terminologia do direito penal angolnano joÃo …£o almeida... · ao domínio do direito penal...

73
TERMINOLOGIA DO DIREITO PENAL ANGOLNANO JOÃO SEBASTIÃO DE ALMEIDA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM TERMINOLOGIA E GESTÃO DE INFORMAÇÃO DE ESPECIALIDADE LISBOA, MARÇO DE 2018

Upload: hoangdang

Post on 08-Jan-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

TERMINOLOGIA DO DIREITO PENAL

ANGOLNANO

JOAtildeO SEBASTIAtildeO DE ALMEIDA

DISSERTACcedilAtildeO DE MESTRADO EM TERMINOLOGIA E

GESTAtildeO DE INFORMACcedilAtildeO DE ESPECIALIDADE

LISBOA MARCcedilO DE 2018

II

TERMINOLOGIA DO DIREITO PENAL

ANGOLNANO

JOAtildeO SEBASTIAtildeO DE ALMEIDA

Dissertaccedilatildeo apresentada para cumprimento dos requisitos necessaacuterios agrave obtenccedilatildeo do

grau de Mestre em Terminologia e Gestatildeo de Informaccedilatildeo de Especialidade realizada

sob a orientaccedilatildeo cientiacutefica da Professora Doutora Rute Costa

LISBOA MARCcedilO DE 2018

III

DECLARACcedilAtildeO DE AUTORIA

Declaro que esta Dissertaccedilatildeo eacute o resultado da minha investigaccedilatildeo pessoal e

independente o seu conteuacutedo eacute original e todas as fontes consultadas estatildeo devidamente

mencionadas no texto nas notas e na bibliografia

O Candidato

__________________________________

Lisboa 20 de Marccedilo de 2018

Declaro que esta Dissertaccedilatildeo se encontra em condiccedilotildees de ser apresentada a provas

puacuteblicas

A Professora orientadora

_________________________________

Lisboa 20 de Marccedilo de 2018

IV

DEDICATOacuteRIA

A ti minha esposa Jacira de Almeida

pelo incomensuraacutevel amor

que dedicas agrave famiacutelia

A voacutes meus eternos filhos

Wiacutessane Renato de Almeida

e Kiara Tchyssola de Almeida

Arco-iacuteris de

raiar na minha vida

V

AGRADECIMENTOS

Depois de um longo percurso de aacuterdua dedicaccedilatildeo gostaria de expressar algumas

palavras de agradecimento agravequeles que de forma directa ou indirecta deram ldquoparterdquo de

si para a realizaccedilatildeo deste estudo

Agrave professora Doutora Rute Costa pelo rigor cientiacutefico e profissionalismo na

orientaccedilatildeo desta Dissertaccedilatildeo e pela disponibilidade ao longo da nossa formaccedilatildeo

Obrigada pelos saacutebios ensinamentos

Agrave professora Doutora Maria Teresa Lino pelo encorajamento paciecircncia e pelos

subsiacutedios teoacutericos fornecidos ao longo do mestrado que se revelaram pertinentes no

presente estudo

Agrave professora Raquel Silva pelo exemplo e ensinamento

Agrave minha famiacutelia em particular agrave minha mulher Jacira de Almeida pelo apoio e

compreensatildeo sobretudo pelo esforccedilo em cuidar os nossos filhos durante os dois anos

em que estive ausente Aos meus tesouros (filhos) Wiacutessane Renato e Kyara Tchissola

por todas as alegrias

Agrave minha matildee pelos conselhos educaccedilatildeo e por tudo na vida que natildeo poderia

receber de outra pessoa que natildeo fosse a senhora obrigado pelo amor Aos meus irmatildeos

e irmatildes pelo respeito e confianccedila sei que posso contar sempre convosco

Aos meus sogros pela amizade e por acolherem e cuidarem da minha famiacutelia

durante os dois anos da minha ausecircncia

Aos meus colegas do curso de Mestrado em particular Tchirica Falau Cinco

Reis e Seacutergio Segunda

Ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo de Angola que no acircmbito do seu projecto sobre a

Terminologia da Administraccedilatildeo Puacuteblica decidiu lanccedilar-nos este desafio bastante

gratificante

Ao INGBE (Instituto Nacional de Gestatildeo de Bolsas de Estudo) por financiar este

estudo e assegurar a minha permanecircncia em Lisboa

Agrave Comissatildeo Nacional do Instituto Internacional da Liacutengua Portuguesa na pessoa

da Drordf Paula Henriques pela confianccedila apoio e incentivo

VI

Ao Ministeacuterio da Justiccedila e dos Direitos Humanos de Angola em particular o

Instituto Nacional de Estudos Judiciaacuterios pelo apoio institucional

VII

RESUMO

A presente pesquisa intitulada ldquoTerminologia do Direito Penal

Angolanordquo tem como pano de fundo a proposta de elaboraccedilatildeo de uma

ferramenta terminoloacutegica do tipo dicionaacuterio do domiacutenio do Direito Penal

Assim como eacute oacutebvio o termo assume um papel fulcral no

desenvolvimento desta pesquisa Por esta razatildeo concentramos a

orientaccedilatildeo da referida pesquisa ao estudo dos termos

A natureza do produto terminoloacutegico ldquodicionaacuteriordquo que

pretendemos desenvolver passa necessariamente pela anaacutelise

linguiacutestica e terminoloacutegica dos dados extraiacutedos do corpus de pesquisa

que posteriormente serviratildeo de base agrave concretizaccedilatildeo do dicionaacuterio que

pretendemos desenvolver Assim dada a pertinecircncia do discurso

juriacutedico-penal restringimos o nosso olhar aos termos complexos

Por conseguinte o estudo hora proposto visa auxiliar o exerciacutecio

da actividade dos profissionais do foacuterum da aacuterea penal de entre eles

juiacutezes procuradores e advogados

PALAVRAS - CHAVE direito penal liacutengua de especialidade termos e

dicionaacuterio terminoloacutegico

VIII

ABSTRACT

The present research entitled Terminology of the Angolan

Criminal Law has as background the proposal of elaboration of a

terminology tool of the dictionary type of the field of Criminal Law

Thus of course the term plays a central role in the development of this

work In this way we focus the orientation of this research to the study

of terms and their relation to the concepts that designate them

The nature of the terminology product dictionary that we intend

to develop necessarily passes through the linguistic and terminological

analysis of the pertinent data verified in the corpus of research which

will subsequently serve as a basis for the conception of said product

Thus given the pertinence of the legal-penal discourse we restrict our

eyes to complex terms

Therefore the proposed time study aims to assist the practice of

the professionals of the forum of the criminal area among them judges

prosecutors and lawyers

KEYWORDS criminal law language of specialty terms and terminology

dictionary

IX

MOTIVACcedilAtildeO

A actividade dos Magistrados tem como fim a realizaccedilatildeo da

justiccedila tarefa inerente ao poder judicial ou seja o exerciacutecio do poder

de julgar conferido aos tribunais visando a soluccedilatildeo de conflitos de

interesses e com isso salvaguardar a ordem juriacutedica e a autoridade da

lei mediante interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas com vista a

garantir a justiccedila seguranccedila paz social e sobretudo a estabilidade

num Estado que se assume como democraacutetico e de Direito Esta nobre e

difiacutecil tarefa tem sido um grande desafio para estes profissionais dada a

escassez ou mesmo a inexistecircncia de ferramentas para se fazer recurso

face agraves dificuldades suscitadas no exerciacutecio desta actividade

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

II

TERMINOLOGIA DO DIREITO PENAL

ANGOLNANO

JOAtildeO SEBASTIAtildeO DE ALMEIDA

Dissertaccedilatildeo apresentada para cumprimento dos requisitos necessaacuterios agrave obtenccedilatildeo do

grau de Mestre em Terminologia e Gestatildeo de Informaccedilatildeo de Especialidade realizada

sob a orientaccedilatildeo cientiacutefica da Professora Doutora Rute Costa

LISBOA MARCcedilO DE 2018

III

DECLARACcedilAtildeO DE AUTORIA

Declaro que esta Dissertaccedilatildeo eacute o resultado da minha investigaccedilatildeo pessoal e

independente o seu conteuacutedo eacute original e todas as fontes consultadas estatildeo devidamente

mencionadas no texto nas notas e na bibliografia

O Candidato

__________________________________

Lisboa 20 de Marccedilo de 2018

Declaro que esta Dissertaccedilatildeo se encontra em condiccedilotildees de ser apresentada a provas

puacuteblicas

A Professora orientadora

_________________________________

Lisboa 20 de Marccedilo de 2018

IV

DEDICATOacuteRIA

A ti minha esposa Jacira de Almeida

pelo incomensuraacutevel amor

que dedicas agrave famiacutelia

A voacutes meus eternos filhos

Wiacutessane Renato de Almeida

e Kiara Tchyssola de Almeida

Arco-iacuteris de

raiar na minha vida

V

AGRADECIMENTOS

Depois de um longo percurso de aacuterdua dedicaccedilatildeo gostaria de expressar algumas

palavras de agradecimento agravequeles que de forma directa ou indirecta deram ldquoparterdquo de

si para a realizaccedilatildeo deste estudo

Agrave professora Doutora Rute Costa pelo rigor cientiacutefico e profissionalismo na

orientaccedilatildeo desta Dissertaccedilatildeo e pela disponibilidade ao longo da nossa formaccedilatildeo

Obrigada pelos saacutebios ensinamentos

Agrave professora Doutora Maria Teresa Lino pelo encorajamento paciecircncia e pelos

subsiacutedios teoacutericos fornecidos ao longo do mestrado que se revelaram pertinentes no

presente estudo

Agrave professora Raquel Silva pelo exemplo e ensinamento

Agrave minha famiacutelia em particular agrave minha mulher Jacira de Almeida pelo apoio e

compreensatildeo sobretudo pelo esforccedilo em cuidar os nossos filhos durante os dois anos

em que estive ausente Aos meus tesouros (filhos) Wiacutessane Renato e Kyara Tchissola

por todas as alegrias

Agrave minha matildee pelos conselhos educaccedilatildeo e por tudo na vida que natildeo poderia

receber de outra pessoa que natildeo fosse a senhora obrigado pelo amor Aos meus irmatildeos

e irmatildes pelo respeito e confianccedila sei que posso contar sempre convosco

Aos meus sogros pela amizade e por acolherem e cuidarem da minha famiacutelia

durante os dois anos da minha ausecircncia

Aos meus colegas do curso de Mestrado em particular Tchirica Falau Cinco

Reis e Seacutergio Segunda

Ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo de Angola que no acircmbito do seu projecto sobre a

Terminologia da Administraccedilatildeo Puacuteblica decidiu lanccedilar-nos este desafio bastante

gratificante

Ao INGBE (Instituto Nacional de Gestatildeo de Bolsas de Estudo) por financiar este

estudo e assegurar a minha permanecircncia em Lisboa

Agrave Comissatildeo Nacional do Instituto Internacional da Liacutengua Portuguesa na pessoa

da Drordf Paula Henriques pela confianccedila apoio e incentivo

VI

Ao Ministeacuterio da Justiccedila e dos Direitos Humanos de Angola em particular o

Instituto Nacional de Estudos Judiciaacuterios pelo apoio institucional

VII

RESUMO

A presente pesquisa intitulada ldquoTerminologia do Direito Penal

Angolanordquo tem como pano de fundo a proposta de elaboraccedilatildeo de uma

ferramenta terminoloacutegica do tipo dicionaacuterio do domiacutenio do Direito Penal

Assim como eacute oacutebvio o termo assume um papel fulcral no

desenvolvimento desta pesquisa Por esta razatildeo concentramos a

orientaccedilatildeo da referida pesquisa ao estudo dos termos

A natureza do produto terminoloacutegico ldquodicionaacuteriordquo que

pretendemos desenvolver passa necessariamente pela anaacutelise

linguiacutestica e terminoloacutegica dos dados extraiacutedos do corpus de pesquisa

que posteriormente serviratildeo de base agrave concretizaccedilatildeo do dicionaacuterio que

pretendemos desenvolver Assim dada a pertinecircncia do discurso

juriacutedico-penal restringimos o nosso olhar aos termos complexos

Por conseguinte o estudo hora proposto visa auxiliar o exerciacutecio

da actividade dos profissionais do foacuterum da aacuterea penal de entre eles

juiacutezes procuradores e advogados

PALAVRAS - CHAVE direito penal liacutengua de especialidade termos e

dicionaacuterio terminoloacutegico

VIII

ABSTRACT

The present research entitled Terminology of the Angolan

Criminal Law has as background the proposal of elaboration of a

terminology tool of the dictionary type of the field of Criminal Law

Thus of course the term plays a central role in the development of this

work In this way we focus the orientation of this research to the study

of terms and their relation to the concepts that designate them

The nature of the terminology product dictionary that we intend

to develop necessarily passes through the linguistic and terminological

analysis of the pertinent data verified in the corpus of research which

will subsequently serve as a basis for the conception of said product

Thus given the pertinence of the legal-penal discourse we restrict our

eyes to complex terms

Therefore the proposed time study aims to assist the practice of

the professionals of the forum of the criminal area among them judges

prosecutors and lawyers

KEYWORDS criminal law language of specialty terms and terminology

dictionary

IX

MOTIVACcedilAtildeO

A actividade dos Magistrados tem como fim a realizaccedilatildeo da

justiccedila tarefa inerente ao poder judicial ou seja o exerciacutecio do poder

de julgar conferido aos tribunais visando a soluccedilatildeo de conflitos de

interesses e com isso salvaguardar a ordem juriacutedica e a autoridade da

lei mediante interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas com vista a

garantir a justiccedila seguranccedila paz social e sobretudo a estabilidade

num Estado que se assume como democraacutetico e de Direito Esta nobre e

difiacutecil tarefa tem sido um grande desafio para estes profissionais dada a

escassez ou mesmo a inexistecircncia de ferramentas para se fazer recurso

face agraves dificuldades suscitadas no exerciacutecio desta actividade

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

III

DECLARACcedilAtildeO DE AUTORIA

Declaro que esta Dissertaccedilatildeo eacute o resultado da minha investigaccedilatildeo pessoal e

independente o seu conteuacutedo eacute original e todas as fontes consultadas estatildeo devidamente

mencionadas no texto nas notas e na bibliografia

O Candidato

__________________________________

Lisboa 20 de Marccedilo de 2018

Declaro que esta Dissertaccedilatildeo se encontra em condiccedilotildees de ser apresentada a provas

puacuteblicas

A Professora orientadora

_________________________________

Lisboa 20 de Marccedilo de 2018

IV

DEDICATOacuteRIA

A ti minha esposa Jacira de Almeida

pelo incomensuraacutevel amor

que dedicas agrave famiacutelia

A voacutes meus eternos filhos

Wiacutessane Renato de Almeida

e Kiara Tchyssola de Almeida

Arco-iacuteris de

raiar na minha vida

V

AGRADECIMENTOS

Depois de um longo percurso de aacuterdua dedicaccedilatildeo gostaria de expressar algumas

palavras de agradecimento agravequeles que de forma directa ou indirecta deram ldquoparterdquo de

si para a realizaccedilatildeo deste estudo

Agrave professora Doutora Rute Costa pelo rigor cientiacutefico e profissionalismo na

orientaccedilatildeo desta Dissertaccedilatildeo e pela disponibilidade ao longo da nossa formaccedilatildeo

Obrigada pelos saacutebios ensinamentos

Agrave professora Doutora Maria Teresa Lino pelo encorajamento paciecircncia e pelos

subsiacutedios teoacutericos fornecidos ao longo do mestrado que se revelaram pertinentes no

presente estudo

Agrave professora Raquel Silva pelo exemplo e ensinamento

Agrave minha famiacutelia em particular agrave minha mulher Jacira de Almeida pelo apoio e

compreensatildeo sobretudo pelo esforccedilo em cuidar os nossos filhos durante os dois anos

em que estive ausente Aos meus tesouros (filhos) Wiacutessane Renato e Kyara Tchissola

por todas as alegrias

Agrave minha matildee pelos conselhos educaccedilatildeo e por tudo na vida que natildeo poderia

receber de outra pessoa que natildeo fosse a senhora obrigado pelo amor Aos meus irmatildeos

e irmatildes pelo respeito e confianccedila sei que posso contar sempre convosco

Aos meus sogros pela amizade e por acolherem e cuidarem da minha famiacutelia

durante os dois anos da minha ausecircncia

Aos meus colegas do curso de Mestrado em particular Tchirica Falau Cinco

Reis e Seacutergio Segunda

Ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo de Angola que no acircmbito do seu projecto sobre a

Terminologia da Administraccedilatildeo Puacuteblica decidiu lanccedilar-nos este desafio bastante

gratificante

Ao INGBE (Instituto Nacional de Gestatildeo de Bolsas de Estudo) por financiar este

estudo e assegurar a minha permanecircncia em Lisboa

Agrave Comissatildeo Nacional do Instituto Internacional da Liacutengua Portuguesa na pessoa

da Drordf Paula Henriques pela confianccedila apoio e incentivo

VI

Ao Ministeacuterio da Justiccedila e dos Direitos Humanos de Angola em particular o

Instituto Nacional de Estudos Judiciaacuterios pelo apoio institucional

VII

RESUMO

A presente pesquisa intitulada ldquoTerminologia do Direito Penal

Angolanordquo tem como pano de fundo a proposta de elaboraccedilatildeo de uma

ferramenta terminoloacutegica do tipo dicionaacuterio do domiacutenio do Direito Penal

Assim como eacute oacutebvio o termo assume um papel fulcral no

desenvolvimento desta pesquisa Por esta razatildeo concentramos a

orientaccedilatildeo da referida pesquisa ao estudo dos termos

A natureza do produto terminoloacutegico ldquodicionaacuteriordquo que

pretendemos desenvolver passa necessariamente pela anaacutelise

linguiacutestica e terminoloacutegica dos dados extraiacutedos do corpus de pesquisa

que posteriormente serviratildeo de base agrave concretizaccedilatildeo do dicionaacuterio que

pretendemos desenvolver Assim dada a pertinecircncia do discurso

juriacutedico-penal restringimos o nosso olhar aos termos complexos

Por conseguinte o estudo hora proposto visa auxiliar o exerciacutecio

da actividade dos profissionais do foacuterum da aacuterea penal de entre eles

juiacutezes procuradores e advogados

PALAVRAS - CHAVE direito penal liacutengua de especialidade termos e

dicionaacuterio terminoloacutegico

VIII

ABSTRACT

The present research entitled Terminology of the Angolan

Criminal Law has as background the proposal of elaboration of a

terminology tool of the dictionary type of the field of Criminal Law

Thus of course the term plays a central role in the development of this

work In this way we focus the orientation of this research to the study

of terms and their relation to the concepts that designate them

The nature of the terminology product dictionary that we intend

to develop necessarily passes through the linguistic and terminological

analysis of the pertinent data verified in the corpus of research which

will subsequently serve as a basis for the conception of said product

Thus given the pertinence of the legal-penal discourse we restrict our

eyes to complex terms

Therefore the proposed time study aims to assist the practice of

the professionals of the forum of the criminal area among them judges

prosecutors and lawyers

KEYWORDS criminal law language of specialty terms and terminology

dictionary

IX

MOTIVACcedilAtildeO

A actividade dos Magistrados tem como fim a realizaccedilatildeo da

justiccedila tarefa inerente ao poder judicial ou seja o exerciacutecio do poder

de julgar conferido aos tribunais visando a soluccedilatildeo de conflitos de

interesses e com isso salvaguardar a ordem juriacutedica e a autoridade da

lei mediante interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas com vista a

garantir a justiccedila seguranccedila paz social e sobretudo a estabilidade

num Estado que se assume como democraacutetico e de Direito Esta nobre e

difiacutecil tarefa tem sido um grande desafio para estes profissionais dada a

escassez ou mesmo a inexistecircncia de ferramentas para se fazer recurso

face agraves dificuldades suscitadas no exerciacutecio desta actividade

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

IV

DEDICATOacuteRIA

A ti minha esposa Jacira de Almeida

pelo incomensuraacutevel amor

que dedicas agrave famiacutelia

A voacutes meus eternos filhos

Wiacutessane Renato de Almeida

e Kiara Tchyssola de Almeida

Arco-iacuteris de

raiar na minha vida

V

AGRADECIMENTOS

Depois de um longo percurso de aacuterdua dedicaccedilatildeo gostaria de expressar algumas

palavras de agradecimento agravequeles que de forma directa ou indirecta deram ldquoparterdquo de

si para a realizaccedilatildeo deste estudo

Agrave professora Doutora Rute Costa pelo rigor cientiacutefico e profissionalismo na

orientaccedilatildeo desta Dissertaccedilatildeo e pela disponibilidade ao longo da nossa formaccedilatildeo

Obrigada pelos saacutebios ensinamentos

Agrave professora Doutora Maria Teresa Lino pelo encorajamento paciecircncia e pelos

subsiacutedios teoacutericos fornecidos ao longo do mestrado que se revelaram pertinentes no

presente estudo

Agrave professora Raquel Silva pelo exemplo e ensinamento

Agrave minha famiacutelia em particular agrave minha mulher Jacira de Almeida pelo apoio e

compreensatildeo sobretudo pelo esforccedilo em cuidar os nossos filhos durante os dois anos

em que estive ausente Aos meus tesouros (filhos) Wiacutessane Renato e Kyara Tchissola

por todas as alegrias

Agrave minha matildee pelos conselhos educaccedilatildeo e por tudo na vida que natildeo poderia

receber de outra pessoa que natildeo fosse a senhora obrigado pelo amor Aos meus irmatildeos

e irmatildes pelo respeito e confianccedila sei que posso contar sempre convosco

Aos meus sogros pela amizade e por acolherem e cuidarem da minha famiacutelia

durante os dois anos da minha ausecircncia

Aos meus colegas do curso de Mestrado em particular Tchirica Falau Cinco

Reis e Seacutergio Segunda

Ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo de Angola que no acircmbito do seu projecto sobre a

Terminologia da Administraccedilatildeo Puacuteblica decidiu lanccedilar-nos este desafio bastante

gratificante

Ao INGBE (Instituto Nacional de Gestatildeo de Bolsas de Estudo) por financiar este

estudo e assegurar a minha permanecircncia em Lisboa

Agrave Comissatildeo Nacional do Instituto Internacional da Liacutengua Portuguesa na pessoa

da Drordf Paula Henriques pela confianccedila apoio e incentivo

VI

Ao Ministeacuterio da Justiccedila e dos Direitos Humanos de Angola em particular o

Instituto Nacional de Estudos Judiciaacuterios pelo apoio institucional

VII

RESUMO

A presente pesquisa intitulada ldquoTerminologia do Direito Penal

Angolanordquo tem como pano de fundo a proposta de elaboraccedilatildeo de uma

ferramenta terminoloacutegica do tipo dicionaacuterio do domiacutenio do Direito Penal

Assim como eacute oacutebvio o termo assume um papel fulcral no

desenvolvimento desta pesquisa Por esta razatildeo concentramos a

orientaccedilatildeo da referida pesquisa ao estudo dos termos

A natureza do produto terminoloacutegico ldquodicionaacuteriordquo que

pretendemos desenvolver passa necessariamente pela anaacutelise

linguiacutestica e terminoloacutegica dos dados extraiacutedos do corpus de pesquisa

que posteriormente serviratildeo de base agrave concretizaccedilatildeo do dicionaacuterio que

pretendemos desenvolver Assim dada a pertinecircncia do discurso

juriacutedico-penal restringimos o nosso olhar aos termos complexos

Por conseguinte o estudo hora proposto visa auxiliar o exerciacutecio

da actividade dos profissionais do foacuterum da aacuterea penal de entre eles

juiacutezes procuradores e advogados

PALAVRAS - CHAVE direito penal liacutengua de especialidade termos e

dicionaacuterio terminoloacutegico

VIII

ABSTRACT

The present research entitled Terminology of the Angolan

Criminal Law has as background the proposal of elaboration of a

terminology tool of the dictionary type of the field of Criminal Law

Thus of course the term plays a central role in the development of this

work In this way we focus the orientation of this research to the study

of terms and their relation to the concepts that designate them

The nature of the terminology product dictionary that we intend

to develop necessarily passes through the linguistic and terminological

analysis of the pertinent data verified in the corpus of research which

will subsequently serve as a basis for the conception of said product

Thus given the pertinence of the legal-penal discourse we restrict our

eyes to complex terms

Therefore the proposed time study aims to assist the practice of

the professionals of the forum of the criminal area among them judges

prosecutors and lawyers

KEYWORDS criminal law language of specialty terms and terminology

dictionary

IX

MOTIVACcedilAtildeO

A actividade dos Magistrados tem como fim a realizaccedilatildeo da

justiccedila tarefa inerente ao poder judicial ou seja o exerciacutecio do poder

de julgar conferido aos tribunais visando a soluccedilatildeo de conflitos de

interesses e com isso salvaguardar a ordem juriacutedica e a autoridade da

lei mediante interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas com vista a

garantir a justiccedila seguranccedila paz social e sobretudo a estabilidade

num Estado que se assume como democraacutetico e de Direito Esta nobre e

difiacutecil tarefa tem sido um grande desafio para estes profissionais dada a

escassez ou mesmo a inexistecircncia de ferramentas para se fazer recurso

face agraves dificuldades suscitadas no exerciacutecio desta actividade

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

V

AGRADECIMENTOS

Depois de um longo percurso de aacuterdua dedicaccedilatildeo gostaria de expressar algumas

palavras de agradecimento agravequeles que de forma directa ou indirecta deram ldquoparterdquo de

si para a realizaccedilatildeo deste estudo

Agrave professora Doutora Rute Costa pelo rigor cientiacutefico e profissionalismo na

orientaccedilatildeo desta Dissertaccedilatildeo e pela disponibilidade ao longo da nossa formaccedilatildeo

Obrigada pelos saacutebios ensinamentos

Agrave professora Doutora Maria Teresa Lino pelo encorajamento paciecircncia e pelos

subsiacutedios teoacutericos fornecidos ao longo do mestrado que se revelaram pertinentes no

presente estudo

Agrave professora Raquel Silva pelo exemplo e ensinamento

Agrave minha famiacutelia em particular agrave minha mulher Jacira de Almeida pelo apoio e

compreensatildeo sobretudo pelo esforccedilo em cuidar os nossos filhos durante os dois anos

em que estive ausente Aos meus tesouros (filhos) Wiacutessane Renato e Kyara Tchissola

por todas as alegrias

Agrave minha matildee pelos conselhos educaccedilatildeo e por tudo na vida que natildeo poderia

receber de outra pessoa que natildeo fosse a senhora obrigado pelo amor Aos meus irmatildeos

e irmatildes pelo respeito e confianccedila sei que posso contar sempre convosco

Aos meus sogros pela amizade e por acolherem e cuidarem da minha famiacutelia

durante os dois anos da minha ausecircncia

Aos meus colegas do curso de Mestrado em particular Tchirica Falau Cinco

Reis e Seacutergio Segunda

Ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo de Angola que no acircmbito do seu projecto sobre a

Terminologia da Administraccedilatildeo Puacuteblica decidiu lanccedilar-nos este desafio bastante

gratificante

Ao INGBE (Instituto Nacional de Gestatildeo de Bolsas de Estudo) por financiar este

estudo e assegurar a minha permanecircncia em Lisboa

Agrave Comissatildeo Nacional do Instituto Internacional da Liacutengua Portuguesa na pessoa

da Drordf Paula Henriques pela confianccedila apoio e incentivo

VI

Ao Ministeacuterio da Justiccedila e dos Direitos Humanos de Angola em particular o

Instituto Nacional de Estudos Judiciaacuterios pelo apoio institucional

VII

RESUMO

A presente pesquisa intitulada ldquoTerminologia do Direito Penal

Angolanordquo tem como pano de fundo a proposta de elaboraccedilatildeo de uma

ferramenta terminoloacutegica do tipo dicionaacuterio do domiacutenio do Direito Penal

Assim como eacute oacutebvio o termo assume um papel fulcral no

desenvolvimento desta pesquisa Por esta razatildeo concentramos a

orientaccedilatildeo da referida pesquisa ao estudo dos termos

A natureza do produto terminoloacutegico ldquodicionaacuteriordquo que

pretendemos desenvolver passa necessariamente pela anaacutelise

linguiacutestica e terminoloacutegica dos dados extraiacutedos do corpus de pesquisa

que posteriormente serviratildeo de base agrave concretizaccedilatildeo do dicionaacuterio que

pretendemos desenvolver Assim dada a pertinecircncia do discurso

juriacutedico-penal restringimos o nosso olhar aos termos complexos

Por conseguinte o estudo hora proposto visa auxiliar o exerciacutecio

da actividade dos profissionais do foacuterum da aacuterea penal de entre eles

juiacutezes procuradores e advogados

PALAVRAS - CHAVE direito penal liacutengua de especialidade termos e

dicionaacuterio terminoloacutegico

VIII

ABSTRACT

The present research entitled Terminology of the Angolan

Criminal Law has as background the proposal of elaboration of a

terminology tool of the dictionary type of the field of Criminal Law

Thus of course the term plays a central role in the development of this

work In this way we focus the orientation of this research to the study

of terms and their relation to the concepts that designate them

The nature of the terminology product dictionary that we intend

to develop necessarily passes through the linguistic and terminological

analysis of the pertinent data verified in the corpus of research which

will subsequently serve as a basis for the conception of said product

Thus given the pertinence of the legal-penal discourse we restrict our

eyes to complex terms

Therefore the proposed time study aims to assist the practice of

the professionals of the forum of the criminal area among them judges

prosecutors and lawyers

KEYWORDS criminal law language of specialty terms and terminology

dictionary

IX

MOTIVACcedilAtildeO

A actividade dos Magistrados tem como fim a realizaccedilatildeo da

justiccedila tarefa inerente ao poder judicial ou seja o exerciacutecio do poder

de julgar conferido aos tribunais visando a soluccedilatildeo de conflitos de

interesses e com isso salvaguardar a ordem juriacutedica e a autoridade da

lei mediante interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas com vista a

garantir a justiccedila seguranccedila paz social e sobretudo a estabilidade

num Estado que se assume como democraacutetico e de Direito Esta nobre e

difiacutecil tarefa tem sido um grande desafio para estes profissionais dada a

escassez ou mesmo a inexistecircncia de ferramentas para se fazer recurso

face agraves dificuldades suscitadas no exerciacutecio desta actividade

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

VI

Ao Ministeacuterio da Justiccedila e dos Direitos Humanos de Angola em particular o

Instituto Nacional de Estudos Judiciaacuterios pelo apoio institucional

VII

RESUMO

A presente pesquisa intitulada ldquoTerminologia do Direito Penal

Angolanordquo tem como pano de fundo a proposta de elaboraccedilatildeo de uma

ferramenta terminoloacutegica do tipo dicionaacuterio do domiacutenio do Direito Penal

Assim como eacute oacutebvio o termo assume um papel fulcral no

desenvolvimento desta pesquisa Por esta razatildeo concentramos a

orientaccedilatildeo da referida pesquisa ao estudo dos termos

A natureza do produto terminoloacutegico ldquodicionaacuteriordquo que

pretendemos desenvolver passa necessariamente pela anaacutelise

linguiacutestica e terminoloacutegica dos dados extraiacutedos do corpus de pesquisa

que posteriormente serviratildeo de base agrave concretizaccedilatildeo do dicionaacuterio que

pretendemos desenvolver Assim dada a pertinecircncia do discurso

juriacutedico-penal restringimos o nosso olhar aos termos complexos

Por conseguinte o estudo hora proposto visa auxiliar o exerciacutecio

da actividade dos profissionais do foacuterum da aacuterea penal de entre eles

juiacutezes procuradores e advogados

PALAVRAS - CHAVE direito penal liacutengua de especialidade termos e

dicionaacuterio terminoloacutegico

VIII

ABSTRACT

The present research entitled Terminology of the Angolan

Criminal Law has as background the proposal of elaboration of a

terminology tool of the dictionary type of the field of Criminal Law

Thus of course the term plays a central role in the development of this

work In this way we focus the orientation of this research to the study

of terms and their relation to the concepts that designate them

The nature of the terminology product dictionary that we intend

to develop necessarily passes through the linguistic and terminological

analysis of the pertinent data verified in the corpus of research which

will subsequently serve as a basis for the conception of said product

Thus given the pertinence of the legal-penal discourse we restrict our

eyes to complex terms

Therefore the proposed time study aims to assist the practice of

the professionals of the forum of the criminal area among them judges

prosecutors and lawyers

KEYWORDS criminal law language of specialty terms and terminology

dictionary

IX

MOTIVACcedilAtildeO

A actividade dos Magistrados tem como fim a realizaccedilatildeo da

justiccedila tarefa inerente ao poder judicial ou seja o exerciacutecio do poder

de julgar conferido aos tribunais visando a soluccedilatildeo de conflitos de

interesses e com isso salvaguardar a ordem juriacutedica e a autoridade da

lei mediante interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas com vista a

garantir a justiccedila seguranccedila paz social e sobretudo a estabilidade

num Estado que se assume como democraacutetico e de Direito Esta nobre e

difiacutecil tarefa tem sido um grande desafio para estes profissionais dada a

escassez ou mesmo a inexistecircncia de ferramentas para se fazer recurso

face agraves dificuldades suscitadas no exerciacutecio desta actividade

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

VII

RESUMO

A presente pesquisa intitulada ldquoTerminologia do Direito Penal

Angolanordquo tem como pano de fundo a proposta de elaboraccedilatildeo de uma

ferramenta terminoloacutegica do tipo dicionaacuterio do domiacutenio do Direito Penal

Assim como eacute oacutebvio o termo assume um papel fulcral no

desenvolvimento desta pesquisa Por esta razatildeo concentramos a

orientaccedilatildeo da referida pesquisa ao estudo dos termos

A natureza do produto terminoloacutegico ldquodicionaacuteriordquo que

pretendemos desenvolver passa necessariamente pela anaacutelise

linguiacutestica e terminoloacutegica dos dados extraiacutedos do corpus de pesquisa

que posteriormente serviratildeo de base agrave concretizaccedilatildeo do dicionaacuterio que

pretendemos desenvolver Assim dada a pertinecircncia do discurso

juriacutedico-penal restringimos o nosso olhar aos termos complexos

Por conseguinte o estudo hora proposto visa auxiliar o exerciacutecio

da actividade dos profissionais do foacuterum da aacuterea penal de entre eles

juiacutezes procuradores e advogados

PALAVRAS - CHAVE direito penal liacutengua de especialidade termos e

dicionaacuterio terminoloacutegico

VIII

ABSTRACT

The present research entitled Terminology of the Angolan

Criminal Law has as background the proposal of elaboration of a

terminology tool of the dictionary type of the field of Criminal Law

Thus of course the term plays a central role in the development of this

work In this way we focus the orientation of this research to the study

of terms and their relation to the concepts that designate them

The nature of the terminology product dictionary that we intend

to develop necessarily passes through the linguistic and terminological

analysis of the pertinent data verified in the corpus of research which

will subsequently serve as a basis for the conception of said product

Thus given the pertinence of the legal-penal discourse we restrict our

eyes to complex terms

Therefore the proposed time study aims to assist the practice of

the professionals of the forum of the criminal area among them judges

prosecutors and lawyers

KEYWORDS criminal law language of specialty terms and terminology

dictionary

IX

MOTIVACcedilAtildeO

A actividade dos Magistrados tem como fim a realizaccedilatildeo da

justiccedila tarefa inerente ao poder judicial ou seja o exerciacutecio do poder

de julgar conferido aos tribunais visando a soluccedilatildeo de conflitos de

interesses e com isso salvaguardar a ordem juriacutedica e a autoridade da

lei mediante interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas com vista a

garantir a justiccedila seguranccedila paz social e sobretudo a estabilidade

num Estado que se assume como democraacutetico e de Direito Esta nobre e

difiacutecil tarefa tem sido um grande desafio para estes profissionais dada a

escassez ou mesmo a inexistecircncia de ferramentas para se fazer recurso

face agraves dificuldades suscitadas no exerciacutecio desta actividade

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

VIII

ABSTRACT

The present research entitled Terminology of the Angolan

Criminal Law has as background the proposal of elaboration of a

terminology tool of the dictionary type of the field of Criminal Law

Thus of course the term plays a central role in the development of this

work In this way we focus the orientation of this research to the study

of terms and their relation to the concepts that designate them

The nature of the terminology product dictionary that we intend

to develop necessarily passes through the linguistic and terminological

analysis of the pertinent data verified in the corpus of research which

will subsequently serve as a basis for the conception of said product

Thus given the pertinence of the legal-penal discourse we restrict our

eyes to complex terms

Therefore the proposed time study aims to assist the practice of

the professionals of the forum of the criminal area among them judges

prosecutors and lawyers

KEYWORDS criminal law language of specialty terms and terminology

dictionary

IX

MOTIVACcedilAtildeO

A actividade dos Magistrados tem como fim a realizaccedilatildeo da

justiccedila tarefa inerente ao poder judicial ou seja o exerciacutecio do poder

de julgar conferido aos tribunais visando a soluccedilatildeo de conflitos de

interesses e com isso salvaguardar a ordem juriacutedica e a autoridade da

lei mediante interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas com vista a

garantir a justiccedila seguranccedila paz social e sobretudo a estabilidade

num Estado que se assume como democraacutetico e de Direito Esta nobre e

difiacutecil tarefa tem sido um grande desafio para estes profissionais dada a

escassez ou mesmo a inexistecircncia de ferramentas para se fazer recurso

face agraves dificuldades suscitadas no exerciacutecio desta actividade

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

IX

MOTIVACcedilAtildeO

A actividade dos Magistrados tem como fim a realizaccedilatildeo da

justiccedila tarefa inerente ao poder judicial ou seja o exerciacutecio do poder

de julgar conferido aos tribunais visando a soluccedilatildeo de conflitos de

interesses e com isso salvaguardar a ordem juriacutedica e a autoridade da

lei mediante interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas com vista a

garantir a justiccedila seguranccedila paz social e sobretudo a estabilidade

num Estado que se assume como democraacutetico e de Direito Esta nobre e

difiacutecil tarefa tem sido um grande desafio para estes profissionais dada a

escassez ou mesmo a inexistecircncia de ferramentas para se fazer recurso

face agraves dificuldades suscitadas no exerciacutecio desta actividade

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

X

IacuteNDICE

RESUMO VII

ABSTRACT VIII

CAPIacuteTULO I 3

DIREITO PENAL 3

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL 4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal 6

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal 6

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos 7

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal 11

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL 12

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886 14

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS 15

71 Os Tribunais 16

712 O Ministeacuterio Puacuteblico 17

CAPIacuteTULO II 19

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL 19

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE 19

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE 22

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL 23

CAPIacuteTULO III 27

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS 27

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL 28

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal 28

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus 30

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO 32

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM CONTEXTO

JURIacuteDICO-PENAL 37

31 Termo vs colocaccedilatildeo 38

312 Identificaccedilatildeo de termos 40

1 Frequecircncia 40

2 Concordacircncia 42

3 Contexto47

CAPIacuteTULO IV 50

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

XI

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO 50

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO 51

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS 51

3 FICHA TERMINOLOGICA 52

NOTAS CONCLUSIVAShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip56

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA 58

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

XII

OBJECTIVO

O discurso juriacutedico-penal assume um caraacutecter eminentemente

teacutecnico e complexo cujo sentido natildeo eacute raras vezes faacutecil de assimilar no

acircmbito do exerciacutecio da administraccedilatildeo da justiccedila penal Assim o

discurso penal entendido como liacutengua de especialidade requer dos

profissionais desta aacuterea de conhecimento o recurso a instrumentos de

apoio agrave boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas juriacutedicas visando o

ecircxito e cumprimento efectivo da justiccedila penal Por conseguinte

propomos o presente estudo cujo objectivo consiste em desenvolver um

recurso terminoloacutegico do tipo dicionaacuterio

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

1

INTRODUCcedilAtildeO

O presente estudo insere-se na aacuterea do Direito e circunscreve-se

ao domiacutenio do Direito Penal angolano O estudo proposto tem como

ponto de partida a coerecircncia do discurso juriacutedico-penal e a estabilidade

da terminologia desta aacuterea de conhecimento

O rigor no discurso das liacutenguas de especialidade nos dias de

hoje assume um papel preponderante natildeo soacute no que tange a eficiecircncia

e eficaacutecia na soluccedilatildeo de problemas de caraacutecter teacutecnico-cientiacutefico mas

tambeacutem no que diz respeito ao desenvolvimento das proacuteprias ciecircncias

sendo que todo conhecimento se propaga pelo uso constante da liacutengua

O Direito Penal tutela os bens juriacutedicos fundamentais essenciais agrave

manutenccedilatildeo da ordem juriacutedica Por este motivo a comunicaccedilatildeo entre os

especialistas e o uso constante do texto juriacutedico-penal por parte destes

profissionais deve propiciar o exerciacutecio da actividade jurisdicional no

que concerne a boa interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da legislaccedilatildeo penal tarefa

nem sempre faacutecil dada a complexidade teacutecnica do discurso juriacutedico

Assim a terminologia como ciecircncia e aplicaccedilatildeo tem o seu foco de

intervenccedilatildeo as liacutenguas de especialidade A sua natureza interdisciplinar

garante ao presente estudo uma abordagem da terminologia do Direito

Penal numa dimensatildeo linguiacutestica e conceptual visando obter

informaccedilotildees uacuteteis e indispensaacuteveis ao bom funcionamento da

comunicaccedilatildeo nesta aacuterea de conhecimento

Nestes termos a criaccedilatildeo de recursos terminoloacutegicos constituem

ferramentas por excelecircncia para fazer face agraves eventuais vicissitudes

suscitadas no acircmbito da comunicaccedilatildeo entre os profissionais da aacuterea do

direito penal Por conseguinte em face agrave reforma da justiccedila e do direito

em curso em Angola natildeo basta designar conceitos que revelem factos

relevantes para o direito penal eacute importante acima de tudo garantir

estabilidade de sentido dos conceitos consagrados pela natureza

juriacutedico dos bens tutelados penalmente Deste modo eacute imprescindiacutevel a

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

2

criaccedilatildeo de ferramentas que auxiliem os profissionais do direito penal

visando a organizaccedilatildeo do conhecimento e a harmonizaccedilatildeo de conceitos

atraveacutes da observacircncia dos criteacuterios impostos pela terminologia

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

3

CAPIacuteTULO I

DIREITO PENAL

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

4

1 CONCEITO E CARACTERIacuteSTICA D0 DIREITO PENAL

Definir Direito natildeo eacute tarefa faacutecil Desde logo vamos tatildeo-somente

focar-nos na anaacutelise do termo do ponto de vista juriacutedico sendo de resto

o que nos interessa neste estudo Assim o termo em anaacutelise eacute

suscetiacutevel de ser apreendido como norma ciecircncia ideal de justiccedila ou

ainda como faculdade

Para GOMES (19657) a polissemia do termo1 resulta da

multiplicidade dos aspectos sob que pode ser encarado O autor vai

mais longe afirmando que ldquoa dificuldade aumenta em virtude de

imprecisotildees terminoloacutegicas que aprofundam a confusatildeo reinante entre

a ideia do Direito seu fundamento e seu fimrdquo Existem muitas teorias

sobre a polissemia do termo pelo que natildeo eacute pertinente tratar

exaustivamente o assunto neste espaccedilo O Direito enquanto ciecircncia

existe desde a antiguidade e jaacute foi objecto de diversos estudos

CHORAtildeO (198633) associa o termo direito agrave ideia de atributo O

autor revela que o direito eacute o poder ou faculdade atribuiacutedo por lei a um

sujeito de Direito de poder exigir de outrem um determinado

comportamento Na sequecircncia do pensamento do referido autor o

termo Direito usa-se igualmente para designar a lei ou norma juriacutedica e

princiacutepios juriacutedicos (Ordenamento Juriacutedico) Eacute pois nesta uacuteltima

acepccedilatildeo do termo que doravante nos iremos referir sempre que

fizermos referecircncia ao uso do termo ldquoDireitordquo

Importa agora reflectir sobre o conceito de Direito Penal objecto

do presente estudo Segundo KHALED (20101) o Direito Penal eacute um

ramo do Direito Como se depreende da noccedilatildeo de Direito e da relaccedilatildeo

que estabelece com os seus ramos eacute oacutebvio que o conceito de Direito

Penal deve reportar-se ao conceito de Direito em Geral

Assim o termo Direito remete para um domiacutenio que estabelece

relaccedilotildees com os seus ramos entre eles o direito penal Deste ponto de

1 Ainda sobre a polissemia do termo Direito cf Diogo Freitas do Amaral Manual de

Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacutegs 45 a 46

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

5

vista GUIAR (20161) defende que ldquoo conceito de direito penal eacute

simplificado em funccedilatildeo das caracteriacutesticas do objecto de estudo uma

vez que este ramo de direito mais do que qualquer outro e por forccedila do

princiacutepio da legalidade se restringe ao chamado direito positivo2 ou

seja agraves normas que satildeo a uacutenica fonte primaacuteria do direito penal Essa

caracteriacutestica deixa de lado qualquer possiacutevel referecircncia ao chamado

direito natural delimitando e restringindo o direito penal a um espaccedilo

especiacutefico dentro do ordenamento juriacutedico somente a lei eacute norma

juriacutedica susceptiacutevel de ter caraacutecter penal Isto eacute soacute haacute crime e sanccedilatildeo

penal ndash pena ou medida de seguranccedila ndash a partir da existecircncia de uma lei

preacutevia que defina o que eacute crime e qual a sanccedilatildeo aplicaacutevel expressatildeo

maacutexima do princiacutepio ldquonullun crimen nulla poene sine legerdquo3

Assim o direito penal eacute formado por um conjunto de regras e

princiacutepios que integram um campo especiacutefico do ordenamento juriacutedico

dedicado agrave tutela dos bens juriacutedicos mais relevantes de uma sociedade

KHALED (20104) considera que ldquoao Direito Penal estaacute reservada a

mais grave sanccedilatildeo do ordenamento juriacutedico ndash a pena ndash e que esta eacute

consequecircncia juriacutedica do crime fica assinalada a especificidade da

intervenccedilatildeo juriacutedico-penal que caracteriza esse ramo do direitordquo Eacute a

partir desses pressupostos que se pode chegar a uma definiccedilatildeo

propriamente dita do que consiste o direito penal

Para FERREIRA (19737) ldquoO Direito Penal eacute o ramo da ordem

juriacutedica que respeita ao crime e a pena Comina a aplicaccedilatildeo de penas e

qualifica como crimes os factos humanos que satildeo pressupostos

daquelerdquo Segundo ainda FERREIRA (19737) ldquoEnquanto os diferentes 2 ldquoO Direito Positivo eacute aquele que eacute posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela

vontade colectiva de uma comunidade Ou seja eacute o Direito emanado do povo soberano

ou dos seus representantes legiacutetimos em oposiccedilatildeo encontra-se o Direito Natural

superior ao positivo de onde este retira o fundamento da sua validade e que permite

aos cidadatildeos aferir a legitimidade ou ilegitimidade do Direito e portanto obedecer-lhe

ou natildeo Assim o Direito natural decorre da vontade de Deus ou da natureza ou da

razatildeo fonte de legitimidade superior do Direito Positivordquo Freitas do Amaral Manual de Introduccedilatildeo ao Direito 2012 vol 1 paacuteg 165 3Este princiacutepio restringe a intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal ao bloco da

legalidade cujo conteuacutedo essencial se traduz em que natildeo pode haver crime nem pena

que natildeo resultem de uma lei preacutevia escrita estrita e certa Joseacute de Figueiredo Dias

Direito Penal Parte Geral 2004 paacuteg 165

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

6

ramos de direito se distinguem pelo conteuacutedo e natureza das relaccedilotildees

sociais que regulam o direito penal distingue-se de todos os demais

ramos da ordem juriacutedica pela natureza da sanccedilatildeo que comina a penardquo

Qualquer que seja a proposta de definiccedilatildeo do conceito de direito

penal as doutrinas convergem em pelo menos trecircs elementos

fundamentais nomeadamente norma crime e pena Estes trecircs

elementos dizem respeito agrave relaccedilatildeo que o direito penal estabelece com a

sociedade KHALED (20102) ensina que o direito penal regula ou

procura regular o conviacutevio social e funciona como elemento de

harmonizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais oferecendo mecanismos de

resoluccedilatildeo de conflitos por meio de sua dupla natureza de poder que

protege e simultaneamente obriga atraveacutes de um conjunto de normas

que integram o ordenamento juriacutedico e cuja natureza eacute dominado pelo

princiacutepio do ldquomiacutenimo eacuteticordquo4

2 DELIMITACcedilAtildeO DO DOMIacuteNIO O Direito Penal

21 O Ordenamento Juriacutedico e a autonomia do Direito Penal

Natildeo obstante ser uno e indivisiacutevel o Direito eacute constituiacutedo por um

conjunto de normas de diferentes ramos como propotildee RODRIGUES

(201248) ldquoO direito quer o observemos no plano interno quer o

situemos no plano internacional quer o consideremos globalmente

afirma-se uno5rdquo Segundo ainda o autor tal consideraccedilatildeo em nenhum

momento prejudica a autonomia muacuteltipla de segmentos sectores

4 ldquoO princiacutepio do miacutenimo eacutetico tambeacutem entendido como maacutexima restriccedilatildeo das penas

ou ainda miacutenima intervenccedilatildeo do Estado em mateacuteria penal pressupotildee que o Direito

Penal soacute deve intervir soacute deve funcionar quando natildeo chegarem medidas de poliacutetica

social tais como o Direito Civil e o Direito Administrativo Por conseguinte existe hoje

uma verdadeira imposiccedilatildeo constitucional no sentido de restringir o mais possiacutevel a

intervenccedilatildeo do Direito Penal na medida em que ele significa uma importante reduccedilatildeo

do conteuacutedo dos direitos individuais Esta proacutepria definiccedilatildeo do que seja o miacutenimo para se usar uma expressatildeo tradicional em Direito ldquoo miacutenimo eacuteticordquordquo Teresa Pizarro

Beleza Direito Penal vol 1 paacutegs 76 a 78 5 O direito pese embora estruturado segundo uma tradicional divisatildeo a ordem

juriacutedica afirma-se una encarada como um todo constituindo uma unidade Joseacute

oliveira Ascensatildeo O Direito Introduccedilatildeo e teoria Geral Ed 11ordf paacuteg 325

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

7

domiacutenios parcelas aacutereas ou na expressatildeo mais comum ndash ramos O

conjunto dos vaacuterios ramos constitui um sistema hieraacuterquico e

organizado a que chamamos Ordenamento Juriacutedico PRADO (201163)

ensina que ldquoo conjunto ou sistema de normas juriacutedicas em

determinada sociedade daacute lugar ao Ordenamento Juriacutedico Por sistema

juriacutedico entende-se um complexo normativo dinacircmico portador de

coerecircncia e unidaderdquo

Segundo AGUIAR (20161) ldquoo ordenamento eacute por definiccedilatildeo um

sistema que natildeo existe como um fim em si mesmo mas como um meio

para a realizaccedilatildeo de valores essenciais ao homem e agrave sociedaderdquo Trata-

se de um sistema normativo dinacircmico composto por um corpo ou

grupo de elementos relacionados entre si que fazem parte e interagem

no contexto de um todo hierarquicamente ordenado Eacute neste sentido

que KHALED (20101) afirma que ldquoa atribuiccedilatildeo de um caraacutecter

sistemaacutetico ao Direito natildeo impede que cada sector ou ramo desta

ciecircncia tenha as suas peculiaridadesrdquo Segundo REALE (1973) ldquoo

conteuacutedo de cada ramo deve ser estruturado por intermeacutedio de

princiacutepios desse ramordquo Isto permite um aprofundamento coordenado

das mateacuterias nelas abrangidas

Esta posiccedilatildeo marca o acento toacutenico a partir do qual podemos

afirmar que o Ordenamento Juriacutedico constitui uma unidade que

funciona como um sistema abarcando todos os ramos de direito Esses

ramos satildeo por um lado regidos por princiacutepios e normas gerais de

direito e por outro por um conjunto de princiacutepios e normas juriacutedicas

que os caracterizam e os diferenciam de outros ramos constituiacutedos em

observacircncia ao princiacutepio da hierarquia das normas juriacutedicas

pressuposto necessaacuterio da ideia de unidade

3 DIREITO PUacuteBLICO E DIREITO PRIVADO Sub-ramos

Uma divisatildeo de normas do ordenamento juriacutedico segundo os seus

diversos ramos ou sectores natildeo pode ignorar que todo o direito se

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

8

caracteriza pela referecircncia a uma dada instituiccedilatildeo ou comunidade e

que em consequecircncia a divisatildeo primaacuteria a estabelecer nesta mateacuteria

seraacute a que contraponha o direito regulador do sistema de relaccedilotildees que

constituiacute a comunidade dos Estados ao direito regulador do sistema de

relaccedilotildees que integra a comunidade estatal6

A moderna divisatildeo do Direito eacute a que se estabelece entre direito

internacional e direito interno Atentos ao exposto e considerando a

necessidade do nosso trabalho estaremos focados tatildeo-somente no

plano interno (estatal) a que o termo ldquodireito internordquo faz alusatildeo

Segundo REALE (1973335) ldquoa primeira e grande divisatildeo do

Direito no plano interno eacute sem sombras de duacutevidas entre direito

puacuteblico e direito privado Esta classificaccedilatildeo claacutessica eacute antiga e originaacuteria

do Direito Romano segundo o criteacuterio da utilidade puacuteblica ou particular

da relaccedilatildeordquo

Esta posiccedilatildeo tambeacutem eacute defendida por LATORRE (2002) O autor

considera no entanto que ldquoEm termos gerais o direito privado eacute aquele

que regula as relaccedilotildees entre os particulares isto eacute aquelas em que

nenhuma das partes actua revestida de poder estatal Trata-se de

relaccedilotildees em que os particulares actuam em peacute de igualdaderdquo

Ao passo que o direito puacuteblico

ldquoSe caracteriza por existir nele um exerciacutecio do poder

do estado As suas normas satildeo as que se dirigem a

regular a organizaccedilatildeo e a actividade do estado e dos

outros entes puacuteblicos e as relaccedilotildees desses entes

puacuteblicos como tais com particularesrdquo LATORRE

(200243)

Na sequecircncia do pensamento de LATORRE os diversos ramos

considerados puacuteblicos tecircm naturalmente como centro de gravidade a

organizaccedilatildeo e agrave acccedilatildeo do Estado nas suas vaacuterias manifestaccedilotildees

6cf ainda neste sentido Albino de Azevedo Soares- liccedilotildees de Direito Internacional

Puacuteblico Ed Coimbra 1988 pp 13 aacute 23 4ordf ed

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

9

nomeadamente o direito constitucional o direito administrativo o

direito penal o direito fiscal o direito processual penal Ao contraacuterio o

direito privado cobre o vasto acircmbito de actividade dos particulares

sobre o qual o poder puacuteblico exerce sem duacutevida um certo controlo mas

que estaacute entregue em geral agrave livre iniciativa privada7 Esta concepccedilatildeo

relativa agrave distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado eacute ilustrada pelo ramo

fundamental mais significativo do direito privado o direito civil tal como

ilustramos na aacutervore do domiacutenio que se segue

7O direito privado eacute regido pelo princiacutepio da iniciativa privada ou seja os sujeitos de

direito gozam da prerrogativa de poderem regular as relaccedilotildees que estabelecem entre si

Isto eacute eacute liacutecito tudo que natildeo eacute proibido

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

10

Fig1- Aacutervore do Domiacutenio Direito Penal

divide-se

em

Direito Interno Direito Internacional

divide-se

em

Direito Privado Direito Puacuteblico

Direito Civil

Direito Civil Comum Direito Civil Especial

divide-se

em

Direito Constitucional Direito Administrativo

Direito Processual

Direito Fiscal Direito Penal

Direito

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

11

O mapa apresentado acima representa a concepccedilatildeo apresentada

por LATORRE sobre a distinccedilatildeo entre direito puacuteblico e privado A

concepccedilatildeo de LATORRE sobre os sub-ramos8 de direito puacuteblico e

privado natildeo eacute exaustiva nem tatildeo-pouco importa fazer um estudo

aturado sobre esta mateacuteria apenas constitui uma classificaccedilatildeo nuclear

dos ramos tradicionais do direito puacuteblico e privado

O nosso objectivo eacute a identificaccedilatildeo do domiacutenio em estudo Pese

embora termos objectivos diferentes os criteacuterios de distinccedilatildeo

apresentados por LATORRE datildeo-nos subsiacutedios crediacuteveis a fim de

podermos identificar o nosso domiacutenio uma vez que os referidos

criteacuterios estabelecem objectivamente os ramos de direito puacuteblico e

privado

4 ESTRUTURA DO DOMIacuteNIO Direito Penal

Como resulta da tradicional ldquosumo divisionrdquo o direito penal e o

direito processual penal ambos nascem de um tronco comum A

complementaridade eacute o elo de ligaccedilatildeo indispensaacutevel agrave realizaccedilatildeo do fim

uacuteltimo que perseguem a saber ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo A aplicaccedilatildeo

das normas do direito penal faz-se mediante um processo regido pelas

normas do direito processual penal Assim dentro do processo

encontram-se ainda os recursos que por sua vez se subdividem em

ordinaacuterio e extraordinaacuterio

8Para o presente estudo adoptamos o termo sub-ramos para referir uma disciplina

como parte integrante do Direito puacuteblico ou privado

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

12

Fig 2 - Aacutervore do Domiacutenio em Estudo Direito Penal

5 DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

A maioria da doutrina juriacutedica faz uma separaccedilatildeo entre direito

penal e direito processual penal assegura que ambos satildeo norteados por

praacuteticas diferenciadas Contudo o direito penal soacute pode ser aplicado

atraveacutes dos procedimentos formais presentes no direito processual

penal

DIAS (197425) considera mesmo que ldquoem certo sentido o direito

processual penal constitui uma parte do direito penalrdquo Segundo este

autor o direito processual e o direito substantivo (penal) formam uma

unidade

Para BARAUacuteNA (1979) o certo poreacutem eacute reconhecer a autonomia

de cada um sem perder de vista a relaccedilatildeo de meio e de fim que se

verifica entre os dois corpos de normas O autor afirma ainda que nos

Recursos

Ordinaacuterio

Direito

Direito processual Direito Penal

Extraordinaacuterio

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

13

Estados submetidos ao direito como o Brasil as sanccedilotildees penais soacute se

aplicam mediante processo

Em Angola agrave semelhanccedila do que acontece no Brasil e na maioria

dos Estados democraacuteticos e de direito o direito penal soacute eacute aplicaacutevel

mediante processo que tem como funccedilatildeo proceder agrave investigaccedilatildeo

necessaacuteria conducente agrave verificaccedilatildeo da existecircncia ou natildeo do crime

constatar se certos factos apurados constituem ou natildeo crime quem os

praticou em que circunstacircncia porquecirc e qual o grau de

responsabilidade dos seus agentes Por outras palavras ningueacutem pode

ser punido sem julgamento o que em uacuteltima anaacutelise significa que o

direito processual penal eacute indispensaacutevel a realizaccedilatildeo do direito penal

tendo em conta os princiacutepios ldquonullum crimen sine legerdquo e ldquonulla poena

sine judiciordquo9

O processo penal eacute assim um processo dinacircmico pela sua forma

(encadeamento de actos) e pela sua intenccedilatildeo ou finalidade A decisatildeo

judicial aparece como siacutentese das posiccedilotildees contraacuterias acusaccedilatildeo e

defesa e traduz a convicccedilatildeo livre do Juiz formada atraveacutes de uma

actividade que se desenvolve de forma dialeacutectica Como ensina

CASTANHEIRADAS NEVES (19684) ldquoo processo penal eacute a forma

juridicamente vaacutelida da jurisdiccedilatildeo criminal Jurisdiccedilatildeo eacute o poder de

julgar e constitui a dimensatildeo material do processo penal e o processo eacute

o momento ou dimensatildeo formal da jurisdiccedilatildeordquo

Somente atraveacutes do processo legal seraacute possiacutevel ao Estado

verificar se houve ou natildeo crime se o agente agiu com dolo ou culpa o

momento da execuccedilatildeo do crime se a prova eacute liacutecita ou natildeo se a conduta

estaacute de facto tipificada e por outro lado eacute tambeacutem atraveacutes do processo

que se garante o exerciacutecio do princiacutepio do contraditoacuterio da ampla

defesa da verdade real Para concluir direito penal e direito processual

penal satildeo ramos complementares constituindo ambos unidades

9 Nestes temos ningueacutem pode ser considerado criminoso se natildeo houver uma lei que

considere determinado facto como crime aplicada por um tribunal competente

Henriques Eiras e Guilherme Fortes Dicionaacuterio Juriacutedico de Direito Penal e Processo

Penal 2005 paacuteg 288

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

14

juriacutedicas distintas mas dominados pelo mesmo fim isto eacute a protecccedilatildeo

e a defesa dos valores fundamentais da ordem juriacutedico-poliacutetica

econoacutemica e social do Estado

6 A REFORMA DO COacuteDIGO PENAL DE 1886

O Coacutedigo Penal actualmente vigente em Angola data do

longiacutenquo ano de 1886 aprovado pelo regime colonial portuguecircs e

implementado em Angola enquanto Proviacutencia Ultramarina de Portugal

Segundo ALBANO PEDRO ao longo de trecircs seacuteculos o Coacutedigo Penal tem

sido o eixo de todo o Sistema Juriacutedico-Penal Angolano cuja sistemaacutetica

compreende a Lei Constitucional e diversas leis ordinaacuterias em mateacuteria

penal Com efeito o Sistema Juriacutedico-Penal eacute o mais lento a auto-

regenerar-se Pois conhecem-se poucos momentos ou mesmo soacute muito

pontuais em que sofreu alteraccedilotildees sendo de descartar qualquer

reforma nesse sentido Por outro lado segundo o relatoacuterio da Comissatildeo

Teacutecnica para a reforma Global do Direito e a publicaccedilatildeo de um Coacutedigo

Penal da Repuacuteblica de Angola iniciada em 2004 as alteraccedilotildees

introduzidas ao Coacutedigo Penal natildeo foram nem de longe nem de perto

suficientes para impedir o desfasamento quer da parte geral quer ainda

mais da parte especial do coacutedigo de 1886 com o actual contexto social

econoacutemico e poliacutetico com o ideaacuterio que informa a sociedade angolana

com a maior complexidade do fenoacutemeno criminal dos nossos dias e as

formas de lhe fazer frente10

Assim haacute vaacuterias razotildees para considerar a reforma do Coacutedigo

Penal como uma das mais importantes no sistema juriacutedico angolano a

par das reformas e alteraccedilotildees constitucionais Eacute a legislaccedilatildeo comum ou

principal de todo o Sistema Juriacutedico-Penal angolano que trata de

tutelar os valores fundamentais da sociedade sem os quais esta

dificilmente sobreviveria Eacute uma legislaccedilatildeo com um grau de obsoletismo

tal que por si soacute se tem tornado perigosa pelas lacunas que regista e

10

Wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

15

pelos desajustamentos em relaccedilatildeo agrave nova realidade social Nesta senda

com o propoacutesito de elaborar estudos e propostas a fim de se proceder agrave

Reforma da Justiccedila e do Direito em Angola foi criada a Comissatildeo de

Reforma da Justiccedila e do Direito por Despacho Presidencial nordm 12412

de 27 de Novembro Esta Comissatildeo de entre outras tarefas deu iniacutecio

aos trabalhos conducentes agrave reforma do Coacutedigo Penal angolano cujo

projecto de lei encontra-se na Assembleia Nacional para discussatildeo e

posteriormente ser submetido agrave aprovaccedilatildeo11

Assim considerando a complexidade do Ordenamento Juriacutedico-

penal e na sequecircncia da referida reforma que traz consigo natildeo soacute a

actualizaccedilatildeo dos preceitos normativos mas tambeacutem a tipificaccedilatildeo e

criminalizaccedilatildeo de outros comportamentos que carecem de tutela penal

torna-se necessaacuterio natildeo soacute a divulgaccedilatildeo deste instrumento juriacutedico

mas sobretudo a harmonizaccedilatildeo dos respectivos termos a fim de

garantir a homogeneidade e coerecircncia da comunicaccedilatildeo entre os

especialista da aacuterea contando que eacute atraveacutes do discurso que os

profissionais ligados ao aparelho judicial realizam a administraccedilatildeo da

justiccedila Assim a harmonizaccedilatildeo dos termos que ocorrem no discurso

juriacutedico-penal passa indispensavelmente pela criaccedilatildeo de recursos

terminoloacutegicos visando a estabilidade da terminologia do Direito Penal

7 AS INSTITUTICcedilOtildeES JURIacuteDICO-PENAIS

Como ficou patente no direito penal a pena soacute pode ser aplicada

mediante a instauraccedilatildeo de um processo e por decisatildeo judicial isto eacute

por decisatildeo do Tribunal A justiccedila penal eacute monopoacutelio do Estado

(princiacutepio do monopoacutelio estadual da funccedilatildeo jurisdicional) que a exerce

exclusivamente mediante o processo penal

Segundo DIAS (1974) ldquopara melhor se cumprirem os esforccedilos de

uma poliacutetica social preventiva profilaacutectica eacute seguro natildeo poder o Estado

abdicardenegar do seu dever de perseguir e punir o crime e o

11Wwwcrjd-angolacom

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

16

criminoso ou sequer negligenciaacute-lo sob pena de minar os fundamentos

em que assenta a sua legitimidade Da funccedilatildeo de protecccedilatildeo da ordem

social (de protecccedilatildeo da vida comunitaacuteria do homem) adveacutem por

conseguinte ao Estado o dever de administraccedilatildeo e realizaccedilatildeo da justiccedila

penal

Assim a aplicaccedilatildeo do direito penal aos casos concretos como

ficou registado natildeo se faz de forma arbitraacuteria Eacute necessaacuterio a

intervenccedilatildeo de instituiccedilotildees competentes e especializadas para

legitimaccedilatildeo do direito penal

71 Os Tribunais

Os Tribunais tecircm estatuto de oacutergatildeos de soberania nos termos do

artordm 174ordf da Lei constitucional da Repuacuteblica de Angola Isto significa

que os tribunais tecircm poder distinto de outros oacutergatildeos de soberania

possuindo um estatuto proacuteprio que lhes permitem agir com

exclusividade em mateacuteria de acircmbito judicial

Segundo PRATA (1999959) ldquoos Tribunais satildeo oacutergatildeos de soberania

com competecircncia para administrar a justiccedila em nome do povordquo A

constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola bem como o artordm 1 da LOFTJ12

consagram igualmente o estatuto dos Tribunais nos termos referido

por PRATA Segundo ainda a lei fundamental compete aos Tribunais

dirimir conflitos de interesses puacuteblico ou privado assegurar a defesa

dos direitos e interesses legalmente protegidos Assim compete aos

Tribunais aplicar o direito e apreciar as causas agrave luz de uma certa

equidade atraveacutes de um julgamento baseado nas provas apresentadas

e no constante empenho na busca da verdade material

Em suma a justiccedila pode ser encarada como aplicaccedilatildeo de normas

aos casos concretos submetidos a apreciaccedilatildeo dos Tribunais que soacute pode

12

Lei de Organizaccedilatildeo e Funcionamento dos Tribunais Judiciais

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

17

ser exercida pelos profissionais do foacuterum (juiacutezes) tendo estes o

monopoacutelio desta funccedilatildeo

712 O Ministeacuterio Puacuteblico

Agrave luz do artordm185ordm da constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola o

Ministeacuterio Puacuteblico (MP) eacute um oacutergatildeo da Procuradoria-Geral da Repuacuteblica

(PGR) essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado

Por conseguinte a Lei de Organizaccedilatildeo da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Puacuteblico (LOPGRMP) consagra que a

Magistratura do Ministeacuterio Puacuteblico goza de autonomia em relaccedilatildeo aos

demais oacutergatildeos do poder central e local do Estado e possui um estatuto

proacuteprio

No acircmbito das atribuiccedilotildees da PGR compete ao MP de entre

outras funccedilotildees representar o Estado promover o processo penal e

exercer a acccedilatildeo penal bem como defender a legalidade democraacutetica e

os interesses tutelados na constituiccedilatildeo e na lei nos termos do artordm 29

da LOPGRMP

Em Angola a acccedilatildeo penal tem como pressuposto a instauraccedilatildeo de

um processo dominado por um conjunto de princiacutepios e regras proacuteprias

disciplinadas pelo direito processual penal A instruccedilatildeo processual

(preparatoacuteria) eacute a primeira fase do Processo Penal da competecircncia do

MP e abrange um conjunto de diligecircncias buscas e recolhas de provas

que formam o corpo de delito e que tem por fim reunir os elementos de

indiciaccedilatildeo necessaacuterios para fundamentar a acusaccedilatildeo

O direito processual penal conduz toda a acccedilatildeo desencadeada

pelo Ministeacuterio Puacuteblico na instruccedilatildeo preparatoacuteria que culmina com a

acusaccedilatildeo ou acccedilatildeo penal propriamente dita Com a introduccedilatildeo em juiacutezo

da acccedilatildeo penal daacute-se imediatamente o fim da instruccedilatildeo do processo e

consequentemente o iniacutecio dos actos preparatoacuterios visando a aplicaccedilatildeo

do direito penal

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

18

Assim o Ministeacuterio Puacuteblico tem um papel fundamental no que

concerne a aplicaccedilatildeo das normas penais uma vez que eacute este oacutergatildeo que

numa primeira fase conduz todas as diligecircncias (instruccedilatildeo processual)

conducentes a aplicaccedilatildeo de penas cuja competecircncia eacute exclusiva do

poder Judicial (os Tribunais)

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

19

CAPIacuteTULO II

O DISCURSO JURIacuteDICO-PENAL

1 LIacuteNGUA DE ESPECIALIDADE OU DISCURSO DE ESPECIALIDADE

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

20

O desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico das uacuteltimas deacutecadas

tem sido marcado inevitavelmente pelo domiacutenio cientiacutefico de certas

aacutereas de intervenccedilatildeo humana dando margem ao surgimento de formas

de comunicaccedilatildeo com caracteriacutesticas peculiares utilizadas entre

indiviacuteduos envolvidos em determinadas aacutereas de conhecimento

Esta relaccedilatildeo imprescindiacutevel entre liacutengua e ciecircncias levou

BENVENISTE (1989142) a afirmar que ldquouma ciecircncia somente passa a

existir ou a ser divulgada agrave medida que impotildee seus conceitos e divulga-

os por meio de suas respectivas denominaccedilotildees13rdquo

Este ponto de vista assinala a pertinecircncia da comunicaccedilatildeo

especializada dominado por um conjunto de unidades lexicais

particulares de uma aacuterea do saber

Na perspectiva de LERAT (199518) liacutengua de especialidade eacute

ldquoune langue speacutecialiseacutee est une langue naturelle consideacutereacutee entant que

vecteur de connaissances speacutecialiseacuteesrdquo Isto daacute-nos a entender que a

liacutengua de especialidade natildeo se reduz apenas numa terminologia mas

tem como finalidade transmitir conhecimentos especializados

KOCOUREK (198214) natildeo se opotildee agrave corrente que defende o uso

do termo liacutengua de especialidade pelo contraacuterio considera uacutetil Para

este autor o uso do referido temo natildeo eacute prejudicial natildeo obstante as

divergecircncias registadas entre os especialistas ao referirem-se a ldquoliacutengua

de especialidaderdquo Ainda nesta senda KOCOUREK (198214) afirma que

ldquoLrsquoutiliteacute lrsquoaspect pragmatique du concept de langue de speacutecialiteacute est

eacutevidant non seulement parce qursquoil permet de rapprocher la linguistique

et un vaste domaine du savoir humain mais aussi parce qursquoil permet de

reacuteunir les linguistes qui srsquointeacuteressent agrave une des facettes de cette

languerdquo Assim para o autor em referecircncia a liacutengua de especialidade eacute

um subsistema funcional da liacutengua na sua totalidade

CABREacute nas suas reflexotildees sobre terminologia natildeo abdica do

termo ldquoliacutengua de especialidaderdquo visto como uma modalidade da liacutengua

13

httpszaumlangscoma-traduccedilatildeo-tecnica-com-processo-de-internacionazaccedilatildeo

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

21

geral opta pelas expressotildees ldquolinguagens de especialidaderdquo ou

ldquolinguagens especializadasrdquo Para CABREacute (1999 138) as linguagens de

especialidade seriam ldquosubconjuntos del linguaje general caracterizados

pragmaticamente por trecircs variable la tematica los usuarios y las

situaciones de comunicacioacutenrdquo

Antes de prosseguirmos com esta mateacuteria importa deixar uma

nota acerca da expressatildeo ldquoespecialidaderdquo relevante para o

entendimento da comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica que julgamos

pertinentes CABREacute (1993 87) argumenta

ldquosi por especializada entendemos aquiacute la que cumple

todos los requisitos pragmaacuteticos y semaacutenticos necessaacuterios

es decir es temaacuteticamente marcada se produce en

situacioacuten prodesional pertence el registro formal y ademaacutes

no adequiere su significado directamente del objeto de la

realidad sino de una estructura preestabelecidardquo Com isto

CABREacute (199388) assume que ldquoel adjetivo especializado

para referirmos al discurso que trata de alguacuten campo

cientiacutefico-teacutecnico furtemente estructurado la nocioacuten de

especializacioacuten es maacutes furte que si la aplicamos tambieacuten a

actividades especializadasrdquo

No presente estudo optamos pelo termo ldquodiscurso de

especialidaderdquo em oposiccedilatildeo a qualquer outra referecircncia que se possa

fazer agrave comunicaccedilatildeo teacutecnico-cientiacutefica uma vez que o que eacute de

especialidade natildeo eacute a liacutengua mas sim a forma como ela eacute usada

Segundo COSTA (199319) ldquoquando se fala em liacutengua de especialidade

natildeo se estaacute a pensar numa morfologia numa sintaxe numa foneacutetica de

especialidade mas sim num vocabulaacuterio especializado inserido num

discurso (oral ou escrito)rdquo Por conseguinte trata-se do uso da liacutengua

num contexto social especiacutefico cujas caracteriacutesticas satildeo determinadas

pelas necessidades de certos grupos profissionais

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

22

2 LIacuteNGUA GERAL VS DISCURSO DE ESPECIALIDADE

Evidenciados os traccedilos que caracterizam o conceito de ldquodiscurso

de especialidaderdquo apraz-nos por conseguinte estabelecer uma breve

abordagem que permite distinguir ldquoliacutengua geralrdquo de ldquodiscurso de

especialidaderdquo

O tema em destaque natildeo eacute novidade tendo jaacute sido objecto de

vaacuterios estudos desde WUumlSTER a CABREacute Para compreensatildeo do

presente tema importa expor um breve panorama sobre o conceito de

liacutengua geral

Referindo-se agrave liacutengua geral CABREacute (199358) afirma

ldquoa language consists of subcodes that speakers use

according to their expressive needs and the nature of

the communicative situation Despite all this

diversity however all language has a set of units and

rules that all speakers knowrdquo

Na mesma senda CABREacute (199359) afirma ainda que ldquoThe set of

rules units and restriction that form part of the knowledge of most

speakers of a language constitute the common or general languagerdquo

Por sua vez COSTA (199317) usa o termo ldquoliacutengua correnterdquo que

define como ldquosistema linguiacutestico que eacute utilizado quotidianamente por

um grupo de uma mesma comunidade linguiacutestica inserido num

determinado contexto socioculturalrdquo

Para GIL (20032) ldquoa liacutengua geral eacute globalmente entendida como

um diassistema isto eacute como um conjunto de subsistemas (ou liacutenguas

funcionais) cujas regras de funcionamento o falante conhece e domina

apesar da diversidade e heterogeneidade do sistema Assim a liacutengua

compreende um conjunto de coacutedigos linguiacutesticos comuns aos falantes

de um mesmo sistema linguiacutesticordquo

Agrave luz das consideraccedilotildees tecidas os conceitos apresentados sobre

discurso de especialidade agrave partida datildeo-nos a ideia de unidade do

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

23

sistema linguiacutestico caracterizado por elementos lexicais morfoloacutegicos e

sintaacutecticos cujo conhecimento eacute transversal a todos os membros de

uma comunidade linguiacutestica

A natureza da liacutengua entendida como um ldquosubsistema descarta a

possibilidade de encararmos o discurso de especialidade como um

sistema agrave margem da liacutengua geral na medida em que o discurso de

especialidade utiliza as regras gramaticais da liacutengua geral Assim o

sistema da liacutengua geral compreende outras modalidades de

ldquosubsistemasrdquo cuja independecircncia se manifesta na actualizaccedilatildeo do

saber linguiacutestico do falante Eacute neste sentido que CABREacute (1999138)

opta pela adopccedilatildeo do termo comunicaccedilatildeo geral e comunicaccedilatildeo

especializada em substituiccedilatildeo da liacutengua geral e da liacutengua de

especialidade uma vez que a codificaccedilatildeo gramatical eacute a mesma tanto

numa quanto na outra mas diferentes nas formas de comunicaccedilatildeo

Satildeo pois as necessidades comunicativas que caracterizam a

preferecircncia por certas organizaccedilotildees discursivas

O discurso de especialidade recorre a um fundo lexical comum

mas confina-se sobretudo a um vocabulaacuterio especiacutefico associado a um

determinado domiacutenio do saber

Esta diferenccedila entre liacutengua geral e discurso de especialidade

marca essencialmente a fronteira entre os respectivos conceitos onde o

discurso de especialidade eacute encarado em contexto linguiacutestico especiacutefico

3 RELACcedilAtildeO ENTRE LIacuteNGUA E DIREITO PENAL

A liacutengua eacute um dos aspectos mais significativos do direito atraveacutes

da qual se busca atingir os desiacutegnios de um Estado sem a qual se

tornam impraticaacuteveis os actos juriacutedicos Eacute irrefutaacutevel a importacircncia da

liacutengua para o direito uma vez que o texto oral ou escrito eacute a mateacuteria-

prima da actividade juriacutedica

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

24

Assim liacutengua e direito estatildeo umbilicalmente ligadas constituindo

duas realidades intriacutensecas agrave existecircncia da pessoa humana Isso deve-

se por um lado ao facto de o homem ser eminentemente um ser social

Esta caracteriacutestica funda-se nas relaccedilotildees intersubjectivas que os

homens estabelecem entre si usando para o efeito um dispositivo

comum a todos os membros de um grupo sociolinguiacutesticos a saber ldquoa

liacutenguardquo Por outro lado a necessidade de interagir com o seu

semelhante para satisfaccedilatildeo integral das suas necessidades desenvolve-

se mediante a observaccedilatildeo de condutas previamente estabelecidas

Assim como eacute oacutebvio a convivecircncia social pressupotildee regras de entre as

quais se destacam as de natureza juriacutedico-penal

Assim a liacutengua constitui o instrumento essencial para o

estabelecimento de condutas dos membros em sociedade Tanto a

liacutengua como o Direito satildeo imprescindiacuteveis agrave vida comunitaacuteria A liacutengua eacute

uma experiecircncia da existecircncia humana enquanto o Direito mais do

que experiecircncia constitui o garante da organizaccedilatildeo e satilde convivecircncia dos

homens em sociedade Portanto direito e liacutengua estabelecem

indispensavelmente uma relaccedilatildeo intriacutenseca tal como direito e

sociedade satildeo indissociaacuteveis como se infere da ceacutelebre expressatildeo latina

ldquoubi ius ibi societas ou ubi societas ibi ius14rdquo

Partindo deste breve comentaacuterio pode-se afirmar que a relaccedilatildeo

entre liacutengua e direito eacute de complementaridade Como traduz Xavier

(20021) ldquoo direito eacute por excelecircncia entre as que mais o sejam a

ciecircncia da palavra mais precisamente do uso dinacircmico da palavrardquo

Assim a palavra transformada em discurso eacute o instrumento de que se

servem os profissionais da aacuterea do juriacutedico-penal para prossecuccedilatildeo de

tatildeo nobre missatildeo ldquoa realizaccedilatildeo da justiccedilardquo

A comunicaccedilatildeo juriacutedica natildeo se restringe a um grupo de

profissionais O caraacutecter geral da lei expressa na norma juriacutedica

14

Neste sentido Batista Machado saliente que a realidade social eacute uma sociedade de

ordem portanto ela natildeo existe sem normas Eacute o mesmo que dizer onde existir

sociedade haveraacute direito onde existir direito haveraacute sociedade Joatildeo Baptista

Machado Introduccedilatildeo ao Direito e o Discurso Legitimador 1983 paacuteg 13

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

25

produz efeitos gerais como se compreende do preceito civil ldquoA

ignoracircncia ou maacute interpretaccedilatildeo da lei natildeo justifica a falta do seu

cumprimento nem isenta as pessoas das sanccedilotildees nelas estabelecidasrdquo15

Ora o conteuacutedo da referida norma evidecircncia que o legislador fala para

todos sujeitos de direito conferindo ao texto juriacutedico um caraacutecter

puacuteblico e social Neste sentido CORNU (200517) afirma que ldquoEn ce

sens on peut dire que le langage du droit est un langage public social

un langage civiquerdquo

Esse caraacutecter geral da lei faz-nos pensar enganosamente que no

seu discurso o legislador utilizaria a liacutengua corrente compreensiacutevel ao

cidadatildeo comum Poreacutem a acessibilidade ao discurso juriacutedico eacute para o

cidadatildeo comum uma tarefa difiacutecil Satildeo textos em que abundam

foacutermulas solenes muitas vezes estereotipadas

O discurso juriacutedico-penal assume uma intenccedilatildeo de poder os

comandos normativos impotildeem agrave sociedade a obrigatoriedade de

sujeiccedilatildeo a certos comportamentos e produz um ambiente favoraacutevel

para o alcance da estabilidade e paz social embora aparente ao

estabelecer medidas punitivas aos infractores da lei penal O discurso

juriacutedico-penal eacute dominado em uacuteltima instacircncia pelo estabelecimento

de medidas que visam tutelar os bens juriacutedicos essenciais agrave vida em

sociedade e produz por um lado um espiacuterito de ordem cujo efeito

preveniinibi a praacutetica de condutas criminosas e por outro traduz um

conjunto de consequecircncias punitivas de caraacutecter imperativas

estatuiacutedas por um regime juriacutedico visando alcanccedilar o ideal de justiccedila

na medida em que a praacutetica de um crime deveraacute corresponder a uma

medida penal adequada

Com efeito a liacutengua juriacutedica faz referecircncia a um campo

delimitado cujos conceitos encerram o seu acircmbito de aplicaccedilatildeo O que

eacute juriacutedico define-se pelo uso da liacutengua ou seja os bens juriacutedicos

tutelados satildeo conhecidos pelo mundo exterior atraveacutes do uso dinacircmico

da liacutengua Mais do que isso o proacuteprio texto juriacutedico eacute a principal fonte

15Cfr Coacutedigo Civil angolano

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

26

de conhecimento desta ciecircncia Assim em direito penal tudo quanto

natildeo tiver consagraccedilatildeo no texto legal natildeo produz efeitos juriacutedicos

(princiacutepio da tipicidade ou do numerus clausus) Portanto o discurso eacute

inegavelmente o meio de realizaccedilatildeo do direito seja escrito ou oral

Por conseguinte o direito penal estaacute revestido de um discurso

teacutecnico e muito complexo cujas consequecircncias se reflectem na

imprecisatildeo no momento da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de normas

juriacutedicas Assim a precisatildeo e a clareza da liacutengua juriacutedica constituem

uma moeda de ouro do princiacutepio da tutela jurisdicional efectiva e deve

ser um exerciacutecio indispensaacutevel e constante no plano da realizaccedilatildeo da

justiccedila penal

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

27

CAPIacuteTULO III

CONSTITUIacuteCcedilAtildeO DO CORPUS E ANAacuteLISE DE DADOS

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

28

1 CONSTIUTICcedilAtildeO DO CORPUS DIREITO PENAL

11 Constituiccedilatildeo de corpus de acircmbito juriacutedico-penal

O trabalho terminoloacutegico tem como substrato a exploraccedilatildeo de um

corpus de especialidade visando colher dados que ulteriormente seratildeo

objecto de anaacutelise Como salienta NETO (199527) na praacutetica trabalhar

com corpora significa poder dispor de dados linguiacutesticos atestados ou

seja laquoter agrave matildeoraquo uma dimensatildeo real da liacutengua em uso de valor

individual e social

Assim antes de mais qualquer comentaacuterio importa deixar

algumas reflexotildees a respeito de dois conceitos que pese embora

distintos estatildeo intrinsecamente relacionados e que julgamos serem

fundamentais no desenvolvimento de pesquisa terminoloacutegica

nomeadamente texto e corpus

Assim entendemos que a definiccedilatildeo de texto num primeiro

momento pressupotildee a existecircncia de discurso A definiccedilatildeo proposta por

ADAM (199221) tem precisamente este sentido ldquoun texte est une

seacutequence drsquoactes de discours qui peut ecirctre consideacutereacutee elle-mecircme comme

un acte de discours unifieacuterdquo

Para CABREgrave (20072) ldquoLos textos de especializados son las

producciones linguiacutesticas orales o escritas que se producen en

escenarios de cominicacioacuten profesional y sirven exclusivamente a uma

finalidade profissionalrdquo Fica assim claro que um corpus de

especialidade eacute constituiacutedo por textos de especialidade

SINCLAIR (2004242) apresenta a seguinte definiccedilatildeo de corpus

ldquocorpus is a collection of pieces of language text in

electronic form selected according to external criteria

to represent as far as possible a language or

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

29

language variety as a source of data for linguistic

research16rdquo

A norma ISO 1087 ndash 12000 (EF) por sua vez define corpus

como sendo um ldquoensemble de donneacutees linguistiques recueillies agrave des

fins drsquoanalyserdquo

Nesta senda o conceito de corpus leva-nos a reflectir sobre as

teorias e metodologias que presidem agrave sua constituiccedilatildeo Ou seja a

constituiccedilatildeo de corpus de especialidade deve seguir criteacuterios rigorosos

para se atingir os fins preconizados COSTA (2003257) afirma que ldquoeacute

necessaacuterio ter em conta um conjunto de pressupostos teoacutericos e

metodoloacutegicos considerados de importacircncia fundamentalrdquo

Deste ponto de vista facilmente depreende-se que a excelecircncia

dos objectivos traccedilados em pesquisa terminoloacutegica depende

inquestionavelmente da qualidade do corpus que por sinal constitui

dado a importacircncia de que se reveste o nuacutecleo de um projecto desta

natureza A esse respeito Nascimento (20032) enfatiza que

ldquoA qualidade de um projecto terminoloacutegicoterminograacutefico

estaacute directamente relacionada com a qualidade do corpus

especializado em que se baseia Essa qualidade adquire

aqui uma importacircncia ainda maior do que num corpus

geralrdquo

Nesta senda a constituiccedilatildeo de corpus em direito penal para os

fins a que nos propusemos deve privilegiar com todo o rigor que se

impotildee os meacutetodos adequados para a sua constituiccedilatildeo

16 Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

30

12 Metodologia para Constituiccedilatildeo do Corpus

Atendendo ao exposto de entre os textos mais representativos da

aacuterea do direito penal seleccionaacutemos o Coacutedigo Penal angolano para

constituiccedilatildeo do corpus em detrimento dos textos de natureza doutrinal

e jurisprudencial

Com o Coacutedigo Penal angolano estatildeo reunidos indubitavelmente

os pressupostos para a constituiccedilatildeo de um corpus de especialidade

Pese embora a constituiccedilatildeo do corpus ficar reduzido a um uacutenico texto

este facto natildeo reduz a sua pertinecircncia A este propoacutesito COSTA

(2003257) afirma que ldquoa representatividade dos enunciados que

compotildeem um corpus eacute uma questatildeo central da constituiccedilatildeo dos corpora

de especialidade uma vez que a diversidade dos textos no seio de uma

aacuterea de especialidade eacute imensardquo Assim a autora conclui considerando

que a noccedilatildeo de representatividade em corpora especializados natildeo

pressupotildee a noccedilatildeo de quantidade dado que a produccedilatildeo de textos numa

aacuterea de especialidade numa liacutengua determinada pode ser diminuta

assumindo o corpus um valor relativo

Na senda do pensamento de COSTA consideramos o Coacutedigo

Penal angolano um texto representativo da aacuterea do Direito Penal quiccedilaacute

o mais representativo Tal afirmaccedilatildeo justifica-se pelo facto de todos os

especialistas da aacuterea juriacutedico-penal sejam eles juiacutezes procuradores ou

advogados fazerem uso deste texto no exerciacutecio das suas actividades

profissionais para fundamentarem as decisotildees que proferem ou para

dar respaldo legal agrave praacutetica de actos juriacutedicos em sede de processo

judicial isto eacute fazer uma acusaccedilatildeo em juiacutezo proferir uma sentenccedila ou

intentar um recurso Por outro lado o Coacutedigo Penal angolano eacute

igualmente para os estudantes de direito uma ferramenta de maior

valia uma vez que toda a fundamentaccedilatildeo teoacuterica ou doutrinal no

acircmbito acadeacutemico encontra suporte legal neste documento em

homenagem ao princiacutepio ldquoa lei eacute a uacuteltima ratio do juristardquo ou ainda se

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

31

quisermos para fazer jus ao princiacutepio segundo o qual nulla poena sine

lege17

Assim para elaboraccedilatildeo do dicionaacuterio terminoloacutegico de acircmbito do

direito penal cujo processo passa imprescindivelmente pela descriccedilatildeo

da liacutengua usando para o efeito ferramentas informaacuteticas adequadas de

tratamento de corpus eacute indispensaacutevel que os textos estejam em formato

electroacutenico

Surpreendentemente o ldquoCoacutedigo Penal Angolanordquo natildeo existe em

formato electroacutenico Esta constataccedilatildeo foi confirmada depois de buscas

exaustivas na internet e de consulta em algumas bases de dados de

entre elas a LEGIS PALOP18

Contudo para aleacutem da versatildeo em formato papel do coacutedigo penal

vigente encontraacutemos tatildeo-somente em formato digital o anteprojecto de

lei do coacutedigo penal totalmente disponiacutevel em formato electroacutenico fruto

da reforma em curso

No seguimento de tal constataccedilatildeo imediatamente procedemos agrave

digitalizaccedilatildeo do mesmo Dada a dimensatildeo do texto composto por

trezentas e vinte e trecircs paacuteginas depois de digitalizado submetemo-lo

posteriormente a sucessivas revisotildees ortograacuteficas por forma a garantir

a autenticidade do mesmo

17

Cf Fernanda Carrilo Dicionaacuterio de Latim Juriacutedico 2006 paacuteg 296 18 Eacute uma base de dados juriacutedica que disponibiliza legislaccedilatildeo jurisprudecircncia (conjunto

das decisotildees e interpretaccedilotildees das leis) e doutrina produzida nos paiacuteses africanos de expressatildeo portuguesa desde as suas independecircncias e que ateacute hoje encontram-se em

vigor Noticias sapoaoinfartigo1232204html

O anteprojecto do Coacutedigo Penal encontra-se disponiacutevel no site da Internet

httpswwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012ptpdf

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

32

2 TRATAMENTO SEMIAUTOMAacuteTICO DO CORPUS E O USO DE

FERRAMENTAS ADEQUADAS PARA O EFEITO

Depois da constituiccedilatildeo do corpus do domiacutenio do direito penal

resta-nos agora para prossecuccedilatildeo eficaz da nossa pesquisa

procedermos ao seu tratamento semiautomaacutetico de resto um passo

igualmente fulcral neste estudo Assim para o cumprimento deste

desiderato eacute necessaacuterio o uso de ferramentas informaacuteticas adequadas

para o efeito visando a extracccedilatildeo de dados que ulteriormente seratildeo

analisados Estas ferramentas para aleacutem de facilitar o trabalho de

pesquisa simultaneamente fornecem dados fiaacuteveis e pertinentes

conducentes agrave obtenccedilatildeo de informaccedilotildees indispensaacuteveis agrave pesquisa em

terminologia

Com efeito a ferramenta por noacutes seleccionada foi o ANTCONC19

natildeo soacute pela facilidade do seu manuseamento mas tambeacutem pela

eficaacutecia da sua operacionalidade cujos resultados produzidos satildeo

garantidamente inquestionaacuteveis do ponto de vista da fiabilidade e

credibilidade

Com esta ferramenta procedemos ao tratamento semiautomaacutetico

do corpus Este processo permitiu-nos obter dados quantitativos bem

como permitindo por conseguinte lanccedilar matildeo agrave anaacutelise linguiacutestica e

terminoloacutegica das formas em contexto de especialidade

Assim o ANTCONC possibilitou-nos extrair uma lista de formas

ordenada alfabeticamente a frequecircncia com que elas ocorrem no

corpus bem como o total das formas que constituem o corpus como

ilustra a figura infra

19wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

33

Fig 3 - Amostra da Frequecircncia das Formas no Corpus

Da anaacutelise aos dados apresentados na Fig 3 constata-se que o

corpus eacute constituiacutedo por um total de 7398 formas uacutenicas perfazendo

68778 ocorrecircncias Para cada forma temos acesso agrave sua frequecircncia isto

eacute ao nuacutemero de vezes que cada uma delas ocorre no corpus

Por outro lado a concordacircncia eacute tambeacutem um elemento de

extrema relevacircncia para a anaacutelise das formas em contexto de

especialidade Nos termos da Norma ISO 1087-12000 (EF) a

concordacircncia eacute definida como ldquoliste ordonneacutee de termes extraits drsquoun

corpus avec leur contexte et une reacutefeacuterence de sourcerdquo

A concordacircncia produz resultados qualitativamente pertinentes

em pesquisa terminoloacutegica A este propoacutesito Sinclair (199145) afirma

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

34

que ldquothe quality of evidence about the language which can be provided

by concordances is quite superior to any other methodrdquo

Assim a concordacircncia permite-nos de entre outros identificar

associaccedilotildees frequentes entre formas linguiacutesticas de uma forma poacutelo

assim como observar as regularidades distribucionais Eis a ilustraccedilatildeo

do que acabaacutemos de afirmar

Fig 4 - Amostra de Concordacircncia Extraiacuteda do Corpus

A tiacutetulo de exemplo a forma ldquocrimerdquo aparece associada a outras

formas com alguma frequecircncia no corpus Esta constataccedilatildeo induz-nos

naturalmente agrave observaccedilatildeo desta forma como potencial candidato a

termo Por conseguinte repara-se que a associaccedilatildeo que a referida forma

estabelece com as suas co-ocorrecircncias pode ser interessante tanto agrave

sua direita como agrave sua esquerda Assim as concordacircncias evidenciam

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

35

ainda a estabilidade de tipos de combinaccedilotildees morfossintaacutecticas

presentes nos textos

Um outro elemento natildeo menos importante satildeo os contextos

TARRY (19955) preconiza que ldquounderstanding language must take into

account not only the nature of the text but also the discursive

processes by which text is produced and interpretedrdquo Assim os

contextos satildeo partes de textos em que ocorre uma unidade linguiacutestica

seja ela termo ou natildeo

A norma ISO-12000 (EF) define contexto como ldquotexte qui illustre

lusage dun concept ou qui atteste lusage dune deacutesignationrdquo

Segundo LINO MOCHO e COSTA (199182) o contexto delimita

uma unidade lexical ou de pontuaccedilatildeo forte a outra pontuaccedilatildeo forte por

meio de processos informatizados

Passamos a ilustrar os contextos textuais em que as formas em

anaacutelise aparecem a cor azul

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

36

Fig 5 - Amostra de forma ldquocrimerdquo em contexto de especialidade

A figura acima representa o comportamento da forma ldquocrimerdquo

inserida no seu contexto Como podemos observar o contexto

possibilita pesquisar o comportamento de uma determinada forma ao

longo da extensatildeo do corpus Assim a forma ldquocrimerdquo aparece

sintacticamente associada a grupos de palavras tanto agrave esquerda como

agrave direita dando informaccedilotildees linguiacutestica e conceptual que nos podem

ajudar na decisatildeo de considerar esta forma como sendo um termo

Deste modo o ANTCONC revela-se de estrema utilidade para a

pesquisa terminoloacutegica As funccedilotildees frequecircncia contexto e concordacircncia

fornecem informaccedilotildees indispensaacuteveis que permitem uma anaacutelise

minuciosa das formas Os dados extraiacutedos a partir das funccedilotildees em

referecircncia ajudam-nos a analisar e compreender as relaccedilotildees de

pertinecircncia terminoloacutegica que umas formas estabelecem com outras

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

37

3 ANAacuteLISE TERMINOLOacuteGICA DOS DADOS O TERMO EM

CONTEXTO JURIacuteDICO-PENAL

Em todas as aacutereas do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico o termo

revela-se de importacircncia fundamental na comunicaccedilatildeo especializada

Pois eacute atraveacutes deste que o conhecimento eacute veiculado Como aponta

CABREgrave (1999135) os termos satildeo sempre tematicamente especiacuteficos de

modo que natildeo haacute termo sem um acircmbito que o acolha tatildeo pouco haacute

acircmbito especializado sem uma terminologia que o caracterize

Eacute com base neste pressuposto que assumimos no presente

estudo uma especial atenccedilatildeo ao termo cuja referecircncia como elemento

fulcral do presente trabalho natildeo foi tomada por mero acaso Basta um

olhar atento ao dicionaacuterio hieraacuterquico de formas e suas frequecircncias

facilmente depreende-se que as formas extraiacutedas satildeo geralmente

formas nominais Esta constataccedilatildeo coincide com a afirmaccedilatildeo de SAGER

(199393) segundo a qual ldquolos conceptos representados en los

dicionaacuterios terminoloacutegicos se expresan predominantemente mediante la

forma linguiacutestica de nombresrdquo

Assim para a concretizaccedilatildeo do projecto em estudo ndash proposta de

elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico na aacuterea do direito penal ndash

centraremos o nosso olhar nos termos

Assim ao procedermos agrave anaacutelise dos termos que ocorrem em

contexto do discurso juriacutedico-penal eacute importante natildeo descurarmos

outras unidades lexicais que pese embora natildeo possuiacuterem estatuto de

termo satildeo objecto de estudo da terminologia respectivamente as

colocaccedilotildees e as fraseologias Por conseguinte somos impelidos a deixar

algumas notas acerca destes conceitos para melhor enquadramento e

percepccedilatildeo da natureza do termo

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

38

31 Termo vs Colocaccedilatildeo

Segundo a Teoria Geral da Terminologia desenvolvida por

WUumlSTER o termo estaacute no cerne das preocupaccedilotildees do terminoacutelogo Esta

afirmaccedilatildeo tambeacutem eacute veiculada por COSTA (2001199) ao afirmar que ldquoo

termo que designa o conceito eacute a unidade de base da Terminologiardquo

Assim no acircmbito da TGT o termo designa um conceito Do ponto de

vista morfossintaacutectico o termo eacute constituiacutedo por uma ou mais unidades

lexicais sendo designado conforme os casos termo simples ou termo

complexo

Consideramos pertinente restringir este estudo aos termos

complexos pelo facto de terem semelhanccedila com as colocaccedilotildees

terminoloacutegicas pelo menos do ponto de vista morfossintaacutectico o que

torna imperioso reflectir em torno destes dois conceitos a fim de

distingui-los e individualiza-los para posteriormente nos cingirmos agrave

anaacutelise do termo SINCLAIR (1991170) propotildee a seguinte definiccedilatildeo de

colocaccedilatildeo ldquocollocation is the occurrence of two or more words within a

short space of each in a textrdquo

Para COSTA (2001 128) as colocaccedilotildees satildeo conjuntos de unidades

que co-ocorrerem em contiguidade com uma determinada frequecircncia no

eixo sintagmaacutetico Segunda ainda a autora a frequecircncia natildeo eacute um

criteacuterio suficiente para identificaccedilatildeo das colocaccedilotildees terminoloacutegicas

Assim as colocaccedilotildees satildeo caracterizadas por apresentarem restriccedilotildees

lexicais que permitem a sua identificaccedilatildeo e consequente delimitaccedilatildeo e

portanto passiacuteveis de tratamento lexicograacutefico e terminoloacutegico

SILVA (201418) assinala que a colocaccedilatildeo terminoloacutegica eacute uma

combinatoacuteria de duas unidades lexicais em que uma eacute forccedilosamente um

termo e cuja totalidade das partes natildeo designa um e soacute um conceito

Assim os termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas como

jaacute afirmamos satildeo susceptiacuteveis de semelhanccedila a niacutevel da estrutura

morfossintaacutectica Contudo os termos complexos e as colocaccedilotildees

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

39

terminoloacutegicas satildeo unidades de discurso teacutecnico cientiacutefico cuja funccedilatildeo

natildeo se confundem

Vejamos os seguintes exemplos

[[pena] de [prisatildeo]] termo

[[condenado a] [pena de prisatildeo] termo] colocaccedilatildeo terminoloacutegica

No primeiro caso ldquopena de prisatildeordquo estamos diante um termo

que designa um tipo legal de sanccedilatildeo castigo ou puniccedilatildeo aplicada pelo

Tribunal ao autor de um crime Ao passo que ldquocondenado a pena de

prisatildeordquo eacute uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica que pressupotildee um acto proacuteprio

e legitimo do juiz praticado em sede da actividade jurisdicional (poder

de julgar) cujo efeito juriacutedico recai na esfera do autor de um crime

(reacuteu) julgado e condenado nos termos da lei Assim a combinatoacuteria

ldquocondenado a pena de prisatildeordquo natildeo designa um conceito tatildeo-somente

descreve uma situaccedilatildeo concreta produzida mediante processo judicial

cujo resultado se traduz em forma de sentenccedila judicial De um ponto de

vista morfossintaacutectico a combinatoacuteria ldquocondenado a pena de prisatildeordquo eacute

constituiacuteda pela colocaccedilatildeo [condenado a] + o termo complexo [pena de

prisatildeo] podendo por isso ser classificada como uma colocaccedilatildeo

terminoloacutegica

Segundo Silva (201416) ldquoas diferenccedilas que permitem distinguir

os termos das colocaccedilotildees terminoloacutegicas satildeo para os terminoacutelogos em

primeira instacircncia de ordem conceptual quer isto dizer que segundo

ainda a mesma autora em contexto de especialidade a unidade

terminoloacutegica eacute reconhecida porque o conceito para o qual ela designa eacute

identificado O mesmo natildeo se pode dizer das colocaccedilotildees porquanto a

constituiccedilatildeo morfossintaacutectica destas unidades formadas por dois

lexemas em que pelo menos um deles tem estatuto de termo a

totalidade da construccedilatildeo morfossintaacutectica natildeo nos conduz a um termordquo

Chegados aqui somos levados a afirmar que o conceito enquanto

unidade de conhecimento eacute o elemento privilegiado de distinccedilatildeo entre

termos complexos e as colocaccedilotildees terminoloacutegicas ao ponto de

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

40

determinar com alguma seguranccedila a teacutenue fronteira entre os referidos

conceitos

312 Identificaccedilatildeo de termos

1 ndash Frequecircncia

A frequecircncia contribui para identificaccedilatildeo de termos Como temos

vindo a referir a frequecircncia e o nuacutemero de vezes que uma forma

linguiacutestica ocorre no corpus

Assim seleccionaacutemos algumas formas cujas frequecircncias satildeo

significativas no corpus em anaacutelise

Conceito Frequecircncia

crime

152

condenado

70

sentenccedila

33

prisatildeo

478

pena

894

tribunal

95

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

41

Como podemos observar acima os termos prisatildeo pena e crime

satildeo frequentes no corpus em anaacutelise Essa frequecircncia justifica-se pelo

facto destas unidades representarem no discurso juriacutedico-penal

conceitos da aacuterea de especialidade que satildeo para o direito penal fonte de

conhecimento Contudo a informaccedilatildeo conseguida pela frequecircncia natildeo eacute

tatildeo fiaacutevel ou mesmo tatildeo eficaz no processo de apuraccedilatildeo de candidatos a

termo pelo facto de a frequecircncia fornecer dados cuja relevacircncia eacute em

primeira instacircncia de natureza estatiacutestica (podem ou natildeo nos designar

um conceito) Assim as formas cujas frequecircncias foram seleccionadas

como potenciais candidatos a termo tiveram que ser verificadas

utilizando para o efeito outras funccedilotildees do ANTCONC como veremos

adiante

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

42

2 Concordacircncia

Por seu turno a concordacircncia permite-nos observar o

comportamento de um termo nas diversas estruturas sintagmaacuteticas em

que ocorrem facultando-nos deste modo informaccedilatildeo relevante

linguiacutestica e conceptual para o seu estudo

Segundo COSTA (199371) ldquoa concordacircncia permitir-nos-aacute isolar

mais rapidamente os termos complexos visto dois termos que com

alguma frequecircncia surgem associados no eixo sintagmaacutetico tecircm maior

probabilidade de representarem um conceito Parece-nos todavia que

essa pode ser uma conclusatildeo incauta uma vez que tal facto por vezes

pode ser refutadordquo na medida em que existe no texto em anaacutelise

outras associaccedilotildees de unidades lexicais mas que natildeo satildeo

necessariamente um termo e que satildeo combinatoacuterias livres tais como

aparecimento do crime

resultado do crime

Analisando os dois exemplos ldquoaparecimento do crimerdquo e

ldquoresultado do crimerdquo constata-se que estas combinatoacuterias natildeo

ocorrem de forma privilegiada no corpus discurso juriacutedico-penal Natildeo

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

43

correspondem a termos e nem parecem corresponder a colocaccedilotildees

terminoloacutegica Mas para tirar esta duacutevida seria necessaacuteria aumentar o

tamanho do corpus por forma a proporcionar um estudo mais profundo

sobre estas combinatoacuterias

A concordacircncia serviu-nos para extrair combinatoacuterias passiacuteveis

de serem candidatos a termo do domiacutenio do direito penal Atendendo agrave

frequecircncia das formas registadas no corpus de entre as vaacuterias formas

seleccionadas para anaacutelise mais detalhada das combinatoacuterias

seleccionamos as formas ldquopenardquo e ldquocrimerdquo

Fig 6 ndash Concordacircncia da forma ldquopenardquo

Por natildeo ser possiacutevel esgotar neste estudo a representaccedilatildeo dos

quadros com todas as formas que co-ocorrem com a forma ldquopenardquo

limitamo-nos a apresentar pequenas sequecircncias em que se integram as

combinatoacuterias identificadas

Na sequecircncia para a forma ldquocrimerdquo encontramos igualmente

sequecircncias de que satildeo exemplos as seguintes

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

44

Fig 7 ndash Concordacircncia da forma ldquocrimerdquo

A concordacircncia constitui circunstacircncia privilegiada para

identificaccedilatildeo de termos complexos Por conseguinte as combinatoacuterias

ldquopenas de prisatildeo maiorrdquo (para efeito de aplicaccedilatildeo de pena a lei fixa um

miacutenimo e um maacuteximo de tempo previsto para cada categoria de crime

Assim a lei prevecirc molduras penais abstratas que vatildeo de 2 a 4 anos de 4

a 8 de 8 a 12 de 12 a 16 de 16 a 20 e de 20 a 24 anos de prisatildeo

Sendo os crimes graves cuja natureza satildeo puniacuteveis com pena miacutenima de

2 anos satildeo considerados penas que correspondem agrave prisatildeo maior) e

ldquocrime consumadordquo (consiste na reuniatildeo de todos os elementos da sua

definiccedilatildeo legal a noccedilatildeo de consumaccedilatildeo expressa total conformidade do

fato praticado pelo agente com a hipoacutetese abstrata descrita pela norma

penal incriminadora) registam alta frequecircncia e um sentido estaacutevel do

ponto de vista conceptual no corpus isto eacute a soma da totalidade dos

seus constituintes remetem-nos para um uacutenico conceito o que nos faz

querer que estamos em presenccedila de candidatos a temos

Cabe observar a regularidade de certas estruturas na formaccedilatildeo de

unidades complexas Com efeito os padrotildees mais comuns satildeo formados

pela combinaccedilatildeo de nome mais adjectivo ou nome mais preposiccedilatildeo

mais nome

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

45

[N + Adj] = Termo

instruccedilatildeo preparatoacuteria

liberdade condicional

homiciacutedio voluntario

prisatildeo preventiva

pena acessoacuteria

responsabilidade criminal

medidas processuais

[N + Prep + N] = termo

privaccedilatildeo de liberdade

agente do crime

despacho de pronuncia

medida de seguranccedila

abuso de confianccedila

medidas de seguranccedila

branqueamento de capitais

absolviccedilatildeo da instacircncia

agravaccedilatildeo da pena

Os termos que constituem a tipologia acima satildeo constituiacutedos com

pelo menos um nome ldquoliberdade condicionalrdquo e ldquodespacho de

pronuacutenciardquo ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo constituem para as referidas

unidades complexas a base da sua extensatildeo Estas estruturas

constituiacutedas por [N + Adj] ou [N + Prep + Adj] em que o nome eacute um

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

46

termo geral e o adjectivo funciona como qualificador deste formando

por efeito um termo complexo por forccedila da atracatildeo que o primeiro

elemento exerce sobre o segundo

Assim ldquoliberdaderdquo e ldquodespachordquo analisados separadamente natildeo

designam conceitos do direito penal e podem ser entendidas como

unidades da liacutengua comum ou mesmo um termo em outras aacutereas de

conhecimento teacutecnico-cientiacutefico Eacute pois a associaccedilatildeo do elemento

ldquoadjectivordquo ao nome nos casos em anaacutelise ldquocondicionalrdquo e ldquopronunciardquo

que faz com que estejamos perante termos complexos que designam

conceitos da especialidade aqui em anaacutelise

Termo geral Definiccedilatildeo Termo de

especialidade

Definiccedilatildeo

liberdade

condiccedilatildeo do ser que pode agir consoante as leis da sua natureza Acadeacutemia das ciecircncias (20012260)

liberdade condicional

eacute a concessatildeo judicial da liberdade ao condenado por antecipaccedilatildeo relativamente ao termo do cumprimento da pena Eiras e forte (2005268)

despacho

Resoluccedilatildeo de autoridade superior sobre pretensotildees ou negoacutecios nomeaccedilatildeo para emprego puacuteblico Acadeacutemia das ciecircncias (20011207)

despacho de pronuncia

eacute a decisatildeo proferida pelo juiz terminada a fase de instruccedilatildeo segundo a qual haacute indiacutecios suficientes para submeter o arguido a julgamento Eiras e forte (2005160)

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

47

A concordacircncia permitiu-nos analisar as associaccedilotildees de unidades

leacutexicas e as relaccedilotildees que estabelecem entre si As somas das

componentes de uma combinatoacuteria podem levar-nos a questionar a

possibilidade de esta corresponder uma unidade de sentido como

ilustra os exemplos citados anteriormente ldquoliberdade condicionalrdquo e

ldquodespacho de pronuacutenciardquo O facto de uma determinada forma que rege

uma estrutura sintagmaacutetica constituir um nome eventualmente um

adjectivo pode remeter-nos para a existecircncia de um provaacutevel candidato

a termo

3 Contexto

A especificidade do termo como propugnam os defensores da

teoria Comunicativa da Terminologia estaacute centrada precisamente nos

propoacutesitos do seu uso isto eacute o contexto em que ocorrem o que faz com

que se tornem verdadeiros termos com finalidade comunicativa entre

especialistas de uma aacuterea de conhecimento Analisemos de seguida o

contexto em que algumas formas acima representadas ocorrem no

texto que constitui o nosso corpus

Contextos para ldquomedida de seguranccedilardquo

[1] Soacute pode ser aplicada ldquomedida de seguranccedilardquo a estados de

perigosidade cujos pressupostos estejam fixados em lei anterior agrave

sua verificaccedilatildeo

[2] Natildeo eacute permitido o recurso agrave analogia nem agrave interpretaccedilatildeo

extensiva para qualificar um facto como crime para definir um

estado de perigosidade ou para determinar a pena ou a ldquomedida

de seguranccedilardquo que lhes correspondem

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

48

Contexto para ldquoliberdade condicionalrdquo

Os condenados a penas privativas de liberdade de duraccedilatildeo

superior a seis meses poderatildeo ser postos em ldquoliberdade

condicionalrdquo pelo tempo que restar para o cumprimento da pena

quando tiverem cumprido metade dessa e mostrarem capacidade

e vontade de se adaptar agrave vida honesta

Contexto para ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo

A pena de ldquoprivaccedilatildeo de liberdaderdquo aplicada a menor de 16 anos

deve ser substituiacuteda por pena natildeo detentiva adequada salvo se a

sua execuccedilatildeo for absolutamente necessaacuteria agrave defesa social e agrave

prevenccedilatildeo criminal

Contextos para ldquolegiacutetima defesardquo

[1] Constitui ldquolegiacutetima defesardquo o facto praticado como meio

necessaacuterio para repelir a agressatildeo actual e iliacutecita de interesses

juridicamente protegidos do agente ou de terceiro

[2] Se houver excesso dos meios empregados em ldquolegiacutetima defesardquo

o facto eacute iliacutecito mas a pena pode ser especialmente atenuada

Os contextos referidos fazem parte do corpus em anaacutelise da

presente pesquisa dos quais seleccionaacutemos algumas formas que

passamos a analisar

Exemplo 1

ldquocrime consumadordquo

ldquocrimerdquo ndash juridicamente corresponde o facto voluntario declarado

puniacutevel pela lei penal coacutedigo penal angolano (20103) A lei impotildee para

verificaccedilatildeo do ldquocrimerdquo que sejam observados certos requisitos deste logo

a natureza de qualquer acto considerado como tal ldquocrimerdquo decorre de um

imperativo legal cujos pressupostos satildeo determinados a luz do direito

penal

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

49

ldquoconsumadordquo ndash vem do latim (consummatus = que se consumou

ou acabado) Dicionaacuterio da Academia das Ciecircncias (2001944)

O particiacutepio passado poacutes-nominal ldquoconsumadordquo desempenha a

funccedilatildeo de adjectivo e assim delimita o tipo de ldquocrimerdquo Juridicamente o

termo ldquocrime consumadordquo reduz a ideia do acto voluntario cuja praacutetica

corresponde na sua plenitude aos requisitos estipulados pela lei penal

para a sua verificaccedilatildeo

Exemplo 2

ldquopena de prisatildeordquo

ldquopenardquo ndash em termos juriacutedicos ldquopenardquo eacute a sanccedilatildeo ou castigo imposto

por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo

ldquoderdquo ndash gramaticalmente eacute uma preposiccedilatildeo cuja funccedilatildeo consiste em

estabelecer relaccedilatildeo entre duas palavras ou entre duas partes de uma

oraccedilatildeo

ldquoprisatildeordquo ndash eacute o espaccedilo fiacutesico onde os condenados agrave pena de

privaccedilatildeo de liberdade cumprem pena

Deste modo ldquopena de prisatildeordquo em termos juriacutedicos corresponde agrave

privaccedilatildeo da liberdade pelo tempo fixado na sentenccedila de harmonia com a

respectiva moldura penal

Como se depreende os contextos fornecem um conjunto de

informaccedilotildees de natureza linguiacutestica ou conceptual que vinculam as

unidades do discurso

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

50

CAPIacuteTULO IV

PROPOSTA DE ELABORACcedilAtildeO DE DICIONAacuteRIO

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

51

1 IDENTIFICACcedilAtildeO DO PUacuteBLICO-ALVO

Ao propor a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio terminoloacutegico natildeo

podiacuteamos de forma alguma deixar de pensar no puacuteblico-alvo uma vez

que os objectivos traccedilados devem necessariamente corresponder agraves

expectativas das necessidades reais dos utilizadores visados

O direito penal constitui uma aacuterea muito sensiacutevel dada a natureza

das mateacuterias tuteladas por este ramo de direito A tiacutetulo de exemplo os

profissionais do foacuterum tecircm de decidir entre a liberdade e a privaccedilatildeo da

liberdade dos indiviacuteduos em conflito com a lei uma tarefa natildeo raras

vezes faacutecil dada a complexidade de factos que envolvem certos crimes e

torna-se ainda mais difiacutecil se atendermos que estes factos devem ser

subsumidos nas normas juriacutedicas como parte do processo da

hermenecircutica juriacutedica

Assim como fizemos questatildeo de referir ao longo deste trabalho a

nossa pesquisa estaacute orientada para a produccedilatildeo de um instrumento

terminograacutefico do tipo ldquodicionaacuteriordquo A presente proposta visa auxiliar

exclusiva e eficazmente os profissionais do foacuterum penal

nomeadamente os juiacutezes procuradores e advogados em Angola Esse

grupo de profissionais constitui o nosso puacuteblico-alvo pese embora o

referido dicionaacuterio tambeacutem poder ser uacutetil aos Auditores do Curso de

Formaccedilatildeo Inicial de Magistrados bem como para os estudantes do

curso de direito em Angola

2 VALIDACcedilAtildeO DE TERMOS

A validaccedilatildeo de termos eacute uma fase de estrema relevacircncia no

processo de elaboraccedilatildeo de dicionaacuterio terminoloacutegico Natildeo se restringe a

mera apreciaccedilatildeo linguiacutestica das formas candidatos a termo Segundo

RONDEAU (198174) os recursos externos ao texto satildeo fundamentais

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

52

no acesso ao conhecimento do mundo uma vez que esses elementos

ajudam o especialista a identificar as formas linguiacutesticas que se

relacionam com o termo podendo em outras fases do trabalho delimitar

conceitos relativos ao termo e formular a definiccedilatildeo

Para se proceder agrave validaccedilatildeo de termos eacute necessaacuterio a

constituiccedilatildeo de uma lista de formas candidatos a termos extraiacutedas do

corpus e seleccionadas com base nos processos utilizados na presente

pesquisa

Posteriormente remeter-se-aacute a lista das formas seleccionadas

candidatos a termo a um grupo iacutempar de especialista do domiacutenio em

estudo para validaccedilatildeo Segundo SILVA (201478) ldquoos termos devem ser

partilhados e aceites por uma comunidade de especialistas Num

primeiro momento o especialista teraacute que avaliar a designaccedilatildeo isto eacute a

relaccedilatildeo que se estabelece entre a entidade linguiacutestica e o conceito Essa

relaccedilatildeo eacute em uacuteltima instacircncia estabilizada pela definiccedilatildeo que permite

com clareza distinguir um conceito de outrordquo

Apoacutes a validaccedilatildeo dos conceitos torna-se impreteriacutevel a validaccedilatildeo

definitoacuteria das formas candidatos a termos Neste processo eacute necessaacuterio

adequar o melhor termo para designar o conceito conforme os criteacuterios

que forem estabelecidos para esse fim Os termos validados por

unanimidade isto eacute por todos os especialistas satildeo mantidos e postos agrave

disposiccedilatildeo do terminoloacutego os que natildeo forem validados seratildeo preteridos

As formas candidatos a termo sobre as quais recai alguma duacutevida

por parte dos especialistas poderatildeo ser novamente analisadas e

posteriormente submetidos a um novo processo de validaccedilatildeo

3 FICHA TERMINOLOGICA

A ficha terminoloacutegica tem sido um recurso recorrente em

trabalhos cujos objectivos visam propor a concepccedilatildeo de um produto

terminoloacutegico Segundo DUBUC (198575) ldquoLa fiche terminologique est

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

53

un document qui contient sous une forme facilement accessible et

repeacuterable des renseignements permettant drsquoidentifier le contenu

notionnel drsquoun terme et drsquoen attester lrsquousage en vue de reacutepondre aux

besoins drsquoexpression de lrsquousagerrdquo

A ficha terminoloacutegica eacute um documento que conteacutem informaccedilotildees

relevantes sobre o termo

Assim a ficha terminoloacutegica eacute um modelo de registo dos dados

terminoloacutegicos que permite a constituiccedilatildeo visualizaccedilatildeo e consulta de

um termo no dicionaacuterio A ficha terminoloacutegica comporta um certo

nuacutemero de campos correspondendo agraves categorias de dados conferindo

para cada termo em entrada um tipo de informaccedilatildeo especiacutefica Os

campos da ficha encontram-se organizados em funccedilatildeo de um campo da

entrada no qual se introduz o termo Com efeito o modelo de ficha

terminoloacutegica que propomos corresponde agrave natureza e as necessidades

dos utilizadores visados nesta pesquisa

Por conseguinte os campos da ficha terminoloacutegica permitem-nos

introduzir informaccedilatildeo pertinente de natureza conceptual e linguiacutestica

referente ao termo que se encontra em entrada Atendendo agraves

necessidades do puacuteblico-alvo a ficha que pretendemos desenvolver seraacute

constituiacuteda por seis campos

As informaccedilotildees que constaratildeo nos campos satildeo as seguintes

Ficha terminoloacutegica

entrada

fonte de entrada

categoria gramatical

domiacutenio

definiccedilatildeo

fonte de definiccedilatildeo

Notas

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

54

Na sequecircncia da identificaccedilatildeo dos campos que constituiratildeo a

ficha terminoloacutegica importa abordar de forma resumida cada uma das

ruacutebricas a que esses campos dizem respeito segundo a ordem

O primeiro campo ldquoentradardquo estaacute reservado agrave introduccedilatildeo do

termo No campo ldquofonte da entradardquo consta a informaccedilatildeo inerente agrave

fonte de onde proveacutem a informaccedilatildeo do termo em entrada O campo

ldquocategoria gramaticalrdquo diz respeito a informaccedilotildees de natureza linguiacutestica

a saber a classe o geacutenero e o nuacutemero a que pertence o termo em

entrada ldquodomiacuteniordquo eacute o campo que indica a aacuterea de saber ou o acircmbito de

aplicaccedilatildeo agrave qual o termo pertence O campo ldquodefiniccedilatildeordquo conteacutem a

informaccedilatildeo que descreve o conceito para que remeta o termo O campo

ldquofonte de definiccedilatildeordquo consta a informaccedilatildeo inerente a origem da definiccedilatildeo

Em relaccedilatildeo ao campo ldquonotardquo este conteacutem informaccedilotildees subsidiaacuterias e

pertinentes relativas ao conceito Demonstremos com dois exemplos

Ficha terminoloacutegica

entrada crime

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sms

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo Crime ou delito eacute o acto voluntaacuterio declarado puniacutevel pela lei penal Pag3 artordm 1ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

55

Ficha terminoloacutegica

entrada pena

fonte de entrada coacutedigo penal angolano

categoria gramatical sfs

domiacutenio direito penal

definiccedilatildeo sanccedilatildeo ou castigo imposto por lei a algum crime delito ou contravenccedilatildeo Paacuteg 22 artordm 54ordm

fonte de definiccedilatildeo Texto do coacutedigo penal angolano Ed Escolar de 2102 2010

notas

Com estas duas fichas terminoloacutegicas pretendemos demonstrar o

tipo de informaccedilatildeo que pretendemos colocar nos campos na futura do

futuro dicionaacuterio terminoloacutegico base de dados terminoloacutegica

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

56

NOTAS CONCLUSIVAS

Ao longo deste trabalho destacamos a importacircncia dos termos no

discurso de especialidade O termo dominou a orientaccedilatildeo desta

pesquisa cujos resultados visam a concepccedilatildeo de um dicionaacuterio

terminoloacutegico

Para o efeito elegemos a aacuterea do direito para desenvolvimento da

referida ferramenta Atendendo a maximizaccedilatildeo e a eficaacutecia de

resultados delimitamos o domiacutenio de investigaccedilatildeo ao direito penal

tendo sido o corpus de pesquisa constituiacutedo pelo texto Coacutedigo Penal

Angolano Com o corpus disponiacutevel procedemos o tratamento semi-

automaacutetico com o auxiacutelio do software ANTCONC

O contexto e a concordacircncia foram bastante uacuteteis no processo de

identificaccedilatildeo de termos pois permitiram-nos isolar as formas

complexas que depois de analisadas algumas revelaram-se potenciais

candidatas a termos

Constatamos na presente pesquisa que o discurso juriacutedico-penal

abunda um grande nuacutemero de termos complexos A terminologia do

direito penal concentramos a nossa atenccedilatildeo na seguinte estrutura

ldquoN+Adj ou N + Prep + Adjrdquo A semelhanccedila dos termos complexos

algumas colocaccedilotildees terminoloacutegicas apresentam igual estrutura o que

torna difiacutecil em alguns casos distinguir uma colocaccedilatildeo terminoloacutegica

de um termo complexo

Assim todas as formas complexas cuja soma dos seus

constituintes remeteram para um conceito foram identificadas como

potenciais candidatas a termo sendo as outras afastadas dessa

possibilidadeCom efeito para o conhecimento da terminologia juriacutedico-

penal em especial os termos complexos revela-se uacutetil o estudo das

combinatoacuterias pois permitem encontrar sequecircncias fixas

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

57

Vale tambeacutem dizer que a terminologia do direito penal eacute

essencialmente de base nominal ou seja os termos satildeo geralmente

formados com pelo menos um nome que rege a expressatildeo sintagmaacutetica

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

58

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

Terminologia e Linguiacutestica

ADAM Jean-Michel (1992) ndash Les Textes Types et Prototypes reacutecit

description argumentation explication et dialogue France Ed Nathan

BENVENISTE Eacutemile (1989) Problemas de linguiacutestica geral II

Campinas Ed Pontes

CABREacute Maria Teresa (1992) - Theory methods and aplications Edited

by Juan C Sager Translated by Janet Ann DeCesaris Barcelona Duvi

CABREacute (2007) ndash Constituir un Corpus de Textos de Especialidad

Condiciones y Posibilidade en M Ballard - C Pineira-Tresmontant

(ed) Les corpus en linguistique et en traductologie Arras Artois

Presses Universiteacute

CABREacute M Tersa (1999) ndash La Terminologiacutea Representacioacuten y

Cominicacioacuten ndash Elementos para uma teoria de base comunicativa y atro

artiacuteculos Barcelona Institut Universitari de Linguumliacutestica Aplicada

COSTA Rute (1993) terminologia da economia monetaacuteria relaccedilotildees

conceptuais e semacircnticas numa sistemaacutetica terminoloacutegica e

lexicograacutefica Dissertaccedilatildeo de mestrado FCSH Universidade Nova de

Lisboa

COSTA Rute (2001) ndash laquoO Termo Como Veiacuteculo de Especificidades

Conceptuais e Semacircnticasraquo Polifonia nordm 4 Ediccedilotildees Colibri UNL

Lisboa

COSTA Rute (2003) ndash ldquoConstituiccedilatildeo de corpora de especialidaderdquo Actas

do Encontro da Associaccedilatildeo de Linguiacutestica Portuguesa Lisboa Colibri

COSTA Rute (2001) ndash Pressupostos teoacutericos e Metroloacutegicos para

Extracccedilatildeo Automaacutetica de Unidades Terminoloacutegicas Multileximicas

Dissertaccedilatildeo de Doutoramento FCSH Universidade Nova de Lisboa

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

59

DESMET Maria Isabel (1994) - Princiacutepios teoacuterico-metodoloacutegicos em

Terminologia Por uma macro-estruturaccedilatildeo Wusteriana do Domiacutenio do

Ambiente

LERAT Pierre (1995) ndash Les langue speacutecialiseacutees Paris Presses

Universitaires de France Ed 1ordf

LINO Teresa (1991) ndash Idiomaciteacute en Portugais Dacuteun Point de Vue de la

Terminologie Collocations Terminologiques et Neacuteonymie in actes

ducoloque laquoidiomaciteacute des langues romanesraquo Paris Universiteacute de Paris

8

LINO MOCHO COSTA Rute (1991) ndash Terminologia da Lexicologia e da

lexicografia Lisboa Ed cosmos vol II

NACIMENTO M F Bacelar do (2003) ndash ldquoO Papel dos Corpora

Especializados na Criaccedilatildeo de Bases de Dados Terminoloacutegicardquo Lisboa

Centro de Linguiacutestica da Universidade de Lisboa

SAGER Juan C (1993) - Curso Praacutetico sobre el Procesamiento de la

terminologia Madrid ed Fundacioacuten Germaacuten Saacutenchez Ruipeacuterez

JOHN Sinclair John (1991) - Corpus Concordance Collocation

Oxford Oxford University Press

TARRY Helen Leckie (1995) ndash Language and Context A Functional

Linguistic Theory of Register Edited by David Birch London Frances

Pinter

XAVIER Ronaldo Caldeira (2002) - portuguecircs no direito linguagem

forense Rio de Janeiro ed Forense

Dicionaacuterios

Academia das Ciecircncias (2001) ndash Dicionaacuterio da Liacutengua Portuguesa

Contemporacircnea Lisboa Ed Verbo I e II Vol

EIRAS Henriques (2005) ndash Dicionaacuterio de Direito Penal e Processo Penal

Lisboa Ed Quid juacuteris ed2ordf revista e actualizada

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

60

PRATA Catarina e VILALONGA M Joseacute (2016) - Dicionaacuterio Juriacutedico

Direito Penal e Direito Processual Penal Coimbra Ed Almedina 2ordm

Ediccedilatildeo actualizada

Direito penal

BELEZA Teresa Pizarro (1980) ndash Direito Penal Lisboa Ed AAFDL vol

II

CHORAtildeO Maacuterio Bigotte (1986) ndash Temas Fundamentais de Direito

Portugal Ed Coimbra

DIAS Jorge de Figueiredo (2004) ndash Direito Penal Questotildees

Fundamentais a Doutrina Geral do Crime Coimbra Ed Coimbra 2ordf

ed tomo I

KHALED JR Salah H (2010) - Introduccedilatildeo aos Fundamentos do Direito

Penal In Acircmbito Juriacutedico Rio Grande XIII n 75 Disponiacutevel em

lthttpwwwambitojuridicocombrsiteindexphpn_link=revista_arti

gos_leituraampartigo_id=7411gt

LEONARDO Aguiar (2016) ndash Conceito de Direito Penal Jusbrasil

disponiacutevel em

httpsleornardoaaaguairjusbrasilcombrertigos32103539conceito

-de-direito-penal

LATORRE Angel (2002) - Introduccedilatildeo ao Direito Lisboa Ed Globo Lda

OLIVEIRA Ascensatildeo Joseacute de ndash O Direito Introduccedilatildeo e Teoria Geral

Lisboa Ed Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian ed 3ordm

REAL Miguel (1973) ndash Noccedilotildees Preliminares de Direito Satildeo Paulo Ed

Universidade de Satildeo Paulo 5ordf ed

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018

61

Legislaccedilatildeo

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de Angola de 21 de Janeiro de 2010

Lei nordm215 de 2 de Fevereiro Lei Orgacircnica sobre a Organizaccedilatildeo e

Funcionamento dos Tribunais da Jurisdiccedilatildeo Comum

Lei nordm2212 de 14 de Agosto Lei Orgacircnica da Procuradoria-Geral da

Repuacuteblica e do Ministeacuterio Publico

Siacutetios da internet

httpotaoxacukdocumentscreatingdlcchapter1htm consultado

a 3 de Setembro de 2016

httpwwwamnestyorgdownloadDocumnts16000afr120052012pt

pdf consultado a 20 de Marccedilo de 2017

wwwlaurenceanthonynetsoftwareantconc consultado a 13 de Maio

de 2017

httpszaumlangscomtraduccedilatildeo-como-tecnica-processo-de

internacionazaccedilatildeo consultado a 23 de Julho de 2017

wwwminjusdhgovaodownloadaspxid=444amptipo=legislaccedilatildeo

consultado a 12 de Agosto de 2017

wwwcrjd-angolacom consultado a 20 de Fevereiro de 2018

Httsbooksgoogleptbooksisbn=1443889628 consultado a 25 de

Fevereiro de 2018