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TEMPO TERMO-HÍDRICO E A GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Eucalyptus
grandis W.HILL ex MAIDEN EM DIFERENTES POTENCIAIS DE ÁGUA E
TEMPERATURAS INFRA-ÓTIMAS
Victor José Mendes Cardoso1
RESUMO – Num cenário de mudanças ambientais, é comum o uso de modelos matemáticos
para descrever a germinação de sementes em função do potencial hídrico e temperatura. Neste
trabalho usou-se um modelo baseado nos conceitos de “tempo térmico” (thermal time) e
“tempo hídrico” (hydrotime) para descrever a germinação de sementes de Eucalyptus grandis
em diferentes potenciais osmóticos e temperaturas infra-ótimas, em condições de laboratório.
Os resultados mostraram que os principais pressupostos do modelo – linearidade da resposta à
temperatura, independência dopotencial hídrico base (b(G)) em relação à temperatura e
temperatura mínima (Tb) constante – foram atendidos, permitindo uma boa descrição da
germinação em condições controladas de e temperatura. Propõe-se que os parâmetros do
modelo possam ser utilizados para comparar sementes de diferentes origens e/ou condições
fisiológicas.
Palavras chave: Eucalipto; Graus-dia; MPa-dia.
HYDROTHERMAL TIME AND THE GERMINATION OF Eucalyptus grandis
W.HILL ex MAIDEN SEEDS UNDER DIFFERENT WATER POTENTIALS AND
INFRA-OPTIMAL TEMPERATURES
ABSCTRACT – In a scenario of environmental changes, mathematical models have been
employed to describe the seed germination in response to water potential and temperature. In
this work a thermal and hydrotime based model was used to describe the germination of
Eucalyptus grandis seeds at different osmotic potentials and infra-optimal temperatures in
controlled conditions. The results showed that the main model assumptions – linearity of seed
response to temperature, independence of the base water potential (b(G)) in relation to
temperature and base temperature (Tb) constant– were attempted, allowing the germination
time courses at controlled and temperatures could be well described. One suggests that
model parameters could be used to compare eucalyptus seeds from different provenances
and/or physiological conditions.
Key words: Eucalipt; Degree-days; MPa-days.
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1. INTRODUÇÃO
A germinação é uma etapa crítica para a sobrevivência da maioria das fanerógamas,
sendo extremamente sensível a fatores ambientais como a temperatura e, principalmente, a
água. A variação conjunta desses fatores pode atuar como sinal do ambiente físico,
permitindo à semente ajustar seu metabolismo, assim evitando ou minimizando possíveis
estresses (BEWLEY et al., 2013). Desse modo, a compreensão dos efeitos da temperatura e
da água (caracterizada por seu potencial químico) sobre o processo de germinação é de suma
importância para o manejo de espécies e populações vegetais, além, é claro, do conhecimento
dos processos fisiológicos. Na busca de modelos de caráter mais ou menos geral que
descrevam a resposta do sistema àsinúmeras doses e combinações de fatores às quais as
sementes estão normalmente expostas no meio ambiente, os pesquisadores recorrem a ensaios
em condições controladas. Modelos baseados no conceito de “graus.dia” (thermal-time) são
ferramentas que permitem, a partir de experimentos relativamente simples em laboratório,
estimar o tempo necessário para a germinação de uma semente em diferentes combinações de
temperatura e potencial de água do meio, com base em alguns poucos parâmetros retirados de
tais ensaios (BRADFORD, 2002; MEYER et al., 2000), além de abrir a possibilidade de se
prever a emergência de plântulas sob condições variáveis de temperatura e umidade do solo.
O modelo conhecido como hydrothermal time (em tradução livre, “tempo termohídrico”)
combina os efeitos da temperatura e potencial hídrico para descrever as curvas de germinação
de uma grande variedade de espécies vegetais, tanto em termos de capacidade como de
velocidade de germinação (WATT et al., 2010). De acordo com o modelo, em temperaturas
situadas entre um limite térmico inferior (Tb) – abaixo do qual a germinação não ocorre – e a
temperatura ótima (To), a distribuição dos tempos de germinação é proporcional às diferenças
entre a temperatura (T) e o potencial de água do meio () em relação aos respectivos limiares
Tb e b, este último descrito como o potencial hídrico abaixo do qual a semente é incapaz de
germinar (GUMMERSON, 1986). Com base na equação que descreve o modelo, HT = (T-
Tb)(-b(G))tG(equação 1),a distribuição dos tempos de germinação (tG) é expressa
matematicamente como tG = HT/[(-b(G)).(T-Tb)], onde HT representa a constante psi-
graus-dia ou hydrothermal time (WATT et al., 2010).O modelo assume que Tb é constante
para todas as sementes e que apenas a distribuição de b(G) dentro da população responde
pela variação dos tempos de germinação, pressupondo-se ainda a independência entre Tb e ,
e entre b(G) e T, o que provavelmente nem sempre ocorre (BRADFORD, 1995).
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Assumindo-se, portanto, que o curso da germinação é função da distribuição de b(G),
se essa distribuição for gaussiana a mesma pode ser descrita a partir de uma média (b(50)) e
de um desvio padrão (b), sendo que tais parâmetros, juntamente com HT e Tb, podem
fornecer as ferramentas básicas para um estudo comparativo e para a descrição do
comportamento germinativo de diferentes populações e/ou espécies (WATT et al., 2010). A
técnica de análise probítica (FINNEY, 1952) é uma ferramenta estatística que vem sendo
empregada desde Gummerson (1986) com o propósito de se determinar de maneira
relativamente simples os parâmetros da distribuição de b(G) de acordo com a equação (2):
b(G) = b(50)+probit(G).b (WATT et al., 2010). O método consiste em combinar numa
única regressão os dados das curvas de germinação (tempo e respectivas porcentagens
acumuladas de germinação, G, transformadas em probits) nas diferentes temperaturas e
potenciais de água, de modo que o eixo X seja representado por b(G) e o eixo Y pelos
respectivos probit(G) (BRADFORD, 1995). No caso, para o ajuste do modelo, os valores de
b(G) na equação (2) devem ser substituídos pela expressão correspondente,b(G) = -
HT/[(T-Tb)tG], obtida a partir da equação (1), sendo que diferentes valores de HT são
experimentados até se obter o maior coeficiente de determinação (R2) na reta de regressão
(BRADFORD, 2002; CARDOSO, 2013).
Além de modelar a germinação, os parâmetros dos modelos baseados no conceito de
“limiares”, tais como Tb e b(G), parecem ter uma base fisiológica. É o caso de b(G), que
responderia não apenas pela resposta da semente ao potencial hídrico, indicando sua
sensibilidade ao do meio, mas também indicaria o grau de dormência dentro de uma
população de sementes, de modo que tratamentos de quebra de dormência – como hormônios
– provocariam um desvio na distribuição de b(G) em direção a valores mais negativos
(BRADFORD, 1995; ALLEN; MEYER, 1998). Assim, quanto mais perto dos limiares
estiveram as variáveis ambientais e T, menos “tempo fisiológico” (graus-dia, psi-graus-dia)
seria acumulado por unidade de tempo calendário e mais tempo a semente levaria para
germinar (FINCH-SAVAGE, 2004). Tais limiares devem operar como etapas limitantes da
velocidade de germinação e emergência da plântula no campo, evitando assim condições
potencialmente desfavoráveis ao desenvolvimento futuro da planta (FINCH-SAVAGE, 2004).
O gênero Eucalyptus (MYRTACEAE) ocorre naturalmente na Austrália, Indonésia e
ilhas próximas, englobando cerca de 600 espécies e subespécies de ampla plasticidade e
dispersão mundial, crescendo satisfatoriamente em inúmeras situações edafoclimáticas
(MAXIMO, 2010). Por outro lado, o emprego do eucalipto com propósitos industriais tem se
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restringido a relativamente poucas espécies, entre elas E. grandis. O eucalipto é utilizado para
os mais diversos fins, como fonte de celulose para papel, lenha, carvão, construção civil e
óleos para indústrias farmacêuticas. No Brasil, a área plantada com eucalipto é estimada em
2,9 milhões de ha. (MAXIMO, 2010). Considerando-se a importância econômica do
eucalipto, não é surpresa constatar que a literatura científica sobre a cultura esteja voltada
mais paraprodutos e produtividade do eucalipto, sendo encontrados relativamente poucos
artigos relacionados à ecofisiologia da germinação. Schutz et al. (2002), compararam a
resposta germinativa de sementes de quatro espécies de eucalipto, duas ocorrentes em solo
laterítico-limoso e duas em solo arenoso na Austrália, constatando que a resposta à luz
pareceu mais importante para a separação de nichos de regeneração do que a resposta à
temperatura e água. Lopes et al. (2000), por sua vez, analisaram o efeito da temperatura e
estresse hídrico na germinação de sementes heteromórficas de E. globulus, ao passo que
Martins et al. (2014) testaram a resposta de sementes de E. grandis a diferentes potenciais
osmóticos. Em E. grandis, os sintomas de deficiência hídrica são mais visíveis nas fases
iniciais do desenvolvimento, observando-se também uma relação entre germinação e
crescimento inicial da planta quanto a resposta ao estresse hídrico, ainda que tal relação não
seja tão evidente como em E. camaldulensis (FAÇANHA et al., 1983).
Pouquíssimos trabalhos tratam da modelagem do desenvolvimento inicial de eucalipto,
particularmente usando-se os conceitos de tempo térmico ou hídrico. Pode-se destacar aqui
um estudo de modelagem da germinação de Eucalyptus delegatensis (BATTAGLIA, 1997), e
outro voltado para a determinação da soma térmica para o enraizamento de estacas clonais
obtidas a partir do cruzamento E. grandis x E. urophylla (OLIVEIRA et al., 2012).
Considerando-se não apenas a falta de estudos a respeito, mas principalmente a importância
de modelos que descrevem quantitativamente a germinação com bases em limiares ou limites
mínimos de resposta, neste trabalho foi testada a adequação do modelo hydrothermal time
como descritor da germinação de sementes de Eucalyptus grandis, considerando-se a
perspectiva do uso do modelo para se fazer recomendações sobre a melhor época de
semeadura, identificar sítios seguros para a germinação no ambiente natural e, eventualmente,
investigar a qualidade fisiológica de diferentes lotes de sementes.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas sementes de Eucalyptus grandis W.Hill ex Maiden gentilmente
doadas pelo Instituto de Pesquisas Florestais (IPEF) e procedentes do município de Bofete
(SP), com índice de vigor de aproximadamente 91% e massa fresca de 1000 sementes de
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69,52,2mg. Até o momento dos ensaios, as sementes foram armazenadas em frasco plástico
à temperatura de 7 °C.
Os ensaios de germinação foram realizados em bloco de gradiente térmico
(CARDOSO, 2010), às temperaturas de 13,8; 15,8; 17,7; 19,4; 21,4; 23,5 e 25,3 °C, situadas
no intervalo térmico infraótimo. Temperaturas nessa faixa são passíveis de análise pela
equação (1) e produzem germinabilidades (porcentagem máxima de germinação) em geral
mais elevadas do que na faixa supraótima. Os potenciais de água de -0,2; -0,4; -0,6 e -0,8MPa
foram obtidos com soluções de polietilenoglicol (PEG 6000) (IMPEX), usando-se água
destilada (0 MPa) como controle. O preparo e a determinação dos potenciais osmóticos
nominais das soluções de PEG foram feitos com base em Michel e Kaufmann (1973).
Amostras contendo um número médio de 342 sementes cada foram colocadas sobre camada
dupla de papel de filtro Whatman n. 1 saturada com água ou solução e suportada por uma
canaleta plástica de 16mm largura x 200mm comprimento inserida emtubo de ensaio de
25mm de diâmetro x 250mm de comprimento. Para que o papel de filtro ficasse
permanentemente úmido, os tubos foram mantidos ligeiramente inclinados dentro do bloco
termogradiente, com um excesso de água ou solução no fundo. O experimento foi mantido em
escuro constante, exceto quando eram feitas as contagens de germinação sob luz branca
difusa. A duração do teste foi de aproximadamente 20 dias, quando a germinação (protrusão
radicular) tendia a se estabilizar. No delineamento experimental, em cada estação térmica do
bloco, constituída de cinco compartimentos dispostos verticalmente e em condições
isotérmicas (CARDOSO, 2010), foram distribuídos aleatoriamente cinco tubos de ensaio com
as sementes, cada qual com uma solução de PEG. Durante as contagens, os tubos eram
removidos dos respectivos compartimentos de cada estação térmica e realocados dentro de
cada estação sempre de maneira aleatória. Um dos compartimentos de cada estação térmica
ficava reservado para o monitoramento da temperatura, realizado com termistores PT100
conectados a um termômetro eletrônico digital (CARDOSO, 2010).
Os parâmetros temperatura base (Tb), tempo térmico médio (T(50)) e desvio do tempo
térmico () foram estimados com auxílio de planilha eletrônica, usando-se o método de
regressão probítica para determinar a variação de Tb em função do potencial osmótico. A
técnica consiste inicialmente na ordenação, para cada potencial osmótico, dos dados das
curvas de germinação isotérmica em três colunas na planilha: tempo (em dias) para a
germinação da porcentagem G (tG); porcentagem diária acumulada de germinação
transformada em probit (probit(G)); e temperatura (T) experimental (no caso, 13,8 a 25,3 °C).
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Em seguida é gerada uma reta de regressão dos valores de probit(G) sobre os respectivos
valores de tempo térmico (T) calculados de acordo com a equação T = (T-Tb).tG,
experimentando-se diferentes valores de Tb até se obter o maior coeficiente R2 da reta
(BRADFORD, 2002; CARDOSO, 2013). Técnica similar foi usada para a obtenção dos
parâmetros tempo hídrico (H) e potencial hídrico base médio (b(50)) com os respectivos
desvios (b) em função do regime térmico. Nesse caso foram ordenados, para cada
temperatura, os dados de germinação nos diferentes potenciais osmóticos, procedendo-se à
regressão de probit(G) sobre os respectivos valores de b(G), estimados de acordo com a
equação b(G) = -(H/tG), testando-se diferentes valores de H até o melhor ajuste da reta.
Finalmente, para efeito de modelagem da germinação em diferentes potenciais osmóticos e
temperaturas, combinaram-se os dados de todas as temperaturas e potenciais osmóticos,
gerando-se a reta de regressão dos valores de probit(G) sobre os respectivos b(G), calculados
agora de acordo com a equação, derivada da equação (1), b(G) = -HT/[(T-Tb)tG],
experimentando-se diferentes valores de HT até o melhor ajuste. Assim, a partir da equação
da reta, b(G) = b(50) + probit(G).b, pode-se obter os parâmetros b(50) e b, os quais
foram utilizados para gerar as curvas esperadas de germinação. Um melhor detalhamento dos
métodos empregados pode ser obtido em Bradford (2002) e Cardoso (2013). As velocidades
médias de germinação (Vm) foram calculadas com base em Labouriau (1983), a partir da
equação: Vm= ni/niti, onde ni é o número de sementes germinadas no intervalo de tempo ti.
3. RESULTADOS
Uma análise inicial do comportamento germinativo em água destilada (0 MPa) mostra
que a germinabilidade (porcentagem máxima de germinação) praticamente não variou na
faixa térmica utilizada no presente estudo, oscilando 89% e 95%, ao passo que a
velocidade média de germinação aumentou linearmente com a temperatura, atingindo o maior
valor a 25,3°C (Figura 1). A projeção da reta de regressão das velocidades médias na abscissa
indicou uma temperatura base (Tb) de 8,4 °C (Figura 1), enquanto que a Tb estimada por
intermédio da técnica de regressão probítica foi 9 °C para a germinação em água destilada
(Tabela 1).
(entra Tabela 1) (entra Figura 1)
Observou-se um decréscimo tanto na germinabilidade (Figura 2A) como na velocidade
média de germinação (Figura 2B) em função da redução do potencial osmótico do meio,
embora as taxas de decréscimo, inferidas a partir dos valores de t (Stat t, p0,01) das
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inclinações das respectivas retas de regressão, tenham sido maiores para a germinabilidade do
que para a velocidade. A partir das projeções das retas nas respectivas abscissas (Figura 2),
observa-se também que os valores estimados de nos quais nenhuma semente da amostra é
capaz de germinar foram mais negativos, dentro de cada temperatura, para a velocidade do
que para a germinabilidade. Além disso, observou-se que esses valores mínimos de potencial
osmótico variaram em função da temperatura, indo de -0,54MPa (à temperatura de 13,8 °C) a
-0,74MPa (25,3 °C) para a germinabilidade, e de -0,71MPa (13,8 °C) a -0,98MPa (25,3 °C)
para a velocidade de germinação (Figura 2).
(entra Figura 2)
O potencial hídrico base médio (b(50)) apresentou pouca variação dentro do intervalo
térmico testado, considerando-se que o coeficiente de inclinação da regressão dos valores de
b(50) sobre T não diferiram de zero (intervalo de confiança, = 5%), enquanto que a
constante hydrotime (H) tendeu a decrescer com a temperatura (Tabela 1). A redução do
do meio praticamente não alterou a temperatura base de germinação (Tb), com a inclinação da
reta de regressão de Tb sobre não diferindo estatisticamente de zero (intervalo de
confiança, = 5%), ao passo que a quantidade de graus dia necessária para que 50% das
sementes da amostra germinem ((50)) aumentou consideravelmente em potenciais osmóticos
mais negativos (Tabela 1).
A partir dos valores dos parâmetros do modelo hydrothermal time – b(50), b, HT e
Tb – obtidos para o intervalo térmico de 13,8 °C a 25,3 °C e potenciais osmóticos de 0 a -
0,8MPa (Tabela 1), foram geradas as curvas esperadas de germinação, apresentadas como
linhas contínuas na Figura 3. O modelo respondeu por 96% da variação observada, sendo
descrito pela equação (derivada das equações 1 e 2): probit(G) = [-26,7/((T-8,5).tG)]-
0,45/0,15, onde e T representam, respectivamente, os potenciais de água e temperatura
experimentais, e tG é o tempo para a germinação de uma porcentagem G expressa em probits
(probit(G)). O valor utilizado como Tb representou a média entre os potenciais osmóticos de 0
a -0,6MPa, já que o de -0,8 MPa apresentou insuficiência de dados (Tabela 1). De modo
geral, o modelo descreveu com razoável precisão a distribuição das porcentagens de
germinação ao longo do tempo (símbolos, nos gráficos) em diferentes combinações de
potencial osmótico e temperatura infraótima, conforme exemplificado na Figura 3.
(entra Figura 3)
4. DISCUSSÃO
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O fato da capacidade de germinação ter permanecido praticamente constante no
intervalo térmico assegura que os valores de velocidade média de germinação das sementes de
Eucalyptus grandis em água destilada nas diferentes temperaturas sejam comparáveis entre si,
de acordo com o critério de Lang (LABOURIAU, 1983). Considerando-se que tal
característica descreve um comportamento quase geral da dependência-T da germinação em
temperaturas situadas entre a mínima e a ótima (LABOURIAU, 1983), pode-se considerar
efetivamente como infra-ótimo o intervalo térmico utilizado nos ensaios de germinação do
lote de sementes de eucalipto testado neste trabalho. Com relação ao limite térmico inferior da
germinação, além dos valores apurados neste trabalho (8,4 °C/9 °C), não foram encontradas
na literatura estimativas de Tb para a germinação de E. grandis em água destilada, embora
Martins et al. (2007) tenham estimado uma temperatura base de 10 °C para a emissão de
folhas em mudas dessa espécie, obtidas de sementes colhidas em Santa Maria (RS), o que
sugere que a sensibilidade à temperatura nas fases iniciais do desenvolvimento da espécie
pode variar dependendo do estágio ou etapa considerado. Em relação a esse aspecto, por outro
lado, Façanha et al. (1983) observaram a existência de uma relação entre germinação e
crescimento inicial de E. grandis em termos de resposta ao déficit hídrico, de modo que
inferências a partir de estudos de germinação sobre o efeito de fatores ambientais em fases
posteriores do desenvolvimento deve levar em conta mais de um fator. Quanto à maior
temperatura testada neste trabalho (25,3 °C), na qual a velocidade média de germinação foi
maior, esta pode ser considerada como ótima ou, pelo menos, situada dentro da faixa ótima,
considerando-se que 25 °C é a temperatura recomendada para a germinação de E. grandis, de
acordo com McMahon et al. (2010).
Como esperado, tanto a germinabilidade como a velocidade média de germinação
decresceram com a diminuição do potencial osmótico do meio, embora a variável
germinabilidade pareça ser mais sensível ao , já que sua redução ocorreu numa taxa maior
em comparação com a velocidade. Essa conclusão também é justificada pelo fato de que os
valores de suficientes para inibidor totalmente a germinação de Eucalyptus grandis foram
menores para a velocidade do que para a germinabilidade. Os resultados também sugerem
que, diferentemente do potencial hídrico base médio (b(50)) que apresentou pouca variação
no intervalo térmico testado, esses potenciais osmóticos capazes de suprimir totalmente a
germinação parecem variar com a temperatura de incubação, enquanto que o b(50), que é um
indicador da sensibilidade da semente ao do meio (BEWLEY et al., 2013), apresentou
pequena variação em função da temperatura, a exemplo do verificado por Alvarado e
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Bradford (2002) em sementes de Solanum tuberosum. Por outro lado, a constante hydrotime
(H), cujo inverso indica a velocidade de germinação por unidade de diferença entre o do
meio e o b(G), e que também pode ser estimada a partir das recíprocas das inclinações das
retas de regressão das velocidades de germinação sobre o potencial osmótico (BEWLEY et
al., 2013), tendeu a diminuir com o aumento da temperatura. A aplicabilidade do modelo
hydrothermal time à germinação de sementes de E. grandis também é assegurada, conforme
proposto por Gummerson (1986), pela independência da Tb em relação potencial osmótico do
meio, já que a redução do praticamente não teve efeito na temperatura base de germinação.
Por outro lado, a quantidade de graus dia necessária para a germinação, representada aqui
pelo parâmetro (50) (tempo térmico para a germinação de 50% das sementes da amostra),
aumentou consideravelmente em potenciais osmóticos mais negativos. As sementes de E.
grandis usadas neste trabalho mostraram-se aparentemente mais sensíveis à redução do do
meio do que o lote utilizado por Façanha et al. (1983), os quais reportam que a velocidade de
germinação de sementes da espécie começa a decrescer a partir de aproximadamente -
0,3MPa. Por outro lado, a exemplo do que foi observado aqui, Martins et al. (2014)
constataram que a germinação de sementes de E. grandis é reduzida a partir de -0,2MPa,
sendo a germinabilidade inibida totalmente a -0,7MPa, à temperatura de 25 °C. Entretanto,
diferentemente do obtido neste trabalho, os resultados desses autores indicam que a
velocidade talvez seja mais sensível à redução do , apontando para um valor mínimo de -
0,5MPa a partir do qual a germinação seria nula. Discrepâncias desses resultados em relação
àqueles obtidos neste trabalho podem ser atribuídas ao fato de que Martins et al. (2014) não
testaram potenciais osmóticos intermediários entre -0,4 e -0,8MPa, e utilizaram o IVG (índice
de velocidade de germinação), ao invés da velocidade média, como indicador da cinética do
processo.
Conforme sugerido por Bradford (2002) e Bewley et al. (2013), se assumirmos que a
resposta das sementes – aqui representadas pelas sementes de Eucalyptus grandis – ao
potencial de água do meio depende da temperatura e é determinada pela distribuição de b(G)
na amostra, se essa distribuição for gaussiana a ela pode ser associada uma média e um desvio
padrão. Neste trabalho, os parâmetros de distribuição normal dos valores de b(G), os quais
geraram as curvas esperadas de germinação, descreveram com razoável precisão a
germinação in vitro de sementes de E. grandis nas presentes condições experimentais. A
validação do modelo em condições de campo deve ser uma próxima etapa no sentido de
justificar seu uso para prever a germinação do eucalipto no ambiente natural. De qualquer
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modo, os parâmetros do modelo podem ser usados para se comparar diferentes populações de
E. grandis, caracterizando-se possível heterogeneidade no comportamento germinativo, o que
pode refletir na qualidade fisiológica da amostra e na sua capacidade de tolerar possíveis
situações de estresse. Finalmente, ressalva-se que esta pesquisa se restringiu à faixa térmica
infra-ótima, mas o modelo também é aplicável, com algumas adaptações, a temperaturas
supraótimas, conforme estabelecido por Alvarado e Bradford (2002).
5. CONCLUSÕES
Considerando-se que a temperatura base apresentou pouca variação e foi independente
do potencial osmótico do meio, assim como o potencial hídrico base em relação às
temperaturas experimentais infraótimas, o modelo hydrothermal time, (tempo termo hídrico
ou psi.grau.dia) descreveu com razoável precisão a distribuição dos tempos de germinação in
vitro de sementes de Eucalyptus grandis em diferentes condições de potencial osmótico e
temperatura infra-ótima, sugerindo-se o uso dos parâmetros do modelo para, juntamente com
outras variáveis, caracterizar e comparar diferentes lotes de sementes de eucalipto em termos
de capacidade de resposta a possíveis flutuações hídricas e térmicas no meio ambiente.
6. AGRADECIMENTOS
VJMC agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) pelo apoio a este projeto, sob a forma de bolsa.
7. REFERÊNCIAS
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Tabela 1 – Valores dos parâmetros utilizados para descrever a germinação isotérmica de
sementes de Eucalytus grandis em diferentes potenciais osmóticos.
Table 1 – Isothermal germination value parameters of Eucalytus grandis seeds under
different osmotic potentials.
(MPa)
T
(°C)
(50)
(°dia)
(°dia)
Tb
(°C)
H
(MPa.dia)
b(50)
(MPa)
b
(MPa)
HT
(MPa°dia)
0 a -0,8 13,8 - - - 5,4 -0,48* 0,14 -
0 a -0,8 15,8 - - - 3,8 -0,46* 0,14 -
0 a -0,8 17,7 - - - 3,1 -0,46* 0,14 -
0 a -0,8 19,4 - - - 2,2 -0,41* 0,15 -
0 a -0,8 21,4 - - - 1,9 -0,45* 0,14 -
0 a -0,8 23,5 - - - 1,7 -0,44* 0,16 -
0 a -0,8 25,3 - - - 1,5 -0,44* 0,16 -
0 a -0,8 13,8 a 25,3 - - - - -0,45 0,15 26,7
0 13,8 a 25,3 60,3 8,7 9,0** - - - -
-0,2 13,8 a 25,3 117,4 22,1 7,8** - - - -
-0,4 13,8 a 25,3 207,9 56,2 10,0** - - - -
-0,6 13,8 a 25,3 1893,9 831,1 7,4** - - - -
-0,8 13,8 a 25,3 - - - - - - -
* a regressão de b(50) sobre T produziu a equação y = 0,032x – 0,5112 (R2 =0,4)
** a regressão de Tb sobre produziu a equação y = 1,3x + 8,94 (R2 =0,08)
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Figura 1 – Dependência da temperatura da germinabilidade (○) e velocidade média de
germinação () de sementes de Eucalyptus grandis.
Figure 1 – Temperature dependence on germinability (○) and average germination rate ()
of Eucalyptus grandis seeds.
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Figura 2 – Dependência do potencial osmótico da germinabilidade (A) e velocidade média de
germinação (B) de sementes de Eucalyptus grandis às temperaturas de 13,8 °C (), 17,7 °C
(), 21,4 °C () e 25,3 °C (), cujas retas são descritas respectivamente pelas equações:
y=165,12x+90,18; y=126,11x+88,69; y=133,37x+97,26; y=125,71x+93,59 (germinabilidade);
e y=0,122x+0,087; y=0,147x+0,128; y=0,225x+0,184; y=0,222x+0,217 (velocidade).
Figure 2 – Osmotic potential dependence on the germinability (A) and average germination
rate (B) of Eucalyptus grandis seeds at the temperatures of 13,8 °C (), 17,7 °C (), 21,4 °C
() and 25,3 °C (), whose regression lines are described, respectively, by the equations:
y=165,12x+90,18; y=126,11x+88,69; y=133,37x+97,26; y=125,71x+93,59 (germinability);
and y=0,122x+0,087; y=0,147x+0,128; y=0,225x+0,184; y=0,222x+0,217 (germination
rate).
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Figura 3 – Curvas de germinação observadas (símbolos) e previstas pelo modelo (linhas) de
sementes de Eucalyptus grandis às temperaturas de 13,8 °C (A), 17,7 °C (B), 21,4 °C (C) e
25,3 °C (D), e potenciais osmóticos de 0 MPa (), -0,2 MPa (), -0,4 MPa () e -0,6 MPa
(). As germinações esperadas (em probits) foram calculadas a partir da equação: probit(G) =
[-26,7/((T-8,5).tG)]+0,44937/0,15201, onde e T representam, respectivamente, o
potencial osmótico e a temperatura de incubação, e tG é o tempo para a germinação da
porcentagem G%.
Figure 3 – Observed (symbols) and expected (lines) germination time courses of Eucalyptus
grandis at the temperatures of 13,8 °C (A), 17,7 °C (B), 21,4 °C (C) and 25,3 °C (D), and
osmotic potentials of 0 MPa (), -0,2 MPa (), -0,4 MPa () and -0,6 MPa (). Expected
germinations (in probits) were calculated from the equation: probit(G) = [-26,7/((T-
8,5).tG)]+0,44937/0,15201, where and T are, respectively, the osmotic potential and
incubation temperature, and tG is the time to G% of the seeds germinate.