sucessao em estabelecimento empresarial
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Sucesso fraudulenta de estabelecimento
empresarial Prejuzos a credores
Marcelo Augusto de Barros1
Outubro 2009
O conceito de estabelecimento empresarial dado pelo artigo 1.142, do Cdigo Civil, como
todo complexo de bens organizado, para exerccio da empresa, por empresrios, ou por
sociedade empresria. Esses bens podem ser de natureza corprea ou incorprea.
Bens de natureza corprea compreendem a matria-prima, mercadorias estocadas, mobilirio,
veculos, mquinas ou equipamentos, etc.
J os elementos incorpreos, segundo ensinamentos de Haroldo Malheiros Duclerc Verosa, in
Curso de Direito Comercial Volume 1, Malheiros, pg. 245:
so const itu dos pela expectat iva de lucros (aviamento), pelo
bom nome do empresr io, pelo ponto comercia l , pe los
contratos relac ionados com a at ividade do empresrio, pe lo
t tulo, pela insgnia do estabelecimento e pe los bens
inerentes chamada propriedade industr ia l (marcas e
patentes).
Para os fins da presente pesquisa, relevante tratar do aviamento ou goodwill, que pode ser
conceituado como sendo a qualidade, o atributo do estabelecimento, traduzido na sua
capacidade de gerar lucros, derivado da proficincia de sua organizao na conjugao dos
1 Integrante das rea Societria/Contratos
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diversos fatores que o integram (Srgio Campinho, in O Direito de Empresa luz do novo
cdigo civil, 6 edio, Renovar, pg. 318).
do aviamento, por exemplo, que nasce a clientela, reputao do empresrio e solidez de
crdito, fatores de suma importncia para a explorao da atividade econmica.
Soma-se, ainda, a tais elementos corpreos e incorpreos , a combinao de outro fator,
para perfeita compreenso do conceito de estabelecimento: a atividade laboral. Como bem
observado por Modesto Carvalhosa, in Comentrios ao Cdigo Civil, volume 13, 2 edio,
Saraiva, pg. 618:
De nada adianta ao empresrio reunir todos os bens
corpreos e incorpreos que considera necessrios para o
sucesso da empresa. A eles deve ser ad ic ionado esse fator
traba lho, sem o qual os mesmos bens no adquirem sequer a
unidade funciona l que os caracter iza como e lementos do
estabelecimento, e muito menos instrumental izam o exerccio
da empresa..
A tais elementos, que integram de forma conjunta o estabelecimento, podem-se atribuir pesos
de maior ou menor relevncia no sucesso da atividade empresarial. Em muitos casos, tais
atributos so de pblico conhecimento dos clientes, como marcas, reputao do empresrio, ou
ponto empresarial.
Uma loja em Shopping Center, por exemplo, traduz maior confiabilidade a determinados
compradores. Para outros, o que importa a marca, como ocorre com freqncia na moda
jovem.
Noutros casos, a gerao de riqueza est agregada a tcnicas e experincias acumuladas pelo
empresrio ou seus colaboradores, empregados ou no, mantidas com absoluto sigilo da
concorrncia, tais como tcnicas de industrializao, informaes de fornecedores, relatrios
estatsticos, mercados, produtos e empregados promissores, etc.
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Prtica comum, no entanto, a criao de manobras fraudulentas envolvendo estabelecimentos
empresariais com o nico objetivo de burlar a lei e frustrar credores. So estruturas societrias
que, embora formalmente distintas, mantm unidade gerencial, laboral e patrimonial.
Ou seja, um mesmo estabelecimento empresarial desfrutado por duas ou mais sociedades; o
chamado grupo econmico. Trata-se de mtodos simples, porm deveras eficazes, em especial
contra credores no diligentes. Com a mera inscrio de outro CNPJ, por exemplo, evita-se a
penhora on-line, sonho de qualquer credor em Juzo.
Bens que no dependem de registro em rgos pblicos (maquinrio, mercadorias) so
desviados, impedindo-se constries por oficiais de justia. Veculos e bens imveis so
vendidos a terceiros, em consilium fraudis travestida de boa-f. Marcas e patentes so
licenciadas para as prprias sucessoras.
Em determinados casos, criam-se estruturas paralelas, tambm meramente formais, com o
nico objetivo de reduzir a gerao de fluxos de caixa e, com isso, diminuir o valor da
sociedade. Basta lembrar que o mtodo de avaliao de empresas mais utilizado o fluxo de
caixa descontado (FCF, DCF, discounted cash flow), sendo que peritos judiciais de So Paulo
costumam projetar os fluxos futuros com base nos resultados passados. Nesse sentido, Agravo
de Instrumento n 492.275-4/3, www.tj.sp.gov.br. Scios minoritrios ou afastados da
administrao, e principalmente cnjuges, so os grandes prejudicados nessa modalidade.
O Poder Judicirio, felizmente, est atento a tais fraudes. Dvidas, entretanto, restam quanto
definio do fundamento jurdico da responsabilizao do grupo econmico perante os
credores.
A jurisprudncia costuma tratar tais questes como desconsiderao da personalidade jurdica.
Nesse sentido:
Havendo gesto fraudulenta e pertencendo a pessoa jur d ica
devedora a grupo de sociedades sob o mesmo controle e com
estrutura meramente formal, o que ocorre quando as diversas
pessoas jur d icas do grupo exercem suas at ividades sob
unidade gerencia l , laboral e patr imonial , legit ima a
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desconsiderao da personal idade jur dica da devedora para
que os efeitos da execuo alcancem as demais soc iedades do
grupo e os bens do scio major itr io.
REsp n 332763/SP, 3 Turma, j . 30/4/2002, Acrdo.
Fortes indcios de sucesso entre empresas. Coincidncia de
ramo de at iv idade, estabelec imento, sc ios e patronos .
Desenvolv imento ir regular da at ividade empresar ia l , f raude
contra credores ou abuso na ut i l i zao da pessoa jur d ica ,
sem reserva de bens idneos da executada para garant i r o
crdito exequendo. Hiptese de caracter izao da disregard
doctr ine . Agravo provido.
TJSP, AI n 7.152.981-2, 11 Cmara de Direito Pr ivado, Des.
Rel. Soares Levada, j. 2/8/2007, Acrdo;
CITAO - SOCIEDADE COMERCIAL - Pretenso c itao da
pessoa jur d ica const ituda pe la executada, bem como de seus
scios - Alegao de confuso patr imonia l e tentat iva de
ocultao de c itao pela executada - Admissib i l idade - P le ito
plaus vel , vez que fundado em bom direito e em provas que
fazem presumir sua razo e que no foram impugnadas nesta
oportunidade - Determinao de c itao da pessoa jur dica
que pertence ao mesmo grupo econmico da agravada e de
seus scios que no traz nenhuma grave conseqncia que
no possa ser bem dir imida pelo Poder Judic ir io depois da
ouvida dos novos executados - Medida, ademais, necessria
para garant ir o di re ito desses terce iros de oferta de bens
penhora - Agravo provido para asse f im.
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TJSP, AI n 7.106.632-5, 23 Cmara de Direito Pr ivado, Des.
Rel. Rizzatto Nunes, j . 31/1/2007, Acrdo;
No mesmo sentido:
Tribunal de Justia de So Paulo
AI n 887.216-0/6, 35 Cmara de Direito Privado, Des. Rel. Mendes Gomes, j. 6/6/2005;
AI n 7.096.108-9, 16 Cmara de Direito Privado, Des. Rel. Jorge Farah, j. 30/1/2007
Tribunal de Justia do Rio de Janeiro
AI n 2007.002.07107, 9 Cmara Cvel, Des. Rel. Roberto de Abreu e Silva, j. 7/8/2007
Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul
AI n 70020255220, 6 Cmara Cvel, Des. Rel. Osvaldo Stefanello, j. 18/10/2007;
AI n 70013241930, 5 Cmara Cvel, Des. Rel. Ana Maria Nedel Scalzilli, j. 26/5/2006
Superior Tribunal de Justia
RMS n 12872/SP, 3 Turma, Min. Rel. Nancy Andrighi, j. 16/12/2002;
So casos, em sua maioria, em que demonstrada a existncia de abuso da personalidade
jurdica e/ou confuso patrimonial, requisitos de extenso de responsabilidade aos scios e
administradores, na forma do artigo 50, do Cdigo Civil.
o que ensina Fbio Ulhoa Coelho, in Curso de Direito Comercial, Volume 2, 5 edio,
Saraiva, pg. 43:
Admite-se a descons iderao da persona l idade jur d ica da
sociedade empresria para co ibi r atos aparentemente l c i tos.
A i l i c i tude somente se conf igura quando o ato de ixa de ser
imputado pessoa jur dica da sociedade e passa a ser
imputado pessoa f s ica responsvel pela manipulao
fraudulenta ou abus iva do pr inc pio da autonomia
patr imonial.
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Nos julgados citados, contudo, a responsabilidade pelas dvidas foi estendida, tambm, s
demais sociedades integrantes do grupo econmico, hiptese no prevista, literalmente, no
referido dispositivo legal.
Melhor interpretao, talvez, seria a declarao de ineficcia da alienao do estabelecimento
(CC., art. 1.145) ou o reconhecimento da responsabilidade solidria das pessoas jurdicas que
passaram a explorar o estabelecimento empresarial, a que se pode chamar de sociedade
sucessora ou integrante do mesmo grupo econmico, conforme o caso (CC., art. 1.146).
H diversos julgados nesse sentido, todos do Tribunal de Justia de So Paulo:
PENHORA Incidncia sobre bens de pessoa jur dica
executada - Superveniente al ienao do ponto comercia l e do
nome fantas ia Alegao de impenhorabi l idade diante da
dist ino das personal idades jur dicas - Improcedncia
Ausncia de prova documenta l pr-const i tu da neste sent ido
ou just i f icat iva para sua ausncia nos autos Inexistncia
igualmente de prova documental da propriedade ou posse dos
bens Presena dos ant igos proprietr ios no
estabelecimento supostamente a l ienado Indc ios que
apontam para a inverossimi lhana das alegaes
Condic ionamento, ademais, da eficcia da al ienao ao
pagamento de todos os credores ou ao consent imento destes
Intel igncia do art . 1145 do Cdigo Civi l Embargos de
tercei ro re jei tados - Apelao improvida
TJSP, Ap. Civ. n 1084414-5, 19 Cmara de Direito Pr ivado,
Des. Rel . R icardo Negro, j . 24/7/2007, Acrdo
EXECUO POR TTULO EXTRAJUDICIAL - Cheques -
Insurgncia contra de deciso que no reconheceu a
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ocorrncia de sucesso de empresas, revendo deciso anter ior
para indefer i r a penhora dos bens de tercei ro -
Admiss ib i l idade - Fortes ind cios que apontam no sent ido de
ocorrncia de sucesso empresaria l - Constr io de bens da
sucessora permit ida - Agravo de instrumento provido
AI n 7.150.310-5, 18 Cmara de Direito Pr ivado, Des. Rel .
Roque Mesquita, j . 18/9/2007, Acrdo
Embargos de Tercei ro - Constr io que inc id iu sobre o
faturamento de empresa que no f igura no plo passivo da
execuo - Encerramento ir regular das at ividades da empresa
executada - Sociedades que desempenham as mesmas
at ividades, no mesmo endereo - Hiptese, ademais, em que
os scios de ambas as empresas so irmos - Ocorrncia de
sucesso empresar ia l de fato - Penhora mant ida. Embargos
improcedentes. Recurso no provido.
Ap. C iv. n 1342702-6, 23 Cmara de Direito Pr ivado, Des.
Rel. Jos Francisco Matos, j . 22/6/2007, Acrdo
No mesmo sentido:
Tribunal de Justia de So Paulo
AI n 7.156.478-6, 15 Cmara de Direito Privado, Des. Rel. Antonio Ribeiro, j. 31/7/2007,
Acrdo;
AI n 537.079-4/5, 9 Cmara de Direito Privado, Des. Rel. Antonio Vilenilson, j. 18/12/2007,
Acrdo
A diferena entre a desconsiderao da personalidade jurdica e a sucesso empresarial foi,
alis, bem tratada em deciso proferida pela 21 Cmara de Direto Privado do Tribunal de
Justia de So Paulo, sob relatoria do eminente desembargador Souza Lopes, que anotou:
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pode perfe itamente o credor postular a descons iderao da
personal idade jur d ica, voltando-se contra os scios, o que
totalmente dist into de pretender comprovar sucesso
TJSP, Ap. Civ. n 7.091.887-5, j . 29/11/2006
Pode-se entender, portanto, que manobras fraudulentas praticadas com a nica finalidade de
esvaziar o patrimnio da sociedade, mediante dilapidao dos elementos integrantes do
estabelecimento empresarial, devem implicar tanto desconsiderao da personalidade jurdica
para atingir os bens dos scios (CC., art. 50), quanto a responsabilidade solidria da sucessora
do estabelecimento (arts. 1.145 e 1.146).
Impedir tais conseqncias implicaria prestigiar a fraude lei ou contra credores.
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