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Revista Integralização Universitária - v., n. - Abril/Setembro de 2007 SUMÁRIO RESENHA • Economia solidária e cooperativismo: considerações acerca do trabalho Introdução à economia solidária de Paul Singer .................................................... 3 Anne Caroline Moura Guimarães Cançado e Airton Cardoso Cançado ARTIGOS TECNOLOGIA • Previsão de Séries Temporais utilizando Lógica Fuzzy.............................................. 5 Alexandre Tadeu Rossini da Silva EDUCAÇÃO • O ensino superior no Brasil: vontade política ou aspiração popular? .......................... 15 Maria Cristina d´Almeida Moretz-Sohn • Docência na educação superior: uma construção mediada por saberes pedagógicos ...... 33 Marilda Piccolo GESTÃO • Ecoturismo no Brasil: uma proposta de desenvolvimento e sustentabilidade................ 43 Claudia Nolêto Maciel Luz • Análise dos impactos de um sistema de avaliação de desempenho aos colaboradores internos de uma organização ......................................................................... 55 Roseli Vieira Pires e Rubia Mara Martins Peixoto • Competitividade no setor de análises clínicas: um estudo survey na cidade do Natal/RN .................................................................................................... 67 Dany Geraldo Kramer Cavalcanti e Silva, Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior, Bianca Caroline da Cunha Germano, Walter Romero Ramos e Silva Júnior, Sérgio Marques Júnior e Aurean de Paula Carvalho • Levantamento sócio-econômico e cultural do assentamento Pericatu localizado no município de Pium-TO.................................................................................... 75 Glenda Feitosa da Silva, Alan Kardec Elias Martins e Iracy Coelho de Menezes Martins • Remuneração: do tradicional ao estratégico .......................................................... 83 Paulo César Romão Bomfim • A importância da qualidade da informação para as organizações............................... 91 Suzana Gilioli da Costa Nunes MEIO AMBIENTE • Alternativa ambientalmente correta para o tratamento líquido percolado ou chorume combinado com esgotos domésticos .................................................................... 99 Francisco Ferreira Dantas Filho e Magna Sueli Barros Dantas DIREITO • O periodismo jurídico oitocentista na órbita das academias brasileiras..................... 105 Armando Soares de Castro Formiga

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Revista Integralização Universitária - v.�, n.� - Abril/Setembro de 2007

Sumário

reSenha• economia solidária e cooperativismo: considerações acerca do trabalho Introdução à economia solidária de Paul Singer .................................................... 3

Anne Caroline Moura Guimarães Cançado e Airton Cardoso Cançado

artigoSteCnoLogia• Previsão de Séries temporais utilizando Lógica Fuzzy .............................................. 5

Alexandre Tadeu Rossini da Silva

eDuCaÇÃo• o ensino superior no Brasil: vontade política ou aspiração popular? .......................... 15

Maria Cristina d´Almeida Moretz-Sohn

• Docência na educação superior: uma construção mediada por saberes pedagógicos ...... 33Marilda Piccolo

geStÃo• ecoturismo no Brasil: uma proposta de desenvolvimento e sustentabilidade................ 43

Claudia Nolêto Maciel Luz

• análise dos impactos de um sistema de avaliação de desempenho aos colaboradores internos de uma organização ......................................................................... 55

Roseli Vieira Pires e Rubia Mara Martins Peixoto

• Competitividade no setor de análises clínicas: um estudo survey na cidade do natal/rn .................................................................................................... 67

Dany Geraldo Kramer Cavalcanti e Silva, Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior, Bianca Caroline da Cunha Germano, Walter Romero Ramos e Silva Júnior, Sérgio Marques Júnior e Aurean de Paula Carvalho

• Levantamento sócio-econômico e cultural do assentamento Pericatu localizado no município de Pium-to....................................................................................75Glenda Feitosa da Silva, Alan Kardec Elias Martins e Iracy Coelho de Menezes Martins

• Remuneração: do tradicional ao estratégico .......................................................... 83Paulo César Romão Bomfim

• a importância da qualidade da informação para as organizações ...............................91Suzana Gilioli da Costa Nunes

meio amBiente• alternativa ambientalmente correta para o tratamento líquido percolado ou chorume combinado com esgotos domésticos ....................................................................99Francisco Ferreira Dantas Filho e Magna Sueli Barros Dantas

Direito• o periodismo jurídico oitocentista na órbita das academias brasileiras ..................... 105Armando Soares de Castro Formiga

Revista Integralização Universitária - v.�, n.� - Abril/Setembro de 2007

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ApResentAção

Um periódico científico é sempre bem vindo no atual contexto de construção do co-nhecimento. A Revista Integração Universitária surge com o objetivo de estimular e difundir a produção científica. Esta iniciativa da Faculdade Católica no Tocantins vem reforçar os trabalhos de pesquisa que são realizados na instituição, bem como se constituir em um canal aberto para a comunidade acadêmica apresentar seus trabalhos.

Foi de grande valia a colaboração de todos os professores e funcionários da instituição para a finalização deste primeiro número da Revista Integralização Universitária - RIU. Cada membro da equipe da Católica do Tocantins pode se sentir responsável por uma parte deste trabalho.

Neste número iniciamos com uma resenha que trata de importante trabalho do Profes-sor Paul Singer, Introdução à economia solidária. Na seqüência temos um trabalho na área de tecnologia, que trata da previsão de séries temporais utilizando a Lógica Fuzzy. Na seção de educação, os dois trabalhos são complementares, um trata da competência pedagógica dos professores da graduação, enquanto o outro aborda a origem e evolução do ensino supe-rior no país. A seção de gestão foi a que recebeu mais trabalhos. Entre os artigos publicados nesta revista relacionados à esta questão, temos textos que tratam dos tipos de remuneração, ecoturismo, avaliação de desempenho, qualidade da informação, competitividade no setor de análises clínicas e um levantamento sócio-econômico-cultural em um assentamento. Na te-mática do meio ambiente, o trabalho apresentado mostra uma metodologia para o tratamento de resíduos poluentes líquidos. Finalizando a Revista, na seção voltada para os estudos ju-rídicos, encontramos um trabalho que trata da origem e evolução dos periódicos brasileiros de direito.

Dentro desta diversidade encontramos a unidade que é a pesquisa e a produção cientí-fica desenvolvida por estes autores. Boa leitura!

Airton Cardoso CançadoEditor

Revista Integralização Universitária - v.�, n.� - Abril/Setembro de 2007

Anne Caroline Moura Guimarães Cançado�

Airton Cardoso Cançado2

SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2002, �24 p.

economia solidária e cooperativismo: considerações acerca do trabalho Introdução à Economia Solidária de PauL Singer

algumas cooperativas aceitam repartir por igual a sua retirada e a maioria divide de acordo com a função exercida na coopera-tiva. O capitalismo, para o autor, aplica a heterogestão, ou melhor, a administra-ção hierárquica formada por níveis suces-sivos de autoridade. O objetivo constante das organizações capitalistas é a procura de novas fórmulas que lhe permitam ex-trair o máximo de trabalho e eficiência das pessoas empregadas. Já a economia solidária, pratica a autogestão, ou seja, administra democraticamente. Todas as decisões devem ser tomadas em assem-bléias realizadas na cooperativa, porque todos os associados devem saber de tudo que acontece. No segundo capítulo o autor relata a história da economia solidária, suas ori-gens e evolução. Cabe ressaltar que Paul Singer considera a economia solidária quase como sinônimo de cooperativismo. Nos relatos do autor, o cooperati-vismo nasceu logo após a Revolução In-dustrial, na Inglaterra, devido aos baixos salários das pessoas e a grande carga de horas de trabalho. A primeira pessoa a manifestar idéias diferentes da sociedade industrial foi o empresário Robert Owen em New Lanark. Este empresário tinha idéias avançadas para a época, os seus empregados passaram a trabalhar menos horas e a ganhar mais, mostrando assim, um melhor rendimento nos serviços de-sempenhados. Após a Revolução Francesa, Ro-bert Owen apresentou ao governo britâ-nico uma proposta para o combate à po-breza, baseado em ações estruturantes, ao invés de o estado sustentar os pobres

� Pós-graduada da ���Pós-graduada da ��� Turma do MBA em Ges-tão de Cooperativas da Universidade Católica do Salvador – UCSAL, Turismóloga pelo Centro Universitário da Bahia e Consultora do Instituto de Economia Solidária (Organização da Socie-dade Civil de Interesse Público).2 Mestre em Administra-Mestre em Administra-ção pela Escola de Ad-ministração da Univer-sidade Federal da Bahia – EAUFBA -, professor da Faculdade Católica do Tocantins – FACTO - e da Universidade Fede-ral do Tocantins - UFT.

Este livro do Professor Paul Sin-ger pode ser considerado como um dos pioneiros a tratar da temática da economia no Brasil. É um livro bastante conhecido e usado como referência em quase todos os trabalhos sobre o tema.

O autor divide o livro em quatro capítulos, no primeiro faz-se uma com-paração entre a sociedade capitalista e a sociedade da economia solidária ou coo-perativista, relacionando todos os pontos fracos e fortes das duas sociedades. O au-tor critica o capitalismo e defende a eco-nomia solidária, porque para ele vivemos “em uma sociedade em que a competição domina todas as áreas da atuação huma-na”, produzindo assim, sociedades total-mente desiguais. Segundo o autor, para existir uma sociedade em que predominasse a igual-dade entre a população, seria necessário que a economia fosse solidária em vez de competitiva, ou seja, que os participantes na atividade econômica deveriam coope-rar em vez de competir. “Não há competi-ção entre os sócios: se a cooperativa pro-gredir, acumular capital, todos ganham por igual. Se ela for mal, acumula dívidas, todos participam por igual nos prejuízos e nos esforços para saldar os débitos assu-midos”. Para o autor, se a economia fosse solidária, a sociedade seria menos desi-gual, porém, algumas cooperativas iriam progredir mais que outras, em função do acaso e das diferenças de habilidade e in-clinação das pessoas que as compõem. O mesmo defende que as pessoas deveriam repartir por igual o resultado, indepen-dente do cargo em que atuam na organi-zação. Mas devido ao capitalismo, apenas

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4(numa perspectiva assistencialista), pro-porcionaria condições de trabalho, com-prando terras e construindo aldeias coo-perativistas para que as pessoas trabalhas-sem na terra e na indústria, criando assim, a sua própria subsistência. Mas o governo não aceitou a sua proposta, então Owen foi embora para os Estados Unidos fican-do por lá alguns anos, depois voltou para a Inglaterra e, quando chegou na sua terra natal, descobriu que algumas pessoas es-tavam usando as suas idéias. A primeira cooperativa owenista foi criada por Geor-ge Mudie, que reuniu um grupo de jorna-listas e gráficos, em Londres. Na terceira parte do trabalho o au-tor trata de diversos tipos de cooperativas. O cooperativismo de consumo foi o tipo pioneiro, em Rochdale (Inglaterra), e seu sucesso difundiu as idéias pela Europa. Esta cooperativa, ao ser criada adotou oito princípios, que depois foram apropriados pelo movimento como os princípios do cooperativismo. O cooperativismo de crédito foi desenvolvido na Alemanha, inicialmente como uma caixa de crédito de caráter fi-lantrópico. Posteriormente passou a fun-cionar como um fundo de crédito rotativo, onde os cooperados entravam com recur-sos e na medida da necessidade faziam empréstimos a juros módicos. As Cooperativas de compras e vendas, descritas neste capítulo pelo au-tor, “são associações de pequenos e mé-dios produtores que procuram ganhos de escalas mediante a unificação de suas compras e/ou de suas vendas”. O tipo que mais se destaca nesta categoria é a coope-rativa agrícola. O autor descreve neste livro, a corporação cooperativa de Mondragón (Espanha), que une cooperativa de pro-dução industrial e de serviços comerciais com um banco cooperativo, “uma coope-rativa de seguro social, uma universidade e diversas cooperativas dedicadas à reali-zação de investigações tecnológicas”. No quarto e último capítulo, Paul Singer trata da reinvenção da economia solidária no fim do século XX e as pers-

pectivas da economia solidária. Ao final da segunda Guerra Mun-

dial, uma grande parte da população da Europa passou a desfrutar de boas con-dições de vida, assistidas pelo Estado de Bem-estar Social (wellfare State). Com isso, ocorreu um grande desinteresse pela economia solidária e, também, a introdu-ção de assalariados dentro das cooperati-vas. Esta situação foi modificada depois dos anos 70 quando se iniciou a crise do desemprego em massa, provocando a desindustrialização em países centrais e semi-industrializados. Com isso a econo-mia solidária ressurgiu com toda a força, aumentando assim, o número das coope-rativas. Porém este novo cooperativismo buscava a volta dos seus princípios e o repúdio ao assalariamento.

Em síntese, Singer no primeiro ca-pítulo faz uma crítica ao modo de sobrevi-vência do capitalismo e apóia a economia solidária, pois se todas as pessoas vives-sem com o modo de produção da econo-mia solidária, haveria menos desigualdade social no mundo. No segundo, ele relata a história do cooperativismo, como e onde surgiu. O capítulo seguinte é dedicado à descrição dos tipos de cooperativa e suas origens, com destaque para a cooperativa de Rochdale. No quarto capítulo, o autor fala do ressurgimento da economia soli-dária ou cooperativismo no mundo, pois para ele, o cooperativismo e a economia solidária são sinônimos. Cabe ressaltar, ao fim deste tra-balho, que considerar o cooperativismo, mesmo apenas sua vertente denominada cooperativismo popular como sinônimo da economia solidária é uma proposta discutível. O fenômeno da economia soli-dária também assume outras formas como clubes de troca, associações, grupos pro-dutivos etc. Todos centrados na questão da autogestão e na valorização do traba-lho em detrimento do capital, porém cada tipo de organização tem suas característi-cas distintas que, mesmo apesar de muito próximas não são idênticas entre si.

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Previsão de séries temporais utilizando Lógica Fuzzy

Alexandre Tadeu Rossini da Silva�

teCnoLogia

Resumo. Usando o processo de KDD (Knowledge Discovery Database), um sistema foi definido a fim de extrair auto-maticamente regras em bases de dados. O método de aprendizado de máquina ado-tado foi a Lógica Fuzzy com o algorit-mo Wang-Mendel. Testes e resultados são apresentados para validar o modelo. Todo o processo de extração e inferência está descrito ao longo do trabalho.Palavras-chave: Previsão de Séries Tem-porais; Lógica Fuzzy; Mineração de Da-dos; Wang-Mendel; KDD.Abstract: Using the KDD (Knowledge Discovery Database) process, a system was defined to extract rules automatically in databases. The method of machine lear-ning was the fuzzy logic using the Wang-Mendel algorithm. Tests and results are presented to validate. The process of ex-tration and inference is described in the paper. Key-words: Time Series Prediction; Fu-zzy Logic; Data Mining; Wang-Mendel; KDD.

1 Introdução

A evolução da computação possibi-litou um aumento na capacidade de pro-cessamento e armazenamento de dados. Nesse sentido, aplicativos essencialmen-te para consultas foram projetados para gerar relatórios simplificados. Porém, os relatórios necessitam ser interpretados. O processo de Extração de Conhe-cimento de Bases de Dados tem o objeti-vo de encontrar conhecimento a partir de um conjunto de dados para ser utilizado em um processo decisório. A Mineração de Dados é a principal etapa do processo de Extração de Conhecimento. A descrição completa de um sis-

tema real em muitos casos requer dados extremamente detalhados e muito além do que um ser humano poderia simulta-neamente processar e entender. Uma nova abordagem para a solução deste problema pode ser encontrada no campo de Siste-mas Inteligentes. O termo Inteligente sig-nifica buscar, identificar e emular a forma de processamento da informação execu-tada pelo cérebro humano em situações complexas. Nestas situações não se usam conceitos explicitados em equações mate-máticas, mas a experiência adquirida me-diante a um processo específico de apren-dizagem. Dentre os métodos computacio-nais, a Lógica Fuzzy é capaz de aproxi-mar complexos sistemas não lineares com poucas regras em linguagem natural.

Uma série temporal é um conjunto de observações de um fenômeno ordena-do no tempo (BoX e JENKINS, �970). A análise de uma série temporal é o pro-cesso de identificação das características, padrões e propriedades importantes da sé-rie, utilizados para descrever em termos gerais o seu fenômeno gerador (MORET-TIN e TOLOT, 1987). Na figura 1, é ilus-trada uma série temporal, onde o eixo k é a linha de tempo e [U-,U+] é a faixa de valores possíveis da série. Repare que a série tende a se repetir ao longo do tem-po.

Figura �. Série temporal

� Mestre em Sistemas e Computação, professor da Faculdade Católica do Tocantins.

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� Diante do exposto, este trabalho

tem o objetivo de construir um sistema minerador que utilize Lógica Fuzzy para extrair regras para previsão de séries tem-porais automaticamente em base de dados.

O trabalho está organizado da se-guinte forma: inicialmente será introdu-zida a fundamentação teórica dos méto-dos utilizados no trabalho; em seguida a descrição de todo o problema bem como algumas considerações; posteriormente a solução proposta é detalhada; para validar a solução, os testes e resultados do siste-ma são apresentados em seguida; por fim são feitas as considerações finais do traba-lho.

2 Fundamentação Teórica

Nesta seção são descritos os méto-dos necessários para compreensão do tra-balho.

2.� KDDO processo capaz de descobrir co-

nhecimento em base de dados chama-se Knowledge Discovery Database (KDD). Este processo envolve encontrar e inter-pretar padrões nos dados, de modo itera-tivo e interativo, através da repetição dos algoritmos e da análise de seus resultados.

As técnicas da Inteligência Com-putacional têm sido empregadas com su-cesso no desenvolvimento de sistemas in-teligentes de previsão, suporte à decisão, controle, otimização, modelagem, clas-sificação e reconhecimento de padrões em geral, aplicados em diversos setores: energia, industrial, econômico, financei-ro, comercial, síntese de circuitos, meio ambiente, entre outros.

Divide-se o processo de KDD em três grandes etapas: pré-processamento, mineração de dados e pós- processamen-to. Vide Figura 2. A etapa de pré-proces-samento tem como objetivo a preparação dos dados para os algoritmos da etapa se-guinte, a Mineração de Dados. Durante a

etapa de Mineração de Dados é realizada a busca efetiva por informações úteis no contexto da aplicação de KDD. A etapa de pós-processamento abrange o tratamento do conhecimento obtido na Mineração de Dados (GOLDSChMIDT e PASSOS, 200�). Mineração de dados ou Data Mi-ning é a extração não-trivial de informa-ção implícita (nova ou previamente des-conhecida) e útil a partir de bases de da-dos. (LOh, 200�)

Figura 2. Divisão do processo de KDD

2.2. LóGICA FUzzyOs conjuntos Fuzzy tentam aproxi-

mar o raciocínio humano ao da lógica exe-cutada matemática. Tradicionalmente, em lógica bivalente, temos em um conjunto convencional limites bruscos, onde a tran-sição de conjuntos representa um corte abrupto entre elementos vizinhos perten-centes a conjuntos diferentes. Em Lógica Fuzzy, elementos podem ser reduzidos a “meias verdades” ou “meias mentiras”, através de uma lógica multivalorada, tor-nando gradual a transição de conjuntos.

Concisamente, pode-se definir Ló-gica Fuzzy como sendo uma técnica ca-paz de capturar informações vagas, em geral descritas em uma linguagem natural e convertê-las para um formato numérico, de lógica.

Outra vantagem é que o conhe-cimento gerado pela Lógica Fuzzy está explicitamente representado na forma de regras em linguagem natural, o que dá maior compreensão do processo ao espe-cialista.

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2.2.� Algoritmo de Wang-MendelO algoritmo utilizado neste traba-

lho para a extração automática de regras fuzzy é o Wang-Mendel. Esse algoritmo utiliza o paradigma de aprendizado super-visionado. O primeiro passo do algoritmo é a definição do domínio das variáveis, intervalos onde provavelmente os valores de cada variável estarão, onde x�,x2,...,xn são entradas e y é a saída. Em seguida, di-vidir cada domínio em 2N+� regiões, ou seja, um número ímpar de conjuntos.

O segundo passo consiste em bus-car os dados em uma base de dados e de-terminar os graus de pertinência dos da-dos nos conjuntos fuzzy obtidos no passo �. Em seguida, é aproveitado somente o conjunto com maior grau de pertinência do elemento, os demais conjuntos são descartados, obtendo-se assim as regras.

No próximo passo é necessário atribuir um grau a cada regra a fim de eli-minar regras conflitantes e redundantes. o grau de pertinência de cada regra é defini-do pelo produto dos graus de pertinência da regra. Para cada grupo de regras com mesmo antecedente (conflitantes e re-dundantes), é selecionada a regra como o maior grau e, as demais, são eliminadas.

O último passo é realizado somen-te nos casos em que se dispõe de regras lingüísticas criadas por especialistas. Nes-se sentido, elas serão consideradas, assu-mindo que também possuem um grau atri-buído pelo especialista. havendo regras conflitantes, com antecedentes iguais e conseqüentes diferentes, se deve selecio-nar aquela com maior grau e eliminar as demais.

O algoritmo de Wang-Mendel aplicado aos problemas de previsão de séries temporais, difere apenas no fato de que, agora, os n antecedentes (janela) for-marão uma série temporal e o alvo é um dado com k passos à frente a ser previsto

(Figura �).

Figura �. Janela (x0,x�,x2,...,xn) e alvo (y) de uma série temporal

3 Descrição do ProblemaA análise em grande massa de da-

dos realizada visualmente por especialis-tas humanos pode ser bastante confusa ou ocorrer de informações importantes pas-sarem despercebidas, acabando por gerar dados imprecisos causados pela grande quantidade de informações relacionadas. Os especialistas passam horas analisando os dados para extrair informações impor-tantes para o processo de tomada de de-cisão.

Previsão, basicamente, é a ante-cipação, na base de suposições, do que ainda não aconteceu. Assim, a previsão de séries temporais tem sido aplicada em diversos problemas do mundo real, auxi-liando o planejamento e a tomada de de-cisões. Diversos modelos já foram desen-volvidos na literatura para prever séries temporais e destacam-se a Lógica Fuzzy e Redes Neurais, entre outras.

Em problemas desse tipo, como já citado, a descrição completa de um sis-tema real requer, em muitos casos, dados extremamente detalhados e muito além do que um ser humano poderia simultane-amente processar e entender. Nesse con-texto, é necessário minimizar a quantida-de de regras sem perder o comportamento do sistema. Dessa forma, é necessário um sistema de aproximação. Um proble-ma que pode aparecer na minimização é o surgimento de uma nova série na qual o sistema não possui regras, ou seja, essa série temporal não existia no momento da

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�através de medidas de qualidade da solu-ção e da percepção de um especialista.

O intuito da implementação de um sistema computacional é a realização au-tomática de extração de regras e ser capaz de realizar a inferência Fuzzy, através do modelo de Mamdani. De acordo com o sistema, o primeiro passo é a introdução da base de dados a ser utilizada no siste-ma (Figura 4).

Figura 4. Tela do sistema: importação da base de dados

Seguindo, já com a base de dados no sistema, são apresentadas em tela as variáveis da base de dados (Figura �) que devem ser escolhidas. No quadrado de-vem ser marcadas as variáveis que serão utilizadas para extrair conhecimento e o círculo representa a variável temporal.

Figura �. Tela do sistema: seleção de variáveis

No próximo passo, é necessária, por parte do especialista, a entrada da quantidade de conjuntos fuzzy que serão utilizados (Figura �) em cada variável. Atualmente no sistema a única opção de formato do conjunto é triangular e simé-tricos entre si.

Figura �. Tela do sistema: definição dos conjuntos

criação das regras do sistema. há ainda aplicações onde o universo não pode ser limitado previamente, na qual o universo varia por conseqüência de fatores não de-terminísticos, pelo acaso. Exemplos dis-so são a bolsa de valores e a quantidade de acessos em um website. Como seria possível prever, com um mínimo de erro aceitável, o número de acessos do website da rede de televisão estadunidense CNN no dia �� de setembro de 200� (dia do atentado terrorista ao World Trade Center, em Nova Iorque)? Uma pergunta difícil e que talvez não tenha resposta. O que se pode, então, é tentar prever em condições normais, esse exemplo da CNN seria um desvio da normalidade.

4 Solução PropostaSeguindo o processo de KDD, nes-

te trabalho coube à etapa de Pré-processa-mento apenas a realização da normaliza-ção linear dos dados. A normalização é a transformação dos valores para uma gama fixa (eg 0 a 1), isto foi adotado para veri-ficar o comportamento do sistema de in-ferência quando o universo é extrapolado. É pré-requisito do sistema que a base de dados contenha apenas dados numéricos e não possua ruídos.

A mineração de dados, aqui reali-zada por método de aprendizado de má-quina, é o processo de aquisição de co-nhecimento, é nele que as regras são des-cobertas a partir dos exemplos passados. A Lógica Fuzzy foi escolhida por estar mais próxima à forma do pensamento e da linguagem natural humana, o que facilita a análise e compreensão do conhecimen-to adquirido nesse processo. O algoritmo utilizado para a extração das regras fuzzy é o algoritmo de Wang-Mendel. (WANG e MENDEL, �992)

A obtenção do conhecimento não é o passo final do processo de KDD. o pós-processamento é uma etapa que não é automatizada, ainda dependendo do racio-cínio humano (especialista). A principal meta dessa fase é melhorar a compreensão do conhecimento descoberto validando-o

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Caso o especialista deseje reno-mear os rótulos, que a priori são defini-dos numericamente por ordem crescente partindo-se de zero, a próxima tela é para isso (Figura 7).

Figura 7. Tela do sistema: renomear os rótulos

A Figura � é a tela seguinte do sis-

tema, onde devem ser inseridas as confi-gurações para o sistema de extração de re-gras. Nessa tela deve ser definido o tama-nho da janela e o alvo (k passos à frente a ser previsto), além do conjunto de dados que será usado no treinamento.

Figura 8. Tela do sistema: configurações

Na implementação do sistema de extração de regras fuzzy, o universo pode ser indicado por um especialista ou ainda a partir da base de dados, obtê-lo automaticamente, a partir do maior e do menor valor no conjunto de treinamento, para então, realizar a normalização linear dos dados a partir do universo. Depois de realizada a normalização, todos os dados estarão no intervalo, independentes do domínio [0,1]. Há ainda uma opção de α-cut para as regras.

Posteriormente, as regras extraí-das são exibidas para o especialista que, se desejar, pode aplicá-las utilizando a mesma base de dados, em qualquer in-tervalo da base. O sistema de inferência fuzzy implementado utiliza a composição max-min e a defuzzificação é calculada pelo método da altura y=Σiyµ(yi)/ Σiµ(yi), onde y é a altura de um conjunto e µ(yi) o grau de pertinência ao conjunto.

Adicionalmente, sabendo que o KDD é um processo interativo e iterativo, onde através das interações com o espe-cialista há iteração no processo inteiro a fim de melhorar os resultados apresenta-dos, modificações podem ocorrer durante os testes.

5 Experimentos e Resultados

A base de dados utilizada nos testes é uma base de dados de um website real, onde contém a hora (variável temporal) e a quantidade (série) de páginas visualizadas (pageview) diariamente, observadas entre outubro de 200� e novembro de 2004.

Em testes iniciais, utilizou-se apenas o mês de outubro de 200� com 7 conjuntos fuzzy para a extração de regras, janela de � observações (dias úteis da se-mana), alvo igual a � e α-cut 0 (zero). O universo é obtido pelos maiores e menores valores desse mês. Dessa configuração, foram extraídas 20 regras fuzzy (Figura 9).

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�0

Figura 9. Tela do sistema: regras extraídas do mês de outubro de 200�

Para validar essas regras, aplicou-as entre os dias � e �� de outubro de 200�, período incluído na extração das regras. A média dos erros dos testes foi de 4.22���% em relação ao universo. Vejamos agora como o sistema se comporta para uma quantidade maior de conjuntos. Utilizan-do 21 conjuntos e as mesmas configura-ções do teste anterior, foram extraídas 2� regras e aplicando-as no mesmo conjunto do teste anterior a média de erros reduziu para �.0��9�% em relação ao universo. Ainda utilizando as mesmas configura-ções, mas alterando para �9 conjuntos, o erro caiu ainda mais. 0.4��2% do univer-so. Assim pôde-se constatar que o aumen-to na quantidade conjuntos é diretamente proporcional à acurácia do sistema, mas deve ser observado que a complexidade do sistema também aumenta e na propor-cionalmente também aumenta o número de conjuntos. A partir de agora os testes serão realizados sempre com 2� conjun-tos fuzzy para analisar o comportamento das regras no sistema de inferência.

Agora faz-se necessário analisar a janela. No teste a seguir, utilizou as mes-mas configurações dos testes anteriores, exceto a janela que passa a ser 7 (dias da semana). As regras extraídas foram apli-cadas para prever os dias entre � e �� do

mesmo mês. O erro foi de 0.94007% em relação ao universo, ou seja, menor que os �.0��9�% com janela igual a � (dias úteis). Utilizando uma janela de �0 dias, o erro resultante foi 0.9���9% do valor do universo para a previsão dos dias entre �� e �� de outubro de 200�. Isso mostra claramente que o comportamento da série na aplicação está intimamente ligada aos dias da semana, assim decidiu-se utilizar nos demais testes janela igual a 7. Entre-tanto, A complexidade do sistema também cresce com o aumento da janela.

Continuando, a análise é feita na aplicação das regras extraídas no mês de outubro de 200� aplicadas no mês de ou-tubro de 2004. Nenhuma regra foi encon-trada para ser aplicada ao mesmo mês do ano seguinte, isso ocorre porque o número de acessos diários no website aumentou e o universo que estava definido de acordo com o valor mínimo e máximo de um ano antes não atende à realidade atual, mes-mo atualizando o universo a cada dia, por exemplo, para a previsão do dia 2, se o dia � tiver fora do universo, o universo é alterado com os dados do dia �, tentando melhorar a previsão para o dia 2, mas con-tinua não encontrando regras para aplicar. Uma solução seria tentar encontrar todas as soluções possíveis, o que é inviável já que queremos reduzir o número de re-gras e utilizar um sistema inteligente para aproximar funções. Diante disso, deci-diu-se tentar através de pesos nas regras existentes prever um alvo onde não seja encontrada uma regra, assim pelo prin-cípio da localidade espacial (se um item é referenciado, é provável que seus vizi-nhos também o sejam) cada antecedente da regra recebe um peso que cresce à me-dida em que esteja mais próximo do alvo. A fórmula utilizada para atribuir pesos às regras é peso=(y*d), onde y é a altura do conjunto e d é uma distância, quanto mais próximo do conseqüente da regra ele au-menta.

Agora, com peso nas regras para inferir apenas as séries na qual ainda não

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possuam regras, o erro para o mês de ou-tubro de 2004 foi de 9.�7�7�% em rela-ção ao universo, sendo que houve � alvos sem previsão. Faz-se necessário analisar o comportamento quando o treinamento é realizado com mais dados. Utilizou-se agora para o treinamento o período entre os meses de abril de 2004 e setembro de 2004, foram �7� regras extraídas, o que mostra ser uma aplicação onde as séries não tendem a se repetir. Descobriu-se que o número de páginas visualizadas está di-retamente ligado a fatores externos e que na maioria não são previsíveis, por exem-plo, notícias. As regras extraídas foram utilizadas para prever os acessos do web-site no mês de outubro de 2004 e somente uma regra foi ativada completamente. Na tentativa de encontrar regras pelo princí-pio da localidade espacial, conseguiu pre-ver valores para todas as outras, demons-trando que um conjunto de dados maiores no treinamento aumenta a capacidade de aproximar mais séries. Entretanto, o erro médio foi de �0.22% do universo, mas houve resultados interessantes como, por exemplo, o erro de apenas 2�.��2�� aces-sos em um dia, mas nesse mês havia um desvio (dia 04) nos acessos, que é justa-mente � dia após as eleições, ou seja, o dia em que todos os resultados de votação foram divulgados amplamente, neste dia o erro foi de ��4�.7��24 acessos. Utili-zando um α-cut de 0.� na relevância das regras extraídas, o resultado na inferência foi de �0.9% do universo, piorando o re-sultado.

Ao invés de apenas testar meses escolhidos ao acaso, foi necessário conhe-cer melhor a base, note que isso é típico do pós-processamento do KDD. É interes-sante observar que os dados que serão le-vados ao treinamento para a extração das regras devem ser escolhidos pelo especia-lista para um melhor resultado. Assim, de-cidiu-se extrair regras utilizando os meses de setembro e outubro de 2004 e prever o mês de novembro de 2004. Como resul-tado, todos os alvos não possuíam regras,

lembrando que isso é provocado pela na-tureza dinâmica do universo de acessos. Tentando aproximar as regras existentes, o erro foi de �.94���7% do universo, ob-servando melhora no resultado, isso ocor-reu porque entre os meses de setembro e novembro de 2004, houve algumas seme-lhanças nas séries, ficando evidente a ne-cessidade de se conhecer a base de dados para obtenção de melhores resultados.

Com um especialista definindo um universo suficientemente grande para que o período entre outubro de 200� e novem-bro de 2004 seja coberto, utilizou para treinamento extração de regras nos meses entre outubro de 200� e janeiro de 2004 e aplicando as regras para prever o mês de setembro de 2004. Em 9 dias haviam regras para prevê-los, nos outros dias res-tantes utilizou o princípio da localidade espacial, o erro médio foi de 4.204�4% do universo, incluindo os dois métodos de inferência. Portanto, o conhecimento de um especialista definindo previamente um universo suficientemente grande con-segue melhorar os resultados. Contudo, notou-se que a base de dados utilizada nos testes não costuma repetir as séries periodicamente o que dificulta a previsão. Fica para trabalhos futuros a busca por um método que consiga aproximar as regras mais eficientemente, mas já em mente a possibilidade da utilização de algoritmos genéticos, onde o cromossomo seria uma regra e o gene as variáveis da janela e do alvo. Nessa estrutura, as regras evoluiriam tentando encontrar uma regra que atenda à série, sendo a comparação com a série a função objetivo.

Por fim, no intuito de tentar re-duzir a complexidade computacional do sistema de inferência, ao invés de utilizar todas as regras ativadas para fazer a defu-zzificação, foi utilizada apenas a regra na qual o seu conseqüente tenha o maior grau de pertinência no conjunto alvo. No teste foram utilizados 2� conjuntos, janela de 7 observações, alvo igual a �, normalização

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6 Considerações Finais

Neste trabalho foram apresentadas as etapas de KDD, bem como suas utili-zações. A etapa de mineração de dados é a fase mais importante, onde ocorre a extração automática das regras fuzzy a partir de uma base de dados. O método de aprendizado de máquina utilizado na

mineração de dados foi a Lógica Fuzzy, implementada com o algoritmo Wang-Mendel.

Utilizou-se como base de dados de teste, o acompanhamento diário de aces-sos em um website real. De acordo com os testes, conclui-se que o sistema proposto é capaz de gerar regras que consigam pre-

(a) (b)

linear entre o maior e menor elementos dos dados de treinamento e α-cut zero. A extração das regras foi aplicada no mês de outubro de 200�, assim como a pre-visão (entre dias 8 e 31). Na figura 10, são apresentados parcialmente os resul-tados, onde o erro no método normal foi de 0.86776% (figura 10a) enquanto uti-lizando apenas a regra mais ativada foi

de 0.�972% (Figura �0b) do em relação ao universo. O tempo de processamento reduziu consideravelmente e a acurácia permaneceu semelhante, isto quer dizer que em aplicações que essa diferença seja tolerável, há a necessidade de res-postas mais rápidas, talvez seja interes-sante a utilização de apenas a regra mais ativada.

Figura �0. Tela do sistema: resultados de previsão de séries

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ver séries temporais correspondentes no futuro, ou seja, que tendam a se repetir. Contudo, a base de dados analisada de-monstrou forte tendência de não repetir séries temporais, ocasionada por influên-cia externa ao sistema e serviços disponí-veis nos dias. Além disso, o universo do número de páginas visualizadas tem na-tureza dinâmica, o que prova mudança de comportamento (pageviews) em relação às regras extraídas. Entretanto, em bases de dados que apresentam séries temporais com fortes tendências a se repetir e que o universo tenda a ser estático, os resulta-dos podem ser ainda mais interessantes.

Todavia, tentou-se implementar um método de inferência na qual se pu-desse, a partir das regras extraídas, prever acessos quando não haviam regras para a série. O método se mostrou com resul-tados inferiores aos de quando há regras para o alvo e fica proposto para trabalhos futuros a utilização de meta-heurísticas, como os algoritmos genéticos.

É interessante acrescentar que a base de dados dos testes possuía dados com ruídos, ou seja, dias nos quais a me-dição de acessos estava com problemas, o que prejudicou os resultados. Diante disso e dos resultados apresentados, a figura de um especialista para orientar o processo é fundamental na obtenção de melhores resultados.

Por fim, foram comparados os re-sultados do sistema proposto com duas formas de inferência diferentes, uma na qual é obedecida á fundamentações teó-ricas do sistema de inferência fuzzy pro-posto por Mamdani e outra na qual infere apenas á regras mais ativadas, na qual os resultados foram semelhantes, e podendo ser adotada em aplicações na qual obe-deça à tolerância. A principal vantagem de se utilizar apenas a regra mais ativada para inferir é que a complexidade compu-tacional é reduzida.

7 ReferênciasBox, G. E. e Jenkins, G. M. Time Series Analy-sis: Forecasting and Control, holden-Day, San Francisco: �970.

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Morettin, P. A. e Tolot, C. M. Séries Temporais, Métodos Quantitativos, Atual, São Paulo: �9�7.

Wang, L. X. e Mendel, J. M. Generating fuzzy rules by learning from examples. IEEE Transac-tions on Systems, Man, and Cybernetics: �992.

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eDuCaÇÃoo ensino superior no Brasil: vontade política ou aspiração popular?

Resumo: A primeira universidade brasi-leira foi oficialmente instituída em 1920 por força de um decreto, sem um projeto acadêmico, sem uma estrutura realmente sólida e madura que lhe servisse de sus-tentação. Desde então, o ensino superior no Brasil passou por várias reformas, cul-minando com Lei de Diretrizes e Bases 09.�94 de 20/�2/�99�, cujo texto genérico abriu espaço para sucessivas mudanças, deixando evidente a interferência política na educação, reafirmando a velha vocação brasileira de priorizar o poder e secunda-rizar o saber, o que distancia o ensino su-perior do referencial de reflexão e crítica, pilar da sua existência. Palavras-chave: ensino superior, refor-ma universitária, autonomia, flexibilida-de, educação.Abstract: The first Brazilian university was instituted officially in 1920 by for-ce of an ordinance, without an academic project, without a structure really solid and mature that served it as sustentação. Ever since, the higher education in Bra-zil went by several reforms, culminating with Law of Guidelines and Bases 09.�94 of 20/�2/�99�, whose generic text opened space for successive changes, leaving evi-dent the political interference in the edu-cation, reaffirming the old Brazilian voca-tion of to prioritize the power and to work the knowledge, what distances the higher education of the reflection referencial and critic, pillar of its existence. Key-words: higher education, reforms university, autonomy, flexibility, educa-tion.

1 Introdução

A universidade, nascida no século XIII, surgiu espontaneamente nas escolas catedralícias européias, formando pro-fessores e alunos uma única societas “e representavam o novo mundo que surgia a consciência de liberdade e a valoriza-ção do saber pelo que ele representa por si mesmo”. Com o significativo apelido de alma mater, a universidade recebia jo-vens das mais diversas camadas sociais, acreditando que, “através do saber e do diálogo, a verdade acabava por vir à luz”. (BELTRãO, �997, p.��)

No Brasil, a universidade criada como “terreno seguro para abrigar a vida e o corpo social” revelou-se ao longo da história uma ilha de indefinições, um re-trato, quem sabe, do próprio Estado (de estável, estabelecido) brasileiro, pródigo em ajustes circunstanciais, sem profun-didade e substância, que verdadeiramente promovam a equidade e a justiça social (BELTRãO, �997, p.70). Para Chauí, “a vocação política teve prioridade na cria-ção das universidades públicas e priva-das no Brasil” (ChAUí, 200�, p.���), ou seja, os aspectos políticos da universidade sobrepujaram em momentos históricos diferentes o projeto acadêmico, secunda-rizando o saber em detrimento do poder, distanciando-se do referencial de reflexão e crítica, pilar da sua existência.

O presente artigo percorre os cami-nhos e descaminhos do ensino superior no Brasil, desde a vinda da Corte Portuguesa em ��0� até a Lei de Diretrizes e Bases promulgada em �99� sob o número 9.�94, desvelando a íntima relação, em momen-tos históricos diferentes, entre o saber e o poder.

� Mestre em EducaçãoMestre em Educação Brasileira pela UFG.

Maria Cristina d’ Almeilda Moretz-Sohn�

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��2 A Educação superior no Brasil de 1808 a 1920

A necessidade de formação das eli-tes patriarcais e escravocratas despertada com a vinda da Corte Portuguesa ao Bra-sil em ��0�, fez com que surgissem esco-las superiores profissionalizantes, de ca-ráter estritamente utilitarista, conforme o modelo pombalino2 de universidade, ins-tituído em �772 em Portugal, quando “a universidade tradicional foi virtualmente destruída, surgindo uma nova universida-de, voltada para a ciência aplicada”. Com referência à nova universidade, Paim lembra que esta “é encarada como uma peça essencial ao projeto de tornar Por-tugal uma nação rica e próspera. Escapa à reforma a compreensão da ciência como saber desinteressado e busca da verdade”. (PAIM, �9�2, p.��)

O Brasil, sede da monarquia, foi marcado indelevelmente pela Reforma Pombalina da Universidade de Coim-bra, já que “os homens que cercavam D. João VI e tiveram a missão de implantar as instituições de cultura, inexistentes na Colônia, haviam sido formados na nova mentalidade e prescindiam de todo da universidade”. (PAIM, �9�2, p.��)

No Segundo Império, embora proje-tos para a reforma do ensino não tivessem faltado, a universidade permaneceu como um agregado de faculdades. Silveira ob-serva que

A concepção de universidade se alargou no Segundo Império; considerada ainda o agregado de cursos ou faculdades, fugiu – ou tentou fugir – ao velho modelo de Co-imbra, sofrendo ora a influência francesa da universidade napoleônica, ora a influência germânica segundo as idéias de humboldt. No primeiro caso, através da direção estat-al centralizadora, objetivava-se o preparo dos profissionais necessários ao Estado; no segundo proclamava-se a liberdade de ensinar e aprender, a instituição dos cursos livres e da livre-docência. E havia ainda a concepção que considerava a universidade inútil e obsoleta: a dos positivistas, que se colocavam então contra a sua instituição no Brasil. (SILVEIRA, �9�4, p.�2)

A influência dos positivistas sobre os órgãos decisórios foi fundamental para o abandono sistemático da idéia de implantar-se a universidade no país, nos decênios iniciais da República. Sob o argumento de que “a universidade não se inclui entre os elementos requeridos pela grandeza nacional” (Paim, �9�2, p.2�), os positivistas rejeitavam a estruturação de uma universidade; defendiam que a grandeza nacional estaria diretamente ligada à

Redução ao mínimo da massa de parasi-tas que exploram o trabalho proletário; da redução ao indispensável dos indivíduos úteis que, mantidos pelo proletariado, co-laboram para o bem-estar deste; enfim, da educação e moralização deste mesmo prole-tariado, para que possa possuir seu domicí-lio inviolável e uma verdadeira família, em que a mulher não seja obrigada a descuidar dos filhos para cuidar do sustento da casa. (PAIM, �9�2, p.24)

No primeiro período da República (���9-�9�0), a concepção de ensino su-perior no país expressa as determinações socioeconômicas, políticas e cultural da sociedade brasileira: a esta bastavam as escolas isoladas profissionalizantes, pois “uma concepção sofisticada de universi-dade exige da sociedade que a ela aspira a consciência do papel a desempenhar na história, a liberdade de pensamento e de ação, a estimulação do espírito criador”. (SILVEIRA, �9�4, p.7�)

Cabe lembrar que a Proclamação da República “foi um golpe militar que ad-quiriu o caráter revolucionário por causa da queda do Império e da implantação da República”, não ocorrendo concomitante-mente uma revolução social, “liderada por forças sociais e sujeitos rebeldes. Em con-seqüência disso, o espaço público acabou sendo monopólio dos que detém o poder, e entre os privilégios deles, está o controle do Estado”. (FERNANDES, �99�, p.��)

2 Em �772, o MarquêsEm �772, o Marquês de Pombal promoveu uma reforma na Univer-sidade de Coimbra, sub-dividindo o ensino entre Ciências Teológicas (Fa-culdade de Ciências e de Leis) e Ciências Naturais e Filosóficas (Faculdade de Medicina, de Mate-mática e de Filosofia). Cuidando para que o ensino estivesse volta-do para a aplicação, as novas faculdades foram dotadas de observatório, gabinete de física, labo-ratório químico e jar-dim botânico, contando ainda com um grupo de naturalistas de reconhe-cido prestígio na Europa. (Paim, �9�2, p.�9)

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3 A educação superior no Brasil na dácada de 20

Nesse contexto de total alienação do povo nas decisões políticas, surge a primeira universidade brasileira: a Uni-versidade do Rio de Janeiro, criada pelo Decreto n° �4.�4�, de 07 de setembro de �920, que de universidade só tinha o nome. Na verdade, constituía-se de um agregado de instituições de ensino profissional, com autonomia didática e administrativa, ten-do na qualidade de Reitor, o presidente do Conselho Superior de Ensino, Ramiz Gal-vão, que exerceu cumulativamente os car-gos até �92� (FáVERO, 2000, v.�, p.2�). A propósito, a inauguração da primeira universidade brasileira deu-se às pressas, por um motivo no mínimo bizarro: pres-tar homenagem ao rei Alberto da Bélgica, em visita ao país, conferindo-lhe o título de doutor honoris causa. (TRINDADE, 2000, p.2�; GALVãO, �999)

A primeira universidade brasilei-ra é o resultado da aglutinação de esco-las independentes, com características próprias, sem qualquer integração entre elas (FAVÉRO, �999, p.�7). Apesar de sua existência ser apenas nominal, teve o mérito de desencadear o processo de dis-cussão “a respeito da estrutura e do papel da universidade em relação à sociedade”. (SILVEIRA, �9�7, p.20)

Em �� de outubro de �924, foi fundada a Associação Brasileira de Educação (ABE), que desempenhou papel renovador no terreno da educação, com a proposta de formar uma consciência acerca dos prob-lemas educacionais brasileiros, apontando soluções. Conferências, debates e cursos de alta cultura e especialização eram pro-movidos por professores de renome, em-punhando ainda a bandeira em prol da uni-versidade, graças à qual formou-se entre os educadores brasileiros uma acepção de universidade que serviu, de um lado, para unificá-los, e, de outro, para assegurar que essa idéia se mantivesse e acabasse vingan-do no decênio subseqüente, em que pese o desinteresse oficial”. (PAIM, �9�2, p.�9)

4 A era Vargas e o ensino superior

A Revolução de �0�, resultante do descontentamento de forças heterogêneas com a situação vigente no país, faz o Go-verno Provisório sob a égide de Getúlio Vargas, desenvolver “mecanismos de co-optação” nos setores político, econômico e educacional. Nas palavras de Vargas,

a revolução não fora obra de um partido, mas sim um movimento geral de opinião; não possuía para guiar-lhe, a ação recon-stituidora, princípios orientadores nem postulados ideológicos definidos e propa-gados. Dela participaram e surgiram várias correntes de difícil aglutinação. (VARGAS apud FáVERO, �9�0, p.��4)

Um exemplo claro desse “mecanis-mo de cooptação”, que visava garantir as relações de compromisso com setores e interesses diversos, foi a autorização de Vargas ao Prefeito da Capital Pedro Er-nesto, para assinar o decreto de criação da Universidade do Distrito Federal (UDF) em �9��, passando por cima do Ministro Gustavo Capanema, que a ela se opunha por razões mais político-ideológicas, do que legais (FáVERO, �9�0, p.���). Essas razões prendiam-se ao caráter inovador e socializador do programa de instrução pú-blica que o Secretário de Instrução Pública da Capital, Anísio Teixeira4 vinha imple-mentando no Rio de Janeiro, acusado de defender “idéias comunistas”. A designa-ção por Pedro Ernesto, para Teixeira tratar do projeto de criação da UDF, encontrou forte rejeição por parte do segmento con-servador da sociedade, especialmente dos cat ólicos, liderados por Alceu Amoroso Lima, que viam em Anísio Teixeira, uma ameaça aos verdadeiros ideais de uma so-ciedade sadia. Em carta ao Ministro Gus-tavo Capanema, Alceu Amoroso Lima, defendendo “a estabilidade das institui-ções e a paz social”, argumenta que o go-verno devia “organizar a educação e en-tregar os postos de responsabilidade nesse setor importantíssimo a homens de toda a confiança moral e capacidade técnica, e não a socialistas como o diretor do Depar-

� Para Romanelli, o quePara Romanelli, o que se convencionou cha-mar de “Revolução de �0” foi o ponto alto de uma série de revoluções e movimentos armados que, desde �920, se em-penharam em promo-ver vários rompimentos políticos e econômicos com a velha ordem so-cial oligárquica. (RO-MANELLI, �99�, p.47)

4 Anísio Spíndola Tei-Anísio Spíndola Tei-xeira (�900/�97�), nas-ceu na Bahia. Formou-se em Direito e em �924, foi convidado para ser Secretário Estadual de Educação e Saúde da BA. Em �9��, assumiu no DF a Diretoria de Ins-trução Pública. Ajudou a criar a UnB junto com Darcy Ribeiro. Ribeiro foi seu primeiro Reitor, mas logo passou o cargo para Teixeira, afastado pelo golpe militar de �4. Publicou centenas de li-vros, artigos e trabalhos científicos, entre eles, Educação e Universida-de, Educação é um Di-reito, Educação para a Democracia, Educação não é privilégio, Edu-cação no Brasil, Educa-ção no mundo moderno. (MARTINO, 2000, p. �2)

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��tamento Municipal de Educação”. Mais adiante, Alceu Amoroso Lima, indignado com as realizações de Anísio Teixeira, em especial a UDF, expõe que

A recente fundação de uma universidade municipal, com a nomeação de certos dire-tores de faculdade que não escondem suas idéias e pregação comunistas, foi a gota d’água que fez transbordar a grande in-quietação dos católicos. Para onde iremos por esse caminho? Consentirá o governo em que à sua revelia mas sob sua proteção, se prepare uma geração inteiramente in-formada dos sentimentos mais contrários à verdadeira tradição do Brasil e aos ver-dadeiros ideais de uma sociedade sadia? (FáVERO, �99�, p.70)

O sentimento de repúdio dos conser-vadores ao projeto de integração de edu-cação pública, mais a perseguição política de que era vítima o prefeito Pedro Ernesto resultaram na exoneração de Anísio Tei-xeira, em dezembro de �9��, sobreviven-do a UDF, entretanto, até �9�9, quando foi extinta e seus cursos transferidos para a Universidade do Brasil, pelo Decreto n° �.0��, de 20 de janeiro do mesmo ano. Para Fávero, a criação da Universidade do Distrito Federal foi um grande marco na educação brasileira, deixando vivas até hoje “as marcas do seu espírito inovador” (FáVERO, �99�, p.�9). Nas palavras de Fávero,

Ao ser instalada, a Universidade do Dis-trito Federal surge como um divisor de águas, em meio à agitação que marca o País naquele momento e às disputas pelo controle dos rumos da educação nacional. Sua instalação é aclamada por segmentos importantes da intelectualidade brasileira, que vêem finalmente surgir na capital da República uma instituição universitária, “preocupada em não apenas difundir con-hecimentos, preparar práticos ou profis-sionais de artes e ofício”, mas empenhada em “manter uma atmosfera de saber pelo saber para se preparar o homem que o serve e o desenvolve”; preocupada em “conser-var o saber vivo e não morto” e formular intelectualmente a experiência humana sempre renovada, para que a mesma se torne consciente e progressista. (FáVE-RO, 2000, v.�, p. 49)

Com a deposição do presidente Washington Luís em �9�0 por um movimento armado iniciado no sul, Getúlio Vargas� assumiu provisoriamente a presidência em � de novembro de �9�0, na qualidade de chefe vitorioso da revolução que derrubou a República Velha (���9-�9�0).

Apesar do autoritarismo do Go-verno Provisório, diversas iniciativas em matéria de educação superior fizeram-se sentir, visando atender às pressões das ca-madas sociais que o capitalismo industrial fez emergir, pois

Se antes, na estrutura oligárquica�, as ne-cessidades de instrução não eram sentidas, nem pela população, nem pelos poderes constituídos (pelo menos em termos de propósitos reais), a nova situação implan-tada na década de 30 veio modificar pro-fundamente o quadro das aspirações soci-ais, em matéria de educação, e, em função disso, a ação do próprio Estado. (RO-MANELLI, �99�, p.�9)

A Revolução Constitucionalista de �9�2 contribuiu para conscientização pelas elites paulistas da falta de quadros políticos com formação científica na so-ciedade, trazendo como conseqüência a implementação da Escola Livre de Socio-logia e Política em �9�� e, no ano seguin-te, a Universidade de São Paulo. (FáVE-RO, 2000, v.�, p.4�)

A Escola Livre de Sociologia e Política veio precedida de um manifesto assinado por professores e profissionais liberais no qual, de modo apaixonado, é lembrado o malogro da “guerra civil desencadeada em nosso Estado” e a fal-ta percebida de uma “elite harmoniosa”, que inspire confiança ao povo e o guie “na luta para refazer-se dos efeitos dessa guerra e das aflições que a antecederam”, ensinando-lhe “passos firmes e seguros”. O manifesto anunciava o preenchimento dessa lacuna com a criação da Escola Li-vre de Sociologia e Política, que “ofere-cerá aos estudiosos um campo de cultura e de preparo indispensável para eficiente atuação na vida social”. (FáVERO, �9�0, Anexo �)

� Getúlio Vargas foi chefeGetúlio Vargas foi chefe do governo provisório de �9�0 a �9�4, presidente const i tucionalmente eleito de �9�4 a �9�7 e ditador de �9�7 a �94�. (CUNhA, �9��, p.49)

�E t imo log icamen te , oligarquia significa “governo de poucos”. Ao referir-se à estrutura oligárquica, a autora faz menção a composição social do Estado brasileiro da época, com “uma elite do minante saída do patriarcalismo rural, com mentalidade arcaica, em relação à educação, mas altamente requintada, em relação aos padrões de consumo”. (ROMANELLI, �99�, p. ��)

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A Universidade de São Paulo (USP) propunha-se a ser “um centro de renova-ção e de formação de elites culturais e políticas”. No projeto de criação da USP, além de incorporadas a Faculdade de Di-reito, a Escola Politécnica, a Escola Supe-rior de Agronomia, o Instituto de Educa-ção (elevado a categoria de escola supe-rior), a Faculdade de Medicina e a Escola de Veterinária já existente, foram criadas a Escola de Belas Artes, o Instituto de Ci-ência Econômicas e Sociais e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, constituin-do-se esta última, na alma mater da USP, oferecendo “todas as disciplinas em que se subdividem as diferentes áreas do saber humano”. Para essa idéia se tornar exeqü-ível, seus fundadores recorreram aos paí-ses europeus, em busca de especialistas. Logo no primeiro ano, foram contratados treze professores estrangeiros: seis fran-ceses, quatro italianos e três alemães. A ousadia da organização proposta encon-trou resistência dentro do próprio Conse-lho Universitário, contribuindo para que a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, após �9��, se voltasse para a formação de professores de ensino secundário, como as demais escolas existentes no país. (Fá-VERO, �9�0, p. ��-4; CUNhA, 2000, p. ��7-�)

o fim da primeira guerra mundial despertou uma nova consciência de va-lores na população em geral, que ansia-va por reformas educacionais que colo-cassem o Brasil na corrente de idéias de democratização e socialização do ensino. No Diário oficial de 15 de abril de 1931, foi publicada a etapa da Reforma Francis-co Campos7 relativa ao ensino superior, consubstanciada no Decreto nº �9.��� de �� de abril do mesmo ano. Para Campos, a Universidade tinha por objetivos “equi-parar tecnicamente as elites profissionais do país e de proporcionar ambiente pro-pício às vocações especulativas e desin-teressadas, cujo destino, imprescindível à formação da cultura nacional, é o da in-vestigação e da ciência pura” (CAMPOS, �9�0, p.�29).

Segundo Campos, o projeto repre-sentava “um estado de equilíbrio entre tendências opostas, de todas consubstan-ciando os elementos de possível assimila-ção pelo meio nacional, de maneira a não determinar uma brusca ruptura com o pre-sente”, preferindo a “orientação prudente e segura da autonomia relativa”. A esse respeito Campos, argumenta que

Autonomia requer prática, experiência e critérios seguros de orientação. Ora, o re-gime universitário ainda se encontra en-tre nós na sua fase nascente, tentando os primeiros passos e fazendo os ensaios de adaptação. Seria de mau conselho que, nesse período inicial e ainda embrionário e rudimentar da organização universitária, se tentasse, com risco de graves danos para o ensino, o regime de autonomia integral (...) com a experiência poderá o quadro da autonomia ir se alargando de maneira gradual e progressiva até que, finalmente, com o desenvolvimento da capacidade e da envergadura do espírito universitário, este venha a reunir sob a sua autoridade todos os poderes de governo do grande agrupa-mento administrativo, técnico e didático que constitui a Universidade. (CAMPOS, �9�0, p.���)

Para Nosella (�99�, p.�7�) a polí-tica populista que marcou a década de �0 fez “uma conciliação conservadora entre as pobres escolas do faz-de-conta e as que adotam modelos pedagógicos arrojados, entre as instituições universitárias de beira de estrada e universidades de excelência”. Para Luiz Antônio Cunha, o Estatuto das Universidades Brasileiras sancionado em �� de abril de �9�� (Decreto n° �9.���), constrangeu as universidades públicas, compelindo-as a manterem suas estrutu-ras, a fim de se enquadrarem em padrões gerais determinados pelo governo fede-ral; em parte devido à força dos interesses políticos e burocráticos e em parte, pelo “medo à liberdade”. (CUNhA, �999, p.90)

Em julho de �9�4, o governo consti-tucional de Vargas (�9�4-�9�7) separou a Escola Politécnica e a Escola de Minas da Universidade do Rio de Janeiro, agregan-

7 Primeiro Ministro doPrimeiro Ministro do Ministério da Educação e Saúde, criado pelo governo provisório que se seguiu à desti tuição de Washington Luiz. Foi convidado por Getúlio Vargas e empossado em ��/��/�9�0. (SILVEIRA, �9�4, p.��)

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20do a estas a Escola Nacional de Química, mais oito institutos de pesquisa e criou a Universidade Técnica Federal, através do Decreto n° 24.7��. A nova instituição é conseqüência da preocupação técnico-profissional que permeava o Parlamento, tendo, porém vida curta: a Lei n° 4�2 de 0� de julho de �9�7, que organizava a Universidade do Brasil�, como passou a chamar-se a Universidade do Rio de Ja-neiro, definiu que esta seria integrada, en-tre outras, pela Escola Politécnica, Escola de Minas, Escola Nacional de Química, então existentes. (PAIM, �9�2, p.��; Fá-VERO, 2000, v.2, p.�70)

A abertura suscitada pela Revo-lução de �9�0 passou a ser vista a partir de �9��, como “um erro a ser corrigido”, o que abriu as portas para a implantação do Estado Novo (FáVERO, �999, p.22). Cabe lembrar que mesmo antes da decre-tação do Estado Novo, há evidências do quanto o “Estado distinguia na escola, um lugar capaz de formar os que os que a freqüentavam, segundo a conveniência de seus interesses e das classes que os repre-sentavam”. (FáVERO, �999, p.2�)

Os anos de �9�79 a �94� foram marcados pelo total esquecimento da au-tonomia universitária: em nome do princí-pio da autoridade e da disciplina, o poder central chama a si, o controle sobre a vida das instituições universitárias, tornando-as vítimas da organização monolítica do Estado, ao qual é reservado o direito de designar em comissão, os dirigentes uni-versitários. (FáVERO, �999, p.2�)

5 O ensino superior no Brasil pós-estado novo

Em �7 de dezembro de �94�, du-rante o governo provisório que se seguiu à queda do Estado Novo, foi sancionado o Decreto-Lei nº �.�9�, que dispunha sobre a autonomia administrativa, financeira, didática e disciplinar no ensino superior. Autonomia esta não implementada, pois independente das relações entre a univer-sidade e os órgãos do governo, esbarrou

em lutas internas, dentro das Congrega-ções, que criticavam as relações de po-der na universidade, que se expressavam desigualmente de cima para baixo. Para Raul Bittencourt, catedrático da Univer-sidade do Brasil (UB), que vivenciou esse momento, a autonomia decretada, não mudou o estado das coisas, sofrendo a interferência do DASP�0 “dia a mais dia, na vida das universidades federais, com aspereza e inciência”. (BITTENCOURT apud FáVERO, �999, p.27)

A criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em �947 no Rio de Janeiro e alocado definitivamente em São José dos Campos (SP) em �9�0 foi um diferencial no ensino superior brasileiro. Influenciado diretamente pelos padrões americanos de organização universitária, trazia inovações, tais como: ausência de cátedras vitalícias, carreira do magistério, organização departamental, residência de professores e alunos no campo, flexibi-lidade curricular e estímulo à pesquisa, principalmente nos cursos de pós-gradu-ação. (CUNhA, �9��, p.���; CUNhA, 2000, p.�7�)

Em 2� de outubro de �94�, foi encaminhado pelo ministro Clemente Mariani ao Presidente da República Eu-rico Gaspar Dutra, um Projeto de Lei que garantia, entre outros, o direito de todos à educação. Discussões e controvérsias em torno da liberdade e democratização do ensino, autonomia administrativa e des-centralização, colocaram em jogo inte-resses diversos, que prenderam o Projeto durante treze anos no Congresso Nacio-nal, o que dá mostras dos interesses em jogo e, em especial, do temor dos “priva-tistas” com os possíveis desdobramentos da legislação sobre as diretrizes e bases da educação, sinalizados pela Constitui-ção de �94�. A respeito do embate entre os defensores da escola pública versus escola privada, que marcou intensamente toda a década de �0, Cunha ressalta que os dirigentes das escolas particulares re-

� A Universidade do Rio de Janeiro passou a chamar-se Universidade do Brasil em �9�7, o que perdurou até �9��, quando a Lei n° 4.7�9, decretou que “As Universidades Federais sediadas nas capitais dos estados terão a denominação do respectivo Estado”. Assim, a Universidade do Brasil passou a chamar-se Universidade Federal da Guanabara, o que não ocorreu na prática. Em 0� de novembro de �9��, a Lei n° 4.���, decretou por fim, que “A Universidade Federal situada na cidade do Rio de Janeiro passaria a chamar-se Universidade Federal do Rio de Janeiro”. (FáVERO, 2000 v.2, p.22�, 22�, 227)

9 Com o estabelecimento do Estado Novo em �9�7, as lutas ideológicas em torno dos problemas educacionais entraram numa espécie de hibernação. A educação, que na Constituição de �9�4 era um dever do Estado, na Constituição de �9�7 passou a ser uma ação meramente supletiva. Thomas Skimore via a implantação do Estado Novo como uma versão brasileira do modelo fascista europeu. (ROMANELLI, �99�, p. ��; p.���)

�0 Departamento Admi-Departamento Admi-nistrativo de Serviço Público.

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cusavam ao Estado o papel de principal provedor das oportunidades escolares:

Defendiam o direito das famílias de escol-herem a educação que desejassem dar aos filhos e, em função disso, o Estado deveria se restringir ao papel de assegurar meios às escolas e às famílias de modo que pudes-sem se encontrar oferta e demanda num mercado livre de interferências monopo-listas e perturbadoras, admitindo a existên-cia de estabelecimentos de ensino oficiais apenas quando e onde a iniciativa privada não fosse suficiente ou, então, para setores muito especializados e de interesse exclu-sivo, como o de formação de pessoal mili-tar. Para garantir igualdade de condições entre escolas governamentais e particula-res, os representantes destas deveriam ter representação “adequada” nos conselhos de ensino, assim como deveria haver dis-tribuição dos recursos financeiros públicos proporcionalmente ao número de alunos matriculados nas escolas. (CUNhA, �9��, p.��7)

Pinto lembra, que o foco era a escola secundária que crescera mais do que qualquer outra, devido ao seu prestígio de caminho para o ensino superior, já que este se constituía (...) um sistema de recruta-mento do mandarinato brasileiro.

Com a urbanização, a industriali-zação e o fortalecimento da classe média no país, o ensino secundário, até então reservado aos filhos das classes economi-camente privilegiadas, tornou-se alvo das classes emergentes, para as quais era re-servado o ensino profissionalizante. Sob pressão popular, o governo começou a criar escolas oficias, reduzindo o total de matrículas nas escolas particulares, que caiu de 7�% em �9�0, para ��% em �9�9. Segundo Pinto,

Este fato explica, em parte, a grande luta que se travou contra a escola pública e em favor da escola particular, na época da tra-mitação do projeto da Lei de Diretrizes e Bases luta esta que se disfarçou sob a ban-deira de oposição ao monopólio do Estado e a favor da liberdade de ensino, defesa do direito da família e outras coisas mais. (PINTO, �9�4, p.9�)

Finalmente, em 20 de dezembro de �9��, foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Apesar das substanciais modificações com relação ao projeto original, no dizer de Anísio Tei-xeira, resultou em “uma meia vitória, mas sempre uma vitória”. (SILVEIRA, �9�4, p.��)

há que se ressaltar o fato de que, não obstante a polêmica ter saído do Con-gresso Nacional para os jornais, ela não teve repercussão nas classes populares. Para Romanelli,

Foi uma oportunidade com que contou a sociedade brasileira para organizar seu sistema de ensino, pelo menos em seu aspecto formal, de acordo com o que rei-vindicava o momento, em termos de de-senvolvimento. Foi a oportunidade que a nação perdeu de criar um modelo de siste-ma educacional que pudesse inserir-se no sistema geral de produção do país, em con-sonância com os progressos sociais já al-cançados. Ocorreu, porém, que as heranças não só cultural, como também a das formas de atuação política foram suficientemente fortes para impedir que se criasse o sistema que carecíamos. O horizonte cultural do nosso homem médio, sobretudo do nosso político, ainda limitava muito a sua com-preensão da educação, como um fator de desenvolvimento e como requisito básico para a vigência do regime democrático. (ROMANELLI, �997, p.���)

o espírito conciliador do texto final da Lei nº 4024/�� é duramente criticado por Leite, Morosini e Martini, para quem

Utilizando argumentos formalmente cor-retos e universais tais como “liberdade de ensino” e “direito de ensinar”, os legisla-dores os associaram a contextos materiais injustos, como o foram subvenções públi-cas a escolas privadas e igualdade de rep-resentação dos administradores do ensino privado nos Conselhos Federal e Estadual de Educação. Tudo isso foi feito porque o instrumento legal, com texto equívoco, foi colocado a serviço de interesses par-ticularizantes. Os setores conservadores e a burguesia liberal antidemocrática uniram-se para consagrar por meio da lei algo que, não sendo democrático, não era bom para todos. (LEITE, MOROSINI e MARTINI, �99�, p.207)

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22 Se, por um lado, a LDB representou um freio no processo de modernização�� do ensino superior através de medidas como a manutenção da cátedra vitalícia e da formação de universidades pela agregação de escolas isoladas; por outro lado, contribuiu diretamente para significativos avanços como o aumento da autonomia das instituições e atribuição de poderes para dirigir o processo de transformação do ensino superior ao Conselho Federal de Educação (CFE) (CUNhA, �9��, p. 2�7).

Um fato que marcou os anos �0 foi a “federalização” de estabelecimentos de ensino superior estaduais, municipais e particulares, “por força da deterioriza-ção dos orçamentos, das reivindicações estudantis pelo ensino gratuito�2 e das demandas de professores e funcionários pelos privilégios do funcionalismo públi-co federal”. Surgiu então a lei n° �.2�4 de dezembro de �9�0, fazendo crescer a participação da União no financiamen-to das instituições de ensino superior. A Lei n° �.�2� de dezembro de �9��, que alocava recursos para as instituições de ensino “federalizadas”, apresentou uma lista de trinta e nove beneficiadas, entre universidades e escolas isoladas. As “fe-deralizações” sofreram um freio em �9�2, quando o Conselho Federal de Educação (CFE), no uso das atribuições que a LDB lhe conferia,

opôs forte resistência a esse expediente. Justificando essa posição pela falta de re-cursos, sucessivos pareceres do CFE de-fendiam a prioridade de expansão de va-gas das escolas superiores oficiais sobre a “federalização” de escolas particulares, as principais candidatas a essa mudança de “status” jurídico-financeiro. Além do mais, a jurisprudência firmada pelo conselho diz-ia que nenhuma nova “federalização” de escola superior deveria ocorrer enquanto as despesas do governo federal com esse grau de ensino permanecessem acima das dotações orçamentárias. (CUNhA, �9��, p.92)

Como no Plano de Educação entre-gue ao Ministro da Educação em setem-

bro de �9�2, o CFE recomendava a não criação de novas escolas ou universidades federais, diante da insuficiência de recur-sos previstos para o Fundo Nacional do Ensino Superior, incapazes até mesmo de manter o sistema funcionando, a festa da “federalização” acabou. (CUNhA, �9��, p.9�)

A transferência da capital para Brasília em �9�0, uma capital cujo proje-to urbanístico “negava a segregação urba-na encontrada em todas as cidades brasi-leiras, procurando promover uma utópica integração de classes”, repercutiu no pla-no para a criação de uma universidade no Distrito federal, que negasse “a estrutura e o funcionamento do ensino superior exis-tente, almejando realizar uma utopia uni-versitária”. O modelo fundacional institu-ído buscava desvencilhar-se das “amarras do serviço público federal sem perder a característica de uma entidade pública”. A Universidade de Brasília (UnB) tinha por missão “formar cidadãos empenhados na busca de soluções democráticas para os problemas com que se defronta o povo brasileiro na luta por seu desenvolvimen-to econômico e social”. (CUNhA, �9��, p.�7�; CUNhA, 2000, p.�7�).

6 O ensino superior no Brasil durante o regime militar

Nos anos �0 e início dos anos �0, na sociedade brasileira despontaram movi-mentos em prol de uma menor submissão ao grande capital transnacional e às oli-garquias��, abruptamente interrompidos pelo golpe militar de �9�4, cuja escalada repressiva atingiu duramente a educação: universidades foram objeto de interven-ção militar, professores e estudantes fo-ram presos, reitores pro tempore foram nomeados em diversas instituições, en-tre outras arbitrariedades. (GERMANO, �99�, p.�0�).

O período que se seguiu ao golpe de �9�4 assistiu a uma expansão do ensino superior no país, notadamente no âmbito privado, favorecido que foi pela política

�� Em �947, o ITA ini-Em �947, o ITA ini-ciou o movimento de modernização do ensino superior no Brasil. Seu modelo era visto como o caminho necessário para que o país adquirisse a maioridade científica e tecnológica, indispen-sável para viabilizar o rompimento dos laços da dependência externa. O movimento de moderni-zação alcançou seu ápice na criação da Universi-dade de Brasília, uma fundação de direito pú-blico definida pela Lei nº �.99�, de �� de dezem-bro de �99�. (CUNhA, �9��, p.�7�; CUNhA, 2000, p.�7�)

�2 O ensino superior noO ensino superior no Brasil sempre foi pago pelos estudantes, desde o início do século XIX. A Constituição de �94� di-zia ser o ensino superior oficial (como o médio) gratuito, “para os que provarem falta ou insu-ficiência de recursos”. (CUNhA, �9��, p.�9)

�� “Oligarquia não des-igna tanto esta ou aquela instituição, não indica uma forma específica de governo, mas se limita a chamar a nossa aten-ção para o fato puro e simples de que o poder supremo está nas mãos de um restrito grupo de pessoas propensamente fechado, ligados entre si por vínculos de sangue, de interesse ou outros, e que gozam de privilégios particulares, servindo-se de todos os meios que o poder pôs a seu alcance para os conservar”. (BOBBIO, MATTEUCI e PASQUINO, �99�, p. ���).

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de contenção de verbas e pela crescente necessidade de expansão de vagas, propi-ciando “a emergência de um novo perfil privado de ensino nitidamente empresa-rial” (DOURADO, 2000, p.2�7). Para Dourado,

tal política privatista apresenta-se, cer-tamente, como uma opção adotada pelo regime político implantado em �9�4 que, apoiado na ideologia do desenvolvimento e segurança nacional, refletia as lutas des-encadeadas até então pela sociedade civil organizada, com destaque para os setores médios que vislumbravam a escolarização superior como mecanismo de ascensão so-cial. (DOURADO, 200�, p.��)

A expansão do ensino superior privado atingiu o seu ápice, durante o “milagre econômico” (�9�7/7�), quando os governantes necessitavam cooptar a classe média brasileira em torno do pro-jeto segurança - desenvolvimento - indus-trialização. Assim,

o apoio das camadas médias acoplava-se aos anseios da ascensão social via ensino superior, concretizado na esfera priva-tista, de baixo custo para o Estado e para a própria iniciativa privada, uma vez que o funcionamento de cursos superiores, via de regra na área humana, não exigia maio-res investimentos. (LEITE, MOROSINI e MARTINI, �99�, p.2�2)

Contraditoriamente, a mesma prá-tica política autoritária, centralizadora e excludente, tanto política quanto social da maioria dos segmentos da sociedade, man-tinha-a integrada no processo de moderni-zação e de industrialização, com o apelo desenvolvimentista, sob a influência da teoria do capital humano�4, que partia da suposição de que o indivíduo na produção era uma combinação de trabalho físico e educação ou treinamento, sendo denomi-nado de investimento humano, o fluxo de despesas que o próprio indivíduo devia efetuar em educação para aumentar a sua produtividade (OLIVEIRA, 2000, p.22�). A disseminação desta teoria nos países do terceiro mundo foi promovida pelos orga-nismos internacionais (BID, BIRD, OIT,

UNESCO, FMI, USAID, UNICEF)�� e re-gionais (CEPAL, CINTERFOR)��. Mário henrique Simonsen�7, “pregava ao mundo que o Brasil tinha encontrado seu caminho para o desenvolvimento e eliminação das desigualdades, não pelo incentivo ao con-flito de classes, mas pela equalização do acesso à escola e pelo alto investimento em educação”. (FRIGOTTO, �999, p.42)

Em �9��, o Estado promoveu a reforma universitária, numa tentativa de suplantar a situação cada vez mais críti-ca em que se encontrava a universidade, que ameaçava romper a unidade da ins-tituição e minar sua legitimação. Fissu-ras internas, originadas pelo confronto de posições entre docentes e discentes agravavam a crise, tendo como fato cul-minante, a reivindicação pelos estudantes por maior participação na estrutura de po-der da universidade. Outro fator decisivo para a reforma universitária foi a postura denunciadora da exploração capitalista, adotada por alguns docentes, em especial aqueles ligados às faculdades de filoso-fia, na crença de que assim promoviam o desvendamento da alienação da sociedade brasileira e da universidade nela inserida. (CUNhA, �9��, p.2�9)

Um grupo de trabalho�� instituído por decreto do presidente Arthur da Costa e Silva em 02 de julho de �9��, foi encar-regado de traçar as diretrizes da reforma universitária, visando transformar a uni-versidade em uma instituição eficiente, moderna, administrativamente flexível e produtiva, além de conciliar os objetivos práticos e imediatos do ensino de massa com a sua missão constitutiva como “cen-tro criador da ciência e expressão mais alta da cultura de um povo” (SILVEIRA, �9�4, p.7�). Na verdade, a Reforma Uni-versitária foi colocada na pauta do dia para recuperar o controle sobre os movimentos estudantis universitários, cuja bandeira principal de mobilização era a reforma, ou seja, a ótica do governo era “façamos a reforma antes que outros a façam”. (SA-VIANI, 2000, p.22)

�4 A “teoria do capitalA “teoria do capital humano” foi desenvol-vida por um grupo de estudos coordenados por Theodor Schultz, nos EUA, valendo-lhe o prê-mio Nobel de Economia em �9��. A idéia-chave é de que um acréscimo marginal de instrução, treinamento e educa-ção correspondam a um acréscimo marginal de capacidade de produ-ção. (FRIGOTTO, �999, p.4�)

�� BID: Banco Interame-BID: Banco Interame-ricano de Desenvolvi-mento BIRD: Banco Interna-cional de Reconstrução e Desenvolvimento OIT: Organização In-ternacional do Trabalho UNESCO: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura FMI: Fundo Monetário Internacional USAID: United States Aid International Deve-lopment UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância

�� CEPAL: ComissãoCEPAL: Comissão Econômica das Nações Unidas para América Latina e Caribe CINTERFOR: Centro Interamericano de Pes-quisa e Documentação sobre Formação Profis-sional

�7 Ministro da Fazenda noMinistro da Fazenda no regime militar. Professor de Economia na Funda-ção Getúlio Vargas

�� O grupo de trabalhoO grupo de trabalho teve �0 dias de prazo para apresentar seus es-tudos e era constituído por Newton Sucupira, Valnir Chagas, Pe. Fer-nando ávila, João Lira Filho, Reis Velloso, Fer-nando do Val, Antônio Couceiro, Roque S. de Barros.. Posteriormente contou com a participa-ção do deputado Leon Peres. Os estudantes indicados para formar o grupo, João Carlos Mo-reira e Paulo Bouças, recusaram-se a partici-par. (BALDINO, �99�, p.�04)

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24 Assim, em 2� de novembro de

�9��, foi sancionada a lei n° �.�40/��, de tendência tecnicista, enfatizando a quan-tidade em lugar da qualidade, os métodos (técnicas) em detrimento dos fins (ideais), a adaptação em oposição à autonomia e priorizando a formação profissional no lugar da cultura geral (SAVIANI, 2000, p.�2). A educação então “adquire o caráter de agência de controle social de novos va-lores” com reformulações que restringiam os campos do conhecimento considerados ideológicos, tais como a sociologia e a filosofia. Por conseguinte, a “definição das idéias e valores admitidos na educa-ção depende de que linha de separação demarcará o âmbito nacional e antinacio-nal”, linha esta imprecisa e que, a bem da consolidação do projeto de reconstrução nacional, requeria a eliminação dos “ini-migos” �9 da nova ordem e controle de todas as expressões de cultura. (RAMA, �99�, p.74-�)

Referindo-se à reforma universi-tária, Cunha (�999, p.92) denuncia sua concepção taylorista20 , expressa em duas diretrizes principais:�.“Na eliminação da duplicação de meios

para fins idênticos ou equivalentes”, onde a adoção do regime de matrícu-la por disciplina (sistema de crédito), o agrupamento dos professores de disci-plinas afins em departamentos e a divi-são dos cursos de graduação entre o ci-clo básico e o profissional, compôs uma tríade para a minimização dos custos, com o uso racional dos recursos huma-nos e materiais.

2. “Na separação entre as atividades de concepção e de execução”, isto é, aos educadores era reservado o cumpri-mento das diretrizes e decisões toma-das pelo grupo militar- tecnoburocráti-co que havia assumido o poder.

Cabe destacar que entre os princí-pios da lei da reforma universitária (Lei n° 5.540/68), encontra-se o da flexibilida-de, no qual se procurava garantir a varie-dade de currículos, a utilização de meto-

dologias apropriadas a cada tipo e nível de ensino, o aproveitamento dos estudos realizados, a combinação do binômio continuidade (formação geral) e termina-lidade (formação especial) e a possibili-dade de adoção do regime de matrícula por disciplina no ensino do segundo grau. (SAVIANI, 2000, p.27)

o princípio da flexibilidade, apa-rentemente incompatível com o regime militar vigente, constituiu-se em um im-portante instrumento para preservação do arbítrio no âmbito educacional, já que, na ausência de definições legais mais pre-cisas que limitassem suas ações, os pro-gramas educacionais que interessavam as autoridades governamentais eram impos-tos à nação, com a vantagem de facilitar a busca de adesão e apoio daqueles mesmos sobre os quais eram impostos os referidos programas. (SAVIANI, 2000, p.27)

De positivo no ensino superior dos anos �0, podemos destacar a institucio-nalização da profissão docente mediante ao regime de tempo integral e de dedi-cação exclusiva e o incremento das pes-quisas, como conseqüência do aumento de recursos destinados à pós-graduação. (CUNhA, 2000, p.�79)

As mudanças também se estende-ram ao espaço geográfico, com a constru-ção dos campi2� nos arredores dos grandes centros, o que reforçou a argumentação contra a gratuidade do ensino superior, dentro da lógica de que aqueles que podem se deslocar representam uma clientela de nível de renda elevado, que não precisam trabalhar para manterem-se. Nas univer-sidades privadas, que ocupavam as áreas urbanas, estariam os estudantes que preci-sam dividir seu tempo entre o trabalho e o estudo, ou seja, aqueles de mais baixo ní-vel de renda. Cunha, referindo-se à hege-monia que o modelo dos campi alcançou, atribui esta ao contexto político repressor imposto pelo regime militar, quando o ato institucional nº � e o decreto lei n° 477/�9

�9 Na linguagem oficial,Na linguagem oficial, dentre os “inimigos” da nova ordem estão a autonomia acadêmica, a liberdade de cátedra, os indivíduos ideologi-camente adversos e os estudantes militantes ou com capacidade para liderar grupos em con-fronto com o sistema. (RAMA, �99�, p.74)

20 Sistema de organiza-Sistema de organiza-ção do trabalho desen-volvido pelo engenheiro norte-americano Frede-rick Taylor (����-�9��), baseado na separação das funções de concep-ção e planejamento das funções de execução, na fragmentação e na espe-cialização das tarefas, no controle de tempos e movimentos e na remu-neração por desempe-nho. (CATTANI, 2000, p.247)

2� Espaço contínuo, deli-Espaço contínuo, deli-mitado e exclusivo, onde se reúnem os edifícios de uma universidade, podendo estar situado dentro da cidade, na sua periferia ou fora dela. (CUNhA, 2000, p.�4�)

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“ameaçavam com a perda ou a limitação de emprego futuro os professores, e com a expulsão os estudantes que fossem acu-sados e julgados, em rito sumário, por práticas de atividades consideradas sub-versivas”. Cunha acredita que, fosse outro o contexto político, o argumento de que a questão espacial era fundamental para que os objetivos econômicos da reforma universitária fossem alcançados, seria amplamente questionado, diante dos cus-tos decorrentes da transferência para um campus suburbano ou extra-urbano, além da caríssima manutenção das mega edifi-cações e das áreas do entorno. (CUNhA, 2000, p.�4�-�)

Marilena Chauí recorda, que nos movimentos sociais, civis, estudantis, guerrilheiros da América Latina e liber-tários do leste europeu em ��, “o ponto de partida, se não foi a universidade como instituição, foi a universidade como irra-diadora de conhecimentos e de práticas novas”, ressaltando ser esta a face lumi-nosa da vocação política da universidade. Entretanto, o movimento de ��, desvelou sua face sombria, quando colocou “a rea-lização da vocação política através da vo-cação científica”, com o incremento das pesquisas nucleares, genéticas e o supri-mento científico para o poder armamen-tista. Para Chauí,

essa face sombria, na verdade, não de-pende de boa ou má vontade da universi-dade, nem da boa ou má consciência dos universitários, mas do modo de inserção da universidade no social, isto é, do seu papel de reprodutora dos sistemas econômicos e políticos, através dos intelectuais orgânicos da classe dominante que somos nós, quei-ramos ou não, para usarmos a expressão gramsciana. (ChAUí, 200�, p.��)

Quanto à articulação das duas vocações (política e científica) da universidade, Chauí defende que

quando feita a partir dela mesma e por ini-ciativa dela, tende a nos oferecer a face

luminosa das duas vocações, pois a univer-sidade assume explícita e publicamente tal articulação como algo que a define inter-namente. A articulação das duas vocações da universidade, quando feita a partir do prisma da reprodução sócio-política e da formação de um grupo social específico - o que chamo de intelectuais orgânicos da classe dominante, tende a oferecer a face sombria, pois a articulação é tácita, im-plícita e, muitas vezes, secreta e, freqüente-mente, determinada pela via indireta do modo de subvenção e financiamento das pesquisas como se fossem “ciências pu-ras”. (ChAUí, 200�, p.���)

7 O ensino superior no Brasil dos anos 80 / 90

Uma nova ordem mundial marcou os anos �0, centrada no desenvolvimento da ciência e da tecnologia e na necessida-de de preparar trabalhadores para atuarem nas novas bases produtivas, subordinando a educação em geral e o ensino superior em particular, ao sistema produtivo. Con-comitantemente, cresce a pressão popular em favor de mais oportunidades educa-cionais, que passa a ser vista como um in-vestimento, cujo retorno ideologicamen-te dar-se-ia por meio da ascensão social. A pressão popular aliada aos interesses eleitoreiros promove a implementação de ações de provimento e/ou consolidação de faculdades isoladas e universidades no âmbito estadual, favorecendo também, iniciativas de natureza pública, de caráter privado, denominadas juridicamente de fundações públicas municipais de ensino superior, delegando aos municípios,

a responsabilidade pelo ensino superior sem garantir, efetivamente, as condições mínimas para o funcionamento do en-sino básico, negligenciando, inclusive, o cumprimento da premissa constitucional de universalização desse nível de ensino. (DOURADO, 200�, p.�7-�)

Cabe lembrar que já em �9�7, o Coronel Meira Matos, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o Ensino Superior, defendia a adoção de um modelo fundacional nas universidades,

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2�através da combinação dos dois sistemas, o do ensino público e o da fundação, com a participação da iniciativa privada. (SIL-VA JR. e SGUISSARDI, 200�, p.���)

Nos anos �0, reacende a interferên-cia de agentes internacionais na agenda educacional brasileira, destacando-se o Banco Mundial (BM), o Banco Intera-mericano de Desenvolvimento (BID) e agências da Organização das Nações Uni-das (ONU). Preocupado em assegurar o pagamento da dívida externa dos países do terceiro mundo, o BM, “guardião dos interesses dos grandes credores interna-cionais” (SOARES apud DOURADO, �999, p.�2�), volta seu olhar para a edu-cação escolar básica, na certeza de que o potencial produtivo da força de trabalho reduz-se em função da falta de escolari-dade da população, relacionando-a com a eficiência econômica global. Para Doura-do (�999, p.�2�), ao defender a realoca-ção dos recursos públicos para a educação básica, o Banco Mundial “busca construir mecanismos ideológicos às políticas, so-bretudo em países como o Brasil, que se-quer garantiu a democratização do acesso a esse nível de ensino e de permanência nele”.

Paralelamente, é intensificado o cerco à universidade pública, sendo-lhe imputada a responsabilidade “pela pre-cariedade da educação básica: a alegação da carência de recursos para a melhoria do ensino básico deve-se ao suposto alto nível de despesas com o ensino superior”. (FRANCO, 2000, p.90)

Ainda nos anos �0, foi promulgada a Constituição Federal, em 0� de outubro de �9��, que resguardou a gratuidade do ensino público em todos os níveis, pro-clamou a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão na educação univer-sitária, sacramentou a autonomia univer-sitária e, fundamentalmente, reafirmou a educação como direito público subjetivo.

No entender de Braga, a euforia dos dois maiores “lobbies” (os “privatis-tas” e os “publicistas”) que buscava in-

fluenciar os Congressistas com relação ao texto final do capítulo sobre educação e cultura da Constituição Federal,

significa que a ANC22 foi hábil o suficiente para costurar um consenso feito de mútuas concessões, cuja flexibilidade dá a expecta-tiva a ambos os grupos de avançarem mais alguns passos, quer na fase de regulamen-tação da Lei e nas Constituições Estaduais, quer na prática interpretativa da vigência constitucional (...) é o que estamos no mo-mento presenciando, quando as frentes de batalha se deslocam para as Constituintes Estaduais e para as propostas de LDB dos diversos grupos interessados. (BRAGA, �9�9, p.��)

A mobilização da comunidade educacional organizada em torno da ela-boração das novas diretrizes e bases da educação nacional foi ganhando forma, contando com a contribuição dos embates resultantes de inúmeras iniciativas gover-namentais, tais como: Programa de Ava-liação da Reforma Universitária (PARU) em �9��, Comissão Nacional para a Re-formulação da Educação Superior em �9�� e o Grupo Executivo para a Refor-mulação da Educação Superior. (GERES) (DOURADO, �999, p.�24)

No mês de dezembro de �9��, o deputado Octávio Elísio apresentou o primeiro projeto de lei (n° �.2��-A/��) fixando as diretrizes e bases da educa-ção nacional. Até o parecer favorável da Comissão de Constituição, Justiça e Re-dação em 2� de junho de �9�9, o projeto sofreu várias emendas na Comissão de Educação, Cultura e Desporto, com base em sugestões de caráter formal e informal ao próprio autor (SAVIANI, 2000, p.�9�). Para apreciação do material disponível, o então presidente da Comissão de Educa-ção, Cultura e Desporto, deputado Ubira-tan Aguiar (PMDB – CE), constituiu um grupo de trabalho, tendo como relator o deputado Jorge hage (PSDB – BA), dando início, nas palavras do próprio relator, “o que talvez tenha sido o mais democrático e aberto método de elaboração de uma lei de que se tem notícia no Congresso Na-

22 Assembléia NacionalAssembléia Nacional Constituinte

27

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cional”, tendo o mesmo percorrido o país, ouvindo todos que, a seu juízo, podiam contribuir para a formulação do projeto – substitutivo. (SAVIANI, 2000, p.�7)

As eleições realizadas em outu-bro de �990 resultaram em um Congresso Nacional de perfil bem mais conservador para a legislatura que se iniciaria em �99�, ano em que chegou ao plenário, o projeto – substitutivo Jorge hage da LDB. No en-tender de Saviani, “dir-se-ia que, de uma concepção socialista que marcava a pro-posta inicial, as transformações operadas ao longo da tramitação na Comissão de Educação da Câmara deram ao texto apro-vado o caráter de uma concepção social-democrata”. (SAVIANI, 2000, p.�9�)

Sob a presidência de Collor de Mello, entra na pauta do dia a necessi-dade da reforma do Aparelho do Estado visando redefini-lo “em decorrência do processo de globalização, que teria redu-zido a autonomia dos Estados na formu-lação e implemento de políticas” (Silva Jr e Sguissardi, 200�, p.2�). Enfrentando muitas dificuldades para sua inclusão na ordem do dia para que fosse apreciado, o projeto-substitutivo recebeu �.2�� emen-das, retornando às Comissões Técnicas para exame das emendas e novo relato, tarefa que coube à deputada Ângela Amin (PDS-SC). Seu relatório, apreciado em maio de �992, incorporou várias emen-das, em especial aquelas que atendiam aos interesses dos grupos privados, dando um caráter conservador a LDB. (SAVIANI, 2000, p.�9�)

No segundo semestre de �992, o impeachment por corrupção do presiden-te Collor ocupou todo o espaço político, tendo o projeto da LDB retomado o an-damento, somente após a posse de Itamar Franco. Em novembro de �992, iniciou-se no Plenário da Câmara dos Deputados a votação do projeto da LDB, acompanhado dos relatórios das três Comissões, embora não tivessem sido por elas aprovados: Co-missão de Educação, Cultura e Desporto, Comissão de Constituição, Justiça e Reda-

ção e Comissão de Finanças e Tributação. Finalmente, em maio de �99�, chegou-se à aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto-substitutivo da Lei de Diretri-zes e Bases Nacional, seguindo o mesmo para o Senado Federal, quando foi desig-nado o senador Cid Sabóia (PMDB-CE) como relator. O substitutivo apresentado por Sabóia preservava a estrutura do pro-jeto aprovado pela Câmara, incorporando alguns aspectos do Projeto de LDB de autoria de Darcy Ribeiro, que deu entra-da na Comissão de Educação do Senado em maio de �992. O parecer de Sabóia foi aprovado pela Comissão de Educação do Senado em novembro de �994 e encami-nhado ao Plenário do Senado em dezem-bro do mesmo ano. (SAVIANI, 2000, p. ���)

No governo de Fernando henrique Cardoso, a Reforma do Estado foi inten-sificada. Nessa ótica o governo federal transformou a Secretaria de Administra-ção Federal em Ministério da Adminis-tração Federal e da Reforma do Estado – MARE, sob o comando de Bresser Pe-reira. Para esse ministro, a reforma era condição “de um lado, da consolidação do ajuste fiscal do Estado brasileiro e, de outro, da existência no país de um servi-ço público moderno, profissional, voltado para o atendimento dos cidadãos”. (PE-REIRA apud SILVA JR e SGUISSARDI, 200�, p.2�)

Na concepção de Bresser Perei-ra, as universidades se enquadrariam no núcleo de “serviços não-exclusivos do Estado ou competitivos”, devendo trans-formar-se em “organizações sociais2� , ou seja, em entidades que celebrem um con-trato de gestão com o Poder Executivo e contem com a autorização do parlamento para participar do orçamento público”. (SILVA JR e SGUISSARDI, 200�, p.��-2)

Para Marilena Chauí (2000, p.2��-�), posicionar a universidade no setor de prestação de serviços,

2� Entende-se por “orga-Entende-se por “orga-nizações sociais”, as en-tidades de direito priva-do que, por iniciativa do Poder Executivo, obtém autorização legislativa para celebrar contrato de gestão com esse poder, e assim ter direito à dota-ção orçamentária. (SIL-VA JR e SGUISSARDI, 200�, p.4�)

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2�indica uma eclipse da idéia de direito so-cial e explica, por exemplo, por que volta à baila a tese do ensino público pago com a idéia de que assim justiça seja feita, pois os ricos devem pagar pelos pobres,

afastando-se da concepção da edu-cação como um direito de todos, mas sim, como “um direito dos ricos e uma bene-merência para os pobres”. Ao transfor-mar a universidade em uma prestadora de serviços, “a universidade perde a idéia e a prática da autonomia, pois esta, agora, se reduz à gestão de receitas e despesas”, além de transformar-se em um “órgão da administração indireta, gerador de recei-tas e captador de recursos externos”, dis-tanciando-se da sociedade, seu princípio de ação e regulação.

Em suma, a reforma do Estado pro-põe passar a universidade da condição de instituição social24, para a de organização social, convertendo o seu “produto” (o sa-ber) em mercadoria e passando a ser ad-ministrada segundo as mesmas “normas e os mesmos critérios com que se adminis-tra uma montadora de automóveis ou uma rede de supermercados” (ChAUí, 2000, p.2��), ou seja,

da função clássica de socialização e de re-produção de conhecimentos e reprodução cultural mais ampla, para o papel especí-fico de formar capacidades e competências produtivas”. (FRIGOTTO, �99�, p.�)

Nessa lógica o governo federal bus-ca claramente articular as finalidades da universidade aos preceitos neoliberais, ao conceber a Universidade como uma orga-nização empresarial, subserviente à lógica do mercado, além de induzir à falsa tese de que “formação profissional que desen-volvem competências exigidas pelo mer-cado garantem empregabilidade” (FRI-GOTTO, �99�, p.4), termo que ganhou espaço nos anos 90, transferindo as res-ponsabilidades do campo privado, onde se exercem as competências exclusivas do capital, para o terreno público, como se a educação fosse elemento definidor do poder político e econômico. Segundo

Cláudio Moura Castro2� , a educação não determina a política econômica, que tem lógica própria para promover o desenvol-vimento e criar empregos; “a educação tem de se ajustar a isso. Se o mercado não absorver determinado curso, este deve fe-char. Deve haver total subserviência do ensino profissional ao mercado de traba-lho”. (CASTRO, 2000, p.��)

A posição de Moura Castro é con-soante com a cartilha para a reestrutu-ração da educação superior na América Latina editada pelo BM2�. Para Catani e oliveira o atual perfil da educação supe-rior na América Latina revela “o alto grau de subordinação dos países em relação às orientações dos organismos multilaterais, particularmente do Banco Mundial”, cujas orientações são no sentido de estabelecer vínculos efetivos entre o ensino superior e os setores produtivos. (CATANI e Oli-veira, �999, p.9; CATANI e OLIVEIRA, 2002, p.�7)

No Brasil, a aliança centro-direita que conduziu Fernando henrique à pre-sidência em �994, favoreceu uma nova ofensiva conservadora no texto da LDB, expressa quando o senador Beni Veras (PSDB-CE) apresentou requerimento so-licitando o retorno do projeto de LDB à Comissão de Constituição, Justiça e Ci-dadania. O relator senador Darcy Ribei-ro (PDT-RJ), em seu parecer datado de março de �99�, alegou todo o tipo de in-constitucionalidade inviabilizando tanto o projeto oriundo da Câmara, como o texto de Cid Sabóia. Imediatamente, Darcy Ri-beiro apresentou substitutivo próprio que logrou fosse aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Uma vez aprovado pelo Senado o projeto retornou à Câmara dos Deputados em fevereiro de �99�, na forma de Substitutivo Darcy Ri-beiro, já na sua versão final incorporadas algumas emendas que visavam atenuar o mal-estar que a “manobra regimental” acarretara. Dez meses depois, o relator designado deputado José Jorge (PFL-PE) apresentou seu relatório, que, sem vetos,

24 Desde o surgimentoDesde o surgimento (século XIII europeu), a universidade sempre foi uma instituição social, isto é, uma ação social, uma prática social fun-dada no reconhecimento público de sua legitimi-dade e de suas atribui-ções, num princípio de diferenciação, que lhe confere autonomia pe-rante outras instituições sociais, e estruturada por ordenamentos, re-gras, normas e valores de reconhecimento e le-gitimidade internos a ela (...)Com as lutas sociais e políticas dos últimos séculos, com a conquista da educação e da cultura como direitos, a univer-sidade tornou-se também uma instituição social inseparável da idéia de democracia e de demo-cratização do saber: seja para realizar essa idéia, seja para opor-se a ela, a instituição universitá-ria não pôde furtar-se à referência à democracia como idéia reguladora, nem pôde furtar-se a responder, afirmativa ou negativamente, ao ide-al socialista. (ChAUí, 2000, p.2�7)

2� Assessor-chefe paraAssessor-chefe para educação do Banco In-teramericano de Desen-volvimento (BID)

2� La enseñanza superior las lecciones derivadas de la experiência (1995)

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foi à sanção presidencial. Assim, em 20 de dezembro de �99� foi promulgada a nova Lei de Diretrizes e Bases Nacional, lei n° 9.�94. (SILVA JR e SGUISSARDI, 200�, p.�4)

8 Considerações finais

o Brasil ficou fora do processo ci-vilizatório por mais de trezentos anos en-quanto Colônia, constituído de um imenso território formado por pessoas sem acesso a escolas, jornais, livros e bibliotecas. A independência não modificou de imediato o modelo colonial ruralista de imensos la-tifúndios povoados de analfabetos, fican-do difícil uma concepção de universidade que alimentasse o espírito criativo e ino-vador do homem. Nesse contexto nasceu a primeira universidade brasileira: um agregado de institutos de ensino, sem uma unidade, sem um projeto acadêmico.

Embora o capitalismo industrial deflagrado na década de 30 tenha feito a sociedade pressionar o poder público por um sistema de educação superior, somen-te a tomada de consciência pela elite pau-lista da falta de quadros políticos com for-mação científica na sociedade, falta essa deflagrada pelo fracasso da revolução Constitucionalista, abriu as portas para a instalação de instituições que ofereces-sem um campo de cultura e de preparo indispensável para uma eficiente atuação na vida social. Mais uma vez, a sociedade, embora beneficiada, foi refém dos interes-ses dos mandatários.

Vários foram os momentos em que a sociedade brasileira se deparou com barreiras nos rumos a educação, ora por questões ideológicas, ora por interesses em cooptar aliados a um projeto político- econômico. Nesse último foco, podem ser citados os governos autoritários de Vargas e dos militares na década de �0, sem es-quecer a reforma do estado promovida na década de 90, que culminou com a Lei de Diretrizes e Bases promulgada em �99�, cujo texto genérico, abriu espaço para as

reformas que a sucederam via decretos e portarias, constituindo-se na moldura jurídica adequada para as propostas do MARE e do MEC. (SILVA JR e SGUIS-SARDI, 200�, p.�4)

Finalizando, cabe destacar que a trajetória do projeto da lei nº 9.�94 e seu desfecho evidenciam a prevalência, no âmbito educacional, da vontade política sobre as necessidades e aspirações da po-pulação em geral e da comunidade ligada à educação, em particular.

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Docência na educação superior: uma construção mediada por saberes pedagógicos

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Marilda Piccolo�

� Mestre em Educa-ção Brasileira (UFG); Pedagoga (UFG); Li-cenciada em história (UCG). Professora da Faculdade Católica do Tocantins. área de Conhecimento: For-mação de Professores [email protected]

Resumo: O presente artigo discute a apro-priação dos saberes pedagógicos pelos docentes da educação superior ao tecer a trama de seu percurso formativo como professor. Nessa discussão aponta as di-ficuldades e as possíveis alternativas para a construção da competência pedagógica deste profissional – técnico e docente; bem como levanta questões sobre os con-ceitos de competência e competência pe-dagógica. A metodologia de estudo para a construção desta discussão foi a revisão bibliográfica sobre o tema. Apresenta ain-da considerações para que as Instituições de Ensino Superior se apropriem dessa necessidade de capacitar seus docentes, construindo ou ampliando os saberes pe-dagógicos dos mesmos.Palavras-Chave: Docência da Educação Superior - Saberes Pedagógicos Compe-tência Pedagógica Ensino SuperiorAbstract: The present article discuss the appropriation of the pedagogic knowled-ge by the superior education professor as tissing the plot of their former route as a professor. In this discuss points the diffi-culties and the possibles alternatives for the construction of the pedagogic com-petence of this professional – technician and professor; it raises questions about the concepts of competence and pedago-gic competence. The study metodologic for the construction of this discuss was the bibliographyc revision about the sub-ject. It presents yet considerations for the Superior Education Institutions to appro-priate of this necessity of improving their professors, building or broadening their pedagogic knowledge.Key-Words: Superior Education Tea-ching, Pedagogic Knowledges, Pedago-gic Competence, Superior Education

1 Introdução

A Educação Superior passa hoje por grandes mudanças acompanhando os avanços tecnológicos globais. Em termos docentes tem-se, atualmente, militando em sala de aula das Instituições de Ensino Superior (IES) profissionais competentes em suas áreas de atuação profissionais, com domínio pleno dos saberes científi-cos pertinentes. No entanto, esses docen-tes estão sendo desafiados a construírem-se enquanto “profissionais docentes”. Isto significa comprometerem-se com uma (nova) profissão que tem teoria própria, bem como características e procedimen-tos específicos.

As recentes reformas no ensino bra-sileiro, especialmente na Educação Su-perior, trazem inovações sobre as quais a comunidade acadêmica tem discutido, buscando compreendê-las, analisá-las e avaliá-las com o objetivo de encontrar os meios mais adequados para implementá-las. Em linhas gerais, as discussões têm ocorrido em torno de alguns conceitos que ganham força e que, historicamente, provocam polêmicas em razão das inúme-ras tendências, correntes e visões que os interpretam diversificadamente. No con-junto desses conceitos, merece ser proble-matizada a questão das competências.

Considerando que ainda não se tem no Brasil um tradicional acúmulo de pesquisa sobre os saberes docentes e que vive-se um momento de hegemonia do projeto neoliberal no campo educacional, algumas questões colocam-se como de-safiadoras, assim, a questão da docência ultrapassa os processos de sala de aula.

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�4O presente artigo visa discutir a

construção da competência pedagógica deste profissional – professor da educação superior, técnico e docente – por meio de uma breve revisão bibliográfica sobre o tema, com especial atenção aos conceitos de competência e competência pedagógi-ca.

2 Docência na Educação Superior

O docente da educação superior vivencia, atualmente, uma dicotomia no exercício de suas atividades, pois, se de um lado lhe é cobrado uma competên-cia científica que coincide com ser um profissional renomado em sua área de conhecimento, com relativo sucesso em sua área profissional, que é buscado pelas IES justamente no afã de que este ensine aos acadêmicos a serem tão bons profis-sionais como ele; por outro lado cobra-se deste profissional uma competência peda-gógica, pois o paradigma “quem sabe, au-tomaticamente sabe ensinar”, não é mais válido nas IES que estão em busca da qualidade do e no processo ensino apren-dizagem. Todos esses fatores somam-se à separação das atividades de ensino e pesquisa e ao predomínio da lógica dis-ciplinar em detrimento de uma prática in-terdisciplinar; bem como ao atual impacto que a revolução tecnológica vem causan-do sobre a produção e socialização do conhecimento na educação superior, alia-do à globalização e à versão social-eco-nômica neoliberal, afinal, é voz corrente que as funções de produzir e socializar conhecimentos não estão mais restritas ao locus das instituições educativas, pois conforme Pimenta e Anastasiou (2002) as ações pedagógicas ocorrem na sociedade em geral, ampliando-se o entendimento de que estamos diante de uma sociedade genuinamente pedagógica.

Ao utilizar o termo educação supe-rior caracteriza-se um momento da vida educacional que é mais amplo que apenas ensino, pois ao transcender a busca pelo desempenho e o rendimento, passa-se a

almejar significados mais vastos da for-mação acadêmico-profissional, ao mesmo tempo coloca-se em questão a responsa-bilidade social das IES. Assim, o desafio de exercer o magistério superior apre-senta alguns determinantes, dentre eles a construção de uma nova competência que deve ser resultado de uma síntese possível – mas ainda desejada – entre os saberes científicos e os saberes pedagógicos.

Para iniciar a presente discussão ressalta-se que, no Brasil, não existe uma formação específica exigida para atuar como docente na Educação Superior, não estando o magistério deste nível regula-mentado sob forma de um curso especí-fico como nos demais níveis2. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) aponta:

Art. ��. A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas. Art. ��. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. Parágrafo único. O notório saber, reconhe-cido por universidade com curso de douto-rado em área afim, poderá suprir a exigên-cia de título acadêmico.

A legislação, ao admitir que tal do-cente seja preparado em cursos de pós-graduação não especifica o caráter peda-gógico dos mesmos. Por outro lado, há a exigência legal (para autorização, creden-ciamento e reconhecimento de cursos e instituições) que as IES tenham um míni-mo de �0% de seus docentes titulados na pós-graduação stricto sensu, apontando para o fortalecimento desta como o locus privilegiado de formação do docente da educação superior.

Portanto, a realidade da educação superior brasileira hoje é que a maioria das IES, sejam essas Universidades, Cen-tros de Ensino Superior, Faculdades ou de-mais instituições; possuem corpo docente composto por um conjunto de profissio-nais de áreas diversas que, em sua imensa

2 Conforme a Lei de Di-retrizes e Bases da Edu-cação Nacional (LDB), artigos �� a �� e Decreto �.27�, de � de dezembro de �999.

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maioria, não tiveram formação inicial ou continuada para o exercício da docência, isto é, não possuem conhecimento cien-tífico para lidar com a complexidade do processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual cada um é o único responsável a partir do momento que ingressa na sala de aula como docente.

A princípio, a formação inicial (graduação ou tecnologia) deste profis-sional e mesmo a formação continuada (especialização, mestrado e doutorado) não funcionam como preparação docente – mesmo as Licenciaturas abordam o ma-gistério para crianças e adolescentes, sem mencionar a andragogia� – não proporcio-nando a este profissional oportunidade de conhecer e discutir elementos teóricos e práticos relativos à questão do ensino e da aprendizagem de jovens e adultos, bem como competência pedagógica e profis-são docente.

Por falta deste referencial teórico e prático que lhe forneça uma postura atu-alizada e pertinente da ação docente, o professor da educação superior seleciona de sua própria experiência como aluno, e mesmo como professor, ações docentes ou metodológicas que considera adequa-das e passa a reproduzi-las em sala de aula, assim, a prática cotidiana passa a ser valorizada como lugar de construção de saberes. Agindo assim, este docente acaba por desconsiderar os elementos constitu-tivos da categoria profissional do magis-tério: ideais, metas, idiomas pedagógicos, regulamentações profissionais, códigos, entidades de classe... enfim, elementos es-senciais para exercer com sucesso e com-petência uma profissão.

Assim sendo, mesmo trazendo para a instituição excelência em conhecimento científico das diversas áreas de conheci-mento e atuação “... não há garantia de que a mesma [excelência em conhecimen-to técnico e científico] tenha igual peso na construção do significado, dos saberes, das competências, dos compromissos e das habilidades referentes à docência.”

(ANASTASIOU, 2002, p.�74)Pois esses profissionais devem ser

conscientes de que

... a partir do momento em que assumem uma sala de aula, a docência passa a ser uma profissão, uma nova profissão que dependerá dos saberes da área (...) mas também dos saberes próprios à profissão de professor. Os estudos e pesquisas que fazemos nas especializações, mestrados e doutorados possibilitam o aprofundar de nossas áreas de pesquisa, nem sempre coincidentes com a área pedagógica...” (ANASTASIOU, 2002, p.�7�) (grifos da autora)

Pode-se afirmar, portanto, que o processo de ser docente, bem como a efe-tivação de uma profissão ficam entregues à própria sorte, especialmente se conside-rar a dificuldade do professor em se per-ceber como parte do problema, pois se ele possui o conhecimento científico (conte-údo/saber) não lhe preocupa não possuir o método (saber fazer) restando-lhe uma técnica sem competência.

Não se está aqui defendendo a su-premacia do pedagógico, ao contrário, é necessário deixar claro a defesa do prima-do do conteúdo específico sobre o conte-údo pedagógico, pois, concordando com Candau

A competência básica de todo e qualquer professor é o domínio de conteúdo especí-fico. Somente a partir deste ponto é pos-sível construir a competência pedagógica. Esta afirmação não implica a relação tem-poral de sucessão, e sim de uma articula-ção epistemológica. É a partir do conteúdo específico, em íntima articulação com ele, que o tratamento pedagógico deve ser trab-alhado. (�997, p.4�)

Ao pensar na lógica que articula saberes: conteudista e pedagógico, deve-se visualizar o saber docente como pro-veniente de duas fontes – conhecimento do conteúdo e conhecimento pedagógico. (TARDIFF, LESSARD e LAhAyDE, �99�)

Efetivar uma profissão é caracteri-zar-se com a identidade profissional desta

� A partir de �970 , Mal-com Knowles trouxe a tona as idéias plantadas por Linderman. Publi-cou várias obras, entre elas “The Adult Learner - A Neglected Species” (�97�), introduzindo e definindo o termo An-dragogia - A Arte e Ciência de Orientar Adultos a Aprender. Daí em diante, muitos edu-cadores passaram a se dedicar ao tema, surgin-do ampla literatura sobre o assunto. (http://www.rau-tu.unicamp.br/nou-r a u / e a d / d o c u m e n t /?view=2)A Andragogia significa, portanto, “ensino para adultos”. Um caminho educacional que busca compreender o adulto desde todos os com-ponentes humanos, e decidir como um ente psicológico, biológico e social. Busca promover o aprendizado através da experiência, fazendo com que a vivência es-timule e transforme o conteúdo, impulsion-ando a assimilação. (http://www.andragogia.com.br).

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��e há saberes da profissão docente distintos dos de outras profissões e que os proces-sos de formação se concretizam em sabe-res profissionais.

A profissionalidade docente, de acordo com Sacristán, é “... a afirmação do que é específico na ação docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhe-cimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser profes-sor” (1995, p.65). Afinal, são os traços, os aspectos profissionais edificados em rela-ção ao trabalho docente que identificam, ou que caracterizam profissionalmente o docente.

Muitos profissionais da educação superior justificam sua pouca intimida-de com as questões pedagógicas (ensino e aprendizagem) pelo fato de serem pes-quisadores, no entanto, ao ver-se as IES como instituições sociais4 verifica-se que ao exercer a pesquisa o professor deve perceber que o produto desta ação deve ser socializado no ensino, pois o compro-misso docente vai além da reprodução de saberes já instituídos, por mais técnicas e atuais que essas informações possam ser.

Libâneo� chama a atenção para o conceito de “conteúdo”

... conteúdos são os conhecimentos siste-matizados, selecionados das bases das ciências e dos modos de ação acumulados pela experiência social da humanidade e organizados para serem ensinados (...); são habilidades e hábitos, vinculados aos conhecimentos, incluindo métodos e pro-cedimentos de aprendizagem e estudo; são atitudes e convicções envolvendo modos de agir, de sentir e de enfrentar o mundo. (�999, s/p.)

Conclui-se, assim, que o saber (con-teúdos/ciências), no processo de ensino e aprendizagem, está diretamente relacio-nado ao método (saber fazer).

A ciência pós-moderna, ancorada na teoria da complexidade aponta-nos que os saberes científicos precedem novas fron-teiras do pensar. Já os saberes pedagógi-cos indicam a necessária parceria com os

alunos na ação docente, partindo do senso comum como elemento germinador de análises possíveis, respeitando e identifi-cando o pensamento do estudante como ponto de partida, permitindo o avanço dessa visão inicial e ainda não-elaborada.

Quando o aluno apreende – com a colaboração do mediador – um novo pa-radigma de leitura da realidade, o mesmo elabora ou amplia seu universo conceitual e aceita-se como elemento do processo. Faz-se necessário ir além, deixar o aluno aprender autonomamente, garantindo-lhe um processo de pensamento crítico, (re) construtor de soluções para novos e ve-lhos problemas.

Como fazer essa transição? Muitas vezes, como professor não se associa a responsabilidade do ensinar ao aprender do aluno. Isto é, o professor executa a ação de ensinar conforme ele acredita ser a ma-neira mais pertinente, no entanto não se debruça a estudá-la cientificamente. “Da mesma forma que é preciso a apropriação dos saberes científicos para o crescente domínio quanto em cada área, é necessá-rio a apropriação dos saberes pedagógicos para o exercício competente da docência.” (ANASTASIOU, 2002, p.���)

3 Conceituando Competências

As competências surgem como um dado novo no idioma pedagógico, razão pela qual cabe uma aproximação maior a esse conceito.

A educação superior é precedida dos ensinos fundamental e médio, aos quais se atribui a garantia de que o aluno adquira uma formação comum para o exercício da cidadania e a inserção no mundo do tra-balho ou em estudos posteriores, poden-do-se concluir que as competências deste nível [superior] devem contar com, pelo menos, uma base de conhecimentos ge-rais e de habilidades cognitivas que dêem ao educando condições mínimas de com-preender os processos produtivos e as re-lações sociais neles incluídas, para poder obter êxito na sua vida profissional.

4 ChAUí (200�) indi-ca que a universidade enquanto instituição social é aquela que se caracteriza como ação social e prática social, pautando-se na idéia de um conhecimento guia-do por suas próprias necessidades e lógica, tanto no que se refere à descoberta e invenção, quanto à transmissão desse conhecimento.� Entrevista de Libâneo, concedida por e-mail a alunos do Progra-ma de Pós-Graduação em Educação Brasilei-ra, em maio de �999.

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Em um primeiro olhar essa lógica parece perfeita, mas ao levar-se em conta que a mesma foi produzida no contexto dos anos �990, caracterizado pela crise es-trutural do capitalismo, pela globalização e pela reordenação das profissões, entre outras mudanças no mundo do trabalho, cabe compreendê-la mais atentamente no quadro das reformas educacionais marca-das pelas recomendações dos órgãos in-ternacionais de financiamento da econo-mia brasileira.

Na verdade, essa crise produziu o que os sociólogos do trabalho chamam de desemprego estrutural, resultado da en-trada maciça da tecnologia nos processos de trabalho, provocando uma tendência crescente de transferir um número cada vez maior de trabalhadores para uma re-serva silenciosa, onde eles são protegidos, mas ao mesmo tempo, colocados fora de ação.

As reformas educacionais que sus-tentam a tese de valorização das compe-tências parecem fortalecer e legitimar a via da responsabilidade do aluno/cidadão em desenvolver suas habilidades, suas atitudes e seus saberes garantindo sua autonomia e a flexibilidade entre outros atributos. A adaptação a essa nova forma de organização do mundo do trabalho e de inserção laboral, acaba por formar traba-lhadores que atendem à lógica de reprodu-ção e de acumulação flexível do capital.

O uso do conceito de competência é bastante familiar em nossa sociedade e seu emprego sempre se deu em referência às pessoas que têm uma qualidade especial para resolver situações complexas e fazer com perfeição determinada coisa, afinal, quem não se recorda do famoso dito po-pular: “Quem não tem competência não se estabelece...”. A discussão atual sobre competências traz com ela significados que, do ponto de vista da compreensão do que seja uma pessoa competente, incluem habilidades cognitivas bem desenvolvi-das, capacidade para julgar, habilidades motoras às quais podem ser agregadas

habilidades artísticas, literárias e mesmo científicas, e assim por diante.

No entanto, no campo da educação estabelece-se uma ampla discussão so-bre o conceito, pois o mesmo encontra-se mergulhado em diferentes tendências (tec-nicista, comportamentalista, sociocrítica); correntes (australiana, canadense, inglesa, francesa); visões de mundo (positivista, crítica); teorias de aprendizagem (condu-tivista, construtivista) e abordagens das relações sociais de trabalho, questões re-lativas a conflitos e hierarquia de poder, confirmando a polissemia que o cerca.

A questão central desse debate en-contra-se nas novas relações de trabalho, resultado dos avanços tecnológicos e das rápidas alterações no mundo laboral, que têm requerido formação adequada dos su-jeitos sociais de modo que se ajustem às exigências de inserção profissional.

Ao falar-se em competências pro-fissionais trata-se de formar indivíduos que desenvolvam suas potencialidades de forma integral: com domínio de conheci-mentos; com habilidades cognitivas para reconverter sua qualificação em outra, de-pendendo da demanda de novas funções; com capacidade para conviver em grupo, sensível às diferenças interpessoais; com capacidade para avaliar novas situações enfrentando-as com criatividade. Portan-to, o centro do debate está na relação tra-balho-educação, na qual, segundo Ramos, situa-se a competência como uma “nova mediação” (200�, p.24) ou uma “media-ção renovada”(RAMOS, 200�) pela acu-mulação flexível do capital.

Em outras palavras, na medida em que o capital procura, de modo cada vez mais rápido, encontrar novas formas de acumulação, colocam-se para as IES desa-fios de formar sujeitos com competências para “... assimilar informações e utilizá-las em contextos adequados, interpretan-do códigos e linguagens e servindo-se dos conhecimentos adquiridos para a toma-da de decisões autônomas e socialmente relevantes”. (MEC, 2000 apud LOPES, 200�, p.7)

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��Para Ramos (200�), as mudanças

no mundo do trabalho têm provocado a requalificação dos trabalhadores inseri-dos no centro da produção capitalista, que hoje está a exigir conhecimentos e atitu-des diferentes das qualificações formais do tipo taylor-fordista, resultando na des-qualificação de alguns setores operários, no aparecimento do trabalho temporário, parcial e subcontratado e na superqualifi-cação de outros setores. Aponta ainda que as características tendenciais do mundo produtivo podem ser definidas pela:

a) flexibilização da produção;b) reestruturação das ocupações;c) multifuncionalidade e polivalên-

cia dos trabalhadores;d) valorização dos saberes dos tra-

balhadores para além das prescrições, normas e formalizações.

Como conseqüências dessas carac-terísticas, surgem questões nos campos acadêmico, socioempírico e teórico-filo-sófico. No campo acadêmico, são retoma-dos os debates sobre a validade das teses de desqualificação, polarização e requali-ficação dos trabalhadores. No campo so-cioempírico, cabe a pergunta se ainda vale o conceito de qualificação como estrutu-rante de relações, acesso e permanência no trabalho. E, finalmente, no campo te-órico-filosófico indaga-se como ficam as subjetividades do trabalhador, “... motiva-do para resgatar sua autonomia nas novas formas do trabalho...” (RAMOS, 200�, p. ��), ao mesmo tempo ainda “... aprisiona-do pelo conteúdo do trabalho parcelariza-do e submetido às necessidades de repro-dução do capital?”. (RAMOS, 200�)

O conceito de competência situa-se nesse campo de indefinições, correspon-dendo a uma resposta possível a essas in-dagações e cumprindo diferentes papéis segundo a ótica das diferentes correntes que o interpretam e o utilizam como eixo formador do novo cidadão. É, portan-to, um conceito em construção, e como tal encontra-se sob suspeita, até porque,

segundo Perrenoud, “... essa moda si-multânea da mesma palavra em campos variados esconde interesses parcialmente diferentes”. (�999, p.��)

No campo das profissões, por exem-plo, existem, segundo Oliveira (2000), três tipos de competências:a) competências para lidar com as pesso-

as;b) competências para lidar com a infor-

mação;c) competências para lidar com a tecno-

logia.No campo da educação em geral, o

conceito forjado no campo do trabalho re-torna ao espaço da formação, retraduzindo perfis de empregos e normas de formação, segundo Stroobants (�997), e sintetiza-se no “trio” de saberes:a) saber;b) saber-fazer;c) saber-ser.

Os saberes, referidos aos conheci-mentos (gerais e profissionais) necessá-rios à formação; o saber-fazer, relativo às noções adquiridas na prática (tarefas, regras, procedimentos etc.); o saber-ser, englobando uma série de qualidades pes-soais (ordem, método, precisão, rigor, po-lidez, autonomia, imaginação, iniciativa, adaptabilidade etc.).

Entre autores brasileiros, que procu-ram articular as relações educativas com as relações no mundo do trabalho, o conceito de competência ganha força, em especial no campo da formação profissional, tanto para grupos que o defendem quanto para grupos que a ela se contrapõem, afirman-do que competência atualiza a noção de qualificação ajustando-se às novas formas de organização do capital para mais rapi-damente valorizá-lo (FERRETTI, �997); ou ainda que ela seja o rejuvenescimen-to da teoria do capital humano, porque imprime à qualificação uma conotação produtivista (FRIGOTTO, �99�). E mais aqueles que consideram que há um deslo-camento conceitual, da qualificação para

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as competências (RAMOS, 200�), uma vez que a qualificação sempre ordenou as relações sociais de trabalho e as educati-vas, em movimento permanente de atuali-zação. A competência pode resgatar uma compreensão essencialista do trabalho, cujo centro, ao invés de ser o posto de tra-balho, desloca-se para o sujeito abstraído das relações sociais.

Na verdade, o que se quer demons-trar é que o conceito está referido, fun-damentalmente, à formação profissional e mesmo assim ainda traz controvérsias, muitas delas aparentemente insuperáveis.

Por exemplo, Ropé e Tanguy (�997) afirmam que a noção de competência, muito associada às noções de desempe-nho e de eficiência na economia, no tra-balho, na educação e na formação, tende a substituir outras noções anteriormente hegemônicas nas esferas da educação (os saberes e o conhecimento) e do trabalho (qualificação), mas defendem que, pelo seu caráter extensivo e duradouro, recai sobre ela o papel de testemunho de nossa época. Na medida em que a esfera educa-tiva é transpassada pela esfera do traba-lho, a noção de competência, mantida a autonomia das esferas citadas, faz o nexo entre elas e torna-se referência para orga-nizar a formação profissional.

É desse modo que as competências chegam, segundo Kuenzer (2000), no Bra-sil à educação superior antes de se ter cla-reza suficiente sobre sua utilização, mais para atender às formalidades legais do que propriamente para instaurar uma pedago-gia das competências. Essas observações são úteis para que se possa compreender o trajeto do significado de competência desde sua origem no mundo do trabalho até sua inserção no campo educativo, re-sultando no que hoje representa um dos nós da educação.

Em uma outra linha de pensamen-to, mais voltada para a responsabilidade da educação superior no desenvolvimento de competências para enfrentar o mundo de hoje e o de amanhã, encontra-se Per-

renoud (�999), no qual pode-se encontrar uma proximidade com os conceitos da te-oria da ação comunicativa, em uma pers-pectiva cultural.

Perrenoud (�999) considera que a ascensão do conceito de competência nos tempos atuais deve-se a uma espécie de “contágio” de que a educação padece, re-sultado da apropriação dessa noção pelo mundo do trabalho inserido “... na corren-te dos valores da economia de mercado, como gestão dos recursos humanos, busca da qualidade total, valorização da exce-lência, exigência de uma maior mobilida-de dos trabalhadores e da organização do trabalho.” (�999, p.�2)

Gonczi (�99�) acrescenta que no conceito de competência existe igualmen-te uma dimensão psicológica (destinatá-ria da psicologia cognitivista) que se une com alguns dos aspectos dessas dimen-sões filosóficas na formação do indivíduo competente. Assim, a competência dos indivíduos deriva da posse de uma série de atributos (conhecimento, valores, ha-bilidades e atitudes) que se utiliza em di-versas combinações para executar tarefas ocupacionais.

Uma possível síntese dessas abor-dagens, do ponto de vista das relações pedagógicas, aponta que se deve situar na vertente que trata as competências na perspectiva da formação humana integral, com absoluta clareza de que essa forma-ção não se esgota nos domínios cogniti-vos, afetivos e psicomotores. Nela está incluída a questão do poder, que não cabe discutir neste espaço em razão dos objeti-vos previamente definidos e pela série de questões que essa dimensão levanta. As-sim, concebem-se competências dentro de certos limites (RAMOS, 200�): nem autonomia, nem adaptação.

4 Competência Pedagógica

A relação do docente da educação superior não se reduz à transmissão de co-nhecimentos já constituídos, então, a prá-tica passa a ser “... expressão de múltiplos

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40saberes, incorporados em âmbitos, tem-pos, espaços de socialização diversos”. (LELIS, 200�, p. ��)

A competência pedagógica é vis-lumbrada na “... demarcação de um novo idioma pedagógico na consciência de que a prática profissional está marcada por uma trama de histórias, culturas que ul-trapassam a dimensão pedagógica stricto sensu”. (LELIS, 200�, p. ��)

Diante de todas as mudanças apon-tadas, o perfil do professor da educação superior se altera de especialista para mediador da aprendizagem, colocando na pauta do dia as competências básicas para se realizar a docência. Ao se falar em competência pedagógica existem quatro grandes eixos:a) o processo ensino e aprendizagem;b) concepção e gestão de currículo;c) compreensão de relações interpesso-

ais;d) teoria e prática básica de tecnologia

educacional.De acordo com Guimarães (2004) a

grande complexidade e os novos desafios postos à atividade docente conduzem ao entendimento de que esta não é uma ativi-dade para amadores e diletantes.

Cabe aqui uma ressalva sobre a apropriação dos termos Pedagogia e Competência Pedagógica. Reconhece-se hoje a presença do pedagógico na socie-dade, havendo uma extrapolação da edu-cação formal para âmbitos não formais. No entanto, num movimento inverso, há uma confusão em relação à Pedagogia. A Pedagogia enquanto ciência tem como objeto de estudo a educação enquanto prática social, construindo uma teoria pe-dagógica.

Assim compreendida, a Pedagogia – en-quanto campo teórico da prática educacio-nal que não se restringe à didática da sala de aula nos espaços escolares, mas está pre-sente nas ações educativas da sociedade em geral –, possibilita que as instituições e os profissionais cuja atividade está permeada

de ações pedagógicas se apropriem criti-camente da cultura pedagógica para com-preender e alargar a sua visão das situações concretas nas quais realizam seu trabalho, para nelas imprimir a direção de sentido, a orientação sociopolítica que valorizam, a fim de transformar a realidade. (PIMEN-TA; ANASTASIOU, 2002, p.��)

Pode-se afirmar que tal apropriação crítica é a aquisição da competência pe-dagógica. No entanto, a competência não é um dado externo ao indivíduo e sim um processo de construção situado histórica e socialmente. Na edificação da compe-tência pedagógica tem função relevante o significado social que o docente atribui a si mesmo e à educação como um todo. Constitui-se também de

... um processo epistemológico que recon-hece a docência como campo de conheci-mentos específicos configurados em quatro grandes conjuntos: os conteúdos das diver-sas áreas do saber (...) e do ensino; os con-teúdos didático-pedagógicos, diretamente relacionados ao campo da atividade profis-sional; os conteúdos relacionados a saberes pedagógicos mais amplos do campo teórico da prática educacional; os conteúdos liga-dos à explicitação no sentido da existência humana individual, com sensibilidade pes-soal e social. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p.7�-9)

Para compreender-se como tal (do-cente da educação superior), o mesmo deve proceder uma leitura crítica da prá-tica social de ensinar confrontando a re-alidade existente, as iniciativas tomadas perante o sucesso e perante o enfrenta-mento do fracasso, tomando a ação como referência de onde se parte e para onde se volta. É o que Nóvoa (�992) denomina de reflexibilidade crítica sobre as práticas de (re)construção permanente da identidade docente.

Essa confrontação das ações diárias de sala de aula com a produção teórica pedagógica acaba por impor a revisão de práticas e das teorias que as subsidiam num “moto contínuo” de pesquisa da prá-tica, busca de teoria e transformação.

Esse movimento amplia a consci-ência do professor sobre a prática de sala

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de aula e a educação superior como um todo.

5 Considerações Finais

No exercício cotidiano da docência, o professor da educação superior deve passar a agir como o faz enquanto pesqui-sador: observar-se como docente, levantar e delimitar problemas, buscar referencial teórico que o subsidie no avanço da solu-ção dos problemas detectados, testar, bus-car soluções... enfim: fundamentar-se.

A relação hoje necessária entre os saberes científicos e pedagógicos passa pela análise dos saberes das experiências vividas nas instituições de ensino, nas salas de aula, to-mando-as como ponto de partida e chega-da da reflexão e da construção processual como profissional docente. (ANASTA-SIOU, 2002, p.���)

É urgente que as IES que trazem para seus quadros professores de áreas diversas de conhecimento se dêem conta da com-plexidade da formação e da atuação con-seqüentes deste profissional, necessitando de um protagonismo da instituição quanto à capacitação pedagógica docente, pois o investimento na formação pedagógica do professor da educação superior é um pon-to de partida que apresenta possibilidades de melhoria da profissionalidade e de um significado diferente para a profissionali-zação e o profissionalismo docentes, bem como possibilidade para a ressignificação da sua identidade profissional especial-mente nesse contexto recheado em mu-danças de natureza variada.

Para tecer a trama do percurso for-mativo dos professores da educação su-perior é preciso que as IES valorizem o trabalho docente, dotando-os de perspec-tivas de análise que acabem por ajudá-los a compreender os contextos históricos, sociais, culturais e organizacionais onde se dá a atividade docente.

Vale lembrar que valorizar a ativi-dade docente significa ainda rever e mo-dificar socialmente a precariedade da car-reira docente.

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ecoturismo no Brasil: uma proposta de desenvolvimento e sustentabilidade

Claudia Nolêto Maciel Luz�

geStÃo

Resumo: O turismo é considerado o maior dos movimentos migratórios da história da humanidade e caracteriza-se por sua taxa de crescimento constante. O Brasil tem um excelente potencial turístico: al-gumas praias consideradas as melhores do mundo, sol quase o ano inteiro, flora e fauna esplêndidas, riquíssimo folclore e um povo, por tradição, hospitaleiro. Mes-mo diante de tal riqueza, participa apenas de uma parcela no mercado turístico mun-dial e lentamente, o mercado interno ain-da é necessário melhorar a infra-estrutura específica e geral. A indústria do turismo, atualmente, é a atividade que representa os índices mais elevados da expansão no contexto econômico mundial. O ecotu-rismo, na indústria de turismo e viagens, apresenta-se no momento como uma im-portante alternativa de desenvolvimento econômico sustentável, desde que, utili-zando de forma racional os recursos na-turais sem comprometer a sua capacidade de renovação e a sua conservação. No contexto global do turismo, o Ecoturismo é o segmento que apresenta maiores índi-ces de expansão, resultando no incremen-to gradativo de ofertas e demandas por destinos ecoturísticos.Palavras-chaves: ecoturismo, desenvol-vimento, sustentabilidade, conservação, qualidade de vida.Abstract: The tourism is considered the largest of the migratory movements of the humanity’s history and it is characterized by its growth rate constante.O Brazil he has an excellent tourist potential: some improve beaches of the world, sun almost the whole year, flora and fauna splendid, rich folklore and a people, for tradition, hospitable. This position, just participa-tes of a portion in the world tourist market and slowly, it stimulates the internal ma-

rket, of which is necessary to improve the specific and general infrastructure. The industry of the tourism, now, is the acti-vity that represents the elevated indexes of the expansion in the world economic context. The ecoturism, in the industry of tourism and trips, comes in the moment as an important alternative of maintaina-ble economic development, since, using in a rational way the natural resources wi-thout committing its renewal capacity and its conservation. In the global context of the tourism, ecoturism is the segment that presen ts larger expansion indexes, resul-ting in the increment gradative of offers and demands for destinies ecoturism. Key-words: ecoturism, development, susteinability , conservation, life quality.

Ecoturismo, um neologismo “eco-logicamente correto” criado por hector Ceballos no início da década de �0 e sim-pático às Ongs, segundo um grupo multi-disciplinar formado por representantes de entidades governamentais e não-governa-mentais, que, em agosto de 94, a convite dos Ministérios do Meio Ambiente e da Indústria, Comércio e Turismo, analisou e estabeleceu bases para um decreto para orientar a política e o programa brasileiro de Ecoturismo, deve ser entendido como:

Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da inter-pretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.

Ecoturismo é também compreendi-do popularmente como turismo “natural”, indo além da simples observação, propi-ciando ao viajante um entendimento eco-lógico do meio ambiente natural.

� Graduada em Admi-nistração de Empre-sas pela Universidade de Brasília – UnB, Pós- graduada em Administração Rural e o Negócio Agrí-cola pela Fundação Universidade do To-cantins – UNITINS e Doutoranda em Economia e Empresa pela Universidade de Ilhas Baleares – UIB.

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44O Ecoturismo deve:•promover e desenvolver turismo

com bases cultural e ecologicamente sus-tentáveis;

•promover e incentivar investimen-tos em conservação dos recursos culturais e naturais utilizados;

•fazer com que a conservação be-neficie materialmente comunidades en-volvidas, pois somente servindo de fonte de renda alternativa estas se tornarão alia-das de ações conservacionistas;

•ser operado de acordo com crité-rios de mínimo impacto para ser uma fer-ramenta de proteção e conservação am-biental e cultural.

O ecoturismo é considerado como sendo “um segmento da atividade turísti-ca que utiliza de forma sustentável o pa-trimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da in-terpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”. (BARROS II e LA PENhA, �994).

O conceito de ecoturismo deve en-volver a viagem para áreas naturais re-lativamente tranqüilas e não contamina-das, com o objetivo de estudar, apreciar e desfrutar o ambiente natural dessa área. Trata-se de viagem responsável em que se conservam os ambientes naturais e se sus-tenta o bem-estar da população local.

Conforme Brandon (�99�), ecotu-rismo é um termo de uso bastante dissemi-nado em nossos dias, mas que raramente é definido. Muitas vezes é usado de maneira intercambiável com outros termos como turismo suave, turismo alternativo, turis-mo responsável e turismo da natureza.

Segundo o mesmo autor, ecoturis-mo significa simplesmente que a principal motivação para a viagem é o desejo de ver ecossistemas em seu estado natural, sua vida selvagem assim como sua população nativa.

O ecoturismo é um recente produto de tangibilidade potencial econômico so-

cial e seu desenvolvimento poderá propi-ciar a divulgação do patrimônio ambien-tal à população brasileira e, também, de outras nações que queiram conhecê-lo.

O impacto teórico do ecoturismo é bem conhecido. Os custos potenciais são a de-gradação do meio ambiente, as injustiças e instabilidades econômicas, as mudanças socioculturais negativas. Os benefícios po-tenciais são a geração de emprego para as pessoas que vivem próximas a essas áreas e a promoção de educação ambiental e de conscientização sobre a conservação. (LINDBERG e hAWKINS, �99�, p.�4).

A atividade do ecoturismo deve abranger, em sua conceituação, a dimen-são do conhecimento da natureza, a expe-riência educacional interpretativa, a valo-rização das culturas tradicionais locais e a promoção do desenvolvimento sustentável.

O crescente envolvimento da so-ciedade nas questões ambientais, pres-sionando governos e instituições para o estabelecimento de requisitos cada vez mais rígidos quanto ao impacto ambiental à implantação de empreendimentos, alia-do a uma crescente busca do homem por uma relação mais íntima e freqüente com a natureza, recomenda a não restrição do conceito de ecoturismo, de forma a acom-panhar a dinâmica deste segmento. A ati-vidade de ecoturismo passa, atualmente, por uma transição de “produto turístico” para um “conceito de viagem”, sendo que os componentes da definição podem vir a ser integralmente absorvidos por outros segmentos ou atividades do turismo, que talvez hoje não sejam considerados eco-turísticos, mas cuja evolução deve ser in-centivada.

De acordo com o Mckercher (�997), o gestor de projeto de ecoturismo deveria ter conhecimento dos seguintes assuntos que serão fundamentais para o desenvol-vimento com sucesso de seu trabalho:

•Planejamento de negócio: muitas pessoas envolvidas em temas de ecotu-rismo reclamam porque reconhecem que quando começaram a trabalhar na área

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não tinham conhecimento o bastante como planejar e organizar um negócio. É preciso conhecimento de administração financeira, investigação de mercados e uma grande dose de paciência para com a burocracia;

•Marketing: muitos operadores de turismo sabem criar um produto, mas não sabem vendê-lo. Para desenvolver estraté-gias deste tipo, precisa-se de conhecimen-to de marketing em geral, desenvolvimen-to de um bom produto, estabelecimento de um preço apropriado, como também saber fazer a promoção nos lugares precisos;

•E também ter algumas qualidades específicas para saber trabalhar com o pú-blico, tais como: procura de pessoal apro-priado, bom tratamento aos clientes, entre outros;

•Por último, aptidões pessoais para desempenhar esse trabalho: paciência, co-ragem, habilidades para saber administrar as pessoas, afinidade com as áreas natu-rais, etc.

Segundo Myers (�9�4), os ecoturis-tas preferem grupos pequenos e serviço personalizado, tendem a ser entusiastas de atividades ao ar livre, viajam muitas ve-zes em duplas ou sozinhos e são viajantes freqüentes e experientes. Eles geralmente aceitam condições diferentes das existen-tes em seus domicílios mais do que outros tipos de turistas.

As acomodações de luxo, alimenta-ção e a vida noturna são muito menos im-portantes para esse grupo do que vivenciar as condições locais, provar os costumes e os alimentos locais. (ABEL, �992, p.�2).

Desse modo, o ecoturismo é mais do que uma simples atividade de lazer. É um estilo de viagem, que reflete e promo-ve uma determinada orientação não só em relação à viagem, mas também a estilos de vida, comportamentos e filosofias. (...) O crescimento pessoal em termos emocio-nais, espirituais e intelectuais parece ser o resultado esperado da viagem ecoturística para a maioria desses viajantes. (RODRI-GUES, �997, p.�4)

De acordo com o mesmo autor, ten-do em conta que a problemática ambiental coloca em destaque a questão do espaço, do território, da paisagem, a atividade tu-rística aparece como a que apenas "con-some" paisagem/espaço/território, sem, aparentemente, "destruir" esses lugares, o que justificaria apontá-la como susten-tável.

O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as ge-rações futuras atenderem as suas próprias necessidades” (WCED, �9�7).

A proteção e a administração am-biental são essenciais para o desenvolvi-mento sustentável.

De acordo com Ruschmann (2000) os princípios do Desenvolvimento Turís-tico Sustentável são:

•Sustentabilidade ecológica: asse-gura que o desenvolvimento é compatível com a manutenção dos processos ecológi-cos essenciais, diversidade biológica e os recursos biológicos;

•Sustentabilidade social e cultu-ral: assegura que o desenvolvimento e o controle das pessoas sobre suas próprias vidas são compatíveis com a cultura e os valores das pessoas atingidas pelo desen-volvimento, aumentando e fortalecendo a identidade da comunidade;

•Sustentabilidade econômica: asse-gura que o desenvolvimento é economi-camente eficiente e que os recursos são geridos de forma que suportem gerações futuras.

•O conceito de turismo sustentá-vel foi desenvolvido para evitar os riscos que a condução inadequada da atividade pode provocar no meio ambiente. O tu-rismo sustentável, segundo Krisppendor (�9��), é visto como a perfeita triangula-ção entre as destinações (seus hábitats e habitantes), os turistas e os prestadores de facilidades para os visitantes. (...) o turis-mo sustentável procura adequar aos inte-resses de cada um dos parceiros do triân-

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4�gulo, minimizando as tensões e buscando um desenvolvimento a longo prazo, pelo equilíbrio entre o crescimento econômico e as necessidades de conservação do meio ambiente.

•Apesar de alguns autores se mos-trarem reservados, não há dúvidas de que o ecoturismo apresente aspectos positivos quanto à questão do turismo sustentável. O ecoturismo:

•Traz benefícios econômicos para a população local e pode ser fonte de renda para projetos de preservação;

•Tende a se dar numa escala muito pequena e cuidadosamente gerenciada;

•Envolvem turistas bastante cons-cientes dos riscos potenciais do turismo e que, na pior das hipóteses, devem se comportar de forma mais sensível do que outros turistas;

•Aumenta a conscientização dos problemas inerentes ao turismo devido à sua experiência em primeira mão com as questões relativas à sustentabilidade.

Segundo Harry e Spink citado por Ruschmann (2000) o planejamento é uma atividade que envolve a intenção de es-tabelecer condições favoráveis para al-cançar objetivos propostos. Ele tem por objetivo o aprovisionamento de facilida-des e serviços para que uma comunidade atenda seus desejos e necessidades ou, en-tão o desenvolvimento de estratégias que permitam a uma organização comercial visualizar oportunidades de lucro em de-terminados segmentos de mercado.

O planejamento de uma organiza-ção comercial (privada) tem como objeti-vo principal o lucro, que pode ser medido objetivamente, ao passo que os órgãos públicos não visam a lucros, e seus resul-tados não podem ser medidos por indica-dores quantitativos. Diante da amplitu-de e da variedade das ações de cada um dos setores, a abordagem deste estudo se concentra no planejamento turístico nas organizações públicas que, para alcançar seus objetivos, necessitam da colabora-

ção das empresas privadas, atuando dire-ta ou indiretamente no desenvolvimento da atividade. No turismo cabe ao Estado zelar pelo planejamento e pela legislação necessários ao desenvolvimento da infra-estrutura básica que proporcionará o bem-estar da população residente e dos turis-tas. Além disso, deve zelar pela proteção e conservação do patrimônio ambiental (natural, cultural e psicossocial) e criar condições que facilitem e regulamentem o funcionamento dos serviços e equipa-mentos nas destinações, necessários ao atendimento das necessidades e dos de-sejos dos turistas, geralmente, a cargo de empresas privadas.

Entende-se o planejamento como um processo que consiste em determinar os objetivos de trabalho, ordenar os re-cursos materiais e humanos disponíveis, determinar os métodos e as técnicas apli-cáveis, estabelecer as formas de organiza-ção e expor com precisão todas as espe-cificações necessárias para que a conduta da pessoa ou do grupo de pessoas que atuarão na execução dos trabalhos seja ra-cionalmente direcionada para alcançar os resultados pretendidos.

No turismo, o plano de desenvolvi-mento constitui o instrumento fundamen-tal na determinação e seleção das prio-ridades para a evolução harmoniosa da atividade, determinando suas dimensões ideais, para que, a partir daí, possa-se es-timular ou restringir sua evolução.

O planejamento turístico não se re-fere apenas especificamente à divulgação e ao desenvolvimento do setor, embora estes sejam aspectos importantes. O tu-rismo deve ser integrado a processos de planejamento mais amplos a fim de pro-mover determinadas metas de melhoria ou maximização econômica, social e am-biental que possam ser atingidas por meio do desenvolvimento turístico adequado.

É clara e evidente a crescente im-portância da área de serviços para o mun-do. O aumento de populações urbanas, a descoberta de novas tecnologias, a cons-

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cientização do consumidor diante de seus direitos, a busca por melhor qualidade de vida, são fatores que influenciam direta-mente para que ocorra esse avanço.

Parte-se, atualmente, do pressupos-to que o setor de serviços também neces-sita de direção, controle e, principalmente, planejamento para que não ocorra a temi-da queda de produtividade, pois a compe-titividade neste setor é feroz.

A dificuldade maior em controlar serviços decorre de sua intangibilidade. Os serviços não são palpáveis ou men-suráveis, mas sim, sentidos, o que torna complicada a padronização de seus resul-tados.

Dos serviços prestados por uma empresa depende a sua imagem frente ao consumidor e como não são passíveis de serem patenteados, irão requerer do admi-nistrador estratégias criativas que garan-tam suas inovações.

Inovação, essa é a palavra-chave. O mercado atual requer das empresas, prin-cipalmente diferenças, algo novo e sur-preendente, que cause impacto, que cha-me atenção do cliente e o faça tornar-se satisfeito.

O marketing é um dos ramos estra-tégicos de serviços mais importantes para que ocorram inovações nessa área. Uma das funções básicas do marketing em ser-viços é comunicação com o cliente, atra-vés da publicidade e propaganda. É esta comunicação que irá criar expectativas nos consumidores, que irá impulsionar suas necessidades e desejos pelo serviço prestado pela empresa.

Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, que congrega as maio-res empresas multinacionais do setor, o mercado turístico como um todo:

•Em �99� empregou ��� milhões de pessoas.

•Em �994, com crescimento de �0,�% passou a oferecer 204 milhões de empregos (um em cada nove trabalhado-res do mundo).

•De �9�� a �99�, apesar da reces-são mundial, o número de turistas que em-preendeu viagens internacionais passou de ��0 para �00 milhões.

•A Organização Mundial de Turis-mo estimava que esse número atingisse ��� milhões no ano 2.000.

•Excetuando o setor de transpor-tes, os ganhos financeiros provenientes do turismo internacional, cresceram de US$ �� bilhões (�970) para US$ �24 bilhões (�99�).

•A indústria do turismo apresenta elevados índices de crescimento econô-mico mundial. Movimenta cerca de US$ �,� trilhões anualmente. Na última déca-da, teve crescimento de �7%. Dentro des-te contexto, o ecoturismo é o segmento que mais cresce.

Verifica-se, assim, que o turismo se impôs nos últimos anos como um recur-so comercial de expressiva importância, disputando com o petróleo a primazia do mercado mundial.

Em �99�, o Brasil recebeu apenas �,7 milhões de turistas que representaram 0,�% dos ��4 milhões de turistas no mun-do. Considerando-se que o ecoturismo re-presenta �0% do mercado turístico, o eco-turismo brasileiro participa com 0,0�%; um número medíocre para um país de mega diversidade e que possui a maior biodiversidade do mundo e �,7% de toda a área terrestre do planeta.

A conscientização da sociedade re-lativamente às questões ambientais tem contribuído para o crescimento da deman-da por atividades ecoturísticas. De fato, a forte percepção mundial acerca da neces-sidade urgente de proteção e recuperação dos recursos naturais, disseminadas prin-cipalmente pelos meios de comunicação, acaba por influenciar a escolha dos desti-nos e roteiros a serem programados.

A oferta de destinos ecoturísticos depende, no entanto, da existência de áre-as de elevado valor ecológico e cultural, da maneira como estas áreas são geridas,

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4�da existência de infra-estruturas adequa-das e da disponibilidade de recursos hu-manos capacitados.“Países que oferecem destinos ecoturísticos adequados, obtêm valores significativos de divisas com seus parques nacionais”. (OMT, �99�. p.�-7):

•O Quênia obteve em �9�� com o turismo, que é a atividade que mais rende divisas para o país, US$ 400 milhões.

•Em Ruanda, os turistas que dese-jam ver os gorilas do Parque Nacional dos Volcans despendem, anualmente, US$ � milhão em ingressos e de US$ 2 a � mi-lhões em outros gastos.

•Nos países desenvolvidos, o eco-turismo é uma atividade ainda mais van-tajosa: o sistema de parques nacionais dos Estados Unidos, considerado como a maior rede de atração turística natural do mundo, recebeu mais de 270 milhões de visitantes em �9�9; os parques estaduais receberam �00 milhões de visitantes.

Para a América Latina, onde o eco-turismo começa a despontar, a atividade é de extrema importância para os esforços de promoção do desenvolvimento econô-mico e social. O adequado aproveitamento dos variados ecossistemas existentes, ain-da pouco explorados, propiciará a abertu-ra de novas alternativas econômicas e a conseqüente melhoria das condições de vida das populações diretamente envolvi-das, além de reduzir alguns dos impactos negativos causados pelo turismo tradicio-nal.

O Brasil tem um grande potencial, representado pela própria natureza, por sua geografia contrastante, pelo clima e pela alegria de seu povo. Por isso, a EM-BRATUR considera o ecoturismo como o setor econômico com maiores perspec-tivas de desenvolvimento nos próximos anos, razão pela qual preocupa-se com a necessidade de implantação de novos me-canismos destinados a facilitar e estimular o investimento privado.

No entanto, para que o ecoturismo possa efetivamente constituir uma es-

trutura sólida, acessível e permanente, é preciso que esteja alicerçado de forma a acomodar adequadamente as peculiarida-des de cada ecossistema e de cada traço da cultura popular brasileira.

A tomada de consciência a respeito da degradação do meio ambiente levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a convocar uma grande conferência de países - membros, com a colaboração de cientistas no sentido de estudar o fenôme-no; foi a Reunião de Estocolmo (Suécia), realizada em �972, também conhecida como ECO-72. Nos primeiros anos da década de �970 se observou um esforço internacional em defesa da ecologia.

A multiplicação de pesquisas, estu-dos, publicações sobre os temas da eco-logia fixou diversos neologismos, mar-cando uma área de estudo que, além de interdisciplinar e, portanto muito diversi-ficada, procurava definir balizas para seu desenvolvimento, com a urgência que a situação parecia exigir. Agribusiness ou Agriecologia, área de Proteção ambien-tal (APA), Bem Livre, Biomassa, Chuva ácida, Chuva de Sementes, Desenvolvi-mento Sustentado ou Eco-desenvolvimen-to, Empate, Fumante Passivo, Povos da Floresta, Reserva Extrativista, Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), derivado do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), e outros são neo-significantes, cujo uso foi divulgado a partir do movimento em defesa do meio ambiente iniciado na dé-cada referida e que tomou grande impulso na década de �9�0. Além disso, outros significantes passaram a freqüentar tex-tos jornalísticos, conversas no dia-a-dia, debates de todo tipo e também os meios acadêmicos.

A procura de novas alternativas tem marcado a segunda metade dos anos �0 e o início da década de �990: aspira-se por uma tecnologia limpa, que não degrade o meio ambiente e conserve as condições ideais da casa de todos, para as futuras gerações.

Embora os impactos do turismo so-

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bre o ambiente natural e artificial, constru-ídos pelo homem, tenham sido reconheci-dos há muito tempo, a ação real de sua existência demorou bastante para chegar. Parte do problema pode ter sido a falta de conhecimento da relação complexa entre turismo e o meio ambiente, assim como, a falta de coordenação entre política de de-senvolvimento e a ambiental.

A questão dos impactos do turis-mo sobre o meio ambiente começou a ser pesquisada mais intensamente a partir do início da década de �0, quando o turismo intensificou-se. Apesar de ter ocorrido razoável progresso, o conhecimento dos complexos processos envolvidos deixou muito a desejar.

A política ambiental foi fragmen-tada, dirigida para problemas específicos como, entre outros, poluição da água e qualidade do ar. Isso ocorreu devido não só a fragmentação administrativa, mas também ao período de tempo necessário para a incorporação de abordagens inte-gradas à gestão ambiental, relacionada com ecossistemas totais e não com aspec-tos limitados da qualidade ambiental.

Adicionalmente, a conservação am-biental foi vista em oposição à política de desenvolvimento. Assim, a qualidade am-biental foi considerada como algo à parte do desenvolvimento econômico e social.

Recentemente, passou a prevale-cer uma visão mais ampla e integrada da política de desenvolvimento, associando este conceito ao de proteção ambiental. A conceituação de desenvolvimento susten-tado (WCED, �9�7) assinala essa mudan-ça de perspectiva. Uma política global de sustentabilidade, em que a conservação do meio ambiente está estreitamente re-lacionada com a eficiência econômica e a justiça social, ganhou ampla aceitação. Esta visão engloba esforços para associar a proteção ambiental às políticas de de-senvolvimento do turismo.

A questão da sustentabilidade em turismo tornou-se prioritária na Europa, embora muitos dos problemas envolvidos

já tivessem sido bastante debatidos no contexto do turismo mundial, principal-mente sob as perspectivas social, cultural e econômica. O quinto programa de ação sobre o meio ambiente da União Euro-péia, intitulado “Rumo à Sustentabilida-de”, classificou o turismo como um dos setores prioritários (CEC, �99�).

O turismo sustentável pode ser in-terpretado do ponto de vista setorial, de acordo com a meta básica, como a viabili-zação da atividade turística, mais na linha da sustentabilidade econômica do turis-mo. Como o foco de interesse é a ativi-dade de turismo, a ênfase de tal estratégia implicará o fortalecimento, a melhoria da qualidade e mesmo o encontro do diferen-cial do produto turístico, com freqüência dependente de soluções e inovações or-ganizacionais e tecnológicas. Alguns dos instrumentos de política utilizados nesse contexto são: investimentos em infra-es-trutura visando aumentar a capacidade e melhorar os serviços; programas de mo-dernização funcional e estética de com-plexos turísticos; provisão para novas instalações, como salas para congressos, parques aquáticos e outros. Destaca-se aqui, enfaticamente, que todas as preo-cupações devem, na verdade, convergir para a oferta de um produto turístico final atrativo nos mercados regional, nacional e internacional, representada por processo de comercialização que tenha qualidade e seja competitivo com relação às tarifas de transporte, alojamento e serviços.

Outra linha de interpretação tem por base a ecologia como visão socio-cul-tural e política, acentuando notavelmente a necessidade do turismo ecologicamente sustentável. Trata-se de abordagem pre-servacionista em que a prioridade é dada à proteção dos recursos e dos ecossistemas naturais. No contexto da gestão ambien-tal, algumas das atividades de turismo ge-ralmente identificadas como “leves” são aceitas como complementares e não-per-tubadoras ao meio ambiente natural.

A questão pode ser abordada de

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�0ângulo ligeiramente diferente como de-senvolvimento sustentável do turismo, ou seja, a necessidade de assegurar a viabili-dade da atividade de turismo a longo pra-zo, reconhecendo a necessidade de pro-teger certos aspectos do meio ambiente. Esta abordagem, essencialmente baseada em perspectiva econômica, reconhece a qualidade ambiental como importante fa-tor de competitividade e que, como tal, deverá ser protegida. A proteção estende-se para além daqueles aspectos ou dimen-sões da qualidade ambiental diretamente envolvida no desenvolvimento e no ma-rketing do produto turístico, já que tal produto deve apresentar sempre melhor qualidade e maior competitividade para satisfazer um mercado em contínua mu-dança e expansão.

Outra abordagem baseia-se no de-senvolvimento econômico ecologicamen-te sustentável. Nela o turismo integra uma estratégia global do desenvolvimento sus-tentável e a sustentabilidade é definida considerando a totalidade do sistema- ser humano/meio ambiente. Sob essa pers-pectiva, a conservação ambiental é meta tão importante quanto à de eficiência eco-nômica e a de justiça social para a geração de empregos, a distribuição de renda e a melhoria da qualidade de vida. As polí-ticas de turismo estão integradas nas po-líticas sociais, econômicas e ambientais, mas não as precedem. Esta constitui uma abordagem mais equilibrada e integrada, mais próxima do pensamento contempo-râneo sobre o turismo, delimitados em concentrações geográficas com diferen-cial interativo e completo e estruturados com relação à sua comercialização global para a concorrência final nos mercados consumidores.

Uma profunda reflexão sobre o im-perativo de compatibilizar desenvolvi-mento com preservação ambiental é, con-tudo, inadiável. Nesse sentido, a recessão que se abateu sobre o Brasil oferece, pelo menos, a vantagem de uma pausa de tem-po para repensar o nosso modelo de de-

senvolvimento, em vez de simplesmente retomá-lo sobre as bases tradicionais de indiferença quanto ao impacto ambiental do progresso.

Uma política de desenvolvimento econômico socialmente justo e economi-camente sustentável deveria, pois, basear-se em:

•Profunda reorientação dos investi-mentos públicos na infraestrutura de trans-portes e de energia do país, privilegiando as formas de energia menos poluentes e mais eficazes em bases termodinâmicas e os meios de transporte de massa e, entre estes, os mais eficientes em termos de dis-pêndio de energia e de ocupação de ruas e estradas;

•Política tributária e de tarifas de energia que incentivem o consumo mais racional de energia tanto na área indus-trial quanto na agrícola, e bem assim o uso mais eficaz da infraestrutura de trans-portes;

•Prioridades na política de estímulo à pesquisa tecnológica, aos trabalhos no campo do desenvolvimento de materiais e de processos produtivos poupadores de energia e de matérias-primas;

•Recuperação da qualidade do ar e das águas comprometidas por modelo de desenvolvimento ecologicamente inade-quado.

Uma política que, além de preservar recursos naturais e o equilíbrio ecológico, dentro de nossas fronteiras, tornar-nos-ia ao mesmo tempo, mais competitivos nos mercados internacionais. E que nos daria, por acréscimo, condição de poder passar a cobrar, como é de nosso fundamental in-teresse, o exercício, pelas demais nações ricas ou pobres de suas respectivas res-ponsabilidades econômicas.

O desenvolvimento sustentado constitui um desafio especial para a região amazônica na medida em que o Brasil nela se defronta com um teste decisivo da sua capacidade de exercer sua soberania so-bre aquela imensa região de que constitui

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a metade do nosso território. Não há como aceitar a tese descabida de uma limitação de nossa soberania, sob a alegação de que os recursos florestais e da biodiversidade na região constituiriam um “patrimônio da humanidade”, e de teses não compro-vadas sobre as conseqüências do esquen-tamento do clima tropical.

Considerando que o ecoturismo é uma tendência em termos de turismo mundial que aponta para o uso sustentá-vel de atrativos no meio ambiente e nas manifestações culturais, devemos ter em conta que somente teremos condições de sustentabilidade caso haja harmonia e equilíbrio no “diálogo” entre os seguintes fatores: resultado econômico, mínimos impactos ambientais e culturais, satisfa-ção do ecoturista (visitante, cliente, usuá-rio) e da comunidade (visitada).

Analisando-se o maior atrativo eco-turístico brasileiro - a Amazônia, sabe-mos que os principais problemas sociais que lá vêm ocorrendo, simultaneamente a um acentuado processo de degradação ambiental, são decorrentes do confronto entre duas formas de uso: a “tradicional” e a “moderna”. A forma “tradicional” na qual os diferentes grupos sociais (povos da floresta: seringueiros, caboclos, indí-genas, etc) vivem em estreita relação com a natureza, praticando o extrativismo da borracha, a coleta da castanha, a caça e a pesca artesanais de subsistência, reve-lou-se capaz de manter o equilíbrio eco-lógico. Já o “moderno”, adotado intensa-mente nos últimos 40 / �0 anos, difere do “tradicional”, tanto na sua relação com o uso do solo, onde prevalece a especulação imobiliária, quanto ao processo produtivo que tem na exploração maciça dos recur-sos naturais (madeira, garimpo, etc) seu principal objetivo. O Ecoturismo para ser sustentável deve buscar o modelo “tradi-cional” de extrativismo de nosso patrimô-nio natural e cultural.

A indústria do turismo e viagens é líder mundial em movimentação de recur-sos e geração de empregos e isto depende

de uma gestão sustentada dos patrimônios natural e cultural.

Como um segmento do turismo sur-ge o ecoturismo, sendo este considerado um dos mais inteligentes instrumentos de viabilização econômica para o geren-ciamento correto dos recursos naturais, oferecendo uma alternativa digna de con-quistar seu sustento e uma vida melhor, ao mesmo tempo em que assegura às ge-rações futuras o acesso aos legados da na-tureza.

o ecoturismo configura-se no mo-mento como uma importante alternativa de desenvolvimento econômico sustentá-vel, utilizando racionalmente os recursos naturais sem comprometer a sua capacida-de de renovação e sua conservação. Nes-te segmento, diversos nichos de mercado são identificados, como por exemplo, a observação de aves, safari fotográfico, a observação da flora, dentre outras ativida-des.

Se por um lado ainda pairam mui-tas reticências e hesitações sobre o ecotu-rismo, novos segmentos e oportunidades têm sido detectados a partir do uso mais freqüente da internet como via de aces-so às informações e ao intercâmbio entre produtores e consumidores.

Uma tendência começou a se firmar nos últimos anos da década de 90, com os turistas procurando reunir dados sobre locais para onde viajar, estabelecimentos para hospedagem e alimentação, além de opções de entretenimento. Percebendo esse direcionamento do mercado, é neces-sária a adaptação desse modo operacional incorporando a internet como meio de comunicação e comercialização, até sob pena de ameaça da continuidade dessa atividade, porque a tendência é que o eco-turista chegue cada vez mais próximo a fonte, ou seja, contatando-se com pessoas e instituições cada vez mais próximas do destino que deseja visitar.

Outra oportunidade adveio da que-da de disponibilidade financeira decorren-

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�2te dos problemas enfrentados pelo sistema monetário brasileiro, com a desvantagem da moeda frente ao dólar. Os turistas pas-saram a procurar opções mais econômicas de turismo, através de pacotes de menor duração.

Não há diferenciação legal entre o turismo tradicional e o ecoturismo. Este caracteriza-se pela postura ética dos em-presários, profissionais e turistas, valori-zando os patrimônios natural e cultural como foco de interesse pela adequada interpretação ambiental desse patrimônio, respeitando as comunidades locais, en-volvendo economicamente essas comuni-dades, respeitando as condições naturais (conservação do ambiente) e promovendo a interação educacional. Proporcionar ao turista que ele incorpore para sua vida o que aprende em sua visita, gera consciên-cia para a preservação da natureza e do patrimônio histórico-cultural.

A rapidez do avanço tecnológico, a evolução dos transportes e o progresso das comunicações possibilitam a redução das distâncias de maneira notável, permi-tindo que mais pessoas se desloquem para qualquer parte do mundo em questão de horas.

Existem cada vez mais turistas procurando novas atividades, querendo aprender, desejando participar de novos entretenimentos e práticas esportivas, buscando conhecer o modo de vida nas áreas que visitam.

O ecoturismo se caracteriza pela valorização do patrimônio natural e cul-tural como foco de interesse do visitante e pela adequada interpretação ambiental desse patrimônio.

O ecoturismo exige uma postura diferenciada do turista. Existem algumas condições básicas a serem analisadas para que a atividade possa se desenvolver com êxito: respeito às comunidades locais; envolvimento econômico efetivo das co-munidades locais; respeito às condições naturais, levando-se em consideração a conservação do meio ambiente; intera-

ção educacional, a garantia que o turista incorpore para sua vida o que aprende em sua visita, gerando consciência para a preservação da natureza e do patrimônio histórico/cultural/étnico.

De acordo com informações forne-cidas pelo IEB o mercado ecoturístico no Brasil corresponde a mais de meio milhão de pessoas que praticam o ecoturismo. Mesmo como atividade econômica recen-te, o ecoturismo deve empregar no Bra-sil, diretamente, mais de �0 mil pessoas, através de pelo menos � mil empresas e instituições privadas.

Para a Organização Mundial do Tu-rismo, enquanto o turismo cresce 7,�% ao ano, o ecoturismo cresce mais de 20%. Estima-se que o ecoturismo represente �% do turismo mundial, devendo na pró-xima década alcançar �0%.

No Brasil, o ecoturismo é discutido desde �9��. No entanto, nem os esforços governamentais, nem os privados foram suficientes para ultrapassar as barreiras entre a teoria e a prática do ecoturismo.

Pontificam-se entre essas barreiras a ausência de consenso sobre a conceitu-ação do segmento, a falta de critérios, re-gulamentações e incentivos que orientem empresários, investidores e o Governo, no estímulo e na exploração do potencial das belezas naturais e valores culturais dispo-níveis, ao mesmo tempo em que promova a sua conservação.

Em conseqüência, o ecoturismo praticado no Brasil é uma atividade ainda desordenada, impulsionada pela oportuni-dade mercadológica, deixando de gerar os benefícios sócio-econômicos e ambientais esperados e comprometendo o conceito e a imagem do produto ecoturístico brasi-leiro nos mercados interno e externo.

É o mercado que definirá questões aparentemente simples nas decisões para elaboração de roteiros, por exemplo, o tempo de duração da viagem e dos pas-seios, a abordagem e o enfoque dado a determinado atrativo.

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De acordo com a EMBRATUR (�99�), no Brasil não existem roteiros ecoturísticos que ofereçam saídas regula-res com mais de oito dias de duração para o mesmo Estado. Tal fato é conseqüência do tempo médio de férias do ecoturista, uma semana para usufruir um pacote tu-rístico. Destaca-se que mesmo destinos muito ricos em atrativos, e que possuem capacidade para roteiros mais longos, apresentam produtos diferenciados em módulos de sete ou oito dias.

Em contrapartida, o ecoturista es-trangeiro não vai se deslocar de grandes distâncias e com elevados custos de trans-porte aéreo para permanecer um tempo reduzido no país escolhido. Ao consultar os catálogos de empresas internacionais de oferta de produtos ecoturísticos, des-cobre-se que nos mercados externos usu-almente são utilizados roteiros de duas ou três semanas de duração.

Os impactos negativos e positivos que poderão advir da atividade de eco-turismo estão, a princípio, relacionados a danos potenciais ao meio ambiente e à comunidade e, por outro lado, aos bene-fícios sócio-econômicos e ambientais, es-perados a nível regional e nacional.

Com efeito, a fragilidade dos ecos-sistemas naturais, muitas vezes, não com-porta um número elevado de visitantes e, menos ainda, suporta o tráfego excessivo de veículos pesados. Por outro lado, a in-fra-estrutura necessária, se não atendidas normas pré-estabelecidas, pode compro-meter de maneira acentuada o meio am-biente, com alterações na paisagem, na topografia, no sistema hídrico e na con-servação dos recursos naturais florísticos e faunísticos.

A falta de guias turísticos especia-lizados já é tida como uma das maiores carências do mercado. Um guia de ecotu-rismo precisa ser muito bem preparado. O visitante quer aprender a história do lugar, o tipo de fauna e flora e conhecer as len-das da região.

O alojamento das populações locais se configura, também, como outro risco, pois a presença de operadores, quase sem-pre sem nenhuma relação orgânica com a região, pode gerar novos valores incom-patíveis com os comportamentos locais, ocasionando conflitos de ordem cultural e de outras ordens.

O turismo envolve um número mui-to grande de pessoas. A renda que provém e circula com o turismo beneficia as popu-lações e movimenta, consideravelmente, a economia da região de onde ele é de-senvolvido.

As comunidades muito mais do que meros beneficiários desta atividade são na verdade atores importantíssimos do processo, como elementos que podem ser integrados ao desenvolvimento do ecotu-rismo, começando pelo estágio preliminar de planejamento até a sua implementação e operação, ficando sempre atentos para superar o desafio de envolverem-se inte-gralmente num sério compromisso com a natureza e com a responsabilidade social.

Sendo assim, a questão central a ser tratada diz respeito à capacitação e inserção das comunidades no processo de desenvolvimento ecoturístico. Deve-se dedicar muita atenção à solução des-se problema que, por envolver elementos humanos e culturais não depende exclusi-vamente de recursos financeiros. A capa-citação se faz necessária, tanto nas esferas governamentais dos municípios e do Es-tado, quanto para os moradores das cida-des receptivas.

O planejamento em todos os níveis é fundamental para a implantação do eco-turismo como elemento impulsionador do desenvolvimento regional e na melhoria da qualidade de vida dos moradores da localidade envolvida. Identificou-se que a maioria dos municípios estudados apre-senta problemas econômicos devido à inexistência de atividades produtivas con-solidadas. Acredita-se que o ecoturismo poderá promover o incremento dos pro-cessos sociais e agregar valores aos pro-

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�4dutos regionais, disponibilizando novas oportunidades às comunidades. Porém, para se consolidarem, exigirão mudanças de mentalidade, de métodos organizacio-nais e de visão econômica.

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análise dos impactos de um sistema de avaliação de desempenho aos colaboradores internos de uma organização

Roseli Vieira Pires�

Rubia Mara Martins Peixoto2

geStÃo

� Roseli Vieira Pires – Mestre em Desen-volvimento Organiza-cional – FACECA-MG, Coordenadora e Professora do Curso de Administração – Instituto Aphonsiano de Ensino Superior. Email:[email protected] - Fone-(�2) ��0�-�9��

2 Rúbia Mara M. Pei-xoto – Graduada em Administração pelo Instituto Aphonsiano de Ensino Superior. Email: [email protected]

Resumo: O objetivo do presente traba-lho consiste em analisar os impactos que a avaliação de desempenho adotado em uma organização causa nos colabora-dores internos. Para isso, foi elaborada, primeiramente, a evolução histórica da avaliação, evidenciando conceitos e ne-cessidades que as empresas sentiram de avaliar seus colaboradores. Em seguida, é apresentada a avaliação dentro da organi-zação pesquisada, é o sistema de avalia-ção. Após, discorremos sobre a avaliação, vimos nesse momento, os aspectos liga-dos à prática de feedback. Procuramos demonstrar neste trabalho, que no sistema de avaliação de ��0 graus é importante ter um grande entendimento por parte dos co-laboradores, enfim, que os impactos são grandes e o papel da empresa é de grande importância, pois é dela a responsabilida-de de estabelecer parâmetros para que o processo de avaliação tenha sucesso junto aos colaboradores da empresa.Palavras-Chaves: Desempenho. Avalia-ção. Competitividade. Produtividade. Or-ganizações.Abstract: The objective of the present work consists of analyzing the impacts that the evaluation of performance adop-ted in an organization, they cause in the internal collaborators. For this, it was ela-borated, first, the historical evolution of the evaluation, evidencing concepts and necessities that the companies had felt to evaluate its collaborators. After that, the evaluation inside of the searched or-ganization is presented, is the evaluation system. After, we discourse on the evalu-ation, we demonstrate at this moment, on

aspects to the practical one of feedback. We look for to demonstrate in this work, that in the system of evaluation of ��0 de-grees is important, to have a great agre-ement on the part of the collaborators, at last, that the impacts are great and the paper of the company is of great impor-tance, therefore is of it the responsibility to establish parameters for the evaluation process has success next to the collabora-tors of the company.Key - Words: Performance; Evaluation; Competitiveness; Productivity; Organiza-tions.

1 Introdução

A avaliação de desempenho assume um papel fundamental nas organizações nos dias de hoje. Diante das mudanças dos ambientes empresariais, exigências dos clientes, concorrência agressiva e margem de lucros reduzidos, as empresas devem atuar de forma pró-ativa buscando um melhor posicionamento no mercado. Isso se dá através de uma valorização dos colaboradores internos.

A empresa objeto deste estudo atua em um mercado, que nos últimos anos, tornou-se altamente competitivo. No passado, possuía uma situação estável e dominante, enquanto que no presente tra-balha com a instabilidade e fortes concor-rentes.

Diante disso, a empresa vem ado-tando uma gestão mais orgânica, buscan-do capacitar seus colaboradores internos, e principalmente avaliando seus desem-penhos, possibilitando assim, um aumen-

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��to na produtividade e maior competitivi-dade.

2 Avaliação de desempenho

Em todas as circunstâncias e mo-mentos será avaliado tudo o que acontece ao nosso redor. A avaliação do desempe-nho é também fato corriqueiro nas organi-zações. É por intermédio da avaliação do que ela produz que a organização conse-gue reciclar-se, oxigenar-se e sobreviver em ambientes turbulentos e mutáveis.

As várias práticas de avaliação do desempenho não são novas. Desde que uma pessoa deu emprego à outra, seu tra-balho passou a ser avaliado em termos de relação entre custo e benefício. Mas as organizações sempre se defrontam com a necessidade avaliar os mais diferentes desempenhos: financeiros, operacionais, técnicos, vendas e marketing. Como está a qualidade dos produtos, a produtivida-de da empresa, o atendimento ao cliente. E principalmente, como está o desempe-nho humano. Afinal são as pessoas que dão vida à organização. Elas constituem a mola-mestra da dinâmica organizacional.

Na moderna organização não há mais tempo para remediar um desempe-nho humano, precisa ser excelente em to-dos os momentos para que a organização tenha competitividade para atuar e sair-se bem no mundo globalizado de hoje, mas para isso é preciso muito empenho. A Avaliação de Desempenho certamente é a que apresenta maior eficiência e eficácia para a organização, mas desde que ade-quadamente adaptadas às particularidades e cultura das pessoas e das organizações.

2.� O SURGIMENTO DA NECESSIDA-DE DE AVALIAR

Existia uma preocupação que es-tava em obter aumento na produtividade por meio da eficiência da máquina. Nesta abordagem as organizações tiveram gran-de sucesso, conseguiram resolver as ques-tões relacionadas à máquina, mas referen-

te às questões relacionadas ao homem no trabalho nada foi feito, pois com o suces-so que estavam tendo no momento com o desenvolvimento das máquinas, achavam que era o suficiente. Acreditava-se que o homem era parte integrante da máquina motivado somente por incentivos finan-ceiros, esquecendo seu lado motivacio-nal.

Segundo Silva,

O objetivo básico da administração cientí-fica era incrementar a produtividade do tra-balhador por meio de uma análise científica sistemática do trabalho do empregado...Na primeira metade do século XX, surgiu o movimento das relações humanas que foi um esforço combinado do teórico e prático, para fazer os gerentes mais sensíveis ás ne-cessidades dos empregados. (2000, p.�2� e �99)

A valorização do ser humano pas-sa a ser um novo enfoque à escola das relações humanas, onde a forma de ver o colaborador, de obter resultados e a preocupação passou da máquina para o homem e se verificou que o aumento da produção estava condicionado com a sa-tisfação do colaborador que passou a ser tratado como um ser integrante da organi-zação. A partir dessa abordagem começou a haver mudanças na forma de tratar os colaboradores, surgiram vários estudos sobre como conhecer e medir o potencial das pessoas. Este enfoque está embasado em aspectos motivacionais, psicológicos e comportamentais dos indivíduos, com isso as organizações com visão no futuro compreenderam a grande importância dos recursos humanos no desenvolvimento organizacional.

2.2 CONCEITO DE AVALIAÇãO DE DESEMPENhO

A avaliação tem como principal ob-jetivo analisar o desenvolvimento do co-laborador, promovendo um melhor cres-cimento pessoal e profissional. Avaliar o desempenho de um colaborador não está ligado somente ao estímulo salarial, mas

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ao desenvolvimento individual e organi-zacional possibilitando através da men-suração do desempenho tomar decisões quanto a promoções, ajustes salariais e treinamentos para o alcance dos resulta-dos.

Para Chiavenato,

A avaliação ou administração de desem-penho é um método que, visa, continu-amente, estabelecer um contrato com os colaboradores referente aos resultados de-sejados pela organização, acompanhar os desafios propostos, corrigindo os rumos, quando necessário, e avaliar os resultados conseguidos. (�997, p.��7)

Para avaliar o desempenho do cola-borador é necessário analisar vários indi-cadores, tais indicadores de desempenho estão relacionados com o esforço indivi-dual. É um instrumento que visa medir a competência do colaborador.

A avaliação é um processo que se inicia com o planejamento e termina com a comparação entre o executado e o pla-nejado. Deve ser considerada como uma função estratégica pelas organizações e o ponto de partida para o progresso, buscan-do melhoria para o desempenho dos cola-borados e crescimento organizacional.

O homem é um ser que possui ne-cessidades, desejos e sentimentos que pre-cisam ser considerados e analisados, pois influenciam o comportamento e o desem-penho dos colaboradores da organização.

O colaborador no processo de avaliação de seu potencial terá a oportu-nidade de conhecer seus pontos fortes e fracos, e de tomar ações para melhorar o seu desempenho se necessário. O “feed-back” irá proporcionar o retorno sobre o trabalho desenvolvido e funcionará como guia para ações futuras.

2.� MÉTODOS DE AVALIAÇãO DE DESEMPENhO

Segundo Chiavenato (2004), a ava-liação de desempenho, é um meio, um método, uma ferramenta, e não um fim

em si mesmo. É um meio para obter dados e informações que possam ser registrados, processados e canalizados para a melho-ria do desempenho humano nas organiza-ções. Muitas vezes, pode servir de base às políticas de promoção das organizações. O processo é efetuado periodicamente, normalmente com caráter anual, e consis-te na análise objetiva do comportamento do avaliado no seu trabalho e posterior na comunicação dos resultados. Tradicional-mente compete aos superiores avaliarem os seus subordinados, estando à avaliação sujeita ao desempenho atual, formas de melhorar o desempenho no futuro e metas de carreira em um longo prazo. Existem alguns métodos tradicionais que poderão ser utilizados para avaliar desempenho, esses métodos variam de uma organização para outra, pois cada organização tende a construir seu próprio sistema para ava-liar. Os principais métodos tradicionais de avaliação do desempenho são:

Métodos da Escala Gráfica; Método de incidentes críticos; Método de escolha forçada; Método de Pesquisa de Campo; Método de Comparativo; Método de Fra-ses Descritivas e o Método de ��0 graus.

Existem diversos métodos de ava-liar o desempenho, tanto nos aspectos re-lacionados com a própria avaliação e com as prioridades envolvidas, quanto na sua mecânica de funcionamento, pois há uma tendência de cada organização ajustar os métodos as suas peculiaridades e neces-sidades.

As novas tendências em avaliação do desempenho, segundo Chiavenato (2004), é que, a era da informação trouxe dinamismo, mudança e competitividade. A única alternativa de sobrevivência das organizações nesse contesto é buscar a excelência sustentada, pois a excelência é a base da lucratividade, muitas organi-zações têm como objetivo estar sempre em busca, mas para isso acontecer mui-tas empresas vem utilizando a redução de níveis hierárquicos, onde traz a aproxi-mação dos chefes com os subordinados,

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��com isso vem trazendo novas tendências na avaliação do desempenho humano. É de grande importância que o colaborador precise estar motivado para apresentar planos, propor correções e sugerir novas idéias.

2.�.� Desvantagens dos sistemas tradicio-nais

Muitas das metodologias de ava-liação apresentam vícios de julgamento que evidenciam sua precária objetividade, provocando efeitos negativos. A subjeti-vidade do processo pode ser atribuída a várias causas: julgamento, avaliadores, processo, política da organização e infle-xibilidade do método.

Para Chiavenato,

Os métodos tradicionais de avaliação do desempenho apresentam certas característi-cas ultrapassadas e negativas...A preocupa-ção atual é desenvolver métodos capazes de dirigir os esforços das pessoas para ob-jetivos e metas que sirvam ao negócio da empresa e aos interesses individuais das pessoas na melhor forma possível de inte-grar objetivos organizacionais e objetivos Individuais... (�999, p.200).

Existe também o erro de julgamen-to, que é uma das causas freqüentes da subjetividade da avaliação. Pode existir um erro constante, em que o avaliador tende a avaliar exageradamente alto ou exageradamente baixo, ou ainda a classi-ficar todos os colaboradores de igual for-ma. Pode dar-se um erro de viés, em que uma característica do colaborador, por ser avaliada demasiado alta, influencia a apre-ciação global. O julgamento não medita-do por parte do avaliador, provocado por pressa, aversão à discriminação, ou outros motivos, penaliza os colaboradores injus-tamente avaliados. E pode ocorrer o erro de prestígio, em que o avaliador tende a dar importância a determinadas caracte-rísticas, fugindo ao peso dos parâmetros estabelecidos.

Nem sempre o avaliador está presen-

te para observar o comportamento dos co-laboradores, fato que pode provocar uma desigualdade injusta de avaliações. Um dos pontos fortes que vem apresentando grande efeito nas avaliações é a política da organização, em muitas organizações a avaliação de desempenho é apenas um mero ritual, sendo considerada uma perda de tempo. Muitas avaliações ocorrem de-sigualdades e injustiças, pois um pequeno fato que ocorre com um colaborador, tira a credibilidade de todo o processo e gera desmotivação.

Existem também os efeitos negati-vos quanto a questão da periodicidade da avaliação de desempenho. Poderá ajus-tá-la também em casos de promoções, adequação do indivíduo ao cargo, ajuste salarial ao bom desempenho e outros, ou seja, a avaliação deve ser um processo contínuo na vida da organização.

Na realidade atual caracterizadas pelas contínuas mudanças de padrões de comportamento pessoal, profissional, cul-tural e organizacional, para manter sua competitividade as organizações necessi-tam reformular seus modelos e práticas de gerenciamento de desempenho.

2.4 A AVALIAÇãO POR COMPETÊN-CIAS

Esta avaliação por competências é a primeira etapa para mudança, onde consiste na reformulação do papel dos colaboradores no sistema de avaliação. O colaborador irá fazer uma auto-avaliação, onde será identificado não apenas seus pontos fracos, mas seus pontos fortes e seus potenciais.

As organizações nestes últimos tempos vêm buscando talentos humanos que antes nunca foram tão assediados e valorizados quanto nesta década. Afinal o que é mais vantajoso? Investir naque-les que já estão engajados na cultura e nos empreendimentos em andamento, que têm potencial para ir mais além? Ou con-tratar mais pessoas para ocupar as funções

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novas e cargos vagos? É evidente que em algumas ocasiões, injetar “sangue novo” pode ser tão saudável quanto estratégico para a efetivação de mudanças. Porém, torna-se cada vez mais comum reconhe-cer os méritos dos colaboradores que se destacam no dia-a-dia de trabalho e dar-lhes a oportunidades para ampliar seu campo de desafios. o resultado vem com a motivação das pessoas e no aumento do nível de competitividade da organização que valoriza o potencial de suas equipes.

A idéia chave para a avaliação por competência é a de que o colaborador sabe ou pode aprender a identificar suas próprias competências, necessidades, pontos fortes, pontos fracos e metas. Des-ta forma, ele é a pessoa mais capaz de de-terminar o que é melhor para si. O papel dos superiores e da área de Rh passa a ser o de ajudar o colaborador a relacionar seu desempenho às necessidades e à realidade da organização.

As organizações e pessoas, lado a lado, têm um processo contínuo de troca de competências. De um lado a empresa transfere seu patrimônio para as pesso-as, enriquecendo-as e preparando para enfrentar novas situações profissionais e pessoais, dentro ou fora da organização, e dando continuidade às pessoas ao desen-volver sua capacidade individual, transfe-rem para a organização seu aprendizado, dando um potencial para o mercado.

No ponto de vista de Graminia (2002), é possível pensar na avaliação de desempenho por competências como um poderoso meio de identificar os potenciais dos colaboradores, melhorar o desempe-nho da equipe e a qualidade das relações dos colaboradores e superiores, assim como estimular os colaboradores a assu-mir a responsabilidade pela excelência dos resultados pessoais e empresariais, pois, são as pessoas que ao colocarem em prática suas qualidades junto ao patri-mônio de conhecimentos da organização, concretizam as competências organiza-cionais com grande sucesso.

A Gestão por Competências é uma ferramenta que identifica as competências essenciais, as habilidades e conhecimen-tos determinantes da eficácia profissional e também as lacunas de qualificação do colaborador para tarefas específicas e for-nece recursos para aperfeiçoar suas capa-cidades.

Para implantar o sistema de ges-tão por competências, o primeiro passo é definir as competências técnicas, con-ceituais e as interpessoais, dentro de cada função. É importante salientar que definir competência não é definir tudo aquilo que o colaborador faz, mas determinar quais capacitações devem ser fomentadas, pro-tegidas ou diminuídas.

A implantação desta avaliação toma por base as competências pessoais, é im-prescindível que tenhamos consciência da agilidade, mobilidade e inovação que as organizações precisam para lidar com as mudanças constantes, ameaças e oportu-nidades emergentes que são um fator real, ou seja, um risco que toda organização passa a ter quando entra no mercado com-petitivo, onde as organizações deverão competir não mais apenas mediante aos produtos, mas por meio de competências, buscando atrair e desenvolver pessoas.

2.5 FALHAS MAIS CoMUNS EXIS-TENTES NOS SISTEMAS DE AVALIA-ÇÕES

Para Lucena (�992), o ambiente or-ganizacional está repleto de contradições, paradoxos e ambigüidades, que acabam prejudicando qualquer que seja o sistema que venha a ser implantado para a avalia-ção de desempenho, pois, falhas existem em qualquer lugar. Estas falhas podem ser ajustadas de acordo com a visão crítica que deverá vir desde o método implanta-do na organização, a gerência e o funcio-nário que estarão sendo avaliados, como exemplos citados abaixo:

• Não comprometimento da Alta Administração

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�0• Despreparo gerencial para admi-

nistrar pessoas• Retorno dos Resultados da Avalia-

ção de Desempenho• Desempenho e Mérito.

2.� A AVALIAÇãO COMO FENÔME-NO NATURAL

A valorização e o estudo da percep-ção humana em seu estágio inicial valo-rizaram o mundo exterior do indivíduo como foco do processo perceptivo. Esta é uma tendência humanística embasada em princípios que se preocupam com os aspectos motivacionais, psicológicos e comportamentais dos indivíduos.

Em estudos realizados com o ser humano, foi percebido que a influência do repertório psicológico, ou seja, das experiências vividas, emoções, condições intelectuais e motivações sobre a sua percepção do mundo, o homem tem um caráter eminentemente individual, apesar de algumas de suas características serem passíveis de generalização para todo ser humano.

Para Bergamini e Beraldo,

Entender como o homem conhece o mun-do, como organiza esse conhecimento e como o utiliza, tem sido uma preocupação que tanto os filósofos como os psicólogos têm tentado, ao longo do tempo, resolver. (�9��, p.�4).

Então pode-se dizer que, o ciclo do processo perceptual entre as pessoas se fecha com a elaboração de uma teoria sobre a personalidade do outro. Isso, na verdade, é nada mais, nada menos que atribuir-lhe um valor. Avaliar o outro em função dos nossos padrões é, portanto, um comportamento natural e típico do ser hu-mano. Trata-se de uma realização que pre-cisa ser vivida com muita arte. Trata-se da construção pelo indivíduo de sua própria escala de valores. Trata-se do desenho es-pecífico que cada um vai fazendo, durante sua existência, a partir do modelo de sua matriz de identidade.

2.7 AVALIANDO O DESEMPENhO hUMANO NO TRABALhO

O valor humano do colaborador na organização deve envolver uma qualidade de vida que traga alguns fatores que possa vir a ter um resultado onde, satisfaça tanto o colaborador quanto a organização. Esses fatores podem ser: condições de trabalho com segurança; remuneração e benefícios adequados; supervisão competente; feed-back quanto ao desempenho no trabalho; oportunidades para aprender e crescer no emprego; possibilidade de promoção etc., todos esses fatores geram satisfação ao colaborador e o mesmo produzindo com satisfação o crescimento organizacional é sem dúvida surpreendente.

Segundo, Bergamini e Beraldo,

A organização pode ser entendida como uma realidade social, integrada por dife-rentes pessoas, que se comportam realizan-do atividades, isto é, trabalham, no sentido de produzir um resultado final comum, ou seja, atingir os objetivos do empreendi-mento. (�9��, p.��)

Para a organização e o colaborador o produto dessa relação custo x benefí-cio para ser satisfatório, só é possível fa-zer uma analise, mediante a utilização de instrumentos que permitam avaliar, com razoável precisão, o quanto, organização e colaborador, estão obtendo de gratifica-ção, ou seja, será um método de avaliação que possa trazer resultados para ambas as partes.

Avaliar o desempenho das pessoas no trabalho implica conseqüentemente, conhecer a dinâmica comportamental pró-pria de cada um, o trabalho a ser realizado e o ambiente organizacional em que essas ações se passam, ou seja, o ponto central desse processo é o desempenho profissio-nal do avaliado naquela função ou tarefa que lhe foi atribuída.

2.� ESTIMATIVAS DE DESEMPENhOA Avaliação de Desempenho nas

organizações é um processo que busca au-

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xiliar na estruturação de uma visão mais objetiva do potencial de cada colaborador, com isso buscando a estimativa de apro-veitamento do potencial individual das pessoas no trabalho e, por isso, do poten-cial humano de toda a empresa.

Para Bergamini e Beraldo,

Raramente, no entanto, se conseguirá tirar todo o proveito que a avaliação de desem-penho pode oferecer a uma empresa, se não examinarmos com cuidado o levantamento do potencial das pessoas, feito através dos testes e inventários psicológicos. (�9��, p. �4).

Um dos momentos principais para dar início ao conhecimento do potencial do colaborador é no momento do processo de admissão ao trabalho, é como se fosse a matéria-prima para a fabricação de um produto com qualidade, onde deverão ser analisados os fatores que mais se agregam ao cargo pré destinado.

O levantamento do potencial das pessoas se verifica não só em termos quantitativos, ou seja, o quanto o indiví-duo pode render no trabalho, mas também em termos qualitativos. O que o compor-tamento do individuo poderá trazer futu-ramente a empresa como bom resultado, seja ele quanto à qualidade do serviço e o rendimento que proporcionará a empre-sa, pois, quando se tem um colaborador qualificado, sucessivamente seu produto será de qualidade. Tudo isso poderá ser analisado no momento da admissão, atra-vés de testes avaliativos, psicotécnicos e entrevistas, onde se torna um processo de admissão que visa alcançar os objetivos pretendidos conforme a necessidade da organização e também trazendo ao cola-borador um plano de carreira satisfatório ao desempenho que venha adquirir.

2.9 A EFICIÊNCIA E EFICáCIA DE DESEMPENhO

Para a organização, os fatores que definem a eficiência e a eficácia estão sen-do o fator chave para a mudança de seus

resultados, pois, não basta apenas ser efi-ciente, deve ser eficaz também. Sendo a eficiência produto do grau de adequação e qualidade com que uma pessoa realiza de-terminada atividade ou tarefa, e a eficácia está relacionada ao fato de a pessoa fazer o que tem que ser feito, apresentando con-seqüentemente o resultado esperado.

Para Bergamini e Beraldo,

o desempenho eficiente é, portanto, aquele que atende em alto grau às manifestações dos traços de personalidade, utilizados ad-equadamente na realização de uma tarefa...surgiu a possibilidade de atentar para que as pessoas produziam, ou seja, para o re-sultado em si, e não mais a forma com que atingiam o resultado em questão. (�9��, p. �7)

A Avaliação de Desempenho, en-quanto processo de julgamento sistemá-tico de pessoas, pode-se dizer, utilizou-se predominantemente desse enfoque ao longo do tempo, trazendo a melhoria da qualidade, onde supõe que as pessoas de-vam ser melhoradas continuamente, tanto o seu lado profissional como pessoal, isto é, dar continuidade ao que o colaborador tem de eficiente e eficaz.

Para que um sistema de avaliação de desempenho tenha sucesso em uma organização, é preciso que se recoloque a questão da valorização humana no centro da organização, pois nenhuma organiza-ção poderá oferecer produtos/serviços de qualidade se seus colaboradores não ti-verem um nível de qualidade de vida, ou ambiente de trabalho adequado.

2.�0 BENEFíCIOS DA AVALIAÇãO DE DESEMPENhO

A avaliação de desempenho traz muitos benefícios à organização, deve ser vista como um instrumento valioso, mas é preciso para isso fazer romper as amarras, superar os desafios e tirar o máximo de proveito desta ferramenta.

A avaliação de desempenho é uma das ferramentas primordiais que ajuda a

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�2melhorar os resultados dos recursos hu-manos dentro da organização tornando-se essencial e necessário para o planejamen-to estratégico de uma organização. Ao pla-nejar a organização precisa é necessária a visão generalista e comprometida com o indivíduo.

Para Chiavenato,

Um programa de avaliação do desempen-ho, quando bem planejada, coordenado e desenvolvido, normalmente traz benefícios a curto, médio e longo prazo. Os principais benefícios são geralmente: o indivíduo, o gerente, a organização e a comunidade. (2004, p.2�4).

A organização ao implantar um programa de avaliação de desempenho deve estar pronta para receber várias mu-danças, e muitas dessas são benéficas, em que cada um ganha ao ser avaliado e ava-liador, pois é um grande desafio à orga-nização, e dependerá de muitas para que tudo ocorra dentro do planejado, pois sob condições adequadas, a avaliação de de-sempenho é um caminho para a busca da excelência nas organizações.

3 Método de avaliação utilizado na organização pesquisada

�.� A AVALIAÇãO DE DESEMPENhO NA ORGANIzAÇãO

A organização pesquisada adota atualmente para avaliação de desempe-nho, onde entende que a avaliação de de-sempenho deva seguir alguns conceitos e objetivos através do sistema de avaliação de ��0º.

�.�.� Avaliação de ��0ºPor conta das pressões advindas da

competitividade após os anos 90, várias empresas têm buscado alternativas ou mo-delos de avaliação de desempenho mais condizentes com as atuais necessidades organizacionais e do público interno.

Percebe-se, claramente, a necessi-

dade de propiciar um ambiente de traba-lho mais desafiador e estimulador, descen-tralizando e delegando responsabilidades, melhorando os sistemas de remuneração e propiciando benefícios flexíveis.

Para fazer frente às expectativas organizacionais, procuram-se, assim, pes-soas com certo grau de autoconhecimento pessoal e profissional e que possuam com-petência interpessoal, atuando de maneira assertiva em suas relações de trabalho.

É bem pouco provável que uma pessoa consiga obter autoconhecimento pessoal e profissional, bem como a habili-dade da assertividade, se não receber fee-dback a respeito de seu comportamento na empresa, ou seja, sobre o que faz de cor-reto e sobre os pontos em que necessita de ajustes. Nesse contexto, faz-se necessário criar instrumento para auxiliar a pessoa a se reposicionar, e a organização optou como método de avaliar seus colaborados a Avaliação ��0º que poderá servir para atingir este objetivo.

Entende-se por Avaliação de De-sempenho ��0º aquela que pressupõe uma comparação entre a percepção dos pares no trabalho, do superior imediato, dos su-bordinados diretos, clientes, fornecedores e a percepção que o ocupante do cargo tem de si mesmo no exercício das atividades, fechando, assim, um círculo de ��0º.

A Avaliação ��0º é um processo no qual um indivíduo é avaliado por seu su-perior, pelos pares, por si próprio (auto-avaliação) e algumas vezes até por clien-tes. Após o desenho da pesquisa, que é feito baseado nos valores e cultura da or-ganização, ela será aplicada tanto ao ava-liado quanto aos outros colaboradores da equipe selecionada (para cada avaliado), e deve ser respondida dentro de critérios de muita honestidade e respeito. Após a análise pelo profissional responsável pela compilação de dados, inicia-se a sessão de feedback, onde cada participante to-mará conhecimento da sua avaliação, que consiste na auto-avaliação, o resultado apurado nos questionários e um relatório

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individual, que demonstra os resultados da sua auto-percepção e a percepção ex-terna.

�.�.2 Abordagem metodológicaA avaliação de desempenho atu-

almente aplicada aos colaboradores tem como objetivo adicionar valor para todos os membros da organização. Portanto, um método de avaliação e desempenho bem aplicado deve identificar e dar prioridade a todas as atividades importantes destina-das a atingir objetivos da organização.

A pesquisa metodológica é o estudo que se refere a instrumentos de captação ou de manipulação da realidade. Está, portanto, associada a caminhos, formas, maneiras, procedimentos para atingir de-terminado fim. Construir um instrumento para avaliar o grau de descentralização decisória de uma organização é exemplo de pesquisa metodológica.

A aplicação do questionário segun-do Roesch (�999) é como a técnica de in-vestigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresenta-das por escrito às pessoas, tendo por ob-jetivo o conhecimento de opiniões, cren-ças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc., Onde deverá ser objetivo limitado em extensão e estar acompanhado de instruções esclarecendo a sua finalidade e facilitando o seu preen-chimento, podendo ser perguntas abertas, fechadas ou de múltiplas escolhas. A es-colha pelo formato do preenchimento será de acordo com o campo de pesquisa a ser avaliado, onde irá perceber qual o modelo poderá lhe trazer resultados reais e mais concretos.

�.�.� Coleta de dadosComo instrumento de coleta de da-

dos utilizou-se um questionário fechado com �2 questões, sendo, o procedimento mais utilizado para se obter informações e garantindo o anonimato dos entrevista-dos, deixando-os à vontade para respon-

derem as indagações. Pois o questionário é um dos métodos de coletas mais livre para exprimirem suas opiniões sobre o que vem ocorrendo no dia a dia da organi-zação e que muitos temem ser rejeitados ou que poderiam colocá-las em situações desagradáveis, caso apresente de forma direta.

Quanto ao pré-teste, sua aplicação teve como objetivo evidenciar possíveis falhas na redação do questionário, tais como: complexidade das questões, im-precisão na redação, desnecessidade das questões, constrangimentos ao informan-te e exaustão, assegurando assim a valida-de do instrumento de coleta de dados na pesquisa aplicada.

4 Diagnóstico do estudo realizado na organização do processo de avaliação

O sistema de avaliação de desem-penho sempre esteve presente no pro-cesso evolutivo da humanidade, é o que a empresa vem também buscando desde sua criação. O ser humano está constante-mente sendo avaliado pelos membros da sociedade. Na organização, é um processo presente e de grande importância para a vida dos colaboradores e do futuro da or-ganização, é uma preocupação que a em-presa vem demonstrando.

O principal objetivo da avaliação é promover ao colaborador um melhor crescimento pessoal e profissional, isto não está ligado somente a estímulo sala-rial, mas ao desenvolvimento individual e organizacional. Percebe-se que a em-presa tem a preocupação em estar sempre buscando a melhoria para a satisfação do colaborador, apesar de que nos últimos semestres, vem deixando a desejar esta qualidade que antes era vista de outra for-ma pelos colaboradores, ou seja, existe a desmotivação dos colaboradores em se tratando de avaliação de desempenho.

A avaliação de desempenho que a empresa, atualmente utiliza é o método ��0º, está sendo aplicada uma vez ao ano,

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�4onde muitas vezes deixa a desejar, o ideal seria que as avaliações ocorressem ao fi-nal de cada semestre para que o desempe-nho dos membros pudesse ser constante-mente melhorado, acarretando, com isso, progresso e melhoria de desempenho.

Ao pesquisar sobre o grau de sa-tisfação do sistema de avaliação e desem-penho aplicado na empresa, percebe-se que é necessário realizar um maior prepa-ro e conscientização dos colaboradores. É necessário deixar de forma clara que, toda avaliação é um processo para estimular ou julgar o valor, a excelência, as qualidades de algumas pessoas. Com isso o objetivo de avaliar cada membro da empresa de modo que possam ser vistos defeitos e virtudes em seu trabalho e, desta forma, o avaliado poderá melhorar seu desempe-nho para o período seguinte ao da Avalia-ção.

No que diz respeito às condutas com pior avaliação, o avaliado deve con-centrar-se num ou dois dos itens com pon-tuação mais baixa e neles focar o seu pla-no de ação. A partir daí, a empresa deve facilitar os recursos para a formação e de-senvolvimento necessários.

Para referir aos objetivos da melho-ria devem-se considerar três aspectos:

•Objetivos de desenvolvimento (por exemplo, resolução de problemas);

•Critérios de sucesso (por exemplo, reconhecimento do meu chefe da melho-ria da qualidade das decisões);

•Estratégias de desenvolvimento (acompanhamento, leitura,...).

A empresa vem buscando com a avaliação ��0º um maior desenvolvimen-to individual dos colaboradores, e através dos resultados obtidos das avaliações in-dividuais propõe através do próprio cola-borador e seus pares planos de ação para que seja alcançado o desenvolvimento do colaborador.

Percebe-se que o recurso humano precisa estar mais presente na aplicação da avaliação, pois, este é um fator chave

para que a avaliação seja um produto de qualidade no resultado final para a orga-nização, é necessário fazer cumprir as regras da avaliação, seja no cumprimen-to de prazos da entrega de resultados, na aplicação da avaliação, deve buscar a mo-tivação para a realização da avaliação. O envolvimento de todos os colaboradores é um dos fatores principais para desenvol-vimento da organização e também um dos mais complexos.

Pela análise do questionário aplica-do notou-se que existem planos de ação claros e objetivos que colaboram com o desenvolvimento do potencial do colabo-rador, mas que precisa ser melhorada a forma de ser aplicado.

A avaliação de Desempenho pres-supõe crescimento e crescimento pres-supõe entendimento entre as pessoas, a responsabilidade pela avaliação, ainda que formalmente assumida pelo gerente, na verdade, é de todos na organização. É um ponto a ser desenvolvido na empresa, pois esta avaliação dos desempenhos após o plano de ação lançado fica na maioria das vezes sem uma gestão para acompa-nhá-lo.

Isso significa que tanto o avaliador como o avaliado deve estar habilitado para se responsabilizarem de receber e dar feedback um ao outro sobre seu desempe-nho. Só assim haverá desenvolvimento e emergência da potencialidade individual das pessoas.

A seleção dos avaliadores na empre-sa é muito importante porque a aceitação da informação depende da credibilidade das fontes. Por isso, os avaliadores são no geral pessoas que exercem o mesmo cargo e conhecem suficientemente bem o trabalho do avaliado e as condições em que ele as desempenha. E todos que par-ticipam do dia a dia do avaliado são seus avaliadores

As respostas obtidas no questioná-rio aplicado nos mostram que a maioria dos entrevistados se sente mais à vontade

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em ser avaliado do que avaliar. Isso de-monstra uma fragilidade no que diz res-peito ao crescimento da equipe e sim um crescimento mais individual, nos mostra ainda que as pessoas não estão totalmente inseridas no processo de feedback, talvez por receio de estarem “prejudicando” um colega de trabalho. Isso seria mais faci-litado se o feedback fosse transmitido no cotidiano.

Conhecendo o avaliado a importân-cia de seus pontos fortes e as dificuldades que ocasionam seus pontos a desenvolver; sabendo que pode contar com o supervisor e a empresa no sentido de melhor aprovei-tar os primeiros e suprimir os segundos, sentirá maior segurança e ânimo para uma vida de trabalho orientada à auto-realiza-ção e à utilização tão integral quanto pos-sível de suas potencialidades.

Tendo em vista o resultado do ques-tionário aplicado podemos assegurar que os entrevistados em sua maioria reconhe-ce que adquire uma melhoria com o feed-back, um dos pontos fracos que vem apre-sentando na empresa é a falta de feedback, os colaboradores se sentem mais seguros ao receber o feedback.

Com a pesquisa realizada percebe-se que a avaliação de desempenho que está sendo aplicada na empresa, não vem tendo o valor de importância que deveria, pois um ponto a desenvolver é a questão da periodicidade da avaliação, apesar de ser tradicionalmente anual, não existe um período para avaliar como estão sendo praticados e alcançados os planos de ações estabelecidos, ou seja, se estão cumprindo de acordo com o que ficou estabelecido, ficando esta analise somente para a pró-xima avaliação, onde muitas vezes o co-laborador já nem lembra mais o que ficou para ser desenvolvido e melhorado.

É necessário realizar treinamento que irá proporcionar o crescimento pes-soal do colaborador, também deixa maior avanço na organização, pois o colabora-dor necessita de desejos e sentimentos que precisam servir de estímulos para

produzir o esperado e ter uma evolução profissional.

Percebe-se que a organização tem forte tendência na valorização do ser hu-mano, pois envolve uma qualidade de vida que lhes proporciona alguns fatores que trazem também benefícios/resultados onde ambas as partes ficam satisfeitas, onde os fatores apresentados são remune-ração e benefícios adequados, condições de trabalho com segurança e oportunida-des para aprender, mas que, no entanto precisa colocar em prática essas tendên-cias.

O investimento no ambiente de trabalho e no indivíduo torna-se fator primordial para o desenvolvimento orga-nizacional, é o que o recurso humano da empresa vem buscando desenvolver. há pouco tempo atrás foi realizada uma pes-quisa de Clima Organizacional, onde foi enviada a todos os colaboradores para res-ponderem a um questionário com pergun-tas fechadas, onde citavam vários fatores.

Com essa iniciativa a empresa identifica o nível de satisfação de toda sua população interna com relação a vários fatores de impacto no dia-a-dia da empre-sa. Isto é o inicio da percepção coletiva das pessoas a respeito das dimensões que impactam a satisfação da empresa.

5 Considerações Finais

Esta pesquisa limitou-se à coleta de dados do sistema de avaliação de desem-penho adotado na organização pesquisa-da, onde a análise do relacionamento da avaliação ��0º com prática de feedback apresentam limitações.

É importante mencionar que a cole-ta de dados baseou-se nas de �0 funcioná-rios da empresa, na área de operações da empresa objeto deste estudo.

A organização é vista perante o mer-cado como uma organização séria, cheia de qualidades e valores. Mas nos últimos tempos vem percebendo que a motivação está em baixo nível, seus valores huma-

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��nos não vêm se aplicando como deveria. Mas também houve uma mudança de pre-sidência e vários diretores, foi onde ocor-reram várias mudanças que vieram a cau-sar esta desmotivação, ou seja, as pessoas na maioria das vezes não estão totalmente preparadas para mudanças.

Pode-se afirmar que o elemento hu-mano é o recurso que exige um grande in-vestimento, mas que também quando bem aplicado, tem maior retorno em termos de produção qualificada no trabalho. Investir no valor humano é investir em um bem durável.

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Competitividade no setor de análises clínicas: um estudo Survey na cidade de natal-rn

geStÃo

Dany Geraldo Kramer Cavalcanti e Silva� Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior2 Bianca Caroline da Cunha Germano�

Walter Romero Ramos e Silva Júnior4 Sérgio Marques Júnior�

Aurean de Paula Carvalho �

RESUMO: Este estudo objetiva identifi-car e caracterizar itens de competitividade no setor de análises clínicas da cidade do Natal. Uma pesquisa tipo survey, explora-tória e descritiva foi realizada utilizando-se um questionário como principal fonte de coleta de dados, aplicado a �2 labora-tórios de análises clínicas, com instrução para o responsável técnico responder, ob-tendo-se uma taxa de retorno de ��,��%, ou seja, 44 questionários respondidos. Os resultados mostraram que os principais itens de competitividade apontados pelos entrevistados foram o preço, qualidade no serviço, localização do laboratório e ações sociais. As ações ambientais apre-sentaram-se como promissoras no intuito de melhoria da competitividade dos labo-ratórios. Palavras-chaves: Laboratórios; competi-tividade; estudo survey, Natal/RN; análi-ses clínicas.Abstract: This study aims to identify and to characterize items of competitiveness in the clinical analyses sector of the Natal City. A research type survey, exploratory and descriptive, was accomplished, being used a questionnaire as main source of data collection, applied to �2 laborato-ries of clinical analyses, with instruction for the technical responsible to answer, being obtained a return rate ��,��%, in other words, 44 answered questionnai-res. The results showed that the principal items of competitiveness pointed for the interviewees were the price, service quali-ty, laboratory location and social actions. The environmental actions came as pro-

� Universidade Federal do Maranhão – Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia – Imperatriz – MA. [email protected]. 2 Departamento de Análises Clínicas e Toxi-cológicas – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Natal, Brasil.� Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS.4 Programa de Pós-Graduação de Ciências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –UFRN.� Programa de Pós-Grad-uação de Engenharia de Produção – Univer-sidade Federal do Rio Grande do Norte –RN.� Mestrando do Pro-grama de Pós – Gradu-ação em Engenharia Agrícola – UFCG.

mising in the intention of improvement of the laboratories competitiveness. Key words: laboratories; competitive-ness; survey study, Natal/RN; clinica analyses.

1 Introdução

Os laboratórios de análises clíni-cas podem ser definidos como instituições da área de saúde de apoio ao diagnósti-co, baseando suas atividades em técnicas científicas, cobrindo todos os aspectos de investigação, inclusive a interpretação de resultados e conselhos adicionais (PLE-BANI, 2002). Eles podem prestar servi-ços a níveis nacionais, regionais ou locais de forma diversificada, seja associada a outras instituições de saúde ou isolada-mente. Entre os ramos de atividades ci-tam-se a hematologia, microbiologia, his-topatologia, bioquímica, parasitologia e imunologia com o manuseio de diferentes materiais biológicos e químicos. Itens que contribuem para a geração de resíduos pe-rigosos de variada composição, natureza (química, física e infecciosa) e volume. (WhO, �997; SILVA e outros, 200�)

Semelhante a outros setores de ser-viços o ramo de análises clínicas enfrenta uma crescente competitividade, como ci-tado por Silva e outros (200�, p.�) e Bee-be (200�), principalmente nas cidades de maior porte nas quais existem uma maior concentração destes estabelecimentos. Para Kupfer (2002), a competitividade pode ser definida como a capacidade de a empresa formular e implementar estra-

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��tégias de concorrências que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradou-ra, uma posição sustentável no mercado.

Visando contornar esta problemá-tica os administradores dos laboratórios de análises clínicas podem desenvolver diversas estratégias e ações, como exem-plificado por alguns autores a seguir.

Oliveira e Proença (2002) citam a adoção de contratos de comodato para equipamentos, no sentido de aumentar a produtividade, reduzindo o tempo de prestação do serviço e associação às clí-nicas médicas, parcerias que aumentam a eficiência da organização reduzem custos nestes estabelecimentos. Beep (200�) faz referências semelhantes, citando a neces-sidade de melhorias gerenciais otimizan-do processos e reduzindo custos, melho-rando desta forma, o desempenho opera-cional do laboratório.

Karkotli (2002), por sua vez, mostra a importância do gerenciamento voltado para o marketing social, onde as empresas devem estar atentas às exigên-cias dos consumidores e às mudanças no mercado, de forma a adotar ações e pro-cessos socialmente seguros e de credibi-lidade, tornando esta política um grande fator competitivo para empresas.

Pasquali (2002) relaciona a impor-tância de um sistema de qualidade para os laboratórios de análises clínicas e defende que o escopo da organização juntamente com todas as pessoas envolvidas na pres-tação do serviço conheça o seu processo, identifique as necessidades de seus clien-tes e promova o alinhamento dos proces-sos a fim de atender estas necessidades e garantir o atendimento contínuo dos mes-mos. O autor cita ainda que a qualidade do serviço seja um item essencial, pois dele dependem a competitividade, a confiança e o sucesso das estratégias de marketing.

Cuadrado e outros (200�) citam a automação laboratorial como itens im-portantes para as atividades laboratoriais, contribuindo para redução de erros nas

análises e maior credibilidade dos resul-tados.

Geffen e Judd (200�) citam que as instituições devem ter ações pró-ativas na formulação de novas idéias e ações, bus-cando maior eficiência de seus sistemas e conseqüente ganho de competitividade. Devendo para tanto desenvolver as se-guintes ações prévias:

•monitorar e entender a ciência e tecnologias de seu setor de atuação;

•monitorar e entender seu mercado de atuação, necessidades dos consumido-res, incluindo-se mudanças no setor (de-safios sócio-políticos, mudanças na legis-lação, etc);

•Identificar novas idéias implanta-das;

•Rever conceitos, baseado na ava-liação integral de seu potencial.

Ricos e outros (2004) citam três fazes crucias para o desempenho dos la-boratórios de análises clinicas; a pré-ana-lítica que incluem a coleta, o transporte e o manuseio adequado da amostra; a fase analítica, que envolve o processo de in-vestigação da amostra e a fase pós-analíti-ca que inclui auto-avaliação laboratorial, processamento e liberação dos resultados. Durante todo o processo a não observa-ção de itens básicos de gerenciamento do processo pode determinar o bom ou mau desempenho do laboratório de análises clínicas.

Os itens citados anteriormente po-dem influenciar não apenas na competiti-vidade da organização, mas permite a re-dução de acidentes de trabalho bem como a redução de riscos ao meio ambiente uma vez que, falhas e desperdícios podem ser reduzidos, minimizando processos traba-lhistas, ambientais e civis, além da melho-ria da relação entre instituição, comunida-de e funcionários.

Tendo-se em vista a variedade de itens que podem influenciar na compe-titividade no setor de análises clínicas, buscou-se através deste estudo identificá-

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los e caracterizá-los no setor da cidade do Natal-RN, sob a ótica dos responsáveis técnicos de nível superior destes labora-tórios.

2 Metodologia da pesquisa de campo

2.� DELINEAMENTO DA PESQUISAA pesquisa pode ser caracterizada

como exploratória e descritiva do tipo survey, pois este tipo de estudo visa à ob-tenção de dados ou informações sobre as características, ações ou opiniões de deter-minado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população alvo por meio de instrumento de pesquisa, normal-mente um questionário. (FREITAS e ou-tros, 2000; GIL, �99�; SILVA e outros)

2.2 POPULAÇãO E AMOSTRAPara se atingir o objetivo desta pes-

quisa optou-se por estudar os Laborató-rios de Análises Clínicas da Cidade do Natal, Estado do Rio Grande do Norte - Brasil, onde existem �0� laborató-rios de análises clínicas regis-trados no Conselho Regional de Farmácia do RN, variando quanto à complexidade, loca-lização e atividades desenvol-vidas, tamanho e categoria de gestão.

2.� INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

O principal instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário constitu-ído de perguntas do tipo “fe-chada” (uma única resposta entre várias opções possíveis) formuladas em um modelo do tipo “escala”, ou seja, aque-las que devem ser analisadas dentro de um tipo de escala de mensura-ção, pois as prioridades variam de acordo com o posicionamento do entrevistado. Nesta proposta, foram utilizadas questões

de escala do tipo Likert, onde são aplica-das questões de onze pontos, cuja qualifi-cação das respostas possíveis era variável em função de cada questionamento apli-cado. (ChIAMENTI, 200�)

As variáveis deste estudo somaram 2� no total, sendo separadas por grupos de forma a facilitar a pesquisa, sendo es-tes: gestão estratégica (GE) e perfil (PER-FIL). A Tabela 0� apresenta as variáveis, as descrições das variáveis e os grupos a que pertencem. Após recolhimento dos questionários, os dados foram tabulados seguidos da análise descritiva e explora-tória dos valores absolutos e dos percen-tuais obtidos, objetivando apresentar a percepção dos entrevistados sobre os fato-res de competitividade no setor estudado, abordando na forma de tabelas e gráficos baseados em dados da amostra coletada, considerando os vários atributos e suas dimensões.

Tabela �: Variáveis utilizadas no estudo

2.4 ETAPAS DA PESQUISA

O trabalho foi desenvolvido em duas etapas, a primeira com levantamento

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70e confirmação dos dados, a segunda com um teste piloto em cinco laboratórios de análises clínicas escolhidos aleatoriamen-te, seguida da distribuição e posterior co-leta dos questionários junto à população estudada.

3 Resultados e discussões

Dentre os �0� laboratórios que correspondem ao universo da pesquisa, foram encontrados aptos a responderem os questionários �� unidades, sendo os demais, 40 laboratórios, desconsidera-dos por apresentarem o mesmo técnico responsável ou com dados incondizentes com a lista inicial. Contudo, foram encon-trados durante a pesquisa de campo �4 la-boratórios aptos a serem pesquisados que não se encontravam na lista do CRF/RN, totalizando amostra de �2 laboratórios. Destes, 44 responderam o questionário, com posterior recolhimento, e obtenção de uma taxa de retorno de ��,��%.

Os laboratórios de análises clínicas foram caracterizados quanto ao número de exames/mês que realizam, sendo em sua maioria, realizando não mais que 2000 exames/mês como ilustra a Figura �.

Figura �: Freqüência dos entrevistados referente ao número de exames/mês realizados nos labora-

tórios em que trabalham.

Os entrevistados foram caracteriza-dos quanto à faixa etária, sexo, profissão, tempo de formado e de atuação na empre-sa, renda salarial e números de exames/

mês realizados em seus laboratórios. A maioria dos entrevistados foram

do sexo feminino (��,4%) e com faixa etária acima dos 40 anos (4�,�%). Quanto à profissão, 43 deles foram farmacêuticos bioquímicos e apenas um com outra pro-fissão. Embora, os entrevistados apresen-tem uma faixa etária acima dos 40 anos, a maioria trabalha em seus Laboratórios de Análises Clínicas a menos de 0� anos e têm menos de �0 anos de formado.

As variáveis pertencentes ao grupo de gestão estratégica somaram ��, tendo-se questionados os entrevistados, a prin-cípio, referente ao grau de competição no setor de análises clínicas natalense, seguidas de avaliação de itens pertencen-tes aos laboratórios (preço, propaganda, credibilidade, qualidade do serviço, ações de proteção ambiental, nome, estabilida-de financeira, localização, ações sociais e imagem) quanto a sua importância em influenciar a decisão de um cliente em es-colher um laboratório para realizar seus exames médicos.

Quando questionados sobre o grau de competição no setor de análises clí-nicas de Natal, 49,9% dos entrevistados consideraram-no como de competição agressiva ou muito agressiva, caracteri-zando este ramo de atividade como bas-tante competitivo (Figura 2).

Figura 2: Freqüência dos entrevistados com re-lação ao grau de competição no setor de análises

clínicas.

Entre os itens que apresentam im-portância em influenciar os clientes na es-colha de um laboratório, a qualidade do serviço e a credibilidade do laboratório

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foram apontadas como os principais, se-guidos dos itens ações sociais, localização do laboratório e preço, conforme ilustra a Figura �.

Figura �: Freqüência dos entrevistados com re-lação ao item preço, localização do laboratório, credibilidade, qualidade do serviço e ações so-

ciais em influenciar clientes.

Os itens qualidade e credibilidade foram tratados de forma conjunta, mos-trando comportamentos similares, uma vez que a qualidade no serviço tende a minimizar os erros e falhas contribuindo para o aumento da credibilidade do la-boratório e conseqüentes satisfações do cliente. Já a localização do laboratório, foi citada como de extrema importância, mostrando que a comodidade e facilidade de acesso ao serviço são importantes para atrair clientes no setor, do ponto de vis-ta dos entrevistados, aspecto semelhante apontado por Ricos e outros (2004).

Entre outros aspectos importantes para influenciar clientes estão as ações sociais dos desenvolvidas pelos labora-tórios. Item apontado por Silva e outros (200�) como importante para melhoria da imagem da instituição que foi observado neste estudo.

Relativo ao nome do laboratório, apenas ��% dos entrevistados, citou-o como importante para influenciar escolhas de clientes. Quando questionados sobre a importância da facilidade de pagamentos de exames oferecidos pelos laboratórios

em influenciar escolha de clientes 46,6% apontaram-no como importante, como ilustrado na figura 4.

Figura 4: Freqüência dos entrevistados com rela-ção aos itens nome do laboratório e facilidade de

pagamento em influenciar clientes.

Relativo ao item propaganda, apenas 2�,�% dos entrevistados opinaram como item importante, podendo influenciar o cliente na hora de realizar seus exames médicos. As ações de proteção ambiental tiveram percentual de importância próxi-mo ao item propaganda, sendo apontada por 27,�% destes, embora não tendo uma grande relevância quanto o item qualida-de no serviço, mostrou-se importante para estratégias dos laboratórios, e capaz de se tornar um dos principais itens de compe-titividade do setor, uma vez que permite complacência com legislações e normas, exigências de fornecedores e clientes (Fi-gura �), conforme citado por Silva e ou-tros (200�).

Relativo à estabilidade financeira do laboratório, a maioria dos entrevista-dos não a considera item importante para influenciar clientes. Referente à imagem do laboratório, os entrevistados opinaram sobre este item de forma heterogênea, sendo para um pequeno percentual deles um item importante (Figura �).

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Figura � Freqüência dos entrevistados com rela-ção aos itens imagem do laboratório, propaganda, ação de proteção ambiental e estabilidade finan-

ceira do laboratório em influenciar clientes.

4 Conclusões

Pôde-se constatar que o preço, qualidade do serviço, ações sociais e lo-calização do laboratório foram apontados como itens mais importantes para influen-ciar clientes na hora de escolher uma ins-tituição do setor para realizar seus exames médicos. Mostrou ainda que a questão só-cio-econômica tem grande influência so-bre o cliente na cidade do Natal.

Estratégias voltadas a estes itens podem ser exploradas visando ganho de mercado, entretanto, pode-se investir em outros itens, como citado por Geffen e Judd (200�), observando novas tendências, como as práticas de proteção ambiental de forma a melhorar a imagem da instituição junto ao setor em que atua, buscando-se eficiência ambiental, gerencial e econô-mica passiveis de serem alcançadas com estas práticas. Portanto, conclui-se que os fatores qualidade e preço citado pelos en-trevistados estão condizentes com o apon-tado por outros estudos para o setor, em-bora demais itens possam ser explorados para melhoria da imagem da empresa e da competitividade com conseqüente benefí-cio sócio-econômico e ambiental.

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Levantamento sócio-econômico e cultural do assentamento Pericatu localizado no município de Pium-to

Glenda Feitosa da Silva � Alan Kardec Elias Martins 2

Iracy Coelho de Menezes Martins �

geStÃo

Resumo: Diante dos problemas gerados pela implantação de assentamentos rurais sem que se tenha realizado estudos sobre as características da área e sua adequação para fins agropecuários, entende-se que além de efetuar mudanças na política de reforma agrária que implemente a forma-ção de novas unidades é ainda de suma importância o estudo dos assentamentos já existentes. Assim foi realizado neste trabalho o levantamento sócio-econômico e cultural do assentamento Pericatu, mu-nicípio de Pium, Tocantins, com posterior análise da sua atual situação, almejando que tais resultados possam ser usados para subsidiar políticas que visem melhorar a vida dos produtores assentados. Palavras chave: assentamento rural, pla-nejamento, meio ambiente e Pericatu.Abstract: Before of the problems gene-rated for the implantation of small farm without if it has carried through studies on the characteristics of the area and its adequacy for farming ends, one unders-tands that beyond effecting changes in the politics of agrarian reform that im-plements the formation of new units it is still of utmost importance the study of the existing nestings already. Thus it was carried through in this work the partner-economic and cultural survey of the Peri-catu nesting, city of Pium, Tocantins, with posterior analysis of its current situation, longing for that such results can be used to subsidize politics that they aim at to im-prove the life of the seated producers. Key-words: small farm, planning, envi-ronment end Pericatu.

¹ Graduanda do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Tocantins – UFT

² Professor Doutor da Faculdade Católica do Tocantins – FACTO

³ Professora Doutora da Universidade Federal do Tocantins - UFT

1 IntroduçãoA extrema importância de se con-

cretizar a reforma agrária é fartamente evidenciada pelos resultados que propi-ciou, em todos os países onde ocorreu, ao longo da história. Embora conduzidas de diferentes maneiras, nas diferentes épo-cas e nos diferentes ambientes, todas as reformas agrárias levaram à expansão no número de ocupações produtivas no meio rural, à consolidação de tecidos sociais articulados, à melhoria das condições de vida, à ampliação dos investimentos pú-blicos nas áreas sociais, à modernização das legislações, ao fortalecimento dos direitos do cidadão comum, à autonomia cultural e à dinamização econômica das regiões onde ocorreram (MELGAREJO, 200�).

O desenvolvimento da política agrária no Brasil é ainda caracterizado como lento e burocrático. Até que todo o processo de apropriação seja realizado le-galmente, é concedido aos trabalhadores rurais o direito de habitar e usar para fins agropecuários áreas que já foram desapro-priadas. Formam-se então conjuntos de lotes pré-demarcados pelo INCRA (Insti-tuto de Colonização e Reforma Agrária), para onde são remanejados agricultores que reivindicaram uma porção de terra para trabalhar. Na maioria dos casos esse é o procedimento para o estabelecimento dos chamados assentamentos rurais que se tornam ponto de partida de demandas, levando à afirmação de novas identidades e interesses ao surgimento de formas or-ganizativas internas e externas.

Devido à maneira pelas quais são formadas, grande parte dessas unidades

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7�enfrentam inúmeras dificuldades. Segun-do Carvalho e Callado (2000) as princi-pais são: a sustentabilidade financeira da reforma agrária, pois ela depende, exclu-sivamente, dos recursos públicos orça-mentários e a inexistência de infra-estru-tura mínima nos assentamentos, embora haja previsão que o INCRA deveria pro-porcionar, nos projetos, pelo menos estra-da de acesso, abastecimento de água para consumo humano e eletrificação. Assim a falta de recursos para que essas medidas sejam aplicadas é uma calamidade que atinge assentamentos em todo o Brasil.

Segundo o SIPRA – Sistema de In-formação de Projetos de Reforma Agrária (200�) o estado do Tocantins possui cerca de �00 (trezentos) unidades, e o município de Pium localizado ao oeste do estado tem em seus limites sete desses assentamen-tos, entre eles o Assentamento Pericatu, objeto de estudo deste trabalho, onde foi definido o perfil sócio econômico e cultu-ral dos assentados com objetivo de que o mesmo possa ser usado para implemen-tação de demais projetos que almejem de maneira local e estratégica a melhoria da qualidade de vida dos assentados.

2 Material e métodos

2.� LOCALIzAÇãO GEOGRáFICA DA áREA DE ESTUDO

O Projeto de Assentamento Perica-tu (P.A.P.) foi criado por meio da porta-ria INCRA SR-2� n° 0��/9�, está situa-do entre as coordenadas 49°��’�4,40”e 49°29’�,�9” de longitude oeste e entre �0°�’��,0�” e �0°�7’27,��” de latitu-de sul, no município de Pium, na região Centro-Oeste do Estado do Tocantins, a 4� km da sede da área urbana, sendo in-terligado pela TO-��4 (Transjavaés) e, posteriormente, por �0 km de estrada vi-cinal não pavimentada. Está distante ��� km da capital Palmas. Com uma área de aproximadamente �.742.00�� ha, fazendo parte do campo de abrangência da APA do Cantão.

2.2 OBTENÇãO DE DADOS E INFOR-MAÇÕES

O assentamento Pericatu está loca-lizado a cerca de 40 km do centro urbano da cidade de Pium. Devido essa proximi-dade julgou-se necessário obter informa-ções também sobre este município, por corresponder a área de influência da uni-dade de pesquisa. E para a obtenção de in-formações de aspectos sócio-econômicos do município, realizou-se visita a Prefei-tura Municipal de Pium nas Secretarias de Agricultura e Educação e Cultura, onde foram entrevistadas a Secretária de Agri-cultura e a Coordenadora da Secretaria de Cultura. Além de levantamentos de dados junto a outros órgãos como o IBGE – Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística e secretarias estaduais.

E para o levantamento de dados relativos ao assentamento visitou-se o INCRA – TO, onde foi disponibilizada a Planta da área de estudo, a unidade de Palmas do Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins - RURALTINS, a qual possibilitou o acesso ao Projeto de De-senvolvimento do Assentamento (PDA), e a unidade do RURALTINS de Pium, responsável pela assistência ao assenta-mento, além de entrevistas no local de pesquisa com o Presidente da Associação dos Assentados, Lúcio Sousa Andrade.

3 Resultados e discussão�.� PERFIL SóCIO-ECONÔMICO E CULTURAL DA áREA DE INFLUÊN-CIA

A área de influência do Assenta-mento Pericatu é a cidade de Pium, com uma superfície de �0.0�7 km², que está localizado na Mesorregião Ocidental Ge-ográfica do Tocantins e Microrregião do Rio Formoso. Limita-se, ao norte, com os municípios de Caseara e Marianópolis do Tocantins; a leste, com os municípios

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de Chapada da Areia, Pugmil e Nova Ro-salândia; ao sul, com os municípios de La-goa da Confusão e Cristalândia; e a oeste, com os Estados do Mato Grosso e Pará (Ilha do Bananal).

A sede do município está situada na latitude de �0º44’2�” N e longitude de 49°��’22” W, a uma altitude de 249m em relação ao nível médio do mar, distando ��9 km de Palmas, capital do Estado do Tocantins.

Segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2000, Pium conta com uma popu-lação de �.��9 habitantes, dos quais �.�9� vivem na área urbana e 2.�4�, na rural, sua densidade demográfica é de 0,55 hab/ km². O município tem perdido população, provavelmente em função dos sucessivos desmembramentos de seu território, regis-trando uma taxa de crescimento no perío-do �99�/2000 de 2�% na zona urbana e de (-)��4,�7% na zona rural.

A renda nominal, média mensal das pessoas com rendimento, responsá-veis pelos domicílios particulares é R$ 42�,��(quatrocentos vinte e cinco reais e cinqüenta cinco centavos), o índice de Desenvolvimento Social – IDS� é 0,�2.

Sua economia é fundamentada na agropecuária, o Município de Pium de-tém 7�,% (��2.7�2 ha) da área produti-va utilizada por pastagens, sendo 27% (�4.40� ha) plantadas e 7�% (22�.��7 ha) constituídas por pastagens naturais. Aproximadamente 20% da área produti-va do município (99.��0 ha) é compos-ta de matas nativas. De acordo com um levantamento realizado recentemente pela Secretaria Municipal de Agricultura o município possui: �70.��� cabeças de gado; ��� produtores com rebanho; ��2 propriedades rurais; 29� pequenos produ-tores; �29 médios produtores; �� grandes produtores; 7 assentamentos agrícolas e � comunidade rural.

O último registro do IBGE, quanto a produção agrícola e as culturas exis-

tentes, no município foi o fechamento da safra 2004/200�. Seus números estão de-monstrados na tabela abaixo:

Tabela �: Produção agrícola do município de Pium – TO, safra 2004/200�.

Quanto aos aspectos culturais a cidade de Pium tem tradição cultural de fabricar peças artesanais, com destaque para a lapidação de quartzo, o crochê, o bordado à mão, a pintura em tecidos, a tapeçaria e a cestaria com a utilização de jornais também são freqüentes.

Dentre as festas mais tradicionais está a do aniversário da cidade, celebrado com uma semana de festejos até o dia 2� de julho, dia da emancipação do municí-pio, junto a esse evento realiza-se também a Feira Agropecuária, onde em sua aber-tura ocorre a Cavalgada, muito apreciada pelos moradores. Acontecem ainda as fes-tas do Divino e a da Padroeira da cidade - Nossa Senhora do Carmo, em �� de julho, precedida de novena e quermesses até o dia da festa e o sábado cultural evento rea-lizado uma vez ao mês no centro antigo da cidade (centro cultural), Praça do Garim-peiro, com shows regionais e exposição de artesanatos.

�.2 PERFIL SóCIO-ECONÔMICO E CULTURAL DO ASSENTAMENTO PERICATU

há no projeto de assentamento Peri-catu, aproximadamente 90 famílias, a mé-

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7�dia de membros por família é 4 (quatro) pessoas, chegando sua população a um total de aproximadamente ��0 habitantes, que residem em casas de alvenaria locali-zadas na agrovila do assentamento.

As formas de organização local são em torno da igreja evangélica e da Associação dos Pequenos Produtores do Projeto de Assentamento Pericatu. A as-sociação foi criada em outubro de �99�, seu primeiro presidente foi o Sr. Bento Batista da Silva. Atualmente o Presidente é o morador Lúcio Sousa Andrade.

A estrutura de apoio do assentamen-to é constituída por: um galpão onde estão algumas máquinas usadas por eles no be-neficiamento dos produtos ali cultivados; a casa da antiga sede (Figura �), local que atualmente é utilizado para realização das aulas da escola de �° grau; a casa de fari-nha construída recentemente com forno, prensa, triturador, descaroçador e peneira. São também de propriedade do assenta-mento dois tratores e um caminhão, que em função do prolongado tempo de uso encontram-se em situação precária.

Figura �: casa da antiga sede da Fazenda Perica-tu, atualmente funciona a escola do assentamento

Pericatu, município de Pium – TO.

A rede elétrica é um bem que aten-de a praticamente todos os moradores da agrovila, existindo ainda alguns postes que fazem a iluminação de poucas ruas. A água para consumo é proveniente de poços artesianos e ainda da caixa d’água instalada a pouco tempo, entretanto na época de estiagem é comum sua escassez,

faltando água até mesmo para realização das tarefas diárias. Na extensão da agrovi-la que é de �4,���0 ha, existe apenas um orelhão.

Como citado anteriormente o as-sentamento possui apenas escola de �° grau, assim a prefeitura oferece transporte (ônibus) para as crianças que freqüentam aulas na cidade. Esse veículo é também utilizado como meio de transporte pelos moradores e a prefeitura ainda disponibili-za outros carros ou caminhões para trans-porte da produção com a condição de que o combustível seja pago pelo usuário.

Os moradores do assentamento Pericatu tem acesso à saúde por meio da Unidade Móvel de Saúde com uma equi-pe composta por médico e dentista que realizam visita uma vez por mês.

A área na qual está inserido o assen-tamento é classificada segundo o Zonea-mento Ecológico Econômico (zEE) do estado, como área de uso de média inten-sidade para produção, recomendada para pecuária semi-intensiva e/ou silvicultura. Esta classificação relaciona entre outras características o tipo de solo da área, con-crecionário de baixa fertilidade, pluviosi-dade, longo período de estiagem (seca), que inicia no mês de maio e se estende até inicio do mês de setembro e recursos hi-drológicos que estão diretamente ligados ao regime de chuvas.

Diante disso para que o solo seja utilizado com fins agrícolas é necessário adotar uma forma de produção buscando práticas tecnológicas, havendo a necessi-dade de aplicação de corretivos agrícolas para a melhoria da fertilidade do solo. Quanto à pecuária é recomendada que seja observada a condição das pastagens, colocando um número de cabeças por hectare que não venha comprometer seu uso adiante, em função da degradação, que pode ocorrer devido à fragilidade do solo.

Entretanto a falta de estrutura finan-ceira não permite o manejo adequado do solo, dificultando o desenvolvimento eco-

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nômico da unidade limitando suas ativi-dades a pecuária extensiva e a agricultura, cultivando principalmente mandioca, mi-lho, abacaxi e arroz, sendo que esse último é apenas de subsistência. No sistema de cultivo são utilizadas máquinas agrárias somente no gradeamento da terra, as ou-tras etapas como, por exemplo, o plantio é realizado manualmente, assim como a adubação necessária, visto o tipo de solo. É importante ressaltar que eles não fazem uso da prática do fogo, e foi reconhecida uma preocupação quanto a esse aspecto, já que a associação também não recomen-da este tipo de ação.

A água utilizada na agricultura é oriunda de pequenas represas construídas pelos produtores em seus lotes, algumas delas em consórcio, sendo as duas maio-res de uso coletivo.

Com a instalação da Casa de Farinha realizada pelo RURALTINS em convênio com outras organizações, incentivou-se a produção da mandioca (Figura 2) que hoje é exercida por cerca de �0 famílias, as quais são associadas na produção da fa-rinha. Esse produto possui atualmente um preço de mercado equivalente à R$ �0,00 (cinqüenta reais) a quarta, que correspon-de à aproximadamente �� quilos, vendida na região. Porém segundo informações da unidade do RURALTINS de Pium, a pro-dução da mandioca está abaixo da média estadual, colhendo cerca de apenas oito toneladas por hectare, em função do tipo de solo, do curto espaçamento entre as fi-leiras e da presença de cupins.

Figura 2: Aspectos do plantio de mandioca em um dos lotes do assentamento Pericatu,

município de Pium – TO.

De acordo com relato do presidente da associação, em segundo lugar no que-sito de produção aparece o abacaxi com valor variando de R$ 0,2� (vinte e cinco centavos) a R$0,�0 (sessenta centavos), o mercado para esse produto se estende além dos municípios vizinhos, pois por meio de intermediários o abacaxi é ven-dido até mesmo para os estados de Minas Gerais e São Paulo. A produção do milho é relativamente pequena se comparado com a mandioca e o abacaxi, ainda assim é tido como produto comercial e é vendido aos moradores das cidades próximas, por um preço que varia de R$��,00 (quinze reis) a R$2�,00 (vinte e cinco reais) sacas de �0 quilos.

A criação de gado é uma atividade econômica adotada recentemente por al-guns donos de lotes, em sistema exten-sivo, seu mercado é principalmente o de venda pra recria.

A mão-de-obra utilizada no assen-tamento é de seus proprietários, porém alguns prestam serviços em fazendas da região. Ainda que exista um empenho da maioria dos produtores em produzir e fa-zer uso da terra, o assentamento tem seu fluxo migratório marcado pela rotação de proprietários em �0 dos 90 lotes, o que atrapalha o desenvolvimento de ativida-des de cooperação e desencadeia conflitos internos. Essa variação ocorre por causa da repassagem de terras, o que é intransi-gente e deveria ser fiscalizado pelo órgão público responsável.

Atualmente a assistência técnica ao assentamento é de responsabilidade da unidade da RURALTINS – unidade de Pium, porém segundo o presidente da associação, o atendimento não é freqüen-te. Quando da elaboração do PDA foram identificadas pelo menos 5 organizações de cunho público, privado e não – gover-namental, que de alguma forma desempe-nhavam projetos envolvendo o assenta-mento, contudo com a conclusão das ati-vidades hoje a unidade recebe apoio prin-cipalmente da prefeitura, que entre outros

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�0subsídios fornece veículos e recentemente realizou a recuperação de parte das vias de acesso.

Considerando a devida importância para qualquer comunidade, de se ter ativi-dades culturais e/ou recreativas as quais colaboram para a promoção da qualidade de vida dos moradores, o assentamento Pericatu dispõe de opções de lazer comum a uma pequena organização rural, com a realização da festa junina que acontece anualmente, eventuais festas em um bar da agrovila, jogos de futebol, e utilização da represa para recreação e pesca. Assim muitos dos assentados freqüentam as fes-tas que ocorrem no município de Pium, por sua vez é notória por parte da popula-ção piunense uma boa aceitação quanto a esse compartilhamento.

4 Conclusão

O Assentamento Pericatu, com qua-se �0 anos de implantação enfrenta pro-blemas que impedem seu desenvolvimen-to econômico e social. Considerando es-tudos realizados anteriormente percebe-se que os impedimentos de ordem econômica ainda permanecem como a falta de recur-so para correção do solo, falta de estradas e a distância dos centros consumidores, entretanto viu-se entre os proprietários de lotes o despertar para atividade pecuária que se mostre como uma outra alternativa de uso da terra.

Dentre as principais causas dos pro-blemas acima relacionados, está a predo-minância de solos do tipo concrecionário na área do assentamento, relatada pelo Incra, 2002. Esta categoria de solo não é recomendada para agricultura em função da sua baixa fertilidade e do seu elevado teor de acidez, exigindo altos investimen-tos em práticas de correções que supram essa deficiência.

As condições precárias de manejo se agravam nos lotes que estão localizados no noroeste do assentamento, já que não

possuem estradas que cheguem até eles, e na época de chuva os mesmos alagam, ficando indisponíveis para qualquer uso. Portanto além dos problemas decorrentes da falta de recurso financeiro e assistência técnica por parte do órgão responsável, o assentamento ainda se depara com fatores ambientais não favoráveis.

No âmbito social ocorreram algu-mas melhorias, como a implantação de rede elétrica e o funcionamento da escola de �ºgrau, porém a assistência à saúde ain-da é considerada insuficiente já que acon-tece apenas mensalmente e o assentamen-to não dispõe de uma unidade permanente e nem de pessoas que possam auxiliar em casos de emergência. Existem ainda pro-blemas relacionados ao fornecimento de água em função da indisponibilidade de rede de distribuição.

Se a análise de alguns aspectos dos assentamentos revela dimensões promis-soras, no que se refere à melhora da infra-estrutura, ficou evidente a precariedade da sua situação, indicando, por um lado, uma insuficiente intervenção do Estado no processo de transformação fundiária e, por outro, forte continuidade em relação à precariedade material que marca o meio rural brasileiro.

Dessa forma espera-se que este estudo possa subsidiar outros projetos en-gajados no propósito nobre de promover melhorias para essa unidade rural. E para que problemas dessa ordem não continuem acontecendo é evidente a necessidade de que o estabelecimento de assentamentos como o Pericatu seja efetuado de forma estruturada, demarcando as áreas de pre-servação ambiental e garantindo o supri-mento de material básico para o estabele-cimento das residências e infra-estrutura, recomenda-se ainda o monitoramento das áreas onde foram realizados, para que al-guns erros por ventura cometidos possam ser corrigidos a tempo de não prejudicar as famílias ali instaladas.

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5 ReferênciasCARVALhO, J. I. L.; CALLADO, A. A. C. Re-forma Agrária – Uma Nova Visão. Disponível em: < http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano/zi-pados/carvalho.pdf >. Acesso em: jul. 200�.

IBGE – Unidade estadual do IBGE em Tocantins. Levantamento Sistemático da Produção Agrí-cola: fechamento da Safra 2004/200� junho e ju-lho/200�. Palmas, 200�.

INCRA - Instituto Nacional de colonização e Re-forma Agrária-Sede Regional do Tocantins. Plano de Desenvolvimento do Assentamento Pericatu. Palmas, 2002.

MELGAREJO, L. O desenvolvimento, a reforma agrária e os assentamentos – Espaço para contri-buição de todos. Revista Agroecologia e Desen-volvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.2, n. 4, out/dez de 200�. Disponível em: < http://www.emater.tche.br/docs/agroeco/revista/ano2_n4/revista_agroecologia_ano2_num4_par-te�4_artigo.pdf >. Acesso em: jul.200�.

SIPRA – Sistema de Informação de Projetos e Reforma Agrária. INCRA. Palmas, 200�.

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geStÃo“remuneração: do tradicional ao estratégico”

Resumo: O presente artigo tem como objetivo abordar as mudanças ocorridas referente ao processo de remuneração, sa-lientando os seguintes assuntos: Sistemas Tradicionais de Remuneração, Remunera-ção Estratégica, Sistema de Remuneração Estratégica e Participação nos Lucros ou Resultados à Luz da Legislação. Foi de-senvolvido através de pesquisa bibliográ-fica, apresentando a contribuição de al-guns renomados autores que enfatizam a importância da evolução desse processo; para tanto, contribuindo com suas idéias e conceitos em consonância com um cená-rio voltado para a inovação e conseqüentes mudanças; ressalta também as caracterís-ticas e necessidades de aperfeiçoamento dos Sistemas Tradicionais de Remunera-ção, reforçando a idéia do acompanha-mento desses sistemas junto às transfor-mações ocorridas nas empresas quanto ao contexto e a estratégia organizacional. Observa-se que o grande segredo no que diz respeito ao sistema de remuneração é peculiar a cada empresa, havendo neces-sidade de se avaliar a cultura, o negócio e a estratégia, apontando para qual tipo de pessoa está se referindo, para então adotar programas de remuneração dinâmicos e que evoluem à medida que o empregado ou colaborador progride.Palavras-chave: remuneração, estratégia, organização, recursos humanos. Abstract: The present article has as ob-jective to approach the changes happened regarding the remuneration process, poin-ting out the following subjects: Traditio-nal systems of Remuneration, Strategic Remuneration, System of Strategic remu-neration and Participation in the Profits or Results to the Light of the Legislation. It was developed through he/she researches bibliographical, presenting the contribu-

tion of some renowned authors that em-phasize the importance of the evolution of that process; for so much, contributing with yours ideas and concepts in conso-nance with a returned scenery for the in-novation and consequent changes; it also stands out the characteristics and needs of improvement of the Traditional systems of Remuneration, reinforcing the idea of the accompaniment of those systems clo-se to the transformations happened in the companies with relationship to the context and the strategy organization. It is obser-ved that the great secret in what says I respect to the remuneration system it is peculiar to each company, having need to evaluate the culture, the business and the strategy, pointing for which person type he/she is referring, for then to adopt pro-grams of dynamic remuneration and that develop as the employee or collaborator progresses. Key-words: remuneration, strategy, orga-nization, human resources.

1 Introdução

Nos últimos anos, diante de pres-sões competitivas crescentes, os admi-nistradores foram procurando moderni-zar suas empresas. Administrar passou a ser parecido com surfar, aproveitando ao máximo cada onda de inovação gerencial para atingir patamares superiores de de-sempenho.

Alguns olham com restrições para essa sucessão de novidades; porém, a ver-dade é que o momento de transformação que as empresas estão vivendo tem exigi-do dos administradores soluções rápidas e criativas e se, em muitos casos, o remédio pode provocar amargos efeitos colaterais, não há como negar que, de um jeito ou

� Graduado em Administração de Empresas (Uni-versidade Estácio de Sá – UNESA-RJ), Pós-grad-uando em Gestão e Planejamento de Recursos hu-manos (Facul-dade Católica do Tocantins), Fiscal de Aviação Civil – DAC.

Paulo César Romão Bomfim�

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�4de outro, as empresas têm evoluído para modelos mais eficazes de gestão. Segun-do Coopers e Lybrand (�997, p.��), “bas-ta olhar ao redor para ver que as pesadas estruturas hierárquicas estão desaparecen-do. Em seu lugar estão surgindo estruturas mais enxutas e flexíveis, nas quais cresce a autonomia dos grupos e dos indivídu-os”. Dentro desse contexto de evolução e mudança, um dos mais importantes siste-mas de apoio, o sistema de remuneração, parece não estar acompanhando o ritmo das transformações. A maioria das empre-sas, entre elas aquelas mais inovadoras, continua utilizando sistemas tradicionais de remuneração, baseado em cargos e funções.

Vale ressaltar que não é apenas a remuneração que deve mudar, é claro. Em muitas empresas há uma crescente consciência da necessidade de repensar totalmente as formas tradicionais de fa-zer as coisas, uma revolução no local de trabalho. O enxugamento e as demissões, que são características tão proeminentes da paisagem corporativa, não podem mais ser vistos como soluções para problemas econômicos de curto prazo; pelo contrá-rio, apelam para uma transformação fun-damental na forma de pensar sobre traba-lho e remuneração.

De acordo com Flannery (�997, p.2�), “dentre esses conceitos tradicionais que começam a ser abandonados, está a visão do trabalho de uma perspectiva ge-rencial científica, que o divide em suas respectivas partes e depois divide essas partes em especialidades e subespeciali-dades”. Isto quer dizer na prática que o departamento de recursos humanos tradi-cional continua a ser utilizado em muitas empresas. Dentro desse departamento há geralmente um departamento de benefí-cios e dentro do departamento de benefí-cios há subespecialistas, que lidam com benefícios de saúde, de aposentadoria e remuneração.

Na pressa de mudar, muitas em-presas desprezaram ou utilizaram mal o

que poderia ser uma de suas mais efica-zes ferramentas: a remuneração. Não im-porta que a remuneração possa ser uma força essencial no apoio à mudanças. O fato subsiste e, em muitas empresas, a re-muneração tem sido largamente ignorada. Essa negligência, em grande parte, pode ser considerada culpada por não se com-preender a mudança do papel dos salários e de seu impacto sobre as pessoas. Em face disso a remuneração não é apenas ne-gligenciada, é também mal compreendida e freqüentemente mal aplicada; comple-tamente fora de sincronia com os demais valores e processos da empresa. O motivo é claro: embora as empresas tenham so-frido mudanças drásticas, as estratégias para atribuir, administrar e implementar a remuneração estiveram, até recentemente, congeladas no tempo. Como resultado, a remuneração não está mais alinhada com a estrutura organizacional da empresa, sua cultura de trabalho, seus valores e sua estratégia de negócio, todas em evolução. Somente agora as pessoas estão começan-do a perceber que o salário no atual ce-nário de mudanças organizacionais deve Ter um papel muito mais significativo que no passado. O salário não pode mais ser visto como mera despesa e custo de fazer negócios, mas como um investimento in-timamente ligado ao sucesso de um longo prazo da empresa.

Uma estratégia de remuneração eficientemente projetada e cuidadosamen-te alinhada com certeza não tornará todos os funcionários felizes e satisfeitos, nem eliminará todos os problemas comporta-mentais de uma empresa. Essa estratégia, no entanto, auxiliará muito na melhora de desempenho e dos resultados.

2 Metodologia

A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste artigo consistiu na adoção do método descritivo e a técnica utilizada foi de pesquisa bibliográfica em livros e internet como fontes de consulta sobre o tema. A natureza da pesquisa foi

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qualitativa, tendo em vista a intenção de mostrar a evolução e mudança no contex-to do sistema de remuneração, uma vez que se faz necessário o acompanhamento do ritmo das transformações ocorridas no cenário empresarial. A análise dos dados se deu em torno da interpretação de da-dos, onde foram observadas característi-cas relevantes através da comparação das informações obtidas, tendo sido elabora-do relatório final de forma descritiva.

3 Desenvolvimento conceitual

�.� SISTEMAS TRADICIONAIS DE REMUNERAÇãO

A maioria das empresas ainda apli-ca exclusivamente sistemas tradicionais de remuneração, baseados nas descrições de atividades e responsabilidades de cada função.

Segundo Coopers e Lybrand (�997, p.��),

A utilização de instrumentos como de-scrições de cargos organizacionais e planos de cargos e salários permite a muitas dessas empresas atingir a um patamar mínimo de estruturação na gestão de seus recursos hu-manos. Entretanto, quando aplicados a essa condição com a exclusão de outras formas, esses sistemas podem tornar-se destoante em relação às novas formas de organização do trabalho e ao próprio direcionamento estratégico da empresa.

De acordo com Coopers e Lybrand (�997, p.�), os sistemas tradicionais de re-muneração possuem as seguintes caracte-rísticas: inflexibilidade, conservadorismo e divergência.� – Inflexibilidade: os sistemas tradicio-

nais de remuneração tendem a tratar coisas diferentes de forma homogênea. Eles não consideram comumentemente as peculiaridades de empresas ou fun-ções.

2 - Conservadorismo: os sistemas tradicio-nais reforçam a estrutura burocrática, privilegiando as ligações hierárquicas em detrimento do foco nos processos críticos e no cliente.

� - Divergência: os sistemas tradicionais não consideram a visão de futuro e a orientação estratégica da organização, dificultando a convergência de esfor-ços para objetivos comuns.

Apesar de todos os problemas aqui apontados, os sistemas tradicionais de re-muneração podem ser aperfeiçoados.

Muitas das desvantagens e dificul-dades apontadas podem ser contornadas. Uma abordagem moderna da remuneração tradicional deve procurar: alinhamento do esforço individual com as diretrizes orga-nizacionais; a orientação para o processo e para resultado; e o desenvolvimento contínuo do indivíduo.

Conforme ressalta Flannery (�99�, p.22), “não que as estratégias salariais tradicionais – programas que funciona-ram tão bem por tanto tempo – tenham subitamente se virado contra nós. O que mudou foram os valores organizacionais, as culturas de trabalho e as estratégias de negócio”.

Embora tenham sido largamente desprezados, mudanças drásticas nas re-gras empresariais tornaram ineficazes as estratégias tradicionais de remuneração. Atualmente espera-se que os empregados trabalhem em equipes e não individual-mente. Espera-se que continuem apren-dendo novas habilidades e assim papéis mais amplos, que corram mais riscos e assumam mais responsabilidades pelos resultados.

Considerando que cada empresa e setor se encontrem passando por um conjunto específico de mudanças, Flan-nery (�99�, p.24) destaca pelo menos seis que são comuns a quase todas as em-presas. São elas: “tecnologias em rápida expansão, concorrência global crescente, demanda crescente por competências e capacidades individuais e empresariais, maiores expectativas dos clientes, ciclos cada vez mais curtos e mudanças nos re-quisitos pessoais”, entretanto, a forma como as empresas reagem a essas grandes mudanças varia de acordo com suas metas

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��e estratégias de negócio e com as mudan-ças que estão exercendo a maior “pressão” dentro de seu ambiente. Mas examinando cuidadosamente as estruturas, culturas e valores verá que de modo geral há quatro áreas primárias que as empresas focalizam com o objetivo de alcançar os resultados desejados. Essas quatro áreas de foco ou ênfase são: tecnologia, foco no cliente, flexibilidade e confiabilidade.

A remuneração funcional, em sua forma tradicional, é reflexo de certa ma-neira de pensar a gestão dos negócios e dos recursos humanos. Essa maneira é adequada para determinado contexto es-tratégico e para alguns modelos de estru-tura. Em um mundo com mudanças ace-leradas, porém, talvez seja um risco alto demais manter um sistema desse tipo que apresenta uma série de contradições com as práticas gerenciais emergentes.

�.2 SISTEMAS DE REMUNERAÇãO ESTRATÉGICA

Como já mencionado, as profundas transformações que as empresas vêm so-frendo exigem novos sistemas de remu-neração. Em ambientes caracterizados por formas modernas de organização de tra-balho – como multifuncionalidade e pou-cos níveis hierárquicos – não faz sentido recompensar a contribuição individual ou coletiva apenas com base em descrições de atividades e definição de responsabi-lidades.

Interessante resposta foi dada pelo Sr. Carlos Monnerat Rocha, presidente do Grupo de Permuta e Informações Salariais (GRUPISA/Rio), alguns dias antes da 9�� edição do Congresso Nacional de Remu-neração. Ao ser indagado sobre o porquê da área de remuneração ter que passar por constantes mudanças, o Sr. Carlos afirmou que “o atual contexto empresarial, após a globalização, está e estará em constante mudanças, essa é a única certeza que te-mos. E isso reflete nos sistemas de gestão de pessoas e principalmente em remune-

ração, pois trata-se da contra-partida que é sagrado na vida das pessoas”.

Conforme afirma Coopers e Ly-brand (�997, p.�9), “a questão central é transformar a visão usual da remuneração como fator de custo em visão da remune-ração como fator de aperfeiçoamento da organização, como impulsionador de pro-cessos de melhoria e aumento de compe-titividade”.

A remuneração estratégica se torna uma ponte entre indivíduos e a nova rea-lidade das organizações e ocorre de duas maneiras:

� – No sentido de considerar todo o contexto organizacional, ou seja, de levar em conta as grandes categorias que dão forma e conteúdo à empresa, que são: a estratégia, a estrutura e o estilo gerencial. Além disso, a concepção de um sistema de remuneração estratégica parte não so-mente do que a empresa é hoje, mas tam-bém considera o que ela deseja ser ama-nhã (sua visão de futuro), e;

2 – À medida que os indivídu-os passam a ser remunerados de acordo com o conjunto de fatores que afeta sua contribuição para o sucesso do negócio: características pessoais, características do cargo e vínculo com a organização. Além das atividades e responsabilidades, o pro-jeto de um sistema de remuneração estra-tégica também considera: conhecimentos, habilidades, competências, desempenho e resultados.

A remuneração estratégica é tam-bém um catalisador para a convergência de energias na organização. Segundo Co-opers e Lybrand (�997, p.90) “à medida que o sistema de remuneração é alinha-do ao contexto e à estratégia da empresa, constitui fator de harmonização de inte-resses, ajudando a gerar consenso e atu-ando como alavanca de resultados”.

O Sistema de Remuneração é uma combinação equilibrada de diferentes formas de remuneração. Conforme afir-mam Coopers e Lybrand (�997, p.90-�)

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“a multiplicidade de formas de remunera-ção tem crescido devido à necessidade de encontrar maneiras criativas para aumen-tar o vínculo entre as empresas e seus fun-cionários”. As formas básicas, entretanto, mantém-se as mesmas, podendo ser clas-sificadas em alguns grupos:� – Salário indireto: compreende benefí-

cios e outras vantagens. A grande ten-dência neste caso é a flexibilização dos benefícios. Na forma mais tradicional, os benefícios variam de acordo com o nível hierárquico. Na forma mais fle-xibilizada, cada colaborador escolhe o “pacote” de benefícios de acordo com suas necessidades e preferências, com base nas alternativas disponíveis. A fle-xibilização minimiza o investimento da empresa em benefícios, proporcionan-do alocação mais racional de recursos em aumento de valor percebido pelo colaborador.

2 – Remuneração por habilidades ou por competências: é determinada pela for-mação e capacitação dos funcionários. Essas formas deslocam o foco do cargo ou função para o indivíduo. Os blocos de habilidades ou competências pas-sam a determinar a base da remunera-ção. Essas formas também se aplicam preferencialmente a organizações que passaram por grandes processos de mudanças e adotam estruturas basea-das em grupos multifuncionais.

Segundo SILVA (�99�, p. 7�), “enges-sar as pessoas nos cargos se torna ina-dequado, pois se o nível de contribui-ção é diferente de pessoa para pessoa, diferente também deveria ser a remu-neração”.

� – Remuneração variável: é vinculada a metas de desempenho dos indivíduos, das equipes ou da organização. Inclui a participação nos lucros e a remunera-ção por resultados.

Conforme afirma Resende (1991, p.�7), “há necessidade de melhorar o padrão dos salários, mas a única saída

que se apresenta não só como viável, mas também como oportuna, é a da remuneração variável baseada em ga-nhos de produtividade”. Tal fato jus-tifica-se tendo em vista as limitações, dificuldades e peculiaridades da solu-ção via salário nominal, distribuição de lucros imposto por lei e expansão dos benefícios. havendo retomada do de-senvolvimento dos negócios e empre-endimentos, parte do problema deverá ser resolvido naturalmente, mas de ma-neira lenta. Cabe aos administradores de recursos humanos e de remunera-ção fazerem a sua parte, encontrando formas ou fórmulas de intensificar a prática da remuneração variável nas organizações.

Vive-se a era da descontinuidade e, por isso, impõe-se adequar a remuneração aos ciclos da economia e aos custos e resultados das empresas. Os programas de remuneração variável propiciam mais justiça em relação à contribuição das pessoas e incentivam maior com-prometimento e envolvimento delas com resultados da empresa.

4 – Participação acionária: é vinculada a objetivos de lucratividade da empresa e utilizada para reforçar o compromis-so de longo prazo entre empresa e co-laboradores. É algumas vezes utilizada como alternativa à participação nos lu-cros e a remuneração por resultados.

� - Alternativas Criativas: incluem prêmios, gratificações e outras formas especiais de reconhecimento. Essas formas têm sido utilizadas com grande freqüência como apoio no esforço de construir um ambiente organizacional caracterizado pela convergência de es-forços e energias voltadas para o aten-dimento de objetivos estratégicos.

�.2.� Participação nos Lucros ou Resultados a Luz da Lei

Com relação à participação nos lu-cros ou resultados que podem também ser incluídos no tópico que trata sobre

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��remuneração variável, segundo Corrêa (�999, p.2�), “em nosso ordenamento ju-rídico, vem sendo previsto na Lei maior a Constituição Federal de �94�. Figurando também na Lei maior de �9�7; a questão da participação nos lucros ou resultados encontra-se no atual texto da Constituição Federal de 1988, no art. 7º, inciso XI”.

Corrêa (�999, p.2�) descreve, “a Constituição Federal de �9�� trouxe im-portante alteração em relação aos textos anteriores, ao desvincular da remuneração dos empregados o benefício proporciona-do pela participação nos lucros ou resul-tados”.

No que tange à participação nos lucros ou resultados, essa matéria foi re-gulamentada por medida provisória, vale ressaltar que a medida tem força de lei e dessa forma elenca alguns tópicos impor-tantes: � - Obrigatoriedade: em seu artigo 2º,

obriga todas as empresas a convencio-nar com seus empregados, por meio de comissão por eles escolhida, integrada ainda por um representante indireto pelo sindicato dos trabalhadores, da respectiva categoria, a forma de par-ticipação daqueles em seus lucros ou resultados.

2 – Encargos e Tributos: em seu art �º, explicita a não incidência de nenhum encargo social e trabalhista sobre os va-lores recebidos a título de participação, por este não complementar a remune-ração ou salário devido a qualquer em-pregado, não constituindo, assim, base de incidência de encargo trabalhista ou previdenciário, nem se aplicando o princípio da habitualidade.

� - Periodicidade: a periodicidade mí-nima permitida para a formação do montante a distribuir, a título de parti-cipação nos lucros ou resultados, é de seis meses, sendo vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribui-ção de valores, em periodicidade infe-rior a um semestre.

4 – Critérios e Condições de Paga-mento: os instrumentos resultantes da negociação deverão conter regras claras e objetivas quanto à forma de distribuição, sua participação, período de vigência, prazos para revisão, me-canismos de aferição do cumprimento do que foi acordado, sugerindo como critério e condição para a apuração da participação que se utilizem índices de produtividade, qualidade ou lucrativi-dade da empresa, bem como programa de metas, resultados e prazos, pactua-dos previamente.

� – Comissão de Trabalhadores e Ne-gociação: tudo tem que ser negociado. Na mesa de discussão, sentam-se de um lado os empresários e do outro a comissão de trabalhadores, constituída pelos representantes dos empregados e ainda um representante indicado pela entidade sindical representativa dos trabalhadores.

4 Conclusão

Não há dúvida de que a remune-ração deveria ter um papel importante no apoio aos valores organizacionais, estra-tégias de negócio e culturas de trabalho, todos em mutação. Uma estratégia de remuneração eficaz, embora freqüente-mente desprezada, pode ser crucial para utilizar satisfatoriamente as forças da mu-dança e fazer a empresa avançar. No en-tanto, o segredo não é descobrir a mais re-cente, a mais inovadora ou mesmo a mais mecanicamente eficiente dessas soluções salariais. O segredo é primeiro avaliar a cultura da empresa e então alinhá-la com suas metas estratégicas: que tipos de pes-soas ela quer? O que a empresa quer que eles façam? Somente após a empresa sele-cionar essas pessoas e identificar as metas e responsabilidades que delas se espera, poderá delinear programas de recompen-sas que proporcionem apoio e estímulo – não tendências ou modas - nos programas salariais dinâmicos, capazes de evoluir e mudar à medida que a empresa progride e se transforma.

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Acredita-se firmemente que a so-lução para a remuneração não reside em abandonar a antiga abordagem padroni-zada em favor de uma nova. Para serem vitoriosas, as empresas devem ter aborda-gens dinâmicas que misturem o conheci-mento de remuneração desenvolvidos nos últimos �0 anos com as abordagens de ataque mais recentes. Mas antes, é preci-so ajustar os programas de remuneração com suas necessidades, metas e culturas em transformação.

A maioria dos empresários já re-conheceram que, com a implantação do Plano Real e a abertura econômica trazen-do a globalização da economia, a concor-rência aumentou drasticamente e só tende a sobreviver quem realmente puder ofe-recer produtos ou serviços com qualidade e os preços competitivos. Esses objetivos não são alcançados num passo de mágica. É de extrema importância, sobretudo, mo-tivar os funcionários, transformando cada empregado em cúmplice, na luta pela so-brevivência.

A participação nos lucros ou resul-tados surge como modelo mais evoluído de relacionamento entre capital e trabalho. Pois, além de incentivar os funcionários a entrar na luta por maior eficiência, qua-lidade, corte de desperdícios e obtenção de melhorias de curto, médio e longo pra-zo, tornando-os parceiros do crescimento continuado da empresa; também os con-sumidores finais têm a ganhar com a en-trega de melhores produtos e serviços.

5 ReferênciasCORRÊA, Waldir Evangelista. Participação nos lucros ou resultados: uma metodologia Inteligen-te Aplicável. São Paulo: Atlas, �999.

COOPERS & LyBRAND, Equipe. Coordenador: Vicente Picarelli Filho. Remuneração por Habi-lidades e Competências. São Paulo: Atlas, �997.

FLANNERy, Thomas P. Pessoas, Desempenhos e Salários: as mudanças na forma de remuneração nas empresas. Tradução Bazán Tecnologia e Lin-güística. São Paulo: Futura, �997.

RESENDE, Ênio J. Cargos, Salários e Carrei-ra: Novos Paradigmas Conceituais e Práticos. São Paulo: Summus, �99�.

SALáRIOS E BENEFíCIOS, Congresso enfoca remuneração, Boletim Rh Maio 200�, disponí-vel em< http//www.rh.com.br.> Acesso realizado em 0� mai. 200�.

SILVA, Fernando Antônio, Administrando Pes-soas: reflexões do cotidiano de um executivo de recursos humanos. São Paulo: Negócios, �99�.

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geStÃo a importância da qualidade da informação para as organizações

Suzana Gilioli da Costa Nunes�

Resumo: a Revolução da Qualidade em produtos e serviços já está consolidada e bastante difundida em todos os tipos de empresas. Mas, muito se tem ainda para conquistar no campo das informações. Perdas incalculáveis ocorrem o tempo todo devido à má qualidade da informação que é utilizada pelas empresas. Conside-rando-se a importância da qualidade para a empresa em todas as suas áreas e ativi-dades, e a preocupação, cada vez maior, em satisfazer o cliente, é necessário que as empresas comecem a dar maior impor-tância às informações que fluem dentro da empresa e que são utilizadas no seu dia-a-dia. O artigo discute a preocupação atual das empresas em relação à Qualidade da Informação.Palavras-Chaves: Produtos e Serviços; Cliente; Qualidade da Informação. Abstract: the Quality Revolution at pro-ducts and services is consolidated and enough publish at all kind of companies . but, there are a lot to conquest at infor-mation area. Incalculables loss are present all the time due to the bad quality of infor-mation utilized by the companies. If the importance of the quality for the company is considered at all areas an activities, and the increasing preoccupation to satisfy the client, it is necessary that the compa-nies start to give more importance to the information that runs in the company and are used day by day. The article discuss the present trouble of the companies about the information quality.Key-Words: Products and Services; Cli-ent; Information Quality.

1 Introdução

O movimento da qualidade no Bra-sil cresceu nos últimos anos com a adesão de empresas de todos os setores, indepen-

dentemente do seu tamanho e da origem do seu capital. hoje, qualidade é um con-ceito importante para todos os segmen-tos da sociedade, os quais a definem de diversas maneiras. Temos números que demonstram a busca pela Gestão da Qua-lidade pelas Empresas. Por outro lado, a informação é uma ferramenta de gestão, imprescindível para a rotina e tomada de decisões na empresa. Sem informações não é possível se ter uma gestão eficiente. Mas será que as organizações estão pre-paradas para lidar com um volume cada vez mais significativo de informações? Esta preocupação com a Qualidade se es-tende também às informações? A união desses dois conceitos será o tema desse estudo. Na busca dessas respostas, fez-se uma Revisão Bibliográfica dos conceitos envolvidos e buscou-se analisar o estado atual de estudos sobre o assunto.

2 Conceito de qualidade

Para início do estudo, é necessário conceituar o termo “qualidade”. Não se conhece nenhuma definição curta que me-reça a aprovação de todos os especialistas sobre o que significa qualidade. A palavra qualidade tem então, vários significados.

Tecnicamente, qualidade é definida na norma NBR ISO �402:�994 como “a totalidade de características de uma en-tidade que lhe confere a capacidade de satisfazer as necessidades explícitas e im-plícitas”.

Paladini (�990, p.2�) comenta que

o fato de existirem diversas abordagens e, por decorrência, muitos conceitos de quali-dade, não se constitui entrave à sua com-preensão, embora cause alguns conflitos quando de sua aplicação prática. Na maio-ria dos casos, isso ocorre porque as áreas da empresa têm visão parcial da questão.

� Mestre em Gestão da Qualidade Total – UNICAMP, Coor-denadora e Professora da Católica do Tocan-tins e da Universidade Federal do Tocantins.

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92Já Juran (�990, p.��) diz que

chegar a um acordo sobre o que se entende por qualidade não é simples. (O dicionário traz cerca de uma dúzia de definições). Para os gerentes, nenhuma definição su-cinta é realmente precisa, mas uma dessas definições obteve larga aceitação: quali-dade é adequação ao uso.

Sobre esta definição de qualidade dada por Juran, Paladini (�997, p.��) co-menta:

Provavelmente, não se conseguirá definir qualidade com tanta propriedade e com tão poucas palavras. Deste conceito surge um fato concreto: apesar da variedade muito ampla de conceitos com a qual é definida, entendida ou praticada, a qualidade deve ser sempre definida de forma a orientar-se para seu alvo específico: o consumidor.

Para se definir qualidade de modo

que seja útil na administração, reconhece-se a necessidade de incluir na avaliação as verdadeiras exigências do “cliente” - suas necessidades e expectativas. Qualidade então, é simplesmente o atendimento das exigências do cliente e isso tem sido ex-presso de muitas maneiras por outros au-tores:

a) “adequação à finalidade ou uso” (JURAN, �990);

b) “a totalidade dos aspectos e ca-racterísticas de um produto ou serviço, importantes para que ele possa satisfazer as necessidades exigidas ou implícitas” - BS – 477�, �9�7 (ISO �402, �994) – Vo-cabulários da Qualidade: Parte I – Termos Internacionais;

c) “a qualidade deve ter como obje-tivo as necessidades do usuário, presentes e futuras” (DEMING, �990);

d) “o total das características de um produto e de um serviço referentes a ma-rketing, engenharia, manufatura e manu-tenção, pelas quais o produto ou serviço, quando em uso, atenderá às expectativas do cliente” (FEIGENBAUM, �994);

e) “conformidade com as exigên-cias”. (CROSBy, �992)

3 Conceito de informaçãoA globalização revolucionou o

mundo e os padrões, e a informação pas-sou a ser considerada um capital podero-so, equiparando-se aos recursos de pro-dução, materiais e financeiros. o que tem sido relevante é a mudança fundamental no significado que a informação assume na nova realidade mundial de uma socie-dade globalizada: agora a informação não é apenas um recurso, mas o recurso.

A aceitação desta idéia a coloca como recurso-chave de competitividade efetiva, de diferencial de mercado e de lucratividade nessa nova sociedade. A im-portância da informação para as organiza-ções é universalmente aceita, constituindo, senão o mais importante, pelo menos um dos recursos cuja gestão e aproveitamen-to estão diretamente relacionados com o sucesso desejado. A informação também é considerada e utilizada em muitas orga-nizações como um fator estruturante e um instrumento de gestão.

Portanto, a gestão efetiva de uma organização requer a percepção objetiva e precisa dos valores da informação e do sistema de informação. É importante tra-tar com grande rapidez as informações. Oferecer informações agrupadas de ma-neira inteligente e em tempo hábil pode significar a diferença entre o ganho e a perda de cliente e mercado.

Basicamente, a informação tem duas finalidades: para conhecimento dos ambientes interno e externo de uma orga-nização e para atuação nestes ambientes (ChAUMIER, �9��). Saracevic (�999) ressalta que informação tem uma varieda-de de conotações em diferentes campos. Em alguns campos, incluindo a ciência da informação, a noção de informação está geralmente associada a mensagens. Nesse sentido, existe um grande número de in-terpretações que são assumidas em dife-rentes abordagens teóricas e práticas para o tratamento da informação.

Barreto (1996) define o termo in-formação da seguinte maneira: estruturas

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significantes com a competência de ge-rar conhecimento no indivíduo, em seu grupo, ou na sociedade. Trata-se de um conceito muito interessante, devido à pro-fundidade e abrangência alcançadas. O objetivo principal da informação é infor-mar. Muitas empresas hoje se esquecem disso, preocupando-se muito mais com a tecnologia que com a informação em si. Informação são dados dotados de relevân-cia e propósito. Para que seja entendido esse conceito, recorre-se à distinção entre dados, informação e conhecimento, que leva a compreensão da informação como parte da evolução de um processo, como mostra a Tabela:

Quadro � – Comparação entre dados, informação e conhecimento.

Algumas definições foram dadas também por Karl Albrecht (�999, p.�0�) em seu artigo “A ��� Revolução da quali-dade”:

a) Dados: átomos de matéria-prima a ser trabalhada pelo homem. É o nível simbólico irredutível, no qual a codifi-cação alfanumérica permite transportar a matéria-prima de um lado para outro, como tantos grãos ou sacos de arroz. Os dados são inertes. São granulares. Podem ser armazenados e transportados a despei-to de seu significado.

b) Informação: disposição dos da-dos de modo que faça sentido, criando pa-drões e ativando significados na mente das pessoas. São as palavras, as ilustrações e os sons, em lugar de grãos de dados. As

informações são dinâmicas. Existem no nível da percepção humana.

c) Conhecimento: conteúdo de va-lor agregado do pensamento humano, de-rivado da percepção e manipulação inteli-gente das informações. Os conhecimentos são transcendentes. Existem apenas na mente do pensador. São a base de ações inteligentes.

A administração informacional en-volveu quatro “fluxos” de informação em uma organização moderna:

a) informação não-estruturada;b) capital intelectual ou conheci-

mento;c) informação es-

truturada em papel;d) informação es-

truturada em computa-dores.

A mais utilizada pelas empresas e a estu-dada neste trabalho é a “informação estrutura-da em computadores”. Conforme Davenport

(�99�), a importância do envolvimento humano aumenta à medida que se evo-lui por esse processo dados-informação-conhecimento. A informação só será útil para a empresa se for bem administrada. A informação e o conhecimento das pessoas da organização são as fontes mais valiosas para gerar uma vantagem competitiva no mercado globalizado. O gerenciamento informacional é um conjunto estruturado de atividades que incluem o modo como as empresas obtêm, distribuem e usam a informação e o conhecimento. Davenport (�99�) descreve o processo de gerencia-mento da informação da seguinte forma:

Figura � – Processo de Gerenciamento da informação.Fonte: adaptado de Davenport (�99�).

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94Eduardo Amadeu (2000), em seu

artigo, diz que o ponto principal é perce-ber a informação pertencendo a dois do-mínios. No primeiro deles, ela deve aten-der às necessidades de uma pessoa ou de um grupo. Nesse caso, a disponibilização da informação deve satisfazer os seguin-tes requisitos:

a) ser enviada à pessoa ou ao grupo certo;

b) na hora certa e no local exato;c) na forma correta.O segundo domínio é o da organi-

zação, que introduz questões a respeito da determinação do valor da informação. Nesse contexto, o valor da informação está relacionado ao seu papel no processo decisório.

4 Sistemas de informação

Por Sistema da informação (SI) considera-se o sistema de organização responsável pela recolha, tratamento, ar-mazenamento e distribuição da informa-ção relevante para a organização, com o propósito de facilitar o planejamento, o controle, a coordenação, a análise e a to-mada de decisão ou ação em qualquer tipo de organização. É um determinado tipo de sistema que possui um processo de cap-tação de dados que são submetidos a um processamento que resultam em uma série de informações de saídas. Um Sistema de Informações não está, necessariamente, relacionado com o uso de computadores.

Para Djalma de Pinho (2002), Sis-temas de Informações Gerenciais (SIG) é o processo de transformação de dados em informações que são utilizadas na estrutu-ra decisória da empresa, proporcionando, ainda, a sustentação administrativa para otimizar os resultados esperados. Pode-se ter um SI eficiente utilizando meios manuais. O uso de tecnologias e recursos computacionais poderão proporcionar as seguintes vantagens: confiabilidade das informações, vantagens competitivas, aumento da produtividade, redução de

custos, rapidez no processo de tomada de decisão.

O uso de recursos computacionais ainda deve assegurar que:

a) os dados primários são correta-mente coletados e armazenados;

b) o processamento dos dados está adequado às necessidades da organiza-ção;

c) os resultados fornecidos colabo-ram com o crescimento da organização.

d) os resultados fornecidos estão aptos a formarem a base necessária para apoiar o processo decisório;

e) acrescenta melhorias nos contro-les administrativos e organizacionais.

5 Qualidade da informação

Dentro dos estudos da Ciência da Informação, a Qualidade já é ponto im-portante há algum tempo. Prova disso foi a realização de um seminário em Cope-nhagem-Dinamarca, em �9�9, promovido pelo Nordic Concil for Scientific Informa-tion and Research Libraries (Nordinfo), no qual destacou-se sua importância para os praticantes da ciência da informação. Diante da necessidade de pesquisa para este artigo, foi verificada grande escas-sez de bibliografia para este tema. Foi de grande contribuição a leitura de um arti-go publicado por Nehmy e Paim (�99�), com título “A desconstrução do conceito de ‘qualidade da informação’”. Neste ar-tigo os autores fazem um estudo bastante aprofundado sobre esse conceito, rela-tando dificuldades encontradas, vagueza da noção, salientando a importância de maiores estudos sobre o tema. No artigo vários autores manifestam-se em relação à dificuldade de conceituação do tema:

a) Ginman (1990, p.18) ratifica essa percepção quando diz: “Não há definição geralmente aceita sobre qualidade da in-formação. Para muitas pessoas o conceito tem aspectos vagos e subjetivos”.

b) Wagner (�900, p.�9), propõe-se

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a realizar um balanço dos estudos teóricos sobre qualidade da informação e faz a se-guinte declaração:

há um problema de terminologia. O valor da informação e não a qualidade é o con-ceito preferido como se vê em valor de uso da informação, valor agregado da infor-mação e valor de troca da informação. De outro lado, o uso do termo ‘qualidade da informação’ é escasso na literatura.

Nehmy e Paim (�99�) reuniram co-mentários e impressões de alguns autores, conceituando o termo, citados a seguir. Marchand (1990) identifica cinco tendên-cias de definição do conceito na literatura: abordagem ‘transcendente’; abordagens baseadas ‘no usuário’, ‘no produto’, e na ‘produção’; abordagem da ‘qualidade como um dos aspectos do valor’. As duas grandes linhas de pensamento dominantes na ciência da informação são: vertente que enfatiza o produto (informação enquanto coisa) e a centrada no usuário (abordagem subjetiva).

Detalhando os conceitos propostos por Marchand, tem-se:

a) Abordagem ‘transcendente’: ten-de a perceber o valor da informação como absoluta e universalmente reconhecido.

b) Abordagem ‘baseada no produ-to’: é compreendida pelo autor como a abordagem que tende a ver a qualidade da informação em termos precisos e identifi-cáveis, sendo seus atributos passíveis de serem mensurados e quantificados.

c) Abordagem ‘baseada no usuário’: entram em jogo, no julgamento da exce-lência, as particularidades individuais. Assim, os tipos e fontes de informação que mais satisfizessem o usuário seriam as consideradas de melhor qualidade.

d) Abordagem ‘baseada na produ-ção’: tende a ver quase sempre a quali-dade como adequação a padrões estabe-lecidos de necessidade de informação do consumidor. Desvios em relação aos pa-drões significariam redução da qualidade da informação.

e) Abordagem da ‘qualidade como um dos aspectos do valor’: toma a quali-dade enquanto um dos atributos do valor.

Conforme Marchand, as cinco abor-dagens da qualidade da informação ofere-cem somente uma visão parcial e por ve-zes vaga dos elementos básicos da quali-dade da informação. Em uma tentativa de superar as limitações destas abordagens, sugere uma tipologia da qualidade da in-formação, desagregando o conceito em oito dimensões inter-relacionadas: valor real, características suplementares, con-fiança, significado do tempo, relevância, validade, estética e valor percebido. Em todos os modelos propostos, foram verifi-cados problemas teórico-metodológicos a permear a questão da qualidade da infor-mação. Dilermando Piva (�99�), em seu artigo, cita a grande importância da boa qualidade das informações no mundo em-presarial. Salienta ainda, que quanto mais dependente de informação uma empresa se torna, maior deve ser a garantia de uma boa qualidade dessas informações. Com isso, as empresas precisam avaliar as in-formações periodicamente. De acordo com Bio (�99�) as informações gerenciais de qualidade caracterizam-se por ser:

a) Comparativas: especialmente quando as informações refletem a com-paração dos planos com a execução. No entanto, quando não é viável tal tipo de comparação (planejado x real), é melhor alguma forma de comparação que possa ao menos refletir tendências: por exem-plo, comparações com períodos anterio-res (mês, ano etc.).

b) Confiáveis: informações com-pletamente distorcidas podem ser mais prejudiciais do que a falta completa de informações. O usuário precisa acreditar na informação para se sentir seguro ao de-cidir.

c) Geradas em tempo hábil: Uma informação, especialmente, se voltada para o controle, deve estar tão próxima do acontecimento quanto for possível, para que haja tempo para efetuar as correções

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9�cabíveis no planejamento ou na execu-ção.

d) De nível de detalhe adequado: As informações devem aparecer num nível de pormenores adequado ao nível do usu-ário, sem apresentar nada de irrelevante e tampouco um grau de síntese excessivo com relação ao seu interesse.

e) Por exceção: ressaltar o que é re-levante, destacar as exceções.

Karl Albrecht (�999), em seu arti-go, salienta a importância da qualidade da informação. Mais que isso, diz que já se passou ou passando pela revolução da qualidade de produtos e serviços. Esta continuará acontecendo, mas outra que está a caminho é a revolução da qualida-de da informação. Destaca a importância de se unir forças para melhorar essa qua-lidade. Um dos pontos bastante destaca-dos por Albrecht é em relação aos custos elevadíssimos resultantes dos defeitos ou erros de manipulação das informações. A redução de custos relativos à informação poderia apresentar uma grande oportu-nidade de aumento no retorno do inves-timento de várias empresas. O autor cita ainda diversos exemplos que ilustram as conseqüências da má qualidade da infor-mação:

a) �20 mil americanos morrem to-dos os anos por erro de diagnóstico, tra-tamento ou medicamento. Quem sabe o custo real desse problema de qualidade da informação?

b) Scanners instalados em pontos-de-vendas em milhares de supermercados, lojas de departamento e várias outras lojas registram preços incorretos com uma fre-qüência que varia de �% a �%, em virtude de erros na base de dados ou defeitos do scanner. Isto significa milhões de regis-tros de preços errados e outros tantos mi-lhões de dólares perdidos.

c) 2�% dos contribuintes norte-ame-ricanos que telefonam para a Receita Fe-deral do EUA (IRS) pedindo informações, recebem informações erradas a respeito

das regras da declaração de impostos e, possivelmente, fazem sua declaração de acordo com as instruções que lhe são da-das. O custo dessa falha de informação é incalculável.

O descaso com as informações mui-tas vezes fazem parte de nosso dia-a-dia. Recebem-se e passam-se informações in-corretas todos os dias. O quanto se perde com isso?

É necessário que sejam reduzidas a produção indisciplinada e duplicação de informações.

Karl Albrecht (�999) propõe um processo de quatro fases para empresas que queiram se comprometer seriamente com a Garantia da Qualidade da Informa-ção:

a) Avaliação: identificação dos pro-blemas críticos e oportunidades relativas à qualidade da informação. Envolve uma revisão sistemática e uma análise de todos os principais processos do negócio, in-cluindo o comportamento do funcionário com relação à informação, à identificação de atividades de alto custo ou alto volume e à estimativa do custo da qualidade da informação.

b) Priorização da mudança: Seleção dos problemas e oportunidades relativos à qualidade da informação que darão maior retorno aos recursos investidos para abor-dá-los. Incluem-se aí sistemas de compu-tação, fluxos de processo, práticas de tra-balho e desenvolvimento de habilidades necessárias dos funcionários.

c) Redesenho e “retreinamento”: alteração de sistemas, processos e práti-cas, bem como auxílio às pessoas que os usam para aprender e capitalizar as me-lhorias. Esse estágio pode também pro-piciar benefícios e redução de tempo do ciclo. Muitas intervenções envolverão a participação de funcionários, bem como treinamento e convencimento para apoiar novos padrões de comportamento com re-

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lação à informação.d) Reintegração: tornar menos per-

ceptíveis as ligações e os limites entre os vários processos de negócio. Esse é pro-cesso sem fim, que abrange o enxugamen-to, a simplificação e a integração dos pro-cessos e comportamentos para alinhá-los cada vez mais com a meta do negócio.

Termina seu artigo exaltando que “os prejuízos reais causados à economia de todos os países por causa de informa-ções errôneas ou falhas nos processos são, em última análise, imponderáveis”.

6 Considerações finais

No presente artigo foi apresentado um fator de extrema importância para a determinação do sucesso ou fracasso de uma empresa: a informação. Nos tempos atuais, a quantidade de informações está aumentando rapidamente. Mas, muitas vezes, em muitas empresas, a qualidade dessa informação não é preocupação primordial.

A utilização de informações sem qualidade traz para as empresas inúmeros problemas, dos mais simples aos mais catastróficos. Uma das principais conseqüências é em relação à imagem e à confiabilidade da empresa no mercado em que atua. É necessário que as empresas se preocupem com as informações que fluem de dentro de seus departamentos, pois são instrumentos de trabalho e devem também passar por uma Revolução da Qualidade.

Pelo estudo feito, pode-se considerar que pouco se tem estudado sobre Qualidade da Informação. Muito se tem falado sobre Qualidade de Produtos e Serviços, porém a Qualidade da Informação, devido à sua importância, é um campo aberto para um estudo mais detalhado e abrangente. Ainda tem-se uma grande carência, tanto em relação a empresas que se preocupam com esse campo, tanto em relação a estudos que aprofundem melhor esse tema.

7 ReferênciasABNT - ASSOCIAÇãO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Gestão da qualidade e garantia da qualidade - Terminologia. NBR ISO �402, dez./�994.

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Resumo: Neste trabalho foi estudado o desempenho de um reator anaeróbio de fluxo ascendente com manta de lodo (UASB) no tratamento de líquido lixivia-do advindo de processos de bioestabiliza-ção de resíduos sólidos de origem vegetal, conjuntamente com esgotos domésticos, ambos os substratos, provenientes da ci-dade de Campina Grande - PB. O expe-rimento foi instalado e monitorado nas dependências da Estação Experimental de Tratamento Biológico de Esgotos Sanitá-rios (EXTRABES) da Universidade Fe-deral da Paraíba, localizado no bairro do Tambor, na cidade de Campina Grande. O reator UASB com capacidade de �00 L, vazão de �440 L/dia e TDh de �0 horas se manteve em operação por um período de �70 dias proporcionando uma carga or-gânica volumétrica específica variando de 2,� a 4,�2 kg /m�.dia. O experimento foi realizado em três fases. Verificou-se, du-rante o experimento, a eficiência de remo-ção de matéria orgânica (DQO) de 70, 7� e 72% durante as três fases. Os resultados mostraram que a alcalinidade a bicarbo-nato da mistura (esgotos mais lixiviado) é suficiente para manter o sistema tam-ponado, não ocorrendo, portanto, colapso do reator, e o ph manteve-se próximo de 7. Portanto, tratar líquido lixiviado com esgotos domésticos utilizando reator tipo UASB é uma prática, técnica e economi-camente viável, podendo contribuir para a redução dos impactos sociais e ambien-tais, originados da disposição inadequada de resíduos sólidos e líquidos.Palavras-chave: Esgoto doméstico, lí-quido percolado, reator UASB.Abstract: In this work it was studied the

meio amBientealternativa ambientalmente correta para o tratamento líquido percolado

ou chorume combinado com esgotos domésticos.

performance of a upflow anaerobic slud-ge blanket in the treatment of liquid ha-ppening percolate of processes of bio-sta-bilization of solid residues typically vege-tables jointly with domestic sewers, both substrata, coming of the city of Campina Grande - PB. The experimental system was installed and monitored at the Expe-rimental Station for Biological Treatment of Sanitary Sewages (EXTRABES) of Federal University of Paraíba, located at Tambor, Campina Grande. The reactor UASB with capacity of 600 L, flow of �440 lite rs / day and hydraulic retention time of �0 hours stayed in operation for a period of 170 days with a specific or-ganic volumetric loading varying from 2,� to 4,�2 kg /m�.dia. The experiment was accomplished in three phases. Du-ring the experiment, the efficiency of removal of organic matter (COD) of 70, 72 and 7� % during the three phases, as well as the other parameters. The results showed that the alkalinity to bicarbonate of the mixture (sewers more percolate) it is enough to maintain the system stable, not happening, therefore, collapse of the reactor, and the ph stayed close of 7. The-refore, to treat liquid percolate with do-mestic sewers using reactor type UASB is a practice, technical and economically viable, could contribute to the reduction of the social and environmental impacts, happening of the inadequate disposition of solid and liquid residues. Key Words: Domestic sewers, liquid per-colate, reactor UASB.

1 Introdução

O crescente processo de urbaniza-

Francisco Ferreira Dantas Filho�

Magna Sueli Barros Dantas2

� Doutorando em Quími-ca - UnB. Mestre em De-senvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA UFPB/UEPB(200�) , Pós graduação em estu-do político e estratégico (ADESG), Graduado em Química –UEPB.

2 Magna Sueli Barros Dantas. Mestranda em contabilidade Ambien-tal, Especialista em ges-tão de custo, Bacharel em Ciências Contábeis,. Professora da Faculdade Católica -TO

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�00ção nas cidades brasileiras, as mudanças de hábitos da sociedade contemporânea e o desenvolvimento tecnológico, entre ou-tros, têm contribuído sobremaneira para o crescente consumo de bens e produtos, conseguindo aumentar assustadoramente, nesses últimos trinta anos, a taxa de ge-ração dos resíduos sólidos urbanos nas pequenas, médias e grandes cidades bra-sileiras.

Esses resíduos gerados vêm causan-do impactos negativos ao meio ambiente, destacando-se a poluição das águas super-ficiais e subterrâneas, devido à produção de percolado advindo dos lixões e aterros sanitários.

O líquido percolado, gerado do pro-cesso de bioestabilização anaeróbia dos resíduos sólidos contém, geralmente, pro-dutos da decomposição do material orgâ-nico, tais como: ácidos voláteis, material amoniacal, sólidos dissolvidos, além de metais pesados e outros constituintes tó-xicos.

A cidade de Campina Grande, loca-lizada no Planalto da Borborema no Esta-do da Paraíba, com uma população de ��0 mil habitantes, produz diariamente cerca de 200 toneladas de resíduos sólidos ur-banos. Desse total, uma fração é coletada regularmente e disposta em lixões (assim denominado por falta de condições sani-tárias mínimas exigidas pela NBR �4/9 da ABNT, �9�4). A outra fração não coleta-da é disposta em terrenos baldios, canais e vazadouros, proporcionando assim a con-taminação dos solos e, sobretudo dos re-cursos hídricos, constituindo uma ameaça à saúde pública. (LOPES, 2000)

Numa cidade média do nordeste do Brasil, um habitante produz diariamente cerca de �00 gramas de resíduos sólidos urbanos e �00 litros de esgotos. Uma prá-tica ecologicamente sustentável será tratar conjuntamente os resíduos sólidos e líqui-dos numa mesma estação de tratamento.

Dos �00 gramas de resíduos urba-

nos produzidos, um quarto se apresenta na forma de matéria orgânica (�2�g), des-ta fração �0% corresponde à DQO. Teori-camente esta DQO (40g) submetida a tra-tamento anaeróbio produziria cerca de �0 gramas de metano e cinco litros de líquido percolado gerados do próprio processo de bioestabilização.

Assim sendo, faz-se necessário bus-car alternativas tecnológicas de baixo cus-to para o tratamento do líquido percolado produzido na bioestabilização anaeróbia da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos, que geram produtos indesejá-veis. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo tratar o líquido percolado gerado na degradação dos resíduos orgâ-nicos, juntamente com esgotos sanitários.

2 Material e métodos

O sistema de tratamento constitui-se de duas unidades: a primeira compre-ende de um reator anaeróbio de Batelada, que trata a fração orgânica putrescível dos resíduos sólidos urbanos, gerando percolado. A Tabela � apresenta as carac-terísticas deste reator.

Tabela � : Características físicas e operacionais do reator de batelada.

Já para a segunda unidade tem-se um reator tipo UASB, com capacidade unitária de �00 litros, fabricado totalmen-te em resina de poliéster, reforçado com fibra de vidro com espessura mínima de �,�mm e equipado com aletas para o sepa-rador de fases, e suporte metálico, confor-me mostra a Figura �. As principais carac-terísticas físicas e operacionais do reator UASB estão apresentadas na Tabela 2.

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O reator UASB foi inoculado com 200 L de lodo anaeróbio advindo do re-ator UASB que tratava esgotos sanitá-rios. O lodo apresentava concentração de �0mg/L de ST com ��% de Sólidos Vo-láteis Totais. O reator foi monitorado por um período de �70 dias, dividido em três fases distintas. Como o reator UASB de-pendia da produção de percolado do pri-meiro reator, as fases foram determinadas em função do reator de batelada. Na parti-da do reator UASB a carga aplicada foi de 2,� Kg DQO / m³. dia.

Como a carga dependia da produ-ção do percolado, à medida que o tempo passava diminuía a concentração do líqui-do percolado, chegando aos setenta dias a uma carga de apenas 0,�2 kg DQO / m³, caracterizando assim a primeira fase. Si-milarmente foram determinadas as fases seguintes, conforme especificado na Ta-bela �.

Tabela �: Fases, períodos de operação e carga aplicada.

3 ResultadosNa Tabela 0� são apresentados os

valores médios e o desvio padrão dos pa-râmetros: alcalinidade total e a bicarbona-to, ácidos voláteis, DQO, DBO�, sólidos voláteis e sólidos sedimentáveis de vinte, dezoito e dez determinações da primeira, segunda e terceira fases, respectivamente, de operação do reator UASB, durante �70 dias monitorado à temperatura variando de 2� a �4 ºC .

Os sólidos voláteis totais (SVT) afluentes, nas três fases de operação, man-tiveram-se na média 720, �90 e 9�0 mg. L-�, respectivamente (Tabela �). Estes va-lores são de duas a três vezes maiores do que a concentração dos sólidos voláteis de esgoto forte apresentados por Metcalf & Eddy, �997.

Tabela 2: Características físicas do reator UASB

Para a alimentação do reator UASB utilizou-se líquido percolado advindo da primeira unidade (reator anaeróbio em batelada que trata o material orgânico pu-trescível). o efluente produzido era enca-minhado para um tanque de equalização que recebia esgotos sanitários e líquido percolado. A mistura era bombeada para o reator UASB, através de bomba peristálti-ca. A vazão aplicada foi de �440 litros por dia para todas as fases do trabalho.

Para o controle operacional do processo de digestão anaeróbia, durante o período de monitoramento do reator, acompanharam-se os seguintes parâme-tros: alcalinidade total e a bicarbonato, ácidos voláteis, temperatura e carga apli-cada (Formas de nitrogênio e DQO). As duas determinações iniciais foram efetu-adas pelo método de Kapp (�99�), os de-mais parâmetros foram determinados pelo APhA (�99�).

Figura �: Representação esquemática do reator UASB

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�02das bactérias que participam na digestão anaeróbia.

Figura 2: Comportamento do pH afluente e efluente, durante o período de operação do reator.

A Figura 2 apresenta o valor médio do pH afluente e efluente a cada dez dias de operação do reator UASB. Observa-se que durante a primeira fase de operação o pH manteve-se em torno de 7,0 e o efluen-te produzido apresenta ph variando de 7,2 a 7,7. Já no início da segunda fase, com carga de �,07 kg.m-�.dia-� , o pH afluen-te se manteve próximo a 6,5 e o efluente um pouco abaixo de 7,0. Finalmente na última fase, quando o reator UASB foi operado com maior carga, o pH afluente decresceu nos primeiros dias mantendo-se durante quase toda a fase com ph maior que 7,0.

De uma forma geral, durante as três fases nas proporções de �, � e �0% do lí-quido percolado na mistura com esgotos, o ph se manteve próximo de 7, valor este considerado favorável para as bactérias acetogênicas e metanogênicas. (GUJER e zEhNDER, �9��)

A grande quantidade de esgotos sanitários usados na mistura garante um ph ideal para evitar um colapso do reator. As populações de bactérias presentes no reator devem ser mantidas no sistema de forma que, à medida que ocorre a geração de ácidos voláteis na mesma velocidade, esses produtos formados sejam utilizados pelas bactérias metanogênicas hidroge-notróficas e acetotróficas (MOOSBRU-GGER e outros, �99�; VAN hAANDEL e LETTINGA, �994; ChERNIChARO, �970).

Já com relação aos sólidos voláteis efluente, estes permaneceram na média de 270, 290 e 2�� mg. L-�. Valores similares foram encontrados por Sousa (2000) tra-tando esgotos sanitários em reator UASB com tempo de detenção hidráulica de � horas.. Tabela 0� - Valores médios (

_

x ) desvio médio () de 20, �� e �0 determinações de parâmetros

durante as três fases de operação do reator.

AT: alcalinidade total; AB: alcalinidade a bicarbonato

4 Estabilidade Operacional do reator UASB

Os parâmetros que foram monito-rados durante o período de operação do reator UASB foram: ph , temperatura, al-calinidade total e a bicarbonato e concen-tração de ácidos graxos voláteis, sendo estes parâmetros indicativos da estabili-dade operacional. Já com relação à carga orgânica foram determinados: demanda química de oxigênio e demanda bioquí-mica. Na digestão anaeróbia, durante o catabolismo fermentativo, alguns requi-sitos são necessários para que o processo ocorra adequadamente. Nesse sentido, no experimento usou-se esgoto sanitário para que se mantivesse um ph próximo do neutro, que é um requisito fundamental, pois o ph interfere na taxa de crescimento

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Uma outra vantagem da presença de esgotos na mistura utilizada é a ca-pacidade de tamponamento, os esgotos sanitários mantêm os sistemas carbônico (CO2-hCO�

--CO�-2), amônia, fosfato, sul-

fato e ácidos graxos voláteis, resistentes à variação de ph.

A Figura 0� apresenta o comporta-mento da concentração afluente e efluen-te de alcalinidade a bicarbonato durante as três fases de monitoramento do reator UASB. Observa-se que a alcalinidade a bicarbonato afluente se manteve na média de �2� e ��� mg CaCO� /L na primeira e segunda fases, respectivamente, passan-do a �9� mg CaCO� /L na terceira fase. A concentração de bicarbonato mantém um ph muito favorável para digestão anaeró-bia. O sistema carbônico apresenta uma alta capacidade de tamponamento.

Nestas condições, num reator ana-eróbio, as espécies carbonato, hidróxido e próton hidrogênio aparecem em menor concentração do que o íon bicarbonato. Por outro lado, ocorre um aumento de al-calinidade no efluente produzido.

Figura 3: Alcalinidade a bicarbonato afluente e efluente, durante as três fases de operação do

reator UASB

Observa-se na Figura 0� que duran-te a primeira fase de operação a concen-tração de bicarbonato efluente se manteve na média de 4�0 mg CaCO� /L crescendo na segunda para �0� e para �2� mg CaCO� /L na terceira fase (Tabela �). A alta alca-linidade efluente apresentada (Figura 3)

deve-se à alcalinidade produzida no pró-prio reator, bem como àquela contida na água de abastecimento da cidade de Cam-pina Grande, que se mantém geralmente em torno de 2�0 mg CaCO� /L.

Com relação aos ácidos graxos vo-láteis, observa-se na Tabela � que a con-centração efluente manteve-se na média de 7�, �02 e �0 mg hAc / L , na primeira, segunda e terceira fases, respectivamen-te.

No início de cada fase, ocorreu um aumento na concentração efluente de áci-dos, provavelmente devido ao aumento da carga volumétrica aplicada. No entan-to, cerca de vinte dias após, ocorria de-caimento tornando-se assim uma concen-tração baixa de ácidos voláteis (�0 a �02 Hac/L), significa dizer que a atividade metanogênica era garantida não havendo acúmulo de ácidos. Esse comportamento, indica uma boa eficiência do processo de digestão, pois o reator apresentava uma alta capacidade de transformar o acetato, gás hidrogênio e gás carbônico em me-tano.

5 Remoção de Matéria Orgânica

Para a eficiência de remoção da matéria orgânica, utilizou-se a DQO como parâmetro, determinando-se o valor afluente e efluente. observa-se na Figura 4 que na primeira fase de operação do re-ator a eficiência manteve-se na média de 70% , mantendo-se 7� e 72% nas segun-da e terceira fases, respectivamente.

Pessin e outros (2000) operando re-ator tipo UASB obtiveram eficiência de remoção um tanto similar, no entanto, a carga orgânica aplicada foi bem menor (0,4� kg/m � dia).Segundo os autores, a taxa de carregamento orgânico no caso do percolado pode variar de 0,� a �0 kg/m � dia.

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Figura 4: Comportamento da DQo afluente e efluente, durante o período de operação do reator

UASB

6 Conclusões

Tratar conjuntamente líquido per-colado com esgotos domésticos em reator anaeróbio de fluxo ascendente com manta de lodo pode se tornar uma promissora al-ternativa tecnológica.

A eficiência de remoção de maté-ria orgânica expressa na forma de DQO manteve-se, na média de 70% na primeira fase, 7� e 7�% nas segunda e terceira fa-ses, respectivamente.

A alcalinidade a bicarbonato no afluente durante todo o período de opera-ção do reator UASB variou de ��� a �9� mg CaCO� /L, mantendo-se na média de �42 mg CaCO� /L, indicando que a mistu-ra (líquido percolado e esgotos sanitário) apresenta boa capacidade de tampona-mento.

Durante todo o período de monito-ramento não ocorreu colapso do sistema, o valor do ph sempre se manteve na faixa ideal para a digestão anaeróbia.

7 Agradecimentos

Os autores deste trabalho agrade-cem o apoio financeiro concedido pela FINEP/PROSAB para a realização deste trabalho e do CNPq pela concessão das bolsas de pesquisas.

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�0�

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Resumo: O artigo aborda, sob a perspec-tiva da Historiografia do Direito, a forma-ção do Periodismo Jurídico no Brasil, que emergiu a partir de ��4� e atuou como im-portante elo no florescer da cultura jurídi-ca oitocentista. Os jornais e revistas jurídi-cos se desenvolveram de diversas formas, em especial, na órbita das Academias de Direito. Primeiro em São Paulo e Recife; mais tardiamente no Rio de Janeiro, Ouro Preto, Belo horizonte e Salvador.Palavras-chave: história do Direito; Pe-riodismo Jurídico; Ensino Jurídico no sé-culo XIX.Abstract: This paper shows, under the historiographical perspective of the Law, aspects of the periodic scientific jurispru-dential movement that emerged in Brazil in ��4�. These publications really sup-ported the early Brazilian juridical culture and allowed it to expand. Newspapers and magazines had several editorial lines, but specifically here, it will be identified the academic production a priori in Sao Pau-lo and Recife; and later in Rio de Janeiro, Ouro Preto, Belo horizonte and Salvador.Key-Words: - Law historiography; Scientific Judicial Periodic; Brazilian Law Schools in �9th Century.

1 Introdução

A incursão da Católica do Tocantins, ao apostar na elaboração de uma publica-ção científica medrada do seio acadêmico, induz-nos imediatamente a rememorar a marcante trajetória do florescer do perio-dismo jurídico oitocentista.

Neste artigo encontram-se cata-logados os periódicos que nasceram nas entranhas das Faculdades de Direito (ou orbitaram esse universo letrado) nas cin-

Direitoo período jurídico oitocentista na órbita das academias Brasileiras

co últimas décadas do século XIX. Ante-vendo o futuro, as empoeiradas páginas de nossa Revista poderão embevecer o curioso investigador duma época vindou-ra. Aqui, ele aferirá a produção científica incentivada pela Instituição neste início de milênio.

Nos últimos anos, o interesse pelo periodismo jurídico arrebatou novos pes-quisadores. No mofo, nas traças e na poei-ra dos velhos jornais e revistas, investiga-dores buscam o fluido para azeitar novas perspectivas nos estudos jus-historiográ-ficos. o italiano Paolo Grossi (1997), pio-neiro e grande incentivador das investiga-ções posteriores realizadas sobre o tema, afirmara que a história das revistas resti-tui a complexidade do Direito Moderno; a complexidade do cultural; a complexida-de da substância.

Ao dissertar sobre as publicações científicas dirigidas ao Direito, na cente-nária Universidade de Coimbra, Portugal, Armando Formiga (200�) catalogou os periódicos jurídicos editados no Brasil do século XIX e que foram lançados por associações, pela iniciativa privada, pelas Faculdades, pelos acadêmicos e pelos Tri-bunais2.

O autor brasileiro, antes de redigir a dissertação sobre o periodismo jurídico no Brasil do século XIX, procurou o es-critor Luís Bigotte Chorão (2002), jurista que esmiuçou o movimento jus-periodista oitocentista em Portugal. O então mestre lisboeta cordialmente ajudou a traçar o curso que deveria ser percorrido; em es-pecial o cariz metodológico. Para satisfa-zer os objetivos da investigação, Chorão insistiu que não bastaria a mera individu-alização dos títulos da imprensa jurídica – seguida da narrativa das histórias par-

Armando Soares de Castro Formiga�

� É Mestre em Ciências Jurídico-históricas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coim-bra, Portugal; Professor da disciplina de história do Pensamento Jurídico, no Curso de Direito da Faculdade Católica do Tocantins; Consultor da Assembléia Legislativa do Estado do Tocantins; Advogado; Administra-dor de Empresas; Jor-nalista.

2As pesquisas foram efe-tuadas com base nos se-guintes acervos: Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro; Biblioteca da Fundação Joaquim Nabuco, Recife; Biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo, São Paulo; Biblioteca do Tribunal de Justiça do Es-tado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre; Biblioteca da Faculdade de Direito de Coimbra, Coimbra, Portu-gal; Biblioteca Nacional, Lisboa, Portugal.

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�0�ticulares de cada periódico. Esta opinião ele já havia consignado em sua obra: “A finalidade que temos em vista é a de apu-rar as diferentes expressões da influência exercida na cultura jurídica [...] pelo mo-vimento periodístico analisado” (ChO-RãO, 2002). Seria necessário construir um imprescindível vetor do estudo que considerasse a biografia ou bio-bibliogra-fia dos protagonistas ligados aos diversos projetos editoriais analisados.

Antes de encarar o teclado e o ecrã do computador, a missão do investiga-dor tupiniquim incluiria o levantamento de todos os periódicos que circularam no século XIX, distinguindo as publicações originariamente jurídicas das que mes-clavam outros segmentos do jornalismo, como o material tipicamente processual da Justiça. Em seguida, era preciso en-xergar todos os atores e personagens en-volvidos diretamente na produção perió-dica, identificando o contributo de cada personagem no processo de formação da emergente tradição jurídica brasileira. De fato, a história dos periódicos jurídicos associa-se significativamente à infância jurídico-cultural brasileira.

O Brasil oitocentista foi alinhavado por inúmeras mudanças, em especial, no quadro jurídico nacional. Neste terreno fértil, o jurisperito brasileiro afirmou-se pela escrita e pela cultura, ao deitar às pá-ginas das revistas especializadas escritos que espelhavam a inquietude daqueles tempos. O pensamento como “balão de ensaio”, que via nos periódicos o labo-ratório perfeito para experimentar idéias, testar fórmulas doutrinais inéditas, po-lemizar fatos e, principalmente, revelar novos atores; personagens heterogêneos da nascente classe dos intelectuais brasi-leiros, integrada por magistrados, advoga-dos, burocratas, lentes, acadêmicos, polí-ticos, escritores e até poetas.

Como fonte jus-historiográfica, o abundante campo de trabalho estava pronto a despertar. Das páginas dessas publicações, projetou-se o extraordinário

desempenho coadjuvante exercido pela produção periodista no medrar jurídico-cultural brasileiro.

Alguns aspectos históricos precisam ser amarrados. A elaboração da primei-ra Constituição sinalizou o desabrochar duma cultura jurídica verdadeiramente brasileira. Com a instalação da Consti-tuinte, o imperador foi alertado para a ne-cessidade de estimular a instrução públi-ca, mormente a superior�. Mesmo com a intenção programática consignada na pri-meira carta política brasileira, três anos se passariam entre a promulgação do texto constitucional imposto por Pedro I (��24) e a edição da Lei que instituiu os Cursos de Ciências Sociais e Jurídicas de Olinda e São Paulo (��27).

Outra pilastra importante na for-mação jurídico-cultural remete ao esta-belecimento do Instituto dos Advogados Brasileiros (��4�), “um desdobramento quase natural, por assim dizer, dos cursos de Direito. É inquestionável que os fun-dadores desta entidade, desde há primeira hora, aspiravam à autonomia corporativa, inspirados na cultura jurídico-francesa, em especial na da Ordre des Avocats”. (GUIMARãES, 200�)

Curiosamente, as primeiras ações tomadas pela entidade estavam umbilical-mente ligadas ao nascimento do periodis-mo jurídico brasileiro. A proposta formal para a criação do IAB partiu do conselhei-ro Francisco Alberto Teixeira de Aragão, ministro do STJ, que fez publicar na Ga-zeta dos Tribunaes (��4�) – primeiro pe-riódico jurídico nacional – um manifesto que propunha a fundação de uma Asso-ciação de Advogados. A partir de então, a Gazeta passou a divulgar com freqüência os fatos e as obras do recém-instaurado Instituto dos Advogados.

Ao longo do século XIX, a im-prensa jurídica adolesceu paralemente ao fortalecimento institucional da máquina burocrático-estatal, na medida em que surgiam e desapareciam inúmeras novas publicações.

� Inicialmente, um Con-gresso Constituinte foi ins-taurado e depois dissolvido pelo Imperador. Pedro I terminou por impor uma Constituição que retratava suas idéias.

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2 O periodismo jurídico

o século XIX reuniu todos os fa-tores favoráveis ao crescimento do pe-riodismo no mundo – quer generalista, quer especializado. Economicamente, foi no oitocentos que a tecnologia aplicada à fabricação do papel e à manufatura de impressoras (cada vez mais rápidas) per-mitiu às tipografias desenvolverem uma linha de produção mais eficaz. Com o liberalismo, a censura prévia diminuira, dando espaço à liberdade de expressão; um princípio já consignado em algumas Constituições políticas. Em França e nos Estados Unidos, o jornalismo obteve um crescimento vertiginoso. No Brasil, o re-gente João autoriza a implantação da Im-prensa Régia (��0�).

O aparecimento do periodismo es-pecializado – nomeadamente nas áreas das ciências sociais, medicina e enge-nharia – impulsionou a disseminação da produção intelectual, cultural e científica, num fluxo desvairadamente dinâmico, po-lêmico, instantâneo e quase-imediato.

o pensamento jus-filosófico do sé-culo XIX consolidou o império das leis e dos códigos, contrapondo à Escola histó-rica do Direito, liderada por Savigny. Com o aparecimento dos primeiros periódicos jurídicos, os jurisconsultos passaram a pulverizar seus escritos, impregnados pelo frescor do atual, afruntando o fértil calei-doscópio doutrinário dessa época. Além do doutrinal, era preciso dar publicidade aos julgados; divulgar as leis; comentar os códigos; enfim, expor-criticar-apoiar novas teorias.

Na nova óptica do jurista, o tempo passou a medir-se em termos mais curtos e exi-gentes. Defronte de um legislador tomado de vertigem empreendedora, o jurista tor-nou-se ansioso e sôfrego de informações precisas e actuais [e] quanto menor fosse o intervalo de periodicidade, maior seria a garantia de actualidade. (MARCOS, 2002)

É impossível desassociar a evolu-ção das Ciências Jurídicas do papel im-portante exercido pelo periodismo jurí-

dico, em especial, no Brasil oitocentista, que procurava estabelecer uma identidade cultural no campo do Direito.

Segundo Chorão (2002), a histó-ria dos periódicos jurídicos constitui a história da cultura de um povo: “Milha-res de páginas impressas permitem-nos a descoberta de valores e ideais, projec-tos, influências e leituras, teoria e prática, personalidades e itinerários individuais e institucionais, intelectuais e cívicos”. Por sua vez, o italiano Paolo Grossi (�997) observa que os periódicos jurídicos vi-vem no tempo, refletindo com a límpida nitidez o sentido de um itinerário, o qual, precisamente com a longitude de uma li-nha ininterrupta, evidencia com clareza a estabilidade, as variações e as revoluções desse mesmo itinerário.

O estudo das revistas e jornais jurí-dicos atende objetivamente a dois planos: (a) contrariar os prejuízos de visões mo-noliticamente dogmáticas; (b) fundamen-tar sínteses futuras que permitirão traçar novos entendimentos do Direito e da rea-lidade histórica, à luz das revelações que este estudo proporciona, em função do carácter notadamente analítico, atento aos detalhes, às particularidades e a conside-rar fatores extrajurídicos.

Na Europa, o fenômeno do periodís-tico brota no final do século XVIII, preci-samente na França. Servem de referência Journal des Causes Célèbres (�77�), Ga-zette des Tribunaux (�7��) e Jurispru-dence de la Cour de Cassation (�79�). No entanto, a grande influência inicial foi marcada pelas publicações jurídicas ger-mânicas: Friedrich Carl Von Savigny ini-ciou a edição do periódico Zeitschrift für geschichtliche Rechtwissenschaft (����), juntamente com K. F. Eichhorn e T. F. L. Goschen. Em ��20, é lançado o Archiv der Gesellschaft für aeltere deutsche Ges-chichtskunde, seguido por Zeitschrift für deutsche Recht (��20).

Paralelamente aos lançamentos ger-mânicos, o italiano Bartolomeo Belli deu ao prelo a Raccolta delle più importanti

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�0�decisioni dei Suprimi Tribunali de con-tenziosa (����), seguido do Repertorio generale di giurisprudenza dei Tribunali Romano (���7), publicado até ����. Fun-dado por Giuseppe Maria Regis, o Diario Forense Universale circulou pela primeira vez em ��2�; já Annali di giurisprudenza (���9) foi editado pela Sociedade Toscana de Jurisconsultos. Dos primórdios do jus-Dos primórdios do jus-periodismo hispânico, podemos anotar as iniciativas da Gaceta de los Tribunales (���4); Anales Administrativos (���4); Boletín de Jurisprudencia y Legislación, Crónica Jurídica (���9); La Universidad y El Foro (��4�/��4�); El Foro Nacional; e Revista General de Legislación y Juris-prudencia.

Em Portugal, a vitória liberal per-mitiu algumas condições favoráveis ao surgimento de iniciativas com este cariz. Em Lisboa, Porto e Braga, os profissio-nais do Direito se organizam em asso-ciações de classe. No seio da Sociedade Jurídica de Lisboa surgiu o primeiro pe-riódico do gênero (CRUz, �97�). A co-dificação chegara a Portugal de forma marcante e as revistas jurídicas se atrela-ram ao imediatismo do fato atual; o leitor passava a consumir informação e exigir uma periodicidade maior. Esta demanda somente começaria a ser suprida com o aparecimento de importantes publicações – distintas pela longevidade das iniciati-vas – como a Revista de Legislação e de Jurisprudência (����), O Direito (����) e – anos depois – a Revista dos Tribunaes (���2). Estes periódicos experimentaram uma organização sólida, a qual os trans-portou pelo tempo adiante.

3 O movimento periodista no Brasil

No começo do Segundo Reinado foi lançado, no Rio de Janeiro, o primei-ro periódico jurídico brasileiro: A Gazeta dos Tribunaes (��4�), porta-voz do con-selheiro Francisco Alberto Teixeira de Aragão no projeto que ele capitaneou de criação do Instituto dos Advogados Brasi-leiros (��4�).

Nas páginas da Gazeta, Aragão su-geriu a criação de uma entidade que faci-litasse, quando fosse oportuno, o advento da Ordem dos Advogados. A Gazeta dos Tribunaes, lançada em janeiro, atuaria verdadeiramente como “abre alas” no processo de criação do IAB (��4�).

Foi nesta fase, estigmatizada pelos Gabinetes liberais, que se registra o apa-recimento dos primeiros jornais jurídicos. Foi também nesta época que começou a articulação em prol de uma codificação civil brasileira, com a contratação do jus-risconsulto Augusto Teixeira de Freitas.

Os periódicos editados nas duas dé-cadas seguintes ao número inaugural da Gazeta dos Tribunaes, do ponto de vis-ta editorial, apresentavam um conteúdo acanhado, típico das gazetas. Respeitá-veis revistas de caráter doutrinal somen-te apareceriam nos idos de ���2, com o lançamento dos primeiros números da Re-vista do Instituto da Ordem dos Advoga-dos Brasileiros, órgão oficial do Instituto dos Advogados Brasileiros (semente da OAB), e da Revista Jurídica, de José da Silva Costa e José Carlos Rodrigues.

No quadro político do Alto Segun-do Reinado, jovens idealistas lançaram o Manifesto Republicano e cobravam mais intensamente o fim da escravidão. Nesta época, importantes publicações começa-ram a circular. Traziam, além da doutrina, comentários às decisões jurisprudenciais e inseriam os diplomas legislativos mais relevantes. Destacaram-se Gazeta Jurí-dica (��7�) e O Direito (��7�). Ao todo, Formiga (200�) catalogou �2 periódicos jurídicos, editados entre ��4� e �900. Destes, 2� originam na órbita das Acade-mias de Direito.

Com o advento da República, o re-gime promoveu imediatamente significa-tivas reformas na estrutura do Poder Ju-diciário, criando os Tribunais Superiores Estaduais – com sede nas capitais dos Es-tados – e a Justiça Federal. No plano edu-cacional, uma nova legislação permitiu a implantação de Faculdades Livres, dando

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novos rumos ao Ensino Superior. Como reflexo das mudanças, dois novos forma-tos editoriais se consolidaram: (a) as revis-tas científicas acadêmicas e (b) as revistas de cunho exclusivamente jurisprudencial; segmento aberto com a implantação dos Tribunais Superiores nos Estados.

A reforma do Ensino Superior de Benja-min Constant obrigou as Congregações das Academias de Direito a produzirem revis-tas científicas. Assim surgiram, na década de noventa, dentre outras, a Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, Re-vista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife, Revista da Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais, Revista da Fac-uldade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro. Nomes como Clóvis Beviláqua e Sylvio Rodrigues abraçaram os projetos das publicações acadêmicas.

Na evolução periodismo jurídico brasileiro destaca-se ainda a produção originada nos corredores das Faculdades. As publicações estudantis que orbitaram inicialmente os Cursos de Recife e de São Paulo apresentavam-se como verdadeiros laboratórios e exercitavam o pensamento dos pretensos jurisconsultos; nomes que se estampariam daí por diante na litera-tura, nos Tribunais e nos palanques polí-ticos.

4 Títulos originados nas academias

Eis os títulos catalogados. Dentre os 2� periódicos jurídicos acadêmicos relacionados com base na pesquisa de Formiga (2005), é possivel identificar as publicações (a) que nascerram do fervor estudantil; (b) que resultaram da iniciati-va programática das Faculdades; (c) que surgiram por força das reformulações de Benjamin Constant.

a) Ensaio Philosophico Pernam-bucano Periódico Scientifico e Litterario (Recife, ���7) - No cerne do academis-mo pernambucano, três anos depois da transferência da Faculdade de Olinda para o Recife, surgiu o Ensaio Philosophico Pernambucano – Periódico Scientifico e Litterario. Circulou, embora sem cons-

tante periodicidade (entre ���7 e ���9), impregnado pelo debate que seguia uma tónica assumidamente filosófica; aliás, como aparecia anunciado na primeira edi-ção: “Não faltam escriptores contepora-neos que reconheçam no tempo em que vivemos a mais profunda e irresistível tendência para o materialismo. O Ensaio Philosophico Pernambucano [...] é um franco, porêm solemne protesto contra a materialidade da epocha”. A publicação tinha como redatores Laurentino Moreira de Carvalho e Pergentino Saraiva Araújo Galvão.

b) Revista Acadêmica – Jornal de Sciencias e de Litteratura (Recife, ����) - Publicada quinzenalmente e “dirigi-da por uma Associação de Acadêmicos” matriculados na Faculdade de Direito do Recife, circulou – no ano de ���� – a Re-vista Acadêmica: Jornal de Sciencias e de Litteratura4. A produção editorial foi ca-pitaneada por José Joaquim Tavares Bel-fort, com a colaboração de José Júlio de Albuquerque Barros e Francisco Franco de Sá.

É inquestionável a função experi-mental (até mesmo laboratorial) que este gênero de publicação exercia na atividade acadêmica. Este exercício intelectivo es-tudantil refletiria sensivelmente na futura produção jurídico-literária de cada inte-grante do corpo redatorial, a exemplo do que aconteceu com Tavares Belfort.

c) Revista da Academia de São Pau-lo – Jornal Scientifico, Jurídico e Históri-co (São Paulo, ���9) – Dentre os periódi-cos editados pelos acadêmicos do Largo de São Francisco, inclui-se a Revista da Academia de São Paulo – Jornal Scien-tifico, Jurídico e Histórico, que circulou de forma meteórica entre abril e agosto de ���9. Na segunda edição, sobressai o arti-go escrito pelo então estudante José Viei-ra Couto de Magalhães, “Apontamentos sobre o methodo dos Allemaes no estudo da jurisprudência”.

d) Annaes do Ensaio Acadêmi-co (São Paulo, ���2) – “O vasto mundo

4 Dizia o texto de apre-sentação: “Legar, aos vindouros, provas irre-fragáveis do estado dos povos passados, insinu-ar-lhes os progressos da sciencia, apresentar-lhes quadro, onde possam el-les ver pintados em todo o brilho os grandes fei-tos dos heroes, as mara-vilhas da arte, fazer-lhes finalmente a narração do que a intelligencia ha concebido e a mão do homem executado: tal é em resumo o grande fim que a imprensa se impõe e que chega a comple-tar satisfatoriamente. A Revista Acadêmica é o symbolo de nossa adhesão ao progresso; e ainda que as nossas producções sejam na actualidade destituídas de mérito, temos toda-via a fundada esperança de que [...] poderão um dia ser lidas e merecer louvores a nossa infadi-gável perseverança.”

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��0da verdade não conhece as columnas de hércules. Os Annaes hoje se apresentam pedindo lugar ao lado dos seus irmãos de Imprensa acadêmica. Quer as luctas das palavras unir os exercícios de Imprensa”. Assim estava escrito no texto de apresen-tação dos Annaes do Ensino Acadêmico, periódico que brotou nos corredores da Faculdade de Direito de São Paulo, entre os anos de ���2 e ����.

Naquele ano, a Associação Estu-dantil Ensaio Acadêmico resolveu lançar seu órgão oficial. A opção dos redatores não seria outra: enveredar pelo abundante caminho da doutrina. Esta iniciativa aca-dêmica, assumidamente doutrinal, teve vida efémera, no entanto, marcante pela qualidade dos textos depositados em suas páginas.

e) Revista Mensal do Ensaio Jurí-dico – Jornal Acadêmico (Recife, ����) – Apareceria, em ����, a Revista Mensal do Ensaio Jurídico, “orgam da Associa-ção Acadêmica Ensaio Jurídico”, que na primeira edição apresentou seu programa: “Intimamente compenetrados da grande importância dessas considerações, alguns alumnos desta Faculdade, verdadeiros amantes da sciencia que cultivam, vene-radores sinceros da grave missão que os aguarda, determinaram-se a fundar, com o nome de Ensaio Jurídico, uma associa-ção cujo único e exclusivo fim é da dis-cussão de questões jurídicas, pela tribuna e pela Imprensa, e mais particularmente, no exercício da prática do processo crimi-nal”. O quadro de redatores incluía os en-tão acadêmicos Fellipe Franco de Sá, José Augusto Galvão Pires, Milciades Ferreira da Silva, Frederico Martinho de Araújo, João Alves Mergulhão (no futuro, um bri-lhante criminalista) e Antônio Martiniano Lapemberg (maranhense que se destacou como causídico).

f) Faculdade do Recife – Jornal Acadêmico (Recife, ����) – Mais uma publicação recifense que foi criada e di-rigida pelo estudante José Fiel de Jesus Leite: Faculdade do Recife – Jornal Aca-

dêmico. O periódico, editado entre maio e agosto de ���� pelos alunos quintanis-tas Faculdade de Direito, não passou do oitavo número. Coube ao doutor Pedro Autran da Matta Albuquerque, lente da Academia pernambucana, minutar o texto de apresentação do tablóide.

Curiosamente, o periódico rela-cionou o nome de todos os formados pela Faculdade pernambucana, de ���2 a ���2. Em destaque os ilustres Eusébio de Queirós Coutinho Mattoso da Câmara, Ruy Barbosa�, Clóvis Beviláqua, Augus-to Teixeira de Freitas, Francisco Tavares Benevides, Benedicto Marques da Silva, Francisco Xavier Pereira de Brito Júnior e Francisco de Mello Coutinho de Vilhena. O jornal também listou os alunos matricu-lados na Academia em ����.

g) O Futuro – Periódico Scientifi-co e Litterario (Recife, ���4) – Mais uma publicação acadêmica que teve vida efê-mera: O Futuro – Periódico Scientifico e Litterario, porta-voz dos anseios da mo-cidade que reunia estudantes brilhantes como Antonio Castro Alves�, Luiz Fer-reira Maciel Pinheiro, Aristides Augus-to Milton e António Alves de Carvalhal. Apareceu em ���4 nos corredores da Fa-culdade do Recife.

Dentre os textos analisados, en-contra-se o “Manifesto Abolicionista”, de autoria do então acadêmico paraibano Maciel Pinheiro. Na área jurídica, desta-cam-se escritos doutrinais como “Direito Público: Soberania e Poder”, cuja autoria não é identificada. Estrapolando o jus-pe-riodismo, vale a pena considerar a rese-nha “Impressões da leitura das poesias de A. A. de Mendonça”, assinada por Castro Alves.

h) Jornal do Ensaio Literário (Reci-fe, ���4) – Outro exercício do periodismo jurídico emanado da inquietude estudantil dos pernambucanos que, apesar do título, dedicava-se à publicação de artigos jurí-dico-doutrinais, em especial, relaciona-dos ao Direito Constitucional. O tablóide teve como redatores Antônio dos Passos

� O ilustre Ruy Barbosa ter-minou a graduação na Aca-demia de São Paulo.� Disse Sacramento Blake: “Desde sua en-trada para o collegio em que estudara os primeiros rudimentos da língua pá-tria, revelou a mais bella e robusta intelligencia, e mais tarde um verdadei-ro génio para a poesia, em que não seria inferior a Gonçalves Dias, nem ao que mais alto subisse nesse ramo da litteratu-ra, si não morresse tão joven”. Estudou huma-nidades na Baía; iniciou o bacharelado em Ciên-cias Jurídicas e Sociais na Faculdade do Recife, mudando para São Paulo depois, “mas não chegou a formar–se por fallecer no quarto anno do dito curso. (BLAKE, ��9�). “O número avultado de caixotes no vapor Santa Maria chamou a atenção do estudante Adriano Fortes Bustamante, que aportou em Santos a �2 de março de ����. Ali mesmo, a bordo, outro tripulante, o acadêmico Sancho de Barros Pi-mentel, informava-lhe tratar-se de Ruy Barbo-sa, grande estudante que vinha de Pernambuco, para cursar o terceiro ano da Academia de São Paulo; assim como Castro Alves, passageiro do mesmo vapor. Inscre-veram-se juntos Castro Alves e Ruy Barbosa no curso jurídico, aquele sob Nº. 2� e este Nº. 2�”. (MARTINS; BARBUy, �999)

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Miranda, José Nicolao Tolentino de Car-valho e José Elysio de Carvalho Couto. Circulou meteóricamente, entre ���4 e ����.

i) Revista Acadêmica de Sciencias e Lettras (Recife, ��7�) – A revista sa-lélite da Faculdade de Direito do Recife foi publicava mensalmente em cadernetas de 56 páginas, formando no final de cada ano lectivo um “bello volume de 400 pá-ginas”, com título e índice.

Ao folhear o tablóide estudan-til, avista-se artigos exclusivamente de cunho doutrinal, a exemplo de “Os prin-cípios da Economia Política”, do quinta-nista Jeronymo Muniz Ferrão de Aragão; “Centralisação administrativa”, assinado por Augusto Borburema; “Fica revogado o reconhecimento do filho natural, feito em testamento roto, quer pela agnação do posthermo preterido, quer por outro testamento solemnimente feito?”, de José Joaquim Seabra Júnior; “A mulher auto-risada pelo marido a commerciar, pode independente de autorisação especial, contractar uma sociedade? 7”, por Pedro Leão Velloso Filho, aluno do quarto ano; “O Direito Público moderno reconhece aos Estados um Direito de propriedade sobre os mares? Quaes os limites d’esse Direito?”, de autoria do acadêmico João henrique Vieira da Silva; “A Lei Falcidia e o senatusconsulto trebelliano vigoram entre nós?�”, do quintanista; e, por último, “Da escravidão entre os romanos”, por Antônio Amazonas d’Almeida.

No boletim de atualidades, Pedro Paulo Amaral relatou o movimento acadê-mico na Faculdade de São Paulo, fazendo referências à álvares de Azevedo, Castro Alves, Fagundes Varela e Martins Cabral, “glórias de nossas lettras”. Ele escreve também sob o efervescente jornalismo na Academia do Recife, nos idos de ��7�.

j) A Estrea – Revista Scientífica e Litterária dos Acadêmicos do 1º Anno (Recife, ��7�) – A publicação estudantil distribuiu-se a �º de junho de ��7� e ti-nha o corpo redatorial formado por Júlio

Cezar Leal, José Maria de Albuquerque Mello, Manoel do Nascimento Castro e Silva, Manoel Antero de Medeiros Furta-do e Manoel do Remo Melo.

“Pelo princípio moral de confrater-nização e particularmente pelos estreitos laços de consócios na sciencia do Direito, os estudantes do primeiro anno procuram exprimir, por estas breves palavras, a es-tima e a consideração que tributam aos companheiros escolares”, anunciava o texto introdutório do periódico quinzenal. Os artigos apresentados pelo tablóide aca-dêmico mostravam a verdura típica dos alunos do primeiro ano.

l) Ensaio Jurídico e Litterário (Re-cife, ��7�) - “Surgindo hoje à luz da pu-blicidade, o Ensaio Jurídico e Litterario não pode esquivar-se aos estylos jorna-lísticos”. Assim apresentou-se o periódi-co, impresso quinzenalmente a partir de �o de maio de ��7�. Tratava-se de mais uma tentativa jornalística capitaneada pe-los intrépidos acadêmicos recifenses; um exercício passageiro que encerraria ve-lozmente. De fato, não passou da terceira edição. Desse “ensaio jurídico-literário”, listamos os integrantes do corpo editorial: Tarquinio de Souza Filho, Pedro de Quei-ros, António Augusto de Vasconcelos, Virgílio Brígido, J. Augusto de Souza e Gil Amora. Ao folhear as páginas do En-saio, os artigos enveredam pela Filosofia do Direito (“Considerações sobre a lei”, texto de Tarquinio de Souza Filho), Di-reito Civil (“Os actos praticados contra a determinação da lei, envolvem nullida-de, ainda quando esta não venha expres-sa?”, por Pedro Queirós) e Direito Natural (“Propriedade Litteraria”, de autoria de Augusto de Vasconcelos).

m) Direito e Lettras – Revista Aca-dêmica do Atheneu Jurídico Litterario (São Paulo, ��7�) – Por iniciativa dos alunos da Faculdade de Direito de São Paulo, foi distribuída, em agosto de ��7�, Direito e Lettras – Revista Acadêmica do Atheneu Jurídico Litterario. O periódico dividia-se em duas partes: a jurídica, sob

7 wLembrava o autor: “É um princípio geral de Di-reito Civil, que a mulher casada, mesmo maior, não pode, qualquer que seja o regimen do casamento, contractar sem que preceda autorisação do marido”.� Afirma o articulista: “Na falta de legislação expres-sa, devemos recorrer ao Di-reito Romano, e admittir as suas prescripções, enquan-to de accordo com a bôa razão, como declara a Lei de �� de agosto de �7�9”.

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��2responsabilidade de Tristão da Fonseca; a literária, capitaneada por Affonso Celso Júnior.

De todos os artigos publicados na revista, um texto desperta especial aten-ção: o acadêmico Tristão da Fonseca rela-cionou os autores e os compêndios adota-dos pela Faculdade naqueles anos. Assim, é saber que, no primeiro ano, os estudan-tes assistiam às aulas de Direito Natural (cadeira leccionada por dois lentes; um preferia seguir a “Theoria Transcendental do Direito”, o outro o “Eccletismo Ca-tholico”), Direito das Gentes (Teoria de Fiore) e Direito Romano (Compêndio de Warnkænig, considerado “notável” pelos alunos).

No segundo ano, os alunos tinham contato com o Direito Constitucional (de-bruçavam-se na obra de Pimenta Bueno, “predominantemente a eschola conser-vadora”) e Direito Eclesiástico (o Com-pêndio de Vilella Tavares, “que seguia em regra o autor, excepto a Theoria Ul-tramontana não adoptada pelo lente, que professa[va] a eschola gallicana”).

Ao chegar ao terceiro ano, era a vez de estudar o Direito Civil (que incluía uma recapitulação do Direito Romano, “Theoria das Pessoas”, a Lei do Elemento Servil, a Locação de Serviços e o Direi-to de Família – “com base na obra do Dr. Lafayette”) e Direito Criminal (a doutrina era voltada à Escola de Bhenthan; o có-digo estudado com base na obra de Braz Florentino, cujo “o mérito do nosso legis-lador é tão conhecido, que inútil torna-se declaral-o”).

No quarto ano, os acadêmicos es-tudavam o Direito Comercial (as expli-cações apareciam de acordo com o Có-digo Comercial; a doutrina de Vidari era aplicada para compreensão do instituto das Letras de Câmbio) e o Direito Civil (o programa incluía: Direito das Coisas; Posse, com base nas Escolas de Savigny e Ihering; Testamentos, de acordo com Gouvêa Pinto; e o Compêndio do doutor Tiago de Loureiro).

Quando quintanistas, eles apren-diam Direito Administrativo (com base no Compêndio do conselheiro Furtado), Prática (Compêndio do conselheiro Ra-malho) e Economia Política (Compêndio do senhor Pedro Autran, “professando-se a Escola Moderna de Macleod”).

n) Gazeta Acadêmica de Scien-cias e Lettras (Recife, ��79) – Em maio de ��79, surge a Gazeta Acadêmica de Sciencias e Lettras. Acadêmicos de todos os anos integravam o corpo redatorial. Do primeiro ano, Costa Maia; do segun-do ano, Alfredo Raposo Barradas, Do-mingos Felippe de Souza Leão e Urbano Santos da Costa Araújo; do terceiro ano, J. M. C. Muniz Freire, J. homem de Si-queira Cavalcanti e Virgílio Gordinho; do quarto ano, Artur Leal Ferreira e Manoel do Nascimento Castro e Silva; dentre os quintanistas, António Ibyapina e João B. de Mello Peixoto.

o) Ihering – Folha Jurídica e Phi-losophica (São Paulo, ���2) - Coube ao então acadêmico Washington Badaró, na qualidade de redator-chefe, simultanea-mente com outros alunos da Faculdade paulistana (Lamounier Godofredo, Braz Arruda, Constantino Paletta e Noguei-ra Jaguaribe), lançar o periódico Ihering – Folha Jurídica e Philosophica.

p) Revista Acadêmica da Faculdade de Direito do Recife (Recife, ��9�) – Re-caiu sobre professores Clóvis Beviláqua, José Izidoro Martins Júnior, Adelino Luna Freira Filho, António de Siqueira Carnei-ro da Cunha e José Joaquim de Oliveira Fonseca a responsabilidade pela edição do primeiro volume da Revista Acadê-mica da Faculdade de Direito do Recife, distribuída em ��9�. As palavras iniciais de Beviláqua delinearam os objetivos do periódico oficial da Academia recifense9. Verdadeiramente, o jurisconsulto aparece como o timoneiro da Revista Acadêmica, cuja presença assegurou a qualidade do conteúdo. Foram dele os textos de desta-que, reunidos no primeiro volume, como “Contribuições para a história do Direi-

9 “A bella reforma, que há de ficar como vestígio luminoso da passagem de Benjamin Constant pelo Governo, quaesquer que sejam os pontos fracos e as lacunas que possam desco-brir nella a crítica philoso-fica, há de ser fecunda em bons resultados, princi-palmente, porque fará di-ffundirem-se noções exac-tas sobre o conjunto das sciencias que nos fornecem os elementos da synthese objectiva do mundo, e por que despertará estímulos mentaes para as investiga-ções scientificas. Não que-remos fazer, agora, crítica nem apologia à reforma; queremos simplismente dizer que ella encerra ele-mentos poderosos para o levantamento da mentali-dade brazileira e que, entre esses elementos, occupa logar saliente a creação de uma revista acadêmica em cada uma das escholas fe-deraes de ensino superior. A Revista Acadêmica é es-sencialmente jurídica, ou se preferirem, jurídico-social. Seu campo, no entanto, é assas vasto, porque não só o Direito está intimamente relacionado com muitas sciencias, como depende de outras, além de que o quadro das que se ensinam na Faculdade já é bastante largo, e de que as questões fundamentaes se apoiam, em regra, nas generalida-des da sciencia propedêuti-ca do Direito, como sejam a Psychologia que elle é um ramo”.

�0 Diz o professor: “Um dos pontos em que a reforma de Benjamin Constant de-monstra um espírito liberal e adiantado, é sem dúvida, o que se refere à creação da cadeira de Medicina Legal, lacuna sensível e que por si só conserva na retaguarda dos programmas da Facul-dade de Direito do Recife”.

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to” e “Applicação do methodo comparati-vo ao estudo do Direito”.

O segundo número da Revista Aca-dêmica (��92) publicou o Parecer emitido pela Congregação, sobre os bens patrimo-niais das ex-princesas (Isabel e Leopoldi-na), em resposta ao pedido do Ministério do Interior. Em artigo, o doutor Adelino Filho externou sua opinião sobre a de-manda: “Julguei que a questão não era de puro domínio do Direito Civil, por não se tratar de um caso commum da vida social, garantido pelo Direito; mas antes de um instituto público-jurídico, que tinha como causa occasional um daqueles casos – o casamento”.

A seção de Doutrina reunia textos de Beviláqua (“Algumas observações so-bre o Direito Autoral”, “Breves noções de legislação comparada sobre o divórcio”, “Apontamentos sobre a evolução de al-guns regimens de bens entre cônjuges” e “Sobre a nova theoria da responsabilida-de”); de José Joaquim de Oliveira Fonseca (“Recurso à pronúncia, em crime inafian-çável, estando o reo solto”); de Adelino Filho (“A medicina legal na Faculdade de Direito do Recife�0”); e de Phaelante da Câmara (“Tobias Barreto de Menezes: seu carácter, seu talento, seus escriptos e prin-cipalmente os seus estudos jurídicos”). A resenha biográfica foi dedicada ao livro de Tobias Barreto, Estudos de Direito (��92), publicação esta dirigida original-mente por Sylvio Romero.

Em �99�, a Revista trazia o proje-to de Código Penal, que se encontrava na Câmara dos Deputados, detalhado pela exposição de motivos; um primoroso tra-balho que analisou cada título da pretensa Lei.

Um texto de Vieira de Araújo, em ��94, questionava a sucessão dos bens vagos (questionando se pertenceriam aos Estados ou à União), tomando como base a Constituição e a Legislação comparada. Com a implantação do federalismo re-publicano, e na falta de uma codificação atualizada, o Brasil viveu uma fase mar-

cada pelo conflito de competências entre a União e as unidades federativas��.

“Agora que de novo se agita no par-lamento nacional a idéa de se dotar final-mente o Brazil com um Código Civil, é natural que todos os que estremecem a pá-tria brazileira e os que se interessam pelo desenvolvimento do Direito façam votos pela crystallisação dessa idéa em realida-de”. Assim, Beviláqua abriu a edição de ��9�. Do número editado no ano seguin-te, destaca-se a doutrina de Tito Rosas ao abordar a Teoria da Evolução em “Ap-plicações do Darwinismo no Direito�2”. O último número da Revista Acadêmica editado no século XIX foi o de 1898. Nos anos seguintes (��99, �900), a preciosa publicação que fluía da inesgotável fonte de conhecimento dos lentes pernambuca-nos não foi ao prelo; retornaria somente em 1901 (“Ano IX”), sem fazer qualquer referência à interrupção. No século XX, circulou até �99�, quando foi descontinu-ada pela Faculdade.

q) Revista da Academia de Direito da Bahia (Salvador, 1892) – Na vaga dos periódicos acadêmicos oficiais que surgi-ram nas Faculdades brasileiras, foi editada a Revista da Academia de Direito da Bahia (��92), oriunda dos lentes da Faculdade baiana, cuja instalação se deu um ano an-tes. O professor doutor José Augusto de Freitas capitaneou a Comissão Redatora, constituída também por Sebastião Pinto de Carvalho, Manoel Joaquim Saraiva, Affonso Castro Rabello e Firmino Lopes de Castro. No primeiro volume, merece destaque o artigo do doutor Affonso Ra-bello (“Esboço da Evolução Conceptual do Direito”), que criticava com grande elevação a teoria metafísica e a teologia do Direito.

r) Revista Acadêmica da Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, ��92) – Eis o texto introdutório da Revista Acadêmica da Faculdade Li-vre de Direito do Rio de Janeiro, lançada em ��92; um ano após a implantação da Academia:

�� Escreveu Vieira de Araú-jo: “A República exige im-“A República exige im-periosa e urgentemente que o Congresso Nacional vote o projecto de Código Civil de Coelho Rodrigues; [...] não temos jurisprudência nacional em ramo algum do Direito para transformar pelo Direito Costumeiro moderno as antiqualhas do Direito Civil portuguez e nem a tarefa é fácil, tanto que até os últimos dias da monarchia abolida, revi-vião na opinião de nossos institutos de governo da metrópole, incompatíveis com as insti-tuições cons-titucionaes representativas. Antes das obras de Teixeira de Freitas, pouco se anima-vão a atacal-os de frente”.

�2 No texto, ele observou: “Em nome da sciencia, não se ergue hoje o venábulo da crítica para ferir direc-tamente a Theoria da Evo-lução. A sciencia ainda não se illuminou conveniente-mente”.

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��4A Revista Acadêmica representa um pun-hado de esforços de estudantes da Facul-dade Livre de Direito, que pensam que a fundação de um jornal em uma Academia é de grande necessidade para que os alum-nos possam se exercitar, quer dissertando sobre theses da matéria cujo estudo se de-dicam, quer dando publicidade aos trabal-hos litterarios, preparando-se assim para melhor desempenhar a posição social que procuram alcançar.

As �� páginas do tablóide reuniam artigos doutrinais assinados pelos lentes Fausto Cardoso (“O regímen parlamentar no Brazil”) e Paula Ramos (“o final de uma Lição de Direito Penal: Theoria de Lombroso, Ferri, De Garafolo e Sergi”).

s) Revista da Faculdade de Direito de São Paulo (São Paulo, ��9�) – Na li-nha do periodismo jurídico academicista, a Revista da Faculdade de Direito de São Paulo iniciou as atividades na última dé-cada do século XIX. “Em sua sessão de 2� de abril do corrente anno, deliberou a Congregação dos Lentes da Faculdade de Direito de São Paulo iniciar a publicação de sua revista official”. Foi assim que, em ��9�, o primeiro número da Revista saiu do prelo. O êxito do periódico assegurou fosse editado até hoje, ��� anos depois. Integravam a primeira “Commissão de Redacção” os doutores Brazilio Augusto Machado de Oliveira, João Mendes de Almeida Júnior, Manoel Pedro Villaboim, Alfredo Moreira de Barros Oliveira Lima e o desembargador Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho.

Já nos primeiros anos, a Revista cumpria os objetivos estatutários propos-tos e expostos na resolução que a criou, trazendo impressos textos de Brazilio Machado (“Regímen Hypothecario: Ca-sos de renúncia tácita”), Frederico Abran-ches (sobre o “Litis contestatio” a luz da romanística), Manoel Pedro Villaboim (a dissertar sobre o Direito Administrativo), Alfredo Lima (“Constituição ou Carta Constitucional”), e Almeida Júnior (“Es-tudos da Prática Forense”).

t) Imprensa Acadêmica (Ouro Pre-

to, Minas Gerais, ��9�) – De Ouro Preto, então capital de Minas Gerais, apareceu Imprensa Acadêmica, periódico quinze-nal que tinha no corpo redatorial Gomes Lima, Carvalho Britto e Alfredo Guima-rães. “Muito grato ficamos aos collegas pelo modo lisonjeiro com que nos têm recebido, o que é realmente um poderoso incentivo que nos anima a superar as diffi-culdades na sustentação de nossa empre-sa”, comentou o redator, ao abrir a quarta edição. O jornal voltava-se aos artigos doutrinais e aos boletins informativos do dia-a-dia dos acadêmicos na Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas Ge-rais.

u) Revista da Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas Geraes (Ouro Preto, ��94) – Proclamada a República, a antiga capital mineira, Ouro Preto, ga-nhou a Faculdade Livre de Direito (��92). Na aplicação do Decreto que regulou o Ensino Superior, foi editada a Revista da Faculdade Livre de Direito do Estado de Minas Geraes, periódico jurídico-científi-co impresso a partir de ��94.

O primeiro número da Revista tra-zia um editorial assinado pelo doutor Affonso Pena. Em seguida, a parte dou-trinal consignava os artigos “Antiguida-des Romanas”, de Raymundo Correia, insigne poeta que demonstrou um lado multifacetado nesse escrito jurídico; “Le-gislação de Minas”, de Bernardino de Lima; “Hygiene nas Sciencias Sociaes”, do doutor A. Catão; “Liberdade”, texto do doutor Sabino Barroso Mello Fran-co; e o “Esboço do Código de Processo Criminal”, produzido pelo lente Levino Ferreira Lopes.“É incontestável o valioso repositório de estudos jurídicos traçados com alta maestria, esta Revista da Facul-dade jurídica de Minas Geraes; o número de ��9� não discrepa do anterior, quanto à importância do trabalho, excedendo-se, porém, vantajosamente quanto ao lavor typographico”, elogiou copiosamente Clóvis Beviláqua, ao comentar a publica-ção mineira, em nota divulgada no órgão

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oficial da Academia pernambucana. Com a transferência da capital, a Revista foi continuada em Belo horizonte e perdurou no século XX.

v) Revista Acadêmica (Rio de Ja-neiro, ��94) – Os acadêmicos que inte-gravam o Grêmio dos Estudantes da Fa-culdade Livre de Direito do Rio de Janei-ro lançaram um órgão oficial, a Revista Acadêmica, em junho de ��94. O inques-tionável teor jurídico era assegurado pela atenta Comissão de Redação, formada por Raul Pederneiras, Paranho da Silva e Ernani Torres. Coube a Sylvio Romero assinar o texto introdutório (“A Nova con-cepção do Direito no Brasil��”). O ilustre professor iniciou o escrito lembrando que foi ele o primeiro a pregar no Brasil a nova concepção do Direito no Brasil, te-orizada magnanimamente por Rudolf Von Ihering. No editorial que abria a edição de junho de ��9�, Franca Carvalho defendeu a estrutura das Faculdades Livres: “Feliz-mente Benjamin Constant, [...] uma das mais puras e brilhantes personalidades da República, suspendeu e [...] assegurou, em sua maior plenitude, a liberdade do ensino e a freqüência facultativa nos Cur-sos Superiores”.

x) Revista Jurídica (Rio de Janeiro, ��9�) – órgão dos estudantes da Facul-dade de Sciencias Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, a Revista Jurídica foi dis-tribuída a partir de maio de ��9�. O texto introdutório da Revista Jurídica relatava as atividades de comemoração do aniver-sário da Faculdade, implantada em maio de ���2. A estrutura editorial reunia arti-gos de doutrina e um boletim informativo. Na parte doutrinal, apareciam artigos de grandes jurisconsultos, ao lado dos textos dos estudantes. Enaltecemos os trabalhos de Sylvio Romero (“Philosophia do Direi-to”), de J. C. de Souza Bandeira (“O Es-tado: suas funções e órgãos”), de James F. Darcy (“O Divórcio”), e de Bandeira de Melo (“A inviolabilidade do Ministro Estrangeiro e suas immunidades de juris-dicção”). O terceiro ano da Revista (��97)

marcou uma nova fase da publicação. A nova Comissão Redatora era integrada pelos acadêmicos Prudente de Moraes Filho, Octávio Monteiro da Silva, Carlos Naylor Júnior, Fausto Augusto dos Santos e Cândido de Oliveira Filho.

z) Revista da Faculdade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, ��99) - A Faculdade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro foi fundada em ��9�. Sem obedecer, de ime-diato, às exigências do mesmo diploma legal que permitiu sua criação, o periódi-co científico da academia somente foi edi-tado oito anos depois. A Revista da Facul-dade Livre de Direito da Cidade do Rio de Janeiro foi impressa pela primeira vez em setembro de ��99, apresentando o se-guinte texto preambular: “É este o primei-ro número. Difficuldades várias andavam a obstar o seu apparecimento. Seu alvo é publicar [...] contribuições quaesquer com que os senhores lentes [...] entendam de discutir e elucidar os pontos do vasto programma [...] com a máxima liberda-de de espírito. A arena aí está”. Em �900, Sylvio Romero ganhou definitivamente espaço na redação (ao lado de Frederico Augusto Borges e Nilo Peçanha) e passou a comandar o periódico. O nome de Ro-mero ficou diretamente ligado à Revista, numa interação que rendeu bons frutos no conteúdo editorial. A Revista circulou ain-da em �90�; depois de �90� a �9��.

5 Considerações Finais

À luz da História do Direito, fica cada vez mais reconhecida a importân-cia desempenhada pelas revistas e pelos jornais jurídicos editados no século XIX. Além de constituir uma maneira discur-siva tão viva no oitocentos, esses perió-dicos representam uma fonte privilegiada na compreensão das instituições, da ju-risprudência, da doutrina e da legislação daqueles tempos.

O estudo dos periódicos como fonte histórica do Direito é relativamente recen-te. Brota a partir dos trabalhos desenvolvi-

�� Consigna Romero: “É uma prioridade que ouso reivindicar, por ter sido facto publicamente acontecido numa defesa de these, que se tornou célebre perante a Facul-dade jurídica do Recife [...] O absoluto chama-va-se, às vezes, natural. O bello absoluto, o bem absoluto, a verdade ab-soluta, a justiça abso-luta, o Direito Natural, a religião natural eram as expressões correntes para significar a idéa ty-pica, a essência do bello, da verdade, do Direito e da religião”.

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���dos por Paolo GRossi (na Itália) e andRé-Jean aRnaud (na França). Em Portugal, o assunto foi abordado nos anos sessenta do século XX por GuilHeRme BRaGa da CRuz14, mas obteve um refino destacável na investigação de luís BiGotte CHoRão.

O assunto permanecia inédito no Brasil. Coube a Armando Formiga (�99�) identificar, catalogar e revirar todas as pu-blicações jurídico-científicas oitocentista. O pesquisador constatou a curiosa relação entre o movimento periodista brasileiro e a emergência da cultura jurídica nacio-nal.

A dinâmica produção legislativa no florescer da jovem nação luso-america-na contou com o papel singular do mo-vimento periodista jurídico, que – além de revelar nomes e difundir idéias – pul-verizou no país-continente as bases para consolidação da justiça e de um Direito caracteristicamente brasileiro. No Direito, a capacidade laboral dos juristas brasilei-ros esteve também estampada nas páginas dos periódicos. Gazetas, jornais e revistas jurídicas que, verdadeiramente, atuaram como coadjuvantes nesse processo de for-mação da cultura brasileira, inclusive na atmosfera acadêmica.

6 ReferênciasBlaKe, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. 7 volu-mes. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, ��9�-�902.

CHoRão, Luís Bicotte. O periodismo jurídico português do século XIX, páginas de história da cultura nacional oitocentista. Lisboa: Im-prensa Nacional, 40� p. , 2002.

CRuz, Guilherme Braga da. A Revista de Legis-lação e Jurisprudência, Esboço de sua História. Volume 1. Coimbra: Coimbra Editora, ��2 p., �97�.

FORMIGA, Armando Soares de Castro. O perio-dismo jurídico no Brasil do século XIX: a im-portância do movimento periodista no florescer da cultura jurídica nacional. Dissertação (Mestrado em Ciências Jurídico-históricas) – Universidade de Coimbra, Coimbra,242 p. , 200�.

GRossi, Paolo. ANzOATEGUI, Victor Tau (Org). La Revista Jurídica en la Cultura Con-temporanea. Buenos Aires: Ediciones Ciudad Ar-gentina,��9 p. , �997.

GuimaRães, Lúcia Maria Paschoal. A Casa de Montezuma. In: BAETA, herman Assis (Org.). História da Ordem dos Advogados do Brasil. O IAB e os Advogados do Império. Volume 1. Brasília: OAB Conselho Federal, 200�. 242 p.

maRCos, Rui de Figueiredo. A Fundação do Boletim da Faculdade de Direito e o Periodismo Jurídico em Coimbra. Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra. Coimbra. Volume Comemo-rativo. p. �� – 4� , 2002.

maRtins, Ana Luiza; Barbuy, heloisa. Arca-das: história da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco: ��27–�997. São Paulo: Melhora-mentos/Alternativa,�4� p. , �999.

�4 Diz o PesquisadoR: “É este também o modo me-lhor de os vivos avivarem na memória a lição que de-vem a quem os precedeu e tomarem nova consciência da responsabilidade que lhes cabe na prossecução duma obra que receberam como herança sagrada e que lhes cumpre transmitir aos que vierem depois de si”. (CRUz, �97�)CRUz, �97�)

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