sugimoto: a armadilha do tempo, 1998-0

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  • 7/28/2019 Sugimoto: A Armadilha do Tempo, 1998-0

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    , arte sugimoto

    u moto:- .....

    0I Id I . " , -Centro Cultural de Belm, LisboaAt 24 de Janeiro de I'"Todos os dias, das IIh s 20hoo,ltima entrada, I,hl 'Preo 300'00Tel.(ol) 361 24 00II8l88pnlPRara oportunidade para ver umaretrospectiva de obras fotogrficas desteartista Japonis, radicado nos Estados

    TI.mp

    Sugimoto, artista contemporneo japonsradicado em Nova Iorque, expe uma sride 127 fotografias no Centro Cultural de BDividida em seis grupos, esta uma expos

    City, Dezembro 1998? Janeiro, 1999?

  • 7/28/2019 Sugimoto: A Armadilha do Tempo, 1998-0

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    sde os tempos da Grcia Antiga que os artistas tentam imitarrealidade, procuram fazer cpias fiis, seja atravs da pintura,a na arte da escultura. A inveno da fotografia, h sculo e meiors, foi encarada na altura como a unio entre a arte e a cincia.capturar um fragmento do real e ao fix-lo numa superfciensvel luz, a cincia deu arte o instrumento que procuravamuito na sua busca da 'cpia perfeita'. Esta inveno foi, notanto, saudada com sentimentos contraditrios: por um lado foicarada com desconfiana por alguns artistas que nela viam umaeaa s habilidades que os demarcavam claramente dos outrosres humanos; por outro foi recebida com extremo jbilo enquantopositivo libertador. Finalmente, a pintura podia estar livre da suade imitar a forma exterior e fsica de um referente exterior,sim permitindo obra de arte existir de uma forma autnomaporventura abstracta.

    'MaIBIIo Dlclllvo'vido a esta capacidade de registar o real, a fotografia surgiuda a uma funo documental. Henri Cartier-Bresson, um dosoneiros na fotografia documental, declarou, por exemplo, quearte na fotografia residia na captura em pelcula do 'momentocisivo'. Foi s com a chegada do contexto filosfico que, no incios anos 80 veio a ser chamado de ps-modernismo, que estaseias foram postas em causa. Nesta altura, o objecto representadoaficamente deixou de ser um objecto no problemtico, vistoolhos inocentes e capturado num momento especfico. Agorarealidade externa passou a ser necessariamente filtrada atravs" nes rprias representao. Isto , o prprioomento decisivo' passou a ser construdo como uma ficoausvel. De um mero dispositivo documental ao servio do real,fotografia passou a ser um instrumento importante e complexoservia para desconstruir cdigos de representao.neste contexto que devem ser vistas as espantosas fotografiasSugimoto. Nesta primeira mostra da obra do artista japons emrtugal, -nos oferecida uma viso global atravs dos seis corposimagens que continuam a constituir a sua obra at hoje. O ritmotrabalho de Sugimoto ponderado e tranquilo e, com algumascepes, o artista elabora cada srie durante vrios anos.'IPo para Nova Iorquescido em Tquio em 1948, Sugimoto estudou SociologiaCincias Polticas na Universidade de Saint-Paul naquela cidade,tes de iniciar uma srie de viagens pelo Oriente e pelo Ocidente.incio dos anos 70, chegou Califrnia onde estudou noCenter College of Design e, em 1974, mudou-se para Novarque onde continua a viver hoje.

    do facto que a tranquilidade e contemplatividade quespiram nas suas obras poderem ser relacionados com a sualtura japonesa, Sugimoto no gosta das distines fceisestereotipadas entre o Oriental e o Ocidental.sua obra deveria ser vista mais como uma herana das tradiesArte Conceptual e da Arte Minimal que aparecem no Ocidentes anos 70. Sugimoto trabalha apenas a fotografiapreto-e-branco, utilizando sempre o mesmo formato, 51 x 61cm.seis conjuntos da obra so: Salas de Cinema, Drive-ins,oramas, Museus de Cera, Paisagens Martimas e Sanjusangen, ou a Sala dos Trinta e Trs Vos.tas fotografias partilham com a pintura e a escultura minimals como Donald Judd, Frank Stella dos anos 60, SolleWit)a obsesso pela repetio motivos quase iguais fotografadoseras vezes. Atravs da reiterao de imagens aparentemente

    idnticas, somos obrigados a olhar atentamente as obrase a procurar as diferenas que existem entre elas. Esta repeti particularmente evidente no conjunto Sala dos Trinta e TrsVos, onde os Budas dourados se encontram compostos semprda mesma maneira na fotografia: as diferenas entre uma obrae outra so minsculas. A necessidade que sentimos de abrando ritmo de observao para podermos distinguir estas diferena sintomtico da talvez mais importante preocupao do prprioartista: a preocupao com o tempo, ou com os modos de o viveoTempo CongeladoVestgio e marca de um momento irremediavelmente perdido,a fotografia um meio poderoso de meditao sobre o tempo.E assim o primeiro grupo de obras, os Dioramas, contm imageda 'natureza' representada atravs do artifcio de dioramas,encenadas em museus de Histria Natural. Cada cena um rea-made, ou seja uma composio sinttica que dissimula a'aparncia' da natureza e que congela a passagem do tempo nuespecfica zona geogrfica. Os Museus de Cera representamrelaes dentro de hierarquias sociais (seculares, religiosas,polticas ou criminosas) atravs de dramatizaes encenadas cobonecos de cera. Enquanto tableaux vivants, tanto os Dioramascomo os Museus de Cera imitam de uma forma irnica a funofotografia convencional. Estas fotografias do a iluso de captarmomento exacto, mas em ambos os casos, dado o artifcio dodispositivo, esse momento revelado como uma fico.Obviamente imveis, as figuras arrumadas nos escaparates desmuseus sugerem no a vida, mas a morte, ou peJo menos a vidasuspenso. Tal como a prpria fotografia, os Dioramas e MuseuCera representam seres para sempre presos num estado depotencial irrealizvel.Paisagens Martimas so imagens do mar tiradas ao nascerou ao pr do sol em diversos pontos do globo. Registam mudanmnimas de luz que absorvem ou revelam o oceano. O artista opinvariavelmente por um mar calmo que resulta sempre numa divsimples entre o mar e o cu. Com o seu 'assunto' depurado,estas paisagens misteriosas aproximam-se, paradoxalmente,das abstraces sublimes do pintor Mark Rothko.As fotografias no grupo Salas de Cinema foram realizadas entre1977 e 1981, quando Sugimoto visitou cerca de 200 salasde cinema construdas no perodo entre-guerras. Ao contrriodos estandardizados 'multiplex' modernos dos centros comerciaestas salas de cinema so, em si, espaos prenhes de memriaImitando, arquitectonicamente, estilos do passado, esto imbudde uma sensao de nostalgia e de temporalidade. Ajustandoo tempo de exposio da mquina fotogrfica durao totaldo filme, Sugimoto chegou a produzir imagens de um ecr brance luminoso.Assim, o resultado final uma projeco fictiva do filme no seu tVista em conjunto, a obra de Sugimoto hipnotizadora na suaarticulao cristalina da fantasia com a realidade, do vulgar como sublime. A preciso e a beleza (termo antiquado, mas aquiinevitvel!) de cada fotografia contribuem, paradoxalmente, parasensao do carcter ilusrio do conjunto. Sugimoto mostra-noscomo, dentro das convenes do 'hiper-realismo', o 'natural' nadmais que um artifcio. No sendo j a captura de um 'momentodecisivo', estas obras - mesmo as Paisagens Martimas maisaparentemente naturalistas - representam um momento tranquilomas imaginrio, assim permitindo que diversos registos darealidade permaneam suspensos numa ambiguidade sedutora.