Sonia Beltrame

Interditos de Sonia Beltrame

Sonia Beltrame opera em um espaço de intersecção entre o desenho e a escultura. Ou dito de outro

modo, na passagem do plano bidimensional para o espaço.

Se por um lado, seu raciocínio é ligado intimamente às questões do desenho, tanto a partir de uma

prática cotidiana do meio assim como por um entendimento do desenho como instrumento do

conhecimento; também podemos perceber em seu trabalho um tipo de transbordamento, um inchaço,

do plano, que interroga o espaço circundante e, uma vez operando nele, inventa um lugar insuspeito,

onde o que antes foi um plano de papel agora é o espaço por onde passamos.

A escrita, o documento e a informação, são interesses recorrentes em muitos aspectos da trajetória de

Sonia. Os meios de difusão da escrita, assim como a vocação política da informação e do documento

que estabiliza toda pesquisa podem ser percebidos na produção sobre papel da artista. E é a partir de

um elemento desse repertório que aparecem estes elementos agora instalados no espaço. Sonia

desenvolveu uma série de desenhos onde uma mancha de carimbo era colocada sobre folhas de

jornal numa espécie de interdito à informação. Essa pequena forma preta carimbada sobre os textos

impressos eram ao mesmo tempo uma presença de desenho e uma ausência da informação escrita.

Acontecia aqui uma troca de tipo de informação. Imagem do carimbo pela imagem do texto.

Pois essa mesma forma presente no carimbo ganha tamanho e dimensão nas esculturas que Sonia

deriva dos desenhos. As manchas ganham corpo e densidade, não obstante seu pouco peso. O peso

físico dessas obras leves contrasta com o grande peso visual das esculturas no espaço expositivo, o

que de uma certa maneira resgata sua gênese de desenho, de idéia gráfica. E o interdito que

anteriormente operava sobre as informações impressas do jornal, agora, ocupando o mesmo espaço

que nossos corpos, parece trazer consigo uma ameaça, uma tensão para o lugar da nossa presença.

As esculturas de Sonia parecem nos lembrar que o espaço habitado por nós é sempre um espaço de

convivência. E que a fronteira entre as presenças, é o lugar da negociação, o lugar do social e do

político. As esculturas de Sonia Beltrame, na sua ocupação do espaço social, denunciam as

demarcações deste e reivindicam uma consciência maior, de cada um de nós, do nosso lugar nesse

campo.

Fernando Lindote

esculturas condicionantes

exposição plano_espaço - MAJ

resina polivinilica e poliestireno

dimensões variadas

2010/2011

Desenhos

O trabalho inicia-se a partir do traçado de linhas horizontais.

Construo estruturas cônicas que se repetem formando

relevos, vazios e figuras de várias dimensões.

No processo de elaboração de cada elemento uso grafite que

resulta no que entendo ser campos esmerilhados que

propõem volume às peças.

Realizo estas imagens destacando na repetição o claro-

escuro dos relevos e da figura em relação ao fundo. Os

elementos visuais monocromáticos e as gradações de luz

compõem o corpo dos trabalhos.

sem título

desenhos com lápis grafite sobre papel

61X 43cm

2011