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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA TEMA: MECANISMOS LEGAIS PARA DEFESA DO MEIO AMBIENTE. Walmir Pereira Dias Orientador Prof. Jean Alves Niterói RJ 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

TEMA: MECANISMOS LEGAIS PARA DEFESA DO MEIO AMBIENTE.

Walmir Pereira Dias

Orientador

Prof. Jean Alves

Niterói RJ

2012

2

TÍTULO: TUTELA INIBITÓRIA NO DIREITO AMBIENTAL.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito

parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Processual Civil.

POR: WALMIR PEREIRA DIAS.

3

AGRADECIMENTOS

Ao magnífico criador do universo, agradeço a oportunidade concedida, através

da qual, permitiu a expiação dos meus erros cometidos no passado.

4

DEDICATÓRIA

A MINHA NETA ISADORA, FONTE DE INSPIRAÇÃO DESTE TRABALHO.

Embora ter sido alfabetizado aos dezesseis anos (16) de idade, por falta,

absolutamente de oportunidade, foi muito difícil a conquista de um espaço

digno numa sociedade tão egocêntrica. Como a essência da vida é a luta, só

foi possível a minha inserção no espaço pretendido, através da educação,

sendo ela, depois da vida, a única forma de aquisição da carta de alforria do

ser humano. Esse legado, ora transcrito, que sirva de reflexão para que tenha

uma qualidade de vida melhor. Que o arquiteto do universo lhe ilumine.

5

RESUMO

Este tema foi desenvolvido, tendo como base as garantias

constitucionais de acesso à justiça, haja vista que essas previsões

constitucionais por si mesmas são autorizadoras da ação inibitória. Também se

estuda os princípios que norteiam o direito ambiental, em virtude de serem

observados pelos princípios judiciais concedidos para a proteção do meio

ambiente. Em seguida, fala da tutela inibitória, que diferencia este provimento

das outras medidas dispostas no sistema jurídico para buscar a prevenção e

reparação de danos ocorridos ao meio ambiente, tais como: o mandado de

segurança coletivo, a ação popular e a ação civil pública. Assim, como

demonstrado no presente trabalho, ação inibitória é o instrumento mais

adequado para a prevenção de ilícitos contra o meio ambiente, bem como,

para a cessação de dano ao meio ambiente e sua reparação.

Palavras-chaves: Reparação ambiental. Tutela Inibitória. Obrigação de fazer e

não fazer. Reparação Ambiental.

6

INTRODUÇÃO

A existência do ser humano significa que todos são responsáveis por sua

proteção, não só as gerações presentes como também as gerações futuras.

Essencialmente o direito ambiental, direito humano fundamental.

Com o surgimento do homem na terra, sistematicamente o meio ambiente

vem sendo degradado. Em tempos remotos, o homem praticava atividades na

exploração dos recursos naturais para satisfação das necessidades básicas;

em momento posterior, passa a buscar a satisfação de necessidades não

básicas.

Nos últimos anos, a questão ambiental e o direito defrontaram-se

explicitamente. A realidade requereu e impôs novos paradigmas de conduta

aos indivíduos e a sociedade. Na atualidade, o meio ambiente é encarado

como patrimônio da humanidade, pertencente a todas as pessoas. Este

conceito evidencia o caráter metaindividual do bem tutelado.

Como prevê o art.225 da Magna Carta, o poder público tem o dever de

defender e preservar o meio ambiente para os presentes e as futuras gerações.

Mas também a coletividade, o dever de conservar a integridade do meio

ambiente, para que seja evitada a sua degradação.

Considerando o meio ambiente como de interesse difuso, este deve ser

tutelado com todos os instrumentos legais disciplinadores da matéria relativa

ao interesse coletivo, como a ação popular e a ação civil pública. Essa tutela

coletiva, visando privilegiar os princípios norteadores da matéria ambiental,

envolve também as maneiras como se processará a prevenção do ilícito

ambiental.

O processo civil tradicional adota a chamada classificação trinaria das

opções, baseando-se na espécie de provimento que o processo é capaz de

oferecer na sentença, ou seja: declaratória, constitutiva e condenatória.

Diante da insuficiência dessa visão tradicional para operar com a realidade,

busca a presente pesquisa, demonstrar os fundamentos de uma nova tutela

7

jurisdicional, a ação inibitória que se volta contra a possibilidade do ilícito, ainda

que se trate de repetição ou continuação. Desse modo, ela é voltada para o

futuro, e não para o passado. Assim, o presente trabalho busca demonstrar que, a

tutela inibitória é o instrumento hábil para proteção que impeça a prática, a repetição ou

a continuação de um ilícito ambiental, ou seja, medida que busca provimento

jurisdicional que visa a prevenção e não apenas o ressarcimento do dano, é prestado por

meio de ação de conhecimento, e não se liga instrumentalmente a nenhuma ação que

possa ser dita principal.

É fundamental buscar traçar os pressupostos e fundamentos da tutela

inibitória do ilícito, entre outros aspectos dogmáticos, necessários à

compreensão deste instituto. O presente estudo tem por intuito aguçar o

interesse para o estudo da temática, sem, contudo, importar no esgotamento

de todos os aspectos envolvidos.

Propõe-se, dessarte, vencer as metas investigatórias sintetizadas a seguir, de molde a possibilitar reflexões sobre os novos contornos do instituto: a) conhecer os principais aspectos dogmáticos da tutela inibitória ou preventiva do ilícito; b) investigar e traçar as principais premissas que a doutrina brasileira concebeu sobre a temática; c) perquirir acerca da importância deste instituto na defesa de direitos não patrimoniais.

l- PROCESSO E CONSTITUIÇÃO

“Remédios para os males da prepotência”, assim, Manoel Gonçalves Ferreira Filho(1) se refere aos ditos remédios constitucionais. No caso da ação popular e da ação civil pública, ações coletivas referidas na Constituição de 1988, tal “prepotência” se perfaz no ato ilegal e lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico-cultural e no dano causado ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico turístico e paisagístico, leia-se, a interesses difusos e coletivos em geral.

8

Não apenas um tema palpitante, a explanação sobre esses dois instrumentos se faz necessária, uma vez que tais ações se mostram relevantes para, ao menos, três ramos do Direito: Direito Constitucional (ao viabilizar a tutela coletiva de direitos individuais e promover garantias constitucionais, como o acesso à justiça e a celeridade processual), o Direito Administrativo (já que visam à proteção do erário e do Patrimônio Públicos) e o Direito Processual Civil (uma vez que se apresentam como verdadeiras ações com peculiaridades processuais e ritos especiais).

A perspectiva tradicional de um conflito individual, entre particulares, ou entre um particular e um ente público, compartilha o espaço do Judiciário com a massificação das demandas jurisdicionas. Luís Roberto Barroso com propriedade observa como o Direito moderno, notadamente nas searas constitucional e processual, vem se desprendendo de uma atmosfera impregnada pelo liberalismo individualista, priorizando um ambiente propício ao progressivo florescimento da tutela da ordem social (MARINONI) (2).

-------------------------

1 Disponível em:<http\\jus.com.br\revista\texto\23362.

______________

2 Disponível em:<http\\ jus.com.br\revista\texto\23362.

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O objeto do estudo, faz-se necessário apontar o que seria um dos pilares

de sustentação da ordem democrática brasileira. O acesso à justiça enseja um

estudo abrangente e amplo a vários ramos do direito, no sentido de esboçar

sua implicação prática. Essa garantia fundamental tem caráter constitucional,

visto que tem previsão na Magna Carta e necessário para tornar possível a

relação entre o Estado e a sociedade.

A evolução das sociedades e das necessidades imperativa de um Estado

mais atuante e preciso, este passa a concentrar poderes, viabilizando a vida

em sociedade.

Desta forma, a vida em sociedade passa a ser regulada pelo Estado, em

todos os sentidos e ramos sociais. Assim, torna-se necessário que se dê aos

cidadãos meios de chegar até este para que possa viabilizar seus direitos.

. Desde os primórdios tempos, observa-se as dificuldades de estabelecer uma

autêntica igualdade no relacionamento entre os cidadãos e o Estado. Desse

modo, a moderna ciência jurídica, torna-se o instrumento imprescindível para

viabilizar ligação lógica com os poderes da República.

Conforme preconiza a Constituição de 1988 em seu art. 5º, XXXV, garante a

todos o acesso à justiça que se torna efetivo através do direito de ação, pois

todos têm direito de exigir a manifestação do Estado sobre a lide, manifestação

esta, feita através do poder Judiciário.

Assim, garantir o pleno acesso à ordem jurídica justa, não se exaure no

mero acesso aos órgãos judiciários, mas engloba também um ordenamento

jurídico justo, capaz de solucionar adequadamente os conflitos de interesse.

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II- TUTELA INIBITÓRIA NO SISTEMA PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO

A tutela inibitória ou preventiva não encontrou terreno fértil para o seu desenvolvimento à luz do processo civil clássico, deparando-se diante de

empeços de toda ordem a sua concretização. O antigo artigo 287 do Código de Processo Civil – CPC – fundamento para a vetusta ação cominatória revelou-se deveras inócuo à prestação da tutela jurisdicional inibitória, por não permitir a cobrança da multa senão após o trânsito em julgado da sentença ou decisão que a impusesse, bem assim por não dispor dos contornos atuais do instituto enquanto gênero de tutela específica (8).

Segundo MACHADO (2008, p.301), “ Com a criação da tutela específica das obrigações de fazer e não- fazer, do artigo 461, e a previsão da multa cominatória no seu § 4º, o presente artigo perdeu importância”8

O magistrado não detinha, assim, mecanismos coercitivos capazes de prestar com eficácia a tutela inibitória, ressalvadas os casos específicos de tutela inibitória típica, ou seja, mandado de segurança preventivo; ação de interdito proibitório; ação de nunciação de obra nova.

A Constituição de 1988 assevera uma nova consciência do que seja prestação jurisdicional, tendo em vista que se busca, não apenas dar aos cidadãos direitos e garantias, mas sim torná-los efetivos. Visa negar que a demora do processo venha a prejudicar o autor que tenha razão, permitindo a utilidade da sentença, sua aptidão para garantir em caso de vitória, a concretização da tutela.

O artigo 83 do Código de Defesa do Consumidor, afirma que no cotidiano concernente às obrigações de fazer e não fazer, a redação dos artigos 84 do referido Código e 461 do Código de Processo Civil, nada mais é, do que adequar processualmente essas relações obrigacionais. Não se trata de princípio informativo da ciência processual, a efetividade do processo, é conteúdo de política processual a orientar o operador do direito e aplicar a lei quanto a sua melhor inteligência, buscando o verdadeiro alcance, também, o legislado deve na busca de novos institutos, o aprimoramento do sistema legal.

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Essa efetividade processual, direito fundamental, genericamente denominada de acesso à justiça. A tutela inibitória ambiental, abordada sob o prisma da efetividade do direito processual, é forma de se efetivar a tutela processual do meio ambiente.

De acordo com MARINONI( (2012, P. 54), “ é obtido, não só através de normas que consagram um não fazer, mas também por meio de normas que determinam uma ação positiva”(10).

O artigo 5º,xxxv, da Constituição Federal de 1988 “ a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça a direito”, fundamenta a tutela eminentemente preventiva, tendo em vista que, refere-se ao papel do Estado de dirimir as controvérsias surgidas quando da aplicação da lei ou da sua mera ameaça de forma rápida e, sempre que possível, previamente ao dano.

Em relação à tutela inibitória, que visa impedir a repetição do ilícito anteriormente já ocorrido, a prova da ameaça reveste-se de maior facilidade, porque a ocorrência anterior da violação ao meio ambiente importa em forte indício da futura possibilidade de nova lesão.

Assim, o legislador constituinte assegurou o direito material de uma adequada tutela preventiva. Para tanto, se a existência eficaz do direito material depende da efetividade do processo, não se pode olvidar que para a proteção dos direitos que não podem ser tutelados pela via ressarcitória como é o direito ambiental, buscam-se meios capazes de evitar a violação desse direito material. Logo, a inafastabilidade do controle judicial garante a adequada tutela do direito ambiental, de moda a impedir sua violação, visto que a prevenção de ilícito é indispensável à proteção da dignidade da pessoa humana (³).

______________

³ Disponível em: <http://jus.com.br\revista\texti21025.

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III- DO PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO.

A busca pela proteção e prevenção do meio ambiente, nas últimas décadas, tem como fundamento precípuo, assegura um salutar equilíbrio ao ecossistema, nacional e internacional. Nesse período, não foram criadas todas as regras de proteção ambiental humano e natural. Há séculos, o homem preocupa-se com a conservação dos mananciais, florestas e faunas. Devido a responsabilidade de proteger o meio ambiente ser de toda humanidade, os povos adotaram mecanismos no sentido de criarem regras que sejam adotadas pelos signatários das nações unidas. Recentemente, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, foi realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A Rio+20 foi assim conhecida porque marcou os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. A proposta brasileira de sediar a Rio+20 foi aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em sua 64ª Sessão, em 2009.

O objetivo da Conferência foi a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes (09). Os Estados-membros, representantes da sociedade civil e organizações internacionais preparou um texto-base para a Rio+20, chamado“zero draft” (“minuta zero” em inglês), o qual foi negociado em reuniões ao

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longo do primeiro semestre de 2012, conforme reportagem do jornal: O globo de 14 de junho de 2012.

A destruição do meio ambiente, regra geral, é irreparável. Trata-se de bem cuja perda, em alguns casos, não pode ser reparada, como, por exemplo, a extinção de uma espécie animal, a devastação de uma floresta que levou milhões de séculos para se formar. Para evitar tal destruição, o estudo preventivo do impacto ambiental previsto no artigo 225, § 1º, IV, da Constituição Brasileira, incorporou na conferência da terra, ou ECO 92, o princípio da precaução, segundo o qual a ausência de certeza científica absoluta não deve servir de pretexto para postergar a adoção de medidas efetivas visando a evitar a degradação do meio ambiente.

09 Disponível em: Jornal O globo do dia 14 de junho de 2012, p.17.

IV- DESEMVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

O ser humano, em sua precípua evolução, contribuiu com a exploração desastrosa do ecossistema do planeta, até perceber-se que os recursos ambientais são esgotáveis. Ao perceber as gravidades de seus atos, surgiu a ideia de que o desenvolvimento das atividades econômicas, precisam caminhar harmonicamente com o meio ambiente.

Assim, surgiu o princípio da sustentabilidade, tal princípio defende o crescimento econômico de forma equilibrada, de modo que a defesa precípua, não apenas a garantia

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das gerações presentes, mas também das futuras gerações. Este princípio surgiu em 1972, por ocasião da conferencia mundial do meio ambiente, em Estocolmo.

Na realidade, busca se a coexistência entre as atividades econômicas e um meio ambiente ecologicamente equilibrado, de modo que este não acarrete consequência daquele. A constituição brasileira dispôs no artigo 170, VI, que a ordem econômica, fundada na livre iniciativa e na valorização do trabalho humano, deverá reger-se pelos ditames da justiça social, respeitando o princípio da defesa do meio ambiente.

Conclui que a idéia principal é assegurar a existência digna, pautada de uma

vida com qualidade e não impedir o desenvolvimento econômico. O cerne da

questão, é que as atividades sejam desenvolvidas, lançando-se mão dos

recursos já existentes, adequados para a menor degradação ambiental

possível. A magnitude da degradação ao meio ambiente é tão preocupante,

que fez com que a ONU fizesse um documento, titulando-o “a carta da terra”:

disponível em:(mma.gov.br\agenda 21)³

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época

em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo

torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo

tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos

reconhecer que, da magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos

uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum.

Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada

no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça

econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo

que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com

os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar,

está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da

existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as

condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação

da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da

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preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos,

uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo.

O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum

de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é

um dever sagrado.

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação

ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies.

Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não

estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está

aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm

aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes

da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As

bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas,

mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos

outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São

necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos

de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem

atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais,

não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para

abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento

de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir

um mundo democrático e humano.

Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão

interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.

16

Responsabilidade Universal

Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de

responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre

bem como com nossa comunidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos

de nações diferentes e de um mundo no qual a dimensão local e global estão

ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro,

pelo bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O

espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido

quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo

dom da vida, e com humildade considerando em relação ao lugar que ocupa o

ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos

para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente.

Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos

interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum,

através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas,

governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem

valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos.

b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial

intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais

vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os

direitos das pessoas.

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b. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica

responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas,

sustentáveis e pacíficas.

a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos

humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada um a

oportunidade de realizar seu pleno potencial.

b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a consecução de

uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras

gerações.

a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas

necessidades das gerações futuras.

b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apoiem,

em longo prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da

Terra. Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é necessário:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com

especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais

que sustentam a vida.

a. Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável em todos

os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam

parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.

b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera,

incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de

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sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança

natural.

c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçadas.

d. Controlar e erradicar organismos não nativos ou modificados geneticamente

que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a

introdução desses organismos daninhos.

e. Manejar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e

vida marinha de forma que não excedam as taxas de regeneração e que

protejam a sanidade dos ecossistemas.

f. Manejar a extração e o uso de recursos não renováveis, como minerais e

combustíveis fósseis de forma que diminuam a exaustão e não causem dano

ambiental grave.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental

e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.

a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos

ambientais mesmo quando a informação científica for incompleta ou não

conclusiva.

b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não

causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados

pelo dano ambiental.

c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas consequências

humanas globais, cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance.

d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o

aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as

capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar

comunitário.

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a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e

consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas

ecológicos.

b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais

aos recursos energéticos renováveis, como a energia solar e do vento.

c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de

tecnologias ambientais saudáveis.

d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço

de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as

mais altas normas sociais e ambientais.

e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde

reprodutiva e a reprodução responsável.

f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência

material num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e

a ampla aplicação do conhecimento adquirido.

a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada a

sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em

desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria

espiritual em todas as culturas que contribuam para a proteção ambiental e o

bem-estar humano.

c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a

proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao

domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.

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a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos

solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os

recursos nacionais e internacionais requeridos.

b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma

subsistência sustentável, e proporcionar seguro social e segurança coletiva a

todos aqueles que não são capazes de manter-se por conta própria.

c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que

sofrem, e permitir-lhes

desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis

promovam o desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável.

a. Promover a distribuição equitativa da riqueza dentro das e entre as nações.

b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das

nações em desenvolvimento e isentá-las de dívidas internacionais onerosas.

c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos

sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.

d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras

internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e

responsabilizá-las pelas consequências de suas atividades.

11. Afirmar a igualdade e a equidade de gênero como pré-requisitos para

o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação,

assistência de saúde e às oportunidades econômicas.

a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com

toda violência contra elas.

b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida

econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias,

tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias.

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c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a educação amorosa de

todos os membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um

ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde

corporal e o bem-estar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos dos

povos indígenas e minorias.

a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas em raça,

cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou

social.

b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos,

terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas

sustentáveis de vida.

c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir

seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.

d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.

IV.DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-

lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação

inclusiva na tomada de decisões, e acesso à justiça.

a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber informação

clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de

desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tenham

interesse.

b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação

significativa de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.

c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia

pacífica, de associação e de oposição.

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d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e

judiciais independentes, incluindo retificação e compensação por danos

ambientais e pela ameaça de tais danos.

e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios

ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais

onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os

conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida

sustentável.

a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades

educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento

sustentável.

b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências,

na educação para sustentabilidade.

c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no sentido de

aumentar a sensibilização para os desafios ecológicos e sociais.

d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma

subsistência sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e

protegê-los de sofrimentos.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que

causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável.

c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies

não visadas.

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

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a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação

entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.

b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a

colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos

ambientais e outras disputas.

c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma

postura não provocativa da defesa e converter os recursos militares em

propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.

d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição

em massa.

e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção

ambiental e a paz.

f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo

mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com

a totalidade maior da qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um

novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra.

Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover

os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de

interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver

e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis

local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança

preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de

realizar esta visão. Devemos aprofundar expandir o diálogo global gerado pela

Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e

conjunta por verdade e sabedoria.

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A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode

significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para

harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem

comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo,

família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As

artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de

comunicação, as empresas, as organizações não governamentais e os

governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria

entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma

governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo

devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas

obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a

implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento

internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face

à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação

da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.

V- INSTRUMENTOS DE DEFESA E PROTEÇÃO NO DIREITO AMBIENTAL.

Os bens tutelados pela ação popular e ação civil pública são delimitados tanto pela Constituição, respectivamente nos arts. 5º, LXXIII e 129, III, CF, quanto pelas leis disciplinadoras de cada ação. Abarcando visíveis semelhanças e sutis distinções, nas palavras de Luís Roberto Barroso, a Constituição e a legislação infraconstitucional dão ensejo a eventuais superposições entre a ação popular e a ação civil pública, notadamente em matéria de proteção ao meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural.

No que diz respeito ao rol de bens tutelados por cada ação, uma leitura conjunta dos dispositivos constitucionais (art. 5º, LXXIII, e art. 129, III, CF) e

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legais (art. 1º § 1º e da Lei 4.171/65 e art. 1º, Lei. 7.347 de 1985) evidencia que, de uma maneira geral, os destinatários próprios da proteção da ação popular são absorvidos pela ação civil pública, cujos bens tutelados, segundo rol exemplificativo do art. 1º da LACP, são o meio ambiente, o consumidor, os bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a proteção contra à ordem econômica e a economia popular, bem como à ordem urbanística (esta última incluída pela Lei. 10.257/10, o Estatuto da Cidade), e quaisquer outros direitos difusos e coletivos.

Desse modo, temos que o patrimônio público, o meio ambiente e a moralidade administrativa são objetos comuns tanto à ação popular quanto à ação civil pública. Cabe aqui a ressalva de José dos Santos Carvalho Filho quando dispõe que a amplitude do conteúdo semântico do sintagma patrimônio público permite nele alocar os demais aspectos mencionados na Carta Constitucional de 1988 como, por exemplo, patrimônio histórico e cultural.

A moralidade administrativa e o meio ambiente também se integram, em sentido lato, na mesma concepção, evidenciando a maior abrangência de bens jurídicos que a ação civil pública pode tutelar.

Ainda, a Ação Civil Pública é instrumento cabível para a tutela de qualquer outro interesse ou direito difuso e coletivo, como expressa disposição no art. 129, III, CF e art. 1º, IV, L. 7.347/85, caracterizando-se o rol de objetos de tutela previstos no Texto Maior e no diploma legal como sendo exemplificativo. Contudo, a fim de delimitar a amplitude terminológica dos vocábulos, o CDC em seu art. 81 § 1º busca conceituá-los, como sendo ambos de natureza indivisível, sendo os titulares do primeiro indetermináveis, posto que determináveis quando coletivo o interesse.

Nesse ponto, malgrado a dissonância doutrinária, em virtude da obscuridade legal, compreendemos cabível ação civil pública na tutela dos direitos individuais homogêneos, ainda que ausente o cunho transindividual dos direitos coletivos e difusos, mas desde que indisponíveis, conforme assinalado na Lei Orgânica do Ministério Público.

Ainda quanto à Ação Civil Pública, o parágrafo 1º do art. 1º da sua lei disciplinadora proíbe a propositura da ação para pretensões concernentes a tributos, contribuições previdenciárias, FGTS, “ou outros fundos de natureza institucional cujos benefícios podem ser individualmente determinados.” A tendência jurisprudencial é em reconhecer e aplicar a norma, porém cabe não confundir a situação descrita pelo dispositivo (direitos individuais e disponíveis) com verdadeira tutela de direitos difusos e coletivos, ainda que em sede tributária e previdenciária, quando então a ação civil pública será cabível. (4 )

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Em âmbito nacional , dar-se como divisor de águas na ordem legal do meio ambiente a Lei nº6.938 de 1981, recepcionada quase todos os seus aspectos pela Constituição Federal de 1988. Esta lei criou a Politica Nacional do Meio Ambiente está consubstanciada numa visão global da questão ambiental que tende para uma visão do patrimônio ambiental global considerada em todas as suas manifestações, por sua atuação conjunta dos fatores desagregantes de todos os objetos, tais como: água, ar, solo e fauna. Tal instrumento, vem explicitamente destacado no artigo 225 da Carta Magna, quando usa a expressão “ ecologicamente equilibrado”, assim, para que a Politica Nacional atinja seus objetivos, deve-se ter como base inicial, a referida lei e a Constituição Federal de 1988, e a partir destes, através das regras de competência complementar para legislar sobre o meio ambiente, que cada região estabeleça sua fração de legislação ambiental, levando-se em conta suas realidades e características, haja vista que, por ser o Brasil um país com proporções continentais, não é possível a completa realização da política somente com as duas normas.

Com base no princípio constitucional ambiental do dever da coletividade e poder público de preservação e proteção do bem ambiental, tem-se que, todo instituto utilizado e destinado tanto pelo Poder Público, quanto pela coletividade na proteção ou preservação de bens ambientais, constituem-se como instrumento de tutela ambiental.

A natureza difusa do bem ambiental, para que um instituto seja rotulado como instrumento de tutela ambiental, basta que este tenha a finalidade de preservar e proteger os bens ambientais, não sendo usados como tais, apenas aqueles exclusivamente emanados do Poder Público ou da coletividade.

O enfoque que o artigo 225 da Constituição Federal de 1988, tem-se a existência de tutelas preventivas e tutelas reparatórias do meio ambiente, sendo que, as primeiras estariam ligadas à ideia de preservação e a segunda à ideia de recomposição do meio ambiente.

Em relação aos instrumentos de tutela ambiental, a reparação e a prevenção do meio ambiente divide-se em dois distintos tipos: mecanismos não jurisdicionais de tutela ambiental e mecanismos de tutela processual. Tanto um como outro, é possível a reparação ou a preservação do ilícito ambiental.

Conforme preconiza o ilustre doutrinado MARINONI¹³,” o Código de Processo Civil não trata da tutela dos direitos, mas apenas da técnica adequada a esta tutela, ou melhor, do veículo capaz de prestar a tutela jurisdicional”.

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4 disponível em:http://jus.com.br\revista\texto\22361Acesso em:10 de Agosto de 2012.

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13 MARINONI, tutela inibitória, 2012, p. 98.

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O mecanismo não jurisdicional de tutela ambiental é o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, o manejo ecológico, O zoneamento Ambiental. Ao passo que os mecanismos jurisdicionais de tutela processual é a ação popular, a ação civil pública, o mandado de segurança ambiental e o mandado de injunção.

Assim, a ação inibitória também é um meio jurisdicional de tutelar o meio ambiente preventivamente, conforme preconiza o artigo 5º, inciso LXXIII, da Constituição Brasileira de 1988” Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e de ônus da sucumbência. Entretanto, o cidadão precisa contratar advogado para apresentar a petição inicial. A ação não se presta para a plenitude da defesa ambiental, porque não abrange todas as hipóteses de dano potencial ao meio ambiente. Sendo ela viável somente naquelas hipóteses de agressão ao meio ambiente por atividades dependentes de autorização para o seu exercício, do poder público, posto que, é exigível como condição para a procedência da ação a ilegalidade do ato, pois só se pode anular um ato, seja administrativo ou não, se ele for ilegal.

O mandado de injunção, previsto na Constituição Federal, no inciso LXXI do artigo 5º “ Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania ”.

Logo, por ser o meio ambiente ecologicamente equilibrado, um direito constitucional de todos, é cabível mandado de injunção, quando da falta de norma regulamentadora de dispositivo constitucional ou infraconstitucional se torne inviável a manutenção do meio

Em relação a Ação Civil Pública, disciplinada na Lei nº 7.347 de 1995, não foi excluída com a ação popular, tendo em vistas que ambas podem ser usadas para a tutela de interesses difusos, ou seja, meio ambiente. Essas hipóteses, é cabível o acionamento para compor os danos ambientais, a vitima, pessoa física considerada individualmente, demandará para defender seu interesse próprio, nos termos do artigo 6º do Código de Processo Civil, por intermédio de ação de indenização pelo procedimento ordinário.

Entretanto, o lesado, pessoa física, poderá acionar o poluidor para que este recomponha os danos que causou ao meio ambiente, valendo-se da ação popular, também, nessa hipótese poderá propor ação especial, denominada de ação civil pública, legitimada pelo Ministério Público.

Entretanto, de todas as medidas disponíveis para proteger o meio ambiente, o que tem maior eficácia eminentemente preventiva é a ação inibitória.

VI-TUTELA INIBITÓRIA

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A tutela inibitória, ou tutela jurisdicional preventiva de natureza inibitória, é uma atuação jurisdicional que tem como objetivo prevenir a prática do ilícito, entendido como ato contrário ao direito material. A previsão legal está no artigo 461 § 4º do CPC e no art. 84 do CDC.

A tutela inibitória preventiva é uma alternativa preferida à tutela ressarcitória, cuja técnica é indenizar pelo equivalente, mais perdas e danos. Sua principal característica é a não exigência da ocorrencia do dano. Para o cabimento da tutela inibitória basta a existência de uma ação ilícita. Se houver dano a tutela cabível será a tutela ressarcitória ou reparatória, embora a inibitória também caiba para cessar o dano.

Para inibir a continuidade do ilícito, a moderna ciência processual admite a aplicação do novo instituto que disciplina a tutela a ser dada nesse caso, classificando essa tutela como "inibitória Deste modo, podemos entender que, através dessa tutela, pode-se pedir ao juiz que determine ao réu que cumpra uma obrigação de fazer, qual seja, a de se comportar de tal maneira que faça cessar a conduta ilícita que vinha se perpetuando no tempo, ou de não fazer, também com o mesmo escopo: a inibição da continuidade do ilícito.

A ação inibitória diz respeito à ação ilícita continuada, e não ao ilícito cujo efeitos perduram no tempo. Isso por uma razão lógica: o autor somente tem interesse em inibir algo que pode ser feito e não o que já foi realizado. No caso em que o ilícito já foi cometido, não há temor a respeito do que pode ocorrer, uma vez que o ato já foi praticado. Como esse ato tem eficácia continuada, sabe -se de antemão que os seus efeitos prosseguirão no tempo. Portanto, no caso de ato com eficácia ilícita continuada, o autor deve apontar para o que já aconteceu, pedindo a remoção do ato que ainda produz efeitos. Na tutela inibitória, a sua prevalência essencial é dar maior efetividade a situação em que se impõe a alguém uma obrigação de fazer ou não fazer. Logo, os interesses difusos, em especial o meio ambiente, não encontram respostas satisfatórias para a sua efetividade na antiga relação estabelecida em ilícito e dano.

No direito ambiental, em razão dos princípios da prevalência do meio ambiente, da prevenção e da precaução, ganham relevância às tutelas específicas de urgência, principalmente aquelas que permitem o afastamento do próprio ilícito inibitório, impedindo-se consequentemente o dano ambiental. A reparação dos prejuízos causados ao meio ambiente é muito difícil, quando não impossível o que acarreta sua indenização. Nesse sentido, torna-se necessário a concepção de uma tutela preventiva para que, ao invés de reparar ou indenizar os danos ambientais causados, haja a possibilidade de preveni-los.

Na acepção de dano ambiental, entende os prejuízos causados, direto ou indiretamente pelas diversas formas de agressões ao meio ambiente cometidas pelo homem, e a tutela voltada a cessar a prática, a reparação ou a continuação do ilícito, bem como a tutela para remover ato ilícito de eficácia continuada não são tutelas dirigidas contra o dano, ou mesmo contra a sua probabilidade, mas tutelas preparadas para prevenir ou remover o ilícito.

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A ação inibitória se destina a impedir a prática, a repetição ou a continuação do ilícito continuado ilícito, a ação de remoção do ilícito, como o próprio nome indica, ser os efeitos de uma ação ilícita que já ocorreu. Esclareça-se que a ação inibitória, quando voltada a impedir a repetição do ilícito, tem por fim evitar a ocorrência de outro ilícito. Quando a ação inibitória objetiva inibir a continuação do ilícito, a tutela tem por escopo evitar o prosseguimento de um agir ou de uma atividade ilícita

Percebe-se que a ação inibitória, somente cabe quando se teme um agir ou uma atividade. Ou melhor, a ação inibitória somente pode ser utilizada quando a providência jurisdicional for capaz de inibir o agir ou o seu prosseguimento, e não quando esse já houver sido praticado, estando presentes apenas os seus efeitos.

VII-MODALIDADES DE TUTELA INIBITÓRIA Com o surgimento de novas situações carentes de tutelas, conduziu à distinção entre ilícito e fato danoso, obrigando à construção de tutelas autônomas, voltadas a impedir e a remover o ilícito, independentemente do dano. A tutela inibitória, como a tutela preventiva, executiva e a reintegratória são voltadas, apenas contra o ilícito e podem ser prestadas através dos instrumentos contidos nos artigos 461 do Código de Processo Civil Brasileiro e o artigo 84 do Código de defesa do consumidor, protegendo direitos individuais coletivos e difusos. A interferência judicial, antes da prática de qualquer ato ilícito, é a modalidade mais adequada com a efetividade da tutela dos direitos. A classificação da tutela inibitória pode ser: positiva e negativa, se houver adoção da concepção de inibitória para a prevenção do ilícito. Não se pode confundir: tutela inibitória com pretensão negativa. A tutela que busca evitar o ilícito, pode necessitar não apenas a obtenção da parte requerida, exigindo a adoção de atividade concreta por ela. A tutela inibitória pode ser obtida através de três espécies de prestações, tais como: abstenção (não fazer ), e de tolerar ( deixar que alguém faça algo ). Ambas as prestações são chamadas de tutela inibitória negativa. A terceira espécie de prestação, é a tutela inibitória positiva de ação ( fazer algo ), obviamente, por ser consistente em um fazer, a torna à tutela inibitória positiva. Tutela inibitória positiva, é aquela que se dá através de uma prestação inibitória positiva, ou seja, impede a violação do direito, impede a violação ou repetição da lesão a direito. Com referencia ao poder público, cabe lembrar, embora não tenha razão para não aceitar tutela inibitória negativa contra si, não há razão para não admitir tutela jurisdicional que ordene ao poder público não praticar certos atos, não repetir a prática de ilícito, assim como não continuar praticando atos contrário ao direito.

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Assim, a tutela inibitória negativa é inquestionável, visto que, deseja evitar a prática, a repetição ou mesmo a continuação de uma conduta comissiva. As diferentes e novas necessidades dos direitos difusos e coletivos, com referencia aos artigos 461 do Código de processo civil e 84 do código de defesa do consumidor, apresentam técnicas processuais capazes de dar efetividade à tutela eminentemente a esses direitos. A construção dogmática de tais tutelas, destacando-se a tutela inibitória, compreende-se que os novos direitos não encontram resposta efetiva na velha tutela que relacionava o ilícito com o pagamento de indenização. Esses direitos, necessitam de uma tutela que garanta o bem em si, e não o seu arquivamento em pecúnia, é de suma importância para perceber que as ações inibitórias e a reintegratória, são fundamentais para a sua proteção. O artigo 461 do Código de Processo Civil, aplicável em qualquer direito individual, e o artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor, aplicável à tutela de qualquer direito difuso ou coletivo, permitem que o juiz ordene sob pena de multa na sentença ou na tutela antecipada. Esses artigos, criaram uma ação inibitória que pode ser arguida para a proteção de qualquer direito, principalmente os direitos difusos e coletivos. Tal ação, pode ordenar um fazer ou nãofazer, prestando, assim, a impedir a prática, a continuação ou a repetição de um ilícito. A aplicação de tais artigos, não se restringe às regras das obrigações em sentido técnico, mas também aos deveres jurídicos. Logo, o dever geral de proteger o meio ambiente, imposto a toda sociedade, também é objeto da tutela processual, consagrada nos dispositivos supracitados. Essas questões são difíceis de serem solucionadas, entretanto, a conscientização e a cooperação dos envolvidos, viabilizam as ações adequadas. A sociedade precisa repensar sobre seus atos e respeitar mais a natureza, porque o meio ambiente vive sem o homem, mas o homem não vive sem um ecossistema equilibrado. FOLHA AZUL, informativo da faculdade integrada AVM ( 2012, Nº 05, p. 01) ¹². VIII-TUTELA INIBITÓRIA AMBIENTAL

A tutela inibitória caracteriza-se por ser um mecanismo de proteção de direitos, genuinamente e preventivo, o que o torna um importante meio de se proteger direitos, antes mesmo de operado o ilícito.

É um novo instrumento, importante na proteção de direitos fundamentais e da dignidade humana, na medida em que evita que estes sejam violados, como também, serve para revigorar institutos do processo civil, concatenando este com o novo modelo social, especialmente o direito ambiental. Seguindo esta visão o dano deixa de ser um requisito para a prestação da tutela jurisdicional, abrindo, também, espaço para que o processo civil, na mesma esteira do Código Civil, deixe de ser estritamente patrimonialista para se personalizar.

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Segundo MARINONI (2012, p.408.), “para o delineamento do perfil da ação inibitória, tivemos que enfrentar uma série de questões, como a da plasticidade da tutela inibitória.”(6)

A base constitucional da tutela inibitória se encontra no art. 5º, inciso XXXV, o qual dispõe que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direito, além de ingressar o princípio basilar do Estado Democrático de Direito que se consubstancia na garantia de acesso à justiça.

Assim, o reconhecimento da tutela inibitória está intrinsecamente ligado a proteção efetiva dos direitos extrapatrimoniais e ao primado do Estado Democrático de Direito, o qual garante o efetivo acesso à justiça.

Cumpre registrar que a tutela inibitória não é espécie de tutela cautelar, nem se pode dizer que se trata da famigerada cautelar satisfativa, pois se trata de tutela preventiva de caráter definitivo, veiculada em ação cognitiva, ponto que se diferencia da tutela cautelar e da tutela antecipada (art. 273 do Código de Processo Civil).

Ademais, a tutela cautelar, embora de cunho preventivo, visa impedir a ocorrência de um dano, ao passo que a tutela inibitória atua contra um ilícito.

Em nosso ordenamento pátrio, há duas formas efetivas de tutela inibitória, a saber, o mandado de segurança e o interdito proibitório. Porém, o fundamento processual da tutela inibitória, conforme apontamento majoritário da doutrina, é a norma do art. 461 do CPC e art. 84 do CDC, ao passo que o fundamento substancial, pode-se afirmar que o fundamento substancial da tutela inibitória genérica, no direito brasileiro, reside no direito ao cumprimento específico da obriação de fazer, não fazer ou de entrega de coisa, que tem por consectário o direito à inibição do ato violador de direito, estando consagrado nos arts. 461 e 461-A do CPC, normas estas que são tanto de direito processual quanto de direito material.

O pressuposto base da tutela inibitória, quase que pacífico na doutrina, é a ameaça a direito material, perpetrada por ato contrário ao direito, ameaça que deve ser concreta e não apenas conjecturas pautadas no medo da suposto vítima (autor).

Desta forma, a tutela inibitória visa impedir não o dano, mas sim o ato contrário ao direito, até porque o dano não é pressuposto de uma ação preventiva, pois ele somente ocorre em momento posterior, já que não é certa sua real ocorrência.

6 MARINONI, Tutela inibitória ( 2012, p.408 ).

Ademais, o dano não é requisito do ilícito, este pode ocorrer sem a conseqüência danosa, assim, de igual modo também há uma ação que prescinde da configuração de dano.

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Assim, entende-se que tutela preventiva não se preocupa com os danos, pois este seria típico de uma tutela ressarcitória ou indenizatória. Portanto, a alegação de dano na tutela preventiva serve apenas de argumentação, já que ele pode, ou não, existir.

A tutela inibitória se materializa na ação inibitória, sendo esta ação de conhecimento e também executiva, tendo em vista que logo que o magistrado sentencia a procedência do pedido já se abre a fase executiva, conforme a obrigação da conduta do réu, ou seja, obrigação de fazer e dar (tutela inibitória positiva) ou obrigações de não fazer (tutela inibitória negativa).

A função da tutela inibitória se concretiza no intuito protetivo, ou seja, na atuação preventiva da tutela jurisdicional com vistas à proteção do direito material, haja vista que em alguns casos a tutela repressiva se mostra absolutamente ineficaz, por exemplo, o dano ambiental.

A tutela inibitória pode ser dividida em três modalidades: impedir a prática, a repetição ou a continuação do ilícito. O fator distintivo entre estas três modalidades materializa-se no objeto de prova, ou seja, se o ato ilícito ocorreu, se irá ocorrer (pela primeira vez) ou se repetirá.

Segundo o ilustre doutrinador MARINONI ( 2012, p.141.), “ como é sabido, a alusão a direito líquido e certo, indica que o mandado de segurança é um procedimento documental, ou seja, um procedimento que não admite o uso de prova diferente da documental).

Todavia, se faz atentar para o fato de que a tutela inibitória não depende da questão de prova, portanto, não se pode negar efetividade a esta tutela sob o argumento probatório, o que configuraria verdadeira violação aos princípios de acesso à justiça e devido processo legal.

Importante registrar a operabilidade desta tutela na ação ilícita continuada, sendo que o ato ilícito cujos efeitos se prolongam no tempo não é caso de tutela inibitória e sim de remoção do ilícito.

IX-PRÍCIPIOS DA PRECAUÇÃO E PREVENÇÃO E O RISCO DO DANO AMBIENTAL.

No direito ambiental, destaca-se o princípio da precaução e o da prevenção. O primeiro destaca-se pela atuação puramente preventiva, ante o não conhecimento dos possíveis riscos que o meio ambiente pode sofre, ao passo que no segundo os riscos são previamente conhecidos, buscando formas para se prevenir os possíveis danos.

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O princípio da precaução é aquele que determina que não se produzam intervenções no meio ambiente antes de ter a certeza de que estas não serão adversas para o meio ambiente. Já principio da prevenção aplica-se a impactos ambientais já conhecidos e que tenham uma história de informação sobre eles.

Dado a fragilidade do meio ambiente e do potencial altamente impactante das ações humanas sobre o ecossistema, este corre o sério risco de ser extinto devido a atuação destruidora do homem, sendo que em certas hipóteses a regeneração do meio ambiente é impossível, conforme ocorre comumente nas áreas de exploração de minérios, após a mineração o meio ambiente não se regenera.

Desta forma, é necessário que os riscos sejam conhecidos e evitados, este é o norte do direito ambiental e nesta esteira, em consonância com as peculiaridades desta seara do direito, está a tutela inibitória.

Impossível viver sem a presença dos riscos, já se chegou ao ponto de sociólogos denominarem a presente época como “sociedade de riscos”, porém, já que os riscos são inerentes ao novo modelo social, é preciso que estes sejam minimamente controlados, a fim de evitar os danos irreversíveis ou de impacto prejudicial à vida na Terra.

Destarte, o estudo dos riscos traz novas técnicas e novos mecanismos para se evitá-los, tais como a tutela inibitória, a responsabilidade objetiva do poluidor entre outros. O risco é uma realidade irrefutável da sociedade hodierna e que não é possível afastar todos os riscos, imprescindível desenvolver-se a adequada gestão do risco. Esse papel atine tanto ao direito material quanto ao direito processual. Falar em gestão do risco transcende a idéia da delimitação entre a licitude ou ilicitude da conduta, implica a verdadeira forma de tutela contra o risco.

Esta nova forma de tutela garante os princípios da precaução e da prevenção, pois a base ideológica de ambos é exatamente a mesma, isto é, a prevenção do dano ambiental. O princípio da prevenção aproxima-se do da precaução, mas como ele não se confunde. Aquele possui abrangência mais ampla: em linhas gerais, consiste no dever jurídico, genérico e abstrato, de evitar a afronta ao meio ambiente. Nesta perspectiva, em havendo conhecimento da superveniência de um dano ambiental, este deve ser evitado, por determinação do princípio da prevenção. Já se houver apenas uma possibilidade, um perigo incerto de um dano, tal atividade também precisa ser prevenida, agora por um imperativo do princípio da precaução.

Em matéria ambiental, comumente, o ilícito ambiental é capaz de gerar um dano de cunho irreversível, ocasião em que qualquer atuação jurisdicional se torna ineficaz ante o dano consumado. Desta forma, mister se faz optar por modelos jurídicos que sejam eficazes.

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É preciso que os operadores do direito estejam conscientes e sensíveis às novas mudanças sociais, a fim de que o processo seja um instrumento efetivo de garantia dos direitos materiais.

Nesse quadro, os princípios da precaução e da prevenção guiam a atuação jurisdicional para a efetiva proteção do meio ambiente, haja vista que ante a incerteza cientifica ou a possibilidade de dano (ou ilícito) deve o operador do direito impedir a conduta.

Deste modo, resta claro a importância da tutela inibitória no direito ambiental, ante o princípio da precaução e prevenção.

No direito ambiental, a tutela inibitória encontra a sua base lógica, jurídica e estrutural para sua atuação plena e eficaz, cabe aos operadores do direito aprenderem com o direito ambiental e levar este novo mecanismo para as demais searas do ordenamento.

X- tutela inibitória ambiental

A tutela inibitória ambiental está prevista no art. 11 da Lei 7347/85, conhecida como Lei de Ação Civil Pública (LACP), porém, cumpre registrar que no Brasil, ante a ausência do Código de Processo Coletivo, o microssistema de tutela coletiva opera-se com a análise integrada na Lei de Ação Civil Pública e o Código de Defesa do Consumidor.

A regra da completa e perfeita interação entre o CDC e a LACP, formando um microssistema de normas gerais e básicas sobe o direito processual coletivo comum (art. 21 da LACP e art. 90 do CDC).

A importância da tutela coletiva, entre muitas e diversas, reside no fato de se tutelar bens e direitos de natureza coletiva, tais como, o meio ambiente saudável e equilibrado, a diversidade cultural e o consumo sustentável.

De acordo com MARINONI, (2012, P.45.),” a tutela preventiva, é fundamental para a efetividade de direitos muito importantes dentro do contexto do estado atual”(¹¹).

Desta forma, ante a fragilidade do meio ambiente e o altíssimo potencial destruidor da atuação humana, é imprescindível que o direito ambiental possua mecanismo de prevenção ao dano ambiental, já que este muitas vezes é irreversível.

A tutela inibitória ambiental vem cumprir esta função de proteção ao meio ambiente, através de mecanismos que buscam o resultado prático

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equivalente ou a tutela específica, conforme o preceituado nos art. 461 e art.461-A do CPC, art. 11 da LACP e art. 84 do CDC, dando máxima interpretação a estes dispositivos, com o fim de se obter a efetividade da medida protetiva.

O emprego da tutela específica prevista pelo Código de Processo Civil e pela Lei 8078/90 é amplo, abrangendo diversos deveres jurídicos, não apenas adstringindo-se às obrigações propriamente ditas. Assim, estariam abrangidos também os deveres gerais de abstenção, dentre os quais está inserido o meio ambiente ecologicamente equilibrado, o qual impõe a toda a coletividade o dever de proteção, de não degradação.

Assim, o processo coletivo deve ser guiado pelo princípio da máxima amplitude da tutela jurisdicional coletiva comum, admitindo-se, portanto, todos os tipos de ações, procedimentos, medidas e provimento, desde que adequados a propiciar a correta e efetiva tutela do direito coletivo.

A efetividade da tutela inibitória, no sentido de que esta não pode ser relegada a segundo plano, sob a alegação de se proteger o contraditório e a ampla defesa, é importante sempre ter em mente, o primado da prevenção do ilícito, não pode o contraditório e a ampla defesa servir de preceitos para a ocorrência do ilícito.

Na tutela preventiva, estes princípios constitucionais do devido processo legal, não são desconsiderados, apenas são aplicados de modo diferido, para que não se concretize o ilícito e o dano ambiental.

Neste caso, aplica-se a mudança de paradigma ideológico que a tutela inibitória revitaliza o processo civil clássico, pois os princípios do devido processo legal são aplicados em conjunto com outros princípios e valores, concretizando-se a tão almejada aproximação entre direito material e direito processual.

Deste modo, não se pode dizer que a tutela inibitória, concedida diversamente do pedido, impede a defesa e, assim, afronta os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Em uma situação de que haja a poluição do meio ambiente, não se pode cogitar em um contraditório para impedir a poluição ou para que haja a remoção do ilícito, pois haveria o fator tempo deduzido contra o meio ambiente. Desta forma, pode-se cogitar de um provimento jurisdicional diverso do pedido, inclusive em sede de tutela antecipatória.

A tutela inibitória, de cunho essencialmente preventivo, é o instrumento ícone da proteção ambiental, na medida em que esta discussão por mecanismos preventivos.

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É da natureza e necessidade do direito ambiental se buscar medidas que evitem o dano e a atuação ilícita do homem em detrimento do meio ambiente sadio e equilibrado.

Insta ressaltar a perfeita compatibilidade entre a tutela antecipada e a tutela inibitória ambiental, visto que ambas tratam de matéria urgente, ademais, em consonância com os princípios ambientais.

O cabimento da antecipação de tutela mandamental em sede de lide versando sobe meio ambiente, tem previsão legal no § 3º do artigo 84 do Código de defesa do Consumidor, que autoriza expressamente o juiz a, presentes os respectivos pressupostos, conceder a tutela específica liminarmente ou após justificação prévia, também o artigo 12 da LACP.

A tutela inibitória e a tutela antecipada vêm preencher a lacuna protetiva que o direito ambiental reclamava, a fim de evitar que condutas ilícitas sejam praticadas pela atuação humana, colocando-se em risco a dignidade ambiental dos ecossistemas e a própria existência humana no planeta.

CONCLUSÃO

A partir das revoluções estadunidense e francesa do século XVIII, que, através de suas Cartas de Direitos, se universalizou a preocupação com os chamados direitos humanos, ou direitos fundamentais na sua manifestação interna, desse modo, impulsionadas pelos pilares da liberdade, igualdade e fraternidade, as chamadas gerações (hoje dimensões) dos direitos humanos reestruturou-se o direito em todo o planeta (sobretudo no ocidente) a partir de uma concepção antropocêntrica, ou seja, centro do universo.

A princípio, a preocupação volta-se para a possibilidade de se combater os abusos cometidos pelo Estado absolutista, de forma que são fixados os direitos civis e políticos que reservam ao cidadão, dentre outros o direito de propriedade ou de participação política, exigindo condutas negativas por parte do Estado que se transforma, assumindo matizes liberais.

Todavia, o afastamento total do Estado sob a ilusão do liberalismo econômico, no final do século XIX até o início do século XX, acaba por gerar outras formas de opressão e supressão da dignidade de seres humanos, que agora não mais ocorre pela atuação do Estado, mas sim em decorrência de sua omissão.

Por isso, as relações entre burguesia e proletariado, cuja desigualdade atinge patamares até então inimagináveis, faz surgir dentro do movimento operário os alicerces para o que seria a chamada segunda dimensão dos

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direitos humanos, que, estabelecida sob o princípio da igualdade, busca fixar um mínimo de direitos sociais, econômicos e culturais a cada ser humano.

Mais tarde, ao passo que a sociedade internacional assumia a responsabilidade pela proteção dos direitos humanos ante a insuficiência da proteção meramente estatal, através de uma série de tratados internacionais e, sobretudo da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, uma nova sociedade de consumo era estabelecida, a princípio na Europa e na América do Norte, cujas características relacionadas ao modo de produção capitalista logo atingiu Estados periféricos e até mesmo antigos Estados socialistas.

A sociedade de massa, consolidada na segunda metade do século XX e difundida com o processo de globalização econômica e axiológica dos anos 90 daquele mesmo século, despertou em agentes estatais, organismos internacionais e organizações não governamentais, a preocupação de se estabelecer padrões mínimos de proteção a determinados direitos a partir da ótica da solidariedade e da compreensão de que há interesses que se sobrepõe às fronteiras e cujos danos alcançam a toda a humanidade.

Com isso, a proteção ao meio ambiente evolui de uma perspectiva eminentemente utilitarista para uma necessidade impostergável, e única via para a proteção da vida humana na Terra.

Essa nova concepção do direito ambiental manifesta-se inicialmente em instrumentos internacionais como aqueles decorrentes das Conferências das Nações Unidas para o meio ambiente (Estocolmo 1972 e Rio de Janeiro 1992) e, graças ao movimento de verticalização das normas internacionais, alcança os ordenamentos dos mais variados países, inclusive o Brasil.

Pautados por uma nova ética global, o Poder Legislativo pressionado pela sociedade civil organizada, passa a atuar no sentido de fixar regras mais sólidas para a proteção do meio ambiente, cuja preocupação maior, hoje se centra na questão do aquecimento global.

Nessa esteira, a Constituição Federal de 1988, em boa hora, estabelece, ao lado do rol de direitos e garantias fundamentais, os quais não excluem os tratados sobre direitos humanos ratificados, no art. 225, a norma que ainda hoje se apresenta como o pilar dessa nova concepção na ordem interna brasileira.

Entretanto, se o direito material foi reforçado por normas compatíveis com a nova realidade e com a preocupação com a efetivação de anseios e conquistas sociais, o direito processual ainda prendia-se a uma tradição liberal e individualista com características nitidamente reparatórias, não havendo espaço para a prevenção ante a estrutura patrimonialista.

Nesse sentido, buscando-se estabelecer um instrumento que aliasse a prevenção ao ilícito, independentemente da existência do dano à inadiável

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necessidade de humanização do processo civil, foi implementada, a tutela inibitória, amparada pelos arts. 461 e arts. 461-A do Código de Processo Civil e artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor.

A tutela inibitória, dessa forma, surge na doutrina, e aos poucos se consolida nos tribunais pátrios, figurando-se como uma tutela alternativa às tradicionais e que visa, via de regra, através de uma sentença mandamental, defender interesses não patrimoniais vilipendiados pela nova estrutura econômica planetária.

Não se confundindo com tutela cautelar ou antecipada, por se trata de tutela preventiva de caráter definitivos, veiculada em ação cognitiva, a tutela inibitória, ao voltar-se para o futuro, atua contra um ilícito e não tem o dano como pressuposto.

Além disso, tem como característica a impossibilidade de transformar em pecúnia a ofensa a direitos não patrimoniais tais como o meio ambiente, figurando-se, desta forma, como um mecanismo efetivo na tutela dos direitos fundamentais.

Conclui-se, portanto, que, frente às suas peculiaridades e ao mérito de a tutela inibitória ter preenchido uma lacuna responsável pelo distanciamento entre o direito material e o direito processual, a sua utilização no campo do direito ambiental apresenta-se hoje como indispensável no sentido de, pautada por uma nova ética biocêntrica universal, garantir às presentes e futuras gerações o direito ao meio ambiente sadio e equilibrado.

(CARTA DA TERRA)5

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1 Disponível em:<http://jus.com.br\revista\texto23362>Acesso em:08 de Agosto de 2012.

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2 Disponível em:http://jus.com.br\revista\texto\23362Acesso em 08 de Agosto de 2012.

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3 Disponível em:<http:jus.com.br\revista\texto21025>Acesso em:08 de Agosto de 2012.

4 Disponível em:< http://jus.com,br\revista\texto\22361>Acesso em:10 de Agosto de 2012.

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5 Disponível em:< http://www.cartadaterrabrasil.org\prt\texto.html>Acesso em:09 de Agosto de 2012.

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6 MARINONI, Tutela inibitória,2012, p. 408.

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7 MARINONO, Tutela inibitória, 2012, p.141.

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8 MACHADO,Costa, Código de processo Civil interpretado,2008, p.301.

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09 Disponível em: < jornal o globo de 14 de junho de 2012, p.17>.

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10 MARINONI, Tutela inibitória, 2012, p.54.

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11 MARINONI, Tutela inibitória, 2012, p.45.

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12 Folha AZUL, informativo da faculdade integrada AVM ( 2012, nº 05, p. 01 ).

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13 MARINONI, Tutela inibitória, 2012,p.98.

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