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SEXUALIDADE, TABUS E PRECONCEITOS
Autor: Adair Rabel Corso1
Orientadora: Thaise Liara da Silva2
RESUMO
A Sexualidade, Tabus e Preconceitos é o tema do presente artigo, resultado de um trabalho que foi desenvolvido com professores que atuam na EJA (Educação de Jovens e Adultos), proposto no Programa de Desenvolvimento Educacional 2010 - 2012. Por ser um assunto polêmico procura-se pensar as questões de gênero e a sexualidade dentro do espaço escolar, ou seja, como que os educadores estão lhe dando com essas questões e qual sua visão sobre o assunto. Nota-se que grande parte dos educadores não possui formação adequada para lidar com a temática sexualidade. “A Educação Sexual é antes de tudo, uma prática ou uma ação de transmissão de conhecimentos, representações, valores e práticas, ou seja, é essencialmente uma forma de Educação” (BONFIM, 2010, p.73). Logo, exige do professor maior esforço na exploração do assunto, seja através do debate, do levantamento de reflexões ou exposição do tema. Falar sobre sexualidade na escola é uma questão delicada, que não raro evoca sentimentos os quais impedem a conversação aberta e transparente. A abordagem, portanto deve ser feita pelo professor com vistas à construção de um comportamento saudável, procedendo à quebra de tabus e preconceitos relativos ao sexo. Considerando que o educador é um dos protagonistas da transmissão de conhecimento, vencer esses obstáculos é de suma importância para uma exposição eficiente. Dessa forma, a postura pedagógica adequada do professor envolvido nesse trabalho - que deve ter conhecimento científico do assunto – precisa ser compromissada com requisitos como desenvoltura para falar do tema, obtenção de material adequado, bem como de estar disposto a aceitar os desafios inerentes a Sexualidade. Sendo assim, esse é o escopo do presente trabalho, fornecimento de subsídios aos professores, para que desenvolvam o tema de maneira eficaz.
Palavras-chave: Sexualidade; Tabus; Preconceitos; Desafio.
1 Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia. Professora do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos de Laranjeiras do Sul. 2 Enfermeira. Mestre em Enfermagem – UFPR. Docente do Departamento de Enfermagem – UNICENTRO.
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1 INTRODUÇÃO
A sexualidade é inerente ao homem e faz parte de sua história, desde a
concepção até a velhice. Sendo assim, ela é representação do contexto sócio-
cultural no qual se está inserido e está permeada por convenções que modelam as
relações, ganhando significados únicos dependendo da dinâmica cultural da
sociedade (BOZON, 2004, apud OLIVEIRA, 2011).
Para Britzman (1998, p.162) a sexualidade está presente e faz parte da
nossa vida, podendo ser vista como “a base da curiosidade, a força que nos permite
elaborar e ter ideias, como o desejo de ser amado e valorizado à medida que
aprendemos a amar e a valorizar o outro”. Sendo assim entendemos como Bonfim
(2010) que a sexualidade é tudo o que nos dá prazer, ela está presente em nossa
vida desde o momento em que nascemos, é uma necessidade básica do ser
humano, que não pode ser dissociada de sua vida.
Recentemente a sexualidade foi constituída, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, em tema transversal. A sexualidade é uma via de acesso tanto a aspectos privados quando públicos. Ela suscita mecanismos heterogêneos de controle que se complementam, instituindo o indivíduo e a população como objetos de poder e saber. Desse modo, se a escola é uma das instituições onde se instalam mecanismos do dispositivo da sexualidade, há de se questionar como isto ocorre (ALTMANN, 2001, p.578).
A escola é uma ponte entre o conhecer e o fazer de educadores e
educandos, sendo o professor agente importante nos processos de discussões que
venham possibilitar mudanças na sociedade. Porém, estes, não deixam de serem
indivíduos e sujeitos que transitam pelos corredores dessa mesma sociedade
(CAMPOS; BAHIA, 2012, p.27).
O espaço escolar é uma entre as múltiplas instâncias sociais que exercitam
uma pedagogia da sexualidade e do gênero, colocando em ação várias tecnologias
de governo. Esses processos prosseguem e se completam através de tecnologias
de autodisciplinamento e autogoverno, exercidas pelos sujeitos sobre si próprios,
havendo um investimento continuado e produtivo desses sujeitos na determinação
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de suas formas de ser ou “jeitos de viver” sua sexualidade e seu gênero (LOURO,
1999).
Nesse sentido, tem-se a seguinte orientação nos PCNS:
Questões fundamentais ligadas à sexualidade, como gostar e cuidar do corpo que se tem, devem ser respeitadas tanto no aspecto físico como psicológico. O respeito a si próprio, ao seu corpo e aos seus sentimentos é a base para haver possibilidade de um relacionamento saudável com o outro. O questionamento da imposição de certos padrões de beleza veiculados pela mídia, principalmente a propaganda, se faz pertinente na medida em que interferem na auto-imagem das crianças e jovens. (SECRETARIA FUNDAMENTAL DE EDUCAÇÃO, PCN’s, 1997, p.97).
Não se pode esquecer, que especificamente no que tange à Educação de
Jovens e Adultos (EJA) Instituição Educacional campo do presente trabalho -
compete ao professor entender a peculiaridade da modalidade, com eminente
caráter social e de pluralidade de usuários inseridos em diversos contextos culturais,
enfim, um ambiente de resgate ao ensino de cidadãos que não completaram os
estudos no momento adequado.
Portanto, é necessário que o professor interiorize o fato de que trabalhar
neste ambiente pluralista, de ‘desordem’ da EJA, como já disse Santos (2010, p.39)
e, justamente por isso, “se esforce em se manter atualizado sobre os pormenores do
assunto e meios de sua abordagem”.
A esse respeito, é interessante trazer os resultados da pesquisa levada a
cabo por Fagundes (1995, p.21) acerca da preparação de Professores para
enfrentamento do assunto:
Resultados de uma pesquisa que realizamos com professores sobre educação sexual apontaram para a necessidade de sua formação exigindo desta forma o desenvolvimento de programas adequados à sua capacitação nesta área. Obviamente tais resultados eram esperados, uma vez que as Faculdades de Educação e os cursos de formação de professores de 1º e 2º graus pouco ou nenhum preparo propiciam em relação à sexualidade humana, com enfoques multidisciplinares.
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Não é novidade que sexualidade e educação sexual sempre foram objeto de
pesadas polêmicas, que alcançam o ambiente escolar, perpassam o debate na
sociedade e chegam ao campo político. Mas a existência dessa polêmica não deve
servir de fundamento para que o assunto não seja tratado, como diz o artigo 2° da
Lei 9.346/93:
Art. 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Desta forma, o recorrente argumento de que a educação sexual deve ser
desenvolvida no seio da família não deve ser acolhida. Se a educação é dever da
família e do Estado, é evidente que este último não pode desincumbir-se de preparar
os profissionais de educação para que enfrentem o tema e, além disso, que essa
abordagem seja atenta aos ideais de liberdade e solidariedade humana com vistas
ao exercício da cidadania.
A Resolução do CNECEB nª1 de 5 de julho de 2000 que institui as Diretrizes
Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, reforça o dever da escola no
sentido da educação cidadã para jovens e adultos:
Art. 17 - A formação inicial e continuada de profissionais para a Educação de Jovens e Adultos terá como referência as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino fundamental e para o ensino médio e as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores, apoiada em: I - ambiente institucional com organização adequada à proposta pedagógica; II - investigação dos problemas desta modalidade de educação, buscando oferecer soluções teoricamente fundamentadas e socialmente contextuadas; III - desenvolvimento de práticas educativas que correlacionem teoria e prática; IV - utilização de métodos e técnicas que contemplem códigos e linguagens apropriados às situações específicas de aprendizagem.
Como se vê, são deveres do Professor a investigação e desenvolvimento de
práticas educacionais apropriadas não só ao contexto da EJA, como ao tema em si.
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O inciso IV ainda define que tudo isso deve acontecer de maneira respeitosa às
peculiaridades dos frequentadores.
Portanto, resta claro que, muito embora o tema seja polêmico e dotado de
várias faces, isso não é desculpa para que não seja abordado de maneira eficiente.
O tema Sexualidade foi escolhido por seu caráter abrangente e atual, que
desperta o interesse dos alunos, proporcionando discussões, argumentações e
análise na busca da efetivação da aprendizagem, com intuito de conduzir as
reflexões levantadas quanto ao tema em questão, ao cotidiano de cada aluno, bem
como a mudanças nos comportamentos.
Falar sobre Sexualidade para Jovens e Adultos no ambiente escolar é um
desafio e, não se pode conceber que em pleno século XXI, a sexualidade seja
abordada de forma superficial e, por vezes, tendenciosa nas escolas, deixando uma
lacuna na educação e abrindo espaço à proliferação da desinformação a seu
respeito fortalecendo preconceitos e juízos ultrapassados.
Para que o processo educativo se concretize, é necessário que o professor
seja de fato capaz de orientar adequadamente seus educandos, sendo certo que
para isso é imprescindível que detenha uma série de elementos como:
embasamento teórico suficiente, material adequado sobre o tema e ainda,
desenvoltura para tratar do assunto com desembaraço e conhecimento.
Isso porque o indivíduo é um ser em busca de sua identidade, e sofre, neste
percurso, a influência do meio em que vive e das fantasias que acompanham a
prática sexual, que geralmente vêm associadas a pouca informação que tem sobre o
assunto.
Assim sendo, o tema sexualidade, a quebra de tabus, os preconceitos
referentes ao assunto – sexo – e, a questão da liberdade sexual na atualidade,
homossexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, são alguns dos temas
propostos como objetivo central do presente estudo. O problema que se apresenta é
como devem os educadores trabalhar com o tema da sexualidade com jovens e
adultos, visando uma aprendizagem efetiva que possa atuar de maneira significativa
nas transformações do ser humano e no convívio social.
O tema toca em pontos muito delicados da intimidade dos jovens e adultos,
por isso, é necessário relembrar alguns aspectos sobre a postura pedagógica
adequada do professor envolvido nesse trabalho. Portanto, este projeto destina-se a
fornecer subsídios aos professores, facilitando a sua prática pedagógica, na
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tentativa de desmistificar tabus e preconceitos relacionados a Sexualidade, tendo
ainda o intuito de explorar a importância da temática da sexualidade através de
atividades colaborativas, debates, e levantar reflexões sobre o ensino e as questões
relacionadas ao tema,uma vez que, a mesma tem como objetivo formar Jovens e
Adultos para que os mesmos possam exercer de forma crítica e consciente a sua
cidadania.
Assim, o propósito de todo o trabalho foi contribuir para a inclusão desse
tema na escola, de maneira livre de preconceitos e tabus, respeitando crenças e
valores a respeito de relacionamentos e comportamentos sexuais, fornecendo
informações e reflexões sobre sexualidade de forma clara e objetiva tanto aos
docentes como aos discentes.
2 DESENVOLVIMENTO
O presente trabalho foi desenvolvido conforme preconiza as diretrizes do
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) entre agosto de 2010 a agosto de
2012. Inicialmente foi realizado um trabalho bibliográfico que visou à estruturação do
projeto que contemplou o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), construção do
Material Didático Pedagógico e Intervenção Pedagógica.
Após instrumentalização técnico-científica, a primeira etapa desenvolvida foi
o GTR, que teve início no mês de outubro de 2011 e foi finalizado em novembro de
2011. O grupo contou com 12 docentes, apenas um não participou das discussões.
Foi apresentado aos professores a produção didático pedagógica, a proposta de
trabalho no âmbito escolar discutido e refletido a temática Sexualidade, Tabus e
Preconceitos.
A problematização se deu com a questão: Como o tema sexualidade, no seu
contexto atual de uma sociedade global de grande fluxo de informações, pode ser
trabalhado no ensino de Jovens e Adultos para uma aprendizagem efetiva que atue
na transformação do ser humano e no convívio social?
As discussões tiveram início com um pequeno grupo de participantes que
demonstraram preocupação e curiosidade quanto ao assunto e como fazer a
abordagem em sala de aula. Apresentaram contribuições em todos os fóruns,
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levantando a questão Sexualidade e sua importância na formação de nossos jovens,
e evidenciaram a necessidade de formação do professor para tratar essa questão
com conhecimento e habilidade. Ressalta ainda que, diante do despreparo do
professor para falar sobre Educação Sexual, é possível contar com a contribuição de
outros profissionais, como os da Saúde. Porém, no cotidiano escolar, a intervenção
do professor é constante daí a importância da preparação e habilidades necessárias
à prática pedagógica para a aprendizagem, formação de valores e mudanças de
atitudes.
Sob essa ótica, o grupo que compôs o trabalho em rede colocou em pauta a
urgência de se desenvolver práticas pedagógicas que envolvam o tema sexualidade
desde as séries iniciais pelos educadores e ao longo da escolarização, em todos os
ciclos. Tais práticas devem ser previstas e elaboradas previamente pelo professor,
que deverá identificar o conhecimento prévio do aluno, e estar de posse de material
adequado para intervir no momento e de forma adequada para desconstruir
conceitos distorcidos, de más informações, dúvidas, preconceitos e crenças.
A implementação do projeto na escola aconteceu em quatro oficinas, com
duração de 3 horas cada uma, destinadas ao quadro docente do Centro Estadual de
Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) de Laranjeiras do Sul-Pr. Para
um grupo composto de 27 professores do Ensino Fundamental e Ensino Médio,
funcionários e professores pedagogos, sendo 4 professoras Pedagogas, 2
professores de Matemática, 1 da disciplina de Química, 1 de Biologia, 1 de Ciências,
2 de História, 2 de Geografia, 2 professoras de Artes, 2 professoras de Língua
Portuguesa, 1 professor de Inglês do Ensino Fundamental e 1 do Ensino Médio. Os
Técnicos Administrativos, participaram das oficinas, num total de 5 e ainda os
agentes Educacionais I e II, foram 4.
A primeira oficina teve início com a apresentação inicial do projeto,
explanado o tema, visando identificar os eventuais anseios e obstáculos que inibem
os docentes para a aplicação da prática pedagógica voltada à educação sexual em
sala de aula. Nesse primeiro momento foi possível detectar os anseios dos
professores frente à realidade diversa em todos os aspectos na modalidade de
ensino EJA.
Na segunda oficina sobre Sexualidade foi apresentado a produção didático
pedagógica OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS NA TEMÁTICA DA
SEXUALIDADE E NO ENSINO DA EJA aos professores, material produzido durante
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o segundo período de formação do PDE, o qual foi lido primeiramente e iniciou-se a
discussão, onde os mesmos relataram que a maior preocupação ao se falar sobre o
tema seria a forma de tratar o assunto num ambiente diverso, com faixas etárias
diferentes, com diferentes tipos de formação, educação tradicional, num contraponto
com a educação moderna onde há mais diálogo e maior acesso a informações, tais
como, televisão, internet e vídeos.
Nas discussões apresentadas pelos professores houve troca de informações
no grupo a respeito de possibilidades de uso de material que podem contribuir para
a prática pedagógica na educação sexual. Essa troca de informações abriu amplas
possibilidades de como se pode fazer uso de material impresso, músicas, filmes,
vídeos, desenhos e que há conhecimento por parte dos professores quanto ao tema
e estratégias de ensino.
Alguns professores se pronunciaram à respeito do espaço para trabalhar
com vídeos, uma vez que as escolas não possuem um local adequado, e muitas
vezes o professor não possui habilidade para trabalhar com recursos tecnológicos,
porém, uma professora de Arte, prontamente deu sua contribuição: é claro que o
trabalho com filme deve estar no planejamento e que seja coerente com o conteúdo,
previamente visto pelo professor. Não se concebe a idéia de que o uso de um filme
seja um passatempo em sala de aula. O uso de recursos áudio visuais são ricos, e o
professor pode permitir que o filme seja visto todo, ou selecionar trechos
significativos, fazer abordagens destacando o cenário, figurino, elementos
importantes, o contexto. Em seguida solicitar um trabalho relacionado ao conteúdo,
que pode abranger várias áreas do conhecimento. Diga-se ainda que um filme
apresenta diversas linguagens como a falada, escrita, visual e musical. Cabe ao
professor a habilidade para direcionar essa prática.
No debate se pronunciou a professora de Língua Portuguesa, apontando
possibilidades de uso de filme para reflexões, argumentações, o desenvolvimento do
senso crítico, da oralidade, elaboração de textos diversos, e ainda a organização do
pensamento no discurso, a escrita formal.
Assim avançando no debate, discutindo acerca das possibilidades de
trabalhar a educação sexual nas diferentes disciplinas, muitos professores deram
exemplos de estratégias, e demonstraram sua preocupação em reelaborar a prática
pedagógica, porém se sabe que é muito fácil ficar no que se tornou rotina em sala
de aula.
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Diante desta perspectiva, foi proposto pelo grupo que participou das oficinas
que haja continuidade no estudo do tema, em reuniões pedagógicas, para o
enfrentamento da problemática que envolve a Sexualidade, o respeito às diferenças,
a si mesmo e ao outro, o preconceito e a discriminação e que tenha o foco na
formação de valores.
A terceira oficina foi desenvolvida referenciando a música como uma
alternativa de trabalhar educação sexual. É uma forma que deve ser utilizada pelo
professor em suas aulas, sendo planejada e com objetivos definidos e que se
enquadre no planejamento. Trata-se de outra possibilidade de ensino, na fala de
Correia (2010, p.128):
Nesse sentido novas possibilidades devem ser experimentadas, como é o caso da linguagem musical no processo ensino-aprendizagem, pois esta resgata outras facetas do processo educacional, como a emoção e a criatividade, as quais estão envolvidas pelo conteúdo interdisciplinar, subjetivo e estético dessa linguagem artística.
Cabe destacar que a prática de trabalhar com a música contribui para
despertar a sensibilidade, observar a beleza e a criação. O conhecimento do
professor é fundamental para aliar ao conteúdo e fazer abordagens.
Percebeu-se que apenas alguns professores as utilizam em suas aulas, e a
manifestação da professora de Arte e Língua Portuguesa no debate sobre música e
o trabalho pedagógico referindo que são inúmeras as possibilidades, desde o
significado da letra das músicas, a melodia, metáforas, produção de paródias,
expressões corporais e interpretação.
Na quarta oficina utilizamos dinâmicas para trabalhar a sexualidade com o
objetivo de ensinar, educar e munir os professores de sugestões viáveis de serem
utilizadas nos momentos oportunos. São atividades que envolvem brincadeiras,
jogos, atividades escritas. Devem ser conhecidas pelo professor e estar relacionada
com o objetivo. Nessa oficina a participação foi ativa. Finalizando foi distribuído
material impresso contendo várias dinâmicas referentes às questões tratadas na
Produção Didático Pedagógica: Sexualidade, Tabus e Preconceitos.
Durante as oficinas foram realizadas dinâmicas variadas com os professores
que sugeriram uma forma lúdica para trabalhar o tema, como: músicas, vídeos,
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desenhos, jogos, caça-palavras, fazendo uso da interdisciplinaridade. Ensino da
EJA, e também material impresso com diferentes estratégias para serem utilizadas
no cotidiano. O uso da música como sugestão para um trabalho prazeroso e
significativo. Uma forma de ensinar, cantando, refletindo, analisando. Outra forma de ensinar é através da música “Amor e Sexo” de autoria da
cantora Rita Lee, com reflexão de cada verso, levando ato contínuo, a um debate
informal. No debate o educador poderá fazer uma pré-leitura, com levantamento de
algumas questões, que serão apresentadas em momento oportuno.
Disponibilizou-se a música como meio de transmissão de conhecimento e
melhoria na aprendizagem. Psiquiatras, a exemplo de CURY (2003) recomendam o
uso de música ambiente em sala de aula para diminuir a ansiedade das crianças e
lhes favorecer o equilíbrio emocional.
Cabe evidenciar que a música deve ser adequada ao fim a que se destina,
bem como, a todos os educadores é disponibilizado a utilização do presente recurso,
foi selecionada a música escrita por Rita Lee e Roberto de Carvalho, presente no Cd
Biograffiti de 2006 e, tem por objetivo uma reflexão sobre as diferenças entre sexo e
amor, buscando-se construir conceitos próprios do que sejam esses dois
sentimentos/práticas.
Para o trabalho com vídeo mostrou-se a possibilidade da leitura do filme
“Nunca fui amada”, sob direção de James Toback, o qual trata da sexualidade de
uma forma mais romântica, vista de um ponto crítico de um relacionamento, relata a
história de uma mulher que resolve utilizar-se da ferramenta mais poderosa que
possui, o sexo, para atingir e vingar-se de dois homens, trazendo para o presente
trabalho o sexo como ferramenta de vingança ou de trabalho.
Ainda utilizando-se da ferramenta tecnológica de áudio e vídeo, foi proposto
assistir ao filme “O Banquete de Casamento”, direção de Ang Lee, onde se explora a
temática da homossexualidade, com seus preconceitos e seus tabus.
Considera-se que o trabalho desenvolvido nas oficinas foi bem aceito pelos
professores que solicitaram que fossem oportunizados novos momentos para
partilhar experiências, refletir a prática pedagógica em relação ao tema e contribuir
para uma educação mais qualitativa.
Analisando o trabalho realizado nas oficinas, a apresentação de estratégias
de ensino com música, filmes, a troca de experiências e as discussões
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estabelecidas entre os professores, o interesse demonstrado pelos mesmos, que é
possível haver mudanças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após todo o itinerário percorrido no propósito de elaboração deste trabalho,
resta claro e de forma robusta a importância do tema, não apenas no ambiente
escolar, mas também em toda a sociedade, em seus inúmeros meios de convívio.
A sexualidade é parte integrante da vida do homem e, no atual estágio da
sociedade moderna, não pode ser tratada de maneira superficial ou preconceituosa.
Não há mais espaço para a abordagem da sexualidade de forma recatada,
discriminatória ou pudica. É necessidade do ser humano e, naturalmente, a busca
deve ser por eliminação de tabus e concepções erradas que ainda persistem.
Nesse sentido, o professor, por excelência, vem a ser um dos operadores
mais importantes na evolução da abordagem do tema. Atuando em sala de aula, e
mantendo, anualmente, contato com um grande número de pessoas, goza o
professor de ambiente e condições privilegiadas para tratar do assunto,
considerando sua principal função: transmitir conhecimento, transpondo barreiras
religiosas ou morais, com a intenção de possibilitar aos alunos plena satisfação em
termos de conteúdo.
É certo que o tema da sexualidade é multifacetado, e abarca grande parcela
do conhecimento humano para sua compreensão, competindo ao professor, pois,
abordá-lo ao máximo da sua plenitude, proporcionando aos seus alunos uma
adequada compreensão sobre a temática e sua realidade.
Neste particular, no que tange especificamente à educação de jovens e
adultos, não se podem ignorar as peculiares necessidades que demandam os
usuários – cidadãos que não completaram o ensino no período regular, de modo que
incumbe ao professor, ainda que tardiamente, familiarizar os alunos com o tema e,
porque não, extrair eventuais preconceitos, recalques e tabus que tragam consigo,
arraigados e sólidos em razão da vida vivida livre do estudo.
A temática da sexualidade pode auxiliar os educadores na exposição do
conteúdo em sala de aula, vindo a oferecer aos alunos a possibilidade de se
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identificar de forma mais clara a partir de conhecimentos, uma vez que a
sexualidade aborda temas controversos, de difícil conversação aberta. Os
indivíduos, de uma maneira geral necessitam ter conhecimentos que os auxiliem na
adoção de comportamentos sociais e afetivos, cabe à escola proporcionar aos
mesmos essa capacidade.
Como educadores somos protagonistas na educação e como tal podemos
contribuir para a formação de conceitos saudáveis para o desenvolvimento da
sexualidade do aluno, precisando, portanto, educá-los para que tenham
compreensão efetiva e solidária no contexto em que vivem. Compete ao educador
realizar seu trabalho sobre sexualidade com motivação, conhecimento,
desembaraço e bom relacionamento com os alunos, afinal, Paulo Freire já dizia que
“A teoria orienta a prática, e esta reorienta a teoria”.
Enfim, muito embora este trabalho não tenha a pretensão de esgotar ao
assunto, ou mesmo, atribuir ao professor a função de um especialista na temática, é
de suma importância a contínua capacitação do profissional para melhor abordar o
assunto, para que atendam as necessidades do professor e do aluno no
enfrentamento da matéria, afinal, o estudo e conhecimento da sexualidade deve ser
como o próprio sexo: prazeroso.
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