soluções para o setor de saúde suplementar

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A cadeia de saúde suplementar: avaliação de falhas de mercado e propostas de políticas A CADEIA DE SAúDE SUPLEMENTAR: AVALIAçãO DE FALHAS DE MERCADO E PROPOSTAS DE POLíTICAS SOLUÇÕES PARA O SETOR DE SAÚDE SUPLEMENTAR Evento apresenta pesquisa realizada pelo Insper em parceria com o IESS e traz seis propostas de política para o mercado Fotos: Marcos Issa/Argosfoto C om o intuito de fazer uma análise e descobrir as principais falhas do setor de saúde suplementar no Brasil, o Centro de Estudos em Negócios do Insper - CeNeg (www.insper.edu.br/centro-de-estudos-em-negocios) conduziu, em parceria com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), uma pesquisa durante oito meses. A ideia era identificar as precariedades da área e propor uma série de soluções para o mercado. O resultado desse estudo foi divulgado durante o evento A cadeia de saúde suplementar: avaliação de falhas de mercado e propostas de políticas, que ocorreu no auditório Steffi e Max Perlman, do Insper, no último dia 6 de maio. Os dados foram revelados em palestra ministrada pelo professor Senior Fellow do Insper, Paulo Furquim, para as cerca de 200 pessoas que comparecem ao local, além do público online. 1 www.insper.edu.br/conhecimento pág.1a3 pág.4 pág.5 Pesquisa aponta as principais falhas do setor de saúde suplementar no Brasil Chefe de gabinete da ANS fala sobre o impacto dos custos nos planos de saúde Especialistas debatem a viabilidade das propostas de política indicadas para o setor

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Page 1: SoluçõeS para o Setor de Saúde Suplementar

A cadeia de saúde suplementar: avaliação de falhas de mercado e propostas de políticas

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SoluçõeSpara o Setor de Saúde Suplementar

evento apresenta pesquisa realizada pelo

insper em parceria com o iess e traz seis

propostas de política para o mercado

fotos: marcos issa/Argosfoto

Com o intuito de fazer uma análise e descobrir as principais falhas do setor de saúde suplementar no Brasil, o Centro de Estudos em Negócios do Insper - CeNeg (www.insper.edu.br/centro-de-estudos-em-negocios) conduziu, em parceria com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), uma pesquisa durante oito meses. A ideia era identificar as precariedades da área e propor uma série de soluções para o mercado. O

resultado desse estudo foi divulgado durante o evento A cadeia de saúde suplementar: avaliação de falhas de mercado e propostas de políticas, que ocorreu no auditório Steffi e Max Perlman, do Insper, no último dia 6 de maio. Os dados foram revelados em palestra ministrada pelo professor Senior Fellow do Insper, Paulo Furquim, para as cerca de 200 pessoas que comparecem ao local, além do público online.

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www.insper.edu.br/conhecimento

pág.1a3 pág.4 pág.5Pesquisa aponta as principais falhas do setor de saúde suplementar no Brasil

Chefe de gabinete da ANS fala sobre o impacto dos custos nos planos de saúde

Especialistas debatem a viabilidade das propostas de política indicadas para o setor

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“os beneficiários e as pessoas em geral imaginam que saúde é um prato pronto que devemos servir no momento certo. Baseados em mitos e crenças, eles acabam gerando expectativas que não reproduzem efetivamente aquilo que, de fato, precisam ter em termos de qualidade e segurança” Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, que esteve no evento

Estruturação do sEtor E problEmas O setor de saúde suplementar é sustentado por um tripé. Segundo Furquim, os beneficiários formam o pilar mais importante e são responsáveis pela existência de todo o restante da cadeia. No segundo posto estão os prestadores de serviços e, no último, as operadoras. Além desses três grupos, há os fornecedores de materiais e uma estrutura regulatória composta pelas seguintes instituições: ANS, Anvisa, Cade, conselhos/associações e judiciário.

“O setor cresceu admiravelmente bem nos últimos 15 anos. Atingiu cerca de 25% da população brasileira e incorporou novos beneficiários e profissionais da área de saúde”, afirmou Furquim. “O cenário do momento, porém, é outro. A notícia que está nos jornais é que o mercado teve perda de 1,5 milhão de usuários nos últimos 18 meses. A saída desses beneficiários revela um problema inerente não só para o setor, mas para o SUS, porque esse conjunto de pessoas retorna a ele”, acrescentou.

Na opinião do professor, a razão da perda é um problema conjuntural e estrutural. Isso porque, com a redução do emprego formal, as pessoas acabam tirando a assistência do orçamento familiar. “Soma-se a isso o fato de que a estrutura da área é deficitária, o que

se manifesta diretamente na inflação da saúde. Existem motivos virtuosos para essa elevação, como o envelhecimento da população, mas também há muito desperdício no setor”, comentou Furquim. Foi em cima disso que a pesquisa do Insper com o IESS visou propor soluções.

propostas dE política O principal objetivo do evento era mostrar caminhos viáveis para o setor em meio ao cenário desfavorável. Boa parte das

Furquim durante evento realizado no Insper. Mais sobre o professor pode ser visto em: www.insper.edu.br/professores/pesquisadores/professor-paulo-furquim-de-azevedo

ideias destacadas foi extraída do estudo realizado pelo Insper e o IESS.

Ao todo, seis grupos de propostas de políticas foram apresentadas. As quatro primeiras são ligadas ao melhor funcionamento das relações contratuais entre os agentes da cadeia, desde o beneficiário até o fornecedor de materiais. “Já as duas últimas são relativas a características próprias do setor, tão particulares que, em um mercado livre, nunca funcionariam adequadamente”, explicou Furquim.

o setor cresceu admiravelmente bem nos últimos 15 anos e atingiu cerca de 25% da população brasileira, mas teve uma perda significativa de 1,5 milhão de usuários nos últimos 18 meses

A cAdeiA de sAúde

suplementAr: AvAliAção

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propostAs de políticAs

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existem motivos virtuosos para a inflação na área da saúde, como o envelhecimento da população, mas também há muito desperdício no setor

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As quatro ideias iniciais expostas durante o evento abordam o seguinte: • definir um pagamento fixo para gerar um incentivo forte para o prestador de serviço atuar de modo eficiente com o intuito de reduzir custos; • Aplicar regras de transparência e pressionar os agentes para acabar com as dificultosas negociações entre fornecedores de materiais, médicos e operadoras; • usar mais a coparticipação, pois, quando o beneficiário precisa pagar uma taxa pelo serviço, ele é mais cuidadoso e não usa exageradamente os recursos ofertados;

Evento ministrado por Furquim contou com a presença de mais de 200 pessoas, sem contar o público online

• oferecer ao usuário mais dados sobre a rede credenciada e os prestadores de serviço, além de abrir um leque maior de planos e coberturas.

Já o segundo grupo de propostas diz respeito a: • detalhar ainda mais a observação de protocolos e diretrizes médicas;

• destacar os problemas com a excessiva judicialização da saúde.

“Um juiz, por exemplo, pode decidir o caso de um indivíduo que precisa de determinados recursos médicos. Quando ele faz isso, não está olhando o todo. A solução seria usar os próprios instrumentos do judiciário para afetar a decisão, já que não é possível mudar o setor inteiro”, ressaltou Furquim.

Ao revelar as propostas do estudo, o Insper espera contribuir para a criação de debates mais aprofundados no setor. Dentro desse cenário, Furquim garantiu que, não necessariamente, todas as ideias expostas devem prevalecer. “Elas têm que surgir a partir das análises e serem colocadas em pauta. Isso é fundamental para a evolução da área”, concluiu.

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48,8 25,2% 746,9 82% milhões é o número de planos de assistência médica no Brasil

da população brasileira possui plano de saúde

milhões de exames complementares foram realizados ao longo de 2015

dos brasileiros utilizam planos coletivos

em números...

Com foco nos custos que o setor deve arcar e que impactam

diretamente nos planos de saúde, a chefe de gabinete da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Lenise Barcellos de Mello Secchin, deu sequência à pesquisa apresentada por Paulo Furquim durante o evento realizado no Insper. De acordo com a profissional, o brasileiro ainda tem a mentalidade de que, ao pagar mensalmente pelo plano, tem direito a tudo o tempo todo. Mas, na prática, não é bem assim que funciona. “Saúde

pode até não ter preço, mas tem custo sim”, ressaltou.

Segundo Lenise, dois pontos principais inflam os números do setor. O primeiro é a tecnologia. “A evolução não reduz os gastos, pois uma tecnologia nova não substitui necessariamente a outra. Por exemplo: temos raio-x, tomografia e ressonância. Todos convivem e sobrevivem juntos. Assim, não só temos os custos adicionais dos maquinários, como também dos prestadores de serviço, pois é necessário um profissional para cada tipo de trabalho”, explicou.

CuStoS da Saúde Suplementar Sobem Com o avanço da teCnologialenise Barcellos de mello secchin, chefe de gabinete da Ans, aponta ainda que a falta de informação dos beneficiários e provedores precisa ser sanada

De acordo com Lenise e Furquim, é preciso garantir serviços de qualidade

exames – às vezes, até alguns que ela já realizou. “É realmente necessário pedir dez exames?”, questionou a chefe de gabinete da ANS. “E mais: o beneficiário tem que ter a saúde preservada. O excesso de exposição radiológica não é positivo”.

o vErdadEiro papEl da agência Independentemente dos custos, Lenise afirmou que o papel da ANS é garantir que o plano contratado pelo usuário ofereça serviços de qualidade. “Não adianta a pessoa estar com uma gripe e o médico indicar uma ressonância magnética. Qualidade é outra coisa. É ter, por exemplo, um tratamento adequado de acordo com a necessidade e que não apresente efeitos colaterais”, afirmou.

Ainda de acordo com Lenise, a ANS sempre busca distribuir igualitariamente os custos do setor entre as pontas do tripé da área: operadoras, prestadores de serviços e beneficiários. Afinal, apenas dessa forma a área tende a evoluir de maneira adequada.

Outro problema do setor é a falta de informação. Hoje, existem pacientes que pulam de médico em médico e profissionais que, sem conhecerem o histórico da pessoa, receitam vários

o brasileiro ainda tem a mentalidade de que, ao pagar mensalmente pelo plano, tem direito a tudo o tempo todo. na prática, porém, não é assim que o setor trabalha

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Asegunda parte do evento A cadeia de saúde suplementar: avaliação de falhas

de mercado e propostas de políticas propôs um debate sobre as sugestões levantadas para melhorar a saúde suplementar no Brasil, expostas no primeiro painel. A mediação foi feita por Paulo Furquim, e pelo superintendente executivo do IESS, Luiz Augusto Carneiro.

Cada participante do debate foi convidado a expor suas opiniões durante sete minutos. Camila Sardenberg, diretora corporativa de

qualidade e segurança do Hospital Sta. Catarina (ACSC), disse que a maior falha no setor é a falta de um órgão que regulamente a qualidade. “Nós temos que mensurá-la sozinhos por meio de seis dimensões: efetividade, eficiência, equidade, oportunidade, centralidade e segurança do paciente”, explicou.

Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, corrobora com Camila. De acordo com ele, no Brasil há uma medicina fragmentada que não sabe definir exatamente

a viabilidade daS propoStaS de polítiCa

em debate

especialistas expõem seus pontos de vista no intuito de trazer soluções para a saúde suplementar no Brasil

Debate realizado no Insper aborda legislação e papel da sociedade

pressionar positivamente a obrigatoriedade da lei”, comentou. Uma delas foi destacada por Vinicius Marques de Carvalho, presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “A própria sociedade civil pode pressionar por isso, ainda mais nesse momento de crise que estamos vivendo”, afirmou.

Após expressarem seus pontos de vista, os participantes debateram entre si e ainda responderam aos questionamentos do público que estava na plateia ou assistindo ao streaming. A conversa durou pouco mais de uma hora e foi concluída com diretrizes importantes para o desenvolvimento do setor.

o conceito de qualidade. “Os EUA, por exemplo, já evoluíram nesse sentido. Lá existem as Accountable Care Organizations, instituições que se preparam para trabalhar no ramo, se responsabilizam pelo cuidado e arcam com as complicações que venham a acontecer”, apontou.

papEl da sociEdadE No Brasil ainda não há uma legislação sobre a qualidade do setor, mas Lenise Barcellos de Mello Secchin, chefe de gabinete da ANS, destacou alternativas para exigir a regulamentação. “Há diversos caminhos para

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Lottenberg, do hospital Albert Einstein

Camila, do hospital Sta. Catarina

Carvalho, do Cade