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  • ADRIANO GAMEIRO VIVANCOS

    ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS EM PROCESSO DE

    IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE

    Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia xxxxxxxxxxxxx

    SO PAULO

    2001

  • ADRIANO GAMEIRO VIVANCOS

    ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE

    EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS EM

    PROCESSO DE IMPLEMENTAO DE SISTEMAS

    DE GESTO DA QUALIDADE

    Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia

    So Paulo 2001

  • ADRIANO GAMEIRO VIVANCOS

    ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE

    EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS EM

    PROCESSO DE IMPLEMENTAO DE SISTEMAS

    DE GESTO DA QUALIDADE

    Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia rea de concentrao: Engenharia de Construo Civil e Urbana Orientador: Prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso

    So Paulo 2001

  • FICHA CATALOGRFICA

    Vivancos, Adriano Gameiro Estruturas organizacionais de empresas construtoras de edifcios em

    processo de implementao de sistemas de gesto da qualidade, So Paulo, 2001.

    169p. Dissertao (Mestrado) Escola Politcnica da Universidade de So

    Paulo. Departamento de Engenharia de Construo Civil. 1. Estruturas Organizacionais 2. Qualidade 3. Construo Civil

    I. Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia de Construo Civil. II. t.

  • Aos meus pais Ivone e Joo pelo constante amor e incentivo.

  • i

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria de agradecer a todos aqueles que, de alguma forma, contriburam para a

    realizao desta dissertao. Em primeiro lugar, agradeo ao meu orientador, professor

    Francisco Ferreira Cardoso, pela confiana, pacincia e, principalmente, pela

    amizade construda ao longo destes ltimos anos.

    Agradeo tambm aos membros das bancas de qualificao e de defesa desta

    dissertao, professor Fernando Henrique Sabbatini e engenheiro Roberto de

    Souza, expoentes das transformaes pelas quais atravessa o setor da construo civil

    e pelos quais tenho enorme admirao.

    Sou tambm grato s empresas que abriram suas portas para a realizao dos estudos

    de caso apresentados neste trabalho:

    Construtora Massafera Ltda.;

    Tecnosul Engenharia e Construes Ltda.;

    Tarraf Construtora; e

    REM Construtora e Incorporadora Ltda.

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    agradeo pelo apoio financeiro dado esta pesquisa.

    No poderia deixar de agradecer a todos os professores com os quais tive a

    oportunidade de conviver e trabalhar desde o incio do mestrado: Ubiraci Souza,

    Mrcia Barros, Luis Srgio Franco, Slvio Melhado, Jos Francisco Assumpo,

    Jonas Medeiros e Mauro Zilbovcius da EPUSP, Valter Beraldo da FEA e Mrio

    Donadio e Clia Menniti da PUC-SP.

  • ii

    queles que acreditaram no meu trabalho nestes ltimos anos, em especial a Hermes

    Fajersztajn, Paulo Roberto Santos, Augusto Camargo e Ricardo Solera.

    Ao professor Luis Csar Souza Pinto e Universidade Paulista pela confiana em

    mim depositada e aos meus alunos pela permanente fonte de inspirao e motivao.

    Aos tcnicos da CDHU com os quais tive o prazer de trabalhar: Raphael Pileggi,

    Altamir Tedeschi, Vtor Augusto dos Santos, Srgio Artur de Andrade, Gilberto

    Diniz e Edgard Nascimento.

    Aos amigos que fiz em So Paulo: Sofa e Mrcio, companheiros inseparveis; Fred,

    Edson e Cludia, companheiros de longas viagens; Alberto, Artemria, Daniel,

    Eliana, Fanny, Jlio Csar, Leonardo, Lus Otvio, Odvio, Rubnio, Rubiane,

    Srgio, Yda, etc, etc, etc.

    Aos caipiras que, como eu, esto vivendo a aventura chamada So Paulo, meus

    irmos Leandro, Dimitri, Marcelinho, Marcelo Camacho, Jlio Csar e Sandro.

    Aos amigos que esto distantes mas que esto guardados no peito: Kad, Rogrio

    Camacho, Reginaldo, Paulo Vincius, Arnaldo e Rogrio Pecci.

    querida Giuliana pelo amor, alegria e pacincia comigo ao longo deste trabalho.

    Finalmente, pelo carinho e por estarem sempre ao meu lado, demonstrando amor,

    apoio e interesse pelo trabalho, agradeo aos meus pais Ivone e Joo, aos meus irmos

    Fbio e Gustavo e s minhas tias Cristina e Clia.

  • iii

    SUMRIO

    LISTA DE TABELAS............................................................................................................................... V

    LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................................VI

    LISTA DE ABREVIATURAS...............................................................................................................VII

    RESUMO .............................................................................................................................................. VIII

    ABSTRACT ..............................................................................................................................................IX

    1 INTRODUO ..................................................................................................................................1

    1.1 JUSTIFICATIVA..............................................................................................................................1 1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................................................3 1.3 ESCOPO DO TRABALHO.................................................................................................................4 1.4 METODOLOGIA.............................................................................................................................5 1.5 ESTRUTURAO DO TRABALHO....................................................................................................7

    2 CARACTERIZAO DO SETOR DA CONSTRUO DE EDIFCIOS ..................................9

    2.1 PARTICULARIDADES DO SETOR DE EDIFCIOS................................................................................9 2.2 A GESTO DA QUALIDADE NA CONSTRUO DE EDIFCIOS........................................................13

    2.2.1 O Programa QUALIHAB e o PBQP-H ..............................................................................16 2.2.1.1 Programa QUALIHAB.................................................................................................................. 16 2.2.1.2 PBQP-H ........................................................................................................................................ 18

    2.2.2 A importncia da gesto da qualidade para a construo de edifcios..............................19 2.2.3 A implementao de sistemas de gesto da qualidade .......................................................21 2.2.4 Impactos da implementao de sistemas de gesto da qualidade nos sistemas de produo

    das empresas construtoras ................................................................................................25

    3 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS .........................................................................................31

    3.1 A TEORIA DAS ORGANIZAES...................................................................................................33 3.2 O CONCEITO DE ESTRUTURA ORGANIZACIONAL .........................................................................42

    3.2.1 Diviso do trabalho e especializao .................................................................................44 3.2.2 Hierarquia ..........................................................................................................................46 3.2.3 Amplitude de controle.........................................................................................................47 3.2.4 Distribuio de autoridade e responsabilidade..................................................................48 3.2.5 Centralizao e descentralizao .......................................................................................49

    3.2.5.1 Perfis organizacionais de Likert .................................................................................................... 51 3.2.5.2 Ideologias organizacionais de Morgan .......................................................................................... 52

    3.2.6 Departamentalizao..........................................................................................................54 3.2.7 Comunicao ......................................................................................................................58

    3.3 ESTRUTURA FORMAL E ESTRUTURA INFORMAL ..........................................................................61 3.4 CULTURA ORGANIZACIONAL ......................................................................................................62 3.5 CONDICIONANTES DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ................................................................64

    3.5.1 Objetivos e estratgias........................................................................................................65 3.5.1.1 Os objetivos e estratgias como condicionantes da estrutura na construo de edifcios .............. 70

    3.5.2 Ambiente .............................................................................................................................73 3.5.2.1 O ambiente como condicionante da estrutura na construo de edifcios...................................... 74

    3.5.3 Tecnologia ..........................................................................................................................77 3.5.3.1 A tecnologia como condicionante da estrutura na construo de edifcios.................................... 78

    3.5.4 Recursos humanos ..............................................................................................................80 3.5.4.1 Teoria X e Teoria Y....................................................................................................................... 82 3.5.4.2 Os recursos humanos como condicionantes da estrutura na construo de edifcios..................... 83

    3.6 MODELO DE ORGANIZAO DE MINTZBERG...............................................................................86

  • iv

    4 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS ESTUDO DE CASOS ...................................................................................................................89

    4.1 DIRETRIZES PARA O ESTUDO DAS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS...............................................................................................................................89

    4.2 CARACTERIZAO DAS EMPRESAS ESTUDADAS ESTUDO DE CASOS.........................................93 4.2.1 Empresa A...........................................................................................................................96 4.2.2 Empresa B.........................................................................................................................100 4.2.3 Empresa C ........................................................................................................................103 4.2.4 Empresa D ........................................................................................................................106

    4.3 CARACTERIZAO DAS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DAS EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS ESTUDADAS ..............................................................................................................109

    4.3.1 Anlise dos Organogramas funcionais.............................................................................110 4.3.1.1 Setores administrativos e financeiros .......................................................................................... 112 4.3.1.2 Setores comerciais e de marketing .............................................................................................. 114 4.3.1.3 Setores tcnicos ........................................................................................................................... 115

    4.3.2 Anlise dos Papis Identificados nas Empresas ...............................................................117 4.3.3 Anlise das Estruturas de Poder.......................................................................................120 4.3.4 Anlise dos Sistemas de Comunicao .............................................................................123 4.3.5 Anlise das Estruturas Informais Percebidas nas Empresas............................................125 4.3.6 Anlise da Cultura Organizacional Percebida nas Empresas..........................................126 4.3.7 Identificao das Estratgias Adotadas pelas Empresas..................................................128 4.3.8 Anlise do Posicionamento das Empresas no Ambiente...................................................131 4.3.9 Avaliao dos Aspectos Tecnolgicos ..............................................................................132 4.3.10 Avaliao dos Aspectos Ligados aos Recursos Humanos ................................................133 4.3.11 Caracterizao geral das estruturas organizacionais de empresas construtoras de

    edifcios de pequeno e mdio portes................................................................................136 4.4 IMPACTOS DA IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE NAS ESTRUTURAS

    ORGANIZACIONAIS DE EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS ..............................................141 4.4.1 Impactos sobre a estrutura administrativa .......................................................................141 4.4.2 Impactos sobre o setor produtivo .....................................................................................144

    5 CONSIDERAES FINAIS.........................................................................................................148

    5.1 TPICOS PARA FUTURAS INVESTIGAES.................................................................................150

    ANEXO QUESTIONRIO PADRONIZADO EMPREGADO NOS ESTUDOS DE CASO.......153

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................................................165

  • v

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 : Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de

    gesto da qualidade observados por REIS (1998). .............................................................................26 Tabela 2: Sistemas mecnicos e sistemas orgnicos (BURNS; STALKER, 1968)....................................37 Tabela 3 : Algumas vantagens e desvantagens da descentralizao (CHIAVENATO, 1997). ..................51 Tabela 4 : Os quatro sistemas administrativos definidos por LIKERT (1961). ..........................................52 Tabela 5 : As Novas Formas de Racionalizao da Produo baseadas na estratgia competitiva genrica

    da liderana pelos custos (CARDOSO, 1997). ...................................................................................72 Tabela 6 : As Novas Formas de Racionalizao da Produo baseadas na estratgia competitiva genrica

    da competio pela diferenciao (CARDOSO, 1997). .....................................................................73 Tabela 7 : A tecnologia e suas conseqncias na organizao segundo Woodward

    (CHIAVENATO, 1997). ....................................................................................................................78 Tabela 8 : Duas concepes sobre a natureza humana (McGREGOR, 1960). ...........................................82 Tabela 9 : Caracterizao das empresas estudadas. ....................................................................................93 Tabela 10 : reas de atuao das empresas dentro do setor da construo civil, segundo a diviso da

    FUNDAO PINHEIRO NETO (1984). ..........................................................................................94 Tabela 11 : Formas de atuao das empresas no subsetor de edifcios e os mercados nos quais elas atuam.

    ............................................................................................................................................................94 Tabela 12 : Classificao das empresas quanto ao porte em funo do nmero de empregados................95 Tabela 13 : Funes da estrutura de produo identificada nos casos estudados. ....................................116 Tabela 14 : Valores pregados pelas altas administraes e valores percebidos pelos funcionrios nas obras

    das empresas estudadas. ...................................................................................................................126

  • vi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 : Representao das inter-relaes entre os elementos do sistema de gesto da qualidade

    (adaptada de PICCHI, 1993 e SOUZA, 1997)....................................................................................22 Figura 2 : Outras funes da organizao que podem proteger o ncleo de produo das incertezas

    ambientais (SLACK et al. , 1997).......................................................................................................33 Figura 3: A mudana de paradigma para o sucesso organizacional (ASHKENAS et al., 1995). ...............39 Figura 4 : Um modelo geral do comportamento nas organizaes (NADLER et al., 1983).......................81 Figura 5 : As cinco partes da organizao segundo o modelo de MINTZBERG (1995)............................86 Figura 6 : Organograma funcional da empresa A. ......................................................................................98 Figura 7 : Organograma funcional da empresa B. ....................................................................................102 Figura 8 : Organograma funcional da empresa C. ....................................................................................105 Figura 9 : Organograma funcional da empresa D. ....................................................................................108 Figura 10 : Nveis hierrquicos existentes nas empresas estudadas. ........................................................111 Figura 11 : Aes estratgicas apontadas pela direo das empresas. ......................................................129 Figura 12 : Avaliao percentual do grau de terceirizao de atividades entre as empresas estudadas....137 Figura 13 : Anlise do grau de internalizao e subcontratao nas obras das empresas estudadas.........138 Figura 14 : Representao de organizao padro de uma empresa construtora de pequeno e mdio porte

    atravs do modelo de MINTZBERG (1995). ...................................................................................140 Figura 15 : Impactos da implantao dos sistemas de gesto da qualidade junto aos funcionrios dos

    escritrios. ........................................................................................................................................144 Figura 16 : Impactos da implantao dos sistemas de gesto da qualidade junto aos funcionrios das

    obras. ................................................................................................................................................146

  • vii

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ABEF: Associao Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundaes e Geotecnia

    ABNT: Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    APEOP: Associao Paulista de Empresrios de Obras Pblicas

    CDHU: Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano do Estado de So Paulo

    EPUSP: Escola Politcnica da Universidade de So Paulo

    ISO: International Standard Organization

    ITQC: Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construo

    NFRP: Nova Forma de Racionalizao da Produo (CARDOSO, 1997)

    OCC: Organismo de Certificao Credenciado

    PBQP: Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade

    PBQP-H: Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat

    PCC: Departamento de Engenharia de Construo Civil da EPUSP

    QUALIBAT: Organisme de Certification et de Qualification des Entreprises du Btiment

    QUALIHAB: Programa da Qualidade da Construo Habitacional do Estado de So Paulo

    SEBRAE-SP: Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo

    SENAI: Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    SindusCon-RJ: Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de Rio de Janeiro

    SindusCon-SP: Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de So Paulo

    SiQ-Construtoras: Sistema de Qualificao de Empresas de Servios e Obras - Construtoras

    UFF: Universidade Federal Fluminense

    USP: Universidade de So Paulo

  • viii

    RESUMO

    No presente trabalho, atravs de uma reviso bibliogrfica e de quatro estudos de caso,

    so caracterizadas as estruturas organizacionais de pequenas e mdias empresas

    construtoras de edifcios e identificadas as principais transformaes ocorridas nestas

    estruturas em funo da implementao de sistemas de gesto da qualidade.

    A reviso bibliogrfica enfoca da teoria das organizaes, onde so discutidos os

    principais conceitos que constituem as estruturas organizacionais e os seus principais

    condicionantes. Tambm realizada uma caracterizao do setor de edifcios, onde so

    destacados aspectos de interesse do trabalho, como a configurao destes

    condicionantes no setor de edifcios e o papel atual da gesto da qualidade como

    principal estratgia adotada pelas empresas na busca de avanos gerenciais e

    tecnolgicos.

    Finalmente, so propostas diretrizes para o diagnstico de estruturas organizacionais

    de empresas construtoras de edifcios, so apresentados os casos estudados e so

    discutidas a organizao dessas empresas e os impactos da implantao de seus

    sistemas de gesto da qualidade.

  • ix

    ABSTRACT

    In this thesis, through a bibliographical review and four case studies, the

    organizational structure of small and medium sized building companies is

    characterized and the most important changes in these structures due to the

    implementation of quality management systems are identified.

    A bibliographical review in the organizational theory field is conducted, emphasizing

    the conceptualization of the organizational structure and the definition of its

    conditionings. Also the Brazilian building sector is briefly characterized. The

    configuration of these conditionings in the sector is discussed and quality management

    is pointed as the main strategy adopted by building companies in order to achieve

    managerial and technological advances.

    Directives for the conduction of organizational structure diagnostics in building

    companies are proposed. The four case studies are presented and, based on the

    directives proposed, the organization of these companies is finally discussed. The

    impact of the companies quality management systems in their organization is

    presented through this discussion.

  • 1. Introduo 1

    1 INTRODUO

    1.1 JUSTIFICATIVA

    OLIVEIRA (1994) define sucintamente a organizao da empresa como a ordenao e

    agrupamento de atividades e recursos, visando ao alcance dos objetivos e resultados

    estabelecidos.

    Ento, quais so as atividades desenvolvidas pelas empresas construtoras de edifcios?

    Como essas atividades so ordenadas e agrupadas nessas organizaes? Como so

    distribudos os recursos? De que forma, efetivamente, se organizam tais empresas

    construtoras visando ao alcance de seus objetivos e resultados?

    Essas no so perguntas sem respostas, mas que possuem respostas imprecisas nos

    meios acadmico e empresarial. Qualquer pessoa que atue no setor de edifcios, seja

    ela empresrio, engenheiro, pesquisador, etc., seria capaz de dar respostas a essas

    perguntas, provavelmente corretas, mas dificilmente completas.

    Tem sido vastamente estudados os recursos fsicos empregados na construo de

    edifcios (concreto, argamassas, cermicas, ao, etc.), a tecnologia envolvida nos

    processos de produo, a viabilidade econmico-financeira dos empreendimentos, as

    novas formas de gesto do processo de produo de edifcios, dentre outros aspectos

    relacionados s atividades desenvolvidas por essas empresas. Entretanto, aspectos

    relacionados estrutura organizacional das empresas construtoras de edifcios, como

    as formas de departamentalizao utilizadas, os principais cargos existentes e suas

    funes e a cultura organizacional praticada, no tem sido, via de regra, objeto de

    investigaes detalhadas. Considera-se, portanto, oportuna a realizao de um estudo

    que viesse a diagnosticar e a caracterizar as estruturas organizacionais de empresas

  • 1. Introduo 2

    construtoras de edifcios, especialmente no que tange aos aspectos relacionados aos

    setores produtivos dessas empresas.

    Por outro lado, em funo de alteraes nos condicionantes do setor, intensificadas nos

    anos 90, e do acirramento da competitividade, diversas empresas tm adotado como

    estratgia a implantao de sistemas de gesto da qualidade. Para a implantao desses

    sistemas, de acordo com SOUZA (1997), preciso se considerar tanto os fatores

    tcnicos relativos gesto de processos como os fatores humanos, relacionados

    gesto das pessoas.

    Diante de tal abrangncia dos sistemas de gesto da qualidade, acredita-se que o seu

    desenvolvimento tenha, de fato, impactos na estrutura organizacional das empresas.

    Acredita-se, tambm, que as alteraes na estrutura organizacional decorrentes da

    implantao desses sistemas, relacionadas principalmente melhor definio de

    autoridades e responsabilidades, tendncia de descentralizao, maior qualificao

    dos recursos humanos e mudanas culturais sejam to relevantes quanto os impactos

    relacionados diretamente ao processo de produo, que j foram evidenciados em

    outros trabalhos (PICCHI, 1993; REIS, 1998).

    Visto estar-se estudando as estruturas organizacionais de empresas construtoras de

    edifcios em um momento em que um grande nmero delas esto implantando sistemas

    de gesto da qualidade, considerou-se oportuna a escolha de empresas que estivessem

    engajadas neste processo para a realizao de estudos de caso. Desta forma, foi

    possvel a identificao de transformaes na estrutura organizacional decorrentes da

    implementao de sistemas de gesto da qualidade, contribuindo-se para a

    caracterizao e o entendimento deste movimento de busca da qualidade pelo qual o

    setor est atravessando.

  • 1. Introduo 3

    1.2 OBJETIVOS

    O trabalho possui dois objetivos gerais, que so:

    a realizao de uma reviso dos principais conceitos relacionados ao estudo das

    estruturas organizacionais e sua adaptao ao contexto da construo de edifcios;

    a caracterizao das estruturas organizacionais de empresas construtoras de

    edifcios de pequeno e mdio portes, com a identificao de transformaes

    ocorridas nessas estruturas, decorrentes da implementao de sistemas de gesto

    da qualidade.

    A partir de uma reviso bibliogrfica so, portanto, esclarecidos os principais conceitos

    e definies acerca do estudo das estruturas organizacionais, destacando-se: o conceito

    de estrutura organizacional seus componentes e condicionantes. So igualmente

    abordados conceitos como diviso do trabalho, hierarquia, amplitude de controle,

    responsabilidade, autoridade, departamentalizao, grau de descentralizao,

    comunicao, grau de formalizao e cultura organizacional. Estes conceitos so

    contextualizados no setor da construo civil.

    So ento propostas diretrizes para o estudo de estruturas organizacionais de empresas

    construtoras de edifcios, que serviram de base para o desenvolvimento dos demais

    objetivos do trabalho.

    Atravs de estudos de caso, identificam-se e caracterizam-se, para as empresas

    construtoras de edifcios: os organogramas funcionais tpicos, os principais setores e

    cargos existentes e suas atribuies, as estruturas de poder existentes, os sistemas de

    comunicao utilizados, alm dos principais aspectos culturais presentes nessas

    organizaes. ainda discutida a relao entre a estrutura organizacional das empresas

  • 1. Introduo 4

    e as estratgias competitivas e de produo por elas adotadas, seu posicionamento no

    mercado, a tecnologia empregada e a gesto dos recursos humanos.

    Finalmente, visto que os casos estudados envolvem empresas em processo de

    implementao de sistemas de gesto da qualidade, so identificados os principais

    impactos deste processo nas estruturas organizacionais das empresas.

    1.3 ESCOPO DO TRABALHO

    Com o intuito de tornar claro o escopo deste trabalho, adota-se a classificao da

    FUNDAO JOO PINHEIRO (1984), que divide o setor da construo civil em trs

    subsetores: construo pesada, montagem industrial e edifcios, e que tem sido

    utilizada por alguns dos principais autores consultados

    (FARAH, 1992; PICCHI, 1993).

    No trabalho so estudadas especificamente as empresas do subsetor de edifcios que,

    segundo FARAH (1992), inclui entre suas atividades a construo de edifcios

    residenciais, comerciais, institucionais e industriais; a construo de conjuntos

    habitacionais; a realizao de partes de obras, por especializao, tais como fundaes,

    estruturas e instalaes e ainda execuo de servios complementares, como reformas.

    Divide-se ainda o subsetor em funo da forma de atuao da empresa e do mercado

    no qual ela atua, considerando as seguintes possibilidades: empresa promotora e

    construtora de edifcios no mercado privado; empresa construtora de edifcios no

    mercado privado; e/ou empresa construtora de edifcios no mercado pblico.

  • 1. Introduo 5

    1.4 METODOLOGIA

    O trabalho baseia-se na realizao de uma reviso bibliogrfica e em estudos de casos.

    Caracteriza-se como uma pesquisa do tipo exploratrio-descritiva, de carter

    qualitativo, trabalhando com mltiplos estudos de caso (quatro empresas construtoras

    de edifcios) e mltiplas fontes de evidncia (entrevistas, observao e anlise de

    documentos).

    Assim como o trabalho de BARROS NETO (1999), ele exploratrio porque busca

    conhecer e estudar assuntos pouco abordados nas pesquisas relacionadas com a

    construo de edifcios e aumentar o conhecimento sobre o tema. descritivo porque

    procura entender e mostrar como funciona determinado fenmeno ou comunidade.

    qualitativo uma vez que feito em ambiente natural, com muitas variveis e pouco

    conhecimento sobre o mesmo... e ...deseja-se ter viso global do problema e no

    apenas uma medio abstrata de correlao entre um conjunto pequeno de variveis.

    A pesquisa bibliogrfica realizada abrangeu principalmente dois temas: a teoria das

    organizaes e a gesto da qualidade. importante ressaltar-se uma diferena na

    reviso destes dois assuntos: enquanto a gesto da qualidade j foi extensamente

    estudada sob a tica da construo civil, a teoria das organizaes ainda no o foi.

    Da resultou a necessidade da realizao de uma reviso bibliogrfica mais abrangente

    acerca da teoria das organizaes, reunindo-se os principais conceitos e os pontos de

    vista dos principais autores, e capaz de fundamentar a realizao da pesquisa e as

    discusses desenvolvidas ao longo do trabalho. Foram consultados autores que

    estudaram as organizaes dentro da construo civil e, principalmente, autores cujas

    obras focam a indstria de forma geral. Quanto gesto da qualidade, a reviso

    bibliogrfica concentrou-se em autores cujo foco do trabalho a construo civil.

  • 1. Introduo 6

    Os estudos de caso, por sua vez, compreenderam visitas s empresas e s suas obras

    pelo menos uma por empresa. Nestas visitas, utilizando-se questionrios padronizados

    compostos por questes abertas, foram entrevistadas trs pessoas dentro de cada uma

    das organizaes: um representante da alta administrao (em geral o proprietrio da

    empresa), o coordenador da implantao do sistema de gesto da qualidade e um

    engenheiro de obras que estivesse participando diretamente da implementao do

    sistema. Tais questionrios esto anexados ao final deste trabalho. Nestas visitas

    procurou-se resgatar como eram as estruturas dessas empresas antes do incio da

    implantao de seus programas da qualidade e as razes que as levaram a adotar a

    gesto da qualidade como estratgia competitiva. Isto permite a caracterizao dessas

    estruturas em dois momentos: antes do incio da implementao do sistema da

    qualidade (apenas atravs de entrevistas e anlise de documentos) e durante o

    desenvolvimento e a implantao do mesmo. Procurou-se tambm nestas visitas

    observar aspectos como: lay out dos escritrios, ambiente de trabalho; caractersticas

    pessoais dos entrevistados; caractersticas da cultura organizacional; e postura e

    motivao das empresas diante da implantao do sistema de gesto da qualidade.

    Foram ainda consultados os sites na Internet das empresas que os possurem, alm de

    sites de entidades e programas como PBQP-H, CDHU, SindusCon-SP, ABNT, ISO,

    Fundao Carlos Alberto Vanzolini1, etc., ricos em informaes sobre o Programa

    QUALIHAB, o PBQP-H e a certificao NBR/ISO 9000 de empresas construtoras.

    1 Organismo certificador atuante nos programas QUALIHAB e PBQP-H.

  • 1. Introduo 7

    1.5 ESTRUTURAO DO TRABALHO

    O trabalho est estruturado em cinco captulos, alm de um anexo e das referncias

    bibliogrficas. Neste primeiro captulo so apresentadas as justificativas para a

    escolha do tema da pesquisa e os objetivos que se pretende alcanar com o trabalho.

    No segundo captulo procura-se caracterizar o setor da construo de edifcios, que

    marcado por algumas particularidades que o diferenciam dos demais setores

    industriais. dada nfase ao grande movimento das empresas construtoras de edifcios

    em busca de melhorias de qualidade, especialmente atravs da implantao de sistemas

    de gesto da qualidade, e aos Programas QUALIHAB e PBQP-H.

    O terceiro captulo constitui-se basicamente de uma discusso dos principais

    conceitos da teoria das organizaes, onde procura-se atingir o primeiro objetivo

    apresentado para o trabalho. O captulo serve fundamentalmente como embasamento

    conceitual para as discusses desenvolvidas nos captulos seguintes, especialmente no

    quarto captulo.

    No quarto captulo atingido o segundo objetivo do trabalho. Inicialmente so

    propostas diretrizes para o estudo das estruturas organizacionais de empresas

    construtoras de edifcios. Na seqncia so apresentados e analisados os estudos de

    casos sob a tica das diretrizes propostas, concluindo-se com a caracterizao das

    estruturas organizacionais das empresas do setor e com a anlise das transformaes

    organizacionais decorrentes da implantao dos sistemas de gesto da qualidade nos

    casos estudados.

    No quinto captulo, so apresentadas as consideraes finais do trabalho e

    identificados temas para futuras pesquisas relacionadas ao assunto desta dissertao.

    Aps esse captulo so apresentados o questionrio empregado nas entrevistas

  • 1. Introduo 8

    realizadas nas visitas s empresas dos estudos de caso (em um anexo) e as referncias

    bibliogrficas empregadas para a elaborao do trabalho.

    interessante ainda ressaltar que consideraes preliminares deste trabalho,

    publicadas em eventos cientficos nacionais e internacionais durante o perodo do seu

    desenvolvimento, so apresentadas em VIVANCOS; CARDOSO (1999a, 1999b,

    2000).

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 9

    2 CARACTERIZAO DO SETOR DA CONSTRUO DE EDIFCIOS

    Antes de se iniciar as discusses acerca das estruturas organizacionais das empresas

    construtoras de edifcios, acredita-se ser importante a caracterizao do setor no qual

    tais empresas esto inseridas. Neste captulo discorre-se sobre caractersticas do setor

    que so consideradas determinantes para o estudo das estruturas organizacionais das

    empresas construtoras de edifcios.

    2.1 PARTICULARIDADES DO SETOR DE EDIFCIOS

    O setor de edifcios composto por um grande nmero de pequenas e mdias

    empresas, que formam um mercado altamente competitivo. O SindusCon-SP, rgo

    representativo dessas empresas, conta com mais de 5000 filiados, existindo ainda uma

    enorme quantidade de empresas no filiadas atuando neste mercado. A grande maioria

    destas empresas so de pequeno e mdio portes.

    Quanto base tcnica do trabalho no setor, apesar de ser comum dizer-se que esta seja

    artesanal, segundo VARGAS (1983), esta tem carter de manufatura. O autor entende

    que a construo de edifcios tem incorporado um conhecimento tcnico e cientfico

    independente do saber operrio, que, por sua vez, encontra-se bastante desqualificado e

    parcelado, restando-lhe somente o conhecimento de uma pequena parte da obra, o que

    no caracteriza o trabalho artesanal e sim a manufatura.

    O autor entende que, na organizao da produo assentada em bases manufatureiras,

    sempre est presente uma dificuldade de controle do trabalho, dos custos e dos prazos

    de execuo das atividades, ficando, de maneira geral, para o encarregado a funo de

    superviso e controle dos operrios. Essa caracterstica ilustrada por PICCHI (1993)

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 10

    quando o autor afirma que, na implantao de um Sistema da Qualidade, o

    encarregado o principal elo de treinamento do operrio e que o desenvolvimento da

    mo-de-obra, a obteno do compromisso com a qualidade, a motivao dos

    trabalhadores, etc., dependem fundamentalmente das relaes encarregados-

    operrios.

    Essas questes tornam-se hoje ainda mais complexas tendo em vista a tendncia do

    setor para a subcontratao dos servios de execuo, que passam a ser executados por

    subempreiteiros, como discute SERRA (2001).

    O processo de produo de edifcios caracteriza-se por uma sucesso de etapas

    constitudas por atividades consideravelmente diversificadas, envolvendo a

    incorporao de uma grande variedade de materiais e componentes. So vrios os

    processos de transformao intermedirios que ocorrem ao longo do processo de

    produo, dos quais participam trabalhadores com distintas qualificaes

    (FARAH, 1992).

    Esses trabalhadores possuem o que FARAH (1992) chama de um saber parcial,

    relativo a fraes do processo de produo, especializaes dos trabalhadores na

    execuo de determinadas atividades, no manuseio e na transformao de materiais e

    componentes especficos, associados execuo de partes da edificao. Os principais

    ofcios identificados no processo de produo de edifcios so os de pedreiro,

    carpinteiro, armador, encanador, eletricista, gesseiro, pintor, azulejista, dentre outros.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 11

    Outra caracterstica que corriqueiramente atribuda ao setor a no existncia de uma

    cultura de regulamentao e controle formal dos processos de produo2, somada

    inexistncia de um conjunto de normas relativas aos processos de produo da

    construo no pas. Os prprios operrios tradicionalmente detm o domnio sobre a

    forma como o trabalho deve ser executado, sendo este distribudo e supervisionado

    informalmente pelo mestre-de-obras e pelos encarregados. Ao engenheiro cabe

    principalmente a atribuio de acompanhar o cumprimento do cronograma fsico-

    financeiro da obra, alm de resolver inmeros problemas decorrentes da falta de

    planejamento e controle da produo, relacionados principalmente suprimentos,

    equipamentos e mo-de-obra. Alm disso, deficiente a formao gerencial dos

    engenheiros civis em geral, restando em grande parte dos casos a conduo das

    atividades produtivas, de fato, para os mestres-de-obras, que o fazem com base na sua

    experincia, que um dos principais pr-requisitos para se exercer este cargo. Esta

    situao vm sendo modificada nos ltimos anos, uma vez que um grande nmero de

    empresas do setor tm desenvolvido procedimentos para a execuo e para a inspeo

    de servios em funo da implementao de sistemas de gesto da qualidade, como

    mostra REIS (1998).

    Diversos autores destacam ainda como caractersticas do setor a baixa produtividade, o

    alto ndice de perdas e a alta incidncia de problemas patolgicos nos seus produtos

    (PICCHI, 1993 ; FARAH, 1988).

    2 Adota-se aqui a definio de CARDOSO (1996) de processo de produo como o conjunto das

    etapas fsicas, organizadas de forma coerente no tempo, que dizem respeito construo de uma obra; tais etapas concentram-se sobre a execuo, mas vo desde os estudos preliminares, at a utilizao da obra e so asseguradas por diferentes atores.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 12

    Analisando-se este quadro, entende-se que as empresas do setor de edifcios tm um

    grande potencial de aumentar sua eficincia produtiva adotar estratgias de produo

    que envolvam, entre diversas aes, a formalizao de seus processos de produo, o

    treinamento e a qualificao da mo-de-obra, seja ela prpria ou ligada

    subempreiteiros, a definio de padres claros de qualidade e a implementao aes

    de planejamento e de controle da produo. Enfim, acredita-se que essas empresas

    devem obter ganhos de eficincia atravs da melhoria dos aspectos ligados gesto do

    processo de produo.

    FARAH (1992) identificava no setor habitacional, j no incio dos anos 90, uma

    orientao no sentido de uma racionalizao do processo de produo. De acordo

    com a autora, num cenrio marcado pela intensificao da competitividade, h uma

    orientao generalizada para a busca de maior eficincia, atravs do aumento da

    produtividade, da reduo de prazos de execuo e de custos de produo. As

    inovaes introduzidas no processo de trabalho sejam tecnolgicas, sejam

    organizacionais respondem, de um modo geral, a estes requisitos.

    J h cinco anos CARDOSO (1996) afirmava que as empresas construtoras deveriam,

    necessariamente, passar por um aumento da sua eficincia produtiva para se

    adequarem a esse novo cenrio que vinha se configurando desde o incio dos anos 90,

    no mais havendo a possibilidade de serem eficazes sem serem eficientes3. Segundo o

    autor, no se poderia mais falar de ganhos de competncia sem levar em conta o

    ambiente exterior da empresa, seu posicionamento face concorrncia, nos diferentes

    mercados nos quais ela intervm.

    3 CARDOSO (1996) define eficcia como a capacidade de se alcanar certos objetivos fixados, e

    eficincia como a capacidade de rendimento de um sistema avaliada, qualitativamente ou quantitativamente, face a um certo nvel de recursos de base (equipamento, homem, capital, trabalho, etc.).

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 13

    Visando conseguir ganhos de eficincia produtiva, as empresas do setor tm adotado

    posturas relativas organizao da produo diferentes das tradicionais.

    BARROS (1996) identificou que as principais alternativas de racionalizao adotadas

    pelas empresas so a implantao de sistemas de gesto da qualidade e a implantao

    de aes, em canteiro, objetivando a racionalizao da produo.

    Identifica-se ainda a difuso no setor dos conceitos da construo enxuta (lean

    construction) (KOSKELA, 1992), sedimentados no planejamento da produo e na

    diminuio no processo de produo de atividades no agregadoras de valor ao

    produto atividades de recebimento e transporte de materiais e de inspeo de

    servios.

    Concluindo, clara atualmente a tendncia de evoluo nas empresas do setor de

    edifcios por meio de aes que envolvem, entre outras, o melhor delineamento de

    estratgias de produo, a implantao de sistemas de gesto da qualidade, a

    subcontratao de servios, a melhoria do processo de planejamento operacional, a

    implantao de tecnologias racionalizadas e o treinamento da mo-de-obra.

    Dados os objetivos do trabalho, discute-se a seguir em maior profundidade a gesto da

    qualidade e as formas como ela vem sendo aplicada pelas empresas do setor.

    2.2 A GESTO DA QUALIDADE NA CONSTRUO DE EDIFCIOS

    Segundo SOUZA (1997), em texto que fala de certificao de empresas, no setor da

    construo civil brasileira, os primeiros movimentos pela qualidade surgem de forma

    mais organizada no incio dos anos 90, a partir de grandes empresas lderes do

    mercado imobilirio e da construo pesada. A gesto da qualidade vem desde ento

    se consolidando como uma das principais estratgias adotadas pelas empresas do setor,

    diante dos novos condicionantes que se configuram e do aumento da competitividade.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 14

    Ao estudar empresas que praticam a gesto da qualidade (algumas inclusive

    certificadas ISO 9002), REIS (1998) identificou que todas foram motivadas

    principalmente pela busca de aumento de competitividade (100% dos casos) e da

    melhoria da qualidade dos produtos (50% dos casos)4.

    O movimento da qualidade teve grande crescimento no estado de So Paulo, em

    grande parte, em funo do apoio e do incentivo dado pelo Sindicato da Indstria da

    Construo Civil do Estado de So Paulo SindusCon-SP que, com o apoio de um

    corpo de consultores, vm aplicando um Programa de capacitao gerencial de

    empresas construtoras para desenvolvimento e implantao de sistemas de gesto da

    qualidade. O Programa destina-se a grupos de empresas e est amparado por uma

    metodologia que contempla os principais conceitos e elementos de um sistema de

    gesto da qualidade (CTE, 1994). Diversas empresas conseguiram, a partir dessa

    experincia, implementar seus sistemas de gesto da qualidade e obter a certificao

    pela srie de normas NBR/ISO 9000. Esta experincia vem sendo reproduzida em

    outros estados do pas. Observa-se hoje a existncia de uma srie de empresas de

    consultoria apoiando empresas construtoras na implantao de sistemas de gesto da

    qualidade.

    A adoo da qualidade como elemento indutor do avano tecnolgico do setor teve

    como outro evento marcante a instituio do Programa QUALIHAB, pelo governo do

    estado de So Paulo, atravs da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e

    Urbano CDHU.

    4 Foram tambm apontados os seguintes fatores: melhoria da organizao interna, maior exigncia dos

    clientes, reduo de custos, diferenciao no mercado e aumento da produtividade.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 15

    Entre suas diversas aes, tal Programa prev a exigncia de um atestado de qualidade

    para as empresas que constroem habitaes populares para a Companhia. Para tanto,

    foi elaborado um Sistema de Certificao prprio do Programa, baseado nas normas da

    srie NBR/ISO 9000 e adaptado realidade do setor (ITQC, 1997). As empresas que

    atuam no mercado de habitaes populares no estado de So Paulo se viram obrigadas

    a desenvolver e implementar sistemas da qualidade; caso contrrio, seriam excludas

    deste mercado.

    A iniciativa paulista do QUALIHAB est sendo estendida para todo o territrio

    nacional, atravs da implementao do Programa Brasileiro de Qualidade e

    Produtividade do Habitat PBQP-H, que tambm inclui entre suas aes a certificao

    da qualidade das empresas construtoras atravs de um Sistema de Certificao prprio

    (Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano, 2000). A implementao do PBQP-

    H consiste em passo fundamental para a consolidao da gesto da qualidade como

    principal estratgia perseguida por empresas construtoras em todo o territrio

    brasileiro para a obteno de ganhos de eficincia e manuteno da competitividade

    Destacam-se ainda outras aes e programas relacionadas gesto da qualidade que

    esto ocorrendo no setor em outras regies do pas, como:

    o Clube da Qualidade na Construo, envolvendo dezenas de empresas do estado

    do Rio de Janeiro, sob coordenao do SENAI, do SindusCon-RJ e da UFF

    (QUALIPRO, 1998);

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 16

    o Projeto Competir, resultado da cooperao tcnica entre o SENAI, o SEBRAE e

    a Sociedade de Cooperao Tcnica da Alemanha GTZ, nos estados de Alagoas,

    Bahia e Sergipe5;

    O Programa QUALIOP Programa Baiano de Qualidade nas Obras Pblicas, que

    est sendo implementado no estado da Bahia;

    O Programa QUALIPAV Programa da Qualidade na Pavimentao, Obras de

    Arte Especiais e Drenagem Urbana, que est sendo implementado pela prefeitura

    do municpio do Rio de Janeiro.

    Na seo seguinte so apresentadas as caractersticas do Programa QUALIHAB e do

    PBQP-H.

    2.2.1 O PROGRAMA QUALIHAB E O PBQP-H

    2.2.1.1 PROGRAMA QUALIHAB

    O Programa QUALIHAB constitui-se em uma iniciativa do governo do estado de So

    Paulo, atravs de seu organismo fomentador da construo de habitaes populares, a

    CDHU, que tem como objetivos6:

    otimizar a qualidade da habitaes, envolvendo os materiais e componentes

    empregados, os projetos e obras realizadas, atravs de parcerias com os segmentos

    do meio produtivo, firmando acordos setoriais.

    Otimizar o dispndio de recursos humanos, materiais e energticos (gua, energia)

    nas construes habitacionais, preservando o meio-ambiente.

    5 Maiores detalhes sobre o projeto podem ser obtidas na Internet, no endereo

    http://www.competir.org.br. 6 Segundo o antigo site do Programa QUALIHAB na Internet: http://www.itqc.org.br, j desativado.

    Atualmente informaes acerca do Programa QUALIHAB podem ser obtidas no site http://www.cdhu.sp.gov.br.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 17

    O Programa foi institudo atravs de um Decreto Estadual7, sendo legitimado por

    acordos setoriais entre a CDHU e os principais organismos e sindicatos representantes

    dos agentes privados interessados (construtoras, fabricantes de materiais, projetistas,

    etc.), que garantem que as empresas do setor concordam com a iniciativa e colaboram

    efetivamente para o seu desenvolvimento e implantao.

    Dente as aes do QUALIHAB, aquela que interfere diretamente sobre o setor da

    construo de edifcios a exigncia da qualificao das empresas a partir de

    auditorias de terceira parte de seus sistemas da qualidade como condio para a

    participao das empresas nas licitaes da CDHU. Para tanto, foi desenvolvido um

    Sistema de Qualificao evolutivo prprio (SINDUSCON SP; APEOP, 1996), que

    baseado na experincia francesa do QUALIBAT (SYCODS INFOMATIONS,

    1996/97) e adaptado realidade do setor da construo habitacional de interesse social.

    Ele resultou de um longo trabalho de discusso, que envolveu de um lado profissionais

    da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo EPUSP/PCC e do Instituto

    Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construo ITQC e membros da equipe do

    Programa QUALIHAB, e de outro lado representantes do Sindicato da Indstria da

    Construo Civil do Estado de So Paulo SindusCon-SP e da Associao Paulista de

    Empresrios de Obras Pblicas APEOP, alm de consultores independentes

    O Sistema compe-se de onze requisitos, que encontram correspondncia com itens da

    norma NBR ISO 9.001, verso de 1994 (ABNT, 1994). Alm dos requisitos possurem

    redao voltada s necessidades da construo habitacional, o Sistema define

    claramente quais materiais e servios de execuo devem ser controlados de modo a

    ser garantida a qualidade do produto deste setor.

    7 Decreto Estadual n. 41337 de 25/11/1996.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 18

    O Sistema de qualificao de empresas do QUALIHAB adotou o conceito de

    evolutibilidade para sua implementao os requisitos foram divididos em cinco

    nveis Adeso, D, C, B e A com crescentes graus de exigncia. Segundo previsto

    no Acordo Setorial assinado entre os sindicatos das construtoras e a CDHU, que levou

    em conta a real capacidade das construtoras, as mesmas tiveram, a contar a partir de

    junho de 1997, prazos sucessivos de seis meses para atingirem os diferentes nveis de

    qualificao do Sistema QUALIHAB8. O Sistema de Certificao est em

    funcionamento desde maio de 1997, e atualmente h mais de cem empresas

    construtoras qualificadas, a grande maioria no nvel A.

    2.2.1.2 PBQP-H

    O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade - PBQP constitui-se em uma

    iniciativa do governo federal, lanado no ano de 1992, com o intuito de fomentar o

    aumento da competitividade da indstria nacional diante dos novos desafios que se

    configuravam naquele momento, em especial a abertura do pas ao mercado

    internacional. Uma das aes do PBQP focalizava a construo habitacional, sendo

    criado o PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade na Construo

    Habitacional. Posteriormente, o Programa passou a englobar no somente o setor da

    construo habitacional, mas tambm a infra-estrutura urbana, passando a se chamar

    PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat.

    Dentre as aes do PBQP-H, est sendo implementado um Sistema Evolutivo de

    Garantia da Qualidade para empresas construtoras, o Sistema de Qualificao de

    Empresas de Servios e Obras SiQ-Construtoras. Assim como o do Programa

    QUALIHAB, este Sistema est adaptado realidade do setor e s caractersticas

    8 J exigido desde janeiro de 2000 o Nvel A nos editais de licitao da CDHU, apesar de

    adiamentos nos prazos acordados entre os signatrios do acordo setorial.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 19

    regionais, tambm tendo como referencial o modelo preconizado pela srie das normas

    NBR ISO 9.001, verso de 1994 (ABNT, 1994).

    O SiQ-Construtoras, ao contrrio do Sistema QUALIHAB, procurou seguir fielmente

    os vinte requisitos existentes na NBR ISO 9.001, verso de 1994, adaptando sua

    redao s necessidades do setor. Tambm neste sistema os requisitos foram divididos

    em quatro nveis evolutivos, com graus de exigncias crescentes. As empresas so

    qualificadas nestes nveis aps auditorias realizadas por Organismos de Certificao

    Credenciados (OCC).

    O primeiro agente a engajar-se ao programa foi a Caixa Econmica Federal,

    atualmente o principal agente financeiro atuante no setor habitacional brasileiro, que

    est estabelecendo cronogramas de implantao do SiQ-Construtoras em diferentes

    estados do pas. Nos estados de So Paulo, Esprito Santo e Minas Gerais, desde junho

    de 2001, a qualificao das empresas no nvel D do SiQ-Construtoras o de menor

    grau de exigncia uma exigncia para a concesso de financiamentos empresas

    construtoras para execuo de empreendimentos habitacionais privados pela Caixa

    Econmica Federal.

    Em So Paulo, o cronograma negociado com as entidades setoriais prev a exigncia

    de nveis mais altos a cada seis meses, at que em dezembro de 2002 esteja sendo

    exigido o nvel A, que contempla todos os requisitos do SiQ-Construtoras.

    2.2.2 A IMPORTNCIA DA GESTO DA QUALIDADE PARA A CONSTRUO DE EDIFCIOS

    Existe a expectativa de que a implantao da Gesto da Qualidade nos canteiros de

    obras acarrete no emprego de materiais de melhor qualidade e reduo do retrabalho, e

    conseqentemente em maior produtividade e menores perdas. Como conseqncia, as

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 20

    empresas devem conseguir um aumento de sua eficincia produtiva e de sua

    competitividade, alm de atingir maior qualidade do produto e, conseqentemente,

    maior satisfao dos clientes. Entre os principais benefcios esperados com a

    implantao de sistemas da qualidade por empresas construtoras est a diminuio da

    ocorrncia de manifestaes patolgicas aps a entrega das obras e a reduo dos

    custos de assistncia tcnica.

    A experincia carioca do Clube da Qualidade na Construo, por exemplo, preconiza a

    apropriao tanto de indicadores de qualidade quanto de produtividade

    (QUALIPRO, 1998).

    A Gesto da Qualidade, entretanto, no se resume uma ferramenta para a busca do

    aumento de eficincia produtiva pelas empresas. PICCHI (1993) ressalta que os

    Sistemas da Qualidade so instrumentos que facilitam a cooperao, coordenao,

    viso de conjunto, integrao de setores, etc. Segundo o autor, dada sua complexidade,

    na construo de edifcios estes fatores so fundamentais, no s internamente na

    empresa (entre departamentos), como tambm entre esta e os demais intervenientes.

    De fato, existe a expectativa de que a implementao de sistemas de gesto da

    qualidade resultem em ganhos de eficincia organizacional por parte das empresas,

    medida em que devem ser padronizados e continuamente buscada a melhoria de todos

    os processos empresariais relacionados produo.

    Finalmente, existe a expectativa do amadurecimento das relaes entre os diversos

    agentes do setor com a consolidao de programas de qualidade nos diversos

    subsetores que compem a cadeia produtiva na construo civil.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 21

    2.2.3 A IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE

    Diante do fato da Gesto da Qualidade aparecer como um dos principais agentes de

    modernizao e causadores de mudana de paradigmas no setor da construo de

    edifcios, alguns autores desenvolveram modelos para a implementao de sistemas de

    gesto da qualidade em empresas construtoras, sendo os mais difundidos aqueles

    apresentadas por PICCHI (1993) e SOUZA (1997).

    Estes modelos preconizam aes envolvendo praticamente os mesmos elementos, com

    pequenas diferenas. A seguir so apresentados os elementos que devem ser abordados

    pelo sistema de gesto da qualidade de uma empresa construtora, adaptando a

    nomenclatura a partir dos dois modelos:

    Poltica e organizao do sistema da qualidade;

    Qualidade em recursos humanos e administrao;

    Qualidade no planejamento do empreendimento e vendas9;

    Qualidade no projeto;

    Qualidade em suprimentos;

    Qualidade no gerenciamento e execuo de obras; e

    Qualidade na operao e assistncia tcnica ps-ocupao.

    A inter-relao entre esses elementos apresentada na Figura 1, adaptada a partir dos

    trabalhos de PICCHI (1993) e de SOUZA (1997).

    9 Que poderia ser interpretado como qualidade na funo comercial em empresas que atuam apenas

    como construtoras, seja no mercado pblico ou privado, no realizando o planejamento do empreendimento e a sua venda.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 22

    Figura 1 : Representao das inter-relaes entre os elementos do sistema de gesto da qualidade (adaptada de PICCHI, 1993 e SOUZA, 1997).

    A metodologia de SOUZA (1997), que assemelha-se bastante de PICCHI (1993),

    tem como caracterstica sua forma de implementao - prev a formao de grupos de

    empresas para a capacitao em gesto da qualidade, que se d atravs de 12 mdulos

    sendo adotada pelo SindusCon-SP (inicialmente e depois em diversos outros

    estados), motivo pelo qual teve enorme difuso e repercusso. Centenas de empresas

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 23

    participaram desses programas e adotaram o modelo. Esta metodologia foi

    inicialmente publicada em um livro, em parceria com o SEBRAE-SP e o SindusCon-

    SP (CTE, 1994).

    Outro livro consolida, atravs de especificaes e procedimentos de execuo e

    inspeo, os padres de qualidade na aquisio de materiais e execuo de obras

    recomendados pela empresa de consultoria CTE, pelo SEBRAE-SP e pelo SindusCon-

    SP (SOUZA; MEKBEKIAN, 1996). Tais procedimentos vm sendo sistematicamente

    utilizados pelas empresas do setor no estado de So Paulo, como verificado por

    CARDOSO et al. (1998, 1999 e 2000).

    SOUZA (1997) entende que a implementao de programas da qualidade envolve duas

    vertentes: a gesto de processos e a gesto de pessoas. Estas devem ser desdobradas

    em aes planejadas a serem conduzidas concomitantemente durante toda a

    implantao destes programas nas empresas, no intuito de se obter a satisfao dos

    clientes internos e externos.

    Quanto gesto de pessoas, as aes consideradas pelo autor so: comprometimento

    da alta administrao e das gerncias; divulgao de informaes e sensibilizao

    para a qualidade; gerncia participativa, delegao e motivao; condies de

    trabalho e consistncia do sistema de remunerao; treinamento de pessoal e

    liderana dos multiplicadores; e constncia de propsitos e desenvolvimento

    permanente dos aspectos comportamentais.

    Quanto gesto de processos, as aes consideradas pelo autor so: elaborao do

    Ciclo da Qualidade e diagnstico da empresa; planejamento do processo de

    implantao do sistema da qualidade; formao de Times da Qualidade e

    desenvolvimento do seu trabalho; padronizao dos processos empresariais;

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 24

    implantao dos processos padronizados, verificao de resultados e aes

    corretivas; e consolidao do sistema da qualidade e melhoria contnua.

    Para o desenvolvimento e a implantao do sistema de gesto da qualidade,

    SOUZA (1997) recomenda a formao na empresa de um comit da qualidade, ligado

    diretamente diretoria da organizao e constituindo por profissionais que ocupem

    posies-chave na produo, na rea administrativa e na diretoria da empresa. Dentre

    as funes bsicas do comit da qualidade apresentadas pelo autor, e que devem ser

    verificadas nas empresas estudadas, destacam-se: gerenciar todo o processo de

    concepo e implantao do sistema de gesto da qualidade; coordenar a elaborao

    do diagnstico da empresa em relao qualidade, analisar seus resultados e definir

    as prioridades de ao; definir o sistema da qualidade a ser implantado na empresa

    com base nas normas NBR/ISO 900010 e o Plano de Ao para sua implementao;

    definir mtodos de treinamento e sensibilizao de funcionrios e da gerncia

    executiva para a qualidade; definir os Times da Qualidade para elaborar

    procedimentos padronizados no mbito gerencial, tcnico e operacional da empresa;

    definir a documentao da qualidade e treinar os Times da Qualidade em anlise,

    racionalizao e padronizao de processos e implementao do ciclo PDCA; avaliar

    os resultados do trabalho dos Times da Qualidade e orientar e acompanhar o

    processo de implantao dos procedimentos padronizados; criar grupos de auditoria

    interna do sistema da qualidade e planejar as auditorias; elaborar o Manual da

    Qualidade e implement-lo em toda a empresa; e avaliar os resultados obtidos com a

    implantao do sistema de gesto da qualidade e promover aes corretivas

    necessrias ao seu aperfeioamento contnuo.

    10 Ou qualquer outro referencial que a empresa pretenda seguir, como o Sistema QUALIHAB, por

    exemplo.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 25

    O autor prope que sejam formados na empresa diversos times da qualidade, que so

    equipes de trabalho s quais cabe encontrar solues para os problemas identificados

    na empresa e para o aperfeioamento do nvel de qualidade e da produtividade de

    uma atividade ou processo determinado.

    Deve ser ressaltado que , apesar de bastante difundidas especialmente no estado de So

    Paulo, essas prticas no se constituem no nico caminho adotado pelas empresas para

    a implementao de seus sistemas de gesto da qualidade. Em EPUSP-

    PCC/ITQC (1998 e 1999) so relatados casos de empresas que, mesmo adotando a

    metodologia de SOUZA (1997), no adotam times da qualidade, delegando ao comit

    da qualidade individualmente as tarefas de cada funcionrio no desenvolvimento do

    Sistema da Qualidade. So tambm relatados os diferentes papis que os consultores

    assumem na implantao dos sistemas de diferentes empresas.

    PICCHI (1993) observa ainda que no canteiro de obras predominam as duras relaes

    de desconfiana, controle, disciplina e autoritarismo. Diante desse quadro, enfatiza que

    a efetividade de um sistema de gesto da qualidade depende da construo de relaes

    de respeito, confiana e colaborao entre os componentes da organizao.

    Pode-se dizer que a participao e a motivao de todas as pessoas dentro da

    organizao so fundamentais para o sucesso da implementao da gesto da qualidade

    e para a mudana cultural envolvida na busca da qualidade total.

    2.2.4 IMPACTOS DA IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE NOS SISTEMAS DE PRODUO DAS EMPRESAS CONSTRUTORAS

    REIS (1998) apresenta em seu trabalho os resultados de pesquisa pioneira onde avalia

    as alteraes nos processos de produo de pequenas e mdias empresas de construo

    de edifcios decorrentes da implementao de sistemas de gesto da qualidade.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 26

    O trabalho foi estruturado em torno de atividades baseadas nos elementos do sistema

    de gesto da qualidade j apresentados na Figura 1. Os principais resultados desta

    investigao so apresentados na Tabela 1.

    Tabela 1 : Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de gesto da qualidade observados por REIS (1998).

    Atividades Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de gesto da qualidade

    Gesto do Processo de Projeto

    - estabelecimento de parmetros para a contratao e avaliao de projetistas, bem como de padres de projeto definidos pela construtora;

    - aumento da exigncia por projetos mais dirigidos s necessidades de produo da obra e que trazem, em seu contedo, racionalidade e economia construo;

    - preocupao em retroalimentar dados provenientes dos canteiros de obras para a fase de projeto, embora algumas empresas ainda no tenham um processo formalizado para isso;

    - maior cuidado no processo de coordenao de projetos, seja ele realizado pela prpria empresa, por arquitetos ou por empresas subcontratadas.

    Gesto de Suprimentos

    - utilizao de procedimentos de inspeo e recebimento de material nos canteiros de obras;

    - adoo de processos de avaliao e seleo de fornecedores;

    - padronizao do processo de requisio e compra de materiais.

    Gesto da Documentao

    - grande esforo para o desenvolvimento e a implementao dos procedimentos operacionais em obra, tanto os de recebimento e inspeo de materiais, quanto os de execuo e controle de servios, permitindo que as empresas registrem sua cultura construtiva, evoluam continuamente e definam claramente o que precisam dos agentes externos produo.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 27

    Tabela 1: Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de gesto da qualidade observados por REIS (1998). (continuao)

    Atividades Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de gesto da qualidade

    Gesto do Canteiro de Obras

    - maior interesse em buscar novos equipamentos que facilitam e agilizam a execuo dos servios e o transporte de materiais em canteiro e que, tambm, garantam a segurana dos operrios;

    - considervel melhoria da qualidade de vida e segurana do trabalho;

    - estabelecimento de parmetros para a contratao, avaliao e seleo de subempreiteiros;

    - aumento de produtividade, reduo de desperdcios e melhoria da qualidade de produtos e processos, em funo da adoo de medidas de racionalizao da produo e da melhor organizao dos canteiros de obras.

    Gesto da Tecnologia

    - maior conscientizao para se racionalizar o processo construtivo tradicional, consolidando uma cultura de gesto da tecnologia na empresa, com menor nfase na busca de inovaes tecnolgicas que alterem radicalmente a forma de produo de edifcios;

    - realizao de convnios com universidades ou instituies de pesquisa para o desenvolvimento de tecnologia;

    - maior facilidade na fixao das novas tecnologias na cultura construtiva da empresa, em virtude da padronizao dos procedimentos operacionais e de sua constante atualizao.

    Assistncia Tcnica

    - adoo de um novo procedimento de entrega de unidades, que garante maior satisfao aos clientes finais;

    - abertura de canais diretos de comunicao com os clientes, destinando-lhes linhas telefnicas diretas ou proporcionando-lhes novos meios de comunicao via Internet, visando prestar-lhes um melhor atendimento seja no esclarecimento de dvidas ou nos servios de assistncia tcnica;

    - aumento do interesse no desenvolvimento de procedimentos para a realizao de Avaliaes Ps-ocupao.

    Gesto dos Recursos Humanos

    - realizao de cursos de capacitao em gesto comportamental para a mdia gerncia de produo;

    - maior prioridade para a alfabetizao da mo-de-obra operria, em funo da utilizao crescente de documentao nos canteiros;

    - realizao de treinamento para a atividade especfica dos operrios e tambm relativo segurana no trabalho;

    - abertura de canais de comunicao com os funcionrios, incentivando a participao;

    - adoo de medidas que visam aumentar a motivao da mo-de-obra.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 28

    Em resumo, REIS (1998) observou que atravs das mudanas decorrentes da

    implementao dos sistema de gesto (da qualidade), tem-se conseguido melhorar

    gradualmente a qualidade dos produtos e processos das empresas, reduzir

    desperdcios e, em alguns casos, estimular uma atuao mais prxima e conjunta

    entre as construtoras e os demais agentes participantes da produo (projetistas,

    fornecedores e subempreiteiros) .

    A autora ainda identificou como principais dificuldades para o desenvolvimento e

    manuteno dos sistemas de gesto da qualidade: a resistncia de alguns funcionrios

    adoo de novas posturas e a hostilidade ao aprendizado; a falta de apoio e de

    comprometimento da alta administrao ou de parte dela; o desconhecimento da

    relao custo-benefcio da implementao dos sistemas de gesto da qualidade; a

    indefinio de objetivos e metas a longo prazo e a descontinuidade das aes

    relacionadas melhoria da qualidade; o baixo investimento na formao, capacitao

    e motivao do corpo gerencial e de operrios; a ineficincia do sistema de

    informaes, comunicao e tomada de decises; a pouca utilizao dos

    procedimentos de controle e de retroalimentao da produo; a fraca coordenao

    interdepartamental; e a falta de um trabalho coordenado e cooperativo com

    fornecedores e subempreiteiros.

    Ressalta-se que diversas destas dificuldades encontradas pela autora so tambm

    objeto de investigao deste trabalho. Deve ser observado que o trabalho de Reis

    compreendeu tanto empresas que j possuam o certificado ISO 9002 quanto empresas

    que o estavam perseguindo.

    CARDOSO et al. (1998 e 1999), por sua vez, ao investigarem a implantao do

    Sistema de Qualificao do Programa QUALIHAB junto empresas construtoras,

    discutiram tambm seus impactos dentro das empresas.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 29

    Quando as empresas encontravam-se prestes a obter o nvel C de certificao

    apontaram melhorias em relao suprimentos, gesto da mo-de-obra, planejamento

    de obras e execuo de servios (CARDOSO, et al., 1998). Pode-se dizer que naquele

    instante as empresas estudadas tinham apenas uma pequena parte de seus sistemas de

    gesto da qualidade implementados e encontravam-se na fase de largada, estando,

    em geral, bastante motivadas.

    J no instante em que as empresas encontravam-se prestes a obter o nvel B de

    certificao, estas j eram capazes de apontar o controle de materiais como o aspecto

    de maior impacto dos sistemas da qualidade, especialmente em relao melhoria da

    qualidade do produto final. Na ocasio, quando j teriam experimentado as maiores

    dificuldades da implementao de uma grande parte dos sistemas da qualidade,

    enxergavam como mais significativas as melhorias relacionadas a suprimentos e

    logstica externa e de canteiro, planejamento de obras, propostas e licitaes e

    execuo de servios (CARDOSO, et al., 1999).

    Recentemente, CARDOSO, et al. (2000) realizaram estudo em canteiros de obras de

    empresas construtoras qualificadas no nvel A do Programa QUALIHAB. Foi

    observado que enquanto em alguns processos, como a gesto de materiais e o controle

    de documentos e projetos, houve grande avano com a implantao do sistema de

    gesto da qualidade, em outros, como o controle da execuo dos servios e o

    treinamento da mo-de-obra, havia falhas que deveriam ser objeto de correo. Este

    trabalho evidenciou algumas falhas em um programa to complexo quanto o

    QUALIHAB e vem orientando as aes corretivas que esto sendo tomadas pela

    CDHU junto com os signatrios dos acordos setoriais SindusCon-SP e APEOP e

    com os OCC.

  • 2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 30

    Enfim, os estudos apresentados concentraram-se em avaliar os impactos diretos da

    implementao de sistemas de qualidade no sistema de produo das empresas.

    Procura-se nos captulos seguintes, a partir dos conceitos e da problemtica

    apresentados neste captulo e no anterior, discutir impactos da implementao desses

    sistemas na estrutura das organizaes, apontando impactos diretos e indiretos nos

    sistemas de produo.

  • 3. Estruturas organizacionais 31

    3 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS

    Antes de se iniciar o estudo das estruturas organizacionais das empresas construtoras

    de edifcios, cabe a caracterizao e o entendimento de tais estruturas. O trabalho

    apresenta conceitos que, em sua maioria, so largamente difundidos na Administrao

    de Empresas e na Engenharia de Produo, mas que podem no ser claramente

    entendidos pelos engenheiros civis, mesmo nos meios acadmicos. Ressalta-se que

    estes conceitos j foram previamente discutidos, sucintamente, em

    VIVANCOS; CARDOSO (1999a).

    O foco do trabalho, como j foi colocado anteriormente, est nos aspectos das

    estruturas organizacionais relacionados funo produo11 das empresas construtoras.

    SLACK et al. (1997) ressaltam que a funo produo central para a organizao

    porque produz os bens e servios que so a razo de sua existncia, mas no a nica

    nem, necessariamente, a mais importante. Todas as organizaes possuem outras

    funes com suas responsabilidades especficas. Embora essas funes tenham sua

    parte a executar nas atividades da organizao, so (ou devem ser) ligadas com a

    funo produo, por objetivos organizacionais comuns.

    As teorias e os conceitos apresentados neste captulo referem-se estrutura da

    organizao como um todo, situando-se dentro do escopo da teoria das organizaes.

    Pretende-se, desta forma, fundamentar a discusso a ser desenvolvida nos captulos

    seguintes, que estar concentrada nos aspectos da estrutura organizacional que

    interferem de forma mais evidente na gesto do processo de produo.

    11 Segundo SLACK et al. (1997) a funo produo na organizao representa a reunio de recursos

    destinados produo de seus bens e servios.

  • 3. Estruturas organizacionais 32

    Essa relao entre as diversas funes da organizao e a produo evidenciada pelos

    prprios SLACK et al. (1997), que apresentam o conceito de proteo organizacional

    da produo. Segundo os autores, as empresas procuram proteger a produo das

    incertezas do ambiente, especialmente em termos de oferta e demanda, e uma forma de

    fazer isso alocando as responsabilidades das vrias funes da organizao12. Os

    autores citam alguns exemplos de proteo organizacional, ilustrados na Figura 2: as

    pessoas que trabalham na produo so recrutadas e treinadas pela funo pessoal;

    provavelmente, a tecnologia do processo de produo escolhida e supervisionada por

    uma funo tcnica, a engenharia; os materiais, os componentes, os servios e outros

    recursos so adquiridos atravs da funo compras; o capital exigido pela produo

    para a compra de equipamentos e custeio de suas atividades somente autorizado com

    aprovao da funo financeira; as idias e os designs de novos produtos e servios so

    fornecidos pela funo pesquisa e desenvolvimento (P&D); e os pedidos dos

    consumidores que movimentam a produo viro atravs da funo marketing.

    Ressaltada a importncia e a relao das diversas funes da organizao para o

    desenvolvimento das atividades da funo produo, pretende-se ao longo deste

    captulo discutir, sob a tica da teoria das organizaes, as formas segundo as quais

    tais funes se organizam.

    12 A outra forma de proteo da produo apresentada pelos autores a proteo fsica, ou seja, a

    manuteno de estoques de recursos, seja input para o processo de transformao ou output.

  • 3. Estruturas organizacionais 33

    Tecnologia doprocesso

    Idias deproduto/servio

    FUNOPRODUOCompras Marketing

    Engenharia/Assistncia tcnica

    Desenvolvimentode produto/servio

    Recursoshumanos

    Contabilidade efinanas

    Funcionrios Fundos

    Forn

    eced

    ores

    Consum

    idores

    Figura 2 : Outras funes da organizao que podem proteger o ncleo de produo das incertezas ambientais (SLACK et al. , 1997).

    3.1 A TEORIA DAS ORGANIZAES

    O estudo das estruturas organizacionais constitui-se em um dos pontos centrais da

    teoria geral da administrao e foi tratado de diferentes formas ao longo deste sculo.

    A literatura enfatiza os diversos movimentos da teoria geral da administrao, que

    possuem diferentes enfoques acerca das estruturas das organizaes: a teoria clssica

    da administrao, o movimento das relaes humanas, a burocracia, o estruturalismo, a

    abordagem de sistemas e a abordagem contingencial (CHIAVENATO, 1997;

    MOTTA, 1995; CHIAVENATO, 1987; MOTTA, 1986; GIBSON et al., 1981).

    A seguir, percorre-se esses diferentes movimentos, que se sucederam

    cronologicamente, destacando-se deles os pontos que contribuem para a correta

    compreenso e enquadramento desse trabalho.

    A teoria clssica da administrao fundamenta-se no conhecimento desenvolvido

    principalmente por dois autores, que defenderam o desenvolvimento de uma cincia

    que tratasse a organizao e o trabalho: Frederick Taylor, cujo trabalho Princpios da

  • 3. Estruturas organizacionais 34

    administrao cientfica foi publicado nos Estados Unidos em 1911, e Henry Fayol,

    que publicou Administrao industrial e geral em 1916, na Frana. A administrao

    cientfica de Taylor enfatiza que a produtividade poderia ser incrementada atravs da

    diviso do trabalho em tarefas especializadas e do estudo de tempos e mtodos. O

    autor preocupou-se com a organizao do trabalho, dividindo sua concepo, atribuda

    gerncia, de sua execuo, atribuda aos operrios (TAYLOR, 1971).

    J Fayol, cujo foco do trabalho encontra-se na estrutura organizacional, entende que o

    conjunto de operaes de toda empresa, independente de seu porte e complexidade,

    pode ser dividido em seis grupos: operaes tcnicas, comerciais, financeiras, de

    segurana, de contabilidade e administrativas. Com o intuito de contribuir para o

    desenvolvimento de uma cincia administrativa, o autor apresentou catorze princpios

    gerais da administrao, ou seja, recomendaes que levariam a organizao a operar

    com maior eficincia: a diviso do trabalho, a autoridade e responsabilidade, a

    disciplina, a unidade de comando, a unidade de direo, a subordinao do interesse

    particular ao interesse geral, a remunerao do pessoal, a centralizao, a hierarquia, a

    ordem, a eqidade, a estabilidade do pessoal, a iniciativa e a unio do pessoal

    (FAYOL, 1976).

    Como clara resposta aos problemas enfrentados pela teoria clssica junto aos

    trabalhadores, a teoria das relaes humanas constitui-se em uma abordagem

    fortemente influenciada pelas cincias sociais, em especial pelo desenvolvimento da

    psicologia industrial. A partir dos experimentos de Elton Mayo, entre 1927 e 1932,

    percebeu-se a necessidade de um entendimento maior e mais profundo dos aspectos

    sociais e comportamentais na administrao (KOONTZ et al., 1980). Enquanto a

    administrao cientfica enfatiza a tarefa e a teoria clssica a estrutura organizacional,

    a teoria das relaes humanas volta-se para a anlise da adaptao do trabalhador ao

  • 3. Estruturas organizacionais 35

    trabalho, ao entendimento das necessidades individuais dos trabalhadores, de seu

    comportamento e de sua insero no sistema social do trabalho, em especial nos

    pequenos grupos informais.

    A teoria da burocracia foi desenvolvida pelo socilogo alemo Max Weber nos anos

    40 e tambm concentra seu foco na estrutura organizacional.

    BANNER; GAGN (1995) resumem a perspectiva de Weber da seguinte forma: uma

    organizao um sistema de padres legtimos de interaes entre seus membros, que

    por sua vez esto engajados em atividades com o intuito de atingirem determinados

    objetivos. Os princpios da burocracia segundo Weber so o carter legal das normas

    e regulamentos, o carter formal das comunicaes, o carter racional e a diviso do

    trabalho, a impessoalidade nas relaes, a hierarquia de autoridade, a padronizao

    das rotinas e dos procedimentos, a competncia tcnica e a meritocracia, a

    especializao da administrao e a sua separao da propriedade, a

    profissionalizao dos participantes e a completa previsibilidade do seu

    funcionamento (WEBER apud ETZIONI, 1972). Tais princpios deveriam conduzir

    mxima eficincia das organizaes. Entretanto, a burocracia quando aplicada

    demonstrou tambm possuir imperfeies, que so basicamente as seguintes:

    internalizao das regras e exagerado apego aos regulamentos, excesso de

    formalismo e de papelrio, resistncia s mudanas, despersonalizao do

    relacionamento, categorizao como base do processo decisorial, superconformidade

    s rotinas e procedimentos, exibio de sinais de autoridade e dificuldade no

    atendimento a clientes e conflitos com o pblico (MERTON apud ETZIONI, 1972).

    A teoria estruturalista constitui-se em uma resposta rigidez da estrutura burocrtica

    e procura sintetizar os aspectos anteriormente apresentados e que se contrapem aos da

    teoria clssica e da teoria das relaes humanas. Os estruturalistas, dentre os quais

  • 3. Estruturas organizacionais 36

    destacam-se Amitai Etzioni, Robert Merton, Phillip Selznick e Alvin Gouldner,

    desenvolveram um estudo analtico e comparativo das estruturas organizacionais,

    considerando a anlise interorganizacional e o ambiente externo como novas variveis

    a serem consideradas. Suas anlises visualizavam as organizaes como complexos de

    estruturas formais e informais e ampliaram o campo da anlise organizacional para

    alm das empresas fabris de Taylor e Fayol, a fim de incluir uma maior variedade de

    organizaes. Os estruturalistas tambm passaram a considerar os conflitos como um

    processo social importante dentro das organizaes, o que era desconsiderado pelos

    enfoques anteriores.

    J o enfoque de sistemas na administrao decorrente da difuso da Teoria Geral de

    Sistemas, desenvolvida na dcada de 50 pelo bilogo alemo Ludwig von Bertalanffy,

    que concebeu o modelo de sistema aberto, entendido como complexo de elementos em

    interao e em intercmbio contnuo com o ambiente (MOTTA, 1995). Trata-se de um

    modelo interdisciplinar, cuja corrente no campo das organizaes as entende como

    compostas pelos subsistemas tcnico, social e cultural, que importam do ambiente

    matrias-primas, equipamentos, valores e aspiraes, processam insumos com vistas a

    transform-los em produtos e exporta esses produtos para o ambiente. As

    organizaes, segundo essa abordagem, buscando sua sobrevivncia, esto

    permanentemente repondo energia de seu meio ambiente, recebendo informaes que

    lhes permitam corrigir desvios e multiplicando e elaborando suas funes, o que

    acarreta em diferenciao interna.

    Finalmente, a abordagem contingencial pressupe a no existncia de uma nica

    maneira melhor de organizar, mas que as empresas precisam ser sistematicamente

    ajustadas s condies ambientais. CHANDLER (1976) foi pioneiro ao relacionar a

    estrutura organizacional estratgia adotada pela empresa.. Em seu trabalho

  • 3. Estruturas organizacionais 37

    contingencialista que teve grande difuso, BURNS; STALKER (1968) apresentam

    duas tipologias extremas de organizaes, que eles denominam de sistemas mecnicos

    e sistemas orgnicos. Os sistemas mecnicos so apropriados em condies estveis

    enquanto a forma orgnica apropriada em condies de mudana. As caractersticas

    dessas tipologias so apresentadas na Tabela 2.

    Tabela 2: Sistemas mecnicos e sistemas orgnicos (BURNS; STALKER, 1968).

    Sistemas Mecnicos Sistemas Orgnicos

    Alto nvel de especializao Tarefa individual muda constantemente como resultado da interao com demais

    membros da organizao

    Estrutura hierrquica de controle, autoridade e comunicao

    Autoridade pode mudar dependendo de quem mais capaz para realizar a tarefa

    Comunicao vertical Comunicao lateral, alm da vertical

    Comunicao baseada em instrues e decises a partir dos superiores

    Comunicao baseada em informao e aconselhamento

    Obedincia e lealdade aos superiores hierrquicos

    Todas as correntes e abordagens at ento discutidas focalizaram o modo de produo

    em massa, sob o paradigma do taylorismo. Nas ltimas duas dcadas, entretanto, as

    empresas tm voltado sua ateno para mudanas em seus sistemas de produo, em

    funo da difuso dos novos paradigmas de qualidade e eficincia impostos pelas

    empresas orientais, lideradas pelos japoneses. Trabalhando com maior qualidade,

    menor desperdcio e menores custos, o modo de produo oriental surpreendeu os

    mercados ociden