tempo livre abril 2012

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TempoLivre N.º 236 Abril 2012 Mensal 2,00 www.inatel.pt Turquia O admirável mundo dos contrastes Entrevista José Manuel Tengarrinha Património Vilharinho da Furna Memória Fernando Pessa

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Tempo Livre Abril 2012

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Page 1: Tempo Livre Abril 2012

TempoLivreN.º 236Abril 2012Mensal2,00 €

www.inatel.pt

TurquiaO admirável mundodos contrastes

Entrevista José Manuel Tengarrinha Património Vilharinho da Furna Memória Fernando Pessa

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Sumário

Revista Mensal e-mail: [email protected] | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: CarlosMamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, JoaquimDiabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, MariaMesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, BaptistaBastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA,Telef. 210027000 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - RuaConsiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade naD.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 140.191 exemplares

Na capaFoto: Sousa Ribeiro

24VIAGENS

TurquiaDe Istambul a Ankara, daCapadócia a Konya, deAntália ao Golfo de Fethyie- uma viagem por umaTurquia de admiráveiscontrastes. Uma Turquia, àsportas da Europa, e quehesita entre o passado e ofuturo sem deixar de vivero presente com alma. Umaviagem possível nosprogramas Inatel 2012.

5 EDITORIAL

6 CARTAS E COLUNA

DO PROVEDOR

8 NOTÍCIAS

16 CONCURSO

DE FOTOGRAFIA

44 RITUAIS

O Canto dos Martírios em Idanha-a-Nova

47 JUSTIÇA E SOCIEDADE

48 MEMÓRIA

Fernando Pessa

52 OLHO VIVO

54 A CASA NA ÁRVORE

79 O TEMPO E AS PALAVRAS

Maria Alice Vila Fabião

80 OS CONTOS

DO ZAMBUJAL

82 CRÓNICA

Álvaro Belo Marques

57 BOA VIDA

74 CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Cartaz e Novos livros

18ENTREVISTA

José Manuel TengarrinhaFoi jornalista, dirigente da oposição àditadura, deputado, professoruniversitário e historiador. Aos 80anos, José Manuel Tengarrinha nãodesiste de produzir obras dereferência para historiografiaportuguesa e de defender aimportância do diálogo e dosconsensos "tanto no plano políticocomo no cultural".

30DIÁSPORA

Luxemburgo,um portal sem fronteirasNo Luxemburgo, um dos principaisdestinos da emigração portuguesa naEuropa, o portal "Bomdia.lu"comemorou dez anos em 2011.

30INATEL CHARME

Gabriela Botelho, autora de "Luxo eCharme na Hotelaria em Portugal",explica à TL porque incluiu asunidades Inatel das Flores e deLinhares entre os 20 melhores hotéisportugueses de charme.

38PATRIMÓNIO

Museu Etnográficode Vilarinho da FurnaA construção da barragem deVilarinho da Furna, inaugurada emMaio de 1972, fez desaparecer umaaldeia inteira. Bem perto, em Campodo Gerês, um espaço museológicoevoca o mundo rural da antiga aldeiacomunitária.

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Editorial

Vítor Ramalho

Requalificar

Aprioridade que a Fundação Inatel con-cedeu à requalificação dos seus equi-pamentos tem vindo a abranger deforma calendarizada a generalidade

deles, qualquer que seja o fim a que se destina.Daí que, como poderá ler e ver neste número,

foi muito recentemente inaugurado o Pavilhão deGuimarães, objeto de uma parceria com a CâmaraMunicipal, que beneficiou de uma profundarequalificação para responder a novas funcionali-dades e que muito honram a Fundação Inatel.

Nesta linha concluíram-se também as obras derequalificação da Sede, para possibilitar não sómelhores condições a quantos aí exercem as suasatividades profissionais mas também para facilitaro acesso à recepção a todos quantos nos procuram.

Este esforço, de melhoria da qualidade dosequipamentos justificou aliás que pela primeiravez duas unidades hoteleiras da Inatel, Linharesda Beira e Flores, fossem incluídas no livro desti-nado a seleccionar "O Luxo e o Charme naHotelaria em Portugal", da autoria da Dra. GabrielaBotelho que por isso mesmo é referência nestenúmero da Tempo Livre.

De referência será também a unidade hoteleirade Cerveira, da Inatel, um equipamento de invul-gar qualidade e excelência totalmente remodelado,com cem quartos, projectado para ser inauguradona segunda quinzena do próximo mês de Maio.Esta unidade, que se enquadra na invulgar belezanatural da fronteira do distrito de Viana do Castelocom a Galiza, tem também todas as condições pararesponder a eventos festivos e outros, tão procura-dos na região na chamada época alta.

O Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas,

é ainda evocado por si mesmo, e ainda por tradu-zir uma oportunidade para os visitantes pernoita-rem a partir de Maio na unidade da Inatel emCerveira, sugerindo-se que salvaguardem a tempoas marcações para esta, pela procura significativaque se prevê que venha a ocorrer.

Em alternativa, para quem desejar ser teste-munha dos rituais ligados à Páscoa, que têm lugarem Idanha, o chamado "Canto dos Martírios", deque este número também nos fala, poderá pernoi-tar na nossa unidade em Manteigas, também estabeneficiada recentemente com uma excelente pis-cina termal.

E porque temos enquanto povo uma concepçãouniversalista, convidamo-lo ainda a avaliar o inte-resse da viagem que a Inatel programou à Turquia,país de enorme relevância para a Europa, com tra-dições histórico-culturais marcantes.

Essa mesma vocação universalista transporta-nos para a nossa importante presença no Luxem -burgo, que justifica plenamente a reportagemsobre aspectos da comunidade portuguesa no Grã-Ducado, sem esquecer a evocação, na rubrica"Memória", da personalidade invulgar que foi osempre jovem Fernando Pessa, também ele umhomem da diáspora.

E para fecharmos com chave de ouro nada me -lhor que assinalar, neste número da "Tempo Livre",a entrevista com um dos nossos grandes historia-dores contemporâneos, José Manuel Tengarrinha,que, recentemente, deu à estampa, numa ediçãoda Assembleia da República, o monumental eexemplar trabalho sobre a vida e obra do grandetribuno do parlamentarismo português, JoséEstêvão. n

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Cartas

Coluna do Provedor

Pintura Naïf

“No artigo do Dr. Nuno Lima de Carvalho, publi-cado na "Tempo Livre" de Julho/Agosto de 2011,foi lançado um convite aos associados da Inatelque quisessem participar no salão de pinturaNaïf no Casino Estoril. Nesse artigo prometia-sevoltar ao tema numa próxima edição, mas acon-tece que até agora não vi mais nada escrito sobreeste assunto e eu estava interessada em partici-par (…)".

Lídia Carvalho, Pinheiro de Coja

50 anos na INATEL

Completaram, no 1º quadrimestre do ano, 50anos de ligação à Fundação Inatel os associados:

Gabriel Peniche, de Alhandra; Filipe Benedito,de Almada; Francisco Canelhas e FernandoFagundes, de Barreiro; Jorge Pimenta, de Caldasda Rainha; José Fernando Correia, de Carcavelos;Carlos Baltar, Fernando Geraldo e FernandoGeraldo, de Coimbra; Henrique Flor e EuricoMendonça, de Costa de Caparica; FranciscoSousa, de Cruz de Pau; Fernando Montenegro,de Cruz Quebrada; Júlia Martins, de Ericeira;Argemira Melro, de Évora; Fernando Rodrigues,de Damaia; Orlando Reis, de Queluz; JoãoGiestas, Vasco Carvalho, Antero Oliveira, JoséSousa, Fernando Merca, Mª Ilda Belo, JoséManuel Rodrigues e Fernando Celeiro, deLisboa; Manuel Saramago, de Flamenga; JoséVieira, de Frielas; José Manoel Lourenço, deLourinhã; Carlos Martins, de Oeiras; GabrielGouveia, de Porto; Joaquim José Santos, de S.João da Madeira.

TALVEZ por estarmos na altura da Quaresma,valerá a pena sublinhar, e registar, o sentimen-to solidário que nos é transmitido por muitodos nossos associados sobre as violências nosidosos e nos trabalhadores de todas as activi-dades de baixo salário, vítimas de tantasinjustiças.

Porque a solidariedade não tem cor partidáriaou religiosa, e integra o que há de mais nobre edigno na natureza humana, fará todo o sentidodar-vos conta dos múltiplos e numerosos desa-bafos desses associados - transmitidos pelo tele-fone ou por recortes de jornais - que trazem notí-cias dolorosas deste nosso tempo.

"Recorri à banca - conta um associado - paracomprar uma casita onde pudesse viver comdignidade, com os meus três filhos; agora estoudesempregado, minha mulher também, quefuturo, que vou fazer quando os meus filhostiverem fome?"

"…O comando das economias e dos Estadosestá nas mãos dos mercados financeiros, daespeculação, da fuga aos impostos, dos paraísosfiscais, dos enriquecimentos ilícitos de todos os

géneros (…) Estudam-se todos os cortes nas des-pesas para emagrecer o Estado mas não vemos amesma preocupação com a criação ou manu-tenção do emprego. Onde está o investimento naagricultura e nas pescas, supostamente nichosde novos postos de trabalho como foi demagogi-camente propalado?"

"Os trabalhadores - desabafa outro associado- desanimam, achando que nada vale a pena.Vão ficando sem tempo para acompanhar afamília, sem tempo para o descanso, sem tempopara a acção, pois é-lhes imposto mais e maistempo para o trabalho. Enquanto isto, há quemnão consiga trabalho, quem já não tenha subsí-dio de desemprego e a quem lhes é negado aoportunidade de trabalhar. É tempo de não nosdeixarmos adormecer, de pensar que já não valea pena. Deixemos os nossos egoísmos e pense-mos no bem comum, que está ao alcance decada um de nós."

Ficamos por aqui, para reflectir neste tempode primavera! Vale sempre a pena! A experiên-cia dos erros no passado deve levar-nos a corri-gi-los no presente. Para um futuro melhor! n

A correspondênciapara estas secções

deve ser enviadapara a Redacção de

“Tempo Livre”,Calçada de Sant’Ana,

nº. 180, 1169-062Lisboa, ou por e-mail:

[email protected]

Kalidá[email protected]

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Notícias

lDepois de várias obras debeneficiação, o pavilhão Inatel, emGuimarães, reabriu ao público, nopassado dia 4 de Março com arealização de jogos de andebol e devoleibol das velhas guardas dodesporto vimaranense e exibições dejudo, dança e patinagem artística.Presente no acto inaugural emrepresentação da Fundação, oadministrador Moreira Marquessublinhou o perfil "emblemático ecom história" do pavilhão, "reabilitado- lembrou - graças à parceria entre aInatel e a Câmara Municipal deGuimarães e com recurso a fundoscomunitários". "Desejo que o espaço contribua para

a promoção da prática do desporto eque aqui se realizem grandesiniciativas desportivas", acrescentouMoreira Marques.Usaram ainda palavra o vereador doDesporto da Autarquia, AmadeuPortilha, e presidente da Câmara,António Magalhães, grato à Inatelpela "possibilidade que nos deu dereconquistar um espaço desportivoque é profundamente emblemáticopara Guimarães".A tarde desportiva que assinalou areabertura do Inatel contou com apresença de muitas caras conhecidas

do desporto vimaranense, desdeatletas, dirigentes, treinadores,árbitros e até espectadores habituaisde eventos desportivos realizadosnaquele local.Palco, desde 1967, de memoráveisjornadas desportivas que integram ahistória do desporto vimaranense, opavilhão do Inatel, situado junto aoEstádio D. Afonso Henriques

beneficiou de obras dereabilitação que lhepermitem voltar a estardisponível para a utilizaçãopor clubes e gruposinformais, assim como para arealização de jogos ecompetições oficiais queoutrora foram referêncianaquele recinto.

A sua requalificação envolveu uminvestimento na ordem dos 385 mileuros (contemplando bancadas,balneários, piso e cobertura), comfinanciamento QREN em cerca de80%. A empreitada incluiu também ainstalação de nova rede eléctrica e deredes de abastecimento de água,drenagem de águas residuais epluviais e de incêndio.

Guimarães

Pavilhão Inatel reaberto ao público

8 TempoLivre | ABR 2012

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lO VIII ConcursoNacional de Teatro –iniciativa da FederaçãoPortuguesa de TeatroAmador e da Câmara daPóvoa do Lanhoso –distinguiu, este ano, opercurso e trabalho emprol da culturadesenvolvido pelaFundação Inatelatribuindo-lhe o Prémio PrestígioPersonalidade em Teatro Amador. Aolongo de cinco semanas, de 3 deFevereiro e 4 de Março, o centenárioTheatro Club da Póvoa do Lanhoso,foi palco de produções oriundas dediversos pontos do país, competindopor prémios a atribuir nas categoriasde desenho de luz, cenografia, guarda-roupa, interpretação masculina efeminina, encenação e melhorprodução (Prémio Ruy de Carvalho)."Gradim à janela da Ausência", daContacto - Companhia de Teatro ÁguaCorrente (Ovar), foi o grande vencedordo concurso, com Prémio Ruy deCarvalho para o melhor espectáculo eos prémios para a melhor interpretaçãomasculina e melhor encenação.A Companhia Espelho Mágico, de

Setúbal, vencedora do Concurso2010 na vertente para a Infância eJuventude, organizado pela Inatel emPonte de Lima, obteve o prémio paraa melhor cenografia e guarda-roupa.À Companhia Sorriso do Atlântico,com "Salvo-Conduto", espectáculovencedor em 2010/Ponte de Lima, foiatribuído o prémio para a melhorinterpretação feminina e umamenção honrosa para a melhorinterpretação masculina.A Companhia Blábláblá Teatro Jovem(Campo Maior) que, em Junho, vaiapresentar no Teatro da Trindadeuma encenação do texto vencedor doPrémio Inatel Miguel Rovisco/2011,apresentou "Terror e Miséria", peçavencedora do Concurso Nacional deTeatro 2011.

Estoril Sol relançaPrémios Literários

lA Estoril-Sol volta a instituir,

este ano, o Prémio Literário

Revelação Agustina Bessa-Luís e

o Prémio Literário Fernando

Namora, em homenagem aos

dois grandes escritores. O júri,

comum aos dois Prémios, será

presidido pelo escritor e ensaísta

Vasco Graça Moura. Lançado no

quadro das comemorações do

50º aniversário da Estoril-Sol, o

Prémio Revelação, no valor de 25

mil euros, propõe-se distinguir,

anualmente, um romance inédito

de autor português, sem

qualquer obra publicada no

género e com idade não superior

a 35 anos.

O Prémio Fernando Namora,

reservado a romances publicados,

agora com periodicidade anual,

repete-se em 2012, também com o

valor de 25 mil euros. A recepção

de originais para o Prémio

Revelação termina em 25 de Maio

próximo. Quanto ao Prémio

Fernando Namora, o prazo de

recepção de romances -

publicados em 2011 - termina a

30 de Abril.

lAté 7 de Maio, está patente na Galeriade Arte do Casino do Estoril umaexposição de Diogo Navarro intitulada"A Viagem do Pescador". Com umaprimeira mostra apresentada no mesmoespaço em Maio de 2005, este pintor,nascido em Moçambique (1973), contajá no seu currículo com 25 exposiçõesindividuais e a participação em dezenasde colectivas, nacionais e estrangeiras, ecom trabalhos que hoje se encontramem importantes colecções públicas e

privadas de outros países como aEspanha, França, Itália, Inglaterra,Brasil, E.U.A e Moçambique. Comformação em pintura, design gráfico egravura, na Sociedade Nacional deBelas-Artes, Diogo Navarro reflecte,nesta mostra, memória da magia doÍndico e das suas praias, dospescadores e os seus barcos, imagensque tinham muito a ver com a terra dosseus antepassados, de Viana doCastelo.

Prémio Teatro Amador para a Fundação Inatel

“A Viagem do Pescador”

ABR 2012 | TempoLivre 9

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l Cinquenta anos após a Revolta deBeja, José Hipólito Santos recorda-a e analisa-a no livro A Revolta deBeja, apresentado, em Março, naCasa do Alentejo, em Lisboa, pelohistoriador e jornalista AntónioLouçã. A ditadura só chegaria aofim 12 anos depois, mas a tentativade Dezembro de 1962 de setedezenas de jovens de ocupação deum quartel de Beja, foi umimportante contributo para alibertação do país, que acabou porcair no esquecimento geral. Oautor consultou os processos daPIDE, procurou documentos erecolheu testemunhos com o

objectivo de "repor o essencial dahistória da acção revolucionáriade Beja". José Hipólito Santos(Porto, 1932), sócio - economista,foi colaborador da Seara Nova edos Cadernos de Circunstância,membro do MUD-Juvenil e dasComissões Promotoras do Voto.Participou nas Revoltas da Sé e deBeja, foi dirigente do MAR, daLUAR e do PRP, preso político eesteve exilado em Argel, Rabat eParis. Foi ainda presidente doAteneu Cooperativo e daAssociação dos InquilinosLisbonenses, fundador dacooperativa SEIES.

Notícias

“Revolta de Beja”

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lDe Emídio Fernando, jornalistas daTSF e Mestre em História Moderna eContemporânea pelo ISCTE, foi agoraeditado o livro "Jonas Savimbi - Nolado errado da História", umabiografia política que reconstitui avida, as estratégias, a trajectória, ospoucos sucessos e as muitas tragédiasmilitares" do antigo presidente daUnita. Dedicado a "todos osangolanos, vítimas dos tempos de irae loucura, que souberam construiruma grande Nação", a obra de EmídioFernando, nascido em Angola, é uma"viagem por dentro dos principaisacontecimentos que marcaram aquelanação africana" na segunda metadedo século XX.

Dançar na Inatel

l O mês de Abril é o mês da

Dança, assinalando-se no dia 29

o seu Dia Internacional. A

Fundação INATEL assinou um

protocolo com a Escola Dance

Factory Studios que oferece

descontos aos associados na

inscrição e frequência em

qualquer modalidade. A Dance

Factory oferece um leque variado

de aulas de dança para todas as

idades, num espaço com as

condições ideais para a prática

das várias modalidades. A Escola

localiza-se na Rua Soares dos

Reis em Lisboa. Mais

informações em

www.dancefactory.com.pt.

“Jonas Savimbi - No lado errado da História”

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Page 12: Tempo Livre Abril 2012

Notícias

lCelebrado no âmbito da realizaçãodos estágios do 1º ciclo de Estudos emTermalismo, o protocolo FundaçãoInatel/Instituto Piaget, assinado emMarço último, prevê a possibilidadede acolher na 1ª edição daquele curso,dois estudantes estagiários naUnidade de Manteigas e outros tantosna Unidade de Entre-os-Rios. Nostermos do acordo, o Instituto Piaget -

representado pelo seupresidente Luís ManuelCardoso e pela tesoureiraRosa Penha - vai colaborarcom a Fundação no planode formação contínua ouem outras acções,facultando os meioslogísticos necessários bemcomo os formadores emáreas temáticas que sejamdo domínio do seu pessoaldocente.

Um amplo intercâmbio entre asrespectivas bibliotecas e centros dedocumentação e a promoção deprojectos comuns de estudo,investigação e actualização - através,designadamente, de conferências,colóquios, jornadas e congressos -integram ainda o protocolo, destinado a vigorar no ano lectivo de 2012/2013.

"101 Cromos da Bola"

lDo brinco perdido do Vítor Batista

na relva de Luz aos "calções

imaculados" de Nené que -

argumentava - "pelo menos dava

pouco trabalho à lavandaria do

Benfica", passando pelo história de

Sousa Cintra a "roubar" Amunike aos

concorrentes de Duisburgo - com

leões a puxarem o jogador por um

braço e alemães pelo outro - as

histórias do futebol, "dentro e fora

das quatro linhas, todas de chorar a

rir…", recuperadas no delicioso livro

de Rui Miguel Tovar, "101 Cromos da

Bola", promete ser êxito editorial.

Editada pela "Lua de Papel", com

ilustrações de Carlos Monteiro, a

obra de 213 páginas do editor de

desporto do jornal I, revela-nos, com

talento e divertida ironia, dezena de

episódios surrealistas de grandes

craques do futebol, treinadores e

jogadores, sem esquecer alguns

árbitros, ocorridos desde os anos 40

do século passado até à primeira

década do século actual.

Acordo Inatel e Instituto Piagetem Estudos em Termalismo

lO 14º Torneio Cidade de Castelo

Branco em Ténis de Mesa, organizado

pelo CCD da Associação Juvenil

Ribeiro das Perdizes, com o apoio da

Agência Inatel Covilhã, registou a

participação de várias dezenas de

praticantes. Os vencedores nas três

categorias foram Nelson Santos (Tintas

CIN Porto), Shan Kai (Clube

Millennium BCP Lisboa), e Miguel

Camponês (CCD ARLU Leiria). Em

juniores, o vencedor foi Tiago Almeida,

do CCD AJ Ribeiro das Perdizes de

Castelo Branco. Elisabete Nunes, do

CCD ARDOG Leiria, foi a primeira

classificada na categoria sénior

feminino.

Ténis de mesa

12 TempoLivre | ABR 2012

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l Da autoria de Carlos Januário,numa edição da Escola Superior deDesporto de Rio Maior, com o apoiodo Instituto do Desporto, foirecentemente lançado o livro"Albino Maria - um prémio aodesporto", uma biografia de umnotável dirigente e professor naárea desportiva e que, enquantoDirector do Inatel (1992-98), teveuma acção altamente inovadoracom o projecto de DesportoAventura, introduzindo,nomeadamente, as modalidades deespeleologia, rappel, slide, rafting,hidrospeed, parapente,montanhismo, escalada, canoageme btt, que se tornaram uma

referência nacional da Inatel. OOpen de Parapente (Linhares daBeira), registe-se, é um marco damodalidade em Portugal, comcentenas de praticantes, nacionaise estrangeiros, e de que resultou, apar do torneio anual, a criação daEscola de Parapente Inatel.Professor, treinador, autarca, gestore dirigente em diversas entidades,como o Complexo Desportivo doJamor (2003-06), Albino Marialembrou, em Setembro de 2009,em Santarém, pouco antes da suamorte, ao agradecer a nomeaçãocomo patrono do campeonatodistrital da Inatel, que a suaexperiência no então instituto foi

"tão enriquecedora" que lhe deu"bagagem para enfrentar, depois,desafios noutras organizações".

Vida e Obra de Albino Maria

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Page 14: Tempo Livre Abril 2012

Notícias

lO stand do Turismo de Portugal naBTL 2012 foi palco do lançamentooficial do BIKOTEL e respectivoportal de internetwww.bikotels.com, um projecto - aque aderiu a Inatel - de uma novarede de unidades de alojamento quepossuem um rótulo/label BIKOTELreconhecendo as suas boas práticasem sete itens obrigatórios(parqueamento, garagem, menu,lavagem, oficina, percursos) e váriosopcionais que representamnecessidades dos ciclomotoristas.Estes requisitos, bem como as váriasfuncionalidades do site,nomeadamente a possibilidade deconsulta e descarregamento dospercursos em formato GPS,

associados a cada Bikotel, foramexibidos na sessão, que teve apresença de Carlos Mamede, vice-presidente da Inatel, que sublinhoua importância da iniciativa, querpara o incremento da modalidadequer para o aumento de procura nasunidades hoteleiras. O projectocontou no seu arranque com 12unidades de alojamento,distribuídas por todo o país, cinco

das quais da Fundação (Manteigas,Vila Ruiva, Alamal, Piódão e Castelode Vide) que - registe-se - receberamjá inscrições de praticantes damodalidade. Este segmento, inseridono turismo activo e de natureza, temvindo a registar um crescimentoanual em termos mundiais acimados 10%. Em Portugal, as vendasanuais de bicicletas totalizam jádezenas de milhares de unidades.

BTL lança Bikotel

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Page 16: Tempo Livre Abril 2012

XVI Concurso “Tempo Livre” Fotografia

16 TempoLivre | ABR 2012

[ 1 ]

[ 1 ] José Pinto, CoimbraSócio n.º 494110

[ 2 ] Maria Cordeiro,LisboaSócio n.º 321720

[ 3 ] Mário Bizarro,V. N. GaiaSócio n.º 64.888

[ 3 ]

[ 2 ]

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Page 17: Tempo Livre Abril 2012

[ a ] Maria Silva, CacémSócio n.º 493267

[ b ] Elisabete Teixeira, AmaranteSócio n.º 343708

[ c ] Fernando Ledo, Viana do CasteloSócio n.º 349141

Menções honrosas

Regulamento

1. Concurso Nacional de Fotografia darevista Tempo Livre. Periodicidademensal. Podem participar todos osassociados da Fundação Inatel,excluindo os seus funcionários ecolaboradores da revista Tempo Livre.

2. Enviar as fotos para: Revista TempoLivre - Concurso de Fotografia, Calçadade Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.

3. A data limite para a recepção dostrabalhos é o dia 10 de cada mês.

4. O tema é livre e cada concorrentepode enviar, mensalmente, um máximode 3 fotografias de formato mínimo de10x15 cm e máximo de 18x24 cm., empapel, cor ou preto e branco.

5. Não são aceites diapositivos e asfotos concorrentes não serãodevolvidas.

6. O concurso é limitado aosassociados da Inatel. Todas as fotosdevem ser assina ladas no verso com onome do autor, morada, telefone enúmero de associado da Inatel.

7. A «TL» publicará, em cada mês, asseis melhores fotos (três premia das etrês menções honrosas),seleccionadas entre as enviadas noprazo previsto.

8. Não serão seleccionadas, nomesmo ano, as fotos de umconcorrente premiado nesse ano

9. Prémios: cada uma das três fotosse lec cio nadas terá como prémio duasnoi tes para duas pessoas numa dasunidades hoteleiras da Inatel, durantea época baixa, em regime APA(alojamento e pequeno almoço). Oprémio tem a validade de um ano. Opre miado(a) deve contactar a redacçãoda «TL».

10. Grande Prémio Anual: umaviagem a esco lher na Brochura InatelTurismo Social até ao montante de1750 Euros.A este prémio, a publicar na «TL» deSetembro de 2012, concorrem todasas fotos premiadas e publicadas nosmeses em que decorre o concurso.

11. O júri será composto por doisresponsáveis da revista T. Livre e porum fotógrafo de reconhecido prestígio.

[ b ]

[ a ]

MAR 2012 | TempoLivre 17

[ c ]

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Entrevista

No dia 14 de Abril, por ocasião do aniversário de José Manuel Tengarrinha, centenas de cidadãos de diferentes áreas da sociedade e de vários quadrantes políticos vão, num convívio a realizar em Lisboa, homenagear um cidadão de percurso exemplar, ao longo de seis décadas, como jornalista, dirigente político, deputado, professore historiador. Professor jubilado da Faculdade de Letrasde Lisboa, José Manuel Tengarrinha prossegue, aos 80 anos, uma intensa actividade de investigação do Portugal Moderno e Contemporâneo. A par da recente publicação do livro a "José Estevão: o Homem e a Obra", 667 p.), José Tengarrinha está prestes a concluir uma nova "Históriada Imprensa em Portugal", em dois volumes, um trabalhode referência na historiografia nacional sobre as origensda imprensa nacional até ao 25 de Abril de 1974.

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José ManuelTengarrinha“Nunca me servi,nem usei benefícios…”

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Entrevista

Teve uma experiência, embora efémera, comojornalista. Como avalia esse período da suacarreira profissional?Foram quatro anos. Primeiro foi no "República",mais tarde no "Diário Ilustrado"(1957-1961)onde fui Chefe de Redacção. Depois fui preso.Quando voltei da prisão foi-me retirada pelaPide, a carteira de jornalista e não pude conti-nuar. Embora curta, foi uma experiência muitorica pelo contacto com a realidade. Conhecer arealidade, nua e crua, despida de artifícios, nasmais diversas formas, só é possível com a agita-da vida jornalística. Foi para mim uma grandeescola. Foi apaixonante e deu-me umadimensão da vida que não teria conseguidodoutra maneira. Muito do que sou e fui devo-oà experiência como jornalista.

O terem-no impedido de pros -seguir a carreira de jornalistaacabou por ser positivo para si,para a luta política e para a his-toriografia em Por tugal…Tenho dito, várias vezes, que emtodas as desgraças que me acon-tecem, acabo por dar a volta porcima. Vivi situações difíceis, degrande instabilidade, mas pude,felizmente, superá-las sempre,mais pelas circunstâncias quepor mérito meu.Não foram, certamente, apenasas circunstâncias, como o ates-ta, aliás, a homenagem que cen-tenas de cidadãos, de todas asáreas sociais e políticas,incluindo antigos presidentesda República, decidiram

prestar-lhe, este mês, por ocasião dos seus 80anos.O diálogo é indispensável em toda a vida, tantono plano político como no cultural. E parahaver diálogo é necessária a compreensãomútua, estarmos atentos ao que o outro diz,absorvermos e fazermos um crivo dassugestões, opções e propostas que nos fazem.Num processo destes, criam-se empatias e com-preensões mútuas, mesmo que as pessoas nãoestejam de acordo. É um processo lento, demo-rado, que julgo ter desenvolvido ao longo detoda a minha vida e que fez com que eu fosse

uma pessoa de consensos. Cresci à volta deconsensos. Divergências há sempre…então nasvidas que nós temos, elas são, por vezes, muitoprofundas, mas o importante é que haja umabase de compreensão e de entendimento, e issosó se consegue quando há tolerância e compre-ensão.Teve uma actividade política intensa, antes edepois do 25 de Abril, mas acabou por optarpela carreira académica…Aconteceu na altura em que o MDP/CDE, deque fui fundador, estava esgotado. A partir dele,e eu estive de acordo com isso, criou-se umaorganização para - partidária, a Política XXI,que seria umas das componentes do Bloco deEsquerda, composto pela corrente de FranciscoLouça, pela da UDP e pela Política XXI, queteve origem no MDP.Não tem saudades da actividade política?Confesso que não…É uma actividade que pro-voca grande alegrias quando há êxitos, quandonos sentimos realizados por serviço cívico queprestamos. A linha mestra que me orientou navida política foi ver a intervenção política comouma forma de servir a sociedade. Nunca meservi, nem usei benefícios. Tive vários cargosde responsabilidade mas nunca os usei em meubenefício pessoal. Era, aliás, uma norma doMDP/CDE.O MDP, de que foi presidente, teve um papelfulcral nos últimos anos de combate à ditadu-ra … Nunca foi convidado para integrar osGovernos post-25 Abril…Houve obstrução por parte da direita, alegandoque eu era do PCP. Não era nada disso. Nãocompreendiam o que era o MDP Como especialista da História Moderna eContemporânea de Portugal, como avalia asfrequentes analogias que analistas, articulis-tas e mesmo investigadores fazem entre a situ-ação político-social actual e a da segundametade do século XVIII?Cada coisa deve ser vista no seu tempo, no seucontexto. Há, claro, situações que se repetem,houve similitude em alguns acontecimentos. Asubstância desses acontecimentos é que é dife-rente e a sua compreensão tem que ser feita deacordo com os contextos em que eles se proces-sam e com todo um processo histórico que temoutras origens e consequências. É uma banali-

“A linha mestraque me orientou navida política foi ver aintervenção políticacomo uma forma deservir asociedade…”“O diálogo éindispensável emtoda a vida, tanto noplano político comono cultural.”

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dade dizer-se que hoje estamos a viversituações idênticas às que vivemos no séculoXIX. Houve nesse século, em 1890-91,situações de grande dramatismo financeiro, eantes mesmo, a partir de 1850. Mas as causas eas circunstâncias era outras. Não haverá um fio comum?O fio comum a tudo isto é termos menospreza-do sempre a questão essencial do desenvolvi-mento. A verdade é que vivemos com grandesapertos financeiros no século XIX e nessa altu-ra, como hoje, não houve uma prioridade para

o desenvolvimento. E o grande debate que sefaz, actualmente, em Portugal é esse. Quer-se oequilíbrio financeiro, a regularização das con-tas públicas e uma resposta positiva às exigên-cias da troika, mas a verdade é que é que a pers-pectiva de desenvolvimento - que é fundamen-tal - é subalternizada. Quando se tomam medi-das que não têm em conta esse necessidade dedesenvolvimento, provoca-se desemprego ebloqueia-se o crescimento do país.A integração europeia parece não estar aresultar…

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Entrevista

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"Faço o que já fazia, penso o que pensava…"

A idade avançada não o tem impedido

de continuar com importantes trabalhos

na área da História…

Eu não me sinto com a idade avançada

(risos). Faço o que já fazia, penso aquilo

que pensava. É claro que o regime de

trabalho é mais moderado. São cinco

horas durante a manhã. À tarde, é para

rever questões, fazer leituras ou ter

reuniões.

Projectos em curso?

Lancei, recentemente, a convite da

Assembleia da República, um trabalho

sobre José Estêvão ("José Estevão : o

Homem e a Obra", 667 p., Ed. A.R.),

considerado o maior orador

parlamentar da nossa História. Antes, e

no âmbito do centenário da República,

foi publicado "Portimão e a Revolução

Republicana" e acabei um outro

trabalho, apresentado publicamente, há

dias, na Torre do Tombo, sobre a

Legislação no Brasil Colonial, uma

investigação de 12 anos, com uma

equipa grande, apoiada pela FCT

(Fundação para a Ciência e a

Tecnologia). Trata-se uma investigação

sistemática e exaustiva da legislação do

Brasil colonial desde 1502 até 1706,

final do reinado de D. Pedro II. É uma

imensa base de dados que permite ao

investigador encontrar nomes, funções,

cargos e temas.

Sei que continua a trabalhar numa sua

obra de referência, a História da

Imprensa em Portugal…

Estou a trabalhar nessa obra, há cerca

de 10 anos. Está em vias de conclusão.

É completamente diferente da anterior.

Basta dizer-lhe que o primeiro volume,

que estou prestes a terminar, vai até

1865, quando surge o Diário de

Notícias. Tem cerca de 600 páginas. O

segundo volume, já muito adiantado,

irá até ao 25 de Abril. Tenho, devo dizer,

uma vida preenchida. E fui já solicitado

para retomar um trabalho sobre as

greves e o movimento operário para

uma comunicação a apresentar num

congresso a realizar na Universidade

Nova, no próximo ano sobre a história

do movimento operário português.

A Imprensa escrita está em crise em

todo o mundo…

A televisão e outros media têm roubado

espaço à imprensa escrita, mas não

creio que a sua sobrevivência esteja

ameaçada. Haverá sempre lugar para a

imprensa escrita. Quando pegamos

num jornal e lemos atentamente, não

os factos em si, mas as análises e

apreciações que são feitas,

comprovamos o espaço insubstituível

que a imprensa escrita ocupa. Temos

as notícias na televisão e na rádio e

alguns comentadores com análises

geralmente fugazes…mas a análise e

reflexão têm um espaço único na

imprensa escrita.

Vi declarações considerando essas

análises, sobretudo na tv, como sendo

frequentemente "monólogos inúteis e

pouco esclarecedores" e muitas

vezes"discursos pessoais e facciosos."

Alguns têm mérito, ajudam a

esclarecer, mas muitos outros são, de

facto, apressados e revelam sobretudo

vaidade pessoal e ostentação. E há

aqueles que sabem tudo, capazes de

falar de tudo. Eu fico espantado, como

é possível falar-se de tudo com

conhecimento, com profundidade. Há

comentadores que conseguem, de uma

forma relativamente inteligível, analisar

os acontecimentos, mas a verdade é

que outros há que são motivados por

interesses de ordem pessoal e

partidária.

Também não é grande apreciador dos

fóruns de opinião pública na rádio e na

tv…

Contribuem mais para distrair e para

confundir. Não significa que não haja

fóruns que não sejam interessantes,

com temas oportunos, mas, de maneira

geral, confundem em vez de esclarecer.

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A questão é que há uma dificuldade de Portugalem afirmar-se num contexto tão competitivocomo aquele em que nos encontramos e não háuma solidariedade internacional dentro da pró-pria União Europeia. Sob a aparência de umcerto acordo no seio da UE, a verdade é quecada país tenta salvaguardar os seus interessespróprios sem ter em conta os efeitos negativosque resultam para os outros países. As afirmações hoje, por exemplo, dos nossosgovernantes vão no sentido de que 'bom, nósnão somos a Grécia' ou 'não temos nada a vercom a Grécia'. Isto representa uma falta de soli-dariedade impressionante. Nós atravessamos,sim, um momento difícil, mas a Grécia fazparte desse conjunto de dificuldades que nósenfrentamos. Não se pode dizer nós já nos safa-mos. É uma atitude de dessolidarização lamen-tável.O espaço lusófono pode ser uma das alternati-vas?É uma vertente que não tem sido suficiente-mente aproveitada. Há nesses países que falama nossa língua, afinidades e proximidades degrandes potencialidades. É um espaço amploonde somos bem acolhidos e onde temos pers-pectivas de relançamento da nossa próprianacionalidade.A queda do Muro de Berlim e dos regimespolíticos do Leste europeu significou o fim dautopia marxista?A sociedade que esses países concebiam erairrealizável por assentar na utilização de con-ceitos sem correspondência com a realidade,histórica e concreta. O processo deve ser anali-sado á luz da evolução desde o século XIX: umoperariado esmagado, com uma situação extre-mamente difícil perante um capitalismo selva-gem que levou à formação das grandes organi-zações operárias, ainda no final do século XIX,seguidas da criação dos partidos políticos querepresentavam esses movimentos. Foi um pro-cesso que não teve em conta a realidade em siprópria., a incapacidade de um modelo teóricose ajustar facilmente a uma realidade em movi-mento.Tal como aconteceu na URSS?O que Lenine pretendia, e foi impedido porEstaline, era a formação de um mercado que sedesenvolvesse - o que Cuba está, agora, a tentar

fazer - com pequenos produtores e comercian-tes. O bloqueio estalinista impediu esse desen-volvimento e, a partir daí, tudo se conjugoupara a criação de regimes autoritários em que oindivíduo está abafado e as sociedades ficamconstrangidas e travadas no seu desenvolvi-mento. A formação de um aparelho partidáriodominante e autocrático sobre o país, com odomínio do Estado pelo partido, impediu umaperspectiva diferente de desenvolvimento.O pessimismo e o desencanto atravessam asociedade portuguesa. Haverá saídas para agrave crise que o país atravessa?A situação que vivemos hoje, aqui e lá fora, nãorima com optimismo. Na verdade, as perspecti-vas não são brilhantes. De qual-quer maneira, temos sabidosempre, nós Portugal e aHumanidade em geral, sair dasgrandes crises e, por vezes,dando um salto em frente. Julgoque esta grande crise que atra-vessamos permitirá, porventura,ajustar mecanismos de regu-lação da sociedade que, doutramaneira, não teriam sido possí-veis. Veja-se, por exemplo, opapel dos mercados e do sistemafinanceiro. São mecanismos quetêm de ser alterados. São siste-mas que dominam o poder polí-tico, impondo regras absoluta-mente contrárias aos interessesdos cidadãos e que apenas visamsatisfazer lucros imediatos,jogando com juros, com crédi-tos, empréstimos. Isto não podecontinuar. O poder político conseguiráalterar essas regras?Haverá um momento em que se chega a umponto de ruptura, com a própria sociedade a terque modificar para sobreviver. Mais tarde oumais cedo, isso terá que ser feito. Aliás, já vaisendo feito…há uma compreensão, cada vezmais generalizada, destes factores, contrária àlógica ditatorial dos mercados, e o próprio poderpolítico acabará por ter a noção de que, parasobreviver, terá de procurar outras soluções. n

Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos)

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“Temos sabidosempre, nós, Portugale a Humanidade emgeral, sair dasgrandes crises e, porvezes, dando umsalto em frente…”“A televisão eoutros media têmroubado espaço àimprensa escrita, masnão creio que a suasobrevivência estejaameaçada. Haverásempre lugar para aimprensa escrita.”

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Viagens

TurquiaO admirávelmundo doscontrastesDe Istambul a Ankara, daCapadócia a Konya, de Antáliaao Golfo de Fethyie - umaviagem pela Turquia que hesitaentre o passado e o futuro semdeixar de viver o presente comalma

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Viagens

As nuvens acastelam-se sobre aMesquita Azul e lançam manchas desombra sobre o lago onde se projectamos seis minaretes que ameaçam furaros céus, um número do qual nenhuma

outra mesquita em Istambul se pode orgulhar e queconferem ao lugar uma harmonia exterior que nãodeixa ninguém indiferente. Mandada construir pelosultão Ahmet I, entre 1609 e 1616, a Mesquita Azulrivaliza em imponência com a sua vizinha SantaSofia e, juntas, são o coração do bairro deSultanahmet que a esta hora, já quase estéril deluminosidade, se enche de vida. A basílica, pensadapelo Imperador Justiniano, começou a ser levantadaem 532 e as obras foram concluídas em 563, reve-lando uma grandiosidade que ganha expressãomáxima na sua cúpula gigantesca de mais de 30metros de diâmetro - e foi preciso esperar mil anospara estes números serem superados. É uma expe-riência inolvidável errar por este cenário magnifi-cente ao final da tarde, agora quase órfão de turistas,observar a luz filtrada pela cúpula, escutar os sussur -ros, deixar o olhar resvalar para o luxo do mármorebranco e rosa, para o granito negro, para os capitéisesculpidos e, finalmente, para os quatro pilares quesuportam os arcos da cúpula.

Em nenhuma outra cidade da Turquia são tãovisíveis os contrastes como em Istambul, onde as

mais grandiosas igrejas convivem com as mais belasmesquitas, o luxo com a pobreza, o moderno com oantigo, as casas mais humildes com os mais sump-tuosos palácios, as ruínas romanas com as gregas, asdiscretas casas de chá onde idosos recordam o pas-sado com nostalgia com os novos bares onde osjovens estimulam os sonhos que se desenham nohorizonte. Istambul não é uma cidade, é uma cida-de de múltiplas cidades, capaz de acolher Bizâncio,Nova Roma, Constantinopla e… Istambul.

Há 2600 anos, era uma colónia grega, fiel guar-diã do estreito do Bósforo, que tanta riqueza lheproporcionou. Mas dez séculos mais tarde, foi con-vertida pelo Imperador Constantino na capital doImpério Romano e tornou-se Constantinopla, amaior cidade da cristandade, até cair, em 1453, àsmãos de um sultão otomano descendente de cava-leiros nómadas provenientes da Ásia Central.Rapidamente transformada na capital de umapotência muçulmana que se estendia à Europa, àÁsia e a África, viveu cinco séculos de esplendorantes de sucumbir e de dar origem a uma novarepública. É verdade que deixou de ser a capital eque até mudou de nome mas, a despeito de tercaído um pouco no esquecimento, sempre perma-neceu como o centro da vida cultural e económica,ressurgindo em força nos últimos 40 anos para setornar na maior metrópole da Europa e numa

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potência económica - o produto interno bruto dacidade é superior ao de alguns países europeus.

Com uma história rica de 25 séculos, Istambulatrai todos os anos milhões de visitantes mas amaior parte deles apenas a olha fugazmente, deten-do-se em quatro ou cinco postais, entre eles as cita-das Basílica de Santa Sofia e a Mesquita Azul. Nãomuito distante de ambas fica o Palácio Topkapi,engrandecido e embelezado ao longo dos anos pordiferentes gerações de sultões, um exemplo arqui-tectónico de luxo, exotismo e sensualidade quedesde tempos imemoriais ocupou o imaginário dasgentes do ocidente, hoje mais viradas para um con-sumismo que rapidamente as conduz até ao GrandeBazar. Mesmo não sendo o maior (Teerão) ou o maisantigo (Isfahan), o Kapali Çarsi (mercado coberto emturco) é, de longe, o mais famoso do mundo. E é poresta autêntica cidade subterrânea e labiríntica queconduzo agora os meus passos, resistindo aos ape-los constantes dos vendedores mas não aos sons eaos cheiros que se propagam ao longo das suas 58ruas que abrigam mais de 4000 lojas e mais de 50restaurantes e salões de chá, tão distintos dos cafése bares da moda do aprazível bairro de Beyoglu.

De Ankara à CapadóciaUm homem come uma sardinha e fita o horizontecomo se meditasse, o muezzin chama para a oração

e, ao longe, os barcos sulcam asondas perante o olhar dos pesca-dores ao lado das suas canas.Como um dia escreveu OrhanPamuk, Istambul desafia qual-quer classificação, muda e trans-forma-se a um ritmo próximo davertigem, vive de excessos masnunca chega a perder a sua almae a sua arte de viver. E as palavrasdo escritor turco também sepodem aplicar, de uma forma oude outra, a um país que hesitaentre o passado e o futuro,sofrendo as influências de umcada vez maior número de turis-tas que não resumem a sua visitaa Istambul. Muitos deles rumam, de seguida, aAnkara mas, apesar dos residentes da grande metró-pole afirmarem que a melhor vista da cidade é ocomboio de regresso a casa, a capital turca, com osseus quase cinco milhões de habitantes, tem muitomais substância do que goza a sua reputação. É emAnkara que se encontram duas das mais importan-tes atracções do país: o Anit Kabir, o monumentalmausoléu de Mustafa Kemal Atatürk, o fundador damoderna Turquia, e o Museu das CivilizaçõesAnatólias, de extrema importância para melhor

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Viagens

compreender alguns dos lugares antigos que seencontram nas planícies em redor da cidade,como Hattusa, capital do antigo reino Hitita (quese estendia da Síria à Europa), hoje em ruínas masque no auge de uma época gloriosa contava com50 mil habitantes.

É um pouco mais a oriente que se pousammuitos dos olhares dos turistas, quando Göremeabre as portas da Capadócia para visões inquie-tantes de um território misterioso, onde se esca-varam igrejas, capelas, santuários e mosteiros nosubsolo (os cálculos apontam para um total de600, o que dá uma ideia da intensa actividadehumana e religiosa nos primeiros séculos danossa era) depois da conquista romana e da con-versão dos habitantes locais ao Cristianismo - atéà chegada do Islão, em 1071, quando osSelúcidas conquistaram a região. Um pouco portodo o lado, de Çavusin a Göreme (imperdível oMuseu ao Ar Livre), pode admirar as primeirasexpressões artísticas dos cristãos, os frescos commotivos geométricos (num período inicial) e, jánuma fase posterior, os que contemplam figurase paisagens bíblicas, antes de se perder por esteverdadeiro queijo Gruyére que é a Capadócia,com os seus labirintos e galerias subterrâneas.

Antes de se alcançar o Mar Mediterrâneo, a via-gem prossegue através de vales férteis que condu-

zem a Konya, capital dos dervixes giróvagos, ondese destaca o museu dedicado ao místico, filósofo epoeta persa do século XIII, Yalal ud-Din Rumi,mais conhecido como Mevlâna, e o seu mausoléucom a extraordinária cúpula pontiaguda forradade azulejos turquesa, visível de vários pontos dacidade.

AntalyaDe repente, Antalya mostra-se, com o seu golfohomónimo, despertando o prazer de um mergulho.À volta, quem pretender envolver-se na história temmuito por onde escolher, ruínas mais ou menosbem conservadas, como Aspendos, Termessos,Perge ou Olimpos, mas a cidade, a maior na zona doMediterrâneo, também tem os seus encantos e é umbom exemplo de convivência entre o clássico e omoderno, com o seu bem preservado bairroRomano-Otomano de Kaleiçi e o porto Romano deonde se avistam, à distância, as Montanhas Bey.

Sempre com o mar como companhia, parandoaqui e acolá para saborear a brisa e ver as ondasnamorar a praia, chego ao Golfo de Fethyie e nãotardo a estender-me ao sol, em Ölüdeniz, naque-la língua de areia (mais seixos do que areia) queabarca parcialmente a bonita Lagoa Azul.Pequenos barcos a pedal, permitindo ver as tarta-rugas, não retiram serenidade ao local e o céu

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límpido está permanentemente decorado com asasas multicolores dos parapentes que se lançam,a uma altura de dois mil metros, do Monte Baba.Ao final da manhã do dia seguinte, embarco noEasy Riders para realizar um cruzeiro nas águascristalinas do golfo, detendo-me no Vale dasBorboletas (mais de 80 espécies), descoberto nosanos 1970 por mochileiros, e umas horas depoisna Ilha de São Nicolau, onde, segundo reza alenda, teve origem o nome da figura simpática dohomem das barbas brancas - o Pai Natal.

Para quem gosta do contacto com a natureza,o caminho lício (o total, entre Fethyie e Antalya,é de 500 quilómetros) é uma boa opção e não foipor acaso que o Sunday Times o elegeu, há bempouco tempo, como um dos dez melhores per-cursos do mundo. Um passeio pedestre que per-mite ver ruínas, aldeias isoladas na montanha,antigas cidades e florestas de cedro e pinheiros.

Quando o sol estival do fim de tarde adquireas suas tonalidades douradas, deposito os olhosna colina onde as casas em ruínas sobem."Quando a vila estava viva, as paredes das casaseram feitas de argamassa e pintadas alegrementeem tons de rosa escuro." É desta forma que oescritor inglês, Louis de Bernières, descreve

Kayaköy em Pássaros Sem Asas (Edições ASA),dando corpo a uma história épica e trágica, umahistória de amor e de guerra, de gregos e de tur-cos que conheceram o lado melhor e o lado piorda vida. Por aqui, nestas ruas que são mais vielas,passeia-se um camponês com a sua roupa típicae o seu pequeno rebanho. A poucos quilómetros,em Ölüdeniz, o sol prepara o mergulho no mar ejovens turistas, em fato de banho, bebem cerveja.Uma mulher, com um véu a cobrir-lhe a cabeça,vira as costas ao mar onde acabou de molhar asmãos. São os contrastes deste mundo admirávelque é a Turquia das múltiplas caras.n

Sousa Ribeiro (texto e fotos)

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"Turquia Especial" nas Viagens Inatel

O programa de viagens internacionais da Inatel inclui o circuito

"Turquia Especial" - estadias de sete noites de alojamento em hotéis

de quatro ou cinco estrelas - com início em Istambul e visitas a

Ankara, Capadócia, Konya e Antalya e preços desde 595 euros. O

programa tem partidas até 14 de Junho. Em Julho estão previstas

duas partidas, a 7 e a 21, para o circuito cinco estrelas "Turquia

Eterna", com preços desde 1075 euros.

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Diáspora

LuxemburgoUm portal sem fronteirasNo Luxemburgo, um dos principais destinos da emigração portuguesa naEuropa, o portal "Bomdia.lu" comemorou dez anos em 2011. Para além dacomponente noticiosa das suas páginas, o portal tem um fórum e um "sub-portal" de apoio à comunidade portuguesa em domínios práticos, como ofiscal.

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Raul Reis

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Pouco mais de uma década depois dasua estreia, o portal Bomdia.lu está apassar por uma fase de renovação, oque proporciona a oportunidade deensaiar um balanço da experiência.

O portal foi criado em 2001, com o objectivo deservir a comunidade emigrantes portugueses noLuxemburgo, comunidade que continua a cres-cer, não obstante o desemprego e a crise que atin-giu, também, o Grão-Ducado.

O Luxemburgo continua a ser um destinoimportante para o movimento migratório lusitanono espaço europeu. Os dados disponíveis relativosa 2010 mostram que o número de emigrantes quese deslocaram para o país se manteve próximo dosquatro mil, só superado significativamente pelosque escolheram Espanha ou o Reino Unido. Deacordo com dados do Observatório da Emigração,vivem oficialmente no Luxemburgo pouco maisde oitenta mil portugueses, o que representa cercade 16% da população total do país e aproximada-mente 37% dos estrangeiros residentes. Estesdados podem, todavia, estar afectados, por defeito,porque se calcula que haja uma percentagem razo-ável de portugueses sem inscrição no Consulado.Contabilizando também os cidadãos com duplanacionalidade, o Consulado português apontapara uma estimativa de cerca de cem mil portu-gueses a residir no Luxemburgo.

A conjuntura de trabalho no país tem-se res-sentido da actual crise e a comunidade portugue-sa tem sido particularmente afectada. De acordocom dados apresentados e discutidos num coló-quio promovido em Novembro passado pelo

C.A.S.A. (Centro de Apoio Social e Associativo),que contou com a presença do Ministro doTrabalho luxemburguês, os portugueses repre-sentam 21% da massa salarial do Luxemburgo eum terço dos desempregados inscritos oficial-mente tem nacionalidade portuguesa. Os baixosníveis de qualificação destes trabalhadores e ofraco domínio da língua são apontados comoestando na origem desta situação, que tem preo-cupado a Confederação da ComunidadePortuguesa no Luxemburgo (ver caixa).

Jornalismo de investigaçãoA linha editorial do portal privilegia informaçãorelativa a Portugal e à comunidade portuguesa noLuxemburgo, ainda que não de forma exclusiva.Como especifica Raul Reis, Chefe de Redacção do"Bomdia.lu", "cobrimos a actualidade doLuxemburgo com um certo filtro: actividade polí-tica, actividades que dizem respeito aos portu-gueses da comunidade local e do mundo, massobretudo na Europa, o desporto local e portu-guês". Há uma marca no portal que o distingue deoutros órgãos de comunicação social do Gão-Ducado: "Fazemos também jornalismo de investi-gação, que não é muito habitual na comunicaçãosocial luxemburguesa", salienta Raul Reis. Aequipa redactorial compreende quatro jornalistase alguns repórteres em regime free-lance. São jor-nalistas que passaram pelo Jornal de Notícias,pelo Expresso e pelo Diário de Notícias, e queresidem actualmente no Luxemburgo.

Embora privilegiando temáticas e aconteci-mentos relacionados com a comunidade portu-

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Diáspora

guesa, o "Bomdia.lu" cultiva um espírito de aber-tura a outras manifestações culturais na socieda-de luxemburguesa e à participação em iniciativasalheias, tanto de entidades portuguesas comoluxemburguesas. O portal associa-se frequente-mente a "eventos promovidos por outras entida-des, que escolhemos a dedo", de que são exemploexposições fotográficas que contaram com a coo-peração do Instituto Camões. As experiênciasdeste tipo são exemplares: "Houve um festival decinema do leste e divulgámos e oferecemos bi -lhetes aos leitores. E fomos também, recentemen-te, parceiros no 1º Festival de Cinema Brasileiro".Esta estratégia visa contrariar um "isolamento" dacomunidade portuguesa, ainda que se verifiqueuma evolução positiva nesse aspecto. "Existeainda um fechamento da primeira geração, masna segunda já não existe. Tentamos fazer com queos portugueses participem nas actividades cultu-rais e sociais luxemburguesas". A percepção doimportante papel que um órgão de comunicaçãosocial pode ter nesse domínio é clara: "No iníciocaíamos no erro de limitar a agenda a eventosportugueses ou que diziam respeito aos portu-gueses. E fazermos parcerias é uma forma delevarmos os portugueses a ter informação sobre oque acontece e a participar".

A expressão da crise no fórum do portalA questão do financiamento de um portal é umaspecto problemático, reconhece Raul Reis. Atéagora, um contrato com uma agência de publici-dade tem garantido o funcionamento do"Bomdia.lu". A maioria das despesas do portalcorresponde aos honorários de jornalistas e repór-teres, que são cobertas pelas receitas publicitárias.

O "Bomdia.lu" regista cerca de quarenta milcliques diários. A grande maioria é de residentesno Luxemburgo, seguindo-se leitores internautasda região - Bélgica, Alemanha e Lorena (França).Depois vêm leitores de Portugal e do Brasil, o quemostra como o "Bomdia.lu" funciona verdadeira-mente como um portal sem fronteiras.

O projecto do portal inclui também uma fre-quência de rádio, a Rádio "Bomdia.lu", além deum fórum aberto à participação dos leitores e um"sub-portal" com informação e dispositivos deapoio no âmbito de questões fiscais e outrosaspectos práticos da vida profissional dos expa-triados lusitanos no Luxemburgo. As formas de

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O Luxemburgocontinua a ser umdestino importantepara o movimentomigratório lusitano noespaço europeu

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participação dos leitores no fórum reflectem bema situação da comunidade portuguesa e os efeitosda crise que atravessa actualmente Portugal e aEuropa: "Começou por ser um espaço de troca deideias sobre assuntos da comunidade e rapida-mente transformou-se num meio de informaçãosobre como emigrar para o Luxemburgo". Desde oinício de 2011 que este género de mensagens temvindo a aumentar: "Já temos voo para oLuxemburgo, temos aí um primo". "Vou voar para

Frankfurt, como vou depois para aí?" "Tenho doisfilhos, como é o abono de família aí?". Os inter-nautas que fazem estas perguntas não ficam semresposta, sublinha Raul Reis, mostrando a per-tinência e utilidade do fórum do "Bomdia.lu"para a comunidade: "Há uma interacção imedia-ta, as pessoas daqui respondem e dão as infor-mações práticas pedidas. Há um espírito deentreajuda". n

Humberto Lopes (texto e fotos)

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Tempos difíceis para a comunidade portuguesa

Com vinte anos de existência

completados em Novembro de 2011, a

Confederação da Comuni dade

Portuguesa no Luxemburgo (CCPL) tem

hoje uma agenda substancialmente

diferente da que tinha há duas décadas.

Uma parte do trabalho da confederação

(a mais importante plataforma

associativa do país, com cerca de 80

membros) passou pela consolidação das

estruturas associativas da comunidade

lusitana e pela sua afirmação, assim

como pela promoção da língua

portuguesa e pela conquista do direito

de voto.

Se no centro das preocupações

continuam a estar os portugueses que

escolheram o Grão-Ducado para viver e

trabalhar, as circunstâncias são agora

muito particulares, com uma crise que é

transversal a toda a UE, com o

desemprego inerente e com um "novo

fluxo migratório com um perfil

totalmente diferente daquele que

conhecemos a partir dos anos 60", como

sublinha o José Coimbra de Matos (na

foto), Presidente da CCPL. A

comunidade portuguesa ressente-se,

pela sua especificidade, desse cenário:

"Infelizmente, temos que nos render à

evidência de que a faixa de população

menos qualificada é também a mais

fragilizada e aquela que, em primeira

linha, se defronta com o grave problema

de desemprego. Luxemburgo não foge à

regra e a comunidade portuguesa aqui

residente ainda menos". O retrato feito

pelo Presidente da CCPL descreve "uma

comunidade de trabalhadores pouco

especializados, em que os jovens, com

graves problemas de escolarização, se

encontram sem qualquer formação

profissional".

A especificidade linguística do

Luxemburgo também não ajuda, pelo

que CCPL tem insistido nos esforços de

desenvolvimento das competências dos

membros da comunidade portuguesa

nesse domínio. Desde há dez anos que

funcionam cursos nocturnos de

formação em línguas, financiados pelo

Ministério da Educação luxemburguês, a

que se acrescentaram outras formações

(Electricidade, Informática, Fotografia,

Costura, Bordados, Teatro). "A formação

é actualmente a actividade mais

relevante da CCPL, com 25 formadores e

mais de 600 formandos", salienta

Coimbra de Matos.

Como projecto mais relevante na

agenda actual da CCPL, o dirigente

sublinha a ideia de criar no Luxemburgo

uma Escola Portuguesa. "O projecto

esteve há dois anos quase a concretizar-

se, mas as vontades políticas, tanto da

parte do Luxemburgo como da parte das

autoridades portuguesas, que não

apoiaram o dossier como o deveriam ter

feito, levaram a um embargo que ainda

hoje tende a persistir".

Para Coimbra de Matos, a CCPL deve

envolver-se activamente na construção

de uma sociedade multicultural no

Luxemburgo, sem perder de vista a sua

vocação de representação dos

interesses dos residentes portugueses:

"Estamos a criar um grupo de reflexão,

um "think tank" que será um verdadeiro

laboratório de ideias e cujas conclusões

serão, de uma maneira muito

específica, postas ao serviço da defesa

do bem-estar social e político da

comunidade portuguesa residente no

Luxemburgo". n

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Actual

Licenciada em Direito, desde sempreo turismo fez parte da vida deGabriela Botelho, marcando a histó-ria da sua família que há trêsgerações trabalha na área. O seu avô

foi o fundador de uma das primeiras agências deviagens de Portugal. A paixão levou-a a especiali-zar-se em turismo e a lançar recentemente oquarto volume de uma colecção, que é, nestemomento, uma referência no segmento do turis-mo de luxo e charme no nosso país. "Acho que aInatel fez nos últimos anos um grande esforçoem relação a várias unidades. Claro que temhotéis populares, mas recuperou e obteve algu-mas pequenas unidades, que integram perfeita-mente a categoria de hotéis de charme. É o casode Linhares da Beira, assim como a Inatel da ilhadas Flores", explica Gabriela Botelho, que reuniuum selecto grupo de unidades hoteleiras atravésde uma avaliação baseada em cerca de 30 crité-rios e da observação participante.

Prazer, emoção, excelência…Na base da selecção para este livro estiveramdois parâmetros: unidades hoteleiras novas outotalmente renovadas desde 2008. O glamour, oprazer, a exclusividade, a excelência, a qualidadedo serviço, a emoção, a tranquilidade, a locali-zação, a gastronomia e os vinhos são alguns doscritérios de avaliação de Gabriela Botelho, aosquais se juntam itens da Leading Hotels of TheWorld. A autora salienta que "o carácter e a sin-gularidade de um hotel não têm só a ver com asestrelas". "Existem muitos hotéis de cinco estrelas

que não têm luxo nenhum e charme tampouco. Epor vezes vemos hotéis muito bons em Portugalque são muito mal frequentados".

Para Gabriela Botelho, a Inatel das Flores e deLinhares da Beira inserem-se claramente no con-ceito de charme. Natural dos Açores, foi comenorme satisfação que a autora viu nascer o pri-meiro hotel de quatro estrelas na ilha das Flores:"É uma unidade moderna, os quartos têm umavaranda simpática para o mar, uma localização

extraordinária e é confortável. Oúnico senão que encontrei foi afalta da qualidade gastronómicaque não é um problema específi-co do hotel, mas sim de toda ailha".

Quanto a Linhares da Beira, aautora enaltece a valorização dopatrimónio numa terra inscritano projecto "Aldeias Históricasde Portugal", que dá nova vidaaos seculares edifícios CasaBrandão e Melo, do séc. XIX, eSolar Corte Real, do séc. XVIII."A unidade Inatel está inserida

em dois palácios com imenso charme. Tem unsjardins magníficos, um campo de ténis e uma pis-cina óptimos. É simpática para passar ali uns diasrelaxantes". A inexistência de um restaurante nohotel é - acrescenta - o único aspecto negativo.

No entender da autora, este turismo de luxo ede charme em aldeias históricas contribui para acompetitividade e progresso de uma região. "Eununca teria ido a Marialva ou a Linhares da Beira

Livro de Gabriela Botelhoconsagra Unidades Inatelde luxo e charme Entre os 20 melhores de Portugal. É assim que estão classificadas duas unidades hoteleirasInatel - Linhares da Beira e ilha das Flores - no livro "Luxo e Charme na Hotelaria emPortugal", da autoria de Gabriela Botelho.

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O livro "Luxo eCharme na Hotelariaem Portugal" éacompanhado por umcartão de descontos eofertas exclusivas nasunidades hoteleirasseleccionadas nestequarto volume, sendoválido por três anos

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se não houvesse um hotel interessante. O desen-volvimento deste tipo de hotelaria e a ligação aoturismo cultural e gastronómico chama os turis-tas a algumas zonas com acessibilidades aindadifíceis".

A elaboração do livro e a selecção das unida-des hoteleiras cabe, em exclusivo, a GabrielaBotelho, que realiza o trabalho com total autono-mia e sem qualquer apoio institucional. As esco -lhas da especialista nem sempre são consensuais,como aconteceu quando elegeu duas unidadesInatel. "Fiquei muito triste pela forma preconcei-tuosa como certos hoteleiros reagiram ao facto deter seleccionado duas unidades da Inatel. EmPortugal fala-se das coisas sem se conhecer.Como não vou em preconceitos e faço a minhaselecção de forma independente, seleccionei commuito gosto e voltava a seleccionar".

"Charme é o futuro…"Em Portugal, na opinião da autora, existem pou-cos hotéis de luxo e os existentes têm dificuldadeem estar ao nível do que é feito internacional-mente. A questão do preço é reveladora dessadiferença. "Um hotel de luxo nas principais capi-tais europeias pratica mínimas diárias de 500,600 ou 700 euros. Em Portugal não há nenhumhotel que pratique esses valores, e, naturalmente,o serviço não é o mesmo. E nem vamos falar doluxo asiático", sublinha.

Para Gabriela Botelho, a hotelaria de charme éa tendência no sector do turismo, pelo seu carác-ter personalizado, atento aos pormenores e comassinatura, como são os casos dos boutiquehotéis, os eco-resorts, o enoturismo e o turismorural. "A hotelaria de charme é o futuro. Os hotéisstandards de cinco estrelas já não me dizemnada. O cliente sente-se mais um número, o ser-viço é muito 'plástico', cínico e hipócrita. É tudodemasiado mecanizado".

Com a crise económica o sector entrou emestagnação. Alguns projectos foram inviabiliza-dos, enquanto outros estão entregues à banca.Porém, Gabriela Botelho defende que o turismode luxo e charme não está condenado. "Penso éque vai haver um redimensionamento". Já paranão falar que os cortes salariais, a perda de sub-sídios e o desaparecimento de alguns feriados"vão ter consequências graves no turismo inter-no(…) O que se está a fazer em Portugal é tiros

nos pés do turismo. Assiste-se hoje a um retro-cesso, porque o direito ao lazer e às férias sãoconquistas que têm mais de 100 anos. O turismosó se desenvolveu porque houve uma conquistado direito ao lazer que se foi desenvolvendo pau-latinamente", reforça a autora, que evoca o carizsocial da sua obra. "Toda a gente tem direito ausufruir de produtos de charme e de qualidade.Numa altura em que as pessoas estão tão massa-cradas com o que se está a passar, não há nadapior do que as privar do que já é sanidade men-tal".

O livro "Luxo e Charme na Hotelaria emPortugal" é acompanhado por um cartão de des-contos e ofertas exclusivas nas unidades hotelei-ras seleccionadas neste quarto volume, sendoválido por três anos. A obra está à venda em li -vrarias especializadas e através do mail [email protected], contacto directo com a autora.A colecção vai prosseguir e um novo volumedeverá surgir em 2014. n HMC

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Actual

“Toda a gente temdireito a usufruir deprodutos de charme ede qualidade. Numaaltura em que aspessoas estão tãomassacradas com oque se está a passar,não há nada pior doque as privar do quejá é sanidade mental”

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Património

MuseuEtnográficode Vilarinhoda Furna

A barragem deVilarinho da Furna foiinaugurada háquarenta anos, emMaio de 1972,deixando sepultadanas suas águas umaaldeia inteira. Bemperto, em Campo doGerês, um espaçomuseológico evoca omundo rural da antigaaldeia comunitária.

Das pedras38 TempoLivre | ABR 2012

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s se fez memóriaABR 2012 | TempoLivre 39

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Património

Duas décadas antes do desapareci-mento da aldeia de Vilarinho daFurna, Miguel Torga escreviasobre os últimos vestígios decomunitarismo em Portugal,

antecipando comentários com um timbre quehaveria de repetir mais tarde: "E assim, um a um,se vão apagando estes pequenos enclaves, nãodigo de paradisíaca felicidade, mas de humana enatural liberdade. Uma vida social assim, apenasacrescida de ciência e cultura, seria ideal. Antesde mais, o homem começou aqui por formar umaconsciência cívica e fraterna, fundada em amor, efez depois as reformas consoantes. Mas pareceque se resolveu matar primeiro o homem e a suaharmonia espontânea e construir então sobrecadáveres o futuro". Torga escreveu estas palavrasem 1948 e nessas linhas parece insinuar-se umaluz de premonição sobre o destino de Vilarinhoda Furna, submersa pouco tempo depois pelaságuas de uma barragem.

Em anos de escassa chuva, é possível avistar delonge, a descoberto, os vestígios da aldeia. Umacaminhada ao longo da margem da albufeira leva-nos até ao lugar onde se situava a aldeia deVilarinho da Furna, ocupado agora por um cenário

de ruína. Podemos ver, ainda, se o nível de águaestiver baixo, um punhado de paredes, ombreirase janelas desenhadas com o granito da região.

O enchimento da albufeira, rodeada pelasserras Amarela e do Gerês, obrigou os habitantesda aldeia a abandoná-la a partir de 1969, disper-sando-se a seguir pelos concelhos vizinhos,Terras de Bouro, Vieira do Minho, Amares, VilaVerde, ou até para mais longe.

Nesses últimos meses antes da subida daságuas, procedeu-se a uma recolha de objectos sig-nificativos, alfaias agrícolas, utensílios domésti-cos, mobiliário, etc. A iniciativa foi de Manuel deAzevedo Antunes - presidente da Associação"Afurna", constituída por antigos habitantes daaldeia -, que registou em fotografia, ao mesmotempo, cenas do quotidiano desses últimosmeses de Vilarinho.

Quase duas dezenas de anos depois, em 1989,esse espólio encontrou um espaço museológicoem Campo do Gerês, não muito longe da albufei-ra. O Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna éhoje um sítio de memória que pretende evocar arealidade social e cultural da aldeia, reconhecidacomo um espaço onde se viveu um dos melhoresexemplos do comunitarismo rural português.

O edifício que acolhe o museu é uma recons-tituição de duas casas de habitação de Vilarinhoda Furna, tendo-se utilizado para o efeito aspedras das construções originais.

Tradições comunitárias ruraise espaços domésticosJoão Barroso, um dos habitantes da aldeia, foi umdos artífices da primeira exposição, realizadacom parte do espólio de 600 objectos reunidos,que se manteve durante doze anos. A exposiçãoseguinte permaneceu até 2005, quando o espaçodo museu se viu reduzido face à instalação nopiso térreo de uma Porta do Parque, um centro deinformação e acolhimento do Parque Nacional daPeneda-Gerês (ver caixa).

A exposição actual data de 2005 e teve tam-bém como responsável João Barroso, que se tor-nou colaborador permanente do museu. É umacervo que testemunha as características rurais eas tradições comunitárias de Vilarinho da Furna eproporciona ao visitante, em simultâneo, umapercepção dos espaços domésticos e das activida-des económicas da aldeia. A par dos objectos, há

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Património

textos de Miguel Torga e Jorge Dias, assim comoimagens fotográficas que mostram o mundo sociale as lides laborais dos habitantes de Vilarinho.

As salas estão organizadas de acordo com cri-térios temáticos. Uma dá a ver um conjunto dealfaias agrícolas, como um carro de bois e dife-rentes tipos de arados. Outra sala exibe um espó-

lio constituído por grande variedade de objectosde utilização doméstica. Em vários recantos domuseu foram reconstituídos, sempre com objec-tos recolhidos na aldeia há quarenta anos,espaços domésticos como um quarto de dormir,com a concernente arca onde se guardava aroupa, ou uma cozinha, com o seu forno de lenha,louças e móveis, caldeiros, um forno e um escano.

Num outro espaço, entre um conjunto de ima-gens alusivas ao trabalho agro-pastoril dispersaspelas paredes, está um tear e respectivos acessó-rios. O linho e a lã eram os principais materiaisutilizados na confecção das roupas. O vestuário eo calçado tradicional, como socos, alpercatas ebotas, são também peças que mostram outras tan-tas actividades e saberes da gente de Vilarinho.

Há algumas imagens muito expressivas, comoa dos habitantes desmontando os telhados antesda debandada. E textos fortes, como o de um frag-mento de um Diário de Torga, que relembra osderradeiros dias da aldeia: "Gerês, 6 de Agosto de1968. Derradeira visita à aldeia de Vilarinho da

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Uma porta do parque

No piso térreo da reconstituída Casa

dos Trigos funciona um espaço de

acolhimento e de informação do Parque

Nacional da Peneda-Gêres (PNPD). O

local é uma das portas de entrada no

parque, disponibilizando as suas salas

uma ampla informação que cobre

aspectos díspares, como a história

geológica do território e os acervos de

flora e fauna da área abrangida pelo

PNPD. A informação está sistematizada

através de painéis temáticos que

permitem ao visitante uma percepção

clara das características do território.

Os painéis são profusamente

ilustrados, mostrando, por exemplo,

imagens da fauna do parque, que inclui

esquilos, lobos, corços, víboras e várias

espécies de aves. Outros painéis

abordam a flora, chamando a atenção

para a presença de espécies intrusivas -

como o eucalipto e a acácia -, que

constituem ameaças para outras

espécies endógenas do PNPD.

Finalmente, uma série de painéis ilustra

a ocupação humana das serranias da

Peneda-Gerês abordando os seus

muitos sinais: socalcos, redes de

regadio, espigueiros, moinhos de água,

silhas de ursos (onde eram colocadas

as colmeias), currais e eiras

comunitárias. Alguns ainda em

utilização, outros signos de um mundo

em extinção ou já desaparecido.

Guia

ÚTEIS

Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, São João do Campo, 4840

Terras de Bouro, Tel. 253 351 888

DORMIR

A partir de Maio e graças a profundas obras de renovação, a unidade

hoteleira de Vila Nova de Cerveira, da Inatel, estará já em

funcionamento e será uma boa alternativa para uma agradável estadia

no Alto Minho com visita ao Parque Nacional Peneda-Gerês e, claro, ao

Museu Etnográfico de Vilarinho de Furna

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Furna, em vésperas de ser alagada, como tantas daregião. Primeiro, o Estado, através dos serviçosflorestais, espoliou estes povos pastoris do espaçomontanhês de que necessitavam para manter osrebanhos, de onde tiravam o melhor da alimen-tação - o leite, o queijo e a carne - e alicerçavam aeconomia -, a lã, as crias e as peles; depois osuper-Estado, o capitalismo, transformou-lhe asvárzeas de cultivo em albufeiras - ponto final dassuas possibilidades de vida. E assim, progressiva-mente, foram riscados do mapa alguns dos últi-mos núcleos comunitários do país".

Salvar as ruínasJoão Barroso estava entre esses antigos habitantesde Vilarinho da Furna que estiveram presentes, em1989, na inauguração do museu. Uma das casastransplantadas para integrar o espaço, a Casa dosTrigos, era do seu avô. Natural da aldeia, JoãoBarroso tinha 9 anos quando se iniciaram as obrasde construção da barragem e 14 quando teve quesair da aldeia. Recorda-se perfeitamente dessetempo em que a população de Vilarinho, consti-tuída por 57 famílias, foi intimada, através de umedital, a abandonar casas e terras de lavoura noespaço de tempo de um ano, sem que tenha podi-do contar, da parte das autoridades administrati-

vas e políticas de então, ou da CompanhiaPortuguesa de Electricidade, a construtora dabarragem, com apoio ou indemnizações justaspelo abandono dos seus haveres. Ironicamente, aaldeia de Vilarinho da Furna, sacrificada pelaconstrução de empreendimento hidroeléctrico,nunca chegou a ter outras formas de iluminaçãosenão as de velas e candeeiros - e estava-se já,nessa altura, a chegar ao último quartel do século.A imagem de um povoado afogado em escuridão,apenas iluminado por uns quantos candeeiros apetróleo era também a imagem de um país quetinha perdido o comboio da história do século XX.

As ruínas de Vilarinho vão-se agora apagandosob o efeito da erosão, para grande pena de JoãoBarroso, que fala do interesse de um projecto quepermitisse "fixar as ruínas". Esse seria um objectivo"tecnicamente possível", suportado pelo labor damemória: "Há gente que se lembra de como eram ascasas, eu lembro-me de algumas". Seria um projec-to que teria, também, a pertinência para o futuro:"Há descendentes de habitantes de Vilarinho,novas gerações, que têm interesse em visitar e co -nhecer, há cada vez mais pessoas a vir cá". Para esteantigo habitante da aldeia desaparecida, "o espíritode Vilarinho da Furna continua vivo".n

Humberto Lopes (texto e fotos)

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Rituais

Mas acontece que, no Concelho deIdanha-a-Nova, de indubitável vocaçãoturística pelo seu património natural,histórico-cultural e religioso, situadonas terras arraianas da Beira Baixa,

Distrito de Castelo Branco, preserva-se ainda, como numailha encantada, um número significativo de manifestaçõesda religiosidade popular vivenciadas com fé e devoção,embora com os riscos da total desertificação e do completoenvelhecimento da população, aliás comum a todo o inte-rior de Portugal.

Relativamente à narração da Paixão de Jesus Cristo, ocanto ou cântico dos Martírios, que fora comum, em espe-

cial por todo o interior do País, ainda hoje é vivenciado, nomais profundo silêncio, em terras arraianas das Idanhas,graças a uma honrosa herança que guardiães das mais purasmanifestações da religiosidade popular, fora do espaçosagrado, vão legando de geração em geração, não se saben-do contudo por quanto mais tempo.

Actualmente ainda se pode ouvir espontaneamente, nacalada das noites frias, o citado canto ou cântico dos"Martírios do Senhor", nas povoações de Monfortinho,Termas de Monfortinho, Penha Garcia, Monsanto, S. Migueld'Acha, Proença-a-Velha e Alcafozes.

Registe-se que em Monfortinho, Termas de Monfortinhoe Proença-a-Velha enumeram-se precisamente 15 regiões

Mistérios da Páscoa em Idanha

O Cântico dos Martírios O cancioneiro popular religioso assenta as suas profundas raízes no fundador do

Cristianismo. Muitos foram e são os seus recolectores. É um nunca mais acabar de tradiçõesregistadas, nas mais diversas versões, que atestam o precioso património cultural imaterialdeste Portugal que queremos europeu, mas sem que se perca a nossa identidade. Todavia amaioria dessas manifestações da religiosidade popular, ricas de ritos e rituais, que foramcomuns em especial, no interior do País, estão quase desaparecidas.

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Cântico dos Martírios em Penha Garcia

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anatómicas do corpo de Cristo. Mas, em Proença-a-Velhasão distintas, as da testa, pescoço e costas, substituídas emMonfortinho por garganta, ombros e pernas. Em caixa,reproduzimos a versão dos "Martírios do Senhor" que reco -lhemos em Monfortinho.

Em Monfortinho, ambos os grupos de mulheres,trajadas de negro, na noite das cinco primeirassextas-feiras da Quaresma, cantam alternada-mente, distantes umas das outras, mas de modoa ouvirem-se mutuamente, pelas ruas da povo-

ação. Em cada sexta-feira cantam em três sítios diferentesde modo que ao fim das cinco semanas, sejam ouvidas emtoda aldeia. Já em Proença-a-Velha, ambos os grupos sãoconstituídos por homens e mulheres, com traje do dia-a-dia,e cantam, na noite dos primeiros quatro Domingos daQuaresma, permanecendo sempre um dos grupos numponto alto, próximo da capela do Senhor do Calvário, e ooutro, no extremo oposto, ao cimo da denominada Barreirado Castelo, encostado ao local onde existiu o antigo Castelo.

Em Penha Garcia, os Martírios cantam-se com catorzequadras, na noite da quinta sexta-feira da Quaresma,enquanto em S. Miguel de Acha, um grupo de mulherescantam-nos, com dezasseis quadras, em noite de Quinta-Feira Santa, após a Procissão do Encontro.

Por sua vez, em Monsanto, no profundo silêncio danoite de Sexta-feira da Senhora das Dores, do Domingo deRamos e da Quinta-feira Santa, o grupo noctívago, consti-tuído por homens e mulheres, perturbam a sonolência da

monumental aldeia mais portuguesa de Portugal, quandoparam, nos três pontos do costume, cantando três quadrasda Encomendação das Almas, seguidas do som estridenteda matraca e, por fim, três quadras dos Martírios.

Em Alcafozes, as tradicionais cerimónias de Quinta-FeiraSanta, iniciam-se ao cair da tarde, na Igreja da Misericórdia.Meia hora antes, um dos Irmãos toca a sineta do modestocampanário da mesma apelando à presença dos fiéis.

De entre os Irmãos da Santa Casa da Misericórdia, posi-cionados na capela-mor, dois regradores iniciam a cerimóniacom o canto dos Martírios ou da Sagrada Paixão. Sempre queos regradores cantam cada uma das quinze quadras em que

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Inatel Manteigas

Rodeado pela vegetação frondosa da Beira Interior, no

belíssimo vale do Rio Zêzere, a Unidade Hoteleira de

Manteigas é uma boa alternativa de alojamento para os

associados da Inatel interessados em assistir a estes

singulares rituais pascais. Com 64 quartos totalmente

equipados distribuídos por 4 edifícios, bar, restaurante,

sala de jogos, capela, court de ténis, sala de reuniões,

Wi-Fi e parque de estacionamento privativo, o Inatel

Manteigas dispõe, também, de uma unidade termal

aconselhável para o tratamento de doenças do aparelho

respiratório, reumáticas e músculo-esqueléticas. Para

além de equipamento terapêutico dispõe ainda de

ginásio, fisioterapia e piscina termal recentemente

remodelada. Contactos -Tel: 275 980 300, Fax: 275 980

340, E-mail: [email protected]

Cântico dos Martírios em Alcafozes

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Rituais

invocam as diversas regiões anatómicas do corpo, os restan-tes Irmãos e o povo presente repetem o seguinte refrão:

Bendita e Louvada Seja / A Paixão do Redentor (i) / Paranos livrar das culpas / Morreu em nosso favor(i). //

Pela meia-noite do mesmo dia, volta a ouvir-sede novo o cântico dos Martírios, fora do espaçosagrado, cantado por dois grupos de homens.Há sempre quem ofereça aos cantores, paramelhor afinação das vozes, uma ou outra

garrafa de aguardente ou de jeropiga, acontecendo que, porvezes, no final, já alguns por força dos vapores etílicospareçam caminhar com o passo meio trocado…

De ano para ano se constata o crescente número de visi-tantes nacionais e estrangeiros, que vivem em meios citadi-nos num frenesim quotidiano, que escolhem como destinode férias o território idanhense, em especial, na SemanaSanta, e tal como os inúmeros naturais do Município, resi-dentes no País ou no estrangeiro, após terem participado

nas vivências quaresmais e pascais, em ambiente de paz, deserenidade e de ar puro, semeado dos aromas das flores dasestevas, das margaças, das giestas e dos rosmaninhos, par-tem de forças retemperadas e de espírito reconfortado parao seu labor diário. n

António Catana (Texto) Hélder Ferreira (Fotos)

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1.º-grupo-O vosso divino nome é Jesus de Nazaré.

2.º-grupo-Inda espero de morrer, pela vossa santa fé.

1.º-Vossa divina cabeça, croada com mil espinhos.

2.º-Por causa dos meus pecados, passasteis tantos martírios.

1.º-Vosso divino cabelo, mais fino que o própio ouro.

2.º- Onde ele tem a raiz, tem minha alma o tesouro.

1.º-Vossos divinos ouvidos, ouviram cruel sentença.

2.º-Dai Senhor a minha alma, dai-le o céu confiança.

1.º-As vossas divinas faces, cheias de escarros nojentos.

2.º-Por causa dos meus pecados, passastes tantos tormentos.

1.º -Os vossos divinos olhos, inclinados ao chão.

2.º-Por causa dos meus pecados, passastes tanta paixão.

1.º-Vosso divino nariz é um cravo do craveiro.

2.º-Inda lá vindes tão longe, já me cá vem vindo o cheiro.

1.º-A vossa divina boca, cheia de fel amargoso.

2.º-Por causa dos meus pecados, perdoai-me ó bom Podroso.

1.º-Vossa divina garganta, apertada com cordel.

2.º-Por causa dos meus pecados, passasteis tanto má fel.

1.º-Os vossos divinos ombros, denegridos do madeiro.

2.º-Por causa dos meus pecados, perdoa-me ó bom Cordeiro.

1.º-Os vossos divinos braços, foram pregados na cruz.

2.º-Por causa dos meus pecados, perdoai-me ó bom Jesus.

1.º-O vosso divino peito, foi aberto com uma lança.

2.º-Dai Senhor à minha alma, dai-lhe o céu confiança.

1.º-Vossa divina cintura, apertada com uma corda.

2.º-Dai Senhor à minha alma, dai-lhe o céu misericórdia.

1.º-Vossos divinos joelhos, arrastados pelo chão.

2.º-Por causa dos meus pecados, passasteis tanta paixão.

1.º-As vossas divinas pernas, mais alvas que a neve pura.

2.º-Já correm rios de sangue, pelas ruas de amargura.

1.º-Os vossos divinos pés, foram postos no andor.

2.º-Por causa dos meus pecados, perdoai-me ó bom Senhor.

1.º-O vosso divino corpo, está feito numa só ferida.

2.º-Por causa dos meus pecados, passasteis tanta má vida.

1.º-Jesus Cristo amortalhado, que estás no esquife metido.

2.º-Deixai-me chorar um pouco, lágrimas de arrependido.

1.º-Acabai-os, acabai-os, dá-se-lho acabamento.

2.º-Viva Sol e viva Lua e o Santíssimo Sacramento.

1.º-Os Martírios do Senhor, cantados com devoção.

2.º-Rezamos um Padre-Nosso, à Sagrada Morte e Paixão.

Martírios do Senhor

Transcrição musical de Carlos Salvado

Cântico dos Martírios em Monfortinho

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Justiça e Sociedade

António Bernardo Colaço

Éesta aliás a filosofia e base ética em queassentam as sociedades evoluídas. Estassociedades não toleram nem se pautampor cânones de caridade. Aí, se ser-se

idoso não constitui privilégio, é o pólo social derespeitabilidade, e não de exclusão.

Abordar a questão do idoso, é por isso umaquestão de moral social abrangendo todo umquadro onde, cedo ou tarde, todos e cada um denós, se verá inserido. Neste contexto a mensagempara a juventude é aqui explícita, face ao seufuturo. Basta dizer que na EU, por cada 100jovens há 223 idosos!

"O idoso tem direito à...." - é o ditame daConstituição. Nesta singela formulação seincluem entre outras, a segurança económica, ahabitação digna, o apoio comunitário e familiar, asuperação do isolamento, sem por em causa oatributo nevrálgico do homem, a sua autonomiapessoal.

As pessoas idosas são pois titulares de autên-ticos direitos, os chamados direitos de envelheci-mento. Por óbvio, a estes direitos correspondemdeveres, e obrigações, exigíveis ao Estado, àsociedade e à família, os actores principais nestatarefa constitucional. As vias para alcançar esteobjectivo consubstanciam-se numa segurançasocial com pensões e aposentações humanamen-te condignas, um alojamento compatível e actos

Os direitos do idosona Constituição da República

O artigo 72º da Constituição daRepública assegura ao idoso a baselegal para que a sua roda de vida,mereça um tratamento com adignidade devida a um cidadão,enquanto ser humano, e quemdedicou e contribuiu com a maiorparte da sua actividade para oprogresso da sociedade em quevivemos.

de solidariedade. É o mínimo exigível.O grau de exigência destes direitos depende

da forma como a velhice é encarada pelo idoso. Avelhice não é tanto a degeneração dos tecidos ecélulas. É um estado evolutivo do ser humano.Fala-se hoje de uma 4ª idade

a partir dos 75 anos. Dada porém a fluidez daimprecisão etária o estado de idoso fixou-se em65 anos. É quando o isolamento, dependência,doença, depressão, carências, e exclusão mais sefazem sentir.

É imperioso por isso que o Estado assumadecididamente este ónus que a CRP dele exige,através de imposição de pensões ou reformaspelo menos não inferiores ao salário mínimonacional, de rendas sócias nunca superiores àpensão/reforma. Respeitar a autonomia pessoaldo idoso é também adoptar uma política social deconstrução de fogos para habitação de idosos atanto capacitados. Neste contexto, sem pôr emcausa o contributo de lares de idosos comosolução para as carências vivenciais, o recursosistemático a esta solução e do modo do seu fun-cionamento parecem transformar os idosos ementes segregados ou meramente tolerados.

É preciso alterar este estado de coisas. Dafamília e da comunidade, ora representada pelasCâmaras Municipais, muito se espera. Por exem-plo, na habitação social porque não incluir umapequena percentagem de casas unipessoais paraos idosos? A iniciativa de " Sempre em Férias"para os maiores de 60 anos da INATEL, mostra omuito que ainda se pode fazer. A legislação e amoral social têm de passar do mero campo desoluções banalizantes para um campo realistadestinado a solucionar com objectividade a pro-blemática da velhice num Estado de Direito quese apelida de Democrático.

Apoiar o "envelhecimento activo" não é tantomedalhar a longevidade, mas dar realização prá-tica à prestação devida pela sociedade face aocontributo do idoso na evolução da sociedade aque todos pertencemos e sem o qual seria subva-lorizada. n

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Memória

Na verdade, o jornalista fizera cemanos há poucos dias e só nãosobreviveu a uma broncopneu-monia que se revelou fatal parauma pessoa com a sua idade. Se

pudesse ter feito a notícia da sua morte, aos 100anos, por certo teria rematado o serviço com ohabitual "e esta, hem?".

Contar o que se vê e o que se ouveFernando Pessa quis ser oficial de Cavalaria.Fecharam-lhe as portas e abalou para o Brasilonde trabalhou em seguros e em 1938 decideconcorrer para os quadros da Emissora Nacionalde Radiodifusão. A Rádio ensaiava os primeirospassos e o nosso herói, com mais dois ou trêsentusiastas, foi, como disse um dia, "pau paratoda a obra". Locutor, apresentador, repórter, jor-nalista. Conta que um dia foi enviado para fazera reportagem de um festival aéreo na Amadora.Penduraram-lhe um microfone ao pescoço e dis-seram-lhe: "vai contando o que vês…" E ele con-tou. Começava aqui a longa vida deste repórterque, mais tarde, a partir de Londres, já na BBC,haveria de "contar o que viu" durante a II GuerraMundial. Desse tempo, o crítico de Televisão,Mário Castrim, diria: "A voz de Pessa é um bemque pertence à comunidade nacional, era umagrande companhia para muitos portugueses que,muitas vezes às escondidas, só ouviam as peçasdele durante os anos de repressão".

O regresso a Portugale o não da Emissora NacionalQuando Fernando Pessa partiu para Londres, oentão director da Emissora Nacional, capitãoHenrique Galvão, prometera-lhe guardar o lugar

na estação. Em entrevista a Ana SousaDias para o jornal "Público", ele própriocontou que Henrique Galvão lhe disse:"Homem, agarre isso com as duas mãosporque nós aqui somos todos amadores equando você voltar profissionalizado temaqui o seu lugar garantido." No regresso,porém, já sem Galvão, a Emissora não oaceitou de volta, diz-se por intervenção deSalazar que não apreciara a sua militânciaanti-nazi. Pessa aproveitou para fazer

locuções de filmes e documentários e quando aRTP iniciou a transmissão dos primeiros progra-mas na Feira Popular, Fernando Pessa lá estavacomo colaborador onde se manteve durante anos.E foi somente depois do 25 de Abril que Pessaentrou para o quadro da estação. Tinha 74 anos eviria a ser uma das figuras mais queridas e popu-lares da Televisão. O seu "e esta, hem?" tornou-seuma espécie de emblema nacional.

Os amores de sempre Pode dizer-se que Simone Alice, uma brasileira

filha de inglês e de norte-americana, foi o seu pri-meiro e maior amor que durou até à morte. MasPessa, Fernando Luís de Oliveira Pessa, aveiren-se, filho de médico e de mãe doméstica, tinhaoutros amores: a carreira militar (que não seguiu,por o governo ter, nessa altura, cancelado asadmissões à Escola de Guerra), os cavalos (quetrocou mais tarde pela bicicleta) e Portugal ("opaís de que mais gosto continua a ser Portugal").A sua cidade, Lisboa, esteve sempre no seucoração e por isso mesmo não serão de estranharas palavras que Pedro Santana Lopes disse nahora da sua morte: "Lisboa deve-lhe muito maisdo que o somatório das reportagens que soube-

Fernando Pessa,o que riu melhorQuando Fernando Pessa morreu, em 29 de Abril de 2002, Herman José, que o admiravamuito, teve as seguintes palavras: "Pessa consegue ser teimoso para sobreviver ao seucentenário com lucidez. Foi dos poucos casos em que o último a rir foi o que riu melhor".

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Aos microfonesda BBC em Londres

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ram resolver problemas concretos da cidade.Deve-lhe a lição de vida de quem entende asimperfeições do seu país e não desiste de as ven-cer amavelmente".

“Apenas” um grande repórterFoi assim que António Mega Ferreira classificouFernando Pessa num perfil que, em 1982, traçoupara o semanário O Jornal. Aquele "apenas" entreaspas é todo um programa. O Pessa era uma voz quesabia muito bem contar histórias e que, sem perdera elegância muito "british", se saía muitas vezes comditos bem portugueses como daquela vez, numaaltura em que na Televisão se discutia se os locuto-res deviam ter subsídios de vestuário, terminou oseu trabalho dizendo: "Fernando Pessa, vestido àsua custa nos armazéns "Pague e não bufe".

Talvez seja altura de dar a palavra a outronome grande do Jornalismo e da Televisão,Joaquim Letria, que disse de Pessa: "é um profis-sional exigente que deve ser um exemplo paratantos meninos que por lá andam a segurarmicrofones ou outros a fingirem de chefes".Palavras que ainda hoje são actuais.

“Nunca me interessaram os penduricalhos”Os "penduricalhos" de que falava Pessa eram ascondecorações que recebeu e a que faltou uma, a"Order of the British Empire" porque Salazar seopôs a que lhe fosse concedida. E deste modo onosso Pessa não chegou a ser Sir. Mas, em 1959,

a Rainha Isabel II concedeu-lhe a Ordem doImperio Britânico e Portugal deu-lhe a comendada Ordem do Infante D. Henrique. Talvez paraFernando Pessa a melhor recompensa tivessesido a que, em 1991, no I Encontro de JornalistasEuropeus lhe prestaram os seus correligionárioshomenageando-o como "o mais velho repórter domundo ainda em serviço". Tinha então 89 anos,com uma agenda de trabalho imparável. Católiconão praticante, sempre confiou no seu anjo daguarda, um senhor que, segundo Pessa, estava láem cima a olhar por ele. E que, por certo, não dei-xou de olhar por ele quando, no dia 29 de Abrilde 2002, Fernando Pessa nos disse adeus. n

Maria João Duarte

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“British” para uns,“demodé” paraoutros, Pessa foisempre um senhor.À direita: Em 1957, oactor EddieConstantine esteveem Lisboa e FernandoPessa não perdeu oencontro. Em baixo,participante doconcurso “Arca deNoé” de FialhoGouveia

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Olho Vivo

Respirar fundo

Há vida a quase dois quilómetrosde profundidade, na gruta maisfunda da Terra, na Geórgia, pertodo Mar Negro. Uma equipa queintegrava a cientista portuguesaSofia Reboleira encontrou insetosprimitivos sem asas nem olhos,num nível onde não se esperavaque existisse vida. Têm entre trêse quatro milímetros, masrespiram.

Cérebro autista

O cérebro das criançasautistas já é diferente numaidade precoce, entre os seismeses e os dois anos deidade, segundo concluiuum estudo de cientistas daCarolina do Norte,publicado no AmericanJournal of Psychiatry deFevereiro. As crianças quedesenvolvem mais tardeesta perturbação mentalpossuem menos "matériabranca", rica em fibrasnervosas, as quaisestabelecem ligação entrevárias zonas do cérebro. Atéagora não havia prova físicada doença, defendendo-seque era um mero resultadode uma relação deficienteentre a criança e a mãe.

Rosa à vista

A visão de uma floraumenta a capacidadehumana para lhe sentir ocheiro, segundo umaexperiência realizada emFiladélfia. Neurologistas equímicos estimularam ocórtex visual com umacarga eléctrica e registaramum aumento da actividadeda área do cérebro queprocessa os cheiros. Osindivíduos submetidos aoteste tiveram maisfacilidade em identificartrês cheiros diferentes, doque os que não sofreramestimulação da área davisão. O teste prova que oprocessamento dos dadosdos sentidos pode cruzar-seno cérebro.

Pompeia botânica

Graças à cinza de um vulcão, que a cobriu gentilmente ao longo demuitos dias de erupção, uma floresta tropical foi conservada edesenterrada agora, 290 milhões de anos depois, por baixo de uma minade carvão na China. A floresta fossilizada tem vários grupos de árvores edata do tempo em que a Terra possuía apenas um continente e asplantas ainda não tinham inventado a flor. A floresta está tão bempreservada que foi possível encontrar ramos com folhas presas. É aPompeia das plantas.

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António Costa Santos ( textos)

Salvemos o Queijoda Serra da Estrela

A Universidade do Minho e uma empresa queijeira de Seia estão a criarum revestimento para os queijos daSerra que retarda o aparecimento dobolor, facilitando a exportação doproduto, ao ampliar o seu prazo devalidade. António Vicente, investigador da Universidade doMinho, desenvolveu um revestimento comestível, sem sabor,cheiro, nem cor, que atrasa o bolor sem alterar as característicasdo queijo, produzido com leite de ovelha bordaleira - serra - da-estrela.

Quer flor?

Cientistas russos conseguiram produziruma flor a partir de células vegetais,congeladas há trinta mil anos, que foramguardadas em buracos por esquilos daépoca, habitantes do nordeste da Sibéria.A flor é da espécie Silene stenophylla,que continua a crescer na região, nosnossos dias. Gelo com 20 a 40 metros deespessura manteve os restos da planta,caules e um fruto, a uma temperaturamédia de 7 graus negativos, ao longo dosmilénios. Depois foi só descongelar efazer germinar o fruto. A "nova" planta jádeu sementes.

Vencedoresagressivos

Os vencedores são maisagressivos para com osderrotados do que aquelesque perdem em relação aquem os venceu. Cientistasdo Ohio estudaram 103jovens americanos ecomprovaram esta tese, quevem contra o senso comum.Pensava-se que quem perdeuma competiçãodesenvolveria sentimentosmais negativos contra oadversário. Afinal, passa-se ocontrário.

Dinossáuriocom pulgas

Os dinossáurios tambémtinham pulgas, afirma o Dr.Diying Huang, do Instituto deGeologia de Nanjim, naChina, depois de terdescoberto fósseis dosparasitas. As sugadoras desangue só diferiam dasactuais no tamanho: umapulga daquele tempo mediatrês centímetros de ponta aponta. Mais fáceis de caçar...

Cocaínaao balão

Cientistas suíços têm quasepronto um salivómetro paradetectar o consumo decocaína pelos automobilistas.O novo "balão", que equiparáas brigadas de trânsito, faz oteste instantâneo e permitesubstituir demoradasanálises laboratoriais. Deveestar pronto dentro de trêsanos.

Nano-mini-micro-transístor

Cientistas australianosanunciaram a criação deum transístor do tamanhode um átomo, abrindo aporta à construção de umcomputador comcapacidades deprocessamento milharesde vezes superiores àsactuais. Acrescentaram que será preciso unsvinte anos para que o computador quânticoseja uma realidade.

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Perguntaram ao comandante da primeiraviagem francesa de circum-navegaçãodo mundo (1766-69) como é que gosta-ria de ser recordado no futuro. Louis-

Antoine de Bougainville respondeu: "Confio aminha imortalidade a uma flor". Esta flor era aBuganvília (Bougainvillea spectabilis Willd.),baptizada com o seu nome, em virtude do médi-co, botânico e naturalista Philibert Commersonter encontrado afinidades de carácter entre oousado comandante e a sumptuosa trepadeira;cuja descoberta no Rio de Janeiro, em 1767, pro-jectara ainda mais Commerson como "Hércules

O disfarce de pataguinha

Quem descobriu a Buganvíliafoi uma mulher disfarçada dehomem.

A Casa na árvore

Susana Neves

dos Herbários". A exuberância da floração daBuganvília (carmim, roxo, rosa, laranja ou bran-co), o facto de se agarrar a outras árvores atravésde espinhos, lançando altíssimos rebentos atéatingir a copa da espécie tutora, correspondiabem ao temperamento "caloroso mas tenaz",cheio de "panache mas também intuitivo dochefe da Expedição", defendem Lucile Allorge eOlivier Ikor (La Fabuleuse Odyssée des Plantes,JC Lattès, 2003), exaltando o "génio" deCommerson por aliar "num mesmo destino omarinheiro do Iluminismo e a mais luminosa dasplantas ornamentais".

Tendo em conta a adopção generalizada dapalavra "Buganvília", sem qualquer alternativaproposta pelos portugueses, que por certo, terãosido os primeiros a vê-la, no século XVI, a históriadesta Nyctaginaceae parecia estar definitivamentefixada, não fosse a romancista Glynis Ridley reve-lar que afinal a Buganvília foi descoberta e colhi-da por uma mulher: Jeanne Baret, a companheirade Commerson que viajou com ele disfarçada dehomem (The Discovery of Jeanne Baret: A Story ofScien ce, the High Seas, and the First Woman toCir cumnavigate the Globe, Crown Publishers,2010).

A pesquisa da escritora britânica foi entretan-to corroborada por Eric Tepe, biólogo daUniversidade de Utah, Estados Unidos: "Baret eCommerson recolheram cerca de 6000 espéci-mes, durante a viagem. Quando se encontravamna América do Sul, Commerson adoeceu e tevede permanecer no navio, pelo que Baret realizougrande parte do trabalho de campo (...), colhendoa planta mais espectacular e mais conhecida hojeem dia, fruto dessa viagem (...), a Buganvília."(BBC Mundo, 5 Janeiro 2012).

Com o objectivo de homenagear a coragemde Baret, numa época em que era proibido asmulheres viajarem num barco da Marinha fran-cesa, e fazer justiça ao seu protagonismo naHistória da Botânica, Eric Tepe baptizou com oseu nome uma planta que descobriu recente-mente: Solanum Baretiae sp. nov.", apenasencontrada em Amotape Huancabamba,America do Sul.

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Fotos: Susana Neves

Volvidos 243 anos, a História da Buganvília foireescrita, sendo possível agora realçar na trepadei-ra a mesma virtude da mulher que a descobriu: acapacidade de se disfarçar. Quem tentou fotografaras suas flores ao Sol, sobretudo as carmim (desta-camos, os espécimes antigos que revestem o murodo Jardim Botânico da Ajuda), por certo, verificouuma estranha ocorrência: o brilho ou lustro dassuas "pétalas" de tão forte perturba a focagem. Éque na realidade, estas "pétalas" são um disfarce,não pétalas mas folhas modificadas (brácteas) ecumprem o papel de atrair os insectos polinizado-res porque a verdadeira flor da Buganvília, de corcreme, muito pequena e discreta, é quase insigni-ficante. Neste aspecto, a designação brasileira"Três Marias" remete de imediato para as três brác-teas que se disfarçam de flor.

Querendo investigar mais sobre os mistériosda Buganvília, muitíssimo bem aclimatada emPortugal, devido à boa exposição solar e àexistência de muitos solos alcalinos, resultaestranho a falta de bibliografia antiga, específica,feita pelos nossos viajantes e estudiosos. No arti-go "Viagens científicas", publicado online, Lorelai

Kury, pesquisadora e professora universitá-ria Universidade do Estado do Rio deJaneiro, atribui a escassez de obras portu-guesas produzidas, durante o período colo-nial, à falta de formação dos viajantes e auma "política de sigilo" que não só impediua publicação de manuscritos como fez desa-parecer algumas obras fundamentais: "Nadaque pudesse conter informações úteis sobreo Brasil podia ser publicado. Por exemplo, aobra Cultura e Opulência do Brasil por suasDrogas e Minas, do jesuíta João AntonioAndreoni (Antonil), publicada em 1711, foirecolhida e queimada nesse mesmo ano, pois asautoridades temiam que as informações do livroservissem às nações estrangeiras."

A preocupação com "a cobiça" alheia fez assimdesaparecer fontes documentais preciosas, ondequem sabe, poderíamos encontrar uma naturalis-ta portuguesa, obliterada pela História e conheceros segredos da "pataguinha", outra forma de cha-mar Buganvília à espécie que para muitos sul-americanos também se designa por Primavera ouRiso do Prado. n

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l CONSUMO A indecisão do consumidor no momento da escolha é

comparável à de um jogador de futebol, no momento de marcar um

penalty… Pág. 58 l LIVRO ABERTO "Eu Sou Bolaño - o Escritor e o Mito",

revela-nos o universo ficcional e a magia do chileno Roberto Bolaño, autor

de culto, falecido em 2003. Pág. 60 l ARTES Atenção à exposição Sonhar

com as mãos, o Desenho na obra de Mário Dionísio, que vai continuar na

Casa da Achada, em Lisboa, até fins de Maio. Pág. 62 l MÚSICAS "Alma", é

segundo album de uma Carminho versátil na escolha das canções,

tentando "fazer a ponte" entre o passado e o futuro do fado. Pág. 64 l NO

PALCO "A Morte de Danton", de Büchner, era um "desejo profundo" de

Jorge Silva Melo. Está em cena, até 22 de Abril, na Sala Garrett do Teatro

Nacional. Pág. 66 l CINEMA EM CASA Êxitos de 2011

a não perder: "Meia-Noite em Paris" (W.Allen),

"Árvore da Vida" (T. Malick), "As Aventuras de

Tintim" (Spielberg) e "Nos Idos de Março"

(G.Clooney). Pág. 68 l GRANDE ECRÃ Estreia

nacional de dois filmes portugueses premiados em Locarno e Berlim: "É na

terra não é na lua" e "Tabu". Autores: Gonçalo Tocha e Miguel Gomes. Pág.

69 l TEMPO INFORMÁTICO Onde se fala de toda uma série de

dispositivos, das mais variadas marcas, que nos permitem ouvir a nossa

música preferida. Pág. 70 l AO VOLANTE Carlos Blanco experimentou, com

os netos, o Opel Zafira Tourer, e as suas expectativas, que eram altas, não

foram defraudadas. Pág. 71 l SAÚDE A artrose dos joelhos é uma doença que

surge depois dos 40 anos, pode atingir ambos os joelhos e não é

acompanhada de sinais inflamatórios. Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI Resposta

à questão de um associado sobre as garagens enquantos elementos das

partes comuns dos imóveis em propriedade horizontal. Pág. 73

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

Carlos Barbosa de Oliveira

Se eu perguntar ao leitor a razão por que prefereuma marca de sabonete ou pasta dentífrica, emdetrimento de outra, talvez me responda "nunca pensei nisso". No entanto, a sua opção

não foi inconsciente. Pode ter sido condicionada pelamarca que usava em casa dos seus pais, por indicação deum amigo, porque a publicidade um dia o incitou a expe -rimentar e gostou, porque o marketing conseguiu fidelizá--lo à marca o tempo suficiente para não pensar emmudar, porque se deixou seduzir pela embalagem, oupor todas estas razões juntas.

Mas se os produtos que referi pertencem ao grupode produtos de consumo consuetudinário corrente (apessoa habituou-se àquela marca, para quê mudar?),o mesmo não acontece em relação à maioria dos pro-dutos que consumimos.

Quando vamos a um supermercado comprar pro-dutos alimentares, por exemplo, apenas uma partedaquilo que compramos é condicionado pelo hábito oufidelização a um produto.

Um exemplo: o leitor convidou uns amigos para irem ànoite a sua casa tomar café e aproveita a ida ao supermer-cado para comprar umas bolachas de chocolate que sir-vam de acompanhamento. Como não é uma compra quefaça com frequência, é natural que nem se lembre damarca que comprou da última vez. Mas, mesmo lembran-do-se, é normal que pense em optar por outra marca, parafazer uma comparação. Aí começa o seu dilema. Nosescaparates encontra duas ou três dezenas de marcas etipos de bolachas de chocolate: de leite, amargas, com fru-tos secos, praliné, recheadas, com aromas, light, etc.Perante a variedade de escolha faz uma de duas opções.Ou acaba por levar as da mesma marca que comprou daúltima vez, ou arrisca. Mas se decide arriscar, quais asrazões que condicionam a sua opção?

Primeiro passo: prefiro chocolate amargo, ou de leite?Com recheio, ou frutos secos? Nesta fase o seu gosto pode

ser determinante na escolha mas, mesmo assim, ainda lherestam quatro ou cinco marcas do tipo de bolachas queescolheu nesta primeira triagem.

Passemos então ao passo seguinte. Partindo do pressu-posto que se decidiu por umas bolachas de chocolateamargo, simples, que razões vão condicionar a sua esco -

A angústia do consumidorno momento do penaltyA indecisão do consumidor no momento da escolha é comparável à de um jogador de futebol, nomomento de marcar um penalty. No momento da compra, a possibilidade de optar entre um lequevariado de produtos semelhantes, coloca-nos tanto mais problemas, quanto mais alargada for a oferta.

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lha? Opta por uma marca que já ouviu alguém elogiar?Segue apenas o critério do preço e compra as maisbaratas? Deixa-se influenciar pela embalagem, ou pelamarca cujo nome considera apelativo?

Seja qual for a sua decisão, a sua escolha foi condi-cionada por diversos factores e dificilmente saberáexplicar com toda a certeza, a razão da sua escolha. Masos problemas não acabam aqui. É precisamente aqui quecomeçam…

Quando está de regresso a casa, dá por si a pensar nasoutras 29 variedades de bolachas de chocolate que deixouno escaparate e a interrogar-se como o futebolista antes defazer o remate no momento do penalty. Será que fiz a

escolha acertada? À noite, a reação dos seus amigos àqualidade das bolachas poderá dizer-lhe se con-

cretizou o penalty, atirou ao lado, ou permitiu adefesa do guarda-redes. Provavelmente,

ninguém lhe irá dizer que as bolachas nãoprestam, mas um dos seus amigos poderá

sempre lembrar, enquanto mastigadescontraidamente, umas bolachas dechocolate divinais que comprou hádias. Se ouvir essa comparação, oleitor vai sentir que falhou o penalty,porque as bolachas de que o seuamigo falou estavam no escaparate,mas a sua opção foi outra… Nestemomento, o leitor está a sentir, aindamais forte do que no acto pós com-pra, aquela sensação a que vulgar-mente se chama remorso do consumi-

dor.Este exemplo aplica-se à maioria dos

produtos que compramos. De fora ficamaqueles produtos mais pessoais e íntimos,

não escrutináveis pelo gosto público. E apli-ca-se também ao vestuário, onde o gosto pes-

soal é determinante na escolha, mas não escapaao escrutínio do círculo de pessoas com quem con-

vivemos. Imagine, por exemplo, que combinou passar um fim-

de-semana fora com uma amiga e decide comprar umas"simples" calças de ganga. Ao chegar à loja, o leitor vê-seconfrontado com uma dúzia de marcas diferentes, preços,cores e tipos de corte variáveis. Fica indeciso porque, paraalém do seu gosto pessoal, pensa na reacção da sua amiga(que talvez à mesma hora esteja, noutra loja, com o mesmodilema, em relação a uma blusa para vestir à hora do jan-tar). Tomada a decisão, ei-lo novamente com a angústia doavançado no momento do penalty e pensa nos tempos do

Ford T, quando os consumidores poderiam escolher a cordo carro, mas com uma condição: tinha de ser preta,porque era a única cor disponível no mercado

Um último exemplo. O leitor acaba de comprar o maisrecente modelo de i-phone e regressa a casa feliz com asua escolha. Uma semana depois - quando ainda está atentar perceber todas as suas funcionalidades - um amigoaparece-lhe com outro, de uma marca que nunca ouvirafalar, mas que custou metade do preço e executa as mes-mas funções. Neste momento, o leitor lamenta não viverno tempo em que as calças de ganga eram todas Levis e acor " azul indigo".

Todo este arrazoado, caros leitores, teve apenas comointuito explicar que a variedade de escolha nos tirou umaboa parte da felicidade que sempre associámos ao acto decomprar. Ou, por outras palavras (que devem ser interpre-tadas exclusivamente em termos de consumo) nem semprea liberdade (de escolha) é sinónimo de felicidade.

Tenha uma Páscoa Feliz, sem angústias, nem remorsos,no momento de comprar as amêndoas. A propósito: pre -fere de chocolate, torradas, com licor, ou as tradicionais? n

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Boavida|Livro Aberto

De Roberto Bolaño à sabedoria deFreud, passando por muita ficção,ensaio e matemática

identificada com o domínio do erotismo. Uma oportu-nidade única para reencontrar alguns dos mais belos tex-tos que se escreveram em português sobre o corpo, apaixão e o amor carnal.

Na colecção "Citações e Pensamentos" acaba a Casa dasLetras de incluir as citações e pensamentos do fundadorda psicanálise, o austríaco de origem judaica SigmundoFreud, falecido em Londres em 1938, após ter escolhido oexílio, com a família, para escapar, já gravemente doente,à perseguição nazi que, por certo, o não pouparia. O orga-nizador desta obra, como das restantes desta colecção, éPaulo Neves da Silva. Um excelente livro de referência.

"Nova Teoria do Mal" (D.Quixote) é um singular textoensaístico de Miguel Real, ficcionista e um dos grandespensadores portugueses contemporâneos. Especialista,nomeadamente, na obra de Eduardo Lourenço, MiguelReal, com vasta obra publicada no domínio do romancehistórico, publica um ensaio de intervenção sobre o malse instalou paulatinamente na nossa vida quotidiana,destruindo a Europa, os equilíbrios básicos dos cidadãos,as regras em que devem assentar a solidariedade e ajustiça social. Esse mal está por toda a parte, cavando umfosso cada vez mais fundo e intransponível entre ocidadão comum e as instâncias de decisão política.

Estamos perante um livro de combate de um filósofoportuguês contemporâneo que decidiu não dissimular asua indignação e escrever e propor ao leitor uma reflexãocorajosa e mobilizadora sobre as ideias de felicidade, deangústia e do próprio mal. Um livro sobre este tempo,mas acima de tudo sobre a condição humana, quandoconfrontada com a violência de uma sociedade que aagride e põe sistematicamente à prova. A não perder, emabsoluto.

Em matéria de ficção narrativa recente, os destaquesvão para "No Calor dos Trópicos" (Clube do Autor), deFlávio Capuleto; "Gare do Oriente"(D. Quixote), de Vasco

José Jorge Letria

Nascido em Santiago do Chileno e depois radica-do com a família na Cidade do México, Bolaño,teve forte envolvimento político e criou umprojecto literário ao qual se dedicou de forma

torrencial nos derradeiros 10 anos de vida, com residênciaem Espanha e na companhia da mulher e dos filhos. Disseum dia Bolaño: "Sou muito mais feliz a ler do que a escre -ver". Mas a verdade é que pressente que a felicidade acom-panhou todo o seu trabalho criador, fazendo hoje felizesmuitos milhares de leitores em dezenas de países.

"Eu Sou Bolaño - o Escritor e o Mito" é uma das maisrecentes apostas do Clube do Autor. Trata-se de uma obracoordenada por Celina Manzoni, que ajuda a conhecermelhor este singular universo ficcional e a magia que omarcou desde o início e também a perceber como nasceue se consolidou o mito Bolaño, hoje escritor de referência,para além do público, para muitos escritores contemporâ-neos, que fizeram dele um autor de culto.

Da mesma editora é "A Verdadeira História da Terra",que nos conta a história fascinante deste planeta azul queé o nosso e que ninguém sabe quanto tempo mais poderádurar, percorrendo essa história imensa o período que vaidesde o "big bang" até à nossa conturbada contemporanei-dade. Para ler com gosto e com garantida aquisição de co -nhecimentos fundamentais. Um livro, em suma, sobre aúnica terra que temos e que tão ameaçada e agredida temsido pelo mais destrutivo de todos os predadores: oHomem.

RECENTEMENTE distinguida com o Prémio D. Dinis peloseu excelente romance sobre a Marquesa de Alorna, MariaTeresa Horta, uma das três Marias das "Novas CartasPortuguesas", reuniu na antologia "As Palavras do Corpo"(D. Quixote) o produto de décadas de produção poética

Cinco décadas de vida e uma admiração sempre fascinada da crítica de vários continentes e dosleitores bastaram para fazer do chileno Roberto Bolaño, falecido em 2003, em Barcelona, um autormítico deste início do século XXI.

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Luís Curado, psicólogo clínico que se estreou com umlivro de contos; "A Vida Passou Aqui" (Oficina do Livro),romance de estreia do jornalista Luís Francisco, do"Público"; "Como Carne em Pedra Quente"(Clube doAutor), livro de estreia da jornalista Ana Sofia Fonseca; eainda "Balada dos Homens que Sonham - Breve Antologiado Conto Angolano", que nos revela novas e interessantesvozes da ficção angolana contemporânea, ao mesmotempo que confirma autores com obra já reconhecida.Várias propostas no domínio da ficção para ter em contapela sua estimulante diversidade. Apesar da severidade dacrise, continua a apostar na ficção narrativa e em novosautores, fenómeno merecedor de registo e aplauso.

Ainda do Clube do Autor, destaque para o interessantee desafiador "Uma Vida Sem Problemas -A Matemáticanos Desafios do Dia a Dia", de Paulo José Viana, professor,investigador e divulgador que ajuda o leitor a perceber aimportância que a matemática tem na nossa vida quotidi-ana e o verdadeiro fascínio que sobre nós pode exercer sedeixarmos de a associar a preconceitos e fantasmas que adiabolizaram durante décadas. n

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Boavida|Artes

Rodrigues Vaz

Tendo integrado este movimento "desde a horaantes do amanhecer", a ele ligou as suas princi-pais pesquisas desenvolvendo em simultâneooutras que o levaram ao abstraccionismo.

Segundo Paula Ribeiro Lobo, que assina o principal textodo excelente catálogo editado para esta mostra, "A pro -blemática da mediação estética na representação do real écentral na produção teórica, plástica e gráfica de MárioDionísio, tendo mesmo fundamentado a sua posição críti-ca no princípio dos anos 50 durante a chamada polémicainterna do Neorrealismo. Não dissociando forma e conteú-do, considerava que não havia revolucionários ou conser-vadores mas somente artistas cujas obras exprimiam asconvicções dos seus autores (assim derivando da linhaortodoxa do movimento, mais próxima da doutrinajdanovista soviética)."

Convém realçar que toda a produção gráfica desteartista revela quer o gosto pela experimentação - que olevou a testar simultaneamente expressões e técnicasdiversas - quer a permanente indagação dos seus próprioslimites no plano do desenho, cuja progressiva geometriza-ção das figuras é patente num conjunto de desenhos deserradores ou em cenas de cais captadas durante assessões de desenho que realizou na Ribeira de Lisboa comAlves Redol e Júlio Pomar.

EMERENCIANO EM OVAR

Registo totalmente diferente é o de Emerenciano que apre-senta até 19 de Maio, no Centro de Arte de Ovar, aexposição "Aqui e Agora Sem Palavras", uma antologia dasua obra de Imagem Escrita e Texto Visual.

Conforme destaca João Fernandes, o nosso atual"agente" no Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid, "Hámais de quarenta anos que Emerenciano interroga dife -rentes possibilidades de construção da imagem através da

Neorrealismo e Abstraccionismono desenho de Mário DionísioA exposição Sonhar com as mãos, o Desenho na obra de Mário Dionísio, que vai continuarna Casa da Achada, em Lisboa, até fins de Maio, apresenta, pela primeira vez, um corpo de trabalhoque o artista manteve praticamente arredado do olhar público, mas que é indissociávelda sua teorização do Neorrealismo.

Texto visual deEmerenciano eacrílico de DavidRosado

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subversão dos signos e da intersecção entre escrita e pin-tura. Uma outra legibilidade da relação entre a arte e omundo é equacionada nos seus trabalhos, para além detodas as possibilidades de interpretação que o texto possasugerir ou manifestar".

A presente exposição apresenta uma síntese da pro-dução do artista ao longo das últimas quatro décadas,reunindo exemplos paradigmáticos dessa escrita cursivaque na sua obra redefine a imagem para além da conven-cionalidade com a qual o signo escrito ou figurado a possaconstruir.

DAVID ROSADO E TERESA MENDONÇA

Por outro lado, o jovem artista David Rosado apresenta até26 de Abril corrente, na Galeria Arte Periférica, emLisboa, a exposição "Urso de má pelo", uma experiênciade exploração da superfície da tela ao mesmo tempo quetenta fazer o mesmo por baixo da pintura, isto é, trata-sede uma tentativa de reflectir sobre a própria pintura,fazendo desta um meio mas também um fim em simesmo. Por isso mesmo, o ato de pintar, enquanto acçãoconsciente, não elimina ainda situações inesperadas comoem tudo no ser humano, e esse elemento de contingência,porque não inteiramente premeditado, ganha aqui umapresença maior.

Por sua vez, Teresa Mendonça apresenta, até 28 deAbril, na Galeria Movimento Arte Contemporânea, MAC,Lisboa, a sua última série de pintura, Passagem para omundo dos segredos, onde a artista pretende absorver-seno espaço natural a fim de encontrar um espaço metafísi-co e alternativo.

Nascida em Ponta Delgada, S. Miguel, Açores, TeresaMendonça é licenciada em Artes Visuais, recebeu liçõesde pintura do mestre Domingues Rebelo, referenciando-seultimamente na obra do mestre Hilário Teixeira Lopes, daqual assume sofrer forte influência, evidenciada no uso deum impressionismo tão mitigado como consentido. n

Desenho deMário Dionísio

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Carminho regressa ao mercado discográfico com um álbum cheio de "Alma".Da Escócia chega-nos o CD de estreia de Emeli Sandé, "Our Version of Events".

Vítor Ribeiro

Após o sucesso alcançado com o primeiro traba -lho discográfico - "Fado" - editado em 2009,Carminho volta a surpreender-nos com "Alma",título genérico do segundo álbum, que integra

17 temas, os dois últimos dos quais na modalidade de"temas-extra".

Cantora de destaque entre os fadistas da nova geração,Carminho revela-se versátil na escolha das canções, ten-tando "fazer a ponte" entre o passado e o futuro do fado,designadamente ao interpretar temas escritos e/ou com-postos por autores tão distanciados no tempo e no espaçocomo Alfredo Marceneiro, Vitorino, João Linhares Barbosa,Manuela de Freitas, Júlio Proença, Vasco Graça Moura…

Boavida|Músicas

Carminho estabelece ainda ligação com o lado de lá doAtlântico, apresentando duas versões dos temas "MeuNamorado", de Chico Buarque/Edu Lobo e "Saudades doBrasil em Portugal", de Vinícius de Moraes.

Destaque especial merece também a produção edirecção musical de Diogo Clemente que, com audáciainusitada, introduz sonoridades inovadoras numgénero musical cuja tradição convive mal com "moder-nices".

Uma palavra, enfim, para a maturidade interpretativaatingida por Carminho, com o perfeito domínio de umavoz com peculiar vibrato, de características únicas, e quea cantora domina de forma notável.

"Alma" está também disponível no mercado numaedição especial de CD + DVD. Este último integra o con-certo "Carminho no Lux" e a realização é assinada porJoão Botelho.

EMELI SANDÉ

"Our Version of deEvents" é o títulogenérico do álbum deestreia da cantora ecompositora escocesaEmeli Sandé, galardoa-da no final do passadomês de Fevereiro com oPrémio da Crítica dos

Brit Awards. Filha de pai zambiano e mãe londrina, Emelinasceu na Escócia há 24 anos e escreveu a sua primeiracanção original aos 11 anos!

Admiradora de Nina Simone, Joni Mitchel, Frida Kahloe Virginia Woolf, Emeli Sandé possui uma voz de recursosinfindáveis, compõe e interpreta um tipo de música emque a pop, a soul e o R&B se misturam para dar lugar auma sonoridade personalizada.

Treze canções mais um tema-extra integram este "OurVersion of Events", que merece a nossa melhor atenção. n

"DEOLINDA" EM SANTA MARIA DA FEIRA

Os "Deolinda" efectuam um concerto dia 20 de Abril, no

Europarque, em Santa Maria da Feira, pelas 22h00. O preço

dos ingressos será de 18 euros.

A “Alma” de Carminho

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Boavida|No Palco

Maria Mesquita

“Éna Morte de Danton que se lançam todas asquestões do teatro que depois nos viria ainteressar, é nela que a herança deShakespeare é ultrapassada e o seu sopro

histórico absorvido" - sublinha o ousado encenador que,mesmo em tempo de contenção económica, movimentaem palco 44 actores e, entre eles, um Miguel Borges per-feito para o papel principal de Danton, figura central daRevolução francesa, guilhotinado aos 34 anos pela ala ra -dical, de Robespierre

A figura do mais célebre tribuno da Revolução, pre-sente nos momentos fulcrais da instauração da república,mas hostil, a partir de certa altura, ao terror jacobino, quenão lhe perdoou um comportamento mais humano e con-ciliador na voragem revolucionária, domina toda a peça.Danton e os seus camaradas e amigos enfrentam a mortede cabeça erguida, acreditando sempre que a moral e osprincípios pesarão mais do que o simples prazer peloPoder. Uma peça que, confessa Jorge Silva Melo, talveznão tivesse ido avante se Miguel Borges não tivesse aceita-

do o papel principal - porque é capaz de transmitir aopúblico a tenacidade e loucura que a sua personagemobriga, bem como toda a ternura e humanidade peloOutro, pela pátria, pela vida. E para enfrentar a Morte, épreciso exactamente isso: ter amado imensamente a Vida. FICHA TÉCNICA:De: Georg Büchner; Tradução: Maria Adélia e

Jorge Silva Melo; Encenação: Jorge Silva Melo Cenografia e

figurinos: Rita Lopes Alves; Co-produção: Teatro Nacional D.

Maria II / Guimarães 2012 - Capital Europeia da; Cultura /

Artistas Unidos

"O RAPAZ DA ÚLTIMA FILA"

Com encenação da responsabilidade do próprio colectivode actores, "O rapaz da última fila", de Juan Mayorga, queo Teatro da Politécnica/Artistas Unidos apresenta até 14de Abril, é uma história entre duas gerações e o poder daliteratura e da escrita, juntamente com a imaginação.Germano, professor de meia-idade, sempre sonhou sercapaz de partilhar com os seus alunos o seu fascínio pelasgrandes obras e pela escrita literária. Acaba por ser apenasmais um de muitos professores, que se perdeu na suavontade e acaba por viver frustrado o seu quotidiano. Nomeio do sonho acaba por não deixar herdeiros do seuconhecimento, o que ainda o entristece mais. Contudo, édurante a correcção de um dos trabalhos de casa que pedeaos alunos que a sua vida dá uma volta. Entre tantas com-posições banais sobre o "fim-de-semana passado", no con-texto de se entender o critério de "ponto de vista", há umaque sobressalta. Um jovem, que por acaso se senta na últi-ma fila, tem consigo o dom de transformar acontecimen-tos banais do dia-a-dia em pequenas obras de arteliterária. Contudo, essa mesma capacidade, quando malutilizada pode gerar o caos…FICHA TÉCNICA:De: Juan Mayorga; Tradução: António

Gonçalves; Com: António Filipe, Andreia Bento, Maria João

Falcão, Pedro Carraca, Marc Xavier e Pedro Gabriel Marques;

Cenografia e Figurinos: Rita Lopes Alves; Colaboração

Artística: Daniel Fernandes; Luz: Pedro Domingos

"SALTA-POCINHAS"

Para os mais pequenos, o cine-teatro A Barraca propõe, até

“A Morte de Danton” no TN

Humano, demasiadamente humanoEncenar "A Morte de Danton", o "enigmático" texto de Georg Büchner, escrito aos 21 anos (dois anosantes da morte do grande dramaturgo alemão no exílio suíço) era um "desejo profundo" de Jorge SilvaMelo, agora concretizado e em cena, até 22 de Abril, na Sala Garrett do Teatro Nacional.

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13 de Maio, "As Aventuras Maravilhosas de Salta-pocin-has", um conto de Aquilino Ribeiro adaptado e encenadopor Rita Lello.

Assim, como quem não quer nada, Rita Lello conta ahistória de uma raposa, ainda jovem, que sai de casa dospais e inicia o seu percurso de vida sozinha. Como quemnão quer nada, esse percurso poderá ser exactamente omesmo do que o de qualquer humano, afinal, um dia,todos temos de seguir os nossos próprios passos e deixar oconforto do lar, partindo à aventura que é a Vida.

FICHA TÉCNICA: Autor: Aquilino Ribeiro; Adaptação: Rita Lello;

Encenação: Rita Lello; Elenco: Sérgio Moras, Vânia Naia,

Adérito Lopes, Ruben Garcia e Carolina Parreira; Direcção

Plástica: Rita Lello; Cenografia e Adereços: Marta Fernandes

da Silva

"FINGIDO E VERDADEIRO"

A Cornucópia apresenta, numa adaptação e encenação deLuis Miguel Cintra, com trechos de outras fontes literárias,uma versão própria de "Fingido e Verdadeiro - ou o

Martírio de S. Gens, o actor", de Lope de Vega (1562-1636),um dos grandes clássicos da dramaturgia espanhola,

Durante o séc. III, na época do Imperador Diocleciano,Gens, um actor contratado, tem como missão representara figura de um Cristão. Convidado a representar tal figurapelo próprio Imperador, acabará por se converter aoCristianismo, religião hostil para Roma. Acusado detraição, Gens é condenado à morte. "Fingido e Verdadeiro"conta a história do mártir S. Gens, sem nunca largar oespírito do que é real e falso, do que é a mentira perante arealidade, de qual é o papel de um Actor e qual o limiteque o mesmo deverá ter enquanto representa.

FICHA TÉCNICA: Tradução: Luis Lima Barreto; Adaptação e

Encenação: Luis Miguel Cintra; Cenário e Figurinos: Cristina

Reis; Desenho de luz: Daniel Worm d'Assumpção;

Interpretação: Cleia Almeida, Dinis Gomes, Duarte Guimarães,

José Manuel Mendes, Luis Lima Barreto, Luis Miguel Cintra,

Miguel Melo, Ricardo Aibéo, Sofia Marques, Tiago Manaia,

Vítor de Andrade, Ángel Martin e Rubén Ajo (bolseiros do

Programa Leonardo da Vinci da Comunidade Europeia)

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MEIA NOITE EM PARIS

Gil e Inez voam para Paris,

aproveitando uma viagem de

negócios dos pais dela. Gil é

um argumentista que ambi-

ciona terminar o seu

primeiro

romance. Paris é

a sua cidade de

sonho e ele

procura con-

vencer uma

Inez nada entu-

siasmada para lá viverem

depois do casamento. Numa

noite, quando Inez vai

dançar com um casal amigo,

Gil resolve dar um passeio

pelas ruas da cidade e, à

meia-noite, as surpresas

acontecem…Depois de

Londres e Barcelona, Woody

Allen completa em Paris

uma trilogia 'made in

Europe', com direito a Óscar

de melhor argumento origi-

nal.

TÍTULO ORIGINAL: Midnight in

Paris; REALIZAÇÃO: Woddy

Allen; COM: Owen Wilson,

Rachel MacAdams, Kurt

Fuller, Mimi Kennedy, Carla

Bruni; Espanha/EUA, 95m,

Cor, 2011; EDIÇÃO: Zon

Lusomundo

A ÁRVORE DA VIDA

A história de uma família, a

de Jack, desde o seu nasci-

mento, nos anos 50, até à

idade adulta. Jack, o mais

velho de três irmãos, cresce

dividido entre duas visões

divergentes da realidade: o

autoritarismo de um pai,

ambicioso e descrente, com

quem vive em conflito per-

manente, e a generosidade e

humanidade de uma mãe

que lhe dá conforto e segu-

rança. Um súbito e trágico

acontecimento no seio da

família vai alterar o cenário

habitual…Estreada, com

pompa e circunstância, no

Cannes 2011,

esta magnífica

5ª longa -

metragem do

genial

Terrence

Malick tem

em Brad Pitt, Sean Penn e

Jessica Chastain (a revelação

feminina), os intérpretes cer-

tos.

TÍTULO ORIGINAL: The Tree of

Life; REALIZADOR: Terrence

Malick; COM: Brad Pitt, Sean

Penn, Jessica Chastain,

Hunter McCracken, Fiona

Shaw; EUA, 139m, Cor, 2011;

EDIÇÃO: Zon Lusomundo

AS AVENTURAS

DE TINTIM

Tintim, o jovem jornalista,

acompanhado do seu insepa-

rável Milou, passeia pela

feira de antiguidades e

deixa-se tentar pela réplica

de um antigo galeão. Logo

aparecem dois

indivíduos

interessados

em comprar-

lhe o objecto.

Trata-se do

novo proprietário de um

castelo da família Haddock,

acompanhado do misterioso

Barnaby. O nosso herói

recusa a venda, e da sua

casa - vandalizada nessa

mesma noite - desaparece o

galeão de três mastros…O

mistério adensa-se, Barnaby

é alvejado e Tintim é raptado

e levado para o interior de

um navio… Filmar um clás-

sico europeu da banda

desenhada foi a nova e

magistral aposta de

Spielberg, com resultados

excelentes junto do público

cinéfilo.

TÍTULO ORIGINAL: The

Adventures of Tintin;

REALIZAÇÃO: Steven Spielberg;

VOZES: Jamie Bell, Andy

Serkis, Daniel Craig, Nick

Frost, Simon Pegg; EUA/Nova

Zelândia, 107m, cor, 2011;

EDIÇÃO: Pris

NOS IDOS DE MARÇO

Stephen, assessor de cam-

panha do governador Mike

Morris nas presidenciais dos

EUA, acredita no seu can-

didato e mostra-se determi-

nado a fazer tudo o que

estiver ao seu alcance para

garantir a vitória. A pressão

dos adversários, os jogos de

poder no seio da campanha

e os deslizes do próprio can-

didato vão, porém, ensom-

brar a sua crença no gover-

nador e colocá-lo perante

opções decisivas, como o

que é moralmente correcto e

o que é esperado que ele

faça para bem da vitória

eleitoral…

Adaptação da peça Farragut

North, baseada na campanha

às presenciais de 2004 do

democrata norte-americano

Howard Dean, este filme de

Clooney é um retrato desen-

cantado dos bastidores da

política norte-

americana. O

título é uma

alusão ao 15 de

Março do ca -

lendário romano

(dia do assassinato de Júlio

César) e o filme ganha fulgor

graças a um leque de actores

excepcionais, com um exce-

lente Ryan Gosling, acom-

panhado por George

Clooney, Philip Seymour

Hoffman e Paul Giamatti.

TÍTULO ORIGINAL: The Ides of

March; REALIZAÇÃO: George

Clooney; COM: Ryan Gosling,

George Clooney, Philip

Seymour Hoffman, Paul

Giamatti, Evan Rachel Wood;

EUA, 101m, cor, 2011; EDIÇÃO:

Zon Lusomundo

De quatro incontornáveis realizadores norte-americanos seleccionamos outros tantos filmes deinevitável qualidade. Exibidos em 2011, "Meia-Noite em Paris" (Woody Allen), "Árvore da Vida" (TerrenceMalick), "As Aventuras de Tintim" (Steven Spielberg) e "Nos Idos de Março"(George Clooney) sãoóptimas opções para os serões de um tempo primaveril. Sérgio Alves

Êxitos em 2011

Boavida|Cinema em Casa

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Boavida|Grande Ecrã

Elogio ao cinema Acabados de conquistarem prémios nos festivais de Locarno e Berlim (três!, fora outros já acumulados)dos mais importantes, "É na terra não é na lua" e "Tabu", de Gonçalo Tocha e Miguel Gomesrespectivamente, chegam este mês às salas para serem vistos -se possível, sem os preconceitos docostume nem o franzir do nariz,- como raros sinais tocantes de deslumbramento e paixão pela artecinematográfica.

Joaquim Diabinho

Segunda longa-metragemnão-ficcional, "É na terranão é na lua" surge, porven-tura, (tal como "Balaou", seu

filme de estreia, em 2007) como umdos mais magnificamente inclassi-ficáveis títulos da história do cinemaportuguês. Se o público, culturalmentemais exigente, lhe fizer justiça o filmetem todas as possibilidades de permitirmais uma entre outras tantas descober-tas gratificantes.

Filme documental? Talvez, mas con-vém sublinhar que a singularidade,assaz incomum, das suas propostas oafasta por coerência dos registos tradi-cionais do género. Filme experimental? Em grande parte,mas seguindo por caminhos nunca antes desbravados e quereflectem a enorme dimensão da proeza de Gonçalo Tocha,cineasta autodidacta (e para mais músico de excelência!)assumido e admirador confesso de Werner Hertzog e doentrecruzar de duas circunstâncias concretas: o interesse deTocha por uma comunidade isolada -o ilhéu do Corvo- depouco mais de 400 habitantes e que supera o desejo de meroregisto -inventário e a forma, sensível e parapoética, comoedifica essa memória num contínuo caleidoscópio de con-trastes, testemunhos, recordações, citações... .

O resultado são três horas, divididas em 14 capítulos,de uma fascinante odisseia, por vezes em tom épico, quemagnetiza e subjuga o espectador graças sobretudo à origi-nalidade narrativa como à versatilidade dos suportesimagem e som que muito contribuem para a grande con-sistência do filme. Em suma: "É na terra não é no céu" éum filme, introspectivamente fascinante que revela umafortíssima vontade de expansão do mundo.

MIGUEL GOMES, autor justamente apreciado por um con-junto de curtas e médias -metragens sobre questões exis-

tenciais centradas na infância ejuventude, observação de grupos ecomportamentos, já nos havia sur-preendido em "Aquele querido mêsde Agosto", primeira longa de matrizficcio -documental que apanhoumuito boa gente desprevenida nãoapenas pelo talento do ex-crítico decinema no matutino "Público" maspela sua grande acutilância visual erítmica. Não é pois de estranhar que"Tabu", duplamente vencedor -prémioFipresci (da crítica) e de Alfred Bauer- ,na edição Berliner deste ano , seapresente marcado por um rigor euma capacidade muito própria.Drama intimista ambientado na épocacolonial, Gomes gere a intriga com

excelente desenvoltura e potencial evocativo. Rodadonum sumptuoso preto e branco, "Tabu" evidencia umpoder plástico - que chega a ser sedutor- e , como se nãobastasse, dá à narrativa uma intensidade que não tem sidousual no cinema. O filme tem a sustentá-lo interpretaçõesde primeira linha: Laura Soveral, Ana Moreira, IsabelCardoso, Henrique Espírito Santo, Teresa Madruga eCarloto Cotta.

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Boavida|Tempo Informático

Qualidade de som em qualquer lugar

Gil Montalverne [email protected]

Escolhemos para começar uma elegante Colunade um fabricante mundial de sistemas desom. Trata-se da Coluna Radial Micro5V da JBL que permite no caso dos

iPod ou iPhone colocá-los directamente numencaixe próprio mas pode ligar-se por caboestéreo a qualquer outro leitor. Com controloremoto, tem apenas 20 cm de diâmetro exter-no, mas os dois altifalantes (direito e esquerdo)de 10 Watts com tecnologia própria da marcareproduzem um som estéreo de elevada quali-dade. (70 €).

Entretanto a Sony resolve deliciar-nos - é o termo - coma Circle Sound 360º sem fios que se liga portanto a qual-quer dispositivo por bluetooth e que devido à sua forma etecnologia acústica espalha o melhor dos sons a toda a suavolta. Em qualquer lugar, em casa ou no jardim, aquelesimples e compacto dispositivo, contendo um Woofer e umTweeter oferece uma qualidade sonora omnidireccionalcom autonomia de 5 horas ou programável para um tempo

Existe toda uma série de dispositivos das mais variadas marcas que nos permitem ouvir a nossa músicapreferida. Nos leitores de MP3 temos aquela que foi previamente gravada mas nos modernos telemóveis,smartphones e tablets, temos a música gravada e também a que é transmitida em FM pelas estações deRádio. Acontece que os auriculares que acompanham esses dispositivos e até mesmo os altifalantes dealguns portáteis não nos proporcionam uma boa qualidade sonora. Vamos dar algumas alternativas.

determinado. Pilhas internas recarregáveis via USB (149€)Também podemos escolher uma coluna, ou mais,

Balloon Puro, compatíveis com qualquer leitor de áudio,através da entrada de 3,5 mm. Não nos enganemos coma pequena dimensão pois a tecnologia Mini 3D

Dynamic Sound oferece uma qualidade de som sur-preendente. Basta rodar ligeiramente a coluna

para a abrir e usufruir de uma qualidade desom mais nítida e dinâmica, mesmo embaixas frequências, ou fazer uso do novo sis-tema de ligação Link to Link que permitemultiplicar a potência de som através da li -

gação a quantas desejar. (18 €).Finalmente também pode optar por auricu-

lares de qualidade mas por isso mesmo um pouco maiscaros. Mas atendendo à qualidade sonora e ao materialutilizado conseguem oferecer um som com maior gamadinâmica e mais realismo do que os vulgares earbuds queacompanham os dispositivos móveis. Escolha por exem -plo entre os BOSE MIE2 ou os TDK BA200, estes comduas micro colunas para cada ouvido: uma exclusiva paraas frequências baixas e outra para as médias e altas. n

70 TempoLivre | ABR 2012

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Boavida|Ao volante

Novo Opel Zafira TourerDizem os peritos que para se experimentar algo se deve fazê-lo em condições o mais próximas possívelda realidade. Foi o que fiz e levei comigo alguns dos meus netos mais pequenos: o Vasco, a Inês, aMatilde e o Miguel.

Carlos Blanco

Feitas as apresentações, passemos ao Opel ZafiraTourer, cujas expectativas eram altas e, deixem-me dizer-vos, não foram defraudadas. A verdadeé que estamos perante um monovolume total-

mente novo que combina de forma harmoniosa, funciona -lidade, bem-estar, versatilidade e design.

A versão experimentada, a 2.0 CTDI de 165 cavalos,portou-se muito bem, ao contrário dos meus netos, reve-lando-se um automóvel dinâmico e de resposta semprepronta nas acelerações. Segundo a Opel, o novo ZafiraTourer é capaz de fazer 9,8 segundos dos 0 aos 100Km/h e chegar aos 208 Km/h. Pelo que vi... nao duvido!Também no seu equipamento o OpelZafira Tourer é uma classe à parte.Com o pára-brisas e tecto panorâmicoproporciona uma atmosfera iluminadae arejada, dispões mais de 30 comparti-mentos de arrumação, onde se inclui osistema multi-funcional FlexRail daconsola central, o sistema de bicicletasFlexFix, o engenhoso Flex7 Plus loungeseating que permite movimentar os

bancos de quase todas as formas possíveis e ima -ginárias, são provas da capacidade de versatilidade donovo Zafira.

Em questões de segurança, também nada foi deixadoao acaso e muito há a dizer. O novo Opel Zafira Tourervem equipado com a segunda geração da câmara dianteira"Opel Eye" com o avisador de desvio de trajectória e sis-tema de reconhecimento de sinais de trânsito. OProgramador de Velocidade Adaptativo monitoriza empermanência a distância ao veículo da frente, reduzindo avelocidade sempre que a distância for inferior a pré-definida. A câmara traseira transforma manobras difíceisnuma brincadeira de crianças. Providencia imagem ecores de alta resolução e também visão nocturna.

Conta também com o avançadosistema adaptativo de faróis Bi-Xenondireccionais AFL+. Tem um con-sumo combinado de 5,2 a 6,3 litrosaos 100 Km e emissões de CO2 de137 a 148 g/km.

É, sem dúvida, um monovolumediferente dos demais, apelativo, quenos satisfaz plenamente. A nós e...aos que connosco viajam.n

ABR 2012 | TempoLivre 71

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Page 72: Tempo Livre Abril 2012

Boavida|Saúde

Tenho dores nos joelhos,posso fazer exercício?Esta pergunta já me foi colocada por diversas vezes e de diferentes maneiras pelos meus doentes evoltou a ser feita, há dias, por uma senhora de 53 anos que me consultou.

M. Augusta Drago medicofamí[email protected]

ASra. L. tem ligeiro excesso de peso e diz que nãoemagrece só com a dieta. Precisava de fazeralgum exercício, mas o seu médico de famíliadisse-lhe, ao observar as radiografias dos joe -

lhos, que sofria de uma artrose moderada dos joelhos.A artrose dos joelhos é uma doença que surge depois dos

40 anos, pode atingir ambos os joelhos e não é acompanha-da de sinais inflamatórios. Os doentes referem dores quan-do estão de pé e rigidez matinal, que melhora com o movi-mento e desaparece, em geral, ao fim de meia hora. Estadoença atinge mais as mulheres e tem tendência a aumentarcom a obesidade, a idade e nas pessoas que, por motivoprofissional, têm de fazer movimentos repetidos de flexão,agachamento, estar de joelhos ou carregar muitos pesos.

A Sra. L. diz ter dores nos joelhos há já alguns anos e,muitas vezes, para as aliviar recorre a anti-inflamatórios, aque o estômago é sensível. Também sabe que as dores nosjoelhos têm tendência a aumentar com o passar dos anos eque o excesso de peso em nada contribui para o seu alívio.Deseja perder peso, mas receia agravar a artrose dos joe -

lhos. Este dilema é comum a muitas pessoas.O acompanhamento e o estudo de doentes com artro -

ses moderadas nos joelhos e que tomaram a iniciativa defazer exercício físico possibilitou verificar que as artrosesnão progrediram nem se agravaram e, em muitos casos,houve alívio das dores.

Hoje em dia, considera-se que o exercício físico trazexcelentes benefícios ao tratamento da artrose do joelho -as pessoas que sofrem desta patologia e que fazem exercí-cio físico moderado podem esperar melhorias significati-vas na dor e na incapacidade durante o período de tempoem que essa actividade física se mantiver.

Também se considera que programas de actividademoderada, prolongados no tempo, não parecem ser demodo algum prejudiciais a estes doentes. Em regra, osexercícios recomendados, na ausência de doenças que osimpossibilitem, são: caminhar, nadar, pedalar e fazerginástica.

Outros exercícios especificamente dirigidos aos joelhospodem ser feitos em casa: a pessoa senta-se numa cadeira elevanta alternadamente os pés até à altura dos joelhos dezvezes, depois levanta-se e faz mais dez flexões dos joelhos,

descansa e repete três vezes esta sériede exercícios. A regra básica é fazerexercício bem adaptado às condiçõesfísicas do doente com duração, fre-quência e dificuldade progressiva.Desde já se recomenda que sejam evi-tados todos os desportos vigorosos ouque possam causar traumatismos.

Da minha experiência clínica edos estudos publicados na literaturamédica ressalta o facto de, actual-mente, as pessoas viverem mais anos,pelo que se recomenda vivamenteque se mantenham activas durante otempo todo que lhes for possível. Estaé a melhor maneira a prevenir a inca-pacidade precoce e de manter umaboa qualidade de vida.n

72 TempoLivre | ABR 2012

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Page 73: Tempo Livre Abril 2012

Boavida|Palavras da Lei

? Possuo uma fracção de garagem num imóvel de

habitação. A garagem não tem água nem luz, e o seu

acesso é directo para a via pública. Pago as quantias

respeitantes à garagem e ao fundo de reserva.

Apresentaram-me uma conta para pagar, sobre instalação de

antena de TDT e alteração das escadarias com acendimento

automático. O administrador disse-me que esta despesa foi

aprovada em Assembleia Geral e que respeita a uma parte

comum do prédio, de acordo com a alínea d) do artigo 1421º

do Código Civil.

Serei obrigado a pagar estas quantias, dado que não faço uso

nem de uma, nem de outra? Só uso uma garagem com acesso

à via pública.

Sócio devidamente identificado

Pedro Baptista-Bastos

As garagens, de facto, são um dos elementos daspartes comuns dos imóveis em propriedade hori-zontal. E houve uma deliberação, aprovada emAssembleia Geral, que se diz vinculativa a todas as

pessoas que usem ou usufruam de umelemento de uma parte comum do imó -vel. No entanto, uma coisa é o entendi-mento que o administrador faz dessadeliberação, e a natureza da mesma; outracoisa é o que determina a Lei.

E a nossa Lei determina, no nº 1 doartigo 1418º do Código Civil, que: "Notítulo constitutivo serão especificadas aspartes do edifício correspondentes àsvárias fracções, por forma que estasfiquem devidamente individualizadas, eserá fixado o valor relativo de cada fracção, expresso empercentagem ou permilagem, do valor total do prédio."Logo, o único valor que o nosso sócio tem que pagar é aque-le que está determinado no título constitutivo da pro-priedade horizontal, isto é, o valor da permilagem referenteà garagem que usa, desde que esta faça parte da propriedadehorizontal do imóvel, ao fundo comum de reserva, e nadamais do que isso. Como a sua fracção nem sequer tem elec -tricidade nem água corrente, não tem que pagar os serviços

relativos ao seu fornecimento. O único dever que tem é ode manter limpa e sem danos o espaço onde estaciona oseu automóvel.

Por outro lado, reforçando a nossa ideia, o artigo 1424ºdo Código Civil, referente aos encargos de conservação efruição do imóvel diz-nos o seguinte:

1- Salvo disposição em contrário, as despesasnecessárias à conservação e fruição das partes comuns doedifício e ao pagamento de serviços de interesse comumsão pagas pelos condóminos em proporção do valor dassuas fracções.

2- Porém, as despesas relativas ao pagamento deserviços de interesse comum podem, mediante disposiçãodo regulamento de condomínio, aprovada sem oposiçãopor maioria representativa de dois terços do valor total doprédio, ficar a cargo dos condóminos em partes iguais ouem proporção à respectiva fruição, desde que devidamenteespecificadas e justificados os critérios que determinam asua imputação.

3- As despesas relativas aos diversos lanços de escadasou às partes comuns do prédio que sirvam exclusivamentealgum dos condóminos ficam a cargo dos que delas se

servem. Notamos, da conjugação destestrês primeiros números, que se tornaclaro o acima exposto; só as despesas deserviços de interesse comum, especifi-cadas e justificadas a quem as pagará ecomo, de acordo com o valor da permi-lagem da fracção, e que digam respeito auma das partes comuns do imóvel quesirvam exclusivamente algum doscondóminos, ficam a cargo unicamentede quem as usa.

Ora, não usando sequer televisão, nãofazendo acesso à garagem através da escadaria, esta delibe -ração, aparentemente válida, não tem qualquer eficáciajurídica sobre o nosso sócio, isto é, não o vincula à obe-diência da mesa. Porém, deve requerer ao administradorpor escrito que estas despesas não se lhe apliquem, pelosmotivos expostos. Se a administração persistir e lhe quisercobrar as dívidas, requererá a nulidade não só da aplicaçãoda deliberação sobre si, bem como do pagamento de quais-quer quantias que a esta deliberação digam respeito. n

Pagamento de despesasde uso de garagem

ABR 2012 | TempoLivre 73ANDRÉ LETRIA

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74 TempoLivre | ABR 2012

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 35Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

(horizontais): 1-CAMA; ACATO; AFTA. 2-ALA; EXALARA; RIM. 3-NATA; EMANA; RENA. 4-ARAME; ADI; PENAR. 5-I; RO; CRONO; IA;A. 6-SÓ; TIA; ODE; CR. 7-TIRAS; INTRA. 8-CA; LAR; MAO; LA. 9-A;AM; RUMAR; AR; P. 10-GOMAS; SÉS; ATIRA. 11-APÓS; SUSTO;AMOR. 12-DOR; TÂMARAS; ASA. 13-ORAM; LISOS; ARAR.

SOLUÇÕES

ClubeTempoLivre > Passatempos

1

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Palavras Cruzadas | por José Lattas

HORIZONTAIS:1-Pildra; Considero; Pequena úlcera, na mucosabucal. 2-Lado; Aspirara; Nome de cada um dos órgãos secreto-res da urina. 3-Elite; Brota; Rangífero. 4-Dinheiro; Admiti;Atormentar. 5-Letra grega; Elemento de composição de pala -vras que exprime a ideia de tempo; Abalava. 6-Livro de poemasde António Nobre; Solteirona; Cântico; Crómio (s.q.). 7-Afastas; Prefixo, que entra na composição de certo número depalavras, com o sentido de dentro. 8-Pois; Penates; Político,militar e pensador chinês; Nota musical. 9-Antes do meio-dia;Tomar direcção, em termos da Rosa-dos-Ventos; Garbo. 10-Colas; Igreja principal de uma diocese (pl.); Alude. 11-Depois;Alarme; Devoção. 12-Amargura; Fruto das palmeiras (pl.);Remo. 13-Discursam; Acetinados; Arrotear.

VERTICAIS:1-Estreitos; Finório. 2-Adejar; Base aérea;Confrontar. 3-Abafar; Fruto de certas silvas. 4-Pedagogo;Defeito. 5-Aquele. 6-Esfoladura; Tasquinhar em coisa decomer; Espírito. 7-Alcova; Concentrei. 8-Leve; Comidas. 9-Cortim; Tronco. 10-Portanto; Abominar; Organização, que seopôs a De Gaulle, na Argélia, contra a autodeterminação (sigla).11-Elemento de composição de palavras que expressa a ideiade vinho. 12-Soberano; Segura. 13-Modera; Trovar. 14-Cuba;Óxido de cálcio; Nome feminino. 15-Pousar o hidroavião naágua; Podar.

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 35Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

ClubeTempoLivre > Passatempos

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 36Preencha a grelha com osalgarismos de 1 a 9 semque nenhum deles serepita em cada linha,coluna ou quadrado

ClubeTempoLivre > Passatempos

N.º 36 SOLUÇÕES

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Page 75: Tempo Livre Abril 2012

ClubeTempoLivre > Cartaz

BEJAViola Campaniça:de 14 de

abril a 26 de maio - oficina de

Viola Campaniça na

Associação Desp. de

Amoreiras Gare | Inscrições

na Agência Inatel

COIMBRAMúsica: dia 28 às 21h30 - Choral

Poliphonico, Cecília Blais-

Manzoni e Éric Saint-Marc, na

Igreja da Sé Nova em Coimbra

Teatro: dia 15 - "Não há ladrão

que não venha por bem", às

16h0, na Associação CR de

Enxofães; "Médico à força", às

21h30, na Associação CRD

Casal do Redinho/Alfarelos;

. dia 21 às 21h30 - "Onde me

levam as minhas botas? ! ..."

em Murtede; "O doente

imaginário" em Cordinhã;

. dia 28 às 21h30 - "Casos da Vida"

em Pereiros; musical "Majestic"

em Alfarelos; revista "Vai de mal a

pior" em Casal de S. João;

. dia 29 às 16h00 - "Revista à

Ribeirense" na Fundação ADFP

de Miranda do Corvo.

COVILHÃFestubi: de 13 a 15 - X

FESTUBI na Covilhã,

informações na Agência Inatel

Folclore: de 24 a 29 - XIX

festival nacional de folclore e

XXI festival internacional em

Cernache de Bonjardim.

ÉVORAMeias tradicionais: dias 14,

21 e 28 de abril e 5 de maio -

oficinas de meias tradicionais

na Agência Inatel

Guitarra: de 13 de abril a 01 de

junho - Aprendizagem |

iniciação de guitarra, na

Agência Inatel

Canto: até 30 de abril -

Aprendizagem de técnica vocal

/ canto, na Agência Inatel

Fotografia: até 21 de maio -

exposição "Vinte rostos dois mil

anos" na Agência Inatel

FAROHarmónio e concertina:. dia 21 -

workshop "o harmónio e a

concertina": evolução e

caraterísticas, na Inatel em

Albufeira | Inscrições na Agência

Inatel

Gobelins e arraiolos: até 30

de junho - oficinas de gobelins

e arraiolos, na Agência Inatel

Artes Plásticas: até 30 de

junho - Artes plásticas: pintura

a óleo, aguarela e acrílico, na

Agência Inatel.

Manutenção: até 31 julho -

Classes de ginástica, às 18h30,

na Escola EB2/3 n.º 4 de Santo

António | Inscrições na

Agência Inatel

PORTALEGRETrajes tradicionais: dia 14 -

workshop manutenção,

preservação e recuperação de

trajes tradicionais, na Inatel em

Castelo de Vide | Inscrições

na Agência Inatel.

Clarinete: dias 19 e 20 Maio -

master class de clarinete na

Sociedade R.M. Alegretense

(Alegrete) | Inscrições na

Agência Inatel

Harmónica de boca:. dias 2 de

maio a 27 de junho - iniciação/

aperfeiçoamento de harmónio

de boca, na Agência Inatel

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Page 76: Tempo Livre Abril 2012

76 TempoLivre | ABR 2012

BERTRAND EDITORA

PEREGRINOS

Elizabeth Gilbert

Cowboys, strippers e

ilusionistas estão em

movimento à procura de algo

melhor. As opções e

caminhos que trilham nem

sempre são os melhores e,

calejados pelas múltiplas

experiências, lutam com

afinco pelas suas epifanias

sem perder a coragem e

esperança.

A HISTÓRIA DA RAPARIGA

BONITA

Rachel Simon

Uma jovem deficiente e um

afro-americano surdo fogem

de uma instituição e

refugiam-se, com uma

recém-nascida, na quinta de

uma sensata viúva

aposentada. Mas, enquanto

ela é

capturada e

forçada a

regressar à

instituição, ele

consegue

escapar.

Porém, a força de um amor

extraordinário voltará a uni-

los!

O PROJETO ATENA

Brad Thor

A Força Delta é composta

por mulheres tão

qualificadas e temíveis que

são selecionadas para

integrar uma

das missões

mais

arriscadas e

secretas dos

EUA. À

medida que

se envolvem na missão,

descobrem que está em

curso um atentado de

proporções inimagináveis e,

a maior ameaça parece ser

um segredo de estado.

IMPOSSÍVEL

Danielle Steel

Sasha, uma mulher de

negócios dedicada às suas

galerias em Paris e Nova York,

apaixona-se por Liam, um pintor

excêntrico e extravagante.

Enquanto ele desfruta a relação,

ela um pouco mais velharevela

dificuldades em assumir o

romance. Uma bela história de

amor!

A DÍVIDADURA

Portugal na crise do Euro

Mariana Mortágua e

Francisco Louçã

Este ano, Portugal irá pagar

mais em juros

do que o efeito

conjugado de

todas as

medidas de

austeridade.

Nos próximos dez anos a

amortização da dívida

rondará os 134,5 biliões de

euro. Uma obra que visa

fomentar a discussão do

tema, de forma a encontrar

alternativas sólidas e

conscientes para está

enorme dívida.

BOOKSMILE

PIPPA PALITO E RAFA

TRIVELA: A RIVAL

INESPERADA

António Varela, Carlos

Laranjeira e Paulo Gameiro

Pippa e Rafa não

confundem a bola com os

livros, ambos sabem que há

tempo para tudo e que só

trabalhando em equipa

vencerão.

Uma história divertida que

irá encantar os jovens

amantes de desporto.

O DIÁRIO DE UM

LOBISOMEM BANANA

Jeff Kinney

Um banana com poderes

sobrenaturais, mais peludo

que o habitual. Após ter sido

mordido por

um lobo, Luke

apercebe-se da

súbita vontade

de uivar à Lua

e devorar carne

crua. Uma jornada hilariante

para os mais novos.

CASA DAS LETRAS

QUERIDA, COMPREI UM

ZOO!

Benjamin Mee

A história verídica de um zoo

arruinado e dos duzentos

animais que mudaram a vida

de uma família. Um relato

comovente que dá conta do

esforço para

reconstruir o

zoo, do

declínio de

Katherine

provocado

pelo cancro e da forma como

a família contorna os

obstáculos.

CHIADO EDITORA

ANGOLA TERRA D'UANGA

A Imensa Teia da Guerra

Colonial

Luis Vieira da Silva

Escrito nos anos 80, o

romance relata alegrias,

tristezas e acontecimentos

históricos que marcaram a

ClubeTempoLivre > Novos livros

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Page 77: Tempo Livre Abril 2012

vida de muitos jovens e as

relações entre Portugal e

Angola.

EDIÇÃO DE AUTOR

CONFERÊNCIA SOBRE O

TEMA

A REENCARNAÇÃO EXISTE

PORQUE EXISTE

Delmar Domingos de

Carvalho

O autor apela à mudança de

atitude de forma

a construir uma

civilização mais

fraterna, justa e

altruísta. Fala da

reincarnação e de figuras

emblemáticas que se

dedicaram ao tema.

ANTÓNIO ALVES BEBIANO -

Visconde de Castanheira de

Pera

Kalidás Barreto

A edição assinala o

centenário do falecimento de

uma

personalidade

incontornável da

história de

Castanheira de

Pera que muito contribuiu

para o desenvolvimento do

conselho.

EDITORIAL PRESENÇA

RAPOSAS INOCENTES

Torey Hayden

Um romance intenso que

confronta as

personagens

com as suas

verdades.

Em Abundance,

uma cidade

mineira em decadência,

Dixie perde um filho e apoia-

se em Billy. Spencer, ator de

Hollywood, foge dos

paparazzi, mas não

consegue evitar o filho,

Tennesee.

PAPALAGUI

Tuiavii de Tiavéa

Um relato impressionante da

civilização ocidental e um

humilde contributo a

respeito da

natureza

humana e da

busca de

felicidade.

Reúne textos

do chefe da tribo de Tiavéa

das Ilhas de Samoa, dados a

conhecer por Erich

Scheurmann, em 1920.

A COR DO CÉU

Julianne MacLean

Sophie tem uma vida de

sonho, uma carreira e

casamento feliz e uma filha

adorável. Até ao dia em que

tudo desmorona com a

doença da

pequena

Megan e a

traição do

marido. E, em

plena

turbulência de sentimentos,

Sophie descobre o

verdadeiro sentido de viver e

de amar, numa história

inspiradora e poderosa.

O ROMANCISTA INGÉNUO E

O SENTIMENTAL

Orhan Pamuk

O que se passa dentro de

nós quando lemos um

romance?

O autor, prémio Nobel,

fascina-nos com o domínio

das culturas ocidental e

oriental e, inspirado em

Schiller fala-nos da s sua

experiencia enquanto autor e

leitor de romances.

OS JOGOS DA FOME

Suzanne Collins

Uma nação surge das cinzas

da América do Norte,

governada pela megalópole,

Capitol. Dois adolescentes de

cada distrito são

obrigados a

participar nos

Jogos da Fome -

um espetáculo

horrendo cujo lema é "matar

ou morrer". Katniss, num ato

de extrema coragem, oferece-

se para substituir a irmã

mais nova e será que vai

conseguir conservar a vida?

FONTE DA PALAVRA

LUÍZ FRANCISCO REBELLO

Uma colectânea de vida

Victor Sousa Lopes

Uma biografia que percorre o

modo de vida

de um

importante

vulto do

panorama

nacional que

se notabilizou na área

jurídica e da dramaturgia.

PAULUS EDITORA

A NOVA EVANGELIZAÇÃO

Rino Fisichella

Uma reflexão sobre os

caminhos que a igreja e os

cristãos devem tomar para

promover com sucesso o

Evangelho. Aborda elementos

históricos e doutrinais, define

os lugares, os agentes e os

caminhos privilegiados da

nova evangelização.

O SACERDÓCIO, UM

SERVIÇO DE AMOR

João Paulo Pimentel

Com recurso a analogias são

abordados temas como servir,

verdade, criatividade, rotina,

alegria, sacrifício e humildade.

Recorda, a importância do

sacerdócio e presta

homenagem àqueles que se

dedicam a servir os outros.

TEA FOR ONE

ESTE É O MEU SANGUE

Uma antologia

de textos

inéditos

dedicada ao

vinho da autoria

de: Abel Neves, A. Maria

Jesus, Clara Pinto Caldeira,

Inês dias, Jaime Rocha, John

Frey, Levi Condinho, Luís

Pedroso, Manuel da Silva

Ramos, Manuel de Freitas,

Marta Chaves, Ricardo

Álvaro, Rui Azevedo Ribeiro,

Rui Caeiro e Vasco Gato.

Outras informações em:

t41editores.blogspot.com

Glória Lambelho

ABR 2012 | TempoLivre 77

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Page 79: Tempo Livre Abril 2012

Noite alta. Cobrindo totalmente o tampo da secre-tária, recortes de jornais de um tempo em que oprojecto do Novo Acordo Ortográfico começavaa revelar as suas debilidades e a ser contestado

nos corredores universitários e folhas A4 recobertas denotas vão-se agrupando em montinhos, num trémulo equi-líbrio instável. Pela enésima vez, releio, artigo a artigo, otexto do "Acordo" do meu descontentamento, a sua "NotaExplicativa" e a Resolução do Conselho N. 8/2011. Leituralenta, como impõe a abundância de incongruências, cote-jando cada regra, cada afirmação, com as críticas e com osencómios, que também os há e cumpre julgá-los com equi-dade.

Segundo a Resolução do Conselho de Ministros, o AO"simplifica e sistematiza vários aspectos da ortografia e eli-mina algumas excepções ortográficas, garantindo umamaior harmonização ortográfica". Não há dúvida de que ostermos sistematizar e algumas são usados aqui de formamuito lata. Uma das críticas ao AO é, precisamente, a pro-liferação do termo "facultativamente" e da resultante duplagrafia, aceite em algumas palavras, como é o caso, porexemplo, dos tão discutidos termos "facto" e "pacto", que, aocontrário do que injustamente se questiona, manterão parao usuário português da língua o C, já que, em PE este é arti-culado.

Quanto à polémica supressão das consoantes não articu-ladas, como C e P mudos, o A. da "Nota Explicativa" mini-miza a sua importância, argumentando que "também semantém na língua palavras com vogal pré-tónica aberta,sem a presença de qualquer sinal diacrítico (vulgo acento!),como corar, padeiro….". E as outras, em que a supressãodessas consoantes mudas altera a pronúncia?

Depois, sempre preocupado com poupar o esforço dememorização, coisa que se justifica porque vai ter de o des-viar para todos os outros casos que constituem excepção àsregras que defende, o A. tem esta explicação redentora: "Éindiscutível que a supressão deste tipo de consoantes vem

facilitar a aprendizagem da grafia das palavras em que elasocorriam. De facto, como é que uma criança de 6-7 anospode compreender que em palavras como concepção,excepção e recepção, a consoante não articulada é um P, aopasso que em vocábulos como correcção, direcção tal conso-ante é um C? Só à custa de um enorme esforço de memori-zação que poderá ser vantajosamente canalizado paraoutras áreas de aprendizagem da língua", como, por exem-plo, proporia eu, para a memorização das listas deexcepções criadas com a sua "sistematização"! E, já agora,não impeçamos o A. de completar a sua argumentação, queagora é de "natureza psicológica, embora nem por issomenos importante": "…não haverá unificação ortográfica dalíngua portuguesa se tal disparidade não for resolvida". Ehaverá unificação ortográfica, se não forem resolvidas dis-paridades como António/Antônio, anafiláctico/anafilático,em que, na versão lusa, o C é, de facto dispensável, uma vezque o acento impede o fechamento da vogal?

Finalmente, a verdadeira razão (certamente uma questãode solidariedade para com os nossos amigos brasileiros):"tal disparidade ortográfica só se pode resolver suprimindoda escrita as consoantes não articuladas, por uma questãode coerência, já que a pronúncia as ignora, e não tentandoimpor a sua grafia àqueles que há muito as não escrevem,justamente por elas não se pronunciarem". Não obstante,não devia ignorá-las, porque elas desempenham umafunção na palavra: a abertura da vogal que se lhe segue!

Manhã alta. A primeira mensagem no correio electróni-co. Da filha de uma amiga:

"De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinvesriddae ignl-sea, não ipomtra a odrem das lteras de uma plravaa: a únciacsioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lteras etejasm nolgaur crteo."

Acha que quem lê isto e as cartas do meu namorado, quedá erros, precisa do Acordo para ler um livro brasileiro?"

Leio sem problema.É Primavera e o riso é azul, da cor do mar. n

Ainda da (des)necessidadede um (des)acordo ortográfico – 3Que fizeste das palavras? / Que contas darás tu dessas vogais / de um azul tão apaziguado? // E das consoantes, que lhesdirás, / ardendo entre o fulgor / das laranjas e o sol dos cavalos? // Que lhes dirás, quando / te perguntarem pelas minúscu-las / sementes que te confiaram? // Eugénio de Andrade, in: Matéria Solar, Limiar, Porto, 1980

O Tempo e as palavras

Maria Alice Vila Fabião

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No aparador da sala de Teresa Pinto Teles semprese perfilou a foto do seu baptizado. Aí a vemoscomo figura principal do friso de familiares,padrinhos e convidados, entre estes o senhor

Meneses. A bebé aparece na fotografia justamente a olharpara o senhor Meneses, engravatado e em conversa risonhacom Cidália, vistosa avó da menina. De Cidália se dissera,pela alta figura e boniteza de cara, que era tal e que a SofiaLoren. Talvez exagero, mas via-se na foto que Cidália, ultra-passava a fasquia dos quarenta - tal como o senhor Meneses- era ainda um vistão de mulher. Alguma semelhança teriacom a bomba italiana.

Invulgar se tornou a afeição da pequenita Teresa pelosenhor Meneses. A primeira palavra que pronunciou,depois de pai, mãe e vó, foi Somenê. Por Somenê o tratarianos tempos em que gatinhava e Somenê ficou, como dimi-nutivo, alcunha, mimo de ternura. Somenê adorava acriança e vice-versa. Quando a menina festejou o décimoaniversário, o Somenê ofereceu-lhe telemóvel com disposi-tivo fotográfico e Teresinha esmerava-se a retratar tudo etodos, em especial o Somenê.

Nos anos de colégio era ao Somenê que ela dava contados avanços nos estudos e, pendurada ao pescoço dele ouencavalitada nos joelhos, fazia as perguntas que as criançasfazem:

- Somenê o que são vitaminas?Paciente e, diga-se, encantado pela preferência, o

Somenê lá ia satisfazendo sucessivas curiosidades e chegoua fazer telefonemas a amigos para colher informações emmatérias de que não tinha conhecimentos.

Somenê era o ídolo e interlocutor privilegiado deTeresita, como ele lhe chamava. O pai e a mãe, sempre ace-lerados nos afazeres profissionais, não acompanhavam deperto o crescer da criança. Era como acordo tácito que essafunção pertencia a Somenê. Daí alguns ciúmes da avó

Cidália, ainda senhora vistosa e requisitada, já lá iam os cin-quenta.

Alguns mais foram passando.Quando Teresita completou os dezassete, e Somenê

entendeu chegado o momento para conversa mais delicadae, com ela enganchada no pescoço, inquiriu-a sobre o quepensava quanto a rapazes. Ouviu, com alguma surpresa,que nem um lhe agradava. Tontinhos, ignorantes e semgraça. E de súbito disparou que só havia de casar-se com umhomem mais velho, e outro não existia de quem gostassecomo gostava do Somenê.

Ele riu-se, atrapalhado, tanto mais que a avó Cidália,sentada perto e meio desprezada, ouvira a inquietante con-versa. Homem sensato, passou Somenê a ter mais cuidadonos afagos, abraços e beijinhos a Teresita, já não tão peque-nina assim. Era ela que o mimava e lhe pedia passeio no jar-dim próximo de casa onde vivia e de que Somenê era visi-tante diário. Ela dava-lhe a mão, entrelaçava os dedos,encostava-se no ombro dele.

Um dia, andava Teresita pelos dezoitos e ele na beirinhados sessenta, enroscou-se a menina no tronco de Somenê efez a pergunta inesperada:

- És o meu namorado, não és, Somenê?- Claro que não - defendeu-se ele num riso forçado.- Claro que sim, tu é que ainda não sabes - insistiu a atre-

vidota chegando a boca à boca dele.Quem se apercebia de tudo e, em consequência, andava

assustada, era a avó Cidália.Numa noite que considerou propícia, e depois de

Somenê se ter retirado, chamou a neta à pedra. Falou-lhe daconfusão de sentimentos, pode gostar-se de uma pessoamas é gostar diferente do que ela havia de sentir por algumrapaz da sua idade.

- Eu gosto é de Somenê - respigou a espevitada. - Os rapa-zes não me dizem nada.

O assunto tornara-se em alarme da família, em particu-lar da avó Cidália. Todos conheciam o carácter obstinado dajovem e rezavam para que tão tonta ideia se evaporasse dajuvenil cabecinha.

Pelo contrário, as coisas corriam cada vez mais preocu-pantes. Teresita arrastava o Somenê para o cinema e pas-seios, chegou o estrondoso momento em que comunicou àfamília reunida:

- Vou passar o fim de semana à Galiza com o Somenê.Perante tais excessos, a avó Cidália não aguentou e deci-

diu ter conversa séria com o veterano que lhe entontecia aneta. Segurou-lhe as mãos e disse:

- Desculpa, Meneses, mas deves compreender. É neces-sário que desapareças. Não voltes a esta casa.

Somenê entristeceu mas garantiu que assim se faria.

O senhorMeneses

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Os contos do

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Com pena, acrescentou, de se afastar de Teresita e da pró-pria Cidália, por quem tinha amizade grande e de largosanos.

- Mas tem de ser, Meneses.- E assim será.O banzé rebentou quando Teresita estranhou a falta de

Somenê e percebeu o porquê. Fez birra com gritos, vestiu ocasaco e, ala, arrancou direitinha ao escritório de Somenê.

Embora se tivessem visto na véspera, Teresa fez do reen-contro uma cena de romance. E, abraçada a ele, declarou:

- Vamos casar-nos, Somenê.- Casar? - assustou-se ele.Nada podia, no entanto, travar os ímpetos da mocinha

que, aliás, chegara aos vinte, três meses antes de Somenêatingir os sessenta e dois.

Chantageada a família - "se não me deixarem casar comSomenê eu fujo e nunca mais me põem a vista em cima" -lá se consumou o desequilibrado matrimónio.

Também desse dia existiam fotos e todas mostram onariz torcida da avó Cidália.

Instalou-se o casal num apartamento com vista para o rioe corria o tempo com ela encantada e ele um pouco confu-so.

- Hoje há uma festa, malta da Faculdade. Achas que devoir, Somenê?

- Vai. Recomendo-te, mesmo, que não deixes de te rela-cionar com gente da tua idade. Eu tenho outros interesses ecostumes, gosto de ficar em casa a ler, ouvir música ou vertelevisão. Quando muito, vou tomar café à pastelaria dasimpática Ercília. Vive a tua juventude, Teresita, no tempocerto vivi a minha.

Reconhecendo que o Somenê era homem experiente esábio, desatou a percorrer bares e discotecas, primeiro àssextas-feiras, depois as noites quase todas.

Sussurravam os conhecidos que aquele casamento peri-gava. Vigilante, a avó Cidália descobrira que Teresita tinha,por companheiro preferido das madrugadas, um mulatãoda idade dela. Pensou nas diabruras da neta mas também nodesgosto do Meneses quando ruísse aquele casamento semjeito. Por Meneses mantinha uma amizade que vinha dedécadas, ainda ela era casada com um traste incapaz deamar mesmo uma Sofia Loren.

Somenê, pelo seu lado, não parecia temer fosse o quefosse. Acostumado à vida de celibatário, aceitava às boas asausências da jovem consorte. Tanto mais que as conversasdela eram assuntos e interesses de outra geração. Certa esta-va que Teresita sentia por ele um amor autêntico, apesar dedisparatado.

Semanas, meses, quase dois anos, foram tempo que voounesse desencontro. Até à madrugada em que Teresita acusto conseguiu abrir a porta. Tinha bebido e não pouco,sentada em colos diversos e convidantes. Tudo iria contar aSomenê, sem omitir um copo, um colo, até mesmo o beijocom língua que lhe aplicara um desavergonhado, nem sabiao nome dele. Não o viu na cama.

- Somenê! - chamou. Nada. Percorreu o apartamento,subitamente sóbria, e nem o cheiro de Somenê. Tentou otelemóvel, desligado. Intrigada, voltou ao quarto e foi quan-do viu, sobre a mesinha de cabeceira, um envelope que achamava: Teresita.

Abriu, apressada, e leu:"Despeço-me com todo o carinho do mundo. Perdoa-me,

Teresita, mas compreenderás o meu direito à felicidade quepor muitos anos desejei em silêncio. Chegou agora, ao des-cobrir o inesperado: a pessoa que sempre amei, sempre mededicou igual sentimento. Vamos viver longe, a Cidália e eu.Um dia havemos de visitar-te. Aceita um beijinho doSomenê. n

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Omeu quarto tem uma parede total-mente ocupada por uma paisagem deulmeiros, o que lhe empresta umamaior profundidade. Ela está coberta

por um papel que a minha senhoria não se recor-da se veio da Suíça se dos Estados Unidos daAmérica.

Vivo aqui vai já para dez anos. Aluguei o quar-to para um ano e três cadeiras universitárias efui-me deixando ficar para contentamento dostrês: da senhora, de mim e do quarto que, na altu-ra, estava calmo e sem muitas vibrações negati-vas. Julgo mesmo que começou a gostar de mima partir do momento em que afirmei alugá-lo.

Os ulmeiros descem por duas ravinas e encon-tram-se em baixo, num estreito carreiro - talvezuma linha de água ainda seca. As folhas, nasextremidades das ramadas, apresentam-se comaquele castanho-dourado tão belo quando o Solestá prestes a pôr-se.

Deitado a ler, tenho sempre perante mimaquela paisagem grandiosa e vívida. Habituei-me muito a ela e, à noite, já não fecho total-mente as cortinas, para que ela receba a fracaclaridade que vem do exterior. Fico deitadohoras e horas a olhar para esta paisagem. É umaatracção a que não desejo fugir, pelo contrário,pretendo entregar-me a ela de corpo e alma.Muitas vezes, deitado, olhava para o fundoimpronunciado do carreiro e imaginava veratravessar a parede a minha vizinha para mecumprimentar e perguntar como iam os estu-dos. Eu sabia já que alguém viria um dia poraquele caminho estreito por entre os ulmeiros.Eu sabia e aguardava. Foram muitas as noitesem que não me dormi, esperando.

E uma noite ocorreu-me dar um pouco demúsica àquela paisagem tão identificada comigo.Procurei e encontrei As Quatro Estações, deVivaldi, em cassete, que há muitos anos tinhatranscrito, interpretadas pela Orquestra de

Câmara de Wurttemberg, dirigida por JorgFaerber. Coloquei a cassete na aparelhagem erapidamente encontrei o Outono. Deitei-me aolhar para a paisagem e todos começaram a apa-recer. Os dançarinos, eles e elas, a bailar pelascolinas abaixo, de maneira festiva e alegre. E con-tinuei a ver os bêbados a dormir e depois os caça-dores, num allegro bem marcado. Coloquei outravez a suite e fui ter com os bailarinos, com osbêbados e com os caçadores e diverti-me comeles, e bebi com eles, tanto que o dia nasceucomigo a dormir sobre o tapete.

E o que eu esperava, já com ansiedade, acon-teceu então.

Apartir daquela noite festiva, comecei aser visitado por vários amigos e fami-liares. Estou deitado a ler e oiço umapequena restolhada e passos ligeiros

pelo caminho, olho e vejo quem se aproxima, mecumprimenta e pára para falar comigo. Aproveitomuitas vezes estas visitas para mandar recados.Ou melhor, mando sempre o mesmo: que digamao meu avô, o marinheiro que morreu varadopela fome, que venha falar comigo. Mas ninguémsabe dele.

Nos últimos dias, como é natural, tenho-mepreparado para acompanhar os amigos e asamigas que me vêm ver. Aguardo o momentooportuno para sair da cama e meter pés aocaminho, na sua companhia, subindo o carrei-ro e descobrir, finalmente, onde ele vai dar. Aque clareira luminosa ou a que pântano som-brio ele nos levará.

Aguardo uma noite amena, perfumada esuave. Porei então o Outono e, com o Allegro daCaçada, partiremos, de braços dados, caminhoacima, sem nada nos bolsos nem reservas noespírito. Talvez encontre, então, o meu avô e eleme sente outra vez no seu colo. Para minha feli-cidade. n

Por entre os ulmeiros

Crónica

Álvaro BeloMarques

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