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TECNOLOGIA DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL APLICABILIDADE NA PRODUÇÃO ARTESANAL DE CERÂMICA UTILITÁRIA DA COMUNIDADE DOS POTES/PIAUÍ COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL Francisca Maria Cosme de Carvalho Barbosa 1 , José Luís Lopes Araújo 2 1 Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí/Departamento de Ciências Contábeis e Administrativas, (86)3215-5793, [email protected] 2 Doutor em Geografia Humana, Universidade Federal do Piauí/departamento de geografia e história, (86)3231-0485, [email protected] RESUMO: O semiárido piauiense é rico em recursos naturais que são utilizados como matéria-prima em atividades artesanais. Estas atividades praticadas pelos povos tradicionais representam significativa fonte de geração de renda. No sentido de aprimorar a atividade artesanal de produção de peças cerâmicas da Comunidade dos Potes no Piauí, desenvolveu-se esta pesquisa. O objetivo foi identificar as características físico-química e térmica da argila como tecnologia para aumento da produtividade e qualidade das peças, melhor aproveitamento da argila extraída, redução do volume de matéria-prima extraída periodicamente e, por conseguinte a obtenção de uma atividade desenvolvida e socioeconômica e ambientalmente. Realizaram-se testes de IR (Infra Vermelho), análise termogravimétrica (TG) com quatro amostras de argila, além de pesquisa de campo e entrevistas. A argila é do tipo plástica vermelha quaternária e entre 550ºC e 600ºC há estabilização da massa cerâmica ocorrendo uma perda de 11% em média; é composta de OH, dos minerais silicatos, fosfatos, óxidos de ferro e compostos inorgânicos à base de P, Cl, Br, e S, em quantidades diferentes. O forno a lenha usado na Comunidade não permite controle da temperatura. A presença de moléculas de água na argila seca está relacionada com a quebra de peças durante a cocção. PALAVRASCHAVE: Semiárido Piauiense, Renda, Cerâmica.

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Page 1: TECNOLOGIA DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL ......ambiental e o uso racional de recursos naturais e a mobilização social. (FRANCO, 2002; JARA, 2001). Um conhecimento a considerar para

TECNOLOGIA DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL – APLICABILIDADE NA PRODUÇÃO ARTESANAL DE CERÂMICA UTILITÁRIA DA COMUNIDADE

DOS POTES/PIAUÍ COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Francisca Maria Cosme de Carvalho Barbosa1, José Luís Lopes Araújo2

1 Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí/Departamento de

Ciências Contábeis e Administrativas, (86)3215-5793, [email protected] 2 Doutor em Geografia Humana, Universidade Federal do Piauí/departamento de geografia e

história, (86)3231-0485, [email protected]

RESUMO: O semiárido piauiense é rico em recursos naturais que são utilizados como matéria-prima em atividades artesanais. Estas atividades praticadas pelos povos tradicionais representam significativa fonte de geração de renda. No sentido de aprimorar a atividade artesanal de produção de peças cerâmicas da Comunidade dos Potes no Piauí, desenvolveu-se esta pesquisa. O objetivo foi identificar as características físico-química e térmica da argila como tecnologia para aumento da produtividade e qualidade das peças, melhor aproveitamento da argila extraída, redução do volume de matéria-prima extraída periodicamente e, por conseguinte a obtenção de uma atividade desenvolvida e socioeconômica e ambientalmente. Realizaram-se testes de IR (Infra Vermelho), análise termogravimétrica (TG) com quatro amostras de argila, além de pesquisa de campo e entrevistas. A argila é do tipo plástica vermelha quaternária e entre 550ºC e 600ºC há estabilização da massa cerâmica ocorrendo uma perda de 11% em média; é composta de OH, dos minerais silicatos, fosfatos, óxidos de ferro e compostos inorgânicos à base de P, Cl, Br, e S, em quantidades diferentes. O forno a lenha usado na Comunidade não permite controle da temperatura. A presença de moléculas de água na argila seca está relacionada com a quebra de peças durante a cocção. PALAVRAS–CHAVE: Semiárido Piauiense, Renda, Cerâmica.

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ENVIRONMENTAL LOW IMPACT TECHNOLOGY - APPLICABILITY IN CRAFT PRODUCTION OF THE COMMUNITY OF POTES / PIAUÍ

ABSTRACT: The semiarid region of Piauí is rich in natural resources that are used as raw material in craft activities. These activities practiced by traditional peoples represent a significant source of income generation. In order to enhance the activity of craft production of ceramic pieces in the Community of Potes in Piauí, we developed this research to identify the physiochemical and thermal characteristics of clay as a technology to increase the productivity and quality of parts, better utilization of the extracted clay, reduce the volume of raw material periodically extracted, and therefore obtaining a developed and activity socio-economic and environmentally. It was made IR (Infra-Red) testing, thermal gravimetric analysis (TG) with four samples of clay, besides field research and interviews. The clay is quarternary red plastic type, and between 550°C and 600°C the ceramic mass becomes stable with 11% of medium loss; it is composed of OH, of mineral silicates, phosphates, iron oxides and inorganic compounds with P, Cl, Br, and S in different quantities. The wood oven used in the Community does not allow temperature control. The presence of water molecules in the dry clay is related to the breakage of pieces when cooking. KEYWORDS: Piauí semiarid, Income, Pottery.

INTRODUÇÃO

A atividade artesanal em suas diversas tipologias encontra no semiárido

piauiense recursos naturais que são utilizados como matéria-prima. Esta atividade

praticada pelos povos de comunidades tradicionais, entendidas também como

solução de curto prazo para os países em desenvolvimento por requerer baixos

investimentos, gera renda para famílias e grupos historicamente excluídos do

mercado de bens manufaturados.

O artesanato posiciona-se também como atividade que possui elevado

potencial de ocupação e como estratégia de fomento ao desenvolvimento

regional.

O artesanato mesmo sendo importante fonte de geração de renda familiar

complementar e às vezes sendo a principal fonte de renda (CANCLINI, 1983),

precisa considerar a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, bem

como os impactos que provoca no meio ambiente. A mineração para retirada da

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argila a ser usada na produção do artesanato cerâmico é uma das atividades

antrópicas que causam graves danos ao meio ambiente. (FARIAS, 2002).

Por muitos anos, diversas comunidades de artesãos em todo o país

exploraram a natureza sem nenhuma preocupação preservacionista,

ocasionando, em alguns casos, sérios problemas ambientais (SEBRAE, 2008).

Usar os recursos naturais considerando sua finitude, para Leff (2008) é fazer uso

da racionalidade ambiental que desconstrói a racionalidade capitalista e

fundamenta uma nova economia onde as comunidades constroem suas próprias

formas de desenvolvimento econômico. A racionalidade exige novos

conhecimentos interdisciplinares e o planejamento intersetorial do

desenvolvimento.

Desenvolvimento onde as comunidades constroem suas próprias formas de

desenvolvimento econômico, Franco (2002), Llorens (2001) e Jara (2001)

classificam como desenvolvimento local ou regional. Este modelo de

desenvolvimento considera entre outras características a necessidade do

fortalecimento da democracia e impõe uma prática dinâmica de cooperação para

gerir interesses.

Na prática, o conceito de desenvolvimento local leva a campo cinco

dimensões a serem trabalhadas: a inclusão social; o fortalecimento e a

diversificação da economia local; a inovação na gestão pública; a proteção

ambiental e o uso racional de recursos naturais e a mobilização social. (FRANCO,

2002; JARA, 2001).

Um conhecimento a considerar para uso racional dos recursos naturais para

Manizini e Vezzoli (2008) é a tecnologia de baixo impacto onde a importância dos

processos de produção e de transformação dos materiais, os sistemas de

distribuição e uso, bem como os tratamentos de eliminação final dos produtos são

usados para obter-se redução dos impactos ambientais.

Planejar a atividade artesanal principalmente em comunidades tradicionais é

necessário, visto que na grande maioria sua eficiência econômica mostra-se de

forma inadequada. No caso do artesanato feito com argila, em comunidades

pobres, onde o nível de escolaridade dos artesãos é, em sua grande maioria,

baixo, requer o uso de técnicas que permitam acabamentos com qualidade e

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processos de trabalhos que levem em conta questões como custo, desperdício de

matéria-prima e geração de lucros. (BORBA FILHO, 1969).

Como estratégia de desenvolvimento racional da atividade artesanal de

produção de peças cerâmicas da Comunidade dos Potes no Piauí, elaborou-se

esta pesquisa que teve como objetivo identificar as características físico-química

e térmica da argila como tecnologia para aumento da produtividade, qualidade

das peças, melhor aproveitamento da argila extraída, reduzindo, por conseguinte

o volume de matéria-prima extraída periodicamente.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada na comunidade dos Potes, localizada no Município

São João da Varjota/PI, e teve como objeto de estudo a argila e o processo

produtivo de peças artesanais. O Município está localizado na microrregião

Picos/PI, compreende uma área irregular de 385 km², caracterizado pelo clima

semiárido. A localização do município o coloca numa região do bioma caatinga

(CASTRO, 2007, p. 4), tendo uma diversidade biológica típica piauiense, onde se

encontra a carnaúba, o buriti, juazeiro, pequi, jatobá, entre outros. (AGUIAR,

2004).

Realizaram-se entrevistas e aplicaram-se formulários com 12 integrantes

das famílias envolvidas na divisão do trabalho de produção das peças. Identificou-

se o processo de trabalho dos artesãos para analisar a produtividade.

Posteriormente procedeu-se ao reconhecimento geológico da área de extração

através de mapas geológicos, estudos anteriores na região, observação de

campo e imagens de satélites. Foram coletadas quatro amostras de argila com

base nos métodos da pesquisa experimental e identificadas de acordo com o local

(pontos) de extração. As amostras1 foram trabalhadas para realização das

1 Para Nederland (2005), a amostragem é considerada uma técnica complicada de ser realizada,

uma vez que é muito comum ocorrer erros durante o processo de caracterização. Os erros mais comuns são os erros de operação (perdas de partículas pertencentes à amostra, contaminação da amostra devido a presença de um material estranho, alteração de uma característica a ser analisada, etc.) e os erros de amostragem (ponderação, integração, periodicidade, delimitação, segregação, etc.).

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análises, tirando-se uma quantidade finita de cada unidade, sendo estas porções

consideradas como representativas das características das amostras.

As quatro amostras de argilas foram submetidas a testes físico-químicos

para análise do comportamento mecânico, como o índice de retração e percentual

de absorção de água durante o processo de cozimento. Para identificação dos

grupos moleculares (análise física) usou-se a técnica de Espectroscopia

Vibracional por Infravermelho (FTIR), realizada no laboratório de Espectroscopia

de Infravermelho do Departamento de Física da Universidade Federal do Piauí

(UFPI), Campus de Teresina. A análise térmica foi realizada no laboratório de

Ciências dos Materiais da UFPI, utilizando um termogravímetro da marca TA

modelo SDT Q600, abrangendo limite de temperatura entre 25 e 1400°C. A

técnica utilizada foi à análise termogravimétrica (TG) que determina a perda ou

ganho de massa que uma amostra sofre em função da temperatura e /ou tempo.

(SANTOS, 1975). Aproximadamente seis gramas de cada amostra, foram

aquecidas a uma taxa de 10º por minuto sob fluxo de nitrogênio (N2) com vazão

de 100 mL min-1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A argila da Comunidade dos Potes é do tipo plástica vermelha quaternária

(Figura 1) (MELLO et al., 2011, p. 142). Os testes de Espectroscopia Vibracional

por Infravermelho (FTIR) mostraram os grupos moleculares presentes nas quatro

amostras coletadas (Figura 2).

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Figura 1. Características da Argila da Comunidade dos Potes. Fonte: Mello et al. (2011, p. 142).

400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200

Tra

nsm

itâ

ncia

(u

. a

rb.)

Numero de onda (cm-1)

Amostra 1

Amostra 2

Amostra 3

Amostra 4

Fe(CO)5

Fosfatos

Silicatos

Si-O-C

Si-O-Si aber

C-Cl

C-Br P-F

P-Cl

P=S

P-O-CSi-O-Si cicl

SO2-

4

-S-S-

Fe(CO)5

Figura 2. Espectro de transmissão IR na região 400 – 1200 cm-1. Elaboração: Cleânio da Luz Lima*. Análise: Heurison de Sousa e Silva*

*Professores do Departamento de Física da Universidade Federal do Piauí

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Figura 3. Espectro de transmissão IR na região 2800 – 4000 cm-1. Elaboração: Cleânio da Luz Lima*. Análise: Heurison de Sousa e Silva*

*Professores do Departamento de Física da Universidade Federal do Piauí

Os gráficos de IR (Infra Vermelho) das amostras de argilas (Figura 2),

demonstram a presença de complexos minerais como silicatos, fosfatos, óxidos

de ferro, além da presença de outros compostos inorgânicos à base de P, Cl, Br,

e S em quantidades diferentes.

Embora as amostras de argila não difiram significativamente em

composição, as quantidades relativas dos componentes minerais apontam para a

necessidade de se observar os diferentes processos de preparo e cozimento das

peças, pois o resultado e aparência finais das peças podem estar mais ligados ao

processo de cozimento do que com a composição em si da argila.

Foram encontradas vibrações OH (Figura 3) que indicam a presença de

água, mesmo que as peças de argila pareçam estar secas. Esta água está

fortemente adsorvida ou incrustada na intimidade da argila de modo que somente

com um processo de aquecimento apropriado e suficientemente duradouro é que

se pode expulsá-la.

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A análise da variação de massa da argila em função da temperatura,

utilizando a técnica termogravimétrica (TG), para as amostras coletadas indica

que entre 550ºC e 600ºC acontece uma estabilização da massa cerâmica

ocorrendo uma perda de massa em média de 11%. Este percentual de retração

ou perda de massa para Vieira et al. (2000), encontra-se dentro do padrão de

redução de tamanho aceitável para as argilas. A maior perda de massa, em torno

de 15%, ocorre no intervalo de temperatura de 250ºC e 450ºC, para as quatro

amostras.

A perda de massa durante o processo de cozimento pode está relacionada à

evaporação da água presente na argila (grupos OH identificado na análise dos

espectros na região de 2800-4000 cm-1) e com a carbonização de matéria

orgânica (grupo NH) (Figura 3), sendo que a maior perda de massa ocorre à

temperatura de 450ºC. Este fato para Vieira et al. (2000) ocorre devido a

dissociação da água de constituição dos argilominerais. A menor perda ocorre à

temperatura de 850ºC, que segundo Vieira et al. (2000) pode ser devida ao

pequeno percentual de carbonatos presentes na massa cerâmica.

O processo de produção das peças é realizado de modo rústico sem

controle da quantidade de argila utilizada, de padrões de qualidade e desprovido

de tratamento de eliminação final dos produtos utilizados. Este quadro denota a

necessidade de se planejar a atividade artesanal nos moldes propostos por Leff

(2008) e Borba Filho (1969), para que se evitem os problemas ambientais

relatados em SEBRAE (2008). Este planejamento para Manizini e Vezzoli (2008)

pode incluir o uso de tecnologias de baixo impacto ambiental como, por exemplo,

o controle dos processos de produção e de transformação dos materiais, os

sistemas de distribuição e uso, bem como os tratamentos de eliminação final dos

produtos.

O planejamento das atividades artesanais praticadas pelos povos de

comunidades tradicionais Franco (2002), Llorens (2001) e Jara (2001) classificam

como estratégias de desenvolvimento onde as comunidades constroem suas

próprias formas de desenvolvimento econômico e nomeiam como

desenvolvimento local ou regional. A falta deste planejamento inviabiliza sua

importante função de geração de renda familiar (CANCLINI, 1983) e nega sua

característica estratégica de impulsionadora do desenvolvimento local ou regional.

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CONCLUSÕES

O estudo identificou que a argila da comunidade dos Potes é do tipo plástica

vermelha quaternária e apresenta complexos minerais como silicatos, fosfatos,

óxidos de ferro, além da presença de outros compostos inorgânicos à base de P,

Cl, Br, e S em quantidades diferentes. A análise termogravimétrica detectou que

entre 550°C e 600°C há estabilização da massa cerâmica ocorrendo uma perda

de 11% em média.

A presença de molécula de água nas amostras de argila que

aparentemente estavam secas exige que se tenha um processo de secagem das

peças o mais lento possível, deixando-as à sombra, em local fechado livre de

correntes de ar e cozimento com aquecimento gradativo e suficientemente

duradouro para que se possa expulsá-la por completo.

O forno a lenha usado na comunidade não permite controle da temperatura.

Sugere-se a substituição do formato dos fornos para oval, com controle de

temperatura, com fonte de calor em mais de um lado e prateleiras para

organização das peças para que se tenha uma distribuição uniforme do calor

dentro do forno e consequentemente um processo de cozimento das peças

uniforme. A uniformidade na distribuição do calor e da temperatura garante

redução de rachaduras, quebras e manchas escurecidas nas peças.

A tecnologia de controle das características físico-químicas e térmicas da

argila e do processo produtivo poderá resultar em aumento da produtividade e

qualidade das peças, em melhor aproveitamento da argila extraída com a

consequente redução do volume de matéria-prima extraída periodicamente.

Esta tecnologia se faz relevante para a questão ambiental porque a

mineração para retirada da argila a ser usada na produção do artesanato

cerâmico é uma das atividades antrópicas que causam graves danos ao meio

ambiente.

Para que a atividade artesanal da Comunidade dos Potes seja entendida

como uma estratégia impulsionadora do desenvolvimento local ou regional,

necessário se faz a reorganização de todo seu processo produtivo.

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REFERÊNCIAS

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CASTRO, A. A. J. F. Unidades de planejamento: uma proposta para o estado do Piauí com base na dimensão diversidade de ecossistemas. Publicações avulsas em conservação de ecossistemas, 18: 1-28, set. 2007.

FARIAS, Carlos E. G. Mineração e meio ambiente no Brasil. Ed. CGEE PNUD, 2002.

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LLORENS, Francisco Albuquerque. Desenvolvimento econômico local: caminhos e desafios para a construção de uma nova agenda política. Rio de Janeiro: BNDES, 2001.

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MELLO, I. S. de C.; MOTTA, J. F. M.; BEZERRA, M. S.; NESI, J. de R.; JUNIOR, R. L.. Atlas de matérias-primas minerais cerâmicas do nordeste brasileiro. SP: CPRM, 2011.

NEDERLAND, Eurachem. Seleção, uso e interpretação de programas de ensaios de proficiência (EP) por laboratórios. Brasília: SENAI/DN, 2005, 46 p.

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