simpÓsio - os adjetivos no português brasileiro ...³sios cifale/cifale... · ademais, assumimos...

22
02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil SIMPÓSIO - Os Adjetivos no Português Brasileiro: comparando abordagens, completando conhecimentos, alcançando o estado da arte

Upload: vothu

Post on 28-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

02 a 05 setembro 2013

Faculdade de Letras UFRJRio de Janeiro - Brasil

SIMPÓSIO - Os Adjetivos no Português Brasileiro: comparando abordagens, completando conhecimentos,

alcançando o estado da arte

INDÍCE DE TRABALHOS(em ordem alfabética)

Adjetivos e processos enunciativos de variação semânticaAlbano Dalla Pria Página 05

Adjetivos invariáveis e raízes a categoriaisAna Paula Scher Página 06

Gramaticalização de predicados matrizes adjetivais no português brasileiroSebastião Carlos Leite Gonçalves e Solange de Carvalho Fortilli Página 13

A Concordância de Adjetivos com Nominais NusPatrícia de Araújo Rodrigues e Maria José Foltran Página 03

Adjetivos em modificação de estado resultante: motivando o bloqueio de construções resultativas no Português BrasileiroJulio William Curvelo Barbosa Página 08

Página 10

Fatores sintáticos alteradores da ordem canônica dos adjetivos atributivos pós-nominais em PBThais Deschamps, Anne Liese Glienke e Maximiliano Guimarães

Página 14

O que as formações adjetivais novas têm a mostrar sobre o comportamento dos adjetivosMaria José Foltran

Página 16

O que o formante –inho (dito “diminutivo”, aqui analisado como um modificador de graus/ intensificador) nos diz sobre a “classe” dos adjetivos?Ana Paula Quadros Gomes

Página 18Quando o nome tem função adjetiva: casos de derivação e composiçãoRafael Dias Minussi

Página 20Reanalisando a Trajetória Diacrônica dos Adjetivos em PortuguêsThais Deschamps e Maximiliano Guimarães

Página 21Um estudo sobre “super” enquanto modificador argumentativoDanusa Lopes Bertagnoli e Mónica Graciela Zoppi Fontana

33

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma contribuição empírica ao debate em torno do fenômeno

daconcordância nas construções copularespredicacionais do português brasileiro, quando o sujeito da

cópula é um nominal nu singular.Em um estudo recente, Duek (2012) apresenta uma análise para esse

tipo de sentença com base na generalização empírica de que a concordâncianãoacontece quando o

nominal nu singular sujeito possui gênero arbitrário, como maçã(1). Nos casos em que esse nominal

possui gênero natural, como atriz, a concordância seria realizada.

(1) Maçã é gostoso / *gostosa.

(2) Atriz é vaidosa / *vaidoso.

Duekdefende a necessidade de se refinar melhor os traços de concordância e uma explicitação do que

seria gênero natural e gênero arbitrário.

No entanto, exemplos como os listados em (3) e em (4) são possíveis na língua e escapam à generalização

proposta pela autora.

(3)a. Moqueca é apimentada.

b. Maçã é suculenta / vermelha / redonda

c. Manga é fiapenta.

d. Grama é escorregadia.

e. Banana é comprida.

f.Me dá um exemplo de fruta redonda. Laranja é redonda. Hum, pra mim, laranja não é redonda, é

oval.

(4) Atriz / menina /mulher é complicado/estranho/chato/bom/divertido.

Esses exemplos mostram que tanto nomes com gênero arbitrário quanto nomes com gênero natural

podem disparar ou não concordância no adjetivo. Parece que quando o adjetivo pode ser associado

a propriedades intrínsecas do indivíduo, como em (3), a concordância deve aparecer; ao contrário,

quando o adjetivo é avaliativo, como em (4), a concordância tende a ser neutra. Nesses casos, tem-se a

interpretação de que uma situação ou eventualidade ligada ao nome está sendo avaliada. Em mulher é

A CONCORDÂNCIA DE ADJETIVOS COM NOMINAIS NUS

Patrícia de Araújo Rodrigues e Maria José Foltran

4

complicadoé possível entender, por exemplo, que lidar com mulher é complicado (Foltran&Rodrigues

2013).Considerando-se esses dados, acreditamos que fica enfraquecida a hipótese de que a ausência ou

presença de concordância em construções copulares com um sujeito nominal nu singular está ligada

ao tipo de traço de gênero apresentado pelo nome.

Como alternativa a essa análise, exploramos neste trabalho a hipótese de que a ausência de concordância

nessas construções ocorreria nos casos em que o nominal nu singular ocorre em uma posição A-barra.

Além disso, o tipo de adjetivo usado desempenha papel crucial na gramaticalidade da sentença.

Referências

DUEK, K. (2012). Bare nouns and gender agreement in Brazilian Portuguese. Proceedings CSL.

FOLTRAN, M.J. & RODRIGUES, P. (2013). OnDenoting Abstract Entities. Revista da Abralin (a sair).

5

Nos trabalhos que se dedicam ao estudo do adjetivo, é fulcral a definição de valores que sejam próprios

à categoria. Há um número razoável de trabalhos produzidos por lógicos e linguistas no intuito de

definir esses valores. Isso não sendo possível, a alternativa (ou imperativo metodológico) é derivar

subcategorias e lhes definir valores que lhes sejam próprios. A hipótese, nesse caso, é de que esse

procedimento, em algum momento, resultará no objetivo inicial.

Os lógicos, diante do compromisso de referenciar as expressões linguísticas, seja em um mundo

sensível seja em um mundo intelectivo, conseguiram atribuir à categoria tanto um valor intensional

quanto um extensional. Os linguistas, sem o compromisso de referenciar as expressões linguísticas

em um mundo outro que não seja aquele idealizado pelo conceito de langue, sentem-se na liberdade

de atribuir à categoria e às subcategorias tantos valores quanto sua imaginação lhes permite fazer.

Para tanto, assumem que quaisquer linguistas em iguais condições atribuirão os mesmos valores às

unidades. Nesse caso, a proliferação na definição de valores é bastante profícua.

Partindo da articulação da linguagem com as línguas naturais, assumimos que a comunicação

linguística compreende um espaço discursivo que é a base referencial comum compartilhada por

interlocutores (locutor e interlocutor). Esse espaço caminha de um vazio referencial em direção a

um espaço referencial consideravelmente especificado na medida em que os interlocutores regulam

seus quadros de referência em relação a essa situação particular de interlocução. Ademais, assumimos

que o significado é algo que se movimenta. Qualquer tentativa de descrevê-lo será reducionista,

pontual e circunstancializada. O que temos de material são as formas interpretáveis (os enunciados).

O significado das formas não é estável e sua espessura é diametralmente dependente do universo

experiencial de cada sujeito interpretante. O significado nunca será algo estável porque está inserido

em um contínuo. Assim, o que denominamos significado corresponde a algum ponto que se cristaliza

em função da sua focalização devido a um procedimento analítico.

A análise que apresentaremos no simpósio é, portanto, um ponto de um contínuo. Os enunciados de

que partiremos são singulares dentre muitos outros que foram descartados no processo que os gerou.

Faremos o esforço de tentar reconstruir esses processos pelos quais esses pontos se constituíram desde

a sua gênese. Para nós, essa perspectiva evidencia a beleza da linguagem porque trata as unidades

denominadas de “adjetivo” como marcas do diálogo intra e intersubjetivo nos enunciados.

ADJETIVOS E PROCESSOS ENUNCIATIVOS DE VARIAÇÃO SEMÂNTICA

Albano Dalla Pria

6

O objetivo deste trabalho é discutir o status de adjetivos ditos “resultativos” em contextos de

predicação secundária no Português Brasileiro (PB). A partir da observação de dados do PB e do

inglês, serão apontadas evidências empíricas e teóricas para defender a hipótese de que os dados em

(1) e (2) do inglês apresentam propriedades semânticas e sintáticas distintas das construções em (3) e

(4), defendidas amplamente na literatura como contrapartes de construções resultativas em PB (e.g.,

Foltran 1999, Lobato 2004, Rech 2007).

(1) The silversmith pounded the metal flat.

O ferreiro bateu (com algo pesado) o metal plano.

‘O ferreiro bateu com algo pesado no metal até ele ficar plano/deixou o metal plano batendo com algo

pesado’.

(2) Sylvester cried his eyes out.

Sylvester chorou seus olhos fora

‘Sylvester chorou até seus olhos caírem/ tirou seus olhos chorando’.

(3) A manteiga congelou torta. (Lobato 2004, p. 168)

(4) João pintou a casa amarelíssima / bem amarelinha / muito amarela / amarelinha, amarelinha /

super-amarela. (Lobato 2004, p. 162)

O problema em associar as construções do PB às resultativas do inglês se dá pelo fato de que o inglês

diverge do PB no que diz respeito à (i) produtividade, (ii) tipologia verbal, (iii) classificação aspectual/

semântica de formação e (iv) incorporação de modo (manner) no verbo.

Observando o comportamento dessas sentenças quanto ao acarretamento (5)-(6) e o tipo de

interpretação possível quando observada a modificação sintática do adjetivo sobre o verbo (7)-(8), é

possível ver que existe uma diferença entre PB e inglês em como a modificação realizada pelo adjetivo

afeta a interpretação da sentença como um todo em cada uma das línguas:

ADJETIVOS EM MODIFICAÇÃO DE ESTADO RESULTANTE: MOTIVANDO O BLOQUEIO DE CONSTRUÇÕES RESULTATIVAS

NO PORTUGUÊS BRASILEIROJulio William Curvelo Barbosa

6

7

(5) John hammered the metal flat.

> The metal was hammered. (‘O metal foi martelado’)

> The metal got flat. (‘O metal ficou achatado’)

> The metal was flattened. (‘O metal foi achatado’)

(6) João pintou a casa bem amarelinha.

> A casa foi pintada.

> A casa ficou bem amarelinha.

> ?A casa foi amarelada.

(7)

a. John painted the house yellow.

b. John caused the house to become yellow by painting it.

(8)

a. A Maria pintou a casa bem amarelinha.

b. ?A Maria fez com que a casa ficasse bem amarelinha pintando-a.

c. A Maria fez com que a casa ficasse pintada, e esse pintado foi bem

amarelinho.

Com base no modelo de semântica de eventos de Parsons (1990), será mostrado que, ao contrário da

estrutura de resultative tag (9), característica das propriedades de mudança de estado com estado

resultante denotado pelo adjetivo, os adjetivos nas construções do PB operam, na verdade, sobre o

estado resultante já denotado pelo verbo (10):

(9) John hammered the metal flat.

(e)[Cul(e) & Agent(e, John) & Hammering(e) & Theme(e, metal) & (e’)[Cul(e’) & Theme(e’, metal) &

CAUSE(e, e’) & (s)[Being-flat(s) & Theme(s, metal) & Hold(s) & BECOME(e’, s)]]]

(10) João pintou a casa bem amarelinha.

(e)[Cul(e) & Agent(e, João) & CAUSE(e, s) & (s)[Estar-pintada(s) &

Theme(s, casa) & Hold(s) & BECOME(e’, s) & Estar-bem amarelinha(s)]]

8

O foco deste trabalho é a derivação e interpretação de formas adjetivais em sentenças a que lhes é

atribuído um uso adverbial, como se vê a seguir em exemplos do português brasileiro, do inglês e do

afrikaans:

(1) Maria tem atitude firme.

(2) Maria namora firme.

(3) This is a safe place.

(4) Be careful and drive safe.

(5) Jy is bate vinnig. (‘You are very quick.’)

(6) Jy stap bate vinnig. (‘You are walking very quickly.’)

Em cada uma dessas línguas, têm-se casos em que não se distingue morfologicamente um adjetivo ((1),

(3) e (5)) de um advérbio ((2), (4) e (6)). Trata-se, portanto, do problema da delimitação entre essas duas

categorias, levantado pelas formas firme, safe ou vinnig, também chamadas de “adjetivos invariáveis”,

ou “adjetivos adverbiais”. Como descreve o resumo do Simpósio Os Adjetivos no Português Brasileiro:

comparando abordagens, completando conhecimentos, alcançando o estado da arte”, tais adjetivos

modificam sintagmas não-nominais e têm atraído a atenção de pesquisadores de diferentes correntes

linguísticas. A literatura sobre o tema, portanto, tem como questão central o estatuto categorial de

formas semelhantes a firme, safe ou vinnig nas línguas naturais: trata-se de adjetivos ou de advérbios?

Lobato (2005) revela que os que assumem tais formas como adjetivos apontam que: i) o adjetivo é

simplesmente usado como advérbio, ou que ii) o adjetivo se converte em advérbio. A mesma autora

diz que, por outro lado, os que os tomam como advérbios, assumem que essas formas são homônimas

a adjetivos ou, ainda, que são advérbios de forma reduzida. Há, por fim, os que assumem que formas

como firme, safe ou vinnig situam-se em uma zona fronteiriça e têm sua categoria definida por meio

de traços distintivos lexicais. A presente pesquisa procura investigar as consequências de uma análise

baseada no quadro teórico da Morfologia Distribuída para a formação de formas como firme, safe

ou vinnig e seu uso como adjetivo ou advérbio nas sentenças de (1) a (6). De acordo com esse modelo,

palavras se formam a partir de outras palavras ou de raízes categorialmente neutras e a pergunta sobre

a complexidade da derivação dessas formas pode encontrar uma resposta interessante dentro desse

paradigma.

ADJETIVOS INVARIÁVEIS E RAÍZES A CATEGORIAIS

Ana Paula Scher

9

A partir da investigação do fenômeno em línguas como o português, brasileiro ou europeu, além

de outras línguas românicas como o espanhol, o francês e o italiano, e, também, da observação de

dados semelhantes em inglês, alemão, afrikaans, russo, entre outras línguas, procuramos identificar

os contextos em que o critério morfológico não funciona para distinguir entre adjetivos e advérbios

nessas línguas, bem como os fatores que possam estar condicionando a (não-)ocorrência dessas formas

idênticas em contextos em que se esperam adjetivos e advérbios. Além disso, buscamos determinar

as diferentes leituras que lhes podem ser atribuídas (modo, modo orientado para o agente, grau,

advérbio orientado paro o método, predicação secundária, etc, como propõe Schäfer (2006)), visando

estabelecer uma relação entre as propriedades da raiz de que tais formas derivam e a sua ocorrência

como adjetivo ou advérbio.

10

Este trabalho completa, corrige e refina descrições de Guimarães (2011) sobre aspectos pouquíssimo

estudados da morfossintaxe dos adjetivos atributivos em PB. Suas generalizações, embora essencialmente

acertadas, eram incompletas e imprecisas, não prevendo padrões que ora capturamos, identificando

fatores condicionadores do posicionamento pré-nominal atípico de adjetivos pré-nominais, e a (im)

possibilidade de adjetivos em posição pré-nominal serem modificados.

Guimarães apontava que adjetivos pós-nominais podem ser modificados por um advérbio, formando

um AP ramificado (1a/b), contrariamente aos adjetivos pré-nominais (2a/b). Assim, a ramificação do

AP parece depender de sua posição no NP.

(1a) Pedro é um homem (muito) alto.

(1b) Pedro é um atleta (muito) grande.

(2a) Pedro é um (*muito) belo homem.

(2b) Pedro é um (*muito) grande atleta.

Forçar um posicionamento pós-nominal para adjetivos exclusivamente pré-nominais não licencia

um modificador adverbial (3a). Também seria impossível a modificação adverbial num adjetivo

exclusivamente pré-nominal em posição canônica (3b). Igualmente, modificação adverbial num

adjetivo exclusivamente pós-nominal não licenciaria seu deslocamento para antes do nome (3c).

(3a) *Pedro é um atleta muito baita.

(3b) *Pedro é um muito foda atleta.

(3c) Pedro é um (*muito) alto homem.

Diferentemente dos advérbios observados por Guimarães, verificamos que certos advérbios

intensificadores que denotam avaliação subjetiva (e.g. mega, escandalosamente, nada) ou circunscrição

temporal (e.g. então, sempre, nunca) não apenas podem modificar adjetivos canonicamente pré-

nominais (4a/b), como podem tornar possível pré-nominalizar adjetivos canonicamente pós-nominais

(4c/d).

FATORES SINTÁTICOS ALTERADORES DA ORDEM CANÔNICA DOS ADJETIVOS ATRIBUTIVOS PÓS-NOMINAIS EM PB

Thais Deschamps, Anne Liese Glienke e Maximiliano Guimarães

11

(4a) Aquela escandalosamente bela mulher sumiu.

(4b) O agora futuro prefeito está se preparando para assumir o cargo.

(4c) O motorista executou uma *(mega) proibida manobra.

(4d) A *(então) virgem mulher foi brutalmente estuprada.

O mesmo efeito não se obtem com adjetivos exclusivamente pré-nominais que denotam intensificação

ou escalaridade (5a), ou mesmo com adjetivos exclusivamente pós-nominais com denotação equivalente

(5b).

(5a) Aquele (*mega)/(?então) baita atleta foi medalhista olímpico em 1988.

(5b) *Aquele então foda atleta foi medalhista olímpico em 1988, antes da decadência.

Outros dados inéditos que trazemos dizem respeito à coordenação de APs. Um adjetivo canonicamente

pós-nominal (6a/b) pode preceder o nome se for coordenado a um adjetivo possivelmente pré-nominal

(6c) ou mesmo a um outro exclusivamente pós-nominal (6d).

(6a)*Ele cometeu um irracional ato.

(6b)*Ele cometeu um irresponsável ato.

(6c) Ele cometeu um irracional mas corajoso ato.

(6d) Ele cometeu um irracional e irresponsável ato.

Outro fator sintático capaz de licenciar adjetivos canonicamente pós nominais em posição pré-nominal

é a presença, em posição pós-nominal, de constituintes pesados semanticamente associados ao nome.

Compare-se (7) a (6a).

(7) Ele cometeu um irracional ato (desesperado) de renúncia a seus direitos trabalhistas.

Os fatos acima são uma pequena amostra de um banco de dados em construção. Primeiramente,

objetivamos atingir adequação observacional quanto a essas novas descobertas acerca da morfossintaxe

fina dos adjetivos atributivos. Além disso, almejamos alcançar parcialmente adequação descritiva e

explicativa. Na comunicação, apresentaremos um esboço de análise, formulada predominantemente

no âmbito da Gramática Gerativo-Transformacional, em especial, na cartografia de Cinque (2010)

12

para as projeções funcionais do NP, incorporando a essa cartografia alguns ingredientes funcionalistas

como “desempenho eficiente” (HAWKINS, 2004) e “zonas informacionais” (FEIST, 2012).

13

Como parte de um projeto de maior dimensão que investiga as orações subjetivas na história do

português brasileiro (séculos XVIII a XXI), o presente trabalho tem por objetivo apresentar uma

descriçãodos tipos oracionais em cuja matriz ocorre um predicado adjetival. Assumindo o quadro

teórico da gramaticalização de orações (HOPPER; TRAUGOTT, 2003; LEHMANN, 1988), o foco da

descrição volta-se para os tipos de orações matrizes que admitem alternância de cópula, como em é

claro que / claro que, aqui respectivamente denominadas conservadoras e inovadoras (BYBEE, 2002).

Visando, neste momento, aobter uma diversidade mais ampla quanto possível de padrões definidos

por parâmetros semânticos e morfossintáticos, a investigação empírica toma por base amostras do

português faladono interior paulista, provenientes do banco de dados Iboruna, e amostras de escrita

do português brasileiro contemporâneo, extraídas do jornal Folha de São Paulo. Os parâmetros de

análise investigadosconsideram aclasse semântica de predicados adjetivais (avaliativos, de atitude

emocional, epistêmicos, de frequência edeônticos), a unidade semântico-funcional da oração encaixada

(estadodecoisas, proposição) e o formato da oração encaixada (finita e nãofinita). Os resultados

mostram uma correlação positiva entre os três parâmetros investigados, que pode ser formulada

nos seguintes termos: predicados avaliativos, de frequência, de atitude emocional e de modalidade

deôntica associam-se mais frequentemente a estado de coisas na forma não finita, enquanto predicados

epistêmicos associam-se quase categoricamente a proposições codificadas na forma finita. Confirmada

com base na frequência de uso tokenetype (BYBEE, 2003), essa correlação explicapor que esse último

padrão é o mais propício à redução da cópula da matriz e, posteriormente, a do complementizador,

fenômenos aqui interpretados como um caso de gramaticalização de matriz de oração subjetiva,

em razão das propriedades adverbais que predicados adjetivais epistêmicos assumem no interior da

construção em questão, a qual, de bi-, passa a mono-oracional. (Proc. CNPq 305264/2011-7)

GRAMATICALIZAÇÃO DE PREDICADOS MATRIZES ADJETIVAIS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Sebastião Carlos Leite Gonçalves e Solange de Carvalho Fortilli

14

A análise apresentada neste trabalho se situa na interface sintaxe-semântica. O objetivo é explicitar o

comportamento de formações adjetivais “novas”, a fim de observar como esses itens se comportam ao

começar atuar como adjetivos novos na língua. Nossa intenção é mostrar que adjetivos podem fazer

diferentesoperações: de um lado temos os essencialmente “predicadores” (cf. Müller et al. (2002)) e

de outro os que operam sobre o nome para efetivar quantificação, intensificação ou outra operação

funcional. Vamos mostrar que essas formações adjetivais novas atuam numa ou noutra função, mas

nunca em ambas. É conhecida a tese que advoga que, em línguas em que o adjetivo pode ocorrer

anteposto ou posposto, é possível sistematizar diferenças interpretativas associadas com a sua posição

no domínio nominal (Demonte 2008). No entanto, relacionar o significado a uma determinada posição

do adjetivo não tem sido fácil: nenhuma análise consegue estabelecer propriedades necessárias e

suficientes que explique o uso do adjetivo nas duas posições.

Neste trabalho,partimos da hipótese de que os itens lexicais que passaram a atuar como adjetivos na

língua (os quais ou na sua origem eram nomes ou constituem empréstimos de outra língua) realizam

apenas a operação de predicação. Usamos, portanto, empréstimos mais ou menos recentes e usos

em que certos nomes passam a ser usados como adjetivos. Desse modo, identificamos três tipos: a)

empréstimo de uma palavra, em geral um verbo, que entra na língua com forma morfofonológica

própria e dá origem a um adjetivo: deletável, clicável, escaneável; b) empréstimo de um termo que

entra com forma morfofonológicaprópria da língua de origem: fashion, gay, default; c) substantivos

que passam a ser usados como adjetivos (em geral gíria): filme massa, filme cabeça, pai mala.

Submetemos essas formações a testes que verificam o uso desses itens como predicadores (Müller et al.

2002) e analisamos a distribuição desses adjetivos em relação a sua posição e modificação por meio de

sintagmas modificadores ou morfemas derivacionais(Guimarães (2011), dentre outros) e constatamos

uma classe especial, como puta, baita, que realizam apenas operações funcionais.

Esses fatos nos levam na direção da tese de Cinque (2010) – que advoga a importância de distinguir

duas fontes estruturais :adjetivos que integrariam o DP como especificador de projeções funcionais e

adjetivos que seriam formas reduzidas de orações relativas.

Referências

CINQUE, G. (2010).The Syntax of Adjectives – a comparative study. Massachusetts: Mit Press.

O QUE AS FORMAÇÕES ADJETIVAIS NOVAS TÊM A MOSTRAR SOBRE O COMPORTAMENTO DOS ADJETIVOS

Maria José Foltran

15

DEMONTE, V. (2008). Meaning-form correlations and adjective position in Spanish. In: McNALLY&

KENNEDY. Adjectives and Adverbs. Oxford: Oxford University Press.

GUIMARAES, Maximiliano. (2011). Restrições morfo-sintáticas sobre os APs internos ao DP em PB.

Anais do VII Congresso Internacional da Abralin. Curitiba.

MÜLLER, A. et al. (2002). Adjetivos no Português do Brasil: Predicados, Argumentos ou

Quantificadores? In: Abaurre, M. B. &Angela Rodrigues (orgs). Gramática do Português Falado: novos

estudos descritivos. Vol. VIII. Campinas: Editora da Unicamp.

16

O “diminutivo” –inho é considerado polissêmico: um ‘livrinho’ pode ser pequeno, despretensioso,

desprezado etc.). O formanteaparece em nomes (‘menininho’), advérbios (‘agorinha’), gerúndios

(‘correndinho’), particípios verbais (‘feitinho’), particípios adjetivais (‘penteadinho’), formas

participiais ligadas a verbos leves (‘uma saidinha’) e também em adjetivos com grau (‘fininho’) e sem

grau (‘mortinho’). No quadroda morfologia distribuída, –inho se acopla a uma raiz. Scher (2005),

Guimarães & Mendes (2010), Boechat de Medeiros (2010) e Armelin (2011), entre outros, observaram que

–inho não faz seleção categorial, e que atua sobre a duração de episódios (ir à farmácia correndinho,dar

uma saidinha caracterizam como curto o intervalo entre ir e voltar). Seu significado muitas vezes está

mais para maior/muito do que para menor/ pouco (céu cheinho de estrelas, minha casa é pertinho; o

artigo está prontinho, o menino quietinho). Propomos que o significado básico do “diminutivo” seja o

de um grau extremo (o argumento de –inho será sempre associado ao menor ou maior grau de todos

numa certa escala, considerados os todos os participantes da comparação). Sua aparente polissemia

é efeito da variação das dimensões representadas pelas escalas.Como qualquer modificador de graus

(‘muito’, ‘demais’),–inho não escolhe uma dimensão específica sobre a qual trabalhar, mas um tipo de

escala (aberta), conduzindo sempre a um grau extremo nela. Mesmo em nomes, -inho não significa

sempre TAMANHO: numa propaganda, alguém sugere tomar uma cervejinha, o interlocutor o

corrige: Uma cervejinha não, um cervejão! (Basso, no prelo). As dimensões aí podem ser SABOR ou

VOLUME, mas, como para qualquer nome de massa, não pode ser o TAMANHO físico. A recorrência

da interpretação diminutiva para o termo formado com nome contável tem explicação: se -inho é um

item subespecificado, significando tanto grau máximo como mínimo, a concorrência com um item

especializado em grau máximo, -ão, vai fazer com que, como um item elsewhere, -‘inho’ só ganhe a

competição para inserção morfológica em contextos em que o significado seja o de um grau mínimo.

Sempre que a base não puder ser composta com-ão (caso dos particípios e gerúndios), ou seja, na

ausência de concorrente mais especificado, -‘inho’ poderá ser interpretado como grau máximo.Como as

dimensões não são lexicalizadas em nomes de entidades (substantivos) nem de estados (os particípios)

ou eventos (gerúndios), –inho pode significar um grau extremo em qualquer dimensão relacionada

àquele indivíduo, estado ou evento. Já no caso de adjetivos (‘lindinho’) ou advérbios (‘depressinha’),

O QUE O FORMANTE –INHO (DITO “DIMINUTIVO”, AQUI ANALISADO COMO UM MODIFICADOR DE GRAUS/ INTENSIFICADOR) NOS DIZ SOBRE

A “CLASSE” DOS ADJETIVOS?

Ana Paula Quadros Gomes

17

que lexicalizam a dimensão correspondente à escala, a aparente polissemia desaparece; tanto quanto

no caso dos particípios de estado resultante (‘prontinho’ significa apenas completamente pronto). Nessa

linha, defenderemos que adjetivos de grau se distinguem de nomes, por exemplo, por lexicalizarem

dimensões de entidades / eventos/ estados com as quais o modificador de grau –inho pode se compor

semanticamente. Daí as expressões formadas por adjetivo + –inho não serem polissêmicas: verdinho

é muito verde, carinho é muito caro (em preço ou apreço), lindinho é muito belo, grandinho é muito

grande (em IMPORTÂNCIA, TAMANHO, etc.), queridinho é muito querido etc.

18

O objetivo deste trabalho é discutir e analisar alguns nomes que, ao serem alocados em um determinado

contexto morfossintático, passam a possuir uma função adjetiva. Esses nomes com função adjetiva estão

localizados principalmente em dois tipos de estrutura: (i) podem ser nomes formados pelo processo

de derivação, como organizador, evolucionista e fortificante; e (ii) podem ser nomes compostos, como

navio-escola, comício-monstro, sociólogo-presidente, entre outros.

Tomamos como arcabouço teórico deste trabalho a Morfologia Distribuída (MD) (cf. HALLE;

MARANTZ, 1994 e MARANTZ, 1997). A MD defende que palavras podem ser formadas por raízes

acategoriais que recebem sua categoria por meio de núcleos funcionais categorizadores como n, a e v,

os quais se concatenam às raízes na derivação sintática. Além disso, às palavras já formadas, novos

núcleos categorizadores podem ser concatenados para mudar a categoria dessas palavras (cf. ARAD,

2003).

Ao investigarmos os dados, notamos, juntamente com Basilio (2004), que o caso mais claro de

substantivos com o uso adjetivo se encontra na classe de nomes de agente. São exemplos de nomes

de agente as formações em -dor, como organizador. Contudo, em comissão organizadora, o termo

organizadora atribui agentividade ao termo comissão.

As formações em X-ista, como o termo evolucionista em tese evolucionista, caracterizam o primeiro

termo por sua adesão ao evolucionismo. Também os nomes formados em -nte, quando acompanham

um substantivo, caracterizam o substantivo como agente ou instrumento, como em parte litigante, ou

xarope fortificante. Nossa questão neste ponto é: há, de fato, uma mudança categorial desses nomes,

ou é o contexto sintático que provoca a interpretação adjetiva? Essas formações, como destaca Basilio

(2004), não apresentam o quadro típico de características dos adjetivos. Por exemplo, (a) não podem

ser intensificados (*firma muito administradora); (b) não apresentam nominalização correspondente

(*fortificância); (c) não podem funcionar como predicativo do objeto (*acho o trabalho evolucionista),

entre outras.

Outro ponto que abordamos são os critérios que nos levariam a analisar esses nomes como adjetivos.

O nome adjetivado tem uso genérico, o que neutraliza as oposições de gênero e número, esquiva-se

da manifestação de grau e ocupa poucas posições sintáticas próprias de substantivo, características

QUANDO O NOME TEM FUNÇÃO ADJETIVA: CASOS DE DERIVAÇÃO E COMPOSIÇÃO

Rafael Dias Minussi

19

opostas às encontradas nos adjetivos. Desse modo, nossa questão neste ponto é: como essas restrições

dos nomes adjetivas são codificadas pela estrutura de formação desses nomes?

Por fim, descrevemos o padrão N+N de composição, que forma palavras como couve-flor, navio-

escola e carta-bilhete. Nesse grupo de compostos, observamos a utilização de substantivos como

qualificadores, como em comício-monstro, em que monstro corresponde a uma qualificação de

tamanho gigantesco; festa-surpresa, em que surpresa qualifica o nome como inesperado; sequestro

relâmpago, em que relâmpago qualifica o nome como rápido.

Notamos também no grupo N+N que existe uma hierarquia em que um dos agentes é tomado como

agente principal, modificado pelo outro, como em sociólogo-presidente, terrorista-suicida e candidato-

empresário.

Assim sendo, nossa análise não prevê que os nomes com função adjetiva tenham necessariamente que

passar por uma nova categorização para tomarem tal função, e defendemos ser o contexto sintático

desses nomes, dentro da estrutura do português, que provoca tal interpretação.

Referências bibliográficas

ARAD, M. Locality constraints on the interpretation of roots: the case of Hebrew denominal verbs. In:

Natural Language & Linguistic Theory. Vol 21, p. 737-778, 2003.

BASILIO, M. Formação e classes de palavras no português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.

HALLE, M.; MARANTZ, A. Some Key Features of Distributed Morphology. In A. Carnie, H. Harley,

and T. Bures (Eds.), MIT Working Papers in Linguistics 21: Papers on Phonology and Morphology.

MITWPL: Cambridge, p. 275-288, 1994.

MARANTZ, A. No Escape from Syntax: Don’t Try Morphological Analysis in the Privacy of Your

Own Lexicon. In A. Dimitriadis, L. Siegel, C. Surey-Clark, abd A. Williams (Eds.), Proceedings of the

21st Annual Penn Linguistics Colloquium. University of Pennsylvania Working Papers in Linguistics

4(2), pp. 20

20

Este trabalho tem por objetivo uma reanálise do percurso percorrido pelos adjetivos em português,

opondo-se às conclusões apresentadas em Cohen (1989) e Boff (1991). De acordo com as autoras, teria

havido uma mudança sintática na classe (ou em uma subclasse) dos adjetivos desde o século XIV:

Cohen (1989) argumenta em favor da ocorrência de um esvaziamento semântico cada vez maior

da posição pré-nominal, com um consequente reforço da posição pós-nominal como posição, se

não exclusiva, pelo menos fortemente preponderante em português; Boff, por sua vez, defende que

o português estaria perdendo o movimento opcional dos adjetivos avaliativos para a posição pré-

nominal, que ficaria restrita apenas aos adjetivos ditos “intensionais”. Ambas utilizam como principal

argumento a favor de suas hipóteses as estatísticas de anteposição/posposição de adjetivos em textos

selecionados - Cohen, do século XIV ao século XX (aproximadamente 2.100 ocorrências de adjetivos

atributivos); Boff, do século XVII ao século XX (446 ocorrências) -, as quais indicam um progressivo

decréscimo na utilização de anteposição.

Iremos argumentar, porém, que o fato de esta construção ser gradativamente menos utilizada em textos

escritos não tem, a princípio, uma relação necessária com uma mudança em seu estatuto gramatical

na língua (consideremos, por exemplo, que a variação entre autores em um mesmo período é, por

vezes, bastante ampla). A partir de um levantamento de dados em textos do século XVI ao século XXI

(até o momento, 1.753 ocorrências de adjetivos em posição atributiva), então, defenderemos a hipótese

de que não houve mudança sintática na classe dos adjetivos, ou ao menos não na questão de quais

critérios atuam na possibilidade de um adjetivo aparecer anteposto ao nome: a princípio, poderiam

figurar nesta posição tanto adjetivos “intensionais” como adjetivos em função “avaliativa”, descrição

esta que também se aplica diacronicamente.

Argumentaremos que este aspecto da sintaxe dos adjetivos foi fixado antes dos textos a que temos

acesso, discordando da hipótese de Cohen (1989) de que haveria uma mudança em andamento rumo a

uma ordem exclusiva NA. Ainda que tipologistas assinalem uma correlação entre a mudança OV-VO e

AN-NA, apontaremos que, à luz de teorias mais recentes, como Cinque (2010), a oposição AN-NA não

é absoluta – fato este também já observado por Greenberg (1966) -, de modo que é possível a sintaxe

dos adjetivos ter se estabilizado em um estágio “intermediário” sem que isto seja inconsistente com a

mudança na ordem verbal.

REANALISANDO A TRAJETÓRIA DIACRÔNICA DOS ADJETIVOS EM PORTUGUÊS

Thais Deschamps e Maximiliano Guimarães

21

Este trabalho procura discutir um fenômeno bastante corriqueiro no português brasileiro: a ocorrência

de super não como um prefixo que se combina a uma base lexical, mas como uma unidade autônoma.

Essa ocorrência de super como forma livre pode se dar pela sua articulação a nomes (super homem),

verbos (super recomendo), adjetivos (super bonito) e advérbios (super bem). Nosso estudo se interessa

especificamente pela ocorrência de super articulado a nomes e verbos (predicados), cumprindo

assim as funções sintáticas de adjetivo e advérbio, respectivamente. Porém, não como ocorre em

casos de derivação prefixal como em supermercado e superestimar, e sim nos casos em que super

modificaum predicado, como em super campanha e super imagino, podendo inclusive ocorrer em

posição sintática que não a de antecedência, como em “ele comeu super”, demonstrando um uso novo

e especializado dessa forma. Observando os casos aqui levantados, seria possível pensar que super

poderia ser classificado como advérbio ou adjetivo, podendo inclusive serequivalente a muito. Porém,

essa equivalência nem sempre é possível, como nos mostram os casos “eu super voto sim” e “ele está

fazendo uma super campanha” (GOULART, 2011), que não poderiam ser parafraseados por “*eu muito

voto sim” ou “*ele está fazendo uma muito campanha”. Devido à dificuldade em se estabelecer uma

classe gramatical a qual super pertenceria, propomos tratar esta forma como um modificador capaz

de produzir uma orientação argumentativa no enunciado em que ocorre, além de funcionar como um

elemento modalizador, marcando a relação que o locutor estabelece com aquilo que enuncia.No que

diz respeito ao sentido de super, observamos que, ainda que sua ocorrência enquanto forma livre seja

diferente da ocorrência de seu equivalente prefixal, ele continua sendo um elemento que intensifica o

predicado sobre o qual incide. Pensando nas questões acima colocadas, fundamentamos este estudo

na Semântica Argumentativa, mobilizando os conceitos de escalas argumentativas (DUCROT, 1973)

e de modificadores realizantes (MR) e desrealizantes (MD) (DUCROT, 1995). Mais especificamente,

trabalhamos com o conceito de modificadoressobrerrealizantes (MS) proposto por García Negroni

(1999), que, segundo esta autora, distingue-se do MD e do MR, entre outros critérios, por produzir

um reforço argumentativo extraordinário, pois expressa um grau muito alto na escala argumentativa.

Podemos observar essa diferença, por exemplo, através dos adjetivos difícil, fácil e facílima aplicados

ao predicado solução, em que o primeiro atenua sua força argumentativa (em direção ànão solução), o

segundo a reforça e o terceiro a coloca em um grau extraordinário. Do mesmo modo parece funcionar o

modificador super, inserindo os predicados que modifica em uma escala que não é banal, direcionando

UM ESTUDO SOBRE “SUPER” ENQUANTO MODIFICADOR ARGUMENTATIVO

Danusa Lopes Bertagnoli e Mónica Graciela Zoppi Fontana

22

assim a argumentação que constitui o enunciado. Nossa intenção ao apresentar este estudo é, além de

mapear e compreender este fenômeno linguístico sob o viés de uma teoria enunciativa, contribuir

para o diálogo entre diferentes abordagens sobre os modificadores(estejam eles cumprindo funções

adjetivais ou adverbiais)como propõe fazer este simpósio, ampliando assim nosso conhecimento sobre

esses elementos linguísticos.