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SISTEMAS DE PONTUAÇÃO DE TRAUMA: FUNDAMENTOS, UTILIDADE E EFICÁCIA Alberto Sérgio Santos Figueira (e-mail: [email protected])

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SISTEMAS DE PONTUAÇÃO DE TRAUMA:

FUNDAMENTOS, UTILIDADE E EFICÁCIA

Alberto Sérgio Santos Figueira

(e-mail: [email protected])

1

Índice

Abstract ............................................................................................................................. 2

Resumo ............................................................................................................................. 3

Introdução ......................................................................................................................... 4

Definição de trauma.......................................................................................................... 6

Epidemiologia do Trauma ................................................................................................ 6

Requisitos dos Sistemas de Pontuação de Trauma ........................................................... 8

Perspectiva Histórica ........................................................................................................ 8

Utilidade dos Sistemas de Pontuação de Trauma ............................................................. 9

Descrição dos Sistemas de Pontuação de Trauma .......................................................... 13

SPT anatómicos ................................................................................................... 13

o Abbreviatted Injury Scale (AIS) ...................................................................... 13

o Injury Severity Score (ISS) .............................................................................. 14

o New Injury Severity Score (NISS) .................................................................. 16

o Organ Injury Scaling (OIS) .............................................................................. 17

o Anatomic Profile (AP) ..................................................................................... 17

o International Classification of Diseases, 9th

Revision (ICD-9) (ICISS) .......... 18

o Penetrating Abdominal Trauma Index (PATI) ................................................ 19

SPT Fisiológicos .................................................................................................. 20

o Glasgow Coma Scale (GCS) ............................................................................ 20

o Triage Index (TI) ............................................................................................. 22

o Trauma Score (TS) ........................................................................................... 23

o Revised Trauma Score (RTS) .......................................................................... 23

o Circulation, Respiration, Abdomen, Motor and Speech System (CRAMS).... 26

o Acute Physiology And Chronic Health (APACHE) ........................................ 28

o Emergency Trauma Score (EMTRAS) ............................................................ 30

o Pediatric Trauma Score (PTS) ......................................................................... 30

SPT Combinados ................................................................................................. 32

o Trauma and Injury Severity Score (TRISS)..................................................... 32

o A Severity Characterization of Trauma (ASCOT) .......................................... 34

Conclusão ....................................................................................................................... 36

Bibliografia ..................................................................................................................... 38

2

Abstract

In trauma intervention, the effectiveness of a clinical response has been

associated with several variables, namely to the instruments used in the triage process

and/or outcome. As such, Trauma Scoring Systems (TSS) have been identified as major

tools in the evaluation and management of trauma victims, so their knowledge by health

professionals is decisive, especially those involved in prehospital and hospital

urgency/emergency care.

This work has as main goal the accurate analysis of the most widely used TSS,

through the assessment of their most prominent characteristics, advantages and

limitations. It is intended, therefore, to set out the parameters to consider in the choice

of a particular system, and establish its usefulness and effectiveness to designated

clinical condition. Therefore, recognizing the existence of a gap between the available

TSS and the tool considered as ideal, the decision-making concerning the choice of a

TSS and the information it gives, should be undertaken with the utmost rigor and

caution.

Keywords: trauma, trauma scoring systems, trauma scales.

3

Resumo

Na intervenção em trauma, a eficácia da resposta clínica tem sido associada a

diversas variáveis, nomeadamente aos instrumentos utilizados no processo de triagem

e/ou resultado. Como tal, os Sistemas de Pontuação de Trauma (SPT) têm sido

apontados como ferramentas major na abordagem e gestão das vítimas de trauma, pelo

que é determinante o seu conhecimento pelos profissionais de saúde, sobretudo os

envolvidos na urgência/emergência pré-hospitalar e hospitalar.

O presente trabalho tem como principal objectivo a análise rigorosa dos diversos

SPT mais utilizados, através de um procedimento de avaliação de características

internas, vantagens e limitações mais salientes. Pretende-se, pois, evidenciar os

principais parâmetros a considerar na opção por um sistema específico, bem como

estabelecer a sua utilidade e eficácia perante designada condição clínica. Assim,

reconhecendo a existência de um hiato entre os SPT disponíveis e ferramenta

considerada ideal, a tomada de decisão relativamente à escolha do SPT e às informações

que este permite obter, deve ser efectuada com o máximo de rigor e prudência.

Palavras-chave: trauma, sistemas de pontuação de trauma, escalas de trauma.

4

Introdução

O termo trauma é entendido como uma lesão provocada pela acção de uma força

externa, podendo esta ser responsável pela destruição de tecidos e órgãos essenciais

para o normal funcionamento do organismo.

A relevância epidemiológica do trauma decorre de cerca de 50 milhões de

pessoas morrerem por ano em todo o Mundo, sendo 10% destas mortes causadas por

trauma. Em Portugal, a taxa de mortalidade é duas vezes superior à de outros países

europeus, sendo maioritariamente elevada entre a população jovem (Grupo de Trabalho

de Trauma da Ordem dos Médicos, 2009).

Na sequência de dados análogos a estes, no início dos anos 50 do Século XX,

DeHaven e colaboradores realizaram vários trabalhos, cujo principal intuito seria a

sistematização da gravidade das lesões decorrentes de trauma. Contudo, é o trabalho da

American Medical Association Committee on Medical Aspects of Automotive Safety

que origina a criação do primeiro sistema de pontuação de ferimentos, o Abbreviated

Injury Score (AIS).

Ampliando esta lógica, os SPT têm vindo a ser utilizados com diversas

finalidades, tais como a tomada de decisões no processo de triagem, avaliação da

qualidade da intervenção/recursos utilizados, programas de prevenção de trauma e,

ainda, investigação científica. Compreende-se, portanto, que deste 1971, data em que foi

apresentado o primeiro SPT, vários outros instrumentos tenham sido criados, com o

objectivo de permitir uma prática clínica mais adequada, bem como aumentar as

capacidades prognósticas das equipas médicas perante determinada situação clínica. Na

actualidade, os SPT podem agrupar-se em três categorias diferentes, consoante os

critérios que pretendem avaliar: anatómicos, fisiológicos e combinados.

5

Neste âmbito, o presente trabalho tem como principal objectivo identificar os

Sistemas de Pontuação de Trauma mais utilizados na prática clínica e categorizá-los

conforme a sua utilização. Revelou-se ainda essencial a análise das características

internas de cada instrumento, pelo que procederemos à apresentação das suas vantagens

e limitações.

O trabalho encontra-se estruturado em duas partes. Na primeira, optámos por

fazer referência à epidemiologia do trauma, pré-requisitos e utilidade dos SPT, e uma

pequena amostra da perspectiva histórica destes instrumentos. Na segunda parte, são

apresentados os sistemas anatómicos, fisiológicos e combinados mais utilizados, hoje,

em medicina de urgência/emergência e catástrofe, finalizando com as principais

conclusões a reter desta temática.

6

Definição de trauma

O termo trauma encontra na medicina um conjunto variado de definições.

Contudo, a forma mais sucinta de o definir é „‟lesão produzida localmente por uma

acção violenta exterior‟‟ (Dicionário Médico, 2004, p.601). Compreende-se portanto

que o trauma resulta de uma lesão provocada por factores externos, com

comprometimento ou destruição dos tecidos, sendo que esta poderá dever-se à

exposição intencional ou não a energia térmica, mecânica, eléctrica ou química, ou

mesmo pela ausência de calor ou oxigénio (Van Camp & Delooz, 1999).

Epidemiologia do Trauma

Cerca de 50 milhões de pessoas morrem por ano no mundo, estimando-se que

aproximadamente 10% destas mortes são provocadas por trauma, sendo esta uma das

cinco principais causas de morte a nível mundial (Gupta, Nolan & Parr, 2001; Glance,

Osler & Dick, 2005). É um problema grave de saúde que afecta principalmente adultos

jovens e adolescentes, sendo que entre 7% e 45% dos doentes acabam por falecer

(Rabbani & Moini, 2007; Chawda, Hildebrand, Pape & Giannoudis, 2004).

Nos EUA o trauma surge como a primeira causa de morte em indivíduos com

menos de 45 anos, e implica custos elevados em cuidados médicos e na perda de

produtividade (Moore, Lavoie, Turgeons, Abdous, Le Sage, Émond, Liberman &

Bergeron, 2009). Anualmente cerca de 2 milhões de americanos são hospitalizados por

situações decorrentes de trauma, acabando 2.4% destes por morrer (Osler, Glance,

Buzas, Mukamel, Wagner & Dick, 2008). As mortes relacionadas com o trauma variam

em função do sexo, sendo que as que ocorrem em indivíduos do sexo masculino são o

dobro das que se verificam no sexo feminino. Até mesmo as lesões não fatais acabam

por ser mais representativas no sexo masculino, representando 55% dos casos (Martin &

7

Meredith, 2008). Em 2003, os acidentes de viação foram a principal causa de um total

de 43800 mortes nos EUA. Por outro lado, no mesmo ano, 3.5 milhões de pessoas

sofreram lesões não fatais secundárias a acidentes de viação. Já as armas de fogo,

constituíram a segunda causa principal de morte, perfazendo um total de 28827 mortes e

63834 doentes com lesões não fatais. No que diz respeito a quedas, estas surgiram como

a principal causa de lesão não fatal em 8.1 milhões de situações de trauma, das quais

17229 vítimas acabaram por falecer. O envenenamento, a asfixia, o afogamento, as

feridas e as queimaduras são outros dos mecanismos responsáveis pela mortalidade por

trauma (Martin & Meredith, 2008).

Na realidade portuguesa, segundo o Grupo de Trabalho de Trauma da Ordem

dos Médicos (2009), a taxa de mortalidade por acidente é o dobro da de outros países da

Europa, incidindo particularmente na população jovem. De acordo com o Instituto

Nacional de Emergência Médica (INEM), „‟em Portugal, como em alguns outros países,

a principal causa de lesões traumáticas são os acidentes de viação e, com um significado

estatístico muito inferior, as quedas e as agressões‟‟(INEM, 2002, p.3). A título

indicativo, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária afirma que em 2009, na

sequência de acidentes nas estradas portuguesas, ocorreram 738 mortes, 2567 feridos

graves, e 42284 feridos ligeiros (Dados provisórios de sinistralidade rodoviária relativos

a 2009).

De acordo com os factores determinantes da sinistralidade rodoviária publicados

em 2007, “a vitimização resulta da ocorrência de sinistros em que tenham como

consequência os danos humanos, tanto físicos como psíquicos. Ao nível dos danos

físicos, há três categorias de vítimas definidas: mortos, feridos graves (quando os danos

corporais obrigam a um tempo de hospitalização superior a 24 horas) e feridos ligeiros.

Os feridos graves podem sofrer desde escoriações, fracturas ósseas, até lesões

8

medulares resultantes de traumatismo forte, para/tetraplegia, perda de sangue, lesões em

órgãos internos, cortes de membros, queimaduras graves, incluindo, ainda, a perda de

memória e o coma. Alguns indivíduos chegam a morrer horas ou dias após o

internamento, o que indica que os dados estatísticos relativos ao número de vítimas

mortais poderão não dar uma visão muito verosímil da negra realidade rodoviária, por

defeito (Oliveira, 2007, p.6).”

Requisitos dos Sistemas de Pontuação de Trauma

Os SPT devem obedecer a um determinado número de requisitos: rigor,

segurança e especificidade. O ideal será que o sistema em causa forneça uma descrição

rigorosa, fiável e reprodutível, que permita o cálculo das pontuações do trauma

(Chawda et al., 2004).

De forma a permitir avaliar com exactidão a gravidade das lesões a nível

anatómico e a nível fisiológico, os SPT deverão ser de fácil utilização e compreensão

por parte das equipas de emergência pré-hospitalar e hospitalar. Adicionalmente, os

SPT deverão ser uma ferramenta para prever a gravidade da lesão e traçar o prognóstico

dos doentes, incluindo itens como o mecanismo da lesão, factores de co-morbilidade,

idade e a avaliação clínica (Senkowski & McKenney, 1999).

Perspectiva Histórica

O conceito de SPT é relativamente recente, apesar dos primeiros sistemas de

triagem terem sido oficialmente desenvolvidos no final da década de 60, início dos anos

70 (Wisner, 1992).

A este respeito, Edwin Smith refere que já papiros Egípcios antigos forneciam

uma descrição compatível com a categorização de ferimentos em três grupos: 1- podem

9

ser efectivamente tratados, 2- não tratáveis e 3- são imediatamente fatais. A

sistematização da gravidade do trauma considerada mais moderna teve início nos anos

50 do Séc. XX com a investigação de DeHaven sobre acidentes de aviação, cujo

propósito principal seria a medida objectiva da lesão sofrida (Chawda et al, 2004).

Concomitantemente, um grupo de médicos, engenheiros e investigadores

continuou a desenvolver esforços para a elaboração de um sistema de descrição de

lesões, surgindo em 1971 o primeiro sistema de pontuação de ferimentos, o Abbreviated

Injury Scale (AIS). A American Medical Association Committee on Medical Aspects

of Automotive Safety era então responsável pela uniformização terminológica que

permitia descrever lesões decorrentes de acidentes de automóvel. Esta informação seria

posteriormente utilizada para avaliar o design do veículo e identificar as alterações que

pudessem diminuir a gravidade das lesões subsequentes (Chawda et al, 2004; Rennie &

Brady, 2007).

Mais tarde, em 1982, o American College of Surgeons Committee on Trauma

foi responsável pela coordenação do Major Outcome Study (MTOS) que pretendia

estabelecer normas nacionais para responder a situações traumáticas, avaliar os

cuidados hospitalares e melhorar a sua qualidade. Em 1989, a mesma equipa criou o

National Trauma Data Bank (NTDB), uma base de dados nacional de trauma, de modo

a melhorar a prática baseada na evidência, o desempenho e a investigação nesta área

(Glance et al, 2005).

Utilidade dos Sistemas de Pontuação de Trauma

Os SPT são usados com diversas finalidades: na decisão da triagem, na avaliação

da qualidade, em programas de prevenção e na investigação científica (Martin &

Meredith, 2008). Segundo o Grupo de Trabalho de Trauma da Ordem dos Médicos “a

10

caracterização da severidade da lesão é fundamental pois tem como objectivos: 1)

facilitar o processo de triagem e referenciação do doente; 2) prever o resultado em

função da gravidade da lesão; 3) avaliar a eficácia da conduta interventiva no processo

de trauma; 4) estratificar os doentes em grupos comparáveis, para estudos retrospectivos

(identificar e controlar diferenças) e prospectivos (investigação científica) (2009, p.89)”.

Outros estudos mais restritos, afirmam que os SPT servem um propósito triplo.

Primeiro, para a triagem das vítimas, onde ocorre o seu uso frequente ou já rotineiro;

segundo, são uma ferramenta essencial na gestão dos cuidados de trauma, permitindo

prever o resultado, avaliar a qualidade e a atribuição de recursos; por último, são

instrumentos fundamentais na epidemiologia do trauma (Chawda et al, 2004; Van Camp

& Delooz, 1999; Wisner, 1992). Já Gilmore (2003) afirma que a finalidade dos SPT

assenta em três vertentes: desenvolver protocolos de triagem que permitam o

encaminhamento correcto do paciente; facilitar a investigação científica; avaliar a

qualidade dos cuidados prestados pelas unidades hospitalares.

Wisner (1994), Rennie e Brady (2007) referem que uma das principais

vantagens deste tipo de sistemas para os profissionais de saúde é utilizarem a mesma

linguagem quando se comparam diferentes tipos de conduta ou terapia na descrição de

lesões.

Entende-se, portanto, que estes sistemas pretendem quantificar a gravidade de

uma lesão através de um número, o qual deverá prever com certo grau de confiança a

evolução do paciente, incluindo a possibilidade de morte, o tempo de estadia no hospital

e a utilização dos recursos necessários. Além do mais, os SPT devem ser aplicados em

tempo real, com a finalidade de auxiliar as equipas médicas e afins a implementar

melhores decisões terapêuticas (Cinelli, Brady, Rennie, Tuluca & Hall, 2009).

11

A capacidade de avaliação prognóstica da situação do doente é uma das

principais utilidades dos SPT, nomeadamente porque permite ponderar assuntos do foro

médico-legal (e.g.: no caso de morte, o testamento e informar os próprios familiares),

optimizar a admissão e gestão das unidades de cuidados intensivos e outros recursos da

medicina, e ainda, avaliar a qualidade dos cuidados disponibilizados. As mortes que

decorrem do trauma são cruciais para a investigação sobre este tema, já que as

conclusões apuradas podem conduzir à implementação de centros especializados de

cuidados em trauma, visando sobretudo a melhoria da qualidade no tratamento, bem

como calcular a percentagem de mortes que poderiam ter sido evitadas e respectivo

impacto socioeconómico (Sharma, 2005).

Categorização dos Sistemas de Pontuação de Trauma

As consequências de uma lesão podem ser definidas em dois pólos, isto é,

através da análise da componente anatómica e resposta fisiológica, e por outro lado,

pela mortalidade e morbilidade (Yates, 1990). Neste sentido, compreende-se que os

SPT podem ser amplamente classificados como sistemas de triagem, ou por outro lado,

como sistemas de prognóstico/comparação, sendo que se verifica algum grau de

sobreposição entre ambos (Wisner, 1992).

No processo de triagem, alguns dos sistemas mais utilizados são: Glasgow Coma

Scale (GCS), Triage Index (TI), Trauma Score (TS), e Triage-Revised Trauma Score

(T-RTS) (Wisner, 1992).

Em termos de prognóstico/comparação, os SPT podem ser agrupados em três

categorias diferentes consoante os critérios a que se propõem: anatómicos, fisiológicos e

combinados.

12

Os SPT anatómicos baseiam-se na descrição completa de lesões anatómicas,

obtida através da avaliação clínica e recurso a exames complementares (e.g.:

imagiologia, exploração cirúrgica, autópsia) (Van Camp & Delooz, 1999). Nesta

categoria alguns dos sistemas utilizados são: Abbreviated Injury Score (AIS); Injury

Severity Score (ISS), New Injury Severity Score (NISS), American Association for the

Surgery of Trauma (AAST) Organ Injury Scale (OIS), Survival risk ratios (SRR)/ICD

based ISS (ICISS), Anatomic Index (AI), Anatomic profile (AP), e Penetrating

Abdominal Trauma Index (PATI).

Em relação aos SPT fisiológicos, estes baseiam-se no estudo dos sinais vitais,

como a frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória e estado de

consciência, e são usados para uma avaliação precoce de uma vítima de trauma, triagem

e avaliação da resposta à terapêutica implementada (Sharma, 2005; Van Camp &

Delooz, 1999). Desta categoria, são exemplos: Glasgow Coma Scale (GCS); Triage

Index (TI); Trauma Score (TS); Circulation, Respiration, Abdominal/Thoracic, Motor,

Speech (CRAMS) Scale; Revised Trauma Score (RTS); Systemic inflammatory

Response Syndrome (SIRS) Score; Acute Physiology and Chronic Health (APACHE I,

II, III); Prognostic Index (PI); Acute Trauma Index (ATI); Emergency Trauma Score

(EMTRAS), e Pediatric Trauma Score (PTS).

Por fim, nos SPT combinados, temos uma conjugação de pontuações anatómicas

e fisiológicas que são usadas para prever a evolução e prognóstico dos doentes, a

comparação de populações de trauma e controlo de qualidade (Van Camp & Delooz,

1999). Como exemplos, temos: Trauma Index (TrI); Polytrauma-Schussel (PS); Trauma

and Injury severity Score (TRISS); A Severity Characterization of Trauma (ASCOT); e

Harborview Assessment of risk of Mortality (HARM).

13

Descrição dos Sistemas de Pontuação de Trauma

SPT anatómicos

o Abbreviatted Injury Scale (AIS)

O AIS foi proposto pela primeira vez em 1969 pela Medical Association

Comittee on Medical Aspects of Automotive Safety (Comittee on Medical

Aspects of Automotive Safety, 1971) e actualizado pela última vez em 2005.

O propósito original foi fornecer informação relevante para a indústria de

design automóvel.

O cálculo do AIS integra seis regiões corporais e utiliza uma escala de

seis pontos (1- lesão mínima a 6- lesão fatal) para classificar a gravidade das

lesões. As seis regiões corporais são: o pescoço e a cabeça, a face, o tórax, o

abdómen e pélvis, extremidades e estruturas externas (Gilmore, 2003; Martin

& Meredith, 2008; Senkowski & Mckenney, 1999).

Esta escala é bastante ampla, pelo que inclui descrições de mais de 1300

tipos de ferimentos e lesões, referindo-se a lesões penetrantes e a contusões.

Por esta razão, é a medida de gravidade de lesões mais comummente utilizada

(Conn & Petrovik, 2004).

Apesar de ser bastante utilizado, o AIS apresenta algumas limitações: -

apenas classifica feridas individuais, não espelhando correctamente a

gravidade de feridas multissistémicas; - as pontuações de 5 e 6 referem-se a

lesões que poderão constituir-se como ameaçadoras de vida, mas não

fornecem uma medida global de gravidade; - não é capaz de prever a

mortalidade ou outros resultados; - é um método de avaliação subjectiva que

14

induz erros intra e inter-observadores (Chawda et al., 2004). O AIS não se

reporta a medidas fisiológicas, referindo-se apenas a feridas isoladas, e exige

tempo para calcular todas as lesões traumáticas, bem como algum treino para

o seu completo domínio (Conn & Petrovik, 2004). Wisner (1992) afirma que

é uma ferramenta imperfeita de prognóstico e comparação.

Em 2005, a última revisão do AIS constituiu-se como uma alteração

significativa na forma como a medição da gravidade das lesões passaria a ser

feita, todavia, esta passou a afectar a capacidade de comparar directamente a

informação obtida através de versões anteriores do AIS, com implicações na

investigação na área do trauma, na avaliação dos resultados, no financiamento

hospitalar e na acreditação dos centros de trauma (Salottolo, Settell, Uribe,

Akin, Slone, O‟neal, Mains & Bar-Or, 2009).

o Injury Severity Score (ISS)

O ISS foi desenvolvido em 1974 pela Universidade John Hopkins por

Baker e colaboradores, sendo considerado o primeiro sistema de pontuação

baseado exclusivamente em critérios anatómicos que fornece uma pontuação

global para doentes com múltiplas lesões (Baker, O‟Neill, Haddon & Long,

1974). O seu objectivo foi o de definir a gravidade das lesões através de um

sistema comparativo, pelo que, não é considerado uma ferramenta de triagem.

A sua melhor característica é a capacidade de fornecer aos investigadores o

controlo das variáveis da gravidade da lesão, permitindo assim a avaliação

dos resultados (Senkowski & McKenney, 1999; Chawda et al., 2004).

O seu cálculo é efectuado segundo o AIS, em que, a cada lesão é

atribuída uma pontuação, com base em seis regiões corporais: cabeça, face,

15

parede torácica, abdómen, extremidades e estruturas externas. Só é tido em

consideração o valor AIS mais alto de cada uma das seis regiões, e destas, as

três regiões com lesões mais graves terão a sua pontuação elevada ao

quadrado e somada, resultando daqui a pontuação ISS. O ISS apresenta

valores entre 1 e 75, sendo que o último só é atribuído a um doente com um

AIS de 6, correspondendo a uma lesão considerada fatal (Martin & Meredith,

2008). No caso de estarmos perante uma vítima politraumatizada, o ISS será

maior ou igual a 16, significando que esta exige cuidados num centro de

trauma (Chawda et al., 2004).

O NTDB foi responsável pela categorização das lesões baseadas no ISS

em: 1-9 lesões menores; 10-15 lesões moderadas; 16-24 lesões graves; e > 24

lesões muito graves (Martin & Meredith, 2008).

Nos EUA é o SPT mais utilizado para a avaliação da gravidade das

lesões por apresentar as seguintes vantagens: - é um preditor robusto da

mortalidade; - considera múltiplas lesões; - utiliza índices anatómicos e de

gravidade (Conn & Petrovik, 2004); - é um bom preditor de falência multi-

orgânica após uma lesão (Sharma, 2005); - é objectivo e fácil de calcular

desde que haja acesso ao catálogo da pontuação AIS (Wisner, 1992).

Contudo, é necessário apontar que o ISS: - limita o número total de

lesões a apenas três regiões; - não considera múltiplas lesões na mesma região

corporal; - em doentes politraumatizados, atribui um valor superior a uma

lesão menos grave noutra região corporal, do que uma lesão secundária na

mesma região; - não considera variáveis fisiológicas; - concede valores

semelhantes a diferentes regiões corporais (Chawda et al., 2004; Conn &

16

Petrovik, 2004); - não é utilizado como ferramenta de triagem (Sharma,

2005).

o New Injury Severity Score (NISS)

O NISS foi apresentado em 1997 por Osler e colaboradores, e constitui-

se como uma simples modificação do ISS. É definido pela soma dos

quadrados das três pontuações com valor mais alto de AIS,

independentemente das regiões corporais onde ocorreram as lesões (Osler,

Baker & Long, 1997; Chawda et al., 2004).

Podem ser-lhe atribuídas diversas vantagens, tais como: - é superior ao

ISS na capacidade de prever a sobrevivência (Frankema, Steyerberg, Edwards

& Van Vugt, 2005; Martin & Meredith, 2008; Sharma, 2005); - reporta-se a

múltiplas lesões (Martin & Meredith, 2008); - é um bom preditor da falência

multi-orgânica após o trauma (Chawda et al., 2004; Sharma, 2005); - vários

estudos demonstram que é melhor que o ISS, por ser fácil de calcular e

traduzir melhor as consequências do trauma (Nogueira, Domingues, Campos

& Sousa, 2008); - o NISS foi recomendado para que viesse a substituir o ISS

como standard para a avaliação da gravidade das lesões anatómicas (Sharma,

2005).

Por outro lado, o NISS apresenta algumas limitações, como é exemplo o

facto de não considerar variáveis fisiológicas, e de, a sua melhor capacidade

preditiva para trauma decorrente de contusão, quando comparado com o ISS,

ainda não ter sido efectivamente demonstrada (Chawda et al., 2004). Por

outro lado, com base em vários estudos há autores que preconizam que o

NISS não deveria substituir o ISS, uma vez que ambos apresentam precisão e

17

calibração idênticas (Tay, Sloan, Zun & Zaret, 2004; Zhao, Ma, Zhang, Gan,

Xu & Jiang, 2008).

o Organ Injury Scaling (OIS)

A OIS foi apresentada em 1987 pelo Comittee of American Association

for the Surgery of Trauma. O principal propósito foi desenvolver um sistema

de pontuação para avaliar a gravidade de lesões individuais de cada órgão, de

forma a facilitar a investigação clínica, melhorar a qualidade dos cuidados e

providenciar uma linguagem comum entre os cirurgiões de trauma. O

esquema de pontuação resultante é uma descrição anatómica que varia entre 1

e 5, sendo que 1 corresponde a uma lesão de gravidade menor, e 5

corresponde a uma lesão de maior nível de gravidade (Moore, Shackford, et

al., 2004).

o Anatomic Profile (AP)

O AP é considerado um sistema de pontuação anatómico e foi

apresentado como uma melhoria do ISS ao incluir todas as lesões graves de

uma dada região corporal. Com o AP passou-se a ter em consideração o facto

das lesões na cabeça e no tronco pesarem mais que lesões noutras regiões

corporais.

As lesões graves (AIS > 3) dividem-se em quatro categorias: A – inclui

cabeça e espinhal medula; B – tórax e região anterior do pescoço; C – todas

as restantes lesões consideradas graves; e D – todas as lesões não graves. O

seu cálculo é efectuado através da raiz quadrada da soma dos quadrados das

pontuações AIS de todas as lesões de uma região e, no caso de estarmos

18

perante uma região não lesionada, esta recebe a pontuação de 0 (Chawda et

al., 2004).

No que diz respeito à sua utilização, o AP tem um desempenho melhor

que o ISS para discriminar sobreviventes e não sobreviventes, e ainda,

fornece uma base mais segura na comparação da gravidade de lesões entre

pacientes (Chawda et al., 2004; Frankema et al., 2005).

Como limitações, podem ser apontadas a sua complexidade matemática,

que dificulta o seu uso prático, e ainda, o facto de se constituir como uma

pequena melhoria no desempenho preditivo (Chawda et al., 2004).

o International Classification of Diseases, 9th

Revision (ICD-9) (ICISS)

O ICISS foi criado em 1996 por Osler e colaboradores, e usa os códigos

directos do ICD-9, em vez destes serem primeiro convertidos em pontuações

do AIS. Esta característica permite produzir uma fracção que reflecte a

probabilidade de sobrevivência de um doente a uma determinada lesão (Osler,

Ruledge, Deis & Bedrick, 1996; Rennie & Brady, 2007).

Neste sistema são utilizados Survival Risk Ratios (SRR) calculados a

partir de cada diagnóstico do ICD-9, que são obtidos pela divisão do número

de sobreviventes em cada código ICD-9 pelo número total de vítimas com o

mesmo código. A pontuação do ICISS é, portanto, determinada como o

produto dos SRR por cada uma das lesões da vítima (Chawda et al., 2004).

Uma das suas principais vantagens é permitir que todas as lesões sejam

incluídas no diagnóstico (Chawda et al., 2004), e também possuir um maior

valor preditivo que o ISS (Sharma, 2005). É de salientar que por não utilizar o

AIS, o seu uso torna-se mais célere (Conn & Petrovik, 2004), e ao fazer uso

19

dos códigos ICD-9, o seu manuseamento não requer treino específico ou

experiência (Chawda et al., 2004). É ainda essencial referir que o ICISS é

mais útil que o ISS na previsão da duração da estadia hospitalar, dos custos

inerentes ao internamento e à utilização de recursos (Chawda et al., 2004).

Por fim, vários estudos realizados com um elevado número de doentes,

sugerem que o ICISS pode vir a superar vários SPT, como o ISS e o TRISS,

no que concerne à capacidade prognóstica (Rennie & Brady, 2007).

Por outro lado, não é um sistema objectivo, já que o código ICD-9

escolhido pode variar de hospital para hospital, dificultando a comparação do

desempenho das várias instituições (Chawda et al., 2004). Requer acesso a

programas informáticos para a realização dos cálculos e prognósticos

(Chawda et al., 2004), e assume que as lesões são independentes, apesar de

ocorrerem casos em que a combinação é mais grave (Conn & Petrovik, 2004).

É um sistema que ainda necessita de estudos complementares de validação

para poder ser aplicado a um maior número de traumatizados (Sharma, 2005).

o Penetrating Abdominal Trauma Index (PATI)

O sistema PATI foi criado a partir do trabalho de Moore e colaboradores,

e constitui-se como um avanço na identificação de pacientes em alto risco de

complicações pós-operatórias, resultantes de uma lesão penetrante abdominal.

A cada sistema orgânico atribui-se um factor de risco de complicação que,

posteriormente, é multiplicado pela gravidade estimada da lesão. Os valores

atribuídos podem variar entre 1 (lesão mínima) e 5 (lesão máxima) de acordo

com uma simples modificação do AIS. O cálculo do risco de complicação

20

associado a cada órgão é determinado de acordo com a morbilidade pós-

operatória associada à lesão em causa (Sharma, 2005).

A soma da pontuação individual de cada órgão, multiplicada pelo factor

de risco indica-nos a pontuação PATI final. Se for ≤ a 25, o risco de

complicação é reduzido e se for ≤ a 10, significa que não há risco de

complicação; uma pontuação > a 25 refere-se a riscos muito elevados

(Sharma, 2005).

SPT Fisiológicos

o Glasgow Coma Scale (GCS)

A GCS foi desenvolvida por Teasdale e Jennett em 1974, na

Universidade de Glasgow, Escócia, e constitui a primeira tentativa de

quantificação da gravidade de um traumatismo crânio-encefálico (TCE)

(Teasdale & Jennett, 1974). Inclui a avaliação de três variáveis: melhor

resposta motora (para reflectir o nível da função do sistema nervoso central

(SNC)), a melhor resposta verbal (para reflectir a capacidade integrativa), e a

abertura ocular (para reflectir a função do tronco cerebral) (Senkowski &

Mckenney, 1999; Gilmore, 2003).

A GCS é utilizada como ferramenta de prognóstico, de avaliação inicial,

e ainda de re-avaliação contínua de pacientes vítimas de TCE (Senkowski &

Mckenney, 1999) e „‟é aceite desde há mais de 20 anos como o padrão para

avaliar o nível de consciência e a gravidade dos TCE, mantém-se, sem grande

contestação, como a única utilizada de forma universal para esse fim‟‟

(INEM, 2002).

21

Melhor resposta

motora

Pontuação Melhor resposta

verbal

Pontuação Abertura dos

olhos

Pontuação

Mexe membro ao

comando verbal

6 Orientado 5 Espontânea 4

Localiza estímulo

doloroso

5 Confuso,

desorientado

4 Abre os olhos

ao

chamamento

verbal

3

Flexão

inespecífica/reflexo

de retirada a

estímulos dolorosos

4 Discurso desconexo 3 Abre os olhos

ao estímulo

doloroso

2

Flexão anormal a

estímulos dolorosos

3 Emite sons

incompreensíveis

2 Sem resposta

ocular

1

Extensão a estímulos

dolorosos

2 Sem resposta verbal 1

Sem resposta motora 1

Tabela 1 – Glasgow Coma Scale (Teasdale & Jennett, 1974)

Quando utilizada no pré-hospitalar, a sua capacidade preditiva diminui

em relação aos valores obtidos no momento da admissão; este facto deve-se a

manobras de ressuscitação entretanto realizadas, que se traduzem numa

melhoria do valor da GCS inicialmente obtido. Contudo, tanto os valores

obtidos no pré-hospitalar, como aqueles obtidos na altura da admissão, são

informações importantes no processo de triagem, de re-triagem e tratamento

de doentes (Senkowski & Mckenney, 1999).

22

Os valores da GCS variam entre 3 e 15, sendo que pontuações entre 13 e

15 correspondem a uma lesão considerada ligeira; entre 9 e 12, lesão

moderada; e ≤ a 8, lesão grave (Gilmore, 2003).

A GCS apresenta uma precisão prognóstica elevada, tanto para lesões

focais, como para lesões difusas (Senkowski & Mckenney, 1999). No

entanto, encontra-se comprometida quando aplicada a pacientes sem lesões a

nível craniano, mas que se apresentem condicionados por hipoxia,

hipovolémia, hipotermia, ou sob o efeito de drogas e álcool (Sharma, 2005).

Em 1998 Ross e colaboradores apresentaram um estudo com 1410

doentes, a demonstrar que considerando unicamente a melhor resposta

motora, seria possível prever lesões cerebrais severas e risco de morte

associado, tão bem como quando é utilizado o total das variáveis que

constituem a GCS (Senkowski & Mckenney, 1999; Sharma, 2005).

o Triage Index (TI)

O TI surgiu em 1980, desenvolvido por Champion e colaboradores, e

serviu de orientação para o desenvolvimento de SPT posteriores. A partir da

análise de vários estudos, tornou-se possível constatar, que grande parte das

mortes ocorridas após trauma, se deviam a complicações no sistema nervoso

central, sistema cardiovascular e sistema respiratório. Neste sentido, surgiram

cinco variáveis que poderiam prever de forma mais fiável o resultado:

expansão torácica, preenchimento capilar, e os três elementos constituintes da

GCS, isto é, resposta ocular, resposta verbal e resposta motora. Os valores

atribuídos a cada uma destas variáveis oscilam entre 0 – normal, e valores

mais altos reportam-se a uma descompensação fisiológica grave. O valor final

23

obtido, quando combinado com um determinado número de mecanismos de

lesão e critérios anatómicos de triagem, apresenta-se como um algoritmo útil

no processo de triagem realizado no pré-hospitalar (Champion, Sacco,

Hannan, Lepper, Atzinger, Copes & Prall, 1980; Wisner, 1992).

o Trauma Score (TS)

O TS surge como mais um trabalho de Champion e colaboradores em

1988, e é apresentado como um sistema de triagem pré-hospitalar. Quando

comparado com o TI, o TS diferencia-se pelo facto de considerar duas

variáveis suplementares, isto é, a frequência respiratória e o valor da pressão

arterial sistólica. Os valores do TS podem variar entre 0 e 16, significando

que quanto menor for o valor obtido, maior é o dano fisiológico (Wisner,

1992).

O TS é um SPT bastante vantajoso, uma vez que possui um valor

preditivo elevado quer em lesões contusas, como em lesões penetrantes. Por

outro lado, a sua utilização tem evidenciado que a aferição do grau de

expansão torácica e preenchimento capilar é difícil e pouco exacta. Nesta

lógica, estas duas variáveis deixaram de ser consideradas, dando origem à

criação do Revised Trauma Score (RTS) (Wisner, 1992).

o Revised Trauma Score (RTS)

A RTS foi apresentada em 1989 por Champion e colaboradores, a partir

da eliminação das variáveis expansão torácica e preenchimento capilar do TS.

Assim, a RTS considera três variáveis: GCS, frequência respiratória (FR) e a

24

pressão arterial sistólica (PAS) (Gilmore, 2003; Senkowski & Mckenney,

1999).

A RTS apresenta duas formas que diferem conforme a necessidade de

utilização; a forma simples é usada na triagem no pré-hospitalar e denomina-

se T-RTS, e a forma codificada utilizada para o controlo de qualidade e

previsão de resultados (Sharma, 2005).

Na T-RTS cada uma das três variáveis recebe um valor compreendido

entre 0 e 4, e da soma destes gera-se a pontuação final. Desta maneira, a T-

RTS pode variar entre 0 e 12, sendo que valores menores representam graus

elevados de gravidade (Senkowski & Mckenney, 1999). Se a pontuação for

inferior a 11, estamos perante uma situação, na qual, a vítima deve ser

imediatamente transportada para um centro de trauma (Chawda et al., 2004).

No respeitante a este SPT torna-se útil referenciar que é adoptado a nível

pré-hospitalar para a triagem médica secundária e re-triagem, tendo como

exemplo em Portugal a sua adopção pelas equipas médicas do INEM nas

situações multi-vítimas, acidentes catastróficos de efeitos limitados e

catástrofes (INEM, 2002).

A nível hospitalar, e de acordo com o Grupo Português de Triagem, em

caso de catástrofe, o T-RTS está integrado no Sistema de Triagem de

Manchester1 como método de avaliação secundária preconizado, sendo

considerado o modo mais preciso para triar um elevado número de feridos

(Freitas, 2002).

1 Sistema de triagem com origem na cidade de Manchester (Inglaterra), tendo sido submetido a validação,

e acreditado em Portugal pelo Ministério da Saúde, Ordem dos Médicos e Ordem dos Enfermeiros,

encontrando-se actualmente implementado nos serviços de urgência/emergência de um grande número de

unidades de saúde em Portugal e no estrangeiro.

25

No que diz respeito à forma codificada, a RTS é obtida a partir da

fórmula: RTS = 0.9368 GCS + 0.7326 PAS + 0.2908 FR, e os seus valores

variam entre 0 e 7.8408, sendo que 0 é sinónimo de morte e 7.8408 reflecte

ausência de lesões. Um valor inferior a 4 é, indicador de que os pacientes

deverão ser encaminhados para um centro especializado em trauma (Chawda

et al., 2004).

Valor codificado Glasgow Coma Scale Pressão Arterial Sistólica Frequência Respiratória

4 13-15 >89 10-29

3 9-12 76-89 >29

2 6-8 50-75 6-9

1 4-5 1-49 1-5

0 3

Tabela 2 – Revised Trauma Score (Champion, 1989)

Uma das principais vantagens do RTS é a boa relação que apresenta com

a probabilidade de sobrevivência (Chawda et al., 2004), pelo que é a

ferramenta de triagem mais utilizada no pré-hospitalar em todo o mundo

(Senkowski & Mckenney, 1999). Os seus elementos são de fácil avaliação,

pontuação e utilização no pré-hospitalar (Wisner, 1992), e o facto de valorar

de modo diferente os componentes individuais, salientará o impacto do TCE

no prognóstico (Sharma, 2005).

Todavia, o cálculo da forma codificada não é fácil (Raum, Nijsten,

Vogelzang, Schuring, Lefering, Bouillon, Rixen, Neugebauer & Duis, 2009),

e acarreta problemas herdados da GCS, nomeadamente a resposta verbal em

pacientes entubados, bem como sob o efeito de álcool e drogas. Outra

26

limitação relaciona-se com o facto dos parâmetros fisiológicos mudarem

rapidamente, enviesando a pontuação atribuída (Chawda et al., 2004). Alguns

autores afirmam que o RTS tem uma pobre correlação com a mortalidade

(Raum et al., 2009). Segundo Moore e colaboradores, a forma utilizada na

triagem poderia substituir a forma codificada na avaliação de resultados,

porque é intuitiva, mais fácil de calcular, e fornece informação idêntica ou

ligeiramente superior (Moore, Lavoie, Abdous, Le Sage, Lieberman,

Bergeron & Emond, 2006).

o Circulation, Respiration, Abdomen, Motor and Speech System

(CRAMS)

Este SPT surgiu de uma tentativa para simplificar a Trauma Score (TS)

original utilizada para triagem pré-hospitalar. O valor máximo é de 10 pontos,

sendo que cada uma das cinco categorias pode variar entre 0 (défice

fisiológico, neurológico severo, lesão torácica ou abdominal aberta) e 2 (sem

défice ou lesão), sendo que um resultado ≤ a 8 indica uma situação de trauma

major, enquanto que uma pontuação ≥ a 9 corresponde a uma situação de

trauma minor (Sharma, 2005).

27

Escala CRAMS

Circulação Preenchimento capilar normal e PAS >100 mmHg 2

Preenchimento capilar lento e PAS 85-100 mmHg 1

Preenchimento capilar ausente e PAS < 65 mmHg 0

Respiração Normal 2

Anormal 1

Ausente 0

Abdómen-tórax Abdómen e tórax não dolorosos 2

Abdómen ou tórax doloroso 1

Rigidez abdominal ou instabilidade torácica 0

Motor Normal 2

Resposta a estímulo doloroso 1

Descerebração ou ausência de resposta 0

Linguagem Normal 2

Confusa 1

Incompreensível 0

Total 10.0

Tabela 3 – CRAMS Scale (Gormican, 1982)

A CRAMS é bastante fácil de utilizar (Wisner, 1992). Contudo, a sua

capacidade de avaliação abdominal/torácica no pré-hospitalar ainda não foi

corroborada (Sharma, 2005) e, apesar de as variáveis serem facilmente

medidas, a sua avaliação é de certa forma subjectiva (Wisner, 1992).

Adicionalmente, não foi sujeita a correlações com o prognóstico, tal como foi

efectuado com a RTS, e não é capaz de prever rapidamente as probabilidades

de sobrevivência da vítima (Ornato, Mlinek, Craren & Nelson, 2005).

28

o Acute Physiology And Chronic Health (APACHE)

O Sistema APACHE foi introduzido em 1981 por Knaus e colaboradores

(Knaus, Zimmerman, Wagner, Draper & Lawrence, 1981) e já sofreu duas

revisões desde então. É constituído por duas componentes, sendo que uma

avalia o estado de saúde crónico associado a co-morbilidades (CHE), e a

pontuação fisiológica aguda (APS). Esta última é composta por diversas

variáveis que representam os principais sistemas fisiológicos, tais como:

neurológico, cardiovascular, renal, respiratório, gastrointestinal, metabólico e

hematológico; os dados utilizados são aqueles que correspondem a valores

mais anormais nas primeiras 24 horas (Chawda et al., 2004).

Em 1985 surge o APACHE II (Knaus, Draper, Wagner & Zimmerman,

1985), que restringiu o número de co-morbilidades e variáveis APS de 34

para 12, facto que tornou o sistema bastante popular apesar das suas

limitações. Em 1991 é apresentado o APACHE III, que se distingue pela

introdução de 17 variáveis, a limitação de co-morbilidades, a distinção entre

TCE e não TCE e, ainda, por passar a contabilizar o tempo de processamento

da pontuação como uma viés (Chawda et al., 2004).

O APACHE II apresenta uma melhor capacidade de previsão da

mortalidade em pacientes politraumatizados em relação à GCS, uma vez que,

tem em conta os principais parâmetros fisiológicos dos pacientes,

reconhecendo ainda que o prognóstico seja afectado pela idade mais avançada

e problemas crónicos de saúde (Dalgiç, Ergϋngör, Becan, Elhan, Okay &

Yϋksel, 2009).

Por outro lado, deve ser tido em conta que o APS é condicionado em

grande parte pela GCS que, inicialmente não foi proposta para reflectir lesões

29

extra-cranianas. O facto de os jovens apresentarem poucas co-morbilidades

poderá levar a um tempo de processamento do sistema mais elevado (Chawda

et al., 2004). A salientar que o APACHE II subestima a probabilidade de

morte em pacientes que foram transferidos para a Unidade de Cuidados

Intensivos (UCI), uma vez que a informação utilizada é obtida

exclusivamente na UCI, ignorando tratamentos anteriores (Chawda et al.,

2004).

Devido à ausência de uma componente anatómica no sistema APACHE,

este quando comparado com o TRISS, apresenta uma capacidade inferior de

previsão da mortalidade em pacientes feridos. Adicionalmente, o facto de ter

sido desenvolvido com pacientes que não tinham sido vítimas de trauma, mas

que apresentavam diferentes problemas clínicos, o APACHE II é

considerado um SPT que fornece informação prognóstica sobre o estado

global do paciente (Chawda et al., 2004).

O APACHE III foi apresentado em 1991, tendo como objectivo melhorar

a metodologia APACHE, no sentido de aumentar a sua eficácia preditiva no

que diz respeito ao risco de mortalidade intra-hospitalar em indivíduos

adultos gravemente doentes (Knaus, Wagner, Draper, Zimmerman, Bregner,

Bastos, Sirio, Murphy, Lotring, Damiano & Harrell, 1991). Não é totalmente

aceite na comunidade médica devido à sua extensão e ao facto de ainda

necessitar de estudos de validação da sua capacidade preditiva (Chawda et al.,

2004).

30

o Emergency Trauma Score (EMTRAS)

O EMTRAS foi desenvolvido em 2009 por Raum e colaboradores, e

inclui quatro parâmetros amplamente relacionados com a mortalidade,

nomeadamente, idade, GCS pré-hospitalar, excesso de bases (mmol/L), e

tempo de protrombina. O seu resultado obtém-se a partir da soma da

pontuação atribuída a cada um destes parâmetros (entre 0 e 12), sendo que um

valor elevado indica que o paciente tem um alto risco de mortalidade e vice-

versa.

É um SPT bastante fiável no cálculo do risco de mortalidade de pacientes

vítimas de trauma severo e, apesar de apenas contabilizar quatro itens,

apresenta bons resultados em comparação com outros SPT mais complexos.

Adicionalmente, é importante salientar que o EMTRAS é um método

simples, fácil, robusto e rápido de calcular.

Apresenta algumas limitações que decorrem do GCS e, pelo facto de ser

um sistema relativamente recente, ainda necessita de estudos de validação

(Raum et al., 2009).

o Pediatric Trauma Score (PTS)

Nos EUA, o trauma é a primeira causa de morte entre a população

pediátrica, mas a maior parte dos SPT utilizados no pré-hospitalar não são

adequados para casos de trauma pediátrico. Isto porque, a frequência

respiratória, a frequência cardíaca e a pressão arterial sistólica variam da

idade infantil para a idade adulta. Adicionalmente, o acesso à resposta verbal

utilizada na GCS é dificultado quando consideradas crianças mais novas.

31

Face a estas condicionantes, Tepas e colaboradores conceberam a PTS

em 1987 (Tepas, Mollitt, Talbert & Bryant, 1987), onde são analisadas seis

variáveis, sendo que para cada uma delas: +2 corresponde a lesões mínimas

ou ausência de lesões, +1 corresponde a lesões menores ou potencialmente

major, e -1 define lesões major ou se ameaçadoras à vida. A pontuação total

desde SPT varia entre -6 e +12, sendo a sua gravidade crescente à medida que

a PTS diminui (Senkowski & Mckenney, 1999).

Os autores incluíram como variável o peso da criança, uma vez que

quanto mais pequenas, menos reservas fisiológicas teriam. A ocorrência de

feridas ou fracturas foram duas das variáveis finais a ser incluídas, já que

podem sugerir traumatismos de alta energia e correlacionar-se positivamente

com a existência de lesão visceral (Senkowski & Mckenney, 1999).

Quando correlacionada com o ISS, o PTS surge como um preditor fiável

da gravidade e prognóstico, tal como o primeiro. Neste sentido, um estudo

posterior revelou que um valor ≤8 está associado a um risco elevado de

mortalidade (Senkowski & Mckenney, 1999).

Todavia, autores especialistas da PTS afirmam que treinar equipas de

emergência pré-hospitalar para o uso deste SPT é desnecessário, uma vez que,

alguns SPT utilizados para a população adulta, tal como o RTS, podem

perfeitamente ser utilizados na população pediátrica. Nesta lógica, dois

estudos comprovaram que a RTS é tão eficaz como a PTS no

encaminhamento pré-hospitalar do doente pediátrico (Senkowski &

Mckenney, 1999). Estudos posteriores afirmam que a TS e o TRISS-scan,

devido à sua capacidade prognóstica e facilidade de utilização, são

recomendadas em crianças e adolescentes politraumatizados, pelo que escalas

32

de trauma específicas para crianças são desnecessárias (Ott, Kramer, Martus,

Bussenius-Kammerer, Carbon & Rupprecht, 2000).

Categoria

Componente +2 +1 -1

Peso ≥20 kg 10-20 kg <10 kg

Vias aéreas Normal Sustentável Insustentável

Pressão Arterial Sistólica ≤90 mmHg 90-50 mmHg <50 mmHg

SNC Acordado Coma ou descerebração

Ferida exposta Nenhuma Menor Major ou penetrante

Sistema Esquelético Nenhuma Fractura fechada Aberta ou fracturas múltiplas

Tabela 4 – Pediatric Trauma Scale (Tepas et al., 1987)

SPT Combinados

o Trauma and Injury Severity Score (TRISS)

O sistema TRISS foi desenvolvido por Boyd e colaboradores em 1987

(Boyd, Tolson & Coper, 1987; Rennie & Brady, 2007), e teve como objectivo

combinar os critérios fisiológicos do RTS com os critérios anatómicos do ISS

(Senkowski & Mckenney, 1999). Inclui ainda a idade do paciente, com o

intuito de prever a sobrevivência decorrente de uma situação de trauma

(Chawda et al., 2004), calculada com a seguinte fórmula: Ps=1/1+e-b

; „b‟ é

obtido por: b= b0+b1(RTS)+b2(RTS)+b3(Índice de Idade). Os coeficientes

b0 a b3 resultam da análise de regressão múltipla da base de dados da MTOS,

e variam conforme se trate de trauma decorrente de uma contusão ou de uma

ferida penetrante. Em relação ao índice de idade, atribui-se 0 se o paciente

33

tiver menos de 54 anos, ou 1 se a idade for superior ou igual a 55 anos. No

caso de a vítima ter menos de 15 anos, os coeficientes de contusão são

utilizados independentemente da etiologia da lesão (Chawda et al., 2004).

Uma das suas principais vantagens é o facto de combinar critérios

anatómicos com critérios fisiológicos. Por poder ser utilizado em crianças e

adultos, poderá ser considerado o método standard para a avaliação de

resultados (Chawda et al., 2004).

Algumas das limitações do TRISS são as que decorrem do ISS,

nomeadamente, a incapacidade de contabilizar múltiplas lesões numa mesma

região corporal (Chawda et al., 2004). O TRISS não considera co-

morbilidades pré-existentes (cardiopatia, DPOC, e cirrose), e, tal como o RTS

exclui os pacientes entubados por não ser possível obter a frequência

respiratória e a resposta verbal (Chawda et al., 2004). O facto de utilizar

dados fisiológicos que poderão não estar disponíveis ou não ser do desejado

grau de confiança, constitui uma limitação deste SPT (Chawda et al., 2004).

Vários estudos demonstraram ainda que pode apresentar grandes limitações

na avaliação de uma situação traumática grave (Rabbani & Moini, 2007).

Contusão Lesão Penetrante

b0 - 0.4499 - 2.5355

b1 0.8085 0.9934

b2 - 0.0835 - 0.0651

b3 - 1.743 - 1.136

Tabela 5 – Coeficientes utilizados pelo Trauma Score – Injury Severity Score na

determinação da probabilidade de sobrevivência (Boyd et al., 1987)

34

o A Severity Characterization of Trauma (ASCOT)

O ASCOT foi desenhado por Champion e colaboradores em 1990, com o

objectivo de melhorar a precisão e minimizar os erros do TRISS (Champion,

Copes, Sacco, Lawnick, Bain, Gann, Gennarelli, Mackenzie & Schwaitzberg,

1990; Rabbani & Moini, 2007). Utiliza medidas anatómicas e fisiológicas,

sendo que as primeiras são pontuações derivadas do AP, enquanto que as

outras incluem parâmetros do RTS obtidos no serviço de urgência (GCS,

pressão arterial sistólica e frequência respiratória). A idade é tida em

consideração nos cálculos finais. O ASCOT inclui os componentes

individuais do RTS codificado que foram incluídos como preditores

independentes no modelo matemático final (Chawda et al., 2004). A

probabilidade de sobrevivência do ASCOT é calculada utilizando a seguinte

fórmula: Ps=1/(1+e-k

), onde K= K0+K1(GCS)+ K2 (PAS)+ K3 (FR)+ K4 (A)+

K5 (B)+ K6 (C)+ K7 (Idade); os componentes A, B, C, e D derivam do AP.

Valor atribuído à idade Idades

0 0-54

1 55-64

2 65-74

3 75-84

4 >84

Tabela 6 – Caracterização da idade dos pacientes segundo o ASCOT (Champion et al.,

1990)

A principal vantagem do ASCOT é o facto de se basear no AP, uma

ferramenta de caracterização de lesões melhor que o ISS, e ainda o facto de

35

considerar variáveis fisiológicas (Chawda et al., 2004). Adicionalmente, as

regiões corporais são categorizadas de acordo com a importância da região

afectada, e a sua performance em termos preditivos é superior à do ISS

(Chawda et al., 2004).

Contudo, o ASCOT não foi amplamente utilizado por apresentar um

poder preditivo ligeiramente superior ao TRISS, mas com um custo bastante

elevado. Aliás, vários estudos afirmam que o poder preditivo de ambos é

bastante semelhante (Chawda et al., 2004).

36

Conclusão

O principal objectivo deste trabalho foi o de identificar e analisar os principais

Sistemas de Pontuação de Trauma usados pela comunidade médica, considerando que

estes são instrumentos fundamentais para o socorro, orientação, avaliação clínica e

intervenção das equipas médicas nos doentes traumatizados. Neste sentido, a

investigação realizada sobre esta temática tem salientado que instrumentos adequados

conduzem à maior eficácia da resposta pelas equipas médicas do pré e intra-hospitalar,

pelo que o seu conhecimento detalhado se impõe.

Vários estudos referem que os SPT existentes apresentam características

idênticas mas muitas vezes bastante díspares, razão pela qual optámos por uma breve

apreciação individual, proporcionando assim aos profissionais de saúde o seu

conhecimento e mais-valia na avaliação e resposta nas vítimas de ocorrências

quotidianas.

Da análise dos SPT aqui referidos, salientámos as principais noções a reter sobre

cada instrumento, fazendo referência às suas vantagens e às suas principais limitações,

já que só esta perspectiva permite sintetizar princípios válidos e extrapoláveis a diversas

condições clínicas.

Os SPT podem ser utilizados quer como ferramentas de triagem, ou sistemas de

prognóstico/comparação, estando divididos em três categorias: anatómicos, fisiológicos

e combinados.

Do exposto, conclui-se que o AIS constitui-se como a medida de gravidade de

lesões mais comummente utilizada.

A GCS é desde há mais de 20 anos usada como o padrão para avaliar o nível de

consciência e a gravidade dos TCE, estando incluída em vários SPT, entre eles o RTS.

37

É de realçar que o RTS é a ferramenta de triagem mais utilizada na emergência

pré-hospitalar em todo o mundo, devido à boa relação que apresenta com a

probabilidade de sobrevivência. Nesta óptica, é adoptado pelo INEM como ferramenta

de triagem secundária e re-triagem, facto que nos parece perfeitamente adequado.

Também revela a importância deste SPT a sua inclusão em metodologias de

triagem a nível hospitalar, de que é exemplo o Sistema de Triagem de Manchester, onde

é integrado enquanto instrumento para avaliação secundária nas ocorrências multi-

vítimas e de catástrofe. Neste âmbito, julgamos que se tem revelado adequado e

operativo na gestão de urgência/emergência.

Numa outra perspectiva, o TRISS revela-se o método standard para a avaliação

de probabilidade de sobrevivência. Estando validado enquanto tal, no entanto não é por

ora adoptado no quotidiano em Portugal.

Apesar dos inúmeros trabalhos desenvolvidos nos últimos 30 anos, não existe

nenhum sistema que seja universalmente aceite, atendendo a que os instrumentos

disponíveis não são capazes de incorporar todos os aspectos considerados ideais.

Decorre, pois, que esta área da Medicina continua a exigir numerosos progressos, sendo

que estudos futuros que consigam avaliar a gravidade de múltiplas lesões, que

considerem a variabilidade fisiológica entre vítimas, que sugiram formas de abordagem,

terapêutica e reabilitação de traumatizados, continuam a ser os propósitos alvo. Até que

um sistema com estas características seja construído, os profissionais de saúde devem

socorrer-se das ferramentas disponíveis actualmente, e dar primazia ao conhecimento, à

capacidade de análise, ao juízo crítico e bom senso, que lhes permita avaliar e

seleccionar a forma de conduta mais adequada, visando os maiores ganhos em saúde.

38

Bibliografia

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