tecnicas de coleta e herborização

13
1 Técnicas de Coleta e Herborização de Material Botânico Eleandro José Brun 1 , Flávia Gizele König Brun 2 , Solon Jonas Longhi 3 Resumo A coleta e herborização de material botânico, como prática de ensino, tem auxiliado fortemente na valorização da biodiversidade local, uma vez que vêm acompanhadas da identificação correta das plantas, suas potencialidades de uso, conservação e multiplicação. Mesmo para os alunos de cursos que não tem como área de atuação principal a biodiversidade vegetal, torna-se interessante o conhecimento dessa diversidade de espécies e seu potencial de, sendo devidamente manejadas e conservadas, serem úteis às pessoas. Dessa forma, este trabalho buscou detalhar, de forma simples, métodos de coleta e de herborização de material botânico, de forma a servir de guia aos estudantes e demais usuários da área. Na metodologia exposta, é dada maior ênfase aos métodos mais simples, que utilizem materiais baratos e acessíveis a todas as pessoas, as quais, além de valorizar mais a biodiversidade local, devem tomar os devidos cuidados em situações de estudo de material botânico e montagem de coleções. Palavras-chave: herbário, espécies vegetais, coleções. Introdução Conhecimentos básicos sobre coleta de material botânico de espécies vegetais e herbários são imprescindíveis tanto para pesquisadores já atuantes nesse campo, quanto para jovens que pretendem iniciar estudos nesta área da Botânica. A coleta de material botânico de árvores ou outras formas de vegetação é importante e principal instrumento para a correta identificação científica de espécies, necessária para qualquer trabalho com vegetação, como por exemplo: estudos botânicos e taxonômicos, inventários florísticos e florestais, banco de sementes, paisagismo e silvicultura. A coleta de material de espécies arbóreas apresenta algumas dificuldades particulares, principalmente pelo grande porte de boa parte das árvores, cujos ramos não estão ao alcance das nossas mãos, o que não ocorre com outros grupos de vegetais. Para se obter material botânico das árvores deve-se fazer uso de algumas técnicas especiais. Existem vários métodos disponíveis. A escolha de um determinado método deve ser definida “a priori” pelo coletor, em consonância com as características da área onde serão realizadas as coletas e as condições gerais que o coletor encontrará no campo, principalmente em relação ao porte da vegetação que será objeto de coleta de amostras. O presente trabalho, que busca fornecer informações sobre o tema, tem como objetivo colocar a disposição dos estudantes da área, bem como da comunidade em geral, na forma de texto básico, um manual para orientar a coleta de material botânico, tanto para a confecção de coleções botânicas, como também para ser um

Upload: george-wallemberg

Post on 18-Nov-2015

18 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Técnicas de herborização meterial biológico vegetal

TRANSCRIPT

  • 1

    Tcnicas de Coleta e Herborizao de Material Botnico

    Eleandro Jos Brun1, Flvia Gizele Knig Brun2, Solon Jonas Longhi3

    Resumo A coleta e herborizao de material botnico, como prtica de ensino, tem auxiliado fortemente na valorizao da biodiversidade local, uma vez que vm acompanhadas da identificao correta das plantas, suas potencialidades de uso, conservao e multiplicao. Mesmo para os alunos de cursos que no tem como rea de atuao principal a biodiversidade vegetal, torna-se interessante o conhecimento dessa diversidade de espcies e seu potencial de, sendo devidamente manejadas e conservadas, serem teis s pessoas. Dessa forma, este trabalho buscou detalhar, de forma simples, mtodos de coleta e de herborizao de material botnico, de forma a servir de guia aos estudantes e demais usurios da rea. Na metodologia exposta, dada maior nfase aos mtodos mais simples, que utilizem materiais baratos e acessveis a todas as pessoas, as quais, alm de valorizar mais a biodiversidade local, devem tomar os devidos cuidados em situaes de estudo de material botnico e montagem de colees. Palavras-chave: herbrio, espcies vegetais, colees.

    Introduo

    Conhecimentos bsicos sobre coleta de material botnico de espcies vegetais e herbrios so imprescindveis tanto para pesquisadores j atuantes nesse campo, quanto para jovens que pretendem iniciar estudos nesta rea da Botnica.

    A coleta de material botnico de rvores ou outras formas de vegetao importante e principal instrumento para a correta identificao cientfica de espcies, necessria para qualquer trabalho com vegetao, como por exemplo: estudos botnicos e taxonmicos, inventrios florsticos e florestais, banco de sementes, paisagismo e silvicultura.

    A coleta de material de espcies arbreas apresenta algumas dificuldades particulares, principalmente pelo grande porte de boa parte das rvores, cujos ramos no esto ao alcance das nossas mos, o que no ocorre com outros grupos de vegetais.

    Para se obter material botnico das rvores deve-se fazer uso de algumas tcnicas especiais. Existem vrios mtodos disponveis. A escolha de um determinado mtodo deve ser definida a priori pelo coletor, em consonncia com as caractersticas da rea onde sero realizadas as coletas e as condies gerais que o coletor encontrar no campo, principalmente em relao ao porte da vegetao que ser objeto de coleta de amostras.

    O presente trabalho, que busca fornecer informaes sobre o tema, tem como objetivo colocar a disposio dos estudantes da rea, bem como da comunidade em geral, na forma de texto bsico, um manual para orientar a coleta de material botnico, tanto para a confeco de colees botnicas, como tambm para ser um

  • 2

    material auxiliar na identificao correta de espcies onde so coletadas sementes, frutos, etc.

    Hbito dos Vegetais

    O hbito dos vegetais influencia em muito o mtodo de coleta, por isso importante apresenta-los. O hbito de uma planta a sua forma de vida quando adulta. Segundo Ribeiro et al. (1999) as plantas classificam-se, quanto ao hbito, em rvores, Arbustos, Ervas terrestres, Lianas (cips), Epfitas e Hemiepfitas. rvores: Plantas grandes, lenhosas, geralmente com um tronco nico levando a copa at o dossel. Outras formas de vida usam as rvores como suporte (cips e epfitas), ou seus ambientes so altamente influenciados por elas (arbustos e ervas). As espcies ocupam estratos diferentes da floresta. A maioria das espcies atinge o dossel. Algumas podem ser emergentes, com copas acima do dossel. Outras ocupam o estrato abaixo do dossel e so denominadas de sub-dossel. rvores pequenas e arvoretas formam o sub-bosque no interior da floresta. Arvoretas podem parecer arbustos e a distino muito subjetiva. rvores grandes podem parecer arbustos ou arvoretas quando jovens e algumas ficam pequenas at ter condies melhores de crescimento quando uma clareira se forma e a mesma consegue ento absorver mais luz e realizar o crescimento em taxas maiores. Arbustos: Plantas lenhosas pequenas com um caule principal, ramificado desde a base. Arbustos, arvoretas, rvores pequenas, ervas e plantas jovens formam o sub-bosque. Os arbustos, ao contrrio de arvoretas e rvores pequenas que apresentam um caule nico com ramificaes na parte apical, apresentam ramos saindo junto ao solo. Muitos arbustos podem ser cespitosos, apresentando vrios caules saindo da base. A densidade de arbustos maior em reas alagadas e em florestas secundrias.

    Ervas terrestres: possuem caule no lenhoso, geralmente pequenas. Existem ervas que so especializadas em determinados ambientes. Ervas aquticas vivem dentro dgua ou em solos muito encharcados. Ervas tm folhas prximas ao solo, podendo ser na forma de roseta, ter pecolos compridos ou at ramos eretos, elevando as folhas acima do cho. Ervas escandentes usam outras plantas como suporte. s vezes epfitas que caram do dossel continuam vivas no cho. Certas ervas so saprfitas, plantas sem clorofilas que retiram nutrientes da matria orgnica em decomposio, s vezes associadas a fungos. Saprfitas so visveis apenas quando com flores ou frutos.

    Lianas (cips, trepadeiras): Plantas lenhosas que nascem no solo e sobem nas rvores que usam como suporte, sempre apresentando um tronco fino no cho. Em geral apresentam folhas apenas no dossel e s vezes difcil associar as folhas com o tronco, principalmente quando vrios cips esto sobre a mesma rvore. Cips verdadeiros germinam no cho e, usando outras plantas como suporte, crescem at o dossel, onde se espalham e florescem. As espcies apresentam diferentes estratgias para subir na planta hospedeira, sendo que algumas apresentam estruturas especializadas para se agarrar e subir (gavinhas, ganchos e espinhos),

  • 3

    outras apresentam um caule volvel que se enrola na planta suporte. Em alguns casos os cips jovens podem parecer arbustos ou arvoretas. Hemiepfitas podem parecer cips, mas ao contrrio destes, germinam no dossel e lanam razes que chegam at ao solo.

    Epfitas: Plantas principalmente herbceas que usam outras plantas para sustentao, no tendo ligao com o solo. Epfitas germinam e crescem somente nos galhos ou troncos de rvores. uma forma de vida bem especializada, pois suportam variaes, s vezes extremas, de temperatura e umidade. A maioria tem adaptaes especiais para sobreviver em perodos com pouca gua, como plantas das famlias Orchidaceae, Bromeliaceae, Cactaceae e Gesneriaceae. A maioria usa a planta hospedeira apenas para suporte, mas outras so hemiparasitas, como da famlia Lotanthaceae (ervas-de-passarinho), que suplementa seus recursos com gua e nutrientes seqestrados da planta hospedeira. Hemiepfitas podem parecer epfitas, quando sem contato com o solo.

    Hemiepfitas: So plantas lenhosas ou herbceas que usam outras plantas como suporte, mas tm uma conexo com o solo. Hemiepfitas tm basicamente dois modos de crescimento, onde algumas germinam no dossel e emitem razes ao solo, outras germinam no solo e sobem normalmente grudadas ao tronco das rvores. Destas, algumas mantm a conexo com o solo, enquanto outras se tornam epfitas quando a parte basal da planta morre. As figueiras (mata-pau) so hemiepfitas que germinam no alto, como epfitas verdadeiras e depois emitem razes ao solo. Essas razes engrossam e podem se unir, formando um tronco que abraa a planta hospedeira, que em alguns casos morre e o tronco da figueira se mantm como uma rvore verdadeira.

    Esquematicamente, pode-se entender os diferentes hbitos das espcies vegetais de acordo com a Figura 1, a qual destaca, em vermelho, o hbito especfico de cada planta. Coleta de Material Botnico em rvores

    O principal problema na coleta de amostras de espcies arbreas para herborizao a localizao dos ramos frteis (com flores e/ou frutos), que geralmente esto nas partes mais altas do vegetal. Alm disso, comum encontrar rvores em formaes densas, com copas entrelaadas, aumentando a dificuldade da coleta de amostras. Acrescenta-se o fato de que algumas espcies demoram muitos anos para florescer e quando o fazem e frutificam, s vezes morrem, ou no mnimo passaro outros longos anos para uma nova florao, o que dificulta a coleta de material frtil (Bononi e Fidalgo, 1984).

    Entretanto, apesar de toda a dificuldade, a coleta de material botnico arbreo extremamente importante, pois o ponto de partida para a formao de um herbrio, para a identificao das espcies e, conseqentemente, para o incremento do acervo de um herbrio.

    Para realizar coletas de material botnico h diversos mtodos e equipamentos. Segundo Roderjan et al. (1987), a escolha dos mesmos pode variar de acordo com tipo e quantidade do material a ser coletado, facilidade de acesso ao

  • 4

    local de coleta na floresta, na cidade, num jardim, etc., possibilidade de acesso ao material a ser coletado, como rvores altas, baixas, arbustos, etc.

    A coleta do material botnico visando a confeco de exsicatas deve ocorrer em dias secos, entre as 9 e 18 horas, reduzindo a possibilidade de perda de material por excesso de umidade na secagem. O material coletado deve ser o mais completo possvel e consiste basicamente em ramos com folhas, flores e frutos, porm a presena simultnea de todos os elementos poucas vezes encontrada em um mesmo indivduo. Sendo assim, muitas vezes coleta-se somente material vegetativo, como folhas e ramos, o que pode trazer alguma dificuldade na identificao, mas mesmo assim no perde a importncia. Materiais e Procedimentos de coleta 1) Prensa (madeira ou papelo): a mais usada mede aproximadamente 42 x 30 cm e consiste de duas partes iguais, separadas, de ripas de madeira entrelaadas, com largura de 2 cm (Figura 2).

    A prensa tambm pode ser de madeira inteiria ou de papelo, com perfuraes para passar o cinto (Figura 3). O cinto pode ser de couro, lona, borracha ou cordas. Cada cinto tem numa de suas extremidades duas argolas ou uma fivela.

    Na prensagem, as plantas coletadas so colocadas entre folhas de jornal, de tamanho suficiente para que caiba todo o material coletado. Aps isso, as mesmas so empilhadas e comprimidas ao mximo pelos cintos para ficarem bem estendidas. A prensa s comporta determinado nmero de plantas para que fiquem bem acondicionadas. Isso significa que no se pode colocar plantas em demasia na prensa, pois podero ocorrer dobras ou ferimentos indesejveis nas amostras, bem como corre-se um risco maior de ocorrer mofo no material, pela maior concentrao de umidade proveniente das amostras de material vegetal mido.

    2) Jornal (tipo Dirio Oficial, etc.): a maneira mais utilizada na maioria dos locais para a prensagem do material botnico, principalmente pela folha de jornal ser do tamanho da prensa, barato (descartvel) e funcionar como excelente absorvente da umidade (Figura 4). 3) Podo manual ou tesoura de poda: Usado principalmente para plantas herbceas e arbustivas e para seccionar ramos lenhosos finos das rvores, ainda no campo ou j no herbrio ou laboratrio (Figura 5). Quando a planta cortada com podo, no sofre graves danificaes e em poucos dias emitir nova brotao do ramo cortado, recuperando-se.

  • 5

    Figura 1: Esquema ilustrativo, com destaque em vermelho, do hbito das diferentes plantas. A: rvore; B: arbusto; C: erva terrestre; D: liana ou cip; E: epfita e; F: hemi-epfita. (Fonte: Ribeiro et al., 1999).

    Figura 2: Diagrama (Pinheiro e Almeida, 2000) e foto de uma prensa de madeira (Foto dos Autores).

    A C B

    D F E

  • 6

    Figura 3: Prensa de tbua inteiria com cinto acoplado para prensar o material das excicatas (Pinheiro e Almeida, 2000).

    Figura 4: Exsicata montada em folha de jornal (Pinheiro e Almeida, 2000) (Foto dos Autores).

    Figura 5: Tesoura de poda ou podo manual.

  • 7

    4) Podo de vara e podo de encaixe: um tipo de ferramenta especial, empregada na coleta de ramos floridos de rvores, constitudo de uma vara fixada no interior de um cano oco, terminado por uma tesoura de poda, que pode ser adquirida em ferragens. A tesoura tem duas partes em forma de gancho, presas por um parafuso: uma das partes fixa e a outra flexvel. Na extremidade desprovida de lmina da parte flexvel, prende-se uma corda fina, de modo que, ao se alcanar o ramo entre a parte mvel e fixa da tesoura, puxa-se a corda e corta-se o ramo (Figura 6 C). O podo de encaixe (Figura 6, A e B) pode ser encontrado completo em algumas ferragens. 5) Linhadas: constitudo de linha ou corda de nylon tranada (3 mm), tendo em uma das extremidades um peso (50-300 g) de ferro, ao, chumbo ou pedao de madeira (Figura 7). Normalmente o comprimento da linha ou corda de 50 m, para no escapar da mo aps o lanamento da linhada. O modo de lanar a linhada depende de treino, pois com alguma habilidade pode-se alcanar entre 25 e 30 m de altura. 6) Estilingue ou Bodoque: uma ferramenta bastante simples e til na coleta de material botnico em rvores altas (Figura 8), sendo usado por crianas e jovens como entretenimento, tambm poder ser usado para coletar material botnico. O arremesso de pequenas pedras at acertar o ramo e derruba-lo exige treino e habilidade, caso contrrio sero necessrios vrios arremessos at obter sucesso. Para que se tenha maior eficincia na derrubada de ramos, geralmente se usam pedras britadas, com superfcies cortantes mais expostas. Porm, recomenda-se o uso deste mtodo somente na ausncia de qualquer outro, uma vez que geralmente causa danos ao material coletado. 7) Escadas: O uso de escadas (de materiais diversos como madeira, ao inox, alumnio) auxilia bastante a coleta de material botnico medida que facilita o uso de outras ferramentas como podes e ganchos, aumentando o seu raio de ao. As escadas usadas para este fim geralmente tem mais de uma seco, com extremidades encaixveis. Uma restrio significativa ao seu uso refere-se dificuldade do manuseio em florestas fechadas, inclusive sendo difcil se proceder ao encaixe de mais que duas seces em locais com cips e lianas. Desta forma, as escadas so uma boa alternativa para a coleta em reas abertas, de rvores isoladas, ou em florestas sem sub-bosque muito denso. Anotaes necessrias

    Para que a coleta de material botnico tenha sucesso, podendo ser utilmente usada pelos interessados, posteriormente, algumas informaes importantes devem ser anotadas no momento da coleta, as quais esto destacadas abaixo: - Local de coleta: tipo de floresta nativa (capoeira, capoeiro, floresta secundria, floresta virgem, etc.), em meio a uma floresta plantada (espcie plantada), rvore isolada em pastagem, lavoura, ptio, etc.; em mata ciliar (beira de rio, riacho, lagoa ou lago); - Indivduo onde est sendo coletada a exsicata: espcie, tamanho e hbito do vegetal (rvore: > 15 m de altura; arbusto: 5-15 m de altura; arvoreta: < 5 m de altura; cip, epfita, hemi-epfita, etc.).

  • 8

    Figura 6: Podo de vara (Diagrama e foto).

    Figura 7: Linhada para a coleta de ramos com folhas e tipos de pesos que podem ser usados.

    PESOS

  • 9

    Figura 8: Estilingue, que pode ser usado para a derrubada de ramos (Foto dos Autores).

    Figura 9: Secagem em estufa de madeira, com lmpadas internas para aquecimento.

  • 10

    - Tipo de flor ou fruto: sempre que possvel coletar flores e frutos junto com o ramo. - Tronco: reto ou tortuoso; Casca: rugosa, lisa, mdia. - Data da coleta - Localidade e municpio (nome do stio, fazenda ou do proprietrio, se possvel, alm do municpio). Caso o coletor possua um aparelho de GPS (Global Position System), ele poder obter a coordenada exata da rvore onde foi coletada a exsicata, ou de um ponto mais prximo. - Nome do coletor: identificar quem est coletando, pois quando o material (exsicata) coletado e seu coletor no identificado, a possvel busca de informaes adicionais fica comprometida. Procedimentos de montagem de coleo Prensagem: A prensagem do material botnico coletado uma tcnica que deve anteceder a secagem e imprescindvel para uma boa secagem e montagem da coleo. A prensagem realizada utilizando-se uma prensa especfica para tal fim (Figura 2) ou uma superfcie lisa, que poder ser papelo ou tbua (Figura 3). A prensa, das dimenses de uma folha de jornal comum (30 x 42 cm) (Figura 4) servir de suporte para o material que colocado estendido entre folhas de jornal, que tem a funo de absorver a umidade do vegetal e assim favorecer a secagem. Folhas e flores devem ser colocadas de maneira que no fiquem sobrepostas ou dobradas, pois tero a secagem comprometida, alm de dificultar anlises posteriores.

    Secagem: a secagem de espcimes vegetais uma preparao fundamental para que a planta faa parte da coleo do herbrio e sirva para identificao botnica da espcie. Para obteno de bons resultados, antes de se colocarem as prensas na estufa, os espcimes devem ser acomodados de maneira mais adequada e cuidadosa, intercalando-se entre papeles ou folhas de alumnio corrugado (estriado). As estrias, tanto do alumnio como dos prprios papeles servem para favorecer a conveco do ar aquecido (Figura 9). A secagem pode ser realizada atravs de maneira natural, improvisada, sem estufas, onde o material prensado deve ficar em local ensolarado, ventilado, ou prximo de uma fonte de calor. Dessa forma, a secagem bem demorada. Recomenda-se no deixar o material sob o sereno e trocar os jornais midos por secos diariamente at a secagem completa. A secagem artificial ocorre quando as prensas com o material botnico so colocadas dentro de estufas, temperatura de aproximadamente 60oC, e ali permanecerem at que o material esteja completamente seco. As estufas podem ser simples, montadas em madeiras ou chapas, com lmpadas comuns (100-150 watts) como fonte de calor (Figura 9). O tempo de secagem depende do material e varia em mdia 24 a 72 horas. Montagem da coleo: Caso o material seja coletado para a montagem de coleo em Herbrios, aps a secagem, a exsicata poder ser acondicionada em folha de cartolina branca. Para a fixao da exsicata na cartolina, pode-se usar a costura dos ramos do material vegetal na folha (Figura 10). Aps a costura, a correta e detalhada identificao da exsicata pode ser feita atravs da colagem de uma ficha contendo os dados da espcie, bem como os demais dados julgados necessrios (Figura 10).

  • 11

    Figura 10: Costura das exsicatas em papel cartolina, com sua identificao, para posterior armazenamento no herbrio.

    Figura 11: Exemplo demonstrativo de um herbrio onde so armazenadas as exsicatas em caixas de alumnio fechadas, isentas de umidade e com pouca iluminao.

  • 12

    Aps essa identificao, as exsicatas podem ser armazenadas em um herbrio (Figura 11).

    Para que uma exsicata fique corretamente identificada, so adotadas fichas de identificao, que tentam apresentar um bom numero de informaes. Um exemplo est abaixo:

    Exsi. N. Arbo. N. Carp. N. Xil. N. Lam. N. Exsu. N. Nome cientfico Famlia Nome vulgar

    Coletor Data:____/____/________ Procedncia Remetente Data:____/____/________ Determinador Data:____/____/________ Obs.:

    Cuidados

    Os cuidados que devem ser tomados em relao coleta e herborizao de material botnico esto basicamente relacionados s questes de qualidade do material, pois caso ocorram descuidos, a mesma poder ficar comprometida, principalmente pela proliferao de fungos apodrecedores.

    Estes fungos podero se proliferar caso o material esteja com umidade excessiva, o que pode acontecer caso o jornal que est sendo usado para a montagem e secagem da exsicata no seja trocado diariamente, caso o material esteja sendo seco sob condies naturais.

    Alm disso, insetos como traas, formigas, etc., podero aparecer no material caso o mesmo no esteja corretamente armazenado, em caixas bem fechadas. Aspectos legais da coleta de material botnico

    A coleta de material botnico, quando se tratar de espcies nativas e principalmente em Unidades de Conservao, atividade passvel de licenciamento nos rgos ambientais. Para isso, caso seja necessria a coleta de material para os diversos fins, os responsveis devem buscar mais informaes a esse respeito junto aos rgos ambientais locais ou regionais.

  • 13

    Referncias bibliogrficas BONONI, V.L.R.; FIDALGO, O. Tcnicas de coleta, preservao e herborizao de material botnico. So Paulo: Instituto de Botnica, 1984, v.1, 62 p. PINHEIRO, A.L.; ALMEIDA, E.C. Fundamentos de Taxonomia e Dendrologia Tropical Metodologia Dendrolgica. Viosa: SIF, 2000. 72 p. RIBEIRO, J. E. L. S. et al. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificao das plantas vasculares de uma floresta de terra-firma na Amaznia Central. Manaus: INPA, 1999. 816 p. RODERJAN, C.V.; BENTO, I.M.; NAGATA, C.K. Um trabalho prtico para a identificao das rvores utilizadas na arborizao de ruas de Maring. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAO URBANA, II. 1987. Anais... Maring, Sociedade Brasileira de Arborizao Urbana, v. 1, p. 124-128. Dados dos Autores

    1. Eleandro Jos Brun, Engenheiro Florestal, Mestre e Doutor em Silvicultura pela UFSM. Professor do Curso de Engenharia Florestal da UTFPR Campus Dois Vizinhos. rea de Pesquisa: Silvicultura de espcies florestais nativas e exticas. E-mail: [email protected]. Fone: (46)3536-8917. Endereo: Estrada para Boa Esperana, km 4 Dois Vizinhos, PR. CEP: 85660-000 Cx. Postal 157.

    2. Flvia Gizele Knig Brun, Engenheira Florestal, Mestre em Silvicultura (UFSM) e Doutoranda em Conservao da Natureza (ESALQ/USP). rea de Pesquisa: Silvicultura e Arborizao Urbana. Endereo: Av. Pdua Dias, 11 Bairro Agronomia CEP: 13418-900 Piracicaba, SP. Depto. Cincias Florestais Laboratrio de Mtodos Quantitativos. E-mail: [email protected].

    3. Solon Jonas Longhi, Engenheiro Florestal, Dr. Conservao da Natureza (UFPR). Professor do Curso de Engenharia Florestal da UFSM. rea de Pesquisa: Dinmica de Florestas Naturais. Endereo: Depto. Cincias Florestais CCR UFSM. Av. Roraima, 1000 Sala 5270 Fone: (55)3220-8444 - Santa Maria, RS. CEP: 97105-970 - E-mail: [email protected].