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  • 7/26/2019 Tagore Villarim de Siqueira - Os Grandes Grupos Brasileiros Desempenho e Estratgias Na Primeira Metade Dos An

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    RESUMO Nas ltimas dcadas, aexpanso da economia mundial foimarcada por um considervel aumentoda importncia das aes adotadaspelas grandes corporaesinternacionais, seja no mbito dosinvestimentos, da quantidade e daqualidade do emprego, ou mesmo doritmo das inovaes tecnolgicas. NoBrasil, as mudanas relacionadas aosgrandes grupos econmicosapresentaram tendncia semelhante.

    As transformaes experimentadaspela economia brasileira a partir dofinal dos anos 80 proporcionaramnovos desafios aos vrios agentes daeconomia. Os grupos brasileirosresponderam a essas mudanas decenrio com a adequao de suasestruturas organizacionais, objetivandotorn-las mais eficientes e flexveis edefinindo novas estratgias decompetio e expanso. Nesse sentido,este artigo analisa as principaiscaractersticas das aes e reaes degrandes grupos brasileiros com baseem informaes de uma amostracomposta por 33 grupos lderes dopas na primeira metade dos anos 90.

    ABSTRACT In the last few decadesthe expansion of the world economy hasbeen marked by a considerable increasein the importance of actions adopted bylarge international corporations. Thishas occurred in investments, thequantity and quality of jobs, and eventhe pace of technological innovations.

    In Brazil, the changes that have taken place within the principal economicgroups have followed a similar path.The changes through which the

    Brazilian economy has undergone sincethe late 1980s pose new challenges toeconomic agents. Brazilian groupsreacted to these changes in theeconomic environment by adaptingtheir organizational structures, seekingto make them more efficient and flexiblewhile defining new strategies tocompete and expand. It is from this

    perspective that this paper analyzes the principal characteristics of the actionsand reactions of the principal Braziliangroups, based on information from asample of 33 of the leading groups in

    Brazil in the first half of the 1990s.

    * Este artigo resultado da atividade de acompanhamento e estudo das estratgias empresariais degrandes grupos brasileiros, entre 1994 e 1997. Os dados aqui considerados fazem parte do trabalhode elaborao dos relatrios de estratgias empresariais e da pesquisa, no mbito do Convnio

    BNDES/GAP, sobre as caractersticas mais relevantes das grandes mudanas apresentadas pelosgrupos econmicos brasileiros no perodo 1989/95.

    ** Economista da Secretaria de Desenvolvimento Regional do BNDES.

    Os Grandes Grupos Brasileiros:Desempenho e Estratgias naPrimeira Metade dos Anos 90*

    Os Grandes Grupos Brasileiros:Desempenho e Estratgias naPrimeira Metade dos Anos 90*

    TAGORE VILLARIM DE SIQUEIRA**

    REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 13, P. 3-32, JUN. 2000

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    1. Introduo

    a primeira metade da dcada de 90, as transformaes experimenta-das pela economia brasileira de ordem poltica, institucional e

    econmica estabeleceram novas regras de atuao para os vrios agenteseconmicos e deflagraram um amplo processo de mudanas nas estruturasorganizacionais e nas estratgias dos grandes grupos econmicos do pas.Entre os principais fatores que causaram impactos relevantes na economia

    e, por conseqncia, exerceram influncia decisiva sobre os grupos brasi-leiros nesse perodo, destacaram-se, no cenrio externo, a formao doMercosul e o aumento da liquidez no sistema financeiro internacional e, nocenrio interno, a abertura econmica, a privatizao de empresas estataise a poltica econmica de estabilizao monetria, alm dos impactoseconmicos decorrentes da Constituio de 1988.

    Nessa fase, os grupos econmicos realizaram uma ampla adoo de progra-mas de reestruturao, objetivando, principalmente, o aumento da compe-titividade e a redefinio de suas respectivas estratgias de competio e deexpanso. Entre as principais mudanas apresentadas pelos grupos brasilei-ros, destacaram-se o aumento de tamanho (seja mensurado pela receita,ativo ou patrimnio lquido), o empenho para o aumento da competitividade,a ampliao das operaes de comrcio exterior (exportaes e importaes)e a maior presena no exterior (por meio da instalao de subsidirias emoutros pases).

    O aumento significativo das emisses de certificados pelas normas ISO9000 uma boa ilustrao da importncia alcanada pelos programas dequalidade no perodo. No que se refere produtividade, vrios gruposobservados passaram a definir resultados de padro internacional como ameta a ser atingida, objetivando muitas vezes alcanar a condio deworld class supplier .

    Os 33 grandes grupos econmicos do pas que constituem a amostra consi-derada neste trabalho controlavam mais de 300 empresas, com atuaesconcentradas, principalmente, na indstria de transformao (entre os quaisse destacaram, com melhor representao, os setores de siderurgia, papel ecelulose, alimentos, eletroeletrnica e qumica e petroqumica).

    Vale observar que, embora a amostra seja pequena, quando se leva em conta,por exemplo, a dimenso da economia brasileira, os grupos consideradoscontrolam empresas lderes, detentoras de participaes de mercado expres-

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    sivas em vrios setores importantes. Assim, pode-se aceitar que, a partir doestudo do comportamento desses grupos, seja possvel alcanar uma com-preenso representativa das principais caractersticas do novo padro deorganizao, das estratgias e do desempenho econmico-financeiro dasgrandes organizaes lderes da economia brasileira.1

    Alm desta introduo, este estudo constitudo por quatro sees: a Seo2 apresenta uma caracterizao da amostra; a Seo 3 analisa as principaisrespostas dos grupos diante do novo ambiente competitivo, enfatizando osimpactos sobre as estratgias, o aumento da competitividade e a internacio-

    nalizao das atividades; a Seo 4 analisa o comportamento dos inves-timentos; por fim, a Seo 5 apresenta as consideraes finais.

    2. Caracterizao da AmostraA amostra considerada neste trabalho constituda por 33 grupos econmi-cos controladores de empresas lderes de vrios setores da economia (verTabela 1). O acompanhamento e a anlise do desempenho desses gruposproporcionam uma melhor compreenso das transformaes recentes, nombito dos grupos lderes, decorrentes das mudanas institucionais e depoltica econmica no pas a partir do final dos anos 80.

    TABELA 1Amostra de 33 Grupos Econmicos 1996 1. ABC Algar 12. Cofap 23. Po de Acar 2. Acesita 13. CSN 24. Perdigo 3. Alpargatas 14. Gerdau 25. Ripasa 4. Andrade Gutierrez 15. Globopar 26. Sadia 5. Antrtica 16. Gradiente 27. Sharp6. Aracruz 17. Hering 28. Suzano

    7. Belgo-Mineira 18. Ipiranga 29. Ultra 8. Bompreo 19. Itasa 30. Usiminas 9. Brasmotor 20. Klabin 31. Vicunha10. Camargo Corra 21. Mariani-BBM 32. Villares11. CCE 22. Odebrecht 33. Votorantim

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    1 Para melhor compreenso do processo de aumento da importncia das grandes corporaes e desuas respectivas transformaes organizacionais nas economias nacionais e mundial, ver, por exemplo, Chandler (1966), Channon (1972), Galbraith (1982) e McCraw (1998). Ver tambm orelatrio da Unctad (1995) que evidencia uma considervel ampliao das atividades das empresastransnacionais nas ltimas dcadas.

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    A Tabela 2, a seguir, mostra os setores melhor representados segundo o nmerode empresas e as respectivas participaes de mercado. As 94 principaisempresas dos grupos analisados atuam predominantemente na indstria detransformao, com destaque para os setores de qumica e petroqumica,siderurgia, papel e celulose, eletroeletrnica, alimentos e material de cons-truo. Em servios, o setor melhor representado foi o de construo pesada.

    Grande parte dos grupos observados contavam com empresas lderes emquase todos os setores em que atuavam. Em alguns casos eles respondiampor mais da metade da produo e das vendas no mercado interno, como,

    por exemplo: Aracruz, Klabin, Suzano e Votorantim-VCP, em papel ecelulose; Votorantim, em cimento; CCE, Gradiente, Itautec/Philco-Itasa eSharp, em eletroeletrnica; Acesita, Belgo-Mineira, CSN, Gerdau, Usimi-

    TABELA 2Amostra de 33 Grupos: Nmero de Empresas por Setor deAtividade e Participao de Mercado 1995SETORES NMERO DE

    EMPRESASMARKET-SHARE (%)

    IndstriaQumica/Petroqumicaa 13 80Metalurgia/Siderurgiab 18 76Papel e Celulose 10 64Eletroeletrnicac 5 57Agroindstria (Alimentos e Bebidas)d 5 52Material de Construoe 5 50Informtica 2 43Telecomunicaes (Equipamentos) f 5 30Mecnica 3 Sem InformaoGrfica 2 Sem InformaoTxtil 13 Sem InformaoSubtotal 81 ServiosConstruo Pesada 6 72Comrcio Varejista 2 16

    Financeiro 5 Sem InformaoTotal 94 Nota: Na tabela foram consideradas apenas as participaes de 94 principais empresas controladas pelos 33 grupos da amostra.aPolietilenos de alta e baixa densidade e especialidades.bAos, laminados (longos e longos comuns) e planos inox.cTelevisores, udio e videocassetes.dSegmentos de congelados e industrializados.eCimento, lajes e louas sanitrias.fSwitching, mix, rdio e turnkey.

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    nas e Votorantim-SBM, em siderurgia; Odebrecht (OPP e Trikem), Ipiran-ga, Suzano e Mariani (Pronor e Nitrocarbono), em petroqumica; e AndradeGutierrez, Camargo Corra e Odebrecht (CNO, CBPO e Tenenge), emconstruo pesada.

    O mercado interno foi o principal foco de atuao da maior parte dessesgrupos ao longo da primeira metade dos anos 90, com a participao mdiadas receitas originrias de operaes realizadas no pas alcanando cerca de84% da receita operacional lquida (ROL) (ver Grfico 1). Por outro lado,observou-se que, mesmo no tendo apresentado aumento significativo da

    participao das receitas externas na ROL, vrios grupos da amostra deramnfase tambm s estratgias voltadas para consolidar e ampliar a atuaono exterior. Em conjunto, tais grupos responderam em mdia por cerca de17% das exportaes nacionais entre 1989 e 1995. Alguns deles apresenta-ram-se ainda em processo avanado de internacionalizao das atividades,contando, inclusive, com subsidirias produtivas no exterior.

    No que se relaciona ao desempenho econmico-financeiro, os grupos ob-servados apresentaram duas fases distintas: a primeira, entre 1989 e 1992,de declnio para a grande maioria deles; e a segunda, entre 1993 e 1995,marcada pela grande expanso das receitas e resultados lquidos positivos,especialmente aps o Plano Real em 1994. A seguir so apresentadas asprincipais caractersticas do desempenho dos grupos analisados em termos

    84858479818588

    16151621191512

    0102030405060708090

    100

    1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

    Mercado Interno

    Mercado Externo

    GRFICO 1Composio da Receita Operacional Lquida segundo oMercado de Atuao 1989/95(Em %)

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    de ROL, ativo total, patrimnio lquido, resultado lquido e gerao deemprego.

    Com relao s receitas, os grupos da amostra apresentaram uma queda daROL total de US$ 34 bilhes em 1989 para US$ 30 bilhes em 1992, coma receita mdia caindo, respectivamente, de US$ 711 milhes para US$ 911milhes. Em 1995, a ROL total alcanou US$ 57 bilhes, com uma receitamdia de US$ 1,69 bilho. Entre 1989 e 1995, a ROL total apresentou umcrescimento de 67%. Ao longo de todo o perodo considerado, a dispersodos grupos foi sempre alta, com a ROL mxima chegando a ser cerca de 17

    vezes maior do que a mnima (ver Tabela 3).A distribuio dos grupos segundo a ROL mostra que a maior parte delespossua ROL at US$ 1 bilho entre 1989 e 1992. Em 1995, contudo, esseintervalo teve a presena dos grupos reduzida para 45% da amostra, poisvrios deles alcanaram aumentos significativos das receitas e passaram ase concentrar nos intervalos acima de US$ 2 bilhes (ver Tabela 4).

    TABELA 3Receita Operacional Lquida Total, Medidas de TendnciaCentral e de Disperso 1989/95(Em US$ Milhes)MEDIDAS 1989 1992 1995

    Total 33.869 30.067 56.632Mdia 711 911 1.686Mediana 400 591 1.100Desvio-Padro 747 678 1.413Mximo 2.961 2.707 7.206Mnimo 50 101 420

    TABELA 4Distribuio dos Grupos segundo a Receita OperacionalLquida 1989/95ROL EM US$ MILHES(Intervalos)

    GRUPOS ECONMICOS (%)

    1989 1992 1995

    at 500 27 33 6501 1.000 39 30 391.001 1.500 15 18 151.501 2.000 6 6 92.001 2.500 3 9 62.501 3.000 6 3 12Acima de 3.000 3 0 12Total 100 100 100

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    Em termos de ativo total, os grupos da amostra mantiveram-se concentradosem intervalos sempre abaixo de US$ 2 bilhes ao longo de todo o perodoconsiderado. Em 1989, 88% dos grupos analisados possuam ativos atUS$ 2 bilhes, sendo que 64% deles no alcanavam US$ 1 bilho. Em1995, contudo, observou-se o aumento da presena de grupos com ativosmais elevados, que em alguns deles chegaram a ser superiores a US$ 5bilhes (21% da amostra).

    Quando comparados com os grandes grupos econmicos internacionais, osdo Brasil podem ser considerados de pequeno porte. Por exemplo, mesmo

    o maior grupo da amostra, o Itasa, com um ativo de US$ 27,8 bilhes, em1995 podia ser considerado de porte bem inferior ao dos grandes gruposfinanceiros internacionais, sejam norte-americanos, japoneses ou europeus.Caso fossem considerados apenas os ativos dos setores industriais, o Itasapassaria a apresentar porte semelhante ao dos demais grupos da amostra.

    Com relao ao patrimnio lquido (PL), verificou-se em 1995 que 52% dosgrupos da amostra possuam um PL acima de US$ 1 bilho, com 28% delessituando-se acima de US$ 2 bilhes. Nesse mesmo ano, a disperso dosgrupos em termos de patrimnio era bastante elevada, com o PL mximo(US$ 5,97 bilhes) sendo cerca de 45 vezes mais elevado que o menor(US$ 133 milhes). O PL de metade dos grupos ficava acima de US$ 1,1bilho. Ao longo do perodo estudado, os grupos observados tambm

    aumentaram de tamanho quando considerado o comportamento de seusrespectivos PLs. Por exemplo, aqueles com PL acima de US$ 1,5 bilhoalcanavam 37% da amostra em 1995, enquanto em 1989 eles eram apenas15%.

    No que se relaciona aos resultados lquidos, observou-se que a maior partedos grupos apresentou resultados positivos entre 1989 e 1995, com a maioriadeles alcanando at US$ 100 milhes em termos de lucros lquidos, cujatendncia no perodo foi de crescimento. A participao dos grupos comlucro lquido at US$ 50 milhes caiu de 58% em 1989 para 42% em 1995,enquanto os grupos com lucro lquido acima de US$ 100 milhes aumenta-ram a participao na amostra, passando de 21% em 1989 para 36% em1995. Em termos absolutos, o total dos resultados lquidos apresentou umcrescimento de cerca de 37%, passando de US$ 2,6 bilhes em 1989 paraUS$ 3,6 bilhes em 1995, ano em que o resultado lquido mdio foi deUS$ 109 milhes e a mediana ficou em US$ 68 milhes.

    Os dados sobre nmero de funcionrios evidenciam o grande impactocausado pelos programas de reestruturao implementados pela maioria dosgrupos nesse perodo, caracterizados, em grande medida, por cortes drs-

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    ticos do contingente de empregados, embora tal processo, em certos casos,possa ter sido acompanhado pela terceirizao de algumas atividades.

    Entre 1989 e 1995, o total de funcionrios dos grupos da amostra sofreu umareduo de 39%, passando de cerca de 773 mil em 1989 para 473 mil em1995. O aumento do nmero de grupos com at 10 mil funcionrios umaboa ilustrao do impacto decorrente da adoo dos programas de rees-truturao sobre o emprego. A participao desses grupos no total daamostra passou de 27% em 1989 para 48% em 1995, ano em que o grupode maior contingente de funcionrios (53 mil) era 33 vezes maior que o de

    menor nmero (1,6 mil), com a mediana sendo de 11 mil empregados.3. Tempos de Mudanas: Os Grandes Grupos e as

    Estratgias para Enfrentar o Novo AmbienteCompetitivo

    As mudanas ocorridas na economia brasileira a partir do final dos anos 80,entre as quais se destacaram a abertura comercial, o processo de privatizaoe a estabilizao monetria, provocaram um amplo processo de reavaliaodas estratgias dos grupos econmicos. Nessa fase, foram adotados progra-mas de reestruturao empresarial, objetivando, especialmente, o aumentoda competitividade e a definio mais precisa dos mercados de atuao.

    De acordo com a Tabela 5, a seguir, pode-se observar que as cinco es-tratgias mais importantes, na primeira metade dos anos 90, foram exata-mente aquelas que viabilizavam uma melhor definio das reas de atuaodos grupos em termos de mercados (interno e externo) e de setores(especializao e diversificao com mesma base tecnolgica). A nfase naformao de alianas com fornecedores pode ser interpretada como umaforma para aumentar a eficincia ao longo da cadeia produtiva, reduzindocustos das operaes de compras e dos estoques, alm de elevar o padro dequalidade dos insumos.

    A elevao do grau de importncia (GI) dedicado ao mercado interno entre1989 e 1995 foi, certamente, uma resposta ao aumento da competio

    decorrente do processo de abertura comercial iniciado ao final dos anos 80.O maior ingresso de produtos importados e a instalao de subsidirias degrandes players internacionais no pas explicam em boa parte o aumento deimportncia dedicado pelas empresas aos programas voltados para o aumen-to da competitividade. O acirramento da competio no mercado interno aolongo da primeira metade dos anos 90 justifica tambm a maior nfase dadapelos grupos para a consolidao de suas respectivas participaes demercados. De acordo com o GI dedicado pelos grupos da amostra s vrias

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    estratgias consideradas no perodo 1989/95, elas poderiam ser classificadasem trs conjuntos, a saber:

    um conjunto principal formado por estratgias com GI acima de 2,0, entreas quais se destacaram o foco no mercado interno, a especializao, asalianas com fornecedores/distribuidores e a diversificao com mesmabase tecnolgica;

    um segundo bloco intermedirio constitudo por estratgias com GI entre1,5 e 2,0, no qual se destacaram o foco no mercado externo, a diversifi-cao para mercados similares, a integrao vertical em direo ao con-sumidor e a terceirizao de etapas produtivas; e

    um terceiro conjunto constitudo por estratgias com GI abaixo de 1,5,indicadas como pouco importantes ou que tiveram sua importnciareduzida ao longo do perodo observado, entre as quais se destacaram adiversificao para reas distintas das atuais, os acordos cooperativos

    e/ou joint-ventures com concorrentes e a integrao vertical em direoaos fornecedores.

    Algumas dessas estratgias apresentaram um considervel aumento do GIentre 1989 e 1995, mesmo que ainda tenham permanecido em nveis baixosem alguns casos, a saber: terceirizao de etapas produtivas (133%), acordoscooperativos e/ou formao de joint-ventures com concorrentes (78%),diversificao para mercados similares (42%), integrao vertical em dire-

    TABELA 5Grupos Econmicos: Grau de Importncia Mdio a dasEstratgias 1989/95ESTRATGIAS 1989 1995 TAXA DE VARIAO

    1995/89 (%)

    1. Mercado Interno 2,61 2,84 8,812. Especializao 1,86 2,45 31,723. Alianas com Fornecedores/Distribuidores 1,61 2,19 36,024. Diversificao com Mesma Base Tecnolgica 1,63 2,06 26,385. Mercado Externo 1,64 1,97 20,126. Diversificao para Mercados Similares 1,36 1,93 41,917. Integrao Vertical em Direo ao Consumidor 1,46 1,72 17,818. Terceirizao de Etapas Produtivas 0,67 1,56 132,849. Diversificao para reas Distintas das Atuais 1,29 1,25 -3,10

    10. Acordos Cooperativos e/ouJoint-Ventures com Cconcorrentes 0,69 1,23 78,2611. Integrao Vertical em Direo aos Fornecedores 0,82 1,13 37,80aEscala de grau de importncia: nula (0), baixa (1), mdia (2) e grande (3).

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    o aos fornecedores (38%), alianas com fornecedores e/ou distribuidores(36%) e especializao (32%). O aumento de importncia de tais estratgiaspode ser interpretado como uma nova tendncia. Certamente, elas repre-sentaram uma resposta, mais evidente, dos grupos ao novo ambiente com-petitivo dos anos 90.

    Reestruturao dos Grupos: A nfase no Aumento daCompetitividadeA partir do final dos anos 80, os grupos brasileiros passaram a dedicar maior

    importncia ao aumento da qualidade, no processo de produo e doproduto, como um fator fundamental de vantagem competitiva para seadequarem mais rapidamente ao novo padro de competio da economiamundial.

    Experincia semelhante foi enfrentada pelas corporaes norte-americanasdiante da competio com as companhias asiticas, especialmente as japo-nesas durante a dcada de 80. De acordo com Deming (1990), por exemplo,a melhor qualidade dos produtos asiticos era o principal fator para definioda sua superioridade sobre os norte-americanos ao longo dos anos 80. Talsituao motivou, inclusive, a deflagrao de um amplo processo de implan-tao de programas de reestruturao industrial nos Estados Unidos.

    Entre os grupos brasileiros analisados, foi bastante comum a adoo deprogramas de qualidade, objetivando obter certificaes ISO 9000 e dequalidade ambiental e ampliar a qualificao dos funcionrios por meio detreinamento. No que se relaciona aos programas de qualidade segundo asnormas ISO 9000, 101 empresas pertencentes aos grupos da amostra jhaviam sido certificadas e 66 encontravam-se em fase de preparao em1995. Entre 1993 e 1995, os investimentos em programas ambientaissomavam cerca de US$ 305 milhes.

    O aumento da nfase no treinamento dos funcionrios, por meio de cursose seminrios, foi um dos itens de maior importncia dos programas dereestruturao implantados nesse perodo. De acordo com as informaesapresentadas por 24 grupos da amostra (referentes a 33 empresas), os gastosem treinamento realizados em 1995 alcanaram uma mdia de 0,64% daROL (cerca de US$ 255,7 milhes).

    O comportamento dos gastos em produo e aquisio de tecnologia dessesgrupos indica o aumento de importncia e o papel estratgico da rea depesquisa e desenvolvimento (P&D) para definir um posicionamento es-tratgico competitivo diante dos concorrentes. Os gastos em P&D eroyalties

    OS GRANDES GRUPOS BRASILEIROS: DESEMPENHO E ESTRATGIAS NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 9012

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    de 33 empresas controladas por 26 grupos tambm aumentaram no perodoconsiderado. A participao dos gastos em P&D na ROL passou de 1,37%em 1989 para 1,56% em 1995. Os gastos comroyalties , por sua vez,elevaram sua participao de 0,90% da ROL em 1989 para 1,09% em 1995.

    Entre 1989 e 1995, a adaptao de tecnologia tornou-se a principal fonte detecnologia para os grupos observados. Em 1995, por exemplo, ela foi umaprtica comum para 44% das unidades informantes quanto tecnologia deproduto e para 39% quanto tecnologia de processo, como se pode ver naTabela 6. No mesmo ano, a criao de tecnologia pela prpria empresa foi

    a segunda fonte mais importante para essas unidades, sendo assinalada por27% delas tanto em relao tecnologia de produto quanto de processo.

    As outras trs fontes de tecnologia (licenciamento, joint-venture e incorpo-rao) foram assinaladas por um nmero menor de grupos. A importnciado licenciamento como fonte de tecnologia de produto foi reduzida e tevepequeno aumento em relao tecnologia de processo. Ao contrrio doesperado, as joint-ventures mantiveram-se com baixa importncia comofonte de tecnologia para os grupos da amostra, verificando-se aumentoapenas entre as unidades pertencentes aos conglomerados. Por fim, a prticado uso de tecnologias incorporadas aumentou em vrias unidades infor-mantes.

    TABELA 6Origem das Tecnologias de Processo e de ProdutoUtilizadas pelas Empresas dos Grupos Econmicos 1989/95FONTE DA TECNOLOGIA ANO TECNOLOGIA

    DE PRODUTOTECNOLOGIA

    DE PROCESSO

    Nmero deUnidades

    % Nmero deUnidades

    %

    Criada pela Empresa 1989 23 28 25 28 1995 26 27 29 27Adaptada pela Empresa 1989 34 41 30 34 1995 42 44 41 39

    Licenciamento 1989 12 15 13 15 1995 10 10 15 14Joint-Venture 1989 4 5 3 3 1995 4 4 2 2Incorporada 1989 10 12 17 19 1995 14 15 19 18Nota: Foram consideradas as informaes de 83 empresas em tecnologia de produto em 1989 e de 95 em 1995, bem como de 88 empresas em tecnologia de processo em 1989 e de 106 em 1995.

    REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 13, P. 3 -32, JUN. 2000 13

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    Aqui, vale mencionar que os gastos em P&D desses grupos foram direcio-nados basicamente para setores nos quais j possuam considerveis parti-cipaes de mercado e representaram, certamente, uma resposta diante depossveis mudanas nos setores de atuao e ao acirramento da competio.Portanto, o aumento da importncia dos gastos em P&D apresentado pelosgrupos analisados no atende ao conceito de estratgia de Hamel e Prahalad(1995), o qual preconiza que, para garantir uma posio de destaque nofuturo, as companhias devem criar capacidades tcnicas para construir ascondies necessrias formao de novos setores, tais como teleinform-tica e biogentica, entre outros. Nesse sentido, os grupos da amostra apre-

    sentaram caractersticas de seguidores e no de lderes.A Estratgia de InternacionalizaoComrcio Externo

    As atividades de comrcio exterior proporcionam a ampliao dos mercadosde atuao, por meio das vendas para outros pases, exigem maior qualidadedos produtos ofertados e dos procedimentos adotados, viabilizam a aquisi-o de insumos mais baratos e levam os grupos a buscarem maior competi-tividade para suas empresas. Alm disso, as vendas externas geram umcrdito estratgico em moeda estrangeira, geralmente em dlar dos EstadosUnidos, que pode ser usado nas transaes internacionais, tais como com-

    pras externas, financiamentos via securitizao de receitas e nos resgates dettulos internacionais.

    No que se refere aos grupos da amostra, verificou-se que o comrciointernacional representava uma grande oportunidade para eles. No perodo1989/95, observou-se uma considervel expanso das operaes de comr-cio exterior, tanto das vendas quanto das compras, alm do aumento doinvestimento direto. Cerca de 30 grupos apresentaram operaes sistem-ticas de exportaes ou importaes, de mercadorias ou servios, sendo que26 forneceram dados sobre exportaes e 29 declararam informaes sobreimportaes.

    No perodo considerado, as exportaes desses grupos apresentaram um

    crescimento de 116%, passando de US$ 4 bilhes em 1989 para US$ 8,8bilhes em 1995 (ver Grfico 2). As importaes, por sua vez, alcanaramuma taxa de crescimento de 219%, passando de US$ 814 milhes em 1989para US$ 2,6 bilhes em 1995. Ao longo do perodo considerado, o saldocomercial foi sempre positivo e crescente, passando de US$ 3,3 bilhes em1989 para US$ 6,2 bilhes em 1995.

    OS GRANDES GRUPOS BRASILEIROS: DESEMPENHO E ESTRATGIAS NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 9014

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    O coeficiente de abertura dos grupos, medido aqui pela soma das exporta-es mais importaes dividida pela ROL, passou de 14% em 1989 para20% em 1995 (ver Grfico 3). As operaes totais com o exterior em 1995,medidas pelo coeficiente de abertura, indicam uma queda em relao aoresultado alcanado em 1992. Nesse perodo, o desempenho no mercado

    8.792

    6.220

    4.075

    2.6001.180814

    01.0002.0003.0004.0005.0006.0007.0008.0009.000

    1989 1992 1995

    Exportaes

    Importaes

    GRFICO 2Grupos Econmicos: Exportaes e Importaes 1989/95(Em US$ Milhes)

    55.632

    30.06733.86920

    25

    14

    -10.00020.000

    30.00040.000

    50.00060.000

    1989 1992 19950

    510

    15

    20

    25

    %US$

    Milhes

    ROL (US$ Milhes) Coeficiente de Abertura ( + )/ROL (%)X M

    GRFICO 3Coeficiente de Abertura e Receita Operacional Lquida 1989/95

    REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 13, P. 3 -32, JUN. 2000 15

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    interno explica em boa parte o crescimento das receitas dos grupos obser-vados.

    Entre 1989 e 1995, o coeficiente de abertura mdio dos grupos da amostraalcanou um crescimento de seis pontos percentuais, atingindo 26% em1995. O ano de 1992 foi o de maior abertura em relao ao comrcio exterior,com o coeficiente mdio alcanando 28,6% e a mediana ficando em 28,2%.Em termos de exportaes, esses grupos estavam entre os maiores do Brasil,com suas vendas externas respondendo em mdia por cerca de 17% dasexportaes totais do pas entre 1989 e 1995. Os principais produtos expor-

    tados eram as consideradascommodities (ao, celulose, madeira, soja e aves)e os servios de construo.

    Mesmo considerando-se os limites institucionais e de crdito, pode-se dizerque os exportadores contaram com um ambiente favorvel nas ltimasdcadas, beneficiando-se de vrios programas de financiamento para ala-vancar as exportaes, entre os quais se destacaram Befiex, Proex, Finamexe, mais recentemente, BNDES- Exim . Alm disso, os exportadores contaramcom produtos oferecidos pelas instituies financeiras privadas, como foi ocaso do adiantamento de contrato de cmbio (ACC). Entre 1989 e 1995, asexportaes desses grupos mais do que dobraram, passando de US$ 4,2bilhes para US$ 8,8 bilhes, aumento motivado em grande parte pelospreos externos favorveis para ascommodities .

    Todavia, em termos relativos as receitas externas perderam importncia aofim do perodo considerado, entre 1993 e 1995 (ver Grfico 4). A queda docoeficiente de exportao (participao das exportaes na ROL), enquantoas vendas externas aumentavam, indica que o crescimento das vendasinternas, a taxas superiores s das exportaes, foi mais importante para oaumento da ROL nessa fase. Por outro lado, a pequena recuperao docoeficiente de exportaes em 1995 foi decorrente do melhor desempenhodas exportaes em relao s vendas internas. Assim, pode-se dizer que,ao longo do perodo considerado, as vendas externas em termos absolutosforam sempre crescentes (com exceo de 1993), com a participao naROL variando em funo do desempenho das vendas no mercado interno.

    A distribuio dos grupos segundo o coeficiente de exportao apresentouuma migrao dos grupos dos intervalos com coeficientes abaixo para osintervalos acima de 25% (ver Tabela 7). O ano de 1992 foi o que apresentouo maior nmero de grupos com coeficientes de exportaes acima de 25%,com as receitas de exportaes de 50% dos grupos ficando acima de 25%da ROL. A participao mdia das exportaes na ROL dos grupos obser-vados atingiu 29% em 1992 (ver Tabela 8).

    OS GRANDES GRUPOS BRASILEIROS: DESEMPENHO E ESTRATGIAS NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 9016

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    8,797,73

    5,796,22

    4,874,794,20

    1817

    18

    2322

    20

    16

    0123456789

    1989 1990 1991 1992 1993 1994 19950

    5

    10

    15

    20

    25

    US$Bilhes %

    Exportaes (US$ Bilhes) Coeficiente de Exportaes (%)

    GRFICO 4Coeficiente de Exportaes e Valor das Exportaes 1989/95

    TABELA 7Distribuio dos Grupos segundo o Coeficiente deExportao 1989/95(Em %)COEFICIENTE DE EXPORTAO(Intervalos)

    GRUPOS ECONMICOS1989 1992 1995

    0,00 10,00 31 31 2310,01 15,00 4 4 1515,01 20,00 15 8 1220,01 25,00 19 8 1525,01 30,00 8 15 12Acima de 30,01 23 35 23Total 100 100 100

    TABELA 8Coeficiente de Exportaes: Medidas de Tendncia Central ede Disperso 1989/95(Em %)MEDIDAS 1989 1992 1995

    Mdia 20,61 28,69 23,38Mediana 19,63 29,35 19,21Desvio-Padro 19,2 22,55 22,03Mximo 86,39 86,51 97,28Mnimo 0,04 0,03 0,02

    REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 13, P. 3-32, JUN. 2000 17

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    O aumento da importncia do comrcio exterior nas operaes dos gruposobservados repercutiu de forma positiva sobre os investimentos produtivosno Brasil e sobre o grau de endividamento financeiro total e de endivida-mento financeiro internacional (de curto e de longo prazo). De acordo comos resultados apresentados na Tabela 9, pode-se dizer que a ampliao docoeficiente de abertura e de exportaes, por parte de vrios grupos, viabi-lizou as condies para as respectivas expanses dos investimentos e doendividamento financeiro internacional.

    Nesse perodo, a elevao dos financiamentos externos de US$ 3,3 bilhes

    em 1989 para US$ 8,7 bilhes em 1995 proporcionou um aumento departicipao das fontes internacionais no total dos financiamentos de 48%em 1989 para 55% em 1995. Pode-se dizer, assim, que o saldo em moedaestrangeira resultante do comrcio exterior e a experincia obtida com asoperaes internacionais ampliaram a insero dos grupos observados nasoperaes do mercado financeiro internacional, seja por meio de securitiza-o de receitas ou lanamento de ttulos (commercial papers , export notes ,eurobnus, entre outros).

    Em relao s importaes, os grupos analisados ampliaram as comprasexternas tanto em valores absolutos quanto relativos mensurados por meiodo coeficiente de importaes (medido aqui pela participao das importa-es na ROL). Em 1995, o coeficiente de importaes foi de 5,4% e as

    importaes alcanaram US$ 2,6 bilhes, triplicando de valor em relao a1989, o que indica, assim, a existncia de correlao positiva entre aexpanso das atividades dos grupos e as importaes. Para vrios grupos

    TABELA 9Regresses SimplesVARIVEIS REGRESSES R 2 TESTEF

    Y = Endividamento Financeiro Internacionala Y = 28,58 + 8,90X 0,37 15,32cX = Coeficiente de Aberturaa (78,90) (2,27)Y = Investimento Produtivo no Brasilb Y = 133,14 + 12,10X 0,39 16,95cX = Coeficiente de Aberturab (97,35) (2,94)Y = Endividamento Financeiro Internacionala Y = 61,95 + 9,69X 0,43 17,17d

    X = Coeficiente de Exportaesa (75,88) (2,34)Y = Investimento Produtivo no Brasilb Y = 243,92 + 11,31X 0,49 22,65dX = Coeficiente de Exportaesb (73,27) (2,38)aDados para 1995.bDados para Y: total do perodo 1990/95; dados para X: mdia de 1989, 1992 e 1995.cAo nvel de significncia de 1% e ( n 2), (28 2), graus de liberdade, aceita-se a regresso para F calculado > F (7,71).dAo nvel de significncia de 1% e ( n 2), (25 2), graus de liberdade, aceita-se a regresso para F calculado > F (7,82).

    OS GRANDES GRUPOS BRASILEIROS: DESEMPENHO E ESTRATGIAS NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 9018

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    analisados, o aumento das compras externas representou uma grande subs-tituio dos insumos comprados anteriormente no mercado interno.

    O processo de abertura da economia, caracterizado pela reduo das tarifasde produtos importados a partir do final dos anos 80, desempenhou umimportante papel na expanso das compras externas, na medida em queaumentou a competio no mercado interno. Outro fator importante foi adefinio do padro de competitividade internacional, de acordo com cadasetor de atuao, como meta das principais empresas. Tais fatores motiva-ram a implantao dos novos processos de produo e exerceram influncia

    sobre o aumento das compras externas de insumos e mquinas e equipamen-tos. Alm disso, a poltica cambial no perodo considerado, marcada pelavalorizao do real frente ao dlar, foi certamente um outro fator quemotivou a acelerao e ampliao do acesso aos mercados de insumosestrangeiros e o conseqente aumento das importaes.

    Entre 1989 e 1995, a composio das importaes de insumos (matrias-primas e peas e componentes) apresentou alteraes significativas, comose pode ver no Grfico 5. As compras de matrias-primas, principal itemimportado, teve sua participao reduzida em cerca de 13 pontos percen-tuais, passando de 70% em 1989 para 57% em 1995. J o item peas ecomponentes, em segundo lugar como mais importante, elevou a participa-o em 16 pontos percentuais, passando de 9% em 1989 para 25% em 1995.

    Por outro lado, as compras de mquinas e equipamentos manteve sempre

    1992 1995

    21

    9

    70

    23

    12

    65

    18

    25

    57

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    1989

    Mquinas e Equipamentos Peas e Componentes Matrias-Primas

    GRFICO 5Grupos Econmicos: Composio das Importaes 1989/95(Em %)

    REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 13, P. 3-32, JUN. 2000 19

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    uma baixa participao, alcanando 18% das importaes em 1995, resul-tado que representava uma reduo de trs pontos percentuais em relao a1989 e cinco em relao a 1992, quando havia atingido 23%.

    A elevada concentrao das importaes dos grupos da amostra em insumospermaneceu constante ao longo de todo o perodo em anlise. Embora asimportaes de mquinas e equipamentos tenham aumentado em termosabsolutos, passando de US$ 164 milhes em 1989 para US$ 474 milhesem 1995, o aumento das compras externas explicado principalmente pelaaquisio de bens intermedirios. De acordo com o Grfico 5, pode-se

    observar que esses itens responderam, em mdia, por 80% das importaesdos grupos analisados entre 1989 e 1995.

    Investimento Direto no Exterior

    Nas ltimas dcadas, as operaes no mercado externo foram ampliadas porcorporaes de vrios pases, especialmente em termos de investimentosdiretos. Isso no foi diferente da experincia dos grupos brasileiros, mesmoque em menor proporo.

    Os grandes grupos econmicos dos pases desenvolvidos experimentaramum forte avano no processo de internacionalizao de suas atividades, comas exportaes sendo substitudas muitas vezes pelas vendas de subsidirias

    no exterior. Reich (1988) argumentava que, enquanto o dficit comercialdos Estados Unidos estava aumentando, as corporaes norte-americanasmantinham a competitividade por meio da instalao de subsidirias fora dopas. Ele citava que a participao das exportaes das corporaes ameri-canas nas exportaes mundiais havia se mantido em cerca de 17% desde1966, sendo que nos anos 80 quase metade das exportaes era proporcio-nada pelas subsidirias no exterior. Ao comentar os efeitos da internaciona-lizao, Reich lembrava que a instalao de subsidirias no exterior no erauma estratgia adotada apenas por grandes corporaes, mas tambm pelasde porte mdio. Ele citava os resultados de uma pesquisa da McKinsey &Company, em que as companhias americanas de porte mdio mais lucrati-vas, na primeira metade dos anos 80, haviam expandido as operaes noexterior.

    As mudanas tecnolgicas provocadas pela microeletrnica e a robtica, porexemplo, conduziram as grandes corporaes para as regies que melhor seadequaram ao novo padro tecnolgico mundial da indstria. Em artigosobre mudana tecnolgica, Blumenthal (1988), ex-secretrio do governonorte-americano e principal executivo da Unisys, mencionava que, inicial-mente, as corporaes norte-americanas dos setores de nova tecnologia

    OS GRANDES GRUPOS BRASILEIROS: DESEMPENHO E ESTRATGIAS NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 9020

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    haviam substitudo os Estados Unidos na instalao de novas plantas peloJapo e depois por Hong Kong, Coria do Sul ou Taiwan.

    A internacionalizao dos grupos brasileiros, por sua vez, aconteceu emfuno, principalmente, da possibilidade de ampliao do acesso a novosmercados. A instalao de subsidirias no exterior de grupos nacionais, comatividades em vrios setores da indstria, desempenhou papel importante namanuteno das receitas externas, chegando em alguns casos a substituir asexportaes pelas vendas diretas das subsidirias.

    No que se relaciona aos grupos da amostra, observou-se tambm a amplia-o do processo de internacionalizao das atividades por meio de inves-timentos diretos, com a participao das receitas das subsidirias no exteriorchegando a alcanar 7,7% da ROL total em 1995. A maior parte dassubsidirias foi instalada a partir de 1994, sendo que 56% das 70 subsidiriashaviam sido instaladas em 1995, como se pode ver no Grfico 6.

    Os grupos da amostra contavam com subsidirias localizadas em pases dequase todos os continentes (ver Grfico 7). A instalao das subsidiriasverificava-se, principalmente, nos grandes mercados mundiais, como nospases componentes do Nafta, da Unio Europia e do Mercosul e emparasos fiscais. Alm disso, os grupos tambm contavam com unidades emalguns pases da sia.

    13

    31

    8 8 11

    56

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

    GRFICO 6Subsidirias Instaladas no Exterior (Amostra de 70Empresas) 1989/95(Em %)

    REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 13, P. 3-32, JUN. 2000 21

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    As principais reas de atrao dos grupos da amostra eram a Unio Europiae o Mercosul, com 24% e 22% dos investimentos e 27% e 21% do fatura-mento das subsidirias, respectivamente, como se pode ver nos Grficos 8e 9. Outro mercado de grande importncia foi o Nafta, recebendo 4% dosinvestimentos diretos e respondendo por cerca de 18% do faturamento e

    Europa24%

    sia8%

    Mercosul22%Amrica do

    Norte 17%

    AmricaCentral

    24%

    Outros (Pasesda Amrica do

    Sul) 5%

    GRFICO 7Localizao das Subsidirias segundo Regio 1995

    Europa42%

    Mercosul22%

    Amrica doNorte 4%

    sia1%

    Outros (Pasesda Amrica do

    Sul) 2% AmricaCentral

    29%

    GRFICO 8Investimento Direto no Exterior segundo Regio(US$ 1,3 Bilho) 1995

    OS GRANDES GRUPOS BRASILEIROS: DESEMPENHO E ESTRATGIAS NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 9022

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    17% das subsidirias no exterior. A Amrica Central, por sua vez, em suamaior parte representada pelos parasos fiscais, confirmou a condio deuma das regies que mais recebem investimentos de grupos brasileiros.

    No Mercosul, observou-se a presena de nove grupos da amostra por meiode 14 empresas, com a instalao de grande parte delas acontecendo entre1994 e 1995. Nesse ltimo ano, os investimentos diretos e o faturamentosomavam, respectivamente, US$ 308,48 milhes e US$ 815,63 milhes. Oprocesso de integrao dos mercados dos pases participantes do mercadocomum foi a principal motivao para a ampliao do nmero unidades,inclusive industriais, de grupos brasileiros na Argentina, no Uruguai e noParaguai. Entre esses grupos estavam aqueles dos setores txtil, materialeltrico, autopeas, siderurgia, financeiro, alimentos e papel e celulose.

    A Amrica do Norte contava com a presena de nove grupos da amostra,que operavam por meio de 11 empresas. Os setores melhor representadoseram os de construo pesada, celulose, material eltrico, siderurgia, ali-mentos e financeiro. Os investimentos e o faturamento total das subsidiriassomavam, respectivamente, US$ 61,59 milhes e US$ 688,40 milhes em1995.

    Na Europa localizavam-se cerca de 16 subsidirias, pertencentes a 13grupos, com atuao nos seguintes setores: txtil, construo pesada, mate-rial eltrico, autopeas, comunicao, alimentos e financeiro. Em 1995, os

    Mercosul21%

    Europa27%

    sia2%

    Outros (Pasesda Amrica

    do Sul)3%

    Amrica doNorte18%

    AmricaCentral

    29%

    GRFICO 9Faturamento das Subsidirias no Exterior segundo Regio(US$ 3,8 Bilhes) 1995

    REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 7, N. 13, P. 3-32, JUN. 2000 23

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    investimentos e o faturamento total dessas subsidirias atingiram, res-pectivamente, US$ 575,46 milhes e US$ 1.031,20 milhes.

    Na sia, verificou-se a presena de cinco subsidirias brasileiras, perten-centes aos Grupos Brasmotor, Gradiente, Odebrecht e Sadia. Tratava-se deuma atuao ainda incipiente em uma regio que s nos ltimos anos passoua receber maior ateno dos grupos brasileiros. A Odebrecht e outros gruposque atuam na rea de construo pesada passaram a dedicar ateno especials licitaes para obras de infra-estrutura em pases emergentes destecontinente. Por exemplo, um consrcio formado por grandes construtoras

    brasileiras conseguiu garantir participao na construo da hidreltrica deTrs Gargantas na China, em 1996, a maior usina do mundo em construonaquele momento.

    Alm disso, vrios grupos observados ainda contavam com subsidirias naAmrica Central, explorando basicamente as vantagens oferecidas pelospases considerados parasos fiscais. O custo de constituio de uma empre-sa poderia ficar em torno de US$ 1.000 e as transaes comerciais efinanceiras eram isentas de impostos. Em 1995, os investimentos diretos eo faturamento dos oito grupos da amostra que apresentaram informaessobre suas subsidirias localizadas nos pases desta regio totalizavam,respectivamente, US$ 412 milhes e US$ 1,1 bilho.

    Os maiores destaques entre os grupos observados, em termos de estratgiade internacionalizao por meio de investimentos diretos, foram Odebrecht,Andrade Gutierrez, Gerdau, Brasmotor e Cofap, que estavam presentes emvrios pases das Amricas, da Europa e da sia, contavam com unidadesnos principais mercados mundiais e posicionavam-se de forma competitivafrente aos principais concorrentes. Por exemplo, nos Estados Unidos, asubsidiria da Odebrecht estava entre as 50 maiores construtoras norte-ame-ricanas e a Brasmotor detinha cerca de 18% do mercado de compressores.A Gerdau, por sua vez, mantinha a estratgia de consolidar posio nospases das Amricas do Sul e do Norte, por meio da aquisio de vriasusinas siderrgicas no Chile, no Uruguai, no Canad e nos Estados Unidos.

    A consolidao da presena no exterior representa um grande desafio paraos grupos brasileiros. As dificuldades relacionadas ao perodo de instalaodas subsidirias em um novo pas, tais como as relaes com fornecedorese clientes com culturas diferentes, so fatores que, muitas vezes, definem osucesso ou fracasso dessa experincia. Dependendo do pas de atuao, osgrupos passam a incorporar em seus cenrios eventos como guerras e atosterroristas, que podem causar custos irrecuperveis para suas subsidirias.Por exemplo, as dificuldades enfrentadas pela Mendes Jnior, nos ltimos

    OS GRANDES GRUPOS BRASILEIROS: DESEMPENHO E ESTRATGIAS NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 9024

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    anos, explicada em grande parte pelas perdas em funo da guerra entre oIr e o Iraque e da guerra do Golfo, por terem paralisado os projetos deconstruo de que o grupo participava, provocando, inclusive, perdas demquinas e equipamentos.

    Alm disso, em alguns casos a insuficincia da escala de produo para serum fornecedor no sistema deglobal sourcing pode inviabilizar a internacio-nalizao dos grupos e comprometer at mesmo a atuao em mercadosregionais. Por exemplo, a Cofap e a Metal Leve, fabricantes de autopeasconsideradas com alto padro de qualidade em suas tecnologias de processo

    e de produto, no suportaram a concorrncia nos mercados internacionais eno Brasil. Os grupos que contavam com subsidirias localizadas nos prin-cipais mercados mundiais (Nafta e Unio Europia) e eram fornecedoresdas maiores montadoras do mundo acabaram vendendo parte ou a totalidadede seus controles acionrios. A Cofap passou a contar com a maior presenade scios como o Bradesco e o Grupo Mahle GmbH (Alemanha) em seucontrole acionrio e a Metal Leve foi adquirida por esses trs grupos. Aofinal desse processo, a Mahle, lder mundial do segmento, teve sua presenaampliada no mercado nacional.2

    A experincia internacional da Andrade Gutierrez um outro bom exemplodas dificuldades enfrentadas pelos grupos que internacionalizaram suasatividades. Em 1997, o grupo anunciou o recuo na internacionalizao de

    seus negcios, informando que suas subsidirias nos Estados Unidos, naEuropa e na frica haviam sido desativadas porque boa parte delas vinhaapresentando situaes deficitrias h vrios anos. Dessa forma, o grupoinformava que manteria em operao apenas algumas unidades localizadasna Amrica Latina, regio definida como novo foco de atuao de suasempresas.

    4. Investimentos no Pas: Tendncia e PerspectivasNa primeira metade dos anos 90, os investimentos produtivos no Brasil dosgrupos analisados apresentaram tendncia de alta. Entre 1990 e 1995, asinverses somaram US$ 15 bilhes, atingindo a mdia anual de US$ 2,5bilhes, cerca de 0,5% do PIB mdio do perodo, como se pode ver noGrfico 10. A comparao da mdia dos investimentos entre 1990 e 1995com a segunda metade dos anos 80 mostra um crescimento de 116%. Para

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    2 A despeito dos esforos para modernizao de suas empresas e profissionalizao da gesto, algunsgrupos da amostra apresentaram dificuldades financeiras, atingindo elevados nveis de endivi-damento, ou contaram com problemas de sucesso que provocaram a venda de seus controles, totalou parcial, para outros grupos, a saber: Acesita, Bompreo, Brasmotor, Cofap, Hering (Ceval) ePerdigo.

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    o perodo 1996/2001, os grupos apresentaram previses de investimentosde US$ 25,82 bilhes, indicando um crescimento de 72% em relao aoperodo anterior (1990/95).

    Entre 1985 e 1989, cerca de 75% dos grupos da amostra apresentaraminvestimentos at US$ 300 milhes, o investimento mdio foi de US$ 232milhes e a mediana atingiu US$ 199 milhes. A disperso dos valoresinvestidos por grupo era alta, com o desvio-padro alcanando US$ 179milhes. O valor mximo investido foi de US$ 700 milhes e o mnimoatingiu US$ 10 milhes. No perodo 1990/95, observou-se a duplicao dosinvestimentos produtivos, com a mdia e a mediana das inverses tambmsendo aumentadas e atingindo, respectivamente, US$ 502 milhes eUS$ 374 milhes. O maior investimento foi de US$ 1,8 bilho e o mnimode US$ 20 milhes. Para o perodo 1996/2001, a previso de investimentosalcanou US$ 25,82 bilhes, indicando, assim, um crescimento de 72% emrelao ao perodo anterior.

    A comparao dos investimentos realizados entre 1990 e 1995 com asperspectivas de inverses para o perodo 1996/2001 confirma o otimismocom que os grupos trabalhavam para a segunda metade da dcada de 90,cujas indicaes de investimentos mostraram o seguinte resultado: 21grupos (64% da amostra) informaram que pretendiam elevar os inves-timentos, sete anunciaram a reduo dos investimentos e quatro no apre-

    25.820

    15.053

    5.800

    4.303

    2.509

    1.160

    0

    5.00010.000

    15.000

    20.000

    25.000

    30.000

    1985/89 1990/95 1996/20010

    1.000

    2.000

    3.000

    4.000

    5.000

    Investimento Total Investimento Mdio no Perodo

    GRFICO 10Grupos Econmicos: Investimento Produtivo no Brasil 1985/2001(Em US$ Milhes)

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    sentaram previso de investimentos. Vale observar ainda que nove gruposapresentaram previses de investimentos acima de US$ 1 bilho.

    Cabe mencionar aqui, mais uma vez, a importncia das operaes em termosde comrcio exterior para a expanso das atividades produtivas no pas. Deacordo com os resultados apresentados na Tabela 10, pode-se afirmar queas variaes positivas dos lucros lquidos e dos coeficientes de exportaesexplicam cerca de 40% da variao dos investimentos produtivos no Brasildos grupos observados no perodo 1990/95.

    Matriz de Correlao 1VARIVEIS 1 2 31. Investimento 12. Lucro Lquido 0,3802 13. Coeficiente de Exportao 0,4951 -0,0231 1

    Variveis como lucro lquido e margem lquida, que refletem o desempenhoeconmico-financeiro dos grupos econmicos, exercem influncia sobre ocomportamento dos investimentos no apenas por criar condies para areinverso de lucros, mas tambm porque viabilizam maior alavancagem derecursos financeiros, na medida em que contribuem para uma melhoravaliao de crdito. Pode-se dizer, assim, que os grupos da amostra quealcanaram os maiores lucros entre 1990 e 1995 apresentaram maior pro-penso a realizar novos investimentos produtivos no pas. Outras variveisque certamente tiveram influncia relevante sobre as expectativas e decisesde investimentos privados foram as taxas de juros e a taxa de crescimentodo PIB do pas, ambas apresentando comportamentos favorveis expansodos grupos.

    TABELA 10Regresso MltiplaEQUAO R 2 TESTEF TESTEt

    PARA 1TESTEt PARA 2

    Y = 277,41 + 2,27X 1 + 0,13X 22 (90,19) (0,90) (0,04) 0,40 8,28t 1 = 2,53 t 2 = 3,25

    Notas: a ) ao nvel de significncia de 1% e ( n 2), (28 2), graus de liberdade, aceita-se a hiptese de existncia de regresso com uma das duas variveis para F calculado > F (7,72); b ) ao nvel de significncia de 5% e ( n k 1), (28 2 1), graus de liberdade, rejeita-se a hiptese de que 1 e 2 so iguais a zero para t calculado > t (2.064), aceitando-se, portanto, a significncia de X1 e X2 para explicar variaes em Y; e c ) descrio das variveis consideradas: Y = investimento produtivo no Brasil (1990/95), X1 = lucro lquido (mdia 1990/95), X2 = coeficiente de exportao (mdia 1990/95), n = nmero de observaes (28)e k = nmero de variveis independentes (2).

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    De acordo com os Grficos 11, 12, 13 e 14, pode-se observar que o perodode maior expanso dos investimentos dos grupos da amostra (entre 1990 e1995) coincidiu com a tendncia de queda das taxas de juros internas eexternas tendo-se o CDI, a TR e a TJLP como taxas de referncia para osinvestimentos privados no pas e a Libor e aPrime Rate semestrais para os

    -6

    -4

    -2

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    abr.- jun.1986

    abr.- jun.1987

    abr.- jun.1988

    abr.- jun.1989

    abr.- jun.1990

    abr.- jun.1991

    abr.- jun.1992

    abr.- jun.1993

    abr.- jun.1994

    abr.- jun.1995

    abr.- jun.1996

    GRFICO 11Taxa de Crescimento do PIB (Trimestral) do Brasil: MdiaMvel de Trs Trimestres 1986/97(Em %)

    Fonte: IBGE [www.sidra.ibge.gov.br (1997)].

    0102030

    4050

    60708090

    TR

    TJLP

    jul.1994

    jul.1995

    jul.1996

    out.1994

    out.1995

    out.1996

    jan.1995

    jan.1996

    jan.1997

    abr.1995

    abr.1996

    abr.1997

    jul.1997

    CDI/ Over

    GRFICO 12Taxas de Juros (CDI, TR e TJLP): Mdia Mvel de TrsMeses Julho de 1994/Julho de 1997(Em % ao Ano)

    Fontes: Banco Central, Boletim Mensal, v. 32, n. 10, out. 1996, e v. 33, n. 10, out. 1997.Notas: CDI = Certificado de Depsito Interbancrio, TR = Taxa de Referncia e TJLP = Taxa de Juros de Longo Prazo.

    OS GRANDES GRUPOS BRASILEIROS: DESEMPENHO E ESTRATGIAS NA PRIMEIRA METADE DOS ANOS 9028

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    financiamentos externos e com a tendncia de expanso do PIB. Portanto,o comportamento dessas variveis ao longo do perodo considerado justificao otimismo das previses de investimentos de boa parte dos grupos daamostra, em meados dos anos 90, para a segunda metade desta dcada.

    8,00

    8,25

    8,50

    8,75

    9,00

    jan.1995

    jan.1996

    abr.1995

    abr.1996

    jul.1995

    jul.1996

    out.1995

    out.1996

    jan.1997

    GRFICO 14Prime Rate de Seis Meses: Mdia Mvel de Trs Meses Janeiro de 1995/Maro de 1997(Em % ao Ano)

    Fonte: Banco Central, Boletim Mensal, v. 33, n. 10, out. 1997.Nota: Prime Rate= taxa preferencial de juros dos Estados Unidos.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    20.11.86 16.12.87 13.03.89 31.05.90 06.06.91 02.06.92 26.05.93 25.05.94 23.05.95 13.05.96 02.05.97

    GRFICO 13Libor de Seis Meses: Mdia Mvel de 20 Dias 20.11.86/29.07.97(Em % ao Ano)

    Fonte: BNDES/Departamento de Administrao Financeira (Defin).Nota: Libor = London Interbank Ordinary Rate.

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    Por fim, vale observar que o baixo grau de alavancagem dos gruposanalisados (dvida total/patrimnio lquido) foi outro fator que tambmcontribua para a formao das expectativas otimistas para os investimentosno perodo 1996/2001. Em 1995, por exemplo, metade dos 33 gruposapresentava alavancagem abaixo de 36%.

    5. Consideraes FinaisA ampliao da competio no mercado interno, decorrente de mudanasde poltica econmica e de mbito institucional, a partir do final dos anos

    80, foi enfrentada pelos grandes grupos econmicos brasileiros por meio demaior eficincia e de um novo posicionamento estratgico.

    Entre 1989 e 1995, o mercado interno mostrou-se sempre como o principalfoco de atuao dos grupos observados. Com o aumento da competio nopas, em virtude da abertura comercial e da instalao de novos players , taisgrupos passaram a rever suas estratgias e procuraram adequar suas es-truturas ao novo ambiente competitivo. Nessa fase, foram realizadas rees-truturaes de vrias empresas, observando-se um considervel aumento daimplantao de programas de qualidade, informatizao e treinamento dosfuncionrios, entre outros. Uma das principais metas era aumentar a com-petitividade e alcanar a condio de empresa de classe mundial.

    A internacionalizao das atividades tornou-se uma estratgia importantepara vrios grupos brasileiros, seja por meio de operaes de comrcioexterior ou de investimentos diretos em outros pases.

    O saldo comercial das operaes de comrcio exterior desses grupos foisempre positivo ao longo da primeira metade dos anos 90. Entre os princi-pais destinos das exportaes, destacaram-se a Argentina, os Estados Uni-dos e pases europeus e asiticos. As importaes, por outro lado, dobraramde valor em relao segunda metade dos anos 80 sem que fossemobservadas alteraes significativas em sua composio, com os bens inter-medirios mantendo-se sempre com a maior participao. Todavia, o au-mento das compras de mquinas e equipamentos, em termos absolutos,evidencia o esforo de modernizao realizado por parte desses grupos naprimeira metade dos anos 90.

    A ampliao do processo de instalao de subsidirias no exterior, observan-do-se, inclusive, a instalao de unidades produtivas, ocorreu principalmen-te em pases do Mercosul, do Nafta e da Unio Europia. Em seguidaapareceram os pases asiticos, porm em menor escala, e os parasos fiscais,especialmente aqueles localizados na Amrica Central, com subsidiriascomerciais e financeiras.

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    Por fim, pode-se afirmar que a expanso dos investimentos desses grupos,ao longo do perodo considerado, foi estimulado em grande parte pela boa

    performance econmico-financeira e pelo aumento das exportaes. Deacordo com os testes realizados, verificou-se a existncia de efeitos positivosda expanso das exportaes e do lucro lquido sobre os investimentosrealizados pelos grupos da amostra.

    Referncias BibliogrficasBNDES.Os grupos econmicos brasileiros no perodo 1989-1995. Relat-

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