desconstruir tabus e preconceitos para … · instituto federal do paraná – ifpr, no campus...
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
DESCONSTRUIR TABUS E PRECONCEITOS PARA CONSTRUIR A (COM)VIVÊNCIA
COM AS DIFERENÇAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE DIÁLOGOS DE
GÊNERO E DIVERSIDADE EM UM PROJETO DE EXTENSÃO NO IFPR DE IRATI-PR
Thaysa Zubek Valente1
Arthur Leonardo Costa Novo2
Resumo: A escola está implicada na produção de corpos e sujeitos, atravessados por normas sociais
que determinam padrões de conduta, sobretudo no que se refere às normativas de gênero. Partindo
dessa problematização, esse trabalho consiste em um relato de experiência das atividades de um
projeto de realizado com a colaboração de duas estudantes bolsistas do Instituto Federal de
Educação do Paraná, Campus Irati, que teve como proposta orientadora o diálogo sobre os temas
gênero e diversidade com estudantes de Ensino Médio e Fundamental de outra(s) escola(s). Para o
presente relato, foi escolhido apenas um grupo de estudantes que participaram de cinco encontros
organizados a partir das seguintes temáticas: “Gênero e Cotidiano”; “Lugares sociais (im)possíveis
a homens, mulheres e sujeitos que não correspondem aos padrões heteronormativos”; “Violências
de gênero”; “Sexualidade, prevenção a ISTs e gravidez precoce”; e um quinto encontro, de
encerramento. Objetivamos, com esse relato, analisar os discursos movimentados pelas técnicas
utilizadas e pelos diálogos travados entre os pares. Consideramos, ao final, que muitas(os)
estudantes possuem ideias e posicionamentos conflitantes, entre uma perspectiva disciplinadora e
conservadora e uma perspectiva crítica e aberta a mudanças, sobre as questões de gênero e
diversidade, mantendo padrões de conduta transmitidos intergeracionalmente, de um lado, e
propondo novos modos de pensá-los, de outro e ao mesmo tempo.
Palavras-chave: Gênero. Sexualidades. Diversidade. Educação.
Este trabalho é resultado da experiência de diálogos travados sobre os temas gênero e
diversidade, e suas problemáticas, com um grupo de adolescentes que fez parte do projeto de
extensão intitulado “(Des)construindo tabus e preconceitos para construir a (com)vivência com as
diferenças: diálogos sobre gênero e diversidade na escola”. Esse projeto foi desenvolvido após
aprovação pelo Edital n. 14/2015 da Pró-Reitoria de Extensão, Pesquisa e Inovação – PROEPI do
Instituto Federal do Paraná – IFPR, no Campus Irati, com a participação de duas estudantes
bolsistas do Ensino Médio, e envolveu mais de uma instituição de ensino da cidade.
Para o presente relato, foi feito um recorte do trabalho realizado durante o ano de 2016, a
fim de apresentar a análise dos discursos que circularam nos encontros. Apenas um grupo de
adolescentes foi considerado, por ter sido esse a concluir a participação em cinco encontros
previamente organizados dentro das seguintes temáticas: “Gênero e Cotidiano”, as desigualdades de
1 Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Psicóloga do Instituto Federal de
Educação do Paraná – Campus Irati. Irati-PR, Brasil. E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); doutorando em Antropologia
Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Natal-RN, Brasil. E-mail: [email protected].
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gênero presentes nas práticas cotidianas e nos processos de subjetivação; “Lugares sociais
(im)possíveis a homens, mulheres e sujeitos que não correspondem aos padrões”, no qual os
diferentes modos de construção dos corpos em função do gênero e os padrões de feminilidade e
masculinidade foram trabalhados; “Violências de gênero – as lutas pelo respeito e garantia da
manifestação da diversidade sexual”, no qual as bases de sustentação e os mecanismos de proteção
e segurança que podem garantir o direito das mulheres e da população LGBT foram discutidos, bem
como a desconstrução e reinvenção dos padrões de masculinidade ou da masculinidade hegemônica
nos quais se ancoram os processos de subjetivação dos meninos-homens; e, por fim, “Sexualidade,
prevenção a ISTs e gravidez precoce”, no qual abordamos a produção dos afetos e desejos, as
questões de orientação sexual e de exercício da sexualidade.
O método utilizado para a realização desta reflexão pautou-se nas técnicas de pesquisa
qualitativa, com instrumentos de registros das atividades, inspirados no uso dos recursos de diário
de campo e de observação participante, e com a gravação de áudio das falas das(os) participantes
para posterior análise dos materiais (Goldenberg, 1997). Identificamos, a partir desses registros, as
emergências e deslocamentos dos discursos produzidos a cada encontro, além de problematizar
como as(os) estudantes abordaram os temas, considerando quais as práticas e lugares sociais que
estas(es) aluna(os) sustentam ou deslocam na sua fala e, portanto, nas suas vivências – por onde
transitam as marcações de gênero e suas problemáticas dentro das relações sociais.
Valemo-nos de uma perspectiva histórica e política de gênero, na medida em que tal
perspectiva desnaturaliza as categorias unitárias e universais pelas quais se constroem
representações e referências do que é ser “homem” e do que é ser “mulher” (Marcon; Prudêncio;
Gesser, 2016) e pelas quais se justificam as práticas de discriminação, violência, exclusão e
marginalização. Assim, concordamos com a ideia de que
Problematizar as estratégias discursivas que naturalizam a heterossexualidade e
essencializam as performances de gênero, associando-as linearmente à ordem biológica do
sexo, visa à promoção da justiça social para quem vivencia a sexualidade e o gênero de
modo dissonante à matriz de inteligibilidade heterossexual, que configura atualmente o
padrão moral hegemônico. (...) O silêncio sobre a diversidade sexual e a naturalização da
heterossexualidade contribuem para a manutenção da lógica heteronormativa, demandando
estratégias discursivas afirmativas da diversidade sexual como valor social (LIONÇO;
DINIZ, 2008, p. 321).
A escolha pela escola, como lócus de pesquisa e intervenção, se deu em razão da sua função
como instituição que opera sobre os processos de subjetivação dos indivíduos que por ela transitam
e nela se formam, não apenas por meio da educação formal senão também das relações sociais (e
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relações de poder) que se estabelecem nesse ambiente, profundamente marcadas por questões de
gênero, classe social, raça-etnia, etc.
Nesse sentido, nas escolas, os sujeitos são frequentemente submetidos a práticas
disciplinadoras em lugar de emancipatórias (Louro, 2004). Práticas essas que são sustentadas por
discursos e relações de poder que modelam e regulam as condutas dos sujeitos de forma
substancialmente heteronormativa3 (Bento, 2011), reforçando as normas da heterossexualidade sob
diferentes formas para meninos e meninas (Louro, 1997). Isso porque a escola participa do controle
dos corpos e da produção de subjetividades engendradas pela sexualidade – entendida como
dispositivo (Foucault, 1988).
O que acontece muito frequentemente nas escolas é que esse parâmetro de normalidade, o da
heterossexualidade, produz práticas pedagógicas que reforçam as desigualdades de gênero, a
patologização e o preconceito para com as identidades ou expressões dissidentes, na medida em que
se baseiam em valores morais, religiosos e aos saberes biomédicos presentes no imaginário e na
condução das vidas das pessoas que integram a comunidade escolar (docentes, funcionárias/os,
colegas, famílias, etc), e que a sustentação da norma da heterossexualidade se dá também pelas vias
de captura dos sujeitos4 que fogem à norma, e são marginalizados (Marcon; Prudêncio; Gesser,
2016). Ressignificar essas formas de ver e compreender esses corpos-sujeitos compreende pautar a
sexualidade em uma perspectiva ético-política, pela qual se possa respeitar a autonomia e garantir o
respeito aos direitos humanos dos indivíduos na construção dos seus corpos e no exercício da sua
sexualidade.
Dito isso, visualizamos a escola como um espaço em que o heterossexismo e o machismo
são reproduzidos por meio de padrões de conduta disseminados nas práticas de pedagogização dos
corpos e sexualidades, e, portanto, de subjetividades. Mecanismos de silenciamento e dominação
simbólica dos sujeitos operam sobre os corpos a fim de que esses aprendam a conduzir-se, nas suas
expressões e nos seus afetos, de acordo com as normativas de gênero (Marcon; Prudêncio; Gesser,
2016; Junqueira, 2009; Louro, 1999).
As “brincadeiras” heterossexistas e homofóbicas (não raro, acionadas como recurso
didático) constituem poderosos mecanismos heterorreguladores de objetiva- ção,
3 A norma da heterossexualidade se pauta na essencialização da feminilidade e da masculinidade e no regime binário de
sexualidade, vinculados à determinação biológica dos corpos, e produz “identidades mutuamente excludentes e
cerceadoras das possibilidades de derivação passível de apropriação pessoal, social, cultural e histórica do feminino e
do masculino, por pessoas de ambos os sexos” (LIONÇO; DINIZ, 2008, p. 310). 4 “Isso quer dizer que é a partir da heterossexualidade, tomada como parâmetro da normalidade, que toda e qualquer
expressão da sexualidade é valorada. Configura uma norma, um princípio ordenador segundo o qual a pluralidade das
experiências sexuais é significada” (LIONÇO; DINIZ, 2008, p. 309).
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silenciamento (de conteúdos curriculares, práticas e sujeitos), dominação simbólica,
normalização, ajustamento, marginalização e exclusão. Essa pedagogia do insulto se faz
seguir de tensões de invisibilização e revelação, próprias de experiências do “armário”.
Uma pedagogia que se traduz em uma pedagogia do armário, que se estende e produz
efeitos sobre todos(as) (JUNQUEIRA, 2009, p. 484-485).
No entanto, ao mesmo tempo em que a escola contribui para a manutenção e reprodução de
relações de gênero que se valem da desigualdade de gênero, da normalização dos corpos e
subjetividades em padrões do que é considerado próprio do feminino, e das meninas/mulheres, e
próprio do masculino, dos meninos/homens, e corrigindo (por meio de punições, opressões ou
repressões) aqueles corpos-sujeitos que desviam – de modo mais ou menos explícito – da norma, as
escolas também são espaços por onde circula a diversidade, os modos plurais de existir pelos quais
os sujeitos se constituem e dentro dos quais resistem e querem ser reconhecidos. Para que essas
vidas possam ser vistas como vidas vivíveis5. Por essa razão é que “A vida escolar não se resume à
socialização formal de crianças e adolescentes, pois é também uma experiência potencial de revisão
e crítica de práticas sociais injustas e discriminatórias” (Lionço; Diniz, 2008), sendo a escola um
lugar potencialmente apto a promover a transformação social.
Essas ideias estão em consonância com algumas diretrizes pautadas em legislações
brasileiras que norteiam as políticas educacionais. Contudo, essas mesmas diretrizes têm sido
colocadas em xeque na atual conjuntura política legislativa, que conta com uma bancada religiosa
fundamentalista que confronta a perspectiva educacional de promoção e respeito à diversidade e
atua provocando retrocessos sobre os programas e as políticas inclusivas e afirmativas; seja na
formação docente, na garantia do acesso à educação pelo respeito à diversidade sexual e de gênero,
e na proposição de práticas educativas que trabalhem pela valorização e afirmação das diferenças e
contra todas as formas de violência que a elas se dirigem.
No Brasil, a função ético-política dessa instituição [a escola] – como determina a
Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e os
Parâmetros Curriculares Nacionias (que prevêem as problematizações de gênero e diversidade
como temas transversais que devem ser tratados em todas as disciplinas escolares) – é a de acolher e
fazer conviver essa diversidade de modos de ser e sentir. Isso não consiste apenas em reconhecer a
existência e a legitimidade das experiências dos sujeitos que constroem suas identidades de gênero,
e vivenciam sua orientação sexual e sua sexualidade de maneira não-normativa, senão também
5 Toneli e Amaral (2011) abordam as políticas investidas no corpo a partir das normas de gênero (que circulam pela e se
produzem na sociedade, cultura e política) que produzem vidas vivíveis. Ao definirem parâmetros de existências
possíveis aos sujeitos – as vidas vivíveis – abjetas, essas mesmas normas produzem vidas sem valor, sujeitos abjetos, tal
como conceituados por Judith Butler.
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trazer para todas(os) nas escolas a discussão sobre as possibilidades múltiplas de estar no mundo,
por meio da inclusão das temáticas de gênero e diversidade sexual no ambiente escolar.
Por essa razão, acreditamos, como Graupe e Bragagnolo (2015), que a escola é um espaço
fundamental para discutir as desigualdades de gênero e outros temas relacionados a opressões em
nossa sociedade. É uma instituição capaz de fomentar as mudanças sociais necessárias, por
promover um espaço em que é possível o (re)conhecimento da existência de vários modos possíveis
de produção e manifestação das feminilidades e masculinidades, trabalhando para que todas sejam
respeitadas. Isso porque as escolas também são espaços para desconstrução e reconstrução de novas
formas de ser, sentir e estar no mundo, ao tensionar o instituído e desestabilizar as fronteiras e
demarcações que mantêm lugares normativos de existência e anulam potências de vida.
Os caminhos do projeto...
O projeto intitulado “Desconstruindo tabus e preconceitos para construir a (com)vivência
com as diferenças: diálogos sobre gênero e diversidade na escola”6 foi pensado, com inspiração no
Projeto Papo Sério (projeto de extensão desenvolvido pelo Núcleo de Identidades de Gênero e
Subjetividades da Universidade Federal de Santa Cataria), como meio de criar espaços de reflexão e
trocas de experiências sobre as temáticas em questão com estudantes de outras escolas do município
de Irati-PR. O objetivo central que conduziu as ações do projeto foi o de promover um novo olhar
para a formação dos sujeitos (estudantes), inserindo temas que fazem parte do seu cotidiano em um
espaço de diálogo mais crítico e reflexivo, de modo a desnaturalizar condutas e práticas
preconceituosas, opressoras e excludentes e promover a abertura à escuta das suas vivências,
entendendo que elas também são marcadas pela heteronorma, pelo machismo e pelas práticas de
violência em razão do gênero. Nesses diálogos, buscamos cruzar opiniões, posições, ideias e
valores, e tecer possibilidades de agir de modo mais respeitoso e acolhedor frente à diversidade
presente em si e no outro , afetando-se de modo transformador por ela.
A etapa de preparação das ações se deu mediante estudos teóricos, visita a escolas indicadas7
pelo Núcleo Regional de Educação (NRE) da Rede Estadual de Ensino8 do município, e
6 Financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Extensão (PIBEX) do IFPR. 7 Segundo a necessidade avaliada pela equipe do NRE, devido à presença de sujeitos que não correspondiam aos
padrões normativos de gênero no ambiente escolar e manifestações de vivências diversas da sexualidade, e o
conhecimento sobre práticas de violência e conflitos que ocorriam nessas instituições, além de dificuldades de o corpo
docente trabalhar com os temas.
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programação de cada encontro – conteúdos e técnicas. Todos os encontros foram construídos e
estruturados com um caráter dinâmico e participativo, com frequência semanal e duraram em média
1h e 30min a 2h cada um. Quanto aos instrumentos utilizados, recorreu-se a materiais audiovisuais,
imagens, frases (de discursos do dia-a-dia), notícias, relatos, Leis e Projetos de Lei, para
sensibilização e desencadeamento de debates e reflexões. Procuramos também construir uma
dinâmica horizontal da relação estabelecida entre os membros do grupo, sentando-nos sempre em
roda, no chão.
Para a análise de campo do presente trabalho, dos três grupos constituídos, fizemos o recorte
das ações realizadas com um deles apenas, uma vez que foi com esse que concluímos os cinco
encontros programados. De todos os encontros, participaram em média 18 estudantes de uma escola
da (variando, entre 14 e 15, em alguns, e somando 5 em outro; de séries diferentes), em sua maioria
brancas(os), oscilando o número de participantes a cada encontro, e o grupo foi acompanhado, em
todos os encontros, por uma funcionária do colégio que se prontificou a isso, de acordo com a
decisão da diretora pedagógica da instituição pela presença de um(a) responsável. A funcionária da
biblioteca da escola participou dos encontros, mas se manifestou apenas em alguns deles.
Re-olhar, re-visitar, tensionar o instituído...
As representações sobre o que é ser menino/homem e menina/mulher dentro dos padrões
heteronormativos, baseados também em padrão de masculinidade hegemônica, foram tratadas em
mais de um dos encontros, sendo movimentadas pelas técnicas utilizadas e suscitando relatos de
vivências experienciadas pelas(os) adolescentes. No primeiro encontro, ao utilizarmos frases
machistas e denotativas da desigualdade de gênero, presentes no cotidiano das relações sociais e na
relação de cada um(a) com o seu corpo, a representação do que se entende por “mulher”, no lugar
de um sujeito disciplinado pelos olhos e necessidades dos outros, compareceu nos discursos ao
serem comentadas as frases “Saindo de casa desse jeito, você não vai conseguir arranjar ninguém”
e “Hoje ajudei minha irmã/mãe/esposa na casa”, respectivamente:
8 O projeto foi encaminhado à aprovação da Secretaria Estadual da Educação do Paraná (SEED/PR), uma vez que a
ideia inicial era de realizar os encontros nas instituições estaduais de origem das(os) estudantes participantes e foi
negado pela Superintendente da Educação. Acredito que esse posicionamento faz parte da reação em cadeia iniciada
com a exclusão dos termos “gênero” e “sexualidade” dos Planos de Educação (Nacional, Estadual e Municipal), em
2015,que é resultado da expressividade do movimento que se expandiu nacionalmente em 2014 contra o que se
denominou “ideologia de gênero”, articulado por entidades e lideranças religiosas católicas e evangélicas com o apoio
político conquistado nas Câmaras Municipais de Vereadores e Assembleias Legislativas Estaduais, assim como no
Congresso Nacional (Costa Novo, 2015).
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Sempre as pessoas pensam que têm que ser em prol de alguém. Tipo, por que você não
pode sair de casa do jeito que você se sentir bem? Por que tem que ser pra alguém e não pra
você mesma? (...) Por que sempre tem que arranjar alguém?! Como se a principal questão
fosse você arranjar um namorado, ou ficar bonita para a sociedade, pra se sentir bem.
(...) eu me sinto sobrecarregada de atividades em casa. (...) então, eu preciso ser filha,
porque eu tenho uma mãe, eu preciso ser esposa, amante, eu preciso ser profissional... (...)
(...) É coisa de mãe, mas eu me sinto sufocada (comentário da funcionária que
acompanhava o grupo de estudantes).
O que se desenha nestes discursos é a imagem de uma mulher que está mais direcionada aos
olhares dos homens e da moral social vigente, e ao cuidado dos outros, em detrimento do cuidado
de si (o que leva a se sentir “sufocada”), estando esse cuidado associado às marcações sociais a que
deve responder cotidianamente, sendo sobrepostos seus papeis de mulher-mãe-esposa-trabalhadora.
Outra representação que se dá a ver é aquela de que pra se sentir bem, a mulher deveria
corresponder a algumas normas sociais, quais sejam: a de ser bonita e a de ter um parceiro, homem.
Supõe-se também aí o projeto de vida que se espera de uma mulher: de preferência, casar-se, cuidar
dos afazeres domésticos, e, melhor ainda, para as normas sociais tradicionais, ter filhos.
O disciplinamento do corpo da mulher pelo olhar do outro, seja ele a moral do social, ou do
homem, pai ou marido, foi recobrado no segundo encontro9, pelos seguintes relatos:
(...) eu tinha a vontade de cortar meu cabelo bem curtinho (...) só que o meu pai é muito
machista (...) e ele não aceitava, de jeito nenhum.
Do lado da minha casa tem um bar; a minha casa fica atrás. Tipo, a gente não pode usar
calção porque vai se mostrar pros homens que passam ali. (...) Porque parece que a gente
está fazendo outra coisa. (...) Como que a gente vai se sentir bem usando as roupas que os
outros querem? (...) Eu tinha que ir trocar de roupa porque me olhavam diferente.
Há aqui uma negação do uso que a mulher pode fazer do próprio corpo, o que se repete, não
apenas nas relações com o pai, ou parentes próximos, mas pode se reatualizar com futuros
parceiros, que tolhem a liberdade e autonomia da mulher ao dizerem o que deve ou não vestir, como
deve ou não se comportar, com quem deve ou não estabelecer relações próximas, quando pode ou
não pode sair etc. E uma rigidez moral nas repreensões (que acontecem na família, na escola, e em
outros espaços de convivência social), apontando desvios destes corpos e subjetividades que
experimentam o que é fixado como masculino e o feminino, dentro de uma determinada cultura
(costumes e tradições), mesmo que esses sujeitos permaneçam identificados dentro de posições
binárias de gênero.
9 Quando as(os) estudantes responderam, em uma folha de papel, às seguintes perguntas: “O que você já deixou de fazer
por ser mulher/homem?” e “O que você sente que deve fazer por ser homem/mulher?”
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A crítica às violências praticadas contra a população LGBT fizeram-se no primeiro e terceiro
encontro (quando as fobias de gênero foram tratadas por meio da discussão de reportagens e casos
noticiados), quando a representação que tem o gay no imaginário social é contrastada na resposta à
seguinte frase “Um viadinho brasileiro foi espancado, aí é que está o erro, ele deveria ter sido é
morto, acabe com a AIDS, mate um gay” por duas estudantes e um estudante, respectivamente:
É como se voltasse a culpa de algo ruim à pessoa, só porque ela é o que é. (...) Não é só
porque a pessoa é do jeito que é que algo ruim vai ter.
Também tem essa de... que hétero se envolve menos... que os homossexuais se envolvem
com todo mundo, por isso têm mais doenças... (...) E...é transmitido do mesmo jeito...
As mães não aceitam também e falam que é só um cara pegar que ela [menina/mulher
lésbica] vai gostar (...) Você tem que virar mulher, porque você foi feita assim, você tem
que ter filhos...mas ela não quer aquilo.
Esses discursos revelam o modo corretivo com que se tende a lidar com aqueles sujeitos que
desviam das normas sociais, e um modo de exercer a ameaça ou provocar o medo naqueles que
puderem vir a se tornar desviantes ou viverem experiências semelhantes, ou mesmo que podem
entrar em contato, em relações cotidianas, com pessoas que vivem com o vírus HIV – o que leva à
discriminação e exclusão social.
Sobre a violência contra a mulher, um estudante se posiciona:
(...) geralmente, a violência acontece na casa ou no casamento (...) a mulher quer ter mais
direitos, quer trabalhar, quer ter estudo...e o marido prende ela dentro da casa, porque ela
não pode fazer, porque ela é mulher. (...) Geralmente, a mulher não tem coragem de
denunciar o marido porque tem medo do que vai acontecer com o marido...ah, ele vai ser
preso, e, consequentemente, “Eu tenho filhos e não vou poder criar”, aí ela fica presa
naqueles pensamentos dela “Ah, eu vou denunciar, ou então, eu vou aguentar”...então,
acontece a morte.
O que se expõe, a partir desse discurso, é a caracterização da violência de gênero como
violência que é praticada contra a mulher simplesmente por ser ela uma mulher e, por essa razão,
estar enredada numa construção de lugar social e de relacionamentos sustentadas pela ideologia
machista. O estudante retrata, também, a realidade de vida de muitas mulheres, que têm a sua
liberdade cerceada e os direitos limitados em relações abusivas que perduram – não sem sofrimento
– dentro de uma complexa trama de outras relações que dificultam o rompimento e que podem levar
até mesmo à morte – o feminicídio, mas também à morte simbólica de mulheres que se perdem
como sujeitos de suas próprias vidas.
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Os casos de violência contra travestis e transexuais10, que deveriam ter sido tratados por um
grupo de estudantes formado exclusivamente por meninos, não foram discutidos devido ao
desinteresse e descomprometimento do grupo com essa proposta, negando-se a fazer essa discussão.
Percebemos que a grande resistência frente a essa temática, demonstra não apenas os efeitos da
banalização da violência e da destruição dessas vidas, mas o modo como meninos constroem sua
masculinidade a partir da marcação normativa do gênero, distanciando-se de tudo o que é
considerado feminino, até mesmo com repulsa e violência. A heterossexualidade obrigatória opera
pela exclusão ou obnubilação daquilo que há de feminino no homem e de masculino na mulher,
provocando o distanciamento (“divisão rígida de personalidade”) das características que os
aproximam (Rubin, 1993). Além disso, para entender a violência contra pessoas transexuais, é
preciso necessariamente olhar para o lugar que a nossa sociedade dá ao feminino e às mulheres.
No quarto encontro, nos valemos de uma dinâmica na qual, em cada canto da sala foi fixada
uma folha de cartolina com as seguintes respostas: “Concordo”, “Discordo” e “Não Sei”. As(os)
participantes, ao ouvir os enunciados lidos, escolheram em qual lado se posicionar, como melhor
refletia sua opinião. Nesse encontro, algumas reflexões foram feitas sobre a autonomia da mulher
quando da decisão de práticas sexuais dentro de relacionamentos amorosos, a liberdade sexual
feminina conquistada e o desejo pela manutenção da virgindade como valor instituído pelo
casamento, e o lugar da mulher (e do homem) na relação com a gravidez (maternidade/paternidade)
e as práticas abortivas; reflexões essas que se deram a partir das frases “Se o meu namorado me
pedir para ter relações sexuais com ele, devo aceitar para provar o meu amor”, “Pra fazer foi fácil,
criar (o bebê) agora não quer né?!” e “Se não quer ter filho feche as pernas”, e resultaram nos
seguintes posicionamentos:
Eu discordo, porque a pessoa é livre pra fazer o que ela quiser, namorado nenhum vai
obrigar ela fazer algo que não queira. (Menino)
Porque eu vou casar pura (...) que eu não vou aprontar antes da lua de mel; o que eu aprendi
com a minha vó (Menina)
Eu acho que até um tempo atrás tinha uma noção de que todas as mulheres tinham que
casar virgem, só que hoje em dia cada um é livre pra escolher (Menina).
No caso de uma gravidez indesejada, eu acho que eu sou a favor da legalização do aborto.
(...) É porque, muitas vezes, a mulher acaba não tendo esse apoio, do marido, da família...
(Menina 1)
10 Que dizem respeito a uma população que não dispõe de nenhum dispositivo legal para atender às suas demandas de
acesso à identidade e apenas recentemente passou a ser contemplada nas políticas de saúde do SUS, com a publicação
da Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013.
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Eu não sou. Porque, assim, tem hoje.. .orfanato, tem essas coisas... APAE, têm centros de
especialização em deficiências, tipo... não sei, é uma vida também. (...) Eu já penso assim...
se ela não tem apoio, ela espera a gravidez, ganha neném e dá pra adoção. (Menina 2)
Esses assuntos revelaram posicionamentos machistas sobre a gravidez, como se essa fosse
uma responsabilidade exclusiva da mulher, como também apontaram para a desigualdade de
tratamento entre homens e mulheres no que se refere ao exercício da paternidade e maternidade,
diante do qual, também a mulher que gere deve (moral e socialmente) se responsabilizar,
independente da falta de apoio ou de condições psíquicas que a sustem, podendo o homem não
cumprir com a sua função e se retirar desse lugar.
Nesse encontro também, a forma como as/os estudantes expuseram seu entendimento sobre
“o que é ser lésbica ou gay” variaram entre representações que se justificam pela escolha
autodeterminada, por um suposto determinismo biológico e pela patologização da
homossexualidade e da transexualidade11, ainda presente em muitos discursos médicos,
psiquiátricos, que a mídia, por exemplo, faz circular e legitima. E circularam representações sobre o
casamento e família, os direitos civis de casais homossexuais, a hiper-erotização do corpo
homossexual (ou de pessoas LGBTs) e o mito de que casais homossexuais educam suas filhas/seus
filhos de modo a leva-los a se entender como homossexuais.
O primeiro ponto que se destaca é a vinculação que se faz do casamento como uma união
pela qual, necessariamente, um casal (hetonormativo ou não) deverá decidir, em algum momento,
ter filhas(os), constituir uma família nessas bases. O segundo, é que a família, independentemente
se corresponde à norma heterossexual, é compreendida dentro dos limites da heteronorma: sempre
haverá um papel masculino/de homem a ser desempenhado, e sempre haverá um papel feminino/de
mulher a ser desempenhado, representação essa que é aparentemente questionada por um menino
que afirmou “Ele vai ter dois pais”.
O quinto encontro foi realizado com uma proposta de encerramento do projeto por meio de
uma oficina de cartazes. Os cartazes contemplaram os seguintes temas: a desconstrução de tabus
provocada pela diversidade de gênero ou a desestabilização dos padrões normativos de gênero (sua
expressão e construção identitária); a desigualdade presente nas relações de gênero e também
11 É preciso ressaltar que a homossexualidade já não é mais considerada patologia para a OMS desde 1990, quando foi
publicada a última versão do Código Internacional de Doenças (CID-10), na qual o termo “homossexualismo” foi
excluído. Porém, a transexualidade ainda é efetivamente considerada uma patologia, constando como “transtorno de
identidade de gênero” no CID-10 e servindo, inclusive nos laudos que fazem parte dos trâmites de autorização das
cirurgias de transgenitalização realizadas pelo SUS. A grande luta dos movimentos trans hoje é justamente a
despatologização; luta que também vendo sendo travada pelas(os) profissionais da Psicologia, por meio da
representação do Conselho Federal de Psicologia, mantendo uma postura ética (respaldada pelo Código de Ética
Profissional) que não coaduna com a legitimação dessa classificação diagnóstica.
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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
gerada por outras marcações sociais (como a de raça-etnia); e a violência contra as mulheres, a
erotização e objetificação do corpo feminino.
Considerações finais
Como relatado neste trabalho, inserir as discussões sobre gênero e sexualidades no espaço
escolar, fazendo circular os problemas que essa temática envolve, não é um processo tranquilo ou
fácil. Os entraves são dos mais variados, e advém de lugares distintos. Mas também é um trabalho
que revela o quanto se tem a dizer sobre o tema. Por meio da realização dos encontros descritos,
construímos espaços de troca de reflexões a respeito de vivências particulares das(os) estudantes e a
respeito das problemáticas que envolvem outros sujeitos que têm suas vidas marcadas por
condições de desigualdade de gênero e por práticas de violência. Nesse processo, observamos e
compreendemos as nuances, presentes nos discursos, entre a naturalização de padrões de conduta e
de práticas reproduzidas dentro do sistema binário e das tecnologias que sustentam a
heterossexualidade compulsória pela qual os sujeitos são constituídos, e o questionamento desses
padrões e condutas a partir de uma perspectiva mais emancipadora e libertária.
Acreditamos que os diálogos e trocas podem reverberar e se estender a outras relações e
vivências das(os) adolescentes, desestabilizando, de algum modo, o instituído, e dando espaço à
reinvenção das relações de gênero desde um lugar que privilegie relações mais justas, equânimes e
respeitosas, pelas quais possam aprender mas também serem afetadas(os), transformadas(os), pelas
diferenças.
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Deconstruct taboos and prejudices to build a dialogical-experience within differences: an
experience report from dialogues on gender and diversity in an extension project from IFPR-
Irati
Astract: Schools are directly involved in the production of bodies and individualities, influenced by
social norms which determine standards of conduct, mainly with regard to gender norms. With this
issue as a starting point, and based on the poststructuralist perspectives of Gender Studies, the
present work consists of an experience report from an extension project entitled, conducted with the
collaboration of two scholarship students from the Federal Institute of Education of Paraná, Campus
Irati. As a guiding proposal, the project was based on dialogues over gender and diversity with High
School and Elementary School students from different institutions. For the present report, only one
group of students was chosen; they participated in four meetings, which posed the following
themes: "Gender and Daily Life"; "(Im)possible social positions for men, women and individuals
that do not correspond to heteronormative patterns "; "Gender-based violence"; "Sexuality,
prevention of STIs and early pregnancy. The objective of this report is to analyze discourses that
were put in movement by different techniques and the dialogues between peers.. In the end, we
concluded that many students have conflicting ideas and positions, from a disciplinary and
conservative perspective to a critical and open-minded idea of change; gender and diversity issues
on an intergenerationally transmitted patterns of conduct, on the one hand, and new ways of
thinking about these ideas, on the other hand.
Keywords: Gender. Sexualities. Diversity. Education.