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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE FORMIGA – UNIFOR-MG PÓS-GRADUAÇÃO – MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE NEGÓCIOS, MARKETING E CONTROLADORIA MARCELO ANGELO FAVARINI SUCESSÃO EM EMPRESAS FAMILIARES FORMIGA-MG 2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE FORMIGA – UNIFOR-MG

PÓS-GRADUAÇÃO – MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE NEGÓCIOS,

MARKETING E CONTROLADORIA

MARCELO ANGELO FAVARINI

SUCESSÃO EM EMPRESAS FAMILIARES

FORMIGA-MG

2010

MARCELO ANGELO FAVARINI

SUCESSÃO EM EMPRESAS FAMILIARES

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Pós Graduação MBA - Gestão Estratégica de Negócios, Marketing e Controladoria do Centro Universitário de Formiga – UNIFOR/MG como requisito parcial para obtenção do título de Pós-Graduado. Orientadora: Prof. Ms. Terezinha Richartz

FORMIGA-MG

2010

RESUMO

Este trabalho aborda o tema da sucessão de empresas familiares que consiste na

substituição dos proprietários-gestores na administração dessas empresas. Define o

que são empresas familiares, como elas surgem e qual o seu papel na economia

global. Classifica as empresas familiares em tradicionais, híbridas e abertas de

acordo com o nível de interferência dos sócios familiares. Define o processo

sucessório e quais as suas principais fontes de conflitos. Discorre as vantagens e

desvantagens conseqüentes do processo sucessório. Aborda a necessidade de um

planejamento nos níveis estratégico, patrimonial, de continuidade e de contingência

que garanta o sucesso e a continuidade do processo. Levanta e define a possível

necessidade de implantação dos processos de profissionalização (com suas

vantagens e desvantagens) e de governança (nos níveis corporativos, societária e

familiar). Define cultura e clima organizacional e os meios de realizar mudanças

organizacionais. Aborda e discute processos sucessórios de empresas familiares de

diversos ramos e atividades econômicas. Por fim, traz como conclusão os benefícios

do planejamento detalhado e antecipado da sucessão para o crescimento

econômico da empresa e da melhoria nas relações familiares e funcionais dentro

das organizações.

Palavras-chave: Empresas familiares. Governança corporativa. Sucessão.

Profissionalização. Planejamento.

ABSTRACT

This paper addresses the topic of succession of family businesses is the replacement

of owner-managers in running these businesses. It defines what family businesses

are, how they arise and what their role is in the global economy. It sorts family

businesses in traditional, hybrid and open according to the level of interference from

family members. Sets the succession process and what are their main sources of

conflict. It discusses the advantages and disadvantages resulting from the

succession process. It addresses the need for a strategic planning levels, assets,

business continuity and contingency to ensure the success and continuity of the

process. It rises and defines the possible need for implementation of the processes

of professionalization (with its advantages and disadvantages) and governance

(corporate levels, corporate and family). It defines organizational culture and climate

and the means to achieve organizational change. It addresses and discusses family

business succession processes of various industries and economic activities. Finally,

in conclusion brings the benefits of early and detailed planning of succession to the

economic growth of the company and improvement in family relationships and

functional within organizations.

Keywords: Family firms. Corporate governance. Succession. Professionalization.

Planning.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 06

2. SUCESSÃO EM EMPRESAS FAMILIARES .................................... 08

2.1. Definição de empresas familiares .................................................. 08

2.2. Os tipos de empresas familiares .................................................... 09

2.3. O processo sucessório em empresas familiares .......................... 09

2.4. Fontes de conflitos de um processo sucessório .......................... 10

2.5. Vantagens e desvantagens da sucessão ...................................... 11

2.6. Planejamento para o processo sucessório ................................... 12

2.7. Processo de profissionalização ..................................................... 13

2.7.1. Vantagens e desvantagens da profissionalização ....................... 14

2.8. Governança corporativa .................................................................. 15

2.8.1. Governança na empresa familiar .................................................... 15

2.8.2. Cultura e clima organizacional ....................................................... 16

2.8.3. Mudança organizacional .................................................................. 17

2.9. Algumas empresas e seus processos de sucessão familiar ...... 18

2.91. Grupo Pão de Açúcar ....................................................................... 18

2.9.2. Grupo Gerdau ................................................................................... 20

2.9.3. Grupo Votorantim ............................................................................. 20

2.9.4 Grupo Frigorífico Ceratti ................................................................. 21

2.9.5. Empresa Emplarel ............................................................................ 22

2.9.6. Empresa KEKO ................................................................................. 22

2.9.7. Empresa Castelo Alimentos ........................................................... 23

2.9.8. Empresa Transbahia ...................................................................... 24

2.9.9. Empresa Frigorífico Macedo ........................................................... 25

3. CONCLUSÃO .................................................................. 27

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 29

6

1. INTRODUÇÃO

As empresas familiares ocupam grande parte da paisagem econômica e

social e são as formas predominantes de empresas em todo o mundo. Quase

sempre, o início de uma atividade empresarial se faz da união entre parentes:

cônjuges que juntam suas economias e gerenciam lojas em conjuntos; irmãos que

aprendem a gerir negócios com os pais; filhos que iniciam suas atividades

profissionais com suas famílias. Pessoas que sonham com o sucesso e continuidade

dessas empresas familiares.

Muitos dessas empresas são de pequeno porte e podem não crescer ou

passar para outras gerações. Entretanto, as estimativas mais conservadoras

estabelecem que cerca de 65 a 80% do total das empresas são controladas por

famílias. Também é verdade que muitas delas estão entre as maiores e mais bem

sucedidas do mundo ao gerar grande parte dos PIB´s (produtos interno bruto) dos

países e dos empregos.

Estar em uma empresa familiar é algo que afeta todos os colaboradores.

Existe um relacionamento sentimental que pode misturar assuntos da instituição

com familiares “enraizadas” na sua realidade cotidiana e podem trazer

conseqüências positivas e negativas.

Quando dirigentes são parentes, seus valores, tradições e objetivos

costumam ser comuns, o que possibilita entender melhor as preferências explicitas e

as forças e fraquezas ocultas uns dos outros exigindo maior empenho, até mesmo

ao ponto de auto-sacrifício em nome do bem estar geral da família. Por outro lado,

essa mesma intimidade pode gerar conflitos e ir contra o profissionalismo do

comportamento empresarial, tornando os papéis na família e na empresa confusos,

e muitas vezes, a impossibilitar exercer autoridade sobre parentes o que gera níveis

de tensão e raiva que podem destruir empresas sólidas e de sucesso.

O processo sucessório é uma das maiores fontes de conflitos entre os

parentes nessa empresas familiares. Esta questão é ambígua, pois a sucessão pode

dar uma perspectiva nova de atuação na empresa ou levá-la a sua autodestruição,

caso esteja aliada à falta de profissionalismo.

7

Realizar um processo de sucessão exige um planejamento antecipado

que consiste na escolha do sucessor como ponto central, devendo estabelecer

critérios claros que defendam os interesses da empresa. Critérios esses que irão

nortear as decisões e posturas dos administradores como contratações,

renumerações, tomadas de decisões na promoção de funcionários.

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2. SUCESSÃO EM EMPRESAS FAMILIARES

2.1. Definição de empresas familiares

De acordo com Lodi (1993), pode-se considerar uma empresa familiar

quando um ou mais membros de uma mesma família exercem o controle

administrativo de uma empresa, possuindo parcela expressiva sobre o capital social.

Já Oliveira (1999), considera como empresa familiar quando a gestão e sucessores

mantêm-se em mãos da família.

Existe um preconceito de que empresa e família, quando reunidas tendem

a fracassar. Porém o que se prova é que esta parceria é possível além de lucrativa.

Essa visão negativa deve-se à estatísticas que comprovam que cerca da metade

das empresas familiares fracassaram, quebraram ou foram vendidas na primeira

etapa de sucessão para a segunda geração e cerca de trinta a quarenta por cento

fracassaram na passagem para a terceira geração.

Contudo, as empresas não familiares também fracassam e estima-se que

as empresas tenham um ciclo médio de vida de aproximadamente sessenta anos

independentemente de serem ou não familiares.

O que tem que ser entendido é que não é a família que atrapalha a

empresa e sim a ignorância dos problemas desse relacionamento, ou seja, a falta de

um código de relacionamento. Segundo Bernardi (1995), as empresas familiares

têm muitas vantagens que devem ser exploradas e bem administradas, estando

abertas a mudanças e atentas ao mercado.

Segundo Vidigal (1996), nos Estados Unidos a empresa familiar é

encorajadas. Universidades desenvolvem programas de apoio e incentivo a essas

empresas, pois são as maiores geradoras de empregos e fonte de riqueza. No

Brasil, porém, há uma desvalorização preconceituosa, já que muitas delas não

conseguem se livrar do perfil conservador e autoritário dos gestores diferente do

perfil norte-americano.

Fica claro que para uma empresa familiar de destacar e adquirir

expressão ela deve deixar o perfil conservador, ou seja, abrir capital, possuir uma

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gestão profissionalizada e ter racionalidade temperada com ousadia no processo de

tomada de decisão gerencial.

2.2. Os tipos de empresas familiares

Segundo Lethbridge (1994) existem três tipos de empresas familiares. O

primeiro seria a tradicional, que possui o capital fechado, pouca transparência

administrativa e financeira e a família exerce domínio completo sobre os negócios. O

segundo tipo seria a empresa híbrida, na qual empresa também exerce domínio dos

negócios, porém já se encontra profissionais não familiares na administração e

possui capital aberto. O terceiro tipo seria a empresa aberta, com o domínio dos

negócios entre os acionistas, porém percebe-se a intervenção e influência familiar

através da participação acionária, mesmo esta estando afastada da administração

cotidiana.

Portanto, fica claro que independente de seu tipo, torna-se indispensável

à empresa a presença de pessoas inovadoras, desprendidas de elos paternalistas e

preparadas para todas as situações.

2.3. O processo sucessório em empresas familiares

Sucessão é a substituição do proprietário-gestor fundador do

empreendimento a fim de dar prosseguimento à obra projetada, criada e conduzida

pelo pioneiro com enfoques e estilos de liderança e formação teórica e prática

renovadas. Representa o poder de continuidade de um nome de família, da história

de vida e da estruturação patrimonial ao longo das gerações sucessoras.

Segundo Lansberg, apud Bernhoeft (1996), considerados os maiores

consultores mundiais em empresas familiares, a garantia de sucesso está na

capacidade de separar os três chapéus: o chapéu de membros da família, o chapéu

de acionista e o chapéu de executivo da empresa. Não se deve misturar as figuras,

os direitos e deveres de cada membro, sob a pena de se permitir a instalação de

conflitos de interesses o que coloca em risco o processo sucessório e o sucesso dos

negócios.

10

Segundo Kignel (1993), cabe ao sucedido definir as regras de sucessão.

Além de planejar antecipadamente, é necessário que se faça obrigatório por força da

lei e entender, quem herda por disposição legal ou vontade daquele que está

dispondo de seus bens.

Ainda segundo Bernhoeft (1989), os elementos constitutivos de sucessão

são: o sucedido, os candidatos a sucessores, a família, a empresa, o mercado e a

comunidade, nos quais cada um desses elementos têm interesses especiais e

particulares na sucessão.

2.4. Fontes de conflitos de um processo sucessório

De acordo com Cohn (1991), as principais fontes de conflitos, que uma

empresa pode passar quando está em um processo de sucessão, podem ser

divididos em quatro zonas: na sucessão propriamente dita, nas participações

administrativas, na renumeração de cargos e nas responsabilidades do cargo para

com a família e sociedade.

Na zona sucessão propriamente dita, os principais conflitos surgem da

necessidade de escolher alguém que ficará encarregado de planejar a sucessão, de

quando ela dever ocorrer e como deverá ser feita. O simples fato de ter que

determinar essa pessoa já gera o início do conflito por interesses particulares

(COHN,1991).

Na zona de participação administrativa, os conflitos são determinados no

momento que são estabelecidas quais as pessoas que podem ou não fazer parte da

empresa, quando não podem mais entrar e como é determinada a autoridade e

preparação necessária para assumir um cargo, além é claro, do risco de se fazer

escolhas incorretas (COHN,1991).

Na zona de renumeração de cargos, os conflitos são estabelecidos,

quando se definem as pessoas que podem possuir ações e como se avaliam e

pagam os membros da família, o que gera ciúmes e disputa de poder pelos cargos

de maior renumeração (COHN,1991).

11

Já na zona de responsabilidades, os conflitos aparecem desde assuntos

pessoais como: casos de houver divórcios e filhos fora do casamento; até mesmo as

responsabilidades com a comunidade, aos empregados mais antigos e aos outros

membros da família. Os membros mais tradicionais e inovadores disputam as

responsabilidades com ideologias divergentes. Enquanto os tradicionais defendem a

permanência de determinados funcionários e a não entrada de novos talentos os

inovadores defender o contrário.

2.5. Vantagens e desvantagens da sucessão

Com o processo de sucessão surgem as vantagens de desvantagens às

quais as empresas familiares poderão se submeter, dependendo de como será

realizado esse processo.

Como vantagens podem-se destacar as práticas e teorias novas do novo

sucessor através de uma visão mais atualizada e em um patamar mais elevado de

profissionalização e de governança corporativa.

Por outro lado, no momento de assumir um elevado poder na empresa,

dar-se-á início aos velhos conflitos e disputas familiares que podem ter como

conseqüência a origem da falta de capital, da quebra do sigilo financeiro mal dirigido,

da falta de disciplina e dedicação, da utilização ineficiente de executivos e do

nepotismo.

Com a falta de um sistema de planejamento, as empresas focam na

melhoria exagerada da fábrica e equipamentos, gerando um sistema inadequado de

controle de custos, além da grande resistência ao marketing, que pode impedir que

a empresa aproveite o aparecimento de novos mercados e oportunidades de

desenvolvimento.

Mas um dos grandes problemas vem a ser o nepotismo. A promoção de

parentes por critérios subjetivos por laços familiares e não por merecimento, que

provocam uma sobrecarrega do administrador ao se vê obrigado a assumir as

responsabilidades pelas tarefas não executadas e carregando nas costas os

12

incompetentes, deixando a gestão e planejamento estratégico da empresa

comprometida.

Por outro lado, acontece a renumeração inadequada de parentes

competentes e merecedores dos cargos compatíveis, os quais se vêem

dependentes financeiramente da instituição que detêm todo o patrimônio,

desencadeando desmotivação e estagnação profissional do individuo e da empresa.

2.6. Planejamento para o processo sucessório

De acordo com Bernhoeft (1989), independente do porte da empresa,

elas devem basear-se conscientemente no planejamento em quatro níveis: nível

estratégico, nível patrimonial, nível de continuidade e nível de contingência.

O nível estratégico deve ser discutido pelos proprietários e define as

diretivas dos planejamentos futuros da empresa traçando objetivos a serem

perseguidos em um determinado prazo. Isto faz com que os gestores e funcionários

não saem do foco durante o processo sucessório e garante uma continuidade da

gestão antes da sucessão (BERNHOEFT,1989).

O nível patrimonial deve ser discutido pelos proprietários e por todos

familiares sendo de grande importância para o convívio familiar gerar ampliações via

novos empreendimentos por transformar empresa simples em grupos empresariais

diversificados e garantir a inclusão de vários membros da família de acordo com

competências e formações acadêmicas antes não aproveitadas pelo ramo de

negócio (BERNHOEFT,1989).

No nível de continuidade, discutem-se as regras e os critérios

democráticos e normativos, que orientarão os candidatos à sucessão, devendo ser

claros e tangíveis a todos os candidatos. É fundamentalmente a discussão do futuro

da liderança empresarial e sua preparação ao cargo (BERNHOEFT,1989).

Já no nível de contingência, buscam-se preparar a empresa, os familiares

e gestores para crises inesperadas tanto em assuntos financeiros e econômicos,

como no caso de eventual afastamento do principal líder empresarial

(BERNHOEFT,1989).

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Assim, o planejamento de sucessão familiar tem como ponto central a

escolha do sucessor que por sua vez deve respeitar a realidade da empresa familiar,

eliminar os focos de resistência, possuir uma equipe competente e motivada, ser

conhecedor amplo do negócio, saber trabalhar as necessidades e anseios dos

clientes, saber nortear e criar o futuro da empresa, saber administrar mudanças, ter

criatividade, pensar globalmente e, sobretudo, saber transformar os pontos fracos

em pontos fortes. Para se chegar a este nível de planejamento e gestão

administrativa, a empresa precisa passar pelos processos de profissionalização e

governança corporativa.

2.7. Processo de profissionalização

De acordo com Lodi (1993), profissionalizar uma empresa consiste no

processo pelo qual uma instituição qualquer, familiar ou tradicional, assume práticas

administrativas mais racionais, modernas e menos personalizadas, substituindo os

métodos intuitivos pelos racionais através da integração de gerentes contratados e

assalariados no meio de administradores familiares.

Para Vidigal (1997) esse processo se fez necessário devido à vinda de

empresas multinacionais e a abertura de mercados, obrigando as empresas

nacionais e tradicionais se modernizarem e profissionalizarem para competir e

sobreviver, ou mesmo se desagregar e ser absorvida por grupos estrangeiros.

As empresas familiares para obterem sucesso na sucessão devem

profissionalizar a família, através de treinamentos de jovens que tenham vocação

para serem executivos ou treinar os futuros herdeiros não para serem executivos,

mas para que sejam acionistas competentes e tenham noções básicas de

legislação, de contabilidade e de administração. É importante que o processo de

profissionalização seja entendido como estabelecimento de regras profissionais de

eficácia e eficiência.

Conforme Bernhoeft (1987), para que a profissionalização atinja níveis

satisfatórios é necessária que se crie um conselho de administração com os

membros ligados por laços parentescos e uma diretoria bem balanceada composta

14

por familiares e profissionais maduros. Ao aparecer qualquer tipo de conflito, deve-

se evitar seu aprofundamento. Quando o objeto de conflito for área especifica ligada

a um dos conflitantes, sugere-se transferir-la para um terceiro membro, mantendo as

relações em um nível de respeito não afetando o nível profissional.

Profissionalizar não é apenas entregar a administração dos negócios para

um profissional externo, mas saber lidar com os laços emocionais a fim de não

comprometer o futuro dos negócios; diferenciar herança de sucessão para que os

imobilizados da empresa não venham a ser “consumidos” pelo ego individual e

acima de tudo entender que a empresa familiar tem sua própria característica que a

diferencia das demais.

2.7.1. Vantagens e desvantagens da profissionalização

A profissionalização é uma das principais ferramentas para atingir o

objetivo de sucessão familiar, porém traz consigo vantagens e desvantagens.

Para Oliveira (1999), as vantagens baseiam-se no intercambio das

experiências novas e amplas trazidas pelo novo executivo vindo de outras

empresas, incorporando novos estilos de administração, além da flexibilidade para

alterações de executivos, pois fica mais fácil de substituí-los devido à inexistência de

laços afetivos.

Já as desvantagens consistem na “maneira de ser” da empresa familiar

ao qual o novo profissional deverá incorporar o seu estilo de administrar. Traz

também maior facilidade de se perder o profissional devido às incompatibilidades de

estilos ou melhores ofertas no mercado, motivado por melhores salários e benefícios

(OLIVEIRA,1999).

15

2.8. Governança corporativa

Outro processo eficiente para o sucesso no processo sucessório é a

governança corporativa, que consiste em um conjunto de práticas formais de

supervisão e monitoramento da gestão de uma organização. Visa aumentar a sua

transparência no sentido de proporcionar condições para um alinhamento de

interesses entre acionistas e gestores. Representa uma importante estratégia de

ação, legal e normatizada, para estabelecer os canais necessários e desejados de

comunicação entre a família e a empresa. Minimiza consideravelmente diversos

conflitos que se fixam a nas interseções entre família, gestão e propriedade.

2.8.1. Governanças na empresa familiar

Nas empresas familiares devido à coexistência e a interação de três

esferas que compõem a sociedade familiar (família, empresa e patrimônio), fazem

com que a dinâmica envolva questões de ordem emocional, legal, patrimonial e

empresarial.

Assim podem-se dividir as governanças nas três esferas: a governança

familiar, a governança societária e a governança corporativa.

A governança familiar deve administrar questões tais como as relações

sociais e familiares; a história registrada ou verbal da família para conhecimento das

gerações seguintes; um "family office" que atue como gestor dos interesses

familiares; zelar e preparar a família em que se refere à conduta pessoal e postura

ética, na medida que seu comportamento individual pode ter efeitos sobre a imagem

da sociedade e empresa (necessitam saber que são figuras públicas e como lidar

com isto); fornecer orientação e apoio para projetos pessoais; contemplar pontos

comuns à educação dos herdeiros; criar instrumentos de comunicação para a

família; administrar conflitos que possam surgir e evitar que os mesmos cheguem

até a empresa ou mercado; despertar e treinar as novas lideranças; assumir a

gestão da responsabilidade social da família na sua relação com a comunidade e

finalmente manter atualizado e respeitado um código de valores familiares.

16

A governança societária deve possuir uma clara visão e preocupação com

a liquidez do capital. Vai agir no sentido de gerir o modelo da sociedade; acordo de

direitos e obrigações dos sócios; controlar a pulverização e suas implicações;

realizar programas de treinamento dos acionistas para o exercício do seu papel;

acompanhar o desempenho dos Conselheiros; manter um sistema de informações

sobre o desempenho da sociedade para todos os acionistas; administrar o "family

office" que gere o patrimônio da sociedade e de interesse comum das famílias;

aprovar diretrizes para associações, fusões, incorporações ou venda de ativos;

administrar o código de ética/valores da sociedade e aplicar as sanções previstas no

acordo.

Já a governança corporativa, pode-se dividi-las entre as estratégias

corporativo-organizacionais; análise e avaliação dos resultados em representação

dos acionistas e avaliação do corpo executivo no seu desempenho à frente da

empresa. Além destes "conselhos" mencionados existem ainda o consultivo e fiscal,

com características e finalidades muito próprias. São instrumentos úteis para o

processo de profissionalização de acionistas e gestores de empresas nacionais de

forma geral.

As lideranças de cada uma dessas esferas exigem pessoas habilitadas e

com perfil apropriado, e não resiste à falta de profissionalização dos sócios o que

torna, nas empresas familiares, o controle mais delicado do que a simples lógica da

administração convencional.

2.8.2. Cultura e clima organizacional

As empresas, no modo geral, necessitam assumir uma postura

transparente diante do seu público interno e externo e reconhecer a importância dos

aspectos intangíveis para fornecer um clima organizacional favorável através da

divulgação de sua cultura organizacional.

Nas empresas, deseja-se que essa cultura seja espontânea, forte e

homogênea e não ditadas por uma liderança a fim de suportar os objetivos da

organização. Percebe-se, então, que a cultura organizacional provém das relações

17

interpessoais de seu quadro funcional e são oriundos da cultura e costumes das

pessoas que se interagem, somando valores, normas, crenças e princípios, em que

o fundador é quem mais influência neste contexto. Ainda chama-se a atenção para

a sociedade em que a empresa está inserida, pois ela está diretamente interligada e

suscetível aos danos excessivos da má administração, ao considerar a empresa

uma instituição e não mais um “ente” particular de seus proprietários.

Assim o período de sucessão, em que há transição de liderança, é a fase

mais crítica no ciclo das organizações. O novo líder traz consigo um novo estilo de

liderança e cultura e desencadeia resistências internas e externas. Dessa forma

provoca grandes mudanças organizacionais, tais como a troca os membros da alta

gerência por pessoas que se adaptam melhor ao seu estilo e trazem menor

resistência.

2.8.3. Mudança organizacional

O processo de sucessão é sem dúvida uma das maiores mudanças

organizacional que uma empresa familiar pode sofrer. Para isso, deve estar

preparada para agir com agilidade e capacidade de adaptação, dada a

imprevisibilidade de alguns acontecimentos que certamente virão.

Toda mudança gera resistência, e no caso da sucessão, a maior

dificuldade é a resistência do corpo funcional. Esta deve ser trabalhada para

promover as mudanças necessárias em quatro pilares: autonomia de decisão,

informação, motivação e estrutura organizacional.

Se as mudanças forem pequenas, deve-se trabalhar nas práticas,

comportamentos ou atitudes. Agora, se as mudanças forem significativas, deve-se

trabalhar nos paradigmas, ou seja, nos padrões a serem seguidos. Contudo, para

não se perder durantes as mudanças são necessárias traçar as metas e determinar

“um fim”, procurar combinar competências existentes nos colaboradores funcionais

da empresa, motivar a equipe para haver uma maior aceitação ou até a cooperação

entusiástica que apesar de rara são realizados por sua esperança no resultado.

Aceitar exige menos esforço do que resistir.

18

Além da rejeição e da aceitação, pode haver a indiferença, que é uma

defesa muito comum a um fato novo, por ser uma forma sutil de oposição.

Outro entrave é acreditar que as pessoas podem persuadir outras a

mudarem, mas o máximo que conseguem é exercer a influência. Mudança

pressupõe a passagem de algo conhecido para algo novo e duvidoso e nem sempre

o mais forte e inteligente sobressai às mudanças e sim aquele que melhor se adapta

a elas.

A mudança organizacional é continua, porém ao ocorrer a transferência

de liderança, fica claro, a existência de um processo inerente a ela e o novo líder.

Deve-se considerar antecipadamente e preparar a motivação do corpo funcional na

cumplicidade em torno da idéia da mudança iminente.

2.9. Algumas empresas e seus processos de sucessão familiar

Foram várias as empresas ou grupos familiares que realizaram com

sucesso o processo de sucessão no Brasil. O grupo Pão de Açúcar, Gerdau,

Votorantim, Frigorífico Ceratti e outras grandes empresas também familiares,

passaram pelo processo e foram capazes de aproveitar as vantagens do momento

para expandir e tomaram-se mais lucrativas, organizadas e profissionalizadas.

2.9.1. Grupo Pão de Açúcar

Grupo empresarial de propriedade da família Diniz, fundada pelo Valentim

dos Santos Diniz, atuante no ramo de distribuição e venda de produtos através de

redes de supermercados, expandiu-se através de aquisições de outras empresas do

ramo e da introdução de novidades no Brasil, como hipermercados e lojas de

conveniência.

No Grupo Pão de Açúcar, fica clara a grande preocupação do fundador

em conduzir o processo sob o ponto de vista de que o Grupo precisava continuar

sua trajetória de crescimento e desenvolvimento e, certamente levando em conta a

19

necessidade de se manter firme na disputa com a concorrência, já que atua num

mercado fortemente competitivo.

Parece correto interpretar que a assunção do comando por Abílio, que

embora por tradição devesse assumir o controle por ser o filho mais velho, teve

grande peso a experiência adquirida na superintendência do Grupo, pois certamente

vinha sendo observado por seu pai desde 1956 quando começou a trabalhar na

empresa.

Neste Grupo, os problemas internos aconteceram como ocorrem na

grande maioria das empresas familiares, com disputas internas entre os membros

da família, dificuldades de ações sinérgicas em torno de um único objetivo e com

momentos de fragilidade abrindo espaço para o avanço da concorrência.

A diferença, é que o fundador, que ainda se encontrava na ativa, mesmo

após ter encaminhado a passagem do comando da primeira para a segunda

geração, retomou o poder para si, acalmando as divergências internas e evitando

que o grupo fosse dividido em partes. Percebe-se, portanto, que as disputas

internas, aliadas a situações de mercado, ensejaram a debilidade do Grupo, mas o

próprio fundador conseguiu reverter o quadro para o reencaminhamento do

processo.

Resolvidas as questões, o sucessor pôde voltar a se dedicar à condução

do negócio e o Grupo não só se recuperou como voltou a ocupar importantes

posições no seu segmento de atuação.

Mais um aspecto pode ser observado no Grupo, agora na passagem do

comando da segunda para a terceira geração, pois mesmo contando com membros

da terceira geração em postos importantes, o sucessor se preocupou em identificar

a pessoa a sucedê-lo no comando, sob o ponto de vista da razão e não da emoção,

demonstrando adequado planejamento para a condução do processo.

A entrega do comando na terceira geração a um profissional externo à

família, o qual já vinha atuando em áreas estratégicas da empresa, demonstra que

novamente prevaleceu o desejo de continuidade e expansão dos negócios.

20

2.9.2. Grupo Gerdau

Em 1º de janeiro de 2007, André Gerdau Johannpeter, 46 anos, assumiu

a função de diretor presidente (CEO - chief executive officer) do grupo Gerdau no

lugar de seu pai, Jorge Gerdau Johannpeter , 70 anos.

Jorge esteve à frente da presidência do conglomerado de siderurgia

desde 1983, é bisneto do fundador e permanecendo apenas no conselho de

administração, ao lado dos irmãos, Frederico, Klaus e Germano.

André, que desde 2002 atua como vice-presidente executivo, passou a

presidir também o Comitê Executivo Gerdau (CEG), órgão máximo de direção

executiva do Grupo, responsável pela proposição e implementação das estratégias

aprovadas no Conselho de Administração.

Essa escolha foi tomada de forma consensual entre os membros do

Conselho de Administração da companhia, que concluiu que a gestão executiva

deveria continuar com a família controladora, considerando a existência de

profissionais capacitados para as funções designadas no novo modelo de

governança corporativa.

O processo de sucessão para a quinta geração da família Gerdau teve

início em 2000, apoio de cinco consultorias internacionais e é considerada pelos

especialistas a sucessão mais organizada já vista em uma grande empresa familiar

brasileira.

2.9.3. Grupo Votorantim

O comando do Grupo Votorantim, formado por quase 100 empresas, se

encontra atualmente com a terceira geração da família, que reúne 23 herdeiros.

Diante de um cenário que envolve processos de abertura de capitais,

internacionalização das operações e a futura diluição dos ativos na quarta geração

entre cerca de 60 herdeiros, a empresa optou pela adoção de um modelo de

governança corporativa e sucessão que deixa a família em posições mais

21

estratégicas no Comitê Executivo e aloca profissionais não familiares à frente das

unidades de negócio.

Uma sub-holding, a Votorantim Participações, tem estrutura semelhante a

um conselho de administração e controla o Conselho de Família - que lida com

assuntos societários, formação da quarta geração e gestão do recém-criado Instituto

Votorantim - e o Conselho Executivo, com membros escolhidos pelos controladores,

e são responsáveis pelas decisões estratégicas, definição de metas e

acompanhamento do desempenho das três áreas de negócios: Votorantim Industrial,

Finanças e Novos Negócios.

Fundada em 1918, a Votorantim foi eleita a melhor empresa familiar do

mundo, em 2005, pela IMD Business School e pelo Lombard Odier Darier Hentsch

Bank.

2.9.4. Grupo Frigorífico Ceratti

De acordo com seu presidente, Mario Ceratti, o frigorífico passa por um

processo tranqüilo de sucessão para a quarta geração.

Por conta de experiências negativas no passado, como morte de

herdeiros e disputas por patrimônio, a empresa adotou uma postura de prevenção

de eventuais conflitos e, para tanto, formulou um acordo de acionistas que

estabelece regras para a entrada dos herdeiros na gestão. Mario Ceratti foi o último

herdeiro a assumir mandatória e hereditariamente a gestão.

Atualmente trabalham juntas na empresa a terceira e a quarta gerações.

A candidata natural à sucessão é a sobrinha-neta de Mario, Bárbara, que

cuida de boa parte da área comercial e da área de projetos da empresa, é

proveniente da única parte da família que detém 50% das cotas e, segundo o

presidente, substituirá Mario na presidência por ser avaliada como qualificada

profissionalmente para o posto.

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2.9.5. Empresa Emplarel

A Emplarel é uma empresa fabricante de moveis e equipamentos para

lojas de fast-food administrada pela família Farah. Situada em São Paulo capital,

possui receita anual de aproximadamente de 15 milhões de reais e vem aumentando

ano a ano.

A empresa mantinha uma gestão ultrapassada onde os sócios

fundadores, Flávio – hoje com 70 anos – e o irmão Ferdinando, de 71 anos, não

cobravam responsabilidades um do outro para também não serem cobrados. A

empresa estava perdendo mercado para pequenos concorrentes e havia indefinição

de papeis de cada membro da família - irmãos e primos ocupavam seis cargos de

gerencia criados desde 1965.

Em 2002, em uma reunião entre gerentes membros da família e sem a

presença dos fundadores, definiram que era hora de mudanças e convenceram os

fundadores a definir seus papeis como gestores. Estabeleceram metas claras e

mensuráveis, além da cobrança de resultados e mais tarde completarem a

implantação de um conselho familiar, no qual seriam discutidos assuntos

estratégicos para os próximos anos.

Assim, melhorando a qualidade dos fornecedores para satisfazer as

necessidades dos clientes, conseguiram ampliar o mercado e vender fornos

importados dos Estados Unidos para redes como Spoleto e Subway. Outra

conquista foi convencer ex-clientes importantes como a Mcdonald´s a comprarem da

Emplarel novamente.

2.9.6. Empresa KEKO

A Keko situa-se em Caxias do Sul, RS e possui receita anual de

aproximadamente 69 milhões de reais. A empresa fabrica acessórios para

automóveis e é controlada pela família Mantovani. Fundada por Henri Mantovani,

hoje aposentado, é presidida atualmente por Leandro Mantovani, de 41 anos, filho

do fundador.

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No ano de 2007 os irmãos Leandro e Juliano conduziram profundas

mudanças nos negócios da família, o que culminou com a venda de parte da Keko

para o fundo de investimentos CRP (Companhia de Participações). Os seis

membros da família – ao todo, quatro irmãos e seus pais – transferiram suas cotas

para um holding, e tem direito de indicar dois representantes para o conselho de

administração, formado na ocasião do investimento do CRP, e o fundo tem direito de

indicar outro gestor. O objetivo dessa medida, comum quando fundos de

investimentos profissionais adquirem partes de empresas, é separar negócios

familiares dos corporativos.

O faturamento da empresa vem crescendo rapidamente, com a expansão

da Keko, realizado por Juliano e Leandro. Esta expansão consistiu em adquirir

clientes montadoras de veículos, fornecendo pára-choques, estribos e outros

acessórios que dão aos automóveis urbanos uma cara de off-road, uma modinha

hoje em dia.

A presença da CRP trouxe sangue novo. Esse processo de

profissionalização elevou a nível nas contratações que contam com executivos com

passagem em grandes empresas como a fabricante de calçados Grendene e a

montadora americana de máquinas agrícolas John Deere.

A empresa encontra-se aberta para novos negócios e tenta estar sempre

atenta e preparada. Os irmãos pretendem trilhar novos caminhos na bolsa de

valores, quando o mercado for favorável a abertura de capital e vêem nisso uma

ótima oportunidade.

2.9.7. Empresa Castelo Alimentos

A Castelo Alimentos é uma empresa fabricante de vinagres, molhos e

temperos prontos e é administrada pela família Cereser. Adquirida nos anos 60 por

Xisto, situa-se na cidade de Jundiaí no estado de São Paulo e possui um

faturamento anual em torno de 44 milhões de reais.

Em 1994, um dos filhos do fundador - Marcelo Cereser, de 41 anos –

após recuperar de um acidente e vender suas cotadas de uma transportadora ao

seu sócio, ingressou na empresa em cargos simples passando por diversos

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departamentos. Tempo depois, ao participar de uma palestra sobre gestão em

empresas familiares, Marcelo se deu conta do grande risco que uma desavença

poderia causas à Castelo Alimentos.

Antecedendo aos possíveis conflitos, Marcelo contratou uma consultora

para dar uma palestra para os quase 40 membros da família. Ouvindo os casos de

negócios prejudicados por disputas entre parentes, Xisto acabou dando razão ao

filho e resolveu realizar mudanças.

Tomando medidas práticas que protegessem a empresa dos conflitos,

Xisto definiu regras para distribuição de lucro e contratação de novos membros da

família. A partir desse momento, parentes seriam contratados como qualquer outro

profissional com comprovação de experiência de três anos em cargo igual ao que se

pretende ocupar e estão todos proibidos de tomar empréstimos com a empresa.

No final de 2000, Xisto veio a falecer e deixou a empresa na direção da

profissionalização e com definição de estruturas que comportem as futuras gerações

à medida que a família aumentar.

2.9.8. Empresa Transbahia

A Transbahia é uma empresa do ramo de transporte de combustíveis

situada na cidade de Candeias no estado da Bahia. Empresa de propriedade da

família Andrade, foi fundada pelos irmãos Ruy Andrade, de 58 anos e Luiz Gonzaga,

de 67 anos. Seu faturamento anual gira em torno de 22 milhões de reais.

Os três filhos de Ruy e os dois filhos de Luiz Gonzaga sempre passavam

as férias fazendo pequenas tarefas na empresa. Neste ambiente, foi normal que

alguns deles iniciassem suas carreiras na transportadora e mais tarde ocupassem

cargos de gerência.

Porém, para Ruy e Luiz, era como se os filhos não tivessem crescidos.

Conversas sobre negócios só eram possíveis em momentos extra-oficiais como

“almoços de domingo” e raramente se tomava um decisão.

Foi somente quando estavam planejando a aposentadoria, que os

fundadores se indagaram se os herdeiros teriam capacidade de tomar decisões.

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Sabendo que eram capazes de dar sugestões, Ruy passou a delegar tarefas

cotidianas e criou um fórum para que os filhos se manifestassem sobre o futuro da

empresa, num intuito de descobrir qual dos jovens teria o melhor perfil para liderar

os negócios.

Com essa nova oportunidade várias sugestões dos herdeiros passaram a

ser realizadas, como a busca por certificações de qualidade e renovação de frota em

ciclos menores, que comprovadas em planilhas mostraram uma contribuição para

aumentar o faturamento.

Mensalmente, são realizadas reuniões com os fundadores, esposas e

herdeiros para discutir planejamentos estratégicos da Transbahia, ficando acertado

seguir com o processo de profissionalização, com a contratação de um executivo

para dirigir a empresa e evitar disputas de poder.

2.9.9. Empresa Frigorífico Macedo

O Frigorífico Macedo atua no ramo de comercialização de carne de aves

e situa-se na cidade de São José em Santa Catarina e pertenceu a família Macedo

que a vendeu para o grupo americano Tyson Foods. Fundada em 1973, pelo

engenheiro agrônomo José Ferreira de Macedo, possui faturamento anual girando

em torno de 120 milhões de reais. E continua tendo como presidente Jóster - o filho

do fundador, hoje com 37 anos.

Há 14 anos, seu fundador foi diagnosticado com mal de Parkinson e não

havia pensado ainda em sucessões. Começando praticamente do zero, teve que

planejar imediatamente antes que ficasse incapacitado de responder pela empresa.

Em uma reunião, Macedo e Ester, sua esposa, expuseram suas

preocupações com seus quatro filhos – dois homens e duas mulheres – e trataram

de recuperar o tempo perdido, escolhendo o segundo filho, Jóster, para assumir o

comando no lugar do pai. Esta decisão acordada deveu-se à experiência que ele

tinha adquirido ocupando cargos de gerência e de ser conhecedor profundo da

empresa. Como faltava um pouco mais de teoria, Jóster faz MBA na Universidade

Cornell, nos Estados Unidos.

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Em 2001, retornando dos Estados Unidos e coincidindo com um momento

ruim na saúde de Macedo que mal conseguia se movimentar, Jóster assumiu o

controle da empresa. Já com dois anos na frente dos negócios a empresa atingia o

dobro da receita que costumava obter no final dos anos 90.

A família também criou um conselho para avaliar resultados e fazer

projeções. Com a consolidação do setor de alimentos, o Frigorífico Macedo recebeu

várias propostas de compra de empresas concorrentes.

Em setembro de 2008, a família Macedo aceitou a proposta do grupo

americano Tyson Foods, um dos maiores do mundo no setor. E a convite do grupo

internacional, Jóster continua sendo o presidente da empresa fundada pelo seu pai.

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3. CONCLUSÃO

Passar por um processo de sucessão pode significar a extinção de uma

empresa familiar e poucas foram as empresa que conseguiram passar pela segunda

sucessão. O despreparo para esse processo deve-se à falta de profissionalização e

de não diferenciar os interesses da família com os da empresa. Para que o processo

seja natural e sem trauma, é necessário um planejamento sucessório antecipado

que tem como ponto central a escolha do sucessor e ser orientado por critérios

claros que defenda o interesse exclusivamente da empresa.

Esse planejamento pode variar de acordo com o perfil da empresa, mas

deve estabelecer as normas e regras de sua sucessão, caso contrário, os conflitos

poderão levar à dissociação da empresa ou até mesmo sua falência.

Mas o que se vê na grande maioria dos casos é que as empresas

familiares só pensam no processo sucessório quando o sucedido (proprietário-gestor

da empresa familiar) está próximo de aposentar, já tenha falecido ou simplesmente

quer repassar suas responsabilidades à outra pessoa, ocasionando os conflitos que

abalam toda a estrutura organizacional da empresa.

Os conflitos entre a velha e a nova geração, se divergem nos objetivos e

metas de negócios, o que traz grandes prejuízos como a perda de competitividade,

perda de colaboradores profissionalizados e desestímulos dos clientes que se

protegem de qualquer eventualidade. E como o objetivo de toda empresa é gerar

lucro, tais conflito devem ser evitados.

Para isso é importante um planejamento antecipado do processo

sucessório que consistirá na escolha de um novo gestor, na ocupação dos cargos de

cada membro da família, nas competências de cada cargo e na transparência

financeira e comercial.

Para se chegar a este nível, pode ser necessário recorrer a uma gestão

profissionalizada, que consistirá em trazer colaboradores de outras empresas para

ocupar cargos onde haja conflitos, e na governança que consistirá na administração

das esferas da empresa, da sociedade e da família.

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É importante que a empresa já esteja preparada para a sucessão quando

os novos sucessores assumirem seus cargos pré-estabelecidos, para que eles não

entrem em conflitos de disputa de cargos, salários e benefícios.

As empresas que não tenham capacidade de assumirem o planejamento

sucessório deverão terceirizá-lo de empresas consultoras especializadas e

imparciais que levantarão o inventário humano e destinarão cada indivíduo para o

cargo de sua competência.

Agindo antecipadamente e de forma planejada as empresas poderão

passar por esse processo de forma natural e sem maiores traumas, garantindo

maior crescimento econômico e melhor relacionamento familiar e do corpo funcional,

o que pôde ser exemplificado por grandes empresas e grupos familiares brasileiras

que realizaram sucessões de sucesso.

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REFERÊNCIAS

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