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EaD TEORIA DO ESTADO CONTEMPORÂNEO 1 UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD Coleção Educação a Distância Série Livro-Texto Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil 2009 Dejalma Cremonese TEORIA DO ESTADO CONTEMPORÂNEO

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EaD TEOR IA DO ESTA DO CONTEMPORÂ NEO

1

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG

COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD

Coleção Educação a Distância

Série Livro-Texto

Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil2009

Dejalma Cremonese

TEORIA DO ESTADOCONTEMPORÂNEO

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2008, Editora UnijuíRua do Comércio, 136498700-000 - Ijuí - RS - BrasilFone: (0__55) 3332-0217Fax: (0__55) 3332-0216E-mail: [email protected]

Editor: Gilmar Antonio Bedin

Editor-adjunto: Joel Corso

Capa: Elias Ricardo Schüssler

Revisão: Véra Fischer

Designer Educacional: Karin Strohschoen

Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa:

Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroestedo Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)

Catalogação na Publicação:Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí

C915t Cremonese, Dejalma.

Teoria do estado contemporâneo / Dejalma Cremonese. – Ijuí :Ed. Unijuí, 2009. – 124 p. – (Coleção educação a distância. Sérielivro-texto).

ISBN 978-85-7429-751-4

1. Estado. 2. Sociedade. 3. Direitos sociais. 4. Neoliberalismo.5. Eleições- Brasil. I. Título. II. Série.

CDU : 321 321.01

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SumárioSumárioSumárioSumário

CONHECENDO O PROFESSOR .................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 7

UNIDADE 1 – A CRÍTICA CONTRA O ESTADO NO SÉCULO 19 ......................................... 9

Seção 1.1 – O anarquismo ....................................................................................................... 9

1.1.1 Os principais representantes:

Proudhon, Bakunin, Kropotkin e Tolstoi ............................................ 10

Seção 1.1 – O anarquismo ....................................................................................................... 9

Seção 1.2 – O socialismo utópico ........................................................................................ 11

1.2.1 Os principais representantes:

Saint-Simon, Fourrier, Owen e Luis Blanc ......................................... 12

Seção 1.3 – O socialismo científico ..................................................................................... 12

1.3.1 Os principais representantes:

Marx e Engels ........................................................................................ 13

UNIDADE 2 – CRISES E TRANSFORMAÇÕES DO ESTADO NO SÉCULO 20............... 19

Seção 2.1 – Os intérpretes de Marx: Lenin e Rosa Luxemburgo .................................... 20

Seção 2.2 – O debate sobre o Estado na Teoria Democrática Contemporânea .......... 22

2.2.1 A Teoria das Elites ................................................................................. 22

2.2.2 A Teoria Pluralista ................................................................................. 26

2.2.3 A Teoria Neomarxista ............................................................................ 28

2.2.4 A Teoria Participacionista (Macpherson, Held e Pateman) ............. 30

Seção 2.3 – A procedência do Estado do Bem-Estar Social:

a Teoria Keynesiana e a Social Democracia ................................................ 33

UNIDADE 3 – ESTADO, SOCIEDADE E DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL ..................... 39

Seção 3.1 – O “descobrimento” do Brasil: antecedentes ................................................. 40

Seção 3.2 – Estado, Direito e Sociedade em descompasso ............................................. 43

3.2.1 Direito do colonizador e privilégio das elites ..................................... 43

3.2.2 A herança colonial e o Estado brasileiro ............................................ 44

3.2.3 A República Brasileira: nova sociedade,

novo modelo constitucional, velho autoritarismo ............................. 45

Seção 3.3 – A formação do Estado no Brasil e a questão dos direitos sociais .............. 46

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UNIDADE 4 – OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO NEOLIBERALISMO:

Friedrich A. Hayek ............................................................................................ 61

Seção 4.1 – O Neoliberalismo: aspectos teóricos e aplicabilidades ................................ 61

4.1.1 Hayek diverge de Keynes ....................................................................... 63

4.1.2 A planificação estatal leva ao “caminho da servidão” ...................... 64

Seção 4.2 – As idéias neoliberais constituídas no mundo ................................................ 68

Seção 4.3 – Consenso de Washington: revisão do neoliberalismo ................................... 70

Seção 4.4 – A experiência neoliberal do Brasil ................................................................... 72

4.4.1 Conseqüências das políticas neoliberais no Brasil ............................ 75

Seção 4.5 – A continuidade do colonialismo ...................................................................... 77

Seção 4.6 – A crise atual do neoliberalismo ....................................................................... 79

UNIDADE 5 – ELEIÇÕES E DESEMPENHO PARTIDÁRIO NO BRASIL (2002-2008) ....... 85

Seção 5.1 – Eleições gerais 2002: Lula e o PT vitoriosos .................................................. 87

5.1.1 Avaliando o primeiro mandato.............................................................. 89

5.1.2 A composição ministerial ....................................................................... 89

5.1.3 A mudança programática se confirmou .............................................. 90

5.1.4 Comprometimento com as instituições financeiras internacionais ..... 90

5.1.5 Avanços e retrocessos ............................................................................. 91

Seção 5.2 – As eleições municipais de 2004 ....................................................................... 92

5.2.1 Primeiro turno: PT e PSDB saem na frente ......................................... 93

5.2.2 Vitórias eleitorais nos municípios e capitais (1º turno) .................... 94

5.2.3 Segundo turno: resultados gerais no Brasil ........................................ 94

5.2.4 Vitória do PSDB ...................................................................................... 95

5.2.5 Governando as capitais: hegemonia do PT e do PSDB ..................... 97

5.2.6 O controle político nas maiores cidades ............................................. 98

5.2.7 Total de votos de cada partido .............................................................. 98

5.2.8 Cenário político gaúcho (1º turno) ...................................................... 99

5.2.9 A derrota petista em Porto Alegre ...................................................... 101

Seção 5.3 – As eleições gerais de 2006 ............................................................................. 105

5.3.1 A campanha eleitoral .......................................................................... 105

Seção 5.4 – Eleições municipais de 2008 ......................................................................... 111

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 119

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5

Conhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o Professor

Sou Dejalma Cremonese, tenho 39 anos, nasci no dia 7 de

dezembro de 1968 no Centro-Serra do Rio Grande do Sul, mais

precisamente no município de Arroio do Tigre (a uma distância de

243 Km de Porto Alegre). Sou o décimo terceiro filho de uma famí-

lia de pequenos agricultores e realizei meus primeiros estudos (En-

sino Fundamental) em uma escola interiorana da rede pública

(1976-1983). A continuidade dos estudos só foi possível graças ao

meu ingresso no Seminário Diocesano de Santa Maria – RS, onde

concluí o Ensino Médio, mais o curso propedêutico (1984-1987).

Continuando os estudos, graduei-me em Filosofia (Licenciatura e Bacharelado) pela Fafimc

de Viamão – RS (1988-1990). Ao retornar a Santa Maria, cursei ainda 2 anos do curso de

Teologia (1991-1992) no Seminário Máximo Palotino. Minha Pós-Graduação foi em “Pes-

quisa Científica” (nível de Especialização) na FIC (1993-1994). Logo após iniciei o Mestrado

em Filosofia pela UFSM, o qual concluí em 1997. Quase uma década depois, em 2006,

concluí o Doutorado em Ciência Política pela UFRGS. Minha atuação profissional iniciou

em 1994 como professor nas turmas secundaristas do Colégio Sant’Anna, em Santa Maria.

Como professor universitário, lecionei no Ensino de Graduação da FIC (hoje Unifra) em

Santa Maria; também atuei como professor substituto na UFSM no ano de 1995; fui profes-

sor da Universidade de Cruz Alta (Unicruz) no período de 1997-2002. Desde 1998 exerço as

atividades acadêmicas na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do

Sul (Unijuí). Nesta Universidade, sou professor Associado 1 (40 horas), atuando no Progra-

ma de Mestrado em Desenvolvimento na Linha de Pesquisa: Direito, Cidadania e Desenvol-

vimento. Atuo também no Departamento de Ciências Sociais da mesma Universidade nos

seguintes componentes curriculares: Ciência Política, Teoria Política, Teoria do Estado e

Sociedade, Política e Cultura. O meu eixo de pesquisa está centrado nos temas da Democra-

cia (teoria e processos democráticos), Cidadania (participação e inclusão social), Cultura

Política (Capital Social) e Desenvolvimento. Para maiores informações, disponibilizo um

site na Internet no seguinte endereço: <www.capitalsocialsul.com.br>. Para contato direto

informo o meu endereço de e-mail: [email protected]

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IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

Este livro tem como objetivo discutir a questão do Estado a partir do período histórico

contemporâneo.1 Como disciplina, a Teoria do Estado sistematiza principalmente conheci-

mentos jurídicos, filosóficos, sociológicos, políticos, históricos e econômicos, valendo-se de

tais conhecimentos para buscar o aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, simultanea-

mente, como um fato social e uma ordem, que procura atingir seus fins com eficácia e justiça.

Esta obra tem como objetivo apresentar aos acadêmicos uma visão panorâmica sobre

o debate do Estado nos dois últimos séculos, 19 e 20.2

Este trabalho está dividido em cinco Unidades específicas. A primeira trata da crítica

teórica do Estado no século 19, com a sistematização das principais idéias da teoria anar-

quista, do socialismo utópico e do socialismo científico, com seus respectivos representan-

tes. A Unidade 2 trata da crise e das transformações do Estado no século 20. Apresenta a

questão do Estado no debate da Teoria Democrática Contemporânea, além de discutir a

conceituação e instituição do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) na Europa e do

New Deal nos Estados Unidos da América, até a crise desse modelo nos anos 70. Já na

Unidade 3 apresenta-se um debate mais específico da origem e do desenvolvimento do Esta-

do e da sociedade no Brasil. Inicialmente procura-se apresentar a estruturação e o desenvol-

vimento da sociedade, da economia e da política, a partir do “descobrimento” do Brasil,

passando pelo período colonial até a emancipação política do país. Apresenta, igualmente,

a intalação do Estado a partir da vontade das elites portuguesas aliadas à elite brasileira.

Na Unidade 4, sob o título “O neoliberalismo: aspectos teóricos e aplicabilidades”, procura-

se discutir questões teóricas das origens do neoliberalismo a partir da obra O caminho da

servidão, de Hayek, bem como a discordância com a teoria keynesiana. Em um segundo

1 O período contemporâneo inicia-se logo após a Revolução Francesa (1789) e estende-se até nossos dias.

2 De certa maneira, este livro é uma continuidade do manual de Teoria Política em que o autor procurou sistematizar as idéias centraissobre a questão do poder, da polít ica e do Estado (desde as origens, formação, estrutura, organização, funcionamento e suas finalidades).Conferir Cremonese (2008).

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momento apresenta-se um debate quanto à aplicabilidade das políticas neoliberais no mun-

do e no Brasil, a partir do chamado Consenso de Washington (1989). Por fim, discutem-se

alguns aspectos da crise do neoliberalismo atual, pelos quais constata-se a nítida mudança:

da mão invisível do mercado para a mão visível do Estado. A última Unidade (5) aborda

aspectos ligados às eleições e ao desempenho partidário no Brasil a partir de 2002 até 2008

no intuito de mostrar o jogo de força dos principais partidos políticos (PMDB, PSDB, PT e

DEM) na arena política nacional.

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Unidade 1Unidade 1Unidade 1Unidade 1

A Crítica Contra o Estado no Século 19

Seção 1.1

O anarquismo

Genericamente, pode-se afirmar que o anarquismo é uma

teoria que nega todo tipo de autoridade política, religiosa, eco-

nômica ou ideológica que se impõe sobre os indivíduos. Em ou-

tras palavras, o cerne do anarquismo é o repúdio aos governantes.

No âmbito político, os anarquistas escolhem o Estado mo-

derno como principal inimigo. Este Estado, dentro de seu territó-

rio, divide as pessoas em governantes e governados, monopoliza

os principais meios de coerção física, reivindica soberania sobre

todas as pessoas e toda a propriedade; promulga leis visando a

suprimir todas as outras leis e costumes, pune os que infringem

suas leis e apropria-se à força, por meio de impostos e de outras

formas, daquilo que é propriedade de seus subordinados. Desta

forma, os anarquistas se opõem aos teóricos que justificam e de-

fendem a existência do Estado, como Thomas Hobbes, que argu-

menta que, na ausência do Estado, não há sociedade e a vida é

solitária, medíocre, desagradável, brutal e curta. Os anarquistas

defendem a idéia de “sociedade natural”, uma sociedade auto-

regulada, pluralista, na qual poder e autoridade estão radical-

mente descentralizados (Outhwaite, W.; Bottomore, 1996, p. 15).

Thomas Hobbes (Malmesbury,5 de abril de 1588 – HardwickHall, 1º de dezembro de 1674)foi um matemático , teóricopolít ico e filóso fo inglês, autorde Leviatã (1651) e Docidadão (1651). Disponívelem: <http://pt.wik ipedia.org/wiki/Thomas_Hobbes>. Acessoem: 16 out. 2008.

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1.1.1 OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES:Proudhon, Bakunin, Kropotkin e Tolstoi

Foi Joseph Proudhon (1809-1865) o primeiro teórico a se

intitular anarquista. Proudhon está inserido no que chamamos

de anarquismo socialista. Para este autor, todos os partidos polí-

ticos são variedades de despotismo; o poder do Estado e do capi-

tal são sinônimos; o proletariado, portanto, não tem como se

emancipar mediante o uso do poder do Estado, apenas pela ação

direta (pacífica); a sociedade deveria ser organizada na forma de

comunidades locais autônomas de associações de produtores,

unidas pelo “princípio federativo” (Outhwaite, W.; Bottomore,

1996, p. 16). É também de Proudhon a famosa frase: “A proprie-

dade é um roubo”.

Por outro lado, Mikhail A. Bakunin (1814-1876) e Pyotr

Alexeyevich Kropotkin (1842-1921), na Rússia, substituíram o

“mutualismo” de Proudhon, primeiro pelo “coletivismo” e, depois,

pelo “comunismo” – este último significando o “tudo pertence a

todos” e a distribuição de acordo com as necessidades. Sob a in-

fluência de Bakunin, os anarquistas adotaram a estratégia de

estimular insurreições populares, no decorrer das quais previa-se

que a propriedade capitalista e fundiária seria expropriada e

coletivizada, e o Estado abolido. No lugar do Estado surgiriam

as comunas autônomas, unidas federativamente: uma sociedade

socialista organizada de baixo para cima, e não ao contrário.

Insurreições, atos de terrorismo e assasinatos faziam parte das

estratégias dos anarquistas para alcançar seus objetivos. Muitas

foram, no entanto, as formas de repressão que os anarquistas

sofreram, exatamente pelo caráter de violência das suas ações.

Por isso adotaram uma estratégia alternativa associada ao

sindicalismo. A idéia era transformar os sindicatos em instrumen-

tos revolucionários da luta de classes e fazer deles, em vez das

comunas, as unidades básicas de uma nova sociedade.

Pierre-Joseph Proudhon

(Besançon, 15 de janeiro de1809 – Paris, 19 de janeiro de

1865) Anarquista, filho defamília muito pobre, foi pastorde pequeno rebanho de gado

quando cr iança. Em 1840publica um livro que o torna

conhecido , seu ensaio Qu’est-ce que la propriété?, af irma

“La propriété c’est le vol” (Apropriedade é o roubo) e, em

seu livro Les confessions d’unrévolu tionna ire, defende que

l’anarch ie c’est l’ordre (A

anarquia é a ordem). Disponí-vel em: <http://

pt.wikipedia.org/wiki/Pierre-Joseph_Proudhon>. Acesso

em: 20 set. 2008.

Mikhail Aleksandrovitch

Bakun in

(também apor tuguesado emBakun ine ou Bakúnine, em

russo Михаил АлександровичБакунин), n asceu no dia 30

de maio de 1814 (18 de maiono calendário juliano ) nacidade de Premukhimo,

província de Tver, na Rússia;faleceu em 1 de julho de 1876

(19 de junho no calendáriojuliano) em Berna, na Suíça.

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/

Michael_Bakunin>. Acesso em:16 set. 2008.

Pyotr Alexeyevich Kropo tkin

(Moscou, 9 de dezembro de1842 — Dmitrov, 8 de

fevereiro de 1921) foi umescritor russo. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Pio tr_Kropotkin>. Acesso em:

12 nov. 2008.

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Os anarquistas, diferentemente dos marxistas, acreditavam

que era possível chegar a uma nova ordem social (ao comunis-

mo) sem precisar passar pela ditadura do proletariado: em outras

palavras, advogavam a passagem direta para a “sociedade sem

Estado”.

Leon Tolstoi (1828-1910), romancista russo, se opôs radi-

calmente ao anarquismo revolucionário e seus métodos, mas não

a sua visão de uma nova sociedade socialista. Seu anarquismo,

no entanto, estava mais ligado à tradição pacifista: a “lei do

amor”, expressa no Sermão da Montanha, o fez denunciar o

Estado e sua “violência organizada” e conclamar as pessoas a

desobedecerem suas exigências imorais. O apelo de Tolstoi dei-

xou seguidores, entre os quais Gandhi, no desenvolvimento de

sua Filosofia de não-violência na Índia. Ele popularizou a técni-

ca da resistência não-violenta de massas e deu origem à idéia-

chave do anarco-pacifismo: a revolução não-violenta, descrita

como um programa não para a tomada do poder, mas para a trans-

formação dos relacionamentos.

Seção 1.2

O socialismo utópico

Da mesma forma que o anarquismo, o socialismo utópico

saiu em defesa do proletariado (oprimidos e explorados), opon-

do-se ao individualismo econômico (liberalismo ou capitalismo),

pois este último tem como prioridade a defesa da propriedade

particular dos meios de produção, o lucro pessoal, a livre concor-

rência, a lei da oferta e da procura e o Estado mínimo (não-inter-

venção na economia).

Lev Tolstoi

Também conhecido como LéonTo lstoi ou Leão Tolsto i ou LeoTo lstoy, Lev Nikoláievich Tolstoi(em russo Лев НиколаевичТолстой) (9 de setembro de1828 – 20 de novembro de1910) é considerado um dosmaiores escritores de todos ostempos. Disponível em: <http: //pt.wikipedia.o rg/wiki/Liev_Tolst%C3%B3i>. Acessoem: 14 out. 2008.

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1.2.1 OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES:Saint-Simon, Fourrier, Owen e Luis Blanc

Um dos mais importantes pensadores do socialismo utópico

foi Saint-Simon, o qual faz severas acusações contra a proprie-

dade privada, a herança e aos lucros sem trabalho. Foi também

contrária a exploração do proletariado.

Da mesma forma, Charles Fourrier fez críticas à indústria,

as suas crises de pletora ou superprodução e a sua anarquia eco-

nômica, cujas repercussões abatem física e moralmente o operá-

rio, pois a sua pseudolivre concorrência dá origem a legiões fa-

mélicas de proletários. Diz Fourrier: “A liberdade política, a sobe-

rania do povo: simples fachada! Esse povo, que morre de fome,

‘estranho soberano’”.

Robert Owen inovou no aspecto da participação dos operá-

rios nos lucros de sua empresa, ou, nas palavras de Chevallier

(1986), “grande patrão inglês, quer regenerar a degenerada raça

dos operários”. Outro autor que defendia o socialismo utópico

foi Luis Blanc.

Seção 1.3

O socialismo científico

Segundo Outhwaite e Bottomore (1996, p. 699), as idéias

socialistas, em suas várias formas, expressaram-se de vários mo-

dos em séculos anteriores, mas o socialismo, como doutrina e

movimento característico, só apareceu por volta de 1830, quan-

do o próprio termo entrou em uso corrente. Logo após se propa-

Claude-Henri de Rouvroy,Conde de Saint-Simon

(Paris, 17 de outubro de 1760– Paris, 19 de maio de 1825),

foi um filósofo e economistafrancês, um dos fundadores

do socialismo moderno eteórico do socialismo utópico.Fonte: <http://pt.wik ipedia.org/wiki/Conde_de_Saint-Simon>.

Acesso em: 16 out. 2008.

François Mar ie CharlesFou rier

(Besançon, 7 de abril de 1772– Paris, 10 de Outubro de

1837) foi um socia lista fr ancêsda primeira par te do século

19, um dos pais docooperativ ismo. Foi também

um crítico ferino doeconomicismo e do capitalismo

de sua época e adversário daindustria lização, da civilização

urbana, do liberalismo e dafamília. Disponível em: <http://

pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Fourier>. Acesso em:

16 out. 2008.

Rober t Owen

(14 de maio de 1771 – 17 denovembro de 1858) foi um

reformador socia l galês e umfilóso fo socia lista libertário . É

considerado o pai do movi-men to cooperativo. Disponível

em: <h ttp://pt.wik ipedia.org/wiki/Robert_Owen>. Acesso

em: 24 out. 2008.

Louis Blanc

De batismo Louis Jean JosephCharles Blanc (Madr id , 29 deoutubro de 1811 – Cannes, 6de dezembro de 1882) foi um

socialista utópico francês. Teveimportante partic ipação na

Revolução de 1848, quandosuas idéias foram colocadas

em prática devido à associaçãoen tre liberais e socia listas, na

tentativa de derrubar amonarquia. Eis elas: seriam

criadas associações profissio-nais de tr abalhadores de um

mesmo ramo de produção , asOfic inas Nacionais, financiadas

pelo Estado. O lucro seriadiv id ido entre o Estado, os

associados e para f insassistenciais. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/

Louis_Blanc>. Acesso em: 27set. 2008.

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gou rapidamente pela Europa, sobretudo após as revoluções de

1848. No final do século 19 muitos partidos socialistas já haviam

se desenvolvido em muitos países europeus, como na Alemanha

e na Áustria, bem como em outras partes do mundo.

Tem-se no marxismo o alicerce intelectual do socialismo

científico, principalmente na Europa Continental. O marxismo

analisa e revela as principais contradições do sistema capitalista

moderno, que divide a sociedade em duas classes: a burguesia

(superestrutura) e o proletariado (infra-estrutura). Critica de for-

ma direta o individualismo capitalista e propõe o socialismo como

forma de priorizar o bem-estar de toda a sociedade. A teoria mar-

xista (como fundamento das idéias socialistas) passou por cons-

tantes adaptações no início do século 20. A mesma teoria é

reavaliada e desembocará em três tendências específicas: uma

“reformista” (Grã-Bretanha, com o Partido Trabalhista), a outra

“revolucionária” (Lenin, os bolcheviques e Stalin), e a terceira,

de caráter “centrista” (social-democracia, de Kautsky). A tendên-

cia “revolucionária” foi posta em prática na Rússia em 1917 por

Lenin e os bolcheviques, vindo a ser mais tarde instaurada uma

ditadura do proletariado de caráter totalitário e centralizador na

União Soviética, sob o comando de Stalin. O socialismo buro-

crático irá abrandando-se após a morte de Stalin, em 1953, até o

seu derradeiro colapso a partir de 1990.

1.3.1 OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES:Marx e Engels

Marx criticou o socialismo utópico pelo seu caráter irreal e

ingenuidade, pois seus defensores queriam substituir o sistema

econômico existente por outro imaginado por eles: “Tudo é feito

apenas por eles mesmos, tal como a aranha faz a sua teia” (Marx,

Karl Heinrich Marx

nasceu em Tréveris no dia 5 demaio de 1818 e faleceu emLondres, no dia 14 de marçode 1883. Filho de advogadojudeu convertido ao protestan -tismo. Foi fundador de umadas g randes teor ias que iriainfluenciar os séculos 19 e 20 ,intelectual a lemão, economista,sendo considerado um dosfundadores da Sociologia emilitante da Primeira e SegundaInternacional. Também épossível encontrar a influênciade Marx em várias outrasáreas, tais como: Filoso fia eHistória. Teve participaçãocomo intelectual e comorevolucionário no movimentooperário, escrevendo oManifesto Comunista.Disponível em: <http: //pt.wikipedia.o rg/wiki/Karl_Marx>. Acesso em: 29out. 2008.

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apud Prélot, 1973, vol. 4, p. 59). Em outras palavras, Marx critica os socialistas utópicos

por acreditarem ingenuamente que os burgueses, num gesto de benevolência e candura,

vão distribuir seus bens aos famintos.

Herdeiro da visão hegeliana, Marx inverte a teria de Hegel (na questão do materialis-

mo dialético) para o materialismo histórico. Marx partiu então para a defesa exclusiva do

proletariado e a síntese de suas idéias aparece na obra O Manifesto Comunista. Marx dividiu

a obra em quatro partes: a primeira, intitulada “Burgueses e Proletários”, trata de questões

da Filosofia e da História. A segunda parte, “Proletários e Comunistas”, explica a posição

dos comunistas em relação ao conjunto de proletários, repelindo as censuras feitas pela

“burguesia”. Sob o título “Literatura Socialista e Comunista”, a terceira parte passa sarcas-

ticamente em revista as diversas formas, “reacionárias” ou feudais, “de pequena burgue-

sia”, “conservadores” ou “burguesas”, “crítico-utópicas” do movimento social da época.

Na quarta parte, brevíssima, explica a posição dos comunistas diante dos outros partidos da

oposição. Eis alguns dos trechos mais importantes da obra O Manifesto Comunista, de Marx

e Engels:

A luta de classes:

– “A história de toda a sociedade até hoje é a história de luta de classes” (Marx; Engels,

1996, p. 66).

– “A sociedade inteira vai-se dividindo cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em

duas grandes classes diretamente opostas entre si: burguesia e proletariado” (p. 67).

A burguesia:

– “A própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de

uma série de revoluções nos modos de produção e de troca” (p. 68).

– “A burguesia desempenhou na história um papel extremamente revolucionário. Onde quer

que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais,

idílicas. (...) Afogou nas águas gélidas do cálculo egoísta os sagrados frêmitos da exaltação

religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês” (p. 68).

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– “A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produ-

ção e, por conseguinte, as relações de produção, portanto, todo o conjunto das relações

sociais” (p. 69).

– “A necessidade de mercados cada vez mais extensos para seus produtos impele a burguesia

para todo o globo terrestre” (p. 69).

– “A burguesia submeteu o campo ao domínio da cidade. (...) Suprime cada vez mais a

dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população (...) Criou forças pro-

dutivas mais poderosas e colossais do que todas as gerações passadas em conjunto” (p.

70-71).

O proletariado:

– “A burguesia não forjou apenas as armas que lhe trarão a morte; produziu também os

homens que empunharão essas armas – os operários modernos, os proletários. (...) O pro-

letariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia co-

meça com sua própria existência. (...) Com o desenvolvimento da indústria, o proletariado

não apenas se multiplica; concentra-se em massas cada vez maiores, sua força aumenta e

ele sente mais tudo isso. (...) De todas as classes que hoje se opõem à burguesia, apenas o

proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária” (p. 72-75).

– “Todos os movimentos precedentes foram movimentos de minorias ou no interesse de mi-

norias. O movimento proletário é o movimento independente da imensa maioria no inte-

resse da imensa maioria. O proletariado, estrato inferior da atual sociedade, não pode

erguer-se, pôr-se de pé, sem que salte pelos ares toda a superestrutura dos estratos que

constituem a sociedade civil oficial” (p. 77).

O capital fruto da exploração do trabalho:

– “A condição mais essencial para a existência e a dominação da classe burguesa é a acu-

mulação da riqueza nas mãos de particulares, a formação e o aumento do capital; a con-

dição do capital é o trabalho assalariado. (...) A burguesia produz, acima de tudo, seus

próprios coveiros. Seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis” (p.

77-78).

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– “O capital é um produto coletivo e só pode ser colocado em movimento pela atividade

comum de muitos membros da sociedade e mesmo, em última instância, pela atividade

comum de todos os membros da sociedade. O capital, portanto, não é uma potência pes-

soal, é uma potência social” (p. 81).

– “Assim, se o capital é transformado em propriedade comum pertencente a todos os mem-

bros da sociedade, não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade

social. Transforma-se apenas o caráter social da propriedade. Ela perde o ser caráter de

classe” (p. 81).

A ideologia:

– “O que demonstra a história das idéias senão que a produção intelectual se transforma

com a produção material? As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da

classe dominante” (p. 85).

O comunismo:

– “O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletá-

rios: constituição do proletariado em classe, derrubada da dominação da burguesia, con-

quista do poder político pelo proletariado” (p. 80).

– “O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição

da propriedade burguesa. (...) Nesse sentido, os comunistas podem resumir sua teoria

nessa única expressão: abolição da propriedade privada” (p. 79).

O Estado:

– “O poder político do Estado moderno nada mais é do que um comitê para administrar os

negócios comuns de toda a classe burguesa” (p. 68).

Enfim, nesta Unidade você pôde compreender aspectos teóricos referentes à crítica do

Estado no século 20. Especialmente as principais idéias defendidas pelos anarquistas,

socialistas utópicos e científicos, tendo em Karl Marx o seu principal expoente. Marx ana-

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lisou criticamente o processo de acumulação capitalista. Isto é, a classe detentora do capi-

tal, a burguesia, expropria o lucro do proletariado por intermédio da exploração da força do

trabalho dos mesmos (exploração da mão-de-obra). A teoria marxista influenciou outros

intelectuais após a morte de Marx e, com o passar do tempo, a obra de Marx continua

atual.1

Sugestões de leitura: (referência completa no final)

– Para aprofundar a temática do socialismo utópico conferir Chevallier (1986).

– Para maiores informações sobre a crítica ao Estado burguês e a ditadura do proletariado,

ver a obra de Lenin: Estado e revolução (1987): Chevallier (1986); Prélot (1973).

– Aprofundar as idéias do Manifesto Comunista de Marx e Engels (1996).

1 Nenhum teórico se igualou a Marx na análise e na compreensão do sistema capitalista. Por isso a leitura de suas obras é imprescindívela todos aqueles que se dedicam à análise da sociedade, da economia e da política atual. Um exemplo bastante evidente da atualidade daobra de Marx presencia-se neste momento histórico de crise do capitalismo. Marx previu que o próprio capitalismo em excesso haveriade se autodestruir. Estaria ele certo em sua análise?

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Unidade 2Unidade 2Unidade 2Unidade 2

Crises e Transformaçõesdo Estado no Século 20

Como referimos anteriormente, a teoria marxista foi reavaliada e desembocou em três

tendências específicas: uma “reformista” (Grã-Bretanha, com o Partido Trabalhista), a outra

“revolucionária” (Lenin, os bolcheviques e Stalin) e a terceira de caráter “centrista” (social-

democracia de Kautsky). Ass im, o objetivo desta Unidade é desenvolver, inicialmente, al-

guns argumentos que tratam da divisão das idéias marxistas, principalmente entre o socia-

lismo democrático e o comunismo leninista para, logo após, tratar da questão do Estado na

teoria democrática.

O objetivo da Unidade 2 é tratar da questão do Estado: crises e transformações duran-

te o século 20. A unidade começa na seção 2.1 com a discussão sobre o Estado pela ótica

dos teóricos marxistas, entre eles Lenin e Rosa Luxemburgo. A seção 2.2 trata do debate da

participação e da representação na Teoria Democrática Contemporânea. As subseções dis-

correm sobre a questão do Estado na teoria das elites, pluralistas, neomarxistas e na teoria

participativa. Na seção 2.3 discute-se a questão do Estado de Bem-Estar Social, modelo de

Estado aplicado após a crise do capitalismo na Europa e nos Estados Unidos, inspirado nas

teorias keynesianas. O Estado de Bem-Estar aproxima-se do modelo político-econômico

da social-democracia de Karl Kautsky (os austro-marxistas), que prevê uma passagem gra-

dual e insensível do capitalismo ao socialismo exclusivamente pelas vias eleitorais e parla-

mentares.

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Seção 2.1

Os intérpretes de Marx: Lenin e Rosa Luxemburgo

Vladimir Ilyich Lenin foi estadista, revolucionário e teóri-

co político russo. Estudou por pouco tempo na Universidade de

Kazan e depois se dedicou inteiramente às atividades revolucio-

nárias. Lenin l iderou a segunda fase da Revolução Russa

(bolchevique), logo após ter regressado do exílio, tornando-se

presidente do Conselho de Comissários do Povo. Em obras como

Que fazer? (1902) e Estado e Revolução (1917) descreveu a natu-

reza do Estado socialista e imprimiu uma ênfase diferente à teo-

ria da revolução de Marx ao sublinhar a centralidade da luta de

classes liderada por um partido rigorosamente organizado, e, em

O imperialismo, fase superior do capitalismo (1916), elaborou uma

teoria do imperialismo como etapa final do capitalismo. Por meio

da Internacional Comunista, que ele inspirou, suas idéias foram

divulgadas no mundo inteiro. Foi o mais influente líder político e

teórico do marxismo no início do século 20, mas a atração pelo

leninismo declinou no transcorrer do século.

Desde a sua entrada na vida política, Lenin adotou um

marxismo violento, apelidado por ele de “marxismo revolucioná-

rio”. Lenin negou a idéia de Marx expressa no Manifesto Comu-

nista de que “o Estado burguês deve ser substituído pela organi-

zação do proletariado como classe dominante”, isto é, Lenin re-

cusou-se a esperar a vitória do socialismo a partir das “leis

imanentes ao desenvolvimento do capitalismo” e como conseqüên-

cia inevitável da sucessão das estruturas econômicas. Também

rejeita a tese de Engels sobre a possibilidade de se chegar ao so-

cialismo pela via da legalidade democrática e parlamentar. Criti-

cou e se opôs radicalmente à democracia tradicional capitalista.

Vladimir Ilitch Lenin

10 de abril/22 de abril de1870, Simbirsk, atual

Ulyanovsk – 21 de janeiro de1924, Gorki, p róximo de

Moscou) foi um revolucionáriorusso, responsável em grande

parte pela execução daRevolução Russa de 1917,

líder do Partido Comunista eprimeiro presidente do

Conselho dos Comissários doPovo da União Soviética.

Influenciou teoricamente ospartidos comunistas de todo o

mundo, e suas contribuiçõesresultaram na criação de umacorrente teórica denominada

leninismo. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenin>. Acesso em: 19 out.

2008.

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Para ele, a democracia capitalista, “que se revela inevitavelmen-

te tacanha e que exclui disfarçadamente os pobres, sendo por

conseqüência hipócrita e enganadora”, pois uma democracia

cada vez mais perfeita não se opera com a simplicidade e com a

facilidade imaginadas pelos professores liberais e pelos pequenos

burgueses oportunistas. Para Lenin a evolução pacífica não bas-

tava, uma vez que o sufrágio universal é um engano. O regime

democrático parlamentar encontrava-se falseado pela interven-

ção oculta ou direta dos poderes capitalistas. Lenin acusou a

democracia clássica burguesa de ser truncada, miserável e

falsificada; uma democracia apenas para os ricos, ou seja, para

uma minoria; de ser puramente formal, composta exclusivamen-

te por normas constitucionais e de deixar de lado o essencial ao

considerar que as soluções econômicas e sociais derivam da polí-

tica. Segundo Lenin, apenas uma sociedade sem classes resolve-

ria as contradições políticas e permitiria a existência de uma de-

mocracia concreta, em que houvesse liberdade para cada um e

em que todos participassem do poder. A vida política deixaria de

ser uma luta para se tornar uma comunhão, graças ao trabalho

em comum num espírito de unidade e humanidade.

Rosa Luxemburgo, revolucionária socialista, ajudou a criar

o Partido Social-Democrata da Polônia, e em seguida, se mudou

para a Alemanha. Luxemburgo defendeu a causa da revolução e

expôs sua posição sobre o reformismo em Reforma social ou revo-

lução (1899). Em Greve de massas, partido político e sindicatos

(1906), propôs a greve de massas – e não a vanguarda organiza-

da defendida por Lenin – como o mais importante instrumento

da revolução proletária. Em sua principal obra teórica, A acumu-

lação do capital (1913), identificou o imperialismo como uma luta

competitiva entre nações capitalistas que culminaria no colapso

do sistema capitalista. Fundou juntamente com Karl Liebknecht

a Liga Espartaquista, e ambos foram brutalmente assassinados

Rosa Luxemburgo

Em polonês RóŜa Luksemburg(Zamość, 5 de março de 1871– Ber lim, 15 de janeiro de1919), foi uma filósofamarxista e militante revolucio-nária polonesa ligada à Social-Democracia do Reino daPolônia (SDKP), ao PartidoSocia l-Democrata da Alemanha(SPD) e ao Partido Socia l-Democrata Independente daAlemanha. Partic ipou dafundação do grupo detendência marxista do SPD,que v ir ia a se tornar mais tardeo Partido Comunista daAlemanha. Foi brutalmenteassassinada, depois de serseqüestrada e espancada po rmembros de uma organizaçãoparamilitar, a soldo do governosocia l-democrata a lemão.Disponível em: <http: //pt.wikipedia.o rg/wiki/Rosa_Luxemburgo>. Acessoem: 28 set. 2008.

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na prisão por oficiais da extrema direita em 1919, depois da su-

pressão de um malogrado levante em Berlim (Outhwaite;

Bottomore, 1996, p. 814).

Seção 2.2

O debate sobre o Estado na Teoria DemocráticaContemporânea

O Estado será o objeto central das análises de diferentes

teóricos da Teoria Democrática Contemporânea, principalmente

no debate da teoria das elites, na teoria pluralista, na teoria

neomarxista e na teoria participacionista. Este é o objetivo desta

seção.

2.2.1 A TEORIA DAS ELITES

Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Robert Michels inte-

gram o grupo de autores considerados elitistas clássicos. São, na

verdade, os fundadores da Teoria das Elites. São autores liberais

que entendem a política como uma prática de lideranças que,

por sua origem e formação, atribuem-se o direito de dirigir e co-

mandar as massas populares, as quais, por sua condição social e

histórica, não estão aptas a governar. Neste cenário, é natural

que os “inferiores” sejam dirigidos pelos “superiores”, que pos-

suem o conhecimento da arte de comandar. Para os referidos au-

tores sempre haverá desigualdade na sociedade, em especial a

desigualdade política. Isto é, sempre existirá uma minoria diri-

gente e uma maioria condenada a ser dirigida, o que significa

dizer que a democracia, enquanto “governo do povo”, é uma fan-

Gaetano Mosca

Pensador político ita liano, foi oprimeiro grande teórico da

teoria das e lites com suadoutrina da c lasse política. A

Teoria das Elites foi plasmadano pensamento de GaetanoMosca com sua doutrina da

classe política. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/

Elite_(sociologia)>. Acesso em:16 out. 2008.

Vilfredo Pare to

(Paris, 15 de Julho de 1848 –Céligny, 19 de agosto de 1923)

foi polít ico, sociólogo eeconomista italiano. Disponível

em: <h ttp://pt.wik ipedia.org/wiki/Vilfredo_Pareto>. Acesso

em: 16 out. 2008.

Robert Michels

(Colônia, 9 de janeiro de 1876— Roma, 3 de maio de 1936)fo i um sociólogo alemão que

analisou o comportamentopolítico das elites inte lectuais,tornando-se conhecido pela

sua obra Sociologia dospartidos políticos (1915).

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/

Robert_Michels>. Acesso em:24 set. 2008.

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tasia inatingível. Ou seja, os elitistas rejeitam a teoria clássica da democracia, bem como o

ideal democrático rousseauniano – de autogoverno das massas, que é, pois, descartado como

utópico (apud Pio; Porto, 1998, p. 298). A teoria das elites encontra sua fundamentação

teórica nas idéias de Max Weber, para quem a democracia é um antídoto contra o avanço

totalitário da burocracia. O autor entende que a política deve ser exercida por profissionais

e não por aquele político que não tem vocação.

Para os elitistas, a igualdade é impossível. As massas são necessariamente governadas

por uma minoria, que se impõe até mesmo no seio dos partidos que se qualificam a si mes-

mos de democráticos.

Os autores da Teoria das Elites defendem que, na vida política, há pouco espaço para

a participação democrática e o desenvolvimento coletivo. Quanto à democracia, a enten-

dem como meio de escolher pessoas encarregadas de tomar decisões e de impor alguns limi-

tes a seus excessos.

A seguir, as principais concepções e diferenças entre os autores:

Pareto (1848-1923)

Fervoroso partidário do liberalismo econômico, adversário do socialismo, recusou a

concepção marxista da luta de classes. Em substituição propõe a teoria da “circulação

das elites”, que explica a história como “a contínua substituição de um escol por ou-

tro” (apud Schwartzenberg, 1979, p. 226).

Pareto afirma que elite é o nome dado ao grupo de indivíduos que demonstram possuir

o grau máximo de capacidade, cada qual em seu ramo de atividade. Cada um desses

ramos inclui algumas pessoas que são as mais bem-sucedidas, e a reunião delas forma

a elite. Para ele, toda sociedade está sempre dividida em uma “elite” e uma “não-

elite”.

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Mosca (1858-1941)

Diferentemente de Pareto, que apresenta uma abordagem psicológica, Mosca propõe

uma abordagem organizacional. Foi professor, deputado e senador italiano. Publicou

os Elementos da ciência política, em 1896, e impôs a idéia de “classe dirigente”, segun-

do a qual todas as sociedades assentam-se na distinção entre dirigentes e dirigidos. O

poder, para ele, não pode ser exercido nem por um só indivíduo nem pelo conjunto dos

cidadãos, mas somente por uma minoria organizada: a “classe dirigente” (“classe polí-

tica”). A classe dirigente é esta minoria de pessoas que detêm o poder (verdadeira classe

social), a classe dirigente ou dominante (apud Schwartzenberg, 1979, p. 228-229).

No entendimento de Mosca, a elite política deriva do fato de que seus membros são

aqueles que possuem um atributo altamente valorizado e de muita influência na

sociedade em que vivem. Isto é, possuem qualidades que lhes conferem certa superiori-

dade material, intelectual e mesmo moral, ou são herdeiros de indivíduos que possuem

tais qualidades. Em síntese, o conceito de elite, para Mosca, é uma minoria com inte-

resses homogêneos e, devido a essa homogeneidade, de fácil organização. É justamen-

te essa organização que explica sua capacidade de domínio sobre as massas (apud

Pio; Porto, 1998, p. 294-295).

Michels (1876-1936)

Contrariando Mosca, que se recusou a aprovar as leis fascistas sobre as prerrogativas

do chefe do governo, Michels se tornou um defensor das idéias fascistas, estabelecen-

do, inclusive, uma amizade com o próprio Mussolini.

Segundo Michels, as massas não podem atuar, dirigir, governar por si próprias. O

governo direto das massas esbarra numa “impossibilidade mecânica e técnica”. De-

fende a “lei de ferro da oligarquia”. Isto quer dizer: “Quem diz organização, diz ten-

dência para a oligarquia”. Em cada organização (principalmente nos partidos políti-

cos) o pendor aristocrático será preponderante. Observa Michels que em todas as or-

ganizações os dirigentes tendem a se opor aos aderentes, a formar um círculo interno

mais ou menos fechado e a se perpetuar no poder (apud Schwartzenberg, 1979, p.

230-231).

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Assim, a “lei de ferro da oligarquia”, de Michels, significa a

dependência política das massas em relação às lideranças dos

partidos. Os líderes resolvem os problemas de ação coletiva do

partido, ou seja, pagam a maior parte dos custos para a obtenção

dos bens coletivos que o partido provê e, por essa razão, são va-

lorizados e mesmo considerados imprescindíveis pelas massas

(apud Pio; Porto, 1998, p. 294-295). Para o elitismo, a desigual-

dade é um fato natural entre os seres humanos. Pode-se afirmar

que a teoria das elites é antidemocrática na medida em que con-

dena como impossível qualquer forma de governo do povo.

É exatamente esta visão (Teoria das Elites) que, sobretudo

a partir da teoria de Schumpeter, publicada nos anos 40, torna-

se a base da tendência dominante da teoria democrática (teoria

pluralista) e penetra profundamente na concepção corrente so-

bre a democracia.

Para Schumpeter (1984), a democracia direta não é possí-

vel porque nem todos na sociedade estão no mesmo estágio de

desenvolvimento cultural. O autor critica as teorias clássica e

liberal da democracia pelo seu idealismo e utopismo. A democra-

cia é apenas um processo eleitoral. Importa saber como as demo-

cracias funcionam e não como elas devem ser.

Nesse sentido, a democracia não está ligada a ideal ou fim;

ela é um método político – um tipo de arranjo institucional para

se chegar a decisões políticas. Sua definição é processual. Quan-

to à participação, ela fica restrita, e o sufrágio não precisa ser

universal, ele deve ser suficiente para manter a máquina eleitoral.

Assim, existem os líderes e os seguidores, os que não estão

interessados e os que são mal-informados. Segundo este autor,

os objetivos da sociedade devem ser formulados por líderes, por

Sufrágio

Ato ou efeito de sufragar.Processo de escolha porvotação; eleição. Disponívelem: Dicionário Houaiss.

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uma elite que seja politicamente atuante, que possa devotar-se ao estudo dos problemas

sociais relevantes e seja capaz de compreendê-los. Em outras palavras, o cidadão comum é

mal-informado e facilmente influenciado pela propaganda política, vulnerável, portanto.

Ao eleitor cabe apenas decidir qual grupo de líderes (políticos) ele deseja para condizir o

processo de tomadas de decisão. Ou seja, os eleitores não decidem nada, apenas escolhem.

As decisões devem ser tomadas por especialistas, pois a maior parte dos cidadãos são

desinformados e desinteressados e até mesmo mal-informados e irracionais, com pouca tole-

rância pelas opiniões políticas rivais.

A democracia é entendida como concorrencial (eleições dos líderes apenas). O autor é

contrário à doutrina clássica da democracia (a democracia é o método para promover o bem

comum mediante as tomadas de decisão pelo próprio povo, com a intermediação de seus

representantes). Afirma Schumpeter (1984, p. 336) que “o método democrático é aquele

acordo institucional para se chegar a decisões políticas em que os indivíduos adquirem o

poder de decisão através de uma luta competitiva pelos votos da população”.

Anthony Downs, seguidor de Schumpeter, propõe o uso de regras da economia como

referência para um governo que se almeja racional e democrático. Downs, defensor da teo-

ria da escolha racional, vê o indivíduo como ator político racional, pois estão em jogo as

preferências de cada indivíduo, o seu agir estratégico e o custo e benefício de uma ação

(maximizar a satisfação e minimizar os danos). Em síntese, a ação é eficientemente planeja-

da para alcançar os fins econômicos ou políticos conscientemente selecionados do ator, seja

ele o governo ou os cidadãos de uma democracia.1

2.2.2 A TEORIA PLURALISTA

A teoria pluralista da democracia política norte-americana tem em Tocqueville o seu

precursor. Ganhou evidência a partir de 1940 com Parson e Trumam. Seu maior expoente,

porém, é Robert Dahl, com a obra Um prefácio à teoria democrática (1989). Segundo

1 O teórico Mancur Olson concorda com as idéias de Schumpeter ao afirmar que o povo não sabe tomar decisões políticas.

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Outhwaite e Bottomore (1996, p. 575), “nas mãos de Dahl o pluralismo torna-se uma teoria

da competição política estável e relativamente aberta e das condições institucionais e

normativas que a sustentam”.

O pluralismo é considerado o elitismo democrático na teoria política contemporânea.

Para os pluralistas clássicos, a democracia não parece requerer um alto grau de envolvimento

ativo de todos os cidadãos; ela pode funcionar muito bem sem ele. Pelo contrário, a apatia

política pode refletir a saúde da democracia (Held, 1987). Nas palavras de Carnoy (1994), a

teoria política pluralista é a ideologia oficial das democracias capitalistas. Para a tese

pluralista, não existe uma classe dirigente, mas numerosas categorias dirigentes, que algu-

mas vezes cooperam, outras se combatem, mas de certo modo se equilibram e representam

as pressões da base (Schwartzenberg, 1979, p. 673).

A teoria pluralista opõe-se à concentração de poder por parte do Estado. Ou seja, é

contra o estatismo (o poder é descentralizado e administrado por outras instituições). Em

outras palavras, é a sociedade com diversos centros de poder, mas nenhum deles totalmente

soberano. Para Dahl, um dos mais importantes expoentes do pluralismo democrático, o Es-

tado é considerado um elemento neutro, cuja função é promover a conciliação dos interes-

ses que interagem na sociedade segundo a lógica do mercado. Assim, a multiplicidade de

centros de poder complementa a existência das minorias concorrentes. Dahl chamou estes

diversos centros de poder de “poliarquias”.2

O estudo clássico de Robert Dahl, Polyarchy: participation and opposition, publicado

pela primeira vez em 1972, apresenta as oito garantias institucionais da poliarquia: a) liber-

dade de formar e se integrar a organizações; b) liberdade de expressão; c) direito de voto; d)

elegibilidade para cargos políticos; e) direito de líderes políticos competirem por meio da

votação; f) fontes alternativas de informação; g) eleições livres e idôneas e, h) existência de

instituições que garantam que as políticas governamentais dependam de eleições e de ou-

tras manifestações de preferência da população.

2 Dahl apresenta um diferenciação substancial entre democracia e poliarquia. Democracia é um ideal não alcançado. Poliarquia é ogoverno de muitos, capaz de garantir a proteger a liberdade de expressão; liberdade de formar e participar de organizações; acesso àinformação; eleições livres; competição de líderes pelo apoio do eleitorado e, ainda, instituições destinadas a formular a polít icagovernamental (Oliveira, 2003).

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O pluralismo também é chamado de política competitiva das elites. Dahl define elite

como um grupo minoritário que exerce uma dominação política sobre a maioria dentro de

um sistema de poder democrático. No pluralismo, poucos tomam as decisões políticas (é o

governo das minorias).

O pluralismo opõe-se à concepção participacionista da teoria democrática, que vê a

solução na participação mais ampla possível dos cidadãos nas decisões políticas. Em sínte-

se, os pluralistas nunca sentiram-se muito confortáveis com o sufrágio universal e com o

governo da maioria.

Para os pluralistas o poder está disperso em toda a sociedade, é não-hierárquico e

estruturado de forma competitiva. Havendo pluralidade de pontos de pressão, surgem várias

formulações concorrentes de linhas políticas e vários centros de tomadas de decisão (Held,

1987).

As idéias da teoria pluralista são compatíveis com a doutrina constitucionalista. Esta

teoria também é conhecida como teoria democrática elitista, institucionalista, procedimental,

descritiva/normativa ou concorrencial. O pluralismo, na visão norte-americana, é uma dou-

trina da competição política.

Nas palavras de Dahl, a poliarquia é o sistema político das sociedades industriais mo-

dernas, caracterizado por uma forte descentralização dos recursos do poder e no seio do

qual as decisões essenciais são tomadas a partir de uma livre negociação entre pluralidades

de grupos autônomos e concorrentes, mas ligados mutuamente por um acordo mínimo so-

bre as regras do jogo social e político.

2.2.3 A TEORIA NEOMARXISTA

Os teóricos neomarxistas, Nikos Poulantzas, Ralph Miliband e Claus Offe, principal-

mente, rejeitam tanto a tese “elitista” de Michels como a tese “pluralista” de Dahl. A primei-

ra porque não assenta o poder na detenção dos meios de produção. A segunda – sobretudo

– porque seria uma tentativa de “camuflagem”, dando crédito à ilusão liberal da ordem

política autônoma (Schwartzenberg, 1979, p. 683).

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29

A teoria de Poulantzas centra-se na reflexão sobre o papel

do Estado nas sociedades modernas. Sua obra principal intitula-

se Poder político e classes sociais, publicada pela primeira vez em

1968.

Para Poulantzas, a tese da pluralidade das elites “é apenas

uma reação ideológica típica à teoria marxista do político: a da

corrente funcionalista”. Esta tese visa a esconder a luta das clas-

ses e a verdadeira natureza do poder do Estado. Considerando o

poder como que disperso entre diversos grupos, os “elitistas-

pluralistas” querem fazer esquecer a realidade do poder da classe

dominante, para fazer crer, pelo contrário, na autonomia do po-

lítico e na neutralidade do Estado. Para este autor, parece que a

tese elitista de Mosca, Pareto e Michels procura ter sempre como

objetivo sustentar o esquema geral do domínio político. Para um

pensador marxista, no entanto, é evidente que a classe politica-

mente dirigente identifica-se necessariamente com a classe eco-

nomicamente dominante (aqueles que possuem os meios de pro-

dução) (Schwartzenberg, 1979, p. 683).

Em síntese, os neomarxistas, especialmente Poulantzas, tra-

varam discussões com os pluralistas, especialmente no que se

refere às relações entre economia, classes sociais e Estado. Para

os neomarxistas, as relações de classe são relações de poder, e as

políticas estatais são reflexos dos interesses do capital.

Para os neomarxistas o Estado configura-se pela luta de

classes, de forma direta ou indireta. Poulantzas argumenta que

democracia é socialismo e não há socialismo verdadeiro que não

seja democrático. Por outro lado, Poulantzas defende que se deva

manter a democracia representativa, no entanto somente uma

transição ao socialismo pode expandir e aprofundar mais a de-

mocracia sob essas condições. Segundo Poulantzas, o Estado não

Nicos Poulantzas

(Νίκος Πουλαντζάς em grego)(1936-1979) foi um greco –francês marxista sociólogopolít ico. Na década de 70Poulantzas era conhecido,junto com Louis Althusser,como um líder, ele f inalmentese tornou um proponente doeurocomunism. Ele é maisconhecido pelo seu trabalhoteór ico sobre o Estado, mastambém ofereceu contribuiçõespara a análise marxista dofascismo , c lasse social nomundo contemporâneo, aqueda das ditaduras do Su l daEuropa na década de 70.Disponível em: Wikipédia.

Ralph Miliband

(7 de janeiro de 1924 – 21 demaio de 1994 ) foi um notávelteór ico marxista. E le era o paide dois deputados b ritân icos,David e Ed Miliband, ambosmembros do gabinete britânicoao abrigo do primeiro -ministroGordon Brown. Disponível em:Wikipédia.

Claus Offe

(Nascido em 1940 em Berlim)é um dos mais importantessociólogos polít icos do mundode orientação marxista. Assimcomo Jü rgen Habermas,pertence à segunda geração daEscola de Frankfurt. Atualmen -te leciona em uma universidadepr ivada em Berlim, o Her tieEscola de Governança.Disponível em: <http: //en.wikipedia.org/wiki/Claus_Offe>. Acesso em: 24set. 2008.

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é mais simplesmente um aparelho repressivo ou os aparelhos ide-

ológicos e repressivos da burguesia, mas é produto da luta de

classe (Schwartzenberg, 1979, p. 683).

Diferentemente de Poulantzas, que rejeita a noção de elite,

Miliband entende que é possível admitir o conceito de elite e até

reconhecer a pluralidade das elites. Não se pode nunca, contu-

do, omitir que as elites, ainda que diversificadas, pertencem sem-

pre à classe dominante. Elites distintas existem na sociedade ca-

pitalista (elites econômicas, políticas, etc.), mas todas estas fa-

zem parte da classe dominante (1979, p. 684).

Na visão de Claus Offe, a burocracia de Estado representa

os interesses dos capitalistas, pois ele depende da acumulação de

capital para continuar existindo como Estado. O autor vê o Es-

tado como um mediador das crises capitalistas – um administra-

dor de crises.

2.2.4 A TEORIA PARTICIPACIONISTA(Macpherson, Held e Pateman)

A origem da referida teoria pode ser encontrada em Rousseau

na defesa teórica da democracia direta do Contrato Social.3 Con-

trariando a teoria pluralista, surge a escola da teoria participativa,

que entende que a democracia não se limita à seleção de líderes

políticos, mas supõe, igualmente, a participação dos cidadãos.

Os defensores desta corrente fazem também uma crítica à abor-

dagem elitista.

Carole Pateman é uma das principais autoras que defen-

dem a teoria participativa. As suas idéias centrais estão expostas

na sua obra clássica Participation and Democratic Theory, escrita

3 Rousseau pode ser considerado o teórico por excelência da participação (Pateman, 1992, p. 35).

Carole Pateman

É uma feminista britânica eteórica polít ica. Ela obteve o

Ph.D. na Universidade deOxford. Desde 1990 Pateman é

professora no Departamentode Ciências Políticas na

Universidade da Califórnia, emLos Angeles (Ucla). Disponível

em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Carole_Pateman>. Acesso

em: 14 out. 2008.

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em 1970. Pateman apresenta, no primeiro capítulo, as Teorias recentes da democracia e o

“mito clássico”. A autora procura demonstrar a crítica dos teóricos institucionalistas à teo-

ria clássica de democracia, dominante até então. Os institucionalistas refutam com vee-

mência a teoria política clássica de democracia porque a consideram perigosa na medida em

que abre espaço para a participação popular na política (a República de Weimar, baseada

na participação das massas com tendências fascis tas, é citada como exemplo).4

Os teóricos da teoria clássica da democracia originam-se da tradição de Thomas

Madison e encontram em Locke, Rousseau, Tocqueville, Mill e Bentham seus principais

representantes. Por outro lado, Mosca, Michels, Schumpeter, Berelson, Dahl e Sartori inte-

gram o grupo dos teóricos que regeitam o idealismo dos teóricos clássicos. Para estes teóri-

cos a participação não desempenha um papel especial ou central. Tudo o que se pode dizer

é que um número suficiente de cidadãos participa para manter a máquina eleitoral – os

arranjos institucionais – funcionando de modo satisfatório.5

Como vimos, o pressuposto da teoria institucionalista da democracia (teoria elitista)

resume-se em considerar que o povo deve seguir as diretrizes da elite e não questioná-las.

Então, para Samuel Huntington e outros autores que defendem esta teoria, muita democra-

cia poderia ameaçar o governo democrático.

Oposta à visão dos institucionalistas, a corrente da teoria participativista vê o maior

grau de participação da sociedade civil diretamente, na função de governo, como condição

fundamental para a construção de um Estado democrático, desenvolvido politicamente.

Ao avaliar a origem da corrente da democracia participativa, percebe-se que ela nos

remete para os anos 60 do século passado, quando as idéias que configuram esta proposta

vêem-se envolvidas no clima de transformações vividas nos campi universitários, nas esco-

las, nas fábricas, nos lares, nas ruas das grandes urbes. Os participacionistas, segundo Vitullo,

4 O medo de que a participação ativa da população no processo político levasse direto ao totalitarismo permeia todo o discurso de Sartori.Da mesma forma, para Dahl, um aumento da taxa de participação poderia reapresentar um perigo para a estabilidade do sistemademocrático.

5 Na teoria de Schumpeter, os únicos meios de participação abertos ao cidadão são os votos para líder e a discussão. O autor (1984) nospropõe uma definição de democracia que rompe com o ideal clássico ligado à etimologia da palavra. A democracia deixa de ser entendidacomo o “governo do povo”, e passa a ser vista como um método ou procedimento de escolha de lideranças que devem conduzir oscomplexos assuntos públicos das sociedades modernas.

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buscavam suste nto e consis tência teórica às propostas alternativas dos novos atores que apare-

ciam em cena, e dar algum grau de sistematicidade a suas demandas e reivindicações. Procura-

vam construir um modelo de democracia que, resgatando a participação como um valor funda-

mental, pudesse se opor ao modelo centrado da teoria das elites, já então predominante. Em

suma, para os teóricos que defendem esta corrente, sem participação não seria possível pensar

em uma sociedade mais humana e eqüitativa (1999, p. 9).

Ainda segundo a descrição de Vitullo (1999, p. 3-4), a corrente participativista nega-

se a aceitar que a democracia seja apenas um método de seleção de líderes por parte de um

conjunto de cidadãos desinformados, desinteressados, alienados e apáticos. Não concorda

com o modelo de democracia baseado na teoria das elites nem com a perspectiva atemoriza-

da do mundo político. Para os teóricos que defendem esta corrente, a democracia deveria ir

além do simples voto individual e da escolha não-refletida. Os participacionistas propõem,

ainda, o alargamento do entendimento de política. Os autores que defendem esta linha

entendem que é preciso democratizar todos os espaços em que interagem os indivíduos.

Procuram levar a democracia à vida cotidiana das pessoas nos mais diferentes âmbitos,

tornando-as politicamente mais responsáveis, ativas e comprometidas, estimulando-as a

construir um nível de consciência mais efetivo em relação aos interesses dos grupos.

Os participacionistas criticam a democracia com seus instrumentos procedimentais,

não se contentam com o simples fato do comparecimento às urnas a cada dois, três ou

quatro anos, como a única e quase exclusiva atividade delegada ao cidadão comum em

uma democracia. Ambicionam atividades mais comprometidas, aspiram estabelecer a demo-

cracia direta em diversas esferas e atividades. Procuram maximizar as oportunidades de

todos os cidadãos intervirem, eles mesmos, na adoção das decisões que afetam suas vidas,

em todas as discussões e deliberações que levem à formulação e instituição de tais decisões

(Vitullo, 1999, p. 11).

Os defensore s desta teor ia b usc am mul tiplicar as prátic as democrátic as,

institucionalizando-as dentro de uma maior diversidade de relações sociais, dentro de no-

vos âmbitos e contextos: instituições educativas e culturais, serviços de saúde, agências de

bem-estar e serviços sociais, centros de pesquisa científica, meios de comunicação, entida-

des desportivas, organizações religiosas, instituições de caridade, em síntese, na ampla gama

de associações voluntárias existentes nas sociedades atuais (p. 17).

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No entendimento de Pateman, para que exista uma forma de governo democrático é

imprescindível a existência de uma sociedade participativa, isto é, uma sociedade na qual

todos os sistemas políticos tenham sido democratizados e em que a socialização possa ocor-

rer em todas as instâncias. Para concluir, segundo Pateman (1992, p. 61), a área mais im-

portante de participação é o próprio lugar de trabalho, ou seja, a indústria, pois é exatamen-

te ali que a maioria dos indivíduos despende grande parte de sua vida e pode propiciar uma

educação na administração dos assuntos coletivos, praticamente sem paralelo em outros

lugares.

Seção 2.3

A procedência do Estado do Bem-Estar Social:a Teoria Keynesiana e a Social Democracia

O Estado de Bem-Estar Social teve a sua origem na Grã-Bretanha e foi difundido após

a Segunda Guerra Mundial, opondo-se ao modelo liberal de Estado (laissez-faire), que foi

dominante durante todo o século 19 e início do século 20. O modelo liberal prescindia da

existência do Estado. Isto é, a função do Estado era apenas proteger o indivíduo em seus

direitos naturais (direito à vida, à liberdade e à propriedade), deixando que a economia se

regulasse pela “mão invisível” do próprio mercado. Em outras palavras, o Estado não deve-

ria intervir na economia, no entanto, com a crise do modelo liberal, com o crash da Bolsa de

Valores de Nova York de 1929 (Grande Depressão), o Estado foi “convocado” a salvar a

falida economia capitalista. Ente 1930 e 1940 o Estado passou a pôr em prática e financiar

programas e planos de ação destinados a promover interesses sociais coletivos de seus mem-

bros, além de subsidiar, estatizar e socorrer empresas falidas.

O Estado de Bem-Estar Social teve a sua fundamentação teórica em John Maynard

Keynes.

Para Keynes, o Estado deve assumir um papel de liderança na promoção do crescimen-

to e do bem-estar material e na regulação da sociedade civil. Em outras palavras, os merca-

dos livres não regulados, por si sós não conseguem gerar crescimento estável, nem eliminar

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as crises econômicas, o desemprego e a inflação. Keynes prega

que o Estado tenha um papel central no crescimento e no bem-

estar material. Em sua teoria, o pleno emprego ganhava priorida-

de como um direito do cidadão.

Falando-se no Estado Social, pode-se afirmar que foi com a

Constituição mexicana, de 1917, e a Constituição de Weimar, de

1919, que teve início a construção do modelo constitucional do

Welfare State, ou o Estado de Bem-Estar Social. O Welfare State

seria o Estado no qual o cidadão, independentemente de sua si-

tuação social, tem direito a ser protegido, por intermédio de me-

canismos e prestações públicas estatais, emergindo assim a ques-

tão da igualdade c omo o f undamento para a ati tude

intervencionista do Estado (Morais, 2002, p. 38).6

Como já mencionado anteriormente, a formação deste Es-

tado é algo que perpassa muitos anos. É possível afirmar que o

mesmo modelo acompanha o desenvolvimento do projeto liberal

transformado em Estado do Bem-Estar Social no transcurso da

primeira metade do século 20, ganhando contornos definitivos

após a Segunda Guerra Mundial. Para Morais (2002, p. 38), a

história desta passagem tem vínculo especial com a luta dos mo-

vimentos operários pela conquista de uma regulação/garantia/

promoção da chamada questão social. Característica do Welfare

State, a idéia de intervenção não é novidade surgida no século

20. Assim o Estado, com sua ordem jurídica, implica intervenção.

Cabe lembrar e reconhecer, conforme Morais (p. 35), “que o

processo de crescimento/aprofundamento/transformação do pa-

pel, do conteúdo e das formas de atuação do Estado não benefi-

ciou unicamente as classes trabalhadoras”. O papel do Estado,

6 Argumentos elaborados a partir de Marks (2008).

John Mainard Keynes

Nasceu em 1883 emCambridge, na Inglater ra, e

morreu em 1946 em Tilton. Fo ieconomista, estudou em Eton

e no King’s College, emCambridge, e permaneceu

nesta c idade depois deformado a fim de estudar

Ciência Econômica com AlfredMarshall. Depois de breve

período no serviço público,voltou a Cambridge para

lecionar Ciência Econômica ese tornou editor do EconomicJournal em 1911. Du rante a

Pr imeira Guerra Mundialtrabalhou no Tesouro e foi o

seu principal representante emVersalhes. Na Segunda Guerra

Mundial Keynes foi responsávelpela negociação com os

Estados Unidos do acordo doEmpréstimo e Arrendamen to e

partic ipou do acordo deBretton Woods, que estabele-

ceu o Fundo MonetárioInternacional. É especialmente

conhecido por seus escr itossob re Economia, com desta-

que para The General Theoryof Employment, Interest and

Money (1936) . Fonte:Outhwaite, W.; Bottomore, T.

(Eds.). Dicionário do pensa-mento social do século XX.Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

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em vários setores, possibilitou investimentos em estruturas básicas que alavancaram o pro-

cesso produtivo industrial, as quais mostraram-se viáveis para o investimento privado (como

a construção de usinas hidrelétricas, estradas, financiamentos, etc.).

Essa dupla face faz parte da peculiar trajetória do Estado Social em que a intervenção

pública refletia as reivindicações dos movimentos sociais e, ao mesmo tempo, a ação

intervencionista do Estado tornava possível a flexibilização do sistema, o que garantia a

sua própria manutenção e continuidade, bem como dava condições de infra-estrutura para

o seu desenvolvimento.

Constatado o progresso por parte do Estado nas atividades econômicas, sociais,

previdenciárias, educacionais, entre outras, o Estado visto como liberal vê-se a um passo de

um Estado Social. Importante destacar que a presença do Estado se faz absolutamente

necessária para a correção de desequilíbrios muito grandes a que são submetidas as socie-

dades ocidentais que, por sua vez, não têm um comportamento disciplinar com relação a

sua economia, ou seja, não possuem um planejamento centralizado.

Nesse ínterim, o Estado passa a assumir um papel de controlador, regulador da econo-

mia, por meio de normas geralmente de cunho disciplinar. Por assim dizer, o Estado torna-se

um gigante, um grande empregador, dando complexidade à vida social. Fala-se, nesse mo-

mento, da burocracia estatal (Bastos, 1999, p. 142).

Segundo vários autores, até o final dos anos 60 o pensamento de Keynes constituiu a

ideologia oficial do que chamavam de compromisso de classe, quando diferentes grupos

podiam entrar em conflito nos limites do sistema capitalista e democrático. Por esse motivo

a crise do keynesianismo é entendida como uma crise do capitalismo democrático.

O keynesianismo, desde o pós-guerra, defende a tese de que o Estado pode harmoni-

zar a propriedade privada dos meios de produção com a gestão democrática da economia.

São fornecidas as bases para que ocorra o compromisso de classe, oferecendo aos partidos

políticos representantes dos trabalhadores uma justificativa para que exerçam o governo em

sociedades capitalistas, engajando metas na plenitude de emprego e na redistribuição de

renda em favor das classes populares. Nesse sentido, o Estado é visto como provedor de

serviços sociais e também um regulador de mercado, sendo desta forma o mediador das

relações e dos conflitos sociais.

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A crise do keynesianismo, portanto, nada mais é do que a crise das políticas de admi-

nistração de demanda, ou seja, quando emergem sinais de insuficiência de capital, as polí-

ticas que são voltadas à eliminação da junção entre a produção corrente e a produção

potencial não mais apontam soluções (Bresser Pereira; Wilhelm; Sola, 1999, p. 225).

Streck e Morais (2004, p. 91) lembram que, “apesar de sustentado o conteúdo próprio

do Estado de Direito no individualismo liberal, faz-se mister a sua revisão frente à própria

disfunção ou desenvolvimento do modelo clássico do liberalismo”. Sendo assim, o Estado

conserva aqueles valores jurídico-políticos clássicos, porém, em consonância com o sentido

que vem tomando no curso histórico, como também com as necessidades e as condições da

sociedade do momento. Nesse sentido, inclui direitos para limitar o Estado e direitos com

relação às prestações do Estado. Faz-se necessário corrigir o individualismo liberal por meio

de garantias coletivas. Isso se dá pela correção do liberalismo clássico pela reunião do capi-

talismo na busca do bem-estar social, que é a fórmula geradora do Welfare State neocapitalista

no pós-Segunda Guerra Mundial.

Na Europa Ocidental esse modelo político-econômico foi chamado de Estado de Bem-

Estar Social (Welfare State), na América Latina foi denominado de desenvolvimentismo e,

nos Estados Unidos da América, esse modelo de Estado ficou conhecido como New Deal e

colocado em prática por Franklin Delano Roosevelt entre os anos de 1933 e 1940. Este

modelo tinha como finalidade promover a recuperação da Grande Depressão e corrigir os

defeitos no sistema que se acreditava terem sido por ela revelados. Entre as medidas toma-

das pelo New Deal nos EUA estavam: a) substancial libertação da política monetária das

restrições do padrão-ouro e maior aceitação da responsabilidade da política monetária para

a estabilização da economia; b) crescente confiança na política orçamentária governamen-

tal para levar a cabo e manter altos níveis de emprego; c) instituição do Estado de Bem-

Estar Social (o fortalecimento do sistema de seguridade social, fornecendo benefícios de

aposentadoria para trabalhadores; sistema de seguro-desemprego; o fornecimento de auxí-

lio financeiro a famílias pobres com filhos dependentes); d) intervenção do governo para

controlar preços e produção agrícola; e) promoção governamental da organização sindical;

f) novo ou ampliado controle governamental de preços, tarifas ou outros aspectos dos trans-

portes, energia, comunicação e indústria financeira e, g) movimento no sentido de uma

política mais liberal de comércio internacional.

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O Estado de Bem-Estar Social alcança seu ápice entre os anos 40 e 70 (considerados

os anos de ouro do capitalismo). A partir dos anos 70 começa a ser questionado por investir

e gastar demasiadamente nas questões sociais (saúde, emprego, moradia, previdência e edu-

cação). Os gastos sociais aumentam, o que desencadeia uma crise fiscal do Estado, além de

estancamento econômico, elevadas taxas de desemprego e inflação. Ressurge a defesa das

idéias liberais do livre mercado, agora sob um novo rótulo chamado de neoliberal, tendo em

Friedrich von Hayek o seu principal interlocutor. Para Hayek, a vida social sob a égide do

Estado é o caminho indefectível para a servidão. A crítica dos neoliberais incide sobre o

dirigismo e a planificação do Estado sobre a economia, ou seja, defendem o mercado

desregulamentado e menores pressões tributárias.

Por fim, procuramos expor nesta unidade idéias e autores que tratassem das crises e

das transformações do Estado no século 20. Desde as teorias de Lenin e Rosa Luxemburgo

(experiências totalitárias), passando pelos diferentes entendimentos do Estado na Teoria

Democrática, até a experiência do Estado de Bem-Estar Social na Europa. Em síntese, o

Estado de Bem-Estar Social foi instituído basicamente por partidos sociais democratas, de-

limitando uma terceira via entre o socialismo de esquerda e o liberalismo de direita. Os

social-democratas prevêem uma passagem gradual do capitalismo ao socialismo exclusiva-

mente pelas vias eleitorais e parlamentares.

– Mais à frente, na Unidade 4, voltaremos a tratar das relações entre o Estado de Bem-Estar

Social e o neoliberalismo.

Sugestão de leituras: (referências completas no final)

– Para aprofundar o tema dos interpretes de Marx, conferir Outhwaite e

Bottomore (1996, p. 814).

– Para um aprofundamento das idéias de Lenin, conferir Prélot (1973, p. 69-79).

– Sobre a Teoria das Elites, conferir o trabalho de Oliveira (2003).

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– Sobre a Teoria Participativa ler a obra Participação e teoria democrática, de Carole Pateman

(1992), a qual divide-se em duas partes: a primeira trata do impulso gerado pelas obras de

Rousseau, John Stuart Mill e G. H. Cole para substanciar a relação entre democracia e

participação. Na segunda parte Pateman apóia-se nas idéias de Sidney Webb e Beatrice

Webb para discorrer sobre a perspectiva de democratizar as relações no interior das fábricas.

– Sobre a questão dos direitos naturais e da mão invisível do mercado, conferir as obras de

Locke (2001) e Smith (1981), respectivamente.

– Sobre o Estado social e o enfrentamento de suas crises, ver obra de Morais (2002).

– Para uma leitura mais detalhada sobre o Estado de Bem-Estar Social, conferir Outhwaite

e Bottomore (1996, p. 522).

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Estado, Sociedade e Direitos Sociais no Brasil

A definição de brasileiro tem sido feito e refeito, ao longo dos anos, por diversos auto-

res de livros famosos. Paralelamenta, no entanto, a sociedade dominante é que deu a base

do conceito, uma vez que, para ser escritor, era preciso ser letrado, um privilégio no Brasil

que há pouco tempo havia se estabelecido como república.

Um Brasil no qual imperava o conceito europeu de superioridade sobre os negros,

índios e mestiços, que constituíam a maioria do povo brasileiro, aos quais, por muito tempo,

os escritores deram as costas, fazendo com que seus escritos apenas revelassem a diminuta

face européia do país.

Com o século 20 chegando, porém, essa idéia estava fadada à ruína, como demonstrou

Euclides da Cunha na sua narração do Nordeste brasileiro; Monteiro Lobato, com o Jeca

Tatu, e Gilberto Freyre, com Casa-Grande & Senzala, só para citar uns poucos exemplos. A

partir deste último livro o Brasil aspirou tornar-se uma democracia social. Segundo o relato,

os africanos não eram selvagens e, dentre outras coisas, sabiam manejar o gado, trabalhar o

ferro, irrigar o solo, adubá-lo e cuidá-lo, fazer fortificações e organizar as tropas para o

combate. Sabiam ler e escrever, e muitos já tinham lido o Alcorão, enquanto seu dono não

sabia escrever o próprio nome.

No Brasil não éramos apenas três raças – branco, índio e negro – mas sim uma mistura

de povos, oriundos de diversos países. Câmara Cascudo tinha a ambição de que os brasilei-

ros gostassem de verdade do Brasil. O livro Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de

Holanda, destaca que a expansão portuguesa foi só aventura, sem método nem rumo. Já

Manuel Bonfim afirma que os portugueses tinham obstinação em cumprir o projeto do pri-

meiro império moderno. Sérgio Buarque de Holanda afirma que o português era adaptável,

se entendia com os nativos, mas queria ficar rico logo e voltar para casa. Segundo ele, os

portugueses tinham uma cultura da aventura e não do trabalho.

Unidade 3Unidade 3Unidade 3Unidade 3

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Silva (2000) argumenta que o Brasil tinha de deixar de ser um país de “portugueses

transplantados nos trópicos”, porque os índios e os africanos se adaptaram ao molde lusita-

no, e não o contrário. A arte e a literatura tiveram grandes expoentes nesse período: Portinari,

Nelson Rodrigues, Cecília Meireles, Jorge Amado e Graciliano Ramos.

A história do Brasil era apenas mais um capítulo da história do comércio europeu:

tínhamos surgido para fornecer bens tropicais. No início do século tínhamos classes sociais

em luta – escravos, semi-escravos, pobres, explorados e empobrecidos. A obra Bandeirantes e

pioneiros (1955), de Viana Mogg, explica porque o Brasil não cresceu como os Estados

Unidos, país modelo e meta para as classes médias brasileiras.

Com a descoberta do ouro criou-se um mercado interno, e, assim, a base para uma

economia nacional. Essa base aumentou com o café, quando se substituiu escravos por

assalariados. Surgiam, aí, consumidores em potencial. As misturas de raça fizeram o “brasi-

leiro” que temos hoje. De tantas raças presentes em nosso país, não há tipo humano que

não caiba no passaporte do Brasil.

Neste sentido, esta Unidade tem como objetivo discutir aspectos ligados ao Estado, à

sociedade e aos direitos sociais no Brasil a partir da análise de algumas Constituições Fede-

rais. A seção inicial discute o “descobrimento” do Brasil como conseqüência de um pensa-

mento racional instrumental moderno. Os espanhóis e portugueses seguem a lógica da con-

quista, do enriquecimento a qualquer custo, da expansão do Império juntamente com a

expansão do cristianismo. A seção 3.2 discute aspectos do Estado, do Direito e da sociedade

no Brasil a partir da herança lusitana da centralidade do Estado, do patrimonialismo e do

direito transplantado da metrópole para a colônia. Na seção 3.3 apresenta-se a discussão

do Estado no Brasil e a relação com os direitos sociais mediante uma leitura das diferentes

Constituições do Brasil, desde 1824 até a Constituição “Cidadã” de 1988.

Seção 3.1

O “descobrimento” do Brasil: antecedentes

A modernidade emergiu sob o mito da criação de uma racionalidade instrumental, que

levou o homem europeu a se confrontar com o outro, que habitava o “Novo Mundo”. Cris-

tóvão Colombo, representante máximo da mentalidade “moderna” européia, deixou regis-

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trado em seu diário que o objetivo final de suas viagens era o

enriquecimento e a expansão do cristianismo, porém logo perce-

beu que o Deus dos espanhóis era o ouro: “Estava atento e trata-

va de saber se havia ouro... Não quero parar, para ir mais longe,

visitar muitas ilhas e descobrir ouro”. Colombo pedia, em suas

orações, que Deus o ajudasse a encontrar o referido metal: “Que

Nosso Senhor nos ajude, em sua misericórdia, a descobrir este

ouro...”. A segunda intenção de Colombo era a de expandir o

cristianismo aos povos “bárbaros”, com o apoio dos bispos e do

Papa, juntamente com toda a Igreja, com o objetivo final de ob-

ter maior financiamento para tal empreendimento: as viagens às

Américas. A sua próxima viagem será “para a glória da Santíssima

Trindade e da Santa religião cristã” e, para isso, Colombo “espe-

ra a vitória do eterno Deus, como ela sempre me foi dada no pas-

sado” e sintetiza: “Espero em Nosso Senhor poder propagar seu

Santo nome e seu Evangelho no universo”. Todos sabiam que

Colombo era um fervoroso cristão, inclusive que não viajava aos

domingos, respeitando, assim, os mandamentos de Deus, seguin-

do os ensinamentos da Igreja.

O conquistador Gonzalo Fernandes Oviedo pregava, igual-

mente, aos nativos das “Índias”, a existência de um Deus, de um

Papa e de um Rei que deveriam ser adorados; caso contrário, so-

freriam penas duríssimas: “Caciques e índios desta terra firme do

lugar tal: nós vos fazemos saber que existe um Deus, um Papa e

um Rei de Castela que é o S enhor destas terras : vinde

incontinenti render-lhe homenagens, porque se não o fizerdes,

sabei que nós vos faremos guerra e vos mataremos e vos escravi-

zaremos”.

Bartolomeu de Las Casas, um dos poucos bispos europeus

que defenderam a causa indígena, relatou que Colombo, quando

era recepcionado com festas pelos americanos, recebendo pre-

Vinde incontinenti

é uma expressão do conquista-dor Gonzalo Fernandes Oviedoaos nativos das América.Significada prestar homenagemàs auto ridades (Deus, Rei,Papa).

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sentes como ouro e objetos preciosos, logo acorria a seu oratório, seguindo os rituais da

tradição cristã, e dizia: “Agradecemos ao Nosso Senhor que nos tornou dignos de descobrir

tantos bens”.

A primeira referência feita por Colombo, em relação à população que aqui vivia, não

deixa de ser significativa, especialmente se relacionada ao aspecto “natural” em que vivia,

mas a análise foi feita apenas quanto ao aspecto físico: “então viram gentes nuas”, logo

relacionaram como sendo povos selvagens, sem moral: “Vão completamente nus, homens e

mulheres, como suas mães os pariram”, até mesmo os reis, as mulheres e as crianças, tudo

dentro da maior naturalidade. Colombo, ao descrever o aspecto físico dos habitantes ameri-

canos (estatura, cor da pele...), chegou à conclusão de que são selvagens e que, pelo menos,

tendem a parecer-se mais com os humanos do que com os animais.

Os índios foram considerados, inicialmente, seres dóceis, generosos, “gente boa”; mas,

com o passar do tempo, o europeu passou a considerá-los como ladrões, aplicando-lhes

castigos por seus atos.

Bem antes de o homem branco europeu chegar por estas terras, o índio tinha suas

normas morais e seus ritos religiosos. Ele respeitava a si próprio e aos demais, à mãe Terra, à

água, à Lua, às estrelas, ao Sol. Os espanhóis chegaram e impuseram a sua religião: em

uma das mãos, a cruz do Cristo europeu, simbolizando o poder da Igreja; na outra, a espada

para a conquista.

Colombo não descartou a possibilidade de os espanhóis serem considerados de “ori-

gem divina” pelos nativos, o que daria uma boa explicação para o medo inicial e seu desa-

parecimento diante do comportamento indubi tavelmente humano dos conquistadores: “os

índios associaram-nos com os deuses”, por isso aceitaram pacificamente a dominação dos

espanhóis. Colombo assim se expressou ao se referir à religião do índio: “São crédulos, sa-

bem que há um Deus no céu, e estão convencidos que viemos de lá... Um dos índios que

vinham com o almirante falou com o Rei dizendo-lhe que os cristãos vinham do céu e anda-

vam à procura de ouro”.

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E foi ass im, por essas e outras, que o grau de despudoramento do espírito do homem

europeu não se furtou a lançar mão do álibi de Deus para sacramentar e justificar o início

do massacre da cultura indígena nas Américas, cuja vileza dos atos só ironicamente pode

receber o nome de “descobrimento”. Em outras palavras: a ideologia religiosa serviu para

justificar a dominação dos europeus para com os nativos que viviam nas Américas.

Seção 3.2

Estado, Direito e Sociedade em descompasso

Quando aportaram em terras brasileiras a fim de colonizá-las, os portugueses trouxe-

ram consigo o seu modelo já formado de Estado, com leis, hierarquias e toda a sorte de

elementos que “protegem” a vida em sociedade. As particularidades sociais e também

territoriais de nosso país, todavia, como a convivência entre tipos tão distintos (portugueses

fidalgos, clérigos, aventureiros, párias, sociedades indígenas, escravos), acabaram por criar

a necessidade de uma certa adaptação do Direito que regia Portugal, gerando assim parti-

cularidades que, mais tarde, mesmo com inúmeras diferenças, levaria à formação do Estado

brasileiro.1

3.2.1 DIREITO DO COLONIZADOR E PRIVILÉGIO DAS ELITES

Desde o princípio da ocupação portuguesa a intenção da Coroa era somente a de usar

o Brasil como uma colônia. Isto é, não havia um projeto de ocupação, e todos os esforços

eram voltados a retirar tudo o que a colônia pudesse oferecer em matéria de riquezas. Dessa

forma, Portugal tomou conta das terras e as dividiu entre alguns nobres, para que estes,

tomando posse, assegurassem militarmente a exclusividade dessas propriedades, dando,

assim, início ao processo de formação das elites regionais. Por um período de aproximada-

1 Esta seção expressa as principais idéia do trabalho de Dallari (2000, p. 440-488).

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mente três séculos, esta foi a diferença básica da sociedade brasileira: mandantes e manda-

dos. Lentamente, foi se formando uma oligarquia com o crescimento do poder de algumas

classes: os já mandantes proprietários das terras, chefes militares e a nata da hierarquia

católica. Mais tarde os comerciantes conquistaram destaque na sociedade, deixando mais

complexa a hierarquia social.

Nesse período um fato significativo foi a intensificação da produção agrícola nas regiões

mais ao Sul, aumentando, consequentemente, o seu desenvolvimento e deixando o Nordes-

te (que até então era a região mais rica devido ao ciclo da cana-de-açúcar e por isso alavancou

por mais de quatro séculos o desenvolvimento econômico no Brasil), à margem do desenvol-

vimento e à mercê das elites locais.

É nesse ponto que o Estado português, que até então tinha um envolvimento pratica-

mente nulo na vida política brasileira, decidiu intervir proibindo o comércio de colonos com

outros países sem a intermediação da Coroa portuguesa, para garantir o absoluto controle

do território. A interferência tornou-se mais intensa e rígida quando, no início do século 18,

foi descoberto ouro em Minas Gerais. Neste caso, os desmandos impostos pela Coroa foram

tão severos que geraram a primeira revolta que bradava a favor da independência, contra o

jugo de Portugal: a Inconfidência Mineira.

3.2.2 A HERANÇA COLONIAL E O ESTADO BRASILEIRO

Por cerca de três séculos o Brasil viveu uma espécie de ambigüidade jurídica: formal-

mente, estava submetido às leis de Portugal, porém na prática o que se aplicava era um

Direito local, baseado nos costumes e na vontade dos que detinham o poder. Foi dessa au-

sência de poder governamental que nasceu a figura das oligarquias, os grandes proprietários

de terras, com poder político absoluto local e que tinham total controle sobre as leis, polícias

e judiciário.

O resultado dessa rapsódia social foi que práticas absurdas e um pensamento conser-

vador e retrógrado foram se instalando no Brasil, e, mesmo com o fim do período colonial

continuam até hoje vivas na sociedade brasileira. Como exemplo, podemos citar:

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a) as oligarquias, que são uma mistura de feudalismo, coronelismo

autoritário e paternalismo, que marcaram o final do século 20,

e que são frutos do absoluto domínio dos senhores de engenho

sobre os escravos;

b) a visão do Estado como inimigo, autoritário e explorador, re-

sultado da forma como o governo português agiu todas as ve-

zes que tentou interferir ativamente no Brasil;

c) a idéia de que o privado é sempre mais importante que o públi-

co e que tudo é justificável para defendê-lo, incluindo a utili-

zação do governo e de recursos públicos para preservá-lo;

d) o uso do Estado nas áreas mais pobres, onde não há interesse

das oligarquias em fazer investimentos, pois, dessa forma, o

assistencialismo do Estado, percebido como favor pela popula-

ção menos esclarecida, protege o patrimônio privado e legiti-

ma a distribuição de cargos públicos como favor político, for-

mando uma espécie de curral eleitoral;

e) o conflito entre interesses gerais e específicos, hoje alocado

entre União, Estado e Municípios.

3.2.33.2.33.2.33.2.3 A REPÚBLICA BRASILEIRA:nova sociedade, novo modelo constitucional, velho autoritarismo

No fim do século 19 a abolição da escravidão desencadeou

um processo que mudaria radicalmente a sociedade brasileira: a

vinda de imigrantes para substituir a mão-de-obra escrava. Con-

sigo, os imigrantes trouxeram um outro modo de ver a sociedade

e as relações, as idéias de anarquia e socialismo, e o discernimento

entre direitos e deveres nas relações de trabalho, como a exigên-

cia do pagamento de um salário ou algum outro tipo de compen-

Rapsódia

Epopéia de uma nação.Fonte: Houaiss.

Os primeiros partidos

políticos no Brasil

Até 1837 não se pode falar ar igo r em partidos políticos noBrasil. Nesse ano formaram-seas duas agremiações quecaracterizaram o SegundoReinado, a dos Conservadores(saquaremas) e a dos Liberais(luzias).

Os conservadores defendiamum reg ime forte, com autorida-de concentrada no trono epouca liberdade concedida àsprovíncias. Os liberais inclina-vam-se pelo fortalecimen to doparlamento e por uma maiorautonomia provincia l. Amboseram pela manutenção doregime escravista, mas osliberais aceitavam a suasupressão, conduzida po r umprocesso lento e g radual quelevaria à abolição da escravatu-ra. Disponível em: <http: //pt.wikipedia.o rg/wiki/Partidos_pol%C3%ADticos_no_Brasil>.Acesso em: 24 set. 2008.

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sação, o direito ao descanso, moradia e alimentação de boa qualidade e, principalmente, o

respeito à pessoa, ou seja, repúdio a qualquer forma de castigo físico. Dessa forma, o fenôme-

no migratório engendrou algo novo na sociedade brasileira: as reivindicações sociais.

Paralelamente às mudanças ocorridas na formação da sociedade, no dia-a-dia o poder

político e as práticas de Estado não sofreram alterações. Os partidos existentes na época,

Progressista e Conservador, apesar da diferença na forma como viam as mudanças sociais,

tinham em comum o mesmo objetivo: manter o poder nas mãos das elites. Isso fica claro na

primeira Constituição, que data desse período, em que o poder do Estado é restrito mediante

a separação dos poderes, os direitos individuais são garantidos, e, principalmente, o Brasil

copia os moldes de organização dos EUA (adota o regime de República Federativa, onde

cada Estado tem autonomia administrativa). Aqui, porém, foi concedida também autono-

mia aos municípios. Dessa forma, assegurava-se o domínio das elites regionais, ou seja, a

República Brasileira já começava priorizando os interesses dominantes. Estes vícios, soma-

dos a episódios como a política do café com leite, desencadearam a revolução que depôs o

presidente e decretou o fim da 1ª República (1930).

A partir de então, tornou-se mais forte a influência fascista no Brasil. Em 1934 uma

nova Constituição foi promulgada, mantendo os postulados da anterior e incorporando al-

guns preceitos da Constituição alemã. Esta nova Constituição durou apenas até 1937, quan-

do Getúlio Vargas fechou o Congresso e governou ditatorialmente até 1945. Com a deposi-

ção de Vargas, em 1946 foi promulgada uma nova Constituição, que durou até 64, quando,

por força de diversos atos institucionais, o Brasil passou a ser comandado por sucessivos

governos militares.

Seção 3.3

A formação do Estado no Brasil e a questão dos direitos sociais

Pode-se dizer que no Brasil, desde o período colonial, imperial e Primeira República,

nada mudou em termos de elite política e econômica. Os donos do poder eram os latifundi-

ários, os traficantes de escravos (nacionais), aliados ao poder emanado da metrópole (Por-

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tugal). O exagero com gastos públicos em relação à nobreza e os altos impostos em relação

ao ouro desencadearam interesses divididos entre brasileiros e portugueses, acentuados com

a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808, bem como a Proclamação da Indepen-

dência pelo Príncipe Regente, em 1822. Esta função de manter o território nacional,

entertanto, provocou um marco histórico no país, isto é, do paternalismo político, no qual

os méritos das conquistas não eram do povo, e sim dos poderosos para se manter no poder

(Brum, 1988, p. 42-45).

Diferentemente da emancipação política norte-americana, que teve uma elevada par-

ticipação da sociedade civil organizada, a Proclamação da Independência do Brasil não

teve um significado de revolução, mas de “arranjo político”, expressando o interesse da

aristocracia rural dominante que o povo, que era maioria, apoiava, no sentido de se sentir

livre econômica e socialmente (Brum, 1988, p. 46).

Diante da idéia de libertação foi promulgada a Carta Outorgada de 1824. Tendo em

vista que a classe social não conseguia se organizar, foi oferecida ao povo pelo imperador

uma organização jurídico-política partindo do poder central, ou seja, de cima para baixo (p.

46-47).

A Carta Outorgada imposta por Dom Pedro I, imperador da época, foi um diploma

monarquista-parlamentarista, que atribuía a guarda da Constituição ao poder Legislativo.

Em seu artigo 15, n. 8 delegava ao Legislativo “fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e

revogá-las”, e no n. 9 do mesmo artigo “velar na guarda da Constituição”. Com o poder

moderador, no entanto, o imperador controlava e coordenava tudo (Bastos, 1999, p. 399).

Nesse sentido, a Carta Outorgada oferecida ao povo, para que se organizasse política

e juridicamente, era norteada pelos grandes proprietários, os mais próximos do imperador,

mas predominava o poder moderador, sendo que o monarca tinha absoluto poder para fazer

ou deixar de fazer o que quisesse, comandando a tudo e a todos. Nesse período havia pouca

materialidade a respeito de direitos sociais, pois a preocupação era mais calcada na “distri-

buição de benefícios”, ou seja, na “utopia de organizar a sociedade de acordo com os indi-

cadores do ‘mercado’, estimulada pelo início da produção mercantil generalizada no século

XVIII” (Santos, 1998, p. 69), que se tornou viável com a Revolução Industrial, mas não

determinava uma sociedade igual para todos, onde todos dispusessem, em condições iguais,

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de bens e serviços, mas que cada um recebesse de acordo com sua capacidade. Essa forma

desequilibrada e diferenciada traduz bem o que a Constituição de 1824, em seu artigo 179,

Inciso XIII, descrevia: “A lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, e recompen-

sará em proporção dos merecimentos de cada um” (Barroso, 1996, p. 9).

Assim, a organização administrativa estabelecida nesse período era suficiente para

conter os insubordinados, pois o estímulo era aos latifundiários, ou seja, contentava os

interesses comuns, haja vista que o Estado nessa época não era visto como protetor de

interesses da população, mas de particulares (Faoro, 2001, p. 173-193).

Segundo Wanderley Guilherme dos Santos (1998, p. 71-72), depois de um longo período

sem discutir a problemática social e após a extinção da escravidão, foi promulgada a Lei n.

3.397, de 24 de novembro de 1888, a qual amparava os empregados que trabalhavam nas

estradas de ferro do Estado, prevendo uma espécie de auxílio doença e funeral. Também em

20 de julho de 1889, pelo Decreto n. 10.269, foi criado o Fundo de Pensões do Pessoal das

Oficinas da Imprensa Nacional. Em 1890 foi criado, pelo Decreto n. 439, em 31 de maio do

mesmo ano, o Fundo Nacional de Bem-Estar do Menor (Funabem), em relação às forças de

trabalho infantil.

O Segundo Reinado, conforme Faoro (2001, p. 500), foi a vez dos comerciantes,

especuladores, intermediários, fazerem do modernismo desenvolvimentista um ciclo de em-

préstimos e concessões à custa do Estado.

A política da República Velha, de 1889 até 1930, foi marcada pela expansão federalista,

ou seja, os Estados ficavam com a receita da exportação, a mais importante da época, e

organizavam suas próprias forças armadas, como forma de substituir o poder central (Soa-

res, 1973, p. 17-20). Também o nepotismo e o empreguismo eram meios adotados na época

para garantie a oligarquia.

Nesse período a sociedade também era dividida em classes: de um lado a elite, que

detinha poder pelas concessões e favores patrocinados pela política oligárquica e, de outro,

uma classe marginalizada, que sofria com inúmeros problemas: analfabetismo, latifúndio e

participação restrita.

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A República instituída pelo governo Provisório e, depois, por Floriano Peixoto, foi apoiada

pela classe média formada pelos militares, intelectuais, proprietários rurais. Em 1891, com a

Constituição emendada por Ruy Barbosa, que ratificava o sistema presidencialista de gover-

no no país, “através de eleição direta, com mandato por quatro anos, vedada a reeleição

para o período imediato”, houve uma notória substituição aos moldes do império, bem como

as províncias passam a ser Estados (Brum, 1988, p. 59-60).

A Constituição de 1891, inspirada no “figurino norte-americano”, além de mudar a

forma de governo, de monárquica para presidencialista, mudou o sistema de governo parla-

mentar para presidencialista, bem como a forma unitária de Estado, que passou a ser fede-

ral, porém ainda era “omissa na questão social, elitista no seu desprezo à conscientização

popular” (Barroso, 1996, p. 11).

Ainda nesse período o coronelismo é um marco histórico, no qual o poder representava

toda e qualquer força, pois o país, extremamente agrário, tinha no poder proprietários lati-

fundiários, poucos comerciantes e intelectuais da classe média, portanto uma minoria, pos-

to que a maioria representava um povo trabalhador, oprimido e marginalizado, agora com

direito a voto, mas de forma fraudulenta.

Soares (1973, p. 24) explica que “a extensão da corrupção eleitoral na República Ve-

lha era, pois, incrível. As eleições não eram uma questão eleitoral, mas sim, uma questão de

poder”, uma vez que o poder de Estado iria além do que permitisse e era difícil um candidato

apoiado pelo governador não se eleger. “A norma, portanto, era que o Governador ‘fizesse’

seu sucessor”.

A República Nova, de 1930 a 1964, foi marcada pelo populismo (não mais pelo

coronelismo e nem tanto pela oligarquia), uma espécie de política voltada às massas, às

classes sociais, a fim de resgatar o povo brasileiro, ofertando-lhe uma nova forma de gover-

no para que as classes pudessem viver dignamente.

Uma das mais emblemáticas frases da época foi dita por Antonio Carlos Ribeiro de

Andrada, presidente de Minas Gerais, em 1930: “Façamos a revolução antes que o povo a

faça”. O rompimento com o período anterior e o início desta fase histórica abriu possibilida-

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des para o povo participar das manifestações sociais e políticas,

ou seja, “por forças das transformações sociais e econômicas que

se associam ao desenvolvimento do capitalismo industrial e que

assumem um ritmo mais intenso a partir de 1930” (Weffort, 1980,

p. 17).

Nesse período é importante salientar a respeito do populismo que:

A partir da revolução que comove as bases da ordem l iberal-

oligárquica, começa a estabelecer-se uma estrutura do Estado de

caráter semicorporativo que se encontrará apta a promover a in-

corporação das classes populares urbanas bem como as demais

classes em formação (Weffort, 1980, p. 123).

Segundo Brum (1988, p. 68), o populismo autoritário teve

três períodos sob o comando de Getúlio Vargas: de 1930 a 1934,

como Governo Provisório; de 1934 a 1937, como um Governo Cons-

titucional, e de 1937 a 1945, como a ditadura do Estado Novo.

No primeiro período houve uma ampliação da cidadania

pela extensão do direito ao voto, também às mulheres, e a redu-

ção desse direito de 21 para 18 anos. A partir de 1934, por meio

de um golpe, Getúlio impôs ao país uma nova Constituição Fede-

ral, estabelecendo a ditadura de Estado Novo e transformando-

se em ditador. O poder passou a ter caráter pessoal e as eleições

foram suspensas, houve proibição da criação de partidos políti-

cos e marginalização do povo e desigualdade de forma assusta-

dora, pois boa parte das pessoas vinha do campo para a cidade

em busca de condições melhores de vida e se deparava com a

ditadura existente (Brum, 1988, p. 71-78).

A Constituição de 1934, “influenciada pela Constituição

de Weimar de 1919, e pelo corporativismo, continha inovações e

virtudes”, entre elas a criação da “Justiça do Trabalho, e o salá-

Constituição de Weimar

(a lemão: WeimarerVer fassung) era o documen to

que governou a curta repúblicade Weimar (1919-1933) da

Alemanha. Formalmen te era aConstituição do Estado

Alemão (Die Verfassung desDeutschen Re iches). O t ítuloda Constituição era o mesmo

que a Constituição imperia l quea precedeu . A palavra a lemã

Re ich é traduzida geralmentecomo “império”, entretanto

uma tradução mais exata seria“reino” ou “comunidade”. O

termo persistiu mesmo após ofim da monarquia em 1918. O

nome do o ficia l de Estadoalemão era Deutsches Reich

até a derro ta da AlemanhaNazista no final d a Segunda

Guerra Mundial. Fonte:Constituição de Weimar de

1919. Fonte: wikipédia.

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rio mínimo, instituição do mandado de segurança, o acolhimento da ação popular” (Barro-

so, 1996, p. 18), bem como a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), um

código ousado à época de elaboração, mas que fundamentava e garantia muitos direitos

trabalhistas, entre eles a jornada de trabalho e o repouso semanal.

A idealização dessa época, moralizadora e liberal, pela Revolução de 1930, deixava

clara a ideologia antiliberalista, que reivindicava mais aspectos econômicos e sociais do que

políticos, haja vista que os direitos sociais existentes eram obrigação do Estado (Barroso,

1996, p. 18).

Foram criados muitos dos direitos trabalhistas, alguns exercidos e outros somente efe-

tivados ao longo dos anos. A Constituição de 1937 regulamentou a produção, a mineração,

o aço e o petróleo. Essa Constituição foi marcada pela função “paternalista da atuação

governamental, e do atrelamento dos sindicatos ao poder público” (p. 22).

Nesse período no Brasil o movimento sindical mostrou-se de grande valia aos direitos

sociais conquistados. Durante a Era Vargas até 1964, a proteção ao trabalhador urbano e

rural, como jornada de trabalho, salário mínimo, repouso semanal, as condições do ambien-

te de trabalho, a questão da mulher, ou seja, a compensação social é ratificada, bem como a

regulamentação das profissões, tarefa que coube ao Estado fazer. Ainda a regulamentação

dos acidentes de trabalho, por meio do seguro por acidentes de trabalho, que deveria ser

depositado à Previdência Social em caso de risco na profissão. Também a assistência médi-

ca, em prol do trabalhador, a criação da Caixa de Aposentadoria e Pensão dos Ferroviários

(Decreto-lei n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923), bem como os trabalhadores marí timos, de

pesca, entre outros (Santos, 1998, p. 73-79).

Em 1945 Getúlio Vargas voltou ao governo eleito pelo povo, mas ainda persistiam

ressentimentos da ditadura. Em 1954 Vargas se suicidou e o populismo ganhou força. Entre

1945-1964 o país passou por várias mudanças. Foram criados partidos políticos, com pouca

participação popular. Em 1946 foi promulgada a Constituição Federal da República dos

Estados Unidos do Brasil, a qual legislava acerca das eleições dos Estados-membros, prefei-

tos municipais e vereadores (Brum, 1988, p. 81-83).

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A Constituição de 1946 teve caráter constitucionalista, pois com o fim da Segunda

Guerra Mundial muitos Estados tornam-se independentes e passaram a criar suas Consti-

tuições com base em um assistencialismo social. Assim, é mister salientar que

na estrutura típica do constitucionalismo burguês, buscava-se um pacto social apto a conciliar,

numa fórmula de compromisso, os interesses dominantes do capital e da propriedade com as

aspirações emergentes de um proletariado que se organizava (Barroso, 1996, p. 24).

A Constituição de 1946 revelava ainda um avanço espetacular, pois enunciava direi-

tos e garantias individuais, como cultura e educação, bem como princípios que deveriam

nortear a área econômica e social. O Judiciário deveria apreciar qualquer lesão de direito

individual. O ensino primário deveria ser obrigatório, bem como a repressão do poder econô-

mico, que condicionou o uso da propriedade ao bem-estar social e, ainda, o direito dos

empregados de participar no lucro das empresas, entre outros aspectos sociais (Barroso,

1996, p. 25).

Com a deposição e o suicídio de Vargas e até a posse de Juscelino Kubitschek de Oli-

veira, a política brasileira esteve em crise. De 1956 a 1960 Juscelino transformou a econo-

mia brasileira com um programa de metas, inclusive moderno para a época, na qual a famo-

sa frase de Juscelino era ouvida: “Cinqüenta anos em cinco” (Ianni, 1986, p. 151).

Nesse período o Brasil foi marcado pelo desenvolvimento, e após Juscelino Kubitschek

outros presidentes continuaram a buscar o desenvolvimento econômico e social, como João

Goulart e Jânio Quadros, que optaram por programas de metas, criando estatutos e direitos.

Pode-se dizer que foi uma fase desenvolvimentista do Brasil. Convém ressaltar, no entanto,

que, de 1964 a 1985, os governos de Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Ernesto Geisel

e João Figueiredo adotaram políticas semelhantes, voltadas ao desenvolvimento econômi-

co, de mercado e social (Ianni, 1986, p. 229).

Em 1964 ocorreu um golpe militar que se iniciou com Castello Branco e prosseguiu

com os demais, com o objetivo de revolucionar por meio de Atos Inconstitucionais que se

iniciaram com o número 1 e foram até o número 16, sendo os mais terríveis os de número 1

ao 5, os quais suprimiram alguns dos principais direitos da população (Brum, 1988, p. 108-

109).

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A Constituição de 1964 teve, em seu texto, cerca de 20 Emendas Constitucionais, sem

mencionar os Atos Inconstitucionais baixados pelo presidente, com os quais modificou a

forma das eleições, passando a ser indiretas, tanto para presidente como para governadores,

poder permanente ao presidente da República e restrição aos direitos políticos. Com o fim do

mandato de Castello Branco os Atos Inconstitucionais aumentaram, pois continuaram com

o presidente eleito, indiretamente, Costa e Silva, em 1967. Além das restrições já declaradas,

ocorria também censura à imprensa, possibilidade de confisco de bens, tortura aos adversá-

rios políticos, perseguição aos estudantes, que foram duramente reprimidos, guerrilhas ur-

banas, enfim, uma desordem total (Barroso, 1996, p. 32-36).

Com a ascensão do general Emílio Garrastazu Médici, em 1969, pelo voto indireto,

ocorre a promulgação da Constituição de 1969. Este governo conseguiu fazer com que cres-

cesse a economia, adotando uma política calcada na concentração de renda. A Constitui-

ção de 1969 foi basicamente “nominal”, pois sua efetivação nunca saiu do papel, haja vista

que os direitos sociais também não passaram de meras formalidades. Esse texto constitucio-

nal passou por duas emendas, uma que permitia eleições indiretas e outra que facultava a

ocupação de cargos no governo sem perda dos mandatos.

Em 1974 o general Ernesto Geisel assumiu a Presidência e cassou os mandatos dos

parlamentares, pois foi no seu governo que teve início o processo gradativo de refluxo do

poder. Após, Geisel coibiu a tortura e “revogou os Atos Inconstitucionais e os atos Comple-

mentares, no que contrariava a Constituição”. Em 1979 assumiu João Baptista de Oliveira

Figueiredo, que tinha como objetivo reconstituir a legalidade democrática. E, por fim, foi

eleito Tancredo Neves, que não chegou a assumir a Presidência devido a sua enfermidade,

assumindo o vice-presidente José Sarney (Barroso, 1996, p. 37-39).

Em 1985 se definiu, por meio da Nova República, o perfil do país, ocorrendo uma

transição à democracia. Nessa época surgiram as “Diretas Já”, um marco histórico brasilei-

ro na luta pela eleição direta para presidente da República. Assim, com o advento da Cons-

tituição Federal de 1988, a “Constituição Cidadã”, o Brasil iniciou uma nova fase em rela-

ção à importância de se garantir direitos sociais.

Hoje entende-se que a efetividade da Constituição Federal depende da sua eficácia, da

aplicação e realização de suas normas, fazendo prevalecer o sentido e valor do que é tutela-

do. “É a ligação entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social”, e ainda, “ao insti-

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tuir o Estado, a Constituição organiza o poder político, define os direitos fundamentais do

povo, estabelece princípios e traça fins públicos”, de forma a facilitar sua obtenção (Barro-

so, 1996, p. 283).

Alexandre de Moraes (2001, p. 34) afirma que:

Constituição deve ser entendida como lei fundamental, e suprema do Estado, que contém normas

referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aqui-

sição do poder de governar, distribuindo competências, direitos, garantias e deveres dos cida-

dãos. Além disso, é a Constituição que individualiza os órgãos competentes para a edição de

normas jurídicas, legislativas e administrativas.

Não se pode falar, todavia, em desenvolvimento econômico e social, ou estruturação

do Estado, sem que a Constituição esteja presente, pois o que faz a cidadania e a democra-

cia, e também a soberania da população brasileira, sem dúvida, é a lei mais importante do

país. Sem a existência dela não é possível pensar em liberdade, igualdade, direitos, garanti-

as e deveres, e muito menos em justiça e política, posto que a Carta Magna consagra a

todos, justamente por ser uma lei fundamental.

O conjunto de valores mais importantes da Constituição Federal, promulgada em 5 de

outubro de 1988, encontra-se em seu preâmbulo:

[...] instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e

individuais, liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça

como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na

harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacíf ica das

controvérsias.

Neste sentido, a obtenção dos pressupostos anteriormente descritos somente é possí-

vel com a aplicação de políticas públicas eficazes voltadas ao dever-ser que o Estado deve

proporcionar aos seus cidadãos. Faoro (1985, p. 16) discorre sobre a autonomia e os deten-

tores do poder:

Com a Constituição, o poder não apenas se organiza, senão que, submetido ao controle de baixo,

se legitima, estabelecendo as regras fundamentais que permitem a emergência de novas forças

sociais, sem privilegiá-las e sem oprimir as minorias que outrora foram maiorias, assegurando-

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lhes os meios de entrar e sair do poder sem abalos sociais e sem convulsões políticas. A Constitui-

ção, finalmente, é a suprema força polít ica do país, nas suas normas e valores, coordenadora e

árbitro de todos os conflitos, sempre que fiel ao poder constituinte legitimamente expresso.

Assim, compreende-se que o Estado não possui poder próprio, mas passa a tê-lo quan-

do emerge das classes, do povo, ou seja, dos cidadãos ao Estado, e essa ação depende das

práticas de políticas públicas, pois com a “construção da esfera pública, se estende a todos

os cidadãos a condição de igualdade básica, é a função precípua da cidadania”, o que nos

torna parte do Estado (Corrêa, 2002, p. 224-225).

A reforma do Estado, nos anos 90, surgiu “como um enorme fardo nas costas, o que

desafiou e sufocou todos os governos” dessa época. O neoliberalismo presente e a globalização

transferiram “doses adicionais de individualismo, diferenciação e fragmentação”. O país

passou a ser “pós-moderno sem ter conseguido ser plenamente moderno”, o que é um desa-

fio a cada dia (Nogueira, 2005, p. 25).

Tal passagem não se evidenciou ante o longo período vivenciado pelos moldes ditato-

riais, uma vez que, mesmo após consolidada a democracia no país, ainda se percebia um

resquício da necessidade de efetivação dos direitos, principalmente os sociais, tão fragmen-

tados e diminuídos na atualidade.

A globalização tem uma influência notável no que diz respeito às políticas estatais, bem

como na vida dos cidadãos. Bauman (1999, p. 29) salienta que os espaços públicos passaram

a ser privados, e o território urbano passou a ser um campo de batalha, onde as questões

sociais são resolvidas pelas próprias mãos e pagas com o sofrimento humano por aqueles

desprezados e despojados, avisando aos demais para não ultrapassarem seus territórios.

Cada vez mais o fenômeno da globalização e do enfraquecimento do Estado como

nação é questionado. Hoje, as idéias de Estado e de “soberania territorial” tornaram-se

sinônimas dentro das práticas modernas, ou seja, o Estado reivindica o seu direito legítimo

para impor suas regras, mas as transformou em ambivalência (Bauman, 1999, p. 68).

Assim sendo, também se aduz que a única tarefa econômica permitida ao Estado e

que se espera que ele assuma é a de garantir um “orçamento equilibrado”, policiando e

controlando as pressões locais por intervenções estatais mais vigorosas na direção dos ne-

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gócios e em defesa da população diante das conseqüências mais sinistras da anarquia de

mercado. Assim, a globalização, por sua independência de movimento e irrestrita liberdade

para perseguir seus objetivos, das finanças, comércio e indústria de informações globais

depende da fragmentação política e do cenário mundial, o que representa a separação polí-

tica da economia, mas que uma interfere na outra, resultando na perda da política e afetan-

do o poder social (Bauman, 1999, p. 74-76).

A globalização, fenômeno imprescindível do capitalismo, impõe que, devido ao cho-

que de influências, todos devam se adaptar às novas regras na busca do bem-estar. A era do

capitalismo, entretanto, é ao mesmo tempo um período e uma crise, ao contrário dos tempos

mais antigos, em que a crise vinha após o período vivenciado, pois dia após dia vive-se em

crise.

Diante disso, conforme Santos (2003, p. 55):

[...] cabe-nos, mesmo, indagar diante dessas novas realidades sobre a pertinência da presente

utilização de concepções já ultrapassadas como democracia, cidadania, opinião pública, con-

ceitos que necessitam urgente revisão, sobretudo nos lugares onde essas categorias nunca foram

claramente definidas nem totalmente exercitadas.

O autor mostra preocupação por um novo discurso, e afirma que “o Estado continua

forte e a prova disso é que nem as empresas transnacionais, nem as instituições supranacionais

dispõem de força normativa para impor, sozinhas, dentro de cada território, sua vontade

política ou econômica” (Santos, 2003, p. 77).

O discurso neoliberal ganha força “à medida que prossegue a desregulamentação,

enfraquecendo as instituições políticas que poderiam, em princípio, tomar posição contra a

liberdade do capital e da movimentação financeira” (Bauman, 2000, p. 36). Ou seja, com as

novas instituições os governos ficam amarrados e as multinacionais livres para tornar ainda

mais grave a posição de precariedade da sociedade, marginalizando os países mais pobres e

liberando os operadores de mercado.

A globalização fez com que ocorresse um “declínio da cidadania como fundamento

significativo e relevante para asserção de reivindicações relativas a recursos, sofre de uma

falta de legitimidade ideológica, de influência política e de reforço cultural no Ocidente”

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(Falk, 1999, p. 262). Este declínio de cidadania implicou também a efetivação dos direitos,

pois no momento em que a sociedade participou, conheceu e reivindicou seus direitos, hou-

ve um fortalecimento da cidadania e, na medida em que as políticas públicas realizadas

ofereciam ao cidadão a garantia de direitos, a política se fortalece.

Muitas das promessas políticas não são efetivadas. Assim, Bobbio (1986, p. 33-34)

aduz:

[...] As promessas não foram cumpridas por causa de obstáculos que não estavam previstos ou

que surgiram em decorrência das “transformações” da sociedade civil. [...] na medida em que as

sociedades passaram de uma economia familiar para uma economia de mercado, de uma econo-

mia de mercado para uma economia protegida, regulada, planificada, aumentaram os proble-

mas políticos que requerem competências técnicas [...].

As transformações da sociedade exigiram adaptações do Estado as suas polí ticas in-

ternas e externas, para que fosse alcançado o bem-estar social. Diante disso, “[...] um Esta-

do mínimo tem de ser um Estado forte, a fim de fazer cumprir as leis das quais depende a

competição, proteger contra os inimigos externos, e fomentar os sentimentos de nacionalis-

mo que sejam integradores” (Giddens, 1996, p. 47).

O que se pretende, todavia, é que o Estado cumpra seu “dever-ser” e garanta aos

cidadãos o que está disposto na norma fundamental e suprema deste país. Os direitos de

cidadania alcançados ao longo da história brasileira são direitos mínimos relevantes e ine-

rentes ao desenvolvimento da sociedade.

Segundo Neto (2002, p. 290), a “função agenciadora como modelo de Estado e apoio

à cidadania para a formação de competências sociais, foi o que faltou no processo de refor-

mas das sociedades emergentes ao longo desses últimos 20 anos”, pois houve certa

precarização dos direitos em relação às mudanças do Estado.

A Constituição Federal de 1988 inovou ao elencar em seu texto direitos de cidadania,

além dos individuais , pois os direi tos sociais passaram a ser coletivos, di fusos e

transindividuais, bem como inalienáveis e indisponíveis, mas mesmo assim a cidadania con-

tinua sendo adiada (Neto, 2002, p. 374).

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Por isso, o que se tem hoje não é novidade, mas uma praxe de uma política voltada ao

patrimonialismo, seguida das práticas de clientelismo, lobby e insolidarismo, ou seja, for-

mas de políticas que distorcem o verdadeiro sentido de Estado Democrático de Direito e

tornam a política interna frágil e ineficaz, voltada às intervenções de mercado, impossibili-

tando, desta forma, um melhor acesso aos direitos sociais e conturbando a sociedade e a

qualidade de vida dos cidadãos. Nas palavras de Vieira (2000, p. 108), contudo, é importan-

te salientar que:

Na perspectiva da globalização, o Estado liberal democrático é freqüentemente caracterizado

como um Estado capturado na teia da interconexão global, permeado por forças supranacionais,

intergovernamentais e transnacionais, e incapaz de determinar seu próprio destino. Contudo, é

importante frisar que a era do Estado-Nação de modo algum terminou, ainda que apresente

sinais de declínio.

Atualmente a situação real expõe um vasto endividamento dos países subdesenvolvi-

dos ou emergentes que tentaram amenizar suas crises com a ajuda do Banco Mundial e do

Fundo Monetário Internacional. Ocorre que uma boa parte da população mundial vive com

salários insignificantes, enquanto que a riqueza fica concentrada somente nas mãos de

uma minoria. Crescem o trabalho informal, a exploração financeira, o desemprego, a des-

truição ambiental, bem como as crises econômicas, culturais, sociais, e ainda a miséria e a

pobreza que assolam o mundo todo.

É preciso renovar, reestruturar paradigmas como a democracia e os direitos de cidada-

nia. Deve ser aplicada a inclusão social, com ênfase na população, de modo que a coopera-

ção e integração sejam voltadas ao desenvolvimento estatal de forma harmônica, sem ex-

ploração, com políticas abrangentes de interesse público e não restritas apenas a agentes

econômicos e políticos.

O Brasil precisa, ainda, de uma reforma organizacional, que deverá partir da socieda-

de, haja vista que, para tal atitude, a própria civilização deverá saber e reconhecer seus

direitos. Partindo do social, terá um embasamento forte aos direitos políticos, ou seja, àque-

les de participação imediata ao povo, não se restringindo apenas ao voto, ao plebiscito, ao

referendum, mas ao engajamento na democratização do poder, pois a “organização em so-

ciedade não precisa e nem deve ser feita contra o Estado em si. Ela deve ser feita contra o

Estado clientelista, corporativo, colonizado” (Carvalho, 2003, p. 227).

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Pode-se afirmar, contudo, que o fortalecimento de políticas referentes ao desenvolvi-

mento social básico pode trazer ao Estado maior democratização, bem como um alcance

maior de cidadania, se a sociedade mudar alguns vícios negativos, como o de adiar a reso-

lução das causas conflitantes dos problemas sociais. Segundo Carvalho (2003, p. 229), faz-

se necessária uma reestruturação estatal voltada a práticas democráticas e cidadãs. Para

isso, a cidadania e os direitos de cidadania devem ser praticados, defendidos e reconhecidos.

E, embora a atual Constituição esteja em vigor há 20 anos, há muitos direitos que precisam

ser desvelados, para que se possa alcançar um Estado de Bem-Estar Social desenvolvido e

uma sociedade cidadã.

Enfim, nesta unidade procuramos expor a relação existente entre o Estado, a socieda-

de e os direitos sociais no Brasil. Primeiro vimos os principais entraves históricos que acaba-

ram atrasando a constituição do Estado e dos direitos sociais. Na seqüência discutimos a

evolução dos direitos sociais na principais Constituições do Brasil.

Sugestões de leituras (referências completas no final)

– Para tratar da questão do Estado, da sociedade e dos direitos sociais no

Brasil, conferir Silva (2000), Zambra (2008), Brum (1988); Faoro (1985);

Santos (1998); Soares (1973); Weffort (1980); Ianni (1986).

– Autores citados no estudo das Constituições Federais: Barroso (1996); Bastos (1999); Moraes

(2001); Faoro (1985), Constituição Federal de 1988, Santos (1998), entre outros.

– Para aprofundar o tema dos direitos sociais e cidadania: Corrêa (2002), Weffort (1980),

Barroso (1996).

– Para aprofundar a temática da reforma do Estado: Corrêa (2002), Nogueira (2005), Giddens

(1996), Bobbio (1986).

– Para debater o tema da globalização e do neoliberalismo: Bauman (1999), Santos (2003),

Falk (1999), Touraine (2007), entre outros.

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O Neoliberalismo:Aspectos Teóricos e Aplicabilidades

Esta unidade procura discutir questões teóricas ligadas ao

neoliberalismo, bem como as transformações do Estado a partir

dos anos 70. Inicialmente (seção 4.1) discute as origens teóricas

do neoliberalismo, a partir da análise da obra O caminho da ser-

vidão, de Friedrich von Hayek, e a sua discordância com as teori-

as keynesianas. Em um segundo momento (seção 4.2), descreve-

se as conseqüências das políticas neoliberais praticadas no mun-

do e nos países de economia emergente, como o Brasil, especial-

mente a partir da revisão do neoliberalismo, denominado de Con-

senso de Washington (seção 4.3), no que se refere às conseqüên-

cias desastrosas nas questões sociais e econômicas (seções 4.4 e

4.5.). Por fim (seção 4.6), efetua algumas considerações sobre a

crise atual do modelo capitalista de inspiração neoliberal.

Seção 4.1

Os fundamentos teóricos do neoliberalismo:Friedrich A. Hayek

Tem-se na pessoa de Friedrich von Hayek um dos principais

teóricos das idéias liberais do século 20. A contribuição do pen-

samento de Hayek é fundamentada em três campos diferentes: a)

a intervenção governamental (Estado); b) o cálculo econômico

sob o socialismo e c) o desenvolvimento da estrutura social.

Unidade 4Unidade 4Unidade 4Unidade 4

Fr iedrich von Hayek

De nacionalidade austríaca,Hayek nasceu de uma famíliade inte lectuais em Viena, no dia8 de maio de 1899. Doutorou -se pela Universidade de Viena(1921-1923). Tendo comoformação básica a Economia,Hayek ganhou, em 1974, oPrêmio Nobel de Economia,porém seus escr itos seestendem para além dessaciência. Sua obra é extensa,conta com 130 artigos e 25livros que fa lam desdeEconomia Técnica, PsicologiaTeórica, Filosofia Polít ica,Antropologia Legal, Filosofia DaCiência, até a Histó ria dasidéias. De todos essesreferidos temas Hayek tinhaconhecimento e fa lava comautor idade sobre cada assunto.Disponível em: <http: //www.hayek.cat/hayek.html>.Acesso em: 24 set. 2008.

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62

Sofreu influência do pensamento da Escola Austríaca de

Economia, na qual os princípios de economia de Menges (1871)

eram aplicados. Tais teorias foram refinadas e redefinidas por

Eugênio Boehm Bawerk, por seu cunhado Friedrich Wieser e por

Ludwig von Mises. Hayek assistiu a algumas aulas de Mises na

Universidade de Viena, porém achou que sua posição anti-socia-

lista era demasiada. Hayek via com maior simpatia as idéias de

Wieser, que era socialista fabiano, e em 1922 tornou-se seu discí-

pulo. Ironicamente, porém, foi Mises, por meio de sua devasta-

dora crítica ao socialismo, quem afastou definitivamente Hayek

das teorias do socialismo fabiano.

A partir dessa drástica mudança Hayek se transformou em

um grande analista do sistema elaborado por Mises, o qual de-

fendia a cooperação social. Hayek soube responder a todas as

interrogações de Mises, explicitou o que estava obscuro, reafir-

mou o que havia sido esboçado. Sua originalidade derivou da

análise do socialismo que permeou toda a sua obra, desde os ci-

clos dos negócios até a origem da cooperação social.

Durante cinco anos Hayek trabalhou com Mises em uma

oficina do governo. Em 1927 tornou-se diretor do Instituto para

investigação dos ciclos econômicos, que ele e Mises haviam orga-

nizado no intuito de analisar o assunto na teoria e também na

prática. O primeiro livro de Hayek, Teoria monetária e o ciclo co-

mercial (1929), analisou os efeitos da expansão do crédito na es-

trutura do capital de uma economia. Com esta obra, Hayek pas-

sou a fazer conferências na Escola de Economia de Londres. Logo

após foi editado o segundo livro, intitulado A Teoria austríaca do

ciclo comercial, preços e produção (1931), que foi mencionado

pela comissão do Prêmio Nobel em 1974. As conferências de Hayek

(1930-31) na Escola de Londres lhe garantiram alcançar o ápice

de sua carreira de economista aos 32 anos.

Socialismo Fabiano

É o nome atribuído aomovimento intelectual criado

pela organização britânica“Sociedade Fabiana” no fim doséculo 19, cujo objetivo era a

busca dos ideais socia listaspor meios graduais e reformis-

tas, em contraste com osmeios revolucionários propos-tos pelo marxismo. Disponível

em: <h ttp://pt.wik ipedia.org/wiki/Socia lismo_fabiano>.Acesso em: 22 out. 2008.

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63

4.1.1 HAYEK DIVERGE DE KEYNES

Pouco depois da chegada a Londres, Hayek polemizou com John Maynard Keynes. O

debate entre eles foi, talvez, o mais importante sobre economia monetária dado no século

20. Começando com seu ensaio O fim do laissez-faire (1926), Keynes apresentou sua de-

manda de intervencionismo na linguagem de um liberalismo pragmático clássico. Foi assim

que Keynes foi aclamado como “Salvador do Capitalismo”, em vez de ser reconhecido como

o que realmente era: um defensor da inflação e da intervenção do Estado.

Hayek detectou o problema fundamental em que as concepções econômicas de Keynes

eram vulneráveis, sua incapacidade para compreender o papel que desempenham as taxas

de interesses e a estrutura do capital em uma economia de mercado. Devido ao seu costume

de utilizar categorias, Keynes não pôde abordar estes problemas adequadamente em seu

livro Um tratado sobre o dinheiro (1930). Hayek assinalou que as categorias coletivas de

Keynes distraíam os economistas e não os deixavam examinar como a estrutura industrial

da economia emergia das opções econômicas dos indivíduos.

Keynes reagiu com veemência às críticas de Hayek. Primeiro, respondeu atacando a

obra Preços e produção, de Hayek. Logo após alegou que já não acreditava no que havia

escrito em Um tratado sobre o dinheiro e voltou sua atenção para a redação de um outro

livro, A teoria geral do emprego, do interesse e do dinheiro (1936) que, com o tempo, se

converteu na obra mais influente do século 20 em matéria de política econômica. Em

contrapartida, Hayek dedicou-se a refinar a teoria do capital, da qual apresentou suas teses

na Teoria pura do capital (1941), o livro mais técnico que escrevera até o momento. No final

dos anos 30 o tipo de modelo econômico pregado por Keynes acabava de triunfar aos olhos

do público: Keynes havia derrotado a Hayek, pelo menos momentaneamente.

A partir de então o tema a ser analisado por Hayek foi o cálculo econômico no socia-

lismo, do qual foi um crítico ferrenho, vindo a ser apreciado de novo por economistas e

intelectuais. A crítica que Hayek faz ao socialismo deve-se ao fato de este não dispor de

preços de mercado, ser autoritário, exterminar a liberdade e suprimir a individualidade do

homem.

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64

4.1.2 A PLANIFICAÇÃO ESTATAL LEVA AO “CAMINHO DA SERVIDÃO”

A argumentação refinada de Hayek seguiu a lógica favorável a uma sociedade liberal.

Escreveu, em 1944, a obra O caminho da servidão, tendo presente a realidade dos problemas

do socialismo que havia observado na Alemanha nazista e na Grã-Bretanha.

Peter Boettke, comentador de Hayek, afirma que o autor do Caminho da servidão esta-

va com a razão no que se referia ao problema político do socialismo, pois o século 20 foi

marcado com o sangue das vítimas inocentes das experiências socialistas. Stalin, Hitler,

Mao, Pol Pot e muitos tiranos menores cometeram crimes hediondos contra a humanidade

em nome de alguma variante do socialismo, conclui Boettke.

Hayek mostrou que o socialismo era o resultado lógico do ordenamento institucional

de planificação socialista e, a partir de então, afastou-se dos problemas técnicos da econo-

mia e se concentrou na reformulação dos princípios do liberalismo clássico.

Principais questões da obra: 1) assinalou a necessidade dos preços de mercado como

transmissores de uma informação econômica desigual; 2) mostrou que os propósitos

de substituir e controlar o mercado levaram a um problema de conhecimento; 3) des-

creveu o problema totalitário associado à onipresença do poder circunscrito nas mãos

de poucos; 4) examinou os prejuízos intelectuais que cegam o homem e o impedem de

enxergar os problemas da planificação da economia governamental (do Estado).

Entendeu que a ascensão do nazismo e do fascismo não foi uma reação contrária às

tendências socialistas do período precedente, mas um resultado necessário destas mesmas

tendências. Equiparou o conceito socialista com o nazismo e o fascismo, considerando-os

regimes totalitários, e em razão disso todos foram tratados com resistência, como inimigos e

como adversários (1944, p. 28). A homogeneização dos conceitos é proposital em Hayek:

socialismo, stalinismo, marxismo, nacional-socialismo (nazismo) e fascismo são conceitos

iguais: “O marxismo levou ao fascismo e ao nacional-socialismo, porque, em todos os seus

fundamentos essenciais, marxismo é fascismo e nacional-socialismo”.1

1 Hayek (1944, p. 56) cita o argumento do escritor inglês F. A. Voigt para afirmar as semelhanças entre os referidos modelos.

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65

Assim como o nazismo, o socialismo leva o homem a se tornar escravizado pelo Esta-

do. Hayek argumentou que o elemento socialista foi o responsável pela criação do totalita-

rismo: “Era, com efeito, a predominância das idéias socialistas e não o prussianismo que a

Alemanha tinha em comum com a Itália e a Rússia, e foi das massas e não das classes

imbuídas da tradição prussiana, e auxiliado pelas massas, que surgiu o nacional-socialis-

mo”. Hayek afirmou que, na Alemanha, o nacional socialismo (o mesmo que nazismo) não

seguiu a tradição prussiana, mas foi influenciado diretamente pelas idéias socialistas pro-

pagadas pelas massas.

O caminho que imperou durante todo o século 19, que Hayek entendia ser o modelo

político-econômico ideal, era o velho ideário do liberalismo clássico laissez-faire. No libera-

lismo, o laissez-faire é a expressão clássica da livre-concorrência, gerando a competição

entre as pessoas: “É a melhor maneira de guiar os esforços individuais”, no entanto para

isso é preciso agir sob a esfera da legalidade. A concorrência é vista como positiva e saudá-

vel para o bom andamento da economia liberal, é eficaz e benéfica. Em conseqüência do

rompimento desse modelo, ocorreu um profundo choque de toda uma geração ao se deparar

com o totalitarismo. Hayek citou alguns teóricos do liberalismo clássico, como de Tocqueville,

que já havia alertado sobre os perigos do socialismo, entendido como o mais temível regime

totalitário, que significava servidão, o que é considerado um grande mal para o autor: “O

socialismo é criador de um Estado servil”.

Hayek ratificou que os grandes teóricos liberais foram, em seu tempo, totalmente es-

quecidos. Por isso, cita Adam Smith, Hume, Locke e Milton como inovadores e fundadores

da civilização ocidental, tendo suas bases lançadas pela tradição clássica greco-romana e

pelo cristianismo: “Não é meramente o liberalismo dos séculos XVII e XIX, mas o individua-

lismo básico que herdamos de Erasmo e Montaigne, de Cícero e Tácito, de Péricles e Tucídides,

o que estamos progressivamente abandonando” (Hayek, 1944, p. 38).

O Estado totalitário nazista, definido como aquele que promoveu a revolução nacio-

nal-socialista, acabou, segundo o teórico, destruindo a civilização clássica ocidental. Tudo

o que o homem moderno construiu a partir da Renascença foi, de certa forma, negado.

Conceitos como “individualismo”, entendido como respeito ao homem individual; “liberda-

de”, “independência” e “tolerância”, segundo Hayek, desapareceram de todo com a

estruturação do Estado totalitário.

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Os fundamentos da teoria neoliberal pressupunham a existência da ambição. Esse

conceito surgiu, para Hayek, à medida que o homem tomou consciência de seu próprio

destino. A partir de então emergiram inúmeras possibilidades de melhorar a sua vida, com

novas oportunidades e possibilidades; o sucesso; e com o sucesso a ambição: “O homem tem

todo o direito de ser ambicioso” (Hayek, 1944, p. 42). Pena que esse progresso tão eficiente

e animador tenha dado sinais de exaustão e lentidão com a estruturação de um novo mode-

lo de Estado (totalitário), lamenta o autor.

Hayek voltou a mencionar Tocqueville como um dos pais da democracia, entendida

como liberdade individual, que se opõe ao socialismo num conflito inconciliável: “A demo-

cracia aumenta a esfera da liberdade individual – dizia ele (Tocqueville) em 1848, – o socia-

lismo restringe-a. A democracia dá todo o valor possível a cada homem; o socialismo faz de

cada homem um mero agente, um simples número” (Hayek, 1944, p. 52). Para Hayek, soci-

alismo e democracia tinham apenas uma palavra em comum – a igualdade –, porém com

significados totalmente opostos. “Enquanto a democracia procura a igualdade na liberda-

de, o socialismo procura a igualdade no constrangimento e na servidão” (p. 52).

O princípio fundamental do liberalismo clássico é o regime da lei, que assegura a

liberdade. Os filósofos Kant e Voltaire sintetizam este pensamento ao afirmarem que o ho-

mem é livre quando não tem de obedecer a ninguém, mas unicamente às leis. Este princípio

fundamental encontra-se, segundo Hayek, ameaçado por um governante ditatorial que é a

própria lei, governando despoticamente com poderes ilimitados. Hayek tinha uma posição

contrária ao que chama de controle econômico, regido pelos governos totalitários. Ao que

se nota, Hayek acredita na total liberdade econômica, inclusive com o objetivo de enrique-

cer e usufruir dos gozos dos frutos que advêm do trabalho: “Seria muito mais exato dizer

que o dinheiro é um dos maiores instrumentos de liberdade já inventados pelo homem”

(Hayek, 1944, p. 137). A concorrência também é considerada positiva, na medida em que o

comprador não necessita ficar à mercê de um monopolista, tendo liberdade de escolher onde,

quando e como comprar um produto: “No regime de concorrência, os preços que temos a

pagar por um artigo (...) dependem da quantidade dos outros artigos da mesma espécie que

ficam disponíveis para outros membros da sociedade depois de termos adquirido o nosso.

Esse preço não é determinado pela vontade consciente de pessoa alguma. E, se um certo

meio de conseguirmos os nossos fins se mostra demasiado dispendioso, temos liberdade de

tentar outros meios”. Em outras palavras, o que impera é a livre-concorrência (p. 142-143).

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67

Hayek previu um modelo econômico em que algumas indústrias pudessem aumentar

a sua produção com um preço de custo por unidade cada vez menor, e que seria inevitável

que algumas grandes empresas eliminassem as pequenas: “Este processo deverá continuar

até que de cada indústria só reste uma ou, no máximo, umas poucas firmas gigantes” (p.

79). Essa realidade é comprovada atualmente – o processo de globalização da economia que

impera no mundo une algumas grandes empresas para superar as limitações em detrimento

de muitas pequenas que são, literalmente, engolidas.

Hayek publicou, ainda, A contra-revolução da ciência (1952), fruto de uma série de

ensaios que escreveu durante os anos 40. Na visão de Boettke, este foi o seu melhor livro. A

obra examina as tendências filosóficas dominantes, que prejudicavam os intelectuais de

uma forma tal que permitiu reconhecer os problemas sistemáticos com os quais se confron-

tariam os planificadores econômicos. Trata, igualmente, de uma detalhada história inte-

lectual do “ racionalismo construtivista” e do problema do “cientificismo” nas Ciências

Sociais. Nesse trabalho Hayek articula sua versão do projeto da linha escocesa, de David

Hume e Adam Smith, de utilizar a razão para ensinar modéstia à sexta razão. A civilização

moderna não estava ameaçada por muitos ignorantes obstinados em destruir o mundo, se-

não pelo abuso da razão empreendida pelo racionalismo construtivista em seu intento de

desenhar conscientemente o mundo moderno.

Em 1960 escreveu A constituição da liberdade, primeiro tratado sistemático sobre a

economia clássica liberal. Em 1962 incrementou seus esforços para analisar o ordenamento

espontâneo da atividade social e econômica. O autor se dispôs a reconstruir a teoria do

liberalismo e forneceu uma visão de cooperação social entre homens livres.

Hayek, segundo a explanação de Boettke, viveu uma vida longa e frutífera, tendo de

suportar as conseqüências de ter alcançado fama desde jovem, para, logo em seguida, ser

ridicularizado quando as teorias keynesianas e socialistas conquistaram a hegemonia cul-

tural, porém, afirma Boettke, viveu o suficiente para ver reconhecido seu enorme intelecto.

“Tanto os keynesianos como os socialistas foram esmagadoramente derrotados pelos acon-

tecimentos e pela poderosa verdade de sua obra” – o liberalismo clássico é novamente um

corpo vibrante de pensamento. Um grande estudioso não se define pelas respostas que dá,

mas pelas interrogações que promove, conclui o comentador.

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Seção 4.2

As idéias neoliberais constituídas no mundo

Nas palavras de Anderson (1995, p. 9-23), o neoliberalismo nasceu logo depois da 2ª

Guerra Mundial, nas regiões da Europa e da América do Norte, onde imperava o capitalis-

mo. Foi uma reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de Bem-

Estar Social (Welfare State).

Sobre a difusão do neoliberalismo, Anderson (1995, p.10) aponta para a chegada da

grande crise do modelo econômico do pós-guerra, em 1973 (pós-Vietnã), quando todo o

mundo capitalista avançado caiu numa longa e profunda recessão, combinando, pela pri-

meira vez, baixas taxas de crescimento com altos índices de inflação, que favoreceram mu-

danças. A partir daí as idéias neoliberais passaram a ganhar terreno. As raízes da crise,

pressupostos do fortalecimento neoliberal, estavam localizadas no poder excessivo e nefasto

dos sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento operário, que havia corroído as bases

de acumulação capitalista com sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada

vez mais os gastos sociais.

Esses dois processos inflacionários, argumenta Anderson (1995, p. 11), não podiam

deixar de desembocar numa crise generalizada das economias de mercado: “o remédio, en-

tão, era claro: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindi-

catos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções

econômicas”.2

A teia neoliberal começou a ser formada a partir da segunda metade da década de 70.

A primeira experiência de instituição das reformas neoliberais ocorreu no Chile em 1975,

sob a ditadura de Pinochet . O neoliberalismo chileno pressupunha a abolição da democra-

cia e a instalação de uma das mais cruéis ditaduras militares do pós-guerra.

2 Nem tão “parcos” foram os recursos dados pelo Estado nas intervenções econômicas. Foram, no entanto, bilhões de dólares fornecidospelo Estado para que o mercado pudesse manter-se.

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69

Em 1979, na Inglaterra, foi eleito o governo de Margareth

Thatcher, o primeiro governo de um país de capitalismo avança-

do publicamente empenhado em pôr em prática o programa

neoliberal. Um ano depois, em 1980, Ronald Reagan chegou à

Presidência dos Estados Unidos. Em 1982 Helmuth Khol derro-

tou o regime social-liberal de Helmut Schmidt, na Alemanha. Em

1983 a Dinamarca, Estado modelo do Bem-Estar escandinavo,

caiu sob o controle de uma coalizão clara de direita, o governo

de Schluter. Tais governos restringiram a emissão monetária, ele-

varam as taxas de juros, baixaram drasticamente os impostos

sobre os rendimentos altos, aboliram controles sobre os fluxos

financeiros, criaram níveis de emprego maciços, aplastaram gre-

ves, impuseram uma nova legislação anti-sindical e cortaram

gastos sociais.3

Nos Estados Unidos, por exemplo, a primeira prioridade do

presidente Reagan foi reduzir o déficit orçamentário, e a segun-

da, adotar uma legislação draconiana e repressiva contra a de-

linqüência, lema principal também da nova liderança trabalhista

na Inglaterra.

A queda do comunismo na Europa Oriental e na União

Soviética, de 1989 a 1991, ocorreu exatamente no momento em

que os limites do neoliberalismo tornavam-se cada vez mais óbvios

no Ocidente. A vitória do Ocidente na Guerra Fria, com o colap-

so de seu adversário comunista, não foi o triunfo de qualquer

capitalismo, mas do tipo específico liderado e simbolizado por

Reagan e Thatcher nos anos 80. O impacto do triunfo neoliberal

Augusto José Ramón

Pinochet Ugarte

(Valparaíso, 25 de novembrode 1915 – Santiago, 10 dedezembro de 2006 ) foi umgeneral do exército chileno,tornado presiden te do Chile em17 de junho de 1974 peloDecreto Lei nº 806 editado pelajunta militar (Conselho doChile), que foi estabelecida paragovernar o Chile após adeposição de Salvador Allende,e posteriormen te tornadosenador vita lício de seu país,cargo criado exclusivamentepara ele, por ter s ido um ex-governante. Governou o Chileentre 1973 e 1990, compoderes de ditador, depois deliderar o golpe militar quederrubou o governo dopresidente socia lista legalmenteeleito, Salvador Allende.Disponível em: <http: //pt.wikipedia.o rg/wiki/Augusto_Pinochet>. Acessoem: 24 set. 2008.

3 Perry Anderson argumenta que, na Europa, na década de 80, uma direita vitoriosa passou àofensiva. Observa Anderson: “No mundo anglo-saxônico, os regimes Reagan e Tatcher, depoisde anularem o movimento operário, fizeram recuar a regulamentação e a redistribuição”. Daexperiência da Grã-bretanha, outros países da Europa adotaram políticas semelhantes: “aprivatização do setor público, os cortes dos gastos sociais e altos níveis de desemprego criaramum novo padrão de desenvolvimento neoliberal, por fim adotado tanto por partidos de esquerdacomo de direita” (Anderson, 1999, p. 107-108).

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no Leste Europeu tardou a ser sentido em outras partes do globo, mas não demorou a che-

gar na América Latina, que hoje em dia se converte na terceira grande cena de experimenta-

ções neoliberais, embora em seu conjunto as reformas neoliberais tenham chegado antes

mesmo que nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) e na antiga União Soviética, com privatizações e desemprego em massa.

Genealogicamente aquele continente foi testemunha da primeira experiência neoliberal sis-

temática do mundo.

No final das contas, porém, todas estas medidas haviam sido concebidas como meca-

nismos para alcançar um fim histórico, ou seja, a revitalização do capitalismo avançado

mundial, restaurando taxas altas de crescimento estáveis, como existiam antes da crise dos

anos 70. Nesse aspecto, no entanto, o quadro mostrou-se absolutamente decepcionante.

Tudo o que podemos dizer é que o neoliberalismo se constitui num movimento ideológico,

em escala verdadeiramente mundial, como o capitalismo jamais havia experimentado no

passado. Trata-se de um corpo de doutrina coerente, autoconsciente, militante, lucidamen-

te decidido a transformar todo o mundo à sua imagem, em sua ambição estrutural e sua

extensão internacional. Eis aí algo muito mais parecido ao movimento comunista de ontem

do que o liberalismo eclético e distendido do século passado.

A execução das políticas neoliberais trouxe consigo conseqüências desastrosas para a

economia dos referidos Estados. Foi, contudo, nas políticas públicas e sociais que mais se

evidenciou retrocesso, principalmente nas questões de emprego, saúde, moradia e educa-

ção. O empobrecimento deu-se entre os países ex-socialistas (Rússia, principalmente) e na-

queles de economia emergente (países latino-americanos).

Seção 4.3

Consenso de Washington: revisão do neoliberalismo

Inicialmente é preciso explicar que o Consenso de Washington não foi nenhuma cons-

piração político-econômica ou trama diabólica do Fundo Monetário internacional (FMI),

Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Internacional de Reconstrução e

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Desenvolvimento (Bird), nem do governo americano para pôr em prática nos países da

América Latina. A síntese das idéias que circulavam pelos bastidores das instituições in-

ternacionais e no governo norte-americano foi elaborada pelo economista John Williamson,

em reunião na cidade de Washington em 1989. Essa reunião ficou conhecida como Con-

senso de Washington e t inha como objetivo discutir as reformas necessárias para a Améri-

ca Latina.

Quais seriam os acordos que o economista percebia? Williamson afirmou na época:

“Eu dividiria o que sinto, pressinto e leio como um grande consenso em três planos”:

O primeiro plano é de ordem macroeconômica. Há um acordo completo entre todas as

agências econômicas de que a totalidade dos países periféricos devem ser convencidos a

aplicar um programa em que lhes é requerido um rigoroso esforço de equilíbrio fiscal, auste-

ridade fiscal ao máximo, que passa, inevitavelmente, por um programa de reformas adminis-

trativas, previdenciárias e fiscais, além de um corte violento nos gastos públicos. Esses paí-

ses devem instituir políticas monetárias rigidíssimas, porque a prioridade número um é a

estabilização, sendo que a política fiscal tem de ser submetida à política monetária.

O segundo plano visa a apresentar propostas e reformas de ordem microeconômica: é

preciso desonerar fiscalmente o capital para que ele possa aumentar a sua competitividade

no mercado internacional, desregulado e aberto. Então, o único caminho para as pequenas

empresas situadas nos países da periferia entrarem nesse jogo seria pelo aumento de

competitividade, o que passaria por desoneração fiscal, flexibilização dos mercados de tra-

balho, diminuição da carga social com os trabalhadores e redução dos salários.

A terceira ordem de coisas que o Consenso propunha era: nada disso será possível se

não houver o desmonte radical do modelo anterior (Estado interventor) que vigora nesses

países.

Em síntese, o Consenso de Washington propunha que os Estados latino-americanos

passassem por profundas reformas estruturais, também chamadas de reformas institucionais.

A primeira era a desregulamentação de alguns setores, sobretudo o financeiro e o do traba-

lho. Esta já foi posta em prática em quase todos os países da América Latina. A outra pro-

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posta era de privatização, de preferência selvagem; a terceira, de

abertura comercial; e a quarta, a da garantia do direito de propri-

edade, sobretudo na zona de fronteira, isto é, nos serviços, pro-

priedade intelectual, etc.

Sempre estudamos o Estado, na sua concepção moderna,

como uma instituição criada a partir de uma convenção da socieda-

de com o objetivo de garantir a segurança, a propriedade, a vida

(direitos naturais), isto é, uma instituição capaz de assegurar o

bem-estar a todos os cidadãos. Os teóricos neoliberais, contrários

ao Estado-Social, apregoam que o Estado tem apenas uma fun-

ção: garantir, por meio de seu aparato, o livre mercado. Estas

idéias já foram defendidas pelo liberalismo clássico do século 17,

mas o Estado neoliberal tem um diferencial: o descompromisso

com as questões sociais, afetando a saúde, educação, infra-es-

trutura, segurança e a política previdenciária da coletividade.

Seção 4.4

A experiência neoliberal do Brasil

As políticas neoliberais globalizantes começaram, no Bra-

sil, no início dos anos 90, ainda com o presidente Collor de Melo

que, de uma maneira surpreendente, deu início às reformas de

Estado. Começaram, nesse período, a desregulamentação econô-

mica, a abertura do mercado e a planificação da economia (ten-

tativa de diminuir a inflação galopante). Ocorrem, neste período,

igualmente, as tratativas iniciais com as instituições internacio-

nais, principalmente com o FMI.

Fernando Affonso

Co llor de Mello

(Rio de Janeiro, 12 de agostode 1949) é um empresár io epolítico brasileiro, atualmentefiliado ao Partido Trabalhista

Brasile iro. Foi o trigésimosegundo presidente da

República Federativa do Brasil,cargo que exerceu de 15 de

março de 1990 a 29 dedezembro de 1992. Fo i

também o primeiro presidenteda Repúb lica e leito por votodireto após o Regime Militar,

em 1989. Seu governo fo imarcado pela institu ição do

Plano Collor, pela abertura domercado nacional às importa-

ções e pelo início do ProgramaNacional de Desestatização.

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/

Fernando_Collor_de_Mello>.Acesso em: 24 set. 2008.

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73

As reformas do Estado no governo Collor não foram bem-

sucedidas. Nem mesmo a própria elite empresarial estava prepa-

rada para tais mudanças, muito menos a elite política do Brasil,

que se mostrou um tanto insegura com os rumos que essas refor-

mas poderiam tomar. Foi nesse contexto que o governo Collor

viu-se enredado em situações ilícitas, em que processos e acusa-

ções de corrupção começaram a se acumular. A mídia brasileira,

a mesma que apostou e promoveu seu governo, aos poucos

deserdou o “caçador de marajás” e caiu na realidade, mostrando

as imagens das numerosas e grandiosas mobilizações sociais,

oriundas de todos os setores da sociedade civil. Collor de Melo

não tinha nenhuma base política, a não ser o seu frágil Partido

da Renovação Nacional (PRN), e, talvez, esta tenha sido uma

das razões para o processo de impeachment que acabou sofren-

do. Collor foi julgado e condenado, tendo de deixar, melancoli-

camente, seu governo marcado mais por excentricidades, bloqueio

da poupança da população e pela corrupção do que propriamen-

te pela reforma do Estado que se propusera a realizar. Itamar Fran-

co, vice de Collor, assumiu a Presidência da República do Brasil,

com um governo mais voltado para as políticas internas, dando

uma trégua nas negociações com o FMI e interrompendo as re-

formas do Estado por um curto período.

Ainda no governo Itamar Franco assumiu o Ministério das

Relações Exteriores o então senador Fernando Henrique Car-

doso (FHC), um cargo que sempre estivera em seus planos. As

tratativas com as instituições internacionais (FMI e Banco Mun-

dial) recomeçaram. Logo após, FHC assumiu o Ministério da

Fazenda e instituiu, junto com uma equipe de técnicos, um pla-

no econômico capaz de frear a inflação e restabelecer a volta do

crescimento econômico – o Plano Real. Tais políticas significa-

ram a volta do programa de reforma de Estado iniciado por Collor

e interrompido por Itamar Franco.

Fernando Henrique Cardoso

(Rio de Janeiro , 18 de junhode 1931), sociólogo, pro fessoruniversitár io e po lítico brasilei-ro. Foi o trigésimo quartopresidente da RepúblicaFederativa do Brasil, cargo queexerceu por do is mandatosconsecutivos, de 1] de janeirode 1995 a 1] de janeiro de2003. Foi também o primeiropresidente reele ito da Históriado país. É co-fundador e,desde 2001, presidente dehon ra do PSDB (Par tido daSocia l Democracia Brasileira). Étambém comumente conhecidopor seu acrônimo FHC.Disponível em: <http: //pt.wikipedia.o rg/wiki/Fernando_Henrique_Cardoso>.Acesso em: 22 out. 2008.

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74

É importante mencionar que FHC e seu partido, o Partido

da Social Democracia Brasileira (PSDB), partem do princípio de

que o Estado deve se “modernizar”. “Modernização” do Estado

significa um Estado mais ágil, menos “truculento”, “moroso” e

“burocratizado”. Para tanto estabeleceu uma grande propagan-

da ideológica para que se efetivasse o processo de privatização

das empresas estatais brasileiras.

A instituição da nova moeda brasileira – o real – ocorreu no

dia 31 de julho de 1994 (junto com a Copa do Mundo de Fute-

bol).4 Até o fim daquele ano a moeda valorizou-se e FHC ganhou

as eleições à custa da ficção do Plano Real. A mão estendida de

FHC pré-anunciava as suas principais metas: saúde, educação,

moradia, agricultura e segurança.

O Plano econômico, chamado, no Brasil, de “Plano Real”,

fazia parte de uma sistemática política global mais abrangente.

A idéia de planificação econômica foi criada pelas instituições

financeiras do Primeiro Mundo numa tentativa de conter a ele-

vada inflação das economias emergentes, como no caso do Chile,

México, Argentina, Brasil e outros mais. Daí advém o proselitismo

do presidente Fernando Henrique Cardoso, ao afirmar: “Dá gosto

ver que hoje nós somos um país respeitado. E o ponto inicial para

que houvesse uma volta desse respeito foi a nossa capacidade de

vencer a hiperinflação e de manter a democracia, a nossa capaci-

dade de negociar para poder avançar. Isso mostra que somos um

país realmente amadurecido”.

Durante o período do Plano Real (equiparação cambial: 1

real chegando a valer mais que 1 dólar) a elite brasileira, literal-

mente, foi às nuvens. A euforia do Plano Real levou a burguesia

Planificação econômica

refere-se à centralização, porparte do Estado, dos poderes

de planejamen to e execuçãodas polít icas econômicas,

suprimindo o mercado e a livreconcorrência. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/

Planif ica%C3%A7%C3%A3o_econ%C3%B4mica>. Acesso

em: 24 set. 2008.

4 Essa data marca o início formal do Plano Real, a partir do anúncio de um programa de ajustefiscal e de suas duas fases seguintes, quais sejam: a criação de uma quase moeda (a URV), emmarço de 1994 e, quatro meses depois, isto é, a partir de 31 de julho a sua transformação emuma nova moeda: o real.

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e boa parte da classe média brasileira a consumir de maneira nunca vista, inclusive fretando

aviões particulares para fazer compras em Miami (EUA). Por sua vez, o povão comia frango

a “um pila o quilo”, de sobremesa iogurte, colocava dentadura nova e fazia compras no

Paraguai... Eis algumas propagandas oficiais de FHC durante boa parte do Plano Real.

A partir de então, o processo de “modernização” do Estado se intensificou. Outra

marca do governo FHC foi o abuso da instituição de medidas provisórias (mais de 5 mil).

Isso significa um governo de ditadura civil, pois nem mesmo os ditadores militares (anos 64-

85) intervieram tanto na Constituição como FHC. Algumas medidas provisórias ficaram

famosas, como é o caso da MP para o processo de privatização e a MP para a vergonhosa e

corrupta emenda da reeleição.

Muitos teóricos apregoam que o governo de FHC apenas serviu aos interesses das

corporações internacionais, outros o chamam de “embaixador” do Banco Mundial e do

FMI. Acusado de exercer um governo neoliberal, entretanto, FHC reagiu num tom sarcásti-

co: “Neoliberal é um conceito de quem não tem imaginação. De quem não vê a realidade. É

cópia. É mimetismo”. O Brasil, segundo o ex-presidente, não se encaixava nesse modelo,

porque vivia de problemas peculiares que devem ser resolvidos, não pelo Estado

patrimonialista, nem clientelista.

4.4.1 CONSEQÜÊNCIAS DAS POLÍTICAS NEOLIBERAIS NO BRASIL

As reformas dos Estados Nacionais da América Latina, em conseqüência das políticas

do Consenso de Washington, implicaram a adoção de programas de ajustes estruturais, como

as reformas administrativa e previdenciária, que exigiram um rigoroso esforço de equilíbrio

fiscal (austeridade fiscal ao máximo), as privatizações, a redefinição do papel do Estado na

economia, causando, ao contrário do que os defensores de tais políticas alardeavam, recessão

econômica, ingresso do capital externo, desemprego, aumento do trabalho informal, con-

flitos sociais, crise de modelos políticos tradicionais, flexibi lização dos direitos trabalhis-

tas, precariedade e, ainda, o desmonte dos sistemas de seguridade social, de saúde e de

educação.

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No Brasil, as principais políticas de reestruturação do Estado foram a chamada Refor-

ma Administrativa, também conhecida como Reforma Bresser Pereira (então ministro da

Ciência e Tecnologia e da Administração) e a Reforma do Estado (promovida no governo do

presidente FHC).

Bresser Pereira (2002), em artigo publicado na Folha de São Paulo, reclamava da crise

de confiança de que a economia brasileira vinha sendo vítima nos últimos meses. Para isso

usou exemplos de presidentes de bancos centrais e diretores de câmbio – dos anos 70 – que

“controlavam a entrada de capitais e defendiam o interesse nacional”. Bresser lembrou,

igualmente, o artigo de Elio Gaspari, “a inconformidade do presidente Arthur Bernardes

(1923) com a crise a que os credores externos estavam, então, levando o Brasil, e com as

chantagens que o país sofria frente ao cenário internacional”. Bresser concluiu que, infeliz-

mente, o governo brasileiro era impotente ante o cenário econômico internacional.

Talvez por isso Bresser Pereira tenha lamentado que sua Reforma Administrativa não

tenha dado resultados. Afirma ele: “cumprimos uma parte desse programa, mas, em vez de

reconstruir financeiramente o Estado, endividamo-lo ainda mais”. Em relação ao processo

de privatização, Bresser também reclamou: “em vez de privatizarmos apenas setores compe-

titivos, privatizamos também monopólios naturais”. No Brasil houve a “flexibilização” do

mercado e a multiplicação da dívida: “em vez de controlar a entrada de capitais e reduzir a

dívida externa, ampliamo-la; ao invés de mantermos um câmbio relativamente desvaloriza-

do, como fizeram todos os países que iniciavam seu desenvolvimento, deixamos que a entra-

da de capitais valorizasse nossa moeda e aumentasse artificialmente salários e consumo”.

Seguimos, de joelhos, as normas das instituições internacionais: “E tudo, nos anos 90, com

o apoio do FMI, do Banco Mundial e dos mercados financeiros internacionais”, concluiu

Bresser Pereira.

Dentre as principais conseqüências das políticas neoliberais aplicadas em nosso país

destacou-se o alto índice do desemprego. Outra decorrência das políticas neoliberais foi o

avanço das multinacionais nos países periféricos, ou seja, uma abertura completa destes ao

mercado internacional fez aparecerem as empresas multinacionais, invasoras de seus espa-

ços geográficos, subsidiadas com empréstimos ou isenções de impostos por determinados

períodos (que vão de 15 a 20 anos), além do substancial apoio financeiro que exigem rece-

ber sob pena de se retirarem urgentemente do país e instalar-se em outro lugar.

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O Brasil privatizou mais de 70% das empresas administradas pelo Estado. As ex-esta-

tais ajudam a aumentar a importação e contribuem para o déficit comercial. Também se

soma a isto empresas privadas controladas por estrangeiros, do que resultam mais lucros e

mais importações. A inundação dos importados e os altos juros levaram várias empresas ao

fechamento, à redução da jornada de trabalho ou a reduções salariais, para não fecharem as

portas. Isto acarretou forte desemprego e uma grande inadimplência, pois o consumo era

realizado a crédito. O país recebeu investimentos do capital estrangeiro em aquisições

patrimoniais, e não onde fundamentalmente necessitava que ocorressem (no setor industri-

al e, principalmente, na agricultura) para promover o crescimento econômico.

Em decorrência de tais políticas, aumentou a exclusão social no Brasil. O número de

pobres cresceu assustadoramente. Aparentemente houve a planificação econômica e a que-

da da inflação; porém não é suficiente a contenção da inflação se, em termos econômicos,

ocorreu a estagnação e a recessão. O crescimento do país permaneceu em torno de 2% ao

ano, quando deveria alcançar os 5%. Embora as contas ajustadas, o saldo positivo na ba-

lança financeira e a estabilidade econômica, houve aumento do desemprego e a situação

dos mais pobres piorou dia após dia.

Cerca de 80% da população brasileira vive com até 3 salários mínimos. O Brasil está

colocado entre as dez primeiras potências econômicas do mundo ocidental; por outro lado,

os indicadores sociais se aproximam dos países com menor desenvolvimento do mundo afro-

asiático. Para 65% da população brasileira faltam as condições básicas de sobrevivência,

como saúde, alimentação, moradia, transporte, educação, lazer e vestuário. Já os 10% mais

ricos têm acesso a quase 50% da renda da população, sendo que os 5% mais ricos detêm 35%

da riqueza.

Seção 4.5

A continuidade do colonialismo

Tem-se assistido nas últimas décadas às transformações pelas quais os Estados oci-

dentais têm passado e, conseqüentemente, o sistema democrático. O que vem imperando é

o poder das instituições internacionais, FMI e Banco Mundial, que atuam “discretamente”

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78

nos bastidores dos governos locais, impondo as chamadas “reformas econômicas” com o

objetivo de “ reduzir os déficits públicos”, “combater a inflação” e “deter a economia que

está superaquecida”. Em nome de tais “programas”, fenecem as políticas públicas do Esta-

do, que tem seu poder diminuído. Em suma, tem-se o Estado máximo para servir aos interes-

ses de grandes grupos econômicos e o Estado mínimo para as questões sociais.

Os mais altos cargos desses governos na área econômica, como presidentes de Bancos

Centrais, ministros da Fazenda e secretários de Tesouro, são, comumente ocupados por exe-

cutivos de grandes empresas privadas. Por exemplo: o secretário do Tesouro norte-america-

no no governo Clinton, Robert Rubin, foi um alto executivo banqueiro da Goldman Sachs,

da mesma forma que o antigo presidente do Banco Mundial, Lewis Preston, foi diretor-

presidente da J. P. Morgan. No Brasil não é diferente, basta analisar a procedência do presi-

dente do Banco Central para entender tal afirmação.

Tem-se um Estado monopartidário, em que o determinante são as preocupações eco-

nômicas e financeiras privadas, um Estado distante dos interesses do povo, sem falar da

negação e controle dos direitos democráticos de seus cidadãos.

A economia mundial passa hoje por uma crise globalizada. O que fazem então os

países desenvolvidos? Qual é a saída mais eficaz? Não fazem nada mais do que apertar o

cerco em torno de suas antigas colônias, o que traz como conseqüência imediata a falência

das instituições e a diminuição do padrão de vida.

Sob o lema “privatização dos lucros e socialização das despesas”, a globalização eco-

nômica ou a economia de mercado tem favorecido a concentração da riqueza nas mãos de

poucos, enquanto que a maioria tem apenas a globalização da pobreza.

Acusar os governos locais e as instituições internacionais não é suficiente, pois admi-

nistradores burocratas e credores estão unidos. É preciso avançar mais e perceber que os

agentes f inanceiros, bancos e corporações transnacionais são inimigos do povo e, por isso,

devem ser atacados. É urgente reconhecer o fracasso do modelo econômico neoliberal em

âmbito global, assim como cancelar imediatamente a dívida externa dos países em desen-

volvimento, e, para isso, é necessário estruturar mecanismos financeiros alternativos e con-

cretos.

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Se existe uma globalização do mercado que gera fome, exclusão e desemprego, é ur-

gente que se organize uma globalização solidária que una todos os povos do mundo. Nada

vai mudar sem uma persistente luta social, ampla e democrática. Todos os excluídos do

sistema deverão se mobilizar para tal emprendimento: trabalhadores, agricultores, produto-

res independentes, profissionais liberais, artistas, funcionários públicos, membros do clero,

estudantes e intelectuais. Tais movimentos de pressão (antiglobalização) contra as políticas

econômicas do FMI e Banco Mundial já estão ocorrendo em diferentes partes do mundo.

Seção 4.6

A crise atual do neoliberalismo

Nos anos 90 o neoliberalismo defendia as idéias do liberalismo clássico do século 18,

do laissez-faire (livre mercado sem a intervenção do Estado). Com a crise dos nossos dias,

contudo, por mais paradoxal que pareça, o Estado vem cumprindo uma função inversa, a de

intervir diretamente na economia, salvando as empresas falidas.

Nesta ótica, é preciso esclarecer que as crises econômicas são inerentes ao capitalis-

mo, pois foram constantes desde o seu início.5

Por vezes pregava-se o livre mercado, noutras ocasiões pedia-se intervenção (vide a

crise de 1929).

• Anos 70 (crise do modelo intervencionista do Estado).

• Anos 70 e 80 – o livre mercado (neoliberalismo).

• Em nossos dias (2008) vivencia-se crise do livre mercado (o Estado passa a intervir nova-

mente).

5 É detectada a crise no capitalismo quando os lucros privados não conseguem se manter em patamares positivos. Estagnação e recessãoeconômica implicam reformular o sistema.

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80

É o pêndulo do relógio que se movimenta novamente, a si-

nalizar que mais um ciclo do capitalismo chega ao fim.

A crise atual, entretanto, não é apenas mais uma, mas uma

das maiores crises econômicas do capitalismo em âmbito global

dos últimos tempos. Stiglitz, ex-chefe do Banco Mundial, afirma

que é a pior crise do século, e que ela decorre exatamente do

mercado financeiro (defendido até o último momento pelos libe-

rais como o único guardião e salvador do mundo). O mercado

financeiro fez empréstimos ruins, diz Stiglitz, como a bolha imo-

biliária norte-americana, em que foram feitos empréstimos com

base em preços inflados. Essas dívidas não podem ser pagos nes-

te momento.

Já podemos perceber que a economia global entra neste

instante em um novo ciclo, o ciclo da recessão. O sistema finan-

ceiro ruiu. A cada dia presenciamos bancos em concordatas, em-

presas demitindo: as pessoas estão perdendo seus empregos, seus

benefícios e até suas casas, enquanto algumas outras correm o

risco de perder toda a sua economia. A Organização Internacional

do Trabalho (OIT) prevê 20 milhões de desempregados, atingindo

especialmente os setores da construção, imobiliário, automotivo,

turístico e serviços financeiros.

Para Otaviano Canuto, vice-presidente de Países do BID, o

mundo financeiro dos últimos 25 a 30 anos morreu. Passados 11

anos desde a turbulência asiática, e depois dos episódios seme-

lhantes que atingiram a Rússia, Brasil e Argentina, a crise vol-

tou-se contra a própria Wall Street , o coração do sistema finan-

ceiro global.

Wall Street

é uma rua que corre naManhattan Inferior, e éconsiderada o coração

histórico do atual DistritoFinanceiro da cidade de NovaYork, onde se localiza a Bolsa

de Valores de Nova Iork, amais importante dos Estados

Unidos e uma das maisimportantes do mundo.Disponível em: <http://

pt.wikipedia.org/wiki/Wall_Street>. Acesso em: 24

set. 2008.

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81

As causas

Uma das causas principais do impasse do capitalismo atual diz respeito à crise de

confiança, ou seja, à perda de crença no sistema. Na origem está o deslocamento do capital

produtivo: muita gente querendo ganhar manipulando dinheiro, uma embriaguez de enri-

quecimento sem trabalho. Ou seja, o dinheiro não é aplicado na economia real, mas na

economia virtual. Vive-se especulando em qual bolsa de valores é possível aplicar e obter

bons lucros. Outro aspecto diz respeito à busca escandalosa por recompensas econômicas

excessivas até a especulação arriscada.6 Em síntese, vive-se uma crise da economia virtual

que tem atingido diretamente a economia real.

O capitalismo vive um dilema. Precisa, de um lado, que ocorra produção de capital e,

de outro, que haja consumidores. A superprodução leva a saturar o mercado, que faz dimi-

nuir o poder de compra dos trabalhadores. Com a redução do consumo, ocorre uma queda

na taxa de lucro dos capitalistas; com a diminuição dos lucros há, conseqüentemente, cor-

tes de salários e demissões para cortar custos (círculo vicioso). Outra causa está no

endividamento das pessoas, principalmente nos Estados Unidos. É naquele país que se dá o

epicentro da crise. Como afirma Boike Rehbein, vivemos o fim da hegemonia neoliberal

estadunidense. O endividamento privado nos Estados Unidos duplicou nos últimos 7 anos e

hoje ultrapassa os US$ 14,5 bilhões. A dívida do governo federal é de 9,3 bilhões de dólares.

Há evidências de que os Estados Unidos perderam a liderança da economia global, devendo

em breve dividir com outros países a hegemonia mundial.

O modelo consumista

O capitalismo se alimenta e se mantém alicerçado no consumo. Nunca se produziu e

se vendeu tantos bens de consumo como agora: computadores, TVs, geladeiras e automó-

veis.7 Da mesma forma, o consumo energético está nas alturas, o que vem acarretando

sérios problemas na questão ambiental. É exatamente este modelo consumista desenfreado

da sociedade que precisa ser revisto, repensado. As pessoas estão gastando além do seu

6 O capitalismo atual é um sistema de aposta com dinheiro emprestado via computador.

7 Na cidade de São Paulo são emplacados 800 novos carros por dia. Multiplique por 30 dias e teremos 24 mil novos carros em um só mês.Multiplicados por 12 meses, teremos o total de 288 mil novos carros emplacados em um único ano só em São Paulo.

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82

próprio limite (em âmbito individual) e, também, estamos consumindo além dos próprios

recursos que o planeta consegue sustentar. Algo precisa ser feito, portanto, de forma ur-

gente.

A volta do Estado (regulação)

Segundo as palavras do sociólogo Boaventura de Sousa Santos o impensável aconte-

ceu: o Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução. A palavra não aparece

na mídia americana, mas é disso que se trata: nacionalização. Na mesma linha opina o

economista Marcio Pochmann. O Estado é extremamente necessário, em função de garan-

tir maior regulação e maior condição da existência da economia. Agora, segundo Pochmann,

diante de um novo movimento do pêndulo, cada vez mais para a ampliação da regulação

sobre a economia capitalista. Em síntese, os neoliberais defendiam a não-interferência nos

mercados, mas o que temos agora? O Estado volta a regular a economia.

Notem o exemplo da intervenção direta do Estado na economia. O governo america-

no está a socorrer inúmeras instituições de crédito. Foram gastos mais de US$ 700 bilhões

de dólares para salvar bancos.8 Vive-se hoje um Estado socialista, mas apenas para Wall

Street. Estão sendo privatizados os lucros e socializadas as despesas. Nas palavras do eco-

nomista Eduardo Giannetti: “Quando os banqueiros estavam ganhando bilhões de dólares,

tudo era privado e particular”. No momento em que esses banqueiros e esses grandes

aplicadores perdem bilhões, vem o governo e socializa jogando a conta para gerações futu-

ras. Há algo profundamente errado do ponto de vista ético nesse sistema. É uma assimetria

inaceitável de tratamento de ganhos e perdas. Notem o funcionamento artificial do sistema:

“O Goldman Sachs tinha US$ 25 aplicados para cada US$ 1 de caixa. No início da década

de 80, o lucro dos bancos representava 10% do lucro total da economia americana. Agora, é

de 40%. É muita gente tentando ganhar manipulando dinheiro”.9 Este é também o entendi-

mento do economista Paulo Nogueira Batista, ao afirmar que é bem provável que grande

parte do sistema financeiro acabe nas mãos do Estado.

8 “Não se pode dar US$ 700 bilhões aos bancos e se esquecer da fome” (Hans-Gert Poettering, alemão, presidente do ParlamentoEuropeu).

9 Conferir Eduardo Giannetti, In. Conjuntura da semana. Uma leitura das ‘Notícias do Dia’ do IHU de 23 a 30 de setembro de 2008b.

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Procurou-se apresentar nesta unidade aspectos teóricos ligados ao neoliberalismo:

teorização e aplicabilidades. Vimos que o capitalismo tem passado por constantes crises nos

últimos anos, no entanto a crise atual não é o colapso do capitalismo e sim o fim de um

modelo do capitalismo sob a característica neoliberal (articulação entre mercado, Estado e

sociedade). Por mais paradoxal que pareça, os neoliberais sempre pregaram a não-interven-

ção do Estado na economia; no entanto a intervenção do Estado na economia tem sido a

regra e não a exceção por muitas décadas. Como destaca o lingüista Noam Chomsky: “Nos

últimos 15 anos 20 companhias entre as 100 maiores do mundo não teriam sobrevivido sem

a ajuda dos seus governos. As demais 80 restantes obtiveram ganhos pela via de solicitar aos

seus governos que ‘socializassem as perdas’. Quem paga a conta é o contribuinte sofrido”.

Sugestões de leituras (referências completas no final)

– Os argumentos expostos aqui sobre a biografia de Hayek, sua produção

intelectual e o debate com outros teóricos seguem os estudos de Peter J.

Boettke, professor de Economia de Nova York. In. http://www.hayek.cat/

hayek.html

– Sobre o Consenso de Washington, conferir a explanação de Portella Filho (1994).

– Sobre o neoliberalismo ler Sader; Gentili (1995).

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Unidade 5Unidade 5Unidade 5Unidade 5

Eleições e Desempenho Partidário no Brasil (2002-2008)

Ao avaliar a trajetória da política brasileira, percebe-se que a classe dirigente (classe

política) sempre esteve ligada aos interesses da elite econômica, ou, em outras palavras, a

classe política sempre foi a classe econômica dominante.

Desde a “Independência” do Brasil, a família real defendeu os interesses dos lati-

fundiários (amigos do Rei). Na República não foi diferente: os oligarcas (política dos coro-

néis) revezavam-se no poder no intuito de preservar os interesses dos produtores de café

(São Paulo) e leite (Minas Gerais). Logo após entrou em cena o populismo de Vargas (1930-

1945), destinado “pai dos pobres” por atender às necessidades emergenciais das classes

populares, mas cabe lembrar que não deixou de atender à classe poderosa (burguesia indus-

trial), sendo, portanto, “mãe dos ricos”. Vargas fez um governo populista sem jamais modi-

ficar as estruturas econômicas, que se mantêm intactas até hoje. De 1964 a 1985, com o

“Golpe Democrático”, a elite militar governou o país de forma centralizadora e autoritária.

Nesse período o desenvolvimento econômico brasileiro deu-se com o investimento externo,

avanço das multinacionais e, conseqüentemente, um grande endividamento perante as ins-

tituições internacionais.

Com a “abertura democrática” José Sarney assumiu o governo e, aos poucos, viu-se o

retorno da política das oligarquias, principalmente com a ampla distribuição de canais de

rádio e TV para a formação de um ambiente eletrônico visual e auditivo de tipo oligárquico.

Após o governo Sarney o Brasil conheceu a experiência “modernizadora” do governo Collor,

que prometeu inserir o Brasil no cenário mundial da globalização. A aventura durou pouco,

as reformas do Estado brasileiro foram “abortadas” e Collor sofreu o impeachment. As refor-

mas neoliberais voltaram nos dois mandatos do governo de FHC (representante das classes

médias ilustradas) e, com seu partido burguês (PSDB), o Brasil passou por profundas trans-

formações em seu modelo político-econômico.

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Muitos países latino-americanos foram afetados pelas re-

formas neoliberais estruturadas a partir das políticas do Consen-

so de Washington. No Brasil, o ônus econômico e social desse

modelo foi altíssimo: baixo crescimento econômico (2,3% na mé-

dia); desemprego (atingindo mais de 11 milhões de trabalhado-

res); dívidas interna e externa astronômicas; concentração de ren-

da e violência difusa.

Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições pre-

sidenciais (2002), teoricamente rompia-se a trajetór ia do poder

econômico na direção do comando político. O currículo do can-

didato vencedor se diferenciava dos presidentes anteriores: Lula

trazia na bagagem a herança de um reti rante nordestino,

metalúrgico que se tornou líder sindical até entrar para a cena

política, como deputado federal e líder de um dos maiores parti-

dos do país. Questiona-se, entretanto: com a vitória do PT em

2002, as mudanças tão esperadas e propagadas pelo candidato

Lula realmente se concretizaram? O governo Lula não seria uma

mera continuidade das políticas do governo FHC (nos níveis eco-

nômico e social)? O governo Lula tem beneficiado quais classes

sociais? Governa com o mercado ou com os movimentos sociais?

Esta unidade final tem como objetivo analisar de forma

ampla a questão das eleições e do desempenho partidário no Bra-

sil no período de 2002 a 2008. Assim, a unidade está dividida em

quatro seções específicas: a primeira discute as eleições gerais

2002 quando Lula e o PT saem vitoriosos; a segunda analisa o

desempenho partidário a partir das eleições municipais de 2004;

a terceira seção aborda as eleições gerais de 2006, quando o pre-

sidente Lula obtém a reeleição; e a quarta e última seção analisa

o desempenho partidário das eleições municipais de 2008.

Luiz Inácio Lula da Silva

(Caetés, 27 de outubro de1945) , é o trigésimo quinto

presiden te da RepúblicaFederativa do Brasil, cargo que

exerce desde o dia 1º dejaneiro de 2003. Disponível

em: <h ttp://pt.wik ipedia.org/wiki/

Luiz_In%C3%A1cio_Lula_da_Silva>.Acesso em: 24 set. 2008.

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Seção 5.1

Eleições gerais 2002: Lula e o PT vitoriosos

Depois de três tentativas consecutivas de chegar à Presidência da República (1989,

1994 e 1998), o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva venceu em dois turnos as elei-

ções 2002. Lula recebeu 52.793.364 (61,27% dos votos válidos) contra 33.370.739 (38,73%

dos votos válidos) votos recebidos pelo candidato oponente José Serra, do PSDB.1

Algumas razões podem ter influenciado na vitória petista. A primeira diz respeito à

mudança programática do PT (Partido dos Trabalhadores) que, com o passar do tempo, foi

modificando gradativamente sua ideologia e seu discurso: das propostas socialistas de trans-

formação social (luta de classe) para práticas reformistas, passando da esquerda do espectro

político para o centro, na tentativa de se aproximar do eleitor mediano (eleitor de centro). A

mudança gradativa do discurso do PT está intimamente ligada à evolução positiva do resulta-

do das urnas. Foi possível perceber a mudança programática do PT desde as eleições presiden-

ciais de 1994, com o abandono das principais bandeiras e diretrizes outrora defendidas.

O Gráfico 1 mostra a evolução da votação petista de 1989 a 2006. No primeiro turno

de 1989, o partido obteve 11,6 milhões de votos, ou 16,1% do total dos votos válidos; em

1994, 17,1 milhões de votos (22%), em 1998, 21,4 milhões de votos (25,8,7%), em 2002, 39,4

milhões de votos (46,5%).

Gráfico 1Fonte: Tribunal Superior Eleitoral

1 Números referentes ao segundo turno.

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O próprio presidente reconheceu a sua mudança e a mudança do programa do parti-

do, quando fez alianças políticas para vencer as eleições: “Eu perdi três eleições, e cada

eleição que eu perdia, perdia por 15%. Chegou um dia em que alguém me convenceu de que

eu não precisava mais ficar fazendo discurso para agradar ao PT, que eu não precisava mais

ficar fazendo discurso para agradar aos 30% ou 35% que eu tive em todas as eleições. Era

preciso que eu me preparasse para ter do meu lado os 15% que faltavam. E eu me preparei e

ganhei a eleição”.2

A segunda razão está relacionada à “morte da política” (fim das ideologias) e ao forta-

lecimento do marketing político: hoje “vende-se um candidato como se vende um produto

qualquer”, candidato é uma “boa mercadoria”. Presenciamos, assim, à “morte do debate

político” construtivo, dos programas e das ideologias partidárias, com o embate político

dedendo lugar ao espaço midiático, à projeção da imagem do candidato (o terno, a barba, o

discurso pronto).

A terceira diz respeito à conjuntura polít ico-econômica desfavorável herdada da era

FHC, que acabou favorecendo o candidato Lula da Silva. A vitória de Lula deu-se pelo

esgotamento das políticas neoliberais de FHC. A pouca transparência (corrupção) do pro-

cesso de privatizações e da MP da reeleição desencadeou um pensamento de desconfiança

na sociedade, embora a mídia tenha compactuado com o governo no sentido de silenciar

sobre esses fatos junto a opinião pública. O desemprego, o agravamento da concentração

de renda e o empobrecimento da classe média nos 8 anos de governo de FHC produziram

um desejo de mudança no eleitorado brasileiro.

A quarta razão está ligada à questão das alianças do PT. Com o objetivo de vencer as

eleições, o PT desconsiderou alianças do tipo programáticas e ideológicas e procurou fazer

pactos do tipo “vale-tudo”, como o acordo com o PL e PTB, por exemplo. Além das alianças,

o PT buscou a aproximação com setores conservadores da sociedade, como os empresários e

banqueiros.

Por fim, houve a “Carta aos Brasileiros”, escrita no dia 22/6/2002. O momento de ins-

tabilidade política que antecedeu as eleições 2002 refletiu-se diretamente na economia do

país, fazendo com que o risco Brasil (percepção externa dos investidores) alcançasse

2 Entrevista do presidente Lula no dia 15 de maio de 2007. O Estado de S. Paulo, 16-5-2007. Disponível em http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=7172. Acesso em: 16-maio 2007.

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percentuais recordes de 1.770 pontos. Com o objetivo de “acalmar” o mercado, o então

candidato Lula, juntamente com seu partido, elaborou a chamada “Carta aos Brasileiros”

em que, em resumo, comprometia-se em pagar os juros da dívida externa e o cumprimento

dos contratos. Esta “carta” foi rebatizada por alguns analistas políticos de “Carta aos Ban-

queiros”, exatamente por beneficiar mais essa classe do que a população como um todo.

Estas foram algumas razões que deram a Lula a expressiva vitória, com 52.793.364 (mais de

61% dos votos válidos).

5.1.1 AVALIANDO O PRIMEIRO MANDATO

A vitória de Lula nas eleições presidenciais em 2002 trouxe entusiasmo e alegria a

milhões de brasileiros: “Finalmente, a esperança venceu o medo”. Os primeiros cem dias do

governo Lula foram festivos, não faltaram discursos e “showmícios”, que expressavam bem

o clima de “lua-de-mel” entre o novo presidente e a população. Com o passar do tempo, no

entanto, o entusiasmo e as expectativas com o novo governo foram diminuindo e a frustra-

ção não tardou a chegar.

5.1.2 A COMPOSIÇÃO MINISTERIAL

Com a vitór ia da Frente Popular nas eleições 2002, foi sendo montado o governo de

transição e, junto dele, cogitados os possíveis nomes para o futuro Ministério, tudo com o

devido cuidado para não assustar o “mercado”. O PT entregou a presidência do Banco

Central para o deputado federal Henrique Meirelles (PSDB), ex-administrador máximo do

Bank of Boston, segundo maior credor do Brasil. No mesmo sentido, contrariando boa parte

da esquerda do PT, o governo Lula reafirmou a proposta de conceder autonomia administra-

tiva ao Banco Central, medida exigida pelo capital financeiro internacional. O Ministério

da Fazenda foi para o médico Antônio Palocci, que administrou a prefeitura de Ribeirão

Preto, onde pôs em prática medidas neoliberais, como a privatização do serviço telefônico

da cidade. Os demais Ministérios foram entregues aos partidos que apoiaram a Frente Po-

pular no segundo turno, como o PPS, PL, PDT, PTB, além de pessoas ligadas ao empresariado

brasileiro.

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5.1.3 A MUDANÇA PROGRAMÁTICA SE CONFIRMOU

Com o passar do tempo, na prática, o governo Lula não demonstrava claramente qual

era o projeto de desenvolvimento para o Brasil. O que ainda não parecia claro, no início, era

a guinada extraordinária das doutrinas originárias do Partido dos Trabalhadores para o

centro, a partir da “Carta aos Brasileiros”. Aos poucos a retórica socialista foi sendo aban-

donada e passou-se a seguir um programa similar ao defendido anteriormente pelo ex-presi-

dente FHC, isto é, o modelo liberal-desenvolvimentista. No início o PT trazia, em seu pro-

grama, o anseio por mudanças e a proposta de ruptura com o sistema econômico vigente. As

idéias socialistas e o sonho da revolução (luta de classe) permeavam as mentes mais ousa-

das. Aos poucos, porém, tudo foi mudando...

No mês de dezembro de 2001 a linha oficial do PT ainda defendia a ruptura radical

com o modelo existente. Durante o XII Encontro Nacional do PT, realizado em Recife, foi

aprovado o documento “Ruptura Necessária”, que defendia o rompimento com o FMI: “Será

necessário denunciar do ponto de vista político e jurídico o acordo atual com o FMI, para

liberar a política econômica das restrições impostas ao crescimento...”. Anunciava também

o rompimento com o modelo econômico herdado após 8 anos de governo FHC: “A

implementação de nosso governo (...) representará uma ruptura com o atual modelo econô-

mico, fundado na abertura e na desregulação radicais da economia nacional e na conse-

qüente subordinação de sua dinâmica aos interesses e humores do capital financeiro

globalizado...”. Logo após a aprovação do referido documento, o que se constatou foi exata-

mente o contrário do que se defendia. Logo veio o comprometimento do PT junto ao FMI,

com o cumprimento dos contratos, o pagamento das dívidas e a promessa de manutenção

do modelo econômico anterior.

5.1.4 COMPROMETIMENTO COM AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS

No início, quando Lula discursava para dezenas de milhares de delegados, represen-

tantes de boa parte da esquerda mundial reunida no Fórum Social Mundial (edição 2003)

de Porto Alegre/RS, jamais se imaginava que seu governo já houvesse aderido às reformas

macroeconômicas propostas por Wall Street e pelo FMI. Como argumenta o economista

Michel Chossudovsky: “Enquanto era abraçada em coro por movimentos progressistas de

todo o mundo, a administração de Lula estava a ser aplaudida pelos principais protagonis-

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tas do modelo neoliberal”. Na época o entusiasmo do diretor do FMI, Heinrich Koeller, em

relação ao governo Lula, expressava esse sentimento: “Sou entusiasta; mas é melhor dizer

que estou profundamente impressionado pelo presidente Lula, na verdade e em particular,

porque penso que ele tem a credibilidade que muitas vezes falta um pouco a outros líderes,

e a credibilidade está em que é sério para trabalhar afincadamente a fim de combinar políti-

ca orientada para o crescimento com eqüidade social”.

Por outro lado, nos últimos anos jamais o sistema financeiro lucrou tanto na história

do país. Os lucros exorbitantes do sistema bancário (dados atuais de 2008) são exemplos do

que é prioridade no atual governo.

Quadro 1: Lucro dos principais bancos instalados no país (2008 – Primeiro Semestre)Fonte: Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários no Estado do Paraná:

“Especial Lucro dos Bancos”. Disponível em http://www.feebpr.org.br/lucroban.htm

5.1.5 AVANÇOS E RETROCESSOS

Por um lado, obteve-se, nos últimos anos, alguns avanços significativos na depuração

da política brasileira; por outro, persistem ainda a impunidade e muitas CPIs terminaram,

literalmente, em pizza. Dentre os avanços podemos citar, por exemplo, a demissão de altos

funcionários de empresas estatais; José Genoíno, presidente do PT, foi deposto; José Dirceu,

o homem mais poderoso do governo Lula, foi cassado; Palocci, o homem forte da economia,

foi demitido; o ministro Gushiken, que era o terceiro mais importante do governo, encolheu

a ponto de não se ouvir mais falar nele; desvendou-se o “valerioduto”, que ir rigava contas e

campanhas eleitorais desde 1998; e publicitário do governo, Duda Mendonça, foi flagrado

com contas milionárias no exterior. A absolvição do deputado Brant (PFL) e do professor

Luizinho (PT), no entanto, após o “acordão” entre os referidos partidos, faz retroceder o pro-

cesso democrático e a certeza da impunidade volta a pairar no cenário político brasileiro.3

Ano Banco Período Lucro Unibanco Primeiro Semestre de 2008 R$ 756 milhões Itaú Primeiro Semestre de 2008 R$ 2,041 bilhões Bradesco Primeiro Semestre de 2008 R$ 4,1 bilhões

Santander Banespa Primeiro Semestre de 2008 R$ 830 milhões

3 José Genoíno e Palocci conseguiram eleger-se deputados federais em 2006.

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Como retrocesso constata-se ainda a vigência de práticas patrimonialistas, clientelistas,

populistas e personalistas na cultura política atual (desde a esfera nacional até a munici-

pal). Estes atos políticos pouco cívicos, juntamente com o abuso do poder por meio de Me-

didas Provisórias, além da prática do “troca-troca” partidário (migração partidária) contri-

buem para que as instituições políticas sejam vistas cada vez com mais descrédito e descon-

fiança pela maioria da população.

Seção 5.2

As eleições municipais de 2004

Esta seção tem como objetivo extrair dos resultados das eleições municipais de 2004

alguns elementos para análise. Dentre eles, a clara visualização de que o PT e o PSDB saem

fortalecidos e o PMDB e o PFL vêem declinar sua participação política no cenário nacional.

Apesar dos resultados finais apontarem para a vitória do PT em âmbito nacional (valor

quantitativo), o partido foi derrotado na sua principal vitrine administrativa, Porto Alegre,

após 4 eleições vitoriosas no Executivo municipal. A derrota do PT pode ser atribuída a uma

espécie de julgamento do governo Lula? Isto é, os eleitores teriam punido o partido pelo

não-cumprimento das expectativas projetadas desde a conquista da Presidência da Repú-

blica por um partido considerado de esquerda? Estas e outras questões esta seção pretende

discutir.

A seção apresenta, inicialmente, os resultados do primeiro turno das eleições, que já

evidenciavam, a supremacia de alguns partidos: PT, PSDB, PMDB e PFL. Na parte 2, a

seção passa a discutir os resultados do segundo turno, quando se evidencia que o êxito

obtido pelo PT no primeiro turno não o acompanhou no segundo. A supremacia no segundo

turno foi do PSDB. Na parte 3, a seção discute o cenário pós-eleitoral gaúcho. No âmbito

estadual ainda repercute a derrota petista nas três maiores cidades do Estado: Caxias do

Sul, Pelotas e Porto Alegre. No controle político dos demais municípios, a supremacia con-

tinua sendo do PMDB e PP, que se alternam no comando das prefeituras. O PDT e o PPS

foram os partidos que mais cresceram proporcionalmente no número de prefeituras em 2004.

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5.2.1 PRIMEIRO TURNO:PT e PSDB saem na frente

Após o encerramento da contagem dos votos no 1º turno das eleições municipais de

2004, algumas conclusões já eram visíveis. A primeira delas dizia respeito, em âmbito nacio-

nal, a uma concentração em número dos votos válidos obtidos por alguns partidos, dentre

eles o PT, PSDB, PMDB e PFL.4 Juntos, esses partidos receberam 6 de cada 10 votos válidos

apurados no país. A segunda relaciona-se ao crescimento e à disputa entre dois grandes

partidos, o PT e o PSDB, disputa já evidenciada nas últimas eleições presidenciais de 1994,

1998 e 2002.

Analisando os números finais do resultado já no 1º turno, percebeu-se o expressivo

crescimento do PT, que obteve 16,3 milhões de votos (17,17% dos votos válidos). Na compa-

ração percentual feita em relação às eleições municipais de 2000, o PT aumentou sua vota-

ção em 37,7% – havia obtido então 11,9 milhões de votos. Para o PSDB, o avanço em relação

às eleições de 2000 também foi significativo, embora um pouco menor, passando de 13,5

para 15,7 milhões (16,5% dos votos válidos). Depois deles seguiram:

• PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), com 14,2 milhões de votos;

• PFL (Partido da Frente Liberal), 11,2 milhões;

• PP (Partido Progressista), 6,1 milhões;

• PDT (Partido Democrático Trabalhista), 5,5 milhões;

• PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), 5,2 milhões;

• PL (Partido Liberal), 5,0 milhões;

• PPS (Partido Popular Socialista), 4,9 milhões

• PSB (Partido Socialista Brasileiro), 4,4 milhões de votos.

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral.

4 O PFL – Partido da Frente Liberal – passou a se chamar DEM (Democratas) em 2007.

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5.2.2 VITÓRIAS ELEITORAIS NOS MUNICÍPIOS E CAPITAIS (1º TURNO)

Já no primeiro turno o PT ganhou a prefeitura de 6 capitais de Estados e elegeu 400

prefeitos em todo o país (um aumento de 114% em relação às eleições de quatro anos antes).

Em Belo Horizonte (MG), o prefeito petista Fernando Pimentel foi reeleito com 68,5% dos

votos; da mesma forma, em Recife (PE), João Paulo foi reeleito com 56% dos votos. O PT

também venceu em Aracaju (SE), Macapá (AP), Palmas (TO) e Rio Branco (AC).

Em termos nacionais, o PT foi o partido que mais votos recebeu para prefeito nos

5.562 municípios brasileiros. Embora estivesse longe de conquistar o maior número de ad-

ministrações, é preciso registrar que o PT foi, dentre as grandes agremiações, a que mais

cresceu nesse quesito, quando comparado ao total de cidades em que vencera no pleito

anterior. Já PMDB, PSDB, PFL e PP, que seguiam numericamente à frente da legenda gover-

nista, diminuíram sua participação em relação a 2000. O PTB obteve um pequeno aumento.

Da mesma forma, PPS, PSB, PL e PDT cresceram nas urnas com o pleito anterior.

O PMDB foi o partido que conquistou o maior número de prefeituras e cadeiras nos

Legislativos municipais, conforme levantamento divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral

(TSE). Mesmo assim, o partido encolheu. Ao todo foram eleitos 1.045 prefeitos peemedebistas

no primeiro turno, contra 1.257 em 2000. O segundo colocado foi o PSDB, que elegeu 859

prefeitos em 2004 e 990 em 2002. Em terceiro lugar ficou o PFL, com 785 prefeitos.

5.2.3 SEGUNDO TURNO:resultados gerais no Brasil

O PT foi o partido que mais conquistou prefeituras nas 43 cidades em que houve elei-

ções no 2º turno. Das 23 prefeituras em que concorreu, conquistou 11, com 48% de aprovei-

tamento. O PSDB concorria em 20 municípios e venceu em 9 (45%); o PMDB venceu em 6

cidades das 12 em que disputou (50%); o PDT disputava 7 cidades e venceu em 5 (66,6%); o

PPS venceu em 4 cidades das 5 em que disputou (80%); o PSB disputou em 5 municípios e

venceu em 4 (80%); o PTB disputou em 3 municípios e venceu em 2 (66,6%); o PSDC ga-

nhou em 1 município, e o PFL disputou em 5 municípios e não ganhou em nenhum.

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Apesar de o PSDB eleger 119 prefeitos a menos em relação às eleições de 2000, o

partido obteve melhor êxito nos grandes centros urbanos. O PSDB governou 871 cidades

que abrigam 25,617 milhões de eleitores, o equivalente a 21,4% do país. Na época o PT

elegeu prefeitos em 411 municípios, com 17,055 milhões de eleitores (14,2%). No total, os

tucanos governaram 8,56 milhões de eleitores a mais que o PT. Em terceiro, o PMDB gover-

nou 1.057 cidades, com 16,890 milhões de eleitores (14,1%).

A Tabela 1 elenca algumas siglas partidárias que tiveram o número de prefeituras re-

duzido em 2004 em comparação com as eleições de 2000. Os partidos que aumentaram o

número de prefeituras foram o PTB, PT, PL, PPS, PDT, PSB, PV e PCdoB.

Tabela 1: Número de prefe itos eleitos, por partido

Fonte: Tabela elaborada a partir dos resultados oficiais (TSE).

5.2.4 VITÓRIA DO PSDB

O crescimento eleitoral do PT obtido no primeiro turno de 2004 não se repetiu no

segundo, mais precisamente nas grandes cidades das regiões Sul e Sudeste do país e nas

capitais onde os petistas amargaram as maiores derrotas: Porto Alegre, Curitiba e São Pau-

lo. No mais importante centro político e financeiro do país, São Paulo, o PT perdeu a prefei-

tura para o PSDB. A candidata à reeleição Marta Suplicy fez, no primeiro turno, 35,8% dos

Evolução Colocação Partido 2000 2004 Diferença Percentual

Negativa 1º PMDB 1.257 1.057 -200 -16%

Negativa 2º PSDB 990 871 -119 -12%

Negativa 3º PFL 1.028 790 -238 -23%

Negativa 4º PP 618 552 -66 -10%

Positiva 5º PTB 398 425 +27 +6%

Positiva 6º PT 187 411 +224 +120%

Positiva 7º PL 234 381 +147 +62%

Positiva 8º PPS 166 306 +140 +84%

Positiva 9º PDT 288 305 +17 +6%

Positiva 10º PSB 133 176 +43 +32%

Positiva 11º PV 13 56 +43 +330%

Positiva 12º PCdoB 1 10 +9 +900%

Outros 246 222 -24 -10%

Total 5.559 5.562 +3

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votos e seu opositor, José Serra, obteve 43,5%, uma diferença de 7,7 pontos percentuais pró-

Serra. No segundo turno, depois de uma dura disputa entre os candidatos, José Serra con-

firmou sua vitória com 3.330.179 votos (54,86%) contra 2.740.152 de Marta Suplicy (45,14%),

uma diferença de 9,72% dos votos válidos.

No segundo turno as dificuldades da candidata petista em São Paulo foram imensas,

pois contou apenas com o apoio do PSB (Partido Socialista Brasileiro), que somou 3,96%

dos votos no primeiro turno, e do PP (Partido Progressista), de Paulo Maluf, que somou

11,91%. Pelos resultados finais comprovou-se que o voto dos socialistas e malufistas não

migraram na totalidade para a candidata petista.

Depois da derrota sofrida no segundo turno das eleições presidenciais de 2002 para

Luiz Inácio Lula da Silva (61,27% contra 38,73% dos votos), poucos apostavam no futuro

político de José Serra. Com a vitória em São Paulo, além de derrotar a administração petista

de Marta Suplicy (vitrine do PT) e conquistar o maior colégio eleitoral e a maior cidade do

país, José Serra tornou-se uma das principais lideranças do PSDB no Brasil.

Há um consenso, entre os analistas políticos, de que o PT e o PSDB foram os grandes

vencedores das eleições municipais de 2004, na medida em que passaram a governar 14 das

26 capitais a partir de 2005, três a mais do que na gestão anterior. O balanço final, porém,

teve significados políticos diferenciados para ambos: a vitória petista foi organizacional, na

medida em que os votos recebidos vieram de todas as partes do Brasil. Os candidatos petistas

obtiveram êxito nos grotões, cidades médias e nas capitais do Norte-Nordeste, mas o partido

acabou perdendo o domínio de grandes centros urbanos para o PSDB, que, por sua vez,

passou a governar o maior número de eleitores a partir de 2005. No que se refere à conquis-

ta de prefeituras, o PT mais do que dobrou o número, passando de 187 (em 2000) para

um total de 411 nas eleições de 2004 (já inclusas as 11 cidades conquistadas no 2º

turno). Outro dado importante diz respei to ao número total de votos: pela primeira vez o

PT foi o partido mais votado numa eleição municipal, tanto no primeiro quanto no se-

gundo turno.

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5.2.5 GOVERNANDO AS CAPITAIS:hegemonia do PT e do PSDB

O PT concorreu em nove capitais no 2º turno das eleições 2004, mas venceu em ape-

nas três. No total o PT passou a administrar 9 capitais a partir de 2005. Nestas o partido

obteve, igualmente, o maior número de votos (6,9 milhões), no entanto o partido do presi-

dente Luiz Inácio Lula da Si lva perdeu suas duas capitais mais estratégicas, São Paulo (SP)

e Porto Alegre (RS).5 O PSDB conquistou cinco capitais: São Paulo (SP), Curitiba (PR),

Cuiabá (MT), Florianópolis (SC) e Teresina (PI), somando 6,3 milhões de votos no segundo

turno. O PDT obteve uma vitória importante em Salvador (BA), onde derrotou o candidato

do pefelista Antônio Carlos Magalhães. Os pedetistas ganharam, ainda, as prefeituras de

Maceió (AL) e São Luís (MA). Outro partido que conquistou três capitais foi o PSB: João

Pessoa (PB), Natal (RN) e Manaus (AM).

Outro partido tradicional que amargou maus resultados foi o PFL, que elegeu apenas

Cesar Maia à prefeitura do Rio de Janeiro (RJ) e perdeu em seu reduto mais importante,

Salvador (BA). O PTB conquistou a prefeitura de Belém (PA). Já o PPS acabou com 16 anos

de mandato petista na prefeitura de Porto Alegre (RS), elegendo o ex-senador José Fogaça,

e também o prefeito de Boa Vista (RR).

Tabela 2: Número de capitais conquistadas por partido (2000 e 2004)

Fonte: Tabela elaborada a partir dos resultados oficiais (TSE).

Evolução Colocação Partido 2000 2004 Diferença

Positiva 1º PT 8 9 +1

Positiva 2º PSDB 3 5 +2

Positiva 3º PSB 2 3 +1

Positiva 4º PDT 2 3 +1

Manteve 5º PPS 2 2 0

Manteve 5º PMDB 2 2 0

Positiva 6º PTB 0 1 +1

Negativa 6º PFL 3 1 -2

Negativa 7º PL 3 0 -3

Negativa 7º PP 1 0 -1

TOTAL 26 26

5 Outras derrotas expressivas dos petistas: Caxias do Sul, Pelotas, Blumenau, Campinas, Ribeirão Preto, Cuiabá, Belém, Curitiba, Goiânia,Maceió e Natal.

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5.2.6 O CONTROLE POLÍTICO NAS MAIORES CIDADES

Analisando o universo das 96 cidades mais relevantes politicamente, incluindo as 26

capitais e as 70 cidades com mais de 150 mil eleitores (38,7% de todos os eleitores do Brasil),

chega-se aos seguintes números: o PT, embora tendo ainda o controle político da maioria

das cidades, caiu de 29 prefeituras para 24; e o PSDB manteve o mesmo número de prefeitu-

ras nesta modalidade.

Tabela 3: Número de prefeituras conquistadas, por partido, nas 96 maiores cidades do Bras il (2000-2004)

Fonte: Tabela elaborada a partir dos resultados oficiais (TSE).

Os tucanos permaneceram no comando político de 19 municípios. O PMDB, apesar

de manter sua hegemonia política, conquistou apenas 11 das 96 cidades mais importantes e

apenas 2 capitais. O PFL foi o partido que sofreu a maior derrota nessas eleições. O partido

perdeu nas duas capitais onde disputou o segundo turno: Salvador (BA) e Manaus (AM), e

ganhou em apenas 6 das 96 cidades mais importantes. A maior vitória entre as cidades mais

importantes foi no Rio de Janeiro (RJ).

5.2.7 TOTAL DE VOTOS DE CADA PARTIDO

Dos quatro principais partidos, PT e PSDB ampliaram e PMDB e PFL reduziram sua

fatia no total de votos, numa comparação entre o 1º turno de 2000 e o de 2004.

Evolução Colocação Partido 2000 2004 Diferença

Negativa 1º PT 29 24 -5

Manteve 2º PSDB 19 19 0

Manteve 3º PMDB 11 11 0

Positiva 4º PDT 8 11 +3

Positiva 5º PSB 6 8 +2

Positiva 6º PPS 4 8 +4

Negativa 7º PFL 9 6 -3

Negativa Outros 10 9 -1

Total 96 96

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Tabela 4: Número de votos e percentual por partido (2000-2004)

Fonte: Tabela elaborada a partir dos resultados oficiais (TSE).

Já no segundo turno, com a derrota do PT em São Paulo, o eleitorado a ser governado

pelos petistas reduziu-se sensivelmente em relação a 2000. Os partidos que mais evoluíram

foram PV, PCdoB e PPS, enquanto que PTB e PT reduziram seu domínio sobre o eleitorado.

Tabela 5: Evolução do e leitorado a ser governado por partido (2000-2004)

Fonte: Tabela elaborada a partir dos resultados oficiais (TSE).

5.2.8 CENÁRIO POLÍTICO GAÚCHO (1º TURNO)

O Rio Grande do Sul realizou eleições em seus 497 municípios, num total de 24.159

seções. O total de eleitores aptos foi de 7.543.188; desses, 6.715.654 (89,1%) compareceram

no 1º turno e 827.534 (10,9%) se abstiveram de votar. O percentual de votos válidos no

Estado foi de 6.354.298 (94,6%), com 151.693 votos em branco (2,2%) e 209.663 nulos (3,1%).

Nas últimas eleições municipais de 2000 estavam aptos a votar 7.112.134 pessoas, e destas,

Evolução Colocação Partido 2000 Percentagem 2004 Percentagem Diferença

Positiva 1º PT 11.938.734 14,3% 16.326.047 17,15%. +2,85%

Positiva 2º PSDB 13.518.346 16% 15.747.592 16,54% +0,54%

Negativa 3º PMDB 13.257.650 15,69% 14.249.339 14,97%. -0,72%

Negativa 4º PFL 12.973.544 15,35% 11.238.408 11,81% -3,74%

Evolução Colocação Partido 2000 2004 Diferença

Positiva 1º PSDB 18.463.915 25.615.145 +39%

Negativa 2º PT 21.590.995 17.055.262 -21%

Negativa 3º PMDB 19.541.475 16.889.596 -14%

Negativa 4º PFL 16.796.596 15.506.423 -8%

Positiva 5º PDT 6.322.915 8.627.693 +36%

Positiva 6º PPS 4.102.926 6.752.066 +65%

Negativa 7º PP 7.799.270 6.726.691 -14%

Manteve 8º PSB 5.645.221 5.654.486 0

Negativa 9º PTB 12.634.749 6.705.263 -47%

Positiva 10º PL 4.304.448 4.920.752 +14%

Positiva 11º PV 431.420 1.471.592 +241%

Positiva 12º PCdoB 275.598 480.113 74%

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6.325.105 (88,9%) compareceram, numa abstenção de 787.029 eleitores (11,0%). Os votos

válidos somaram 5.983.700 (94,6%), com 150.413 votos brancos (2,3%) e 190.992 votos

nulos (3,02%). Se traçarmos um paralelo entre as eleições municipais de 2000 e 2004, vê-se

que o percentual de comparecimento foi 0,02% maior em 2004 e nos votos válidos foi idên-

tico ao anterior.

Na administração das prefeituras, em relação ao gênero, a supremacia continuou sen-

do dos homens. Foram eleitos 497 prefeitos (96,5%) e apenas 18 prefeitas (3,5%) no Estado.

No Rio Grande do Sul, PMDB e PP continuaram sendo os partidos que iriam adminis-

trar o maior número de prefeituras. Nas eleições municipais de 2000 a supremacia era do PP

(PPB, na época), que elegeu 174 contra 139 do PMDB. Nas eleições 2004 a ordem se inver-

teu, o PMDB foi o partido que mais elegeu prefeitos no primeiro turno, 136 (+ 1 no 2º turno

=137), seguido do PP, com 134. Os peemedebistas perderam o comando de duas cidades em

relação à eleição de 2000. Já o PP teve uma perda maior: 40 municípios. Em terceiro ficou o

PDT, que apresentou o maior crescimento proporcional, passando de 78, em 2000, para 97

prefeitos. Em quarto lugar ficou o PT, que passou de 35 para 43 prefeituras. O PTB seguiu

com o mesmo número de prefeituras, 31. O PPS, que até então não detinha nenhuma, so-

mou três no primeiro turno e confirmou mais duas no 2º turno (5 no total). O PFL aumen-

tou em três o número de prefeituras, passando de 15 para 18. O PSDB ganhou mais duas,

passou a 17. O PSB aumentou de sete para nove, o PL seguiu com três e o PHS conquistou

duas prefeituras.

Além de ter sido o partido que mais perdeu prefeitos, o PP sofreu ainda algumas derro-

tas na tentativa de reelegê-los: é o caso de Juca Alvarez, de São Borja, derrotado por

Mariovane Weis (PDT), e do prefeito de Cruz Alta, José Westphalen Corrêa, que foi superado

pelo PT de Vilson Roberto Santos. Em Erechim, o partido conseguiu a vitória, reelegendo

Eloi Zanella. O PTB foi derrotado em Cidreira, onde a prefeita Custódia da Si lva (PTB)

perdeu para Roberto Camargo (PMDB) e em Gravataí o ex-prefeito Abílio dos Santos perdeu

para o petista Sergio Stasinski.

Apenas três cidades do Rio Grande do Sul tiveram novas eleições no 2º turno: Porto

Alegre, onde disputaram Raul Pont (PT) e José Fogaça (PPS); Caxias do Sul, onde José Ivo

Sartori (PMDB) concorreu com Marisa Formolo (PT); e Pelotas, onde disputaram o coman-

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do da prefeitura Bernardo de Souza (PPS) e Fernando Marroni (PT). O PT foi derrotado em

todas. Em Caxias do Sul José Ivo Sartori venceu com 119.521 (52,43%) votos, contra 108.427

(47,57%) de Marisa Formolo, uma diferença de 4,86%. Em Pelotas venceu Bernardo de Sou-

za, do PPS, com 100.088 (52,38%), contra 91.007 (47,62%) do candidato petista, uma dife-

rença de 4,76%. Em Porto Alegre Raul Pont (PT) foi derrotado por Fogaça. Pont fez 378.099

(46,68%) contra 431.820 (53,32%) de Fogaça, uma diferença de 6,64%.

Tabela 6: Número de prefeituras conquis tadas por partido: 2000/2004 – RS

Fonte: Tabela elaborada a partir dos resultados oficiais (TSE).

5.2.9 A DERROTA PETISTA EM PORTO ALEGRE

Se a vitória do PT ocorre no âmbito quantitativo (partido que recebeu o maior número

de votos no primeiro e no segundo turnos em todo o Brasil), como explicar a derrota do

partido em locais estratégicos como Porto Alegre? A derrota pode ser atribuída a um julga-

mento do governo Lula? Não necessariamente. Provavelmente a derrota do PT em Porto

Alegre tenha razões mais complexas.

Parece pouco convincente o argumento de que a derrota do PT em Porto Alegre esteja

ligada apenas ao desempenho do governo Lula. Se o argumento fosse verdadeiro, como

explicar o crescimento do PT (37%) em todo o país em relação às eleições de 2000? O PT

cresceu, igualmente, em 20 Estados brasileiros, comparando-se as eleições de 2000 e 2004.

Evolução Colocação Partido 2000 2004 Diferença

Negativa 1º PMDB 139 137 -2

Negativa 2º PP 174 134 -40

Positiva 3º PDT 78 97 +19

Positiva 4º PT 35 43 +8

Manteve 5º PTB 31 31 0

Positiva 6º PFL 15 18 +3

Positiva 7º PSDB 15 17 +2

Positiva 8º PSB 7 9 +2

Positiva 9º PPS 0 5 +5

Manteve 10º PL 3 3 0

Positiva 11º PHS 0 2 +2

TOTAL 497 496

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A votação petista foi decrescente em apenas 6 Estados: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,

Alagoas, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Essa tendência parece ser uma das justifica-

tivas da derrota do PT na capital gaúcha.

Tabela 7: Percentual de votos do PT nas eleições municipais de 2000 e 2004

Fonte: Marenco (2004).

Tabela 8: Percentual de votos do PT em Porto Alegre (e leições para prefe ito, governador e presidente – 1988/2004)

Fonte: Marenco (2004).

Estado 2000 2004 diferença

Piauí 9,7 5,7 -4,0

Alagoas 5,7 2,2 -3,5

Rio Grande do Norte 7,1 4,4 -2,7

Rio Grande do Sul 22,6 20,9 -1,7

Paraíba 4,7 3,7 -1,0

Rio de Janeiro 11,5 10,7 -0,8

São Paulo 24,8 25,3 0,5

Pará 17,7 18,4 0,7

Amazonas 1,1 1,9 0,8

Goiás 9,9 10,8 0,9

Santa Catarina 17,2 18,4 1,2

Maranhão 2,9 4,6 1,7

Bahia 11,9 13,8 1,9

Paraná 12,6 15,1 2,5

Roraima 0,0 2,8 2,8

Mato Grosso 7,7 12,5 4,8

Rondônia 10,3 15,9 5,6

Acre 33,0 39,0 6,0

Espírito Santo 3,8 11,2 7,4

Ceará 2,4 10,3 7,9

Sergipe 14,8 23,0 8,2

Mato Grosso do Sul 19,0 27,6 8,6

Pernambuco 8,8 19,6 10,8

Minas Gerais 8,8 22,3 13,5

Tocantins 2,3 22,5 20,2

Amapá 2,0 34,2 32,2

88 89 90 92 94 96 98 2000 2002 2004

PREFEITO 34,3 - - 40,8 - 52,0 - 45,6 - 35,0

GOVERNADOR - - 10,6 - 50,7 - 53,6 - 39,9 -

PRESIDENTE - 6,4 - - 38,8 - 50,4 - 43,6 -

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103

Durante os anos 90 o PT registrou tendência de crescimento de seu eleitorado em

Porto Alegre, com o melhor resultado na capital sendo alcançado nas eleições para o gover-

no do Estado, em 1998. A partir desta eleição começa o declínio no desempenho eleitoral na

capital. Duas razões parecem ser essenciais para este ponto de inflexão: a primeira delas

está ligada à avaliação negativa por parte do eleitorado da administração do governador

Olívio Dutra (perceptível a partir do final do segundo ano do seu mandato, 2000), pela

truculência e conflitos generalizados do seu governo. A segunda razão para a tendência da

perda de eleitores está relacionada à renúncia do prefeito Tarso Genro à prefeitura de Porto

Alegre para concorrer ao governo do Estado, depois de haver se comprometido a governar a

capital até o fim do mandato.

Outra razão para a derrota petista em Porto Alegre está ligada ao sentimento anti-PT

influenciado pela Rede Brasil Sul (RBS), que se opôs abertamente ao governo petista, o que

acabou influenciando a opinião pública de maneira negativa. O antipetismo ficou evidente,

igualmente, no processo de “transferência” de votos entre o primeiro e o segundo turnos. A

oposição articulou-se para derrotar o candidato petista. Diferentemente das eleições anteri-

ores, quando os votos dados a candidatos derrotados distribuíram-se em proporções equili-

bradas entre o candidato do PT e seu rival, isso não ocorreu em 2004. Dois de cada três

eleitores derrotados no primeiro turno confiaram seu voto ao candidato José Fogaça (PPS)

no segundo turno.

Tabela 9: Transferência de votos: primeiro/segundo turno

Fonte: Marenco (2004).

O candidato Raul Pont foi derrotado nos bairros com maior renda e maior escolarida-

de média. O PT não soube apresentar propostas que contemplassem as preocupações e ex-

pectativas da classe média. A ausência de propostas para a atração de investimentos capa-

Ano Candidato 1º turno 2º turno +

Tarso 45 60 15 2000

Collares 20 36 16

Tarso 39 48 9 2002

Rigotto 37 48 11

Pont 35 45 10 2004

Fogaça 28 53 25

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zes de absorver mão-de-obra altamente escolarizada, a valorização do espaço urbano, pro-

jetos para o lazer e cultura contribuíram para reforçar um sentimento de mesmice e incapa-

cidade de projetar o futuro da cidade, associado aos últimos governos petistas. O PT foi

vitorioso nos bairros de menor renda, nos quais reside a população que foi mais beneficiada

pelas políticas sociais provenientes do Orçamento Participativo (políticas de saneamento,

pavimentação e transporte).

Tabela 10: Percentual de votos segundo renda média bairros Porto Alegre

Fonte: Marenco (2004).

A estratégia do discurso retrospectivo prevaleceu na campanha eleitoral do PT no ho-

rário gratuito. Foi um erro de estratégia, na medida que as propostas para uma nova admi-

nistração petista foram pouco difundidas, prevalecendo as propagandas do que já havia

sido feito. O candidato Fogaça soube tirar proveito dessa lacuna e adotou para sua campa-

nha o slogan: “Vamos manter o que é bom e melhorar o que não está funcionando...”. A

burocratização do partido, a pouca mobilidade e a mesmice da militância petista, o marketing

publicitário (propaganda em série) com a centralização no indivíduo e não no partido –

“Raul é bom no que faz” – igualmente contribuíram para a derrota petista em Porto Alegre.

Desde o término do primeiro turno era consenso entre os analistas que o PT e o PSDB

se consolidavam como os partidos mais expressivos da política brasileira.

Pode-se concluir que o ganho petista nas eleições 2004 deu-se no plano quantitativo,

pois o partido se consolidou em âmbito nacional tendo presente sua expressiva votação. Já

a vitória do PSDB foi significativa no quesito “qualidade” (ganho ideológico), principal-

mente no valor simbólico de ter conquistado a maior capital do país, São Paulo.

Renda média/bairro Pont Fogaça Pont 1996

Menos mil reais 48,7 47,3 52,7

Mil a dois mil reais 44,5 51,7 52,4

Dois a quatro mil reais 37,9 58,9 48,1

Mais de quatro mil reais 28,5 68,4 40,4

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Seção 5.3

As eleições gerais de 2006

5.3.1 A CAMPANHA ELEITORAL

A campanha eleitoral de 2006 foi um tanto atípica se comparada com a de 2002. Per-

cebeu-se a existência de um sentimento muito grande de indiferença e apatia. A primeira

razão que pode justificar es te fato relaciona-se, principalmente, à frustração quanto à ex-

pectativa criada com o “novo”, um presidente oriundo das classes populares, que se apre-

sentou como uma alternativa ao governo de FHC (desgastado pelo estabelecimento de uma

política econômica neoliberal). Lula representava o anseio e a esperança que acabou não se

confirmando, na ótica de muitos.

A segunda razão está relacionada diretamente ao descrédito nas instituições políti-

cas, decorrentes dos escândalos de corrupção dos últimos tempos. É claro que a corrupção

não é um privilégio deste governo. É preciso afirmar que os escândalos de corrupção ocorri-

dos durante o governo Lula são incipientes comparados com aqueles protagonizados nas

gestões anteriores (mal de origem da cultura política brasileira). A terceira refere-se à lei

eleitoral, que se tornou mais severa, eliminando das ruas os brindes (camisetas, bonés,

shows...) e, ao mesmo tempo, a alegria e a fonte de renda de muitos brasileiros.

Os números

Em 2006 o Brasil consolidou a democracia eleitoral ao alcançar a quinta eleição geral

consecutiva. Estiveram aptos a votar aproximadamente 126 milhões de brasileiros, 11 mi-

lhões a mais se comparado com as eleições gerais de 2002, quando mais de 115 milhões de

brasileiros estavam aptos a votar.6 Nos 26 Estados da Federação, 29 partidos concorreram

6 Segundo estimativa do ex-presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Carlos Velloso, dez milhões dos 125,9 milhões de eleitoresconvocados para votar em 1º de outubro (8%) eram pessoas inexistentes. Estes percentuais eram decorrentes do cadastro nacional deeleitores que se encontra desatualizado. Há mais de 20 anos não há atualização no sistema.

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106

com seus 19.619 candidatos a 1.627 vagas.7 Um ponto positivo foi o aumento do percentual

da participação dos eleitores jovens. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, a participação

dos eleitores de 16 e 17 (faixa etária em que o voto é facultativo) anos aumentou em 39% em

relação às eleições 2002.

Os candidatos mais competitivos

Lula, buscando a reeleição, e Geraldo Alckmin, do PSDB, apresentaram-se como os

candidatos mais competitivos. Em todos os institutos de pesquisas (Ibope, DataFolha e

Sensus) o candidato petista aparecia à frente.

Apresentamos a seguir algumas razões fundamentais para esta preferência.

a) as políticas sociais: a atuação do governo tendo como prioridade as políticas sociais que

atingiram os menos favorecidos (Bolsa Família), beneficiando 11 milhões de famílias, prin-

cipalmente na região Nordeste do país. Estes programas, embora sejam paliativos, não

deixam de ser uma política eficiente de distribuição de riqueza. Pode-se citar ainda o

Prouni (Programa Universidade para Todos), possibilitando a jovens de baixa renda aces-

so à universidade. O governo concedeu aumento ao salário mínimo que passou para R$

350,00, que entrou em vigor no mês de abril de 2006, para R$ 415,00 a partir de 1º de

maio de 2008;

b) a utilização da máquina pública, de certa forma, facilita a reeleição dos candidatos que

se encontram à frente do Executivo ou do Legislativo.8 Exemplo, o próprio Lula utilizou

deste benefício (andando, segundo ele próprio, no “limite da lei”);

c) o próprio carisma de Lula, passando a imagem de uma pessoa que se identifica com o

povo excluído, sendo ele mesmo um deles;

7 Segundo o Juiz do TRE-SP, José Joaquim dos Santos, as eleições gerais acabavam custando aos cofres públicos cerca de 20 bilhões dereais.

8 Dos 27 governadores eleitos em 2006, 14 foram reeleitos. Dos 513 deputados eleitos, 241 são novos, o que dá uma taxa de renovaçãonacional de 46,9%.

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d) a atuação do presidente no cenário internacional: o importante papel do Brasil no cená-

rio internacional, principalmente na América Latina, Lula fazendo a ponte entre Chávez,

Morales, Vásquez e Kirchner;

e) o Lulismo. A figura do presidente transcende a de seu partido, o PT. Ao reforçar seu ônus

eleitoral, Lula mostrou também que não é refém do partido. Pelo contrário, é o PT que não

pode abrir mão do presidente eleito.

Os resultados: Primeiro Turno

Contando com um moderno sistema tecnológico de votação (urna eletrônica), as elei-

ções de 2006 superaram as expectativas no quesito eficiência na votação e no escrutínio.

Na mesma noite da votação já tínhamos quase todo o quadro eleitoral configurado e as

apurações já nos esclareciam como se definiria o primeiro turno.

As eleições de 2006 tiveram o menor índice de abstenção, se comparadas com os últi-

mos pleitos. Nesse primeiro turno deixaram de votar 21.092.511 cidadãos, o que corresponde

a 16,75% do eleitorado brasileiro. Do eleitorado aproximado de 126 milhões de pessoas ha-

bilitadas para o voto, compareceram às urnas pouco mais de 104,8 milhões (83,25%). Deste

total, foram considerados válidos 95.996.733 votos (91,58%). Votaram em branco 2,8 mi-

lhões de eleitores (2,73%) e outros 5,9 milhões anularam seu voto (5,68%).

Mesmo com a larga vantagem apontada nas pesquisas sobre o candidato tucano, a

vitória de Lula no dia 1º de outubro de 2006 não se concretizou. Na mesma noite, às

22h26min, o candidato petista reconhecia, por seus porta-vozes, que não vencera o pleito e

ao mesmo tempo já indicava quais seriam as estratégias da campanha eleitoral para o se-

gundo turno.

No que concerne à não-reeleição do presidente Lula no primeiro turno, podemos fazer

algumas análises no intuito de detectar quais foram as possíveis causas da não-efetivação

da esperada vitória petista na primeira etapa:

a) Não-comparecimento ao debate televisivo final. Até o último momento o candidato man-

teve a dúvida se participaria ou não do debate. A opção pelo não-comparecimento cau-

sou certa indecisão no eleitorado. Todos esperavam a presença do presidente para o es-

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clarecimento dos fatos e das denúncias ocorridas contra seu governo. A omissão de Lula

significou uma perda de prestígio e indignação para um eleitorado que exigia explicações

das falhas éticas do seu governo.

b) A compra do dossiê e a mala de dinheiro. Além de todos escândalos e supostos envolvimentos

governamentais em fraudes e corrupções no mandato de Lula, o caso do Dossiê Vedoin

influenciou muito a opinião pública, especialmente nos últimos dias antes da eleição. As

fotos do dinheiro que seria usado por petistas para a compra de dossiê contra o candidato

tucano José Serra (PSDB) vazaram para imprensa dois dias antes do pleito. Havia toda

uma expectativa em torno da confirmação e do aparecimento desse dinheiro (foram apre-

endidos pela Polícia Federal, no dia 15 de setembro, cerca de R$ 1,75 milhão que estavam

com os petistas Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha).

c) O clima de “já ganhou”. Podemos elencar também os números apontados pelo Ibope dias

antes da eleição, que colocavam Lula com 24 pontos percentuais à frente do tucano Ge-

raldo Alckmin. Estes dados podem ter causado um clima de “já ganhou” na coordenação

eleitoral do PT, motivando um certo “esfriamento” da campanha.

d) A influência da mídia. Alguns especialistas vão ainda mais longe, dizendo que foi o “mas-

sacre da mídia” que levou a eleição para o segundo turno. Parte dos meios de comunica-

ção teria adotado uma posição partidária, perdendo a objetividade, o equilíbrio e a isen-

ção que se espera da imprensa numa sociedade democrática. Isso não teria ocorrido com

toda a mídia. Ao longo de toda a campanha alguns veículos de comunicação teriam agido

como um partido de oposição. Isso teria se agravado muito nos últimos 10 dias do 1º

turno.

No final, Lula recebeu 46.662.365 votos (48,79%), precisando de pouco mais de 1,2%.

Alckmin recebeu 39.968.369 votos (41,4%); Heloísa Helena somou 6.575.393 votos (6,85%),

seguida por Cristovam Buarque, que recebeu 2.538.844 votos (2,6%).

Segundo Turno

Como vimos, o candidato derrotado à Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB), conse-

guiu uma façanha pouco comum na política, ao terminar o segundo turno com menos votos

do que obteve no primeiro. Alckmin atingiu 39,9 milhões de votos na primeira etapa (41,4%)

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e fechou a campanha do segundo turno com 37,5 milhões (39,17% dos votos válidos),

totalizando uma perda significativa de 2,4 milhões de votos. Conforme dados do Datafolha,

14% dos eleitores que votaram no candidato tucano no primeiro turno migraram para Lula

no segundo. Assim sendo, Alckmin acabou perdendo seus próprios eleitores e não conse-

guiu absorver os votos dos candidatos derrotados no primeiro turno. Tal feito teria ocorrido

porque parte dos eleitores acabou votando em Alckmin como forma de protesto contra Lula.

Além disso, o candidato tucano não conseguiu consolidar uma alternativa melhor do

que a do atual presidente e, igualmente, não conquistou a mesma aproximação e o carisma

com o eleitor da mesma forma que Lula, que já possui uma imagem conhecida e tem enorme

facilidade de comunicação com as massas. Lula venceu no segundo turno com a maioria

dos votos dos candidatos que não foram ao segundo turno e ainda ganhou votos que foram

consagrados ao seu oponente no 1º turno.

Lula, no primeiro turno, totalizou 46,6 milhões de sufrágios. Ao final da apuração da

segunda rodada, obteve mais de 58,2 milhões de votos (60,83% dos votos válidos), um acrés-

cimo de mais de 11 milhões.

O presidente reeleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT/PRB/PCdoB), derrotou o seu ad-

versário, Geraldo Alckmin (PSDB/PFL), em 19 Estados e no Distrito Federal (DF). Os dados

mostram que o petista conseguiu reverter a situação nos Estados do Acre, Goiás, Rondônia

e no Distrito Federal, onde ele havia perdido votos para Alckmin no primeiro turno.

Alckmin manteve a liderança no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio Grande do

Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Roraima, embora Lula tenha reduzido

percentualmente a diferença em todos esses Estados. No Acre, por exemplo, Alckmin havia

vencido, no primeiro turno, com 51,79% contra 42,62% de Lula. No segundo turno Lula

obteve 52,37% dos votos e, Alckmin, 47,63%. A maior votação que Lula obteve no segundo

turno foi dos eleitores do Estado do Amazonas, com 86,80% dos votos. Ele ampliou a dife-

rença que havia no primeiro turno, quando alcançou 78,06% dos votos e, Alckmin, 12,45%.

A pior votação do candidato petista ocorreu no Estado de Roraima, onde obteve 38,51% dos

votos. Foi nesse Estado que Alckmin teve sua melhor votação: 61,49% dos votos. Luiz Inácio

Lula da Silva também foi o mais votado no segundo turno das eleições em 20 capitais brasi-

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leiras, de acordo com os números divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já o

candidato Geraldo Alckmin recebeu mais votos que o adversário em sete capitais: Maceió,

Campo Grande, Curitiba, Porto Alegre, Boa Vista, Florianópolis e São Paulo.

No primeiro turno Lula havia sido o primeiro colocado em 15 capitais e Alckmin em

12. O cruzamento entre os resultados obtidos nos dois turnos mostra que, no segundo tur-

no, o petista passou à frente do adversário em cinco capitais onde o desempenho do PSDB

havia sido melhor no primeiro turno: Rio Branco, Brasília, Goiânia, Cuiabá e Aracaju.

Na capital federal, por exemplo, Lula recebeu 56,96% dos votos válidos no segundo

turno, contra 43,04% de Alckmin. No primeiro turno o candidato tucano havia ficado em

primeiro lugar, com 44,11% dos votos válidos. Já Lula havia obtido 37,05%, uma diferença

de 19,91 pontos percentuais em relação à votação obtida no segundo turno. Na cidade de

São Paulo, capital, Geraldo Alckmin venceu no primeiro e segundo turnos: 3.384.767

(53,87%) e 3.485.245 (54,42%), respectivamente, no entanto foi visível o crescimento do

candidato Lula na mesma capital: Lula fez no primeiro turno 2.243.168 (35,70%) e, no se-

gundo, 2.918.996 (45,58), um crescimento em torno de 10 pontos.

PT vitorioso?

Apesar de ter conquistado a Presidência da República, cinco governos estaduais, e ter

elegido a segunda bancada da Câmara de Deputados (83), não significa que o PT tenha

saído vitorioso das eleições 2006. Pelo contrário, os votos dados ao PT declinaram na Câma-

ra Federal em 2,1 milhões se comparados com as eleições de 2002, quando totalizaram 16,09

milhões contra 13,99 milhões de 2006. Isto significa afirmar que o PT perdeu no Congresso

Nacional 13% de seu eleitorado entre uma eleição e outra. As perdas mais significativas

deram-se no Sul, 675 mil a menos (-22%) e no Sudeste, menos 1,90 milhão de votos (-23%).

Somente no Estado de São Paulo o declínio foi de 1,06 milhão de votos (-21,5%). O declínio

poderia ter sido maior caso as regiões Norte e Nordeste do país não houvessem incrementado

a votação pró-Lula. No Nordeste o PT fez 374 mil votos a mais (13%) e no Norte 207 mil

votos (31%), se comparado com 2002.

Se traçarmos um paralelo entre o voto petista no Congresso Nacional e o voto petista

para presidente, constata-se que a votação de Lula foi duas vezes maior do que os votos

atribuídos aos candidatos petistas a deputado federal. Lula fez nas eleições de 2006 mais de

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46.662 milhões de votos (48,6%) no primeiro turno contra 13,9 de votos para o Congresso.

Se compararmos ainda os votos recebidos por Lula nas eleições de 2002 com as eleições de

2006, percebe-se que houve um crescimento interessante, passando de 39,45 milhões em

2002 para 46,66 milhões em 2006, um crescimento de 7,20 milhões de votos (um acréscimo

de 18,26%).

Tabela 11

Fonte: TSE.

Segundo a pesquisa CNI/Ibope divulgada no dia 30 de junho de 2008, a popularidade

do presidente Lula e a aprovação do seu governo continuam altas. A pesquisa mostra núme-

ros positivos, tanto para a avaliação do presidente quanto para seu governo. No total, 72%

dos entrevistados aprovam a maneira do presidente governar o país. Da mesma forma, o

governo do petista registrou avaliação positiva de 58% dos entrevistados.9

Seção 5.4

Eleições municipais de 2008

As eleições municipais de 2008 constituíram novamente uma oportunidade ímpar de

exercer o direito de escolher as pessoas que estarão à frente do poder público nos próximos

quatro anos. Foi a ocasião de escolher as melhores propostas para administrar (prefeitos) e

legislar (vereadores) os nossos municípios.

Primeiro Turno (em milhões) 2002 2006 Diferença em votos

Diferença (%)

Votos para candidatos petistas no Congresso Nacional (deputados)

16.094 13.990 -2.104 -13,07

Votos para o candidato petista para a Presidência da República

39.455 46.662 +7.207 +18,26

9 “CNI/Ibope mostra que 58% avaliam positivamente governo Lula”. Por Gabr iela Guerreiro, da Folha Online, em Brasília. Fonte:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u417699.shtml>. Acesso em: 30 jun. 2008.

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Milhares de candidatos disputaram o cargo de prefeito em 5.563 municípios em todo o

país. Para os postos das Câmaras Municipais estavam em jogo 51.748 vagas. Estiveram

aptos a votar nas eleições de 2008, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 128.805.829

eleitores em todo o Brasil.10 A seguir, uma análise dos resultados em âmbito nacional, Esta-

do (Rio Grande do Sul) e município (Ijuí).

Brasil

Em âmbito nacional, os resultados eleitorais revelam que os partidos de oposição ao

governo Lula (PSDB, DEM e PPS) tiveram reduzidos seus votos em todo o país, enquanto

que os governistas, principalmente o PT e o PMDB, saíram fortalecidos das eleições 2008. O

PMDB foi o campeão de votos em todo o país, alcançando a marca de 18, 4 milhões, seguido

pelo PT, que alcançou 16,5 milhões de votos.11 O PT passou de 391 prefeituras para 548

(uma evolução positiva de 157 prefeituras). Das 15 capitais brasileiras que estavam com os

resultados definidos no primeiro turno o PT já havia elegido 6 prefeitos e ainda disputou o

segundo turno em três capitais: São Paulo, Salvador e Porto Alegre. O PSB, o PTB, o PCdoB

e o PV também tiveram um crescimento significativo nas eleições municipais de 2008, con-

quistando, ao todo, 3.360 prefeituras contra 1.852 administradas por partidos da oposição.

O PSDB, o PPS e o DEM vão administrar 1.761 prefeituras a partir de 2009.

Entre os partidos que tiveram reduzidos seus votos, aparece o DEM, que encolheu em

todo o país, passando de 790 para 495 prefeituras, uma perda de 295. Juntamente com o

DEM, o “car lismo” sofreu mais uma derrota com ACM Neto em Salvador – BA, não indo

para o segundo turno.

Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul houve crescimento do PT, PMDB e PP. Dos 50 maiores municí-

pios gaúchos o PT venceu em 14. Ampliou de 43 para 60 prefeituras e ainda concorreu no

segundo turno nos municípios de Canoas, Pelotas e Porto Alegre. Na região metropolitana

10 Nestes números não estão computados os votantes do Distrito Federal, que não participam das eleições municipais.

11 Nas eleições anteriores essa marca foi batida pelo PSDB e pelo PT, respectivamente.

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os petistas passaram a comandar 6 dos 10 maiores municípios. Da mesma forma, o PMDB

subiu de 136 para 143 prefeituras no Estado e ainda conquistou as prefeituras de Santa

Maria e Caxias do Sul. O PP será a sigla com maior número de prefeituras a partir de 2009,

pois conquistou 146 prefeituras em 2008, 12 a mais que em 2004. O PP é, no entanto, um

partido dos pequenos municípios, com exceção da conquista do município de Lajeado. Por

outro lado, o PDT foi o partido que mais perdeu votos: de 97 prefeituras em 2004 recuou

para 64 em 2008. Individualmente temos a derrota de Ronchetti em Canoas e Otávio Germano

em Cachoeira do Sul, que não deixaram sucessores.

Ijuí

Nas eleições municipais de 2008 Ijuí contou com 58.553 eleitores (75,71%) do total de

77.335 mil habitantes (TRE). Os resultados da votação deram a vitória ao candidato

Fioravante Ballin, da coligação “Frente Popular Trabalhista” (PDT/PT/PTB/PV) com 21.451

votos (45,47%), contra o segundo colocado, Júnior Carlos Piaia, da coligação “Mais por

Ijuí” (PCdoB/PMDB/PSB/PPS) com 19.389 votos (41,1%); em terceiro lugar ficou Marco

Ferreira, da coligação “Ijuí Novo Tempo” (PP/PSDB), com 6.335 votos (13,43%).

Dos 58.553 eleitores aptos a votar no município, 49.515 (84,56%) compareceram às

urnas, numa abstenção de 9.038 votantes (15,44%). O número total de votos válidos para

prefeito foi de 47.175 (92,27%), os votos nulos somaram 1.244 (2,51%) e os brancos 1.096

(2,21%). Já para vereador o percentual de votos válidos foi maior: 47.377 (95,68%), com 700

(1,41%) votos nulos e 1.438 (2,90%) brancos.

Se compararmos as eleições municipais de 2008 com as de 2004, teremos os seguintes

dados: em 2004 o eleitorado apto a votar em Ijuí era de 56.242; destes, 48.454 (86,15%)

compareceram, numa abstenção de 7.788 eleitores (13,85%). O número total de votos váli-

dos para prefeito em 2004 foi de 46.489 (95,94%); os votos nulos somaram 1.175 (2,42%) e

os brancos 790 (1,63%). Já para vereador o percentual de votos válidos foi maior: 47.048

votos (97,09%), com 543 nulos (1,21%) e 863 brancos (1,78%).

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Tabela 12: Eleitorado – votos válidos em Ijuí (e lei ções 2008)

Fonte: TRE.

Constata-se que o percentual de abstenção (votos brancos e nulos para prefeito e

vereador) das eleições 2008 foi maior que o das eleições 2004. A razão para tais índices pode

estar ligada à crescente descrença e repulsa do eleitorado ante as instituições políticas, bem

como a desaprovação dos candidatos na composição das alianças entre partidos que até

pouco tempo eram adversários. Houve, neste sentido, a inegável punição do eleitorado di-

ante das alianças partidárias pouco usuais, fazendo com que o eleitor não comparecesse às

urnas, votasse em branco ou anulasse seu voto.

Na Câmara de Vereadores houve uma sensível renovação do quadro. A Casa passa a

ter, a partir de 2009, cinco novos vereadores (uma renovação de 50%) de um total de 10,

além de contar com duas mulheres no Legislativo. O PDT somou 19.314 votos na proporci-

onal (soma dos votos nominal e da legenda), conquistando 5 vagas. Os eleitos do PDT

foram: Chico Seifert (2.488 votos), Pezzetta (2.458 votos), Marcos Barriquello (2.443 votos),

Helena Stumm Marder (1.492 votos) e Luiz Varaschini (Tito), com (1.386 votos). O PMDB

somou 6.801 votos na proporcional e fez jus a uma vaga, elegendo Daniel Perondi com

2.401 votos. Da mesma forma, o PP fez 5.932 votos, reelegendo o candidato Rubem Jagmin,

com 1.418 votos. A outra vaga foi para o PCdoB, que fez 4.597 votos elegendo Rosane

Simon, com 1.598 votos. O PSB somou 1.949 votos elegendo César Busnello com 1.360

votos. A última vaga foi conquistada pelo PSDB, que somou 2.407 votos elegendo o candi-

dato Gladimir Ribeiro da Silva com 1.296 votos.

Ijuí 2004 2008

Eleitores aptos 56.242 58.553

Comparecimento 48.454 (86,15%) 49.515 (84,56%)

Abstenção 7.788 (13,85%). 9.038 (15,44%)

Votos válidos/prefeito

46.489 (95,94%). 47.175 (92,27%).

Nulos 1.175 (2,42%) 1.244 (2,51%)

Brancos 790 (1,63%). 1.096 (2,21%).

Votos válidos/vereador

47.048 (97,09%) 47.377 (95,68%)

Nulos 543 (1,21%) 700 (1,41%)

Brancos 863 (1,78%). 1.438 (2,90%)

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Tabela 13: Vereadores ele itos (eleições 2008)

Fonte: TRE.

Se compararmos com as eleições 2004, percebe-se que o PDT manteve as mesmas

vagas, o PP perdeu 1 vaga; o PT perdeu 2 e o PMDB manteve 1 vaga.

Das 182 seções do município, Ballin venceu em 113 e Júnior Piaia em 68, com um

empate na seção 237, no Bairro Burtet. O desempenho do candidato Ballin foi melhor nos

bairros localizados ao norte da cidade (principalmente nos bairros São José, Luiz Fogliatto,

Boa Vista, Tancredo Neves, Glória e Modelo). Teve bom desempenho também ao leste (bair-

ro Assis Brasil), ao sul (bairro Progresso) e no interior (expressiva vitória). Por outro lado, o

desempenho do candidato Júnior Piaia foi melhor no centro da cidade e na região oeste

(principalmente nos bairros Lulu Ilgenfritz e São Geraldo).

Confira os resultados eleitorais por bairro. Veja na Tabela14 a seguir que Ballin venceu

em 19 bairros da cidade, enquanto que Piaia em 8. Chama a atenção que no centro deu

empate.

Partido Nome Colocação Situação

PDT Chico Seifert 1º Eleito

PDT Pezzetta 2º Eleito

PDT Barriquello 3º Eleito

PMDB Perondi 4º Eleito

PC do B Rosane 5º Eleito

PDT Helena Marder 6º Eleito

PP Jagmim 7º Eleito

PDT Luiz Varaschini 8º Eleito

PSB César Busnello 9º Eleito

PSDB Gladimir 10º Eleito

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Tabela 14: Votação por bairro em Ijuí (eleições 2008)

Fonte: Elaboração do autor a partir dos dados do TER.

Na unidade final procuramos tratar das eleições no Brasil (2002-2008), avaliando o

desempenho dos partidos com maior expressão em âmbito nacional (PMDB, PT, PSDB e

DEM). Dos dados pode-se extrair as seguintes conclusões:

2002:

a) A inédita vitória do PT (partido mais de esquerda no espectro político). Mais especifica-

mente de Lula, depois de três tentativas consecutivas.

b) Um governo, no entanto, que mantém a mesma política econômica do governo anterior

(FHC), o que acarretou certa frustração para boa parte do eleitorado.

c) O governo Lula (primeiro mandato) manteve a política econômica e desenvolveu políti-

cas sociais (Bolsa Família).

Bairro Número de seções Votos Balin Votos Piaia Votos Diferença Alvorada 2 357 323 34 Pró-Balin

Assis Brasil 10 1.540 1.360 180 Pró-Balin Boa Vista 4 515 341 174 Pró-Balin Burtet 9 1136 1.070 66 Pró-Balin Centro 31 2.927 2.927 Empate

Elizabeth 2 270 275 5 Pró-Piaia Ferroviário 1 95 65 30 Pró-Balin Getúlio Vargas 5 726 687 39 Pró-Balin Glória 6 889 637 252 Pró-Balin

Industrial 4 403 443 40 Pró-Piaia Interior 27 2924 1996 928 Pró-Balin Jardim 5 603 557 46 Pró-Balin

Lambari 1 128 186 58 Pró-Piaia Luiz Fogliatto 4 741 480 261 Pró-Balin

Lulu Ilgenfritz 2 231 281 50 Pró-Piaia Modelo 8 947 918 29 Pró-Balin Morada do Sol 2 286 256 30 Pró-Balin Osvaldo Aranha 5 652 643 9 Pró-Balin

Penha 12 1220 1.198 22 Pró-Balin Pindorama 2 204 226 22 Pró-Piaia Progresso 3 344 323 21 Pró-Balin

15 de Novembro 1 160 139 21 Pró-Balin São Geraldo 10 1175 1.417 242 Pró-Piaia São José 10 1184 1.016 168 Pró-Balin Storch 3 270 285 15 Pró-Piaia

Tancredo Neves 5 589 403 186 Pró-Balin Thomé de Souza 7 867 889 22 Pró-Piaia

Universitário 1 68 48 20 Pró-Balin Total 182 21.451 19.389 2.062 Pró-Balin

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2004

a) PT, PSDB, PMDB e DEM continuam sendo os partidos que alcançam o maior número de

votos.

b) Destaque ao PT, que vence em um número expressivo de prefeituras.

c) PSDB vence na capital paulista (vitrine nacional).

d) No RS, PMDB e PP são os maiores partidos.

e) PT perde a capital do Estado depois de 16 anos de hegemonia.

2006

a) A polarização entre PT e PSDB continua em âmbito nacional.

b) Lula se reelege no segundo turno.

c) O lulismo se fortalece e o petismo encolhe.

2008

a) Os partidos da base governista saem fortalecidos (PT e PMDB). Destaque ao PMDB.

b) Vitória do DEM na capital paulista, São Paulo (com apoio de José Serra).

c) No RS, PMDB e PP continuam sendo os maiores partidos.

d) O PMDB vence na capital gaúcha com José Fogaça.

e) PT vence em 6 cidades da Região Metropolitana.

f) Em Ijuí, vence novamente o PDT.

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