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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE COMUNICAÇÃO TURISMO E ARTES CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS SIMONE IRES DA SILVA NUNES O GRÁFITE COMO ESTRATEGIA FOLKCOMUNICACIONAL: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A ENERGISA JOÃO PESSOA PB 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO TURISMO E ARTES

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

COM HABILITAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS

SIMONE IRES DA SILVA NUNES

O GRÁFITE COMO ESTRATEGIA FOLKCOMUNICACIONAL:

UM ESTUDO DE CASO SOBRE A ENERGISA

JOÃO PESSOA – PB

2014

SIMONE IRES DA SILVA NUNES

O GRÁFITE COMO ESTRATEGIA FOLKCOMUNICACIONAL:

UM ESTUDO DE CASO SOBRE A ENERGISA

Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social com

habilitação em Relações Públicas como requisito obrigatório

para a obtenção do titulo de Bacharel em Comunicação social.

Orientador: Profº. Pós.Dr. Severino Alves de L. Filho

JOÃO PESSOA – PB

2014

SIMONE IRES DA SILVA NUNES

O GRÁFITE COMO ESTRATEGIA FOLKCOMUNICACIONAL:

UM ESTUDO DE CASO SOBRE A ENERGISA

Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social com

habilitação em Relações Públicas como requisito obrigatório

para a obtenção do titulo de Bacharel em Comunicação social.

Orientador: Profº. Pós.Dr. Severino Alves de L. Filho

Aprovada em: 2014

BANCA EXAMINADORA

Prof. Pós Dr. Severino Alves de L. Filho

Orientador

Profª Mestra Andréa Karinne A. Maia

Examinadora

Prof. Gustavo David A. Freire

Examinador

Dedico este trabalho a todos aqueles que de alguma

forma contribuíram para a realização deste sonho, em

especial a Deus, que preencheu o vazio das minhas

incertezas com a força necessária para desfiar o medo e

seguir em frente. Ao homem da minha vida, meu pai,

dono do colo que tantas vezes busquei para me sentir

protegida, e a minha amada mãe, minha referencia de

mulher.

AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente as contribuições de amigos e cúmplices na

concretização deste sonho.

Aos verdadeiros amigos e parentes, por terem caminhado ao meu lado não só

nos momento de alegria, mas por terem também compartilhado as lágrimas.

Agradeço acima de tudo a Deus, pelas bênçãos e dificuldades que me impôs

sem as quais, aqui não teria chegado.

“Você faz suas escolhas, e suas escolhas, fazem você.”

Steve Beckmam

RESUMO

O presente trabalho trata-se de uma análise do potencial folkcomunicacional, da

iniciativa proposta e executada pela empresa Energisa, de utilizar o grafite em um de

seus projetos voltados para a educação socioambiental dos seus consumidores.

Sendo o grafite uma forma de expressão marginalizada, como se deu sua

conceituação e simbologia no universo empresarial, quanto canal de estreitamento e

fortalecimento da identidade cultura da Energisa diante do publico. Como o

folkmarketing pode contribuir na adequação dos discursos comunicacionais dirigidos

a um público regionalizado. As responsabilidades adquiridas pelas empresas a partir

do momento que optam pelo cruzamento de seus discursos institucional com a

cultura popular do seu público.

Palavras – chaves: Folkcomunicação, Folkmarketing, Grafite, Comunicação.

ABSTRACT

The present work it is an analysis of folkcomunicacional potential of the proposed

initiative and executed by the company Energisa, using graffiti in one of his projects

for the environmental education of their consumers. Being the graffiti a form of

expression marginalized, how was your conceptualization and symbology in the

business universe, the narrowing channel and strengthen the cultural identity of

Energisa before the public. As the folkmarketing can contribute to the suitability of

targeting a regionalized public communication speeches. Responsibilities acquired

by companies from the moment opting for crossing their institutional discourses with

the popular culture of his audience.

Key - words: folk communication, Folkmarketing, Graffiti, Communication.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Processo Folkcomunicacional 14

Figura 2 Grafite 23

Figura 3 Pichação 23

Figura 4 Primeiro prédio da Energisa 25

Figura 5 Sede da antiga SAELPA 26

Figura 6 Prédio público pichado 28

Figura 7 Panfleto de divulgação do evento 30

Figura 8 Muro da subestação de Campina Grande 31

Figura 9 Grafite da Usina Cultura 32

Figura 10 Grafite da subestação da Av. Rui Carneiro 32

Figura 11 Ação publicitária sobre o concurso 34

Figura 12 Fanpage do concurso 34

Figura 13 Panfleto de divulgação da cerimônia de premiação 35

Figura 14 Postagem e rede social sobre o evento 36

Figura 15 Verso da conta de energia 37

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 10

2 METODOLOGIA .............................................................................................................................. 11

2.1 PROCEDIMENTOS ..................................................................................................................... 12

3 REFERÊNCIAL TEÓRICO ............................................................................................................ 13

3.1 FOLKCOMUNICAÇÃO ............................................................................................................... 13

3.2 HISTÓRIAS DA FOLKCOMUNICAÇÃO .................................................................................. 15

3.3 A IMPORTÂNCIOA DA FOLKCOMUNICAÇÃO ..................................................................... 16

3.3.1 Níveis de discussão teórica .................................................................................................... 17

4 DISCURSO EMPRESARIAL ........................................................................................................ 18

4.1 COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL ............................................................................................ 19

5 FOLKMARKETING ......................................................................................................................... 20

6 GRAFITE .......................................................................................................................................... 22

6.1 GRAFITE VS PICHAÇÃO .......................................................................................................... 23

6.2 O CÓDIGO DO SIMBOLOS E IMAGENS ............................................................................... 24

7 ESTUDO DE CASO ........................................................................................................................ 25

7.1 ENERGISA ................................................................................................................................... 25

7.1.2 MISSÃO, VISÃO E VALORES ............................................................................................... 26

7.1.3 PROJETO ARTE E ENERGIA NA SUBSTAÇÃO ............................................................... 27

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ....................................................................................... Erro! Indicador não definido.

10

INTRODUÇÃO

O consumidor foi nos últimos anos o maior transformador de conceito de

mercado. O então novo mercado, reformulado e, diga-se de passagem, em

constante evolução, tornou-se um desafio a ser vencido pelas empresas.

Mediante a nova realidade mercadológica, o campo da relação com o público,

ganhou passou a receber maior atenção por parte do empresariado, pois a garantia

de mercado passou a ser assegurada pelo relacionamento que a empresa mantinha

com os seus consumidores.

Como o foco era o mercado, e o mercado passou a ser ditado pelo

consumidor, este passou a ser o maior foco das empresas.

Ganhar o consumidor é hoje uma tarefa muito mais complexa, em relação a

vinte ou trinta anos atrás, pois o conhecimento adquirido com uso das novas

tecnologias aperfeiçoou as exigências do publico, assim como ampliou seus

conhecimentos sobre seus direitos.

Do final dos anos 80 para o inicio dos 90, o papel da comunicação integrada

ganhou reforços e investimentos, pois seu papel passava a adquirir novos objetivos

institucionais.

Diante das novas necessidades, a partir daí, o papel do profissional gestor de

comunicação, entrava definitivamente na posição de estratégico nas organizações.

A este profissional coube, captar tendências e gerir os canais de

comunicação, que melhor trouxessem resultados para as empresas.

O marketing ganhou força na elaboração das campanhas organizacionais. Em

complemento as de marketing, outras linhas de conhecimento foram sendo aderidas.

A Folkcomunicação é o estudo dos canais, meios e técnicas da comunicação

em sua forma mais popular. Suas teorias cientificas, tanto tem a oferecer, que dos

seus estudos, outras correntes se firmara, é o caso do Folkmarketing, onde as

diretrizes folk se unem as do marketing.

O folkmarketing tornou-se uma ferramenta, no desenvolvimento estratégico

de ações focadas no contexto da comunicação mercadológica, voltada ao seus

públicos.

11

No caso estudado nesta monografia, as teorias da folkcomunicação, aplicada

na campanha e projeto “Arte e Luz na Subestação”, promovido pela empresa

Energisa, foram as matrizes da pesquisa.

Em primeiro, é feita a exposição dos conceitos da teoria base para este

estudo. Seu surgimento, importância e aplicabilidade.

Em segundo momento, a historicidade e relevância do objeto estudado, a arte

do Grafite e sua posição nos conceitos folk.

Em terceiro momento, um breve perfil histórico da Energisa, para em seguida

entrar na análise a que se presta este estudo. O Grafite como estratégia

folkcomunicacional, pela Energisa em projetos socioculturais.

Por fim, a conclusão embasada nos dados coletados e referenciais teórico,

que validam o tema estudado.

2 METODOLOGIA

A metodologia cientifica consiste em um conjunto de técnicas que se fazem

necessárias durante a execução de um trabalho cientifico.

A pesquisa é uma dessas técnicas, sua finalidade é investigar o objeto de

estudo sobre a perspectiva da ciência, para então gerar conclusões e

embasamentos, que respaldados pela teoria ou o conjunto delas ofereçam suportes

que sustentem o trabalho cientifico.

Alguns autores defendem que o conhecimento ganhará veracidade a partir da

analise dos métodos científicos aplicados.

Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses tem sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da experimentação e não apenas razão [...]. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos. Possui característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se em um conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final, por este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teorias existentes. (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 20).

12

Sob as premissas da metodologia cientifica, fazendo uso de suas técnicas,

instrumentos e principais regras, buscou-se garantir a qualidade cientifica do

presente Trabalho de Conclusão de Curso. Tendo como objetos de apoio aos

procedimentos descritos no item abaixo.

2.1 PROCEDIMENTOS

A monografia como na origem de seu nome significa, uma escrita única, ou

seja, o desenvolvimento de um assunto para aprimorar ou conhecer o objeto de

estudo. É um trabalho cientifico, que só será validado quanto texto cientifico,

baseando-se na veracidade da metodologia aplicada durante a fase de elaboração

do estudo.

Objetivando este conceito, na metodologia deste trabalho será necessária

uma pesquisa exploratória sobre os principais temas discutidos no corpus do

trabalho.

Gil (2006) descreve a pesquisa exploratória envolve levantamento de dados,

pesquisa bibliográfica e documental e estudo de caso, tendo em vista a necessidade

do pesquisador de desenvolver e formular conceitos e ideias.

Para o enriquecimento deste texto além da pesquisa bibliografia e da coleta

de dados relevantes ao trabalho, foi aplicado um estudo de caso.

Conforme Yin (2001) o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que

compreende um método que abrange tudo em abordagens especificas de coletas e

analise de dados.

Portanto para melhor compreender o caso da empresa Energisa sobre a

aplicação de um instrumento da folkcomunicação para desenvolver o

relacionamento com o seu público, a pratica do estudo de caso contribuiu par a

analise e desenvolvimento das ideias presentes no corpus desta monografia.

13

3 REFERÊNCIAL TEÓRICO

3.1 FOLKCOMUNICAÇÃO

A comunicação é para o ser humano tão importante, quanto o próprio ato de

suprir as necessidades primaria do corpo como respirar, comer ou dormir. O homem

só chegou até aqui graças ao desenvolvimento da capacidade de se expressar,

capacidade essa que possibilitou a evolução do ser, do agir e do pensar. Pois

graças à comunicação pode-se partilhar conhecimento, sentimentos, e a aprimorar o

convívio em sociedade. Por ser a comunicação tão necessária e providencial ao

homem esta há muito desperta o interesse de pesquisadores e estudiosos, a

comunicação quanto objeto de estudo é um terreno fértil e surpreendente.

São muitos os pesquisadores que contribuíram e contribuem para o

aperfeiçoamento desta que é praticamente a única teoria da comunicação

desenvolvida no Brasil, seu criador, foi o pernambucano Luiz Beltrão, que na década

de 1960 desenvolveu e defendeu em sua tese de doutorado a teoria da

Folkcomunicação.

A teoria da folkcomunicação estuda a força da representatividade cultural das

classes sociais excluídos dentro do contexto da comunicação. A comunicação dos

marginalizados, como assim descrevia Beltrão, interpreta para a teoria os meios e

formas utilizados pelas massas excluídas para partilhar e disseminar informação e

conhecimento, e a ligação deste processo com os valores culturais de um povo.

A proposta de estudo feita pela teoria da folkcomunicação é de que se

analisem os processos comunicacionais do povo levando em consideração seus

costumes, e que a interação dentro do grupo se dará da seguinte forma: a

informação partirá de uma fonte através de um meio de comunicação de massa,

nesse caso o (canal), seguindo para a audiência e para os lideres de opinião, a

mensagem é processada e direcionada por dois caminhos, um é o (feedback) da

audiência reenviado para o meio de comunicação de massa, e no outro caminho os

lideres de opinião levam a mensagem através dos meios folkcomunicacionais para o

publico que esta a margem do canal emissor de informação. Ou seja, cria-se um

subprocesso de comunicação direcionado a um publico excluído, através de um

14

agente que interage com os dois meios, a quem do canal tradicional e convencional

difusor da informação.

Para melhor entender o fluxo da informação dentro da teoria cientifica da

Folkcomunicação acompanhe o gráfico abaixo:

Figura 1- Processo Folkcomunicacional

Fonte: Elaborado com base no livro (BELTRÃO, 1980).

Em miúdos Folkcomunicação é o processo comunicacional criado por um

grupo onde sujeitos não atingidos pelo meio de comunicação convencional,

transformam a informação aderindo a ela julgamentos pessoais e de senso comum.

Este processo deriva de outro ainda maior, direcionado a massa, mas

caracteristicamente padronizado e direcionado para atingir o maior numero possível

da audiência, no entanto aquele que estão fora do padrão (os excluídos) acabam por

não serem atingidos diretamente por estes meios, precisando então da ação de um

intermediador, neste caso o líder de opinião.

O líder de opinião é uma figura que se destaca pela representatividade.

Aparentemente, nem sempre são autoridades reconhecidas, mas possuem uma espécie de carisma, atraindo ouvintes, leitores, admiradores e seguidores, e em geral alcançando a posição de conselheiros ou orientadores da audiência, sem uma consciência integral do papel que desempenham. (BELTRÃO, 1980, p.80).

MEIO DE

COMUNICAÇÃO DE

MASSA

(CANAL OFICIAL)

LÍDER DE

OPINIÃO AUDIÊNCIA

PÚBLICO FOLK

15

Outras características importantes do líder comunicador é a capacidade do

mesmo de não transmitir a informação, mas também influenciar sua formação e

percepção pelos indivíduos do grupo, isso se dá pelo fato da figura do líder esta

carregada de simbologias para o grupo, ou por ser o mais velho ou o que melhor se

expressa ou melhor domina conhecimentos sobre o assunto, o fato é que este líder

possui em geral a capacidade de formar opinião, embora muitas vezes não perceba

ou saiba que o faz.

3.2 HISTÓRIAS DA FOLKCOMUNICAÇÃO

O termo Folkcomunicação surgiu em 1967, quando o então pesquisador Luiz

Beltrão, defendeu em sua tese de Doutorado esta que é considerada a única Teoria

da Comunicação criada no Brasil.

Os estudos de Beltrão lhe renderam com muitos esforços não só o titulo de

Doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília, tal titulo era inédito nas

universidades brasileiras. Sabe-se que ao longo da vida Beltrão acumulou muito

conhecimento, extraído da pratica cotidiana exercida em sua profissão, um individuo

a frente do seu tempo, empenhado nas causas que defendia; entre tantas estava o

desejo de contribuir para o aperfeiçoamento e reconhecimento do profissional da

comunicação. Para ver realizado seu sonho, Beltrão não se conteve em apenas

partilhar seu conhecimento nas salas de aulas ou nos escritórios com seus amigos e

colegas, mas voltou-se para o ramo da pesquisa, área na qual teve grande

destaque, para desenvolver e trazer a tona o conhecimento, antes esquecido do

povo brasileiro, em especial o dos nortistas e nordestinos.

Por este e tantos outros motivos que Luiz Beltrão é considerado o pai dos

estudos que unem a cultura popular e a comunicação, a disciplina cientifica

conhecida hoje como Folkcomunicação, nasceu da curiosidade latente de um

homem extremamente apegado a sua cultura, que enxergou no que estava a

margem dos meios tradicionais de comunicação, um submundo, um mundo paralelo,

16

mas não menos rico em conhecimento, o trouxe para o meio acadêmico, para que

assim, talvez, valorizemos o que nos é genuíno e de direito, nossa própria cultura.

A tese de Beltrão sobre a Folkcomunicação tornou-se livro e pode então ser

disseminada no campo acadêmico. Ainda que muita coisa tenha mudado ao longo

destes anos passados desde o surgimento das primeiras observações de Beltrão a

cerca da maneira como é difundida a comunicação Folk na mídia de massa, como o

avanço das tecnologias e a facilitação do acesso da população aos meios de

comunicação, as teorias Folk desenvolvidas por Beltrão, servem como base de

reflexão e pesquisa, para todo e qualquer um que deseje explorar o campo da

comunicação popular, pois mesmo diante dos fatos citados acima, é verdade e fato

que ainda que mutável, as tradições culturais de um povo podem se adequar a uma

nova realidade, mas não deixar de existir. Exemplo observante disto são a

flexibilidade que as mais tradicionais comemorações populares como os festejos

juninos, estão adequando os valores a tradição e a identidade de uma festa tão

enraizada no folclore popular, com a inovação e vigor da juventude e suas

tecnologias.

Compreender a Folkcomunicação é entender os signos e símbolos, que rege

identidade cultural e comunicacional de muitos, que mesmo excluídos do meio,

fazem parte dele.

[...] não é somente pelos métodos ortodoxos – a imprensa, o radio, a televisão, o cinema, a arte erudita e a ciência acadêmica – que. Em um país como o nosso, de elevado índice de analfabetismo e incultos, ou em determinadas circunstâncias sociais e políticas, ou mesmo nas nações de maior desenvolvimento cultural, não é somente por tais meios que a massa se comunica e a opinião pública se manifesta. Um dos grandes canais de comunicação coletiva é, sem dúvida, o folclore. BELTRÃO (1965, p.9 -15)

3.3 A IMPORTÂNCIOA DA FOLKCOMUNICAÇÃO

A teoria da Folkcomunicação é largamente utilizada nos centros acadêmicos

por mestres e alunos, esta disciplina cientifica estuda o relacionamento dos

indivíduos ou grupos excluídos pelos meios de massa, ou canais oficiais da

informação, e como estes indivíduos e grupos processam e assimilam as

informações trazidas por indivíduos Lideres, dos meios oficiais de comunicação.

17

No âmbito desta disciplina se analisa o fluxo da informação, seu processo e

os sujeitos e os meios que lhes cercam todos interligados aos principais aspectos

culturais do grupo.

Não apenas a comunicação em si, é estudada, pois a teoria Folk a interliga

com manifestações folclóricas de massa. Segundo Lucena Filho (2012, p. 22),

“A palavra folk significa povo; a junção dos dois termos, folk + comunicação =

folkcomunicação, em termos abrangentes, significa uma comunicação em âmbito popular”.

Por tanto cabe a esta disciplina teorizar sobre a comunicação popular e sua

relevância quanto fator de autoafirmação da identidade cultural de um grupo.

No âmbito das pesquisas, as teorias da Folkcomunicação contribuem para o

pesquisador o auxiliando na decodificação e melhor compreensão do universo folk.

Como dito anteriormente muita coisa evoluiu dentro da cultura folk, mas os estudos

e analises oriundas desta disciplina, podem guiar quem faz pesquisa no campo da

comunicação social, para o mesmo não só conclua sua pesquisa, mas diante das

mudanças no cenário folk, trazer de repente uma nova linha de pensamento e

discussão.

3.3.1 Níveis de discussão teórica

A compreensão da disciplina folk é mais bem assimilada quando dividida em

três principais tipos, são eles:

Nível fenomenológico – neste nível os objetos investigados são os elementos

que compõem e legitimam o processo folk no cotidiano social das pessoas

envolvidas com o universo folk.

Nível teórico – neste caso todo o conjunto de definições e metodologia

emprega na construção da Folkcomunicação quanto a disciplina acadêmica.

Nível metateórico – um nível onde surgem as discussões, debates

criticas e comparações da teoria Folk com outras teorias da comunicação.

Esta divisão facilita tanto o aluno em fase acadêmica a respeito do que é a

teoria folk, a melhor assimilar e conceitua-la, quanto o próprio pesquisador, pois

18

dividindo assim fica mais fácil aplica-la ao seu objeto de estudo, servindo tanto para

uma analise pratica, quanto para uma teórica.

4 DISCURSO EMPRESARIAL

Discurso empresarial é a realização ou concretização, na realidade cotidiana

interna e externa dos valores seguidos ou almejados pelas empresas.

Tal discurso pode e varia de empresa para empresa, por tanto não se pode

comparar ou padronizar um único tipo de discurso para todas as instituições, isso

porque existem diferenças que as tornam únicas e diferentes umas das outras.

O discurso empresarial é algo que ultrapassa a barreira do simples falar ou

fazer, por possuir caráter ideológico. Colocar em pratica e fazer valer tal discurso

não é uma das tarefas mais fáceis; isso porque criar nos públicos seja eles internos

ou externos a ideia de pertencimento e aceitação daquilo que a instituição apregoa

exigi do responsável, ou seja, o gestor deste processo, uma grande capacidade de

interação, liderança e conhecimento, sobre a real finalidade do discurso proposto e

dos públicos ao qual ele esta destinado.

Muitos são os caminhos que contribuem para o desenvolvimento do

sentimento de pertencimento dos públicos internos e externos, mas felizmente nas

ultimas décadas as empresas perceberam que os investimentos realizados na

comunicação, têm rendido um excelente retorno na aceitação dos seus públicos,

lhes trazendo não só a simpatia destes, como também os fazendo aderir muitas das

vezes os valores da empresa para si, tornando-se assim um agente divulgador da

instituição.

19

4.1 COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL

A comunicação empresarial tem como meta fortalecer a imagem e os valores

das empresas junto aos seus públicos de interesse, por possuir este papel tão

importante dentro de uma organização, é que a comunicação empresarial tornou-se

uma arma estratégica e fundamental no mundo dos negócios.

A imagem é um tesouro tão precioso, que a cada ano crescem os

investimentos e ampliação dos empresários em seus setores de comunicação, pois

cientes que a reputação da sua marca custará uma fatia cada vez maior de

mercado, os investimentos nesta área são cada vez maiores e mais caros.

Com os investimentos cada vez maiores por parte das empresas, o setor da

comunicação ficou aquecido e passou a exigir cada vez dos profissionais da área,

para que se especializassem e se adequassem a então nova realidade que

projetava o setor para postos cada vez mais estratégicos dentro das empresas.

Com o crescimento da importância da comunicação empresarial na disputa

por mercado, a concorrência empresarial tornou-se mais acirrada a partir da década

de 1990, inicio da conscientização comunicacional por parte das empresas no Brasil;

a partir daí as técnicas e ações aplicadas pelos departamentos de comunicação das

empresas ou pelas prestadoras de serviços terceirizadas, passaram a buscar

constantemente novos canais que ligassem a empresa ao público, porém, não é o

bastante ter as armas corretas, é preciso saber onde e como usa-las, pois a postura

do consumidor do século XXI é a de um individuo conhecedor dos seus direitos,

crítico e mais exigente em relação às empresas. Os novos consumidores, por terem

mais acesso as informações, exigi que as empresas se adaptem as suas

necessidades e não mais querem se adequarem a elas. A empresa que se nega ou

não sede a este novo consumidor corre o imenso risco de ser rejeitada pela

sociedade.

É a comunicação que proporciona a reunião das partes distintas da empresa, produzindo as condições para um trabalho coordenado das estruturas, permitindo, enfim, que as cúpulas empresariais atinjam as metas programadas. Ela define-se como um processo dinâmico que compreende a existência, o crescimento, a mudança e o comportamento de toda a organização e é determinada pela necessidade, utilidade e conveniência, tanto da parte da empresa como da parte dos que nela estão integrados, direta ou indiretamente. REGO (1986, p. 50)

20

Por tanto as ações comunicacionais assumem um posto de impacto dentro

das entidades, tornando-se relevante até nos momentos de tomadas de decisão. A

afinidade entre o executivo e os responsáveis pela comunição aumentam as

chances de sucesso tanto nas decisões de negócios, quanto nas decisões relativas

aos assuntos ligados a comunicação. Sobre isso discorre Kunsch (1997, p. 149),

Hoje em dia, não é possível mais pensar em realizar uma brilhante assessoria de imprensa, criar campanhas retumbantes ou produzir peças publicitárias impactantes de forma isolada, sem o envolvimento de todas as subáreas da comunicação organizacional.

Não se transforma a imagem de uma empresa a grosso modo, é preciso um

esforço mutuo e constante, mais que isso, que possa integrar valores com

prosperidade nos negócios.

5 FOLKMARKETING

Desde o surgimento das Teorias da Folkcomunicação, outras áreas da

Comunicação Social foram se fundindo aos estudos folk, para suprir as

necessidades mercadológicas que foram surgindo ao longo do tempo.

Uma dessas áreas foi o Marketing, que tem como objetivo elaborar e adequar

produtos e serviços para cada tipo de mercado e de público, montando estratégias

mercadológicas que evidenciem o discurso institucional das empresas e garanta a

satisfação dos consumidores.

A junção do marketing com a folkcomunicação surgiu quando as empresas

passaram a se interessar pela possibilidade de mesclar suas identidades

institucionais as dos públicos e visse versa. Segundo o autor Severino Alves de L.

Filho (2008, p. 4),

O folkmarketing, que surge dos estudos gerados ou de uma nova abrangência da folkcomunicação, num ambiente da e sob a ótica da interdisciplinaridade por exigir inferências das diferentes áreas de conhecimento em aproximações com a sociologia, a antropologia, o folclore, a comunicação social, a linguística, a literatura, a semiótica e o turismo. No estudo em foco buscamos uma ponte com a comunicação organizacional

21

integrada, com recorte para os referenciais conceituais e ferramentas da comunicação mercadológica e do marketing.

O público de hoje quer que as empresas se relacionem com ele, no entanto

este mesmo público não vai buscar este relacionamento, esta função caberá as

empresas.

O bom relacionamento acarretará na conquista do cliente, que por sua vez

conquistados tornam-se recíprocos quando tem sua simpatia despertada.

Um cliente satisfeito fideliza-se a marca, tornado-se mais que um consumidor,

mas um divulgador dos produtos que consome e confia.

Confiança é à base de todo e qualquer negocio, no relacionamento entre

empresa e cliente não é diferente. A compra e venda trata-se de um negocio, onde o

consumidor não é obrigado a adquirir um item, ele o faz motivado por uma serie de

fatores que o convencem da credibilidade do que pretende adquirir.

Os fatores que interferem na decisão de compra do consumidor estão ligados

às necessidades internas do cliente e ao apelo mercadológico que o circunda.

Os conflitos internos do consumidor são de caráter pessoal, como por

exemplo, ao comprar um tênis ele levará em conta sua necessidade primeira, ele

precisa deste item por recomendações médicas, mas no momento da compra, ele

também levará em consideração aspectos como a marca do tênis, o preço e até o

custo benefício.

A questão do custo e beneficio é um fator mercadológico, pois o consumidor

pode optar por levar qualquer marca que atenda as suas necessidades pessoais,

mas no momento da escolha o mesmo pode se deixar levar pelo apelo

mercadológico do produto. No inconsciente do consumido, a relação de custo e

beneficio, nem sempre estarão ligadas apenas as questões estéticas ou de conforto

do produto, ele também pode escolher o produto baseado a relação de confiança

que criou com o fabricante.

A confiança pode ser gerada no consumidor através de inúmeros meios e

estratégias de marketing, porém a construção do discurso organizacional nas bases

da Folkcomunicação tem resultado numa maior aceitação por parte do público.

O folkmarketing contribui para as organizações sejam públicas ou privadas,

lhes norteando no momento de escolha das ações de comunicação que melhor se

adéqua aos diferentes tipos de público.

22

As ações do folkmarketing estão sempre ligadas a apropriação dos elementos

da cultura popular, como sua linguagem, simbologias e saberes, no fortalecimento

da identidade empresarial frente ao consumidor.

O interesse em relacionar sua marca as tradições dos consumidores é

benéfica para os dois lados, pois ao tempo que os discurso estruturados no

folkmarketing fortalecem e viabilizam as empresas e seus bens e serviços, a cultura

local ou regional ganha um reforço no seu próprio fortalecimento.

Quando o público percebe sua cultura ou regionalidade valorizada nos

discurso empresariais senti-se mais propicio a aceitar e assimilar os discursos

institucionais das empresas. O autor Severino Alves de L. Filho (2008, p. 4), pontua:

Predomina nesses discursos a busca do pertencimento, agregação de valor multicultural, preservação das potencialidades culturais do local, buscando identificação com os públicos-alvo, via apropriação dos temas e símbolos da cultura popular como vitrine comunicacional.

Atualmente é no Nordeste do país onde mais se utiliza o folkmarketing como

estratégia comunicacional, este passo uma vez dado a empresa deve sensibilizar-se

com a cultura do seu público, para que possa não só estreitar seus laços e sentidos

de pertencimento, mas também acompanhar a evolução do mercado que pertence.

6 GRAFITE

A palavra grafite deriva do idioma italiano (graffiti), este termo surgiu no

Império Romano para definir as inscrições feitas nas paredes do império.

Com o passa dos anos a palavra grafite passou a designar a arte de se

expressar através de mensagens escritas ou desenhadas em lugares usualmente

incomuns e públicos.

Por muitos anos a grafitagem sofreu com o preconceito advindo de outro

movimento de rua semelhante ao grafite, à pichação. Mas a diferença entre estas

duas modalidades esta na finalidade e no conceito ideológico de cada uma.

23

Figura – 2 Grafite Figura – 3 Pichação

Fonte: www.nafilaa.com400 Fonte: www.nafilaa.com400

O movimento do grafite historicamente esta ligado ao Movimento

Contracultural* da década de 1960, onde a pratica do grafite como instrumento de

manifestação contra governos e sociedade passou a ser usados pelos jovens

considerados rebeldes na época. Após a explosão dos anos 1960, o movimento se

espalhou pelo mundo, mas foi nos Estados Unidos da America, mais

especificamente no bairro do Bronx que a pratica ganhou força e destaque. Nos

anos 1970 a grafitagem já tão disseminada entre os jovens do mundo inteiro, passou

por um processo de transformação e suas características mudam de país para país

de acordo com o conceito histórico político e filosófico de cada povo.

6.1 GRAFITE VS PICHAÇÃO

A confusão comparativa entre os movimentos do grafite e da pichação tiveram

inicio nos anos 1970, quando os jovens de Nova York, envolvidos em movimentos

de tribos urbanas, passaram a rivalizar entre si. Estes grupos de jovens buscavam

demarcar seus territórios através de elementos que os identificassem diante da

sociedade e dos grupos rivais, entre estes elementos estavam à dança, a música, as

roupas, as gírias e os símbolos que os definiam quanto grupo.

Nas figuras acima se pode observar as principais diferenças entre as duas

modalidades. Enquanto a pichação reflete a realidade das ruas vividas por grupos

de jovens que tem por finalidade desafiar a sociedade atacando principalmente

24

monumentos públicos com mensagens de revolta, a cultura do grafite busca tocar

nos principais assuntos relevantes a sociedade através da expressão artística.

Por lei a pichação é considerada vandalismo, para prevenir a poluição visual

causada por esta pratica, os governos municipais passaram a adotar medidas que

buscam coibir a depredação dos seus patrimônios arquitetônicos. Entre as praticas

mais usadas pelos governos estão à criação de espaços específicos para a prática

da grafitagem, além de parcerias com órgãos públicos para a criação de murais

artísticos pelas cidades.

6.2 O CÓDIGO DO SIMBOLOS E IMAGENS

A necessidade de se expressar através do desenho, surgiu e evoluiu com o

homem. Nossos antepassados utilizavam os desenhos em suas cavernas como

forma de expressão artística. Nos desenhos realizados pelo homem pré-histórico

predominavam seus hábitos e cultura.

Os materiais utilizados por eles eram os mais variados, iam desde ossos,

pedras até sangue de animais. A forma de expressão rupestre* contribuiu para

compreender o desenvolvimento humana e as principais características da nossa

evolução quanto sociedade.

O grafite é considerado um descendente das pinturas rupestres, pois possui

inúmeras características que também a qualifica como expressão artística da nossa

realidade nos dias atuais.

Assim como os homens da antiguidade, os grafiteiros buscam através do

desenho expressar a realidade que o circunda, para isso também dispõe de

materiais específicos, técnicas e objetivos.

As imagens e a linguística utilizada pelos grafiteiros compõem um conjunto de

códigos, que juntos representam uma serie de simbologias, na qual se baseiam os

principais conceitos dos artistas que utilizam o grafite como forma de manifestação

de suas ideias e pensamentos.

O fato dos desenhos do grafite serem realizados em espaços públicos e ao ar

livre, carrega em si o significado de que, após sua conclusão o desenho não

pertence ao seu autor, mas a toda sociedade.

25

Sociedade que também figura no contexto do grafite, pois em sua maioria as

mensagens contidas nos desenhos, são pensadas e cuidadosamente elaboradas

para atingir o inconsciente das pessoas e despertar sua reflexão.

7 ESTUDO DE CASO

7.1 ENERGISA

Em 1905 os empresários José Monteiro Ribeiro Junqueira, João Duarte

Ferreira e Norberto Custodio Ferreira fundaram a Companhia Força e Luz

Cataguases Leopoldina em Minas gerais, esta foi à base para o surgimento da

Energisa, uma empresa do Grupo Energisa.

O Grupo é o sexto maior do país, possui dezoito empresas, que atuam nos

ramos de geração, distribuição e comercialização de energia elétrica, seu capital é

do modelo holding* cujo controle majoritário esta sob o poder da família Botelho em

Minas Gerais.

Figura – 4 Primeiro prédio da Energisa

Fonte: www.energisa.com.br

26

O grupo divide-se em Energisa Distribuidora, Energisa Comercializadora,

Energisa Geração e Energisa Soluções. A distribuição de energia é a base dos

negócios da empresa.

As empresas do grupo atuam em nove estados Brasileiros, são eles, Minas

Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,

Tocantins, Paraná e Paraíba.

Na Paraíba a historia da Energisa se inicia no ano 2000 com a aquisição da

extinta SAELPA, por R$ 363 milhões, durante um leilão de privatização, promovido

pelo governo da época.

Figura – 5 Sede da antiga SAELPA

Fonte: www.energisa.com.br

7.1.2 MISSÃO, VISÃO E VALORES

A definição de missão, visão e valores, servem como metas que estabelecem

onde a empresa almeja chegar. No site da Energisa de uma maneira mais ampla

eles conceituam:

“A Energisa tem como prioridade a excelência na prestação de serviços e no relacionamento com os

clientes”. (ENERGISA, 2014)

27

A palavra excelência aparece com constância nas definições dos objetivos da

empresa.

Assim como na citação acima, nota-se a importância dada ao relacionamento

com o cliente. A todo o momento este parece ser o principal foco do trabalho

desenvolvido pela Energisa.

A empresa se posiciona em relação ao consumidor, com uma postura

sociocultural ligada ao desenvolvimento sustentável da sociedade a qual presta seus

serviços.

7.1.3 PROJETO ARTE E ENERGIA NA SUBSTAÇÃO

Como mencionado acima a folkcomunicação e suas derivações como o

folkmarketing tornaram-se hoje ferramentas estratégicas nos processos

comunicacionais de instituições publicas e privadas.

As ações desenvolvidas sobre as premissas da folkcomunicação e do

folkmarketing possuem características que diferenciam os discursos empresariais

voltados para o público folk.

No caso da Energisa, a empresa preocupada com os constantes ataques de

pichadores aos murros de suas subestações de energia, buscava alternativas para

substituir a poluição visual causada pelas pichações, que traziam em sua maioria

mensagens e símbolos que não só depredavam o patrimônio da empresa como

incomodava o público que transitava na área e os moradores da região.

As pichações realizadas nos murros das subestações caracterizavam em sua

maioria representações de uma realidade social pertencente a um grupo de

indivíduos denominados de pichadores.

Os pichadores como descrito no tem 4.1 deste trabalho, em geral são grupos

formados por indivíduos em sua maioria do sexo masculino, entre 13 e 40 anos,

suas pichações partem de uma disputa entre esses grupos, considerados rivais.

28

Figura – 6 Prédio público pichado

Fonte: Arquivo Pessoal

Enquanto buscava por alternativas que coibissem a depredação do patrimônio

da empresa, a equipe responsável por encontrar uma solução para o problema,

enquanto desenvolvia uma análise da problemática causada pelas pichações,

percebeu ainda nas pesquisas realizadas que entre os diversos exemplos de

mensagens distribuídas ao longo dos muros das subestações, algumas fugiam do

contexto da pichação.

As mensagens que se sobressaem, possuíam características bem mais

interessantes visualmente, por seus símbolos e códigos passarem a ideia de um

verdadeiro sentido de um porque, que justificasse tal mensagem, geralmente de

cunho político e social.

Ainda dentro da análise das problemáticas das pichações para a empresa, a

equipe desenvolveu um estudo paralelo a este, sobre o grafite e suas

representações.

Como resultado a equipe liderada pela coordenadora Kalyne Lima

desenvolveu um projeto que visava substituir as incomodas pichações, por

agradáveis painéis grafitados.

O projeto começou a ser desenvolvido no ano de 2011, inicialmente com a

proposta de sanar os efeitos das pichações que tanto prejudicavam a empresa

quanto os moradores do entorno e os passantes da área atacada.

29

A iniciativa agradou tanto a população, que a Energisa resolveu investir e

ampliar o projeto para que atendesse uma nova demanda gerada em torno das

expectativas do público.

A Sin1 entra em cena ainda no ano de 2011, com a decisão da Energisa pela

ampliação do projeto inicial.

A proposta de trabalho gerada pela Sin para a Energisa, agora trazia uma

abordagem diferente da proposta inicial. A ideia era não só embelezar a cidade, mas

aproveitarem-se da oportunidade para difundir o discurso ideológico da empresa e

criar um canal de ligação direta com seu público, desenvolvendo um espaço de troca

onde os dois, empresa e público pudessem atuar em prol de interesses múltiplos e

comuns a ambos.

O Projeto Arte e Luz na Subestação resurge em 2012 com uma parceria entre

a Energisa e a CUFA2 e movimenta o Estado da Paraíba, trazendo uma iniciativa

única que deu notoriedade não só na imprensa local, mas também na nacional e

internacional.

Com base na proposta do projeto inicial da Energisa de utilizar o grafite como

canal de comunicação com o público, à agência de publicidade Sin, buscou parceria

com a representante da CUFA na Paraíba, a ACEPA3 (Associação cultural e

Esportiva da Paraíba).

A nova versão do projeto visava com a parceria entre a CUFA, através da sua

representante jurídica no estado a ACEPA e a Energisa, beneficiar todos os públicos

envolvidos no projeto.

Um projeto desenvolvido por uma empresa de grande porte, utilizando uma

arte tão controversa quanto o grafite e ainda por cima apoiado por uma instituição

renomada no país, a CUFA, sem dúvida traria inúmeros benefícios para todos os

envolvidos, direta ou indiretamente.

O projeto começou com a divulgação de um concurso cultural que de inicio

envolveria os grafiteiros, para em seguida entrar a participação do público.

A assessoria de imprensa e comunicação da Energisa passou a divulgar nos

maiores meios de comunicação a iniciativa da empresa e o concurso cultural.

1 Agência de publicidade e propaganda contratada para gerir o marketing do projeto

2 Central Única das Favelas uma organização não governamental que atua em todo o país

3 Ong Paraibana vinculada a CUFA

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Na segunda metade do ano de 2012 foi lançado um dos maiores concursos

culturais sobre grafite, com o titulo Arte e Energia na Subestação, desenvolvido por

uma grande empresa já realizado.

Figura – 7 Panfleto de Divulgação

Fonte: http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao

As inscrições foram abertas para grafiteiros do mundo inteiro, os interessados

se escreveram pelo site da própria Energisa, e passava por uma triagem e seleção.

Os escolhidos foram convocados via edital, publicado na imprensa nacional.

Ao todo se escreveram profissionais grafiteiros de todo o Brasil. No total de

250 trabalhos inscritos, 200 foram selecionados e 186 foram de fato executados.

Foram selecionados grafiteiros dos estados de Minas Gerais, Acre, São

Paulo, Paraná, Distrito Federal, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio

Grande do Norte.

Os artistas grafiteiros que representaram a Paraíba, vieram de Campina

Grande, Bayeux, Lucena, Cabedelo e da capital João Pessoa.

Os artistas selecionados deveriam desenvolver seus painéis nos muros das

subestações da Energisa, nas cidades de João pessoa, Campina Grande, Cabedelo

31

e Guarabira, com mensagens cujos temas estivessem relacionados com

representação de um discurso da sustentabilidade e educação ambiental.

Segundo Marina Rievers assessora de comunicação e marketing da Energisa

em divulgação a imprensa:

“O objetivo do concurso é substituir a pichação, das quais os muros das subestações da Energisa

têm sido alvos constantes, pelo grafite. Buscamos chamar a atenção e fazer algo belo, substituir a

sujeira pela arte”.

Além desta outras finalidades da campanha era desenvolver nos seus

públicos de interesse a capacidade de refletir e transformar o comportamento das

pessoas sobre suas próprias responsabilidades socioambientais e fazê-las repensar

seus problemas sociais. Outra finalidade segundo André Galiza, diretor de

comunicação da Sin, era:

“Buscamos promover uma iniciativa direta para tentar modificar a maneira sobre como as pessoas

ainda enxergam o grafite, que é uma arte livre, espontânea e criativa, produzida, geralmente, em

locais públicos”.

Dentro do projeto o maior beneficiado deveria ser o público que trafegava e

residia no entorno das subestações de energia, que passariam a conviver com um

ambiente que agradasse visualmente e que trouxesse mensagens politicamente

corretas.

Figura – 8 Muro de Subestação de Campina Grande

Fonte:http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao,

32

Para a empresa ao mesmo tempo em que a solução encontrada resolvia a

problemática da depredação e poluição visual dos seus muros, servia em

contrapartida de ferramenta aproximativa e divulgadora do seu discurso empresarial

junto aos seus públicos.

Logo após a convocação dos selecionados, foram organizados mutirões para

que os grafiteiros realizassem seus trabalhos, ao todo mais de 517 metros dos

muros das subestações foram preenchidos com os mais diversos tipos de desenhos,

todos claro obedeciam à regra de que suas criações deveriam conter mensagens

educativas sobre questões socioambientais.

Um fato interessante sobre este projeto foi a postura adotada pela Energisa,

quanto a linguagem utilizada pelos grafiteiros, a estes foi dada toda liberdade para

que fizesse uso das gírias e códigos que caracterizam os grupos dos grafiteiros.

Em principio podia-se esperar que a Energisa fizesse algumas adequações

linguísticas, mas os organizadores do projeto acharam por melhor não interferir no

processo simbólico da linguagem do grupo por acreditar na maior identificação das

pessoas, principalmente dos jovens com o conceito do projeto.

Figura – 9 Grafite da Usina Cultural Figura – 10 Grafite da Subestação da Av: Rui Carneiro

Fonte: http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao

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Com os grafiteiros em ação iniciou-se a segunda etapa do concurso cultural,

primeiro coube a agencia Sin realizar as ações publicitárias de divulgação do

concurso.

Uma das ações mais interessantes foi a iniciativa de colocar um dos mais

renomados artistas do grafite, Giga Brown4, para desenhar em tempo real um

outdoor em plena Epitácio Pessoa, numa movimentada tarde de sexta – feira, para

divulgar o concurso cultural.

Sobre a ação O artista Giga Brown comentou na época:

“Foi bastante legal participar desta importante ação, que além de difundir o nosso trabalho, agrega

valor à nossa arte e trata de um tema importante como é o meio ambiente, a sustentabilidade e a

reciclagem”.

Figura – 11 Ação Publicitária do Concurso

Fonte: http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao

4 Arista brasileiro de renome internacional na arte do grafite

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Além das ações publicitárias, o concurso foi maciçamente divulgado nas

mídias digitais e nos meios de comunicação, outros instrumentos utilizados na

divulgação foram, por exemplo, panfletos, cartazes e fanpage na internet.

Figura – 12 Fanpage do Concurso

Fonte: http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao

Os grafiteiros que participaram do concurso tiveram seus trabalhos avaliados

por um júri. Os jurados avaliaram qualidade, técnica e originalidade.

No total a premiação foi de vinte e cinco mil reais, divididos da seguinte

maneira, prêmios para os três melhores colocados, oito mil para o primeiro colocado,

quatro mil para o segundo e três mil para o terceiro, mais três prêmios técnicos no

valor de mil reis cada e quatro por originalidade com prêmios de quinhentos reais em

dinheiro cada, dez quites com material profissional para grafite e troféus para os

campeões.

A cerimônia de premiação aconteceu no mês de março de 2013, na Usina

cultural Energisa, o evento foi para convidados. No final da premiação houve shows

de artistas do Hip hop, Rap e Free style, gêneros de musica e dança bem comuns

na cultura do grafite.

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Figura – 13 Panfleto de divulgação da Cerimônia de Premiação

Fonte: http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao

A participação do público neste projeto foi pensada estrategicamente para

estimular a aceitação e interesse da sociedade pela arte do grafite, desmistificando o

preconceito pela falta de informação e principalmente para engajar as pessoas no

conceito proposto pelo concurso, que era de transformar o próprio comportamento

em prol de um bem maior para todos, ou seja, reciclar a consciência ecológica e

social das pessoas.

Para causar este efeito de pertencimento no publico, foram abertas votações

através de uma fanpage, para que as pessoas participassem votando nos seus

desenhos favoritos. Na época as pessoas fotografavam os desenhos e postavam na

pagina http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao, o grafite mais postado

ganhava no dia da cerimônia de premiação, um premio surpresa.

36

Os interessados em participar da festa de premiação para garantir os

ingressos, deveria se inscrever na fanpage acima onde além de garantir a entrada

concorriam a sorteios de camisetas.

Figura – 14 Postagem em rede social divulgando o evento

Fonte: http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao

O resultado do trabalho desenvolvido pela Energisa com a parceria da CUFA

resultou em uma serie de benefícios para todos os envolvidos no projeto.

Uma iniciativa que antes surgiu para sanar um problema interno trouxe mais

que resultados positivos para a finalidade a qual se prestava. Se antes a intenção

era livrar seus muros dos ataques constantes de pichadores, ao perceberem o

potencial do meio escolhido para a função, no caso a arte do grafite, sabiamente

transformaram a oportunidade surgida em uma estratégica arma de comunicação

aproximativa.

Em fatos ocorreu que o projeto foi tão assertivo, que rendeu reconhecimento

nacional.

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Figura – 15 Verso da Conta de Energia

Fonte: http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao

O concurso rendeu importantes prêmios a empresa. Com isso o projeto

passou a integrar o Programa de Eficiência Energética da Energisa. Os painéis

permanecem até os dias atuais, sob os cuidados da empresa, com constantes

trabalhos de conservação, pois os mesmo grafites atualmente são utilizados em

campanhas de conscientização e educação ambiental, desenvolvidas pela Energisa.

O projeto não só cumpriu com a função de expor o discurso empresarial da

Energisa, sobre a importância de reciclar e preservar o meio ambiente, como criou

um canal capaz de estreitar os laços da empresa com o seus públicos.

A importância desta iniciativa para o grafite foi sem dúvida benéfica, pois, ao

mesmo tempo em que a cultura do grafite foi fortalecida e descriminalizada por parte

da população, as portas para outros trabalhos e outras empresas se abriram para

este tipo de arte.

38

Percebeu-se com o passar do tempo que após a iniciativa da Energisa de

apoiar um gênero de arte tão controverso, quanto o grafite, outras empresas

montaram estratégias semelhantes, com objetivos institucionais.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo de caso sobre o uso do grafite quanto canal folkcomunicacional

pela empresa de Energisa Paraibana Energisa como estratégia de fortalecimento de

seu discurso estruturado, analisa-se que:

A Folkcomunicação e suas derivações de estudos como o Folkmarketing

tornaram-se importantes no contexto da comunicação organizacional voltada para o

público regional, por possuir características interdisciplinares capazes de adaptar as

necessidades almejadas pelas empresas, quando buscam criar a identificação dos

seus públicos com as suas marcas.

Quando uma empresa se propõe a aderir ao seu discurso elementos da

cultura regional da qual seus consumidores fazem parte, a Folkcomunicação oferece

a base de conhecimento para que os gestores de comunicação possam planejar

executar ações de comunicação de acordo com o perfil regional do local ao qual

pertence a empresa.

O Folkmarketing é uma ferramenta que oferece a possibilidade de mesclar e

usufruir o que a folkcomunicação e o marketing tem de melhor, quando se busca

ganhar espaço no mercado regional.

O novo perfil de consumo acentua a disputa por mercado. A premissa “ganha

quem sai na frente” é valida, no entanto para sair na frente é preciso certa dose de

ousadia e iniciativa para conquistar o público, pois hoje não é o consumidor que

precisa da empresa, mas a empresa que precisa do consumidor; e este se sentirá

atraído por aquelas que suprem suas necessidades e conquistam sua simpatia.

Tornar-se alvo do interesse dos consumidores requer uma serie de

investimentos e atitudes estratégicas.

No caso estudado neste trabalho a Energisa em si é uma empresa que

aposta nos laços criados com seus públicos através do fortalecimento da cultura

regional da qual a empresa faz parte. O resultado dos seus inúmeros trabalhos

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desenvolvidos com base nos conceito da folkcomunicação, trouxe benefícios tão

significativos, que apostando na continuidade dos resultados, os investimentos em

comunicação da empresa estão cada vez mais ligados ao folkmarketing.

A iniciativa do projeto Arte e luz na Subestação, que tinha por finalidade levar

à sociedade a reflexão e transformação comportamental a cerca de temas

relacionados ao consumo consciente dos recursos naturais do planeta, da

reciclagem e sustentabilidade, atingiram o público não só na questão

socioambiental, como também cultural.

Pois a escolha de um elemento da cultura folk, como o grafite para ser o canal

de comunicação direta com o público agregou importante relevância ao projeto.

A iniciativa de tornar suas fachadas, um espaço permanente que evidencia

seu discurso empresarial, beneficia não só a própria empresa, lhe rendendo

visibilidade, como aos moradores e pedestres que passam a conviver em um

ambiente sem poluição visual, e para os próprios praticantes da cultura do grafite,

que vem seu trabalho reconhecido. E a sociedade como um todo ao ver suas

perspectivas de responsabilidade social cumprida, se satisfaz e retribui, cedendo

credibilidade a empresa.

A Folkcomunicação e os estilos oriundos como o Folkmarketing permanecem

em evidencia nas estratégias montadas pelos gestores de comunicação com o

objetivo de criar uma relação de pertencimento com os seus públicos. Esta prática

não desconfigura a cultura popular em prol dos interesses empresariais, pois antes

de se apropriar dos elementos e símbolos pertencentes aos saberes populares, a

empresa também passa por um processo de identificação para tornasse parte

daquilo que deseja representar para seu público.

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REFERÊNCIAS

FILHO, Severino Alves de L. Festa Junina em Portugal: marcas culturais no contexto de folkmarketing. João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2012.

BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de ideias. EDIPUCRS, 2001.

(Org.), Luiz Beltrão: pioneiro das ciências da comunicação no Brasil. João pessoa: Editora Universitária UFPB, 2007.

(Org.), A Folkcomunicação do limiar do século XXl. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2012.

LIMA, Maria Érica de Oliveira. Mídia Regional: indústria, mercado e cultura. Natal: EDUFRN, 2010.

REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Comunicação Empresarial/ Comunicação Institucional. São Paulo: Summus, 1986.

KUNSCH. Margarida Maria Kroling. Planejamento de Relações Públicas na comunicação Integrada. São Paulo: Summus, 2003.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. São Paulo: Atlas, 2000.

YIN, Robert K.Estudos de Caso: planejamento e métodos. Porto Alegre; Bookmam, 2001.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2006

FANPAGE, : http://www.facebook.com/ArteEnergiaNaSubestacao

SITE. http://holding.grupoenergisa.com.br/paginas/inovacao-e-sustentabilidade/sustentabilidade/eficiencia-energetica/arte-e-energia-na-subestacao.aspx