silva beatrizf limites do planejamento estrategico aplicad– · 2016. 3. 4. · limites do...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM URBANISMO HISTOacuteRIA E ARQUITETURA DA CIDADE
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUE
BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA
Nelson Popini Vaz
Florianoacutepolis 10 de marccedilo de 2008
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM URBANISMO HISTOacuteRIA E ARQUITETURA DA CIDADE
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUE
BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA
Dissertaccedilatildeo submetida ao programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da
Cidade PGAU-Cidade da Universidade Federal de
Santa Catarina como requisito parcial para a obtenccedilatildeo
do grau de Mestre em Urbanismo Histoacuteria e
Arquitetura da Cidade Aacuterea de pesquisa
Configuraccedilotildees Regionais Planejamento Urbano e Meio
Ambiente
Nelson Popini Vaz Orientador
Florianoacutepolis 10 de marccedilo de 2008
3
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUE
BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA
Esta dissertaccedilatildeo foi julgada adequada para a obtenccedilatildeo do Grau de Mestre em Urbanismo
Histoacuteria e Arquitetura da Cidade na aacuterea de concentraccedilatildeo em Configuraccedilotildees Regionais
Planejamento Urbano e Meio Ambiente do programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Urbanismo
Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade da Universidade Federal de Santa Catarina
e aprovada em sua forma final em 10 de marccedilo de 2008
______________________________________ Prof Dra Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva
Coordenador do PGAU - cidade
_______________________________________ Prof DrNelson Popini Vaz
Orientador
BANCA EXAMINADORA
__________________________________ Prof Dr Almir Francisco Reis
__________________________________ Prof Dr Eduardo Jorge Feacutelix Castells
__________________________________ Prof Dr Gilberto Montibeller Filho
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
4
AGRADECIMENTOS
Uma dissertaccedilatildeo de mestrado nunca pode ser vista como definitivamente finalizada
porque em um trabalho como este sempre haveraacute o que possa ser corrigido e acrescentado
Esta dissertaccedilatildeo constitui apenas um pequeno trecho de um longo caminho a ser percorrido
Sendo assim neste momento devem-se os agradecimentos agravequeles que de alguma forma
colaboraram para o desempenho deste trabalho
Agrave Coordenaccedilatildeo e Secretaria do PGAU ndash Cidade em particular agrave professora Gilceacuteia
Pesce do Amaral e Silva pelo incentivo constante e pela disponibilidade da realizaccedilatildeo do
curso de Mestrado
Ao meu orientador Nelson Popini Vaz pela orientaccedilatildeo que me permitiu descobrir
limites e possibilidades e pelo respeito agraves posiccedilotildees tomadas pela autora no decorrer do
trabalho agradeccedilo agrave convivecircncia
Ao amigo e professor Eduardo Jorge Feacutelix Castells pelo material do Instituto de
Arquitetos do Brasil cedido para anaacutelise e que servem de embasamento para a avaliaccedilatildeo
final da pesquisa aleacutem das discussotildees que permitiram seu direcionamento
Ao professor Gilberto Montibeller Filho pelas valiosas contribuiccedilotildees em minha banca
de qualificaccedilatildeo e pela presenccedila na banca de defesa e ao professor Almir Francisco Reis
pelas colocaccedilotildees finais que possibilitaram o aprimoramento do trabalho
Agrave Fundaccedilatildeo CERTI e ao Gerente Executivo do Sapiens Parque Leandro Carioni pela
atenccedilatildeo e disposiccedilatildeo de todo o material referente ao empreendimento indispensaacuteveis agrave
finalizaccedilatildeo do trabalho
Aos colegas do mestrado PGAU ndash Cidade em especial agrave Fernanda e Joana pela
amizade e discussotildees em sala que em muito contribuiacuteram nesta dissertaccedilatildeo
Ao Fernando pelo apoio incondicional e pelas fotos especialmente encomendadas e
que ilustram o terceiro capiacutetulo
Agrave minha querida amiga Bianca pela ajuda na revisatildeo e traduccedilatildeo do Inglecircs e agrave minha
tia Vera licenciada em Letras pela revisatildeo ortograacutefica do Portuguecircs
Por fim mas natildeo menos importante aos meus pais e aos meus irmatildeos Luciano
Marcos e Guilherme pela seguranccedila e certeza de que sempre estaratildeo presentes
A todos o meu muito obrigada
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque 29
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 30
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque 35
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil 60
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis 69
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial 95
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes 101
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de 101
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame 106
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes 106
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer 106
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico 106
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua 108
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde 108
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor 109
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana 109
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 119
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 137
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 138
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 139
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico 44
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis 58
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel 65
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba 105
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades 108
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque 123
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque 129
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel 141
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
7
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 ndash Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC 158
Anexo 2 ndash Tabela de Impactos e Medidas Compensatoacuterias do Sapiens Parque 164
Anexo 3 ndash Master Plan Sapiens Parque 2005 165
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
8
LISTA DE SIGLAS
ARENA - Alianccedila Renovadora Nacional
CASAN - Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento
CELESC - Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CERTI - Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras
CIC - Cidade Industrial de Curitiba
CODESC - Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CSD - Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel
EIA - Estudo de Impacto Ambiental
EIV - Estudo de Impacto de Vizinhanccedila
ESI - Environmental Sustenaibility Index
FAPESC - Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina
FATMA ndash Fundaccedilatildeo do Meio Ambiente
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FMI - Fundo Monetaacuterio Internacional
IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas
IDH - Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IDS - Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel
IPPUC - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
LAP - Licenccedila Ambiental Preacutevia
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PFL - Partido da Frente Liberal
PIB - Produto Interno Bruto
PMDB - Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro
PMF - Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
PNB - Produto Nacional Bruto
PNUD - Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento
RBAC ndash Reserva da Biosfera da Amazocircnia Central
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
9
RBMA - Reserva da Biosfera Mata Atlacircntica
RBC ndash Reserva da Biosfera do Cerrado
RBCA ndash Reserva da Biosfera da Caatinga
RBCVSP ndash Reserva da Biosfera do Cinturatildeo Verde de Satildeo Paulo
RBP ndash Reserva da Biosfera do Pantanal
RBU ndash Reserva da Biosfera Urbana
RIMA - Relatoacuterio de Impacto Ambiental
SINDUSCON - Sindicato da Induacutestria da Construccedilatildeo Civil
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo
SPE - Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
SUDAM - Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia
SUDENE - Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UNCED - Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
UNCTAD - Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento
UNEP - Programa de Meio Ambiente das Naccedilotildees Unidas
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
10
RESUMO
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Orientador Nelson Popini Vaz Linha de Pesquisa Configuraccedilotildees Regionais Planejamento Urbano e Meio Ambiente Defesa 10032008
O conjunto de processos e agentes externos de uma cidade sempre resulta em influenciar a sua evoluccedilatildeo urbana A globalizaccedilatildeo fortifica a velocidade com que ocorrem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e alteraccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e socioculturais trazem implicaccedilotildees no processo construtivo das cidades O espaccedilo urbano eacute transformado em um capital comum para toda a humanidade e ganha novas funccedilotildees dando origem ao ambiente competitivo entre as cidades e refletindo suas modificaccedilotildees no planejamento As cidades passam a constituir centros de articulaccedilatildeo e controle de economias regionais nacionais e internacionais a partir de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas As accedilotildees estrateacutegicas em acircmbito urbano definidas dentro da loacutegica do mercado caracterizam o novo modelo de planejamento a ser adotado frente aos desafios impostos pela globalizaccedilatildeo Por outro lado a problemaacutetica ambiental global surgida no seacuteculo XX determinou um novo paradigma de desenvolvimento que apresenta como diretriz a integraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas com o ambiente natural O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel compreende uma alternativa agraves teorias e modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica Este trabalho estabelece uma relaccedilatildeo entre o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel e o atual modelo de planejamento urbano estrateacutegico Para tanto faz uma avaliaccedilatildeo da eficiecircncia do modelo de planejamento urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel segundo os conceitos e criteacuterios de sustentabilidade A anaacutelise baseia-se no estudo de caso do empreendimento Sapiens Parque para Florianoacutepolis Tal empreendimento caracteriza-se como um programa de desenvolvimento regional baseado na produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e que visa a sustentabilidade social econocircmica e ambiental A pesquisa aponta os limites deste projeto no alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional atraveacutes do levantamento dos seus impactos em meio fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico permitindo identificar em quais aspectos o modelo de planejamento urbano adotado contraria os conceitos de sustentabilidade estudados
Palavras-chave desenvolvimento sustentaacutevel planejamento estrateacutegico projeto urbano globalizaccedilatildeo
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
11
ABSTRACT
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Adviser Nelson Popini Vaz Line of Research Regional Configurations Urban Planning and Environment Date of Presentation March 10th of 2008
The set of processes and external agents of a city always results in influencing its urban evolution The globalization increases the velocity in which these external changes take place and changes the space into a common capital to the humanity bringing its implications to the citiesrsquo constructive process The urban space has new functions creating a competitive environment between cities and reflecting in modifications in the urban planning Through urban vocations and specializations the cities start to constitute articulation and control centers of regional national and international economy The strategic actions in the urban field defined according to the market logic characterize the new planning model to be adopted facing the challenges imposed by the globalization On the other hand the global environmental problem that appeared in 20th century determined a new development paradigm that presents as a direction line the integration between human relations and natural environment The concept of sustainable development comes as an alternative to the theories and traditional models of development and marks a new philosophy that combines economic efficiency with social justice and ecological prudence This thesis establishes an interaction between the paradigm of the sustainable development and the current model of strategic urban planning In order to achieve that an efficiency evaluation of the urban planning model as a tool of sustainable development is made according to the concepts and the criteria of sustainability The analysis is based an enterprise Sapiens Park study of case in Florianoacutepolis Such enterprise is characterized as a regional development program based on the scientific and technological production and it aims at the social economic and environmental sustainability The research points the limits of this project while trying to reach the regional sustainable development through the survey of its impacts in the physic biotic and socio-economic environment allowing the identification of which aspects the urban planning model current adopted opposes the concepts of sustainability studied
Keywords sustainable development strategic planning urban project globalization
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
12
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS 04
LISTA DE FIGURAS 05
LISTA DE TABELAS 06
LISTA DE ANEXOS 07
LISTA DE SIGLAS 08
RESUMO 10
ABSTRACT 11
INTRODUCcedilAtildeO 14
Justificativa 14
Objetivos da pesquisa 17
Metodologia de pesquisa e estrutura do trabalho 18
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE 22
11 Caracterizaccedilatildeo de Florianoacutepolis 22
12 O empreendimento Sapiens Parque 26
121 Apresentaccedilatildeo do projeto 26
122 Localizaccedilatildeo urbana do empreendimento 29
123 Moacutedulos e Setores 33
124 Agentes envolvidos 35
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE 40
21 Conceito de desenvolvimento 40
211 Brasil e desenvolvimento 46
22 A inserccedilatildeo ambiental no desenvolvimento 51
221 Ecodesenvolvimento 54
222 Desenvolvimento Sustentaacutevel 61
23 Sustentabilidade urbana 66
231 Diretrizes para a sustentabilidade urbana 71
24 Turismo Desenvolvimento e Meio Ambiente 75
25 Impactos Ambientais Urbanos 79
251 Impactos de Projetos Desenvolvimentistas 81
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
13
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO 86
31 Globalizaccedilatildeo e a nova funccedilatildeo das cidades 86
32 Estrateacutegias das cidades para as novas funccedilotildees urbanas 88
33 O modelo estrateacutegico de planejamento das cidades 93
34 Variaccedilotildees em torno de um mesmo modelo 99
341 Barcelona e o caso da Vila Oliacutempica 99
342 Curitiba e suas intervenccedilotildees urbanas 102
343 Rio de Janeiro e os Planos Estrateacutegicos Regionais 106
35 Conclusotildees parciais Limites do planejamento estrateacutegico 110
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE 117
41 Avaliaccedilotildees do Instituto de Arquitetos do Brasil 117
42 Avaliaccedilotildees do EIA-RIMA 2003 120
421 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio fiacutesico e bioacutetico 124
422 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio soacutecio-econocircmico 126
423 Atribuiccedilotildees dadas ao poder puacuteblico 131
424 Aspectos legais 132
43 Avaliaccedilotildees da comunidade local 135
44 Avaliaccedilotildees do Master Plan 2005 136
45 Diagnoacutestico final avaliaccedilatildeo dos limites 140
5 CONCLUSOtildeES 145
REFEREcircNCIAS 151
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
14
INTRODUCcedilAtildeO
JUSTIFICATIVA OBJETIVO E METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO
As mudanccedilas tecnoloacutegicas econocircmicas geo-poliacuteticas e soacutecio-culturais ocorridas no
mundo como decorrecircncia do aparecimento da globalizaccedilatildeo apresentam suas influecircncias na
configuraccedilatildeo do espaccedilo urbano As cidades passaram de espaccedilos locais a centros
articuladores de economias regionais nacionais e internacionais tendo como instrumento
de planejamento accedilotildees estrateacutegicas definidas dentro da loacutegica do mercado Esta nova
realidade gera o espaccedilo das cidades mundiais onde as cidades buscam seu
reconhecimento em niacutevel global atraveacutes de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas
Tal situaccedilatildeo no Brasil teve seu maior exemplo refletido na cidade de Curitiba na
deacutecada de 1990 Curitiba foi classificada como uma das melhores cidades brasileiras para
se viver e tornou-se referecircncia nacional e internacional atraveacutes de um plano de urbanizaccedilatildeo
especiacutefico que visava atrativos culturais e de lazer A exemplo do que aconteceu na capital
paranaense nos uacuteltimos anos o espaccedilo metropolitano de Florianoacutepolis vem sendo apontado
como uma das regiotildees de maior qualidade de vida do Brasil e com o menor iacutendice de
violecircncia do paiacutes
A pretensatildeo de transformar Florianoacutepolis em uma referecircncia mundial iniciou a partir
da virada dos anos oitenta para os anos noventa Ao final da deacutecada de 1980 defendia-se
que a vocaccedilatildeo de Florianoacutepolis estaria na induacutestria do turismo e de alta tecnologia
entendidas como induacutestrias natildeo poluentes e adequadas ao rico ambiente natural da cidade
Apoacutes o lanccedilamento do Mercosul em 1991 Florianoacutepolis foi nomeada com o tiacutetulo de Capital
Turiacutestica do Mercosul Em 2002 a revista nacional Exame colocou a capital de Santa
Catarina como a quinta colocada dentre as melhores cidades do paiacutes para a aplicaccedilatildeo de
investimentos
No mecircs de junho de 2007 Florianoacutepolis esteve presente no evento ldquoFoacuterum
Internacionalrdquo que aconteceu em Goyang na Coreacuteia do Sul O objetivo do evento era
debater o tema do desenvolvimento urbano e cultural com convidados especiais
representantes oficiais e especialistas de renome internacional de um grupo de dez cidades
especiacuteficas O grupo reunia as ldquo10 cidades mais dinacircmicas do mundordquo que consistem as
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
15
regiotildees econocircmicas mais promissoras do mundo pesquisa realizada e publicada pela
revista internacional Newsweek em julho de 2006 Florianoacutepolis foi a uacutenica cidade da
Ameacuterica Latina a ser classificada no ranking juntamente a outros centros urbanos
americanos europeus e asiaacuteticos
A revista Newsweek justificou a inclusatildeo de Florianoacutepolis na lista das dez cidades
mais dinacircmicas do mundo devido a uma seacuterie de fatores entre eles o potencial turiacutestico
derivado da quantidade de praias o alto niacutevel de escolaridade e a presenccedila de uma nova
induacutestria limpa do conhecimento baseada em empresas de tecnologia de ponta A notiacutecia
chega a referir-se agrave capital como o futuro ldquoVale do Siliacuteciordquo no Brasil em uma comparaccedilatildeo ao
maior centro tecnoloacutegico americano na Califoacuternia
Florianoacutepolis vem buscado tornar-se uma referecircncia internacional atraveacutes de projetos
e intervenccedilotildees urbanas seguindo processo semelhante ao qual se submeteu Curitiba No
evento de Goyang a cidade foi representada pelo engenheiro mecacircnico e administrador
Marcelo Ferreira Guimaratildees diretor de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo do Sapiens Parque
projeto urbano que constitui o estudo de caso deste trabalho
O Sapiens Parque consiste em um empreendimento com futura implantaccedilatildeo no
balneaacuterio de Canasvieiras no norte de Florianoacutepolis e que visa a atraccedilatildeo de investimentos
privados e turistas O projeto vem sendo apresentado pelos responsaacuteveis como um
programa de desenvolvimento regional sustentaacutevel para o norte da Ilha
O Sapiens Parque pode ser caracterizado como um programa de desenvolvimento regional envolvendo a criaccedilatildeo de um novo centro urbano para Florianoacutepolis ldquointeligenterdquo baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental voltado para produccedilatildeo cientiacutefica tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento e exigindo em sua implementaccedilatildeo profundo trabalho de planejamento urbano arquitetocircnico ambiental econocircmico financeiro e juriacutedico Sua finalidade extrapola a curiosidade cientiacutefica e alcanccedila a capacitaccedilatildeo das futuras geraccedilotildees para enfrentar o desenvolvimento equilibrado a produccedilatildeo de riquezas e a agregaccedilatildeo de valor para fazer frente agrave competitividade do seacuteculo XXI (RIMA 1 200301)
Durante o decorrer do ano 2007 o Sapiens Parque e outros projetos urbanos foram
apresentados em eventos mensais locais ocorridos em Florianoacutepolis denominados como
ldquoPensando a Cidaderdquo e patrocinados por empresas privadas e pelo Sindicato da Induacutestria da
Construccedilatildeo Civil (SINDUSCON) O primeiro dos eventos apresentou um viacutedeo ilustrativo
com um resumo desses projetos intitulado ldquoA cidade que queremosrdquo e contou com a
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
16
participaccedilatildeo do governador em exerciacutecio Luiz Henrique da Silveira que se mostrou
visivelmente favoraacutevel agrave implantaccedilatildeo dos projetos
Tais intervenccedilotildees segundo os patrocinadores do evento promoveriam o
desenvolvimento sustentaacutevel de Florianoacutepolis e regiatildeo buscando equilibrar
simultaneamente o crescimento econocircmico com o desenvolvimento social e cultural
mantendo a preservaccedilatildeo ambiental Aleacutem do Sapiens Parque os eventos ainda
apresentaram o projeto de um hotel seis estrelas com localizaccedilatildeo na Ponta do Coral (um
local estrateacutegico na principal avenida agrave beira-mar da cidade) e o projeto de um campo de golfe
para a praia do Costatildeo do Santinho (proacuteximo ao principal resort de Florianoacutepolis) entre outros
Este trabalho faz uma anaacutelise do projeto urbano do Sapiens Parque como ferramenta
de desenvolvimento sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis a partir do
estudo de seus possiacuteveis impactos sociais econocircmicos e ambientais positivos e negativos
em acircmbito regional O projeto Sapiens Parque incorpora os conceitos do modelo de
planejamento urbano estrateacutegico que compreende a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees urbanas e
investimentos estrateacutegicos com o objetivo de atraccedilatildeo do capital privado e inserccedilatildeo das
cidades em niacutevel mundial Em geral tais intervenccedilotildees constituem iniciativas dos governos
locais formadas a partir da parceria dos oacutergatildeos puacuteblicos com as empresas privadas As
poliacuteticas locais tentam absorver e levar para a gestatildeo e o planejamento local os novos
paradigmas que buscam a criaccedilatildeo das cidades mundiais O modelo que sustenta tal
pensamento baseia-se no conceito da competitividade urbana como escopo para o
desenvolvimento local e melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo
Para a avaliaccedilatildeo do projeto urbano Sapiens Parque esta pesquisa parte de dois
eixos estruturadores O primeiro eixo estruturador consiste em mostrar os conceitos e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel em suas dimensotildees social ambiental e econocircmica
e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo urbano
O termo ldquodesenvolvimento sustentaacutevelrdquo surgiu na deacutecada de 1980 como um
paradigma a ser seguido dentro das diretrizes de desenvolvimento de forma a reunir
questotildees sociais e ambientais ao crescimento econocircmico Apesar de muitos autores
discursarem a respeito da ldquoinsustentabilidade do desenvolvimento sustentaacutevelrdquo ao
questionarem sua efetiva possibilidade de aplicaccedilatildeo o termo ainda vem sendo utilizado no
discurso de muitos projetos urbanos como um importante objetivo a ser alcanccedilado
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
17
O segundo eixo estruturador deste trabalho analisa a caracterizaccedilatildeo e os limites do
modelo de planejamento urbano estrateacutegico utilizado no conceito do Sapiens Parque
atraveacutes de referenciais nacionais e internacionais existentes e das avaliaccedilotildees jaacute feitas em
relaccedilatildeo ao proacuteprio empreendimento O resultado final da pesquisa consiste na avaliaccedilatildeo dos
limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de desenvolvimento
sustentaacutevel
Esta pesquisa tambeacutem pretende discutir o atual modelo de planejamento urbano
adotado atraveacutes do estudo do Sapiens Parque se os investimentos estatais dirigem-se aos
reais problemas da sociedade ou se estatildeo eles direcionados agrave promoccedilatildeo do capital no
mundo globalizado Trata-se de avaliar os impactos ambientais e soacutecio-econocircmicos de tal
empreendimento a niacutevel local e regional e discutir as reais possibilidades do alcance do
desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes desse modelo Assim torna-se possiacutevel prever e
apontar os limites do planejamento urbano e procurar mudanccedilas que possam melhoraacute-lo
Vale lembrar aqui de que o projeto Sapiens Parque ainda natildeo foi totalmente
executado tendo uma previsatildeo de quinze anos para a sua conclusatildeo Trata-se portanto de
trabalhar com indicativos de uma possiacutevel e provaacutevel situaccedilatildeo ainda natildeo real
OBJETIVOS DA PESQUISA
OBJETIVO GERAL
Analisar o projeto do empreendimento Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
identificando seus limites
OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Como forma de alcanccedilar o objetivo geral acima especificado os seguintes objetivos
especiacuteficos satildeo preacute-estabelecidos
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
18
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca do desenvolvimento
sustentaacutevel definindo dimensotildees e criteacuterios de sustentabilidade
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca de intervenccedilotildees e projetos
urbanos existentes no mundo e no Brasil utilizados como meio de
desenvolvimento e inserccedilatildeo da cidade em niacutevel global e identificar suas
limitaccedilotildees como modelo de planejamento urbano
Avaliar o projeto Sapiens Parque considerando seus impactos soacutecio-econocircmicos
e ambientais positivos e negativos tomando como base bibliografia disponiacutevel
Definir os limites do projeto Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
METODOLOGIA DE PESQUISA E ESTRUTURA DO TRABALHO
Para realizar uma avaliaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque como instrumento
de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis e identificar seus limites esta
pesquisa foi estruturada atraveacutes de quatro capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo eacute introduzido o estudo de caso a partir da caracterizaccedilatildeo geral
do desenvolvimento urbano na regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis e da apresentaccedilatildeo do
empreendimento Sapiens Parque seus conceitos e atores envolvidos Optou-se em expor
de imediato o projeto que seraacute utilizado na avaliaccedilatildeo final do trabalho para inteirar o leitor
acerca do empreendimento antes mesmo das exposiccedilotildees e anaacutelises teoacutericas que envolvem
seus aspectos principais
O segundo e terceiro capiacutetulos desta pesquisa constituem basicamente a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica que serviraacute de base para a avaliaccedilatildeo final do empreendimento
Sapiens Parque demonstrada no uacuteltimo capiacutetulo Como o objetivo geral do trabalho consiste
em apontar os limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento sustentaacutevel a fundamentaccedilatildeo teoacuterica abordou essas duas temaacuteticas
principais os conceitos e criteacuterios relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e os
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
19
conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de planejamento urbano que caracteriza o
empreendimento
O segundo capiacutetulo intitulado ldquoDesenvolvimento e Meio Ambienterdquo analisa a
conceituaccedilatildeo teoacuterica referente ao desenvolvimento sustentaacutevel e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo
urbano Por tratar-se da avaliaccedilatildeo de um projeto urbano que ainda natildeo foi executado optou-
se em realizar uma pesquisa qualitativa baseada em criteacuterios de sustentabilidade Frente agrave
abrangente bibliografia acerca do tema este estudo transcorreu em torno de obras
produzidas por determinados autores reconhecidos pelas pesquisas realizadas em paiacuteses
em desenvolvimento como o Brasil Foram destacadas entre outras as duas importantes
obras de Ignacy Sachs1 ldquoCaminhos para o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo (2002) e
ldquoDesenvolvimento includente sustentaacutevel sustentadordquo (2004) A legislaccedilatildeo pertinente ao
tema tambeacutem serviu como fonte de pesquisa bibliograacutefica para anaacutelise
Como o desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis tem forte influecircncia da atividade
turiacutestica e o empreendimento Sapiens Parque tem o turismo sustentaacutevel como um dos
conceitos do projeto este segundo capiacutetulo aborda ainda questotildees relevantes acerca do
turismo e de seus impactos no ambiente natural Conceitos acerca de impactos ambientais
de projetos urbanos voltados ao desenvolvimento de uma regiatildeo como eacute caracterizado o
Sapiens Parque tambeacutem foram estudados ao final do capiacutetulo
Aleacutem de toda a conceituaccedilatildeo teoacuterica acerca das relaccedilotildees entre o desenvolvimento
urbano e o meio ambiente o segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo ainda enfatiza as
aplicaccedilotildees praacuteticas de tais conceitos para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis Tais
aplicaccedilotildees satildeo demonstradas no decorrer da fundamentaccedilatildeo teoacuterica atraveacutes do
levantamento das principais aacutereas e projetos de preservaccedilatildeo ambiental para a regiatildeo
O terceiro capiacutetulo deste trabalho levantou os conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de
planejamento urbano adotado no projeto do Sapiens Parque denominado planejamento
estrateacutegico que apresenta como um dos elementos precursores do desenvolvimento a
atraccedilatildeo de investimentos e de visitantes para determinada regiatildeo O planejamento urbano
1 Professor da Eacutecole des Hautes Eacutetudes en Sciences Sociales (EHESS) em Paris e criador do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporacircneo (CRDC)
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
20
estrateacutegico caracteriza-se por estrateacutegias das cidades na busca de ambientes competitivos
capazes de transformaacute-las em cidades mundiais no mundo globalizado
O terceiro capiacutetulo consiste em uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica baseada em pesquisa
bibliograacutefica Foram analisadas de um lado as obras bibliograacuteficas de ARANTES (2000)
VAINER (2000) MARICATO (2000) e SAacuteNCHEZ (2003) que criticam a utilizaccedilatildeo do
planejamento urbano estrateacutegico como um modelo a ser aplicado a todas as realidades
urbanas De outro lado temos a visatildeo de BORJA e CASTELLS (2000) LOPES (1998) e
GUumlELL (1997) que analisam as origens e metodologias do planejamento estrateacutegico e
defendem que sua correta aplicaccedilatildeo pode trazer benefiacutecios para as cidades Neste capiacutetulo
satildeo mostrados ainda referenciais de determinadas cidades onde tal modelo jaacute foi aplicado
como Barcelona Rio de Janeiro e Curitiba As anaacutelises dos estudos de caso buscam
demonstrar as variaccedilotildees que existem em torno deste mesmo modelo e tirar conclusotildees
parciais acerca dos seus resultados
O quarto capiacutetulo consiste na anaacutelise final do projeto do empreendimento Sapiens
Parque tendo como base a fundamentaccedilatildeo teoacuterica dos dois capiacutetulos anteriores Para a
etapa de avaliaccedilatildeo do projeto foram utilizados os seguintes documentos
Material de divulgaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque
Legislaccedilatildeo ambiental e urbana incidente na aacuterea de implantaccedilatildeo do
empreendimento
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) do
Sapiens Parque
Dossiecirc de Inserccedilatildeo Socioambiental do Sapiens Parque
Memoacuteria de audiecircncias puacuteblicas relacionadas ao empreendimento
Criacutetica do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SC) a respeito do projeto Sapiens
Parque
Entrevistas com atores locais concedidas agrave rede de televisatildeo local
Notiacutecias do empreendimento
Os documentos acima apresentam as avaliaccedilotildees feitas ao empreendimento Sapiens
Parque pelos atores envolvidos O quarto capiacutetulo levanta os principais impactos positivos e
negativos do empreendimento em meios fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico em niacutevel local
regional municipal e metropolitano A anaacutelise de tais impactos associada agrave fundamentaccedilatildeo
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
21
teoacuterica estudada permite a avaliaccedilatildeo conclusiva dos limites do projeto Sapiens Parque como
instrumento de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis
Por fim a lista de obras citadas como Referecircncias ao teacutermino do trabalho constitui
todas as obras bibliograacuteficas material cartograacutefico documentos de acesso eletrocircnico
publicaccedilotildees perioacutedicas legislaccedilatildeo e material audiovisual que foram consultados para a
elaboraccedilatildeo desta pesquisa independente de terem sido ou natildeo referenciados nos textos ao
longo do trabalho
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
22
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
11 CARACTERIZACcedilAtildeO DE FLORIANOacutePOLIS
O desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis deu-se principalmente no seacuteculo XX
apoacutes a cidade firmar-se como capital de Santa Catarina VAZ (1991) atribui trecircs fatores
principais para a transformaccedilatildeo de Florianoacutepolis neste seacuteculo a centralizaccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos e administrativos da capital que consolidou o nuacutecleo do centro urbano a integraccedilatildeo
rodoviaacuteria que substituiu o transporte mariacutetimo pelo rodoviaacuterio e o turismo que mesmo ainda
sendo uma atividade sazonal trouxe modificaccedilotildees relevantes no desenvolvimento urbano
As primeiras deacutecadas do seacuteculo XX marcaram a crise da atividade portuaacuteria e a
estagnaccedilatildeo da agricultura local A construccedilatildeo da Ponte Herciacutelio Luz em 1926 que
estabeleceu a conexatildeo Ilha-continente incrementou o transporte rodoviaacuterio e consistiu um
importante impulsionador do desenvolvimento local A urbanizaccedilatildeo acarretou melhorias em
infra-estrutura atraveacutes da implantaccedilatildeo da rede de energia eleacutetrica e dos sistemas de
abastecimento de aacutegua e captaccedilatildeo de esgotos
Na deacutecada de 1930 o municiacutepio enfrentou um periacuteodo de estagnaccedilatildeo devido agrave
Revoluccedilatildeo de Trinta quando o governo local fez oposiccedilatildeo agrave candidatura de Getuacutelio Vargas
A vida urbana da capital antes marcada pela presenccedila do ativo porto exportador manteve-
se nessa eacutepoca basicamente atraveacutes do crescimento do setor puacuteblico e dos serviccedilos
oferecidos pelo governo estadual aleacutem da manutenccedilatildeo de pequena produccedilatildeo agriacutecola e
industrial fazendo com que o comeacutercio local se transformasse na principal atividade
econocircmica (VAZ 1991)
Nas deacutecadas de 1940 e 1950 a situaccedilatildeo econocircmica da capital continuou estagnada
com queda no movimento portuaacuterio e sofrendo deficiecircncias de infra-estrutura O comeacutercio
continuou sendo a atividade econocircmica principal com pouca atividade industrial e a cidade
manteve a sua caracteriacutestica poliacutetico-administrativa
A execuccedilatildeo de obras viaacuterias na metade do seacuteculo XX possibilitou a expansatildeo urbana
para o interior da Ilha e forneceu o acesso agraves praias Segundo VAZ (1991) Florianoacutepolis
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
23
manteve sua imagem quase intacta ateacute a deacutecada de 1960 quando se acelerou o processo
de transformaccedilatildeo destacando o sistema de circulaccedilatildeo e transportes rodoviaacuterios Com a
implantaccedilatildeo da Universidade Federal de Santa Catarina em 1961 e de empresas estatais
federais e estaduais Florianoacutepolis passou a receber estudantes professores e profissionais
liberais de outras cidades e estados contribuindo significativamente para o crescimento e o
desenvolvimento da cidade Nesta eacutepoca a induacutestria da construccedilatildeo civil comeccedilou a se
destacar na cidade aleacutem do setor de comeacutercio e serviccedilos
A crescente classe meacutedia multiplicou as grandes aacutereas loteadas dos novos bairros residenciais e os edifiacutecios de apartamento que margearam novas avenidas Ela foi assistida por numerosa e perifeacuterica camada social de baixa renda que sustentou o setor de comeacutercio e serviccedilos com matildeo de obra barata e a construccedilatildeo civil (VAZ 199133)
A economia local passou a utilizar ainda mais as redes terrestres como transporte
apoacutes a construccedilatildeo da BR-101 na deacutecada de 1970 que fez a conexatildeo Norte-Sul do Estado
como tambeacutem com a construccedilatildeo da BR-470 (Rodovia Jorge Lacerda) que ligou a capital ao
planalto catarinense Somente nesta deacutecada com o crescimento da maacutequina estatal
Florianoacutepolis reativou seu dinamismo compensando a decadecircncia da atividade portuaacuteria
De acordo com CECCA (1997) as deacutecadas de 1960 e 1970 foram marcadas por
acentuado desenvolvimento urbano e consequumlente busca de ocupaccedilatildeo das praias pela
populaccedilatildeo local e principalmente por turistas estaduais interestaduais e estrangeiros A
pavimentaccedilatildeo de muitas vias que forneciam o acesso agraves praias foi realizada nesta eacutepoca
frente agrave nova demanda de veratildeo a SC-401 que oferece acesso agraves praias do Norte da Ilha
a SC-404 que leva agrave Lagoa da Conceiccedilatildeo e desta a SC-406 que segue ao Rio Tavares e a
SC-405 que passa pelo Campeche em direccedilatildeo agrave Armaccedilatildeo e ao Pacircntano do Sul
Para atender as novas demandas de traacutefego urbano as autoridades governamentais
construiacuteram o Aterro da Baiacutea Sul na deacutecada de 1970 O aterro serviu como escoamento
para as duas novas pontes de ligaccedilatildeo com o continente a Ponte Colombo Machado Sales e
a Pedro Ivo Campos Aleacutem disso o aterro se interligou agrave Via Expressa da Beira-Mar Norte
Aos poucos Florianoacutepolis perdeu ainda mais sua antiga relaccedilatildeo com o mar frente aos
pedidos de empresaacuterios e poliacuteticos ligados ao setor turiacutestico por novos aterros estradas
duplicaccedilotildees viadutos e tuacuteneis
Na deacutecada de 1980 Florianoacutepolis jaacute se caracterizava como uma cidade voltada para
o setor terciaacuterio de serviccedilos que hoje concentra parte de sua economia e sua posiccedilatildeo de
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
24
capital do Estado natildeo se restringe apenas a gerar empregos puacuteblicos mas indiretamente
estimula outros setores intermediaacuterios da economia local A atividade turiacutestica comeccedilou a se
destacar ainda mais nesta eacutepoca tornando-se um dos pilares da economia na Ilha e
concretizando a cidade como um dos principais poacutelos turiacutesticos de Santa Catarina
O turismo passou a servir de promotor de significativas modificaccedilotildees culturais e
paisagiacutesticas As atividades de turismo e lazer geraram a expansatildeo urbana desvinculada do
centro alterando a fisionomia urbana a partir da implementaccedilatildeo de condicionantes
favoraacuteveis agrave valorizaccedilatildeo do turismo hoteacuteis restaurantes loteamentos casas de segunda
residecircncia ou aluguel principalmente nas aacutereas proacuteximas da orla A cidade se desenvolveu
formando poacutelos urbanos com bairros auto-suficientes destinados agraves classes meacutedia e alta na
sua parte central e agraves favelas nas aacutereas mais afastadas As transformaccedilotildees urbanas
decorrentes dessa eacutepoca trouxeram consequumlecircncias imediatas e devastadoras ao patrimocircnio
natural e cultural
Os recantos mais ermos da Ilha comeccedilaram a serem cortados por estradas e loteamentos e as tradicionais e decadentes comunidades agriacutecola-pesqueiras transformaram-se em balneaacuterios Na cidade as verticais edificaccedilotildees modernas substituiacuteram a maior parte das construccedilotildees seculares de estilos e eacutepocas diversas As encostas e as periferias urbanas foram sendo intensamente ocupadas por populaccedilotildees mais pobres (CECCA 199759-60)
Segundo CECCA (1997) ldquoa maior ameaccedila agrave qualidade de vida de Florianoacutepolis
deriva do desrespeito ao meio ambiente e aos ecossistemas da Ilhardquo (CECCA 1997233)
O meio ambiente natural da Ilha eacute diversificado e fraacutegil marcado pela Floresta Ombroacutefila
Densa (Mata Atlacircntica) Floresta das Planiacutecies Quaternaacuterias manguezais restingas e
dunas Essa variedade de ecossistemas torna ainda mais difiacutecil a identificaccedilatildeo dos impactos
ambientais derivados da urbanizaccedilatildeo A condiccedilatildeo geograacutefica e insular da cidade aliada ao
seu particular sistema ecoloacutegico impotildeem limites para sua expansatildeo urbana ainda mais que
cerca de 42 do municiacutepio de Florianoacutepolis eacute atualmente constituiacutedo por unidades de
preservaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo O crescimento populacional local e o processo de migraccedilatildeo
tende a elevar os problemas de ordenamento urbano-ambiental do municiacutepio
Em acircmbito econocircmico a pesca artesanal e a pesca industrial que sempre estiveram
presentes na economia local continuam dando modestas contribuiccedilotildees ao produto interno
bruto municipal assim como as atividades do setor primaacuterio da economia como a
agricultura e a pecuaacuteria A induacutestria da construccedilatildeo civil aparece como forte atividade
econocircmica mas a principal fonte da economia municipal deve-se agrave atividade turiacutestica (que
atrai brasileiros e principalmente a populaccedilatildeo estrangeira do Mercosul) aliada ao comeacutercio
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
25
e ao setor de serviccedilos derivado da estrutura administrativa municipal estadual e federal
Tambeacutem com aparente potencial tem surgido a induacutestria do vestuaacuterio e da informaacutetica e
tecnologia Nos uacuteltimos anos a aquumlicultura tambeacutem tem se tornado uma atividade mais
expressiva para a populaccedilatildeo ligada ao setor marinho
O patrimocircnio cultural da Ilha resulta de acordo com CECCA (1997) do conjunto de
trecircs elementos formadores da sociedade brasileira o branco europeu o nego africano e o
nativo indiacutegena Entretanto verifica-se maior influecircncia cultural do povoador portuguecircs em
particular o imigrante accediloriano Essa influecircncia reflete-se no traccedilado original das cidades na
tipologia arquitetocircnica nas teacutecnicas agriacutecolas e nas festas tradicionais A construccedilatildeo dos
aterros (principalmente na deacutecada de 1970) a valorizaccedilatildeo do sistema rodoviaacuterio e a
desativaccedilatildeo do porto o desenvolvimento turiacutestico a expansatildeo imobiliaacuteria e as dificuldades
para manter a pesca artesanal satildeo alguns dos fatores que levaram ao distanciamento das
atividades tradicionais derivadas da cultura accediloriana em Florianoacutepolis
Hoje a cidade passa por um processo de conurbaccedilatildeo criando a aacuterea metropolitana
da Grande Florianoacutepolis juntamente com as cidades de Satildeo Joseacute Biguaccedilu Palhoccedila
Antocircnio Carlos Governador Celso Ramos Santo Amaro da Imperatriz Satildeo Pedro de
Alcacircntara e Aacuteguas Mornas totalizando uma populaccedilatildeo de mais de 820 mil habitantes
segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2007
Florianoacutepolis apresenta ainda o principal aeroporto do Estado o Aeroporto Herciacutelio Luz que
desde 1989 opera com vocircos internacionais Apesar de suas deficiecircncias no campo social eacute
considerada uma das capitais de maior qualidade de vida do Brasil tendo levado o tiacutetulo de
melhor capital do paiacutes em qualidade de vida pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)
em 1998
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
26
12 O EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE2
121 APRESENTACcedilAtildeO DO PROJETO
O Sapiens Parque vem sendo apresentado atraveacutes de um novo conceito
denominado ldquoparque de inovaccedilatildeordquo Um parque de inovaccedilatildeo eacute um ambiente que possui infra-
estrutura e espaccedilo para abrigar empreendimentos projetos e outras iniciativas inovadoras e
estrateacutegicas para o desenvolvimento de uma regiatildeo e que se distingue por possuir um
modelo inovador para atrair desenvolver implementar e integrar estas iniciativas visando
um posicionamento diferenciado sustentaacutevel e competitivo
A oportunidade inicial para o Sapiens Parque surgiu a partir da parceria do poder
puacuteblico e da iniciativa privada atraveacutes da integraccedilatildeo entre o Governo do Estado de Santa
Catarina por meio da CODESC e a Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologia
Inovadoras (CERTI)
Como destacamos na Introduccedilatildeo deste trabalho o empreendimento vem sendo
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional baseado na
sustentabilidade social econocircmica e ambiental Voltado para produccedilatildeo cientiacutefica
tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento o projeto incorpora o seguinte
conjunto de conceitos e diretrizes
Desenvolvimento Sustentaacutevel busca o equiliacutebrio entre as vertentes econocircmica
social e ambiental
Sociedade do Conhecimento caracterizada pela crescente valorizaccedilatildeo dos
produtos serviccedilos e relaccedilotildees baseadas no conhecimento e na informaccedilatildeo
2 Todas as informaccedilotildees contidas neste item foram fornecidas atraveacutes de documentos oficiais do Sapiens Parque
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
27
Economia da Experiecircncia tendecircncia de geraccedilatildeo de produtos e serviccedilos
diferenciados por proporcionarem ldquomemorabilidade amp fidelizaccedilatildeordquo ao integrar
Educaccedilatildeo ndash Entretenimento ndash Esteacutetica e Imersatildeo
Convergecircncia das Ciecircncias e Tecnologias tambeacutem chamada de
transdisciplinaridade eacute o conceito que visa integrar os vaacuterios campos da ciecircncia e
da tecnologia (humanas exatas bioloacutegicas sociais etc)
Globalizaccedilatildeo Econocircmica tendecircncia que induz ao desenvolvimento de Plataformas
Mundiais considerando as peculiaridades e diferenccedilas locais
ldquoAdoccedilatildeo de um Ciclo contiacutenuo de Inovaccedilatildeordquo busca integrar de forma eficaz a
Pesquisa Livre Pesquisa Preacute-competitiva Desenvolvimento Tecnoloacutegico e
Criaccedilatildeo de Negoacutecios
Convergecircncia Digital tendecircncia de crescimento e desenvolvimento de produtos e
serviccedilos que integram Tecnologia da Informaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Conteuacutedo e
Turismo sustentaacutevel atraveacutes dos centros culturais e de eventos centro de
esportes e lazer centro de compras e gastronomia e do turismo ecoloacutegico
Para o projeto estaacute planejado um conjunto de empreendimentos puacuteblicos e privados
como arena multiuso parque florestal centro de serviccedilos para comunidade centro de
eventos e de convivecircncia hoteacuteis museus centros gastronocircmicos e de compras centros de
pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico aleacutem de empresas e organizaccedilotildees natildeo
governamentais que em conjunto iratildeo atuar no desenvolvimento local e regional
Segundo os empreendedores os resultados esperados com sua implantaccedilatildeo satildeo
(RIMA 1 2003) geraccedilatildeo de quase 30000 empregos diretos nas aacutereas de turismo ciecircncia e
tecnologia e serviccedilos geraccedilatildeo na fase de implantaccedilatildeo de aproximadamente R$ 11 bilhatildeo
em impostos que poderatildeo ser aplicados no melhoramento da infra-estrutura sauacutede
educaccedilatildeo e seguranccedila reduccedilatildeo da sazonalidade turiacutestica na regiatildeo auxiliando na
profissionalizaccedilatildeo da atividade definiccedilatildeo de um novo padratildeo de ocupaccedilatildeo urbana para a
regiatildeo e valorizaccedilatildeo da sociedade catarinense
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
28
Os idealizadores do projeto defendem que o parque deveraacute consagrar-se como
ldquoindutor do progresso social e material da regiatildeo harmonizando o desenvolvimento regional
e a sustentabilidade ambiental cumprindo seu papel de gerar renda e criar empregosrdquo
(RIMA 1 200303) Os principais aspectos econocircmicos positivos apontados consistem o
aumento significativo da arrecadaccedilatildeo de impostos a criaccedilatildeo de novos empregos o aumento
da renda global e per capita a captaccedilatildeo e atraccedilatildeo de novos negoacutecios para o estado e o
potencial mercado de consumidores construiacutedo em parte pelos paiacuteses do Mercosul
Jaacute os aspectos sociais positivos apontados pelos empreendedores do parque satildeo os
seguintes ampliaccedilatildeo planejada da cidade otimizaccedilatildeo dos serviccedilos modernizaccedilatildeo da Ilha
na aacuterea de turismo e lazer ciecircncia e tecnologia transportes e comunicaccedilotildees aumento da
rede hoteleira estabilizaccedilatildeo do mercado de turismo e melhoria da qualidade de vida da
populaccedilatildeo com a implantaccedilatildeo de infra-estrutura e criaccedilatildeo de novos empregos
O primeiro projeto para o Sapiens Parque foi elaborado em 2002 pela empresa
Ecoplan selecionada atraveacutes da Fundaccedilatildeo CERTI para a execuccedilatildeo do trabalho O projeto
finalizado pela Ecoplan foi avaliado atraveacutes de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) no
ano seguinte realizado pelas empresas Socioambiental Consultores Associados e Elabore
Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente e sofreu alteraccedilotildees decorrentes das avaliaccedilotildees
feitas A partir de entatildeo o projeto passou a ser de responsabilidade do instituto argentino
Fundaciograven Cepa e orientado pelo arquiteto tambeacutem argentino Ruben Pesci Em 2005 o
Sapiens Parque apresentou um novo projeto elaborado pela Fundaciograven Cepa mantendo os
aspectos conceituais do empreendimento Os motivos pelos quais o projeto deixou de ser de
responsabilidade da empresa Ecoplan para ser desenvolvido pela Fundaciograven Cepa natildeo satildeo
esclarecidos pela Fundaccedilatildeo CERTI Entretanto concluiacutemos que o fato de o grupo argentino
estar envolvido na concepccedilatildeo do projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis3
aleacutem do reconhecimento de que a busca pela integraccedilatildeo entre o ambiente construiacutedo e a
natureza constituem um dos principais focos dos projetos do instituto Cepa influenciou na
decisatildeo de mudanccedila da equipe responsaacutevel
3 Sobre o projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis ver Capiacutetulo 2
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
29
122 LOCALIZACcedilAtildeO URBANA DO EMPREENDIMENTO
Segundo os idealizadores do projeto Sapiens Parque a escolha da cidade de
Florianoacutepolis como local para o empreendimento deve-se agrave sua localizaccedilatildeo geograacutefica
estrateacutegica em relaccedilatildeo aos paiacuteses comprometidos com o Mercosul e por ser praticamente
equumlidistante em relaccedilatildeo agraves principais metroacutepoles e aos grandes centros de negoacutecios da
regiatildeo A capital ainda possui a vantagem expressiva de ser conhecida em todo o mercado
do Cone Sul por sua beleza natural pelos seus iacutendices superiores de qualidade de vida e
pela constituiccedilatildeo de um dos maiores poacutelos de tecnologia do Paiacutes apresentando assim reais
condiccedilotildees de conjugar atividades de Centro de Negoacutecios e Centro de Lazer
Devido as suas caracteriacutesticas terciaacuterias e de prestaccedilatildeo de serviccedilos Florianoacutepolis
ainda eacute considerado um mercado consolidado para o desenvolvimento de empresas de
base tecnoloacutegica A Figura 1 mostra a localizaccedilatildeo do empreendimento no contexto urbano
de Florianoacutepolis
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como vemos na Figura 1 o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se
na regiatildeo Norte da Ilha no balneaacuterio de Canasvieiras O projeto Sapiens Parque estaacute
proposto para ser implantado em Florianoacutepolis em uma aacuterea superior a 400 ha
(4000000msup2) pertencente agrave Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
(CODESC) e ao Governo do Estado de Santa Catarina e onde se situava a extinta Colocircnia
CENTRO
SAPIENS
PARQUE
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
30
Penal de Florianoacutepolis Estende-se do entroncamento da rodovia estadual SC 401 com o
trevo de Canasvieiras ateacute os limites da Cachoeira do Bom Jesus do Morro dos Freitas e
terras da Vargem do Bom Jesus no Distrito de Canasvieiras na costa norte da Ilha de
Santa Catarina a 25 km de distacircncia do centro da capital O terreno de implantaccedilatildeo do
projeto pode ser conferido na Figura 2
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque Elaboraccedilatildeo da autora
A opccedilatildeo pela implantaccedilatildeo do empreendimento nesta regiatildeo eacute atribuiacuteda aos seguintes
fatores
A regiatildeo tem experimentado um dos maiores crescimentos imobiliaacuterios de todo o
paiacutes sendo procurada tanto para abrigar projetos na aacuterea residencial como
empresarial e educacional
A expansatildeo da cidade de Florianoacutepolis para esta regiatildeo assegura ao Sapiens
CANASVIEIRAS
CACHOEIRA DO
BOM JESUS
OCEANO ATLAcircNTICO
SAPIENS PARQUE
RIO PAPAQUARA
RIO DO
BRAacuteS
INGLESES
CENTRO
SC
-401
MORRO
DE
JUREREcirc
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
31
Parque uma infra-estrutura urbana essencial para o desenvolvimento de um
empreendimento deste porte
A regiatildeo norte de Florianoacutepolis abriga algumas das mais belas praias da Ilha que
oferecem opccedilotildees diversificadas de lazer desde os esportes naacuteuticos ateacute o surf e o
entretenimento familiar Aliada agraves belezas naturais das praias haacute toda uma
diversidade ambiental que engloba lagoas naturais reservas ambientais dunas e
reservas de mata atlacircntica
A regiatildeo conta com uma extensa rede hoteleira e uma infra-estrutura diversificada
de comeacutercio e serviccedilos
Os idealizadores do projeto alegam que foram estudadas outras possibilidades de
localizaccedilatildeo para a implantaccedilatildeo do empreendimento A regiatildeo sul de Florianoacutepolis que
engloba os bairros Campeche Ribeiratildeo da Ilha e Pacircntano do Sul foi considerada
inapropriada por apresentar vocaccedilotildees desenvolvimento econocircmico e infra-estrutura
bastante diferentes da regiatildeo norte o que no curto e meacutedio prazo desfavoreceria a
implantaccedilatildeo de projetos como o Sapiens Parque pois exigiria altiacutessimos investimentos
principalmente em infra-estrutura e no desenvolvimento econocircmico da regiatildeo A uacutenica aacuterea
ao sul disponiacutevel para tamanho empreendimento estaria nas proximidades do Aeroporto
Internacional Herciacutelio Luz fato que implica na impossibilidade de implantaccedilatildeo do parque
devido principalmente agrave influecircncia das atividades do parque nos equipamentos dos aviotildees
e do aeroporto e vice-versa
Uma terceira alternativa avaliada para a localizaccedilatildeo do parque seria na parte
continental de Florianoacutepolis que apesar de possuir viabilidade econocircmica natildeo apresentaria
ldquoopccedilotildees de terrenos de grande porte para a implantaccedilatildeo de um projeto desta magnituderdquo
(RIMA 1 200308)
Caracterizaccedilatildeo do Norte da Ilha e do Balneaacuterio de Canasvieiras
O processo de expansatildeo territorial para o Norte da Ilha desenvolveu-se
paralelamente aos investimentos estatais e ocorreu de forma mais evidente durante a
deacutecada de 1970 principalmente no Balneaacuterio de Canasvieiras e no seu entorno As
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
32
intervenccedilotildees viaacuterias solidificaram e incrementaram esse processo Segundo SUGAI (1994)
ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a regiatildeo norte da Ilha era utilizada principalmente
para o desenvolvimento das atividades agriacutecola e pesqueira A partir da deacutecada de 1950 a
regiatildeo comeccedilou a atrair a atenccedilatildeo para sua utilizaccedilatildeo balneaacuteria
A regiatildeo do balneaacuterio de Canasvieiras era extremamente visada pois apresentava
excelentes praias com aacuteguas limpas e de temperatura amena protegidas dos ventos
constantes aleacutem de beliacutessimas paisagens e de conformaccedilatildeo fiacutesica bastante rica SANTOS
(1993) destaca que Canasvieiras assim como outras praias do Norte da Ilha devem sua
ocupaccedilatildeo urbana principalmente pelas construccedilotildees das residecircncias de veraneio da alta
classe Durante as deacutecadas de 1950 e 1960 o Norte da Ilha passou a ser definido como
uma das principais localizaccedilotildees com essa finalidade e para onde o Estado efetuava os
maiores investimentos O fato deu iniacutecio aos interesses turiacutesticos e imobiliaacuterios na regiatildeo
impulsionando e estruturando o processo de expansatildeo da aacuterea urbana
Segundo SANTOS (1993) o processo de ocupaccedilatildeo de Canasvieiras ocorreu sem a
presenccedila de um plano diretor especiacutefico para os distritos A urbanizaccedilatildeo se desenvolvia
pelas vias principais e a tendecircncia foi a formaccedilatildeo de faixas contiacutenuas ao longo da praia A
inexistecircncia de infra-estrutura para o abastecimento de aacutegua esgoto e drenagem pluvial
aliada a um deficiente controle do uso e da ocupaccedilatildeo do solo sem uma legislaccedilatildeo mais
especiacutefica e fiscalizaccedilatildeo atuante desenvolveu uma urbanizaccedilatildeo precaacuteria que tende a
comprometer os seus atrativos naturais
A incidecircncia direta do turismo a partir da deacutecada de 1970 atraveacutes da construccedilatildeo de
hoteacuteis pousadas casas para aluguel bares e restaurantes acarretaram ainda maiores
impactos no ambiente natural A antiga vila de pescadores deu lugar a um espaccedilo disputado
pelos interesses capitalistas e imobiliaacuterios transformando-a em centro de turismo de
veraneio
Dessa forma a orla da regiatildeo foi ocupada quase em totalidade de maneira irregular
e com a apropriaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo devido agrave ausecircncia de uma fiscalizaccedilatildeo por
parte dos oacutergatildeos puacuteblicos O tipo de ocupaccedilatildeo originou a paisagem que caracteriza hoje o
balneaacuterio destituiacutedo de vegetaccedilatildeo natural com consequumlente erosatildeo e abrasatildeo marinhas
assoreamento de rios e coacuterregos
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
33
123 MOacuteDULOS E SETORES
O empreendimento Sapiens Parque compreende-se a partir de uma estrutura
organizacional fundamentada em dois moacutedulos principais o primeiro denominado
Experintia e o segundo caracterizado como Scientia ambos baseados no Ser humano e no
Conhecimento Aleacutem dos dois moacutedulos principais o parque ainda apresenta quatro setores
o de turismo esporte e consoacutercio o de serviccedilos especializados o de empresas de base
tecnoloacutegica e o de iniciativas e projetos soacutecio-ambientais
O moacutedulo Experientia congrega elementos como o Museu de Ciecircncia Parque
Temaacutetico Laboratoacuterios para novas tecnologias e soluccedilotildees O Experientia objetiva a criaccedilatildeo
de novos projetos conceitos ideacuteias e soluccedilotildees nas aacutereas da educaccedilatildeo meio ambiente
lazer cultura vida urbana empreendedorismo esporte educaccedilatildeo cidadania accedilatildeo de governo
sauacutede atraveacutes de experiecircncias intensivas no uso de tecnologias centradas no ser humano
O segundo moacutedulo Scientia consolida-se atraveacutes de nuacutecleos avanccedilados de
universidades empresas laboratoacuterios de ONGs e demais organizaccedilotildees interessadas na
pesquisa desenvolvimento e experimentaccedilatildeo de novas tecnologias e soluccedilotildees Caracteriza-
se pela busca da diversidade e interdisciplinaridade e visa atrair talentos e competecircncias de
referecircncias para o empreendimento
Dentre os demais acircmbitos que compotildeem o parque destaca-se o setor de turismo
esporte e consoacutercio que se direciona principalmente em propagar a vocaccedilatildeo turiacutestica
bastante forte na regiatildeo O projeto pretende reduzir a sazonalidade do turismo
caracteriacutestica em Florianoacutepolis cuja atividade acaba sempre por depender da temporada de
veratildeo Para isso pretende-se desenvolver uma rede de hoteacuteis reconhecida
internacionalmente pela excelecircncia na prestaccedilatildeo de serviccedilos O setor visa novas formas
atraentes como Arena Multiuso Centro Gastronocircmico Shopping Museu e Centros de
Saber Parque Ecoloacutegico Aquaacuterio e Complexo Esportivo
O setor de serviccedilos especializados estimula o desenvolvimento de determinados
tipos de serviccedilos altamente especializados em aacutereas como educaccedilatildeo sauacutede e negoacutecios
Na questatildeo educacional o objetivo eacute atrair instituiccedilotildees de niacutevel superior com atuaccedilatildeo em
assuntos particulares como tambeacutem escolas individualizadas e empresas com serviccedilos e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
34
soluccedilotildees tornando-se uma referecircncia de qualidade nas entidades de ensino da regiatildeo Jaacute
na aacuterea da sauacutede satildeo previstas cliacutenicas e centros meacutedicos especializados Reserva-se
ainda espaccedilo e infra-estrutura para o desenvolvimento de estrateacutegias empreendedoras
como marketing e publicidade
O terceiro setor do empreendimento denominado Empresas de Base Tecnoloacutegica
constitui fundamental segmento da chamada Economia do Conhecimento caracterizada por
gerar produtos e serviccedilos de alto valor agregado e exige pessoal qualificado e uma cultura
de permanente inovaccedilatildeo O parque visa atrair e oferece toda a infra-estrutura necessaacuteria agraves
empresas interessadas no desenvolvimento de novos negoacutecios As empresas de caraacuteter
tecnoloacutegico estaratildeo integradas ao moacutedulo principal Scientia de forma a acessar os
conhecimentos e tecnologias ali geradas
O uacuteltimo setor organizacional do parque baseia-se em iniciativas e projetos soacutecio-
ambientais devido ao empreendimento estar voltado para a promoccedilatildeo do desenvolvimento
regional No aspecto social pretende-se estimular a implantaccedilatildeo de projetos e iniciativas
voltadas para a criaccedilatildeo de emprego e renda e principalmente para a promoccedilatildeo da
qualificaccedilatildeo e educaccedilatildeo atraveacutes de iniciativas como Incubadoras Sociais Centros de
Qualificaccedilatildeo Centros Comunitaacuterios e outros O projeto tem por pretensatildeo atraveacutes de
equipamentos especiacuteficos promover a interaccedilatildeo com a comunidade e assegurar o
desenvolvimento da regiatildeo agregado agrave qualidade de vida das pessoas
O Sapiens Circus caracteriza-se por ser um ambiente educacional de aprendizado e
diversatildeo constituiacutedo de dispositivos tecnoloacutegicos e de interaccedilatildeo com filmes e jogos O
sistema de ensino tem por fundamento a estimulaccedilatildeo dos educandos na cooperaccedilatildeo muacutetua
para a construccedilatildeo do conhecimento e da tomada de decisotildees Informaccedilotildees sobre a
diversidade amazocircnica satildeo apresentadas atraveacutes dos dispositivos de ensino e os
educandos vivenciam uma experiecircncia por meio de histoacuteria fictiacutecia ou simulaccedilatildeo em que a
biodiversidade amazocircnica os ajuda a resolver um problema Dessa forma os educandos
percebem o valor da biodiversidade aprendem seus conceitos e satildeo motivados a seguir
com estudos posteriores dentro de sala de aula
O projeto estaacute sendo desenvolvido para ser executado em cinco fases previstas para
ocorrer em um total de 20 anos O ldquoMarco Zerordquo (Primeira Fase) do Sapiens Parque jaacute estaacute
em funcionamento contendo a sede administrativa do parque e o Sapiens Circus conforme
podemos verificar na Figura 3
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
35
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque
124 AGENTES ENVOLVIDOS
Sapiens Parque SA
A Sapiens Parque SA nasceu como uma Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
(SPE) entre a CODESC proprietaacuteria do terreno a Fundaccedilatildeo CERTI detentora do capital
intelectual e autora do Programa de Desenvolvimento Tecnoloacutegico Regional e o Instituto
Sapientia mentor do conceito de Edutainment - Educaccedilatildeo com Entretenimento - e parceiro
de inovaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia do Sapiens
Criada na forma de Sociedade Anocircnima de Capital Fechado eacute responsaacutevel pela
gestatildeo e implementaccedilatildeo do empreendimento O grupo tem propoacutesito especiacutefico de
estruturar viabilizar implementar e operar o empreendimento dentro de altos padrotildees de
qualidade eficiecircncia e estabilidade
O projeto ainda apresenta apoio do Governo do Estado de Santa Catarina da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) da Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
Escola Sapiens
Sapiens
Circus
Incubadora Sapiens
Casaratildeo Sede e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
36
(PMF) da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)4 da Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa
Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina (FAPESC)5 e da Paradigma
Tecnologia que viabiliza o Portal do Sapiens Parque na Internet
Codesc
A Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (CODESC) eacute uma
empresa de economia mista que integra a administraccedilatildeo indireta do Estado subordinada ao
Regime de Direito Privado e reuacutene condiccedilotildees teacutecnicas e juriacutedicas para a formulaccedilatildeo e
gestatildeo de programas que visam o desenvolvimento econocircmico do estado
Foi criada pela lei estadual ndeg 5089 de 300475 como ldquoholdingrdquo6 A empresa
coordenou o Sistema Financeiro Estadual e no decorrer dos anos vaacuterias atividades lhe
foram delegadas pelo Poder Puacuteblico Estadual tendo em vista sua qualificaccedilatildeo juriacutedica que
lhe confere maior agilidade na tomada de decisotildees
De acordo com seu Estatuto a CODESC tem por objetivos principais adquirir e
administrar sob qualquer forma e nos limites permitidos em lei participaccedilotildees e controles
societaacuterios E ainda promover sob a orientaccedilatildeo do Governo do Estado o desenvolvimento
econocircmico e a integraccedilatildeo da accedilatildeo do Estado com a dos municiacutepios e da Uniatildeo
Com essas qualificaccedilotildees a CODESC pode oferecer garantias e contragarantias para
o Estado autarquias fundaccedilotildees e sociedades de economia mista suas subsidiaacuterias e
controladas em operaccedilotildees financeiras sem a necessidade de autorizaccedilatildeo do Banco
Central Pode ainda negociar accedilotildees e cotas de outras sociedades inclusive o controle do
capital votante tanto de economia mista como privadas Atualmente a CODESC eacute vinculada
agrave Secretaria de Estado da Fazenda por decisatildeo do Decreto ndeg 923 de 31 de maio de 1996
4 A FINEP tem por missatildeo promover e financiar a inovaccedilatildeo e a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica em empresas universidades institutos tecnoloacutegicos centros de pesquisa e outras instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o desenvolvimento econocircmico e social do Paiacutes (httpwwwfinepgovbr acesso em 20112006) 5 A FAPESC tem por missatildeo promover o Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico no Estado de Santa Catarina atraveacutes do fomento agrave pesquisa e da interaccedilatildeo em todos os niacuteveis das instituiccedilotildees cientiacuteficas dos complexos produtivos do governo e da sociedade (httpwwwfapescrct-scbr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
37
Fundaccedilatildeo Certi
A Fundaccedilatildeo Centro de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras (CERTI) eacute uma
instituiccedilatildeo independente e sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento tecnoloacutegico
com foco na inovaccedilatildeo em negoacutecios produtos e serviccedilos no segmento de tecnologia da
informaccedilatildeo
Criada em 1984 por iniciativa de algumas empresas brasileiras da Universidade
Federal de Santa Catarina e dos Governos Estadual e Federal a fundaccedilatildeo eacute hoje referecircncia
no campo nacional e internacional pelo desenvolvimento de projetos inovadores que
envolvem soluccedilotildees de convergecircncia digital Exemplos dessa linha de projetos constituem as
urnas eletrocircnicas os terminais de automaccedilatildeo bancaacuteria e terminais puacuteblicos de acesso agrave
Internet
A partir de 1990 a fundaccedilatildeo passou a atuar significativamente na gestatildeo da
qualidade e produtividade em consequumlecircncia das mudanccedilas nas poliacuteticas econocircmicas e
industriais do Brasil A CERTI trabalha para a ampliaccedilatildeo de novas soluccedilotildees de forma
cooperativa e integrada atraveacutes do uso de ferramentas do processo de pesquisa e
desenvolvimento de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica A CERTI atua na anaacutelise do negoacutecio na
concepccedilatildeo do produto e na implementaccedilatildeo dos processos produtivos adequados para
acelerar e assegurar maior ecircxito na colocaccedilatildeo dos novos produtos no mercado
A fundaccedilatildeo conta hoje com uma seacuterie de entidade e parceiros atuantes Tem sua
matriz em Florianoacutepolis no campus da Universidade Federal de Santa Catarina e em 1999
inaugurou uma filial na cidade de Manaus para dar apoio agraves empresas de base tecnoloacutegica
estabelecidas naquela regiatildeo
6 Holding eacute uma empresa que deteacutem a quantidade suficiente de accedilotildees de uma outra companhia que lhe permita determinar e controlar a gestatildeo desta uacuteltima
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
38
Instituto Sapientia
Fundado em 05 de dezembro de 2002 o Instituto Sapientia eacute uma pessoa juriacutedica de
direito privado administrativamente autocircnomo e independente e criado como consequumlecircncia
da iniciativa de alguns colaboradores da Fundaccedilatildeo CERTI A oportunidade de concepccedilatildeo de
uma nova organizaccedilatildeo com competecircncias necessaacuterias para a praacutetica de novos produtos e
desafios partiu da necessidade de direcionamento das atividades da Fundaccedilatildeo CERTI para
o foco da Economia da Experiecircncia
Constituiacutedo na forma de associaccedilatildeo e sem fins lucrativos o instituto eacute operado
segundo conceitos e praacuteticas da Fundaccedilatildeo CERTI Tem por objeto social a pesquisa e o
desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico sustentados em projetos de grande relevacircncia
soacutecio-ambiental e econocircmica para a sociedade brasileira tais como
Projetos de pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica aplicada
Projetos e programas de experimentaccedilatildeo e demonstraccedilatildeo de soluccedilotildees
tecnoloacutegicas
Projetos de desenvolvimento de tecnologias negoacutecios e empreendimentos
inovadores
Projeto de ambientes interativos
Promoccedilatildeo da cultura e da arte
Desenvolvimento de tecnologias de interatividade centradas no ser humano
Desenvolvimento das infra-estruturas de softwares distribuiacutedos para integraccedilatildeo de
ambientes interativos
Desenvolvimento de jogos miacutedias e conteuacutedos para a construccedilatildeo de experiecircncias
memoraacuteveis
O Sapientia eacute um dos mentores e parceiros do Sapiens Parque e projetista das
aacutereas do Experientia e Scientia Atua com o desenvolvimento de Conteuacutedos Interativos
softwares interativos aplicados em jogos educacionais implantaccedilatildeo de experiecircncias e
pesquisas em convergecircncia das ciecircncias e transdisciplinaridade
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
39
Comunidade Local
As comunidades e associaccedilotildees de moradores de Florianoacutepolis diretamente
envolvidas com o projeto Sapiens Parque concentram-se basicamente no Norte da Ilha
Tais associaccedilotildees estiveram representadas nas audiecircncias puacuteblicas promovidas pelo
Sapiens Parque no decorrer do ano de 2003 levantando como principais questotildees a serem
discutidas a degradaccedilatildeo ambiental decorrente da excessiva urbanizaccedilatildeo e a necessidade de
integraccedilatildeo do projeto com a comunidade As principais comunidades locais envolvidas satildeo
Associaccedilatildeo dos Moradores de Canasvieiras
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem Grande
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem do Bom Jesus
Associaccedilatildeo Amigos de Carijoacutes
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
Uniatildeo Metropolitana de Entidades Comunitaacuterias
Centro de Estudos Cultura e Cidadania
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
40
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
O presente capiacutetulo analisaraacute os principais conceitos que abrangem a relaccedilatildeo do
desenvolvimento com o meio ambiente Para tanto inicia-se com uma visatildeo geral do
significado da palavra desenvolvimento para posteriormente inserir a dimensatildeo ambiental
em seu conceito O estudo resulta na anaacutelise das dimensotildees e dos criteacuterios de
desenvolvimento sustentaacutevel como paradigma Tais criteacuterios seratildeo utilizados na avaliaccedilatildeo
final do empreendimento Sapiens Parque estudo de caso deste trabalho Este capiacutetulo
ainda analisa as aplicaccedilotildees do desenvolvimento sustentaacutevel ao espaccedilo urbano enfocando
os grandes projetos urbanos e turiacutesticos como se caracteriza o estudo de caso em questatildeo
21 CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO
A maneira mais simploacuteria de caracterizar o sentido da palavra desenvolvimento
consiste em associaacute-lo ao crescimento econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo Industrial em
meados do seacuteculo XVIII a histoacuteria da humanidade passou a ser quase inteiramente
determinada pelo crescimento econocircmico A vida cotidiana foi totalmente transformada e o
padratildeo de vida das pessoas aumentou enquanto a mortalidade humana diminuiu Atraveacutes
do avanccedilo da ciecircncia e tecnologia foram possiacuteveis inovaccedilotildees nas aacutereas da sauacutede puacuteblica e
da medicina resultantes principalmente da iniciativa governamental e do empreendedorismo
puacuteblico e que acarretaram os raacutepidos aumentos da esperanccedila de vida
O conceito de desenvolvimento esteve associado exclusivamente ao crescimento
econocircmico ateacute iniacutecio dos anos 1960 devido ao resultado dos processos de industrializaccedilatildeo
nas diferentes naccedilotildees haviam poucos paiacuteses industrializados desenvolvidos e ricos e por
outro lado paiacuteses que permaneceram subdesenvolvidos e pobres cujo processo de
industrializaccedilatildeo era incipiente Segundo VEIGA (2005) a associaccedilatildeo do desenvolvimento ao
crescimento econocircmico facilitaria o encontro de paracircmetros que serviriam para mensurar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
41
desenvolvimento atraveacutes da ligaccedilatildeo com indicadores de crescimento econocircmico como por
exemplo o Produto Interno Bruto (PIB)7 per capita
Entretanto a perspectiva de ter-se o desenvolvimento combinado somente a partir do
crescimento econocircmico implica consideraacute-lo apenas segundo fenocircmenos econocircmicos
secundaacuterios como o aumento do PIB o comportamento das exportaccedilotildees ou a evoluccedilatildeo dos
mercados Apesar de constituir um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento no
crescimento econocircmico as mudanccedilas satildeo quantitativas enquanto no desenvolvimento as
mudanccedilas satildeo qualitativas No desenvolvimento devem ser levadas em consideraccedilatildeo as
disfunccedilotildees qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo
Para VEIGA (2005) ter-se o desenvolvimento de um paiacutes conceituado somente a
partir do seu crescimento econocircmico consiste em um pensamento simplista e reducionista
Isso porque o crescimento econocircmico na deacutecada de 1950 em paiacuteses semi-industrializados
como o Brasil natildeo acarretou necessariamente maior acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo bens
materiais e culturais agraves camadas mais pobres de tais naccedilotildees como acontecera nos paiacuteses
ateacute entatildeo considerados desenvolvidos
Segundo o autor a partir da deacutecada de 1990 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) lanccedilou o Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) que natildeo se
resume agrave simples identificaccedilatildeo do desenvolvimento com o crescimento econocircmico Segundo
os relatoacuterios anuais elaborados pelo PNUD o desenvolvimento significa acima de tudo a
possibilidade de as pessoas viverem o tipo de vida que escolheram e com a provisatildeo de
instrumentos e oportunidades para fazerem suas escolhas
O IDH parte do pressuposto de que para conferir o avanccedilo de uma populaccedilatildeo natildeo se
deve considerar apenas a dimensatildeo econocircmica mas tambeacutem outras caracteriacutesticas sociais
culturais e poliacuteticas que influenciam a qualidade da vida humana Apesar de o IDH ainda
apresentar suas limitaccedilotildees o iacutendice tornou-se uma referecircncia mundial e no Brasil ele vem
sendo utilizado pelo governo federal como base para o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH-M)
7 PIB eacute o indicador que mostra a produccedilatildeo de um paiacutes e que leva em conta trecircs grupos principais Agropecuaacuteria Induacutestria e Serviccedilos (httpwwwibgegovbr acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
42
SEN (2000) concorda que o desenvolvimento natildeo pode ser compreendido somente a
partir do crescimento econocircmico e da renda per capita jaacute que as variaccedilotildees na expectativa
de vida relacionam-se a diversas oportunidades sociais que satildeo centrais como serviccedilos de
sauacutede e facilidades educacionais
Estudos realizados pelo mesmo autor em bases de dados do Banco Mundial8
confirmam tambeacutem a ausecircncia de relaccedilotildees entre o crescimento econocircmico dos paiacuteses e sua
estrutura de distribuiccedilatildeo de renda Independente do crescimento econocircmico dos paiacuteses a
estrutura da distribuiccedilatildeo de renda eacute bastante persistente e haacute pouco o que fazer para
atenuar a concentraccedilatildeo de renda Desde a Segunda Guerra Mundial o crescimento
econocircmico variou muito entre os paiacuteses enquanto a distribuiccedilatildeo de renda pouco alterou
comparativamente Apesar de ainda existirem controveacutersias sobre as possiacuteveis vantagens
ou desvantagens que poderiam ser proporcionadas ao proacuteprio crescimento por uma melhor
distribuiccedilatildeo da riqueza e da renda nega-se o discurso de que o desenvolvimento dos paiacuteses
estaria atrelado somente ao resultado da renda per capita em conjunto com a distribuiccedilatildeo de renda
SEN (2000) defende ainda que o desenvolvimento deve promover a liberdade das
naccedilotildees Para tanto torna-se necessaacuterio que se removam as principais fontes de privaccedilatildeo da
liberdade pobreza carecircncia de oportunidades econocircmicas exoneraccedilatildeo social negligecircncia
dos serviccedilos puacuteblicos e interferecircncia de Estados opressivos O mundo atual apresenta
ausecircncia de liberdades substantivas que se relaciona diretamente com a pobreza
econocircmica Nega liberdades elementares a muitas pessoas liberdade de saciar a fome de
obter uma nutriccedilatildeo satisfatoacuteria ou remeacutedios para doenccedilas curaacuteveis a oportunidade de vestir-se
ou morar de modo apropriado a possibilidade de acesso agrave aacutegua tratada ou saneamento baacutesico
A pobreza econocircmica de uma naccedilatildeo natildeo pode ser vista apenas como baixa renda
fome e privaccedilatildeo fiacutesica Trata-se tambeacutem da privaccedilatildeo cultural e de capacidades baacutesicas A
pobreza surge nas dificuldades que alguns segmentos sociais encontram para participar da
vida social e cultural da comunidade As mercadorias de primeiras necessidades natildeo satildeo
apenas as indispensaacuteveis para o sustento mas satildeo tambeacutem aquelas que estatildeo
relacionadas agraves exigecircncias da cultura local
8 O Banco Mundial eacute uma organizaccedilatildeo internacional constituiacuteda por 185 paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento e que presta apoio financeiro aos governos dos paiacuteses em desenvolvimento (httpwebworldbankorg acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
43
Em seus estudos SEN (2000) afirma que para alcanccedilar uma alta expectativa e
qualidade de vida natildeo necessariamente eacute preciso haver concordacircncia entre a renda per
capita e a liberdade dos indiviacuteduos Segundo o autor cidadatildeos do Gabatildeo Aacutefrica do Sul ou
Brasil satildeo mais ricos em termos de Produto Nacional Bruto9 (PNB) per capita do que os do
Sri Lanka ou China Entretanto neste segundo grupo de paiacuteses as pessoas tecircm
probabilidade de vida mais elevadas do que no primeiro grupo
SEN (2000) constatou ainda que na Gratilde-Bretanha a expectativa de vida aumentou
durante as duas guerras mundiais (quando a alimentaccedilatildeo e serviccedilos de sauacutede eram
limitados) enquanto a renda per capita diminuiu A explicaccedilatildeo reside nas mudanccedilas do grau
de compartilhamento social durante as deacutecadas de guerra e nos aumentos das poliacuteticas e
custeio puacuteblico com serviccedilos sociais nas aacutereas de nutriccedilatildeo e sauacutede As dificuldades surgidas
com as guerras tornaram necessaacuterias medidas puacuteblicas radicais para uma nova distribuiccedilatildeo
de alimentos e serviccedilos de sauacutede Portanto torna-se importante que o processo de
desenvolvimento seja conduzido pelo custeio puacuteblico que opera por meio de um programa
de haacutebil manutenccedilatildeo social dos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e seguridade social
O autor destaca ainda a importacircncia do desenvolvimento para a fixaccedilatildeo de
contrastes intergrupais nos diversos paiacuteses Nos Estados Unidos os afro-americanos satildeo
pobres em relaccedilatildeo aos americanos brancos mas satildeo mais ricos que os habitantes de
paiacuteses perifeacutericos No entanto os afro-americanos tecircm menos chance de chegar agrave idade
madura do que as pessoas que vivem em sociedades como a China ou Sri Lanka com seus
diferentes sistemas de sauacutede educaccedilatildeo e relaccedilotildees comunitaacuterias
SACHS (2002) lembra que os temas do desenvolvimento e direitos humanos
ganharam forccedila na metade do seacuteculo XX com o intuito de exterminar as lembranccedilas da
Grande Depressatildeo10 e da Segunda Guerra Mundial fornecer os fundamentos para o
Sistema das Naccedilotildees Unidas e impulsionar os processos de descolonizaccedilatildeo Para o autor o
crescimento econocircmico eacute tido como uma expansatildeo das forccedilas produtivas da sociedade com
o objetivo de alcanccedilar os direitos plenos de cidadania para toda a populaccedilatildeo
9 Produto Nacional Bruto ou Renda Nacional Bruta eacute a soma das rendas primaacuterias a receber pelos setores institucionais residentes Eacute igual ao PIB menos as rendas primaacuterias a pagar liacutequidas das a receber das unidades natildeo-residentes (resto do mundo) (httpwwwibgegovbr acesso em 23102007) 10 A Grande Depressatildeo foi uma recessatildeo econocircmica que teve iniacutecio em 1929 trazendo altas taxas de desemprego e queda do PIB de diversos paiacuteses e que terminou apenas com a Segunda Guerra Mundial
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
44
O desenvolvimento eacute o processo histoacuterico de apropriaccedilatildeo universal
pelos povos da totalidade dos direitos humanos individuais e coletivos negativos (liberdade contra) e positivos (liberdade a favor) significando trecircs geraccedilotildees de direitos poliacuteticos ciacutevicos e civis e os direitos coletivos ao desenvolvimento ao meio ambiente e agrave cidade (SACHS 200265-66)
O autor afirma que o desenvolvimento pode permitir que cada indiviacuteduo revele suas
capacidades seus talentos e sua imaginaccedilatildeo na busca da auto-realizaccedilatildeo e da felicidade
mediante esforccedilos coletivos e individuais combinaccedilatildeo de trabalho autocircnomo e heterocircnomo
e de tempo gasto em atividades natildeo-econocircmicas Os aspectos qualitativos satildeo
considerados essenciais as maneiras viaacuteveis de produzir meios de vida natildeo podem
depender de esforccedilos excessivos e extenuantes por parte de seus produtores de empregos
mal remunerados exercidos em condiccedilotildees insalubres da prestaccedilatildeo inadequada de serviccedilos
puacuteblicos e de padrotildees subumanos de moradia
O desenvolvimento distinto do crescimento econocircmico cumpre o requisito de reaproximar economia e eacutetica na medida em que os objetivos do desenvolvimento vatildeo bem aleacutem da mera multiplicaccedilatildeo da riqueza material O crescimento eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria mas de forma alguma suficiente (muito menos eacute um objetivo em si mesmo) para se alcanccedilar a meta de uma vida melhor mais feliz e mais completa para todos (SACHS 200413)
Para SACHS (2004) o conceito de desenvolvimento abrange os ideais de igualdade
equumlidade e solidariedade Ao inveacutes de visar o crescimento do PIB o desenvolvimento visa
maximizar a vantagem daqueles que vivem nas piores condiccedilotildees O crescimento natildeo eacute
sinocircnimo de desenvolvimento se ele natildeo amplia o emprego se natildeo reduz a pobreza e se
natildeo atenua as desigualdades
A problemaacutetica ambiental surgida na deacutecada de 1970 fez com que a dimensatildeo
ambiental fosse tambeacutem integrada ao conceito de desenvolvimento com sua consequumlente
revisatildeo e evoluccedilatildeo para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel O desenvolvimento
sustentaacutevel exige explicitaccedilatildeo de criteacuterios de sustentabilidade social e ambiental e de
viabilidade econocircmica SACHS (2004) conclui que somente as soluccedilotildees que promovam o
crescimento econocircmico com impactos positivos em termos sociais e ambientais merecem a
denominaccedilatildeo de desenvolvimento conforme mostra a Tabela 1
Impactos sociais Impactos ambientais1 Desenvolvimento + +2 Selvagem - -3 Socialmente benigno + -4 Ambientalmente benigno - +
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico Fonte SACHS (200436)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
45
Concluiacutemos entatildeo que o conceito de desenvolvimento natildeo abrange somente o
crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo O crescimento econocircmico somente pode se
transformar em desenvolvimento se vier acompanhado de impactos positivos sociais e
ambientais priorizando a efetiva melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo O
desenvolvimento implica em uma maior apropriaccedilatildeo e igualdade dos direitos humanos
individuais e coletivos pelos povos sem os quais natildeo eacute possiacutevel o alcance de uma alta
expectativa e qualidade de vida
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
46
211 BRASIL E DESENVOLVIMENTO
Eles iriam esbravejar em vatildeo todos os dias Cavar e esburacar pazada por pazada
Onde as tochas enxameam agrave noite Havia uma represa quando acordaacutevamos
Sacrifiacutecios humanos sangravam Gritos de horror iriam fender a noite
E onde as chamas se estreitam na direccedilatildeo do mar Um canal iria saudar a luz
(Fausto 11 123-30 apud BERMAN 198781)
De acordo com BERMAN (1987) a segunda parte do teatro alematildeo ldquoFaustordquo de
Goethe configura um drama do desenvolvimento Expressatildeo primaacuteria do espiacuterito moderno
Fausto eacute levado a um impulso de desejo de desenvolvimento cujas energias adquirem vida
proacutepria dinacircmica e caraacuteter explosivo Tal desenvolvimento colocado por Goethe como uma
trageacutedia possui um custo Fausto vende sua alma a Mefistoacutefeles em troca de determinados
bens universalmente desejados Adquire dessa forma capacidade e poder sobre a
natureza mas para tanto perde sua liberdade Ao expulsar antigos moradores de uma aacuterea
para criar uma nova sociedade ele sofre um processo de esvaziamento Fausto lanccedila todo
o seu poder contra a natureza e a sociedade e luta para mudar sua vida e a vida de todos
Encontra meios de agir contra o mundo feudal e patriarcal para construir um ambiente social
radicalmente novo destinado a esvaziar de vez o velho mundo ou a destruiacute-lo A obra daacute-se
frente agraves conturbaccedilotildees materiais e espirituais da Revoluccedilatildeo Industrial
SACHS (2004) compara a histoacuteria de Fausto agrave recente crise desenvolvimentista da
Argentina O autor afirma que a crise argentina eacute resultado da poliacutetica de fundamentalismo
de mercado adotada pelo Consenso de Washington11 e da dependecircncia excessiva de
recursos externos
Para o autor o resultado negativo da aplicaccedilatildeo das prescriccedilotildees neoliberais
defendidas pelo Consenso de Washington torna necessaacuteria a urgente regulaccedilatildeo dos
mercados que representam uma das instituiccedilotildees presentes no processo de
11 O Consenso de Washington faz parte do conjunto de reformas neoliberais que apesar de praacuteticas distintas nos diferentes paiacuteses estaacute centrado doutrinariamente na desregulamentaccedilatildeo dos mercados abertura comercial e financeira e reduccedilatildeo do tamanho e papel do Estado Tornou-se o receituaacuterio imposto por agecircncias internacionais como o Banco Mundial e o FMI para a concessatildeo de creacuteditos (NEGRAtildeO 1998)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
47
desenvolvimento O Consenso de Washington atingiu sua maturidade apoacutes a Segunda
Guerra Mundial e atuou como uma contra-reforma direcionada ao capitalismo reformado
O capitalismo reformado foi assim construiacutedo com o propoacutesito de exorcizar as terriacuteveis lembranccedilas da Grande Depressatildeo com base nos conceitos de pleno emprego Estado de Bem-estar e planejamento Ele proporcionou tambeacutem uma alternativa ao ldquosocialismo realrdquo do bloco sovieacutetico que naquela eacutepoca tinha credibilidade entre segmentos importantes da opiniatildeo puacuteblica devido ao seu sucesso de mobilizar toda a forccedila de trabalho disponiacutevel para o crescimento econocircmico extensivo e raacutepido e para a industrializaccedilatildeo (SACHS 200428)
Os trinta melhores anos do capitalismo (1945-1975) coincidiram com a Guerra Fria e
a corrida armamentista entre o bloco americano e o sovieacutetico Tal situaccedilatildeo criou condiccedilotildees
favoraacuteveis para que os paiacuteses em desenvolvimento como o Brasil tirassem proveito das
melhores experiecircncias dos dois blocos competidores atraveacutes de poliacuteticas de natildeo-
alinhamento mas acabou com os esforccedilos das Naccedilotildees Unidas de construir uma ordem
internacional mais equumlitativa
Durante a Guerra Fria os paiacuteses em desenvolvimento obtiveram rendas estrateacutegicas
provenientes das superpotecircncias que precisavam conquistar apoio e aliados Segundo
(VEIGA 2005) com o fim da bipolaridade muitos desses paiacuteses perderam seu interesse
estrateacutegico em atrair ajuda e investimentos O apoio internacional diminuiu
significativamente e atualmente somente poucas naccedilotildees detentoras e exportadoras de
importantes recursos para a explosatildeo do crescimento urbano como petroacuteleo ou alimentos
conseguem obter rendas estrateacutegicas Os paiacuteses em desenvolvimento ficam submetidos agrave
seleccedilatildeo natural do mercado global e agrave revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem qualquer tratamento
diferenciado A uacutenica fonte de renda estrateacutegica para a maioria deles eacute o perigo que sua
instabilidade representa para seus vizinhos ricos que oferecem recursos financeiros aos
paiacuteses pobres a fim de promover sua estabilidade e evitar a imigraccedilatildeo clandestina
A invasatildeo da Tchecolosvaacutequia em 1968 fortaleceu o bloco capitalista e a queda do
Muro de Berlim em 1989 marcou o fim do socialismo real como paradigma de
desenvolvimento O Consenso de Washington consolidou o receituaacuterio de medidas
neoliberais que defende a absoluta liberdade dos mercados e que ganhou forccedila com as
eleiccedilotildees de Margareth Thatcher na Inglaterra e de Ronald Reagan nos Estados Unidos
Tais medidas passaram a ter sua implementaccedilatildeo recomendada pelo Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) aos paiacuteses em desenvolvimento como uma foacutermula infaliacutevel de acelerar
seu desenvolvimento econocircmico O ideal neoliberal predominou ateacute final dos anos 1990
poreacutem seu paradigma natildeo cumpriu as suas promessas (SACHS 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
48
Para SACHS (2004) a crise do desenvolvimento na Argentina pode ser considerada
como o fim do Consenso de Washington como programa pragmaacutetico O autor ainda destaca
que os uacutenicos paiacuteses em desenvolvimento que se deram razoavelmente bem na deacutecada de
1990 foram exatamente aqueles que se recusaram a aplicar na iacutentegra as prescriccedilotildees do
Consenso de Washington
FURTADO (1974) afirma que as economias perifeacutericas e semiperifeacutericas nunca seratildeo
tatildeo desenvolvidas quanto as economias centrais do sistema capitalista O conceito de
desenvolvimento econocircmico funciona como um legitimador das relaccedilotildees de dependecircncia do
sistema capitalista ao inveacutes de promover a criatividade cultural e morfogecircnese social
A ideacuteia de desenvolvimento econocircmico tem grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e levaacute-los a aceitar enormes sacrifiacutecios para legitimar a destruiccedilatildeo de formas de cultura arcaicas para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio fiacutesico para justificar formas de dependecircncia que reforccedilam o caraacuteter predatoacuterio do sistema produtivo (FURTADO 1974 75-76)
As formas assimeacutetricas e desiguais da globalizaccedilatildeo atual prejudicam os interesses
dos paiacuteses em desenvolvimento favorecendo alguns incluiacutedos e deixando de fora muitos
excluiacutedos Os incluiacutedos vivem no capitalismo reformado enquanto os excluiacutedos estatildeo
condenados a formas mais duras e ateacute selvagens de capitalismo SACHS (2004) avalia o
crescimento econocircmico dos paiacuteses em desenvolvimento como um processo concentrador e
excludente que tende a concentrar riqueza e renda nas matildeos de poucos devido agrave
substituiccedilatildeo do trabalho pelo capital consequumlentemente formador de uma heterogeneidade
estrutural econocircmica e social Por este motivo existe a necessidade de equilibrar as metas
de modernizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo por um lado e de promover o pleno emprego ou auto-
emprego por outro com vistas agrave produtividade do trabalho que constitui na fonte de
progresso econocircmico
SEN (2000) defende tambeacutem que os paiacuteses em desenvolvimento devem dar atenccedilatildeo
especial agrave promoccedilatildeo do trabalho pois o direito ao trabalho decente abre caminho para o
exerciacutecio de vaacuterios outros direitos O desenvolvimento como jaacute vimos pode ser traduzido
atraveacutes do exerciacutecio efetivo de todos os direitos humanos poliacuteticos civis e ciacutevicos
econocircmicos sociais e culturais Na opiniatildeo de SACHS (2004) a visatildeo do desenvolvimento
entendido como um processo de apropriaccedilatildeo efetiva da totalidade de direitos humanos
resulta em uma maioria pobre excluiacuteda de tal processo Sob essas circunstacircncias a inclusatildeo
justa passa a ser o requisito central para a temaacutetica do desenvolvimento denominado pelo
autor a partir desse aspecto como desenvolvimento includente
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
49
O desenvolvimento includente opotildee-se ao crescimento excludente que se
caracteriza pelo mercado de consumo e concentraccedilatildeo de renda e riqueza O crescimento
excludente marca mercados de trabalho segmentados com trabalhadores voltados a
atividades informais e agricultura de subsistecircncia precaacuteria aleacutem da ausecircncia quase total de
participaccedilatildeo da vida poliacutetica
O desenvolvimento includente eacute fundamentado no trabalho decente para todos
Requer a garantia de todos os direitos atraveacutes da democracia da moradia decente para
todos do acesso de todos os cidadatildeos aos programas de assistecircncia e aos serviccedilos
puacuteblicos Sauacutede e educaccedilatildeo satildeo aspectos que constituem condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo
suficiente para o acesso ao trabalho decente
A nossa preocupaccedilatildeo deve dirigir-se imediatamente agraves imensas desigualdades que existem hoje no acesso agraves oportunidades de trabalho na remuneraccedilatildeo do trabalho na proteccedilatildeo e participaccedilatildeo sociais e na geraccedilatildeo de riqueza e renda Na ausecircncia de condiccedilotildees e regras equumlitativas em todos estes quesitos o fim do trabalho (heterocircnomo) natildeo tem chance de se converter numa meta realista Tanto mais que as pessoas ainda tecircm que aprender a apreciar como uma verdadeira medida de sua liberdade cultural o tempo liberado para atividades autocircnomas e dar preferecircncia a elas em vez de alocar o seu tempo liberado aos prazeres do consumismo (SACHS 200444)
Para SACHS (2004) torna-se necessaacuterio reconciliar os objetivos do progresso
econocircmico baseado no aumento da produtividade do trabalho com o imperativo de
proporcionar oportunidade de trabalho decente para todos O autor defende que eacute preciso
uma estrateacutegia que harmonize dois objetivos aparentemente contraditoacuterios o progresso
teacutecnico veloz e o pleno emprego
Por um lado o progresso teacutecnico raacutepido eacute uma exigecircncia nas induacutestrias de bens
comercializaacuteveis que competem nos mercados mundiais ainda que isso signifique reduccedilatildeo
do nuacutemero de trabalhadores Por outro lado as mesmas exigecircncias natildeo se aplicam agrave
produccedilatildeo de bens e serviccedilos natildeo-comercializaacuteveis que na praacutetica natildeo enfrentam
competiccedilatildeo externa nos mercados internos Nove em cada dez pessoas estatildeo empregadas
dentro desta uacuteltima categoria de natildeo-comercializaacuteveis Dessa forma poderiacuteamos
compensar as tendecircncias negativas do emprego provocadas pelo progresso teacutecnico no
setor de comercializaacuteveis por meio da ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo dos bens e serviccedilos natildeo-
comercializaacuteveis no perfil da produccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
50
Para assegurar simultaneamente a sustentabilidade social e o crescimento
econocircmico SACHS (2004) afirma que deve ser dada ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo primaacuteria de
renda ao inveacutes de se persistir com o padratildeo excludente de crescimento Trata-se de uma
estrateacutegia endoacutegena de desenvolvimento a partir das proacuteprias forccedilas dos paiacuteses e baseada
em iniciativas nacionais Para tanto o autor aborda algumas poliacuteticas necessaacuterias
Explorar oportunidades de crescimento induzido pelo emprego e com conteuacutedo
zero ou baixo de importaccedilotildees principalmente obras puacuteblicas construccedilatildeo civil em
especial casas populares com apoio governamental serviccedilos sociais empregos
ligados ao aumento da produtividade dos recursos e manutenccedilatildeo dos
equipamentos edifiacutecios e infra-estrutura existente
Elaborar uma reforma fiscal que crie um imposto de valor adicionado sobre o
consumo com isenccedilatildeo para os bens essenciais mas com forte incidecircncia sobre
os artigos de luxo
Desenhar poliacuteticas para consolidar e modernizar a agricultura familiar como
estiacutemulo ao desenvolvimento rural
Promover accedilotildees para melhorias das condiccedilotildees dos que trabalham por conta
proacutepria e das micro e pequenas empresas em busca do fim da informalidade
Estabelecer conexotildees beneacuteficas entre grandes e pequenas empresas
Fortalecer as empresas industriais de grande porte e transformaacute-las em atores
competitivos em escala global
SACHS (2004) completa com a afirmaccedilatildeo de que eacute necessaacuteria uma participaccedilatildeo
maior nos padrotildees de consumo de serviccedilos e alimentos produzidos localmente (seguranccedila
alimentar local) e maior prioridade para investimentos em infra-estrutura e construccedilatildeo civil
(especialmente moradia social)
Estrateacutegias uniformes de desenvolvimento natildeo satildeo possiacuteveis de serem
estabelecidas devido agrave diversidade de configuraccedilotildees socioeconocircmicas e culturais e dos
recursos disponiacuteveis em micro e mesorregiotildees Para serem eficientes as estrateacutegias devem
responder aos problemas e necessidades de cada comunidade e para tanto precisam
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
51
garantir a participaccedilatildeo de todos os atores envolvidos (trabalhadores empregadores Estado
e sociedade civil organizada) no processo de desenvolvimento
Por esse motivo deve-se elaborar o planejamento territorial a niacuteveis municipal micro
e mesorregional a fim de agrupar vaacuterios distritos unidos pela identidade cultural e interesses
comuns Para o planejamento participativo local devem-se criar espaccedilos para o exerciacutecio da
democracia direta atraveacutes de conselhos consultivos e deliberativos onde a comunidade
pode assumir um papel ativo no processo de desenvolvimento
O planejamento eacute um processo interativo que inclui procedimentos de baixo para cima e de cima para baixo dentro de um marco de um processo nacional de longo prazo em visatildeo compartilhada pela maioria dos cidadatildeos da naccedilatildeo sobre valores a sua convergecircncia em objetivos sociais e a inserccedilatildeo do seu Estado-Naccedilatildeo num mundo globalizado (SACHS 200462)
SACHS (2004) defende ainda que no processo de planejamento torna-se necessaacuterio
que o Estado cumpra sua funccedilotildees principais 1- articular os espaccedilos de desenvolvimento do
niacutevel local (que deve ser ampliado e fortalecido) ao transnacional 2- promover parcerias
entre todos os atores interessados em busca do desenvolvimento sustentaacutevel 3-
harmonizar metas sociais ambientais e econocircmicas por meio do planejamento estrateacutegico
e do gerenciamento cotidiano da economia e sociedade buscando equiliacutebrio entre as
diferentes sustentabilidades (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial econocircmica e
poliacutetica)
22 A INSERCcedilAtildeO AMBIENTAL NO DESENVOLVIMENTO
Os debates sobre os riscos da degradaccedilatildeo do meio ambiente iniciaram nos anos
1960 e ganharam intensidade no iniacutecio dos anos 1970 No encontro Founex em Estocolmo
1971 discutiu-se pela primeira vez as relaccedilotildees entre o desenvolvimento e o meio ambiente
Tambeacutem em Estocolmo organizou-se a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Ambiente
Humano em 1972 que constitui um marco para a conscientizaccedilatildeo ambiental mundial
Segundo VEIGA (2005) previamente agrave realizaccedilatildeo desses dois encontros em Estocolmo as
questotildees que envolviam a relaccedilatildeo entre desenvolvimento e meio ambiente originaram
defensores de duas correntes opostas
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
52
1 De um lado encontravam-se aqueles que viam as preocupaccedilotildees com o meio
ambiente como um atraso e como inibiccedilatildeo dos esforccedilos dos paiacuteses ainda em
desenvolvimento rumo agrave industrializaccedilatildeo e ao alcance dos paiacuteses desenvolvidos Para
estes deveria ser dada prioridade agrave aceleraccedilatildeo do crescimento sendo que as
consequumlecircncias negativas produzidas por ele seriam eliminadas posteriormente atraveacutes do
progresso tecnoloacutegico quando tais paiacuteses em desenvolvimento atingissem o niacutevel de renda
per capita dos paiacuteses desenvolvidos Para os defensores desta corrente natildeo existiria dilema
entre conservaccedilatildeo ambiental e crescimento econocircmico depois de determinado patamar de
riqueza o crescimento passaria a melhorar a qualidade ambiental
O processo de desenvolvimento leva a mudanccedilas estruturais naquilo que as economias produzem E muitas sociedades jaacute demonstraram notaacutevel talento em introduzir tecnologias que conservam os recursos que lhe satildeo escassos Em princiacutepio os fatores que podem levar a mudanccedilas na composiccedilatildeo e nas teacutecnicas de produccedilatildeo podem ser suficientemente fortes para que os efeitos ambientalmente adversos do aumento da atividade econocircmica sejam evitados ou superados E se houver existecircncia empiacuterica que confirme essa suposta tendecircncia seraacute permitido concluir que a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica resultaraacute do proacuteprio crescimento (VEIGA 2005114)
Grossman e Krueger defensores desta corrente desenvolveram hipoacuteteses de que as
fases de desgraccedila e recuperaccedilatildeo ambiental estariam separadas por determinado ponto
situado da renda per capita Entretanto segundo VEIGA (2005) esta hipoacutetese
provavelmente seraacute descartada porque depois de analisar muitos paiacuteses em crescimento
se concluiraacute que existem vaacuterios tipos de crescimento e de degradaccedilatildeo ambiental
2 De outro lado encontravam-se os defensores da estagnaccedilatildeo imediata do
crescimento demograacutefico e econocircmico supostos causadores da exaustatildeo de recursos e
poluiccedilatildeo ou pelo menos do crescimento do consumo De acordo com VEIGA (2005) esta
corrente alerta sobre o inexoraacutevel aumento da entropia que consiste na transformaccedilatildeo das
formas uacuteteis de energia em formas que a humanidade natildeo consegue utilizar Ou seja para
poder manter seu proacuteprio equiliacutebrio a humanidade tira da natureza os elementos de baixa
entropia que permitem compensar a alta entropia que ela causa
Dentre as teorias desta corrente a principal eacute a de Georgescu-Roegen que defendia
que a economia certamente seria absorvida pela ecologia Por esse motivo no curto prazo
o crescimento deveria ser o mais compatibilizado possiacutevel com a conservaccedilatildeo da natureza
(o que natildeo significaria um ldquocrescimento zerordquo) Para Georgescu-Rogen o crescimento
representa sempre o encurtamento da expectativa de vida da espeacutecie humana
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
53
Para os defensores deste pensamento a degradaccedilatildeo ambiental seria consequumlecircncia
da explosatildeo populacional Na opiniatildeo de SACHS (2002) esta teoria estaacute equivocada jaacute que
tal pensamento acaba por considerar que o nuacutemero de natildeo-consumidores em sua maioria
pobre importa mais do que o consumo excessivo da minoria
Durante o encontro em Estocolmo as duas correntes acima foram abandonadas
para dar lugar a uma alternativa que equilibrasse esses extremos denominada paradigma
do ldquocaminho do meiordquo O crescimento econocircmico ainda se fazia necessaacuterio mas deveria ser
socialmente receptivo e implementado por meacutetodos favoraacuteveis ao meio ambiente ao inveacutes
de favorecer a incorporaccedilatildeo predatoacuteria do capital da natureza ao PIB A abordagem
fundamentada na harmonizaccedilatildeo de objetivos sociais ambientais e econocircmicos foi
denominada ecodesenvolvimento e posteriormente desenvolvimento sustentaacutevel
De modo geral o objetivo deveria ser o do estabelecimento de um aproveitamento racional e ecologicamente sustentaacutevel da natureza em benefiacutecio das populaccedilotildees locais levando-as incorporar a preocupaccedilatildeo com a conservaccedilatildeo da biodiversidade aos seus proacuteprios interesses como um componente de estrateacutegia de desenvolvimento Daiacute a necessidade de se adotar padrotildees negociados e contratuais de gestatildeo da biodiversidade (SACHS 200253)
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel segundo SACHS (2004) foi
aperfeiccediloado entre o periacuteodo que separa a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio
Ambiente realizada em Estocolmo em 1972 e a Cuacutepula sobre Desenvolvimento
Sustentaacutevel de Joanesburgo em 2002 A sustentabilidade social corresponde a um dos
aspectos principais desse conceito em que o crescimento econocircmico natildeo traz
desenvolvimento a menos que gere emprego e contribua para a reduccedilatildeo da pobreza e das
desigualdades Consiste em analisar o desenvolvimento natildeo somente a partir do
crescimento do PIB mas tambeacutem em termos de geraccedilatildeo de empregos
Ao mesmo tempo em que ocorreram os encontros em Estocolmo deu-se iniacutecio ao
estudo ldquoLimites do Crescimentordquo do Clube de Roma Segundo BRUumlSEKE (1998) as teses e
conclusotildees das pesquisas lideradas por Dennis Meadows alertam para as atuais
tendecircncias de crescimento da populaccedilatildeo mundial ndash industrializaccedilatildeo poluiccedilatildeo produccedilatildeo de
alimentos e diminuiccedilatildeo de recursos naturais
De acordo com esses estudos se tais tendecircncias continuarem imutaacuteveis os limites
de crescimento do planeta seratildeo alcanccedilados dentro dos proacuteximos cem anos Seria possiacutevel
modificar essas tendecircncias de crescimento e formar uma condiccedilatildeo de estabilidade ecoloacutegica
e econocircmica que se possa manter ateacute um futuro remoto O estado de equiliacutebrio global deveria
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
54
ser planejado de tal modo que as necessidades baacutesicas de cada pessoa sejam satisfeitas e
que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual
Em 1974 foi elaborado um novo documento que tambeacutem contribuiu para a discussatildeo
sobre o meio ambiente e desenvolvimento denominado Declaraccedilatildeo de Cocoyoc Segundo
BRUumlSEKE (1998) o documento foi resultado de uma reuniatildeo da Conferecircncia das Naccedilotildees
Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento (UNCTAD) e do Programa de Meio Ambiente das
Naccedilotildees Unidas (UNEP) e que destacava as seguintes hipoacuteteses a) a explosatildeo
populacional tem como uma das suas causas a falta de recursos de qualquer tipo a pobreza
gera o desequiliacutebrio demograacutefico b) a destruiccedilatildeo ambiental na Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina
eacute tambeacutem o resultado da pobreza que leva a populaccedilatildeo carente agrave superutilizaccedilatildeo do solo e
dos recursos vegetais c) os paiacuteses industrializados contribuem para os problemas do
subdesenvolvimento por causa do seu niacutevel exagerado de consumo Os paiacuteses
industrializados teriam que baixar seu consumo e sua participaccedilatildeo desproporcional na
poluiccedilatildeo da biosfera
No seguimento deste trabalho analisaremos com maior profundidade os dois
conceitos principais que alinham o desenvolvimento econocircmico com o meio ambiente e os
aspectos sociais o ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel
221 ECODESENVOLVIMENTO
O termo ecodesenvolvimento de acordo com MONTIBELLER (2004) foi introduzido
por Maurice Strong secretaacuterio-geral da conferecircncia de Estocolmo em 1972 e bastante
difundido a partir de 1974 Significa o desenvolvimento de um paiacutes ou regiatildeo baseado em
suas proacuteprias potencialidades sem criar dependecircncia externa Tem por finalidade responder
agrave problemaacutetica da harmonizaccedilatildeo das necessidades sociais e econocircmicas do
desenvolvimento e promover a qualidade de vida com o cuidado de preservar o meio
ambiente para esta e para as futuras geraccedilotildees Pressupotildee uma solidariedade sincrocircnica
com os povos atuais na medida em que desloca o enfoque da loacutegica de produccedilatildeo para a
oacutetica das necessidades fundamentais da populaccedilatildeo e uma solidariedade diacrocircnica
expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva ecoloacutegica para garantir
possibilidade de qualidade de vida agraves proacuteximas geraccedilotildees
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
55
De acordo com SACHS (2002) o ecodesenvolvimento busca um caminho apropriado
para a conservaccedilatildeo da biodiversidade ao assumir a harmonizaccedilatildeo dos objetivos sociais e
ecoloacutegicos A biodiversidade necessita ser protegida para garantir o direito de as futuras
geraccedilotildees atenderem agraves suas proacuteprias necessidades Para tanto torna-se imprescindiacutevel o
estabelecimento de uma rede de aacutereas protegidas como parte imanente da gestatildeo territorial
e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos renovaacuteveis como uma forma de relacionamento
simbioacutetico entre o homem e a natureza Eacute necessaacuterio aprendermos a fazer um
aproveitamento sensato da natureza para construirmos uma boa sociedade atraveacutes da
perenidade dos recursos transformar o meio ambiente em recursos sem destruir o capital
da natureza
O ecodesenvolvimento pode ser definido como uma estrateacutegia para a proteccedilatildeo de
aacutereas ecologicamente valiosas (aacutereas protegidas) em face de pressotildees inaceitaacuteveis
resultantes das necessidades e atividades dos povos que vivem nelas ou no seu entorno O
ecodesenvolvimento requer o planejamento local e participativo das autoridades locais
comunidades e associaccedilotildees de cidadatildeos envolvidas na proteccedilatildeo da aacuterea
O ecodesenvolvimento pode ser mais facilmente alcanccedilado com o aproveitamento dos sistemas tradicionais de gestatildeo dos recursos como tambeacutem com a organizaccedilatildeo de um processo participativo de identificaccedilatildeo das necessidades dos recursos potenciais e das maneiras de aproveitamento da biodiversidade como caminho para a melhoria do niacutevel de vida dos povos (SACHS 200275)
Esse processo exige negociaccedilatildeo entre os atores envolvidos (populaccedilatildeo local e
autoridades) subsidiado por cientistas associaccedilotildees civis agentes econocircmicos puacuteblicos e
privados Tais negociaccedilotildees satildeo conflituosas porque se definem atraveacutes de interesses
antagocircnicos
SACHS (2002) afirma que o ecodesenvolvimento pode ser instituiacutedo a partir dos
seguintes esforccedilos
Identificaccedilatildeo criaccedilatildeo e desenvolvimento de alternativas sustentaacuteveis de recursos
de biomassa e renda
Envolvimento da populaccedilatildeo local das aacutereas protegidas nos planos de conservaccedilatildeo
e na gestatildeo da aacuterea
Cultivo da conscientizaccedilatildeo da comunidade local quanto ao valor e agrave necessidade
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
56
de proteccedilatildeo da aacuterea assim como aos padrotildees de sustentabilidade de um
crescimento local apropriado
Institucionalizaccedilatildeo do sistema legislaccedilatildeo e normas
Com o intuito de proteger a biodiversidade o Governo Federal Brasileiro sancionou
uma importante lei em julho do ano 2000 a lei ndeg 9985 que instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) estabelecendo criteacuterios e normas para a criaccedilatildeo
implantaccedilatildeo e gestatildeo das unidades de conservaccedilatildeo federais estaduais e municipais O
SNUC permite trabalhos de ecodesenvolvimento nas ldquozonas tampatildeordquo e nas zonas de
transiccedilatildeo das camadas das reservas da biosfera onde satildeo admitidas atividades humanas
controladas O sistema tem por objetivos (LEI 99852000)
Contribuir para a manutenccedilatildeo da diversidade bioloacutegica e dos recursos geneacuteticos
no territoacuterio nacional e nas aacuteguas jurisdicionais
Proteger as espeacutecies ameaccediladas de extinccedilatildeo no acircmbito regional e nacional
Contribuir para a preservaccedilatildeo e a restauraccedilatildeo da diversidade de ecossistemas
naturais
Promover o desenvolvimento sustentaacutevel a partir dos recursos naturais
Promover a utilizaccedilatildeo dos princiacutepios e praacuteticas de conservaccedilatildeo da natureza no
processo de desenvolvimento
Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notaacutevel beleza cecircnica
Proteger as caracteriacutesticas relevantes de natureza geoloacutegica geomorfoloacutegica
arqueoloacutegica paleontoloacutegica e cultural
Proteger e recuperar recursos hiacutedricos
Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
57
Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa cientiacutefica estudos e
monitoramento ambiental
Valorizar econocircmica e socialmente a diversidade bioloacutegica
Favorecer condiccedilotildees e promover a educaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo ambiental a
recreaccedilatildeo em contato com a natureza e o turismo ecoloacutegico
Proteger os recursos naturais necessaacuterios agrave subsistecircncia de populaccedilotildees
tradicionais respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente
O SNUC divide-se em dois grupos de unidades de conservaccedilatildeo as unidades de
proteccedilatildeo integral cujo objetivo baacutesico eacute preservar a natureza sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais e as unidades de uso sustentaacutevel que tem por objetivo
baacutesico compatibilizar a conservaccedilatildeo da natureza com o uso sustentaacutevel de uma parcela dos
seus recursos naturais Fazem parte do grupo de unidades de proteccedilatildeo integral as Estaccedilotildees
Ecoloacutegicas Reservas Bioloacutegicas Parques Nacionais Parques Estaduais Monumentos
Naturais e Refuacutegios de Vida Silvestre No grupo de unidades de uso sustentaacutevel incluem-se
as Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Estadual Aacutereas de
Relevante Interesse Ecoloacutegico Florestas Nacionais Florestas Estaduais Reservas
Extrativistas Reservas de Fauna Reservas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e Reservas
Particulares do Patrimocircnio Natural
A Tabela 2 mostra as unidades de conservaccedilatildeo delimitadas para Florianoacutepolis e
suas respectivas caracteriacutesticas a niacuteveis federal estadual e municipal
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
58
Tipo de unidade
Nordm de Decreto Federal de criaccedilatildeo
Abrangecircncia Aacuterea
Abrangecircncia AacutereaNordm de Decreto
Estadual de criaccedilatildeoTipo de unidade
Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
Dec nordm 9914290 Ilhas do Arvoredo Ilhas das Galeacutes e Deserta o Calhau de Satildeo Pedro e a aacuterea marinha que os circunda 17800 ha
Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental de Anhatomirim
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica CarijoacutesDec nordm 9465687 Manguezal de Ratones e do Saco Grande com aacuterea
de 712 ha
Dec nordm 52892 Ilha de Anhatomirim compreende uma aacuterea de 3000 ha Localizado na baiacutea norte
Reserva Extrativista do Pirajubaeacute
Dec nordm 53392 Manguezal do Rio Tavares e o baixio a sua frente 1444 ha
Parque Florestal do Rio Vermelho
Dec nordm 200662 e Dec nordm 99474
Rio Vermelho antiga Estaccedilatildeo Florestal do Rio Vermelho 1110 ha
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro
Dec nordm 126075 Aacutereas da Mata Atlacircntica dunas restingas manguezais e capoeirotildees Dos 90000 ha 3465 localiza-se em Florianoacutepolis
Tipo de unidadeNordm de Decreto Lei
Municipal de CriaccedilatildeoAbrangecircncia Aacuterea
Praia da Daniela Protege ecossistemas de manguezal e restingas 1564 ha
Lei 509197Ponta da Daniela
Parque municipal do Maciccedilo da Costeira
Lei 460595 e Dec nordm 15495
Aacutereas com relevo montanhoso e protege a vegetaccedilatildeo da Floresta Atlacircntica fauna e mananciais hiacutedricos 14563 ha
Dunas da Barra da Lagoa Lei 377192 e Lei 219385
Plano de reestruturaccedilatildeo urbano da Barra da Lagoa e protege as dunas 66 ha
Parque Municipal da Lagoinha do Leste
Lei 370192 e Dec nordm 15387
Aacuterea maior que a Bacia Hidrograacutefica da Lagoinha Aacuterea 453 ha
Parque Municipal da Galheta
Lei 345590 Praia da Galheta 1493 ha
Lagoa da Chica e Lagoinha Pequena
Dec n ordm 18588 e Lei 219385
Campeche e Rio Tavares 375 ha
Regiatildeo da Costa da Lagoa da Conceiccedilatildeo
Dec nordm 24786 Encosta da margem oeste da Lagoa da Conceiccedilatildeo desde a Ponta das Araccedilaacutes Ponta do Saquinho e o caminho da Costa da Lagoa 9675 ha
Aacuterea de preservaccedilatildeo permanente e de uso limitado
Dec nordm 219385 Uso e ocupaccedilatildeo do solo dos balneaacuterios do municiacutepio instituindo APPs e APLs Totaliza 100742 ha
Restingas de Ponta das Canas e Ponta Sambaqui
Dec nordm 21685 Aacuterea 228 ha
Dunas de Ingleses Santinho Campeche Armaccedilatildeo e Pacircntano do Sul
Dec nordm 11285 Tomba o sistema fiacutesico natural das respectivas localidades Aacuterea 95330 ha
Parque Municipal da Lagoa do Peri
Lei nordm 182881 e Dec nordm 9182
Lagoa do Peri 2030 ha
Lagoa da Conceiccedilatildeo Dec nordm 126175 e 21379
Dunas e aacutereas limites adjacentes 563 ha
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis Fonte Floram 2002
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
59
A lei do SNUC tece ainda comentaacuterios gerais sobre as aacutereas pertencentes agrave Reserva
da Biosfera que satildeo aacutereas especiais reconhecidas pelo programa intergovernamental ldquoO
Homem e a Biosfera - MaBrdquo estabelecido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) e do qual o Brasil faz parte A Reserva da
Biosfera trata-se de um modelo adotado internacionalmente de gestatildeo integrada
participativa e sustentaacutevel dos recursos naturais Seus objetivos baacutesicos consistem a
preservaccedilatildeo da diversidade bioloacutegica o desenvolvimento de atividades de pesquisa o
monitoramento ambiental a educaccedilatildeo ambiental o desenvolvimento sustentaacutevel e a
melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees (LEI 99852000)
A Reserva da Biosfera eacute constituiacuteda por 1 - uma ou vaacuterias aacutereas-nuacutecleo destinadas
agrave proteccedilatildeo integral da natureza 2 - uma ou vaacuterias zonas de amortecimento onde soacute satildeo
admitidas atividades que natildeo resultem em dano para as aacutereas-nuacutecleo e 3 - uma ou vaacuterias
zonas de transiccedilatildeo sem limites riacutegidos onde o processo de ocupaccedilatildeo e o manejo dos
recursos naturais satildeo planejados e conduzidos de modo participativo e em bases
sustentaacuteveis
Das 440 Reservas da Biosfera existentes no mundo o Brasil possui seis delas
delimitadas a partir dos seis maiores biomas brasileiros Mata Atlacircntica (RBMA) Cerrado
(RBC) Pantanal (RBP) Caatinga (RBCA) Amazocircnia Central (RBAC) e o Cinturatildeo Verde da
Cidade de Satildeo Paulo (RBCVSP) A Figura 4 mostra a delimitaccedilatildeo dessas reservas no paiacutes
A primeira das Reservas da Biosfera a ser instituiacuteda no Brasil foi a Reserva da Biosfera da
Mata Atlacircntica que tem atualmente 350000 km2 e forma um corredor envolvendo 15
estados brasileiros inclusive Santa Catarina e incorporando centenas de aacutereas - nuacutecleo
(Unidades de Conservaccedilatildeo)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
60
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil Fonte Programa MaB ndash O Homem e a Biosfera Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
O terreno onde seraacute implantado o empreendimento Sapiens Parque estaacute incluiacutedo
dentro de quatro planos dirigidos agrave proteccedilatildeo de aacutereas naturais o Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Desenvolvimento Sustentaacutevel do Entorno da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Manejo da Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
e o Parque Florestal do Rio Vermelho Os planos colocam as condiccedilotildees e diretrizes que
devem ser seguidas pelos seus vizinhos de modo a garantir a proteccedilatildeo dos recursos
naturais em seu interior De maneira geral os planos mencionados incentivam a pesquisa a
preservaccedilatildeo e o turismo responsaacutevel e sustentaacutevel Atividades ambientalmente corretas
como a agricultura orgacircnica o artesanato e a pesca artesanal tambeacutem satildeo incentivadas no
entorno das unidades de conservaccedilatildeo
Aleacutem disso Florianoacutepolis tambeacutem estaacute incluiacuteda no Plano Estadual de Gerenciamento
Costeiro uma proposta de lei disciplinadora do uso e ocupaccedilatildeo do solo do litoral catarinense
que objetiva potencializar seu crescimento mantendo a qualidade de vida e sem deteriorar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
61
meio ambiente A lei diz respeito ao planejamento e manejo dos recursos naturais levando
em consideraccedilatildeo os aspectos de natureza histoacuterica cultural e tradicional
222 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel eacute recente Surgiu na deacutecada de 1970 e
apareceu nos relatoacuterios da Uniatildeo Internacional para Conservaccedilatildeo da Natureza na deacutecada
de 1980 O conceito foi popularizado em 1987 na Assembleacuteia Geral da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid entatildeo presidentes da
Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) caracterizaram o
desenvolvimento sustentaacutevel como um ldquoconceito poliacuteticordquo e um ldquoconceito amplo para
progresso econocircmico e socialrdquo (VEIGA 2005113)
Esse encontro gerou um documento conhecido como Relatoacuterio Brundtland (Nosso
Futuro Comum) que objetivava buscar alianccedilas para a viabilizaccedilatildeo da ECO-92 conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas ocorrida no Rio de Janeiro O relatoacuterio afirma que o desenvolvimento
sustentaacutevel eacute aquele que atende agraves necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacuteprias necessidades De acordo
com o relatoacuterio a sustentabilidade compreende uma mudanccedila nas relaccedilotildees econocircmicas
poliacutetico-sociais culturais e ecoloacutegicas ldquoDesse modo a natureza passa a ser vista como parte
integrante de um sistema que originalmente deveria ser ciacuteclico excluindo o comportamento
predador do modelo desenvolvimentista predominanterdquo (OLIVEIRA 2004) Natildeo se reduz a
simples crescimento quantitativo pelo contraacuterio faz intervir a qualidade das relaccedilotildees
humanas com o ambiente natural e a necessidade de conciliar a evoluccedilatildeo dos valores
socioculturais
O Relatoacuterio Brundtland determina as seguintes medidas a serem seguidas pelos
paiacuteses em niacutevel nacional limitaccedilatildeo do crescimento populacional garantia de recursos
baacutesicos (aacutegua alimentos energia) em longo prazo preservaccedilatildeo da biodiversidade e dos
ecossistemas diminuiccedilatildeo do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com
uso de fontes energeacuteticas renovaacuteveis aumento da produccedilatildeo industrial nos paiacuteses natildeo-
industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas controle da
urbanizaccedilatildeo desordenada e integraccedilatildeo entre campo e cidades menores atendimento das
necessidades baacutesicas (sauacutede escola moradia)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
62
Em acircmbito internacional o relatoacuterio propotildee as seguintes metas adoccedilatildeo da estrateacutegia
de desenvolvimento sustentaacutevel pelas organizaccedilotildees de desenvolvimento (oacutergatildeos e
instituiccedilotildees internacionais de financiamento) proteccedilatildeo dos ecossistemas supra-nacionais
como a Antaacutertica os oceanos e o espaccedilo pela comunidade internacional banimento das
guerras e implantaccedilatildeo de um programa de desenvolvimento sustentaacutevel pela Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU)
O desenvolvimento sustentaacutevel requer mudanccedilas nos padrotildees de consumo dos
hemisfeacuterios Norte e Sul a comeccedilar no que diz respeito agrave economia de recursos A
separaccedilatildeo social resultante da reproduccedilatildeo dos padrotildees de consumo do Norte no Sul em
benefiacutecio de uma minoria pede uma mudanccedila de paradigma no processo de
desenvolvimento a favor do meio ambiente e da elevaccedilatildeo do padratildeo de pobreza
Entretanto segundo SACHS (2002) para isso satildeo necessaacuterias mudanccedilas no Norte em
relaccedilatildeo aos efeitos demonstrativos dos seus padrotildees de consumo sobre a populaccedilatildeo do
Sul ampliados pelo processo de globalizaccedilatildeo
O conceito do desenvolvimento sustentaacutevel sinaliza uma alternativa agraves teorias e
modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia do desenvolvimento
que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica
Segundo MONTIBELLER (2004) a diferenccedila fundamental entre o
ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel consiste no fato de que o
ecodesenvolvimento volta-se ao atendimento das necessidades baacutesicas da populaccedilatildeo
atraveacutes da utilizaccedilatildeo de tecnologias apropriadas a cada ambiente e partindo do mais simples
ao mais complexo enquanto que o desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza o papel de uma
poliacutetica ambiental a responsabilidade com os problemas globais e com as futuras geraccedilotildees
Os primeiros indicadores de sustentabilidade segundo VEIGA (2005) foram
desenvolvidos pela Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel (CSD) das Naccedilotildees
Unidas Em 1996 a CSD publicou o documento ldquoIndicadores de desarollo sostenible marco
y metodologiacuteasrdquo que continha um conjunto de 143 indicadores reduzidos quatro anos mais
tarde para 57 indicadores Este documento serviu como base para a formulaccedilatildeo dos
primeiros indicadores brasileiros de desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes do documento
ldquoIndicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo (IDS) apresentado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutesticas (IBGE) em 2002 e 2004
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
63
O documento elaborado pelo IBGE consistiu a primeira tentativa brasileira para
definiccedilatildeo de estatiacutesticas que coloquem a dimensatildeo ambiental ao lado da social econocircmica
e institucional No campo da dimensatildeo ambiental foi possiacutevel apresentar indicadores
fundamentais referentes agrave conservaccedilatildeo do meio ambiente organizados em cinco temas
essenciais ldquoatmosferardquo ldquoterrardquo ldquooceanos mares e aacutereas costeirasrdquo ldquobiodiversidaderdquo e
ldquosaneamentordquo
O fato de um iacutendice de desenvolvimento sustentaacutevel ser composto por muitas
dimensotildees e variaacuteveis acarreta dificuldades na sua elaboraccedilatildeo Ainda natildeo existe um iacutendice
de desenvolvimento sustentaacutevel reconhecido internacionalmente como tem sido o IDH No
Foacuterum Econocircmico Mundial em 2002 pesquisadores de duas universidades americanas
(Yale e Columbia) apresentaram o iacutendice de sustentabilidade ambiental ldquoEnvironmental
Sustenaibility Indexrdquo (ESI) O ESI natildeo significa exatamente um iacutendice de desenvolvimento
sustentaacutevel uma vez que estabelece somente criteacuterios de anaacutelise de dimensatildeo ambiental
mas ele pode ser comparado com outros iacutendices de desenvolvimento O ESI considera cinco
componentes ambientais ldquosistemas ambientaisrdquo ldquoestressesrdquo ldquovulnerabilidade humanardquo
ldquocapacidade social e institucionalrdquo e ldquoresponsabilidade globalrdquo
O ESI elaborado pelos estudantes de Yale e Columbia foi reapresentado em 2005 e
segundo VEIGA (2005) foi a mais reconhecida tentativa de elaboraccedilatildeo de um iacutendice de
sustentabilidade ambiental mas ainda natildeo representa um consenso internacional Por este
motivo e pelo fato de o empreendimento Sapiens Parque ainda estar em fase de execuccedilatildeo
tornando inviaacutevel a realizaccedilatildeo do trabalho atraveacutes dos iacutendices de sustentabilidade optamos
em utilizar como paracircmetro para a anaacutelise do estudo de caso um sistema de dimensotildees e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel desenvolvido por SACHS (2002)
SACHS (2002) defende que o desenvolvimento sustentaacutevel abrange uma seacuterie de
dimensotildees (social cultural ecoloacutegica territorial econocircmica e poliacutetica) classificadas segundo
o autor pelos conceitos a seguir
1 A dimensatildeo social vem agrave frente da demais na opiniatildeo de SACHS (2002) por
constituir a proacutepria finalidade do desenvolvimento Deve visar a reduccedilatildeo substancial das
diferenccedilas sociais
2 A sustentabilidade cultural aparece em seguida e tem como objetivo a busca de
raiacutezes endoacutegenas dos modelos de modernizaccedilatildeo e dos sistemas rurais integrados de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
64
produccedilatildeo privilegiando o processo de mudanccedila no seio da comunidade cultural e
respeitando as especificidades de cada ecossistema de cada cultura e de cada local
3 A sustentabilidade ecoloacutegica e ambiental vem em decorrecircncia e compreende o
uso dos potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatiacuteveis com sua miacutenima
deterioraccedilatildeo Deve permitir que a natureza encontre novos equiliacutebrios atraveacutes de processos
de utilizaccedilatildeo que obedeccedilam tambeacutem preservar as fontes de recursos naturais
4 A dimensatildeo territorial (espacialgeograacutefica) pressupotildee evitar a excessiva
concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees de atividades e do poder Busca uma relaccedilatildeo mais
equilibrada cidadecampo
5 A sustentabilidade econocircmica aparece como uma necessidade mas natildeo se trata
de condiccedilatildeo preacutevia para as anteriores uma vez que um transtorno econocircmico traz consigo o
transtorno social que por seu lado obstrui a sustentabilidade ambiental Eacute possibilitada por
uma alocaccedilatildeo e gestatildeo mais eficientes dos recursos e por um fluxo regular do investimento
puacuteblico e privado
6 A sustentabilidade poliacutetica (nacional) eacute importante na pilotagem do processo de
reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
7 Igualmente importante constitui a sustentabilidade poliacutetica (internacional) para
mantenimento da paz mundial e estabelecimento de um sistema de administraccedilatildeo para o
patrimocircnio comum da humanidade
SACHS (2002) delimita os criteacuterios para cada uma das dimensotildees acima
esquematizados tambeacutem por MONTIBELLER (2004) conforme a Tabela 3
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
65
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADECRITEacuteRIOS OBJETIVOS
Alcance de um patamar razoaacutevel de homogeneidade social Distribuiccedilatildeo de renda justa Emprego pleno eou autocircnomo com qualidade de vida decente Igualdade no acesso aos recursos e serviccedilos sociais Mudanccedilas no interior da continuidade (equiliacutebrio entre respeito agravetradiccedilatildeo e inovaccedilatildeo) Capacidade de autonomia para elaboraccedilatildeo de um projeto nacionalintegrado e endoacutegeno (em oposiccedilatildeo agraves coacutepias servis dos modelosalieniacutegenas) Autoconfianccedila combinada com abertura para o mundo Preservaccedilatildeo do potencial do capital natureza na sua produccedilatildeo derecursos renovaacuteveis Limitar o uso dos recursos natildeo-renovaacuteveis Respeitar e realccedilar a capacidade de autodepuraccedilatildeo dosecossistemas naturais Configuraccedilotildees urbanas e rurais balanceadas (eliminaccedilatildeo dasinclinaccedilotildees urbanas nas alocaccedilotildees do investimento puacuteblico) Melhoria do ambiente urbano Superaccedilatildeo das disparidades inter-regionais Estrateacutegias de desenvolvimento ambientalmente seguras paraaacutereas ecologicamente fraacutegeis (conservaccedilatildeo da biodiversidade peloecodesenvolvimento) Desenvolvimento econocircmico intersetorial equilibrado Seguranccedila alimentar Capacidade de modernizaccedilatildeo contiacutenua dos instrumentos deproduccedilatildeo razoaacutevel niacutevel de autonomia na pesquisa cientiacutefica etecnoloacutegica Inserccedilatildeo soberana na economia internacional Democracia definida em termos de apropriaccedilatildeo universal dosdireitos humanos Desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar oprojeto nacional em parceria com todos os empreendedores Um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social Eficaacutecia do sistema de prevenccedilatildeo de guerras da ONU na garantiada paz e na promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional Um pacote Norte-Sul de co-desenvolvimento baseado no princiacutepiode igualdade (compartilhamento da responsabilidade defavorecimento do parceiro mais fraco) Controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro denegoacutecios Controle institucional efetivo da aplicaccedilatildeo do Princiacutepio daPrecauccedilatildeo na gestatildeo do meio ambiente e dos recursos naturaisprevenccedilatildeo das mudanccedilas globais negativas proteccedilatildeo dadiversidade bioloacutegica (e cultural) e gestatildeo do patrimocircnio globalcomo heranccedila comum da humanidadeinternacional
SOCIAL
CULTURAL
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
POLIacuteTICA (NACIONAL)
POLIacuteTICA (INTERNACIONAL)
TERRITORIAL
ECONOcircMICA
Reduccedilatildeo das diferenccedilas sociais
Busca de raiacutezes endoacutegenas e respeito agraves especificidades de cada cultura
Equiliacutebrio entre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais
Evitar a excessiva concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees
Governar o processo de reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
Mantenimento da paz mundial baseado no princiacutepio de igualdade e da qualidade do meio ambiente
Aumento da produccedilatildeo e da riqueza social e independecircncia econocircmica externa
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel Fonte Sachs (2002) Montibeller (2004) Elaboraccedilatildeo da autora
Portanto o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel abrange um conjunto de
sustentabilidades que apresentam criteacuterios de aplicaccedilatildeo em niacutevel global nacional e local Para
os fins de anaacutelise deste trabalho tomaremos os conceitos e criteacuterios delimitados por SACHS
(2002) para as dimensotildees de sustentabilidade acima que podem ser concentradas nos trecircs
pontos principais dimensatildeo social dimensatildeo ecoloacutegica e ambiental e dimensatildeo econocircmica
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
66
23 SUSTENTABILIDADE URBANA
A insalubridade das cidades provocada pela excessiva urbanizaccedilatildeo no seacuteculo XX
originou propostas urbaniacutesticas que buscavam um equiliacutebrio entre o crescimento econocircmico
e os problemas sociais integrados ao desenho da paisagem Deu-se iniacutecio agrave ldquotendecircncia do
verderdquo que se refletiu nas cidades-jardins12 de Howard
Em todas as eacutepocas o medo das infecccedilotildees da cidade e as atraccedilotildees do campo aberto proporcionaram estiacutemulos tanto negativos quanto positivos (hellip) Aacutegua ar puro fugas aos aacutesperos ruiacutedos humanos extensotildees abertas para cavalgar caccedilar praticar o arco caminhar pelo campo ndash tais satildeo as qualidades que a aristocracia sempre apreciou em toda partehellip(MUMFORD 1998526)
Howard propunha um novo modelo de desenvolvimento urbano que empregasse
facilidades teacutecnicas para acabar com as diferenccedilas cada vez maiores entre o campo e a
cidade Apesar de as cidades-jardins defenderem a ideacuteia de preservaccedilatildeo da natureza ainda
a encaravam como bem de usufruto do ser humano De acordo com ANDRADE (2003)
alguns princiacutepios de desenvolvimento urbano sustentaacutevel podem ser identificados no modelo
de cidade-jardim tais como tamanho controlado com acessibilidade aos espaccedilos verdes e
aos pedestres transporte puacuteblico adequado uso misto (de-zoneamento) reaproveitamento
de resiacuteduos soacutelidos em terras agriacutecolas e centros comerciais com economia local
A visatildeo da natureza como um bem de utilizaccedilatildeo humana permanece no modelo de
urbanizaccedilatildeo do Modernismo Embora tivesse um discurso social e uma preocupaccedilatildeo com a
vida saudaacutevel natildeo incluiacutea em suas ideacuteias o esgotamento de recursos Reflete os princiacutepios
da Carta de Atenas13 que desenvolveu a ideacuteia da cidade como ldquomaacutequinardquo em uma utopia
funcionalista da eacutepoca O construiacutedo em meio ao aberto e a habitaccedilatildeo dentro do espaccedilo
verde viraram a marca registrada e o ideal da cidade moderna Caracterizava-se pela
monofuncionalidade dos bairros e pela desarticulaccedilatildeo e distacircncia entre o espaccedilo puacuteblico e o
12 As cidades-jardins de Ebenezer Howard foram uma tentativa de resolver os problemas de insalubridade pobreza e poluiccedilatildeo nas cidades por meio de desenho de novas cidades que tivessem uma estreita relaccedilatildeo com o campo Howard concebia sua cidade-jardim de forma a propiciar aos homens mais liberdade em uma vida comunitaacuteria renovada (ANDRADE 2003 aquitexto Portal Vitruvius) 13 A Carta de Atenas consiste em um conjunto de artigos do CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) de 1933 cujo tema foi a Cidade Funcional Baseia-se na localizaccedilatildeo das atividades segundo a funccedilatildeo moradia lazer trabalho transporte (FRAMPTON 2000)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
67
privado Em funccedilatildeo disso o espaccedilo puacuteblico da cidade moderna era pobre em relaccedilotildees de
encontro ritual e movimento
Jane Jacobs em seu livro ldquoMorte e Vida nas Grandes Cidadesrdquo faz um relato
ofensivo aos fundamentos do planejamento urbano moderno A autora defende o estudo das
relaccedilotildees sociais antroacutepicas como forma de planejamento para cidades saudaacuteveis E enfatiza
a necessidade de uma diversidade de usos mais complexa e densa e que propicie entre
eles uma sustentaccedilatildeo muacutetua e constante tanto econocircmica quanto social
A problemaacutetica ambiental e social urbana colocou em questionamento o paradigma
urbanista moderno Algumas contribuiccedilotildees importantes quanto ao tema da sustentabilidade
urbana surgiram na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro a partir da qual explicita-se a
tentativa das cidades de se organizarem na busca por uma alternativa viaacutevel de
desenvolvimento A Agenda 2114 desponta como um modelo participativo de mudanccedila de
atitude em relaccedilatildeo ao meio ambiente a partir da necessidade de transformar compromissos
abstratos em accedilotildees de niacutevel nacional e local
ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo eacute um dos documentos da Agenda 21 Brasileira Seu objetivo
eacute oferecer propostas para introduzir a dimensatildeo ambiental nas poliacuteticas urbanas vigentes ou
que venham a serem adotadas Dentre as premissas que o nortearam merece destaque a
denominada crescer sem destruir por traduzir que o desenvolvimento sustentaacutevel das
cidades implica ao mesmo tempo no crescimento dos fatores positivos da sustentabilidade
urbana e na diminuiccedilatildeo dos impactos ambientais sociais e econocircmicos indesejaacuteveis no
espaccedilo urbano
A Conferecircncia Habitat II ou Cuacutepula das Cidades realizada em Istambul em 1996
(20 anos apoacutes a Habitat I em Vancouver Canadaacute) teve como foco principal atualizar os
temas e paradigmas que fundamentam a poliacutetica urbana e habitacional com o objetivo
de reorientar a linha de accedilatildeo dos oacutergatildeos e agecircncias de cooperaccedilatildeo internacional para
estes temas incluindo a do proacuteprio Centro das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos
Humanos ndash Habitat
14 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo global adotado por 182 governos Eacute o primeiro documento a alcanccedilar consenso internacional e que fornece um plano para assegurar o futuro sustentaacutevel do planeta lanccedilando questotildees sobre o desenvolvimento e o meio ambiente (OLIVEIRA 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
68
De acordo com ROLNIK (1996) a conferecircncia em Istambul abordou o processo
de urbanizaccedilatildeo nos paiacuteses em desenvolvimento e apresentou um quadro negativo de
tendecircncias com destaque para a insustentabilidade da qualidade de vida nas cidades
Tal fato deve-se tanto pela destruiccedilatildeo de recursos naturais e de seu patrimocircnio cultural
quanto pela gestatildeo e operaccedilatildeo natildeo planejadas dos seus serviccedilos
Apoacutes a Conferecircncia do Rio de Janeiro e da Habitat II a cidade passou a ser vista natildeo
mais como um problema a ser evitado mas como uma realidade que pode ser transformada
para melhor Esta nova forma de pensamento deve-se fundamentalmente ao fracasso das
poliacuteticas de fixaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural e agrave constataccedilatildeo de estatiacutesticas internacionais e
nacionais que comprovam que a cidade constitui a forma que os seres humanos
escolheram para viver em sociedade e prover sua necessidades Segundo a Agenda 21
Brasileira a proporccedilatildeo de pessoas que moravam em cidades no Brasil era de 76 em
1996 Atualmente mais de 80 da populaccedilatildeo brasileira mora em cidades sendo que as
projeccedilotildees apontam para uma taxa de mais de 88 em 2020
No Brasil surgiram instrumentos com a intenccedilatildeo de direcionar as novas formas de se
projetar a cidade entre legislaccedilotildees urbanas e ambientais Um desses instrumentos consiste
na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) jaacute vista neste capiacutetulo e
tambeacutem na proacutepria Agenda 21 Brasileira que seraacute analisada adiante O Estatuto da
Cidade15 constitui outro importante instrumento de poliacutetica urbana e reserva tambeacutem
algumas orientaccedilotildees relevantes no que tange respeito ao tema do meio ambiente urbano
das quais destacam-se
Garantia do direito a cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave
moradia ao saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos
serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees
Planejamento do desenvolvimento das cidades da distribuiccedilatildeo espacial da
populaccedilatildeo e das atividades econocircmicas do Municiacutepio e do territoacuterio sob sua aacuterea
de influecircncia de modo a evitar e corrigir as distorccedilotildees do crescimento urbano e
seus efeitos negativos sobre o meio ambiente
15 O Estatuto da Cidade (Lei ndeg 102572001) eacute a lei federal que daacute as diretrizes e regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que falam sobre a Poliacutetica Urbana que deveraacute ser praticada pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios (disponiacutevel em httpwwwestatutodacidadeorgbr acesso em 15062005)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
69
Audiecircncia do Poder Puacuteblico municipal e da populaccedilatildeo interessada nos processos de
implantaccedilatildeo de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos
sobre o meio ambiente natural ou construiacutedo o conforto ou a seguranccedila da populaccedilatildeo
O estatuto ainda coloca agrave disposiccedilatildeo dos municiacutepios o Estudo de Impacto de
Vizinhanccedila (EIV) que deveraacute ser executado de forma a contemplar os efeitos positivos e
negativos dos empreendimentos ou atividades quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo
residente na aacuterea e suas proximidades
Para Florianoacutepolis existe atualmente uma proposta conceitual de um plano piloto
para a primeira Reserva da Biosfera em Ambiente Urbano (Figura 5) buscando integrar o
modelo baacutesico das Reservas da Biosfera aos conceitos de ecologia urbana O objetivo eacute a
integraccedilatildeo entre a conservaccedilatildeo da natureza e de seus processos com a manutenccedilatildeo do
patrimocircnio cultural e dos processos de urbanidade
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis Fonte Proposta Projeto Piloto RBU Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
70
A proposta da Reserva da Biosfera Urbana eacute composta de cinco zonas da
predominantemente natural agrave predominantemente urbana conforme mostra a Figura 5
Zonas Nuacutecleo Natural (Unidades de Conservaccedilatildeo Aacutereas de Preservaccedilatildeo
Permanente e aacutereas tombadas) que constitua uma manifestaccedilatildeo iacutentegra e
representativa de um ecossistema
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Natural entorno imediato ao nuacutecleo com
padrotildees de uso onde a funcionalidade ecoloacutegica e geograacutefica da aacuterea eacute mantida
Zonas de Transiccedilatildeo zona com padrotildees de uso que salvaguardem a integridade e
a funcionalidade das zonas anteriores proporcionando uma aacuterea de
descompressatildeo urbana compatiacutevel com a vizinhanccedila natural
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Urbano Cultural entorno imediato ao
nuacutecleo urbano com padrotildees de uso que integrem eficazmente as funccedilotildees de
urbanidade eou conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural com uma paisagem natural
sustentaacutevel
Zonas Nuacutecleo de Urbanidade eou Patrimocircnio Cultural que constitua um
testemunho autecircntico de um bem cultural ou de uma aacuterea de urbanidade
sustentaacutevel
A proposta estaacute em processo de aprovaccedilatildeo na UNESCO e tem como um dos
idealizadores o arquiteto argentino Ruben Pesci atual responsaacutevel tambeacutem pelo projeto do
empreendimento Sapiens Parque Apesar de ser bastante inovador o projeto apresenta
controveacutersias tendo como uma das criacuteticas o fato de abranger somente a Ilha de Santa
Catarina ignorando a parte continental com a qual estabelece relaccedilotildees
Os estudos de sustentabilidade urbana natildeo apresentam uma linha uacutenica de
pensamento fato que caracteriza o tema como uma aacuterea de investigaccedilatildeo nova dinacircmica e
ainda natildeo consolidada em busca de uma identidade Poreacutem na visatildeo de STEINBERGER
(2001) os problemas urbanos de outrora estatildeo sendo vistos como os problemas ambientais
de agora anunciando a onda do modismo Antes que a questatildeo ambiental aparecesse com
a forccedila e a centralidade que tem hoje essas dificuldades jaacute estavam nas agendas dos
planejadores urbanos e autoridades municipais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
71
A sustentabilidade urbana concretiza-se como base para surgimento de um novo
paradigma onde o meio ambiente passa a ser o tema central em torno do qual todos os
discursos e projetos sociais devem ser reformulados para serem legiacutetimos A questatildeo social
urbana transformou-se em questatildeo ecoloacutegica ou ambiental ocorrendo uma substituiccedilatildeo de
paradigmas Esse enfoque provoca uma visatildeo negativa no planejamento uma vez que
admite ser possiacutevel a substituiccedilatildeo do social pelo ambiental quando o ideal seria uma
integraccedilatildeo entre as duas dimensotildees Falar da problemaacutetica soacutecio-ambiental urbana soaria
como uma ldquoroupagem da moda para nossas velhas questotildees sociais (e urbanas)rdquo
(STEINBERGER 2001) No entanto definir e tratar conjuntamente os dilemas sociais e
ambientais constitui uma necessidade
231 DIRETRIZES PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA
O mais completo documento nacional que coloca estrateacutegias a serem implementadas
no processo de gestatildeo urbana a fim de atingir a sustentabilidade das cidades consiste na
Agenda 21 Brasileira Segundo o documento ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo da Agenda 21 a
problemaacutetica social e a problemaacutetica ambiental urbanas satildeo indissociaacuteveis A
sustentabilidade das cidades deve ser situada dentro do conjunto e das opccedilotildees de
desenvolvimento nacional A viabilidade da sustentabilidade urbana depende da capacidade
de integraccedilatildeo das suas estrateacutegias entre os planos projetos e accedilotildees governamentais de
desenvolvimento urbano e entende-se que as poliacuteticas federais tecircm um papel instigador
fundamental na promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel como um todo
A sustentabilidade das cidades depende ainda do cumprimento da chamada Agenda
Marrom que se preocupa sobretudo com a melhoria da qualidade sanitaacuterio-ambiental das
populaccedilotildees urbanas As estrateacutegias prioritaacuterias para atingir a sustentabilidade urbana e que
devem remeter-se aos objetivos macro do desenvolvimento sustentaacutevel em qualquer das
escalas consideradas (global nacional ou local) satildeo
Reduccedilatildeo da pressatildeo sobre os recursos disponiacuteveis atraveacutes da busca de equiliacutebrio
dinacircmico entre uma determinada populaccedilatildeo e sua base ecoloacutegico-territorial
Aumento da responsabilidade ecoloacutegica atraveacutes de relaccedilotildees de interdependecircncia
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
72
entre os fenocircmenos e pelo princiacutepio da co-responsabilidade de paiacuteses grupos e
comunidades na gestatildeo dos recursos e dos ecossistemas compartilhados como o
ar oceanos florestas e bacias hidrograacuteficas
Busca da eficiecircncia energeacutetica com reduccedilatildeo significativa nos niacuteveis de consumo
atual e busca de fontes energeacuteticas renovaacuteveis
Desenvolvimento e utilizaccedilatildeo de tecnologias ambientalmente adequadas
alterando progressiva e significativamente os padrotildees atuais do setor produtivo
Alteraccedilatildeo dos padrotildees de consumo e diminuiccedilatildeo significativa na produccedilatildeo de
resiacuteduos e no uso de bens ou materiais natildeo-reciclaacuteveis
Recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e reposiccedilatildeo do estoque dos recursos
estrateacutegicos (aacutegua solo cobertura vegetal)
Manutenccedilatildeo da biodiversidade existente
Eacute necessaacuterio ainda estabelecer a descentralizaccedilatildeo das instacircncias decisoacuterias e de
serviccedilos para o fortalecimento do local e incentivo da gestatildeo comunitaacuteria descarregando o
setor governamental das responsabilidades de gestatildeo urbana que a comunidade deseja
assumir no que se refere ao desenvolvimento e agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente No
sentido de reorganizar o sistema de gestatildeo a Agenda 21 ainda determina os seguintes
marcos de gestatildeo urbana
Incentivo ao surgimento de cidades menores ou de assentamentos menores
dentro das grandes cidades preferecircncia pelos pequenos projetos de menor custo
e de menor impacto ambiental foco na accedilatildeo local
Incorporaccedilatildeo da questatildeo ambiental nas poliacuteticas setoriais urbanas (habitaccedilatildeo
abastecimento saneamento ordenaccedilatildeo do espaccedilo) atraveacutes da observacircncia dos
criteacuterios ambientais que visam preservar recursos estrateacutegicos (aacutegua solo
cobertura vegetal) e proteger a sauacutede humana
Integraccedilatildeo das accedilotildees de gestatildeo visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliaccedilatildeo dos
impactos positivos
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
73
Necessidade do planejamento estrateacutegico colocando restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio
Descentralizaccedilatildeo das accedilotildees administrativas e dos recursos com vistas agraves
prioridades locais e combate agrave homogeneizaccedilatildeo dos padrotildees de gestatildeo
Incentivo agrave inovaccedilatildeo e ao surgimento de soluccedilotildees criativas
Inclusatildeo dos custos ambientais e sociais no orccedilamento e contabilidade dos
projetos de infra-estrutura
Induccedilatildeo de novos haacutebitos de moradia transporte e consumo nas cidades
(incentivo ao uso da bicicleta e de transportes natildeo-poluentes incentivo agraves hortas
comunitaacuterias jardins e arborizaccedilatildeo com aacutervores frutiacuteferas edificaccedilotildees para uso
comercial ou de moradia que evitem o uso intensivo de energia utilizando
materiais reciclados)
Fortalecimento da sociedade civil e dos canais de participaccedilatildeo incentivo e suporte
agrave accedilatildeo comunitaacuteria
A Agenda 21 Brasileira levanta as principais questotildees intra-urbanas que afetam a
sustentabilidade do desenvolvimento das nossas cidades Satildeo elas dificuldades no acesso
agrave terra e deacuteficit habitacional com consequumlente aumento do espaccedilo construiacutedo irregular e
informal deficiecircncias nas questotildees sobre abastecimento e esgotos resiacuteduos soacutelidos
drenagem sauacutede e saneamento ambiental elevada taxa de motorizaccedilatildeo com consequumlente
aumento da poluiccedilatildeo do ar desemprego e precarizaccedilatildeo do emprego
O documento ainda determina quatro estrateacutegias prioritaacuterias a serem implementadas
nas cidades brasileiras que estatildeo associadas a um conjunto de diretrizes propostas e
accedilotildees
Aperfeiccediloar a regulaccedilatildeo do solo e ocupaccedilatildeo do solo urbano e promover o
ordenamento do territoacuterio contribuindo para a melhoria das condiccedilotildees de vida da
populaccedilatildeo e promoccedilatildeo da equumlidade eficiecircncia e qualidade ambiental
Promover o desenvolvimento institucional e fortalecimento da capacidade de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
74
planejamento e gestatildeo democraacutetica da cidade atraveacutes da efetiva participaccedilatildeo da
sociedade e incorporar no processo a dimensatildeo ambiental
Promover mudanccedilas nos padrotildees de produccedilatildeo e consumo da cidade atraveacutes da
reduccedilatildeo de custos e desperdiacutecios e fomentar o desenvolvimento de tecnologias
urbanas sustentaacuteveis
Desenvolver e estimular a aplicaccedilatildeo de instrumentos econocircmicos no
gerenciamento de recursos naturais com vistas agrave sustentabilidade urbana
A Agenda 21 Brasileira vem sendo aplicada nas cidades a partir da elaboraccedilatildeo de
diretrizes particulares locais em niacutevel municipal atraveacutes das chamadas agendas locais Em
Florianoacutepolis a Agenda 21 local dividiu o municiacutepio em dez regiotildees Optou-se pela
ldquoregionalizaccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio com vistas a obter um estudo mais homogecircneo
para alcanccedilar uma maior participaccedilatildeo da comunidade nas anaacutelises de seus problemas e na
obtenccedilatildeo de soluccedilotildeesrdquo (AGENDA 21 LOCAL 200011)
O diagnoacutestico da regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o Sapiens Parque
apontou principalmente o problema de ausecircncia de infra-estrutura sistema viaacuterio energia
eleacutetrica abastecimento de aacutegua e rede coletora de esgotos Algumas dessas deficiecircncias
aliadas agrave ocupaccedilatildeo irregular em aacuterea de preservaccedilatildeo acarretam consequumlecircncias ambientais
graves como a descaracterizaccedilatildeo da paisagem por ocupaccedilatildeo das encostas e supressatildeo
das matas poluiccedilatildeo das aacuteguas superficiais e subterracircneas erosatildeo e abrasatildeo marinhas e
assoreamento de rios e coacuterregos
O diagnoacutestico aponta ainda deficiecircncias no sistema de limpeza urbana transporte
puacuteblico educaccedilatildeo sauacutede e seguranccedila assim como carecircncias de espaccedilos de lazer Dentre
as diretrizes apontadas pela Agenda 21 Local para a promoccedilatildeo do desenvolvimento urbano
sustentaacutevel na regiatildeo norte da Ilha destacamos as seguintes
1 Recuperaccedilatildeo ambiental das aacutereas degradadas com o reflorestamento de morros
de matas ciliares da orla litoracircnea normatizaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das atividades de pesca nas
aacuteguas da baiacutea Norte implantaccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo ambiental visando o
conhecimento a valorizaccedilatildeo e a importacircncia de preservaccedilatildeo de ecossistemas fraacutegeis
2 Projetos que visem a criaccedilatildeo de empregos e geraccedilatildeo de renda tais como criaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
75
de cooperativas de separaccedilatildeo do lixo reciclaacutevel a organizaccedilatildeo das atividades de passeio e
pesca com turistas implantaccedilatildeo de viveiros comunitaacuterios para a produccedilatildeo de mudas de
vegetaccedilatildeo nativa da Mata Atlacircntica a implantaccedilatildeo de sistema de fiscalizaccedilatildeo ambiental
comunitaacuteria a criaccedilatildeo de nuacutecleos da terceira idade para propiciar novas oportunidades
produtivas e de lazer
3 Recuperaccedilatildeo e preservaccedilatildeo de construccedilotildees antigas como as igrejas tradicionais
da regiatildeo norte devem ser objetivos de toda a comunidade dos envolvidos com a cultura e
tambeacutem do setor turiacutestico
4 Implantaccedilatildeo de rede coletora e de sistema de tratamento de esgoto nas
comunidades da regiatildeo norte e a conclusatildeo da rede coletora de esgotos em Ingleses deve
ser um esforccedilo do poder puacuteblico com a participaccedilatildeo da comunidade do comeacutercio e dos
serviccedilos
5 Instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer como praccedilas e de esportes como quadras
poliesportivas em todas as comunidades
De forma geral podemos concluir que a Agenda 21 Local recomenda como
diretrizes de desenvolvimento sustentaacutevel para o Norte da Ilha a recuperaccedilatildeo e
preservaccedilatildeo ambiental e arquitetocircnica a implantaccedilatildeo da infra-estrutura urbana
necessaacuteria a criaccedilatildeo de emprego e renda atraveacutes de cooperativas comunitaacuterias e a
instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer e esportes
24 TURISMO DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
Florianoacutepolis atualmente possui o turismo como uma das principais atividades
econocircmicas e impulsionadoras do seu desenvolvimento urbano Reconhecida pelas suas
belezas e paisagens naturais a cidade atrai visitantes de todo o Brasil e de outros paiacuteses
dando impulso agrave economia local A regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o projeto
Sapiens Parque deve sua urbanizaccedilatildeo ao turismo graccedilas agraves suas praias de aacuteguas limpas e
de temperatura amena Entretanto a atividade turiacutestica mal planejada tem seus reflexos na
ausecircncia da infra-estrutura necessaacuteria e na consequumlente degradaccedilatildeo ambiental Sendo o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
76
turismo um importante pilar do modelo de planejamento urbano de que trata este trabalho e
sendo o turismo sustentaacutevel um dos conceitos do empreendimento Sapiens Parque
abordaremos questotildees relacionadas agrave atividade turiacutestica no texto seguinte
O advento da globalizaccedilatildeo que tem seus marcos iniciais no seacuteculo XX e da atual
terceira revoluccedilatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica acarretou o incremento da atividade turiacutestica
diretamente relacionada a esses dois fenocircmenos Segundo AGUIAR e DIAS (2002) o
desenvolvimento do turismo sempre acompanhou o avanccedilo das novas tecnologias sofrendo
grande impulso na primeira revoluccedilatildeo industrial na Inglaterra do seacuteculo XVIII e na segunda
revoluccedilatildeo industrial nos Estados Unidos e na Europa em fins do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX
O turismo ao mesmo tempo em que sofre influecircncia da globalizaccedilatildeo contribui para
sua expansatildeo e solidificaccedilatildeo aumenta o intercacircmbio de ideacuteias e de pessoas e dessa forma
colabora para o desenvolvimento de uma consciecircncia global Para PAIVA (1998) o turismo
deve converter-se em um meio de integraccedilatildeo renovaccedilatildeo conviacutevio e ateacute mesmo em um
mecanismo de transformaccedilatildeo da sociedade Consiste em uma atividade econocircmica que
envolve a qualidade de vida aumento do lazer do descanso do desfruto e do oacutecio
O turismo movimenta muitos recursos e constitui segundo AGUIAR e DIAS (2002) a
principal atividade econocircmica do seacuteculo XXI a maior ldquoinduacutestriardquo existente superando os
setores tradicionais e tornando-se um importante gerador de postos de trabalho O turismo
portanto eacute um fenocircmeno universal que conecta todas as partes do sistema global e
aumenta a compreensatildeo dos indiviacuteduos de pertencerem a um todo Ao mesmo tempo o
turismo incrementa a consciecircncia das pessoas de pertencerem a um local determinado pois
com a presenccedila do outro ao se explicitarem as diferenccedilas se fortalece a identidade cultural
Aleacutem de promover o respeito agraves diferenccedilas o turismo apresenta papel positivo como
promotor da compreensatildeo e da paz entre os diferentes povos
Apesar de todos os pontos positivos explicitados o desenvolvimento da atividade
turiacutestica apresenta seus impactos negativos A caracteriacutestica consumista do turista que
busca beneficiar-se dos serviccedilos da melhor maneira possiacutevel vem acarretando pressatildeo
sobre o meio ambiente Essa forma individualista de consumo trouxe para a atividade a
necessidade de utilizaccedilatildeo dos melhores recursos naturais por vezes natildeo renovaacuteveis
AGUIAR e DIAS (2002) afirmam que nas aacutereas costeiras do Brasil predominou o
turismo relacionado com o ambiente natural e os efeitos negativos da atividade foram
acentuados principalmente vinculados agrave falta de planejamento Haacute poucas exceccedilotildees de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
77
lugares onde o planejamento urbano conseguiu evitar a construccedilatildeo de verdadeiras muralhas
de preacutedio agrave beira-mar A atividade turiacutestica apresenta grande capacidade de alterar o meio
ambiente em um tempo relativamente curto e as prefeituras natildeo conseguem dimensionar
seus impactos As paisagens naturais que serviram para obtenccedilatildeo dos recursos originais
acabam por degradar-se em um curto prazo impedindo sua recuperaccedilatildeo Os investimentos
de infra-estrutura necessaacuterios para o desenvolvimento da atividade como alojamento e
transportes que oferecem um retorno em curto prazo satildeo priorizados em prejuiacutezo dos
investimentos que poderiam manter ou recuperar a paisagem natural
No Brasil o problema se agrava devido agrave ausecircncia ou insuficiecircncia de planejamento
na implantaccedilatildeo dos projetos turiacutesticos De acordo com AGUIAR e DIAS (2002) os
problemas causados direta ou indiretamente pelo turismo de modo geral passaram por
algum crivo da administraccedilatildeo puacuteblica que diante da possibilidade de geraccedilatildeo de recursos
em curto prazo ignora os prejuiacutezos que ocorreratildeo a meacutedio e longo prazo Os Relatoacuterios de
Impacto Ambiental (RIMA) dos grandes empreendimentos turiacutesticos ou satildeo ignorados ou
feitos sem criteacuterios teacutecnicos adequados tornando-se instrumentos de legitimaccedilatildeo que
justificam a depredaccedilatildeo de algum recurso natural
A ausecircncia de planejamento adequado gera a degradaccedilatildeo do meio ambiente natural
social e cultural fato que implica em uma sucessatildeo de problemas que comprometeratildeo a
atividade turiacutestica no futuro Apesar dos aspectos negativos experiecircncias nacionais e
internacionais demonstram que o turismo quando integrado a um processo de
planejamento pode impactar de forma positiva jaacute que a atividade atrai a atenccedilatildeo dos poderes
puacuteblicos para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
O Poder Puacuteblico apresenta papel fundamental no planejamento turiacutestico que
funciona como regulador ou provedor de serviccedilos puacuteblicos indispensaacuteveis agrave sua ampliaccedilatildeo
como os sistemas viaacuterios de comunicaccedilatildeo e de proteccedilatildeo ao meio ambiente O setor puacuteblico
tem o papel de fiscalizador das ofertas turiacutesticas e de regulador do mercado e do uso do
solo aleacutem de promover a educaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
Apesar de a atividade turiacutestica favorecer a valorizaccedilatildeo do meio natural por parte da
populaccedilatildeo local e provaacutevel melhoria na qualidade dos serviccedilos de preservaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental os impactos negativos possiacuteveis causados pela atividade ainda
aparecem em maior nuacutemero O turismo ocasiona impactos ao ar (com o aumento de infra-
estrutura de transporte e consequumlente aumento da poluiccedilatildeo atmosfeacuterica) nas aacuteguas
(atraveacutes da intensificaccedilatildeo do consumo nas aacutereas concentradas e pela contaminaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
78
derivada dos resiacuteduos soacutelidos) na flora (o turismo descontrolado altera de muitas maneiras
a cobertura vegetal ndash abate da vegetaccedilatildeo utilizaccedilatildeo do fogo accedilatildeo de colecionadores de
plantas acumulaccedilatildeo de lixo praacutetica de campismo predatoacuterio) na fauna (os padrotildees de
comportamento dos animais satildeo modificados pela presenccedila dos turistas) e na paisagem (o
acreacutescimo acelerado da infra-estrutura necessaacuteria para a atividade provoca alteraccedilotildees no
ambiente natural e urbano modificaccedilotildees no solo aumento do ruiacutedo e da luminosidade)
A exploraccedilatildeo desordenada dos recursos naturais para fins turiacutesticos embora tenha
gerado vantagens econocircmicas para vaacuterias regiotildees provoca impactos no meio ambiente que
podem acabar com os mesmos recursos naturais que motivaram a demanda turiacutestica O
fato de apresentar estreita relaccedilatildeo com o meio ambiente diferencia o turismo das demais
atividades e impotildee a necessidade de se instituiacuterem novas formas de exploraccedilatildeo dos
recursos para tal fim que levem em consideraccedilatildeo sua capacidade de suporte e suas condiccedilotildees
de sustentabilidade para que as futuras geraccedilotildees possam usufruir o mesmo benefiacutecio
A tomada de consciecircncia da depredaccedilatildeo causada pela atividade turiacutestica deu origem
a dois novos conceitos relacionados ao meio ambiente o ecoturismo e o turismo
sustentaacutevel Os conceitos significam o desenvolvimento da atividade turiacutestica de forma
sustentaacutevel atraveacutes da conservaccedilatildeo do patrimocircnio natural e cultural buscando a formaccedilatildeo
de uma consciecircncia ambientalista e promovendo o bem estar das populaccedilotildees envolvidas
Consiste em toda forma de turismo baseado na natureza em que a motivaccedilatildeo principal dos
turistas seja observar e apreciar essa natureza ou as culturas tradicionais dominantes das
zonas rurais
As principais caracteriacutesticas desse segmento satildeo incluir elementos educacionais e
de interpretaccedilatildeo procurar reduzir todas as possibilidades de impactos negativos sobre o
entorno natural e sociocultural contribuir para a proteccedilatildeo das zonas naturais ndash gerando
benefiacutecios econocircmicos para as comunidades organizaccedilotildees e administraccedilotildees anfitriatildes que
administram zonas naturais com objetivos conservacionistas oferecendo oportunidades
alternativas de emprego e renda para as comunidades locais e incrementando a
conscientizaccedilatildeo sobre conservaccedilatildeo dos ativos naturais e culturais tanto nos habitantes
quanto nos turistas
O ecoturismo se constitui em um segmento do setor turiacutestico Jaacute o turismo
sustentaacutevel estaacute fundamentado sobre criteacuterios de sustentabilidade deve ser suportaacutevel
ecologicamente em longo prazo viaacutevel economicamente e justo desde uma perspectiva
eacutetica e social para as atividades locais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
79
25 IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS
A implantaccedilatildeo de grandes projetos urbanos como o Sapiens Parque devem
obrigatoriamente apresentar segundo as leis brasileiras um estudo preacutevio dos impactos
soacutecio-econocircmicos e ambientais que tais empreendimentos acarretaratildeo no futuro Esse
estudo foi realizado pelo empreendimento Sapiens Parque e seraacute visto no proacuteximo capiacutetulo
deste trabalho Como base para a anaacutelise introduziremos na sequumlecircncia os principais
conceitos que envolvem a questatildeo dos impactos ambientais urbanos
Os impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais associados ao processo de urbanizaccedilatildeo
desencadearam preocupaccedilotildees com o tema a partir da deacutecada de 1960 Em uma sociedade
altamente industrializada riscos ambientais e tecnoloacutegicos constituem elementos intriacutensecos
agrave mesma A atitude com que o ser humano vem se relacionando com a natureza tornou-se
a grande ameaccedila para a sua proacutepria sobrevivecircncia
A expansatildeo e maneira precaacuteria como foram implantados os novos assentamentos
das cidades brasileiras criaram um conjunto de grave degradaccedilatildeo As praacuteticas
desequilibradas da ocupaccedilatildeo humana estatildeo expressas nos desmatamentos ocupaccedilatildeo de
fundos de vales encostas mangues No presente estaacutegio da situaccedilatildeo econocircmica e do
planejamento urbano torna-se inevitaacutevel a expansatildeo fiacutesica das cidades mas cabe agraves
poliacuteticas urbanas procurar formas de prevenir os novos impactos ambientais A Resoluccedilatildeo
00186 do Conselho Nacional do Meio Ambiente16 define impacto ambiental como
qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente afetam I- a sauacutede a seguranccedila e o bem-estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg)
16 O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) eacute o oacutergatildeo consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) Foram criados com a finalidade de assessorar estudar e propor ao governo federal diretrizes de poliacuteticas governamentais para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos meios de exploraccedilatildeo dos recursos naturais bem como deliberar sobre normas e padrotildees compatiacuteveis com a preservaccedilatildeo do meio ambiente O SISNAMA foi promulgado por lei em 31 de agosto de 1981 e eacute constituiacutedo por reparticcedilotildees e entidades da federaccedilatildeo dos estados e do Distrito Federal e tambeacutem das fundaccedilotildees publicas para o meio ambiente (httpwwwsbaucombr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
80
Impacto ambiental eacute portanto o processo de mudanccedilas sociais e ecoloacutegicas em
movimento causado por perturbaccedilotildees (uma nova ocupaccedilatildeo ou construccedilatildeo de um objeto
novo) no ambiente
A previsatildeo de impactos compreende uma soluccedilatildeo para escapar dos desatinos do
sistema capitalista avassalador e sua aplicaccedilatildeo exige inteligecircncia com relaccedilatildeo ao futuro e
evita os radicalismos Eis o motivo pelo qual as equipes teacutecnicas responsaacuteveis por esse tipo
de estudo satildeo imbuiacutedas de ampla responsabilidade cultural e moral e que pode ter por
consequumlecircncia o sucesso ou a descrenccedila total perante o resto da comunidade cientiacutefica Os
especialistas em impactos atraveacutes da legislaccedilatildeo existente possuem forccedila para exigir
ponderaccedilatildeo e melhoria na organizaccedilatildeo dos espaccedilos destinados a receber projetos
desenvolvimentistas Poreacutem na visatildeo de ABrsquoSAgraveBER (1994) ainda que bem preparados eles
natildeo apresentam poder para sozinhos transformar a estrutura da sociedade
MILAREgrave (1994) salienta que todo e qualquer projeto desenvolvimentista interfere no
meio ambiente Sendo certo que o crescimento eacute um imperativo impotildee-se discutir os
instrumentos e mecanismos que os conciliem diminuindo ao maacuteximo os impactos
ecoloacutegicos negativos e consequumlentemente os custos econocircmico-sociais
Segundo o autor dentre os instrumentos de conjugaccedilatildeo entre desenvolvimento e
proteccedilatildeo ambiental utilizados atualmente o Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental (EIA) e o
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) merecem destaque O EIA eacute de maior abrangecircncia
e compreende o levantamento da literatura cientiacutefica e legal pertinente trabalhos de campo
anaacutelises de laboratoacuterio e a proacutepria redaccedilatildeo do relatoacuterio O RIMA destina-se especificamente
ao esclarecimento das vantagens e consequumlecircncias ambientais do empreendimento refletiraacute
as conclusotildees daquele Eacute a parte mais compreensiacutevel do processo esclarecedor para o
administrador e o puacuteblico
O estudo de impacto ambiental deve ser elaborado antes da instalaccedilatildeo da obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradaccedilatildeo do meio ambiente O
escopo principal do estudo de impacto ambiental eacute a prevenccedilatildeo ambiental e evitar que os
interesses imediatos dos proponentes de um projeto se revelem posteriormente prejudiciais
ao meio ambiente Preconiza a obrigaccedilatildeo de se levar em consideraccedilatildeo o meio ambiente na
tomada de decisotildees puacuteblica ou privada Ainda tem por objetivos a transparecircncia
administrativa por parte do poder puacuteblico e dos proponentes quanto aos efeitos ambientais
de determinado projeto a consulta aos interessados atraveacutes da participaccedilatildeo da
comunidade envolvida no processo e a motivaccedilatildeo da decisatildeo ambiental que obriga o oacutergatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
81
puacuteblico a fundamentar uma decisatildeo que natildeo seja exatamente a melhor para a preservaccedilatildeo
ambiental
251 IMPACTOS DE PROJETOS DESENVOLVIMENTISTAS
Prever impactos em relaccedilatildeo a um projeto de qualquer tipo destinado a uma
determinada regiatildeo17 e a um siacutetio ou gleba em particular trata-se de uma operaccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica multidisciplinar de grande importacircncia Trata-se de uma maneira de revelar o niacutevel
de esclarecimento atingido pela sociedade do paiacutes em relaccedilatildeo agrave capacidade de antever
quadros futuros da organizaccedilatildeo espacial de seu territoacuterio18 Aleacutem disso indica o niacutevel de
forccedila de pressatildeo social pelos grupos mais esclarecidos para fazer bom uso dos
instrumentos legais de cultivo da qualidade ambiental e do ordenamento territorial Prever
impactos consiste inclusive em um excelente meacutetodo para avaliar o potencial da legislaccedilatildeo
existente e sua aplicabilidade em casos reais
Segundo ABrsquoSAacuteBER (1994) para que se possa realizar um estudo dos impactos
causados por determinado projeto eacute necessaacuterio entender o espaccedilo total no qual estaacute
inserido em relaccedilatildeo a um siacutetio de implantaccedilatildeo e a uma regiatildeo de localizaccedilatildeo Torna-se
imprescindiacutevel o conhecimento da estrutura da composiccedilatildeo e da dinacircmica dos
acontecimentos que caracterizam o espaccedilo total da regiatildeo proposta O diagnoacutestico do
proacuteprio local de implantaccedilatildeo do projeto eacute bastante vaacutelida mas ainda mais importante
consiste a anaacutelise do seu entorno em curto meacutedio e longo prazo Portanto o conceito de
espaccedilo total perante qualquer projeto a ser inserido em qualquer aacuterea de um territoacuterio
torna-se de grande significado para uma correta previsatildeo de impactos
ABrsquoSAacuteBER (1994) define espaccedilo total como o arranjo e o perfil adquiridos por uma
determinada aacuterea em funccedilatildeo da organizaccedilatildeo humana que lhe foi imposta ao longo dos
tempos O espaccedilo total inclui todo o conjunto dos componentes inseridos pelo homem no
17 Utiliza-se aqui o conceito de regiatildeo como uma referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e agrave extensatildeo de um certo fenocircmeno (migraccedilotildees agropecuaacuteria tecnologias de comunicaccedilatildeo renda e condiccedilotildees de vida condiccedilotildees de habitaccedilatildeo divisatildeo do trabalho) (DIAS e SANTOS 2003) 18 O conceito de territoacuterio eacute usado como referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e extensatildeo dos fenocircmenos Eacute tambeacutem pensado como aquilo que eacute controlado por um certo tipo de poder Representa o espaccedilo definido e delimitado por relaccedilotildees de poder podendo existir e ser construiacutedo nas diferentes escalas (DIAS e SANTOS 2003)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
82
decorrer da histoacuteria na paisagem19 de uma aacuterea considerada participante de determinado
territoacuterio
De acordo com SANTOS (1982) cada vez que a sociedade passa por um processo
de mudanccedila na economia nas relaccedilotildees sociais e poliacuteticas a paisagem se modifica para se
adaptar agraves novas necessidades da sociedade Essas transformaccedilotildees no entanto satildeo
somente parciais As mudanccedilas sociais natildeo provocam obrigatoriamente ou automaticamente
modificaccedilotildees na paisagem A paisagem representa diferentes momentos no
desenvolvimento de uma sociedade eacute o resultado de uma acumulaccedilatildeo de tempos
SANTOS (1982) define o espaccedilo social metodologicamente a partir de trecircs conceitos
forma estrutura e funccedilatildeo Essas partes conseguem identificar-se completamente e satildeo
consideradas equivalentes constituindo o ldquotodordquo e jamais devem ser analisadas em
separado Nenhuma das trecircs categorias existe dissociada das demais e apenas sua
utilizaccedilatildeo combinada pode restituir-nos ao espaccedilo total
O espaccedilo total supotildee o movimento comum dialeacutetico e concreto da estrutura da
funccedilatildeo e da forma e para estudaacute-lo eacute preciso levar em consideraccedilatildeo todas as estruturas
que a compotildeem e que em conjunto ou isoladamente a reproduzem Por esse motivo para
fim de previsatildeo de impactos de projetos em determinado espaccedilo total cada caso eacute particular e
apresenta determinada abrangecircncia a considerar os sistemas ecoloacutegicos naturais e antroacutepicos
Em cada eacutepoca ou processo histoacuterico o espaccedilo total de uma regiatildeo apresenta uma
acumulaccedilatildeo de implantaccedilotildees e infra-estruturas Entretanto segundo ABrsquoSAacuteBER (1994)
para trabalhos de previsatildeo de impactos futuros seraacute sempre na circunstacircncia do presente
que as combinaccedilotildees de fatos e atividades produzidas pelo homem pela sociedade e pela
economia teratildeo maior interesse
A aacuterea do entorno de qualquer projeto atraveacutes de suas vias populaccedilatildeo qualidade do
ar qualidade das aacuteguas qualidade dos solos e demais condicionantes consistem os
principais elementos para a prevenccedilatildeo de impactos A prevenccedilatildeo passa a ser um ato de
tomada de precauccedilotildees para assegurar harmonia e compatibilizar funccedilotildees no interior do
espaccedilo total no futuro limitando as expectativas dos especuladores e gananciosos do
sistema capitalista
19 O termo paisagem eacute usado aqui como o suporte geoecoloacutegico e bioecoloacutegico modificado por uma infinidade variaacutevel de obras e figuras humanas (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
83
A tarefa de perceber os impactos em processo constitui o ponto de partida para a
previsatildeo dos possiacuteveis impactos acarretados por objetos de diferentes tipos tais como
novas induacutestrias hidreleacutetricas novas estradas e rodovias sistema viaacuterio mais denso
ferrovias e projetos intra-urbanos e interurbanos
Enfim detectar mudanccedilas na organizaccedilatildeo do espaccedilo visto em sua totalidade ajuda a compreender situaccedilotildees anaacutelogas ou prever mecanismos similares que podem ocorrer em outras aacutereas de um paiacutes ou territoacuterio Outrora o grande atributo cultural do homem residia em sua capacidade de reconstituir a trajetoacuteria da espeacutecie e reconstruir a histoacuteria das sociedades humanas Ao fim do segundo milecircnio identifica-se um atributo novo qual seja o de prever o impacto das accedilotildees dos homens e da economia sobre o futuro em diferentes dimensotildees e profundidades de tempo (ABrsquoSAgraveBER 199435)
Segundo ABrsquoSAgraveBER (1994) todo espaccedilo geograacutefico20 eacute resultado de uma
acumulaccedilatildeo mais curta ou mais longa de processos histoacutericos cumulativos decorrentes do
desempenho de diversos atores sociais Quando considerado na totalidade o espaccedilo
geograacutefico apresenta um caraacuteter de acumulaccedilatildeo de processos culturais acima de tudo
construtivos ora muito agressivos ora apenas interferentes ora dotados de uma espeacutecie de
auto-organizaccedilatildeo que envolve diferentes niacuteveis de acomodaccedilatildeo Envolve trecircs dimensotildees
baacutesicas uma piracircmide social projetada sobre o espaccedilo total uma acumulaccedilatildeo de infra-
estruturas e um sistema de relaccedilotildees humanas vinculadas ao regime social e poliacutetico vigente
Os paiacuteses em desenvolvimento das regiotildees tropicais estatildeo sujeitos agraves grandes
desigualdades provenientes desse processo em virtude dos territoacuterios de dimensotildees
continentais e de regiotildees geoeconocircmicas de roteiro histoacuterico diferenciado Qualquer engano
de avaliaccedilatildeo ou previsatildeo dos impactos pode ocasionar danos irreparaacuteveis para o futuro da
regiatildeo da sociedade e do paiacutes
Para fim de avaliaccedilatildeo de impactos de projetos desenvolvimentistas nesses paiacuteses
ABrsquoSAgraveBER (1994) afirma a necessidade de ampliar as consideraccedilotildees sobre a estrutura a
composiccedilatildeo soacutecio-econocircmica e a funcionalidade da sociedade nos diferentes tipos de
espaccedilo geograacutefico Aleacutem disso destaca como meacutetodo de anaacutelise complementar os estudos
realizados por Bernard Kaiser da Universidade de Toulouse (1966) sobre a tipologia dos
espaccedilos em tais paiacuteses Kaiser identificou por vaacuterios criteacuterios a existecircncia de regiotildees em
20 Entende-se por espaccedilos geograacuteficos de um paiacutes de dimensotildees continentais aquelas ceacutelulas espaciais dinacircmicas nas quais agrave organizaccedilatildeo herdada da natureza se sobrepocircs ou instalou uma certa organizaccedilatildeo imposta pelos homens (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
84
vias de desenvolvimento regiotildees em processo ativo de planificaccedilatildeo regional regiotildees de
especulaccedilatildeo agriacutecola bacias urbanas e por fim regiotildees auto-organizadas ou de
organizaccedilatildeo complexa O Brasil consistia um paiacutes em que se podia encontrar toda essa
tipologia de espaccedilos geograacuteficos e sociais diferenciados
A classificaccedilatildeo de Kaiser para efeito de previsatildeo de impactos apresenta-se dividida
da seguinte maneira 1) espaccedilos naturais predominantemente florestados 2) espaccedilos de
especulaccedilatildeo agraacuteria em aacutereas de razoaacutevel desenvolvimento econocircmico e social em grande
contraste com a devastaccedilatildeo das coberturas vegetais primaacuterias 3) espaccedilos sob
planejamento ativo no Nordeste do Brasil e na Amazocircnia com subsiacutedios atomizados por
intermeacutedio da Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e da
Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia (SUDAM) 4) espaccedilos dotados de
bacias urbanas agigantadas pelo desdobramento histoacuterico de redes urbanas sob comando
econocircmico e poliacutetico de grandes metroacutepoles 5) regiotildees auto-organizadoras que em face de
uma evoluccedilatildeo histoacuterica e econocircmica oportuna de aproveitamento de recursos naturais foi
possiacutevel adotar atributos e infra-estruturas modernizantes 6) espaccedilos de sutura e
pioneirismo tardio 7) espaccedilos de organizaccedilatildeo incompleta perturbados pelo ritmo e
irregularidades do clima semi-aacuterido quente 8) espaccedilos costeiros de especulaccedilatildeo para lazer
turismo de temporada e segunda residecircncia
As regiotildees costeiras e de especulaccedilatildeo para lazer e turismo uacuteltima classificaccedilatildeo
tipoloacutegica definida por Kaiser para efeito de avaliaccedilatildeo de impactos nos paiacuteses em
desenvolvimento consistem o objeto do presente trabalho Ao longo da ampla faixa litoracircnea
atlacircntica do paiacutes desenvolveu-se um tipo de espaccedilo superpartilhado e superdesejado para
atividades muacuteltiplas de lazer
Balneaacuterios de diversos padrotildees de organizaccedilatildeo e em diferentes estaacutegios de implantaccedilatildeo ocorrem lado a lado com loteamentos especulativos situados mais proacuteximos ou mais distantes da faixa das praias Cidades turiacutesticas e balneaacuterias com excesso de casas e apartamentos enquanto se vende a imagem de uma natureza deslumbrante mas que na verdade estaacute totalmente comprometida pelos proacuteprios planos de loteamento e urbanizaccedilatildeo glebas agrave espera de valorizaccedilatildeo condomiacutenios fechados que privatizam praias ilegalmente e espaccedilos de antigas colocircnias de pesca sendo invadidos ponto a ponto por residecircncias de lazer projetos de loteamento ou edificaccedilotildees agrave espera do aval dos oacutergatildeos de meio ambiente satildeo alguns dos processos selvagens de expansatildeo de uma fronteira caoacutetica de lazer na costa de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Santa Catarina Espiacuterito Santo e Rio Grande do Sul (ABrsquoSAgraveBER 199444)
Todo o espaccedilo costeiro brasileiro acabou comprometido pelos negoacutecios imobiliaacuterios e
pela seduccedilatildeo dirigida para pressionar populaccedilotildees tradicionais natildeo capacitadas a entender o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
85
significado do dinheiro na esfera do capitalismo anocircmalo A faixa litoracircnea caracterizou a
imagem de um sistema desigual de trocas onde aacutereas de grande valor satildeo compradas por
pouco e vendedores ingecircnuos acabam-se tornando os futuros favelados das grandes
cidades vizinhas O conflito entre os diversos interesses em jogo nesses casos acaba por
agravar ainda mais a situaccedilatildeo Em nenhum outro espaccedilo fiacutesico e ecoloacutegico do paiacutes eacute mais
necessaacuterio utilizar as teacutecnicas e meacutetodos de previsatildeo de impactos do que nas regiotildees
costeiras onde se alternam setores turiacutesticos grandes aglomeraccedilotildees urbanas postos e
distritos industriais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
86
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
31 GLOBALIZACcedilAtildeO E A NOVA FUNCcedilAtildeO DAS CIDADES
Com a Revoluccedilatildeo Industrial as cidades reafirmam seu papel como centro de
moradias serviccedilos e cultura e aos poucos vecircm se adaptando agraves mudanccedilas que incidem no
mundo com a globalizaccedilatildeo O conjunto de acontecimentos processos e agentes externos
de uma cidade terminam sempre por penetrar e influenciar o sistema urbano
independentemente se tais efeitos satildeo desejaacuteveis ou natildeo O advento da globalizaccedilatildeo
aumentou a velocidade com que se sucedem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas alteraccedilotildees econocircmicas e socioculturais dificultam a previsatildeo de suas
implicaccedilotildees nas cidades
Consequumlentemente tambeacutem no planejamento urbano torna-se difiacutecil conciliar essas
transformaccedilotildees com o processo construtivo de uma cidade Por este motivo eacute preciso
identificar essas mudanccedilas em curso e avaliar a importacircncia dos impactos destas no
desenvolvimento urbano GUumlELL (1997) afirma que dentre as mudanccedilas ocasionadas pela
globalizaccedilatildeo as principais dizem respeito a aspectos geopoliacuteticos econocircmicos sociais e
tecnoloacutegicos Tais mudanccedilas interferem natildeo somente as grandes cidades mas tambeacutem as
pequenas e meacutedias cidades
No campo geopoliacutetico a situaccedilatildeo atual se caracteriza por uma convivecircncia
contraditoacuteria entre as forccedilas da globalizaccedilatildeo e as da fragmentaccedilatildeo por uma necessidade de
as naccedilotildees preservarem sua diversidade e soberania frente agraves pressotildees globalizadoras
exercidas pelos agentes econocircmicos
A nova ordem econocircmica por sua vez eacute determinada pela globalizaccedilatildeo dos
mercados pelo impulso de intercacircmbios comerciais e aumento da competitividade
empresarial que pedem novas referecircncias para o funcionamento das bases econocircmicas
das cidades Atualmente torna-se necessaacuteria a melhoria do niacutevel de competitividade das
empresas locais o aumento das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas a penetraccedilatildeo nos mercados
exteriores e a capacitaccedilatildeo de matildeo-de-obra
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
87
Por outro lado a nova ordem econocircmica acarreta modificaccedilotildees nas estruturas
sociais jaacute que impotildee aos governos locais desenvolver uma poliacutetica de prevenccedilatildeo e
antecipaccedilatildeo dos problemas sociais intervindo em aacutereas que tradicionalmente seriam
reservadas aos governos estaduais e regionais A globalizaccedilatildeo da economia e introduccedilatildeo de
novas tecnologias nos processos de produccedilatildeo sem a aplicaccedilatildeo de mecanismos corretores
tendem a aumentar as desigualdades sociais a pobreza o desemprego e a inseguranccedila social
O novo contexto tecnoloacutegico caracterizado por aceleradas mudanccedilas requer que as
pessoas sejam capazes de assumir e adaptar-se a esses avanccedilos As empresas e a proacutepria
sociedade necessitam desmontar paradigmas e desenvolver novos modelos que permitam
recuperar a convivecircncia social Segundo BORJA e CASTELLS (2000) a revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica organizada em torno da tecnologia da informaccedilatildeo encontra-se no centro de
todas essas transformaccedilotildees O processo de globalizaccedilatildeo da economia e a comunicaccedilatildeo
modificaram nossas formas de produzir consumir informar e pensar a partir da nova infra-
estrutura tecnoloacutegica
El planeta es asimeacutetricamente interdependiente y esa interdependencia se articula cotidianamente em tiempo real a traveacutes de las nuevas tecnologiacuteas de informacioacuten y comunicacioacuten en un fenoacutemeno histoacutericamente nuevo que abre de hecho una nueva era de la historia de la humanidad la era de la informaciograven21 (BORJA e CASTELLS 200021)
A capacidade de acumulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo capitalista passou a organizar a
economia mundial segundo a interaccedilatildeo e relacionamento entre os espaccedilos urbanos locais
regionais e mundiais De acordo com LOPES (1998) as mudanccedilas decorrentes da
globalizaccedilatildeo expandiram esse processo e criaram uma nova realidade econocircmica social e
poliacutetica onde as cidades ganharam novas funccedilotildees em uma sociedade integrada em rede
Essa rede mundial eacute constituiacuteda a partir de centros especiacuteficos de controle da economia
mundial designados ldquocidades globaisrdquo22 que tendem a incorporar outros centros financeiros
regionais e secundaacuterios na medida em que a escala do controle se expande
As novas funccedilotildees criadas para as cidades originaram o espaccedilo das cidades
mundiais que se caracteriza pelo ambiente competitivo entre as cidades Dentro deste
21 O planeta eacute assimetricamente interdependente e essa interdependecircncia se articula cotidianamente em tempo real atraveacutes das novas tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em um fenocircmeno historicamente novo que abre de fato uma nova era da histoacuteria da humanidade a era da informaccedilatildeo 22 Expressatildeo cunhada por Saskia Sassen em 1991 para designar os pontos nodais dos fluxos financeiros a partir dos quais se obteacutem um controle global dos mercados financeiros secundaacuterios dado que o investimento estrangeiro ocorre cada vez mais segundo o mercado de accedilotildees e de tiacutetulos (COMPANS 2001106)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
88
contexto as cidades estabelecem entre si relaccedilotildees hieraacuterquicas de poder determinadas
pela competiccedilatildeo dos espaccedilos As cidades buscam a ampliaccedilatildeo de seu espaccedilo de comando
e controle a partir de especializaccedilotildees que lhes decircem uma vantagem competitiva para atingir
uma abrangecircncia de accedilatildeo mundial cujo sucesso definiraacute sua posiccedilatildeo hieraacuterquica
Em contrapartida agraves novas funccedilotildees de articulaccedilatildeo e controle as cidades passam a influir nas opccedilotildees estrateacutegicas das empresas a partir de posicionamentos urbanos fiscais econocircmicos e sociais As accedilotildees estrateacutegicas no acircmbito das cidades satildeo definidas dentro da loacutegica do mercado em sobreposiccedilatildeo agrave loacutegica do cidadatildeo que sempre comandou a evoluccedilatildeo urbana A caracteriacutestica principal desse processo eacute a primazia do global sobre o local na busca de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas (LOPES 199838)
As novas funccedilotildees da cidade mundial geram problemas ineacuteditos a serem enfrentados
ao mesmo tempo em que abrem novos horizontes de desenvolvimento econocircmico e social
Tais problemas constituem expansotildees das funccedilotildees normais da cidade geradas pela
globalizaccedilatildeo de espaccedilo local a centro articulador de economias regionais nacionais e
internacionais A inserccedilatildeo da cidade no conjunto de economias interdependentes define a
especializaccedilatildeo de suas novas funccedilotildees e as transformaccedilotildees a elas inerentes
Veremos a seguir como as novas funccedilotildees atribuiacutedas agraves cidades influenciam no
processo de planejamento urbano gerando a reproduccedilatildeo de cidades-modelo cujo principal
objetivo eacute tornarem-se atraentes para o capital e obter sua posiccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
32 ESTRATEacuteGIAS DAS CIDADES PARA AS NOVAS FUNCcedilOtildeES URBANAS
O planejamento urbano direcionado pelo Estado e executado no Brasil nas primeiras
deacutecadas do seacuteculo XX fundamentava-se no controle racional e centralizado das poliacuteticas
puacuteblicas urbanas Na deacutecada de 1970 o planejamento urbano passou por uma seacuterie de
questionamentos acerca do encaminhamento das accedilotildees realizadas no espaccedilo A urbanizaccedilatildeo
acelerada originou a necessidade de maior mobilizaccedilatildeo de recursos por parte dos governos
locais que atendessem agraves demandas da populaccedilatildeo por serviccedilos puacuteblicos O niacutevel de
atendimento a essas demandas segundo LOPES (1998) eacute definido pela competitividade da
cidade na produccedilatildeo de bens e serviccedilos jaacute que a capacidade de cobranccedila de impostos estaacute
diretamente vinculada ao ritmo de acumulaccedilatildeo de riqueza Torna-se necessaacuterio ampliar a
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
89
capacidade de acumulaccedilatildeo de riquezas a niacuteveis compatiacuteveis com o crescimento dos tributos
locais que satildeo necessaacuterios para o atendimento dessas demandas
Essa questatildeo originou um novo modelo de planejamento fundamentado na ideacuteia de
cidade como maacutequina de produzir riquezas onde o termo dominante eacute a gestatildeo
empresarial O conceito de fundamentalismo de mercado vem sendo utilizado pelo
neoliberalismo para referir-se a uma ideologia com pretensotildees universais e inquestionaacuteveis
que defendem o domiacutenio absoluto da economia e do mercado sobre as esferas poliacuteticas
sociais e culturais do mundo globalizado
A concepccedilatildeo de cidade como categoria funcional nos moldes da produccedilatildeo industrial
acabou entatildeo substituiacuteda pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Aleacutem da competiccedilatildeo pela
produccedilatildeo e consumo declara-se uma disputa entre as cidades para tornarem-se espaccedilos
atraentes para o capital Na anaacutelise de ARANTES (2000) tal pensamento se manifesta na
convergecircncia entre governantes burocratas e urbanistas de que cada oportunidade de
renovaccedilatildeo urbana possa ser uma possibilidade de elevar vantagens comparativas das
cidades no mundo global Para tanto torna-se indispensaacutevel a elaboraccedilatildeo de um Plano
Estrateacutegico capaz de gerar respostas competitivas aos desafios da globalizaccedilatildeo
ARANTES (2000) afirma que as cidades modernas sempre estiveram associadas agrave
divisatildeo social do trabalho e acumulaccedilatildeo capitalista sendo a configuraccedilatildeo espacial urbana
reflexo dessa relaccedilatildeo com a reproduccedilatildeo do capital Os efeitos da globalizaccedilatildeo sobre as
poliacuteticas de ocupaccedilatildeo do territoacuterio urbano constituem dado essencial nos caacutelculos sobre
como tornar uma cidade competitiva
Nesta nova fase do capitalismo as cidades passam a ser geridas e consumidas
como mercadoria O lugar representa um valor-de-uso para seus habitantes e valor de troca
para os interessados em extrair dele um benefiacutecio econocircmico qualquer sobretudo na forma
de uma renda exclusiva A cidade passa a ser vista como empreendimento e as poliacuteticas
urbanas satildeo entatildeo conformadas com o propoacutesito de expandir a economia local e aumentar
riquezas Assim como a orientaccedilatildeo e o controle da expansatildeo urbana foram substituiacutedos pelo
impulso de crescimento um novo tipo de profissional emergiu da metamorfose do
funcionaacuterio puacuteblico local o planejador-empreendedor
ARANTES (2000) ressalta ainda que alguns elementos tomam forccedila para dar sentido
agrave ldquofoacutermulardquo de sobrevivecircncia das cidades no mundo da competitividade extrema O padratildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
90
que vem proliferando consiste em processos de ldquogentrificaccedilatildeordquo 23 a conhecida ldquorevitalizaccedilatildeo
urbanardquo em zonas degradadas possiacutevel graccedilas agrave uniatildeo entre o setor puacuteblico e a iniciativa
privada e encarregada de promover os investimentos privados com fundos puacuteblicos
Caracteriza-se por projetos dirigidos a gerar a promoccedilatildeo do ldquoespetaacuteculordquo e da cultura ndash
como negoacutecio e mercadoria ndash e que transformam a cidade existente tornando-a mais atrativa
para novos moradores em substituiccedilatildeo aos antigos habitantes e mais interessante para o
capital internacional
o seu cenaacuterio de origem vem a ser o do movimento de volta agrave cidade no mais das vezes dando origem aos conhecidos processos de gentrification (ou ldquorevitalizaccedilatildeo urbanardquo conforme preferem falar seus promotores) em grande parte desencadeados pelo reencontro glamouroso entre Cultura (urbana ou natildeo) e Capital (ARANTES 200015)
O presente modelo de planejamento estaacute embasado no chamado ldquoculturalismo de
mercadordquo de forma que a cultura passa a constituir a acircncora identitaacuteria da nova urbaniacutestica
tornando-se negoacutecio e imagem em uma nova fonte de acumulaccedilatildeo de poder e dinheiro
LOPES (1998) confirma que na competitividade entre cidades constitui importante aspecto a
infra-estrutura fiacutesica e social associada a uma identidade cultural marcante e que torne as
cidades atraentes como local de vida O espaccedilo local eacute definido pela estruturaccedilatildeo social e
cultural que caracteriza e diferencia uma cidade da outra
ARANTES (2000) conclui que todo incremento de crescimento local mantidas as
correlaccedilotildees sociais vigentes implica em uma transferecircncia de riquezas e chances de vida
do puacuteblico em geral para grupos rentistas e seus associados As cidades na busca pela
atratividade cercam-se de aparatos culturais de alto padratildeo mas somente aqueles que
possuem condiccedilotildees poderatildeo usufruiacute-los O capital cultural incorporado nas cidades forja o
seu futuro reduzindo o futuro das aacutereas menos favorecidas
Na opiniatildeo de VAINER (2000) atualmente a questatildeo urbana tem como ponto central
a problemaacutetica da competitividade urbana Para o autor no discurso do planejamento
estrateacutegico urbano a cidade em seu conjunto e de maneira direta aparece assimilada agrave
empresa entre os elementos que presidem o empresariamento da gestatildeo urbana a
produtividade a competitividade e a subordinaccedilatildeo dos fins agrave loacutegica do mercado
23 O processo de ldquogentrificaccedilacircordquo significa praacuteticas de reapropriaccedilatildeo de espaccedilos pelo mercado atraveacutes de operaccedilotildees urbanas que lhes conferem novo valor econocircmico e simboacutelico geralmente orientando-os para o consumo de camadas meacutedias Apresentados como espaccedilos ldquorevitalizadosrdquo para fins
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
91
Competir pelo investimento de capital tecnologia e competecircncia gerencial Competir na atraccedilatildeo de novas induacutestrias e negoacutecios Ser competitivas no preccedilo e na qualidade dos serviccedilos Competir na atraccedilatildeo de forccedila de trabalho adequadamente qualificada (World Economic Development Congress amp The World Bank 1998 apud VAINER 200077)
Agir empresarialmente na cidade significa tomar decisotildees a partir das informaccedilotildees e
expectativas geradas pelo mercado Constitui a condiccedilatildeo de transposiccedilatildeo do planejamento
estrateacutegico da corporaccedilatildeo privada para o territoacuterio puacuteblico urbano Este projeto de cidade
implica direta e imediata apropriaccedilatildeo da mesma por interesses empresariais globalizados e
depende do banimento da poliacutetica da dissimulaccedilatildeo do ldquoconflitordquo e da reduccedilatildeo das condiccedilotildees
de exerciacutecio da cidadania
VAINER (2000) ainda afirma que a instauraccedilatildeo da cidade como empresa constitui a
negaccedilatildeo da cidade enquanto espaccedilo poliacutetico porque a tendecircncia liberal eacute a de contrariar o
sentido da democracia sempre que os interesses do mercado entram em conflito com os
interesses democraacuteticos Para entatildeo construir poliacutetica e intelectualmente as condiccedilotildees de
legitimaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo do poder puacuteblico agraves exigecircncias do capital internacional e local
torna-se necessaacuterio gerar um ldquopatriotismo de cidaderdquo e um consenso entre os habitantes
por meio de um sentimento de identidade adquirido atraveacutes da promessa de geraccedilatildeo de
empregos
a estrateacutegia conduz agrave destruiccedilatildeo da cidade como espaccedilo de poliacutetica como lugar de construccedilatildeo da cidadania A reivindicaccedilatildeo de poder para as comunidades e coletividades locais conquistada em uma luta travada em nome do auto-governo se consuma como abdicaccedilatildeo em favor de chefes carismaacuteticos que encarnam o projeto empresarial (VAINER 200098)
O novo conceito de planejamento impotildee a presenccedila de novos atores basicamente
do setor privado A parceria puacuteblico-privado assegura que interesses do mercado estaratildeo
presentes representados no processo de planejamento urbano pela participaccedilatildeo direta dos
empresaacuterios nos processos de decisatildeo referentes ao planejamento e agrave execuccedilatildeo das
poliacuteticas urbanas Tais parcerias permitem ao setor privado a satisfaccedilatildeo de seus interesses
junto ao poder puacuteblico Vaacuterias satildeo as formas e os mecanismos de transferecircncia dos recursos
puacuteblicos (financeiros fundiaacuterios e poliacuteticos) para os grupos privados a participaccedilatildeo privada
em agecircncias puacuteblicas e o surgimento da associaccedilatildeo empresarial com o aporte de capitais por
parte do poder puacuteblico para financiar empreendimentos de grupos empresariais privados
mercadoloacutegicos neles a populaccedilatildeo original vivencia a ldquorevitalizaccedilatildeordquo como mecanismo gerador de expulsatildeo e segregaccedilatildeo social (SAacuteNCHEZ 2001163)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
92
Para LOPES (1998) a parceria entre os governos locais e a iniciativa privada nasce
como nova necessidade As cidades que permitem oferecer maior competitividade em
termos globais agraves empresas privadas satildeo as mais procuradas para a instalaccedilatildeo dessas
empresas o que conduz a um processo de centralizaccedilatildeo das atividades econocircmicas
Cidades com fortes posiccedilotildees de mercado tecircm condiccedilotildees de atrair investimentos essenciais
ao processo de acumulaccedilatildeo A mobilidade do capital passa a exigir dos governos locais
constante apoio e suporte aos atores econocircmicos privados o que conduz a limitaccedilotildees na
administraccedilatildeo do espaccedilo urbano sob sua jurisdiccedilatildeo
A parceria puacuteblico-privado desenvolveu-se em um paracircmetro baacutesico de competitividade em funccedilatildeo da necessidade de atraccedilatildeo de agentes econocircmicos por parte das cidades A gestatildeo puacuteblica eacute cada vez mais condicionada pela loacutegica do mercado sendo uma funccedilatildeo essencial a sua capacidade de otimizaccedilatildeo da produtividade dos agentes econocircmicos localizados ou que venham a se localizar no espaccedilo da sua jurisdiccedilatildeo (LOPES 199856)
Aleacutem da parceria puacuteblico-privado o marketing urbano ou city marketing constitui
outro paracircmetro de competitividade que passa a ser determinante no processo de
planejamento e gestatildeo das cidades Trata-se de uma tentativa de construccedilatildeo de uma
imagem positiva da cidade objetivando atrair investimentos e visitantes Pode-se dizer que o
problema que existe por traacutes do marketing urbano eacute o mesmo que se encontra em qualquer
propaganda enganosa em que as qualidades do produto a ser comercializado satildeo
exageradas e possiacuteveis defeitos satildeo escondidos
Para MARICATO (2000) a dissimulaccedilatildeo da cidade em publicidade e propaganda
constitui uma representaccedilatildeo a construccedilatildeo da ficccedilatildeo Para atrair investimentos determina-se
a necessidade de criar produtos urbanos que podem ser por exemplo uma oferta cultural
ou uma imagem de cidade segura ou atrativa A venda da cidade deve estar baseada na
venda dos seus atributos especiacuteficos que constituem insumos valorizados pelo capital
transnacional O governo local deve entatildeo promover a cidade para o exterior atraveacutes de
uma imagem forte e positiva apoiada numa oferta de infra-estruturas e serviccedilos A cidade eacute
apresentada com uma imagem de cidade justa e democraacutetica acompanhada da imagem de
uma cidade segura Mas a oferta de uma cidade segura natildeo quer dizer necessariamente
seguranccedila para os que nela habitam significa a criaccedilatildeo de seguranccedila e aacutereas de isolamento
para os visitantes
A pesquisadora SAacuteNCHEZ (2003) concorda que o city-marketing contribui para a
produccedilatildeo de imagens e discursos referentes agrave cidade Dessa maneira satildeo aprovadas as
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
93
estrateacutegias de intervenccedilatildeo urbana que objetivam a construccedilatildeo do mercado e do espaccedilo
mundiais impondo e justificando o novo discurso sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo
Essa estrateacutegia global encontra uma nova dinacircmica para a reproduccedilatildeo do capitalismo A construccedilatildeo da cidade-mercadoria que sob a eacutegide do poder poliacutetico do Estado perfila-se por meio dos processos de renovaccedilatildeo urbana (como exigecircncia da economia competitiva) e por meio da construccedilatildeo de imagem para inseri-la no mercado Como mercadoria especial envolve estrateacutegias especiais satildeo produzidas representaccedilotildees que obedecem a uma determinada visatildeo de mundo satildeo construiacutedas imagens-siacutentese sobre a cidade e satildeo criados discursos referentes agrave cidade encontrando na miacutedia e nas poliacuteticas de city-marketing importantes instrumentos de difusatildeo e afirmaccedilatildeo (SAacuteNCHEZ 2003148)
Como forma de apoio ao seu discurso os governos utilizam-se de investimentos em
imagens simboacutelicas do marketing urbano internacional que guardam relaccedilotildees de
semelhanccedilas significativas entre si Tal identificaccedilatildeo segundo SAacuteNCHEZ (2003) permite
pensar que os processos de renovaccedilatildeo urbana as pautas para a gestatildeo puacuteblica das
cidades e o campo poliacutetico-institucional para a atuaccedilatildeo dos agentes guardam tambeacutem
semelhanccedilas A autora realiza uma anaacutelise de processos de renovaccedilatildeo urbana a partir da
deacutecada de 90 nas cidades de Barcelona e Curitiba segundo as poliacuteticas puacuteblicas e
estrateacutegias de ldquovendardquo efetuadas nessas cidades O estudo seraacute visto ainda neste capiacutetulo e
leva a resultados convergentes acerca de como tais cidades vecircm sendo ldquovendidasrdquo
O novo modelo de planejamento vem sendo propagado como uacutenica alternativa para
fazer frente agraves novas condiccedilotildees impostas pela cidade capitalista e pela globalizaccedilatildeo
Analisaremos em seguida as origens do planejamento estrateacutegico atraveacutes dos estudos de
GUumlELL (1997) Veremos como ocorreu sua transiccedilatildeo para o planejamento urbano e de que
maneira tal processo foi aplicado em determinadas cidades como variaccedilotildees em torno do
mesmo modelo
33 O MODELO ESTRATEacuteGICO DE PLANEJAMENTO DAS CIDADES
O conceito de planejamento estrateacutegico foi extraiacutedo da praacutetica militar e passou a ser
utilizado como instrumento empresarial a partir da segunda metade do seacuteculo XX para
posteriormente ser aplicado tambeacutem nos processos de gestatildeo e planejamento urbanos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
94
De acordo com GUumlELL (1997) no que concerne ao campo militar o termo
ldquoestrateacutegiardquo pode definir-se como a arte de conduzir um exeacutercito ateacute a presenccedila do inimigo e
dirigir as operaccedilotildees para atingir o objetivo desejado Sua aplicaccedilatildeo remonta agraves guerras das
origens da histoacuteria (haacute mais de 2300 anos) e tanto a estrateacutegia militar antiga quanto a
estrateacutegia militar moderna e contemporacircnea apresentam um aspecto em comum invariaacutevel
atraveacutes do tempo e da histoacuteria desenvolvem-se por contraposiccedilatildeo de interesses por
antagonismo entre Estados
A estrateacutegia pode entatildeo ser definida a partir de um sentido elementar e universal
como uma astuacutecia para superar os obstaacuteculos postos pela vontade do oponente Onde
existir antagonismo haveraacute estrateacutegia como meacutetodo que permite hierarquizar e classificar
accedilotildees para escolher com rapidez os procedimentos eficazes voltados a reduzir ou eliminar
as contraposiccedilotildees ou antagonismos
A aplicaccedilatildeo dos princiacutepios da estrateacutegia militar na gestatildeo empresarial deu-se
efetivamente no periacuteodo poacutes-guerra momento em que as empresas tinham por objetivo
transpor seus competidores e dominar o mercado Segundo GUumlELL (1997) nas empresas
americanas Dupont de Nemours e General Motors foram incorporadas as primeiras
estrateacutegias (fixaccedilatildeo de objetivos) e taacuteticas (meios para alcanccedilaacute-los) aos planos das
empresas
GUumlELL (1997) define a estrateacutegia empresarial como um modo sistemaacutetico de
gerenciar mudanccedilas na empresa com o propoacutesito de competir em vantagem no mercado
adaptar-se ao entorno definir os produtos e maximizar os benefiacutecios Trata-se de um
processo reflexivo e criativo de elaboraccedilatildeo de uma seacuterie de estrateacutegias que buscam o
crescimento rentabilidade e eficiecircncia da empresa levando-se em consideraccedilatildeo os
aspectos fortes e fracos presentes em consideraccedilatildeo agraves ameaccedilas e oportunidades futuras
O processo metodoloacutegico do planejamento estrateacutegico empresarial compreende o
conjunto de etapas dispostas abaixo O planejamento caracteriza-se mais como um
processo circular onde tais etapas podem ocorrer simultacircnea e muitas vezes do que
necessariamente como um processo sequumlencial loacutegico como mostra a Figura 6
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
95
Anaacutelise externa
Anaacutelise do cliente
Anaacutelise competitiva
Anaacutelise do setor
Anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna
Anaacutelise de rendimento
Revisatildeo da estrateacutegia
Anaacutelise daorganizaccedilatildeo
Anaacutelise de custos
Anaacutelise de portfoacutelio
Anaacutelise de recursoshumanos
Identificaccedilatildeo e seleccedilatildeo da estrateacutegia
Especificaccedilatildeoda missatildeo
Identificaccedilatildeoda
estrateacutegiaalternativa
Seleccedilatildeoentre
alternativasestrateacutegicas
Implantaccedilatildeo
Revisatildeo estrateacutegica
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial Fonte Aaker apud Guumlell 199726
Anaacutelise externa implica no exame dos elementos exteriores relevantes para a
empresa com identificaccedilatildeo dos riscos e oportunidades presentes e futuras Esta
etapa se divide em quatro partes anaacutelise do cliente anaacutelise competitiva anaacutelise
do setor e anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna proporciona compreensatildeo detalhada dos aspectos da empresa de
potencial estrateacutegico com identificaccedilatildeo dos pontos fortes e fracos problemas e
restriccedilotildees Esta etapa compreende fundamentalmente a anaacutelise dos
rendimentos da estrateacutegia existente da organizaccedilatildeo interna dos custos portfolio
de produtos recursos e limitaccedilotildees financeiras
Especificaccedilatildeo da missatildeo a partir das anaacutelises anteriores eacute possiacutevel identificar os
objetivos e metas que se quer para o negoacutecio levando-se em consideraccedilatildeo
diferenciais alternativos relacionados agraves aacutereas de negoacutecios da empresa que a
diferencie dos demais competidores
Identificaccedilatildeo de estrateacutegia alternativa deduccedilatildeo de diversas alternativas estrateacutegicas
que facilitem a obtenccedilatildeo de vantagem competitiva da empresa baseada em geral
em torno de trecircs elementos diferenciaccedilatildeo baixo custo e concentraccedilatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
96
Seleccedilatildeo entre alternativas estrateacutegicas entre os criteacuterios de seleccedilatildeo cabe dar
destaque para a sensibilidade ante as oportunidades e ameaccedilas do entorno a
resposta aos objetivos da organizaccedilatildeo e a facilidade de execuccedilatildeo
Implantaccedilatildeo plano operativo que conteacutem objetivos especiacuteficos em curto prazo
necessidade de modificaccedilotildees na estrutura organizacional da empresa que se
adapte agrave nova estrateacutegia
Revisatildeo estrateacutegica determinar quando satildeo necessaacuterias a revisatildeo e mudanccedila de
estrateacutegias
GUumlELL (1997) aponta uma seacuterie de fenocircmenos que explicam a inserccedilatildeo dos
fundamentos do planejamento estrateacutegico em acircmbito urbano
1 O dinamismo derivado das mudanccedilas econocircmicas e poliacuteticas e as inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas acompanhadas das modificaccedilotildees socioculturais vecircm exigindo do
planejamento urbano novas soluccedilotildees
2 Os gestores puacuteblicos satildeo obrigados a se inclinar perante as exigecircncias de
competitividade dos diversos agentes sociais e econocircmicos que constituem os atores da cidade
3 A abertura dos mercados e a integraccedilatildeo das naccedilotildees em niacutevel global tecircm
incentivado a competitividade entre cidades que exige do planejamento capacidade de
antecipaccedilatildeo e atuaccedilatildeo ofensiva
4 Por uacuteltimo a complexidade e a inter-relaccedilatildeo dos problemas das cidades
demandam o enfoque multidisciplinar e intersetorial para superar as limitaccedilotildees dos
tradicionais planos setoriais
O ritmo com que se sucedem as mudanccedilas decorrentes do processo de globalizaccedilatildeo
acarreta dificuldades e questotildees relevantes ao planejamento e agrave gestatildeo urbana GUumlELL
(1997) acredita que apesar dos equiacutevocos conceituais cometidos nos primeiros planos
estrateacutegicos realizados nas deacutecadas de 1980 e 1990 os seus benefiacutecios ultrapassam as
desvantagens e podem ser de grande utilidade se convenientemente utilizados Ele
defende de que para evitar a vulgarizaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico eacute necessaacuterio inseri-
lo nos processos tradicionais de planejamento fiacutesico econocircmico e social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
97
Teacuterminos como orientacioacuten hacia la demanda atractivo de la oferta
urbana posicionamiento competitivo y acciones de maacuterketing que hasta hace poco quedaban restringidos al aacutembito empresarial hoy son moneda comuacuten em las administraciones locales y regionales Este naciente intereacutes em el sector puacuteblico por los conceptos de estrategia empresarial viene motivado no tanto por la corriente neoliberal em boga como por la magnitud y celeridad de los cambios socioeconoacutemicos que estan afectando de forma significativa a nuestras ciudades Esta situacioacuten haacute conducido a la exploracioacuten de nuevos enfoques em materia de planificacioacuten urbana que respondan a las exigencias emergentes entre los cuales destaca la planificacioacuten estrateacutegica por su novedad y su amplia difusioacuten24 (GUumlELL 199717)
O autor afirma que o dinamismo do entorno tem produzido uma seacuterie de
modificaccedilotildees relevantes nos instrumentos tradicionais de planejamento urbano que
capacite a atividade de planejamento a dar uma resposta aacutegil e adequada agrave nova realidade
Tais modificaccedilotildees abrangem a atividade de planejamento e gestatildeo urbana e satildeo
sintetizadas a partir dos seguintes pontos (GUumlELL 199751)
Descentralizaccedilatildeo das competecircncias urbaniacutesticas atraveacutes da transferecircncia das
competecircncias urbaniacutesticas dos governos centrais aos perifeacutericos de forma a
reforccedilar os governos regionais Esta situaccedilatildeo favorece a adaptaccedilatildeo da legislaccedilatildeo
urbaniacutestica agraves peculiaridades de cada regiatildeo debilitando o planejamento
centralizado
Participaccedilatildeo dos agentes de desenvolvimento econocircmico nas decisotildees
urbaniacutesticas atraveacutes dos agentes econocircmicos puacuteblicos e privados que atuam de
forma direta por meio das suas atividades produtivas ou indireta por meio do
desenvolvimento de infra-estruturas
Crescente participaccedilatildeo dos movimentos sociais no urbanismo atraveacutes da
intervenccedilatildeo da sociedade civil no processo de desenvolvimento urbano Os
movimentos sociais canalizam as preocupaccedilotildees e desejos dos grupos cidadatildeos
24 Termos como orientaccedilatildeo segundo a demanda atrativo da oferta urbana posicionamento competitivo e accedilotildees de marketing que ateacute pouco tempo estiveram restritos ao espaccedilo das empresas satildeo hoje comuns nas administraccedilotildees locais e regionais Este crescente interesse do setor puacuteblico pelos conceitos de estrateacutegia empresarial vem motivado natildeo somente pela corrente neoliberal em voga mas tambeacutem pela magnitude e velocidade das mudanccedilas soacutecio-econocircmicas que estatildeo afetando de maneira significativa as nossas cidades Esta situaccedilatildeo tem conduzido agrave exploraccedilatildeo de novos enfoques no que se refere ao planejamento urbano que respondam agraves exigecircncias emergentes dentre os quais destaca-se o planejamento estrateacutegico por sua novidade e ampla difusatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
98
Aumento da rivalidade entre as cidades a rivalidade entre as cidades para atrair
atividades econocircmicas obriga os governos a utilizar todos os instrumentos a sua
disposiccedilatildeo incluindo os que abrangem o planejamento urbano como forma de
aumento da competitividade e atratividade
Incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na gestatildeo urbaniacutestica o aperfeiccediloamento
dos sistemas de informaccedilotildees e automatizaccedilatildeo dos procedimentos administrativos
permitem a utilizaccedilatildeo de instrumentos mais sofisticados que facilitem a tomada
de decisotildees complexas nas gestotildees urbanas
Maior exigecircncia de transparecircncia os cidadatildeos jaacute natildeo admitem mais que os
processos de planejamento e gestatildeo urbana sejam elaborados e executados
somente por um grupo de teacutecnicos e agentes econocircmicos
O conjunto de modificaccedilotildees acima citadas acarreta por sua vez a necessidade de
novo enfoque metodoloacutegico e outros instrumentos de anaacutelise Para GUumlELL (1997) eacute
necessaacuterio um projeto estrateacutegico ambicioso que cumpra com dois objetivos 1- orientar e
articular as accedilotildees setoriais empreendidas conforme um programa global 2- estimular o
conjunto da sociedade para atingir um horizonte definido
VAINER (2000) afirma que o planejamento estrateacutegico aplicado agraves cidades e
inspirado nos conceitos e teacutecnicas derivados do planejamento empresarial foi originalmente
sistematizado na Harvard Business School Segundo seus precursores deve ser adotado
pelos governos locais em razatildeo de estarem as cidades submetidas agraves mesmas condiccedilotildees e
desafios que as empresas Na praacutetica nasceu da implantaccedilatildeo do neoliberalismo nos
Estados Unidos e na Inglaterra O primeiro plano estrateacutegico foi aplicado na cidade de Satildeo
Francisco Califoacuternia nos Estados Unidos em 1982
Na anaacutelise de LOPES (1998) quanto ao modelo de Harvard o autor comprova que o
arqueacutetipo procura estabelecer a melhor forma de adaptaccedilatildeo de uma organizaccedilatildeo ao seu
meio ambiente O modelo define as forccedilas e fraquezas internas de uma organizaccedilatildeo frente
agraves ameaccedilas e oportunidades externas levando em consideraccedilatildeo o valor de sua
administraccedilatildeo e as responsabilidades sociais As estrateacutegias satildeo definidas com o objetivo de
obter vantagens em funccedilatildeo das oportunidades e minimizar as fraquezas e ameaccedilas
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
99
O planejamento estrateacutegico pode definir-se como uma forma sistemaacutetica de articular
as mudanccedilas tendo por base uma accedilatildeo integrada em longo prazo Estabelece um sistema
contiacutenuo de tomada de decisotildees que comporta um risco mas identifica o curso das accedilotildees
especiacuteficas formulando indicadores para acompanhamento dos resultados e destacando os
agentes sociais e econocircmicos locais ao longo de todo o processo
Natildeo entraremos neste trabalho na questatildeo dos meacutetodos e teacutecnicas do
planejamento estrateacutegico urbano Trataremos o tema como estrateacutegias de intervenccedilatildeo e
gestatildeo urbanas como meio para atrair investimentos eou visitantes e obter a posiccedilatildeo das
cidades em niacutevel nacional e internacional Analisaremos a seguir as estrateacutegias de
intervenccedilotildees urbanas baseadas nessas premissas e colocadas em praacutetica em trecircs cidades
Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
34 VARIACcedilOtildeES EM TORNO DE UM MESMO MODELO
341 BARCELONA E O CASO DA VILA OLIacuteMPICA
Barcelona eacute a capital da Catalunha uma regiatildeo cuja sociedade encontra-se em
constante luta de auto-afirmaccedilatildeo Segundo os estudos de SAacuteNCHEZ (2003) tal fato
contribuiu para a compreensatildeo da posiccedilatildeo poliacutetica do governo da cidade que buscou a
transformaccedilatildeo de Barcelona em ldquocidade-modelordquo dentro da Comunidade Europeacuteia
As intervenccedilotildees estrateacutegicas urbanas realizadas em Barcelona e que impulsionaram
o seu projeto de cidade tiveram iniacutecio na deacutecada de 1980 durante o governo de Pasqual
Maragall pelo Partido Socialista Maragall assumiu o poder em 1982 (apoacutes renuacutencia de
Narciacutes Serra ao cargo de alcaide) e teve seu mandato revalidado por quatro vezes
consecutivas nas eleiccedilotildees de 1983 1987 1991 e 1995 Esta sequumlecircncia poliacutetico-
administrativa foi primordial para o sucesso do seu projeto de renovaccedilatildeo urbana que atingiu
o auge com o projeto oliacutempico realizado para a futura sede das Olimpiacuteadas de 1992
No iniacutecio da deacutecada de 1980 a poliacutetica urbana adotada pelo governo municipal
comprometia-se com o ideaacuterio de equumlidade e de justiccedila social na cidade A avaliaccedilatildeo feita
por SAacuteNCHEZ (2003) mostra que nos primeiros anos do governo socialista verificou-se um
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
100
esforccedilo por parte da administraccedilatildeo puacuteblica municipal para garantir que os investimentos em
infra-estrutura fossem tambeacutem investimentos socialmente redistributivos em termos de
equalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida urbana nos espaccedilos da cidade Prevaleceram as
intervenccedilotildees em pequena escala efetivamente distribuiacutedas em todas as aacutereas perifeacutericas da
cidade Tratava-se de um ldquourbanismo defensivordquo que buscava basicamente resgatar a
normalidade administrativa e a eacutetica de gestatildeo
No final da deacutecada de 1980 iniciou-se uma etapa de aplicaccedilatildeo de intervenccedilotildees
urbanas mais ofensivas na cidade As reivindicaccedilotildees dos atores coletivos e o levantamento
das necessidades dos bairros foram reconhecidos em alguns casos sendo determinadas
definiccedilotildees projetuais e prioridades para as obras Entretanto tal situaccedilatildeo natildeo se aplicou a
toda a cidade as reivindicaccedilotildees constituiacuteram um dado a levar-se em conta no lanccedilamento
das intervenccedilotildees urbanas mas natildeo consistia elemento uacutenico para o planejamento
Em 1986 a nomeaccedilatildeo de Barcelona como sede das Olimpiacuteadas de 1992 consistiu
em decisivo fator acelerador da modernizaccedilatildeo urbana e uma justificativa para o projeto de
renovaccedilatildeo urbana desenvolvido nos anos 1980 e 1990 O projeto girou em torno das
grandes obras oliacutempicas de renovaccedilatildeo (Figuras 7 a 10) elaboradas a partir da parceria da
administraccedilatildeo puacuteblica com os setores empresariais privados
O que estava em disputa era o espaccedilo poliacutetico o sentido dado ao espaccedilo da cidade e o poder de cada instituiccedilatildeo puacuteblica ou privada sobre fragmentos da cidade que estavam sendo renovados e que seriam inseridos num mercado cujas conexotildees eram trans-escalares locais regionais nacionais e internacionais Eacute nesse periacuteodo de profunda renovaccedilatildeo urbana para os jogos oliacutempicos que eacute possiacutevel identificar a emergecircncia da cidade-mercadoria do espaccedilo da cidade concebido e renovado para um mercado global da cidade tornada uma marca um emblema dessa transformaccedilatildeo espacial (SAacuteNCHEZ 2003237)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
101
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica e Torre Telefocircnica ao fundo Foto Fernando Hayashi
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de Montjuic Vila OliacutempicaFoto Fernando Hayashi
O alegado sucesso do ldquomodelo Barcelonardquo favoreceu a difusatildeo desse conceito de
projeto aos planos desenvolvidos na Ameacutetica Latina e em particular no Brasil permitindo
identificar alguns pontos principais para os quais se voltam a accedilatildeo poliacutetica e os programas
(SAacuteNCHEZ 2003319)
A competitividade econocircmica com poliacuteticas de apoio agraves empresas a criaccedilatildeo de
emprego a atraccedilatildeo de investimentos e o city- marketing
A coesatildeo social por meio de programas de fortalecimento da identificaccedilatildeo dos
cidadatildeos atraveacutes de um ldquoprojeto de cidaderdquo com estiacutemulo ao sentido de
pertencimento a integraccedilatildeo de minorias o bem-estar social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
102
Uma melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente urbano com vistas agrave
construccedilatildeo da ldquosociedade sustentaacutevelrdquo
A modernizaccedilatildeo da gestatildeo com programas relativos a financcedilas e impostos com a
participaccedilatildeo do cidadatildeo e atendimento ao cidadatildeo
A melhoria da mobilidade atraveacutes da gestatildeo do tracircnsito dos estacionamentos e
dos transportes puacuteblicos
Infra-estrutura urbana e de telecomunicaccedilotildees com a modernizaccedilatildeo de portos
aeroportos teleportos e com projetos e operaccedilotildees urbaniacutesticas para a
reestruturaccedilatildeo urbana
A modernizaccedilatildeo e a expansatildeo do turismo urbano
O modelo de Barcelona foi difundido atraveacutes de teacutecnicas e procedimentos de
ldquotrabalho qualitativordquo onde satildeo estabelecidos cenaacuterios futuros imagens e tendecircncias para
as cidades com ecircnfase na definiccedilatildeo dos seus atributos e seu papel regional e internacional
Indicadores oferecem um panorama das accedilotildees poliacuteticas necessaacuterias criando
ldquooportunidadesrdquo para as cidades competiccedilatildeo com outras cidades expectativas relativas agrave
qualidade de vida cenaacuterios de competitividade econocircmica infra-estrutura e meio ambiente
dinacircmica demograacutefica migraccedilotildees e coesatildeo social
342 CURITIBA E SUAS INTERVENCcedilOtildeES URBANAS
A imagem de Curitiba como ldquocidade-modelordquo deu-se no iniacutecio dos anos 1970
Segundo SAacuteNCHEZ (2003) a populaccedilatildeo de Curitiba praticamente dobrou em uma deacutecada
no periacuteodo que vai de 1960 a 1970 resultante da migraccedilatildeo campo-cidade Tornou-se
necessaacuterio um Plano Preliminar de Urbanismo feito em 1965 e que propunha diretrizes de
uso do solo transporte coletivo localizaccedilatildeo industrial e aacutereas de lazer
Os Planos Diretores seguintes datados de 1966 e da deacutecada de 1970
apresentavam um modelo de expansatildeo urbana por meio de eixos estruturais ao longo dos
quais propunha-se uma soluccedilatildeo de transporte coletivo atraveacutes de canaletas exclusivas para
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
103
ocircnibus Outras propostas dos planos diziam respeito a padrotildees especiacuteficos de uso do solo
altura das edificaccedilotildees e atividades permitidas aleacutem de uma zona especial para a promoccedilatildeo
da industrializaccedilatildeo
O Plano Diretor da deacutecada de 1970 eacute marcado pelas intervenccedilotildees que deram iniacutecio agrave
formaccedilatildeo da imagem de cidade-modelo que girou em torno de Curitiba desde entatildeo a
recuperaccedilatildeo do centro com preservaccedilatildeo do Centro Histoacuterico e incentivo a determinadas
atraccedilotildees culturais e de lazer a criaccedilatildeo daquela que seria promovida como a ldquoprimeira rua de
pedestres do Brasilrdquo (o calccediladatildeo da Rua das Flores) e a criaccedilatildeo dos primeiros parques urbanos
As intervenccedilotildees urbanas desta eacutepoca caracterizaram Curitiba como siacutembolo de
inovaccedilatildeo modernidade eficiecircncia e preocupaccedilatildeo com o meio ambiente legitimando a
imagem da cidade como modelo e referecircncia entre as demais cidades brasileiras Tal
imagem comeccedilou a se impor em escala nacional a partir da deacutecada de 1970 perdeu espaccedilo
apenas por alguns anos na deacutecada de 1980 e voltou com forccedila poliacutetica na deacutecada de 1990
SAacuteNCHEZ (2003) declara que a histoacuteria deste projeto demonstra a necessidade de
conciliaccedilatildeo do planejamento urbano com o atendimento dos interesses empresariais na
busca de uma hegemonia poliacutetica que possa materializar o plano e alcanccedilar a
implementaccedilatildeo das poliacuteticas urbanas A autora coloca um conjunto de fatores explicativos
para alcance do projeto
1 A construccedilatildeo de uma coalizatildeo de interesses das elites empresariais e poliacuteticas em
torno do projeto de cidade e continuidade poliacutetico-administrativa permitiram a implementaccedilatildeo
do plano Tal continuidade deu-se atraveacutes da primeira administraccedilatildeo do prefeito Jaime
Lerner da Alianccedila Renovadora Nacional - ARENA (1971-1975) seguida por Saul Raiz do
seu mesmo grupo poliacutetico (1975-1979) para entatildeo uma nova indicaccedilatildeo agrave prefeitura por
Jaime Lerner (1979-1982)
2 A construccedilatildeo de um conjunto institucional orientado agrave implementaccedilatildeo do plano e
viabilizado por sua identificaccedilatildeo com os principais atores do ideaacuterio desenvolvimentista e
tecnocraacutetico governamental da eacutepoca
3 A construccedilatildeo de uma imagem de cidade modelo impulsionada pelo city-marketing
e atraveacutes da articulaccedilatildeo entre poliacutetica cultura miacutedia e planejamento
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
104
4 A identidade do projeto com o ideaacuterio associado a uma agenda global para as
cidades difundida nos anos 1990 a niacutevel internacional
A partir dos anos 1980 a poliacutetica de planejamento urbano de Curitiba passou a
apresentar novos atores O novo governo surgido na eacutepoca regido por duas gestotildees do
Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro - PMDB (1983-1988) promoveu uma
reorientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas urbanas voltada para a urbanizaccedilatildeo das aacutereas
perifeacutericas e construccedilatildeo de equipamentos sociais Aleacutem disso inseriu-se o planejamento
participativo em oposiccedilatildeo ao antigo planejamento tecnocraacutetico Apesar de a nova gestatildeo
poliacutetica ter representado um periacuteodo de ruptura com as gestotildees anteriores natildeo foi possiacutevel
a consolidaccedilatildeo de seu projeto poliacutetico
Os movimentos sociais de bairro e os movimentos sindicais tiveram emergecircncia e fortalecimento como atores coletivos em Curitiba questionando as poliacuteticas urbanas relativas agrave habitaccedilatildeo a transporte puacuteblico e ao saneamento Construiacuteram na eacutepoca accedilotildees poliacuteticas que foram capitalizadas pela oposiccedilatildeo para desestabilizar a hegemonia da coalizatildeo local da deacutecada anterior (SAacuteNCHEZ 2003161)
Em 1989 Jaime Lerner retomou a prefeitura da cidade com o mesmo discurso poliacutetico
e tecnocraacutetico de sucesso utilizado na deacutecada de 1970 A hegemonia de seu grupo poliacutetico
permaneceu durante todas a deacutecada de 1990 Conclui-se que em trinta anos de governos
municipais somente um periacuteodo (1983-1988) natildeo foi liderado pelo chamado ldquolernismordquo
SAacuteNCHEZ (2003) afirma que eacute da deacutecada de 1960 a criaccedilatildeo do instituto que
elaboraria e colocaria em praacutetica o plano de cidade proposto pelo governo lernista O
IPPUC- Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba nasceu de uma comissatildeo
organizada para levantar os debates em torno do plano e seu objetivo manifesto consistia
em ldquopreparar a cidade para o futurordquo A instituiccedilatildeo caracterizou-se por uma linha de
planejamento tecnocraacutetico e funcional A condiccedilatildeo tecnocraacutetica constituiacutea parte de uma
ideologia que colocava o conhecimento cientiacutefico como detentor do destino da cidade e lhe
conferia legitimidade como instrumento poliacutetico
Nesta mesma eacutepoca configurou-se uma alianccedila entre poliacuteticos e teacutecnicos do
planejamento da cidade com os empresaacuterios ligados aos grandes interesses privados Esse
conjunto compreende os atores a partir do qual eacute instaurado o projeto de cidade proposto As
mudanccedilas espaciais promovidas pelo Plano Diretor sempre foram compatiacuteveis com os
interesses dos liacutederes empresariais da cidade principalmente os vinculados aos setores
industriais imobiliaacuterios de construccedilatildeo civil e transporte puacuteblico As poliacuteticas dos planejadores
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
105
mostram uma subordinaccedilatildeo da teacutecnica agraves necessidades e imperativos das empresas atraveacutes
da violaccedilatildeo de normas relativas ao uso do solo com o objetivo de conceder a determinadas
empresas os alvaraacutes necessaacuterios para a construccedilatildeo de grandes empreendimentos
O planejamento urbano em Curitiba natildeo soacute natildeo alterou significativamente as praacuteticas espaciais dos atores privados como parece ter contribuiacutedo para conferir uma vitalidade adicional a essas praacuteticas fazendo prevalecer os interesses corporativos diante do interesse puacuteblico (SAacuteNCHEZ 2003172)
Curitiba teve a atraccedilatildeo de induacutestrias como um dos principais condicionantes para a
elaboraccedilatildeo do Plano Diretor da deacutecada de 1960 ideacuteia que originou a Cidade Industrial de
Curitiba ndash CIC caracterizada como uma poliacutetica urbana para criaccedilatildeo de um espaccedilo
favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo dos interesses do capital industrial Esta poliacutetica urbana implicava na
concessatildeo de subsiacutedios para atrair novos investimentos com a pretensatildeo de mudar a face
da economia urbana
Os programas de atraccedilatildeo de induacutestrias vinham acompanhados de uma accedilatildeo
comunicativa e veiculaccedilatildeo de imagens de uma cidade diferente e evoluiacuteda das demais no
que se refere a aacutereas de transporte infra-estrutura e lazer A construccedilatildeo simboacutelica da
identidade da cidade a partir da oposiccedilatildeo agraves demais foi fortalecida na deacutecada de 1990 A
Tabela 4 e as Figuras 11 a 14 resumem as transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e
imagens que Curitiba sofreu desde a deacutecada de 1960
PERIacuteODOGESTAtildeO POLIacuteTICAS INTERVENCcedilOtildeES IMAGENS-SIacuteNTESE
1 CIDADE PLANEJADA
2 CIDADE MODELO3 CIDADE MODERNA E HUMANA4 CIDADE MODERNA E HUMANA
5 CAPITAL ECOLOacuteGICA6 CIDADE DE PRIMEIRO MUNDO 7 CAPITAL DA QUALIDADE DE VIDA
Equipamentos culturais e de lazer 8 CAPITAL DA CULTURAFaroacuteis do Saber Ruas da 9 CIDADE LUZCidadania Memorial da Cidade
10 CAPITAL TECNOLOacuteGICA11 MELHOR CIDADE PARA FAZER NEGOacuteCIOS
2001-2004 - C Taniguchi
Atraccedilatildeo de empresas poliacuteticas sociais
12 CAPITAL SOCIAL
1997-2000 - C Taniguchi
1971-1975 -Jaime Lerner 1975-1979 - Saul Raiz
1979-1982 - Jaime Lerner
1989-1992 - Jaime Lerner
1993-1996 - Rafael Greca
Poliacuteticas ambientais reciclagem lixo aacutereas verdes poliacuteticas de atraccedilatildeo de empresas
Zoneamento transporte uso do solo atraccedilatildeo de induacutestrias renovaccedilatildeo do centro
Zoneamento uso do solo reestruturaccedilatildeo industrial plano estrateacutegico de gestatildeo atraccedilatildeo de empresas comeacutercio serviccedilos
Poliacutetica de equipamentaccedilatildeo e animaccedilatildeo cultural turismo urbano
Transporte revitalizaccedilatildeo
Eixos estruturais sistema de transporte de massa Cidade Industrial de Curitiba
Ampliaccedilatildeo sistema de transportes renovaccedilatildeo do Centro Histoacuterico reciclagens de edifiacutecios parques urbanosRenovaccedilatildeo sistema de transporte parques ciclovias equipamentos culturais e de lazer Jardim Botacircnico Oacutepera de Arame Rua 24 Horas Universidade Livre do Meio Ambiente
Infra-estrutura viaacuteria contornos infra-estrutura de apoio agraves empresas empresariamento da gestatildeo municipal eficiecircncia de serviccedilos
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba Fonte Saacutenchez (2004)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
106
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Curitiba e o mito da cidade-modelo apresentam um discurso oficial veiculado na
miacutedia nacional e internacional como centro de experimentaccedilatildeo de novos processos e centro
difusor de novos valores Uma das uacuteltimas imagens a ela associada consiste na de ldquomelhor
cidade brasileira para se fazer negoacuteciosrdquo reportagem publicada no ano 2000 pela revista
nacional Exame
343 RIO DE JANEIRO E OS PLANOS ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
A cidade do Rio de Janeiro apresenta hoje o segundo Produto Interno Bruto (PIB)
municipal do paiacutes e eacute visitada por mais de 40 dos estrangeiros que chegam ao Brasil
consagrando-se como o maior destino turiacutestico nacional Situa-se entre as vinte cidades
mais populosas do mundo com rico acervo arquitetocircnico e inestimaacutevel patrimocircnio histoacuterico
aleacutem das evidentes belezas naturais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
107
Apesar de apresentar condiccedilotildees positivas uacutenicas a intensificaccedilatildeo urbana ocorrida
apoacutes a Segunda Guerra Mundial decorrente do fluxo imigratoacuterio de outras regiotildees contribuiu
para acelerar o quadro de carecircncia e dificuldades nos setores de telecomunicaccedilotildees sauacutede
transportes e seguranccedila puacuteblica que foram distribuiacutedos de maneira diferenciada no espaccedilo
urbano A situaccedilatildeo piorou a partir da deacutecada de 1960 quando o entatildeo presidente Juscelino
Kubitschek tirou da cidade a condiccedilatildeo de Capital Federal e centro de poder decisoacuterio
econocircmico-poliacutetico Segundo os documentos do Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de
Janeiro seu primeiro plano estrateacutegico surgiu com a justificativa de reverter este quadro
negativo e destacar as qualidades da cidade
O primeiro plano intitulado ldquoRio Sempre Riordquo teve iniacutecio em 1993 no primeiro
governo do prefeito Cesar Maia eleito em 1993 atraveacutes do Partido do Movimento
Democraacutetico Brasileiro (PMDB) O plano foi publicado em 1996 e foi um dos precursores
desse tipo de planejamento no Hemisfeacuterio Sul O Rio de Janeiro tornou-se uma das
primeiras cidades a elaborar um plano estrateacutegico como instrumento de planejamento de
pacto consensual entre governo municipal e iniciativa privada
Em janeiro de 2001 ao assumir a prefeitura novamente dessa vez pelo Partido da
Frente Liberal (PFL) o governo de Cesar Maia recorreu mais uma vez a esse instrumento
de planejamento Foi lanccedilado o Plano Estrateacutegico II da Cidade do Rio de Janeiro cujo tiacutetulo
ldquoAs cidades da Cidaderdquo sugere um estudo das diversas regiotildees do municiacutepio e suas
diferenccedilas histoacutericas culturais sociais e econocircmicas
Nesta nova fase o foco deixou de ser a busca de uma nova identidade para fortalecer a cidade e inseri-la de forma competitiva no cenaacuterio mundial mas encontrar meios que pudessem indicar os caminhos em direccedilatildeo ao futuro desejaacutevel para cada regiatildeo e a partir da articulaccedilatildeo harmocircnica e conciliada desses caminhos construir uma cidade mais solidaacuteria com igualdade de oportunidades para todos (Cesar Maia Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro 2003)
Neste segundo plano estrateacutegico o municiacutepio foi dividido em 12 regiotildees e cada
regiatildeo teve seus objetivos e estrateacutegias definidas dentro da cidade a partir dos seus
potenciais (Tabela 5 e Figuras 15 a 18) O plano considera separadamente as
caracteriacutesticas tendecircncias e aspiraccedilotildees de cada regiatildeo A partir dos objetivos centrais de
cada uma delas foram estabelecidas estrateacutegias e formuladas propostas para as aacutereas
criando-se um modelo proacuteprio para cada os Planos Estrateacutegicos Regionais A escolha por
este processo buscava retratar o cenaacuterio diversificado presente no Rio de Janeiro
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
108
PLANOS
ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
OBJETIVO CENTRAL
REGIAtildeO 1 - BANGUacuteSer um poacutelo de ecoturismo e lazer resgatando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e desenvolvendo seu potencial industrial
REGIAtildeO 2 - BARRA DA TIJUCA
Ser um poacutelo de negoacutecios focado no turismo lazer e serviccedilos e um modelo de preservaccedilatildeo ambiental
REGIAtildeO 3 - CAMPO GRANDE
Ser o centro de referecircncia para o ecoturismo com enfoque nas vocaccedilotildees gastronocircmica botacircnica pesqueira e agriacutecola consolidando as diferentes expressotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
REGIAtildeO 4 - CENTROSer o centro de referecircncia histoacuterico-cultural do paiacutes consolidando as vocaccedilotildees de centro de negoacutecios centro de desenvolvimento de tecnologia e principal centro de telecomunicaccedilotildees da ameacuterica latina
REGIAtildeO 5 - GRANDE MEacuteIER
Voltar a ser a capital dos subuacuterbios cariocas como centro de comeacutercio varejista e poacutelo prestador de serviccedilos com relevo na cultura e lazer
REGIAtildeO 6 - ILHA DO GOVERNADOR
Ser a principal base de chegada do turista agrave cidade preservando a qualidade de aacuterea residencial e incrementando as atividades esportivas culturais e artiacutesticas
REGIAtildeO 7 - IRAJAacuteSer o principal centro de abastecimento da cidade e um poacutelo formador de atletasgarantindo a tradiccedilatildeo residencial e a qualidade de vida
REGIAtildeO 8 - JACAREPAGUAacute
Ser o grande centro de eventos nacionais e internacionais tendo como foco do desenvolvimento econocircmico o ecoturismo a induacutestria de alta tecnologia garantindo a tradiccedilatildeo histoacuterico-geograacutefica
REGIAtildeO 9 - LEOPOLDINA
Ser uma regiatildeo de bairros integrados resgatando a relaccedilatildeo de vizinhanccedila desenvolvendo-se a partir de induacutestrias de base tecnoloacutegica natildeo poluentes
REGIAtildeO 10 - TIJUCA VILA ISABEL
Ser um grande poacutelo de lazer cultural de ecoturismo de desenvolvimento econocircmico focado no setor de serviccedilos e comeacutercio garantindo a qualidade de vida
REGIAtildeO 11 - ZONA NORTE
Ser o grande poacutelo de comeacutercio e centro industrial natildeo poluente preservando e incrementando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e caracteriacutesticas residenciais
REGIAtildeO 12 - ZONA SUL
Ser a vitrine nacional e internacional do turismo da cultura e do lazer reforccedilando a imagem da maneira de ser carioca
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro Elaboraccedilatildeo da autora
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
109
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
O plano buscou resgatar as tradiccedilotildees locais e estabelecer diretrizes de
desenvolvimento local para as regiotildees definindo sua contribuiccedilatildeo no desenvolvimento da
cidade Na elaboraccedilatildeo do plano foi necessaacuterio estipular uma metodologia proacutepria de
trabalho por tratar-se de um processo inovador na cidade percebida como uma ldquosoma de
partesrdquo e natildeo somente como um todo como ocorre nas grandes metroacutepoles
Em 2005 ao assumir a prefeitura do Rio de Janeiro pela terceira vez novamente
pelo PFL Cesar Maia teve a possibilidade de dar continuidade ao plano estrateacutegico iniciado
na gestatildeo anterior Com vistas aos Jogos Panamericanos realizados na cidade em 2007 o
prefeito ainda realizou a execuccedilatildeo de obras e edificaccedilotildees direcionadas aos equipamentos
esportivos como parte do processo de revitalizaccedilatildeo urbana da cidade em uma versatildeo
brasileira do ldquomodelo-Barcelonardquo visto neste capiacutetulo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
110
35 CONCLUSOtildeES PARCIAIS LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
Ateacute o presente verificamos neste capiacutetulo como as mudanccedilas processos e agentes
externos das cidades reforccedilados pela globalizaccedilatildeo atribuiacuteram a elas novas funccedilotildees
urbanas O espaccedilo tornado global impotildee a necessidade de inserccedilatildeo das cidades a niacutevel
internacional e para tanto o planejamento urbano vem sendo direcionado com tal objetivo
atraveacutes de estrateacutegias urbanas voltadas ao mercado mundial
Estrateacutegias urbanas como as analisadas para Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
proporcionaram sua posiccedilatildeo como cidades globais mas ao mesmo tempo resultaram em
impactos negativos em acircmbito social econocircmico e ambiental Na conclusatildeo deste capiacutetulo
apontaremos alguns desses impactos negativos segundo as colocaccedilotildees feitas pelos
pesquisadores do planejamento estrateacutegico
As intervenccedilotildees urbanas analisadas consistiram fundamentalmente de aparatos
culturais e de um conjunto de serviccedilos e comeacutercio aliados a investimentos em infra-estrutura
que visavam agrave atraccedilatildeo de capital principalmente internacional e de usuaacuterios e visitantes
Na opiniatildeo de VAINER (2000) essas revitalizaccedilotildees urbanas natildeo satildeo direcionadas a todos
os cidadatildeos a abertura das cidades para o exterior eacute seletiva e usufruiacuteda por grupos
especiacuteficos e qualificados
O realismo da proposta fica claro quando nossos pragmaacuteticos consultores deixam claro que esta abertura para o exterior eacute claramente seletiva natildeo queremos visitantes e usuaacuterios em geral e muito menos imigrantes pobres expulsos do campo ou de outros paiacuteses igualmente pobres queremos visitantes e usuaacuterios solventes (VAINER 200080)
A pobreza e a violecircncia urbana condicionam ou influenciam nas decisotildees dos
agentes econocircmicos e na atratividade da cidade Por este motivo os pobres (nativos ou
imigrantes) constituem demanda solvaacutevel para o planejamento estrateacutegico estando
excluiacutedos dessas aacutereas revitalizadas e consequumlentemente do proacuteprio processo de
planejamento Tal situaccedilatildeo resulta tambeacutem da concentraccedilatildeo excessiva de investimentos
puacuteblicos nas aacutereas revitalizadas Os governos locais ao inveacutes de priorizar o caraacuteter social
dos investimentos puacuteblicos o fazem de acordo com os interesses privados
A limitaccedilatildeo de recursos leva a investimentos insuficientes nas regiotildees de pobreza a
favor da qualificaccedilatildeo de aacutereas urbanas especiacuteficas que permitam a sua inserccedilatildeo global Os
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
111
investimentos por parte do poder puacuteblico no campo social foram abandonados pelas
autoridades para priorizar os investimentos que visavam atrair parcerias com o poder
privado As cidades mundiais tornaram-se entatildeo fragmentadas com aacutereas adequadamente
atendidas em contraste com as aacutereas desamparadas
A qualificaccedilatildeo dessas aacutereas urbanas especiacuteficas favorece o desenvolvimento de
novos centros urbanos que satildeo determinantes no processo de segregaccedilatildeo soacutecio-espacial O
centro da cidade eacute resultado do seu processo de crescimento originaacuterio da divisatildeo social do
trabalho e da divisatildeo territorial do trabalho De acordo com MARICATO (2000) o poder
puacuteblico cria oportunidades para o surgimento dessas novas centralidades e ao mesmo
tempo designa estrateacutegias para evitar a circulaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do espaccedilo pelas pessoas
de baixo poder aquisitivo
O Estado concede maiores benefiacutecios para esses novos centros atraveacutes da
legislaccedilatildeo O zoneamento urbano concentra os privileacutegios da urbanizaccedilatildeo em determinadas
aacutereas da cidade Por exemplo demandas exageradas de transporte coletivo em uma uacutenica
direccedilatildeo Dessa forma o Estado valoriza essas regiotildees em detrimento das demais e a
escassez de espaccedilos nessas aacutereas favorece ainda mais sua valorizaccedilatildeo expulsando alguns
grupos sociais ou substituindo-os por outros gerando uma cidade segmentada Os centros
urbanos que deveriam ser vistos como espaccedilo coletivo acabam virando um privileacutegio para
poucas pessoas Os demais grupos sociais sem alternativas satildeo obrigados a morar em
corticcedilos favelas e loteamentos que se situam nas periferias e onde a pobreza eacute
homogeneamente disseminada
Agrave dificuldade de acesso aos serviccedilos e infra-estrutura urbanos (transporte precaacuterio saneamento deficiente drenagem inexistente dificuldade de abastecimento difiacutecil acesso aos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e creches maior exposiccedilatildeo agrave ocorrecircncia de enchentes e desmoronamentos etc) somam-se menos oportunidades de emprego (particularmente do emprego formal) menos oportunidades de profissionalizaccedilatildeo maior exposiccedilatildeo agrave violecircncia (marginal ou policial) discriminaccedilatildeo racial discriminaccedilatildeo contra mulheres e crianccedilas difiacutecil acesso agrave justiccedila oficial difiacutecil acesso ao lazer (MARICATO 2003152)
A sociedade global caracteriza-se por sua proacutepria loacutegica de valores universais e
potencial de geraccedilatildeo de riquezas em uma sociedade excludente natildeo soacute de cidades mas
tambeacutem de espaccedilos dentro das cidades Segundo LOPES (1998) a busca de uma nova
estrutura da sociedade urbana capaz de absorver e solucionar os problemas da
globalizaccedilatildeo envolve limites de concentraccedilatildeo e exclusatildeo proporcionais ao tamanho do
espaccedilo urbano e da populaccedilatildeo das cidades Os centros das cidades mundiais apresentam
concentraccedilatildeo de poder e riqueza que favorecem a inserccedilatildeo de agentes sociais competitivos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
112
e integrados no espaccedilo global Paralelamente essas mesmas cidades abrigam aacutereas de
exclusatildeo consideradas irrelevantes no planejamento estrateacutegico jaacute que consistem
populaccedilotildees que natildeo participam do processo de formaccedilatildeo de riqueza
As accedilotildees globais e locais interagem no sentido de criar aacutereas de prosperidade e de irrelevacircncia e exclusatildeo em espaccedilos urbanos contiacutenuos ou separados obrigando as novas formulaccedilotildees estruturais da sociedade Por outro lado as cidades assumem a funccedilatildeo primordial de arena moderna para o desenvolvimento os confrontos e as confluecircncias dos atores principais da sociedade atual (LOPES 199860)
Essa realidade acaba por criar bairros com carecircncia de empregos comeacutercio
serviccedilos e infra-estrutura A dinacircmica de exclusatildeo social tem como consequumlecircncias a
depredaccedilatildeo ambiental pela ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas protegidas e os altos iacutendices de
violecircncia e inseguranccedila As cidades mundiais consolidam a existecircncia de espaccedilos
separados para os diferentes grupos sociais O planejamento urbano ligado a uma cidade
caracterizada pela segregaccedilatildeo soacutecio-espacial reduz a diversidade que tradicionalmente
caracteriza os nuacutecleos urbanos e eacute marcado pela pobreza da vida social e pela ausecircncia
dos espaccedilos puacuteblicos
Ideologicamente a regiatildeo da cidade que concentra os investimentos puacuteblicos e as
intervenccedilotildees urbanas comeccedila a se identificar como a imagem oficial e a representaccedilatildeo da
cidade A cidade oficial consiste na parte onde o poder puacuteblico oferece investimento em
infra-estrutura equipamentos urbanos faacutecil mobilidade e acesso constituindo o espaccedilo da
minoria privilegiada A imagem desta aacuterea eacute utilizada para a ldquovendardquo da cidade e valorizaccedilatildeo
imobiliaacuteria na busca da imagem do ldquoespetaacuteculordquo e na corrida do tiacutetulo de cidade global
A segregaccedilatildeo e exclusatildeo soacutecio-espacial urbana vecircm acompanhadas de outra
consequumlecircncia da cidade global a exclusatildeo econocircmica Segundo LOPES (1998) a
informatizaccedilatildeo criou duas novas condicionantes para o processo de desenvolvimento
econocircmico a dispersatildeo geograacutefica da produccedilatildeo em funccedilatildeo da diversidade de localizaccedilatildeo
de bens e serviccedilos em termos mundiais e a difusatildeo tecnoloacutegica que abre novas e
significativas oportunidades de desenvolvimento para as diversas cidades Essas duas
condicionantes apresentam implicaccedilotildees importantes na estruturaccedilatildeo da sociedade e
acarretam novas demandas de qualificaccedilatildeo do espaccedilo urbano Na opiniatildeo de RIZZO (2005)
para integrar as cidades em suas posiccedilotildees na economia global torna-se necessaacuterio tambeacutem
integrar e estruturar suas sociedades locais ldquoSem uma base soacutelida nos cidadatildeos os
governos municipais natildeo teratildeo a forccedila que eacute necessaacuteria para navegar naqueles circuitos
globaisrdquo (RIZZO 200574)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
113
As modificaccedilotildees no mercado de trabalho constituem o efeito mais importante da
reestruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo social e dos valores culturais da sociedade Agrave medida em
que as cidades integram-se em maior ou menor grau agrave divisatildeo internacional do trabalho
ocorre uma valorizaccedilatildeo daqueles que lidam com o trabalho informacional Natildeo estar
integrado conduz a um desemprego crescente ou a uma possiacutevel desvalorizaccedilatildeo do trabalho
A integraccedilatildeo em rede aleacutem de ser um poderoso acelerador do desenvolvimento local eacute um processo altamente excludente para vastos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam irrelevantes do ponto de vista econocircmico Essa exclusatildeo envolve natildeo soacute vastas regiotildees englobando vaacuterias cidades como tambeacutem dentro das proacuteprias cidades adicionando mais um fator da nova divisatildeo internacional do trabalho A exclusatildeo econocircmica induz agrave exclusatildeo social (LOPES 199863)
A principal consequumlecircncia desse mercado de trabalho excludente eacute a informalidade A
economia informal correspondia a um fenocircmeno secundaacuterio dentro da estrutura econocircmica
das cidades ligada basicamente agrave pobreza LOPES (1998) conclui que com a nova divisatildeo
internacional do trabalho a informalidade deixa de ser uma saiacuteda para a resoluccedilatildeo dos
problemas de geraccedilatildeo de empregos e de formaccedilatildeo de riqueza das camadas mais pobres da
populaccedilatildeo para ser um fenocircmeno de adaptaccedilatildeo da sociedade aos novos requisitos da
organizaccedilatildeo informacional
O planejamento urbano das cidades globais acarreta ainda limites quanto ao papel
do Estado na administraccedilatildeo puacuteblica Para atingir o status de cidade global o Estado passa a
intervir pouco no planejamento O modelo urbano estrateacutegico baseado na loacutegica
mercadoloacutegica insere empresaacuterios e empreendedores como atores poliacuteticos O Estado perde
a sua autonomia que passa entatildeo a ser regida pelo mercado atraveacutes da financeirizaccedilatildeo das
economias e dos orccedilamentos puacuteblicos
O Estado interveacutem minimamente nas decisotildees soacutecio-econocircmicas e os grandes atores poliacuteticos satildeo empresaacuterios e investidores Essa tendecircncia na administraccedilatildeo local se confirma no crescente processo de privatizaccedilatildeo das empresas puacuteblicas na desregulamentaccedilatildeo das atividades econocircmicas e sociais e na reversatildeo dos padrotildees universais de proteccedilatildeo social O poder local composto por poliacuteticos comprometidos com a perspectiva empresarial da cidade lanccedila matildeo dos instrumentos necessaacuterios para tornar o espaccedilo urbano mais atraente baseando-se na flexibilizaccedilatildeo das leis de uso do solo e na crescente necessidade imposta pelo mercado de as cidades globais estarem constantemente inseridas no circuito do fluxo internacional de capital e informaccedilatildeo (AMEcircNDOLA 2002 disponiacutevel em httpwwwfethggfbr acesso em maio de 2006)
OLIVEIRA (2003) aprofunda esta questatildeo alegando que o planejamento urbano
regido pela loacutegica do mercado passa a ser constituiacutedo a partir do que ele denomina ldquoEstado
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
114
de Exceccedilatildeo As empresas se apropriam das poliacuteticas sociais impondo novos criteacuterios para
as mesmas pois necessitam da eficiecircncia e da produtividade das poliacuteticas puacuteblicas
resultando em uma situaccedilatildeo de exclusatildeo social O Estado dessa maneira torna-se
supeacuterfluo e passa a ser desempenhado como maacutequina de arrecadaccedilatildeo para tornar o
excedente disponiacutevel para o capital A exceccedilatildeo consiste no fato de que as poliacuteticas sociais
natildeo tecircm mais a concepccedilatildeo de mudar a distribuiccedilatildeo de renda pelo contraacuterio acabam
transformando-se em ldquoantipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobrezardquo (OLIVEIRA 200309)
O autor conclui que as cidades constituem locais por excelecircncia das exceccedilotildees e o
Estado constitui a administraccedilatildeo da exceccedilatildeo Nas relaccedilotildees entre o poder puacuteblico e o urbano
a cidade reduz-se a um espetaacuteculo onde todas as formas de planejamento almejam a
supressatildeo do conflito de classes em busca da funcionalizaccedilatildeo da cidade A sociedade
brasileira atraveacutes desse processo desenvolve-se caracterizada por uma situaccedilatildeo de
desigualdade social
Se historicamente as relaccedilotildees entre o Estado e o urbano pautaram-se por um esforccedilo de normatividade da relaccedilatildeo capital-trabalho cabendo ao planejamento enquadrar a exceccedilatildeo e transformaacute-la em norma transformaccedilotildees radicais recentes na economia e sociedade brasileiras sugerem que a exceccedilatildeo parece ter enquadrado o planejamento Agraves desigualdades histoacutericas da sociedade brasileira vieram juntar-se aquelas advindas da reestruturaccedilatildeo produtiva e da globalizaccedilatildeo reformatando o mercado funcionalizando a relaccedilatildeo Estado-capital transformando poliacuteticas sociais em antipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobreza erigindo em norma o que antes dela se afastava pontuando um esforccedilo teoacuterico que transitou da busca da normatividade para a racionalizaccedilatildeo da exceccedilatildeo (OLIVEIRA 200309)
Natildeo satildeo de hoje as criacuteticas feitas agrave administraccedilatildeo puacuteblica brasileira que sugerem sua
associaccedilatildeo ao resultado de desigualdade social caracteriacutestico de nossas cidades
MARICATO (2000) destaca que o urbanismo brasileiro natildeo tem comprometimento com a
realidade concreta mas com uma ordem que diz respeito apenas a uma parte da cidade A
administraccedilatildeo puacuteblica brasileira permite a exclusatildeo soacutecio-espacial e a legislaccedilatildeo urbana soacute eacute
aplicada quando conveniente com o objetivo de valorizaccedilatildeo do solo ldquoA ineficaacutecia dessa
legislaccedilatildeo eacute de fato apenas aparente pois constitui um instrumento fundamental para o
exerciacutecio arbitraacuterio do poder aleacutem de favorecer pequenos interesses corporativosrdquo
(MARICATO 2000147)
O Estado aleacutem de perder sua autonomia perante a influecircncia dos interesses do
mercado tambeacutem acaba enfraquecido pelos novos condicionantes impostos pela
globalizaccedilatildeo Ao dar novo sentido para o local dentro do processo de integraccedilatildeo a
globalizaccedilatildeo tornou conflituosa a relaccedilatildeo entre os diversos niacuteveis de governo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
115
Cidades e Estado apresentam interesses diversos que enfraquecem o Estado e
oferecem agraves cidades papel mais relevante A deficiecircncia da qualidade administrativa dos
governos nacional estadual e municipal conduziu a uma reestruturaccedilatildeo geral do Estado a
partir da diminuiccedilatildeo de suas funccedilotildees em paralelo agrave privatizaccedilatildeo de suas instituiccedilotildees e
serviccedilos Essa tendecircncia abriu novas perspectivas de mobilizaccedilatildeo de recursos mas criou
dificuldades de gestatildeo Segundo MARICATO (2002) as propostas que enfatizaram a
autonomia das cidades e a disputa entre elas para a atraccedilatildeo de investimentos e prestiacutegio
alimentaram a campanha de enfraquecimento do Estado-Naccedilatildeo ou pelo menos desviaram
a atenccedilatildeo dos governantes e governados sobre as poliacuteticas nacionais
Na Segunda Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos Humanos da ONU (Istambul 1996) falou-se da necessidade de criaccedilatildeo de uma OCU ndash Organizaccedilatildeo das Cidades Unidas a exemplo da ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Uma multidatildeo (sic) de argumentos procurava evidenciar a crescente importacircncia e autonomia das cidades ldquoNatildeo haacute prefeitos que tecircm mais prestiacutegio que muitos presidentesrdquo era um argumento muito ouvido Aparentemente as cidades-estado estatildeo de volta poderosas e independentes (MARICATO 200257)
Os governos locais na visatildeo de LOPES (1998) satildeo os mais aptos a administrar a
cidade na sociedade global porque possuem maior capacidade de representaccedilatildeo e
legitimidade com relaccedilatildeo aos seus representados e constituem agentes institucionais de
integraccedilatildeo social e cultural de comunidades territoriais Aleacutem disso possuem maior
flexibilidade adaptabilidade e capacidade de manobras em um espaccedilo de fluxos
econocircmicos entrelaccedilados demandas e ofertas em constantes mudanccedilas e sistemas
tecnoloacutegicos descentralizados e interativos
A partir das colocaccedilotildees vistas ateacute o presente podemos entatildeo concluir que os
resultados da aplicaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico no espaccedilo urbano apresentam nas
cidades os seguintes limites potenciais e impactos negativos em meio social econocircmico e
ambiental
1 Conflitos entre as diversas esferas de governo (cidades x Estado) devido agrave
importacircncia dada ao local no processo de integraccedilatildeo global
2 Perda da autonomia do Estado perante a influecircncia dos interesses do mercado
3 Concentraccedilatildeo excessiva de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave
revitalizaccedilatildeo urbana com consequumlente carecircncia de investimentos puacuteblicos nas
demais aacutereas
4 Direcionamento dos investimentos puacuteblicos conforme os interesses privados
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
116
sem dar prioridade ao seu caraacuteter social
5 Conflitos entre as necessidades da populaccedilatildeo local e as intervenccedilotildees urbanas
voltadas agrave inserccedilatildeo global das cidades
6 Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria das aacutereas que sofrem revitalizaccedilatildeo urbana com expulsatildeo
ou substituiccedilatildeo de grupos sociais
7 Depredaccedilatildeo ambiental decorrente da ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas
protegidas face agrave expulsatildeo de alguns grupos sociais das aacutereas revitalizadas
8 Exclusatildeo social
9 Segregaccedilatildeo soacutecio-espacial
10 Fragmentaccedilatildeo da cidade com aacutereas corretamente atendidas em contraste a
aacutereas desassistidas pelo poder puacuteblico
11 Aumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos
caracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
12 Aumento da violecircncia urbana e inseguranccedila nos bairros excluiacutedos
13 Exclusatildeo do mercado de trabalho aos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam
irrelevantes do ponto de vista econocircmico
14 Desemprego e desvalorizaccedilatildeo do trabalho
15 Propagaccedilatildeo do mercado de trabalho informal
16 Aumento das desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica
social e espacial
No seguimento deste trabalho veremos como os impactos negativos apontados
como resultantes do planejamento estrateacutegico refletem-se no caso do empreendimento
Sapiens Parque Para tanto analisaremos as avaliaccedilotildees feitas pelo Instituto de Arquitetos
do Brasil (IAB-SC) e pelas empresas responsaacuteveis pelo Estudo de Impacto Ambiental e
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) do empreendimento aleacutem da posiccedilatildeo da
comunidade local quanto agrave sua implantaccedilatildeo Ao final do trabalho cruzaremos as
informaccedilotildees obtidas com os criteacuterios e objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel designados
por SACHS (2002) e vistos no capitulo anterior segundo as dimensotildees de sustentabilidade
social ambiental e econocircmica
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
117
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
41 AVALIACcedilOtildeES DO INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL
O primeiro projeto para o empreendimento Sapiens Parque elaborado pela empresa
Ecoplan foi escolhido a partir de um Workshop patrocinado pelo grupo CERTI em 2002 O
Workshop contou com a participaccedilatildeo de arquitetos integrantes do nuacutecleo do Instituto de
Arquitetos do Brasil (IAB-SC) Segundo o documento com a avaliaccedilatildeo criacutetica referente ao
empreendimento (Anexo 1) expedido pelo grupo de arquitetos apoacutes a realizaccedilatildeo do
Workshop o Sapiens Parque apresenta singularidades que o torna um projeto uacutenico
Baseado nos conceitos de inovaccedilatildeo conhecimento e tecnologia
O empreendimento eacute proposto como um projeto ordenador que natildeo se limita
somente ao siacutetio no qual estaacute inserido colocando-se como uma nova centralidade
de requalificaccedilatildeo urbana para Florianoacutepolis baseada na preservaccedilatildeo ambiental e
na busca de qualidade de vida
O projeto procura identificar as qualidades que tornaram Florianoacutepolis uma cidade
desejada e desenvolver no conjunto de suas atividades a possibilidade de que se
torne um iacutecone para a regiatildeo o paiacutes e o mundo
O empreendimento eacute apresentado como uma forma de superar a exclusatildeo social
Os arquitetos chamam a atenccedilatildeo para alguns elementos diferenciadores com relaccedilatildeo
ao terreno onde seraacute implantado o empreendimento Por tratar-se de aacuterea pertencente a
uma empresa estadual e portanto de natureza puacuteblica destaca-se a necessidade de
identificar espaccedilos puacuteblicos atividades e equipamentos estruturadores que levem em conta
as vocaccedilotildees de Florianoacutepolis e os aspectos sociais do empreendimento Aleacutem disso o grupo
chama a atenccedilatildeo para a localizaccedilatildeo privilegiada do terreno e questiona o projeto como a
uacutenica possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e de reestruturaccedilatildeo urbana do Norte da Ilha Os
arquitetos ainda destacam o fato de o siacutetio de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estar
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
118
localizado proacuteximo ao Parque Florestal do Rio Vermelho e agrave Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
sendo necessaacuteria sua integraccedilatildeo a tais regiotildees de preservaccedilatildeo
Em entrevista concedida durante uma audiecircncia puacuteblica realizada em junho de 2004
para a discussatildeo do RIMA do Sapiens Parque a arquiteta Silvia Lenzi participante do
Workshop realizado em 2002 afirmou que o desafio do empreendimento eacute articular o projeto
com a proacutepria cidade A arquiteta chama a atenccedilatildeo para o caraacuteter puacuteblico que deve ter o
empreendimento decorrente do fato de envolver recursos e investimentos puacuteblicos
ldquoNoacutes tivemos a oportunidade de conhecer esta proposta haacute dois anos atraacutes e em um grupo de arquitetos formulamos alguns questionamentos em relaccedilatildeo a esta proposta Noacutes entendemos que eacute uma grande oportunidade para a cidade mas o grande desafio deste empreendimento eacute a articulaccedilatildeo do projeto com a cidade Existe um autor argentino que fala que devemos construir cidades concretas para homens concretos e eacute o que estaacute faltando neste projeto() Noacutes natildeo podemos mais ir na contra-matildeo da histoacuteria do urbanismo no Brasil que recentemente aprovou nem tatildeo recentemente foi no ano 2001 o Estatuto da Cidade Dentro do Estatuto da Cidade tem uma seacuterie de instrumentos inclusive um que se chama Estudo de Impacto de Vizinhanccedila onde se prevecirc toda uma anaacutelise de empreendimentos de porte muito menor do que o projeto Sapiens onde existe uma contrapartida pra cidade e pra sociedade em relaccedilatildeo ao impacto que aquele empreendimento causa Neste caso aqui o que aparece no RIMA reconhecendo-se o impacto que tem se remete toda uma responsabilidade ao poder puacuteblico Quando se fala em interesse puacuteblico eu gostaria de ter mais claro que interesse puacuteblico eacute esse do projeto quando a comunidade soacute fica com o ocircnus e natildeo tem um benefiacutecio direto em relaccedilatildeo a esta propostardquo(Arquiteta Silvia Lenzi Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
O grupo de arquitetos elaborou uma avaliaccedilatildeo criacutetica ao modelo de projeto
apresentado nas primeiras versotildees do Master Plan do Sapiens Parque baseado em
ldquoclustersrdquo25 como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Estudos de casos
de modelos semelhantes mostram aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com
consequumlente aumento da marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social Aleacutem disso a
proposta de lagos artificiais como cenaacuterio dominante do projeto tambeacutem foi considerada
segregadora jaacute que o efeito resultante reforccedila a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha
criadas (Figura 19)
25 Clusters (grupos agrupamentos ou aglomerados) satildeo concentraccedilotildees geograacuteficas de empresas de determinado setor de atividade e organizaccedilotildees correlatas de fornecedores de insumos a instituiccedilotildees de ensino e clientes (httpwwwhsmcombr acesso em 19122007)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
119
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003)
A concepccedilatildeo inicial do projeto do empreendimento mostrou-se inadequada para
cumprir as ideacuteias originais de programas propostos pelo Sapiens Parque Os arquitetos
realizaram as seguintes criacuteticas ao Master Plan 2003
As dimensotildees e natureza puacuteblica do terreno obrigam o projeto a contar com
atividades e equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
Os projetos iniciais consistem em repeticcedilotildees conceituais que poderiam estar em
qualquer lugar do mundo sem levar em consideraccedilatildeo a contextualidade local
Os projetos constituem elementos isolados do seu entorno tornando o parque um
elemento desagregador e natildeo integrador da estrutura urbana existente
A anaacutelise apresentada para o projeto natildeo inclui o estudo do comportamento do
entorno urbano imediato e do Norte da ilha restringindo-se apenas ao terreno
Os projetos defendem a monofuncionalidade de atividades que gera setores
isolados entre si
A distribuiccedilatildeo das atividades eacute feita com indiferenccedila sobre o siacutetio de implantaccedilatildeo e
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
120
dos requerimentos ambientais especiacuteficos para cada atividade
As zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar e homogecircnea
independente da atividade ali exercida e das condiccedilotildees do siacutetio
Natildeo haacute definiccedilatildeo de quais aacutereas concentram espaccedilos puacuteblicos semi-puacuteblicos e
privados e a soluccedilatildeo prevista para articular entre si estes trecircs niacuteveis de
apropriaccedilatildeo
Natildeo haacute esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teacutecnico selecionado e em
que referenciais nacionais ou internacionais o projeto foi embasado
O grupo de arquitetos defende a importacircncia da articulaccedilatildeo da cidade com as aacutereas
verdes preservadas e os espaccedilos puacuteblicos Aleacutem disso o IAB chama a atenccedilatildeo para a
necessidade de vinculaccedilatildeo do projeto com o mar e com terminais de transporte puacuteblico sem
esquecer dos problemas de infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos
A monofuncionalidade deve dar lugar a atividades variadas que permitam a
celebraccedilatildeo da cidadania e caracterizem a centralidade regional conformando uma unidade
que articule toda a regiatildeo norte da Ilha O compromisso do empreendimento deve ser o de
ldquoconstruir cidaderdquo e natildeo somente criar um parque tecnoloacutegico com algumas atividades
complementares para uso da populaccedilatildeo local
42 AVALIACcedilOtildeES DO EIA-RIMA 2003
O EIA-RIMA elaborado para avaliaccedilatildeo dos impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais
do empreendimento Sapiens Parque apresenta por base um diagnoacutestico interdisciplinar
considerado a partir das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na regiatildeo de influecircncia A
anaacutelise de acordo com as empresas Socioambiental Consultores Associados Ltda e
Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente responsaacuteveis pelo estudo parte das
interaccedilotildees dos diversos grupos soacutecio-culturais ao longo do tempo de forma a identificar
transformaccedilotildees da realidade e possibilitar o estabelecimento de tendecircncias e cenaacuterios
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
121
A aacuterea de influecircncia tida como base para os estudos apresenta-se definida pelos
responsaacuteveis na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA a partir de trecircs paracircmetros aacuterea diretamente
afetada (ADA) aacuterea de influecircncia direta (AID) e aacuterea de influecircncia indireta (AII)
Consideraram-se aacutereas diretamente afetadas pelo empreendimento os 450 hectares
situados na planiacutecie sedimentar do Distrito de Canasvieiras A regiatildeo caracteriza-se pela
baixa declividade fraca drenagem e ocorrecircncia de remanescentes de restinga arboacuterea e
banhados e tambeacutem reflorestamentos de pinus e eucalipto
A aacuterea de influecircncia direta delimita-se a partir da bacia hidrograacutefica do Rio Ratones e
tambeacutem localidades do norte e nordeste da ilha que natildeo satildeo abrangidas totalmente por esta
bacia (Ponta das Canas Canasvieiras Jurerecirc Cachoeira do Bom Jesus Ingleses Santinho
e Rio Vermelho) A regiatildeo sofreria diretamente os efeitos do projeto em particular no que
tange agrave dinamizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e agrave infra-estrutura baacutesica De acordo com os
realizadores do estudo a delimitaccedilatildeo desta aacuterea deu-se em razatildeo das caracteriacutesticas
sociais econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas do local onde se pretende inserir o
empreendimento e das particularidades e dimensotildees do projeto
Por fim a aacuterea de influecircncia indireta considerada eacute a que real ou potencialmente estaacute
sujeita aos impactos indiretos da implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo do parque e abrange
ecossistemas e sistemas soacutecio-econocircmicos que podem ser impactados por alteraccedilotildees
ocorridas na aacuterea de influecircncia direta
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para discussatildeo do RIMA a comunidade
local criticou os criteacuterios utilizados para delimitaccedilatildeo das aacutereas afetadas pelo
empreendimento As colocaccedilotildees levantadas apontam que o relatoacuterio destaca as trecircs aacutereas
de influecircncia acima especificadas mas que se dedica efetivamente agrave apenas duas delas a
aacuterea diretamente afetada que compreende o terreno de implantaccedilatildeo do parque em si e a
aacuterea de influecircncia direta que compreende basicamente o Norte da Ilha A aacuterea que
compreende o restante da Ilha seria dessa forma ignorada pelo estudo de impacto feito
Destaca-se que um empreendimento de porte e repercussatildeo como o Sapiens Parque com
previsatildeo de alcance de quase 30 mil empregos diretos natildeo poderia ser tratado com tal
classificaccedilatildeo arbitraacuteria Aleacutem disso o estudo tambeacutem ignora a ligaccedilatildeo do parque com o
Aeroporto Herciacutelio Luz que fica a 50 km ao sul do seu terreno de implantaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
122
Apesar das criacuteticas existentes com relaccedilatildeo aos criteacuterios utilizados para definir a
delimitaccedilatildeo da aacuterea de abrangecircncia do empreendimento na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA
consideramos importante para a avaliaccedilatildeo do projeto apresentar o levantamento dos
impactos apontados pelo estudo Dos 58 impactos potenciais localizados pelo EIA-RIMA 13
deles ocorrem em meio fiacutesico (sendo todos negativos) 10 ocorrem em meio bioacutetico (sendo 8
negativos) e 35 deles ocorrem em meio soacutecio-econocircmico (sendo 24 negativos e 1 tanto
negativo quanto positivo)
Os impactos foram classificados conforme seu grau de abrangecircncia em I (interno agrave
aacuterea do empreendimento ndash total de 9 impactos) L (local ou entorno proacuteximo ndash total de 7
impactos) R (regional ou Norte da Ilha ndash total de 29 impactos) e M (municipal ou
metropolitano - total de 13 impactos) Os demais criteacuterios para a classificaccedilatildeo dos impactos
dizem respeito agrave natureza do impacto (novo ampliaccedilatildeo ou antecipaccedilatildeo) ao momento de
ocorrecircncia nas fases do empreendimento (planejamento implantaccedilatildeo ou ocupaccedilatildeo) agrave
forma de manifestaccedilatildeo (direta ou indireta) ao grau de importacircncia (alto meacutedio ou baixo) agrave
magnitude (grande meacutedia ou pequena) agrave persistecircncia do impacto (temporaacuterio ou
permanente) agrave manifestaccedilatildeo (imediato a meacutedio ou longo prazo) agrave durabilidade (curto
meacutedio ou longo) ao grau de reversibilidade do efeito (reversiacutevel parcialmente reversiacutevel ou
irreversiacutevel) e agrave possibilidade de mitigaccedilatildeo e de compensaccedilatildeo direta (total parcial nenhuma
ou desnecessaacuteria)
Selecionamos aqui alguns dos principais impactos identificados relacionados na
Tabela 6 conforme o meio em que ocorrem (fiacutesico bioacutetico ou soacutecio-econocircmico) segundo os
apontamentos feitos no EIA-RIMA e com suas respectivas accedilotildees de compensaccedilatildeo ou
potencializaccedilatildeo A Tabela 6 mostra tambeacutem os efeitos de cada impacto (P= positivo e N=
negativo) A lista completa dos impactos em meio fiacutesico bioacutetico e socioeconocircmico pode ser
conferida no Anexo 2 Nos textos que seguem veremos o resultado deste estudo com
maiores detalhes
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
123
Degradaccedilatildeo da qualidade da aacutegua provocada pela drenagem N Tratamento das aacuteguas de drenagem atraveacutes de zonas de banhado (Wetlands)
eou infiltraccedilatildeo
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio do empreendimento N Sistema de tratamento de esgoto proacuteprio do empreendimento
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio da populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
N
Plano Diretor Participativo do Norte da Ilha Ampliaccedilatildeo dos sistema de tratamento puacuteblico de esgoto Melhoria da viabilidade econocircmica do sistema em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de sazonalidade da demanda Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho
Risco de perda de qualidade do manancial Ingleses Rio Vermelho por ocupaccedilatildeo pela populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Monitoramento e controle do manancial
Demanda por jazidas externas (argila e pedra) N Realizar aterro de forma seletiva Buscar fontes comerciais jaacute licenciadas
Proteccedilatildeo de ambientes originais (banhado e restinga arboacuterea) pelo Parque Natural
P _
Ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes na bacia em funccedilatildeo da pressatildeo imobiliaacuteria
NProgramas de monitoramento e controle Estabelecimento de corredores ecoloacutegicos Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor participativo do Norte da Ilha e outras ferramentas de planejamento
Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria P N Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades
Saturaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio NGestatildeo diferenciada de horaacuterios de entradasaiacuteda dos funcionaacuterios Estiacutemulo ao transporte alternativo eou solidaacuterio Ampliaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio Implantaccedilatildeo de faixa exclusiva de ocircnibus
Geraccedilatildeo de traacutefego lento por transporte de cargas (aterro e materiais de construccedilatildeo)
N Gestatildeo dos horaacuterios de transporte de forma a reduzir o impacto nos horaacuterios de pico inclusive nas pontes IlhaContinente
Demanda de aacutegua do SAPIENS PARQUE N
Reuso de esgoto tratado Captura e utilizaccedilatildeo de aacutegua de chuva Equipamentos economizadores de aacutegua Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho Ampliaccedilatildeo do sistema de abastecimento previsto pela CASAN
Atraccedilatildeo de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees P _
Pressatildeo sobre o sistema de transporte coletivo N
Fornecimento de transporte proacuteprio das empresas instaladas no Sapiens Parque Horaacuterios diferenciados de entrada e saiacuteda de funcionaacuterios Sistema de pontuaccedilatildeo de sustentabilidade para transportes alternativos Aumento da frota de ocircnibus e de linhas
Aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura esporte e lazer e de serviccedilos soacutecio-educativos
P _
Adensamento de ocupaccedilotildees ao longo das vias dificultando ampliaccedilotildees futuras do sistema viaacuterio
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Legislaccedilatildeo de alinhamento eou declaraccedilatildeo de Utilidade Puacuteblica das aacutereas estrateacutegicas Campanhas informativas Definiccedilatildeo de vias alternativas
Risco de exclusatildeo das comunidades locais frente agraves oportunidades criadas N
Acessibilidade das comunidades aos equipamentos e espaccedilos de lazer entretenimento cultura esportes e serviccedilos comunitaacuterios Programas de capacitaccedilatildeo comunitaacuterios Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
Expulsatildeo da populaccedilatildeo local por aumento da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no entorno
N Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades locais Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
Aumento de violecircncia por tensatildeo soacuteciocultural N Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local Transporte diaacuterio de matildeo-de-obra
da construccedilatildeo civil
POSSIacuteVEIS ACcedilOtildeES DE MITIGACcedilAtildeO COMPENSACcedilAtildeO OU POTENCIALIZACcedilAtildeO DOS IMPACTOS
ME
IO F
IacuteSIC
OM
EIO
BIOacute
TIC
OM
EIO
SO
CIO
EC
ON
OcircM
ICO
EFEITOPRINCIPAIS IMPACTOS POTENCIAIS
IDENTIFICADOS NO SAPIENS PARQUE
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003) Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
124
421 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO FIacuteSICO E BIOacuteTICO
Dentre os impactos em meio fiacutesico identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque
destacam-se os que estatildeo relacionados aos problemas de drenagem Segundo estudos de
hidrodinacircmica do Rio Papaquara que corre ao sul do terreno boa parte da aacuterea de
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estaacute sujeita a cheias perioacutedicas A anaacutelise das interferecircncias
causadas pelo empreendimento sobre a drenagem em funccedilatildeo da disposiccedilatildeo do sistema de
lagos do projeto tornou necessaacuteria a revisatildeo do antigo Master Plan de 2003 Segundo
MASCAROacute (1994) os lagos podem funcionar como bacias de estocagem de aacutegua em aacutereas
de inundaccedilatildeo quando necessaacuterio Mas o RIMA apontou a inadequabilidade dos lagos no
momento em que interrompem os canais de drenagem existentes Aleacutem disso a reduccedilatildeo da
superfiacutecie de inundaccedilatildeo e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o
potencial de drenagem do terreno Outro aspecto criticado no estudo diz respeito agrave
necessidade de aterros nas regiotildees edificadas do empreendimento decorrente do fato de
tratar-se de aacuterea sujeita a inundaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo ao sistema de esgoto os empreendedores prometem a soluccedilatildeo
imediata atraveacutes do encaminhamento do esgoto gerado pelo empreendimento para uma
rede coletora proacutepria de tratamento a Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto Sapiens (ETE-
SAPIENS) O objetivo eacute promover o tratamento do esgoto gerado pelo parque para possiacutevel
reuso natildeo potaacutevel posterior Entretanto esta soluccedilatildeo natildeo eacute vaacutelida para o esgoto produzido
pelos habitantes ou turistas induzidos pelo empreendimento (o RIMA estima cerca de
22000 pessoas a mais que as estimativas sem o empreendimento em 2020) O Sapiens
Parque alega que o sistema de esgotamento sanitaacuterio do Norte da Ilha realizado atraveacutes da
Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE) de Canasvieiras e de outros sistemas particulares
jaacute estaacute defasado e natildeo atende agraves demandas da populaccedilatildeo na alta temporada de veratildeo
Dessa forma segundo os empreendedores a necessidade de ampliaccedilatildeo da ETE de
Canasvieiras tornar-se-ia imprescindiacutevel independente da implantaccedilatildeo do empreendimento
Em meio bioacutetico os impactos principais consistem na supressatildeo da aacuterea aberta e da
vegetaccedilatildeo aquaacutetica decorrentes das escavaccedilotildees do lago e da implantaccedilatildeo de aterros O
Sapiens Parque defende que tais aacutereas seratildeo compensadas principalmente atraveacutes da
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno onde se pretende preservar o
ambiente autoacutectone Tanto este quanto os demais impactos negativos identificados em meio
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
125
bioacutetico (como supressatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes originais pressatildeo direta sobre a
populaccedilatildeo de jacareacutes e perturbaccedilatildeo do ambiente de lontras) apresentam como medida
compensatoacuteria principal a criaccedilatildeo e gestatildeo de um Parque Natural
Apesar da importacircncia dos impactos em meio bioacutetico internos agrave aacuterea do
empreendimento e da eficiecircncia das medidas adotadas pelo Sapiens Parque para sua
mitigaccedilatildeo consideramos de maior relevacircncia os impactos em niacutevel regional e municipal Um
dos principais impactos negativos em meio bioacutetico externos ao terreno diz respeito agrave
ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes em funccedilatildeo da pressatildeo
imobiliaacuteria
A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis em razatildeo da expectativa da implantaccedilatildeo do empreendimento e mais concretamente a partir do iniacutecio de sua real implantaccedilatildeo torna as aacutereas de ambientes fraacutegeis mais suscetiacuteveis agrave ocupaccedilatildeo humana por parte de parcela da populaccedilatildeo menos favorecida economicamente dada a valorizaccedilatildeo econocircmica das aacutereas mais adequadas para o processo de urbanizaccedilatildeo Esta parcela da populaccedilatildeo atraiacuteda por potenciais oportunidades de renda ou simplesmente expulsa por pressatildeo imobiliaacuteria das aacutereas jaacute urbanizadas natildeo encontrando imoacuteveis acessiacuteveis em aacutereas adequadas tende a ocupar aacutereas improacuteprias como vaacuterzeas banhados beiras de rios e encostas gerando prejuiacutezos aos ambientes naturais remanescentes agrave paisagem e por vezes com riscos agrave populaccedilatildeo (deslizamentos e inundaccedilotildees) (RIMA 7 200332)
O Sapiens Parque coloca essa ocupaccedilatildeo irregular como existente e tendencial na
regiatildeo e que o parque somente acarretaria a aceleraccedilatildeo desse processo Como meio de
mitigaccedilatildeo do impacto o RIMA sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor para o Norte da Ilha e
de ferramentas de planejamento que possam estabelecer mecanismos legais de
planejamento e gestatildeo do espaccedilo urbano aleacutem de programas de monitoramento que
garantam o cumprimento do zoneamento urbano O RIMA cita tambeacutem a implantaccedilatildeo do
Parque Natural do empreendimento como forma de compensaccedilatildeo desse impacto
Justificativa semelhante eacute apresentada ao constatar-se que a populaccedilatildeo induzida
pelo empreendimento poderaacute colocar em risco a qualidade do aquiacutefero de Ingleses e Rio
Vermelho principal manancial de aacutegua potaacutevel subterracircneo da Ilha O RIMA coloca que a
expansatildeo urbana da regiatildeo norte trata-se de um fenocircmeno crescente que vem gerando
ocupaccedilotildees indiscriminadas legais e ilegais de importantes aacutereas desse manancial A
especulaccedilatildeo imobiliaacuteria tende a se aprofundar na regiatildeo com a implantaccedilatildeo do
empreendimento o que levaria a um aumento da demanda por aacutereas menos adequadas agrave
ocupaccedilatildeo humana e de menor valor em virtude da saturaccedilatildeo eou valorizaccedilatildeo econocircmica
das aacutereas mais adequadas para a urbanizaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo de aacutereas improacuteprias pode vir a
comprometer a qualidade da aacutegua do manancial Mas o RIMA afirma que tal processo jaacute eacute
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
126
uma realidade e como soluccedilatildeo sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor do Norte da Ilha e o
monitoramento do manancial
Mais que a metade dos impactos identificados em meio fiacutesico e bioacutetico foram
classificados como sendo de abrangecircncia interna ou local agrave aacuterea do empreendimento Jaacute os
impactos em meio soacutecio-econocircmico foram classificados em sua totalidade como sendo de
abrangecircncia regional ou metropolitana como veremos a seguir
422 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO SOacuteCIO-ECONOcircMICO
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo norte da Ilha e tambeacutem decorrente da implantaccedilatildeo
do parque apesar de apresentar seus aspectos positivos acarreta a dificuldade do acesso agrave
moradia e expulsa as comunidades locais ou como jaacute citado no item acima favorece a
ocupaccedilatildeo sobre ambientes naturais Aleacutem disso o incremento do custo de indenizaccedilotildees
futuras em casos de necessidade de desapropriaccedilotildees por parte do interesse puacuteblico
tambeacutem constitui uma consequumlecircncia da valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria
Esses resultados sobre o meio soacutecio-econocircmico foram vistos no capiacutetulo anterior
como impulsionadores da segregaccedilatildeo social urbana caracteriacutestica dos modelos de
planejamento regidos atraveacutes da loacutegica do mercado Tais impactos negativos decorrentes da
valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e apontados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque foram justificados
mais uma vez como um quadro tendencial para a regiatildeo norte da Ilha
Certamente o empreendimento contribui com estes aspectos poreacutem esta contribuiccedilatildeo tem que ser relativizada frente agraves tendecircncias atualmente observadas quanto a estes mesmos aspectos uma vez que jaacute satildeo bastante fortes e crescentes Estas tendecircncias levam a projetar o Norte da Ilha em 2020 com uma populaccedilatildeo de aproximadamente 90 mil habitantes As projeccedilotildees com o SAPIENS PARQUE elevariam estes nuacutemeros em mais 65 atingindo entatildeo aproximadamente 96 mil pessoas frente agrave populaccedilatildeo atual de aproximadamente 55 mil habitantes A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis derivada do aumento populacional eacute portanto devida antes ao tendencial do que ao empreendimento (RIMA 7 200344)
O RIMA alega que a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e suas consequumlecircncias em meio soacutecio-
econocircmico satildeo tendenciais e independentes da implantaccedilatildeo do Sapiens Parque onde o
empreendimento influenciaria pouco e soacute teria a contribuir para esta valorizaccedilatildeo atraveacutes da
qualificaccedilatildeo do espaccedilo Essa afirmaccedilatildeo eacute dada perante a justificativa de que o projeto
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
127
acarretaraacute melhorias de infra-estrutura diferenciais de equipamentos oportunidades
serviccedilos e padratildeo do espaccedilo trazendo incremento significativo em curto e meacutedio prazo
O risco de expulsatildeo da populaccedilatildeo local natildeo eacute decorrente somente da especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria mas tambeacutem das novas oportunidades criadas pelo Sapiens Parque A criaccedilatildeo e
expansatildeo de negoacutecios consiste em um dos principais aspectos positivos levantados pelo
empreendimento Segundo o RIMA o Sapiens Parque teraacute sua distribuiccedilatildeo econocircmica
definida pela realidade de Florianoacutepolis sendo cerca de 70 do empreendimento dedicado
agraves atividades de serviccedilos e 23 agraves atividades de comeacutercio Mais que isto suas atividades
satildeo significativamente diferenciadas das atividades convencionais atuais o que implicaria
em uma ampliaccedilatildeo da base de serviccedilos e produtos evitando a saturaccedilatildeo
Por outro lado de acordo com o RIMA toda a riqueza gerada aumenta o poder de
consumo e das oportunidades de negoacutecios fora do empreendimento atingindo
principalmente os setores mais convencionais da economia da cidade e sendo tambeacutem
beneficiados pelo empreendimento Todos esses fatores favorecem para a diminuiccedilatildeo da
sazonalidade do turismo que constitui a principal atividade econocircmica de Florianoacutepolis e do
Norte da Ilha Entretanto o RIMA natildeo nega que tais oportunidades estatildeo restritas somente a
pequena parcela da populaccedilatildeo
O padratildeo de sofisticaccedilatildeo de um Parque de Inovaccedilatildeo exige uma qualificaccedilatildeo diferenciada da matildeo-de-obra em todos os niacuteveis de formaccedilatildeo Portanto apesar da grande geraccedilatildeo de empregos propiciada a absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e regional dependeraacute de sua capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo O mesmo eacute vaacutelido para os empreendedores inclusive aqueles que se encontram ou se instalaratildeo nas comunidades do entorno Por outro lado se as comunidades locais natildeo participarem destes benefiacutecios tendem a ser marginalizadas socioeconomicamente e ateacute mesmo expulsas pois o seu niacutevel de renda poderaacute ser menor que o das populaccedilotildees migrantes acarretando em dificuldades de acesso agrave moradia serviccedilos e bens de consumo (RIMA 7 2003110)
Inclusive a geraccedilatildeo de empregos levantada como o principal impacto positivo do
empreendimento em meio soacutecio-econocircmico tem seus efeitos locais reduzidos por esse
mesmo fator O RIMA faz uma estimativa completa do nuacutemero de novas vagas de emprego
que surgiratildeo com a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque desde sua fase de construccedilatildeo ateacute sua
fase de operaccedilatildeo O resultado mostra um nuacutemero de 27628 empregos diretos e de 41441
empregos indiretos somente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento em um total de
69069 empregos diretos e indiretos para todo o aglomerado urbano de Florianoacutepolis
gerados nesta fase (previsatildeo para o ano 2030)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
128
O RIMA afirma que as estimativas de novos profissionais formados em niacutevel meacutedio e
superior no aglomerado urbano de Florianoacutepolis e que estaratildeo disponiacuteveis no mercado
mostram que a capacidade de matildeo-de-obra local eacute suficiente para suprir as novas vagas de
empregos diretos do empreendimento No entanto o RIMA deixa claro que ldquoeacute importante
lembrar que as contrataccedilotildees ficam por conta das empresas que iratildeo se instalar no
empreendimento e estas seguramente iratildeo obedecer a criteacuterios de meacuterito e qualificaccedilatildeo em
suas contrataccedilotildeesrdquo (RIMA 7 200336) O documento adverte nesta e em outras passagens
do texto que tais benefiacutecios nem sempre poderatildeo ser usufruiacutedos por todos jaacute que
dificilmente essas empresas ldquoestaratildeo dispostas a contratar pessoas que possuam
qualificaccedilatildeo inadequada ou inferior a outra que natildeo seja habitante do local apenas
obedecendo a criteacuterios de origem ou criteacuterios geograacuteficosrdquo (RIMA 7 200336)
Tal situaccedilatildeo repete-se para as demais fases do empreendimento como por exemplo
para a matildeo-de-obra necessaacuteria na construccedilatildeo O parque poderaacute trazer muitos empregos
locais para o ramo da construccedilatildeo civil durante sua execuccedilatildeo mas o RIMA lembra que as
empreiteiras de fora do aglomerado metropolitano de Florianoacutepolis poderatildeo trazer seu
proacuteprio quadro de trabalhadores reduzindo esse impacto positivo do empreendimento sobre
o mercado de trabalho local
Aleacutem disso a vinda de trabalhadores de fora do aglomerado urbano de Florianoacutepolis
principalmente durante a fase de construccedilatildeo do parque acarreta impactos soacutecio-culturais
regionais de natureza negativa Satildeo elas o risco de introduccedilatildeo ou propagaccedilatildeo de doenccedilas
tropicais ou sexualmente transmissiacuteveis o aumento do risco de exploraccedilatildeo ou violecircncia
sexual e o aumento da violecircncia por tensatildeo soacutecio-cultural O RIMA coloca que estes
impactos poderiam ser mitigados atraveacutes de poliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e
campanhas educativas
Para o Sapiens Parque a natureza diversificada do empreendimento amplia a base
de oferta de matildeo-de-obra e de talentos melhorando a competitividade local para ocupar as
vagas criadas O foco no conhecimento ldquocria um ambiente de inovaccedilatildeo e capacidade
aumentando o acesso dos profissionais locais agrave qualificaccedilatildeo necessaacuteria para competir com
ecircxito pelos postos de trabalho criadosrdquo (RIMA 7 200336) Por isso o RIMA destaca que a
inserccedilatildeo dos atores locais no mercado de trabalho do parque depende da oferta de cursos e
qualificaccedilotildees para que se desenvolvam as competecircncias necessaacuterias para o desempenho
de suas funccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
129
As questotildees abordadas acima colocam em duacutevida o principal argumento a favor da
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque no que se refere agrave geraccedilatildeo de empregos Aleacutem disso
constatamos ainda uma uacuteltima colocaccedilatildeo o RIMA estima somente a quantidade de
empregos que seraacute gerada pelo empreendimento sem levar em consideraccedilatildeo os empregos
que seratildeo eliminados com a presenccedila do parque Este estudo foi ignorado pelo Sapiens
Parque jaacute que natildeo foi cumprida a lei do Estatuto da Cidade (Lei 1025701) que exige o
Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) para empreendimentos desta dimensatildeo
Um segundo impacto positivo em meio soacutecio-econocircmico foi classificado pelo RIMA
como de grande magnitude o aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos O RIMA faz um
diagnoacutestico do potencial de geraccedilatildeo direta de impostos para arrecadaccedilatildeo municipal
estadual e federal O resultado mostra um total de cerca de R$ 156 bilhotildees de impostos
gerados desde a fase de implantaccedilatildeo ateacute o iniacutecio da operaccedilatildeo do parque Desses cerca de
R$ 11 bilhotildees derivam da implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque
enquanto cerca de R$ 436 milhotildees correspondem aos impostos anuais gerados pela sua
operaccedilatildeo (Tabela 7) Essas projeccedilotildees correspondem a um valor futuro (para 2020)
podendo sofrer variaccedilotildees e sendo os impostos da fase de implantaccedilatildeo distribuiacutedos em pelo
menos 15 anos
FaseTributos gerados
consolidadosPeriacuteodo
Implantaccedilatildeo e Comercializaccedilatildeo R$ 60305953000 Em 15 anos
Equipamentos R$ 525010200 Em 15 anos
Operaccedilatildeo R$ 436691869 Anual
CONSOLIDACcedilAtildeO DOS TRIBUTOS GERADOS
R$ 156476159900 Acumulado
Apoacutes operaccedilatildeo completaAteacute final de 1ordm ano de operaccedilatildeo plena (natildeo computados impostos gerados durante operaccedilatildeo parcial)
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque Fonte RIMA-1 Sapiens Parque (200328)
O RIMA afirma que dos R$ 11 bilhotildees de impostos gerados ao longo de 15 anos
atraveacutes de implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque 71 seratildeo
direcionados ao governo federal 16 ao estadual e somente 13 ao governo municipal
Dos tributos arrecadados anualmente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento somente
6 beneficiaratildeo diretamente o municiacutepio o que corresponde a cerca de R$ 26 milhotildeesano
Em um comparativo com os impostos arrecadados pelo municiacutepio em 2002 tal valor
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
130
significaria uma parcela de 10 dos R$ 260 milhotildees em tributos arrecadados pelo municiacutepio
naquele ano
O valor arrecadado em impostos inclui tambeacutem tributos derivados do terreno para a
implantaccedilatildeo do empreendimento de propriedade da CODESC Entretanto em momento
algum o RIMA indica o ocircnus atribuiacutedo ao poder puacuteblico pela concessatildeo de um terreno
puacuteblico agrave iniciativa privada Nem tampouco estima os custos das atribuiccedilotildees dadas ao poder
puacuteblico como requisito para a implantaccedilatildeo do empreendimento
Aleacutem da geraccedilatildeo de empregos e do aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos outros
impactos positivos em acircmbito soacutecio-econocircmico foram levantados pelo RIMA aumento de
ofertas de serviccedilos especializados qualificaccedilatildeo da paisagem urbana equalizaccedilatildeo do fluxo
turiacutestico ao longo do ano com reduccedilatildeo da sazonalidade ampliaccedilatildeo da capacidade de PampD
(pesquisa e desenvolvimento) aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura
esporte e lazer aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos soacutecio-educativos e atraccedilatildeo
de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees Entretanto satildeo vaacutelidas aqui tambeacutem as
criacuteticas jaacute feitas quanto agrave possibilidade de real apropriaccedilatildeo dos equipamentos e serviccedilos
fornecidos no parque pela comunidade local
Dentre os impactos negativos apontados pelo RIMA em meio soacutecio-econocircmico
constituem impactos de pequena magnitude a pressatildeo que o empreendimento exerceraacute
sobre os serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo de sauacutede e de seguranccedila
Destacam-se a saturaccedilatildeo do sistema viaacuterio e a pressatildeo sobre o sistema de transporte
coletivo e o adensamento ao longo das vias dificultando futuras ampliaccedilotildees viaacuterias Em
todos esses casos o RIMA coloca suas implicaccedilotildees como decorrentes do crescimento
populacional no Norte da Ilha sendo que a implantaccedilatildeo do empreendimento somente
aceleraria este quadro tendencial
Da mesma maneira a demanda de aacutegua da populaccedilatildeo induzida pelo
empreendimento eacute apresentada pelo RIMA como parte de um processo tendencial de
crescimento populacional Segundo o RIMA o Sapiens Parque seraacute responsaacutevel por um
incremento populacional no Norte da Ilha de 69 e um incremento no nuacutemero de turistas de
455 (projeccedilotildees para 2020) Nesse caso o Sapiens Parque conta com as ampliaccedilotildees jaacute
previstas para a regiatildeo pela Casan (Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento) para
natildeo exceder o limite do sistema de abastecimento de aacutegua
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
131
No que se refere agrave pressatildeo sobre o sistema de energia eleacutetrica originada pelo
incremento populacional e turiacutestico o Sapiens Parque tambeacutem conta com as ampliaccedilotildees da
Celesc (Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA) previstas para a regiatildeo norte de
Florianoacutepolis O RIMA afirma que a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque possibilitaraacute um maior
nuacutemero de visitantes ao longo do ano e natildeo somente na alta temporada o que tornaraacute os
sistemas de infra-estruturas mais atrativos economicamente
Tanto os impactos no sistema de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica quanto no sistema
de distribuiccedilatildeo de aacutegua satildeo ao terreno do empreendimento Segundo o RIMA as
edificaccedilotildees do Sapiens Parque seratildeo dotadas de sofisticados sistemas de economia de
energia e de reuso da aacutegua com o objetivo de reduccedilatildeo de tais impactos
423 ATRIBUICcedilOtildeES DADAS AO PODER PUacuteBLICO
Nos textos anteriores constatamos os principais impactos negativos e positivos em
meios bioacutetico fiacutesico e soacutecio-econocircmico relacionados ao empreendimento Sapiens Parque
Mais de 70 desses impactos foram identificados pelo EIA-RIMA como sendo de
abrangecircncia regional e metropolitana
O impactos negativos identificados em meio bioacutetico e fiacutesico e internos agrave aacuterea do
empreendimento apresentam como meios de mitigaccedilatildeo accedilotildees a serem desenvolvidas pelo
proacuteprio parque Jaacute os impactos que ocorrem aleacutem do terreno do empreendimento em sua
maioria originados pelo crescimento populacional e pela valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria foram
tratados pelo RIMA como parte de um quadro tendencial da regiatildeo O RIMA coloca que as
influecircncias causadas pela implantaccedilatildeo do parque seriam de pequena magnitude dentro de
um processo existente
Com essa justificativa o Sapiens Parque atribui uma seacuterie de accedilotildees como
responsabilidade do poder puacuteblico para a viabilizaccedilatildeo do empreendimento Segundo o
RIMA parte destas atribuiccedilotildees jaacute eram necessaacuterias e previstas independente da
implantaccedilatildeo do parque Podemos verificar por exemplo que a principal compensaccedilatildeo
promovida pelo parque como forma de mitigaccedilatildeo dos impactos em meio natural consiste na
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno cujo objetivo principal eacute manter os
ambientes autoacutectones Entretanto segundo o documento do RIMA a implantaccedilatildeo do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
132
Parque Natural eacute de responsabilidade do poder puacuteblico assim como as demais atribuiccedilotildees
abaixo (RIMA 9 2003)
Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor Participativo para o Norte da Ilha
Elaboraccedilatildeo do Plano de Recursos Hiacutedricos da Bacia do Rio Ratones
Elaboraccedilatildeo e do Projeto Executivo de macrodrenagem de Canasvieiras e
Cachoeira do Bom Jesus
Ampliaccedilatildeo dos Sistemas de Abastecimento de aacutegua do Norte da Ilha a partir do
manancial CubatatildeoPilotildees
Execuccedilatildeo do Projeto de Macrodrenagem de Canasvieiras e Cachoeiras do Bom
Jesus
Teacutermino da duplicaccedilatildeo da SC-401 ateacute Canasvieiras
Duplicaccedilatildeo da SC-403 (ou alternativa equivalente)
Duplicaccedilatildeo da Av Luiz Boiteux Piazza
Implantaccedilatildeo de passarelas faixas de pedestre e semaacuteforos na Av Luiz Boiteux
Piazza
Implantaccedilatildeo das accedilotildees de cunho socioambiental durante a implantaccedilatildeo e
operaccedilatildeo da primeira fase do empreendimento
Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Interna do Sapiens Parque ou ampliaccedilatildeo da
Subestaccedilatildeo Ilha Norte e Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Ingleses
O RIMA natildeo contabiliza os custos atribuiacutedos ao poder puacuteblico mas em setembro de
2006 o Sapiens Parque anunciou que o empreendimento tem potencial para atrair
investimentos da ordem de R$ 4 bilhotildees Ateacute aquele momento haviam sido investidos cerca
de R$ 35 milhotildees em recursos proacuteprios dos acionistas e somente para a primeira fase do
empreendimento a Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis teria de fazer investimentos de
R$15 milhotildees em infra-estrutura
424 ASPECTOS LEGAIS
O licenciamento do Sapiens Parque compete ao oacutergatildeo estadual Fundaccedilatildeo do Meio
Ambiente (FATMA) Entretanto por localizar-se dentro de um raio de 10 km da Unidade de
Conservaccedilatildeo Federal Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o licenciamento do parque depende da
anuecircncia preacutevia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
133
Renovaacuteveis (IBAMA) O terreno de inserccedilatildeo do empreendimento localiza-se dentro da zona
de amortecimento da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes ficando sujeita a zoneamento e normas
especiacuteficas de uso e ocupaccedilatildeo do solo e dos recursos naturais Segundo o RIMA o projeto
do Sapiens Parque buscou contemplar as diretrizes impostas pelo Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
O RIMA ainda afirma que o projeto encontra-se dentro das leis ambientais que regem
a aacuterea referentes ao Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro agrave preservaccedilatildeo da Mata
Atlacircntica e agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o Procurador da
Repuacuteblica Valmor Alves Moreira completou os apontamentos levantados pela comunidade
tendo como preocupaccedilatildeo principal os aspectos ambientais de interesse federal O
procurador contestou o Estudo de Impacto Ambiental do Sapiens Parque com base em um
relatoacuterio produzido em Brasiacutelia por teacutecnicos da quarta Cacircmara de Coordenaccedilatildeo e Revisatildeo
ldquoBom a primeira questatildeo eacute a questatildeo ambiental a repercussatildeo nos rios de interesse federal Afinal de contas estamos em uma ilha noacutes temos aacutereas de manguezais proacuteximas noacutes temos uma estaccedilatildeo ecoloacutegica noacutes temos outras unidades de conservaccedilatildeo federal no entorno Enfim Florianoacutepolis eacute uma ilha e muito sensiacutevel com ambientes muito sensiacuteveis Entatildeo nossa primeira projeccedilatildeo de ocupaccedilatildeo eacute sobre o prisma ambiental Os impactos no sistema viaacuterio os impactos sociais e econocircmicos a populaccedilatildeo que vai ser atraiacuteda a massa de trabalhadores que vatildeo construir aqui onde eacute que vatildeo ficar Enfim satildeo muitos pontos a serem esclarecidosrdquo (Valmor Alves Moreira Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
Apesar dos questionamentos apontados pelo Ministeacuterio Puacuteblico Federal em 2004
com relaccedilatildeo aos impactos ambientais sociais e econocircmicos do empreendimento em
setembro de 2006 o projeto recebeu da FATMA a Licenccedila Ambiental Preacutevia (LAP) que
confere sua viabilidade ambiental Como o terreno de implantaccedilatildeo do projeto localiza-se em
aacuterea urbana o oacutergatildeo competente (FATMA) pode autorizar o parcelamento do solo ou
qualquer edificaccedilatildeo para fins urbanos desde que cumpra com o artigo 5 do Decreto 75093
que oferece restriccedilotildees a aacutereas urbanas que se enquadrem em um dos trecircs casos abaixo
1 Ser abrigo de espeacutecies da flora e da fauna silvestres ameaccediladas de extinccedilatildeo
2 Exercer funccedilatildeo de proteccedilatildeo de mananciais ou de prevenccedilatildeo e controle de erosatildeo
3 Ter excepcional valor paisagiacutestico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
134
Segundo o EIA-RIMA do Sapiens Parque sua aacuterea natildeo se enquadra em nenhum
dos trecircs casos acima de forma que suas restriccedilotildees satildeo condicionadas pelo Plano Diretor
Para a viabilizaccedilatildeo do Sapiens Parque foram necessaacuterias alteraccedilotildees na lei que dispotildee
sobre o zoneamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo da regiatildeo O Plano Diretor dos Balneaacuterios
(Lei Municipal 219385) designava o terreno como Aacuterea Residencial Predominante 5 (ARE-
5) com iacutendices de aproveitamento e taxas de ocupaccedilatildeo similares agraves do entorno Tal iacutendice
permite construccedilotildees de ateacute 25 m de altura e 80 de lote edificado
Esse zoneamento foi modificado pela Lei Complementar 13404 alterando o
zoneamento ARE-5 para Aacuterea Mista Central Especiacutefica (AMC-e) Aacuterea Turiacutestica Exclusiva
Especiacutefica (ATE-e) Aacuterea para Parques Tecnoloacutegicos Especiacutefica 1 e 2 (APT-e 1 e 2) Aacuterea de
Serviccedilo Suplementar Especiacutefica 1 e 2 (ASS-e 1 e 2) Aacuterea Turiacutestica Residencial Especiacutefica
(ATR-e) e Aacuterea Comunitaacuteria Institucional Especiacutefica (ACI-e)
O novo zoneamento manteacutem a obrigatoriedade de ter-se ao menos 45 do terreno
disponibilizado agraves aacutereas comuns (Aacutereas Verdes de Lazer Aacutereas Comunitaacuterias Institucionais
ou Aacutereas do Sistema Viaacuterio e de Transportes) Aleacutem disso o novo zoneamento estabelece
iacutendices e taxas iguais ou mais restritivas do que o zoneamento anterior
As normas de zoneamento aplicaacuteveis ao territoacuterio do projeto trazem ainda o
estabelecimento de novos dispositivos legais como por exemplo (RIMA 5 200303)
Obrigatoriedade de manter 30 da aacuterea dos terrenos sem impermeabilizaccedilatildeo
Previsatildeo expressa sobre a existecircncia de sistema completo de infra-estrutura de
saneamento baacutesico ndash coleta e tratamento
Previsatildeo de meios de transporte alternativos (bicicleta e outros)
Previsatildeo de que ocorrendo a descaracterizaccedilatildeo do conceito do projeto Sapiens
Parque o regime urbaniacutestico da aacuterea voltaraacute a ser regido pelo regime anterior
O Sapiens Parque ignorou a obrigaccedilatildeo do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV)
exigido pelo Estatuto da Cidade O RIMA coloca que a lei do Estatuto da Cidade ldquoexige a
realizaccedilatildeo de estudo de impacto ambiental (EIA) ou de estudo de impacto de vizinhanccedila
(EIV)rdquo (RIMA 5 200306)
O EIV tem o objetivo de contemplar os efeitos positivos e negativos do
empreendimento quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo residente na aacuterea e nas suas
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
135
proximidades O Sapiens Parque alega que o EIA tem escopo maior que o EIV englobando
este uacuteltimo Entretanto eacute sabido que o EIA e o EIV satildeo complementares e um natildeo substitui
a elaboraccedilatildeo do outro Em seu artigo 36 o Estatuto da Cidade diz que os empreendimentos
e atividades privados ou puacuteblicos em aacuterea urbana que dependeratildeo de elaboraccedilatildeo de EIV
para obtenccedilatildeo de licenccedilas ou autorizaccedilotildees de construccedilatildeo seratildeo definidos por lei municipal
Segundo o RIMA ateacute 2002 natildeo havia em Florianoacutepolis uma lei geral disciplinando o EIV
pelo qual estaria o Sapiens Parque dispensado
43 AVALIACcedilOtildeES DA COMUNIDADE LOCAL
As questotildees abordadas pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque incluem parte das
questotildees levantadas pela comunidade local com relaccedilatildeo ao empreendimento O Sapiens
Parque realizou uma accedilatildeo de discussatildeo comunitaacuteria junto a representantes de entidades
comunitaacuterias e organizaccedilotildees da sociedade civil de Florianoacutepolis Tal procedimento faz parte
do processo de inserccedilatildeo socioambiental do empreendimento e foi realizado principalmente
no ano de 2003 atraveacutes de seminaacuterios e grupos de trabalho e discussatildeo
Dentre as observaccedilotildees apontadas pela comunidade e ainda natildeo tratadas neste
capiacutetulo destacamos a indagaccedilatildeo quanto agrave possibilidade da realizaccedilatildeo de um plebiscito
como forma de constatar a posiccedilatildeo da comunidade com relaccedilatildeo ao empreendimento O
Sapiens Parque justificou a resposta negativa com a afirmaccedilatildeo de que ldquonatildeo haacute opccedilotildees
melhores que as apresentadas para fomentar o desenvolvimento urbano de forma sustentaacutevel
para a regiatildeordquo (DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL 200336)
Os atores sociais contatados levantaram ainda que os novos valores decorrentes da
migraccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo acentuadas levam agrave perda dos costumes tradicionais e da
identidade local O empreendimento tem a oportunidade de reverter parcialmente este
processo atraveacutes do incentivo ao resgate cultural e agraves tradiccedilotildees locais identificando
oportunidades de negoacutecios locais e criando espaccedilos culturais
O desemprego e a desqualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra local identificada pelo EIA-RIMA
do empreendimento consistem tambeacutem algumas das principais preocupaccedilotildees da
comunidade O crescimento populacional a sazonalidade acentuada do turismo a distacircncia
do centro comercial e o decliacutenio das atividades rurais e de pesca evidenciam o quadro do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
136
desemprego na regiatildeo O Sapiens Parque promete a geraccedilatildeo de empregos como forma de
amenizar este quadro mas teraacute essas expectativas frustradas localmente se natildeo existirem
programas de qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra e empreendedorismo local O empreendimento
conta com parcerias e com a criaccedilatildeo de moacutedulos comunitaacuterios que visem tal qualificaccedilatildeo
A comunidade tambeacutem apontou a carecircncia de equipamentos e espaccedilos puacuteblicos de
cultura e lazer e a necessidade de atualizaccedilatildeo do Plano Diretor da regiatildeo levando em
consideraccedilatildeo a inserccedilatildeo do parque e a pressatildeo sobre os ambientes naturais Projetos
alternativos antigos para o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque (como o projeto
turiacutestico Orla Norte ou o projeto de loteamentos residenciais) evidenciam a tendecircncia de
ocupaccedilatildeo da aacuterea Se tal ocupaccedilatildeo eacute apontada como inevitaacutevel as condicionantes do
terreno evidenciam ao menos que o projeto de ocupaccedilatildeo deve ter claro interesse puacuteblico e
responsabilidade socioambiental
Na audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o representante
da comunidade da Cachoeira do Bom Jesus afirmou que natildeo haacute infra-estrutura no Norte da
Ilha que decirc suporte ao aumento do nuacutemero de pessoas decorrente da implantaccedilatildeo do
parque Outra criacutetica apontada na audiecircncia eacute de que a maioria das condicionantes do
Sapiens Parque satildeo remetidas ao poder puacuteblico como jaacute comentado em textos anteriores
(ENTREVISTA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA TV JUSTICcedilA 2004)
Por fim segundo a Resoluccedilatildeo 00186 do CONAMA o RIMA ldquodeve ser apresentado
de forma objetiva e adequada a sua compreensatildeordquo(RESOLUCcedilAtildeO CONAMA 00186) O
RIMA do Sapiens Parque trata-se praticamente de uma coacutepia do EIA com a supressatildeo de
um dos capiacutetulos A complexidade do documento acaba dificultando a compreensatildeo da
comunidade local em relaccedilatildeo aos verdadeiros impactos do projeto
44 AVALIACcedilOtildeES DO MASTER PLAN 2005
As criacuteticas feitas pelo IAB em 2002 associadas agraves consideraccedilotildees da comunidade e
aos impactos identificados no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de 2003 influenciaram a
concepccedilatildeo do novo projeto para o parque que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Cepa
Atraveacutes de uma anaacutelise do projeto apresentado em 2005 podemos constatar a preocupaccedilatildeo
em delimitar gradientes de ocupaccedilatildeo no siacutetio de implantaccedilatildeo do empreendimento definidos
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
137
conforme a fragilidade do ambiente natural (Figura 20) Segundo esse conceito o terreno foi
edificado a partir dos trecircs gradientes de ocupaccedilatildeo paralelamente ao Rio Papaquara (ao sul
do terreno) do menos edificado ao mais edificado (Figura 21)
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
RIO PAPAQUARA
RIO DO BRAacuteS
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
138
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como podemos observar na Figura 21 outra preocupaccedilatildeo do novo projeto consistiu
em natildeo obstruir os canais de drenagem pelo desenho dos lagos artificiais No novo Master
Plan pode-se observar a preocupaccedilatildeo em manter intactos os principais remanescentes
vegetais do terreno aproveitando as demais aacutereas para as edificaccedilotildees O projeto manteacutem o
Parque Natural ao longo do Rio Papaquara como reserva e compensaccedilatildeo ambiental onde
seriam realizadas as iniciativas soacutecio-ambientais do empreendimento
As aacutereas mais edificadas localizam-se junto agrave Av Luiz Boiteux Piazza (ao norte do
terreno paralela ao Rio Papaquara) e conformam-se a partir dessa rua interligando o
moacutedulo Experientia e o centro cultural e de eventos (Figura 21- ao centro em marrom) com
as edificaccedilotildees direcionadas aos negoacutecios urbanos - turismo e empresas de serviccedilos
(Figura 21- em amarelo e vermelho) Entretanto o espaccedilo dedicado a equipamentos
puacuteblicos comunitaacuterios de sauacutede e educaccedilatildeo (Figura 21- nos extremos em marrom) ainda
aparece em segundo plano no projeto localizado nos cantos do terreno inclusive proacuteximos
agraves estaccedilotildees de transbordo do empreendimento O moacutedulo Scientia opera no segundo
gradiente de ocupaccedilatildeo com edificaccedilotildees isoladas (Figura 21- em azul escuro) localizadas
nas aacutereas onde a vegetaccedilatildeo autoacutectone eacute menos incidente A Figura 22 mostra a perspectiva
RIO PAPAQUARA
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
139
com a implantaccedilatildeo completa do Master Plan 2005 do Sapiens Parque Outras imagens
desta versatildeo do projeto podem ainda ser visualizadas no Anexo 3
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
O Master Plan 2005 mostra-se mais efetivo na tentativa de inserccedilatildeo do projeto no
contexto urbano existente ao levantar o conceito dos gradientes de ocupaccedilatildeo e ao levar em
consideraccedilatildeo o entorno edificado e viaacuterio na sua concepccedilatildeo Apesar da visiacutevel melhora do
projeto urbano e arquitetocircnico do Master Plan 2005 em relaccedilatildeo ao projeto apresentado em
2003 pela Ecoplan podemos verificar que o projeto ainda reforccedila pouco o caraacuteter puacuteblico
que deve ter ao privilegiar a posiccedilatildeo dos setores privados em detrimento aos equipamentos
puacuteblicos e comunitaacuterios
O projeto natildeo apresenta articulaccedilatildeo desses equipamentos puacuteblicos e comunitaacuterios
com o contexto urbano e o Parque Natural o que coloca em duacutevida a real apropriaccedilatildeo da
populaccedilatildeo local de uma aacuterea que deveria caracterizar-se como um grande parque puacuteblico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
140
45 DIAGNOacuteSTICO FINAL AVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES
No iniacutecio do trabalho colocamos que nosso objetivo principal seria analisar o Sapiens
Parque como poliacutetica urbana para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis apontando os
limites do projeto no que diz respeito agrave principal proposta do empreendimento o
desenvolvimento baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental A partir das
anaacutelises feitas ateacute o presente do empreendimento e das conclusotildees parciais relacionadas
aos grandes projetos urbanos do capiacutetulo anterior podemos apontar alguns dos limites do
projeto Sapiens Parque como proposta de desenvolvimento sustentaacutevel Esses limites foram
identificados segundo as dimensotildees criteacuterios e objetivos de sustentabilidade vistos no
Capiacutetulo 2 e estatildeo esquematizados na Tabela 8 Para esta avaliaccedilatildeo separamos os limites
relacionados agrave sustentabilidade ambiental das demais sustentabilidades (social cultural
territorial econocircmica e poliacutetica)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
141
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADEAVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE COMO PROPOSTA
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
A pressatildeo imobiliaacuteria e a expulsatildeo de alguns grupos sociais podem levar agrave ocupaccedilatildeode zonas ambientalmente protegidas do entorno causando consequumlente depredaccedilatildeoambiental e fragmentaccedilatildeo dos ambientes naturais remanescentes
O terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se em aacuterea de faacutecil inundaccedilatildeo A reduccedilatildeo da superfiacutecie de inundaccedilatildeo decorrente da construccedilatildeo das edificaccedilotildees e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o potencial de drenagem do terreno
A reduccedilatildeo do impacto ambiental proveniente da construccedilatildeo dos aterros necessaacuteriospara as edificaccedilotildees depende da realizaccedilatildeo de aterros seletivos que diminuam autilizaccedilatildeo dos recursos naturais natildeo-renovaacuteveis para tal fim
A integridade do manancial Ingleses Rio Vermelho depende de investimentospuacuteblicos em infra-estrutura e do planejamento fiscalizaccedilatildeo e monitoramento da regiatildeoe do aquumliacutefero para que natildeo sofra danos oriundos do empreendimento e da populaccedilatildeoinduzida por ele
O projeto natildeo prioriza o caraacuteter social e puacuteblico a que se propotildee colocando comoprimaacuterias as atividades destinadas aos interesses privados e como secundaacuterias asatividades espaccedilos puacuteblicos e equipamentos relacionados aos aspectos sociaisConsequumlentemente os investimentos puacuteblicos necessaacuterios para a viabilizaccedilatildeo doparque (terreno de implantaccedilatildeo e investimentos em infra-estrutura) tambeacutem priorizam ocaraacuteter privado do empreendimento
A concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos no Norte da Ilha ocasionaraacute provaacutevelfragmentaccedilatildeo da cidade uma vez que outras aacutereas carentes de infra-estrutura ficamdesamparadas pelo Poder Puacuteblico A tendecircncia eacute a valorizaccedilatildeo da regiatildeo deimplantaccedilatildeo do parque devido agraves melhorias em infra-estrutura enquanto ocorre oaumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccediloscaracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo do entorno do parque acarretaraacute provaacutevel expulsatildeoe substituiccedilatildeo das comunidades locais
O projeto somente cumpriraacute sua proposta de superar a exclusatildeo social se priorizar osaspectos sociais do empreendimento e atraveacutes de programas de capacitaccedilatildeocomunitaacuteria e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo
A implantaccedilatildeo do parque acarretaraacute o aumento populacional na regiatildeo norte deFlorianoacutepolis A situaccedilatildeo atual mostra que a regiatildeo jaacute apresenta carecircncia de infra-estrutura (sistema viaacuterio esgoto aacutegua energia) natildeo comportando o aumento dademanda sem o devido planejamento
Exclusatildeo econocircmica e desvalorizaccedilatildeo do trabalho das comunidades locais frente agravenecessidade da matildeo-de-obra qualificada imposta pelo Parque A garantia de novosempregos para a comunidade local em todas as fases do empreendimento depende depoliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
O modelo de planejamento baseado na loacutegioca do mercado reforccedila a produccedilatildeo ereproduccedilatildeo de desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica sociale espacial
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
DEMAIS SUSTENTABILIDADES (SOCIAL CULTURAL
TERRITORIAL ECONOcircMICA E
POLIacuteTICA)
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
142
Os limites apontados na Tabela 8 resumem as principais avaliaccedilotildees feitas ateacute o
presente pelos atores envolvidos no projeto Sapiens Parque e mostram que a proposta
urbana eacute ainda restrita no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel De maneira
geral podemos constatar que o projeto Sapiens Parque coloca-se como promotor do
desenvolvimento sustentaacutevel a partir basicamente de cinco aspectos principais
1- Preservaccedilatildeo dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo atraveacutes do
Parque Natural e do conceito de ldquogradientes de ocupaccedilatildeordquo adotado para as edificaccedilotildees do
empreendimento (Master Plan 2005 do Sapiens Parque)
2- O parque promete a construccedilatildeo de edificaccedilotildees sustentaacuteveis com economia de
energia reuso da aacutegua e estaccedilatildeo particular de tratamento de esgoto
3- O projeto tem como um dos conceitos a induacutestria da tecnologia e da informaacutetica
considerada uma induacutestria ldquolimpardquo e proacutepria para regiotildees de rico ambiente natural como
Florianoacutepolis
4- O parque propotildee-se como promotor do turismo sustentaacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico tendo como base um conjunto de equipamentos de lazer
cultura educaccedilatildeo esportes sauacutede eventos e gastronomia
5- O parque tem como uma das metas a geraccedilatildeo de empregos e diminuiccedilatildeo da
exclusatildeo social
Entretanto muitos dos aspectos acima relacionados quando natildeo se dedicam
exclusivamente agrave aacuterea de implantaccedilatildeo do terreno ignorando as demais regiotildees de
abrangecircncia do projeto apresentam limites que impedem sua real efetivaccedilatildeo
As diretrizes de sustentabilidade urbana delimitadas pela Agenda 21 Brasileira
defendem que eacute necessaacuterio um planejamento urbano que coloque restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio Carecircncias de infra-estrutura e a ocupaccedilatildeo de ambientes
naturais na regiatildeo norte da Ilha mostram que o projeto do Sapiens Parque deve ser
articulado com um Plano Diretor para toda a regiatildeo capaz de prever e planejar a
concentraccedilatildeo populacional e principalmente seus impactos ambientais Do contraacuterio o
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
143
empreendimento natildeo poderaacute ser concebido como um novo centro articulador e propulsor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel
Como tambeacutem podemos constatar na Tabela 8 um projeto da dimensatildeo do Sapiens
Parque pode acarretar em excessiva concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos em sua aacuterea
de implantaccedilatildeo Tal fato resulta na fragmentaccedilatildeo da cidade e na criaccedilatildeo de regiotildees com
carecircncia de investimentos e infra-estrutura contrariando os criteacuterios de sustentabilidade
territorial e poliacutetica vistos neste trabalho
A geraccedilatildeo de empregos e a inclusatildeo social atraveacutes do trabalho que seriam os
principais propulsores do desenvolvimento regional sustentaacutevel econocircmico e social
dependem de accedilotildees de capacitaccedilatildeo e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos
de educaccedilatildeo local para que sejam efetivados Do contraacuterio podemos concluir que a
tendecircncia eacute o aumento da exclusatildeo econocircmica e social uma vez que natildeo seratildeo todas as
pessoas as capacitadas para os empregos gerados pelo parque
Concluiacutemos tambeacutem que a exclusatildeo social e a consequumlente segregaccedilatildeo soacutecio-
espacial da cidade podem ser fortalecidas ainda pela provaacutevel valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da
regiatildeo de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de inserccedilatildeo
social o modelo de planejamento baseado na loacutegica do mercado tende entatildeo a aumentar as
desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica social e espacial
A iniciativa de o parque ser um precursor do turismo sustentaacutevel para a regiatildeo eacute
notaacutevel mas tambeacutem somente teraacute real efetivaccedilatildeo se devidamente acompanhado de um
planejamento turiacutestico para todo o Norte da Ilha Destacamos ainda a necessidade de o
Sapiens Parque estar articulado com toda a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis sem
esquecer da porccedilatildeo continental equivalente Desconhecer a parte continental de
Florianoacutepolis em um projeto deste porte implica em reconhecer a sua insustentabilidade
Apesar de o projeto ainda ser bastante restrito no alcance do desenvolvimento
sustentaacutevel para a regiatildeo e o municiacutepio satildeo vaacutelidas as accedilotildees locais propostas pelo parque
que visam a melhoria da sustentabilidade do empreendimento em si atraveacutes da preservaccedilatildeo
dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo e da aplicaccedilatildeo de conceitos de
sustentabilidade nas edificaccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
144
Entretanto conforme afirma VEIGA (2005113) ldquoa hipoteacutetica conciliaccedilatildeo entre o
crescimento econocircmico moderno e a conservaccedilatildeo da natureza natildeo eacute algo que possa ocorrer
no curto prazo e muito menos de forma isolada em certas atividades ou em locais
especiacuteficosrdquo Portanto o empreendimento Sapiens Parque natildeo pode isolada e localmente
ser considerado um projeto de desenvolvimento urbano sustentaacutevel sem apresentar uma
articulaccedilatildeo e um planejamento conjunto com toda a regiatildeo e o aglomerado urbano e sem
levar em consideraccedilatildeo a realidade soacutecio-econocircmica e ambiental de Florianoacutepolis
Eacute preciso ter consciecircncia de que o modelo de planejamento estrateacutegico regido pela
loacutegica do mercado e importado dos paiacuteses do capitalismo avanccedilado quando aplicado agrave
realidade brasileira apresenta seus limites na busca de uma poliacutetica urbana de
desenvolvimento sustentaacutevel Os esforccedilos do empreendimento Sapiens Parque na direccedilatildeo
desta satildeo vaacutelidos poreacutem ainda restritos e insuficientes para o alcance efetivo da
sustentabilidade social econocircmica e ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
145
CONCLUSOtildeES
Na introduccedilatildeo deste trabalho comentamos que ele estaria estruturado a partir de
dois eixos principais O primeiro eixo diz respeito a um paradigma de desenvolvimento
denominado sustentaacutevel que procura conciliar o crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo com
resultados positivos em meio social e ambiental O segundo eixo estruturador deste trabalho
gira em torno de um outro modelo desta vez um modelo de planejamento urbano regido
segundo estrateacutegias determinadas pela loacutegica do mercado e que busca a inserccedilatildeo global
das cidades em um cenaacuterio mundial marcado pelas transformaccedilotildees da globalizaccedilatildeo
A pesquisa procurou delinear os principais conceitos e caracteriacutesticas desses dois
paradigmas que vecircm surgindo como um campo feacutertil para a proliferaccedilatildeo de modelos de
gestatildeo urbana e estrateacutegias de desenvolvimento local O estudo procurou verificar atraveacutes
do projeto urbano Sapiens Parque para Florianoacutepolis a eficiecircncia da aplicaccedilatildeo do modelo
de planejamento urbano analisado no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel
Cabe colocar aqui que perante dois temas de tamanha complexidade como os que
foram estudados muitos cortes foram necessaacuterios para que se pudesse dar fechamento agrave
dissertaccedilatildeo sem que se tornasse demasiadamente prolongada A pesquisa deteve-se
principalmente em analisar o empreendimento Sapiens Parque e seus limites como
propulsor do desenvolvimento sustentaacutevel em niacutevel regional tendo oferecido pouco enfoque
nas avaliaccedilotildees locais que dizem respeito agraves reflexotildees espaciais do projeto urbano
propriamente dito
No momento de finalizaccedilatildeo do trabalho buscamos levantar alguns questionamentos
que surgiram no decorrer da presente pesquisa os quais ainda natildeo obtivemos respostas
seraacute possiacutevel que dois modelos aparentemente antagocircnicos no discurso possam caminhar
juntos no processo de planejamento Seraacute possiacutevel conciliar na praacutetica dentro do contexto
brasileiro marcado por desigualdades sociais um discurso provavelmente utoacutepico como o do
desenvolvimento sustentaacutevel com um discurso que remete necessariamente a uma funccedilatildeo
mercadoloacutegica especiacutefica de determinado territoacuterio No caso de Florianoacutepolis seraacute o projeto
do empreendimento Sapiens Parque no Norte da Ilha a melhor possibilidade de
reurbanizaccedilatildeo para o alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
146
Como verificamos no segundo capiacutetulo deste trabalho o conceito de
desenvolvimento de um territoacuterio ao contraacuterio do crescimento econocircmico natildeo se restringe
somente aos fenocircmenos econocircmicos secundaacuterios referindo-se principalmente agraves mudanccedilas
qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo priorizando a melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza a dimensatildeo
ambiental nesse conceito fundamentando sua harmonizaccedilatildeo com os objetivos sociais e
econocircmicos sendo concebido como aquele que assegura o atendimento das necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraccedilotildees satisfazerem suas
proacuteprias necessidades Significa permitir ldquoque todos tenham atendidas as suas necessidades
baacutesicas e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar suas aspiraccedilotildees a uma vida
melhorrdquo(COMISSAtildeO MUNDIAL 198847)
Visto a partir desse conceito o desenvolvimento sustentaacutevel aparenta vago e
impreciso dando margem a muitas interpretaccedilotildees tendo sofrido aprimoramentos apoacutes sua
popularizaccedilatildeo em 1987 Abrangendo desde os objetivos mais estreitos como a preservaccedilatildeo
dos recursos naturais ateacute os objetivos mais amplos como a hipoacutetese de mudanccedila nos
padrotildees de consumo acumulaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de riquezas o conceito do desenvolvimento
sustentaacutevel tambeacutem vem sofrendo questionamentos por muitos autores quanto agraves suas reais
possibilidades de efetivaccedilatildeo dentro do processo de acumulaccedilatildeo de riquezas caracteriacutestico
do sistema capitalista Apesar disso concordamos que tal paradigma deve ser procurado
por todas as sociedades humanas como forma de preservaccedilatildeo ambiental e melhoria da
qualidade de vida
Neste trabalho como meacutetodo de estudo optamos em utilizar a instituiccedilatildeo das
dimensotildees e objetivos de sustentabilidade (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial
econocircmica e poliacutetica) definidos por SACHS (2002) Essa classificaccedilatildeo permite o
estabelecimento de criteacuterios para cada uma das dimensotildees citadas de maneira que
funcionem como ferramentas de anaacutelise das poliacuteticas de desenvolvimento no sentido do
alcance da sustentabilidade A conservaccedilatildeo da biodiversidade mostrou-se um importante
requisito do ecodesenvolvimento expresso no caso brasileiro atraveacutes do Sistema de
Unidades de Conservaccedilatildeo e das Reservas da Biosfera
A aplicaccedilatildeo do conceito do desenvolvimento sustentaacutevel em meio urbano originou os
estudos de sustentabilidade urbana uma aacuterea de anaacutelise ainda bastante recente e em
consolidaccedilatildeo Tal associaccedilatildeo fundamentou-se no documento Agenda 21 que oferece
diretrizes de sustentabilidade urbana em niacutevel nacional e local visando o alcance de um
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
147
planejamento urbano mais sustentaacutevel O tema manifestou o padratildeo ldquocidades sustentaacuteveisrdquo
que vem se propagando entre os governos e organizaccedilotildees da sociedade civil
Concomitantemente a esse padratildeo verificamos a necessidade de terem-se as
cidades adaptadas agraves transformaccedilotildees surgidas mundialmente com o advento da
globalizaccedilatildeo em acircmbito geopoliacutetico econocircmico social e tecnoloacutegico O modelo de
planejamento urbano industrial que predominou no Brasil ateacute os anos 1970 direcionado pelo
Estado e baseado em categorias funcionais mostrou-se obsoleto perante essa nova
realidade sendo substituiacutedo pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Conforme verificamos no
terceiro capiacutetulo a nova ordem urbana implica na competitividade entre as cidades tendo
como principal objetivo seu posicionamento como centro de articulaccedilatildeo e controle das
economias mundiais e sua inserccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
O modelo estrateacutegico de planejamento nasceu da gestatildeo empresarial sendo
aplicado ao espaccedilo urbano como uma resposta agraves mudanccedilas impostas pela globalizaccedilatildeo
Ele sugere que a competiccedilatildeo interurbana consiste em uma saiacuteda inevitaacutevel perante tais
mudanccedilas jaacute que a globalizaccedilatildeo prejudicou a especificidade do territoacuterio como unidade de
produccedilatildeo e consumo ignorando as fronteiras poliacutetico-administrativas Como consequumlecircncia
as cidades passaram a serem constituiacutedas a partir de uma sociedade integrada em rede
acompanhadas de uma nova realidade econocircmica social e poliacutetica
O novo modelo de planejamento imposto fundamenta-se na articulaccedilatildeo necessaacuteria
entre o local e o global decorrente da perda da autonomia do Estado-Naccedilatildeo como centro
regulador do planejamento Dessa forma propicia-se aos governos locais o fortalecimento
poliacutetico e econocircmico elevando-os como os principais atores puacuteblicos do planejamento
ainda que estejam sujeitos agrave dependecircncia dos condicionantes externos Os governos locais
possuem entatildeo a atribuiccedilatildeo de promover as cidades para os investidores externos atraveacutes
de uma imagem positiva da cidade e da oferta de infra-estrutura e serviccedilos Tal posiccedilatildeo
objetiva alcanccedilar vantagens competitivas para a cidade como localizaccedilatildeo e expansatildeo de
empresas e atividades
O enfraquecimento do papel do Estado como indutor do desenvolvimento e sua
substituiccedilatildeo pela loacutegica do mercado constitui o primeiro paradoxo consolidado entre o
modelo de planejamento estrateacutegico e o discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Segundo
os criteacuterios de sustentabilidade poliacutetica destaca-se a necessidade da centralizaccedilatildeo e da
intervenccedilatildeo do Estado como regulador das economias e sua capacitaccedilatildeo para implementar
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
148
um projeto nacional em conjunto com os empreendedores O Estado constitui o uacutenico ator
capaz de lidar com o processo de distribuiccedilatildeo dos recursos naturais econocircmicos e poliacuteticos
intra e entre naccedilotildees e evitar situaccedilotildees de desigualdade em termos de apropriaccedilatildeo universal
dos direitos humanos buscando um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social
Entretanto o que pudemos constatar no planejamento estrateacutegico eacute a elevaccedilatildeo dos
governos locais no processo de planejamento Para a atraccedilatildeo de empresas e investimentos
o poder puacuteblico local utiliza-se de estrateacutegias de intervenccedilotildees urbanas acompanhadas de
imagens-siacutentese e discursos referentes agrave cidade por meio de uma poliacutetica de marketing
urbano como instrumento de difusatildeo e afirmaccedilatildeo Variaccedilotildees desse modelo foram vistos
neste trabalho segundo as anaacutelises do planejamento para as cidades de Barcelona Curitiba
e Rio de Janeiro trata-se de uma perspectiva de transformar essas cidades em uma espeacutecie
de ldquomercadoriardquo a ser ldquovendidardquo a um mercado mundial
Concretiza-se tambeacutem uma relaccedilatildeo imprescindiacutevel para a instituiccedilatildeo do
planejamento estrateacutegico urbano a parceria puacuteblico-privado Tal parceria nasce da
necessidade do poder puacuteblico em captar recursos adicionais agraves suas proacuteprias receitas a fim
de possibilitar a implementaccedilatildeo dos projetos de renovaccedilatildeo urbana Dessa forma os
interesses do mercado permanecem presentes no processo de planejamento permitindo a
participaccedilatildeo direta de empresaacuterios nas decisotildees referentes agrave gestatildeo urbana
A parceria puacuteblico-privado aparece bastante evidente no estudo de caso tomado
para anaacutelise neste trabalho o projeto urbano Sapiens Parque no Norte da Ilha
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional Apoiado pelos governos
municipal e estadual em exerciacutecio a efetivaccedilatildeo do empreendimento depende da coalizatildeo de
esforccedilos e recursos puacuteblicos e privados No decorrer do trabalho vimos que o projeto faz
parte de uma das iniciativas do governo local de inserir Florianoacutepolis como ldquocidade globalrdquo
buscando a atraccedilatildeo de empresas voltadas para a aacuterea da informaacutetica e tecnologia
principalmente as de capital internacional
O empreendimento tambeacutem se coloca como precursor da sustentabilidade social
econocircmica e ambiental com a promessa de geraccedilatildeo de empregos e consequumlente inclusatildeo
social Aleacutem disso o Sapiens Parque destaca seu objetivo de acabar com a sazonalidade da
atividade turiacutestica com a sua implantaccedilatildeo trazendo visitantes durante o ano inteiro com o
comprometimento de difundir o turismo sustentaacutevel e a educaccedilatildeo ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
149
Entretanto as anaacutelises do projeto Sapiens Parque realizadas no quarto capiacutetulo
desta dissertaccedilatildeo mostraram que o modelo de planejamento apresenta muitas restriccedilotildees
quando utilizado como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel A competitividade
urbana defendida pelo planejamento estrateacutegico significa um claro incremento na qualidade
de vida urbana porque a competitividade requer infra-estrutura adequada e melhoria das
condiccedilotildees de vida de moradia serviccedilos urbanos sauacutede e cultura como fator essencial para
a atratividade de investimentos e usuaacuterios Apesar disso a competitividade caracteriacutestica do
modelo estrateacutegico tambeacutem proporciona resultados que seguem na contramatildeo dos preceitos
relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e estabelecidos nesta pesquisa
Na anaacutelise feita em relaccedilatildeo aos limites do projeto Sapiens Parque como difusor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel destacamos aqui as questotildees referentes agrave
organizaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana resultantes justamente da estrateacutegia da inserccedilatildeo
competitiva O projeto de intervenccedilatildeo urbana mostrou uma tendecircncia agrave fragmentaccedilatildeo uma
vez que potencializa a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e consumo de segmentos sociais especiacuteficos
atraveacutes da concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave revitalizaccedilatildeo no
Norte da Ilha Aleacutem disso a exclusatildeo econocircmica decorrente da irrelevacircncia de determinados
grupos sociais perante o mercado de trabalho proporcionado pelo parque aliada agrave discrepacircncia
salarial e de condiccedilotildees de trabalho colaboram para agravar ainda mais esse quadro
A segregaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana brasileira natildeo tem suas origens no atual modelo
de planejamento regido pela estrateacutegia do mercado como forma de inserccedilatildeo competitiva
Entretanto concordamos que o modelo tende a aumentar a situaccedilatildeo de desigualdade social
com a formaccedilatildeo de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos caracterizados pela
pobreza e violecircncia urbana em contraste a bairros compostos por condomiacutenios privatizados
e reservados agraves atividades e moradia de uma minoria Essa implicaccedilatildeo constitui no nosso
ver a principal contradiccedilatildeo existente entre o planejamento estrateacutegico e as premissas que
temos de ldquocidades sustentaacuteveisrdquo caracterizadas pela conexatildeo entre bairros (centro e
periferia) e entre espaccedilo privado e puacuteblico com priorizaccedilatildeo deste uacuteltimo
Concluiacutemos portanto ser a segregaccedilatildeo soacutecio-espacial e suas consequumlecircncias como
a degradaccedilatildeo ambiental os principais fatores que estabelecem limites ao modelo de
planejamento estrateacutegico no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel Nesse caso
uma nova pergunta surge diante de tal conclusatildeo quais seriam entatildeo perante o atual
cenaacuterio mundial da globalizaccedilatildeo financeira e da perda da autonomia do Estado as
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
150
alternativas para o equacionamento da problemaacutetica ambiental urbana e diminuiccedilatildeo da
desigualdade social
No Brasil o Estatuto da Cidade surgiu como uma promessa para a gestatildeo
democraacutetica das cidades e como uma real possibilidade de intervenccedilatildeo sobre o quadro de
exclusatildeo social caracteriacutestico das cidades brasileiras O Estatuto tambeacutem destaca a
necessidade de garantia do direito agraves cidades sustentaacuteveis com a aplicaccedilatildeo de
instrumentos que visam amenizar os impactos ambientais decorrentes dos processos de
urbanizaccedilatildeo Entretanto apesar de ser considerada uma lei bastante inovadora uma vez
que contempla aspectos da gestatildeo urbana dos quais nenhuma legislaccedilatildeo anterior sequer se
aproximava o Estatuto constitui somente um dos primeiros passos no caminho para a
sustentabilidade urbana
A cidade como expressatildeo da exclusatildeo social e degradaccedilatildeo ambiental pode vir a
se constituir no lugar privilegiado para a discussatildeo da inclusatildeo e do exerciacutecio da cidadania
O cotidiano urbano deve ser entendido como a manifestaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais e portanto
de conflitos a gestatildeo desses conflitos requer a democratizaccedilatildeo do processo de decisotildees
que afetam esse cotidiano O momento atual eacute favoraacutevel ao debate dos rumos que tomaratildeo
nossas cidades democratizando as decisotildees acerca do desenvolvimento sustentaacutevel e
resgatando o direito agrave cidade para todos
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
151
REFEREcircNCIAS
ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita (org) Previsatildeo de impactos o estudo de impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
ACSELRAD Henri A duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Rio de Janeiro DPampA 2001
AGENDA 21 BRASILEIRA ndash Cidades Sustentaacuteveis Ministeacuterio do Meio Ambiente - Comissatildeo de Poliacuteticas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2002
AGUIAR Marina e DIAS Reinaldo Fundamentos do turismo conceitos normas e definiccedilotildees Campinas SP Editora Aliacutenea 2002
AMENDOLA Mocircnica O ordenamento urbano carioca sob a oacutetica do plano estrateacutegico de cidades Revista geo-paisagem ( on line ) Vol 1 nuacutemero 2 2002 Julhodezembro de 2002 Disponiacutevel em httpwwwfethggfbrPlano20estratC3A9gicohtm acesso em 05052006
AMIGOS DE CARIJOacuteS Plano de desenvolvimento sustentaacutevel do entorno da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis SC 2002
ANDRADE Liza Maria Souza de O conceito de Cidades-Jardins uma adaptaccedilatildeo para as cidades sustentaacuteveis (disponiacutevel em httpwwwvitruviuscombr acesso em 05052006)
ARANTES Otiacutelia VAINER Carlos MARICATO Ermiacutenia A cidade do pensamento uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ARANTES Otiacutelia Uma estrateacutegia fatal A cultura das novas gestotildees urbanas In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ASSOCIACcedilAtildeO AMIGOS DE CARIJOacuteSIBAMA Plano de manejo da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis 2002
BECKER Dinizar Fermiano A insustentabilidade do discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Revista Estudo amp Debate Lajeado V11 ndeg01 p175-195 2004
BENJAMIN Antonio Herman U Estudo preacutevio de impacto ambiental teoria praacutetica e legislaccedilatildeo Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1993
BERMAN Marshall Tudo que eacute soacutelido desmancha no ar a aventura da modernidade Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
BERTRAND Georges Paisagem e geografia fiacutesica global Esboccedilo metodoloacutegico Curitiba N8 p114-152 2004 editora UFPR 141 pdf
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
152
BIOSFERA URBANA NA ILHA DE SANTA CATARINA Proposta conceitual para um Projeto Piloto de implementaccedilatildeo do modelo de Reserva da Biosfera em ambiente urbano Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr acesso em 10062007
BRAVERMAN Harry Trabalho e capital monopolista a degradaccedilatildeo do trabalho no seacuteculo XX 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1981
BORJA Jordi CASTELLS Manuel Local y Global la gestioacuten de latildes ciudades en la era de la informacioacuten 5 ed Barcelona Taurus 2000
BRUumlSEKE Franz Josef O problema do desenvolvimento sustentaacutevel In Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel Cloacutevis Cavalcanti organizador ndash 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
BUENO Ayrton Portilho Patrimocircnio paisagiacutestico e turismo na ilha de Santa Catarina a premecircncia da paisagem no desenvolvimento sustentaacutevel da atividade turiacutestica Satildeo Paulo 2006 Tese (Doutorado) - Universidade de Satildeo Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
CARDOSO Reginaldo Luiz As cidades brasileiras e o pensamento neoliberal (submissatildeo ao pensamento uacutenico uacutenica alternativa para as cidades) Instituto Universitaacuterio de Pesquisas do Rio de Janeiro ndash IUPERJ Disponiacutevel em httpwwwrizomanet acesso em 07052006
CASTELLS Eduardo JF et al Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC Florianoacutepolis 2002
CASTELLS Manuel A sociedade em rede 2 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999
CAVALCANTI Cloacutevis (org) Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
CECCA - CENTRO DE ESTUDOS CULTURA E CIDADANIA (SC) Uma Cidade numa Ilha relatoacuterio sobre os problemas soacutecio-ambientais da Ilha de Santa Catarina 2 ed Florianoacutepolis Insular 1997
CHAUI Marilena de Souza O que eacute ideologia 39 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1995
CHOAY Franccediloise O Urbanismo Satildeo Paulo Perspectiva 1979
COMISSAtildeO DE DESENVOLVIMENTO URBANO E INTERIOR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS SECRETARIA ESPECIAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO DA PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL E INSTITUTO POacuteLIS Estatuto da Cidade Guia para implementaccedilatildeo pelos municiacutepios e cidadatildeos Cacircmara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees Brasiacutelia 2001
COMISSAtildeO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Nosso futuro comum Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas 1988
COMPANS Rose Cidades sustentaacuteveis cidades globais Antagonismo ou complementaridade In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
153
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg Ministeacuterio do Meio Ambiente (disponiacutevel em httpwwwmmagovbr acesso 24052006)
CONGRESSO NACIONAL Coacutedigo Florestal Lei N o 4771 de 15 de setembro de 1965
CONGRESSO NACIONAL Decreto da Mata Atlacircntica N o 750 de 10 de fevereiro de 1993
CONGRESSO NACIONAL SNUC - SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVACcedilAtildeO Lei N o 9985 de 18 de julho de 2000
CONFEREcircNCIA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO 1992 RIO DE JANEIRO RJ BRASIL Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores Divisatildeo do Meio Ambiente Brasilia DF Camara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees 1995
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira A Questatildeo ambiental diferentes abordagens Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira Impactos Ambientais Urbanos no Brasil Ed Bertrand Brasil Rio de Janeiro 2001
DIAS Leila Christina amp SANTOS Gislaine Aparecida dos Regiatildeo Territoacuterio e Meio Ambiente Uma Histoacuteria de Definiccedilotildees e Redefiniccedilotildees em Escalas Espaciais (1987-2001) Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V05 ndeg02 p45-56 2003
DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL DO SAPIENS PARQUE In EIA RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL EIA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
FANTIN Marcia Cidade dividida Florianoacutepolis Futura 2000
FORUM DA AGENDA 21 LOCAL DO MUNICIacutePIO DE FLORIANOacutePOLIS 2000 FLORIANOacutePOLIS SC Agenda 21 Local do Municiacutepio de Florianoacutepolis meio ambiente quem faz eacute a gente versatildeo preliminar Florianoacutepolis Prefeitura Municipal de Florianopolis 2000
FRAMPTON Kenneth Histoacuteria Criacutetica da Arquitetura Moderna Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2000
FURTADO Celso O Mito do Desenvolvimento Econocircmico 2 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1974 117p
GARCIA NETTO Luiz da Rosa Diagnoacutestico do ambiente urbano Norte da Ilha de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 1996
GUumlELL Joseacute Miguel Fernaacutendez Planificacioacuten Estrateacutegica de Ciudades Barcelona Editorial Gustavo Gili SA 1997
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
154
GUumlNTHER Hartmut Como Elaborar um Relato de Pesquisa Seacuterie Planejamento de Pesquisa nas Ciecircncias Sociais ndeg02 Brasiacutelia DFUnB Laboratoacuterio de Psicologia Ambiental 2004
HAFERMANN Mariacutelia Universidade Federal de Santa Catarina Sustentabilidade e desenvolvimento turiacutestico na Ilha de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo
HARVEY David A justica social e a cidade Satildeo Paulo HUCITEC 1980
HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo Annablume 2005
IPH Instituto de Pesquisas Hidroloacutegicas Estudo hidrodinacircmico do rio Papaquara ndash Sapiens Parque Porto Alegre RS ndash Setembro 2003
IPUF Instituto de Planejamento Urbano de Florianoacutepolis Plano Diretor dos Balneaacuterios 1985
JACOBS Jane Morte e Vida nas Grandes Cidades Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2001
FERRARI JUacuteNIOR Joseacute Carlos Limites e Potencialidades do Planejamento Urbano Uma discussatildeo sobre os pilares e aspectos recentes da organizaccedilatildeo espacial das cidades brasileiras Estudos Geograacuteficos Rio Claro 2(1)15-28 junho ndash 2004
LEFEacuteBVRE Henri O direito agrave cidade Editora Moraes Satildeo Paulo 1969
LEFF Enrique Ecologiacutea y capital racionalidad ambiental democracia participativa y desarrollo sustentable 2 ed corr aum Madrid Siglo XXI Editores c1994
LOJKINE Jean O estado capitalista e a questatildeo urbana 2ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1997
LOPES Rodrigo A cidade intencional o planejamento estrateacutegico de cidades Rio de Janeiro Mauad 1998
MARICATO Ermiacutenia As Ideacuteias Fora do Lugar e o Lugar Fora das Ideacuteias In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
MARICATO Ermiacutenia Brasil cidades alternativas para a crise urbana 2 ed Petroacutepolis Vozes 2002
MARICATO Ermiacutenia Metroacutepole legislaccedilatildeo e desigualdade Estudos Avanccedilados vol 17 n 48 Satildeo Paulo MayAug 2003
MARX Karl O capital critica da economia poliacutetica 14 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1994
MASCARO Juan Luis Manual de loteamentos e urbanizaccedilotildees Porto Alegre Sagra DC Luzzatto 1994
MILAREgrave Eacutedis Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental no Brasil In ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita organizadores Previsatildeo de impactos o estudo de
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
155
impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
MILES Valentina de Oliveira Diagnoacutestico da ocupaccedilatildeo urbana e degradaccedilatildeo ambiental em Canasvieiras apontamentos para a promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo Florianoacutepolis 2005
MONTIBELLER FILHO Gilberto Industrializaccedilatildeo e ecodesenvolvimento contradiccedilotildees possibilidades e limites em economia capitalista perifeacuterica- o estado de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1994
MONTIBELLER FILHO Gilberto O mito do desenvolvimento sustentaacutevel meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias Florianoacutepolis Ed UFSC 2004
MUMFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
NEGRAtildeO Joatildeo Joseacute Para conhecer o neoliberalismo Publisher Brasil 1998
OLIVEIRA Francisco de O Estado e a Exceccedilatildeo Ou o Estado de Exceccedilatildeo Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V5 N1 2003
O QUE A CAPITAL NECESSITA Boletim Informativo do Sistema SINDUSCON Florianoacutepolis Ano 7 n85 julho de 2007
PAIVA Maria das Graccedilas de Menezes Venancio Sociologia do turismo 2 ed Campinas Papirus 1998
PEDRAtildeO Fernando A sustentabilidade social e ambiental Revista de Desenvolvimento Econocircmico Salvador BA Ano IV ndeg06 p28-40 2002
PEREIRA Gislene Novas perspectivas para a gestatildeo das cidades Estatuto da Cidade e mercado imobiliaacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente Editora UFPR Ndeg 9 P77-92 JanJun 2004
PIMENTA Margareth de Castro Afeche (org) Florianoacutepolis do outro lado do espelho Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
PREFEITURA DO RIO Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro As cidades da Cidade Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwriorjgovbrplanoestrategico
PROGRAMA MAB O HOMEM E A BIOSFERA Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash UNESCO Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
REDCLIFT Michael Poacutes-sustentabilidade e os novos discursos de sustentabilidade Revista Raiacutezes Campina Grande Vol21 ndeg01 p124-136 janjun2002
RELATOacuteRIO DE IMPACTO AMBIENTAL RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
156
RIBEIRO Luiz C de Queiroz SANTOS JR Orlando Alves Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1997
RIZZO Paulo Marcos Borges A natimorta tecnoacutepolis do Campeche em Florianoacutepolis ndash deliacuterio de tecnocratas pesadelo dos moradores In Florianoacutepolis Do Outro Lado do Espelho Margareth de Castro Afeche Pimenta organizadora Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
ROLNIK Raquel Cidades o Brasil e o Habitat II Revista Teoria e Debate nuacutemero 32 Julho agosto setembro de 1996 Disponiacutevel em httpwww2fpaorgbr acesso em 10112007
SAacute Mohana Faria de Processo de Avaliaccedilatildeo de Impactos Ambientais (AIA) do Empreendimento Sapiens Parque (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004
SACHS Ignacy Estrateacutegias de Transiccedilatildeo para o Seacuteculo XXI Coleccedilatildeo Cidade Aberta Satildeo Paulo Studio Nobel Fundap 1993
SACHS Ignacy Caminhos para o desenvolvimento sustentaacutevel 2 ed Rio de Janeiro Garamond 2002
SACHS Ignacy Desenvolvimento includente sustentaacutevel sustentado Rio de Janeiro Garamond 2004
SAacuteNCHEZ Fernanda A Reinvenccedilatildeo das Cidades para um Mercado Mundial Chapecoacute Argos 2003
SAacuteNCHEZ Fernanda A (in)sustentabilidade das cidades-vitrine In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
SANTOS Cristina Silveira Ulyssea Planejamento turistico e seus reflexos no processo de urbanizaccedilatildeo nas praias de Canasvieiras e Jurerecirc Internacional (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1993
SANTOS Milton A urbanizaccedilatildeo brasileira 5 ed Satildeo Paulo EDUSP 2005
SANTOS Milton Pensando o espaccedilo do homem Satildeo Paulo Hucitec 1982
SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave consciecircncia universal 11 ed Rio de Janeiro Record 2004
SAPIENS La ciudad del conocimiento Revista ambiente digital Arquitectura Del Ambiente Fundacioacuten CEPA Disponiacutevel em httpwwwrevista-ambientecomar acesso em 05122006
SAPIENS PARQUE - Audiecircncia Puacuteblica em Ponta das Canas Produccedilatildeo para o programa Interesse Puacuteblico TV Justiccedila Data 18 de Agosto 2004 Florianoacutepolis Disponiacutevel em httpwwwprscmpfgovbr acesso em 15062007
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
157
SEN Amartya Desenvolvimento como liberdade Satildeo Paulo Companhia das Letras 2000
SILVA Adriana Gondran Espaccedilos Puacuteblicos Turismo e o Resgate da Cidadania em Canasvieiras Poacutes-Graduaccedilatildeo em Turismo e Hotelaria Universidade do Vale do Itajaiacute Balneaacuterio Camburiuacute 2005
SILVA Gilceacuteia Pesce do Amaral Science parks and urban design a cross-cultural investigation Oxford 2001 1v (Tese Doutorado) - Oxford Brookes University
SOUZA Cristiane Mansur de Moraes Avaliaccedilatildeo Ambiental Estrateacutegica como Subsiacutedio para o Planejamento Urbano (Tese de Doutorado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2003
SOUZA Marcelo Lopes de Mudar a cidade uma introduccedilatildeo criacutetica ao planejamento e agrave gestatildeo urbanos 3 ed rev Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2004
STEINBERGER Mariacutelia A (re)construccedilatildeo de mitos sobre a (in)sustentabilidade do(no) espaccedilo urbano Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR 2001
SWARBROOKE John Turismo sustentaacutevel conceitos e impacto ambiental 3 ed Satildeo Paulo Aleph 2002
VAINER Carlos Paacutetria Empresa e Mercadoria In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
VAZ Nelson Popini O centro histoacuterico de Florianoacutepolis espaccedilo puacuteblico do ritual Florianoacutepolis FCC Ed da UFSC 1991
VEIGA Joseacute Eli da Desenvolvimento sustentaacutevel o desafio do seacuteculo XXI Rio de Janeiro Garamond 2005
VIEIRA Nataacutelia Miranda A Imagem diz Tudo O Espaccedilo Urbano como Objeto de Consumo Bahia Anaacutelise e Dados Salvador ndash BA SEI V9 Ndeg2 P39-46 Set 1999
VIEIRA Paulo Freire Desenvolvimento e meio ambiente no Brasil a contribuiccedilatildeo de Ignacy Sachs Porto Alegre Pallotti Florianoacutepolis APED 1998
VILLACcedilA Flavio Espaccedilo intra-urbano no Brasil Satildeo Paulo Studio Nobel FAPESP 2001
Portais citados ao longo do texto
httpwwwnewsweekcom httpwwwfinepgovbr httpwwwfapescrct-scbr httpwwwibgegovbr httpwebworldbankorg httpwwwvitruviuscombr httpwwwestatutodacidadeorgbr httpwwwsbaucombr httpwwwhsmcombr httpwwwcuritibapaises-america
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
158
ANEXO 1 ndash AVALIACcedilAtildeO DO SAPIENS PARQUE SEGUNDO O IAB-SC
Para FUNDACcedilAtildeO CERTI AC Joseacute Eduardo De Silvia Lenzi Eduardo Castells Enrique Brena Miguel Pousadela Nelson Saraiva Ref Projeto SAPIENS Park
INTRODUCcedilAtildeO
Antes de apresentar a verificaccedilatildeo e complementaccedilatildeo das sugestotildees tal como solicitado por Leandro atraveacutes de mail enviado no uacuteltimo final de semana eacute necessaacuterio fazer alguns esclarecimentos
Apoacutes a finalizaccedilatildeo do Workshop da terccedila feira da semana passada alguns dos profissionais convidados -aqueles arquitetos que tiacutenhamos feito no decorrer das sessotildees de trabalho apreciaccedilotildees conceitualmente convergentes- ficamos trocando e aprofundando opiniotildees a respeito do encontro no geral e das propostas apresentadas pela Ecoplan em particular
Podemos afirmar que houveram conclusotildees consensuais no que diz a respeito de uma avaliaccedilatildeo criacutetica dos trabalhos apresentados Aconteceu uma outra rodada de comunicaccedilotildees -telefocircnicas desta vez- ao recebermos o mail de Leandro houve novamente consenso em considerar que as sugestotildees enviadas natildeo constituiacuteam uma siacutentese representativa das criacuteticas levantadas durante o encontro Foi nesse momento que comeccedilou a se pensar na ideacuteia de apresentar este documento
Aleacutem disso se considerou que questotildees centrais a respeito do embasamento conceitual e paracircmetros programaacuteticos do empreendimento ficavam difiacuteceis de transcrever dentro da formataccedilatildeo proposta pela grade enviada Notadamente ficava incompatiacutevel relacionar os alcances do enquadramento inicial apresentado por Joseacute Eduardo -que entendemos correto e suporte essencial para a definiccedilatildeo do perfil do empreendimento- com sugestotildees parciais sobre as propostas apresentadas sem contar com espaccedilo para questionar a validade dos fundamentos conceituais que as orientaram em princiacutepio sugestotildees natildeo ultrapassam a condiccedilatildeo de serem apenas correccedilotildees pontuais
Assim depois de ponderada avaliaccedilatildeo acreditamos que a classe de produto que melhor responderia agraves expectativas da Fundaccedilatildeo CERTI atendendo tambeacutem agrave condiccedilatildeo de espelhar adequadamente nossa avaliaccedilatildeo criacutetica do Workshop seria um documento que a- Fosse de encaminhamento uacutenico recolhendo o conjunto de contribuiccedilotildees dos arquitetos signataacuterios b- Tivesse uma estrutura expositiva diferenciada por niacuteveis de abrangecircncias e enfoque 1) A respeito da qualificaccedilatildeo do empreendimento 2) A respeito das caracteriacutesticas do sitio 3) A respeito das caracteriacutesticas de outros empreendimentos de porte similar 4) A respeito da avaliaccedilatildeo criacutetica das propostas apresentadas e que finalmente c- Concluiacutesse soacute entatildeo com sugestotildees 5) A respeito de condicionantes e conteuacutedos programaacuteticos que entendemos devem ser respeitados e contemplados pelo Maacutester Plan do SAPIENS Park
Com esse entendimento e sempre dispostos para maiores esclarecimentos aguardamos retorno
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
159
1 SINGULARIDADES QUE NOTABILIZAM O EMPREENDIMENTO
11 Conceito original focado no preacute-suposto de que a superaccedilatildeo humana se opera atraveacutes do conhecimento
12 Intenccedilatildeo declarada de aplicar tecnologia em sua mais ampla conceituaccedilatildeo
13 Ousadia de conceber o SAPIENS Park como um grande projeto ordenador orientado pela preservaccedilatildeo ambiental e pela buacutesqueda de melhor qualidade vida
14 Preocupaccedilatildeo por identificar as qualidades que converteram Florianoacutepolis numa cidade desejada junto com a intenccedilatildeo de garantir que tais qualidades sejam preservadas e ainda enriquecidas atraveacutes das diretivas e conteuacutedos do programa que iraacute implementar o projeto
15 Ambiccedilatildeo de que um grande e utoacutepico projeto possa transbordar suas qualidades internas para aleacutem do siacutetio que o abriga objetivando se converter num centro gerador da requalificaccedilatildeo urbana da Ilha e que abra caminhos na direccedilatildeo de superar a exclusatildeo social
16 Identificaccedilatildeo de paracircmetros programaacuteticos que acrescentam agrave ideacuteia de criaccedilatildeo de um parque tecnoloacutegico atividades e equipamentos que abrem a possibilidade de que Florianoacutepolis desempenhe como um iacutecone o papel de nova e significativa centralidade referencial para a regiatildeo para o paiacutes e para o mundo
2 COMPONENTES DIFERENCIADORES PARA A AgraveREA SITUACcedilAcircO TAMANHO NATUREZA PUacuteBLICA
21 Compreensatildeo do papel que a comunidade espera e necessita que seja atendido por essa grande aacuterea pertencente agrave empresa estadual e por tanto de natureza essencialmente puacuteblica
22 Identificaccedilatildeo das expectativas sociais de usos especiacuteficos que deveriam ser atendidas pelo terreno do SAPIENS Park considerando que pela sua privilegiada localizaccedilatildeo tem a possibilidade de ser articulador de toda a regiatildeo Norte da Ilha e dela com a cidade
23 Identificaccedilatildeo dos componentes de programa que devem caracterizar usos diferenciais para o terreno do SAPIENS Park e para o terreno da Reserva Florestal do Rio Vermelho ao qual corresponde que fique integrado
24 Reconhecimento de alternativas complementares para o uso da aacuterea identificadas a partir de caracterizar e localizar atividades externas ao terreno ou determinadas por seu entorno urbano
25 Entendimento de que intervir na aacuterea atraveacutes da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park representa a uacuteltima possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo urbana dos balneaacuterios do Norte da Ilha
26 Identificaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos atividades equipamentos estruturadores e complementares que levando em conta as vocaccedilotildees tradicionais da Ilha e a tendecircncia que se apresenta para o futuro possam ser articulados com o programa deste projeto de modo a corrigir a mono-funcionalidade balneaacuteria preacute-existente agrave implantaccedilatildeo do empreendimento
27 Proposiccedilatildeo dos retornos ou compensaccedilotildees sociais a que o projeto deve-se obrigar considerando sua condiccedilatildeo de bem puacuteblico
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
160
3 ESTUDO DE CASOS EXEMPLARES DE PORTE SEMELHANTE REFERENCIAIS
POSSIacuteVEIS PARA O ldquoSAPIENS PARKrdquo 31 Analisar o Plano Piloto e a arquitetura de Brasiacutelia como exemplo de construccedilatildeo de novos siacutembolos ou iacutecones para a modernidade brasileira dos anos lsquo50
32 Analisar o Plano da Barra da Tijuca como exemplo de construccedilatildeo de iacutecone brasileiro para o final do seacuteculo XX
33 Analisar o Parque do Flamengo referencial na construccedilatildeo de grandes espaccedilos puacuteblicos significativos e ordenadores de urbanidade
34 Analisar o iacutecone Copacabana e o protejo de reurbanizaccedilatildeo e engorde
35 Analisar o Plano para a orla de Barcelona como exemplo de urbanizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo de orla
36 Estudar os melhores exemplos disponiacuteveis dentro da temaacutetica de grandes parques tecnoloacutegicos (La Villette Epcot Center Digital Miacutedia City) especialmente daqueles que tenham mostrado efetiva contribuiccedilatildeo agrave construccedilatildeo da urbanidade
37 Estudar os avanccedilos tecnoloacutegicos mais destacados e sua aplicaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de tecidos urbanos e de edifiacutecios ambientalmente solucionados
4 AVALIACcedilAgraveO CRIacuteTICA DOS ESTUDOS DE ldquoMASTER PLANrdquo APRESENTADOS
41 Os trecircs estudos apresentados mostram-se modelagens inadequadas para satisfazer as ideacuteias originais propostas no programa para o SAPIENS Park tal como formuladas por Jose Eduardo no inicio do Workshop As soluccedilotildees diagramaacuteticas dos trecircs estudos repetem o mesmo projeto conservador distanciando-se da proposta do empreendimento que objetiva a inovaccedilatildeo como importante conteuacutedo
42 Os trecircs estudos repetem um mesmo e discutiacutevel modelo de urbanizaccedilatildeo -baseado na ideacuteia do cluster como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano- que jaacute fora bastante difundido em meados do seacuteculo XX Os resultados dos casos nos quais o modelo foi aplicado mostraram significativos aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com a inevitaacutevel sequumlela de aumento na marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social especialmente quando implantado em urbanizaccedilotildees mais afastadas desprovidas de efetiva centralidade
43 Os trecircs estudos restringem-se ao uso dos mesmos componentes jaacute presentes nos diagramas e imagens preliminares previamente elaborados dentro do proacuteprio CERTI Natildeo se verifica a incorporaccedilatildeo de novos paracircmetros de programa necessaacuterios a um projeto urbano Avalia-se que as dimensotildees e a natureza puacuteblica do terreno obrigariam o projeto a contar com um programa mais ambicioso em prol de permitir a superposiccedilatildeo de atividades e de equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
44 Tal como foram apresentados os trecircs estudos satildeo umas repeticcedilotildees conceituais que poderia estar em qualquer lugar do mundo nada do que pode lhes dar contextualidade local nem relaccedilatildeo com seu entorno imediato estaacute trabalhado ou foi sugerido
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
161
45 Os estudos foram concebidos como ilhas dentro de uma ilha (que estaacute pela sua vez dentro da Ilha) Todas as trecircs soluccedilotildees apresentam um conceito de artefato isolado de seu entorno o que o converte em elemento desagregador e natildeo em integrador da estrutura urbana existente Fica assim comprometido o declarado objetivo de que o SAPIENS Park sirva como modelo de urbanizaccedilatildeo referencial para o entorno A anaacutelise apresentada eacute limitada agrave aacuterea do terreno e natildeo inclui a anaacutelise do comportamento do entorno urbano imediato e menos ainda do comportamento da regiatildeo norte da ilha
46 Os trecircs estudos repetem cenografias similares para todos as zonas do terreno desconsiderando ou minimizando o papel desempenhado pela riqueza e diversidade oferecidas pelo mesmo e seu entorno imediato urbanizaccedilotildees grandes vias de contorno rios forestaccedilatildeo caponetes nativos banhados etc
47 As trecircs soluccedilotildees apresentam uma riacutegida zonificaccedilatildeo monofuncional por atividades baseada nas diretrizes da Carta de Atenas (CIAM 1933) Experiecircncias mostram que uma tal concepccedilatildeo gera setores isolados entre si carentes de vida quando cessa a atividade especiacutefica de cada um antiteacuteticos agrave proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade e focos de seriacutessimos problemas de seguranccedila
48 As variaccedilotildees apresentadas nos estudos -onde se intercambiam aleatoriamente as localizaccedilotildees de uma ou outra das zonas- mostram que a distribuiccedilatildeo sobre o terreno de uma ou outra monoatividade eacute feita com indiferenccedila a respeito do contexto de implantaccedilatildeo e inclusive dos proacuteprios requerimentos ambientais que fossem especiacuteficos para cada atividade
49 No mesmo sentido verifica-se que as zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar constituindo uma totalidade homogecircnea indiferenciada Ao verde preacute-existente resta apenas a funccedilatildeo de se transformar no resiacuteduo separador dessas ilhas urbanas de programas monofuncionais
410 Avalia-se que eacute artificial e inconsistente a proposta da aacutegua como cenaacuterio predominante e como principal nexo estruturador das atividades O efeito resultante eacute sempre separador (ao reforccedilar a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha criadas) e natildeo integrador Natildeo pode ser ignorado que a Ilha de Santa Catarina jaacute conta com duas extensas lagoas no seu interior e que o que estaacute faltando satildeo articulaccedilotildees da cidade com aacutereas verdes preservadas e com grandes espaccedilos puacuteblicos que sejam tratados com equipamentos culturais de lazer esportivos comerciais e comunitaacuterios
411 A extensa soluccedilatildeo de lagos sem usos claramente identificados apresentam-se decorrentes das aacutereas de empreacutestimo de materiais para a consecuccedilatildeo das ilhas de monofuncionalidade e natildeo com uma intencionalidade propositiva original dos estudos Nas conformaccedilotildees propostas a construccedilatildeo de lagos e ilhas correm o risco de desmontar toda a singularidade do ambiente nativo existente
412 Os estudos arquitetocircnicos natildeo foram enunciados contrariando ideacuteia atualmente dominante de que natildeo devem e natildeo podem ser tratados em separado da proposta de desenho urbano A fuga para um trabalho dominantemente paisagiacutestico natildeo soluciona tal impasse tornando menor o focirclego de tais estudos
413 Nesse mesmo sentido a apresentaccedilatildeo centrou-se na explicitaccedilatildeo de corredores visuais e alternacircncia de cheios e vazios sem que se observe uma compreensatildeo do grande potencial da aacuterea -equivale em m2 A mais de duas vezes o triangulo central de Florianoacutepolis- como a principal reserva de espaccedilos puacuteblicos e como o local da futura centralidade de toda a regiatildeo norte com projeccedilotildees para o resto da ilha
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
162
414 Natildeo haacute definiccedilatildeo de que aacutereas conservam a condiccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos quais semipuacuteblicos e quais privados nem de qual eacute o percentual relativo ou o desempenho previsto para cada um assim como da resoluccedilatildeo prevista para articular entre si esses trecircs diferentes niacuteveis de apropriaccedilatildeo Essa eacute uma questatildeo essencial na determinaccedilatildeo do caraacuteter final do empreendimento e permitiraacute estabelecer as efetivas possibilidades de uso do espaccedilo do SAPIENS Park por parte da cidadania
415 Natildeo foram fornecidas estimativas a respeito da demanda potencial prevista para o empreendimento nem de qual seria a consequumlente resposta de uma regiatildeo jaacute fraacutegil do ponto de vista ambiental
416 Finalmente natildeo haacute nenhum esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teoacuterico selecionado nem de quais foram os modelos referencias nacionais ou internacionais adotados pela consultora para embasar a concepccedilatildeo das soluccedilotildees apresentadas Uma tal fundamentaccedilatildeo eacute de vital importacircncia para possibilitar melhor compreender as intencionalidades de projeto dos estudos apresentados
5 SUGESTOtildeES PARA UMA PROPOSTA ALTERNATIVA
51 A principal sugestatildeo e de que o projeto urbano e arquitetocircnico busque ser a proacutepria imagem construiacuteda do ideaacuterio do empreendimento baseado no avanccedilo do conhecimento sobre os modos do homem bem ocupar o planeta Neste ponto alertamos mais uma vez para a pertinecircncia das colocaccedilotildees feitas na abertura do encontro elas tecircm valor referencial essencial na definiccedilatildeo do perfil do programa do empreendimento Entendemos que a identificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo meditada das tecnologias em seu conceito mais amplo e atualizado devem ser tambeacutem objetivos primaacuterios orientadores das propostas que devem ser feitas no campo da arquitetura e do urbanismo
52 Como principal compensaccedilatildeo ao uso de um terreno de natureza puacuteblica natildeo eacute difiacutecil imaginar um grande parque puacuteblico aberto agrave cidade e falando a esteacutetica dos valores vegetais locais como um importante componente da proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade Componente do qual Florianoacutepolis mostra evidente carecircncia Esta compensaccedilatildeo em dimensotildees realmente generosas seria um importante elemento que facilitaria a negociaccedilatildeo com a sociedade na hora de discutir compensaccedilotildees frente agrave privatizaccedilatildeo de partes dessa imensa aacuterea
53 A leitura dos balneaacuterios monofuncionais baseados dominantemente na habitaccedilatildeo permite pensar na centralizaccedilatildeo de equipamentos faltantes aos balneaacuterios -como tambeacutem agrave cidade- no sentido de alimentar sua grande vocaccedilatildeo turiacutestica e outras que podem vir a despertar justamente a partir da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park Eacute notaacutevel na cidade a ausecircncia de lugares excetuados os espaccedilos de praia que permitam a celebraccedilatildeo da cidadania nas suas mais variadas escalas incluindo ateacute aquelas das multidotildees reunidas pelo veratildeo Eventos os mais variados ficam prejudicados pela ausecircncia de tais espaccedilos A construccedilatildeo da centralidade inexistente para os balneaacuterios da ilha justificaria tambeacutem os desejos de centralidade regional local e internacional do empreendimento
54 O somatoacuterio de uma grande centralidade associado a parques trabalho e habitaccedilatildeo aumenta a superposiccedilatildeo desejada pelas cidades e eacute garantia de enriquecimento da cena urbana que se quer criar como novo e importante iacutecone Natildeo se constroacutei a imagem de uma grande centralidade com um programa que fica restrito apenas aos elementos que caracterizam um parque tecnoloacutegico Mais ainda deve-se pensar que a criaccedilatildeo de uma nova centralidade do porte estimado para o projeto do SAPINS Park pode vir a gerar um
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
163
deslocamento mais definitivo em direccedilatildeo ao Norte da Ilha da atual centralidade de Florianoacutepolis
55 Acreditamos que em relaccedilatildeo agrave conservaccedilatildeo do ambiente deveraacute ser perseguida a tese da toleracircncia zero em relaccedilatildeo aos resiacuteduos decorrentes da cultura humana Arquiteturas e organizaccedilotildees urbanas deveriam ser pensadas visando tal objetivo Nesse sentido recomenda-se especular com soluccedilotildees que diminuam a projeccedilatildeo sobre a paisagem natural representada pelas aacutereas de construccedilatildeo de edificaccedilotildees Nesse sentido eacute importante incentivar a pesquisa sobre novas soluccedilotildees urbanas tanto horizontais quanto verticais Adensar concentrar nuclear e com isso aliviar o continuo construiacutedo sobre o planeta eacute hoje reflexatildeo obrigatoacuteria de todo estudo urbano Mais ainda de um empreendimento que pretende primar como referencial em termos de qualidade de vida e proteccedilatildeo ambiental E fica claro que nessa filosofia natildeo podem ficar excluiacutedas as soluccedilotildees arquitetocircnicas que complementem as propostas urbanas
56 Eacute recomendaacutevel mudar o programa do projeto para incorporar o conceito de polifuncionalidade ou mix de funccedilotildees no compromisso de construir cidade e natildeo tatildeo soacute um parque temaacutetico com algumas atividades complementares para uso da populaccedilatildeo local
57 Considera-se que a vinculaccedilatildeo com o mar deve ser uma questatildeo central do projeto Para tanto deve ser cogitada a possibilidade de incorporar a vinculaccedilatildeo do SAPIENS Park com um terminal mariacutetimo de transporte de passageiros assim como tambeacutem com o terminal terrestre proacuteximo ao terreno
58 No mesmo sentido entendemos que a implantaccedilatildeo do SAPIENS Park obriga tanto a promotores quanto a projetistas a natildeo deixar de lado o problema representado pelo sistema geral de transporte puacuteblico urbano Assim como a infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos as demandas que venham a ser geradas pela implantaccedilatildeo do parque iratildeo a afetar profundamente natildeo apenas ao entorno imediato do terreno mas tambeacutem ao sistema regional na sua total complexidade
59 Por fim entendemos que a aacuterea do terreno deve ser entendida como campo de atuaccedilatildeo projetual para aleacutem do rio Papaquara conformando uma unidade que articule toda a regiatildeo norte da Ilha desde a estrada de acesso a Ponta das Canas e a SC 403 que vincula com Ingleses por um lado e entre a SC 401 que vincula com Canasvieiras e a estrada que vincula Cachoeira do Bom Jesus agrave SC 403 Nesse quadro fica facilitada a alternativa de que a area funcione como a centralidade da regiatildeo balneaacuteria norte (Daniela Jurereacute Canasvieiras Cachoeira Ponta das Canas Lagoinha Praia Brava Ingleses e Santinho) ampliando ainda o contexto para as comunidades de Vargem Grande e Rio Vermelho
Em Florianoacutepolis 4 de Julho de 2002
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
164
ANEXO 2
TABELA DE IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS
DO SAPIENS PARQUE
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
165
ANEXO 3 ndash MASTER PLAN SAPIENS PARQUE 2005
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
166
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
167
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
168
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM URBANISMO HISTOacuteRIA E ARQUITETURA DA CIDADE
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUE
BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA
Dissertaccedilatildeo submetida ao programa de Poacutes-
Graduaccedilatildeo em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da
Cidade PGAU-Cidade da Universidade Federal de
Santa Catarina como requisito parcial para a obtenccedilatildeo
do grau de Mestre em Urbanismo Histoacuteria e
Arquitetura da Cidade Aacuterea de pesquisa
Configuraccedilotildees Regionais Planejamento Urbano e Meio
Ambiente
Nelson Popini Vaz Orientador
Florianoacutepolis 10 de marccedilo de 2008
3
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUE
BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA
Esta dissertaccedilatildeo foi julgada adequada para a obtenccedilatildeo do Grau de Mestre em Urbanismo
Histoacuteria e Arquitetura da Cidade na aacuterea de concentraccedilatildeo em Configuraccedilotildees Regionais
Planejamento Urbano e Meio Ambiente do programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Urbanismo
Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade da Universidade Federal de Santa Catarina
e aprovada em sua forma final em 10 de marccedilo de 2008
______________________________________ Prof Dra Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva
Coordenador do PGAU - cidade
_______________________________________ Prof DrNelson Popini Vaz
Orientador
BANCA EXAMINADORA
__________________________________ Prof Dr Almir Francisco Reis
__________________________________ Prof Dr Eduardo Jorge Feacutelix Castells
__________________________________ Prof Dr Gilberto Montibeller Filho
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
4
AGRADECIMENTOS
Uma dissertaccedilatildeo de mestrado nunca pode ser vista como definitivamente finalizada
porque em um trabalho como este sempre haveraacute o que possa ser corrigido e acrescentado
Esta dissertaccedilatildeo constitui apenas um pequeno trecho de um longo caminho a ser percorrido
Sendo assim neste momento devem-se os agradecimentos agravequeles que de alguma forma
colaboraram para o desempenho deste trabalho
Agrave Coordenaccedilatildeo e Secretaria do PGAU ndash Cidade em particular agrave professora Gilceacuteia
Pesce do Amaral e Silva pelo incentivo constante e pela disponibilidade da realizaccedilatildeo do
curso de Mestrado
Ao meu orientador Nelson Popini Vaz pela orientaccedilatildeo que me permitiu descobrir
limites e possibilidades e pelo respeito agraves posiccedilotildees tomadas pela autora no decorrer do
trabalho agradeccedilo agrave convivecircncia
Ao amigo e professor Eduardo Jorge Feacutelix Castells pelo material do Instituto de
Arquitetos do Brasil cedido para anaacutelise e que servem de embasamento para a avaliaccedilatildeo
final da pesquisa aleacutem das discussotildees que permitiram seu direcionamento
Ao professor Gilberto Montibeller Filho pelas valiosas contribuiccedilotildees em minha banca
de qualificaccedilatildeo e pela presenccedila na banca de defesa e ao professor Almir Francisco Reis
pelas colocaccedilotildees finais que possibilitaram o aprimoramento do trabalho
Agrave Fundaccedilatildeo CERTI e ao Gerente Executivo do Sapiens Parque Leandro Carioni pela
atenccedilatildeo e disposiccedilatildeo de todo o material referente ao empreendimento indispensaacuteveis agrave
finalizaccedilatildeo do trabalho
Aos colegas do mestrado PGAU ndash Cidade em especial agrave Fernanda e Joana pela
amizade e discussotildees em sala que em muito contribuiacuteram nesta dissertaccedilatildeo
Ao Fernando pelo apoio incondicional e pelas fotos especialmente encomendadas e
que ilustram o terceiro capiacutetulo
Agrave minha querida amiga Bianca pela ajuda na revisatildeo e traduccedilatildeo do Inglecircs e agrave minha
tia Vera licenciada em Letras pela revisatildeo ortograacutefica do Portuguecircs
Por fim mas natildeo menos importante aos meus pais e aos meus irmatildeos Luciano
Marcos e Guilherme pela seguranccedila e certeza de que sempre estaratildeo presentes
A todos o meu muito obrigada
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque 29
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 30
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque 35
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil 60
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis 69
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial 95
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes 101
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de 101
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame 106
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes 106
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer 106
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico 106
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua 108
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde 108
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor 109
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana 109
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 119
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 137
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 138
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 139
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico 44
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis 58
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel 65
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba 105
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades 108
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque 123
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque 129
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel 141
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
7
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 ndash Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC 158
Anexo 2 ndash Tabela de Impactos e Medidas Compensatoacuterias do Sapiens Parque 164
Anexo 3 ndash Master Plan Sapiens Parque 2005 165
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
8
LISTA DE SIGLAS
ARENA - Alianccedila Renovadora Nacional
CASAN - Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento
CELESC - Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CERTI - Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras
CIC - Cidade Industrial de Curitiba
CODESC - Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CSD - Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel
EIA - Estudo de Impacto Ambiental
EIV - Estudo de Impacto de Vizinhanccedila
ESI - Environmental Sustenaibility Index
FAPESC - Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina
FATMA ndash Fundaccedilatildeo do Meio Ambiente
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FMI - Fundo Monetaacuterio Internacional
IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas
IDH - Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IDS - Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel
IPPUC - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
LAP - Licenccedila Ambiental Preacutevia
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PFL - Partido da Frente Liberal
PIB - Produto Interno Bruto
PMDB - Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro
PMF - Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
PNB - Produto Nacional Bruto
PNUD - Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento
RBAC ndash Reserva da Biosfera da Amazocircnia Central
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
9
RBMA - Reserva da Biosfera Mata Atlacircntica
RBC ndash Reserva da Biosfera do Cerrado
RBCA ndash Reserva da Biosfera da Caatinga
RBCVSP ndash Reserva da Biosfera do Cinturatildeo Verde de Satildeo Paulo
RBP ndash Reserva da Biosfera do Pantanal
RBU ndash Reserva da Biosfera Urbana
RIMA - Relatoacuterio de Impacto Ambiental
SINDUSCON - Sindicato da Induacutestria da Construccedilatildeo Civil
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo
SPE - Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
SUDAM - Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia
SUDENE - Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UNCED - Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
UNCTAD - Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento
UNEP - Programa de Meio Ambiente das Naccedilotildees Unidas
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
10
RESUMO
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Orientador Nelson Popini Vaz Linha de Pesquisa Configuraccedilotildees Regionais Planejamento Urbano e Meio Ambiente Defesa 10032008
O conjunto de processos e agentes externos de uma cidade sempre resulta em influenciar a sua evoluccedilatildeo urbana A globalizaccedilatildeo fortifica a velocidade com que ocorrem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e alteraccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e socioculturais trazem implicaccedilotildees no processo construtivo das cidades O espaccedilo urbano eacute transformado em um capital comum para toda a humanidade e ganha novas funccedilotildees dando origem ao ambiente competitivo entre as cidades e refletindo suas modificaccedilotildees no planejamento As cidades passam a constituir centros de articulaccedilatildeo e controle de economias regionais nacionais e internacionais a partir de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas As accedilotildees estrateacutegicas em acircmbito urbano definidas dentro da loacutegica do mercado caracterizam o novo modelo de planejamento a ser adotado frente aos desafios impostos pela globalizaccedilatildeo Por outro lado a problemaacutetica ambiental global surgida no seacuteculo XX determinou um novo paradigma de desenvolvimento que apresenta como diretriz a integraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas com o ambiente natural O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel compreende uma alternativa agraves teorias e modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica Este trabalho estabelece uma relaccedilatildeo entre o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel e o atual modelo de planejamento urbano estrateacutegico Para tanto faz uma avaliaccedilatildeo da eficiecircncia do modelo de planejamento urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel segundo os conceitos e criteacuterios de sustentabilidade A anaacutelise baseia-se no estudo de caso do empreendimento Sapiens Parque para Florianoacutepolis Tal empreendimento caracteriza-se como um programa de desenvolvimento regional baseado na produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e que visa a sustentabilidade social econocircmica e ambiental A pesquisa aponta os limites deste projeto no alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional atraveacutes do levantamento dos seus impactos em meio fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico permitindo identificar em quais aspectos o modelo de planejamento urbano adotado contraria os conceitos de sustentabilidade estudados
Palavras-chave desenvolvimento sustentaacutevel planejamento estrateacutegico projeto urbano globalizaccedilatildeo
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
11
ABSTRACT
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Adviser Nelson Popini Vaz Line of Research Regional Configurations Urban Planning and Environment Date of Presentation March 10th of 2008
The set of processes and external agents of a city always results in influencing its urban evolution The globalization increases the velocity in which these external changes take place and changes the space into a common capital to the humanity bringing its implications to the citiesrsquo constructive process The urban space has new functions creating a competitive environment between cities and reflecting in modifications in the urban planning Through urban vocations and specializations the cities start to constitute articulation and control centers of regional national and international economy The strategic actions in the urban field defined according to the market logic characterize the new planning model to be adopted facing the challenges imposed by the globalization On the other hand the global environmental problem that appeared in 20th century determined a new development paradigm that presents as a direction line the integration between human relations and natural environment The concept of sustainable development comes as an alternative to the theories and traditional models of development and marks a new philosophy that combines economic efficiency with social justice and ecological prudence This thesis establishes an interaction between the paradigm of the sustainable development and the current model of strategic urban planning In order to achieve that an efficiency evaluation of the urban planning model as a tool of sustainable development is made according to the concepts and the criteria of sustainability The analysis is based an enterprise Sapiens Park study of case in Florianoacutepolis Such enterprise is characterized as a regional development program based on the scientific and technological production and it aims at the social economic and environmental sustainability The research points the limits of this project while trying to reach the regional sustainable development through the survey of its impacts in the physic biotic and socio-economic environment allowing the identification of which aspects the urban planning model current adopted opposes the concepts of sustainability studied
Keywords sustainable development strategic planning urban project globalization
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
12
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS 04
LISTA DE FIGURAS 05
LISTA DE TABELAS 06
LISTA DE ANEXOS 07
LISTA DE SIGLAS 08
RESUMO 10
ABSTRACT 11
INTRODUCcedilAtildeO 14
Justificativa 14
Objetivos da pesquisa 17
Metodologia de pesquisa e estrutura do trabalho 18
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE 22
11 Caracterizaccedilatildeo de Florianoacutepolis 22
12 O empreendimento Sapiens Parque 26
121 Apresentaccedilatildeo do projeto 26
122 Localizaccedilatildeo urbana do empreendimento 29
123 Moacutedulos e Setores 33
124 Agentes envolvidos 35
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE 40
21 Conceito de desenvolvimento 40
211 Brasil e desenvolvimento 46
22 A inserccedilatildeo ambiental no desenvolvimento 51
221 Ecodesenvolvimento 54
222 Desenvolvimento Sustentaacutevel 61
23 Sustentabilidade urbana 66
231 Diretrizes para a sustentabilidade urbana 71
24 Turismo Desenvolvimento e Meio Ambiente 75
25 Impactos Ambientais Urbanos 79
251 Impactos de Projetos Desenvolvimentistas 81
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
13
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO 86
31 Globalizaccedilatildeo e a nova funccedilatildeo das cidades 86
32 Estrateacutegias das cidades para as novas funccedilotildees urbanas 88
33 O modelo estrateacutegico de planejamento das cidades 93
34 Variaccedilotildees em torno de um mesmo modelo 99
341 Barcelona e o caso da Vila Oliacutempica 99
342 Curitiba e suas intervenccedilotildees urbanas 102
343 Rio de Janeiro e os Planos Estrateacutegicos Regionais 106
35 Conclusotildees parciais Limites do planejamento estrateacutegico 110
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE 117
41 Avaliaccedilotildees do Instituto de Arquitetos do Brasil 117
42 Avaliaccedilotildees do EIA-RIMA 2003 120
421 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio fiacutesico e bioacutetico 124
422 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio soacutecio-econocircmico 126
423 Atribuiccedilotildees dadas ao poder puacuteblico 131
424 Aspectos legais 132
43 Avaliaccedilotildees da comunidade local 135
44 Avaliaccedilotildees do Master Plan 2005 136
45 Diagnoacutestico final avaliaccedilatildeo dos limites 140
5 CONCLUSOtildeES 145
REFEREcircNCIAS 151
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
14
INTRODUCcedilAtildeO
JUSTIFICATIVA OBJETIVO E METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO
As mudanccedilas tecnoloacutegicas econocircmicas geo-poliacuteticas e soacutecio-culturais ocorridas no
mundo como decorrecircncia do aparecimento da globalizaccedilatildeo apresentam suas influecircncias na
configuraccedilatildeo do espaccedilo urbano As cidades passaram de espaccedilos locais a centros
articuladores de economias regionais nacionais e internacionais tendo como instrumento
de planejamento accedilotildees estrateacutegicas definidas dentro da loacutegica do mercado Esta nova
realidade gera o espaccedilo das cidades mundiais onde as cidades buscam seu
reconhecimento em niacutevel global atraveacutes de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas
Tal situaccedilatildeo no Brasil teve seu maior exemplo refletido na cidade de Curitiba na
deacutecada de 1990 Curitiba foi classificada como uma das melhores cidades brasileiras para
se viver e tornou-se referecircncia nacional e internacional atraveacutes de um plano de urbanizaccedilatildeo
especiacutefico que visava atrativos culturais e de lazer A exemplo do que aconteceu na capital
paranaense nos uacuteltimos anos o espaccedilo metropolitano de Florianoacutepolis vem sendo apontado
como uma das regiotildees de maior qualidade de vida do Brasil e com o menor iacutendice de
violecircncia do paiacutes
A pretensatildeo de transformar Florianoacutepolis em uma referecircncia mundial iniciou a partir
da virada dos anos oitenta para os anos noventa Ao final da deacutecada de 1980 defendia-se
que a vocaccedilatildeo de Florianoacutepolis estaria na induacutestria do turismo e de alta tecnologia
entendidas como induacutestrias natildeo poluentes e adequadas ao rico ambiente natural da cidade
Apoacutes o lanccedilamento do Mercosul em 1991 Florianoacutepolis foi nomeada com o tiacutetulo de Capital
Turiacutestica do Mercosul Em 2002 a revista nacional Exame colocou a capital de Santa
Catarina como a quinta colocada dentre as melhores cidades do paiacutes para a aplicaccedilatildeo de
investimentos
No mecircs de junho de 2007 Florianoacutepolis esteve presente no evento ldquoFoacuterum
Internacionalrdquo que aconteceu em Goyang na Coreacuteia do Sul O objetivo do evento era
debater o tema do desenvolvimento urbano e cultural com convidados especiais
representantes oficiais e especialistas de renome internacional de um grupo de dez cidades
especiacuteficas O grupo reunia as ldquo10 cidades mais dinacircmicas do mundordquo que consistem as
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
15
regiotildees econocircmicas mais promissoras do mundo pesquisa realizada e publicada pela
revista internacional Newsweek em julho de 2006 Florianoacutepolis foi a uacutenica cidade da
Ameacuterica Latina a ser classificada no ranking juntamente a outros centros urbanos
americanos europeus e asiaacuteticos
A revista Newsweek justificou a inclusatildeo de Florianoacutepolis na lista das dez cidades
mais dinacircmicas do mundo devido a uma seacuterie de fatores entre eles o potencial turiacutestico
derivado da quantidade de praias o alto niacutevel de escolaridade e a presenccedila de uma nova
induacutestria limpa do conhecimento baseada em empresas de tecnologia de ponta A notiacutecia
chega a referir-se agrave capital como o futuro ldquoVale do Siliacuteciordquo no Brasil em uma comparaccedilatildeo ao
maior centro tecnoloacutegico americano na Califoacuternia
Florianoacutepolis vem buscado tornar-se uma referecircncia internacional atraveacutes de projetos
e intervenccedilotildees urbanas seguindo processo semelhante ao qual se submeteu Curitiba No
evento de Goyang a cidade foi representada pelo engenheiro mecacircnico e administrador
Marcelo Ferreira Guimaratildees diretor de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo do Sapiens Parque
projeto urbano que constitui o estudo de caso deste trabalho
O Sapiens Parque consiste em um empreendimento com futura implantaccedilatildeo no
balneaacuterio de Canasvieiras no norte de Florianoacutepolis e que visa a atraccedilatildeo de investimentos
privados e turistas O projeto vem sendo apresentado pelos responsaacuteveis como um
programa de desenvolvimento regional sustentaacutevel para o norte da Ilha
O Sapiens Parque pode ser caracterizado como um programa de desenvolvimento regional envolvendo a criaccedilatildeo de um novo centro urbano para Florianoacutepolis ldquointeligenterdquo baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental voltado para produccedilatildeo cientiacutefica tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento e exigindo em sua implementaccedilatildeo profundo trabalho de planejamento urbano arquitetocircnico ambiental econocircmico financeiro e juriacutedico Sua finalidade extrapola a curiosidade cientiacutefica e alcanccedila a capacitaccedilatildeo das futuras geraccedilotildees para enfrentar o desenvolvimento equilibrado a produccedilatildeo de riquezas e a agregaccedilatildeo de valor para fazer frente agrave competitividade do seacuteculo XXI (RIMA 1 200301)
Durante o decorrer do ano 2007 o Sapiens Parque e outros projetos urbanos foram
apresentados em eventos mensais locais ocorridos em Florianoacutepolis denominados como
ldquoPensando a Cidaderdquo e patrocinados por empresas privadas e pelo Sindicato da Induacutestria da
Construccedilatildeo Civil (SINDUSCON) O primeiro dos eventos apresentou um viacutedeo ilustrativo
com um resumo desses projetos intitulado ldquoA cidade que queremosrdquo e contou com a
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
16
participaccedilatildeo do governador em exerciacutecio Luiz Henrique da Silveira que se mostrou
visivelmente favoraacutevel agrave implantaccedilatildeo dos projetos
Tais intervenccedilotildees segundo os patrocinadores do evento promoveriam o
desenvolvimento sustentaacutevel de Florianoacutepolis e regiatildeo buscando equilibrar
simultaneamente o crescimento econocircmico com o desenvolvimento social e cultural
mantendo a preservaccedilatildeo ambiental Aleacutem do Sapiens Parque os eventos ainda
apresentaram o projeto de um hotel seis estrelas com localizaccedilatildeo na Ponta do Coral (um
local estrateacutegico na principal avenida agrave beira-mar da cidade) e o projeto de um campo de golfe
para a praia do Costatildeo do Santinho (proacuteximo ao principal resort de Florianoacutepolis) entre outros
Este trabalho faz uma anaacutelise do projeto urbano do Sapiens Parque como ferramenta
de desenvolvimento sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis a partir do
estudo de seus possiacuteveis impactos sociais econocircmicos e ambientais positivos e negativos
em acircmbito regional O projeto Sapiens Parque incorpora os conceitos do modelo de
planejamento urbano estrateacutegico que compreende a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees urbanas e
investimentos estrateacutegicos com o objetivo de atraccedilatildeo do capital privado e inserccedilatildeo das
cidades em niacutevel mundial Em geral tais intervenccedilotildees constituem iniciativas dos governos
locais formadas a partir da parceria dos oacutergatildeos puacuteblicos com as empresas privadas As
poliacuteticas locais tentam absorver e levar para a gestatildeo e o planejamento local os novos
paradigmas que buscam a criaccedilatildeo das cidades mundiais O modelo que sustenta tal
pensamento baseia-se no conceito da competitividade urbana como escopo para o
desenvolvimento local e melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo
Para a avaliaccedilatildeo do projeto urbano Sapiens Parque esta pesquisa parte de dois
eixos estruturadores O primeiro eixo estruturador consiste em mostrar os conceitos e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel em suas dimensotildees social ambiental e econocircmica
e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo urbano
O termo ldquodesenvolvimento sustentaacutevelrdquo surgiu na deacutecada de 1980 como um
paradigma a ser seguido dentro das diretrizes de desenvolvimento de forma a reunir
questotildees sociais e ambientais ao crescimento econocircmico Apesar de muitos autores
discursarem a respeito da ldquoinsustentabilidade do desenvolvimento sustentaacutevelrdquo ao
questionarem sua efetiva possibilidade de aplicaccedilatildeo o termo ainda vem sendo utilizado no
discurso de muitos projetos urbanos como um importante objetivo a ser alcanccedilado
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
17
O segundo eixo estruturador deste trabalho analisa a caracterizaccedilatildeo e os limites do
modelo de planejamento urbano estrateacutegico utilizado no conceito do Sapiens Parque
atraveacutes de referenciais nacionais e internacionais existentes e das avaliaccedilotildees jaacute feitas em
relaccedilatildeo ao proacuteprio empreendimento O resultado final da pesquisa consiste na avaliaccedilatildeo dos
limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de desenvolvimento
sustentaacutevel
Esta pesquisa tambeacutem pretende discutir o atual modelo de planejamento urbano
adotado atraveacutes do estudo do Sapiens Parque se os investimentos estatais dirigem-se aos
reais problemas da sociedade ou se estatildeo eles direcionados agrave promoccedilatildeo do capital no
mundo globalizado Trata-se de avaliar os impactos ambientais e soacutecio-econocircmicos de tal
empreendimento a niacutevel local e regional e discutir as reais possibilidades do alcance do
desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes desse modelo Assim torna-se possiacutevel prever e
apontar os limites do planejamento urbano e procurar mudanccedilas que possam melhoraacute-lo
Vale lembrar aqui de que o projeto Sapiens Parque ainda natildeo foi totalmente
executado tendo uma previsatildeo de quinze anos para a sua conclusatildeo Trata-se portanto de
trabalhar com indicativos de uma possiacutevel e provaacutevel situaccedilatildeo ainda natildeo real
OBJETIVOS DA PESQUISA
OBJETIVO GERAL
Analisar o projeto do empreendimento Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
identificando seus limites
OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Como forma de alcanccedilar o objetivo geral acima especificado os seguintes objetivos
especiacuteficos satildeo preacute-estabelecidos
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
18
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca do desenvolvimento
sustentaacutevel definindo dimensotildees e criteacuterios de sustentabilidade
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca de intervenccedilotildees e projetos
urbanos existentes no mundo e no Brasil utilizados como meio de
desenvolvimento e inserccedilatildeo da cidade em niacutevel global e identificar suas
limitaccedilotildees como modelo de planejamento urbano
Avaliar o projeto Sapiens Parque considerando seus impactos soacutecio-econocircmicos
e ambientais positivos e negativos tomando como base bibliografia disponiacutevel
Definir os limites do projeto Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
METODOLOGIA DE PESQUISA E ESTRUTURA DO TRABALHO
Para realizar uma avaliaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque como instrumento
de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis e identificar seus limites esta
pesquisa foi estruturada atraveacutes de quatro capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo eacute introduzido o estudo de caso a partir da caracterizaccedilatildeo geral
do desenvolvimento urbano na regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis e da apresentaccedilatildeo do
empreendimento Sapiens Parque seus conceitos e atores envolvidos Optou-se em expor
de imediato o projeto que seraacute utilizado na avaliaccedilatildeo final do trabalho para inteirar o leitor
acerca do empreendimento antes mesmo das exposiccedilotildees e anaacutelises teoacutericas que envolvem
seus aspectos principais
O segundo e terceiro capiacutetulos desta pesquisa constituem basicamente a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica que serviraacute de base para a avaliaccedilatildeo final do empreendimento
Sapiens Parque demonstrada no uacuteltimo capiacutetulo Como o objetivo geral do trabalho consiste
em apontar os limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento sustentaacutevel a fundamentaccedilatildeo teoacuterica abordou essas duas temaacuteticas
principais os conceitos e criteacuterios relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e os
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
19
conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de planejamento urbano que caracteriza o
empreendimento
O segundo capiacutetulo intitulado ldquoDesenvolvimento e Meio Ambienterdquo analisa a
conceituaccedilatildeo teoacuterica referente ao desenvolvimento sustentaacutevel e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo
urbano Por tratar-se da avaliaccedilatildeo de um projeto urbano que ainda natildeo foi executado optou-
se em realizar uma pesquisa qualitativa baseada em criteacuterios de sustentabilidade Frente agrave
abrangente bibliografia acerca do tema este estudo transcorreu em torno de obras
produzidas por determinados autores reconhecidos pelas pesquisas realizadas em paiacuteses
em desenvolvimento como o Brasil Foram destacadas entre outras as duas importantes
obras de Ignacy Sachs1 ldquoCaminhos para o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo (2002) e
ldquoDesenvolvimento includente sustentaacutevel sustentadordquo (2004) A legislaccedilatildeo pertinente ao
tema tambeacutem serviu como fonte de pesquisa bibliograacutefica para anaacutelise
Como o desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis tem forte influecircncia da atividade
turiacutestica e o empreendimento Sapiens Parque tem o turismo sustentaacutevel como um dos
conceitos do projeto este segundo capiacutetulo aborda ainda questotildees relevantes acerca do
turismo e de seus impactos no ambiente natural Conceitos acerca de impactos ambientais
de projetos urbanos voltados ao desenvolvimento de uma regiatildeo como eacute caracterizado o
Sapiens Parque tambeacutem foram estudados ao final do capiacutetulo
Aleacutem de toda a conceituaccedilatildeo teoacuterica acerca das relaccedilotildees entre o desenvolvimento
urbano e o meio ambiente o segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo ainda enfatiza as
aplicaccedilotildees praacuteticas de tais conceitos para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis Tais
aplicaccedilotildees satildeo demonstradas no decorrer da fundamentaccedilatildeo teoacuterica atraveacutes do
levantamento das principais aacutereas e projetos de preservaccedilatildeo ambiental para a regiatildeo
O terceiro capiacutetulo deste trabalho levantou os conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de
planejamento urbano adotado no projeto do Sapiens Parque denominado planejamento
estrateacutegico que apresenta como um dos elementos precursores do desenvolvimento a
atraccedilatildeo de investimentos e de visitantes para determinada regiatildeo O planejamento urbano
1 Professor da Eacutecole des Hautes Eacutetudes en Sciences Sociales (EHESS) em Paris e criador do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporacircneo (CRDC)
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
20
estrateacutegico caracteriza-se por estrateacutegias das cidades na busca de ambientes competitivos
capazes de transformaacute-las em cidades mundiais no mundo globalizado
O terceiro capiacutetulo consiste em uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica baseada em pesquisa
bibliograacutefica Foram analisadas de um lado as obras bibliograacuteficas de ARANTES (2000)
VAINER (2000) MARICATO (2000) e SAacuteNCHEZ (2003) que criticam a utilizaccedilatildeo do
planejamento urbano estrateacutegico como um modelo a ser aplicado a todas as realidades
urbanas De outro lado temos a visatildeo de BORJA e CASTELLS (2000) LOPES (1998) e
GUumlELL (1997) que analisam as origens e metodologias do planejamento estrateacutegico e
defendem que sua correta aplicaccedilatildeo pode trazer benefiacutecios para as cidades Neste capiacutetulo
satildeo mostrados ainda referenciais de determinadas cidades onde tal modelo jaacute foi aplicado
como Barcelona Rio de Janeiro e Curitiba As anaacutelises dos estudos de caso buscam
demonstrar as variaccedilotildees que existem em torno deste mesmo modelo e tirar conclusotildees
parciais acerca dos seus resultados
O quarto capiacutetulo consiste na anaacutelise final do projeto do empreendimento Sapiens
Parque tendo como base a fundamentaccedilatildeo teoacuterica dos dois capiacutetulos anteriores Para a
etapa de avaliaccedilatildeo do projeto foram utilizados os seguintes documentos
Material de divulgaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque
Legislaccedilatildeo ambiental e urbana incidente na aacuterea de implantaccedilatildeo do
empreendimento
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) do
Sapiens Parque
Dossiecirc de Inserccedilatildeo Socioambiental do Sapiens Parque
Memoacuteria de audiecircncias puacuteblicas relacionadas ao empreendimento
Criacutetica do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SC) a respeito do projeto Sapiens
Parque
Entrevistas com atores locais concedidas agrave rede de televisatildeo local
Notiacutecias do empreendimento
Os documentos acima apresentam as avaliaccedilotildees feitas ao empreendimento Sapiens
Parque pelos atores envolvidos O quarto capiacutetulo levanta os principais impactos positivos e
negativos do empreendimento em meios fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico em niacutevel local
regional municipal e metropolitano A anaacutelise de tais impactos associada agrave fundamentaccedilatildeo
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
21
teoacuterica estudada permite a avaliaccedilatildeo conclusiva dos limites do projeto Sapiens Parque como
instrumento de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis
Por fim a lista de obras citadas como Referecircncias ao teacutermino do trabalho constitui
todas as obras bibliograacuteficas material cartograacutefico documentos de acesso eletrocircnico
publicaccedilotildees perioacutedicas legislaccedilatildeo e material audiovisual que foram consultados para a
elaboraccedilatildeo desta pesquisa independente de terem sido ou natildeo referenciados nos textos ao
longo do trabalho
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
22
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
11 CARACTERIZACcedilAtildeO DE FLORIANOacutePOLIS
O desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis deu-se principalmente no seacuteculo XX
apoacutes a cidade firmar-se como capital de Santa Catarina VAZ (1991) atribui trecircs fatores
principais para a transformaccedilatildeo de Florianoacutepolis neste seacuteculo a centralizaccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos e administrativos da capital que consolidou o nuacutecleo do centro urbano a integraccedilatildeo
rodoviaacuteria que substituiu o transporte mariacutetimo pelo rodoviaacuterio e o turismo que mesmo ainda
sendo uma atividade sazonal trouxe modificaccedilotildees relevantes no desenvolvimento urbano
As primeiras deacutecadas do seacuteculo XX marcaram a crise da atividade portuaacuteria e a
estagnaccedilatildeo da agricultura local A construccedilatildeo da Ponte Herciacutelio Luz em 1926 que
estabeleceu a conexatildeo Ilha-continente incrementou o transporte rodoviaacuterio e consistiu um
importante impulsionador do desenvolvimento local A urbanizaccedilatildeo acarretou melhorias em
infra-estrutura atraveacutes da implantaccedilatildeo da rede de energia eleacutetrica e dos sistemas de
abastecimento de aacutegua e captaccedilatildeo de esgotos
Na deacutecada de 1930 o municiacutepio enfrentou um periacuteodo de estagnaccedilatildeo devido agrave
Revoluccedilatildeo de Trinta quando o governo local fez oposiccedilatildeo agrave candidatura de Getuacutelio Vargas
A vida urbana da capital antes marcada pela presenccedila do ativo porto exportador manteve-
se nessa eacutepoca basicamente atraveacutes do crescimento do setor puacuteblico e dos serviccedilos
oferecidos pelo governo estadual aleacutem da manutenccedilatildeo de pequena produccedilatildeo agriacutecola e
industrial fazendo com que o comeacutercio local se transformasse na principal atividade
econocircmica (VAZ 1991)
Nas deacutecadas de 1940 e 1950 a situaccedilatildeo econocircmica da capital continuou estagnada
com queda no movimento portuaacuterio e sofrendo deficiecircncias de infra-estrutura O comeacutercio
continuou sendo a atividade econocircmica principal com pouca atividade industrial e a cidade
manteve a sua caracteriacutestica poliacutetico-administrativa
A execuccedilatildeo de obras viaacuterias na metade do seacuteculo XX possibilitou a expansatildeo urbana
para o interior da Ilha e forneceu o acesso agraves praias Segundo VAZ (1991) Florianoacutepolis
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
23
manteve sua imagem quase intacta ateacute a deacutecada de 1960 quando se acelerou o processo
de transformaccedilatildeo destacando o sistema de circulaccedilatildeo e transportes rodoviaacuterios Com a
implantaccedilatildeo da Universidade Federal de Santa Catarina em 1961 e de empresas estatais
federais e estaduais Florianoacutepolis passou a receber estudantes professores e profissionais
liberais de outras cidades e estados contribuindo significativamente para o crescimento e o
desenvolvimento da cidade Nesta eacutepoca a induacutestria da construccedilatildeo civil comeccedilou a se
destacar na cidade aleacutem do setor de comeacutercio e serviccedilos
A crescente classe meacutedia multiplicou as grandes aacutereas loteadas dos novos bairros residenciais e os edifiacutecios de apartamento que margearam novas avenidas Ela foi assistida por numerosa e perifeacuterica camada social de baixa renda que sustentou o setor de comeacutercio e serviccedilos com matildeo de obra barata e a construccedilatildeo civil (VAZ 199133)
A economia local passou a utilizar ainda mais as redes terrestres como transporte
apoacutes a construccedilatildeo da BR-101 na deacutecada de 1970 que fez a conexatildeo Norte-Sul do Estado
como tambeacutem com a construccedilatildeo da BR-470 (Rodovia Jorge Lacerda) que ligou a capital ao
planalto catarinense Somente nesta deacutecada com o crescimento da maacutequina estatal
Florianoacutepolis reativou seu dinamismo compensando a decadecircncia da atividade portuaacuteria
De acordo com CECCA (1997) as deacutecadas de 1960 e 1970 foram marcadas por
acentuado desenvolvimento urbano e consequumlente busca de ocupaccedilatildeo das praias pela
populaccedilatildeo local e principalmente por turistas estaduais interestaduais e estrangeiros A
pavimentaccedilatildeo de muitas vias que forneciam o acesso agraves praias foi realizada nesta eacutepoca
frente agrave nova demanda de veratildeo a SC-401 que oferece acesso agraves praias do Norte da Ilha
a SC-404 que leva agrave Lagoa da Conceiccedilatildeo e desta a SC-406 que segue ao Rio Tavares e a
SC-405 que passa pelo Campeche em direccedilatildeo agrave Armaccedilatildeo e ao Pacircntano do Sul
Para atender as novas demandas de traacutefego urbano as autoridades governamentais
construiacuteram o Aterro da Baiacutea Sul na deacutecada de 1970 O aterro serviu como escoamento
para as duas novas pontes de ligaccedilatildeo com o continente a Ponte Colombo Machado Sales e
a Pedro Ivo Campos Aleacutem disso o aterro se interligou agrave Via Expressa da Beira-Mar Norte
Aos poucos Florianoacutepolis perdeu ainda mais sua antiga relaccedilatildeo com o mar frente aos
pedidos de empresaacuterios e poliacuteticos ligados ao setor turiacutestico por novos aterros estradas
duplicaccedilotildees viadutos e tuacuteneis
Na deacutecada de 1980 Florianoacutepolis jaacute se caracterizava como uma cidade voltada para
o setor terciaacuterio de serviccedilos que hoje concentra parte de sua economia e sua posiccedilatildeo de
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
24
capital do Estado natildeo se restringe apenas a gerar empregos puacuteblicos mas indiretamente
estimula outros setores intermediaacuterios da economia local A atividade turiacutestica comeccedilou a se
destacar ainda mais nesta eacutepoca tornando-se um dos pilares da economia na Ilha e
concretizando a cidade como um dos principais poacutelos turiacutesticos de Santa Catarina
O turismo passou a servir de promotor de significativas modificaccedilotildees culturais e
paisagiacutesticas As atividades de turismo e lazer geraram a expansatildeo urbana desvinculada do
centro alterando a fisionomia urbana a partir da implementaccedilatildeo de condicionantes
favoraacuteveis agrave valorizaccedilatildeo do turismo hoteacuteis restaurantes loteamentos casas de segunda
residecircncia ou aluguel principalmente nas aacutereas proacuteximas da orla A cidade se desenvolveu
formando poacutelos urbanos com bairros auto-suficientes destinados agraves classes meacutedia e alta na
sua parte central e agraves favelas nas aacutereas mais afastadas As transformaccedilotildees urbanas
decorrentes dessa eacutepoca trouxeram consequumlecircncias imediatas e devastadoras ao patrimocircnio
natural e cultural
Os recantos mais ermos da Ilha comeccedilaram a serem cortados por estradas e loteamentos e as tradicionais e decadentes comunidades agriacutecola-pesqueiras transformaram-se em balneaacuterios Na cidade as verticais edificaccedilotildees modernas substituiacuteram a maior parte das construccedilotildees seculares de estilos e eacutepocas diversas As encostas e as periferias urbanas foram sendo intensamente ocupadas por populaccedilotildees mais pobres (CECCA 199759-60)
Segundo CECCA (1997) ldquoa maior ameaccedila agrave qualidade de vida de Florianoacutepolis
deriva do desrespeito ao meio ambiente e aos ecossistemas da Ilhardquo (CECCA 1997233)
O meio ambiente natural da Ilha eacute diversificado e fraacutegil marcado pela Floresta Ombroacutefila
Densa (Mata Atlacircntica) Floresta das Planiacutecies Quaternaacuterias manguezais restingas e
dunas Essa variedade de ecossistemas torna ainda mais difiacutecil a identificaccedilatildeo dos impactos
ambientais derivados da urbanizaccedilatildeo A condiccedilatildeo geograacutefica e insular da cidade aliada ao
seu particular sistema ecoloacutegico impotildeem limites para sua expansatildeo urbana ainda mais que
cerca de 42 do municiacutepio de Florianoacutepolis eacute atualmente constituiacutedo por unidades de
preservaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo O crescimento populacional local e o processo de migraccedilatildeo
tende a elevar os problemas de ordenamento urbano-ambiental do municiacutepio
Em acircmbito econocircmico a pesca artesanal e a pesca industrial que sempre estiveram
presentes na economia local continuam dando modestas contribuiccedilotildees ao produto interno
bruto municipal assim como as atividades do setor primaacuterio da economia como a
agricultura e a pecuaacuteria A induacutestria da construccedilatildeo civil aparece como forte atividade
econocircmica mas a principal fonte da economia municipal deve-se agrave atividade turiacutestica (que
atrai brasileiros e principalmente a populaccedilatildeo estrangeira do Mercosul) aliada ao comeacutercio
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
25
e ao setor de serviccedilos derivado da estrutura administrativa municipal estadual e federal
Tambeacutem com aparente potencial tem surgido a induacutestria do vestuaacuterio e da informaacutetica e
tecnologia Nos uacuteltimos anos a aquumlicultura tambeacutem tem se tornado uma atividade mais
expressiva para a populaccedilatildeo ligada ao setor marinho
O patrimocircnio cultural da Ilha resulta de acordo com CECCA (1997) do conjunto de
trecircs elementos formadores da sociedade brasileira o branco europeu o nego africano e o
nativo indiacutegena Entretanto verifica-se maior influecircncia cultural do povoador portuguecircs em
particular o imigrante accediloriano Essa influecircncia reflete-se no traccedilado original das cidades na
tipologia arquitetocircnica nas teacutecnicas agriacutecolas e nas festas tradicionais A construccedilatildeo dos
aterros (principalmente na deacutecada de 1970) a valorizaccedilatildeo do sistema rodoviaacuterio e a
desativaccedilatildeo do porto o desenvolvimento turiacutestico a expansatildeo imobiliaacuteria e as dificuldades
para manter a pesca artesanal satildeo alguns dos fatores que levaram ao distanciamento das
atividades tradicionais derivadas da cultura accediloriana em Florianoacutepolis
Hoje a cidade passa por um processo de conurbaccedilatildeo criando a aacuterea metropolitana
da Grande Florianoacutepolis juntamente com as cidades de Satildeo Joseacute Biguaccedilu Palhoccedila
Antocircnio Carlos Governador Celso Ramos Santo Amaro da Imperatriz Satildeo Pedro de
Alcacircntara e Aacuteguas Mornas totalizando uma populaccedilatildeo de mais de 820 mil habitantes
segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2007
Florianoacutepolis apresenta ainda o principal aeroporto do Estado o Aeroporto Herciacutelio Luz que
desde 1989 opera com vocircos internacionais Apesar de suas deficiecircncias no campo social eacute
considerada uma das capitais de maior qualidade de vida do Brasil tendo levado o tiacutetulo de
melhor capital do paiacutes em qualidade de vida pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)
em 1998
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
26
12 O EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE2
121 APRESENTACcedilAtildeO DO PROJETO
O Sapiens Parque vem sendo apresentado atraveacutes de um novo conceito
denominado ldquoparque de inovaccedilatildeordquo Um parque de inovaccedilatildeo eacute um ambiente que possui infra-
estrutura e espaccedilo para abrigar empreendimentos projetos e outras iniciativas inovadoras e
estrateacutegicas para o desenvolvimento de uma regiatildeo e que se distingue por possuir um
modelo inovador para atrair desenvolver implementar e integrar estas iniciativas visando
um posicionamento diferenciado sustentaacutevel e competitivo
A oportunidade inicial para o Sapiens Parque surgiu a partir da parceria do poder
puacuteblico e da iniciativa privada atraveacutes da integraccedilatildeo entre o Governo do Estado de Santa
Catarina por meio da CODESC e a Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologia
Inovadoras (CERTI)
Como destacamos na Introduccedilatildeo deste trabalho o empreendimento vem sendo
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional baseado na
sustentabilidade social econocircmica e ambiental Voltado para produccedilatildeo cientiacutefica
tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento o projeto incorpora o seguinte
conjunto de conceitos e diretrizes
Desenvolvimento Sustentaacutevel busca o equiliacutebrio entre as vertentes econocircmica
social e ambiental
Sociedade do Conhecimento caracterizada pela crescente valorizaccedilatildeo dos
produtos serviccedilos e relaccedilotildees baseadas no conhecimento e na informaccedilatildeo
2 Todas as informaccedilotildees contidas neste item foram fornecidas atraveacutes de documentos oficiais do Sapiens Parque
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
27
Economia da Experiecircncia tendecircncia de geraccedilatildeo de produtos e serviccedilos
diferenciados por proporcionarem ldquomemorabilidade amp fidelizaccedilatildeordquo ao integrar
Educaccedilatildeo ndash Entretenimento ndash Esteacutetica e Imersatildeo
Convergecircncia das Ciecircncias e Tecnologias tambeacutem chamada de
transdisciplinaridade eacute o conceito que visa integrar os vaacuterios campos da ciecircncia e
da tecnologia (humanas exatas bioloacutegicas sociais etc)
Globalizaccedilatildeo Econocircmica tendecircncia que induz ao desenvolvimento de Plataformas
Mundiais considerando as peculiaridades e diferenccedilas locais
ldquoAdoccedilatildeo de um Ciclo contiacutenuo de Inovaccedilatildeordquo busca integrar de forma eficaz a
Pesquisa Livre Pesquisa Preacute-competitiva Desenvolvimento Tecnoloacutegico e
Criaccedilatildeo de Negoacutecios
Convergecircncia Digital tendecircncia de crescimento e desenvolvimento de produtos e
serviccedilos que integram Tecnologia da Informaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Conteuacutedo e
Turismo sustentaacutevel atraveacutes dos centros culturais e de eventos centro de
esportes e lazer centro de compras e gastronomia e do turismo ecoloacutegico
Para o projeto estaacute planejado um conjunto de empreendimentos puacuteblicos e privados
como arena multiuso parque florestal centro de serviccedilos para comunidade centro de
eventos e de convivecircncia hoteacuteis museus centros gastronocircmicos e de compras centros de
pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico aleacutem de empresas e organizaccedilotildees natildeo
governamentais que em conjunto iratildeo atuar no desenvolvimento local e regional
Segundo os empreendedores os resultados esperados com sua implantaccedilatildeo satildeo
(RIMA 1 2003) geraccedilatildeo de quase 30000 empregos diretos nas aacutereas de turismo ciecircncia e
tecnologia e serviccedilos geraccedilatildeo na fase de implantaccedilatildeo de aproximadamente R$ 11 bilhatildeo
em impostos que poderatildeo ser aplicados no melhoramento da infra-estrutura sauacutede
educaccedilatildeo e seguranccedila reduccedilatildeo da sazonalidade turiacutestica na regiatildeo auxiliando na
profissionalizaccedilatildeo da atividade definiccedilatildeo de um novo padratildeo de ocupaccedilatildeo urbana para a
regiatildeo e valorizaccedilatildeo da sociedade catarinense
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
28
Os idealizadores do projeto defendem que o parque deveraacute consagrar-se como
ldquoindutor do progresso social e material da regiatildeo harmonizando o desenvolvimento regional
e a sustentabilidade ambiental cumprindo seu papel de gerar renda e criar empregosrdquo
(RIMA 1 200303) Os principais aspectos econocircmicos positivos apontados consistem o
aumento significativo da arrecadaccedilatildeo de impostos a criaccedilatildeo de novos empregos o aumento
da renda global e per capita a captaccedilatildeo e atraccedilatildeo de novos negoacutecios para o estado e o
potencial mercado de consumidores construiacutedo em parte pelos paiacuteses do Mercosul
Jaacute os aspectos sociais positivos apontados pelos empreendedores do parque satildeo os
seguintes ampliaccedilatildeo planejada da cidade otimizaccedilatildeo dos serviccedilos modernizaccedilatildeo da Ilha
na aacuterea de turismo e lazer ciecircncia e tecnologia transportes e comunicaccedilotildees aumento da
rede hoteleira estabilizaccedilatildeo do mercado de turismo e melhoria da qualidade de vida da
populaccedilatildeo com a implantaccedilatildeo de infra-estrutura e criaccedilatildeo de novos empregos
O primeiro projeto para o Sapiens Parque foi elaborado em 2002 pela empresa
Ecoplan selecionada atraveacutes da Fundaccedilatildeo CERTI para a execuccedilatildeo do trabalho O projeto
finalizado pela Ecoplan foi avaliado atraveacutes de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) no
ano seguinte realizado pelas empresas Socioambiental Consultores Associados e Elabore
Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente e sofreu alteraccedilotildees decorrentes das avaliaccedilotildees
feitas A partir de entatildeo o projeto passou a ser de responsabilidade do instituto argentino
Fundaciograven Cepa e orientado pelo arquiteto tambeacutem argentino Ruben Pesci Em 2005 o
Sapiens Parque apresentou um novo projeto elaborado pela Fundaciograven Cepa mantendo os
aspectos conceituais do empreendimento Os motivos pelos quais o projeto deixou de ser de
responsabilidade da empresa Ecoplan para ser desenvolvido pela Fundaciograven Cepa natildeo satildeo
esclarecidos pela Fundaccedilatildeo CERTI Entretanto concluiacutemos que o fato de o grupo argentino
estar envolvido na concepccedilatildeo do projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis3
aleacutem do reconhecimento de que a busca pela integraccedilatildeo entre o ambiente construiacutedo e a
natureza constituem um dos principais focos dos projetos do instituto Cepa influenciou na
decisatildeo de mudanccedila da equipe responsaacutevel
3 Sobre o projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis ver Capiacutetulo 2
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
29
122 LOCALIZACcedilAtildeO URBANA DO EMPREENDIMENTO
Segundo os idealizadores do projeto Sapiens Parque a escolha da cidade de
Florianoacutepolis como local para o empreendimento deve-se agrave sua localizaccedilatildeo geograacutefica
estrateacutegica em relaccedilatildeo aos paiacuteses comprometidos com o Mercosul e por ser praticamente
equumlidistante em relaccedilatildeo agraves principais metroacutepoles e aos grandes centros de negoacutecios da
regiatildeo A capital ainda possui a vantagem expressiva de ser conhecida em todo o mercado
do Cone Sul por sua beleza natural pelos seus iacutendices superiores de qualidade de vida e
pela constituiccedilatildeo de um dos maiores poacutelos de tecnologia do Paiacutes apresentando assim reais
condiccedilotildees de conjugar atividades de Centro de Negoacutecios e Centro de Lazer
Devido as suas caracteriacutesticas terciaacuterias e de prestaccedilatildeo de serviccedilos Florianoacutepolis
ainda eacute considerado um mercado consolidado para o desenvolvimento de empresas de
base tecnoloacutegica A Figura 1 mostra a localizaccedilatildeo do empreendimento no contexto urbano
de Florianoacutepolis
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como vemos na Figura 1 o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se
na regiatildeo Norte da Ilha no balneaacuterio de Canasvieiras O projeto Sapiens Parque estaacute
proposto para ser implantado em Florianoacutepolis em uma aacuterea superior a 400 ha
(4000000msup2) pertencente agrave Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
(CODESC) e ao Governo do Estado de Santa Catarina e onde se situava a extinta Colocircnia
CENTRO
SAPIENS
PARQUE
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
30
Penal de Florianoacutepolis Estende-se do entroncamento da rodovia estadual SC 401 com o
trevo de Canasvieiras ateacute os limites da Cachoeira do Bom Jesus do Morro dos Freitas e
terras da Vargem do Bom Jesus no Distrito de Canasvieiras na costa norte da Ilha de
Santa Catarina a 25 km de distacircncia do centro da capital O terreno de implantaccedilatildeo do
projeto pode ser conferido na Figura 2
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque Elaboraccedilatildeo da autora
A opccedilatildeo pela implantaccedilatildeo do empreendimento nesta regiatildeo eacute atribuiacuteda aos seguintes
fatores
A regiatildeo tem experimentado um dos maiores crescimentos imobiliaacuterios de todo o
paiacutes sendo procurada tanto para abrigar projetos na aacuterea residencial como
empresarial e educacional
A expansatildeo da cidade de Florianoacutepolis para esta regiatildeo assegura ao Sapiens
CANASVIEIRAS
CACHOEIRA DO
BOM JESUS
OCEANO ATLAcircNTICO
SAPIENS PARQUE
RIO PAPAQUARA
RIO DO
BRAacuteS
INGLESES
CENTRO
SC
-401
MORRO
DE
JUREREcirc
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
31
Parque uma infra-estrutura urbana essencial para o desenvolvimento de um
empreendimento deste porte
A regiatildeo norte de Florianoacutepolis abriga algumas das mais belas praias da Ilha que
oferecem opccedilotildees diversificadas de lazer desde os esportes naacuteuticos ateacute o surf e o
entretenimento familiar Aliada agraves belezas naturais das praias haacute toda uma
diversidade ambiental que engloba lagoas naturais reservas ambientais dunas e
reservas de mata atlacircntica
A regiatildeo conta com uma extensa rede hoteleira e uma infra-estrutura diversificada
de comeacutercio e serviccedilos
Os idealizadores do projeto alegam que foram estudadas outras possibilidades de
localizaccedilatildeo para a implantaccedilatildeo do empreendimento A regiatildeo sul de Florianoacutepolis que
engloba os bairros Campeche Ribeiratildeo da Ilha e Pacircntano do Sul foi considerada
inapropriada por apresentar vocaccedilotildees desenvolvimento econocircmico e infra-estrutura
bastante diferentes da regiatildeo norte o que no curto e meacutedio prazo desfavoreceria a
implantaccedilatildeo de projetos como o Sapiens Parque pois exigiria altiacutessimos investimentos
principalmente em infra-estrutura e no desenvolvimento econocircmico da regiatildeo A uacutenica aacuterea
ao sul disponiacutevel para tamanho empreendimento estaria nas proximidades do Aeroporto
Internacional Herciacutelio Luz fato que implica na impossibilidade de implantaccedilatildeo do parque
devido principalmente agrave influecircncia das atividades do parque nos equipamentos dos aviotildees
e do aeroporto e vice-versa
Uma terceira alternativa avaliada para a localizaccedilatildeo do parque seria na parte
continental de Florianoacutepolis que apesar de possuir viabilidade econocircmica natildeo apresentaria
ldquoopccedilotildees de terrenos de grande porte para a implantaccedilatildeo de um projeto desta magnituderdquo
(RIMA 1 200308)
Caracterizaccedilatildeo do Norte da Ilha e do Balneaacuterio de Canasvieiras
O processo de expansatildeo territorial para o Norte da Ilha desenvolveu-se
paralelamente aos investimentos estatais e ocorreu de forma mais evidente durante a
deacutecada de 1970 principalmente no Balneaacuterio de Canasvieiras e no seu entorno As
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
32
intervenccedilotildees viaacuterias solidificaram e incrementaram esse processo Segundo SUGAI (1994)
ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a regiatildeo norte da Ilha era utilizada principalmente
para o desenvolvimento das atividades agriacutecola e pesqueira A partir da deacutecada de 1950 a
regiatildeo comeccedilou a atrair a atenccedilatildeo para sua utilizaccedilatildeo balneaacuteria
A regiatildeo do balneaacuterio de Canasvieiras era extremamente visada pois apresentava
excelentes praias com aacuteguas limpas e de temperatura amena protegidas dos ventos
constantes aleacutem de beliacutessimas paisagens e de conformaccedilatildeo fiacutesica bastante rica SANTOS
(1993) destaca que Canasvieiras assim como outras praias do Norte da Ilha devem sua
ocupaccedilatildeo urbana principalmente pelas construccedilotildees das residecircncias de veraneio da alta
classe Durante as deacutecadas de 1950 e 1960 o Norte da Ilha passou a ser definido como
uma das principais localizaccedilotildees com essa finalidade e para onde o Estado efetuava os
maiores investimentos O fato deu iniacutecio aos interesses turiacutesticos e imobiliaacuterios na regiatildeo
impulsionando e estruturando o processo de expansatildeo da aacuterea urbana
Segundo SANTOS (1993) o processo de ocupaccedilatildeo de Canasvieiras ocorreu sem a
presenccedila de um plano diretor especiacutefico para os distritos A urbanizaccedilatildeo se desenvolvia
pelas vias principais e a tendecircncia foi a formaccedilatildeo de faixas contiacutenuas ao longo da praia A
inexistecircncia de infra-estrutura para o abastecimento de aacutegua esgoto e drenagem pluvial
aliada a um deficiente controle do uso e da ocupaccedilatildeo do solo sem uma legislaccedilatildeo mais
especiacutefica e fiscalizaccedilatildeo atuante desenvolveu uma urbanizaccedilatildeo precaacuteria que tende a
comprometer os seus atrativos naturais
A incidecircncia direta do turismo a partir da deacutecada de 1970 atraveacutes da construccedilatildeo de
hoteacuteis pousadas casas para aluguel bares e restaurantes acarretaram ainda maiores
impactos no ambiente natural A antiga vila de pescadores deu lugar a um espaccedilo disputado
pelos interesses capitalistas e imobiliaacuterios transformando-a em centro de turismo de
veraneio
Dessa forma a orla da regiatildeo foi ocupada quase em totalidade de maneira irregular
e com a apropriaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo devido agrave ausecircncia de uma fiscalizaccedilatildeo por
parte dos oacutergatildeos puacuteblicos O tipo de ocupaccedilatildeo originou a paisagem que caracteriza hoje o
balneaacuterio destituiacutedo de vegetaccedilatildeo natural com consequumlente erosatildeo e abrasatildeo marinhas
assoreamento de rios e coacuterregos
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
33
123 MOacuteDULOS E SETORES
O empreendimento Sapiens Parque compreende-se a partir de uma estrutura
organizacional fundamentada em dois moacutedulos principais o primeiro denominado
Experintia e o segundo caracterizado como Scientia ambos baseados no Ser humano e no
Conhecimento Aleacutem dos dois moacutedulos principais o parque ainda apresenta quatro setores
o de turismo esporte e consoacutercio o de serviccedilos especializados o de empresas de base
tecnoloacutegica e o de iniciativas e projetos soacutecio-ambientais
O moacutedulo Experientia congrega elementos como o Museu de Ciecircncia Parque
Temaacutetico Laboratoacuterios para novas tecnologias e soluccedilotildees O Experientia objetiva a criaccedilatildeo
de novos projetos conceitos ideacuteias e soluccedilotildees nas aacutereas da educaccedilatildeo meio ambiente
lazer cultura vida urbana empreendedorismo esporte educaccedilatildeo cidadania accedilatildeo de governo
sauacutede atraveacutes de experiecircncias intensivas no uso de tecnologias centradas no ser humano
O segundo moacutedulo Scientia consolida-se atraveacutes de nuacutecleos avanccedilados de
universidades empresas laboratoacuterios de ONGs e demais organizaccedilotildees interessadas na
pesquisa desenvolvimento e experimentaccedilatildeo de novas tecnologias e soluccedilotildees Caracteriza-
se pela busca da diversidade e interdisciplinaridade e visa atrair talentos e competecircncias de
referecircncias para o empreendimento
Dentre os demais acircmbitos que compotildeem o parque destaca-se o setor de turismo
esporte e consoacutercio que se direciona principalmente em propagar a vocaccedilatildeo turiacutestica
bastante forte na regiatildeo O projeto pretende reduzir a sazonalidade do turismo
caracteriacutestica em Florianoacutepolis cuja atividade acaba sempre por depender da temporada de
veratildeo Para isso pretende-se desenvolver uma rede de hoteacuteis reconhecida
internacionalmente pela excelecircncia na prestaccedilatildeo de serviccedilos O setor visa novas formas
atraentes como Arena Multiuso Centro Gastronocircmico Shopping Museu e Centros de
Saber Parque Ecoloacutegico Aquaacuterio e Complexo Esportivo
O setor de serviccedilos especializados estimula o desenvolvimento de determinados
tipos de serviccedilos altamente especializados em aacutereas como educaccedilatildeo sauacutede e negoacutecios
Na questatildeo educacional o objetivo eacute atrair instituiccedilotildees de niacutevel superior com atuaccedilatildeo em
assuntos particulares como tambeacutem escolas individualizadas e empresas com serviccedilos e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
34
soluccedilotildees tornando-se uma referecircncia de qualidade nas entidades de ensino da regiatildeo Jaacute
na aacuterea da sauacutede satildeo previstas cliacutenicas e centros meacutedicos especializados Reserva-se
ainda espaccedilo e infra-estrutura para o desenvolvimento de estrateacutegias empreendedoras
como marketing e publicidade
O terceiro setor do empreendimento denominado Empresas de Base Tecnoloacutegica
constitui fundamental segmento da chamada Economia do Conhecimento caracterizada por
gerar produtos e serviccedilos de alto valor agregado e exige pessoal qualificado e uma cultura
de permanente inovaccedilatildeo O parque visa atrair e oferece toda a infra-estrutura necessaacuteria agraves
empresas interessadas no desenvolvimento de novos negoacutecios As empresas de caraacuteter
tecnoloacutegico estaratildeo integradas ao moacutedulo principal Scientia de forma a acessar os
conhecimentos e tecnologias ali geradas
O uacuteltimo setor organizacional do parque baseia-se em iniciativas e projetos soacutecio-
ambientais devido ao empreendimento estar voltado para a promoccedilatildeo do desenvolvimento
regional No aspecto social pretende-se estimular a implantaccedilatildeo de projetos e iniciativas
voltadas para a criaccedilatildeo de emprego e renda e principalmente para a promoccedilatildeo da
qualificaccedilatildeo e educaccedilatildeo atraveacutes de iniciativas como Incubadoras Sociais Centros de
Qualificaccedilatildeo Centros Comunitaacuterios e outros O projeto tem por pretensatildeo atraveacutes de
equipamentos especiacuteficos promover a interaccedilatildeo com a comunidade e assegurar o
desenvolvimento da regiatildeo agregado agrave qualidade de vida das pessoas
O Sapiens Circus caracteriza-se por ser um ambiente educacional de aprendizado e
diversatildeo constituiacutedo de dispositivos tecnoloacutegicos e de interaccedilatildeo com filmes e jogos O
sistema de ensino tem por fundamento a estimulaccedilatildeo dos educandos na cooperaccedilatildeo muacutetua
para a construccedilatildeo do conhecimento e da tomada de decisotildees Informaccedilotildees sobre a
diversidade amazocircnica satildeo apresentadas atraveacutes dos dispositivos de ensino e os
educandos vivenciam uma experiecircncia por meio de histoacuteria fictiacutecia ou simulaccedilatildeo em que a
biodiversidade amazocircnica os ajuda a resolver um problema Dessa forma os educandos
percebem o valor da biodiversidade aprendem seus conceitos e satildeo motivados a seguir
com estudos posteriores dentro de sala de aula
O projeto estaacute sendo desenvolvido para ser executado em cinco fases previstas para
ocorrer em um total de 20 anos O ldquoMarco Zerordquo (Primeira Fase) do Sapiens Parque jaacute estaacute
em funcionamento contendo a sede administrativa do parque e o Sapiens Circus conforme
podemos verificar na Figura 3
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
35
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque
124 AGENTES ENVOLVIDOS
Sapiens Parque SA
A Sapiens Parque SA nasceu como uma Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
(SPE) entre a CODESC proprietaacuteria do terreno a Fundaccedilatildeo CERTI detentora do capital
intelectual e autora do Programa de Desenvolvimento Tecnoloacutegico Regional e o Instituto
Sapientia mentor do conceito de Edutainment - Educaccedilatildeo com Entretenimento - e parceiro
de inovaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia do Sapiens
Criada na forma de Sociedade Anocircnima de Capital Fechado eacute responsaacutevel pela
gestatildeo e implementaccedilatildeo do empreendimento O grupo tem propoacutesito especiacutefico de
estruturar viabilizar implementar e operar o empreendimento dentro de altos padrotildees de
qualidade eficiecircncia e estabilidade
O projeto ainda apresenta apoio do Governo do Estado de Santa Catarina da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) da Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
Escola Sapiens
Sapiens
Circus
Incubadora Sapiens
Casaratildeo Sede e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
36
(PMF) da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)4 da Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa
Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina (FAPESC)5 e da Paradigma
Tecnologia que viabiliza o Portal do Sapiens Parque na Internet
Codesc
A Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (CODESC) eacute uma
empresa de economia mista que integra a administraccedilatildeo indireta do Estado subordinada ao
Regime de Direito Privado e reuacutene condiccedilotildees teacutecnicas e juriacutedicas para a formulaccedilatildeo e
gestatildeo de programas que visam o desenvolvimento econocircmico do estado
Foi criada pela lei estadual ndeg 5089 de 300475 como ldquoholdingrdquo6 A empresa
coordenou o Sistema Financeiro Estadual e no decorrer dos anos vaacuterias atividades lhe
foram delegadas pelo Poder Puacuteblico Estadual tendo em vista sua qualificaccedilatildeo juriacutedica que
lhe confere maior agilidade na tomada de decisotildees
De acordo com seu Estatuto a CODESC tem por objetivos principais adquirir e
administrar sob qualquer forma e nos limites permitidos em lei participaccedilotildees e controles
societaacuterios E ainda promover sob a orientaccedilatildeo do Governo do Estado o desenvolvimento
econocircmico e a integraccedilatildeo da accedilatildeo do Estado com a dos municiacutepios e da Uniatildeo
Com essas qualificaccedilotildees a CODESC pode oferecer garantias e contragarantias para
o Estado autarquias fundaccedilotildees e sociedades de economia mista suas subsidiaacuterias e
controladas em operaccedilotildees financeiras sem a necessidade de autorizaccedilatildeo do Banco
Central Pode ainda negociar accedilotildees e cotas de outras sociedades inclusive o controle do
capital votante tanto de economia mista como privadas Atualmente a CODESC eacute vinculada
agrave Secretaria de Estado da Fazenda por decisatildeo do Decreto ndeg 923 de 31 de maio de 1996
4 A FINEP tem por missatildeo promover e financiar a inovaccedilatildeo e a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica em empresas universidades institutos tecnoloacutegicos centros de pesquisa e outras instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o desenvolvimento econocircmico e social do Paiacutes (httpwwwfinepgovbr acesso em 20112006) 5 A FAPESC tem por missatildeo promover o Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico no Estado de Santa Catarina atraveacutes do fomento agrave pesquisa e da interaccedilatildeo em todos os niacuteveis das instituiccedilotildees cientiacuteficas dos complexos produtivos do governo e da sociedade (httpwwwfapescrct-scbr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
37
Fundaccedilatildeo Certi
A Fundaccedilatildeo Centro de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras (CERTI) eacute uma
instituiccedilatildeo independente e sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento tecnoloacutegico
com foco na inovaccedilatildeo em negoacutecios produtos e serviccedilos no segmento de tecnologia da
informaccedilatildeo
Criada em 1984 por iniciativa de algumas empresas brasileiras da Universidade
Federal de Santa Catarina e dos Governos Estadual e Federal a fundaccedilatildeo eacute hoje referecircncia
no campo nacional e internacional pelo desenvolvimento de projetos inovadores que
envolvem soluccedilotildees de convergecircncia digital Exemplos dessa linha de projetos constituem as
urnas eletrocircnicas os terminais de automaccedilatildeo bancaacuteria e terminais puacuteblicos de acesso agrave
Internet
A partir de 1990 a fundaccedilatildeo passou a atuar significativamente na gestatildeo da
qualidade e produtividade em consequumlecircncia das mudanccedilas nas poliacuteticas econocircmicas e
industriais do Brasil A CERTI trabalha para a ampliaccedilatildeo de novas soluccedilotildees de forma
cooperativa e integrada atraveacutes do uso de ferramentas do processo de pesquisa e
desenvolvimento de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica A CERTI atua na anaacutelise do negoacutecio na
concepccedilatildeo do produto e na implementaccedilatildeo dos processos produtivos adequados para
acelerar e assegurar maior ecircxito na colocaccedilatildeo dos novos produtos no mercado
A fundaccedilatildeo conta hoje com uma seacuterie de entidade e parceiros atuantes Tem sua
matriz em Florianoacutepolis no campus da Universidade Federal de Santa Catarina e em 1999
inaugurou uma filial na cidade de Manaus para dar apoio agraves empresas de base tecnoloacutegica
estabelecidas naquela regiatildeo
6 Holding eacute uma empresa que deteacutem a quantidade suficiente de accedilotildees de uma outra companhia que lhe permita determinar e controlar a gestatildeo desta uacuteltima
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
38
Instituto Sapientia
Fundado em 05 de dezembro de 2002 o Instituto Sapientia eacute uma pessoa juriacutedica de
direito privado administrativamente autocircnomo e independente e criado como consequumlecircncia
da iniciativa de alguns colaboradores da Fundaccedilatildeo CERTI A oportunidade de concepccedilatildeo de
uma nova organizaccedilatildeo com competecircncias necessaacuterias para a praacutetica de novos produtos e
desafios partiu da necessidade de direcionamento das atividades da Fundaccedilatildeo CERTI para
o foco da Economia da Experiecircncia
Constituiacutedo na forma de associaccedilatildeo e sem fins lucrativos o instituto eacute operado
segundo conceitos e praacuteticas da Fundaccedilatildeo CERTI Tem por objeto social a pesquisa e o
desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico sustentados em projetos de grande relevacircncia
soacutecio-ambiental e econocircmica para a sociedade brasileira tais como
Projetos de pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica aplicada
Projetos e programas de experimentaccedilatildeo e demonstraccedilatildeo de soluccedilotildees
tecnoloacutegicas
Projetos de desenvolvimento de tecnologias negoacutecios e empreendimentos
inovadores
Projeto de ambientes interativos
Promoccedilatildeo da cultura e da arte
Desenvolvimento de tecnologias de interatividade centradas no ser humano
Desenvolvimento das infra-estruturas de softwares distribuiacutedos para integraccedilatildeo de
ambientes interativos
Desenvolvimento de jogos miacutedias e conteuacutedos para a construccedilatildeo de experiecircncias
memoraacuteveis
O Sapientia eacute um dos mentores e parceiros do Sapiens Parque e projetista das
aacutereas do Experientia e Scientia Atua com o desenvolvimento de Conteuacutedos Interativos
softwares interativos aplicados em jogos educacionais implantaccedilatildeo de experiecircncias e
pesquisas em convergecircncia das ciecircncias e transdisciplinaridade
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
39
Comunidade Local
As comunidades e associaccedilotildees de moradores de Florianoacutepolis diretamente
envolvidas com o projeto Sapiens Parque concentram-se basicamente no Norte da Ilha
Tais associaccedilotildees estiveram representadas nas audiecircncias puacuteblicas promovidas pelo
Sapiens Parque no decorrer do ano de 2003 levantando como principais questotildees a serem
discutidas a degradaccedilatildeo ambiental decorrente da excessiva urbanizaccedilatildeo e a necessidade de
integraccedilatildeo do projeto com a comunidade As principais comunidades locais envolvidas satildeo
Associaccedilatildeo dos Moradores de Canasvieiras
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem Grande
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem do Bom Jesus
Associaccedilatildeo Amigos de Carijoacutes
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
Uniatildeo Metropolitana de Entidades Comunitaacuterias
Centro de Estudos Cultura e Cidadania
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
40
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
O presente capiacutetulo analisaraacute os principais conceitos que abrangem a relaccedilatildeo do
desenvolvimento com o meio ambiente Para tanto inicia-se com uma visatildeo geral do
significado da palavra desenvolvimento para posteriormente inserir a dimensatildeo ambiental
em seu conceito O estudo resulta na anaacutelise das dimensotildees e dos criteacuterios de
desenvolvimento sustentaacutevel como paradigma Tais criteacuterios seratildeo utilizados na avaliaccedilatildeo
final do empreendimento Sapiens Parque estudo de caso deste trabalho Este capiacutetulo
ainda analisa as aplicaccedilotildees do desenvolvimento sustentaacutevel ao espaccedilo urbano enfocando
os grandes projetos urbanos e turiacutesticos como se caracteriza o estudo de caso em questatildeo
21 CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO
A maneira mais simploacuteria de caracterizar o sentido da palavra desenvolvimento
consiste em associaacute-lo ao crescimento econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo Industrial em
meados do seacuteculo XVIII a histoacuteria da humanidade passou a ser quase inteiramente
determinada pelo crescimento econocircmico A vida cotidiana foi totalmente transformada e o
padratildeo de vida das pessoas aumentou enquanto a mortalidade humana diminuiu Atraveacutes
do avanccedilo da ciecircncia e tecnologia foram possiacuteveis inovaccedilotildees nas aacutereas da sauacutede puacuteblica e
da medicina resultantes principalmente da iniciativa governamental e do empreendedorismo
puacuteblico e que acarretaram os raacutepidos aumentos da esperanccedila de vida
O conceito de desenvolvimento esteve associado exclusivamente ao crescimento
econocircmico ateacute iniacutecio dos anos 1960 devido ao resultado dos processos de industrializaccedilatildeo
nas diferentes naccedilotildees haviam poucos paiacuteses industrializados desenvolvidos e ricos e por
outro lado paiacuteses que permaneceram subdesenvolvidos e pobres cujo processo de
industrializaccedilatildeo era incipiente Segundo VEIGA (2005) a associaccedilatildeo do desenvolvimento ao
crescimento econocircmico facilitaria o encontro de paracircmetros que serviriam para mensurar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
41
desenvolvimento atraveacutes da ligaccedilatildeo com indicadores de crescimento econocircmico como por
exemplo o Produto Interno Bruto (PIB)7 per capita
Entretanto a perspectiva de ter-se o desenvolvimento combinado somente a partir do
crescimento econocircmico implica consideraacute-lo apenas segundo fenocircmenos econocircmicos
secundaacuterios como o aumento do PIB o comportamento das exportaccedilotildees ou a evoluccedilatildeo dos
mercados Apesar de constituir um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento no
crescimento econocircmico as mudanccedilas satildeo quantitativas enquanto no desenvolvimento as
mudanccedilas satildeo qualitativas No desenvolvimento devem ser levadas em consideraccedilatildeo as
disfunccedilotildees qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo
Para VEIGA (2005) ter-se o desenvolvimento de um paiacutes conceituado somente a
partir do seu crescimento econocircmico consiste em um pensamento simplista e reducionista
Isso porque o crescimento econocircmico na deacutecada de 1950 em paiacuteses semi-industrializados
como o Brasil natildeo acarretou necessariamente maior acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo bens
materiais e culturais agraves camadas mais pobres de tais naccedilotildees como acontecera nos paiacuteses
ateacute entatildeo considerados desenvolvidos
Segundo o autor a partir da deacutecada de 1990 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) lanccedilou o Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) que natildeo se
resume agrave simples identificaccedilatildeo do desenvolvimento com o crescimento econocircmico Segundo
os relatoacuterios anuais elaborados pelo PNUD o desenvolvimento significa acima de tudo a
possibilidade de as pessoas viverem o tipo de vida que escolheram e com a provisatildeo de
instrumentos e oportunidades para fazerem suas escolhas
O IDH parte do pressuposto de que para conferir o avanccedilo de uma populaccedilatildeo natildeo se
deve considerar apenas a dimensatildeo econocircmica mas tambeacutem outras caracteriacutesticas sociais
culturais e poliacuteticas que influenciam a qualidade da vida humana Apesar de o IDH ainda
apresentar suas limitaccedilotildees o iacutendice tornou-se uma referecircncia mundial e no Brasil ele vem
sendo utilizado pelo governo federal como base para o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH-M)
7 PIB eacute o indicador que mostra a produccedilatildeo de um paiacutes e que leva em conta trecircs grupos principais Agropecuaacuteria Induacutestria e Serviccedilos (httpwwwibgegovbr acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
42
SEN (2000) concorda que o desenvolvimento natildeo pode ser compreendido somente a
partir do crescimento econocircmico e da renda per capita jaacute que as variaccedilotildees na expectativa
de vida relacionam-se a diversas oportunidades sociais que satildeo centrais como serviccedilos de
sauacutede e facilidades educacionais
Estudos realizados pelo mesmo autor em bases de dados do Banco Mundial8
confirmam tambeacutem a ausecircncia de relaccedilotildees entre o crescimento econocircmico dos paiacuteses e sua
estrutura de distribuiccedilatildeo de renda Independente do crescimento econocircmico dos paiacuteses a
estrutura da distribuiccedilatildeo de renda eacute bastante persistente e haacute pouco o que fazer para
atenuar a concentraccedilatildeo de renda Desde a Segunda Guerra Mundial o crescimento
econocircmico variou muito entre os paiacuteses enquanto a distribuiccedilatildeo de renda pouco alterou
comparativamente Apesar de ainda existirem controveacutersias sobre as possiacuteveis vantagens
ou desvantagens que poderiam ser proporcionadas ao proacuteprio crescimento por uma melhor
distribuiccedilatildeo da riqueza e da renda nega-se o discurso de que o desenvolvimento dos paiacuteses
estaria atrelado somente ao resultado da renda per capita em conjunto com a distribuiccedilatildeo de renda
SEN (2000) defende ainda que o desenvolvimento deve promover a liberdade das
naccedilotildees Para tanto torna-se necessaacuterio que se removam as principais fontes de privaccedilatildeo da
liberdade pobreza carecircncia de oportunidades econocircmicas exoneraccedilatildeo social negligecircncia
dos serviccedilos puacuteblicos e interferecircncia de Estados opressivos O mundo atual apresenta
ausecircncia de liberdades substantivas que se relaciona diretamente com a pobreza
econocircmica Nega liberdades elementares a muitas pessoas liberdade de saciar a fome de
obter uma nutriccedilatildeo satisfatoacuteria ou remeacutedios para doenccedilas curaacuteveis a oportunidade de vestir-se
ou morar de modo apropriado a possibilidade de acesso agrave aacutegua tratada ou saneamento baacutesico
A pobreza econocircmica de uma naccedilatildeo natildeo pode ser vista apenas como baixa renda
fome e privaccedilatildeo fiacutesica Trata-se tambeacutem da privaccedilatildeo cultural e de capacidades baacutesicas A
pobreza surge nas dificuldades que alguns segmentos sociais encontram para participar da
vida social e cultural da comunidade As mercadorias de primeiras necessidades natildeo satildeo
apenas as indispensaacuteveis para o sustento mas satildeo tambeacutem aquelas que estatildeo
relacionadas agraves exigecircncias da cultura local
8 O Banco Mundial eacute uma organizaccedilatildeo internacional constituiacuteda por 185 paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento e que presta apoio financeiro aos governos dos paiacuteses em desenvolvimento (httpwebworldbankorg acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
43
Em seus estudos SEN (2000) afirma que para alcanccedilar uma alta expectativa e
qualidade de vida natildeo necessariamente eacute preciso haver concordacircncia entre a renda per
capita e a liberdade dos indiviacuteduos Segundo o autor cidadatildeos do Gabatildeo Aacutefrica do Sul ou
Brasil satildeo mais ricos em termos de Produto Nacional Bruto9 (PNB) per capita do que os do
Sri Lanka ou China Entretanto neste segundo grupo de paiacuteses as pessoas tecircm
probabilidade de vida mais elevadas do que no primeiro grupo
SEN (2000) constatou ainda que na Gratilde-Bretanha a expectativa de vida aumentou
durante as duas guerras mundiais (quando a alimentaccedilatildeo e serviccedilos de sauacutede eram
limitados) enquanto a renda per capita diminuiu A explicaccedilatildeo reside nas mudanccedilas do grau
de compartilhamento social durante as deacutecadas de guerra e nos aumentos das poliacuteticas e
custeio puacuteblico com serviccedilos sociais nas aacutereas de nutriccedilatildeo e sauacutede As dificuldades surgidas
com as guerras tornaram necessaacuterias medidas puacuteblicas radicais para uma nova distribuiccedilatildeo
de alimentos e serviccedilos de sauacutede Portanto torna-se importante que o processo de
desenvolvimento seja conduzido pelo custeio puacuteblico que opera por meio de um programa
de haacutebil manutenccedilatildeo social dos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e seguridade social
O autor destaca ainda a importacircncia do desenvolvimento para a fixaccedilatildeo de
contrastes intergrupais nos diversos paiacuteses Nos Estados Unidos os afro-americanos satildeo
pobres em relaccedilatildeo aos americanos brancos mas satildeo mais ricos que os habitantes de
paiacuteses perifeacutericos No entanto os afro-americanos tecircm menos chance de chegar agrave idade
madura do que as pessoas que vivem em sociedades como a China ou Sri Lanka com seus
diferentes sistemas de sauacutede educaccedilatildeo e relaccedilotildees comunitaacuterias
SACHS (2002) lembra que os temas do desenvolvimento e direitos humanos
ganharam forccedila na metade do seacuteculo XX com o intuito de exterminar as lembranccedilas da
Grande Depressatildeo10 e da Segunda Guerra Mundial fornecer os fundamentos para o
Sistema das Naccedilotildees Unidas e impulsionar os processos de descolonizaccedilatildeo Para o autor o
crescimento econocircmico eacute tido como uma expansatildeo das forccedilas produtivas da sociedade com
o objetivo de alcanccedilar os direitos plenos de cidadania para toda a populaccedilatildeo
9 Produto Nacional Bruto ou Renda Nacional Bruta eacute a soma das rendas primaacuterias a receber pelos setores institucionais residentes Eacute igual ao PIB menos as rendas primaacuterias a pagar liacutequidas das a receber das unidades natildeo-residentes (resto do mundo) (httpwwwibgegovbr acesso em 23102007) 10 A Grande Depressatildeo foi uma recessatildeo econocircmica que teve iniacutecio em 1929 trazendo altas taxas de desemprego e queda do PIB de diversos paiacuteses e que terminou apenas com a Segunda Guerra Mundial
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
44
O desenvolvimento eacute o processo histoacuterico de apropriaccedilatildeo universal
pelos povos da totalidade dos direitos humanos individuais e coletivos negativos (liberdade contra) e positivos (liberdade a favor) significando trecircs geraccedilotildees de direitos poliacuteticos ciacutevicos e civis e os direitos coletivos ao desenvolvimento ao meio ambiente e agrave cidade (SACHS 200265-66)
O autor afirma que o desenvolvimento pode permitir que cada indiviacuteduo revele suas
capacidades seus talentos e sua imaginaccedilatildeo na busca da auto-realizaccedilatildeo e da felicidade
mediante esforccedilos coletivos e individuais combinaccedilatildeo de trabalho autocircnomo e heterocircnomo
e de tempo gasto em atividades natildeo-econocircmicas Os aspectos qualitativos satildeo
considerados essenciais as maneiras viaacuteveis de produzir meios de vida natildeo podem
depender de esforccedilos excessivos e extenuantes por parte de seus produtores de empregos
mal remunerados exercidos em condiccedilotildees insalubres da prestaccedilatildeo inadequada de serviccedilos
puacuteblicos e de padrotildees subumanos de moradia
O desenvolvimento distinto do crescimento econocircmico cumpre o requisito de reaproximar economia e eacutetica na medida em que os objetivos do desenvolvimento vatildeo bem aleacutem da mera multiplicaccedilatildeo da riqueza material O crescimento eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria mas de forma alguma suficiente (muito menos eacute um objetivo em si mesmo) para se alcanccedilar a meta de uma vida melhor mais feliz e mais completa para todos (SACHS 200413)
Para SACHS (2004) o conceito de desenvolvimento abrange os ideais de igualdade
equumlidade e solidariedade Ao inveacutes de visar o crescimento do PIB o desenvolvimento visa
maximizar a vantagem daqueles que vivem nas piores condiccedilotildees O crescimento natildeo eacute
sinocircnimo de desenvolvimento se ele natildeo amplia o emprego se natildeo reduz a pobreza e se
natildeo atenua as desigualdades
A problemaacutetica ambiental surgida na deacutecada de 1970 fez com que a dimensatildeo
ambiental fosse tambeacutem integrada ao conceito de desenvolvimento com sua consequumlente
revisatildeo e evoluccedilatildeo para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel O desenvolvimento
sustentaacutevel exige explicitaccedilatildeo de criteacuterios de sustentabilidade social e ambiental e de
viabilidade econocircmica SACHS (2004) conclui que somente as soluccedilotildees que promovam o
crescimento econocircmico com impactos positivos em termos sociais e ambientais merecem a
denominaccedilatildeo de desenvolvimento conforme mostra a Tabela 1
Impactos sociais Impactos ambientais1 Desenvolvimento + +2 Selvagem - -3 Socialmente benigno + -4 Ambientalmente benigno - +
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico Fonte SACHS (200436)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
45
Concluiacutemos entatildeo que o conceito de desenvolvimento natildeo abrange somente o
crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo O crescimento econocircmico somente pode se
transformar em desenvolvimento se vier acompanhado de impactos positivos sociais e
ambientais priorizando a efetiva melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo O
desenvolvimento implica em uma maior apropriaccedilatildeo e igualdade dos direitos humanos
individuais e coletivos pelos povos sem os quais natildeo eacute possiacutevel o alcance de uma alta
expectativa e qualidade de vida
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
46
211 BRASIL E DESENVOLVIMENTO
Eles iriam esbravejar em vatildeo todos os dias Cavar e esburacar pazada por pazada
Onde as tochas enxameam agrave noite Havia uma represa quando acordaacutevamos
Sacrifiacutecios humanos sangravam Gritos de horror iriam fender a noite
E onde as chamas se estreitam na direccedilatildeo do mar Um canal iria saudar a luz
(Fausto 11 123-30 apud BERMAN 198781)
De acordo com BERMAN (1987) a segunda parte do teatro alematildeo ldquoFaustordquo de
Goethe configura um drama do desenvolvimento Expressatildeo primaacuteria do espiacuterito moderno
Fausto eacute levado a um impulso de desejo de desenvolvimento cujas energias adquirem vida
proacutepria dinacircmica e caraacuteter explosivo Tal desenvolvimento colocado por Goethe como uma
trageacutedia possui um custo Fausto vende sua alma a Mefistoacutefeles em troca de determinados
bens universalmente desejados Adquire dessa forma capacidade e poder sobre a
natureza mas para tanto perde sua liberdade Ao expulsar antigos moradores de uma aacuterea
para criar uma nova sociedade ele sofre um processo de esvaziamento Fausto lanccedila todo
o seu poder contra a natureza e a sociedade e luta para mudar sua vida e a vida de todos
Encontra meios de agir contra o mundo feudal e patriarcal para construir um ambiente social
radicalmente novo destinado a esvaziar de vez o velho mundo ou a destruiacute-lo A obra daacute-se
frente agraves conturbaccedilotildees materiais e espirituais da Revoluccedilatildeo Industrial
SACHS (2004) compara a histoacuteria de Fausto agrave recente crise desenvolvimentista da
Argentina O autor afirma que a crise argentina eacute resultado da poliacutetica de fundamentalismo
de mercado adotada pelo Consenso de Washington11 e da dependecircncia excessiva de
recursos externos
Para o autor o resultado negativo da aplicaccedilatildeo das prescriccedilotildees neoliberais
defendidas pelo Consenso de Washington torna necessaacuteria a urgente regulaccedilatildeo dos
mercados que representam uma das instituiccedilotildees presentes no processo de
11 O Consenso de Washington faz parte do conjunto de reformas neoliberais que apesar de praacuteticas distintas nos diferentes paiacuteses estaacute centrado doutrinariamente na desregulamentaccedilatildeo dos mercados abertura comercial e financeira e reduccedilatildeo do tamanho e papel do Estado Tornou-se o receituaacuterio imposto por agecircncias internacionais como o Banco Mundial e o FMI para a concessatildeo de creacuteditos (NEGRAtildeO 1998)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
47
desenvolvimento O Consenso de Washington atingiu sua maturidade apoacutes a Segunda
Guerra Mundial e atuou como uma contra-reforma direcionada ao capitalismo reformado
O capitalismo reformado foi assim construiacutedo com o propoacutesito de exorcizar as terriacuteveis lembranccedilas da Grande Depressatildeo com base nos conceitos de pleno emprego Estado de Bem-estar e planejamento Ele proporcionou tambeacutem uma alternativa ao ldquosocialismo realrdquo do bloco sovieacutetico que naquela eacutepoca tinha credibilidade entre segmentos importantes da opiniatildeo puacuteblica devido ao seu sucesso de mobilizar toda a forccedila de trabalho disponiacutevel para o crescimento econocircmico extensivo e raacutepido e para a industrializaccedilatildeo (SACHS 200428)
Os trinta melhores anos do capitalismo (1945-1975) coincidiram com a Guerra Fria e
a corrida armamentista entre o bloco americano e o sovieacutetico Tal situaccedilatildeo criou condiccedilotildees
favoraacuteveis para que os paiacuteses em desenvolvimento como o Brasil tirassem proveito das
melhores experiecircncias dos dois blocos competidores atraveacutes de poliacuteticas de natildeo-
alinhamento mas acabou com os esforccedilos das Naccedilotildees Unidas de construir uma ordem
internacional mais equumlitativa
Durante a Guerra Fria os paiacuteses em desenvolvimento obtiveram rendas estrateacutegicas
provenientes das superpotecircncias que precisavam conquistar apoio e aliados Segundo
(VEIGA 2005) com o fim da bipolaridade muitos desses paiacuteses perderam seu interesse
estrateacutegico em atrair ajuda e investimentos O apoio internacional diminuiu
significativamente e atualmente somente poucas naccedilotildees detentoras e exportadoras de
importantes recursos para a explosatildeo do crescimento urbano como petroacuteleo ou alimentos
conseguem obter rendas estrateacutegicas Os paiacuteses em desenvolvimento ficam submetidos agrave
seleccedilatildeo natural do mercado global e agrave revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem qualquer tratamento
diferenciado A uacutenica fonte de renda estrateacutegica para a maioria deles eacute o perigo que sua
instabilidade representa para seus vizinhos ricos que oferecem recursos financeiros aos
paiacuteses pobres a fim de promover sua estabilidade e evitar a imigraccedilatildeo clandestina
A invasatildeo da Tchecolosvaacutequia em 1968 fortaleceu o bloco capitalista e a queda do
Muro de Berlim em 1989 marcou o fim do socialismo real como paradigma de
desenvolvimento O Consenso de Washington consolidou o receituaacuterio de medidas
neoliberais que defende a absoluta liberdade dos mercados e que ganhou forccedila com as
eleiccedilotildees de Margareth Thatcher na Inglaterra e de Ronald Reagan nos Estados Unidos
Tais medidas passaram a ter sua implementaccedilatildeo recomendada pelo Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) aos paiacuteses em desenvolvimento como uma foacutermula infaliacutevel de acelerar
seu desenvolvimento econocircmico O ideal neoliberal predominou ateacute final dos anos 1990
poreacutem seu paradigma natildeo cumpriu as suas promessas (SACHS 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
48
Para SACHS (2004) a crise do desenvolvimento na Argentina pode ser considerada
como o fim do Consenso de Washington como programa pragmaacutetico O autor ainda destaca
que os uacutenicos paiacuteses em desenvolvimento que se deram razoavelmente bem na deacutecada de
1990 foram exatamente aqueles que se recusaram a aplicar na iacutentegra as prescriccedilotildees do
Consenso de Washington
FURTADO (1974) afirma que as economias perifeacutericas e semiperifeacutericas nunca seratildeo
tatildeo desenvolvidas quanto as economias centrais do sistema capitalista O conceito de
desenvolvimento econocircmico funciona como um legitimador das relaccedilotildees de dependecircncia do
sistema capitalista ao inveacutes de promover a criatividade cultural e morfogecircnese social
A ideacuteia de desenvolvimento econocircmico tem grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e levaacute-los a aceitar enormes sacrifiacutecios para legitimar a destruiccedilatildeo de formas de cultura arcaicas para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio fiacutesico para justificar formas de dependecircncia que reforccedilam o caraacuteter predatoacuterio do sistema produtivo (FURTADO 1974 75-76)
As formas assimeacutetricas e desiguais da globalizaccedilatildeo atual prejudicam os interesses
dos paiacuteses em desenvolvimento favorecendo alguns incluiacutedos e deixando de fora muitos
excluiacutedos Os incluiacutedos vivem no capitalismo reformado enquanto os excluiacutedos estatildeo
condenados a formas mais duras e ateacute selvagens de capitalismo SACHS (2004) avalia o
crescimento econocircmico dos paiacuteses em desenvolvimento como um processo concentrador e
excludente que tende a concentrar riqueza e renda nas matildeos de poucos devido agrave
substituiccedilatildeo do trabalho pelo capital consequumlentemente formador de uma heterogeneidade
estrutural econocircmica e social Por este motivo existe a necessidade de equilibrar as metas
de modernizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo por um lado e de promover o pleno emprego ou auto-
emprego por outro com vistas agrave produtividade do trabalho que constitui na fonte de
progresso econocircmico
SEN (2000) defende tambeacutem que os paiacuteses em desenvolvimento devem dar atenccedilatildeo
especial agrave promoccedilatildeo do trabalho pois o direito ao trabalho decente abre caminho para o
exerciacutecio de vaacuterios outros direitos O desenvolvimento como jaacute vimos pode ser traduzido
atraveacutes do exerciacutecio efetivo de todos os direitos humanos poliacuteticos civis e ciacutevicos
econocircmicos sociais e culturais Na opiniatildeo de SACHS (2004) a visatildeo do desenvolvimento
entendido como um processo de apropriaccedilatildeo efetiva da totalidade de direitos humanos
resulta em uma maioria pobre excluiacuteda de tal processo Sob essas circunstacircncias a inclusatildeo
justa passa a ser o requisito central para a temaacutetica do desenvolvimento denominado pelo
autor a partir desse aspecto como desenvolvimento includente
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
49
O desenvolvimento includente opotildee-se ao crescimento excludente que se
caracteriza pelo mercado de consumo e concentraccedilatildeo de renda e riqueza O crescimento
excludente marca mercados de trabalho segmentados com trabalhadores voltados a
atividades informais e agricultura de subsistecircncia precaacuteria aleacutem da ausecircncia quase total de
participaccedilatildeo da vida poliacutetica
O desenvolvimento includente eacute fundamentado no trabalho decente para todos
Requer a garantia de todos os direitos atraveacutes da democracia da moradia decente para
todos do acesso de todos os cidadatildeos aos programas de assistecircncia e aos serviccedilos
puacuteblicos Sauacutede e educaccedilatildeo satildeo aspectos que constituem condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo
suficiente para o acesso ao trabalho decente
A nossa preocupaccedilatildeo deve dirigir-se imediatamente agraves imensas desigualdades que existem hoje no acesso agraves oportunidades de trabalho na remuneraccedilatildeo do trabalho na proteccedilatildeo e participaccedilatildeo sociais e na geraccedilatildeo de riqueza e renda Na ausecircncia de condiccedilotildees e regras equumlitativas em todos estes quesitos o fim do trabalho (heterocircnomo) natildeo tem chance de se converter numa meta realista Tanto mais que as pessoas ainda tecircm que aprender a apreciar como uma verdadeira medida de sua liberdade cultural o tempo liberado para atividades autocircnomas e dar preferecircncia a elas em vez de alocar o seu tempo liberado aos prazeres do consumismo (SACHS 200444)
Para SACHS (2004) torna-se necessaacuterio reconciliar os objetivos do progresso
econocircmico baseado no aumento da produtividade do trabalho com o imperativo de
proporcionar oportunidade de trabalho decente para todos O autor defende que eacute preciso
uma estrateacutegia que harmonize dois objetivos aparentemente contraditoacuterios o progresso
teacutecnico veloz e o pleno emprego
Por um lado o progresso teacutecnico raacutepido eacute uma exigecircncia nas induacutestrias de bens
comercializaacuteveis que competem nos mercados mundiais ainda que isso signifique reduccedilatildeo
do nuacutemero de trabalhadores Por outro lado as mesmas exigecircncias natildeo se aplicam agrave
produccedilatildeo de bens e serviccedilos natildeo-comercializaacuteveis que na praacutetica natildeo enfrentam
competiccedilatildeo externa nos mercados internos Nove em cada dez pessoas estatildeo empregadas
dentro desta uacuteltima categoria de natildeo-comercializaacuteveis Dessa forma poderiacuteamos
compensar as tendecircncias negativas do emprego provocadas pelo progresso teacutecnico no
setor de comercializaacuteveis por meio da ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo dos bens e serviccedilos natildeo-
comercializaacuteveis no perfil da produccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
50
Para assegurar simultaneamente a sustentabilidade social e o crescimento
econocircmico SACHS (2004) afirma que deve ser dada ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo primaacuteria de
renda ao inveacutes de se persistir com o padratildeo excludente de crescimento Trata-se de uma
estrateacutegia endoacutegena de desenvolvimento a partir das proacuteprias forccedilas dos paiacuteses e baseada
em iniciativas nacionais Para tanto o autor aborda algumas poliacuteticas necessaacuterias
Explorar oportunidades de crescimento induzido pelo emprego e com conteuacutedo
zero ou baixo de importaccedilotildees principalmente obras puacuteblicas construccedilatildeo civil em
especial casas populares com apoio governamental serviccedilos sociais empregos
ligados ao aumento da produtividade dos recursos e manutenccedilatildeo dos
equipamentos edifiacutecios e infra-estrutura existente
Elaborar uma reforma fiscal que crie um imposto de valor adicionado sobre o
consumo com isenccedilatildeo para os bens essenciais mas com forte incidecircncia sobre
os artigos de luxo
Desenhar poliacuteticas para consolidar e modernizar a agricultura familiar como
estiacutemulo ao desenvolvimento rural
Promover accedilotildees para melhorias das condiccedilotildees dos que trabalham por conta
proacutepria e das micro e pequenas empresas em busca do fim da informalidade
Estabelecer conexotildees beneacuteficas entre grandes e pequenas empresas
Fortalecer as empresas industriais de grande porte e transformaacute-las em atores
competitivos em escala global
SACHS (2004) completa com a afirmaccedilatildeo de que eacute necessaacuteria uma participaccedilatildeo
maior nos padrotildees de consumo de serviccedilos e alimentos produzidos localmente (seguranccedila
alimentar local) e maior prioridade para investimentos em infra-estrutura e construccedilatildeo civil
(especialmente moradia social)
Estrateacutegias uniformes de desenvolvimento natildeo satildeo possiacuteveis de serem
estabelecidas devido agrave diversidade de configuraccedilotildees socioeconocircmicas e culturais e dos
recursos disponiacuteveis em micro e mesorregiotildees Para serem eficientes as estrateacutegias devem
responder aos problemas e necessidades de cada comunidade e para tanto precisam
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
51
garantir a participaccedilatildeo de todos os atores envolvidos (trabalhadores empregadores Estado
e sociedade civil organizada) no processo de desenvolvimento
Por esse motivo deve-se elaborar o planejamento territorial a niacuteveis municipal micro
e mesorregional a fim de agrupar vaacuterios distritos unidos pela identidade cultural e interesses
comuns Para o planejamento participativo local devem-se criar espaccedilos para o exerciacutecio da
democracia direta atraveacutes de conselhos consultivos e deliberativos onde a comunidade
pode assumir um papel ativo no processo de desenvolvimento
O planejamento eacute um processo interativo que inclui procedimentos de baixo para cima e de cima para baixo dentro de um marco de um processo nacional de longo prazo em visatildeo compartilhada pela maioria dos cidadatildeos da naccedilatildeo sobre valores a sua convergecircncia em objetivos sociais e a inserccedilatildeo do seu Estado-Naccedilatildeo num mundo globalizado (SACHS 200462)
SACHS (2004) defende ainda que no processo de planejamento torna-se necessaacuterio
que o Estado cumpra sua funccedilotildees principais 1- articular os espaccedilos de desenvolvimento do
niacutevel local (que deve ser ampliado e fortalecido) ao transnacional 2- promover parcerias
entre todos os atores interessados em busca do desenvolvimento sustentaacutevel 3-
harmonizar metas sociais ambientais e econocircmicas por meio do planejamento estrateacutegico
e do gerenciamento cotidiano da economia e sociedade buscando equiliacutebrio entre as
diferentes sustentabilidades (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial econocircmica e
poliacutetica)
22 A INSERCcedilAtildeO AMBIENTAL NO DESENVOLVIMENTO
Os debates sobre os riscos da degradaccedilatildeo do meio ambiente iniciaram nos anos
1960 e ganharam intensidade no iniacutecio dos anos 1970 No encontro Founex em Estocolmo
1971 discutiu-se pela primeira vez as relaccedilotildees entre o desenvolvimento e o meio ambiente
Tambeacutem em Estocolmo organizou-se a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Ambiente
Humano em 1972 que constitui um marco para a conscientizaccedilatildeo ambiental mundial
Segundo VEIGA (2005) previamente agrave realizaccedilatildeo desses dois encontros em Estocolmo as
questotildees que envolviam a relaccedilatildeo entre desenvolvimento e meio ambiente originaram
defensores de duas correntes opostas
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
52
1 De um lado encontravam-se aqueles que viam as preocupaccedilotildees com o meio
ambiente como um atraso e como inibiccedilatildeo dos esforccedilos dos paiacuteses ainda em
desenvolvimento rumo agrave industrializaccedilatildeo e ao alcance dos paiacuteses desenvolvidos Para
estes deveria ser dada prioridade agrave aceleraccedilatildeo do crescimento sendo que as
consequumlecircncias negativas produzidas por ele seriam eliminadas posteriormente atraveacutes do
progresso tecnoloacutegico quando tais paiacuteses em desenvolvimento atingissem o niacutevel de renda
per capita dos paiacuteses desenvolvidos Para os defensores desta corrente natildeo existiria dilema
entre conservaccedilatildeo ambiental e crescimento econocircmico depois de determinado patamar de
riqueza o crescimento passaria a melhorar a qualidade ambiental
O processo de desenvolvimento leva a mudanccedilas estruturais naquilo que as economias produzem E muitas sociedades jaacute demonstraram notaacutevel talento em introduzir tecnologias que conservam os recursos que lhe satildeo escassos Em princiacutepio os fatores que podem levar a mudanccedilas na composiccedilatildeo e nas teacutecnicas de produccedilatildeo podem ser suficientemente fortes para que os efeitos ambientalmente adversos do aumento da atividade econocircmica sejam evitados ou superados E se houver existecircncia empiacuterica que confirme essa suposta tendecircncia seraacute permitido concluir que a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica resultaraacute do proacuteprio crescimento (VEIGA 2005114)
Grossman e Krueger defensores desta corrente desenvolveram hipoacuteteses de que as
fases de desgraccedila e recuperaccedilatildeo ambiental estariam separadas por determinado ponto
situado da renda per capita Entretanto segundo VEIGA (2005) esta hipoacutetese
provavelmente seraacute descartada porque depois de analisar muitos paiacuteses em crescimento
se concluiraacute que existem vaacuterios tipos de crescimento e de degradaccedilatildeo ambiental
2 De outro lado encontravam-se os defensores da estagnaccedilatildeo imediata do
crescimento demograacutefico e econocircmico supostos causadores da exaustatildeo de recursos e
poluiccedilatildeo ou pelo menos do crescimento do consumo De acordo com VEIGA (2005) esta
corrente alerta sobre o inexoraacutevel aumento da entropia que consiste na transformaccedilatildeo das
formas uacuteteis de energia em formas que a humanidade natildeo consegue utilizar Ou seja para
poder manter seu proacuteprio equiliacutebrio a humanidade tira da natureza os elementos de baixa
entropia que permitem compensar a alta entropia que ela causa
Dentre as teorias desta corrente a principal eacute a de Georgescu-Roegen que defendia
que a economia certamente seria absorvida pela ecologia Por esse motivo no curto prazo
o crescimento deveria ser o mais compatibilizado possiacutevel com a conservaccedilatildeo da natureza
(o que natildeo significaria um ldquocrescimento zerordquo) Para Georgescu-Rogen o crescimento
representa sempre o encurtamento da expectativa de vida da espeacutecie humana
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
53
Para os defensores deste pensamento a degradaccedilatildeo ambiental seria consequumlecircncia
da explosatildeo populacional Na opiniatildeo de SACHS (2002) esta teoria estaacute equivocada jaacute que
tal pensamento acaba por considerar que o nuacutemero de natildeo-consumidores em sua maioria
pobre importa mais do que o consumo excessivo da minoria
Durante o encontro em Estocolmo as duas correntes acima foram abandonadas
para dar lugar a uma alternativa que equilibrasse esses extremos denominada paradigma
do ldquocaminho do meiordquo O crescimento econocircmico ainda se fazia necessaacuterio mas deveria ser
socialmente receptivo e implementado por meacutetodos favoraacuteveis ao meio ambiente ao inveacutes
de favorecer a incorporaccedilatildeo predatoacuteria do capital da natureza ao PIB A abordagem
fundamentada na harmonizaccedilatildeo de objetivos sociais ambientais e econocircmicos foi
denominada ecodesenvolvimento e posteriormente desenvolvimento sustentaacutevel
De modo geral o objetivo deveria ser o do estabelecimento de um aproveitamento racional e ecologicamente sustentaacutevel da natureza em benefiacutecio das populaccedilotildees locais levando-as incorporar a preocupaccedilatildeo com a conservaccedilatildeo da biodiversidade aos seus proacuteprios interesses como um componente de estrateacutegia de desenvolvimento Daiacute a necessidade de se adotar padrotildees negociados e contratuais de gestatildeo da biodiversidade (SACHS 200253)
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel segundo SACHS (2004) foi
aperfeiccediloado entre o periacuteodo que separa a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio
Ambiente realizada em Estocolmo em 1972 e a Cuacutepula sobre Desenvolvimento
Sustentaacutevel de Joanesburgo em 2002 A sustentabilidade social corresponde a um dos
aspectos principais desse conceito em que o crescimento econocircmico natildeo traz
desenvolvimento a menos que gere emprego e contribua para a reduccedilatildeo da pobreza e das
desigualdades Consiste em analisar o desenvolvimento natildeo somente a partir do
crescimento do PIB mas tambeacutem em termos de geraccedilatildeo de empregos
Ao mesmo tempo em que ocorreram os encontros em Estocolmo deu-se iniacutecio ao
estudo ldquoLimites do Crescimentordquo do Clube de Roma Segundo BRUumlSEKE (1998) as teses e
conclusotildees das pesquisas lideradas por Dennis Meadows alertam para as atuais
tendecircncias de crescimento da populaccedilatildeo mundial ndash industrializaccedilatildeo poluiccedilatildeo produccedilatildeo de
alimentos e diminuiccedilatildeo de recursos naturais
De acordo com esses estudos se tais tendecircncias continuarem imutaacuteveis os limites
de crescimento do planeta seratildeo alcanccedilados dentro dos proacuteximos cem anos Seria possiacutevel
modificar essas tendecircncias de crescimento e formar uma condiccedilatildeo de estabilidade ecoloacutegica
e econocircmica que se possa manter ateacute um futuro remoto O estado de equiliacutebrio global deveria
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
54
ser planejado de tal modo que as necessidades baacutesicas de cada pessoa sejam satisfeitas e
que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual
Em 1974 foi elaborado um novo documento que tambeacutem contribuiu para a discussatildeo
sobre o meio ambiente e desenvolvimento denominado Declaraccedilatildeo de Cocoyoc Segundo
BRUumlSEKE (1998) o documento foi resultado de uma reuniatildeo da Conferecircncia das Naccedilotildees
Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento (UNCTAD) e do Programa de Meio Ambiente das
Naccedilotildees Unidas (UNEP) e que destacava as seguintes hipoacuteteses a) a explosatildeo
populacional tem como uma das suas causas a falta de recursos de qualquer tipo a pobreza
gera o desequiliacutebrio demograacutefico b) a destruiccedilatildeo ambiental na Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina
eacute tambeacutem o resultado da pobreza que leva a populaccedilatildeo carente agrave superutilizaccedilatildeo do solo e
dos recursos vegetais c) os paiacuteses industrializados contribuem para os problemas do
subdesenvolvimento por causa do seu niacutevel exagerado de consumo Os paiacuteses
industrializados teriam que baixar seu consumo e sua participaccedilatildeo desproporcional na
poluiccedilatildeo da biosfera
No seguimento deste trabalho analisaremos com maior profundidade os dois
conceitos principais que alinham o desenvolvimento econocircmico com o meio ambiente e os
aspectos sociais o ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel
221 ECODESENVOLVIMENTO
O termo ecodesenvolvimento de acordo com MONTIBELLER (2004) foi introduzido
por Maurice Strong secretaacuterio-geral da conferecircncia de Estocolmo em 1972 e bastante
difundido a partir de 1974 Significa o desenvolvimento de um paiacutes ou regiatildeo baseado em
suas proacuteprias potencialidades sem criar dependecircncia externa Tem por finalidade responder
agrave problemaacutetica da harmonizaccedilatildeo das necessidades sociais e econocircmicas do
desenvolvimento e promover a qualidade de vida com o cuidado de preservar o meio
ambiente para esta e para as futuras geraccedilotildees Pressupotildee uma solidariedade sincrocircnica
com os povos atuais na medida em que desloca o enfoque da loacutegica de produccedilatildeo para a
oacutetica das necessidades fundamentais da populaccedilatildeo e uma solidariedade diacrocircnica
expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva ecoloacutegica para garantir
possibilidade de qualidade de vida agraves proacuteximas geraccedilotildees
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
55
De acordo com SACHS (2002) o ecodesenvolvimento busca um caminho apropriado
para a conservaccedilatildeo da biodiversidade ao assumir a harmonizaccedilatildeo dos objetivos sociais e
ecoloacutegicos A biodiversidade necessita ser protegida para garantir o direito de as futuras
geraccedilotildees atenderem agraves suas proacuteprias necessidades Para tanto torna-se imprescindiacutevel o
estabelecimento de uma rede de aacutereas protegidas como parte imanente da gestatildeo territorial
e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos renovaacuteveis como uma forma de relacionamento
simbioacutetico entre o homem e a natureza Eacute necessaacuterio aprendermos a fazer um
aproveitamento sensato da natureza para construirmos uma boa sociedade atraveacutes da
perenidade dos recursos transformar o meio ambiente em recursos sem destruir o capital
da natureza
O ecodesenvolvimento pode ser definido como uma estrateacutegia para a proteccedilatildeo de
aacutereas ecologicamente valiosas (aacutereas protegidas) em face de pressotildees inaceitaacuteveis
resultantes das necessidades e atividades dos povos que vivem nelas ou no seu entorno O
ecodesenvolvimento requer o planejamento local e participativo das autoridades locais
comunidades e associaccedilotildees de cidadatildeos envolvidas na proteccedilatildeo da aacuterea
O ecodesenvolvimento pode ser mais facilmente alcanccedilado com o aproveitamento dos sistemas tradicionais de gestatildeo dos recursos como tambeacutem com a organizaccedilatildeo de um processo participativo de identificaccedilatildeo das necessidades dos recursos potenciais e das maneiras de aproveitamento da biodiversidade como caminho para a melhoria do niacutevel de vida dos povos (SACHS 200275)
Esse processo exige negociaccedilatildeo entre os atores envolvidos (populaccedilatildeo local e
autoridades) subsidiado por cientistas associaccedilotildees civis agentes econocircmicos puacuteblicos e
privados Tais negociaccedilotildees satildeo conflituosas porque se definem atraveacutes de interesses
antagocircnicos
SACHS (2002) afirma que o ecodesenvolvimento pode ser instituiacutedo a partir dos
seguintes esforccedilos
Identificaccedilatildeo criaccedilatildeo e desenvolvimento de alternativas sustentaacuteveis de recursos
de biomassa e renda
Envolvimento da populaccedilatildeo local das aacutereas protegidas nos planos de conservaccedilatildeo
e na gestatildeo da aacuterea
Cultivo da conscientizaccedilatildeo da comunidade local quanto ao valor e agrave necessidade
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
56
de proteccedilatildeo da aacuterea assim como aos padrotildees de sustentabilidade de um
crescimento local apropriado
Institucionalizaccedilatildeo do sistema legislaccedilatildeo e normas
Com o intuito de proteger a biodiversidade o Governo Federal Brasileiro sancionou
uma importante lei em julho do ano 2000 a lei ndeg 9985 que instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) estabelecendo criteacuterios e normas para a criaccedilatildeo
implantaccedilatildeo e gestatildeo das unidades de conservaccedilatildeo federais estaduais e municipais O
SNUC permite trabalhos de ecodesenvolvimento nas ldquozonas tampatildeordquo e nas zonas de
transiccedilatildeo das camadas das reservas da biosfera onde satildeo admitidas atividades humanas
controladas O sistema tem por objetivos (LEI 99852000)
Contribuir para a manutenccedilatildeo da diversidade bioloacutegica e dos recursos geneacuteticos
no territoacuterio nacional e nas aacuteguas jurisdicionais
Proteger as espeacutecies ameaccediladas de extinccedilatildeo no acircmbito regional e nacional
Contribuir para a preservaccedilatildeo e a restauraccedilatildeo da diversidade de ecossistemas
naturais
Promover o desenvolvimento sustentaacutevel a partir dos recursos naturais
Promover a utilizaccedilatildeo dos princiacutepios e praacuteticas de conservaccedilatildeo da natureza no
processo de desenvolvimento
Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notaacutevel beleza cecircnica
Proteger as caracteriacutesticas relevantes de natureza geoloacutegica geomorfoloacutegica
arqueoloacutegica paleontoloacutegica e cultural
Proteger e recuperar recursos hiacutedricos
Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
57
Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa cientiacutefica estudos e
monitoramento ambiental
Valorizar econocircmica e socialmente a diversidade bioloacutegica
Favorecer condiccedilotildees e promover a educaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo ambiental a
recreaccedilatildeo em contato com a natureza e o turismo ecoloacutegico
Proteger os recursos naturais necessaacuterios agrave subsistecircncia de populaccedilotildees
tradicionais respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente
O SNUC divide-se em dois grupos de unidades de conservaccedilatildeo as unidades de
proteccedilatildeo integral cujo objetivo baacutesico eacute preservar a natureza sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais e as unidades de uso sustentaacutevel que tem por objetivo
baacutesico compatibilizar a conservaccedilatildeo da natureza com o uso sustentaacutevel de uma parcela dos
seus recursos naturais Fazem parte do grupo de unidades de proteccedilatildeo integral as Estaccedilotildees
Ecoloacutegicas Reservas Bioloacutegicas Parques Nacionais Parques Estaduais Monumentos
Naturais e Refuacutegios de Vida Silvestre No grupo de unidades de uso sustentaacutevel incluem-se
as Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Estadual Aacutereas de
Relevante Interesse Ecoloacutegico Florestas Nacionais Florestas Estaduais Reservas
Extrativistas Reservas de Fauna Reservas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e Reservas
Particulares do Patrimocircnio Natural
A Tabela 2 mostra as unidades de conservaccedilatildeo delimitadas para Florianoacutepolis e
suas respectivas caracteriacutesticas a niacuteveis federal estadual e municipal
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
58
Tipo de unidade
Nordm de Decreto Federal de criaccedilatildeo
Abrangecircncia Aacuterea
Abrangecircncia AacutereaNordm de Decreto
Estadual de criaccedilatildeoTipo de unidade
Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
Dec nordm 9914290 Ilhas do Arvoredo Ilhas das Galeacutes e Deserta o Calhau de Satildeo Pedro e a aacuterea marinha que os circunda 17800 ha
Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental de Anhatomirim
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica CarijoacutesDec nordm 9465687 Manguezal de Ratones e do Saco Grande com aacuterea
de 712 ha
Dec nordm 52892 Ilha de Anhatomirim compreende uma aacuterea de 3000 ha Localizado na baiacutea norte
Reserva Extrativista do Pirajubaeacute
Dec nordm 53392 Manguezal do Rio Tavares e o baixio a sua frente 1444 ha
Parque Florestal do Rio Vermelho
Dec nordm 200662 e Dec nordm 99474
Rio Vermelho antiga Estaccedilatildeo Florestal do Rio Vermelho 1110 ha
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro
Dec nordm 126075 Aacutereas da Mata Atlacircntica dunas restingas manguezais e capoeirotildees Dos 90000 ha 3465 localiza-se em Florianoacutepolis
Tipo de unidadeNordm de Decreto Lei
Municipal de CriaccedilatildeoAbrangecircncia Aacuterea
Praia da Daniela Protege ecossistemas de manguezal e restingas 1564 ha
Lei 509197Ponta da Daniela
Parque municipal do Maciccedilo da Costeira
Lei 460595 e Dec nordm 15495
Aacutereas com relevo montanhoso e protege a vegetaccedilatildeo da Floresta Atlacircntica fauna e mananciais hiacutedricos 14563 ha
Dunas da Barra da Lagoa Lei 377192 e Lei 219385
Plano de reestruturaccedilatildeo urbano da Barra da Lagoa e protege as dunas 66 ha
Parque Municipal da Lagoinha do Leste
Lei 370192 e Dec nordm 15387
Aacuterea maior que a Bacia Hidrograacutefica da Lagoinha Aacuterea 453 ha
Parque Municipal da Galheta
Lei 345590 Praia da Galheta 1493 ha
Lagoa da Chica e Lagoinha Pequena
Dec n ordm 18588 e Lei 219385
Campeche e Rio Tavares 375 ha
Regiatildeo da Costa da Lagoa da Conceiccedilatildeo
Dec nordm 24786 Encosta da margem oeste da Lagoa da Conceiccedilatildeo desde a Ponta das Araccedilaacutes Ponta do Saquinho e o caminho da Costa da Lagoa 9675 ha
Aacuterea de preservaccedilatildeo permanente e de uso limitado
Dec nordm 219385 Uso e ocupaccedilatildeo do solo dos balneaacuterios do municiacutepio instituindo APPs e APLs Totaliza 100742 ha
Restingas de Ponta das Canas e Ponta Sambaqui
Dec nordm 21685 Aacuterea 228 ha
Dunas de Ingleses Santinho Campeche Armaccedilatildeo e Pacircntano do Sul
Dec nordm 11285 Tomba o sistema fiacutesico natural das respectivas localidades Aacuterea 95330 ha
Parque Municipal da Lagoa do Peri
Lei nordm 182881 e Dec nordm 9182
Lagoa do Peri 2030 ha
Lagoa da Conceiccedilatildeo Dec nordm 126175 e 21379
Dunas e aacutereas limites adjacentes 563 ha
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis Fonte Floram 2002
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
59
A lei do SNUC tece ainda comentaacuterios gerais sobre as aacutereas pertencentes agrave Reserva
da Biosfera que satildeo aacutereas especiais reconhecidas pelo programa intergovernamental ldquoO
Homem e a Biosfera - MaBrdquo estabelecido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) e do qual o Brasil faz parte A Reserva da
Biosfera trata-se de um modelo adotado internacionalmente de gestatildeo integrada
participativa e sustentaacutevel dos recursos naturais Seus objetivos baacutesicos consistem a
preservaccedilatildeo da diversidade bioloacutegica o desenvolvimento de atividades de pesquisa o
monitoramento ambiental a educaccedilatildeo ambiental o desenvolvimento sustentaacutevel e a
melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees (LEI 99852000)
A Reserva da Biosfera eacute constituiacuteda por 1 - uma ou vaacuterias aacutereas-nuacutecleo destinadas
agrave proteccedilatildeo integral da natureza 2 - uma ou vaacuterias zonas de amortecimento onde soacute satildeo
admitidas atividades que natildeo resultem em dano para as aacutereas-nuacutecleo e 3 - uma ou vaacuterias
zonas de transiccedilatildeo sem limites riacutegidos onde o processo de ocupaccedilatildeo e o manejo dos
recursos naturais satildeo planejados e conduzidos de modo participativo e em bases
sustentaacuteveis
Das 440 Reservas da Biosfera existentes no mundo o Brasil possui seis delas
delimitadas a partir dos seis maiores biomas brasileiros Mata Atlacircntica (RBMA) Cerrado
(RBC) Pantanal (RBP) Caatinga (RBCA) Amazocircnia Central (RBAC) e o Cinturatildeo Verde da
Cidade de Satildeo Paulo (RBCVSP) A Figura 4 mostra a delimitaccedilatildeo dessas reservas no paiacutes
A primeira das Reservas da Biosfera a ser instituiacuteda no Brasil foi a Reserva da Biosfera da
Mata Atlacircntica que tem atualmente 350000 km2 e forma um corredor envolvendo 15
estados brasileiros inclusive Santa Catarina e incorporando centenas de aacutereas - nuacutecleo
(Unidades de Conservaccedilatildeo)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
60
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil Fonte Programa MaB ndash O Homem e a Biosfera Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
O terreno onde seraacute implantado o empreendimento Sapiens Parque estaacute incluiacutedo
dentro de quatro planos dirigidos agrave proteccedilatildeo de aacutereas naturais o Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Desenvolvimento Sustentaacutevel do Entorno da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Manejo da Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
e o Parque Florestal do Rio Vermelho Os planos colocam as condiccedilotildees e diretrizes que
devem ser seguidas pelos seus vizinhos de modo a garantir a proteccedilatildeo dos recursos
naturais em seu interior De maneira geral os planos mencionados incentivam a pesquisa a
preservaccedilatildeo e o turismo responsaacutevel e sustentaacutevel Atividades ambientalmente corretas
como a agricultura orgacircnica o artesanato e a pesca artesanal tambeacutem satildeo incentivadas no
entorno das unidades de conservaccedilatildeo
Aleacutem disso Florianoacutepolis tambeacutem estaacute incluiacuteda no Plano Estadual de Gerenciamento
Costeiro uma proposta de lei disciplinadora do uso e ocupaccedilatildeo do solo do litoral catarinense
que objetiva potencializar seu crescimento mantendo a qualidade de vida e sem deteriorar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
61
meio ambiente A lei diz respeito ao planejamento e manejo dos recursos naturais levando
em consideraccedilatildeo os aspectos de natureza histoacuterica cultural e tradicional
222 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel eacute recente Surgiu na deacutecada de 1970 e
apareceu nos relatoacuterios da Uniatildeo Internacional para Conservaccedilatildeo da Natureza na deacutecada
de 1980 O conceito foi popularizado em 1987 na Assembleacuteia Geral da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid entatildeo presidentes da
Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) caracterizaram o
desenvolvimento sustentaacutevel como um ldquoconceito poliacuteticordquo e um ldquoconceito amplo para
progresso econocircmico e socialrdquo (VEIGA 2005113)
Esse encontro gerou um documento conhecido como Relatoacuterio Brundtland (Nosso
Futuro Comum) que objetivava buscar alianccedilas para a viabilizaccedilatildeo da ECO-92 conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas ocorrida no Rio de Janeiro O relatoacuterio afirma que o desenvolvimento
sustentaacutevel eacute aquele que atende agraves necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacuteprias necessidades De acordo
com o relatoacuterio a sustentabilidade compreende uma mudanccedila nas relaccedilotildees econocircmicas
poliacutetico-sociais culturais e ecoloacutegicas ldquoDesse modo a natureza passa a ser vista como parte
integrante de um sistema que originalmente deveria ser ciacuteclico excluindo o comportamento
predador do modelo desenvolvimentista predominanterdquo (OLIVEIRA 2004) Natildeo se reduz a
simples crescimento quantitativo pelo contraacuterio faz intervir a qualidade das relaccedilotildees
humanas com o ambiente natural e a necessidade de conciliar a evoluccedilatildeo dos valores
socioculturais
O Relatoacuterio Brundtland determina as seguintes medidas a serem seguidas pelos
paiacuteses em niacutevel nacional limitaccedilatildeo do crescimento populacional garantia de recursos
baacutesicos (aacutegua alimentos energia) em longo prazo preservaccedilatildeo da biodiversidade e dos
ecossistemas diminuiccedilatildeo do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com
uso de fontes energeacuteticas renovaacuteveis aumento da produccedilatildeo industrial nos paiacuteses natildeo-
industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas controle da
urbanizaccedilatildeo desordenada e integraccedilatildeo entre campo e cidades menores atendimento das
necessidades baacutesicas (sauacutede escola moradia)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
62
Em acircmbito internacional o relatoacuterio propotildee as seguintes metas adoccedilatildeo da estrateacutegia
de desenvolvimento sustentaacutevel pelas organizaccedilotildees de desenvolvimento (oacutergatildeos e
instituiccedilotildees internacionais de financiamento) proteccedilatildeo dos ecossistemas supra-nacionais
como a Antaacutertica os oceanos e o espaccedilo pela comunidade internacional banimento das
guerras e implantaccedilatildeo de um programa de desenvolvimento sustentaacutevel pela Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU)
O desenvolvimento sustentaacutevel requer mudanccedilas nos padrotildees de consumo dos
hemisfeacuterios Norte e Sul a comeccedilar no que diz respeito agrave economia de recursos A
separaccedilatildeo social resultante da reproduccedilatildeo dos padrotildees de consumo do Norte no Sul em
benefiacutecio de uma minoria pede uma mudanccedila de paradigma no processo de
desenvolvimento a favor do meio ambiente e da elevaccedilatildeo do padratildeo de pobreza
Entretanto segundo SACHS (2002) para isso satildeo necessaacuterias mudanccedilas no Norte em
relaccedilatildeo aos efeitos demonstrativos dos seus padrotildees de consumo sobre a populaccedilatildeo do
Sul ampliados pelo processo de globalizaccedilatildeo
O conceito do desenvolvimento sustentaacutevel sinaliza uma alternativa agraves teorias e
modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia do desenvolvimento
que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica
Segundo MONTIBELLER (2004) a diferenccedila fundamental entre o
ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel consiste no fato de que o
ecodesenvolvimento volta-se ao atendimento das necessidades baacutesicas da populaccedilatildeo
atraveacutes da utilizaccedilatildeo de tecnologias apropriadas a cada ambiente e partindo do mais simples
ao mais complexo enquanto que o desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza o papel de uma
poliacutetica ambiental a responsabilidade com os problemas globais e com as futuras geraccedilotildees
Os primeiros indicadores de sustentabilidade segundo VEIGA (2005) foram
desenvolvidos pela Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel (CSD) das Naccedilotildees
Unidas Em 1996 a CSD publicou o documento ldquoIndicadores de desarollo sostenible marco
y metodologiacuteasrdquo que continha um conjunto de 143 indicadores reduzidos quatro anos mais
tarde para 57 indicadores Este documento serviu como base para a formulaccedilatildeo dos
primeiros indicadores brasileiros de desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes do documento
ldquoIndicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo (IDS) apresentado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutesticas (IBGE) em 2002 e 2004
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
63
O documento elaborado pelo IBGE consistiu a primeira tentativa brasileira para
definiccedilatildeo de estatiacutesticas que coloquem a dimensatildeo ambiental ao lado da social econocircmica
e institucional No campo da dimensatildeo ambiental foi possiacutevel apresentar indicadores
fundamentais referentes agrave conservaccedilatildeo do meio ambiente organizados em cinco temas
essenciais ldquoatmosferardquo ldquoterrardquo ldquooceanos mares e aacutereas costeirasrdquo ldquobiodiversidaderdquo e
ldquosaneamentordquo
O fato de um iacutendice de desenvolvimento sustentaacutevel ser composto por muitas
dimensotildees e variaacuteveis acarreta dificuldades na sua elaboraccedilatildeo Ainda natildeo existe um iacutendice
de desenvolvimento sustentaacutevel reconhecido internacionalmente como tem sido o IDH No
Foacuterum Econocircmico Mundial em 2002 pesquisadores de duas universidades americanas
(Yale e Columbia) apresentaram o iacutendice de sustentabilidade ambiental ldquoEnvironmental
Sustenaibility Indexrdquo (ESI) O ESI natildeo significa exatamente um iacutendice de desenvolvimento
sustentaacutevel uma vez que estabelece somente criteacuterios de anaacutelise de dimensatildeo ambiental
mas ele pode ser comparado com outros iacutendices de desenvolvimento O ESI considera cinco
componentes ambientais ldquosistemas ambientaisrdquo ldquoestressesrdquo ldquovulnerabilidade humanardquo
ldquocapacidade social e institucionalrdquo e ldquoresponsabilidade globalrdquo
O ESI elaborado pelos estudantes de Yale e Columbia foi reapresentado em 2005 e
segundo VEIGA (2005) foi a mais reconhecida tentativa de elaboraccedilatildeo de um iacutendice de
sustentabilidade ambiental mas ainda natildeo representa um consenso internacional Por este
motivo e pelo fato de o empreendimento Sapiens Parque ainda estar em fase de execuccedilatildeo
tornando inviaacutevel a realizaccedilatildeo do trabalho atraveacutes dos iacutendices de sustentabilidade optamos
em utilizar como paracircmetro para a anaacutelise do estudo de caso um sistema de dimensotildees e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel desenvolvido por SACHS (2002)
SACHS (2002) defende que o desenvolvimento sustentaacutevel abrange uma seacuterie de
dimensotildees (social cultural ecoloacutegica territorial econocircmica e poliacutetica) classificadas segundo
o autor pelos conceitos a seguir
1 A dimensatildeo social vem agrave frente da demais na opiniatildeo de SACHS (2002) por
constituir a proacutepria finalidade do desenvolvimento Deve visar a reduccedilatildeo substancial das
diferenccedilas sociais
2 A sustentabilidade cultural aparece em seguida e tem como objetivo a busca de
raiacutezes endoacutegenas dos modelos de modernizaccedilatildeo e dos sistemas rurais integrados de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
64
produccedilatildeo privilegiando o processo de mudanccedila no seio da comunidade cultural e
respeitando as especificidades de cada ecossistema de cada cultura e de cada local
3 A sustentabilidade ecoloacutegica e ambiental vem em decorrecircncia e compreende o
uso dos potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatiacuteveis com sua miacutenima
deterioraccedilatildeo Deve permitir que a natureza encontre novos equiliacutebrios atraveacutes de processos
de utilizaccedilatildeo que obedeccedilam tambeacutem preservar as fontes de recursos naturais
4 A dimensatildeo territorial (espacialgeograacutefica) pressupotildee evitar a excessiva
concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees de atividades e do poder Busca uma relaccedilatildeo mais
equilibrada cidadecampo
5 A sustentabilidade econocircmica aparece como uma necessidade mas natildeo se trata
de condiccedilatildeo preacutevia para as anteriores uma vez que um transtorno econocircmico traz consigo o
transtorno social que por seu lado obstrui a sustentabilidade ambiental Eacute possibilitada por
uma alocaccedilatildeo e gestatildeo mais eficientes dos recursos e por um fluxo regular do investimento
puacuteblico e privado
6 A sustentabilidade poliacutetica (nacional) eacute importante na pilotagem do processo de
reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
7 Igualmente importante constitui a sustentabilidade poliacutetica (internacional) para
mantenimento da paz mundial e estabelecimento de um sistema de administraccedilatildeo para o
patrimocircnio comum da humanidade
SACHS (2002) delimita os criteacuterios para cada uma das dimensotildees acima
esquematizados tambeacutem por MONTIBELLER (2004) conforme a Tabela 3
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
65
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADECRITEacuteRIOS OBJETIVOS
Alcance de um patamar razoaacutevel de homogeneidade social Distribuiccedilatildeo de renda justa Emprego pleno eou autocircnomo com qualidade de vida decente Igualdade no acesso aos recursos e serviccedilos sociais Mudanccedilas no interior da continuidade (equiliacutebrio entre respeito agravetradiccedilatildeo e inovaccedilatildeo) Capacidade de autonomia para elaboraccedilatildeo de um projeto nacionalintegrado e endoacutegeno (em oposiccedilatildeo agraves coacutepias servis dos modelosalieniacutegenas) Autoconfianccedila combinada com abertura para o mundo Preservaccedilatildeo do potencial do capital natureza na sua produccedilatildeo derecursos renovaacuteveis Limitar o uso dos recursos natildeo-renovaacuteveis Respeitar e realccedilar a capacidade de autodepuraccedilatildeo dosecossistemas naturais Configuraccedilotildees urbanas e rurais balanceadas (eliminaccedilatildeo dasinclinaccedilotildees urbanas nas alocaccedilotildees do investimento puacuteblico) Melhoria do ambiente urbano Superaccedilatildeo das disparidades inter-regionais Estrateacutegias de desenvolvimento ambientalmente seguras paraaacutereas ecologicamente fraacutegeis (conservaccedilatildeo da biodiversidade peloecodesenvolvimento) Desenvolvimento econocircmico intersetorial equilibrado Seguranccedila alimentar Capacidade de modernizaccedilatildeo contiacutenua dos instrumentos deproduccedilatildeo razoaacutevel niacutevel de autonomia na pesquisa cientiacutefica etecnoloacutegica Inserccedilatildeo soberana na economia internacional Democracia definida em termos de apropriaccedilatildeo universal dosdireitos humanos Desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar oprojeto nacional em parceria com todos os empreendedores Um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social Eficaacutecia do sistema de prevenccedilatildeo de guerras da ONU na garantiada paz e na promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional Um pacote Norte-Sul de co-desenvolvimento baseado no princiacutepiode igualdade (compartilhamento da responsabilidade defavorecimento do parceiro mais fraco) Controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro denegoacutecios Controle institucional efetivo da aplicaccedilatildeo do Princiacutepio daPrecauccedilatildeo na gestatildeo do meio ambiente e dos recursos naturaisprevenccedilatildeo das mudanccedilas globais negativas proteccedilatildeo dadiversidade bioloacutegica (e cultural) e gestatildeo do patrimocircnio globalcomo heranccedila comum da humanidadeinternacional
SOCIAL
CULTURAL
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
POLIacuteTICA (NACIONAL)
POLIacuteTICA (INTERNACIONAL)
TERRITORIAL
ECONOcircMICA
Reduccedilatildeo das diferenccedilas sociais
Busca de raiacutezes endoacutegenas e respeito agraves especificidades de cada cultura
Equiliacutebrio entre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais
Evitar a excessiva concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees
Governar o processo de reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
Mantenimento da paz mundial baseado no princiacutepio de igualdade e da qualidade do meio ambiente
Aumento da produccedilatildeo e da riqueza social e independecircncia econocircmica externa
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel Fonte Sachs (2002) Montibeller (2004) Elaboraccedilatildeo da autora
Portanto o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel abrange um conjunto de
sustentabilidades que apresentam criteacuterios de aplicaccedilatildeo em niacutevel global nacional e local Para
os fins de anaacutelise deste trabalho tomaremos os conceitos e criteacuterios delimitados por SACHS
(2002) para as dimensotildees de sustentabilidade acima que podem ser concentradas nos trecircs
pontos principais dimensatildeo social dimensatildeo ecoloacutegica e ambiental e dimensatildeo econocircmica
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
66
23 SUSTENTABILIDADE URBANA
A insalubridade das cidades provocada pela excessiva urbanizaccedilatildeo no seacuteculo XX
originou propostas urbaniacutesticas que buscavam um equiliacutebrio entre o crescimento econocircmico
e os problemas sociais integrados ao desenho da paisagem Deu-se iniacutecio agrave ldquotendecircncia do
verderdquo que se refletiu nas cidades-jardins12 de Howard
Em todas as eacutepocas o medo das infecccedilotildees da cidade e as atraccedilotildees do campo aberto proporcionaram estiacutemulos tanto negativos quanto positivos (hellip) Aacutegua ar puro fugas aos aacutesperos ruiacutedos humanos extensotildees abertas para cavalgar caccedilar praticar o arco caminhar pelo campo ndash tais satildeo as qualidades que a aristocracia sempre apreciou em toda partehellip(MUMFORD 1998526)
Howard propunha um novo modelo de desenvolvimento urbano que empregasse
facilidades teacutecnicas para acabar com as diferenccedilas cada vez maiores entre o campo e a
cidade Apesar de as cidades-jardins defenderem a ideacuteia de preservaccedilatildeo da natureza ainda
a encaravam como bem de usufruto do ser humano De acordo com ANDRADE (2003)
alguns princiacutepios de desenvolvimento urbano sustentaacutevel podem ser identificados no modelo
de cidade-jardim tais como tamanho controlado com acessibilidade aos espaccedilos verdes e
aos pedestres transporte puacuteblico adequado uso misto (de-zoneamento) reaproveitamento
de resiacuteduos soacutelidos em terras agriacutecolas e centros comerciais com economia local
A visatildeo da natureza como um bem de utilizaccedilatildeo humana permanece no modelo de
urbanizaccedilatildeo do Modernismo Embora tivesse um discurso social e uma preocupaccedilatildeo com a
vida saudaacutevel natildeo incluiacutea em suas ideacuteias o esgotamento de recursos Reflete os princiacutepios
da Carta de Atenas13 que desenvolveu a ideacuteia da cidade como ldquomaacutequinardquo em uma utopia
funcionalista da eacutepoca O construiacutedo em meio ao aberto e a habitaccedilatildeo dentro do espaccedilo
verde viraram a marca registrada e o ideal da cidade moderna Caracterizava-se pela
monofuncionalidade dos bairros e pela desarticulaccedilatildeo e distacircncia entre o espaccedilo puacuteblico e o
12 As cidades-jardins de Ebenezer Howard foram uma tentativa de resolver os problemas de insalubridade pobreza e poluiccedilatildeo nas cidades por meio de desenho de novas cidades que tivessem uma estreita relaccedilatildeo com o campo Howard concebia sua cidade-jardim de forma a propiciar aos homens mais liberdade em uma vida comunitaacuteria renovada (ANDRADE 2003 aquitexto Portal Vitruvius) 13 A Carta de Atenas consiste em um conjunto de artigos do CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) de 1933 cujo tema foi a Cidade Funcional Baseia-se na localizaccedilatildeo das atividades segundo a funccedilatildeo moradia lazer trabalho transporte (FRAMPTON 2000)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
67
privado Em funccedilatildeo disso o espaccedilo puacuteblico da cidade moderna era pobre em relaccedilotildees de
encontro ritual e movimento
Jane Jacobs em seu livro ldquoMorte e Vida nas Grandes Cidadesrdquo faz um relato
ofensivo aos fundamentos do planejamento urbano moderno A autora defende o estudo das
relaccedilotildees sociais antroacutepicas como forma de planejamento para cidades saudaacuteveis E enfatiza
a necessidade de uma diversidade de usos mais complexa e densa e que propicie entre
eles uma sustentaccedilatildeo muacutetua e constante tanto econocircmica quanto social
A problemaacutetica ambiental e social urbana colocou em questionamento o paradigma
urbanista moderno Algumas contribuiccedilotildees importantes quanto ao tema da sustentabilidade
urbana surgiram na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro a partir da qual explicita-se a
tentativa das cidades de se organizarem na busca por uma alternativa viaacutevel de
desenvolvimento A Agenda 2114 desponta como um modelo participativo de mudanccedila de
atitude em relaccedilatildeo ao meio ambiente a partir da necessidade de transformar compromissos
abstratos em accedilotildees de niacutevel nacional e local
ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo eacute um dos documentos da Agenda 21 Brasileira Seu objetivo
eacute oferecer propostas para introduzir a dimensatildeo ambiental nas poliacuteticas urbanas vigentes ou
que venham a serem adotadas Dentre as premissas que o nortearam merece destaque a
denominada crescer sem destruir por traduzir que o desenvolvimento sustentaacutevel das
cidades implica ao mesmo tempo no crescimento dos fatores positivos da sustentabilidade
urbana e na diminuiccedilatildeo dos impactos ambientais sociais e econocircmicos indesejaacuteveis no
espaccedilo urbano
A Conferecircncia Habitat II ou Cuacutepula das Cidades realizada em Istambul em 1996
(20 anos apoacutes a Habitat I em Vancouver Canadaacute) teve como foco principal atualizar os
temas e paradigmas que fundamentam a poliacutetica urbana e habitacional com o objetivo
de reorientar a linha de accedilatildeo dos oacutergatildeos e agecircncias de cooperaccedilatildeo internacional para
estes temas incluindo a do proacuteprio Centro das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos
Humanos ndash Habitat
14 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo global adotado por 182 governos Eacute o primeiro documento a alcanccedilar consenso internacional e que fornece um plano para assegurar o futuro sustentaacutevel do planeta lanccedilando questotildees sobre o desenvolvimento e o meio ambiente (OLIVEIRA 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
68
De acordo com ROLNIK (1996) a conferecircncia em Istambul abordou o processo
de urbanizaccedilatildeo nos paiacuteses em desenvolvimento e apresentou um quadro negativo de
tendecircncias com destaque para a insustentabilidade da qualidade de vida nas cidades
Tal fato deve-se tanto pela destruiccedilatildeo de recursos naturais e de seu patrimocircnio cultural
quanto pela gestatildeo e operaccedilatildeo natildeo planejadas dos seus serviccedilos
Apoacutes a Conferecircncia do Rio de Janeiro e da Habitat II a cidade passou a ser vista natildeo
mais como um problema a ser evitado mas como uma realidade que pode ser transformada
para melhor Esta nova forma de pensamento deve-se fundamentalmente ao fracasso das
poliacuteticas de fixaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural e agrave constataccedilatildeo de estatiacutesticas internacionais e
nacionais que comprovam que a cidade constitui a forma que os seres humanos
escolheram para viver em sociedade e prover sua necessidades Segundo a Agenda 21
Brasileira a proporccedilatildeo de pessoas que moravam em cidades no Brasil era de 76 em
1996 Atualmente mais de 80 da populaccedilatildeo brasileira mora em cidades sendo que as
projeccedilotildees apontam para uma taxa de mais de 88 em 2020
No Brasil surgiram instrumentos com a intenccedilatildeo de direcionar as novas formas de se
projetar a cidade entre legislaccedilotildees urbanas e ambientais Um desses instrumentos consiste
na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) jaacute vista neste capiacutetulo e
tambeacutem na proacutepria Agenda 21 Brasileira que seraacute analisada adiante O Estatuto da
Cidade15 constitui outro importante instrumento de poliacutetica urbana e reserva tambeacutem
algumas orientaccedilotildees relevantes no que tange respeito ao tema do meio ambiente urbano
das quais destacam-se
Garantia do direito a cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave
moradia ao saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos
serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees
Planejamento do desenvolvimento das cidades da distribuiccedilatildeo espacial da
populaccedilatildeo e das atividades econocircmicas do Municiacutepio e do territoacuterio sob sua aacuterea
de influecircncia de modo a evitar e corrigir as distorccedilotildees do crescimento urbano e
seus efeitos negativos sobre o meio ambiente
15 O Estatuto da Cidade (Lei ndeg 102572001) eacute a lei federal que daacute as diretrizes e regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que falam sobre a Poliacutetica Urbana que deveraacute ser praticada pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios (disponiacutevel em httpwwwestatutodacidadeorgbr acesso em 15062005)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
69
Audiecircncia do Poder Puacuteblico municipal e da populaccedilatildeo interessada nos processos de
implantaccedilatildeo de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos
sobre o meio ambiente natural ou construiacutedo o conforto ou a seguranccedila da populaccedilatildeo
O estatuto ainda coloca agrave disposiccedilatildeo dos municiacutepios o Estudo de Impacto de
Vizinhanccedila (EIV) que deveraacute ser executado de forma a contemplar os efeitos positivos e
negativos dos empreendimentos ou atividades quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo
residente na aacuterea e suas proximidades
Para Florianoacutepolis existe atualmente uma proposta conceitual de um plano piloto
para a primeira Reserva da Biosfera em Ambiente Urbano (Figura 5) buscando integrar o
modelo baacutesico das Reservas da Biosfera aos conceitos de ecologia urbana O objetivo eacute a
integraccedilatildeo entre a conservaccedilatildeo da natureza e de seus processos com a manutenccedilatildeo do
patrimocircnio cultural e dos processos de urbanidade
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis Fonte Proposta Projeto Piloto RBU Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
70
A proposta da Reserva da Biosfera Urbana eacute composta de cinco zonas da
predominantemente natural agrave predominantemente urbana conforme mostra a Figura 5
Zonas Nuacutecleo Natural (Unidades de Conservaccedilatildeo Aacutereas de Preservaccedilatildeo
Permanente e aacutereas tombadas) que constitua uma manifestaccedilatildeo iacutentegra e
representativa de um ecossistema
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Natural entorno imediato ao nuacutecleo com
padrotildees de uso onde a funcionalidade ecoloacutegica e geograacutefica da aacuterea eacute mantida
Zonas de Transiccedilatildeo zona com padrotildees de uso que salvaguardem a integridade e
a funcionalidade das zonas anteriores proporcionando uma aacuterea de
descompressatildeo urbana compatiacutevel com a vizinhanccedila natural
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Urbano Cultural entorno imediato ao
nuacutecleo urbano com padrotildees de uso que integrem eficazmente as funccedilotildees de
urbanidade eou conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural com uma paisagem natural
sustentaacutevel
Zonas Nuacutecleo de Urbanidade eou Patrimocircnio Cultural que constitua um
testemunho autecircntico de um bem cultural ou de uma aacuterea de urbanidade
sustentaacutevel
A proposta estaacute em processo de aprovaccedilatildeo na UNESCO e tem como um dos
idealizadores o arquiteto argentino Ruben Pesci atual responsaacutevel tambeacutem pelo projeto do
empreendimento Sapiens Parque Apesar de ser bastante inovador o projeto apresenta
controveacutersias tendo como uma das criacuteticas o fato de abranger somente a Ilha de Santa
Catarina ignorando a parte continental com a qual estabelece relaccedilotildees
Os estudos de sustentabilidade urbana natildeo apresentam uma linha uacutenica de
pensamento fato que caracteriza o tema como uma aacuterea de investigaccedilatildeo nova dinacircmica e
ainda natildeo consolidada em busca de uma identidade Poreacutem na visatildeo de STEINBERGER
(2001) os problemas urbanos de outrora estatildeo sendo vistos como os problemas ambientais
de agora anunciando a onda do modismo Antes que a questatildeo ambiental aparecesse com
a forccedila e a centralidade que tem hoje essas dificuldades jaacute estavam nas agendas dos
planejadores urbanos e autoridades municipais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
71
A sustentabilidade urbana concretiza-se como base para surgimento de um novo
paradigma onde o meio ambiente passa a ser o tema central em torno do qual todos os
discursos e projetos sociais devem ser reformulados para serem legiacutetimos A questatildeo social
urbana transformou-se em questatildeo ecoloacutegica ou ambiental ocorrendo uma substituiccedilatildeo de
paradigmas Esse enfoque provoca uma visatildeo negativa no planejamento uma vez que
admite ser possiacutevel a substituiccedilatildeo do social pelo ambiental quando o ideal seria uma
integraccedilatildeo entre as duas dimensotildees Falar da problemaacutetica soacutecio-ambiental urbana soaria
como uma ldquoroupagem da moda para nossas velhas questotildees sociais (e urbanas)rdquo
(STEINBERGER 2001) No entanto definir e tratar conjuntamente os dilemas sociais e
ambientais constitui uma necessidade
231 DIRETRIZES PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA
O mais completo documento nacional que coloca estrateacutegias a serem implementadas
no processo de gestatildeo urbana a fim de atingir a sustentabilidade das cidades consiste na
Agenda 21 Brasileira Segundo o documento ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo da Agenda 21 a
problemaacutetica social e a problemaacutetica ambiental urbanas satildeo indissociaacuteveis A
sustentabilidade das cidades deve ser situada dentro do conjunto e das opccedilotildees de
desenvolvimento nacional A viabilidade da sustentabilidade urbana depende da capacidade
de integraccedilatildeo das suas estrateacutegias entre os planos projetos e accedilotildees governamentais de
desenvolvimento urbano e entende-se que as poliacuteticas federais tecircm um papel instigador
fundamental na promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel como um todo
A sustentabilidade das cidades depende ainda do cumprimento da chamada Agenda
Marrom que se preocupa sobretudo com a melhoria da qualidade sanitaacuterio-ambiental das
populaccedilotildees urbanas As estrateacutegias prioritaacuterias para atingir a sustentabilidade urbana e que
devem remeter-se aos objetivos macro do desenvolvimento sustentaacutevel em qualquer das
escalas consideradas (global nacional ou local) satildeo
Reduccedilatildeo da pressatildeo sobre os recursos disponiacuteveis atraveacutes da busca de equiliacutebrio
dinacircmico entre uma determinada populaccedilatildeo e sua base ecoloacutegico-territorial
Aumento da responsabilidade ecoloacutegica atraveacutes de relaccedilotildees de interdependecircncia
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
72
entre os fenocircmenos e pelo princiacutepio da co-responsabilidade de paiacuteses grupos e
comunidades na gestatildeo dos recursos e dos ecossistemas compartilhados como o
ar oceanos florestas e bacias hidrograacuteficas
Busca da eficiecircncia energeacutetica com reduccedilatildeo significativa nos niacuteveis de consumo
atual e busca de fontes energeacuteticas renovaacuteveis
Desenvolvimento e utilizaccedilatildeo de tecnologias ambientalmente adequadas
alterando progressiva e significativamente os padrotildees atuais do setor produtivo
Alteraccedilatildeo dos padrotildees de consumo e diminuiccedilatildeo significativa na produccedilatildeo de
resiacuteduos e no uso de bens ou materiais natildeo-reciclaacuteveis
Recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e reposiccedilatildeo do estoque dos recursos
estrateacutegicos (aacutegua solo cobertura vegetal)
Manutenccedilatildeo da biodiversidade existente
Eacute necessaacuterio ainda estabelecer a descentralizaccedilatildeo das instacircncias decisoacuterias e de
serviccedilos para o fortalecimento do local e incentivo da gestatildeo comunitaacuteria descarregando o
setor governamental das responsabilidades de gestatildeo urbana que a comunidade deseja
assumir no que se refere ao desenvolvimento e agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente No
sentido de reorganizar o sistema de gestatildeo a Agenda 21 ainda determina os seguintes
marcos de gestatildeo urbana
Incentivo ao surgimento de cidades menores ou de assentamentos menores
dentro das grandes cidades preferecircncia pelos pequenos projetos de menor custo
e de menor impacto ambiental foco na accedilatildeo local
Incorporaccedilatildeo da questatildeo ambiental nas poliacuteticas setoriais urbanas (habitaccedilatildeo
abastecimento saneamento ordenaccedilatildeo do espaccedilo) atraveacutes da observacircncia dos
criteacuterios ambientais que visam preservar recursos estrateacutegicos (aacutegua solo
cobertura vegetal) e proteger a sauacutede humana
Integraccedilatildeo das accedilotildees de gestatildeo visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliaccedilatildeo dos
impactos positivos
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
73
Necessidade do planejamento estrateacutegico colocando restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio
Descentralizaccedilatildeo das accedilotildees administrativas e dos recursos com vistas agraves
prioridades locais e combate agrave homogeneizaccedilatildeo dos padrotildees de gestatildeo
Incentivo agrave inovaccedilatildeo e ao surgimento de soluccedilotildees criativas
Inclusatildeo dos custos ambientais e sociais no orccedilamento e contabilidade dos
projetos de infra-estrutura
Induccedilatildeo de novos haacutebitos de moradia transporte e consumo nas cidades
(incentivo ao uso da bicicleta e de transportes natildeo-poluentes incentivo agraves hortas
comunitaacuterias jardins e arborizaccedilatildeo com aacutervores frutiacuteferas edificaccedilotildees para uso
comercial ou de moradia que evitem o uso intensivo de energia utilizando
materiais reciclados)
Fortalecimento da sociedade civil e dos canais de participaccedilatildeo incentivo e suporte
agrave accedilatildeo comunitaacuteria
A Agenda 21 Brasileira levanta as principais questotildees intra-urbanas que afetam a
sustentabilidade do desenvolvimento das nossas cidades Satildeo elas dificuldades no acesso
agrave terra e deacuteficit habitacional com consequumlente aumento do espaccedilo construiacutedo irregular e
informal deficiecircncias nas questotildees sobre abastecimento e esgotos resiacuteduos soacutelidos
drenagem sauacutede e saneamento ambiental elevada taxa de motorizaccedilatildeo com consequumlente
aumento da poluiccedilatildeo do ar desemprego e precarizaccedilatildeo do emprego
O documento ainda determina quatro estrateacutegias prioritaacuterias a serem implementadas
nas cidades brasileiras que estatildeo associadas a um conjunto de diretrizes propostas e
accedilotildees
Aperfeiccediloar a regulaccedilatildeo do solo e ocupaccedilatildeo do solo urbano e promover o
ordenamento do territoacuterio contribuindo para a melhoria das condiccedilotildees de vida da
populaccedilatildeo e promoccedilatildeo da equumlidade eficiecircncia e qualidade ambiental
Promover o desenvolvimento institucional e fortalecimento da capacidade de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
74
planejamento e gestatildeo democraacutetica da cidade atraveacutes da efetiva participaccedilatildeo da
sociedade e incorporar no processo a dimensatildeo ambiental
Promover mudanccedilas nos padrotildees de produccedilatildeo e consumo da cidade atraveacutes da
reduccedilatildeo de custos e desperdiacutecios e fomentar o desenvolvimento de tecnologias
urbanas sustentaacuteveis
Desenvolver e estimular a aplicaccedilatildeo de instrumentos econocircmicos no
gerenciamento de recursos naturais com vistas agrave sustentabilidade urbana
A Agenda 21 Brasileira vem sendo aplicada nas cidades a partir da elaboraccedilatildeo de
diretrizes particulares locais em niacutevel municipal atraveacutes das chamadas agendas locais Em
Florianoacutepolis a Agenda 21 local dividiu o municiacutepio em dez regiotildees Optou-se pela
ldquoregionalizaccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio com vistas a obter um estudo mais homogecircneo
para alcanccedilar uma maior participaccedilatildeo da comunidade nas anaacutelises de seus problemas e na
obtenccedilatildeo de soluccedilotildeesrdquo (AGENDA 21 LOCAL 200011)
O diagnoacutestico da regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o Sapiens Parque
apontou principalmente o problema de ausecircncia de infra-estrutura sistema viaacuterio energia
eleacutetrica abastecimento de aacutegua e rede coletora de esgotos Algumas dessas deficiecircncias
aliadas agrave ocupaccedilatildeo irregular em aacuterea de preservaccedilatildeo acarretam consequumlecircncias ambientais
graves como a descaracterizaccedilatildeo da paisagem por ocupaccedilatildeo das encostas e supressatildeo
das matas poluiccedilatildeo das aacuteguas superficiais e subterracircneas erosatildeo e abrasatildeo marinhas e
assoreamento de rios e coacuterregos
O diagnoacutestico aponta ainda deficiecircncias no sistema de limpeza urbana transporte
puacuteblico educaccedilatildeo sauacutede e seguranccedila assim como carecircncias de espaccedilos de lazer Dentre
as diretrizes apontadas pela Agenda 21 Local para a promoccedilatildeo do desenvolvimento urbano
sustentaacutevel na regiatildeo norte da Ilha destacamos as seguintes
1 Recuperaccedilatildeo ambiental das aacutereas degradadas com o reflorestamento de morros
de matas ciliares da orla litoracircnea normatizaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das atividades de pesca nas
aacuteguas da baiacutea Norte implantaccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo ambiental visando o
conhecimento a valorizaccedilatildeo e a importacircncia de preservaccedilatildeo de ecossistemas fraacutegeis
2 Projetos que visem a criaccedilatildeo de empregos e geraccedilatildeo de renda tais como criaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
75
de cooperativas de separaccedilatildeo do lixo reciclaacutevel a organizaccedilatildeo das atividades de passeio e
pesca com turistas implantaccedilatildeo de viveiros comunitaacuterios para a produccedilatildeo de mudas de
vegetaccedilatildeo nativa da Mata Atlacircntica a implantaccedilatildeo de sistema de fiscalizaccedilatildeo ambiental
comunitaacuteria a criaccedilatildeo de nuacutecleos da terceira idade para propiciar novas oportunidades
produtivas e de lazer
3 Recuperaccedilatildeo e preservaccedilatildeo de construccedilotildees antigas como as igrejas tradicionais
da regiatildeo norte devem ser objetivos de toda a comunidade dos envolvidos com a cultura e
tambeacutem do setor turiacutestico
4 Implantaccedilatildeo de rede coletora e de sistema de tratamento de esgoto nas
comunidades da regiatildeo norte e a conclusatildeo da rede coletora de esgotos em Ingleses deve
ser um esforccedilo do poder puacuteblico com a participaccedilatildeo da comunidade do comeacutercio e dos
serviccedilos
5 Instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer como praccedilas e de esportes como quadras
poliesportivas em todas as comunidades
De forma geral podemos concluir que a Agenda 21 Local recomenda como
diretrizes de desenvolvimento sustentaacutevel para o Norte da Ilha a recuperaccedilatildeo e
preservaccedilatildeo ambiental e arquitetocircnica a implantaccedilatildeo da infra-estrutura urbana
necessaacuteria a criaccedilatildeo de emprego e renda atraveacutes de cooperativas comunitaacuterias e a
instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer e esportes
24 TURISMO DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
Florianoacutepolis atualmente possui o turismo como uma das principais atividades
econocircmicas e impulsionadoras do seu desenvolvimento urbano Reconhecida pelas suas
belezas e paisagens naturais a cidade atrai visitantes de todo o Brasil e de outros paiacuteses
dando impulso agrave economia local A regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o projeto
Sapiens Parque deve sua urbanizaccedilatildeo ao turismo graccedilas agraves suas praias de aacuteguas limpas e
de temperatura amena Entretanto a atividade turiacutestica mal planejada tem seus reflexos na
ausecircncia da infra-estrutura necessaacuteria e na consequumlente degradaccedilatildeo ambiental Sendo o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
76
turismo um importante pilar do modelo de planejamento urbano de que trata este trabalho e
sendo o turismo sustentaacutevel um dos conceitos do empreendimento Sapiens Parque
abordaremos questotildees relacionadas agrave atividade turiacutestica no texto seguinte
O advento da globalizaccedilatildeo que tem seus marcos iniciais no seacuteculo XX e da atual
terceira revoluccedilatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica acarretou o incremento da atividade turiacutestica
diretamente relacionada a esses dois fenocircmenos Segundo AGUIAR e DIAS (2002) o
desenvolvimento do turismo sempre acompanhou o avanccedilo das novas tecnologias sofrendo
grande impulso na primeira revoluccedilatildeo industrial na Inglaterra do seacuteculo XVIII e na segunda
revoluccedilatildeo industrial nos Estados Unidos e na Europa em fins do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX
O turismo ao mesmo tempo em que sofre influecircncia da globalizaccedilatildeo contribui para
sua expansatildeo e solidificaccedilatildeo aumenta o intercacircmbio de ideacuteias e de pessoas e dessa forma
colabora para o desenvolvimento de uma consciecircncia global Para PAIVA (1998) o turismo
deve converter-se em um meio de integraccedilatildeo renovaccedilatildeo conviacutevio e ateacute mesmo em um
mecanismo de transformaccedilatildeo da sociedade Consiste em uma atividade econocircmica que
envolve a qualidade de vida aumento do lazer do descanso do desfruto e do oacutecio
O turismo movimenta muitos recursos e constitui segundo AGUIAR e DIAS (2002) a
principal atividade econocircmica do seacuteculo XXI a maior ldquoinduacutestriardquo existente superando os
setores tradicionais e tornando-se um importante gerador de postos de trabalho O turismo
portanto eacute um fenocircmeno universal que conecta todas as partes do sistema global e
aumenta a compreensatildeo dos indiviacuteduos de pertencerem a um todo Ao mesmo tempo o
turismo incrementa a consciecircncia das pessoas de pertencerem a um local determinado pois
com a presenccedila do outro ao se explicitarem as diferenccedilas se fortalece a identidade cultural
Aleacutem de promover o respeito agraves diferenccedilas o turismo apresenta papel positivo como
promotor da compreensatildeo e da paz entre os diferentes povos
Apesar de todos os pontos positivos explicitados o desenvolvimento da atividade
turiacutestica apresenta seus impactos negativos A caracteriacutestica consumista do turista que
busca beneficiar-se dos serviccedilos da melhor maneira possiacutevel vem acarretando pressatildeo
sobre o meio ambiente Essa forma individualista de consumo trouxe para a atividade a
necessidade de utilizaccedilatildeo dos melhores recursos naturais por vezes natildeo renovaacuteveis
AGUIAR e DIAS (2002) afirmam que nas aacutereas costeiras do Brasil predominou o
turismo relacionado com o ambiente natural e os efeitos negativos da atividade foram
acentuados principalmente vinculados agrave falta de planejamento Haacute poucas exceccedilotildees de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
77
lugares onde o planejamento urbano conseguiu evitar a construccedilatildeo de verdadeiras muralhas
de preacutedio agrave beira-mar A atividade turiacutestica apresenta grande capacidade de alterar o meio
ambiente em um tempo relativamente curto e as prefeituras natildeo conseguem dimensionar
seus impactos As paisagens naturais que serviram para obtenccedilatildeo dos recursos originais
acabam por degradar-se em um curto prazo impedindo sua recuperaccedilatildeo Os investimentos
de infra-estrutura necessaacuterios para o desenvolvimento da atividade como alojamento e
transportes que oferecem um retorno em curto prazo satildeo priorizados em prejuiacutezo dos
investimentos que poderiam manter ou recuperar a paisagem natural
No Brasil o problema se agrava devido agrave ausecircncia ou insuficiecircncia de planejamento
na implantaccedilatildeo dos projetos turiacutesticos De acordo com AGUIAR e DIAS (2002) os
problemas causados direta ou indiretamente pelo turismo de modo geral passaram por
algum crivo da administraccedilatildeo puacuteblica que diante da possibilidade de geraccedilatildeo de recursos
em curto prazo ignora os prejuiacutezos que ocorreratildeo a meacutedio e longo prazo Os Relatoacuterios de
Impacto Ambiental (RIMA) dos grandes empreendimentos turiacutesticos ou satildeo ignorados ou
feitos sem criteacuterios teacutecnicos adequados tornando-se instrumentos de legitimaccedilatildeo que
justificam a depredaccedilatildeo de algum recurso natural
A ausecircncia de planejamento adequado gera a degradaccedilatildeo do meio ambiente natural
social e cultural fato que implica em uma sucessatildeo de problemas que comprometeratildeo a
atividade turiacutestica no futuro Apesar dos aspectos negativos experiecircncias nacionais e
internacionais demonstram que o turismo quando integrado a um processo de
planejamento pode impactar de forma positiva jaacute que a atividade atrai a atenccedilatildeo dos poderes
puacuteblicos para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
O Poder Puacuteblico apresenta papel fundamental no planejamento turiacutestico que
funciona como regulador ou provedor de serviccedilos puacuteblicos indispensaacuteveis agrave sua ampliaccedilatildeo
como os sistemas viaacuterios de comunicaccedilatildeo e de proteccedilatildeo ao meio ambiente O setor puacuteblico
tem o papel de fiscalizador das ofertas turiacutesticas e de regulador do mercado e do uso do
solo aleacutem de promover a educaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
Apesar de a atividade turiacutestica favorecer a valorizaccedilatildeo do meio natural por parte da
populaccedilatildeo local e provaacutevel melhoria na qualidade dos serviccedilos de preservaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental os impactos negativos possiacuteveis causados pela atividade ainda
aparecem em maior nuacutemero O turismo ocasiona impactos ao ar (com o aumento de infra-
estrutura de transporte e consequumlente aumento da poluiccedilatildeo atmosfeacuterica) nas aacuteguas
(atraveacutes da intensificaccedilatildeo do consumo nas aacutereas concentradas e pela contaminaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
78
derivada dos resiacuteduos soacutelidos) na flora (o turismo descontrolado altera de muitas maneiras
a cobertura vegetal ndash abate da vegetaccedilatildeo utilizaccedilatildeo do fogo accedilatildeo de colecionadores de
plantas acumulaccedilatildeo de lixo praacutetica de campismo predatoacuterio) na fauna (os padrotildees de
comportamento dos animais satildeo modificados pela presenccedila dos turistas) e na paisagem (o
acreacutescimo acelerado da infra-estrutura necessaacuteria para a atividade provoca alteraccedilotildees no
ambiente natural e urbano modificaccedilotildees no solo aumento do ruiacutedo e da luminosidade)
A exploraccedilatildeo desordenada dos recursos naturais para fins turiacutesticos embora tenha
gerado vantagens econocircmicas para vaacuterias regiotildees provoca impactos no meio ambiente que
podem acabar com os mesmos recursos naturais que motivaram a demanda turiacutestica O
fato de apresentar estreita relaccedilatildeo com o meio ambiente diferencia o turismo das demais
atividades e impotildee a necessidade de se instituiacuterem novas formas de exploraccedilatildeo dos
recursos para tal fim que levem em consideraccedilatildeo sua capacidade de suporte e suas condiccedilotildees
de sustentabilidade para que as futuras geraccedilotildees possam usufruir o mesmo benefiacutecio
A tomada de consciecircncia da depredaccedilatildeo causada pela atividade turiacutestica deu origem
a dois novos conceitos relacionados ao meio ambiente o ecoturismo e o turismo
sustentaacutevel Os conceitos significam o desenvolvimento da atividade turiacutestica de forma
sustentaacutevel atraveacutes da conservaccedilatildeo do patrimocircnio natural e cultural buscando a formaccedilatildeo
de uma consciecircncia ambientalista e promovendo o bem estar das populaccedilotildees envolvidas
Consiste em toda forma de turismo baseado na natureza em que a motivaccedilatildeo principal dos
turistas seja observar e apreciar essa natureza ou as culturas tradicionais dominantes das
zonas rurais
As principais caracteriacutesticas desse segmento satildeo incluir elementos educacionais e
de interpretaccedilatildeo procurar reduzir todas as possibilidades de impactos negativos sobre o
entorno natural e sociocultural contribuir para a proteccedilatildeo das zonas naturais ndash gerando
benefiacutecios econocircmicos para as comunidades organizaccedilotildees e administraccedilotildees anfitriatildes que
administram zonas naturais com objetivos conservacionistas oferecendo oportunidades
alternativas de emprego e renda para as comunidades locais e incrementando a
conscientizaccedilatildeo sobre conservaccedilatildeo dos ativos naturais e culturais tanto nos habitantes
quanto nos turistas
O ecoturismo se constitui em um segmento do setor turiacutestico Jaacute o turismo
sustentaacutevel estaacute fundamentado sobre criteacuterios de sustentabilidade deve ser suportaacutevel
ecologicamente em longo prazo viaacutevel economicamente e justo desde uma perspectiva
eacutetica e social para as atividades locais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
79
25 IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS
A implantaccedilatildeo de grandes projetos urbanos como o Sapiens Parque devem
obrigatoriamente apresentar segundo as leis brasileiras um estudo preacutevio dos impactos
soacutecio-econocircmicos e ambientais que tais empreendimentos acarretaratildeo no futuro Esse
estudo foi realizado pelo empreendimento Sapiens Parque e seraacute visto no proacuteximo capiacutetulo
deste trabalho Como base para a anaacutelise introduziremos na sequumlecircncia os principais
conceitos que envolvem a questatildeo dos impactos ambientais urbanos
Os impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais associados ao processo de urbanizaccedilatildeo
desencadearam preocupaccedilotildees com o tema a partir da deacutecada de 1960 Em uma sociedade
altamente industrializada riscos ambientais e tecnoloacutegicos constituem elementos intriacutensecos
agrave mesma A atitude com que o ser humano vem se relacionando com a natureza tornou-se
a grande ameaccedila para a sua proacutepria sobrevivecircncia
A expansatildeo e maneira precaacuteria como foram implantados os novos assentamentos
das cidades brasileiras criaram um conjunto de grave degradaccedilatildeo As praacuteticas
desequilibradas da ocupaccedilatildeo humana estatildeo expressas nos desmatamentos ocupaccedilatildeo de
fundos de vales encostas mangues No presente estaacutegio da situaccedilatildeo econocircmica e do
planejamento urbano torna-se inevitaacutevel a expansatildeo fiacutesica das cidades mas cabe agraves
poliacuteticas urbanas procurar formas de prevenir os novos impactos ambientais A Resoluccedilatildeo
00186 do Conselho Nacional do Meio Ambiente16 define impacto ambiental como
qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente afetam I- a sauacutede a seguranccedila e o bem-estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg)
16 O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) eacute o oacutergatildeo consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) Foram criados com a finalidade de assessorar estudar e propor ao governo federal diretrizes de poliacuteticas governamentais para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos meios de exploraccedilatildeo dos recursos naturais bem como deliberar sobre normas e padrotildees compatiacuteveis com a preservaccedilatildeo do meio ambiente O SISNAMA foi promulgado por lei em 31 de agosto de 1981 e eacute constituiacutedo por reparticcedilotildees e entidades da federaccedilatildeo dos estados e do Distrito Federal e tambeacutem das fundaccedilotildees publicas para o meio ambiente (httpwwwsbaucombr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
80
Impacto ambiental eacute portanto o processo de mudanccedilas sociais e ecoloacutegicas em
movimento causado por perturbaccedilotildees (uma nova ocupaccedilatildeo ou construccedilatildeo de um objeto
novo) no ambiente
A previsatildeo de impactos compreende uma soluccedilatildeo para escapar dos desatinos do
sistema capitalista avassalador e sua aplicaccedilatildeo exige inteligecircncia com relaccedilatildeo ao futuro e
evita os radicalismos Eis o motivo pelo qual as equipes teacutecnicas responsaacuteveis por esse tipo
de estudo satildeo imbuiacutedas de ampla responsabilidade cultural e moral e que pode ter por
consequumlecircncia o sucesso ou a descrenccedila total perante o resto da comunidade cientiacutefica Os
especialistas em impactos atraveacutes da legislaccedilatildeo existente possuem forccedila para exigir
ponderaccedilatildeo e melhoria na organizaccedilatildeo dos espaccedilos destinados a receber projetos
desenvolvimentistas Poreacutem na visatildeo de ABrsquoSAgraveBER (1994) ainda que bem preparados eles
natildeo apresentam poder para sozinhos transformar a estrutura da sociedade
MILAREgrave (1994) salienta que todo e qualquer projeto desenvolvimentista interfere no
meio ambiente Sendo certo que o crescimento eacute um imperativo impotildee-se discutir os
instrumentos e mecanismos que os conciliem diminuindo ao maacuteximo os impactos
ecoloacutegicos negativos e consequumlentemente os custos econocircmico-sociais
Segundo o autor dentre os instrumentos de conjugaccedilatildeo entre desenvolvimento e
proteccedilatildeo ambiental utilizados atualmente o Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental (EIA) e o
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) merecem destaque O EIA eacute de maior abrangecircncia
e compreende o levantamento da literatura cientiacutefica e legal pertinente trabalhos de campo
anaacutelises de laboratoacuterio e a proacutepria redaccedilatildeo do relatoacuterio O RIMA destina-se especificamente
ao esclarecimento das vantagens e consequumlecircncias ambientais do empreendimento refletiraacute
as conclusotildees daquele Eacute a parte mais compreensiacutevel do processo esclarecedor para o
administrador e o puacuteblico
O estudo de impacto ambiental deve ser elaborado antes da instalaccedilatildeo da obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradaccedilatildeo do meio ambiente O
escopo principal do estudo de impacto ambiental eacute a prevenccedilatildeo ambiental e evitar que os
interesses imediatos dos proponentes de um projeto se revelem posteriormente prejudiciais
ao meio ambiente Preconiza a obrigaccedilatildeo de se levar em consideraccedilatildeo o meio ambiente na
tomada de decisotildees puacuteblica ou privada Ainda tem por objetivos a transparecircncia
administrativa por parte do poder puacuteblico e dos proponentes quanto aos efeitos ambientais
de determinado projeto a consulta aos interessados atraveacutes da participaccedilatildeo da
comunidade envolvida no processo e a motivaccedilatildeo da decisatildeo ambiental que obriga o oacutergatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
81
puacuteblico a fundamentar uma decisatildeo que natildeo seja exatamente a melhor para a preservaccedilatildeo
ambiental
251 IMPACTOS DE PROJETOS DESENVOLVIMENTISTAS
Prever impactos em relaccedilatildeo a um projeto de qualquer tipo destinado a uma
determinada regiatildeo17 e a um siacutetio ou gleba em particular trata-se de uma operaccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica multidisciplinar de grande importacircncia Trata-se de uma maneira de revelar o niacutevel
de esclarecimento atingido pela sociedade do paiacutes em relaccedilatildeo agrave capacidade de antever
quadros futuros da organizaccedilatildeo espacial de seu territoacuterio18 Aleacutem disso indica o niacutevel de
forccedila de pressatildeo social pelos grupos mais esclarecidos para fazer bom uso dos
instrumentos legais de cultivo da qualidade ambiental e do ordenamento territorial Prever
impactos consiste inclusive em um excelente meacutetodo para avaliar o potencial da legislaccedilatildeo
existente e sua aplicabilidade em casos reais
Segundo ABrsquoSAacuteBER (1994) para que se possa realizar um estudo dos impactos
causados por determinado projeto eacute necessaacuterio entender o espaccedilo total no qual estaacute
inserido em relaccedilatildeo a um siacutetio de implantaccedilatildeo e a uma regiatildeo de localizaccedilatildeo Torna-se
imprescindiacutevel o conhecimento da estrutura da composiccedilatildeo e da dinacircmica dos
acontecimentos que caracterizam o espaccedilo total da regiatildeo proposta O diagnoacutestico do
proacuteprio local de implantaccedilatildeo do projeto eacute bastante vaacutelida mas ainda mais importante
consiste a anaacutelise do seu entorno em curto meacutedio e longo prazo Portanto o conceito de
espaccedilo total perante qualquer projeto a ser inserido em qualquer aacuterea de um territoacuterio
torna-se de grande significado para uma correta previsatildeo de impactos
ABrsquoSAacuteBER (1994) define espaccedilo total como o arranjo e o perfil adquiridos por uma
determinada aacuterea em funccedilatildeo da organizaccedilatildeo humana que lhe foi imposta ao longo dos
tempos O espaccedilo total inclui todo o conjunto dos componentes inseridos pelo homem no
17 Utiliza-se aqui o conceito de regiatildeo como uma referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e agrave extensatildeo de um certo fenocircmeno (migraccedilotildees agropecuaacuteria tecnologias de comunicaccedilatildeo renda e condiccedilotildees de vida condiccedilotildees de habitaccedilatildeo divisatildeo do trabalho) (DIAS e SANTOS 2003) 18 O conceito de territoacuterio eacute usado como referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e extensatildeo dos fenocircmenos Eacute tambeacutem pensado como aquilo que eacute controlado por um certo tipo de poder Representa o espaccedilo definido e delimitado por relaccedilotildees de poder podendo existir e ser construiacutedo nas diferentes escalas (DIAS e SANTOS 2003)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
82
decorrer da histoacuteria na paisagem19 de uma aacuterea considerada participante de determinado
territoacuterio
De acordo com SANTOS (1982) cada vez que a sociedade passa por um processo
de mudanccedila na economia nas relaccedilotildees sociais e poliacuteticas a paisagem se modifica para se
adaptar agraves novas necessidades da sociedade Essas transformaccedilotildees no entanto satildeo
somente parciais As mudanccedilas sociais natildeo provocam obrigatoriamente ou automaticamente
modificaccedilotildees na paisagem A paisagem representa diferentes momentos no
desenvolvimento de uma sociedade eacute o resultado de uma acumulaccedilatildeo de tempos
SANTOS (1982) define o espaccedilo social metodologicamente a partir de trecircs conceitos
forma estrutura e funccedilatildeo Essas partes conseguem identificar-se completamente e satildeo
consideradas equivalentes constituindo o ldquotodordquo e jamais devem ser analisadas em
separado Nenhuma das trecircs categorias existe dissociada das demais e apenas sua
utilizaccedilatildeo combinada pode restituir-nos ao espaccedilo total
O espaccedilo total supotildee o movimento comum dialeacutetico e concreto da estrutura da
funccedilatildeo e da forma e para estudaacute-lo eacute preciso levar em consideraccedilatildeo todas as estruturas
que a compotildeem e que em conjunto ou isoladamente a reproduzem Por esse motivo para
fim de previsatildeo de impactos de projetos em determinado espaccedilo total cada caso eacute particular e
apresenta determinada abrangecircncia a considerar os sistemas ecoloacutegicos naturais e antroacutepicos
Em cada eacutepoca ou processo histoacuterico o espaccedilo total de uma regiatildeo apresenta uma
acumulaccedilatildeo de implantaccedilotildees e infra-estruturas Entretanto segundo ABrsquoSAacuteBER (1994)
para trabalhos de previsatildeo de impactos futuros seraacute sempre na circunstacircncia do presente
que as combinaccedilotildees de fatos e atividades produzidas pelo homem pela sociedade e pela
economia teratildeo maior interesse
A aacuterea do entorno de qualquer projeto atraveacutes de suas vias populaccedilatildeo qualidade do
ar qualidade das aacuteguas qualidade dos solos e demais condicionantes consistem os
principais elementos para a prevenccedilatildeo de impactos A prevenccedilatildeo passa a ser um ato de
tomada de precauccedilotildees para assegurar harmonia e compatibilizar funccedilotildees no interior do
espaccedilo total no futuro limitando as expectativas dos especuladores e gananciosos do
sistema capitalista
19 O termo paisagem eacute usado aqui como o suporte geoecoloacutegico e bioecoloacutegico modificado por uma infinidade variaacutevel de obras e figuras humanas (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
83
A tarefa de perceber os impactos em processo constitui o ponto de partida para a
previsatildeo dos possiacuteveis impactos acarretados por objetos de diferentes tipos tais como
novas induacutestrias hidreleacutetricas novas estradas e rodovias sistema viaacuterio mais denso
ferrovias e projetos intra-urbanos e interurbanos
Enfim detectar mudanccedilas na organizaccedilatildeo do espaccedilo visto em sua totalidade ajuda a compreender situaccedilotildees anaacutelogas ou prever mecanismos similares que podem ocorrer em outras aacutereas de um paiacutes ou territoacuterio Outrora o grande atributo cultural do homem residia em sua capacidade de reconstituir a trajetoacuteria da espeacutecie e reconstruir a histoacuteria das sociedades humanas Ao fim do segundo milecircnio identifica-se um atributo novo qual seja o de prever o impacto das accedilotildees dos homens e da economia sobre o futuro em diferentes dimensotildees e profundidades de tempo (ABrsquoSAgraveBER 199435)
Segundo ABrsquoSAgraveBER (1994) todo espaccedilo geograacutefico20 eacute resultado de uma
acumulaccedilatildeo mais curta ou mais longa de processos histoacutericos cumulativos decorrentes do
desempenho de diversos atores sociais Quando considerado na totalidade o espaccedilo
geograacutefico apresenta um caraacuteter de acumulaccedilatildeo de processos culturais acima de tudo
construtivos ora muito agressivos ora apenas interferentes ora dotados de uma espeacutecie de
auto-organizaccedilatildeo que envolve diferentes niacuteveis de acomodaccedilatildeo Envolve trecircs dimensotildees
baacutesicas uma piracircmide social projetada sobre o espaccedilo total uma acumulaccedilatildeo de infra-
estruturas e um sistema de relaccedilotildees humanas vinculadas ao regime social e poliacutetico vigente
Os paiacuteses em desenvolvimento das regiotildees tropicais estatildeo sujeitos agraves grandes
desigualdades provenientes desse processo em virtude dos territoacuterios de dimensotildees
continentais e de regiotildees geoeconocircmicas de roteiro histoacuterico diferenciado Qualquer engano
de avaliaccedilatildeo ou previsatildeo dos impactos pode ocasionar danos irreparaacuteveis para o futuro da
regiatildeo da sociedade e do paiacutes
Para fim de avaliaccedilatildeo de impactos de projetos desenvolvimentistas nesses paiacuteses
ABrsquoSAgraveBER (1994) afirma a necessidade de ampliar as consideraccedilotildees sobre a estrutura a
composiccedilatildeo soacutecio-econocircmica e a funcionalidade da sociedade nos diferentes tipos de
espaccedilo geograacutefico Aleacutem disso destaca como meacutetodo de anaacutelise complementar os estudos
realizados por Bernard Kaiser da Universidade de Toulouse (1966) sobre a tipologia dos
espaccedilos em tais paiacuteses Kaiser identificou por vaacuterios criteacuterios a existecircncia de regiotildees em
20 Entende-se por espaccedilos geograacuteficos de um paiacutes de dimensotildees continentais aquelas ceacutelulas espaciais dinacircmicas nas quais agrave organizaccedilatildeo herdada da natureza se sobrepocircs ou instalou uma certa organizaccedilatildeo imposta pelos homens (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
84
vias de desenvolvimento regiotildees em processo ativo de planificaccedilatildeo regional regiotildees de
especulaccedilatildeo agriacutecola bacias urbanas e por fim regiotildees auto-organizadas ou de
organizaccedilatildeo complexa O Brasil consistia um paiacutes em que se podia encontrar toda essa
tipologia de espaccedilos geograacuteficos e sociais diferenciados
A classificaccedilatildeo de Kaiser para efeito de previsatildeo de impactos apresenta-se dividida
da seguinte maneira 1) espaccedilos naturais predominantemente florestados 2) espaccedilos de
especulaccedilatildeo agraacuteria em aacutereas de razoaacutevel desenvolvimento econocircmico e social em grande
contraste com a devastaccedilatildeo das coberturas vegetais primaacuterias 3) espaccedilos sob
planejamento ativo no Nordeste do Brasil e na Amazocircnia com subsiacutedios atomizados por
intermeacutedio da Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e da
Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia (SUDAM) 4) espaccedilos dotados de
bacias urbanas agigantadas pelo desdobramento histoacuterico de redes urbanas sob comando
econocircmico e poliacutetico de grandes metroacutepoles 5) regiotildees auto-organizadoras que em face de
uma evoluccedilatildeo histoacuterica e econocircmica oportuna de aproveitamento de recursos naturais foi
possiacutevel adotar atributos e infra-estruturas modernizantes 6) espaccedilos de sutura e
pioneirismo tardio 7) espaccedilos de organizaccedilatildeo incompleta perturbados pelo ritmo e
irregularidades do clima semi-aacuterido quente 8) espaccedilos costeiros de especulaccedilatildeo para lazer
turismo de temporada e segunda residecircncia
As regiotildees costeiras e de especulaccedilatildeo para lazer e turismo uacuteltima classificaccedilatildeo
tipoloacutegica definida por Kaiser para efeito de avaliaccedilatildeo de impactos nos paiacuteses em
desenvolvimento consistem o objeto do presente trabalho Ao longo da ampla faixa litoracircnea
atlacircntica do paiacutes desenvolveu-se um tipo de espaccedilo superpartilhado e superdesejado para
atividades muacuteltiplas de lazer
Balneaacuterios de diversos padrotildees de organizaccedilatildeo e em diferentes estaacutegios de implantaccedilatildeo ocorrem lado a lado com loteamentos especulativos situados mais proacuteximos ou mais distantes da faixa das praias Cidades turiacutesticas e balneaacuterias com excesso de casas e apartamentos enquanto se vende a imagem de uma natureza deslumbrante mas que na verdade estaacute totalmente comprometida pelos proacuteprios planos de loteamento e urbanizaccedilatildeo glebas agrave espera de valorizaccedilatildeo condomiacutenios fechados que privatizam praias ilegalmente e espaccedilos de antigas colocircnias de pesca sendo invadidos ponto a ponto por residecircncias de lazer projetos de loteamento ou edificaccedilotildees agrave espera do aval dos oacutergatildeos de meio ambiente satildeo alguns dos processos selvagens de expansatildeo de uma fronteira caoacutetica de lazer na costa de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Santa Catarina Espiacuterito Santo e Rio Grande do Sul (ABrsquoSAgraveBER 199444)
Todo o espaccedilo costeiro brasileiro acabou comprometido pelos negoacutecios imobiliaacuterios e
pela seduccedilatildeo dirigida para pressionar populaccedilotildees tradicionais natildeo capacitadas a entender o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
85
significado do dinheiro na esfera do capitalismo anocircmalo A faixa litoracircnea caracterizou a
imagem de um sistema desigual de trocas onde aacutereas de grande valor satildeo compradas por
pouco e vendedores ingecircnuos acabam-se tornando os futuros favelados das grandes
cidades vizinhas O conflito entre os diversos interesses em jogo nesses casos acaba por
agravar ainda mais a situaccedilatildeo Em nenhum outro espaccedilo fiacutesico e ecoloacutegico do paiacutes eacute mais
necessaacuterio utilizar as teacutecnicas e meacutetodos de previsatildeo de impactos do que nas regiotildees
costeiras onde se alternam setores turiacutesticos grandes aglomeraccedilotildees urbanas postos e
distritos industriais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
86
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
31 GLOBALIZACcedilAtildeO E A NOVA FUNCcedilAtildeO DAS CIDADES
Com a Revoluccedilatildeo Industrial as cidades reafirmam seu papel como centro de
moradias serviccedilos e cultura e aos poucos vecircm se adaptando agraves mudanccedilas que incidem no
mundo com a globalizaccedilatildeo O conjunto de acontecimentos processos e agentes externos
de uma cidade terminam sempre por penetrar e influenciar o sistema urbano
independentemente se tais efeitos satildeo desejaacuteveis ou natildeo O advento da globalizaccedilatildeo
aumentou a velocidade com que se sucedem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas alteraccedilotildees econocircmicas e socioculturais dificultam a previsatildeo de suas
implicaccedilotildees nas cidades
Consequumlentemente tambeacutem no planejamento urbano torna-se difiacutecil conciliar essas
transformaccedilotildees com o processo construtivo de uma cidade Por este motivo eacute preciso
identificar essas mudanccedilas em curso e avaliar a importacircncia dos impactos destas no
desenvolvimento urbano GUumlELL (1997) afirma que dentre as mudanccedilas ocasionadas pela
globalizaccedilatildeo as principais dizem respeito a aspectos geopoliacuteticos econocircmicos sociais e
tecnoloacutegicos Tais mudanccedilas interferem natildeo somente as grandes cidades mas tambeacutem as
pequenas e meacutedias cidades
No campo geopoliacutetico a situaccedilatildeo atual se caracteriza por uma convivecircncia
contraditoacuteria entre as forccedilas da globalizaccedilatildeo e as da fragmentaccedilatildeo por uma necessidade de
as naccedilotildees preservarem sua diversidade e soberania frente agraves pressotildees globalizadoras
exercidas pelos agentes econocircmicos
A nova ordem econocircmica por sua vez eacute determinada pela globalizaccedilatildeo dos
mercados pelo impulso de intercacircmbios comerciais e aumento da competitividade
empresarial que pedem novas referecircncias para o funcionamento das bases econocircmicas
das cidades Atualmente torna-se necessaacuteria a melhoria do niacutevel de competitividade das
empresas locais o aumento das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas a penetraccedilatildeo nos mercados
exteriores e a capacitaccedilatildeo de matildeo-de-obra
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
87
Por outro lado a nova ordem econocircmica acarreta modificaccedilotildees nas estruturas
sociais jaacute que impotildee aos governos locais desenvolver uma poliacutetica de prevenccedilatildeo e
antecipaccedilatildeo dos problemas sociais intervindo em aacutereas que tradicionalmente seriam
reservadas aos governos estaduais e regionais A globalizaccedilatildeo da economia e introduccedilatildeo de
novas tecnologias nos processos de produccedilatildeo sem a aplicaccedilatildeo de mecanismos corretores
tendem a aumentar as desigualdades sociais a pobreza o desemprego e a inseguranccedila social
O novo contexto tecnoloacutegico caracterizado por aceleradas mudanccedilas requer que as
pessoas sejam capazes de assumir e adaptar-se a esses avanccedilos As empresas e a proacutepria
sociedade necessitam desmontar paradigmas e desenvolver novos modelos que permitam
recuperar a convivecircncia social Segundo BORJA e CASTELLS (2000) a revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica organizada em torno da tecnologia da informaccedilatildeo encontra-se no centro de
todas essas transformaccedilotildees O processo de globalizaccedilatildeo da economia e a comunicaccedilatildeo
modificaram nossas formas de produzir consumir informar e pensar a partir da nova infra-
estrutura tecnoloacutegica
El planeta es asimeacutetricamente interdependiente y esa interdependencia se articula cotidianamente em tiempo real a traveacutes de las nuevas tecnologiacuteas de informacioacuten y comunicacioacuten en un fenoacutemeno histoacutericamente nuevo que abre de hecho una nueva era de la historia de la humanidad la era de la informaciograven21 (BORJA e CASTELLS 200021)
A capacidade de acumulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo capitalista passou a organizar a
economia mundial segundo a interaccedilatildeo e relacionamento entre os espaccedilos urbanos locais
regionais e mundiais De acordo com LOPES (1998) as mudanccedilas decorrentes da
globalizaccedilatildeo expandiram esse processo e criaram uma nova realidade econocircmica social e
poliacutetica onde as cidades ganharam novas funccedilotildees em uma sociedade integrada em rede
Essa rede mundial eacute constituiacuteda a partir de centros especiacuteficos de controle da economia
mundial designados ldquocidades globaisrdquo22 que tendem a incorporar outros centros financeiros
regionais e secundaacuterios na medida em que a escala do controle se expande
As novas funccedilotildees criadas para as cidades originaram o espaccedilo das cidades
mundiais que se caracteriza pelo ambiente competitivo entre as cidades Dentro deste
21 O planeta eacute assimetricamente interdependente e essa interdependecircncia se articula cotidianamente em tempo real atraveacutes das novas tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em um fenocircmeno historicamente novo que abre de fato uma nova era da histoacuteria da humanidade a era da informaccedilatildeo 22 Expressatildeo cunhada por Saskia Sassen em 1991 para designar os pontos nodais dos fluxos financeiros a partir dos quais se obteacutem um controle global dos mercados financeiros secundaacuterios dado que o investimento estrangeiro ocorre cada vez mais segundo o mercado de accedilotildees e de tiacutetulos (COMPANS 2001106)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
88
contexto as cidades estabelecem entre si relaccedilotildees hieraacuterquicas de poder determinadas
pela competiccedilatildeo dos espaccedilos As cidades buscam a ampliaccedilatildeo de seu espaccedilo de comando
e controle a partir de especializaccedilotildees que lhes decircem uma vantagem competitiva para atingir
uma abrangecircncia de accedilatildeo mundial cujo sucesso definiraacute sua posiccedilatildeo hieraacuterquica
Em contrapartida agraves novas funccedilotildees de articulaccedilatildeo e controle as cidades passam a influir nas opccedilotildees estrateacutegicas das empresas a partir de posicionamentos urbanos fiscais econocircmicos e sociais As accedilotildees estrateacutegicas no acircmbito das cidades satildeo definidas dentro da loacutegica do mercado em sobreposiccedilatildeo agrave loacutegica do cidadatildeo que sempre comandou a evoluccedilatildeo urbana A caracteriacutestica principal desse processo eacute a primazia do global sobre o local na busca de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas (LOPES 199838)
As novas funccedilotildees da cidade mundial geram problemas ineacuteditos a serem enfrentados
ao mesmo tempo em que abrem novos horizontes de desenvolvimento econocircmico e social
Tais problemas constituem expansotildees das funccedilotildees normais da cidade geradas pela
globalizaccedilatildeo de espaccedilo local a centro articulador de economias regionais nacionais e
internacionais A inserccedilatildeo da cidade no conjunto de economias interdependentes define a
especializaccedilatildeo de suas novas funccedilotildees e as transformaccedilotildees a elas inerentes
Veremos a seguir como as novas funccedilotildees atribuiacutedas agraves cidades influenciam no
processo de planejamento urbano gerando a reproduccedilatildeo de cidades-modelo cujo principal
objetivo eacute tornarem-se atraentes para o capital e obter sua posiccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
32 ESTRATEacuteGIAS DAS CIDADES PARA AS NOVAS FUNCcedilOtildeES URBANAS
O planejamento urbano direcionado pelo Estado e executado no Brasil nas primeiras
deacutecadas do seacuteculo XX fundamentava-se no controle racional e centralizado das poliacuteticas
puacuteblicas urbanas Na deacutecada de 1970 o planejamento urbano passou por uma seacuterie de
questionamentos acerca do encaminhamento das accedilotildees realizadas no espaccedilo A urbanizaccedilatildeo
acelerada originou a necessidade de maior mobilizaccedilatildeo de recursos por parte dos governos
locais que atendessem agraves demandas da populaccedilatildeo por serviccedilos puacuteblicos O niacutevel de
atendimento a essas demandas segundo LOPES (1998) eacute definido pela competitividade da
cidade na produccedilatildeo de bens e serviccedilos jaacute que a capacidade de cobranccedila de impostos estaacute
diretamente vinculada ao ritmo de acumulaccedilatildeo de riqueza Torna-se necessaacuterio ampliar a
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
89
capacidade de acumulaccedilatildeo de riquezas a niacuteveis compatiacuteveis com o crescimento dos tributos
locais que satildeo necessaacuterios para o atendimento dessas demandas
Essa questatildeo originou um novo modelo de planejamento fundamentado na ideacuteia de
cidade como maacutequina de produzir riquezas onde o termo dominante eacute a gestatildeo
empresarial O conceito de fundamentalismo de mercado vem sendo utilizado pelo
neoliberalismo para referir-se a uma ideologia com pretensotildees universais e inquestionaacuteveis
que defendem o domiacutenio absoluto da economia e do mercado sobre as esferas poliacuteticas
sociais e culturais do mundo globalizado
A concepccedilatildeo de cidade como categoria funcional nos moldes da produccedilatildeo industrial
acabou entatildeo substituiacuteda pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Aleacutem da competiccedilatildeo pela
produccedilatildeo e consumo declara-se uma disputa entre as cidades para tornarem-se espaccedilos
atraentes para o capital Na anaacutelise de ARANTES (2000) tal pensamento se manifesta na
convergecircncia entre governantes burocratas e urbanistas de que cada oportunidade de
renovaccedilatildeo urbana possa ser uma possibilidade de elevar vantagens comparativas das
cidades no mundo global Para tanto torna-se indispensaacutevel a elaboraccedilatildeo de um Plano
Estrateacutegico capaz de gerar respostas competitivas aos desafios da globalizaccedilatildeo
ARANTES (2000) afirma que as cidades modernas sempre estiveram associadas agrave
divisatildeo social do trabalho e acumulaccedilatildeo capitalista sendo a configuraccedilatildeo espacial urbana
reflexo dessa relaccedilatildeo com a reproduccedilatildeo do capital Os efeitos da globalizaccedilatildeo sobre as
poliacuteticas de ocupaccedilatildeo do territoacuterio urbano constituem dado essencial nos caacutelculos sobre
como tornar uma cidade competitiva
Nesta nova fase do capitalismo as cidades passam a ser geridas e consumidas
como mercadoria O lugar representa um valor-de-uso para seus habitantes e valor de troca
para os interessados em extrair dele um benefiacutecio econocircmico qualquer sobretudo na forma
de uma renda exclusiva A cidade passa a ser vista como empreendimento e as poliacuteticas
urbanas satildeo entatildeo conformadas com o propoacutesito de expandir a economia local e aumentar
riquezas Assim como a orientaccedilatildeo e o controle da expansatildeo urbana foram substituiacutedos pelo
impulso de crescimento um novo tipo de profissional emergiu da metamorfose do
funcionaacuterio puacuteblico local o planejador-empreendedor
ARANTES (2000) ressalta ainda que alguns elementos tomam forccedila para dar sentido
agrave ldquofoacutermulardquo de sobrevivecircncia das cidades no mundo da competitividade extrema O padratildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
90
que vem proliferando consiste em processos de ldquogentrificaccedilatildeordquo 23 a conhecida ldquorevitalizaccedilatildeo
urbanardquo em zonas degradadas possiacutevel graccedilas agrave uniatildeo entre o setor puacuteblico e a iniciativa
privada e encarregada de promover os investimentos privados com fundos puacuteblicos
Caracteriza-se por projetos dirigidos a gerar a promoccedilatildeo do ldquoespetaacuteculordquo e da cultura ndash
como negoacutecio e mercadoria ndash e que transformam a cidade existente tornando-a mais atrativa
para novos moradores em substituiccedilatildeo aos antigos habitantes e mais interessante para o
capital internacional
o seu cenaacuterio de origem vem a ser o do movimento de volta agrave cidade no mais das vezes dando origem aos conhecidos processos de gentrification (ou ldquorevitalizaccedilatildeo urbanardquo conforme preferem falar seus promotores) em grande parte desencadeados pelo reencontro glamouroso entre Cultura (urbana ou natildeo) e Capital (ARANTES 200015)
O presente modelo de planejamento estaacute embasado no chamado ldquoculturalismo de
mercadordquo de forma que a cultura passa a constituir a acircncora identitaacuteria da nova urbaniacutestica
tornando-se negoacutecio e imagem em uma nova fonte de acumulaccedilatildeo de poder e dinheiro
LOPES (1998) confirma que na competitividade entre cidades constitui importante aspecto a
infra-estrutura fiacutesica e social associada a uma identidade cultural marcante e que torne as
cidades atraentes como local de vida O espaccedilo local eacute definido pela estruturaccedilatildeo social e
cultural que caracteriza e diferencia uma cidade da outra
ARANTES (2000) conclui que todo incremento de crescimento local mantidas as
correlaccedilotildees sociais vigentes implica em uma transferecircncia de riquezas e chances de vida
do puacuteblico em geral para grupos rentistas e seus associados As cidades na busca pela
atratividade cercam-se de aparatos culturais de alto padratildeo mas somente aqueles que
possuem condiccedilotildees poderatildeo usufruiacute-los O capital cultural incorporado nas cidades forja o
seu futuro reduzindo o futuro das aacutereas menos favorecidas
Na opiniatildeo de VAINER (2000) atualmente a questatildeo urbana tem como ponto central
a problemaacutetica da competitividade urbana Para o autor no discurso do planejamento
estrateacutegico urbano a cidade em seu conjunto e de maneira direta aparece assimilada agrave
empresa entre os elementos que presidem o empresariamento da gestatildeo urbana a
produtividade a competitividade e a subordinaccedilatildeo dos fins agrave loacutegica do mercado
23 O processo de ldquogentrificaccedilacircordquo significa praacuteticas de reapropriaccedilatildeo de espaccedilos pelo mercado atraveacutes de operaccedilotildees urbanas que lhes conferem novo valor econocircmico e simboacutelico geralmente orientando-os para o consumo de camadas meacutedias Apresentados como espaccedilos ldquorevitalizadosrdquo para fins
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
91
Competir pelo investimento de capital tecnologia e competecircncia gerencial Competir na atraccedilatildeo de novas induacutestrias e negoacutecios Ser competitivas no preccedilo e na qualidade dos serviccedilos Competir na atraccedilatildeo de forccedila de trabalho adequadamente qualificada (World Economic Development Congress amp The World Bank 1998 apud VAINER 200077)
Agir empresarialmente na cidade significa tomar decisotildees a partir das informaccedilotildees e
expectativas geradas pelo mercado Constitui a condiccedilatildeo de transposiccedilatildeo do planejamento
estrateacutegico da corporaccedilatildeo privada para o territoacuterio puacuteblico urbano Este projeto de cidade
implica direta e imediata apropriaccedilatildeo da mesma por interesses empresariais globalizados e
depende do banimento da poliacutetica da dissimulaccedilatildeo do ldquoconflitordquo e da reduccedilatildeo das condiccedilotildees
de exerciacutecio da cidadania
VAINER (2000) ainda afirma que a instauraccedilatildeo da cidade como empresa constitui a
negaccedilatildeo da cidade enquanto espaccedilo poliacutetico porque a tendecircncia liberal eacute a de contrariar o
sentido da democracia sempre que os interesses do mercado entram em conflito com os
interesses democraacuteticos Para entatildeo construir poliacutetica e intelectualmente as condiccedilotildees de
legitimaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo do poder puacuteblico agraves exigecircncias do capital internacional e local
torna-se necessaacuterio gerar um ldquopatriotismo de cidaderdquo e um consenso entre os habitantes
por meio de um sentimento de identidade adquirido atraveacutes da promessa de geraccedilatildeo de
empregos
a estrateacutegia conduz agrave destruiccedilatildeo da cidade como espaccedilo de poliacutetica como lugar de construccedilatildeo da cidadania A reivindicaccedilatildeo de poder para as comunidades e coletividades locais conquistada em uma luta travada em nome do auto-governo se consuma como abdicaccedilatildeo em favor de chefes carismaacuteticos que encarnam o projeto empresarial (VAINER 200098)
O novo conceito de planejamento impotildee a presenccedila de novos atores basicamente
do setor privado A parceria puacuteblico-privado assegura que interesses do mercado estaratildeo
presentes representados no processo de planejamento urbano pela participaccedilatildeo direta dos
empresaacuterios nos processos de decisatildeo referentes ao planejamento e agrave execuccedilatildeo das
poliacuteticas urbanas Tais parcerias permitem ao setor privado a satisfaccedilatildeo de seus interesses
junto ao poder puacuteblico Vaacuterias satildeo as formas e os mecanismos de transferecircncia dos recursos
puacuteblicos (financeiros fundiaacuterios e poliacuteticos) para os grupos privados a participaccedilatildeo privada
em agecircncias puacuteblicas e o surgimento da associaccedilatildeo empresarial com o aporte de capitais por
parte do poder puacuteblico para financiar empreendimentos de grupos empresariais privados
mercadoloacutegicos neles a populaccedilatildeo original vivencia a ldquorevitalizaccedilatildeordquo como mecanismo gerador de expulsatildeo e segregaccedilatildeo social (SAacuteNCHEZ 2001163)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
92
Para LOPES (1998) a parceria entre os governos locais e a iniciativa privada nasce
como nova necessidade As cidades que permitem oferecer maior competitividade em
termos globais agraves empresas privadas satildeo as mais procuradas para a instalaccedilatildeo dessas
empresas o que conduz a um processo de centralizaccedilatildeo das atividades econocircmicas
Cidades com fortes posiccedilotildees de mercado tecircm condiccedilotildees de atrair investimentos essenciais
ao processo de acumulaccedilatildeo A mobilidade do capital passa a exigir dos governos locais
constante apoio e suporte aos atores econocircmicos privados o que conduz a limitaccedilotildees na
administraccedilatildeo do espaccedilo urbano sob sua jurisdiccedilatildeo
A parceria puacuteblico-privado desenvolveu-se em um paracircmetro baacutesico de competitividade em funccedilatildeo da necessidade de atraccedilatildeo de agentes econocircmicos por parte das cidades A gestatildeo puacuteblica eacute cada vez mais condicionada pela loacutegica do mercado sendo uma funccedilatildeo essencial a sua capacidade de otimizaccedilatildeo da produtividade dos agentes econocircmicos localizados ou que venham a se localizar no espaccedilo da sua jurisdiccedilatildeo (LOPES 199856)
Aleacutem da parceria puacuteblico-privado o marketing urbano ou city marketing constitui
outro paracircmetro de competitividade que passa a ser determinante no processo de
planejamento e gestatildeo das cidades Trata-se de uma tentativa de construccedilatildeo de uma
imagem positiva da cidade objetivando atrair investimentos e visitantes Pode-se dizer que o
problema que existe por traacutes do marketing urbano eacute o mesmo que se encontra em qualquer
propaganda enganosa em que as qualidades do produto a ser comercializado satildeo
exageradas e possiacuteveis defeitos satildeo escondidos
Para MARICATO (2000) a dissimulaccedilatildeo da cidade em publicidade e propaganda
constitui uma representaccedilatildeo a construccedilatildeo da ficccedilatildeo Para atrair investimentos determina-se
a necessidade de criar produtos urbanos que podem ser por exemplo uma oferta cultural
ou uma imagem de cidade segura ou atrativa A venda da cidade deve estar baseada na
venda dos seus atributos especiacuteficos que constituem insumos valorizados pelo capital
transnacional O governo local deve entatildeo promover a cidade para o exterior atraveacutes de
uma imagem forte e positiva apoiada numa oferta de infra-estruturas e serviccedilos A cidade eacute
apresentada com uma imagem de cidade justa e democraacutetica acompanhada da imagem de
uma cidade segura Mas a oferta de uma cidade segura natildeo quer dizer necessariamente
seguranccedila para os que nela habitam significa a criaccedilatildeo de seguranccedila e aacutereas de isolamento
para os visitantes
A pesquisadora SAacuteNCHEZ (2003) concorda que o city-marketing contribui para a
produccedilatildeo de imagens e discursos referentes agrave cidade Dessa maneira satildeo aprovadas as
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
93
estrateacutegias de intervenccedilatildeo urbana que objetivam a construccedilatildeo do mercado e do espaccedilo
mundiais impondo e justificando o novo discurso sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo
Essa estrateacutegia global encontra uma nova dinacircmica para a reproduccedilatildeo do capitalismo A construccedilatildeo da cidade-mercadoria que sob a eacutegide do poder poliacutetico do Estado perfila-se por meio dos processos de renovaccedilatildeo urbana (como exigecircncia da economia competitiva) e por meio da construccedilatildeo de imagem para inseri-la no mercado Como mercadoria especial envolve estrateacutegias especiais satildeo produzidas representaccedilotildees que obedecem a uma determinada visatildeo de mundo satildeo construiacutedas imagens-siacutentese sobre a cidade e satildeo criados discursos referentes agrave cidade encontrando na miacutedia e nas poliacuteticas de city-marketing importantes instrumentos de difusatildeo e afirmaccedilatildeo (SAacuteNCHEZ 2003148)
Como forma de apoio ao seu discurso os governos utilizam-se de investimentos em
imagens simboacutelicas do marketing urbano internacional que guardam relaccedilotildees de
semelhanccedilas significativas entre si Tal identificaccedilatildeo segundo SAacuteNCHEZ (2003) permite
pensar que os processos de renovaccedilatildeo urbana as pautas para a gestatildeo puacuteblica das
cidades e o campo poliacutetico-institucional para a atuaccedilatildeo dos agentes guardam tambeacutem
semelhanccedilas A autora realiza uma anaacutelise de processos de renovaccedilatildeo urbana a partir da
deacutecada de 90 nas cidades de Barcelona e Curitiba segundo as poliacuteticas puacuteblicas e
estrateacutegias de ldquovendardquo efetuadas nessas cidades O estudo seraacute visto ainda neste capiacutetulo e
leva a resultados convergentes acerca de como tais cidades vecircm sendo ldquovendidasrdquo
O novo modelo de planejamento vem sendo propagado como uacutenica alternativa para
fazer frente agraves novas condiccedilotildees impostas pela cidade capitalista e pela globalizaccedilatildeo
Analisaremos em seguida as origens do planejamento estrateacutegico atraveacutes dos estudos de
GUumlELL (1997) Veremos como ocorreu sua transiccedilatildeo para o planejamento urbano e de que
maneira tal processo foi aplicado em determinadas cidades como variaccedilotildees em torno do
mesmo modelo
33 O MODELO ESTRATEacuteGICO DE PLANEJAMENTO DAS CIDADES
O conceito de planejamento estrateacutegico foi extraiacutedo da praacutetica militar e passou a ser
utilizado como instrumento empresarial a partir da segunda metade do seacuteculo XX para
posteriormente ser aplicado tambeacutem nos processos de gestatildeo e planejamento urbanos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
94
De acordo com GUumlELL (1997) no que concerne ao campo militar o termo
ldquoestrateacutegiardquo pode definir-se como a arte de conduzir um exeacutercito ateacute a presenccedila do inimigo e
dirigir as operaccedilotildees para atingir o objetivo desejado Sua aplicaccedilatildeo remonta agraves guerras das
origens da histoacuteria (haacute mais de 2300 anos) e tanto a estrateacutegia militar antiga quanto a
estrateacutegia militar moderna e contemporacircnea apresentam um aspecto em comum invariaacutevel
atraveacutes do tempo e da histoacuteria desenvolvem-se por contraposiccedilatildeo de interesses por
antagonismo entre Estados
A estrateacutegia pode entatildeo ser definida a partir de um sentido elementar e universal
como uma astuacutecia para superar os obstaacuteculos postos pela vontade do oponente Onde
existir antagonismo haveraacute estrateacutegia como meacutetodo que permite hierarquizar e classificar
accedilotildees para escolher com rapidez os procedimentos eficazes voltados a reduzir ou eliminar
as contraposiccedilotildees ou antagonismos
A aplicaccedilatildeo dos princiacutepios da estrateacutegia militar na gestatildeo empresarial deu-se
efetivamente no periacuteodo poacutes-guerra momento em que as empresas tinham por objetivo
transpor seus competidores e dominar o mercado Segundo GUumlELL (1997) nas empresas
americanas Dupont de Nemours e General Motors foram incorporadas as primeiras
estrateacutegias (fixaccedilatildeo de objetivos) e taacuteticas (meios para alcanccedilaacute-los) aos planos das
empresas
GUumlELL (1997) define a estrateacutegia empresarial como um modo sistemaacutetico de
gerenciar mudanccedilas na empresa com o propoacutesito de competir em vantagem no mercado
adaptar-se ao entorno definir os produtos e maximizar os benefiacutecios Trata-se de um
processo reflexivo e criativo de elaboraccedilatildeo de uma seacuterie de estrateacutegias que buscam o
crescimento rentabilidade e eficiecircncia da empresa levando-se em consideraccedilatildeo os
aspectos fortes e fracos presentes em consideraccedilatildeo agraves ameaccedilas e oportunidades futuras
O processo metodoloacutegico do planejamento estrateacutegico empresarial compreende o
conjunto de etapas dispostas abaixo O planejamento caracteriza-se mais como um
processo circular onde tais etapas podem ocorrer simultacircnea e muitas vezes do que
necessariamente como um processo sequumlencial loacutegico como mostra a Figura 6
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
95
Anaacutelise externa
Anaacutelise do cliente
Anaacutelise competitiva
Anaacutelise do setor
Anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna
Anaacutelise de rendimento
Revisatildeo da estrateacutegia
Anaacutelise daorganizaccedilatildeo
Anaacutelise de custos
Anaacutelise de portfoacutelio
Anaacutelise de recursoshumanos
Identificaccedilatildeo e seleccedilatildeo da estrateacutegia
Especificaccedilatildeoda missatildeo
Identificaccedilatildeoda
estrateacutegiaalternativa
Seleccedilatildeoentre
alternativasestrateacutegicas
Implantaccedilatildeo
Revisatildeo estrateacutegica
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial Fonte Aaker apud Guumlell 199726
Anaacutelise externa implica no exame dos elementos exteriores relevantes para a
empresa com identificaccedilatildeo dos riscos e oportunidades presentes e futuras Esta
etapa se divide em quatro partes anaacutelise do cliente anaacutelise competitiva anaacutelise
do setor e anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna proporciona compreensatildeo detalhada dos aspectos da empresa de
potencial estrateacutegico com identificaccedilatildeo dos pontos fortes e fracos problemas e
restriccedilotildees Esta etapa compreende fundamentalmente a anaacutelise dos
rendimentos da estrateacutegia existente da organizaccedilatildeo interna dos custos portfolio
de produtos recursos e limitaccedilotildees financeiras
Especificaccedilatildeo da missatildeo a partir das anaacutelises anteriores eacute possiacutevel identificar os
objetivos e metas que se quer para o negoacutecio levando-se em consideraccedilatildeo
diferenciais alternativos relacionados agraves aacutereas de negoacutecios da empresa que a
diferencie dos demais competidores
Identificaccedilatildeo de estrateacutegia alternativa deduccedilatildeo de diversas alternativas estrateacutegicas
que facilitem a obtenccedilatildeo de vantagem competitiva da empresa baseada em geral
em torno de trecircs elementos diferenciaccedilatildeo baixo custo e concentraccedilatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
96
Seleccedilatildeo entre alternativas estrateacutegicas entre os criteacuterios de seleccedilatildeo cabe dar
destaque para a sensibilidade ante as oportunidades e ameaccedilas do entorno a
resposta aos objetivos da organizaccedilatildeo e a facilidade de execuccedilatildeo
Implantaccedilatildeo plano operativo que conteacutem objetivos especiacuteficos em curto prazo
necessidade de modificaccedilotildees na estrutura organizacional da empresa que se
adapte agrave nova estrateacutegia
Revisatildeo estrateacutegica determinar quando satildeo necessaacuterias a revisatildeo e mudanccedila de
estrateacutegias
GUumlELL (1997) aponta uma seacuterie de fenocircmenos que explicam a inserccedilatildeo dos
fundamentos do planejamento estrateacutegico em acircmbito urbano
1 O dinamismo derivado das mudanccedilas econocircmicas e poliacuteticas e as inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas acompanhadas das modificaccedilotildees socioculturais vecircm exigindo do
planejamento urbano novas soluccedilotildees
2 Os gestores puacuteblicos satildeo obrigados a se inclinar perante as exigecircncias de
competitividade dos diversos agentes sociais e econocircmicos que constituem os atores da cidade
3 A abertura dos mercados e a integraccedilatildeo das naccedilotildees em niacutevel global tecircm
incentivado a competitividade entre cidades que exige do planejamento capacidade de
antecipaccedilatildeo e atuaccedilatildeo ofensiva
4 Por uacuteltimo a complexidade e a inter-relaccedilatildeo dos problemas das cidades
demandam o enfoque multidisciplinar e intersetorial para superar as limitaccedilotildees dos
tradicionais planos setoriais
O ritmo com que se sucedem as mudanccedilas decorrentes do processo de globalizaccedilatildeo
acarreta dificuldades e questotildees relevantes ao planejamento e agrave gestatildeo urbana GUumlELL
(1997) acredita que apesar dos equiacutevocos conceituais cometidos nos primeiros planos
estrateacutegicos realizados nas deacutecadas de 1980 e 1990 os seus benefiacutecios ultrapassam as
desvantagens e podem ser de grande utilidade se convenientemente utilizados Ele
defende de que para evitar a vulgarizaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico eacute necessaacuterio inseri-
lo nos processos tradicionais de planejamento fiacutesico econocircmico e social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
97
Teacuterminos como orientacioacuten hacia la demanda atractivo de la oferta
urbana posicionamiento competitivo y acciones de maacuterketing que hasta hace poco quedaban restringidos al aacutembito empresarial hoy son moneda comuacuten em las administraciones locales y regionales Este naciente intereacutes em el sector puacuteblico por los conceptos de estrategia empresarial viene motivado no tanto por la corriente neoliberal em boga como por la magnitud y celeridad de los cambios socioeconoacutemicos que estan afectando de forma significativa a nuestras ciudades Esta situacioacuten haacute conducido a la exploracioacuten de nuevos enfoques em materia de planificacioacuten urbana que respondan a las exigencias emergentes entre los cuales destaca la planificacioacuten estrateacutegica por su novedad y su amplia difusioacuten24 (GUumlELL 199717)
O autor afirma que o dinamismo do entorno tem produzido uma seacuterie de
modificaccedilotildees relevantes nos instrumentos tradicionais de planejamento urbano que
capacite a atividade de planejamento a dar uma resposta aacutegil e adequada agrave nova realidade
Tais modificaccedilotildees abrangem a atividade de planejamento e gestatildeo urbana e satildeo
sintetizadas a partir dos seguintes pontos (GUumlELL 199751)
Descentralizaccedilatildeo das competecircncias urbaniacutesticas atraveacutes da transferecircncia das
competecircncias urbaniacutesticas dos governos centrais aos perifeacutericos de forma a
reforccedilar os governos regionais Esta situaccedilatildeo favorece a adaptaccedilatildeo da legislaccedilatildeo
urbaniacutestica agraves peculiaridades de cada regiatildeo debilitando o planejamento
centralizado
Participaccedilatildeo dos agentes de desenvolvimento econocircmico nas decisotildees
urbaniacutesticas atraveacutes dos agentes econocircmicos puacuteblicos e privados que atuam de
forma direta por meio das suas atividades produtivas ou indireta por meio do
desenvolvimento de infra-estruturas
Crescente participaccedilatildeo dos movimentos sociais no urbanismo atraveacutes da
intervenccedilatildeo da sociedade civil no processo de desenvolvimento urbano Os
movimentos sociais canalizam as preocupaccedilotildees e desejos dos grupos cidadatildeos
24 Termos como orientaccedilatildeo segundo a demanda atrativo da oferta urbana posicionamento competitivo e accedilotildees de marketing que ateacute pouco tempo estiveram restritos ao espaccedilo das empresas satildeo hoje comuns nas administraccedilotildees locais e regionais Este crescente interesse do setor puacuteblico pelos conceitos de estrateacutegia empresarial vem motivado natildeo somente pela corrente neoliberal em voga mas tambeacutem pela magnitude e velocidade das mudanccedilas soacutecio-econocircmicas que estatildeo afetando de maneira significativa as nossas cidades Esta situaccedilatildeo tem conduzido agrave exploraccedilatildeo de novos enfoques no que se refere ao planejamento urbano que respondam agraves exigecircncias emergentes dentre os quais destaca-se o planejamento estrateacutegico por sua novidade e ampla difusatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
98
Aumento da rivalidade entre as cidades a rivalidade entre as cidades para atrair
atividades econocircmicas obriga os governos a utilizar todos os instrumentos a sua
disposiccedilatildeo incluindo os que abrangem o planejamento urbano como forma de
aumento da competitividade e atratividade
Incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na gestatildeo urbaniacutestica o aperfeiccediloamento
dos sistemas de informaccedilotildees e automatizaccedilatildeo dos procedimentos administrativos
permitem a utilizaccedilatildeo de instrumentos mais sofisticados que facilitem a tomada
de decisotildees complexas nas gestotildees urbanas
Maior exigecircncia de transparecircncia os cidadatildeos jaacute natildeo admitem mais que os
processos de planejamento e gestatildeo urbana sejam elaborados e executados
somente por um grupo de teacutecnicos e agentes econocircmicos
O conjunto de modificaccedilotildees acima citadas acarreta por sua vez a necessidade de
novo enfoque metodoloacutegico e outros instrumentos de anaacutelise Para GUumlELL (1997) eacute
necessaacuterio um projeto estrateacutegico ambicioso que cumpra com dois objetivos 1- orientar e
articular as accedilotildees setoriais empreendidas conforme um programa global 2- estimular o
conjunto da sociedade para atingir um horizonte definido
VAINER (2000) afirma que o planejamento estrateacutegico aplicado agraves cidades e
inspirado nos conceitos e teacutecnicas derivados do planejamento empresarial foi originalmente
sistematizado na Harvard Business School Segundo seus precursores deve ser adotado
pelos governos locais em razatildeo de estarem as cidades submetidas agraves mesmas condiccedilotildees e
desafios que as empresas Na praacutetica nasceu da implantaccedilatildeo do neoliberalismo nos
Estados Unidos e na Inglaterra O primeiro plano estrateacutegico foi aplicado na cidade de Satildeo
Francisco Califoacuternia nos Estados Unidos em 1982
Na anaacutelise de LOPES (1998) quanto ao modelo de Harvard o autor comprova que o
arqueacutetipo procura estabelecer a melhor forma de adaptaccedilatildeo de uma organizaccedilatildeo ao seu
meio ambiente O modelo define as forccedilas e fraquezas internas de uma organizaccedilatildeo frente
agraves ameaccedilas e oportunidades externas levando em consideraccedilatildeo o valor de sua
administraccedilatildeo e as responsabilidades sociais As estrateacutegias satildeo definidas com o objetivo de
obter vantagens em funccedilatildeo das oportunidades e minimizar as fraquezas e ameaccedilas
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
99
O planejamento estrateacutegico pode definir-se como uma forma sistemaacutetica de articular
as mudanccedilas tendo por base uma accedilatildeo integrada em longo prazo Estabelece um sistema
contiacutenuo de tomada de decisotildees que comporta um risco mas identifica o curso das accedilotildees
especiacuteficas formulando indicadores para acompanhamento dos resultados e destacando os
agentes sociais e econocircmicos locais ao longo de todo o processo
Natildeo entraremos neste trabalho na questatildeo dos meacutetodos e teacutecnicas do
planejamento estrateacutegico urbano Trataremos o tema como estrateacutegias de intervenccedilatildeo e
gestatildeo urbanas como meio para atrair investimentos eou visitantes e obter a posiccedilatildeo das
cidades em niacutevel nacional e internacional Analisaremos a seguir as estrateacutegias de
intervenccedilotildees urbanas baseadas nessas premissas e colocadas em praacutetica em trecircs cidades
Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
34 VARIACcedilOtildeES EM TORNO DE UM MESMO MODELO
341 BARCELONA E O CASO DA VILA OLIacuteMPICA
Barcelona eacute a capital da Catalunha uma regiatildeo cuja sociedade encontra-se em
constante luta de auto-afirmaccedilatildeo Segundo os estudos de SAacuteNCHEZ (2003) tal fato
contribuiu para a compreensatildeo da posiccedilatildeo poliacutetica do governo da cidade que buscou a
transformaccedilatildeo de Barcelona em ldquocidade-modelordquo dentro da Comunidade Europeacuteia
As intervenccedilotildees estrateacutegicas urbanas realizadas em Barcelona e que impulsionaram
o seu projeto de cidade tiveram iniacutecio na deacutecada de 1980 durante o governo de Pasqual
Maragall pelo Partido Socialista Maragall assumiu o poder em 1982 (apoacutes renuacutencia de
Narciacutes Serra ao cargo de alcaide) e teve seu mandato revalidado por quatro vezes
consecutivas nas eleiccedilotildees de 1983 1987 1991 e 1995 Esta sequumlecircncia poliacutetico-
administrativa foi primordial para o sucesso do seu projeto de renovaccedilatildeo urbana que atingiu
o auge com o projeto oliacutempico realizado para a futura sede das Olimpiacuteadas de 1992
No iniacutecio da deacutecada de 1980 a poliacutetica urbana adotada pelo governo municipal
comprometia-se com o ideaacuterio de equumlidade e de justiccedila social na cidade A avaliaccedilatildeo feita
por SAacuteNCHEZ (2003) mostra que nos primeiros anos do governo socialista verificou-se um
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
100
esforccedilo por parte da administraccedilatildeo puacuteblica municipal para garantir que os investimentos em
infra-estrutura fossem tambeacutem investimentos socialmente redistributivos em termos de
equalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida urbana nos espaccedilos da cidade Prevaleceram as
intervenccedilotildees em pequena escala efetivamente distribuiacutedas em todas as aacutereas perifeacutericas da
cidade Tratava-se de um ldquourbanismo defensivordquo que buscava basicamente resgatar a
normalidade administrativa e a eacutetica de gestatildeo
No final da deacutecada de 1980 iniciou-se uma etapa de aplicaccedilatildeo de intervenccedilotildees
urbanas mais ofensivas na cidade As reivindicaccedilotildees dos atores coletivos e o levantamento
das necessidades dos bairros foram reconhecidos em alguns casos sendo determinadas
definiccedilotildees projetuais e prioridades para as obras Entretanto tal situaccedilatildeo natildeo se aplicou a
toda a cidade as reivindicaccedilotildees constituiacuteram um dado a levar-se em conta no lanccedilamento
das intervenccedilotildees urbanas mas natildeo consistia elemento uacutenico para o planejamento
Em 1986 a nomeaccedilatildeo de Barcelona como sede das Olimpiacuteadas de 1992 consistiu
em decisivo fator acelerador da modernizaccedilatildeo urbana e uma justificativa para o projeto de
renovaccedilatildeo urbana desenvolvido nos anos 1980 e 1990 O projeto girou em torno das
grandes obras oliacutempicas de renovaccedilatildeo (Figuras 7 a 10) elaboradas a partir da parceria da
administraccedilatildeo puacuteblica com os setores empresariais privados
O que estava em disputa era o espaccedilo poliacutetico o sentido dado ao espaccedilo da cidade e o poder de cada instituiccedilatildeo puacuteblica ou privada sobre fragmentos da cidade que estavam sendo renovados e que seriam inseridos num mercado cujas conexotildees eram trans-escalares locais regionais nacionais e internacionais Eacute nesse periacuteodo de profunda renovaccedilatildeo urbana para os jogos oliacutempicos que eacute possiacutevel identificar a emergecircncia da cidade-mercadoria do espaccedilo da cidade concebido e renovado para um mercado global da cidade tornada uma marca um emblema dessa transformaccedilatildeo espacial (SAacuteNCHEZ 2003237)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
101
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica e Torre Telefocircnica ao fundo Foto Fernando Hayashi
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de Montjuic Vila OliacutempicaFoto Fernando Hayashi
O alegado sucesso do ldquomodelo Barcelonardquo favoreceu a difusatildeo desse conceito de
projeto aos planos desenvolvidos na Ameacutetica Latina e em particular no Brasil permitindo
identificar alguns pontos principais para os quais se voltam a accedilatildeo poliacutetica e os programas
(SAacuteNCHEZ 2003319)
A competitividade econocircmica com poliacuteticas de apoio agraves empresas a criaccedilatildeo de
emprego a atraccedilatildeo de investimentos e o city- marketing
A coesatildeo social por meio de programas de fortalecimento da identificaccedilatildeo dos
cidadatildeos atraveacutes de um ldquoprojeto de cidaderdquo com estiacutemulo ao sentido de
pertencimento a integraccedilatildeo de minorias o bem-estar social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
102
Uma melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente urbano com vistas agrave
construccedilatildeo da ldquosociedade sustentaacutevelrdquo
A modernizaccedilatildeo da gestatildeo com programas relativos a financcedilas e impostos com a
participaccedilatildeo do cidadatildeo e atendimento ao cidadatildeo
A melhoria da mobilidade atraveacutes da gestatildeo do tracircnsito dos estacionamentos e
dos transportes puacuteblicos
Infra-estrutura urbana e de telecomunicaccedilotildees com a modernizaccedilatildeo de portos
aeroportos teleportos e com projetos e operaccedilotildees urbaniacutesticas para a
reestruturaccedilatildeo urbana
A modernizaccedilatildeo e a expansatildeo do turismo urbano
O modelo de Barcelona foi difundido atraveacutes de teacutecnicas e procedimentos de
ldquotrabalho qualitativordquo onde satildeo estabelecidos cenaacuterios futuros imagens e tendecircncias para
as cidades com ecircnfase na definiccedilatildeo dos seus atributos e seu papel regional e internacional
Indicadores oferecem um panorama das accedilotildees poliacuteticas necessaacuterias criando
ldquooportunidadesrdquo para as cidades competiccedilatildeo com outras cidades expectativas relativas agrave
qualidade de vida cenaacuterios de competitividade econocircmica infra-estrutura e meio ambiente
dinacircmica demograacutefica migraccedilotildees e coesatildeo social
342 CURITIBA E SUAS INTERVENCcedilOtildeES URBANAS
A imagem de Curitiba como ldquocidade-modelordquo deu-se no iniacutecio dos anos 1970
Segundo SAacuteNCHEZ (2003) a populaccedilatildeo de Curitiba praticamente dobrou em uma deacutecada
no periacuteodo que vai de 1960 a 1970 resultante da migraccedilatildeo campo-cidade Tornou-se
necessaacuterio um Plano Preliminar de Urbanismo feito em 1965 e que propunha diretrizes de
uso do solo transporte coletivo localizaccedilatildeo industrial e aacutereas de lazer
Os Planos Diretores seguintes datados de 1966 e da deacutecada de 1970
apresentavam um modelo de expansatildeo urbana por meio de eixos estruturais ao longo dos
quais propunha-se uma soluccedilatildeo de transporte coletivo atraveacutes de canaletas exclusivas para
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
103
ocircnibus Outras propostas dos planos diziam respeito a padrotildees especiacuteficos de uso do solo
altura das edificaccedilotildees e atividades permitidas aleacutem de uma zona especial para a promoccedilatildeo
da industrializaccedilatildeo
O Plano Diretor da deacutecada de 1970 eacute marcado pelas intervenccedilotildees que deram iniacutecio agrave
formaccedilatildeo da imagem de cidade-modelo que girou em torno de Curitiba desde entatildeo a
recuperaccedilatildeo do centro com preservaccedilatildeo do Centro Histoacuterico e incentivo a determinadas
atraccedilotildees culturais e de lazer a criaccedilatildeo daquela que seria promovida como a ldquoprimeira rua de
pedestres do Brasilrdquo (o calccediladatildeo da Rua das Flores) e a criaccedilatildeo dos primeiros parques urbanos
As intervenccedilotildees urbanas desta eacutepoca caracterizaram Curitiba como siacutembolo de
inovaccedilatildeo modernidade eficiecircncia e preocupaccedilatildeo com o meio ambiente legitimando a
imagem da cidade como modelo e referecircncia entre as demais cidades brasileiras Tal
imagem comeccedilou a se impor em escala nacional a partir da deacutecada de 1970 perdeu espaccedilo
apenas por alguns anos na deacutecada de 1980 e voltou com forccedila poliacutetica na deacutecada de 1990
SAacuteNCHEZ (2003) declara que a histoacuteria deste projeto demonstra a necessidade de
conciliaccedilatildeo do planejamento urbano com o atendimento dos interesses empresariais na
busca de uma hegemonia poliacutetica que possa materializar o plano e alcanccedilar a
implementaccedilatildeo das poliacuteticas urbanas A autora coloca um conjunto de fatores explicativos
para alcance do projeto
1 A construccedilatildeo de uma coalizatildeo de interesses das elites empresariais e poliacuteticas em
torno do projeto de cidade e continuidade poliacutetico-administrativa permitiram a implementaccedilatildeo
do plano Tal continuidade deu-se atraveacutes da primeira administraccedilatildeo do prefeito Jaime
Lerner da Alianccedila Renovadora Nacional - ARENA (1971-1975) seguida por Saul Raiz do
seu mesmo grupo poliacutetico (1975-1979) para entatildeo uma nova indicaccedilatildeo agrave prefeitura por
Jaime Lerner (1979-1982)
2 A construccedilatildeo de um conjunto institucional orientado agrave implementaccedilatildeo do plano e
viabilizado por sua identificaccedilatildeo com os principais atores do ideaacuterio desenvolvimentista e
tecnocraacutetico governamental da eacutepoca
3 A construccedilatildeo de uma imagem de cidade modelo impulsionada pelo city-marketing
e atraveacutes da articulaccedilatildeo entre poliacutetica cultura miacutedia e planejamento
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
104
4 A identidade do projeto com o ideaacuterio associado a uma agenda global para as
cidades difundida nos anos 1990 a niacutevel internacional
A partir dos anos 1980 a poliacutetica de planejamento urbano de Curitiba passou a
apresentar novos atores O novo governo surgido na eacutepoca regido por duas gestotildees do
Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro - PMDB (1983-1988) promoveu uma
reorientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas urbanas voltada para a urbanizaccedilatildeo das aacutereas
perifeacutericas e construccedilatildeo de equipamentos sociais Aleacutem disso inseriu-se o planejamento
participativo em oposiccedilatildeo ao antigo planejamento tecnocraacutetico Apesar de a nova gestatildeo
poliacutetica ter representado um periacuteodo de ruptura com as gestotildees anteriores natildeo foi possiacutevel
a consolidaccedilatildeo de seu projeto poliacutetico
Os movimentos sociais de bairro e os movimentos sindicais tiveram emergecircncia e fortalecimento como atores coletivos em Curitiba questionando as poliacuteticas urbanas relativas agrave habitaccedilatildeo a transporte puacuteblico e ao saneamento Construiacuteram na eacutepoca accedilotildees poliacuteticas que foram capitalizadas pela oposiccedilatildeo para desestabilizar a hegemonia da coalizatildeo local da deacutecada anterior (SAacuteNCHEZ 2003161)
Em 1989 Jaime Lerner retomou a prefeitura da cidade com o mesmo discurso poliacutetico
e tecnocraacutetico de sucesso utilizado na deacutecada de 1970 A hegemonia de seu grupo poliacutetico
permaneceu durante todas a deacutecada de 1990 Conclui-se que em trinta anos de governos
municipais somente um periacuteodo (1983-1988) natildeo foi liderado pelo chamado ldquolernismordquo
SAacuteNCHEZ (2003) afirma que eacute da deacutecada de 1960 a criaccedilatildeo do instituto que
elaboraria e colocaria em praacutetica o plano de cidade proposto pelo governo lernista O
IPPUC- Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba nasceu de uma comissatildeo
organizada para levantar os debates em torno do plano e seu objetivo manifesto consistia
em ldquopreparar a cidade para o futurordquo A instituiccedilatildeo caracterizou-se por uma linha de
planejamento tecnocraacutetico e funcional A condiccedilatildeo tecnocraacutetica constituiacutea parte de uma
ideologia que colocava o conhecimento cientiacutefico como detentor do destino da cidade e lhe
conferia legitimidade como instrumento poliacutetico
Nesta mesma eacutepoca configurou-se uma alianccedila entre poliacuteticos e teacutecnicos do
planejamento da cidade com os empresaacuterios ligados aos grandes interesses privados Esse
conjunto compreende os atores a partir do qual eacute instaurado o projeto de cidade proposto As
mudanccedilas espaciais promovidas pelo Plano Diretor sempre foram compatiacuteveis com os
interesses dos liacutederes empresariais da cidade principalmente os vinculados aos setores
industriais imobiliaacuterios de construccedilatildeo civil e transporte puacuteblico As poliacuteticas dos planejadores
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
105
mostram uma subordinaccedilatildeo da teacutecnica agraves necessidades e imperativos das empresas atraveacutes
da violaccedilatildeo de normas relativas ao uso do solo com o objetivo de conceder a determinadas
empresas os alvaraacutes necessaacuterios para a construccedilatildeo de grandes empreendimentos
O planejamento urbano em Curitiba natildeo soacute natildeo alterou significativamente as praacuteticas espaciais dos atores privados como parece ter contribuiacutedo para conferir uma vitalidade adicional a essas praacuteticas fazendo prevalecer os interesses corporativos diante do interesse puacuteblico (SAacuteNCHEZ 2003172)
Curitiba teve a atraccedilatildeo de induacutestrias como um dos principais condicionantes para a
elaboraccedilatildeo do Plano Diretor da deacutecada de 1960 ideacuteia que originou a Cidade Industrial de
Curitiba ndash CIC caracterizada como uma poliacutetica urbana para criaccedilatildeo de um espaccedilo
favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo dos interesses do capital industrial Esta poliacutetica urbana implicava na
concessatildeo de subsiacutedios para atrair novos investimentos com a pretensatildeo de mudar a face
da economia urbana
Os programas de atraccedilatildeo de induacutestrias vinham acompanhados de uma accedilatildeo
comunicativa e veiculaccedilatildeo de imagens de uma cidade diferente e evoluiacuteda das demais no
que se refere a aacutereas de transporte infra-estrutura e lazer A construccedilatildeo simboacutelica da
identidade da cidade a partir da oposiccedilatildeo agraves demais foi fortalecida na deacutecada de 1990 A
Tabela 4 e as Figuras 11 a 14 resumem as transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e
imagens que Curitiba sofreu desde a deacutecada de 1960
PERIacuteODOGESTAtildeO POLIacuteTICAS INTERVENCcedilOtildeES IMAGENS-SIacuteNTESE
1 CIDADE PLANEJADA
2 CIDADE MODELO3 CIDADE MODERNA E HUMANA4 CIDADE MODERNA E HUMANA
5 CAPITAL ECOLOacuteGICA6 CIDADE DE PRIMEIRO MUNDO 7 CAPITAL DA QUALIDADE DE VIDA
Equipamentos culturais e de lazer 8 CAPITAL DA CULTURAFaroacuteis do Saber Ruas da 9 CIDADE LUZCidadania Memorial da Cidade
10 CAPITAL TECNOLOacuteGICA11 MELHOR CIDADE PARA FAZER NEGOacuteCIOS
2001-2004 - C Taniguchi
Atraccedilatildeo de empresas poliacuteticas sociais
12 CAPITAL SOCIAL
1997-2000 - C Taniguchi
1971-1975 -Jaime Lerner 1975-1979 - Saul Raiz
1979-1982 - Jaime Lerner
1989-1992 - Jaime Lerner
1993-1996 - Rafael Greca
Poliacuteticas ambientais reciclagem lixo aacutereas verdes poliacuteticas de atraccedilatildeo de empresas
Zoneamento transporte uso do solo atraccedilatildeo de induacutestrias renovaccedilatildeo do centro
Zoneamento uso do solo reestruturaccedilatildeo industrial plano estrateacutegico de gestatildeo atraccedilatildeo de empresas comeacutercio serviccedilos
Poliacutetica de equipamentaccedilatildeo e animaccedilatildeo cultural turismo urbano
Transporte revitalizaccedilatildeo
Eixos estruturais sistema de transporte de massa Cidade Industrial de Curitiba
Ampliaccedilatildeo sistema de transportes renovaccedilatildeo do Centro Histoacuterico reciclagens de edifiacutecios parques urbanosRenovaccedilatildeo sistema de transporte parques ciclovias equipamentos culturais e de lazer Jardim Botacircnico Oacutepera de Arame Rua 24 Horas Universidade Livre do Meio Ambiente
Infra-estrutura viaacuteria contornos infra-estrutura de apoio agraves empresas empresariamento da gestatildeo municipal eficiecircncia de serviccedilos
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba Fonte Saacutenchez (2004)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
106
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Curitiba e o mito da cidade-modelo apresentam um discurso oficial veiculado na
miacutedia nacional e internacional como centro de experimentaccedilatildeo de novos processos e centro
difusor de novos valores Uma das uacuteltimas imagens a ela associada consiste na de ldquomelhor
cidade brasileira para se fazer negoacuteciosrdquo reportagem publicada no ano 2000 pela revista
nacional Exame
343 RIO DE JANEIRO E OS PLANOS ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
A cidade do Rio de Janeiro apresenta hoje o segundo Produto Interno Bruto (PIB)
municipal do paiacutes e eacute visitada por mais de 40 dos estrangeiros que chegam ao Brasil
consagrando-se como o maior destino turiacutestico nacional Situa-se entre as vinte cidades
mais populosas do mundo com rico acervo arquitetocircnico e inestimaacutevel patrimocircnio histoacuterico
aleacutem das evidentes belezas naturais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
107
Apesar de apresentar condiccedilotildees positivas uacutenicas a intensificaccedilatildeo urbana ocorrida
apoacutes a Segunda Guerra Mundial decorrente do fluxo imigratoacuterio de outras regiotildees contribuiu
para acelerar o quadro de carecircncia e dificuldades nos setores de telecomunicaccedilotildees sauacutede
transportes e seguranccedila puacuteblica que foram distribuiacutedos de maneira diferenciada no espaccedilo
urbano A situaccedilatildeo piorou a partir da deacutecada de 1960 quando o entatildeo presidente Juscelino
Kubitschek tirou da cidade a condiccedilatildeo de Capital Federal e centro de poder decisoacuterio
econocircmico-poliacutetico Segundo os documentos do Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de
Janeiro seu primeiro plano estrateacutegico surgiu com a justificativa de reverter este quadro
negativo e destacar as qualidades da cidade
O primeiro plano intitulado ldquoRio Sempre Riordquo teve iniacutecio em 1993 no primeiro
governo do prefeito Cesar Maia eleito em 1993 atraveacutes do Partido do Movimento
Democraacutetico Brasileiro (PMDB) O plano foi publicado em 1996 e foi um dos precursores
desse tipo de planejamento no Hemisfeacuterio Sul O Rio de Janeiro tornou-se uma das
primeiras cidades a elaborar um plano estrateacutegico como instrumento de planejamento de
pacto consensual entre governo municipal e iniciativa privada
Em janeiro de 2001 ao assumir a prefeitura novamente dessa vez pelo Partido da
Frente Liberal (PFL) o governo de Cesar Maia recorreu mais uma vez a esse instrumento
de planejamento Foi lanccedilado o Plano Estrateacutegico II da Cidade do Rio de Janeiro cujo tiacutetulo
ldquoAs cidades da Cidaderdquo sugere um estudo das diversas regiotildees do municiacutepio e suas
diferenccedilas histoacutericas culturais sociais e econocircmicas
Nesta nova fase o foco deixou de ser a busca de uma nova identidade para fortalecer a cidade e inseri-la de forma competitiva no cenaacuterio mundial mas encontrar meios que pudessem indicar os caminhos em direccedilatildeo ao futuro desejaacutevel para cada regiatildeo e a partir da articulaccedilatildeo harmocircnica e conciliada desses caminhos construir uma cidade mais solidaacuteria com igualdade de oportunidades para todos (Cesar Maia Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro 2003)
Neste segundo plano estrateacutegico o municiacutepio foi dividido em 12 regiotildees e cada
regiatildeo teve seus objetivos e estrateacutegias definidas dentro da cidade a partir dos seus
potenciais (Tabela 5 e Figuras 15 a 18) O plano considera separadamente as
caracteriacutesticas tendecircncias e aspiraccedilotildees de cada regiatildeo A partir dos objetivos centrais de
cada uma delas foram estabelecidas estrateacutegias e formuladas propostas para as aacutereas
criando-se um modelo proacuteprio para cada os Planos Estrateacutegicos Regionais A escolha por
este processo buscava retratar o cenaacuterio diversificado presente no Rio de Janeiro
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
108
PLANOS
ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
OBJETIVO CENTRAL
REGIAtildeO 1 - BANGUacuteSer um poacutelo de ecoturismo e lazer resgatando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e desenvolvendo seu potencial industrial
REGIAtildeO 2 - BARRA DA TIJUCA
Ser um poacutelo de negoacutecios focado no turismo lazer e serviccedilos e um modelo de preservaccedilatildeo ambiental
REGIAtildeO 3 - CAMPO GRANDE
Ser o centro de referecircncia para o ecoturismo com enfoque nas vocaccedilotildees gastronocircmica botacircnica pesqueira e agriacutecola consolidando as diferentes expressotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
REGIAtildeO 4 - CENTROSer o centro de referecircncia histoacuterico-cultural do paiacutes consolidando as vocaccedilotildees de centro de negoacutecios centro de desenvolvimento de tecnologia e principal centro de telecomunicaccedilotildees da ameacuterica latina
REGIAtildeO 5 - GRANDE MEacuteIER
Voltar a ser a capital dos subuacuterbios cariocas como centro de comeacutercio varejista e poacutelo prestador de serviccedilos com relevo na cultura e lazer
REGIAtildeO 6 - ILHA DO GOVERNADOR
Ser a principal base de chegada do turista agrave cidade preservando a qualidade de aacuterea residencial e incrementando as atividades esportivas culturais e artiacutesticas
REGIAtildeO 7 - IRAJAacuteSer o principal centro de abastecimento da cidade e um poacutelo formador de atletasgarantindo a tradiccedilatildeo residencial e a qualidade de vida
REGIAtildeO 8 - JACAREPAGUAacute
Ser o grande centro de eventos nacionais e internacionais tendo como foco do desenvolvimento econocircmico o ecoturismo a induacutestria de alta tecnologia garantindo a tradiccedilatildeo histoacuterico-geograacutefica
REGIAtildeO 9 - LEOPOLDINA
Ser uma regiatildeo de bairros integrados resgatando a relaccedilatildeo de vizinhanccedila desenvolvendo-se a partir de induacutestrias de base tecnoloacutegica natildeo poluentes
REGIAtildeO 10 - TIJUCA VILA ISABEL
Ser um grande poacutelo de lazer cultural de ecoturismo de desenvolvimento econocircmico focado no setor de serviccedilos e comeacutercio garantindo a qualidade de vida
REGIAtildeO 11 - ZONA NORTE
Ser o grande poacutelo de comeacutercio e centro industrial natildeo poluente preservando e incrementando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e caracteriacutesticas residenciais
REGIAtildeO 12 - ZONA SUL
Ser a vitrine nacional e internacional do turismo da cultura e do lazer reforccedilando a imagem da maneira de ser carioca
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro Elaboraccedilatildeo da autora
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
109
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
O plano buscou resgatar as tradiccedilotildees locais e estabelecer diretrizes de
desenvolvimento local para as regiotildees definindo sua contribuiccedilatildeo no desenvolvimento da
cidade Na elaboraccedilatildeo do plano foi necessaacuterio estipular uma metodologia proacutepria de
trabalho por tratar-se de um processo inovador na cidade percebida como uma ldquosoma de
partesrdquo e natildeo somente como um todo como ocorre nas grandes metroacutepoles
Em 2005 ao assumir a prefeitura do Rio de Janeiro pela terceira vez novamente
pelo PFL Cesar Maia teve a possibilidade de dar continuidade ao plano estrateacutegico iniciado
na gestatildeo anterior Com vistas aos Jogos Panamericanos realizados na cidade em 2007 o
prefeito ainda realizou a execuccedilatildeo de obras e edificaccedilotildees direcionadas aos equipamentos
esportivos como parte do processo de revitalizaccedilatildeo urbana da cidade em uma versatildeo
brasileira do ldquomodelo-Barcelonardquo visto neste capiacutetulo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
110
35 CONCLUSOtildeES PARCIAIS LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
Ateacute o presente verificamos neste capiacutetulo como as mudanccedilas processos e agentes
externos das cidades reforccedilados pela globalizaccedilatildeo atribuiacuteram a elas novas funccedilotildees
urbanas O espaccedilo tornado global impotildee a necessidade de inserccedilatildeo das cidades a niacutevel
internacional e para tanto o planejamento urbano vem sendo direcionado com tal objetivo
atraveacutes de estrateacutegias urbanas voltadas ao mercado mundial
Estrateacutegias urbanas como as analisadas para Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
proporcionaram sua posiccedilatildeo como cidades globais mas ao mesmo tempo resultaram em
impactos negativos em acircmbito social econocircmico e ambiental Na conclusatildeo deste capiacutetulo
apontaremos alguns desses impactos negativos segundo as colocaccedilotildees feitas pelos
pesquisadores do planejamento estrateacutegico
As intervenccedilotildees urbanas analisadas consistiram fundamentalmente de aparatos
culturais e de um conjunto de serviccedilos e comeacutercio aliados a investimentos em infra-estrutura
que visavam agrave atraccedilatildeo de capital principalmente internacional e de usuaacuterios e visitantes
Na opiniatildeo de VAINER (2000) essas revitalizaccedilotildees urbanas natildeo satildeo direcionadas a todos
os cidadatildeos a abertura das cidades para o exterior eacute seletiva e usufruiacuteda por grupos
especiacuteficos e qualificados
O realismo da proposta fica claro quando nossos pragmaacuteticos consultores deixam claro que esta abertura para o exterior eacute claramente seletiva natildeo queremos visitantes e usuaacuterios em geral e muito menos imigrantes pobres expulsos do campo ou de outros paiacuteses igualmente pobres queremos visitantes e usuaacuterios solventes (VAINER 200080)
A pobreza e a violecircncia urbana condicionam ou influenciam nas decisotildees dos
agentes econocircmicos e na atratividade da cidade Por este motivo os pobres (nativos ou
imigrantes) constituem demanda solvaacutevel para o planejamento estrateacutegico estando
excluiacutedos dessas aacutereas revitalizadas e consequumlentemente do proacuteprio processo de
planejamento Tal situaccedilatildeo resulta tambeacutem da concentraccedilatildeo excessiva de investimentos
puacuteblicos nas aacutereas revitalizadas Os governos locais ao inveacutes de priorizar o caraacuteter social
dos investimentos puacuteblicos o fazem de acordo com os interesses privados
A limitaccedilatildeo de recursos leva a investimentos insuficientes nas regiotildees de pobreza a
favor da qualificaccedilatildeo de aacutereas urbanas especiacuteficas que permitam a sua inserccedilatildeo global Os
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
111
investimentos por parte do poder puacuteblico no campo social foram abandonados pelas
autoridades para priorizar os investimentos que visavam atrair parcerias com o poder
privado As cidades mundiais tornaram-se entatildeo fragmentadas com aacutereas adequadamente
atendidas em contraste com as aacutereas desamparadas
A qualificaccedilatildeo dessas aacutereas urbanas especiacuteficas favorece o desenvolvimento de
novos centros urbanos que satildeo determinantes no processo de segregaccedilatildeo soacutecio-espacial O
centro da cidade eacute resultado do seu processo de crescimento originaacuterio da divisatildeo social do
trabalho e da divisatildeo territorial do trabalho De acordo com MARICATO (2000) o poder
puacuteblico cria oportunidades para o surgimento dessas novas centralidades e ao mesmo
tempo designa estrateacutegias para evitar a circulaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do espaccedilo pelas pessoas
de baixo poder aquisitivo
O Estado concede maiores benefiacutecios para esses novos centros atraveacutes da
legislaccedilatildeo O zoneamento urbano concentra os privileacutegios da urbanizaccedilatildeo em determinadas
aacutereas da cidade Por exemplo demandas exageradas de transporte coletivo em uma uacutenica
direccedilatildeo Dessa forma o Estado valoriza essas regiotildees em detrimento das demais e a
escassez de espaccedilos nessas aacutereas favorece ainda mais sua valorizaccedilatildeo expulsando alguns
grupos sociais ou substituindo-os por outros gerando uma cidade segmentada Os centros
urbanos que deveriam ser vistos como espaccedilo coletivo acabam virando um privileacutegio para
poucas pessoas Os demais grupos sociais sem alternativas satildeo obrigados a morar em
corticcedilos favelas e loteamentos que se situam nas periferias e onde a pobreza eacute
homogeneamente disseminada
Agrave dificuldade de acesso aos serviccedilos e infra-estrutura urbanos (transporte precaacuterio saneamento deficiente drenagem inexistente dificuldade de abastecimento difiacutecil acesso aos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e creches maior exposiccedilatildeo agrave ocorrecircncia de enchentes e desmoronamentos etc) somam-se menos oportunidades de emprego (particularmente do emprego formal) menos oportunidades de profissionalizaccedilatildeo maior exposiccedilatildeo agrave violecircncia (marginal ou policial) discriminaccedilatildeo racial discriminaccedilatildeo contra mulheres e crianccedilas difiacutecil acesso agrave justiccedila oficial difiacutecil acesso ao lazer (MARICATO 2003152)
A sociedade global caracteriza-se por sua proacutepria loacutegica de valores universais e
potencial de geraccedilatildeo de riquezas em uma sociedade excludente natildeo soacute de cidades mas
tambeacutem de espaccedilos dentro das cidades Segundo LOPES (1998) a busca de uma nova
estrutura da sociedade urbana capaz de absorver e solucionar os problemas da
globalizaccedilatildeo envolve limites de concentraccedilatildeo e exclusatildeo proporcionais ao tamanho do
espaccedilo urbano e da populaccedilatildeo das cidades Os centros das cidades mundiais apresentam
concentraccedilatildeo de poder e riqueza que favorecem a inserccedilatildeo de agentes sociais competitivos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
112
e integrados no espaccedilo global Paralelamente essas mesmas cidades abrigam aacutereas de
exclusatildeo consideradas irrelevantes no planejamento estrateacutegico jaacute que consistem
populaccedilotildees que natildeo participam do processo de formaccedilatildeo de riqueza
As accedilotildees globais e locais interagem no sentido de criar aacutereas de prosperidade e de irrelevacircncia e exclusatildeo em espaccedilos urbanos contiacutenuos ou separados obrigando as novas formulaccedilotildees estruturais da sociedade Por outro lado as cidades assumem a funccedilatildeo primordial de arena moderna para o desenvolvimento os confrontos e as confluecircncias dos atores principais da sociedade atual (LOPES 199860)
Essa realidade acaba por criar bairros com carecircncia de empregos comeacutercio
serviccedilos e infra-estrutura A dinacircmica de exclusatildeo social tem como consequumlecircncias a
depredaccedilatildeo ambiental pela ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas protegidas e os altos iacutendices de
violecircncia e inseguranccedila As cidades mundiais consolidam a existecircncia de espaccedilos
separados para os diferentes grupos sociais O planejamento urbano ligado a uma cidade
caracterizada pela segregaccedilatildeo soacutecio-espacial reduz a diversidade que tradicionalmente
caracteriza os nuacutecleos urbanos e eacute marcado pela pobreza da vida social e pela ausecircncia
dos espaccedilos puacuteblicos
Ideologicamente a regiatildeo da cidade que concentra os investimentos puacuteblicos e as
intervenccedilotildees urbanas comeccedila a se identificar como a imagem oficial e a representaccedilatildeo da
cidade A cidade oficial consiste na parte onde o poder puacuteblico oferece investimento em
infra-estrutura equipamentos urbanos faacutecil mobilidade e acesso constituindo o espaccedilo da
minoria privilegiada A imagem desta aacuterea eacute utilizada para a ldquovendardquo da cidade e valorizaccedilatildeo
imobiliaacuteria na busca da imagem do ldquoespetaacuteculordquo e na corrida do tiacutetulo de cidade global
A segregaccedilatildeo e exclusatildeo soacutecio-espacial urbana vecircm acompanhadas de outra
consequumlecircncia da cidade global a exclusatildeo econocircmica Segundo LOPES (1998) a
informatizaccedilatildeo criou duas novas condicionantes para o processo de desenvolvimento
econocircmico a dispersatildeo geograacutefica da produccedilatildeo em funccedilatildeo da diversidade de localizaccedilatildeo
de bens e serviccedilos em termos mundiais e a difusatildeo tecnoloacutegica que abre novas e
significativas oportunidades de desenvolvimento para as diversas cidades Essas duas
condicionantes apresentam implicaccedilotildees importantes na estruturaccedilatildeo da sociedade e
acarretam novas demandas de qualificaccedilatildeo do espaccedilo urbano Na opiniatildeo de RIZZO (2005)
para integrar as cidades em suas posiccedilotildees na economia global torna-se necessaacuterio tambeacutem
integrar e estruturar suas sociedades locais ldquoSem uma base soacutelida nos cidadatildeos os
governos municipais natildeo teratildeo a forccedila que eacute necessaacuteria para navegar naqueles circuitos
globaisrdquo (RIZZO 200574)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
113
As modificaccedilotildees no mercado de trabalho constituem o efeito mais importante da
reestruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo social e dos valores culturais da sociedade Agrave medida em
que as cidades integram-se em maior ou menor grau agrave divisatildeo internacional do trabalho
ocorre uma valorizaccedilatildeo daqueles que lidam com o trabalho informacional Natildeo estar
integrado conduz a um desemprego crescente ou a uma possiacutevel desvalorizaccedilatildeo do trabalho
A integraccedilatildeo em rede aleacutem de ser um poderoso acelerador do desenvolvimento local eacute um processo altamente excludente para vastos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam irrelevantes do ponto de vista econocircmico Essa exclusatildeo envolve natildeo soacute vastas regiotildees englobando vaacuterias cidades como tambeacutem dentro das proacuteprias cidades adicionando mais um fator da nova divisatildeo internacional do trabalho A exclusatildeo econocircmica induz agrave exclusatildeo social (LOPES 199863)
A principal consequumlecircncia desse mercado de trabalho excludente eacute a informalidade A
economia informal correspondia a um fenocircmeno secundaacuterio dentro da estrutura econocircmica
das cidades ligada basicamente agrave pobreza LOPES (1998) conclui que com a nova divisatildeo
internacional do trabalho a informalidade deixa de ser uma saiacuteda para a resoluccedilatildeo dos
problemas de geraccedilatildeo de empregos e de formaccedilatildeo de riqueza das camadas mais pobres da
populaccedilatildeo para ser um fenocircmeno de adaptaccedilatildeo da sociedade aos novos requisitos da
organizaccedilatildeo informacional
O planejamento urbano das cidades globais acarreta ainda limites quanto ao papel
do Estado na administraccedilatildeo puacuteblica Para atingir o status de cidade global o Estado passa a
intervir pouco no planejamento O modelo urbano estrateacutegico baseado na loacutegica
mercadoloacutegica insere empresaacuterios e empreendedores como atores poliacuteticos O Estado perde
a sua autonomia que passa entatildeo a ser regida pelo mercado atraveacutes da financeirizaccedilatildeo das
economias e dos orccedilamentos puacuteblicos
O Estado interveacutem minimamente nas decisotildees soacutecio-econocircmicas e os grandes atores poliacuteticos satildeo empresaacuterios e investidores Essa tendecircncia na administraccedilatildeo local se confirma no crescente processo de privatizaccedilatildeo das empresas puacuteblicas na desregulamentaccedilatildeo das atividades econocircmicas e sociais e na reversatildeo dos padrotildees universais de proteccedilatildeo social O poder local composto por poliacuteticos comprometidos com a perspectiva empresarial da cidade lanccedila matildeo dos instrumentos necessaacuterios para tornar o espaccedilo urbano mais atraente baseando-se na flexibilizaccedilatildeo das leis de uso do solo e na crescente necessidade imposta pelo mercado de as cidades globais estarem constantemente inseridas no circuito do fluxo internacional de capital e informaccedilatildeo (AMEcircNDOLA 2002 disponiacutevel em httpwwwfethggfbr acesso em maio de 2006)
OLIVEIRA (2003) aprofunda esta questatildeo alegando que o planejamento urbano
regido pela loacutegica do mercado passa a ser constituiacutedo a partir do que ele denomina ldquoEstado
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
114
de Exceccedilatildeo As empresas se apropriam das poliacuteticas sociais impondo novos criteacuterios para
as mesmas pois necessitam da eficiecircncia e da produtividade das poliacuteticas puacuteblicas
resultando em uma situaccedilatildeo de exclusatildeo social O Estado dessa maneira torna-se
supeacuterfluo e passa a ser desempenhado como maacutequina de arrecadaccedilatildeo para tornar o
excedente disponiacutevel para o capital A exceccedilatildeo consiste no fato de que as poliacuteticas sociais
natildeo tecircm mais a concepccedilatildeo de mudar a distribuiccedilatildeo de renda pelo contraacuterio acabam
transformando-se em ldquoantipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobrezardquo (OLIVEIRA 200309)
O autor conclui que as cidades constituem locais por excelecircncia das exceccedilotildees e o
Estado constitui a administraccedilatildeo da exceccedilatildeo Nas relaccedilotildees entre o poder puacuteblico e o urbano
a cidade reduz-se a um espetaacuteculo onde todas as formas de planejamento almejam a
supressatildeo do conflito de classes em busca da funcionalizaccedilatildeo da cidade A sociedade
brasileira atraveacutes desse processo desenvolve-se caracterizada por uma situaccedilatildeo de
desigualdade social
Se historicamente as relaccedilotildees entre o Estado e o urbano pautaram-se por um esforccedilo de normatividade da relaccedilatildeo capital-trabalho cabendo ao planejamento enquadrar a exceccedilatildeo e transformaacute-la em norma transformaccedilotildees radicais recentes na economia e sociedade brasileiras sugerem que a exceccedilatildeo parece ter enquadrado o planejamento Agraves desigualdades histoacutericas da sociedade brasileira vieram juntar-se aquelas advindas da reestruturaccedilatildeo produtiva e da globalizaccedilatildeo reformatando o mercado funcionalizando a relaccedilatildeo Estado-capital transformando poliacuteticas sociais em antipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobreza erigindo em norma o que antes dela se afastava pontuando um esforccedilo teoacuterico que transitou da busca da normatividade para a racionalizaccedilatildeo da exceccedilatildeo (OLIVEIRA 200309)
Natildeo satildeo de hoje as criacuteticas feitas agrave administraccedilatildeo puacuteblica brasileira que sugerem sua
associaccedilatildeo ao resultado de desigualdade social caracteriacutestico de nossas cidades
MARICATO (2000) destaca que o urbanismo brasileiro natildeo tem comprometimento com a
realidade concreta mas com uma ordem que diz respeito apenas a uma parte da cidade A
administraccedilatildeo puacuteblica brasileira permite a exclusatildeo soacutecio-espacial e a legislaccedilatildeo urbana soacute eacute
aplicada quando conveniente com o objetivo de valorizaccedilatildeo do solo ldquoA ineficaacutecia dessa
legislaccedilatildeo eacute de fato apenas aparente pois constitui um instrumento fundamental para o
exerciacutecio arbitraacuterio do poder aleacutem de favorecer pequenos interesses corporativosrdquo
(MARICATO 2000147)
O Estado aleacutem de perder sua autonomia perante a influecircncia dos interesses do
mercado tambeacutem acaba enfraquecido pelos novos condicionantes impostos pela
globalizaccedilatildeo Ao dar novo sentido para o local dentro do processo de integraccedilatildeo a
globalizaccedilatildeo tornou conflituosa a relaccedilatildeo entre os diversos niacuteveis de governo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
115
Cidades e Estado apresentam interesses diversos que enfraquecem o Estado e
oferecem agraves cidades papel mais relevante A deficiecircncia da qualidade administrativa dos
governos nacional estadual e municipal conduziu a uma reestruturaccedilatildeo geral do Estado a
partir da diminuiccedilatildeo de suas funccedilotildees em paralelo agrave privatizaccedilatildeo de suas instituiccedilotildees e
serviccedilos Essa tendecircncia abriu novas perspectivas de mobilizaccedilatildeo de recursos mas criou
dificuldades de gestatildeo Segundo MARICATO (2002) as propostas que enfatizaram a
autonomia das cidades e a disputa entre elas para a atraccedilatildeo de investimentos e prestiacutegio
alimentaram a campanha de enfraquecimento do Estado-Naccedilatildeo ou pelo menos desviaram
a atenccedilatildeo dos governantes e governados sobre as poliacuteticas nacionais
Na Segunda Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos Humanos da ONU (Istambul 1996) falou-se da necessidade de criaccedilatildeo de uma OCU ndash Organizaccedilatildeo das Cidades Unidas a exemplo da ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Uma multidatildeo (sic) de argumentos procurava evidenciar a crescente importacircncia e autonomia das cidades ldquoNatildeo haacute prefeitos que tecircm mais prestiacutegio que muitos presidentesrdquo era um argumento muito ouvido Aparentemente as cidades-estado estatildeo de volta poderosas e independentes (MARICATO 200257)
Os governos locais na visatildeo de LOPES (1998) satildeo os mais aptos a administrar a
cidade na sociedade global porque possuem maior capacidade de representaccedilatildeo e
legitimidade com relaccedilatildeo aos seus representados e constituem agentes institucionais de
integraccedilatildeo social e cultural de comunidades territoriais Aleacutem disso possuem maior
flexibilidade adaptabilidade e capacidade de manobras em um espaccedilo de fluxos
econocircmicos entrelaccedilados demandas e ofertas em constantes mudanccedilas e sistemas
tecnoloacutegicos descentralizados e interativos
A partir das colocaccedilotildees vistas ateacute o presente podemos entatildeo concluir que os
resultados da aplicaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico no espaccedilo urbano apresentam nas
cidades os seguintes limites potenciais e impactos negativos em meio social econocircmico e
ambiental
1 Conflitos entre as diversas esferas de governo (cidades x Estado) devido agrave
importacircncia dada ao local no processo de integraccedilatildeo global
2 Perda da autonomia do Estado perante a influecircncia dos interesses do mercado
3 Concentraccedilatildeo excessiva de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave
revitalizaccedilatildeo urbana com consequumlente carecircncia de investimentos puacuteblicos nas
demais aacutereas
4 Direcionamento dos investimentos puacuteblicos conforme os interesses privados
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
116
sem dar prioridade ao seu caraacuteter social
5 Conflitos entre as necessidades da populaccedilatildeo local e as intervenccedilotildees urbanas
voltadas agrave inserccedilatildeo global das cidades
6 Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria das aacutereas que sofrem revitalizaccedilatildeo urbana com expulsatildeo
ou substituiccedilatildeo de grupos sociais
7 Depredaccedilatildeo ambiental decorrente da ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas
protegidas face agrave expulsatildeo de alguns grupos sociais das aacutereas revitalizadas
8 Exclusatildeo social
9 Segregaccedilatildeo soacutecio-espacial
10 Fragmentaccedilatildeo da cidade com aacutereas corretamente atendidas em contraste a
aacutereas desassistidas pelo poder puacuteblico
11 Aumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos
caracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
12 Aumento da violecircncia urbana e inseguranccedila nos bairros excluiacutedos
13 Exclusatildeo do mercado de trabalho aos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam
irrelevantes do ponto de vista econocircmico
14 Desemprego e desvalorizaccedilatildeo do trabalho
15 Propagaccedilatildeo do mercado de trabalho informal
16 Aumento das desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica
social e espacial
No seguimento deste trabalho veremos como os impactos negativos apontados
como resultantes do planejamento estrateacutegico refletem-se no caso do empreendimento
Sapiens Parque Para tanto analisaremos as avaliaccedilotildees feitas pelo Instituto de Arquitetos
do Brasil (IAB-SC) e pelas empresas responsaacuteveis pelo Estudo de Impacto Ambiental e
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) do empreendimento aleacutem da posiccedilatildeo da
comunidade local quanto agrave sua implantaccedilatildeo Ao final do trabalho cruzaremos as
informaccedilotildees obtidas com os criteacuterios e objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel designados
por SACHS (2002) e vistos no capitulo anterior segundo as dimensotildees de sustentabilidade
social ambiental e econocircmica
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
117
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
41 AVALIACcedilOtildeES DO INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL
O primeiro projeto para o empreendimento Sapiens Parque elaborado pela empresa
Ecoplan foi escolhido a partir de um Workshop patrocinado pelo grupo CERTI em 2002 O
Workshop contou com a participaccedilatildeo de arquitetos integrantes do nuacutecleo do Instituto de
Arquitetos do Brasil (IAB-SC) Segundo o documento com a avaliaccedilatildeo criacutetica referente ao
empreendimento (Anexo 1) expedido pelo grupo de arquitetos apoacutes a realizaccedilatildeo do
Workshop o Sapiens Parque apresenta singularidades que o torna um projeto uacutenico
Baseado nos conceitos de inovaccedilatildeo conhecimento e tecnologia
O empreendimento eacute proposto como um projeto ordenador que natildeo se limita
somente ao siacutetio no qual estaacute inserido colocando-se como uma nova centralidade
de requalificaccedilatildeo urbana para Florianoacutepolis baseada na preservaccedilatildeo ambiental e
na busca de qualidade de vida
O projeto procura identificar as qualidades que tornaram Florianoacutepolis uma cidade
desejada e desenvolver no conjunto de suas atividades a possibilidade de que se
torne um iacutecone para a regiatildeo o paiacutes e o mundo
O empreendimento eacute apresentado como uma forma de superar a exclusatildeo social
Os arquitetos chamam a atenccedilatildeo para alguns elementos diferenciadores com relaccedilatildeo
ao terreno onde seraacute implantado o empreendimento Por tratar-se de aacuterea pertencente a
uma empresa estadual e portanto de natureza puacuteblica destaca-se a necessidade de
identificar espaccedilos puacuteblicos atividades e equipamentos estruturadores que levem em conta
as vocaccedilotildees de Florianoacutepolis e os aspectos sociais do empreendimento Aleacutem disso o grupo
chama a atenccedilatildeo para a localizaccedilatildeo privilegiada do terreno e questiona o projeto como a
uacutenica possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e de reestruturaccedilatildeo urbana do Norte da Ilha Os
arquitetos ainda destacam o fato de o siacutetio de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estar
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
118
localizado proacuteximo ao Parque Florestal do Rio Vermelho e agrave Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
sendo necessaacuteria sua integraccedilatildeo a tais regiotildees de preservaccedilatildeo
Em entrevista concedida durante uma audiecircncia puacuteblica realizada em junho de 2004
para a discussatildeo do RIMA do Sapiens Parque a arquiteta Silvia Lenzi participante do
Workshop realizado em 2002 afirmou que o desafio do empreendimento eacute articular o projeto
com a proacutepria cidade A arquiteta chama a atenccedilatildeo para o caraacuteter puacuteblico que deve ter o
empreendimento decorrente do fato de envolver recursos e investimentos puacuteblicos
ldquoNoacutes tivemos a oportunidade de conhecer esta proposta haacute dois anos atraacutes e em um grupo de arquitetos formulamos alguns questionamentos em relaccedilatildeo a esta proposta Noacutes entendemos que eacute uma grande oportunidade para a cidade mas o grande desafio deste empreendimento eacute a articulaccedilatildeo do projeto com a cidade Existe um autor argentino que fala que devemos construir cidades concretas para homens concretos e eacute o que estaacute faltando neste projeto() Noacutes natildeo podemos mais ir na contra-matildeo da histoacuteria do urbanismo no Brasil que recentemente aprovou nem tatildeo recentemente foi no ano 2001 o Estatuto da Cidade Dentro do Estatuto da Cidade tem uma seacuterie de instrumentos inclusive um que se chama Estudo de Impacto de Vizinhanccedila onde se prevecirc toda uma anaacutelise de empreendimentos de porte muito menor do que o projeto Sapiens onde existe uma contrapartida pra cidade e pra sociedade em relaccedilatildeo ao impacto que aquele empreendimento causa Neste caso aqui o que aparece no RIMA reconhecendo-se o impacto que tem se remete toda uma responsabilidade ao poder puacuteblico Quando se fala em interesse puacuteblico eu gostaria de ter mais claro que interesse puacuteblico eacute esse do projeto quando a comunidade soacute fica com o ocircnus e natildeo tem um benefiacutecio direto em relaccedilatildeo a esta propostardquo(Arquiteta Silvia Lenzi Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
O grupo de arquitetos elaborou uma avaliaccedilatildeo criacutetica ao modelo de projeto
apresentado nas primeiras versotildees do Master Plan do Sapiens Parque baseado em
ldquoclustersrdquo25 como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Estudos de casos
de modelos semelhantes mostram aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com
consequumlente aumento da marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social Aleacutem disso a
proposta de lagos artificiais como cenaacuterio dominante do projeto tambeacutem foi considerada
segregadora jaacute que o efeito resultante reforccedila a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha
criadas (Figura 19)
25 Clusters (grupos agrupamentos ou aglomerados) satildeo concentraccedilotildees geograacuteficas de empresas de determinado setor de atividade e organizaccedilotildees correlatas de fornecedores de insumos a instituiccedilotildees de ensino e clientes (httpwwwhsmcombr acesso em 19122007)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
119
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003)
A concepccedilatildeo inicial do projeto do empreendimento mostrou-se inadequada para
cumprir as ideacuteias originais de programas propostos pelo Sapiens Parque Os arquitetos
realizaram as seguintes criacuteticas ao Master Plan 2003
As dimensotildees e natureza puacuteblica do terreno obrigam o projeto a contar com
atividades e equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
Os projetos iniciais consistem em repeticcedilotildees conceituais que poderiam estar em
qualquer lugar do mundo sem levar em consideraccedilatildeo a contextualidade local
Os projetos constituem elementos isolados do seu entorno tornando o parque um
elemento desagregador e natildeo integrador da estrutura urbana existente
A anaacutelise apresentada para o projeto natildeo inclui o estudo do comportamento do
entorno urbano imediato e do Norte da ilha restringindo-se apenas ao terreno
Os projetos defendem a monofuncionalidade de atividades que gera setores
isolados entre si
A distribuiccedilatildeo das atividades eacute feita com indiferenccedila sobre o siacutetio de implantaccedilatildeo e
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
120
dos requerimentos ambientais especiacuteficos para cada atividade
As zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar e homogecircnea
independente da atividade ali exercida e das condiccedilotildees do siacutetio
Natildeo haacute definiccedilatildeo de quais aacutereas concentram espaccedilos puacuteblicos semi-puacuteblicos e
privados e a soluccedilatildeo prevista para articular entre si estes trecircs niacuteveis de
apropriaccedilatildeo
Natildeo haacute esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teacutecnico selecionado e em
que referenciais nacionais ou internacionais o projeto foi embasado
O grupo de arquitetos defende a importacircncia da articulaccedilatildeo da cidade com as aacutereas
verdes preservadas e os espaccedilos puacuteblicos Aleacutem disso o IAB chama a atenccedilatildeo para a
necessidade de vinculaccedilatildeo do projeto com o mar e com terminais de transporte puacuteblico sem
esquecer dos problemas de infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos
A monofuncionalidade deve dar lugar a atividades variadas que permitam a
celebraccedilatildeo da cidadania e caracterizem a centralidade regional conformando uma unidade
que articule toda a regiatildeo norte da Ilha O compromisso do empreendimento deve ser o de
ldquoconstruir cidaderdquo e natildeo somente criar um parque tecnoloacutegico com algumas atividades
complementares para uso da populaccedilatildeo local
42 AVALIACcedilOtildeES DO EIA-RIMA 2003
O EIA-RIMA elaborado para avaliaccedilatildeo dos impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais
do empreendimento Sapiens Parque apresenta por base um diagnoacutestico interdisciplinar
considerado a partir das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na regiatildeo de influecircncia A
anaacutelise de acordo com as empresas Socioambiental Consultores Associados Ltda e
Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente responsaacuteveis pelo estudo parte das
interaccedilotildees dos diversos grupos soacutecio-culturais ao longo do tempo de forma a identificar
transformaccedilotildees da realidade e possibilitar o estabelecimento de tendecircncias e cenaacuterios
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
121
A aacuterea de influecircncia tida como base para os estudos apresenta-se definida pelos
responsaacuteveis na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA a partir de trecircs paracircmetros aacuterea diretamente
afetada (ADA) aacuterea de influecircncia direta (AID) e aacuterea de influecircncia indireta (AII)
Consideraram-se aacutereas diretamente afetadas pelo empreendimento os 450 hectares
situados na planiacutecie sedimentar do Distrito de Canasvieiras A regiatildeo caracteriza-se pela
baixa declividade fraca drenagem e ocorrecircncia de remanescentes de restinga arboacuterea e
banhados e tambeacutem reflorestamentos de pinus e eucalipto
A aacuterea de influecircncia direta delimita-se a partir da bacia hidrograacutefica do Rio Ratones e
tambeacutem localidades do norte e nordeste da ilha que natildeo satildeo abrangidas totalmente por esta
bacia (Ponta das Canas Canasvieiras Jurerecirc Cachoeira do Bom Jesus Ingleses Santinho
e Rio Vermelho) A regiatildeo sofreria diretamente os efeitos do projeto em particular no que
tange agrave dinamizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e agrave infra-estrutura baacutesica De acordo com os
realizadores do estudo a delimitaccedilatildeo desta aacuterea deu-se em razatildeo das caracteriacutesticas
sociais econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas do local onde se pretende inserir o
empreendimento e das particularidades e dimensotildees do projeto
Por fim a aacuterea de influecircncia indireta considerada eacute a que real ou potencialmente estaacute
sujeita aos impactos indiretos da implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo do parque e abrange
ecossistemas e sistemas soacutecio-econocircmicos que podem ser impactados por alteraccedilotildees
ocorridas na aacuterea de influecircncia direta
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para discussatildeo do RIMA a comunidade
local criticou os criteacuterios utilizados para delimitaccedilatildeo das aacutereas afetadas pelo
empreendimento As colocaccedilotildees levantadas apontam que o relatoacuterio destaca as trecircs aacutereas
de influecircncia acima especificadas mas que se dedica efetivamente agrave apenas duas delas a
aacuterea diretamente afetada que compreende o terreno de implantaccedilatildeo do parque em si e a
aacuterea de influecircncia direta que compreende basicamente o Norte da Ilha A aacuterea que
compreende o restante da Ilha seria dessa forma ignorada pelo estudo de impacto feito
Destaca-se que um empreendimento de porte e repercussatildeo como o Sapiens Parque com
previsatildeo de alcance de quase 30 mil empregos diretos natildeo poderia ser tratado com tal
classificaccedilatildeo arbitraacuteria Aleacutem disso o estudo tambeacutem ignora a ligaccedilatildeo do parque com o
Aeroporto Herciacutelio Luz que fica a 50 km ao sul do seu terreno de implantaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
122
Apesar das criacuteticas existentes com relaccedilatildeo aos criteacuterios utilizados para definir a
delimitaccedilatildeo da aacuterea de abrangecircncia do empreendimento na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA
consideramos importante para a avaliaccedilatildeo do projeto apresentar o levantamento dos
impactos apontados pelo estudo Dos 58 impactos potenciais localizados pelo EIA-RIMA 13
deles ocorrem em meio fiacutesico (sendo todos negativos) 10 ocorrem em meio bioacutetico (sendo 8
negativos) e 35 deles ocorrem em meio soacutecio-econocircmico (sendo 24 negativos e 1 tanto
negativo quanto positivo)
Os impactos foram classificados conforme seu grau de abrangecircncia em I (interno agrave
aacuterea do empreendimento ndash total de 9 impactos) L (local ou entorno proacuteximo ndash total de 7
impactos) R (regional ou Norte da Ilha ndash total de 29 impactos) e M (municipal ou
metropolitano - total de 13 impactos) Os demais criteacuterios para a classificaccedilatildeo dos impactos
dizem respeito agrave natureza do impacto (novo ampliaccedilatildeo ou antecipaccedilatildeo) ao momento de
ocorrecircncia nas fases do empreendimento (planejamento implantaccedilatildeo ou ocupaccedilatildeo) agrave
forma de manifestaccedilatildeo (direta ou indireta) ao grau de importacircncia (alto meacutedio ou baixo) agrave
magnitude (grande meacutedia ou pequena) agrave persistecircncia do impacto (temporaacuterio ou
permanente) agrave manifestaccedilatildeo (imediato a meacutedio ou longo prazo) agrave durabilidade (curto
meacutedio ou longo) ao grau de reversibilidade do efeito (reversiacutevel parcialmente reversiacutevel ou
irreversiacutevel) e agrave possibilidade de mitigaccedilatildeo e de compensaccedilatildeo direta (total parcial nenhuma
ou desnecessaacuteria)
Selecionamos aqui alguns dos principais impactos identificados relacionados na
Tabela 6 conforme o meio em que ocorrem (fiacutesico bioacutetico ou soacutecio-econocircmico) segundo os
apontamentos feitos no EIA-RIMA e com suas respectivas accedilotildees de compensaccedilatildeo ou
potencializaccedilatildeo A Tabela 6 mostra tambeacutem os efeitos de cada impacto (P= positivo e N=
negativo) A lista completa dos impactos em meio fiacutesico bioacutetico e socioeconocircmico pode ser
conferida no Anexo 2 Nos textos que seguem veremos o resultado deste estudo com
maiores detalhes
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
123
Degradaccedilatildeo da qualidade da aacutegua provocada pela drenagem N Tratamento das aacuteguas de drenagem atraveacutes de zonas de banhado (Wetlands)
eou infiltraccedilatildeo
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio do empreendimento N Sistema de tratamento de esgoto proacuteprio do empreendimento
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio da populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
N
Plano Diretor Participativo do Norte da Ilha Ampliaccedilatildeo dos sistema de tratamento puacuteblico de esgoto Melhoria da viabilidade econocircmica do sistema em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de sazonalidade da demanda Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho
Risco de perda de qualidade do manancial Ingleses Rio Vermelho por ocupaccedilatildeo pela populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Monitoramento e controle do manancial
Demanda por jazidas externas (argila e pedra) N Realizar aterro de forma seletiva Buscar fontes comerciais jaacute licenciadas
Proteccedilatildeo de ambientes originais (banhado e restinga arboacuterea) pelo Parque Natural
P _
Ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes na bacia em funccedilatildeo da pressatildeo imobiliaacuteria
NProgramas de monitoramento e controle Estabelecimento de corredores ecoloacutegicos Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor participativo do Norte da Ilha e outras ferramentas de planejamento
Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria P N Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades
Saturaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio NGestatildeo diferenciada de horaacuterios de entradasaiacuteda dos funcionaacuterios Estiacutemulo ao transporte alternativo eou solidaacuterio Ampliaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio Implantaccedilatildeo de faixa exclusiva de ocircnibus
Geraccedilatildeo de traacutefego lento por transporte de cargas (aterro e materiais de construccedilatildeo)
N Gestatildeo dos horaacuterios de transporte de forma a reduzir o impacto nos horaacuterios de pico inclusive nas pontes IlhaContinente
Demanda de aacutegua do SAPIENS PARQUE N
Reuso de esgoto tratado Captura e utilizaccedilatildeo de aacutegua de chuva Equipamentos economizadores de aacutegua Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho Ampliaccedilatildeo do sistema de abastecimento previsto pela CASAN
Atraccedilatildeo de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees P _
Pressatildeo sobre o sistema de transporte coletivo N
Fornecimento de transporte proacuteprio das empresas instaladas no Sapiens Parque Horaacuterios diferenciados de entrada e saiacuteda de funcionaacuterios Sistema de pontuaccedilatildeo de sustentabilidade para transportes alternativos Aumento da frota de ocircnibus e de linhas
Aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura esporte e lazer e de serviccedilos soacutecio-educativos
P _
Adensamento de ocupaccedilotildees ao longo das vias dificultando ampliaccedilotildees futuras do sistema viaacuterio
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Legislaccedilatildeo de alinhamento eou declaraccedilatildeo de Utilidade Puacuteblica das aacutereas estrateacutegicas Campanhas informativas Definiccedilatildeo de vias alternativas
Risco de exclusatildeo das comunidades locais frente agraves oportunidades criadas N
Acessibilidade das comunidades aos equipamentos e espaccedilos de lazer entretenimento cultura esportes e serviccedilos comunitaacuterios Programas de capacitaccedilatildeo comunitaacuterios Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
Expulsatildeo da populaccedilatildeo local por aumento da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no entorno
N Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades locais Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
Aumento de violecircncia por tensatildeo soacuteciocultural N Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local Transporte diaacuterio de matildeo-de-obra
da construccedilatildeo civil
POSSIacuteVEIS ACcedilOtildeES DE MITIGACcedilAtildeO COMPENSACcedilAtildeO OU POTENCIALIZACcedilAtildeO DOS IMPACTOS
ME
IO F
IacuteSIC
OM
EIO
BIOacute
TIC
OM
EIO
SO
CIO
EC
ON
OcircM
ICO
EFEITOPRINCIPAIS IMPACTOS POTENCIAIS
IDENTIFICADOS NO SAPIENS PARQUE
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003) Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
124
421 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO FIacuteSICO E BIOacuteTICO
Dentre os impactos em meio fiacutesico identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque
destacam-se os que estatildeo relacionados aos problemas de drenagem Segundo estudos de
hidrodinacircmica do Rio Papaquara que corre ao sul do terreno boa parte da aacuterea de
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estaacute sujeita a cheias perioacutedicas A anaacutelise das interferecircncias
causadas pelo empreendimento sobre a drenagem em funccedilatildeo da disposiccedilatildeo do sistema de
lagos do projeto tornou necessaacuteria a revisatildeo do antigo Master Plan de 2003 Segundo
MASCAROacute (1994) os lagos podem funcionar como bacias de estocagem de aacutegua em aacutereas
de inundaccedilatildeo quando necessaacuterio Mas o RIMA apontou a inadequabilidade dos lagos no
momento em que interrompem os canais de drenagem existentes Aleacutem disso a reduccedilatildeo da
superfiacutecie de inundaccedilatildeo e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o
potencial de drenagem do terreno Outro aspecto criticado no estudo diz respeito agrave
necessidade de aterros nas regiotildees edificadas do empreendimento decorrente do fato de
tratar-se de aacuterea sujeita a inundaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo ao sistema de esgoto os empreendedores prometem a soluccedilatildeo
imediata atraveacutes do encaminhamento do esgoto gerado pelo empreendimento para uma
rede coletora proacutepria de tratamento a Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto Sapiens (ETE-
SAPIENS) O objetivo eacute promover o tratamento do esgoto gerado pelo parque para possiacutevel
reuso natildeo potaacutevel posterior Entretanto esta soluccedilatildeo natildeo eacute vaacutelida para o esgoto produzido
pelos habitantes ou turistas induzidos pelo empreendimento (o RIMA estima cerca de
22000 pessoas a mais que as estimativas sem o empreendimento em 2020) O Sapiens
Parque alega que o sistema de esgotamento sanitaacuterio do Norte da Ilha realizado atraveacutes da
Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE) de Canasvieiras e de outros sistemas particulares
jaacute estaacute defasado e natildeo atende agraves demandas da populaccedilatildeo na alta temporada de veratildeo
Dessa forma segundo os empreendedores a necessidade de ampliaccedilatildeo da ETE de
Canasvieiras tornar-se-ia imprescindiacutevel independente da implantaccedilatildeo do empreendimento
Em meio bioacutetico os impactos principais consistem na supressatildeo da aacuterea aberta e da
vegetaccedilatildeo aquaacutetica decorrentes das escavaccedilotildees do lago e da implantaccedilatildeo de aterros O
Sapiens Parque defende que tais aacutereas seratildeo compensadas principalmente atraveacutes da
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno onde se pretende preservar o
ambiente autoacutectone Tanto este quanto os demais impactos negativos identificados em meio
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
125
bioacutetico (como supressatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes originais pressatildeo direta sobre a
populaccedilatildeo de jacareacutes e perturbaccedilatildeo do ambiente de lontras) apresentam como medida
compensatoacuteria principal a criaccedilatildeo e gestatildeo de um Parque Natural
Apesar da importacircncia dos impactos em meio bioacutetico internos agrave aacuterea do
empreendimento e da eficiecircncia das medidas adotadas pelo Sapiens Parque para sua
mitigaccedilatildeo consideramos de maior relevacircncia os impactos em niacutevel regional e municipal Um
dos principais impactos negativos em meio bioacutetico externos ao terreno diz respeito agrave
ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes em funccedilatildeo da pressatildeo
imobiliaacuteria
A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis em razatildeo da expectativa da implantaccedilatildeo do empreendimento e mais concretamente a partir do iniacutecio de sua real implantaccedilatildeo torna as aacutereas de ambientes fraacutegeis mais suscetiacuteveis agrave ocupaccedilatildeo humana por parte de parcela da populaccedilatildeo menos favorecida economicamente dada a valorizaccedilatildeo econocircmica das aacutereas mais adequadas para o processo de urbanizaccedilatildeo Esta parcela da populaccedilatildeo atraiacuteda por potenciais oportunidades de renda ou simplesmente expulsa por pressatildeo imobiliaacuteria das aacutereas jaacute urbanizadas natildeo encontrando imoacuteveis acessiacuteveis em aacutereas adequadas tende a ocupar aacutereas improacuteprias como vaacuterzeas banhados beiras de rios e encostas gerando prejuiacutezos aos ambientes naturais remanescentes agrave paisagem e por vezes com riscos agrave populaccedilatildeo (deslizamentos e inundaccedilotildees) (RIMA 7 200332)
O Sapiens Parque coloca essa ocupaccedilatildeo irregular como existente e tendencial na
regiatildeo e que o parque somente acarretaria a aceleraccedilatildeo desse processo Como meio de
mitigaccedilatildeo do impacto o RIMA sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor para o Norte da Ilha e
de ferramentas de planejamento que possam estabelecer mecanismos legais de
planejamento e gestatildeo do espaccedilo urbano aleacutem de programas de monitoramento que
garantam o cumprimento do zoneamento urbano O RIMA cita tambeacutem a implantaccedilatildeo do
Parque Natural do empreendimento como forma de compensaccedilatildeo desse impacto
Justificativa semelhante eacute apresentada ao constatar-se que a populaccedilatildeo induzida
pelo empreendimento poderaacute colocar em risco a qualidade do aquiacutefero de Ingleses e Rio
Vermelho principal manancial de aacutegua potaacutevel subterracircneo da Ilha O RIMA coloca que a
expansatildeo urbana da regiatildeo norte trata-se de um fenocircmeno crescente que vem gerando
ocupaccedilotildees indiscriminadas legais e ilegais de importantes aacutereas desse manancial A
especulaccedilatildeo imobiliaacuteria tende a se aprofundar na regiatildeo com a implantaccedilatildeo do
empreendimento o que levaria a um aumento da demanda por aacutereas menos adequadas agrave
ocupaccedilatildeo humana e de menor valor em virtude da saturaccedilatildeo eou valorizaccedilatildeo econocircmica
das aacutereas mais adequadas para a urbanizaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo de aacutereas improacuteprias pode vir a
comprometer a qualidade da aacutegua do manancial Mas o RIMA afirma que tal processo jaacute eacute
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
126
uma realidade e como soluccedilatildeo sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor do Norte da Ilha e o
monitoramento do manancial
Mais que a metade dos impactos identificados em meio fiacutesico e bioacutetico foram
classificados como sendo de abrangecircncia interna ou local agrave aacuterea do empreendimento Jaacute os
impactos em meio soacutecio-econocircmico foram classificados em sua totalidade como sendo de
abrangecircncia regional ou metropolitana como veremos a seguir
422 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO SOacuteCIO-ECONOcircMICO
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo norte da Ilha e tambeacutem decorrente da implantaccedilatildeo
do parque apesar de apresentar seus aspectos positivos acarreta a dificuldade do acesso agrave
moradia e expulsa as comunidades locais ou como jaacute citado no item acima favorece a
ocupaccedilatildeo sobre ambientes naturais Aleacutem disso o incremento do custo de indenizaccedilotildees
futuras em casos de necessidade de desapropriaccedilotildees por parte do interesse puacuteblico
tambeacutem constitui uma consequumlecircncia da valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria
Esses resultados sobre o meio soacutecio-econocircmico foram vistos no capiacutetulo anterior
como impulsionadores da segregaccedilatildeo social urbana caracteriacutestica dos modelos de
planejamento regidos atraveacutes da loacutegica do mercado Tais impactos negativos decorrentes da
valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e apontados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque foram justificados
mais uma vez como um quadro tendencial para a regiatildeo norte da Ilha
Certamente o empreendimento contribui com estes aspectos poreacutem esta contribuiccedilatildeo tem que ser relativizada frente agraves tendecircncias atualmente observadas quanto a estes mesmos aspectos uma vez que jaacute satildeo bastante fortes e crescentes Estas tendecircncias levam a projetar o Norte da Ilha em 2020 com uma populaccedilatildeo de aproximadamente 90 mil habitantes As projeccedilotildees com o SAPIENS PARQUE elevariam estes nuacutemeros em mais 65 atingindo entatildeo aproximadamente 96 mil pessoas frente agrave populaccedilatildeo atual de aproximadamente 55 mil habitantes A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis derivada do aumento populacional eacute portanto devida antes ao tendencial do que ao empreendimento (RIMA 7 200344)
O RIMA alega que a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e suas consequumlecircncias em meio soacutecio-
econocircmico satildeo tendenciais e independentes da implantaccedilatildeo do Sapiens Parque onde o
empreendimento influenciaria pouco e soacute teria a contribuir para esta valorizaccedilatildeo atraveacutes da
qualificaccedilatildeo do espaccedilo Essa afirmaccedilatildeo eacute dada perante a justificativa de que o projeto
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
127
acarretaraacute melhorias de infra-estrutura diferenciais de equipamentos oportunidades
serviccedilos e padratildeo do espaccedilo trazendo incremento significativo em curto e meacutedio prazo
O risco de expulsatildeo da populaccedilatildeo local natildeo eacute decorrente somente da especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria mas tambeacutem das novas oportunidades criadas pelo Sapiens Parque A criaccedilatildeo e
expansatildeo de negoacutecios consiste em um dos principais aspectos positivos levantados pelo
empreendimento Segundo o RIMA o Sapiens Parque teraacute sua distribuiccedilatildeo econocircmica
definida pela realidade de Florianoacutepolis sendo cerca de 70 do empreendimento dedicado
agraves atividades de serviccedilos e 23 agraves atividades de comeacutercio Mais que isto suas atividades
satildeo significativamente diferenciadas das atividades convencionais atuais o que implicaria
em uma ampliaccedilatildeo da base de serviccedilos e produtos evitando a saturaccedilatildeo
Por outro lado de acordo com o RIMA toda a riqueza gerada aumenta o poder de
consumo e das oportunidades de negoacutecios fora do empreendimento atingindo
principalmente os setores mais convencionais da economia da cidade e sendo tambeacutem
beneficiados pelo empreendimento Todos esses fatores favorecem para a diminuiccedilatildeo da
sazonalidade do turismo que constitui a principal atividade econocircmica de Florianoacutepolis e do
Norte da Ilha Entretanto o RIMA natildeo nega que tais oportunidades estatildeo restritas somente a
pequena parcela da populaccedilatildeo
O padratildeo de sofisticaccedilatildeo de um Parque de Inovaccedilatildeo exige uma qualificaccedilatildeo diferenciada da matildeo-de-obra em todos os niacuteveis de formaccedilatildeo Portanto apesar da grande geraccedilatildeo de empregos propiciada a absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e regional dependeraacute de sua capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo O mesmo eacute vaacutelido para os empreendedores inclusive aqueles que se encontram ou se instalaratildeo nas comunidades do entorno Por outro lado se as comunidades locais natildeo participarem destes benefiacutecios tendem a ser marginalizadas socioeconomicamente e ateacute mesmo expulsas pois o seu niacutevel de renda poderaacute ser menor que o das populaccedilotildees migrantes acarretando em dificuldades de acesso agrave moradia serviccedilos e bens de consumo (RIMA 7 2003110)
Inclusive a geraccedilatildeo de empregos levantada como o principal impacto positivo do
empreendimento em meio soacutecio-econocircmico tem seus efeitos locais reduzidos por esse
mesmo fator O RIMA faz uma estimativa completa do nuacutemero de novas vagas de emprego
que surgiratildeo com a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque desde sua fase de construccedilatildeo ateacute sua
fase de operaccedilatildeo O resultado mostra um nuacutemero de 27628 empregos diretos e de 41441
empregos indiretos somente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento em um total de
69069 empregos diretos e indiretos para todo o aglomerado urbano de Florianoacutepolis
gerados nesta fase (previsatildeo para o ano 2030)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
128
O RIMA afirma que as estimativas de novos profissionais formados em niacutevel meacutedio e
superior no aglomerado urbano de Florianoacutepolis e que estaratildeo disponiacuteveis no mercado
mostram que a capacidade de matildeo-de-obra local eacute suficiente para suprir as novas vagas de
empregos diretos do empreendimento No entanto o RIMA deixa claro que ldquoeacute importante
lembrar que as contrataccedilotildees ficam por conta das empresas que iratildeo se instalar no
empreendimento e estas seguramente iratildeo obedecer a criteacuterios de meacuterito e qualificaccedilatildeo em
suas contrataccedilotildeesrdquo (RIMA 7 200336) O documento adverte nesta e em outras passagens
do texto que tais benefiacutecios nem sempre poderatildeo ser usufruiacutedos por todos jaacute que
dificilmente essas empresas ldquoestaratildeo dispostas a contratar pessoas que possuam
qualificaccedilatildeo inadequada ou inferior a outra que natildeo seja habitante do local apenas
obedecendo a criteacuterios de origem ou criteacuterios geograacuteficosrdquo (RIMA 7 200336)
Tal situaccedilatildeo repete-se para as demais fases do empreendimento como por exemplo
para a matildeo-de-obra necessaacuteria na construccedilatildeo O parque poderaacute trazer muitos empregos
locais para o ramo da construccedilatildeo civil durante sua execuccedilatildeo mas o RIMA lembra que as
empreiteiras de fora do aglomerado metropolitano de Florianoacutepolis poderatildeo trazer seu
proacuteprio quadro de trabalhadores reduzindo esse impacto positivo do empreendimento sobre
o mercado de trabalho local
Aleacutem disso a vinda de trabalhadores de fora do aglomerado urbano de Florianoacutepolis
principalmente durante a fase de construccedilatildeo do parque acarreta impactos soacutecio-culturais
regionais de natureza negativa Satildeo elas o risco de introduccedilatildeo ou propagaccedilatildeo de doenccedilas
tropicais ou sexualmente transmissiacuteveis o aumento do risco de exploraccedilatildeo ou violecircncia
sexual e o aumento da violecircncia por tensatildeo soacutecio-cultural O RIMA coloca que estes
impactos poderiam ser mitigados atraveacutes de poliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e
campanhas educativas
Para o Sapiens Parque a natureza diversificada do empreendimento amplia a base
de oferta de matildeo-de-obra e de talentos melhorando a competitividade local para ocupar as
vagas criadas O foco no conhecimento ldquocria um ambiente de inovaccedilatildeo e capacidade
aumentando o acesso dos profissionais locais agrave qualificaccedilatildeo necessaacuteria para competir com
ecircxito pelos postos de trabalho criadosrdquo (RIMA 7 200336) Por isso o RIMA destaca que a
inserccedilatildeo dos atores locais no mercado de trabalho do parque depende da oferta de cursos e
qualificaccedilotildees para que se desenvolvam as competecircncias necessaacuterias para o desempenho
de suas funccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
129
As questotildees abordadas acima colocam em duacutevida o principal argumento a favor da
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque no que se refere agrave geraccedilatildeo de empregos Aleacutem disso
constatamos ainda uma uacuteltima colocaccedilatildeo o RIMA estima somente a quantidade de
empregos que seraacute gerada pelo empreendimento sem levar em consideraccedilatildeo os empregos
que seratildeo eliminados com a presenccedila do parque Este estudo foi ignorado pelo Sapiens
Parque jaacute que natildeo foi cumprida a lei do Estatuto da Cidade (Lei 1025701) que exige o
Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) para empreendimentos desta dimensatildeo
Um segundo impacto positivo em meio soacutecio-econocircmico foi classificado pelo RIMA
como de grande magnitude o aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos O RIMA faz um
diagnoacutestico do potencial de geraccedilatildeo direta de impostos para arrecadaccedilatildeo municipal
estadual e federal O resultado mostra um total de cerca de R$ 156 bilhotildees de impostos
gerados desde a fase de implantaccedilatildeo ateacute o iniacutecio da operaccedilatildeo do parque Desses cerca de
R$ 11 bilhotildees derivam da implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque
enquanto cerca de R$ 436 milhotildees correspondem aos impostos anuais gerados pela sua
operaccedilatildeo (Tabela 7) Essas projeccedilotildees correspondem a um valor futuro (para 2020)
podendo sofrer variaccedilotildees e sendo os impostos da fase de implantaccedilatildeo distribuiacutedos em pelo
menos 15 anos
FaseTributos gerados
consolidadosPeriacuteodo
Implantaccedilatildeo e Comercializaccedilatildeo R$ 60305953000 Em 15 anos
Equipamentos R$ 525010200 Em 15 anos
Operaccedilatildeo R$ 436691869 Anual
CONSOLIDACcedilAtildeO DOS TRIBUTOS GERADOS
R$ 156476159900 Acumulado
Apoacutes operaccedilatildeo completaAteacute final de 1ordm ano de operaccedilatildeo plena (natildeo computados impostos gerados durante operaccedilatildeo parcial)
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque Fonte RIMA-1 Sapiens Parque (200328)
O RIMA afirma que dos R$ 11 bilhotildees de impostos gerados ao longo de 15 anos
atraveacutes de implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque 71 seratildeo
direcionados ao governo federal 16 ao estadual e somente 13 ao governo municipal
Dos tributos arrecadados anualmente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento somente
6 beneficiaratildeo diretamente o municiacutepio o que corresponde a cerca de R$ 26 milhotildeesano
Em um comparativo com os impostos arrecadados pelo municiacutepio em 2002 tal valor
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
130
significaria uma parcela de 10 dos R$ 260 milhotildees em tributos arrecadados pelo municiacutepio
naquele ano
O valor arrecadado em impostos inclui tambeacutem tributos derivados do terreno para a
implantaccedilatildeo do empreendimento de propriedade da CODESC Entretanto em momento
algum o RIMA indica o ocircnus atribuiacutedo ao poder puacuteblico pela concessatildeo de um terreno
puacuteblico agrave iniciativa privada Nem tampouco estima os custos das atribuiccedilotildees dadas ao poder
puacuteblico como requisito para a implantaccedilatildeo do empreendimento
Aleacutem da geraccedilatildeo de empregos e do aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos outros
impactos positivos em acircmbito soacutecio-econocircmico foram levantados pelo RIMA aumento de
ofertas de serviccedilos especializados qualificaccedilatildeo da paisagem urbana equalizaccedilatildeo do fluxo
turiacutestico ao longo do ano com reduccedilatildeo da sazonalidade ampliaccedilatildeo da capacidade de PampD
(pesquisa e desenvolvimento) aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura
esporte e lazer aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos soacutecio-educativos e atraccedilatildeo
de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees Entretanto satildeo vaacutelidas aqui tambeacutem as
criacuteticas jaacute feitas quanto agrave possibilidade de real apropriaccedilatildeo dos equipamentos e serviccedilos
fornecidos no parque pela comunidade local
Dentre os impactos negativos apontados pelo RIMA em meio soacutecio-econocircmico
constituem impactos de pequena magnitude a pressatildeo que o empreendimento exerceraacute
sobre os serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo de sauacutede e de seguranccedila
Destacam-se a saturaccedilatildeo do sistema viaacuterio e a pressatildeo sobre o sistema de transporte
coletivo e o adensamento ao longo das vias dificultando futuras ampliaccedilotildees viaacuterias Em
todos esses casos o RIMA coloca suas implicaccedilotildees como decorrentes do crescimento
populacional no Norte da Ilha sendo que a implantaccedilatildeo do empreendimento somente
aceleraria este quadro tendencial
Da mesma maneira a demanda de aacutegua da populaccedilatildeo induzida pelo
empreendimento eacute apresentada pelo RIMA como parte de um processo tendencial de
crescimento populacional Segundo o RIMA o Sapiens Parque seraacute responsaacutevel por um
incremento populacional no Norte da Ilha de 69 e um incremento no nuacutemero de turistas de
455 (projeccedilotildees para 2020) Nesse caso o Sapiens Parque conta com as ampliaccedilotildees jaacute
previstas para a regiatildeo pela Casan (Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento) para
natildeo exceder o limite do sistema de abastecimento de aacutegua
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
131
No que se refere agrave pressatildeo sobre o sistema de energia eleacutetrica originada pelo
incremento populacional e turiacutestico o Sapiens Parque tambeacutem conta com as ampliaccedilotildees da
Celesc (Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA) previstas para a regiatildeo norte de
Florianoacutepolis O RIMA afirma que a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque possibilitaraacute um maior
nuacutemero de visitantes ao longo do ano e natildeo somente na alta temporada o que tornaraacute os
sistemas de infra-estruturas mais atrativos economicamente
Tanto os impactos no sistema de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica quanto no sistema
de distribuiccedilatildeo de aacutegua satildeo ao terreno do empreendimento Segundo o RIMA as
edificaccedilotildees do Sapiens Parque seratildeo dotadas de sofisticados sistemas de economia de
energia e de reuso da aacutegua com o objetivo de reduccedilatildeo de tais impactos
423 ATRIBUICcedilOtildeES DADAS AO PODER PUacuteBLICO
Nos textos anteriores constatamos os principais impactos negativos e positivos em
meios bioacutetico fiacutesico e soacutecio-econocircmico relacionados ao empreendimento Sapiens Parque
Mais de 70 desses impactos foram identificados pelo EIA-RIMA como sendo de
abrangecircncia regional e metropolitana
O impactos negativos identificados em meio bioacutetico e fiacutesico e internos agrave aacuterea do
empreendimento apresentam como meios de mitigaccedilatildeo accedilotildees a serem desenvolvidas pelo
proacuteprio parque Jaacute os impactos que ocorrem aleacutem do terreno do empreendimento em sua
maioria originados pelo crescimento populacional e pela valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria foram
tratados pelo RIMA como parte de um quadro tendencial da regiatildeo O RIMA coloca que as
influecircncias causadas pela implantaccedilatildeo do parque seriam de pequena magnitude dentro de
um processo existente
Com essa justificativa o Sapiens Parque atribui uma seacuterie de accedilotildees como
responsabilidade do poder puacuteblico para a viabilizaccedilatildeo do empreendimento Segundo o
RIMA parte destas atribuiccedilotildees jaacute eram necessaacuterias e previstas independente da
implantaccedilatildeo do parque Podemos verificar por exemplo que a principal compensaccedilatildeo
promovida pelo parque como forma de mitigaccedilatildeo dos impactos em meio natural consiste na
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno cujo objetivo principal eacute manter os
ambientes autoacutectones Entretanto segundo o documento do RIMA a implantaccedilatildeo do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
132
Parque Natural eacute de responsabilidade do poder puacuteblico assim como as demais atribuiccedilotildees
abaixo (RIMA 9 2003)
Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor Participativo para o Norte da Ilha
Elaboraccedilatildeo do Plano de Recursos Hiacutedricos da Bacia do Rio Ratones
Elaboraccedilatildeo e do Projeto Executivo de macrodrenagem de Canasvieiras e
Cachoeira do Bom Jesus
Ampliaccedilatildeo dos Sistemas de Abastecimento de aacutegua do Norte da Ilha a partir do
manancial CubatatildeoPilotildees
Execuccedilatildeo do Projeto de Macrodrenagem de Canasvieiras e Cachoeiras do Bom
Jesus
Teacutermino da duplicaccedilatildeo da SC-401 ateacute Canasvieiras
Duplicaccedilatildeo da SC-403 (ou alternativa equivalente)
Duplicaccedilatildeo da Av Luiz Boiteux Piazza
Implantaccedilatildeo de passarelas faixas de pedestre e semaacuteforos na Av Luiz Boiteux
Piazza
Implantaccedilatildeo das accedilotildees de cunho socioambiental durante a implantaccedilatildeo e
operaccedilatildeo da primeira fase do empreendimento
Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Interna do Sapiens Parque ou ampliaccedilatildeo da
Subestaccedilatildeo Ilha Norte e Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Ingleses
O RIMA natildeo contabiliza os custos atribuiacutedos ao poder puacuteblico mas em setembro de
2006 o Sapiens Parque anunciou que o empreendimento tem potencial para atrair
investimentos da ordem de R$ 4 bilhotildees Ateacute aquele momento haviam sido investidos cerca
de R$ 35 milhotildees em recursos proacuteprios dos acionistas e somente para a primeira fase do
empreendimento a Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis teria de fazer investimentos de
R$15 milhotildees em infra-estrutura
424 ASPECTOS LEGAIS
O licenciamento do Sapiens Parque compete ao oacutergatildeo estadual Fundaccedilatildeo do Meio
Ambiente (FATMA) Entretanto por localizar-se dentro de um raio de 10 km da Unidade de
Conservaccedilatildeo Federal Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o licenciamento do parque depende da
anuecircncia preacutevia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
133
Renovaacuteveis (IBAMA) O terreno de inserccedilatildeo do empreendimento localiza-se dentro da zona
de amortecimento da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes ficando sujeita a zoneamento e normas
especiacuteficas de uso e ocupaccedilatildeo do solo e dos recursos naturais Segundo o RIMA o projeto
do Sapiens Parque buscou contemplar as diretrizes impostas pelo Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
O RIMA ainda afirma que o projeto encontra-se dentro das leis ambientais que regem
a aacuterea referentes ao Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro agrave preservaccedilatildeo da Mata
Atlacircntica e agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o Procurador da
Repuacuteblica Valmor Alves Moreira completou os apontamentos levantados pela comunidade
tendo como preocupaccedilatildeo principal os aspectos ambientais de interesse federal O
procurador contestou o Estudo de Impacto Ambiental do Sapiens Parque com base em um
relatoacuterio produzido em Brasiacutelia por teacutecnicos da quarta Cacircmara de Coordenaccedilatildeo e Revisatildeo
ldquoBom a primeira questatildeo eacute a questatildeo ambiental a repercussatildeo nos rios de interesse federal Afinal de contas estamos em uma ilha noacutes temos aacutereas de manguezais proacuteximas noacutes temos uma estaccedilatildeo ecoloacutegica noacutes temos outras unidades de conservaccedilatildeo federal no entorno Enfim Florianoacutepolis eacute uma ilha e muito sensiacutevel com ambientes muito sensiacuteveis Entatildeo nossa primeira projeccedilatildeo de ocupaccedilatildeo eacute sobre o prisma ambiental Os impactos no sistema viaacuterio os impactos sociais e econocircmicos a populaccedilatildeo que vai ser atraiacuteda a massa de trabalhadores que vatildeo construir aqui onde eacute que vatildeo ficar Enfim satildeo muitos pontos a serem esclarecidosrdquo (Valmor Alves Moreira Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
Apesar dos questionamentos apontados pelo Ministeacuterio Puacuteblico Federal em 2004
com relaccedilatildeo aos impactos ambientais sociais e econocircmicos do empreendimento em
setembro de 2006 o projeto recebeu da FATMA a Licenccedila Ambiental Preacutevia (LAP) que
confere sua viabilidade ambiental Como o terreno de implantaccedilatildeo do projeto localiza-se em
aacuterea urbana o oacutergatildeo competente (FATMA) pode autorizar o parcelamento do solo ou
qualquer edificaccedilatildeo para fins urbanos desde que cumpra com o artigo 5 do Decreto 75093
que oferece restriccedilotildees a aacutereas urbanas que se enquadrem em um dos trecircs casos abaixo
1 Ser abrigo de espeacutecies da flora e da fauna silvestres ameaccediladas de extinccedilatildeo
2 Exercer funccedilatildeo de proteccedilatildeo de mananciais ou de prevenccedilatildeo e controle de erosatildeo
3 Ter excepcional valor paisagiacutestico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
134
Segundo o EIA-RIMA do Sapiens Parque sua aacuterea natildeo se enquadra em nenhum
dos trecircs casos acima de forma que suas restriccedilotildees satildeo condicionadas pelo Plano Diretor
Para a viabilizaccedilatildeo do Sapiens Parque foram necessaacuterias alteraccedilotildees na lei que dispotildee
sobre o zoneamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo da regiatildeo O Plano Diretor dos Balneaacuterios
(Lei Municipal 219385) designava o terreno como Aacuterea Residencial Predominante 5 (ARE-
5) com iacutendices de aproveitamento e taxas de ocupaccedilatildeo similares agraves do entorno Tal iacutendice
permite construccedilotildees de ateacute 25 m de altura e 80 de lote edificado
Esse zoneamento foi modificado pela Lei Complementar 13404 alterando o
zoneamento ARE-5 para Aacuterea Mista Central Especiacutefica (AMC-e) Aacuterea Turiacutestica Exclusiva
Especiacutefica (ATE-e) Aacuterea para Parques Tecnoloacutegicos Especiacutefica 1 e 2 (APT-e 1 e 2) Aacuterea de
Serviccedilo Suplementar Especiacutefica 1 e 2 (ASS-e 1 e 2) Aacuterea Turiacutestica Residencial Especiacutefica
(ATR-e) e Aacuterea Comunitaacuteria Institucional Especiacutefica (ACI-e)
O novo zoneamento manteacutem a obrigatoriedade de ter-se ao menos 45 do terreno
disponibilizado agraves aacutereas comuns (Aacutereas Verdes de Lazer Aacutereas Comunitaacuterias Institucionais
ou Aacutereas do Sistema Viaacuterio e de Transportes) Aleacutem disso o novo zoneamento estabelece
iacutendices e taxas iguais ou mais restritivas do que o zoneamento anterior
As normas de zoneamento aplicaacuteveis ao territoacuterio do projeto trazem ainda o
estabelecimento de novos dispositivos legais como por exemplo (RIMA 5 200303)
Obrigatoriedade de manter 30 da aacuterea dos terrenos sem impermeabilizaccedilatildeo
Previsatildeo expressa sobre a existecircncia de sistema completo de infra-estrutura de
saneamento baacutesico ndash coleta e tratamento
Previsatildeo de meios de transporte alternativos (bicicleta e outros)
Previsatildeo de que ocorrendo a descaracterizaccedilatildeo do conceito do projeto Sapiens
Parque o regime urbaniacutestico da aacuterea voltaraacute a ser regido pelo regime anterior
O Sapiens Parque ignorou a obrigaccedilatildeo do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV)
exigido pelo Estatuto da Cidade O RIMA coloca que a lei do Estatuto da Cidade ldquoexige a
realizaccedilatildeo de estudo de impacto ambiental (EIA) ou de estudo de impacto de vizinhanccedila
(EIV)rdquo (RIMA 5 200306)
O EIV tem o objetivo de contemplar os efeitos positivos e negativos do
empreendimento quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo residente na aacuterea e nas suas
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
135
proximidades O Sapiens Parque alega que o EIA tem escopo maior que o EIV englobando
este uacuteltimo Entretanto eacute sabido que o EIA e o EIV satildeo complementares e um natildeo substitui
a elaboraccedilatildeo do outro Em seu artigo 36 o Estatuto da Cidade diz que os empreendimentos
e atividades privados ou puacuteblicos em aacuterea urbana que dependeratildeo de elaboraccedilatildeo de EIV
para obtenccedilatildeo de licenccedilas ou autorizaccedilotildees de construccedilatildeo seratildeo definidos por lei municipal
Segundo o RIMA ateacute 2002 natildeo havia em Florianoacutepolis uma lei geral disciplinando o EIV
pelo qual estaria o Sapiens Parque dispensado
43 AVALIACcedilOtildeES DA COMUNIDADE LOCAL
As questotildees abordadas pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque incluem parte das
questotildees levantadas pela comunidade local com relaccedilatildeo ao empreendimento O Sapiens
Parque realizou uma accedilatildeo de discussatildeo comunitaacuteria junto a representantes de entidades
comunitaacuterias e organizaccedilotildees da sociedade civil de Florianoacutepolis Tal procedimento faz parte
do processo de inserccedilatildeo socioambiental do empreendimento e foi realizado principalmente
no ano de 2003 atraveacutes de seminaacuterios e grupos de trabalho e discussatildeo
Dentre as observaccedilotildees apontadas pela comunidade e ainda natildeo tratadas neste
capiacutetulo destacamos a indagaccedilatildeo quanto agrave possibilidade da realizaccedilatildeo de um plebiscito
como forma de constatar a posiccedilatildeo da comunidade com relaccedilatildeo ao empreendimento O
Sapiens Parque justificou a resposta negativa com a afirmaccedilatildeo de que ldquonatildeo haacute opccedilotildees
melhores que as apresentadas para fomentar o desenvolvimento urbano de forma sustentaacutevel
para a regiatildeordquo (DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL 200336)
Os atores sociais contatados levantaram ainda que os novos valores decorrentes da
migraccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo acentuadas levam agrave perda dos costumes tradicionais e da
identidade local O empreendimento tem a oportunidade de reverter parcialmente este
processo atraveacutes do incentivo ao resgate cultural e agraves tradiccedilotildees locais identificando
oportunidades de negoacutecios locais e criando espaccedilos culturais
O desemprego e a desqualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra local identificada pelo EIA-RIMA
do empreendimento consistem tambeacutem algumas das principais preocupaccedilotildees da
comunidade O crescimento populacional a sazonalidade acentuada do turismo a distacircncia
do centro comercial e o decliacutenio das atividades rurais e de pesca evidenciam o quadro do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
136
desemprego na regiatildeo O Sapiens Parque promete a geraccedilatildeo de empregos como forma de
amenizar este quadro mas teraacute essas expectativas frustradas localmente se natildeo existirem
programas de qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra e empreendedorismo local O empreendimento
conta com parcerias e com a criaccedilatildeo de moacutedulos comunitaacuterios que visem tal qualificaccedilatildeo
A comunidade tambeacutem apontou a carecircncia de equipamentos e espaccedilos puacuteblicos de
cultura e lazer e a necessidade de atualizaccedilatildeo do Plano Diretor da regiatildeo levando em
consideraccedilatildeo a inserccedilatildeo do parque e a pressatildeo sobre os ambientes naturais Projetos
alternativos antigos para o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque (como o projeto
turiacutestico Orla Norte ou o projeto de loteamentos residenciais) evidenciam a tendecircncia de
ocupaccedilatildeo da aacuterea Se tal ocupaccedilatildeo eacute apontada como inevitaacutevel as condicionantes do
terreno evidenciam ao menos que o projeto de ocupaccedilatildeo deve ter claro interesse puacuteblico e
responsabilidade socioambiental
Na audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o representante
da comunidade da Cachoeira do Bom Jesus afirmou que natildeo haacute infra-estrutura no Norte da
Ilha que decirc suporte ao aumento do nuacutemero de pessoas decorrente da implantaccedilatildeo do
parque Outra criacutetica apontada na audiecircncia eacute de que a maioria das condicionantes do
Sapiens Parque satildeo remetidas ao poder puacuteblico como jaacute comentado em textos anteriores
(ENTREVISTA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA TV JUSTICcedilA 2004)
Por fim segundo a Resoluccedilatildeo 00186 do CONAMA o RIMA ldquodeve ser apresentado
de forma objetiva e adequada a sua compreensatildeordquo(RESOLUCcedilAtildeO CONAMA 00186) O
RIMA do Sapiens Parque trata-se praticamente de uma coacutepia do EIA com a supressatildeo de
um dos capiacutetulos A complexidade do documento acaba dificultando a compreensatildeo da
comunidade local em relaccedilatildeo aos verdadeiros impactos do projeto
44 AVALIACcedilOtildeES DO MASTER PLAN 2005
As criacuteticas feitas pelo IAB em 2002 associadas agraves consideraccedilotildees da comunidade e
aos impactos identificados no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de 2003 influenciaram a
concepccedilatildeo do novo projeto para o parque que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Cepa
Atraveacutes de uma anaacutelise do projeto apresentado em 2005 podemos constatar a preocupaccedilatildeo
em delimitar gradientes de ocupaccedilatildeo no siacutetio de implantaccedilatildeo do empreendimento definidos
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
137
conforme a fragilidade do ambiente natural (Figura 20) Segundo esse conceito o terreno foi
edificado a partir dos trecircs gradientes de ocupaccedilatildeo paralelamente ao Rio Papaquara (ao sul
do terreno) do menos edificado ao mais edificado (Figura 21)
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
RIO PAPAQUARA
RIO DO BRAacuteS
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
138
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como podemos observar na Figura 21 outra preocupaccedilatildeo do novo projeto consistiu
em natildeo obstruir os canais de drenagem pelo desenho dos lagos artificiais No novo Master
Plan pode-se observar a preocupaccedilatildeo em manter intactos os principais remanescentes
vegetais do terreno aproveitando as demais aacutereas para as edificaccedilotildees O projeto manteacutem o
Parque Natural ao longo do Rio Papaquara como reserva e compensaccedilatildeo ambiental onde
seriam realizadas as iniciativas soacutecio-ambientais do empreendimento
As aacutereas mais edificadas localizam-se junto agrave Av Luiz Boiteux Piazza (ao norte do
terreno paralela ao Rio Papaquara) e conformam-se a partir dessa rua interligando o
moacutedulo Experientia e o centro cultural e de eventos (Figura 21- ao centro em marrom) com
as edificaccedilotildees direcionadas aos negoacutecios urbanos - turismo e empresas de serviccedilos
(Figura 21- em amarelo e vermelho) Entretanto o espaccedilo dedicado a equipamentos
puacuteblicos comunitaacuterios de sauacutede e educaccedilatildeo (Figura 21- nos extremos em marrom) ainda
aparece em segundo plano no projeto localizado nos cantos do terreno inclusive proacuteximos
agraves estaccedilotildees de transbordo do empreendimento O moacutedulo Scientia opera no segundo
gradiente de ocupaccedilatildeo com edificaccedilotildees isoladas (Figura 21- em azul escuro) localizadas
nas aacutereas onde a vegetaccedilatildeo autoacutectone eacute menos incidente A Figura 22 mostra a perspectiva
RIO PAPAQUARA
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
139
com a implantaccedilatildeo completa do Master Plan 2005 do Sapiens Parque Outras imagens
desta versatildeo do projeto podem ainda ser visualizadas no Anexo 3
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
O Master Plan 2005 mostra-se mais efetivo na tentativa de inserccedilatildeo do projeto no
contexto urbano existente ao levantar o conceito dos gradientes de ocupaccedilatildeo e ao levar em
consideraccedilatildeo o entorno edificado e viaacuterio na sua concepccedilatildeo Apesar da visiacutevel melhora do
projeto urbano e arquitetocircnico do Master Plan 2005 em relaccedilatildeo ao projeto apresentado em
2003 pela Ecoplan podemos verificar que o projeto ainda reforccedila pouco o caraacuteter puacuteblico
que deve ter ao privilegiar a posiccedilatildeo dos setores privados em detrimento aos equipamentos
puacuteblicos e comunitaacuterios
O projeto natildeo apresenta articulaccedilatildeo desses equipamentos puacuteblicos e comunitaacuterios
com o contexto urbano e o Parque Natural o que coloca em duacutevida a real apropriaccedilatildeo da
populaccedilatildeo local de uma aacuterea que deveria caracterizar-se como um grande parque puacuteblico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
140
45 DIAGNOacuteSTICO FINAL AVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES
No iniacutecio do trabalho colocamos que nosso objetivo principal seria analisar o Sapiens
Parque como poliacutetica urbana para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis apontando os
limites do projeto no que diz respeito agrave principal proposta do empreendimento o
desenvolvimento baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental A partir das
anaacutelises feitas ateacute o presente do empreendimento e das conclusotildees parciais relacionadas
aos grandes projetos urbanos do capiacutetulo anterior podemos apontar alguns dos limites do
projeto Sapiens Parque como proposta de desenvolvimento sustentaacutevel Esses limites foram
identificados segundo as dimensotildees criteacuterios e objetivos de sustentabilidade vistos no
Capiacutetulo 2 e estatildeo esquematizados na Tabela 8 Para esta avaliaccedilatildeo separamos os limites
relacionados agrave sustentabilidade ambiental das demais sustentabilidades (social cultural
territorial econocircmica e poliacutetica)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
141
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADEAVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE COMO PROPOSTA
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
A pressatildeo imobiliaacuteria e a expulsatildeo de alguns grupos sociais podem levar agrave ocupaccedilatildeode zonas ambientalmente protegidas do entorno causando consequumlente depredaccedilatildeoambiental e fragmentaccedilatildeo dos ambientes naturais remanescentes
O terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se em aacuterea de faacutecil inundaccedilatildeo A reduccedilatildeo da superfiacutecie de inundaccedilatildeo decorrente da construccedilatildeo das edificaccedilotildees e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o potencial de drenagem do terreno
A reduccedilatildeo do impacto ambiental proveniente da construccedilatildeo dos aterros necessaacuteriospara as edificaccedilotildees depende da realizaccedilatildeo de aterros seletivos que diminuam autilizaccedilatildeo dos recursos naturais natildeo-renovaacuteveis para tal fim
A integridade do manancial Ingleses Rio Vermelho depende de investimentospuacuteblicos em infra-estrutura e do planejamento fiscalizaccedilatildeo e monitoramento da regiatildeoe do aquumliacutefero para que natildeo sofra danos oriundos do empreendimento e da populaccedilatildeoinduzida por ele
O projeto natildeo prioriza o caraacuteter social e puacuteblico a que se propotildee colocando comoprimaacuterias as atividades destinadas aos interesses privados e como secundaacuterias asatividades espaccedilos puacuteblicos e equipamentos relacionados aos aspectos sociaisConsequumlentemente os investimentos puacuteblicos necessaacuterios para a viabilizaccedilatildeo doparque (terreno de implantaccedilatildeo e investimentos em infra-estrutura) tambeacutem priorizam ocaraacuteter privado do empreendimento
A concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos no Norte da Ilha ocasionaraacute provaacutevelfragmentaccedilatildeo da cidade uma vez que outras aacutereas carentes de infra-estrutura ficamdesamparadas pelo Poder Puacuteblico A tendecircncia eacute a valorizaccedilatildeo da regiatildeo deimplantaccedilatildeo do parque devido agraves melhorias em infra-estrutura enquanto ocorre oaumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccediloscaracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo do entorno do parque acarretaraacute provaacutevel expulsatildeoe substituiccedilatildeo das comunidades locais
O projeto somente cumpriraacute sua proposta de superar a exclusatildeo social se priorizar osaspectos sociais do empreendimento e atraveacutes de programas de capacitaccedilatildeocomunitaacuteria e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo
A implantaccedilatildeo do parque acarretaraacute o aumento populacional na regiatildeo norte deFlorianoacutepolis A situaccedilatildeo atual mostra que a regiatildeo jaacute apresenta carecircncia de infra-estrutura (sistema viaacuterio esgoto aacutegua energia) natildeo comportando o aumento dademanda sem o devido planejamento
Exclusatildeo econocircmica e desvalorizaccedilatildeo do trabalho das comunidades locais frente agravenecessidade da matildeo-de-obra qualificada imposta pelo Parque A garantia de novosempregos para a comunidade local em todas as fases do empreendimento depende depoliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
O modelo de planejamento baseado na loacutegioca do mercado reforccedila a produccedilatildeo ereproduccedilatildeo de desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica sociale espacial
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
DEMAIS SUSTENTABILIDADES (SOCIAL CULTURAL
TERRITORIAL ECONOcircMICA E
POLIacuteTICA)
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
142
Os limites apontados na Tabela 8 resumem as principais avaliaccedilotildees feitas ateacute o
presente pelos atores envolvidos no projeto Sapiens Parque e mostram que a proposta
urbana eacute ainda restrita no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel De maneira
geral podemos constatar que o projeto Sapiens Parque coloca-se como promotor do
desenvolvimento sustentaacutevel a partir basicamente de cinco aspectos principais
1- Preservaccedilatildeo dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo atraveacutes do
Parque Natural e do conceito de ldquogradientes de ocupaccedilatildeordquo adotado para as edificaccedilotildees do
empreendimento (Master Plan 2005 do Sapiens Parque)
2- O parque promete a construccedilatildeo de edificaccedilotildees sustentaacuteveis com economia de
energia reuso da aacutegua e estaccedilatildeo particular de tratamento de esgoto
3- O projeto tem como um dos conceitos a induacutestria da tecnologia e da informaacutetica
considerada uma induacutestria ldquolimpardquo e proacutepria para regiotildees de rico ambiente natural como
Florianoacutepolis
4- O parque propotildee-se como promotor do turismo sustentaacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico tendo como base um conjunto de equipamentos de lazer
cultura educaccedilatildeo esportes sauacutede eventos e gastronomia
5- O parque tem como uma das metas a geraccedilatildeo de empregos e diminuiccedilatildeo da
exclusatildeo social
Entretanto muitos dos aspectos acima relacionados quando natildeo se dedicam
exclusivamente agrave aacuterea de implantaccedilatildeo do terreno ignorando as demais regiotildees de
abrangecircncia do projeto apresentam limites que impedem sua real efetivaccedilatildeo
As diretrizes de sustentabilidade urbana delimitadas pela Agenda 21 Brasileira
defendem que eacute necessaacuterio um planejamento urbano que coloque restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio Carecircncias de infra-estrutura e a ocupaccedilatildeo de ambientes
naturais na regiatildeo norte da Ilha mostram que o projeto do Sapiens Parque deve ser
articulado com um Plano Diretor para toda a regiatildeo capaz de prever e planejar a
concentraccedilatildeo populacional e principalmente seus impactos ambientais Do contraacuterio o
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
143
empreendimento natildeo poderaacute ser concebido como um novo centro articulador e propulsor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel
Como tambeacutem podemos constatar na Tabela 8 um projeto da dimensatildeo do Sapiens
Parque pode acarretar em excessiva concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos em sua aacuterea
de implantaccedilatildeo Tal fato resulta na fragmentaccedilatildeo da cidade e na criaccedilatildeo de regiotildees com
carecircncia de investimentos e infra-estrutura contrariando os criteacuterios de sustentabilidade
territorial e poliacutetica vistos neste trabalho
A geraccedilatildeo de empregos e a inclusatildeo social atraveacutes do trabalho que seriam os
principais propulsores do desenvolvimento regional sustentaacutevel econocircmico e social
dependem de accedilotildees de capacitaccedilatildeo e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos
de educaccedilatildeo local para que sejam efetivados Do contraacuterio podemos concluir que a
tendecircncia eacute o aumento da exclusatildeo econocircmica e social uma vez que natildeo seratildeo todas as
pessoas as capacitadas para os empregos gerados pelo parque
Concluiacutemos tambeacutem que a exclusatildeo social e a consequumlente segregaccedilatildeo soacutecio-
espacial da cidade podem ser fortalecidas ainda pela provaacutevel valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da
regiatildeo de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de inserccedilatildeo
social o modelo de planejamento baseado na loacutegica do mercado tende entatildeo a aumentar as
desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica social e espacial
A iniciativa de o parque ser um precursor do turismo sustentaacutevel para a regiatildeo eacute
notaacutevel mas tambeacutem somente teraacute real efetivaccedilatildeo se devidamente acompanhado de um
planejamento turiacutestico para todo o Norte da Ilha Destacamos ainda a necessidade de o
Sapiens Parque estar articulado com toda a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis sem
esquecer da porccedilatildeo continental equivalente Desconhecer a parte continental de
Florianoacutepolis em um projeto deste porte implica em reconhecer a sua insustentabilidade
Apesar de o projeto ainda ser bastante restrito no alcance do desenvolvimento
sustentaacutevel para a regiatildeo e o municiacutepio satildeo vaacutelidas as accedilotildees locais propostas pelo parque
que visam a melhoria da sustentabilidade do empreendimento em si atraveacutes da preservaccedilatildeo
dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo e da aplicaccedilatildeo de conceitos de
sustentabilidade nas edificaccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
144
Entretanto conforme afirma VEIGA (2005113) ldquoa hipoteacutetica conciliaccedilatildeo entre o
crescimento econocircmico moderno e a conservaccedilatildeo da natureza natildeo eacute algo que possa ocorrer
no curto prazo e muito menos de forma isolada em certas atividades ou em locais
especiacuteficosrdquo Portanto o empreendimento Sapiens Parque natildeo pode isolada e localmente
ser considerado um projeto de desenvolvimento urbano sustentaacutevel sem apresentar uma
articulaccedilatildeo e um planejamento conjunto com toda a regiatildeo e o aglomerado urbano e sem
levar em consideraccedilatildeo a realidade soacutecio-econocircmica e ambiental de Florianoacutepolis
Eacute preciso ter consciecircncia de que o modelo de planejamento estrateacutegico regido pela
loacutegica do mercado e importado dos paiacuteses do capitalismo avanccedilado quando aplicado agrave
realidade brasileira apresenta seus limites na busca de uma poliacutetica urbana de
desenvolvimento sustentaacutevel Os esforccedilos do empreendimento Sapiens Parque na direccedilatildeo
desta satildeo vaacutelidos poreacutem ainda restritos e insuficientes para o alcance efetivo da
sustentabilidade social econocircmica e ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
145
CONCLUSOtildeES
Na introduccedilatildeo deste trabalho comentamos que ele estaria estruturado a partir de
dois eixos principais O primeiro eixo diz respeito a um paradigma de desenvolvimento
denominado sustentaacutevel que procura conciliar o crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo com
resultados positivos em meio social e ambiental O segundo eixo estruturador deste trabalho
gira em torno de um outro modelo desta vez um modelo de planejamento urbano regido
segundo estrateacutegias determinadas pela loacutegica do mercado e que busca a inserccedilatildeo global
das cidades em um cenaacuterio mundial marcado pelas transformaccedilotildees da globalizaccedilatildeo
A pesquisa procurou delinear os principais conceitos e caracteriacutesticas desses dois
paradigmas que vecircm surgindo como um campo feacutertil para a proliferaccedilatildeo de modelos de
gestatildeo urbana e estrateacutegias de desenvolvimento local O estudo procurou verificar atraveacutes
do projeto urbano Sapiens Parque para Florianoacutepolis a eficiecircncia da aplicaccedilatildeo do modelo
de planejamento urbano analisado no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel
Cabe colocar aqui que perante dois temas de tamanha complexidade como os que
foram estudados muitos cortes foram necessaacuterios para que se pudesse dar fechamento agrave
dissertaccedilatildeo sem que se tornasse demasiadamente prolongada A pesquisa deteve-se
principalmente em analisar o empreendimento Sapiens Parque e seus limites como
propulsor do desenvolvimento sustentaacutevel em niacutevel regional tendo oferecido pouco enfoque
nas avaliaccedilotildees locais que dizem respeito agraves reflexotildees espaciais do projeto urbano
propriamente dito
No momento de finalizaccedilatildeo do trabalho buscamos levantar alguns questionamentos
que surgiram no decorrer da presente pesquisa os quais ainda natildeo obtivemos respostas
seraacute possiacutevel que dois modelos aparentemente antagocircnicos no discurso possam caminhar
juntos no processo de planejamento Seraacute possiacutevel conciliar na praacutetica dentro do contexto
brasileiro marcado por desigualdades sociais um discurso provavelmente utoacutepico como o do
desenvolvimento sustentaacutevel com um discurso que remete necessariamente a uma funccedilatildeo
mercadoloacutegica especiacutefica de determinado territoacuterio No caso de Florianoacutepolis seraacute o projeto
do empreendimento Sapiens Parque no Norte da Ilha a melhor possibilidade de
reurbanizaccedilatildeo para o alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
146
Como verificamos no segundo capiacutetulo deste trabalho o conceito de
desenvolvimento de um territoacuterio ao contraacuterio do crescimento econocircmico natildeo se restringe
somente aos fenocircmenos econocircmicos secundaacuterios referindo-se principalmente agraves mudanccedilas
qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo priorizando a melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza a dimensatildeo
ambiental nesse conceito fundamentando sua harmonizaccedilatildeo com os objetivos sociais e
econocircmicos sendo concebido como aquele que assegura o atendimento das necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraccedilotildees satisfazerem suas
proacuteprias necessidades Significa permitir ldquoque todos tenham atendidas as suas necessidades
baacutesicas e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar suas aspiraccedilotildees a uma vida
melhorrdquo(COMISSAtildeO MUNDIAL 198847)
Visto a partir desse conceito o desenvolvimento sustentaacutevel aparenta vago e
impreciso dando margem a muitas interpretaccedilotildees tendo sofrido aprimoramentos apoacutes sua
popularizaccedilatildeo em 1987 Abrangendo desde os objetivos mais estreitos como a preservaccedilatildeo
dos recursos naturais ateacute os objetivos mais amplos como a hipoacutetese de mudanccedila nos
padrotildees de consumo acumulaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de riquezas o conceito do desenvolvimento
sustentaacutevel tambeacutem vem sofrendo questionamentos por muitos autores quanto agraves suas reais
possibilidades de efetivaccedilatildeo dentro do processo de acumulaccedilatildeo de riquezas caracteriacutestico
do sistema capitalista Apesar disso concordamos que tal paradigma deve ser procurado
por todas as sociedades humanas como forma de preservaccedilatildeo ambiental e melhoria da
qualidade de vida
Neste trabalho como meacutetodo de estudo optamos em utilizar a instituiccedilatildeo das
dimensotildees e objetivos de sustentabilidade (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial
econocircmica e poliacutetica) definidos por SACHS (2002) Essa classificaccedilatildeo permite o
estabelecimento de criteacuterios para cada uma das dimensotildees citadas de maneira que
funcionem como ferramentas de anaacutelise das poliacuteticas de desenvolvimento no sentido do
alcance da sustentabilidade A conservaccedilatildeo da biodiversidade mostrou-se um importante
requisito do ecodesenvolvimento expresso no caso brasileiro atraveacutes do Sistema de
Unidades de Conservaccedilatildeo e das Reservas da Biosfera
A aplicaccedilatildeo do conceito do desenvolvimento sustentaacutevel em meio urbano originou os
estudos de sustentabilidade urbana uma aacuterea de anaacutelise ainda bastante recente e em
consolidaccedilatildeo Tal associaccedilatildeo fundamentou-se no documento Agenda 21 que oferece
diretrizes de sustentabilidade urbana em niacutevel nacional e local visando o alcance de um
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
147
planejamento urbano mais sustentaacutevel O tema manifestou o padratildeo ldquocidades sustentaacuteveisrdquo
que vem se propagando entre os governos e organizaccedilotildees da sociedade civil
Concomitantemente a esse padratildeo verificamos a necessidade de terem-se as
cidades adaptadas agraves transformaccedilotildees surgidas mundialmente com o advento da
globalizaccedilatildeo em acircmbito geopoliacutetico econocircmico social e tecnoloacutegico O modelo de
planejamento urbano industrial que predominou no Brasil ateacute os anos 1970 direcionado pelo
Estado e baseado em categorias funcionais mostrou-se obsoleto perante essa nova
realidade sendo substituiacutedo pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Conforme verificamos no
terceiro capiacutetulo a nova ordem urbana implica na competitividade entre as cidades tendo
como principal objetivo seu posicionamento como centro de articulaccedilatildeo e controle das
economias mundiais e sua inserccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
O modelo estrateacutegico de planejamento nasceu da gestatildeo empresarial sendo
aplicado ao espaccedilo urbano como uma resposta agraves mudanccedilas impostas pela globalizaccedilatildeo
Ele sugere que a competiccedilatildeo interurbana consiste em uma saiacuteda inevitaacutevel perante tais
mudanccedilas jaacute que a globalizaccedilatildeo prejudicou a especificidade do territoacuterio como unidade de
produccedilatildeo e consumo ignorando as fronteiras poliacutetico-administrativas Como consequumlecircncia
as cidades passaram a serem constituiacutedas a partir de uma sociedade integrada em rede
acompanhadas de uma nova realidade econocircmica social e poliacutetica
O novo modelo de planejamento imposto fundamenta-se na articulaccedilatildeo necessaacuteria
entre o local e o global decorrente da perda da autonomia do Estado-Naccedilatildeo como centro
regulador do planejamento Dessa forma propicia-se aos governos locais o fortalecimento
poliacutetico e econocircmico elevando-os como os principais atores puacuteblicos do planejamento
ainda que estejam sujeitos agrave dependecircncia dos condicionantes externos Os governos locais
possuem entatildeo a atribuiccedilatildeo de promover as cidades para os investidores externos atraveacutes
de uma imagem positiva da cidade e da oferta de infra-estrutura e serviccedilos Tal posiccedilatildeo
objetiva alcanccedilar vantagens competitivas para a cidade como localizaccedilatildeo e expansatildeo de
empresas e atividades
O enfraquecimento do papel do Estado como indutor do desenvolvimento e sua
substituiccedilatildeo pela loacutegica do mercado constitui o primeiro paradoxo consolidado entre o
modelo de planejamento estrateacutegico e o discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Segundo
os criteacuterios de sustentabilidade poliacutetica destaca-se a necessidade da centralizaccedilatildeo e da
intervenccedilatildeo do Estado como regulador das economias e sua capacitaccedilatildeo para implementar
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
148
um projeto nacional em conjunto com os empreendedores O Estado constitui o uacutenico ator
capaz de lidar com o processo de distribuiccedilatildeo dos recursos naturais econocircmicos e poliacuteticos
intra e entre naccedilotildees e evitar situaccedilotildees de desigualdade em termos de apropriaccedilatildeo universal
dos direitos humanos buscando um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social
Entretanto o que pudemos constatar no planejamento estrateacutegico eacute a elevaccedilatildeo dos
governos locais no processo de planejamento Para a atraccedilatildeo de empresas e investimentos
o poder puacuteblico local utiliza-se de estrateacutegias de intervenccedilotildees urbanas acompanhadas de
imagens-siacutentese e discursos referentes agrave cidade por meio de uma poliacutetica de marketing
urbano como instrumento de difusatildeo e afirmaccedilatildeo Variaccedilotildees desse modelo foram vistos
neste trabalho segundo as anaacutelises do planejamento para as cidades de Barcelona Curitiba
e Rio de Janeiro trata-se de uma perspectiva de transformar essas cidades em uma espeacutecie
de ldquomercadoriardquo a ser ldquovendidardquo a um mercado mundial
Concretiza-se tambeacutem uma relaccedilatildeo imprescindiacutevel para a instituiccedilatildeo do
planejamento estrateacutegico urbano a parceria puacuteblico-privado Tal parceria nasce da
necessidade do poder puacuteblico em captar recursos adicionais agraves suas proacuteprias receitas a fim
de possibilitar a implementaccedilatildeo dos projetos de renovaccedilatildeo urbana Dessa forma os
interesses do mercado permanecem presentes no processo de planejamento permitindo a
participaccedilatildeo direta de empresaacuterios nas decisotildees referentes agrave gestatildeo urbana
A parceria puacuteblico-privado aparece bastante evidente no estudo de caso tomado
para anaacutelise neste trabalho o projeto urbano Sapiens Parque no Norte da Ilha
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional Apoiado pelos governos
municipal e estadual em exerciacutecio a efetivaccedilatildeo do empreendimento depende da coalizatildeo de
esforccedilos e recursos puacuteblicos e privados No decorrer do trabalho vimos que o projeto faz
parte de uma das iniciativas do governo local de inserir Florianoacutepolis como ldquocidade globalrdquo
buscando a atraccedilatildeo de empresas voltadas para a aacuterea da informaacutetica e tecnologia
principalmente as de capital internacional
O empreendimento tambeacutem se coloca como precursor da sustentabilidade social
econocircmica e ambiental com a promessa de geraccedilatildeo de empregos e consequumlente inclusatildeo
social Aleacutem disso o Sapiens Parque destaca seu objetivo de acabar com a sazonalidade da
atividade turiacutestica com a sua implantaccedilatildeo trazendo visitantes durante o ano inteiro com o
comprometimento de difundir o turismo sustentaacutevel e a educaccedilatildeo ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
149
Entretanto as anaacutelises do projeto Sapiens Parque realizadas no quarto capiacutetulo
desta dissertaccedilatildeo mostraram que o modelo de planejamento apresenta muitas restriccedilotildees
quando utilizado como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel A competitividade
urbana defendida pelo planejamento estrateacutegico significa um claro incremento na qualidade
de vida urbana porque a competitividade requer infra-estrutura adequada e melhoria das
condiccedilotildees de vida de moradia serviccedilos urbanos sauacutede e cultura como fator essencial para
a atratividade de investimentos e usuaacuterios Apesar disso a competitividade caracteriacutestica do
modelo estrateacutegico tambeacutem proporciona resultados que seguem na contramatildeo dos preceitos
relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e estabelecidos nesta pesquisa
Na anaacutelise feita em relaccedilatildeo aos limites do projeto Sapiens Parque como difusor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel destacamos aqui as questotildees referentes agrave
organizaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana resultantes justamente da estrateacutegia da inserccedilatildeo
competitiva O projeto de intervenccedilatildeo urbana mostrou uma tendecircncia agrave fragmentaccedilatildeo uma
vez que potencializa a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e consumo de segmentos sociais especiacuteficos
atraveacutes da concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave revitalizaccedilatildeo no
Norte da Ilha Aleacutem disso a exclusatildeo econocircmica decorrente da irrelevacircncia de determinados
grupos sociais perante o mercado de trabalho proporcionado pelo parque aliada agrave discrepacircncia
salarial e de condiccedilotildees de trabalho colaboram para agravar ainda mais esse quadro
A segregaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana brasileira natildeo tem suas origens no atual modelo
de planejamento regido pela estrateacutegia do mercado como forma de inserccedilatildeo competitiva
Entretanto concordamos que o modelo tende a aumentar a situaccedilatildeo de desigualdade social
com a formaccedilatildeo de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos caracterizados pela
pobreza e violecircncia urbana em contraste a bairros compostos por condomiacutenios privatizados
e reservados agraves atividades e moradia de uma minoria Essa implicaccedilatildeo constitui no nosso
ver a principal contradiccedilatildeo existente entre o planejamento estrateacutegico e as premissas que
temos de ldquocidades sustentaacuteveisrdquo caracterizadas pela conexatildeo entre bairros (centro e
periferia) e entre espaccedilo privado e puacuteblico com priorizaccedilatildeo deste uacuteltimo
Concluiacutemos portanto ser a segregaccedilatildeo soacutecio-espacial e suas consequumlecircncias como
a degradaccedilatildeo ambiental os principais fatores que estabelecem limites ao modelo de
planejamento estrateacutegico no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel Nesse caso
uma nova pergunta surge diante de tal conclusatildeo quais seriam entatildeo perante o atual
cenaacuterio mundial da globalizaccedilatildeo financeira e da perda da autonomia do Estado as
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
150
alternativas para o equacionamento da problemaacutetica ambiental urbana e diminuiccedilatildeo da
desigualdade social
No Brasil o Estatuto da Cidade surgiu como uma promessa para a gestatildeo
democraacutetica das cidades e como uma real possibilidade de intervenccedilatildeo sobre o quadro de
exclusatildeo social caracteriacutestico das cidades brasileiras O Estatuto tambeacutem destaca a
necessidade de garantia do direito agraves cidades sustentaacuteveis com a aplicaccedilatildeo de
instrumentos que visam amenizar os impactos ambientais decorrentes dos processos de
urbanizaccedilatildeo Entretanto apesar de ser considerada uma lei bastante inovadora uma vez
que contempla aspectos da gestatildeo urbana dos quais nenhuma legislaccedilatildeo anterior sequer se
aproximava o Estatuto constitui somente um dos primeiros passos no caminho para a
sustentabilidade urbana
A cidade como expressatildeo da exclusatildeo social e degradaccedilatildeo ambiental pode vir a
se constituir no lugar privilegiado para a discussatildeo da inclusatildeo e do exerciacutecio da cidadania
O cotidiano urbano deve ser entendido como a manifestaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais e portanto
de conflitos a gestatildeo desses conflitos requer a democratizaccedilatildeo do processo de decisotildees
que afetam esse cotidiano O momento atual eacute favoraacutevel ao debate dos rumos que tomaratildeo
nossas cidades democratizando as decisotildees acerca do desenvolvimento sustentaacutevel e
resgatando o direito agrave cidade para todos
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
151
REFEREcircNCIAS
ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita (org) Previsatildeo de impactos o estudo de impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
ACSELRAD Henri A duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Rio de Janeiro DPampA 2001
AGENDA 21 BRASILEIRA ndash Cidades Sustentaacuteveis Ministeacuterio do Meio Ambiente - Comissatildeo de Poliacuteticas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2002
AGUIAR Marina e DIAS Reinaldo Fundamentos do turismo conceitos normas e definiccedilotildees Campinas SP Editora Aliacutenea 2002
AMENDOLA Mocircnica O ordenamento urbano carioca sob a oacutetica do plano estrateacutegico de cidades Revista geo-paisagem ( on line ) Vol 1 nuacutemero 2 2002 Julhodezembro de 2002 Disponiacutevel em httpwwwfethggfbrPlano20estratC3A9gicohtm acesso em 05052006
AMIGOS DE CARIJOacuteS Plano de desenvolvimento sustentaacutevel do entorno da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis SC 2002
ANDRADE Liza Maria Souza de O conceito de Cidades-Jardins uma adaptaccedilatildeo para as cidades sustentaacuteveis (disponiacutevel em httpwwwvitruviuscombr acesso em 05052006)
ARANTES Otiacutelia VAINER Carlos MARICATO Ermiacutenia A cidade do pensamento uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ARANTES Otiacutelia Uma estrateacutegia fatal A cultura das novas gestotildees urbanas In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ASSOCIACcedilAtildeO AMIGOS DE CARIJOacuteSIBAMA Plano de manejo da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis 2002
BECKER Dinizar Fermiano A insustentabilidade do discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Revista Estudo amp Debate Lajeado V11 ndeg01 p175-195 2004
BENJAMIN Antonio Herman U Estudo preacutevio de impacto ambiental teoria praacutetica e legislaccedilatildeo Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1993
BERMAN Marshall Tudo que eacute soacutelido desmancha no ar a aventura da modernidade Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
BERTRAND Georges Paisagem e geografia fiacutesica global Esboccedilo metodoloacutegico Curitiba N8 p114-152 2004 editora UFPR 141 pdf
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
152
BIOSFERA URBANA NA ILHA DE SANTA CATARINA Proposta conceitual para um Projeto Piloto de implementaccedilatildeo do modelo de Reserva da Biosfera em ambiente urbano Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr acesso em 10062007
BRAVERMAN Harry Trabalho e capital monopolista a degradaccedilatildeo do trabalho no seacuteculo XX 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1981
BORJA Jordi CASTELLS Manuel Local y Global la gestioacuten de latildes ciudades en la era de la informacioacuten 5 ed Barcelona Taurus 2000
BRUumlSEKE Franz Josef O problema do desenvolvimento sustentaacutevel In Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel Cloacutevis Cavalcanti organizador ndash 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
BUENO Ayrton Portilho Patrimocircnio paisagiacutestico e turismo na ilha de Santa Catarina a premecircncia da paisagem no desenvolvimento sustentaacutevel da atividade turiacutestica Satildeo Paulo 2006 Tese (Doutorado) - Universidade de Satildeo Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
CARDOSO Reginaldo Luiz As cidades brasileiras e o pensamento neoliberal (submissatildeo ao pensamento uacutenico uacutenica alternativa para as cidades) Instituto Universitaacuterio de Pesquisas do Rio de Janeiro ndash IUPERJ Disponiacutevel em httpwwwrizomanet acesso em 07052006
CASTELLS Eduardo JF et al Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC Florianoacutepolis 2002
CASTELLS Manuel A sociedade em rede 2 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999
CAVALCANTI Cloacutevis (org) Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
CECCA - CENTRO DE ESTUDOS CULTURA E CIDADANIA (SC) Uma Cidade numa Ilha relatoacuterio sobre os problemas soacutecio-ambientais da Ilha de Santa Catarina 2 ed Florianoacutepolis Insular 1997
CHAUI Marilena de Souza O que eacute ideologia 39 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1995
CHOAY Franccediloise O Urbanismo Satildeo Paulo Perspectiva 1979
COMISSAtildeO DE DESENVOLVIMENTO URBANO E INTERIOR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS SECRETARIA ESPECIAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO DA PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL E INSTITUTO POacuteLIS Estatuto da Cidade Guia para implementaccedilatildeo pelos municiacutepios e cidadatildeos Cacircmara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees Brasiacutelia 2001
COMISSAtildeO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Nosso futuro comum Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas 1988
COMPANS Rose Cidades sustentaacuteveis cidades globais Antagonismo ou complementaridade In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
153
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg Ministeacuterio do Meio Ambiente (disponiacutevel em httpwwwmmagovbr acesso 24052006)
CONGRESSO NACIONAL Coacutedigo Florestal Lei N o 4771 de 15 de setembro de 1965
CONGRESSO NACIONAL Decreto da Mata Atlacircntica N o 750 de 10 de fevereiro de 1993
CONGRESSO NACIONAL SNUC - SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVACcedilAtildeO Lei N o 9985 de 18 de julho de 2000
CONFEREcircNCIA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO 1992 RIO DE JANEIRO RJ BRASIL Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores Divisatildeo do Meio Ambiente Brasilia DF Camara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees 1995
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira A Questatildeo ambiental diferentes abordagens Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira Impactos Ambientais Urbanos no Brasil Ed Bertrand Brasil Rio de Janeiro 2001
DIAS Leila Christina amp SANTOS Gislaine Aparecida dos Regiatildeo Territoacuterio e Meio Ambiente Uma Histoacuteria de Definiccedilotildees e Redefiniccedilotildees em Escalas Espaciais (1987-2001) Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V05 ndeg02 p45-56 2003
DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL DO SAPIENS PARQUE In EIA RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL EIA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
FANTIN Marcia Cidade dividida Florianoacutepolis Futura 2000
FORUM DA AGENDA 21 LOCAL DO MUNICIacutePIO DE FLORIANOacutePOLIS 2000 FLORIANOacutePOLIS SC Agenda 21 Local do Municiacutepio de Florianoacutepolis meio ambiente quem faz eacute a gente versatildeo preliminar Florianoacutepolis Prefeitura Municipal de Florianopolis 2000
FRAMPTON Kenneth Histoacuteria Criacutetica da Arquitetura Moderna Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2000
FURTADO Celso O Mito do Desenvolvimento Econocircmico 2 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1974 117p
GARCIA NETTO Luiz da Rosa Diagnoacutestico do ambiente urbano Norte da Ilha de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 1996
GUumlELL Joseacute Miguel Fernaacutendez Planificacioacuten Estrateacutegica de Ciudades Barcelona Editorial Gustavo Gili SA 1997
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
154
GUumlNTHER Hartmut Como Elaborar um Relato de Pesquisa Seacuterie Planejamento de Pesquisa nas Ciecircncias Sociais ndeg02 Brasiacutelia DFUnB Laboratoacuterio de Psicologia Ambiental 2004
HAFERMANN Mariacutelia Universidade Federal de Santa Catarina Sustentabilidade e desenvolvimento turiacutestico na Ilha de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo
HARVEY David A justica social e a cidade Satildeo Paulo HUCITEC 1980
HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo Annablume 2005
IPH Instituto de Pesquisas Hidroloacutegicas Estudo hidrodinacircmico do rio Papaquara ndash Sapiens Parque Porto Alegre RS ndash Setembro 2003
IPUF Instituto de Planejamento Urbano de Florianoacutepolis Plano Diretor dos Balneaacuterios 1985
JACOBS Jane Morte e Vida nas Grandes Cidades Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2001
FERRARI JUacuteNIOR Joseacute Carlos Limites e Potencialidades do Planejamento Urbano Uma discussatildeo sobre os pilares e aspectos recentes da organizaccedilatildeo espacial das cidades brasileiras Estudos Geograacuteficos Rio Claro 2(1)15-28 junho ndash 2004
LEFEacuteBVRE Henri O direito agrave cidade Editora Moraes Satildeo Paulo 1969
LEFF Enrique Ecologiacutea y capital racionalidad ambiental democracia participativa y desarrollo sustentable 2 ed corr aum Madrid Siglo XXI Editores c1994
LOJKINE Jean O estado capitalista e a questatildeo urbana 2ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1997
LOPES Rodrigo A cidade intencional o planejamento estrateacutegico de cidades Rio de Janeiro Mauad 1998
MARICATO Ermiacutenia As Ideacuteias Fora do Lugar e o Lugar Fora das Ideacuteias In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
MARICATO Ermiacutenia Brasil cidades alternativas para a crise urbana 2 ed Petroacutepolis Vozes 2002
MARICATO Ermiacutenia Metroacutepole legislaccedilatildeo e desigualdade Estudos Avanccedilados vol 17 n 48 Satildeo Paulo MayAug 2003
MARX Karl O capital critica da economia poliacutetica 14 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1994
MASCARO Juan Luis Manual de loteamentos e urbanizaccedilotildees Porto Alegre Sagra DC Luzzatto 1994
MILAREgrave Eacutedis Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental no Brasil In ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita organizadores Previsatildeo de impactos o estudo de
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
155
impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
MILES Valentina de Oliveira Diagnoacutestico da ocupaccedilatildeo urbana e degradaccedilatildeo ambiental em Canasvieiras apontamentos para a promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo Florianoacutepolis 2005
MONTIBELLER FILHO Gilberto Industrializaccedilatildeo e ecodesenvolvimento contradiccedilotildees possibilidades e limites em economia capitalista perifeacuterica- o estado de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1994
MONTIBELLER FILHO Gilberto O mito do desenvolvimento sustentaacutevel meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias Florianoacutepolis Ed UFSC 2004
MUMFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
NEGRAtildeO Joatildeo Joseacute Para conhecer o neoliberalismo Publisher Brasil 1998
OLIVEIRA Francisco de O Estado e a Exceccedilatildeo Ou o Estado de Exceccedilatildeo Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V5 N1 2003
O QUE A CAPITAL NECESSITA Boletim Informativo do Sistema SINDUSCON Florianoacutepolis Ano 7 n85 julho de 2007
PAIVA Maria das Graccedilas de Menezes Venancio Sociologia do turismo 2 ed Campinas Papirus 1998
PEDRAtildeO Fernando A sustentabilidade social e ambiental Revista de Desenvolvimento Econocircmico Salvador BA Ano IV ndeg06 p28-40 2002
PEREIRA Gislene Novas perspectivas para a gestatildeo das cidades Estatuto da Cidade e mercado imobiliaacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente Editora UFPR Ndeg 9 P77-92 JanJun 2004
PIMENTA Margareth de Castro Afeche (org) Florianoacutepolis do outro lado do espelho Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
PREFEITURA DO RIO Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro As cidades da Cidade Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwriorjgovbrplanoestrategico
PROGRAMA MAB O HOMEM E A BIOSFERA Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash UNESCO Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
REDCLIFT Michael Poacutes-sustentabilidade e os novos discursos de sustentabilidade Revista Raiacutezes Campina Grande Vol21 ndeg01 p124-136 janjun2002
RELATOacuteRIO DE IMPACTO AMBIENTAL RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
156
RIBEIRO Luiz C de Queiroz SANTOS JR Orlando Alves Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1997
RIZZO Paulo Marcos Borges A natimorta tecnoacutepolis do Campeche em Florianoacutepolis ndash deliacuterio de tecnocratas pesadelo dos moradores In Florianoacutepolis Do Outro Lado do Espelho Margareth de Castro Afeche Pimenta organizadora Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
ROLNIK Raquel Cidades o Brasil e o Habitat II Revista Teoria e Debate nuacutemero 32 Julho agosto setembro de 1996 Disponiacutevel em httpwww2fpaorgbr acesso em 10112007
SAacute Mohana Faria de Processo de Avaliaccedilatildeo de Impactos Ambientais (AIA) do Empreendimento Sapiens Parque (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004
SACHS Ignacy Estrateacutegias de Transiccedilatildeo para o Seacuteculo XXI Coleccedilatildeo Cidade Aberta Satildeo Paulo Studio Nobel Fundap 1993
SACHS Ignacy Caminhos para o desenvolvimento sustentaacutevel 2 ed Rio de Janeiro Garamond 2002
SACHS Ignacy Desenvolvimento includente sustentaacutevel sustentado Rio de Janeiro Garamond 2004
SAacuteNCHEZ Fernanda A Reinvenccedilatildeo das Cidades para um Mercado Mundial Chapecoacute Argos 2003
SAacuteNCHEZ Fernanda A (in)sustentabilidade das cidades-vitrine In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
SANTOS Cristina Silveira Ulyssea Planejamento turistico e seus reflexos no processo de urbanizaccedilatildeo nas praias de Canasvieiras e Jurerecirc Internacional (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1993
SANTOS Milton A urbanizaccedilatildeo brasileira 5 ed Satildeo Paulo EDUSP 2005
SANTOS Milton Pensando o espaccedilo do homem Satildeo Paulo Hucitec 1982
SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave consciecircncia universal 11 ed Rio de Janeiro Record 2004
SAPIENS La ciudad del conocimiento Revista ambiente digital Arquitectura Del Ambiente Fundacioacuten CEPA Disponiacutevel em httpwwwrevista-ambientecomar acesso em 05122006
SAPIENS PARQUE - Audiecircncia Puacuteblica em Ponta das Canas Produccedilatildeo para o programa Interesse Puacuteblico TV Justiccedila Data 18 de Agosto 2004 Florianoacutepolis Disponiacutevel em httpwwwprscmpfgovbr acesso em 15062007
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
157
SEN Amartya Desenvolvimento como liberdade Satildeo Paulo Companhia das Letras 2000
SILVA Adriana Gondran Espaccedilos Puacuteblicos Turismo e o Resgate da Cidadania em Canasvieiras Poacutes-Graduaccedilatildeo em Turismo e Hotelaria Universidade do Vale do Itajaiacute Balneaacuterio Camburiuacute 2005
SILVA Gilceacuteia Pesce do Amaral Science parks and urban design a cross-cultural investigation Oxford 2001 1v (Tese Doutorado) - Oxford Brookes University
SOUZA Cristiane Mansur de Moraes Avaliaccedilatildeo Ambiental Estrateacutegica como Subsiacutedio para o Planejamento Urbano (Tese de Doutorado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2003
SOUZA Marcelo Lopes de Mudar a cidade uma introduccedilatildeo criacutetica ao planejamento e agrave gestatildeo urbanos 3 ed rev Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2004
STEINBERGER Mariacutelia A (re)construccedilatildeo de mitos sobre a (in)sustentabilidade do(no) espaccedilo urbano Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR 2001
SWARBROOKE John Turismo sustentaacutevel conceitos e impacto ambiental 3 ed Satildeo Paulo Aleph 2002
VAINER Carlos Paacutetria Empresa e Mercadoria In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
VAZ Nelson Popini O centro histoacuterico de Florianoacutepolis espaccedilo puacuteblico do ritual Florianoacutepolis FCC Ed da UFSC 1991
VEIGA Joseacute Eli da Desenvolvimento sustentaacutevel o desafio do seacuteculo XXI Rio de Janeiro Garamond 2005
VIEIRA Nataacutelia Miranda A Imagem diz Tudo O Espaccedilo Urbano como Objeto de Consumo Bahia Anaacutelise e Dados Salvador ndash BA SEI V9 Ndeg2 P39-46 Set 1999
VIEIRA Paulo Freire Desenvolvimento e meio ambiente no Brasil a contribuiccedilatildeo de Ignacy Sachs Porto Alegre Pallotti Florianoacutepolis APED 1998
VILLACcedilA Flavio Espaccedilo intra-urbano no Brasil Satildeo Paulo Studio Nobel FAPESP 2001
Portais citados ao longo do texto
httpwwwnewsweekcom httpwwwfinepgovbr httpwwwfapescrct-scbr httpwwwibgegovbr httpwebworldbankorg httpwwwvitruviuscombr httpwwwestatutodacidadeorgbr httpwwwsbaucombr httpwwwhsmcombr httpwwwcuritibapaises-america
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
158
ANEXO 1 ndash AVALIACcedilAtildeO DO SAPIENS PARQUE SEGUNDO O IAB-SC
Para FUNDACcedilAtildeO CERTI AC Joseacute Eduardo De Silvia Lenzi Eduardo Castells Enrique Brena Miguel Pousadela Nelson Saraiva Ref Projeto SAPIENS Park
INTRODUCcedilAtildeO
Antes de apresentar a verificaccedilatildeo e complementaccedilatildeo das sugestotildees tal como solicitado por Leandro atraveacutes de mail enviado no uacuteltimo final de semana eacute necessaacuterio fazer alguns esclarecimentos
Apoacutes a finalizaccedilatildeo do Workshop da terccedila feira da semana passada alguns dos profissionais convidados -aqueles arquitetos que tiacutenhamos feito no decorrer das sessotildees de trabalho apreciaccedilotildees conceitualmente convergentes- ficamos trocando e aprofundando opiniotildees a respeito do encontro no geral e das propostas apresentadas pela Ecoplan em particular
Podemos afirmar que houveram conclusotildees consensuais no que diz a respeito de uma avaliaccedilatildeo criacutetica dos trabalhos apresentados Aconteceu uma outra rodada de comunicaccedilotildees -telefocircnicas desta vez- ao recebermos o mail de Leandro houve novamente consenso em considerar que as sugestotildees enviadas natildeo constituiacuteam uma siacutentese representativa das criacuteticas levantadas durante o encontro Foi nesse momento que comeccedilou a se pensar na ideacuteia de apresentar este documento
Aleacutem disso se considerou que questotildees centrais a respeito do embasamento conceitual e paracircmetros programaacuteticos do empreendimento ficavam difiacuteceis de transcrever dentro da formataccedilatildeo proposta pela grade enviada Notadamente ficava incompatiacutevel relacionar os alcances do enquadramento inicial apresentado por Joseacute Eduardo -que entendemos correto e suporte essencial para a definiccedilatildeo do perfil do empreendimento- com sugestotildees parciais sobre as propostas apresentadas sem contar com espaccedilo para questionar a validade dos fundamentos conceituais que as orientaram em princiacutepio sugestotildees natildeo ultrapassam a condiccedilatildeo de serem apenas correccedilotildees pontuais
Assim depois de ponderada avaliaccedilatildeo acreditamos que a classe de produto que melhor responderia agraves expectativas da Fundaccedilatildeo CERTI atendendo tambeacutem agrave condiccedilatildeo de espelhar adequadamente nossa avaliaccedilatildeo criacutetica do Workshop seria um documento que a- Fosse de encaminhamento uacutenico recolhendo o conjunto de contribuiccedilotildees dos arquitetos signataacuterios b- Tivesse uma estrutura expositiva diferenciada por niacuteveis de abrangecircncias e enfoque 1) A respeito da qualificaccedilatildeo do empreendimento 2) A respeito das caracteriacutesticas do sitio 3) A respeito das caracteriacutesticas de outros empreendimentos de porte similar 4) A respeito da avaliaccedilatildeo criacutetica das propostas apresentadas e que finalmente c- Concluiacutesse soacute entatildeo com sugestotildees 5) A respeito de condicionantes e conteuacutedos programaacuteticos que entendemos devem ser respeitados e contemplados pelo Maacutester Plan do SAPIENS Park
Com esse entendimento e sempre dispostos para maiores esclarecimentos aguardamos retorno
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
159
1 SINGULARIDADES QUE NOTABILIZAM O EMPREENDIMENTO
11 Conceito original focado no preacute-suposto de que a superaccedilatildeo humana se opera atraveacutes do conhecimento
12 Intenccedilatildeo declarada de aplicar tecnologia em sua mais ampla conceituaccedilatildeo
13 Ousadia de conceber o SAPIENS Park como um grande projeto ordenador orientado pela preservaccedilatildeo ambiental e pela buacutesqueda de melhor qualidade vida
14 Preocupaccedilatildeo por identificar as qualidades que converteram Florianoacutepolis numa cidade desejada junto com a intenccedilatildeo de garantir que tais qualidades sejam preservadas e ainda enriquecidas atraveacutes das diretivas e conteuacutedos do programa que iraacute implementar o projeto
15 Ambiccedilatildeo de que um grande e utoacutepico projeto possa transbordar suas qualidades internas para aleacutem do siacutetio que o abriga objetivando se converter num centro gerador da requalificaccedilatildeo urbana da Ilha e que abra caminhos na direccedilatildeo de superar a exclusatildeo social
16 Identificaccedilatildeo de paracircmetros programaacuteticos que acrescentam agrave ideacuteia de criaccedilatildeo de um parque tecnoloacutegico atividades e equipamentos que abrem a possibilidade de que Florianoacutepolis desempenhe como um iacutecone o papel de nova e significativa centralidade referencial para a regiatildeo para o paiacutes e para o mundo
2 COMPONENTES DIFERENCIADORES PARA A AgraveREA SITUACcedilAcircO TAMANHO NATUREZA PUacuteBLICA
21 Compreensatildeo do papel que a comunidade espera e necessita que seja atendido por essa grande aacuterea pertencente agrave empresa estadual e por tanto de natureza essencialmente puacuteblica
22 Identificaccedilatildeo das expectativas sociais de usos especiacuteficos que deveriam ser atendidas pelo terreno do SAPIENS Park considerando que pela sua privilegiada localizaccedilatildeo tem a possibilidade de ser articulador de toda a regiatildeo Norte da Ilha e dela com a cidade
23 Identificaccedilatildeo dos componentes de programa que devem caracterizar usos diferenciais para o terreno do SAPIENS Park e para o terreno da Reserva Florestal do Rio Vermelho ao qual corresponde que fique integrado
24 Reconhecimento de alternativas complementares para o uso da aacuterea identificadas a partir de caracterizar e localizar atividades externas ao terreno ou determinadas por seu entorno urbano
25 Entendimento de que intervir na aacuterea atraveacutes da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park representa a uacuteltima possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo urbana dos balneaacuterios do Norte da Ilha
26 Identificaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos atividades equipamentos estruturadores e complementares que levando em conta as vocaccedilotildees tradicionais da Ilha e a tendecircncia que se apresenta para o futuro possam ser articulados com o programa deste projeto de modo a corrigir a mono-funcionalidade balneaacuteria preacute-existente agrave implantaccedilatildeo do empreendimento
27 Proposiccedilatildeo dos retornos ou compensaccedilotildees sociais a que o projeto deve-se obrigar considerando sua condiccedilatildeo de bem puacuteblico
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
160
3 ESTUDO DE CASOS EXEMPLARES DE PORTE SEMELHANTE REFERENCIAIS
POSSIacuteVEIS PARA O ldquoSAPIENS PARKrdquo 31 Analisar o Plano Piloto e a arquitetura de Brasiacutelia como exemplo de construccedilatildeo de novos siacutembolos ou iacutecones para a modernidade brasileira dos anos lsquo50
32 Analisar o Plano da Barra da Tijuca como exemplo de construccedilatildeo de iacutecone brasileiro para o final do seacuteculo XX
33 Analisar o Parque do Flamengo referencial na construccedilatildeo de grandes espaccedilos puacuteblicos significativos e ordenadores de urbanidade
34 Analisar o iacutecone Copacabana e o protejo de reurbanizaccedilatildeo e engorde
35 Analisar o Plano para a orla de Barcelona como exemplo de urbanizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo de orla
36 Estudar os melhores exemplos disponiacuteveis dentro da temaacutetica de grandes parques tecnoloacutegicos (La Villette Epcot Center Digital Miacutedia City) especialmente daqueles que tenham mostrado efetiva contribuiccedilatildeo agrave construccedilatildeo da urbanidade
37 Estudar os avanccedilos tecnoloacutegicos mais destacados e sua aplicaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de tecidos urbanos e de edifiacutecios ambientalmente solucionados
4 AVALIACcedilAgraveO CRIacuteTICA DOS ESTUDOS DE ldquoMASTER PLANrdquo APRESENTADOS
41 Os trecircs estudos apresentados mostram-se modelagens inadequadas para satisfazer as ideacuteias originais propostas no programa para o SAPIENS Park tal como formuladas por Jose Eduardo no inicio do Workshop As soluccedilotildees diagramaacuteticas dos trecircs estudos repetem o mesmo projeto conservador distanciando-se da proposta do empreendimento que objetiva a inovaccedilatildeo como importante conteuacutedo
42 Os trecircs estudos repetem um mesmo e discutiacutevel modelo de urbanizaccedilatildeo -baseado na ideacuteia do cluster como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano- que jaacute fora bastante difundido em meados do seacuteculo XX Os resultados dos casos nos quais o modelo foi aplicado mostraram significativos aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com a inevitaacutevel sequumlela de aumento na marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social especialmente quando implantado em urbanizaccedilotildees mais afastadas desprovidas de efetiva centralidade
43 Os trecircs estudos restringem-se ao uso dos mesmos componentes jaacute presentes nos diagramas e imagens preliminares previamente elaborados dentro do proacuteprio CERTI Natildeo se verifica a incorporaccedilatildeo de novos paracircmetros de programa necessaacuterios a um projeto urbano Avalia-se que as dimensotildees e a natureza puacuteblica do terreno obrigariam o projeto a contar com um programa mais ambicioso em prol de permitir a superposiccedilatildeo de atividades e de equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
44 Tal como foram apresentados os trecircs estudos satildeo umas repeticcedilotildees conceituais que poderia estar em qualquer lugar do mundo nada do que pode lhes dar contextualidade local nem relaccedilatildeo com seu entorno imediato estaacute trabalhado ou foi sugerido
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
161
45 Os estudos foram concebidos como ilhas dentro de uma ilha (que estaacute pela sua vez dentro da Ilha) Todas as trecircs soluccedilotildees apresentam um conceito de artefato isolado de seu entorno o que o converte em elemento desagregador e natildeo em integrador da estrutura urbana existente Fica assim comprometido o declarado objetivo de que o SAPIENS Park sirva como modelo de urbanizaccedilatildeo referencial para o entorno A anaacutelise apresentada eacute limitada agrave aacuterea do terreno e natildeo inclui a anaacutelise do comportamento do entorno urbano imediato e menos ainda do comportamento da regiatildeo norte da ilha
46 Os trecircs estudos repetem cenografias similares para todos as zonas do terreno desconsiderando ou minimizando o papel desempenhado pela riqueza e diversidade oferecidas pelo mesmo e seu entorno imediato urbanizaccedilotildees grandes vias de contorno rios forestaccedilatildeo caponetes nativos banhados etc
47 As trecircs soluccedilotildees apresentam uma riacutegida zonificaccedilatildeo monofuncional por atividades baseada nas diretrizes da Carta de Atenas (CIAM 1933) Experiecircncias mostram que uma tal concepccedilatildeo gera setores isolados entre si carentes de vida quando cessa a atividade especiacutefica de cada um antiteacuteticos agrave proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade e focos de seriacutessimos problemas de seguranccedila
48 As variaccedilotildees apresentadas nos estudos -onde se intercambiam aleatoriamente as localizaccedilotildees de uma ou outra das zonas- mostram que a distribuiccedilatildeo sobre o terreno de uma ou outra monoatividade eacute feita com indiferenccedila a respeito do contexto de implantaccedilatildeo e inclusive dos proacuteprios requerimentos ambientais que fossem especiacuteficos para cada atividade
49 No mesmo sentido verifica-se que as zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar constituindo uma totalidade homogecircnea indiferenciada Ao verde preacute-existente resta apenas a funccedilatildeo de se transformar no resiacuteduo separador dessas ilhas urbanas de programas monofuncionais
410 Avalia-se que eacute artificial e inconsistente a proposta da aacutegua como cenaacuterio predominante e como principal nexo estruturador das atividades O efeito resultante eacute sempre separador (ao reforccedilar a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha criadas) e natildeo integrador Natildeo pode ser ignorado que a Ilha de Santa Catarina jaacute conta com duas extensas lagoas no seu interior e que o que estaacute faltando satildeo articulaccedilotildees da cidade com aacutereas verdes preservadas e com grandes espaccedilos puacuteblicos que sejam tratados com equipamentos culturais de lazer esportivos comerciais e comunitaacuterios
411 A extensa soluccedilatildeo de lagos sem usos claramente identificados apresentam-se decorrentes das aacutereas de empreacutestimo de materiais para a consecuccedilatildeo das ilhas de monofuncionalidade e natildeo com uma intencionalidade propositiva original dos estudos Nas conformaccedilotildees propostas a construccedilatildeo de lagos e ilhas correm o risco de desmontar toda a singularidade do ambiente nativo existente
412 Os estudos arquitetocircnicos natildeo foram enunciados contrariando ideacuteia atualmente dominante de que natildeo devem e natildeo podem ser tratados em separado da proposta de desenho urbano A fuga para um trabalho dominantemente paisagiacutestico natildeo soluciona tal impasse tornando menor o focirclego de tais estudos
413 Nesse mesmo sentido a apresentaccedilatildeo centrou-se na explicitaccedilatildeo de corredores visuais e alternacircncia de cheios e vazios sem que se observe uma compreensatildeo do grande potencial da aacuterea -equivale em m2 A mais de duas vezes o triangulo central de Florianoacutepolis- como a principal reserva de espaccedilos puacuteblicos e como o local da futura centralidade de toda a regiatildeo norte com projeccedilotildees para o resto da ilha
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
162
414 Natildeo haacute definiccedilatildeo de que aacutereas conservam a condiccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos quais semipuacuteblicos e quais privados nem de qual eacute o percentual relativo ou o desempenho previsto para cada um assim como da resoluccedilatildeo prevista para articular entre si esses trecircs diferentes niacuteveis de apropriaccedilatildeo Essa eacute uma questatildeo essencial na determinaccedilatildeo do caraacuteter final do empreendimento e permitiraacute estabelecer as efetivas possibilidades de uso do espaccedilo do SAPIENS Park por parte da cidadania
415 Natildeo foram fornecidas estimativas a respeito da demanda potencial prevista para o empreendimento nem de qual seria a consequumlente resposta de uma regiatildeo jaacute fraacutegil do ponto de vista ambiental
416 Finalmente natildeo haacute nenhum esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teoacuterico selecionado nem de quais foram os modelos referencias nacionais ou internacionais adotados pela consultora para embasar a concepccedilatildeo das soluccedilotildees apresentadas Uma tal fundamentaccedilatildeo eacute de vital importacircncia para possibilitar melhor compreender as intencionalidades de projeto dos estudos apresentados
5 SUGESTOtildeES PARA UMA PROPOSTA ALTERNATIVA
51 A principal sugestatildeo e de que o projeto urbano e arquitetocircnico busque ser a proacutepria imagem construiacuteda do ideaacuterio do empreendimento baseado no avanccedilo do conhecimento sobre os modos do homem bem ocupar o planeta Neste ponto alertamos mais uma vez para a pertinecircncia das colocaccedilotildees feitas na abertura do encontro elas tecircm valor referencial essencial na definiccedilatildeo do perfil do programa do empreendimento Entendemos que a identificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo meditada das tecnologias em seu conceito mais amplo e atualizado devem ser tambeacutem objetivos primaacuterios orientadores das propostas que devem ser feitas no campo da arquitetura e do urbanismo
52 Como principal compensaccedilatildeo ao uso de um terreno de natureza puacuteblica natildeo eacute difiacutecil imaginar um grande parque puacuteblico aberto agrave cidade e falando a esteacutetica dos valores vegetais locais como um importante componente da proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade Componente do qual Florianoacutepolis mostra evidente carecircncia Esta compensaccedilatildeo em dimensotildees realmente generosas seria um importante elemento que facilitaria a negociaccedilatildeo com a sociedade na hora de discutir compensaccedilotildees frente agrave privatizaccedilatildeo de partes dessa imensa aacuterea
53 A leitura dos balneaacuterios monofuncionais baseados dominantemente na habitaccedilatildeo permite pensar na centralizaccedilatildeo de equipamentos faltantes aos balneaacuterios -como tambeacutem agrave cidade- no sentido de alimentar sua grande vocaccedilatildeo turiacutestica e outras que podem vir a despertar justamente a partir da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park Eacute notaacutevel na cidade a ausecircncia de lugares excetuados os espaccedilos de praia que permitam a celebraccedilatildeo da cidadania nas suas mais variadas escalas incluindo ateacute aquelas das multidotildees reunidas pelo veratildeo Eventos os mais variados ficam prejudicados pela ausecircncia de tais espaccedilos A construccedilatildeo da centralidade inexistente para os balneaacuterios da ilha justificaria tambeacutem os desejos de centralidade regional local e internacional do empreendimento
54 O somatoacuterio de uma grande centralidade associado a parques trabalho e habitaccedilatildeo aumenta a superposiccedilatildeo desejada pelas cidades e eacute garantia de enriquecimento da cena urbana que se quer criar como novo e importante iacutecone Natildeo se constroacutei a imagem de uma grande centralidade com um programa que fica restrito apenas aos elementos que caracterizam um parque tecnoloacutegico Mais ainda deve-se pensar que a criaccedilatildeo de uma nova centralidade do porte estimado para o projeto do SAPINS Park pode vir a gerar um
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
163
deslocamento mais definitivo em direccedilatildeo ao Norte da Ilha da atual centralidade de Florianoacutepolis
55 Acreditamos que em relaccedilatildeo agrave conservaccedilatildeo do ambiente deveraacute ser perseguida a tese da toleracircncia zero em relaccedilatildeo aos resiacuteduos decorrentes da cultura humana Arquiteturas e organizaccedilotildees urbanas deveriam ser pensadas visando tal objetivo Nesse sentido recomenda-se especular com soluccedilotildees que diminuam a projeccedilatildeo sobre a paisagem natural representada pelas aacutereas de construccedilatildeo de edificaccedilotildees Nesse sentido eacute importante incentivar a pesquisa sobre novas soluccedilotildees urbanas tanto horizontais quanto verticais Adensar concentrar nuclear e com isso aliviar o continuo construiacutedo sobre o planeta eacute hoje reflexatildeo obrigatoacuteria de todo estudo urbano Mais ainda de um empreendimento que pretende primar como referencial em termos de qualidade de vida e proteccedilatildeo ambiental E fica claro que nessa filosofia natildeo podem ficar excluiacutedas as soluccedilotildees arquitetocircnicas que complementem as propostas urbanas
56 Eacute recomendaacutevel mudar o programa do projeto para incorporar o conceito de polifuncionalidade ou mix de funccedilotildees no compromisso de construir cidade e natildeo tatildeo soacute um parque temaacutetico com algumas atividades complementares para uso da populaccedilatildeo local
57 Considera-se que a vinculaccedilatildeo com o mar deve ser uma questatildeo central do projeto Para tanto deve ser cogitada a possibilidade de incorporar a vinculaccedilatildeo do SAPIENS Park com um terminal mariacutetimo de transporte de passageiros assim como tambeacutem com o terminal terrestre proacuteximo ao terreno
58 No mesmo sentido entendemos que a implantaccedilatildeo do SAPIENS Park obriga tanto a promotores quanto a projetistas a natildeo deixar de lado o problema representado pelo sistema geral de transporte puacuteblico urbano Assim como a infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos as demandas que venham a ser geradas pela implantaccedilatildeo do parque iratildeo a afetar profundamente natildeo apenas ao entorno imediato do terreno mas tambeacutem ao sistema regional na sua total complexidade
59 Por fim entendemos que a aacuterea do terreno deve ser entendida como campo de atuaccedilatildeo projetual para aleacutem do rio Papaquara conformando uma unidade que articule toda a regiatildeo norte da Ilha desde a estrada de acesso a Ponta das Canas e a SC 403 que vincula com Ingleses por um lado e entre a SC 401 que vincula com Canasvieiras e a estrada que vincula Cachoeira do Bom Jesus agrave SC 403 Nesse quadro fica facilitada a alternativa de que a area funcione como a centralidade da regiatildeo balneaacuteria norte (Daniela Jurereacute Canasvieiras Cachoeira Ponta das Canas Lagoinha Praia Brava Ingleses e Santinho) ampliando ainda o contexto para as comunidades de Vargem Grande e Rio Vermelho
Em Florianoacutepolis 4 de Julho de 2002
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
164
ANEXO 2
TABELA DE IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS
DO SAPIENS PARQUE
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
165
ANEXO 3 ndash MASTER PLAN SAPIENS PARQUE 2005
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
166
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
167
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
168
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
3
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUE
BEATRIZ FRANCALACCI DA SILVA
Esta dissertaccedilatildeo foi julgada adequada para a obtenccedilatildeo do Grau de Mestre em Urbanismo
Histoacuteria e Arquitetura da Cidade na aacuterea de concentraccedilatildeo em Configuraccedilotildees Regionais
Planejamento Urbano e Meio Ambiente do programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Urbanismo
Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade da Universidade Federal de Santa Catarina
e aprovada em sua forma final em 10 de marccedilo de 2008
______________________________________ Prof Dra Gilceacuteia Pesce do Amaral e Silva
Coordenador do PGAU - cidade
_______________________________________ Prof DrNelson Popini Vaz
Orientador
BANCA EXAMINADORA
__________________________________ Prof Dr Almir Francisco Reis
__________________________________ Prof Dr Eduardo Jorge Feacutelix Castells
__________________________________ Prof Dr Gilberto Montibeller Filho
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
4
AGRADECIMENTOS
Uma dissertaccedilatildeo de mestrado nunca pode ser vista como definitivamente finalizada
porque em um trabalho como este sempre haveraacute o que possa ser corrigido e acrescentado
Esta dissertaccedilatildeo constitui apenas um pequeno trecho de um longo caminho a ser percorrido
Sendo assim neste momento devem-se os agradecimentos agravequeles que de alguma forma
colaboraram para o desempenho deste trabalho
Agrave Coordenaccedilatildeo e Secretaria do PGAU ndash Cidade em particular agrave professora Gilceacuteia
Pesce do Amaral e Silva pelo incentivo constante e pela disponibilidade da realizaccedilatildeo do
curso de Mestrado
Ao meu orientador Nelson Popini Vaz pela orientaccedilatildeo que me permitiu descobrir
limites e possibilidades e pelo respeito agraves posiccedilotildees tomadas pela autora no decorrer do
trabalho agradeccedilo agrave convivecircncia
Ao amigo e professor Eduardo Jorge Feacutelix Castells pelo material do Instituto de
Arquitetos do Brasil cedido para anaacutelise e que servem de embasamento para a avaliaccedilatildeo
final da pesquisa aleacutem das discussotildees que permitiram seu direcionamento
Ao professor Gilberto Montibeller Filho pelas valiosas contribuiccedilotildees em minha banca
de qualificaccedilatildeo e pela presenccedila na banca de defesa e ao professor Almir Francisco Reis
pelas colocaccedilotildees finais que possibilitaram o aprimoramento do trabalho
Agrave Fundaccedilatildeo CERTI e ao Gerente Executivo do Sapiens Parque Leandro Carioni pela
atenccedilatildeo e disposiccedilatildeo de todo o material referente ao empreendimento indispensaacuteveis agrave
finalizaccedilatildeo do trabalho
Aos colegas do mestrado PGAU ndash Cidade em especial agrave Fernanda e Joana pela
amizade e discussotildees em sala que em muito contribuiacuteram nesta dissertaccedilatildeo
Ao Fernando pelo apoio incondicional e pelas fotos especialmente encomendadas e
que ilustram o terceiro capiacutetulo
Agrave minha querida amiga Bianca pela ajuda na revisatildeo e traduccedilatildeo do Inglecircs e agrave minha
tia Vera licenciada em Letras pela revisatildeo ortograacutefica do Portuguecircs
Por fim mas natildeo menos importante aos meus pais e aos meus irmatildeos Luciano
Marcos e Guilherme pela seguranccedila e certeza de que sempre estaratildeo presentes
A todos o meu muito obrigada
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque 29
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 30
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque 35
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil 60
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis 69
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial 95
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes 101
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de 101
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame 106
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes 106
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer 106
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico 106
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua 108
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde 108
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor 109
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana 109
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 119
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 137
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 138
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 139
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico 44
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis 58
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel 65
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba 105
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades 108
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque 123
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque 129
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel 141
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
7
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 ndash Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC 158
Anexo 2 ndash Tabela de Impactos e Medidas Compensatoacuterias do Sapiens Parque 164
Anexo 3 ndash Master Plan Sapiens Parque 2005 165
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
8
LISTA DE SIGLAS
ARENA - Alianccedila Renovadora Nacional
CASAN - Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento
CELESC - Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CERTI - Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras
CIC - Cidade Industrial de Curitiba
CODESC - Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CSD - Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel
EIA - Estudo de Impacto Ambiental
EIV - Estudo de Impacto de Vizinhanccedila
ESI - Environmental Sustenaibility Index
FAPESC - Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina
FATMA ndash Fundaccedilatildeo do Meio Ambiente
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FMI - Fundo Monetaacuterio Internacional
IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas
IDH - Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IDS - Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel
IPPUC - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
LAP - Licenccedila Ambiental Preacutevia
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PFL - Partido da Frente Liberal
PIB - Produto Interno Bruto
PMDB - Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro
PMF - Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
PNB - Produto Nacional Bruto
PNUD - Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento
RBAC ndash Reserva da Biosfera da Amazocircnia Central
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
9
RBMA - Reserva da Biosfera Mata Atlacircntica
RBC ndash Reserva da Biosfera do Cerrado
RBCA ndash Reserva da Biosfera da Caatinga
RBCVSP ndash Reserva da Biosfera do Cinturatildeo Verde de Satildeo Paulo
RBP ndash Reserva da Biosfera do Pantanal
RBU ndash Reserva da Biosfera Urbana
RIMA - Relatoacuterio de Impacto Ambiental
SINDUSCON - Sindicato da Induacutestria da Construccedilatildeo Civil
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo
SPE - Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
SUDAM - Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia
SUDENE - Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UNCED - Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
UNCTAD - Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento
UNEP - Programa de Meio Ambiente das Naccedilotildees Unidas
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
10
RESUMO
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Orientador Nelson Popini Vaz Linha de Pesquisa Configuraccedilotildees Regionais Planejamento Urbano e Meio Ambiente Defesa 10032008
O conjunto de processos e agentes externos de uma cidade sempre resulta em influenciar a sua evoluccedilatildeo urbana A globalizaccedilatildeo fortifica a velocidade com que ocorrem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e alteraccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e socioculturais trazem implicaccedilotildees no processo construtivo das cidades O espaccedilo urbano eacute transformado em um capital comum para toda a humanidade e ganha novas funccedilotildees dando origem ao ambiente competitivo entre as cidades e refletindo suas modificaccedilotildees no planejamento As cidades passam a constituir centros de articulaccedilatildeo e controle de economias regionais nacionais e internacionais a partir de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas As accedilotildees estrateacutegicas em acircmbito urbano definidas dentro da loacutegica do mercado caracterizam o novo modelo de planejamento a ser adotado frente aos desafios impostos pela globalizaccedilatildeo Por outro lado a problemaacutetica ambiental global surgida no seacuteculo XX determinou um novo paradigma de desenvolvimento que apresenta como diretriz a integraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas com o ambiente natural O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel compreende uma alternativa agraves teorias e modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica Este trabalho estabelece uma relaccedilatildeo entre o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel e o atual modelo de planejamento urbano estrateacutegico Para tanto faz uma avaliaccedilatildeo da eficiecircncia do modelo de planejamento urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel segundo os conceitos e criteacuterios de sustentabilidade A anaacutelise baseia-se no estudo de caso do empreendimento Sapiens Parque para Florianoacutepolis Tal empreendimento caracteriza-se como um programa de desenvolvimento regional baseado na produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e que visa a sustentabilidade social econocircmica e ambiental A pesquisa aponta os limites deste projeto no alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional atraveacutes do levantamento dos seus impactos em meio fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico permitindo identificar em quais aspectos o modelo de planejamento urbano adotado contraria os conceitos de sustentabilidade estudados
Palavras-chave desenvolvimento sustentaacutevel planejamento estrateacutegico projeto urbano globalizaccedilatildeo
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
11
ABSTRACT
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Adviser Nelson Popini Vaz Line of Research Regional Configurations Urban Planning and Environment Date of Presentation March 10th of 2008
The set of processes and external agents of a city always results in influencing its urban evolution The globalization increases the velocity in which these external changes take place and changes the space into a common capital to the humanity bringing its implications to the citiesrsquo constructive process The urban space has new functions creating a competitive environment between cities and reflecting in modifications in the urban planning Through urban vocations and specializations the cities start to constitute articulation and control centers of regional national and international economy The strategic actions in the urban field defined according to the market logic characterize the new planning model to be adopted facing the challenges imposed by the globalization On the other hand the global environmental problem that appeared in 20th century determined a new development paradigm that presents as a direction line the integration between human relations and natural environment The concept of sustainable development comes as an alternative to the theories and traditional models of development and marks a new philosophy that combines economic efficiency with social justice and ecological prudence This thesis establishes an interaction between the paradigm of the sustainable development and the current model of strategic urban planning In order to achieve that an efficiency evaluation of the urban planning model as a tool of sustainable development is made according to the concepts and the criteria of sustainability The analysis is based an enterprise Sapiens Park study of case in Florianoacutepolis Such enterprise is characterized as a regional development program based on the scientific and technological production and it aims at the social economic and environmental sustainability The research points the limits of this project while trying to reach the regional sustainable development through the survey of its impacts in the physic biotic and socio-economic environment allowing the identification of which aspects the urban planning model current adopted opposes the concepts of sustainability studied
Keywords sustainable development strategic planning urban project globalization
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
12
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS 04
LISTA DE FIGURAS 05
LISTA DE TABELAS 06
LISTA DE ANEXOS 07
LISTA DE SIGLAS 08
RESUMO 10
ABSTRACT 11
INTRODUCcedilAtildeO 14
Justificativa 14
Objetivos da pesquisa 17
Metodologia de pesquisa e estrutura do trabalho 18
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE 22
11 Caracterizaccedilatildeo de Florianoacutepolis 22
12 O empreendimento Sapiens Parque 26
121 Apresentaccedilatildeo do projeto 26
122 Localizaccedilatildeo urbana do empreendimento 29
123 Moacutedulos e Setores 33
124 Agentes envolvidos 35
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE 40
21 Conceito de desenvolvimento 40
211 Brasil e desenvolvimento 46
22 A inserccedilatildeo ambiental no desenvolvimento 51
221 Ecodesenvolvimento 54
222 Desenvolvimento Sustentaacutevel 61
23 Sustentabilidade urbana 66
231 Diretrizes para a sustentabilidade urbana 71
24 Turismo Desenvolvimento e Meio Ambiente 75
25 Impactos Ambientais Urbanos 79
251 Impactos de Projetos Desenvolvimentistas 81
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
13
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO 86
31 Globalizaccedilatildeo e a nova funccedilatildeo das cidades 86
32 Estrateacutegias das cidades para as novas funccedilotildees urbanas 88
33 O modelo estrateacutegico de planejamento das cidades 93
34 Variaccedilotildees em torno de um mesmo modelo 99
341 Barcelona e o caso da Vila Oliacutempica 99
342 Curitiba e suas intervenccedilotildees urbanas 102
343 Rio de Janeiro e os Planos Estrateacutegicos Regionais 106
35 Conclusotildees parciais Limites do planejamento estrateacutegico 110
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE 117
41 Avaliaccedilotildees do Instituto de Arquitetos do Brasil 117
42 Avaliaccedilotildees do EIA-RIMA 2003 120
421 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio fiacutesico e bioacutetico 124
422 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio soacutecio-econocircmico 126
423 Atribuiccedilotildees dadas ao poder puacuteblico 131
424 Aspectos legais 132
43 Avaliaccedilotildees da comunidade local 135
44 Avaliaccedilotildees do Master Plan 2005 136
45 Diagnoacutestico final avaliaccedilatildeo dos limites 140
5 CONCLUSOtildeES 145
REFEREcircNCIAS 151
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
14
INTRODUCcedilAtildeO
JUSTIFICATIVA OBJETIVO E METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO
As mudanccedilas tecnoloacutegicas econocircmicas geo-poliacuteticas e soacutecio-culturais ocorridas no
mundo como decorrecircncia do aparecimento da globalizaccedilatildeo apresentam suas influecircncias na
configuraccedilatildeo do espaccedilo urbano As cidades passaram de espaccedilos locais a centros
articuladores de economias regionais nacionais e internacionais tendo como instrumento
de planejamento accedilotildees estrateacutegicas definidas dentro da loacutegica do mercado Esta nova
realidade gera o espaccedilo das cidades mundiais onde as cidades buscam seu
reconhecimento em niacutevel global atraveacutes de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas
Tal situaccedilatildeo no Brasil teve seu maior exemplo refletido na cidade de Curitiba na
deacutecada de 1990 Curitiba foi classificada como uma das melhores cidades brasileiras para
se viver e tornou-se referecircncia nacional e internacional atraveacutes de um plano de urbanizaccedilatildeo
especiacutefico que visava atrativos culturais e de lazer A exemplo do que aconteceu na capital
paranaense nos uacuteltimos anos o espaccedilo metropolitano de Florianoacutepolis vem sendo apontado
como uma das regiotildees de maior qualidade de vida do Brasil e com o menor iacutendice de
violecircncia do paiacutes
A pretensatildeo de transformar Florianoacutepolis em uma referecircncia mundial iniciou a partir
da virada dos anos oitenta para os anos noventa Ao final da deacutecada de 1980 defendia-se
que a vocaccedilatildeo de Florianoacutepolis estaria na induacutestria do turismo e de alta tecnologia
entendidas como induacutestrias natildeo poluentes e adequadas ao rico ambiente natural da cidade
Apoacutes o lanccedilamento do Mercosul em 1991 Florianoacutepolis foi nomeada com o tiacutetulo de Capital
Turiacutestica do Mercosul Em 2002 a revista nacional Exame colocou a capital de Santa
Catarina como a quinta colocada dentre as melhores cidades do paiacutes para a aplicaccedilatildeo de
investimentos
No mecircs de junho de 2007 Florianoacutepolis esteve presente no evento ldquoFoacuterum
Internacionalrdquo que aconteceu em Goyang na Coreacuteia do Sul O objetivo do evento era
debater o tema do desenvolvimento urbano e cultural com convidados especiais
representantes oficiais e especialistas de renome internacional de um grupo de dez cidades
especiacuteficas O grupo reunia as ldquo10 cidades mais dinacircmicas do mundordquo que consistem as
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
15
regiotildees econocircmicas mais promissoras do mundo pesquisa realizada e publicada pela
revista internacional Newsweek em julho de 2006 Florianoacutepolis foi a uacutenica cidade da
Ameacuterica Latina a ser classificada no ranking juntamente a outros centros urbanos
americanos europeus e asiaacuteticos
A revista Newsweek justificou a inclusatildeo de Florianoacutepolis na lista das dez cidades
mais dinacircmicas do mundo devido a uma seacuterie de fatores entre eles o potencial turiacutestico
derivado da quantidade de praias o alto niacutevel de escolaridade e a presenccedila de uma nova
induacutestria limpa do conhecimento baseada em empresas de tecnologia de ponta A notiacutecia
chega a referir-se agrave capital como o futuro ldquoVale do Siliacuteciordquo no Brasil em uma comparaccedilatildeo ao
maior centro tecnoloacutegico americano na Califoacuternia
Florianoacutepolis vem buscado tornar-se uma referecircncia internacional atraveacutes de projetos
e intervenccedilotildees urbanas seguindo processo semelhante ao qual se submeteu Curitiba No
evento de Goyang a cidade foi representada pelo engenheiro mecacircnico e administrador
Marcelo Ferreira Guimaratildees diretor de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo do Sapiens Parque
projeto urbano que constitui o estudo de caso deste trabalho
O Sapiens Parque consiste em um empreendimento com futura implantaccedilatildeo no
balneaacuterio de Canasvieiras no norte de Florianoacutepolis e que visa a atraccedilatildeo de investimentos
privados e turistas O projeto vem sendo apresentado pelos responsaacuteveis como um
programa de desenvolvimento regional sustentaacutevel para o norte da Ilha
O Sapiens Parque pode ser caracterizado como um programa de desenvolvimento regional envolvendo a criaccedilatildeo de um novo centro urbano para Florianoacutepolis ldquointeligenterdquo baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental voltado para produccedilatildeo cientiacutefica tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento e exigindo em sua implementaccedilatildeo profundo trabalho de planejamento urbano arquitetocircnico ambiental econocircmico financeiro e juriacutedico Sua finalidade extrapola a curiosidade cientiacutefica e alcanccedila a capacitaccedilatildeo das futuras geraccedilotildees para enfrentar o desenvolvimento equilibrado a produccedilatildeo de riquezas e a agregaccedilatildeo de valor para fazer frente agrave competitividade do seacuteculo XXI (RIMA 1 200301)
Durante o decorrer do ano 2007 o Sapiens Parque e outros projetos urbanos foram
apresentados em eventos mensais locais ocorridos em Florianoacutepolis denominados como
ldquoPensando a Cidaderdquo e patrocinados por empresas privadas e pelo Sindicato da Induacutestria da
Construccedilatildeo Civil (SINDUSCON) O primeiro dos eventos apresentou um viacutedeo ilustrativo
com um resumo desses projetos intitulado ldquoA cidade que queremosrdquo e contou com a
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
16
participaccedilatildeo do governador em exerciacutecio Luiz Henrique da Silveira que se mostrou
visivelmente favoraacutevel agrave implantaccedilatildeo dos projetos
Tais intervenccedilotildees segundo os patrocinadores do evento promoveriam o
desenvolvimento sustentaacutevel de Florianoacutepolis e regiatildeo buscando equilibrar
simultaneamente o crescimento econocircmico com o desenvolvimento social e cultural
mantendo a preservaccedilatildeo ambiental Aleacutem do Sapiens Parque os eventos ainda
apresentaram o projeto de um hotel seis estrelas com localizaccedilatildeo na Ponta do Coral (um
local estrateacutegico na principal avenida agrave beira-mar da cidade) e o projeto de um campo de golfe
para a praia do Costatildeo do Santinho (proacuteximo ao principal resort de Florianoacutepolis) entre outros
Este trabalho faz uma anaacutelise do projeto urbano do Sapiens Parque como ferramenta
de desenvolvimento sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis a partir do
estudo de seus possiacuteveis impactos sociais econocircmicos e ambientais positivos e negativos
em acircmbito regional O projeto Sapiens Parque incorpora os conceitos do modelo de
planejamento urbano estrateacutegico que compreende a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees urbanas e
investimentos estrateacutegicos com o objetivo de atraccedilatildeo do capital privado e inserccedilatildeo das
cidades em niacutevel mundial Em geral tais intervenccedilotildees constituem iniciativas dos governos
locais formadas a partir da parceria dos oacutergatildeos puacuteblicos com as empresas privadas As
poliacuteticas locais tentam absorver e levar para a gestatildeo e o planejamento local os novos
paradigmas que buscam a criaccedilatildeo das cidades mundiais O modelo que sustenta tal
pensamento baseia-se no conceito da competitividade urbana como escopo para o
desenvolvimento local e melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo
Para a avaliaccedilatildeo do projeto urbano Sapiens Parque esta pesquisa parte de dois
eixos estruturadores O primeiro eixo estruturador consiste em mostrar os conceitos e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel em suas dimensotildees social ambiental e econocircmica
e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo urbano
O termo ldquodesenvolvimento sustentaacutevelrdquo surgiu na deacutecada de 1980 como um
paradigma a ser seguido dentro das diretrizes de desenvolvimento de forma a reunir
questotildees sociais e ambientais ao crescimento econocircmico Apesar de muitos autores
discursarem a respeito da ldquoinsustentabilidade do desenvolvimento sustentaacutevelrdquo ao
questionarem sua efetiva possibilidade de aplicaccedilatildeo o termo ainda vem sendo utilizado no
discurso de muitos projetos urbanos como um importante objetivo a ser alcanccedilado
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
17
O segundo eixo estruturador deste trabalho analisa a caracterizaccedilatildeo e os limites do
modelo de planejamento urbano estrateacutegico utilizado no conceito do Sapiens Parque
atraveacutes de referenciais nacionais e internacionais existentes e das avaliaccedilotildees jaacute feitas em
relaccedilatildeo ao proacuteprio empreendimento O resultado final da pesquisa consiste na avaliaccedilatildeo dos
limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de desenvolvimento
sustentaacutevel
Esta pesquisa tambeacutem pretende discutir o atual modelo de planejamento urbano
adotado atraveacutes do estudo do Sapiens Parque se os investimentos estatais dirigem-se aos
reais problemas da sociedade ou se estatildeo eles direcionados agrave promoccedilatildeo do capital no
mundo globalizado Trata-se de avaliar os impactos ambientais e soacutecio-econocircmicos de tal
empreendimento a niacutevel local e regional e discutir as reais possibilidades do alcance do
desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes desse modelo Assim torna-se possiacutevel prever e
apontar os limites do planejamento urbano e procurar mudanccedilas que possam melhoraacute-lo
Vale lembrar aqui de que o projeto Sapiens Parque ainda natildeo foi totalmente
executado tendo uma previsatildeo de quinze anos para a sua conclusatildeo Trata-se portanto de
trabalhar com indicativos de uma possiacutevel e provaacutevel situaccedilatildeo ainda natildeo real
OBJETIVOS DA PESQUISA
OBJETIVO GERAL
Analisar o projeto do empreendimento Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
identificando seus limites
OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Como forma de alcanccedilar o objetivo geral acima especificado os seguintes objetivos
especiacuteficos satildeo preacute-estabelecidos
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
18
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca do desenvolvimento
sustentaacutevel definindo dimensotildees e criteacuterios de sustentabilidade
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca de intervenccedilotildees e projetos
urbanos existentes no mundo e no Brasil utilizados como meio de
desenvolvimento e inserccedilatildeo da cidade em niacutevel global e identificar suas
limitaccedilotildees como modelo de planejamento urbano
Avaliar o projeto Sapiens Parque considerando seus impactos soacutecio-econocircmicos
e ambientais positivos e negativos tomando como base bibliografia disponiacutevel
Definir os limites do projeto Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
METODOLOGIA DE PESQUISA E ESTRUTURA DO TRABALHO
Para realizar uma avaliaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque como instrumento
de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis e identificar seus limites esta
pesquisa foi estruturada atraveacutes de quatro capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo eacute introduzido o estudo de caso a partir da caracterizaccedilatildeo geral
do desenvolvimento urbano na regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis e da apresentaccedilatildeo do
empreendimento Sapiens Parque seus conceitos e atores envolvidos Optou-se em expor
de imediato o projeto que seraacute utilizado na avaliaccedilatildeo final do trabalho para inteirar o leitor
acerca do empreendimento antes mesmo das exposiccedilotildees e anaacutelises teoacutericas que envolvem
seus aspectos principais
O segundo e terceiro capiacutetulos desta pesquisa constituem basicamente a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica que serviraacute de base para a avaliaccedilatildeo final do empreendimento
Sapiens Parque demonstrada no uacuteltimo capiacutetulo Como o objetivo geral do trabalho consiste
em apontar os limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento sustentaacutevel a fundamentaccedilatildeo teoacuterica abordou essas duas temaacuteticas
principais os conceitos e criteacuterios relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e os
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
19
conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de planejamento urbano que caracteriza o
empreendimento
O segundo capiacutetulo intitulado ldquoDesenvolvimento e Meio Ambienterdquo analisa a
conceituaccedilatildeo teoacuterica referente ao desenvolvimento sustentaacutevel e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo
urbano Por tratar-se da avaliaccedilatildeo de um projeto urbano que ainda natildeo foi executado optou-
se em realizar uma pesquisa qualitativa baseada em criteacuterios de sustentabilidade Frente agrave
abrangente bibliografia acerca do tema este estudo transcorreu em torno de obras
produzidas por determinados autores reconhecidos pelas pesquisas realizadas em paiacuteses
em desenvolvimento como o Brasil Foram destacadas entre outras as duas importantes
obras de Ignacy Sachs1 ldquoCaminhos para o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo (2002) e
ldquoDesenvolvimento includente sustentaacutevel sustentadordquo (2004) A legislaccedilatildeo pertinente ao
tema tambeacutem serviu como fonte de pesquisa bibliograacutefica para anaacutelise
Como o desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis tem forte influecircncia da atividade
turiacutestica e o empreendimento Sapiens Parque tem o turismo sustentaacutevel como um dos
conceitos do projeto este segundo capiacutetulo aborda ainda questotildees relevantes acerca do
turismo e de seus impactos no ambiente natural Conceitos acerca de impactos ambientais
de projetos urbanos voltados ao desenvolvimento de uma regiatildeo como eacute caracterizado o
Sapiens Parque tambeacutem foram estudados ao final do capiacutetulo
Aleacutem de toda a conceituaccedilatildeo teoacuterica acerca das relaccedilotildees entre o desenvolvimento
urbano e o meio ambiente o segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo ainda enfatiza as
aplicaccedilotildees praacuteticas de tais conceitos para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis Tais
aplicaccedilotildees satildeo demonstradas no decorrer da fundamentaccedilatildeo teoacuterica atraveacutes do
levantamento das principais aacutereas e projetos de preservaccedilatildeo ambiental para a regiatildeo
O terceiro capiacutetulo deste trabalho levantou os conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de
planejamento urbano adotado no projeto do Sapiens Parque denominado planejamento
estrateacutegico que apresenta como um dos elementos precursores do desenvolvimento a
atraccedilatildeo de investimentos e de visitantes para determinada regiatildeo O planejamento urbano
1 Professor da Eacutecole des Hautes Eacutetudes en Sciences Sociales (EHESS) em Paris e criador do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporacircneo (CRDC)
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
20
estrateacutegico caracteriza-se por estrateacutegias das cidades na busca de ambientes competitivos
capazes de transformaacute-las em cidades mundiais no mundo globalizado
O terceiro capiacutetulo consiste em uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica baseada em pesquisa
bibliograacutefica Foram analisadas de um lado as obras bibliograacuteficas de ARANTES (2000)
VAINER (2000) MARICATO (2000) e SAacuteNCHEZ (2003) que criticam a utilizaccedilatildeo do
planejamento urbano estrateacutegico como um modelo a ser aplicado a todas as realidades
urbanas De outro lado temos a visatildeo de BORJA e CASTELLS (2000) LOPES (1998) e
GUumlELL (1997) que analisam as origens e metodologias do planejamento estrateacutegico e
defendem que sua correta aplicaccedilatildeo pode trazer benefiacutecios para as cidades Neste capiacutetulo
satildeo mostrados ainda referenciais de determinadas cidades onde tal modelo jaacute foi aplicado
como Barcelona Rio de Janeiro e Curitiba As anaacutelises dos estudos de caso buscam
demonstrar as variaccedilotildees que existem em torno deste mesmo modelo e tirar conclusotildees
parciais acerca dos seus resultados
O quarto capiacutetulo consiste na anaacutelise final do projeto do empreendimento Sapiens
Parque tendo como base a fundamentaccedilatildeo teoacuterica dos dois capiacutetulos anteriores Para a
etapa de avaliaccedilatildeo do projeto foram utilizados os seguintes documentos
Material de divulgaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque
Legislaccedilatildeo ambiental e urbana incidente na aacuterea de implantaccedilatildeo do
empreendimento
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) do
Sapiens Parque
Dossiecirc de Inserccedilatildeo Socioambiental do Sapiens Parque
Memoacuteria de audiecircncias puacuteblicas relacionadas ao empreendimento
Criacutetica do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SC) a respeito do projeto Sapiens
Parque
Entrevistas com atores locais concedidas agrave rede de televisatildeo local
Notiacutecias do empreendimento
Os documentos acima apresentam as avaliaccedilotildees feitas ao empreendimento Sapiens
Parque pelos atores envolvidos O quarto capiacutetulo levanta os principais impactos positivos e
negativos do empreendimento em meios fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico em niacutevel local
regional municipal e metropolitano A anaacutelise de tais impactos associada agrave fundamentaccedilatildeo
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
21
teoacuterica estudada permite a avaliaccedilatildeo conclusiva dos limites do projeto Sapiens Parque como
instrumento de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis
Por fim a lista de obras citadas como Referecircncias ao teacutermino do trabalho constitui
todas as obras bibliograacuteficas material cartograacutefico documentos de acesso eletrocircnico
publicaccedilotildees perioacutedicas legislaccedilatildeo e material audiovisual que foram consultados para a
elaboraccedilatildeo desta pesquisa independente de terem sido ou natildeo referenciados nos textos ao
longo do trabalho
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
22
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
11 CARACTERIZACcedilAtildeO DE FLORIANOacutePOLIS
O desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis deu-se principalmente no seacuteculo XX
apoacutes a cidade firmar-se como capital de Santa Catarina VAZ (1991) atribui trecircs fatores
principais para a transformaccedilatildeo de Florianoacutepolis neste seacuteculo a centralizaccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos e administrativos da capital que consolidou o nuacutecleo do centro urbano a integraccedilatildeo
rodoviaacuteria que substituiu o transporte mariacutetimo pelo rodoviaacuterio e o turismo que mesmo ainda
sendo uma atividade sazonal trouxe modificaccedilotildees relevantes no desenvolvimento urbano
As primeiras deacutecadas do seacuteculo XX marcaram a crise da atividade portuaacuteria e a
estagnaccedilatildeo da agricultura local A construccedilatildeo da Ponte Herciacutelio Luz em 1926 que
estabeleceu a conexatildeo Ilha-continente incrementou o transporte rodoviaacuterio e consistiu um
importante impulsionador do desenvolvimento local A urbanizaccedilatildeo acarretou melhorias em
infra-estrutura atraveacutes da implantaccedilatildeo da rede de energia eleacutetrica e dos sistemas de
abastecimento de aacutegua e captaccedilatildeo de esgotos
Na deacutecada de 1930 o municiacutepio enfrentou um periacuteodo de estagnaccedilatildeo devido agrave
Revoluccedilatildeo de Trinta quando o governo local fez oposiccedilatildeo agrave candidatura de Getuacutelio Vargas
A vida urbana da capital antes marcada pela presenccedila do ativo porto exportador manteve-
se nessa eacutepoca basicamente atraveacutes do crescimento do setor puacuteblico e dos serviccedilos
oferecidos pelo governo estadual aleacutem da manutenccedilatildeo de pequena produccedilatildeo agriacutecola e
industrial fazendo com que o comeacutercio local se transformasse na principal atividade
econocircmica (VAZ 1991)
Nas deacutecadas de 1940 e 1950 a situaccedilatildeo econocircmica da capital continuou estagnada
com queda no movimento portuaacuterio e sofrendo deficiecircncias de infra-estrutura O comeacutercio
continuou sendo a atividade econocircmica principal com pouca atividade industrial e a cidade
manteve a sua caracteriacutestica poliacutetico-administrativa
A execuccedilatildeo de obras viaacuterias na metade do seacuteculo XX possibilitou a expansatildeo urbana
para o interior da Ilha e forneceu o acesso agraves praias Segundo VAZ (1991) Florianoacutepolis
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
23
manteve sua imagem quase intacta ateacute a deacutecada de 1960 quando se acelerou o processo
de transformaccedilatildeo destacando o sistema de circulaccedilatildeo e transportes rodoviaacuterios Com a
implantaccedilatildeo da Universidade Federal de Santa Catarina em 1961 e de empresas estatais
federais e estaduais Florianoacutepolis passou a receber estudantes professores e profissionais
liberais de outras cidades e estados contribuindo significativamente para o crescimento e o
desenvolvimento da cidade Nesta eacutepoca a induacutestria da construccedilatildeo civil comeccedilou a se
destacar na cidade aleacutem do setor de comeacutercio e serviccedilos
A crescente classe meacutedia multiplicou as grandes aacutereas loteadas dos novos bairros residenciais e os edifiacutecios de apartamento que margearam novas avenidas Ela foi assistida por numerosa e perifeacuterica camada social de baixa renda que sustentou o setor de comeacutercio e serviccedilos com matildeo de obra barata e a construccedilatildeo civil (VAZ 199133)
A economia local passou a utilizar ainda mais as redes terrestres como transporte
apoacutes a construccedilatildeo da BR-101 na deacutecada de 1970 que fez a conexatildeo Norte-Sul do Estado
como tambeacutem com a construccedilatildeo da BR-470 (Rodovia Jorge Lacerda) que ligou a capital ao
planalto catarinense Somente nesta deacutecada com o crescimento da maacutequina estatal
Florianoacutepolis reativou seu dinamismo compensando a decadecircncia da atividade portuaacuteria
De acordo com CECCA (1997) as deacutecadas de 1960 e 1970 foram marcadas por
acentuado desenvolvimento urbano e consequumlente busca de ocupaccedilatildeo das praias pela
populaccedilatildeo local e principalmente por turistas estaduais interestaduais e estrangeiros A
pavimentaccedilatildeo de muitas vias que forneciam o acesso agraves praias foi realizada nesta eacutepoca
frente agrave nova demanda de veratildeo a SC-401 que oferece acesso agraves praias do Norte da Ilha
a SC-404 que leva agrave Lagoa da Conceiccedilatildeo e desta a SC-406 que segue ao Rio Tavares e a
SC-405 que passa pelo Campeche em direccedilatildeo agrave Armaccedilatildeo e ao Pacircntano do Sul
Para atender as novas demandas de traacutefego urbano as autoridades governamentais
construiacuteram o Aterro da Baiacutea Sul na deacutecada de 1970 O aterro serviu como escoamento
para as duas novas pontes de ligaccedilatildeo com o continente a Ponte Colombo Machado Sales e
a Pedro Ivo Campos Aleacutem disso o aterro se interligou agrave Via Expressa da Beira-Mar Norte
Aos poucos Florianoacutepolis perdeu ainda mais sua antiga relaccedilatildeo com o mar frente aos
pedidos de empresaacuterios e poliacuteticos ligados ao setor turiacutestico por novos aterros estradas
duplicaccedilotildees viadutos e tuacuteneis
Na deacutecada de 1980 Florianoacutepolis jaacute se caracterizava como uma cidade voltada para
o setor terciaacuterio de serviccedilos que hoje concentra parte de sua economia e sua posiccedilatildeo de
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
24
capital do Estado natildeo se restringe apenas a gerar empregos puacuteblicos mas indiretamente
estimula outros setores intermediaacuterios da economia local A atividade turiacutestica comeccedilou a se
destacar ainda mais nesta eacutepoca tornando-se um dos pilares da economia na Ilha e
concretizando a cidade como um dos principais poacutelos turiacutesticos de Santa Catarina
O turismo passou a servir de promotor de significativas modificaccedilotildees culturais e
paisagiacutesticas As atividades de turismo e lazer geraram a expansatildeo urbana desvinculada do
centro alterando a fisionomia urbana a partir da implementaccedilatildeo de condicionantes
favoraacuteveis agrave valorizaccedilatildeo do turismo hoteacuteis restaurantes loteamentos casas de segunda
residecircncia ou aluguel principalmente nas aacutereas proacuteximas da orla A cidade se desenvolveu
formando poacutelos urbanos com bairros auto-suficientes destinados agraves classes meacutedia e alta na
sua parte central e agraves favelas nas aacutereas mais afastadas As transformaccedilotildees urbanas
decorrentes dessa eacutepoca trouxeram consequumlecircncias imediatas e devastadoras ao patrimocircnio
natural e cultural
Os recantos mais ermos da Ilha comeccedilaram a serem cortados por estradas e loteamentos e as tradicionais e decadentes comunidades agriacutecola-pesqueiras transformaram-se em balneaacuterios Na cidade as verticais edificaccedilotildees modernas substituiacuteram a maior parte das construccedilotildees seculares de estilos e eacutepocas diversas As encostas e as periferias urbanas foram sendo intensamente ocupadas por populaccedilotildees mais pobres (CECCA 199759-60)
Segundo CECCA (1997) ldquoa maior ameaccedila agrave qualidade de vida de Florianoacutepolis
deriva do desrespeito ao meio ambiente e aos ecossistemas da Ilhardquo (CECCA 1997233)
O meio ambiente natural da Ilha eacute diversificado e fraacutegil marcado pela Floresta Ombroacutefila
Densa (Mata Atlacircntica) Floresta das Planiacutecies Quaternaacuterias manguezais restingas e
dunas Essa variedade de ecossistemas torna ainda mais difiacutecil a identificaccedilatildeo dos impactos
ambientais derivados da urbanizaccedilatildeo A condiccedilatildeo geograacutefica e insular da cidade aliada ao
seu particular sistema ecoloacutegico impotildeem limites para sua expansatildeo urbana ainda mais que
cerca de 42 do municiacutepio de Florianoacutepolis eacute atualmente constituiacutedo por unidades de
preservaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo O crescimento populacional local e o processo de migraccedilatildeo
tende a elevar os problemas de ordenamento urbano-ambiental do municiacutepio
Em acircmbito econocircmico a pesca artesanal e a pesca industrial que sempre estiveram
presentes na economia local continuam dando modestas contribuiccedilotildees ao produto interno
bruto municipal assim como as atividades do setor primaacuterio da economia como a
agricultura e a pecuaacuteria A induacutestria da construccedilatildeo civil aparece como forte atividade
econocircmica mas a principal fonte da economia municipal deve-se agrave atividade turiacutestica (que
atrai brasileiros e principalmente a populaccedilatildeo estrangeira do Mercosul) aliada ao comeacutercio
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
25
e ao setor de serviccedilos derivado da estrutura administrativa municipal estadual e federal
Tambeacutem com aparente potencial tem surgido a induacutestria do vestuaacuterio e da informaacutetica e
tecnologia Nos uacuteltimos anos a aquumlicultura tambeacutem tem se tornado uma atividade mais
expressiva para a populaccedilatildeo ligada ao setor marinho
O patrimocircnio cultural da Ilha resulta de acordo com CECCA (1997) do conjunto de
trecircs elementos formadores da sociedade brasileira o branco europeu o nego africano e o
nativo indiacutegena Entretanto verifica-se maior influecircncia cultural do povoador portuguecircs em
particular o imigrante accediloriano Essa influecircncia reflete-se no traccedilado original das cidades na
tipologia arquitetocircnica nas teacutecnicas agriacutecolas e nas festas tradicionais A construccedilatildeo dos
aterros (principalmente na deacutecada de 1970) a valorizaccedilatildeo do sistema rodoviaacuterio e a
desativaccedilatildeo do porto o desenvolvimento turiacutestico a expansatildeo imobiliaacuteria e as dificuldades
para manter a pesca artesanal satildeo alguns dos fatores que levaram ao distanciamento das
atividades tradicionais derivadas da cultura accediloriana em Florianoacutepolis
Hoje a cidade passa por um processo de conurbaccedilatildeo criando a aacuterea metropolitana
da Grande Florianoacutepolis juntamente com as cidades de Satildeo Joseacute Biguaccedilu Palhoccedila
Antocircnio Carlos Governador Celso Ramos Santo Amaro da Imperatriz Satildeo Pedro de
Alcacircntara e Aacuteguas Mornas totalizando uma populaccedilatildeo de mais de 820 mil habitantes
segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2007
Florianoacutepolis apresenta ainda o principal aeroporto do Estado o Aeroporto Herciacutelio Luz que
desde 1989 opera com vocircos internacionais Apesar de suas deficiecircncias no campo social eacute
considerada uma das capitais de maior qualidade de vida do Brasil tendo levado o tiacutetulo de
melhor capital do paiacutes em qualidade de vida pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)
em 1998
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
26
12 O EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE2
121 APRESENTACcedilAtildeO DO PROJETO
O Sapiens Parque vem sendo apresentado atraveacutes de um novo conceito
denominado ldquoparque de inovaccedilatildeordquo Um parque de inovaccedilatildeo eacute um ambiente que possui infra-
estrutura e espaccedilo para abrigar empreendimentos projetos e outras iniciativas inovadoras e
estrateacutegicas para o desenvolvimento de uma regiatildeo e que se distingue por possuir um
modelo inovador para atrair desenvolver implementar e integrar estas iniciativas visando
um posicionamento diferenciado sustentaacutevel e competitivo
A oportunidade inicial para o Sapiens Parque surgiu a partir da parceria do poder
puacuteblico e da iniciativa privada atraveacutes da integraccedilatildeo entre o Governo do Estado de Santa
Catarina por meio da CODESC e a Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologia
Inovadoras (CERTI)
Como destacamos na Introduccedilatildeo deste trabalho o empreendimento vem sendo
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional baseado na
sustentabilidade social econocircmica e ambiental Voltado para produccedilatildeo cientiacutefica
tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento o projeto incorpora o seguinte
conjunto de conceitos e diretrizes
Desenvolvimento Sustentaacutevel busca o equiliacutebrio entre as vertentes econocircmica
social e ambiental
Sociedade do Conhecimento caracterizada pela crescente valorizaccedilatildeo dos
produtos serviccedilos e relaccedilotildees baseadas no conhecimento e na informaccedilatildeo
2 Todas as informaccedilotildees contidas neste item foram fornecidas atraveacutes de documentos oficiais do Sapiens Parque
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
27
Economia da Experiecircncia tendecircncia de geraccedilatildeo de produtos e serviccedilos
diferenciados por proporcionarem ldquomemorabilidade amp fidelizaccedilatildeordquo ao integrar
Educaccedilatildeo ndash Entretenimento ndash Esteacutetica e Imersatildeo
Convergecircncia das Ciecircncias e Tecnologias tambeacutem chamada de
transdisciplinaridade eacute o conceito que visa integrar os vaacuterios campos da ciecircncia e
da tecnologia (humanas exatas bioloacutegicas sociais etc)
Globalizaccedilatildeo Econocircmica tendecircncia que induz ao desenvolvimento de Plataformas
Mundiais considerando as peculiaridades e diferenccedilas locais
ldquoAdoccedilatildeo de um Ciclo contiacutenuo de Inovaccedilatildeordquo busca integrar de forma eficaz a
Pesquisa Livre Pesquisa Preacute-competitiva Desenvolvimento Tecnoloacutegico e
Criaccedilatildeo de Negoacutecios
Convergecircncia Digital tendecircncia de crescimento e desenvolvimento de produtos e
serviccedilos que integram Tecnologia da Informaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Conteuacutedo e
Turismo sustentaacutevel atraveacutes dos centros culturais e de eventos centro de
esportes e lazer centro de compras e gastronomia e do turismo ecoloacutegico
Para o projeto estaacute planejado um conjunto de empreendimentos puacuteblicos e privados
como arena multiuso parque florestal centro de serviccedilos para comunidade centro de
eventos e de convivecircncia hoteacuteis museus centros gastronocircmicos e de compras centros de
pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico aleacutem de empresas e organizaccedilotildees natildeo
governamentais que em conjunto iratildeo atuar no desenvolvimento local e regional
Segundo os empreendedores os resultados esperados com sua implantaccedilatildeo satildeo
(RIMA 1 2003) geraccedilatildeo de quase 30000 empregos diretos nas aacutereas de turismo ciecircncia e
tecnologia e serviccedilos geraccedilatildeo na fase de implantaccedilatildeo de aproximadamente R$ 11 bilhatildeo
em impostos que poderatildeo ser aplicados no melhoramento da infra-estrutura sauacutede
educaccedilatildeo e seguranccedila reduccedilatildeo da sazonalidade turiacutestica na regiatildeo auxiliando na
profissionalizaccedilatildeo da atividade definiccedilatildeo de um novo padratildeo de ocupaccedilatildeo urbana para a
regiatildeo e valorizaccedilatildeo da sociedade catarinense
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
28
Os idealizadores do projeto defendem que o parque deveraacute consagrar-se como
ldquoindutor do progresso social e material da regiatildeo harmonizando o desenvolvimento regional
e a sustentabilidade ambiental cumprindo seu papel de gerar renda e criar empregosrdquo
(RIMA 1 200303) Os principais aspectos econocircmicos positivos apontados consistem o
aumento significativo da arrecadaccedilatildeo de impostos a criaccedilatildeo de novos empregos o aumento
da renda global e per capita a captaccedilatildeo e atraccedilatildeo de novos negoacutecios para o estado e o
potencial mercado de consumidores construiacutedo em parte pelos paiacuteses do Mercosul
Jaacute os aspectos sociais positivos apontados pelos empreendedores do parque satildeo os
seguintes ampliaccedilatildeo planejada da cidade otimizaccedilatildeo dos serviccedilos modernizaccedilatildeo da Ilha
na aacuterea de turismo e lazer ciecircncia e tecnologia transportes e comunicaccedilotildees aumento da
rede hoteleira estabilizaccedilatildeo do mercado de turismo e melhoria da qualidade de vida da
populaccedilatildeo com a implantaccedilatildeo de infra-estrutura e criaccedilatildeo de novos empregos
O primeiro projeto para o Sapiens Parque foi elaborado em 2002 pela empresa
Ecoplan selecionada atraveacutes da Fundaccedilatildeo CERTI para a execuccedilatildeo do trabalho O projeto
finalizado pela Ecoplan foi avaliado atraveacutes de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) no
ano seguinte realizado pelas empresas Socioambiental Consultores Associados e Elabore
Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente e sofreu alteraccedilotildees decorrentes das avaliaccedilotildees
feitas A partir de entatildeo o projeto passou a ser de responsabilidade do instituto argentino
Fundaciograven Cepa e orientado pelo arquiteto tambeacutem argentino Ruben Pesci Em 2005 o
Sapiens Parque apresentou um novo projeto elaborado pela Fundaciograven Cepa mantendo os
aspectos conceituais do empreendimento Os motivos pelos quais o projeto deixou de ser de
responsabilidade da empresa Ecoplan para ser desenvolvido pela Fundaciograven Cepa natildeo satildeo
esclarecidos pela Fundaccedilatildeo CERTI Entretanto concluiacutemos que o fato de o grupo argentino
estar envolvido na concepccedilatildeo do projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis3
aleacutem do reconhecimento de que a busca pela integraccedilatildeo entre o ambiente construiacutedo e a
natureza constituem um dos principais focos dos projetos do instituto Cepa influenciou na
decisatildeo de mudanccedila da equipe responsaacutevel
3 Sobre o projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis ver Capiacutetulo 2
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
29
122 LOCALIZACcedilAtildeO URBANA DO EMPREENDIMENTO
Segundo os idealizadores do projeto Sapiens Parque a escolha da cidade de
Florianoacutepolis como local para o empreendimento deve-se agrave sua localizaccedilatildeo geograacutefica
estrateacutegica em relaccedilatildeo aos paiacuteses comprometidos com o Mercosul e por ser praticamente
equumlidistante em relaccedilatildeo agraves principais metroacutepoles e aos grandes centros de negoacutecios da
regiatildeo A capital ainda possui a vantagem expressiva de ser conhecida em todo o mercado
do Cone Sul por sua beleza natural pelos seus iacutendices superiores de qualidade de vida e
pela constituiccedilatildeo de um dos maiores poacutelos de tecnologia do Paiacutes apresentando assim reais
condiccedilotildees de conjugar atividades de Centro de Negoacutecios e Centro de Lazer
Devido as suas caracteriacutesticas terciaacuterias e de prestaccedilatildeo de serviccedilos Florianoacutepolis
ainda eacute considerado um mercado consolidado para o desenvolvimento de empresas de
base tecnoloacutegica A Figura 1 mostra a localizaccedilatildeo do empreendimento no contexto urbano
de Florianoacutepolis
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como vemos na Figura 1 o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se
na regiatildeo Norte da Ilha no balneaacuterio de Canasvieiras O projeto Sapiens Parque estaacute
proposto para ser implantado em Florianoacutepolis em uma aacuterea superior a 400 ha
(4000000msup2) pertencente agrave Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
(CODESC) e ao Governo do Estado de Santa Catarina e onde se situava a extinta Colocircnia
CENTRO
SAPIENS
PARQUE
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
30
Penal de Florianoacutepolis Estende-se do entroncamento da rodovia estadual SC 401 com o
trevo de Canasvieiras ateacute os limites da Cachoeira do Bom Jesus do Morro dos Freitas e
terras da Vargem do Bom Jesus no Distrito de Canasvieiras na costa norte da Ilha de
Santa Catarina a 25 km de distacircncia do centro da capital O terreno de implantaccedilatildeo do
projeto pode ser conferido na Figura 2
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque Elaboraccedilatildeo da autora
A opccedilatildeo pela implantaccedilatildeo do empreendimento nesta regiatildeo eacute atribuiacuteda aos seguintes
fatores
A regiatildeo tem experimentado um dos maiores crescimentos imobiliaacuterios de todo o
paiacutes sendo procurada tanto para abrigar projetos na aacuterea residencial como
empresarial e educacional
A expansatildeo da cidade de Florianoacutepolis para esta regiatildeo assegura ao Sapiens
CANASVIEIRAS
CACHOEIRA DO
BOM JESUS
OCEANO ATLAcircNTICO
SAPIENS PARQUE
RIO PAPAQUARA
RIO DO
BRAacuteS
INGLESES
CENTRO
SC
-401
MORRO
DE
JUREREcirc
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
31
Parque uma infra-estrutura urbana essencial para o desenvolvimento de um
empreendimento deste porte
A regiatildeo norte de Florianoacutepolis abriga algumas das mais belas praias da Ilha que
oferecem opccedilotildees diversificadas de lazer desde os esportes naacuteuticos ateacute o surf e o
entretenimento familiar Aliada agraves belezas naturais das praias haacute toda uma
diversidade ambiental que engloba lagoas naturais reservas ambientais dunas e
reservas de mata atlacircntica
A regiatildeo conta com uma extensa rede hoteleira e uma infra-estrutura diversificada
de comeacutercio e serviccedilos
Os idealizadores do projeto alegam que foram estudadas outras possibilidades de
localizaccedilatildeo para a implantaccedilatildeo do empreendimento A regiatildeo sul de Florianoacutepolis que
engloba os bairros Campeche Ribeiratildeo da Ilha e Pacircntano do Sul foi considerada
inapropriada por apresentar vocaccedilotildees desenvolvimento econocircmico e infra-estrutura
bastante diferentes da regiatildeo norte o que no curto e meacutedio prazo desfavoreceria a
implantaccedilatildeo de projetos como o Sapiens Parque pois exigiria altiacutessimos investimentos
principalmente em infra-estrutura e no desenvolvimento econocircmico da regiatildeo A uacutenica aacuterea
ao sul disponiacutevel para tamanho empreendimento estaria nas proximidades do Aeroporto
Internacional Herciacutelio Luz fato que implica na impossibilidade de implantaccedilatildeo do parque
devido principalmente agrave influecircncia das atividades do parque nos equipamentos dos aviotildees
e do aeroporto e vice-versa
Uma terceira alternativa avaliada para a localizaccedilatildeo do parque seria na parte
continental de Florianoacutepolis que apesar de possuir viabilidade econocircmica natildeo apresentaria
ldquoopccedilotildees de terrenos de grande porte para a implantaccedilatildeo de um projeto desta magnituderdquo
(RIMA 1 200308)
Caracterizaccedilatildeo do Norte da Ilha e do Balneaacuterio de Canasvieiras
O processo de expansatildeo territorial para o Norte da Ilha desenvolveu-se
paralelamente aos investimentos estatais e ocorreu de forma mais evidente durante a
deacutecada de 1970 principalmente no Balneaacuterio de Canasvieiras e no seu entorno As
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
32
intervenccedilotildees viaacuterias solidificaram e incrementaram esse processo Segundo SUGAI (1994)
ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a regiatildeo norte da Ilha era utilizada principalmente
para o desenvolvimento das atividades agriacutecola e pesqueira A partir da deacutecada de 1950 a
regiatildeo comeccedilou a atrair a atenccedilatildeo para sua utilizaccedilatildeo balneaacuteria
A regiatildeo do balneaacuterio de Canasvieiras era extremamente visada pois apresentava
excelentes praias com aacuteguas limpas e de temperatura amena protegidas dos ventos
constantes aleacutem de beliacutessimas paisagens e de conformaccedilatildeo fiacutesica bastante rica SANTOS
(1993) destaca que Canasvieiras assim como outras praias do Norte da Ilha devem sua
ocupaccedilatildeo urbana principalmente pelas construccedilotildees das residecircncias de veraneio da alta
classe Durante as deacutecadas de 1950 e 1960 o Norte da Ilha passou a ser definido como
uma das principais localizaccedilotildees com essa finalidade e para onde o Estado efetuava os
maiores investimentos O fato deu iniacutecio aos interesses turiacutesticos e imobiliaacuterios na regiatildeo
impulsionando e estruturando o processo de expansatildeo da aacuterea urbana
Segundo SANTOS (1993) o processo de ocupaccedilatildeo de Canasvieiras ocorreu sem a
presenccedila de um plano diretor especiacutefico para os distritos A urbanizaccedilatildeo se desenvolvia
pelas vias principais e a tendecircncia foi a formaccedilatildeo de faixas contiacutenuas ao longo da praia A
inexistecircncia de infra-estrutura para o abastecimento de aacutegua esgoto e drenagem pluvial
aliada a um deficiente controle do uso e da ocupaccedilatildeo do solo sem uma legislaccedilatildeo mais
especiacutefica e fiscalizaccedilatildeo atuante desenvolveu uma urbanizaccedilatildeo precaacuteria que tende a
comprometer os seus atrativos naturais
A incidecircncia direta do turismo a partir da deacutecada de 1970 atraveacutes da construccedilatildeo de
hoteacuteis pousadas casas para aluguel bares e restaurantes acarretaram ainda maiores
impactos no ambiente natural A antiga vila de pescadores deu lugar a um espaccedilo disputado
pelos interesses capitalistas e imobiliaacuterios transformando-a em centro de turismo de
veraneio
Dessa forma a orla da regiatildeo foi ocupada quase em totalidade de maneira irregular
e com a apropriaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo devido agrave ausecircncia de uma fiscalizaccedilatildeo por
parte dos oacutergatildeos puacuteblicos O tipo de ocupaccedilatildeo originou a paisagem que caracteriza hoje o
balneaacuterio destituiacutedo de vegetaccedilatildeo natural com consequumlente erosatildeo e abrasatildeo marinhas
assoreamento de rios e coacuterregos
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
33
123 MOacuteDULOS E SETORES
O empreendimento Sapiens Parque compreende-se a partir de uma estrutura
organizacional fundamentada em dois moacutedulos principais o primeiro denominado
Experintia e o segundo caracterizado como Scientia ambos baseados no Ser humano e no
Conhecimento Aleacutem dos dois moacutedulos principais o parque ainda apresenta quatro setores
o de turismo esporte e consoacutercio o de serviccedilos especializados o de empresas de base
tecnoloacutegica e o de iniciativas e projetos soacutecio-ambientais
O moacutedulo Experientia congrega elementos como o Museu de Ciecircncia Parque
Temaacutetico Laboratoacuterios para novas tecnologias e soluccedilotildees O Experientia objetiva a criaccedilatildeo
de novos projetos conceitos ideacuteias e soluccedilotildees nas aacutereas da educaccedilatildeo meio ambiente
lazer cultura vida urbana empreendedorismo esporte educaccedilatildeo cidadania accedilatildeo de governo
sauacutede atraveacutes de experiecircncias intensivas no uso de tecnologias centradas no ser humano
O segundo moacutedulo Scientia consolida-se atraveacutes de nuacutecleos avanccedilados de
universidades empresas laboratoacuterios de ONGs e demais organizaccedilotildees interessadas na
pesquisa desenvolvimento e experimentaccedilatildeo de novas tecnologias e soluccedilotildees Caracteriza-
se pela busca da diversidade e interdisciplinaridade e visa atrair talentos e competecircncias de
referecircncias para o empreendimento
Dentre os demais acircmbitos que compotildeem o parque destaca-se o setor de turismo
esporte e consoacutercio que se direciona principalmente em propagar a vocaccedilatildeo turiacutestica
bastante forte na regiatildeo O projeto pretende reduzir a sazonalidade do turismo
caracteriacutestica em Florianoacutepolis cuja atividade acaba sempre por depender da temporada de
veratildeo Para isso pretende-se desenvolver uma rede de hoteacuteis reconhecida
internacionalmente pela excelecircncia na prestaccedilatildeo de serviccedilos O setor visa novas formas
atraentes como Arena Multiuso Centro Gastronocircmico Shopping Museu e Centros de
Saber Parque Ecoloacutegico Aquaacuterio e Complexo Esportivo
O setor de serviccedilos especializados estimula o desenvolvimento de determinados
tipos de serviccedilos altamente especializados em aacutereas como educaccedilatildeo sauacutede e negoacutecios
Na questatildeo educacional o objetivo eacute atrair instituiccedilotildees de niacutevel superior com atuaccedilatildeo em
assuntos particulares como tambeacutem escolas individualizadas e empresas com serviccedilos e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
34
soluccedilotildees tornando-se uma referecircncia de qualidade nas entidades de ensino da regiatildeo Jaacute
na aacuterea da sauacutede satildeo previstas cliacutenicas e centros meacutedicos especializados Reserva-se
ainda espaccedilo e infra-estrutura para o desenvolvimento de estrateacutegias empreendedoras
como marketing e publicidade
O terceiro setor do empreendimento denominado Empresas de Base Tecnoloacutegica
constitui fundamental segmento da chamada Economia do Conhecimento caracterizada por
gerar produtos e serviccedilos de alto valor agregado e exige pessoal qualificado e uma cultura
de permanente inovaccedilatildeo O parque visa atrair e oferece toda a infra-estrutura necessaacuteria agraves
empresas interessadas no desenvolvimento de novos negoacutecios As empresas de caraacuteter
tecnoloacutegico estaratildeo integradas ao moacutedulo principal Scientia de forma a acessar os
conhecimentos e tecnologias ali geradas
O uacuteltimo setor organizacional do parque baseia-se em iniciativas e projetos soacutecio-
ambientais devido ao empreendimento estar voltado para a promoccedilatildeo do desenvolvimento
regional No aspecto social pretende-se estimular a implantaccedilatildeo de projetos e iniciativas
voltadas para a criaccedilatildeo de emprego e renda e principalmente para a promoccedilatildeo da
qualificaccedilatildeo e educaccedilatildeo atraveacutes de iniciativas como Incubadoras Sociais Centros de
Qualificaccedilatildeo Centros Comunitaacuterios e outros O projeto tem por pretensatildeo atraveacutes de
equipamentos especiacuteficos promover a interaccedilatildeo com a comunidade e assegurar o
desenvolvimento da regiatildeo agregado agrave qualidade de vida das pessoas
O Sapiens Circus caracteriza-se por ser um ambiente educacional de aprendizado e
diversatildeo constituiacutedo de dispositivos tecnoloacutegicos e de interaccedilatildeo com filmes e jogos O
sistema de ensino tem por fundamento a estimulaccedilatildeo dos educandos na cooperaccedilatildeo muacutetua
para a construccedilatildeo do conhecimento e da tomada de decisotildees Informaccedilotildees sobre a
diversidade amazocircnica satildeo apresentadas atraveacutes dos dispositivos de ensino e os
educandos vivenciam uma experiecircncia por meio de histoacuteria fictiacutecia ou simulaccedilatildeo em que a
biodiversidade amazocircnica os ajuda a resolver um problema Dessa forma os educandos
percebem o valor da biodiversidade aprendem seus conceitos e satildeo motivados a seguir
com estudos posteriores dentro de sala de aula
O projeto estaacute sendo desenvolvido para ser executado em cinco fases previstas para
ocorrer em um total de 20 anos O ldquoMarco Zerordquo (Primeira Fase) do Sapiens Parque jaacute estaacute
em funcionamento contendo a sede administrativa do parque e o Sapiens Circus conforme
podemos verificar na Figura 3
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
35
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque
124 AGENTES ENVOLVIDOS
Sapiens Parque SA
A Sapiens Parque SA nasceu como uma Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
(SPE) entre a CODESC proprietaacuteria do terreno a Fundaccedilatildeo CERTI detentora do capital
intelectual e autora do Programa de Desenvolvimento Tecnoloacutegico Regional e o Instituto
Sapientia mentor do conceito de Edutainment - Educaccedilatildeo com Entretenimento - e parceiro
de inovaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia do Sapiens
Criada na forma de Sociedade Anocircnima de Capital Fechado eacute responsaacutevel pela
gestatildeo e implementaccedilatildeo do empreendimento O grupo tem propoacutesito especiacutefico de
estruturar viabilizar implementar e operar o empreendimento dentro de altos padrotildees de
qualidade eficiecircncia e estabilidade
O projeto ainda apresenta apoio do Governo do Estado de Santa Catarina da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) da Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
Escola Sapiens
Sapiens
Circus
Incubadora Sapiens
Casaratildeo Sede e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
36
(PMF) da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)4 da Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa
Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina (FAPESC)5 e da Paradigma
Tecnologia que viabiliza o Portal do Sapiens Parque na Internet
Codesc
A Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (CODESC) eacute uma
empresa de economia mista que integra a administraccedilatildeo indireta do Estado subordinada ao
Regime de Direito Privado e reuacutene condiccedilotildees teacutecnicas e juriacutedicas para a formulaccedilatildeo e
gestatildeo de programas que visam o desenvolvimento econocircmico do estado
Foi criada pela lei estadual ndeg 5089 de 300475 como ldquoholdingrdquo6 A empresa
coordenou o Sistema Financeiro Estadual e no decorrer dos anos vaacuterias atividades lhe
foram delegadas pelo Poder Puacuteblico Estadual tendo em vista sua qualificaccedilatildeo juriacutedica que
lhe confere maior agilidade na tomada de decisotildees
De acordo com seu Estatuto a CODESC tem por objetivos principais adquirir e
administrar sob qualquer forma e nos limites permitidos em lei participaccedilotildees e controles
societaacuterios E ainda promover sob a orientaccedilatildeo do Governo do Estado o desenvolvimento
econocircmico e a integraccedilatildeo da accedilatildeo do Estado com a dos municiacutepios e da Uniatildeo
Com essas qualificaccedilotildees a CODESC pode oferecer garantias e contragarantias para
o Estado autarquias fundaccedilotildees e sociedades de economia mista suas subsidiaacuterias e
controladas em operaccedilotildees financeiras sem a necessidade de autorizaccedilatildeo do Banco
Central Pode ainda negociar accedilotildees e cotas de outras sociedades inclusive o controle do
capital votante tanto de economia mista como privadas Atualmente a CODESC eacute vinculada
agrave Secretaria de Estado da Fazenda por decisatildeo do Decreto ndeg 923 de 31 de maio de 1996
4 A FINEP tem por missatildeo promover e financiar a inovaccedilatildeo e a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica em empresas universidades institutos tecnoloacutegicos centros de pesquisa e outras instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o desenvolvimento econocircmico e social do Paiacutes (httpwwwfinepgovbr acesso em 20112006) 5 A FAPESC tem por missatildeo promover o Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico no Estado de Santa Catarina atraveacutes do fomento agrave pesquisa e da interaccedilatildeo em todos os niacuteveis das instituiccedilotildees cientiacuteficas dos complexos produtivos do governo e da sociedade (httpwwwfapescrct-scbr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
37
Fundaccedilatildeo Certi
A Fundaccedilatildeo Centro de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras (CERTI) eacute uma
instituiccedilatildeo independente e sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento tecnoloacutegico
com foco na inovaccedilatildeo em negoacutecios produtos e serviccedilos no segmento de tecnologia da
informaccedilatildeo
Criada em 1984 por iniciativa de algumas empresas brasileiras da Universidade
Federal de Santa Catarina e dos Governos Estadual e Federal a fundaccedilatildeo eacute hoje referecircncia
no campo nacional e internacional pelo desenvolvimento de projetos inovadores que
envolvem soluccedilotildees de convergecircncia digital Exemplos dessa linha de projetos constituem as
urnas eletrocircnicas os terminais de automaccedilatildeo bancaacuteria e terminais puacuteblicos de acesso agrave
Internet
A partir de 1990 a fundaccedilatildeo passou a atuar significativamente na gestatildeo da
qualidade e produtividade em consequumlecircncia das mudanccedilas nas poliacuteticas econocircmicas e
industriais do Brasil A CERTI trabalha para a ampliaccedilatildeo de novas soluccedilotildees de forma
cooperativa e integrada atraveacutes do uso de ferramentas do processo de pesquisa e
desenvolvimento de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica A CERTI atua na anaacutelise do negoacutecio na
concepccedilatildeo do produto e na implementaccedilatildeo dos processos produtivos adequados para
acelerar e assegurar maior ecircxito na colocaccedilatildeo dos novos produtos no mercado
A fundaccedilatildeo conta hoje com uma seacuterie de entidade e parceiros atuantes Tem sua
matriz em Florianoacutepolis no campus da Universidade Federal de Santa Catarina e em 1999
inaugurou uma filial na cidade de Manaus para dar apoio agraves empresas de base tecnoloacutegica
estabelecidas naquela regiatildeo
6 Holding eacute uma empresa que deteacutem a quantidade suficiente de accedilotildees de uma outra companhia que lhe permita determinar e controlar a gestatildeo desta uacuteltima
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
38
Instituto Sapientia
Fundado em 05 de dezembro de 2002 o Instituto Sapientia eacute uma pessoa juriacutedica de
direito privado administrativamente autocircnomo e independente e criado como consequumlecircncia
da iniciativa de alguns colaboradores da Fundaccedilatildeo CERTI A oportunidade de concepccedilatildeo de
uma nova organizaccedilatildeo com competecircncias necessaacuterias para a praacutetica de novos produtos e
desafios partiu da necessidade de direcionamento das atividades da Fundaccedilatildeo CERTI para
o foco da Economia da Experiecircncia
Constituiacutedo na forma de associaccedilatildeo e sem fins lucrativos o instituto eacute operado
segundo conceitos e praacuteticas da Fundaccedilatildeo CERTI Tem por objeto social a pesquisa e o
desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico sustentados em projetos de grande relevacircncia
soacutecio-ambiental e econocircmica para a sociedade brasileira tais como
Projetos de pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica aplicada
Projetos e programas de experimentaccedilatildeo e demonstraccedilatildeo de soluccedilotildees
tecnoloacutegicas
Projetos de desenvolvimento de tecnologias negoacutecios e empreendimentos
inovadores
Projeto de ambientes interativos
Promoccedilatildeo da cultura e da arte
Desenvolvimento de tecnologias de interatividade centradas no ser humano
Desenvolvimento das infra-estruturas de softwares distribuiacutedos para integraccedilatildeo de
ambientes interativos
Desenvolvimento de jogos miacutedias e conteuacutedos para a construccedilatildeo de experiecircncias
memoraacuteveis
O Sapientia eacute um dos mentores e parceiros do Sapiens Parque e projetista das
aacutereas do Experientia e Scientia Atua com o desenvolvimento de Conteuacutedos Interativos
softwares interativos aplicados em jogos educacionais implantaccedilatildeo de experiecircncias e
pesquisas em convergecircncia das ciecircncias e transdisciplinaridade
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
39
Comunidade Local
As comunidades e associaccedilotildees de moradores de Florianoacutepolis diretamente
envolvidas com o projeto Sapiens Parque concentram-se basicamente no Norte da Ilha
Tais associaccedilotildees estiveram representadas nas audiecircncias puacuteblicas promovidas pelo
Sapiens Parque no decorrer do ano de 2003 levantando como principais questotildees a serem
discutidas a degradaccedilatildeo ambiental decorrente da excessiva urbanizaccedilatildeo e a necessidade de
integraccedilatildeo do projeto com a comunidade As principais comunidades locais envolvidas satildeo
Associaccedilatildeo dos Moradores de Canasvieiras
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem Grande
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem do Bom Jesus
Associaccedilatildeo Amigos de Carijoacutes
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
Uniatildeo Metropolitana de Entidades Comunitaacuterias
Centro de Estudos Cultura e Cidadania
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
40
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
O presente capiacutetulo analisaraacute os principais conceitos que abrangem a relaccedilatildeo do
desenvolvimento com o meio ambiente Para tanto inicia-se com uma visatildeo geral do
significado da palavra desenvolvimento para posteriormente inserir a dimensatildeo ambiental
em seu conceito O estudo resulta na anaacutelise das dimensotildees e dos criteacuterios de
desenvolvimento sustentaacutevel como paradigma Tais criteacuterios seratildeo utilizados na avaliaccedilatildeo
final do empreendimento Sapiens Parque estudo de caso deste trabalho Este capiacutetulo
ainda analisa as aplicaccedilotildees do desenvolvimento sustentaacutevel ao espaccedilo urbano enfocando
os grandes projetos urbanos e turiacutesticos como se caracteriza o estudo de caso em questatildeo
21 CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO
A maneira mais simploacuteria de caracterizar o sentido da palavra desenvolvimento
consiste em associaacute-lo ao crescimento econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo Industrial em
meados do seacuteculo XVIII a histoacuteria da humanidade passou a ser quase inteiramente
determinada pelo crescimento econocircmico A vida cotidiana foi totalmente transformada e o
padratildeo de vida das pessoas aumentou enquanto a mortalidade humana diminuiu Atraveacutes
do avanccedilo da ciecircncia e tecnologia foram possiacuteveis inovaccedilotildees nas aacutereas da sauacutede puacuteblica e
da medicina resultantes principalmente da iniciativa governamental e do empreendedorismo
puacuteblico e que acarretaram os raacutepidos aumentos da esperanccedila de vida
O conceito de desenvolvimento esteve associado exclusivamente ao crescimento
econocircmico ateacute iniacutecio dos anos 1960 devido ao resultado dos processos de industrializaccedilatildeo
nas diferentes naccedilotildees haviam poucos paiacuteses industrializados desenvolvidos e ricos e por
outro lado paiacuteses que permaneceram subdesenvolvidos e pobres cujo processo de
industrializaccedilatildeo era incipiente Segundo VEIGA (2005) a associaccedilatildeo do desenvolvimento ao
crescimento econocircmico facilitaria o encontro de paracircmetros que serviriam para mensurar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
41
desenvolvimento atraveacutes da ligaccedilatildeo com indicadores de crescimento econocircmico como por
exemplo o Produto Interno Bruto (PIB)7 per capita
Entretanto a perspectiva de ter-se o desenvolvimento combinado somente a partir do
crescimento econocircmico implica consideraacute-lo apenas segundo fenocircmenos econocircmicos
secundaacuterios como o aumento do PIB o comportamento das exportaccedilotildees ou a evoluccedilatildeo dos
mercados Apesar de constituir um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento no
crescimento econocircmico as mudanccedilas satildeo quantitativas enquanto no desenvolvimento as
mudanccedilas satildeo qualitativas No desenvolvimento devem ser levadas em consideraccedilatildeo as
disfunccedilotildees qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo
Para VEIGA (2005) ter-se o desenvolvimento de um paiacutes conceituado somente a
partir do seu crescimento econocircmico consiste em um pensamento simplista e reducionista
Isso porque o crescimento econocircmico na deacutecada de 1950 em paiacuteses semi-industrializados
como o Brasil natildeo acarretou necessariamente maior acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo bens
materiais e culturais agraves camadas mais pobres de tais naccedilotildees como acontecera nos paiacuteses
ateacute entatildeo considerados desenvolvidos
Segundo o autor a partir da deacutecada de 1990 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) lanccedilou o Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) que natildeo se
resume agrave simples identificaccedilatildeo do desenvolvimento com o crescimento econocircmico Segundo
os relatoacuterios anuais elaborados pelo PNUD o desenvolvimento significa acima de tudo a
possibilidade de as pessoas viverem o tipo de vida que escolheram e com a provisatildeo de
instrumentos e oportunidades para fazerem suas escolhas
O IDH parte do pressuposto de que para conferir o avanccedilo de uma populaccedilatildeo natildeo se
deve considerar apenas a dimensatildeo econocircmica mas tambeacutem outras caracteriacutesticas sociais
culturais e poliacuteticas que influenciam a qualidade da vida humana Apesar de o IDH ainda
apresentar suas limitaccedilotildees o iacutendice tornou-se uma referecircncia mundial e no Brasil ele vem
sendo utilizado pelo governo federal como base para o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH-M)
7 PIB eacute o indicador que mostra a produccedilatildeo de um paiacutes e que leva em conta trecircs grupos principais Agropecuaacuteria Induacutestria e Serviccedilos (httpwwwibgegovbr acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
42
SEN (2000) concorda que o desenvolvimento natildeo pode ser compreendido somente a
partir do crescimento econocircmico e da renda per capita jaacute que as variaccedilotildees na expectativa
de vida relacionam-se a diversas oportunidades sociais que satildeo centrais como serviccedilos de
sauacutede e facilidades educacionais
Estudos realizados pelo mesmo autor em bases de dados do Banco Mundial8
confirmam tambeacutem a ausecircncia de relaccedilotildees entre o crescimento econocircmico dos paiacuteses e sua
estrutura de distribuiccedilatildeo de renda Independente do crescimento econocircmico dos paiacuteses a
estrutura da distribuiccedilatildeo de renda eacute bastante persistente e haacute pouco o que fazer para
atenuar a concentraccedilatildeo de renda Desde a Segunda Guerra Mundial o crescimento
econocircmico variou muito entre os paiacuteses enquanto a distribuiccedilatildeo de renda pouco alterou
comparativamente Apesar de ainda existirem controveacutersias sobre as possiacuteveis vantagens
ou desvantagens que poderiam ser proporcionadas ao proacuteprio crescimento por uma melhor
distribuiccedilatildeo da riqueza e da renda nega-se o discurso de que o desenvolvimento dos paiacuteses
estaria atrelado somente ao resultado da renda per capita em conjunto com a distribuiccedilatildeo de renda
SEN (2000) defende ainda que o desenvolvimento deve promover a liberdade das
naccedilotildees Para tanto torna-se necessaacuterio que se removam as principais fontes de privaccedilatildeo da
liberdade pobreza carecircncia de oportunidades econocircmicas exoneraccedilatildeo social negligecircncia
dos serviccedilos puacuteblicos e interferecircncia de Estados opressivos O mundo atual apresenta
ausecircncia de liberdades substantivas que se relaciona diretamente com a pobreza
econocircmica Nega liberdades elementares a muitas pessoas liberdade de saciar a fome de
obter uma nutriccedilatildeo satisfatoacuteria ou remeacutedios para doenccedilas curaacuteveis a oportunidade de vestir-se
ou morar de modo apropriado a possibilidade de acesso agrave aacutegua tratada ou saneamento baacutesico
A pobreza econocircmica de uma naccedilatildeo natildeo pode ser vista apenas como baixa renda
fome e privaccedilatildeo fiacutesica Trata-se tambeacutem da privaccedilatildeo cultural e de capacidades baacutesicas A
pobreza surge nas dificuldades que alguns segmentos sociais encontram para participar da
vida social e cultural da comunidade As mercadorias de primeiras necessidades natildeo satildeo
apenas as indispensaacuteveis para o sustento mas satildeo tambeacutem aquelas que estatildeo
relacionadas agraves exigecircncias da cultura local
8 O Banco Mundial eacute uma organizaccedilatildeo internacional constituiacuteda por 185 paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento e que presta apoio financeiro aos governos dos paiacuteses em desenvolvimento (httpwebworldbankorg acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
43
Em seus estudos SEN (2000) afirma que para alcanccedilar uma alta expectativa e
qualidade de vida natildeo necessariamente eacute preciso haver concordacircncia entre a renda per
capita e a liberdade dos indiviacuteduos Segundo o autor cidadatildeos do Gabatildeo Aacutefrica do Sul ou
Brasil satildeo mais ricos em termos de Produto Nacional Bruto9 (PNB) per capita do que os do
Sri Lanka ou China Entretanto neste segundo grupo de paiacuteses as pessoas tecircm
probabilidade de vida mais elevadas do que no primeiro grupo
SEN (2000) constatou ainda que na Gratilde-Bretanha a expectativa de vida aumentou
durante as duas guerras mundiais (quando a alimentaccedilatildeo e serviccedilos de sauacutede eram
limitados) enquanto a renda per capita diminuiu A explicaccedilatildeo reside nas mudanccedilas do grau
de compartilhamento social durante as deacutecadas de guerra e nos aumentos das poliacuteticas e
custeio puacuteblico com serviccedilos sociais nas aacutereas de nutriccedilatildeo e sauacutede As dificuldades surgidas
com as guerras tornaram necessaacuterias medidas puacuteblicas radicais para uma nova distribuiccedilatildeo
de alimentos e serviccedilos de sauacutede Portanto torna-se importante que o processo de
desenvolvimento seja conduzido pelo custeio puacuteblico que opera por meio de um programa
de haacutebil manutenccedilatildeo social dos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e seguridade social
O autor destaca ainda a importacircncia do desenvolvimento para a fixaccedilatildeo de
contrastes intergrupais nos diversos paiacuteses Nos Estados Unidos os afro-americanos satildeo
pobres em relaccedilatildeo aos americanos brancos mas satildeo mais ricos que os habitantes de
paiacuteses perifeacutericos No entanto os afro-americanos tecircm menos chance de chegar agrave idade
madura do que as pessoas que vivem em sociedades como a China ou Sri Lanka com seus
diferentes sistemas de sauacutede educaccedilatildeo e relaccedilotildees comunitaacuterias
SACHS (2002) lembra que os temas do desenvolvimento e direitos humanos
ganharam forccedila na metade do seacuteculo XX com o intuito de exterminar as lembranccedilas da
Grande Depressatildeo10 e da Segunda Guerra Mundial fornecer os fundamentos para o
Sistema das Naccedilotildees Unidas e impulsionar os processos de descolonizaccedilatildeo Para o autor o
crescimento econocircmico eacute tido como uma expansatildeo das forccedilas produtivas da sociedade com
o objetivo de alcanccedilar os direitos plenos de cidadania para toda a populaccedilatildeo
9 Produto Nacional Bruto ou Renda Nacional Bruta eacute a soma das rendas primaacuterias a receber pelos setores institucionais residentes Eacute igual ao PIB menos as rendas primaacuterias a pagar liacutequidas das a receber das unidades natildeo-residentes (resto do mundo) (httpwwwibgegovbr acesso em 23102007) 10 A Grande Depressatildeo foi uma recessatildeo econocircmica que teve iniacutecio em 1929 trazendo altas taxas de desemprego e queda do PIB de diversos paiacuteses e que terminou apenas com a Segunda Guerra Mundial
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
44
O desenvolvimento eacute o processo histoacuterico de apropriaccedilatildeo universal
pelos povos da totalidade dos direitos humanos individuais e coletivos negativos (liberdade contra) e positivos (liberdade a favor) significando trecircs geraccedilotildees de direitos poliacuteticos ciacutevicos e civis e os direitos coletivos ao desenvolvimento ao meio ambiente e agrave cidade (SACHS 200265-66)
O autor afirma que o desenvolvimento pode permitir que cada indiviacuteduo revele suas
capacidades seus talentos e sua imaginaccedilatildeo na busca da auto-realizaccedilatildeo e da felicidade
mediante esforccedilos coletivos e individuais combinaccedilatildeo de trabalho autocircnomo e heterocircnomo
e de tempo gasto em atividades natildeo-econocircmicas Os aspectos qualitativos satildeo
considerados essenciais as maneiras viaacuteveis de produzir meios de vida natildeo podem
depender de esforccedilos excessivos e extenuantes por parte de seus produtores de empregos
mal remunerados exercidos em condiccedilotildees insalubres da prestaccedilatildeo inadequada de serviccedilos
puacuteblicos e de padrotildees subumanos de moradia
O desenvolvimento distinto do crescimento econocircmico cumpre o requisito de reaproximar economia e eacutetica na medida em que os objetivos do desenvolvimento vatildeo bem aleacutem da mera multiplicaccedilatildeo da riqueza material O crescimento eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria mas de forma alguma suficiente (muito menos eacute um objetivo em si mesmo) para se alcanccedilar a meta de uma vida melhor mais feliz e mais completa para todos (SACHS 200413)
Para SACHS (2004) o conceito de desenvolvimento abrange os ideais de igualdade
equumlidade e solidariedade Ao inveacutes de visar o crescimento do PIB o desenvolvimento visa
maximizar a vantagem daqueles que vivem nas piores condiccedilotildees O crescimento natildeo eacute
sinocircnimo de desenvolvimento se ele natildeo amplia o emprego se natildeo reduz a pobreza e se
natildeo atenua as desigualdades
A problemaacutetica ambiental surgida na deacutecada de 1970 fez com que a dimensatildeo
ambiental fosse tambeacutem integrada ao conceito de desenvolvimento com sua consequumlente
revisatildeo e evoluccedilatildeo para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel O desenvolvimento
sustentaacutevel exige explicitaccedilatildeo de criteacuterios de sustentabilidade social e ambiental e de
viabilidade econocircmica SACHS (2004) conclui que somente as soluccedilotildees que promovam o
crescimento econocircmico com impactos positivos em termos sociais e ambientais merecem a
denominaccedilatildeo de desenvolvimento conforme mostra a Tabela 1
Impactos sociais Impactos ambientais1 Desenvolvimento + +2 Selvagem - -3 Socialmente benigno + -4 Ambientalmente benigno - +
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico Fonte SACHS (200436)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
45
Concluiacutemos entatildeo que o conceito de desenvolvimento natildeo abrange somente o
crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo O crescimento econocircmico somente pode se
transformar em desenvolvimento se vier acompanhado de impactos positivos sociais e
ambientais priorizando a efetiva melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo O
desenvolvimento implica em uma maior apropriaccedilatildeo e igualdade dos direitos humanos
individuais e coletivos pelos povos sem os quais natildeo eacute possiacutevel o alcance de uma alta
expectativa e qualidade de vida
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
46
211 BRASIL E DESENVOLVIMENTO
Eles iriam esbravejar em vatildeo todos os dias Cavar e esburacar pazada por pazada
Onde as tochas enxameam agrave noite Havia uma represa quando acordaacutevamos
Sacrifiacutecios humanos sangravam Gritos de horror iriam fender a noite
E onde as chamas se estreitam na direccedilatildeo do mar Um canal iria saudar a luz
(Fausto 11 123-30 apud BERMAN 198781)
De acordo com BERMAN (1987) a segunda parte do teatro alematildeo ldquoFaustordquo de
Goethe configura um drama do desenvolvimento Expressatildeo primaacuteria do espiacuterito moderno
Fausto eacute levado a um impulso de desejo de desenvolvimento cujas energias adquirem vida
proacutepria dinacircmica e caraacuteter explosivo Tal desenvolvimento colocado por Goethe como uma
trageacutedia possui um custo Fausto vende sua alma a Mefistoacutefeles em troca de determinados
bens universalmente desejados Adquire dessa forma capacidade e poder sobre a
natureza mas para tanto perde sua liberdade Ao expulsar antigos moradores de uma aacuterea
para criar uma nova sociedade ele sofre um processo de esvaziamento Fausto lanccedila todo
o seu poder contra a natureza e a sociedade e luta para mudar sua vida e a vida de todos
Encontra meios de agir contra o mundo feudal e patriarcal para construir um ambiente social
radicalmente novo destinado a esvaziar de vez o velho mundo ou a destruiacute-lo A obra daacute-se
frente agraves conturbaccedilotildees materiais e espirituais da Revoluccedilatildeo Industrial
SACHS (2004) compara a histoacuteria de Fausto agrave recente crise desenvolvimentista da
Argentina O autor afirma que a crise argentina eacute resultado da poliacutetica de fundamentalismo
de mercado adotada pelo Consenso de Washington11 e da dependecircncia excessiva de
recursos externos
Para o autor o resultado negativo da aplicaccedilatildeo das prescriccedilotildees neoliberais
defendidas pelo Consenso de Washington torna necessaacuteria a urgente regulaccedilatildeo dos
mercados que representam uma das instituiccedilotildees presentes no processo de
11 O Consenso de Washington faz parte do conjunto de reformas neoliberais que apesar de praacuteticas distintas nos diferentes paiacuteses estaacute centrado doutrinariamente na desregulamentaccedilatildeo dos mercados abertura comercial e financeira e reduccedilatildeo do tamanho e papel do Estado Tornou-se o receituaacuterio imposto por agecircncias internacionais como o Banco Mundial e o FMI para a concessatildeo de creacuteditos (NEGRAtildeO 1998)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
47
desenvolvimento O Consenso de Washington atingiu sua maturidade apoacutes a Segunda
Guerra Mundial e atuou como uma contra-reforma direcionada ao capitalismo reformado
O capitalismo reformado foi assim construiacutedo com o propoacutesito de exorcizar as terriacuteveis lembranccedilas da Grande Depressatildeo com base nos conceitos de pleno emprego Estado de Bem-estar e planejamento Ele proporcionou tambeacutem uma alternativa ao ldquosocialismo realrdquo do bloco sovieacutetico que naquela eacutepoca tinha credibilidade entre segmentos importantes da opiniatildeo puacuteblica devido ao seu sucesso de mobilizar toda a forccedila de trabalho disponiacutevel para o crescimento econocircmico extensivo e raacutepido e para a industrializaccedilatildeo (SACHS 200428)
Os trinta melhores anos do capitalismo (1945-1975) coincidiram com a Guerra Fria e
a corrida armamentista entre o bloco americano e o sovieacutetico Tal situaccedilatildeo criou condiccedilotildees
favoraacuteveis para que os paiacuteses em desenvolvimento como o Brasil tirassem proveito das
melhores experiecircncias dos dois blocos competidores atraveacutes de poliacuteticas de natildeo-
alinhamento mas acabou com os esforccedilos das Naccedilotildees Unidas de construir uma ordem
internacional mais equumlitativa
Durante a Guerra Fria os paiacuteses em desenvolvimento obtiveram rendas estrateacutegicas
provenientes das superpotecircncias que precisavam conquistar apoio e aliados Segundo
(VEIGA 2005) com o fim da bipolaridade muitos desses paiacuteses perderam seu interesse
estrateacutegico em atrair ajuda e investimentos O apoio internacional diminuiu
significativamente e atualmente somente poucas naccedilotildees detentoras e exportadoras de
importantes recursos para a explosatildeo do crescimento urbano como petroacuteleo ou alimentos
conseguem obter rendas estrateacutegicas Os paiacuteses em desenvolvimento ficam submetidos agrave
seleccedilatildeo natural do mercado global e agrave revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem qualquer tratamento
diferenciado A uacutenica fonte de renda estrateacutegica para a maioria deles eacute o perigo que sua
instabilidade representa para seus vizinhos ricos que oferecem recursos financeiros aos
paiacuteses pobres a fim de promover sua estabilidade e evitar a imigraccedilatildeo clandestina
A invasatildeo da Tchecolosvaacutequia em 1968 fortaleceu o bloco capitalista e a queda do
Muro de Berlim em 1989 marcou o fim do socialismo real como paradigma de
desenvolvimento O Consenso de Washington consolidou o receituaacuterio de medidas
neoliberais que defende a absoluta liberdade dos mercados e que ganhou forccedila com as
eleiccedilotildees de Margareth Thatcher na Inglaterra e de Ronald Reagan nos Estados Unidos
Tais medidas passaram a ter sua implementaccedilatildeo recomendada pelo Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) aos paiacuteses em desenvolvimento como uma foacutermula infaliacutevel de acelerar
seu desenvolvimento econocircmico O ideal neoliberal predominou ateacute final dos anos 1990
poreacutem seu paradigma natildeo cumpriu as suas promessas (SACHS 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
48
Para SACHS (2004) a crise do desenvolvimento na Argentina pode ser considerada
como o fim do Consenso de Washington como programa pragmaacutetico O autor ainda destaca
que os uacutenicos paiacuteses em desenvolvimento que se deram razoavelmente bem na deacutecada de
1990 foram exatamente aqueles que se recusaram a aplicar na iacutentegra as prescriccedilotildees do
Consenso de Washington
FURTADO (1974) afirma que as economias perifeacutericas e semiperifeacutericas nunca seratildeo
tatildeo desenvolvidas quanto as economias centrais do sistema capitalista O conceito de
desenvolvimento econocircmico funciona como um legitimador das relaccedilotildees de dependecircncia do
sistema capitalista ao inveacutes de promover a criatividade cultural e morfogecircnese social
A ideacuteia de desenvolvimento econocircmico tem grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e levaacute-los a aceitar enormes sacrifiacutecios para legitimar a destruiccedilatildeo de formas de cultura arcaicas para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio fiacutesico para justificar formas de dependecircncia que reforccedilam o caraacuteter predatoacuterio do sistema produtivo (FURTADO 1974 75-76)
As formas assimeacutetricas e desiguais da globalizaccedilatildeo atual prejudicam os interesses
dos paiacuteses em desenvolvimento favorecendo alguns incluiacutedos e deixando de fora muitos
excluiacutedos Os incluiacutedos vivem no capitalismo reformado enquanto os excluiacutedos estatildeo
condenados a formas mais duras e ateacute selvagens de capitalismo SACHS (2004) avalia o
crescimento econocircmico dos paiacuteses em desenvolvimento como um processo concentrador e
excludente que tende a concentrar riqueza e renda nas matildeos de poucos devido agrave
substituiccedilatildeo do trabalho pelo capital consequumlentemente formador de uma heterogeneidade
estrutural econocircmica e social Por este motivo existe a necessidade de equilibrar as metas
de modernizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo por um lado e de promover o pleno emprego ou auto-
emprego por outro com vistas agrave produtividade do trabalho que constitui na fonte de
progresso econocircmico
SEN (2000) defende tambeacutem que os paiacuteses em desenvolvimento devem dar atenccedilatildeo
especial agrave promoccedilatildeo do trabalho pois o direito ao trabalho decente abre caminho para o
exerciacutecio de vaacuterios outros direitos O desenvolvimento como jaacute vimos pode ser traduzido
atraveacutes do exerciacutecio efetivo de todos os direitos humanos poliacuteticos civis e ciacutevicos
econocircmicos sociais e culturais Na opiniatildeo de SACHS (2004) a visatildeo do desenvolvimento
entendido como um processo de apropriaccedilatildeo efetiva da totalidade de direitos humanos
resulta em uma maioria pobre excluiacuteda de tal processo Sob essas circunstacircncias a inclusatildeo
justa passa a ser o requisito central para a temaacutetica do desenvolvimento denominado pelo
autor a partir desse aspecto como desenvolvimento includente
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
49
O desenvolvimento includente opotildee-se ao crescimento excludente que se
caracteriza pelo mercado de consumo e concentraccedilatildeo de renda e riqueza O crescimento
excludente marca mercados de trabalho segmentados com trabalhadores voltados a
atividades informais e agricultura de subsistecircncia precaacuteria aleacutem da ausecircncia quase total de
participaccedilatildeo da vida poliacutetica
O desenvolvimento includente eacute fundamentado no trabalho decente para todos
Requer a garantia de todos os direitos atraveacutes da democracia da moradia decente para
todos do acesso de todos os cidadatildeos aos programas de assistecircncia e aos serviccedilos
puacuteblicos Sauacutede e educaccedilatildeo satildeo aspectos que constituem condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo
suficiente para o acesso ao trabalho decente
A nossa preocupaccedilatildeo deve dirigir-se imediatamente agraves imensas desigualdades que existem hoje no acesso agraves oportunidades de trabalho na remuneraccedilatildeo do trabalho na proteccedilatildeo e participaccedilatildeo sociais e na geraccedilatildeo de riqueza e renda Na ausecircncia de condiccedilotildees e regras equumlitativas em todos estes quesitos o fim do trabalho (heterocircnomo) natildeo tem chance de se converter numa meta realista Tanto mais que as pessoas ainda tecircm que aprender a apreciar como uma verdadeira medida de sua liberdade cultural o tempo liberado para atividades autocircnomas e dar preferecircncia a elas em vez de alocar o seu tempo liberado aos prazeres do consumismo (SACHS 200444)
Para SACHS (2004) torna-se necessaacuterio reconciliar os objetivos do progresso
econocircmico baseado no aumento da produtividade do trabalho com o imperativo de
proporcionar oportunidade de trabalho decente para todos O autor defende que eacute preciso
uma estrateacutegia que harmonize dois objetivos aparentemente contraditoacuterios o progresso
teacutecnico veloz e o pleno emprego
Por um lado o progresso teacutecnico raacutepido eacute uma exigecircncia nas induacutestrias de bens
comercializaacuteveis que competem nos mercados mundiais ainda que isso signifique reduccedilatildeo
do nuacutemero de trabalhadores Por outro lado as mesmas exigecircncias natildeo se aplicam agrave
produccedilatildeo de bens e serviccedilos natildeo-comercializaacuteveis que na praacutetica natildeo enfrentam
competiccedilatildeo externa nos mercados internos Nove em cada dez pessoas estatildeo empregadas
dentro desta uacuteltima categoria de natildeo-comercializaacuteveis Dessa forma poderiacuteamos
compensar as tendecircncias negativas do emprego provocadas pelo progresso teacutecnico no
setor de comercializaacuteveis por meio da ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo dos bens e serviccedilos natildeo-
comercializaacuteveis no perfil da produccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
50
Para assegurar simultaneamente a sustentabilidade social e o crescimento
econocircmico SACHS (2004) afirma que deve ser dada ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo primaacuteria de
renda ao inveacutes de se persistir com o padratildeo excludente de crescimento Trata-se de uma
estrateacutegia endoacutegena de desenvolvimento a partir das proacuteprias forccedilas dos paiacuteses e baseada
em iniciativas nacionais Para tanto o autor aborda algumas poliacuteticas necessaacuterias
Explorar oportunidades de crescimento induzido pelo emprego e com conteuacutedo
zero ou baixo de importaccedilotildees principalmente obras puacuteblicas construccedilatildeo civil em
especial casas populares com apoio governamental serviccedilos sociais empregos
ligados ao aumento da produtividade dos recursos e manutenccedilatildeo dos
equipamentos edifiacutecios e infra-estrutura existente
Elaborar uma reforma fiscal que crie um imposto de valor adicionado sobre o
consumo com isenccedilatildeo para os bens essenciais mas com forte incidecircncia sobre
os artigos de luxo
Desenhar poliacuteticas para consolidar e modernizar a agricultura familiar como
estiacutemulo ao desenvolvimento rural
Promover accedilotildees para melhorias das condiccedilotildees dos que trabalham por conta
proacutepria e das micro e pequenas empresas em busca do fim da informalidade
Estabelecer conexotildees beneacuteficas entre grandes e pequenas empresas
Fortalecer as empresas industriais de grande porte e transformaacute-las em atores
competitivos em escala global
SACHS (2004) completa com a afirmaccedilatildeo de que eacute necessaacuteria uma participaccedilatildeo
maior nos padrotildees de consumo de serviccedilos e alimentos produzidos localmente (seguranccedila
alimentar local) e maior prioridade para investimentos em infra-estrutura e construccedilatildeo civil
(especialmente moradia social)
Estrateacutegias uniformes de desenvolvimento natildeo satildeo possiacuteveis de serem
estabelecidas devido agrave diversidade de configuraccedilotildees socioeconocircmicas e culturais e dos
recursos disponiacuteveis em micro e mesorregiotildees Para serem eficientes as estrateacutegias devem
responder aos problemas e necessidades de cada comunidade e para tanto precisam
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
51
garantir a participaccedilatildeo de todos os atores envolvidos (trabalhadores empregadores Estado
e sociedade civil organizada) no processo de desenvolvimento
Por esse motivo deve-se elaborar o planejamento territorial a niacuteveis municipal micro
e mesorregional a fim de agrupar vaacuterios distritos unidos pela identidade cultural e interesses
comuns Para o planejamento participativo local devem-se criar espaccedilos para o exerciacutecio da
democracia direta atraveacutes de conselhos consultivos e deliberativos onde a comunidade
pode assumir um papel ativo no processo de desenvolvimento
O planejamento eacute um processo interativo que inclui procedimentos de baixo para cima e de cima para baixo dentro de um marco de um processo nacional de longo prazo em visatildeo compartilhada pela maioria dos cidadatildeos da naccedilatildeo sobre valores a sua convergecircncia em objetivos sociais e a inserccedilatildeo do seu Estado-Naccedilatildeo num mundo globalizado (SACHS 200462)
SACHS (2004) defende ainda que no processo de planejamento torna-se necessaacuterio
que o Estado cumpra sua funccedilotildees principais 1- articular os espaccedilos de desenvolvimento do
niacutevel local (que deve ser ampliado e fortalecido) ao transnacional 2- promover parcerias
entre todos os atores interessados em busca do desenvolvimento sustentaacutevel 3-
harmonizar metas sociais ambientais e econocircmicas por meio do planejamento estrateacutegico
e do gerenciamento cotidiano da economia e sociedade buscando equiliacutebrio entre as
diferentes sustentabilidades (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial econocircmica e
poliacutetica)
22 A INSERCcedilAtildeO AMBIENTAL NO DESENVOLVIMENTO
Os debates sobre os riscos da degradaccedilatildeo do meio ambiente iniciaram nos anos
1960 e ganharam intensidade no iniacutecio dos anos 1970 No encontro Founex em Estocolmo
1971 discutiu-se pela primeira vez as relaccedilotildees entre o desenvolvimento e o meio ambiente
Tambeacutem em Estocolmo organizou-se a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Ambiente
Humano em 1972 que constitui um marco para a conscientizaccedilatildeo ambiental mundial
Segundo VEIGA (2005) previamente agrave realizaccedilatildeo desses dois encontros em Estocolmo as
questotildees que envolviam a relaccedilatildeo entre desenvolvimento e meio ambiente originaram
defensores de duas correntes opostas
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
52
1 De um lado encontravam-se aqueles que viam as preocupaccedilotildees com o meio
ambiente como um atraso e como inibiccedilatildeo dos esforccedilos dos paiacuteses ainda em
desenvolvimento rumo agrave industrializaccedilatildeo e ao alcance dos paiacuteses desenvolvidos Para
estes deveria ser dada prioridade agrave aceleraccedilatildeo do crescimento sendo que as
consequumlecircncias negativas produzidas por ele seriam eliminadas posteriormente atraveacutes do
progresso tecnoloacutegico quando tais paiacuteses em desenvolvimento atingissem o niacutevel de renda
per capita dos paiacuteses desenvolvidos Para os defensores desta corrente natildeo existiria dilema
entre conservaccedilatildeo ambiental e crescimento econocircmico depois de determinado patamar de
riqueza o crescimento passaria a melhorar a qualidade ambiental
O processo de desenvolvimento leva a mudanccedilas estruturais naquilo que as economias produzem E muitas sociedades jaacute demonstraram notaacutevel talento em introduzir tecnologias que conservam os recursos que lhe satildeo escassos Em princiacutepio os fatores que podem levar a mudanccedilas na composiccedilatildeo e nas teacutecnicas de produccedilatildeo podem ser suficientemente fortes para que os efeitos ambientalmente adversos do aumento da atividade econocircmica sejam evitados ou superados E se houver existecircncia empiacuterica que confirme essa suposta tendecircncia seraacute permitido concluir que a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica resultaraacute do proacuteprio crescimento (VEIGA 2005114)
Grossman e Krueger defensores desta corrente desenvolveram hipoacuteteses de que as
fases de desgraccedila e recuperaccedilatildeo ambiental estariam separadas por determinado ponto
situado da renda per capita Entretanto segundo VEIGA (2005) esta hipoacutetese
provavelmente seraacute descartada porque depois de analisar muitos paiacuteses em crescimento
se concluiraacute que existem vaacuterios tipos de crescimento e de degradaccedilatildeo ambiental
2 De outro lado encontravam-se os defensores da estagnaccedilatildeo imediata do
crescimento demograacutefico e econocircmico supostos causadores da exaustatildeo de recursos e
poluiccedilatildeo ou pelo menos do crescimento do consumo De acordo com VEIGA (2005) esta
corrente alerta sobre o inexoraacutevel aumento da entropia que consiste na transformaccedilatildeo das
formas uacuteteis de energia em formas que a humanidade natildeo consegue utilizar Ou seja para
poder manter seu proacuteprio equiliacutebrio a humanidade tira da natureza os elementos de baixa
entropia que permitem compensar a alta entropia que ela causa
Dentre as teorias desta corrente a principal eacute a de Georgescu-Roegen que defendia
que a economia certamente seria absorvida pela ecologia Por esse motivo no curto prazo
o crescimento deveria ser o mais compatibilizado possiacutevel com a conservaccedilatildeo da natureza
(o que natildeo significaria um ldquocrescimento zerordquo) Para Georgescu-Rogen o crescimento
representa sempre o encurtamento da expectativa de vida da espeacutecie humana
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
53
Para os defensores deste pensamento a degradaccedilatildeo ambiental seria consequumlecircncia
da explosatildeo populacional Na opiniatildeo de SACHS (2002) esta teoria estaacute equivocada jaacute que
tal pensamento acaba por considerar que o nuacutemero de natildeo-consumidores em sua maioria
pobre importa mais do que o consumo excessivo da minoria
Durante o encontro em Estocolmo as duas correntes acima foram abandonadas
para dar lugar a uma alternativa que equilibrasse esses extremos denominada paradigma
do ldquocaminho do meiordquo O crescimento econocircmico ainda se fazia necessaacuterio mas deveria ser
socialmente receptivo e implementado por meacutetodos favoraacuteveis ao meio ambiente ao inveacutes
de favorecer a incorporaccedilatildeo predatoacuteria do capital da natureza ao PIB A abordagem
fundamentada na harmonizaccedilatildeo de objetivos sociais ambientais e econocircmicos foi
denominada ecodesenvolvimento e posteriormente desenvolvimento sustentaacutevel
De modo geral o objetivo deveria ser o do estabelecimento de um aproveitamento racional e ecologicamente sustentaacutevel da natureza em benefiacutecio das populaccedilotildees locais levando-as incorporar a preocupaccedilatildeo com a conservaccedilatildeo da biodiversidade aos seus proacuteprios interesses como um componente de estrateacutegia de desenvolvimento Daiacute a necessidade de se adotar padrotildees negociados e contratuais de gestatildeo da biodiversidade (SACHS 200253)
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel segundo SACHS (2004) foi
aperfeiccediloado entre o periacuteodo que separa a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio
Ambiente realizada em Estocolmo em 1972 e a Cuacutepula sobre Desenvolvimento
Sustentaacutevel de Joanesburgo em 2002 A sustentabilidade social corresponde a um dos
aspectos principais desse conceito em que o crescimento econocircmico natildeo traz
desenvolvimento a menos que gere emprego e contribua para a reduccedilatildeo da pobreza e das
desigualdades Consiste em analisar o desenvolvimento natildeo somente a partir do
crescimento do PIB mas tambeacutem em termos de geraccedilatildeo de empregos
Ao mesmo tempo em que ocorreram os encontros em Estocolmo deu-se iniacutecio ao
estudo ldquoLimites do Crescimentordquo do Clube de Roma Segundo BRUumlSEKE (1998) as teses e
conclusotildees das pesquisas lideradas por Dennis Meadows alertam para as atuais
tendecircncias de crescimento da populaccedilatildeo mundial ndash industrializaccedilatildeo poluiccedilatildeo produccedilatildeo de
alimentos e diminuiccedilatildeo de recursos naturais
De acordo com esses estudos se tais tendecircncias continuarem imutaacuteveis os limites
de crescimento do planeta seratildeo alcanccedilados dentro dos proacuteximos cem anos Seria possiacutevel
modificar essas tendecircncias de crescimento e formar uma condiccedilatildeo de estabilidade ecoloacutegica
e econocircmica que se possa manter ateacute um futuro remoto O estado de equiliacutebrio global deveria
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
54
ser planejado de tal modo que as necessidades baacutesicas de cada pessoa sejam satisfeitas e
que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual
Em 1974 foi elaborado um novo documento que tambeacutem contribuiu para a discussatildeo
sobre o meio ambiente e desenvolvimento denominado Declaraccedilatildeo de Cocoyoc Segundo
BRUumlSEKE (1998) o documento foi resultado de uma reuniatildeo da Conferecircncia das Naccedilotildees
Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento (UNCTAD) e do Programa de Meio Ambiente das
Naccedilotildees Unidas (UNEP) e que destacava as seguintes hipoacuteteses a) a explosatildeo
populacional tem como uma das suas causas a falta de recursos de qualquer tipo a pobreza
gera o desequiliacutebrio demograacutefico b) a destruiccedilatildeo ambiental na Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina
eacute tambeacutem o resultado da pobreza que leva a populaccedilatildeo carente agrave superutilizaccedilatildeo do solo e
dos recursos vegetais c) os paiacuteses industrializados contribuem para os problemas do
subdesenvolvimento por causa do seu niacutevel exagerado de consumo Os paiacuteses
industrializados teriam que baixar seu consumo e sua participaccedilatildeo desproporcional na
poluiccedilatildeo da biosfera
No seguimento deste trabalho analisaremos com maior profundidade os dois
conceitos principais que alinham o desenvolvimento econocircmico com o meio ambiente e os
aspectos sociais o ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel
221 ECODESENVOLVIMENTO
O termo ecodesenvolvimento de acordo com MONTIBELLER (2004) foi introduzido
por Maurice Strong secretaacuterio-geral da conferecircncia de Estocolmo em 1972 e bastante
difundido a partir de 1974 Significa o desenvolvimento de um paiacutes ou regiatildeo baseado em
suas proacuteprias potencialidades sem criar dependecircncia externa Tem por finalidade responder
agrave problemaacutetica da harmonizaccedilatildeo das necessidades sociais e econocircmicas do
desenvolvimento e promover a qualidade de vida com o cuidado de preservar o meio
ambiente para esta e para as futuras geraccedilotildees Pressupotildee uma solidariedade sincrocircnica
com os povos atuais na medida em que desloca o enfoque da loacutegica de produccedilatildeo para a
oacutetica das necessidades fundamentais da populaccedilatildeo e uma solidariedade diacrocircnica
expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva ecoloacutegica para garantir
possibilidade de qualidade de vida agraves proacuteximas geraccedilotildees
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
55
De acordo com SACHS (2002) o ecodesenvolvimento busca um caminho apropriado
para a conservaccedilatildeo da biodiversidade ao assumir a harmonizaccedilatildeo dos objetivos sociais e
ecoloacutegicos A biodiversidade necessita ser protegida para garantir o direito de as futuras
geraccedilotildees atenderem agraves suas proacuteprias necessidades Para tanto torna-se imprescindiacutevel o
estabelecimento de uma rede de aacutereas protegidas como parte imanente da gestatildeo territorial
e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos renovaacuteveis como uma forma de relacionamento
simbioacutetico entre o homem e a natureza Eacute necessaacuterio aprendermos a fazer um
aproveitamento sensato da natureza para construirmos uma boa sociedade atraveacutes da
perenidade dos recursos transformar o meio ambiente em recursos sem destruir o capital
da natureza
O ecodesenvolvimento pode ser definido como uma estrateacutegia para a proteccedilatildeo de
aacutereas ecologicamente valiosas (aacutereas protegidas) em face de pressotildees inaceitaacuteveis
resultantes das necessidades e atividades dos povos que vivem nelas ou no seu entorno O
ecodesenvolvimento requer o planejamento local e participativo das autoridades locais
comunidades e associaccedilotildees de cidadatildeos envolvidas na proteccedilatildeo da aacuterea
O ecodesenvolvimento pode ser mais facilmente alcanccedilado com o aproveitamento dos sistemas tradicionais de gestatildeo dos recursos como tambeacutem com a organizaccedilatildeo de um processo participativo de identificaccedilatildeo das necessidades dos recursos potenciais e das maneiras de aproveitamento da biodiversidade como caminho para a melhoria do niacutevel de vida dos povos (SACHS 200275)
Esse processo exige negociaccedilatildeo entre os atores envolvidos (populaccedilatildeo local e
autoridades) subsidiado por cientistas associaccedilotildees civis agentes econocircmicos puacuteblicos e
privados Tais negociaccedilotildees satildeo conflituosas porque se definem atraveacutes de interesses
antagocircnicos
SACHS (2002) afirma que o ecodesenvolvimento pode ser instituiacutedo a partir dos
seguintes esforccedilos
Identificaccedilatildeo criaccedilatildeo e desenvolvimento de alternativas sustentaacuteveis de recursos
de biomassa e renda
Envolvimento da populaccedilatildeo local das aacutereas protegidas nos planos de conservaccedilatildeo
e na gestatildeo da aacuterea
Cultivo da conscientizaccedilatildeo da comunidade local quanto ao valor e agrave necessidade
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
56
de proteccedilatildeo da aacuterea assim como aos padrotildees de sustentabilidade de um
crescimento local apropriado
Institucionalizaccedilatildeo do sistema legislaccedilatildeo e normas
Com o intuito de proteger a biodiversidade o Governo Federal Brasileiro sancionou
uma importante lei em julho do ano 2000 a lei ndeg 9985 que instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) estabelecendo criteacuterios e normas para a criaccedilatildeo
implantaccedilatildeo e gestatildeo das unidades de conservaccedilatildeo federais estaduais e municipais O
SNUC permite trabalhos de ecodesenvolvimento nas ldquozonas tampatildeordquo e nas zonas de
transiccedilatildeo das camadas das reservas da biosfera onde satildeo admitidas atividades humanas
controladas O sistema tem por objetivos (LEI 99852000)
Contribuir para a manutenccedilatildeo da diversidade bioloacutegica e dos recursos geneacuteticos
no territoacuterio nacional e nas aacuteguas jurisdicionais
Proteger as espeacutecies ameaccediladas de extinccedilatildeo no acircmbito regional e nacional
Contribuir para a preservaccedilatildeo e a restauraccedilatildeo da diversidade de ecossistemas
naturais
Promover o desenvolvimento sustentaacutevel a partir dos recursos naturais
Promover a utilizaccedilatildeo dos princiacutepios e praacuteticas de conservaccedilatildeo da natureza no
processo de desenvolvimento
Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notaacutevel beleza cecircnica
Proteger as caracteriacutesticas relevantes de natureza geoloacutegica geomorfoloacutegica
arqueoloacutegica paleontoloacutegica e cultural
Proteger e recuperar recursos hiacutedricos
Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
57
Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa cientiacutefica estudos e
monitoramento ambiental
Valorizar econocircmica e socialmente a diversidade bioloacutegica
Favorecer condiccedilotildees e promover a educaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo ambiental a
recreaccedilatildeo em contato com a natureza e o turismo ecoloacutegico
Proteger os recursos naturais necessaacuterios agrave subsistecircncia de populaccedilotildees
tradicionais respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente
O SNUC divide-se em dois grupos de unidades de conservaccedilatildeo as unidades de
proteccedilatildeo integral cujo objetivo baacutesico eacute preservar a natureza sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais e as unidades de uso sustentaacutevel que tem por objetivo
baacutesico compatibilizar a conservaccedilatildeo da natureza com o uso sustentaacutevel de uma parcela dos
seus recursos naturais Fazem parte do grupo de unidades de proteccedilatildeo integral as Estaccedilotildees
Ecoloacutegicas Reservas Bioloacutegicas Parques Nacionais Parques Estaduais Monumentos
Naturais e Refuacutegios de Vida Silvestre No grupo de unidades de uso sustentaacutevel incluem-se
as Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Estadual Aacutereas de
Relevante Interesse Ecoloacutegico Florestas Nacionais Florestas Estaduais Reservas
Extrativistas Reservas de Fauna Reservas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e Reservas
Particulares do Patrimocircnio Natural
A Tabela 2 mostra as unidades de conservaccedilatildeo delimitadas para Florianoacutepolis e
suas respectivas caracteriacutesticas a niacuteveis federal estadual e municipal
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
58
Tipo de unidade
Nordm de Decreto Federal de criaccedilatildeo
Abrangecircncia Aacuterea
Abrangecircncia AacutereaNordm de Decreto
Estadual de criaccedilatildeoTipo de unidade
Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
Dec nordm 9914290 Ilhas do Arvoredo Ilhas das Galeacutes e Deserta o Calhau de Satildeo Pedro e a aacuterea marinha que os circunda 17800 ha
Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental de Anhatomirim
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica CarijoacutesDec nordm 9465687 Manguezal de Ratones e do Saco Grande com aacuterea
de 712 ha
Dec nordm 52892 Ilha de Anhatomirim compreende uma aacuterea de 3000 ha Localizado na baiacutea norte
Reserva Extrativista do Pirajubaeacute
Dec nordm 53392 Manguezal do Rio Tavares e o baixio a sua frente 1444 ha
Parque Florestal do Rio Vermelho
Dec nordm 200662 e Dec nordm 99474
Rio Vermelho antiga Estaccedilatildeo Florestal do Rio Vermelho 1110 ha
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro
Dec nordm 126075 Aacutereas da Mata Atlacircntica dunas restingas manguezais e capoeirotildees Dos 90000 ha 3465 localiza-se em Florianoacutepolis
Tipo de unidadeNordm de Decreto Lei
Municipal de CriaccedilatildeoAbrangecircncia Aacuterea
Praia da Daniela Protege ecossistemas de manguezal e restingas 1564 ha
Lei 509197Ponta da Daniela
Parque municipal do Maciccedilo da Costeira
Lei 460595 e Dec nordm 15495
Aacutereas com relevo montanhoso e protege a vegetaccedilatildeo da Floresta Atlacircntica fauna e mananciais hiacutedricos 14563 ha
Dunas da Barra da Lagoa Lei 377192 e Lei 219385
Plano de reestruturaccedilatildeo urbano da Barra da Lagoa e protege as dunas 66 ha
Parque Municipal da Lagoinha do Leste
Lei 370192 e Dec nordm 15387
Aacuterea maior que a Bacia Hidrograacutefica da Lagoinha Aacuterea 453 ha
Parque Municipal da Galheta
Lei 345590 Praia da Galheta 1493 ha
Lagoa da Chica e Lagoinha Pequena
Dec n ordm 18588 e Lei 219385
Campeche e Rio Tavares 375 ha
Regiatildeo da Costa da Lagoa da Conceiccedilatildeo
Dec nordm 24786 Encosta da margem oeste da Lagoa da Conceiccedilatildeo desde a Ponta das Araccedilaacutes Ponta do Saquinho e o caminho da Costa da Lagoa 9675 ha
Aacuterea de preservaccedilatildeo permanente e de uso limitado
Dec nordm 219385 Uso e ocupaccedilatildeo do solo dos balneaacuterios do municiacutepio instituindo APPs e APLs Totaliza 100742 ha
Restingas de Ponta das Canas e Ponta Sambaqui
Dec nordm 21685 Aacuterea 228 ha
Dunas de Ingleses Santinho Campeche Armaccedilatildeo e Pacircntano do Sul
Dec nordm 11285 Tomba o sistema fiacutesico natural das respectivas localidades Aacuterea 95330 ha
Parque Municipal da Lagoa do Peri
Lei nordm 182881 e Dec nordm 9182
Lagoa do Peri 2030 ha
Lagoa da Conceiccedilatildeo Dec nordm 126175 e 21379
Dunas e aacutereas limites adjacentes 563 ha
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis Fonte Floram 2002
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
59
A lei do SNUC tece ainda comentaacuterios gerais sobre as aacutereas pertencentes agrave Reserva
da Biosfera que satildeo aacutereas especiais reconhecidas pelo programa intergovernamental ldquoO
Homem e a Biosfera - MaBrdquo estabelecido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) e do qual o Brasil faz parte A Reserva da
Biosfera trata-se de um modelo adotado internacionalmente de gestatildeo integrada
participativa e sustentaacutevel dos recursos naturais Seus objetivos baacutesicos consistem a
preservaccedilatildeo da diversidade bioloacutegica o desenvolvimento de atividades de pesquisa o
monitoramento ambiental a educaccedilatildeo ambiental o desenvolvimento sustentaacutevel e a
melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees (LEI 99852000)
A Reserva da Biosfera eacute constituiacuteda por 1 - uma ou vaacuterias aacutereas-nuacutecleo destinadas
agrave proteccedilatildeo integral da natureza 2 - uma ou vaacuterias zonas de amortecimento onde soacute satildeo
admitidas atividades que natildeo resultem em dano para as aacutereas-nuacutecleo e 3 - uma ou vaacuterias
zonas de transiccedilatildeo sem limites riacutegidos onde o processo de ocupaccedilatildeo e o manejo dos
recursos naturais satildeo planejados e conduzidos de modo participativo e em bases
sustentaacuteveis
Das 440 Reservas da Biosfera existentes no mundo o Brasil possui seis delas
delimitadas a partir dos seis maiores biomas brasileiros Mata Atlacircntica (RBMA) Cerrado
(RBC) Pantanal (RBP) Caatinga (RBCA) Amazocircnia Central (RBAC) e o Cinturatildeo Verde da
Cidade de Satildeo Paulo (RBCVSP) A Figura 4 mostra a delimitaccedilatildeo dessas reservas no paiacutes
A primeira das Reservas da Biosfera a ser instituiacuteda no Brasil foi a Reserva da Biosfera da
Mata Atlacircntica que tem atualmente 350000 km2 e forma um corredor envolvendo 15
estados brasileiros inclusive Santa Catarina e incorporando centenas de aacutereas - nuacutecleo
(Unidades de Conservaccedilatildeo)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
60
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil Fonte Programa MaB ndash O Homem e a Biosfera Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
O terreno onde seraacute implantado o empreendimento Sapiens Parque estaacute incluiacutedo
dentro de quatro planos dirigidos agrave proteccedilatildeo de aacutereas naturais o Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Desenvolvimento Sustentaacutevel do Entorno da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Manejo da Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
e o Parque Florestal do Rio Vermelho Os planos colocam as condiccedilotildees e diretrizes que
devem ser seguidas pelos seus vizinhos de modo a garantir a proteccedilatildeo dos recursos
naturais em seu interior De maneira geral os planos mencionados incentivam a pesquisa a
preservaccedilatildeo e o turismo responsaacutevel e sustentaacutevel Atividades ambientalmente corretas
como a agricultura orgacircnica o artesanato e a pesca artesanal tambeacutem satildeo incentivadas no
entorno das unidades de conservaccedilatildeo
Aleacutem disso Florianoacutepolis tambeacutem estaacute incluiacuteda no Plano Estadual de Gerenciamento
Costeiro uma proposta de lei disciplinadora do uso e ocupaccedilatildeo do solo do litoral catarinense
que objetiva potencializar seu crescimento mantendo a qualidade de vida e sem deteriorar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
61
meio ambiente A lei diz respeito ao planejamento e manejo dos recursos naturais levando
em consideraccedilatildeo os aspectos de natureza histoacuterica cultural e tradicional
222 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel eacute recente Surgiu na deacutecada de 1970 e
apareceu nos relatoacuterios da Uniatildeo Internacional para Conservaccedilatildeo da Natureza na deacutecada
de 1980 O conceito foi popularizado em 1987 na Assembleacuteia Geral da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid entatildeo presidentes da
Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) caracterizaram o
desenvolvimento sustentaacutevel como um ldquoconceito poliacuteticordquo e um ldquoconceito amplo para
progresso econocircmico e socialrdquo (VEIGA 2005113)
Esse encontro gerou um documento conhecido como Relatoacuterio Brundtland (Nosso
Futuro Comum) que objetivava buscar alianccedilas para a viabilizaccedilatildeo da ECO-92 conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas ocorrida no Rio de Janeiro O relatoacuterio afirma que o desenvolvimento
sustentaacutevel eacute aquele que atende agraves necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacuteprias necessidades De acordo
com o relatoacuterio a sustentabilidade compreende uma mudanccedila nas relaccedilotildees econocircmicas
poliacutetico-sociais culturais e ecoloacutegicas ldquoDesse modo a natureza passa a ser vista como parte
integrante de um sistema que originalmente deveria ser ciacuteclico excluindo o comportamento
predador do modelo desenvolvimentista predominanterdquo (OLIVEIRA 2004) Natildeo se reduz a
simples crescimento quantitativo pelo contraacuterio faz intervir a qualidade das relaccedilotildees
humanas com o ambiente natural e a necessidade de conciliar a evoluccedilatildeo dos valores
socioculturais
O Relatoacuterio Brundtland determina as seguintes medidas a serem seguidas pelos
paiacuteses em niacutevel nacional limitaccedilatildeo do crescimento populacional garantia de recursos
baacutesicos (aacutegua alimentos energia) em longo prazo preservaccedilatildeo da biodiversidade e dos
ecossistemas diminuiccedilatildeo do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com
uso de fontes energeacuteticas renovaacuteveis aumento da produccedilatildeo industrial nos paiacuteses natildeo-
industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas controle da
urbanizaccedilatildeo desordenada e integraccedilatildeo entre campo e cidades menores atendimento das
necessidades baacutesicas (sauacutede escola moradia)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
62
Em acircmbito internacional o relatoacuterio propotildee as seguintes metas adoccedilatildeo da estrateacutegia
de desenvolvimento sustentaacutevel pelas organizaccedilotildees de desenvolvimento (oacutergatildeos e
instituiccedilotildees internacionais de financiamento) proteccedilatildeo dos ecossistemas supra-nacionais
como a Antaacutertica os oceanos e o espaccedilo pela comunidade internacional banimento das
guerras e implantaccedilatildeo de um programa de desenvolvimento sustentaacutevel pela Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU)
O desenvolvimento sustentaacutevel requer mudanccedilas nos padrotildees de consumo dos
hemisfeacuterios Norte e Sul a comeccedilar no que diz respeito agrave economia de recursos A
separaccedilatildeo social resultante da reproduccedilatildeo dos padrotildees de consumo do Norte no Sul em
benefiacutecio de uma minoria pede uma mudanccedila de paradigma no processo de
desenvolvimento a favor do meio ambiente e da elevaccedilatildeo do padratildeo de pobreza
Entretanto segundo SACHS (2002) para isso satildeo necessaacuterias mudanccedilas no Norte em
relaccedilatildeo aos efeitos demonstrativos dos seus padrotildees de consumo sobre a populaccedilatildeo do
Sul ampliados pelo processo de globalizaccedilatildeo
O conceito do desenvolvimento sustentaacutevel sinaliza uma alternativa agraves teorias e
modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia do desenvolvimento
que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica
Segundo MONTIBELLER (2004) a diferenccedila fundamental entre o
ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel consiste no fato de que o
ecodesenvolvimento volta-se ao atendimento das necessidades baacutesicas da populaccedilatildeo
atraveacutes da utilizaccedilatildeo de tecnologias apropriadas a cada ambiente e partindo do mais simples
ao mais complexo enquanto que o desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza o papel de uma
poliacutetica ambiental a responsabilidade com os problemas globais e com as futuras geraccedilotildees
Os primeiros indicadores de sustentabilidade segundo VEIGA (2005) foram
desenvolvidos pela Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel (CSD) das Naccedilotildees
Unidas Em 1996 a CSD publicou o documento ldquoIndicadores de desarollo sostenible marco
y metodologiacuteasrdquo que continha um conjunto de 143 indicadores reduzidos quatro anos mais
tarde para 57 indicadores Este documento serviu como base para a formulaccedilatildeo dos
primeiros indicadores brasileiros de desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes do documento
ldquoIndicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo (IDS) apresentado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutesticas (IBGE) em 2002 e 2004
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
63
O documento elaborado pelo IBGE consistiu a primeira tentativa brasileira para
definiccedilatildeo de estatiacutesticas que coloquem a dimensatildeo ambiental ao lado da social econocircmica
e institucional No campo da dimensatildeo ambiental foi possiacutevel apresentar indicadores
fundamentais referentes agrave conservaccedilatildeo do meio ambiente organizados em cinco temas
essenciais ldquoatmosferardquo ldquoterrardquo ldquooceanos mares e aacutereas costeirasrdquo ldquobiodiversidaderdquo e
ldquosaneamentordquo
O fato de um iacutendice de desenvolvimento sustentaacutevel ser composto por muitas
dimensotildees e variaacuteveis acarreta dificuldades na sua elaboraccedilatildeo Ainda natildeo existe um iacutendice
de desenvolvimento sustentaacutevel reconhecido internacionalmente como tem sido o IDH No
Foacuterum Econocircmico Mundial em 2002 pesquisadores de duas universidades americanas
(Yale e Columbia) apresentaram o iacutendice de sustentabilidade ambiental ldquoEnvironmental
Sustenaibility Indexrdquo (ESI) O ESI natildeo significa exatamente um iacutendice de desenvolvimento
sustentaacutevel uma vez que estabelece somente criteacuterios de anaacutelise de dimensatildeo ambiental
mas ele pode ser comparado com outros iacutendices de desenvolvimento O ESI considera cinco
componentes ambientais ldquosistemas ambientaisrdquo ldquoestressesrdquo ldquovulnerabilidade humanardquo
ldquocapacidade social e institucionalrdquo e ldquoresponsabilidade globalrdquo
O ESI elaborado pelos estudantes de Yale e Columbia foi reapresentado em 2005 e
segundo VEIGA (2005) foi a mais reconhecida tentativa de elaboraccedilatildeo de um iacutendice de
sustentabilidade ambiental mas ainda natildeo representa um consenso internacional Por este
motivo e pelo fato de o empreendimento Sapiens Parque ainda estar em fase de execuccedilatildeo
tornando inviaacutevel a realizaccedilatildeo do trabalho atraveacutes dos iacutendices de sustentabilidade optamos
em utilizar como paracircmetro para a anaacutelise do estudo de caso um sistema de dimensotildees e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel desenvolvido por SACHS (2002)
SACHS (2002) defende que o desenvolvimento sustentaacutevel abrange uma seacuterie de
dimensotildees (social cultural ecoloacutegica territorial econocircmica e poliacutetica) classificadas segundo
o autor pelos conceitos a seguir
1 A dimensatildeo social vem agrave frente da demais na opiniatildeo de SACHS (2002) por
constituir a proacutepria finalidade do desenvolvimento Deve visar a reduccedilatildeo substancial das
diferenccedilas sociais
2 A sustentabilidade cultural aparece em seguida e tem como objetivo a busca de
raiacutezes endoacutegenas dos modelos de modernizaccedilatildeo e dos sistemas rurais integrados de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
64
produccedilatildeo privilegiando o processo de mudanccedila no seio da comunidade cultural e
respeitando as especificidades de cada ecossistema de cada cultura e de cada local
3 A sustentabilidade ecoloacutegica e ambiental vem em decorrecircncia e compreende o
uso dos potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatiacuteveis com sua miacutenima
deterioraccedilatildeo Deve permitir que a natureza encontre novos equiliacutebrios atraveacutes de processos
de utilizaccedilatildeo que obedeccedilam tambeacutem preservar as fontes de recursos naturais
4 A dimensatildeo territorial (espacialgeograacutefica) pressupotildee evitar a excessiva
concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees de atividades e do poder Busca uma relaccedilatildeo mais
equilibrada cidadecampo
5 A sustentabilidade econocircmica aparece como uma necessidade mas natildeo se trata
de condiccedilatildeo preacutevia para as anteriores uma vez que um transtorno econocircmico traz consigo o
transtorno social que por seu lado obstrui a sustentabilidade ambiental Eacute possibilitada por
uma alocaccedilatildeo e gestatildeo mais eficientes dos recursos e por um fluxo regular do investimento
puacuteblico e privado
6 A sustentabilidade poliacutetica (nacional) eacute importante na pilotagem do processo de
reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
7 Igualmente importante constitui a sustentabilidade poliacutetica (internacional) para
mantenimento da paz mundial e estabelecimento de um sistema de administraccedilatildeo para o
patrimocircnio comum da humanidade
SACHS (2002) delimita os criteacuterios para cada uma das dimensotildees acima
esquematizados tambeacutem por MONTIBELLER (2004) conforme a Tabela 3
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
65
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADECRITEacuteRIOS OBJETIVOS
Alcance de um patamar razoaacutevel de homogeneidade social Distribuiccedilatildeo de renda justa Emprego pleno eou autocircnomo com qualidade de vida decente Igualdade no acesso aos recursos e serviccedilos sociais Mudanccedilas no interior da continuidade (equiliacutebrio entre respeito agravetradiccedilatildeo e inovaccedilatildeo) Capacidade de autonomia para elaboraccedilatildeo de um projeto nacionalintegrado e endoacutegeno (em oposiccedilatildeo agraves coacutepias servis dos modelosalieniacutegenas) Autoconfianccedila combinada com abertura para o mundo Preservaccedilatildeo do potencial do capital natureza na sua produccedilatildeo derecursos renovaacuteveis Limitar o uso dos recursos natildeo-renovaacuteveis Respeitar e realccedilar a capacidade de autodepuraccedilatildeo dosecossistemas naturais Configuraccedilotildees urbanas e rurais balanceadas (eliminaccedilatildeo dasinclinaccedilotildees urbanas nas alocaccedilotildees do investimento puacuteblico) Melhoria do ambiente urbano Superaccedilatildeo das disparidades inter-regionais Estrateacutegias de desenvolvimento ambientalmente seguras paraaacutereas ecologicamente fraacutegeis (conservaccedilatildeo da biodiversidade peloecodesenvolvimento) Desenvolvimento econocircmico intersetorial equilibrado Seguranccedila alimentar Capacidade de modernizaccedilatildeo contiacutenua dos instrumentos deproduccedilatildeo razoaacutevel niacutevel de autonomia na pesquisa cientiacutefica etecnoloacutegica Inserccedilatildeo soberana na economia internacional Democracia definida em termos de apropriaccedilatildeo universal dosdireitos humanos Desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar oprojeto nacional em parceria com todos os empreendedores Um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social Eficaacutecia do sistema de prevenccedilatildeo de guerras da ONU na garantiada paz e na promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional Um pacote Norte-Sul de co-desenvolvimento baseado no princiacutepiode igualdade (compartilhamento da responsabilidade defavorecimento do parceiro mais fraco) Controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro denegoacutecios Controle institucional efetivo da aplicaccedilatildeo do Princiacutepio daPrecauccedilatildeo na gestatildeo do meio ambiente e dos recursos naturaisprevenccedilatildeo das mudanccedilas globais negativas proteccedilatildeo dadiversidade bioloacutegica (e cultural) e gestatildeo do patrimocircnio globalcomo heranccedila comum da humanidadeinternacional
SOCIAL
CULTURAL
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
POLIacuteTICA (NACIONAL)
POLIacuteTICA (INTERNACIONAL)
TERRITORIAL
ECONOcircMICA
Reduccedilatildeo das diferenccedilas sociais
Busca de raiacutezes endoacutegenas e respeito agraves especificidades de cada cultura
Equiliacutebrio entre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais
Evitar a excessiva concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees
Governar o processo de reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
Mantenimento da paz mundial baseado no princiacutepio de igualdade e da qualidade do meio ambiente
Aumento da produccedilatildeo e da riqueza social e independecircncia econocircmica externa
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel Fonte Sachs (2002) Montibeller (2004) Elaboraccedilatildeo da autora
Portanto o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel abrange um conjunto de
sustentabilidades que apresentam criteacuterios de aplicaccedilatildeo em niacutevel global nacional e local Para
os fins de anaacutelise deste trabalho tomaremos os conceitos e criteacuterios delimitados por SACHS
(2002) para as dimensotildees de sustentabilidade acima que podem ser concentradas nos trecircs
pontos principais dimensatildeo social dimensatildeo ecoloacutegica e ambiental e dimensatildeo econocircmica
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
66
23 SUSTENTABILIDADE URBANA
A insalubridade das cidades provocada pela excessiva urbanizaccedilatildeo no seacuteculo XX
originou propostas urbaniacutesticas que buscavam um equiliacutebrio entre o crescimento econocircmico
e os problemas sociais integrados ao desenho da paisagem Deu-se iniacutecio agrave ldquotendecircncia do
verderdquo que se refletiu nas cidades-jardins12 de Howard
Em todas as eacutepocas o medo das infecccedilotildees da cidade e as atraccedilotildees do campo aberto proporcionaram estiacutemulos tanto negativos quanto positivos (hellip) Aacutegua ar puro fugas aos aacutesperos ruiacutedos humanos extensotildees abertas para cavalgar caccedilar praticar o arco caminhar pelo campo ndash tais satildeo as qualidades que a aristocracia sempre apreciou em toda partehellip(MUMFORD 1998526)
Howard propunha um novo modelo de desenvolvimento urbano que empregasse
facilidades teacutecnicas para acabar com as diferenccedilas cada vez maiores entre o campo e a
cidade Apesar de as cidades-jardins defenderem a ideacuteia de preservaccedilatildeo da natureza ainda
a encaravam como bem de usufruto do ser humano De acordo com ANDRADE (2003)
alguns princiacutepios de desenvolvimento urbano sustentaacutevel podem ser identificados no modelo
de cidade-jardim tais como tamanho controlado com acessibilidade aos espaccedilos verdes e
aos pedestres transporte puacuteblico adequado uso misto (de-zoneamento) reaproveitamento
de resiacuteduos soacutelidos em terras agriacutecolas e centros comerciais com economia local
A visatildeo da natureza como um bem de utilizaccedilatildeo humana permanece no modelo de
urbanizaccedilatildeo do Modernismo Embora tivesse um discurso social e uma preocupaccedilatildeo com a
vida saudaacutevel natildeo incluiacutea em suas ideacuteias o esgotamento de recursos Reflete os princiacutepios
da Carta de Atenas13 que desenvolveu a ideacuteia da cidade como ldquomaacutequinardquo em uma utopia
funcionalista da eacutepoca O construiacutedo em meio ao aberto e a habitaccedilatildeo dentro do espaccedilo
verde viraram a marca registrada e o ideal da cidade moderna Caracterizava-se pela
monofuncionalidade dos bairros e pela desarticulaccedilatildeo e distacircncia entre o espaccedilo puacuteblico e o
12 As cidades-jardins de Ebenezer Howard foram uma tentativa de resolver os problemas de insalubridade pobreza e poluiccedilatildeo nas cidades por meio de desenho de novas cidades que tivessem uma estreita relaccedilatildeo com o campo Howard concebia sua cidade-jardim de forma a propiciar aos homens mais liberdade em uma vida comunitaacuteria renovada (ANDRADE 2003 aquitexto Portal Vitruvius) 13 A Carta de Atenas consiste em um conjunto de artigos do CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) de 1933 cujo tema foi a Cidade Funcional Baseia-se na localizaccedilatildeo das atividades segundo a funccedilatildeo moradia lazer trabalho transporte (FRAMPTON 2000)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
67
privado Em funccedilatildeo disso o espaccedilo puacuteblico da cidade moderna era pobre em relaccedilotildees de
encontro ritual e movimento
Jane Jacobs em seu livro ldquoMorte e Vida nas Grandes Cidadesrdquo faz um relato
ofensivo aos fundamentos do planejamento urbano moderno A autora defende o estudo das
relaccedilotildees sociais antroacutepicas como forma de planejamento para cidades saudaacuteveis E enfatiza
a necessidade de uma diversidade de usos mais complexa e densa e que propicie entre
eles uma sustentaccedilatildeo muacutetua e constante tanto econocircmica quanto social
A problemaacutetica ambiental e social urbana colocou em questionamento o paradigma
urbanista moderno Algumas contribuiccedilotildees importantes quanto ao tema da sustentabilidade
urbana surgiram na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro a partir da qual explicita-se a
tentativa das cidades de se organizarem na busca por uma alternativa viaacutevel de
desenvolvimento A Agenda 2114 desponta como um modelo participativo de mudanccedila de
atitude em relaccedilatildeo ao meio ambiente a partir da necessidade de transformar compromissos
abstratos em accedilotildees de niacutevel nacional e local
ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo eacute um dos documentos da Agenda 21 Brasileira Seu objetivo
eacute oferecer propostas para introduzir a dimensatildeo ambiental nas poliacuteticas urbanas vigentes ou
que venham a serem adotadas Dentre as premissas que o nortearam merece destaque a
denominada crescer sem destruir por traduzir que o desenvolvimento sustentaacutevel das
cidades implica ao mesmo tempo no crescimento dos fatores positivos da sustentabilidade
urbana e na diminuiccedilatildeo dos impactos ambientais sociais e econocircmicos indesejaacuteveis no
espaccedilo urbano
A Conferecircncia Habitat II ou Cuacutepula das Cidades realizada em Istambul em 1996
(20 anos apoacutes a Habitat I em Vancouver Canadaacute) teve como foco principal atualizar os
temas e paradigmas que fundamentam a poliacutetica urbana e habitacional com o objetivo
de reorientar a linha de accedilatildeo dos oacutergatildeos e agecircncias de cooperaccedilatildeo internacional para
estes temas incluindo a do proacuteprio Centro das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos
Humanos ndash Habitat
14 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo global adotado por 182 governos Eacute o primeiro documento a alcanccedilar consenso internacional e que fornece um plano para assegurar o futuro sustentaacutevel do planeta lanccedilando questotildees sobre o desenvolvimento e o meio ambiente (OLIVEIRA 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
68
De acordo com ROLNIK (1996) a conferecircncia em Istambul abordou o processo
de urbanizaccedilatildeo nos paiacuteses em desenvolvimento e apresentou um quadro negativo de
tendecircncias com destaque para a insustentabilidade da qualidade de vida nas cidades
Tal fato deve-se tanto pela destruiccedilatildeo de recursos naturais e de seu patrimocircnio cultural
quanto pela gestatildeo e operaccedilatildeo natildeo planejadas dos seus serviccedilos
Apoacutes a Conferecircncia do Rio de Janeiro e da Habitat II a cidade passou a ser vista natildeo
mais como um problema a ser evitado mas como uma realidade que pode ser transformada
para melhor Esta nova forma de pensamento deve-se fundamentalmente ao fracasso das
poliacuteticas de fixaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural e agrave constataccedilatildeo de estatiacutesticas internacionais e
nacionais que comprovam que a cidade constitui a forma que os seres humanos
escolheram para viver em sociedade e prover sua necessidades Segundo a Agenda 21
Brasileira a proporccedilatildeo de pessoas que moravam em cidades no Brasil era de 76 em
1996 Atualmente mais de 80 da populaccedilatildeo brasileira mora em cidades sendo que as
projeccedilotildees apontam para uma taxa de mais de 88 em 2020
No Brasil surgiram instrumentos com a intenccedilatildeo de direcionar as novas formas de se
projetar a cidade entre legislaccedilotildees urbanas e ambientais Um desses instrumentos consiste
na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) jaacute vista neste capiacutetulo e
tambeacutem na proacutepria Agenda 21 Brasileira que seraacute analisada adiante O Estatuto da
Cidade15 constitui outro importante instrumento de poliacutetica urbana e reserva tambeacutem
algumas orientaccedilotildees relevantes no que tange respeito ao tema do meio ambiente urbano
das quais destacam-se
Garantia do direito a cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave
moradia ao saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos
serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees
Planejamento do desenvolvimento das cidades da distribuiccedilatildeo espacial da
populaccedilatildeo e das atividades econocircmicas do Municiacutepio e do territoacuterio sob sua aacuterea
de influecircncia de modo a evitar e corrigir as distorccedilotildees do crescimento urbano e
seus efeitos negativos sobre o meio ambiente
15 O Estatuto da Cidade (Lei ndeg 102572001) eacute a lei federal que daacute as diretrizes e regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que falam sobre a Poliacutetica Urbana que deveraacute ser praticada pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios (disponiacutevel em httpwwwestatutodacidadeorgbr acesso em 15062005)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
69
Audiecircncia do Poder Puacuteblico municipal e da populaccedilatildeo interessada nos processos de
implantaccedilatildeo de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos
sobre o meio ambiente natural ou construiacutedo o conforto ou a seguranccedila da populaccedilatildeo
O estatuto ainda coloca agrave disposiccedilatildeo dos municiacutepios o Estudo de Impacto de
Vizinhanccedila (EIV) que deveraacute ser executado de forma a contemplar os efeitos positivos e
negativos dos empreendimentos ou atividades quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo
residente na aacuterea e suas proximidades
Para Florianoacutepolis existe atualmente uma proposta conceitual de um plano piloto
para a primeira Reserva da Biosfera em Ambiente Urbano (Figura 5) buscando integrar o
modelo baacutesico das Reservas da Biosfera aos conceitos de ecologia urbana O objetivo eacute a
integraccedilatildeo entre a conservaccedilatildeo da natureza e de seus processos com a manutenccedilatildeo do
patrimocircnio cultural e dos processos de urbanidade
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis Fonte Proposta Projeto Piloto RBU Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
70
A proposta da Reserva da Biosfera Urbana eacute composta de cinco zonas da
predominantemente natural agrave predominantemente urbana conforme mostra a Figura 5
Zonas Nuacutecleo Natural (Unidades de Conservaccedilatildeo Aacutereas de Preservaccedilatildeo
Permanente e aacutereas tombadas) que constitua uma manifestaccedilatildeo iacutentegra e
representativa de um ecossistema
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Natural entorno imediato ao nuacutecleo com
padrotildees de uso onde a funcionalidade ecoloacutegica e geograacutefica da aacuterea eacute mantida
Zonas de Transiccedilatildeo zona com padrotildees de uso que salvaguardem a integridade e
a funcionalidade das zonas anteriores proporcionando uma aacuterea de
descompressatildeo urbana compatiacutevel com a vizinhanccedila natural
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Urbano Cultural entorno imediato ao
nuacutecleo urbano com padrotildees de uso que integrem eficazmente as funccedilotildees de
urbanidade eou conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural com uma paisagem natural
sustentaacutevel
Zonas Nuacutecleo de Urbanidade eou Patrimocircnio Cultural que constitua um
testemunho autecircntico de um bem cultural ou de uma aacuterea de urbanidade
sustentaacutevel
A proposta estaacute em processo de aprovaccedilatildeo na UNESCO e tem como um dos
idealizadores o arquiteto argentino Ruben Pesci atual responsaacutevel tambeacutem pelo projeto do
empreendimento Sapiens Parque Apesar de ser bastante inovador o projeto apresenta
controveacutersias tendo como uma das criacuteticas o fato de abranger somente a Ilha de Santa
Catarina ignorando a parte continental com a qual estabelece relaccedilotildees
Os estudos de sustentabilidade urbana natildeo apresentam uma linha uacutenica de
pensamento fato que caracteriza o tema como uma aacuterea de investigaccedilatildeo nova dinacircmica e
ainda natildeo consolidada em busca de uma identidade Poreacutem na visatildeo de STEINBERGER
(2001) os problemas urbanos de outrora estatildeo sendo vistos como os problemas ambientais
de agora anunciando a onda do modismo Antes que a questatildeo ambiental aparecesse com
a forccedila e a centralidade que tem hoje essas dificuldades jaacute estavam nas agendas dos
planejadores urbanos e autoridades municipais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
71
A sustentabilidade urbana concretiza-se como base para surgimento de um novo
paradigma onde o meio ambiente passa a ser o tema central em torno do qual todos os
discursos e projetos sociais devem ser reformulados para serem legiacutetimos A questatildeo social
urbana transformou-se em questatildeo ecoloacutegica ou ambiental ocorrendo uma substituiccedilatildeo de
paradigmas Esse enfoque provoca uma visatildeo negativa no planejamento uma vez que
admite ser possiacutevel a substituiccedilatildeo do social pelo ambiental quando o ideal seria uma
integraccedilatildeo entre as duas dimensotildees Falar da problemaacutetica soacutecio-ambiental urbana soaria
como uma ldquoroupagem da moda para nossas velhas questotildees sociais (e urbanas)rdquo
(STEINBERGER 2001) No entanto definir e tratar conjuntamente os dilemas sociais e
ambientais constitui uma necessidade
231 DIRETRIZES PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA
O mais completo documento nacional que coloca estrateacutegias a serem implementadas
no processo de gestatildeo urbana a fim de atingir a sustentabilidade das cidades consiste na
Agenda 21 Brasileira Segundo o documento ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo da Agenda 21 a
problemaacutetica social e a problemaacutetica ambiental urbanas satildeo indissociaacuteveis A
sustentabilidade das cidades deve ser situada dentro do conjunto e das opccedilotildees de
desenvolvimento nacional A viabilidade da sustentabilidade urbana depende da capacidade
de integraccedilatildeo das suas estrateacutegias entre os planos projetos e accedilotildees governamentais de
desenvolvimento urbano e entende-se que as poliacuteticas federais tecircm um papel instigador
fundamental na promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel como um todo
A sustentabilidade das cidades depende ainda do cumprimento da chamada Agenda
Marrom que se preocupa sobretudo com a melhoria da qualidade sanitaacuterio-ambiental das
populaccedilotildees urbanas As estrateacutegias prioritaacuterias para atingir a sustentabilidade urbana e que
devem remeter-se aos objetivos macro do desenvolvimento sustentaacutevel em qualquer das
escalas consideradas (global nacional ou local) satildeo
Reduccedilatildeo da pressatildeo sobre os recursos disponiacuteveis atraveacutes da busca de equiliacutebrio
dinacircmico entre uma determinada populaccedilatildeo e sua base ecoloacutegico-territorial
Aumento da responsabilidade ecoloacutegica atraveacutes de relaccedilotildees de interdependecircncia
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
72
entre os fenocircmenos e pelo princiacutepio da co-responsabilidade de paiacuteses grupos e
comunidades na gestatildeo dos recursos e dos ecossistemas compartilhados como o
ar oceanos florestas e bacias hidrograacuteficas
Busca da eficiecircncia energeacutetica com reduccedilatildeo significativa nos niacuteveis de consumo
atual e busca de fontes energeacuteticas renovaacuteveis
Desenvolvimento e utilizaccedilatildeo de tecnologias ambientalmente adequadas
alterando progressiva e significativamente os padrotildees atuais do setor produtivo
Alteraccedilatildeo dos padrotildees de consumo e diminuiccedilatildeo significativa na produccedilatildeo de
resiacuteduos e no uso de bens ou materiais natildeo-reciclaacuteveis
Recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e reposiccedilatildeo do estoque dos recursos
estrateacutegicos (aacutegua solo cobertura vegetal)
Manutenccedilatildeo da biodiversidade existente
Eacute necessaacuterio ainda estabelecer a descentralizaccedilatildeo das instacircncias decisoacuterias e de
serviccedilos para o fortalecimento do local e incentivo da gestatildeo comunitaacuteria descarregando o
setor governamental das responsabilidades de gestatildeo urbana que a comunidade deseja
assumir no que se refere ao desenvolvimento e agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente No
sentido de reorganizar o sistema de gestatildeo a Agenda 21 ainda determina os seguintes
marcos de gestatildeo urbana
Incentivo ao surgimento de cidades menores ou de assentamentos menores
dentro das grandes cidades preferecircncia pelos pequenos projetos de menor custo
e de menor impacto ambiental foco na accedilatildeo local
Incorporaccedilatildeo da questatildeo ambiental nas poliacuteticas setoriais urbanas (habitaccedilatildeo
abastecimento saneamento ordenaccedilatildeo do espaccedilo) atraveacutes da observacircncia dos
criteacuterios ambientais que visam preservar recursos estrateacutegicos (aacutegua solo
cobertura vegetal) e proteger a sauacutede humana
Integraccedilatildeo das accedilotildees de gestatildeo visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliaccedilatildeo dos
impactos positivos
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
73
Necessidade do planejamento estrateacutegico colocando restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio
Descentralizaccedilatildeo das accedilotildees administrativas e dos recursos com vistas agraves
prioridades locais e combate agrave homogeneizaccedilatildeo dos padrotildees de gestatildeo
Incentivo agrave inovaccedilatildeo e ao surgimento de soluccedilotildees criativas
Inclusatildeo dos custos ambientais e sociais no orccedilamento e contabilidade dos
projetos de infra-estrutura
Induccedilatildeo de novos haacutebitos de moradia transporte e consumo nas cidades
(incentivo ao uso da bicicleta e de transportes natildeo-poluentes incentivo agraves hortas
comunitaacuterias jardins e arborizaccedilatildeo com aacutervores frutiacuteferas edificaccedilotildees para uso
comercial ou de moradia que evitem o uso intensivo de energia utilizando
materiais reciclados)
Fortalecimento da sociedade civil e dos canais de participaccedilatildeo incentivo e suporte
agrave accedilatildeo comunitaacuteria
A Agenda 21 Brasileira levanta as principais questotildees intra-urbanas que afetam a
sustentabilidade do desenvolvimento das nossas cidades Satildeo elas dificuldades no acesso
agrave terra e deacuteficit habitacional com consequumlente aumento do espaccedilo construiacutedo irregular e
informal deficiecircncias nas questotildees sobre abastecimento e esgotos resiacuteduos soacutelidos
drenagem sauacutede e saneamento ambiental elevada taxa de motorizaccedilatildeo com consequumlente
aumento da poluiccedilatildeo do ar desemprego e precarizaccedilatildeo do emprego
O documento ainda determina quatro estrateacutegias prioritaacuterias a serem implementadas
nas cidades brasileiras que estatildeo associadas a um conjunto de diretrizes propostas e
accedilotildees
Aperfeiccediloar a regulaccedilatildeo do solo e ocupaccedilatildeo do solo urbano e promover o
ordenamento do territoacuterio contribuindo para a melhoria das condiccedilotildees de vida da
populaccedilatildeo e promoccedilatildeo da equumlidade eficiecircncia e qualidade ambiental
Promover o desenvolvimento institucional e fortalecimento da capacidade de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
74
planejamento e gestatildeo democraacutetica da cidade atraveacutes da efetiva participaccedilatildeo da
sociedade e incorporar no processo a dimensatildeo ambiental
Promover mudanccedilas nos padrotildees de produccedilatildeo e consumo da cidade atraveacutes da
reduccedilatildeo de custos e desperdiacutecios e fomentar o desenvolvimento de tecnologias
urbanas sustentaacuteveis
Desenvolver e estimular a aplicaccedilatildeo de instrumentos econocircmicos no
gerenciamento de recursos naturais com vistas agrave sustentabilidade urbana
A Agenda 21 Brasileira vem sendo aplicada nas cidades a partir da elaboraccedilatildeo de
diretrizes particulares locais em niacutevel municipal atraveacutes das chamadas agendas locais Em
Florianoacutepolis a Agenda 21 local dividiu o municiacutepio em dez regiotildees Optou-se pela
ldquoregionalizaccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio com vistas a obter um estudo mais homogecircneo
para alcanccedilar uma maior participaccedilatildeo da comunidade nas anaacutelises de seus problemas e na
obtenccedilatildeo de soluccedilotildeesrdquo (AGENDA 21 LOCAL 200011)
O diagnoacutestico da regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o Sapiens Parque
apontou principalmente o problema de ausecircncia de infra-estrutura sistema viaacuterio energia
eleacutetrica abastecimento de aacutegua e rede coletora de esgotos Algumas dessas deficiecircncias
aliadas agrave ocupaccedilatildeo irregular em aacuterea de preservaccedilatildeo acarretam consequumlecircncias ambientais
graves como a descaracterizaccedilatildeo da paisagem por ocupaccedilatildeo das encostas e supressatildeo
das matas poluiccedilatildeo das aacuteguas superficiais e subterracircneas erosatildeo e abrasatildeo marinhas e
assoreamento de rios e coacuterregos
O diagnoacutestico aponta ainda deficiecircncias no sistema de limpeza urbana transporte
puacuteblico educaccedilatildeo sauacutede e seguranccedila assim como carecircncias de espaccedilos de lazer Dentre
as diretrizes apontadas pela Agenda 21 Local para a promoccedilatildeo do desenvolvimento urbano
sustentaacutevel na regiatildeo norte da Ilha destacamos as seguintes
1 Recuperaccedilatildeo ambiental das aacutereas degradadas com o reflorestamento de morros
de matas ciliares da orla litoracircnea normatizaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das atividades de pesca nas
aacuteguas da baiacutea Norte implantaccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo ambiental visando o
conhecimento a valorizaccedilatildeo e a importacircncia de preservaccedilatildeo de ecossistemas fraacutegeis
2 Projetos que visem a criaccedilatildeo de empregos e geraccedilatildeo de renda tais como criaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
75
de cooperativas de separaccedilatildeo do lixo reciclaacutevel a organizaccedilatildeo das atividades de passeio e
pesca com turistas implantaccedilatildeo de viveiros comunitaacuterios para a produccedilatildeo de mudas de
vegetaccedilatildeo nativa da Mata Atlacircntica a implantaccedilatildeo de sistema de fiscalizaccedilatildeo ambiental
comunitaacuteria a criaccedilatildeo de nuacutecleos da terceira idade para propiciar novas oportunidades
produtivas e de lazer
3 Recuperaccedilatildeo e preservaccedilatildeo de construccedilotildees antigas como as igrejas tradicionais
da regiatildeo norte devem ser objetivos de toda a comunidade dos envolvidos com a cultura e
tambeacutem do setor turiacutestico
4 Implantaccedilatildeo de rede coletora e de sistema de tratamento de esgoto nas
comunidades da regiatildeo norte e a conclusatildeo da rede coletora de esgotos em Ingleses deve
ser um esforccedilo do poder puacuteblico com a participaccedilatildeo da comunidade do comeacutercio e dos
serviccedilos
5 Instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer como praccedilas e de esportes como quadras
poliesportivas em todas as comunidades
De forma geral podemos concluir que a Agenda 21 Local recomenda como
diretrizes de desenvolvimento sustentaacutevel para o Norte da Ilha a recuperaccedilatildeo e
preservaccedilatildeo ambiental e arquitetocircnica a implantaccedilatildeo da infra-estrutura urbana
necessaacuteria a criaccedilatildeo de emprego e renda atraveacutes de cooperativas comunitaacuterias e a
instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer e esportes
24 TURISMO DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
Florianoacutepolis atualmente possui o turismo como uma das principais atividades
econocircmicas e impulsionadoras do seu desenvolvimento urbano Reconhecida pelas suas
belezas e paisagens naturais a cidade atrai visitantes de todo o Brasil e de outros paiacuteses
dando impulso agrave economia local A regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o projeto
Sapiens Parque deve sua urbanizaccedilatildeo ao turismo graccedilas agraves suas praias de aacuteguas limpas e
de temperatura amena Entretanto a atividade turiacutestica mal planejada tem seus reflexos na
ausecircncia da infra-estrutura necessaacuteria e na consequumlente degradaccedilatildeo ambiental Sendo o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
76
turismo um importante pilar do modelo de planejamento urbano de que trata este trabalho e
sendo o turismo sustentaacutevel um dos conceitos do empreendimento Sapiens Parque
abordaremos questotildees relacionadas agrave atividade turiacutestica no texto seguinte
O advento da globalizaccedilatildeo que tem seus marcos iniciais no seacuteculo XX e da atual
terceira revoluccedilatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica acarretou o incremento da atividade turiacutestica
diretamente relacionada a esses dois fenocircmenos Segundo AGUIAR e DIAS (2002) o
desenvolvimento do turismo sempre acompanhou o avanccedilo das novas tecnologias sofrendo
grande impulso na primeira revoluccedilatildeo industrial na Inglaterra do seacuteculo XVIII e na segunda
revoluccedilatildeo industrial nos Estados Unidos e na Europa em fins do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX
O turismo ao mesmo tempo em que sofre influecircncia da globalizaccedilatildeo contribui para
sua expansatildeo e solidificaccedilatildeo aumenta o intercacircmbio de ideacuteias e de pessoas e dessa forma
colabora para o desenvolvimento de uma consciecircncia global Para PAIVA (1998) o turismo
deve converter-se em um meio de integraccedilatildeo renovaccedilatildeo conviacutevio e ateacute mesmo em um
mecanismo de transformaccedilatildeo da sociedade Consiste em uma atividade econocircmica que
envolve a qualidade de vida aumento do lazer do descanso do desfruto e do oacutecio
O turismo movimenta muitos recursos e constitui segundo AGUIAR e DIAS (2002) a
principal atividade econocircmica do seacuteculo XXI a maior ldquoinduacutestriardquo existente superando os
setores tradicionais e tornando-se um importante gerador de postos de trabalho O turismo
portanto eacute um fenocircmeno universal que conecta todas as partes do sistema global e
aumenta a compreensatildeo dos indiviacuteduos de pertencerem a um todo Ao mesmo tempo o
turismo incrementa a consciecircncia das pessoas de pertencerem a um local determinado pois
com a presenccedila do outro ao se explicitarem as diferenccedilas se fortalece a identidade cultural
Aleacutem de promover o respeito agraves diferenccedilas o turismo apresenta papel positivo como
promotor da compreensatildeo e da paz entre os diferentes povos
Apesar de todos os pontos positivos explicitados o desenvolvimento da atividade
turiacutestica apresenta seus impactos negativos A caracteriacutestica consumista do turista que
busca beneficiar-se dos serviccedilos da melhor maneira possiacutevel vem acarretando pressatildeo
sobre o meio ambiente Essa forma individualista de consumo trouxe para a atividade a
necessidade de utilizaccedilatildeo dos melhores recursos naturais por vezes natildeo renovaacuteveis
AGUIAR e DIAS (2002) afirmam que nas aacutereas costeiras do Brasil predominou o
turismo relacionado com o ambiente natural e os efeitos negativos da atividade foram
acentuados principalmente vinculados agrave falta de planejamento Haacute poucas exceccedilotildees de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
77
lugares onde o planejamento urbano conseguiu evitar a construccedilatildeo de verdadeiras muralhas
de preacutedio agrave beira-mar A atividade turiacutestica apresenta grande capacidade de alterar o meio
ambiente em um tempo relativamente curto e as prefeituras natildeo conseguem dimensionar
seus impactos As paisagens naturais que serviram para obtenccedilatildeo dos recursos originais
acabam por degradar-se em um curto prazo impedindo sua recuperaccedilatildeo Os investimentos
de infra-estrutura necessaacuterios para o desenvolvimento da atividade como alojamento e
transportes que oferecem um retorno em curto prazo satildeo priorizados em prejuiacutezo dos
investimentos que poderiam manter ou recuperar a paisagem natural
No Brasil o problema se agrava devido agrave ausecircncia ou insuficiecircncia de planejamento
na implantaccedilatildeo dos projetos turiacutesticos De acordo com AGUIAR e DIAS (2002) os
problemas causados direta ou indiretamente pelo turismo de modo geral passaram por
algum crivo da administraccedilatildeo puacuteblica que diante da possibilidade de geraccedilatildeo de recursos
em curto prazo ignora os prejuiacutezos que ocorreratildeo a meacutedio e longo prazo Os Relatoacuterios de
Impacto Ambiental (RIMA) dos grandes empreendimentos turiacutesticos ou satildeo ignorados ou
feitos sem criteacuterios teacutecnicos adequados tornando-se instrumentos de legitimaccedilatildeo que
justificam a depredaccedilatildeo de algum recurso natural
A ausecircncia de planejamento adequado gera a degradaccedilatildeo do meio ambiente natural
social e cultural fato que implica em uma sucessatildeo de problemas que comprometeratildeo a
atividade turiacutestica no futuro Apesar dos aspectos negativos experiecircncias nacionais e
internacionais demonstram que o turismo quando integrado a um processo de
planejamento pode impactar de forma positiva jaacute que a atividade atrai a atenccedilatildeo dos poderes
puacuteblicos para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
O Poder Puacuteblico apresenta papel fundamental no planejamento turiacutestico que
funciona como regulador ou provedor de serviccedilos puacuteblicos indispensaacuteveis agrave sua ampliaccedilatildeo
como os sistemas viaacuterios de comunicaccedilatildeo e de proteccedilatildeo ao meio ambiente O setor puacuteblico
tem o papel de fiscalizador das ofertas turiacutesticas e de regulador do mercado e do uso do
solo aleacutem de promover a educaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
Apesar de a atividade turiacutestica favorecer a valorizaccedilatildeo do meio natural por parte da
populaccedilatildeo local e provaacutevel melhoria na qualidade dos serviccedilos de preservaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental os impactos negativos possiacuteveis causados pela atividade ainda
aparecem em maior nuacutemero O turismo ocasiona impactos ao ar (com o aumento de infra-
estrutura de transporte e consequumlente aumento da poluiccedilatildeo atmosfeacuterica) nas aacuteguas
(atraveacutes da intensificaccedilatildeo do consumo nas aacutereas concentradas e pela contaminaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
78
derivada dos resiacuteduos soacutelidos) na flora (o turismo descontrolado altera de muitas maneiras
a cobertura vegetal ndash abate da vegetaccedilatildeo utilizaccedilatildeo do fogo accedilatildeo de colecionadores de
plantas acumulaccedilatildeo de lixo praacutetica de campismo predatoacuterio) na fauna (os padrotildees de
comportamento dos animais satildeo modificados pela presenccedila dos turistas) e na paisagem (o
acreacutescimo acelerado da infra-estrutura necessaacuteria para a atividade provoca alteraccedilotildees no
ambiente natural e urbano modificaccedilotildees no solo aumento do ruiacutedo e da luminosidade)
A exploraccedilatildeo desordenada dos recursos naturais para fins turiacutesticos embora tenha
gerado vantagens econocircmicas para vaacuterias regiotildees provoca impactos no meio ambiente que
podem acabar com os mesmos recursos naturais que motivaram a demanda turiacutestica O
fato de apresentar estreita relaccedilatildeo com o meio ambiente diferencia o turismo das demais
atividades e impotildee a necessidade de se instituiacuterem novas formas de exploraccedilatildeo dos
recursos para tal fim que levem em consideraccedilatildeo sua capacidade de suporte e suas condiccedilotildees
de sustentabilidade para que as futuras geraccedilotildees possam usufruir o mesmo benefiacutecio
A tomada de consciecircncia da depredaccedilatildeo causada pela atividade turiacutestica deu origem
a dois novos conceitos relacionados ao meio ambiente o ecoturismo e o turismo
sustentaacutevel Os conceitos significam o desenvolvimento da atividade turiacutestica de forma
sustentaacutevel atraveacutes da conservaccedilatildeo do patrimocircnio natural e cultural buscando a formaccedilatildeo
de uma consciecircncia ambientalista e promovendo o bem estar das populaccedilotildees envolvidas
Consiste em toda forma de turismo baseado na natureza em que a motivaccedilatildeo principal dos
turistas seja observar e apreciar essa natureza ou as culturas tradicionais dominantes das
zonas rurais
As principais caracteriacutesticas desse segmento satildeo incluir elementos educacionais e
de interpretaccedilatildeo procurar reduzir todas as possibilidades de impactos negativos sobre o
entorno natural e sociocultural contribuir para a proteccedilatildeo das zonas naturais ndash gerando
benefiacutecios econocircmicos para as comunidades organizaccedilotildees e administraccedilotildees anfitriatildes que
administram zonas naturais com objetivos conservacionistas oferecendo oportunidades
alternativas de emprego e renda para as comunidades locais e incrementando a
conscientizaccedilatildeo sobre conservaccedilatildeo dos ativos naturais e culturais tanto nos habitantes
quanto nos turistas
O ecoturismo se constitui em um segmento do setor turiacutestico Jaacute o turismo
sustentaacutevel estaacute fundamentado sobre criteacuterios de sustentabilidade deve ser suportaacutevel
ecologicamente em longo prazo viaacutevel economicamente e justo desde uma perspectiva
eacutetica e social para as atividades locais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
79
25 IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS
A implantaccedilatildeo de grandes projetos urbanos como o Sapiens Parque devem
obrigatoriamente apresentar segundo as leis brasileiras um estudo preacutevio dos impactos
soacutecio-econocircmicos e ambientais que tais empreendimentos acarretaratildeo no futuro Esse
estudo foi realizado pelo empreendimento Sapiens Parque e seraacute visto no proacuteximo capiacutetulo
deste trabalho Como base para a anaacutelise introduziremos na sequumlecircncia os principais
conceitos que envolvem a questatildeo dos impactos ambientais urbanos
Os impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais associados ao processo de urbanizaccedilatildeo
desencadearam preocupaccedilotildees com o tema a partir da deacutecada de 1960 Em uma sociedade
altamente industrializada riscos ambientais e tecnoloacutegicos constituem elementos intriacutensecos
agrave mesma A atitude com que o ser humano vem se relacionando com a natureza tornou-se
a grande ameaccedila para a sua proacutepria sobrevivecircncia
A expansatildeo e maneira precaacuteria como foram implantados os novos assentamentos
das cidades brasileiras criaram um conjunto de grave degradaccedilatildeo As praacuteticas
desequilibradas da ocupaccedilatildeo humana estatildeo expressas nos desmatamentos ocupaccedilatildeo de
fundos de vales encostas mangues No presente estaacutegio da situaccedilatildeo econocircmica e do
planejamento urbano torna-se inevitaacutevel a expansatildeo fiacutesica das cidades mas cabe agraves
poliacuteticas urbanas procurar formas de prevenir os novos impactos ambientais A Resoluccedilatildeo
00186 do Conselho Nacional do Meio Ambiente16 define impacto ambiental como
qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente afetam I- a sauacutede a seguranccedila e o bem-estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg)
16 O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) eacute o oacutergatildeo consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) Foram criados com a finalidade de assessorar estudar e propor ao governo federal diretrizes de poliacuteticas governamentais para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos meios de exploraccedilatildeo dos recursos naturais bem como deliberar sobre normas e padrotildees compatiacuteveis com a preservaccedilatildeo do meio ambiente O SISNAMA foi promulgado por lei em 31 de agosto de 1981 e eacute constituiacutedo por reparticcedilotildees e entidades da federaccedilatildeo dos estados e do Distrito Federal e tambeacutem das fundaccedilotildees publicas para o meio ambiente (httpwwwsbaucombr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
80
Impacto ambiental eacute portanto o processo de mudanccedilas sociais e ecoloacutegicas em
movimento causado por perturbaccedilotildees (uma nova ocupaccedilatildeo ou construccedilatildeo de um objeto
novo) no ambiente
A previsatildeo de impactos compreende uma soluccedilatildeo para escapar dos desatinos do
sistema capitalista avassalador e sua aplicaccedilatildeo exige inteligecircncia com relaccedilatildeo ao futuro e
evita os radicalismos Eis o motivo pelo qual as equipes teacutecnicas responsaacuteveis por esse tipo
de estudo satildeo imbuiacutedas de ampla responsabilidade cultural e moral e que pode ter por
consequumlecircncia o sucesso ou a descrenccedila total perante o resto da comunidade cientiacutefica Os
especialistas em impactos atraveacutes da legislaccedilatildeo existente possuem forccedila para exigir
ponderaccedilatildeo e melhoria na organizaccedilatildeo dos espaccedilos destinados a receber projetos
desenvolvimentistas Poreacutem na visatildeo de ABrsquoSAgraveBER (1994) ainda que bem preparados eles
natildeo apresentam poder para sozinhos transformar a estrutura da sociedade
MILAREgrave (1994) salienta que todo e qualquer projeto desenvolvimentista interfere no
meio ambiente Sendo certo que o crescimento eacute um imperativo impotildee-se discutir os
instrumentos e mecanismos que os conciliem diminuindo ao maacuteximo os impactos
ecoloacutegicos negativos e consequumlentemente os custos econocircmico-sociais
Segundo o autor dentre os instrumentos de conjugaccedilatildeo entre desenvolvimento e
proteccedilatildeo ambiental utilizados atualmente o Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental (EIA) e o
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) merecem destaque O EIA eacute de maior abrangecircncia
e compreende o levantamento da literatura cientiacutefica e legal pertinente trabalhos de campo
anaacutelises de laboratoacuterio e a proacutepria redaccedilatildeo do relatoacuterio O RIMA destina-se especificamente
ao esclarecimento das vantagens e consequumlecircncias ambientais do empreendimento refletiraacute
as conclusotildees daquele Eacute a parte mais compreensiacutevel do processo esclarecedor para o
administrador e o puacuteblico
O estudo de impacto ambiental deve ser elaborado antes da instalaccedilatildeo da obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradaccedilatildeo do meio ambiente O
escopo principal do estudo de impacto ambiental eacute a prevenccedilatildeo ambiental e evitar que os
interesses imediatos dos proponentes de um projeto se revelem posteriormente prejudiciais
ao meio ambiente Preconiza a obrigaccedilatildeo de se levar em consideraccedilatildeo o meio ambiente na
tomada de decisotildees puacuteblica ou privada Ainda tem por objetivos a transparecircncia
administrativa por parte do poder puacuteblico e dos proponentes quanto aos efeitos ambientais
de determinado projeto a consulta aos interessados atraveacutes da participaccedilatildeo da
comunidade envolvida no processo e a motivaccedilatildeo da decisatildeo ambiental que obriga o oacutergatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
81
puacuteblico a fundamentar uma decisatildeo que natildeo seja exatamente a melhor para a preservaccedilatildeo
ambiental
251 IMPACTOS DE PROJETOS DESENVOLVIMENTISTAS
Prever impactos em relaccedilatildeo a um projeto de qualquer tipo destinado a uma
determinada regiatildeo17 e a um siacutetio ou gleba em particular trata-se de uma operaccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica multidisciplinar de grande importacircncia Trata-se de uma maneira de revelar o niacutevel
de esclarecimento atingido pela sociedade do paiacutes em relaccedilatildeo agrave capacidade de antever
quadros futuros da organizaccedilatildeo espacial de seu territoacuterio18 Aleacutem disso indica o niacutevel de
forccedila de pressatildeo social pelos grupos mais esclarecidos para fazer bom uso dos
instrumentos legais de cultivo da qualidade ambiental e do ordenamento territorial Prever
impactos consiste inclusive em um excelente meacutetodo para avaliar o potencial da legislaccedilatildeo
existente e sua aplicabilidade em casos reais
Segundo ABrsquoSAacuteBER (1994) para que se possa realizar um estudo dos impactos
causados por determinado projeto eacute necessaacuterio entender o espaccedilo total no qual estaacute
inserido em relaccedilatildeo a um siacutetio de implantaccedilatildeo e a uma regiatildeo de localizaccedilatildeo Torna-se
imprescindiacutevel o conhecimento da estrutura da composiccedilatildeo e da dinacircmica dos
acontecimentos que caracterizam o espaccedilo total da regiatildeo proposta O diagnoacutestico do
proacuteprio local de implantaccedilatildeo do projeto eacute bastante vaacutelida mas ainda mais importante
consiste a anaacutelise do seu entorno em curto meacutedio e longo prazo Portanto o conceito de
espaccedilo total perante qualquer projeto a ser inserido em qualquer aacuterea de um territoacuterio
torna-se de grande significado para uma correta previsatildeo de impactos
ABrsquoSAacuteBER (1994) define espaccedilo total como o arranjo e o perfil adquiridos por uma
determinada aacuterea em funccedilatildeo da organizaccedilatildeo humana que lhe foi imposta ao longo dos
tempos O espaccedilo total inclui todo o conjunto dos componentes inseridos pelo homem no
17 Utiliza-se aqui o conceito de regiatildeo como uma referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e agrave extensatildeo de um certo fenocircmeno (migraccedilotildees agropecuaacuteria tecnologias de comunicaccedilatildeo renda e condiccedilotildees de vida condiccedilotildees de habitaccedilatildeo divisatildeo do trabalho) (DIAS e SANTOS 2003) 18 O conceito de territoacuterio eacute usado como referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e extensatildeo dos fenocircmenos Eacute tambeacutem pensado como aquilo que eacute controlado por um certo tipo de poder Representa o espaccedilo definido e delimitado por relaccedilotildees de poder podendo existir e ser construiacutedo nas diferentes escalas (DIAS e SANTOS 2003)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
82
decorrer da histoacuteria na paisagem19 de uma aacuterea considerada participante de determinado
territoacuterio
De acordo com SANTOS (1982) cada vez que a sociedade passa por um processo
de mudanccedila na economia nas relaccedilotildees sociais e poliacuteticas a paisagem se modifica para se
adaptar agraves novas necessidades da sociedade Essas transformaccedilotildees no entanto satildeo
somente parciais As mudanccedilas sociais natildeo provocam obrigatoriamente ou automaticamente
modificaccedilotildees na paisagem A paisagem representa diferentes momentos no
desenvolvimento de uma sociedade eacute o resultado de uma acumulaccedilatildeo de tempos
SANTOS (1982) define o espaccedilo social metodologicamente a partir de trecircs conceitos
forma estrutura e funccedilatildeo Essas partes conseguem identificar-se completamente e satildeo
consideradas equivalentes constituindo o ldquotodordquo e jamais devem ser analisadas em
separado Nenhuma das trecircs categorias existe dissociada das demais e apenas sua
utilizaccedilatildeo combinada pode restituir-nos ao espaccedilo total
O espaccedilo total supotildee o movimento comum dialeacutetico e concreto da estrutura da
funccedilatildeo e da forma e para estudaacute-lo eacute preciso levar em consideraccedilatildeo todas as estruturas
que a compotildeem e que em conjunto ou isoladamente a reproduzem Por esse motivo para
fim de previsatildeo de impactos de projetos em determinado espaccedilo total cada caso eacute particular e
apresenta determinada abrangecircncia a considerar os sistemas ecoloacutegicos naturais e antroacutepicos
Em cada eacutepoca ou processo histoacuterico o espaccedilo total de uma regiatildeo apresenta uma
acumulaccedilatildeo de implantaccedilotildees e infra-estruturas Entretanto segundo ABrsquoSAacuteBER (1994)
para trabalhos de previsatildeo de impactos futuros seraacute sempre na circunstacircncia do presente
que as combinaccedilotildees de fatos e atividades produzidas pelo homem pela sociedade e pela
economia teratildeo maior interesse
A aacuterea do entorno de qualquer projeto atraveacutes de suas vias populaccedilatildeo qualidade do
ar qualidade das aacuteguas qualidade dos solos e demais condicionantes consistem os
principais elementos para a prevenccedilatildeo de impactos A prevenccedilatildeo passa a ser um ato de
tomada de precauccedilotildees para assegurar harmonia e compatibilizar funccedilotildees no interior do
espaccedilo total no futuro limitando as expectativas dos especuladores e gananciosos do
sistema capitalista
19 O termo paisagem eacute usado aqui como o suporte geoecoloacutegico e bioecoloacutegico modificado por uma infinidade variaacutevel de obras e figuras humanas (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
83
A tarefa de perceber os impactos em processo constitui o ponto de partida para a
previsatildeo dos possiacuteveis impactos acarretados por objetos de diferentes tipos tais como
novas induacutestrias hidreleacutetricas novas estradas e rodovias sistema viaacuterio mais denso
ferrovias e projetos intra-urbanos e interurbanos
Enfim detectar mudanccedilas na organizaccedilatildeo do espaccedilo visto em sua totalidade ajuda a compreender situaccedilotildees anaacutelogas ou prever mecanismos similares que podem ocorrer em outras aacutereas de um paiacutes ou territoacuterio Outrora o grande atributo cultural do homem residia em sua capacidade de reconstituir a trajetoacuteria da espeacutecie e reconstruir a histoacuteria das sociedades humanas Ao fim do segundo milecircnio identifica-se um atributo novo qual seja o de prever o impacto das accedilotildees dos homens e da economia sobre o futuro em diferentes dimensotildees e profundidades de tempo (ABrsquoSAgraveBER 199435)
Segundo ABrsquoSAgraveBER (1994) todo espaccedilo geograacutefico20 eacute resultado de uma
acumulaccedilatildeo mais curta ou mais longa de processos histoacutericos cumulativos decorrentes do
desempenho de diversos atores sociais Quando considerado na totalidade o espaccedilo
geograacutefico apresenta um caraacuteter de acumulaccedilatildeo de processos culturais acima de tudo
construtivos ora muito agressivos ora apenas interferentes ora dotados de uma espeacutecie de
auto-organizaccedilatildeo que envolve diferentes niacuteveis de acomodaccedilatildeo Envolve trecircs dimensotildees
baacutesicas uma piracircmide social projetada sobre o espaccedilo total uma acumulaccedilatildeo de infra-
estruturas e um sistema de relaccedilotildees humanas vinculadas ao regime social e poliacutetico vigente
Os paiacuteses em desenvolvimento das regiotildees tropicais estatildeo sujeitos agraves grandes
desigualdades provenientes desse processo em virtude dos territoacuterios de dimensotildees
continentais e de regiotildees geoeconocircmicas de roteiro histoacuterico diferenciado Qualquer engano
de avaliaccedilatildeo ou previsatildeo dos impactos pode ocasionar danos irreparaacuteveis para o futuro da
regiatildeo da sociedade e do paiacutes
Para fim de avaliaccedilatildeo de impactos de projetos desenvolvimentistas nesses paiacuteses
ABrsquoSAgraveBER (1994) afirma a necessidade de ampliar as consideraccedilotildees sobre a estrutura a
composiccedilatildeo soacutecio-econocircmica e a funcionalidade da sociedade nos diferentes tipos de
espaccedilo geograacutefico Aleacutem disso destaca como meacutetodo de anaacutelise complementar os estudos
realizados por Bernard Kaiser da Universidade de Toulouse (1966) sobre a tipologia dos
espaccedilos em tais paiacuteses Kaiser identificou por vaacuterios criteacuterios a existecircncia de regiotildees em
20 Entende-se por espaccedilos geograacuteficos de um paiacutes de dimensotildees continentais aquelas ceacutelulas espaciais dinacircmicas nas quais agrave organizaccedilatildeo herdada da natureza se sobrepocircs ou instalou uma certa organizaccedilatildeo imposta pelos homens (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
84
vias de desenvolvimento regiotildees em processo ativo de planificaccedilatildeo regional regiotildees de
especulaccedilatildeo agriacutecola bacias urbanas e por fim regiotildees auto-organizadas ou de
organizaccedilatildeo complexa O Brasil consistia um paiacutes em que se podia encontrar toda essa
tipologia de espaccedilos geograacuteficos e sociais diferenciados
A classificaccedilatildeo de Kaiser para efeito de previsatildeo de impactos apresenta-se dividida
da seguinte maneira 1) espaccedilos naturais predominantemente florestados 2) espaccedilos de
especulaccedilatildeo agraacuteria em aacutereas de razoaacutevel desenvolvimento econocircmico e social em grande
contraste com a devastaccedilatildeo das coberturas vegetais primaacuterias 3) espaccedilos sob
planejamento ativo no Nordeste do Brasil e na Amazocircnia com subsiacutedios atomizados por
intermeacutedio da Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e da
Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia (SUDAM) 4) espaccedilos dotados de
bacias urbanas agigantadas pelo desdobramento histoacuterico de redes urbanas sob comando
econocircmico e poliacutetico de grandes metroacutepoles 5) regiotildees auto-organizadoras que em face de
uma evoluccedilatildeo histoacuterica e econocircmica oportuna de aproveitamento de recursos naturais foi
possiacutevel adotar atributos e infra-estruturas modernizantes 6) espaccedilos de sutura e
pioneirismo tardio 7) espaccedilos de organizaccedilatildeo incompleta perturbados pelo ritmo e
irregularidades do clima semi-aacuterido quente 8) espaccedilos costeiros de especulaccedilatildeo para lazer
turismo de temporada e segunda residecircncia
As regiotildees costeiras e de especulaccedilatildeo para lazer e turismo uacuteltima classificaccedilatildeo
tipoloacutegica definida por Kaiser para efeito de avaliaccedilatildeo de impactos nos paiacuteses em
desenvolvimento consistem o objeto do presente trabalho Ao longo da ampla faixa litoracircnea
atlacircntica do paiacutes desenvolveu-se um tipo de espaccedilo superpartilhado e superdesejado para
atividades muacuteltiplas de lazer
Balneaacuterios de diversos padrotildees de organizaccedilatildeo e em diferentes estaacutegios de implantaccedilatildeo ocorrem lado a lado com loteamentos especulativos situados mais proacuteximos ou mais distantes da faixa das praias Cidades turiacutesticas e balneaacuterias com excesso de casas e apartamentos enquanto se vende a imagem de uma natureza deslumbrante mas que na verdade estaacute totalmente comprometida pelos proacuteprios planos de loteamento e urbanizaccedilatildeo glebas agrave espera de valorizaccedilatildeo condomiacutenios fechados que privatizam praias ilegalmente e espaccedilos de antigas colocircnias de pesca sendo invadidos ponto a ponto por residecircncias de lazer projetos de loteamento ou edificaccedilotildees agrave espera do aval dos oacutergatildeos de meio ambiente satildeo alguns dos processos selvagens de expansatildeo de uma fronteira caoacutetica de lazer na costa de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Santa Catarina Espiacuterito Santo e Rio Grande do Sul (ABrsquoSAgraveBER 199444)
Todo o espaccedilo costeiro brasileiro acabou comprometido pelos negoacutecios imobiliaacuterios e
pela seduccedilatildeo dirigida para pressionar populaccedilotildees tradicionais natildeo capacitadas a entender o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
85
significado do dinheiro na esfera do capitalismo anocircmalo A faixa litoracircnea caracterizou a
imagem de um sistema desigual de trocas onde aacutereas de grande valor satildeo compradas por
pouco e vendedores ingecircnuos acabam-se tornando os futuros favelados das grandes
cidades vizinhas O conflito entre os diversos interesses em jogo nesses casos acaba por
agravar ainda mais a situaccedilatildeo Em nenhum outro espaccedilo fiacutesico e ecoloacutegico do paiacutes eacute mais
necessaacuterio utilizar as teacutecnicas e meacutetodos de previsatildeo de impactos do que nas regiotildees
costeiras onde se alternam setores turiacutesticos grandes aglomeraccedilotildees urbanas postos e
distritos industriais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
86
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
31 GLOBALIZACcedilAtildeO E A NOVA FUNCcedilAtildeO DAS CIDADES
Com a Revoluccedilatildeo Industrial as cidades reafirmam seu papel como centro de
moradias serviccedilos e cultura e aos poucos vecircm se adaptando agraves mudanccedilas que incidem no
mundo com a globalizaccedilatildeo O conjunto de acontecimentos processos e agentes externos
de uma cidade terminam sempre por penetrar e influenciar o sistema urbano
independentemente se tais efeitos satildeo desejaacuteveis ou natildeo O advento da globalizaccedilatildeo
aumentou a velocidade com que se sucedem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas alteraccedilotildees econocircmicas e socioculturais dificultam a previsatildeo de suas
implicaccedilotildees nas cidades
Consequumlentemente tambeacutem no planejamento urbano torna-se difiacutecil conciliar essas
transformaccedilotildees com o processo construtivo de uma cidade Por este motivo eacute preciso
identificar essas mudanccedilas em curso e avaliar a importacircncia dos impactos destas no
desenvolvimento urbano GUumlELL (1997) afirma que dentre as mudanccedilas ocasionadas pela
globalizaccedilatildeo as principais dizem respeito a aspectos geopoliacuteticos econocircmicos sociais e
tecnoloacutegicos Tais mudanccedilas interferem natildeo somente as grandes cidades mas tambeacutem as
pequenas e meacutedias cidades
No campo geopoliacutetico a situaccedilatildeo atual se caracteriza por uma convivecircncia
contraditoacuteria entre as forccedilas da globalizaccedilatildeo e as da fragmentaccedilatildeo por uma necessidade de
as naccedilotildees preservarem sua diversidade e soberania frente agraves pressotildees globalizadoras
exercidas pelos agentes econocircmicos
A nova ordem econocircmica por sua vez eacute determinada pela globalizaccedilatildeo dos
mercados pelo impulso de intercacircmbios comerciais e aumento da competitividade
empresarial que pedem novas referecircncias para o funcionamento das bases econocircmicas
das cidades Atualmente torna-se necessaacuteria a melhoria do niacutevel de competitividade das
empresas locais o aumento das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas a penetraccedilatildeo nos mercados
exteriores e a capacitaccedilatildeo de matildeo-de-obra
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
87
Por outro lado a nova ordem econocircmica acarreta modificaccedilotildees nas estruturas
sociais jaacute que impotildee aos governos locais desenvolver uma poliacutetica de prevenccedilatildeo e
antecipaccedilatildeo dos problemas sociais intervindo em aacutereas que tradicionalmente seriam
reservadas aos governos estaduais e regionais A globalizaccedilatildeo da economia e introduccedilatildeo de
novas tecnologias nos processos de produccedilatildeo sem a aplicaccedilatildeo de mecanismos corretores
tendem a aumentar as desigualdades sociais a pobreza o desemprego e a inseguranccedila social
O novo contexto tecnoloacutegico caracterizado por aceleradas mudanccedilas requer que as
pessoas sejam capazes de assumir e adaptar-se a esses avanccedilos As empresas e a proacutepria
sociedade necessitam desmontar paradigmas e desenvolver novos modelos que permitam
recuperar a convivecircncia social Segundo BORJA e CASTELLS (2000) a revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica organizada em torno da tecnologia da informaccedilatildeo encontra-se no centro de
todas essas transformaccedilotildees O processo de globalizaccedilatildeo da economia e a comunicaccedilatildeo
modificaram nossas formas de produzir consumir informar e pensar a partir da nova infra-
estrutura tecnoloacutegica
El planeta es asimeacutetricamente interdependiente y esa interdependencia se articula cotidianamente em tiempo real a traveacutes de las nuevas tecnologiacuteas de informacioacuten y comunicacioacuten en un fenoacutemeno histoacutericamente nuevo que abre de hecho una nueva era de la historia de la humanidad la era de la informaciograven21 (BORJA e CASTELLS 200021)
A capacidade de acumulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo capitalista passou a organizar a
economia mundial segundo a interaccedilatildeo e relacionamento entre os espaccedilos urbanos locais
regionais e mundiais De acordo com LOPES (1998) as mudanccedilas decorrentes da
globalizaccedilatildeo expandiram esse processo e criaram uma nova realidade econocircmica social e
poliacutetica onde as cidades ganharam novas funccedilotildees em uma sociedade integrada em rede
Essa rede mundial eacute constituiacuteda a partir de centros especiacuteficos de controle da economia
mundial designados ldquocidades globaisrdquo22 que tendem a incorporar outros centros financeiros
regionais e secundaacuterios na medida em que a escala do controle se expande
As novas funccedilotildees criadas para as cidades originaram o espaccedilo das cidades
mundiais que se caracteriza pelo ambiente competitivo entre as cidades Dentro deste
21 O planeta eacute assimetricamente interdependente e essa interdependecircncia se articula cotidianamente em tempo real atraveacutes das novas tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em um fenocircmeno historicamente novo que abre de fato uma nova era da histoacuteria da humanidade a era da informaccedilatildeo 22 Expressatildeo cunhada por Saskia Sassen em 1991 para designar os pontos nodais dos fluxos financeiros a partir dos quais se obteacutem um controle global dos mercados financeiros secundaacuterios dado que o investimento estrangeiro ocorre cada vez mais segundo o mercado de accedilotildees e de tiacutetulos (COMPANS 2001106)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
88
contexto as cidades estabelecem entre si relaccedilotildees hieraacuterquicas de poder determinadas
pela competiccedilatildeo dos espaccedilos As cidades buscam a ampliaccedilatildeo de seu espaccedilo de comando
e controle a partir de especializaccedilotildees que lhes decircem uma vantagem competitiva para atingir
uma abrangecircncia de accedilatildeo mundial cujo sucesso definiraacute sua posiccedilatildeo hieraacuterquica
Em contrapartida agraves novas funccedilotildees de articulaccedilatildeo e controle as cidades passam a influir nas opccedilotildees estrateacutegicas das empresas a partir de posicionamentos urbanos fiscais econocircmicos e sociais As accedilotildees estrateacutegicas no acircmbito das cidades satildeo definidas dentro da loacutegica do mercado em sobreposiccedilatildeo agrave loacutegica do cidadatildeo que sempre comandou a evoluccedilatildeo urbana A caracteriacutestica principal desse processo eacute a primazia do global sobre o local na busca de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas (LOPES 199838)
As novas funccedilotildees da cidade mundial geram problemas ineacuteditos a serem enfrentados
ao mesmo tempo em que abrem novos horizontes de desenvolvimento econocircmico e social
Tais problemas constituem expansotildees das funccedilotildees normais da cidade geradas pela
globalizaccedilatildeo de espaccedilo local a centro articulador de economias regionais nacionais e
internacionais A inserccedilatildeo da cidade no conjunto de economias interdependentes define a
especializaccedilatildeo de suas novas funccedilotildees e as transformaccedilotildees a elas inerentes
Veremos a seguir como as novas funccedilotildees atribuiacutedas agraves cidades influenciam no
processo de planejamento urbano gerando a reproduccedilatildeo de cidades-modelo cujo principal
objetivo eacute tornarem-se atraentes para o capital e obter sua posiccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
32 ESTRATEacuteGIAS DAS CIDADES PARA AS NOVAS FUNCcedilOtildeES URBANAS
O planejamento urbano direcionado pelo Estado e executado no Brasil nas primeiras
deacutecadas do seacuteculo XX fundamentava-se no controle racional e centralizado das poliacuteticas
puacuteblicas urbanas Na deacutecada de 1970 o planejamento urbano passou por uma seacuterie de
questionamentos acerca do encaminhamento das accedilotildees realizadas no espaccedilo A urbanizaccedilatildeo
acelerada originou a necessidade de maior mobilizaccedilatildeo de recursos por parte dos governos
locais que atendessem agraves demandas da populaccedilatildeo por serviccedilos puacuteblicos O niacutevel de
atendimento a essas demandas segundo LOPES (1998) eacute definido pela competitividade da
cidade na produccedilatildeo de bens e serviccedilos jaacute que a capacidade de cobranccedila de impostos estaacute
diretamente vinculada ao ritmo de acumulaccedilatildeo de riqueza Torna-se necessaacuterio ampliar a
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
89
capacidade de acumulaccedilatildeo de riquezas a niacuteveis compatiacuteveis com o crescimento dos tributos
locais que satildeo necessaacuterios para o atendimento dessas demandas
Essa questatildeo originou um novo modelo de planejamento fundamentado na ideacuteia de
cidade como maacutequina de produzir riquezas onde o termo dominante eacute a gestatildeo
empresarial O conceito de fundamentalismo de mercado vem sendo utilizado pelo
neoliberalismo para referir-se a uma ideologia com pretensotildees universais e inquestionaacuteveis
que defendem o domiacutenio absoluto da economia e do mercado sobre as esferas poliacuteticas
sociais e culturais do mundo globalizado
A concepccedilatildeo de cidade como categoria funcional nos moldes da produccedilatildeo industrial
acabou entatildeo substituiacuteda pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Aleacutem da competiccedilatildeo pela
produccedilatildeo e consumo declara-se uma disputa entre as cidades para tornarem-se espaccedilos
atraentes para o capital Na anaacutelise de ARANTES (2000) tal pensamento se manifesta na
convergecircncia entre governantes burocratas e urbanistas de que cada oportunidade de
renovaccedilatildeo urbana possa ser uma possibilidade de elevar vantagens comparativas das
cidades no mundo global Para tanto torna-se indispensaacutevel a elaboraccedilatildeo de um Plano
Estrateacutegico capaz de gerar respostas competitivas aos desafios da globalizaccedilatildeo
ARANTES (2000) afirma que as cidades modernas sempre estiveram associadas agrave
divisatildeo social do trabalho e acumulaccedilatildeo capitalista sendo a configuraccedilatildeo espacial urbana
reflexo dessa relaccedilatildeo com a reproduccedilatildeo do capital Os efeitos da globalizaccedilatildeo sobre as
poliacuteticas de ocupaccedilatildeo do territoacuterio urbano constituem dado essencial nos caacutelculos sobre
como tornar uma cidade competitiva
Nesta nova fase do capitalismo as cidades passam a ser geridas e consumidas
como mercadoria O lugar representa um valor-de-uso para seus habitantes e valor de troca
para os interessados em extrair dele um benefiacutecio econocircmico qualquer sobretudo na forma
de uma renda exclusiva A cidade passa a ser vista como empreendimento e as poliacuteticas
urbanas satildeo entatildeo conformadas com o propoacutesito de expandir a economia local e aumentar
riquezas Assim como a orientaccedilatildeo e o controle da expansatildeo urbana foram substituiacutedos pelo
impulso de crescimento um novo tipo de profissional emergiu da metamorfose do
funcionaacuterio puacuteblico local o planejador-empreendedor
ARANTES (2000) ressalta ainda que alguns elementos tomam forccedila para dar sentido
agrave ldquofoacutermulardquo de sobrevivecircncia das cidades no mundo da competitividade extrema O padratildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
90
que vem proliferando consiste em processos de ldquogentrificaccedilatildeordquo 23 a conhecida ldquorevitalizaccedilatildeo
urbanardquo em zonas degradadas possiacutevel graccedilas agrave uniatildeo entre o setor puacuteblico e a iniciativa
privada e encarregada de promover os investimentos privados com fundos puacuteblicos
Caracteriza-se por projetos dirigidos a gerar a promoccedilatildeo do ldquoespetaacuteculordquo e da cultura ndash
como negoacutecio e mercadoria ndash e que transformam a cidade existente tornando-a mais atrativa
para novos moradores em substituiccedilatildeo aos antigos habitantes e mais interessante para o
capital internacional
o seu cenaacuterio de origem vem a ser o do movimento de volta agrave cidade no mais das vezes dando origem aos conhecidos processos de gentrification (ou ldquorevitalizaccedilatildeo urbanardquo conforme preferem falar seus promotores) em grande parte desencadeados pelo reencontro glamouroso entre Cultura (urbana ou natildeo) e Capital (ARANTES 200015)
O presente modelo de planejamento estaacute embasado no chamado ldquoculturalismo de
mercadordquo de forma que a cultura passa a constituir a acircncora identitaacuteria da nova urbaniacutestica
tornando-se negoacutecio e imagem em uma nova fonte de acumulaccedilatildeo de poder e dinheiro
LOPES (1998) confirma que na competitividade entre cidades constitui importante aspecto a
infra-estrutura fiacutesica e social associada a uma identidade cultural marcante e que torne as
cidades atraentes como local de vida O espaccedilo local eacute definido pela estruturaccedilatildeo social e
cultural que caracteriza e diferencia uma cidade da outra
ARANTES (2000) conclui que todo incremento de crescimento local mantidas as
correlaccedilotildees sociais vigentes implica em uma transferecircncia de riquezas e chances de vida
do puacuteblico em geral para grupos rentistas e seus associados As cidades na busca pela
atratividade cercam-se de aparatos culturais de alto padratildeo mas somente aqueles que
possuem condiccedilotildees poderatildeo usufruiacute-los O capital cultural incorporado nas cidades forja o
seu futuro reduzindo o futuro das aacutereas menos favorecidas
Na opiniatildeo de VAINER (2000) atualmente a questatildeo urbana tem como ponto central
a problemaacutetica da competitividade urbana Para o autor no discurso do planejamento
estrateacutegico urbano a cidade em seu conjunto e de maneira direta aparece assimilada agrave
empresa entre os elementos que presidem o empresariamento da gestatildeo urbana a
produtividade a competitividade e a subordinaccedilatildeo dos fins agrave loacutegica do mercado
23 O processo de ldquogentrificaccedilacircordquo significa praacuteticas de reapropriaccedilatildeo de espaccedilos pelo mercado atraveacutes de operaccedilotildees urbanas que lhes conferem novo valor econocircmico e simboacutelico geralmente orientando-os para o consumo de camadas meacutedias Apresentados como espaccedilos ldquorevitalizadosrdquo para fins
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
91
Competir pelo investimento de capital tecnologia e competecircncia gerencial Competir na atraccedilatildeo de novas induacutestrias e negoacutecios Ser competitivas no preccedilo e na qualidade dos serviccedilos Competir na atraccedilatildeo de forccedila de trabalho adequadamente qualificada (World Economic Development Congress amp The World Bank 1998 apud VAINER 200077)
Agir empresarialmente na cidade significa tomar decisotildees a partir das informaccedilotildees e
expectativas geradas pelo mercado Constitui a condiccedilatildeo de transposiccedilatildeo do planejamento
estrateacutegico da corporaccedilatildeo privada para o territoacuterio puacuteblico urbano Este projeto de cidade
implica direta e imediata apropriaccedilatildeo da mesma por interesses empresariais globalizados e
depende do banimento da poliacutetica da dissimulaccedilatildeo do ldquoconflitordquo e da reduccedilatildeo das condiccedilotildees
de exerciacutecio da cidadania
VAINER (2000) ainda afirma que a instauraccedilatildeo da cidade como empresa constitui a
negaccedilatildeo da cidade enquanto espaccedilo poliacutetico porque a tendecircncia liberal eacute a de contrariar o
sentido da democracia sempre que os interesses do mercado entram em conflito com os
interesses democraacuteticos Para entatildeo construir poliacutetica e intelectualmente as condiccedilotildees de
legitimaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo do poder puacuteblico agraves exigecircncias do capital internacional e local
torna-se necessaacuterio gerar um ldquopatriotismo de cidaderdquo e um consenso entre os habitantes
por meio de um sentimento de identidade adquirido atraveacutes da promessa de geraccedilatildeo de
empregos
a estrateacutegia conduz agrave destruiccedilatildeo da cidade como espaccedilo de poliacutetica como lugar de construccedilatildeo da cidadania A reivindicaccedilatildeo de poder para as comunidades e coletividades locais conquistada em uma luta travada em nome do auto-governo se consuma como abdicaccedilatildeo em favor de chefes carismaacuteticos que encarnam o projeto empresarial (VAINER 200098)
O novo conceito de planejamento impotildee a presenccedila de novos atores basicamente
do setor privado A parceria puacuteblico-privado assegura que interesses do mercado estaratildeo
presentes representados no processo de planejamento urbano pela participaccedilatildeo direta dos
empresaacuterios nos processos de decisatildeo referentes ao planejamento e agrave execuccedilatildeo das
poliacuteticas urbanas Tais parcerias permitem ao setor privado a satisfaccedilatildeo de seus interesses
junto ao poder puacuteblico Vaacuterias satildeo as formas e os mecanismos de transferecircncia dos recursos
puacuteblicos (financeiros fundiaacuterios e poliacuteticos) para os grupos privados a participaccedilatildeo privada
em agecircncias puacuteblicas e o surgimento da associaccedilatildeo empresarial com o aporte de capitais por
parte do poder puacuteblico para financiar empreendimentos de grupos empresariais privados
mercadoloacutegicos neles a populaccedilatildeo original vivencia a ldquorevitalizaccedilatildeordquo como mecanismo gerador de expulsatildeo e segregaccedilatildeo social (SAacuteNCHEZ 2001163)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
92
Para LOPES (1998) a parceria entre os governos locais e a iniciativa privada nasce
como nova necessidade As cidades que permitem oferecer maior competitividade em
termos globais agraves empresas privadas satildeo as mais procuradas para a instalaccedilatildeo dessas
empresas o que conduz a um processo de centralizaccedilatildeo das atividades econocircmicas
Cidades com fortes posiccedilotildees de mercado tecircm condiccedilotildees de atrair investimentos essenciais
ao processo de acumulaccedilatildeo A mobilidade do capital passa a exigir dos governos locais
constante apoio e suporte aos atores econocircmicos privados o que conduz a limitaccedilotildees na
administraccedilatildeo do espaccedilo urbano sob sua jurisdiccedilatildeo
A parceria puacuteblico-privado desenvolveu-se em um paracircmetro baacutesico de competitividade em funccedilatildeo da necessidade de atraccedilatildeo de agentes econocircmicos por parte das cidades A gestatildeo puacuteblica eacute cada vez mais condicionada pela loacutegica do mercado sendo uma funccedilatildeo essencial a sua capacidade de otimizaccedilatildeo da produtividade dos agentes econocircmicos localizados ou que venham a se localizar no espaccedilo da sua jurisdiccedilatildeo (LOPES 199856)
Aleacutem da parceria puacuteblico-privado o marketing urbano ou city marketing constitui
outro paracircmetro de competitividade que passa a ser determinante no processo de
planejamento e gestatildeo das cidades Trata-se de uma tentativa de construccedilatildeo de uma
imagem positiva da cidade objetivando atrair investimentos e visitantes Pode-se dizer que o
problema que existe por traacutes do marketing urbano eacute o mesmo que se encontra em qualquer
propaganda enganosa em que as qualidades do produto a ser comercializado satildeo
exageradas e possiacuteveis defeitos satildeo escondidos
Para MARICATO (2000) a dissimulaccedilatildeo da cidade em publicidade e propaganda
constitui uma representaccedilatildeo a construccedilatildeo da ficccedilatildeo Para atrair investimentos determina-se
a necessidade de criar produtos urbanos que podem ser por exemplo uma oferta cultural
ou uma imagem de cidade segura ou atrativa A venda da cidade deve estar baseada na
venda dos seus atributos especiacuteficos que constituem insumos valorizados pelo capital
transnacional O governo local deve entatildeo promover a cidade para o exterior atraveacutes de
uma imagem forte e positiva apoiada numa oferta de infra-estruturas e serviccedilos A cidade eacute
apresentada com uma imagem de cidade justa e democraacutetica acompanhada da imagem de
uma cidade segura Mas a oferta de uma cidade segura natildeo quer dizer necessariamente
seguranccedila para os que nela habitam significa a criaccedilatildeo de seguranccedila e aacutereas de isolamento
para os visitantes
A pesquisadora SAacuteNCHEZ (2003) concorda que o city-marketing contribui para a
produccedilatildeo de imagens e discursos referentes agrave cidade Dessa maneira satildeo aprovadas as
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
93
estrateacutegias de intervenccedilatildeo urbana que objetivam a construccedilatildeo do mercado e do espaccedilo
mundiais impondo e justificando o novo discurso sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo
Essa estrateacutegia global encontra uma nova dinacircmica para a reproduccedilatildeo do capitalismo A construccedilatildeo da cidade-mercadoria que sob a eacutegide do poder poliacutetico do Estado perfila-se por meio dos processos de renovaccedilatildeo urbana (como exigecircncia da economia competitiva) e por meio da construccedilatildeo de imagem para inseri-la no mercado Como mercadoria especial envolve estrateacutegias especiais satildeo produzidas representaccedilotildees que obedecem a uma determinada visatildeo de mundo satildeo construiacutedas imagens-siacutentese sobre a cidade e satildeo criados discursos referentes agrave cidade encontrando na miacutedia e nas poliacuteticas de city-marketing importantes instrumentos de difusatildeo e afirmaccedilatildeo (SAacuteNCHEZ 2003148)
Como forma de apoio ao seu discurso os governos utilizam-se de investimentos em
imagens simboacutelicas do marketing urbano internacional que guardam relaccedilotildees de
semelhanccedilas significativas entre si Tal identificaccedilatildeo segundo SAacuteNCHEZ (2003) permite
pensar que os processos de renovaccedilatildeo urbana as pautas para a gestatildeo puacuteblica das
cidades e o campo poliacutetico-institucional para a atuaccedilatildeo dos agentes guardam tambeacutem
semelhanccedilas A autora realiza uma anaacutelise de processos de renovaccedilatildeo urbana a partir da
deacutecada de 90 nas cidades de Barcelona e Curitiba segundo as poliacuteticas puacuteblicas e
estrateacutegias de ldquovendardquo efetuadas nessas cidades O estudo seraacute visto ainda neste capiacutetulo e
leva a resultados convergentes acerca de como tais cidades vecircm sendo ldquovendidasrdquo
O novo modelo de planejamento vem sendo propagado como uacutenica alternativa para
fazer frente agraves novas condiccedilotildees impostas pela cidade capitalista e pela globalizaccedilatildeo
Analisaremos em seguida as origens do planejamento estrateacutegico atraveacutes dos estudos de
GUumlELL (1997) Veremos como ocorreu sua transiccedilatildeo para o planejamento urbano e de que
maneira tal processo foi aplicado em determinadas cidades como variaccedilotildees em torno do
mesmo modelo
33 O MODELO ESTRATEacuteGICO DE PLANEJAMENTO DAS CIDADES
O conceito de planejamento estrateacutegico foi extraiacutedo da praacutetica militar e passou a ser
utilizado como instrumento empresarial a partir da segunda metade do seacuteculo XX para
posteriormente ser aplicado tambeacutem nos processos de gestatildeo e planejamento urbanos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
94
De acordo com GUumlELL (1997) no que concerne ao campo militar o termo
ldquoestrateacutegiardquo pode definir-se como a arte de conduzir um exeacutercito ateacute a presenccedila do inimigo e
dirigir as operaccedilotildees para atingir o objetivo desejado Sua aplicaccedilatildeo remonta agraves guerras das
origens da histoacuteria (haacute mais de 2300 anos) e tanto a estrateacutegia militar antiga quanto a
estrateacutegia militar moderna e contemporacircnea apresentam um aspecto em comum invariaacutevel
atraveacutes do tempo e da histoacuteria desenvolvem-se por contraposiccedilatildeo de interesses por
antagonismo entre Estados
A estrateacutegia pode entatildeo ser definida a partir de um sentido elementar e universal
como uma astuacutecia para superar os obstaacuteculos postos pela vontade do oponente Onde
existir antagonismo haveraacute estrateacutegia como meacutetodo que permite hierarquizar e classificar
accedilotildees para escolher com rapidez os procedimentos eficazes voltados a reduzir ou eliminar
as contraposiccedilotildees ou antagonismos
A aplicaccedilatildeo dos princiacutepios da estrateacutegia militar na gestatildeo empresarial deu-se
efetivamente no periacuteodo poacutes-guerra momento em que as empresas tinham por objetivo
transpor seus competidores e dominar o mercado Segundo GUumlELL (1997) nas empresas
americanas Dupont de Nemours e General Motors foram incorporadas as primeiras
estrateacutegias (fixaccedilatildeo de objetivos) e taacuteticas (meios para alcanccedilaacute-los) aos planos das
empresas
GUumlELL (1997) define a estrateacutegia empresarial como um modo sistemaacutetico de
gerenciar mudanccedilas na empresa com o propoacutesito de competir em vantagem no mercado
adaptar-se ao entorno definir os produtos e maximizar os benefiacutecios Trata-se de um
processo reflexivo e criativo de elaboraccedilatildeo de uma seacuterie de estrateacutegias que buscam o
crescimento rentabilidade e eficiecircncia da empresa levando-se em consideraccedilatildeo os
aspectos fortes e fracos presentes em consideraccedilatildeo agraves ameaccedilas e oportunidades futuras
O processo metodoloacutegico do planejamento estrateacutegico empresarial compreende o
conjunto de etapas dispostas abaixo O planejamento caracteriza-se mais como um
processo circular onde tais etapas podem ocorrer simultacircnea e muitas vezes do que
necessariamente como um processo sequumlencial loacutegico como mostra a Figura 6
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
95
Anaacutelise externa
Anaacutelise do cliente
Anaacutelise competitiva
Anaacutelise do setor
Anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna
Anaacutelise de rendimento
Revisatildeo da estrateacutegia
Anaacutelise daorganizaccedilatildeo
Anaacutelise de custos
Anaacutelise de portfoacutelio
Anaacutelise de recursoshumanos
Identificaccedilatildeo e seleccedilatildeo da estrateacutegia
Especificaccedilatildeoda missatildeo
Identificaccedilatildeoda
estrateacutegiaalternativa
Seleccedilatildeoentre
alternativasestrateacutegicas
Implantaccedilatildeo
Revisatildeo estrateacutegica
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial Fonte Aaker apud Guumlell 199726
Anaacutelise externa implica no exame dos elementos exteriores relevantes para a
empresa com identificaccedilatildeo dos riscos e oportunidades presentes e futuras Esta
etapa se divide em quatro partes anaacutelise do cliente anaacutelise competitiva anaacutelise
do setor e anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna proporciona compreensatildeo detalhada dos aspectos da empresa de
potencial estrateacutegico com identificaccedilatildeo dos pontos fortes e fracos problemas e
restriccedilotildees Esta etapa compreende fundamentalmente a anaacutelise dos
rendimentos da estrateacutegia existente da organizaccedilatildeo interna dos custos portfolio
de produtos recursos e limitaccedilotildees financeiras
Especificaccedilatildeo da missatildeo a partir das anaacutelises anteriores eacute possiacutevel identificar os
objetivos e metas que se quer para o negoacutecio levando-se em consideraccedilatildeo
diferenciais alternativos relacionados agraves aacutereas de negoacutecios da empresa que a
diferencie dos demais competidores
Identificaccedilatildeo de estrateacutegia alternativa deduccedilatildeo de diversas alternativas estrateacutegicas
que facilitem a obtenccedilatildeo de vantagem competitiva da empresa baseada em geral
em torno de trecircs elementos diferenciaccedilatildeo baixo custo e concentraccedilatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
96
Seleccedilatildeo entre alternativas estrateacutegicas entre os criteacuterios de seleccedilatildeo cabe dar
destaque para a sensibilidade ante as oportunidades e ameaccedilas do entorno a
resposta aos objetivos da organizaccedilatildeo e a facilidade de execuccedilatildeo
Implantaccedilatildeo plano operativo que conteacutem objetivos especiacuteficos em curto prazo
necessidade de modificaccedilotildees na estrutura organizacional da empresa que se
adapte agrave nova estrateacutegia
Revisatildeo estrateacutegica determinar quando satildeo necessaacuterias a revisatildeo e mudanccedila de
estrateacutegias
GUumlELL (1997) aponta uma seacuterie de fenocircmenos que explicam a inserccedilatildeo dos
fundamentos do planejamento estrateacutegico em acircmbito urbano
1 O dinamismo derivado das mudanccedilas econocircmicas e poliacuteticas e as inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas acompanhadas das modificaccedilotildees socioculturais vecircm exigindo do
planejamento urbano novas soluccedilotildees
2 Os gestores puacuteblicos satildeo obrigados a se inclinar perante as exigecircncias de
competitividade dos diversos agentes sociais e econocircmicos que constituem os atores da cidade
3 A abertura dos mercados e a integraccedilatildeo das naccedilotildees em niacutevel global tecircm
incentivado a competitividade entre cidades que exige do planejamento capacidade de
antecipaccedilatildeo e atuaccedilatildeo ofensiva
4 Por uacuteltimo a complexidade e a inter-relaccedilatildeo dos problemas das cidades
demandam o enfoque multidisciplinar e intersetorial para superar as limitaccedilotildees dos
tradicionais planos setoriais
O ritmo com que se sucedem as mudanccedilas decorrentes do processo de globalizaccedilatildeo
acarreta dificuldades e questotildees relevantes ao planejamento e agrave gestatildeo urbana GUumlELL
(1997) acredita que apesar dos equiacutevocos conceituais cometidos nos primeiros planos
estrateacutegicos realizados nas deacutecadas de 1980 e 1990 os seus benefiacutecios ultrapassam as
desvantagens e podem ser de grande utilidade se convenientemente utilizados Ele
defende de que para evitar a vulgarizaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico eacute necessaacuterio inseri-
lo nos processos tradicionais de planejamento fiacutesico econocircmico e social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
97
Teacuterminos como orientacioacuten hacia la demanda atractivo de la oferta
urbana posicionamiento competitivo y acciones de maacuterketing que hasta hace poco quedaban restringidos al aacutembito empresarial hoy son moneda comuacuten em las administraciones locales y regionales Este naciente intereacutes em el sector puacuteblico por los conceptos de estrategia empresarial viene motivado no tanto por la corriente neoliberal em boga como por la magnitud y celeridad de los cambios socioeconoacutemicos que estan afectando de forma significativa a nuestras ciudades Esta situacioacuten haacute conducido a la exploracioacuten de nuevos enfoques em materia de planificacioacuten urbana que respondan a las exigencias emergentes entre los cuales destaca la planificacioacuten estrateacutegica por su novedad y su amplia difusioacuten24 (GUumlELL 199717)
O autor afirma que o dinamismo do entorno tem produzido uma seacuterie de
modificaccedilotildees relevantes nos instrumentos tradicionais de planejamento urbano que
capacite a atividade de planejamento a dar uma resposta aacutegil e adequada agrave nova realidade
Tais modificaccedilotildees abrangem a atividade de planejamento e gestatildeo urbana e satildeo
sintetizadas a partir dos seguintes pontos (GUumlELL 199751)
Descentralizaccedilatildeo das competecircncias urbaniacutesticas atraveacutes da transferecircncia das
competecircncias urbaniacutesticas dos governos centrais aos perifeacutericos de forma a
reforccedilar os governos regionais Esta situaccedilatildeo favorece a adaptaccedilatildeo da legislaccedilatildeo
urbaniacutestica agraves peculiaridades de cada regiatildeo debilitando o planejamento
centralizado
Participaccedilatildeo dos agentes de desenvolvimento econocircmico nas decisotildees
urbaniacutesticas atraveacutes dos agentes econocircmicos puacuteblicos e privados que atuam de
forma direta por meio das suas atividades produtivas ou indireta por meio do
desenvolvimento de infra-estruturas
Crescente participaccedilatildeo dos movimentos sociais no urbanismo atraveacutes da
intervenccedilatildeo da sociedade civil no processo de desenvolvimento urbano Os
movimentos sociais canalizam as preocupaccedilotildees e desejos dos grupos cidadatildeos
24 Termos como orientaccedilatildeo segundo a demanda atrativo da oferta urbana posicionamento competitivo e accedilotildees de marketing que ateacute pouco tempo estiveram restritos ao espaccedilo das empresas satildeo hoje comuns nas administraccedilotildees locais e regionais Este crescente interesse do setor puacuteblico pelos conceitos de estrateacutegia empresarial vem motivado natildeo somente pela corrente neoliberal em voga mas tambeacutem pela magnitude e velocidade das mudanccedilas soacutecio-econocircmicas que estatildeo afetando de maneira significativa as nossas cidades Esta situaccedilatildeo tem conduzido agrave exploraccedilatildeo de novos enfoques no que se refere ao planejamento urbano que respondam agraves exigecircncias emergentes dentre os quais destaca-se o planejamento estrateacutegico por sua novidade e ampla difusatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
98
Aumento da rivalidade entre as cidades a rivalidade entre as cidades para atrair
atividades econocircmicas obriga os governos a utilizar todos os instrumentos a sua
disposiccedilatildeo incluindo os que abrangem o planejamento urbano como forma de
aumento da competitividade e atratividade
Incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na gestatildeo urbaniacutestica o aperfeiccediloamento
dos sistemas de informaccedilotildees e automatizaccedilatildeo dos procedimentos administrativos
permitem a utilizaccedilatildeo de instrumentos mais sofisticados que facilitem a tomada
de decisotildees complexas nas gestotildees urbanas
Maior exigecircncia de transparecircncia os cidadatildeos jaacute natildeo admitem mais que os
processos de planejamento e gestatildeo urbana sejam elaborados e executados
somente por um grupo de teacutecnicos e agentes econocircmicos
O conjunto de modificaccedilotildees acima citadas acarreta por sua vez a necessidade de
novo enfoque metodoloacutegico e outros instrumentos de anaacutelise Para GUumlELL (1997) eacute
necessaacuterio um projeto estrateacutegico ambicioso que cumpra com dois objetivos 1- orientar e
articular as accedilotildees setoriais empreendidas conforme um programa global 2- estimular o
conjunto da sociedade para atingir um horizonte definido
VAINER (2000) afirma que o planejamento estrateacutegico aplicado agraves cidades e
inspirado nos conceitos e teacutecnicas derivados do planejamento empresarial foi originalmente
sistematizado na Harvard Business School Segundo seus precursores deve ser adotado
pelos governos locais em razatildeo de estarem as cidades submetidas agraves mesmas condiccedilotildees e
desafios que as empresas Na praacutetica nasceu da implantaccedilatildeo do neoliberalismo nos
Estados Unidos e na Inglaterra O primeiro plano estrateacutegico foi aplicado na cidade de Satildeo
Francisco Califoacuternia nos Estados Unidos em 1982
Na anaacutelise de LOPES (1998) quanto ao modelo de Harvard o autor comprova que o
arqueacutetipo procura estabelecer a melhor forma de adaptaccedilatildeo de uma organizaccedilatildeo ao seu
meio ambiente O modelo define as forccedilas e fraquezas internas de uma organizaccedilatildeo frente
agraves ameaccedilas e oportunidades externas levando em consideraccedilatildeo o valor de sua
administraccedilatildeo e as responsabilidades sociais As estrateacutegias satildeo definidas com o objetivo de
obter vantagens em funccedilatildeo das oportunidades e minimizar as fraquezas e ameaccedilas
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
99
O planejamento estrateacutegico pode definir-se como uma forma sistemaacutetica de articular
as mudanccedilas tendo por base uma accedilatildeo integrada em longo prazo Estabelece um sistema
contiacutenuo de tomada de decisotildees que comporta um risco mas identifica o curso das accedilotildees
especiacuteficas formulando indicadores para acompanhamento dos resultados e destacando os
agentes sociais e econocircmicos locais ao longo de todo o processo
Natildeo entraremos neste trabalho na questatildeo dos meacutetodos e teacutecnicas do
planejamento estrateacutegico urbano Trataremos o tema como estrateacutegias de intervenccedilatildeo e
gestatildeo urbanas como meio para atrair investimentos eou visitantes e obter a posiccedilatildeo das
cidades em niacutevel nacional e internacional Analisaremos a seguir as estrateacutegias de
intervenccedilotildees urbanas baseadas nessas premissas e colocadas em praacutetica em trecircs cidades
Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
34 VARIACcedilOtildeES EM TORNO DE UM MESMO MODELO
341 BARCELONA E O CASO DA VILA OLIacuteMPICA
Barcelona eacute a capital da Catalunha uma regiatildeo cuja sociedade encontra-se em
constante luta de auto-afirmaccedilatildeo Segundo os estudos de SAacuteNCHEZ (2003) tal fato
contribuiu para a compreensatildeo da posiccedilatildeo poliacutetica do governo da cidade que buscou a
transformaccedilatildeo de Barcelona em ldquocidade-modelordquo dentro da Comunidade Europeacuteia
As intervenccedilotildees estrateacutegicas urbanas realizadas em Barcelona e que impulsionaram
o seu projeto de cidade tiveram iniacutecio na deacutecada de 1980 durante o governo de Pasqual
Maragall pelo Partido Socialista Maragall assumiu o poder em 1982 (apoacutes renuacutencia de
Narciacutes Serra ao cargo de alcaide) e teve seu mandato revalidado por quatro vezes
consecutivas nas eleiccedilotildees de 1983 1987 1991 e 1995 Esta sequumlecircncia poliacutetico-
administrativa foi primordial para o sucesso do seu projeto de renovaccedilatildeo urbana que atingiu
o auge com o projeto oliacutempico realizado para a futura sede das Olimpiacuteadas de 1992
No iniacutecio da deacutecada de 1980 a poliacutetica urbana adotada pelo governo municipal
comprometia-se com o ideaacuterio de equumlidade e de justiccedila social na cidade A avaliaccedilatildeo feita
por SAacuteNCHEZ (2003) mostra que nos primeiros anos do governo socialista verificou-se um
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
100
esforccedilo por parte da administraccedilatildeo puacuteblica municipal para garantir que os investimentos em
infra-estrutura fossem tambeacutem investimentos socialmente redistributivos em termos de
equalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida urbana nos espaccedilos da cidade Prevaleceram as
intervenccedilotildees em pequena escala efetivamente distribuiacutedas em todas as aacutereas perifeacutericas da
cidade Tratava-se de um ldquourbanismo defensivordquo que buscava basicamente resgatar a
normalidade administrativa e a eacutetica de gestatildeo
No final da deacutecada de 1980 iniciou-se uma etapa de aplicaccedilatildeo de intervenccedilotildees
urbanas mais ofensivas na cidade As reivindicaccedilotildees dos atores coletivos e o levantamento
das necessidades dos bairros foram reconhecidos em alguns casos sendo determinadas
definiccedilotildees projetuais e prioridades para as obras Entretanto tal situaccedilatildeo natildeo se aplicou a
toda a cidade as reivindicaccedilotildees constituiacuteram um dado a levar-se em conta no lanccedilamento
das intervenccedilotildees urbanas mas natildeo consistia elemento uacutenico para o planejamento
Em 1986 a nomeaccedilatildeo de Barcelona como sede das Olimpiacuteadas de 1992 consistiu
em decisivo fator acelerador da modernizaccedilatildeo urbana e uma justificativa para o projeto de
renovaccedilatildeo urbana desenvolvido nos anos 1980 e 1990 O projeto girou em torno das
grandes obras oliacutempicas de renovaccedilatildeo (Figuras 7 a 10) elaboradas a partir da parceria da
administraccedilatildeo puacuteblica com os setores empresariais privados
O que estava em disputa era o espaccedilo poliacutetico o sentido dado ao espaccedilo da cidade e o poder de cada instituiccedilatildeo puacuteblica ou privada sobre fragmentos da cidade que estavam sendo renovados e que seriam inseridos num mercado cujas conexotildees eram trans-escalares locais regionais nacionais e internacionais Eacute nesse periacuteodo de profunda renovaccedilatildeo urbana para os jogos oliacutempicos que eacute possiacutevel identificar a emergecircncia da cidade-mercadoria do espaccedilo da cidade concebido e renovado para um mercado global da cidade tornada uma marca um emblema dessa transformaccedilatildeo espacial (SAacuteNCHEZ 2003237)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
101
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica e Torre Telefocircnica ao fundo Foto Fernando Hayashi
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de Montjuic Vila OliacutempicaFoto Fernando Hayashi
O alegado sucesso do ldquomodelo Barcelonardquo favoreceu a difusatildeo desse conceito de
projeto aos planos desenvolvidos na Ameacutetica Latina e em particular no Brasil permitindo
identificar alguns pontos principais para os quais se voltam a accedilatildeo poliacutetica e os programas
(SAacuteNCHEZ 2003319)
A competitividade econocircmica com poliacuteticas de apoio agraves empresas a criaccedilatildeo de
emprego a atraccedilatildeo de investimentos e o city- marketing
A coesatildeo social por meio de programas de fortalecimento da identificaccedilatildeo dos
cidadatildeos atraveacutes de um ldquoprojeto de cidaderdquo com estiacutemulo ao sentido de
pertencimento a integraccedilatildeo de minorias o bem-estar social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
102
Uma melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente urbano com vistas agrave
construccedilatildeo da ldquosociedade sustentaacutevelrdquo
A modernizaccedilatildeo da gestatildeo com programas relativos a financcedilas e impostos com a
participaccedilatildeo do cidadatildeo e atendimento ao cidadatildeo
A melhoria da mobilidade atraveacutes da gestatildeo do tracircnsito dos estacionamentos e
dos transportes puacuteblicos
Infra-estrutura urbana e de telecomunicaccedilotildees com a modernizaccedilatildeo de portos
aeroportos teleportos e com projetos e operaccedilotildees urbaniacutesticas para a
reestruturaccedilatildeo urbana
A modernizaccedilatildeo e a expansatildeo do turismo urbano
O modelo de Barcelona foi difundido atraveacutes de teacutecnicas e procedimentos de
ldquotrabalho qualitativordquo onde satildeo estabelecidos cenaacuterios futuros imagens e tendecircncias para
as cidades com ecircnfase na definiccedilatildeo dos seus atributos e seu papel regional e internacional
Indicadores oferecem um panorama das accedilotildees poliacuteticas necessaacuterias criando
ldquooportunidadesrdquo para as cidades competiccedilatildeo com outras cidades expectativas relativas agrave
qualidade de vida cenaacuterios de competitividade econocircmica infra-estrutura e meio ambiente
dinacircmica demograacutefica migraccedilotildees e coesatildeo social
342 CURITIBA E SUAS INTERVENCcedilOtildeES URBANAS
A imagem de Curitiba como ldquocidade-modelordquo deu-se no iniacutecio dos anos 1970
Segundo SAacuteNCHEZ (2003) a populaccedilatildeo de Curitiba praticamente dobrou em uma deacutecada
no periacuteodo que vai de 1960 a 1970 resultante da migraccedilatildeo campo-cidade Tornou-se
necessaacuterio um Plano Preliminar de Urbanismo feito em 1965 e que propunha diretrizes de
uso do solo transporte coletivo localizaccedilatildeo industrial e aacutereas de lazer
Os Planos Diretores seguintes datados de 1966 e da deacutecada de 1970
apresentavam um modelo de expansatildeo urbana por meio de eixos estruturais ao longo dos
quais propunha-se uma soluccedilatildeo de transporte coletivo atraveacutes de canaletas exclusivas para
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
103
ocircnibus Outras propostas dos planos diziam respeito a padrotildees especiacuteficos de uso do solo
altura das edificaccedilotildees e atividades permitidas aleacutem de uma zona especial para a promoccedilatildeo
da industrializaccedilatildeo
O Plano Diretor da deacutecada de 1970 eacute marcado pelas intervenccedilotildees que deram iniacutecio agrave
formaccedilatildeo da imagem de cidade-modelo que girou em torno de Curitiba desde entatildeo a
recuperaccedilatildeo do centro com preservaccedilatildeo do Centro Histoacuterico e incentivo a determinadas
atraccedilotildees culturais e de lazer a criaccedilatildeo daquela que seria promovida como a ldquoprimeira rua de
pedestres do Brasilrdquo (o calccediladatildeo da Rua das Flores) e a criaccedilatildeo dos primeiros parques urbanos
As intervenccedilotildees urbanas desta eacutepoca caracterizaram Curitiba como siacutembolo de
inovaccedilatildeo modernidade eficiecircncia e preocupaccedilatildeo com o meio ambiente legitimando a
imagem da cidade como modelo e referecircncia entre as demais cidades brasileiras Tal
imagem comeccedilou a se impor em escala nacional a partir da deacutecada de 1970 perdeu espaccedilo
apenas por alguns anos na deacutecada de 1980 e voltou com forccedila poliacutetica na deacutecada de 1990
SAacuteNCHEZ (2003) declara que a histoacuteria deste projeto demonstra a necessidade de
conciliaccedilatildeo do planejamento urbano com o atendimento dos interesses empresariais na
busca de uma hegemonia poliacutetica que possa materializar o plano e alcanccedilar a
implementaccedilatildeo das poliacuteticas urbanas A autora coloca um conjunto de fatores explicativos
para alcance do projeto
1 A construccedilatildeo de uma coalizatildeo de interesses das elites empresariais e poliacuteticas em
torno do projeto de cidade e continuidade poliacutetico-administrativa permitiram a implementaccedilatildeo
do plano Tal continuidade deu-se atraveacutes da primeira administraccedilatildeo do prefeito Jaime
Lerner da Alianccedila Renovadora Nacional - ARENA (1971-1975) seguida por Saul Raiz do
seu mesmo grupo poliacutetico (1975-1979) para entatildeo uma nova indicaccedilatildeo agrave prefeitura por
Jaime Lerner (1979-1982)
2 A construccedilatildeo de um conjunto institucional orientado agrave implementaccedilatildeo do plano e
viabilizado por sua identificaccedilatildeo com os principais atores do ideaacuterio desenvolvimentista e
tecnocraacutetico governamental da eacutepoca
3 A construccedilatildeo de uma imagem de cidade modelo impulsionada pelo city-marketing
e atraveacutes da articulaccedilatildeo entre poliacutetica cultura miacutedia e planejamento
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
104
4 A identidade do projeto com o ideaacuterio associado a uma agenda global para as
cidades difundida nos anos 1990 a niacutevel internacional
A partir dos anos 1980 a poliacutetica de planejamento urbano de Curitiba passou a
apresentar novos atores O novo governo surgido na eacutepoca regido por duas gestotildees do
Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro - PMDB (1983-1988) promoveu uma
reorientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas urbanas voltada para a urbanizaccedilatildeo das aacutereas
perifeacutericas e construccedilatildeo de equipamentos sociais Aleacutem disso inseriu-se o planejamento
participativo em oposiccedilatildeo ao antigo planejamento tecnocraacutetico Apesar de a nova gestatildeo
poliacutetica ter representado um periacuteodo de ruptura com as gestotildees anteriores natildeo foi possiacutevel
a consolidaccedilatildeo de seu projeto poliacutetico
Os movimentos sociais de bairro e os movimentos sindicais tiveram emergecircncia e fortalecimento como atores coletivos em Curitiba questionando as poliacuteticas urbanas relativas agrave habitaccedilatildeo a transporte puacuteblico e ao saneamento Construiacuteram na eacutepoca accedilotildees poliacuteticas que foram capitalizadas pela oposiccedilatildeo para desestabilizar a hegemonia da coalizatildeo local da deacutecada anterior (SAacuteNCHEZ 2003161)
Em 1989 Jaime Lerner retomou a prefeitura da cidade com o mesmo discurso poliacutetico
e tecnocraacutetico de sucesso utilizado na deacutecada de 1970 A hegemonia de seu grupo poliacutetico
permaneceu durante todas a deacutecada de 1990 Conclui-se que em trinta anos de governos
municipais somente um periacuteodo (1983-1988) natildeo foi liderado pelo chamado ldquolernismordquo
SAacuteNCHEZ (2003) afirma que eacute da deacutecada de 1960 a criaccedilatildeo do instituto que
elaboraria e colocaria em praacutetica o plano de cidade proposto pelo governo lernista O
IPPUC- Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba nasceu de uma comissatildeo
organizada para levantar os debates em torno do plano e seu objetivo manifesto consistia
em ldquopreparar a cidade para o futurordquo A instituiccedilatildeo caracterizou-se por uma linha de
planejamento tecnocraacutetico e funcional A condiccedilatildeo tecnocraacutetica constituiacutea parte de uma
ideologia que colocava o conhecimento cientiacutefico como detentor do destino da cidade e lhe
conferia legitimidade como instrumento poliacutetico
Nesta mesma eacutepoca configurou-se uma alianccedila entre poliacuteticos e teacutecnicos do
planejamento da cidade com os empresaacuterios ligados aos grandes interesses privados Esse
conjunto compreende os atores a partir do qual eacute instaurado o projeto de cidade proposto As
mudanccedilas espaciais promovidas pelo Plano Diretor sempre foram compatiacuteveis com os
interesses dos liacutederes empresariais da cidade principalmente os vinculados aos setores
industriais imobiliaacuterios de construccedilatildeo civil e transporte puacuteblico As poliacuteticas dos planejadores
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
105
mostram uma subordinaccedilatildeo da teacutecnica agraves necessidades e imperativos das empresas atraveacutes
da violaccedilatildeo de normas relativas ao uso do solo com o objetivo de conceder a determinadas
empresas os alvaraacutes necessaacuterios para a construccedilatildeo de grandes empreendimentos
O planejamento urbano em Curitiba natildeo soacute natildeo alterou significativamente as praacuteticas espaciais dos atores privados como parece ter contribuiacutedo para conferir uma vitalidade adicional a essas praacuteticas fazendo prevalecer os interesses corporativos diante do interesse puacuteblico (SAacuteNCHEZ 2003172)
Curitiba teve a atraccedilatildeo de induacutestrias como um dos principais condicionantes para a
elaboraccedilatildeo do Plano Diretor da deacutecada de 1960 ideacuteia que originou a Cidade Industrial de
Curitiba ndash CIC caracterizada como uma poliacutetica urbana para criaccedilatildeo de um espaccedilo
favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo dos interesses do capital industrial Esta poliacutetica urbana implicava na
concessatildeo de subsiacutedios para atrair novos investimentos com a pretensatildeo de mudar a face
da economia urbana
Os programas de atraccedilatildeo de induacutestrias vinham acompanhados de uma accedilatildeo
comunicativa e veiculaccedilatildeo de imagens de uma cidade diferente e evoluiacuteda das demais no
que se refere a aacutereas de transporte infra-estrutura e lazer A construccedilatildeo simboacutelica da
identidade da cidade a partir da oposiccedilatildeo agraves demais foi fortalecida na deacutecada de 1990 A
Tabela 4 e as Figuras 11 a 14 resumem as transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e
imagens que Curitiba sofreu desde a deacutecada de 1960
PERIacuteODOGESTAtildeO POLIacuteTICAS INTERVENCcedilOtildeES IMAGENS-SIacuteNTESE
1 CIDADE PLANEJADA
2 CIDADE MODELO3 CIDADE MODERNA E HUMANA4 CIDADE MODERNA E HUMANA
5 CAPITAL ECOLOacuteGICA6 CIDADE DE PRIMEIRO MUNDO 7 CAPITAL DA QUALIDADE DE VIDA
Equipamentos culturais e de lazer 8 CAPITAL DA CULTURAFaroacuteis do Saber Ruas da 9 CIDADE LUZCidadania Memorial da Cidade
10 CAPITAL TECNOLOacuteGICA11 MELHOR CIDADE PARA FAZER NEGOacuteCIOS
2001-2004 - C Taniguchi
Atraccedilatildeo de empresas poliacuteticas sociais
12 CAPITAL SOCIAL
1997-2000 - C Taniguchi
1971-1975 -Jaime Lerner 1975-1979 - Saul Raiz
1979-1982 - Jaime Lerner
1989-1992 - Jaime Lerner
1993-1996 - Rafael Greca
Poliacuteticas ambientais reciclagem lixo aacutereas verdes poliacuteticas de atraccedilatildeo de empresas
Zoneamento transporte uso do solo atraccedilatildeo de induacutestrias renovaccedilatildeo do centro
Zoneamento uso do solo reestruturaccedilatildeo industrial plano estrateacutegico de gestatildeo atraccedilatildeo de empresas comeacutercio serviccedilos
Poliacutetica de equipamentaccedilatildeo e animaccedilatildeo cultural turismo urbano
Transporte revitalizaccedilatildeo
Eixos estruturais sistema de transporte de massa Cidade Industrial de Curitiba
Ampliaccedilatildeo sistema de transportes renovaccedilatildeo do Centro Histoacuterico reciclagens de edifiacutecios parques urbanosRenovaccedilatildeo sistema de transporte parques ciclovias equipamentos culturais e de lazer Jardim Botacircnico Oacutepera de Arame Rua 24 Horas Universidade Livre do Meio Ambiente
Infra-estrutura viaacuteria contornos infra-estrutura de apoio agraves empresas empresariamento da gestatildeo municipal eficiecircncia de serviccedilos
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba Fonte Saacutenchez (2004)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
106
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Curitiba e o mito da cidade-modelo apresentam um discurso oficial veiculado na
miacutedia nacional e internacional como centro de experimentaccedilatildeo de novos processos e centro
difusor de novos valores Uma das uacuteltimas imagens a ela associada consiste na de ldquomelhor
cidade brasileira para se fazer negoacuteciosrdquo reportagem publicada no ano 2000 pela revista
nacional Exame
343 RIO DE JANEIRO E OS PLANOS ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
A cidade do Rio de Janeiro apresenta hoje o segundo Produto Interno Bruto (PIB)
municipal do paiacutes e eacute visitada por mais de 40 dos estrangeiros que chegam ao Brasil
consagrando-se como o maior destino turiacutestico nacional Situa-se entre as vinte cidades
mais populosas do mundo com rico acervo arquitetocircnico e inestimaacutevel patrimocircnio histoacuterico
aleacutem das evidentes belezas naturais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
107
Apesar de apresentar condiccedilotildees positivas uacutenicas a intensificaccedilatildeo urbana ocorrida
apoacutes a Segunda Guerra Mundial decorrente do fluxo imigratoacuterio de outras regiotildees contribuiu
para acelerar o quadro de carecircncia e dificuldades nos setores de telecomunicaccedilotildees sauacutede
transportes e seguranccedila puacuteblica que foram distribuiacutedos de maneira diferenciada no espaccedilo
urbano A situaccedilatildeo piorou a partir da deacutecada de 1960 quando o entatildeo presidente Juscelino
Kubitschek tirou da cidade a condiccedilatildeo de Capital Federal e centro de poder decisoacuterio
econocircmico-poliacutetico Segundo os documentos do Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de
Janeiro seu primeiro plano estrateacutegico surgiu com a justificativa de reverter este quadro
negativo e destacar as qualidades da cidade
O primeiro plano intitulado ldquoRio Sempre Riordquo teve iniacutecio em 1993 no primeiro
governo do prefeito Cesar Maia eleito em 1993 atraveacutes do Partido do Movimento
Democraacutetico Brasileiro (PMDB) O plano foi publicado em 1996 e foi um dos precursores
desse tipo de planejamento no Hemisfeacuterio Sul O Rio de Janeiro tornou-se uma das
primeiras cidades a elaborar um plano estrateacutegico como instrumento de planejamento de
pacto consensual entre governo municipal e iniciativa privada
Em janeiro de 2001 ao assumir a prefeitura novamente dessa vez pelo Partido da
Frente Liberal (PFL) o governo de Cesar Maia recorreu mais uma vez a esse instrumento
de planejamento Foi lanccedilado o Plano Estrateacutegico II da Cidade do Rio de Janeiro cujo tiacutetulo
ldquoAs cidades da Cidaderdquo sugere um estudo das diversas regiotildees do municiacutepio e suas
diferenccedilas histoacutericas culturais sociais e econocircmicas
Nesta nova fase o foco deixou de ser a busca de uma nova identidade para fortalecer a cidade e inseri-la de forma competitiva no cenaacuterio mundial mas encontrar meios que pudessem indicar os caminhos em direccedilatildeo ao futuro desejaacutevel para cada regiatildeo e a partir da articulaccedilatildeo harmocircnica e conciliada desses caminhos construir uma cidade mais solidaacuteria com igualdade de oportunidades para todos (Cesar Maia Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro 2003)
Neste segundo plano estrateacutegico o municiacutepio foi dividido em 12 regiotildees e cada
regiatildeo teve seus objetivos e estrateacutegias definidas dentro da cidade a partir dos seus
potenciais (Tabela 5 e Figuras 15 a 18) O plano considera separadamente as
caracteriacutesticas tendecircncias e aspiraccedilotildees de cada regiatildeo A partir dos objetivos centrais de
cada uma delas foram estabelecidas estrateacutegias e formuladas propostas para as aacutereas
criando-se um modelo proacuteprio para cada os Planos Estrateacutegicos Regionais A escolha por
este processo buscava retratar o cenaacuterio diversificado presente no Rio de Janeiro
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
108
PLANOS
ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
OBJETIVO CENTRAL
REGIAtildeO 1 - BANGUacuteSer um poacutelo de ecoturismo e lazer resgatando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e desenvolvendo seu potencial industrial
REGIAtildeO 2 - BARRA DA TIJUCA
Ser um poacutelo de negoacutecios focado no turismo lazer e serviccedilos e um modelo de preservaccedilatildeo ambiental
REGIAtildeO 3 - CAMPO GRANDE
Ser o centro de referecircncia para o ecoturismo com enfoque nas vocaccedilotildees gastronocircmica botacircnica pesqueira e agriacutecola consolidando as diferentes expressotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
REGIAtildeO 4 - CENTROSer o centro de referecircncia histoacuterico-cultural do paiacutes consolidando as vocaccedilotildees de centro de negoacutecios centro de desenvolvimento de tecnologia e principal centro de telecomunicaccedilotildees da ameacuterica latina
REGIAtildeO 5 - GRANDE MEacuteIER
Voltar a ser a capital dos subuacuterbios cariocas como centro de comeacutercio varejista e poacutelo prestador de serviccedilos com relevo na cultura e lazer
REGIAtildeO 6 - ILHA DO GOVERNADOR
Ser a principal base de chegada do turista agrave cidade preservando a qualidade de aacuterea residencial e incrementando as atividades esportivas culturais e artiacutesticas
REGIAtildeO 7 - IRAJAacuteSer o principal centro de abastecimento da cidade e um poacutelo formador de atletasgarantindo a tradiccedilatildeo residencial e a qualidade de vida
REGIAtildeO 8 - JACAREPAGUAacute
Ser o grande centro de eventos nacionais e internacionais tendo como foco do desenvolvimento econocircmico o ecoturismo a induacutestria de alta tecnologia garantindo a tradiccedilatildeo histoacuterico-geograacutefica
REGIAtildeO 9 - LEOPOLDINA
Ser uma regiatildeo de bairros integrados resgatando a relaccedilatildeo de vizinhanccedila desenvolvendo-se a partir de induacutestrias de base tecnoloacutegica natildeo poluentes
REGIAtildeO 10 - TIJUCA VILA ISABEL
Ser um grande poacutelo de lazer cultural de ecoturismo de desenvolvimento econocircmico focado no setor de serviccedilos e comeacutercio garantindo a qualidade de vida
REGIAtildeO 11 - ZONA NORTE
Ser o grande poacutelo de comeacutercio e centro industrial natildeo poluente preservando e incrementando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e caracteriacutesticas residenciais
REGIAtildeO 12 - ZONA SUL
Ser a vitrine nacional e internacional do turismo da cultura e do lazer reforccedilando a imagem da maneira de ser carioca
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro Elaboraccedilatildeo da autora
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
109
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
O plano buscou resgatar as tradiccedilotildees locais e estabelecer diretrizes de
desenvolvimento local para as regiotildees definindo sua contribuiccedilatildeo no desenvolvimento da
cidade Na elaboraccedilatildeo do plano foi necessaacuterio estipular uma metodologia proacutepria de
trabalho por tratar-se de um processo inovador na cidade percebida como uma ldquosoma de
partesrdquo e natildeo somente como um todo como ocorre nas grandes metroacutepoles
Em 2005 ao assumir a prefeitura do Rio de Janeiro pela terceira vez novamente
pelo PFL Cesar Maia teve a possibilidade de dar continuidade ao plano estrateacutegico iniciado
na gestatildeo anterior Com vistas aos Jogos Panamericanos realizados na cidade em 2007 o
prefeito ainda realizou a execuccedilatildeo de obras e edificaccedilotildees direcionadas aos equipamentos
esportivos como parte do processo de revitalizaccedilatildeo urbana da cidade em uma versatildeo
brasileira do ldquomodelo-Barcelonardquo visto neste capiacutetulo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
110
35 CONCLUSOtildeES PARCIAIS LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
Ateacute o presente verificamos neste capiacutetulo como as mudanccedilas processos e agentes
externos das cidades reforccedilados pela globalizaccedilatildeo atribuiacuteram a elas novas funccedilotildees
urbanas O espaccedilo tornado global impotildee a necessidade de inserccedilatildeo das cidades a niacutevel
internacional e para tanto o planejamento urbano vem sendo direcionado com tal objetivo
atraveacutes de estrateacutegias urbanas voltadas ao mercado mundial
Estrateacutegias urbanas como as analisadas para Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
proporcionaram sua posiccedilatildeo como cidades globais mas ao mesmo tempo resultaram em
impactos negativos em acircmbito social econocircmico e ambiental Na conclusatildeo deste capiacutetulo
apontaremos alguns desses impactos negativos segundo as colocaccedilotildees feitas pelos
pesquisadores do planejamento estrateacutegico
As intervenccedilotildees urbanas analisadas consistiram fundamentalmente de aparatos
culturais e de um conjunto de serviccedilos e comeacutercio aliados a investimentos em infra-estrutura
que visavam agrave atraccedilatildeo de capital principalmente internacional e de usuaacuterios e visitantes
Na opiniatildeo de VAINER (2000) essas revitalizaccedilotildees urbanas natildeo satildeo direcionadas a todos
os cidadatildeos a abertura das cidades para o exterior eacute seletiva e usufruiacuteda por grupos
especiacuteficos e qualificados
O realismo da proposta fica claro quando nossos pragmaacuteticos consultores deixam claro que esta abertura para o exterior eacute claramente seletiva natildeo queremos visitantes e usuaacuterios em geral e muito menos imigrantes pobres expulsos do campo ou de outros paiacuteses igualmente pobres queremos visitantes e usuaacuterios solventes (VAINER 200080)
A pobreza e a violecircncia urbana condicionam ou influenciam nas decisotildees dos
agentes econocircmicos e na atratividade da cidade Por este motivo os pobres (nativos ou
imigrantes) constituem demanda solvaacutevel para o planejamento estrateacutegico estando
excluiacutedos dessas aacutereas revitalizadas e consequumlentemente do proacuteprio processo de
planejamento Tal situaccedilatildeo resulta tambeacutem da concentraccedilatildeo excessiva de investimentos
puacuteblicos nas aacutereas revitalizadas Os governos locais ao inveacutes de priorizar o caraacuteter social
dos investimentos puacuteblicos o fazem de acordo com os interesses privados
A limitaccedilatildeo de recursos leva a investimentos insuficientes nas regiotildees de pobreza a
favor da qualificaccedilatildeo de aacutereas urbanas especiacuteficas que permitam a sua inserccedilatildeo global Os
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
111
investimentos por parte do poder puacuteblico no campo social foram abandonados pelas
autoridades para priorizar os investimentos que visavam atrair parcerias com o poder
privado As cidades mundiais tornaram-se entatildeo fragmentadas com aacutereas adequadamente
atendidas em contraste com as aacutereas desamparadas
A qualificaccedilatildeo dessas aacutereas urbanas especiacuteficas favorece o desenvolvimento de
novos centros urbanos que satildeo determinantes no processo de segregaccedilatildeo soacutecio-espacial O
centro da cidade eacute resultado do seu processo de crescimento originaacuterio da divisatildeo social do
trabalho e da divisatildeo territorial do trabalho De acordo com MARICATO (2000) o poder
puacuteblico cria oportunidades para o surgimento dessas novas centralidades e ao mesmo
tempo designa estrateacutegias para evitar a circulaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do espaccedilo pelas pessoas
de baixo poder aquisitivo
O Estado concede maiores benefiacutecios para esses novos centros atraveacutes da
legislaccedilatildeo O zoneamento urbano concentra os privileacutegios da urbanizaccedilatildeo em determinadas
aacutereas da cidade Por exemplo demandas exageradas de transporte coletivo em uma uacutenica
direccedilatildeo Dessa forma o Estado valoriza essas regiotildees em detrimento das demais e a
escassez de espaccedilos nessas aacutereas favorece ainda mais sua valorizaccedilatildeo expulsando alguns
grupos sociais ou substituindo-os por outros gerando uma cidade segmentada Os centros
urbanos que deveriam ser vistos como espaccedilo coletivo acabam virando um privileacutegio para
poucas pessoas Os demais grupos sociais sem alternativas satildeo obrigados a morar em
corticcedilos favelas e loteamentos que se situam nas periferias e onde a pobreza eacute
homogeneamente disseminada
Agrave dificuldade de acesso aos serviccedilos e infra-estrutura urbanos (transporte precaacuterio saneamento deficiente drenagem inexistente dificuldade de abastecimento difiacutecil acesso aos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e creches maior exposiccedilatildeo agrave ocorrecircncia de enchentes e desmoronamentos etc) somam-se menos oportunidades de emprego (particularmente do emprego formal) menos oportunidades de profissionalizaccedilatildeo maior exposiccedilatildeo agrave violecircncia (marginal ou policial) discriminaccedilatildeo racial discriminaccedilatildeo contra mulheres e crianccedilas difiacutecil acesso agrave justiccedila oficial difiacutecil acesso ao lazer (MARICATO 2003152)
A sociedade global caracteriza-se por sua proacutepria loacutegica de valores universais e
potencial de geraccedilatildeo de riquezas em uma sociedade excludente natildeo soacute de cidades mas
tambeacutem de espaccedilos dentro das cidades Segundo LOPES (1998) a busca de uma nova
estrutura da sociedade urbana capaz de absorver e solucionar os problemas da
globalizaccedilatildeo envolve limites de concentraccedilatildeo e exclusatildeo proporcionais ao tamanho do
espaccedilo urbano e da populaccedilatildeo das cidades Os centros das cidades mundiais apresentam
concentraccedilatildeo de poder e riqueza que favorecem a inserccedilatildeo de agentes sociais competitivos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
112
e integrados no espaccedilo global Paralelamente essas mesmas cidades abrigam aacutereas de
exclusatildeo consideradas irrelevantes no planejamento estrateacutegico jaacute que consistem
populaccedilotildees que natildeo participam do processo de formaccedilatildeo de riqueza
As accedilotildees globais e locais interagem no sentido de criar aacutereas de prosperidade e de irrelevacircncia e exclusatildeo em espaccedilos urbanos contiacutenuos ou separados obrigando as novas formulaccedilotildees estruturais da sociedade Por outro lado as cidades assumem a funccedilatildeo primordial de arena moderna para o desenvolvimento os confrontos e as confluecircncias dos atores principais da sociedade atual (LOPES 199860)
Essa realidade acaba por criar bairros com carecircncia de empregos comeacutercio
serviccedilos e infra-estrutura A dinacircmica de exclusatildeo social tem como consequumlecircncias a
depredaccedilatildeo ambiental pela ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas protegidas e os altos iacutendices de
violecircncia e inseguranccedila As cidades mundiais consolidam a existecircncia de espaccedilos
separados para os diferentes grupos sociais O planejamento urbano ligado a uma cidade
caracterizada pela segregaccedilatildeo soacutecio-espacial reduz a diversidade que tradicionalmente
caracteriza os nuacutecleos urbanos e eacute marcado pela pobreza da vida social e pela ausecircncia
dos espaccedilos puacuteblicos
Ideologicamente a regiatildeo da cidade que concentra os investimentos puacuteblicos e as
intervenccedilotildees urbanas comeccedila a se identificar como a imagem oficial e a representaccedilatildeo da
cidade A cidade oficial consiste na parte onde o poder puacuteblico oferece investimento em
infra-estrutura equipamentos urbanos faacutecil mobilidade e acesso constituindo o espaccedilo da
minoria privilegiada A imagem desta aacuterea eacute utilizada para a ldquovendardquo da cidade e valorizaccedilatildeo
imobiliaacuteria na busca da imagem do ldquoespetaacuteculordquo e na corrida do tiacutetulo de cidade global
A segregaccedilatildeo e exclusatildeo soacutecio-espacial urbana vecircm acompanhadas de outra
consequumlecircncia da cidade global a exclusatildeo econocircmica Segundo LOPES (1998) a
informatizaccedilatildeo criou duas novas condicionantes para o processo de desenvolvimento
econocircmico a dispersatildeo geograacutefica da produccedilatildeo em funccedilatildeo da diversidade de localizaccedilatildeo
de bens e serviccedilos em termos mundiais e a difusatildeo tecnoloacutegica que abre novas e
significativas oportunidades de desenvolvimento para as diversas cidades Essas duas
condicionantes apresentam implicaccedilotildees importantes na estruturaccedilatildeo da sociedade e
acarretam novas demandas de qualificaccedilatildeo do espaccedilo urbano Na opiniatildeo de RIZZO (2005)
para integrar as cidades em suas posiccedilotildees na economia global torna-se necessaacuterio tambeacutem
integrar e estruturar suas sociedades locais ldquoSem uma base soacutelida nos cidadatildeos os
governos municipais natildeo teratildeo a forccedila que eacute necessaacuteria para navegar naqueles circuitos
globaisrdquo (RIZZO 200574)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
113
As modificaccedilotildees no mercado de trabalho constituem o efeito mais importante da
reestruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo social e dos valores culturais da sociedade Agrave medida em
que as cidades integram-se em maior ou menor grau agrave divisatildeo internacional do trabalho
ocorre uma valorizaccedilatildeo daqueles que lidam com o trabalho informacional Natildeo estar
integrado conduz a um desemprego crescente ou a uma possiacutevel desvalorizaccedilatildeo do trabalho
A integraccedilatildeo em rede aleacutem de ser um poderoso acelerador do desenvolvimento local eacute um processo altamente excludente para vastos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam irrelevantes do ponto de vista econocircmico Essa exclusatildeo envolve natildeo soacute vastas regiotildees englobando vaacuterias cidades como tambeacutem dentro das proacuteprias cidades adicionando mais um fator da nova divisatildeo internacional do trabalho A exclusatildeo econocircmica induz agrave exclusatildeo social (LOPES 199863)
A principal consequumlecircncia desse mercado de trabalho excludente eacute a informalidade A
economia informal correspondia a um fenocircmeno secundaacuterio dentro da estrutura econocircmica
das cidades ligada basicamente agrave pobreza LOPES (1998) conclui que com a nova divisatildeo
internacional do trabalho a informalidade deixa de ser uma saiacuteda para a resoluccedilatildeo dos
problemas de geraccedilatildeo de empregos e de formaccedilatildeo de riqueza das camadas mais pobres da
populaccedilatildeo para ser um fenocircmeno de adaptaccedilatildeo da sociedade aos novos requisitos da
organizaccedilatildeo informacional
O planejamento urbano das cidades globais acarreta ainda limites quanto ao papel
do Estado na administraccedilatildeo puacuteblica Para atingir o status de cidade global o Estado passa a
intervir pouco no planejamento O modelo urbano estrateacutegico baseado na loacutegica
mercadoloacutegica insere empresaacuterios e empreendedores como atores poliacuteticos O Estado perde
a sua autonomia que passa entatildeo a ser regida pelo mercado atraveacutes da financeirizaccedilatildeo das
economias e dos orccedilamentos puacuteblicos
O Estado interveacutem minimamente nas decisotildees soacutecio-econocircmicas e os grandes atores poliacuteticos satildeo empresaacuterios e investidores Essa tendecircncia na administraccedilatildeo local se confirma no crescente processo de privatizaccedilatildeo das empresas puacuteblicas na desregulamentaccedilatildeo das atividades econocircmicas e sociais e na reversatildeo dos padrotildees universais de proteccedilatildeo social O poder local composto por poliacuteticos comprometidos com a perspectiva empresarial da cidade lanccedila matildeo dos instrumentos necessaacuterios para tornar o espaccedilo urbano mais atraente baseando-se na flexibilizaccedilatildeo das leis de uso do solo e na crescente necessidade imposta pelo mercado de as cidades globais estarem constantemente inseridas no circuito do fluxo internacional de capital e informaccedilatildeo (AMEcircNDOLA 2002 disponiacutevel em httpwwwfethggfbr acesso em maio de 2006)
OLIVEIRA (2003) aprofunda esta questatildeo alegando que o planejamento urbano
regido pela loacutegica do mercado passa a ser constituiacutedo a partir do que ele denomina ldquoEstado
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
114
de Exceccedilatildeo As empresas se apropriam das poliacuteticas sociais impondo novos criteacuterios para
as mesmas pois necessitam da eficiecircncia e da produtividade das poliacuteticas puacuteblicas
resultando em uma situaccedilatildeo de exclusatildeo social O Estado dessa maneira torna-se
supeacuterfluo e passa a ser desempenhado como maacutequina de arrecadaccedilatildeo para tornar o
excedente disponiacutevel para o capital A exceccedilatildeo consiste no fato de que as poliacuteticas sociais
natildeo tecircm mais a concepccedilatildeo de mudar a distribuiccedilatildeo de renda pelo contraacuterio acabam
transformando-se em ldquoantipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobrezardquo (OLIVEIRA 200309)
O autor conclui que as cidades constituem locais por excelecircncia das exceccedilotildees e o
Estado constitui a administraccedilatildeo da exceccedilatildeo Nas relaccedilotildees entre o poder puacuteblico e o urbano
a cidade reduz-se a um espetaacuteculo onde todas as formas de planejamento almejam a
supressatildeo do conflito de classes em busca da funcionalizaccedilatildeo da cidade A sociedade
brasileira atraveacutes desse processo desenvolve-se caracterizada por uma situaccedilatildeo de
desigualdade social
Se historicamente as relaccedilotildees entre o Estado e o urbano pautaram-se por um esforccedilo de normatividade da relaccedilatildeo capital-trabalho cabendo ao planejamento enquadrar a exceccedilatildeo e transformaacute-la em norma transformaccedilotildees radicais recentes na economia e sociedade brasileiras sugerem que a exceccedilatildeo parece ter enquadrado o planejamento Agraves desigualdades histoacutericas da sociedade brasileira vieram juntar-se aquelas advindas da reestruturaccedilatildeo produtiva e da globalizaccedilatildeo reformatando o mercado funcionalizando a relaccedilatildeo Estado-capital transformando poliacuteticas sociais em antipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobreza erigindo em norma o que antes dela se afastava pontuando um esforccedilo teoacuterico que transitou da busca da normatividade para a racionalizaccedilatildeo da exceccedilatildeo (OLIVEIRA 200309)
Natildeo satildeo de hoje as criacuteticas feitas agrave administraccedilatildeo puacuteblica brasileira que sugerem sua
associaccedilatildeo ao resultado de desigualdade social caracteriacutestico de nossas cidades
MARICATO (2000) destaca que o urbanismo brasileiro natildeo tem comprometimento com a
realidade concreta mas com uma ordem que diz respeito apenas a uma parte da cidade A
administraccedilatildeo puacuteblica brasileira permite a exclusatildeo soacutecio-espacial e a legislaccedilatildeo urbana soacute eacute
aplicada quando conveniente com o objetivo de valorizaccedilatildeo do solo ldquoA ineficaacutecia dessa
legislaccedilatildeo eacute de fato apenas aparente pois constitui um instrumento fundamental para o
exerciacutecio arbitraacuterio do poder aleacutem de favorecer pequenos interesses corporativosrdquo
(MARICATO 2000147)
O Estado aleacutem de perder sua autonomia perante a influecircncia dos interesses do
mercado tambeacutem acaba enfraquecido pelos novos condicionantes impostos pela
globalizaccedilatildeo Ao dar novo sentido para o local dentro do processo de integraccedilatildeo a
globalizaccedilatildeo tornou conflituosa a relaccedilatildeo entre os diversos niacuteveis de governo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
115
Cidades e Estado apresentam interesses diversos que enfraquecem o Estado e
oferecem agraves cidades papel mais relevante A deficiecircncia da qualidade administrativa dos
governos nacional estadual e municipal conduziu a uma reestruturaccedilatildeo geral do Estado a
partir da diminuiccedilatildeo de suas funccedilotildees em paralelo agrave privatizaccedilatildeo de suas instituiccedilotildees e
serviccedilos Essa tendecircncia abriu novas perspectivas de mobilizaccedilatildeo de recursos mas criou
dificuldades de gestatildeo Segundo MARICATO (2002) as propostas que enfatizaram a
autonomia das cidades e a disputa entre elas para a atraccedilatildeo de investimentos e prestiacutegio
alimentaram a campanha de enfraquecimento do Estado-Naccedilatildeo ou pelo menos desviaram
a atenccedilatildeo dos governantes e governados sobre as poliacuteticas nacionais
Na Segunda Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos Humanos da ONU (Istambul 1996) falou-se da necessidade de criaccedilatildeo de uma OCU ndash Organizaccedilatildeo das Cidades Unidas a exemplo da ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Uma multidatildeo (sic) de argumentos procurava evidenciar a crescente importacircncia e autonomia das cidades ldquoNatildeo haacute prefeitos que tecircm mais prestiacutegio que muitos presidentesrdquo era um argumento muito ouvido Aparentemente as cidades-estado estatildeo de volta poderosas e independentes (MARICATO 200257)
Os governos locais na visatildeo de LOPES (1998) satildeo os mais aptos a administrar a
cidade na sociedade global porque possuem maior capacidade de representaccedilatildeo e
legitimidade com relaccedilatildeo aos seus representados e constituem agentes institucionais de
integraccedilatildeo social e cultural de comunidades territoriais Aleacutem disso possuem maior
flexibilidade adaptabilidade e capacidade de manobras em um espaccedilo de fluxos
econocircmicos entrelaccedilados demandas e ofertas em constantes mudanccedilas e sistemas
tecnoloacutegicos descentralizados e interativos
A partir das colocaccedilotildees vistas ateacute o presente podemos entatildeo concluir que os
resultados da aplicaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico no espaccedilo urbano apresentam nas
cidades os seguintes limites potenciais e impactos negativos em meio social econocircmico e
ambiental
1 Conflitos entre as diversas esferas de governo (cidades x Estado) devido agrave
importacircncia dada ao local no processo de integraccedilatildeo global
2 Perda da autonomia do Estado perante a influecircncia dos interesses do mercado
3 Concentraccedilatildeo excessiva de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave
revitalizaccedilatildeo urbana com consequumlente carecircncia de investimentos puacuteblicos nas
demais aacutereas
4 Direcionamento dos investimentos puacuteblicos conforme os interesses privados
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
116
sem dar prioridade ao seu caraacuteter social
5 Conflitos entre as necessidades da populaccedilatildeo local e as intervenccedilotildees urbanas
voltadas agrave inserccedilatildeo global das cidades
6 Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria das aacutereas que sofrem revitalizaccedilatildeo urbana com expulsatildeo
ou substituiccedilatildeo de grupos sociais
7 Depredaccedilatildeo ambiental decorrente da ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas
protegidas face agrave expulsatildeo de alguns grupos sociais das aacutereas revitalizadas
8 Exclusatildeo social
9 Segregaccedilatildeo soacutecio-espacial
10 Fragmentaccedilatildeo da cidade com aacutereas corretamente atendidas em contraste a
aacutereas desassistidas pelo poder puacuteblico
11 Aumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos
caracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
12 Aumento da violecircncia urbana e inseguranccedila nos bairros excluiacutedos
13 Exclusatildeo do mercado de trabalho aos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam
irrelevantes do ponto de vista econocircmico
14 Desemprego e desvalorizaccedilatildeo do trabalho
15 Propagaccedilatildeo do mercado de trabalho informal
16 Aumento das desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica
social e espacial
No seguimento deste trabalho veremos como os impactos negativos apontados
como resultantes do planejamento estrateacutegico refletem-se no caso do empreendimento
Sapiens Parque Para tanto analisaremos as avaliaccedilotildees feitas pelo Instituto de Arquitetos
do Brasil (IAB-SC) e pelas empresas responsaacuteveis pelo Estudo de Impacto Ambiental e
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) do empreendimento aleacutem da posiccedilatildeo da
comunidade local quanto agrave sua implantaccedilatildeo Ao final do trabalho cruzaremos as
informaccedilotildees obtidas com os criteacuterios e objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel designados
por SACHS (2002) e vistos no capitulo anterior segundo as dimensotildees de sustentabilidade
social ambiental e econocircmica
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
117
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
41 AVALIACcedilOtildeES DO INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL
O primeiro projeto para o empreendimento Sapiens Parque elaborado pela empresa
Ecoplan foi escolhido a partir de um Workshop patrocinado pelo grupo CERTI em 2002 O
Workshop contou com a participaccedilatildeo de arquitetos integrantes do nuacutecleo do Instituto de
Arquitetos do Brasil (IAB-SC) Segundo o documento com a avaliaccedilatildeo criacutetica referente ao
empreendimento (Anexo 1) expedido pelo grupo de arquitetos apoacutes a realizaccedilatildeo do
Workshop o Sapiens Parque apresenta singularidades que o torna um projeto uacutenico
Baseado nos conceitos de inovaccedilatildeo conhecimento e tecnologia
O empreendimento eacute proposto como um projeto ordenador que natildeo se limita
somente ao siacutetio no qual estaacute inserido colocando-se como uma nova centralidade
de requalificaccedilatildeo urbana para Florianoacutepolis baseada na preservaccedilatildeo ambiental e
na busca de qualidade de vida
O projeto procura identificar as qualidades que tornaram Florianoacutepolis uma cidade
desejada e desenvolver no conjunto de suas atividades a possibilidade de que se
torne um iacutecone para a regiatildeo o paiacutes e o mundo
O empreendimento eacute apresentado como uma forma de superar a exclusatildeo social
Os arquitetos chamam a atenccedilatildeo para alguns elementos diferenciadores com relaccedilatildeo
ao terreno onde seraacute implantado o empreendimento Por tratar-se de aacuterea pertencente a
uma empresa estadual e portanto de natureza puacuteblica destaca-se a necessidade de
identificar espaccedilos puacuteblicos atividades e equipamentos estruturadores que levem em conta
as vocaccedilotildees de Florianoacutepolis e os aspectos sociais do empreendimento Aleacutem disso o grupo
chama a atenccedilatildeo para a localizaccedilatildeo privilegiada do terreno e questiona o projeto como a
uacutenica possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e de reestruturaccedilatildeo urbana do Norte da Ilha Os
arquitetos ainda destacam o fato de o siacutetio de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estar
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
118
localizado proacuteximo ao Parque Florestal do Rio Vermelho e agrave Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
sendo necessaacuteria sua integraccedilatildeo a tais regiotildees de preservaccedilatildeo
Em entrevista concedida durante uma audiecircncia puacuteblica realizada em junho de 2004
para a discussatildeo do RIMA do Sapiens Parque a arquiteta Silvia Lenzi participante do
Workshop realizado em 2002 afirmou que o desafio do empreendimento eacute articular o projeto
com a proacutepria cidade A arquiteta chama a atenccedilatildeo para o caraacuteter puacuteblico que deve ter o
empreendimento decorrente do fato de envolver recursos e investimentos puacuteblicos
ldquoNoacutes tivemos a oportunidade de conhecer esta proposta haacute dois anos atraacutes e em um grupo de arquitetos formulamos alguns questionamentos em relaccedilatildeo a esta proposta Noacutes entendemos que eacute uma grande oportunidade para a cidade mas o grande desafio deste empreendimento eacute a articulaccedilatildeo do projeto com a cidade Existe um autor argentino que fala que devemos construir cidades concretas para homens concretos e eacute o que estaacute faltando neste projeto() Noacutes natildeo podemos mais ir na contra-matildeo da histoacuteria do urbanismo no Brasil que recentemente aprovou nem tatildeo recentemente foi no ano 2001 o Estatuto da Cidade Dentro do Estatuto da Cidade tem uma seacuterie de instrumentos inclusive um que se chama Estudo de Impacto de Vizinhanccedila onde se prevecirc toda uma anaacutelise de empreendimentos de porte muito menor do que o projeto Sapiens onde existe uma contrapartida pra cidade e pra sociedade em relaccedilatildeo ao impacto que aquele empreendimento causa Neste caso aqui o que aparece no RIMA reconhecendo-se o impacto que tem se remete toda uma responsabilidade ao poder puacuteblico Quando se fala em interesse puacuteblico eu gostaria de ter mais claro que interesse puacuteblico eacute esse do projeto quando a comunidade soacute fica com o ocircnus e natildeo tem um benefiacutecio direto em relaccedilatildeo a esta propostardquo(Arquiteta Silvia Lenzi Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
O grupo de arquitetos elaborou uma avaliaccedilatildeo criacutetica ao modelo de projeto
apresentado nas primeiras versotildees do Master Plan do Sapiens Parque baseado em
ldquoclustersrdquo25 como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Estudos de casos
de modelos semelhantes mostram aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com
consequumlente aumento da marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social Aleacutem disso a
proposta de lagos artificiais como cenaacuterio dominante do projeto tambeacutem foi considerada
segregadora jaacute que o efeito resultante reforccedila a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha
criadas (Figura 19)
25 Clusters (grupos agrupamentos ou aglomerados) satildeo concentraccedilotildees geograacuteficas de empresas de determinado setor de atividade e organizaccedilotildees correlatas de fornecedores de insumos a instituiccedilotildees de ensino e clientes (httpwwwhsmcombr acesso em 19122007)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
119
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003)
A concepccedilatildeo inicial do projeto do empreendimento mostrou-se inadequada para
cumprir as ideacuteias originais de programas propostos pelo Sapiens Parque Os arquitetos
realizaram as seguintes criacuteticas ao Master Plan 2003
As dimensotildees e natureza puacuteblica do terreno obrigam o projeto a contar com
atividades e equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
Os projetos iniciais consistem em repeticcedilotildees conceituais que poderiam estar em
qualquer lugar do mundo sem levar em consideraccedilatildeo a contextualidade local
Os projetos constituem elementos isolados do seu entorno tornando o parque um
elemento desagregador e natildeo integrador da estrutura urbana existente
A anaacutelise apresentada para o projeto natildeo inclui o estudo do comportamento do
entorno urbano imediato e do Norte da ilha restringindo-se apenas ao terreno
Os projetos defendem a monofuncionalidade de atividades que gera setores
isolados entre si
A distribuiccedilatildeo das atividades eacute feita com indiferenccedila sobre o siacutetio de implantaccedilatildeo e
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
120
dos requerimentos ambientais especiacuteficos para cada atividade
As zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar e homogecircnea
independente da atividade ali exercida e das condiccedilotildees do siacutetio
Natildeo haacute definiccedilatildeo de quais aacutereas concentram espaccedilos puacuteblicos semi-puacuteblicos e
privados e a soluccedilatildeo prevista para articular entre si estes trecircs niacuteveis de
apropriaccedilatildeo
Natildeo haacute esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teacutecnico selecionado e em
que referenciais nacionais ou internacionais o projeto foi embasado
O grupo de arquitetos defende a importacircncia da articulaccedilatildeo da cidade com as aacutereas
verdes preservadas e os espaccedilos puacuteblicos Aleacutem disso o IAB chama a atenccedilatildeo para a
necessidade de vinculaccedilatildeo do projeto com o mar e com terminais de transporte puacuteblico sem
esquecer dos problemas de infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos
A monofuncionalidade deve dar lugar a atividades variadas que permitam a
celebraccedilatildeo da cidadania e caracterizem a centralidade regional conformando uma unidade
que articule toda a regiatildeo norte da Ilha O compromisso do empreendimento deve ser o de
ldquoconstruir cidaderdquo e natildeo somente criar um parque tecnoloacutegico com algumas atividades
complementares para uso da populaccedilatildeo local
42 AVALIACcedilOtildeES DO EIA-RIMA 2003
O EIA-RIMA elaborado para avaliaccedilatildeo dos impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais
do empreendimento Sapiens Parque apresenta por base um diagnoacutestico interdisciplinar
considerado a partir das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na regiatildeo de influecircncia A
anaacutelise de acordo com as empresas Socioambiental Consultores Associados Ltda e
Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente responsaacuteveis pelo estudo parte das
interaccedilotildees dos diversos grupos soacutecio-culturais ao longo do tempo de forma a identificar
transformaccedilotildees da realidade e possibilitar o estabelecimento de tendecircncias e cenaacuterios
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
121
A aacuterea de influecircncia tida como base para os estudos apresenta-se definida pelos
responsaacuteveis na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA a partir de trecircs paracircmetros aacuterea diretamente
afetada (ADA) aacuterea de influecircncia direta (AID) e aacuterea de influecircncia indireta (AII)
Consideraram-se aacutereas diretamente afetadas pelo empreendimento os 450 hectares
situados na planiacutecie sedimentar do Distrito de Canasvieiras A regiatildeo caracteriza-se pela
baixa declividade fraca drenagem e ocorrecircncia de remanescentes de restinga arboacuterea e
banhados e tambeacutem reflorestamentos de pinus e eucalipto
A aacuterea de influecircncia direta delimita-se a partir da bacia hidrograacutefica do Rio Ratones e
tambeacutem localidades do norte e nordeste da ilha que natildeo satildeo abrangidas totalmente por esta
bacia (Ponta das Canas Canasvieiras Jurerecirc Cachoeira do Bom Jesus Ingleses Santinho
e Rio Vermelho) A regiatildeo sofreria diretamente os efeitos do projeto em particular no que
tange agrave dinamizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e agrave infra-estrutura baacutesica De acordo com os
realizadores do estudo a delimitaccedilatildeo desta aacuterea deu-se em razatildeo das caracteriacutesticas
sociais econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas do local onde se pretende inserir o
empreendimento e das particularidades e dimensotildees do projeto
Por fim a aacuterea de influecircncia indireta considerada eacute a que real ou potencialmente estaacute
sujeita aos impactos indiretos da implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo do parque e abrange
ecossistemas e sistemas soacutecio-econocircmicos que podem ser impactados por alteraccedilotildees
ocorridas na aacuterea de influecircncia direta
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para discussatildeo do RIMA a comunidade
local criticou os criteacuterios utilizados para delimitaccedilatildeo das aacutereas afetadas pelo
empreendimento As colocaccedilotildees levantadas apontam que o relatoacuterio destaca as trecircs aacutereas
de influecircncia acima especificadas mas que se dedica efetivamente agrave apenas duas delas a
aacuterea diretamente afetada que compreende o terreno de implantaccedilatildeo do parque em si e a
aacuterea de influecircncia direta que compreende basicamente o Norte da Ilha A aacuterea que
compreende o restante da Ilha seria dessa forma ignorada pelo estudo de impacto feito
Destaca-se que um empreendimento de porte e repercussatildeo como o Sapiens Parque com
previsatildeo de alcance de quase 30 mil empregos diretos natildeo poderia ser tratado com tal
classificaccedilatildeo arbitraacuteria Aleacutem disso o estudo tambeacutem ignora a ligaccedilatildeo do parque com o
Aeroporto Herciacutelio Luz que fica a 50 km ao sul do seu terreno de implantaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
122
Apesar das criacuteticas existentes com relaccedilatildeo aos criteacuterios utilizados para definir a
delimitaccedilatildeo da aacuterea de abrangecircncia do empreendimento na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA
consideramos importante para a avaliaccedilatildeo do projeto apresentar o levantamento dos
impactos apontados pelo estudo Dos 58 impactos potenciais localizados pelo EIA-RIMA 13
deles ocorrem em meio fiacutesico (sendo todos negativos) 10 ocorrem em meio bioacutetico (sendo 8
negativos) e 35 deles ocorrem em meio soacutecio-econocircmico (sendo 24 negativos e 1 tanto
negativo quanto positivo)
Os impactos foram classificados conforme seu grau de abrangecircncia em I (interno agrave
aacuterea do empreendimento ndash total de 9 impactos) L (local ou entorno proacuteximo ndash total de 7
impactos) R (regional ou Norte da Ilha ndash total de 29 impactos) e M (municipal ou
metropolitano - total de 13 impactos) Os demais criteacuterios para a classificaccedilatildeo dos impactos
dizem respeito agrave natureza do impacto (novo ampliaccedilatildeo ou antecipaccedilatildeo) ao momento de
ocorrecircncia nas fases do empreendimento (planejamento implantaccedilatildeo ou ocupaccedilatildeo) agrave
forma de manifestaccedilatildeo (direta ou indireta) ao grau de importacircncia (alto meacutedio ou baixo) agrave
magnitude (grande meacutedia ou pequena) agrave persistecircncia do impacto (temporaacuterio ou
permanente) agrave manifestaccedilatildeo (imediato a meacutedio ou longo prazo) agrave durabilidade (curto
meacutedio ou longo) ao grau de reversibilidade do efeito (reversiacutevel parcialmente reversiacutevel ou
irreversiacutevel) e agrave possibilidade de mitigaccedilatildeo e de compensaccedilatildeo direta (total parcial nenhuma
ou desnecessaacuteria)
Selecionamos aqui alguns dos principais impactos identificados relacionados na
Tabela 6 conforme o meio em que ocorrem (fiacutesico bioacutetico ou soacutecio-econocircmico) segundo os
apontamentos feitos no EIA-RIMA e com suas respectivas accedilotildees de compensaccedilatildeo ou
potencializaccedilatildeo A Tabela 6 mostra tambeacutem os efeitos de cada impacto (P= positivo e N=
negativo) A lista completa dos impactos em meio fiacutesico bioacutetico e socioeconocircmico pode ser
conferida no Anexo 2 Nos textos que seguem veremos o resultado deste estudo com
maiores detalhes
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
123
Degradaccedilatildeo da qualidade da aacutegua provocada pela drenagem N Tratamento das aacuteguas de drenagem atraveacutes de zonas de banhado (Wetlands)
eou infiltraccedilatildeo
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio do empreendimento N Sistema de tratamento de esgoto proacuteprio do empreendimento
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio da populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
N
Plano Diretor Participativo do Norte da Ilha Ampliaccedilatildeo dos sistema de tratamento puacuteblico de esgoto Melhoria da viabilidade econocircmica do sistema em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de sazonalidade da demanda Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho
Risco de perda de qualidade do manancial Ingleses Rio Vermelho por ocupaccedilatildeo pela populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Monitoramento e controle do manancial
Demanda por jazidas externas (argila e pedra) N Realizar aterro de forma seletiva Buscar fontes comerciais jaacute licenciadas
Proteccedilatildeo de ambientes originais (banhado e restinga arboacuterea) pelo Parque Natural
P _
Ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes na bacia em funccedilatildeo da pressatildeo imobiliaacuteria
NProgramas de monitoramento e controle Estabelecimento de corredores ecoloacutegicos Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor participativo do Norte da Ilha e outras ferramentas de planejamento
Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria P N Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades
Saturaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio NGestatildeo diferenciada de horaacuterios de entradasaiacuteda dos funcionaacuterios Estiacutemulo ao transporte alternativo eou solidaacuterio Ampliaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio Implantaccedilatildeo de faixa exclusiva de ocircnibus
Geraccedilatildeo de traacutefego lento por transporte de cargas (aterro e materiais de construccedilatildeo)
N Gestatildeo dos horaacuterios de transporte de forma a reduzir o impacto nos horaacuterios de pico inclusive nas pontes IlhaContinente
Demanda de aacutegua do SAPIENS PARQUE N
Reuso de esgoto tratado Captura e utilizaccedilatildeo de aacutegua de chuva Equipamentos economizadores de aacutegua Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho Ampliaccedilatildeo do sistema de abastecimento previsto pela CASAN
Atraccedilatildeo de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees P _
Pressatildeo sobre o sistema de transporte coletivo N
Fornecimento de transporte proacuteprio das empresas instaladas no Sapiens Parque Horaacuterios diferenciados de entrada e saiacuteda de funcionaacuterios Sistema de pontuaccedilatildeo de sustentabilidade para transportes alternativos Aumento da frota de ocircnibus e de linhas
Aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura esporte e lazer e de serviccedilos soacutecio-educativos
P _
Adensamento de ocupaccedilotildees ao longo das vias dificultando ampliaccedilotildees futuras do sistema viaacuterio
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Legislaccedilatildeo de alinhamento eou declaraccedilatildeo de Utilidade Puacuteblica das aacutereas estrateacutegicas Campanhas informativas Definiccedilatildeo de vias alternativas
Risco de exclusatildeo das comunidades locais frente agraves oportunidades criadas N
Acessibilidade das comunidades aos equipamentos e espaccedilos de lazer entretenimento cultura esportes e serviccedilos comunitaacuterios Programas de capacitaccedilatildeo comunitaacuterios Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
Expulsatildeo da populaccedilatildeo local por aumento da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no entorno
N Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades locais Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
Aumento de violecircncia por tensatildeo soacuteciocultural N Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local Transporte diaacuterio de matildeo-de-obra
da construccedilatildeo civil
POSSIacuteVEIS ACcedilOtildeES DE MITIGACcedilAtildeO COMPENSACcedilAtildeO OU POTENCIALIZACcedilAtildeO DOS IMPACTOS
ME
IO F
IacuteSIC
OM
EIO
BIOacute
TIC
OM
EIO
SO
CIO
EC
ON
OcircM
ICO
EFEITOPRINCIPAIS IMPACTOS POTENCIAIS
IDENTIFICADOS NO SAPIENS PARQUE
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003) Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
124
421 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO FIacuteSICO E BIOacuteTICO
Dentre os impactos em meio fiacutesico identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque
destacam-se os que estatildeo relacionados aos problemas de drenagem Segundo estudos de
hidrodinacircmica do Rio Papaquara que corre ao sul do terreno boa parte da aacuterea de
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estaacute sujeita a cheias perioacutedicas A anaacutelise das interferecircncias
causadas pelo empreendimento sobre a drenagem em funccedilatildeo da disposiccedilatildeo do sistema de
lagos do projeto tornou necessaacuteria a revisatildeo do antigo Master Plan de 2003 Segundo
MASCAROacute (1994) os lagos podem funcionar como bacias de estocagem de aacutegua em aacutereas
de inundaccedilatildeo quando necessaacuterio Mas o RIMA apontou a inadequabilidade dos lagos no
momento em que interrompem os canais de drenagem existentes Aleacutem disso a reduccedilatildeo da
superfiacutecie de inundaccedilatildeo e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o
potencial de drenagem do terreno Outro aspecto criticado no estudo diz respeito agrave
necessidade de aterros nas regiotildees edificadas do empreendimento decorrente do fato de
tratar-se de aacuterea sujeita a inundaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo ao sistema de esgoto os empreendedores prometem a soluccedilatildeo
imediata atraveacutes do encaminhamento do esgoto gerado pelo empreendimento para uma
rede coletora proacutepria de tratamento a Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto Sapiens (ETE-
SAPIENS) O objetivo eacute promover o tratamento do esgoto gerado pelo parque para possiacutevel
reuso natildeo potaacutevel posterior Entretanto esta soluccedilatildeo natildeo eacute vaacutelida para o esgoto produzido
pelos habitantes ou turistas induzidos pelo empreendimento (o RIMA estima cerca de
22000 pessoas a mais que as estimativas sem o empreendimento em 2020) O Sapiens
Parque alega que o sistema de esgotamento sanitaacuterio do Norte da Ilha realizado atraveacutes da
Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE) de Canasvieiras e de outros sistemas particulares
jaacute estaacute defasado e natildeo atende agraves demandas da populaccedilatildeo na alta temporada de veratildeo
Dessa forma segundo os empreendedores a necessidade de ampliaccedilatildeo da ETE de
Canasvieiras tornar-se-ia imprescindiacutevel independente da implantaccedilatildeo do empreendimento
Em meio bioacutetico os impactos principais consistem na supressatildeo da aacuterea aberta e da
vegetaccedilatildeo aquaacutetica decorrentes das escavaccedilotildees do lago e da implantaccedilatildeo de aterros O
Sapiens Parque defende que tais aacutereas seratildeo compensadas principalmente atraveacutes da
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno onde se pretende preservar o
ambiente autoacutectone Tanto este quanto os demais impactos negativos identificados em meio
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
125
bioacutetico (como supressatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes originais pressatildeo direta sobre a
populaccedilatildeo de jacareacutes e perturbaccedilatildeo do ambiente de lontras) apresentam como medida
compensatoacuteria principal a criaccedilatildeo e gestatildeo de um Parque Natural
Apesar da importacircncia dos impactos em meio bioacutetico internos agrave aacuterea do
empreendimento e da eficiecircncia das medidas adotadas pelo Sapiens Parque para sua
mitigaccedilatildeo consideramos de maior relevacircncia os impactos em niacutevel regional e municipal Um
dos principais impactos negativos em meio bioacutetico externos ao terreno diz respeito agrave
ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes em funccedilatildeo da pressatildeo
imobiliaacuteria
A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis em razatildeo da expectativa da implantaccedilatildeo do empreendimento e mais concretamente a partir do iniacutecio de sua real implantaccedilatildeo torna as aacutereas de ambientes fraacutegeis mais suscetiacuteveis agrave ocupaccedilatildeo humana por parte de parcela da populaccedilatildeo menos favorecida economicamente dada a valorizaccedilatildeo econocircmica das aacutereas mais adequadas para o processo de urbanizaccedilatildeo Esta parcela da populaccedilatildeo atraiacuteda por potenciais oportunidades de renda ou simplesmente expulsa por pressatildeo imobiliaacuteria das aacutereas jaacute urbanizadas natildeo encontrando imoacuteveis acessiacuteveis em aacutereas adequadas tende a ocupar aacutereas improacuteprias como vaacuterzeas banhados beiras de rios e encostas gerando prejuiacutezos aos ambientes naturais remanescentes agrave paisagem e por vezes com riscos agrave populaccedilatildeo (deslizamentos e inundaccedilotildees) (RIMA 7 200332)
O Sapiens Parque coloca essa ocupaccedilatildeo irregular como existente e tendencial na
regiatildeo e que o parque somente acarretaria a aceleraccedilatildeo desse processo Como meio de
mitigaccedilatildeo do impacto o RIMA sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor para o Norte da Ilha e
de ferramentas de planejamento que possam estabelecer mecanismos legais de
planejamento e gestatildeo do espaccedilo urbano aleacutem de programas de monitoramento que
garantam o cumprimento do zoneamento urbano O RIMA cita tambeacutem a implantaccedilatildeo do
Parque Natural do empreendimento como forma de compensaccedilatildeo desse impacto
Justificativa semelhante eacute apresentada ao constatar-se que a populaccedilatildeo induzida
pelo empreendimento poderaacute colocar em risco a qualidade do aquiacutefero de Ingleses e Rio
Vermelho principal manancial de aacutegua potaacutevel subterracircneo da Ilha O RIMA coloca que a
expansatildeo urbana da regiatildeo norte trata-se de um fenocircmeno crescente que vem gerando
ocupaccedilotildees indiscriminadas legais e ilegais de importantes aacutereas desse manancial A
especulaccedilatildeo imobiliaacuteria tende a se aprofundar na regiatildeo com a implantaccedilatildeo do
empreendimento o que levaria a um aumento da demanda por aacutereas menos adequadas agrave
ocupaccedilatildeo humana e de menor valor em virtude da saturaccedilatildeo eou valorizaccedilatildeo econocircmica
das aacutereas mais adequadas para a urbanizaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo de aacutereas improacuteprias pode vir a
comprometer a qualidade da aacutegua do manancial Mas o RIMA afirma que tal processo jaacute eacute
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
126
uma realidade e como soluccedilatildeo sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor do Norte da Ilha e o
monitoramento do manancial
Mais que a metade dos impactos identificados em meio fiacutesico e bioacutetico foram
classificados como sendo de abrangecircncia interna ou local agrave aacuterea do empreendimento Jaacute os
impactos em meio soacutecio-econocircmico foram classificados em sua totalidade como sendo de
abrangecircncia regional ou metropolitana como veremos a seguir
422 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO SOacuteCIO-ECONOcircMICO
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo norte da Ilha e tambeacutem decorrente da implantaccedilatildeo
do parque apesar de apresentar seus aspectos positivos acarreta a dificuldade do acesso agrave
moradia e expulsa as comunidades locais ou como jaacute citado no item acima favorece a
ocupaccedilatildeo sobre ambientes naturais Aleacutem disso o incremento do custo de indenizaccedilotildees
futuras em casos de necessidade de desapropriaccedilotildees por parte do interesse puacuteblico
tambeacutem constitui uma consequumlecircncia da valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria
Esses resultados sobre o meio soacutecio-econocircmico foram vistos no capiacutetulo anterior
como impulsionadores da segregaccedilatildeo social urbana caracteriacutestica dos modelos de
planejamento regidos atraveacutes da loacutegica do mercado Tais impactos negativos decorrentes da
valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e apontados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque foram justificados
mais uma vez como um quadro tendencial para a regiatildeo norte da Ilha
Certamente o empreendimento contribui com estes aspectos poreacutem esta contribuiccedilatildeo tem que ser relativizada frente agraves tendecircncias atualmente observadas quanto a estes mesmos aspectos uma vez que jaacute satildeo bastante fortes e crescentes Estas tendecircncias levam a projetar o Norte da Ilha em 2020 com uma populaccedilatildeo de aproximadamente 90 mil habitantes As projeccedilotildees com o SAPIENS PARQUE elevariam estes nuacutemeros em mais 65 atingindo entatildeo aproximadamente 96 mil pessoas frente agrave populaccedilatildeo atual de aproximadamente 55 mil habitantes A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis derivada do aumento populacional eacute portanto devida antes ao tendencial do que ao empreendimento (RIMA 7 200344)
O RIMA alega que a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e suas consequumlecircncias em meio soacutecio-
econocircmico satildeo tendenciais e independentes da implantaccedilatildeo do Sapiens Parque onde o
empreendimento influenciaria pouco e soacute teria a contribuir para esta valorizaccedilatildeo atraveacutes da
qualificaccedilatildeo do espaccedilo Essa afirmaccedilatildeo eacute dada perante a justificativa de que o projeto
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
127
acarretaraacute melhorias de infra-estrutura diferenciais de equipamentos oportunidades
serviccedilos e padratildeo do espaccedilo trazendo incremento significativo em curto e meacutedio prazo
O risco de expulsatildeo da populaccedilatildeo local natildeo eacute decorrente somente da especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria mas tambeacutem das novas oportunidades criadas pelo Sapiens Parque A criaccedilatildeo e
expansatildeo de negoacutecios consiste em um dos principais aspectos positivos levantados pelo
empreendimento Segundo o RIMA o Sapiens Parque teraacute sua distribuiccedilatildeo econocircmica
definida pela realidade de Florianoacutepolis sendo cerca de 70 do empreendimento dedicado
agraves atividades de serviccedilos e 23 agraves atividades de comeacutercio Mais que isto suas atividades
satildeo significativamente diferenciadas das atividades convencionais atuais o que implicaria
em uma ampliaccedilatildeo da base de serviccedilos e produtos evitando a saturaccedilatildeo
Por outro lado de acordo com o RIMA toda a riqueza gerada aumenta o poder de
consumo e das oportunidades de negoacutecios fora do empreendimento atingindo
principalmente os setores mais convencionais da economia da cidade e sendo tambeacutem
beneficiados pelo empreendimento Todos esses fatores favorecem para a diminuiccedilatildeo da
sazonalidade do turismo que constitui a principal atividade econocircmica de Florianoacutepolis e do
Norte da Ilha Entretanto o RIMA natildeo nega que tais oportunidades estatildeo restritas somente a
pequena parcela da populaccedilatildeo
O padratildeo de sofisticaccedilatildeo de um Parque de Inovaccedilatildeo exige uma qualificaccedilatildeo diferenciada da matildeo-de-obra em todos os niacuteveis de formaccedilatildeo Portanto apesar da grande geraccedilatildeo de empregos propiciada a absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e regional dependeraacute de sua capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo O mesmo eacute vaacutelido para os empreendedores inclusive aqueles que se encontram ou se instalaratildeo nas comunidades do entorno Por outro lado se as comunidades locais natildeo participarem destes benefiacutecios tendem a ser marginalizadas socioeconomicamente e ateacute mesmo expulsas pois o seu niacutevel de renda poderaacute ser menor que o das populaccedilotildees migrantes acarretando em dificuldades de acesso agrave moradia serviccedilos e bens de consumo (RIMA 7 2003110)
Inclusive a geraccedilatildeo de empregos levantada como o principal impacto positivo do
empreendimento em meio soacutecio-econocircmico tem seus efeitos locais reduzidos por esse
mesmo fator O RIMA faz uma estimativa completa do nuacutemero de novas vagas de emprego
que surgiratildeo com a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque desde sua fase de construccedilatildeo ateacute sua
fase de operaccedilatildeo O resultado mostra um nuacutemero de 27628 empregos diretos e de 41441
empregos indiretos somente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento em um total de
69069 empregos diretos e indiretos para todo o aglomerado urbano de Florianoacutepolis
gerados nesta fase (previsatildeo para o ano 2030)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
128
O RIMA afirma que as estimativas de novos profissionais formados em niacutevel meacutedio e
superior no aglomerado urbano de Florianoacutepolis e que estaratildeo disponiacuteveis no mercado
mostram que a capacidade de matildeo-de-obra local eacute suficiente para suprir as novas vagas de
empregos diretos do empreendimento No entanto o RIMA deixa claro que ldquoeacute importante
lembrar que as contrataccedilotildees ficam por conta das empresas que iratildeo se instalar no
empreendimento e estas seguramente iratildeo obedecer a criteacuterios de meacuterito e qualificaccedilatildeo em
suas contrataccedilotildeesrdquo (RIMA 7 200336) O documento adverte nesta e em outras passagens
do texto que tais benefiacutecios nem sempre poderatildeo ser usufruiacutedos por todos jaacute que
dificilmente essas empresas ldquoestaratildeo dispostas a contratar pessoas que possuam
qualificaccedilatildeo inadequada ou inferior a outra que natildeo seja habitante do local apenas
obedecendo a criteacuterios de origem ou criteacuterios geograacuteficosrdquo (RIMA 7 200336)
Tal situaccedilatildeo repete-se para as demais fases do empreendimento como por exemplo
para a matildeo-de-obra necessaacuteria na construccedilatildeo O parque poderaacute trazer muitos empregos
locais para o ramo da construccedilatildeo civil durante sua execuccedilatildeo mas o RIMA lembra que as
empreiteiras de fora do aglomerado metropolitano de Florianoacutepolis poderatildeo trazer seu
proacuteprio quadro de trabalhadores reduzindo esse impacto positivo do empreendimento sobre
o mercado de trabalho local
Aleacutem disso a vinda de trabalhadores de fora do aglomerado urbano de Florianoacutepolis
principalmente durante a fase de construccedilatildeo do parque acarreta impactos soacutecio-culturais
regionais de natureza negativa Satildeo elas o risco de introduccedilatildeo ou propagaccedilatildeo de doenccedilas
tropicais ou sexualmente transmissiacuteveis o aumento do risco de exploraccedilatildeo ou violecircncia
sexual e o aumento da violecircncia por tensatildeo soacutecio-cultural O RIMA coloca que estes
impactos poderiam ser mitigados atraveacutes de poliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e
campanhas educativas
Para o Sapiens Parque a natureza diversificada do empreendimento amplia a base
de oferta de matildeo-de-obra e de talentos melhorando a competitividade local para ocupar as
vagas criadas O foco no conhecimento ldquocria um ambiente de inovaccedilatildeo e capacidade
aumentando o acesso dos profissionais locais agrave qualificaccedilatildeo necessaacuteria para competir com
ecircxito pelos postos de trabalho criadosrdquo (RIMA 7 200336) Por isso o RIMA destaca que a
inserccedilatildeo dos atores locais no mercado de trabalho do parque depende da oferta de cursos e
qualificaccedilotildees para que se desenvolvam as competecircncias necessaacuterias para o desempenho
de suas funccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
129
As questotildees abordadas acima colocam em duacutevida o principal argumento a favor da
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque no que se refere agrave geraccedilatildeo de empregos Aleacutem disso
constatamos ainda uma uacuteltima colocaccedilatildeo o RIMA estima somente a quantidade de
empregos que seraacute gerada pelo empreendimento sem levar em consideraccedilatildeo os empregos
que seratildeo eliminados com a presenccedila do parque Este estudo foi ignorado pelo Sapiens
Parque jaacute que natildeo foi cumprida a lei do Estatuto da Cidade (Lei 1025701) que exige o
Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) para empreendimentos desta dimensatildeo
Um segundo impacto positivo em meio soacutecio-econocircmico foi classificado pelo RIMA
como de grande magnitude o aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos O RIMA faz um
diagnoacutestico do potencial de geraccedilatildeo direta de impostos para arrecadaccedilatildeo municipal
estadual e federal O resultado mostra um total de cerca de R$ 156 bilhotildees de impostos
gerados desde a fase de implantaccedilatildeo ateacute o iniacutecio da operaccedilatildeo do parque Desses cerca de
R$ 11 bilhotildees derivam da implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque
enquanto cerca de R$ 436 milhotildees correspondem aos impostos anuais gerados pela sua
operaccedilatildeo (Tabela 7) Essas projeccedilotildees correspondem a um valor futuro (para 2020)
podendo sofrer variaccedilotildees e sendo os impostos da fase de implantaccedilatildeo distribuiacutedos em pelo
menos 15 anos
FaseTributos gerados
consolidadosPeriacuteodo
Implantaccedilatildeo e Comercializaccedilatildeo R$ 60305953000 Em 15 anos
Equipamentos R$ 525010200 Em 15 anos
Operaccedilatildeo R$ 436691869 Anual
CONSOLIDACcedilAtildeO DOS TRIBUTOS GERADOS
R$ 156476159900 Acumulado
Apoacutes operaccedilatildeo completaAteacute final de 1ordm ano de operaccedilatildeo plena (natildeo computados impostos gerados durante operaccedilatildeo parcial)
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque Fonte RIMA-1 Sapiens Parque (200328)
O RIMA afirma que dos R$ 11 bilhotildees de impostos gerados ao longo de 15 anos
atraveacutes de implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque 71 seratildeo
direcionados ao governo federal 16 ao estadual e somente 13 ao governo municipal
Dos tributos arrecadados anualmente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento somente
6 beneficiaratildeo diretamente o municiacutepio o que corresponde a cerca de R$ 26 milhotildeesano
Em um comparativo com os impostos arrecadados pelo municiacutepio em 2002 tal valor
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
130
significaria uma parcela de 10 dos R$ 260 milhotildees em tributos arrecadados pelo municiacutepio
naquele ano
O valor arrecadado em impostos inclui tambeacutem tributos derivados do terreno para a
implantaccedilatildeo do empreendimento de propriedade da CODESC Entretanto em momento
algum o RIMA indica o ocircnus atribuiacutedo ao poder puacuteblico pela concessatildeo de um terreno
puacuteblico agrave iniciativa privada Nem tampouco estima os custos das atribuiccedilotildees dadas ao poder
puacuteblico como requisito para a implantaccedilatildeo do empreendimento
Aleacutem da geraccedilatildeo de empregos e do aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos outros
impactos positivos em acircmbito soacutecio-econocircmico foram levantados pelo RIMA aumento de
ofertas de serviccedilos especializados qualificaccedilatildeo da paisagem urbana equalizaccedilatildeo do fluxo
turiacutestico ao longo do ano com reduccedilatildeo da sazonalidade ampliaccedilatildeo da capacidade de PampD
(pesquisa e desenvolvimento) aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura
esporte e lazer aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos soacutecio-educativos e atraccedilatildeo
de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees Entretanto satildeo vaacutelidas aqui tambeacutem as
criacuteticas jaacute feitas quanto agrave possibilidade de real apropriaccedilatildeo dos equipamentos e serviccedilos
fornecidos no parque pela comunidade local
Dentre os impactos negativos apontados pelo RIMA em meio soacutecio-econocircmico
constituem impactos de pequena magnitude a pressatildeo que o empreendimento exerceraacute
sobre os serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo de sauacutede e de seguranccedila
Destacam-se a saturaccedilatildeo do sistema viaacuterio e a pressatildeo sobre o sistema de transporte
coletivo e o adensamento ao longo das vias dificultando futuras ampliaccedilotildees viaacuterias Em
todos esses casos o RIMA coloca suas implicaccedilotildees como decorrentes do crescimento
populacional no Norte da Ilha sendo que a implantaccedilatildeo do empreendimento somente
aceleraria este quadro tendencial
Da mesma maneira a demanda de aacutegua da populaccedilatildeo induzida pelo
empreendimento eacute apresentada pelo RIMA como parte de um processo tendencial de
crescimento populacional Segundo o RIMA o Sapiens Parque seraacute responsaacutevel por um
incremento populacional no Norte da Ilha de 69 e um incremento no nuacutemero de turistas de
455 (projeccedilotildees para 2020) Nesse caso o Sapiens Parque conta com as ampliaccedilotildees jaacute
previstas para a regiatildeo pela Casan (Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento) para
natildeo exceder o limite do sistema de abastecimento de aacutegua
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
131
No que se refere agrave pressatildeo sobre o sistema de energia eleacutetrica originada pelo
incremento populacional e turiacutestico o Sapiens Parque tambeacutem conta com as ampliaccedilotildees da
Celesc (Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA) previstas para a regiatildeo norte de
Florianoacutepolis O RIMA afirma que a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque possibilitaraacute um maior
nuacutemero de visitantes ao longo do ano e natildeo somente na alta temporada o que tornaraacute os
sistemas de infra-estruturas mais atrativos economicamente
Tanto os impactos no sistema de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica quanto no sistema
de distribuiccedilatildeo de aacutegua satildeo ao terreno do empreendimento Segundo o RIMA as
edificaccedilotildees do Sapiens Parque seratildeo dotadas de sofisticados sistemas de economia de
energia e de reuso da aacutegua com o objetivo de reduccedilatildeo de tais impactos
423 ATRIBUICcedilOtildeES DADAS AO PODER PUacuteBLICO
Nos textos anteriores constatamos os principais impactos negativos e positivos em
meios bioacutetico fiacutesico e soacutecio-econocircmico relacionados ao empreendimento Sapiens Parque
Mais de 70 desses impactos foram identificados pelo EIA-RIMA como sendo de
abrangecircncia regional e metropolitana
O impactos negativos identificados em meio bioacutetico e fiacutesico e internos agrave aacuterea do
empreendimento apresentam como meios de mitigaccedilatildeo accedilotildees a serem desenvolvidas pelo
proacuteprio parque Jaacute os impactos que ocorrem aleacutem do terreno do empreendimento em sua
maioria originados pelo crescimento populacional e pela valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria foram
tratados pelo RIMA como parte de um quadro tendencial da regiatildeo O RIMA coloca que as
influecircncias causadas pela implantaccedilatildeo do parque seriam de pequena magnitude dentro de
um processo existente
Com essa justificativa o Sapiens Parque atribui uma seacuterie de accedilotildees como
responsabilidade do poder puacuteblico para a viabilizaccedilatildeo do empreendimento Segundo o
RIMA parte destas atribuiccedilotildees jaacute eram necessaacuterias e previstas independente da
implantaccedilatildeo do parque Podemos verificar por exemplo que a principal compensaccedilatildeo
promovida pelo parque como forma de mitigaccedilatildeo dos impactos em meio natural consiste na
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno cujo objetivo principal eacute manter os
ambientes autoacutectones Entretanto segundo o documento do RIMA a implantaccedilatildeo do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
132
Parque Natural eacute de responsabilidade do poder puacuteblico assim como as demais atribuiccedilotildees
abaixo (RIMA 9 2003)
Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor Participativo para o Norte da Ilha
Elaboraccedilatildeo do Plano de Recursos Hiacutedricos da Bacia do Rio Ratones
Elaboraccedilatildeo e do Projeto Executivo de macrodrenagem de Canasvieiras e
Cachoeira do Bom Jesus
Ampliaccedilatildeo dos Sistemas de Abastecimento de aacutegua do Norte da Ilha a partir do
manancial CubatatildeoPilotildees
Execuccedilatildeo do Projeto de Macrodrenagem de Canasvieiras e Cachoeiras do Bom
Jesus
Teacutermino da duplicaccedilatildeo da SC-401 ateacute Canasvieiras
Duplicaccedilatildeo da SC-403 (ou alternativa equivalente)
Duplicaccedilatildeo da Av Luiz Boiteux Piazza
Implantaccedilatildeo de passarelas faixas de pedestre e semaacuteforos na Av Luiz Boiteux
Piazza
Implantaccedilatildeo das accedilotildees de cunho socioambiental durante a implantaccedilatildeo e
operaccedilatildeo da primeira fase do empreendimento
Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Interna do Sapiens Parque ou ampliaccedilatildeo da
Subestaccedilatildeo Ilha Norte e Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Ingleses
O RIMA natildeo contabiliza os custos atribuiacutedos ao poder puacuteblico mas em setembro de
2006 o Sapiens Parque anunciou que o empreendimento tem potencial para atrair
investimentos da ordem de R$ 4 bilhotildees Ateacute aquele momento haviam sido investidos cerca
de R$ 35 milhotildees em recursos proacuteprios dos acionistas e somente para a primeira fase do
empreendimento a Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis teria de fazer investimentos de
R$15 milhotildees em infra-estrutura
424 ASPECTOS LEGAIS
O licenciamento do Sapiens Parque compete ao oacutergatildeo estadual Fundaccedilatildeo do Meio
Ambiente (FATMA) Entretanto por localizar-se dentro de um raio de 10 km da Unidade de
Conservaccedilatildeo Federal Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o licenciamento do parque depende da
anuecircncia preacutevia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
133
Renovaacuteveis (IBAMA) O terreno de inserccedilatildeo do empreendimento localiza-se dentro da zona
de amortecimento da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes ficando sujeita a zoneamento e normas
especiacuteficas de uso e ocupaccedilatildeo do solo e dos recursos naturais Segundo o RIMA o projeto
do Sapiens Parque buscou contemplar as diretrizes impostas pelo Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
O RIMA ainda afirma que o projeto encontra-se dentro das leis ambientais que regem
a aacuterea referentes ao Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro agrave preservaccedilatildeo da Mata
Atlacircntica e agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o Procurador da
Repuacuteblica Valmor Alves Moreira completou os apontamentos levantados pela comunidade
tendo como preocupaccedilatildeo principal os aspectos ambientais de interesse federal O
procurador contestou o Estudo de Impacto Ambiental do Sapiens Parque com base em um
relatoacuterio produzido em Brasiacutelia por teacutecnicos da quarta Cacircmara de Coordenaccedilatildeo e Revisatildeo
ldquoBom a primeira questatildeo eacute a questatildeo ambiental a repercussatildeo nos rios de interesse federal Afinal de contas estamos em uma ilha noacutes temos aacutereas de manguezais proacuteximas noacutes temos uma estaccedilatildeo ecoloacutegica noacutes temos outras unidades de conservaccedilatildeo federal no entorno Enfim Florianoacutepolis eacute uma ilha e muito sensiacutevel com ambientes muito sensiacuteveis Entatildeo nossa primeira projeccedilatildeo de ocupaccedilatildeo eacute sobre o prisma ambiental Os impactos no sistema viaacuterio os impactos sociais e econocircmicos a populaccedilatildeo que vai ser atraiacuteda a massa de trabalhadores que vatildeo construir aqui onde eacute que vatildeo ficar Enfim satildeo muitos pontos a serem esclarecidosrdquo (Valmor Alves Moreira Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
Apesar dos questionamentos apontados pelo Ministeacuterio Puacuteblico Federal em 2004
com relaccedilatildeo aos impactos ambientais sociais e econocircmicos do empreendimento em
setembro de 2006 o projeto recebeu da FATMA a Licenccedila Ambiental Preacutevia (LAP) que
confere sua viabilidade ambiental Como o terreno de implantaccedilatildeo do projeto localiza-se em
aacuterea urbana o oacutergatildeo competente (FATMA) pode autorizar o parcelamento do solo ou
qualquer edificaccedilatildeo para fins urbanos desde que cumpra com o artigo 5 do Decreto 75093
que oferece restriccedilotildees a aacutereas urbanas que se enquadrem em um dos trecircs casos abaixo
1 Ser abrigo de espeacutecies da flora e da fauna silvestres ameaccediladas de extinccedilatildeo
2 Exercer funccedilatildeo de proteccedilatildeo de mananciais ou de prevenccedilatildeo e controle de erosatildeo
3 Ter excepcional valor paisagiacutestico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
134
Segundo o EIA-RIMA do Sapiens Parque sua aacuterea natildeo se enquadra em nenhum
dos trecircs casos acima de forma que suas restriccedilotildees satildeo condicionadas pelo Plano Diretor
Para a viabilizaccedilatildeo do Sapiens Parque foram necessaacuterias alteraccedilotildees na lei que dispotildee
sobre o zoneamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo da regiatildeo O Plano Diretor dos Balneaacuterios
(Lei Municipal 219385) designava o terreno como Aacuterea Residencial Predominante 5 (ARE-
5) com iacutendices de aproveitamento e taxas de ocupaccedilatildeo similares agraves do entorno Tal iacutendice
permite construccedilotildees de ateacute 25 m de altura e 80 de lote edificado
Esse zoneamento foi modificado pela Lei Complementar 13404 alterando o
zoneamento ARE-5 para Aacuterea Mista Central Especiacutefica (AMC-e) Aacuterea Turiacutestica Exclusiva
Especiacutefica (ATE-e) Aacuterea para Parques Tecnoloacutegicos Especiacutefica 1 e 2 (APT-e 1 e 2) Aacuterea de
Serviccedilo Suplementar Especiacutefica 1 e 2 (ASS-e 1 e 2) Aacuterea Turiacutestica Residencial Especiacutefica
(ATR-e) e Aacuterea Comunitaacuteria Institucional Especiacutefica (ACI-e)
O novo zoneamento manteacutem a obrigatoriedade de ter-se ao menos 45 do terreno
disponibilizado agraves aacutereas comuns (Aacutereas Verdes de Lazer Aacutereas Comunitaacuterias Institucionais
ou Aacutereas do Sistema Viaacuterio e de Transportes) Aleacutem disso o novo zoneamento estabelece
iacutendices e taxas iguais ou mais restritivas do que o zoneamento anterior
As normas de zoneamento aplicaacuteveis ao territoacuterio do projeto trazem ainda o
estabelecimento de novos dispositivos legais como por exemplo (RIMA 5 200303)
Obrigatoriedade de manter 30 da aacuterea dos terrenos sem impermeabilizaccedilatildeo
Previsatildeo expressa sobre a existecircncia de sistema completo de infra-estrutura de
saneamento baacutesico ndash coleta e tratamento
Previsatildeo de meios de transporte alternativos (bicicleta e outros)
Previsatildeo de que ocorrendo a descaracterizaccedilatildeo do conceito do projeto Sapiens
Parque o regime urbaniacutestico da aacuterea voltaraacute a ser regido pelo regime anterior
O Sapiens Parque ignorou a obrigaccedilatildeo do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV)
exigido pelo Estatuto da Cidade O RIMA coloca que a lei do Estatuto da Cidade ldquoexige a
realizaccedilatildeo de estudo de impacto ambiental (EIA) ou de estudo de impacto de vizinhanccedila
(EIV)rdquo (RIMA 5 200306)
O EIV tem o objetivo de contemplar os efeitos positivos e negativos do
empreendimento quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo residente na aacuterea e nas suas
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
135
proximidades O Sapiens Parque alega que o EIA tem escopo maior que o EIV englobando
este uacuteltimo Entretanto eacute sabido que o EIA e o EIV satildeo complementares e um natildeo substitui
a elaboraccedilatildeo do outro Em seu artigo 36 o Estatuto da Cidade diz que os empreendimentos
e atividades privados ou puacuteblicos em aacuterea urbana que dependeratildeo de elaboraccedilatildeo de EIV
para obtenccedilatildeo de licenccedilas ou autorizaccedilotildees de construccedilatildeo seratildeo definidos por lei municipal
Segundo o RIMA ateacute 2002 natildeo havia em Florianoacutepolis uma lei geral disciplinando o EIV
pelo qual estaria o Sapiens Parque dispensado
43 AVALIACcedilOtildeES DA COMUNIDADE LOCAL
As questotildees abordadas pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque incluem parte das
questotildees levantadas pela comunidade local com relaccedilatildeo ao empreendimento O Sapiens
Parque realizou uma accedilatildeo de discussatildeo comunitaacuteria junto a representantes de entidades
comunitaacuterias e organizaccedilotildees da sociedade civil de Florianoacutepolis Tal procedimento faz parte
do processo de inserccedilatildeo socioambiental do empreendimento e foi realizado principalmente
no ano de 2003 atraveacutes de seminaacuterios e grupos de trabalho e discussatildeo
Dentre as observaccedilotildees apontadas pela comunidade e ainda natildeo tratadas neste
capiacutetulo destacamos a indagaccedilatildeo quanto agrave possibilidade da realizaccedilatildeo de um plebiscito
como forma de constatar a posiccedilatildeo da comunidade com relaccedilatildeo ao empreendimento O
Sapiens Parque justificou a resposta negativa com a afirmaccedilatildeo de que ldquonatildeo haacute opccedilotildees
melhores que as apresentadas para fomentar o desenvolvimento urbano de forma sustentaacutevel
para a regiatildeordquo (DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL 200336)
Os atores sociais contatados levantaram ainda que os novos valores decorrentes da
migraccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo acentuadas levam agrave perda dos costumes tradicionais e da
identidade local O empreendimento tem a oportunidade de reverter parcialmente este
processo atraveacutes do incentivo ao resgate cultural e agraves tradiccedilotildees locais identificando
oportunidades de negoacutecios locais e criando espaccedilos culturais
O desemprego e a desqualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra local identificada pelo EIA-RIMA
do empreendimento consistem tambeacutem algumas das principais preocupaccedilotildees da
comunidade O crescimento populacional a sazonalidade acentuada do turismo a distacircncia
do centro comercial e o decliacutenio das atividades rurais e de pesca evidenciam o quadro do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
136
desemprego na regiatildeo O Sapiens Parque promete a geraccedilatildeo de empregos como forma de
amenizar este quadro mas teraacute essas expectativas frustradas localmente se natildeo existirem
programas de qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra e empreendedorismo local O empreendimento
conta com parcerias e com a criaccedilatildeo de moacutedulos comunitaacuterios que visem tal qualificaccedilatildeo
A comunidade tambeacutem apontou a carecircncia de equipamentos e espaccedilos puacuteblicos de
cultura e lazer e a necessidade de atualizaccedilatildeo do Plano Diretor da regiatildeo levando em
consideraccedilatildeo a inserccedilatildeo do parque e a pressatildeo sobre os ambientes naturais Projetos
alternativos antigos para o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque (como o projeto
turiacutestico Orla Norte ou o projeto de loteamentos residenciais) evidenciam a tendecircncia de
ocupaccedilatildeo da aacuterea Se tal ocupaccedilatildeo eacute apontada como inevitaacutevel as condicionantes do
terreno evidenciam ao menos que o projeto de ocupaccedilatildeo deve ter claro interesse puacuteblico e
responsabilidade socioambiental
Na audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o representante
da comunidade da Cachoeira do Bom Jesus afirmou que natildeo haacute infra-estrutura no Norte da
Ilha que decirc suporte ao aumento do nuacutemero de pessoas decorrente da implantaccedilatildeo do
parque Outra criacutetica apontada na audiecircncia eacute de que a maioria das condicionantes do
Sapiens Parque satildeo remetidas ao poder puacuteblico como jaacute comentado em textos anteriores
(ENTREVISTA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA TV JUSTICcedilA 2004)
Por fim segundo a Resoluccedilatildeo 00186 do CONAMA o RIMA ldquodeve ser apresentado
de forma objetiva e adequada a sua compreensatildeordquo(RESOLUCcedilAtildeO CONAMA 00186) O
RIMA do Sapiens Parque trata-se praticamente de uma coacutepia do EIA com a supressatildeo de
um dos capiacutetulos A complexidade do documento acaba dificultando a compreensatildeo da
comunidade local em relaccedilatildeo aos verdadeiros impactos do projeto
44 AVALIACcedilOtildeES DO MASTER PLAN 2005
As criacuteticas feitas pelo IAB em 2002 associadas agraves consideraccedilotildees da comunidade e
aos impactos identificados no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de 2003 influenciaram a
concepccedilatildeo do novo projeto para o parque que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Cepa
Atraveacutes de uma anaacutelise do projeto apresentado em 2005 podemos constatar a preocupaccedilatildeo
em delimitar gradientes de ocupaccedilatildeo no siacutetio de implantaccedilatildeo do empreendimento definidos
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
137
conforme a fragilidade do ambiente natural (Figura 20) Segundo esse conceito o terreno foi
edificado a partir dos trecircs gradientes de ocupaccedilatildeo paralelamente ao Rio Papaquara (ao sul
do terreno) do menos edificado ao mais edificado (Figura 21)
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
RIO PAPAQUARA
RIO DO BRAacuteS
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
138
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como podemos observar na Figura 21 outra preocupaccedilatildeo do novo projeto consistiu
em natildeo obstruir os canais de drenagem pelo desenho dos lagos artificiais No novo Master
Plan pode-se observar a preocupaccedilatildeo em manter intactos os principais remanescentes
vegetais do terreno aproveitando as demais aacutereas para as edificaccedilotildees O projeto manteacutem o
Parque Natural ao longo do Rio Papaquara como reserva e compensaccedilatildeo ambiental onde
seriam realizadas as iniciativas soacutecio-ambientais do empreendimento
As aacutereas mais edificadas localizam-se junto agrave Av Luiz Boiteux Piazza (ao norte do
terreno paralela ao Rio Papaquara) e conformam-se a partir dessa rua interligando o
moacutedulo Experientia e o centro cultural e de eventos (Figura 21- ao centro em marrom) com
as edificaccedilotildees direcionadas aos negoacutecios urbanos - turismo e empresas de serviccedilos
(Figura 21- em amarelo e vermelho) Entretanto o espaccedilo dedicado a equipamentos
puacuteblicos comunitaacuterios de sauacutede e educaccedilatildeo (Figura 21- nos extremos em marrom) ainda
aparece em segundo plano no projeto localizado nos cantos do terreno inclusive proacuteximos
agraves estaccedilotildees de transbordo do empreendimento O moacutedulo Scientia opera no segundo
gradiente de ocupaccedilatildeo com edificaccedilotildees isoladas (Figura 21- em azul escuro) localizadas
nas aacutereas onde a vegetaccedilatildeo autoacutectone eacute menos incidente A Figura 22 mostra a perspectiva
RIO PAPAQUARA
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
139
com a implantaccedilatildeo completa do Master Plan 2005 do Sapiens Parque Outras imagens
desta versatildeo do projeto podem ainda ser visualizadas no Anexo 3
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
O Master Plan 2005 mostra-se mais efetivo na tentativa de inserccedilatildeo do projeto no
contexto urbano existente ao levantar o conceito dos gradientes de ocupaccedilatildeo e ao levar em
consideraccedilatildeo o entorno edificado e viaacuterio na sua concepccedilatildeo Apesar da visiacutevel melhora do
projeto urbano e arquitetocircnico do Master Plan 2005 em relaccedilatildeo ao projeto apresentado em
2003 pela Ecoplan podemos verificar que o projeto ainda reforccedila pouco o caraacuteter puacuteblico
que deve ter ao privilegiar a posiccedilatildeo dos setores privados em detrimento aos equipamentos
puacuteblicos e comunitaacuterios
O projeto natildeo apresenta articulaccedilatildeo desses equipamentos puacuteblicos e comunitaacuterios
com o contexto urbano e o Parque Natural o que coloca em duacutevida a real apropriaccedilatildeo da
populaccedilatildeo local de uma aacuterea que deveria caracterizar-se como um grande parque puacuteblico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
140
45 DIAGNOacuteSTICO FINAL AVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES
No iniacutecio do trabalho colocamos que nosso objetivo principal seria analisar o Sapiens
Parque como poliacutetica urbana para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis apontando os
limites do projeto no que diz respeito agrave principal proposta do empreendimento o
desenvolvimento baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental A partir das
anaacutelises feitas ateacute o presente do empreendimento e das conclusotildees parciais relacionadas
aos grandes projetos urbanos do capiacutetulo anterior podemos apontar alguns dos limites do
projeto Sapiens Parque como proposta de desenvolvimento sustentaacutevel Esses limites foram
identificados segundo as dimensotildees criteacuterios e objetivos de sustentabilidade vistos no
Capiacutetulo 2 e estatildeo esquematizados na Tabela 8 Para esta avaliaccedilatildeo separamos os limites
relacionados agrave sustentabilidade ambiental das demais sustentabilidades (social cultural
territorial econocircmica e poliacutetica)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
141
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADEAVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE COMO PROPOSTA
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
A pressatildeo imobiliaacuteria e a expulsatildeo de alguns grupos sociais podem levar agrave ocupaccedilatildeode zonas ambientalmente protegidas do entorno causando consequumlente depredaccedilatildeoambiental e fragmentaccedilatildeo dos ambientes naturais remanescentes
O terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se em aacuterea de faacutecil inundaccedilatildeo A reduccedilatildeo da superfiacutecie de inundaccedilatildeo decorrente da construccedilatildeo das edificaccedilotildees e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o potencial de drenagem do terreno
A reduccedilatildeo do impacto ambiental proveniente da construccedilatildeo dos aterros necessaacuteriospara as edificaccedilotildees depende da realizaccedilatildeo de aterros seletivos que diminuam autilizaccedilatildeo dos recursos naturais natildeo-renovaacuteveis para tal fim
A integridade do manancial Ingleses Rio Vermelho depende de investimentospuacuteblicos em infra-estrutura e do planejamento fiscalizaccedilatildeo e monitoramento da regiatildeoe do aquumliacutefero para que natildeo sofra danos oriundos do empreendimento e da populaccedilatildeoinduzida por ele
O projeto natildeo prioriza o caraacuteter social e puacuteblico a que se propotildee colocando comoprimaacuterias as atividades destinadas aos interesses privados e como secundaacuterias asatividades espaccedilos puacuteblicos e equipamentos relacionados aos aspectos sociaisConsequumlentemente os investimentos puacuteblicos necessaacuterios para a viabilizaccedilatildeo doparque (terreno de implantaccedilatildeo e investimentos em infra-estrutura) tambeacutem priorizam ocaraacuteter privado do empreendimento
A concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos no Norte da Ilha ocasionaraacute provaacutevelfragmentaccedilatildeo da cidade uma vez que outras aacutereas carentes de infra-estrutura ficamdesamparadas pelo Poder Puacuteblico A tendecircncia eacute a valorizaccedilatildeo da regiatildeo deimplantaccedilatildeo do parque devido agraves melhorias em infra-estrutura enquanto ocorre oaumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccediloscaracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo do entorno do parque acarretaraacute provaacutevel expulsatildeoe substituiccedilatildeo das comunidades locais
O projeto somente cumpriraacute sua proposta de superar a exclusatildeo social se priorizar osaspectos sociais do empreendimento e atraveacutes de programas de capacitaccedilatildeocomunitaacuteria e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo
A implantaccedilatildeo do parque acarretaraacute o aumento populacional na regiatildeo norte deFlorianoacutepolis A situaccedilatildeo atual mostra que a regiatildeo jaacute apresenta carecircncia de infra-estrutura (sistema viaacuterio esgoto aacutegua energia) natildeo comportando o aumento dademanda sem o devido planejamento
Exclusatildeo econocircmica e desvalorizaccedilatildeo do trabalho das comunidades locais frente agravenecessidade da matildeo-de-obra qualificada imposta pelo Parque A garantia de novosempregos para a comunidade local em todas as fases do empreendimento depende depoliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
O modelo de planejamento baseado na loacutegioca do mercado reforccedila a produccedilatildeo ereproduccedilatildeo de desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica sociale espacial
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
DEMAIS SUSTENTABILIDADES (SOCIAL CULTURAL
TERRITORIAL ECONOcircMICA E
POLIacuteTICA)
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
142
Os limites apontados na Tabela 8 resumem as principais avaliaccedilotildees feitas ateacute o
presente pelos atores envolvidos no projeto Sapiens Parque e mostram que a proposta
urbana eacute ainda restrita no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel De maneira
geral podemos constatar que o projeto Sapiens Parque coloca-se como promotor do
desenvolvimento sustentaacutevel a partir basicamente de cinco aspectos principais
1- Preservaccedilatildeo dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo atraveacutes do
Parque Natural e do conceito de ldquogradientes de ocupaccedilatildeordquo adotado para as edificaccedilotildees do
empreendimento (Master Plan 2005 do Sapiens Parque)
2- O parque promete a construccedilatildeo de edificaccedilotildees sustentaacuteveis com economia de
energia reuso da aacutegua e estaccedilatildeo particular de tratamento de esgoto
3- O projeto tem como um dos conceitos a induacutestria da tecnologia e da informaacutetica
considerada uma induacutestria ldquolimpardquo e proacutepria para regiotildees de rico ambiente natural como
Florianoacutepolis
4- O parque propotildee-se como promotor do turismo sustentaacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico tendo como base um conjunto de equipamentos de lazer
cultura educaccedilatildeo esportes sauacutede eventos e gastronomia
5- O parque tem como uma das metas a geraccedilatildeo de empregos e diminuiccedilatildeo da
exclusatildeo social
Entretanto muitos dos aspectos acima relacionados quando natildeo se dedicam
exclusivamente agrave aacuterea de implantaccedilatildeo do terreno ignorando as demais regiotildees de
abrangecircncia do projeto apresentam limites que impedem sua real efetivaccedilatildeo
As diretrizes de sustentabilidade urbana delimitadas pela Agenda 21 Brasileira
defendem que eacute necessaacuterio um planejamento urbano que coloque restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio Carecircncias de infra-estrutura e a ocupaccedilatildeo de ambientes
naturais na regiatildeo norte da Ilha mostram que o projeto do Sapiens Parque deve ser
articulado com um Plano Diretor para toda a regiatildeo capaz de prever e planejar a
concentraccedilatildeo populacional e principalmente seus impactos ambientais Do contraacuterio o
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
143
empreendimento natildeo poderaacute ser concebido como um novo centro articulador e propulsor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel
Como tambeacutem podemos constatar na Tabela 8 um projeto da dimensatildeo do Sapiens
Parque pode acarretar em excessiva concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos em sua aacuterea
de implantaccedilatildeo Tal fato resulta na fragmentaccedilatildeo da cidade e na criaccedilatildeo de regiotildees com
carecircncia de investimentos e infra-estrutura contrariando os criteacuterios de sustentabilidade
territorial e poliacutetica vistos neste trabalho
A geraccedilatildeo de empregos e a inclusatildeo social atraveacutes do trabalho que seriam os
principais propulsores do desenvolvimento regional sustentaacutevel econocircmico e social
dependem de accedilotildees de capacitaccedilatildeo e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos
de educaccedilatildeo local para que sejam efetivados Do contraacuterio podemos concluir que a
tendecircncia eacute o aumento da exclusatildeo econocircmica e social uma vez que natildeo seratildeo todas as
pessoas as capacitadas para os empregos gerados pelo parque
Concluiacutemos tambeacutem que a exclusatildeo social e a consequumlente segregaccedilatildeo soacutecio-
espacial da cidade podem ser fortalecidas ainda pela provaacutevel valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da
regiatildeo de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de inserccedilatildeo
social o modelo de planejamento baseado na loacutegica do mercado tende entatildeo a aumentar as
desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica social e espacial
A iniciativa de o parque ser um precursor do turismo sustentaacutevel para a regiatildeo eacute
notaacutevel mas tambeacutem somente teraacute real efetivaccedilatildeo se devidamente acompanhado de um
planejamento turiacutestico para todo o Norte da Ilha Destacamos ainda a necessidade de o
Sapiens Parque estar articulado com toda a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis sem
esquecer da porccedilatildeo continental equivalente Desconhecer a parte continental de
Florianoacutepolis em um projeto deste porte implica em reconhecer a sua insustentabilidade
Apesar de o projeto ainda ser bastante restrito no alcance do desenvolvimento
sustentaacutevel para a regiatildeo e o municiacutepio satildeo vaacutelidas as accedilotildees locais propostas pelo parque
que visam a melhoria da sustentabilidade do empreendimento em si atraveacutes da preservaccedilatildeo
dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo e da aplicaccedilatildeo de conceitos de
sustentabilidade nas edificaccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
144
Entretanto conforme afirma VEIGA (2005113) ldquoa hipoteacutetica conciliaccedilatildeo entre o
crescimento econocircmico moderno e a conservaccedilatildeo da natureza natildeo eacute algo que possa ocorrer
no curto prazo e muito menos de forma isolada em certas atividades ou em locais
especiacuteficosrdquo Portanto o empreendimento Sapiens Parque natildeo pode isolada e localmente
ser considerado um projeto de desenvolvimento urbano sustentaacutevel sem apresentar uma
articulaccedilatildeo e um planejamento conjunto com toda a regiatildeo e o aglomerado urbano e sem
levar em consideraccedilatildeo a realidade soacutecio-econocircmica e ambiental de Florianoacutepolis
Eacute preciso ter consciecircncia de que o modelo de planejamento estrateacutegico regido pela
loacutegica do mercado e importado dos paiacuteses do capitalismo avanccedilado quando aplicado agrave
realidade brasileira apresenta seus limites na busca de uma poliacutetica urbana de
desenvolvimento sustentaacutevel Os esforccedilos do empreendimento Sapiens Parque na direccedilatildeo
desta satildeo vaacutelidos poreacutem ainda restritos e insuficientes para o alcance efetivo da
sustentabilidade social econocircmica e ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
145
CONCLUSOtildeES
Na introduccedilatildeo deste trabalho comentamos que ele estaria estruturado a partir de
dois eixos principais O primeiro eixo diz respeito a um paradigma de desenvolvimento
denominado sustentaacutevel que procura conciliar o crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo com
resultados positivos em meio social e ambiental O segundo eixo estruturador deste trabalho
gira em torno de um outro modelo desta vez um modelo de planejamento urbano regido
segundo estrateacutegias determinadas pela loacutegica do mercado e que busca a inserccedilatildeo global
das cidades em um cenaacuterio mundial marcado pelas transformaccedilotildees da globalizaccedilatildeo
A pesquisa procurou delinear os principais conceitos e caracteriacutesticas desses dois
paradigmas que vecircm surgindo como um campo feacutertil para a proliferaccedilatildeo de modelos de
gestatildeo urbana e estrateacutegias de desenvolvimento local O estudo procurou verificar atraveacutes
do projeto urbano Sapiens Parque para Florianoacutepolis a eficiecircncia da aplicaccedilatildeo do modelo
de planejamento urbano analisado no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel
Cabe colocar aqui que perante dois temas de tamanha complexidade como os que
foram estudados muitos cortes foram necessaacuterios para que se pudesse dar fechamento agrave
dissertaccedilatildeo sem que se tornasse demasiadamente prolongada A pesquisa deteve-se
principalmente em analisar o empreendimento Sapiens Parque e seus limites como
propulsor do desenvolvimento sustentaacutevel em niacutevel regional tendo oferecido pouco enfoque
nas avaliaccedilotildees locais que dizem respeito agraves reflexotildees espaciais do projeto urbano
propriamente dito
No momento de finalizaccedilatildeo do trabalho buscamos levantar alguns questionamentos
que surgiram no decorrer da presente pesquisa os quais ainda natildeo obtivemos respostas
seraacute possiacutevel que dois modelos aparentemente antagocircnicos no discurso possam caminhar
juntos no processo de planejamento Seraacute possiacutevel conciliar na praacutetica dentro do contexto
brasileiro marcado por desigualdades sociais um discurso provavelmente utoacutepico como o do
desenvolvimento sustentaacutevel com um discurso que remete necessariamente a uma funccedilatildeo
mercadoloacutegica especiacutefica de determinado territoacuterio No caso de Florianoacutepolis seraacute o projeto
do empreendimento Sapiens Parque no Norte da Ilha a melhor possibilidade de
reurbanizaccedilatildeo para o alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
146
Como verificamos no segundo capiacutetulo deste trabalho o conceito de
desenvolvimento de um territoacuterio ao contraacuterio do crescimento econocircmico natildeo se restringe
somente aos fenocircmenos econocircmicos secundaacuterios referindo-se principalmente agraves mudanccedilas
qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo priorizando a melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza a dimensatildeo
ambiental nesse conceito fundamentando sua harmonizaccedilatildeo com os objetivos sociais e
econocircmicos sendo concebido como aquele que assegura o atendimento das necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraccedilotildees satisfazerem suas
proacuteprias necessidades Significa permitir ldquoque todos tenham atendidas as suas necessidades
baacutesicas e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar suas aspiraccedilotildees a uma vida
melhorrdquo(COMISSAtildeO MUNDIAL 198847)
Visto a partir desse conceito o desenvolvimento sustentaacutevel aparenta vago e
impreciso dando margem a muitas interpretaccedilotildees tendo sofrido aprimoramentos apoacutes sua
popularizaccedilatildeo em 1987 Abrangendo desde os objetivos mais estreitos como a preservaccedilatildeo
dos recursos naturais ateacute os objetivos mais amplos como a hipoacutetese de mudanccedila nos
padrotildees de consumo acumulaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de riquezas o conceito do desenvolvimento
sustentaacutevel tambeacutem vem sofrendo questionamentos por muitos autores quanto agraves suas reais
possibilidades de efetivaccedilatildeo dentro do processo de acumulaccedilatildeo de riquezas caracteriacutestico
do sistema capitalista Apesar disso concordamos que tal paradigma deve ser procurado
por todas as sociedades humanas como forma de preservaccedilatildeo ambiental e melhoria da
qualidade de vida
Neste trabalho como meacutetodo de estudo optamos em utilizar a instituiccedilatildeo das
dimensotildees e objetivos de sustentabilidade (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial
econocircmica e poliacutetica) definidos por SACHS (2002) Essa classificaccedilatildeo permite o
estabelecimento de criteacuterios para cada uma das dimensotildees citadas de maneira que
funcionem como ferramentas de anaacutelise das poliacuteticas de desenvolvimento no sentido do
alcance da sustentabilidade A conservaccedilatildeo da biodiversidade mostrou-se um importante
requisito do ecodesenvolvimento expresso no caso brasileiro atraveacutes do Sistema de
Unidades de Conservaccedilatildeo e das Reservas da Biosfera
A aplicaccedilatildeo do conceito do desenvolvimento sustentaacutevel em meio urbano originou os
estudos de sustentabilidade urbana uma aacuterea de anaacutelise ainda bastante recente e em
consolidaccedilatildeo Tal associaccedilatildeo fundamentou-se no documento Agenda 21 que oferece
diretrizes de sustentabilidade urbana em niacutevel nacional e local visando o alcance de um
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
147
planejamento urbano mais sustentaacutevel O tema manifestou o padratildeo ldquocidades sustentaacuteveisrdquo
que vem se propagando entre os governos e organizaccedilotildees da sociedade civil
Concomitantemente a esse padratildeo verificamos a necessidade de terem-se as
cidades adaptadas agraves transformaccedilotildees surgidas mundialmente com o advento da
globalizaccedilatildeo em acircmbito geopoliacutetico econocircmico social e tecnoloacutegico O modelo de
planejamento urbano industrial que predominou no Brasil ateacute os anos 1970 direcionado pelo
Estado e baseado em categorias funcionais mostrou-se obsoleto perante essa nova
realidade sendo substituiacutedo pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Conforme verificamos no
terceiro capiacutetulo a nova ordem urbana implica na competitividade entre as cidades tendo
como principal objetivo seu posicionamento como centro de articulaccedilatildeo e controle das
economias mundiais e sua inserccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
O modelo estrateacutegico de planejamento nasceu da gestatildeo empresarial sendo
aplicado ao espaccedilo urbano como uma resposta agraves mudanccedilas impostas pela globalizaccedilatildeo
Ele sugere que a competiccedilatildeo interurbana consiste em uma saiacuteda inevitaacutevel perante tais
mudanccedilas jaacute que a globalizaccedilatildeo prejudicou a especificidade do territoacuterio como unidade de
produccedilatildeo e consumo ignorando as fronteiras poliacutetico-administrativas Como consequumlecircncia
as cidades passaram a serem constituiacutedas a partir de uma sociedade integrada em rede
acompanhadas de uma nova realidade econocircmica social e poliacutetica
O novo modelo de planejamento imposto fundamenta-se na articulaccedilatildeo necessaacuteria
entre o local e o global decorrente da perda da autonomia do Estado-Naccedilatildeo como centro
regulador do planejamento Dessa forma propicia-se aos governos locais o fortalecimento
poliacutetico e econocircmico elevando-os como os principais atores puacuteblicos do planejamento
ainda que estejam sujeitos agrave dependecircncia dos condicionantes externos Os governos locais
possuem entatildeo a atribuiccedilatildeo de promover as cidades para os investidores externos atraveacutes
de uma imagem positiva da cidade e da oferta de infra-estrutura e serviccedilos Tal posiccedilatildeo
objetiva alcanccedilar vantagens competitivas para a cidade como localizaccedilatildeo e expansatildeo de
empresas e atividades
O enfraquecimento do papel do Estado como indutor do desenvolvimento e sua
substituiccedilatildeo pela loacutegica do mercado constitui o primeiro paradoxo consolidado entre o
modelo de planejamento estrateacutegico e o discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Segundo
os criteacuterios de sustentabilidade poliacutetica destaca-se a necessidade da centralizaccedilatildeo e da
intervenccedilatildeo do Estado como regulador das economias e sua capacitaccedilatildeo para implementar
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
148
um projeto nacional em conjunto com os empreendedores O Estado constitui o uacutenico ator
capaz de lidar com o processo de distribuiccedilatildeo dos recursos naturais econocircmicos e poliacuteticos
intra e entre naccedilotildees e evitar situaccedilotildees de desigualdade em termos de apropriaccedilatildeo universal
dos direitos humanos buscando um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social
Entretanto o que pudemos constatar no planejamento estrateacutegico eacute a elevaccedilatildeo dos
governos locais no processo de planejamento Para a atraccedilatildeo de empresas e investimentos
o poder puacuteblico local utiliza-se de estrateacutegias de intervenccedilotildees urbanas acompanhadas de
imagens-siacutentese e discursos referentes agrave cidade por meio de uma poliacutetica de marketing
urbano como instrumento de difusatildeo e afirmaccedilatildeo Variaccedilotildees desse modelo foram vistos
neste trabalho segundo as anaacutelises do planejamento para as cidades de Barcelona Curitiba
e Rio de Janeiro trata-se de uma perspectiva de transformar essas cidades em uma espeacutecie
de ldquomercadoriardquo a ser ldquovendidardquo a um mercado mundial
Concretiza-se tambeacutem uma relaccedilatildeo imprescindiacutevel para a instituiccedilatildeo do
planejamento estrateacutegico urbano a parceria puacuteblico-privado Tal parceria nasce da
necessidade do poder puacuteblico em captar recursos adicionais agraves suas proacuteprias receitas a fim
de possibilitar a implementaccedilatildeo dos projetos de renovaccedilatildeo urbana Dessa forma os
interesses do mercado permanecem presentes no processo de planejamento permitindo a
participaccedilatildeo direta de empresaacuterios nas decisotildees referentes agrave gestatildeo urbana
A parceria puacuteblico-privado aparece bastante evidente no estudo de caso tomado
para anaacutelise neste trabalho o projeto urbano Sapiens Parque no Norte da Ilha
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional Apoiado pelos governos
municipal e estadual em exerciacutecio a efetivaccedilatildeo do empreendimento depende da coalizatildeo de
esforccedilos e recursos puacuteblicos e privados No decorrer do trabalho vimos que o projeto faz
parte de uma das iniciativas do governo local de inserir Florianoacutepolis como ldquocidade globalrdquo
buscando a atraccedilatildeo de empresas voltadas para a aacuterea da informaacutetica e tecnologia
principalmente as de capital internacional
O empreendimento tambeacutem se coloca como precursor da sustentabilidade social
econocircmica e ambiental com a promessa de geraccedilatildeo de empregos e consequumlente inclusatildeo
social Aleacutem disso o Sapiens Parque destaca seu objetivo de acabar com a sazonalidade da
atividade turiacutestica com a sua implantaccedilatildeo trazendo visitantes durante o ano inteiro com o
comprometimento de difundir o turismo sustentaacutevel e a educaccedilatildeo ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
149
Entretanto as anaacutelises do projeto Sapiens Parque realizadas no quarto capiacutetulo
desta dissertaccedilatildeo mostraram que o modelo de planejamento apresenta muitas restriccedilotildees
quando utilizado como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel A competitividade
urbana defendida pelo planejamento estrateacutegico significa um claro incremento na qualidade
de vida urbana porque a competitividade requer infra-estrutura adequada e melhoria das
condiccedilotildees de vida de moradia serviccedilos urbanos sauacutede e cultura como fator essencial para
a atratividade de investimentos e usuaacuterios Apesar disso a competitividade caracteriacutestica do
modelo estrateacutegico tambeacutem proporciona resultados que seguem na contramatildeo dos preceitos
relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e estabelecidos nesta pesquisa
Na anaacutelise feita em relaccedilatildeo aos limites do projeto Sapiens Parque como difusor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel destacamos aqui as questotildees referentes agrave
organizaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana resultantes justamente da estrateacutegia da inserccedilatildeo
competitiva O projeto de intervenccedilatildeo urbana mostrou uma tendecircncia agrave fragmentaccedilatildeo uma
vez que potencializa a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e consumo de segmentos sociais especiacuteficos
atraveacutes da concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave revitalizaccedilatildeo no
Norte da Ilha Aleacutem disso a exclusatildeo econocircmica decorrente da irrelevacircncia de determinados
grupos sociais perante o mercado de trabalho proporcionado pelo parque aliada agrave discrepacircncia
salarial e de condiccedilotildees de trabalho colaboram para agravar ainda mais esse quadro
A segregaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana brasileira natildeo tem suas origens no atual modelo
de planejamento regido pela estrateacutegia do mercado como forma de inserccedilatildeo competitiva
Entretanto concordamos que o modelo tende a aumentar a situaccedilatildeo de desigualdade social
com a formaccedilatildeo de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos caracterizados pela
pobreza e violecircncia urbana em contraste a bairros compostos por condomiacutenios privatizados
e reservados agraves atividades e moradia de uma minoria Essa implicaccedilatildeo constitui no nosso
ver a principal contradiccedilatildeo existente entre o planejamento estrateacutegico e as premissas que
temos de ldquocidades sustentaacuteveisrdquo caracterizadas pela conexatildeo entre bairros (centro e
periferia) e entre espaccedilo privado e puacuteblico com priorizaccedilatildeo deste uacuteltimo
Concluiacutemos portanto ser a segregaccedilatildeo soacutecio-espacial e suas consequumlecircncias como
a degradaccedilatildeo ambiental os principais fatores que estabelecem limites ao modelo de
planejamento estrateacutegico no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel Nesse caso
uma nova pergunta surge diante de tal conclusatildeo quais seriam entatildeo perante o atual
cenaacuterio mundial da globalizaccedilatildeo financeira e da perda da autonomia do Estado as
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
150
alternativas para o equacionamento da problemaacutetica ambiental urbana e diminuiccedilatildeo da
desigualdade social
No Brasil o Estatuto da Cidade surgiu como uma promessa para a gestatildeo
democraacutetica das cidades e como uma real possibilidade de intervenccedilatildeo sobre o quadro de
exclusatildeo social caracteriacutestico das cidades brasileiras O Estatuto tambeacutem destaca a
necessidade de garantia do direito agraves cidades sustentaacuteveis com a aplicaccedilatildeo de
instrumentos que visam amenizar os impactos ambientais decorrentes dos processos de
urbanizaccedilatildeo Entretanto apesar de ser considerada uma lei bastante inovadora uma vez
que contempla aspectos da gestatildeo urbana dos quais nenhuma legislaccedilatildeo anterior sequer se
aproximava o Estatuto constitui somente um dos primeiros passos no caminho para a
sustentabilidade urbana
A cidade como expressatildeo da exclusatildeo social e degradaccedilatildeo ambiental pode vir a
se constituir no lugar privilegiado para a discussatildeo da inclusatildeo e do exerciacutecio da cidadania
O cotidiano urbano deve ser entendido como a manifestaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais e portanto
de conflitos a gestatildeo desses conflitos requer a democratizaccedilatildeo do processo de decisotildees
que afetam esse cotidiano O momento atual eacute favoraacutevel ao debate dos rumos que tomaratildeo
nossas cidades democratizando as decisotildees acerca do desenvolvimento sustentaacutevel e
resgatando o direito agrave cidade para todos
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
151
REFEREcircNCIAS
ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita (org) Previsatildeo de impactos o estudo de impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
ACSELRAD Henri A duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Rio de Janeiro DPampA 2001
AGENDA 21 BRASILEIRA ndash Cidades Sustentaacuteveis Ministeacuterio do Meio Ambiente - Comissatildeo de Poliacuteticas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2002
AGUIAR Marina e DIAS Reinaldo Fundamentos do turismo conceitos normas e definiccedilotildees Campinas SP Editora Aliacutenea 2002
AMENDOLA Mocircnica O ordenamento urbano carioca sob a oacutetica do plano estrateacutegico de cidades Revista geo-paisagem ( on line ) Vol 1 nuacutemero 2 2002 Julhodezembro de 2002 Disponiacutevel em httpwwwfethggfbrPlano20estratC3A9gicohtm acesso em 05052006
AMIGOS DE CARIJOacuteS Plano de desenvolvimento sustentaacutevel do entorno da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis SC 2002
ANDRADE Liza Maria Souza de O conceito de Cidades-Jardins uma adaptaccedilatildeo para as cidades sustentaacuteveis (disponiacutevel em httpwwwvitruviuscombr acesso em 05052006)
ARANTES Otiacutelia VAINER Carlos MARICATO Ermiacutenia A cidade do pensamento uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ARANTES Otiacutelia Uma estrateacutegia fatal A cultura das novas gestotildees urbanas In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ASSOCIACcedilAtildeO AMIGOS DE CARIJOacuteSIBAMA Plano de manejo da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis 2002
BECKER Dinizar Fermiano A insustentabilidade do discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Revista Estudo amp Debate Lajeado V11 ndeg01 p175-195 2004
BENJAMIN Antonio Herman U Estudo preacutevio de impacto ambiental teoria praacutetica e legislaccedilatildeo Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1993
BERMAN Marshall Tudo que eacute soacutelido desmancha no ar a aventura da modernidade Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
BERTRAND Georges Paisagem e geografia fiacutesica global Esboccedilo metodoloacutegico Curitiba N8 p114-152 2004 editora UFPR 141 pdf
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
152
BIOSFERA URBANA NA ILHA DE SANTA CATARINA Proposta conceitual para um Projeto Piloto de implementaccedilatildeo do modelo de Reserva da Biosfera em ambiente urbano Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr acesso em 10062007
BRAVERMAN Harry Trabalho e capital monopolista a degradaccedilatildeo do trabalho no seacuteculo XX 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1981
BORJA Jordi CASTELLS Manuel Local y Global la gestioacuten de latildes ciudades en la era de la informacioacuten 5 ed Barcelona Taurus 2000
BRUumlSEKE Franz Josef O problema do desenvolvimento sustentaacutevel In Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel Cloacutevis Cavalcanti organizador ndash 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
BUENO Ayrton Portilho Patrimocircnio paisagiacutestico e turismo na ilha de Santa Catarina a premecircncia da paisagem no desenvolvimento sustentaacutevel da atividade turiacutestica Satildeo Paulo 2006 Tese (Doutorado) - Universidade de Satildeo Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
CARDOSO Reginaldo Luiz As cidades brasileiras e o pensamento neoliberal (submissatildeo ao pensamento uacutenico uacutenica alternativa para as cidades) Instituto Universitaacuterio de Pesquisas do Rio de Janeiro ndash IUPERJ Disponiacutevel em httpwwwrizomanet acesso em 07052006
CASTELLS Eduardo JF et al Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC Florianoacutepolis 2002
CASTELLS Manuel A sociedade em rede 2 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999
CAVALCANTI Cloacutevis (org) Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
CECCA - CENTRO DE ESTUDOS CULTURA E CIDADANIA (SC) Uma Cidade numa Ilha relatoacuterio sobre os problemas soacutecio-ambientais da Ilha de Santa Catarina 2 ed Florianoacutepolis Insular 1997
CHAUI Marilena de Souza O que eacute ideologia 39 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1995
CHOAY Franccediloise O Urbanismo Satildeo Paulo Perspectiva 1979
COMISSAtildeO DE DESENVOLVIMENTO URBANO E INTERIOR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS SECRETARIA ESPECIAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO DA PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL E INSTITUTO POacuteLIS Estatuto da Cidade Guia para implementaccedilatildeo pelos municiacutepios e cidadatildeos Cacircmara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees Brasiacutelia 2001
COMISSAtildeO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Nosso futuro comum Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas 1988
COMPANS Rose Cidades sustentaacuteveis cidades globais Antagonismo ou complementaridade In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
153
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg Ministeacuterio do Meio Ambiente (disponiacutevel em httpwwwmmagovbr acesso 24052006)
CONGRESSO NACIONAL Coacutedigo Florestal Lei N o 4771 de 15 de setembro de 1965
CONGRESSO NACIONAL Decreto da Mata Atlacircntica N o 750 de 10 de fevereiro de 1993
CONGRESSO NACIONAL SNUC - SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVACcedilAtildeO Lei N o 9985 de 18 de julho de 2000
CONFEREcircNCIA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO 1992 RIO DE JANEIRO RJ BRASIL Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores Divisatildeo do Meio Ambiente Brasilia DF Camara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees 1995
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira A Questatildeo ambiental diferentes abordagens Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira Impactos Ambientais Urbanos no Brasil Ed Bertrand Brasil Rio de Janeiro 2001
DIAS Leila Christina amp SANTOS Gislaine Aparecida dos Regiatildeo Territoacuterio e Meio Ambiente Uma Histoacuteria de Definiccedilotildees e Redefiniccedilotildees em Escalas Espaciais (1987-2001) Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V05 ndeg02 p45-56 2003
DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL DO SAPIENS PARQUE In EIA RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL EIA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
FANTIN Marcia Cidade dividida Florianoacutepolis Futura 2000
FORUM DA AGENDA 21 LOCAL DO MUNICIacutePIO DE FLORIANOacutePOLIS 2000 FLORIANOacutePOLIS SC Agenda 21 Local do Municiacutepio de Florianoacutepolis meio ambiente quem faz eacute a gente versatildeo preliminar Florianoacutepolis Prefeitura Municipal de Florianopolis 2000
FRAMPTON Kenneth Histoacuteria Criacutetica da Arquitetura Moderna Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2000
FURTADO Celso O Mito do Desenvolvimento Econocircmico 2 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1974 117p
GARCIA NETTO Luiz da Rosa Diagnoacutestico do ambiente urbano Norte da Ilha de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 1996
GUumlELL Joseacute Miguel Fernaacutendez Planificacioacuten Estrateacutegica de Ciudades Barcelona Editorial Gustavo Gili SA 1997
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
154
GUumlNTHER Hartmut Como Elaborar um Relato de Pesquisa Seacuterie Planejamento de Pesquisa nas Ciecircncias Sociais ndeg02 Brasiacutelia DFUnB Laboratoacuterio de Psicologia Ambiental 2004
HAFERMANN Mariacutelia Universidade Federal de Santa Catarina Sustentabilidade e desenvolvimento turiacutestico na Ilha de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo
HARVEY David A justica social e a cidade Satildeo Paulo HUCITEC 1980
HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo Annablume 2005
IPH Instituto de Pesquisas Hidroloacutegicas Estudo hidrodinacircmico do rio Papaquara ndash Sapiens Parque Porto Alegre RS ndash Setembro 2003
IPUF Instituto de Planejamento Urbano de Florianoacutepolis Plano Diretor dos Balneaacuterios 1985
JACOBS Jane Morte e Vida nas Grandes Cidades Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2001
FERRARI JUacuteNIOR Joseacute Carlos Limites e Potencialidades do Planejamento Urbano Uma discussatildeo sobre os pilares e aspectos recentes da organizaccedilatildeo espacial das cidades brasileiras Estudos Geograacuteficos Rio Claro 2(1)15-28 junho ndash 2004
LEFEacuteBVRE Henri O direito agrave cidade Editora Moraes Satildeo Paulo 1969
LEFF Enrique Ecologiacutea y capital racionalidad ambiental democracia participativa y desarrollo sustentable 2 ed corr aum Madrid Siglo XXI Editores c1994
LOJKINE Jean O estado capitalista e a questatildeo urbana 2ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1997
LOPES Rodrigo A cidade intencional o planejamento estrateacutegico de cidades Rio de Janeiro Mauad 1998
MARICATO Ermiacutenia As Ideacuteias Fora do Lugar e o Lugar Fora das Ideacuteias In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
MARICATO Ermiacutenia Brasil cidades alternativas para a crise urbana 2 ed Petroacutepolis Vozes 2002
MARICATO Ermiacutenia Metroacutepole legislaccedilatildeo e desigualdade Estudos Avanccedilados vol 17 n 48 Satildeo Paulo MayAug 2003
MARX Karl O capital critica da economia poliacutetica 14 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1994
MASCARO Juan Luis Manual de loteamentos e urbanizaccedilotildees Porto Alegre Sagra DC Luzzatto 1994
MILAREgrave Eacutedis Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental no Brasil In ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita organizadores Previsatildeo de impactos o estudo de
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
155
impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
MILES Valentina de Oliveira Diagnoacutestico da ocupaccedilatildeo urbana e degradaccedilatildeo ambiental em Canasvieiras apontamentos para a promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo Florianoacutepolis 2005
MONTIBELLER FILHO Gilberto Industrializaccedilatildeo e ecodesenvolvimento contradiccedilotildees possibilidades e limites em economia capitalista perifeacuterica- o estado de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1994
MONTIBELLER FILHO Gilberto O mito do desenvolvimento sustentaacutevel meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias Florianoacutepolis Ed UFSC 2004
MUMFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
NEGRAtildeO Joatildeo Joseacute Para conhecer o neoliberalismo Publisher Brasil 1998
OLIVEIRA Francisco de O Estado e a Exceccedilatildeo Ou o Estado de Exceccedilatildeo Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V5 N1 2003
O QUE A CAPITAL NECESSITA Boletim Informativo do Sistema SINDUSCON Florianoacutepolis Ano 7 n85 julho de 2007
PAIVA Maria das Graccedilas de Menezes Venancio Sociologia do turismo 2 ed Campinas Papirus 1998
PEDRAtildeO Fernando A sustentabilidade social e ambiental Revista de Desenvolvimento Econocircmico Salvador BA Ano IV ndeg06 p28-40 2002
PEREIRA Gislene Novas perspectivas para a gestatildeo das cidades Estatuto da Cidade e mercado imobiliaacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente Editora UFPR Ndeg 9 P77-92 JanJun 2004
PIMENTA Margareth de Castro Afeche (org) Florianoacutepolis do outro lado do espelho Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
PREFEITURA DO RIO Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro As cidades da Cidade Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwriorjgovbrplanoestrategico
PROGRAMA MAB O HOMEM E A BIOSFERA Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash UNESCO Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
REDCLIFT Michael Poacutes-sustentabilidade e os novos discursos de sustentabilidade Revista Raiacutezes Campina Grande Vol21 ndeg01 p124-136 janjun2002
RELATOacuteRIO DE IMPACTO AMBIENTAL RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
156
RIBEIRO Luiz C de Queiroz SANTOS JR Orlando Alves Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1997
RIZZO Paulo Marcos Borges A natimorta tecnoacutepolis do Campeche em Florianoacutepolis ndash deliacuterio de tecnocratas pesadelo dos moradores In Florianoacutepolis Do Outro Lado do Espelho Margareth de Castro Afeche Pimenta organizadora Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
ROLNIK Raquel Cidades o Brasil e o Habitat II Revista Teoria e Debate nuacutemero 32 Julho agosto setembro de 1996 Disponiacutevel em httpwww2fpaorgbr acesso em 10112007
SAacute Mohana Faria de Processo de Avaliaccedilatildeo de Impactos Ambientais (AIA) do Empreendimento Sapiens Parque (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004
SACHS Ignacy Estrateacutegias de Transiccedilatildeo para o Seacuteculo XXI Coleccedilatildeo Cidade Aberta Satildeo Paulo Studio Nobel Fundap 1993
SACHS Ignacy Caminhos para o desenvolvimento sustentaacutevel 2 ed Rio de Janeiro Garamond 2002
SACHS Ignacy Desenvolvimento includente sustentaacutevel sustentado Rio de Janeiro Garamond 2004
SAacuteNCHEZ Fernanda A Reinvenccedilatildeo das Cidades para um Mercado Mundial Chapecoacute Argos 2003
SAacuteNCHEZ Fernanda A (in)sustentabilidade das cidades-vitrine In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
SANTOS Cristina Silveira Ulyssea Planejamento turistico e seus reflexos no processo de urbanizaccedilatildeo nas praias de Canasvieiras e Jurerecirc Internacional (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1993
SANTOS Milton A urbanizaccedilatildeo brasileira 5 ed Satildeo Paulo EDUSP 2005
SANTOS Milton Pensando o espaccedilo do homem Satildeo Paulo Hucitec 1982
SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave consciecircncia universal 11 ed Rio de Janeiro Record 2004
SAPIENS La ciudad del conocimiento Revista ambiente digital Arquitectura Del Ambiente Fundacioacuten CEPA Disponiacutevel em httpwwwrevista-ambientecomar acesso em 05122006
SAPIENS PARQUE - Audiecircncia Puacuteblica em Ponta das Canas Produccedilatildeo para o programa Interesse Puacuteblico TV Justiccedila Data 18 de Agosto 2004 Florianoacutepolis Disponiacutevel em httpwwwprscmpfgovbr acesso em 15062007
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
157
SEN Amartya Desenvolvimento como liberdade Satildeo Paulo Companhia das Letras 2000
SILVA Adriana Gondran Espaccedilos Puacuteblicos Turismo e o Resgate da Cidadania em Canasvieiras Poacutes-Graduaccedilatildeo em Turismo e Hotelaria Universidade do Vale do Itajaiacute Balneaacuterio Camburiuacute 2005
SILVA Gilceacuteia Pesce do Amaral Science parks and urban design a cross-cultural investigation Oxford 2001 1v (Tese Doutorado) - Oxford Brookes University
SOUZA Cristiane Mansur de Moraes Avaliaccedilatildeo Ambiental Estrateacutegica como Subsiacutedio para o Planejamento Urbano (Tese de Doutorado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2003
SOUZA Marcelo Lopes de Mudar a cidade uma introduccedilatildeo criacutetica ao planejamento e agrave gestatildeo urbanos 3 ed rev Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2004
STEINBERGER Mariacutelia A (re)construccedilatildeo de mitos sobre a (in)sustentabilidade do(no) espaccedilo urbano Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR 2001
SWARBROOKE John Turismo sustentaacutevel conceitos e impacto ambiental 3 ed Satildeo Paulo Aleph 2002
VAINER Carlos Paacutetria Empresa e Mercadoria In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
VAZ Nelson Popini O centro histoacuterico de Florianoacutepolis espaccedilo puacuteblico do ritual Florianoacutepolis FCC Ed da UFSC 1991
VEIGA Joseacute Eli da Desenvolvimento sustentaacutevel o desafio do seacuteculo XXI Rio de Janeiro Garamond 2005
VIEIRA Nataacutelia Miranda A Imagem diz Tudo O Espaccedilo Urbano como Objeto de Consumo Bahia Anaacutelise e Dados Salvador ndash BA SEI V9 Ndeg2 P39-46 Set 1999
VIEIRA Paulo Freire Desenvolvimento e meio ambiente no Brasil a contribuiccedilatildeo de Ignacy Sachs Porto Alegre Pallotti Florianoacutepolis APED 1998
VILLACcedilA Flavio Espaccedilo intra-urbano no Brasil Satildeo Paulo Studio Nobel FAPESP 2001
Portais citados ao longo do texto
httpwwwnewsweekcom httpwwwfinepgovbr httpwwwfapescrct-scbr httpwwwibgegovbr httpwebworldbankorg httpwwwvitruviuscombr httpwwwestatutodacidadeorgbr httpwwwsbaucombr httpwwwhsmcombr httpwwwcuritibapaises-america
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
158
ANEXO 1 ndash AVALIACcedilAtildeO DO SAPIENS PARQUE SEGUNDO O IAB-SC
Para FUNDACcedilAtildeO CERTI AC Joseacute Eduardo De Silvia Lenzi Eduardo Castells Enrique Brena Miguel Pousadela Nelson Saraiva Ref Projeto SAPIENS Park
INTRODUCcedilAtildeO
Antes de apresentar a verificaccedilatildeo e complementaccedilatildeo das sugestotildees tal como solicitado por Leandro atraveacutes de mail enviado no uacuteltimo final de semana eacute necessaacuterio fazer alguns esclarecimentos
Apoacutes a finalizaccedilatildeo do Workshop da terccedila feira da semana passada alguns dos profissionais convidados -aqueles arquitetos que tiacutenhamos feito no decorrer das sessotildees de trabalho apreciaccedilotildees conceitualmente convergentes- ficamos trocando e aprofundando opiniotildees a respeito do encontro no geral e das propostas apresentadas pela Ecoplan em particular
Podemos afirmar que houveram conclusotildees consensuais no que diz a respeito de uma avaliaccedilatildeo criacutetica dos trabalhos apresentados Aconteceu uma outra rodada de comunicaccedilotildees -telefocircnicas desta vez- ao recebermos o mail de Leandro houve novamente consenso em considerar que as sugestotildees enviadas natildeo constituiacuteam uma siacutentese representativa das criacuteticas levantadas durante o encontro Foi nesse momento que comeccedilou a se pensar na ideacuteia de apresentar este documento
Aleacutem disso se considerou que questotildees centrais a respeito do embasamento conceitual e paracircmetros programaacuteticos do empreendimento ficavam difiacuteceis de transcrever dentro da formataccedilatildeo proposta pela grade enviada Notadamente ficava incompatiacutevel relacionar os alcances do enquadramento inicial apresentado por Joseacute Eduardo -que entendemos correto e suporte essencial para a definiccedilatildeo do perfil do empreendimento- com sugestotildees parciais sobre as propostas apresentadas sem contar com espaccedilo para questionar a validade dos fundamentos conceituais que as orientaram em princiacutepio sugestotildees natildeo ultrapassam a condiccedilatildeo de serem apenas correccedilotildees pontuais
Assim depois de ponderada avaliaccedilatildeo acreditamos que a classe de produto que melhor responderia agraves expectativas da Fundaccedilatildeo CERTI atendendo tambeacutem agrave condiccedilatildeo de espelhar adequadamente nossa avaliaccedilatildeo criacutetica do Workshop seria um documento que a- Fosse de encaminhamento uacutenico recolhendo o conjunto de contribuiccedilotildees dos arquitetos signataacuterios b- Tivesse uma estrutura expositiva diferenciada por niacuteveis de abrangecircncias e enfoque 1) A respeito da qualificaccedilatildeo do empreendimento 2) A respeito das caracteriacutesticas do sitio 3) A respeito das caracteriacutesticas de outros empreendimentos de porte similar 4) A respeito da avaliaccedilatildeo criacutetica das propostas apresentadas e que finalmente c- Concluiacutesse soacute entatildeo com sugestotildees 5) A respeito de condicionantes e conteuacutedos programaacuteticos que entendemos devem ser respeitados e contemplados pelo Maacutester Plan do SAPIENS Park
Com esse entendimento e sempre dispostos para maiores esclarecimentos aguardamos retorno
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
159
1 SINGULARIDADES QUE NOTABILIZAM O EMPREENDIMENTO
11 Conceito original focado no preacute-suposto de que a superaccedilatildeo humana se opera atraveacutes do conhecimento
12 Intenccedilatildeo declarada de aplicar tecnologia em sua mais ampla conceituaccedilatildeo
13 Ousadia de conceber o SAPIENS Park como um grande projeto ordenador orientado pela preservaccedilatildeo ambiental e pela buacutesqueda de melhor qualidade vida
14 Preocupaccedilatildeo por identificar as qualidades que converteram Florianoacutepolis numa cidade desejada junto com a intenccedilatildeo de garantir que tais qualidades sejam preservadas e ainda enriquecidas atraveacutes das diretivas e conteuacutedos do programa que iraacute implementar o projeto
15 Ambiccedilatildeo de que um grande e utoacutepico projeto possa transbordar suas qualidades internas para aleacutem do siacutetio que o abriga objetivando se converter num centro gerador da requalificaccedilatildeo urbana da Ilha e que abra caminhos na direccedilatildeo de superar a exclusatildeo social
16 Identificaccedilatildeo de paracircmetros programaacuteticos que acrescentam agrave ideacuteia de criaccedilatildeo de um parque tecnoloacutegico atividades e equipamentos que abrem a possibilidade de que Florianoacutepolis desempenhe como um iacutecone o papel de nova e significativa centralidade referencial para a regiatildeo para o paiacutes e para o mundo
2 COMPONENTES DIFERENCIADORES PARA A AgraveREA SITUACcedilAcircO TAMANHO NATUREZA PUacuteBLICA
21 Compreensatildeo do papel que a comunidade espera e necessita que seja atendido por essa grande aacuterea pertencente agrave empresa estadual e por tanto de natureza essencialmente puacuteblica
22 Identificaccedilatildeo das expectativas sociais de usos especiacuteficos que deveriam ser atendidas pelo terreno do SAPIENS Park considerando que pela sua privilegiada localizaccedilatildeo tem a possibilidade de ser articulador de toda a regiatildeo Norte da Ilha e dela com a cidade
23 Identificaccedilatildeo dos componentes de programa que devem caracterizar usos diferenciais para o terreno do SAPIENS Park e para o terreno da Reserva Florestal do Rio Vermelho ao qual corresponde que fique integrado
24 Reconhecimento de alternativas complementares para o uso da aacuterea identificadas a partir de caracterizar e localizar atividades externas ao terreno ou determinadas por seu entorno urbano
25 Entendimento de que intervir na aacuterea atraveacutes da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park representa a uacuteltima possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo urbana dos balneaacuterios do Norte da Ilha
26 Identificaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos atividades equipamentos estruturadores e complementares que levando em conta as vocaccedilotildees tradicionais da Ilha e a tendecircncia que se apresenta para o futuro possam ser articulados com o programa deste projeto de modo a corrigir a mono-funcionalidade balneaacuteria preacute-existente agrave implantaccedilatildeo do empreendimento
27 Proposiccedilatildeo dos retornos ou compensaccedilotildees sociais a que o projeto deve-se obrigar considerando sua condiccedilatildeo de bem puacuteblico
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
160
3 ESTUDO DE CASOS EXEMPLARES DE PORTE SEMELHANTE REFERENCIAIS
POSSIacuteVEIS PARA O ldquoSAPIENS PARKrdquo 31 Analisar o Plano Piloto e a arquitetura de Brasiacutelia como exemplo de construccedilatildeo de novos siacutembolos ou iacutecones para a modernidade brasileira dos anos lsquo50
32 Analisar o Plano da Barra da Tijuca como exemplo de construccedilatildeo de iacutecone brasileiro para o final do seacuteculo XX
33 Analisar o Parque do Flamengo referencial na construccedilatildeo de grandes espaccedilos puacuteblicos significativos e ordenadores de urbanidade
34 Analisar o iacutecone Copacabana e o protejo de reurbanizaccedilatildeo e engorde
35 Analisar o Plano para a orla de Barcelona como exemplo de urbanizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo de orla
36 Estudar os melhores exemplos disponiacuteveis dentro da temaacutetica de grandes parques tecnoloacutegicos (La Villette Epcot Center Digital Miacutedia City) especialmente daqueles que tenham mostrado efetiva contribuiccedilatildeo agrave construccedilatildeo da urbanidade
37 Estudar os avanccedilos tecnoloacutegicos mais destacados e sua aplicaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de tecidos urbanos e de edifiacutecios ambientalmente solucionados
4 AVALIACcedilAgraveO CRIacuteTICA DOS ESTUDOS DE ldquoMASTER PLANrdquo APRESENTADOS
41 Os trecircs estudos apresentados mostram-se modelagens inadequadas para satisfazer as ideacuteias originais propostas no programa para o SAPIENS Park tal como formuladas por Jose Eduardo no inicio do Workshop As soluccedilotildees diagramaacuteticas dos trecircs estudos repetem o mesmo projeto conservador distanciando-se da proposta do empreendimento que objetiva a inovaccedilatildeo como importante conteuacutedo
42 Os trecircs estudos repetem um mesmo e discutiacutevel modelo de urbanizaccedilatildeo -baseado na ideacuteia do cluster como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano- que jaacute fora bastante difundido em meados do seacuteculo XX Os resultados dos casos nos quais o modelo foi aplicado mostraram significativos aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com a inevitaacutevel sequumlela de aumento na marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social especialmente quando implantado em urbanizaccedilotildees mais afastadas desprovidas de efetiva centralidade
43 Os trecircs estudos restringem-se ao uso dos mesmos componentes jaacute presentes nos diagramas e imagens preliminares previamente elaborados dentro do proacuteprio CERTI Natildeo se verifica a incorporaccedilatildeo de novos paracircmetros de programa necessaacuterios a um projeto urbano Avalia-se que as dimensotildees e a natureza puacuteblica do terreno obrigariam o projeto a contar com um programa mais ambicioso em prol de permitir a superposiccedilatildeo de atividades e de equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
44 Tal como foram apresentados os trecircs estudos satildeo umas repeticcedilotildees conceituais que poderia estar em qualquer lugar do mundo nada do que pode lhes dar contextualidade local nem relaccedilatildeo com seu entorno imediato estaacute trabalhado ou foi sugerido
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
161
45 Os estudos foram concebidos como ilhas dentro de uma ilha (que estaacute pela sua vez dentro da Ilha) Todas as trecircs soluccedilotildees apresentam um conceito de artefato isolado de seu entorno o que o converte em elemento desagregador e natildeo em integrador da estrutura urbana existente Fica assim comprometido o declarado objetivo de que o SAPIENS Park sirva como modelo de urbanizaccedilatildeo referencial para o entorno A anaacutelise apresentada eacute limitada agrave aacuterea do terreno e natildeo inclui a anaacutelise do comportamento do entorno urbano imediato e menos ainda do comportamento da regiatildeo norte da ilha
46 Os trecircs estudos repetem cenografias similares para todos as zonas do terreno desconsiderando ou minimizando o papel desempenhado pela riqueza e diversidade oferecidas pelo mesmo e seu entorno imediato urbanizaccedilotildees grandes vias de contorno rios forestaccedilatildeo caponetes nativos banhados etc
47 As trecircs soluccedilotildees apresentam uma riacutegida zonificaccedilatildeo monofuncional por atividades baseada nas diretrizes da Carta de Atenas (CIAM 1933) Experiecircncias mostram que uma tal concepccedilatildeo gera setores isolados entre si carentes de vida quando cessa a atividade especiacutefica de cada um antiteacuteticos agrave proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade e focos de seriacutessimos problemas de seguranccedila
48 As variaccedilotildees apresentadas nos estudos -onde se intercambiam aleatoriamente as localizaccedilotildees de uma ou outra das zonas- mostram que a distribuiccedilatildeo sobre o terreno de uma ou outra monoatividade eacute feita com indiferenccedila a respeito do contexto de implantaccedilatildeo e inclusive dos proacuteprios requerimentos ambientais que fossem especiacuteficos para cada atividade
49 No mesmo sentido verifica-se que as zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar constituindo uma totalidade homogecircnea indiferenciada Ao verde preacute-existente resta apenas a funccedilatildeo de se transformar no resiacuteduo separador dessas ilhas urbanas de programas monofuncionais
410 Avalia-se que eacute artificial e inconsistente a proposta da aacutegua como cenaacuterio predominante e como principal nexo estruturador das atividades O efeito resultante eacute sempre separador (ao reforccedilar a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha criadas) e natildeo integrador Natildeo pode ser ignorado que a Ilha de Santa Catarina jaacute conta com duas extensas lagoas no seu interior e que o que estaacute faltando satildeo articulaccedilotildees da cidade com aacutereas verdes preservadas e com grandes espaccedilos puacuteblicos que sejam tratados com equipamentos culturais de lazer esportivos comerciais e comunitaacuterios
411 A extensa soluccedilatildeo de lagos sem usos claramente identificados apresentam-se decorrentes das aacutereas de empreacutestimo de materiais para a consecuccedilatildeo das ilhas de monofuncionalidade e natildeo com uma intencionalidade propositiva original dos estudos Nas conformaccedilotildees propostas a construccedilatildeo de lagos e ilhas correm o risco de desmontar toda a singularidade do ambiente nativo existente
412 Os estudos arquitetocircnicos natildeo foram enunciados contrariando ideacuteia atualmente dominante de que natildeo devem e natildeo podem ser tratados em separado da proposta de desenho urbano A fuga para um trabalho dominantemente paisagiacutestico natildeo soluciona tal impasse tornando menor o focirclego de tais estudos
413 Nesse mesmo sentido a apresentaccedilatildeo centrou-se na explicitaccedilatildeo de corredores visuais e alternacircncia de cheios e vazios sem que se observe uma compreensatildeo do grande potencial da aacuterea -equivale em m2 A mais de duas vezes o triangulo central de Florianoacutepolis- como a principal reserva de espaccedilos puacuteblicos e como o local da futura centralidade de toda a regiatildeo norte com projeccedilotildees para o resto da ilha
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
162
414 Natildeo haacute definiccedilatildeo de que aacutereas conservam a condiccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos quais semipuacuteblicos e quais privados nem de qual eacute o percentual relativo ou o desempenho previsto para cada um assim como da resoluccedilatildeo prevista para articular entre si esses trecircs diferentes niacuteveis de apropriaccedilatildeo Essa eacute uma questatildeo essencial na determinaccedilatildeo do caraacuteter final do empreendimento e permitiraacute estabelecer as efetivas possibilidades de uso do espaccedilo do SAPIENS Park por parte da cidadania
415 Natildeo foram fornecidas estimativas a respeito da demanda potencial prevista para o empreendimento nem de qual seria a consequumlente resposta de uma regiatildeo jaacute fraacutegil do ponto de vista ambiental
416 Finalmente natildeo haacute nenhum esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teoacuterico selecionado nem de quais foram os modelos referencias nacionais ou internacionais adotados pela consultora para embasar a concepccedilatildeo das soluccedilotildees apresentadas Uma tal fundamentaccedilatildeo eacute de vital importacircncia para possibilitar melhor compreender as intencionalidades de projeto dos estudos apresentados
5 SUGESTOtildeES PARA UMA PROPOSTA ALTERNATIVA
51 A principal sugestatildeo e de que o projeto urbano e arquitetocircnico busque ser a proacutepria imagem construiacuteda do ideaacuterio do empreendimento baseado no avanccedilo do conhecimento sobre os modos do homem bem ocupar o planeta Neste ponto alertamos mais uma vez para a pertinecircncia das colocaccedilotildees feitas na abertura do encontro elas tecircm valor referencial essencial na definiccedilatildeo do perfil do programa do empreendimento Entendemos que a identificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo meditada das tecnologias em seu conceito mais amplo e atualizado devem ser tambeacutem objetivos primaacuterios orientadores das propostas que devem ser feitas no campo da arquitetura e do urbanismo
52 Como principal compensaccedilatildeo ao uso de um terreno de natureza puacuteblica natildeo eacute difiacutecil imaginar um grande parque puacuteblico aberto agrave cidade e falando a esteacutetica dos valores vegetais locais como um importante componente da proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade Componente do qual Florianoacutepolis mostra evidente carecircncia Esta compensaccedilatildeo em dimensotildees realmente generosas seria um importante elemento que facilitaria a negociaccedilatildeo com a sociedade na hora de discutir compensaccedilotildees frente agrave privatizaccedilatildeo de partes dessa imensa aacuterea
53 A leitura dos balneaacuterios monofuncionais baseados dominantemente na habitaccedilatildeo permite pensar na centralizaccedilatildeo de equipamentos faltantes aos balneaacuterios -como tambeacutem agrave cidade- no sentido de alimentar sua grande vocaccedilatildeo turiacutestica e outras que podem vir a despertar justamente a partir da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park Eacute notaacutevel na cidade a ausecircncia de lugares excetuados os espaccedilos de praia que permitam a celebraccedilatildeo da cidadania nas suas mais variadas escalas incluindo ateacute aquelas das multidotildees reunidas pelo veratildeo Eventos os mais variados ficam prejudicados pela ausecircncia de tais espaccedilos A construccedilatildeo da centralidade inexistente para os balneaacuterios da ilha justificaria tambeacutem os desejos de centralidade regional local e internacional do empreendimento
54 O somatoacuterio de uma grande centralidade associado a parques trabalho e habitaccedilatildeo aumenta a superposiccedilatildeo desejada pelas cidades e eacute garantia de enriquecimento da cena urbana que se quer criar como novo e importante iacutecone Natildeo se constroacutei a imagem de uma grande centralidade com um programa que fica restrito apenas aos elementos que caracterizam um parque tecnoloacutegico Mais ainda deve-se pensar que a criaccedilatildeo de uma nova centralidade do porte estimado para o projeto do SAPINS Park pode vir a gerar um
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
163
deslocamento mais definitivo em direccedilatildeo ao Norte da Ilha da atual centralidade de Florianoacutepolis
55 Acreditamos que em relaccedilatildeo agrave conservaccedilatildeo do ambiente deveraacute ser perseguida a tese da toleracircncia zero em relaccedilatildeo aos resiacuteduos decorrentes da cultura humana Arquiteturas e organizaccedilotildees urbanas deveriam ser pensadas visando tal objetivo Nesse sentido recomenda-se especular com soluccedilotildees que diminuam a projeccedilatildeo sobre a paisagem natural representada pelas aacutereas de construccedilatildeo de edificaccedilotildees Nesse sentido eacute importante incentivar a pesquisa sobre novas soluccedilotildees urbanas tanto horizontais quanto verticais Adensar concentrar nuclear e com isso aliviar o continuo construiacutedo sobre o planeta eacute hoje reflexatildeo obrigatoacuteria de todo estudo urbano Mais ainda de um empreendimento que pretende primar como referencial em termos de qualidade de vida e proteccedilatildeo ambiental E fica claro que nessa filosofia natildeo podem ficar excluiacutedas as soluccedilotildees arquitetocircnicas que complementem as propostas urbanas
56 Eacute recomendaacutevel mudar o programa do projeto para incorporar o conceito de polifuncionalidade ou mix de funccedilotildees no compromisso de construir cidade e natildeo tatildeo soacute um parque temaacutetico com algumas atividades complementares para uso da populaccedilatildeo local
57 Considera-se que a vinculaccedilatildeo com o mar deve ser uma questatildeo central do projeto Para tanto deve ser cogitada a possibilidade de incorporar a vinculaccedilatildeo do SAPIENS Park com um terminal mariacutetimo de transporte de passageiros assim como tambeacutem com o terminal terrestre proacuteximo ao terreno
58 No mesmo sentido entendemos que a implantaccedilatildeo do SAPIENS Park obriga tanto a promotores quanto a projetistas a natildeo deixar de lado o problema representado pelo sistema geral de transporte puacuteblico urbano Assim como a infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos as demandas que venham a ser geradas pela implantaccedilatildeo do parque iratildeo a afetar profundamente natildeo apenas ao entorno imediato do terreno mas tambeacutem ao sistema regional na sua total complexidade
59 Por fim entendemos que a aacuterea do terreno deve ser entendida como campo de atuaccedilatildeo projetual para aleacutem do rio Papaquara conformando uma unidade que articule toda a regiatildeo norte da Ilha desde a estrada de acesso a Ponta das Canas e a SC 403 que vincula com Ingleses por um lado e entre a SC 401 que vincula com Canasvieiras e a estrada que vincula Cachoeira do Bom Jesus agrave SC 403 Nesse quadro fica facilitada a alternativa de que a area funcione como a centralidade da regiatildeo balneaacuteria norte (Daniela Jurereacute Canasvieiras Cachoeira Ponta das Canas Lagoinha Praia Brava Ingleses e Santinho) ampliando ainda o contexto para as comunidades de Vargem Grande e Rio Vermelho
Em Florianoacutepolis 4 de Julho de 2002
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
164
ANEXO 2
TABELA DE IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS
DO SAPIENS PARQUE
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
165
ANEXO 3 ndash MASTER PLAN SAPIENS PARQUE 2005
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
166
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
167
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
168
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
4
AGRADECIMENTOS
Uma dissertaccedilatildeo de mestrado nunca pode ser vista como definitivamente finalizada
porque em um trabalho como este sempre haveraacute o que possa ser corrigido e acrescentado
Esta dissertaccedilatildeo constitui apenas um pequeno trecho de um longo caminho a ser percorrido
Sendo assim neste momento devem-se os agradecimentos agravequeles que de alguma forma
colaboraram para o desempenho deste trabalho
Agrave Coordenaccedilatildeo e Secretaria do PGAU ndash Cidade em particular agrave professora Gilceacuteia
Pesce do Amaral e Silva pelo incentivo constante e pela disponibilidade da realizaccedilatildeo do
curso de Mestrado
Ao meu orientador Nelson Popini Vaz pela orientaccedilatildeo que me permitiu descobrir
limites e possibilidades e pelo respeito agraves posiccedilotildees tomadas pela autora no decorrer do
trabalho agradeccedilo agrave convivecircncia
Ao amigo e professor Eduardo Jorge Feacutelix Castells pelo material do Instituto de
Arquitetos do Brasil cedido para anaacutelise e que servem de embasamento para a avaliaccedilatildeo
final da pesquisa aleacutem das discussotildees que permitiram seu direcionamento
Ao professor Gilberto Montibeller Filho pelas valiosas contribuiccedilotildees em minha banca
de qualificaccedilatildeo e pela presenccedila na banca de defesa e ao professor Almir Francisco Reis
pelas colocaccedilotildees finais que possibilitaram o aprimoramento do trabalho
Agrave Fundaccedilatildeo CERTI e ao Gerente Executivo do Sapiens Parque Leandro Carioni pela
atenccedilatildeo e disposiccedilatildeo de todo o material referente ao empreendimento indispensaacuteveis agrave
finalizaccedilatildeo do trabalho
Aos colegas do mestrado PGAU ndash Cidade em especial agrave Fernanda e Joana pela
amizade e discussotildees em sala que em muito contribuiacuteram nesta dissertaccedilatildeo
Ao Fernando pelo apoio incondicional e pelas fotos especialmente encomendadas e
que ilustram o terceiro capiacutetulo
Agrave minha querida amiga Bianca pela ajuda na revisatildeo e traduccedilatildeo do Inglecircs e agrave minha
tia Vera licenciada em Letras pela revisatildeo ortograacutefica do Portuguecircs
Por fim mas natildeo menos importante aos meus pais e aos meus irmatildeos Luciano
Marcos e Guilherme pela seguranccedila e certeza de que sempre estaratildeo presentes
A todos o meu muito obrigada
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque 29
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 30
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque 35
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil 60
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis 69
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial 95
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes 101
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de 101
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame 106
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes 106
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer 106
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico 106
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua 108
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde 108
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor 109
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana 109
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 119
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 137
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 138
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 139
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico 44
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis 58
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel 65
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba 105
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades 108
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque 123
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque 129
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel 141
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
7
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 ndash Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC 158
Anexo 2 ndash Tabela de Impactos e Medidas Compensatoacuterias do Sapiens Parque 164
Anexo 3 ndash Master Plan Sapiens Parque 2005 165
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
8
LISTA DE SIGLAS
ARENA - Alianccedila Renovadora Nacional
CASAN - Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento
CELESC - Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CERTI - Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras
CIC - Cidade Industrial de Curitiba
CODESC - Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CSD - Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel
EIA - Estudo de Impacto Ambiental
EIV - Estudo de Impacto de Vizinhanccedila
ESI - Environmental Sustenaibility Index
FAPESC - Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina
FATMA ndash Fundaccedilatildeo do Meio Ambiente
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FMI - Fundo Monetaacuterio Internacional
IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas
IDH - Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IDS - Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel
IPPUC - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
LAP - Licenccedila Ambiental Preacutevia
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PFL - Partido da Frente Liberal
PIB - Produto Interno Bruto
PMDB - Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro
PMF - Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
PNB - Produto Nacional Bruto
PNUD - Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento
RBAC ndash Reserva da Biosfera da Amazocircnia Central
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
9
RBMA - Reserva da Biosfera Mata Atlacircntica
RBC ndash Reserva da Biosfera do Cerrado
RBCA ndash Reserva da Biosfera da Caatinga
RBCVSP ndash Reserva da Biosfera do Cinturatildeo Verde de Satildeo Paulo
RBP ndash Reserva da Biosfera do Pantanal
RBU ndash Reserva da Biosfera Urbana
RIMA - Relatoacuterio de Impacto Ambiental
SINDUSCON - Sindicato da Induacutestria da Construccedilatildeo Civil
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo
SPE - Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
SUDAM - Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia
SUDENE - Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UNCED - Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
UNCTAD - Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento
UNEP - Programa de Meio Ambiente das Naccedilotildees Unidas
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
10
RESUMO
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Orientador Nelson Popini Vaz Linha de Pesquisa Configuraccedilotildees Regionais Planejamento Urbano e Meio Ambiente Defesa 10032008
O conjunto de processos e agentes externos de uma cidade sempre resulta em influenciar a sua evoluccedilatildeo urbana A globalizaccedilatildeo fortifica a velocidade com que ocorrem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e alteraccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e socioculturais trazem implicaccedilotildees no processo construtivo das cidades O espaccedilo urbano eacute transformado em um capital comum para toda a humanidade e ganha novas funccedilotildees dando origem ao ambiente competitivo entre as cidades e refletindo suas modificaccedilotildees no planejamento As cidades passam a constituir centros de articulaccedilatildeo e controle de economias regionais nacionais e internacionais a partir de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas As accedilotildees estrateacutegicas em acircmbito urbano definidas dentro da loacutegica do mercado caracterizam o novo modelo de planejamento a ser adotado frente aos desafios impostos pela globalizaccedilatildeo Por outro lado a problemaacutetica ambiental global surgida no seacuteculo XX determinou um novo paradigma de desenvolvimento que apresenta como diretriz a integraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas com o ambiente natural O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel compreende uma alternativa agraves teorias e modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica Este trabalho estabelece uma relaccedilatildeo entre o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel e o atual modelo de planejamento urbano estrateacutegico Para tanto faz uma avaliaccedilatildeo da eficiecircncia do modelo de planejamento urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel segundo os conceitos e criteacuterios de sustentabilidade A anaacutelise baseia-se no estudo de caso do empreendimento Sapiens Parque para Florianoacutepolis Tal empreendimento caracteriza-se como um programa de desenvolvimento regional baseado na produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e que visa a sustentabilidade social econocircmica e ambiental A pesquisa aponta os limites deste projeto no alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional atraveacutes do levantamento dos seus impactos em meio fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico permitindo identificar em quais aspectos o modelo de planejamento urbano adotado contraria os conceitos de sustentabilidade estudados
Palavras-chave desenvolvimento sustentaacutevel planejamento estrateacutegico projeto urbano globalizaccedilatildeo
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
11
ABSTRACT
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Adviser Nelson Popini Vaz Line of Research Regional Configurations Urban Planning and Environment Date of Presentation March 10th of 2008
The set of processes and external agents of a city always results in influencing its urban evolution The globalization increases the velocity in which these external changes take place and changes the space into a common capital to the humanity bringing its implications to the citiesrsquo constructive process The urban space has new functions creating a competitive environment between cities and reflecting in modifications in the urban planning Through urban vocations and specializations the cities start to constitute articulation and control centers of regional national and international economy The strategic actions in the urban field defined according to the market logic characterize the new planning model to be adopted facing the challenges imposed by the globalization On the other hand the global environmental problem that appeared in 20th century determined a new development paradigm that presents as a direction line the integration between human relations and natural environment The concept of sustainable development comes as an alternative to the theories and traditional models of development and marks a new philosophy that combines economic efficiency with social justice and ecological prudence This thesis establishes an interaction between the paradigm of the sustainable development and the current model of strategic urban planning In order to achieve that an efficiency evaluation of the urban planning model as a tool of sustainable development is made according to the concepts and the criteria of sustainability The analysis is based an enterprise Sapiens Park study of case in Florianoacutepolis Such enterprise is characterized as a regional development program based on the scientific and technological production and it aims at the social economic and environmental sustainability The research points the limits of this project while trying to reach the regional sustainable development through the survey of its impacts in the physic biotic and socio-economic environment allowing the identification of which aspects the urban planning model current adopted opposes the concepts of sustainability studied
Keywords sustainable development strategic planning urban project globalization
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
12
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS 04
LISTA DE FIGURAS 05
LISTA DE TABELAS 06
LISTA DE ANEXOS 07
LISTA DE SIGLAS 08
RESUMO 10
ABSTRACT 11
INTRODUCcedilAtildeO 14
Justificativa 14
Objetivos da pesquisa 17
Metodologia de pesquisa e estrutura do trabalho 18
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE 22
11 Caracterizaccedilatildeo de Florianoacutepolis 22
12 O empreendimento Sapiens Parque 26
121 Apresentaccedilatildeo do projeto 26
122 Localizaccedilatildeo urbana do empreendimento 29
123 Moacutedulos e Setores 33
124 Agentes envolvidos 35
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE 40
21 Conceito de desenvolvimento 40
211 Brasil e desenvolvimento 46
22 A inserccedilatildeo ambiental no desenvolvimento 51
221 Ecodesenvolvimento 54
222 Desenvolvimento Sustentaacutevel 61
23 Sustentabilidade urbana 66
231 Diretrizes para a sustentabilidade urbana 71
24 Turismo Desenvolvimento e Meio Ambiente 75
25 Impactos Ambientais Urbanos 79
251 Impactos de Projetos Desenvolvimentistas 81
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
13
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO 86
31 Globalizaccedilatildeo e a nova funccedilatildeo das cidades 86
32 Estrateacutegias das cidades para as novas funccedilotildees urbanas 88
33 O modelo estrateacutegico de planejamento das cidades 93
34 Variaccedilotildees em torno de um mesmo modelo 99
341 Barcelona e o caso da Vila Oliacutempica 99
342 Curitiba e suas intervenccedilotildees urbanas 102
343 Rio de Janeiro e os Planos Estrateacutegicos Regionais 106
35 Conclusotildees parciais Limites do planejamento estrateacutegico 110
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE 117
41 Avaliaccedilotildees do Instituto de Arquitetos do Brasil 117
42 Avaliaccedilotildees do EIA-RIMA 2003 120
421 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio fiacutesico e bioacutetico 124
422 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio soacutecio-econocircmico 126
423 Atribuiccedilotildees dadas ao poder puacuteblico 131
424 Aspectos legais 132
43 Avaliaccedilotildees da comunidade local 135
44 Avaliaccedilotildees do Master Plan 2005 136
45 Diagnoacutestico final avaliaccedilatildeo dos limites 140
5 CONCLUSOtildeES 145
REFEREcircNCIAS 151
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
14
INTRODUCcedilAtildeO
JUSTIFICATIVA OBJETIVO E METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO
As mudanccedilas tecnoloacutegicas econocircmicas geo-poliacuteticas e soacutecio-culturais ocorridas no
mundo como decorrecircncia do aparecimento da globalizaccedilatildeo apresentam suas influecircncias na
configuraccedilatildeo do espaccedilo urbano As cidades passaram de espaccedilos locais a centros
articuladores de economias regionais nacionais e internacionais tendo como instrumento
de planejamento accedilotildees estrateacutegicas definidas dentro da loacutegica do mercado Esta nova
realidade gera o espaccedilo das cidades mundiais onde as cidades buscam seu
reconhecimento em niacutevel global atraveacutes de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas
Tal situaccedilatildeo no Brasil teve seu maior exemplo refletido na cidade de Curitiba na
deacutecada de 1990 Curitiba foi classificada como uma das melhores cidades brasileiras para
se viver e tornou-se referecircncia nacional e internacional atraveacutes de um plano de urbanizaccedilatildeo
especiacutefico que visava atrativos culturais e de lazer A exemplo do que aconteceu na capital
paranaense nos uacuteltimos anos o espaccedilo metropolitano de Florianoacutepolis vem sendo apontado
como uma das regiotildees de maior qualidade de vida do Brasil e com o menor iacutendice de
violecircncia do paiacutes
A pretensatildeo de transformar Florianoacutepolis em uma referecircncia mundial iniciou a partir
da virada dos anos oitenta para os anos noventa Ao final da deacutecada de 1980 defendia-se
que a vocaccedilatildeo de Florianoacutepolis estaria na induacutestria do turismo e de alta tecnologia
entendidas como induacutestrias natildeo poluentes e adequadas ao rico ambiente natural da cidade
Apoacutes o lanccedilamento do Mercosul em 1991 Florianoacutepolis foi nomeada com o tiacutetulo de Capital
Turiacutestica do Mercosul Em 2002 a revista nacional Exame colocou a capital de Santa
Catarina como a quinta colocada dentre as melhores cidades do paiacutes para a aplicaccedilatildeo de
investimentos
No mecircs de junho de 2007 Florianoacutepolis esteve presente no evento ldquoFoacuterum
Internacionalrdquo que aconteceu em Goyang na Coreacuteia do Sul O objetivo do evento era
debater o tema do desenvolvimento urbano e cultural com convidados especiais
representantes oficiais e especialistas de renome internacional de um grupo de dez cidades
especiacuteficas O grupo reunia as ldquo10 cidades mais dinacircmicas do mundordquo que consistem as
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
15
regiotildees econocircmicas mais promissoras do mundo pesquisa realizada e publicada pela
revista internacional Newsweek em julho de 2006 Florianoacutepolis foi a uacutenica cidade da
Ameacuterica Latina a ser classificada no ranking juntamente a outros centros urbanos
americanos europeus e asiaacuteticos
A revista Newsweek justificou a inclusatildeo de Florianoacutepolis na lista das dez cidades
mais dinacircmicas do mundo devido a uma seacuterie de fatores entre eles o potencial turiacutestico
derivado da quantidade de praias o alto niacutevel de escolaridade e a presenccedila de uma nova
induacutestria limpa do conhecimento baseada em empresas de tecnologia de ponta A notiacutecia
chega a referir-se agrave capital como o futuro ldquoVale do Siliacuteciordquo no Brasil em uma comparaccedilatildeo ao
maior centro tecnoloacutegico americano na Califoacuternia
Florianoacutepolis vem buscado tornar-se uma referecircncia internacional atraveacutes de projetos
e intervenccedilotildees urbanas seguindo processo semelhante ao qual se submeteu Curitiba No
evento de Goyang a cidade foi representada pelo engenheiro mecacircnico e administrador
Marcelo Ferreira Guimaratildees diretor de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo do Sapiens Parque
projeto urbano que constitui o estudo de caso deste trabalho
O Sapiens Parque consiste em um empreendimento com futura implantaccedilatildeo no
balneaacuterio de Canasvieiras no norte de Florianoacutepolis e que visa a atraccedilatildeo de investimentos
privados e turistas O projeto vem sendo apresentado pelos responsaacuteveis como um
programa de desenvolvimento regional sustentaacutevel para o norte da Ilha
O Sapiens Parque pode ser caracterizado como um programa de desenvolvimento regional envolvendo a criaccedilatildeo de um novo centro urbano para Florianoacutepolis ldquointeligenterdquo baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental voltado para produccedilatildeo cientiacutefica tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento e exigindo em sua implementaccedilatildeo profundo trabalho de planejamento urbano arquitetocircnico ambiental econocircmico financeiro e juriacutedico Sua finalidade extrapola a curiosidade cientiacutefica e alcanccedila a capacitaccedilatildeo das futuras geraccedilotildees para enfrentar o desenvolvimento equilibrado a produccedilatildeo de riquezas e a agregaccedilatildeo de valor para fazer frente agrave competitividade do seacuteculo XXI (RIMA 1 200301)
Durante o decorrer do ano 2007 o Sapiens Parque e outros projetos urbanos foram
apresentados em eventos mensais locais ocorridos em Florianoacutepolis denominados como
ldquoPensando a Cidaderdquo e patrocinados por empresas privadas e pelo Sindicato da Induacutestria da
Construccedilatildeo Civil (SINDUSCON) O primeiro dos eventos apresentou um viacutedeo ilustrativo
com um resumo desses projetos intitulado ldquoA cidade que queremosrdquo e contou com a
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
16
participaccedilatildeo do governador em exerciacutecio Luiz Henrique da Silveira que se mostrou
visivelmente favoraacutevel agrave implantaccedilatildeo dos projetos
Tais intervenccedilotildees segundo os patrocinadores do evento promoveriam o
desenvolvimento sustentaacutevel de Florianoacutepolis e regiatildeo buscando equilibrar
simultaneamente o crescimento econocircmico com o desenvolvimento social e cultural
mantendo a preservaccedilatildeo ambiental Aleacutem do Sapiens Parque os eventos ainda
apresentaram o projeto de um hotel seis estrelas com localizaccedilatildeo na Ponta do Coral (um
local estrateacutegico na principal avenida agrave beira-mar da cidade) e o projeto de um campo de golfe
para a praia do Costatildeo do Santinho (proacuteximo ao principal resort de Florianoacutepolis) entre outros
Este trabalho faz uma anaacutelise do projeto urbano do Sapiens Parque como ferramenta
de desenvolvimento sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis a partir do
estudo de seus possiacuteveis impactos sociais econocircmicos e ambientais positivos e negativos
em acircmbito regional O projeto Sapiens Parque incorpora os conceitos do modelo de
planejamento urbano estrateacutegico que compreende a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees urbanas e
investimentos estrateacutegicos com o objetivo de atraccedilatildeo do capital privado e inserccedilatildeo das
cidades em niacutevel mundial Em geral tais intervenccedilotildees constituem iniciativas dos governos
locais formadas a partir da parceria dos oacutergatildeos puacuteblicos com as empresas privadas As
poliacuteticas locais tentam absorver e levar para a gestatildeo e o planejamento local os novos
paradigmas que buscam a criaccedilatildeo das cidades mundiais O modelo que sustenta tal
pensamento baseia-se no conceito da competitividade urbana como escopo para o
desenvolvimento local e melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo
Para a avaliaccedilatildeo do projeto urbano Sapiens Parque esta pesquisa parte de dois
eixos estruturadores O primeiro eixo estruturador consiste em mostrar os conceitos e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel em suas dimensotildees social ambiental e econocircmica
e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo urbano
O termo ldquodesenvolvimento sustentaacutevelrdquo surgiu na deacutecada de 1980 como um
paradigma a ser seguido dentro das diretrizes de desenvolvimento de forma a reunir
questotildees sociais e ambientais ao crescimento econocircmico Apesar de muitos autores
discursarem a respeito da ldquoinsustentabilidade do desenvolvimento sustentaacutevelrdquo ao
questionarem sua efetiva possibilidade de aplicaccedilatildeo o termo ainda vem sendo utilizado no
discurso de muitos projetos urbanos como um importante objetivo a ser alcanccedilado
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
17
O segundo eixo estruturador deste trabalho analisa a caracterizaccedilatildeo e os limites do
modelo de planejamento urbano estrateacutegico utilizado no conceito do Sapiens Parque
atraveacutes de referenciais nacionais e internacionais existentes e das avaliaccedilotildees jaacute feitas em
relaccedilatildeo ao proacuteprio empreendimento O resultado final da pesquisa consiste na avaliaccedilatildeo dos
limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de desenvolvimento
sustentaacutevel
Esta pesquisa tambeacutem pretende discutir o atual modelo de planejamento urbano
adotado atraveacutes do estudo do Sapiens Parque se os investimentos estatais dirigem-se aos
reais problemas da sociedade ou se estatildeo eles direcionados agrave promoccedilatildeo do capital no
mundo globalizado Trata-se de avaliar os impactos ambientais e soacutecio-econocircmicos de tal
empreendimento a niacutevel local e regional e discutir as reais possibilidades do alcance do
desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes desse modelo Assim torna-se possiacutevel prever e
apontar os limites do planejamento urbano e procurar mudanccedilas que possam melhoraacute-lo
Vale lembrar aqui de que o projeto Sapiens Parque ainda natildeo foi totalmente
executado tendo uma previsatildeo de quinze anos para a sua conclusatildeo Trata-se portanto de
trabalhar com indicativos de uma possiacutevel e provaacutevel situaccedilatildeo ainda natildeo real
OBJETIVOS DA PESQUISA
OBJETIVO GERAL
Analisar o projeto do empreendimento Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
identificando seus limites
OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Como forma de alcanccedilar o objetivo geral acima especificado os seguintes objetivos
especiacuteficos satildeo preacute-estabelecidos
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
18
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca do desenvolvimento
sustentaacutevel definindo dimensotildees e criteacuterios de sustentabilidade
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca de intervenccedilotildees e projetos
urbanos existentes no mundo e no Brasil utilizados como meio de
desenvolvimento e inserccedilatildeo da cidade em niacutevel global e identificar suas
limitaccedilotildees como modelo de planejamento urbano
Avaliar o projeto Sapiens Parque considerando seus impactos soacutecio-econocircmicos
e ambientais positivos e negativos tomando como base bibliografia disponiacutevel
Definir os limites do projeto Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
METODOLOGIA DE PESQUISA E ESTRUTURA DO TRABALHO
Para realizar uma avaliaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque como instrumento
de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis e identificar seus limites esta
pesquisa foi estruturada atraveacutes de quatro capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo eacute introduzido o estudo de caso a partir da caracterizaccedilatildeo geral
do desenvolvimento urbano na regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis e da apresentaccedilatildeo do
empreendimento Sapiens Parque seus conceitos e atores envolvidos Optou-se em expor
de imediato o projeto que seraacute utilizado na avaliaccedilatildeo final do trabalho para inteirar o leitor
acerca do empreendimento antes mesmo das exposiccedilotildees e anaacutelises teoacutericas que envolvem
seus aspectos principais
O segundo e terceiro capiacutetulos desta pesquisa constituem basicamente a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica que serviraacute de base para a avaliaccedilatildeo final do empreendimento
Sapiens Parque demonstrada no uacuteltimo capiacutetulo Como o objetivo geral do trabalho consiste
em apontar os limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento sustentaacutevel a fundamentaccedilatildeo teoacuterica abordou essas duas temaacuteticas
principais os conceitos e criteacuterios relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e os
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
19
conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de planejamento urbano que caracteriza o
empreendimento
O segundo capiacutetulo intitulado ldquoDesenvolvimento e Meio Ambienterdquo analisa a
conceituaccedilatildeo teoacuterica referente ao desenvolvimento sustentaacutevel e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo
urbano Por tratar-se da avaliaccedilatildeo de um projeto urbano que ainda natildeo foi executado optou-
se em realizar uma pesquisa qualitativa baseada em criteacuterios de sustentabilidade Frente agrave
abrangente bibliografia acerca do tema este estudo transcorreu em torno de obras
produzidas por determinados autores reconhecidos pelas pesquisas realizadas em paiacuteses
em desenvolvimento como o Brasil Foram destacadas entre outras as duas importantes
obras de Ignacy Sachs1 ldquoCaminhos para o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo (2002) e
ldquoDesenvolvimento includente sustentaacutevel sustentadordquo (2004) A legislaccedilatildeo pertinente ao
tema tambeacutem serviu como fonte de pesquisa bibliograacutefica para anaacutelise
Como o desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis tem forte influecircncia da atividade
turiacutestica e o empreendimento Sapiens Parque tem o turismo sustentaacutevel como um dos
conceitos do projeto este segundo capiacutetulo aborda ainda questotildees relevantes acerca do
turismo e de seus impactos no ambiente natural Conceitos acerca de impactos ambientais
de projetos urbanos voltados ao desenvolvimento de uma regiatildeo como eacute caracterizado o
Sapiens Parque tambeacutem foram estudados ao final do capiacutetulo
Aleacutem de toda a conceituaccedilatildeo teoacuterica acerca das relaccedilotildees entre o desenvolvimento
urbano e o meio ambiente o segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo ainda enfatiza as
aplicaccedilotildees praacuteticas de tais conceitos para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis Tais
aplicaccedilotildees satildeo demonstradas no decorrer da fundamentaccedilatildeo teoacuterica atraveacutes do
levantamento das principais aacutereas e projetos de preservaccedilatildeo ambiental para a regiatildeo
O terceiro capiacutetulo deste trabalho levantou os conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de
planejamento urbano adotado no projeto do Sapiens Parque denominado planejamento
estrateacutegico que apresenta como um dos elementos precursores do desenvolvimento a
atraccedilatildeo de investimentos e de visitantes para determinada regiatildeo O planejamento urbano
1 Professor da Eacutecole des Hautes Eacutetudes en Sciences Sociales (EHESS) em Paris e criador do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporacircneo (CRDC)
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
20
estrateacutegico caracteriza-se por estrateacutegias das cidades na busca de ambientes competitivos
capazes de transformaacute-las em cidades mundiais no mundo globalizado
O terceiro capiacutetulo consiste em uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica baseada em pesquisa
bibliograacutefica Foram analisadas de um lado as obras bibliograacuteficas de ARANTES (2000)
VAINER (2000) MARICATO (2000) e SAacuteNCHEZ (2003) que criticam a utilizaccedilatildeo do
planejamento urbano estrateacutegico como um modelo a ser aplicado a todas as realidades
urbanas De outro lado temos a visatildeo de BORJA e CASTELLS (2000) LOPES (1998) e
GUumlELL (1997) que analisam as origens e metodologias do planejamento estrateacutegico e
defendem que sua correta aplicaccedilatildeo pode trazer benefiacutecios para as cidades Neste capiacutetulo
satildeo mostrados ainda referenciais de determinadas cidades onde tal modelo jaacute foi aplicado
como Barcelona Rio de Janeiro e Curitiba As anaacutelises dos estudos de caso buscam
demonstrar as variaccedilotildees que existem em torno deste mesmo modelo e tirar conclusotildees
parciais acerca dos seus resultados
O quarto capiacutetulo consiste na anaacutelise final do projeto do empreendimento Sapiens
Parque tendo como base a fundamentaccedilatildeo teoacuterica dos dois capiacutetulos anteriores Para a
etapa de avaliaccedilatildeo do projeto foram utilizados os seguintes documentos
Material de divulgaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque
Legislaccedilatildeo ambiental e urbana incidente na aacuterea de implantaccedilatildeo do
empreendimento
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) do
Sapiens Parque
Dossiecirc de Inserccedilatildeo Socioambiental do Sapiens Parque
Memoacuteria de audiecircncias puacuteblicas relacionadas ao empreendimento
Criacutetica do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SC) a respeito do projeto Sapiens
Parque
Entrevistas com atores locais concedidas agrave rede de televisatildeo local
Notiacutecias do empreendimento
Os documentos acima apresentam as avaliaccedilotildees feitas ao empreendimento Sapiens
Parque pelos atores envolvidos O quarto capiacutetulo levanta os principais impactos positivos e
negativos do empreendimento em meios fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico em niacutevel local
regional municipal e metropolitano A anaacutelise de tais impactos associada agrave fundamentaccedilatildeo
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
21
teoacuterica estudada permite a avaliaccedilatildeo conclusiva dos limites do projeto Sapiens Parque como
instrumento de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis
Por fim a lista de obras citadas como Referecircncias ao teacutermino do trabalho constitui
todas as obras bibliograacuteficas material cartograacutefico documentos de acesso eletrocircnico
publicaccedilotildees perioacutedicas legislaccedilatildeo e material audiovisual que foram consultados para a
elaboraccedilatildeo desta pesquisa independente de terem sido ou natildeo referenciados nos textos ao
longo do trabalho
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
22
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
11 CARACTERIZACcedilAtildeO DE FLORIANOacutePOLIS
O desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis deu-se principalmente no seacuteculo XX
apoacutes a cidade firmar-se como capital de Santa Catarina VAZ (1991) atribui trecircs fatores
principais para a transformaccedilatildeo de Florianoacutepolis neste seacuteculo a centralizaccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos e administrativos da capital que consolidou o nuacutecleo do centro urbano a integraccedilatildeo
rodoviaacuteria que substituiu o transporte mariacutetimo pelo rodoviaacuterio e o turismo que mesmo ainda
sendo uma atividade sazonal trouxe modificaccedilotildees relevantes no desenvolvimento urbano
As primeiras deacutecadas do seacuteculo XX marcaram a crise da atividade portuaacuteria e a
estagnaccedilatildeo da agricultura local A construccedilatildeo da Ponte Herciacutelio Luz em 1926 que
estabeleceu a conexatildeo Ilha-continente incrementou o transporte rodoviaacuterio e consistiu um
importante impulsionador do desenvolvimento local A urbanizaccedilatildeo acarretou melhorias em
infra-estrutura atraveacutes da implantaccedilatildeo da rede de energia eleacutetrica e dos sistemas de
abastecimento de aacutegua e captaccedilatildeo de esgotos
Na deacutecada de 1930 o municiacutepio enfrentou um periacuteodo de estagnaccedilatildeo devido agrave
Revoluccedilatildeo de Trinta quando o governo local fez oposiccedilatildeo agrave candidatura de Getuacutelio Vargas
A vida urbana da capital antes marcada pela presenccedila do ativo porto exportador manteve-
se nessa eacutepoca basicamente atraveacutes do crescimento do setor puacuteblico e dos serviccedilos
oferecidos pelo governo estadual aleacutem da manutenccedilatildeo de pequena produccedilatildeo agriacutecola e
industrial fazendo com que o comeacutercio local se transformasse na principal atividade
econocircmica (VAZ 1991)
Nas deacutecadas de 1940 e 1950 a situaccedilatildeo econocircmica da capital continuou estagnada
com queda no movimento portuaacuterio e sofrendo deficiecircncias de infra-estrutura O comeacutercio
continuou sendo a atividade econocircmica principal com pouca atividade industrial e a cidade
manteve a sua caracteriacutestica poliacutetico-administrativa
A execuccedilatildeo de obras viaacuterias na metade do seacuteculo XX possibilitou a expansatildeo urbana
para o interior da Ilha e forneceu o acesso agraves praias Segundo VAZ (1991) Florianoacutepolis
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
23
manteve sua imagem quase intacta ateacute a deacutecada de 1960 quando se acelerou o processo
de transformaccedilatildeo destacando o sistema de circulaccedilatildeo e transportes rodoviaacuterios Com a
implantaccedilatildeo da Universidade Federal de Santa Catarina em 1961 e de empresas estatais
federais e estaduais Florianoacutepolis passou a receber estudantes professores e profissionais
liberais de outras cidades e estados contribuindo significativamente para o crescimento e o
desenvolvimento da cidade Nesta eacutepoca a induacutestria da construccedilatildeo civil comeccedilou a se
destacar na cidade aleacutem do setor de comeacutercio e serviccedilos
A crescente classe meacutedia multiplicou as grandes aacutereas loteadas dos novos bairros residenciais e os edifiacutecios de apartamento que margearam novas avenidas Ela foi assistida por numerosa e perifeacuterica camada social de baixa renda que sustentou o setor de comeacutercio e serviccedilos com matildeo de obra barata e a construccedilatildeo civil (VAZ 199133)
A economia local passou a utilizar ainda mais as redes terrestres como transporte
apoacutes a construccedilatildeo da BR-101 na deacutecada de 1970 que fez a conexatildeo Norte-Sul do Estado
como tambeacutem com a construccedilatildeo da BR-470 (Rodovia Jorge Lacerda) que ligou a capital ao
planalto catarinense Somente nesta deacutecada com o crescimento da maacutequina estatal
Florianoacutepolis reativou seu dinamismo compensando a decadecircncia da atividade portuaacuteria
De acordo com CECCA (1997) as deacutecadas de 1960 e 1970 foram marcadas por
acentuado desenvolvimento urbano e consequumlente busca de ocupaccedilatildeo das praias pela
populaccedilatildeo local e principalmente por turistas estaduais interestaduais e estrangeiros A
pavimentaccedilatildeo de muitas vias que forneciam o acesso agraves praias foi realizada nesta eacutepoca
frente agrave nova demanda de veratildeo a SC-401 que oferece acesso agraves praias do Norte da Ilha
a SC-404 que leva agrave Lagoa da Conceiccedilatildeo e desta a SC-406 que segue ao Rio Tavares e a
SC-405 que passa pelo Campeche em direccedilatildeo agrave Armaccedilatildeo e ao Pacircntano do Sul
Para atender as novas demandas de traacutefego urbano as autoridades governamentais
construiacuteram o Aterro da Baiacutea Sul na deacutecada de 1970 O aterro serviu como escoamento
para as duas novas pontes de ligaccedilatildeo com o continente a Ponte Colombo Machado Sales e
a Pedro Ivo Campos Aleacutem disso o aterro se interligou agrave Via Expressa da Beira-Mar Norte
Aos poucos Florianoacutepolis perdeu ainda mais sua antiga relaccedilatildeo com o mar frente aos
pedidos de empresaacuterios e poliacuteticos ligados ao setor turiacutestico por novos aterros estradas
duplicaccedilotildees viadutos e tuacuteneis
Na deacutecada de 1980 Florianoacutepolis jaacute se caracterizava como uma cidade voltada para
o setor terciaacuterio de serviccedilos que hoje concentra parte de sua economia e sua posiccedilatildeo de
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
24
capital do Estado natildeo se restringe apenas a gerar empregos puacuteblicos mas indiretamente
estimula outros setores intermediaacuterios da economia local A atividade turiacutestica comeccedilou a se
destacar ainda mais nesta eacutepoca tornando-se um dos pilares da economia na Ilha e
concretizando a cidade como um dos principais poacutelos turiacutesticos de Santa Catarina
O turismo passou a servir de promotor de significativas modificaccedilotildees culturais e
paisagiacutesticas As atividades de turismo e lazer geraram a expansatildeo urbana desvinculada do
centro alterando a fisionomia urbana a partir da implementaccedilatildeo de condicionantes
favoraacuteveis agrave valorizaccedilatildeo do turismo hoteacuteis restaurantes loteamentos casas de segunda
residecircncia ou aluguel principalmente nas aacutereas proacuteximas da orla A cidade se desenvolveu
formando poacutelos urbanos com bairros auto-suficientes destinados agraves classes meacutedia e alta na
sua parte central e agraves favelas nas aacutereas mais afastadas As transformaccedilotildees urbanas
decorrentes dessa eacutepoca trouxeram consequumlecircncias imediatas e devastadoras ao patrimocircnio
natural e cultural
Os recantos mais ermos da Ilha comeccedilaram a serem cortados por estradas e loteamentos e as tradicionais e decadentes comunidades agriacutecola-pesqueiras transformaram-se em balneaacuterios Na cidade as verticais edificaccedilotildees modernas substituiacuteram a maior parte das construccedilotildees seculares de estilos e eacutepocas diversas As encostas e as periferias urbanas foram sendo intensamente ocupadas por populaccedilotildees mais pobres (CECCA 199759-60)
Segundo CECCA (1997) ldquoa maior ameaccedila agrave qualidade de vida de Florianoacutepolis
deriva do desrespeito ao meio ambiente e aos ecossistemas da Ilhardquo (CECCA 1997233)
O meio ambiente natural da Ilha eacute diversificado e fraacutegil marcado pela Floresta Ombroacutefila
Densa (Mata Atlacircntica) Floresta das Planiacutecies Quaternaacuterias manguezais restingas e
dunas Essa variedade de ecossistemas torna ainda mais difiacutecil a identificaccedilatildeo dos impactos
ambientais derivados da urbanizaccedilatildeo A condiccedilatildeo geograacutefica e insular da cidade aliada ao
seu particular sistema ecoloacutegico impotildeem limites para sua expansatildeo urbana ainda mais que
cerca de 42 do municiacutepio de Florianoacutepolis eacute atualmente constituiacutedo por unidades de
preservaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo O crescimento populacional local e o processo de migraccedilatildeo
tende a elevar os problemas de ordenamento urbano-ambiental do municiacutepio
Em acircmbito econocircmico a pesca artesanal e a pesca industrial que sempre estiveram
presentes na economia local continuam dando modestas contribuiccedilotildees ao produto interno
bruto municipal assim como as atividades do setor primaacuterio da economia como a
agricultura e a pecuaacuteria A induacutestria da construccedilatildeo civil aparece como forte atividade
econocircmica mas a principal fonte da economia municipal deve-se agrave atividade turiacutestica (que
atrai brasileiros e principalmente a populaccedilatildeo estrangeira do Mercosul) aliada ao comeacutercio
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
25
e ao setor de serviccedilos derivado da estrutura administrativa municipal estadual e federal
Tambeacutem com aparente potencial tem surgido a induacutestria do vestuaacuterio e da informaacutetica e
tecnologia Nos uacuteltimos anos a aquumlicultura tambeacutem tem se tornado uma atividade mais
expressiva para a populaccedilatildeo ligada ao setor marinho
O patrimocircnio cultural da Ilha resulta de acordo com CECCA (1997) do conjunto de
trecircs elementos formadores da sociedade brasileira o branco europeu o nego africano e o
nativo indiacutegena Entretanto verifica-se maior influecircncia cultural do povoador portuguecircs em
particular o imigrante accediloriano Essa influecircncia reflete-se no traccedilado original das cidades na
tipologia arquitetocircnica nas teacutecnicas agriacutecolas e nas festas tradicionais A construccedilatildeo dos
aterros (principalmente na deacutecada de 1970) a valorizaccedilatildeo do sistema rodoviaacuterio e a
desativaccedilatildeo do porto o desenvolvimento turiacutestico a expansatildeo imobiliaacuteria e as dificuldades
para manter a pesca artesanal satildeo alguns dos fatores que levaram ao distanciamento das
atividades tradicionais derivadas da cultura accediloriana em Florianoacutepolis
Hoje a cidade passa por um processo de conurbaccedilatildeo criando a aacuterea metropolitana
da Grande Florianoacutepolis juntamente com as cidades de Satildeo Joseacute Biguaccedilu Palhoccedila
Antocircnio Carlos Governador Celso Ramos Santo Amaro da Imperatriz Satildeo Pedro de
Alcacircntara e Aacuteguas Mornas totalizando uma populaccedilatildeo de mais de 820 mil habitantes
segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2007
Florianoacutepolis apresenta ainda o principal aeroporto do Estado o Aeroporto Herciacutelio Luz que
desde 1989 opera com vocircos internacionais Apesar de suas deficiecircncias no campo social eacute
considerada uma das capitais de maior qualidade de vida do Brasil tendo levado o tiacutetulo de
melhor capital do paiacutes em qualidade de vida pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)
em 1998
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
26
12 O EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE2
121 APRESENTACcedilAtildeO DO PROJETO
O Sapiens Parque vem sendo apresentado atraveacutes de um novo conceito
denominado ldquoparque de inovaccedilatildeordquo Um parque de inovaccedilatildeo eacute um ambiente que possui infra-
estrutura e espaccedilo para abrigar empreendimentos projetos e outras iniciativas inovadoras e
estrateacutegicas para o desenvolvimento de uma regiatildeo e que se distingue por possuir um
modelo inovador para atrair desenvolver implementar e integrar estas iniciativas visando
um posicionamento diferenciado sustentaacutevel e competitivo
A oportunidade inicial para o Sapiens Parque surgiu a partir da parceria do poder
puacuteblico e da iniciativa privada atraveacutes da integraccedilatildeo entre o Governo do Estado de Santa
Catarina por meio da CODESC e a Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologia
Inovadoras (CERTI)
Como destacamos na Introduccedilatildeo deste trabalho o empreendimento vem sendo
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional baseado na
sustentabilidade social econocircmica e ambiental Voltado para produccedilatildeo cientiacutefica
tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento o projeto incorpora o seguinte
conjunto de conceitos e diretrizes
Desenvolvimento Sustentaacutevel busca o equiliacutebrio entre as vertentes econocircmica
social e ambiental
Sociedade do Conhecimento caracterizada pela crescente valorizaccedilatildeo dos
produtos serviccedilos e relaccedilotildees baseadas no conhecimento e na informaccedilatildeo
2 Todas as informaccedilotildees contidas neste item foram fornecidas atraveacutes de documentos oficiais do Sapiens Parque
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
27
Economia da Experiecircncia tendecircncia de geraccedilatildeo de produtos e serviccedilos
diferenciados por proporcionarem ldquomemorabilidade amp fidelizaccedilatildeordquo ao integrar
Educaccedilatildeo ndash Entretenimento ndash Esteacutetica e Imersatildeo
Convergecircncia das Ciecircncias e Tecnologias tambeacutem chamada de
transdisciplinaridade eacute o conceito que visa integrar os vaacuterios campos da ciecircncia e
da tecnologia (humanas exatas bioloacutegicas sociais etc)
Globalizaccedilatildeo Econocircmica tendecircncia que induz ao desenvolvimento de Plataformas
Mundiais considerando as peculiaridades e diferenccedilas locais
ldquoAdoccedilatildeo de um Ciclo contiacutenuo de Inovaccedilatildeordquo busca integrar de forma eficaz a
Pesquisa Livre Pesquisa Preacute-competitiva Desenvolvimento Tecnoloacutegico e
Criaccedilatildeo de Negoacutecios
Convergecircncia Digital tendecircncia de crescimento e desenvolvimento de produtos e
serviccedilos que integram Tecnologia da Informaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Conteuacutedo e
Turismo sustentaacutevel atraveacutes dos centros culturais e de eventos centro de
esportes e lazer centro de compras e gastronomia e do turismo ecoloacutegico
Para o projeto estaacute planejado um conjunto de empreendimentos puacuteblicos e privados
como arena multiuso parque florestal centro de serviccedilos para comunidade centro de
eventos e de convivecircncia hoteacuteis museus centros gastronocircmicos e de compras centros de
pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico aleacutem de empresas e organizaccedilotildees natildeo
governamentais que em conjunto iratildeo atuar no desenvolvimento local e regional
Segundo os empreendedores os resultados esperados com sua implantaccedilatildeo satildeo
(RIMA 1 2003) geraccedilatildeo de quase 30000 empregos diretos nas aacutereas de turismo ciecircncia e
tecnologia e serviccedilos geraccedilatildeo na fase de implantaccedilatildeo de aproximadamente R$ 11 bilhatildeo
em impostos que poderatildeo ser aplicados no melhoramento da infra-estrutura sauacutede
educaccedilatildeo e seguranccedila reduccedilatildeo da sazonalidade turiacutestica na regiatildeo auxiliando na
profissionalizaccedilatildeo da atividade definiccedilatildeo de um novo padratildeo de ocupaccedilatildeo urbana para a
regiatildeo e valorizaccedilatildeo da sociedade catarinense
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
28
Os idealizadores do projeto defendem que o parque deveraacute consagrar-se como
ldquoindutor do progresso social e material da regiatildeo harmonizando o desenvolvimento regional
e a sustentabilidade ambiental cumprindo seu papel de gerar renda e criar empregosrdquo
(RIMA 1 200303) Os principais aspectos econocircmicos positivos apontados consistem o
aumento significativo da arrecadaccedilatildeo de impostos a criaccedilatildeo de novos empregos o aumento
da renda global e per capita a captaccedilatildeo e atraccedilatildeo de novos negoacutecios para o estado e o
potencial mercado de consumidores construiacutedo em parte pelos paiacuteses do Mercosul
Jaacute os aspectos sociais positivos apontados pelos empreendedores do parque satildeo os
seguintes ampliaccedilatildeo planejada da cidade otimizaccedilatildeo dos serviccedilos modernizaccedilatildeo da Ilha
na aacuterea de turismo e lazer ciecircncia e tecnologia transportes e comunicaccedilotildees aumento da
rede hoteleira estabilizaccedilatildeo do mercado de turismo e melhoria da qualidade de vida da
populaccedilatildeo com a implantaccedilatildeo de infra-estrutura e criaccedilatildeo de novos empregos
O primeiro projeto para o Sapiens Parque foi elaborado em 2002 pela empresa
Ecoplan selecionada atraveacutes da Fundaccedilatildeo CERTI para a execuccedilatildeo do trabalho O projeto
finalizado pela Ecoplan foi avaliado atraveacutes de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) no
ano seguinte realizado pelas empresas Socioambiental Consultores Associados e Elabore
Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente e sofreu alteraccedilotildees decorrentes das avaliaccedilotildees
feitas A partir de entatildeo o projeto passou a ser de responsabilidade do instituto argentino
Fundaciograven Cepa e orientado pelo arquiteto tambeacutem argentino Ruben Pesci Em 2005 o
Sapiens Parque apresentou um novo projeto elaborado pela Fundaciograven Cepa mantendo os
aspectos conceituais do empreendimento Os motivos pelos quais o projeto deixou de ser de
responsabilidade da empresa Ecoplan para ser desenvolvido pela Fundaciograven Cepa natildeo satildeo
esclarecidos pela Fundaccedilatildeo CERTI Entretanto concluiacutemos que o fato de o grupo argentino
estar envolvido na concepccedilatildeo do projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis3
aleacutem do reconhecimento de que a busca pela integraccedilatildeo entre o ambiente construiacutedo e a
natureza constituem um dos principais focos dos projetos do instituto Cepa influenciou na
decisatildeo de mudanccedila da equipe responsaacutevel
3 Sobre o projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis ver Capiacutetulo 2
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
29
122 LOCALIZACcedilAtildeO URBANA DO EMPREENDIMENTO
Segundo os idealizadores do projeto Sapiens Parque a escolha da cidade de
Florianoacutepolis como local para o empreendimento deve-se agrave sua localizaccedilatildeo geograacutefica
estrateacutegica em relaccedilatildeo aos paiacuteses comprometidos com o Mercosul e por ser praticamente
equumlidistante em relaccedilatildeo agraves principais metroacutepoles e aos grandes centros de negoacutecios da
regiatildeo A capital ainda possui a vantagem expressiva de ser conhecida em todo o mercado
do Cone Sul por sua beleza natural pelos seus iacutendices superiores de qualidade de vida e
pela constituiccedilatildeo de um dos maiores poacutelos de tecnologia do Paiacutes apresentando assim reais
condiccedilotildees de conjugar atividades de Centro de Negoacutecios e Centro de Lazer
Devido as suas caracteriacutesticas terciaacuterias e de prestaccedilatildeo de serviccedilos Florianoacutepolis
ainda eacute considerado um mercado consolidado para o desenvolvimento de empresas de
base tecnoloacutegica A Figura 1 mostra a localizaccedilatildeo do empreendimento no contexto urbano
de Florianoacutepolis
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como vemos na Figura 1 o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se
na regiatildeo Norte da Ilha no balneaacuterio de Canasvieiras O projeto Sapiens Parque estaacute
proposto para ser implantado em Florianoacutepolis em uma aacuterea superior a 400 ha
(4000000msup2) pertencente agrave Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
(CODESC) e ao Governo do Estado de Santa Catarina e onde se situava a extinta Colocircnia
CENTRO
SAPIENS
PARQUE
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
30
Penal de Florianoacutepolis Estende-se do entroncamento da rodovia estadual SC 401 com o
trevo de Canasvieiras ateacute os limites da Cachoeira do Bom Jesus do Morro dos Freitas e
terras da Vargem do Bom Jesus no Distrito de Canasvieiras na costa norte da Ilha de
Santa Catarina a 25 km de distacircncia do centro da capital O terreno de implantaccedilatildeo do
projeto pode ser conferido na Figura 2
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque Elaboraccedilatildeo da autora
A opccedilatildeo pela implantaccedilatildeo do empreendimento nesta regiatildeo eacute atribuiacuteda aos seguintes
fatores
A regiatildeo tem experimentado um dos maiores crescimentos imobiliaacuterios de todo o
paiacutes sendo procurada tanto para abrigar projetos na aacuterea residencial como
empresarial e educacional
A expansatildeo da cidade de Florianoacutepolis para esta regiatildeo assegura ao Sapiens
CANASVIEIRAS
CACHOEIRA DO
BOM JESUS
OCEANO ATLAcircNTICO
SAPIENS PARQUE
RIO PAPAQUARA
RIO DO
BRAacuteS
INGLESES
CENTRO
SC
-401
MORRO
DE
JUREREcirc
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
31
Parque uma infra-estrutura urbana essencial para o desenvolvimento de um
empreendimento deste porte
A regiatildeo norte de Florianoacutepolis abriga algumas das mais belas praias da Ilha que
oferecem opccedilotildees diversificadas de lazer desde os esportes naacuteuticos ateacute o surf e o
entretenimento familiar Aliada agraves belezas naturais das praias haacute toda uma
diversidade ambiental que engloba lagoas naturais reservas ambientais dunas e
reservas de mata atlacircntica
A regiatildeo conta com uma extensa rede hoteleira e uma infra-estrutura diversificada
de comeacutercio e serviccedilos
Os idealizadores do projeto alegam que foram estudadas outras possibilidades de
localizaccedilatildeo para a implantaccedilatildeo do empreendimento A regiatildeo sul de Florianoacutepolis que
engloba os bairros Campeche Ribeiratildeo da Ilha e Pacircntano do Sul foi considerada
inapropriada por apresentar vocaccedilotildees desenvolvimento econocircmico e infra-estrutura
bastante diferentes da regiatildeo norte o que no curto e meacutedio prazo desfavoreceria a
implantaccedilatildeo de projetos como o Sapiens Parque pois exigiria altiacutessimos investimentos
principalmente em infra-estrutura e no desenvolvimento econocircmico da regiatildeo A uacutenica aacuterea
ao sul disponiacutevel para tamanho empreendimento estaria nas proximidades do Aeroporto
Internacional Herciacutelio Luz fato que implica na impossibilidade de implantaccedilatildeo do parque
devido principalmente agrave influecircncia das atividades do parque nos equipamentos dos aviotildees
e do aeroporto e vice-versa
Uma terceira alternativa avaliada para a localizaccedilatildeo do parque seria na parte
continental de Florianoacutepolis que apesar de possuir viabilidade econocircmica natildeo apresentaria
ldquoopccedilotildees de terrenos de grande porte para a implantaccedilatildeo de um projeto desta magnituderdquo
(RIMA 1 200308)
Caracterizaccedilatildeo do Norte da Ilha e do Balneaacuterio de Canasvieiras
O processo de expansatildeo territorial para o Norte da Ilha desenvolveu-se
paralelamente aos investimentos estatais e ocorreu de forma mais evidente durante a
deacutecada de 1970 principalmente no Balneaacuterio de Canasvieiras e no seu entorno As
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
32
intervenccedilotildees viaacuterias solidificaram e incrementaram esse processo Segundo SUGAI (1994)
ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a regiatildeo norte da Ilha era utilizada principalmente
para o desenvolvimento das atividades agriacutecola e pesqueira A partir da deacutecada de 1950 a
regiatildeo comeccedilou a atrair a atenccedilatildeo para sua utilizaccedilatildeo balneaacuteria
A regiatildeo do balneaacuterio de Canasvieiras era extremamente visada pois apresentava
excelentes praias com aacuteguas limpas e de temperatura amena protegidas dos ventos
constantes aleacutem de beliacutessimas paisagens e de conformaccedilatildeo fiacutesica bastante rica SANTOS
(1993) destaca que Canasvieiras assim como outras praias do Norte da Ilha devem sua
ocupaccedilatildeo urbana principalmente pelas construccedilotildees das residecircncias de veraneio da alta
classe Durante as deacutecadas de 1950 e 1960 o Norte da Ilha passou a ser definido como
uma das principais localizaccedilotildees com essa finalidade e para onde o Estado efetuava os
maiores investimentos O fato deu iniacutecio aos interesses turiacutesticos e imobiliaacuterios na regiatildeo
impulsionando e estruturando o processo de expansatildeo da aacuterea urbana
Segundo SANTOS (1993) o processo de ocupaccedilatildeo de Canasvieiras ocorreu sem a
presenccedila de um plano diretor especiacutefico para os distritos A urbanizaccedilatildeo se desenvolvia
pelas vias principais e a tendecircncia foi a formaccedilatildeo de faixas contiacutenuas ao longo da praia A
inexistecircncia de infra-estrutura para o abastecimento de aacutegua esgoto e drenagem pluvial
aliada a um deficiente controle do uso e da ocupaccedilatildeo do solo sem uma legislaccedilatildeo mais
especiacutefica e fiscalizaccedilatildeo atuante desenvolveu uma urbanizaccedilatildeo precaacuteria que tende a
comprometer os seus atrativos naturais
A incidecircncia direta do turismo a partir da deacutecada de 1970 atraveacutes da construccedilatildeo de
hoteacuteis pousadas casas para aluguel bares e restaurantes acarretaram ainda maiores
impactos no ambiente natural A antiga vila de pescadores deu lugar a um espaccedilo disputado
pelos interesses capitalistas e imobiliaacuterios transformando-a em centro de turismo de
veraneio
Dessa forma a orla da regiatildeo foi ocupada quase em totalidade de maneira irregular
e com a apropriaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo devido agrave ausecircncia de uma fiscalizaccedilatildeo por
parte dos oacutergatildeos puacuteblicos O tipo de ocupaccedilatildeo originou a paisagem que caracteriza hoje o
balneaacuterio destituiacutedo de vegetaccedilatildeo natural com consequumlente erosatildeo e abrasatildeo marinhas
assoreamento de rios e coacuterregos
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
33
123 MOacuteDULOS E SETORES
O empreendimento Sapiens Parque compreende-se a partir de uma estrutura
organizacional fundamentada em dois moacutedulos principais o primeiro denominado
Experintia e o segundo caracterizado como Scientia ambos baseados no Ser humano e no
Conhecimento Aleacutem dos dois moacutedulos principais o parque ainda apresenta quatro setores
o de turismo esporte e consoacutercio o de serviccedilos especializados o de empresas de base
tecnoloacutegica e o de iniciativas e projetos soacutecio-ambientais
O moacutedulo Experientia congrega elementos como o Museu de Ciecircncia Parque
Temaacutetico Laboratoacuterios para novas tecnologias e soluccedilotildees O Experientia objetiva a criaccedilatildeo
de novos projetos conceitos ideacuteias e soluccedilotildees nas aacutereas da educaccedilatildeo meio ambiente
lazer cultura vida urbana empreendedorismo esporte educaccedilatildeo cidadania accedilatildeo de governo
sauacutede atraveacutes de experiecircncias intensivas no uso de tecnologias centradas no ser humano
O segundo moacutedulo Scientia consolida-se atraveacutes de nuacutecleos avanccedilados de
universidades empresas laboratoacuterios de ONGs e demais organizaccedilotildees interessadas na
pesquisa desenvolvimento e experimentaccedilatildeo de novas tecnologias e soluccedilotildees Caracteriza-
se pela busca da diversidade e interdisciplinaridade e visa atrair talentos e competecircncias de
referecircncias para o empreendimento
Dentre os demais acircmbitos que compotildeem o parque destaca-se o setor de turismo
esporte e consoacutercio que se direciona principalmente em propagar a vocaccedilatildeo turiacutestica
bastante forte na regiatildeo O projeto pretende reduzir a sazonalidade do turismo
caracteriacutestica em Florianoacutepolis cuja atividade acaba sempre por depender da temporada de
veratildeo Para isso pretende-se desenvolver uma rede de hoteacuteis reconhecida
internacionalmente pela excelecircncia na prestaccedilatildeo de serviccedilos O setor visa novas formas
atraentes como Arena Multiuso Centro Gastronocircmico Shopping Museu e Centros de
Saber Parque Ecoloacutegico Aquaacuterio e Complexo Esportivo
O setor de serviccedilos especializados estimula o desenvolvimento de determinados
tipos de serviccedilos altamente especializados em aacutereas como educaccedilatildeo sauacutede e negoacutecios
Na questatildeo educacional o objetivo eacute atrair instituiccedilotildees de niacutevel superior com atuaccedilatildeo em
assuntos particulares como tambeacutem escolas individualizadas e empresas com serviccedilos e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
34
soluccedilotildees tornando-se uma referecircncia de qualidade nas entidades de ensino da regiatildeo Jaacute
na aacuterea da sauacutede satildeo previstas cliacutenicas e centros meacutedicos especializados Reserva-se
ainda espaccedilo e infra-estrutura para o desenvolvimento de estrateacutegias empreendedoras
como marketing e publicidade
O terceiro setor do empreendimento denominado Empresas de Base Tecnoloacutegica
constitui fundamental segmento da chamada Economia do Conhecimento caracterizada por
gerar produtos e serviccedilos de alto valor agregado e exige pessoal qualificado e uma cultura
de permanente inovaccedilatildeo O parque visa atrair e oferece toda a infra-estrutura necessaacuteria agraves
empresas interessadas no desenvolvimento de novos negoacutecios As empresas de caraacuteter
tecnoloacutegico estaratildeo integradas ao moacutedulo principal Scientia de forma a acessar os
conhecimentos e tecnologias ali geradas
O uacuteltimo setor organizacional do parque baseia-se em iniciativas e projetos soacutecio-
ambientais devido ao empreendimento estar voltado para a promoccedilatildeo do desenvolvimento
regional No aspecto social pretende-se estimular a implantaccedilatildeo de projetos e iniciativas
voltadas para a criaccedilatildeo de emprego e renda e principalmente para a promoccedilatildeo da
qualificaccedilatildeo e educaccedilatildeo atraveacutes de iniciativas como Incubadoras Sociais Centros de
Qualificaccedilatildeo Centros Comunitaacuterios e outros O projeto tem por pretensatildeo atraveacutes de
equipamentos especiacuteficos promover a interaccedilatildeo com a comunidade e assegurar o
desenvolvimento da regiatildeo agregado agrave qualidade de vida das pessoas
O Sapiens Circus caracteriza-se por ser um ambiente educacional de aprendizado e
diversatildeo constituiacutedo de dispositivos tecnoloacutegicos e de interaccedilatildeo com filmes e jogos O
sistema de ensino tem por fundamento a estimulaccedilatildeo dos educandos na cooperaccedilatildeo muacutetua
para a construccedilatildeo do conhecimento e da tomada de decisotildees Informaccedilotildees sobre a
diversidade amazocircnica satildeo apresentadas atraveacutes dos dispositivos de ensino e os
educandos vivenciam uma experiecircncia por meio de histoacuteria fictiacutecia ou simulaccedilatildeo em que a
biodiversidade amazocircnica os ajuda a resolver um problema Dessa forma os educandos
percebem o valor da biodiversidade aprendem seus conceitos e satildeo motivados a seguir
com estudos posteriores dentro de sala de aula
O projeto estaacute sendo desenvolvido para ser executado em cinco fases previstas para
ocorrer em um total de 20 anos O ldquoMarco Zerordquo (Primeira Fase) do Sapiens Parque jaacute estaacute
em funcionamento contendo a sede administrativa do parque e o Sapiens Circus conforme
podemos verificar na Figura 3
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
35
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque
124 AGENTES ENVOLVIDOS
Sapiens Parque SA
A Sapiens Parque SA nasceu como uma Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
(SPE) entre a CODESC proprietaacuteria do terreno a Fundaccedilatildeo CERTI detentora do capital
intelectual e autora do Programa de Desenvolvimento Tecnoloacutegico Regional e o Instituto
Sapientia mentor do conceito de Edutainment - Educaccedilatildeo com Entretenimento - e parceiro
de inovaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia do Sapiens
Criada na forma de Sociedade Anocircnima de Capital Fechado eacute responsaacutevel pela
gestatildeo e implementaccedilatildeo do empreendimento O grupo tem propoacutesito especiacutefico de
estruturar viabilizar implementar e operar o empreendimento dentro de altos padrotildees de
qualidade eficiecircncia e estabilidade
O projeto ainda apresenta apoio do Governo do Estado de Santa Catarina da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) da Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
Escola Sapiens
Sapiens
Circus
Incubadora Sapiens
Casaratildeo Sede e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
36
(PMF) da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)4 da Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa
Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina (FAPESC)5 e da Paradigma
Tecnologia que viabiliza o Portal do Sapiens Parque na Internet
Codesc
A Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (CODESC) eacute uma
empresa de economia mista que integra a administraccedilatildeo indireta do Estado subordinada ao
Regime de Direito Privado e reuacutene condiccedilotildees teacutecnicas e juriacutedicas para a formulaccedilatildeo e
gestatildeo de programas que visam o desenvolvimento econocircmico do estado
Foi criada pela lei estadual ndeg 5089 de 300475 como ldquoholdingrdquo6 A empresa
coordenou o Sistema Financeiro Estadual e no decorrer dos anos vaacuterias atividades lhe
foram delegadas pelo Poder Puacuteblico Estadual tendo em vista sua qualificaccedilatildeo juriacutedica que
lhe confere maior agilidade na tomada de decisotildees
De acordo com seu Estatuto a CODESC tem por objetivos principais adquirir e
administrar sob qualquer forma e nos limites permitidos em lei participaccedilotildees e controles
societaacuterios E ainda promover sob a orientaccedilatildeo do Governo do Estado o desenvolvimento
econocircmico e a integraccedilatildeo da accedilatildeo do Estado com a dos municiacutepios e da Uniatildeo
Com essas qualificaccedilotildees a CODESC pode oferecer garantias e contragarantias para
o Estado autarquias fundaccedilotildees e sociedades de economia mista suas subsidiaacuterias e
controladas em operaccedilotildees financeiras sem a necessidade de autorizaccedilatildeo do Banco
Central Pode ainda negociar accedilotildees e cotas de outras sociedades inclusive o controle do
capital votante tanto de economia mista como privadas Atualmente a CODESC eacute vinculada
agrave Secretaria de Estado da Fazenda por decisatildeo do Decreto ndeg 923 de 31 de maio de 1996
4 A FINEP tem por missatildeo promover e financiar a inovaccedilatildeo e a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica em empresas universidades institutos tecnoloacutegicos centros de pesquisa e outras instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o desenvolvimento econocircmico e social do Paiacutes (httpwwwfinepgovbr acesso em 20112006) 5 A FAPESC tem por missatildeo promover o Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico no Estado de Santa Catarina atraveacutes do fomento agrave pesquisa e da interaccedilatildeo em todos os niacuteveis das instituiccedilotildees cientiacuteficas dos complexos produtivos do governo e da sociedade (httpwwwfapescrct-scbr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
37
Fundaccedilatildeo Certi
A Fundaccedilatildeo Centro de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras (CERTI) eacute uma
instituiccedilatildeo independente e sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento tecnoloacutegico
com foco na inovaccedilatildeo em negoacutecios produtos e serviccedilos no segmento de tecnologia da
informaccedilatildeo
Criada em 1984 por iniciativa de algumas empresas brasileiras da Universidade
Federal de Santa Catarina e dos Governos Estadual e Federal a fundaccedilatildeo eacute hoje referecircncia
no campo nacional e internacional pelo desenvolvimento de projetos inovadores que
envolvem soluccedilotildees de convergecircncia digital Exemplos dessa linha de projetos constituem as
urnas eletrocircnicas os terminais de automaccedilatildeo bancaacuteria e terminais puacuteblicos de acesso agrave
Internet
A partir de 1990 a fundaccedilatildeo passou a atuar significativamente na gestatildeo da
qualidade e produtividade em consequumlecircncia das mudanccedilas nas poliacuteticas econocircmicas e
industriais do Brasil A CERTI trabalha para a ampliaccedilatildeo de novas soluccedilotildees de forma
cooperativa e integrada atraveacutes do uso de ferramentas do processo de pesquisa e
desenvolvimento de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica A CERTI atua na anaacutelise do negoacutecio na
concepccedilatildeo do produto e na implementaccedilatildeo dos processos produtivos adequados para
acelerar e assegurar maior ecircxito na colocaccedilatildeo dos novos produtos no mercado
A fundaccedilatildeo conta hoje com uma seacuterie de entidade e parceiros atuantes Tem sua
matriz em Florianoacutepolis no campus da Universidade Federal de Santa Catarina e em 1999
inaugurou uma filial na cidade de Manaus para dar apoio agraves empresas de base tecnoloacutegica
estabelecidas naquela regiatildeo
6 Holding eacute uma empresa que deteacutem a quantidade suficiente de accedilotildees de uma outra companhia que lhe permita determinar e controlar a gestatildeo desta uacuteltima
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
38
Instituto Sapientia
Fundado em 05 de dezembro de 2002 o Instituto Sapientia eacute uma pessoa juriacutedica de
direito privado administrativamente autocircnomo e independente e criado como consequumlecircncia
da iniciativa de alguns colaboradores da Fundaccedilatildeo CERTI A oportunidade de concepccedilatildeo de
uma nova organizaccedilatildeo com competecircncias necessaacuterias para a praacutetica de novos produtos e
desafios partiu da necessidade de direcionamento das atividades da Fundaccedilatildeo CERTI para
o foco da Economia da Experiecircncia
Constituiacutedo na forma de associaccedilatildeo e sem fins lucrativos o instituto eacute operado
segundo conceitos e praacuteticas da Fundaccedilatildeo CERTI Tem por objeto social a pesquisa e o
desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico sustentados em projetos de grande relevacircncia
soacutecio-ambiental e econocircmica para a sociedade brasileira tais como
Projetos de pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica aplicada
Projetos e programas de experimentaccedilatildeo e demonstraccedilatildeo de soluccedilotildees
tecnoloacutegicas
Projetos de desenvolvimento de tecnologias negoacutecios e empreendimentos
inovadores
Projeto de ambientes interativos
Promoccedilatildeo da cultura e da arte
Desenvolvimento de tecnologias de interatividade centradas no ser humano
Desenvolvimento das infra-estruturas de softwares distribuiacutedos para integraccedilatildeo de
ambientes interativos
Desenvolvimento de jogos miacutedias e conteuacutedos para a construccedilatildeo de experiecircncias
memoraacuteveis
O Sapientia eacute um dos mentores e parceiros do Sapiens Parque e projetista das
aacutereas do Experientia e Scientia Atua com o desenvolvimento de Conteuacutedos Interativos
softwares interativos aplicados em jogos educacionais implantaccedilatildeo de experiecircncias e
pesquisas em convergecircncia das ciecircncias e transdisciplinaridade
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
39
Comunidade Local
As comunidades e associaccedilotildees de moradores de Florianoacutepolis diretamente
envolvidas com o projeto Sapiens Parque concentram-se basicamente no Norte da Ilha
Tais associaccedilotildees estiveram representadas nas audiecircncias puacuteblicas promovidas pelo
Sapiens Parque no decorrer do ano de 2003 levantando como principais questotildees a serem
discutidas a degradaccedilatildeo ambiental decorrente da excessiva urbanizaccedilatildeo e a necessidade de
integraccedilatildeo do projeto com a comunidade As principais comunidades locais envolvidas satildeo
Associaccedilatildeo dos Moradores de Canasvieiras
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem Grande
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem do Bom Jesus
Associaccedilatildeo Amigos de Carijoacutes
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
Uniatildeo Metropolitana de Entidades Comunitaacuterias
Centro de Estudos Cultura e Cidadania
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
40
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
O presente capiacutetulo analisaraacute os principais conceitos que abrangem a relaccedilatildeo do
desenvolvimento com o meio ambiente Para tanto inicia-se com uma visatildeo geral do
significado da palavra desenvolvimento para posteriormente inserir a dimensatildeo ambiental
em seu conceito O estudo resulta na anaacutelise das dimensotildees e dos criteacuterios de
desenvolvimento sustentaacutevel como paradigma Tais criteacuterios seratildeo utilizados na avaliaccedilatildeo
final do empreendimento Sapiens Parque estudo de caso deste trabalho Este capiacutetulo
ainda analisa as aplicaccedilotildees do desenvolvimento sustentaacutevel ao espaccedilo urbano enfocando
os grandes projetos urbanos e turiacutesticos como se caracteriza o estudo de caso em questatildeo
21 CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO
A maneira mais simploacuteria de caracterizar o sentido da palavra desenvolvimento
consiste em associaacute-lo ao crescimento econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo Industrial em
meados do seacuteculo XVIII a histoacuteria da humanidade passou a ser quase inteiramente
determinada pelo crescimento econocircmico A vida cotidiana foi totalmente transformada e o
padratildeo de vida das pessoas aumentou enquanto a mortalidade humana diminuiu Atraveacutes
do avanccedilo da ciecircncia e tecnologia foram possiacuteveis inovaccedilotildees nas aacutereas da sauacutede puacuteblica e
da medicina resultantes principalmente da iniciativa governamental e do empreendedorismo
puacuteblico e que acarretaram os raacutepidos aumentos da esperanccedila de vida
O conceito de desenvolvimento esteve associado exclusivamente ao crescimento
econocircmico ateacute iniacutecio dos anos 1960 devido ao resultado dos processos de industrializaccedilatildeo
nas diferentes naccedilotildees haviam poucos paiacuteses industrializados desenvolvidos e ricos e por
outro lado paiacuteses que permaneceram subdesenvolvidos e pobres cujo processo de
industrializaccedilatildeo era incipiente Segundo VEIGA (2005) a associaccedilatildeo do desenvolvimento ao
crescimento econocircmico facilitaria o encontro de paracircmetros que serviriam para mensurar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
41
desenvolvimento atraveacutes da ligaccedilatildeo com indicadores de crescimento econocircmico como por
exemplo o Produto Interno Bruto (PIB)7 per capita
Entretanto a perspectiva de ter-se o desenvolvimento combinado somente a partir do
crescimento econocircmico implica consideraacute-lo apenas segundo fenocircmenos econocircmicos
secundaacuterios como o aumento do PIB o comportamento das exportaccedilotildees ou a evoluccedilatildeo dos
mercados Apesar de constituir um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento no
crescimento econocircmico as mudanccedilas satildeo quantitativas enquanto no desenvolvimento as
mudanccedilas satildeo qualitativas No desenvolvimento devem ser levadas em consideraccedilatildeo as
disfunccedilotildees qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo
Para VEIGA (2005) ter-se o desenvolvimento de um paiacutes conceituado somente a
partir do seu crescimento econocircmico consiste em um pensamento simplista e reducionista
Isso porque o crescimento econocircmico na deacutecada de 1950 em paiacuteses semi-industrializados
como o Brasil natildeo acarretou necessariamente maior acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo bens
materiais e culturais agraves camadas mais pobres de tais naccedilotildees como acontecera nos paiacuteses
ateacute entatildeo considerados desenvolvidos
Segundo o autor a partir da deacutecada de 1990 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) lanccedilou o Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) que natildeo se
resume agrave simples identificaccedilatildeo do desenvolvimento com o crescimento econocircmico Segundo
os relatoacuterios anuais elaborados pelo PNUD o desenvolvimento significa acima de tudo a
possibilidade de as pessoas viverem o tipo de vida que escolheram e com a provisatildeo de
instrumentos e oportunidades para fazerem suas escolhas
O IDH parte do pressuposto de que para conferir o avanccedilo de uma populaccedilatildeo natildeo se
deve considerar apenas a dimensatildeo econocircmica mas tambeacutem outras caracteriacutesticas sociais
culturais e poliacuteticas que influenciam a qualidade da vida humana Apesar de o IDH ainda
apresentar suas limitaccedilotildees o iacutendice tornou-se uma referecircncia mundial e no Brasil ele vem
sendo utilizado pelo governo federal como base para o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH-M)
7 PIB eacute o indicador que mostra a produccedilatildeo de um paiacutes e que leva em conta trecircs grupos principais Agropecuaacuteria Induacutestria e Serviccedilos (httpwwwibgegovbr acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
42
SEN (2000) concorda que o desenvolvimento natildeo pode ser compreendido somente a
partir do crescimento econocircmico e da renda per capita jaacute que as variaccedilotildees na expectativa
de vida relacionam-se a diversas oportunidades sociais que satildeo centrais como serviccedilos de
sauacutede e facilidades educacionais
Estudos realizados pelo mesmo autor em bases de dados do Banco Mundial8
confirmam tambeacutem a ausecircncia de relaccedilotildees entre o crescimento econocircmico dos paiacuteses e sua
estrutura de distribuiccedilatildeo de renda Independente do crescimento econocircmico dos paiacuteses a
estrutura da distribuiccedilatildeo de renda eacute bastante persistente e haacute pouco o que fazer para
atenuar a concentraccedilatildeo de renda Desde a Segunda Guerra Mundial o crescimento
econocircmico variou muito entre os paiacuteses enquanto a distribuiccedilatildeo de renda pouco alterou
comparativamente Apesar de ainda existirem controveacutersias sobre as possiacuteveis vantagens
ou desvantagens que poderiam ser proporcionadas ao proacuteprio crescimento por uma melhor
distribuiccedilatildeo da riqueza e da renda nega-se o discurso de que o desenvolvimento dos paiacuteses
estaria atrelado somente ao resultado da renda per capita em conjunto com a distribuiccedilatildeo de renda
SEN (2000) defende ainda que o desenvolvimento deve promover a liberdade das
naccedilotildees Para tanto torna-se necessaacuterio que se removam as principais fontes de privaccedilatildeo da
liberdade pobreza carecircncia de oportunidades econocircmicas exoneraccedilatildeo social negligecircncia
dos serviccedilos puacuteblicos e interferecircncia de Estados opressivos O mundo atual apresenta
ausecircncia de liberdades substantivas que se relaciona diretamente com a pobreza
econocircmica Nega liberdades elementares a muitas pessoas liberdade de saciar a fome de
obter uma nutriccedilatildeo satisfatoacuteria ou remeacutedios para doenccedilas curaacuteveis a oportunidade de vestir-se
ou morar de modo apropriado a possibilidade de acesso agrave aacutegua tratada ou saneamento baacutesico
A pobreza econocircmica de uma naccedilatildeo natildeo pode ser vista apenas como baixa renda
fome e privaccedilatildeo fiacutesica Trata-se tambeacutem da privaccedilatildeo cultural e de capacidades baacutesicas A
pobreza surge nas dificuldades que alguns segmentos sociais encontram para participar da
vida social e cultural da comunidade As mercadorias de primeiras necessidades natildeo satildeo
apenas as indispensaacuteveis para o sustento mas satildeo tambeacutem aquelas que estatildeo
relacionadas agraves exigecircncias da cultura local
8 O Banco Mundial eacute uma organizaccedilatildeo internacional constituiacuteda por 185 paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento e que presta apoio financeiro aos governos dos paiacuteses em desenvolvimento (httpwebworldbankorg acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
43
Em seus estudos SEN (2000) afirma que para alcanccedilar uma alta expectativa e
qualidade de vida natildeo necessariamente eacute preciso haver concordacircncia entre a renda per
capita e a liberdade dos indiviacuteduos Segundo o autor cidadatildeos do Gabatildeo Aacutefrica do Sul ou
Brasil satildeo mais ricos em termos de Produto Nacional Bruto9 (PNB) per capita do que os do
Sri Lanka ou China Entretanto neste segundo grupo de paiacuteses as pessoas tecircm
probabilidade de vida mais elevadas do que no primeiro grupo
SEN (2000) constatou ainda que na Gratilde-Bretanha a expectativa de vida aumentou
durante as duas guerras mundiais (quando a alimentaccedilatildeo e serviccedilos de sauacutede eram
limitados) enquanto a renda per capita diminuiu A explicaccedilatildeo reside nas mudanccedilas do grau
de compartilhamento social durante as deacutecadas de guerra e nos aumentos das poliacuteticas e
custeio puacuteblico com serviccedilos sociais nas aacutereas de nutriccedilatildeo e sauacutede As dificuldades surgidas
com as guerras tornaram necessaacuterias medidas puacuteblicas radicais para uma nova distribuiccedilatildeo
de alimentos e serviccedilos de sauacutede Portanto torna-se importante que o processo de
desenvolvimento seja conduzido pelo custeio puacuteblico que opera por meio de um programa
de haacutebil manutenccedilatildeo social dos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e seguridade social
O autor destaca ainda a importacircncia do desenvolvimento para a fixaccedilatildeo de
contrastes intergrupais nos diversos paiacuteses Nos Estados Unidos os afro-americanos satildeo
pobres em relaccedilatildeo aos americanos brancos mas satildeo mais ricos que os habitantes de
paiacuteses perifeacutericos No entanto os afro-americanos tecircm menos chance de chegar agrave idade
madura do que as pessoas que vivem em sociedades como a China ou Sri Lanka com seus
diferentes sistemas de sauacutede educaccedilatildeo e relaccedilotildees comunitaacuterias
SACHS (2002) lembra que os temas do desenvolvimento e direitos humanos
ganharam forccedila na metade do seacuteculo XX com o intuito de exterminar as lembranccedilas da
Grande Depressatildeo10 e da Segunda Guerra Mundial fornecer os fundamentos para o
Sistema das Naccedilotildees Unidas e impulsionar os processos de descolonizaccedilatildeo Para o autor o
crescimento econocircmico eacute tido como uma expansatildeo das forccedilas produtivas da sociedade com
o objetivo de alcanccedilar os direitos plenos de cidadania para toda a populaccedilatildeo
9 Produto Nacional Bruto ou Renda Nacional Bruta eacute a soma das rendas primaacuterias a receber pelos setores institucionais residentes Eacute igual ao PIB menos as rendas primaacuterias a pagar liacutequidas das a receber das unidades natildeo-residentes (resto do mundo) (httpwwwibgegovbr acesso em 23102007) 10 A Grande Depressatildeo foi uma recessatildeo econocircmica que teve iniacutecio em 1929 trazendo altas taxas de desemprego e queda do PIB de diversos paiacuteses e que terminou apenas com a Segunda Guerra Mundial
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
44
O desenvolvimento eacute o processo histoacuterico de apropriaccedilatildeo universal
pelos povos da totalidade dos direitos humanos individuais e coletivos negativos (liberdade contra) e positivos (liberdade a favor) significando trecircs geraccedilotildees de direitos poliacuteticos ciacutevicos e civis e os direitos coletivos ao desenvolvimento ao meio ambiente e agrave cidade (SACHS 200265-66)
O autor afirma que o desenvolvimento pode permitir que cada indiviacuteduo revele suas
capacidades seus talentos e sua imaginaccedilatildeo na busca da auto-realizaccedilatildeo e da felicidade
mediante esforccedilos coletivos e individuais combinaccedilatildeo de trabalho autocircnomo e heterocircnomo
e de tempo gasto em atividades natildeo-econocircmicas Os aspectos qualitativos satildeo
considerados essenciais as maneiras viaacuteveis de produzir meios de vida natildeo podem
depender de esforccedilos excessivos e extenuantes por parte de seus produtores de empregos
mal remunerados exercidos em condiccedilotildees insalubres da prestaccedilatildeo inadequada de serviccedilos
puacuteblicos e de padrotildees subumanos de moradia
O desenvolvimento distinto do crescimento econocircmico cumpre o requisito de reaproximar economia e eacutetica na medida em que os objetivos do desenvolvimento vatildeo bem aleacutem da mera multiplicaccedilatildeo da riqueza material O crescimento eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria mas de forma alguma suficiente (muito menos eacute um objetivo em si mesmo) para se alcanccedilar a meta de uma vida melhor mais feliz e mais completa para todos (SACHS 200413)
Para SACHS (2004) o conceito de desenvolvimento abrange os ideais de igualdade
equumlidade e solidariedade Ao inveacutes de visar o crescimento do PIB o desenvolvimento visa
maximizar a vantagem daqueles que vivem nas piores condiccedilotildees O crescimento natildeo eacute
sinocircnimo de desenvolvimento se ele natildeo amplia o emprego se natildeo reduz a pobreza e se
natildeo atenua as desigualdades
A problemaacutetica ambiental surgida na deacutecada de 1970 fez com que a dimensatildeo
ambiental fosse tambeacutem integrada ao conceito de desenvolvimento com sua consequumlente
revisatildeo e evoluccedilatildeo para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel O desenvolvimento
sustentaacutevel exige explicitaccedilatildeo de criteacuterios de sustentabilidade social e ambiental e de
viabilidade econocircmica SACHS (2004) conclui que somente as soluccedilotildees que promovam o
crescimento econocircmico com impactos positivos em termos sociais e ambientais merecem a
denominaccedilatildeo de desenvolvimento conforme mostra a Tabela 1
Impactos sociais Impactos ambientais1 Desenvolvimento + +2 Selvagem - -3 Socialmente benigno + -4 Ambientalmente benigno - +
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico Fonte SACHS (200436)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
45
Concluiacutemos entatildeo que o conceito de desenvolvimento natildeo abrange somente o
crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo O crescimento econocircmico somente pode se
transformar em desenvolvimento se vier acompanhado de impactos positivos sociais e
ambientais priorizando a efetiva melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo O
desenvolvimento implica em uma maior apropriaccedilatildeo e igualdade dos direitos humanos
individuais e coletivos pelos povos sem os quais natildeo eacute possiacutevel o alcance de uma alta
expectativa e qualidade de vida
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
46
211 BRASIL E DESENVOLVIMENTO
Eles iriam esbravejar em vatildeo todos os dias Cavar e esburacar pazada por pazada
Onde as tochas enxameam agrave noite Havia uma represa quando acordaacutevamos
Sacrifiacutecios humanos sangravam Gritos de horror iriam fender a noite
E onde as chamas se estreitam na direccedilatildeo do mar Um canal iria saudar a luz
(Fausto 11 123-30 apud BERMAN 198781)
De acordo com BERMAN (1987) a segunda parte do teatro alematildeo ldquoFaustordquo de
Goethe configura um drama do desenvolvimento Expressatildeo primaacuteria do espiacuterito moderno
Fausto eacute levado a um impulso de desejo de desenvolvimento cujas energias adquirem vida
proacutepria dinacircmica e caraacuteter explosivo Tal desenvolvimento colocado por Goethe como uma
trageacutedia possui um custo Fausto vende sua alma a Mefistoacutefeles em troca de determinados
bens universalmente desejados Adquire dessa forma capacidade e poder sobre a
natureza mas para tanto perde sua liberdade Ao expulsar antigos moradores de uma aacuterea
para criar uma nova sociedade ele sofre um processo de esvaziamento Fausto lanccedila todo
o seu poder contra a natureza e a sociedade e luta para mudar sua vida e a vida de todos
Encontra meios de agir contra o mundo feudal e patriarcal para construir um ambiente social
radicalmente novo destinado a esvaziar de vez o velho mundo ou a destruiacute-lo A obra daacute-se
frente agraves conturbaccedilotildees materiais e espirituais da Revoluccedilatildeo Industrial
SACHS (2004) compara a histoacuteria de Fausto agrave recente crise desenvolvimentista da
Argentina O autor afirma que a crise argentina eacute resultado da poliacutetica de fundamentalismo
de mercado adotada pelo Consenso de Washington11 e da dependecircncia excessiva de
recursos externos
Para o autor o resultado negativo da aplicaccedilatildeo das prescriccedilotildees neoliberais
defendidas pelo Consenso de Washington torna necessaacuteria a urgente regulaccedilatildeo dos
mercados que representam uma das instituiccedilotildees presentes no processo de
11 O Consenso de Washington faz parte do conjunto de reformas neoliberais que apesar de praacuteticas distintas nos diferentes paiacuteses estaacute centrado doutrinariamente na desregulamentaccedilatildeo dos mercados abertura comercial e financeira e reduccedilatildeo do tamanho e papel do Estado Tornou-se o receituaacuterio imposto por agecircncias internacionais como o Banco Mundial e o FMI para a concessatildeo de creacuteditos (NEGRAtildeO 1998)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
47
desenvolvimento O Consenso de Washington atingiu sua maturidade apoacutes a Segunda
Guerra Mundial e atuou como uma contra-reforma direcionada ao capitalismo reformado
O capitalismo reformado foi assim construiacutedo com o propoacutesito de exorcizar as terriacuteveis lembranccedilas da Grande Depressatildeo com base nos conceitos de pleno emprego Estado de Bem-estar e planejamento Ele proporcionou tambeacutem uma alternativa ao ldquosocialismo realrdquo do bloco sovieacutetico que naquela eacutepoca tinha credibilidade entre segmentos importantes da opiniatildeo puacuteblica devido ao seu sucesso de mobilizar toda a forccedila de trabalho disponiacutevel para o crescimento econocircmico extensivo e raacutepido e para a industrializaccedilatildeo (SACHS 200428)
Os trinta melhores anos do capitalismo (1945-1975) coincidiram com a Guerra Fria e
a corrida armamentista entre o bloco americano e o sovieacutetico Tal situaccedilatildeo criou condiccedilotildees
favoraacuteveis para que os paiacuteses em desenvolvimento como o Brasil tirassem proveito das
melhores experiecircncias dos dois blocos competidores atraveacutes de poliacuteticas de natildeo-
alinhamento mas acabou com os esforccedilos das Naccedilotildees Unidas de construir uma ordem
internacional mais equumlitativa
Durante a Guerra Fria os paiacuteses em desenvolvimento obtiveram rendas estrateacutegicas
provenientes das superpotecircncias que precisavam conquistar apoio e aliados Segundo
(VEIGA 2005) com o fim da bipolaridade muitos desses paiacuteses perderam seu interesse
estrateacutegico em atrair ajuda e investimentos O apoio internacional diminuiu
significativamente e atualmente somente poucas naccedilotildees detentoras e exportadoras de
importantes recursos para a explosatildeo do crescimento urbano como petroacuteleo ou alimentos
conseguem obter rendas estrateacutegicas Os paiacuteses em desenvolvimento ficam submetidos agrave
seleccedilatildeo natural do mercado global e agrave revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem qualquer tratamento
diferenciado A uacutenica fonte de renda estrateacutegica para a maioria deles eacute o perigo que sua
instabilidade representa para seus vizinhos ricos que oferecem recursos financeiros aos
paiacuteses pobres a fim de promover sua estabilidade e evitar a imigraccedilatildeo clandestina
A invasatildeo da Tchecolosvaacutequia em 1968 fortaleceu o bloco capitalista e a queda do
Muro de Berlim em 1989 marcou o fim do socialismo real como paradigma de
desenvolvimento O Consenso de Washington consolidou o receituaacuterio de medidas
neoliberais que defende a absoluta liberdade dos mercados e que ganhou forccedila com as
eleiccedilotildees de Margareth Thatcher na Inglaterra e de Ronald Reagan nos Estados Unidos
Tais medidas passaram a ter sua implementaccedilatildeo recomendada pelo Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) aos paiacuteses em desenvolvimento como uma foacutermula infaliacutevel de acelerar
seu desenvolvimento econocircmico O ideal neoliberal predominou ateacute final dos anos 1990
poreacutem seu paradigma natildeo cumpriu as suas promessas (SACHS 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
48
Para SACHS (2004) a crise do desenvolvimento na Argentina pode ser considerada
como o fim do Consenso de Washington como programa pragmaacutetico O autor ainda destaca
que os uacutenicos paiacuteses em desenvolvimento que se deram razoavelmente bem na deacutecada de
1990 foram exatamente aqueles que se recusaram a aplicar na iacutentegra as prescriccedilotildees do
Consenso de Washington
FURTADO (1974) afirma que as economias perifeacutericas e semiperifeacutericas nunca seratildeo
tatildeo desenvolvidas quanto as economias centrais do sistema capitalista O conceito de
desenvolvimento econocircmico funciona como um legitimador das relaccedilotildees de dependecircncia do
sistema capitalista ao inveacutes de promover a criatividade cultural e morfogecircnese social
A ideacuteia de desenvolvimento econocircmico tem grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e levaacute-los a aceitar enormes sacrifiacutecios para legitimar a destruiccedilatildeo de formas de cultura arcaicas para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio fiacutesico para justificar formas de dependecircncia que reforccedilam o caraacuteter predatoacuterio do sistema produtivo (FURTADO 1974 75-76)
As formas assimeacutetricas e desiguais da globalizaccedilatildeo atual prejudicam os interesses
dos paiacuteses em desenvolvimento favorecendo alguns incluiacutedos e deixando de fora muitos
excluiacutedos Os incluiacutedos vivem no capitalismo reformado enquanto os excluiacutedos estatildeo
condenados a formas mais duras e ateacute selvagens de capitalismo SACHS (2004) avalia o
crescimento econocircmico dos paiacuteses em desenvolvimento como um processo concentrador e
excludente que tende a concentrar riqueza e renda nas matildeos de poucos devido agrave
substituiccedilatildeo do trabalho pelo capital consequumlentemente formador de uma heterogeneidade
estrutural econocircmica e social Por este motivo existe a necessidade de equilibrar as metas
de modernizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo por um lado e de promover o pleno emprego ou auto-
emprego por outro com vistas agrave produtividade do trabalho que constitui na fonte de
progresso econocircmico
SEN (2000) defende tambeacutem que os paiacuteses em desenvolvimento devem dar atenccedilatildeo
especial agrave promoccedilatildeo do trabalho pois o direito ao trabalho decente abre caminho para o
exerciacutecio de vaacuterios outros direitos O desenvolvimento como jaacute vimos pode ser traduzido
atraveacutes do exerciacutecio efetivo de todos os direitos humanos poliacuteticos civis e ciacutevicos
econocircmicos sociais e culturais Na opiniatildeo de SACHS (2004) a visatildeo do desenvolvimento
entendido como um processo de apropriaccedilatildeo efetiva da totalidade de direitos humanos
resulta em uma maioria pobre excluiacuteda de tal processo Sob essas circunstacircncias a inclusatildeo
justa passa a ser o requisito central para a temaacutetica do desenvolvimento denominado pelo
autor a partir desse aspecto como desenvolvimento includente
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
49
O desenvolvimento includente opotildee-se ao crescimento excludente que se
caracteriza pelo mercado de consumo e concentraccedilatildeo de renda e riqueza O crescimento
excludente marca mercados de trabalho segmentados com trabalhadores voltados a
atividades informais e agricultura de subsistecircncia precaacuteria aleacutem da ausecircncia quase total de
participaccedilatildeo da vida poliacutetica
O desenvolvimento includente eacute fundamentado no trabalho decente para todos
Requer a garantia de todos os direitos atraveacutes da democracia da moradia decente para
todos do acesso de todos os cidadatildeos aos programas de assistecircncia e aos serviccedilos
puacuteblicos Sauacutede e educaccedilatildeo satildeo aspectos que constituem condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo
suficiente para o acesso ao trabalho decente
A nossa preocupaccedilatildeo deve dirigir-se imediatamente agraves imensas desigualdades que existem hoje no acesso agraves oportunidades de trabalho na remuneraccedilatildeo do trabalho na proteccedilatildeo e participaccedilatildeo sociais e na geraccedilatildeo de riqueza e renda Na ausecircncia de condiccedilotildees e regras equumlitativas em todos estes quesitos o fim do trabalho (heterocircnomo) natildeo tem chance de se converter numa meta realista Tanto mais que as pessoas ainda tecircm que aprender a apreciar como uma verdadeira medida de sua liberdade cultural o tempo liberado para atividades autocircnomas e dar preferecircncia a elas em vez de alocar o seu tempo liberado aos prazeres do consumismo (SACHS 200444)
Para SACHS (2004) torna-se necessaacuterio reconciliar os objetivos do progresso
econocircmico baseado no aumento da produtividade do trabalho com o imperativo de
proporcionar oportunidade de trabalho decente para todos O autor defende que eacute preciso
uma estrateacutegia que harmonize dois objetivos aparentemente contraditoacuterios o progresso
teacutecnico veloz e o pleno emprego
Por um lado o progresso teacutecnico raacutepido eacute uma exigecircncia nas induacutestrias de bens
comercializaacuteveis que competem nos mercados mundiais ainda que isso signifique reduccedilatildeo
do nuacutemero de trabalhadores Por outro lado as mesmas exigecircncias natildeo se aplicam agrave
produccedilatildeo de bens e serviccedilos natildeo-comercializaacuteveis que na praacutetica natildeo enfrentam
competiccedilatildeo externa nos mercados internos Nove em cada dez pessoas estatildeo empregadas
dentro desta uacuteltima categoria de natildeo-comercializaacuteveis Dessa forma poderiacuteamos
compensar as tendecircncias negativas do emprego provocadas pelo progresso teacutecnico no
setor de comercializaacuteveis por meio da ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo dos bens e serviccedilos natildeo-
comercializaacuteveis no perfil da produccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
50
Para assegurar simultaneamente a sustentabilidade social e o crescimento
econocircmico SACHS (2004) afirma que deve ser dada ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo primaacuteria de
renda ao inveacutes de se persistir com o padratildeo excludente de crescimento Trata-se de uma
estrateacutegia endoacutegena de desenvolvimento a partir das proacuteprias forccedilas dos paiacuteses e baseada
em iniciativas nacionais Para tanto o autor aborda algumas poliacuteticas necessaacuterias
Explorar oportunidades de crescimento induzido pelo emprego e com conteuacutedo
zero ou baixo de importaccedilotildees principalmente obras puacuteblicas construccedilatildeo civil em
especial casas populares com apoio governamental serviccedilos sociais empregos
ligados ao aumento da produtividade dos recursos e manutenccedilatildeo dos
equipamentos edifiacutecios e infra-estrutura existente
Elaborar uma reforma fiscal que crie um imposto de valor adicionado sobre o
consumo com isenccedilatildeo para os bens essenciais mas com forte incidecircncia sobre
os artigos de luxo
Desenhar poliacuteticas para consolidar e modernizar a agricultura familiar como
estiacutemulo ao desenvolvimento rural
Promover accedilotildees para melhorias das condiccedilotildees dos que trabalham por conta
proacutepria e das micro e pequenas empresas em busca do fim da informalidade
Estabelecer conexotildees beneacuteficas entre grandes e pequenas empresas
Fortalecer as empresas industriais de grande porte e transformaacute-las em atores
competitivos em escala global
SACHS (2004) completa com a afirmaccedilatildeo de que eacute necessaacuteria uma participaccedilatildeo
maior nos padrotildees de consumo de serviccedilos e alimentos produzidos localmente (seguranccedila
alimentar local) e maior prioridade para investimentos em infra-estrutura e construccedilatildeo civil
(especialmente moradia social)
Estrateacutegias uniformes de desenvolvimento natildeo satildeo possiacuteveis de serem
estabelecidas devido agrave diversidade de configuraccedilotildees socioeconocircmicas e culturais e dos
recursos disponiacuteveis em micro e mesorregiotildees Para serem eficientes as estrateacutegias devem
responder aos problemas e necessidades de cada comunidade e para tanto precisam
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
51
garantir a participaccedilatildeo de todos os atores envolvidos (trabalhadores empregadores Estado
e sociedade civil organizada) no processo de desenvolvimento
Por esse motivo deve-se elaborar o planejamento territorial a niacuteveis municipal micro
e mesorregional a fim de agrupar vaacuterios distritos unidos pela identidade cultural e interesses
comuns Para o planejamento participativo local devem-se criar espaccedilos para o exerciacutecio da
democracia direta atraveacutes de conselhos consultivos e deliberativos onde a comunidade
pode assumir um papel ativo no processo de desenvolvimento
O planejamento eacute um processo interativo que inclui procedimentos de baixo para cima e de cima para baixo dentro de um marco de um processo nacional de longo prazo em visatildeo compartilhada pela maioria dos cidadatildeos da naccedilatildeo sobre valores a sua convergecircncia em objetivos sociais e a inserccedilatildeo do seu Estado-Naccedilatildeo num mundo globalizado (SACHS 200462)
SACHS (2004) defende ainda que no processo de planejamento torna-se necessaacuterio
que o Estado cumpra sua funccedilotildees principais 1- articular os espaccedilos de desenvolvimento do
niacutevel local (que deve ser ampliado e fortalecido) ao transnacional 2- promover parcerias
entre todos os atores interessados em busca do desenvolvimento sustentaacutevel 3-
harmonizar metas sociais ambientais e econocircmicas por meio do planejamento estrateacutegico
e do gerenciamento cotidiano da economia e sociedade buscando equiliacutebrio entre as
diferentes sustentabilidades (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial econocircmica e
poliacutetica)
22 A INSERCcedilAtildeO AMBIENTAL NO DESENVOLVIMENTO
Os debates sobre os riscos da degradaccedilatildeo do meio ambiente iniciaram nos anos
1960 e ganharam intensidade no iniacutecio dos anos 1970 No encontro Founex em Estocolmo
1971 discutiu-se pela primeira vez as relaccedilotildees entre o desenvolvimento e o meio ambiente
Tambeacutem em Estocolmo organizou-se a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Ambiente
Humano em 1972 que constitui um marco para a conscientizaccedilatildeo ambiental mundial
Segundo VEIGA (2005) previamente agrave realizaccedilatildeo desses dois encontros em Estocolmo as
questotildees que envolviam a relaccedilatildeo entre desenvolvimento e meio ambiente originaram
defensores de duas correntes opostas
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
52
1 De um lado encontravam-se aqueles que viam as preocupaccedilotildees com o meio
ambiente como um atraso e como inibiccedilatildeo dos esforccedilos dos paiacuteses ainda em
desenvolvimento rumo agrave industrializaccedilatildeo e ao alcance dos paiacuteses desenvolvidos Para
estes deveria ser dada prioridade agrave aceleraccedilatildeo do crescimento sendo que as
consequumlecircncias negativas produzidas por ele seriam eliminadas posteriormente atraveacutes do
progresso tecnoloacutegico quando tais paiacuteses em desenvolvimento atingissem o niacutevel de renda
per capita dos paiacuteses desenvolvidos Para os defensores desta corrente natildeo existiria dilema
entre conservaccedilatildeo ambiental e crescimento econocircmico depois de determinado patamar de
riqueza o crescimento passaria a melhorar a qualidade ambiental
O processo de desenvolvimento leva a mudanccedilas estruturais naquilo que as economias produzem E muitas sociedades jaacute demonstraram notaacutevel talento em introduzir tecnologias que conservam os recursos que lhe satildeo escassos Em princiacutepio os fatores que podem levar a mudanccedilas na composiccedilatildeo e nas teacutecnicas de produccedilatildeo podem ser suficientemente fortes para que os efeitos ambientalmente adversos do aumento da atividade econocircmica sejam evitados ou superados E se houver existecircncia empiacuterica que confirme essa suposta tendecircncia seraacute permitido concluir que a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica resultaraacute do proacuteprio crescimento (VEIGA 2005114)
Grossman e Krueger defensores desta corrente desenvolveram hipoacuteteses de que as
fases de desgraccedila e recuperaccedilatildeo ambiental estariam separadas por determinado ponto
situado da renda per capita Entretanto segundo VEIGA (2005) esta hipoacutetese
provavelmente seraacute descartada porque depois de analisar muitos paiacuteses em crescimento
se concluiraacute que existem vaacuterios tipos de crescimento e de degradaccedilatildeo ambiental
2 De outro lado encontravam-se os defensores da estagnaccedilatildeo imediata do
crescimento demograacutefico e econocircmico supostos causadores da exaustatildeo de recursos e
poluiccedilatildeo ou pelo menos do crescimento do consumo De acordo com VEIGA (2005) esta
corrente alerta sobre o inexoraacutevel aumento da entropia que consiste na transformaccedilatildeo das
formas uacuteteis de energia em formas que a humanidade natildeo consegue utilizar Ou seja para
poder manter seu proacuteprio equiliacutebrio a humanidade tira da natureza os elementos de baixa
entropia que permitem compensar a alta entropia que ela causa
Dentre as teorias desta corrente a principal eacute a de Georgescu-Roegen que defendia
que a economia certamente seria absorvida pela ecologia Por esse motivo no curto prazo
o crescimento deveria ser o mais compatibilizado possiacutevel com a conservaccedilatildeo da natureza
(o que natildeo significaria um ldquocrescimento zerordquo) Para Georgescu-Rogen o crescimento
representa sempre o encurtamento da expectativa de vida da espeacutecie humana
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
53
Para os defensores deste pensamento a degradaccedilatildeo ambiental seria consequumlecircncia
da explosatildeo populacional Na opiniatildeo de SACHS (2002) esta teoria estaacute equivocada jaacute que
tal pensamento acaba por considerar que o nuacutemero de natildeo-consumidores em sua maioria
pobre importa mais do que o consumo excessivo da minoria
Durante o encontro em Estocolmo as duas correntes acima foram abandonadas
para dar lugar a uma alternativa que equilibrasse esses extremos denominada paradigma
do ldquocaminho do meiordquo O crescimento econocircmico ainda se fazia necessaacuterio mas deveria ser
socialmente receptivo e implementado por meacutetodos favoraacuteveis ao meio ambiente ao inveacutes
de favorecer a incorporaccedilatildeo predatoacuteria do capital da natureza ao PIB A abordagem
fundamentada na harmonizaccedilatildeo de objetivos sociais ambientais e econocircmicos foi
denominada ecodesenvolvimento e posteriormente desenvolvimento sustentaacutevel
De modo geral o objetivo deveria ser o do estabelecimento de um aproveitamento racional e ecologicamente sustentaacutevel da natureza em benefiacutecio das populaccedilotildees locais levando-as incorporar a preocupaccedilatildeo com a conservaccedilatildeo da biodiversidade aos seus proacuteprios interesses como um componente de estrateacutegia de desenvolvimento Daiacute a necessidade de se adotar padrotildees negociados e contratuais de gestatildeo da biodiversidade (SACHS 200253)
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel segundo SACHS (2004) foi
aperfeiccediloado entre o periacuteodo que separa a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio
Ambiente realizada em Estocolmo em 1972 e a Cuacutepula sobre Desenvolvimento
Sustentaacutevel de Joanesburgo em 2002 A sustentabilidade social corresponde a um dos
aspectos principais desse conceito em que o crescimento econocircmico natildeo traz
desenvolvimento a menos que gere emprego e contribua para a reduccedilatildeo da pobreza e das
desigualdades Consiste em analisar o desenvolvimento natildeo somente a partir do
crescimento do PIB mas tambeacutem em termos de geraccedilatildeo de empregos
Ao mesmo tempo em que ocorreram os encontros em Estocolmo deu-se iniacutecio ao
estudo ldquoLimites do Crescimentordquo do Clube de Roma Segundo BRUumlSEKE (1998) as teses e
conclusotildees das pesquisas lideradas por Dennis Meadows alertam para as atuais
tendecircncias de crescimento da populaccedilatildeo mundial ndash industrializaccedilatildeo poluiccedilatildeo produccedilatildeo de
alimentos e diminuiccedilatildeo de recursos naturais
De acordo com esses estudos se tais tendecircncias continuarem imutaacuteveis os limites
de crescimento do planeta seratildeo alcanccedilados dentro dos proacuteximos cem anos Seria possiacutevel
modificar essas tendecircncias de crescimento e formar uma condiccedilatildeo de estabilidade ecoloacutegica
e econocircmica que se possa manter ateacute um futuro remoto O estado de equiliacutebrio global deveria
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
54
ser planejado de tal modo que as necessidades baacutesicas de cada pessoa sejam satisfeitas e
que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual
Em 1974 foi elaborado um novo documento que tambeacutem contribuiu para a discussatildeo
sobre o meio ambiente e desenvolvimento denominado Declaraccedilatildeo de Cocoyoc Segundo
BRUumlSEKE (1998) o documento foi resultado de uma reuniatildeo da Conferecircncia das Naccedilotildees
Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento (UNCTAD) e do Programa de Meio Ambiente das
Naccedilotildees Unidas (UNEP) e que destacava as seguintes hipoacuteteses a) a explosatildeo
populacional tem como uma das suas causas a falta de recursos de qualquer tipo a pobreza
gera o desequiliacutebrio demograacutefico b) a destruiccedilatildeo ambiental na Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina
eacute tambeacutem o resultado da pobreza que leva a populaccedilatildeo carente agrave superutilizaccedilatildeo do solo e
dos recursos vegetais c) os paiacuteses industrializados contribuem para os problemas do
subdesenvolvimento por causa do seu niacutevel exagerado de consumo Os paiacuteses
industrializados teriam que baixar seu consumo e sua participaccedilatildeo desproporcional na
poluiccedilatildeo da biosfera
No seguimento deste trabalho analisaremos com maior profundidade os dois
conceitos principais que alinham o desenvolvimento econocircmico com o meio ambiente e os
aspectos sociais o ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel
221 ECODESENVOLVIMENTO
O termo ecodesenvolvimento de acordo com MONTIBELLER (2004) foi introduzido
por Maurice Strong secretaacuterio-geral da conferecircncia de Estocolmo em 1972 e bastante
difundido a partir de 1974 Significa o desenvolvimento de um paiacutes ou regiatildeo baseado em
suas proacuteprias potencialidades sem criar dependecircncia externa Tem por finalidade responder
agrave problemaacutetica da harmonizaccedilatildeo das necessidades sociais e econocircmicas do
desenvolvimento e promover a qualidade de vida com o cuidado de preservar o meio
ambiente para esta e para as futuras geraccedilotildees Pressupotildee uma solidariedade sincrocircnica
com os povos atuais na medida em que desloca o enfoque da loacutegica de produccedilatildeo para a
oacutetica das necessidades fundamentais da populaccedilatildeo e uma solidariedade diacrocircnica
expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva ecoloacutegica para garantir
possibilidade de qualidade de vida agraves proacuteximas geraccedilotildees
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
55
De acordo com SACHS (2002) o ecodesenvolvimento busca um caminho apropriado
para a conservaccedilatildeo da biodiversidade ao assumir a harmonizaccedilatildeo dos objetivos sociais e
ecoloacutegicos A biodiversidade necessita ser protegida para garantir o direito de as futuras
geraccedilotildees atenderem agraves suas proacuteprias necessidades Para tanto torna-se imprescindiacutevel o
estabelecimento de uma rede de aacutereas protegidas como parte imanente da gestatildeo territorial
e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos renovaacuteveis como uma forma de relacionamento
simbioacutetico entre o homem e a natureza Eacute necessaacuterio aprendermos a fazer um
aproveitamento sensato da natureza para construirmos uma boa sociedade atraveacutes da
perenidade dos recursos transformar o meio ambiente em recursos sem destruir o capital
da natureza
O ecodesenvolvimento pode ser definido como uma estrateacutegia para a proteccedilatildeo de
aacutereas ecologicamente valiosas (aacutereas protegidas) em face de pressotildees inaceitaacuteveis
resultantes das necessidades e atividades dos povos que vivem nelas ou no seu entorno O
ecodesenvolvimento requer o planejamento local e participativo das autoridades locais
comunidades e associaccedilotildees de cidadatildeos envolvidas na proteccedilatildeo da aacuterea
O ecodesenvolvimento pode ser mais facilmente alcanccedilado com o aproveitamento dos sistemas tradicionais de gestatildeo dos recursos como tambeacutem com a organizaccedilatildeo de um processo participativo de identificaccedilatildeo das necessidades dos recursos potenciais e das maneiras de aproveitamento da biodiversidade como caminho para a melhoria do niacutevel de vida dos povos (SACHS 200275)
Esse processo exige negociaccedilatildeo entre os atores envolvidos (populaccedilatildeo local e
autoridades) subsidiado por cientistas associaccedilotildees civis agentes econocircmicos puacuteblicos e
privados Tais negociaccedilotildees satildeo conflituosas porque se definem atraveacutes de interesses
antagocircnicos
SACHS (2002) afirma que o ecodesenvolvimento pode ser instituiacutedo a partir dos
seguintes esforccedilos
Identificaccedilatildeo criaccedilatildeo e desenvolvimento de alternativas sustentaacuteveis de recursos
de biomassa e renda
Envolvimento da populaccedilatildeo local das aacutereas protegidas nos planos de conservaccedilatildeo
e na gestatildeo da aacuterea
Cultivo da conscientizaccedilatildeo da comunidade local quanto ao valor e agrave necessidade
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
56
de proteccedilatildeo da aacuterea assim como aos padrotildees de sustentabilidade de um
crescimento local apropriado
Institucionalizaccedilatildeo do sistema legislaccedilatildeo e normas
Com o intuito de proteger a biodiversidade o Governo Federal Brasileiro sancionou
uma importante lei em julho do ano 2000 a lei ndeg 9985 que instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) estabelecendo criteacuterios e normas para a criaccedilatildeo
implantaccedilatildeo e gestatildeo das unidades de conservaccedilatildeo federais estaduais e municipais O
SNUC permite trabalhos de ecodesenvolvimento nas ldquozonas tampatildeordquo e nas zonas de
transiccedilatildeo das camadas das reservas da biosfera onde satildeo admitidas atividades humanas
controladas O sistema tem por objetivos (LEI 99852000)
Contribuir para a manutenccedilatildeo da diversidade bioloacutegica e dos recursos geneacuteticos
no territoacuterio nacional e nas aacuteguas jurisdicionais
Proteger as espeacutecies ameaccediladas de extinccedilatildeo no acircmbito regional e nacional
Contribuir para a preservaccedilatildeo e a restauraccedilatildeo da diversidade de ecossistemas
naturais
Promover o desenvolvimento sustentaacutevel a partir dos recursos naturais
Promover a utilizaccedilatildeo dos princiacutepios e praacuteticas de conservaccedilatildeo da natureza no
processo de desenvolvimento
Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notaacutevel beleza cecircnica
Proteger as caracteriacutesticas relevantes de natureza geoloacutegica geomorfoloacutegica
arqueoloacutegica paleontoloacutegica e cultural
Proteger e recuperar recursos hiacutedricos
Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
57
Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa cientiacutefica estudos e
monitoramento ambiental
Valorizar econocircmica e socialmente a diversidade bioloacutegica
Favorecer condiccedilotildees e promover a educaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo ambiental a
recreaccedilatildeo em contato com a natureza e o turismo ecoloacutegico
Proteger os recursos naturais necessaacuterios agrave subsistecircncia de populaccedilotildees
tradicionais respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente
O SNUC divide-se em dois grupos de unidades de conservaccedilatildeo as unidades de
proteccedilatildeo integral cujo objetivo baacutesico eacute preservar a natureza sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais e as unidades de uso sustentaacutevel que tem por objetivo
baacutesico compatibilizar a conservaccedilatildeo da natureza com o uso sustentaacutevel de uma parcela dos
seus recursos naturais Fazem parte do grupo de unidades de proteccedilatildeo integral as Estaccedilotildees
Ecoloacutegicas Reservas Bioloacutegicas Parques Nacionais Parques Estaduais Monumentos
Naturais e Refuacutegios de Vida Silvestre No grupo de unidades de uso sustentaacutevel incluem-se
as Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Estadual Aacutereas de
Relevante Interesse Ecoloacutegico Florestas Nacionais Florestas Estaduais Reservas
Extrativistas Reservas de Fauna Reservas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e Reservas
Particulares do Patrimocircnio Natural
A Tabela 2 mostra as unidades de conservaccedilatildeo delimitadas para Florianoacutepolis e
suas respectivas caracteriacutesticas a niacuteveis federal estadual e municipal
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
58
Tipo de unidade
Nordm de Decreto Federal de criaccedilatildeo
Abrangecircncia Aacuterea
Abrangecircncia AacutereaNordm de Decreto
Estadual de criaccedilatildeoTipo de unidade
Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
Dec nordm 9914290 Ilhas do Arvoredo Ilhas das Galeacutes e Deserta o Calhau de Satildeo Pedro e a aacuterea marinha que os circunda 17800 ha
Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental de Anhatomirim
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica CarijoacutesDec nordm 9465687 Manguezal de Ratones e do Saco Grande com aacuterea
de 712 ha
Dec nordm 52892 Ilha de Anhatomirim compreende uma aacuterea de 3000 ha Localizado na baiacutea norte
Reserva Extrativista do Pirajubaeacute
Dec nordm 53392 Manguezal do Rio Tavares e o baixio a sua frente 1444 ha
Parque Florestal do Rio Vermelho
Dec nordm 200662 e Dec nordm 99474
Rio Vermelho antiga Estaccedilatildeo Florestal do Rio Vermelho 1110 ha
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro
Dec nordm 126075 Aacutereas da Mata Atlacircntica dunas restingas manguezais e capoeirotildees Dos 90000 ha 3465 localiza-se em Florianoacutepolis
Tipo de unidadeNordm de Decreto Lei
Municipal de CriaccedilatildeoAbrangecircncia Aacuterea
Praia da Daniela Protege ecossistemas de manguezal e restingas 1564 ha
Lei 509197Ponta da Daniela
Parque municipal do Maciccedilo da Costeira
Lei 460595 e Dec nordm 15495
Aacutereas com relevo montanhoso e protege a vegetaccedilatildeo da Floresta Atlacircntica fauna e mananciais hiacutedricos 14563 ha
Dunas da Barra da Lagoa Lei 377192 e Lei 219385
Plano de reestruturaccedilatildeo urbano da Barra da Lagoa e protege as dunas 66 ha
Parque Municipal da Lagoinha do Leste
Lei 370192 e Dec nordm 15387
Aacuterea maior que a Bacia Hidrograacutefica da Lagoinha Aacuterea 453 ha
Parque Municipal da Galheta
Lei 345590 Praia da Galheta 1493 ha
Lagoa da Chica e Lagoinha Pequena
Dec n ordm 18588 e Lei 219385
Campeche e Rio Tavares 375 ha
Regiatildeo da Costa da Lagoa da Conceiccedilatildeo
Dec nordm 24786 Encosta da margem oeste da Lagoa da Conceiccedilatildeo desde a Ponta das Araccedilaacutes Ponta do Saquinho e o caminho da Costa da Lagoa 9675 ha
Aacuterea de preservaccedilatildeo permanente e de uso limitado
Dec nordm 219385 Uso e ocupaccedilatildeo do solo dos balneaacuterios do municiacutepio instituindo APPs e APLs Totaliza 100742 ha
Restingas de Ponta das Canas e Ponta Sambaqui
Dec nordm 21685 Aacuterea 228 ha
Dunas de Ingleses Santinho Campeche Armaccedilatildeo e Pacircntano do Sul
Dec nordm 11285 Tomba o sistema fiacutesico natural das respectivas localidades Aacuterea 95330 ha
Parque Municipal da Lagoa do Peri
Lei nordm 182881 e Dec nordm 9182
Lagoa do Peri 2030 ha
Lagoa da Conceiccedilatildeo Dec nordm 126175 e 21379
Dunas e aacutereas limites adjacentes 563 ha
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis Fonte Floram 2002
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
59
A lei do SNUC tece ainda comentaacuterios gerais sobre as aacutereas pertencentes agrave Reserva
da Biosfera que satildeo aacutereas especiais reconhecidas pelo programa intergovernamental ldquoO
Homem e a Biosfera - MaBrdquo estabelecido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) e do qual o Brasil faz parte A Reserva da
Biosfera trata-se de um modelo adotado internacionalmente de gestatildeo integrada
participativa e sustentaacutevel dos recursos naturais Seus objetivos baacutesicos consistem a
preservaccedilatildeo da diversidade bioloacutegica o desenvolvimento de atividades de pesquisa o
monitoramento ambiental a educaccedilatildeo ambiental o desenvolvimento sustentaacutevel e a
melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees (LEI 99852000)
A Reserva da Biosfera eacute constituiacuteda por 1 - uma ou vaacuterias aacutereas-nuacutecleo destinadas
agrave proteccedilatildeo integral da natureza 2 - uma ou vaacuterias zonas de amortecimento onde soacute satildeo
admitidas atividades que natildeo resultem em dano para as aacutereas-nuacutecleo e 3 - uma ou vaacuterias
zonas de transiccedilatildeo sem limites riacutegidos onde o processo de ocupaccedilatildeo e o manejo dos
recursos naturais satildeo planejados e conduzidos de modo participativo e em bases
sustentaacuteveis
Das 440 Reservas da Biosfera existentes no mundo o Brasil possui seis delas
delimitadas a partir dos seis maiores biomas brasileiros Mata Atlacircntica (RBMA) Cerrado
(RBC) Pantanal (RBP) Caatinga (RBCA) Amazocircnia Central (RBAC) e o Cinturatildeo Verde da
Cidade de Satildeo Paulo (RBCVSP) A Figura 4 mostra a delimitaccedilatildeo dessas reservas no paiacutes
A primeira das Reservas da Biosfera a ser instituiacuteda no Brasil foi a Reserva da Biosfera da
Mata Atlacircntica que tem atualmente 350000 km2 e forma um corredor envolvendo 15
estados brasileiros inclusive Santa Catarina e incorporando centenas de aacutereas - nuacutecleo
(Unidades de Conservaccedilatildeo)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
60
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil Fonte Programa MaB ndash O Homem e a Biosfera Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
O terreno onde seraacute implantado o empreendimento Sapiens Parque estaacute incluiacutedo
dentro de quatro planos dirigidos agrave proteccedilatildeo de aacutereas naturais o Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Desenvolvimento Sustentaacutevel do Entorno da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Manejo da Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
e o Parque Florestal do Rio Vermelho Os planos colocam as condiccedilotildees e diretrizes que
devem ser seguidas pelos seus vizinhos de modo a garantir a proteccedilatildeo dos recursos
naturais em seu interior De maneira geral os planos mencionados incentivam a pesquisa a
preservaccedilatildeo e o turismo responsaacutevel e sustentaacutevel Atividades ambientalmente corretas
como a agricultura orgacircnica o artesanato e a pesca artesanal tambeacutem satildeo incentivadas no
entorno das unidades de conservaccedilatildeo
Aleacutem disso Florianoacutepolis tambeacutem estaacute incluiacuteda no Plano Estadual de Gerenciamento
Costeiro uma proposta de lei disciplinadora do uso e ocupaccedilatildeo do solo do litoral catarinense
que objetiva potencializar seu crescimento mantendo a qualidade de vida e sem deteriorar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
61
meio ambiente A lei diz respeito ao planejamento e manejo dos recursos naturais levando
em consideraccedilatildeo os aspectos de natureza histoacuterica cultural e tradicional
222 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel eacute recente Surgiu na deacutecada de 1970 e
apareceu nos relatoacuterios da Uniatildeo Internacional para Conservaccedilatildeo da Natureza na deacutecada
de 1980 O conceito foi popularizado em 1987 na Assembleacuteia Geral da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid entatildeo presidentes da
Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) caracterizaram o
desenvolvimento sustentaacutevel como um ldquoconceito poliacuteticordquo e um ldquoconceito amplo para
progresso econocircmico e socialrdquo (VEIGA 2005113)
Esse encontro gerou um documento conhecido como Relatoacuterio Brundtland (Nosso
Futuro Comum) que objetivava buscar alianccedilas para a viabilizaccedilatildeo da ECO-92 conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas ocorrida no Rio de Janeiro O relatoacuterio afirma que o desenvolvimento
sustentaacutevel eacute aquele que atende agraves necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacuteprias necessidades De acordo
com o relatoacuterio a sustentabilidade compreende uma mudanccedila nas relaccedilotildees econocircmicas
poliacutetico-sociais culturais e ecoloacutegicas ldquoDesse modo a natureza passa a ser vista como parte
integrante de um sistema que originalmente deveria ser ciacuteclico excluindo o comportamento
predador do modelo desenvolvimentista predominanterdquo (OLIVEIRA 2004) Natildeo se reduz a
simples crescimento quantitativo pelo contraacuterio faz intervir a qualidade das relaccedilotildees
humanas com o ambiente natural e a necessidade de conciliar a evoluccedilatildeo dos valores
socioculturais
O Relatoacuterio Brundtland determina as seguintes medidas a serem seguidas pelos
paiacuteses em niacutevel nacional limitaccedilatildeo do crescimento populacional garantia de recursos
baacutesicos (aacutegua alimentos energia) em longo prazo preservaccedilatildeo da biodiversidade e dos
ecossistemas diminuiccedilatildeo do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com
uso de fontes energeacuteticas renovaacuteveis aumento da produccedilatildeo industrial nos paiacuteses natildeo-
industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas controle da
urbanizaccedilatildeo desordenada e integraccedilatildeo entre campo e cidades menores atendimento das
necessidades baacutesicas (sauacutede escola moradia)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
62
Em acircmbito internacional o relatoacuterio propotildee as seguintes metas adoccedilatildeo da estrateacutegia
de desenvolvimento sustentaacutevel pelas organizaccedilotildees de desenvolvimento (oacutergatildeos e
instituiccedilotildees internacionais de financiamento) proteccedilatildeo dos ecossistemas supra-nacionais
como a Antaacutertica os oceanos e o espaccedilo pela comunidade internacional banimento das
guerras e implantaccedilatildeo de um programa de desenvolvimento sustentaacutevel pela Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU)
O desenvolvimento sustentaacutevel requer mudanccedilas nos padrotildees de consumo dos
hemisfeacuterios Norte e Sul a comeccedilar no que diz respeito agrave economia de recursos A
separaccedilatildeo social resultante da reproduccedilatildeo dos padrotildees de consumo do Norte no Sul em
benefiacutecio de uma minoria pede uma mudanccedila de paradigma no processo de
desenvolvimento a favor do meio ambiente e da elevaccedilatildeo do padratildeo de pobreza
Entretanto segundo SACHS (2002) para isso satildeo necessaacuterias mudanccedilas no Norte em
relaccedilatildeo aos efeitos demonstrativos dos seus padrotildees de consumo sobre a populaccedilatildeo do
Sul ampliados pelo processo de globalizaccedilatildeo
O conceito do desenvolvimento sustentaacutevel sinaliza uma alternativa agraves teorias e
modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia do desenvolvimento
que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica
Segundo MONTIBELLER (2004) a diferenccedila fundamental entre o
ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel consiste no fato de que o
ecodesenvolvimento volta-se ao atendimento das necessidades baacutesicas da populaccedilatildeo
atraveacutes da utilizaccedilatildeo de tecnologias apropriadas a cada ambiente e partindo do mais simples
ao mais complexo enquanto que o desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza o papel de uma
poliacutetica ambiental a responsabilidade com os problemas globais e com as futuras geraccedilotildees
Os primeiros indicadores de sustentabilidade segundo VEIGA (2005) foram
desenvolvidos pela Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel (CSD) das Naccedilotildees
Unidas Em 1996 a CSD publicou o documento ldquoIndicadores de desarollo sostenible marco
y metodologiacuteasrdquo que continha um conjunto de 143 indicadores reduzidos quatro anos mais
tarde para 57 indicadores Este documento serviu como base para a formulaccedilatildeo dos
primeiros indicadores brasileiros de desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes do documento
ldquoIndicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo (IDS) apresentado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutesticas (IBGE) em 2002 e 2004
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
63
O documento elaborado pelo IBGE consistiu a primeira tentativa brasileira para
definiccedilatildeo de estatiacutesticas que coloquem a dimensatildeo ambiental ao lado da social econocircmica
e institucional No campo da dimensatildeo ambiental foi possiacutevel apresentar indicadores
fundamentais referentes agrave conservaccedilatildeo do meio ambiente organizados em cinco temas
essenciais ldquoatmosferardquo ldquoterrardquo ldquooceanos mares e aacutereas costeirasrdquo ldquobiodiversidaderdquo e
ldquosaneamentordquo
O fato de um iacutendice de desenvolvimento sustentaacutevel ser composto por muitas
dimensotildees e variaacuteveis acarreta dificuldades na sua elaboraccedilatildeo Ainda natildeo existe um iacutendice
de desenvolvimento sustentaacutevel reconhecido internacionalmente como tem sido o IDH No
Foacuterum Econocircmico Mundial em 2002 pesquisadores de duas universidades americanas
(Yale e Columbia) apresentaram o iacutendice de sustentabilidade ambiental ldquoEnvironmental
Sustenaibility Indexrdquo (ESI) O ESI natildeo significa exatamente um iacutendice de desenvolvimento
sustentaacutevel uma vez que estabelece somente criteacuterios de anaacutelise de dimensatildeo ambiental
mas ele pode ser comparado com outros iacutendices de desenvolvimento O ESI considera cinco
componentes ambientais ldquosistemas ambientaisrdquo ldquoestressesrdquo ldquovulnerabilidade humanardquo
ldquocapacidade social e institucionalrdquo e ldquoresponsabilidade globalrdquo
O ESI elaborado pelos estudantes de Yale e Columbia foi reapresentado em 2005 e
segundo VEIGA (2005) foi a mais reconhecida tentativa de elaboraccedilatildeo de um iacutendice de
sustentabilidade ambiental mas ainda natildeo representa um consenso internacional Por este
motivo e pelo fato de o empreendimento Sapiens Parque ainda estar em fase de execuccedilatildeo
tornando inviaacutevel a realizaccedilatildeo do trabalho atraveacutes dos iacutendices de sustentabilidade optamos
em utilizar como paracircmetro para a anaacutelise do estudo de caso um sistema de dimensotildees e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel desenvolvido por SACHS (2002)
SACHS (2002) defende que o desenvolvimento sustentaacutevel abrange uma seacuterie de
dimensotildees (social cultural ecoloacutegica territorial econocircmica e poliacutetica) classificadas segundo
o autor pelos conceitos a seguir
1 A dimensatildeo social vem agrave frente da demais na opiniatildeo de SACHS (2002) por
constituir a proacutepria finalidade do desenvolvimento Deve visar a reduccedilatildeo substancial das
diferenccedilas sociais
2 A sustentabilidade cultural aparece em seguida e tem como objetivo a busca de
raiacutezes endoacutegenas dos modelos de modernizaccedilatildeo e dos sistemas rurais integrados de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
64
produccedilatildeo privilegiando o processo de mudanccedila no seio da comunidade cultural e
respeitando as especificidades de cada ecossistema de cada cultura e de cada local
3 A sustentabilidade ecoloacutegica e ambiental vem em decorrecircncia e compreende o
uso dos potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatiacuteveis com sua miacutenima
deterioraccedilatildeo Deve permitir que a natureza encontre novos equiliacutebrios atraveacutes de processos
de utilizaccedilatildeo que obedeccedilam tambeacutem preservar as fontes de recursos naturais
4 A dimensatildeo territorial (espacialgeograacutefica) pressupotildee evitar a excessiva
concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees de atividades e do poder Busca uma relaccedilatildeo mais
equilibrada cidadecampo
5 A sustentabilidade econocircmica aparece como uma necessidade mas natildeo se trata
de condiccedilatildeo preacutevia para as anteriores uma vez que um transtorno econocircmico traz consigo o
transtorno social que por seu lado obstrui a sustentabilidade ambiental Eacute possibilitada por
uma alocaccedilatildeo e gestatildeo mais eficientes dos recursos e por um fluxo regular do investimento
puacuteblico e privado
6 A sustentabilidade poliacutetica (nacional) eacute importante na pilotagem do processo de
reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
7 Igualmente importante constitui a sustentabilidade poliacutetica (internacional) para
mantenimento da paz mundial e estabelecimento de um sistema de administraccedilatildeo para o
patrimocircnio comum da humanidade
SACHS (2002) delimita os criteacuterios para cada uma das dimensotildees acima
esquematizados tambeacutem por MONTIBELLER (2004) conforme a Tabela 3
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
65
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADECRITEacuteRIOS OBJETIVOS
Alcance de um patamar razoaacutevel de homogeneidade social Distribuiccedilatildeo de renda justa Emprego pleno eou autocircnomo com qualidade de vida decente Igualdade no acesso aos recursos e serviccedilos sociais Mudanccedilas no interior da continuidade (equiliacutebrio entre respeito agravetradiccedilatildeo e inovaccedilatildeo) Capacidade de autonomia para elaboraccedilatildeo de um projeto nacionalintegrado e endoacutegeno (em oposiccedilatildeo agraves coacutepias servis dos modelosalieniacutegenas) Autoconfianccedila combinada com abertura para o mundo Preservaccedilatildeo do potencial do capital natureza na sua produccedilatildeo derecursos renovaacuteveis Limitar o uso dos recursos natildeo-renovaacuteveis Respeitar e realccedilar a capacidade de autodepuraccedilatildeo dosecossistemas naturais Configuraccedilotildees urbanas e rurais balanceadas (eliminaccedilatildeo dasinclinaccedilotildees urbanas nas alocaccedilotildees do investimento puacuteblico) Melhoria do ambiente urbano Superaccedilatildeo das disparidades inter-regionais Estrateacutegias de desenvolvimento ambientalmente seguras paraaacutereas ecologicamente fraacutegeis (conservaccedilatildeo da biodiversidade peloecodesenvolvimento) Desenvolvimento econocircmico intersetorial equilibrado Seguranccedila alimentar Capacidade de modernizaccedilatildeo contiacutenua dos instrumentos deproduccedilatildeo razoaacutevel niacutevel de autonomia na pesquisa cientiacutefica etecnoloacutegica Inserccedilatildeo soberana na economia internacional Democracia definida em termos de apropriaccedilatildeo universal dosdireitos humanos Desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar oprojeto nacional em parceria com todos os empreendedores Um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social Eficaacutecia do sistema de prevenccedilatildeo de guerras da ONU na garantiada paz e na promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional Um pacote Norte-Sul de co-desenvolvimento baseado no princiacutepiode igualdade (compartilhamento da responsabilidade defavorecimento do parceiro mais fraco) Controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro denegoacutecios Controle institucional efetivo da aplicaccedilatildeo do Princiacutepio daPrecauccedilatildeo na gestatildeo do meio ambiente e dos recursos naturaisprevenccedilatildeo das mudanccedilas globais negativas proteccedilatildeo dadiversidade bioloacutegica (e cultural) e gestatildeo do patrimocircnio globalcomo heranccedila comum da humanidadeinternacional
SOCIAL
CULTURAL
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
POLIacuteTICA (NACIONAL)
POLIacuteTICA (INTERNACIONAL)
TERRITORIAL
ECONOcircMICA
Reduccedilatildeo das diferenccedilas sociais
Busca de raiacutezes endoacutegenas e respeito agraves especificidades de cada cultura
Equiliacutebrio entre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais
Evitar a excessiva concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees
Governar o processo de reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
Mantenimento da paz mundial baseado no princiacutepio de igualdade e da qualidade do meio ambiente
Aumento da produccedilatildeo e da riqueza social e independecircncia econocircmica externa
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel Fonte Sachs (2002) Montibeller (2004) Elaboraccedilatildeo da autora
Portanto o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel abrange um conjunto de
sustentabilidades que apresentam criteacuterios de aplicaccedilatildeo em niacutevel global nacional e local Para
os fins de anaacutelise deste trabalho tomaremos os conceitos e criteacuterios delimitados por SACHS
(2002) para as dimensotildees de sustentabilidade acima que podem ser concentradas nos trecircs
pontos principais dimensatildeo social dimensatildeo ecoloacutegica e ambiental e dimensatildeo econocircmica
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
66
23 SUSTENTABILIDADE URBANA
A insalubridade das cidades provocada pela excessiva urbanizaccedilatildeo no seacuteculo XX
originou propostas urbaniacutesticas que buscavam um equiliacutebrio entre o crescimento econocircmico
e os problemas sociais integrados ao desenho da paisagem Deu-se iniacutecio agrave ldquotendecircncia do
verderdquo que se refletiu nas cidades-jardins12 de Howard
Em todas as eacutepocas o medo das infecccedilotildees da cidade e as atraccedilotildees do campo aberto proporcionaram estiacutemulos tanto negativos quanto positivos (hellip) Aacutegua ar puro fugas aos aacutesperos ruiacutedos humanos extensotildees abertas para cavalgar caccedilar praticar o arco caminhar pelo campo ndash tais satildeo as qualidades que a aristocracia sempre apreciou em toda partehellip(MUMFORD 1998526)
Howard propunha um novo modelo de desenvolvimento urbano que empregasse
facilidades teacutecnicas para acabar com as diferenccedilas cada vez maiores entre o campo e a
cidade Apesar de as cidades-jardins defenderem a ideacuteia de preservaccedilatildeo da natureza ainda
a encaravam como bem de usufruto do ser humano De acordo com ANDRADE (2003)
alguns princiacutepios de desenvolvimento urbano sustentaacutevel podem ser identificados no modelo
de cidade-jardim tais como tamanho controlado com acessibilidade aos espaccedilos verdes e
aos pedestres transporte puacuteblico adequado uso misto (de-zoneamento) reaproveitamento
de resiacuteduos soacutelidos em terras agriacutecolas e centros comerciais com economia local
A visatildeo da natureza como um bem de utilizaccedilatildeo humana permanece no modelo de
urbanizaccedilatildeo do Modernismo Embora tivesse um discurso social e uma preocupaccedilatildeo com a
vida saudaacutevel natildeo incluiacutea em suas ideacuteias o esgotamento de recursos Reflete os princiacutepios
da Carta de Atenas13 que desenvolveu a ideacuteia da cidade como ldquomaacutequinardquo em uma utopia
funcionalista da eacutepoca O construiacutedo em meio ao aberto e a habitaccedilatildeo dentro do espaccedilo
verde viraram a marca registrada e o ideal da cidade moderna Caracterizava-se pela
monofuncionalidade dos bairros e pela desarticulaccedilatildeo e distacircncia entre o espaccedilo puacuteblico e o
12 As cidades-jardins de Ebenezer Howard foram uma tentativa de resolver os problemas de insalubridade pobreza e poluiccedilatildeo nas cidades por meio de desenho de novas cidades que tivessem uma estreita relaccedilatildeo com o campo Howard concebia sua cidade-jardim de forma a propiciar aos homens mais liberdade em uma vida comunitaacuteria renovada (ANDRADE 2003 aquitexto Portal Vitruvius) 13 A Carta de Atenas consiste em um conjunto de artigos do CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) de 1933 cujo tema foi a Cidade Funcional Baseia-se na localizaccedilatildeo das atividades segundo a funccedilatildeo moradia lazer trabalho transporte (FRAMPTON 2000)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
67
privado Em funccedilatildeo disso o espaccedilo puacuteblico da cidade moderna era pobre em relaccedilotildees de
encontro ritual e movimento
Jane Jacobs em seu livro ldquoMorte e Vida nas Grandes Cidadesrdquo faz um relato
ofensivo aos fundamentos do planejamento urbano moderno A autora defende o estudo das
relaccedilotildees sociais antroacutepicas como forma de planejamento para cidades saudaacuteveis E enfatiza
a necessidade de uma diversidade de usos mais complexa e densa e que propicie entre
eles uma sustentaccedilatildeo muacutetua e constante tanto econocircmica quanto social
A problemaacutetica ambiental e social urbana colocou em questionamento o paradigma
urbanista moderno Algumas contribuiccedilotildees importantes quanto ao tema da sustentabilidade
urbana surgiram na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro a partir da qual explicita-se a
tentativa das cidades de se organizarem na busca por uma alternativa viaacutevel de
desenvolvimento A Agenda 2114 desponta como um modelo participativo de mudanccedila de
atitude em relaccedilatildeo ao meio ambiente a partir da necessidade de transformar compromissos
abstratos em accedilotildees de niacutevel nacional e local
ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo eacute um dos documentos da Agenda 21 Brasileira Seu objetivo
eacute oferecer propostas para introduzir a dimensatildeo ambiental nas poliacuteticas urbanas vigentes ou
que venham a serem adotadas Dentre as premissas que o nortearam merece destaque a
denominada crescer sem destruir por traduzir que o desenvolvimento sustentaacutevel das
cidades implica ao mesmo tempo no crescimento dos fatores positivos da sustentabilidade
urbana e na diminuiccedilatildeo dos impactos ambientais sociais e econocircmicos indesejaacuteveis no
espaccedilo urbano
A Conferecircncia Habitat II ou Cuacutepula das Cidades realizada em Istambul em 1996
(20 anos apoacutes a Habitat I em Vancouver Canadaacute) teve como foco principal atualizar os
temas e paradigmas que fundamentam a poliacutetica urbana e habitacional com o objetivo
de reorientar a linha de accedilatildeo dos oacutergatildeos e agecircncias de cooperaccedilatildeo internacional para
estes temas incluindo a do proacuteprio Centro das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos
Humanos ndash Habitat
14 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo global adotado por 182 governos Eacute o primeiro documento a alcanccedilar consenso internacional e que fornece um plano para assegurar o futuro sustentaacutevel do planeta lanccedilando questotildees sobre o desenvolvimento e o meio ambiente (OLIVEIRA 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
68
De acordo com ROLNIK (1996) a conferecircncia em Istambul abordou o processo
de urbanizaccedilatildeo nos paiacuteses em desenvolvimento e apresentou um quadro negativo de
tendecircncias com destaque para a insustentabilidade da qualidade de vida nas cidades
Tal fato deve-se tanto pela destruiccedilatildeo de recursos naturais e de seu patrimocircnio cultural
quanto pela gestatildeo e operaccedilatildeo natildeo planejadas dos seus serviccedilos
Apoacutes a Conferecircncia do Rio de Janeiro e da Habitat II a cidade passou a ser vista natildeo
mais como um problema a ser evitado mas como uma realidade que pode ser transformada
para melhor Esta nova forma de pensamento deve-se fundamentalmente ao fracasso das
poliacuteticas de fixaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural e agrave constataccedilatildeo de estatiacutesticas internacionais e
nacionais que comprovam que a cidade constitui a forma que os seres humanos
escolheram para viver em sociedade e prover sua necessidades Segundo a Agenda 21
Brasileira a proporccedilatildeo de pessoas que moravam em cidades no Brasil era de 76 em
1996 Atualmente mais de 80 da populaccedilatildeo brasileira mora em cidades sendo que as
projeccedilotildees apontam para uma taxa de mais de 88 em 2020
No Brasil surgiram instrumentos com a intenccedilatildeo de direcionar as novas formas de se
projetar a cidade entre legislaccedilotildees urbanas e ambientais Um desses instrumentos consiste
na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) jaacute vista neste capiacutetulo e
tambeacutem na proacutepria Agenda 21 Brasileira que seraacute analisada adiante O Estatuto da
Cidade15 constitui outro importante instrumento de poliacutetica urbana e reserva tambeacutem
algumas orientaccedilotildees relevantes no que tange respeito ao tema do meio ambiente urbano
das quais destacam-se
Garantia do direito a cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave
moradia ao saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos
serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees
Planejamento do desenvolvimento das cidades da distribuiccedilatildeo espacial da
populaccedilatildeo e das atividades econocircmicas do Municiacutepio e do territoacuterio sob sua aacuterea
de influecircncia de modo a evitar e corrigir as distorccedilotildees do crescimento urbano e
seus efeitos negativos sobre o meio ambiente
15 O Estatuto da Cidade (Lei ndeg 102572001) eacute a lei federal que daacute as diretrizes e regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que falam sobre a Poliacutetica Urbana que deveraacute ser praticada pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios (disponiacutevel em httpwwwestatutodacidadeorgbr acesso em 15062005)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
69
Audiecircncia do Poder Puacuteblico municipal e da populaccedilatildeo interessada nos processos de
implantaccedilatildeo de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos
sobre o meio ambiente natural ou construiacutedo o conforto ou a seguranccedila da populaccedilatildeo
O estatuto ainda coloca agrave disposiccedilatildeo dos municiacutepios o Estudo de Impacto de
Vizinhanccedila (EIV) que deveraacute ser executado de forma a contemplar os efeitos positivos e
negativos dos empreendimentos ou atividades quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo
residente na aacuterea e suas proximidades
Para Florianoacutepolis existe atualmente uma proposta conceitual de um plano piloto
para a primeira Reserva da Biosfera em Ambiente Urbano (Figura 5) buscando integrar o
modelo baacutesico das Reservas da Biosfera aos conceitos de ecologia urbana O objetivo eacute a
integraccedilatildeo entre a conservaccedilatildeo da natureza e de seus processos com a manutenccedilatildeo do
patrimocircnio cultural e dos processos de urbanidade
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis Fonte Proposta Projeto Piloto RBU Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
70
A proposta da Reserva da Biosfera Urbana eacute composta de cinco zonas da
predominantemente natural agrave predominantemente urbana conforme mostra a Figura 5
Zonas Nuacutecleo Natural (Unidades de Conservaccedilatildeo Aacutereas de Preservaccedilatildeo
Permanente e aacutereas tombadas) que constitua uma manifestaccedilatildeo iacutentegra e
representativa de um ecossistema
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Natural entorno imediato ao nuacutecleo com
padrotildees de uso onde a funcionalidade ecoloacutegica e geograacutefica da aacuterea eacute mantida
Zonas de Transiccedilatildeo zona com padrotildees de uso que salvaguardem a integridade e
a funcionalidade das zonas anteriores proporcionando uma aacuterea de
descompressatildeo urbana compatiacutevel com a vizinhanccedila natural
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Urbano Cultural entorno imediato ao
nuacutecleo urbano com padrotildees de uso que integrem eficazmente as funccedilotildees de
urbanidade eou conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural com uma paisagem natural
sustentaacutevel
Zonas Nuacutecleo de Urbanidade eou Patrimocircnio Cultural que constitua um
testemunho autecircntico de um bem cultural ou de uma aacuterea de urbanidade
sustentaacutevel
A proposta estaacute em processo de aprovaccedilatildeo na UNESCO e tem como um dos
idealizadores o arquiteto argentino Ruben Pesci atual responsaacutevel tambeacutem pelo projeto do
empreendimento Sapiens Parque Apesar de ser bastante inovador o projeto apresenta
controveacutersias tendo como uma das criacuteticas o fato de abranger somente a Ilha de Santa
Catarina ignorando a parte continental com a qual estabelece relaccedilotildees
Os estudos de sustentabilidade urbana natildeo apresentam uma linha uacutenica de
pensamento fato que caracteriza o tema como uma aacuterea de investigaccedilatildeo nova dinacircmica e
ainda natildeo consolidada em busca de uma identidade Poreacutem na visatildeo de STEINBERGER
(2001) os problemas urbanos de outrora estatildeo sendo vistos como os problemas ambientais
de agora anunciando a onda do modismo Antes que a questatildeo ambiental aparecesse com
a forccedila e a centralidade que tem hoje essas dificuldades jaacute estavam nas agendas dos
planejadores urbanos e autoridades municipais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
71
A sustentabilidade urbana concretiza-se como base para surgimento de um novo
paradigma onde o meio ambiente passa a ser o tema central em torno do qual todos os
discursos e projetos sociais devem ser reformulados para serem legiacutetimos A questatildeo social
urbana transformou-se em questatildeo ecoloacutegica ou ambiental ocorrendo uma substituiccedilatildeo de
paradigmas Esse enfoque provoca uma visatildeo negativa no planejamento uma vez que
admite ser possiacutevel a substituiccedilatildeo do social pelo ambiental quando o ideal seria uma
integraccedilatildeo entre as duas dimensotildees Falar da problemaacutetica soacutecio-ambiental urbana soaria
como uma ldquoroupagem da moda para nossas velhas questotildees sociais (e urbanas)rdquo
(STEINBERGER 2001) No entanto definir e tratar conjuntamente os dilemas sociais e
ambientais constitui uma necessidade
231 DIRETRIZES PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA
O mais completo documento nacional que coloca estrateacutegias a serem implementadas
no processo de gestatildeo urbana a fim de atingir a sustentabilidade das cidades consiste na
Agenda 21 Brasileira Segundo o documento ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo da Agenda 21 a
problemaacutetica social e a problemaacutetica ambiental urbanas satildeo indissociaacuteveis A
sustentabilidade das cidades deve ser situada dentro do conjunto e das opccedilotildees de
desenvolvimento nacional A viabilidade da sustentabilidade urbana depende da capacidade
de integraccedilatildeo das suas estrateacutegias entre os planos projetos e accedilotildees governamentais de
desenvolvimento urbano e entende-se que as poliacuteticas federais tecircm um papel instigador
fundamental na promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel como um todo
A sustentabilidade das cidades depende ainda do cumprimento da chamada Agenda
Marrom que se preocupa sobretudo com a melhoria da qualidade sanitaacuterio-ambiental das
populaccedilotildees urbanas As estrateacutegias prioritaacuterias para atingir a sustentabilidade urbana e que
devem remeter-se aos objetivos macro do desenvolvimento sustentaacutevel em qualquer das
escalas consideradas (global nacional ou local) satildeo
Reduccedilatildeo da pressatildeo sobre os recursos disponiacuteveis atraveacutes da busca de equiliacutebrio
dinacircmico entre uma determinada populaccedilatildeo e sua base ecoloacutegico-territorial
Aumento da responsabilidade ecoloacutegica atraveacutes de relaccedilotildees de interdependecircncia
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
72
entre os fenocircmenos e pelo princiacutepio da co-responsabilidade de paiacuteses grupos e
comunidades na gestatildeo dos recursos e dos ecossistemas compartilhados como o
ar oceanos florestas e bacias hidrograacuteficas
Busca da eficiecircncia energeacutetica com reduccedilatildeo significativa nos niacuteveis de consumo
atual e busca de fontes energeacuteticas renovaacuteveis
Desenvolvimento e utilizaccedilatildeo de tecnologias ambientalmente adequadas
alterando progressiva e significativamente os padrotildees atuais do setor produtivo
Alteraccedilatildeo dos padrotildees de consumo e diminuiccedilatildeo significativa na produccedilatildeo de
resiacuteduos e no uso de bens ou materiais natildeo-reciclaacuteveis
Recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e reposiccedilatildeo do estoque dos recursos
estrateacutegicos (aacutegua solo cobertura vegetal)
Manutenccedilatildeo da biodiversidade existente
Eacute necessaacuterio ainda estabelecer a descentralizaccedilatildeo das instacircncias decisoacuterias e de
serviccedilos para o fortalecimento do local e incentivo da gestatildeo comunitaacuteria descarregando o
setor governamental das responsabilidades de gestatildeo urbana que a comunidade deseja
assumir no que se refere ao desenvolvimento e agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente No
sentido de reorganizar o sistema de gestatildeo a Agenda 21 ainda determina os seguintes
marcos de gestatildeo urbana
Incentivo ao surgimento de cidades menores ou de assentamentos menores
dentro das grandes cidades preferecircncia pelos pequenos projetos de menor custo
e de menor impacto ambiental foco na accedilatildeo local
Incorporaccedilatildeo da questatildeo ambiental nas poliacuteticas setoriais urbanas (habitaccedilatildeo
abastecimento saneamento ordenaccedilatildeo do espaccedilo) atraveacutes da observacircncia dos
criteacuterios ambientais que visam preservar recursos estrateacutegicos (aacutegua solo
cobertura vegetal) e proteger a sauacutede humana
Integraccedilatildeo das accedilotildees de gestatildeo visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliaccedilatildeo dos
impactos positivos
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
73
Necessidade do planejamento estrateacutegico colocando restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio
Descentralizaccedilatildeo das accedilotildees administrativas e dos recursos com vistas agraves
prioridades locais e combate agrave homogeneizaccedilatildeo dos padrotildees de gestatildeo
Incentivo agrave inovaccedilatildeo e ao surgimento de soluccedilotildees criativas
Inclusatildeo dos custos ambientais e sociais no orccedilamento e contabilidade dos
projetos de infra-estrutura
Induccedilatildeo de novos haacutebitos de moradia transporte e consumo nas cidades
(incentivo ao uso da bicicleta e de transportes natildeo-poluentes incentivo agraves hortas
comunitaacuterias jardins e arborizaccedilatildeo com aacutervores frutiacuteferas edificaccedilotildees para uso
comercial ou de moradia que evitem o uso intensivo de energia utilizando
materiais reciclados)
Fortalecimento da sociedade civil e dos canais de participaccedilatildeo incentivo e suporte
agrave accedilatildeo comunitaacuteria
A Agenda 21 Brasileira levanta as principais questotildees intra-urbanas que afetam a
sustentabilidade do desenvolvimento das nossas cidades Satildeo elas dificuldades no acesso
agrave terra e deacuteficit habitacional com consequumlente aumento do espaccedilo construiacutedo irregular e
informal deficiecircncias nas questotildees sobre abastecimento e esgotos resiacuteduos soacutelidos
drenagem sauacutede e saneamento ambiental elevada taxa de motorizaccedilatildeo com consequumlente
aumento da poluiccedilatildeo do ar desemprego e precarizaccedilatildeo do emprego
O documento ainda determina quatro estrateacutegias prioritaacuterias a serem implementadas
nas cidades brasileiras que estatildeo associadas a um conjunto de diretrizes propostas e
accedilotildees
Aperfeiccediloar a regulaccedilatildeo do solo e ocupaccedilatildeo do solo urbano e promover o
ordenamento do territoacuterio contribuindo para a melhoria das condiccedilotildees de vida da
populaccedilatildeo e promoccedilatildeo da equumlidade eficiecircncia e qualidade ambiental
Promover o desenvolvimento institucional e fortalecimento da capacidade de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
74
planejamento e gestatildeo democraacutetica da cidade atraveacutes da efetiva participaccedilatildeo da
sociedade e incorporar no processo a dimensatildeo ambiental
Promover mudanccedilas nos padrotildees de produccedilatildeo e consumo da cidade atraveacutes da
reduccedilatildeo de custos e desperdiacutecios e fomentar o desenvolvimento de tecnologias
urbanas sustentaacuteveis
Desenvolver e estimular a aplicaccedilatildeo de instrumentos econocircmicos no
gerenciamento de recursos naturais com vistas agrave sustentabilidade urbana
A Agenda 21 Brasileira vem sendo aplicada nas cidades a partir da elaboraccedilatildeo de
diretrizes particulares locais em niacutevel municipal atraveacutes das chamadas agendas locais Em
Florianoacutepolis a Agenda 21 local dividiu o municiacutepio em dez regiotildees Optou-se pela
ldquoregionalizaccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio com vistas a obter um estudo mais homogecircneo
para alcanccedilar uma maior participaccedilatildeo da comunidade nas anaacutelises de seus problemas e na
obtenccedilatildeo de soluccedilotildeesrdquo (AGENDA 21 LOCAL 200011)
O diagnoacutestico da regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o Sapiens Parque
apontou principalmente o problema de ausecircncia de infra-estrutura sistema viaacuterio energia
eleacutetrica abastecimento de aacutegua e rede coletora de esgotos Algumas dessas deficiecircncias
aliadas agrave ocupaccedilatildeo irregular em aacuterea de preservaccedilatildeo acarretam consequumlecircncias ambientais
graves como a descaracterizaccedilatildeo da paisagem por ocupaccedilatildeo das encostas e supressatildeo
das matas poluiccedilatildeo das aacuteguas superficiais e subterracircneas erosatildeo e abrasatildeo marinhas e
assoreamento de rios e coacuterregos
O diagnoacutestico aponta ainda deficiecircncias no sistema de limpeza urbana transporte
puacuteblico educaccedilatildeo sauacutede e seguranccedila assim como carecircncias de espaccedilos de lazer Dentre
as diretrizes apontadas pela Agenda 21 Local para a promoccedilatildeo do desenvolvimento urbano
sustentaacutevel na regiatildeo norte da Ilha destacamos as seguintes
1 Recuperaccedilatildeo ambiental das aacutereas degradadas com o reflorestamento de morros
de matas ciliares da orla litoracircnea normatizaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das atividades de pesca nas
aacuteguas da baiacutea Norte implantaccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo ambiental visando o
conhecimento a valorizaccedilatildeo e a importacircncia de preservaccedilatildeo de ecossistemas fraacutegeis
2 Projetos que visem a criaccedilatildeo de empregos e geraccedilatildeo de renda tais como criaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
75
de cooperativas de separaccedilatildeo do lixo reciclaacutevel a organizaccedilatildeo das atividades de passeio e
pesca com turistas implantaccedilatildeo de viveiros comunitaacuterios para a produccedilatildeo de mudas de
vegetaccedilatildeo nativa da Mata Atlacircntica a implantaccedilatildeo de sistema de fiscalizaccedilatildeo ambiental
comunitaacuteria a criaccedilatildeo de nuacutecleos da terceira idade para propiciar novas oportunidades
produtivas e de lazer
3 Recuperaccedilatildeo e preservaccedilatildeo de construccedilotildees antigas como as igrejas tradicionais
da regiatildeo norte devem ser objetivos de toda a comunidade dos envolvidos com a cultura e
tambeacutem do setor turiacutestico
4 Implantaccedilatildeo de rede coletora e de sistema de tratamento de esgoto nas
comunidades da regiatildeo norte e a conclusatildeo da rede coletora de esgotos em Ingleses deve
ser um esforccedilo do poder puacuteblico com a participaccedilatildeo da comunidade do comeacutercio e dos
serviccedilos
5 Instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer como praccedilas e de esportes como quadras
poliesportivas em todas as comunidades
De forma geral podemos concluir que a Agenda 21 Local recomenda como
diretrizes de desenvolvimento sustentaacutevel para o Norte da Ilha a recuperaccedilatildeo e
preservaccedilatildeo ambiental e arquitetocircnica a implantaccedilatildeo da infra-estrutura urbana
necessaacuteria a criaccedilatildeo de emprego e renda atraveacutes de cooperativas comunitaacuterias e a
instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer e esportes
24 TURISMO DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
Florianoacutepolis atualmente possui o turismo como uma das principais atividades
econocircmicas e impulsionadoras do seu desenvolvimento urbano Reconhecida pelas suas
belezas e paisagens naturais a cidade atrai visitantes de todo o Brasil e de outros paiacuteses
dando impulso agrave economia local A regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o projeto
Sapiens Parque deve sua urbanizaccedilatildeo ao turismo graccedilas agraves suas praias de aacuteguas limpas e
de temperatura amena Entretanto a atividade turiacutestica mal planejada tem seus reflexos na
ausecircncia da infra-estrutura necessaacuteria e na consequumlente degradaccedilatildeo ambiental Sendo o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
76
turismo um importante pilar do modelo de planejamento urbano de que trata este trabalho e
sendo o turismo sustentaacutevel um dos conceitos do empreendimento Sapiens Parque
abordaremos questotildees relacionadas agrave atividade turiacutestica no texto seguinte
O advento da globalizaccedilatildeo que tem seus marcos iniciais no seacuteculo XX e da atual
terceira revoluccedilatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica acarretou o incremento da atividade turiacutestica
diretamente relacionada a esses dois fenocircmenos Segundo AGUIAR e DIAS (2002) o
desenvolvimento do turismo sempre acompanhou o avanccedilo das novas tecnologias sofrendo
grande impulso na primeira revoluccedilatildeo industrial na Inglaterra do seacuteculo XVIII e na segunda
revoluccedilatildeo industrial nos Estados Unidos e na Europa em fins do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX
O turismo ao mesmo tempo em que sofre influecircncia da globalizaccedilatildeo contribui para
sua expansatildeo e solidificaccedilatildeo aumenta o intercacircmbio de ideacuteias e de pessoas e dessa forma
colabora para o desenvolvimento de uma consciecircncia global Para PAIVA (1998) o turismo
deve converter-se em um meio de integraccedilatildeo renovaccedilatildeo conviacutevio e ateacute mesmo em um
mecanismo de transformaccedilatildeo da sociedade Consiste em uma atividade econocircmica que
envolve a qualidade de vida aumento do lazer do descanso do desfruto e do oacutecio
O turismo movimenta muitos recursos e constitui segundo AGUIAR e DIAS (2002) a
principal atividade econocircmica do seacuteculo XXI a maior ldquoinduacutestriardquo existente superando os
setores tradicionais e tornando-se um importante gerador de postos de trabalho O turismo
portanto eacute um fenocircmeno universal que conecta todas as partes do sistema global e
aumenta a compreensatildeo dos indiviacuteduos de pertencerem a um todo Ao mesmo tempo o
turismo incrementa a consciecircncia das pessoas de pertencerem a um local determinado pois
com a presenccedila do outro ao se explicitarem as diferenccedilas se fortalece a identidade cultural
Aleacutem de promover o respeito agraves diferenccedilas o turismo apresenta papel positivo como
promotor da compreensatildeo e da paz entre os diferentes povos
Apesar de todos os pontos positivos explicitados o desenvolvimento da atividade
turiacutestica apresenta seus impactos negativos A caracteriacutestica consumista do turista que
busca beneficiar-se dos serviccedilos da melhor maneira possiacutevel vem acarretando pressatildeo
sobre o meio ambiente Essa forma individualista de consumo trouxe para a atividade a
necessidade de utilizaccedilatildeo dos melhores recursos naturais por vezes natildeo renovaacuteveis
AGUIAR e DIAS (2002) afirmam que nas aacutereas costeiras do Brasil predominou o
turismo relacionado com o ambiente natural e os efeitos negativos da atividade foram
acentuados principalmente vinculados agrave falta de planejamento Haacute poucas exceccedilotildees de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
77
lugares onde o planejamento urbano conseguiu evitar a construccedilatildeo de verdadeiras muralhas
de preacutedio agrave beira-mar A atividade turiacutestica apresenta grande capacidade de alterar o meio
ambiente em um tempo relativamente curto e as prefeituras natildeo conseguem dimensionar
seus impactos As paisagens naturais que serviram para obtenccedilatildeo dos recursos originais
acabam por degradar-se em um curto prazo impedindo sua recuperaccedilatildeo Os investimentos
de infra-estrutura necessaacuterios para o desenvolvimento da atividade como alojamento e
transportes que oferecem um retorno em curto prazo satildeo priorizados em prejuiacutezo dos
investimentos que poderiam manter ou recuperar a paisagem natural
No Brasil o problema se agrava devido agrave ausecircncia ou insuficiecircncia de planejamento
na implantaccedilatildeo dos projetos turiacutesticos De acordo com AGUIAR e DIAS (2002) os
problemas causados direta ou indiretamente pelo turismo de modo geral passaram por
algum crivo da administraccedilatildeo puacuteblica que diante da possibilidade de geraccedilatildeo de recursos
em curto prazo ignora os prejuiacutezos que ocorreratildeo a meacutedio e longo prazo Os Relatoacuterios de
Impacto Ambiental (RIMA) dos grandes empreendimentos turiacutesticos ou satildeo ignorados ou
feitos sem criteacuterios teacutecnicos adequados tornando-se instrumentos de legitimaccedilatildeo que
justificam a depredaccedilatildeo de algum recurso natural
A ausecircncia de planejamento adequado gera a degradaccedilatildeo do meio ambiente natural
social e cultural fato que implica em uma sucessatildeo de problemas que comprometeratildeo a
atividade turiacutestica no futuro Apesar dos aspectos negativos experiecircncias nacionais e
internacionais demonstram que o turismo quando integrado a um processo de
planejamento pode impactar de forma positiva jaacute que a atividade atrai a atenccedilatildeo dos poderes
puacuteblicos para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
O Poder Puacuteblico apresenta papel fundamental no planejamento turiacutestico que
funciona como regulador ou provedor de serviccedilos puacuteblicos indispensaacuteveis agrave sua ampliaccedilatildeo
como os sistemas viaacuterios de comunicaccedilatildeo e de proteccedilatildeo ao meio ambiente O setor puacuteblico
tem o papel de fiscalizador das ofertas turiacutesticas e de regulador do mercado e do uso do
solo aleacutem de promover a educaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
Apesar de a atividade turiacutestica favorecer a valorizaccedilatildeo do meio natural por parte da
populaccedilatildeo local e provaacutevel melhoria na qualidade dos serviccedilos de preservaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental os impactos negativos possiacuteveis causados pela atividade ainda
aparecem em maior nuacutemero O turismo ocasiona impactos ao ar (com o aumento de infra-
estrutura de transporte e consequumlente aumento da poluiccedilatildeo atmosfeacuterica) nas aacuteguas
(atraveacutes da intensificaccedilatildeo do consumo nas aacutereas concentradas e pela contaminaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
78
derivada dos resiacuteduos soacutelidos) na flora (o turismo descontrolado altera de muitas maneiras
a cobertura vegetal ndash abate da vegetaccedilatildeo utilizaccedilatildeo do fogo accedilatildeo de colecionadores de
plantas acumulaccedilatildeo de lixo praacutetica de campismo predatoacuterio) na fauna (os padrotildees de
comportamento dos animais satildeo modificados pela presenccedila dos turistas) e na paisagem (o
acreacutescimo acelerado da infra-estrutura necessaacuteria para a atividade provoca alteraccedilotildees no
ambiente natural e urbano modificaccedilotildees no solo aumento do ruiacutedo e da luminosidade)
A exploraccedilatildeo desordenada dos recursos naturais para fins turiacutesticos embora tenha
gerado vantagens econocircmicas para vaacuterias regiotildees provoca impactos no meio ambiente que
podem acabar com os mesmos recursos naturais que motivaram a demanda turiacutestica O
fato de apresentar estreita relaccedilatildeo com o meio ambiente diferencia o turismo das demais
atividades e impotildee a necessidade de se instituiacuterem novas formas de exploraccedilatildeo dos
recursos para tal fim que levem em consideraccedilatildeo sua capacidade de suporte e suas condiccedilotildees
de sustentabilidade para que as futuras geraccedilotildees possam usufruir o mesmo benefiacutecio
A tomada de consciecircncia da depredaccedilatildeo causada pela atividade turiacutestica deu origem
a dois novos conceitos relacionados ao meio ambiente o ecoturismo e o turismo
sustentaacutevel Os conceitos significam o desenvolvimento da atividade turiacutestica de forma
sustentaacutevel atraveacutes da conservaccedilatildeo do patrimocircnio natural e cultural buscando a formaccedilatildeo
de uma consciecircncia ambientalista e promovendo o bem estar das populaccedilotildees envolvidas
Consiste em toda forma de turismo baseado na natureza em que a motivaccedilatildeo principal dos
turistas seja observar e apreciar essa natureza ou as culturas tradicionais dominantes das
zonas rurais
As principais caracteriacutesticas desse segmento satildeo incluir elementos educacionais e
de interpretaccedilatildeo procurar reduzir todas as possibilidades de impactos negativos sobre o
entorno natural e sociocultural contribuir para a proteccedilatildeo das zonas naturais ndash gerando
benefiacutecios econocircmicos para as comunidades organizaccedilotildees e administraccedilotildees anfitriatildes que
administram zonas naturais com objetivos conservacionistas oferecendo oportunidades
alternativas de emprego e renda para as comunidades locais e incrementando a
conscientizaccedilatildeo sobre conservaccedilatildeo dos ativos naturais e culturais tanto nos habitantes
quanto nos turistas
O ecoturismo se constitui em um segmento do setor turiacutestico Jaacute o turismo
sustentaacutevel estaacute fundamentado sobre criteacuterios de sustentabilidade deve ser suportaacutevel
ecologicamente em longo prazo viaacutevel economicamente e justo desde uma perspectiva
eacutetica e social para as atividades locais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
79
25 IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS
A implantaccedilatildeo de grandes projetos urbanos como o Sapiens Parque devem
obrigatoriamente apresentar segundo as leis brasileiras um estudo preacutevio dos impactos
soacutecio-econocircmicos e ambientais que tais empreendimentos acarretaratildeo no futuro Esse
estudo foi realizado pelo empreendimento Sapiens Parque e seraacute visto no proacuteximo capiacutetulo
deste trabalho Como base para a anaacutelise introduziremos na sequumlecircncia os principais
conceitos que envolvem a questatildeo dos impactos ambientais urbanos
Os impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais associados ao processo de urbanizaccedilatildeo
desencadearam preocupaccedilotildees com o tema a partir da deacutecada de 1960 Em uma sociedade
altamente industrializada riscos ambientais e tecnoloacutegicos constituem elementos intriacutensecos
agrave mesma A atitude com que o ser humano vem se relacionando com a natureza tornou-se
a grande ameaccedila para a sua proacutepria sobrevivecircncia
A expansatildeo e maneira precaacuteria como foram implantados os novos assentamentos
das cidades brasileiras criaram um conjunto de grave degradaccedilatildeo As praacuteticas
desequilibradas da ocupaccedilatildeo humana estatildeo expressas nos desmatamentos ocupaccedilatildeo de
fundos de vales encostas mangues No presente estaacutegio da situaccedilatildeo econocircmica e do
planejamento urbano torna-se inevitaacutevel a expansatildeo fiacutesica das cidades mas cabe agraves
poliacuteticas urbanas procurar formas de prevenir os novos impactos ambientais A Resoluccedilatildeo
00186 do Conselho Nacional do Meio Ambiente16 define impacto ambiental como
qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente afetam I- a sauacutede a seguranccedila e o bem-estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg)
16 O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) eacute o oacutergatildeo consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) Foram criados com a finalidade de assessorar estudar e propor ao governo federal diretrizes de poliacuteticas governamentais para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos meios de exploraccedilatildeo dos recursos naturais bem como deliberar sobre normas e padrotildees compatiacuteveis com a preservaccedilatildeo do meio ambiente O SISNAMA foi promulgado por lei em 31 de agosto de 1981 e eacute constituiacutedo por reparticcedilotildees e entidades da federaccedilatildeo dos estados e do Distrito Federal e tambeacutem das fundaccedilotildees publicas para o meio ambiente (httpwwwsbaucombr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
80
Impacto ambiental eacute portanto o processo de mudanccedilas sociais e ecoloacutegicas em
movimento causado por perturbaccedilotildees (uma nova ocupaccedilatildeo ou construccedilatildeo de um objeto
novo) no ambiente
A previsatildeo de impactos compreende uma soluccedilatildeo para escapar dos desatinos do
sistema capitalista avassalador e sua aplicaccedilatildeo exige inteligecircncia com relaccedilatildeo ao futuro e
evita os radicalismos Eis o motivo pelo qual as equipes teacutecnicas responsaacuteveis por esse tipo
de estudo satildeo imbuiacutedas de ampla responsabilidade cultural e moral e que pode ter por
consequumlecircncia o sucesso ou a descrenccedila total perante o resto da comunidade cientiacutefica Os
especialistas em impactos atraveacutes da legislaccedilatildeo existente possuem forccedila para exigir
ponderaccedilatildeo e melhoria na organizaccedilatildeo dos espaccedilos destinados a receber projetos
desenvolvimentistas Poreacutem na visatildeo de ABrsquoSAgraveBER (1994) ainda que bem preparados eles
natildeo apresentam poder para sozinhos transformar a estrutura da sociedade
MILAREgrave (1994) salienta que todo e qualquer projeto desenvolvimentista interfere no
meio ambiente Sendo certo que o crescimento eacute um imperativo impotildee-se discutir os
instrumentos e mecanismos que os conciliem diminuindo ao maacuteximo os impactos
ecoloacutegicos negativos e consequumlentemente os custos econocircmico-sociais
Segundo o autor dentre os instrumentos de conjugaccedilatildeo entre desenvolvimento e
proteccedilatildeo ambiental utilizados atualmente o Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental (EIA) e o
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) merecem destaque O EIA eacute de maior abrangecircncia
e compreende o levantamento da literatura cientiacutefica e legal pertinente trabalhos de campo
anaacutelises de laboratoacuterio e a proacutepria redaccedilatildeo do relatoacuterio O RIMA destina-se especificamente
ao esclarecimento das vantagens e consequumlecircncias ambientais do empreendimento refletiraacute
as conclusotildees daquele Eacute a parte mais compreensiacutevel do processo esclarecedor para o
administrador e o puacuteblico
O estudo de impacto ambiental deve ser elaborado antes da instalaccedilatildeo da obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradaccedilatildeo do meio ambiente O
escopo principal do estudo de impacto ambiental eacute a prevenccedilatildeo ambiental e evitar que os
interesses imediatos dos proponentes de um projeto se revelem posteriormente prejudiciais
ao meio ambiente Preconiza a obrigaccedilatildeo de se levar em consideraccedilatildeo o meio ambiente na
tomada de decisotildees puacuteblica ou privada Ainda tem por objetivos a transparecircncia
administrativa por parte do poder puacuteblico e dos proponentes quanto aos efeitos ambientais
de determinado projeto a consulta aos interessados atraveacutes da participaccedilatildeo da
comunidade envolvida no processo e a motivaccedilatildeo da decisatildeo ambiental que obriga o oacutergatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
81
puacuteblico a fundamentar uma decisatildeo que natildeo seja exatamente a melhor para a preservaccedilatildeo
ambiental
251 IMPACTOS DE PROJETOS DESENVOLVIMENTISTAS
Prever impactos em relaccedilatildeo a um projeto de qualquer tipo destinado a uma
determinada regiatildeo17 e a um siacutetio ou gleba em particular trata-se de uma operaccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica multidisciplinar de grande importacircncia Trata-se de uma maneira de revelar o niacutevel
de esclarecimento atingido pela sociedade do paiacutes em relaccedilatildeo agrave capacidade de antever
quadros futuros da organizaccedilatildeo espacial de seu territoacuterio18 Aleacutem disso indica o niacutevel de
forccedila de pressatildeo social pelos grupos mais esclarecidos para fazer bom uso dos
instrumentos legais de cultivo da qualidade ambiental e do ordenamento territorial Prever
impactos consiste inclusive em um excelente meacutetodo para avaliar o potencial da legislaccedilatildeo
existente e sua aplicabilidade em casos reais
Segundo ABrsquoSAacuteBER (1994) para que se possa realizar um estudo dos impactos
causados por determinado projeto eacute necessaacuterio entender o espaccedilo total no qual estaacute
inserido em relaccedilatildeo a um siacutetio de implantaccedilatildeo e a uma regiatildeo de localizaccedilatildeo Torna-se
imprescindiacutevel o conhecimento da estrutura da composiccedilatildeo e da dinacircmica dos
acontecimentos que caracterizam o espaccedilo total da regiatildeo proposta O diagnoacutestico do
proacuteprio local de implantaccedilatildeo do projeto eacute bastante vaacutelida mas ainda mais importante
consiste a anaacutelise do seu entorno em curto meacutedio e longo prazo Portanto o conceito de
espaccedilo total perante qualquer projeto a ser inserido em qualquer aacuterea de um territoacuterio
torna-se de grande significado para uma correta previsatildeo de impactos
ABrsquoSAacuteBER (1994) define espaccedilo total como o arranjo e o perfil adquiridos por uma
determinada aacuterea em funccedilatildeo da organizaccedilatildeo humana que lhe foi imposta ao longo dos
tempos O espaccedilo total inclui todo o conjunto dos componentes inseridos pelo homem no
17 Utiliza-se aqui o conceito de regiatildeo como uma referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e agrave extensatildeo de um certo fenocircmeno (migraccedilotildees agropecuaacuteria tecnologias de comunicaccedilatildeo renda e condiccedilotildees de vida condiccedilotildees de habitaccedilatildeo divisatildeo do trabalho) (DIAS e SANTOS 2003) 18 O conceito de territoacuterio eacute usado como referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e extensatildeo dos fenocircmenos Eacute tambeacutem pensado como aquilo que eacute controlado por um certo tipo de poder Representa o espaccedilo definido e delimitado por relaccedilotildees de poder podendo existir e ser construiacutedo nas diferentes escalas (DIAS e SANTOS 2003)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
82
decorrer da histoacuteria na paisagem19 de uma aacuterea considerada participante de determinado
territoacuterio
De acordo com SANTOS (1982) cada vez que a sociedade passa por um processo
de mudanccedila na economia nas relaccedilotildees sociais e poliacuteticas a paisagem se modifica para se
adaptar agraves novas necessidades da sociedade Essas transformaccedilotildees no entanto satildeo
somente parciais As mudanccedilas sociais natildeo provocam obrigatoriamente ou automaticamente
modificaccedilotildees na paisagem A paisagem representa diferentes momentos no
desenvolvimento de uma sociedade eacute o resultado de uma acumulaccedilatildeo de tempos
SANTOS (1982) define o espaccedilo social metodologicamente a partir de trecircs conceitos
forma estrutura e funccedilatildeo Essas partes conseguem identificar-se completamente e satildeo
consideradas equivalentes constituindo o ldquotodordquo e jamais devem ser analisadas em
separado Nenhuma das trecircs categorias existe dissociada das demais e apenas sua
utilizaccedilatildeo combinada pode restituir-nos ao espaccedilo total
O espaccedilo total supotildee o movimento comum dialeacutetico e concreto da estrutura da
funccedilatildeo e da forma e para estudaacute-lo eacute preciso levar em consideraccedilatildeo todas as estruturas
que a compotildeem e que em conjunto ou isoladamente a reproduzem Por esse motivo para
fim de previsatildeo de impactos de projetos em determinado espaccedilo total cada caso eacute particular e
apresenta determinada abrangecircncia a considerar os sistemas ecoloacutegicos naturais e antroacutepicos
Em cada eacutepoca ou processo histoacuterico o espaccedilo total de uma regiatildeo apresenta uma
acumulaccedilatildeo de implantaccedilotildees e infra-estruturas Entretanto segundo ABrsquoSAacuteBER (1994)
para trabalhos de previsatildeo de impactos futuros seraacute sempre na circunstacircncia do presente
que as combinaccedilotildees de fatos e atividades produzidas pelo homem pela sociedade e pela
economia teratildeo maior interesse
A aacuterea do entorno de qualquer projeto atraveacutes de suas vias populaccedilatildeo qualidade do
ar qualidade das aacuteguas qualidade dos solos e demais condicionantes consistem os
principais elementos para a prevenccedilatildeo de impactos A prevenccedilatildeo passa a ser um ato de
tomada de precauccedilotildees para assegurar harmonia e compatibilizar funccedilotildees no interior do
espaccedilo total no futuro limitando as expectativas dos especuladores e gananciosos do
sistema capitalista
19 O termo paisagem eacute usado aqui como o suporte geoecoloacutegico e bioecoloacutegico modificado por uma infinidade variaacutevel de obras e figuras humanas (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
83
A tarefa de perceber os impactos em processo constitui o ponto de partida para a
previsatildeo dos possiacuteveis impactos acarretados por objetos de diferentes tipos tais como
novas induacutestrias hidreleacutetricas novas estradas e rodovias sistema viaacuterio mais denso
ferrovias e projetos intra-urbanos e interurbanos
Enfim detectar mudanccedilas na organizaccedilatildeo do espaccedilo visto em sua totalidade ajuda a compreender situaccedilotildees anaacutelogas ou prever mecanismos similares que podem ocorrer em outras aacutereas de um paiacutes ou territoacuterio Outrora o grande atributo cultural do homem residia em sua capacidade de reconstituir a trajetoacuteria da espeacutecie e reconstruir a histoacuteria das sociedades humanas Ao fim do segundo milecircnio identifica-se um atributo novo qual seja o de prever o impacto das accedilotildees dos homens e da economia sobre o futuro em diferentes dimensotildees e profundidades de tempo (ABrsquoSAgraveBER 199435)
Segundo ABrsquoSAgraveBER (1994) todo espaccedilo geograacutefico20 eacute resultado de uma
acumulaccedilatildeo mais curta ou mais longa de processos histoacutericos cumulativos decorrentes do
desempenho de diversos atores sociais Quando considerado na totalidade o espaccedilo
geograacutefico apresenta um caraacuteter de acumulaccedilatildeo de processos culturais acima de tudo
construtivos ora muito agressivos ora apenas interferentes ora dotados de uma espeacutecie de
auto-organizaccedilatildeo que envolve diferentes niacuteveis de acomodaccedilatildeo Envolve trecircs dimensotildees
baacutesicas uma piracircmide social projetada sobre o espaccedilo total uma acumulaccedilatildeo de infra-
estruturas e um sistema de relaccedilotildees humanas vinculadas ao regime social e poliacutetico vigente
Os paiacuteses em desenvolvimento das regiotildees tropicais estatildeo sujeitos agraves grandes
desigualdades provenientes desse processo em virtude dos territoacuterios de dimensotildees
continentais e de regiotildees geoeconocircmicas de roteiro histoacuterico diferenciado Qualquer engano
de avaliaccedilatildeo ou previsatildeo dos impactos pode ocasionar danos irreparaacuteveis para o futuro da
regiatildeo da sociedade e do paiacutes
Para fim de avaliaccedilatildeo de impactos de projetos desenvolvimentistas nesses paiacuteses
ABrsquoSAgraveBER (1994) afirma a necessidade de ampliar as consideraccedilotildees sobre a estrutura a
composiccedilatildeo soacutecio-econocircmica e a funcionalidade da sociedade nos diferentes tipos de
espaccedilo geograacutefico Aleacutem disso destaca como meacutetodo de anaacutelise complementar os estudos
realizados por Bernard Kaiser da Universidade de Toulouse (1966) sobre a tipologia dos
espaccedilos em tais paiacuteses Kaiser identificou por vaacuterios criteacuterios a existecircncia de regiotildees em
20 Entende-se por espaccedilos geograacuteficos de um paiacutes de dimensotildees continentais aquelas ceacutelulas espaciais dinacircmicas nas quais agrave organizaccedilatildeo herdada da natureza se sobrepocircs ou instalou uma certa organizaccedilatildeo imposta pelos homens (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
84
vias de desenvolvimento regiotildees em processo ativo de planificaccedilatildeo regional regiotildees de
especulaccedilatildeo agriacutecola bacias urbanas e por fim regiotildees auto-organizadas ou de
organizaccedilatildeo complexa O Brasil consistia um paiacutes em que se podia encontrar toda essa
tipologia de espaccedilos geograacuteficos e sociais diferenciados
A classificaccedilatildeo de Kaiser para efeito de previsatildeo de impactos apresenta-se dividida
da seguinte maneira 1) espaccedilos naturais predominantemente florestados 2) espaccedilos de
especulaccedilatildeo agraacuteria em aacutereas de razoaacutevel desenvolvimento econocircmico e social em grande
contraste com a devastaccedilatildeo das coberturas vegetais primaacuterias 3) espaccedilos sob
planejamento ativo no Nordeste do Brasil e na Amazocircnia com subsiacutedios atomizados por
intermeacutedio da Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e da
Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia (SUDAM) 4) espaccedilos dotados de
bacias urbanas agigantadas pelo desdobramento histoacuterico de redes urbanas sob comando
econocircmico e poliacutetico de grandes metroacutepoles 5) regiotildees auto-organizadoras que em face de
uma evoluccedilatildeo histoacuterica e econocircmica oportuna de aproveitamento de recursos naturais foi
possiacutevel adotar atributos e infra-estruturas modernizantes 6) espaccedilos de sutura e
pioneirismo tardio 7) espaccedilos de organizaccedilatildeo incompleta perturbados pelo ritmo e
irregularidades do clima semi-aacuterido quente 8) espaccedilos costeiros de especulaccedilatildeo para lazer
turismo de temporada e segunda residecircncia
As regiotildees costeiras e de especulaccedilatildeo para lazer e turismo uacuteltima classificaccedilatildeo
tipoloacutegica definida por Kaiser para efeito de avaliaccedilatildeo de impactos nos paiacuteses em
desenvolvimento consistem o objeto do presente trabalho Ao longo da ampla faixa litoracircnea
atlacircntica do paiacutes desenvolveu-se um tipo de espaccedilo superpartilhado e superdesejado para
atividades muacuteltiplas de lazer
Balneaacuterios de diversos padrotildees de organizaccedilatildeo e em diferentes estaacutegios de implantaccedilatildeo ocorrem lado a lado com loteamentos especulativos situados mais proacuteximos ou mais distantes da faixa das praias Cidades turiacutesticas e balneaacuterias com excesso de casas e apartamentos enquanto se vende a imagem de uma natureza deslumbrante mas que na verdade estaacute totalmente comprometida pelos proacuteprios planos de loteamento e urbanizaccedilatildeo glebas agrave espera de valorizaccedilatildeo condomiacutenios fechados que privatizam praias ilegalmente e espaccedilos de antigas colocircnias de pesca sendo invadidos ponto a ponto por residecircncias de lazer projetos de loteamento ou edificaccedilotildees agrave espera do aval dos oacutergatildeos de meio ambiente satildeo alguns dos processos selvagens de expansatildeo de uma fronteira caoacutetica de lazer na costa de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Santa Catarina Espiacuterito Santo e Rio Grande do Sul (ABrsquoSAgraveBER 199444)
Todo o espaccedilo costeiro brasileiro acabou comprometido pelos negoacutecios imobiliaacuterios e
pela seduccedilatildeo dirigida para pressionar populaccedilotildees tradicionais natildeo capacitadas a entender o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
85
significado do dinheiro na esfera do capitalismo anocircmalo A faixa litoracircnea caracterizou a
imagem de um sistema desigual de trocas onde aacutereas de grande valor satildeo compradas por
pouco e vendedores ingecircnuos acabam-se tornando os futuros favelados das grandes
cidades vizinhas O conflito entre os diversos interesses em jogo nesses casos acaba por
agravar ainda mais a situaccedilatildeo Em nenhum outro espaccedilo fiacutesico e ecoloacutegico do paiacutes eacute mais
necessaacuterio utilizar as teacutecnicas e meacutetodos de previsatildeo de impactos do que nas regiotildees
costeiras onde se alternam setores turiacutesticos grandes aglomeraccedilotildees urbanas postos e
distritos industriais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
86
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
31 GLOBALIZACcedilAtildeO E A NOVA FUNCcedilAtildeO DAS CIDADES
Com a Revoluccedilatildeo Industrial as cidades reafirmam seu papel como centro de
moradias serviccedilos e cultura e aos poucos vecircm se adaptando agraves mudanccedilas que incidem no
mundo com a globalizaccedilatildeo O conjunto de acontecimentos processos e agentes externos
de uma cidade terminam sempre por penetrar e influenciar o sistema urbano
independentemente se tais efeitos satildeo desejaacuteveis ou natildeo O advento da globalizaccedilatildeo
aumentou a velocidade com que se sucedem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas alteraccedilotildees econocircmicas e socioculturais dificultam a previsatildeo de suas
implicaccedilotildees nas cidades
Consequumlentemente tambeacutem no planejamento urbano torna-se difiacutecil conciliar essas
transformaccedilotildees com o processo construtivo de uma cidade Por este motivo eacute preciso
identificar essas mudanccedilas em curso e avaliar a importacircncia dos impactos destas no
desenvolvimento urbano GUumlELL (1997) afirma que dentre as mudanccedilas ocasionadas pela
globalizaccedilatildeo as principais dizem respeito a aspectos geopoliacuteticos econocircmicos sociais e
tecnoloacutegicos Tais mudanccedilas interferem natildeo somente as grandes cidades mas tambeacutem as
pequenas e meacutedias cidades
No campo geopoliacutetico a situaccedilatildeo atual se caracteriza por uma convivecircncia
contraditoacuteria entre as forccedilas da globalizaccedilatildeo e as da fragmentaccedilatildeo por uma necessidade de
as naccedilotildees preservarem sua diversidade e soberania frente agraves pressotildees globalizadoras
exercidas pelos agentes econocircmicos
A nova ordem econocircmica por sua vez eacute determinada pela globalizaccedilatildeo dos
mercados pelo impulso de intercacircmbios comerciais e aumento da competitividade
empresarial que pedem novas referecircncias para o funcionamento das bases econocircmicas
das cidades Atualmente torna-se necessaacuteria a melhoria do niacutevel de competitividade das
empresas locais o aumento das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas a penetraccedilatildeo nos mercados
exteriores e a capacitaccedilatildeo de matildeo-de-obra
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
87
Por outro lado a nova ordem econocircmica acarreta modificaccedilotildees nas estruturas
sociais jaacute que impotildee aos governos locais desenvolver uma poliacutetica de prevenccedilatildeo e
antecipaccedilatildeo dos problemas sociais intervindo em aacutereas que tradicionalmente seriam
reservadas aos governos estaduais e regionais A globalizaccedilatildeo da economia e introduccedilatildeo de
novas tecnologias nos processos de produccedilatildeo sem a aplicaccedilatildeo de mecanismos corretores
tendem a aumentar as desigualdades sociais a pobreza o desemprego e a inseguranccedila social
O novo contexto tecnoloacutegico caracterizado por aceleradas mudanccedilas requer que as
pessoas sejam capazes de assumir e adaptar-se a esses avanccedilos As empresas e a proacutepria
sociedade necessitam desmontar paradigmas e desenvolver novos modelos que permitam
recuperar a convivecircncia social Segundo BORJA e CASTELLS (2000) a revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica organizada em torno da tecnologia da informaccedilatildeo encontra-se no centro de
todas essas transformaccedilotildees O processo de globalizaccedilatildeo da economia e a comunicaccedilatildeo
modificaram nossas formas de produzir consumir informar e pensar a partir da nova infra-
estrutura tecnoloacutegica
El planeta es asimeacutetricamente interdependiente y esa interdependencia se articula cotidianamente em tiempo real a traveacutes de las nuevas tecnologiacuteas de informacioacuten y comunicacioacuten en un fenoacutemeno histoacutericamente nuevo que abre de hecho una nueva era de la historia de la humanidad la era de la informaciograven21 (BORJA e CASTELLS 200021)
A capacidade de acumulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo capitalista passou a organizar a
economia mundial segundo a interaccedilatildeo e relacionamento entre os espaccedilos urbanos locais
regionais e mundiais De acordo com LOPES (1998) as mudanccedilas decorrentes da
globalizaccedilatildeo expandiram esse processo e criaram uma nova realidade econocircmica social e
poliacutetica onde as cidades ganharam novas funccedilotildees em uma sociedade integrada em rede
Essa rede mundial eacute constituiacuteda a partir de centros especiacuteficos de controle da economia
mundial designados ldquocidades globaisrdquo22 que tendem a incorporar outros centros financeiros
regionais e secundaacuterios na medida em que a escala do controle se expande
As novas funccedilotildees criadas para as cidades originaram o espaccedilo das cidades
mundiais que se caracteriza pelo ambiente competitivo entre as cidades Dentro deste
21 O planeta eacute assimetricamente interdependente e essa interdependecircncia se articula cotidianamente em tempo real atraveacutes das novas tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em um fenocircmeno historicamente novo que abre de fato uma nova era da histoacuteria da humanidade a era da informaccedilatildeo 22 Expressatildeo cunhada por Saskia Sassen em 1991 para designar os pontos nodais dos fluxos financeiros a partir dos quais se obteacutem um controle global dos mercados financeiros secundaacuterios dado que o investimento estrangeiro ocorre cada vez mais segundo o mercado de accedilotildees e de tiacutetulos (COMPANS 2001106)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
88
contexto as cidades estabelecem entre si relaccedilotildees hieraacuterquicas de poder determinadas
pela competiccedilatildeo dos espaccedilos As cidades buscam a ampliaccedilatildeo de seu espaccedilo de comando
e controle a partir de especializaccedilotildees que lhes decircem uma vantagem competitiva para atingir
uma abrangecircncia de accedilatildeo mundial cujo sucesso definiraacute sua posiccedilatildeo hieraacuterquica
Em contrapartida agraves novas funccedilotildees de articulaccedilatildeo e controle as cidades passam a influir nas opccedilotildees estrateacutegicas das empresas a partir de posicionamentos urbanos fiscais econocircmicos e sociais As accedilotildees estrateacutegicas no acircmbito das cidades satildeo definidas dentro da loacutegica do mercado em sobreposiccedilatildeo agrave loacutegica do cidadatildeo que sempre comandou a evoluccedilatildeo urbana A caracteriacutestica principal desse processo eacute a primazia do global sobre o local na busca de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas (LOPES 199838)
As novas funccedilotildees da cidade mundial geram problemas ineacuteditos a serem enfrentados
ao mesmo tempo em que abrem novos horizontes de desenvolvimento econocircmico e social
Tais problemas constituem expansotildees das funccedilotildees normais da cidade geradas pela
globalizaccedilatildeo de espaccedilo local a centro articulador de economias regionais nacionais e
internacionais A inserccedilatildeo da cidade no conjunto de economias interdependentes define a
especializaccedilatildeo de suas novas funccedilotildees e as transformaccedilotildees a elas inerentes
Veremos a seguir como as novas funccedilotildees atribuiacutedas agraves cidades influenciam no
processo de planejamento urbano gerando a reproduccedilatildeo de cidades-modelo cujo principal
objetivo eacute tornarem-se atraentes para o capital e obter sua posiccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
32 ESTRATEacuteGIAS DAS CIDADES PARA AS NOVAS FUNCcedilOtildeES URBANAS
O planejamento urbano direcionado pelo Estado e executado no Brasil nas primeiras
deacutecadas do seacuteculo XX fundamentava-se no controle racional e centralizado das poliacuteticas
puacuteblicas urbanas Na deacutecada de 1970 o planejamento urbano passou por uma seacuterie de
questionamentos acerca do encaminhamento das accedilotildees realizadas no espaccedilo A urbanizaccedilatildeo
acelerada originou a necessidade de maior mobilizaccedilatildeo de recursos por parte dos governos
locais que atendessem agraves demandas da populaccedilatildeo por serviccedilos puacuteblicos O niacutevel de
atendimento a essas demandas segundo LOPES (1998) eacute definido pela competitividade da
cidade na produccedilatildeo de bens e serviccedilos jaacute que a capacidade de cobranccedila de impostos estaacute
diretamente vinculada ao ritmo de acumulaccedilatildeo de riqueza Torna-se necessaacuterio ampliar a
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
89
capacidade de acumulaccedilatildeo de riquezas a niacuteveis compatiacuteveis com o crescimento dos tributos
locais que satildeo necessaacuterios para o atendimento dessas demandas
Essa questatildeo originou um novo modelo de planejamento fundamentado na ideacuteia de
cidade como maacutequina de produzir riquezas onde o termo dominante eacute a gestatildeo
empresarial O conceito de fundamentalismo de mercado vem sendo utilizado pelo
neoliberalismo para referir-se a uma ideologia com pretensotildees universais e inquestionaacuteveis
que defendem o domiacutenio absoluto da economia e do mercado sobre as esferas poliacuteticas
sociais e culturais do mundo globalizado
A concepccedilatildeo de cidade como categoria funcional nos moldes da produccedilatildeo industrial
acabou entatildeo substituiacuteda pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Aleacutem da competiccedilatildeo pela
produccedilatildeo e consumo declara-se uma disputa entre as cidades para tornarem-se espaccedilos
atraentes para o capital Na anaacutelise de ARANTES (2000) tal pensamento se manifesta na
convergecircncia entre governantes burocratas e urbanistas de que cada oportunidade de
renovaccedilatildeo urbana possa ser uma possibilidade de elevar vantagens comparativas das
cidades no mundo global Para tanto torna-se indispensaacutevel a elaboraccedilatildeo de um Plano
Estrateacutegico capaz de gerar respostas competitivas aos desafios da globalizaccedilatildeo
ARANTES (2000) afirma que as cidades modernas sempre estiveram associadas agrave
divisatildeo social do trabalho e acumulaccedilatildeo capitalista sendo a configuraccedilatildeo espacial urbana
reflexo dessa relaccedilatildeo com a reproduccedilatildeo do capital Os efeitos da globalizaccedilatildeo sobre as
poliacuteticas de ocupaccedilatildeo do territoacuterio urbano constituem dado essencial nos caacutelculos sobre
como tornar uma cidade competitiva
Nesta nova fase do capitalismo as cidades passam a ser geridas e consumidas
como mercadoria O lugar representa um valor-de-uso para seus habitantes e valor de troca
para os interessados em extrair dele um benefiacutecio econocircmico qualquer sobretudo na forma
de uma renda exclusiva A cidade passa a ser vista como empreendimento e as poliacuteticas
urbanas satildeo entatildeo conformadas com o propoacutesito de expandir a economia local e aumentar
riquezas Assim como a orientaccedilatildeo e o controle da expansatildeo urbana foram substituiacutedos pelo
impulso de crescimento um novo tipo de profissional emergiu da metamorfose do
funcionaacuterio puacuteblico local o planejador-empreendedor
ARANTES (2000) ressalta ainda que alguns elementos tomam forccedila para dar sentido
agrave ldquofoacutermulardquo de sobrevivecircncia das cidades no mundo da competitividade extrema O padratildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
90
que vem proliferando consiste em processos de ldquogentrificaccedilatildeordquo 23 a conhecida ldquorevitalizaccedilatildeo
urbanardquo em zonas degradadas possiacutevel graccedilas agrave uniatildeo entre o setor puacuteblico e a iniciativa
privada e encarregada de promover os investimentos privados com fundos puacuteblicos
Caracteriza-se por projetos dirigidos a gerar a promoccedilatildeo do ldquoespetaacuteculordquo e da cultura ndash
como negoacutecio e mercadoria ndash e que transformam a cidade existente tornando-a mais atrativa
para novos moradores em substituiccedilatildeo aos antigos habitantes e mais interessante para o
capital internacional
o seu cenaacuterio de origem vem a ser o do movimento de volta agrave cidade no mais das vezes dando origem aos conhecidos processos de gentrification (ou ldquorevitalizaccedilatildeo urbanardquo conforme preferem falar seus promotores) em grande parte desencadeados pelo reencontro glamouroso entre Cultura (urbana ou natildeo) e Capital (ARANTES 200015)
O presente modelo de planejamento estaacute embasado no chamado ldquoculturalismo de
mercadordquo de forma que a cultura passa a constituir a acircncora identitaacuteria da nova urbaniacutestica
tornando-se negoacutecio e imagem em uma nova fonte de acumulaccedilatildeo de poder e dinheiro
LOPES (1998) confirma que na competitividade entre cidades constitui importante aspecto a
infra-estrutura fiacutesica e social associada a uma identidade cultural marcante e que torne as
cidades atraentes como local de vida O espaccedilo local eacute definido pela estruturaccedilatildeo social e
cultural que caracteriza e diferencia uma cidade da outra
ARANTES (2000) conclui que todo incremento de crescimento local mantidas as
correlaccedilotildees sociais vigentes implica em uma transferecircncia de riquezas e chances de vida
do puacuteblico em geral para grupos rentistas e seus associados As cidades na busca pela
atratividade cercam-se de aparatos culturais de alto padratildeo mas somente aqueles que
possuem condiccedilotildees poderatildeo usufruiacute-los O capital cultural incorporado nas cidades forja o
seu futuro reduzindo o futuro das aacutereas menos favorecidas
Na opiniatildeo de VAINER (2000) atualmente a questatildeo urbana tem como ponto central
a problemaacutetica da competitividade urbana Para o autor no discurso do planejamento
estrateacutegico urbano a cidade em seu conjunto e de maneira direta aparece assimilada agrave
empresa entre os elementos que presidem o empresariamento da gestatildeo urbana a
produtividade a competitividade e a subordinaccedilatildeo dos fins agrave loacutegica do mercado
23 O processo de ldquogentrificaccedilacircordquo significa praacuteticas de reapropriaccedilatildeo de espaccedilos pelo mercado atraveacutes de operaccedilotildees urbanas que lhes conferem novo valor econocircmico e simboacutelico geralmente orientando-os para o consumo de camadas meacutedias Apresentados como espaccedilos ldquorevitalizadosrdquo para fins
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
91
Competir pelo investimento de capital tecnologia e competecircncia gerencial Competir na atraccedilatildeo de novas induacutestrias e negoacutecios Ser competitivas no preccedilo e na qualidade dos serviccedilos Competir na atraccedilatildeo de forccedila de trabalho adequadamente qualificada (World Economic Development Congress amp The World Bank 1998 apud VAINER 200077)
Agir empresarialmente na cidade significa tomar decisotildees a partir das informaccedilotildees e
expectativas geradas pelo mercado Constitui a condiccedilatildeo de transposiccedilatildeo do planejamento
estrateacutegico da corporaccedilatildeo privada para o territoacuterio puacuteblico urbano Este projeto de cidade
implica direta e imediata apropriaccedilatildeo da mesma por interesses empresariais globalizados e
depende do banimento da poliacutetica da dissimulaccedilatildeo do ldquoconflitordquo e da reduccedilatildeo das condiccedilotildees
de exerciacutecio da cidadania
VAINER (2000) ainda afirma que a instauraccedilatildeo da cidade como empresa constitui a
negaccedilatildeo da cidade enquanto espaccedilo poliacutetico porque a tendecircncia liberal eacute a de contrariar o
sentido da democracia sempre que os interesses do mercado entram em conflito com os
interesses democraacuteticos Para entatildeo construir poliacutetica e intelectualmente as condiccedilotildees de
legitimaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo do poder puacuteblico agraves exigecircncias do capital internacional e local
torna-se necessaacuterio gerar um ldquopatriotismo de cidaderdquo e um consenso entre os habitantes
por meio de um sentimento de identidade adquirido atraveacutes da promessa de geraccedilatildeo de
empregos
a estrateacutegia conduz agrave destruiccedilatildeo da cidade como espaccedilo de poliacutetica como lugar de construccedilatildeo da cidadania A reivindicaccedilatildeo de poder para as comunidades e coletividades locais conquistada em uma luta travada em nome do auto-governo se consuma como abdicaccedilatildeo em favor de chefes carismaacuteticos que encarnam o projeto empresarial (VAINER 200098)
O novo conceito de planejamento impotildee a presenccedila de novos atores basicamente
do setor privado A parceria puacuteblico-privado assegura que interesses do mercado estaratildeo
presentes representados no processo de planejamento urbano pela participaccedilatildeo direta dos
empresaacuterios nos processos de decisatildeo referentes ao planejamento e agrave execuccedilatildeo das
poliacuteticas urbanas Tais parcerias permitem ao setor privado a satisfaccedilatildeo de seus interesses
junto ao poder puacuteblico Vaacuterias satildeo as formas e os mecanismos de transferecircncia dos recursos
puacuteblicos (financeiros fundiaacuterios e poliacuteticos) para os grupos privados a participaccedilatildeo privada
em agecircncias puacuteblicas e o surgimento da associaccedilatildeo empresarial com o aporte de capitais por
parte do poder puacuteblico para financiar empreendimentos de grupos empresariais privados
mercadoloacutegicos neles a populaccedilatildeo original vivencia a ldquorevitalizaccedilatildeordquo como mecanismo gerador de expulsatildeo e segregaccedilatildeo social (SAacuteNCHEZ 2001163)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
92
Para LOPES (1998) a parceria entre os governos locais e a iniciativa privada nasce
como nova necessidade As cidades que permitem oferecer maior competitividade em
termos globais agraves empresas privadas satildeo as mais procuradas para a instalaccedilatildeo dessas
empresas o que conduz a um processo de centralizaccedilatildeo das atividades econocircmicas
Cidades com fortes posiccedilotildees de mercado tecircm condiccedilotildees de atrair investimentos essenciais
ao processo de acumulaccedilatildeo A mobilidade do capital passa a exigir dos governos locais
constante apoio e suporte aos atores econocircmicos privados o que conduz a limitaccedilotildees na
administraccedilatildeo do espaccedilo urbano sob sua jurisdiccedilatildeo
A parceria puacuteblico-privado desenvolveu-se em um paracircmetro baacutesico de competitividade em funccedilatildeo da necessidade de atraccedilatildeo de agentes econocircmicos por parte das cidades A gestatildeo puacuteblica eacute cada vez mais condicionada pela loacutegica do mercado sendo uma funccedilatildeo essencial a sua capacidade de otimizaccedilatildeo da produtividade dos agentes econocircmicos localizados ou que venham a se localizar no espaccedilo da sua jurisdiccedilatildeo (LOPES 199856)
Aleacutem da parceria puacuteblico-privado o marketing urbano ou city marketing constitui
outro paracircmetro de competitividade que passa a ser determinante no processo de
planejamento e gestatildeo das cidades Trata-se de uma tentativa de construccedilatildeo de uma
imagem positiva da cidade objetivando atrair investimentos e visitantes Pode-se dizer que o
problema que existe por traacutes do marketing urbano eacute o mesmo que se encontra em qualquer
propaganda enganosa em que as qualidades do produto a ser comercializado satildeo
exageradas e possiacuteveis defeitos satildeo escondidos
Para MARICATO (2000) a dissimulaccedilatildeo da cidade em publicidade e propaganda
constitui uma representaccedilatildeo a construccedilatildeo da ficccedilatildeo Para atrair investimentos determina-se
a necessidade de criar produtos urbanos que podem ser por exemplo uma oferta cultural
ou uma imagem de cidade segura ou atrativa A venda da cidade deve estar baseada na
venda dos seus atributos especiacuteficos que constituem insumos valorizados pelo capital
transnacional O governo local deve entatildeo promover a cidade para o exterior atraveacutes de
uma imagem forte e positiva apoiada numa oferta de infra-estruturas e serviccedilos A cidade eacute
apresentada com uma imagem de cidade justa e democraacutetica acompanhada da imagem de
uma cidade segura Mas a oferta de uma cidade segura natildeo quer dizer necessariamente
seguranccedila para os que nela habitam significa a criaccedilatildeo de seguranccedila e aacutereas de isolamento
para os visitantes
A pesquisadora SAacuteNCHEZ (2003) concorda que o city-marketing contribui para a
produccedilatildeo de imagens e discursos referentes agrave cidade Dessa maneira satildeo aprovadas as
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
93
estrateacutegias de intervenccedilatildeo urbana que objetivam a construccedilatildeo do mercado e do espaccedilo
mundiais impondo e justificando o novo discurso sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo
Essa estrateacutegia global encontra uma nova dinacircmica para a reproduccedilatildeo do capitalismo A construccedilatildeo da cidade-mercadoria que sob a eacutegide do poder poliacutetico do Estado perfila-se por meio dos processos de renovaccedilatildeo urbana (como exigecircncia da economia competitiva) e por meio da construccedilatildeo de imagem para inseri-la no mercado Como mercadoria especial envolve estrateacutegias especiais satildeo produzidas representaccedilotildees que obedecem a uma determinada visatildeo de mundo satildeo construiacutedas imagens-siacutentese sobre a cidade e satildeo criados discursos referentes agrave cidade encontrando na miacutedia e nas poliacuteticas de city-marketing importantes instrumentos de difusatildeo e afirmaccedilatildeo (SAacuteNCHEZ 2003148)
Como forma de apoio ao seu discurso os governos utilizam-se de investimentos em
imagens simboacutelicas do marketing urbano internacional que guardam relaccedilotildees de
semelhanccedilas significativas entre si Tal identificaccedilatildeo segundo SAacuteNCHEZ (2003) permite
pensar que os processos de renovaccedilatildeo urbana as pautas para a gestatildeo puacuteblica das
cidades e o campo poliacutetico-institucional para a atuaccedilatildeo dos agentes guardam tambeacutem
semelhanccedilas A autora realiza uma anaacutelise de processos de renovaccedilatildeo urbana a partir da
deacutecada de 90 nas cidades de Barcelona e Curitiba segundo as poliacuteticas puacuteblicas e
estrateacutegias de ldquovendardquo efetuadas nessas cidades O estudo seraacute visto ainda neste capiacutetulo e
leva a resultados convergentes acerca de como tais cidades vecircm sendo ldquovendidasrdquo
O novo modelo de planejamento vem sendo propagado como uacutenica alternativa para
fazer frente agraves novas condiccedilotildees impostas pela cidade capitalista e pela globalizaccedilatildeo
Analisaremos em seguida as origens do planejamento estrateacutegico atraveacutes dos estudos de
GUumlELL (1997) Veremos como ocorreu sua transiccedilatildeo para o planejamento urbano e de que
maneira tal processo foi aplicado em determinadas cidades como variaccedilotildees em torno do
mesmo modelo
33 O MODELO ESTRATEacuteGICO DE PLANEJAMENTO DAS CIDADES
O conceito de planejamento estrateacutegico foi extraiacutedo da praacutetica militar e passou a ser
utilizado como instrumento empresarial a partir da segunda metade do seacuteculo XX para
posteriormente ser aplicado tambeacutem nos processos de gestatildeo e planejamento urbanos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
94
De acordo com GUumlELL (1997) no que concerne ao campo militar o termo
ldquoestrateacutegiardquo pode definir-se como a arte de conduzir um exeacutercito ateacute a presenccedila do inimigo e
dirigir as operaccedilotildees para atingir o objetivo desejado Sua aplicaccedilatildeo remonta agraves guerras das
origens da histoacuteria (haacute mais de 2300 anos) e tanto a estrateacutegia militar antiga quanto a
estrateacutegia militar moderna e contemporacircnea apresentam um aspecto em comum invariaacutevel
atraveacutes do tempo e da histoacuteria desenvolvem-se por contraposiccedilatildeo de interesses por
antagonismo entre Estados
A estrateacutegia pode entatildeo ser definida a partir de um sentido elementar e universal
como uma astuacutecia para superar os obstaacuteculos postos pela vontade do oponente Onde
existir antagonismo haveraacute estrateacutegia como meacutetodo que permite hierarquizar e classificar
accedilotildees para escolher com rapidez os procedimentos eficazes voltados a reduzir ou eliminar
as contraposiccedilotildees ou antagonismos
A aplicaccedilatildeo dos princiacutepios da estrateacutegia militar na gestatildeo empresarial deu-se
efetivamente no periacuteodo poacutes-guerra momento em que as empresas tinham por objetivo
transpor seus competidores e dominar o mercado Segundo GUumlELL (1997) nas empresas
americanas Dupont de Nemours e General Motors foram incorporadas as primeiras
estrateacutegias (fixaccedilatildeo de objetivos) e taacuteticas (meios para alcanccedilaacute-los) aos planos das
empresas
GUumlELL (1997) define a estrateacutegia empresarial como um modo sistemaacutetico de
gerenciar mudanccedilas na empresa com o propoacutesito de competir em vantagem no mercado
adaptar-se ao entorno definir os produtos e maximizar os benefiacutecios Trata-se de um
processo reflexivo e criativo de elaboraccedilatildeo de uma seacuterie de estrateacutegias que buscam o
crescimento rentabilidade e eficiecircncia da empresa levando-se em consideraccedilatildeo os
aspectos fortes e fracos presentes em consideraccedilatildeo agraves ameaccedilas e oportunidades futuras
O processo metodoloacutegico do planejamento estrateacutegico empresarial compreende o
conjunto de etapas dispostas abaixo O planejamento caracteriza-se mais como um
processo circular onde tais etapas podem ocorrer simultacircnea e muitas vezes do que
necessariamente como um processo sequumlencial loacutegico como mostra a Figura 6
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
95
Anaacutelise externa
Anaacutelise do cliente
Anaacutelise competitiva
Anaacutelise do setor
Anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna
Anaacutelise de rendimento
Revisatildeo da estrateacutegia
Anaacutelise daorganizaccedilatildeo
Anaacutelise de custos
Anaacutelise de portfoacutelio
Anaacutelise de recursoshumanos
Identificaccedilatildeo e seleccedilatildeo da estrateacutegia
Especificaccedilatildeoda missatildeo
Identificaccedilatildeoda
estrateacutegiaalternativa
Seleccedilatildeoentre
alternativasestrateacutegicas
Implantaccedilatildeo
Revisatildeo estrateacutegica
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial Fonte Aaker apud Guumlell 199726
Anaacutelise externa implica no exame dos elementos exteriores relevantes para a
empresa com identificaccedilatildeo dos riscos e oportunidades presentes e futuras Esta
etapa se divide em quatro partes anaacutelise do cliente anaacutelise competitiva anaacutelise
do setor e anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna proporciona compreensatildeo detalhada dos aspectos da empresa de
potencial estrateacutegico com identificaccedilatildeo dos pontos fortes e fracos problemas e
restriccedilotildees Esta etapa compreende fundamentalmente a anaacutelise dos
rendimentos da estrateacutegia existente da organizaccedilatildeo interna dos custos portfolio
de produtos recursos e limitaccedilotildees financeiras
Especificaccedilatildeo da missatildeo a partir das anaacutelises anteriores eacute possiacutevel identificar os
objetivos e metas que se quer para o negoacutecio levando-se em consideraccedilatildeo
diferenciais alternativos relacionados agraves aacutereas de negoacutecios da empresa que a
diferencie dos demais competidores
Identificaccedilatildeo de estrateacutegia alternativa deduccedilatildeo de diversas alternativas estrateacutegicas
que facilitem a obtenccedilatildeo de vantagem competitiva da empresa baseada em geral
em torno de trecircs elementos diferenciaccedilatildeo baixo custo e concentraccedilatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
96
Seleccedilatildeo entre alternativas estrateacutegicas entre os criteacuterios de seleccedilatildeo cabe dar
destaque para a sensibilidade ante as oportunidades e ameaccedilas do entorno a
resposta aos objetivos da organizaccedilatildeo e a facilidade de execuccedilatildeo
Implantaccedilatildeo plano operativo que conteacutem objetivos especiacuteficos em curto prazo
necessidade de modificaccedilotildees na estrutura organizacional da empresa que se
adapte agrave nova estrateacutegia
Revisatildeo estrateacutegica determinar quando satildeo necessaacuterias a revisatildeo e mudanccedila de
estrateacutegias
GUumlELL (1997) aponta uma seacuterie de fenocircmenos que explicam a inserccedilatildeo dos
fundamentos do planejamento estrateacutegico em acircmbito urbano
1 O dinamismo derivado das mudanccedilas econocircmicas e poliacuteticas e as inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas acompanhadas das modificaccedilotildees socioculturais vecircm exigindo do
planejamento urbano novas soluccedilotildees
2 Os gestores puacuteblicos satildeo obrigados a se inclinar perante as exigecircncias de
competitividade dos diversos agentes sociais e econocircmicos que constituem os atores da cidade
3 A abertura dos mercados e a integraccedilatildeo das naccedilotildees em niacutevel global tecircm
incentivado a competitividade entre cidades que exige do planejamento capacidade de
antecipaccedilatildeo e atuaccedilatildeo ofensiva
4 Por uacuteltimo a complexidade e a inter-relaccedilatildeo dos problemas das cidades
demandam o enfoque multidisciplinar e intersetorial para superar as limitaccedilotildees dos
tradicionais planos setoriais
O ritmo com que se sucedem as mudanccedilas decorrentes do processo de globalizaccedilatildeo
acarreta dificuldades e questotildees relevantes ao planejamento e agrave gestatildeo urbana GUumlELL
(1997) acredita que apesar dos equiacutevocos conceituais cometidos nos primeiros planos
estrateacutegicos realizados nas deacutecadas de 1980 e 1990 os seus benefiacutecios ultrapassam as
desvantagens e podem ser de grande utilidade se convenientemente utilizados Ele
defende de que para evitar a vulgarizaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico eacute necessaacuterio inseri-
lo nos processos tradicionais de planejamento fiacutesico econocircmico e social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
97
Teacuterminos como orientacioacuten hacia la demanda atractivo de la oferta
urbana posicionamiento competitivo y acciones de maacuterketing que hasta hace poco quedaban restringidos al aacutembito empresarial hoy son moneda comuacuten em las administraciones locales y regionales Este naciente intereacutes em el sector puacuteblico por los conceptos de estrategia empresarial viene motivado no tanto por la corriente neoliberal em boga como por la magnitud y celeridad de los cambios socioeconoacutemicos que estan afectando de forma significativa a nuestras ciudades Esta situacioacuten haacute conducido a la exploracioacuten de nuevos enfoques em materia de planificacioacuten urbana que respondan a las exigencias emergentes entre los cuales destaca la planificacioacuten estrateacutegica por su novedad y su amplia difusioacuten24 (GUumlELL 199717)
O autor afirma que o dinamismo do entorno tem produzido uma seacuterie de
modificaccedilotildees relevantes nos instrumentos tradicionais de planejamento urbano que
capacite a atividade de planejamento a dar uma resposta aacutegil e adequada agrave nova realidade
Tais modificaccedilotildees abrangem a atividade de planejamento e gestatildeo urbana e satildeo
sintetizadas a partir dos seguintes pontos (GUumlELL 199751)
Descentralizaccedilatildeo das competecircncias urbaniacutesticas atraveacutes da transferecircncia das
competecircncias urbaniacutesticas dos governos centrais aos perifeacutericos de forma a
reforccedilar os governos regionais Esta situaccedilatildeo favorece a adaptaccedilatildeo da legislaccedilatildeo
urbaniacutestica agraves peculiaridades de cada regiatildeo debilitando o planejamento
centralizado
Participaccedilatildeo dos agentes de desenvolvimento econocircmico nas decisotildees
urbaniacutesticas atraveacutes dos agentes econocircmicos puacuteblicos e privados que atuam de
forma direta por meio das suas atividades produtivas ou indireta por meio do
desenvolvimento de infra-estruturas
Crescente participaccedilatildeo dos movimentos sociais no urbanismo atraveacutes da
intervenccedilatildeo da sociedade civil no processo de desenvolvimento urbano Os
movimentos sociais canalizam as preocupaccedilotildees e desejos dos grupos cidadatildeos
24 Termos como orientaccedilatildeo segundo a demanda atrativo da oferta urbana posicionamento competitivo e accedilotildees de marketing que ateacute pouco tempo estiveram restritos ao espaccedilo das empresas satildeo hoje comuns nas administraccedilotildees locais e regionais Este crescente interesse do setor puacuteblico pelos conceitos de estrateacutegia empresarial vem motivado natildeo somente pela corrente neoliberal em voga mas tambeacutem pela magnitude e velocidade das mudanccedilas soacutecio-econocircmicas que estatildeo afetando de maneira significativa as nossas cidades Esta situaccedilatildeo tem conduzido agrave exploraccedilatildeo de novos enfoques no que se refere ao planejamento urbano que respondam agraves exigecircncias emergentes dentre os quais destaca-se o planejamento estrateacutegico por sua novidade e ampla difusatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
98
Aumento da rivalidade entre as cidades a rivalidade entre as cidades para atrair
atividades econocircmicas obriga os governos a utilizar todos os instrumentos a sua
disposiccedilatildeo incluindo os que abrangem o planejamento urbano como forma de
aumento da competitividade e atratividade
Incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na gestatildeo urbaniacutestica o aperfeiccediloamento
dos sistemas de informaccedilotildees e automatizaccedilatildeo dos procedimentos administrativos
permitem a utilizaccedilatildeo de instrumentos mais sofisticados que facilitem a tomada
de decisotildees complexas nas gestotildees urbanas
Maior exigecircncia de transparecircncia os cidadatildeos jaacute natildeo admitem mais que os
processos de planejamento e gestatildeo urbana sejam elaborados e executados
somente por um grupo de teacutecnicos e agentes econocircmicos
O conjunto de modificaccedilotildees acima citadas acarreta por sua vez a necessidade de
novo enfoque metodoloacutegico e outros instrumentos de anaacutelise Para GUumlELL (1997) eacute
necessaacuterio um projeto estrateacutegico ambicioso que cumpra com dois objetivos 1- orientar e
articular as accedilotildees setoriais empreendidas conforme um programa global 2- estimular o
conjunto da sociedade para atingir um horizonte definido
VAINER (2000) afirma que o planejamento estrateacutegico aplicado agraves cidades e
inspirado nos conceitos e teacutecnicas derivados do planejamento empresarial foi originalmente
sistematizado na Harvard Business School Segundo seus precursores deve ser adotado
pelos governos locais em razatildeo de estarem as cidades submetidas agraves mesmas condiccedilotildees e
desafios que as empresas Na praacutetica nasceu da implantaccedilatildeo do neoliberalismo nos
Estados Unidos e na Inglaterra O primeiro plano estrateacutegico foi aplicado na cidade de Satildeo
Francisco Califoacuternia nos Estados Unidos em 1982
Na anaacutelise de LOPES (1998) quanto ao modelo de Harvard o autor comprova que o
arqueacutetipo procura estabelecer a melhor forma de adaptaccedilatildeo de uma organizaccedilatildeo ao seu
meio ambiente O modelo define as forccedilas e fraquezas internas de uma organizaccedilatildeo frente
agraves ameaccedilas e oportunidades externas levando em consideraccedilatildeo o valor de sua
administraccedilatildeo e as responsabilidades sociais As estrateacutegias satildeo definidas com o objetivo de
obter vantagens em funccedilatildeo das oportunidades e minimizar as fraquezas e ameaccedilas
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
99
O planejamento estrateacutegico pode definir-se como uma forma sistemaacutetica de articular
as mudanccedilas tendo por base uma accedilatildeo integrada em longo prazo Estabelece um sistema
contiacutenuo de tomada de decisotildees que comporta um risco mas identifica o curso das accedilotildees
especiacuteficas formulando indicadores para acompanhamento dos resultados e destacando os
agentes sociais e econocircmicos locais ao longo de todo o processo
Natildeo entraremos neste trabalho na questatildeo dos meacutetodos e teacutecnicas do
planejamento estrateacutegico urbano Trataremos o tema como estrateacutegias de intervenccedilatildeo e
gestatildeo urbanas como meio para atrair investimentos eou visitantes e obter a posiccedilatildeo das
cidades em niacutevel nacional e internacional Analisaremos a seguir as estrateacutegias de
intervenccedilotildees urbanas baseadas nessas premissas e colocadas em praacutetica em trecircs cidades
Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
34 VARIACcedilOtildeES EM TORNO DE UM MESMO MODELO
341 BARCELONA E O CASO DA VILA OLIacuteMPICA
Barcelona eacute a capital da Catalunha uma regiatildeo cuja sociedade encontra-se em
constante luta de auto-afirmaccedilatildeo Segundo os estudos de SAacuteNCHEZ (2003) tal fato
contribuiu para a compreensatildeo da posiccedilatildeo poliacutetica do governo da cidade que buscou a
transformaccedilatildeo de Barcelona em ldquocidade-modelordquo dentro da Comunidade Europeacuteia
As intervenccedilotildees estrateacutegicas urbanas realizadas em Barcelona e que impulsionaram
o seu projeto de cidade tiveram iniacutecio na deacutecada de 1980 durante o governo de Pasqual
Maragall pelo Partido Socialista Maragall assumiu o poder em 1982 (apoacutes renuacutencia de
Narciacutes Serra ao cargo de alcaide) e teve seu mandato revalidado por quatro vezes
consecutivas nas eleiccedilotildees de 1983 1987 1991 e 1995 Esta sequumlecircncia poliacutetico-
administrativa foi primordial para o sucesso do seu projeto de renovaccedilatildeo urbana que atingiu
o auge com o projeto oliacutempico realizado para a futura sede das Olimpiacuteadas de 1992
No iniacutecio da deacutecada de 1980 a poliacutetica urbana adotada pelo governo municipal
comprometia-se com o ideaacuterio de equumlidade e de justiccedila social na cidade A avaliaccedilatildeo feita
por SAacuteNCHEZ (2003) mostra que nos primeiros anos do governo socialista verificou-se um
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
100
esforccedilo por parte da administraccedilatildeo puacuteblica municipal para garantir que os investimentos em
infra-estrutura fossem tambeacutem investimentos socialmente redistributivos em termos de
equalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida urbana nos espaccedilos da cidade Prevaleceram as
intervenccedilotildees em pequena escala efetivamente distribuiacutedas em todas as aacutereas perifeacutericas da
cidade Tratava-se de um ldquourbanismo defensivordquo que buscava basicamente resgatar a
normalidade administrativa e a eacutetica de gestatildeo
No final da deacutecada de 1980 iniciou-se uma etapa de aplicaccedilatildeo de intervenccedilotildees
urbanas mais ofensivas na cidade As reivindicaccedilotildees dos atores coletivos e o levantamento
das necessidades dos bairros foram reconhecidos em alguns casos sendo determinadas
definiccedilotildees projetuais e prioridades para as obras Entretanto tal situaccedilatildeo natildeo se aplicou a
toda a cidade as reivindicaccedilotildees constituiacuteram um dado a levar-se em conta no lanccedilamento
das intervenccedilotildees urbanas mas natildeo consistia elemento uacutenico para o planejamento
Em 1986 a nomeaccedilatildeo de Barcelona como sede das Olimpiacuteadas de 1992 consistiu
em decisivo fator acelerador da modernizaccedilatildeo urbana e uma justificativa para o projeto de
renovaccedilatildeo urbana desenvolvido nos anos 1980 e 1990 O projeto girou em torno das
grandes obras oliacutempicas de renovaccedilatildeo (Figuras 7 a 10) elaboradas a partir da parceria da
administraccedilatildeo puacuteblica com os setores empresariais privados
O que estava em disputa era o espaccedilo poliacutetico o sentido dado ao espaccedilo da cidade e o poder de cada instituiccedilatildeo puacuteblica ou privada sobre fragmentos da cidade que estavam sendo renovados e que seriam inseridos num mercado cujas conexotildees eram trans-escalares locais regionais nacionais e internacionais Eacute nesse periacuteodo de profunda renovaccedilatildeo urbana para os jogos oliacutempicos que eacute possiacutevel identificar a emergecircncia da cidade-mercadoria do espaccedilo da cidade concebido e renovado para um mercado global da cidade tornada uma marca um emblema dessa transformaccedilatildeo espacial (SAacuteNCHEZ 2003237)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
101
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica e Torre Telefocircnica ao fundo Foto Fernando Hayashi
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de Montjuic Vila OliacutempicaFoto Fernando Hayashi
O alegado sucesso do ldquomodelo Barcelonardquo favoreceu a difusatildeo desse conceito de
projeto aos planos desenvolvidos na Ameacutetica Latina e em particular no Brasil permitindo
identificar alguns pontos principais para os quais se voltam a accedilatildeo poliacutetica e os programas
(SAacuteNCHEZ 2003319)
A competitividade econocircmica com poliacuteticas de apoio agraves empresas a criaccedilatildeo de
emprego a atraccedilatildeo de investimentos e o city- marketing
A coesatildeo social por meio de programas de fortalecimento da identificaccedilatildeo dos
cidadatildeos atraveacutes de um ldquoprojeto de cidaderdquo com estiacutemulo ao sentido de
pertencimento a integraccedilatildeo de minorias o bem-estar social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
102
Uma melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente urbano com vistas agrave
construccedilatildeo da ldquosociedade sustentaacutevelrdquo
A modernizaccedilatildeo da gestatildeo com programas relativos a financcedilas e impostos com a
participaccedilatildeo do cidadatildeo e atendimento ao cidadatildeo
A melhoria da mobilidade atraveacutes da gestatildeo do tracircnsito dos estacionamentos e
dos transportes puacuteblicos
Infra-estrutura urbana e de telecomunicaccedilotildees com a modernizaccedilatildeo de portos
aeroportos teleportos e com projetos e operaccedilotildees urbaniacutesticas para a
reestruturaccedilatildeo urbana
A modernizaccedilatildeo e a expansatildeo do turismo urbano
O modelo de Barcelona foi difundido atraveacutes de teacutecnicas e procedimentos de
ldquotrabalho qualitativordquo onde satildeo estabelecidos cenaacuterios futuros imagens e tendecircncias para
as cidades com ecircnfase na definiccedilatildeo dos seus atributos e seu papel regional e internacional
Indicadores oferecem um panorama das accedilotildees poliacuteticas necessaacuterias criando
ldquooportunidadesrdquo para as cidades competiccedilatildeo com outras cidades expectativas relativas agrave
qualidade de vida cenaacuterios de competitividade econocircmica infra-estrutura e meio ambiente
dinacircmica demograacutefica migraccedilotildees e coesatildeo social
342 CURITIBA E SUAS INTERVENCcedilOtildeES URBANAS
A imagem de Curitiba como ldquocidade-modelordquo deu-se no iniacutecio dos anos 1970
Segundo SAacuteNCHEZ (2003) a populaccedilatildeo de Curitiba praticamente dobrou em uma deacutecada
no periacuteodo que vai de 1960 a 1970 resultante da migraccedilatildeo campo-cidade Tornou-se
necessaacuterio um Plano Preliminar de Urbanismo feito em 1965 e que propunha diretrizes de
uso do solo transporte coletivo localizaccedilatildeo industrial e aacutereas de lazer
Os Planos Diretores seguintes datados de 1966 e da deacutecada de 1970
apresentavam um modelo de expansatildeo urbana por meio de eixos estruturais ao longo dos
quais propunha-se uma soluccedilatildeo de transporte coletivo atraveacutes de canaletas exclusivas para
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
103
ocircnibus Outras propostas dos planos diziam respeito a padrotildees especiacuteficos de uso do solo
altura das edificaccedilotildees e atividades permitidas aleacutem de uma zona especial para a promoccedilatildeo
da industrializaccedilatildeo
O Plano Diretor da deacutecada de 1970 eacute marcado pelas intervenccedilotildees que deram iniacutecio agrave
formaccedilatildeo da imagem de cidade-modelo que girou em torno de Curitiba desde entatildeo a
recuperaccedilatildeo do centro com preservaccedilatildeo do Centro Histoacuterico e incentivo a determinadas
atraccedilotildees culturais e de lazer a criaccedilatildeo daquela que seria promovida como a ldquoprimeira rua de
pedestres do Brasilrdquo (o calccediladatildeo da Rua das Flores) e a criaccedilatildeo dos primeiros parques urbanos
As intervenccedilotildees urbanas desta eacutepoca caracterizaram Curitiba como siacutembolo de
inovaccedilatildeo modernidade eficiecircncia e preocupaccedilatildeo com o meio ambiente legitimando a
imagem da cidade como modelo e referecircncia entre as demais cidades brasileiras Tal
imagem comeccedilou a se impor em escala nacional a partir da deacutecada de 1970 perdeu espaccedilo
apenas por alguns anos na deacutecada de 1980 e voltou com forccedila poliacutetica na deacutecada de 1990
SAacuteNCHEZ (2003) declara que a histoacuteria deste projeto demonstra a necessidade de
conciliaccedilatildeo do planejamento urbano com o atendimento dos interesses empresariais na
busca de uma hegemonia poliacutetica que possa materializar o plano e alcanccedilar a
implementaccedilatildeo das poliacuteticas urbanas A autora coloca um conjunto de fatores explicativos
para alcance do projeto
1 A construccedilatildeo de uma coalizatildeo de interesses das elites empresariais e poliacuteticas em
torno do projeto de cidade e continuidade poliacutetico-administrativa permitiram a implementaccedilatildeo
do plano Tal continuidade deu-se atraveacutes da primeira administraccedilatildeo do prefeito Jaime
Lerner da Alianccedila Renovadora Nacional - ARENA (1971-1975) seguida por Saul Raiz do
seu mesmo grupo poliacutetico (1975-1979) para entatildeo uma nova indicaccedilatildeo agrave prefeitura por
Jaime Lerner (1979-1982)
2 A construccedilatildeo de um conjunto institucional orientado agrave implementaccedilatildeo do plano e
viabilizado por sua identificaccedilatildeo com os principais atores do ideaacuterio desenvolvimentista e
tecnocraacutetico governamental da eacutepoca
3 A construccedilatildeo de uma imagem de cidade modelo impulsionada pelo city-marketing
e atraveacutes da articulaccedilatildeo entre poliacutetica cultura miacutedia e planejamento
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
104
4 A identidade do projeto com o ideaacuterio associado a uma agenda global para as
cidades difundida nos anos 1990 a niacutevel internacional
A partir dos anos 1980 a poliacutetica de planejamento urbano de Curitiba passou a
apresentar novos atores O novo governo surgido na eacutepoca regido por duas gestotildees do
Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro - PMDB (1983-1988) promoveu uma
reorientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas urbanas voltada para a urbanizaccedilatildeo das aacutereas
perifeacutericas e construccedilatildeo de equipamentos sociais Aleacutem disso inseriu-se o planejamento
participativo em oposiccedilatildeo ao antigo planejamento tecnocraacutetico Apesar de a nova gestatildeo
poliacutetica ter representado um periacuteodo de ruptura com as gestotildees anteriores natildeo foi possiacutevel
a consolidaccedilatildeo de seu projeto poliacutetico
Os movimentos sociais de bairro e os movimentos sindicais tiveram emergecircncia e fortalecimento como atores coletivos em Curitiba questionando as poliacuteticas urbanas relativas agrave habitaccedilatildeo a transporte puacuteblico e ao saneamento Construiacuteram na eacutepoca accedilotildees poliacuteticas que foram capitalizadas pela oposiccedilatildeo para desestabilizar a hegemonia da coalizatildeo local da deacutecada anterior (SAacuteNCHEZ 2003161)
Em 1989 Jaime Lerner retomou a prefeitura da cidade com o mesmo discurso poliacutetico
e tecnocraacutetico de sucesso utilizado na deacutecada de 1970 A hegemonia de seu grupo poliacutetico
permaneceu durante todas a deacutecada de 1990 Conclui-se que em trinta anos de governos
municipais somente um periacuteodo (1983-1988) natildeo foi liderado pelo chamado ldquolernismordquo
SAacuteNCHEZ (2003) afirma que eacute da deacutecada de 1960 a criaccedilatildeo do instituto que
elaboraria e colocaria em praacutetica o plano de cidade proposto pelo governo lernista O
IPPUC- Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba nasceu de uma comissatildeo
organizada para levantar os debates em torno do plano e seu objetivo manifesto consistia
em ldquopreparar a cidade para o futurordquo A instituiccedilatildeo caracterizou-se por uma linha de
planejamento tecnocraacutetico e funcional A condiccedilatildeo tecnocraacutetica constituiacutea parte de uma
ideologia que colocava o conhecimento cientiacutefico como detentor do destino da cidade e lhe
conferia legitimidade como instrumento poliacutetico
Nesta mesma eacutepoca configurou-se uma alianccedila entre poliacuteticos e teacutecnicos do
planejamento da cidade com os empresaacuterios ligados aos grandes interesses privados Esse
conjunto compreende os atores a partir do qual eacute instaurado o projeto de cidade proposto As
mudanccedilas espaciais promovidas pelo Plano Diretor sempre foram compatiacuteveis com os
interesses dos liacutederes empresariais da cidade principalmente os vinculados aos setores
industriais imobiliaacuterios de construccedilatildeo civil e transporte puacuteblico As poliacuteticas dos planejadores
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
105
mostram uma subordinaccedilatildeo da teacutecnica agraves necessidades e imperativos das empresas atraveacutes
da violaccedilatildeo de normas relativas ao uso do solo com o objetivo de conceder a determinadas
empresas os alvaraacutes necessaacuterios para a construccedilatildeo de grandes empreendimentos
O planejamento urbano em Curitiba natildeo soacute natildeo alterou significativamente as praacuteticas espaciais dos atores privados como parece ter contribuiacutedo para conferir uma vitalidade adicional a essas praacuteticas fazendo prevalecer os interesses corporativos diante do interesse puacuteblico (SAacuteNCHEZ 2003172)
Curitiba teve a atraccedilatildeo de induacutestrias como um dos principais condicionantes para a
elaboraccedilatildeo do Plano Diretor da deacutecada de 1960 ideacuteia que originou a Cidade Industrial de
Curitiba ndash CIC caracterizada como uma poliacutetica urbana para criaccedilatildeo de um espaccedilo
favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo dos interesses do capital industrial Esta poliacutetica urbana implicava na
concessatildeo de subsiacutedios para atrair novos investimentos com a pretensatildeo de mudar a face
da economia urbana
Os programas de atraccedilatildeo de induacutestrias vinham acompanhados de uma accedilatildeo
comunicativa e veiculaccedilatildeo de imagens de uma cidade diferente e evoluiacuteda das demais no
que se refere a aacutereas de transporte infra-estrutura e lazer A construccedilatildeo simboacutelica da
identidade da cidade a partir da oposiccedilatildeo agraves demais foi fortalecida na deacutecada de 1990 A
Tabela 4 e as Figuras 11 a 14 resumem as transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e
imagens que Curitiba sofreu desde a deacutecada de 1960
PERIacuteODOGESTAtildeO POLIacuteTICAS INTERVENCcedilOtildeES IMAGENS-SIacuteNTESE
1 CIDADE PLANEJADA
2 CIDADE MODELO3 CIDADE MODERNA E HUMANA4 CIDADE MODERNA E HUMANA
5 CAPITAL ECOLOacuteGICA6 CIDADE DE PRIMEIRO MUNDO 7 CAPITAL DA QUALIDADE DE VIDA
Equipamentos culturais e de lazer 8 CAPITAL DA CULTURAFaroacuteis do Saber Ruas da 9 CIDADE LUZCidadania Memorial da Cidade
10 CAPITAL TECNOLOacuteGICA11 MELHOR CIDADE PARA FAZER NEGOacuteCIOS
2001-2004 - C Taniguchi
Atraccedilatildeo de empresas poliacuteticas sociais
12 CAPITAL SOCIAL
1997-2000 - C Taniguchi
1971-1975 -Jaime Lerner 1975-1979 - Saul Raiz
1979-1982 - Jaime Lerner
1989-1992 - Jaime Lerner
1993-1996 - Rafael Greca
Poliacuteticas ambientais reciclagem lixo aacutereas verdes poliacuteticas de atraccedilatildeo de empresas
Zoneamento transporte uso do solo atraccedilatildeo de induacutestrias renovaccedilatildeo do centro
Zoneamento uso do solo reestruturaccedilatildeo industrial plano estrateacutegico de gestatildeo atraccedilatildeo de empresas comeacutercio serviccedilos
Poliacutetica de equipamentaccedilatildeo e animaccedilatildeo cultural turismo urbano
Transporte revitalizaccedilatildeo
Eixos estruturais sistema de transporte de massa Cidade Industrial de Curitiba
Ampliaccedilatildeo sistema de transportes renovaccedilatildeo do Centro Histoacuterico reciclagens de edifiacutecios parques urbanosRenovaccedilatildeo sistema de transporte parques ciclovias equipamentos culturais e de lazer Jardim Botacircnico Oacutepera de Arame Rua 24 Horas Universidade Livre do Meio Ambiente
Infra-estrutura viaacuteria contornos infra-estrutura de apoio agraves empresas empresariamento da gestatildeo municipal eficiecircncia de serviccedilos
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba Fonte Saacutenchez (2004)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
106
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Curitiba e o mito da cidade-modelo apresentam um discurso oficial veiculado na
miacutedia nacional e internacional como centro de experimentaccedilatildeo de novos processos e centro
difusor de novos valores Uma das uacuteltimas imagens a ela associada consiste na de ldquomelhor
cidade brasileira para se fazer negoacuteciosrdquo reportagem publicada no ano 2000 pela revista
nacional Exame
343 RIO DE JANEIRO E OS PLANOS ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
A cidade do Rio de Janeiro apresenta hoje o segundo Produto Interno Bruto (PIB)
municipal do paiacutes e eacute visitada por mais de 40 dos estrangeiros que chegam ao Brasil
consagrando-se como o maior destino turiacutestico nacional Situa-se entre as vinte cidades
mais populosas do mundo com rico acervo arquitetocircnico e inestimaacutevel patrimocircnio histoacuterico
aleacutem das evidentes belezas naturais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
107
Apesar de apresentar condiccedilotildees positivas uacutenicas a intensificaccedilatildeo urbana ocorrida
apoacutes a Segunda Guerra Mundial decorrente do fluxo imigratoacuterio de outras regiotildees contribuiu
para acelerar o quadro de carecircncia e dificuldades nos setores de telecomunicaccedilotildees sauacutede
transportes e seguranccedila puacuteblica que foram distribuiacutedos de maneira diferenciada no espaccedilo
urbano A situaccedilatildeo piorou a partir da deacutecada de 1960 quando o entatildeo presidente Juscelino
Kubitschek tirou da cidade a condiccedilatildeo de Capital Federal e centro de poder decisoacuterio
econocircmico-poliacutetico Segundo os documentos do Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de
Janeiro seu primeiro plano estrateacutegico surgiu com a justificativa de reverter este quadro
negativo e destacar as qualidades da cidade
O primeiro plano intitulado ldquoRio Sempre Riordquo teve iniacutecio em 1993 no primeiro
governo do prefeito Cesar Maia eleito em 1993 atraveacutes do Partido do Movimento
Democraacutetico Brasileiro (PMDB) O plano foi publicado em 1996 e foi um dos precursores
desse tipo de planejamento no Hemisfeacuterio Sul O Rio de Janeiro tornou-se uma das
primeiras cidades a elaborar um plano estrateacutegico como instrumento de planejamento de
pacto consensual entre governo municipal e iniciativa privada
Em janeiro de 2001 ao assumir a prefeitura novamente dessa vez pelo Partido da
Frente Liberal (PFL) o governo de Cesar Maia recorreu mais uma vez a esse instrumento
de planejamento Foi lanccedilado o Plano Estrateacutegico II da Cidade do Rio de Janeiro cujo tiacutetulo
ldquoAs cidades da Cidaderdquo sugere um estudo das diversas regiotildees do municiacutepio e suas
diferenccedilas histoacutericas culturais sociais e econocircmicas
Nesta nova fase o foco deixou de ser a busca de uma nova identidade para fortalecer a cidade e inseri-la de forma competitiva no cenaacuterio mundial mas encontrar meios que pudessem indicar os caminhos em direccedilatildeo ao futuro desejaacutevel para cada regiatildeo e a partir da articulaccedilatildeo harmocircnica e conciliada desses caminhos construir uma cidade mais solidaacuteria com igualdade de oportunidades para todos (Cesar Maia Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro 2003)
Neste segundo plano estrateacutegico o municiacutepio foi dividido em 12 regiotildees e cada
regiatildeo teve seus objetivos e estrateacutegias definidas dentro da cidade a partir dos seus
potenciais (Tabela 5 e Figuras 15 a 18) O plano considera separadamente as
caracteriacutesticas tendecircncias e aspiraccedilotildees de cada regiatildeo A partir dos objetivos centrais de
cada uma delas foram estabelecidas estrateacutegias e formuladas propostas para as aacutereas
criando-se um modelo proacuteprio para cada os Planos Estrateacutegicos Regionais A escolha por
este processo buscava retratar o cenaacuterio diversificado presente no Rio de Janeiro
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
108
PLANOS
ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
OBJETIVO CENTRAL
REGIAtildeO 1 - BANGUacuteSer um poacutelo de ecoturismo e lazer resgatando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e desenvolvendo seu potencial industrial
REGIAtildeO 2 - BARRA DA TIJUCA
Ser um poacutelo de negoacutecios focado no turismo lazer e serviccedilos e um modelo de preservaccedilatildeo ambiental
REGIAtildeO 3 - CAMPO GRANDE
Ser o centro de referecircncia para o ecoturismo com enfoque nas vocaccedilotildees gastronocircmica botacircnica pesqueira e agriacutecola consolidando as diferentes expressotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
REGIAtildeO 4 - CENTROSer o centro de referecircncia histoacuterico-cultural do paiacutes consolidando as vocaccedilotildees de centro de negoacutecios centro de desenvolvimento de tecnologia e principal centro de telecomunicaccedilotildees da ameacuterica latina
REGIAtildeO 5 - GRANDE MEacuteIER
Voltar a ser a capital dos subuacuterbios cariocas como centro de comeacutercio varejista e poacutelo prestador de serviccedilos com relevo na cultura e lazer
REGIAtildeO 6 - ILHA DO GOVERNADOR
Ser a principal base de chegada do turista agrave cidade preservando a qualidade de aacuterea residencial e incrementando as atividades esportivas culturais e artiacutesticas
REGIAtildeO 7 - IRAJAacuteSer o principal centro de abastecimento da cidade e um poacutelo formador de atletasgarantindo a tradiccedilatildeo residencial e a qualidade de vida
REGIAtildeO 8 - JACAREPAGUAacute
Ser o grande centro de eventos nacionais e internacionais tendo como foco do desenvolvimento econocircmico o ecoturismo a induacutestria de alta tecnologia garantindo a tradiccedilatildeo histoacuterico-geograacutefica
REGIAtildeO 9 - LEOPOLDINA
Ser uma regiatildeo de bairros integrados resgatando a relaccedilatildeo de vizinhanccedila desenvolvendo-se a partir de induacutestrias de base tecnoloacutegica natildeo poluentes
REGIAtildeO 10 - TIJUCA VILA ISABEL
Ser um grande poacutelo de lazer cultural de ecoturismo de desenvolvimento econocircmico focado no setor de serviccedilos e comeacutercio garantindo a qualidade de vida
REGIAtildeO 11 - ZONA NORTE
Ser o grande poacutelo de comeacutercio e centro industrial natildeo poluente preservando e incrementando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e caracteriacutesticas residenciais
REGIAtildeO 12 - ZONA SUL
Ser a vitrine nacional e internacional do turismo da cultura e do lazer reforccedilando a imagem da maneira de ser carioca
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro Elaboraccedilatildeo da autora
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
109
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
O plano buscou resgatar as tradiccedilotildees locais e estabelecer diretrizes de
desenvolvimento local para as regiotildees definindo sua contribuiccedilatildeo no desenvolvimento da
cidade Na elaboraccedilatildeo do plano foi necessaacuterio estipular uma metodologia proacutepria de
trabalho por tratar-se de um processo inovador na cidade percebida como uma ldquosoma de
partesrdquo e natildeo somente como um todo como ocorre nas grandes metroacutepoles
Em 2005 ao assumir a prefeitura do Rio de Janeiro pela terceira vez novamente
pelo PFL Cesar Maia teve a possibilidade de dar continuidade ao plano estrateacutegico iniciado
na gestatildeo anterior Com vistas aos Jogos Panamericanos realizados na cidade em 2007 o
prefeito ainda realizou a execuccedilatildeo de obras e edificaccedilotildees direcionadas aos equipamentos
esportivos como parte do processo de revitalizaccedilatildeo urbana da cidade em uma versatildeo
brasileira do ldquomodelo-Barcelonardquo visto neste capiacutetulo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
110
35 CONCLUSOtildeES PARCIAIS LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
Ateacute o presente verificamos neste capiacutetulo como as mudanccedilas processos e agentes
externos das cidades reforccedilados pela globalizaccedilatildeo atribuiacuteram a elas novas funccedilotildees
urbanas O espaccedilo tornado global impotildee a necessidade de inserccedilatildeo das cidades a niacutevel
internacional e para tanto o planejamento urbano vem sendo direcionado com tal objetivo
atraveacutes de estrateacutegias urbanas voltadas ao mercado mundial
Estrateacutegias urbanas como as analisadas para Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
proporcionaram sua posiccedilatildeo como cidades globais mas ao mesmo tempo resultaram em
impactos negativos em acircmbito social econocircmico e ambiental Na conclusatildeo deste capiacutetulo
apontaremos alguns desses impactos negativos segundo as colocaccedilotildees feitas pelos
pesquisadores do planejamento estrateacutegico
As intervenccedilotildees urbanas analisadas consistiram fundamentalmente de aparatos
culturais e de um conjunto de serviccedilos e comeacutercio aliados a investimentos em infra-estrutura
que visavam agrave atraccedilatildeo de capital principalmente internacional e de usuaacuterios e visitantes
Na opiniatildeo de VAINER (2000) essas revitalizaccedilotildees urbanas natildeo satildeo direcionadas a todos
os cidadatildeos a abertura das cidades para o exterior eacute seletiva e usufruiacuteda por grupos
especiacuteficos e qualificados
O realismo da proposta fica claro quando nossos pragmaacuteticos consultores deixam claro que esta abertura para o exterior eacute claramente seletiva natildeo queremos visitantes e usuaacuterios em geral e muito menos imigrantes pobres expulsos do campo ou de outros paiacuteses igualmente pobres queremos visitantes e usuaacuterios solventes (VAINER 200080)
A pobreza e a violecircncia urbana condicionam ou influenciam nas decisotildees dos
agentes econocircmicos e na atratividade da cidade Por este motivo os pobres (nativos ou
imigrantes) constituem demanda solvaacutevel para o planejamento estrateacutegico estando
excluiacutedos dessas aacutereas revitalizadas e consequumlentemente do proacuteprio processo de
planejamento Tal situaccedilatildeo resulta tambeacutem da concentraccedilatildeo excessiva de investimentos
puacuteblicos nas aacutereas revitalizadas Os governos locais ao inveacutes de priorizar o caraacuteter social
dos investimentos puacuteblicos o fazem de acordo com os interesses privados
A limitaccedilatildeo de recursos leva a investimentos insuficientes nas regiotildees de pobreza a
favor da qualificaccedilatildeo de aacutereas urbanas especiacuteficas que permitam a sua inserccedilatildeo global Os
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
111
investimentos por parte do poder puacuteblico no campo social foram abandonados pelas
autoridades para priorizar os investimentos que visavam atrair parcerias com o poder
privado As cidades mundiais tornaram-se entatildeo fragmentadas com aacutereas adequadamente
atendidas em contraste com as aacutereas desamparadas
A qualificaccedilatildeo dessas aacutereas urbanas especiacuteficas favorece o desenvolvimento de
novos centros urbanos que satildeo determinantes no processo de segregaccedilatildeo soacutecio-espacial O
centro da cidade eacute resultado do seu processo de crescimento originaacuterio da divisatildeo social do
trabalho e da divisatildeo territorial do trabalho De acordo com MARICATO (2000) o poder
puacuteblico cria oportunidades para o surgimento dessas novas centralidades e ao mesmo
tempo designa estrateacutegias para evitar a circulaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do espaccedilo pelas pessoas
de baixo poder aquisitivo
O Estado concede maiores benefiacutecios para esses novos centros atraveacutes da
legislaccedilatildeo O zoneamento urbano concentra os privileacutegios da urbanizaccedilatildeo em determinadas
aacutereas da cidade Por exemplo demandas exageradas de transporte coletivo em uma uacutenica
direccedilatildeo Dessa forma o Estado valoriza essas regiotildees em detrimento das demais e a
escassez de espaccedilos nessas aacutereas favorece ainda mais sua valorizaccedilatildeo expulsando alguns
grupos sociais ou substituindo-os por outros gerando uma cidade segmentada Os centros
urbanos que deveriam ser vistos como espaccedilo coletivo acabam virando um privileacutegio para
poucas pessoas Os demais grupos sociais sem alternativas satildeo obrigados a morar em
corticcedilos favelas e loteamentos que se situam nas periferias e onde a pobreza eacute
homogeneamente disseminada
Agrave dificuldade de acesso aos serviccedilos e infra-estrutura urbanos (transporte precaacuterio saneamento deficiente drenagem inexistente dificuldade de abastecimento difiacutecil acesso aos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e creches maior exposiccedilatildeo agrave ocorrecircncia de enchentes e desmoronamentos etc) somam-se menos oportunidades de emprego (particularmente do emprego formal) menos oportunidades de profissionalizaccedilatildeo maior exposiccedilatildeo agrave violecircncia (marginal ou policial) discriminaccedilatildeo racial discriminaccedilatildeo contra mulheres e crianccedilas difiacutecil acesso agrave justiccedila oficial difiacutecil acesso ao lazer (MARICATO 2003152)
A sociedade global caracteriza-se por sua proacutepria loacutegica de valores universais e
potencial de geraccedilatildeo de riquezas em uma sociedade excludente natildeo soacute de cidades mas
tambeacutem de espaccedilos dentro das cidades Segundo LOPES (1998) a busca de uma nova
estrutura da sociedade urbana capaz de absorver e solucionar os problemas da
globalizaccedilatildeo envolve limites de concentraccedilatildeo e exclusatildeo proporcionais ao tamanho do
espaccedilo urbano e da populaccedilatildeo das cidades Os centros das cidades mundiais apresentam
concentraccedilatildeo de poder e riqueza que favorecem a inserccedilatildeo de agentes sociais competitivos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
112
e integrados no espaccedilo global Paralelamente essas mesmas cidades abrigam aacutereas de
exclusatildeo consideradas irrelevantes no planejamento estrateacutegico jaacute que consistem
populaccedilotildees que natildeo participam do processo de formaccedilatildeo de riqueza
As accedilotildees globais e locais interagem no sentido de criar aacutereas de prosperidade e de irrelevacircncia e exclusatildeo em espaccedilos urbanos contiacutenuos ou separados obrigando as novas formulaccedilotildees estruturais da sociedade Por outro lado as cidades assumem a funccedilatildeo primordial de arena moderna para o desenvolvimento os confrontos e as confluecircncias dos atores principais da sociedade atual (LOPES 199860)
Essa realidade acaba por criar bairros com carecircncia de empregos comeacutercio
serviccedilos e infra-estrutura A dinacircmica de exclusatildeo social tem como consequumlecircncias a
depredaccedilatildeo ambiental pela ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas protegidas e os altos iacutendices de
violecircncia e inseguranccedila As cidades mundiais consolidam a existecircncia de espaccedilos
separados para os diferentes grupos sociais O planejamento urbano ligado a uma cidade
caracterizada pela segregaccedilatildeo soacutecio-espacial reduz a diversidade que tradicionalmente
caracteriza os nuacutecleos urbanos e eacute marcado pela pobreza da vida social e pela ausecircncia
dos espaccedilos puacuteblicos
Ideologicamente a regiatildeo da cidade que concentra os investimentos puacuteblicos e as
intervenccedilotildees urbanas comeccedila a se identificar como a imagem oficial e a representaccedilatildeo da
cidade A cidade oficial consiste na parte onde o poder puacuteblico oferece investimento em
infra-estrutura equipamentos urbanos faacutecil mobilidade e acesso constituindo o espaccedilo da
minoria privilegiada A imagem desta aacuterea eacute utilizada para a ldquovendardquo da cidade e valorizaccedilatildeo
imobiliaacuteria na busca da imagem do ldquoespetaacuteculordquo e na corrida do tiacutetulo de cidade global
A segregaccedilatildeo e exclusatildeo soacutecio-espacial urbana vecircm acompanhadas de outra
consequumlecircncia da cidade global a exclusatildeo econocircmica Segundo LOPES (1998) a
informatizaccedilatildeo criou duas novas condicionantes para o processo de desenvolvimento
econocircmico a dispersatildeo geograacutefica da produccedilatildeo em funccedilatildeo da diversidade de localizaccedilatildeo
de bens e serviccedilos em termos mundiais e a difusatildeo tecnoloacutegica que abre novas e
significativas oportunidades de desenvolvimento para as diversas cidades Essas duas
condicionantes apresentam implicaccedilotildees importantes na estruturaccedilatildeo da sociedade e
acarretam novas demandas de qualificaccedilatildeo do espaccedilo urbano Na opiniatildeo de RIZZO (2005)
para integrar as cidades em suas posiccedilotildees na economia global torna-se necessaacuterio tambeacutem
integrar e estruturar suas sociedades locais ldquoSem uma base soacutelida nos cidadatildeos os
governos municipais natildeo teratildeo a forccedila que eacute necessaacuteria para navegar naqueles circuitos
globaisrdquo (RIZZO 200574)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
113
As modificaccedilotildees no mercado de trabalho constituem o efeito mais importante da
reestruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo social e dos valores culturais da sociedade Agrave medida em
que as cidades integram-se em maior ou menor grau agrave divisatildeo internacional do trabalho
ocorre uma valorizaccedilatildeo daqueles que lidam com o trabalho informacional Natildeo estar
integrado conduz a um desemprego crescente ou a uma possiacutevel desvalorizaccedilatildeo do trabalho
A integraccedilatildeo em rede aleacutem de ser um poderoso acelerador do desenvolvimento local eacute um processo altamente excludente para vastos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam irrelevantes do ponto de vista econocircmico Essa exclusatildeo envolve natildeo soacute vastas regiotildees englobando vaacuterias cidades como tambeacutem dentro das proacuteprias cidades adicionando mais um fator da nova divisatildeo internacional do trabalho A exclusatildeo econocircmica induz agrave exclusatildeo social (LOPES 199863)
A principal consequumlecircncia desse mercado de trabalho excludente eacute a informalidade A
economia informal correspondia a um fenocircmeno secundaacuterio dentro da estrutura econocircmica
das cidades ligada basicamente agrave pobreza LOPES (1998) conclui que com a nova divisatildeo
internacional do trabalho a informalidade deixa de ser uma saiacuteda para a resoluccedilatildeo dos
problemas de geraccedilatildeo de empregos e de formaccedilatildeo de riqueza das camadas mais pobres da
populaccedilatildeo para ser um fenocircmeno de adaptaccedilatildeo da sociedade aos novos requisitos da
organizaccedilatildeo informacional
O planejamento urbano das cidades globais acarreta ainda limites quanto ao papel
do Estado na administraccedilatildeo puacuteblica Para atingir o status de cidade global o Estado passa a
intervir pouco no planejamento O modelo urbano estrateacutegico baseado na loacutegica
mercadoloacutegica insere empresaacuterios e empreendedores como atores poliacuteticos O Estado perde
a sua autonomia que passa entatildeo a ser regida pelo mercado atraveacutes da financeirizaccedilatildeo das
economias e dos orccedilamentos puacuteblicos
O Estado interveacutem minimamente nas decisotildees soacutecio-econocircmicas e os grandes atores poliacuteticos satildeo empresaacuterios e investidores Essa tendecircncia na administraccedilatildeo local se confirma no crescente processo de privatizaccedilatildeo das empresas puacuteblicas na desregulamentaccedilatildeo das atividades econocircmicas e sociais e na reversatildeo dos padrotildees universais de proteccedilatildeo social O poder local composto por poliacuteticos comprometidos com a perspectiva empresarial da cidade lanccedila matildeo dos instrumentos necessaacuterios para tornar o espaccedilo urbano mais atraente baseando-se na flexibilizaccedilatildeo das leis de uso do solo e na crescente necessidade imposta pelo mercado de as cidades globais estarem constantemente inseridas no circuito do fluxo internacional de capital e informaccedilatildeo (AMEcircNDOLA 2002 disponiacutevel em httpwwwfethggfbr acesso em maio de 2006)
OLIVEIRA (2003) aprofunda esta questatildeo alegando que o planejamento urbano
regido pela loacutegica do mercado passa a ser constituiacutedo a partir do que ele denomina ldquoEstado
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
114
de Exceccedilatildeo As empresas se apropriam das poliacuteticas sociais impondo novos criteacuterios para
as mesmas pois necessitam da eficiecircncia e da produtividade das poliacuteticas puacuteblicas
resultando em uma situaccedilatildeo de exclusatildeo social O Estado dessa maneira torna-se
supeacuterfluo e passa a ser desempenhado como maacutequina de arrecadaccedilatildeo para tornar o
excedente disponiacutevel para o capital A exceccedilatildeo consiste no fato de que as poliacuteticas sociais
natildeo tecircm mais a concepccedilatildeo de mudar a distribuiccedilatildeo de renda pelo contraacuterio acabam
transformando-se em ldquoantipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobrezardquo (OLIVEIRA 200309)
O autor conclui que as cidades constituem locais por excelecircncia das exceccedilotildees e o
Estado constitui a administraccedilatildeo da exceccedilatildeo Nas relaccedilotildees entre o poder puacuteblico e o urbano
a cidade reduz-se a um espetaacuteculo onde todas as formas de planejamento almejam a
supressatildeo do conflito de classes em busca da funcionalizaccedilatildeo da cidade A sociedade
brasileira atraveacutes desse processo desenvolve-se caracterizada por uma situaccedilatildeo de
desigualdade social
Se historicamente as relaccedilotildees entre o Estado e o urbano pautaram-se por um esforccedilo de normatividade da relaccedilatildeo capital-trabalho cabendo ao planejamento enquadrar a exceccedilatildeo e transformaacute-la em norma transformaccedilotildees radicais recentes na economia e sociedade brasileiras sugerem que a exceccedilatildeo parece ter enquadrado o planejamento Agraves desigualdades histoacutericas da sociedade brasileira vieram juntar-se aquelas advindas da reestruturaccedilatildeo produtiva e da globalizaccedilatildeo reformatando o mercado funcionalizando a relaccedilatildeo Estado-capital transformando poliacuteticas sociais em antipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobreza erigindo em norma o que antes dela se afastava pontuando um esforccedilo teoacuterico que transitou da busca da normatividade para a racionalizaccedilatildeo da exceccedilatildeo (OLIVEIRA 200309)
Natildeo satildeo de hoje as criacuteticas feitas agrave administraccedilatildeo puacuteblica brasileira que sugerem sua
associaccedilatildeo ao resultado de desigualdade social caracteriacutestico de nossas cidades
MARICATO (2000) destaca que o urbanismo brasileiro natildeo tem comprometimento com a
realidade concreta mas com uma ordem que diz respeito apenas a uma parte da cidade A
administraccedilatildeo puacuteblica brasileira permite a exclusatildeo soacutecio-espacial e a legislaccedilatildeo urbana soacute eacute
aplicada quando conveniente com o objetivo de valorizaccedilatildeo do solo ldquoA ineficaacutecia dessa
legislaccedilatildeo eacute de fato apenas aparente pois constitui um instrumento fundamental para o
exerciacutecio arbitraacuterio do poder aleacutem de favorecer pequenos interesses corporativosrdquo
(MARICATO 2000147)
O Estado aleacutem de perder sua autonomia perante a influecircncia dos interesses do
mercado tambeacutem acaba enfraquecido pelos novos condicionantes impostos pela
globalizaccedilatildeo Ao dar novo sentido para o local dentro do processo de integraccedilatildeo a
globalizaccedilatildeo tornou conflituosa a relaccedilatildeo entre os diversos niacuteveis de governo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
115
Cidades e Estado apresentam interesses diversos que enfraquecem o Estado e
oferecem agraves cidades papel mais relevante A deficiecircncia da qualidade administrativa dos
governos nacional estadual e municipal conduziu a uma reestruturaccedilatildeo geral do Estado a
partir da diminuiccedilatildeo de suas funccedilotildees em paralelo agrave privatizaccedilatildeo de suas instituiccedilotildees e
serviccedilos Essa tendecircncia abriu novas perspectivas de mobilizaccedilatildeo de recursos mas criou
dificuldades de gestatildeo Segundo MARICATO (2002) as propostas que enfatizaram a
autonomia das cidades e a disputa entre elas para a atraccedilatildeo de investimentos e prestiacutegio
alimentaram a campanha de enfraquecimento do Estado-Naccedilatildeo ou pelo menos desviaram
a atenccedilatildeo dos governantes e governados sobre as poliacuteticas nacionais
Na Segunda Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos Humanos da ONU (Istambul 1996) falou-se da necessidade de criaccedilatildeo de uma OCU ndash Organizaccedilatildeo das Cidades Unidas a exemplo da ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Uma multidatildeo (sic) de argumentos procurava evidenciar a crescente importacircncia e autonomia das cidades ldquoNatildeo haacute prefeitos que tecircm mais prestiacutegio que muitos presidentesrdquo era um argumento muito ouvido Aparentemente as cidades-estado estatildeo de volta poderosas e independentes (MARICATO 200257)
Os governos locais na visatildeo de LOPES (1998) satildeo os mais aptos a administrar a
cidade na sociedade global porque possuem maior capacidade de representaccedilatildeo e
legitimidade com relaccedilatildeo aos seus representados e constituem agentes institucionais de
integraccedilatildeo social e cultural de comunidades territoriais Aleacutem disso possuem maior
flexibilidade adaptabilidade e capacidade de manobras em um espaccedilo de fluxos
econocircmicos entrelaccedilados demandas e ofertas em constantes mudanccedilas e sistemas
tecnoloacutegicos descentralizados e interativos
A partir das colocaccedilotildees vistas ateacute o presente podemos entatildeo concluir que os
resultados da aplicaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico no espaccedilo urbano apresentam nas
cidades os seguintes limites potenciais e impactos negativos em meio social econocircmico e
ambiental
1 Conflitos entre as diversas esferas de governo (cidades x Estado) devido agrave
importacircncia dada ao local no processo de integraccedilatildeo global
2 Perda da autonomia do Estado perante a influecircncia dos interesses do mercado
3 Concentraccedilatildeo excessiva de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave
revitalizaccedilatildeo urbana com consequumlente carecircncia de investimentos puacuteblicos nas
demais aacutereas
4 Direcionamento dos investimentos puacuteblicos conforme os interesses privados
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
116
sem dar prioridade ao seu caraacuteter social
5 Conflitos entre as necessidades da populaccedilatildeo local e as intervenccedilotildees urbanas
voltadas agrave inserccedilatildeo global das cidades
6 Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria das aacutereas que sofrem revitalizaccedilatildeo urbana com expulsatildeo
ou substituiccedilatildeo de grupos sociais
7 Depredaccedilatildeo ambiental decorrente da ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas
protegidas face agrave expulsatildeo de alguns grupos sociais das aacutereas revitalizadas
8 Exclusatildeo social
9 Segregaccedilatildeo soacutecio-espacial
10 Fragmentaccedilatildeo da cidade com aacutereas corretamente atendidas em contraste a
aacutereas desassistidas pelo poder puacuteblico
11 Aumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos
caracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
12 Aumento da violecircncia urbana e inseguranccedila nos bairros excluiacutedos
13 Exclusatildeo do mercado de trabalho aos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam
irrelevantes do ponto de vista econocircmico
14 Desemprego e desvalorizaccedilatildeo do trabalho
15 Propagaccedilatildeo do mercado de trabalho informal
16 Aumento das desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica
social e espacial
No seguimento deste trabalho veremos como os impactos negativos apontados
como resultantes do planejamento estrateacutegico refletem-se no caso do empreendimento
Sapiens Parque Para tanto analisaremos as avaliaccedilotildees feitas pelo Instituto de Arquitetos
do Brasil (IAB-SC) e pelas empresas responsaacuteveis pelo Estudo de Impacto Ambiental e
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) do empreendimento aleacutem da posiccedilatildeo da
comunidade local quanto agrave sua implantaccedilatildeo Ao final do trabalho cruzaremos as
informaccedilotildees obtidas com os criteacuterios e objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel designados
por SACHS (2002) e vistos no capitulo anterior segundo as dimensotildees de sustentabilidade
social ambiental e econocircmica
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
117
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
41 AVALIACcedilOtildeES DO INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL
O primeiro projeto para o empreendimento Sapiens Parque elaborado pela empresa
Ecoplan foi escolhido a partir de um Workshop patrocinado pelo grupo CERTI em 2002 O
Workshop contou com a participaccedilatildeo de arquitetos integrantes do nuacutecleo do Instituto de
Arquitetos do Brasil (IAB-SC) Segundo o documento com a avaliaccedilatildeo criacutetica referente ao
empreendimento (Anexo 1) expedido pelo grupo de arquitetos apoacutes a realizaccedilatildeo do
Workshop o Sapiens Parque apresenta singularidades que o torna um projeto uacutenico
Baseado nos conceitos de inovaccedilatildeo conhecimento e tecnologia
O empreendimento eacute proposto como um projeto ordenador que natildeo se limita
somente ao siacutetio no qual estaacute inserido colocando-se como uma nova centralidade
de requalificaccedilatildeo urbana para Florianoacutepolis baseada na preservaccedilatildeo ambiental e
na busca de qualidade de vida
O projeto procura identificar as qualidades que tornaram Florianoacutepolis uma cidade
desejada e desenvolver no conjunto de suas atividades a possibilidade de que se
torne um iacutecone para a regiatildeo o paiacutes e o mundo
O empreendimento eacute apresentado como uma forma de superar a exclusatildeo social
Os arquitetos chamam a atenccedilatildeo para alguns elementos diferenciadores com relaccedilatildeo
ao terreno onde seraacute implantado o empreendimento Por tratar-se de aacuterea pertencente a
uma empresa estadual e portanto de natureza puacuteblica destaca-se a necessidade de
identificar espaccedilos puacuteblicos atividades e equipamentos estruturadores que levem em conta
as vocaccedilotildees de Florianoacutepolis e os aspectos sociais do empreendimento Aleacutem disso o grupo
chama a atenccedilatildeo para a localizaccedilatildeo privilegiada do terreno e questiona o projeto como a
uacutenica possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e de reestruturaccedilatildeo urbana do Norte da Ilha Os
arquitetos ainda destacam o fato de o siacutetio de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estar
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
118
localizado proacuteximo ao Parque Florestal do Rio Vermelho e agrave Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
sendo necessaacuteria sua integraccedilatildeo a tais regiotildees de preservaccedilatildeo
Em entrevista concedida durante uma audiecircncia puacuteblica realizada em junho de 2004
para a discussatildeo do RIMA do Sapiens Parque a arquiteta Silvia Lenzi participante do
Workshop realizado em 2002 afirmou que o desafio do empreendimento eacute articular o projeto
com a proacutepria cidade A arquiteta chama a atenccedilatildeo para o caraacuteter puacuteblico que deve ter o
empreendimento decorrente do fato de envolver recursos e investimentos puacuteblicos
ldquoNoacutes tivemos a oportunidade de conhecer esta proposta haacute dois anos atraacutes e em um grupo de arquitetos formulamos alguns questionamentos em relaccedilatildeo a esta proposta Noacutes entendemos que eacute uma grande oportunidade para a cidade mas o grande desafio deste empreendimento eacute a articulaccedilatildeo do projeto com a cidade Existe um autor argentino que fala que devemos construir cidades concretas para homens concretos e eacute o que estaacute faltando neste projeto() Noacutes natildeo podemos mais ir na contra-matildeo da histoacuteria do urbanismo no Brasil que recentemente aprovou nem tatildeo recentemente foi no ano 2001 o Estatuto da Cidade Dentro do Estatuto da Cidade tem uma seacuterie de instrumentos inclusive um que se chama Estudo de Impacto de Vizinhanccedila onde se prevecirc toda uma anaacutelise de empreendimentos de porte muito menor do que o projeto Sapiens onde existe uma contrapartida pra cidade e pra sociedade em relaccedilatildeo ao impacto que aquele empreendimento causa Neste caso aqui o que aparece no RIMA reconhecendo-se o impacto que tem se remete toda uma responsabilidade ao poder puacuteblico Quando se fala em interesse puacuteblico eu gostaria de ter mais claro que interesse puacuteblico eacute esse do projeto quando a comunidade soacute fica com o ocircnus e natildeo tem um benefiacutecio direto em relaccedilatildeo a esta propostardquo(Arquiteta Silvia Lenzi Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
O grupo de arquitetos elaborou uma avaliaccedilatildeo criacutetica ao modelo de projeto
apresentado nas primeiras versotildees do Master Plan do Sapiens Parque baseado em
ldquoclustersrdquo25 como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Estudos de casos
de modelos semelhantes mostram aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com
consequumlente aumento da marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social Aleacutem disso a
proposta de lagos artificiais como cenaacuterio dominante do projeto tambeacutem foi considerada
segregadora jaacute que o efeito resultante reforccedila a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha
criadas (Figura 19)
25 Clusters (grupos agrupamentos ou aglomerados) satildeo concentraccedilotildees geograacuteficas de empresas de determinado setor de atividade e organizaccedilotildees correlatas de fornecedores de insumos a instituiccedilotildees de ensino e clientes (httpwwwhsmcombr acesso em 19122007)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
119
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003)
A concepccedilatildeo inicial do projeto do empreendimento mostrou-se inadequada para
cumprir as ideacuteias originais de programas propostos pelo Sapiens Parque Os arquitetos
realizaram as seguintes criacuteticas ao Master Plan 2003
As dimensotildees e natureza puacuteblica do terreno obrigam o projeto a contar com
atividades e equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
Os projetos iniciais consistem em repeticcedilotildees conceituais que poderiam estar em
qualquer lugar do mundo sem levar em consideraccedilatildeo a contextualidade local
Os projetos constituem elementos isolados do seu entorno tornando o parque um
elemento desagregador e natildeo integrador da estrutura urbana existente
A anaacutelise apresentada para o projeto natildeo inclui o estudo do comportamento do
entorno urbano imediato e do Norte da ilha restringindo-se apenas ao terreno
Os projetos defendem a monofuncionalidade de atividades que gera setores
isolados entre si
A distribuiccedilatildeo das atividades eacute feita com indiferenccedila sobre o siacutetio de implantaccedilatildeo e
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
120
dos requerimentos ambientais especiacuteficos para cada atividade
As zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar e homogecircnea
independente da atividade ali exercida e das condiccedilotildees do siacutetio
Natildeo haacute definiccedilatildeo de quais aacutereas concentram espaccedilos puacuteblicos semi-puacuteblicos e
privados e a soluccedilatildeo prevista para articular entre si estes trecircs niacuteveis de
apropriaccedilatildeo
Natildeo haacute esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teacutecnico selecionado e em
que referenciais nacionais ou internacionais o projeto foi embasado
O grupo de arquitetos defende a importacircncia da articulaccedilatildeo da cidade com as aacutereas
verdes preservadas e os espaccedilos puacuteblicos Aleacutem disso o IAB chama a atenccedilatildeo para a
necessidade de vinculaccedilatildeo do projeto com o mar e com terminais de transporte puacuteblico sem
esquecer dos problemas de infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos
A monofuncionalidade deve dar lugar a atividades variadas que permitam a
celebraccedilatildeo da cidadania e caracterizem a centralidade regional conformando uma unidade
que articule toda a regiatildeo norte da Ilha O compromisso do empreendimento deve ser o de
ldquoconstruir cidaderdquo e natildeo somente criar um parque tecnoloacutegico com algumas atividades
complementares para uso da populaccedilatildeo local
42 AVALIACcedilOtildeES DO EIA-RIMA 2003
O EIA-RIMA elaborado para avaliaccedilatildeo dos impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais
do empreendimento Sapiens Parque apresenta por base um diagnoacutestico interdisciplinar
considerado a partir das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na regiatildeo de influecircncia A
anaacutelise de acordo com as empresas Socioambiental Consultores Associados Ltda e
Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente responsaacuteveis pelo estudo parte das
interaccedilotildees dos diversos grupos soacutecio-culturais ao longo do tempo de forma a identificar
transformaccedilotildees da realidade e possibilitar o estabelecimento de tendecircncias e cenaacuterios
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
121
A aacuterea de influecircncia tida como base para os estudos apresenta-se definida pelos
responsaacuteveis na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA a partir de trecircs paracircmetros aacuterea diretamente
afetada (ADA) aacuterea de influecircncia direta (AID) e aacuterea de influecircncia indireta (AII)
Consideraram-se aacutereas diretamente afetadas pelo empreendimento os 450 hectares
situados na planiacutecie sedimentar do Distrito de Canasvieiras A regiatildeo caracteriza-se pela
baixa declividade fraca drenagem e ocorrecircncia de remanescentes de restinga arboacuterea e
banhados e tambeacutem reflorestamentos de pinus e eucalipto
A aacuterea de influecircncia direta delimita-se a partir da bacia hidrograacutefica do Rio Ratones e
tambeacutem localidades do norte e nordeste da ilha que natildeo satildeo abrangidas totalmente por esta
bacia (Ponta das Canas Canasvieiras Jurerecirc Cachoeira do Bom Jesus Ingleses Santinho
e Rio Vermelho) A regiatildeo sofreria diretamente os efeitos do projeto em particular no que
tange agrave dinamizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e agrave infra-estrutura baacutesica De acordo com os
realizadores do estudo a delimitaccedilatildeo desta aacuterea deu-se em razatildeo das caracteriacutesticas
sociais econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas do local onde se pretende inserir o
empreendimento e das particularidades e dimensotildees do projeto
Por fim a aacuterea de influecircncia indireta considerada eacute a que real ou potencialmente estaacute
sujeita aos impactos indiretos da implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo do parque e abrange
ecossistemas e sistemas soacutecio-econocircmicos que podem ser impactados por alteraccedilotildees
ocorridas na aacuterea de influecircncia direta
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para discussatildeo do RIMA a comunidade
local criticou os criteacuterios utilizados para delimitaccedilatildeo das aacutereas afetadas pelo
empreendimento As colocaccedilotildees levantadas apontam que o relatoacuterio destaca as trecircs aacutereas
de influecircncia acima especificadas mas que se dedica efetivamente agrave apenas duas delas a
aacuterea diretamente afetada que compreende o terreno de implantaccedilatildeo do parque em si e a
aacuterea de influecircncia direta que compreende basicamente o Norte da Ilha A aacuterea que
compreende o restante da Ilha seria dessa forma ignorada pelo estudo de impacto feito
Destaca-se que um empreendimento de porte e repercussatildeo como o Sapiens Parque com
previsatildeo de alcance de quase 30 mil empregos diretos natildeo poderia ser tratado com tal
classificaccedilatildeo arbitraacuteria Aleacutem disso o estudo tambeacutem ignora a ligaccedilatildeo do parque com o
Aeroporto Herciacutelio Luz que fica a 50 km ao sul do seu terreno de implantaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
122
Apesar das criacuteticas existentes com relaccedilatildeo aos criteacuterios utilizados para definir a
delimitaccedilatildeo da aacuterea de abrangecircncia do empreendimento na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA
consideramos importante para a avaliaccedilatildeo do projeto apresentar o levantamento dos
impactos apontados pelo estudo Dos 58 impactos potenciais localizados pelo EIA-RIMA 13
deles ocorrem em meio fiacutesico (sendo todos negativos) 10 ocorrem em meio bioacutetico (sendo 8
negativos) e 35 deles ocorrem em meio soacutecio-econocircmico (sendo 24 negativos e 1 tanto
negativo quanto positivo)
Os impactos foram classificados conforme seu grau de abrangecircncia em I (interno agrave
aacuterea do empreendimento ndash total de 9 impactos) L (local ou entorno proacuteximo ndash total de 7
impactos) R (regional ou Norte da Ilha ndash total de 29 impactos) e M (municipal ou
metropolitano - total de 13 impactos) Os demais criteacuterios para a classificaccedilatildeo dos impactos
dizem respeito agrave natureza do impacto (novo ampliaccedilatildeo ou antecipaccedilatildeo) ao momento de
ocorrecircncia nas fases do empreendimento (planejamento implantaccedilatildeo ou ocupaccedilatildeo) agrave
forma de manifestaccedilatildeo (direta ou indireta) ao grau de importacircncia (alto meacutedio ou baixo) agrave
magnitude (grande meacutedia ou pequena) agrave persistecircncia do impacto (temporaacuterio ou
permanente) agrave manifestaccedilatildeo (imediato a meacutedio ou longo prazo) agrave durabilidade (curto
meacutedio ou longo) ao grau de reversibilidade do efeito (reversiacutevel parcialmente reversiacutevel ou
irreversiacutevel) e agrave possibilidade de mitigaccedilatildeo e de compensaccedilatildeo direta (total parcial nenhuma
ou desnecessaacuteria)
Selecionamos aqui alguns dos principais impactos identificados relacionados na
Tabela 6 conforme o meio em que ocorrem (fiacutesico bioacutetico ou soacutecio-econocircmico) segundo os
apontamentos feitos no EIA-RIMA e com suas respectivas accedilotildees de compensaccedilatildeo ou
potencializaccedilatildeo A Tabela 6 mostra tambeacutem os efeitos de cada impacto (P= positivo e N=
negativo) A lista completa dos impactos em meio fiacutesico bioacutetico e socioeconocircmico pode ser
conferida no Anexo 2 Nos textos que seguem veremos o resultado deste estudo com
maiores detalhes
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
123
Degradaccedilatildeo da qualidade da aacutegua provocada pela drenagem N Tratamento das aacuteguas de drenagem atraveacutes de zonas de banhado (Wetlands)
eou infiltraccedilatildeo
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio do empreendimento N Sistema de tratamento de esgoto proacuteprio do empreendimento
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio da populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
N
Plano Diretor Participativo do Norte da Ilha Ampliaccedilatildeo dos sistema de tratamento puacuteblico de esgoto Melhoria da viabilidade econocircmica do sistema em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de sazonalidade da demanda Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho
Risco de perda de qualidade do manancial Ingleses Rio Vermelho por ocupaccedilatildeo pela populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Monitoramento e controle do manancial
Demanda por jazidas externas (argila e pedra) N Realizar aterro de forma seletiva Buscar fontes comerciais jaacute licenciadas
Proteccedilatildeo de ambientes originais (banhado e restinga arboacuterea) pelo Parque Natural
P _
Ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes na bacia em funccedilatildeo da pressatildeo imobiliaacuteria
NProgramas de monitoramento e controle Estabelecimento de corredores ecoloacutegicos Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor participativo do Norte da Ilha e outras ferramentas de planejamento
Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria P N Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades
Saturaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio NGestatildeo diferenciada de horaacuterios de entradasaiacuteda dos funcionaacuterios Estiacutemulo ao transporte alternativo eou solidaacuterio Ampliaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio Implantaccedilatildeo de faixa exclusiva de ocircnibus
Geraccedilatildeo de traacutefego lento por transporte de cargas (aterro e materiais de construccedilatildeo)
N Gestatildeo dos horaacuterios de transporte de forma a reduzir o impacto nos horaacuterios de pico inclusive nas pontes IlhaContinente
Demanda de aacutegua do SAPIENS PARQUE N
Reuso de esgoto tratado Captura e utilizaccedilatildeo de aacutegua de chuva Equipamentos economizadores de aacutegua Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho Ampliaccedilatildeo do sistema de abastecimento previsto pela CASAN
Atraccedilatildeo de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees P _
Pressatildeo sobre o sistema de transporte coletivo N
Fornecimento de transporte proacuteprio das empresas instaladas no Sapiens Parque Horaacuterios diferenciados de entrada e saiacuteda de funcionaacuterios Sistema de pontuaccedilatildeo de sustentabilidade para transportes alternativos Aumento da frota de ocircnibus e de linhas
Aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura esporte e lazer e de serviccedilos soacutecio-educativos
P _
Adensamento de ocupaccedilotildees ao longo das vias dificultando ampliaccedilotildees futuras do sistema viaacuterio
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Legislaccedilatildeo de alinhamento eou declaraccedilatildeo de Utilidade Puacuteblica das aacutereas estrateacutegicas Campanhas informativas Definiccedilatildeo de vias alternativas
Risco de exclusatildeo das comunidades locais frente agraves oportunidades criadas N
Acessibilidade das comunidades aos equipamentos e espaccedilos de lazer entretenimento cultura esportes e serviccedilos comunitaacuterios Programas de capacitaccedilatildeo comunitaacuterios Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
Expulsatildeo da populaccedilatildeo local por aumento da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no entorno
N Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades locais Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
Aumento de violecircncia por tensatildeo soacuteciocultural N Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local Transporte diaacuterio de matildeo-de-obra
da construccedilatildeo civil
POSSIacuteVEIS ACcedilOtildeES DE MITIGACcedilAtildeO COMPENSACcedilAtildeO OU POTENCIALIZACcedilAtildeO DOS IMPACTOS
ME
IO F
IacuteSIC
OM
EIO
BIOacute
TIC
OM
EIO
SO
CIO
EC
ON
OcircM
ICO
EFEITOPRINCIPAIS IMPACTOS POTENCIAIS
IDENTIFICADOS NO SAPIENS PARQUE
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003) Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
124
421 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO FIacuteSICO E BIOacuteTICO
Dentre os impactos em meio fiacutesico identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque
destacam-se os que estatildeo relacionados aos problemas de drenagem Segundo estudos de
hidrodinacircmica do Rio Papaquara que corre ao sul do terreno boa parte da aacuterea de
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estaacute sujeita a cheias perioacutedicas A anaacutelise das interferecircncias
causadas pelo empreendimento sobre a drenagem em funccedilatildeo da disposiccedilatildeo do sistema de
lagos do projeto tornou necessaacuteria a revisatildeo do antigo Master Plan de 2003 Segundo
MASCAROacute (1994) os lagos podem funcionar como bacias de estocagem de aacutegua em aacutereas
de inundaccedilatildeo quando necessaacuterio Mas o RIMA apontou a inadequabilidade dos lagos no
momento em que interrompem os canais de drenagem existentes Aleacutem disso a reduccedilatildeo da
superfiacutecie de inundaccedilatildeo e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o
potencial de drenagem do terreno Outro aspecto criticado no estudo diz respeito agrave
necessidade de aterros nas regiotildees edificadas do empreendimento decorrente do fato de
tratar-se de aacuterea sujeita a inundaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo ao sistema de esgoto os empreendedores prometem a soluccedilatildeo
imediata atraveacutes do encaminhamento do esgoto gerado pelo empreendimento para uma
rede coletora proacutepria de tratamento a Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto Sapiens (ETE-
SAPIENS) O objetivo eacute promover o tratamento do esgoto gerado pelo parque para possiacutevel
reuso natildeo potaacutevel posterior Entretanto esta soluccedilatildeo natildeo eacute vaacutelida para o esgoto produzido
pelos habitantes ou turistas induzidos pelo empreendimento (o RIMA estima cerca de
22000 pessoas a mais que as estimativas sem o empreendimento em 2020) O Sapiens
Parque alega que o sistema de esgotamento sanitaacuterio do Norte da Ilha realizado atraveacutes da
Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE) de Canasvieiras e de outros sistemas particulares
jaacute estaacute defasado e natildeo atende agraves demandas da populaccedilatildeo na alta temporada de veratildeo
Dessa forma segundo os empreendedores a necessidade de ampliaccedilatildeo da ETE de
Canasvieiras tornar-se-ia imprescindiacutevel independente da implantaccedilatildeo do empreendimento
Em meio bioacutetico os impactos principais consistem na supressatildeo da aacuterea aberta e da
vegetaccedilatildeo aquaacutetica decorrentes das escavaccedilotildees do lago e da implantaccedilatildeo de aterros O
Sapiens Parque defende que tais aacutereas seratildeo compensadas principalmente atraveacutes da
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno onde se pretende preservar o
ambiente autoacutectone Tanto este quanto os demais impactos negativos identificados em meio
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
125
bioacutetico (como supressatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes originais pressatildeo direta sobre a
populaccedilatildeo de jacareacutes e perturbaccedilatildeo do ambiente de lontras) apresentam como medida
compensatoacuteria principal a criaccedilatildeo e gestatildeo de um Parque Natural
Apesar da importacircncia dos impactos em meio bioacutetico internos agrave aacuterea do
empreendimento e da eficiecircncia das medidas adotadas pelo Sapiens Parque para sua
mitigaccedilatildeo consideramos de maior relevacircncia os impactos em niacutevel regional e municipal Um
dos principais impactos negativos em meio bioacutetico externos ao terreno diz respeito agrave
ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes em funccedilatildeo da pressatildeo
imobiliaacuteria
A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis em razatildeo da expectativa da implantaccedilatildeo do empreendimento e mais concretamente a partir do iniacutecio de sua real implantaccedilatildeo torna as aacutereas de ambientes fraacutegeis mais suscetiacuteveis agrave ocupaccedilatildeo humana por parte de parcela da populaccedilatildeo menos favorecida economicamente dada a valorizaccedilatildeo econocircmica das aacutereas mais adequadas para o processo de urbanizaccedilatildeo Esta parcela da populaccedilatildeo atraiacuteda por potenciais oportunidades de renda ou simplesmente expulsa por pressatildeo imobiliaacuteria das aacutereas jaacute urbanizadas natildeo encontrando imoacuteveis acessiacuteveis em aacutereas adequadas tende a ocupar aacutereas improacuteprias como vaacuterzeas banhados beiras de rios e encostas gerando prejuiacutezos aos ambientes naturais remanescentes agrave paisagem e por vezes com riscos agrave populaccedilatildeo (deslizamentos e inundaccedilotildees) (RIMA 7 200332)
O Sapiens Parque coloca essa ocupaccedilatildeo irregular como existente e tendencial na
regiatildeo e que o parque somente acarretaria a aceleraccedilatildeo desse processo Como meio de
mitigaccedilatildeo do impacto o RIMA sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor para o Norte da Ilha e
de ferramentas de planejamento que possam estabelecer mecanismos legais de
planejamento e gestatildeo do espaccedilo urbano aleacutem de programas de monitoramento que
garantam o cumprimento do zoneamento urbano O RIMA cita tambeacutem a implantaccedilatildeo do
Parque Natural do empreendimento como forma de compensaccedilatildeo desse impacto
Justificativa semelhante eacute apresentada ao constatar-se que a populaccedilatildeo induzida
pelo empreendimento poderaacute colocar em risco a qualidade do aquiacutefero de Ingleses e Rio
Vermelho principal manancial de aacutegua potaacutevel subterracircneo da Ilha O RIMA coloca que a
expansatildeo urbana da regiatildeo norte trata-se de um fenocircmeno crescente que vem gerando
ocupaccedilotildees indiscriminadas legais e ilegais de importantes aacutereas desse manancial A
especulaccedilatildeo imobiliaacuteria tende a se aprofundar na regiatildeo com a implantaccedilatildeo do
empreendimento o que levaria a um aumento da demanda por aacutereas menos adequadas agrave
ocupaccedilatildeo humana e de menor valor em virtude da saturaccedilatildeo eou valorizaccedilatildeo econocircmica
das aacutereas mais adequadas para a urbanizaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo de aacutereas improacuteprias pode vir a
comprometer a qualidade da aacutegua do manancial Mas o RIMA afirma que tal processo jaacute eacute
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
126
uma realidade e como soluccedilatildeo sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor do Norte da Ilha e o
monitoramento do manancial
Mais que a metade dos impactos identificados em meio fiacutesico e bioacutetico foram
classificados como sendo de abrangecircncia interna ou local agrave aacuterea do empreendimento Jaacute os
impactos em meio soacutecio-econocircmico foram classificados em sua totalidade como sendo de
abrangecircncia regional ou metropolitana como veremos a seguir
422 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO SOacuteCIO-ECONOcircMICO
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo norte da Ilha e tambeacutem decorrente da implantaccedilatildeo
do parque apesar de apresentar seus aspectos positivos acarreta a dificuldade do acesso agrave
moradia e expulsa as comunidades locais ou como jaacute citado no item acima favorece a
ocupaccedilatildeo sobre ambientes naturais Aleacutem disso o incremento do custo de indenizaccedilotildees
futuras em casos de necessidade de desapropriaccedilotildees por parte do interesse puacuteblico
tambeacutem constitui uma consequumlecircncia da valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria
Esses resultados sobre o meio soacutecio-econocircmico foram vistos no capiacutetulo anterior
como impulsionadores da segregaccedilatildeo social urbana caracteriacutestica dos modelos de
planejamento regidos atraveacutes da loacutegica do mercado Tais impactos negativos decorrentes da
valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e apontados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque foram justificados
mais uma vez como um quadro tendencial para a regiatildeo norte da Ilha
Certamente o empreendimento contribui com estes aspectos poreacutem esta contribuiccedilatildeo tem que ser relativizada frente agraves tendecircncias atualmente observadas quanto a estes mesmos aspectos uma vez que jaacute satildeo bastante fortes e crescentes Estas tendecircncias levam a projetar o Norte da Ilha em 2020 com uma populaccedilatildeo de aproximadamente 90 mil habitantes As projeccedilotildees com o SAPIENS PARQUE elevariam estes nuacutemeros em mais 65 atingindo entatildeo aproximadamente 96 mil pessoas frente agrave populaccedilatildeo atual de aproximadamente 55 mil habitantes A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis derivada do aumento populacional eacute portanto devida antes ao tendencial do que ao empreendimento (RIMA 7 200344)
O RIMA alega que a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e suas consequumlecircncias em meio soacutecio-
econocircmico satildeo tendenciais e independentes da implantaccedilatildeo do Sapiens Parque onde o
empreendimento influenciaria pouco e soacute teria a contribuir para esta valorizaccedilatildeo atraveacutes da
qualificaccedilatildeo do espaccedilo Essa afirmaccedilatildeo eacute dada perante a justificativa de que o projeto
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
127
acarretaraacute melhorias de infra-estrutura diferenciais de equipamentos oportunidades
serviccedilos e padratildeo do espaccedilo trazendo incremento significativo em curto e meacutedio prazo
O risco de expulsatildeo da populaccedilatildeo local natildeo eacute decorrente somente da especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria mas tambeacutem das novas oportunidades criadas pelo Sapiens Parque A criaccedilatildeo e
expansatildeo de negoacutecios consiste em um dos principais aspectos positivos levantados pelo
empreendimento Segundo o RIMA o Sapiens Parque teraacute sua distribuiccedilatildeo econocircmica
definida pela realidade de Florianoacutepolis sendo cerca de 70 do empreendimento dedicado
agraves atividades de serviccedilos e 23 agraves atividades de comeacutercio Mais que isto suas atividades
satildeo significativamente diferenciadas das atividades convencionais atuais o que implicaria
em uma ampliaccedilatildeo da base de serviccedilos e produtos evitando a saturaccedilatildeo
Por outro lado de acordo com o RIMA toda a riqueza gerada aumenta o poder de
consumo e das oportunidades de negoacutecios fora do empreendimento atingindo
principalmente os setores mais convencionais da economia da cidade e sendo tambeacutem
beneficiados pelo empreendimento Todos esses fatores favorecem para a diminuiccedilatildeo da
sazonalidade do turismo que constitui a principal atividade econocircmica de Florianoacutepolis e do
Norte da Ilha Entretanto o RIMA natildeo nega que tais oportunidades estatildeo restritas somente a
pequena parcela da populaccedilatildeo
O padratildeo de sofisticaccedilatildeo de um Parque de Inovaccedilatildeo exige uma qualificaccedilatildeo diferenciada da matildeo-de-obra em todos os niacuteveis de formaccedilatildeo Portanto apesar da grande geraccedilatildeo de empregos propiciada a absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e regional dependeraacute de sua capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo O mesmo eacute vaacutelido para os empreendedores inclusive aqueles que se encontram ou se instalaratildeo nas comunidades do entorno Por outro lado se as comunidades locais natildeo participarem destes benefiacutecios tendem a ser marginalizadas socioeconomicamente e ateacute mesmo expulsas pois o seu niacutevel de renda poderaacute ser menor que o das populaccedilotildees migrantes acarretando em dificuldades de acesso agrave moradia serviccedilos e bens de consumo (RIMA 7 2003110)
Inclusive a geraccedilatildeo de empregos levantada como o principal impacto positivo do
empreendimento em meio soacutecio-econocircmico tem seus efeitos locais reduzidos por esse
mesmo fator O RIMA faz uma estimativa completa do nuacutemero de novas vagas de emprego
que surgiratildeo com a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque desde sua fase de construccedilatildeo ateacute sua
fase de operaccedilatildeo O resultado mostra um nuacutemero de 27628 empregos diretos e de 41441
empregos indiretos somente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento em um total de
69069 empregos diretos e indiretos para todo o aglomerado urbano de Florianoacutepolis
gerados nesta fase (previsatildeo para o ano 2030)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
128
O RIMA afirma que as estimativas de novos profissionais formados em niacutevel meacutedio e
superior no aglomerado urbano de Florianoacutepolis e que estaratildeo disponiacuteveis no mercado
mostram que a capacidade de matildeo-de-obra local eacute suficiente para suprir as novas vagas de
empregos diretos do empreendimento No entanto o RIMA deixa claro que ldquoeacute importante
lembrar que as contrataccedilotildees ficam por conta das empresas que iratildeo se instalar no
empreendimento e estas seguramente iratildeo obedecer a criteacuterios de meacuterito e qualificaccedilatildeo em
suas contrataccedilotildeesrdquo (RIMA 7 200336) O documento adverte nesta e em outras passagens
do texto que tais benefiacutecios nem sempre poderatildeo ser usufruiacutedos por todos jaacute que
dificilmente essas empresas ldquoestaratildeo dispostas a contratar pessoas que possuam
qualificaccedilatildeo inadequada ou inferior a outra que natildeo seja habitante do local apenas
obedecendo a criteacuterios de origem ou criteacuterios geograacuteficosrdquo (RIMA 7 200336)
Tal situaccedilatildeo repete-se para as demais fases do empreendimento como por exemplo
para a matildeo-de-obra necessaacuteria na construccedilatildeo O parque poderaacute trazer muitos empregos
locais para o ramo da construccedilatildeo civil durante sua execuccedilatildeo mas o RIMA lembra que as
empreiteiras de fora do aglomerado metropolitano de Florianoacutepolis poderatildeo trazer seu
proacuteprio quadro de trabalhadores reduzindo esse impacto positivo do empreendimento sobre
o mercado de trabalho local
Aleacutem disso a vinda de trabalhadores de fora do aglomerado urbano de Florianoacutepolis
principalmente durante a fase de construccedilatildeo do parque acarreta impactos soacutecio-culturais
regionais de natureza negativa Satildeo elas o risco de introduccedilatildeo ou propagaccedilatildeo de doenccedilas
tropicais ou sexualmente transmissiacuteveis o aumento do risco de exploraccedilatildeo ou violecircncia
sexual e o aumento da violecircncia por tensatildeo soacutecio-cultural O RIMA coloca que estes
impactos poderiam ser mitigados atraveacutes de poliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e
campanhas educativas
Para o Sapiens Parque a natureza diversificada do empreendimento amplia a base
de oferta de matildeo-de-obra e de talentos melhorando a competitividade local para ocupar as
vagas criadas O foco no conhecimento ldquocria um ambiente de inovaccedilatildeo e capacidade
aumentando o acesso dos profissionais locais agrave qualificaccedilatildeo necessaacuteria para competir com
ecircxito pelos postos de trabalho criadosrdquo (RIMA 7 200336) Por isso o RIMA destaca que a
inserccedilatildeo dos atores locais no mercado de trabalho do parque depende da oferta de cursos e
qualificaccedilotildees para que se desenvolvam as competecircncias necessaacuterias para o desempenho
de suas funccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
129
As questotildees abordadas acima colocam em duacutevida o principal argumento a favor da
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque no que se refere agrave geraccedilatildeo de empregos Aleacutem disso
constatamos ainda uma uacuteltima colocaccedilatildeo o RIMA estima somente a quantidade de
empregos que seraacute gerada pelo empreendimento sem levar em consideraccedilatildeo os empregos
que seratildeo eliminados com a presenccedila do parque Este estudo foi ignorado pelo Sapiens
Parque jaacute que natildeo foi cumprida a lei do Estatuto da Cidade (Lei 1025701) que exige o
Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) para empreendimentos desta dimensatildeo
Um segundo impacto positivo em meio soacutecio-econocircmico foi classificado pelo RIMA
como de grande magnitude o aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos O RIMA faz um
diagnoacutestico do potencial de geraccedilatildeo direta de impostos para arrecadaccedilatildeo municipal
estadual e federal O resultado mostra um total de cerca de R$ 156 bilhotildees de impostos
gerados desde a fase de implantaccedilatildeo ateacute o iniacutecio da operaccedilatildeo do parque Desses cerca de
R$ 11 bilhotildees derivam da implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque
enquanto cerca de R$ 436 milhotildees correspondem aos impostos anuais gerados pela sua
operaccedilatildeo (Tabela 7) Essas projeccedilotildees correspondem a um valor futuro (para 2020)
podendo sofrer variaccedilotildees e sendo os impostos da fase de implantaccedilatildeo distribuiacutedos em pelo
menos 15 anos
FaseTributos gerados
consolidadosPeriacuteodo
Implantaccedilatildeo e Comercializaccedilatildeo R$ 60305953000 Em 15 anos
Equipamentos R$ 525010200 Em 15 anos
Operaccedilatildeo R$ 436691869 Anual
CONSOLIDACcedilAtildeO DOS TRIBUTOS GERADOS
R$ 156476159900 Acumulado
Apoacutes operaccedilatildeo completaAteacute final de 1ordm ano de operaccedilatildeo plena (natildeo computados impostos gerados durante operaccedilatildeo parcial)
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque Fonte RIMA-1 Sapiens Parque (200328)
O RIMA afirma que dos R$ 11 bilhotildees de impostos gerados ao longo de 15 anos
atraveacutes de implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque 71 seratildeo
direcionados ao governo federal 16 ao estadual e somente 13 ao governo municipal
Dos tributos arrecadados anualmente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento somente
6 beneficiaratildeo diretamente o municiacutepio o que corresponde a cerca de R$ 26 milhotildeesano
Em um comparativo com os impostos arrecadados pelo municiacutepio em 2002 tal valor
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
130
significaria uma parcela de 10 dos R$ 260 milhotildees em tributos arrecadados pelo municiacutepio
naquele ano
O valor arrecadado em impostos inclui tambeacutem tributos derivados do terreno para a
implantaccedilatildeo do empreendimento de propriedade da CODESC Entretanto em momento
algum o RIMA indica o ocircnus atribuiacutedo ao poder puacuteblico pela concessatildeo de um terreno
puacuteblico agrave iniciativa privada Nem tampouco estima os custos das atribuiccedilotildees dadas ao poder
puacuteblico como requisito para a implantaccedilatildeo do empreendimento
Aleacutem da geraccedilatildeo de empregos e do aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos outros
impactos positivos em acircmbito soacutecio-econocircmico foram levantados pelo RIMA aumento de
ofertas de serviccedilos especializados qualificaccedilatildeo da paisagem urbana equalizaccedilatildeo do fluxo
turiacutestico ao longo do ano com reduccedilatildeo da sazonalidade ampliaccedilatildeo da capacidade de PampD
(pesquisa e desenvolvimento) aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura
esporte e lazer aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos soacutecio-educativos e atraccedilatildeo
de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees Entretanto satildeo vaacutelidas aqui tambeacutem as
criacuteticas jaacute feitas quanto agrave possibilidade de real apropriaccedilatildeo dos equipamentos e serviccedilos
fornecidos no parque pela comunidade local
Dentre os impactos negativos apontados pelo RIMA em meio soacutecio-econocircmico
constituem impactos de pequena magnitude a pressatildeo que o empreendimento exerceraacute
sobre os serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo de sauacutede e de seguranccedila
Destacam-se a saturaccedilatildeo do sistema viaacuterio e a pressatildeo sobre o sistema de transporte
coletivo e o adensamento ao longo das vias dificultando futuras ampliaccedilotildees viaacuterias Em
todos esses casos o RIMA coloca suas implicaccedilotildees como decorrentes do crescimento
populacional no Norte da Ilha sendo que a implantaccedilatildeo do empreendimento somente
aceleraria este quadro tendencial
Da mesma maneira a demanda de aacutegua da populaccedilatildeo induzida pelo
empreendimento eacute apresentada pelo RIMA como parte de um processo tendencial de
crescimento populacional Segundo o RIMA o Sapiens Parque seraacute responsaacutevel por um
incremento populacional no Norte da Ilha de 69 e um incremento no nuacutemero de turistas de
455 (projeccedilotildees para 2020) Nesse caso o Sapiens Parque conta com as ampliaccedilotildees jaacute
previstas para a regiatildeo pela Casan (Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento) para
natildeo exceder o limite do sistema de abastecimento de aacutegua
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
131
No que se refere agrave pressatildeo sobre o sistema de energia eleacutetrica originada pelo
incremento populacional e turiacutestico o Sapiens Parque tambeacutem conta com as ampliaccedilotildees da
Celesc (Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA) previstas para a regiatildeo norte de
Florianoacutepolis O RIMA afirma que a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque possibilitaraacute um maior
nuacutemero de visitantes ao longo do ano e natildeo somente na alta temporada o que tornaraacute os
sistemas de infra-estruturas mais atrativos economicamente
Tanto os impactos no sistema de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica quanto no sistema
de distribuiccedilatildeo de aacutegua satildeo ao terreno do empreendimento Segundo o RIMA as
edificaccedilotildees do Sapiens Parque seratildeo dotadas de sofisticados sistemas de economia de
energia e de reuso da aacutegua com o objetivo de reduccedilatildeo de tais impactos
423 ATRIBUICcedilOtildeES DADAS AO PODER PUacuteBLICO
Nos textos anteriores constatamos os principais impactos negativos e positivos em
meios bioacutetico fiacutesico e soacutecio-econocircmico relacionados ao empreendimento Sapiens Parque
Mais de 70 desses impactos foram identificados pelo EIA-RIMA como sendo de
abrangecircncia regional e metropolitana
O impactos negativos identificados em meio bioacutetico e fiacutesico e internos agrave aacuterea do
empreendimento apresentam como meios de mitigaccedilatildeo accedilotildees a serem desenvolvidas pelo
proacuteprio parque Jaacute os impactos que ocorrem aleacutem do terreno do empreendimento em sua
maioria originados pelo crescimento populacional e pela valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria foram
tratados pelo RIMA como parte de um quadro tendencial da regiatildeo O RIMA coloca que as
influecircncias causadas pela implantaccedilatildeo do parque seriam de pequena magnitude dentro de
um processo existente
Com essa justificativa o Sapiens Parque atribui uma seacuterie de accedilotildees como
responsabilidade do poder puacuteblico para a viabilizaccedilatildeo do empreendimento Segundo o
RIMA parte destas atribuiccedilotildees jaacute eram necessaacuterias e previstas independente da
implantaccedilatildeo do parque Podemos verificar por exemplo que a principal compensaccedilatildeo
promovida pelo parque como forma de mitigaccedilatildeo dos impactos em meio natural consiste na
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno cujo objetivo principal eacute manter os
ambientes autoacutectones Entretanto segundo o documento do RIMA a implantaccedilatildeo do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
132
Parque Natural eacute de responsabilidade do poder puacuteblico assim como as demais atribuiccedilotildees
abaixo (RIMA 9 2003)
Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor Participativo para o Norte da Ilha
Elaboraccedilatildeo do Plano de Recursos Hiacutedricos da Bacia do Rio Ratones
Elaboraccedilatildeo e do Projeto Executivo de macrodrenagem de Canasvieiras e
Cachoeira do Bom Jesus
Ampliaccedilatildeo dos Sistemas de Abastecimento de aacutegua do Norte da Ilha a partir do
manancial CubatatildeoPilotildees
Execuccedilatildeo do Projeto de Macrodrenagem de Canasvieiras e Cachoeiras do Bom
Jesus
Teacutermino da duplicaccedilatildeo da SC-401 ateacute Canasvieiras
Duplicaccedilatildeo da SC-403 (ou alternativa equivalente)
Duplicaccedilatildeo da Av Luiz Boiteux Piazza
Implantaccedilatildeo de passarelas faixas de pedestre e semaacuteforos na Av Luiz Boiteux
Piazza
Implantaccedilatildeo das accedilotildees de cunho socioambiental durante a implantaccedilatildeo e
operaccedilatildeo da primeira fase do empreendimento
Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Interna do Sapiens Parque ou ampliaccedilatildeo da
Subestaccedilatildeo Ilha Norte e Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Ingleses
O RIMA natildeo contabiliza os custos atribuiacutedos ao poder puacuteblico mas em setembro de
2006 o Sapiens Parque anunciou que o empreendimento tem potencial para atrair
investimentos da ordem de R$ 4 bilhotildees Ateacute aquele momento haviam sido investidos cerca
de R$ 35 milhotildees em recursos proacuteprios dos acionistas e somente para a primeira fase do
empreendimento a Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis teria de fazer investimentos de
R$15 milhotildees em infra-estrutura
424 ASPECTOS LEGAIS
O licenciamento do Sapiens Parque compete ao oacutergatildeo estadual Fundaccedilatildeo do Meio
Ambiente (FATMA) Entretanto por localizar-se dentro de um raio de 10 km da Unidade de
Conservaccedilatildeo Federal Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o licenciamento do parque depende da
anuecircncia preacutevia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
133
Renovaacuteveis (IBAMA) O terreno de inserccedilatildeo do empreendimento localiza-se dentro da zona
de amortecimento da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes ficando sujeita a zoneamento e normas
especiacuteficas de uso e ocupaccedilatildeo do solo e dos recursos naturais Segundo o RIMA o projeto
do Sapiens Parque buscou contemplar as diretrizes impostas pelo Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
O RIMA ainda afirma que o projeto encontra-se dentro das leis ambientais que regem
a aacuterea referentes ao Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro agrave preservaccedilatildeo da Mata
Atlacircntica e agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o Procurador da
Repuacuteblica Valmor Alves Moreira completou os apontamentos levantados pela comunidade
tendo como preocupaccedilatildeo principal os aspectos ambientais de interesse federal O
procurador contestou o Estudo de Impacto Ambiental do Sapiens Parque com base em um
relatoacuterio produzido em Brasiacutelia por teacutecnicos da quarta Cacircmara de Coordenaccedilatildeo e Revisatildeo
ldquoBom a primeira questatildeo eacute a questatildeo ambiental a repercussatildeo nos rios de interesse federal Afinal de contas estamos em uma ilha noacutes temos aacutereas de manguezais proacuteximas noacutes temos uma estaccedilatildeo ecoloacutegica noacutes temos outras unidades de conservaccedilatildeo federal no entorno Enfim Florianoacutepolis eacute uma ilha e muito sensiacutevel com ambientes muito sensiacuteveis Entatildeo nossa primeira projeccedilatildeo de ocupaccedilatildeo eacute sobre o prisma ambiental Os impactos no sistema viaacuterio os impactos sociais e econocircmicos a populaccedilatildeo que vai ser atraiacuteda a massa de trabalhadores que vatildeo construir aqui onde eacute que vatildeo ficar Enfim satildeo muitos pontos a serem esclarecidosrdquo (Valmor Alves Moreira Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
Apesar dos questionamentos apontados pelo Ministeacuterio Puacuteblico Federal em 2004
com relaccedilatildeo aos impactos ambientais sociais e econocircmicos do empreendimento em
setembro de 2006 o projeto recebeu da FATMA a Licenccedila Ambiental Preacutevia (LAP) que
confere sua viabilidade ambiental Como o terreno de implantaccedilatildeo do projeto localiza-se em
aacuterea urbana o oacutergatildeo competente (FATMA) pode autorizar o parcelamento do solo ou
qualquer edificaccedilatildeo para fins urbanos desde que cumpra com o artigo 5 do Decreto 75093
que oferece restriccedilotildees a aacutereas urbanas que se enquadrem em um dos trecircs casos abaixo
1 Ser abrigo de espeacutecies da flora e da fauna silvestres ameaccediladas de extinccedilatildeo
2 Exercer funccedilatildeo de proteccedilatildeo de mananciais ou de prevenccedilatildeo e controle de erosatildeo
3 Ter excepcional valor paisagiacutestico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
134
Segundo o EIA-RIMA do Sapiens Parque sua aacuterea natildeo se enquadra em nenhum
dos trecircs casos acima de forma que suas restriccedilotildees satildeo condicionadas pelo Plano Diretor
Para a viabilizaccedilatildeo do Sapiens Parque foram necessaacuterias alteraccedilotildees na lei que dispotildee
sobre o zoneamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo da regiatildeo O Plano Diretor dos Balneaacuterios
(Lei Municipal 219385) designava o terreno como Aacuterea Residencial Predominante 5 (ARE-
5) com iacutendices de aproveitamento e taxas de ocupaccedilatildeo similares agraves do entorno Tal iacutendice
permite construccedilotildees de ateacute 25 m de altura e 80 de lote edificado
Esse zoneamento foi modificado pela Lei Complementar 13404 alterando o
zoneamento ARE-5 para Aacuterea Mista Central Especiacutefica (AMC-e) Aacuterea Turiacutestica Exclusiva
Especiacutefica (ATE-e) Aacuterea para Parques Tecnoloacutegicos Especiacutefica 1 e 2 (APT-e 1 e 2) Aacuterea de
Serviccedilo Suplementar Especiacutefica 1 e 2 (ASS-e 1 e 2) Aacuterea Turiacutestica Residencial Especiacutefica
(ATR-e) e Aacuterea Comunitaacuteria Institucional Especiacutefica (ACI-e)
O novo zoneamento manteacutem a obrigatoriedade de ter-se ao menos 45 do terreno
disponibilizado agraves aacutereas comuns (Aacutereas Verdes de Lazer Aacutereas Comunitaacuterias Institucionais
ou Aacutereas do Sistema Viaacuterio e de Transportes) Aleacutem disso o novo zoneamento estabelece
iacutendices e taxas iguais ou mais restritivas do que o zoneamento anterior
As normas de zoneamento aplicaacuteveis ao territoacuterio do projeto trazem ainda o
estabelecimento de novos dispositivos legais como por exemplo (RIMA 5 200303)
Obrigatoriedade de manter 30 da aacuterea dos terrenos sem impermeabilizaccedilatildeo
Previsatildeo expressa sobre a existecircncia de sistema completo de infra-estrutura de
saneamento baacutesico ndash coleta e tratamento
Previsatildeo de meios de transporte alternativos (bicicleta e outros)
Previsatildeo de que ocorrendo a descaracterizaccedilatildeo do conceito do projeto Sapiens
Parque o regime urbaniacutestico da aacuterea voltaraacute a ser regido pelo regime anterior
O Sapiens Parque ignorou a obrigaccedilatildeo do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV)
exigido pelo Estatuto da Cidade O RIMA coloca que a lei do Estatuto da Cidade ldquoexige a
realizaccedilatildeo de estudo de impacto ambiental (EIA) ou de estudo de impacto de vizinhanccedila
(EIV)rdquo (RIMA 5 200306)
O EIV tem o objetivo de contemplar os efeitos positivos e negativos do
empreendimento quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo residente na aacuterea e nas suas
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
135
proximidades O Sapiens Parque alega que o EIA tem escopo maior que o EIV englobando
este uacuteltimo Entretanto eacute sabido que o EIA e o EIV satildeo complementares e um natildeo substitui
a elaboraccedilatildeo do outro Em seu artigo 36 o Estatuto da Cidade diz que os empreendimentos
e atividades privados ou puacuteblicos em aacuterea urbana que dependeratildeo de elaboraccedilatildeo de EIV
para obtenccedilatildeo de licenccedilas ou autorizaccedilotildees de construccedilatildeo seratildeo definidos por lei municipal
Segundo o RIMA ateacute 2002 natildeo havia em Florianoacutepolis uma lei geral disciplinando o EIV
pelo qual estaria o Sapiens Parque dispensado
43 AVALIACcedilOtildeES DA COMUNIDADE LOCAL
As questotildees abordadas pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque incluem parte das
questotildees levantadas pela comunidade local com relaccedilatildeo ao empreendimento O Sapiens
Parque realizou uma accedilatildeo de discussatildeo comunitaacuteria junto a representantes de entidades
comunitaacuterias e organizaccedilotildees da sociedade civil de Florianoacutepolis Tal procedimento faz parte
do processo de inserccedilatildeo socioambiental do empreendimento e foi realizado principalmente
no ano de 2003 atraveacutes de seminaacuterios e grupos de trabalho e discussatildeo
Dentre as observaccedilotildees apontadas pela comunidade e ainda natildeo tratadas neste
capiacutetulo destacamos a indagaccedilatildeo quanto agrave possibilidade da realizaccedilatildeo de um plebiscito
como forma de constatar a posiccedilatildeo da comunidade com relaccedilatildeo ao empreendimento O
Sapiens Parque justificou a resposta negativa com a afirmaccedilatildeo de que ldquonatildeo haacute opccedilotildees
melhores que as apresentadas para fomentar o desenvolvimento urbano de forma sustentaacutevel
para a regiatildeordquo (DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL 200336)
Os atores sociais contatados levantaram ainda que os novos valores decorrentes da
migraccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo acentuadas levam agrave perda dos costumes tradicionais e da
identidade local O empreendimento tem a oportunidade de reverter parcialmente este
processo atraveacutes do incentivo ao resgate cultural e agraves tradiccedilotildees locais identificando
oportunidades de negoacutecios locais e criando espaccedilos culturais
O desemprego e a desqualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra local identificada pelo EIA-RIMA
do empreendimento consistem tambeacutem algumas das principais preocupaccedilotildees da
comunidade O crescimento populacional a sazonalidade acentuada do turismo a distacircncia
do centro comercial e o decliacutenio das atividades rurais e de pesca evidenciam o quadro do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
136
desemprego na regiatildeo O Sapiens Parque promete a geraccedilatildeo de empregos como forma de
amenizar este quadro mas teraacute essas expectativas frustradas localmente se natildeo existirem
programas de qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra e empreendedorismo local O empreendimento
conta com parcerias e com a criaccedilatildeo de moacutedulos comunitaacuterios que visem tal qualificaccedilatildeo
A comunidade tambeacutem apontou a carecircncia de equipamentos e espaccedilos puacuteblicos de
cultura e lazer e a necessidade de atualizaccedilatildeo do Plano Diretor da regiatildeo levando em
consideraccedilatildeo a inserccedilatildeo do parque e a pressatildeo sobre os ambientes naturais Projetos
alternativos antigos para o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque (como o projeto
turiacutestico Orla Norte ou o projeto de loteamentos residenciais) evidenciam a tendecircncia de
ocupaccedilatildeo da aacuterea Se tal ocupaccedilatildeo eacute apontada como inevitaacutevel as condicionantes do
terreno evidenciam ao menos que o projeto de ocupaccedilatildeo deve ter claro interesse puacuteblico e
responsabilidade socioambiental
Na audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o representante
da comunidade da Cachoeira do Bom Jesus afirmou que natildeo haacute infra-estrutura no Norte da
Ilha que decirc suporte ao aumento do nuacutemero de pessoas decorrente da implantaccedilatildeo do
parque Outra criacutetica apontada na audiecircncia eacute de que a maioria das condicionantes do
Sapiens Parque satildeo remetidas ao poder puacuteblico como jaacute comentado em textos anteriores
(ENTREVISTA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA TV JUSTICcedilA 2004)
Por fim segundo a Resoluccedilatildeo 00186 do CONAMA o RIMA ldquodeve ser apresentado
de forma objetiva e adequada a sua compreensatildeordquo(RESOLUCcedilAtildeO CONAMA 00186) O
RIMA do Sapiens Parque trata-se praticamente de uma coacutepia do EIA com a supressatildeo de
um dos capiacutetulos A complexidade do documento acaba dificultando a compreensatildeo da
comunidade local em relaccedilatildeo aos verdadeiros impactos do projeto
44 AVALIACcedilOtildeES DO MASTER PLAN 2005
As criacuteticas feitas pelo IAB em 2002 associadas agraves consideraccedilotildees da comunidade e
aos impactos identificados no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de 2003 influenciaram a
concepccedilatildeo do novo projeto para o parque que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Cepa
Atraveacutes de uma anaacutelise do projeto apresentado em 2005 podemos constatar a preocupaccedilatildeo
em delimitar gradientes de ocupaccedilatildeo no siacutetio de implantaccedilatildeo do empreendimento definidos
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
137
conforme a fragilidade do ambiente natural (Figura 20) Segundo esse conceito o terreno foi
edificado a partir dos trecircs gradientes de ocupaccedilatildeo paralelamente ao Rio Papaquara (ao sul
do terreno) do menos edificado ao mais edificado (Figura 21)
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
RIO PAPAQUARA
RIO DO BRAacuteS
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
138
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como podemos observar na Figura 21 outra preocupaccedilatildeo do novo projeto consistiu
em natildeo obstruir os canais de drenagem pelo desenho dos lagos artificiais No novo Master
Plan pode-se observar a preocupaccedilatildeo em manter intactos os principais remanescentes
vegetais do terreno aproveitando as demais aacutereas para as edificaccedilotildees O projeto manteacutem o
Parque Natural ao longo do Rio Papaquara como reserva e compensaccedilatildeo ambiental onde
seriam realizadas as iniciativas soacutecio-ambientais do empreendimento
As aacutereas mais edificadas localizam-se junto agrave Av Luiz Boiteux Piazza (ao norte do
terreno paralela ao Rio Papaquara) e conformam-se a partir dessa rua interligando o
moacutedulo Experientia e o centro cultural e de eventos (Figura 21- ao centro em marrom) com
as edificaccedilotildees direcionadas aos negoacutecios urbanos - turismo e empresas de serviccedilos
(Figura 21- em amarelo e vermelho) Entretanto o espaccedilo dedicado a equipamentos
puacuteblicos comunitaacuterios de sauacutede e educaccedilatildeo (Figura 21- nos extremos em marrom) ainda
aparece em segundo plano no projeto localizado nos cantos do terreno inclusive proacuteximos
agraves estaccedilotildees de transbordo do empreendimento O moacutedulo Scientia opera no segundo
gradiente de ocupaccedilatildeo com edificaccedilotildees isoladas (Figura 21- em azul escuro) localizadas
nas aacutereas onde a vegetaccedilatildeo autoacutectone eacute menos incidente A Figura 22 mostra a perspectiva
RIO PAPAQUARA
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
139
com a implantaccedilatildeo completa do Master Plan 2005 do Sapiens Parque Outras imagens
desta versatildeo do projeto podem ainda ser visualizadas no Anexo 3
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
O Master Plan 2005 mostra-se mais efetivo na tentativa de inserccedilatildeo do projeto no
contexto urbano existente ao levantar o conceito dos gradientes de ocupaccedilatildeo e ao levar em
consideraccedilatildeo o entorno edificado e viaacuterio na sua concepccedilatildeo Apesar da visiacutevel melhora do
projeto urbano e arquitetocircnico do Master Plan 2005 em relaccedilatildeo ao projeto apresentado em
2003 pela Ecoplan podemos verificar que o projeto ainda reforccedila pouco o caraacuteter puacuteblico
que deve ter ao privilegiar a posiccedilatildeo dos setores privados em detrimento aos equipamentos
puacuteblicos e comunitaacuterios
O projeto natildeo apresenta articulaccedilatildeo desses equipamentos puacuteblicos e comunitaacuterios
com o contexto urbano e o Parque Natural o que coloca em duacutevida a real apropriaccedilatildeo da
populaccedilatildeo local de uma aacuterea que deveria caracterizar-se como um grande parque puacuteblico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
140
45 DIAGNOacuteSTICO FINAL AVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES
No iniacutecio do trabalho colocamos que nosso objetivo principal seria analisar o Sapiens
Parque como poliacutetica urbana para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis apontando os
limites do projeto no que diz respeito agrave principal proposta do empreendimento o
desenvolvimento baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental A partir das
anaacutelises feitas ateacute o presente do empreendimento e das conclusotildees parciais relacionadas
aos grandes projetos urbanos do capiacutetulo anterior podemos apontar alguns dos limites do
projeto Sapiens Parque como proposta de desenvolvimento sustentaacutevel Esses limites foram
identificados segundo as dimensotildees criteacuterios e objetivos de sustentabilidade vistos no
Capiacutetulo 2 e estatildeo esquematizados na Tabela 8 Para esta avaliaccedilatildeo separamos os limites
relacionados agrave sustentabilidade ambiental das demais sustentabilidades (social cultural
territorial econocircmica e poliacutetica)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
141
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADEAVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE COMO PROPOSTA
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
A pressatildeo imobiliaacuteria e a expulsatildeo de alguns grupos sociais podem levar agrave ocupaccedilatildeode zonas ambientalmente protegidas do entorno causando consequumlente depredaccedilatildeoambiental e fragmentaccedilatildeo dos ambientes naturais remanescentes
O terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se em aacuterea de faacutecil inundaccedilatildeo A reduccedilatildeo da superfiacutecie de inundaccedilatildeo decorrente da construccedilatildeo das edificaccedilotildees e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o potencial de drenagem do terreno
A reduccedilatildeo do impacto ambiental proveniente da construccedilatildeo dos aterros necessaacuteriospara as edificaccedilotildees depende da realizaccedilatildeo de aterros seletivos que diminuam autilizaccedilatildeo dos recursos naturais natildeo-renovaacuteveis para tal fim
A integridade do manancial Ingleses Rio Vermelho depende de investimentospuacuteblicos em infra-estrutura e do planejamento fiscalizaccedilatildeo e monitoramento da regiatildeoe do aquumliacutefero para que natildeo sofra danos oriundos do empreendimento e da populaccedilatildeoinduzida por ele
O projeto natildeo prioriza o caraacuteter social e puacuteblico a que se propotildee colocando comoprimaacuterias as atividades destinadas aos interesses privados e como secundaacuterias asatividades espaccedilos puacuteblicos e equipamentos relacionados aos aspectos sociaisConsequumlentemente os investimentos puacuteblicos necessaacuterios para a viabilizaccedilatildeo doparque (terreno de implantaccedilatildeo e investimentos em infra-estrutura) tambeacutem priorizam ocaraacuteter privado do empreendimento
A concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos no Norte da Ilha ocasionaraacute provaacutevelfragmentaccedilatildeo da cidade uma vez que outras aacutereas carentes de infra-estrutura ficamdesamparadas pelo Poder Puacuteblico A tendecircncia eacute a valorizaccedilatildeo da regiatildeo deimplantaccedilatildeo do parque devido agraves melhorias em infra-estrutura enquanto ocorre oaumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccediloscaracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo do entorno do parque acarretaraacute provaacutevel expulsatildeoe substituiccedilatildeo das comunidades locais
O projeto somente cumpriraacute sua proposta de superar a exclusatildeo social se priorizar osaspectos sociais do empreendimento e atraveacutes de programas de capacitaccedilatildeocomunitaacuteria e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo
A implantaccedilatildeo do parque acarretaraacute o aumento populacional na regiatildeo norte deFlorianoacutepolis A situaccedilatildeo atual mostra que a regiatildeo jaacute apresenta carecircncia de infra-estrutura (sistema viaacuterio esgoto aacutegua energia) natildeo comportando o aumento dademanda sem o devido planejamento
Exclusatildeo econocircmica e desvalorizaccedilatildeo do trabalho das comunidades locais frente agravenecessidade da matildeo-de-obra qualificada imposta pelo Parque A garantia de novosempregos para a comunidade local em todas as fases do empreendimento depende depoliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
O modelo de planejamento baseado na loacutegioca do mercado reforccedila a produccedilatildeo ereproduccedilatildeo de desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica sociale espacial
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
DEMAIS SUSTENTABILIDADES (SOCIAL CULTURAL
TERRITORIAL ECONOcircMICA E
POLIacuteTICA)
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
142
Os limites apontados na Tabela 8 resumem as principais avaliaccedilotildees feitas ateacute o
presente pelos atores envolvidos no projeto Sapiens Parque e mostram que a proposta
urbana eacute ainda restrita no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel De maneira
geral podemos constatar que o projeto Sapiens Parque coloca-se como promotor do
desenvolvimento sustentaacutevel a partir basicamente de cinco aspectos principais
1- Preservaccedilatildeo dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo atraveacutes do
Parque Natural e do conceito de ldquogradientes de ocupaccedilatildeordquo adotado para as edificaccedilotildees do
empreendimento (Master Plan 2005 do Sapiens Parque)
2- O parque promete a construccedilatildeo de edificaccedilotildees sustentaacuteveis com economia de
energia reuso da aacutegua e estaccedilatildeo particular de tratamento de esgoto
3- O projeto tem como um dos conceitos a induacutestria da tecnologia e da informaacutetica
considerada uma induacutestria ldquolimpardquo e proacutepria para regiotildees de rico ambiente natural como
Florianoacutepolis
4- O parque propotildee-se como promotor do turismo sustentaacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico tendo como base um conjunto de equipamentos de lazer
cultura educaccedilatildeo esportes sauacutede eventos e gastronomia
5- O parque tem como uma das metas a geraccedilatildeo de empregos e diminuiccedilatildeo da
exclusatildeo social
Entretanto muitos dos aspectos acima relacionados quando natildeo se dedicam
exclusivamente agrave aacuterea de implantaccedilatildeo do terreno ignorando as demais regiotildees de
abrangecircncia do projeto apresentam limites que impedem sua real efetivaccedilatildeo
As diretrizes de sustentabilidade urbana delimitadas pela Agenda 21 Brasileira
defendem que eacute necessaacuterio um planejamento urbano que coloque restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio Carecircncias de infra-estrutura e a ocupaccedilatildeo de ambientes
naturais na regiatildeo norte da Ilha mostram que o projeto do Sapiens Parque deve ser
articulado com um Plano Diretor para toda a regiatildeo capaz de prever e planejar a
concentraccedilatildeo populacional e principalmente seus impactos ambientais Do contraacuterio o
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
143
empreendimento natildeo poderaacute ser concebido como um novo centro articulador e propulsor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel
Como tambeacutem podemos constatar na Tabela 8 um projeto da dimensatildeo do Sapiens
Parque pode acarretar em excessiva concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos em sua aacuterea
de implantaccedilatildeo Tal fato resulta na fragmentaccedilatildeo da cidade e na criaccedilatildeo de regiotildees com
carecircncia de investimentos e infra-estrutura contrariando os criteacuterios de sustentabilidade
territorial e poliacutetica vistos neste trabalho
A geraccedilatildeo de empregos e a inclusatildeo social atraveacutes do trabalho que seriam os
principais propulsores do desenvolvimento regional sustentaacutevel econocircmico e social
dependem de accedilotildees de capacitaccedilatildeo e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos
de educaccedilatildeo local para que sejam efetivados Do contraacuterio podemos concluir que a
tendecircncia eacute o aumento da exclusatildeo econocircmica e social uma vez que natildeo seratildeo todas as
pessoas as capacitadas para os empregos gerados pelo parque
Concluiacutemos tambeacutem que a exclusatildeo social e a consequumlente segregaccedilatildeo soacutecio-
espacial da cidade podem ser fortalecidas ainda pela provaacutevel valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da
regiatildeo de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de inserccedilatildeo
social o modelo de planejamento baseado na loacutegica do mercado tende entatildeo a aumentar as
desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica social e espacial
A iniciativa de o parque ser um precursor do turismo sustentaacutevel para a regiatildeo eacute
notaacutevel mas tambeacutem somente teraacute real efetivaccedilatildeo se devidamente acompanhado de um
planejamento turiacutestico para todo o Norte da Ilha Destacamos ainda a necessidade de o
Sapiens Parque estar articulado com toda a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis sem
esquecer da porccedilatildeo continental equivalente Desconhecer a parte continental de
Florianoacutepolis em um projeto deste porte implica em reconhecer a sua insustentabilidade
Apesar de o projeto ainda ser bastante restrito no alcance do desenvolvimento
sustentaacutevel para a regiatildeo e o municiacutepio satildeo vaacutelidas as accedilotildees locais propostas pelo parque
que visam a melhoria da sustentabilidade do empreendimento em si atraveacutes da preservaccedilatildeo
dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo e da aplicaccedilatildeo de conceitos de
sustentabilidade nas edificaccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
144
Entretanto conforme afirma VEIGA (2005113) ldquoa hipoteacutetica conciliaccedilatildeo entre o
crescimento econocircmico moderno e a conservaccedilatildeo da natureza natildeo eacute algo que possa ocorrer
no curto prazo e muito menos de forma isolada em certas atividades ou em locais
especiacuteficosrdquo Portanto o empreendimento Sapiens Parque natildeo pode isolada e localmente
ser considerado um projeto de desenvolvimento urbano sustentaacutevel sem apresentar uma
articulaccedilatildeo e um planejamento conjunto com toda a regiatildeo e o aglomerado urbano e sem
levar em consideraccedilatildeo a realidade soacutecio-econocircmica e ambiental de Florianoacutepolis
Eacute preciso ter consciecircncia de que o modelo de planejamento estrateacutegico regido pela
loacutegica do mercado e importado dos paiacuteses do capitalismo avanccedilado quando aplicado agrave
realidade brasileira apresenta seus limites na busca de uma poliacutetica urbana de
desenvolvimento sustentaacutevel Os esforccedilos do empreendimento Sapiens Parque na direccedilatildeo
desta satildeo vaacutelidos poreacutem ainda restritos e insuficientes para o alcance efetivo da
sustentabilidade social econocircmica e ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
145
CONCLUSOtildeES
Na introduccedilatildeo deste trabalho comentamos que ele estaria estruturado a partir de
dois eixos principais O primeiro eixo diz respeito a um paradigma de desenvolvimento
denominado sustentaacutevel que procura conciliar o crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo com
resultados positivos em meio social e ambiental O segundo eixo estruturador deste trabalho
gira em torno de um outro modelo desta vez um modelo de planejamento urbano regido
segundo estrateacutegias determinadas pela loacutegica do mercado e que busca a inserccedilatildeo global
das cidades em um cenaacuterio mundial marcado pelas transformaccedilotildees da globalizaccedilatildeo
A pesquisa procurou delinear os principais conceitos e caracteriacutesticas desses dois
paradigmas que vecircm surgindo como um campo feacutertil para a proliferaccedilatildeo de modelos de
gestatildeo urbana e estrateacutegias de desenvolvimento local O estudo procurou verificar atraveacutes
do projeto urbano Sapiens Parque para Florianoacutepolis a eficiecircncia da aplicaccedilatildeo do modelo
de planejamento urbano analisado no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel
Cabe colocar aqui que perante dois temas de tamanha complexidade como os que
foram estudados muitos cortes foram necessaacuterios para que se pudesse dar fechamento agrave
dissertaccedilatildeo sem que se tornasse demasiadamente prolongada A pesquisa deteve-se
principalmente em analisar o empreendimento Sapiens Parque e seus limites como
propulsor do desenvolvimento sustentaacutevel em niacutevel regional tendo oferecido pouco enfoque
nas avaliaccedilotildees locais que dizem respeito agraves reflexotildees espaciais do projeto urbano
propriamente dito
No momento de finalizaccedilatildeo do trabalho buscamos levantar alguns questionamentos
que surgiram no decorrer da presente pesquisa os quais ainda natildeo obtivemos respostas
seraacute possiacutevel que dois modelos aparentemente antagocircnicos no discurso possam caminhar
juntos no processo de planejamento Seraacute possiacutevel conciliar na praacutetica dentro do contexto
brasileiro marcado por desigualdades sociais um discurso provavelmente utoacutepico como o do
desenvolvimento sustentaacutevel com um discurso que remete necessariamente a uma funccedilatildeo
mercadoloacutegica especiacutefica de determinado territoacuterio No caso de Florianoacutepolis seraacute o projeto
do empreendimento Sapiens Parque no Norte da Ilha a melhor possibilidade de
reurbanizaccedilatildeo para o alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
146
Como verificamos no segundo capiacutetulo deste trabalho o conceito de
desenvolvimento de um territoacuterio ao contraacuterio do crescimento econocircmico natildeo se restringe
somente aos fenocircmenos econocircmicos secundaacuterios referindo-se principalmente agraves mudanccedilas
qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo priorizando a melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza a dimensatildeo
ambiental nesse conceito fundamentando sua harmonizaccedilatildeo com os objetivos sociais e
econocircmicos sendo concebido como aquele que assegura o atendimento das necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraccedilotildees satisfazerem suas
proacuteprias necessidades Significa permitir ldquoque todos tenham atendidas as suas necessidades
baacutesicas e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar suas aspiraccedilotildees a uma vida
melhorrdquo(COMISSAtildeO MUNDIAL 198847)
Visto a partir desse conceito o desenvolvimento sustentaacutevel aparenta vago e
impreciso dando margem a muitas interpretaccedilotildees tendo sofrido aprimoramentos apoacutes sua
popularizaccedilatildeo em 1987 Abrangendo desde os objetivos mais estreitos como a preservaccedilatildeo
dos recursos naturais ateacute os objetivos mais amplos como a hipoacutetese de mudanccedila nos
padrotildees de consumo acumulaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de riquezas o conceito do desenvolvimento
sustentaacutevel tambeacutem vem sofrendo questionamentos por muitos autores quanto agraves suas reais
possibilidades de efetivaccedilatildeo dentro do processo de acumulaccedilatildeo de riquezas caracteriacutestico
do sistema capitalista Apesar disso concordamos que tal paradigma deve ser procurado
por todas as sociedades humanas como forma de preservaccedilatildeo ambiental e melhoria da
qualidade de vida
Neste trabalho como meacutetodo de estudo optamos em utilizar a instituiccedilatildeo das
dimensotildees e objetivos de sustentabilidade (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial
econocircmica e poliacutetica) definidos por SACHS (2002) Essa classificaccedilatildeo permite o
estabelecimento de criteacuterios para cada uma das dimensotildees citadas de maneira que
funcionem como ferramentas de anaacutelise das poliacuteticas de desenvolvimento no sentido do
alcance da sustentabilidade A conservaccedilatildeo da biodiversidade mostrou-se um importante
requisito do ecodesenvolvimento expresso no caso brasileiro atraveacutes do Sistema de
Unidades de Conservaccedilatildeo e das Reservas da Biosfera
A aplicaccedilatildeo do conceito do desenvolvimento sustentaacutevel em meio urbano originou os
estudos de sustentabilidade urbana uma aacuterea de anaacutelise ainda bastante recente e em
consolidaccedilatildeo Tal associaccedilatildeo fundamentou-se no documento Agenda 21 que oferece
diretrizes de sustentabilidade urbana em niacutevel nacional e local visando o alcance de um
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
147
planejamento urbano mais sustentaacutevel O tema manifestou o padratildeo ldquocidades sustentaacuteveisrdquo
que vem se propagando entre os governos e organizaccedilotildees da sociedade civil
Concomitantemente a esse padratildeo verificamos a necessidade de terem-se as
cidades adaptadas agraves transformaccedilotildees surgidas mundialmente com o advento da
globalizaccedilatildeo em acircmbito geopoliacutetico econocircmico social e tecnoloacutegico O modelo de
planejamento urbano industrial que predominou no Brasil ateacute os anos 1970 direcionado pelo
Estado e baseado em categorias funcionais mostrou-se obsoleto perante essa nova
realidade sendo substituiacutedo pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Conforme verificamos no
terceiro capiacutetulo a nova ordem urbana implica na competitividade entre as cidades tendo
como principal objetivo seu posicionamento como centro de articulaccedilatildeo e controle das
economias mundiais e sua inserccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
O modelo estrateacutegico de planejamento nasceu da gestatildeo empresarial sendo
aplicado ao espaccedilo urbano como uma resposta agraves mudanccedilas impostas pela globalizaccedilatildeo
Ele sugere que a competiccedilatildeo interurbana consiste em uma saiacuteda inevitaacutevel perante tais
mudanccedilas jaacute que a globalizaccedilatildeo prejudicou a especificidade do territoacuterio como unidade de
produccedilatildeo e consumo ignorando as fronteiras poliacutetico-administrativas Como consequumlecircncia
as cidades passaram a serem constituiacutedas a partir de uma sociedade integrada em rede
acompanhadas de uma nova realidade econocircmica social e poliacutetica
O novo modelo de planejamento imposto fundamenta-se na articulaccedilatildeo necessaacuteria
entre o local e o global decorrente da perda da autonomia do Estado-Naccedilatildeo como centro
regulador do planejamento Dessa forma propicia-se aos governos locais o fortalecimento
poliacutetico e econocircmico elevando-os como os principais atores puacuteblicos do planejamento
ainda que estejam sujeitos agrave dependecircncia dos condicionantes externos Os governos locais
possuem entatildeo a atribuiccedilatildeo de promover as cidades para os investidores externos atraveacutes
de uma imagem positiva da cidade e da oferta de infra-estrutura e serviccedilos Tal posiccedilatildeo
objetiva alcanccedilar vantagens competitivas para a cidade como localizaccedilatildeo e expansatildeo de
empresas e atividades
O enfraquecimento do papel do Estado como indutor do desenvolvimento e sua
substituiccedilatildeo pela loacutegica do mercado constitui o primeiro paradoxo consolidado entre o
modelo de planejamento estrateacutegico e o discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Segundo
os criteacuterios de sustentabilidade poliacutetica destaca-se a necessidade da centralizaccedilatildeo e da
intervenccedilatildeo do Estado como regulador das economias e sua capacitaccedilatildeo para implementar
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
148
um projeto nacional em conjunto com os empreendedores O Estado constitui o uacutenico ator
capaz de lidar com o processo de distribuiccedilatildeo dos recursos naturais econocircmicos e poliacuteticos
intra e entre naccedilotildees e evitar situaccedilotildees de desigualdade em termos de apropriaccedilatildeo universal
dos direitos humanos buscando um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social
Entretanto o que pudemos constatar no planejamento estrateacutegico eacute a elevaccedilatildeo dos
governos locais no processo de planejamento Para a atraccedilatildeo de empresas e investimentos
o poder puacuteblico local utiliza-se de estrateacutegias de intervenccedilotildees urbanas acompanhadas de
imagens-siacutentese e discursos referentes agrave cidade por meio de uma poliacutetica de marketing
urbano como instrumento de difusatildeo e afirmaccedilatildeo Variaccedilotildees desse modelo foram vistos
neste trabalho segundo as anaacutelises do planejamento para as cidades de Barcelona Curitiba
e Rio de Janeiro trata-se de uma perspectiva de transformar essas cidades em uma espeacutecie
de ldquomercadoriardquo a ser ldquovendidardquo a um mercado mundial
Concretiza-se tambeacutem uma relaccedilatildeo imprescindiacutevel para a instituiccedilatildeo do
planejamento estrateacutegico urbano a parceria puacuteblico-privado Tal parceria nasce da
necessidade do poder puacuteblico em captar recursos adicionais agraves suas proacuteprias receitas a fim
de possibilitar a implementaccedilatildeo dos projetos de renovaccedilatildeo urbana Dessa forma os
interesses do mercado permanecem presentes no processo de planejamento permitindo a
participaccedilatildeo direta de empresaacuterios nas decisotildees referentes agrave gestatildeo urbana
A parceria puacuteblico-privado aparece bastante evidente no estudo de caso tomado
para anaacutelise neste trabalho o projeto urbano Sapiens Parque no Norte da Ilha
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional Apoiado pelos governos
municipal e estadual em exerciacutecio a efetivaccedilatildeo do empreendimento depende da coalizatildeo de
esforccedilos e recursos puacuteblicos e privados No decorrer do trabalho vimos que o projeto faz
parte de uma das iniciativas do governo local de inserir Florianoacutepolis como ldquocidade globalrdquo
buscando a atraccedilatildeo de empresas voltadas para a aacuterea da informaacutetica e tecnologia
principalmente as de capital internacional
O empreendimento tambeacutem se coloca como precursor da sustentabilidade social
econocircmica e ambiental com a promessa de geraccedilatildeo de empregos e consequumlente inclusatildeo
social Aleacutem disso o Sapiens Parque destaca seu objetivo de acabar com a sazonalidade da
atividade turiacutestica com a sua implantaccedilatildeo trazendo visitantes durante o ano inteiro com o
comprometimento de difundir o turismo sustentaacutevel e a educaccedilatildeo ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
149
Entretanto as anaacutelises do projeto Sapiens Parque realizadas no quarto capiacutetulo
desta dissertaccedilatildeo mostraram que o modelo de planejamento apresenta muitas restriccedilotildees
quando utilizado como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel A competitividade
urbana defendida pelo planejamento estrateacutegico significa um claro incremento na qualidade
de vida urbana porque a competitividade requer infra-estrutura adequada e melhoria das
condiccedilotildees de vida de moradia serviccedilos urbanos sauacutede e cultura como fator essencial para
a atratividade de investimentos e usuaacuterios Apesar disso a competitividade caracteriacutestica do
modelo estrateacutegico tambeacutem proporciona resultados que seguem na contramatildeo dos preceitos
relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e estabelecidos nesta pesquisa
Na anaacutelise feita em relaccedilatildeo aos limites do projeto Sapiens Parque como difusor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel destacamos aqui as questotildees referentes agrave
organizaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana resultantes justamente da estrateacutegia da inserccedilatildeo
competitiva O projeto de intervenccedilatildeo urbana mostrou uma tendecircncia agrave fragmentaccedilatildeo uma
vez que potencializa a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e consumo de segmentos sociais especiacuteficos
atraveacutes da concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave revitalizaccedilatildeo no
Norte da Ilha Aleacutem disso a exclusatildeo econocircmica decorrente da irrelevacircncia de determinados
grupos sociais perante o mercado de trabalho proporcionado pelo parque aliada agrave discrepacircncia
salarial e de condiccedilotildees de trabalho colaboram para agravar ainda mais esse quadro
A segregaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana brasileira natildeo tem suas origens no atual modelo
de planejamento regido pela estrateacutegia do mercado como forma de inserccedilatildeo competitiva
Entretanto concordamos que o modelo tende a aumentar a situaccedilatildeo de desigualdade social
com a formaccedilatildeo de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos caracterizados pela
pobreza e violecircncia urbana em contraste a bairros compostos por condomiacutenios privatizados
e reservados agraves atividades e moradia de uma minoria Essa implicaccedilatildeo constitui no nosso
ver a principal contradiccedilatildeo existente entre o planejamento estrateacutegico e as premissas que
temos de ldquocidades sustentaacuteveisrdquo caracterizadas pela conexatildeo entre bairros (centro e
periferia) e entre espaccedilo privado e puacuteblico com priorizaccedilatildeo deste uacuteltimo
Concluiacutemos portanto ser a segregaccedilatildeo soacutecio-espacial e suas consequumlecircncias como
a degradaccedilatildeo ambiental os principais fatores que estabelecem limites ao modelo de
planejamento estrateacutegico no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel Nesse caso
uma nova pergunta surge diante de tal conclusatildeo quais seriam entatildeo perante o atual
cenaacuterio mundial da globalizaccedilatildeo financeira e da perda da autonomia do Estado as
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
150
alternativas para o equacionamento da problemaacutetica ambiental urbana e diminuiccedilatildeo da
desigualdade social
No Brasil o Estatuto da Cidade surgiu como uma promessa para a gestatildeo
democraacutetica das cidades e como uma real possibilidade de intervenccedilatildeo sobre o quadro de
exclusatildeo social caracteriacutestico das cidades brasileiras O Estatuto tambeacutem destaca a
necessidade de garantia do direito agraves cidades sustentaacuteveis com a aplicaccedilatildeo de
instrumentos que visam amenizar os impactos ambientais decorrentes dos processos de
urbanizaccedilatildeo Entretanto apesar de ser considerada uma lei bastante inovadora uma vez
que contempla aspectos da gestatildeo urbana dos quais nenhuma legislaccedilatildeo anterior sequer se
aproximava o Estatuto constitui somente um dos primeiros passos no caminho para a
sustentabilidade urbana
A cidade como expressatildeo da exclusatildeo social e degradaccedilatildeo ambiental pode vir a
se constituir no lugar privilegiado para a discussatildeo da inclusatildeo e do exerciacutecio da cidadania
O cotidiano urbano deve ser entendido como a manifestaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais e portanto
de conflitos a gestatildeo desses conflitos requer a democratizaccedilatildeo do processo de decisotildees
que afetam esse cotidiano O momento atual eacute favoraacutevel ao debate dos rumos que tomaratildeo
nossas cidades democratizando as decisotildees acerca do desenvolvimento sustentaacutevel e
resgatando o direito agrave cidade para todos
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
151
REFEREcircNCIAS
ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita (org) Previsatildeo de impactos o estudo de impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
ACSELRAD Henri A duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Rio de Janeiro DPampA 2001
AGENDA 21 BRASILEIRA ndash Cidades Sustentaacuteveis Ministeacuterio do Meio Ambiente - Comissatildeo de Poliacuteticas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2002
AGUIAR Marina e DIAS Reinaldo Fundamentos do turismo conceitos normas e definiccedilotildees Campinas SP Editora Aliacutenea 2002
AMENDOLA Mocircnica O ordenamento urbano carioca sob a oacutetica do plano estrateacutegico de cidades Revista geo-paisagem ( on line ) Vol 1 nuacutemero 2 2002 Julhodezembro de 2002 Disponiacutevel em httpwwwfethggfbrPlano20estratC3A9gicohtm acesso em 05052006
AMIGOS DE CARIJOacuteS Plano de desenvolvimento sustentaacutevel do entorno da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis SC 2002
ANDRADE Liza Maria Souza de O conceito de Cidades-Jardins uma adaptaccedilatildeo para as cidades sustentaacuteveis (disponiacutevel em httpwwwvitruviuscombr acesso em 05052006)
ARANTES Otiacutelia VAINER Carlos MARICATO Ermiacutenia A cidade do pensamento uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ARANTES Otiacutelia Uma estrateacutegia fatal A cultura das novas gestotildees urbanas In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ASSOCIACcedilAtildeO AMIGOS DE CARIJOacuteSIBAMA Plano de manejo da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis 2002
BECKER Dinizar Fermiano A insustentabilidade do discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Revista Estudo amp Debate Lajeado V11 ndeg01 p175-195 2004
BENJAMIN Antonio Herman U Estudo preacutevio de impacto ambiental teoria praacutetica e legislaccedilatildeo Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1993
BERMAN Marshall Tudo que eacute soacutelido desmancha no ar a aventura da modernidade Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
BERTRAND Georges Paisagem e geografia fiacutesica global Esboccedilo metodoloacutegico Curitiba N8 p114-152 2004 editora UFPR 141 pdf
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
152
BIOSFERA URBANA NA ILHA DE SANTA CATARINA Proposta conceitual para um Projeto Piloto de implementaccedilatildeo do modelo de Reserva da Biosfera em ambiente urbano Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr acesso em 10062007
BRAVERMAN Harry Trabalho e capital monopolista a degradaccedilatildeo do trabalho no seacuteculo XX 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1981
BORJA Jordi CASTELLS Manuel Local y Global la gestioacuten de latildes ciudades en la era de la informacioacuten 5 ed Barcelona Taurus 2000
BRUumlSEKE Franz Josef O problema do desenvolvimento sustentaacutevel In Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel Cloacutevis Cavalcanti organizador ndash 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
BUENO Ayrton Portilho Patrimocircnio paisagiacutestico e turismo na ilha de Santa Catarina a premecircncia da paisagem no desenvolvimento sustentaacutevel da atividade turiacutestica Satildeo Paulo 2006 Tese (Doutorado) - Universidade de Satildeo Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
CARDOSO Reginaldo Luiz As cidades brasileiras e o pensamento neoliberal (submissatildeo ao pensamento uacutenico uacutenica alternativa para as cidades) Instituto Universitaacuterio de Pesquisas do Rio de Janeiro ndash IUPERJ Disponiacutevel em httpwwwrizomanet acesso em 07052006
CASTELLS Eduardo JF et al Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC Florianoacutepolis 2002
CASTELLS Manuel A sociedade em rede 2 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999
CAVALCANTI Cloacutevis (org) Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
CECCA - CENTRO DE ESTUDOS CULTURA E CIDADANIA (SC) Uma Cidade numa Ilha relatoacuterio sobre os problemas soacutecio-ambientais da Ilha de Santa Catarina 2 ed Florianoacutepolis Insular 1997
CHAUI Marilena de Souza O que eacute ideologia 39 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1995
CHOAY Franccediloise O Urbanismo Satildeo Paulo Perspectiva 1979
COMISSAtildeO DE DESENVOLVIMENTO URBANO E INTERIOR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS SECRETARIA ESPECIAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO DA PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL E INSTITUTO POacuteLIS Estatuto da Cidade Guia para implementaccedilatildeo pelos municiacutepios e cidadatildeos Cacircmara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees Brasiacutelia 2001
COMISSAtildeO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Nosso futuro comum Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas 1988
COMPANS Rose Cidades sustentaacuteveis cidades globais Antagonismo ou complementaridade In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
153
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg Ministeacuterio do Meio Ambiente (disponiacutevel em httpwwwmmagovbr acesso 24052006)
CONGRESSO NACIONAL Coacutedigo Florestal Lei N o 4771 de 15 de setembro de 1965
CONGRESSO NACIONAL Decreto da Mata Atlacircntica N o 750 de 10 de fevereiro de 1993
CONGRESSO NACIONAL SNUC - SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVACcedilAtildeO Lei N o 9985 de 18 de julho de 2000
CONFEREcircNCIA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO 1992 RIO DE JANEIRO RJ BRASIL Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores Divisatildeo do Meio Ambiente Brasilia DF Camara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees 1995
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira A Questatildeo ambiental diferentes abordagens Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira Impactos Ambientais Urbanos no Brasil Ed Bertrand Brasil Rio de Janeiro 2001
DIAS Leila Christina amp SANTOS Gislaine Aparecida dos Regiatildeo Territoacuterio e Meio Ambiente Uma Histoacuteria de Definiccedilotildees e Redefiniccedilotildees em Escalas Espaciais (1987-2001) Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V05 ndeg02 p45-56 2003
DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL DO SAPIENS PARQUE In EIA RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL EIA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
FANTIN Marcia Cidade dividida Florianoacutepolis Futura 2000
FORUM DA AGENDA 21 LOCAL DO MUNICIacutePIO DE FLORIANOacutePOLIS 2000 FLORIANOacutePOLIS SC Agenda 21 Local do Municiacutepio de Florianoacutepolis meio ambiente quem faz eacute a gente versatildeo preliminar Florianoacutepolis Prefeitura Municipal de Florianopolis 2000
FRAMPTON Kenneth Histoacuteria Criacutetica da Arquitetura Moderna Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2000
FURTADO Celso O Mito do Desenvolvimento Econocircmico 2 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1974 117p
GARCIA NETTO Luiz da Rosa Diagnoacutestico do ambiente urbano Norte da Ilha de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 1996
GUumlELL Joseacute Miguel Fernaacutendez Planificacioacuten Estrateacutegica de Ciudades Barcelona Editorial Gustavo Gili SA 1997
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
154
GUumlNTHER Hartmut Como Elaborar um Relato de Pesquisa Seacuterie Planejamento de Pesquisa nas Ciecircncias Sociais ndeg02 Brasiacutelia DFUnB Laboratoacuterio de Psicologia Ambiental 2004
HAFERMANN Mariacutelia Universidade Federal de Santa Catarina Sustentabilidade e desenvolvimento turiacutestico na Ilha de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo
HARVEY David A justica social e a cidade Satildeo Paulo HUCITEC 1980
HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo Annablume 2005
IPH Instituto de Pesquisas Hidroloacutegicas Estudo hidrodinacircmico do rio Papaquara ndash Sapiens Parque Porto Alegre RS ndash Setembro 2003
IPUF Instituto de Planejamento Urbano de Florianoacutepolis Plano Diretor dos Balneaacuterios 1985
JACOBS Jane Morte e Vida nas Grandes Cidades Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2001
FERRARI JUacuteNIOR Joseacute Carlos Limites e Potencialidades do Planejamento Urbano Uma discussatildeo sobre os pilares e aspectos recentes da organizaccedilatildeo espacial das cidades brasileiras Estudos Geograacuteficos Rio Claro 2(1)15-28 junho ndash 2004
LEFEacuteBVRE Henri O direito agrave cidade Editora Moraes Satildeo Paulo 1969
LEFF Enrique Ecologiacutea y capital racionalidad ambiental democracia participativa y desarrollo sustentable 2 ed corr aum Madrid Siglo XXI Editores c1994
LOJKINE Jean O estado capitalista e a questatildeo urbana 2ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1997
LOPES Rodrigo A cidade intencional o planejamento estrateacutegico de cidades Rio de Janeiro Mauad 1998
MARICATO Ermiacutenia As Ideacuteias Fora do Lugar e o Lugar Fora das Ideacuteias In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
MARICATO Ermiacutenia Brasil cidades alternativas para a crise urbana 2 ed Petroacutepolis Vozes 2002
MARICATO Ermiacutenia Metroacutepole legislaccedilatildeo e desigualdade Estudos Avanccedilados vol 17 n 48 Satildeo Paulo MayAug 2003
MARX Karl O capital critica da economia poliacutetica 14 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1994
MASCARO Juan Luis Manual de loteamentos e urbanizaccedilotildees Porto Alegre Sagra DC Luzzatto 1994
MILAREgrave Eacutedis Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental no Brasil In ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita organizadores Previsatildeo de impactos o estudo de
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
155
impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
MILES Valentina de Oliveira Diagnoacutestico da ocupaccedilatildeo urbana e degradaccedilatildeo ambiental em Canasvieiras apontamentos para a promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo Florianoacutepolis 2005
MONTIBELLER FILHO Gilberto Industrializaccedilatildeo e ecodesenvolvimento contradiccedilotildees possibilidades e limites em economia capitalista perifeacuterica- o estado de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1994
MONTIBELLER FILHO Gilberto O mito do desenvolvimento sustentaacutevel meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias Florianoacutepolis Ed UFSC 2004
MUMFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
NEGRAtildeO Joatildeo Joseacute Para conhecer o neoliberalismo Publisher Brasil 1998
OLIVEIRA Francisco de O Estado e a Exceccedilatildeo Ou o Estado de Exceccedilatildeo Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V5 N1 2003
O QUE A CAPITAL NECESSITA Boletim Informativo do Sistema SINDUSCON Florianoacutepolis Ano 7 n85 julho de 2007
PAIVA Maria das Graccedilas de Menezes Venancio Sociologia do turismo 2 ed Campinas Papirus 1998
PEDRAtildeO Fernando A sustentabilidade social e ambiental Revista de Desenvolvimento Econocircmico Salvador BA Ano IV ndeg06 p28-40 2002
PEREIRA Gislene Novas perspectivas para a gestatildeo das cidades Estatuto da Cidade e mercado imobiliaacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente Editora UFPR Ndeg 9 P77-92 JanJun 2004
PIMENTA Margareth de Castro Afeche (org) Florianoacutepolis do outro lado do espelho Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
PREFEITURA DO RIO Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro As cidades da Cidade Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwriorjgovbrplanoestrategico
PROGRAMA MAB O HOMEM E A BIOSFERA Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash UNESCO Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
REDCLIFT Michael Poacutes-sustentabilidade e os novos discursos de sustentabilidade Revista Raiacutezes Campina Grande Vol21 ndeg01 p124-136 janjun2002
RELATOacuteRIO DE IMPACTO AMBIENTAL RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
156
RIBEIRO Luiz C de Queiroz SANTOS JR Orlando Alves Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1997
RIZZO Paulo Marcos Borges A natimorta tecnoacutepolis do Campeche em Florianoacutepolis ndash deliacuterio de tecnocratas pesadelo dos moradores In Florianoacutepolis Do Outro Lado do Espelho Margareth de Castro Afeche Pimenta organizadora Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
ROLNIK Raquel Cidades o Brasil e o Habitat II Revista Teoria e Debate nuacutemero 32 Julho agosto setembro de 1996 Disponiacutevel em httpwww2fpaorgbr acesso em 10112007
SAacute Mohana Faria de Processo de Avaliaccedilatildeo de Impactos Ambientais (AIA) do Empreendimento Sapiens Parque (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004
SACHS Ignacy Estrateacutegias de Transiccedilatildeo para o Seacuteculo XXI Coleccedilatildeo Cidade Aberta Satildeo Paulo Studio Nobel Fundap 1993
SACHS Ignacy Caminhos para o desenvolvimento sustentaacutevel 2 ed Rio de Janeiro Garamond 2002
SACHS Ignacy Desenvolvimento includente sustentaacutevel sustentado Rio de Janeiro Garamond 2004
SAacuteNCHEZ Fernanda A Reinvenccedilatildeo das Cidades para um Mercado Mundial Chapecoacute Argos 2003
SAacuteNCHEZ Fernanda A (in)sustentabilidade das cidades-vitrine In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
SANTOS Cristina Silveira Ulyssea Planejamento turistico e seus reflexos no processo de urbanizaccedilatildeo nas praias de Canasvieiras e Jurerecirc Internacional (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1993
SANTOS Milton A urbanizaccedilatildeo brasileira 5 ed Satildeo Paulo EDUSP 2005
SANTOS Milton Pensando o espaccedilo do homem Satildeo Paulo Hucitec 1982
SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave consciecircncia universal 11 ed Rio de Janeiro Record 2004
SAPIENS La ciudad del conocimiento Revista ambiente digital Arquitectura Del Ambiente Fundacioacuten CEPA Disponiacutevel em httpwwwrevista-ambientecomar acesso em 05122006
SAPIENS PARQUE - Audiecircncia Puacuteblica em Ponta das Canas Produccedilatildeo para o programa Interesse Puacuteblico TV Justiccedila Data 18 de Agosto 2004 Florianoacutepolis Disponiacutevel em httpwwwprscmpfgovbr acesso em 15062007
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
157
SEN Amartya Desenvolvimento como liberdade Satildeo Paulo Companhia das Letras 2000
SILVA Adriana Gondran Espaccedilos Puacuteblicos Turismo e o Resgate da Cidadania em Canasvieiras Poacutes-Graduaccedilatildeo em Turismo e Hotelaria Universidade do Vale do Itajaiacute Balneaacuterio Camburiuacute 2005
SILVA Gilceacuteia Pesce do Amaral Science parks and urban design a cross-cultural investigation Oxford 2001 1v (Tese Doutorado) - Oxford Brookes University
SOUZA Cristiane Mansur de Moraes Avaliaccedilatildeo Ambiental Estrateacutegica como Subsiacutedio para o Planejamento Urbano (Tese de Doutorado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2003
SOUZA Marcelo Lopes de Mudar a cidade uma introduccedilatildeo criacutetica ao planejamento e agrave gestatildeo urbanos 3 ed rev Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2004
STEINBERGER Mariacutelia A (re)construccedilatildeo de mitos sobre a (in)sustentabilidade do(no) espaccedilo urbano Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR 2001
SWARBROOKE John Turismo sustentaacutevel conceitos e impacto ambiental 3 ed Satildeo Paulo Aleph 2002
VAINER Carlos Paacutetria Empresa e Mercadoria In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
VAZ Nelson Popini O centro histoacuterico de Florianoacutepolis espaccedilo puacuteblico do ritual Florianoacutepolis FCC Ed da UFSC 1991
VEIGA Joseacute Eli da Desenvolvimento sustentaacutevel o desafio do seacuteculo XXI Rio de Janeiro Garamond 2005
VIEIRA Nataacutelia Miranda A Imagem diz Tudo O Espaccedilo Urbano como Objeto de Consumo Bahia Anaacutelise e Dados Salvador ndash BA SEI V9 Ndeg2 P39-46 Set 1999
VIEIRA Paulo Freire Desenvolvimento e meio ambiente no Brasil a contribuiccedilatildeo de Ignacy Sachs Porto Alegre Pallotti Florianoacutepolis APED 1998
VILLACcedilA Flavio Espaccedilo intra-urbano no Brasil Satildeo Paulo Studio Nobel FAPESP 2001
Portais citados ao longo do texto
httpwwwnewsweekcom httpwwwfinepgovbr httpwwwfapescrct-scbr httpwwwibgegovbr httpwebworldbankorg httpwwwvitruviuscombr httpwwwestatutodacidadeorgbr httpwwwsbaucombr httpwwwhsmcombr httpwwwcuritibapaises-america
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
158
ANEXO 1 ndash AVALIACcedilAtildeO DO SAPIENS PARQUE SEGUNDO O IAB-SC
Para FUNDACcedilAtildeO CERTI AC Joseacute Eduardo De Silvia Lenzi Eduardo Castells Enrique Brena Miguel Pousadela Nelson Saraiva Ref Projeto SAPIENS Park
INTRODUCcedilAtildeO
Antes de apresentar a verificaccedilatildeo e complementaccedilatildeo das sugestotildees tal como solicitado por Leandro atraveacutes de mail enviado no uacuteltimo final de semana eacute necessaacuterio fazer alguns esclarecimentos
Apoacutes a finalizaccedilatildeo do Workshop da terccedila feira da semana passada alguns dos profissionais convidados -aqueles arquitetos que tiacutenhamos feito no decorrer das sessotildees de trabalho apreciaccedilotildees conceitualmente convergentes- ficamos trocando e aprofundando opiniotildees a respeito do encontro no geral e das propostas apresentadas pela Ecoplan em particular
Podemos afirmar que houveram conclusotildees consensuais no que diz a respeito de uma avaliaccedilatildeo criacutetica dos trabalhos apresentados Aconteceu uma outra rodada de comunicaccedilotildees -telefocircnicas desta vez- ao recebermos o mail de Leandro houve novamente consenso em considerar que as sugestotildees enviadas natildeo constituiacuteam uma siacutentese representativa das criacuteticas levantadas durante o encontro Foi nesse momento que comeccedilou a se pensar na ideacuteia de apresentar este documento
Aleacutem disso se considerou que questotildees centrais a respeito do embasamento conceitual e paracircmetros programaacuteticos do empreendimento ficavam difiacuteceis de transcrever dentro da formataccedilatildeo proposta pela grade enviada Notadamente ficava incompatiacutevel relacionar os alcances do enquadramento inicial apresentado por Joseacute Eduardo -que entendemos correto e suporte essencial para a definiccedilatildeo do perfil do empreendimento- com sugestotildees parciais sobre as propostas apresentadas sem contar com espaccedilo para questionar a validade dos fundamentos conceituais que as orientaram em princiacutepio sugestotildees natildeo ultrapassam a condiccedilatildeo de serem apenas correccedilotildees pontuais
Assim depois de ponderada avaliaccedilatildeo acreditamos que a classe de produto que melhor responderia agraves expectativas da Fundaccedilatildeo CERTI atendendo tambeacutem agrave condiccedilatildeo de espelhar adequadamente nossa avaliaccedilatildeo criacutetica do Workshop seria um documento que a- Fosse de encaminhamento uacutenico recolhendo o conjunto de contribuiccedilotildees dos arquitetos signataacuterios b- Tivesse uma estrutura expositiva diferenciada por niacuteveis de abrangecircncias e enfoque 1) A respeito da qualificaccedilatildeo do empreendimento 2) A respeito das caracteriacutesticas do sitio 3) A respeito das caracteriacutesticas de outros empreendimentos de porte similar 4) A respeito da avaliaccedilatildeo criacutetica das propostas apresentadas e que finalmente c- Concluiacutesse soacute entatildeo com sugestotildees 5) A respeito de condicionantes e conteuacutedos programaacuteticos que entendemos devem ser respeitados e contemplados pelo Maacutester Plan do SAPIENS Park
Com esse entendimento e sempre dispostos para maiores esclarecimentos aguardamos retorno
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
159
1 SINGULARIDADES QUE NOTABILIZAM O EMPREENDIMENTO
11 Conceito original focado no preacute-suposto de que a superaccedilatildeo humana se opera atraveacutes do conhecimento
12 Intenccedilatildeo declarada de aplicar tecnologia em sua mais ampla conceituaccedilatildeo
13 Ousadia de conceber o SAPIENS Park como um grande projeto ordenador orientado pela preservaccedilatildeo ambiental e pela buacutesqueda de melhor qualidade vida
14 Preocupaccedilatildeo por identificar as qualidades que converteram Florianoacutepolis numa cidade desejada junto com a intenccedilatildeo de garantir que tais qualidades sejam preservadas e ainda enriquecidas atraveacutes das diretivas e conteuacutedos do programa que iraacute implementar o projeto
15 Ambiccedilatildeo de que um grande e utoacutepico projeto possa transbordar suas qualidades internas para aleacutem do siacutetio que o abriga objetivando se converter num centro gerador da requalificaccedilatildeo urbana da Ilha e que abra caminhos na direccedilatildeo de superar a exclusatildeo social
16 Identificaccedilatildeo de paracircmetros programaacuteticos que acrescentam agrave ideacuteia de criaccedilatildeo de um parque tecnoloacutegico atividades e equipamentos que abrem a possibilidade de que Florianoacutepolis desempenhe como um iacutecone o papel de nova e significativa centralidade referencial para a regiatildeo para o paiacutes e para o mundo
2 COMPONENTES DIFERENCIADORES PARA A AgraveREA SITUACcedilAcircO TAMANHO NATUREZA PUacuteBLICA
21 Compreensatildeo do papel que a comunidade espera e necessita que seja atendido por essa grande aacuterea pertencente agrave empresa estadual e por tanto de natureza essencialmente puacuteblica
22 Identificaccedilatildeo das expectativas sociais de usos especiacuteficos que deveriam ser atendidas pelo terreno do SAPIENS Park considerando que pela sua privilegiada localizaccedilatildeo tem a possibilidade de ser articulador de toda a regiatildeo Norte da Ilha e dela com a cidade
23 Identificaccedilatildeo dos componentes de programa que devem caracterizar usos diferenciais para o terreno do SAPIENS Park e para o terreno da Reserva Florestal do Rio Vermelho ao qual corresponde que fique integrado
24 Reconhecimento de alternativas complementares para o uso da aacuterea identificadas a partir de caracterizar e localizar atividades externas ao terreno ou determinadas por seu entorno urbano
25 Entendimento de que intervir na aacuterea atraveacutes da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park representa a uacuteltima possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo urbana dos balneaacuterios do Norte da Ilha
26 Identificaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos atividades equipamentos estruturadores e complementares que levando em conta as vocaccedilotildees tradicionais da Ilha e a tendecircncia que se apresenta para o futuro possam ser articulados com o programa deste projeto de modo a corrigir a mono-funcionalidade balneaacuteria preacute-existente agrave implantaccedilatildeo do empreendimento
27 Proposiccedilatildeo dos retornos ou compensaccedilotildees sociais a que o projeto deve-se obrigar considerando sua condiccedilatildeo de bem puacuteblico
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
160
3 ESTUDO DE CASOS EXEMPLARES DE PORTE SEMELHANTE REFERENCIAIS
POSSIacuteVEIS PARA O ldquoSAPIENS PARKrdquo 31 Analisar o Plano Piloto e a arquitetura de Brasiacutelia como exemplo de construccedilatildeo de novos siacutembolos ou iacutecones para a modernidade brasileira dos anos lsquo50
32 Analisar o Plano da Barra da Tijuca como exemplo de construccedilatildeo de iacutecone brasileiro para o final do seacuteculo XX
33 Analisar o Parque do Flamengo referencial na construccedilatildeo de grandes espaccedilos puacuteblicos significativos e ordenadores de urbanidade
34 Analisar o iacutecone Copacabana e o protejo de reurbanizaccedilatildeo e engorde
35 Analisar o Plano para a orla de Barcelona como exemplo de urbanizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo de orla
36 Estudar os melhores exemplos disponiacuteveis dentro da temaacutetica de grandes parques tecnoloacutegicos (La Villette Epcot Center Digital Miacutedia City) especialmente daqueles que tenham mostrado efetiva contribuiccedilatildeo agrave construccedilatildeo da urbanidade
37 Estudar os avanccedilos tecnoloacutegicos mais destacados e sua aplicaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de tecidos urbanos e de edifiacutecios ambientalmente solucionados
4 AVALIACcedilAgraveO CRIacuteTICA DOS ESTUDOS DE ldquoMASTER PLANrdquo APRESENTADOS
41 Os trecircs estudos apresentados mostram-se modelagens inadequadas para satisfazer as ideacuteias originais propostas no programa para o SAPIENS Park tal como formuladas por Jose Eduardo no inicio do Workshop As soluccedilotildees diagramaacuteticas dos trecircs estudos repetem o mesmo projeto conservador distanciando-se da proposta do empreendimento que objetiva a inovaccedilatildeo como importante conteuacutedo
42 Os trecircs estudos repetem um mesmo e discutiacutevel modelo de urbanizaccedilatildeo -baseado na ideacuteia do cluster como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano- que jaacute fora bastante difundido em meados do seacuteculo XX Os resultados dos casos nos quais o modelo foi aplicado mostraram significativos aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com a inevitaacutevel sequumlela de aumento na marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social especialmente quando implantado em urbanizaccedilotildees mais afastadas desprovidas de efetiva centralidade
43 Os trecircs estudos restringem-se ao uso dos mesmos componentes jaacute presentes nos diagramas e imagens preliminares previamente elaborados dentro do proacuteprio CERTI Natildeo se verifica a incorporaccedilatildeo de novos paracircmetros de programa necessaacuterios a um projeto urbano Avalia-se que as dimensotildees e a natureza puacuteblica do terreno obrigariam o projeto a contar com um programa mais ambicioso em prol de permitir a superposiccedilatildeo de atividades e de equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
44 Tal como foram apresentados os trecircs estudos satildeo umas repeticcedilotildees conceituais que poderia estar em qualquer lugar do mundo nada do que pode lhes dar contextualidade local nem relaccedilatildeo com seu entorno imediato estaacute trabalhado ou foi sugerido
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
161
45 Os estudos foram concebidos como ilhas dentro de uma ilha (que estaacute pela sua vez dentro da Ilha) Todas as trecircs soluccedilotildees apresentam um conceito de artefato isolado de seu entorno o que o converte em elemento desagregador e natildeo em integrador da estrutura urbana existente Fica assim comprometido o declarado objetivo de que o SAPIENS Park sirva como modelo de urbanizaccedilatildeo referencial para o entorno A anaacutelise apresentada eacute limitada agrave aacuterea do terreno e natildeo inclui a anaacutelise do comportamento do entorno urbano imediato e menos ainda do comportamento da regiatildeo norte da ilha
46 Os trecircs estudos repetem cenografias similares para todos as zonas do terreno desconsiderando ou minimizando o papel desempenhado pela riqueza e diversidade oferecidas pelo mesmo e seu entorno imediato urbanizaccedilotildees grandes vias de contorno rios forestaccedilatildeo caponetes nativos banhados etc
47 As trecircs soluccedilotildees apresentam uma riacutegida zonificaccedilatildeo monofuncional por atividades baseada nas diretrizes da Carta de Atenas (CIAM 1933) Experiecircncias mostram que uma tal concepccedilatildeo gera setores isolados entre si carentes de vida quando cessa a atividade especiacutefica de cada um antiteacuteticos agrave proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade e focos de seriacutessimos problemas de seguranccedila
48 As variaccedilotildees apresentadas nos estudos -onde se intercambiam aleatoriamente as localizaccedilotildees de uma ou outra das zonas- mostram que a distribuiccedilatildeo sobre o terreno de uma ou outra monoatividade eacute feita com indiferenccedila a respeito do contexto de implantaccedilatildeo e inclusive dos proacuteprios requerimentos ambientais que fossem especiacuteficos para cada atividade
49 No mesmo sentido verifica-se que as zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar constituindo uma totalidade homogecircnea indiferenciada Ao verde preacute-existente resta apenas a funccedilatildeo de se transformar no resiacuteduo separador dessas ilhas urbanas de programas monofuncionais
410 Avalia-se que eacute artificial e inconsistente a proposta da aacutegua como cenaacuterio predominante e como principal nexo estruturador das atividades O efeito resultante eacute sempre separador (ao reforccedilar a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha criadas) e natildeo integrador Natildeo pode ser ignorado que a Ilha de Santa Catarina jaacute conta com duas extensas lagoas no seu interior e que o que estaacute faltando satildeo articulaccedilotildees da cidade com aacutereas verdes preservadas e com grandes espaccedilos puacuteblicos que sejam tratados com equipamentos culturais de lazer esportivos comerciais e comunitaacuterios
411 A extensa soluccedilatildeo de lagos sem usos claramente identificados apresentam-se decorrentes das aacutereas de empreacutestimo de materiais para a consecuccedilatildeo das ilhas de monofuncionalidade e natildeo com uma intencionalidade propositiva original dos estudos Nas conformaccedilotildees propostas a construccedilatildeo de lagos e ilhas correm o risco de desmontar toda a singularidade do ambiente nativo existente
412 Os estudos arquitetocircnicos natildeo foram enunciados contrariando ideacuteia atualmente dominante de que natildeo devem e natildeo podem ser tratados em separado da proposta de desenho urbano A fuga para um trabalho dominantemente paisagiacutestico natildeo soluciona tal impasse tornando menor o focirclego de tais estudos
413 Nesse mesmo sentido a apresentaccedilatildeo centrou-se na explicitaccedilatildeo de corredores visuais e alternacircncia de cheios e vazios sem que se observe uma compreensatildeo do grande potencial da aacuterea -equivale em m2 A mais de duas vezes o triangulo central de Florianoacutepolis- como a principal reserva de espaccedilos puacuteblicos e como o local da futura centralidade de toda a regiatildeo norte com projeccedilotildees para o resto da ilha
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
162
414 Natildeo haacute definiccedilatildeo de que aacutereas conservam a condiccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos quais semipuacuteblicos e quais privados nem de qual eacute o percentual relativo ou o desempenho previsto para cada um assim como da resoluccedilatildeo prevista para articular entre si esses trecircs diferentes niacuteveis de apropriaccedilatildeo Essa eacute uma questatildeo essencial na determinaccedilatildeo do caraacuteter final do empreendimento e permitiraacute estabelecer as efetivas possibilidades de uso do espaccedilo do SAPIENS Park por parte da cidadania
415 Natildeo foram fornecidas estimativas a respeito da demanda potencial prevista para o empreendimento nem de qual seria a consequumlente resposta de uma regiatildeo jaacute fraacutegil do ponto de vista ambiental
416 Finalmente natildeo haacute nenhum esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teoacuterico selecionado nem de quais foram os modelos referencias nacionais ou internacionais adotados pela consultora para embasar a concepccedilatildeo das soluccedilotildees apresentadas Uma tal fundamentaccedilatildeo eacute de vital importacircncia para possibilitar melhor compreender as intencionalidades de projeto dos estudos apresentados
5 SUGESTOtildeES PARA UMA PROPOSTA ALTERNATIVA
51 A principal sugestatildeo e de que o projeto urbano e arquitetocircnico busque ser a proacutepria imagem construiacuteda do ideaacuterio do empreendimento baseado no avanccedilo do conhecimento sobre os modos do homem bem ocupar o planeta Neste ponto alertamos mais uma vez para a pertinecircncia das colocaccedilotildees feitas na abertura do encontro elas tecircm valor referencial essencial na definiccedilatildeo do perfil do programa do empreendimento Entendemos que a identificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo meditada das tecnologias em seu conceito mais amplo e atualizado devem ser tambeacutem objetivos primaacuterios orientadores das propostas que devem ser feitas no campo da arquitetura e do urbanismo
52 Como principal compensaccedilatildeo ao uso de um terreno de natureza puacuteblica natildeo eacute difiacutecil imaginar um grande parque puacuteblico aberto agrave cidade e falando a esteacutetica dos valores vegetais locais como um importante componente da proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade Componente do qual Florianoacutepolis mostra evidente carecircncia Esta compensaccedilatildeo em dimensotildees realmente generosas seria um importante elemento que facilitaria a negociaccedilatildeo com a sociedade na hora de discutir compensaccedilotildees frente agrave privatizaccedilatildeo de partes dessa imensa aacuterea
53 A leitura dos balneaacuterios monofuncionais baseados dominantemente na habitaccedilatildeo permite pensar na centralizaccedilatildeo de equipamentos faltantes aos balneaacuterios -como tambeacutem agrave cidade- no sentido de alimentar sua grande vocaccedilatildeo turiacutestica e outras que podem vir a despertar justamente a partir da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park Eacute notaacutevel na cidade a ausecircncia de lugares excetuados os espaccedilos de praia que permitam a celebraccedilatildeo da cidadania nas suas mais variadas escalas incluindo ateacute aquelas das multidotildees reunidas pelo veratildeo Eventos os mais variados ficam prejudicados pela ausecircncia de tais espaccedilos A construccedilatildeo da centralidade inexistente para os balneaacuterios da ilha justificaria tambeacutem os desejos de centralidade regional local e internacional do empreendimento
54 O somatoacuterio de uma grande centralidade associado a parques trabalho e habitaccedilatildeo aumenta a superposiccedilatildeo desejada pelas cidades e eacute garantia de enriquecimento da cena urbana que se quer criar como novo e importante iacutecone Natildeo se constroacutei a imagem de uma grande centralidade com um programa que fica restrito apenas aos elementos que caracterizam um parque tecnoloacutegico Mais ainda deve-se pensar que a criaccedilatildeo de uma nova centralidade do porte estimado para o projeto do SAPINS Park pode vir a gerar um
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
163
deslocamento mais definitivo em direccedilatildeo ao Norte da Ilha da atual centralidade de Florianoacutepolis
55 Acreditamos que em relaccedilatildeo agrave conservaccedilatildeo do ambiente deveraacute ser perseguida a tese da toleracircncia zero em relaccedilatildeo aos resiacuteduos decorrentes da cultura humana Arquiteturas e organizaccedilotildees urbanas deveriam ser pensadas visando tal objetivo Nesse sentido recomenda-se especular com soluccedilotildees que diminuam a projeccedilatildeo sobre a paisagem natural representada pelas aacutereas de construccedilatildeo de edificaccedilotildees Nesse sentido eacute importante incentivar a pesquisa sobre novas soluccedilotildees urbanas tanto horizontais quanto verticais Adensar concentrar nuclear e com isso aliviar o continuo construiacutedo sobre o planeta eacute hoje reflexatildeo obrigatoacuteria de todo estudo urbano Mais ainda de um empreendimento que pretende primar como referencial em termos de qualidade de vida e proteccedilatildeo ambiental E fica claro que nessa filosofia natildeo podem ficar excluiacutedas as soluccedilotildees arquitetocircnicas que complementem as propostas urbanas
56 Eacute recomendaacutevel mudar o programa do projeto para incorporar o conceito de polifuncionalidade ou mix de funccedilotildees no compromisso de construir cidade e natildeo tatildeo soacute um parque temaacutetico com algumas atividades complementares para uso da populaccedilatildeo local
57 Considera-se que a vinculaccedilatildeo com o mar deve ser uma questatildeo central do projeto Para tanto deve ser cogitada a possibilidade de incorporar a vinculaccedilatildeo do SAPIENS Park com um terminal mariacutetimo de transporte de passageiros assim como tambeacutem com o terminal terrestre proacuteximo ao terreno
58 No mesmo sentido entendemos que a implantaccedilatildeo do SAPIENS Park obriga tanto a promotores quanto a projetistas a natildeo deixar de lado o problema representado pelo sistema geral de transporte puacuteblico urbano Assim como a infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos as demandas que venham a ser geradas pela implantaccedilatildeo do parque iratildeo a afetar profundamente natildeo apenas ao entorno imediato do terreno mas tambeacutem ao sistema regional na sua total complexidade
59 Por fim entendemos que a aacuterea do terreno deve ser entendida como campo de atuaccedilatildeo projetual para aleacutem do rio Papaquara conformando uma unidade que articule toda a regiatildeo norte da Ilha desde a estrada de acesso a Ponta das Canas e a SC 403 que vincula com Ingleses por um lado e entre a SC 401 que vincula com Canasvieiras e a estrada que vincula Cachoeira do Bom Jesus agrave SC 403 Nesse quadro fica facilitada a alternativa de que a area funcione como a centralidade da regiatildeo balneaacuteria norte (Daniela Jurereacute Canasvieiras Cachoeira Ponta das Canas Lagoinha Praia Brava Ingleses e Santinho) ampliando ainda o contexto para as comunidades de Vargem Grande e Rio Vermelho
Em Florianoacutepolis 4 de Julho de 2002
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
164
ANEXO 2
TABELA DE IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS
DO SAPIENS PARQUE
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
165
ANEXO 3 ndash MASTER PLAN SAPIENS PARQUE 2005
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
166
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
167
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
168
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque 29
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 30
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque 35
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil 60
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis 69
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial 95
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica 101
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes 101
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de 101
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame 106
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes 106
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer 106
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico 106
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua 108
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde 108
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor 109
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana 109
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 119
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque 137
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 138
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 139
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
6
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico 44
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis 58
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel 65
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba 105
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades 108
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque 123
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque 129
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel 141
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
7
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 ndash Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC 158
Anexo 2 ndash Tabela de Impactos e Medidas Compensatoacuterias do Sapiens Parque 164
Anexo 3 ndash Master Plan Sapiens Parque 2005 165
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
8
LISTA DE SIGLAS
ARENA - Alianccedila Renovadora Nacional
CASAN - Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento
CELESC - Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA
CERTI - Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras
CIC - Cidade Industrial de Curitiba
CODESC - Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CSD - Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel
EIA - Estudo de Impacto Ambiental
EIV - Estudo de Impacto de Vizinhanccedila
ESI - Environmental Sustenaibility Index
FAPESC - Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina
FATMA ndash Fundaccedilatildeo do Meio Ambiente
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FMI - Fundo Monetaacuterio Internacional
IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaacuteveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas
IDH - Iacutendice de Desenvolvimento Humano
IDS - Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel
IPPUC - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
LAP - Licenccedila Ambiental Preacutevia
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
ONU - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PFL - Partido da Frente Liberal
PIB - Produto Interno Bruto
PMDB - Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro
PMF - Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
PNB - Produto Nacional Bruto
PNUD - Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento
RBAC ndash Reserva da Biosfera da Amazocircnia Central
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
9
RBMA - Reserva da Biosfera Mata Atlacircntica
RBC ndash Reserva da Biosfera do Cerrado
RBCA ndash Reserva da Biosfera da Caatinga
RBCVSP ndash Reserva da Biosfera do Cinturatildeo Verde de Satildeo Paulo
RBP ndash Reserva da Biosfera do Pantanal
RBU ndash Reserva da Biosfera Urbana
RIMA - Relatoacuterio de Impacto Ambiental
SINDUSCON - Sindicato da Induacutestria da Construccedilatildeo Civil
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo
SPE - Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
SUDAM - Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia
SUDENE - Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
UNCED - Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
UNCTAD - Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento
UNEP - Programa de Meio Ambiente das Naccedilotildees Unidas
UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
10
RESUMO
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Orientador Nelson Popini Vaz Linha de Pesquisa Configuraccedilotildees Regionais Planejamento Urbano e Meio Ambiente Defesa 10032008
O conjunto de processos e agentes externos de uma cidade sempre resulta em influenciar a sua evoluccedilatildeo urbana A globalizaccedilatildeo fortifica a velocidade com que ocorrem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e alteraccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e socioculturais trazem implicaccedilotildees no processo construtivo das cidades O espaccedilo urbano eacute transformado em um capital comum para toda a humanidade e ganha novas funccedilotildees dando origem ao ambiente competitivo entre as cidades e refletindo suas modificaccedilotildees no planejamento As cidades passam a constituir centros de articulaccedilatildeo e controle de economias regionais nacionais e internacionais a partir de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas As accedilotildees estrateacutegicas em acircmbito urbano definidas dentro da loacutegica do mercado caracterizam o novo modelo de planejamento a ser adotado frente aos desafios impostos pela globalizaccedilatildeo Por outro lado a problemaacutetica ambiental global surgida no seacuteculo XX determinou um novo paradigma de desenvolvimento que apresenta como diretriz a integraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas com o ambiente natural O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel compreende uma alternativa agraves teorias e modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica Este trabalho estabelece uma relaccedilatildeo entre o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel e o atual modelo de planejamento urbano estrateacutegico Para tanto faz uma avaliaccedilatildeo da eficiecircncia do modelo de planejamento urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel segundo os conceitos e criteacuterios de sustentabilidade A anaacutelise baseia-se no estudo de caso do empreendimento Sapiens Parque para Florianoacutepolis Tal empreendimento caracteriza-se como um programa de desenvolvimento regional baseado na produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e que visa a sustentabilidade social econocircmica e ambiental A pesquisa aponta os limites deste projeto no alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional atraveacutes do levantamento dos seus impactos em meio fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico permitindo identificar em quais aspectos o modelo de planejamento urbano adotado contraria os conceitos de sustentabilidade estudados
Palavras-chave desenvolvimento sustentaacutevel planejamento estrateacutegico projeto urbano globalizaccedilatildeo
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
11
ABSTRACT
SILVA Beatriz Francalacci da Limites do planejamento estrateacutegico aplicado ao espaccedilo urbano como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel o caso do Sapiens Parque 2008 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Urbanismo Histoacuteria e Arquitetura da Cidade PGAU-Cidade) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 168 f
Adviser Nelson Popini Vaz Line of Research Regional Configurations Urban Planning and Environment Date of Presentation March 10th of 2008
The set of processes and external agents of a city always results in influencing its urban evolution The globalization increases the velocity in which these external changes take place and changes the space into a common capital to the humanity bringing its implications to the citiesrsquo constructive process The urban space has new functions creating a competitive environment between cities and reflecting in modifications in the urban planning Through urban vocations and specializations the cities start to constitute articulation and control centers of regional national and international economy The strategic actions in the urban field defined according to the market logic characterize the new planning model to be adopted facing the challenges imposed by the globalization On the other hand the global environmental problem that appeared in 20th century determined a new development paradigm that presents as a direction line the integration between human relations and natural environment The concept of sustainable development comes as an alternative to the theories and traditional models of development and marks a new philosophy that combines economic efficiency with social justice and ecological prudence This thesis establishes an interaction between the paradigm of the sustainable development and the current model of strategic urban planning In order to achieve that an efficiency evaluation of the urban planning model as a tool of sustainable development is made according to the concepts and the criteria of sustainability The analysis is based an enterprise Sapiens Park study of case in Florianoacutepolis Such enterprise is characterized as a regional development program based on the scientific and technological production and it aims at the social economic and environmental sustainability The research points the limits of this project while trying to reach the regional sustainable development through the survey of its impacts in the physic biotic and socio-economic environment allowing the identification of which aspects the urban planning model current adopted opposes the concepts of sustainability studied
Keywords sustainable development strategic planning urban project globalization
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
12
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS 04
LISTA DE FIGURAS 05
LISTA DE TABELAS 06
LISTA DE ANEXOS 07
LISTA DE SIGLAS 08
RESUMO 10
ABSTRACT 11
INTRODUCcedilAtildeO 14
Justificativa 14
Objetivos da pesquisa 17
Metodologia de pesquisa e estrutura do trabalho 18
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE 22
11 Caracterizaccedilatildeo de Florianoacutepolis 22
12 O empreendimento Sapiens Parque 26
121 Apresentaccedilatildeo do projeto 26
122 Localizaccedilatildeo urbana do empreendimento 29
123 Moacutedulos e Setores 33
124 Agentes envolvidos 35
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE 40
21 Conceito de desenvolvimento 40
211 Brasil e desenvolvimento 46
22 A inserccedilatildeo ambiental no desenvolvimento 51
221 Ecodesenvolvimento 54
222 Desenvolvimento Sustentaacutevel 61
23 Sustentabilidade urbana 66
231 Diretrizes para a sustentabilidade urbana 71
24 Turismo Desenvolvimento e Meio Ambiente 75
25 Impactos Ambientais Urbanos 79
251 Impactos de Projetos Desenvolvimentistas 81
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
13
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO 86
31 Globalizaccedilatildeo e a nova funccedilatildeo das cidades 86
32 Estrateacutegias das cidades para as novas funccedilotildees urbanas 88
33 O modelo estrateacutegico de planejamento das cidades 93
34 Variaccedilotildees em torno de um mesmo modelo 99
341 Barcelona e o caso da Vila Oliacutempica 99
342 Curitiba e suas intervenccedilotildees urbanas 102
343 Rio de Janeiro e os Planos Estrateacutegicos Regionais 106
35 Conclusotildees parciais Limites do planejamento estrateacutegico 110
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE 117
41 Avaliaccedilotildees do Instituto de Arquitetos do Brasil 117
42 Avaliaccedilotildees do EIA-RIMA 2003 120
421 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio fiacutesico e bioacutetico 124
422 Impactos e medidas compensatoacuterias em meio soacutecio-econocircmico 126
423 Atribuiccedilotildees dadas ao poder puacuteblico 131
424 Aspectos legais 132
43 Avaliaccedilotildees da comunidade local 135
44 Avaliaccedilotildees do Master Plan 2005 136
45 Diagnoacutestico final avaliaccedilatildeo dos limites 140
5 CONCLUSOtildeES 145
REFEREcircNCIAS 151
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
14
INTRODUCcedilAtildeO
JUSTIFICATIVA OBJETIVO E METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO
As mudanccedilas tecnoloacutegicas econocircmicas geo-poliacuteticas e soacutecio-culturais ocorridas no
mundo como decorrecircncia do aparecimento da globalizaccedilatildeo apresentam suas influecircncias na
configuraccedilatildeo do espaccedilo urbano As cidades passaram de espaccedilos locais a centros
articuladores de economias regionais nacionais e internacionais tendo como instrumento
de planejamento accedilotildees estrateacutegicas definidas dentro da loacutegica do mercado Esta nova
realidade gera o espaccedilo das cidades mundiais onde as cidades buscam seu
reconhecimento em niacutevel global atraveacutes de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas
Tal situaccedilatildeo no Brasil teve seu maior exemplo refletido na cidade de Curitiba na
deacutecada de 1990 Curitiba foi classificada como uma das melhores cidades brasileiras para
se viver e tornou-se referecircncia nacional e internacional atraveacutes de um plano de urbanizaccedilatildeo
especiacutefico que visava atrativos culturais e de lazer A exemplo do que aconteceu na capital
paranaense nos uacuteltimos anos o espaccedilo metropolitano de Florianoacutepolis vem sendo apontado
como uma das regiotildees de maior qualidade de vida do Brasil e com o menor iacutendice de
violecircncia do paiacutes
A pretensatildeo de transformar Florianoacutepolis em uma referecircncia mundial iniciou a partir
da virada dos anos oitenta para os anos noventa Ao final da deacutecada de 1980 defendia-se
que a vocaccedilatildeo de Florianoacutepolis estaria na induacutestria do turismo e de alta tecnologia
entendidas como induacutestrias natildeo poluentes e adequadas ao rico ambiente natural da cidade
Apoacutes o lanccedilamento do Mercosul em 1991 Florianoacutepolis foi nomeada com o tiacutetulo de Capital
Turiacutestica do Mercosul Em 2002 a revista nacional Exame colocou a capital de Santa
Catarina como a quinta colocada dentre as melhores cidades do paiacutes para a aplicaccedilatildeo de
investimentos
No mecircs de junho de 2007 Florianoacutepolis esteve presente no evento ldquoFoacuterum
Internacionalrdquo que aconteceu em Goyang na Coreacuteia do Sul O objetivo do evento era
debater o tema do desenvolvimento urbano e cultural com convidados especiais
representantes oficiais e especialistas de renome internacional de um grupo de dez cidades
especiacuteficas O grupo reunia as ldquo10 cidades mais dinacircmicas do mundordquo que consistem as
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
15
regiotildees econocircmicas mais promissoras do mundo pesquisa realizada e publicada pela
revista internacional Newsweek em julho de 2006 Florianoacutepolis foi a uacutenica cidade da
Ameacuterica Latina a ser classificada no ranking juntamente a outros centros urbanos
americanos europeus e asiaacuteticos
A revista Newsweek justificou a inclusatildeo de Florianoacutepolis na lista das dez cidades
mais dinacircmicas do mundo devido a uma seacuterie de fatores entre eles o potencial turiacutestico
derivado da quantidade de praias o alto niacutevel de escolaridade e a presenccedila de uma nova
induacutestria limpa do conhecimento baseada em empresas de tecnologia de ponta A notiacutecia
chega a referir-se agrave capital como o futuro ldquoVale do Siliacuteciordquo no Brasil em uma comparaccedilatildeo ao
maior centro tecnoloacutegico americano na Califoacuternia
Florianoacutepolis vem buscado tornar-se uma referecircncia internacional atraveacutes de projetos
e intervenccedilotildees urbanas seguindo processo semelhante ao qual se submeteu Curitiba No
evento de Goyang a cidade foi representada pelo engenheiro mecacircnico e administrador
Marcelo Ferreira Guimaratildees diretor de Ciecircncia Tecnologia e Inovaccedilatildeo do Sapiens Parque
projeto urbano que constitui o estudo de caso deste trabalho
O Sapiens Parque consiste em um empreendimento com futura implantaccedilatildeo no
balneaacuterio de Canasvieiras no norte de Florianoacutepolis e que visa a atraccedilatildeo de investimentos
privados e turistas O projeto vem sendo apresentado pelos responsaacuteveis como um
programa de desenvolvimento regional sustentaacutevel para o norte da Ilha
O Sapiens Parque pode ser caracterizado como um programa de desenvolvimento regional envolvendo a criaccedilatildeo de um novo centro urbano para Florianoacutepolis ldquointeligenterdquo baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental voltado para produccedilatildeo cientiacutefica tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento e exigindo em sua implementaccedilatildeo profundo trabalho de planejamento urbano arquitetocircnico ambiental econocircmico financeiro e juriacutedico Sua finalidade extrapola a curiosidade cientiacutefica e alcanccedila a capacitaccedilatildeo das futuras geraccedilotildees para enfrentar o desenvolvimento equilibrado a produccedilatildeo de riquezas e a agregaccedilatildeo de valor para fazer frente agrave competitividade do seacuteculo XXI (RIMA 1 200301)
Durante o decorrer do ano 2007 o Sapiens Parque e outros projetos urbanos foram
apresentados em eventos mensais locais ocorridos em Florianoacutepolis denominados como
ldquoPensando a Cidaderdquo e patrocinados por empresas privadas e pelo Sindicato da Induacutestria da
Construccedilatildeo Civil (SINDUSCON) O primeiro dos eventos apresentou um viacutedeo ilustrativo
com um resumo desses projetos intitulado ldquoA cidade que queremosrdquo e contou com a
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
16
participaccedilatildeo do governador em exerciacutecio Luiz Henrique da Silveira que se mostrou
visivelmente favoraacutevel agrave implantaccedilatildeo dos projetos
Tais intervenccedilotildees segundo os patrocinadores do evento promoveriam o
desenvolvimento sustentaacutevel de Florianoacutepolis e regiatildeo buscando equilibrar
simultaneamente o crescimento econocircmico com o desenvolvimento social e cultural
mantendo a preservaccedilatildeo ambiental Aleacutem do Sapiens Parque os eventos ainda
apresentaram o projeto de um hotel seis estrelas com localizaccedilatildeo na Ponta do Coral (um
local estrateacutegico na principal avenida agrave beira-mar da cidade) e o projeto de um campo de golfe
para a praia do Costatildeo do Santinho (proacuteximo ao principal resort de Florianoacutepolis) entre outros
Este trabalho faz uma anaacutelise do projeto urbano do Sapiens Parque como ferramenta
de desenvolvimento sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis a partir do
estudo de seus possiacuteveis impactos sociais econocircmicos e ambientais positivos e negativos
em acircmbito regional O projeto Sapiens Parque incorpora os conceitos do modelo de
planejamento urbano estrateacutegico que compreende a realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees urbanas e
investimentos estrateacutegicos com o objetivo de atraccedilatildeo do capital privado e inserccedilatildeo das
cidades em niacutevel mundial Em geral tais intervenccedilotildees constituem iniciativas dos governos
locais formadas a partir da parceria dos oacutergatildeos puacuteblicos com as empresas privadas As
poliacuteticas locais tentam absorver e levar para a gestatildeo e o planejamento local os novos
paradigmas que buscam a criaccedilatildeo das cidades mundiais O modelo que sustenta tal
pensamento baseia-se no conceito da competitividade urbana como escopo para o
desenvolvimento local e melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo
Para a avaliaccedilatildeo do projeto urbano Sapiens Parque esta pesquisa parte de dois
eixos estruturadores O primeiro eixo estruturador consiste em mostrar os conceitos e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel em suas dimensotildees social ambiental e econocircmica
e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo urbano
O termo ldquodesenvolvimento sustentaacutevelrdquo surgiu na deacutecada de 1980 como um
paradigma a ser seguido dentro das diretrizes de desenvolvimento de forma a reunir
questotildees sociais e ambientais ao crescimento econocircmico Apesar de muitos autores
discursarem a respeito da ldquoinsustentabilidade do desenvolvimento sustentaacutevelrdquo ao
questionarem sua efetiva possibilidade de aplicaccedilatildeo o termo ainda vem sendo utilizado no
discurso de muitos projetos urbanos como um importante objetivo a ser alcanccedilado
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
17
O segundo eixo estruturador deste trabalho analisa a caracterizaccedilatildeo e os limites do
modelo de planejamento urbano estrateacutegico utilizado no conceito do Sapiens Parque
atraveacutes de referenciais nacionais e internacionais existentes e das avaliaccedilotildees jaacute feitas em
relaccedilatildeo ao proacuteprio empreendimento O resultado final da pesquisa consiste na avaliaccedilatildeo dos
limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de desenvolvimento
sustentaacutevel
Esta pesquisa tambeacutem pretende discutir o atual modelo de planejamento urbano
adotado atraveacutes do estudo do Sapiens Parque se os investimentos estatais dirigem-se aos
reais problemas da sociedade ou se estatildeo eles direcionados agrave promoccedilatildeo do capital no
mundo globalizado Trata-se de avaliar os impactos ambientais e soacutecio-econocircmicos de tal
empreendimento a niacutevel local e regional e discutir as reais possibilidades do alcance do
desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes desse modelo Assim torna-se possiacutevel prever e
apontar os limites do planejamento urbano e procurar mudanccedilas que possam melhoraacute-lo
Vale lembrar aqui de que o projeto Sapiens Parque ainda natildeo foi totalmente
executado tendo uma previsatildeo de quinze anos para a sua conclusatildeo Trata-se portanto de
trabalhar com indicativos de uma possiacutevel e provaacutevel situaccedilatildeo ainda natildeo real
OBJETIVOS DA PESQUISA
OBJETIVO GERAL
Analisar o projeto do empreendimento Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
identificando seus limites
OBJETIVOS ESPECIacuteFICOS
Como forma de alcanccedilar o objetivo geral acima especificado os seguintes objetivos
especiacuteficos satildeo preacute-estabelecidos
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
18
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca do desenvolvimento
sustentaacutevel definindo dimensotildees e criteacuterios de sustentabilidade
Verificar referenciais teoacutericos e conceituais acerca de intervenccedilotildees e projetos
urbanos existentes no mundo e no Brasil utilizados como meio de
desenvolvimento e inserccedilatildeo da cidade em niacutevel global e identificar suas
limitaccedilotildees como modelo de planejamento urbano
Avaliar o projeto Sapiens Parque considerando seus impactos soacutecio-econocircmicos
e ambientais positivos e negativos tomando como base bibliografia disponiacutevel
Definir os limites do projeto Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento urbano sustentaacutevel para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis
METODOLOGIA DE PESQUISA E ESTRUTURA DO TRABALHO
Para realizar uma avaliaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque como instrumento
de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis e identificar seus limites esta
pesquisa foi estruturada atraveacutes de quatro capiacutetulos
No primeiro capiacutetulo eacute introduzido o estudo de caso a partir da caracterizaccedilatildeo geral
do desenvolvimento urbano na regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis e da apresentaccedilatildeo do
empreendimento Sapiens Parque seus conceitos e atores envolvidos Optou-se em expor
de imediato o projeto que seraacute utilizado na avaliaccedilatildeo final do trabalho para inteirar o leitor
acerca do empreendimento antes mesmo das exposiccedilotildees e anaacutelises teoacutericas que envolvem
seus aspectos principais
O segundo e terceiro capiacutetulos desta pesquisa constituem basicamente a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica que serviraacute de base para a avaliaccedilatildeo final do empreendimento
Sapiens Parque demonstrada no uacuteltimo capiacutetulo Como o objetivo geral do trabalho consiste
em apontar os limites do projeto urbano Sapiens Parque como instrumento de
desenvolvimento sustentaacutevel a fundamentaccedilatildeo teoacuterica abordou essas duas temaacuteticas
principais os conceitos e criteacuterios relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e os
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
19
conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de planejamento urbano que caracteriza o
empreendimento
O segundo capiacutetulo intitulado ldquoDesenvolvimento e Meio Ambienterdquo analisa a
conceituaccedilatildeo teoacuterica referente ao desenvolvimento sustentaacutevel e suas aplicaccedilotildees ao espaccedilo
urbano Por tratar-se da avaliaccedilatildeo de um projeto urbano que ainda natildeo foi executado optou-
se em realizar uma pesquisa qualitativa baseada em criteacuterios de sustentabilidade Frente agrave
abrangente bibliografia acerca do tema este estudo transcorreu em torno de obras
produzidas por determinados autores reconhecidos pelas pesquisas realizadas em paiacuteses
em desenvolvimento como o Brasil Foram destacadas entre outras as duas importantes
obras de Ignacy Sachs1 ldquoCaminhos para o desenvolvimento sustentaacutevelrdquo (2002) e
ldquoDesenvolvimento includente sustentaacutevel sustentadordquo (2004) A legislaccedilatildeo pertinente ao
tema tambeacutem serviu como fonte de pesquisa bibliograacutefica para anaacutelise
Como o desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis tem forte influecircncia da atividade
turiacutestica e o empreendimento Sapiens Parque tem o turismo sustentaacutevel como um dos
conceitos do projeto este segundo capiacutetulo aborda ainda questotildees relevantes acerca do
turismo e de seus impactos no ambiente natural Conceitos acerca de impactos ambientais
de projetos urbanos voltados ao desenvolvimento de uma regiatildeo como eacute caracterizado o
Sapiens Parque tambeacutem foram estudados ao final do capiacutetulo
Aleacutem de toda a conceituaccedilatildeo teoacuterica acerca das relaccedilotildees entre o desenvolvimento
urbano e o meio ambiente o segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo ainda enfatiza as
aplicaccedilotildees praacuteticas de tais conceitos para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis Tais
aplicaccedilotildees satildeo demonstradas no decorrer da fundamentaccedilatildeo teoacuterica atraveacutes do
levantamento das principais aacutereas e projetos de preservaccedilatildeo ambiental para a regiatildeo
O terceiro capiacutetulo deste trabalho levantou os conceitos e avaliaccedilotildees do modelo de
planejamento urbano adotado no projeto do Sapiens Parque denominado planejamento
estrateacutegico que apresenta como um dos elementos precursores do desenvolvimento a
atraccedilatildeo de investimentos e de visitantes para determinada regiatildeo O planejamento urbano
1 Professor da Eacutecole des Hautes Eacutetudes en Sciences Sociales (EHESS) em Paris e criador do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporacircneo (CRDC)
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
20
estrateacutegico caracteriza-se por estrateacutegias das cidades na busca de ambientes competitivos
capazes de transformaacute-las em cidades mundiais no mundo globalizado
O terceiro capiacutetulo consiste em uma fundamentaccedilatildeo teoacuterica baseada em pesquisa
bibliograacutefica Foram analisadas de um lado as obras bibliograacuteficas de ARANTES (2000)
VAINER (2000) MARICATO (2000) e SAacuteNCHEZ (2003) que criticam a utilizaccedilatildeo do
planejamento urbano estrateacutegico como um modelo a ser aplicado a todas as realidades
urbanas De outro lado temos a visatildeo de BORJA e CASTELLS (2000) LOPES (1998) e
GUumlELL (1997) que analisam as origens e metodologias do planejamento estrateacutegico e
defendem que sua correta aplicaccedilatildeo pode trazer benefiacutecios para as cidades Neste capiacutetulo
satildeo mostrados ainda referenciais de determinadas cidades onde tal modelo jaacute foi aplicado
como Barcelona Rio de Janeiro e Curitiba As anaacutelises dos estudos de caso buscam
demonstrar as variaccedilotildees que existem em torno deste mesmo modelo e tirar conclusotildees
parciais acerca dos seus resultados
O quarto capiacutetulo consiste na anaacutelise final do projeto do empreendimento Sapiens
Parque tendo como base a fundamentaccedilatildeo teoacuterica dos dois capiacutetulos anteriores Para a
etapa de avaliaccedilatildeo do projeto foram utilizados os seguintes documentos
Material de divulgaccedilatildeo do empreendimento Sapiens Parque
Legislaccedilatildeo ambiental e urbana incidente na aacuterea de implantaccedilatildeo do
empreendimento
Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) do
Sapiens Parque
Dossiecirc de Inserccedilatildeo Socioambiental do Sapiens Parque
Memoacuteria de audiecircncias puacuteblicas relacionadas ao empreendimento
Criacutetica do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SC) a respeito do projeto Sapiens
Parque
Entrevistas com atores locais concedidas agrave rede de televisatildeo local
Notiacutecias do empreendimento
Os documentos acima apresentam as avaliaccedilotildees feitas ao empreendimento Sapiens
Parque pelos atores envolvidos O quarto capiacutetulo levanta os principais impactos positivos e
negativos do empreendimento em meios fiacutesico bioacutetico e soacutecio-econocircmico em niacutevel local
regional municipal e metropolitano A anaacutelise de tais impactos associada agrave fundamentaccedilatildeo
INTRODUCcedilAtildeO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
21
teoacuterica estudada permite a avaliaccedilatildeo conclusiva dos limites do projeto Sapiens Parque como
instrumento de desenvolvimento urbano sustentaacutevel para Florianoacutepolis
Por fim a lista de obras citadas como Referecircncias ao teacutermino do trabalho constitui
todas as obras bibliograacuteficas material cartograacutefico documentos de acesso eletrocircnico
publicaccedilotildees perioacutedicas legislaccedilatildeo e material audiovisual que foram consultados para a
elaboraccedilatildeo desta pesquisa independente de terem sido ou natildeo referenciados nos textos ao
longo do trabalho
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
22
1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
11 CARACTERIZACcedilAtildeO DE FLORIANOacutePOLIS
O desenvolvimento urbano de Florianoacutepolis deu-se principalmente no seacuteculo XX
apoacutes a cidade firmar-se como capital de Santa Catarina VAZ (1991) atribui trecircs fatores
principais para a transformaccedilatildeo de Florianoacutepolis neste seacuteculo a centralizaccedilatildeo dos serviccedilos
puacuteblicos e administrativos da capital que consolidou o nuacutecleo do centro urbano a integraccedilatildeo
rodoviaacuteria que substituiu o transporte mariacutetimo pelo rodoviaacuterio e o turismo que mesmo ainda
sendo uma atividade sazonal trouxe modificaccedilotildees relevantes no desenvolvimento urbano
As primeiras deacutecadas do seacuteculo XX marcaram a crise da atividade portuaacuteria e a
estagnaccedilatildeo da agricultura local A construccedilatildeo da Ponte Herciacutelio Luz em 1926 que
estabeleceu a conexatildeo Ilha-continente incrementou o transporte rodoviaacuterio e consistiu um
importante impulsionador do desenvolvimento local A urbanizaccedilatildeo acarretou melhorias em
infra-estrutura atraveacutes da implantaccedilatildeo da rede de energia eleacutetrica e dos sistemas de
abastecimento de aacutegua e captaccedilatildeo de esgotos
Na deacutecada de 1930 o municiacutepio enfrentou um periacuteodo de estagnaccedilatildeo devido agrave
Revoluccedilatildeo de Trinta quando o governo local fez oposiccedilatildeo agrave candidatura de Getuacutelio Vargas
A vida urbana da capital antes marcada pela presenccedila do ativo porto exportador manteve-
se nessa eacutepoca basicamente atraveacutes do crescimento do setor puacuteblico e dos serviccedilos
oferecidos pelo governo estadual aleacutem da manutenccedilatildeo de pequena produccedilatildeo agriacutecola e
industrial fazendo com que o comeacutercio local se transformasse na principal atividade
econocircmica (VAZ 1991)
Nas deacutecadas de 1940 e 1950 a situaccedilatildeo econocircmica da capital continuou estagnada
com queda no movimento portuaacuterio e sofrendo deficiecircncias de infra-estrutura O comeacutercio
continuou sendo a atividade econocircmica principal com pouca atividade industrial e a cidade
manteve a sua caracteriacutestica poliacutetico-administrativa
A execuccedilatildeo de obras viaacuterias na metade do seacuteculo XX possibilitou a expansatildeo urbana
para o interior da Ilha e forneceu o acesso agraves praias Segundo VAZ (1991) Florianoacutepolis
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
23
manteve sua imagem quase intacta ateacute a deacutecada de 1960 quando se acelerou o processo
de transformaccedilatildeo destacando o sistema de circulaccedilatildeo e transportes rodoviaacuterios Com a
implantaccedilatildeo da Universidade Federal de Santa Catarina em 1961 e de empresas estatais
federais e estaduais Florianoacutepolis passou a receber estudantes professores e profissionais
liberais de outras cidades e estados contribuindo significativamente para o crescimento e o
desenvolvimento da cidade Nesta eacutepoca a induacutestria da construccedilatildeo civil comeccedilou a se
destacar na cidade aleacutem do setor de comeacutercio e serviccedilos
A crescente classe meacutedia multiplicou as grandes aacutereas loteadas dos novos bairros residenciais e os edifiacutecios de apartamento que margearam novas avenidas Ela foi assistida por numerosa e perifeacuterica camada social de baixa renda que sustentou o setor de comeacutercio e serviccedilos com matildeo de obra barata e a construccedilatildeo civil (VAZ 199133)
A economia local passou a utilizar ainda mais as redes terrestres como transporte
apoacutes a construccedilatildeo da BR-101 na deacutecada de 1970 que fez a conexatildeo Norte-Sul do Estado
como tambeacutem com a construccedilatildeo da BR-470 (Rodovia Jorge Lacerda) que ligou a capital ao
planalto catarinense Somente nesta deacutecada com o crescimento da maacutequina estatal
Florianoacutepolis reativou seu dinamismo compensando a decadecircncia da atividade portuaacuteria
De acordo com CECCA (1997) as deacutecadas de 1960 e 1970 foram marcadas por
acentuado desenvolvimento urbano e consequumlente busca de ocupaccedilatildeo das praias pela
populaccedilatildeo local e principalmente por turistas estaduais interestaduais e estrangeiros A
pavimentaccedilatildeo de muitas vias que forneciam o acesso agraves praias foi realizada nesta eacutepoca
frente agrave nova demanda de veratildeo a SC-401 que oferece acesso agraves praias do Norte da Ilha
a SC-404 que leva agrave Lagoa da Conceiccedilatildeo e desta a SC-406 que segue ao Rio Tavares e a
SC-405 que passa pelo Campeche em direccedilatildeo agrave Armaccedilatildeo e ao Pacircntano do Sul
Para atender as novas demandas de traacutefego urbano as autoridades governamentais
construiacuteram o Aterro da Baiacutea Sul na deacutecada de 1970 O aterro serviu como escoamento
para as duas novas pontes de ligaccedilatildeo com o continente a Ponte Colombo Machado Sales e
a Pedro Ivo Campos Aleacutem disso o aterro se interligou agrave Via Expressa da Beira-Mar Norte
Aos poucos Florianoacutepolis perdeu ainda mais sua antiga relaccedilatildeo com o mar frente aos
pedidos de empresaacuterios e poliacuteticos ligados ao setor turiacutestico por novos aterros estradas
duplicaccedilotildees viadutos e tuacuteneis
Na deacutecada de 1980 Florianoacutepolis jaacute se caracterizava como uma cidade voltada para
o setor terciaacuterio de serviccedilos que hoje concentra parte de sua economia e sua posiccedilatildeo de
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
24
capital do Estado natildeo se restringe apenas a gerar empregos puacuteblicos mas indiretamente
estimula outros setores intermediaacuterios da economia local A atividade turiacutestica comeccedilou a se
destacar ainda mais nesta eacutepoca tornando-se um dos pilares da economia na Ilha e
concretizando a cidade como um dos principais poacutelos turiacutesticos de Santa Catarina
O turismo passou a servir de promotor de significativas modificaccedilotildees culturais e
paisagiacutesticas As atividades de turismo e lazer geraram a expansatildeo urbana desvinculada do
centro alterando a fisionomia urbana a partir da implementaccedilatildeo de condicionantes
favoraacuteveis agrave valorizaccedilatildeo do turismo hoteacuteis restaurantes loteamentos casas de segunda
residecircncia ou aluguel principalmente nas aacutereas proacuteximas da orla A cidade se desenvolveu
formando poacutelos urbanos com bairros auto-suficientes destinados agraves classes meacutedia e alta na
sua parte central e agraves favelas nas aacutereas mais afastadas As transformaccedilotildees urbanas
decorrentes dessa eacutepoca trouxeram consequumlecircncias imediatas e devastadoras ao patrimocircnio
natural e cultural
Os recantos mais ermos da Ilha comeccedilaram a serem cortados por estradas e loteamentos e as tradicionais e decadentes comunidades agriacutecola-pesqueiras transformaram-se em balneaacuterios Na cidade as verticais edificaccedilotildees modernas substituiacuteram a maior parte das construccedilotildees seculares de estilos e eacutepocas diversas As encostas e as periferias urbanas foram sendo intensamente ocupadas por populaccedilotildees mais pobres (CECCA 199759-60)
Segundo CECCA (1997) ldquoa maior ameaccedila agrave qualidade de vida de Florianoacutepolis
deriva do desrespeito ao meio ambiente e aos ecossistemas da Ilhardquo (CECCA 1997233)
O meio ambiente natural da Ilha eacute diversificado e fraacutegil marcado pela Floresta Ombroacutefila
Densa (Mata Atlacircntica) Floresta das Planiacutecies Quaternaacuterias manguezais restingas e
dunas Essa variedade de ecossistemas torna ainda mais difiacutecil a identificaccedilatildeo dos impactos
ambientais derivados da urbanizaccedilatildeo A condiccedilatildeo geograacutefica e insular da cidade aliada ao
seu particular sistema ecoloacutegico impotildeem limites para sua expansatildeo urbana ainda mais que
cerca de 42 do municiacutepio de Florianoacutepolis eacute atualmente constituiacutedo por unidades de
preservaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo O crescimento populacional local e o processo de migraccedilatildeo
tende a elevar os problemas de ordenamento urbano-ambiental do municiacutepio
Em acircmbito econocircmico a pesca artesanal e a pesca industrial que sempre estiveram
presentes na economia local continuam dando modestas contribuiccedilotildees ao produto interno
bruto municipal assim como as atividades do setor primaacuterio da economia como a
agricultura e a pecuaacuteria A induacutestria da construccedilatildeo civil aparece como forte atividade
econocircmica mas a principal fonte da economia municipal deve-se agrave atividade turiacutestica (que
atrai brasileiros e principalmente a populaccedilatildeo estrangeira do Mercosul) aliada ao comeacutercio
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
25
e ao setor de serviccedilos derivado da estrutura administrativa municipal estadual e federal
Tambeacutem com aparente potencial tem surgido a induacutestria do vestuaacuterio e da informaacutetica e
tecnologia Nos uacuteltimos anos a aquumlicultura tambeacutem tem se tornado uma atividade mais
expressiva para a populaccedilatildeo ligada ao setor marinho
O patrimocircnio cultural da Ilha resulta de acordo com CECCA (1997) do conjunto de
trecircs elementos formadores da sociedade brasileira o branco europeu o nego africano e o
nativo indiacutegena Entretanto verifica-se maior influecircncia cultural do povoador portuguecircs em
particular o imigrante accediloriano Essa influecircncia reflete-se no traccedilado original das cidades na
tipologia arquitetocircnica nas teacutecnicas agriacutecolas e nas festas tradicionais A construccedilatildeo dos
aterros (principalmente na deacutecada de 1970) a valorizaccedilatildeo do sistema rodoviaacuterio e a
desativaccedilatildeo do porto o desenvolvimento turiacutestico a expansatildeo imobiliaacuteria e as dificuldades
para manter a pesca artesanal satildeo alguns dos fatores que levaram ao distanciamento das
atividades tradicionais derivadas da cultura accediloriana em Florianoacutepolis
Hoje a cidade passa por um processo de conurbaccedilatildeo criando a aacuterea metropolitana
da Grande Florianoacutepolis juntamente com as cidades de Satildeo Joseacute Biguaccedilu Palhoccedila
Antocircnio Carlos Governador Celso Ramos Santo Amaro da Imperatriz Satildeo Pedro de
Alcacircntara e Aacuteguas Mornas totalizando uma populaccedilatildeo de mais de 820 mil habitantes
segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2007
Florianoacutepolis apresenta ainda o principal aeroporto do Estado o Aeroporto Herciacutelio Luz que
desde 1989 opera com vocircos internacionais Apesar de suas deficiecircncias no campo social eacute
considerada uma das capitais de maior qualidade de vida do Brasil tendo levado o tiacutetulo de
melhor capital do paiacutes em qualidade de vida pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)
em 1998
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
26
12 O EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE2
121 APRESENTACcedilAtildeO DO PROJETO
O Sapiens Parque vem sendo apresentado atraveacutes de um novo conceito
denominado ldquoparque de inovaccedilatildeordquo Um parque de inovaccedilatildeo eacute um ambiente que possui infra-
estrutura e espaccedilo para abrigar empreendimentos projetos e outras iniciativas inovadoras e
estrateacutegicas para o desenvolvimento de uma regiatildeo e que se distingue por possuir um
modelo inovador para atrair desenvolver implementar e integrar estas iniciativas visando
um posicionamento diferenciado sustentaacutevel e competitivo
A oportunidade inicial para o Sapiens Parque surgiu a partir da parceria do poder
puacuteblico e da iniciativa privada atraveacutes da integraccedilatildeo entre o Governo do Estado de Santa
Catarina por meio da CODESC e a Fundaccedilatildeo Centros de Referecircncia em Tecnologia
Inovadoras (CERTI)
Como destacamos na Introduccedilatildeo deste trabalho o empreendimento vem sendo
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional baseado na
sustentabilidade social econocircmica e ambiental Voltado para produccedilatildeo cientiacutefica
tecnoloacutegica e educativa e a disseminaccedilatildeo do conhecimento o projeto incorpora o seguinte
conjunto de conceitos e diretrizes
Desenvolvimento Sustentaacutevel busca o equiliacutebrio entre as vertentes econocircmica
social e ambiental
Sociedade do Conhecimento caracterizada pela crescente valorizaccedilatildeo dos
produtos serviccedilos e relaccedilotildees baseadas no conhecimento e na informaccedilatildeo
2 Todas as informaccedilotildees contidas neste item foram fornecidas atraveacutes de documentos oficiais do Sapiens Parque
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
27
Economia da Experiecircncia tendecircncia de geraccedilatildeo de produtos e serviccedilos
diferenciados por proporcionarem ldquomemorabilidade amp fidelizaccedilatildeordquo ao integrar
Educaccedilatildeo ndash Entretenimento ndash Esteacutetica e Imersatildeo
Convergecircncia das Ciecircncias e Tecnologias tambeacutem chamada de
transdisciplinaridade eacute o conceito que visa integrar os vaacuterios campos da ciecircncia e
da tecnologia (humanas exatas bioloacutegicas sociais etc)
Globalizaccedilatildeo Econocircmica tendecircncia que induz ao desenvolvimento de Plataformas
Mundiais considerando as peculiaridades e diferenccedilas locais
ldquoAdoccedilatildeo de um Ciclo contiacutenuo de Inovaccedilatildeordquo busca integrar de forma eficaz a
Pesquisa Livre Pesquisa Preacute-competitiva Desenvolvimento Tecnoloacutegico e
Criaccedilatildeo de Negoacutecios
Convergecircncia Digital tendecircncia de crescimento e desenvolvimento de produtos e
serviccedilos que integram Tecnologia da Informaccedilatildeo Comunicaccedilatildeo e Conteuacutedo e
Turismo sustentaacutevel atraveacutes dos centros culturais e de eventos centro de
esportes e lazer centro de compras e gastronomia e do turismo ecoloacutegico
Para o projeto estaacute planejado um conjunto de empreendimentos puacuteblicos e privados
como arena multiuso parque florestal centro de serviccedilos para comunidade centro de
eventos e de convivecircncia hoteacuteis museus centros gastronocircmicos e de compras centros de
pesquisa e desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico aleacutem de empresas e organizaccedilotildees natildeo
governamentais que em conjunto iratildeo atuar no desenvolvimento local e regional
Segundo os empreendedores os resultados esperados com sua implantaccedilatildeo satildeo
(RIMA 1 2003) geraccedilatildeo de quase 30000 empregos diretos nas aacutereas de turismo ciecircncia e
tecnologia e serviccedilos geraccedilatildeo na fase de implantaccedilatildeo de aproximadamente R$ 11 bilhatildeo
em impostos que poderatildeo ser aplicados no melhoramento da infra-estrutura sauacutede
educaccedilatildeo e seguranccedila reduccedilatildeo da sazonalidade turiacutestica na regiatildeo auxiliando na
profissionalizaccedilatildeo da atividade definiccedilatildeo de um novo padratildeo de ocupaccedilatildeo urbana para a
regiatildeo e valorizaccedilatildeo da sociedade catarinense
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
28
Os idealizadores do projeto defendem que o parque deveraacute consagrar-se como
ldquoindutor do progresso social e material da regiatildeo harmonizando o desenvolvimento regional
e a sustentabilidade ambiental cumprindo seu papel de gerar renda e criar empregosrdquo
(RIMA 1 200303) Os principais aspectos econocircmicos positivos apontados consistem o
aumento significativo da arrecadaccedilatildeo de impostos a criaccedilatildeo de novos empregos o aumento
da renda global e per capita a captaccedilatildeo e atraccedilatildeo de novos negoacutecios para o estado e o
potencial mercado de consumidores construiacutedo em parte pelos paiacuteses do Mercosul
Jaacute os aspectos sociais positivos apontados pelos empreendedores do parque satildeo os
seguintes ampliaccedilatildeo planejada da cidade otimizaccedilatildeo dos serviccedilos modernizaccedilatildeo da Ilha
na aacuterea de turismo e lazer ciecircncia e tecnologia transportes e comunicaccedilotildees aumento da
rede hoteleira estabilizaccedilatildeo do mercado de turismo e melhoria da qualidade de vida da
populaccedilatildeo com a implantaccedilatildeo de infra-estrutura e criaccedilatildeo de novos empregos
O primeiro projeto para o Sapiens Parque foi elaborado em 2002 pela empresa
Ecoplan selecionada atraveacutes da Fundaccedilatildeo CERTI para a execuccedilatildeo do trabalho O projeto
finalizado pela Ecoplan foi avaliado atraveacutes de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) no
ano seguinte realizado pelas empresas Socioambiental Consultores Associados e Elabore
Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente e sofreu alteraccedilotildees decorrentes das avaliaccedilotildees
feitas A partir de entatildeo o projeto passou a ser de responsabilidade do instituto argentino
Fundaciograven Cepa e orientado pelo arquiteto tambeacutem argentino Ruben Pesci Em 2005 o
Sapiens Parque apresentou um novo projeto elaborado pela Fundaciograven Cepa mantendo os
aspectos conceituais do empreendimento Os motivos pelos quais o projeto deixou de ser de
responsabilidade da empresa Ecoplan para ser desenvolvido pela Fundaciograven Cepa natildeo satildeo
esclarecidos pela Fundaccedilatildeo CERTI Entretanto concluiacutemos que o fato de o grupo argentino
estar envolvido na concepccedilatildeo do projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis3
aleacutem do reconhecimento de que a busca pela integraccedilatildeo entre o ambiente construiacutedo e a
natureza constituem um dos principais focos dos projetos do instituto Cepa influenciou na
decisatildeo de mudanccedila da equipe responsaacutevel
3 Sobre o projeto da Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis ver Capiacutetulo 2
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
29
122 LOCALIZACcedilAtildeO URBANA DO EMPREENDIMENTO
Segundo os idealizadores do projeto Sapiens Parque a escolha da cidade de
Florianoacutepolis como local para o empreendimento deve-se agrave sua localizaccedilatildeo geograacutefica
estrateacutegica em relaccedilatildeo aos paiacuteses comprometidos com o Mercosul e por ser praticamente
equumlidistante em relaccedilatildeo agraves principais metroacutepoles e aos grandes centros de negoacutecios da
regiatildeo A capital ainda possui a vantagem expressiva de ser conhecida em todo o mercado
do Cone Sul por sua beleza natural pelos seus iacutendices superiores de qualidade de vida e
pela constituiccedilatildeo de um dos maiores poacutelos de tecnologia do Paiacutes apresentando assim reais
condiccedilotildees de conjugar atividades de Centro de Negoacutecios e Centro de Lazer
Devido as suas caracteriacutesticas terciaacuterias e de prestaccedilatildeo de serviccedilos Florianoacutepolis
ainda eacute considerado um mercado consolidado para o desenvolvimento de empresas de
base tecnoloacutegica A Figura 1 mostra a localizaccedilatildeo do empreendimento no contexto urbano
de Florianoacutepolis
Figura 1 ndash Localizaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como vemos na Figura 1 o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se
na regiatildeo Norte da Ilha no balneaacuterio de Canasvieiras O projeto Sapiens Parque estaacute
proposto para ser implantado em Florianoacutepolis em uma aacuterea superior a 400 ha
(4000000msup2) pertencente agrave Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina
(CODESC) e ao Governo do Estado de Santa Catarina e onde se situava a extinta Colocircnia
CENTRO
SAPIENS
PARQUE
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
30
Penal de Florianoacutepolis Estende-se do entroncamento da rodovia estadual SC 401 com o
trevo de Canasvieiras ateacute os limites da Cachoeira do Bom Jesus do Morro dos Freitas e
terras da Vargem do Bom Jesus no Distrito de Canasvieiras na costa norte da Ilha de
Santa Catarina a 25 km de distacircncia do centro da capital O terreno de implantaccedilatildeo do
projeto pode ser conferido na Figura 2
Figura 2 ndash Terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque Elaboraccedilatildeo da autora
A opccedilatildeo pela implantaccedilatildeo do empreendimento nesta regiatildeo eacute atribuiacuteda aos seguintes
fatores
A regiatildeo tem experimentado um dos maiores crescimentos imobiliaacuterios de todo o
paiacutes sendo procurada tanto para abrigar projetos na aacuterea residencial como
empresarial e educacional
A expansatildeo da cidade de Florianoacutepolis para esta regiatildeo assegura ao Sapiens
CANASVIEIRAS
CACHOEIRA DO
BOM JESUS
OCEANO ATLAcircNTICO
SAPIENS PARQUE
RIO PAPAQUARA
RIO DO
BRAacuteS
INGLESES
CENTRO
SC
-401
MORRO
DE
JUREREcirc
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
31
Parque uma infra-estrutura urbana essencial para o desenvolvimento de um
empreendimento deste porte
A regiatildeo norte de Florianoacutepolis abriga algumas das mais belas praias da Ilha que
oferecem opccedilotildees diversificadas de lazer desde os esportes naacuteuticos ateacute o surf e o
entretenimento familiar Aliada agraves belezas naturais das praias haacute toda uma
diversidade ambiental que engloba lagoas naturais reservas ambientais dunas e
reservas de mata atlacircntica
A regiatildeo conta com uma extensa rede hoteleira e uma infra-estrutura diversificada
de comeacutercio e serviccedilos
Os idealizadores do projeto alegam que foram estudadas outras possibilidades de
localizaccedilatildeo para a implantaccedilatildeo do empreendimento A regiatildeo sul de Florianoacutepolis que
engloba os bairros Campeche Ribeiratildeo da Ilha e Pacircntano do Sul foi considerada
inapropriada por apresentar vocaccedilotildees desenvolvimento econocircmico e infra-estrutura
bastante diferentes da regiatildeo norte o que no curto e meacutedio prazo desfavoreceria a
implantaccedilatildeo de projetos como o Sapiens Parque pois exigiria altiacutessimos investimentos
principalmente em infra-estrutura e no desenvolvimento econocircmico da regiatildeo A uacutenica aacuterea
ao sul disponiacutevel para tamanho empreendimento estaria nas proximidades do Aeroporto
Internacional Herciacutelio Luz fato que implica na impossibilidade de implantaccedilatildeo do parque
devido principalmente agrave influecircncia das atividades do parque nos equipamentos dos aviotildees
e do aeroporto e vice-versa
Uma terceira alternativa avaliada para a localizaccedilatildeo do parque seria na parte
continental de Florianoacutepolis que apesar de possuir viabilidade econocircmica natildeo apresentaria
ldquoopccedilotildees de terrenos de grande porte para a implantaccedilatildeo de um projeto desta magnituderdquo
(RIMA 1 200308)
Caracterizaccedilatildeo do Norte da Ilha e do Balneaacuterio de Canasvieiras
O processo de expansatildeo territorial para o Norte da Ilha desenvolveu-se
paralelamente aos investimentos estatais e ocorreu de forma mais evidente durante a
deacutecada de 1970 principalmente no Balneaacuterio de Canasvieiras e no seu entorno As
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
32
intervenccedilotildees viaacuterias solidificaram e incrementaram esse processo Segundo SUGAI (1994)
ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a regiatildeo norte da Ilha era utilizada principalmente
para o desenvolvimento das atividades agriacutecola e pesqueira A partir da deacutecada de 1950 a
regiatildeo comeccedilou a atrair a atenccedilatildeo para sua utilizaccedilatildeo balneaacuteria
A regiatildeo do balneaacuterio de Canasvieiras era extremamente visada pois apresentava
excelentes praias com aacuteguas limpas e de temperatura amena protegidas dos ventos
constantes aleacutem de beliacutessimas paisagens e de conformaccedilatildeo fiacutesica bastante rica SANTOS
(1993) destaca que Canasvieiras assim como outras praias do Norte da Ilha devem sua
ocupaccedilatildeo urbana principalmente pelas construccedilotildees das residecircncias de veraneio da alta
classe Durante as deacutecadas de 1950 e 1960 o Norte da Ilha passou a ser definido como
uma das principais localizaccedilotildees com essa finalidade e para onde o Estado efetuava os
maiores investimentos O fato deu iniacutecio aos interesses turiacutesticos e imobiliaacuterios na regiatildeo
impulsionando e estruturando o processo de expansatildeo da aacuterea urbana
Segundo SANTOS (1993) o processo de ocupaccedilatildeo de Canasvieiras ocorreu sem a
presenccedila de um plano diretor especiacutefico para os distritos A urbanizaccedilatildeo se desenvolvia
pelas vias principais e a tendecircncia foi a formaccedilatildeo de faixas contiacutenuas ao longo da praia A
inexistecircncia de infra-estrutura para o abastecimento de aacutegua esgoto e drenagem pluvial
aliada a um deficiente controle do uso e da ocupaccedilatildeo do solo sem uma legislaccedilatildeo mais
especiacutefica e fiscalizaccedilatildeo atuante desenvolveu uma urbanizaccedilatildeo precaacuteria que tende a
comprometer os seus atrativos naturais
A incidecircncia direta do turismo a partir da deacutecada de 1970 atraveacutes da construccedilatildeo de
hoteacuteis pousadas casas para aluguel bares e restaurantes acarretaram ainda maiores
impactos no ambiente natural A antiga vila de pescadores deu lugar a um espaccedilo disputado
pelos interesses capitalistas e imobiliaacuterios transformando-a em centro de turismo de
veraneio
Dessa forma a orla da regiatildeo foi ocupada quase em totalidade de maneira irregular
e com a apropriaccedilatildeo de aacutereas de preservaccedilatildeo devido agrave ausecircncia de uma fiscalizaccedilatildeo por
parte dos oacutergatildeos puacuteblicos O tipo de ocupaccedilatildeo originou a paisagem que caracteriza hoje o
balneaacuterio destituiacutedo de vegetaccedilatildeo natural com consequumlente erosatildeo e abrasatildeo marinhas
assoreamento de rios e coacuterregos
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
33
123 MOacuteDULOS E SETORES
O empreendimento Sapiens Parque compreende-se a partir de uma estrutura
organizacional fundamentada em dois moacutedulos principais o primeiro denominado
Experintia e o segundo caracterizado como Scientia ambos baseados no Ser humano e no
Conhecimento Aleacutem dos dois moacutedulos principais o parque ainda apresenta quatro setores
o de turismo esporte e consoacutercio o de serviccedilos especializados o de empresas de base
tecnoloacutegica e o de iniciativas e projetos soacutecio-ambientais
O moacutedulo Experientia congrega elementos como o Museu de Ciecircncia Parque
Temaacutetico Laboratoacuterios para novas tecnologias e soluccedilotildees O Experientia objetiva a criaccedilatildeo
de novos projetos conceitos ideacuteias e soluccedilotildees nas aacutereas da educaccedilatildeo meio ambiente
lazer cultura vida urbana empreendedorismo esporte educaccedilatildeo cidadania accedilatildeo de governo
sauacutede atraveacutes de experiecircncias intensivas no uso de tecnologias centradas no ser humano
O segundo moacutedulo Scientia consolida-se atraveacutes de nuacutecleos avanccedilados de
universidades empresas laboratoacuterios de ONGs e demais organizaccedilotildees interessadas na
pesquisa desenvolvimento e experimentaccedilatildeo de novas tecnologias e soluccedilotildees Caracteriza-
se pela busca da diversidade e interdisciplinaridade e visa atrair talentos e competecircncias de
referecircncias para o empreendimento
Dentre os demais acircmbitos que compotildeem o parque destaca-se o setor de turismo
esporte e consoacutercio que se direciona principalmente em propagar a vocaccedilatildeo turiacutestica
bastante forte na regiatildeo O projeto pretende reduzir a sazonalidade do turismo
caracteriacutestica em Florianoacutepolis cuja atividade acaba sempre por depender da temporada de
veratildeo Para isso pretende-se desenvolver uma rede de hoteacuteis reconhecida
internacionalmente pela excelecircncia na prestaccedilatildeo de serviccedilos O setor visa novas formas
atraentes como Arena Multiuso Centro Gastronocircmico Shopping Museu e Centros de
Saber Parque Ecoloacutegico Aquaacuterio e Complexo Esportivo
O setor de serviccedilos especializados estimula o desenvolvimento de determinados
tipos de serviccedilos altamente especializados em aacutereas como educaccedilatildeo sauacutede e negoacutecios
Na questatildeo educacional o objetivo eacute atrair instituiccedilotildees de niacutevel superior com atuaccedilatildeo em
assuntos particulares como tambeacutem escolas individualizadas e empresas com serviccedilos e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
34
soluccedilotildees tornando-se uma referecircncia de qualidade nas entidades de ensino da regiatildeo Jaacute
na aacuterea da sauacutede satildeo previstas cliacutenicas e centros meacutedicos especializados Reserva-se
ainda espaccedilo e infra-estrutura para o desenvolvimento de estrateacutegias empreendedoras
como marketing e publicidade
O terceiro setor do empreendimento denominado Empresas de Base Tecnoloacutegica
constitui fundamental segmento da chamada Economia do Conhecimento caracterizada por
gerar produtos e serviccedilos de alto valor agregado e exige pessoal qualificado e uma cultura
de permanente inovaccedilatildeo O parque visa atrair e oferece toda a infra-estrutura necessaacuteria agraves
empresas interessadas no desenvolvimento de novos negoacutecios As empresas de caraacuteter
tecnoloacutegico estaratildeo integradas ao moacutedulo principal Scientia de forma a acessar os
conhecimentos e tecnologias ali geradas
O uacuteltimo setor organizacional do parque baseia-se em iniciativas e projetos soacutecio-
ambientais devido ao empreendimento estar voltado para a promoccedilatildeo do desenvolvimento
regional No aspecto social pretende-se estimular a implantaccedilatildeo de projetos e iniciativas
voltadas para a criaccedilatildeo de emprego e renda e principalmente para a promoccedilatildeo da
qualificaccedilatildeo e educaccedilatildeo atraveacutes de iniciativas como Incubadoras Sociais Centros de
Qualificaccedilatildeo Centros Comunitaacuterios e outros O projeto tem por pretensatildeo atraveacutes de
equipamentos especiacuteficos promover a interaccedilatildeo com a comunidade e assegurar o
desenvolvimento da regiatildeo agregado agrave qualidade de vida das pessoas
O Sapiens Circus caracteriza-se por ser um ambiente educacional de aprendizado e
diversatildeo constituiacutedo de dispositivos tecnoloacutegicos e de interaccedilatildeo com filmes e jogos O
sistema de ensino tem por fundamento a estimulaccedilatildeo dos educandos na cooperaccedilatildeo muacutetua
para a construccedilatildeo do conhecimento e da tomada de decisotildees Informaccedilotildees sobre a
diversidade amazocircnica satildeo apresentadas atraveacutes dos dispositivos de ensino e os
educandos vivenciam uma experiecircncia por meio de histoacuteria fictiacutecia ou simulaccedilatildeo em que a
biodiversidade amazocircnica os ajuda a resolver um problema Dessa forma os educandos
percebem o valor da biodiversidade aprendem seus conceitos e satildeo motivados a seguir
com estudos posteriores dentro de sala de aula
O projeto estaacute sendo desenvolvido para ser executado em cinco fases previstas para
ocorrer em um total de 20 anos O ldquoMarco Zerordquo (Primeira Fase) do Sapiens Parque jaacute estaacute
em funcionamento contendo a sede administrativa do parque e o Sapiens Circus conforme
podemos verificar na Figura 3
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
35
Figura 3 ndash Marco Zero do Sapiens Parque Fonte MasterPlan 2005 Sapiens Parque
124 AGENTES ENVOLVIDOS
Sapiens Parque SA
A Sapiens Parque SA nasceu como uma Sociedade de Propoacutesitos Especiacuteficos
(SPE) entre a CODESC proprietaacuteria do terreno a Fundaccedilatildeo CERTI detentora do capital
intelectual e autora do Programa de Desenvolvimento Tecnoloacutegico Regional e o Instituto
Sapientia mentor do conceito de Edutainment - Educaccedilatildeo com Entretenimento - e parceiro
de inovaccedilatildeo em ciecircncia e tecnologia do Sapiens
Criada na forma de Sociedade Anocircnima de Capital Fechado eacute responsaacutevel pela
gestatildeo e implementaccedilatildeo do empreendimento O grupo tem propoacutesito especiacutefico de
estruturar viabilizar implementar e operar o empreendimento dentro de altos padrotildees de
qualidade eficiecircncia e estabilidade
O projeto ainda apresenta apoio do Governo do Estado de Santa Catarina da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) da Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis
Escola Sapiens
Sapiens
Circus
Incubadora Sapiens
Casaratildeo Sede e
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
36
(PMF) da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)4 da Fundaccedilatildeo de Apoio agrave Pesquisa
Cientiacutefica e Tecnoloacutegica do Estado de Santa Catarina (FAPESC)5 e da Paradigma
Tecnologia que viabiliza o Portal do Sapiens Parque na Internet
Codesc
A Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (CODESC) eacute uma
empresa de economia mista que integra a administraccedilatildeo indireta do Estado subordinada ao
Regime de Direito Privado e reuacutene condiccedilotildees teacutecnicas e juriacutedicas para a formulaccedilatildeo e
gestatildeo de programas que visam o desenvolvimento econocircmico do estado
Foi criada pela lei estadual ndeg 5089 de 300475 como ldquoholdingrdquo6 A empresa
coordenou o Sistema Financeiro Estadual e no decorrer dos anos vaacuterias atividades lhe
foram delegadas pelo Poder Puacuteblico Estadual tendo em vista sua qualificaccedilatildeo juriacutedica que
lhe confere maior agilidade na tomada de decisotildees
De acordo com seu Estatuto a CODESC tem por objetivos principais adquirir e
administrar sob qualquer forma e nos limites permitidos em lei participaccedilotildees e controles
societaacuterios E ainda promover sob a orientaccedilatildeo do Governo do Estado o desenvolvimento
econocircmico e a integraccedilatildeo da accedilatildeo do Estado com a dos municiacutepios e da Uniatildeo
Com essas qualificaccedilotildees a CODESC pode oferecer garantias e contragarantias para
o Estado autarquias fundaccedilotildees e sociedades de economia mista suas subsidiaacuterias e
controladas em operaccedilotildees financeiras sem a necessidade de autorizaccedilatildeo do Banco
Central Pode ainda negociar accedilotildees e cotas de outras sociedades inclusive o controle do
capital votante tanto de economia mista como privadas Atualmente a CODESC eacute vinculada
agrave Secretaria de Estado da Fazenda por decisatildeo do Decreto ndeg 923 de 31 de maio de 1996
4 A FINEP tem por missatildeo promover e financiar a inovaccedilatildeo e a pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica em empresas universidades institutos tecnoloacutegicos centros de pesquisa e outras instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas mobilizando recursos financeiros e integrando instrumentos para o desenvolvimento econocircmico e social do Paiacutes (httpwwwfinepgovbr acesso em 20112006) 5 A FAPESC tem por missatildeo promover o Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico no Estado de Santa Catarina atraveacutes do fomento agrave pesquisa e da interaccedilatildeo em todos os niacuteveis das instituiccedilotildees cientiacuteficas dos complexos produtivos do governo e da sociedade (httpwwwfapescrct-scbr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
37
Fundaccedilatildeo Certi
A Fundaccedilatildeo Centro de Referecircncia em Tecnologias Inovadoras (CERTI) eacute uma
instituiccedilatildeo independente e sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento tecnoloacutegico
com foco na inovaccedilatildeo em negoacutecios produtos e serviccedilos no segmento de tecnologia da
informaccedilatildeo
Criada em 1984 por iniciativa de algumas empresas brasileiras da Universidade
Federal de Santa Catarina e dos Governos Estadual e Federal a fundaccedilatildeo eacute hoje referecircncia
no campo nacional e internacional pelo desenvolvimento de projetos inovadores que
envolvem soluccedilotildees de convergecircncia digital Exemplos dessa linha de projetos constituem as
urnas eletrocircnicas os terminais de automaccedilatildeo bancaacuteria e terminais puacuteblicos de acesso agrave
Internet
A partir de 1990 a fundaccedilatildeo passou a atuar significativamente na gestatildeo da
qualidade e produtividade em consequumlecircncia das mudanccedilas nas poliacuteticas econocircmicas e
industriais do Brasil A CERTI trabalha para a ampliaccedilatildeo de novas soluccedilotildees de forma
cooperativa e integrada atraveacutes do uso de ferramentas do processo de pesquisa e
desenvolvimento de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica A CERTI atua na anaacutelise do negoacutecio na
concepccedilatildeo do produto e na implementaccedilatildeo dos processos produtivos adequados para
acelerar e assegurar maior ecircxito na colocaccedilatildeo dos novos produtos no mercado
A fundaccedilatildeo conta hoje com uma seacuterie de entidade e parceiros atuantes Tem sua
matriz em Florianoacutepolis no campus da Universidade Federal de Santa Catarina e em 1999
inaugurou uma filial na cidade de Manaus para dar apoio agraves empresas de base tecnoloacutegica
estabelecidas naquela regiatildeo
6 Holding eacute uma empresa que deteacutem a quantidade suficiente de accedilotildees de uma outra companhia que lhe permita determinar e controlar a gestatildeo desta uacuteltima
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
38
Instituto Sapientia
Fundado em 05 de dezembro de 2002 o Instituto Sapientia eacute uma pessoa juriacutedica de
direito privado administrativamente autocircnomo e independente e criado como consequumlecircncia
da iniciativa de alguns colaboradores da Fundaccedilatildeo CERTI A oportunidade de concepccedilatildeo de
uma nova organizaccedilatildeo com competecircncias necessaacuterias para a praacutetica de novos produtos e
desafios partiu da necessidade de direcionamento das atividades da Fundaccedilatildeo CERTI para
o foco da Economia da Experiecircncia
Constituiacutedo na forma de associaccedilatildeo e sem fins lucrativos o instituto eacute operado
segundo conceitos e praacuteticas da Fundaccedilatildeo CERTI Tem por objeto social a pesquisa e o
desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico sustentados em projetos de grande relevacircncia
soacutecio-ambiental e econocircmica para a sociedade brasileira tais como
Projetos de pesquisa cientiacutefica e tecnoloacutegica aplicada
Projetos e programas de experimentaccedilatildeo e demonstraccedilatildeo de soluccedilotildees
tecnoloacutegicas
Projetos de desenvolvimento de tecnologias negoacutecios e empreendimentos
inovadores
Projeto de ambientes interativos
Promoccedilatildeo da cultura e da arte
Desenvolvimento de tecnologias de interatividade centradas no ser humano
Desenvolvimento das infra-estruturas de softwares distribuiacutedos para integraccedilatildeo de
ambientes interativos
Desenvolvimento de jogos miacutedias e conteuacutedos para a construccedilatildeo de experiecircncias
memoraacuteveis
O Sapientia eacute um dos mentores e parceiros do Sapiens Parque e projetista das
aacutereas do Experientia e Scientia Atua com o desenvolvimento de Conteuacutedos Interativos
softwares interativos aplicados em jogos educacionais implantaccedilatildeo de experiecircncias e
pesquisas em convergecircncia das ciecircncias e transdisciplinaridade
CAPIacuteTULO 1 INTRODUCcedilAtildeO AO ESTUDO DE CASO O SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
39
Comunidade Local
As comunidades e associaccedilotildees de moradores de Florianoacutepolis diretamente
envolvidas com o projeto Sapiens Parque concentram-se basicamente no Norte da Ilha
Tais associaccedilotildees estiveram representadas nas audiecircncias puacuteblicas promovidas pelo
Sapiens Parque no decorrer do ano de 2003 levantando como principais questotildees a serem
discutidas a degradaccedilatildeo ambiental decorrente da excessiva urbanizaccedilatildeo e a necessidade de
integraccedilatildeo do projeto com a comunidade As principais comunidades locais envolvidas satildeo
Associaccedilatildeo dos Moradores de Canasvieiras
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem Grande
Associaccedilatildeo dos Moradores da Vargem do Bom Jesus
Associaccedilatildeo Amigos de Carijoacutes
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
Uniatildeo Metropolitana de Entidades Comunitaacuterias
Centro de Estudos Cultura e Cidadania
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
40
2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
O presente capiacutetulo analisaraacute os principais conceitos que abrangem a relaccedilatildeo do
desenvolvimento com o meio ambiente Para tanto inicia-se com uma visatildeo geral do
significado da palavra desenvolvimento para posteriormente inserir a dimensatildeo ambiental
em seu conceito O estudo resulta na anaacutelise das dimensotildees e dos criteacuterios de
desenvolvimento sustentaacutevel como paradigma Tais criteacuterios seratildeo utilizados na avaliaccedilatildeo
final do empreendimento Sapiens Parque estudo de caso deste trabalho Este capiacutetulo
ainda analisa as aplicaccedilotildees do desenvolvimento sustentaacutevel ao espaccedilo urbano enfocando
os grandes projetos urbanos e turiacutesticos como se caracteriza o estudo de caso em questatildeo
21 CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO
A maneira mais simploacuteria de caracterizar o sentido da palavra desenvolvimento
consiste em associaacute-lo ao crescimento econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo Industrial em
meados do seacuteculo XVIII a histoacuteria da humanidade passou a ser quase inteiramente
determinada pelo crescimento econocircmico A vida cotidiana foi totalmente transformada e o
padratildeo de vida das pessoas aumentou enquanto a mortalidade humana diminuiu Atraveacutes
do avanccedilo da ciecircncia e tecnologia foram possiacuteveis inovaccedilotildees nas aacutereas da sauacutede puacuteblica e
da medicina resultantes principalmente da iniciativa governamental e do empreendedorismo
puacuteblico e que acarretaram os raacutepidos aumentos da esperanccedila de vida
O conceito de desenvolvimento esteve associado exclusivamente ao crescimento
econocircmico ateacute iniacutecio dos anos 1960 devido ao resultado dos processos de industrializaccedilatildeo
nas diferentes naccedilotildees haviam poucos paiacuteses industrializados desenvolvidos e ricos e por
outro lado paiacuteses que permaneceram subdesenvolvidos e pobres cujo processo de
industrializaccedilatildeo era incipiente Segundo VEIGA (2005) a associaccedilatildeo do desenvolvimento ao
crescimento econocircmico facilitaria o encontro de paracircmetros que serviriam para mensurar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
41
desenvolvimento atraveacutes da ligaccedilatildeo com indicadores de crescimento econocircmico como por
exemplo o Produto Interno Bruto (PIB)7 per capita
Entretanto a perspectiva de ter-se o desenvolvimento combinado somente a partir do
crescimento econocircmico implica consideraacute-lo apenas segundo fenocircmenos econocircmicos
secundaacuterios como o aumento do PIB o comportamento das exportaccedilotildees ou a evoluccedilatildeo dos
mercados Apesar de constituir um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento no
crescimento econocircmico as mudanccedilas satildeo quantitativas enquanto no desenvolvimento as
mudanccedilas satildeo qualitativas No desenvolvimento devem ser levadas em consideraccedilatildeo as
disfunccedilotildees qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo
Para VEIGA (2005) ter-se o desenvolvimento de um paiacutes conceituado somente a
partir do seu crescimento econocircmico consiste em um pensamento simplista e reducionista
Isso porque o crescimento econocircmico na deacutecada de 1950 em paiacuteses semi-industrializados
como o Brasil natildeo acarretou necessariamente maior acesso agrave sauacutede educaccedilatildeo bens
materiais e culturais agraves camadas mais pobres de tais naccedilotildees como acontecera nos paiacuteses
ateacute entatildeo considerados desenvolvidos
Segundo o autor a partir da deacutecada de 1990 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) lanccedilou o Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) que natildeo se
resume agrave simples identificaccedilatildeo do desenvolvimento com o crescimento econocircmico Segundo
os relatoacuterios anuais elaborados pelo PNUD o desenvolvimento significa acima de tudo a
possibilidade de as pessoas viverem o tipo de vida que escolheram e com a provisatildeo de
instrumentos e oportunidades para fazerem suas escolhas
O IDH parte do pressuposto de que para conferir o avanccedilo de uma populaccedilatildeo natildeo se
deve considerar apenas a dimensatildeo econocircmica mas tambeacutem outras caracteriacutesticas sociais
culturais e poliacuteticas que influenciam a qualidade da vida humana Apesar de o IDH ainda
apresentar suas limitaccedilotildees o iacutendice tornou-se uma referecircncia mundial e no Brasil ele vem
sendo utilizado pelo governo federal como base para o Iacutendice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDH-M)
7 PIB eacute o indicador que mostra a produccedilatildeo de um paiacutes e que leva em conta trecircs grupos principais Agropecuaacuteria Induacutestria e Serviccedilos (httpwwwibgegovbr acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
42
SEN (2000) concorda que o desenvolvimento natildeo pode ser compreendido somente a
partir do crescimento econocircmico e da renda per capita jaacute que as variaccedilotildees na expectativa
de vida relacionam-se a diversas oportunidades sociais que satildeo centrais como serviccedilos de
sauacutede e facilidades educacionais
Estudos realizados pelo mesmo autor em bases de dados do Banco Mundial8
confirmam tambeacutem a ausecircncia de relaccedilotildees entre o crescimento econocircmico dos paiacuteses e sua
estrutura de distribuiccedilatildeo de renda Independente do crescimento econocircmico dos paiacuteses a
estrutura da distribuiccedilatildeo de renda eacute bastante persistente e haacute pouco o que fazer para
atenuar a concentraccedilatildeo de renda Desde a Segunda Guerra Mundial o crescimento
econocircmico variou muito entre os paiacuteses enquanto a distribuiccedilatildeo de renda pouco alterou
comparativamente Apesar de ainda existirem controveacutersias sobre as possiacuteveis vantagens
ou desvantagens que poderiam ser proporcionadas ao proacuteprio crescimento por uma melhor
distribuiccedilatildeo da riqueza e da renda nega-se o discurso de que o desenvolvimento dos paiacuteses
estaria atrelado somente ao resultado da renda per capita em conjunto com a distribuiccedilatildeo de renda
SEN (2000) defende ainda que o desenvolvimento deve promover a liberdade das
naccedilotildees Para tanto torna-se necessaacuterio que se removam as principais fontes de privaccedilatildeo da
liberdade pobreza carecircncia de oportunidades econocircmicas exoneraccedilatildeo social negligecircncia
dos serviccedilos puacuteblicos e interferecircncia de Estados opressivos O mundo atual apresenta
ausecircncia de liberdades substantivas que se relaciona diretamente com a pobreza
econocircmica Nega liberdades elementares a muitas pessoas liberdade de saciar a fome de
obter uma nutriccedilatildeo satisfatoacuteria ou remeacutedios para doenccedilas curaacuteveis a oportunidade de vestir-se
ou morar de modo apropriado a possibilidade de acesso agrave aacutegua tratada ou saneamento baacutesico
A pobreza econocircmica de uma naccedilatildeo natildeo pode ser vista apenas como baixa renda
fome e privaccedilatildeo fiacutesica Trata-se tambeacutem da privaccedilatildeo cultural e de capacidades baacutesicas A
pobreza surge nas dificuldades que alguns segmentos sociais encontram para participar da
vida social e cultural da comunidade As mercadorias de primeiras necessidades natildeo satildeo
apenas as indispensaacuteveis para o sustento mas satildeo tambeacutem aquelas que estatildeo
relacionadas agraves exigecircncias da cultura local
8 O Banco Mundial eacute uma organizaccedilatildeo internacional constituiacuteda por 185 paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento e que presta apoio financeiro aos governos dos paiacuteses em desenvolvimento (httpwebworldbankorg acesso em 10102007)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
43
Em seus estudos SEN (2000) afirma que para alcanccedilar uma alta expectativa e
qualidade de vida natildeo necessariamente eacute preciso haver concordacircncia entre a renda per
capita e a liberdade dos indiviacuteduos Segundo o autor cidadatildeos do Gabatildeo Aacutefrica do Sul ou
Brasil satildeo mais ricos em termos de Produto Nacional Bruto9 (PNB) per capita do que os do
Sri Lanka ou China Entretanto neste segundo grupo de paiacuteses as pessoas tecircm
probabilidade de vida mais elevadas do que no primeiro grupo
SEN (2000) constatou ainda que na Gratilde-Bretanha a expectativa de vida aumentou
durante as duas guerras mundiais (quando a alimentaccedilatildeo e serviccedilos de sauacutede eram
limitados) enquanto a renda per capita diminuiu A explicaccedilatildeo reside nas mudanccedilas do grau
de compartilhamento social durante as deacutecadas de guerra e nos aumentos das poliacuteticas e
custeio puacuteblico com serviccedilos sociais nas aacutereas de nutriccedilatildeo e sauacutede As dificuldades surgidas
com as guerras tornaram necessaacuterias medidas puacuteblicas radicais para uma nova distribuiccedilatildeo
de alimentos e serviccedilos de sauacutede Portanto torna-se importante que o processo de
desenvolvimento seja conduzido pelo custeio puacuteblico que opera por meio de um programa
de haacutebil manutenccedilatildeo social dos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e seguridade social
O autor destaca ainda a importacircncia do desenvolvimento para a fixaccedilatildeo de
contrastes intergrupais nos diversos paiacuteses Nos Estados Unidos os afro-americanos satildeo
pobres em relaccedilatildeo aos americanos brancos mas satildeo mais ricos que os habitantes de
paiacuteses perifeacutericos No entanto os afro-americanos tecircm menos chance de chegar agrave idade
madura do que as pessoas que vivem em sociedades como a China ou Sri Lanka com seus
diferentes sistemas de sauacutede educaccedilatildeo e relaccedilotildees comunitaacuterias
SACHS (2002) lembra que os temas do desenvolvimento e direitos humanos
ganharam forccedila na metade do seacuteculo XX com o intuito de exterminar as lembranccedilas da
Grande Depressatildeo10 e da Segunda Guerra Mundial fornecer os fundamentos para o
Sistema das Naccedilotildees Unidas e impulsionar os processos de descolonizaccedilatildeo Para o autor o
crescimento econocircmico eacute tido como uma expansatildeo das forccedilas produtivas da sociedade com
o objetivo de alcanccedilar os direitos plenos de cidadania para toda a populaccedilatildeo
9 Produto Nacional Bruto ou Renda Nacional Bruta eacute a soma das rendas primaacuterias a receber pelos setores institucionais residentes Eacute igual ao PIB menos as rendas primaacuterias a pagar liacutequidas das a receber das unidades natildeo-residentes (resto do mundo) (httpwwwibgegovbr acesso em 23102007) 10 A Grande Depressatildeo foi uma recessatildeo econocircmica que teve iniacutecio em 1929 trazendo altas taxas de desemprego e queda do PIB de diversos paiacuteses e que terminou apenas com a Segunda Guerra Mundial
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
44
O desenvolvimento eacute o processo histoacuterico de apropriaccedilatildeo universal
pelos povos da totalidade dos direitos humanos individuais e coletivos negativos (liberdade contra) e positivos (liberdade a favor) significando trecircs geraccedilotildees de direitos poliacuteticos ciacutevicos e civis e os direitos coletivos ao desenvolvimento ao meio ambiente e agrave cidade (SACHS 200265-66)
O autor afirma que o desenvolvimento pode permitir que cada indiviacuteduo revele suas
capacidades seus talentos e sua imaginaccedilatildeo na busca da auto-realizaccedilatildeo e da felicidade
mediante esforccedilos coletivos e individuais combinaccedilatildeo de trabalho autocircnomo e heterocircnomo
e de tempo gasto em atividades natildeo-econocircmicas Os aspectos qualitativos satildeo
considerados essenciais as maneiras viaacuteveis de produzir meios de vida natildeo podem
depender de esforccedilos excessivos e extenuantes por parte de seus produtores de empregos
mal remunerados exercidos em condiccedilotildees insalubres da prestaccedilatildeo inadequada de serviccedilos
puacuteblicos e de padrotildees subumanos de moradia
O desenvolvimento distinto do crescimento econocircmico cumpre o requisito de reaproximar economia e eacutetica na medida em que os objetivos do desenvolvimento vatildeo bem aleacutem da mera multiplicaccedilatildeo da riqueza material O crescimento eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria mas de forma alguma suficiente (muito menos eacute um objetivo em si mesmo) para se alcanccedilar a meta de uma vida melhor mais feliz e mais completa para todos (SACHS 200413)
Para SACHS (2004) o conceito de desenvolvimento abrange os ideais de igualdade
equumlidade e solidariedade Ao inveacutes de visar o crescimento do PIB o desenvolvimento visa
maximizar a vantagem daqueles que vivem nas piores condiccedilotildees O crescimento natildeo eacute
sinocircnimo de desenvolvimento se ele natildeo amplia o emprego se natildeo reduz a pobreza e se
natildeo atenua as desigualdades
A problemaacutetica ambiental surgida na deacutecada de 1970 fez com que a dimensatildeo
ambiental fosse tambeacutem integrada ao conceito de desenvolvimento com sua consequumlente
revisatildeo e evoluccedilatildeo para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel O desenvolvimento
sustentaacutevel exige explicitaccedilatildeo de criteacuterios de sustentabilidade social e ambiental e de
viabilidade econocircmica SACHS (2004) conclui que somente as soluccedilotildees que promovam o
crescimento econocircmico com impactos positivos em termos sociais e ambientais merecem a
denominaccedilatildeo de desenvolvimento conforme mostra a Tabela 1
Impactos sociais Impactos ambientais1 Desenvolvimento + +2 Selvagem - -3 Socialmente benigno + -4 Ambientalmente benigno - +
Tabela 1 ndash Padrotildees de desenvolvimento econocircmico Fonte SACHS (200436)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
45
Concluiacutemos entatildeo que o conceito de desenvolvimento natildeo abrange somente o
crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo O crescimento econocircmico somente pode se
transformar em desenvolvimento se vier acompanhado de impactos positivos sociais e
ambientais priorizando a efetiva melhoria das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo O
desenvolvimento implica em uma maior apropriaccedilatildeo e igualdade dos direitos humanos
individuais e coletivos pelos povos sem os quais natildeo eacute possiacutevel o alcance de uma alta
expectativa e qualidade de vida
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
46
211 BRASIL E DESENVOLVIMENTO
Eles iriam esbravejar em vatildeo todos os dias Cavar e esburacar pazada por pazada
Onde as tochas enxameam agrave noite Havia uma represa quando acordaacutevamos
Sacrifiacutecios humanos sangravam Gritos de horror iriam fender a noite
E onde as chamas se estreitam na direccedilatildeo do mar Um canal iria saudar a luz
(Fausto 11 123-30 apud BERMAN 198781)
De acordo com BERMAN (1987) a segunda parte do teatro alematildeo ldquoFaustordquo de
Goethe configura um drama do desenvolvimento Expressatildeo primaacuteria do espiacuterito moderno
Fausto eacute levado a um impulso de desejo de desenvolvimento cujas energias adquirem vida
proacutepria dinacircmica e caraacuteter explosivo Tal desenvolvimento colocado por Goethe como uma
trageacutedia possui um custo Fausto vende sua alma a Mefistoacutefeles em troca de determinados
bens universalmente desejados Adquire dessa forma capacidade e poder sobre a
natureza mas para tanto perde sua liberdade Ao expulsar antigos moradores de uma aacuterea
para criar uma nova sociedade ele sofre um processo de esvaziamento Fausto lanccedila todo
o seu poder contra a natureza e a sociedade e luta para mudar sua vida e a vida de todos
Encontra meios de agir contra o mundo feudal e patriarcal para construir um ambiente social
radicalmente novo destinado a esvaziar de vez o velho mundo ou a destruiacute-lo A obra daacute-se
frente agraves conturbaccedilotildees materiais e espirituais da Revoluccedilatildeo Industrial
SACHS (2004) compara a histoacuteria de Fausto agrave recente crise desenvolvimentista da
Argentina O autor afirma que a crise argentina eacute resultado da poliacutetica de fundamentalismo
de mercado adotada pelo Consenso de Washington11 e da dependecircncia excessiva de
recursos externos
Para o autor o resultado negativo da aplicaccedilatildeo das prescriccedilotildees neoliberais
defendidas pelo Consenso de Washington torna necessaacuteria a urgente regulaccedilatildeo dos
mercados que representam uma das instituiccedilotildees presentes no processo de
11 O Consenso de Washington faz parte do conjunto de reformas neoliberais que apesar de praacuteticas distintas nos diferentes paiacuteses estaacute centrado doutrinariamente na desregulamentaccedilatildeo dos mercados abertura comercial e financeira e reduccedilatildeo do tamanho e papel do Estado Tornou-se o receituaacuterio imposto por agecircncias internacionais como o Banco Mundial e o FMI para a concessatildeo de creacuteditos (NEGRAtildeO 1998)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
47
desenvolvimento O Consenso de Washington atingiu sua maturidade apoacutes a Segunda
Guerra Mundial e atuou como uma contra-reforma direcionada ao capitalismo reformado
O capitalismo reformado foi assim construiacutedo com o propoacutesito de exorcizar as terriacuteveis lembranccedilas da Grande Depressatildeo com base nos conceitos de pleno emprego Estado de Bem-estar e planejamento Ele proporcionou tambeacutem uma alternativa ao ldquosocialismo realrdquo do bloco sovieacutetico que naquela eacutepoca tinha credibilidade entre segmentos importantes da opiniatildeo puacuteblica devido ao seu sucesso de mobilizar toda a forccedila de trabalho disponiacutevel para o crescimento econocircmico extensivo e raacutepido e para a industrializaccedilatildeo (SACHS 200428)
Os trinta melhores anos do capitalismo (1945-1975) coincidiram com a Guerra Fria e
a corrida armamentista entre o bloco americano e o sovieacutetico Tal situaccedilatildeo criou condiccedilotildees
favoraacuteveis para que os paiacuteses em desenvolvimento como o Brasil tirassem proveito das
melhores experiecircncias dos dois blocos competidores atraveacutes de poliacuteticas de natildeo-
alinhamento mas acabou com os esforccedilos das Naccedilotildees Unidas de construir uma ordem
internacional mais equumlitativa
Durante a Guerra Fria os paiacuteses em desenvolvimento obtiveram rendas estrateacutegicas
provenientes das superpotecircncias que precisavam conquistar apoio e aliados Segundo
(VEIGA 2005) com o fim da bipolaridade muitos desses paiacuteses perderam seu interesse
estrateacutegico em atrair ajuda e investimentos O apoio internacional diminuiu
significativamente e atualmente somente poucas naccedilotildees detentoras e exportadoras de
importantes recursos para a explosatildeo do crescimento urbano como petroacuteleo ou alimentos
conseguem obter rendas estrateacutegicas Os paiacuteses em desenvolvimento ficam submetidos agrave
seleccedilatildeo natural do mercado global e agrave revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem qualquer tratamento
diferenciado A uacutenica fonte de renda estrateacutegica para a maioria deles eacute o perigo que sua
instabilidade representa para seus vizinhos ricos que oferecem recursos financeiros aos
paiacuteses pobres a fim de promover sua estabilidade e evitar a imigraccedilatildeo clandestina
A invasatildeo da Tchecolosvaacutequia em 1968 fortaleceu o bloco capitalista e a queda do
Muro de Berlim em 1989 marcou o fim do socialismo real como paradigma de
desenvolvimento O Consenso de Washington consolidou o receituaacuterio de medidas
neoliberais que defende a absoluta liberdade dos mercados e que ganhou forccedila com as
eleiccedilotildees de Margareth Thatcher na Inglaterra e de Ronald Reagan nos Estados Unidos
Tais medidas passaram a ter sua implementaccedilatildeo recomendada pelo Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) aos paiacuteses em desenvolvimento como uma foacutermula infaliacutevel de acelerar
seu desenvolvimento econocircmico O ideal neoliberal predominou ateacute final dos anos 1990
poreacutem seu paradigma natildeo cumpriu as suas promessas (SACHS 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
48
Para SACHS (2004) a crise do desenvolvimento na Argentina pode ser considerada
como o fim do Consenso de Washington como programa pragmaacutetico O autor ainda destaca
que os uacutenicos paiacuteses em desenvolvimento que se deram razoavelmente bem na deacutecada de
1990 foram exatamente aqueles que se recusaram a aplicar na iacutentegra as prescriccedilotildees do
Consenso de Washington
FURTADO (1974) afirma que as economias perifeacutericas e semiperifeacutericas nunca seratildeo
tatildeo desenvolvidas quanto as economias centrais do sistema capitalista O conceito de
desenvolvimento econocircmico funciona como um legitimador das relaccedilotildees de dependecircncia do
sistema capitalista ao inveacutes de promover a criatividade cultural e morfogecircnese social
A ideacuteia de desenvolvimento econocircmico tem grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e levaacute-los a aceitar enormes sacrifiacutecios para legitimar a destruiccedilatildeo de formas de cultura arcaicas para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio fiacutesico para justificar formas de dependecircncia que reforccedilam o caraacuteter predatoacuterio do sistema produtivo (FURTADO 1974 75-76)
As formas assimeacutetricas e desiguais da globalizaccedilatildeo atual prejudicam os interesses
dos paiacuteses em desenvolvimento favorecendo alguns incluiacutedos e deixando de fora muitos
excluiacutedos Os incluiacutedos vivem no capitalismo reformado enquanto os excluiacutedos estatildeo
condenados a formas mais duras e ateacute selvagens de capitalismo SACHS (2004) avalia o
crescimento econocircmico dos paiacuteses em desenvolvimento como um processo concentrador e
excludente que tende a concentrar riqueza e renda nas matildeos de poucos devido agrave
substituiccedilatildeo do trabalho pelo capital consequumlentemente formador de uma heterogeneidade
estrutural econocircmica e social Por este motivo existe a necessidade de equilibrar as metas
de modernizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo por um lado e de promover o pleno emprego ou auto-
emprego por outro com vistas agrave produtividade do trabalho que constitui na fonte de
progresso econocircmico
SEN (2000) defende tambeacutem que os paiacuteses em desenvolvimento devem dar atenccedilatildeo
especial agrave promoccedilatildeo do trabalho pois o direito ao trabalho decente abre caminho para o
exerciacutecio de vaacuterios outros direitos O desenvolvimento como jaacute vimos pode ser traduzido
atraveacutes do exerciacutecio efetivo de todos os direitos humanos poliacuteticos civis e ciacutevicos
econocircmicos sociais e culturais Na opiniatildeo de SACHS (2004) a visatildeo do desenvolvimento
entendido como um processo de apropriaccedilatildeo efetiva da totalidade de direitos humanos
resulta em uma maioria pobre excluiacuteda de tal processo Sob essas circunstacircncias a inclusatildeo
justa passa a ser o requisito central para a temaacutetica do desenvolvimento denominado pelo
autor a partir desse aspecto como desenvolvimento includente
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
49
O desenvolvimento includente opotildee-se ao crescimento excludente que se
caracteriza pelo mercado de consumo e concentraccedilatildeo de renda e riqueza O crescimento
excludente marca mercados de trabalho segmentados com trabalhadores voltados a
atividades informais e agricultura de subsistecircncia precaacuteria aleacutem da ausecircncia quase total de
participaccedilatildeo da vida poliacutetica
O desenvolvimento includente eacute fundamentado no trabalho decente para todos
Requer a garantia de todos os direitos atraveacutes da democracia da moradia decente para
todos do acesso de todos os cidadatildeos aos programas de assistecircncia e aos serviccedilos
puacuteblicos Sauacutede e educaccedilatildeo satildeo aspectos que constituem condiccedilatildeo necessaacuteria mas natildeo
suficiente para o acesso ao trabalho decente
A nossa preocupaccedilatildeo deve dirigir-se imediatamente agraves imensas desigualdades que existem hoje no acesso agraves oportunidades de trabalho na remuneraccedilatildeo do trabalho na proteccedilatildeo e participaccedilatildeo sociais e na geraccedilatildeo de riqueza e renda Na ausecircncia de condiccedilotildees e regras equumlitativas em todos estes quesitos o fim do trabalho (heterocircnomo) natildeo tem chance de se converter numa meta realista Tanto mais que as pessoas ainda tecircm que aprender a apreciar como uma verdadeira medida de sua liberdade cultural o tempo liberado para atividades autocircnomas e dar preferecircncia a elas em vez de alocar o seu tempo liberado aos prazeres do consumismo (SACHS 200444)
Para SACHS (2004) torna-se necessaacuterio reconciliar os objetivos do progresso
econocircmico baseado no aumento da produtividade do trabalho com o imperativo de
proporcionar oportunidade de trabalho decente para todos O autor defende que eacute preciso
uma estrateacutegia que harmonize dois objetivos aparentemente contraditoacuterios o progresso
teacutecnico veloz e o pleno emprego
Por um lado o progresso teacutecnico raacutepido eacute uma exigecircncia nas induacutestrias de bens
comercializaacuteveis que competem nos mercados mundiais ainda que isso signifique reduccedilatildeo
do nuacutemero de trabalhadores Por outro lado as mesmas exigecircncias natildeo se aplicam agrave
produccedilatildeo de bens e serviccedilos natildeo-comercializaacuteveis que na praacutetica natildeo enfrentam
competiccedilatildeo externa nos mercados internos Nove em cada dez pessoas estatildeo empregadas
dentro desta uacuteltima categoria de natildeo-comercializaacuteveis Dessa forma poderiacuteamos
compensar as tendecircncias negativas do emprego provocadas pelo progresso teacutecnico no
setor de comercializaacuteveis por meio da ampliaccedilatildeo da participaccedilatildeo dos bens e serviccedilos natildeo-
comercializaacuteveis no perfil da produccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
50
Para assegurar simultaneamente a sustentabilidade social e o crescimento
econocircmico SACHS (2004) afirma que deve ser dada ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo primaacuteria de
renda ao inveacutes de se persistir com o padratildeo excludente de crescimento Trata-se de uma
estrateacutegia endoacutegena de desenvolvimento a partir das proacuteprias forccedilas dos paiacuteses e baseada
em iniciativas nacionais Para tanto o autor aborda algumas poliacuteticas necessaacuterias
Explorar oportunidades de crescimento induzido pelo emprego e com conteuacutedo
zero ou baixo de importaccedilotildees principalmente obras puacuteblicas construccedilatildeo civil em
especial casas populares com apoio governamental serviccedilos sociais empregos
ligados ao aumento da produtividade dos recursos e manutenccedilatildeo dos
equipamentos edifiacutecios e infra-estrutura existente
Elaborar uma reforma fiscal que crie um imposto de valor adicionado sobre o
consumo com isenccedilatildeo para os bens essenciais mas com forte incidecircncia sobre
os artigos de luxo
Desenhar poliacuteticas para consolidar e modernizar a agricultura familiar como
estiacutemulo ao desenvolvimento rural
Promover accedilotildees para melhorias das condiccedilotildees dos que trabalham por conta
proacutepria e das micro e pequenas empresas em busca do fim da informalidade
Estabelecer conexotildees beneacuteficas entre grandes e pequenas empresas
Fortalecer as empresas industriais de grande porte e transformaacute-las em atores
competitivos em escala global
SACHS (2004) completa com a afirmaccedilatildeo de que eacute necessaacuteria uma participaccedilatildeo
maior nos padrotildees de consumo de serviccedilos e alimentos produzidos localmente (seguranccedila
alimentar local) e maior prioridade para investimentos em infra-estrutura e construccedilatildeo civil
(especialmente moradia social)
Estrateacutegias uniformes de desenvolvimento natildeo satildeo possiacuteveis de serem
estabelecidas devido agrave diversidade de configuraccedilotildees socioeconocircmicas e culturais e dos
recursos disponiacuteveis em micro e mesorregiotildees Para serem eficientes as estrateacutegias devem
responder aos problemas e necessidades de cada comunidade e para tanto precisam
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
51
garantir a participaccedilatildeo de todos os atores envolvidos (trabalhadores empregadores Estado
e sociedade civil organizada) no processo de desenvolvimento
Por esse motivo deve-se elaborar o planejamento territorial a niacuteveis municipal micro
e mesorregional a fim de agrupar vaacuterios distritos unidos pela identidade cultural e interesses
comuns Para o planejamento participativo local devem-se criar espaccedilos para o exerciacutecio da
democracia direta atraveacutes de conselhos consultivos e deliberativos onde a comunidade
pode assumir um papel ativo no processo de desenvolvimento
O planejamento eacute um processo interativo que inclui procedimentos de baixo para cima e de cima para baixo dentro de um marco de um processo nacional de longo prazo em visatildeo compartilhada pela maioria dos cidadatildeos da naccedilatildeo sobre valores a sua convergecircncia em objetivos sociais e a inserccedilatildeo do seu Estado-Naccedilatildeo num mundo globalizado (SACHS 200462)
SACHS (2004) defende ainda que no processo de planejamento torna-se necessaacuterio
que o Estado cumpra sua funccedilotildees principais 1- articular os espaccedilos de desenvolvimento do
niacutevel local (que deve ser ampliado e fortalecido) ao transnacional 2- promover parcerias
entre todos os atores interessados em busca do desenvolvimento sustentaacutevel 3-
harmonizar metas sociais ambientais e econocircmicas por meio do planejamento estrateacutegico
e do gerenciamento cotidiano da economia e sociedade buscando equiliacutebrio entre as
diferentes sustentabilidades (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial econocircmica e
poliacutetica)
22 A INSERCcedilAtildeO AMBIENTAL NO DESENVOLVIMENTO
Os debates sobre os riscos da degradaccedilatildeo do meio ambiente iniciaram nos anos
1960 e ganharam intensidade no iniacutecio dos anos 1970 No encontro Founex em Estocolmo
1971 discutiu-se pela primeira vez as relaccedilotildees entre o desenvolvimento e o meio ambiente
Tambeacutem em Estocolmo organizou-se a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Ambiente
Humano em 1972 que constitui um marco para a conscientizaccedilatildeo ambiental mundial
Segundo VEIGA (2005) previamente agrave realizaccedilatildeo desses dois encontros em Estocolmo as
questotildees que envolviam a relaccedilatildeo entre desenvolvimento e meio ambiente originaram
defensores de duas correntes opostas
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
52
1 De um lado encontravam-se aqueles que viam as preocupaccedilotildees com o meio
ambiente como um atraso e como inibiccedilatildeo dos esforccedilos dos paiacuteses ainda em
desenvolvimento rumo agrave industrializaccedilatildeo e ao alcance dos paiacuteses desenvolvidos Para
estes deveria ser dada prioridade agrave aceleraccedilatildeo do crescimento sendo que as
consequumlecircncias negativas produzidas por ele seriam eliminadas posteriormente atraveacutes do
progresso tecnoloacutegico quando tais paiacuteses em desenvolvimento atingissem o niacutevel de renda
per capita dos paiacuteses desenvolvidos Para os defensores desta corrente natildeo existiria dilema
entre conservaccedilatildeo ambiental e crescimento econocircmico depois de determinado patamar de
riqueza o crescimento passaria a melhorar a qualidade ambiental
O processo de desenvolvimento leva a mudanccedilas estruturais naquilo que as economias produzem E muitas sociedades jaacute demonstraram notaacutevel talento em introduzir tecnologias que conservam os recursos que lhe satildeo escassos Em princiacutepio os fatores que podem levar a mudanccedilas na composiccedilatildeo e nas teacutecnicas de produccedilatildeo podem ser suficientemente fortes para que os efeitos ambientalmente adversos do aumento da atividade econocircmica sejam evitados ou superados E se houver existecircncia empiacuterica que confirme essa suposta tendecircncia seraacute permitido concluir que a recuperaccedilatildeo ecoloacutegica resultaraacute do proacuteprio crescimento (VEIGA 2005114)
Grossman e Krueger defensores desta corrente desenvolveram hipoacuteteses de que as
fases de desgraccedila e recuperaccedilatildeo ambiental estariam separadas por determinado ponto
situado da renda per capita Entretanto segundo VEIGA (2005) esta hipoacutetese
provavelmente seraacute descartada porque depois de analisar muitos paiacuteses em crescimento
se concluiraacute que existem vaacuterios tipos de crescimento e de degradaccedilatildeo ambiental
2 De outro lado encontravam-se os defensores da estagnaccedilatildeo imediata do
crescimento demograacutefico e econocircmico supostos causadores da exaustatildeo de recursos e
poluiccedilatildeo ou pelo menos do crescimento do consumo De acordo com VEIGA (2005) esta
corrente alerta sobre o inexoraacutevel aumento da entropia que consiste na transformaccedilatildeo das
formas uacuteteis de energia em formas que a humanidade natildeo consegue utilizar Ou seja para
poder manter seu proacuteprio equiliacutebrio a humanidade tira da natureza os elementos de baixa
entropia que permitem compensar a alta entropia que ela causa
Dentre as teorias desta corrente a principal eacute a de Georgescu-Roegen que defendia
que a economia certamente seria absorvida pela ecologia Por esse motivo no curto prazo
o crescimento deveria ser o mais compatibilizado possiacutevel com a conservaccedilatildeo da natureza
(o que natildeo significaria um ldquocrescimento zerordquo) Para Georgescu-Rogen o crescimento
representa sempre o encurtamento da expectativa de vida da espeacutecie humana
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
53
Para os defensores deste pensamento a degradaccedilatildeo ambiental seria consequumlecircncia
da explosatildeo populacional Na opiniatildeo de SACHS (2002) esta teoria estaacute equivocada jaacute que
tal pensamento acaba por considerar que o nuacutemero de natildeo-consumidores em sua maioria
pobre importa mais do que o consumo excessivo da minoria
Durante o encontro em Estocolmo as duas correntes acima foram abandonadas
para dar lugar a uma alternativa que equilibrasse esses extremos denominada paradigma
do ldquocaminho do meiordquo O crescimento econocircmico ainda se fazia necessaacuterio mas deveria ser
socialmente receptivo e implementado por meacutetodos favoraacuteveis ao meio ambiente ao inveacutes
de favorecer a incorporaccedilatildeo predatoacuteria do capital da natureza ao PIB A abordagem
fundamentada na harmonizaccedilatildeo de objetivos sociais ambientais e econocircmicos foi
denominada ecodesenvolvimento e posteriormente desenvolvimento sustentaacutevel
De modo geral o objetivo deveria ser o do estabelecimento de um aproveitamento racional e ecologicamente sustentaacutevel da natureza em benefiacutecio das populaccedilotildees locais levando-as incorporar a preocupaccedilatildeo com a conservaccedilatildeo da biodiversidade aos seus proacuteprios interesses como um componente de estrateacutegia de desenvolvimento Daiacute a necessidade de se adotar padrotildees negociados e contratuais de gestatildeo da biodiversidade (SACHS 200253)
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel segundo SACHS (2004) foi
aperfeiccediloado entre o periacuteodo que separa a Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre o Meio
Ambiente realizada em Estocolmo em 1972 e a Cuacutepula sobre Desenvolvimento
Sustentaacutevel de Joanesburgo em 2002 A sustentabilidade social corresponde a um dos
aspectos principais desse conceito em que o crescimento econocircmico natildeo traz
desenvolvimento a menos que gere emprego e contribua para a reduccedilatildeo da pobreza e das
desigualdades Consiste em analisar o desenvolvimento natildeo somente a partir do
crescimento do PIB mas tambeacutem em termos de geraccedilatildeo de empregos
Ao mesmo tempo em que ocorreram os encontros em Estocolmo deu-se iniacutecio ao
estudo ldquoLimites do Crescimentordquo do Clube de Roma Segundo BRUumlSEKE (1998) as teses e
conclusotildees das pesquisas lideradas por Dennis Meadows alertam para as atuais
tendecircncias de crescimento da populaccedilatildeo mundial ndash industrializaccedilatildeo poluiccedilatildeo produccedilatildeo de
alimentos e diminuiccedilatildeo de recursos naturais
De acordo com esses estudos se tais tendecircncias continuarem imutaacuteveis os limites
de crescimento do planeta seratildeo alcanccedilados dentro dos proacuteximos cem anos Seria possiacutevel
modificar essas tendecircncias de crescimento e formar uma condiccedilatildeo de estabilidade ecoloacutegica
e econocircmica que se possa manter ateacute um futuro remoto O estado de equiliacutebrio global deveria
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
54
ser planejado de tal modo que as necessidades baacutesicas de cada pessoa sejam satisfeitas e
que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual
Em 1974 foi elaborado um novo documento que tambeacutem contribuiu para a discussatildeo
sobre o meio ambiente e desenvolvimento denominado Declaraccedilatildeo de Cocoyoc Segundo
BRUumlSEKE (1998) o documento foi resultado de uma reuniatildeo da Conferecircncia das Naccedilotildees
Unidas sobre Comeacutercio-Desenvolvimento (UNCTAD) e do Programa de Meio Ambiente das
Naccedilotildees Unidas (UNEP) e que destacava as seguintes hipoacuteteses a) a explosatildeo
populacional tem como uma das suas causas a falta de recursos de qualquer tipo a pobreza
gera o desequiliacutebrio demograacutefico b) a destruiccedilatildeo ambiental na Aacutefrica Aacutesia e Ameacuterica Latina
eacute tambeacutem o resultado da pobreza que leva a populaccedilatildeo carente agrave superutilizaccedilatildeo do solo e
dos recursos vegetais c) os paiacuteses industrializados contribuem para os problemas do
subdesenvolvimento por causa do seu niacutevel exagerado de consumo Os paiacuteses
industrializados teriam que baixar seu consumo e sua participaccedilatildeo desproporcional na
poluiccedilatildeo da biosfera
No seguimento deste trabalho analisaremos com maior profundidade os dois
conceitos principais que alinham o desenvolvimento econocircmico com o meio ambiente e os
aspectos sociais o ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel
221 ECODESENVOLVIMENTO
O termo ecodesenvolvimento de acordo com MONTIBELLER (2004) foi introduzido
por Maurice Strong secretaacuterio-geral da conferecircncia de Estocolmo em 1972 e bastante
difundido a partir de 1974 Significa o desenvolvimento de um paiacutes ou regiatildeo baseado em
suas proacuteprias potencialidades sem criar dependecircncia externa Tem por finalidade responder
agrave problemaacutetica da harmonizaccedilatildeo das necessidades sociais e econocircmicas do
desenvolvimento e promover a qualidade de vida com o cuidado de preservar o meio
ambiente para esta e para as futuras geraccedilotildees Pressupotildee uma solidariedade sincrocircnica
com os povos atuais na medida em que desloca o enfoque da loacutegica de produccedilatildeo para a
oacutetica das necessidades fundamentais da populaccedilatildeo e uma solidariedade diacrocircnica
expressa na economia de recursos naturais e na perspectiva ecoloacutegica para garantir
possibilidade de qualidade de vida agraves proacuteximas geraccedilotildees
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
55
De acordo com SACHS (2002) o ecodesenvolvimento busca um caminho apropriado
para a conservaccedilatildeo da biodiversidade ao assumir a harmonizaccedilatildeo dos objetivos sociais e
ecoloacutegicos A biodiversidade necessita ser protegida para garantir o direito de as futuras
geraccedilotildees atenderem agraves suas proacuteprias necessidades Para tanto torna-se imprescindiacutevel o
estabelecimento de uma rede de aacutereas protegidas como parte imanente da gestatildeo territorial
e a utilizaccedilatildeo sustentaacutevel dos recursos renovaacuteveis como uma forma de relacionamento
simbioacutetico entre o homem e a natureza Eacute necessaacuterio aprendermos a fazer um
aproveitamento sensato da natureza para construirmos uma boa sociedade atraveacutes da
perenidade dos recursos transformar o meio ambiente em recursos sem destruir o capital
da natureza
O ecodesenvolvimento pode ser definido como uma estrateacutegia para a proteccedilatildeo de
aacutereas ecologicamente valiosas (aacutereas protegidas) em face de pressotildees inaceitaacuteveis
resultantes das necessidades e atividades dos povos que vivem nelas ou no seu entorno O
ecodesenvolvimento requer o planejamento local e participativo das autoridades locais
comunidades e associaccedilotildees de cidadatildeos envolvidas na proteccedilatildeo da aacuterea
O ecodesenvolvimento pode ser mais facilmente alcanccedilado com o aproveitamento dos sistemas tradicionais de gestatildeo dos recursos como tambeacutem com a organizaccedilatildeo de um processo participativo de identificaccedilatildeo das necessidades dos recursos potenciais e das maneiras de aproveitamento da biodiversidade como caminho para a melhoria do niacutevel de vida dos povos (SACHS 200275)
Esse processo exige negociaccedilatildeo entre os atores envolvidos (populaccedilatildeo local e
autoridades) subsidiado por cientistas associaccedilotildees civis agentes econocircmicos puacuteblicos e
privados Tais negociaccedilotildees satildeo conflituosas porque se definem atraveacutes de interesses
antagocircnicos
SACHS (2002) afirma que o ecodesenvolvimento pode ser instituiacutedo a partir dos
seguintes esforccedilos
Identificaccedilatildeo criaccedilatildeo e desenvolvimento de alternativas sustentaacuteveis de recursos
de biomassa e renda
Envolvimento da populaccedilatildeo local das aacutereas protegidas nos planos de conservaccedilatildeo
e na gestatildeo da aacuterea
Cultivo da conscientizaccedilatildeo da comunidade local quanto ao valor e agrave necessidade
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
56
de proteccedilatildeo da aacuterea assim como aos padrotildees de sustentabilidade de um
crescimento local apropriado
Institucionalizaccedilatildeo do sistema legislaccedilatildeo e normas
Com o intuito de proteger a biodiversidade o Governo Federal Brasileiro sancionou
uma importante lei em julho do ano 2000 a lei ndeg 9985 que instituiu o Sistema Nacional de
Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) estabelecendo criteacuterios e normas para a criaccedilatildeo
implantaccedilatildeo e gestatildeo das unidades de conservaccedilatildeo federais estaduais e municipais O
SNUC permite trabalhos de ecodesenvolvimento nas ldquozonas tampatildeordquo e nas zonas de
transiccedilatildeo das camadas das reservas da biosfera onde satildeo admitidas atividades humanas
controladas O sistema tem por objetivos (LEI 99852000)
Contribuir para a manutenccedilatildeo da diversidade bioloacutegica e dos recursos geneacuteticos
no territoacuterio nacional e nas aacuteguas jurisdicionais
Proteger as espeacutecies ameaccediladas de extinccedilatildeo no acircmbito regional e nacional
Contribuir para a preservaccedilatildeo e a restauraccedilatildeo da diversidade de ecossistemas
naturais
Promover o desenvolvimento sustentaacutevel a partir dos recursos naturais
Promover a utilizaccedilatildeo dos princiacutepios e praacuteticas de conservaccedilatildeo da natureza no
processo de desenvolvimento
Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notaacutevel beleza cecircnica
Proteger as caracteriacutesticas relevantes de natureza geoloacutegica geomorfoloacutegica
arqueoloacutegica paleontoloacutegica e cultural
Proteger e recuperar recursos hiacutedricos
Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
57
Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa cientiacutefica estudos e
monitoramento ambiental
Valorizar econocircmica e socialmente a diversidade bioloacutegica
Favorecer condiccedilotildees e promover a educaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo ambiental a
recreaccedilatildeo em contato com a natureza e o turismo ecoloacutegico
Proteger os recursos naturais necessaacuterios agrave subsistecircncia de populaccedilotildees
tradicionais respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente
O SNUC divide-se em dois grupos de unidades de conservaccedilatildeo as unidades de
proteccedilatildeo integral cujo objetivo baacutesico eacute preservar a natureza sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais e as unidades de uso sustentaacutevel que tem por objetivo
baacutesico compatibilizar a conservaccedilatildeo da natureza com o uso sustentaacutevel de uma parcela dos
seus recursos naturais Fazem parte do grupo de unidades de proteccedilatildeo integral as Estaccedilotildees
Ecoloacutegicas Reservas Bioloacutegicas Parques Nacionais Parques Estaduais Monumentos
Naturais e Refuacutegios de Vida Silvestre No grupo de unidades de uso sustentaacutevel incluem-se
as Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Aacutereas de Proteccedilatildeo Ambiental Estadual Aacutereas de
Relevante Interesse Ecoloacutegico Florestas Nacionais Florestas Estaduais Reservas
Extrativistas Reservas de Fauna Reservas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e Reservas
Particulares do Patrimocircnio Natural
A Tabela 2 mostra as unidades de conservaccedilatildeo delimitadas para Florianoacutepolis e
suas respectivas caracteriacutesticas a niacuteveis federal estadual e municipal
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
58
Tipo de unidade
Nordm de Decreto Federal de criaccedilatildeo
Abrangecircncia Aacuterea
Abrangecircncia AacutereaNordm de Decreto
Estadual de criaccedilatildeoTipo de unidade
Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
Dec nordm 9914290 Ilhas do Arvoredo Ilhas das Galeacutes e Deserta o Calhau de Satildeo Pedro e a aacuterea marinha que os circunda 17800 ha
Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental de Anhatomirim
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica CarijoacutesDec nordm 9465687 Manguezal de Ratones e do Saco Grande com aacuterea
de 712 ha
Dec nordm 52892 Ilha de Anhatomirim compreende uma aacuterea de 3000 ha Localizado na baiacutea norte
Reserva Extrativista do Pirajubaeacute
Dec nordm 53392 Manguezal do Rio Tavares e o baixio a sua frente 1444 ha
Parque Florestal do Rio Vermelho
Dec nordm 200662 e Dec nordm 99474
Rio Vermelho antiga Estaccedilatildeo Florestal do Rio Vermelho 1110 ha
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro
Dec nordm 126075 Aacutereas da Mata Atlacircntica dunas restingas manguezais e capoeirotildees Dos 90000 ha 3465 localiza-se em Florianoacutepolis
Tipo de unidadeNordm de Decreto Lei
Municipal de CriaccedilatildeoAbrangecircncia Aacuterea
Praia da Daniela Protege ecossistemas de manguezal e restingas 1564 ha
Lei 509197Ponta da Daniela
Parque municipal do Maciccedilo da Costeira
Lei 460595 e Dec nordm 15495
Aacutereas com relevo montanhoso e protege a vegetaccedilatildeo da Floresta Atlacircntica fauna e mananciais hiacutedricos 14563 ha
Dunas da Barra da Lagoa Lei 377192 e Lei 219385
Plano de reestruturaccedilatildeo urbano da Barra da Lagoa e protege as dunas 66 ha
Parque Municipal da Lagoinha do Leste
Lei 370192 e Dec nordm 15387
Aacuterea maior que a Bacia Hidrograacutefica da Lagoinha Aacuterea 453 ha
Parque Municipal da Galheta
Lei 345590 Praia da Galheta 1493 ha
Lagoa da Chica e Lagoinha Pequena
Dec n ordm 18588 e Lei 219385
Campeche e Rio Tavares 375 ha
Regiatildeo da Costa da Lagoa da Conceiccedilatildeo
Dec nordm 24786 Encosta da margem oeste da Lagoa da Conceiccedilatildeo desde a Ponta das Araccedilaacutes Ponta do Saquinho e o caminho da Costa da Lagoa 9675 ha
Aacuterea de preservaccedilatildeo permanente e de uso limitado
Dec nordm 219385 Uso e ocupaccedilatildeo do solo dos balneaacuterios do municiacutepio instituindo APPs e APLs Totaliza 100742 ha
Restingas de Ponta das Canas e Ponta Sambaqui
Dec nordm 21685 Aacuterea 228 ha
Dunas de Ingleses Santinho Campeche Armaccedilatildeo e Pacircntano do Sul
Dec nordm 11285 Tomba o sistema fiacutesico natural das respectivas localidades Aacuterea 95330 ha
Parque Municipal da Lagoa do Peri
Lei nordm 182881 e Dec nordm 9182
Lagoa do Peri 2030 ha
Lagoa da Conceiccedilatildeo Dec nordm 126175 e 21379
Dunas e aacutereas limites adjacentes 563 ha
Tabela 2 ndash Unidades de Conservaccedilatildeo de Florianoacutepolis Fonte Floram 2002
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
59
A lei do SNUC tece ainda comentaacuterios gerais sobre as aacutereas pertencentes agrave Reserva
da Biosfera que satildeo aacutereas especiais reconhecidas pelo programa intergovernamental ldquoO
Homem e a Biosfera - MaBrdquo estabelecido pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a
Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) e do qual o Brasil faz parte A Reserva da
Biosfera trata-se de um modelo adotado internacionalmente de gestatildeo integrada
participativa e sustentaacutevel dos recursos naturais Seus objetivos baacutesicos consistem a
preservaccedilatildeo da diversidade bioloacutegica o desenvolvimento de atividades de pesquisa o
monitoramento ambiental a educaccedilatildeo ambiental o desenvolvimento sustentaacutevel e a
melhoria da qualidade de vida das populaccedilotildees (LEI 99852000)
A Reserva da Biosfera eacute constituiacuteda por 1 - uma ou vaacuterias aacutereas-nuacutecleo destinadas
agrave proteccedilatildeo integral da natureza 2 - uma ou vaacuterias zonas de amortecimento onde soacute satildeo
admitidas atividades que natildeo resultem em dano para as aacutereas-nuacutecleo e 3 - uma ou vaacuterias
zonas de transiccedilatildeo sem limites riacutegidos onde o processo de ocupaccedilatildeo e o manejo dos
recursos naturais satildeo planejados e conduzidos de modo participativo e em bases
sustentaacuteveis
Das 440 Reservas da Biosfera existentes no mundo o Brasil possui seis delas
delimitadas a partir dos seis maiores biomas brasileiros Mata Atlacircntica (RBMA) Cerrado
(RBC) Pantanal (RBP) Caatinga (RBCA) Amazocircnia Central (RBAC) e o Cinturatildeo Verde da
Cidade de Satildeo Paulo (RBCVSP) A Figura 4 mostra a delimitaccedilatildeo dessas reservas no paiacutes
A primeira das Reservas da Biosfera a ser instituiacuteda no Brasil foi a Reserva da Biosfera da
Mata Atlacircntica que tem atualmente 350000 km2 e forma um corredor envolvendo 15
estados brasileiros inclusive Santa Catarina e incorporando centenas de aacutereas - nuacutecleo
(Unidades de Conservaccedilatildeo)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
60
Figura 4 ndash Reservas da Biosfera no Brasil Fonte Programa MaB ndash O Homem e a Biosfera Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
O terreno onde seraacute implantado o empreendimento Sapiens Parque estaacute incluiacutedo
dentro de quatro planos dirigidos agrave proteccedilatildeo de aacutereas naturais o Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Desenvolvimento Sustentaacutevel do Entorno da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o Plano de Manejo da Reserva Bioloacutegica Marinha do Arvoredo
e o Parque Florestal do Rio Vermelho Os planos colocam as condiccedilotildees e diretrizes que
devem ser seguidas pelos seus vizinhos de modo a garantir a proteccedilatildeo dos recursos
naturais em seu interior De maneira geral os planos mencionados incentivam a pesquisa a
preservaccedilatildeo e o turismo responsaacutevel e sustentaacutevel Atividades ambientalmente corretas
como a agricultura orgacircnica o artesanato e a pesca artesanal tambeacutem satildeo incentivadas no
entorno das unidades de conservaccedilatildeo
Aleacutem disso Florianoacutepolis tambeacutem estaacute incluiacuteda no Plano Estadual de Gerenciamento
Costeiro uma proposta de lei disciplinadora do uso e ocupaccedilatildeo do solo do litoral catarinense
que objetiva potencializar seu crescimento mantendo a qualidade de vida e sem deteriorar o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
61
meio ambiente A lei diz respeito ao planejamento e manejo dos recursos naturais levando
em consideraccedilatildeo os aspectos de natureza histoacuterica cultural e tradicional
222 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
O conceito de desenvolvimento sustentaacutevel eacute recente Surgiu na deacutecada de 1970 e
apareceu nos relatoacuterios da Uniatildeo Internacional para Conservaccedilatildeo da Natureza na deacutecada
de 1980 O conceito foi popularizado em 1987 na Assembleacuteia Geral da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid entatildeo presidentes da
Comissatildeo Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) caracterizaram o
desenvolvimento sustentaacutevel como um ldquoconceito poliacuteticordquo e um ldquoconceito amplo para
progresso econocircmico e socialrdquo (VEIGA 2005113)
Esse encontro gerou um documento conhecido como Relatoacuterio Brundtland (Nosso
Futuro Comum) que objetivava buscar alianccedilas para a viabilizaccedilatildeo da ECO-92 conferecircncia
das Naccedilotildees Unidas ocorrida no Rio de Janeiro O relatoacuterio afirma que o desenvolvimento
sustentaacutevel eacute aquele que atende agraves necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as geraccedilotildees futuras atenderem agraves suas proacuteprias necessidades De acordo
com o relatoacuterio a sustentabilidade compreende uma mudanccedila nas relaccedilotildees econocircmicas
poliacutetico-sociais culturais e ecoloacutegicas ldquoDesse modo a natureza passa a ser vista como parte
integrante de um sistema que originalmente deveria ser ciacuteclico excluindo o comportamento
predador do modelo desenvolvimentista predominanterdquo (OLIVEIRA 2004) Natildeo se reduz a
simples crescimento quantitativo pelo contraacuterio faz intervir a qualidade das relaccedilotildees
humanas com o ambiente natural e a necessidade de conciliar a evoluccedilatildeo dos valores
socioculturais
O Relatoacuterio Brundtland determina as seguintes medidas a serem seguidas pelos
paiacuteses em niacutevel nacional limitaccedilatildeo do crescimento populacional garantia de recursos
baacutesicos (aacutegua alimentos energia) em longo prazo preservaccedilatildeo da biodiversidade e dos
ecossistemas diminuiccedilatildeo do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com
uso de fontes energeacuteticas renovaacuteveis aumento da produccedilatildeo industrial nos paiacuteses natildeo-
industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas controle da
urbanizaccedilatildeo desordenada e integraccedilatildeo entre campo e cidades menores atendimento das
necessidades baacutesicas (sauacutede escola moradia)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
62
Em acircmbito internacional o relatoacuterio propotildee as seguintes metas adoccedilatildeo da estrateacutegia
de desenvolvimento sustentaacutevel pelas organizaccedilotildees de desenvolvimento (oacutergatildeos e
instituiccedilotildees internacionais de financiamento) proteccedilatildeo dos ecossistemas supra-nacionais
como a Antaacutertica os oceanos e o espaccedilo pela comunidade internacional banimento das
guerras e implantaccedilatildeo de um programa de desenvolvimento sustentaacutevel pela Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU)
O desenvolvimento sustentaacutevel requer mudanccedilas nos padrotildees de consumo dos
hemisfeacuterios Norte e Sul a comeccedilar no que diz respeito agrave economia de recursos A
separaccedilatildeo social resultante da reproduccedilatildeo dos padrotildees de consumo do Norte no Sul em
benefiacutecio de uma minoria pede uma mudanccedila de paradigma no processo de
desenvolvimento a favor do meio ambiente e da elevaccedilatildeo do padratildeo de pobreza
Entretanto segundo SACHS (2002) para isso satildeo necessaacuterias mudanccedilas no Norte em
relaccedilatildeo aos efeitos demonstrativos dos seus padrotildees de consumo sobre a populaccedilatildeo do
Sul ampliados pelo processo de globalizaccedilatildeo
O conceito do desenvolvimento sustentaacutevel sinaliza uma alternativa agraves teorias e
modelos tradicionais de desenvolvimento e marca uma nova filosofia do desenvolvimento
que combina eficiecircncia econocircmica com justiccedila social e prudecircncia ecoloacutegica
Segundo MONTIBELLER (2004) a diferenccedila fundamental entre o
ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentaacutevel consiste no fato de que o
ecodesenvolvimento volta-se ao atendimento das necessidades baacutesicas da populaccedilatildeo
atraveacutes da utilizaccedilatildeo de tecnologias apropriadas a cada ambiente e partindo do mais simples
ao mais complexo enquanto que o desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza o papel de uma
poliacutetica ambiental a responsabilidade com os problemas globais e com as futuras geraccedilotildees
Os primeiros indicadores de sustentabilidade segundo VEIGA (2005) foram
desenvolvidos pela Comissatildeo para o Desenvolvimento Sustentaacutevel (CSD) das Naccedilotildees
Unidas Em 1996 a CSD publicou o documento ldquoIndicadores de desarollo sostenible marco
y metodologiacuteasrdquo que continha um conjunto de 143 indicadores reduzidos quatro anos mais
tarde para 57 indicadores Este documento serviu como base para a formulaccedilatildeo dos
primeiros indicadores brasileiros de desenvolvimento sustentaacutevel atraveacutes do documento
ldquoIndicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevelrdquo (IDS) apresentado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutesticas (IBGE) em 2002 e 2004
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
63
O documento elaborado pelo IBGE consistiu a primeira tentativa brasileira para
definiccedilatildeo de estatiacutesticas que coloquem a dimensatildeo ambiental ao lado da social econocircmica
e institucional No campo da dimensatildeo ambiental foi possiacutevel apresentar indicadores
fundamentais referentes agrave conservaccedilatildeo do meio ambiente organizados em cinco temas
essenciais ldquoatmosferardquo ldquoterrardquo ldquooceanos mares e aacutereas costeirasrdquo ldquobiodiversidaderdquo e
ldquosaneamentordquo
O fato de um iacutendice de desenvolvimento sustentaacutevel ser composto por muitas
dimensotildees e variaacuteveis acarreta dificuldades na sua elaboraccedilatildeo Ainda natildeo existe um iacutendice
de desenvolvimento sustentaacutevel reconhecido internacionalmente como tem sido o IDH No
Foacuterum Econocircmico Mundial em 2002 pesquisadores de duas universidades americanas
(Yale e Columbia) apresentaram o iacutendice de sustentabilidade ambiental ldquoEnvironmental
Sustenaibility Indexrdquo (ESI) O ESI natildeo significa exatamente um iacutendice de desenvolvimento
sustentaacutevel uma vez que estabelece somente criteacuterios de anaacutelise de dimensatildeo ambiental
mas ele pode ser comparado com outros iacutendices de desenvolvimento O ESI considera cinco
componentes ambientais ldquosistemas ambientaisrdquo ldquoestressesrdquo ldquovulnerabilidade humanardquo
ldquocapacidade social e institucionalrdquo e ldquoresponsabilidade globalrdquo
O ESI elaborado pelos estudantes de Yale e Columbia foi reapresentado em 2005 e
segundo VEIGA (2005) foi a mais reconhecida tentativa de elaboraccedilatildeo de um iacutendice de
sustentabilidade ambiental mas ainda natildeo representa um consenso internacional Por este
motivo e pelo fato de o empreendimento Sapiens Parque ainda estar em fase de execuccedilatildeo
tornando inviaacutevel a realizaccedilatildeo do trabalho atraveacutes dos iacutendices de sustentabilidade optamos
em utilizar como paracircmetro para a anaacutelise do estudo de caso um sistema de dimensotildees e
criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel desenvolvido por SACHS (2002)
SACHS (2002) defende que o desenvolvimento sustentaacutevel abrange uma seacuterie de
dimensotildees (social cultural ecoloacutegica territorial econocircmica e poliacutetica) classificadas segundo
o autor pelos conceitos a seguir
1 A dimensatildeo social vem agrave frente da demais na opiniatildeo de SACHS (2002) por
constituir a proacutepria finalidade do desenvolvimento Deve visar a reduccedilatildeo substancial das
diferenccedilas sociais
2 A sustentabilidade cultural aparece em seguida e tem como objetivo a busca de
raiacutezes endoacutegenas dos modelos de modernizaccedilatildeo e dos sistemas rurais integrados de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
64
produccedilatildeo privilegiando o processo de mudanccedila no seio da comunidade cultural e
respeitando as especificidades de cada ecossistema de cada cultura e de cada local
3 A sustentabilidade ecoloacutegica e ambiental vem em decorrecircncia e compreende o
uso dos potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatiacuteveis com sua miacutenima
deterioraccedilatildeo Deve permitir que a natureza encontre novos equiliacutebrios atraveacutes de processos
de utilizaccedilatildeo que obedeccedilam tambeacutem preservar as fontes de recursos naturais
4 A dimensatildeo territorial (espacialgeograacutefica) pressupotildee evitar a excessiva
concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees de atividades e do poder Busca uma relaccedilatildeo mais
equilibrada cidadecampo
5 A sustentabilidade econocircmica aparece como uma necessidade mas natildeo se trata
de condiccedilatildeo preacutevia para as anteriores uma vez que um transtorno econocircmico traz consigo o
transtorno social que por seu lado obstrui a sustentabilidade ambiental Eacute possibilitada por
uma alocaccedilatildeo e gestatildeo mais eficientes dos recursos e por um fluxo regular do investimento
puacuteblico e privado
6 A sustentabilidade poliacutetica (nacional) eacute importante na pilotagem do processo de
reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
7 Igualmente importante constitui a sustentabilidade poliacutetica (internacional) para
mantenimento da paz mundial e estabelecimento de um sistema de administraccedilatildeo para o
patrimocircnio comum da humanidade
SACHS (2002) delimita os criteacuterios para cada uma das dimensotildees acima
esquematizados tambeacutem por MONTIBELLER (2004) conforme a Tabela 3
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
65
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADECRITEacuteRIOS OBJETIVOS
Alcance de um patamar razoaacutevel de homogeneidade social Distribuiccedilatildeo de renda justa Emprego pleno eou autocircnomo com qualidade de vida decente Igualdade no acesso aos recursos e serviccedilos sociais Mudanccedilas no interior da continuidade (equiliacutebrio entre respeito agravetradiccedilatildeo e inovaccedilatildeo) Capacidade de autonomia para elaboraccedilatildeo de um projeto nacionalintegrado e endoacutegeno (em oposiccedilatildeo agraves coacutepias servis dos modelosalieniacutegenas) Autoconfianccedila combinada com abertura para o mundo Preservaccedilatildeo do potencial do capital natureza na sua produccedilatildeo derecursos renovaacuteveis Limitar o uso dos recursos natildeo-renovaacuteveis Respeitar e realccedilar a capacidade de autodepuraccedilatildeo dosecossistemas naturais Configuraccedilotildees urbanas e rurais balanceadas (eliminaccedilatildeo dasinclinaccedilotildees urbanas nas alocaccedilotildees do investimento puacuteblico) Melhoria do ambiente urbano Superaccedilatildeo das disparidades inter-regionais Estrateacutegias de desenvolvimento ambientalmente seguras paraaacutereas ecologicamente fraacutegeis (conservaccedilatildeo da biodiversidade peloecodesenvolvimento) Desenvolvimento econocircmico intersetorial equilibrado Seguranccedila alimentar Capacidade de modernizaccedilatildeo contiacutenua dos instrumentos deproduccedilatildeo razoaacutevel niacutevel de autonomia na pesquisa cientiacutefica etecnoloacutegica Inserccedilatildeo soberana na economia internacional Democracia definida em termos de apropriaccedilatildeo universal dosdireitos humanos Desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar oprojeto nacional em parceria com todos os empreendedores Um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social Eficaacutecia do sistema de prevenccedilatildeo de guerras da ONU na garantiada paz e na promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo internacional Um pacote Norte-Sul de co-desenvolvimento baseado no princiacutepiode igualdade (compartilhamento da responsabilidade defavorecimento do parceiro mais fraco) Controle institucional efetivo do sistema internacional financeiro denegoacutecios Controle institucional efetivo da aplicaccedilatildeo do Princiacutepio daPrecauccedilatildeo na gestatildeo do meio ambiente e dos recursos naturaisprevenccedilatildeo das mudanccedilas globais negativas proteccedilatildeo dadiversidade bioloacutegica (e cultural) e gestatildeo do patrimocircnio globalcomo heranccedila comum da humanidadeinternacional
SOCIAL
CULTURAL
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
POLIacuteTICA (NACIONAL)
POLIacuteTICA (INTERNACIONAL)
TERRITORIAL
ECONOcircMICA
Reduccedilatildeo das diferenccedilas sociais
Busca de raiacutezes endoacutegenas e respeito agraves especificidades de cada cultura
Equiliacutebrio entre a utilizaccedilatildeo e preservaccedilatildeo dos recursos naturais
Evitar a excessiva concentraccedilatildeo geograacutefica de populaccedilotildees
Governar o processo de reconciliaccedilatildeo do desenvolvimento com a conservaccedilatildeo da biodiversidade
Mantenimento da paz mundial baseado no princiacutepio de igualdade e da qualidade do meio ambiente
Aumento da produccedilatildeo e da riqueza social e independecircncia econocircmica externa
Tabela 3 ndash Dimensotildees objetivos e criteacuterios de desenvolvimento sustentaacutevel Fonte Sachs (2002) Montibeller (2004) Elaboraccedilatildeo da autora
Portanto o paradigma do desenvolvimento sustentaacutevel abrange um conjunto de
sustentabilidades que apresentam criteacuterios de aplicaccedilatildeo em niacutevel global nacional e local Para
os fins de anaacutelise deste trabalho tomaremos os conceitos e criteacuterios delimitados por SACHS
(2002) para as dimensotildees de sustentabilidade acima que podem ser concentradas nos trecircs
pontos principais dimensatildeo social dimensatildeo ecoloacutegica e ambiental e dimensatildeo econocircmica
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
66
23 SUSTENTABILIDADE URBANA
A insalubridade das cidades provocada pela excessiva urbanizaccedilatildeo no seacuteculo XX
originou propostas urbaniacutesticas que buscavam um equiliacutebrio entre o crescimento econocircmico
e os problemas sociais integrados ao desenho da paisagem Deu-se iniacutecio agrave ldquotendecircncia do
verderdquo que se refletiu nas cidades-jardins12 de Howard
Em todas as eacutepocas o medo das infecccedilotildees da cidade e as atraccedilotildees do campo aberto proporcionaram estiacutemulos tanto negativos quanto positivos (hellip) Aacutegua ar puro fugas aos aacutesperos ruiacutedos humanos extensotildees abertas para cavalgar caccedilar praticar o arco caminhar pelo campo ndash tais satildeo as qualidades que a aristocracia sempre apreciou em toda partehellip(MUMFORD 1998526)
Howard propunha um novo modelo de desenvolvimento urbano que empregasse
facilidades teacutecnicas para acabar com as diferenccedilas cada vez maiores entre o campo e a
cidade Apesar de as cidades-jardins defenderem a ideacuteia de preservaccedilatildeo da natureza ainda
a encaravam como bem de usufruto do ser humano De acordo com ANDRADE (2003)
alguns princiacutepios de desenvolvimento urbano sustentaacutevel podem ser identificados no modelo
de cidade-jardim tais como tamanho controlado com acessibilidade aos espaccedilos verdes e
aos pedestres transporte puacuteblico adequado uso misto (de-zoneamento) reaproveitamento
de resiacuteduos soacutelidos em terras agriacutecolas e centros comerciais com economia local
A visatildeo da natureza como um bem de utilizaccedilatildeo humana permanece no modelo de
urbanizaccedilatildeo do Modernismo Embora tivesse um discurso social e uma preocupaccedilatildeo com a
vida saudaacutevel natildeo incluiacutea em suas ideacuteias o esgotamento de recursos Reflete os princiacutepios
da Carta de Atenas13 que desenvolveu a ideacuteia da cidade como ldquomaacutequinardquo em uma utopia
funcionalista da eacutepoca O construiacutedo em meio ao aberto e a habitaccedilatildeo dentro do espaccedilo
verde viraram a marca registrada e o ideal da cidade moderna Caracterizava-se pela
monofuncionalidade dos bairros e pela desarticulaccedilatildeo e distacircncia entre o espaccedilo puacuteblico e o
12 As cidades-jardins de Ebenezer Howard foram uma tentativa de resolver os problemas de insalubridade pobreza e poluiccedilatildeo nas cidades por meio de desenho de novas cidades que tivessem uma estreita relaccedilatildeo com o campo Howard concebia sua cidade-jardim de forma a propiciar aos homens mais liberdade em uma vida comunitaacuteria renovada (ANDRADE 2003 aquitexto Portal Vitruvius) 13 A Carta de Atenas consiste em um conjunto de artigos do CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) de 1933 cujo tema foi a Cidade Funcional Baseia-se na localizaccedilatildeo das atividades segundo a funccedilatildeo moradia lazer trabalho transporte (FRAMPTON 2000)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
67
privado Em funccedilatildeo disso o espaccedilo puacuteblico da cidade moderna era pobre em relaccedilotildees de
encontro ritual e movimento
Jane Jacobs em seu livro ldquoMorte e Vida nas Grandes Cidadesrdquo faz um relato
ofensivo aos fundamentos do planejamento urbano moderno A autora defende o estudo das
relaccedilotildees sociais antroacutepicas como forma de planejamento para cidades saudaacuteveis E enfatiza
a necessidade de uma diversidade de usos mais complexa e densa e que propicie entre
eles uma sustentaccedilatildeo muacutetua e constante tanto econocircmica quanto social
A problemaacutetica ambiental e social urbana colocou em questionamento o paradigma
urbanista moderno Algumas contribuiccedilotildees importantes quanto ao tema da sustentabilidade
urbana surgiram na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro a partir da qual explicita-se a
tentativa das cidades de se organizarem na busca por uma alternativa viaacutevel de
desenvolvimento A Agenda 2114 desponta como um modelo participativo de mudanccedila de
atitude em relaccedilatildeo ao meio ambiente a partir da necessidade de transformar compromissos
abstratos em accedilotildees de niacutevel nacional e local
ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo eacute um dos documentos da Agenda 21 Brasileira Seu objetivo
eacute oferecer propostas para introduzir a dimensatildeo ambiental nas poliacuteticas urbanas vigentes ou
que venham a serem adotadas Dentre as premissas que o nortearam merece destaque a
denominada crescer sem destruir por traduzir que o desenvolvimento sustentaacutevel das
cidades implica ao mesmo tempo no crescimento dos fatores positivos da sustentabilidade
urbana e na diminuiccedilatildeo dos impactos ambientais sociais e econocircmicos indesejaacuteveis no
espaccedilo urbano
A Conferecircncia Habitat II ou Cuacutepula das Cidades realizada em Istambul em 1996
(20 anos apoacutes a Habitat I em Vancouver Canadaacute) teve como foco principal atualizar os
temas e paradigmas que fundamentam a poliacutetica urbana e habitacional com o objetivo
de reorientar a linha de accedilatildeo dos oacutergatildeos e agecircncias de cooperaccedilatildeo internacional para
estes temas incluindo a do proacuteprio Centro das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos
Humanos ndash Habitat
14 A Agenda 21 consiste em um programa de accedilatildeo global adotado por 182 governos Eacute o primeiro documento a alcanccedilar consenso internacional e que fornece um plano para assegurar o futuro sustentaacutevel do planeta lanccedilando questotildees sobre o desenvolvimento e o meio ambiente (OLIVEIRA 2004)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
68
De acordo com ROLNIK (1996) a conferecircncia em Istambul abordou o processo
de urbanizaccedilatildeo nos paiacuteses em desenvolvimento e apresentou um quadro negativo de
tendecircncias com destaque para a insustentabilidade da qualidade de vida nas cidades
Tal fato deve-se tanto pela destruiccedilatildeo de recursos naturais e de seu patrimocircnio cultural
quanto pela gestatildeo e operaccedilatildeo natildeo planejadas dos seus serviccedilos
Apoacutes a Conferecircncia do Rio de Janeiro e da Habitat II a cidade passou a ser vista natildeo
mais como um problema a ser evitado mas como uma realidade que pode ser transformada
para melhor Esta nova forma de pensamento deve-se fundamentalmente ao fracasso das
poliacuteticas de fixaccedilatildeo da populaccedilatildeo rural e agrave constataccedilatildeo de estatiacutesticas internacionais e
nacionais que comprovam que a cidade constitui a forma que os seres humanos
escolheram para viver em sociedade e prover sua necessidades Segundo a Agenda 21
Brasileira a proporccedilatildeo de pessoas que moravam em cidades no Brasil era de 76 em
1996 Atualmente mais de 80 da populaccedilatildeo brasileira mora em cidades sendo que as
projeccedilotildees apontam para uma taxa de mais de 88 em 2020
No Brasil surgiram instrumentos com a intenccedilatildeo de direcionar as novas formas de se
projetar a cidade entre legislaccedilotildees urbanas e ambientais Um desses instrumentos consiste
na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservaccedilatildeo (SNUC) jaacute vista neste capiacutetulo e
tambeacutem na proacutepria Agenda 21 Brasileira que seraacute analisada adiante O Estatuto da
Cidade15 constitui outro importante instrumento de poliacutetica urbana e reserva tambeacutem
algumas orientaccedilotildees relevantes no que tange respeito ao tema do meio ambiente urbano
das quais destacam-se
Garantia do direito a cidades sustentaacuteveis entendido como o direito agrave terra urbana agrave
moradia ao saneamento ambiental agrave infra-estrutura urbana ao transporte e aos
serviccedilos puacuteblicos ao trabalho e ao lazer para as presentes e futuras geraccedilotildees
Planejamento do desenvolvimento das cidades da distribuiccedilatildeo espacial da
populaccedilatildeo e das atividades econocircmicas do Municiacutepio e do territoacuterio sob sua aacuterea
de influecircncia de modo a evitar e corrigir as distorccedilotildees do crescimento urbano e
seus efeitos negativos sobre o meio ambiente
15 O Estatuto da Cidade (Lei ndeg 102572001) eacute a lei federal que daacute as diretrizes e regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que falam sobre a Poliacutetica Urbana que deveraacute ser praticada pela Uniatildeo Estados e Municiacutepios (disponiacutevel em httpwwwestatutodacidadeorgbr acesso em 15062005)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
69
Audiecircncia do Poder Puacuteblico municipal e da populaccedilatildeo interessada nos processos de
implantaccedilatildeo de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos
sobre o meio ambiente natural ou construiacutedo o conforto ou a seguranccedila da populaccedilatildeo
O estatuto ainda coloca agrave disposiccedilatildeo dos municiacutepios o Estudo de Impacto de
Vizinhanccedila (EIV) que deveraacute ser executado de forma a contemplar os efeitos positivos e
negativos dos empreendimentos ou atividades quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo
residente na aacuterea e suas proximidades
Para Florianoacutepolis existe atualmente uma proposta conceitual de um plano piloto
para a primeira Reserva da Biosfera em Ambiente Urbano (Figura 5) buscando integrar o
modelo baacutesico das Reservas da Biosfera aos conceitos de ecologia urbana O objetivo eacute a
integraccedilatildeo entre a conservaccedilatildeo da natureza e de seus processos com a manutenccedilatildeo do
patrimocircnio cultural e dos processos de urbanidade
Figura 5 ndash Proposta de Reserva da Biosfera Urbana para Florianoacutepolis Fonte Proposta Projeto Piloto RBU Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
70
A proposta da Reserva da Biosfera Urbana eacute composta de cinco zonas da
predominantemente natural agrave predominantemente urbana conforme mostra a Figura 5
Zonas Nuacutecleo Natural (Unidades de Conservaccedilatildeo Aacutereas de Preservaccedilatildeo
Permanente e aacutereas tombadas) que constitua uma manifestaccedilatildeo iacutentegra e
representativa de um ecossistema
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Natural entorno imediato ao nuacutecleo com
padrotildees de uso onde a funcionalidade ecoloacutegica e geograacutefica da aacuterea eacute mantida
Zonas de Transiccedilatildeo zona com padrotildees de uso que salvaguardem a integridade e
a funcionalidade das zonas anteriores proporcionando uma aacuterea de
descompressatildeo urbana compatiacutevel com a vizinhanccedila natural
Zonas de Amortecimento de um Nuacutecleo Urbano Cultural entorno imediato ao
nuacutecleo urbano com padrotildees de uso que integrem eficazmente as funccedilotildees de
urbanidade eou conservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural com uma paisagem natural
sustentaacutevel
Zonas Nuacutecleo de Urbanidade eou Patrimocircnio Cultural que constitua um
testemunho autecircntico de um bem cultural ou de uma aacuterea de urbanidade
sustentaacutevel
A proposta estaacute em processo de aprovaccedilatildeo na UNESCO e tem como um dos
idealizadores o arquiteto argentino Ruben Pesci atual responsaacutevel tambeacutem pelo projeto do
empreendimento Sapiens Parque Apesar de ser bastante inovador o projeto apresenta
controveacutersias tendo como uma das criacuteticas o fato de abranger somente a Ilha de Santa
Catarina ignorando a parte continental com a qual estabelece relaccedilotildees
Os estudos de sustentabilidade urbana natildeo apresentam uma linha uacutenica de
pensamento fato que caracteriza o tema como uma aacuterea de investigaccedilatildeo nova dinacircmica e
ainda natildeo consolidada em busca de uma identidade Poreacutem na visatildeo de STEINBERGER
(2001) os problemas urbanos de outrora estatildeo sendo vistos como os problemas ambientais
de agora anunciando a onda do modismo Antes que a questatildeo ambiental aparecesse com
a forccedila e a centralidade que tem hoje essas dificuldades jaacute estavam nas agendas dos
planejadores urbanos e autoridades municipais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
71
A sustentabilidade urbana concretiza-se como base para surgimento de um novo
paradigma onde o meio ambiente passa a ser o tema central em torno do qual todos os
discursos e projetos sociais devem ser reformulados para serem legiacutetimos A questatildeo social
urbana transformou-se em questatildeo ecoloacutegica ou ambiental ocorrendo uma substituiccedilatildeo de
paradigmas Esse enfoque provoca uma visatildeo negativa no planejamento uma vez que
admite ser possiacutevel a substituiccedilatildeo do social pelo ambiental quando o ideal seria uma
integraccedilatildeo entre as duas dimensotildees Falar da problemaacutetica soacutecio-ambiental urbana soaria
como uma ldquoroupagem da moda para nossas velhas questotildees sociais (e urbanas)rdquo
(STEINBERGER 2001) No entanto definir e tratar conjuntamente os dilemas sociais e
ambientais constitui uma necessidade
231 DIRETRIZES PARA A SUSTENTABILIDADE URBANA
O mais completo documento nacional que coloca estrateacutegias a serem implementadas
no processo de gestatildeo urbana a fim de atingir a sustentabilidade das cidades consiste na
Agenda 21 Brasileira Segundo o documento ldquoCidades Sustentaacuteveisrdquo da Agenda 21 a
problemaacutetica social e a problemaacutetica ambiental urbanas satildeo indissociaacuteveis A
sustentabilidade das cidades deve ser situada dentro do conjunto e das opccedilotildees de
desenvolvimento nacional A viabilidade da sustentabilidade urbana depende da capacidade
de integraccedilatildeo das suas estrateacutegias entre os planos projetos e accedilotildees governamentais de
desenvolvimento urbano e entende-se que as poliacuteticas federais tecircm um papel instigador
fundamental na promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel como um todo
A sustentabilidade das cidades depende ainda do cumprimento da chamada Agenda
Marrom que se preocupa sobretudo com a melhoria da qualidade sanitaacuterio-ambiental das
populaccedilotildees urbanas As estrateacutegias prioritaacuterias para atingir a sustentabilidade urbana e que
devem remeter-se aos objetivos macro do desenvolvimento sustentaacutevel em qualquer das
escalas consideradas (global nacional ou local) satildeo
Reduccedilatildeo da pressatildeo sobre os recursos disponiacuteveis atraveacutes da busca de equiliacutebrio
dinacircmico entre uma determinada populaccedilatildeo e sua base ecoloacutegico-territorial
Aumento da responsabilidade ecoloacutegica atraveacutes de relaccedilotildees de interdependecircncia
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
72
entre os fenocircmenos e pelo princiacutepio da co-responsabilidade de paiacuteses grupos e
comunidades na gestatildeo dos recursos e dos ecossistemas compartilhados como o
ar oceanos florestas e bacias hidrograacuteficas
Busca da eficiecircncia energeacutetica com reduccedilatildeo significativa nos niacuteveis de consumo
atual e busca de fontes energeacuteticas renovaacuteveis
Desenvolvimento e utilizaccedilatildeo de tecnologias ambientalmente adequadas
alterando progressiva e significativamente os padrotildees atuais do setor produtivo
Alteraccedilatildeo dos padrotildees de consumo e diminuiccedilatildeo significativa na produccedilatildeo de
resiacuteduos e no uso de bens ou materiais natildeo-reciclaacuteveis
Recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas e reposiccedilatildeo do estoque dos recursos
estrateacutegicos (aacutegua solo cobertura vegetal)
Manutenccedilatildeo da biodiversidade existente
Eacute necessaacuterio ainda estabelecer a descentralizaccedilatildeo das instacircncias decisoacuterias e de
serviccedilos para o fortalecimento do local e incentivo da gestatildeo comunitaacuteria descarregando o
setor governamental das responsabilidades de gestatildeo urbana que a comunidade deseja
assumir no que se refere ao desenvolvimento e agrave preservaccedilatildeo do meio ambiente No
sentido de reorganizar o sistema de gestatildeo a Agenda 21 ainda determina os seguintes
marcos de gestatildeo urbana
Incentivo ao surgimento de cidades menores ou de assentamentos menores
dentro das grandes cidades preferecircncia pelos pequenos projetos de menor custo
e de menor impacto ambiental foco na accedilatildeo local
Incorporaccedilatildeo da questatildeo ambiental nas poliacuteticas setoriais urbanas (habitaccedilatildeo
abastecimento saneamento ordenaccedilatildeo do espaccedilo) atraveacutes da observacircncia dos
criteacuterios ambientais que visam preservar recursos estrateacutegicos (aacutegua solo
cobertura vegetal) e proteger a sauacutede humana
Integraccedilatildeo das accedilotildees de gestatildeo visando agrave reduccedilatildeo de custos e ampliaccedilatildeo dos
impactos positivos
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
73
Necessidade do planejamento estrateacutegico colocando restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio
Descentralizaccedilatildeo das accedilotildees administrativas e dos recursos com vistas agraves
prioridades locais e combate agrave homogeneizaccedilatildeo dos padrotildees de gestatildeo
Incentivo agrave inovaccedilatildeo e ao surgimento de soluccedilotildees criativas
Inclusatildeo dos custos ambientais e sociais no orccedilamento e contabilidade dos
projetos de infra-estrutura
Induccedilatildeo de novos haacutebitos de moradia transporte e consumo nas cidades
(incentivo ao uso da bicicleta e de transportes natildeo-poluentes incentivo agraves hortas
comunitaacuterias jardins e arborizaccedilatildeo com aacutervores frutiacuteferas edificaccedilotildees para uso
comercial ou de moradia que evitem o uso intensivo de energia utilizando
materiais reciclados)
Fortalecimento da sociedade civil e dos canais de participaccedilatildeo incentivo e suporte
agrave accedilatildeo comunitaacuteria
A Agenda 21 Brasileira levanta as principais questotildees intra-urbanas que afetam a
sustentabilidade do desenvolvimento das nossas cidades Satildeo elas dificuldades no acesso
agrave terra e deacuteficit habitacional com consequumlente aumento do espaccedilo construiacutedo irregular e
informal deficiecircncias nas questotildees sobre abastecimento e esgotos resiacuteduos soacutelidos
drenagem sauacutede e saneamento ambiental elevada taxa de motorizaccedilatildeo com consequumlente
aumento da poluiccedilatildeo do ar desemprego e precarizaccedilatildeo do emprego
O documento ainda determina quatro estrateacutegias prioritaacuterias a serem implementadas
nas cidades brasileiras que estatildeo associadas a um conjunto de diretrizes propostas e
accedilotildees
Aperfeiccediloar a regulaccedilatildeo do solo e ocupaccedilatildeo do solo urbano e promover o
ordenamento do territoacuterio contribuindo para a melhoria das condiccedilotildees de vida da
populaccedilatildeo e promoccedilatildeo da equumlidade eficiecircncia e qualidade ambiental
Promover o desenvolvimento institucional e fortalecimento da capacidade de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
74
planejamento e gestatildeo democraacutetica da cidade atraveacutes da efetiva participaccedilatildeo da
sociedade e incorporar no processo a dimensatildeo ambiental
Promover mudanccedilas nos padrotildees de produccedilatildeo e consumo da cidade atraveacutes da
reduccedilatildeo de custos e desperdiacutecios e fomentar o desenvolvimento de tecnologias
urbanas sustentaacuteveis
Desenvolver e estimular a aplicaccedilatildeo de instrumentos econocircmicos no
gerenciamento de recursos naturais com vistas agrave sustentabilidade urbana
A Agenda 21 Brasileira vem sendo aplicada nas cidades a partir da elaboraccedilatildeo de
diretrizes particulares locais em niacutevel municipal atraveacutes das chamadas agendas locais Em
Florianoacutepolis a Agenda 21 local dividiu o municiacutepio em dez regiotildees Optou-se pela
ldquoregionalizaccedilatildeo do territoacuterio do municiacutepio com vistas a obter um estudo mais homogecircneo
para alcanccedilar uma maior participaccedilatildeo da comunidade nas anaacutelises de seus problemas e na
obtenccedilatildeo de soluccedilotildeesrdquo (AGENDA 21 LOCAL 200011)
O diagnoacutestico da regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o Sapiens Parque
apontou principalmente o problema de ausecircncia de infra-estrutura sistema viaacuterio energia
eleacutetrica abastecimento de aacutegua e rede coletora de esgotos Algumas dessas deficiecircncias
aliadas agrave ocupaccedilatildeo irregular em aacuterea de preservaccedilatildeo acarretam consequumlecircncias ambientais
graves como a descaracterizaccedilatildeo da paisagem por ocupaccedilatildeo das encostas e supressatildeo
das matas poluiccedilatildeo das aacuteguas superficiais e subterracircneas erosatildeo e abrasatildeo marinhas e
assoreamento de rios e coacuterregos
O diagnoacutestico aponta ainda deficiecircncias no sistema de limpeza urbana transporte
puacuteblico educaccedilatildeo sauacutede e seguranccedila assim como carecircncias de espaccedilos de lazer Dentre
as diretrizes apontadas pela Agenda 21 Local para a promoccedilatildeo do desenvolvimento urbano
sustentaacutevel na regiatildeo norte da Ilha destacamos as seguintes
1 Recuperaccedilatildeo ambiental das aacutereas degradadas com o reflorestamento de morros
de matas ciliares da orla litoracircnea normatizaccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo das atividades de pesca nas
aacuteguas da baiacutea Norte implantaccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo ambiental visando o
conhecimento a valorizaccedilatildeo e a importacircncia de preservaccedilatildeo de ecossistemas fraacutegeis
2 Projetos que visem a criaccedilatildeo de empregos e geraccedilatildeo de renda tais como criaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
75
de cooperativas de separaccedilatildeo do lixo reciclaacutevel a organizaccedilatildeo das atividades de passeio e
pesca com turistas implantaccedilatildeo de viveiros comunitaacuterios para a produccedilatildeo de mudas de
vegetaccedilatildeo nativa da Mata Atlacircntica a implantaccedilatildeo de sistema de fiscalizaccedilatildeo ambiental
comunitaacuteria a criaccedilatildeo de nuacutecleos da terceira idade para propiciar novas oportunidades
produtivas e de lazer
3 Recuperaccedilatildeo e preservaccedilatildeo de construccedilotildees antigas como as igrejas tradicionais
da regiatildeo norte devem ser objetivos de toda a comunidade dos envolvidos com a cultura e
tambeacutem do setor turiacutestico
4 Implantaccedilatildeo de rede coletora e de sistema de tratamento de esgoto nas
comunidades da regiatildeo norte e a conclusatildeo da rede coletora de esgotos em Ingleses deve
ser um esforccedilo do poder puacuteblico com a participaccedilatildeo da comunidade do comeacutercio e dos
serviccedilos
5 Instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer como praccedilas e de esportes como quadras
poliesportivas em todas as comunidades
De forma geral podemos concluir que a Agenda 21 Local recomenda como
diretrizes de desenvolvimento sustentaacutevel para o Norte da Ilha a recuperaccedilatildeo e
preservaccedilatildeo ambiental e arquitetocircnica a implantaccedilatildeo da infra-estrutura urbana
necessaacuteria a criaccedilatildeo de emprego e renda atraveacutes de cooperativas comunitaacuterias e a
instalaccedilatildeo de aacutereas de lazer e esportes
24 TURISMO DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
Florianoacutepolis atualmente possui o turismo como uma das principais atividades
econocircmicas e impulsionadoras do seu desenvolvimento urbano Reconhecida pelas suas
belezas e paisagens naturais a cidade atrai visitantes de todo o Brasil e de outros paiacuteses
dando impulso agrave economia local A regiatildeo norte da Ilha onde seraacute implantado o projeto
Sapiens Parque deve sua urbanizaccedilatildeo ao turismo graccedilas agraves suas praias de aacuteguas limpas e
de temperatura amena Entretanto a atividade turiacutestica mal planejada tem seus reflexos na
ausecircncia da infra-estrutura necessaacuteria e na consequumlente degradaccedilatildeo ambiental Sendo o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
76
turismo um importante pilar do modelo de planejamento urbano de que trata este trabalho e
sendo o turismo sustentaacutevel um dos conceitos do empreendimento Sapiens Parque
abordaremos questotildees relacionadas agrave atividade turiacutestica no texto seguinte
O advento da globalizaccedilatildeo que tem seus marcos iniciais no seacuteculo XX e da atual
terceira revoluccedilatildeo cientiacutefico-tecnoloacutegica acarretou o incremento da atividade turiacutestica
diretamente relacionada a esses dois fenocircmenos Segundo AGUIAR e DIAS (2002) o
desenvolvimento do turismo sempre acompanhou o avanccedilo das novas tecnologias sofrendo
grande impulso na primeira revoluccedilatildeo industrial na Inglaterra do seacuteculo XVIII e na segunda
revoluccedilatildeo industrial nos Estados Unidos e na Europa em fins do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX
O turismo ao mesmo tempo em que sofre influecircncia da globalizaccedilatildeo contribui para
sua expansatildeo e solidificaccedilatildeo aumenta o intercacircmbio de ideacuteias e de pessoas e dessa forma
colabora para o desenvolvimento de uma consciecircncia global Para PAIVA (1998) o turismo
deve converter-se em um meio de integraccedilatildeo renovaccedilatildeo conviacutevio e ateacute mesmo em um
mecanismo de transformaccedilatildeo da sociedade Consiste em uma atividade econocircmica que
envolve a qualidade de vida aumento do lazer do descanso do desfruto e do oacutecio
O turismo movimenta muitos recursos e constitui segundo AGUIAR e DIAS (2002) a
principal atividade econocircmica do seacuteculo XXI a maior ldquoinduacutestriardquo existente superando os
setores tradicionais e tornando-se um importante gerador de postos de trabalho O turismo
portanto eacute um fenocircmeno universal que conecta todas as partes do sistema global e
aumenta a compreensatildeo dos indiviacuteduos de pertencerem a um todo Ao mesmo tempo o
turismo incrementa a consciecircncia das pessoas de pertencerem a um local determinado pois
com a presenccedila do outro ao se explicitarem as diferenccedilas se fortalece a identidade cultural
Aleacutem de promover o respeito agraves diferenccedilas o turismo apresenta papel positivo como
promotor da compreensatildeo e da paz entre os diferentes povos
Apesar de todos os pontos positivos explicitados o desenvolvimento da atividade
turiacutestica apresenta seus impactos negativos A caracteriacutestica consumista do turista que
busca beneficiar-se dos serviccedilos da melhor maneira possiacutevel vem acarretando pressatildeo
sobre o meio ambiente Essa forma individualista de consumo trouxe para a atividade a
necessidade de utilizaccedilatildeo dos melhores recursos naturais por vezes natildeo renovaacuteveis
AGUIAR e DIAS (2002) afirmam que nas aacutereas costeiras do Brasil predominou o
turismo relacionado com o ambiente natural e os efeitos negativos da atividade foram
acentuados principalmente vinculados agrave falta de planejamento Haacute poucas exceccedilotildees de
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
77
lugares onde o planejamento urbano conseguiu evitar a construccedilatildeo de verdadeiras muralhas
de preacutedio agrave beira-mar A atividade turiacutestica apresenta grande capacidade de alterar o meio
ambiente em um tempo relativamente curto e as prefeituras natildeo conseguem dimensionar
seus impactos As paisagens naturais que serviram para obtenccedilatildeo dos recursos originais
acabam por degradar-se em um curto prazo impedindo sua recuperaccedilatildeo Os investimentos
de infra-estrutura necessaacuterios para o desenvolvimento da atividade como alojamento e
transportes que oferecem um retorno em curto prazo satildeo priorizados em prejuiacutezo dos
investimentos que poderiam manter ou recuperar a paisagem natural
No Brasil o problema se agrava devido agrave ausecircncia ou insuficiecircncia de planejamento
na implantaccedilatildeo dos projetos turiacutesticos De acordo com AGUIAR e DIAS (2002) os
problemas causados direta ou indiretamente pelo turismo de modo geral passaram por
algum crivo da administraccedilatildeo puacuteblica que diante da possibilidade de geraccedilatildeo de recursos
em curto prazo ignora os prejuiacutezos que ocorreratildeo a meacutedio e longo prazo Os Relatoacuterios de
Impacto Ambiental (RIMA) dos grandes empreendimentos turiacutesticos ou satildeo ignorados ou
feitos sem criteacuterios teacutecnicos adequados tornando-se instrumentos de legitimaccedilatildeo que
justificam a depredaccedilatildeo de algum recurso natural
A ausecircncia de planejamento adequado gera a degradaccedilatildeo do meio ambiente natural
social e cultural fato que implica em uma sucessatildeo de problemas que comprometeratildeo a
atividade turiacutestica no futuro Apesar dos aspectos negativos experiecircncias nacionais e
internacionais demonstram que o turismo quando integrado a um processo de
planejamento pode impactar de forma positiva jaacute que a atividade atrai a atenccedilatildeo dos poderes
puacuteblicos para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais
O Poder Puacuteblico apresenta papel fundamental no planejamento turiacutestico que
funciona como regulador ou provedor de serviccedilos puacuteblicos indispensaacuteveis agrave sua ampliaccedilatildeo
como os sistemas viaacuterios de comunicaccedilatildeo e de proteccedilatildeo ao meio ambiente O setor puacuteblico
tem o papel de fiscalizador das ofertas turiacutesticas e de regulador do mercado e do uso do
solo aleacutem de promover a educaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo
Apesar de a atividade turiacutestica favorecer a valorizaccedilatildeo do meio natural por parte da
populaccedilatildeo local e provaacutevel melhoria na qualidade dos serviccedilos de preservaccedilatildeo e
conservaccedilatildeo ambiental os impactos negativos possiacuteveis causados pela atividade ainda
aparecem em maior nuacutemero O turismo ocasiona impactos ao ar (com o aumento de infra-
estrutura de transporte e consequumlente aumento da poluiccedilatildeo atmosfeacuterica) nas aacuteguas
(atraveacutes da intensificaccedilatildeo do consumo nas aacutereas concentradas e pela contaminaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
78
derivada dos resiacuteduos soacutelidos) na flora (o turismo descontrolado altera de muitas maneiras
a cobertura vegetal ndash abate da vegetaccedilatildeo utilizaccedilatildeo do fogo accedilatildeo de colecionadores de
plantas acumulaccedilatildeo de lixo praacutetica de campismo predatoacuterio) na fauna (os padrotildees de
comportamento dos animais satildeo modificados pela presenccedila dos turistas) e na paisagem (o
acreacutescimo acelerado da infra-estrutura necessaacuteria para a atividade provoca alteraccedilotildees no
ambiente natural e urbano modificaccedilotildees no solo aumento do ruiacutedo e da luminosidade)
A exploraccedilatildeo desordenada dos recursos naturais para fins turiacutesticos embora tenha
gerado vantagens econocircmicas para vaacuterias regiotildees provoca impactos no meio ambiente que
podem acabar com os mesmos recursos naturais que motivaram a demanda turiacutestica O
fato de apresentar estreita relaccedilatildeo com o meio ambiente diferencia o turismo das demais
atividades e impotildee a necessidade de se instituiacuterem novas formas de exploraccedilatildeo dos
recursos para tal fim que levem em consideraccedilatildeo sua capacidade de suporte e suas condiccedilotildees
de sustentabilidade para que as futuras geraccedilotildees possam usufruir o mesmo benefiacutecio
A tomada de consciecircncia da depredaccedilatildeo causada pela atividade turiacutestica deu origem
a dois novos conceitos relacionados ao meio ambiente o ecoturismo e o turismo
sustentaacutevel Os conceitos significam o desenvolvimento da atividade turiacutestica de forma
sustentaacutevel atraveacutes da conservaccedilatildeo do patrimocircnio natural e cultural buscando a formaccedilatildeo
de uma consciecircncia ambientalista e promovendo o bem estar das populaccedilotildees envolvidas
Consiste em toda forma de turismo baseado na natureza em que a motivaccedilatildeo principal dos
turistas seja observar e apreciar essa natureza ou as culturas tradicionais dominantes das
zonas rurais
As principais caracteriacutesticas desse segmento satildeo incluir elementos educacionais e
de interpretaccedilatildeo procurar reduzir todas as possibilidades de impactos negativos sobre o
entorno natural e sociocultural contribuir para a proteccedilatildeo das zonas naturais ndash gerando
benefiacutecios econocircmicos para as comunidades organizaccedilotildees e administraccedilotildees anfitriatildes que
administram zonas naturais com objetivos conservacionistas oferecendo oportunidades
alternativas de emprego e renda para as comunidades locais e incrementando a
conscientizaccedilatildeo sobre conservaccedilatildeo dos ativos naturais e culturais tanto nos habitantes
quanto nos turistas
O ecoturismo se constitui em um segmento do setor turiacutestico Jaacute o turismo
sustentaacutevel estaacute fundamentado sobre criteacuterios de sustentabilidade deve ser suportaacutevel
ecologicamente em longo prazo viaacutevel economicamente e justo desde uma perspectiva
eacutetica e social para as atividades locais
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
79
25 IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS
A implantaccedilatildeo de grandes projetos urbanos como o Sapiens Parque devem
obrigatoriamente apresentar segundo as leis brasileiras um estudo preacutevio dos impactos
soacutecio-econocircmicos e ambientais que tais empreendimentos acarretaratildeo no futuro Esse
estudo foi realizado pelo empreendimento Sapiens Parque e seraacute visto no proacuteximo capiacutetulo
deste trabalho Como base para a anaacutelise introduziremos na sequumlecircncia os principais
conceitos que envolvem a questatildeo dos impactos ambientais urbanos
Os impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais associados ao processo de urbanizaccedilatildeo
desencadearam preocupaccedilotildees com o tema a partir da deacutecada de 1960 Em uma sociedade
altamente industrializada riscos ambientais e tecnoloacutegicos constituem elementos intriacutensecos
agrave mesma A atitude com que o ser humano vem se relacionando com a natureza tornou-se
a grande ameaccedila para a sua proacutepria sobrevivecircncia
A expansatildeo e maneira precaacuteria como foram implantados os novos assentamentos
das cidades brasileiras criaram um conjunto de grave degradaccedilatildeo As praacuteticas
desequilibradas da ocupaccedilatildeo humana estatildeo expressas nos desmatamentos ocupaccedilatildeo de
fundos de vales encostas mangues No presente estaacutegio da situaccedilatildeo econocircmica e do
planejamento urbano torna-se inevitaacutevel a expansatildeo fiacutesica das cidades mas cabe agraves
poliacuteticas urbanas procurar formas de prevenir os novos impactos ambientais A Resoluccedilatildeo
00186 do Conselho Nacional do Meio Ambiente16 define impacto ambiental como
qualquer alteraccedilatildeo das propriedades fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas do meio ambiente causada por qualquer forma de mateacuteria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente afetam I- a sauacutede a seguranccedila e o bem-estar da populaccedilatildeo II- as atividades sociais e econocircmicas III- a biota IV- as condiccedilotildees esteacuteticas e sanitaacuterias do meio ambiente V- a qualidade dos recursos ambientais (Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg)
16 O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) eacute o oacutergatildeo consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) Foram criados com a finalidade de assessorar estudar e propor ao governo federal diretrizes de poliacuteticas governamentais para a preservaccedilatildeo do meio ambiente e dos meios de exploraccedilatildeo dos recursos naturais bem como deliberar sobre normas e padrotildees compatiacuteveis com a preservaccedilatildeo do meio ambiente O SISNAMA foi promulgado por lei em 31 de agosto de 1981 e eacute constituiacutedo por reparticcedilotildees e entidades da federaccedilatildeo dos estados e do Distrito Federal e tambeacutem das fundaccedilotildees publicas para o meio ambiente (httpwwwsbaucombr acesso em 20112006)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
80
Impacto ambiental eacute portanto o processo de mudanccedilas sociais e ecoloacutegicas em
movimento causado por perturbaccedilotildees (uma nova ocupaccedilatildeo ou construccedilatildeo de um objeto
novo) no ambiente
A previsatildeo de impactos compreende uma soluccedilatildeo para escapar dos desatinos do
sistema capitalista avassalador e sua aplicaccedilatildeo exige inteligecircncia com relaccedilatildeo ao futuro e
evita os radicalismos Eis o motivo pelo qual as equipes teacutecnicas responsaacuteveis por esse tipo
de estudo satildeo imbuiacutedas de ampla responsabilidade cultural e moral e que pode ter por
consequumlecircncia o sucesso ou a descrenccedila total perante o resto da comunidade cientiacutefica Os
especialistas em impactos atraveacutes da legislaccedilatildeo existente possuem forccedila para exigir
ponderaccedilatildeo e melhoria na organizaccedilatildeo dos espaccedilos destinados a receber projetos
desenvolvimentistas Poreacutem na visatildeo de ABrsquoSAgraveBER (1994) ainda que bem preparados eles
natildeo apresentam poder para sozinhos transformar a estrutura da sociedade
MILAREgrave (1994) salienta que todo e qualquer projeto desenvolvimentista interfere no
meio ambiente Sendo certo que o crescimento eacute um imperativo impotildee-se discutir os
instrumentos e mecanismos que os conciliem diminuindo ao maacuteximo os impactos
ecoloacutegicos negativos e consequumlentemente os custos econocircmico-sociais
Segundo o autor dentre os instrumentos de conjugaccedilatildeo entre desenvolvimento e
proteccedilatildeo ambiental utilizados atualmente o Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental (EIA) e o
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (RIMA) merecem destaque O EIA eacute de maior abrangecircncia
e compreende o levantamento da literatura cientiacutefica e legal pertinente trabalhos de campo
anaacutelises de laboratoacuterio e a proacutepria redaccedilatildeo do relatoacuterio O RIMA destina-se especificamente
ao esclarecimento das vantagens e consequumlecircncias ambientais do empreendimento refletiraacute
as conclusotildees daquele Eacute a parte mais compreensiacutevel do processo esclarecedor para o
administrador e o puacuteblico
O estudo de impacto ambiental deve ser elaborado antes da instalaccedilatildeo da obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradaccedilatildeo do meio ambiente O
escopo principal do estudo de impacto ambiental eacute a prevenccedilatildeo ambiental e evitar que os
interesses imediatos dos proponentes de um projeto se revelem posteriormente prejudiciais
ao meio ambiente Preconiza a obrigaccedilatildeo de se levar em consideraccedilatildeo o meio ambiente na
tomada de decisotildees puacuteblica ou privada Ainda tem por objetivos a transparecircncia
administrativa por parte do poder puacuteblico e dos proponentes quanto aos efeitos ambientais
de determinado projeto a consulta aos interessados atraveacutes da participaccedilatildeo da
comunidade envolvida no processo e a motivaccedilatildeo da decisatildeo ambiental que obriga o oacutergatildeo
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
81
puacuteblico a fundamentar uma decisatildeo que natildeo seja exatamente a melhor para a preservaccedilatildeo
ambiental
251 IMPACTOS DE PROJETOS DESENVOLVIMENTISTAS
Prever impactos em relaccedilatildeo a um projeto de qualquer tipo destinado a uma
determinada regiatildeo17 e a um siacutetio ou gleba em particular trata-se de uma operaccedilatildeo teacutecnico-
cientiacutefica multidisciplinar de grande importacircncia Trata-se de uma maneira de revelar o niacutevel
de esclarecimento atingido pela sociedade do paiacutes em relaccedilatildeo agrave capacidade de antever
quadros futuros da organizaccedilatildeo espacial de seu territoacuterio18 Aleacutem disso indica o niacutevel de
forccedila de pressatildeo social pelos grupos mais esclarecidos para fazer bom uso dos
instrumentos legais de cultivo da qualidade ambiental e do ordenamento territorial Prever
impactos consiste inclusive em um excelente meacutetodo para avaliar o potencial da legislaccedilatildeo
existente e sua aplicabilidade em casos reais
Segundo ABrsquoSAacuteBER (1994) para que se possa realizar um estudo dos impactos
causados por determinado projeto eacute necessaacuterio entender o espaccedilo total no qual estaacute
inserido em relaccedilatildeo a um siacutetio de implantaccedilatildeo e a uma regiatildeo de localizaccedilatildeo Torna-se
imprescindiacutevel o conhecimento da estrutura da composiccedilatildeo e da dinacircmica dos
acontecimentos que caracterizam o espaccedilo total da regiatildeo proposta O diagnoacutestico do
proacuteprio local de implantaccedilatildeo do projeto eacute bastante vaacutelida mas ainda mais importante
consiste a anaacutelise do seu entorno em curto meacutedio e longo prazo Portanto o conceito de
espaccedilo total perante qualquer projeto a ser inserido em qualquer aacuterea de um territoacuterio
torna-se de grande significado para uma correta previsatildeo de impactos
ABrsquoSAacuteBER (1994) define espaccedilo total como o arranjo e o perfil adquiridos por uma
determinada aacuterea em funccedilatildeo da organizaccedilatildeo humana que lhe foi imposta ao longo dos
tempos O espaccedilo total inclui todo o conjunto dos componentes inseridos pelo homem no
17 Utiliza-se aqui o conceito de regiatildeo como uma referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e agrave extensatildeo de um certo fenocircmeno (migraccedilotildees agropecuaacuteria tecnologias de comunicaccedilatildeo renda e condiccedilotildees de vida condiccedilotildees de habitaccedilatildeo divisatildeo do trabalho) (DIAS e SANTOS 2003) 18 O conceito de territoacuterio eacute usado como referecircncia associada agrave localizaccedilatildeo e extensatildeo dos fenocircmenos Eacute tambeacutem pensado como aquilo que eacute controlado por um certo tipo de poder Representa o espaccedilo definido e delimitado por relaccedilotildees de poder podendo existir e ser construiacutedo nas diferentes escalas (DIAS e SANTOS 2003)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
82
decorrer da histoacuteria na paisagem19 de uma aacuterea considerada participante de determinado
territoacuterio
De acordo com SANTOS (1982) cada vez que a sociedade passa por um processo
de mudanccedila na economia nas relaccedilotildees sociais e poliacuteticas a paisagem se modifica para se
adaptar agraves novas necessidades da sociedade Essas transformaccedilotildees no entanto satildeo
somente parciais As mudanccedilas sociais natildeo provocam obrigatoriamente ou automaticamente
modificaccedilotildees na paisagem A paisagem representa diferentes momentos no
desenvolvimento de uma sociedade eacute o resultado de uma acumulaccedilatildeo de tempos
SANTOS (1982) define o espaccedilo social metodologicamente a partir de trecircs conceitos
forma estrutura e funccedilatildeo Essas partes conseguem identificar-se completamente e satildeo
consideradas equivalentes constituindo o ldquotodordquo e jamais devem ser analisadas em
separado Nenhuma das trecircs categorias existe dissociada das demais e apenas sua
utilizaccedilatildeo combinada pode restituir-nos ao espaccedilo total
O espaccedilo total supotildee o movimento comum dialeacutetico e concreto da estrutura da
funccedilatildeo e da forma e para estudaacute-lo eacute preciso levar em consideraccedilatildeo todas as estruturas
que a compotildeem e que em conjunto ou isoladamente a reproduzem Por esse motivo para
fim de previsatildeo de impactos de projetos em determinado espaccedilo total cada caso eacute particular e
apresenta determinada abrangecircncia a considerar os sistemas ecoloacutegicos naturais e antroacutepicos
Em cada eacutepoca ou processo histoacuterico o espaccedilo total de uma regiatildeo apresenta uma
acumulaccedilatildeo de implantaccedilotildees e infra-estruturas Entretanto segundo ABrsquoSAacuteBER (1994)
para trabalhos de previsatildeo de impactos futuros seraacute sempre na circunstacircncia do presente
que as combinaccedilotildees de fatos e atividades produzidas pelo homem pela sociedade e pela
economia teratildeo maior interesse
A aacuterea do entorno de qualquer projeto atraveacutes de suas vias populaccedilatildeo qualidade do
ar qualidade das aacuteguas qualidade dos solos e demais condicionantes consistem os
principais elementos para a prevenccedilatildeo de impactos A prevenccedilatildeo passa a ser um ato de
tomada de precauccedilotildees para assegurar harmonia e compatibilizar funccedilotildees no interior do
espaccedilo total no futuro limitando as expectativas dos especuladores e gananciosos do
sistema capitalista
19 O termo paisagem eacute usado aqui como o suporte geoecoloacutegico e bioecoloacutegico modificado por uma infinidade variaacutevel de obras e figuras humanas (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
83
A tarefa de perceber os impactos em processo constitui o ponto de partida para a
previsatildeo dos possiacuteveis impactos acarretados por objetos de diferentes tipos tais como
novas induacutestrias hidreleacutetricas novas estradas e rodovias sistema viaacuterio mais denso
ferrovias e projetos intra-urbanos e interurbanos
Enfim detectar mudanccedilas na organizaccedilatildeo do espaccedilo visto em sua totalidade ajuda a compreender situaccedilotildees anaacutelogas ou prever mecanismos similares que podem ocorrer em outras aacutereas de um paiacutes ou territoacuterio Outrora o grande atributo cultural do homem residia em sua capacidade de reconstituir a trajetoacuteria da espeacutecie e reconstruir a histoacuteria das sociedades humanas Ao fim do segundo milecircnio identifica-se um atributo novo qual seja o de prever o impacto das accedilotildees dos homens e da economia sobre o futuro em diferentes dimensotildees e profundidades de tempo (ABrsquoSAgraveBER 199435)
Segundo ABrsquoSAgraveBER (1994) todo espaccedilo geograacutefico20 eacute resultado de uma
acumulaccedilatildeo mais curta ou mais longa de processos histoacutericos cumulativos decorrentes do
desempenho de diversos atores sociais Quando considerado na totalidade o espaccedilo
geograacutefico apresenta um caraacuteter de acumulaccedilatildeo de processos culturais acima de tudo
construtivos ora muito agressivos ora apenas interferentes ora dotados de uma espeacutecie de
auto-organizaccedilatildeo que envolve diferentes niacuteveis de acomodaccedilatildeo Envolve trecircs dimensotildees
baacutesicas uma piracircmide social projetada sobre o espaccedilo total uma acumulaccedilatildeo de infra-
estruturas e um sistema de relaccedilotildees humanas vinculadas ao regime social e poliacutetico vigente
Os paiacuteses em desenvolvimento das regiotildees tropicais estatildeo sujeitos agraves grandes
desigualdades provenientes desse processo em virtude dos territoacuterios de dimensotildees
continentais e de regiotildees geoeconocircmicas de roteiro histoacuterico diferenciado Qualquer engano
de avaliaccedilatildeo ou previsatildeo dos impactos pode ocasionar danos irreparaacuteveis para o futuro da
regiatildeo da sociedade e do paiacutes
Para fim de avaliaccedilatildeo de impactos de projetos desenvolvimentistas nesses paiacuteses
ABrsquoSAgraveBER (1994) afirma a necessidade de ampliar as consideraccedilotildees sobre a estrutura a
composiccedilatildeo soacutecio-econocircmica e a funcionalidade da sociedade nos diferentes tipos de
espaccedilo geograacutefico Aleacutem disso destaca como meacutetodo de anaacutelise complementar os estudos
realizados por Bernard Kaiser da Universidade de Toulouse (1966) sobre a tipologia dos
espaccedilos em tais paiacuteses Kaiser identificou por vaacuterios criteacuterios a existecircncia de regiotildees em
20 Entende-se por espaccedilos geograacuteficos de um paiacutes de dimensotildees continentais aquelas ceacutelulas espaciais dinacircmicas nas quais agrave organizaccedilatildeo herdada da natureza se sobrepocircs ou instalou uma certa organizaccedilatildeo imposta pelos homens (ABrsquoSAgraveBER 1994)
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
84
vias de desenvolvimento regiotildees em processo ativo de planificaccedilatildeo regional regiotildees de
especulaccedilatildeo agriacutecola bacias urbanas e por fim regiotildees auto-organizadas ou de
organizaccedilatildeo complexa O Brasil consistia um paiacutes em que se podia encontrar toda essa
tipologia de espaccedilos geograacuteficos e sociais diferenciados
A classificaccedilatildeo de Kaiser para efeito de previsatildeo de impactos apresenta-se dividida
da seguinte maneira 1) espaccedilos naturais predominantemente florestados 2) espaccedilos de
especulaccedilatildeo agraacuteria em aacutereas de razoaacutevel desenvolvimento econocircmico e social em grande
contraste com a devastaccedilatildeo das coberturas vegetais primaacuterias 3) espaccedilos sob
planejamento ativo no Nordeste do Brasil e na Amazocircnia com subsiacutedios atomizados por
intermeacutedio da Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e da
Superintendecircncia do Desenvolvimento da Amazocircnia (SUDAM) 4) espaccedilos dotados de
bacias urbanas agigantadas pelo desdobramento histoacuterico de redes urbanas sob comando
econocircmico e poliacutetico de grandes metroacutepoles 5) regiotildees auto-organizadoras que em face de
uma evoluccedilatildeo histoacuterica e econocircmica oportuna de aproveitamento de recursos naturais foi
possiacutevel adotar atributos e infra-estruturas modernizantes 6) espaccedilos de sutura e
pioneirismo tardio 7) espaccedilos de organizaccedilatildeo incompleta perturbados pelo ritmo e
irregularidades do clima semi-aacuterido quente 8) espaccedilos costeiros de especulaccedilatildeo para lazer
turismo de temporada e segunda residecircncia
As regiotildees costeiras e de especulaccedilatildeo para lazer e turismo uacuteltima classificaccedilatildeo
tipoloacutegica definida por Kaiser para efeito de avaliaccedilatildeo de impactos nos paiacuteses em
desenvolvimento consistem o objeto do presente trabalho Ao longo da ampla faixa litoracircnea
atlacircntica do paiacutes desenvolveu-se um tipo de espaccedilo superpartilhado e superdesejado para
atividades muacuteltiplas de lazer
Balneaacuterios de diversos padrotildees de organizaccedilatildeo e em diferentes estaacutegios de implantaccedilatildeo ocorrem lado a lado com loteamentos especulativos situados mais proacuteximos ou mais distantes da faixa das praias Cidades turiacutesticas e balneaacuterias com excesso de casas e apartamentos enquanto se vende a imagem de uma natureza deslumbrante mas que na verdade estaacute totalmente comprometida pelos proacuteprios planos de loteamento e urbanizaccedilatildeo glebas agrave espera de valorizaccedilatildeo condomiacutenios fechados que privatizam praias ilegalmente e espaccedilos de antigas colocircnias de pesca sendo invadidos ponto a ponto por residecircncias de lazer projetos de loteamento ou edificaccedilotildees agrave espera do aval dos oacutergatildeos de meio ambiente satildeo alguns dos processos selvagens de expansatildeo de uma fronteira caoacutetica de lazer na costa de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Santa Catarina Espiacuterito Santo e Rio Grande do Sul (ABrsquoSAgraveBER 199444)
Todo o espaccedilo costeiro brasileiro acabou comprometido pelos negoacutecios imobiliaacuterios e
pela seduccedilatildeo dirigida para pressionar populaccedilotildees tradicionais natildeo capacitadas a entender o
CAPIacuteTULO 2 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
85
significado do dinheiro na esfera do capitalismo anocircmalo A faixa litoracircnea caracterizou a
imagem de um sistema desigual de trocas onde aacutereas de grande valor satildeo compradas por
pouco e vendedores ingecircnuos acabam-se tornando os futuros favelados das grandes
cidades vizinhas O conflito entre os diversos interesses em jogo nesses casos acaba por
agravar ainda mais a situaccedilatildeo Em nenhum outro espaccedilo fiacutesico e ecoloacutegico do paiacutes eacute mais
necessaacuterio utilizar as teacutecnicas e meacutetodos de previsatildeo de impactos do que nas regiotildees
costeiras onde se alternam setores turiacutesticos grandes aglomeraccedilotildees urbanas postos e
distritos industriais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
86
3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
31 GLOBALIZACcedilAtildeO E A NOVA FUNCcedilAtildeO DAS CIDADES
Com a Revoluccedilatildeo Industrial as cidades reafirmam seu papel como centro de
moradias serviccedilos e cultura e aos poucos vecircm se adaptando agraves mudanccedilas que incidem no
mundo com a globalizaccedilatildeo O conjunto de acontecimentos processos e agentes externos
de uma cidade terminam sempre por penetrar e influenciar o sistema urbano
independentemente se tais efeitos satildeo desejaacuteveis ou natildeo O advento da globalizaccedilatildeo
aumentou a velocidade com que se sucedem essas mudanccedilas externas cujas inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas alteraccedilotildees econocircmicas e socioculturais dificultam a previsatildeo de suas
implicaccedilotildees nas cidades
Consequumlentemente tambeacutem no planejamento urbano torna-se difiacutecil conciliar essas
transformaccedilotildees com o processo construtivo de uma cidade Por este motivo eacute preciso
identificar essas mudanccedilas em curso e avaliar a importacircncia dos impactos destas no
desenvolvimento urbano GUumlELL (1997) afirma que dentre as mudanccedilas ocasionadas pela
globalizaccedilatildeo as principais dizem respeito a aspectos geopoliacuteticos econocircmicos sociais e
tecnoloacutegicos Tais mudanccedilas interferem natildeo somente as grandes cidades mas tambeacutem as
pequenas e meacutedias cidades
No campo geopoliacutetico a situaccedilatildeo atual se caracteriza por uma convivecircncia
contraditoacuteria entre as forccedilas da globalizaccedilatildeo e as da fragmentaccedilatildeo por uma necessidade de
as naccedilotildees preservarem sua diversidade e soberania frente agraves pressotildees globalizadoras
exercidas pelos agentes econocircmicos
A nova ordem econocircmica por sua vez eacute determinada pela globalizaccedilatildeo dos
mercados pelo impulso de intercacircmbios comerciais e aumento da competitividade
empresarial que pedem novas referecircncias para o funcionamento das bases econocircmicas
das cidades Atualmente torna-se necessaacuteria a melhoria do niacutevel de competitividade das
empresas locais o aumento das inovaccedilotildees tecnoloacutegicas a penetraccedilatildeo nos mercados
exteriores e a capacitaccedilatildeo de matildeo-de-obra
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
87
Por outro lado a nova ordem econocircmica acarreta modificaccedilotildees nas estruturas
sociais jaacute que impotildee aos governos locais desenvolver uma poliacutetica de prevenccedilatildeo e
antecipaccedilatildeo dos problemas sociais intervindo em aacutereas que tradicionalmente seriam
reservadas aos governos estaduais e regionais A globalizaccedilatildeo da economia e introduccedilatildeo de
novas tecnologias nos processos de produccedilatildeo sem a aplicaccedilatildeo de mecanismos corretores
tendem a aumentar as desigualdades sociais a pobreza o desemprego e a inseguranccedila social
O novo contexto tecnoloacutegico caracterizado por aceleradas mudanccedilas requer que as
pessoas sejam capazes de assumir e adaptar-se a esses avanccedilos As empresas e a proacutepria
sociedade necessitam desmontar paradigmas e desenvolver novos modelos que permitam
recuperar a convivecircncia social Segundo BORJA e CASTELLS (2000) a revoluccedilatildeo
tecnoloacutegica organizada em torno da tecnologia da informaccedilatildeo encontra-se no centro de
todas essas transformaccedilotildees O processo de globalizaccedilatildeo da economia e a comunicaccedilatildeo
modificaram nossas formas de produzir consumir informar e pensar a partir da nova infra-
estrutura tecnoloacutegica
El planeta es asimeacutetricamente interdependiente y esa interdependencia se articula cotidianamente em tiempo real a traveacutes de las nuevas tecnologiacuteas de informacioacuten y comunicacioacuten en un fenoacutemeno histoacutericamente nuevo que abre de hecho una nueva era de la historia de la humanidad la era de la informaciograven21 (BORJA e CASTELLS 200021)
A capacidade de acumulaccedilatildeo e reproduccedilatildeo capitalista passou a organizar a
economia mundial segundo a interaccedilatildeo e relacionamento entre os espaccedilos urbanos locais
regionais e mundiais De acordo com LOPES (1998) as mudanccedilas decorrentes da
globalizaccedilatildeo expandiram esse processo e criaram uma nova realidade econocircmica social e
poliacutetica onde as cidades ganharam novas funccedilotildees em uma sociedade integrada em rede
Essa rede mundial eacute constituiacuteda a partir de centros especiacuteficos de controle da economia
mundial designados ldquocidades globaisrdquo22 que tendem a incorporar outros centros financeiros
regionais e secundaacuterios na medida em que a escala do controle se expande
As novas funccedilotildees criadas para as cidades originaram o espaccedilo das cidades
mundiais que se caracteriza pelo ambiente competitivo entre as cidades Dentro deste
21 O planeta eacute assimetricamente interdependente e essa interdependecircncia se articula cotidianamente em tempo real atraveacutes das novas tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em um fenocircmeno historicamente novo que abre de fato uma nova era da histoacuteria da humanidade a era da informaccedilatildeo 22 Expressatildeo cunhada por Saskia Sassen em 1991 para designar os pontos nodais dos fluxos financeiros a partir dos quais se obteacutem um controle global dos mercados financeiros secundaacuterios dado que o investimento estrangeiro ocorre cada vez mais segundo o mercado de accedilotildees e de tiacutetulos (COMPANS 2001106)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
88
contexto as cidades estabelecem entre si relaccedilotildees hieraacuterquicas de poder determinadas
pela competiccedilatildeo dos espaccedilos As cidades buscam a ampliaccedilatildeo de seu espaccedilo de comando
e controle a partir de especializaccedilotildees que lhes decircem uma vantagem competitiva para atingir
uma abrangecircncia de accedilatildeo mundial cujo sucesso definiraacute sua posiccedilatildeo hieraacuterquica
Em contrapartida agraves novas funccedilotildees de articulaccedilatildeo e controle as cidades passam a influir nas opccedilotildees estrateacutegicas das empresas a partir de posicionamentos urbanos fiscais econocircmicos e sociais As accedilotildees estrateacutegicas no acircmbito das cidades satildeo definidas dentro da loacutegica do mercado em sobreposiccedilatildeo agrave loacutegica do cidadatildeo que sempre comandou a evoluccedilatildeo urbana A caracteriacutestica principal desse processo eacute a primazia do global sobre o local na busca de vocaccedilotildees e especializaccedilotildees urbanas (LOPES 199838)
As novas funccedilotildees da cidade mundial geram problemas ineacuteditos a serem enfrentados
ao mesmo tempo em que abrem novos horizontes de desenvolvimento econocircmico e social
Tais problemas constituem expansotildees das funccedilotildees normais da cidade geradas pela
globalizaccedilatildeo de espaccedilo local a centro articulador de economias regionais nacionais e
internacionais A inserccedilatildeo da cidade no conjunto de economias interdependentes define a
especializaccedilatildeo de suas novas funccedilotildees e as transformaccedilotildees a elas inerentes
Veremos a seguir como as novas funccedilotildees atribuiacutedas agraves cidades influenciam no
processo de planejamento urbano gerando a reproduccedilatildeo de cidades-modelo cujo principal
objetivo eacute tornarem-se atraentes para o capital e obter sua posiccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
32 ESTRATEacuteGIAS DAS CIDADES PARA AS NOVAS FUNCcedilOtildeES URBANAS
O planejamento urbano direcionado pelo Estado e executado no Brasil nas primeiras
deacutecadas do seacuteculo XX fundamentava-se no controle racional e centralizado das poliacuteticas
puacuteblicas urbanas Na deacutecada de 1970 o planejamento urbano passou por uma seacuterie de
questionamentos acerca do encaminhamento das accedilotildees realizadas no espaccedilo A urbanizaccedilatildeo
acelerada originou a necessidade de maior mobilizaccedilatildeo de recursos por parte dos governos
locais que atendessem agraves demandas da populaccedilatildeo por serviccedilos puacuteblicos O niacutevel de
atendimento a essas demandas segundo LOPES (1998) eacute definido pela competitividade da
cidade na produccedilatildeo de bens e serviccedilos jaacute que a capacidade de cobranccedila de impostos estaacute
diretamente vinculada ao ritmo de acumulaccedilatildeo de riqueza Torna-se necessaacuterio ampliar a
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
89
capacidade de acumulaccedilatildeo de riquezas a niacuteveis compatiacuteveis com o crescimento dos tributos
locais que satildeo necessaacuterios para o atendimento dessas demandas
Essa questatildeo originou um novo modelo de planejamento fundamentado na ideacuteia de
cidade como maacutequina de produzir riquezas onde o termo dominante eacute a gestatildeo
empresarial O conceito de fundamentalismo de mercado vem sendo utilizado pelo
neoliberalismo para referir-se a uma ideologia com pretensotildees universais e inquestionaacuteveis
que defendem o domiacutenio absoluto da economia e do mercado sobre as esferas poliacuteticas
sociais e culturais do mundo globalizado
A concepccedilatildeo de cidade como categoria funcional nos moldes da produccedilatildeo industrial
acabou entatildeo substituiacuteda pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Aleacutem da competiccedilatildeo pela
produccedilatildeo e consumo declara-se uma disputa entre as cidades para tornarem-se espaccedilos
atraentes para o capital Na anaacutelise de ARANTES (2000) tal pensamento se manifesta na
convergecircncia entre governantes burocratas e urbanistas de que cada oportunidade de
renovaccedilatildeo urbana possa ser uma possibilidade de elevar vantagens comparativas das
cidades no mundo global Para tanto torna-se indispensaacutevel a elaboraccedilatildeo de um Plano
Estrateacutegico capaz de gerar respostas competitivas aos desafios da globalizaccedilatildeo
ARANTES (2000) afirma que as cidades modernas sempre estiveram associadas agrave
divisatildeo social do trabalho e acumulaccedilatildeo capitalista sendo a configuraccedilatildeo espacial urbana
reflexo dessa relaccedilatildeo com a reproduccedilatildeo do capital Os efeitos da globalizaccedilatildeo sobre as
poliacuteticas de ocupaccedilatildeo do territoacuterio urbano constituem dado essencial nos caacutelculos sobre
como tornar uma cidade competitiva
Nesta nova fase do capitalismo as cidades passam a ser geridas e consumidas
como mercadoria O lugar representa um valor-de-uso para seus habitantes e valor de troca
para os interessados em extrair dele um benefiacutecio econocircmico qualquer sobretudo na forma
de uma renda exclusiva A cidade passa a ser vista como empreendimento e as poliacuteticas
urbanas satildeo entatildeo conformadas com o propoacutesito de expandir a economia local e aumentar
riquezas Assim como a orientaccedilatildeo e o controle da expansatildeo urbana foram substituiacutedos pelo
impulso de crescimento um novo tipo de profissional emergiu da metamorfose do
funcionaacuterio puacuteblico local o planejador-empreendedor
ARANTES (2000) ressalta ainda que alguns elementos tomam forccedila para dar sentido
agrave ldquofoacutermulardquo de sobrevivecircncia das cidades no mundo da competitividade extrema O padratildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
90
que vem proliferando consiste em processos de ldquogentrificaccedilatildeordquo 23 a conhecida ldquorevitalizaccedilatildeo
urbanardquo em zonas degradadas possiacutevel graccedilas agrave uniatildeo entre o setor puacuteblico e a iniciativa
privada e encarregada de promover os investimentos privados com fundos puacuteblicos
Caracteriza-se por projetos dirigidos a gerar a promoccedilatildeo do ldquoespetaacuteculordquo e da cultura ndash
como negoacutecio e mercadoria ndash e que transformam a cidade existente tornando-a mais atrativa
para novos moradores em substituiccedilatildeo aos antigos habitantes e mais interessante para o
capital internacional
o seu cenaacuterio de origem vem a ser o do movimento de volta agrave cidade no mais das vezes dando origem aos conhecidos processos de gentrification (ou ldquorevitalizaccedilatildeo urbanardquo conforme preferem falar seus promotores) em grande parte desencadeados pelo reencontro glamouroso entre Cultura (urbana ou natildeo) e Capital (ARANTES 200015)
O presente modelo de planejamento estaacute embasado no chamado ldquoculturalismo de
mercadordquo de forma que a cultura passa a constituir a acircncora identitaacuteria da nova urbaniacutestica
tornando-se negoacutecio e imagem em uma nova fonte de acumulaccedilatildeo de poder e dinheiro
LOPES (1998) confirma que na competitividade entre cidades constitui importante aspecto a
infra-estrutura fiacutesica e social associada a uma identidade cultural marcante e que torne as
cidades atraentes como local de vida O espaccedilo local eacute definido pela estruturaccedilatildeo social e
cultural que caracteriza e diferencia uma cidade da outra
ARANTES (2000) conclui que todo incremento de crescimento local mantidas as
correlaccedilotildees sociais vigentes implica em uma transferecircncia de riquezas e chances de vida
do puacuteblico em geral para grupos rentistas e seus associados As cidades na busca pela
atratividade cercam-se de aparatos culturais de alto padratildeo mas somente aqueles que
possuem condiccedilotildees poderatildeo usufruiacute-los O capital cultural incorporado nas cidades forja o
seu futuro reduzindo o futuro das aacutereas menos favorecidas
Na opiniatildeo de VAINER (2000) atualmente a questatildeo urbana tem como ponto central
a problemaacutetica da competitividade urbana Para o autor no discurso do planejamento
estrateacutegico urbano a cidade em seu conjunto e de maneira direta aparece assimilada agrave
empresa entre os elementos que presidem o empresariamento da gestatildeo urbana a
produtividade a competitividade e a subordinaccedilatildeo dos fins agrave loacutegica do mercado
23 O processo de ldquogentrificaccedilacircordquo significa praacuteticas de reapropriaccedilatildeo de espaccedilos pelo mercado atraveacutes de operaccedilotildees urbanas que lhes conferem novo valor econocircmico e simboacutelico geralmente orientando-os para o consumo de camadas meacutedias Apresentados como espaccedilos ldquorevitalizadosrdquo para fins
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
91
Competir pelo investimento de capital tecnologia e competecircncia gerencial Competir na atraccedilatildeo de novas induacutestrias e negoacutecios Ser competitivas no preccedilo e na qualidade dos serviccedilos Competir na atraccedilatildeo de forccedila de trabalho adequadamente qualificada (World Economic Development Congress amp The World Bank 1998 apud VAINER 200077)
Agir empresarialmente na cidade significa tomar decisotildees a partir das informaccedilotildees e
expectativas geradas pelo mercado Constitui a condiccedilatildeo de transposiccedilatildeo do planejamento
estrateacutegico da corporaccedilatildeo privada para o territoacuterio puacuteblico urbano Este projeto de cidade
implica direta e imediata apropriaccedilatildeo da mesma por interesses empresariais globalizados e
depende do banimento da poliacutetica da dissimulaccedilatildeo do ldquoconflitordquo e da reduccedilatildeo das condiccedilotildees
de exerciacutecio da cidadania
VAINER (2000) ainda afirma que a instauraccedilatildeo da cidade como empresa constitui a
negaccedilatildeo da cidade enquanto espaccedilo poliacutetico porque a tendecircncia liberal eacute a de contrariar o
sentido da democracia sempre que os interesses do mercado entram em conflito com os
interesses democraacuteticos Para entatildeo construir poliacutetica e intelectualmente as condiccedilotildees de
legitimaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo do poder puacuteblico agraves exigecircncias do capital internacional e local
torna-se necessaacuterio gerar um ldquopatriotismo de cidaderdquo e um consenso entre os habitantes
por meio de um sentimento de identidade adquirido atraveacutes da promessa de geraccedilatildeo de
empregos
a estrateacutegia conduz agrave destruiccedilatildeo da cidade como espaccedilo de poliacutetica como lugar de construccedilatildeo da cidadania A reivindicaccedilatildeo de poder para as comunidades e coletividades locais conquistada em uma luta travada em nome do auto-governo se consuma como abdicaccedilatildeo em favor de chefes carismaacuteticos que encarnam o projeto empresarial (VAINER 200098)
O novo conceito de planejamento impotildee a presenccedila de novos atores basicamente
do setor privado A parceria puacuteblico-privado assegura que interesses do mercado estaratildeo
presentes representados no processo de planejamento urbano pela participaccedilatildeo direta dos
empresaacuterios nos processos de decisatildeo referentes ao planejamento e agrave execuccedilatildeo das
poliacuteticas urbanas Tais parcerias permitem ao setor privado a satisfaccedilatildeo de seus interesses
junto ao poder puacuteblico Vaacuterias satildeo as formas e os mecanismos de transferecircncia dos recursos
puacuteblicos (financeiros fundiaacuterios e poliacuteticos) para os grupos privados a participaccedilatildeo privada
em agecircncias puacuteblicas e o surgimento da associaccedilatildeo empresarial com o aporte de capitais por
parte do poder puacuteblico para financiar empreendimentos de grupos empresariais privados
mercadoloacutegicos neles a populaccedilatildeo original vivencia a ldquorevitalizaccedilatildeordquo como mecanismo gerador de expulsatildeo e segregaccedilatildeo social (SAacuteNCHEZ 2001163)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
92
Para LOPES (1998) a parceria entre os governos locais e a iniciativa privada nasce
como nova necessidade As cidades que permitem oferecer maior competitividade em
termos globais agraves empresas privadas satildeo as mais procuradas para a instalaccedilatildeo dessas
empresas o que conduz a um processo de centralizaccedilatildeo das atividades econocircmicas
Cidades com fortes posiccedilotildees de mercado tecircm condiccedilotildees de atrair investimentos essenciais
ao processo de acumulaccedilatildeo A mobilidade do capital passa a exigir dos governos locais
constante apoio e suporte aos atores econocircmicos privados o que conduz a limitaccedilotildees na
administraccedilatildeo do espaccedilo urbano sob sua jurisdiccedilatildeo
A parceria puacuteblico-privado desenvolveu-se em um paracircmetro baacutesico de competitividade em funccedilatildeo da necessidade de atraccedilatildeo de agentes econocircmicos por parte das cidades A gestatildeo puacuteblica eacute cada vez mais condicionada pela loacutegica do mercado sendo uma funccedilatildeo essencial a sua capacidade de otimizaccedilatildeo da produtividade dos agentes econocircmicos localizados ou que venham a se localizar no espaccedilo da sua jurisdiccedilatildeo (LOPES 199856)
Aleacutem da parceria puacuteblico-privado o marketing urbano ou city marketing constitui
outro paracircmetro de competitividade que passa a ser determinante no processo de
planejamento e gestatildeo das cidades Trata-se de uma tentativa de construccedilatildeo de uma
imagem positiva da cidade objetivando atrair investimentos e visitantes Pode-se dizer que o
problema que existe por traacutes do marketing urbano eacute o mesmo que se encontra em qualquer
propaganda enganosa em que as qualidades do produto a ser comercializado satildeo
exageradas e possiacuteveis defeitos satildeo escondidos
Para MARICATO (2000) a dissimulaccedilatildeo da cidade em publicidade e propaganda
constitui uma representaccedilatildeo a construccedilatildeo da ficccedilatildeo Para atrair investimentos determina-se
a necessidade de criar produtos urbanos que podem ser por exemplo uma oferta cultural
ou uma imagem de cidade segura ou atrativa A venda da cidade deve estar baseada na
venda dos seus atributos especiacuteficos que constituem insumos valorizados pelo capital
transnacional O governo local deve entatildeo promover a cidade para o exterior atraveacutes de
uma imagem forte e positiva apoiada numa oferta de infra-estruturas e serviccedilos A cidade eacute
apresentada com uma imagem de cidade justa e democraacutetica acompanhada da imagem de
uma cidade segura Mas a oferta de uma cidade segura natildeo quer dizer necessariamente
seguranccedila para os que nela habitam significa a criaccedilatildeo de seguranccedila e aacutereas de isolamento
para os visitantes
A pesquisadora SAacuteNCHEZ (2003) concorda que o city-marketing contribui para a
produccedilatildeo de imagens e discursos referentes agrave cidade Dessa maneira satildeo aprovadas as
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
93
estrateacutegias de intervenccedilatildeo urbana que objetivam a construccedilatildeo do mercado e do espaccedilo
mundiais impondo e justificando o novo discurso sob a eacutegide da globalizaccedilatildeo
Essa estrateacutegia global encontra uma nova dinacircmica para a reproduccedilatildeo do capitalismo A construccedilatildeo da cidade-mercadoria que sob a eacutegide do poder poliacutetico do Estado perfila-se por meio dos processos de renovaccedilatildeo urbana (como exigecircncia da economia competitiva) e por meio da construccedilatildeo de imagem para inseri-la no mercado Como mercadoria especial envolve estrateacutegias especiais satildeo produzidas representaccedilotildees que obedecem a uma determinada visatildeo de mundo satildeo construiacutedas imagens-siacutentese sobre a cidade e satildeo criados discursos referentes agrave cidade encontrando na miacutedia e nas poliacuteticas de city-marketing importantes instrumentos de difusatildeo e afirmaccedilatildeo (SAacuteNCHEZ 2003148)
Como forma de apoio ao seu discurso os governos utilizam-se de investimentos em
imagens simboacutelicas do marketing urbano internacional que guardam relaccedilotildees de
semelhanccedilas significativas entre si Tal identificaccedilatildeo segundo SAacuteNCHEZ (2003) permite
pensar que os processos de renovaccedilatildeo urbana as pautas para a gestatildeo puacuteblica das
cidades e o campo poliacutetico-institucional para a atuaccedilatildeo dos agentes guardam tambeacutem
semelhanccedilas A autora realiza uma anaacutelise de processos de renovaccedilatildeo urbana a partir da
deacutecada de 90 nas cidades de Barcelona e Curitiba segundo as poliacuteticas puacuteblicas e
estrateacutegias de ldquovendardquo efetuadas nessas cidades O estudo seraacute visto ainda neste capiacutetulo e
leva a resultados convergentes acerca de como tais cidades vecircm sendo ldquovendidasrdquo
O novo modelo de planejamento vem sendo propagado como uacutenica alternativa para
fazer frente agraves novas condiccedilotildees impostas pela cidade capitalista e pela globalizaccedilatildeo
Analisaremos em seguida as origens do planejamento estrateacutegico atraveacutes dos estudos de
GUumlELL (1997) Veremos como ocorreu sua transiccedilatildeo para o planejamento urbano e de que
maneira tal processo foi aplicado em determinadas cidades como variaccedilotildees em torno do
mesmo modelo
33 O MODELO ESTRATEacuteGICO DE PLANEJAMENTO DAS CIDADES
O conceito de planejamento estrateacutegico foi extraiacutedo da praacutetica militar e passou a ser
utilizado como instrumento empresarial a partir da segunda metade do seacuteculo XX para
posteriormente ser aplicado tambeacutem nos processos de gestatildeo e planejamento urbanos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
94
De acordo com GUumlELL (1997) no que concerne ao campo militar o termo
ldquoestrateacutegiardquo pode definir-se como a arte de conduzir um exeacutercito ateacute a presenccedila do inimigo e
dirigir as operaccedilotildees para atingir o objetivo desejado Sua aplicaccedilatildeo remonta agraves guerras das
origens da histoacuteria (haacute mais de 2300 anos) e tanto a estrateacutegia militar antiga quanto a
estrateacutegia militar moderna e contemporacircnea apresentam um aspecto em comum invariaacutevel
atraveacutes do tempo e da histoacuteria desenvolvem-se por contraposiccedilatildeo de interesses por
antagonismo entre Estados
A estrateacutegia pode entatildeo ser definida a partir de um sentido elementar e universal
como uma astuacutecia para superar os obstaacuteculos postos pela vontade do oponente Onde
existir antagonismo haveraacute estrateacutegia como meacutetodo que permite hierarquizar e classificar
accedilotildees para escolher com rapidez os procedimentos eficazes voltados a reduzir ou eliminar
as contraposiccedilotildees ou antagonismos
A aplicaccedilatildeo dos princiacutepios da estrateacutegia militar na gestatildeo empresarial deu-se
efetivamente no periacuteodo poacutes-guerra momento em que as empresas tinham por objetivo
transpor seus competidores e dominar o mercado Segundo GUumlELL (1997) nas empresas
americanas Dupont de Nemours e General Motors foram incorporadas as primeiras
estrateacutegias (fixaccedilatildeo de objetivos) e taacuteticas (meios para alcanccedilaacute-los) aos planos das
empresas
GUumlELL (1997) define a estrateacutegia empresarial como um modo sistemaacutetico de
gerenciar mudanccedilas na empresa com o propoacutesito de competir em vantagem no mercado
adaptar-se ao entorno definir os produtos e maximizar os benefiacutecios Trata-se de um
processo reflexivo e criativo de elaboraccedilatildeo de uma seacuterie de estrateacutegias que buscam o
crescimento rentabilidade e eficiecircncia da empresa levando-se em consideraccedilatildeo os
aspectos fortes e fracos presentes em consideraccedilatildeo agraves ameaccedilas e oportunidades futuras
O processo metodoloacutegico do planejamento estrateacutegico empresarial compreende o
conjunto de etapas dispostas abaixo O planejamento caracteriza-se mais como um
processo circular onde tais etapas podem ocorrer simultacircnea e muitas vezes do que
necessariamente como um processo sequumlencial loacutegico como mostra a Figura 6
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
95
Anaacutelise externa
Anaacutelise do cliente
Anaacutelise competitiva
Anaacutelise do setor
Anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna
Anaacutelise de rendimento
Revisatildeo da estrateacutegia
Anaacutelise daorganizaccedilatildeo
Anaacutelise de custos
Anaacutelise de portfoacutelio
Anaacutelise de recursoshumanos
Identificaccedilatildeo e seleccedilatildeo da estrateacutegia
Especificaccedilatildeoda missatildeo
Identificaccedilatildeoda
estrateacutegiaalternativa
Seleccedilatildeoentre
alternativasestrateacutegicas
Implantaccedilatildeo
Revisatildeo estrateacutegica
Figura 6 ndash Processo Metodoloacutegico da Estrateacutegia Empresarial Fonte Aaker apud Guumlell 199726
Anaacutelise externa implica no exame dos elementos exteriores relevantes para a
empresa com identificaccedilatildeo dos riscos e oportunidades presentes e futuras Esta
etapa se divide em quatro partes anaacutelise do cliente anaacutelise competitiva anaacutelise
do setor e anaacutelise do entorno
Anaacutelise interna proporciona compreensatildeo detalhada dos aspectos da empresa de
potencial estrateacutegico com identificaccedilatildeo dos pontos fortes e fracos problemas e
restriccedilotildees Esta etapa compreende fundamentalmente a anaacutelise dos
rendimentos da estrateacutegia existente da organizaccedilatildeo interna dos custos portfolio
de produtos recursos e limitaccedilotildees financeiras
Especificaccedilatildeo da missatildeo a partir das anaacutelises anteriores eacute possiacutevel identificar os
objetivos e metas que se quer para o negoacutecio levando-se em consideraccedilatildeo
diferenciais alternativos relacionados agraves aacutereas de negoacutecios da empresa que a
diferencie dos demais competidores
Identificaccedilatildeo de estrateacutegia alternativa deduccedilatildeo de diversas alternativas estrateacutegicas
que facilitem a obtenccedilatildeo de vantagem competitiva da empresa baseada em geral
em torno de trecircs elementos diferenciaccedilatildeo baixo custo e concentraccedilatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
96
Seleccedilatildeo entre alternativas estrateacutegicas entre os criteacuterios de seleccedilatildeo cabe dar
destaque para a sensibilidade ante as oportunidades e ameaccedilas do entorno a
resposta aos objetivos da organizaccedilatildeo e a facilidade de execuccedilatildeo
Implantaccedilatildeo plano operativo que conteacutem objetivos especiacuteficos em curto prazo
necessidade de modificaccedilotildees na estrutura organizacional da empresa que se
adapte agrave nova estrateacutegia
Revisatildeo estrateacutegica determinar quando satildeo necessaacuterias a revisatildeo e mudanccedila de
estrateacutegias
GUumlELL (1997) aponta uma seacuterie de fenocircmenos que explicam a inserccedilatildeo dos
fundamentos do planejamento estrateacutegico em acircmbito urbano
1 O dinamismo derivado das mudanccedilas econocircmicas e poliacuteticas e as inovaccedilotildees
tecnoloacutegicas acompanhadas das modificaccedilotildees socioculturais vecircm exigindo do
planejamento urbano novas soluccedilotildees
2 Os gestores puacuteblicos satildeo obrigados a se inclinar perante as exigecircncias de
competitividade dos diversos agentes sociais e econocircmicos que constituem os atores da cidade
3 A abertura dos mercados e a integraccedilatildeo das naccedilotildees em niacutevel global tecircm
incentivado a competitividade entre cidades que exige do planejamento capacidade de
antecipaccedilatildeo e atuaccedilatildeo ofensiva
4 Por uacuteltimo a complexidade e a inter-relaccedilatildeo dos problemas das cidades
demandam o enfoque multidisciplinar e intersetorial para superar as limitaccedilotildees dos
tradicionais planos setoriais
O ritmo com que se sucedem as mudanccedilas decorrentes do processo de globalizaccedilatildeo
acarreta dificuldades e questotildees relevantes ao planejamento e agrave gestatildeo urbana GUumlELL
(1997) acredita que apesar dos equiacutevocos conceituais cometidos nos primeiros planos
estrateacutegicos realizados nas deacutecadas de 1980 e 1990 os seus benefiacutecios ultrapassam as
desvantagens e podem ser de grande utilidade se convenientemente utilizados Ele
defende de que para evitar a vulgarizaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico eacute necessaacuterio inseri-
lo nos processos tradicionais de planejamento fiacutesico econocircmico e social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
97
Teacuterminos como orientacioacuten hacia la demanda atractivo de la oferta
urbana posicionamiento competitivo y acciones de maacuterketing que hasta hace poco quedaban restringidos al aacutembito empresarial hoy son moneda comuacuten em las administraciones locales y regionales Este naciente intereacutes em el sector puacuteblico por los conceptos de estrategia empresarial viene motivado no tanto por la corriente neoliberal em boga como por la magnitud y celeridad de los cambios socioeconoacutemicos que estan afectando de forma significativa a nuestras ciudades Esta situacioacuten haacute conducido a la exploracioacuten de nuevos enfoques em materia de planificacioacuten urbana que respondan a las exigencias emergentes entre los cuales destaca la planificacioacuten estrateacutegica por su novedad y su amplia difusioacuten24 (GUumlELL 199717)
O autor afirma que o dinamismo do entorno tem produzido uma seacuterie de
modificaccedilotildees relevantes nos instrumentos tradicionais de planejamento urbano que
capacite a atividade de planejamento a dar uma resposta aacutegil e adequada agrave nova realidade
Tais modificaccedilotildees abrangem a atividade de planejamento e gestatildeo urbana e satildeo
sintetizadas a partir dos seguintes pontos (GUumlELL 199751)
Descentralizaccedilatildeo das competecircncias urbaniacutesticas atraveacutes da transferecircncia das
competecircncias urbaniacutesticas dos governos centrais aos perifeacutericos de forma a
reforccedilar os governos regionais Esta situaccedilatildeo favorece a adaptaccedilatildeo da legislaccedilatildeo
urbaniacutestica agraves peculiaridades de cada regiatildeo debilitando o planejamento
centralizado
Participaccedilatildeo dos agentes de desenvolvimento econocircmico nas decisotildees
urbaniacutesticas atraveacutes dos agentes econocircmicos puacuteblicos e privados que atuam de
forma direta por meio das suas atividades produtivas ou indireta por meio do
desenvolvimento de infra-estruturas
Crescente participaccedilatildeo dos movimentos sociais no urbanismo atraveacutes da
intervenccedilatildeo da sociedade civil no processo de desenvolvimento urbano Os
movimentos sociais canalizam as preocupaccedilotildees e desejos dos grupos cidadatildeos
24 Termos como orientaccedilatildeo segundo a demanda atrativo da oferta urbana posicionamento competitivo e accedilotildees de marketing que ateacute pouco tempo estiveram restritos ao espaccedilo das empresas satildeo hoje comuns nas administraccedilotildees locais e regionais Este crescente interesse do setor puacuteblico pelos conceitos de estrateacutegia empresarial vem motivado natildeo somente pela corrente neoliberal em voga mas tambeacutem pela magnitude e velocidade das mudanccedilas soacutecio-econocircmicas que estatildeo afetando de maneira significativa as nossas cidades Esta situaccedilatildeo tem conduzido agrave exploraccedilatildeo de novos enfoques no que se refere ao planejamento urbano que respondam agraves exigecircncias emergentes dentre os quais destaca-se o planejamento estrateacutegico por sua novidade e ampla difusatildeo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
98
Aumento da rivalidade entre as cidades a rivalidade entre as cidades para atrair
atividades econocircmicas obriga os governos a utilizar todos os instrumentos a sua
disposiccedilatildeo incluindo os que abrangem o planejamento urbano como forma de
aumento da competitividade e atratividade
Incorporaccedilatildeo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas na gestatildeo urbaniacutestica o aperfeiccediloamento
dos sistemas de informaccedilotildees e automatizaccedilatildeo dos procedimentos administrativos
permitem a utilizaccedilatildeo de instrumentos mais sofisticados que facilitem a tomada
de decisotildees complexas nas gestotildees urbanas
Maior exigecircncia de transparecircncia os cidadatildeos jaacute natildeo admitem mais que os
processos de planejamento e gestatildeo urbana sejam elaborados e executados
somente por um grupo de teacutecnicos e agentes econocircmicos
O conjunto de modificaccedilotildees acima citadas acarreta por sua vez a necessidade de
novo enfoque metodoloacutegico e outros instrumentos de anaacutelise Para GUumlELL (1997) eacute
necessaacuterio um projeto estrateacutegico ambicioso que cumpra com dois objetivos 1- orientar e
articular as accedilotildees setoriais empreendidas conforme um programa global 2- estimular o
conjunto da sociedade para atingir um horizonte definido
VAINER (2000) afirma que o planejamento estrateacutegico aplicado agraves cidades e
inspirado nos conceitos e teacutecnicas derivados do planejamento empresarial foi originalmente
sistematizado na Harvard Business School Segundo seus precursores deve ser adotado
pelos governos locais em razatildeo de estarem as cidades submetidas agraves mesmas condiccedilotildees e
desafios que as empresas Na praacutetica nasceu da implantaccedilatildeo do neoliberalismo nos
Estados Unidos e na Inglaterra O primeiro plano estrateacutegico foi aplicado na cidade de Satildeo
Francisco Califoacuternia nos Estados Unidos em 1982
Na anaacutelise de LOPES (1998) quanto ao modelo de Harvard o autor comprova que o
arqueacutetipo procura estabelecer a melhor forma de adaptaccedilatildeo de uma organizaccedilatildeo ao seu
meio ambiente O modelo define as forccedilas e fraquezas internas de uma organizaccedilatildeo frente
agraves ameaccedilas e oportunidades externas levando em consideraccedilatildeo o valor de sua
administraccedilatildeo e as responsabilidades sociais As estrateacutegias satildeo definidas com o objetivo de
obter vantagens em funccedilatildeo das oportunidades e minimizar as fraquezas e ameaccedilas
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
99
O planejamento estrateacutegico pode definir-se como uma forma sistemaacutetica de articular
as mudanccedilas tendo por base uma accedilatildeo integrada em longo prazo Estabelece um sistema
contiacutenuo de tomada de decisotildees que comporta um risco mas identifica o curso das accedilotildees
especiacuteficas formulando indicadores para acompanhamento dos resultados e destacando os
agentes sociais e econocircmicos locais ao longo de todo o processo
Natildeo entraremos neste trabalho na questatildeo dos meacutetodos e teacutecnicas do
planejamento estrateacutegico urbano Trataremos o tema como estrateacutegias de intervenccedilatildeo e
gestatildeo urbanas como meio para atrair investimentos eou visitantes e obter a posiccedilatildeo das
cidades em niacutevel nacional e internacional Analisaremos a seguir as estrateacutegias de
intervenccedilotildees urbanas baseadas nessas premissas e colocadas em praacutetica em trecircs cidades
Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
34 VARIACcedilOtildeES EM TORNO DE UM MESMO MODELO
341 BARCELONA E O CASO DA VILA OLIacuteMPICA
Barcelona eacute a capital da Catalunha uma regiatildeo cuja sociedade encontra-se em
constante luta de auto-afirmaccedilatildeo Segundo os estudos de SAacuteNCHEZ (2003) tal fato
contribuiu para a compreensatildeo da posiccedilatildeo poliacutetica do governo da cidade que buscou a
transformaccedilatildeo de Barcelona em ldquocidade-modelordquo dentro da Comunidade Europeacuteia
As intervenccedilotildees estrateacutegicas urbanas realizadas em Barcelona e que impulsionaram
o seu projeto de cidade tiveram iniacutecio na deacutecada de 1980 durante o governo de Pasqual
Maragall pelo Partido Socialista Maragall assumiu o poder em 1982 (apoacutes renuacutencia de
Narciacutes Serra ao cargo de alcaide) e teve seu mandato revalidado por quatro vezes
consecutivas nas eleiccedilotildees de 1983 1987 1991 e 1995 Esta sequumlecircncia poliacutetico-
administrativa foi primordial para o sucesso do seu projeto de renovaccedilatildeo urbana que atingiu
o auge com o projeto oliacutempico realizado para a futura sede das Olimpiacuteadas de 1992
No iniacutecio da deacutecada de 1980 a poliacutetica urbana adotada pelo governo municipal
comprometia-se com o ideaacuterio de equumlidade e de justiccedila social na cidade A avaliaccedilatildeo feita
por SAacuteNCHEZ (2003) mostra que nos primeiros anos do governo socialista verificou-se um
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
100
esforccedilo por parte da administraccedilatildeo puacuteblica municipal para garantir que os investimentos em
infra-estrutura fossem tambeacutem investimentos socialmente redistributivos em termos de
equalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida urbana nos espaccedilos da cidade Prevaleceram as
intervenccedilotildees em pequena escala efetivamente distribuiacutedas em todas as aacutereas perifeacutericas da
cidade Tratava-se de um ldquourbanismo defensivordquo que buscava basicamente resgatar a
normalidade administrativa e a eacutetica de gestatildeo
No final da deacutecada de 1980 iniciou-se uma etapa de aplicaccedilatildeo de intervenccedilotildees
urbanas mais ofensivas na cidade As reivindicaccedilotildees dos atores coletivos e o levantamento
das necessidades dos bairros foram reconhecidos em alguns casos sendo determinadas
definiccedilotildees projetuais e prioridades para as obras Entretanto tal situaccedilatildeo natildeo se aplicou a
toda a cidade as reivindicaccedilotildees constituiacuteram um dado a levar-se em conta no lanccedilamento
das intervenccedilotildees urbanas mas natildeo consistia elemento uacutenico para o planejamento
Em 1986 a nomeaccedilatildeo de Barcelona como sede das Olimpiacuteadas de 1992 consistiu
em decisivo fator acelerador da modernizaccedilatildeo urbana e uma justificativa para o projeto de
renovaccedilatildeo urbana desenvolvido nos anos 1980 e 1990 O projeto girou em torno das
grandes obras oliacutempicas de renovaccedilatildeo (Figuras 7 a 10) elaboradas a partir da parceria da
administraccedilatildeo puacuteblica com os setores empresariais privados
O que estava em disputa era o espaccedilo poliacutetico o sentido dado ao espaccedilo da cidade e o poder de cada instituiccedilatildeo puacuteblica ou privada sobre fragmentos da cidade que estavam sendo renovados e que seriam inseridos num mercado cujas conexotildees eram trans-escalares locais regionais nacionais e internacionais Eacute nesse periacuteodo de profunda renovaccedilatildeo urbana para os jogos oliacutempicos que eacute possiacutevel identificar a emergecircncia da cidade-mercadoria do espaccedilo da cidade concebido e renovado para um mercado global da cidade tornada uma marca um emblema dessa transformaccedilatildeo espacial (SAacuteNCHEZ 2003237)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
101
Figura 7 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 8 ndash Barcelona - Estaacutedio da Vila Oliacutempica e Torre Telefocircnica ao fundo Foto Fernando Hayashi
Figura 9 ndash Barcelona - Arena de Esportes da Vila Oliacutempica Foto Fernando Hayashi
Figura 10 ndash Barcelona - Torre Telefocircnica de Montjuic Vila OliacutempicaFoto Fernando Hayashi
O alegado sucesso do ldquomodelo Barcelonardquo favoreceu a difusatildeo desse conceito de
projeto aos planos desenvolvidos na Ameacutetica Latina e em particular no Brasil permitindo
identificar alguns pontos principais para os quais se voltam a accedilatildeo poliacutetica e os programas
(SAacuteNCHEZ 2003319)
A competitividade econocircmica com poliacuteticas de apoio agraves empresas a criaccedilatildeo de
emprego a atraccedilatildeo de investimentos e o city- marketing
A coesatildeo social por meio de programas de fortalecimento da identificaccedilatildeo dos
cidadatildeos atraveacutes de um ldquoprojeto de cidaderdquo com estiacutemulo ao sentido de
pertencimento a integraccedilatildeo de minorias o bem-estar social
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
102
Uma melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente urbano com vistas agrave
construccedilatildeo da ldquosociedade sustentaacutevelrdquo
A modernizaccedilatildeo da gestatildeo com programas relativos a financcedilas e impostos com a
participaccedilatildeo do cidadatildeo e atendimento ao cidadatildeo
A melhoria da mobilidade atraveacutes da gestatildeo do tracircnsito dos estacionamentos e
dos transportes puacuteblicos
Infra-estrutura urbana e de telecomunicaccedilotildees com a modernizaccedilatildeo de portos
aeroportos teleportos e com projetos e operaccedilotildees urbaniacutesticas para a
reestruturaccedilatildeo urbana
A modernizaccedilatildeo e a expansatildeo do turismo urbano
O modelo de Barcelona foi difundido atraveacutes de teacutecnicas e procedimentos de
ldquotrabalho qualitativordquo onde satildeo estabelecidos cenaacuterios futuros imagens e tendecircncias para
as cidades com ecircnfase na definiccedilatildeo dos seus atributos e seu papel regional e internacional
Indicadores oferecem um panorama das accedilotildees poliacuteticas necessaacuterias criando
ldquooportunidadesrdquo para as cidades competiccedilatildeo com outras cidades expectativas relativas agrave
qualidade de vida cenaacuterios de competitividade econocircmica infra-estrutura e meio ambiente
dinacircmica demograacutefica migraccedilotildees e coesatildeo social
342 CURITIBA E SUAS INTERVENCcedilOtildeES URBANAS
A imagem de Curitiba como ldquocidade-modelordquo deu-se no iniacutecio dos anos 1970
Segundo SAacuteNCHEZ (2003) a populaccedilatildeo de Curitiba praticamente dobrou em uma deacutecada
no periacuteodo que vai de 1960 a 1970 resultante da migraccedilatildeo campo-cidade Tornou-se
necessaacuterio um Plano Preliminar de Urbanismo feito em 1965 e que propunha diretrizes de
uso do solo transporte coletivo localizaccedilatildeo industrial e aacutereas de lazer
Os Planos Diretores seguintes datados de 1966 e da deacutecada de 1970
apresentavam um modelo de expansatildeo urbana por meio de eixos estruturais ao longo dos
quais propunha-se uma soluccedilatildeo de transporte coletivo atraveacutes de canaletas exclusivas para
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
103
ocircnibus Outras propostas dos planos diziam respeito a padrotildees especiacuteficos de uso do solo
altura das edificaccedilotildees e atividades permitidas aleacutem de uma zona especial para a promoccedilatildeo
da industrializaccedilatildeo
O Plano Diretor da deacutecada de 1970 eacute marcado pelas intervenccedilotildees que deram iniacutecio agrave
formaccedilatildeo da imagem de cidade-modelo que girou em torno de Curitiba desde entatildeo a
recuperaccedilatildeo do centro com preservaccedilatildeo do Centro Histoacuterico e incentivo a determinadas
atraccedilotildees culturais e de lazer a criaccedilatildeo daquela que seria promovida como a ldquoprimeira rua de
pedestres do Brasilrdquo (o calccediladatildeo da Rua das Flores) e a criaccedilatildeo dos primeiros parques urbanos
As intervenccedilotildees urbanas desta eacutepoca caracterizaram Curitiba como siacutembolo de
inovaccedilatildeo modernidade eficiecircncia e preocupaccedilatildeo com o meio ambiente legitimando a
imagem da cidade como modelo e referecircncia entre as demais cidades brasileiras Tal
imagem comeccedilou a se impor em escala nacional a partir da deacutecada de 1970 perdeu espaccedilo
apenas por alguns anos na deacutecada de 1980 e voltou com forccedila poliacutetica na deacutecada de 1990
SAacuteNCHEZ (2003) declara que a histoacuteria deste projeto demonstra a necessidade de
conciliaccedilatildeo do planejamento urbano com o atendimento dos interesses empresariais na
busca de uma hegemonia poliacutetica que possa materializar o plano e alcanccedilar a
implementaccedilatildeo das poliacuteticas urbanas A autora coloca um conjunto de fatores explicativos
para alcance do projeto
1 A construccedilatildeo de uma coalizatildeo de interesses das elites empresariais e poliacuteticas em
torno do projeto de cidade e continuidade poliacutetico-administrativa permitiram a implementaccedilatildeo
do plano Tal continuidade deu-se atraveacutes da primeira administraccedilatildeo do prefeito Jaime
Lerner da Alianccedila Renovadora Nacional - ARENA (1971-1975) seguida por Saul Raiz do
seu mesmo grupo poliacutetico (1975-1979) para entatildeo uma nova indicaccedilatildeo agrave prefeitura por
Jaime Lerner (1979-1982)
2 A construccedilatildeo de um conjunto institucional orientado agrave implementaccedilatildeo do plano e
viabilizado por sua identificaccedilatildeo com os principais atores do ideaacuterio desenvolvimentista e
tecnocraacutetico governamental da eacutepoca
3 A construccedilatildeo de uma imagem de cidade modelo impulsionada pelo city-marketing
e atraveacutes da articulaccedilatildeo entre poliacutetica cultura miacutedia e planejamento
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
104
4 A identidade do projeto com o ideaacuterio associado a uma agenda global para as
cidades difundida nos anos 1990 a niacutevel internacional
A partir dos anos 1980 a poliacutetica de planejamento urbano de Curitiba passou a
apresentar novos atores O novo governo surgido na eacutepoca regido por duas gestotildees do
Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro - PMDB (1983-1988) promoveu uma
reorientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas urbanas voltada para a urbanizaccedilatildeo das aacutereas
perifeacutericas e construccedilatildeo de equipamentos sociais Aleacutem disso inseriu-se o planejamento
participativo em oposiccedilatildeo ao antigo planejamento tecnocraacutetico Apesar de a nova gestatildeo
poliacutetica ter representado um periacuteodo de ruptura com as gestotildees anteriores natildeo foi possiacutevel
a consolidaccedilatildeo de seu projeto poliacutetico
Os movimentos sociais de bairro e os movimentos sindicais tiveram emergecircncia e fortalecimento como atores coletivos em Curitiba questionando as poliacuteticas urbanas relativas agrave habitaccedilatildeo a transporte puacuteblico e ao saneamento Construiacuteram na eacutepoca accedilotildees poliacuteticas que foram capitalizadas pela oposiccedilatildeo para desestabilizar a hegemonia da coalizatildeo local da deacutecada anterior (SAacuteNCHEZ 2003161)
Em 1989 Jaime Lerner retomou a prefeitura da cidade com o mesmo discurso poliacutetico
e tecnocraacutetico de sucesso utilizado na deacutecada de 1970 A hegemonia de seu grupo poliacutetico
permaneceu durante todas a deacutecada de 1990 Conclui-se que em trinta anos de governos
municipais somente um periacuteodo (1983-1988) natildeo foi liderado pelo chamado ldquolernismordquo
SAacuteNCHEZ (2003) afirma que eacute da deacutecada de 1960 a criaccedilatildeo do instituto que
elaboraria e colocaria em praacutetica o plano de cidade proposto pelo governo lernista O
IPPUC- Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba nasceu de uma comissatildeo
organizada para levantar os debates em torno do plano e seu objetivo manifesto consistia
em ldquopreparar a cidade para o futurordquo A instituiccedilatildeo caracterizou-se por uma linha de
planejamento tecnocraacutetico e funcional A condiccedilatildeo tecnocraacutetica constituiacutea parte de uma
ideologia que colocava o conhecimento cientiacutefico como detentor do destino da cidade e lhe
conferia legitimidade como instrumento poliacutetico
Nesta mesma eacutepoca configurou-se uma alianccedila entre poliacuteticos e teacutecnicos do
planejamento da cidade com os empresaacuterios ligados aos grandes interesses privados Esse
conjunto compreende os atores a partir do qual eacute instaurado o projeto de cidade proposto As
mudanccedilas espaciais promovidas pelo Plano Diretor sempre foram compatiacuteveis com os
interesses dos liacutederes empresariais da cidade principalmente os vinculados aos setores
industriais imobiliaacuterios de construccedilatildeo civil e transporte puacuteblico As poliacuteticas dos planejadores
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
105
mostram uma subordinaccedilatildeo da teacutecnica agraves necessidades e imperativos das empresas atraveacutes
da violaccedilatildeo de normas relativas ao uso do solo com o objetivo de conceder a determinadas
empresas os alvaraacutes necessaacuterios para a construccedilatildeo de grandes empreendimentos
O planejamento urbano em Curitiba natildeo soacute natildeo alterou significativamente as praacuteticas espaciais dos atores privados como parece ter contribuiacutedo para conferir uma vitalidade adicional a essas praacuteticas fazendo prevalecer os interesses corporativos diante do interesse puacuteblico (SAacuteNCHEZ 2003172)
Curitiba teve a atraccedilatildeo de induacutestrias como um dos principais condicionantes para a
elaboraccedilatildeo do Plano Diretor da deacutecada de 1960 ideacuteia que originou a Cidade Industrial de
Curitiba ndash CIC caracterizada como uma poliacutetica urbana para criaccedilatildeo de um espaccedilo
favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo dos interesses do capital industrial Esta poliacutetica urbana implicava na
concessatildeo de subsiacutedios para atrair novos investimentos com a pretensatildeo de mudar a face
da economia urbana
Os programas de atraccedilatildeo de induacutestrias vinham acompanhados de uma accedilatildeo
comunicativa e veiculaccedilatildeo de imagens de uma cidade diferente e evoluiacuteda das demais no
que se refere a aacutereas de transporte infra-estrutura e lazer A construccedilatildeo simboacutelica da
identidade da cidade a partir da oposiccedilatildeo agraves demais foi fortalecida na deacutecada de 1990 A
Tabela 4 e as Figuras 11 a 14 resumem as transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e
imagens que Curitiba sofreu desde a deacutecada de 1960
PERIacuteODOGESTAtildeO POLIacuteTICAS INTERVENCcedilOtildeES IMAGENS-SIacuteNTESE
1 CIDADE PLANEJADA
2 CIDADE MODELO3 CIDADE MODERNA E HUMANA4 CIDADE MODERNA E HUMANA
5 CAPITAL ECOLOacuteGICA6 CIDADE DE PRIMEIRO MUNDO 7 CAPITAL DA QUALIDADE DE VIDA
Equipamentos culturais e de lazer 8 CAPITAL DA CULTURAFaroacuteis do Saber Ruas da 9 CIDADE LUZCidadania Memorial da Cidade
10 CAPITAL TECNOLOacuteGICA11 MELHOR CIDADE PARA FAZER NEGOacuteCIOS
2001-2004 - C Taniguchi
Atraccedilatildeo de empresas poliacuteticas sociais
12 CAPITAL SOCIAL
1997-2000 - C Taniguchi
1971-1975 -Jaime Lerner 1975-1979 - Saul Raiz
1979-1982 - Jaime Lerner
1989-1992 - Jaime Lerner
1993-1996 - Rafael Greca
Poliacuteticas ambientais reciclagem lixo aacutereas verdes poliacuteticas de atraccedilatildeo de empresas
Zoneamento transporte uso do solo atraccedilatildeo de induacutestrias renovaccedilatildeo do centro
Zoneamento uso do solo reestruturaccedilatildeo industrial plano estrateacutegico de gestatildeo atraccedilatildeo de empresas comeacutercio serviccedilos
Poliacutetica de equipamentaccedilatildeo e animaccedilatildeo cultural turismo urbano
Transporte revitalizaccedilatildeo
Eixos estruturais sistema de transporte de massa Cidade Industrial de Curitiba
Ampliaccedilatildeo sistema de transportes renovaccedilatildeo do Centro Histoacuterico reciclagens de edifiacutecios parques urbanosRenovaccedilatildeo sistema de transporte parques ciclovias equipamentos culturais e de lazer Jardim Botacircnico Oacutepera de Arame Rua 24 Horas Universidade Livre do Meio Ambiente
Infra-estrutura viaacuteria contornos infra-estrutura de apoio agraves empresas empresariamento da gestatildeo municipal eficiecircncia de serviccedilos
Tabela 4 ndash Transformaccedilotildees nas poliacuteticas intervenccedilotildees e imagens de Curitiba Fonte Saacutenchez (2004)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
106
Figura 11 ndash Curitiba ndash Oacutepera de Arame Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 12 ndash Curitiba ndash Sistema Integrado de Transportes Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 13 ndash Curitiba ndash Museu Oscar Niemeyer Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Figura 14 ndash Curitiba ndash Jardim Botacircnico Fonte httpwwwcuritibapaises-america
Curitiba e o mito da cidade-modelo apresentam um discurso oficial veiculado na
miacutedia nacional e internacional como centro de experimentaccedilatildeo de novos processos e centro
difusor de novos valores Uma das uacuteltimas imagens a ela associada consiste na de ldquomelhor
cidade brasileira para se fazer negoacuteciosrdquo reportagem publicada no ano 2000 pela revista
nacional Exame
343 RIO DE JANEIRO E OS PLANOS ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
A cidade do Rio de Janeiro apresenta hoje o segundo Produto Interno Bruto (PIB)
municipal do paiacutes e eacute visitada por mais de 40 dos estrangeiros que chegam ao Brasil
consagrando-se como o maior destino turiacutestico nacional Situa-se entre as vinte cidades
mais populosas do mundo com rico acervo arquitetocircnico e inestimaacutevel patrimocircnio histoacuterico
aleacutem das evidentes belezas naturais
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
107
Apesar de apresentar condiccedilotildees positivas uacutenicas a intensificaccedilatildeo urbana ocorrida
apoacutes a Segunda Guerra Mundial decorrente do fluxo imigratoacuterio de outras regiotildees contribuiu
para acelerar o quadro de carecircncia e dificuldades nos setores de telecomunicaccedilotildees sauacutede
transportes e seguranccedila puacuteblica que foram distribuiacutedos de maneira diferenciada no espaccedilo
urbano A situaccedilatildeo piorou a partir da deacutecada de 1960 quando o entatildeo presidente Juscelino
Kubitschek tirou da cidade a condiccedilatildeo de Capital Federal e centro de poder decisoacuterio
econocircmico-poliacutetico Segundo os documentos do Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de
Janeiro seu primeiro plano estrateacutegico surgiu com a justificativa de reverter este quadro
negativo e destacar as qualidades da cidade
O primeiro plano intitulado ldquoRio Sempre Riordquo teve iniacutecio em 1993 no primeiro
governo do prefeito Cesar Maia eleito em 1993 atraveacutes do Partido do Movimento
Democraacutetico Brasileiro (PMDB) O plano foi publicado em 1996 e foi um dos precursores
desse tipo de planejamento no Hemisfeacuterio Sul O Rio de Janeiro tornou-se uma das
primeiras cidades a elaborar um plano estrateacutegico como instrumento de planejamento de
pacto consensual entre governo municipal e iniciativa privada
Em janeiro de 2001 ao assumir a prefeitura novamente dessa vez pelo Partido da
Frente Liberal (PFL) o governo de Cesar Maia recorreu mais uma vez a esse instrumento
de planejamento Foi lanccedilado o Plano Estrateacutegico II da Cidade do Rio de Janeiro cujo tiacutetulo
ldquoAs cidades da Cidaderdquo sugere um estudo das diversas regiotildees do municiacutepio e suas
diferenccedilas histoacutericas culturais sociais e econocircmicas
Nesta nova fase o foco deixou de ser a busca de uma nova identidade para fortalecer a cidade e inseri-la de forma competitiva no cenaacuterio mundial mas encontrar meios que pudessem indicar os caminhos em direccedilatildeo ao futuro desejaacutevel para cada regiatildeo e a partir da articulaccedilatildeo harmocircnica e conciliada desses caminhos construir uma cidade mais solidaacuteria com igualdade de oportunidades para todos (Cesar Maia Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro 2003)
Neste segundo plano estrateacutegico o municiacutepio foi dividido em 12 regiotildees e cada
regiatildeo teve seus objetivos e estrateacutegias definidas dentro da cidade a partir dos seus
potenciais (Tabela 5 e Figuras 15 a 18) O plano considera separadamente as
caracteriacutesticas tendecircncias e aspiraccedilotildees de cada regiatildeo A partir dos objetivos centrais de
cada uma delas foram estabelecidas estrateacutegias e formuladas propostas para as aacutereas
criando-se um modelo proacuteprio para cada os Planos Estrateacutegicos Regionais A escolha por
este processo buscava retratar o cenaacuterio diversificado presente no Rio de Janeiro
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
108
PLANOS
ESTRATEacuteGICOS REGIONAIS
OBJETIVO CENTRAL
REGIAtildeO 1 - BANGUacuteSer um poacutelo de ecoturismo e lazer resgatando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e desenvolvendo seu potencial industrial
REGIAtildeO 2 - BARRA DA TIJUCA
Ser um poacutelo de negoacutecios focado no turismo lazer e serviccedilos e um modelo de preservaccedilatildeo ambiental
REGIAtildeO 3 - CAMPO GRANDE
Ser o centro de referecircncia para o ecoturismo com enfoque nas vocaccedilotildees gastronocircmica botacircnica pesqueira e agriacutecola consolidando as diferentes expressotildees histoacuterico-culturais da regiatildeo
REGIAtildeO 4 - CENTROSer o centro de referecircncia histoacuterico-cultural do paiacutes consolidando as vocaccedilotildees de centro de negoacutecios centro de desenvolvimento de tecnologia e principal centro de telecomunicaccedilotildees da ameacuterica latina
REGIAtildeO 5 - GRANDE MEacuteIER
Voltar a ser a capital dos subuacuterbios cariocas como centro de comeacutercio varejista e poacutelo prestador de serviccedilos com relevo na cultura e lazer
REGIAtildeO 6 - ILHA DO GOVERNADOR
Ser a principal base de chegada do turista agrave cidade preservando a qualidade de aacuterea residencial e incrementando as atividades esportivas culturais e artiacutesticas
REGIAtildeO 7 - IRAJAacuteSer o principal centro de abastecimento da cidade e um poacutelo formador de atletasgarantindo a tradiccedilatildeo residencial e a qualidade de vida
REGIAtildeO 8 - JACAREPAGUAacute
Ser o grande centro de eventos nacionais e internacionais tendo como foco do desenvolvimento econocircmico o ecoturismo a induacutestria de alta tecnologia garantindo a tradiccedilatildeo histoacuterico-geograacutefica
REGIAtildeO 9 - LEOPOLDINA
Ser uma regiatildeo de bairros integrados resgatando a relaccedilatildeo de vizinhanccedila desenvolvendo-se a partir de induacutestrias de base tecnoloacutegica natildeo poluentes
REGIAtildeO 10 - TIJUCA VILA ISABEL
Ser um grande poacutelo de lazer cultural de ecoturismo de desenvolvimento econocircmico focado no setor de serviccedilos e comeacutercio garantindo a qualidade de vida
REGIAtildeO 11 - ZONA NORTE
Ser o grande poacutelo de comeacutercio e centro industrial natildeo poluente preservando e incrementando suas tradiccedilotildees histoacuterico-culturais e caracteriacutesticas residenciais
REGIAtildeO 12 - ZONA SUL
Ser a vitrine nacional e internacional do turismo da cultura e do lazer reforccedilando a imagem da maneira de ser carioca
Tabela 5 ndash A diversidade do Rio de Janeiro e suas potencialidades Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro Elaboraccedilatildeo da autora
Figura 15 ndash Rio de Janeiro Jacarepaguaacute ndash Autoacutedromo de Jacarepagua Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 16 ndash Rio de Janeiro Tijuca ndash Maracanatilde Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
109
Figura 17 ndash Rio de Janeiro Zona Sul ndash Cristo Redentor Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
Figura 18 ndash Rio de Janeiro Centro ndash Catedral Metropolitana Fonte Plano Estrateacutegico do Rio de Janeiro2004
O plano buscou resgatar as tradiccedilotildees locais e estabelecer diretrizes de
desenvolvimento local para as regiotildees definindo sua contribuiccedilatildeo no desenvolvimento da
cidade Na elaboraccedilatildeo do plano foi necessaacuterio estipular uma metodologia proacutepria de
trabalho por tratar-se de um processo inovador na cidade percebida como uma ldquosoma de
partesrdquo e natildeo somente como um todo como ocorre nas grandes metroacutepoles
Em 2005 ao assumir a prefeitura do Rio de Janeiro pela terceira vez novamente
pelo PFL Cesar Maia teve a possibilidade de dar continuidade ao plano estrateacutegico iniciado
na gestatildeo anterior Com vistas aos Jogos Panamericanos realizados na cidade em 2007 o
prefeito ainda realizou a execuccedilatildeo de obras e edificaccedilotildees direcionadas aos equipamentos
esportivos como parte do processo de revitalizaccedilatildeo urbana da cidade em uma versatildeo
brasileira do ldquomodelo-Barcelonardquo visto neste capiacutetulo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
110
35 CONCLUSOtildeES PARCIAIS LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO
Ateacute o presente verificamos neste capiacutetulo como as mudanccedilas processos e agentes
externos das cidades reforccedilados pela globalizaccedilatildeo atribuiacuteram a elas novas funccedilotildees
urbanas O espaccedilo tornado global impotildee a necessidade de inserccedilatildeo das cidades a niacutevel
internacional e para tanto o planejamento urbano vem sendo direcionado com tal objetivo
atraveacutes de estrateacutegias urbanas voltadas ao mercado mundial
Estrateacutegias urbanas como as analisadas para Barcelona Curitiba e Rio de Janeiro
proporcionaram sua posiccedilatildeo como cidades globais mas ao mesmo tempo resultaram em
impactos negativos em acircmbito social econocircmico e ambiental Na conclusatildeo deste capiacutetulo
apontaremos alguns desses impactos negativos segundo as colocaccedilotildees feitas pelos
pesquisadores do planejamento estrateacutegico
As intervenccedilotildees urbanas analisadas consistiram fundamentalmente de aparatos
culturais e de um conjunto de serviccedilos e comeacutercio aliados a investimentos em infra-estrutura
que visavam agrave atraccedilatildeo de capital principalmente internacional e de usuaacuterios e visitantes
Na opiniatildeo de VAINER (2000) essas revitalizaccedilotildees urbanas natildeo satildeo direcionadas a todos
os cidadatildeos a abertura das cidades para o exterior eacute seletiva e usufruiacuteda por grupos
especiacuteficos e qualificados
O realismo da proposta fica claro quando nossos pragmaacuteticos consultores deixam claro que esta abertura para o exterior eacute claramente seletiva natildeo queremos visitantes e usuaacuterios em geral e muito menos imigrantes pobres expulsos do campo ou de outros paiacuteses igualmente pobres queremos visitantes e usuaacuterios solventes (VAINER 200080)
A pobreza e a violecircncia urbana condicionam ou influenciam nas decisotildees dos
agentes econocircmicos e na atratividade da cidade Por este motivo os pobres (nativos ou
imigrantes) constituem demanda solvaacutevel para o planejamento estrateacutegico estando
excluiacutedos dessas aacutereas revitalizadas e consequumlentemente do proacuteprio processo de
planejamento Tal situaccedilatildeo resulta tambeacutem da concentraccedilatildeo excessiva de investimentos
puacuteblicos nas aacutereas revitalizadas Os governos locais ao inveacutes de priorizar o caraacuteter social
dos investimentos puacuteblicos o fazem de acordo com os interesses privados
A limitaccedilatildeo de recursos leva a investimentos insuficientes nas regiotildees de pobreza a
favor da qualificaccedilatildeo de aacutereas urbanas especiacuteficas que permitam a sua inserccedilatildeo global Os
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
111
investimentos por parte do poder puacuteblico no campo social foram abandonados pelas
autoridades para priorizar os investimentos que visavam atrair parcerias com o poder
privado As cidades mundiais tornaram-se entatildeo fragmentadas com aacutereas adequadamente
atendidas em contraste com as aacutereas desamparadas
A qualificaccedilatildeo dessas aacutereas urbanas especiacuteficas favorece o desenvolvimento de
novos centros urbanos que satildeo determinantes no processo de segregaccedilatildeo soacutecio-espacial O
centro da cidade eacute resultado do seu processo de crescimento originaacuterio da divisatildeo social do
trabalho e da divisatildeo territorial do trabalho De acordo com MARICATO (2000) o poder
puacuteblico cria oportunidades para o surgimento dessas novas centralidades e ao mesmo
tempo designa estrateacutegias para evitar a circulaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do espaccedilo pelas pessoas
de baixo poder aquisitivo
O Estado concede maiores benefiacutecios para esses novos centros atraveacutes da
legislaccedilatildeo O zoneamento urbano concentra os privileacutegios da urbanizaccedilatildeo em determinadas
aacutereas da cidade Por exemplo demandas exageradas de transporte coletivo em uma uacutenica
direccedilatildeo Dessa forma o Estado valoriza essas regiotildees em detrimento das demais e a
escassez de espaccedilos nessas aacutereas favorece ainda mais sua valorizaccedilatildeo expulsando alguns
grupos sociais ou substituindo-os por outros gerando uma cidade segmentada Os centros
urbanos que deveriam ser vistos como espaccedilo coletivo acabam virando um privileacutegio para
poucas pessoas Os demais grupos sociais sem alternativas satildeo obrigados a morar em
corticcedilos favelas e loteamentos que se situam nas periferias e onde a pobreza eacute
homogeneamente disseminada
Agrave dificuldade de acesso aos serviccedilos e infra-estrutura urbanos (transporte precaacuterio saneamento deficiente drenagem inexistente dificuldade de abastecimento difiacutecil acesso aos serviccedilos de sauacutede educaccedilatildeo e creches maior exposiccedilatildeo agrave ocorrecircncia de enchentes e desmoronamentos etc) somam-se menos oportunidades de emprego (particularmente do emprego formal) menos oportunidades de profissionalizaccedilatildeo maior exposiccedilatildeo agrave violecircncia (marginal ou policial) discriminaccedilatildeo racial discriminaccedilatildeo contra mulheres e crianccedilas difiacutecil acesso agrave justiccedila oficial difiacutecil acesso ao lazer (MARICATO 2003152)
A sociedade global caracteriza-se por sua proacutepria loacutegica de valores universais e
potencial de geraccedilatildeo de riquezas em uma sociedade excludente natildeo soacute de cidades mas
tambeacutem de espaccedilos dentro das cidades Segundo LOPES (1998) a busca de uma nova
estrutura da sociedade urbana capaz de absorver e solucionar os problemas da
globalizaccedilatildeo envolve limites de concentraccedilatildeo e exclusatildeo proporcionais ao tamanho do
espaccedilo urbano e da populaccedilatildeo das cidades Os centros das cidades mundiais apresentam
concentraccedilatildeo de poder e riqueza que favorecem a inserccedilatildeo de agentes sociais competitivos
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
112
e integrados no espaccedilo global Paralelamente essas mesmas cidades abrigam aacutereas de
exclusatildeo consideradas irrelevantes no planejamento estrateacutegico jaacute que consistem
populaccedilotildees que natildeo participam do processo de formaccedilatildeo de riqueza
As accedilotildees globais e locais interagem no sentido de criar aacutereas de prosperidade e de irrelevacircncia e exclusatildeo em espaccedilos urbanos contiacutenuos ou separados obrigando as novas formulaccedilotildees estruturais da sociedade Por outro lado as cidades assumem a funccedilatildeo primordial de arena moderna para o desenvolvimento os confrontos e as confluecircncias dos atores principais da sociedade atual (LOPES 199860)
Essa realidade acaba por criar bairros com carecircncia de empregos comeacutercio
serviccedilos e infra-estrutura A dinacircmica de exclusatildeo social tem como consequumlecircncias a
depredaccedilatildeo ambiental pela ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas protegidas e os altos iacutendices de
violecircncia e inseguranccedila As cidades mundiais consolidam a existecircncia de espaccedilos
separados para os diferentes grupos sociais O planejamento urbano ligado a uma cidade
caracterizada pela segregaccedilatildeo soacutecio-espacial reduz a diversidade que tradicionalmente
caracteriza os nuacutecleos urbanos e eacute marcado pela pobreza da vida social e pela ausecircncia
dos espaccedilos puacuteblicos
Ideologicamente a regiatildeo da cidade que concentra os investimentos puacuteblicos e as
intervenccedilotildees urbanas comeccedila a se identificar como a imagem oficial e a representaccedilatildeo da
cidade A cidade oficial consiste na parte onde o poder puacuteblico oferece investimento em
infra-estrutura equipamentos urbanos faacutecil mobilidade e acesso constituindo o espaccedilo da
minoria privilegiada A imagem desta aacuterea eacute utilizada para a ldquovendardquo da cidade e valorizaccedilatildeo
imobiliaacuteria na busca da imagem do ldquoespetaacuteculordquo e na corrida do tiacutetulo de cidade global
A segregaccedilatildeo e exclusatildeo soacutecio-espacial urbana vecircm acompanhadas de outra
consequumlecircncia da cidade global a exclusatildeo econocircmica Segundo LOPES (1998) a
informatizaccedilatildeo criou duas novas condicionantes para o processo de desenvolvimento
econocircmico a dispersatildeo geograacutefica da produccedilatildeo em funccedilatildeo da diversidade de localizaccedilatildeo
de bens e serviccedilos em termos mundiais e a difusatildeo tecnoloacutegica que abre novas e
significativas oportunidades de desenvolvimento para as diversas cidades Essas duas
condicionantes apresentam implicaccedilotildees importantes na estruturaccedilatildeo da sociedade e
acarretam novas demandas de qualificaccedilatildeo do espaccedilo urbano Na opiniatildeo de RIZZO (2005)
para integrar as cidades em suas posiccedilotildees na economia global torna-se necessaacuterio tambeacutem
integrar e estruturar suas sociedades locais ldquoSem uma base soacutelida nos cidadatildeos os
governos municipais natildeo teratildeo a forccedila que eacute necessaacuteria para navegar naqueles circuitos
globaisrdquo (RIZZO 200574)
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
113
As modificaccedilotildees no mercado de trabalho constituem o efeito mais importante da
reestruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo social e dos valores culturais da sociedade Agrave medida em
que as cidades integram-se em maior ou menor grau agrave divisatildeo internacional do trabalho
ocorre uma valorizaccedilatildeo daqueles que lidam com o trabalho informacional Natildeo estar
integrado conduz a um desemprego crescente ou a uma possiacutevel desvalorizaccedilatildeo do trabalho
A integraccedilatildeo em rede aleacutem de ser um poderoso acelerador do desenvolvimento local eacute um processo altamente excludente para vastos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam irrelevantes do ponto de vista econocircmico Essa exclusatildeo envolve natildeo soacute vastas regiotildees englobando vaacuterias cidades como tambeacutem dentro das proacuteprias cidades adicionando mais um fator da nova divisatildeo internacional do trabalho A exclusatildeo econocircmica induz agrave exclusatildeo social (LOPES 199863)
A principal consequumlecircncia desse mercado de trabalho excludente eacute a informalidade A
economia informal correspondia a um fenocircmeno secundaacuterio dentro da estrutura econocircmica
das cidades ligada basicamente agrave pobreza LOPES (1998) conclui que com a nova divisatildeo
internacional do trabalho a informalidade deixa de ser uma saiacuteda para a resoluccedilatildeo dos
problemas de geraccedilatildeo de empregos e de formaccedilatildeo de riqueza das camadas mais pobres da
populaccedilatildeo para ser um fenocircmeno de adaptaccedilatildeo da sociedade aos novos requisitos da
organizaccedilatildeo informacional
O planejamento urbano das cidades globais acarreta ainda limites quanto ao papel
do Estado na administraccedilatildeo puacuteblica Para atingir o status de cidade global o Estado passa a
intervir pouco no planejamento O modelo urbano estrateacutegico baseado na loacutegica
mercadoloacutegica insere empresaacuterios e empreendedores como atores poliacuteticos O Estado perde
a sua autonomia que passa entatildeo a ser regida pelo mercado atraveacutes da financeirizaccedilatildeo das
economias e dos orccedilamentos puacuteblicos
O Estado interveacutem minimamente nas decisotildees soacutecio-econocircmicas e os grandes atores poliacuteticos satildeo empresaacuterios e investidores Essa tendecircncia na administraccedilatildeo local se confirma no crescente processo de privatizaccedilatildeo das empresas puacuteblicas na desregulamentaccedilatildeo das atividades econocircmicas e sociais e na reversatildeo dos padrotildees universais de proteccedilatildeo social O poder local composto por poliacuteticos comprometidos com a perspectiva empresarial da cidade lanccedila matildeo dos instrumentos necessaacuterios para tornar o espaccedilo urbano mais atraente baseando-se na flexibilizaccedilatildeo das leis de uso do solo e na crescente necessidade imposta pelo mercado de as cidades globais estarem constantemente inseridas no circuito do fluxo internacional de capital e informaccedilatildeo (AMEcircNDOLA 2002 disponiacutevel em httpwwwfethggfbr acesso em maio de 2006)
OLIVEIRA (2003) aprofunda esta questatildeo alegando que o planejamento urbano
regido pela loacutegica do mercado passa a ser constituiacutedo a partir do que ele denomina ldquoEstado
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
114
de Exceccedilatildeo As empresas se apropriam das poliacuteticas sociais impondo novos criteacuterios para
as mesmas pois necessitam da eficiecircncia e da produtividade das poliacuteticas puacuteblicas
resultando em uma situaccedilatildeo de exclusatildeo social O Estado dessa maneira torna-se
supeacuterfluo e passa a ser desempenhado como maacutequina de arrecadaccedilatildeo para tornar o
excedente disponiacutevel para o capital A exceccedilatildeo consiste no fato de que as poliacuteticas sociais
natildeo tecircm mais a concepccedilatildeo de mudar a distribuiccedilatildeo de renda pelo contraacuterio acabam
transformando-se em ldquoantipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobrezardquo (OLIVEIRA 200309)
O autor conclui que as cidades constituem locais por excelecircncia das exceccedilotildees e o
Estado constitui a administraccedilatildeo da exceccedilatildeo Nas relaccedilotildees entre o poder puacuteblico e o urbano
a cidade reduz-se a um espetaacuteculo onde todas as formas de planejamento almejam a
supressatildeo do conflito de classes em busca da funcionalizaccedilatildeo da cidade A sociedade
brasileira atraveacutes desse processo desenvolve-se caracterizada por uma situaccedilatildeo de
desigualdade social
Se historicamente as relaccedilotildees entre o Estado e o urbano pautaram-se por um esforccedilo de normatividade da relaccedilatildeo capital-trabalho cabendo ao planejamento enquadrar a exceccedilatildeo e transformaacute-la em norma transformaccedilotildees radicais recentes na economia e sociedade brasileiras sugerem que a exceccedilatildeo parece ter enquadrado o planejamento Agraves desigualdades histoacutericas da sociedade brasileira vieram juntar-se aquelas advindas da reestruturaccedilatildeo produtiva e da globalizaccedilatildeo reformatando o mercado funcionalizando a relaccedilatildeo Estado-capital transformando poliacuteticas sociais em antipoliacuteticas de funcionalizaccedilatildeo da pobreza erigindo em norma o que antes dela se afastava pontuando um esforccedilo teoacuterico que transitou da busca da normatividade para a racionalizaccedilatildeo da exceccedilatildeo (OLIVEIRA 200309)
Natildeo satildeo de hoje as criacuteticas feitas agrave administraccedilatildeo puacuteblica brasileira que sugerem sua
associaccedilatildeo ao resultado de desigualdade social caracteriacutestico de nossas cidades
MARICATO (2000) destaca que o urbanismo brasileiro natildeo tem comprometimento com a
realidade concreta mas com uma ordem que diz respeito apenas a uma parte da cidade A
administraccedilatildeo puacuteblica brasileira permite a exclusatildeo soacutecio-espacial e a legislaccedilatildeo urbana soacute eacute
aplicada quando conveniente com o objetivo de valorizaccedilatildeo do solo ldquoA ineficaacutecia dessa
legislaccedilatildeo eacute de fato apenas aparente pois constitui um instrumento fundamental para o
exerciacutecio arbitraacuterio do poder aleacutem de favorecer pequenos interesses corporativosrdquo
(MARICATO 2000147)
O Estado aleacutem de perder sua autonomia perante a influecircncia dos interesses do
mercado tambeacutem acaba enfraquecido pelos novos condicionantes impostos pela
globalizaccedilatildeo Ao dar novo sentido para o local dentro do processo de integraccedilatildeo a
globalizaccedilatildeo tornou conflituosa a relaccedilatildeo entre os diversos niacuteveis de governo
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
115
Cidades e Estado apresentam interesses diversos que enfraquecem o Estado e
oferecem agraves cidades papel mais relevante A deficiecircncia da qualidade administrativa dos
governos nacional estadual e municipal conduziu a uma reestruturaccedilatildeo geral do Estado a
partir da diminuiccedilatildeo de suas funccedilotildees em paralelo agrave privatizaccedilatildeo de suas instituiccedilotildees e
serviccedilos Essa tendecircncia abriu novas perspectivas de mobilizaccedilatildeo de recursos mas criou
dificuldades de gestatildeo Segundo MARICATO (2002) as propostas que enfatizaram a
autonomia das cidades e a disputa entre elas para a atraccedilatildeo de investimentos e prestiacutegio
alimentaram a campanha de enfraquecimento do Estado-Naccedilatildeo ou pelo menos desviaram
a atenccedilatildeo dos governantes e governados sobre as poliacuteticas nacionais
Na Segunda Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para os Assentamentos Humanos da ONU (Istambul 1996) falou-se da necessidade de criaccedilatildeo de uma OCU ndash Organizaccedilatildeo das Cidades Unidas a exemplo da ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Uma multidatildeo (sic) de argumentos procurava evidenciar a crescente importacircncia e autonomia das cidades ldquoNatildeo haacute prefeitos que tecircm mais prestiacutegio que muitos presidentesrdquo era um argumento muito ouvido Aparentemente as cidades-estado estatildeo de volta poderosas e independentes (MARICATO 200257)
Os governos locais na visatildeo de LOPES (1998) satildeo os mais aptos a administrar a
cidade na sociedade global porque possuem maior capacidade de representaccedilatildeo e
legitimidade com relaccedilatildeo aos seus representados e constituem agentes institucionais de
integraccedilatildeo social e cultural de comunidades territoriais Aleacutem disso possuem maior
flexibilidade adaptabilidade e capacidade de manobras em um espaccedilo de fluxos
econocircmicos entrelaccedilados demandas e ofertas em constantes mudanccedilas e sistemas
tecnoloacutegicos descentralizados e interativos
A partir das colocaccedilotildees vistas ateacute o presente podemos entatildeo concluir que os
resultados da aplicaccedilatildeo do planejamento estrateacutegico no espaccedilo urbano apresentam nas
cidades os seguintes limites potenciais e impactos negativos em meio social econocircmico e
ambiental
1 Conflitos entre as diversas esferas de governo (cidades x Estado) devido agrave
importacircncia dada ao local no processo de integraccedilatildeo global
2 Perda da autonomia do Estado perante a influecircncia dos interesses do mercado
3 Concentraccedilatildeo excessiva de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave
revitalizaccedilatildeo urbana com consequumlente carecircncia de investimentos puacuteblicos nas
demais aacutereas
4 Direcionamento dos investimentos puacuteblicos conforme os interesses privados
CAPIacuteTULO 3 PLANEJAMENTO URBANO ESTRATEacuteGICO
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
116
sem dar prioridade ao seu caraacuteter social
5 Conflitos entre as necessidades da populaccedilatildeo local e as intervenccedilotildees urbanas
voltadas agrave inserccedilatildeo global das cidades
6 Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria das aacutereas que sofrem revitalizaccedilatildeo urbana com expulsatildeo
ou substituiccedilatildeo de grupos sociais
7 Depredaccedilatildeo ambiental decorrente da ocupaccedilatildeo de terrenos em zonas
protegidas face agrave expulsatildeo de alguns grupos sociais das aacutereas revitalizadas
8 Exclusatildeo social
9 Segregaccedilatildeo soacutecio-espacial
10 Fragmentaccedilatildeo da cidade com aacutereas corretamente atendidas em contraste a
aacutereas desassistidas pelo poder puacuteblico
11 Aumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos
caracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
12 Aumento da violecircncia urbana e inseguranccedila nos bairros excluiacutedos
13 Exclusatildeo do mercado de trabalho aos segmentos da populaccedilatildeo que se tornam
irrelevantes do ponto de vista econocircmico
14 Desemprego e desvalorizaccedilatildeo do trabalho
15 Propagaccedilatildeo do mercado de trabalho informal
16 Aumento das desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica
social e espacial
No seguimento deste trabalho veremos como os impactos negativos apontados
como resultantes do planejamento estrateacutegico refletem-se no caso do empreendimento
Sapiens Parque Para tanto analisaremos as avaliaccedilotildees feitas pelo Instituto de Arquitetos
do Brasil (IAB-SC) e pelas empresas responsaacuteveis pelo Estudo de Impacto Ambiental e
Relatoacuterio de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) do empreendimento aleacutem da posiccedilatildeo da
comunidade local quanto agrave sua implantaccedilatildeo Ao final do trabalho cruzaremos as
informaccedilotildees obtidas com os criteacuterios e objetivos de desenvolvimento sustentaacutevel designados
por SACHS (2002) e vistos no capitulo anterior segundo as dimensotildees de sustentabilidade
social ambiental e econocircmica
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
117
4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
41 AVALIACcedilOtildeES DO INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL
O primeiro projeto para o empreendimento Sapiens Parque elaborado pela empresa
Ecoplan foi escolhido a partir de um Workshop patrocinado pelo grupo CERTI em 2002 O
Workshop contou com a participaccedilatildeo de arquitetos integrantes do nuacutecleo do Instituto de
Arquitetos do Brasil (IAB-SC) Segundo o documento com a avaliaccedilatildeo criacutetica referente ao
empreendimento (Anexo 1) expedido pelo grupo de arquitetos apoacutes a realizaccedilatildeo do
Workshop o Sapiens Parque apresenta singularidades que o torna um projeto uacutenico
Baseado nos conceitos de inovaccedilatildeo conhecimento e tecnologia
O empreendimento eacute proposto como um projeto ordenador que natildeo se limita
somente ao siacutetio no qual estaacute inserido colocando-se como uma nova centralidade
de requalificaccedilatildeo urbana para Florianoacutepolis baseada na preservaccedilatildeo ambiental e
na busca de qualidade de vida
O projeto procura identificar as qualidades que tornaram Florianoacutepolis uma cidade
desejada e desenvolver no conjunto de suas atividades a possibilidade de que se
torne um iacutecone para a regiatildeo o paiacutes e o mundo
O empreendimento eacute apresentado como uma forma de superar a exclusatildeo social
Os arquitetos chamam a atenccedilatildeo para alguns elementos diferenciadores com relaccedilatildeo
ao terreno onde seraacute implantado o empreendimento Por tratar-se de aacuterea pertencente a
uma empresa estadual e portanto de natureza puacuteblica destaca-se a necessidade de
identificar espaccedilos puacuteblicos atividades e equipamentos estruturadores que levem em conta
as vocaccedilotildees de Florianoacutepolis e os aspectos sociais do empreendimento Aleacutem disso o grupo
chama a atenccedilatildeo para a localizaccedilatildeo privilegiada do terreno e questiona o projeto como a
uacutenica possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e de reestruturaccedilatildeo urbana do Norte da Ilha Os
arquitetos ainda destacam o fato de o siacutetio de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estar
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
118
localizado proacuteximo ao Parque Florestal do Rio Vermelho e agrave Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
sendo necessaacuteria sua integraccedilatildeo a tais regiotildees de preservaccedilatildeo
Em entrevista concedida durante uma audiecircncia puacuteblica realizada em junho de 2004
para a discussatildeo do RIMA do Sapiens Parque a arquiteta Silvia Lenzi participante do
Workshop realizado em 2002 afirmou que o desafio do empreendimento eacute articular o projeto
com a proacutepria cidade A arquiteta chama a atenccedilatildeo para o caraacuteter puacuteblico que deve ter o
empreendimento decorrente do fato de envolver recursos e investimentos puacuteblicos
ldquoNoacutes tivemos a oportunidade de conhecer esta proposta haacute dois anos atraacutes e em um grupo de arquitetos formulamos alguns questionamentos em relaccedilatildeo a esta proposta Noacutes entendemos que eacute uma grande oportunidade para a cidade mas o grande desafio deste empreendimento eacute a articulaccedilatildeo do projeto com a cidade Existe um autor argentino que fala que devemos construir cidades concretas para homens concretos e eacute o que estaacute faltando neste projeto() Noacutes natildeo podemos mais ir na contra-matildeo da histoacuteria do urbanismo no Brasil que recentemente aprovou nem tatildeo recentemente foi no ano 2001 o Estatuto da Cidade Dentro do Estatuto da Cidade tem uma seacuterie de instrumentos inclusive um que se chama Estudo de Impacto de Vizinhanccedila onde se prevecirc toda uma anaacutelise de empreendimentos de porte muito menor do que o projeto Sapiens onde existe uma contrapartida pra cidade e pra sociedade em relaccedilatildeo ao impacto que aquele empreendimento causa Neste caso aqui o que aparece no RIMA reconhecendo-se o impacto que tem se remete toda uma responsabilidade ao poder puacuteblico Quando se fala em interesse puacuteblico eu gostaria de ter mais claro que interesse puacuteblico eacute esse do projeto quando a comunidade soacute fica com o ocircnus e natildeo tem um benefiacutecio direto em relaccedilatildeo a esta propostardquo(Arquiteta Silvia Lenzi Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
O grupo de arquitetos elaborou uma avaliaccedilatildeo criacutetica ao modelo de projeto
apresentado nas primeiras versotildees do Master Plan do Sapiens Parque baseado em
ldquoclustersrdquo25 como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Estudos de casos
de modelos semelhantes mostram aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com
consequumlente aumento da marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social Aleacutem disso a
proposta de lagos artificiais como cenaacuterio dominante do projeto tambeacutem foi considerada
segregadora jaacute que o efeito resultante reforccedila a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha
criadas (Figura 19)
25 Clusters (grupos agrupamentos ou aglomerados) satildeo concentraccedilotildees geograacuteficas de empresas de determinado setor de atividade e organizaccedilotildees correlatas de fornecedores de insumos a instituiccedilotildees de ensino e clientes (httpwwwhsmcombr acesso em 19122007)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
119
Figura 19 ndash Master Plan Original do Sapiens Parque 2003 Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003)
A concepccedilatildeo inicial do projeto do empreendimento mostrou-se inadequada para
cumprir as ideacuteias originais de programas propostos pelo Sapiens Parque Os arquitetos
realizaram as seguintes criacuteticas ao Master Plan 2003
As dimensotildees e natureza puacuteblica do terreno obrigam o projeto a contar com
atividades e equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
Os projetos iniciais consistem em repeticcedilotildees conceituais que poderiam estar em
qualquer lugar do mundo sem levar em consideraccedilatildeo a contextualidade local
Os projetos constituem elementos isolados do seu entorno tornando o parque um
elemento desagregador e natildeo integrador da estrutura urbana existente
A anaacutelise apresentada para o projeto natildeo inclui o estudo do comportamento do
entorno urbano imediato e do Norte da ilha restringindo-se apenas ao terreno
Os projetos defendem a monofuncionalidade de atividades que gera setores
isolados entre si
A distribuiccedilatildeo das atividades eacute feita com indiferenccedila sobre o siacutetio de implantaccedilatildeo e
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
120
dos requerimentos ambientais especiacuteficos para cada atividade
As zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar e homogecircnea
independente da atividade ali exercida e das condiccedilotildees do siacutetio
Natildeo haacute definiccedilatildeo de quais aacutereas concentram espaccedilos puacuteblicos semi-puacuteblicos e
privados e a soluccedilatildeo prevista para articular entre si estes trecircs niacuteveis de
apropriaccedilatildeo
Natildeo haacute esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teacutecnico selecionado e em
que referenciais nacionais ou internacionais o projeto foi embasado
O grupo de arquitetos defende a importacircncia da articulaccedilatildeo da cidade com as aacutereas
verdes preservadas e os espaccedilos puacuteblicos Aleacutem disso o IAB chama a atenccedilatildeo para a
necessidade de vinculaccedilatildeo do projeto com o mar e com terminais de transporte puacuteblico sem
esquecer dos problemas de infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos
A monofuncionalidade deve dar lugar a atividades variadas que permitam a
celebraccedilatildeo da cidadania e caracterizem a centralidade regional conformando uma unidade
que articule toda a regiatildeo norte da Ilha O compromisso do empreendimento deve ser o de
ldquoconstruir cidaderdquo e natildeo somente criar um parque tecnoloacutegico com algumas atividades
complementares para uso da populaccedilatildeo local
42 AVALIACcedilOtildeES DO EIA-RIMA 2003
O EIA-RIMA elaborado para avaliaccedilatildeo dos impactos soacutecio-econocircmicos e ambientais
do empreendimento Sapiens Parque apresenta por base um diagnoacutestico interdisciplinar
considerado a partir das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na regiatildeo de influecircncia A
anaacutelise de acordo com as empresas Socioambiental Consultores Associados Ltda e
Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente responsaacuteveis pelo estudo parte das
interaccedilotildees dos diversos grupos soacutecio-culturais ao longo do tempo de forma a identificar
transformaccedilotildees da realidade e possibilitar o estabelecimento de tendecircncias e cenaacuterios
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
121
A aacuterea de influecircncia tida como base para os estudos apresenta-se definida pelos
responsaacuteveis na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA a partir de trecircs paracircmetros aacuterea diretamente
afetada (ADA) aacuterea de influecircncia direta (AID) e aacuterea de influecircncia indireta (AII)
Consideraram-se aacutereas diretamente afetadas pelo empreendimento os 450 hectares
situados na planiacutecie sedimentar do Distrito de Canasvieiras A regiatildeo caracteriza-se pela
baixa declividade fraca drenagem e ocorrecircncia de remanescentes de restinga arboacuterea e
banhados e tambeacutem reflorestamentos de pinus e eucalipto
A aacuterea de influecircncia direta delimita-se a partir da bacia hidrograacutefica do Rio Ratones e
tambeacutem localidades do norte e nordeste da ilha que natildeo satildeo abrangidas totalmente por esta
bacia (Ponta das Canas Canasvieiras Jurerecirc Cachoeira do Bom Jesus Ingleses Santinho
e Rio Vermelho) A regiatildeo sofreria diretamente os efeitos do projeto em particular no que
tange agrave dinamizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica e agrave infra-estrutura baacutesica De acordo com os
realizadores do estudo a delimitaccedilatildeo desta aacuterea deu-se em razatildeo das caracteriacutesticas
sociais econocircmicas fiacutesicas e bioloacutegicas do local onde se pretende inserir o
empreendimento e das particularidades e dimensotildees do projeto
Por fim a aacuterea de influecircncia indireta considerada eacute a que real ou potencialmente estaacute
sujeita aos impactos indiretos da implantaccedilatildeo e operaccedilatildeo do parque e abrange
ecossistemas e sistemas soacutecio-econocircmicos que podem ser impactados por alteraccedilotildees
ocorridas na aacuterea de influecircncia direta
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para discussatildeo do RIMA a comunidade
local criticou os criteacuterios utilizados para delimitaccedilatildeo das aacutereas afetadas pelo
empreendimento As colocaccedilotildees levantadas apontam que o relatoacuterio destaca as trecircs aacutereas
de influecircncia acima especificadas mas que se dedica efetivamente agrave apenas duas delas a
aacuterea diretamente afetada que compreende o terreno de implantaccedilatildeo do parque em si e a
aacuterea de influecircncia direta que compreende basicamente o Norte da Ilha A aacuterea que
compreende o restante da Ilha seria dessa forma ignorada pelo estudo de impacto feito
Destaca-se que um empreendimento de porte e repercussatildeo como o Sapiens Parque com
previsatildeo de alcance de quase 30 mil empregos diretos natildeo poderia ser tratado com tal
classificaccedilatildeo arbitraacuteria Aleacutem disso o estudo tambeacutem ignora a ligaccedilatildeo do parque com o
Aeroporto Herciacutelio Luz que fica a 50 km ao sul do seu terreno de implantaccedilatildeo
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
122
Apesar das criacuteticas existentes com relaccedilatildeo aos criteacuterios utilizados para definir a
delimitaccedilatildeo da aacuterea de abrangecircncia do empreendimento na elaboraccedilatildeo do EIA-RIMA
consideramos importante para a avaliaccedilatildeo do projeto apresentar o levantamento dos
impactos apontados pelo estudo Dos 58 impactos potenciais localizados pelo EIA-RIMA 13
deles ocorrem em meio fiacutesico (sendo todos negativos) 10 ocorrem em meio bioacutetico (sendo 8
negativos) e 35 deles ocorrem em meio soacutecio-econocircmico (sendo 24 negativos e 1 tanto
negativo quanto positivo)
Os impactos foram classificados conforme seu grau de abrangecircncia em I (interno agrave
aacuterea do empreendimento ndash total de 9 impactos) L (local ou entorno proacuteximo ndash total de 7
impactos) R (regional ou Norte da Ilha ndash total de 29 impactos) e M (municipal ou
metropolitano - total de 13 impactos) Os demais criteacuterios para a classificaccedilatildeo dos impactos
dizem respeito agrave natureza do impacto (novo ampliaccedilatildeo ou antecipaccedilatildeo) ao momento de
ocorrecircncia nas fases do empreendimento (planejamento implantaccedilatildeo ou ocupaccedilatildeo) agrave
forma de manifestaccedilatildeo (direta ou indireta) ao grau de importacircncia (alto meacutedio ou baixo) agrave
magnitude (grande meacutedia ou pequena) agrave persistecircncia do impacto (temporaacuterio ou
permanente) agrave manifestaccedilatildeo (imediato a meacutedio ou longo prazo) agrave durabilidade (curto
meacutedio ou longo) ao grau de reversibilidade do efeito (reversiacutevel parcialmente reversiacutevel ou
irreversiacutevel) e agrave possibilidade de mitigaccedilatildeo e de compensaccedilatildeo direta (total parcial nenhuma
ou desnecessaacuteria)
Selecionamos aqui alguns dos principais impactos identificados relacionados na
Tabela 6 conforme o meio em que ocorrem (fiacutesico bioacutetico ou soacutecio-econocircmico) segundo os
apontamentos feitos no EIA-RIMA e com suas respectivas accedilotildees de compensaccedilatildeo ou
potencializaccedilatildeo A Tabela 6 mostra tambeacutem os efeitos de cada impacto (P= positivo e N=
negativo) A lista completa dos impactos em meio fiacutesico bioacutetico e socioeconocircmico pode ser
conferida no Anexo 2 Nos textos que seguem veremos o resultado deste estudo com
maiores detalhes
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
123
Degradaccedilatildeo da qualidade da aacutegua provocada pela drenagem N Tratamento das aacuteguas de drenagem atraveacutes de zonas de banhado (Wetlands)
eou infiltraccedilatildeo
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio do empreendimento N Sistema de tratamento de esgoto proacuteprio do empreendimento
Poluiccedilatildeo das aacuteguas pelo esgoto sanitaacuterio da populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
N
Plano Diretor Participativo do Norte da Ilha Ampliaccedilatildeo dos sistema de tratamento puacuteblico de esgoto Melhoria da viabilidade econocircmica do sistema em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de sazonalidade da demanda Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho
Risco de perda de qualidade do manancial Ingleses Rio Vermelho por ocupaccedilatildeo pela populaccedilatildeo induzida pelo empreendimento
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Monitoramento e controle do manancial
Demanda por jazidas externas (argila e pedra) N Realizar aterro de forma seletiva Buscar fontes comerciais jaacute licenciadas
Proteccedilatildeo de ambientes originais (banhado e restinga arboacuterea) pelo Parque Natural
P _
Ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes na bacia em funccedilatildeo da pressatildeo imobiliaacuteria
NProgramas de monitoramento e controle Estabelecimento de corredores ecoloacutegicos Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor participativo do Norte da Ilha e outras ferramentas de planejamento
Valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria P N Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades
Saturaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio NGestatildeo diferenciada de horaacuterios de entradasaiacuteda dos funcionaacuterios Estiacutemulo ao transporte alternativo eou solidaacuterio Ampliaccedilatildeo do Sistema Viaacuterio Implantaccedilatildeo de faixa exclusiva de ocircnibus
Geraccedilatildeo de traacutefego lento por transporte de cargas (aterro e materiais de construccedilatildeo)
N Gestatildeo dos horaacuterios de transporte de forma a reduzir o impacto nos horaacuterios de pico inclusive nas pontes IlhaContinente
Demanda de aacutegua do SAPIENS PARQUE N
Reuso de esgoto tratado Captura e utilizaccedilatildeo de aacutegua de chuva Equipamentos economizadores de aacutegua Monitoramento e controle do manancial InglesesRio Vermelho Ampliaccedilatildeo do sistema de abastecimento previsto pela CASAN
Atraccedilatildeo de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees P _
Pressatildeo sobre o sistema de transporte coletivo N
Fornecimento de transporte proacuteprio das empresas instaladas no Sapiens Parque Horaacuterios diferenciados de entrada e saiacuteda de funcionaacuterios Sistema de pontuaccedilatildeo de sustentabilidade para transportes alternativos Aumento da frota de ocircnibus e de linhas
Aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura esporte e lazer e de serviccedilos soacutecio-educativos
P _
Adensamento de ocupaccedilotildees ao longo das vias dificultando ampliaccedilotildees futuras do sistema viaacuterio
NPlano Diretor Participativo do Norte da Ilha Legislaccedilatildeo de alinhamento eou declaraccedilatildeo de Utilidade Puacuteblica das aacutereas estrateacutegicas Campanhas informativas Definiccedilatildeo de vias alternativas
Risco de exclusatildeo das comunidades locais frente agraves oportunidades criadas N
Acessibilidade das comunidades aos equipamentos e espaccedilos de lazer entretenimento cultura esportes e serviccedilos comunitaacuterios Programas de capacitaccedilatildeo comunitaacuterios Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
Expulsatildeo da populaccedilatildeo local por aumento da especulaccedilatildeo imobiliaacuteria no entorno
N Programa de capacitaccedilatildeo das comunidades locais Programa de prevenccedilatildeo contra especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
Aumento de violecircncia por tensatildeo soacuteciocultural N Poliacutetica de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local Transporte diaacuterio de matildeo-de-obra
da construccedilatildeo civil
POSSIacuteVEIS ACcedilOtildeES DE MITIGACcedilAtildeO COMPENSACcedilAtildeO OU POTENCIALIZACcedilAtildeO DOS IMPACTOS
ME
IO F
IacuteSIC
OM
EIO
BIOacute
TIC
OM
EIO
SO
CIO
EC
ON
OcircM
ICO
EFEITOPRINCIPAIS IMPACTOS POTENCIAIS
IDENTIFICADOS NO SAPIENS PARQUE
Tabela 6 ndash Principais Impactos identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque Fonte EIA-RIMA Sapiens Parque (2003) Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
124
421 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO FIacuteSICO E BIOacuteTICO
Dentre os impactos em meio fiacutesico identificados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque
destacam-se os que estatildeo relacionados aos problemas de drenagem Segundo estudos de
hidrodinacircmica do Rio Papaquara que corre ao sul do terreno boa parte da aacuterea de
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque estaacute sujeita a cheias perioacutedicas A anaacutelise das interferecircncias
causadas pelo empreendimento sobre a drenagem em funccedilatildeo da disposiccedilatildeo do sistema de
lagos do projeto tornou necessaacuteria a revisatildeo do antigo Master Plan de 2003 Segundo
MASCAROacute (1994) os lagos podem funcionar como bacias de estocagem de aacutegua em aacutereas
de inundaccedilatildeo quando necessaacuterio Mas o RIMA apontou a inadequabilidade dos lagos no
momento em que interrompem os canais de drenagem existentes Aleacutem disso a reduccedilatildeo da
superfiacutecie de inundaccedilatildeo e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o
potencial de drenagem do terreno Outro aspecto criticado no estudo diz respeito agrave
necessidade de aterros nas regiotildees edificadas do empreendimento decorrente do fato de
tratar-se de aacuterea sujeita a inundaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo ao sistema de esgoto os empreendedores prometem a soluccedilatildeo
imediata atraveacutes do encaminhamento do esgoto gerado pelo empreendimento para uma
rede coletora proacutepria de tratamento a Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto Sapiens (ETE-
SAPIENS) O objetivo eacute promover o tratamento do esgoto gerado pelo parque para possiacutevel
reuso natildeo potaacutevel posterior Entretanto esta soluccedilatildeo natildeo eacute vaacutelida para o esgoto produzido
pelos habitantes ou turistas induzidos pelo empreendimento (o RIMA estima cerca de
22000 pessoas a mais que as estimativas sem o empreendimento em 2020) O Sapiens
Parque alega que o sistema de esgotamento sanitaacuterio do Norte da Ilha realizado atraveacutes da
Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto (ETE) de Canasvieiras e de outros sistemas particulares
jaacute estaacute defasado e natildeo atende agraves demandas da populaccedilatildeo na alta temporada de veratildeo
Dessa forma segundo os empreendedores a necessidade de ampliaccedilatildeo da ETE de
Canasvieiras tornar-se-ia imprescindiacutevel independente da implantaccedilatildeo do empreendimento
Em meio bioacutetico os impactos principais consistem na supressatildeo da aacuterea aberta e da
vegetaccedilatildeo aquaacutetica decorrentes das escavaccedilotildees do lago e da implantaccedilatildeo de aterros O
Sapiens Parque defende que tais aacutereas seratildeo compensadas principalmente atraveacutes da
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno onde se pretende preservar o
ambiente autoacutectone Tanto este quanto os demais impactos negativos identificados em meio
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
125
bioacutetico (como supressatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes originais pressatildeo direta sobre a
populaccedilatildeo de jacareacutes e perturbaccedilatildeo do ambiente de lontras) apresentam como medida
compensatoacuteria principal a criaccedilatildeo e gestatildeo de um Parque Natural
Apesar da importacircncia dos impactos em meio bioacutetico internos agrave aacuterea do
empreendimento e da eficiecircncia das medidas adotadas pelo Sapiens Parque para sua
mitigaccedilatildeo consideramos de maior relevacircncia os impactos em niacutevel regional e municipal Um
dos principais impactos negativos em meio bioacutetico externos ao terreno diz respeito agrave
ocupaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo de ambientes naturais remanescentes em funccedilatildeo da pressatildeo
imobiliaacuteria
A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis em razatildeo da expectativa da implantaccedilatildeo do empreendimento e mais concretamente a partir do iniacutecio de sua real implantaccedilatildeo torna as aacutereas de ambientes fraacutegeis mais suscetiacuteveis agrave ocupaccedilatildeo humana por parte de parcela da populaccedilatildeo menos favorecida economicamente dada a valorizaccedilatildeo econocircmica das aacutereas mais adequadas para o processo de urbanizaccedilatildeo Esta parcela da populaccedilatildeo atraiacuteda por potenciais oportunidades de renda ou simplesmente expulsa por pressatildeo imobiliaacuteria das aacutereas jaacute urbanizadas natildeo encontrando imoacuteveis acessiacuteveis em aacutereas adequadas tende a ocupar aacutereas improacuteprias como vaacuterzeas banhados beiras de rios e encostas gerando prejuiacutezos aos ambientes naturais remanescentes agrave paisagem e por vezes com riscos agrave populaccedilatildeo (deslizamentos e inundaccedilotildees) (RIMA 7 200332)
O Sapiens Parque coloca essa ocupaccedilatildeo irregular como existente e tendencial na
regiatildeo e que o parque somente acarretaria a aceleraccedilatildeo desse processo Como meio de
mitigaccedilatildeo do impacto o RIMA sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor para o Norte da Ilha e
de ferramentas de planejamento que possam estabelecer mecanismos legais de
planejamento e gestatildeo do espaccedilo urbano aleacutem de programas de monitoramento que
garantam o cumprimento do zoneamento urbano O RIMA cita tambeacutem a implantaccedilatildeo do
Parque Natural do empreendimento como forma de compensaccedilatildeo desse impacto
Justificativa semelhante eacute apresentada ao constatar-se que a populaccedilatildeo induzida
pelo empreendimento poderaacute colocar em risco a qualidade do aquiacutefero de Ingleses e Rio
Vermelho principal manancial de aacutegua potaacutevel subterracircneo da Ilha O RIMA coloca que a
expansatildeo urbana da regiatildeo norte trata-se de um fenocircmeno crescente que vem gerando
ocupaccedilotildees indiscriminadas legais e ilegais de importantes aacutereas desse manancial A
especulaccedilatildeo imobiliaacuteria tende a se aprofundar na regiatildeo com a implantaccedilatildeo do
empreendimento o que levaria a um aumento da demanda por aacutereas menos adequadas agrave
ocupaccedilatildeo humana e de menor valor em virtude da saturaccedilatildeo eou valorizaccedilatildeo econocircmica
das aacutereas mais adequadas para a urbanizaccedilatildeo A ocupaccedilatildeo de aacutereas improacuteprias pode vir a
comprometer a qualidade da aacutegua do manancial Mas o RIMA afirma que tal processo jaacute eacute
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
126
uma realidade e como soluccedilatildeo sugere a elaboraccedilatildeo do Plano Diretor do Norte da Ilha e o
monitoramento do manancial
Mais que a metade dos impactos identificados em meio fiacutesico e bioacutetico foram
classificados como sendo de abrangecircncia interna ou local agrave aacuterea do empreendimento Jaacute os
impactos em meio soacutecio-econocircmico foram classificados em sua totalidade como sendo de
abrangecircncia regional ou metropolitana como veremos a seguir
422 IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS EM MEIO SOacuteCIO-ECONOcircMICO
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo norte da Ilha e tambeacutem decorrente da implantaccedilatildeo
do parque apesar de apresentar seus aspectos positivos acarreta a dificuldade do acesso agrave
moradia e expulsa as comunidades locais ou como jaacute citado no item acima favorece a
ocupaccedilatildeo sobre ambientes naturais Aleacutem disso o incremento do custo de indenizaccedilotildees
futuras em casos de necessidade de desapropriaccedilotildees por parte do interesse puacuteblico
tambeacutem constitui uma consequumlecircncia da valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria
Esses resultados sobre o meio soacutecio-econocircmico foram vistos no capiacutetulo anterior
como impulsionadores da segregaccedilatildeo social urbana caracteriacutestica dos modelos de
planejamento regidos atraveacutes da loacutegica do mercado Tais impactos negativos decorrentes da
valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e apontados pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque foram justificados
mais uma vez como um quadro tendencial para a regiatildeo norte da Ilha
Certamente o empreendimento contribui com estes aspectos poreacutem esta contribuiccedilatildeo tem que ser relativizada frente agraves tendecircncias atualmente observadas quanto a estes mesmos aspectos uma vez que jaacute satildeo bastante fortes e crescentes Estas tendecircncias levam a projetar o Norte da Ilha em 2020 com uma populaccedilatildeo de aproximadamente 90 mil habitantes As projeccedilotildees com o SAPIENS PARQUE elevariam estes nuacutemeros em mais 65 atingindo entatildeo aproximadamente 96 mil pessoas frente agrave populaccedilatildeo atual de aproximadamente 55 mil habitantes A valorizaccedilatildeo dos imoacuteveis derivada do aumento populacional eacute portanto devida antes ao tendencial do que ao empreendimento (RIMA 7 200344)
O RIMA alega que a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e suas consequumlecircncias em meio soacutecio-
econocircmico satildeo tendenciais e independentes da implantaccedilatildeo do Sapiens Parque onde o
empreendimento influenciaria pouco e soacute teria a contribuir para esta valorizaccedilatildeo atraveacutes da
qualificaccedilatildeo do espaccedilo Essa afirmaccedilatildeo eacute dada perante a justificativa de que o projeto
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
127
acarretaraacute melhorias de infra-estrutura diferenciais de equipamentos oportunidades
serviccedilos e padratildeo do espaccedilo trazendo incremento significativo em curto e meacutedio prazo
O risco de expulsatildeo da populaccedilatildeo local natildeo eacute decorrente somente da especulaccedilatildeo
imobiliaacuteria mas tambeacutem das novas oportunidades criadas pelo Sapiens Parque A criaccedilatildeo e
expansatildeo de negoacutecios consiste em um dos principais aspectos positivos levantados pelo
empreendimento Segundo o RIMA o Sapiens Parque teraacute sua distribuiccedilatildeo econocircmica
definida pela realidade de Florianoacutepolis sendo cerca de 70 do empreendimento dedicado
agraves atividades de serviccedilos e 23 agraves atividades de comeacutercio Mais que isto suas atividades
satildeo significativamente diferenciadas das atividades convencionais atuais o que implicaria
em uma ampliaccedilatildeo da base de serviccedilos e produtos evitando a saturaccedilatildeo
Por outro lado de acordo com o RIMA toda a riqueza gerada aumenta o poder de
consumo e das oportunidades de negoacutecios fora do empreendimento atingindo
principalmente os setores mais convencionais da economia da cidade e sendo tambeacutem
beneficiados pelo empreendimento Todos esses fatores favorecem para a diminuiccedilatildeo da
sazonalidade do turismo que constitui a principal atividade econocircmica de Florianoacutepolis e do
Norte da Ilha Entretanto o RIMA natildeo nega que tais oportunidades estatildeo restritas somente a
pequena parcela da populaccedilatildeo
O padratildeo de sofisticaccedilatildeo de um Parque de Inovaccedilatildeo exige uma qualificaccedilatildeo diferenciada da matildeo-de-obra em todos os niacuteveis de formaccedilatildeo Portanto apesar da grande geraccedilatildeo de empregos propiciada a absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e regional dependeraacute de sua capacitaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo O mesmo eacute vaacutelido para os empreendedores inclusive aqueles que se encontram ou se instalaratildeo nas comunidades do entorno Por outro lado se as comunidades locais natildeo participarem destes benefiacutecios tendem a ser marginalizadas socioeconomicamente e ateacute mesmo expulsas pois o seu niacutevel de renda poderaacute ser menor que o das populaccedilotildees migrantes acarretando em dificuldades de acesso agrave moradia serviccedilos e bens de consumo (RIMA 7 2003110)
Inclusive a geraccedilatildeo de empregos levantada como o principal impacto positivo do
empreendimento em meio soacutecio-econocircmico tem seus efeitos locais reduzidos por esse
mesmo fator O RIMA faz uma estimativa completa do nuacutemero de novas vagas de emprego
que surgiratildeo com a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque desde sua fase de construccedilatildeo ateacute sua
fase de operaccedilatildeo O resultado mostra um nuacutemero de 27628 empregos diretos e de 41441
empregos indiretos somente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento em um total de
69069 empregos diretos e indiretos para todo o aglomerado urbano de Florianoacutepolis
gerados nesta fase (previsatildeo para o ano 2030)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
128
O RIMA afirma que as estimativas de novos profissionais formados em niacutevel meacutedio e
superior no aglomerado urbano de Florianoacutepolis e que estaratildeo disponiacuteveis no mercado
mostram que a capacidade de matildeo-de-obra local eacute suficiente para suprir as novas vagas de
empregos diretos do empreendimento No entanto o RIMA deixa claro que ldquoeacute importante
lembrar que as contrataccedilotildees ficam por conta das empresas que iratildeo se instalar no
empreendimento e estas seguramente iratildeo obedecer a criteacuterios de meacuterito e qualificaccedilatildeo em
suas contrataccedilotildeesrdquo (RIMA 7 200336) O documento adverte nesta e em outras passagens
do texto que tais benefiacutecios nem sempre poderatildeo ser usufruiacutedos por todos jaacute que
dificilmente essas empresas ldquoestaratildeo dispostas a contratar pessoas que possuam
qualificaccedilatildeo inadequada ou inferior a outra que natildeo seja habitante do local apenas
obedecendo a criteacuterios de origem ou criteacuterios geograacuteficosrdquo (RIMA 7 200336)
Tal situaccedilatildeo repete-se para as demais fases do empreendimento como por exemplo
para a matildeo-de-obra necessaacuteria na construccedilatildeo O parque poderaacute trazer muitos empregos
locais para o ramo da construccedilatildeo civil durante sua execuccedilatildeo mas o RIMA lembra que as
empreiteiras de fora do aglomerado metropolitano de Florianoacutepolis poderatildeo trazer seu
proacuteprio quadro de trabalhadores reduzindo esse impacto positivo do empreendimento sobre
o mercado de trabalho local
Aleacutem disso a vinda de trabalhadores de fora do aglomerado urbano de Florianoacutepolis
principalmente durante a fase de construccedilatildeo do parque acarreta impactos soacutecio-culturais
regionais de natureza negativa Satildeo elas o risco de introduccedilatildeo ou propagaccedilatildeo de doenccedilas
tropicais ou sexualmente transmissiacuteveis o aumento do risco de exploraccedilatildeo ou violecircncia
sexual e o aumento da violecircncia por tensatildeo soacutecio-cultural O RIMA coloca que estes
impactos poderiam ser mitigados atraveacutes de poliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local e
campanhas educativas
Para o Sapiens Parque a natureza diversificada do empreendimento amplia a base
de oferta de matildeo-de-obra e de talentos melhorando a competitividade local para ocupar as
vagas criadas O foco no conhecimento ldquocria um ambiente de inovaccedilatildeo e capacidade
aumentando o acesso dos profissionais locais agrave qualificaccedilatildeo necessaacuteria para competir com
ecircxito pelos postos de trabalho criadosrdquo (RIMA 7 200336) Por isso o RIMA destaca que a
inserccedilatildeo dos atores locais no mercado de trabalho do parque depende da oferta de cursos e
qualificaccedilotildees para que se desenvolvam as competecircncias necessaacuterias para o desempenho
de suas funccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
129
As questotildees abordadas acima colocam em duacutevida o principal argumento a favor da
implantaccedilatildeo do Sapiens Parque no que se refere agrave geraccedilatildeo de empregos Aleacutem disso
constatamos ainda uma uacuteltima colocaccedilatildeo o RIMA estima somente a quantidade de
empregos que seraacute gerada pelo empreendimento sem levar em consideraccedilatildeo os empregos
que seratildeo eliminados com a presenccedila do parque Este estudo foi ignorado pelo Sapiens
Parque jaacute que natildeo foi cumprida a lei do Estatuto da Cidade (Lei 1025701) que exige o
Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV) para empreendimentos desta dimensatildeo
Um segundo impacto positivo em meio soacutecio-econocircmico foi classificado pelo RIMA
como de grande magnitude o aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos O RIMA faz um
diagnoacutestico do potencial de geraccedilatildeo direta de impostos para arrecadaccedilatildeo municipal
estadual e federal O resultado mostra um total de cerca de R$ 156 bilhotildees de impostos
gerados desde a fase de implantaccedilatildeo ateacute o iniacutecio da operaccedilatildeo do parque Desses cerca de
R$ 11 bilhotildees derivam da implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque
enquanto cerca de R$ 436 milhotildees correspondem aos impostos anuais gerados pela sua
operaccedilatildeo (Tabela 7) Essas projeccedilotildees correspondem a um valor futuro (para 2020)
podendo sofrer variaccedilotildees e sendo os impostos da fase de implantaccedilatildeo distribuiacutedos em pelo
menos 15 anos
FaseTributos gerados
consolidadosPeriacuteodo
Implantaccedilatildeo e Comercializaccedilatildeo R$ 60305953000 Em 15 anos
Equipamentos R$ 525010200 Em 15 anos
Operaccedilatildeo R$ 436691869 Anual
CONSOLIDACcedilAtildeO DOS TRIBUTOS GERADOS
R$ 156476159900 Acumulado
Apoacutes operaccedilatildeo completaAteacute final de 1ordm ano de operaccedilatildeo plena (natildeo computados impostos gerados durante operaccedilatildeo parcial)
Tabela 7 ndash Impostos gerados pelo empreendimento Sapiens Parque Fonte RIMA-1 Sapiens Parque (200328)
O RIMA afirma que dos R$ 11 bilhotildees de impostos gerados ao longo de 15 anos
atraveacutes de implantaccedilatildeo comercializaccedilatildeo e equipamentos do parque 71 seratildeo
direcionados ao governo federal 16 ao estadual e somente 13 ao governo municipal
Dos tributos arrecadados anualmente na fase de operaccedilatildeo do empreendimento somente
6 beneficiaratildeo diretamente o municiacutepio o que corresponde a cerca de R$ 26 milhotildeesano
Em um comparativo com os impostos arrecadados pelo municiacutepio em 2002 tal valor
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
130
significaria uma parcela de 10 dos R$ 260 milhotildees em tributos arrecadados pelo municiacutepio
naquele ano
O valor arrecadado em impostos inclui tambeacutem tributos derivados do terreno para a
implantaccedilatildeo do empreendimento de propriedade da CODESC Entretanto em momento
algum o RIMA indica o ocircnus atribuiacutedo ao poder puacuteblico pela concessatildeo de um terreno
puacuteblico agrave iniciativa privada Nem tampouco estima os custos das atribuiccedilotildees dadas ao poder
puacuteblico como requisito para a implantaccedilatildeo do empreendimento
Aleacutem da geraccedilatildeo de empregos e do aumento da arrecadaccedilatildeo de impostos outros
impactos positivos em acircmbito soacutecio-econocircmico foram levantados pelo RIMA aumento de
ofertas de serviccedilos especializados qualificaccedilatildeo da paisagem urbana equalizaccedilatildeo do fluxo
turiacutestico ao longo do ano com reduccedilatildeo da sazonalidade ampliaccedilatildeo da capacidade de PampD
(pesquisa e desenvolvimento) aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos de cultura
esporte e lazer aumento da oferta de equipamentos e serviccedilos soacutecio-educativos e atraccedilatildeo
de infra-estrutura e serviccedilos de telecomunicaccedilotildees Entretanto satildeo vaacutelidas aqui tambeacutem as
criacuteticas jaacute feitas quanto agrave possibilidade de real apropriaccedilatildeo dos equipamentos e serviccedilos
fornecidos no parque pela comunidade local
Dentre os impactos negativos apontados pelo RIMA em meio soacutecio-econocircmico
constituem impactos de pequena magnitude a pressatildeo que o empreendimento exerceraacute
sobre os serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo de sauacutede e de seguranccedila
Destacam-se a saturaccedilatildeo do sistema viaacuterio e a pressatildeo sobre o sistema de transporte
coletivo e o adensamento ao longo das vias dificultando futuras ampliaccedilotildees viaacuterias Em
todos esses casos o RIMA coloca suas implicaccedilotildees como decorrentes do crescimento
populacional no Norte da Ilha sendo que a implantaccedilatildeo do empreendimento somente
aceleraria este quadro tendencial
Da mesma maneira a demanda de aacutegua da populaccedilatildeo induzida pelo
empreendimento eacute apresentada pelo RIMA como parte de um processo tendencial de
crescimento populacional Segundo o RIMA o Sapiens Parque seraacute responsaacutevel por um
incremento populacional no Norte da Ilha de 69 e um incremento no nuacutemero de turistas de
455 (projeccedilotildees para 2020) Nesse caso o Sapiens Parque conta com as ampliaccedilotildees jaacute
previstas para a regiatildeo pela Casan (Companhia Catarinense de Aacuteguas e Saneamento) para
natildeo exceder o limite do sistema de abastecimento de aacutegua
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
131
No que se refere agrave pressatildeo sobre o sistema de energia eleacutetrica originada pelo
incremento populacional e turiacutestico o Sapiens Parque tambeacutem conta com as ampliaccedilotildees da
Celesc (Centrais Eleacutetricas de Santa Catarina SA) previstas para a regiatildeo norte de
Florianoacutepolis O RIMA afirma que a implantaccedilatildeo do Sapiens Parque possibilitaraacute um maior
nuacutemero de visitantes ao longo do ano e natildeo somente na alta temporada o que tornaraacute os
sistemas de infra-estruturas mais atrativos economicamente
Tanto os impactos no sistema de distribuiccedilatildeo de energia eleacutetrica quanto no sistema
de distribuiccedilatildeo de aacutegua satildeo ao terreno do empreendimento Segundo o RIMA as
edificaccedilotildees do Sapiens Parque seratildeo dotadas de sofisticados sistemas de economia de
energia e de reuso da aacutegua com o objetivo de reduccedilatildeo de tais impactos
423 ATRIBUICcedilOtildeES DADAS AO PODER PUacuteBLICO
Nos textos anteriores constatamos os principais impactos negativos e positivos em
meios bioacutetico fiacutesico e soacutecio-econocircmico relacionados ao empreendimento Sapiens Parque
Mais de 70 desses impactos foram identificados pelo EIA-RIMA como sendo de
abrangecircncia regional e metropolitana
O impactos negativos identificados em meio bioacutetico e fiacutesico e internos agrave aacuterea do
empreendimento apresentam como meios de mitigaccedilatildeo accedilotildees a serem desenvolvidas pelo
proacuteprio parque Jaacute os impactos que ocorrem aleacutem do terreno do empreendimento em sua
maioria originados pelo crescimento populacional e pela valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria foram
tratados pelo RIMA como parte de um quadro tendencial da regiatildeo O RIMA coloca que as
influecircncias causadas pela implantaccedilatildeo do parque seriam de pequena magnitude dentro de
um processo existente
Com essa justificativa o Sapiens Parque atribui uma seacuterie de accedilotildees como
responsabilidade do poder puacuteblico para a viabilizaccedilatildeo do empreendimento Segundo o
RIMA parte destas atribuiccedilotildees jaacute eram necessaacuterias e previstas independente da
implantaccedilatildeo do parque Podemos verificar por exemplo que a principal compensaccedilatildeo
promovida pelo parque como forma de mitigaccedilatildeo dos impactos em meio natural consiste na
criaccedilatildeo do Parque Natural localizado ao sul do terreno cujo objetivo principal eacute manter os
ambientes autoacutectones Entretanto segundo o documento do RIMA a implantaccedilatildeo do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
132
Parque Natural eacute de responsabilidade do poder puacuteblico assim como as demais atribuiccedilotildees
abaixo (RIMA 9 2003)
Elaboraccedilatildeo do Plano Diretor Participativo para o Norte da Ilha
Elaboraccedilatildeo do Plano de Recursos Hiacutedricos da Bacia do Rio Ratones
Elaboraccedilatildeo e do Projeto Executivo de macrodrenagem de Canasvieiras e
Cachoeira do Bom Jesus
Ampliaccedilatildeo dos Sistemas de Abastecimento de aacutegua do Norte da Ilha a partir do
manancial CubatatildeoPilotildees
Execuccedilatildeo do Projeto de Macrodrenagem de Canasvieiras e Cachoeiras do Bom
Jesus
Teacutermino da duplicaccedilatildeo da SC-401 ateacute Canasvieiras
Duplicaccedilatildeo da SC-403 (ou alternativa equivalente)
Duplicaccedilatildeo da Av Luiz Boiteux Piazza
Implantaccedilatildeo de passarelas faixas de pedestre e semaacuteforos na Av Luiz Boiteux
Piazza
Implantaccedilatildeo das accedilotildees de cunho socioambiental durante a implantaccedilatildeo e
operaccedilatildeo da primeira fase do empreendimento
Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Interna do Sapiens Parque ou ampliaccedilatildeo da
Subestaccedilatildeo Ilha Norte e Implantaccedilatildeo da Subestaccedilatildeo Ingleses
O RIMA natildeo contabiliza os custos atribuiacutedos ao poder puacuteblico mas em setembro de
2006 o Sapiens Parque anunciou que o empreendimento tem potencial para atrair
investimentos da ordem de R$ 4 bilhotildees Ateacute aquele momento haviam sido investidos cerca
de R$ 35 milhotildees em recursos proacuteprios dos acionistas e somente para a primeira fase do
empreendimento a Prefeitura Municipal de Florianoacutepolis teria de fazer investimentos de
R$15 milhotildees em infra-estrutura
424 ASPECTOS LEGAIS
O licenciamento do Sapiens Parque compete ao oacutergatildeo estadual Fundaccedilatildeo do Meio
Ambiente (FATMA) Entretanto por localizar-se dentro de um raio de 10 km da Unidade de
Conservaccedilatildeo Federal Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes o licenciamento do parque depende da
anuecircncia preacutevia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
133
Renovaacuteveis (IBAMA) O terreno de inserccedilatildeo do empreendimento localiza-se dentro da zona
de amortecimento da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes ficando sujeita a zoneamento e normas
especiacuteficas de uso e ocupaccedilatildeo do solo e dos recursos naturais Segundo o RIMA o projeto
do Sapiens Parque buscou contemplar as diretrizes impostas pelo Plano de Manejo da
Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes
O RIMA ainda afirma que o projeto encontra-se dentro das leis ambientais que regem
a aacuterea referentes ao Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro agrave preservaccedilatildeo da Mata
Atlacircntica e agraves aacutereas de preservaccedilatildeo permanente
Em audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o Procurador da
Repuacuteblica Valmor Alves Moreira completou os apontamentos levantados pela comunidade
tendo como preocupaccedilatildeo principal os aspectos ambientais de interesse federal O
procurador contestou o Estudo de Impacto Ambiental do Sapiens Parque com base em um
relatoacuterio produzido em Brasiacutelia por teacutecnicos da quarta Cacircmara de Coordenaccedilatildeo e Revisatildeo
ldquoBom a primeira questatildeo eacute a questatildeo ambiental a repercussatildeo nos rios de interesse federal Afinal de contas estamos em uma ilha noacutes temos aacutereas de manguezais proacuteximas noacutes temos uma estaccedilatildeo ecoloacutegica noacutes temos outras unidades de conservaccedilatildeo federal no entorno Enfim Florianoacutepolis eacute uma ilha e muito sensiacutevel com ambientes muito sensiacuteveis Entatildeo nossa primeira projeccedilatildeo de ocupaccedilatildeo eacute sobre o prisma ambiental Os impactos no sistema viaacuterio os impactos sociais e econocircmicos a populaccedilatildeo que vai ser atraiacuteda a massa de trabalhadores que vatildeo construir aqui onde eacute que vatildeo ficar Enfim satildeo muitos pontos a serem esclarecidosrdquo (Valmor Alves Moreira Entrevista agrave TV Justiccedila 2004)
Apesar dos questionamentos apontados pelo Ministeacuterio Puacuteblico Federal em 2004
com relaccedilatildeo aos impactos ambientais sociais e econocircmicos do empreendimento em
setembro de 2006 o projeto recebeu da FATMA a Licenccedila Ambiental Preacutevia (LAP) que
confere sua viabilidade ambiental Como o terreno de implantaccedilatildeo do projeto localiza-se em
aacuterea urbana o oacutergatildeo competente (FATMA) pode autorizar o parcelamento do solo ou
qualquer edificaccedilatildeo para fins urbanos desde que cumpra com o artigo 5 do Decreto 75093
que oferece restriccedilotildees a aacutereas urbanas que se enquadrem em um dos trecircs casos abaixo
1 Ser abrigo de espeacutecies da flora e da fauna silvestres ameaccediladas de extinccedilatildeo
2 Exercer funccedilatildeo de proteccedilatildeo de mananciais ou de prevenccedilatildeo e controle de erosatildeo
3 Ter excepcional valor paisagiacutestico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
134
Segundo o EIA-RIMA do Sapiens Parque sua aacuterea natildeo se enquadra em nenhum
dos trecircs casos acima de forma que suas restriccedilotildees satildeo condicionadas pelo Plano Diretor
Para a viabilizaccedilatildeo do Sapiens Parque foram necessaacuterias alteraccedilotildees na lei que dispotildee
sobre o zoneamento o uso e a ocupaccedilatildeo do solo da regiatildeo O Plano Diretor dos Balneaacuterios
(Lei Municipal 219385) designava o terreno como Aacuterea Residencial Predominante 5 (ARE-
5) com iacutendices de aproveitamento e taxas de ocupaccedilatildeo similares agraves do entorno Tal iacutendice
permite construccedilotildees de ateacute 25 m de altura e 80 de lote edificado
Esse zoneamento foi modificado pela Lei Complementar 13404 alterando o
zoneamento ARE-5 para Aacuterea Mista Central Especiacutefica (AMC-e) Aacuterea Turiacutestica Exclusiva
Especiacutefica (ATE-e) Aacuterea para Parques Tecnoloacutegicos Especiacutefica 1 e 2 (APT-e 1 e 2) Aacuterea de
Serviccedilo Suplementar Especiacutefica 1 e 2 (ASS-e 1 e 2) Aacuterea Turiacutestica Residencial Especiacutefica
(ATR-e) e Aacuterea Comunitaacuteria Institucional Especiacutefica (ACI-e)
O novo zoneamento manteacutem a obrigatoriedade de ter-se ao menos 45 do terreno
disponibilizado agraves aacutereas comuns (Aacutereas Verdes de Lazer Aacutereas Comunitaacuterias Institucionais
ou Aacutereas do Sistema Viaacuterio e de Transportes) Aleacutem disso o novo zoneamento estabelece
iacutendices e taxas iguais ou mais restritivas do que o zoneamento anterior
As normas de zoneamento aplicaacuteveis ao territoacuterio do projeto trazem ainda o
estabelecimento de novos dispositivos legais como por exemplo (RIMA 5 200303)
Obrigatoriedade de manter 30 da aacuterea dos terrenos sem impermeabilizaccedilatildeo
Previsatildeo expressa sobre a existecircncia de sistema completo de infra-estrutura de
saneamento baacutesico ndash coleta e tratamento
Previsatildeo de meios de transporte alternativos (bicicleta e outros)
Previsatildeo de que ocorrendo a descaracterizaccedilatildeo do conceito do projeto Sapiens
Parque o regime urbaniacutestico da aacuterea voltaraacute a ser regido pelo regime anterior
O Sapiens Parque ignorou a obrigaccedilatildeo do Estudo de Impacto de Vizinhanccedila (EIV)
exigido pelo Estatuto da Cidade O RIMA coloca que a lei do Estatuto da Cidade ldquoexige a
realizaccedilatildeo de estudo de impacto ambiental (EIA) ou de estudo de impacto de vizinhanccedila
(EIV)rdquo (RIMA 5 200306)
O EIV tem o objetivo de contemplar os efeitos positivos e negativos do
empreendimento quanto agrave qualidade de vida da populaccedilatildeo residente na aacuterea e nas suas
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
135
proximidades O Sapiens Parque alega que o EIA tem escopo maior que o EIV englobando
este uacuteltimo Entretanto eacute sabido que o EIA e o EIV satildeo complementares e um natildeo substitui
a elaboraccedilatildeo do outro Em seu artigo 36 o Estatuto da Cidade diz que os empreendimentos
e atividades privados ou puacuteblicos em aacuterea urbana que dependeratildeo de elaboraccedilatildeo de EIV
para obtenccedilatildeo de licenccedilas ou autorizaccedilotildees de construccedilatildeo seratildeo definidos por lei municipal
Segundo o RIMA ateacute 2002 natildeo havia em Florianoacutepolis uma lei geral disciplinando o EIV
pelo qual estaria o Sapiens Parque dispensado
43 AVALIACcedilOtildeES DA COMUNIDADE LOCAL
As questotildees abordadas pelo EIA-RIMA do Sapiens Parque incluem parte das
questotildees levantadas pela comunidade local com relaccedilatildeo ao empreendimento O Sapiens
Parque realizou uma accedilatildeo de discussatildeo comunitaacuteria junto a representantes de entidades
comunitaacuterias e organizaccedilotildees da sociedade civil de Florianoacutepolis Tal procedimento faz parte
do processo de inserccedilatildeo socioambiental do empreendimento e foi realizado principalmente
no ano de 2003 atraveacutes de seminaacuterios e grupos de trabalho e discussatildeo
Dentre as observaccedilotildees apontadas pela comunidade e ainda natildeo tratadas neste
capiacutetulo destacamos a indagaccedilatildeo quanto agrave possibilidade da realizaccedilatildeo de um plebiscito
como forma de constatar a posiccedilatildeo da comunidade com relaccedilatildeo ao empreendimento O
Sapiens Parque justificou a resposta negativa com a afirmaccedilatildeo de que ldquonatildeo haacute opccedilotildees
melhores que as apresentadas para fomentar o desenvolvimento urbano de forma sustentaacutevel
para a regiatildeordquo (DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL 200336)
Os atores sociais contatados levantaram ainda que os novos valores decorrentes da
migraccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo acentuadas levam agrave perda dos costumes tradicionais e da
identidade local O empreendimento tem a oportunidade de reverter parcialmente este
processo atraveacutes do incentivo ao resgate cultural e agraves tradiccedilotildees locais identificando
oportunidades de negoacutecios locais e criando espaccedilos culturais
O desemprego e a desqualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra local identificada pelo EIA-RIMA
do empreendimento consistem tambeacutem algumas das principais preocupaccedilotildees da
comunidade O crescimento populacional a sazonalidade acentuada do turismo a distacircncia
do centro comercial e o decliacutenio das atividades rurais e de pesca evidenciam o quadro do
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
136
desemprego na regiatildeo O Sapiens Parque promete a geraccedilatildeo de empregos como forma de
amenizar este quadro mas teraacute essas expectativas frustradas localmente se natildeo existirem
programas de qualificaccedilatildeo da matildeo-de-obra e empreendedorismo local O empreendimento
conta com parcerias e com a criaccedilatildeo de moacutedulos comunitaacuterios que visem tal qualificaccedilatildeo
A comunidade tambeacutem apontou a carecircncia de equipamentos e espaccedilos puacuteblicos de
cultura e lazer e a necessidade de atualizaccedilatildeo do Plano Diretor da regiatildeo levando em
consideraccedilatildeo a inserccedilatildeo do parque e a pressatildeo sobre os ambientes naturais Projetos
alternativos antigos para o terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque (como o projeto
turiacutestico Orla Norte ou o projeto de loteamentos residenciais) evidenciam a tendecircncia de
ocupaccedilatildeo da aacuterea Se tal ocupaccedilatildeo eacute apontada como inevitaacutevel as condicionantes do
terreno evidenciam ao menos que o projeto de ocupaccedilatildeo deve ter claro interesse puacuteblico e
responsabilidade socioambiental
Na audiecircncia puacuteblica realizada em 2004 para a discussatildeo do RIMA o representante
da comunidade da Cachoeira do Bom Jesus afirmou que natildeo haacute infra-estrutura no Norte da
Ilha que decirc suporte ao aumento do nuacutemero de pessoas decorrente da implantaccedilatildeo do
parque Outra criacutetica apontada na audiecircncia eacute de que a maioria das condicionantes do
Sapiens Parque satildeo remetidas ao poder puacuteblico como jaacute comentado em textos anteriores
(ENTREVISTA AUDIEcircNCIA PUacuteBLICA TV JUSTICcedilA 2004)
Por fim segundo a Resoluccedilatildeo 00186 do CONAMA o RIMA ldquodeve ser apresentado
de forma objetiva e adequada a sua compreensatildeordquo(RESOLUCcedilAtildeO CONAMA 00186) O
RIMA do Sapiens Parque trata-se praticamente de uma coacutepia do EIA com a supressatildeo de
um dos capiacutetulos A complexidade do documento acaba dificultando a compreensatildeo da
comunidade local em relaccedilatildeo aos verdadeiros impactos do projeto
44 AVALIACcedilOtildeES DO MASTER PLAN 2005
As criacuteticas feitas pelo IAB em 2002 associadas agraves consideraccedilotildees da comunidade e
aos impactos identificados no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de 2003 influenciaram a
concepccedilatildeo do novo projeto para o parque que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Cepa
Atraveacutes de uma anaacutelise do projeto apresentado em 2005 podemos constatar a preocupaccedilatildeo
em delimitar gradientes de ocupaccedilatildeo no siacutetio de implantaccedilatildeo do empreendimento definidos
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
137
conforme a fragilidade do ambiente natural (Figura 20) Segundo esse conceito o terreno foi
edificado a partir dos trecircs gradientes de ocupaccedilatildeo paralelamente ao Rio Papaquara (ao sul
do terreno) do menos edificado ao mais edificado (Figura 21)
Figura 20 ndash Gradientes de ocupaccedilatildeo do terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
RIO PAPAQUARA
RIO DO BRAacuteS
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
138
Figura 21 ndash Implantaccedilatildeo Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
Como podemos observar na Figura 21 outra preocupaccedilatildeo do novo projeto consistiu
em natildeo obstruir os canais de drenagem pelo desenho dos lagos artificiais No novo Master
Plan pode-se observar a preocupaccedilatildeo em manter intactos os principais remanescentes
vegetais do terreno aproveitando as demais aacutereas para as edificaccedilotildees O projeto manteacutem o
Parque Natural ao longo do Rio Papaquara como reserva e compensaccedilatildeo ambiental onde
seriam realizadas as iniciativas soacutecio-ambientais do empreendimento
As aacutereas mais edificadas localizam-se junto agrave Av Luiz Boiteux Piazza (ao norte do
terreno paralela ao Rio Papaquara) e conformam-se a partir dessa rua interligando o
moacutedulo Experientia e o centro cultural e de eventos (Figura 21- ao centro em marrom) com
as edificaccedilotildees direcionadas aos negoacutecios urbanos - turismo e empresas de serviccedilos
(Figura 21- em amarelo e vermelho) Entretanto o espaccedilo dedicado a equipamentos
puacuteblicos comunitaacuterios de sauacutede e educaccedilatildeo (Figura 21- nos extremos em marrom) ainda
aparece em segundo plano no projeto localizado nos cantos do terreno inclusive proacuteximos
agraves estaccedilotildees de transbordo do empreendimento O moacutedulo Scientia opera no segundo
gradiente de ocupaccedilatildeo com edificaccedilotildees isoladas (Figura 21- em azul escuro) localizadas
nas aacutereas onde a vegetaccedilatildeo autoacutectone eacute menos incidente A Figura 22 mostra a perspectiva
RIO PAPAQUARA
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
139
com a implantaccedilatildeo completa do Master Plan 2005 do Sapiens Parque Outras imagens
desta versatildeo do projeto podem ainda ser visualizadas no Anexo 3
Figura 22 ndash Perspectiva Master Plan Sapiens Parque 2005 Fonte Master Plan Sapiens Parque 2005
O Master Plan 2005 mostra-se mais efetivo na tentativa de inserccedilatildeo do projeto no
contexto urbano existente ao levantar o conceito dos gradientes de ocupaccedilatildeo e ao levar em
consideraccedilatildeo o entorno edificado e viaacuterio na sua concepccedilatildeo Apesar da visiacutevel melhora do
projeto urbano e arquitetocircnico do Master Plan 2005 em relaccedilatildeo ao projeto apresentado em
2003 pela Ecoplan podemos verificar que o projeto ainda reforccedila pouco o caraacuteter puacuteblico
que deve ter ao privilegiar a posiccedilatildeo dos setores privados em detrimento aos equipamentos
puacuteblicos e comunitaacuterios
O projeto natildeo apresenta articulaccedilatildeo desses equipamentos puacuteblicos e comunitaacuterios
com o contexto urbano e o Parque Natural o que coloca em duacutevida a real apropriaccedilatildeo da
populaccedilatildeo local de uma aacuterea que deveria caracterizar-se como um grande parque puacuteblico
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
140
45 DIAGNOacuteSTICO FINAL AVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES
No iniacutecio do trabalho colocamos que nosso objetivo principal seria analisar o Sapiens
Parque como poliacutetica urbana para a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis apontando os
limites do projeto no que diz respeito agrave principal proposta do empreendimento o
desenvolvimento baseado na sustentabilidade social econocircmica e ambiental A partir das
anaacutelises feitas ateacute o presente do empreendimento e das conclusotildees parciais relacionadas
aos grandes projetos urbanos do capiacutetulo anterior podemos apontar alguns dos limites do
projeto Sapiens Parque como proposta de desenvolvimento sustentaacutevel Esses limites foram
identificados segundo as dimensotildees criteacuterios e objetivos de sustentabilidade vistos no
Capiacutetulo 2 e estatildeo esquematizados na Tabela 8 Para esta avaliaccedilatildeo separamos os limites
relacionados agrave sustentabilidade ambiental das demais sustentabilidades (social cultural
territorial econocircmica e poliacutetica)
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
141
DIMENSAtildeO DE
SUSTENTABILIDADEAVALIACcedilAtildeO DOS LIMITES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE COMO PROPOSTA
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL
A pressatildeo imobiliaacuteria e a expulsatildeo de alguns grupos sociais podem levar agrave ocupaccedilatildeode zonas ambientalmente protegidas do entorno causando consequumlente depredaccedilatildeoambiental e fragmentaccedilatildeo dos ambientes naturais remanescentes
O terreno de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque localiza-se em aacuterea de faacutecil inundaccedilatildeo A reduccedilatildeo da superfiacutecie de inundaccedilatildeo decorrente da construccedilatildeo das edificaccedilotildees e a maior impermeabilizaccedilatildeo do solo contribuem para diminuir o potencial de drenagem do terreno
A reduccedilatildeo do impacto ambiental proveniente da construccedilatildeo dos aterros necessaacuteriospara as edificaccedilotildees depende da realizaccedilatildeo de aterros seletivos que diminuam autilizaccedilatildeo dos recursos naturais natildeo-renovaacuteveis para tal fim
A integridade do manancial Ingleses Rio Vermelho depende de investimentospuacuteblicos em infra-estrutura e do planejamento fiscalizaccedilatildeo e monitoramento da regiatildeoe do aquumliacutefero para que natildeo sofra danos oriundos do empreendimento e da populaccedilatildeoinduzida por ele
O projeto natildeo prioriza o caraacuteter social e puacuteblico a que se propotildee colocando comoprimaacuterias as atividades destinadas aos interesses privados e como secundaacuterias asatividades espaccedilos puacuteblicos e equipamentos relacionados aos aspectos sociaisConsequumlentemente os investimentos puacuteblicos necessaacuterios para a viabilizaccedilatildeo doparque (terreno de implantaccedilatildeo e investimentos em infra-estrutura) tambeacutem priorizam ocaraacuteter privado do empreendimento
A concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos no Norte da Ilha ocasionaraacute provaacutevelfragmentaccedilatildeo da cidade uma vez que outras aacutereas carentes de infra-estrutura ficamdesamparadas pelo Poder Puacuteblico A tendecircncia eacute a valorizaccedilatildeo da regiatildeo deimplantaccedilatildeo do parque devido agraves melhorias em infra-estrutura enquanto ocorre oaumento do nuacutemero de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccediloscaracterizados pela pobreza e pela violecircncia urbana
A valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da regiatildeo do entorno do parque acarretaraacute provaacutevel expulsatildeoe substituiccedilatildeo das comunidades locais
O projeto somente cumpriraacute sua proposta de superar a exclusatildeo social se priorizar osaspectos sociais do empreendimento e atraveacutes de programas de capacitaccedilatildeocomunitaacuteria e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos de educaccedilatildeo
A implantaccedilatildeo do parque acarretaraacute o aumento populacional na regiatildeo norte deFlorianoacutepolis A situaccedilatildeo atual mostra que a regiatildeo jaacute apresenta carecircncia de infra-estrutura (sistema viaacuterio esgoto aacutegua energia) natildeo comportando o aumento dademanda sem o devido planejamento
Exclusatildeo econocircmica e desvalorizaccedilatildeo do trabalho das comunidades locais frente agravenecessidade da matildeo-de-obra qualificada imposta pelo Parque A garantia de novosempregos para a comunidade local em todas as fases do empreendimento depende depoliacuteticas de absorccedilatildeo de matildeo-de-obra local
O modelo de planejamento baseado na loacutegioca do mercado reforccedila a produccedilatildeo ereproduccedilatildeo de desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica sociale espacial
ECOLOacuteGICA AMBIENTAL
DEMAIS SUSTENTABILIDADES (SOCIAL CULTURAL
TERRITORIAL ECONOcircMICA E
POLIacuteTICA)
Tabela 8 ndash Limites do Projeto Sapiens Parque rumo ao desenvolvimento sustentaacutevel Elaboraccedilatildeo da autora
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
142
Os limites apontados na Tabela 8 resumem as principais avaliaccedilotildees feitas ateacute o
presente pelos atores envolvidos no projeto Sapiens Parque e mostram que a proposta
urbana eacute ainda restrita no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel De maneira
geral podemos constatar que o projeto Sapiens Parque coloca-se como promotor do
desenvolvimento sustentaacutevel a partir basicamente de cinco aspectos principais
1- Preservaccedilatildeo dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo atraveacutes do
Parque Natural e do conceito de ldquogradientes de ocupaccedilatildeordquo adotado para as edificaccedilotildees do
empreendimento (Master Plan 2005 do Sapiens Parque)
2- O parque promete a construccedilatildeo de edificaccedilotildees sustentaacuteveis com economia de
energia reuso da aacutegua e estaccedilatildeo particular de tratamento de esgoto
3- O projeto tem como um dos conceitos a induacutestria da tecnologia e da informaacutetica
considerada uma induacutestria ldquolimpardquo e proacutepria para regiotildees de rico ambiente natural como
Florianoacutepolis
4- O parque propotildee-se como promotor do turismo sustentaacutevel atraveacutes da educaccedilatildeo
ambiental e do turismo ecoloacutegico tendo como base um conjunto de equipamentos de lazer
cultura educaccedilatildeo esportes sauacutede eventos e gastronomia
5- O parque tem como uma das metas a geraccedilatildeo de empregos e diminuiccedilatildeo da
exclusatildeo social
Entretanto muitos dos aspectos acima relacionados quando natildeo se dedicam
exclusivamente agrave aacuterea de implantaccedilatildeo do terreno ignorando as demais regiotildees de
abrangecircncia do projeto apresentam limites que impedem sua real efetivaccedilatildeo
As diretrizes de sustentabilidade urbana delimitadas pela Agenda 21 Brasileira
defendem que eacute necessaacuterio um planejamento urbano que coloque restriccedilotildees ao crescimento
natildeo-planejado ou desnecessaacuterio Carecircncias de infra-estrutura e a ocupaccedilatildeo de ambientes
naturais na regiatildeo norte da Ilha mostram que o projeto do Sapiens Parque deve ser
articulado com um Plano Diretor para toda a regiatildeo capaz de prever e planejar a
concentraccedilatildeo populacional e principalmente seus impactos ambientais Do contraacuterio o
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
143
empreendimento natildeo poderaacute ser concebido como um novo centro articulador e propulsor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel
Como tambeacutem podemos constatar na Tabela 8 um projeto da dimensatildeo do Sapiens
Parque pode acarretar em excessiva concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos em sua aacuterea
de implantaccedilatildeo Tal fato resulta na fragmentaccedilatildeo da cidade e na criaccedilatildeo de regiotildees com
carecircncia de investimentos e infra-estrutura contrariando os criteacuterios de sustentabilidade
territorial e poliacutetica vistos neste trabalho
A geraccedilatildeo de empregos e a inclusatildeo social atraveacutes do trabalho que seriam os
principais propulsores do desenvolvimento regional sustentaacutevel econocircmico e social
dependem de accedilotildees de capacitaccedilatildeo e de melhorias nos serviccedilos e equipamentos puacuteblicos
de educaccedilatildeo local para que sejam efetivados Do contraacuterio podemos concluir que a
tendecircncia eacute o aumento da exclusatildeo econocircmica e social uma vez que natildeo seratildeo todas as
pessoas as capacitadas para os empregos gerados pelo parque
Concluiacutemos tambeacutem que a exclusatildeo social e a consequumlente segregaccedilatildeo soacutecio-
espacial da cidade podem ser fortalecidas ainda pela provaacutevel valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria da
regiatildeo de implantaccedilatildeo do Sapiens Parque Com a ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas de inserccedilatildeo
social o modelo de planejamento baseado na loacutegica do mercado tende entatildeo a aumentar as
desigualdades atraveacutes do processo de concentraccedilatildeo econocircmica social e espacial
A iniciativa de o parque ser um precursor do turismo sustentaacutevel para a regiatildeo eacute
notaacutevel mas tambeacutem somente teraacute real efetivaccedilatildeo se devidamente acompanhado de um
planejamento turiacutestico para todo o Norte da Ilha Destacamos ainda a necessidade de o
Sapiens Parque estar articulado com toda a regiatildeo metropolitana de Florianoacutepolis sem
esquecer da porccedilatildeo continental equivalente Desconhecer a parte continental de
Florianoacutepolis em um projeto deste porte implica em reconhecer a sua insustentabilidade
Apesar de o projeto ainda ser bastante restrito no alcance do desenvolvimento
sustentaacutevel para a regiatildeo e o municiacutepio satildeo vaacutelidas as accedilotildees locais propostas pelo parque
que visam a melhoria da sustentabilidade do empreendimento em si atraveacutes da preservaccedilatildeo
dos ambientes naturais do terreno de implantaccedilatildeo e da aplicaccedilatildeo de conceitos de
sustentabilidade nas edificaccedilotildees
CAPIacuteTULO 4 AVALIACcedilOtildeES DO EMPREENDIMENTO SAPIENS PARQUE
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
144
Entretanto conforme afirma VEIGA (2005113) ldquoa hipoteacutetica conciliaccedilatildeo entre o
crescimento econocircmico moderno e a conservaccedilatildeo da natureza natildeo eacute algo que possa ocorrer
no curto prazo e muito menos de forma isolada em certas atividades ou em locais
especiacuteficosrdquo Portanto o empreendimento Sapiens Parque natildeo pode isolada e localmente
ser considerado um projeto de desenvolvimento urbano sustentaacutevel sem apresentar uma
articulaccedilatildeo e um planejamento conjunto com toda a regiatildeo e o aglomerado urbano e sem
levar em consideraccedilatildeo a realidade soacutecio-econocircmica e ambiental de Florianoacutepolis
Eacute preciso ter consciecircncia de que o modelo de planejamento estrateacutegico regido pela
loacutegica do mercado e importado dos paiacuteses do capitalismo avanccedilado quando aplicado agrave
realidade brasileira apresenta seus limites na busca de uma poliacutetica urbana de
desenvolvimento sustentaacutevel Os esforccedilos do empreendimento Sapiens Parque na direccedilatildeo
desta satildeo vaacutelidos poreacutem ainda restritos e insuficientes para o alcance efetivo da
sustentabilidade social econocircmica e ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
145
CONCLUSOtildeES
Na introduccedilatildeo deste trabalho comentamos que ele estaria estruturado a partir de
dois eixos principais O primeiro eixo diz respeito a um paradigma de desenvolvimento
denominado sustentaacutevel que procura conciliar o crescimento econocircmico de uma naccedilatildeo com
resultados positivos em meio social e ambiental O segundo eixo estruturador deste trabalho
gira em torno de um outro modelo desta vez um modelo de planejamento urbano regido
segundo estrateacutegias determinadas pela loacutegica do mercado e que busca a inserccedilatildeo global
das cidades em um cenaacuterio mundial marcado pelas transformaccedilotildees da globalizaccedilatildeo
A pesquisa procurou delinear os principais conceitos e caracteriacutesticas desses dois
paradigmas que vecircm surgindo como um campo feacutertil para a proliferaccedilatildeo de modelos de
gestatildeo urbana e estrateacutegias de desenvolvimento local O estudo procurou verificar atraveacutes
do projeto urbano Sapiens Parque para Florianoacutepolis a eficiecircncia da aplicaccedilatildeo do modelo
de planejamento urbano analisado no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel
Cabe colocar aqui que perante dois temas de tamanha complexidade como os que
foram estudados muitos cortes foram necessaacuterios para que se pudesse dar fechamento agrave
dissertaccedilatildeo sem que se tornasse demasiadamente prolongada A pesquisa deteve-se
principalmente em analisar o empreendimento Sapiens Parque e seus limites como
propulsor do desenvolvimento sustentaacutevel em niacutevel regional tendo oferecido pouco enfoque
nas avaliaccedilotildees locais que dizem respeito agraves reflexotildees espaciais do projeto urbano
propriamente dito
No momento de finalizaccedilatildeo do trabalho buscamos levantar alguns questionamentos
que surgiram no decorrer da presente pesquisa os quais ainda natildeo obtivemos respostas
seraacute possiacutevel que dois modelos aparentemente antagocircnicos no discurso possam caminhar
juntos no processo de planejamento Seraacute possiacutevel conciliar na praacutetica dentro do contexto
brasileiro marcado por desigualdades sociais um discurso provavelmente utoacutepico como o do
desenvolvimento sustentaacutevel com um discurso que remete necessariamente a uma funccedilatildeo
mercadoloacutegica especiacutefica de determinado territoacuterio No caso de Florianoacutepolis seraacute o projeto
do empreendimento Sapiens Parque no Norte da Ilha a melhor possibilidade de
reurbanizaccedilatildeo para o alcance do desenvolvimento sustentaacutevel regional
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
146
Como verificamos no segundo capiacutetulo deste trabalho o conceito de
desenvolvimento de um territoacuterio ao contraacuterio do crescimento econocircmico natildeo se restringe
somente aos fenocircmenos econocircmicos secundaacuterios referindo-se principalmente agraves mudanccedilas
qualitativas estruturais culturais sociais e ecoloacutegicas de cada naccedilatildeo priorizando a melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desenvolvimento sustentaacutevel enfatiza a dimensatildeo
ambiental nesse conceito fundamentando sua harmonizaccedilatildeo com os objetivos sociais e
econocircmicos sendo concebido como aquele que assegura o atendimento das necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as futuras geraccedilotildees satisfazerem suas
proacuteprias necessidades Significa permitir ldquoque todos tenham atendidas as suas necessidades
baacutesicas e lhes sejam proporcionadas oportunidades de concretizar suas aspiraccedilotildees a uma vida
melhorrdquo(COMISSAtildeO MUNDIAL 198847)
Visto a partir desse conceito o desenvolvimento sustentaacutevel aparenta vago e
impreciso dando margem a muitas interpretaccedilotildees tendo sofrido aprimoramentos apoacutes sua
popularizaccedilatildeo em 1987 Abrangendo desde os objetivos mais estreitos como a preservaccedilatildeo
dos recursos naturais ateacute os objetivos mais amplos como a hipoacutetese de mudanccedila nos
padrotildees de consumo acumulaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de riquezas o conceito do desenvolvimento
sustentaacutevel tambeacutem vem sofrendo questionamentos por muitos autores quanto agraves suas reais
possibilidades de efetivaccedilatildeo dentro do processo de acumulaccedilatildeo de riquezas caracteriacutestico
do sistema capitalista Apesar disso concordamos que tal paradigma deve ser procurado
por todas as sociedades humanas como forma de preservaccedilatildeo ambiental e melhoria da
qualidade de vida
Neste trabalho como meacutetodo de estudo optamos em utilizar a instituiccedilatildeo das
dimensotildees e objetivos de sustentabilidade (social cultural ecoloacutegica ambiental territorial
econocircmica e poliacutetica) definidos por SACHS (2002) Essa classificaccedilatildeo permite o
estabelecimento de criteacuterios para cada uma das dimensotildees citadas de maneira que
funcionem como ferramentas de anaacutelise das poliacuteticas de desenvolvimento no sentido do
alcance da sustentabilidade A conservaccedilatildeo da biodiversidade mostrou-se um importante
requisito do ecodesenvolvimento expresso no caso brasileiro atraveacutes do Sistema de
Unidades de Conservaccedilatildeo e das Reservas da Biosfera
A aplicaccedilatildeo do conceito do desenvolvimento sustentaacutevel em meio urbano originou os
estudos de sustentabilidade urbana uma aacuterea de anaacutelise ainda bastante recente e em
consolidaccedilatildeo Tal associaccedilatildeo fundamentou-se no documento Agenda 21 que oferece
diretrizes de sustentabilidade urbana em niacutevel nacional e local visando o alcance de um
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
147
planejamento urbano mais sustentaacutevel O tema manifestou o padratildeo ldquocidades sustentaacuteveisrdquo
que vem se propagando entre os governos e organizaccedilotildees da sociedade civil
Concomitantemente a esse padratildeo verificamos a necessidade de terem-se as
cidades adaptadas agraves transformaccedilotildees surgidas mundialmente com o advento da
globalizaccedilatildeo em acircmbito geopoliacutetico econocircmico social e tecnoloacutegico O modelo de
planejamento urbano industrial que predominou no Brasil ateacute os anos 1970 direcionado pelo
Estado e baseado em categorias funcionais mostrou-se obsoleto perante essa nova
realidade sendo substituiacutedo pela concepccedilatildeo mercadoloacutegica Conforme verificamos no
terceiro capiacutetulo a nova ordem urbana implica na competitividade entre as cidades tendo
como principal objetivo seu posicionamento como centro de articulaccedilatildeo e controle das
economias mundiais e sua inserccedilatildeo como ldquocidade globalrdquo
O modelo estrateacutegico de planejamento nasceu da gestatildeo empresarial sendo
aplicado ao espaccedilo urbano como uma resposta agraves mudanccedilas impostas pela globalizaccedilatildeo
Ele sugere que a competiccedilatildeo interurbana consiste em uma saiacuteda inevitaacutevel perante tais
mudanccedilas jaacute que a globalizaccedilatildeo prejudicou a especificidade do territoacuterio como unidade de
produccedilatildeo e consumo ignorando as fronteiras poliacutetico-administrativas Como consequumlecircncia
as cidades passaram a serem constituiacutedas a partir de uma sociedade integrada em rede
acompanhadas de uma nova realidade econocircmica social e poliacutetica
O novo modelo de planejamento imposto fundamenta-se na articulaccedilatildeo necessaacuteria
entre o local e o global decorrente da perda da autonomia do Estado-Naccedilatildeo como centro
regulador do planejamento Dessa forma propicia-se aos governos locais o fortalecimento
poliacutetico e econocircmico elevando-os como os principais atores puacuteblicos do planejamento
ainda que estejam sujeitos agrave dependecircncia dos condicionantes externos Os governos locais
possuem entatildeo a atribuiccedilatildeo de promover as cidades para os investidores externos atraveacutes
de uma imagem positiva da cidade e da oferta de infra-estrutura e serviccedilos Tal posiccedilatildeo
objetiva alcanccedilar vantagens competitivas para a cidade como localizaccedilatildeo e expansatildeo de
empresas e atividades
O enfraquecimento do papel do Estado como indutor do desenvolvimento e sua
substituiccedilatildeo pela loacutegica do mercado constitui o primeiro paradoxo consolidado entre o
modelo de planejamento estrateacutegico e o discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Segundo
os criteacuterios de sustentabilidade poliacutetica destaca-se a necessidade da centralizaccedilatildeo e da
intervenccedilatildeo do Estado como regulador das economias e sua capacitaccedilatildeo para implementar
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
148
um projeto nacional em conjunto com os empreendedores O Estado constitui o uacutenico ator
capaz de lidar com o processo de distribuiccedilatildeo dos recursos naturais econocircmicos e poliacuteticos
intra e entre naccedilotildees e evitar situaccedilotildees de desigualdade em termos de apropriaccedilatildeo universal
dos direitos humanos buscando um niacutevel razoaacutevel de coesatildeo social
Entretanto o que pudemos constatar no planejamento estrateacutegico eacute a elevaccedilatildeo dos
governos locais no processo de planejamento Para a atraccedilatildeo de empresas e investimentos
o poder puacuteblico local utiliza-se de estrateacutegias de intervenccedilotildees urbanas acompanhadas de
imagens-siacutentese e discursos referentes agrave cidade por meio de uma poliacutetica de marketing
urbano como instrumento de difusatildeo e afirmaccedilatildeo Variaccedilotildees desse modelo foram vistos
neste trabalho segundo as anaacutelises do planejamento para as cidades de Barcelona Curitiba
e Rio de Janeiro trata-se de uma perspectiva de transformar essas cidades em uma espeacutecie
de ldquomercadoriardquo a ser ldquovendidardquo a um mercado mundial
Concretiza-se tambeacutem uma relaccedilatildeo imprescindiacutevel para a instituiccedilatildeo do
planejamento estrateacutegico urbano a parceria puacuteblico-privado Tal parceria nasce da
necessidade do poder puacuteblico em captar recursos adicionais agraves suas proacuteprias receitas a fim
de possibilitar a implementaccedilatildeo dos projetos de renovaccedilatildeo urbana Dessa forma os
interesses do mercado permanecem presentes no processo de planejamento permitindo a
participaccedilatildeo direta de empresaacuterios nas decisotildees referentes agrave gestatildeo urbana
A parceria puacuteblico-privado aparece bastante evidente no estudo de caso tomado
para anaacutelise neste trabalho o projeto urbano Sapiens Parque no Norte da Ilha
caracterizado como um programa de desenvolvimento regional Apoiado pelos governos
municipal e estadual em exerciacutecio a efetivaccedilatildeo do empreendimento depende da coalizatildeo de
esforccedilos e recursos puacuteblicos e privados No decorrer do trabalho vimos que o projeto faz
parte de uma das iniciativas do governo local de inserir Florianoacutepolis como ldquocidade globalrdquo
buscando a atraccedilatildeo de empresas voltadas para a aacuterea da informaacutetica e tecnologia
principalmente as de capital internacional
O empreendimento tambeacutem se coloca como precursor da sustentabilidade social
econocircmica e ambiental com a promessa de geraccedilatildeo de empregos e consequumlente inclusatildeo
social Aleacutem disso o Sapiens Parque destaca seu objetivo de acabar com a sazonalidade da
atividade turiacutestica com a sua implantaccedilatildeo trazendo visitantes durante o ano inteiro com o
comprometimento de difundir o turismo sustentaacutevel e a educaccedilatildeo ambiental
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
149
Entretanto as anaacutelises do projeto Sapiens Parque realizadas no quarto capiacutetulo
desta dissertaccedilatildeo mostraram que o modelo de planejamento apresenta muitas restriccedilotildees
quando utilizado como instrumento de desenvolvimento sustentaacutevel A competitividade
urbana defendida pelo planejamento estrateacutegico significa um claro incremento na qualidade
de vida urbana porque a competitividade requer infra-estrutura adequada e melhoria das
condiccedilotildees de vida de moradia serviccedilos urbanos sauacutede e cultura como fator essencial para
a atratividade de investimentos e usuaacuterios Apesar disso a competitividade caracteriacutestica do
modelo estrateacutegico tambeacutem proporciona resultados que seguem na contramatildeo dos preceitos
relacionados ao desenvolvimento sustentaacutevel e estabelecidos nesta pesquisa
Na anaacutelise feita em relaccedilatildeo aos limites do projeto Sapiens Parque como difusor do
desenvolvimento regional sustentaacutevel destacamos aqui as questotildees referentes agrave
organizaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana resultantes justamente da estrateacutegia da inserccedilatildeo
competitiva O projeto de intervenccedilatildeo urbana mostrou uma tendecircncia agrave fragmentaccedilatildeo uma
vez que potencializa a valorizaccedilatildeo imobiliaacuteria e consumo de segmentos sociais especiacuteficos
atraveacutes da concentraccedilatildeo de investimentos puacuteblicos nas aacutereas destinadas agrave revitalizaccedilatildeo no
Norte da Ilha Aleacutem disso a exclusatildeo econocircmica decorrente da irrelevacircncia de determinados
grupos sociais perante o mercado de trabalho proporcionado pelo parque aliada agrave discrepacircncia
salarial e de condiccedilotildees de trabalho colaboram para agravar ainda mais esse quadro
A segregaccedilatildeo soacutecio-espacial urbana brasileira natildeo tem suas origens no atual modelo
de planejamento regido pela estrateacutegia do mercado como forma de inserccedilatildeo competitiva
Entretanto concordamos que o modelo tende a aumentar a situaccedilatildeo de desigualdade social
com a formaccedilatildeo de bairros com carecircncia de infra-estrutura e serviccedilos caracterizados pela
pobreza e violecircncia urbana em contraste a bairros compostos por condomiacutenios privatizados
e reservados agraves atividades e moradia de uma minoria Essa implicaccedilatildeo constitui no nosso
ver a principal contradiccedilatildeo existente entre o planejamento estrateacutegico e as premissas que
temos de ldquocidades sustentaacuteveisrdquo caracterizadas pela conexatildeo entre bairros (centro e
periferia) e entre espaccedilo privado e puacuteblico com priorizaccedilatildeo deste uacuteltimo
Concluiacutemos portanto ser a segregaccedilatildeo soacutecio-espacial e suas consequumlecircncias como
a degradaccedilatildeo ambiental os principais fatores que estabelecem limites ao modelo de
planejamento estrateacutegico no alcance efetivo do desenvolvimento sustentaacutevel Nesse caso
uma nova pergunta surge diante de tal conclusatildeo quais seriam entatildeo perante o atual
cenaacuterio mundial da globalizaccedilatildeo financeira e da perda da autonomia do Estado as
CONCLUSOtildeES
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
150
alternativas para o equacionamento da problemaacutetica ambiental urbana e diminuiccedilatildeo da
desigualdade social
No Brasil o Estatuto da Cidade surgiu como uma promessa para a gestatildeo
democraacutetica das cidades e como uma real possibilidade de intervenccedilatildeo sobre o quadro de
exclusatildeo social caracteriacutestico das cidades brasileiras O Estatuto tambeacutem destaca a
necessidade de garantia do direito agraves cidades sustentaacuteveis com a aplicaccedilatildeo de
instrumentos que visam amenizar os impactos ambientais decorrentes dos processos de
urbanizaccedilatildeo Entretanto apesar de ser considerada uma lei bastante inovadora uma vez
que contempla aspectos da gestatildeo urbana dos quais nenhuma legislaccedilatildeo anterior sequer se
aproximava o Estatuto constitui somente um dos primeiros passos no caminho para a
sustentabilidade urbana
A cidade como expressatildeo da exclusatildeo social e degradaccedilatildeo ambiental pode vir a
se constituir no lugar privilegiado para a discussatildeo da inclusatildeo e do exerciacutecio da cidadania
O cotidiano urbano deve ser entendido como a manifestaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais e portanto
de conflitos a gestatildeo desses conflitos requer a democratizaccedilatildeo do processo de decisotildees
que afetam esse cotidiano O momento atual eacute favoraacutevel ao debate dos rumos que tomaratildeo
nossas cidades democratizando as decisotildees acerca do desenvolvimento sustentaacutevel e
resgatando o direito agrave cidade para todos
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
151
REFEREcircNCIAS
ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita (org) Previsatildeo de impactos o estudo de impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
ACSELRAD Henri A duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Rio de Janeiro DPampA 2001
AGENDA 21 BRASILEIRA ndash Cidades Sustentaacuteveis Ministeacuterio do Meio Ambiente - Comissatildeo de Poliacuteticas de Desenvolvimento Sustentaacutevel e da Agenda 21 Nacional 2002
AGUIAR Marina e DIAS Reinaldo Fundamentos do turismo conceitos normas e definiccedilotildees Campinas SP Editora Aliacutenea 2002
AMENDOLA Mocircnica O ordenamento urbano carioca sob a oacutetica do plano estrateacutegico de cidades Revista geo-paisagem ( on line ) Vol 1 nuacutemero 2 2002 Julhodezembro de 2002 Disponiacutevel em httpwwwfethggfbrPlano20estratC3A9gicohtm acesso em 05052006
AMIGOS DE CARIJOacuteS Plano de desenvolvimento sustentaacutevel do entorno da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis SC 2002
ANDRADE Liza Maria Souza de O conceito de Cidades-Jardins uma adaptaccedilatildeo para as cidades sustentaacuteveis (disponiacutevel em httpwwwvitruviuscombr acesso em 05052006)
ARANTES Otiacutelia VAINER Carlos MARICATO Ermiacutenia A cidade do pensamento uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ARANTES Otiacutelia Uma estrateacutegia fatal A cultura das novas gestotildees urbanas In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
ASSOCIACcedilAtildeO AMIGOS DE CARIJOacuteSIBAMA Plano de manejo da Estaccedilatildeo Ecoloacutegica de Carijoacutes Florianoacutepolis 2002
BECKER Dinizar Fermiano A insustentabilidade do discurso do desenvolvimento sustentaacutevel Revista Estudo amp Debate Lajeado V11 ndeg01 p175-195 2004
BENJAMIN Antonio Herman U Estudo preacutevio de impacto ambiental teoria praacutetica e legislaccedilatildeo Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 1993
BERMAN Marshall Tudo que eacute soacutelido desmancha no ar a aventura da modernidade Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
BERTRAND Georges Paisagem e geografia fiacutesica global Esboccedilo metodoloacutegico Curitiba N8 p114-152 2004 editora UFPR 141 pdf
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
152
BIOSFERA URBANA NA ILHA DE SANTA CATARINA Proposta conceitual para um Projeto Piloto de implementaccedilatildeo do modelo de Reserva da Biosfera em ambiente urbano Disponiacutevel em httpwwwplanodiretorfloripascgovbr acesso em 10062007
BRAVERMAN Harry Trabalho e capital monopolista a degradaccedilatildeo do trabalho no seacuteculo XX 3 ed Rio de Janeiro Zahar 1981
BORJA Jordi CASTELLS Manuel Local y Global la gestioacuten de latildes ciudades en la era de la informacioacuten 5 ed Barcelona Taurus 2000
BRUumlSEKE Franz Josef O problema do desenvolvimento sustentaacutevel In Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel Cloacutevis Cavalcanti organizador ndash 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
BUENO Ayrton Portilho Patrimocircnio paisagiacutestico e turismo na ilha de Santa Catarina a premecircncia da paisagem no desenvolvimento sustentaacutevel da atividade turiacutestica Satildeo Paulo 2006 Tese (Doutorado) - Universidade de Satildeo Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
CARDOSO Reginaldo Luiz As cidades brasileiras e o pensamento neoliberal (submissatildeo ao pensamento uacutenico uacutenica alternativa para as cidades) Instituto Universitaacuterio de Pesquisas do Rio de Janeiro ndash IUPERJ Disponiacutevel em httpwwwrizomanet acesso em 07052006
CASTELLS Eduardo JF et al Avaliaccedilatildeo do Sapiens Parque segundo o IAB-SC Florianoacutepolis 2002
CASTELLS Manuel A sociedade em rede 2 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 1999
CAVALCANTI Cloacutevis (org) Desenvolvimento e natureza estudos para uma sociedade sustentaacutevel 2 ed- Satildeo Paulo Cortez Recife PE Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco 1998
CECCA - CENTRO DE ESTUDOS CULTURA E CIDADANIA (SC) Uma Cidade numa Ilha relatoacuterio sobre os problemas soacutecio-ambientais da Ilha de Santa Catarina 2 ed Florianoacutepolis Insular 1997
CHAUI Marilena de Souza O que eacute ideologia 39 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1995
CHOAY Franccediloise O Urbanismo Satildeo Paulo Perspectiva 1979
COMISSAtildeO DE DESENVOLVIMENTO URBANO E INTERIOR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS SECRETARIA ESPECIAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO DA PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA CAIXA ECONOcircMICA FEDERAL E INSTITUTO POacuteLIS Estatuto da Cidade Guia para implementaccedilatildeo pelos municiacutepios e cidadatildeos Cacircmara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees Brasiacutelia 2001
COMISSAtildeO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Nosso futuro comum Rio de Janeiro Editora da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas 1988
COMPANS Rose Cidades sustentaacuteveis cidades globais Antagonismo ou complementaridade In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
153
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente Resoluccedilatildeo CONAMA 00186 art 1deg Ministeacuterio do Meio Ambiente (disponiacutevel em httpwwwmmagovbr acesso 24052006)
CONGRESSO NACIONAL Coacutedigo Florestal Lei N o 4771 de 15 de setembro de 1965
CONGRESSO NACIONAL Decreto da Mata Atlacircntica N o 750 de 10 de fevereiro de 1993
CONGRESSO NACIONAL SNUC - SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVACcedilAtildeO Lei N o 9985 de 18 de julho de 2000
CONFEREcircNCIA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO 1992 RIO DE JANEIRO RJ BRASIL Ministeacuterio das Relaccedilotildees Exteriores Divisatildeo do Meio Ambiente Brasilia DF Camara dos Deputados Coordenaccedilatildeo de Publicaccedilotildees 1995
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira A Questatildeo ambiental diferentes abordagens Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2003
CUNHA Sandra Baptista da GUERRA Antonio Joseacute Teixeira Impactos Ambientais Urbanos no Brasil Ed Bertrand Brasil Rio de Janeiro 2001
DIAS Leila Christina amp SANTOS Gislaine Aparecida dos Regiatildeo Territoacuterio e Meio Ambiente Uma Histoacuteria de Definiccedilotildees e Redefiniccedilotildees em Escalas Espaciais (1987-2001) Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V05 ndeg02 p45-56 2003
DOSSIEcirc DE INSERCcedilAtildeO SOCIOAMBIENTAL DO SAPIENS PARQUE In EIA RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL EIA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
FANTIN Marcia Cidade dividida Florianoacutepolis Futura 2000
FORUM DA AGENDA 21 LOCAL DO MUNICIacutePIO DE FLORIANOacutePOLIS 2000 FLORIANOacutePOLIS SC Agenda 21 Local do Municiacutepio de Florianoacutepolis meio ambiente quem faz eacute a gente versatildeo preliminar Florianoacutepolis Prefeitura Municipal de Florianopolis 2000
FRAMPTON Kenneth Histoacuteria Criacutetica da Arquitetura Moderna Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2000
FURTADO Celso O Mito do Desenvolvimento Econocircmico 2 ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1974 117p
GARCIA NETTO Luiz da Rosa Diagnoacutestico do ambiente urbano Norte da Ilha de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 1996
GUumlELL Joseacute Miguel Fernaacutendez Planificacioacuten Estrateacutegica de Ciudades Barcelona Editorial Gustavo Gili SA 1997
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
154
GUumlNTHER Hartmut Como Elaborar um Relato de Pesquisa Seacuterie Planejamento de Pesquisa nas Ciecircncias Sociais ndeg02 Brasiacutelia DFUnB Laboratoacuterio de Psicologia Ambiental 2004
HAFERMANN Mariacutelia Universidade Federal de Santa Catarina Sustentabilidade e desenvolvimento turiacutestico na Ilha de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo
HARVEY David A justica social e a cidade Satildeo Paulo HUCITEC 1980
HARVEY David A Produccedilatildeo Capitalista do Espaccedilo Annablume 2005
IPH Instituto de Pesquisas Hidroloacutegicas Estudo hidrodinacircmico do rio Papaquara ndash Sapiens Parque Porto Alegre RS ndash Setembro 2003
IPUF Instituto de Planejamento Urbano de Florianoacutepolis Plano Diretor dos Balneaacuterios 1985
JACOBS Jane Morte e Vida nas Grandes Cidades Ed Martins Fontes Satildeo Paulo 2001
FERRARI JUacuteNIOR Joseacute Carlos Limites e Potencialidades do Planejamento Urbano Uma discussatildeo sobre os pilares e aspectos recentes da organizaccedilatildeo espacial das cidades brasileiras Estudos Geograacuteficos Rio Claro 2(1)15-28 junho ndash 2004
LEFEacuteBVRE Henri O direito agrave cidade Editora Moraes Satildeo Paulo 1969
LEFF Enrique Ecologiacutea y capital racionalidad ambiental democracia participativa y desarrollo sustentable 2 ed corr aum Madrid Siglo XXI Editores c1994
LOJKINE Jean O estado capitalista e a questatildeo urbana 2ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1997
LOPES Rodrigo A cidade intencional o planejamento estrateacutegico de cidades Rio de Janeiro Mauad 1998
MARICATO Ermiacutenia As Ideacuteias Fora do Lugar e o Lugar Fora das Ideacuteias In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
MARICATO Ermiacutenia Brasil cidades alternativas para a crise urbana 2 ed Petroacutepolis Vozes 2002
MARICATO Ermiacutenia Metroacutepole legislaccedilatildeo e desigualdade Estudos Avanccedilados vol 17 n 48 Satildeo Paulo MayAug 2003
MARX Karl O capital critica da economia poliacutetica 14 ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1994
MASCARO Juan Luis Manual de loteamentos e urbanizaccedilotildees Porto Alegre Sagra DC Luzzatto 1994
MILAREgrave Eacutedis Estudo Preacutevio de Impacto Ambiental no Brasil In ABSABER Aziz Nacib MULLER-PLANTENBERG Clarita organizadores Previsatildeo de impactos o estudo de
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
155
impacto ambiental no leste oeste e sul experiecircncias no Brasil na Ruacutessia e na Alemanha Satildeo Paulo EDUSP 1994
MILES Valentina de Oliveira Diagnoacutestico da ocupaccedilatildeo urbana e degradaccedilatildeo ambiental em Canasvieiras apontamentos para a promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro Tecnoloacutegico Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia de Produccedilatildeo Florianoacutepolis 2005
MONTIBELLER FILHO Gilberto Industrializaccedilatildeo e ecodesenvolvimento contradiccedilotildees possibilidades e limites em economia capitalista perifeacuterica- o estado de Santa Catarina (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1994
MONTIBELLER FILHO Gilberto O mito do desenvolvimento sustentaacutevel meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias Florianoacutepolis Ed UFSC 2004
MUMFORD Lewis A cidade na histoacuteria suas origens transformaccedilotildees e perspectivas Satildeo Paulo Martins Fontes 1998
NEGRAtildeO Joatildeo Joseacute Para conhecer o neoliberalismo Publisher Brasil 1998
OLIVEIRA Francisco de O Estado e a Exceccedilatildeo Ou o Estado de Exceccedilatildeo Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais V5 N1 2003
O QUE A CAPITAL NECESSITA Boletim Informativo do Sistema SINDUSCON Florianoacutepolis Ano 7 n85 julho de 2007
PAIVA Maria das Graccedilas de Menezes Venancio Sociologia do turismo 2 ed Campinas Papirus 1998
PEDRAtildeO Fernando A sustentabilidade social e ambiental Revista de Desenvolvimento Econocircmico Salvador BA Ano IV ndeg06 p28-40 2002
PEREIRA Gislene Novas perspectivas para a gestatildeo das cidades Estatuto da Cidade e mercado imobiliaacuterio Desenvolvimento e Meio Ambiente Editora UFPR Ndeg 9 P77-92 JanJun 2004
PIMENTA Margareth de Castro Afeche (org) Florianoacutepolis do outro lado do espelho Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
PREFEITURA DO RIO Plano Estrateacutegico da Cidade do Rio de Janeiro As cidades da Cidade Rio de Janeiro 2004 Disponiacutevel em httpwwwriorjgovbrplanoestrategico
PROGRAMA MAB O HOMEM E A BIOSFERA Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura ndash UNESCO Disponiacutevel em httpwwwunescoorgbr
REDCLIFT Michael Poacutes-sustentabilidade e os novos discursos de sustentabilidade Revista Raiacutezes Campina Grande Vol21 ndeg01 p124-136 janjun2002
RELATOacuteRIO DE IMPACTO AMBIENTAL RIMA Empreendimento Sapiens Parque Socioambiental Consultores Associados e Elabore Assessoria Estrateacutegica em Meio Ambiente Florianoacutepolis 2002
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
156
RIBEIRO Luiz C de Queiroz SANTOS JR Orlando Alves Globalizaccedilatildeo fragmentaccedilatildeo e reforma urbana o futuro das cidades brasileiras na crise Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1997
RIZZO Paulo Marcos Borges A natimorta tecnoacutepolis do Campeche em Florianoacutepolis ndash deliacuterio de tecnocratas pesadelo dos moradores In Florianoacutepolis Do Outro Lado do Espelho Margareth de Castro Afeche Pimenta organizadora Florianoacutepolis Ed da UFSC 2005
ROLNIK Raquel Cidades o Brasil e o Habitat II Revista Teoria e Debate nuacutemero 32 Julho agosto setembro de 1996 Disponiacutevel em httpwww2fpaorgbr acesso em 10112007
SAacute Mohana Faria de Processo de Avaliaccedilatildeo de Impactos Ambientais (AIA) do Empreendimento Sapiens Parque (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004
SACHS Ignacy Estrateacutegias de Transiccedilatildeo para o Seacuteculo XXI Coleccedilatildeo Cidade Aberta Satildeo Paulo Studio Nobel Fundap 1993
SACHS Ignacy Caminhos para o desenvolvimento sustentaacutevel 2 ed Rio de Janeiro Garamond 2002
SACHS Ignacy Desenvolvimento includente sustentaacutevel sustentado Rio de Janeiro Garamond 2004
SAacuteNCHEZ Fernanda A Reinvenccedilatildeo das Cidades para um Mercado Mundial Chapecoacute Argos 2003
SAacuteNCHEZ Fernanda A (in)sustentabilidade das cidades-vitrine In A Duraccedilatildeo das cidades sustentabilidade e risco nas poliacuteticas urbanas Henri Acselrad Organizador Rio de Janeiro DPampA 2001
SANTOS Cristina Silveira Ulyssea Planejamento turistico e seus reflexos no processo de urbanizaccedilatildeo nas praias de Canasvieiras e Jurerecirc Internacional (Dissertaccedilatildeo Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciecircncias Humanas Florianoacutepolis 1993
SANTOS Milton A urbanizaccedilatildeo brasileira 5 ed Satildeo Paulo EDUSP 2005
SANTOS Milton Pensando o espaccedilo do homem Satildeo Paulo Hucitec 1982
SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave consciecircncia universal 11 ed Rio de Janeiro Record 2004
SAPIENS La ciudad del conocimiento Revista ambiente digital Arquitectura Del Ambiente Fundacioacuten CEPA Disponiacutevel em httpwwwrevista-ambientecomar acesso em 05122006
SAPIENS PARQUE - Audiecircncia Puacuteblica em Ponta das Canas Produccedilatildeo para o programa Interesse Puacuteblico TV Justiccedila Data 18 de Agosto 2004 Florianoacutepolis Disponiacutevel em httpwwwprscmpfgovbr acesso em 15062007
REFEREcircNCIAS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
157
SEN Amartya Desenvolvimento como liberdade Satildeo Paulo Companhia das Letras 2000
SILVA Adriana Gondran Espaccedilos Puacuteblicos Turismo e o Resgate da Cidadania em Canasvieiras Poacutes-Graduaccedilatildeo em Turismo e Hotelaria Universidade do Vale do Itajaiacute Balneaacuterio Camburiuacute 2005
SILVA Gilceacuteia Pesce do Amaral Science parks and urban design a cross-cultural investigation Oxford 2001 1v (Tese Doutorado) - Oxford Brookes University
SOUZA Cristiane Mansur de Moraes Avaliaccedilatildeo Ambiental Estrateacutegica como Subsiacutedio para o Planejamento Urbano (Tese de Doutorado) Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2003
SOUZA Marcelo Lopes de Mudar a cidade uma introduccedilatildeo criacutetica ao planejamento e agrave gestatildeo urbanos 3 ed rev Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2004
STEINBERGER Mariacutelia A (re)construccedilatildeo de mitos sobre a (in)sustentabilidade do(no) espaccedilo urbano Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional-ANPUR 2001
SWARBROOKE John Turismo sustentaacutevel conceitos e impacto ambiental 3 ed Satildeo Paulo Aleph 2002
VAINER Carlos Paacutetria Empresa e Mercadoria In A Cidade do Pensamento Uacutenico desmanchando consensos Petroacutepolis RJ Vozes 2000
VAZ Nelson Popini O centro histoacuterico de Florianoacutepolis espaccedilo puacuteblico do ritual Florianoacutepolis FCC Ed da UFSC 1991
VEIGA Joseacute Eli da Desenvolvimento sustentaacutevel o desafio do seacuteculo XXI Rio de Janeiro Garamond 2005
VIEIRA Nataacutelia Miranda A Imagem diz Tudo O Espaccedilo Urbano como Objeto de Consumo Bahia Anaacutelise e Dados Salvador ndash BA SEI V9 Ndeg2 P39-46 Set 1999
VIEIRA Paulo Freire Desenvolvimento e meio ambiente no Brasil a contribuiccedilatildeo de Ignacy Sachs Porto Alegre Pallotti Florianoacutepolis APED 1998
VILLACcedilA Flavio Espaccedilo intra-urbano no Brasil Satildeo Paulo Studio Nobel FAPESP 2001
Portais citados ao longo do texto
httpwwwnewsweekcom httpwwwfinepgovbr httpwwwfapescrct-scbr httpwwwibgegovbr httpwebworldbankorg httpwwwvitruviuscombr httpwwwestatutodacidadeorgbr httpwwwsbaucombr httpwwwhsmcombr httpwwwcuritibapaises-america
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
158
ANEXO 1 ndash AVALIACcedilAtildeO DO SAPIENS PARQUE SEGUNDO O IAB-SC
Para FUNDACcedilAtildeO CERTI AC Joseacute Eduardo De Silvia Lenzi Eduardo Castells Enrique Brena Miguel Pousadela Nelson Saraiva Ref Projeto SAPIENS Park
INTRODUCcedilAtildeO
Antes de apresentar a verificaccedilatildeo e complementaccedilatildeo das sugestotildees tal como solicitado por Leandro atraveacutes de mail enviado no uacuteltimo final de semana eacute necessaacuterio fazer alguns esclarecimentos
Apoacutes a finalizaccedilatildeo do Workshop da terccedila feira da semana passada alguns dos profissionais convidados -aqueles arquitetos que tiacutenhamos feito no decorrer das sessotildees de trabalho apreciaccedilotildees conceitualmente convergentes- ficamos trocando e aprofundando opiniotildees a respeito do encontro no geral e das propostas apresentadas pela Ecoplan em particular
Podemos afirmar que houveram conclusotildees consensuais no que diz a respeito de uma avaliaccedilatildeo criacutetica dos trabalhos apresentados Aconteceu uma outra rodada de comunicaccedilotildees -telefocircnicas desta vez- ao recebermos o mail de Leandro houve novamente consenso em considerar que as sugestotildees enviadas natildeo constituiacuteam uma siacutentese representativa das criacuteticas levantadas durante o encontro Foi nesse momento que comeccedilou a se pensar na ideacuteia de apresentar este documento
Aleacutem disso se considerou que questotildees centrais a respeito do embasamento conceitual e paracircmetros programaacuteticos do empreendimento ficavam difiacuteceis de transcrever dentro da formataccedilatildeo proposta pela grade enviada Notadamente ficava incompatiacutevel relacionar os alcances do enquadramento inicial apresentado por Joseacute Eduardo -que entendemos correto e suporte essencial para a definiccedilatildeo do perfil do empreendimento- com sugestotildees parciais sobre as propostas apresentadas sem contar com espaccedilo para questionar a validade dos fundamentos conceituais que as orientaram em princiacutepio sugestotildees natildeo ultrapassam a condiccedilatildeo de serem apenas correccedilotildees pontuais
Assim depois de ponderada avaliaccedilatildeo acreditamos que a classe de produto que melhor responderia agraves expectativas da Fundaccedilatildeo CERTI atendendo tambeacutem agrave condiccedilatildeo de espelhar adequadamente nossa avaliaccedilatildeo criacutetica do Workshop seria um documento que a- Fosse de encaminhamento uacutenico recolhendo o conjunto de contribuiccedilotildees dos arquitetos signataacuterios b- Tivesse uma estrutura expositiva diferenciada por niacuteveis de abrangecircncias e enfoque 1) A respeito da qualificaccedilatildeo do empreendimento 2) A respeito das caracteriacutesticas do sitio 3) A respeito das caracteriacutesticas de outros empreendimentos de porte similar 4) A respeito da avaliaccedilatildeo criacutetica das propostas apresentadas e que finalmente c- Concluiacutesse soacute entatildeo com sugestotildees 5) A respeito de condicionantes e conteuacutedos programaacuteticos que entendemos devem ser respeitados e contemplados pelo Maacutester Plan do SAPIENS Park
Com esse entendimento e sempre dispostos para maiores esclarecimentos aguardamos retorno
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
159
1 SINGULARIDADES QUE NOTABILIZAM O EMPREENDIMENTO
11 Conceito original focado no preacute-suposto de que a superaccedilatildeo humana se opera atraveacutes do conhecimento
12 Intenccedilatildeo declarada de aplicar tecnologia em sua mais ampla conceituaccedilatildeo
13 Ousadia de conceber o SAPIENS Park como um grande projeto ordenador orientado pela preservaccedilatildeo ambiental e pela buacutesqueda de melhor qualidade vida
14 Preocupaccedilatildeo por identificar as qualidades que converteram Florianoacutepolis numa cidade desejada junto com a intenccedilatildeo de garantir que tais qualidades sejam preservadas e ainda enriquecidas atraveacutes das diretivas e conteuacutedos do programa que iraacute implementar o projeto
15 Ambiccedilatildeo de que um grande e utoacutepico projeto possa transbordar suas qualidades internas para aleacutem do siacutetio que o abriga objetivando se converter num centro gerador da requalificaccedilatildeo urbana da Ilha e que abra caminhos na direccedilatildeo de superar a exclusatildeo social
16 Identificaccedilatildeo de paracircmetros programaacuteticos que acrescentam agrave ideacuteia de criaccedilatildeo de um parque tecnoloacutegico atividades e equipamentos que abrem a possibilidade de que Florianoacutepolis desempenhe como um iacutecone o papel de nova e significativa centralidade referencial para a regiatildeo para o paiacutes e para o mundo
2 COMPONENTES DIFERENCIADORES PARA A AgraveREA SITUACcedilAcircO TAMANHO NATUREZA PUacuteBLICA
21 Compreensatildeo do papel que a comunidade espera e necessita que seja atendido por essa grande aacuterea pertencente agrave empresa estadual e por tanto de natureza essencialmente puacuteblica
22 Identificaccedilatildeo das expectativas sociais de usos especiacuteficos que deveriam ser atendidas pelo terreno do SAPIENS Park considerando que pela sua privilegiada localizaccedilatildeo tem a possibilidade de ser articulador de toda a regiatildeo Norte da Ilha e dela com a cidade
23 Identificaccedilatildeo dos componentes de programa que devem caracterizar usos diferenciais para o terreno do SAPIENS Park e para o terreno da Reserva Florestal do Rio Vermelho ao qual corresponde que fique integrado
24 Reconhecimento de alternativas complementares para o uso da aacuterea identificadas a partir de caracterizar e localizar atividades externas ao terreno ou determinadas por seu entorno urbano
25 Entendimento de que intervir na aacuterea atraveacutes da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park representa a uacuteltima possibilidade de reurbanizaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo urbana dos balneaacuterios do Norte da Ilha
26 Identificaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos atividades equipamentos estruturadores e complementares que levando em conta as vocaccedilotildees tradicionais da Ilha e a tendecircncia que se apresenta para o futuro possam ser articulados com o programa deste projeto de modo a corrigir a mono-funcionalidade balneaacuteria preacute-existente agrave implantaccedilatildeo do empreendimento
27 Proposiccedilatildeo dos retornos ou compensaccedilotildees sociais a que o projeto deve-se obrigar considerando sua condiccedilatildeo de bem puacuteblico
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
160
3 ESTUDO DE CASOS EXEMPLARES DE PORTE SEMELHANTE REFERENCIAIS
POSSIacuteVEIS PARA O ldquoSAPIENS PARKrdquo 31 Analisar o Plano Piloto e a arquitetura de Brasiacutelia como exemplo de construccedilatildeo de novos siacutembolos ou iacutecones para a modernidade brasileira dos anos lsquo50
32 Analisar o Plano da Barra da Tijuca como exemplo de construccedilatildeo de iacutecone brasileiro para o final do seacuteculo XX
33 Analisar o Parque do Flamengo referencial na construccedilatildeo de grandes espaccedilos puacuteblicos significativos e ordenadores de urbanidade
34 Analisar o iacutecone Copacabana e o protejo de reurbanizaccedilatildeo e engorde
35 Analisar o Plano para a orla de Barcelona como exemplo de urbanizaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo de orla
36 Estudar os melhores exemplos disponiacuteveis dentro da temaacutetica de grandes parques tecnoloacutegicos (La Villette Epcot Center Digital Miacutedia City) especialmente daqueles que tenham mostrado efetiva contribuiccedilatildeo agrave construccedilatildeo da urbanidade
37 Estudar os avanccedilos tecnoloacutegicos mais destacados e sua aplicaccedilatildeo agrave construccedilatildeo de tecidos urbanos e de edifiacutecios ambientalmente solucionados
4 AVALIACcedilAgraveO CRIacuteTICA DOS ESTUDOS DE ldquoMASTER PLANrdquo APRESENTADOS
41 Os trecircs estudos apresentados mostram-se modelagens inadequadas para satisfazer as ideacuteias originais propostas no programa para o SAPIENS Park tal como formuladas por Jose Eduardo no inicio do Workshop As soluccedilotildees diagramaacuteticas dos trecircs estudos repetem o mesmo projeto conservador distanciando-se da proposta do empreendimento que objetiva a inovaccedilatildeo como importante conteuacutedo
42 Os trecircs estudos repetem um mesmo e discutiacutevel modelo de urbanizaccedilatildeo -baseado na ideacuteia do cluster como unidade baacutesica para a organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano- que jaacute fora bastante difundido em meados do seacuteculo XX Os resultados dos casos nos quais o modelo foi aplicado mostraram significativos aumentos nas taxas de desagregaccedilatildeo comunitaacuteria com a inevitaacutevel sequumlela de aumento na marginalidade violecircncia urbana e exclusatildeo social especialmente quando implantado em urbanizaccedilotildees mais afastadas desprovidas de efetiva centralidade
43 Os trecircs estudos restringem-se ao uso dos mesmos componentes jaacute presentes nos diagramas e imagens preliminares previamente elaborados dentro do proacuteprio CERTI Natildeo se verifica a incorporaccedilatildeo de novos paracircmetros de programa necessaacuterios a um projeto urbano Avalia-se que as dimensotildees e a natureza puacuteblica do terreno obrigariam o projeto a contar com um programa mais ambicioso em prol de permitir a superposiccedilatildeo de atividades e de equipamentos que garantam adequadas compensaccedilotildees agrave cidade
44 Tal como foram apresentados os trecircs estudos satildeo umas repeticcedilotildees conceituais que poderia estar em qualquer lugar do mundo nada do que pode lhes dar contextualidade local nem relaccedilatildeo com seu entorno imediato estaacute trabalhado ou foi sugerido
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
161
45 Os estudos foram concebidos como ilhas dentro de uma ilha (que estaacute pela sua vez dentro da Ilha) Todas as trecircs soluccedilotildees apresentam um conceito de artefato isolado de seu entorno o que o converte em elemento desagregador e natildeo em integrador da estrutura urbana existente Fica assim comprometido o declarado objetivo de que o SAPIENS Park sirva como modelo de urbanizaccedilatildeo referencial para o entorno A anaacutelise apresentada eacute limitada agrave aacuterea do terreno e natildeo inclui a anaacutelise do comportamento do entorno urbano imediato e menos ainda do comportamento da regiatildeo norte da ilha
46 Os trecircs estudos repetem cenografias similares para todos as zonas do terreno desconsiderando ou minimizando o papel desempenhado pela riqueza e diversidade oferecidas pelo mesmo e seu entorno imediato urbanizaccedilotildees grandes vias de contorno rios forestaccedilatildeo caponetes nativos banhados etc
47 As trecircs soluccedilotildees apresentam uma riacutegida zonificaccedilatildeo monofuncional por atividades baseada nas diretrizes da Carta de Atenas (CIAM 1933) Experiecircncias mostram que uma tal concepccedilatildeo gera setores isolados entre si carentes de vida quando cessa a atividade especiacutefica de cada um antiteacuteticos agrave proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade e focos de seriacutessimos problemas de seguranccedila
48 As variaccedilotildees apresentadas nos estudos -onde se intercambiam aleatoriamente as localizaccedilotildees de uma ou outra das zonas- mostram que a distribuiccedilatildeo sobre o terreno de uma ou outra monoatividade eacute feita com indiferenccedila a respeito do contexto de implantaccedilatildeo e inclusive dos proacuteprios requerimentos ambientais que fossem especiacuteficos para cada atividade
49 No mesmo sentido verifica-se que as zonas de urbanizaccedilatildeo possuem tamanho e conformaccedilatildeo similar constituindo uma totalidade homogecircnea indiferenciada Ao verde preacute-existente resta apenas a funccedilatildeo de se transformar no resiacuteduo separador dessas ilhas urbanas de programas monofuncionais
410 Avalia-se que eacute artificial e inconsistente a proposta da aacutegua como cenaacuterio predominante e como principal nexo estruturador das atividades O efeito resultante eacute sempre separador (ao reforccedilar a condiccedilatildeo de isolamento das zonas-ilha criadas) e natildeo integrador Natildeo pode ser ignorado que a Ilha de Santa Catarina jaacute conta com duas extensas lagoas no seu interior e que o que estaacute faltando satildeo articulaccedilotildees da cidade com aacutereas verdes preservadas e com grandes espaccedilos puacuteblicos que sejam tratados com equipamentos culturais de lazer esportivos comerciais e comunitaacuterios
411 A extensa soluccedilatildeo de lagos sem usos claramente identificados apresentam-se decorrentes das aacutereas de empreacutestimo de materiais para a consecuccedilatildeo das ilhas de monofuncionalidade e natildeo com uma intencionalidade propositiva original dos estudos Nas conformaccedilotildees propostas a construccedilatildeo de lagos e ilhas correm o risco de desmontar toda a singularidade do ambiente nativo existente
412 Os estudos arquitetocircnicos natildeo foram enunciados contrariando ideacuteia atualmente dominante de que natildeo devem e natildeo podem ser tratados em separado da proposta de desenho urbano A fuga para um trabalho dominantemente paisagiacutestico natildeo soluciona tal impasse tornando menor o focirclego de tais estudos
413 Nesse mesmo sentido a apresentaccedilatildeo centrou-se na explicitaccedilatildeo de corredores visuais e alternacircncia de cheios e vazios sem que se observe uma compreensatildeo do grande potencial da aacuterea -equivale em m2 A mais de duas vezes o triangulo central de Florianoacutepolis- como a principal reserva de espaccedilos puacuteblicos e como o local da futura centralidade de toda a regiatildeo norte com projeccedilotildees para o resto da ilha
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
162
414 Natildeo haacute definiccedilatildeo de que aacutereas conservam a condiccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos quais semipuacuteblicos e quais privados nem de qual eacute o percentual relativo ou o desempenho previsto para cada um assim como da resoluccedilatildeo prevista para articular entre si esses trecircs diferentes niacuteveis de apropriaccedilatildeo Essa eacute uma questatildeo essencial na determinaccedilatildeo do caraacuteter final do empreendimento e permitiraacute estabelecer as efetivas possibilidades de uso do espaccedilo do SAPIENS Park por parte da cidadania
415 Natildeo foram fornecidas estimativas a respeito da demanda potencial prevista para o empreendimento nem de qual seria a consequumlente resposta de uma regiatildeo jaacute fraacutegil do ponto de vista ambiental
416 Finalmente natildeo haacute nenhum esclarecimento a respeito de qual foi o suporte teoacuterico selecionado nem de quais foram os modelos referencias nacionais ou internacionais adotados pela consultora para embasar a concepccedilatildeo das soluccedilotildees apresentadas Uma tal fundamentaccedilatildeo eacute de vital importacircncia para possibilitar melhor compreender as intencionalidades de projeto dos estudos apresentados
5 SUGESTOtildeES PARA UMA PROPOSTA ALTERNATIVA
51 A principal sugestatildeo e de que o projeto urbano e arquitetocircnico busque ser a proacutepria imagem construiacuteda do ideaacuterio do empreendimento baseado no avanccedilo do conhecimento sobre os modos do homem bem ocupar o planeta Neste ponto alertamos mais uma vez para a pertinecircncia das colocaccedilotildees feitas na abertura do encontro elas tecircm valor referencial essencial na definiccedilatildeo do perfil do programa do empreendimento Entendemos que a identificaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo meditada das tecnologias em seu conceito mais amplo e atualizado devem ser tambeacutem objetivos primaacuterios orientadores das propostas que devem ser feitas no campo da arquitetura e do urbanismo
52 Como principal compensaccedilatildeo ao uso de um terreno de natureza puacuteblica natildeo eacute difiacutecil imaginar um grande parque puacuteblico aberto agrave cidade e falando a esteacutetica dos valores vegetais locais como um importante componente da proacutepria condiccedilatildeo de urbanidade Componente do qual Florianoacutepolis mostra evidente carecircncia Esta compensaccedilatildeo em dimensotildees realmente generosas seria um importante elemento que facilitaria a negociaccedilatildeo com a sociedade na hora de discutir compensaccedilotildees frente agrave privatizaccedilatildeo de partes dessa imensa aacuterea
53 A leitura dos balneaacuterios monofuncionais baseados dominantemente na habitaccedilatildeo permite pensar na centralizaccedilatildeo de equipamentos faltantes aos balneaacuterios -como tambeacutem agrave cidade- no sentido de alimentar sua grande vocaccedilatildeo turiacutestica e outras que podem vir a despertar justamente a partir da implantaccedilatildeo do SAPIENS Park Eacute notaacutevel na cidade a ausecircncia de lugares excetuados os espaccedilos de praia que permitam a celebraccedilatildeo da cidadania nas suas mais variadas escalas incluindo ateacute aquelas das multidotildees reunidas pelo veratildeo Eventos os mais variados ficam prejudicados pela ausecircncia de tais espaccedilos A construccedilatildeo da centralidade inexistente para os balneaacuterios da ilha justificaria tambeacutem os desejos de centralidade regional local e internacional do empreendimento
54 O somatoacuterio de uma grande centralidade associado a parques trabalho e habitaccedilatildeo aumenta a superposiccedilatildeo desejada pelas cidades e eacute garantia de enriquecimento da cena urbana que se quer criar como novo e importante iacutecone Natildeo se constroacutei a imagem de uma grande centralidade com um programa que fica restrito apenas aos elementos que caracterizam um parque tecnoloacutegico Mais ainda deve-se pensar que a criaccedilatildeo de uma nova centralidade do porte estimado para o projeto do SAPINS Park pode vir a gerar um
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
163
deslocamento mais definitivo em direccedilatildeo ao Norte da Ilha da atual centralidade de Florianoacutepolis
55 Acreditamos que em relaccedilatildeo agrave conservaccedilatildeo do ambiente deveraacute ser perseguida a tese da toleracircncia zero em relaccedilatildeo aos resiacuteduos decorrentes da cultura humana Arquiteturas e organizaccedilotildees urbanas deveriam ser pensadas visando tal objetivo Nesse sentido recomenda-se especular com soluccedilotildees que diminuam a projeccedilatildeo sobre a paisagem natural representada pelas aacutereas de construccedilatildeo de edificaccedilotildees Nesse sentido eacute importante incentivar a pesquisa sobre novas soluccedilotildees urbanas tanto horizontais quanto verticais Adensar concentrar nuclear e com isso aliviar o continuo construiacutedo sobre o planeta eacute hoje reflexatildeo obrigatoacuteria de todo estudo urbano Mais ainda de um empreendimento que pretende primar como referencial em termos de qualidade de vida e proteccedilatildeo ambiental E fica claro que nessa filosofia natildeo podem ficar excluiacutedas as soluccedilotildees arquitetocircnicas que complementem as propostas urbanas
56 Eacute recomendaacutevel mudar o programa do projeto para incorporar o conceito de polifuncionalidade ou mix de funccedilotildees no compromisso de construir cidade e natildeo tatildeo soacute um parque temaacutetico com algumas atividades complementares para uso da populaccedilatildeo local
57 Considera-se que a vinculaccedilatildeo com o mar deve ser uma questatildeo central do projeto Para tanto deve ser cogitada a possibilidade de incorporar a vinculaccedilatildeo do SAPIENS Park com um terminal mariacutetimo de transporte de passageiros assim como tambeacutem com o terminal terrestre proacuteximo ao terreno
58 No mesmo sentido entendemos que a implantaccedilatildeo do SAPIENS Park obriga tanto a promotores quanto a projetistas a natildeo deixar de lado o problema representado pelo sistema geral de transporte puacuteblico urbano Assim como a infra-estrutura viaacuteria e de serviccedilos as demandas que venham a ser geradas pela implantaccedilatildeo do parque iratildeo a afetar profundamente natildeo apenas ao entorno imediato do terreno mas tambeacutem ao sistema regional na sua total complexidade
59 Por fim entendemos que a aacuterea do terreno deve ser entendida como campo de atuaccedilatildeo projetual para aleacutem do rio Papaquara conformando uma unidade que articule toda a regiatildeo norte da Ilha desde a estrada de acesso a Ponta das Canas e a SC 403 que vincula com Ingleses por um lado e entre a SC 401 que vincula com Canasvieiras e a estrada que vincula Cachoeira do Bom Jesus agrave SC 403 Nesse quadro fica facilitada a alternativa de que a area funcione como a centralidade da regiatildeo balneaacuteria norte (Daniela Jurereacute Canasvieiras Cachoeira Ponta das Canas Lagoinha Praia Brava Ingleses e Santinho) ampliando ainda o contexto para as comunidades de Vargem Grande e Rio Vermelho
Em Florianoacutepolis 4 de Julho de 2002
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
164
ANEXO 2
TABELA DE IMPACTOS E MEDIDAS COMPENSATOacuteRIAS
DO SAPIENS PARQUE
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
165
ANEXO 3 ndash MASTER PLAN SAPIENS PARQUE 2005
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
166
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
167
ANEXOS
______________________________________________________________________________
LIMITES DO PLANEJAMENTO ESTRATEacuteGICO APLICADO AO ESPACcedilO URBANO COMO INSTRUMENTO
DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL O CASO DO SAPIENS PARQUEBeatriz Francalacci da Silva
168
This document was created with Win2PDF available at httpwwwwin2pdfcomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use onlyThis page will not be added after purchasing Win2PDF