar o espao recai para a laje.Para Farias estas figuras geomtricas no se opem natureza e sim reforam acompreenso de que esta foi transformada pelo trabalho do homem. Em combate friezaevocada pelo uso da geometria Ohtake inclui a curva, gestual e livre em suas obras. Estavia da razo construtiva , pode ser ilustrada pelas casa de Tomie, Hama e Filipelli etambm o Unibanco da Alameda Lorena e o Banespa da Avenida Anglica. Em todosestes exemplos h a insero de um volume circular ou colorido que desafia a rigidezproposta. Os recursos cnicos so evocados por poucos detalhes: prgulas, aberturascirculares (residncia Nadir Zacarias e cobertura do Laboratrio Ach), pilotis ou brises.Todos coerentes: pilotis para solucionar problemas de enchentes ou grandes desnveis,brises para amenizar a incidncia do sol indesejado e empenas de concreto comoelementos estruturais.25 26. O mesmo raciocnio se d em relao aos materiais selecionados, a exemplo daresidncia Rosa Okubo, obra premiada de incio de carreira, onde a soluo formal recaino uso da geometria simples: um paraleleppedo. Cada seo dessa figura apresentaencontros diferenciados de materiais e necessita de diferentes solues, como a arestaresultante do encontro entre o bloco de concreto aparente e a pedra da parede lateral eas fileiras de elementos vazados no trreo encaixados nos blocos.No tocante tcnica, Farias retoma a dimenso poltica que a seleo de materiaisassume na arquitetura moderna e nos explica que o canteiro de obras era arepresentao da mo de obra desqualificada,fruto da desigualdade social, e paratransformar essa realidade os arquitetos assumem como dever contribuir para aqualificao do trabalho operrio. O uso do concreto armado se encaixava perfeitamenteneste objetivo, pois colaborava para as solues ousadas e previa a produo em sriepara a reduo do dficit habitacional. Assim Ohtake, como outros colegas, assume estapostura de qualificar a mo de obra e a definio da tecnologia a ser empregada noprojeto assume um carter relevante no processo projetual. O desenho preciso, compequena margem de erro e a constante presena no canteiro so fundamentais nessadimenso para definir outros tantos detalhes no canteiro junto aos operrios(FARIAS:1995,183). Ao concluir seu texto, Farias evidencia o binmio espao-funo na arquitetura, aobrigao do arquiteto de adequar os espaos s necessidades humanas. Esse o eloque no permite arquitetura total liberdade, como nas outras formas de expressoartstica. Esse tambm o elo temporal, pois cada momento histrico gera suasnecessidades especficas para o cotidiano humano, social e privado. Para Farias, Ohtakepensa o espao do homem como um conjunto integrado, onde a casa, clula menor desteconjunto interage com o todo. Nas residncias h a reiterao de algumas estratgiasvisando esta unidade, como por exemplo: o lote e a construo superpostos, oadensamento das reas de servio e privadas em contraste com a integrao e amplidonas reas de convvio e uma estreita relao entre a casa e o jardim, sugerindo quaseuma fuso, um prolongamento. O Ncleo Comunitrio do Parque Ecolgico Tiet apontado como outro exemplodesta viso integradora, onde os vrios servios so abrigados por grandes coberturas.Tambm presente na distribuio espacial das indstrias Ach houve essa sntese que 26 27. demandou o estudo do processo produtivo e foi sendo aplicado em vrias etapas. Apresena da praa central configura o local de encontro dos funcionrios. Para Farias, o tema da convivncia se apresenta como fundamental na obra deRuy Ohtake, o elemento que integra espaos e indivduos (FARIAS:1995,187). Nos vrios planos urbanos desenvolvidos pelo arquiteto Farias identifica o mesmoraciocnio do desenho como o princpio gerador. No momento da anlise a compreensoda cidade realizada atravs da definio de suas linhas de fora, suas tendncias decrescimento, e a localizao dos espaos deteriorados. Esses elementos definem umdesenho que sugere uma interveno integradora. No Parque Ecolgico Tiet o rio passaa ser o protagonista, resgata seu carter natural e em Indaiatuba, o rio se torna um eixourbano.Para Farias o trabalho de Ohtake uma sntese entre natureza, pensamento e gesto.O segundo livro especfico da obra de Ruy Ohtake utilizado na reviso bibliogrfica o do Prof. Roberto Segre, Contemporaneidade da arquitetura brasileira , lanado em1999. Apresenta as obras do perodo de 1970 a 1999, incluindo seus edifcios dasdcadas de 70 e 80, a Embaixada Brasileira em Tquio, seus trabalhos mais recentes(como os projetos do Hotel Unique e do Centro Cultural Tomie Ohtake) e sua produo naescala do mobilirio. Segre inicia seu ensaio evidenciando Ruy Ohtake como um defensor da justia socialque acredita que a beleza do meio urbano resulta da aplicao de valores ticos e morais.Com isso o autor reafirma a insero do trabalho do arquiteto no contexto do movimentomoderno brasileiro, comprometido com a integrao entre a tica e a esttica e com agerao que, segundo o autor, lapidou a existncia de Braslia (SEGRE: 1999, 16).Segre nos prope quatro pontos chaves para a compreenso do trabalho que foidesenvolvido no perodo em estudo: a integrao nacional, a liberdade, a democracia e aigualdade. Valores que iro transparecer no conceito das obras de vrios arquitetos destagerao. A partir dessa rpida apresentao do contexto da formao do arquiteto e daconstatao da extenso de seu trabalho (que gera uma produo desde a clula bsica,a residncia, at trabalhos de configuraes urbanas), o autor traa com uma clarezasurpreendente um panorama retrospectivo de nossa situao atual, voltando at asorigens do movimento moderno. Situa o desenvolvimento de nossa arquitetura edemonstra suas afinidades e diferenas dentro do panorama mundial e latino americano.27 28. O trabalho de Ruy Ohtake, dessa maneira, recebe referncias histricas, refleteum recorte do nosso tempo histrico, e, afirma Segre, que no pode e no deve sercompreendido como um fato isolado. Na continuidade apresenta implicaes estticas que sero teis para a leitura daobra de Ruy Ohtake. Para Segre a histria da arte e da arquitetura apresenta constantesembates entre apolneos e dionisacos, entre os defensores da tradio clssica e ostransgressores, como Gaudi, representantes da liberdade formal. Estes so para o autoros precursores das formas orgnicas. Na Amrica Latina, explica o autor, h um contextodiverso. A dizimao das populaes nativas pelos conquistadores gerou a perda doreferencial cultural aliada a uma transferncia de modelos culturais europeus e dareproduo de cidades e arquiteturas. Para Segre, neste processo histrico dois momentos se sobressaem: o barroco dosculo XVIII e o Movimento Moderno, no sculo XX. Este ltimo reflete a classeprofissional muito interessada na formao desta identidade nacional perdida. Para osestrangeiros h o vislumbre de um territrio novo, ideal para a experimentao de novasprticas rejeitadas em seus prprios pases. Esse o teor das vrias visitas de LeCorbusier ao Brasil, Uruguai e Argentina. E, das alternativas apresentadas acima, surge,para cada uma, um expoente que ir represent-la: no eixo andino, Luis Barragan eRogelio Salmona, na exuberncia tropical, Oscar Niemeyer e, no cosmopolitismo,Amncio Williams e Carlos Raul Villanueva. Entre Niemeyer e Barragan existemdiferenas evidentes, a partir do contexto geogrfico e cultural. A arquitetura de Barraganrealiza uma fuso entre a cultura popular e o saber artstico contemporneo. A arquiteturade Niemeyer, assim como da vanguarda brasileira da 1a. e 2a. gerao, para Segre, seidentifica com uma linguagem de formas livres, gestuais, que prope a integrao com apaisagem atravs de espaos transparentes.Na exposio de 1943, no MOMA, de Nova York, intitulada Brazilian School , oselementos que passam a ser associados nossa produo so a utilizao de volumestransparentes e linhas curvas, a fluidez espacial entre interiores e exteriores e asextensas coberturas sem sustentao.Segre destaca o predomnio das figuras sinuosas como a essncia da arquiteturamoderna no Brasil referenciada pelas caladas de Ipanema (SEGRE: 1999, 23). Essabusca pela nacionalidade se percebe desde a Semana de Arte de 22, quando vrios deseus componentes vo buscar na selva amaznica e nos ndios esta cultura esquecida28 29. (Oswald, Tarsila e Villa Lobos). Oscar Niemeyer traduz este anseio para a arquitetura e seapropria da natureza tropical para conceber sua linguagem de liberdade formal. Essatendncia ser seguida por Ruy Ohtake, em So Paulo, membro da segunda gerao dearquitetos modernos.No Brasil o concreto armado foi o material eleito para as experincias formais, tantopor sua plasticidade como por suas propriedades estruturais, permitindo os grandes voscom poucos apoios. A horizontalidade conquistada e Segre a relaciona com umrelaxamento do corpo, como as janelas horizontais contnuas que sugerem que secontemple a paisagem deitado numa chaise-longue .Na difcil tarefa de traar uma linha de continuidade e de influncias, Segre apontaalgumas tendncias. At 1942, ano da construo da Pampulha, encontram-se traos doracionalismo europeu de Porto Alegre a Recife. Oscar Niemeyer inicia a autonomiaformal e seguido por Lucio Costa e Reidy. Em So Paulo surge Artigas, e seus principaisdiscpulos , Paulo Mendes da Rocha e Ruy Ohtake (SEGRE: 1999, 26).A tendncia de dividir estas influncias entre escola paulista e escola carioca paraSegre uma falsa interpretao da realidade. O autor lembra a linguagem diferenciada deNiemeyer ao se comparar com as obras de Alcides Rocha Miranda, Carlos Leo, lvaroVital Brasil, dos irmos Roberto e Jorge Machado Vieira. Tanto Artigas como Niemeyerpartilham do desejo da identidade nacional .O clima e a ausncia de paisagem natural em So Paulo, aliados ao contexto urbanoso os responsveis por sua arquitetura diferenciada. Porm, o tema das formascurvilneas aparece tambm nas obras paulistas de Niemeyer, como o Parque doIbirapuera e o Copan, assim como em algumas obras de Artigas, como as abbadascontnuas em Londrina, as estruturas cogumelo da Rodoviria de Ja e o KindergardenVila Alpina em Santo Andr.Para Segre o Pavilho da Expo70, em Osaka (projeto de Paulo Mendes da Rocha, coma colaborao de Ruy Ohtake, Jlio Katinsky e Jorge Caron), demonstra a integrao entre ocarter asceta da produo paulista e a sinuosidade da arquitetura carioca, atravs dodilogo entre a rgida estrutura de concreto aparente e a suavidade das linhas curvas dacobertura que se mantm suspensa por suportes tmidos (SEGRE: 1999, 27).Ainda para Segre, a influncia de dois grandes modelos, Artigas e Niemeyer, porserem duas personalidades fortes e diferentes, possibilitaram uma atitude deindependncia e o surgimento de uma linguagem artstica prpria. 29 30. Outros fatores, segundo o autor, colaboraram para a postura modernadeOhtake: um estilo de vida asctico, uma disciplina interna , a meta do trabalho criativocomo razo de viver e o carter educador e social da beleza. Estes valores se vinculam influncia materna e cultura japonesa. De Tomie, tambm teria herdado esta facilidadedo trabalho manual, a clareza formal, os espaos definidos por figuras abstratas esinuosas, a paleta cromtica (clara e transparente) e a constante busca do mistrio, dasurpresa (evocada pelas formas curvilneas).Assim como Farias, Segre acredita que a moradia, individual e coletiva, constitui umeixo essencial em seu trabalho. Segre recorre a Heidegger, para quem a moradia aorigem da construo, da conscincia do corpo e do ser social (HEIDEGGER apudSEGRE,1999: 29). Para Segre, as residncias de Ohtake no pretendem ser parmetrode status, mas sim locais que privilegiem a convivncia familiar.A lgica moderna dizia que as casas deveriam ser concebidas a partir de requisitosfuncionais que assegurassem a sade fsica e mental dos moradores. Dessa mesmapremissa foram desenvolvidas solues racionalistas (derivadas de Le Corbusier, Mies,Neutra e Breuer) e orgnicas (derivadas de Frank Lloyd Wright). Artigas apresentavaestes modelos aos alunos e, as casas de Ruy de certa forma incorporam as duasvertentes e adicionam as influncias de seus antecessores paulistas como Rino Levi,Oswaldo Bratke e Carlos Millan. Deste ltimo Ohtake, nos mostra Segre, incorpora o rigorcompositivo, a soluo formal e volumtrica simples, a economia no uso dos materiais e aintegrao dos espaos internos. As moradias de Rosa Okubo e Chiyo Hama podem seralinhadas como wrightianas e a de Nadir Zacarias alm de expressar influncias externasrevela a busca de uma linguagem prpria.Para Segre, na casa de Tomie esto definidos os principais princpios para aconcepo das moradias individuais: a ordem geomtrica (definida pelos terrenos emformas regulares), a introverso para o espao natural do jardim e a cobertura comocomponente essencial e definidora do espao. O foco dessas residncias a convivncia,deixando as funes permanentes s dimenses mnimas. O mobilirio fixo de concretodefine a vocao do espao e recebe um tratamento escultural. A cozinha tratada comoum laboratrio de alimentos e os dormitrios como alcovas. J os espaos de convivnciase abrem a vrias opes de uso. Esse, para o autor um dos conceitos bsicos dosprojetos,isto , espaos genricos multifuncionais. O autor exemplifica com o apartamentodo arquiteto que, como conseqncia inevitvel da contemporaneidade, assumiu a vida 30 31. metropolitana e acabou excluindo do programa a cozinha e a rea de servio, funesresolvidas no entorno urbano. Desta forma os objetos assumem cada vez mais a funoesttica e o trabalho com o design de mveis se torna decorrncia deste processo. Osmveis se descolam dos espaos e resultam em uma coleo exposta em 1996.Na casa de Tomie, Segre astutamente identifica uma relao polarizada entre osonho da selva e a realidade urbana. A edificao se oferece como um refgio ao ritmoconturbado da vida urbana, o jardim se define como um espao de transio entre oespao externo e interno, auxiliado por uma laje ondulante. O autor v algumas superficiais semelhanas formaiscom a Casa Canoas de Niemeyer s no maisexplcitas pelo uso constante do quadrado e do retngulo.Todas estas decisesprojetuais apareceram refinadas e aprimoradas nasresidncias dos anos 70 e 80 como as de Jos Egreja, Celso Lafer e Celso Viellas. Emtodas o tema da ambigidade entre a selva idealizada e a vida urbana se manteve, e ascoberturas curvilneas so utilizadas para a realizao da transio entre um e outro. Apresena constante dessas dualidades sugere a Segre uma relao inconsciente com osensinamentos orientais, onde o homem e a natureza no so elementos distintos, assimcomo a ordem e a desordem, e a realidade e a metfora. Assim o homem utiliza aobservao da natureza para compreender suas prprias atitudes (SEGRE: 1999, 31).Em relao ao trabalho urbano, Segre identifica o objetivo do arquiteto de humanizaro ambiente construdo, resgatando os elementos naturais escondidos pela metrpole e oprojeto do Parque Ecolgico Tiet ilustra o objetivo de carter social.Segre sintetiza as principais contribuies do trabalho de Ruy Ohtake. Em primeirolugar, a continuidade da pesquisa tecnolgica do concreto armado, iniciada por Niemeyere Artigas. A busca das cascas finas com a reduo dos pontos de apoio, os pilaresdesaparecem e as colunas e muros identificam a forma do edifcio com as superfciesestruturais. A seguir, nos servios urbanos, prolonga o espao da cidade no edifcio comona Central telefnica de Campos do Jordo e de Ibina e no Banespa Butant. E, por fim,as transparncias e a busca da leveza a partir do concreto contrastam com o perodoopressivo da poltica interna. A liberdade criadora de suas obras associada ao anseio deliberdade poltica e da justia social se contrapem ao regime poltico autoritrio.Estes atributos, para Segre, se realizam-se atravs de um equilbrio entre a tcnica, aarte e o contedo social. O autor exemplifica esta afirmao com as creches realizadaspara a Secretaria do Estado do Menor, em 1987. Ohtake utiliza as formas geomtricas31 32. bsicas coloridas com cores puras como elementos ldicos e a opo tecnolgicabaseada em mdulos assegura a possibilidade de adaptao a vrios terrenosconformando- se s diversas posies solares e criando solues diferenciadas para cadacaso. Ohtake projetou trinta unidades para diferentes bairros da periferia de So Pauloseguindo essa tipologia.Para Segre em muitos casos Ohtake utiliza curvas para criar limites, uma linha fluidaque faz a transio entre o edifcio e o meio natural. Esse recurso amplia ahorizontalidade espacial e pode ser verificado no Pavilho de So Paulo para a feira deOsaka (1989) e no Hotel Las Amricas, em Santo Domingo (1983). A evoluo de suacarreira leva s estruturas volumtricas curvilneas, na dcada de 80, quando o arquitetoproduz trabalhos para vrias construtoras e as suas torres curvilneas se instalam napaisagem paulistana. H uma tentativa de personalizar a autoria e estabelecer umalinguagem unitria que traga qualificao para o espao urbano. Segre aponta doisparadigmas nesses modelos: O Copan, de Niemeyer e o Itlia, de Franz Heep.Nos edifcios de Ohtake o exterior definido por faixas curvilneas separadas entre sipor faixas sombreadas (na sua maioria so varandas), que geram para o interior espaossemiprivados de transio entre a unidade e a paisagem urbana, privilegiando o plano,mais que o volume. Para as incorporadoras mais interessadas no lucro, estes valoresestticos so questionveis.Dois de seus trabalhos podem ser considerados como work in progress , ou sejatrabalhos que tm tido continuidade nesses anos: as instalaes da indstria Ach e oParque Ecolgico Tiet.No conjunto industrial, o primeiro edifcio traz todo o conceito que foi reforado nosseguintes. O trabalho se une ao lazer, ao prazer e ao tempo livre. O espao da fbricadeve ter as mesmas qualidades estticas que um teatro ou outros edifcios ligados aolazer e cultura. A vida produtiva deve ser integrada contemplativa. Nestes edifcios,integrados ao entorno, os espaos funcionais se articulam atravs de grandes espaos decirculao (que se encarregam de agregar o contemplativo) com escadas e rampas comtratamento escultural.O Parque Ecolgico Tiet a demonstrao de um resgate de um espao pblicocom o objetivo de requalificar a paisagem urbana e disseminar pontos de qualidadeambiental. Aqui tambm o arquiteto materializa os postulados do Movimento Moderno.32 33. A partir da leitura desses dois ensaios definiu-se um eixo principalpara acontinuidade do trabalho, que a leitura particularizada na produo do arquiteto em seusprimeiros quinze anos de profisso. Um ponto em comum entre estes trabalhos inserodo arquiteto no contexto nacional e, no caso de Segre, no contexto latino-americano.Outro ponto de concordncia entre os dois crticos a influncia marcante deNiemeyer e Artigas na formao do arquiteto. H um pequeno diferencial entre o enfoquede cada um no tocante existncia ou no de duas escolas distintas, carioca e paulista,mas no momento este trabalho no se deter neste ponto. O essencial a confirmaodo papel decisivo dessas duas personalidades, cuja influncia se identifica, por um lado,na interpretao da dimenso poltica da arquitetura, que se faz presente desde aconcepo espacial at a determinao do sistema construtivo e que determinar arelao dos trabalhadores no canteiro de obras. Por outro lado a pesquisa formal eestrutural desenvolvida pelos dois mestres assumida pelo arquiteto.Desta reviso bibliogrfica, o presente trabalho procurar preencher as lacunasexistentes, e ou os pontos sugeridos pelos citados autores. A presena oriental foi umtema menos evidente, menos desenvolvido pelos dois crticos, e introduzido por Segre.Tentar-se- esclarecer a presena oriental nos projetos de Ohtake neste trabalho a partirde pesquisa especfica na literatura sobre a arquitetura japonesa.Procurou-se partir do comprometimento da obra do arquiteto com a continuidade doMovimento Moderno atravs de sua identificao com o grupo que ficou conhecido como brutalistas paulistas . Para tanto, sero introduzidas algumas premissas deste grupo para, em seguida,focalizar alguns projetos residenciais de Ruy Ohtake que, para Segre e Farias, constituema essncia de seu trabalho. Nas residncias procurou-se identificar os principaisconceitos, a elaborao de um repertrio que ser utilizado em outras obras e ainterpretao de suas decises formais ligadas ao contexto poltico e artstico da poca.33 34. 1.2 Escola paulista ou Brutalismo Paulista Este tema foi objeto de estudo de poucos autores, sendo que os enfoquesapresentam quase sempre as mesmas variveis: a pertinncia do termo, as relaes como Brutalismo britnico e ou a verso corbusiana e, por fim, as distines que permitemdefinir no Movimento Moderno brasileiro a existncia de duas escolas independentes,uma carioca e outra paulista, entre eles Acayaba, Sanvito, Fuo e Zein. Ruth Verde Zein, em seu texto Brutalismo, escola paulista: entre o ser e o noser faz uma retrospectiva de alguns destes autores, assim como suas posies emrelao ao tema. Neste artigo duas foram as principais questes levantadas. A primeira sobre avalidade de assim se nomear esta escola paulista desenvolvida na dcada de 60 e, asegunda, seria se este movimento teria alguma ligao com as tendncias brutalistasinternacionais, seja a vertente corbusiana ou a do Novo Brutalismo britnico. Sobre a validade do termo a autora expe a posio de Artigas que considerairrelevante a discusso e, como sabido, defende a origem nacional do movimento apartir de suas premissas polticas de independncia cultural. Para outros, como Segre e Segawa, o Brutalismo Paulista estaria diretamentevinculado ao desenvolvimento da continuidade da escola carioca, com algumasmudanas de contexto, poltico, econmico e geogrfico. Yves Bruand um dos primeiros autores a escrever sobre este assunto, mas serestringe descrio arquitetnica de alguns arquitetos colocados como discpulos deArtigas . Afirmou que o movimento no possui vnculo formal com a Brutalismo britnicoe muito influenciado pelo Brutalismo corbusiano da Unit de Marseille, principalmenteno que diz respeito adoo do concreto aparente.7 Identificou apenas em Sergio Ferro7 Essa violncia passional, exacerbada pelas crises polticas que se sucederam no Brasil em1954-1955, no podia deixar de repercutir nas atividades profissionais de Artigas; logo ele sentiunecessidade de express-la em suas construes, propondo solues radicais, onde os conflitosexistentes na sociedade capitalista iam refletir-se por meio de oposies francas e pesadas. nesse sentido que se deve interpretar sua passagem para um brutalismo que, sem dvida alguma,muito se deve ao brutalismo de Le Corbusier no plano formal, mas que, no plano de ao, visouobjetivos bem diferentes. (BRUAND, 1999:296) ... E adiante: A partir de 1953, em seu projetopara o estdio do Morumbi, iniciado nesse ano, Vilanova Artigas adotou o concreto bruto, como saidas frmas, lanado por Le Corbusier no edifcio de Marselha. (BRUAND 1999,298)34 35. uma relao com os britnicos pela adoo da hidrulica aparente8. Bruand finalizou suaavaliao afirmando que se tratou de um evento especfico de uma regio, sem adeso noresto do pas9.Ingenuamente define como estilo por uma volta ao funcionalismo estrito, essncia tcnica, aspirao da industrializao da construo e esttica que valoriza afora, a massa e o peso10. evidente a sua parcialidade , demonstrando no apreciar asobras e consider-las imbuda de violncia, decorrente do discurso poltico de esquerda.Na verdade esse trabalho foi escrito no final dos anos 60 e certamente ainda nohavia o distanciamento necessrio para que se pudesse avaliar a penetrao domovimento.Hugo Segawa em seu livro Arquiteturas no Brasil de 1900 a 1990, de 1999 trouxeum panorama da poca mais esclarecedor. Zein refutou sua posio por ser um dos queconsidera ser partidrio da idia de continuidade da escola carioca, e por justificar suaposio atravs do comentrio de Artigas sobre uma publicao de Niemeyer onde feitauma autocrtica sobre seu trabalho e a arquitetura moderna no Brasil ( Revista Mdulo,1958). No se pretende entrar no mrito destas questes, mas vamos destacar algunsoutros aspectos colocados por Segawa que foram relevantes para a compreenso destemovimento e suas caractersticas.O autor destaca como determinante para a formao desta escola a fora ideolgicacontida em torno dos conceitos de projeto e desenho. Obviamente uma discusso inseridaFIGURA 1.2 e 1.3 LE CORBUSIER, UNIDADE de HABITAO DE MARSELHEFIGURA 1.1 SMITHSONS, ESCOLA de HUNSTANTON 35 36. contexto acadmico pelo professor Artigas. Outros fatores de relevncia apontados porSegawa foram o clima poltico e a ao das esquerdas, a inaugurao de Braslia que traza arquitetura como tema recorrente nos debates, o domnio tecnolgico onde So Paulose coloca como maior plo industrial do pas e, por fim, o curso de arquitetura ter seoriginado na engenharia e no na Belas Artes (como a prpria ENBA onde germinou aescola carioca).Para Segawa a viso americana da industrializao da construo e o trabalho deMies Van der Rohe, principalmente o seu apuro nos detalhes, tambm teriam influenciadoo trabalho destes arquitetos. No ps-guerra o programaamericano Case StudyHouses foi bastante difundido por aqui 11 ,alm da visita do arquiteto Richard Neutra aopas.Para Segawa A identidade paulista, portanto, no se encontra somente nasimilaridade formal de alguns arquitetos, mas de pressupostos comuns que geraramrespostas distintas. (1999, 148)8 O estilo de Sergio Ferro (nascido em 1938) sob muitos aspectos ainda mais radical do que ode Paulo Mendes da Rocha. Embora este no tenha hesitado em deixar aparentes certascanalizaes externas e bocas de ventilao, em sua prpria residncia, jamais pensou emtransformar os condutores num modo de expresso plstica, como quis faze-lo seu jovem colegana casa de Boris Fausto, tambm situada no bairro do Butant. Os canos, sistematicamentepostos em evidncia e simplesmente pintados com zarco, destacam-se inapelavelmente do fundoneutro da laje de cobertura! A caixa de gua metlica est apoiada no telhado como um apndiceque no se procurou esconder, nem integrar. Aqui evidente a influncia do brutalismo ingls,embora o vocabulrio pesado e o aspecto macio do edifcio sejam tpicos do movimento paulista,do qual a casa representa uma nova verso. (BRUAND 1999:317)9 Trata-se, ao mesmo tempo, de um funcionalismo estrito, de essncia decididamente tcnica easpirando a uma industrializao da construo, mesmo quando se expressa pelo caminho artesanal,e de uma esttica que valoriza a fora, a massa e o peso, amando os contrastes violentos e apsicologia de choque. (BRUAND: 1999, 319)10 Artigo publicado em um nmero da revista Mdulo, editado pelo prprio arquiteto, no ano de 1958.11Prottipos de casas padro, desenhadas para redefinir a casa moderna, de acordo com os novoshbitos, e que pudesse utilizar ao mximo elementos industrializados. Foram construdas 36 casasno perodo de 1945 a 1966, por arquitetos como Richard Neutra,Charles e Ray Fames e EeroSaarinen, e todas se concentraram na rea de Los Angeles. (Dados captados na internet www.taschen.com - Case Study Houses. 36 37. O concreto foi o material eleito para pesquisas tecnolgicas. Os mestres construtoresitalianos e alemes e os engenheiros egressos da POLI e do Mackenzie muitocolaboraram nas experincias realizadas com este material. Rino Levi e Oswaldo Bratkej haviam traado algumas diretrizes que se tornaram paradigmas. Ainda em relao aomaterial houve o conhecimento da obra de Corbusier na Unit de Marselle, exposta empainis por ocasio da I Bienal Internacional de So Paulo (1951). O concreto foi tambmo material representativo do Brutalismo internacional, entretanto, para Segawa ao assumiro termo brutalista para a produo paulista desse perodo estaramos forando umafiliao e negligenciando outras (SEGAWA:1999: 150).Entre os arquitetos envolvidos com esta linguagem podemos citar: Carlos Millan,Paulo Mendes da Rocha, Fbio Penteado, Miguel Juliano, Jlio Katinsky, Joo WalterToscano, Eduardo de Almeida, Pedro Paulo de Mello Saraiva, Eduardo de Almeida, PedroPaulo Sanovicz, Siegbert Zanettini, Dcio Tozzi, Paulo Bastos, Ruy Ohtake e SergioPiloggi.Em suma, pode-se concluir que o Brutalismo Paulista no pode ser dissociado deuma vertente tecnicista imbuda de ideais socialistas. Segundo Segawa o objetivo comumera a construo de modelos de espao para uma sociedade democrtica, a cidaderepresentava o grande espao democrtico da convivncia. As casas ainda apresentavamranos de valores burgueses que precisavam ser revistos. Assim as novas residnciaspropostas fechavam-se para o urbano e foram espaos internos abertos e fluidos com avalorizao dos espaos comunitrios e dos recantos privados compactados.A revista Acrpole foi a responsvel pela disseminao destes trabalhos e a principalpublicao dos arquitetos at 1971. Muitos dos projetos apresentados no corpo destetrabalho foram retirados dessas publicaes.Esse cenrio foi alterado com o golpe militar de 1964, que frustrou as expectativas doideal democrtico e todo este sistema que preconizava o espao comunitrio. Iniciou-seum esvaziamento dos contedos ideolgicos que culminou em 1968 com a rdua crticade Sergio Ferro a seus colegas paulistas ao declarar que: As estruturas foram sempre uma preocupao fundamentalpara o arquiteto brasileiro e por vrias razes: oposio aoprimitivismo de nossos antiquadosmtodos construtivos,necessidade didtica de um movimento que buscava afirmao, 37 38. reflexo de uma viso de conjunto racionalizante estimulada pelapromessadedesenvolvimentoetc. Se eram escolhidaseproporcionadas com algum excesso, respondiam a uma demanda deexperincias. Hoje assistimos, nas obras de muitos arquitetos danova gerao, hemorragiadaspseudo-estruturas. Muitasapresentam um novo desenho das poucas frmulas estruturaiscompatveis com as nossas limitadas possibilidades, geralmenteinadaptado s reduzidas dimenses do programa. Sublinhadasartificialmente para evidenciar sua presena... comparadas santeriores imediatamente revelam seu absurdo: a simplicidade e aeficcia foram esquecidas pelo prazer do virtuosismo individual.... A inesgotvel capacidade antropofgica do sistema baseado nocomrcio forado pela propaganda de mercadorias freqentementesuprfluas, com sua crnica carncia de novidades estimulantes,deglutiu, com facilidade, o que parecia conter todos os requisitos deuma atitude inquietante: a arquitetura brasileira, castrada, serviu deagente de vendas. (FERRO apud SEGAWA ,1999:156)Esse momento foi decisivo na histria do pas. O recrudescimento do regime militarlevou muitos participantes da intelectualidade brasileira a procurar o exlio. Dentre osarquitetos a frustrao dos ideais fez com que alguns abandonassem o trabalho prtico ese voltassem para uma via terica mais direcionada para o planejamento urbano. RuyOhtake foi um dos que persistiram no trabalho prtico.Para Segawa, o pavilho do Brasil na Feira Mundial de 1970, em Osaka, foi o marco simblico de encerramento desse perodo: Sntese dos aspectos morfolgicos mais caros linha paulista:uma grande cobertura regular, com iluminao zenital em toda a suaextenso, apoiada em apenas quatro pontos. Espao coberto, livre:pavilho que no tem portas, barreiras fsicas, o piso internoerauma continuidade do cho comum de toda a feira; local de encontro,recinto de confraternizao. (SEGAWA, 1999:157)38 39. Essa citao de Segawa levou a que se focalizasse esse projeto na concluso deste captulo como um projeto que simbolizou esse momento na histria da arquitetura brasileira. Aps a apresentao desse panorama do movimento, retomar-se- o texto de Zein onde ainda algumas colocaes se fazem importantes.Primeiramente seria a contribuio de Marlene Acayaba no esclarecimento deste perodo, principalmente na identificao do repertrio produtivo da poca apresentado em seu livro Residncias em So Paulo, de 1947 a 1975 , mas tambm pela continuidade de suas reflexes apresentadas em vrios artigos publicados na Revista Projeto, como por exemplo o artigo em que lista os dez mandamentos da arquitetura residencial paulista12. Em segundo lugar o trabalho de Maria Luza Sanvitto, sobre as questes compositivas do Brutalismo Paulista, trabalho de carter genrico, porm importante para a identificao de solues projetuais e conceituais. A constatao sobre a importncia do movimento enquanto marco histrico tambm merece ateno com a difuso desse modelo por todo o pas, principalmente no Paran.A revista AU de no. 17, de 1988, foi uma publicao que focalizou o tema da arquitetura paulista , atravs de depoimentos de arquitetos e crticos sobre o assunto, alm de artigos de Jlio Katinsky, Ricardo Forjaz e Rosa Artigas, condensando um material importante para o tema em questo. A pauta ainda a da aceitao ou no da nomenclatura paulista ou carioca para as fases distintas da arquitetura moderna brasileira. Novamente as opinies se dividem entre os que acreditam na irrelevncia da questo e nos que aceitam com as devidas justificativas. Uma opinio generalizada e correta a de que paisagens to contrastantes como as de So Paulo e Rio de Janeiro s poderiam resultar em solues diferentes. A questo no pra na paisagem: compreende12 Em 1985 Marlene Acayaba lista os dez mandamentos da arquitetura residencial paulista de1960: 1. As casas sero objetos singulares na paisagem/ 2. A lgica da implantao serdeterminada pela situao geogrfica/3.O programa ser resolvido num nico bloco/4. A casa sepretende modelo ordenador para a cidade/ 5. A casa ser uma mquina de habitar/ 6.A casa serresolvida em funo de um espao interno prprio: o ptio, o jardim interno ou o vazio central/ 7.Volumes independentes contero os espaos necessariamente fechados e definiro os espaosabertos/ 8. Internos ou externos, os espaos evoluiro um do outro/ 9. Os materiais sero genricose, se possvel, industrializados/10. As relaes sociais se daro sob uma nova tica. ACAYABAapud ZEIN (2002: 50)39 40. uma diferena climtica, diferentes bases econmicas e diferentes respostas sociais eculturais como j foi pontuado por Segawa e Segre. H ainda o fato de que o Rio deJaneiro como sede de governo propicia edificaes de maior porte e, em So Paulo, osarquitetos desenvolvem sua arquitetura muito em funo da escala residencial. Ruth Zeinmais uma vez comparece ao lado dos que defendem essa distino, e a justificativaprovm da busca do modelonesta produo: Quando algum faz uma casa, nofaz uma casa, mas a casa:modelo da casa, que pode ser reproduzido (ZEIN: 1988, 54).Essa busca se associa ao anseio da industrializao e s intenes ticas e estticas.Unem-se a esses fatores o fato da arquitetura paulista ter tido origens na escola deengenharia e, portanto estar pautada no projeto e sua execuo. Assim, outracaracterstica dessa fase a verdade estrutural e a economia de meios que pode serassociada ao less is more de Mies van der Rohe, uma referncia em termos dedetalhes e perfeccionismo. Decerto que a realidade desta cidade favorece as residnciasinteriorizadas, como a casa-praa de Ohtake, fator que induziu vrias experincias do usoda luz indireta. Para Zein, esse elemento se relaciona ao entorno indesejado, remetendonovamente ao sentido de modelo: a casa prope uma transformao ao contexto urbanoe se apresenta como um modelo de organizao. E, englobando o sentido tico , aquesto passa a ser a arquitetura como proposta de mudana social, que passa pelodesenhar, projetar e construir. (ZEIN: 1988, 55)Abraho Sanovicz se refere a esta questo com a clareza histrica de que aarquitetura moderna realizada em So Paulo s acontece porque existiu umaexperincia anterior no Rio , idealizada por Lcio Costa e, nesse sentido, concorda comSegawa e Segre. Porm ressalta que no se pode ignorar as produes de OswaldoBratke e Rino Levi e de todo um grupo que se relaciona a este ltimo, como Miguel Forte,Croce, Aflalo, Millan, alm dos europeus, como Rudofsky,Calabi, Lina e Palanti, quetrazem referncias do racionalismo italiano. Com a eleio de Carvalho Pinto se repeteem So Paulo o mesmo que j havia ocorrido no Rio: o Estado busca a arquitetura parasimbolizar seus feitos. Surgem projetos para fruns e escolas, e, entre estes, a escola deItanham de Vilanova Artigas tornou-se um modelo. A obra relembra o museu de Reidy,porm sintetizada, simplificada. E ento, para Sanovics , Artigas o responsvel pelacriao de uma linguagem paulista: a utilizao de poucos materiais e o mnimo decaixilhos, o que mais uma vez nos remete ao less is more . 40 41. Em seu depoimento Ruy Ohtake um dos que afirma no ser favorvel a esta classificao. Para o arquiteto tudo faz parte da Arquitetura Moderna Brasileira, cujo referencial Oscar Niemeyer, a quem considera um dos mais importantes arquitetos de linha independente dentro da arquitetura mundial. Ainda hoje Ohtake confirma esta opinio, acredita que a discusso sobre a arquitetura paulista ou carioca revela um regionalismo nacional insignificante para um contexto internacional.13 Ao falar sobre So Paulo, em especfico, o destaque novamente para Vilanova Artigas, professor da FAU, cuja obra sntese acredita ser o edifcio da escola na Cidade Universitria. Edificao que representa o mtodo do professor: atelier-aula, atelier-discusso . Foi atravs de Artigas que Ohtake aprendeu a se entusiasmar com a execuo e entender que a arquitetura no se restringe ao projeto, mas tambm ao canteiro. Foi uma gerao que aprendeu com o professor a freqentar o canteiro. Esse um dos pontos em comum com Niemeyer, que tambm demonstra esse interesse em ver a obra executada. Outras lies: a compreenso da histria e da tecnologia atravs da arquitetura e a importncia do espao interno como centralizador da idia do projeto. A necessidade de reduzir uma inteno atravs do resultado obtido e da a relao entre suas casas e pequenas praas como local de encontro de amigos e familiares. Mais uma vez a idia de modelo evocada, desde a ocupao do lote at a concepo dos espaos pblicos. E o modelo novamente se associa ao utpico nas relaes humanas e, portanto, nas relaes espaciais. Ohtake admite que seus projetos iniciais se pautaram na sntese estrutura- espao com bastante rigor, caracterstica comum nessa gerao, porm acredita que com o passar do tempo conquistou mais leveza e liberdade formal. Nesse aspecto a supremacia vem de Niemeyer. Questionado sobre a existncia da tendncia de se negar a cidade, confirma a inteno de contrapor um modelo organizado ao espao pblico catico. Para o arquiteto a eleio do concreto como material bsico, por um lado se deu devido sua perfeita adaptao forma gestual de Niemeyer, uma inteno potica. Por outro lado, para Artigas, o concreto traduzia uma expresso contempornea da tcnica construtiva brasileira , em um contexto construtivista. Essa afirmao reflete a importncia dada natureza nacionalda expresso artstica, fato este que ser desenvolvido no decorrer deste captulo. Rosa Artigas e Dalva Silva, nesta mesma publicao, afirmam por sua vez que o termo brutalistapara designar as obras de Artigas deve-se ao crtico italiano Bruno13 Depoimento direto autora (20/05/2004), inserida em anexo. 41 42. Alferi, um dos muitos crticos internacionais que visitaram o pas para entender o fenmenoBraslia, realizado em um pas de 3 mundo. Essa rotulao foi recebidacom certo desconforto por Artigas, no entanto sua obra se insere na discusso davanguarda europia do ps-guerra ao tentar resgatar os valores nacionais e populares,porm com um carter bem distinto, como veremos adiante. A partir de sua formaotcnica, a produo de Artigas reflete uma sntese esttica e conceitual, trazendo tonaseus ideais sociais. Esses foram os elementos que influenciaram os arquitetos paulistas eque fez com que todo o processo projetual e construtivo fosse questionado, repensado,experimentado e inovado. A esttica associada ao discurso tico a responsvel peladenominao de brutalista e faz interface com o pensamento internacional. H nesteartigo uma colocao pertinente sobre a obra de Artigas em relao obra de Niemeyer,quando diz ser a primeira uma obra cotidiana e a segunda uma obra de exceo, pormduas faces expressivas da cultura nacional. A expresso da cultura nacional agrande busca deste momento.Tanto Ricardo Christiano de Souza quanto Jlio Katinsky, em artigos publicadosnesta edio da revista AU, reivindicam o papel de precursores da arquitetura modernabrasileira aos arquitetos Flvio de Carvalho e Gregori Warchawichick, portanto para SoPaulo. Ambos confirmam a soberania da arquitetura moderna na produo carioca at1945, ano do I Congresso Brasileiro de Arquitetura, sediado em So Paulo, onde sepuderam confrontar as duas produes. Alguns argumentos justificam esta relao comoo fato do Rio de Janeiro possuir uma escola superior de Arquitetura, sem dvida oprincipal deles. Em So Paulo a disciplina de Arquitetura era oferecida como umaespecializao dentro da escola Politcnica, os cursos especficos foram abertos em 1947e 1948 (Mackenzie e USP). Os poucos arquitetos formados pela Politcnica saam comuma viso mais tecnicista, com pouca informao dos debates artsticos que incluam aarquitetura no contexto da modernidade, e isto j foi apontado anteriormente. Um fatorimportante, novo no contexto desta discusso, a conformao da sociedade paulista. Aelite paulista vem do interior do estado para a capital apenas aps a prosperidade obtidano ciclo cafeeiro. Concomitantemente h a chegada de imigrantes vindos de vrios paseseuropeus, principalmente italianos, fugidos da crise e das guerras mundiais. A princpioessas duas vertentes sociais no se misturam, ambas recm-chegadas, porm isoladasentre preconceitos. Muitos destes estrangeiros so tcnicos e artesos que logocolaboraram para o refinamento das edificaes, resultando nos exemplares eclticos e, 42 43. posteriormente, Art-Nouveau da cidade de So Paulo. O parmetro perseguido era aParis de Haussman e tambm Buenos Aires e Rio de Janeiro. Esclarece o fato de que noperodo entre guerras a atividade construtiva se intensificou, e a abertura dos novoscursos aqueceu o debate arquitetnico. Inegvel, portanto, a influncia europia napaisagem edificada da capital paulista, at meados dos anos 40. Enquanto isso, no Rio deJaneiro j havia um reconhecimento da arquitetura moderna corbusiana e uma intenoclara de adotar seus princpios. Na verdade o que proposto nestes dois artigos,inseridos nesta publicao, no discutir a soberania das produes, mas sim esclarecersuas distines. Apresentar as influncias distintas que colaboraram com o panorama deum e outro Estado. Katinsky finaliza seu artigo ressaltando que a distino entre escolasde diferentes estados pertinente apenas quando tratamos de delimitao de pesquisaacadmica. atravs desse parmetro que essa discusso se insere neste trabalho. Comisto pretende-se evidenciar uma tradio construtiva e tcnica na histria da arquiteturapaulista que favoreceu a formao desta gerao de Ruy Ohtake.Obras como as de Oswaldo Bratke e Rino Levi, j citadas anteriormente, devem serconsideradas referenciais para essa gerao. Os dois se caracterizam por essa veiatcnica e a preocupao construtiva e foi com eles que Carlos Millan aprendeu este rigor,tornando- se outro arquiteto de referncia para este momento.Ainda nessa edio da revista AU, dedicada reflexo da arquitetura paulista, CarlosMillan lembrado em um artigo de Haifa Sabbag como um dos promissores arquitetos desua gerao com um trabalho interrompido prematuramente. Assim como Artigas, Millanse influencia primeiramente pela obra de Wright. Num segundo momento ser aausteridade e a rigidez de Mies van der Rohe que o fascinam e, posteriormente, seidentifica com Corbusier e Artigas, ambos apresentados por Joaquim Guedes. Apesar deapresentar razes eruditas se sintoniza com as razes culturais nacionais, privilegiando emseus projetos a ventilao natural e o cuidado com a exposio solar desfavorvel.Sabbag recorre a Luis Paulo Conde para quem Millan representa uma interpretao doracionalismo adaptado arquitetura brasileira (SABBAG: 1988:72) A obra de CarlosMillan tambm se revestiu da conotao tica, da compreenso da realidade poltica esocial do pas, levando-o tambm adeso da militncia atravs de um movimentocatlico de esquerda. Seus trabalhos apresentam um cuidado especial com a criao doespao, se inspirando tambm, de maneira remota, na simplicidade proposta pelaarquitetura japonesa (casa Fujiwara, 1954). Alguns elementos de sua obra sero43 44. incorporados pela arquitetura paulista, como a circulao vertical e os banheiros em volume diferenciado, o uso de cobogs e o bloco pintado de branco. H uma veia experimental em suas construes, que o fazem percorrer vrios materiais, inclusive a madeira, o concreto e o uso de pr-moldados, iniciando uma pesquisa que se tornar caracterstica das obras paulistas. Formado na segunda turma do curso de Arquitetura do Mackenzie, Millan se envolve com outros colegas como Miguel Forte, Roberto Aflalo, Plnio Croce e Salvador Candia, na promoo de debates sobre as doutrinas da arquitetura moderna, de Wright e Mies. Estas discusses derivaram para trabalhos prticos, resultando na criao da loja Branco e Preto (1952), local de projetos e produo de mveis e objetos com a inteno de criar um repertrio nacional para o espao moderno. Artigas escreveu um texto-homenagem a Carlos Millan, exposto na sala especial a dedicada ao arquiteto na 8 . Bienal de So Paulo, em 1965 e transcrito na Revista AU em questo. O texto se intitula Em preto e branco, em referncia experincia acima citada, e enaltece o emprego das formas simples e expressivas pelo arquiteto, assim como a coerncia formal e tecnolgica em relao ao material utilizado e o detalhamento rigoroso e pertinente. Fazendo referncia s suas ltimas residncias, Artigas diz que apresentam caractersticas que enquadram o arquiteto no Brutalismo, e ressalta ser um termo apreciadoFIGURA 1.4 CARLOS MILLAN,FIGURA 1.5 OSWALDO BRATKE, FIGURA 1.6 RINO LEVI, RESIDNCIA ROBERTO MILLAN, 1960RESIDNCIA OSCAR AMERICANO,EDIFCIO GRAVAT,1952 1965 44 45. e usado pela crtica, principalmente a europia. Mas destaca um brutalismo brasileiro , com contedo totalmente diferente do brutalismo europeu. Este um dos raros momentos em que Artigas comenta esta nomenclatura. Para Artigas, a grande diferena que para os europeus a tcnica construtiva se sobressai e traz a soluo formal, por mero acaso, abandonando os valores artsticos da arquitetura. Para Millan entretanto, o uso dos materiais em estado bruto seria resultado do avano tcnico, que privilegiava uma soluo pr-concebida. Nessas ltimas obras Millan experimentou a pr- fabricao no canteiro, prtica que ser seguida por tantos outros arquitetos, como o prprio Ruy Ohtake, que freqentava o escritrio do arquiteto.Este comentrio de Artigas sobre o Brutalismo foi observado por Fernando Freitas Fuo em seu texto Brutalismo, a ltima trincheira do Movimento Moderno 14. A maior contribuio desse artigo o paralelismo que traa entre o brutalismo Brasileiro e as tendncias internacionais. Este um dos nicos artigos que questiona este desconforto dos brasileiros pela comparao com o panorama internacional. Ele prope, como premissa inicial, a afirmao de que o Movimento Moderno aconteceu baseado no ideal utpico da reorganizao social, ou seja, uma atitude tica que criou toda uma teoria esttica. O Movimento Moderno colocado em xeque dentro de suas prprias estruturas, nos CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna) e a partir do stimo encontro, em 1949 at o dcimo (e ltimo), as crticas, que levaram ao fim destes encontros, basearam-se principalmente na falta de identidade das cidades. Novos valores surgiram no ps-guerra como a Antropologia, a Psicologia e a Teoria de Comunicao de Massas, e com eles houve um resgate da valorizao cultural e da importncia social do sentimento de pertencer a um lugar. Para Fuo a predominncia do pensamento estruturalista fundamentou trs novas tendncias arquitetnicas: uma que se fundamenta na pesquisa do universo vernacular, outra, o Novo Brutalismo, que trabalha com a verdade estrutural e a terceira que vai buscar na histria os elementos de concepo, representada pelo grupo italiano Tendenza.Faz-se pertinente neste momento apresentar de maneira suscinta alguns conceitos retirados do contexto internacional e das diversidades entre o brutalismo corbusiano e o brutalismo ingls.14 Disponvel na WEB Arquitextos: www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq036/bases/texto 056.asp45 46. A Unit D Habitation de Marselle, projeto de Le Corbusier, um edifcio de 18andares construdo no perodo de 1947 a 1952, foi a primeira obra de repercusso doperodo ps-guerra. Um prdio que sugeria um programa multifuncional com 337unidades residenciais, uma rea comercial, um hotel, um jardim de infncia e um ginsiode esportes, um aglutinador socialnas palavras de Kenneth Frampton(FRAMPTON:1997, 274). Corbusier utilizou o concreto em estado bruto, fazendo inclusiveaparecer as marcas das formas utilizadas. Para Reyner Banham, este o aspecto maisimportante da obra, pois acaba com a fico , pregada pelo prprio Le Corbusier deque o concreto era o material da era da mquina, de aspecto preciso, conseguido atravsda aplicao e pintura para maquiar suas irregularidades (BANHAM: 1966, 16). Foi aprimeira vez que o concreto foi utilizado em seu estado bruto e o resultado ganhou foraaliado a uma composio com propores precisas e fez com que a sua textura fosseassociada a uma referncia vernacular das habitaes mediterrneas. Este edifcio foi arealizao do pensamento escrito por Corbusier, vinte anos antes: A arquiteturaconsiste em estabelecer relaes comoventes com materiais brutos (CORBUSIER:1977,103) Esse foi um paradigma que rompeu fronteiras, tendo sido usado nas obras modernasdo Japo e na Inglaterra. Foi neste pas que o movimento foi batizado de brutalismo tendocomo principais representantes o casal Alison e Peter Smithson. As discusses sobre oporqu desta nomenclatura tambm ocupam algumas linhas do trabalho de Banham emereceriam ser lidas, mas no este o foco deste trabalho (BANHAM: 1966,10). Tambm nesse caso o contexto o ps-guerra, o pas destrudo e uma spera crticaao urbanismo moderno de setorizaes frias que destroem as relaes vicinais nosbairros. Assim, o brutalismo britnico se inspirou na rusticidade dos materiais, na verdadeestrutural e na busca vernacular do exemplo corbusiano. Atravs da experincia industrialbuscaram referncias na obra americana de Mies. Ao visualizarmos a obra cone destemovimento, a escola secundria de Hunstanton de 1949, percebemos a distncia entreesta produo e a brasileira. Alm disto o brutalismo ingls carregava consigo uma fortetendncia sociologizante . A referncia formal destes projetos remete ao racionalismomiesiano e tambm arquitetura japonesa. Os Smithsons se utilizam de escritos, crticas s New Towns (novos bairrosconstrudos a partir das cidades jardins de Howard) e tambm de seus projetos, paracaracterizar esse novo discurso de crtica aos paradigmas do Movimento Moderno.46 47. Porm, essas escolhas formais se aproximam da viso existencialista de Sartre, paraquem a existncia concebida de maneira totalmente atualista. Ao traarmos umparalelo entre essa linha filosfica e a arquitetura brutalista o momento da criao e omomento da construo so resgatados atravs da verdade formal e da pureza dosmateriais. O Brutalismo no tinha a inteno de se tornar uma linguagem formal, mas umamaneira de se posicionar em relao ao objeto do projeto com uma postura crtica epropositiva em