seminario 1 - direito tributÁrio e conceito de tributo

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  • 7/27/2019 SEMINARIO 1 - DIREITO TRIBUTRIO E CONCEITO DE TRIBUTO

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    GUSTAVO FERREIRA LOPES

    SEMINRIO IDIREITO TRIBUTRIO E CONCEITO DE TRIBUTO

    IBETCampo Grande/MS

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    1. Que Direito?

    Antes de enfrentarmos o questionamento do que seria Direito, se faz

    necessrio que sejam firmadas premissas quanto diversas outras questes,

    especialmente aquelas inerentes ao prprio conhecimento.

    Inicialmente o "conhecimento era concebido como a reproduo

    intelectual do real, sendo a verdade resultado da correspondncia entre tal

    reproduo e o objeto referido"1, contudo, tal viso foi superada com uma

    mudana na concepo filosfica do conhecimento, o movimento ao qual foi

    atribudo o nome de giro-lingustico, segundo a qual "a linguagem deixa de ser

    apenas instrumento de comunicao de um conhecimento j realizado e passa a

    ser condio de possibilidade para a constituio do prprio conhecimento

    enquanto tal"2

    Nas lies de DARDO SCAVINO apud AURORA TOMAZINI DE

    CARVALHO "a linguagem deixa de ser um meio, algo que estaria entre o sujeito e a

    realidade, para se converter num lxico capaz de criar tanto o sujeito como a

    realidade"3, uma vez que, nas lies de TOMAZINI DE CARVALHO, "o ser humano

    s conhece o mundo quando o constitui linguisticamente em seu intelecto"4

    .Assim, conhecer deixa de ser a simples apreenso mental da realidade,

    uma vez que o homem no pode apreender ou reproduzir em sua mente o dado

    fsico experimentado, passando a constituir, por meio da linguagem, uma nova

    realidade.

    O sujeito cognoscente, ao entrar em contato com um dado fsico,

    constri uma realidade por meio da linguagem, passando a reproduzir no mais o

    dado fsico, mas sim o smbolo por ele constitudo para designar aquela

    experincia, como fica mais claro no exemplo dado por AURORA TOMAZINI DE

    CARVALHO: "o sujeito cognoscente entra em contato com o dado fsico (cadeira),

    1CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lgico-semntico /

    Aurora Tomazini de Carvalho. So Paulo: Noeses, 2010. p. 132

    Ibidem, p. 13-143 Ibidem, p. 144

    Ibidem, p. 14

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    mas incapaz de apreend-lo ou reproduzi-lo em sua mente, para conhec-lo o

    constitui intelectualmente por meio de uma linguagem (a palavra cadeira)"5.

    Pelo mesmo motivo o ser cognoscente passa a criar novas palavras para

    descrever aquela realidade por ele criada, uma vez que na impossibilidade dereproduzir o objeto fsico, passa a construir, em seu intelecto, o significado da

    primeira palavra por meio de outras palavras.

    Prosseguindo nesta linha, se faz necessrio firmar o conceito de

    linguagem que, segundo FERDINAND DE SAUSSURE apudAURORA TOMAZINI DE

    CARVALHO pode ser dividida em duas partes, quais sejam: "(i) uma social

    (essencial), que a lngua; (ii) outra individual (acessria), que a fala. Lngua

    um sistema de signos artificialmente constitudo por uma comunidade de discurso

    e fala um ato de seleo e atualizao da lngua, dependente da vontade do

    homem e diz respeito s combinaes pelas quais ele realiza o cdigo da lngua

    com propsito de constituir seu pensamento"6.

    Portanto, no h como afastar o carter social da linguagem, ou seja, h

    que se reconhecer que a funo precpua da linguagem a comunicao,

    acarretando assim em afirmar que a realidade tambm uma construo social.

    Em suma, o que se pretende afirmar que a realidade sempre

    constituda dentro de um contexto, ou seja, dentro dos limites culturais de uma

    sociedade lingstica e, em ltimo caso, dentro dos limites do prprio intrprete.

    Entendendo que a realidade construda pela linguagem, h que se

    reconhecer como correta a concepo de que "a verdade o valor atribudo a uma

    proposio quando ela se encontra em consonncia a certo modelo. Seguindo a

    linha das consideraes feitas acima, aquilo que chamamos de "modelo" no passade um conjunto estruturado de formulaes lingsticas"7. Isto importa em

    reconhecer que a verdade no passvel de ser descoberta, uma vez que toda

    proposio que venha a ser tomada como verdadeira falvel uma vez que sempre

    pode ser revista em se mudando os referenciais culturais e lingsticos.

    5

    Ibidem, p. 15.6 Ibidem, p. 197

    Ibidem, p. 26-27

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    Ora, diante de tal cenrio em que o conhecimento no mais visto como

    um meio de reproduzir o objeto experimentado, mas sim como uma forma de

    construir uma realidade, e diante da falibilidade da verdade, que depende sempre

    do contexto em que a proposio se situa, impossvel seria afirmar de forma

    unvoca o que seria o Direito.

    Assim que se faz de suma importncia a utilizao do discurso

    cientfico que nada mais do que uma construo lingstica, todavia, orientada de

    forma a delimitar os limites da experincia, evitando assim a tendncia natural de

    propagao ao infinito.

    Como leciona AURORA TOMAZINI DE CARVALHO "o dado fsico

    impossvel de reproduo por qualquer atividade cognoscitiva, porque o

    conhecimento sempre proposicional. Podemos passar horas, meses, anos,

    descrevendo o mesmo objeto e nunca chegaremos ao exaurimento de suas

    possibilidades descritivas. O que se verifica o esgotamento da nossa capacidade

    de interpret-lo, ou seja, de produzir linguagem sobre ele"8.

    Este o motivo pelo qual PAULO DE BARROS CARVALHO afirma que

    "sem organizao metodolgica e precisa delimitao do objeto, o conhecimento

    cientfico (ou aquilo que se prope como tal) torna-se completo

    desconhecimento".9

    Assim que, para a anlise da realidade, se faz necessria a delimitao

    do objeto por meio de cortes epistemolgicos, renunciando partes do todo para o

    fim de canalizar a ateno do sujeito cognoscente um ponto especfico de forma a

    tentar reduzir a complexidade do objeto, havendo que se reconhecer que tais

    incises "no modificam nem condicionam o dado fsico, apenas delimitam o

    campo de experincia do sujeito cognoscente, constituindo seu objeto."10

    Tais consideraes objetivam demonstrar que o direito pode ser

    analisado sob diversos enfoques, sendo que a resposta ao questionamento do que

    seria direito na realidade comporta diversas tomadas de posio, em especial

    quanto delimitao que feita por arbtrio do intrprete.

    8

    Ibidem, p. 419 Ibidem, p. 4010

    Ibidem, p. 41-42

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    Firmes na filosofia da linguagem, passemos anlise do vocbulo

    "direito" que, tal como ocorre com as palavras em geral, e fundados nas lies de

    CARLOS SANTIAGO NINO11, apresenta em especial trs problemas que prejudicam

    o conhecimento da palavra, quais sejam: (i) ambiguidade; (ii) vaguidade; e (iii)

    carga emotiva.

    No tocante ambigidade, em que pese esta no ser uma caracterstica

    exclusiva do vocbulo direito, ainda mais grave neste vocbulo uma vez que a

    ambiguidade "constituda por vrios significados estritamente relacionados entre

    si"12, de forma que "definir o significado de "direito" pressupe uma tomada de

    deciso quanto a sua forma de uso."13

    Quanto vaguidade, esta decorre da falta de preciso do significado do

    vocbulo, sendo impossvel determinar exatamente quais objetos so abrangidos

    pelo conceito.

    Por fim, quanto carga emotiva, esta decorre do fato de a atribuio de

    sentido ser uma construo humana e cultural, decorrente do processo de

    interpretao, razo pela qual os vocbulos sempre estaro impregnados de

    valores.

    Por este motivo, existem diversas teorias sobre o direito, uma vez que

    no podendo o objeto ser compreendido em sua plenitude, diversas so as

    possibilidades de se efetuar cortes epistemolgicos tendentes a delimitar o objeto

    de estudo, resultando assim em conseqncias completamente diversas.

    Dentre as diversas teorias, adotamos a do constructivismo lgico-

    semntico, teoria concebida inicialmente por Lourival Vilanova e amplamente

    difundida pelo Prof. Paulo de Barros Carvalho e, dentre outros, pela Prof. AuroraTomazini de Carvalho.

    Para a delimitao do objeto, conforme j mencionado, se fazem

    necessrios cortes epistemolgicos com intuito de delimitar o objeto de estudo,

    sendo que, conforme leciona PAULO DE BARROS CARVALHO apud AURORA

    11Apud AURORA TOMAZINI DE CARVALHO. Ibidem, p. 63

    12

    TREK MOYSS MOUSSALEM apudAURORA TOMAZINI DE CARVALHO, p. 6513 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lgico-semntico /Aurora Tomazini de Carvalho. So Paulo: Noeses, 2010. p. 66

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    TOMAZINI DE CARVALHO, este primeiro corte seria considerar o direito como "o

    complexo de normas jurdicas vlidas num dado pas"14, o que demonstra a ntida

    influncia do pensamento kelseniano a fim de analisar o direito sob uma tica

    prpria.

    O segundo corte considera "normas jurdicas como uma manifestao

    lingstica, sendo este nosso segundo corte metodolgico: onde houver normas

    jurdicas haver sempre uma linguagem (no caso do direito brasileiro, uma

    linguagem idiomtica, manifesta na forma escrita)."15

    E por fim, o "direito um instrumento, constitudo pelo homem com a

    finalidade de regular condutas intersubjetivas, canalizando-as em direo a certos

    valores que a sociedade deseja ver realizados"16.

    Sintetiza a autora com a citao da doutrina de PAULO DE BARROS

    CARVALHO:

    "TRATO O DIREITO POSITIVO ADOTANDO UM SISTEMA DE REFERNCIA, EESSE SISTEMA DE REFERNCIA O SEGUINTE: PRIMEIRO, UM CORTEMETODOLGICO, EU DIRIA DE INSPIRAO KELSENIANA - ONDE HOUVERDIREITO HAVER NORMAS JURDICAS, NECESSARIAMENTE .SEGUNDO CORTE

    - SE ONDE HOUVER DIREITO H, NECESSARIAMENTE , NORMAS JURDICAS,NOS PODERAMOS DIZER: ONDE HOUVER NORMAS JURDICAS H,NECESSARIAMENTE , UMA LINGUAGEM EM QUE ESTAS NORMAS SEMANIFESTAM. TERCEIRO CORTE - O DIREITO PRODUZIDO PELO SERHUMANO PARA DISCIPLINAR OS COMPORTAMENTOS SOCIAIS; VAMOS TOM-LO COMO UM PRODUTO CULTURAL, ENTENDENDO OBJETO CULTURAL COMOTODO AQUELE PRODUZIDO PELO HOMEM PARA OBTER UM DETERMINADO

    FIM."17

    Cumpre esclarecer que tal definio tem como objeto o "direito

    positivo", uma vez que h distino entre direito positivo e Cincia do Direito,conforme adiante ser melhor esclarecido.

    14 Ibidem, p. 8215 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lgico-semntico /Aurora Tomazini de Carvalho. So Paulo: Noeses, 2010. p. 8216

    CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lgico-semntico /

    Aurora Tomazini de Carvalho. So Paulo: Noeses, 2010. p. 8317 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lgico-semntico /Aurora Tomazini de Carvalho. So Paulo: Noeses, 2010. p. 83

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    Assim, so trs os critrios classificatrios a oriundos da definio do

    conceito de "direito" (positivo), quais sejam: (i) ser norma; (ii) ser jurdica; (iii) ser

    vlida. Tais critrios podem ser utilizados para o fim de delimitar o que pode ser

    entendido como integrante do conjunto de elementos denominado "direito

    positivo", devendo ser utilizados tal como leciona AURORA TOMAZINI DE

    CARVALHO:

    "COM O PRIMEIRO CRITRIO, DIVIDIMOS A CLASSE DAS NORMAS (LINGUAGEMPRESCRITIVA), DA CLASSE DAS NO NORMAS (OUTRAS LINGUAGENS:DESCRITIVA, INTERROGATIVA, POTICA, ETC.). COM O SEGUNDO CRITRIO,SEPARAMOS A CLASSE DAS NORMAS ENTRE JURDICAS (POSTAS PERANTEATO DE VONTADE DE AUTORIDADE COMPETENTE), DAS NO JURDICAS

    (MORAIS, RELIGIOSAS, TICAS, ETC.)E, POR FIM, COM O TERCEIRO CRITRIOISOLAMOS A CLASSE DAS NORMAS JURDICAS EM VLIDAS (PRESENTES -EXISTENTES) E NO VLIDAS (FUTURAS E PASSADAS - NO EXISTENTES).CONSTITUMOS, ASSIM, A CLASSE DO "DIREITO POSITIVO", NOSSO OBJETO DEESTUDO."18

    Seguindo o posicionamento acima adotado, a anlise do direito

    (positivo) se limita s normas jurdicas vlidas num dado pas, sendo este o objeto

    da Cincia do Direito, que se trata de uma metalinguagem, ou uma linguagem de

    sobrenvel, em relao ao direito positivo.

    Estes dois ltimos critrios so de suma importncia para a definio

    do mtodo a ser utilizado pela Cincia do Direito, uma vez que, em razo de

    consideramos o direito como um corpo de linguagem, utilizamos o mtodo

    analtico para seu conhecimento, sempre amparados nas Cincias da Linguagem e

    da Lgica.

    Quanto ao ltimo critrio, ou seja, em razo do direito ser entendido

    como objeto cultural tendente a regular as condutas intersubjetivas, no h como

    deixar de levar em considerao a grande carga valorativa que permeia a

    linguagem jurdica, razo pela qual se aplica a hermenutica.

    Assim, o mtodo a ser utilizado para a anlise do objeto da Cincia do

    Direito deve ser o hermenutico-analtico, tal como leciona AURORA TOMAZINI DE

    CARVALHO:

    18Ibidem, p. 83-84

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    "NESTE SENTIDO, ANALTICA E HERMENUTICA SE COMPLETAM,CONSUBSTANCIANDO-SE NO MTODO PRPRIO DA CINCIA JURDICA A QUALNOS PROPOMOS.A CONSTRUO ANALTICO-HERMENUTICA, NO ENTANTO,OCORRE DENTRO DE UM PROCESSO DIALTICO, DE CONTRAPOSIO DE

    SENTIDOS, PRPRIO DOS OBJETOS CULTURAIS."19

    Logo, conclui-se que direito "se consubstancia no conjunto de normas

    jurdicas vlidas num dado pas, que se materializam por meio de uma linguagem,

    mas que s tem existncia e sentido porque imersas num universo cultural

    (valorativo), que as determinam."20

    2. H diferena entre direito positivo e Cincia do Direito? Explique.

    Conforme j havamos mencionado, direito positivo e Cincia do Direito

    no se confundem, sendo que o direito positivo o objeto da Cincia do Direito e,

    sendo ambos linguagem, este ltimo se configura como uma metalinguagem em

    relao ao primeiro, ou seja, uma linguagem de sobrenvel.

    Conforme leciona PAULO DE BARROS CARVALHO, "o direito positivo

    o complexo de normas jurdicas vlidas num dado pas. Cincia do Direito cabedescrever esse enredo normativo, ordenando-o, declarando sua hierarquia,

    exibindo as formas lgicas que governam o entrelaamento das vrias unidades do

    sistema e oferecendo seus contedos de significao."21

    Firmes no posicionamento anterior, e j adiantando que as normas

    jurdicas existem pra regular condutas intersubjetivas, temos que o direito positivo

    uma linguagem que objetiva prescrever condutas, enquanto a Cincia do Direito

    uma linguagem que visa descrever essa primeira linguagem, estando a

    demonstrado o motivo de falarmos em metalinguagem ao nos referirmos Cincia

    do Direito.

    19Ibidem, p. 88

    20

    Ibidem, p. 8621 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributrio / Paulo de Barros Carvalho. - 24. ed. SoPaulo: Saraiva, 2012. p.34

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    Alis, sintetiza PAULO DE BARROS CARVALHO que "o direito posto

    uma linguagem prescritiva (prescreve comportamentos), enquanto a Cincia do

    Direito um discurso descritivo (descreve normas jurdicas)"22.

    Amparados na filosofia da linguagem, uma vez que ambos so produtosde um processo comunicacional, temos que o discurso de ambas so

    completamente diversos, constituindo-se assim realidades distintas, uma vez que

    no direito positivo estamos sempre diante de linguagem prescritiva, enquanto na

    Cincia do Direito sempre estamos diante de linguagem descritiva, sendo esta mais

    uma das distines entre ambos.

    Embora nos parea que a distino entre ambas as realidades est

    suficientemente clara na doutrina de PAULO DE BARROS CARVALHO, AURORA

    TOMAZINI DE CARVALHO23 traz uma abordagem ainda mais completa e exaustiva

    sobre o tema, distinguindo direito positivo de Cincia do Direito de acordo com

    diversos critrios lingsticos, valendo transcrever os resultados obtidos pela

    autora:

    critrios lingsticos direito positivo Cincia do Direito

    funo Prescritiva Descritivaobjeto condutas intersubjetivas direito positivonvel linguagem objeto metalinguagemtipo tcnica cientfica

    Lgica Dentica (dever-ser) Atltica/Clssica (ser)modais obrigatrio (O), proibido

    (V) ou permitido (P)possvel (M) ounecessrio (N)

    valncias vlidas ou no vlidas falsas ou verdadeirascoerncia admite contradies no admite contradies

    Sintetiza a autora:

    "(I) O DIREITO POSITIVO UM CORPO DE LINGUAGEM COM FUNOPRESCRITIVA, QUE SE DIRIGE AO CAMPO DAS CONDUTAS INTERSUBJETIVASCOM A FINALIDADE A ALTER-LAS. CONFIGURA-SE COMO UMA LINGUAGEMOBJETO EM RELAO CINCIA DO DIREITO E COMO METALINGUAGEM DOTIPO TCNICA, QUE SE ASSENTA NO DISCURSO NATURAL, MAS UTILIZA-SE DETERMOS PRPRIOS DO DISCURSO CIENTFICO. OPERADO PELA LGICA

    22

    Ibidem, p. 3523 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lgico-semntico /Aurora Tomazini de Carvalho. So Paulo: Noeses, 2010. p. 118

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    DENTICA, O QUE SIGNIFICA DIZER QUE SUAS PROPOSIES ESTRUTURAM-SESOB A FRMULA "H C", ONDE A CONSEQNCIA PRESCRITIVA "C"APARECE MODALIZADA COM OS VALORES OBRIGATRIO (O), PROIBIDO (V) EPERMITIDO (P). SUAS VALNCIAS SO VALIDADE E NO VALIDADE, O QUENO IMPEDE A EXISTNCIA DE CONTRADIO ENTRE SEUS TERMOS .

    (II) A CINCIA DO DIREITO POSITIVO UM CORPO DE LINGUAGEM COMFUNO DESCRITIVA, QUE TEM COMO OBJETO O DIREITO POSITIVO,CARACTERIZANDO-SE COMO METALINGUAGEM EM RELAO A ELE. OBJETIVADA NUM DISCURSO CIENTFICO, ONDE OS TERMOS SOPRECISAMENTE COLOCADOS. SINTATICAMENTE OPERADA PELA LGICAATLTICA, O QUE SIGNIFICA DIZER QUE SUAS PROPOSIES MANIFESTAM-SESOB A FORMA "S P", ONDE O PREDICADO "P" APARECE MODALIZADO COMOS VALORES NECESSRIO "N" E POSSVEL "M". SUAS VALNCIAS SOVERDADE E FALSIDADE E SEU DISCURSO NO ADMITE A EXISTNCIA DE

    CONTRADIES ENTRE OS TERMOS."24

    Prosseguindo, h que se destacar que conhecermos as caractersticas da

    linguagem com a qual trabalhamos de suma importncia, em especial quanto

    funo da linguagem, que no caso do direito positivo prescritivo.

    Como bem ressaltado por IRVING M. COPI apudAURORA TOMAZINI DE

    CARVALHO, "as manifestaes lingsticas no so espcies quimicamente puras,

    ou seja, no apresentam invariavelmente uma nica funo"25, sendo que para

    "determinao da funo lingstica, adota-se a vontade dominante do emissor da

    mensagem produzida, ainda que sobre ela outras funes se agreguem"26.

    Assim, necessrio que se reconhea que mesmo quando a

    estruturao frsica dos enunciados do direito positivo indique outra funo, como

    a descritiva, deve ser reconhecido seu carter prescritivo, pois essa a funo da

    linguagem do direito positivo. Nesse sentido AURORA TOMAZINI DE CARVALHO

    cita o exemplo sobre o enunciado do art. 3 do CTN que, em que pese estar

    construdo amparado no discurso descritivo, nada informa, mas sim prescrevecomo o vocbulo "tributo" dever ser entendido no discurso do direito positivo.

    Dessa forma, no cabe ao intrprete questionar a veracidade dos

    enunciados, uma vez que no discurso prescritivo estamos diante apenas das

    valncias de validade ou no validade, mas sim construir sua realidade em ateno

    ao comando prescritivo emanado dos enunciados do direito positivo.

    24

    Ibidem, p. 117.25 Ibidem, p. 9926

    Ibidem, p. 99

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    Portanto, conclui-se que tanto direito positivo quanto Cincia do Direito

    so linguagens, e como tal constituem realidades completamente distintas,

    podendo ser elencados para distingui-las diversas caractersticas contrapostas,

    como faz AURORA TOMAZINI DE CARVALHO, entretanto, entendemos ser os

    seguintes critrios os mais relevantes: (i) funo (prescritiva/descritiva), (ii)

    objeto (conduta intersubjetiva/direito positivo), (iii) Lgica (Dentica/Atltica) e

    (iv) valncia (validade/verdade).

    3. Que norma jurdica? H que se falar em norma jurdica sem sano?

    Justifique.

    Tal como ocorre com os demais vocbulos, "norma jurdica" um termo

    ambguo, razo pela qual se faz necessria a insero de um contexto para

    possibilitar-nos delimitar seu conceito, aplicando-o com o rigor que o texto

    cientfico exige.

    Antes de adentrarmos na significao do vocbulo, h que se tecer

    alguns comentrios acerca do processo pelo qual atribumos significado aos signos,

    ou melhor dizendo, sobre o processo de interpretao.Segundo leciona PAULO DE BARROS CARVALHO apud AURORA

    TOMAZINI DE CARVALHO, a trajetria de construo do sentido dos textos

    jurdicos se d em quatro planos: "(i) S1 - sistema dos significantes, composto

    pelos enunciados prescritivos que constituem o dado jurdico material, plano de

    expresso do direito positivo; (ii) S2 - sistema das proposies, composto por

    significaes isoladas atribudas ao campo de expresso do direito, mas ainda no

    deonticamente estruturadas; (iii) S3 - sistema das significaes deonticamenteestruturadas, plano das normas jurdicas; e (iv) S4 - sistematizao das normas

    jurdicas, no qual so constitudas as relaes entre normas."27.

    No primeiro plano (S1) esto os enunciados prescritivos, ou seja, o

    texto legislado em si, razo pela qual estamos falando apenas da leitura do texto,

    sendo que sua compreenso j est nos planos subseqentes, quando passamos a

    27Ibidem, p. 237

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    formular significaes isoladas do texto legislado, que o que ocorre no plano

    proposicional (S2).

    Em que pese j estarmos diante de um processo de atribuio de

    significado ao texto legislado, ainda nos carece a compreenso suficiente paraaplicao do direito para seu objetivo, qual seja, regular condutas intersubjetivas.

    Assim que prosseguimos na interpretao para o plano normativo

    (S3), quando construmos significaes deonticamente estruturadas aptas a

    regular e prescrever as condutas intersubjetivas.

    Por fim, o direito positivo um todo unitrio, de forma que constitui-se

    num sistema jurdico indivisvel, sendo necessria portanto a estruturao das

    normas jurdicas construdas no plano anterior, momento em que adentramos no

    plano de sistematizao (S4), em que estabelecemos as relaes de coordenao e

    subordinao entre as normas jurdicas.

    Convm, entretanto, trazer a ressalva que faz AURORA TOMAZINI DE

    CARVALHO, segundo a qual "dizer que, na construo de sentido de textos

    jurdicos, o intrprete passa necessariamente pelos planos S1, S2, S3 e S4,

    apressadamente pode nos dar a idia de que ele ingressa em cada um destesplanos uma nica vez, mas no isto. A construo de sentido dos textos jurdicos

    requer vrias investidas nestes subdomnios"28, o que demonstra de forma unvoca

    que inexiste necessria correlao entre a quantidade de enunciados e a

    quantidade de normas jurdicas, em sentido estrito, produzidas pelo intrprete.

    De tal anlise inclusive que surge a distino entre o que seria norma

    jurdica em sentido estrito, e norma jurdica em sentido amplo, uma vez que esta

    ltima atribuda aos enunciados jurdicos, ou seja, ao prprio texto legislado,aquela primeira acepo (sentido estrito) atribuda s significaes

    deonticamente estruturadas, construda pelo intrprete nos planos S3 e S4.

    Alis, o que delimita PAULO DE BARROS CARVALHO apud AURORA

    TOMAZINI DE CARVALHO, definindo "(i) "normas jurdicas em sentido amplo"

    para designar tanto as frases, enquanto suporte fsico do direito posto, ou os textos

    de lei, quanto os contedos significativos isolados destas; e (ii) "normas jurdicas

    28Ibidem, p. 254

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    em sentido estrito" para aludir composio articulada das significaes,

    construdas a partir dos enunciados do direito positivo, na forma hipottico-

    condicional (H C), de tal sorte que produza mensagens com sentido dentico -

    jurdico completo"29.

    De qualquer forma, quando definimos o conceito de direito nos

    reportamos norma jurdica em sentido amplo, de forma a voltar nossa anlise,

    tanto ao suporte fsica em que se encontram os enunciados, quanto significao

    dos referidos "textos de lei", at porque "a existncia destas depende de um

    suporte fsico, da interpretao dos enunciados, da construo de significaes

    isoladas (proposies) e da estruturao dos sentidos normativos"30, ou seja, no

    h como falarmos de construirmos a norma jurdica em sentido estrito sem queexista o suporte fsico e o processo de significao dos enunciados.

    Assim, norma jurdica, em sentido amplo, abrange desde os o objeto

    fsico no qual so veiculados os enunciados, at as proposies isoladamente

    consideradas construdas no processo de significao pelo qual o intrprete se

    volta para construir as significaes que originam a norma jurdica em sentido

    estrito, ou seja, o todo considerado desde o prprio documento normativo

    produzido pelo legislador, enquanto a norma jurdica em sentido estrito a

    significao, estruturalmente constituda e completa, apta a regular as condutas

    intersubjetivas.

    Dessa forma, passemos nossa anlise para a norma jurdica em sentido

    estrito, uma vez que ela que, aps o processo de significao e sistematizao,

    quem regula as condutas intersubjetivas, que o objetivo do direito positivo.

    Contudo, primeiramente se faz necessrio que elejamos o instrumento a

    ser utilizado em nossa anlise que, em ateno ao nosso segundo corte

    epistemolgico (onde houver normas jurdicas haver linguagem), ser a

    Semitica, que a Teoria do Signos que se presta ao estudo das unidades

    representativas do discurso.

    Conforme leciona AURORA TOMAZINI DE CARVALHO, a Semitica

    propicia a investigao dos sistemas signcos, como o caso do direito, em trs

    29 Ibidem, p. 278-930

    Ibidem, p. 279

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    planos, quais sejam: "No plano sinttico estudam-se as relaes dos signos entre si,

    ou seja, os vnculos que se estabelecem entre eles quando estruturados num

    discurso. No plano semntico, so examinadas as relaes do signo com a realidade

    que ele exprime (suporte fsico e significado). E no plano pragmtico, a ateno se

    volta s relaes dos signos com seus utentes de linguagem, isto , ao modo como

    os missores e os destinatrios lidam com o signo no contexto comunicacional."31

    Assim, uma vez que o presente estudo tem como objeto a norma

    jurdica, e no uma norma jurdica especfica, voltemo-nos anlise da mesma no

    plano sinttico, que se d por meio da Lgica como instrumento, pois o que

    "permite conhecer as relaes estruturais do sistema e de sua unidade, a norma

    jurdica"32.

    Conforme AURORA TOMAZINI DE CARVALHO, "KANT j diferenciava as

    leis da natureza, submetidas ao princpio da causalidade fsica (ser), das leis

    jurdicas, estruturadas pela imputabilidade dentica (dever-ser). KELSEN tambm

    assim o fez, ainda que indutivamente (sem emprego de uma lgica prpria),

    distinguindo as relaes articuladoras das proposies de cada sistema: num, a

    sntese do "ser" (if A is, B is - "se A , B ") e noutro, a do "dever-ser" (if A is, B

    ought to be - "se A , B deve ser"), ambas relaes de ndole lgica, vnculos

    implicacionais que atrelam um fato-causa a um fato-efeito e constituem

    causalidades, ainda que muito distintas"33.

    Assim, temos que as normas jurdicas em sentido estrito devem sempre

    trazer uma relao de causalidade entre proposies, sendo uma a hiptese, e a

    outra o conseqente da norma, sendo que tal causalidade atribuda a

    denominao de "causalidade jurdica", todavia, diferentemente do que acontece

    nas leis naturais (), a relao que se estabelece sempre de "dever-ser", no

    sentido de que ocorrida a hiptese, "dever-ser" uma relao jurdica entre sujeitos.

    Convm esclarecer que a Lgica Clssica somente pode ser utilizada

    para analisar a estrutura do discurso descritivo, razo pela qual VON WRIGHT

    concebeu a Lgica Dentica para ser aplicada linguagem normativa, criando

    apenas trs modais - (i) obrigatrio (O); (ii) proibida (V); e (iii) permitida (P) -

    31

    Ibidem, p. 16532 Ibidem, p. 16533

    Ibidem, p. 194

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    para delimitar que tipo de relao jurdica deve ser estabelecer entre os sujeitos,

    tal como explica AURORA TOMAZINI DE CARVALHO:

    "AO FORMALIZARMOS A LINGUAGEM DO DIREITO, REDUZINDO-A DO PONTODE VISTA GRAMATICAL A SUA ESTRUTURA LGICA, ENCONTRAMOS OESQUEMA DA NORMA JURDICA D(HC).A NORMA DE DIREITO ENUNCIAQUE SE OCORRER UM FATO DEVE SEGUIR-SE UMA RELAO JURDICA ENTRESUJEITOS, CUJA CONDUTA REGULADA ENCONTRA-SE MODALIZADA COMOOBRIGATRIA (O), PROIBIDA (V) E PERMITIDA (P)."34

    Assim, temos que a norma jurdica em sentido estrito uma linguagem

    formalizada por meio da Lgica Dentica como "D (H C)", onde "H" a hiptese,

    ou seja, o evento ftico descrito pelo legislador que, se verificado na realidade

    social, implica em "C", onde "C" deve ser entendido como um relao jurdica entre

    sujeitos em posio ativa e passiva, onde um deles tem o dever de cumprir certa

    conduta, enquanto o outro tem o direito de exigir o cumprimento da mesma

    conduta, sendo certo que tal conduta ser sempre modalizada com um dos trs

    modais denticos (obrigatrio, proibido ou permitido).

    Em outras palavras, podemos ainda reconhecer que norma

    jurdica a "unidade mnima e irredutvel de significao do dentico"35, poisisso importa em dizer que "somente a norma jurdica, tomada em sua integridade

    constitutiva, ter o condo de expressar o sentido cabal dos mandamentos da

    autoridade que legisla"36, o que acaba por nos reportar frmula lgica acima

    descrita.

    Contudo, h que se destacar que at agora pouco falamos sobre o

    carter jurdico da norma, sendo que nos detivemos na anlise acerca da estrutura

    da norma jurdica enquanto prescritora de condutas intersubjetivas, ou seja, falta-

    nos dar efetividade ao comando lingstico.

    Na realidade, estivemos analisando a norma jurdica como se fosse uma

    entidade singular, contudo, a mesma tem carter dplice, existindo tanto a norma

    primria quanto a norma secundria.

    34Ibidem, p. 211

    35

    CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributrio: fundamentos jurdicos da incidncia / Paulo de BarrosCarvalho - 8. ed. rev. So Paulo: Saraiva, 2010. p. 4136

    Ibidem, p. 41

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    Conforme AURORA TOMAZINI DE CARVALHO, a "norma primria,

    vincula deonticamente a ocorrncia de um fato prescrio de uma conduta. A

    segunda, norma secundria, logicamente conectada primeira, prescreve uma

    providncia sancionatria (de cunho coercitivo), aplicada pelo Estado-Juiz, caso

    seja verificado o fato descrito na primeira e no realizada a conduta por ela

    prescrita."37

    O que nos faltava at ento era o poder coercitivo que se imbui o

    Estado-Juiz para que possa efetivamente regular as condutas intersubjetivas, e no

    apenas recomendar determinada conduta, como seria acaso afastssemos a

    existncia de uma sano.

    Alis, o que afirma KELSEN, segundo o qual "a sano est contida na

    ideia de norma jurdica e desta inseparvel, tendo em vista ser o direito uma

    ordem coativa, distinguindo-se das demais pela possibilidade de aplicao pela

    fora estatal"38, sendo que tal entendimento corroborado por LOURIVAL

    VILANOVA, PAULO DE BARROS CARVALHO e AURORA TOMAZINI DE CARVALHO.

    Como j dito, "uma norma jurdica porque sujeita-se coero estatal,

    presente na prescrio de outra norma, a qual chamamos de secundria, que a ela

    se agrega na composio daquilo que entendemos por "norma jurdica

    completa""39, sendo certo que a coercitividade exercida pelo Estado-Juiz que

    diferencia o direito positivo dos demais sistemas prescritivos de condutas, como

    o caso do religioso e do moral.

    Assim, que no h como se falar em norma jurdica sem sano,

    uma vez que a coercitividade da sano, ou da norma secundria, que lhe

    atribui a juridicidade.

    4. H diferena entre documento normativo, enunciado prescritivo,

    proposio e norma jurdica? Explique.

    37CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lgico-semntico /

    Aurora Tomazini de Carvalho. So Paulo: Noeses, 2010. p. 30538 Ibidem, p. 30539

    Ibidem, p. 307

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    Entendendo norma jurdica em sentido estrito, h ntida diferena entre

    os quatro elementos citados, uma vez que so eles pertencentes a planos de

    significao diversos.

    Segundo leciona PAULO DE BARROS CARVALHO apud AURORATOMAZINI DE CARVALHO, a trajetria de construo do sentido dos textos

    jurdicos se d em quatro planos: "(i) S1 - sistema dos significantes, composto

    pelos enunciados prescritivos que constituem o dado jurdico material, plano de

    expresso do direito positivo; (ii) S2 - sistema das proposies, composto por

    significaes isoladas atribudas ao campo de expresso do direito, mas ainda no

    deonticamente estruturadas; (iii) S3 - sistema das significaes deonticamente

    estruturadas, plano das normas jurdicas; e (iv) S4 - sistematizao das normasjurdicas, no qual so constitudas as relaes entre normas."40.

    O documento normativo o prprio texto escrito, sobre o qual o

    intrprete se debrua para construir as significaes, ou seja, o local em que

    esto gravadas as "marcas de tinta" em que esto dispostas os enunciados.

    O enunciado prescritivo o contedo do documento normativo, para

    onde o intrprete se volta para o fim de construir as proposies isoladas, o que faz

    por meio de atribuio de significaes aos enunciados prescritivos.

    Conforme leciona PAULO DE BARROS CARVALHO, "enunciado o

    produto da atividade psicofsica de enunciao. Apresenta-se como um conjunto de

    fonemas e de grafemas que, obedecendo a regras gramaticais de determinado

    idioma consubstancia a mensagem expedida pelo sujeito emissor para ser recebida

    pela destinatrio, no contexto da comunicao"41.

    Logo, o enunciado a sentena, a orao, ou seja, o ponto de partida dointrprete quando inicia o processo de construo de sentido, sendo que o termo

    prescritivo se refere funo contedo a mensagem, que no caso do direito

    positivo, sempre assumir a funo prescritiva.

    40

    Ibidem, p. 23741 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributrio: linguagem e mtodo / Paulo de Barros Carvalho. 4 ed.- So Paulo: Noeses, 2011. p. 85

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    J proposio, segundo AURORA TOMAZINI DE CARVALHO, tomado

    "na acepo de "significao", isto , aquilo que construmos em nossa mente como

    resultado de um processo hermenutico"42.

    Alis, no mesmo sentido PAULO DE BARROS CARVALHO, que adotasegue a mesma orientao anglo-saxnica que "distingue "sentena", "orao"

    ("sentence") de "proposio" ("proposition"). Para os ingleses, "orao" e

    "sentena" teriam o mesmo valor semntico de "enunciado", isto , a expresso

    oral ou grfica de uma proposio, enquanto esta seria o contedo significativo que

    o enunciado, sentena ou orao exprimem"43.

    Em sntese, a distino entre enunciado e proposio que este ltimo

    a significao do primeiro, ou seja, a construo feita pelo sujeito cognoscente,

    sendo que a relevncia de tal distino decorre do fato do interesse da Lgica estar

    voltado para a forma das proposies, e no dos enunciados, valendo trazer a

    ressalva de PAULO DE BARROS CARVALHO, segundo o qual " sempre relevante

    lembrar que as proposies no so enunciados e os elementos das proposies e

    das formas de proposies no so palavras nem expresses lingsticas, mas

    aquilo que significam"44.

    Por fim, quanto norma jurdica, tal como j mencionado, prefervel

    que se distinga o vocbulo em sua acepo ampla e restrita, uma vez que em

    sentido amplo, a norma jurdica abrange todos os conceitos anteriormente

    detalhados, razo pela qual somente faz sentido a presente distino quando

    analisarmos a norma jurdica em sentido estrito.

    Alis, o que leciona PAULO DE BARROS CARVALHO, segundo o qual

    emprega-se ""normas jurdicas em sentido amplo" para aludir aos contedos

    significativos das frases do direito posto, vale dizer, aos enunciados prescritivos,

    no enquanto manifestaes empricas do ordenamento, mas como significaes

    que seriam construdas pelo intrprete. Ao mesmo tempo a composio articulada

    42CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lgico-semntico /

    Aurora Tomazini de Carvalho. So Paulo: Noeses, 2010. p. 9343

    CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributrio: linguagem e mtodo / Paulo de Barros Carvalho. 4 ed.- So Paulo: Noeses, 2011. p. 8544

    Ibidem, p. 87

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    dessas significaes, de tal sorte que produza mensagens com sentido dentico-

    jurdico completo receberia o nome de "normas jurdicas em sentido estrito""45.

    Portanto, quando falamos em norma jurdica em sentido estrito

    estamos nos referindo significao construda j no plano das significaesdeonticamente estruturadas (S3), em que as proposies jurdicas so

    estruturadas em forma lgica de juzo condicionais para o fim de regular as

    condutas, restando assim evidente a distino entre normas jurdicas e enunciados

    ou proposies, tal como afirma PAULO DE BARROS CARVALHO, segundo o qual:

    "UMA COISA SO OS ENUNCIADOS PRESCRITIVOS, ISTO , USADOS NA FUNOPRAGMTICA DE PRESCREVER CONDUTAS; OUTRAS, AS NORMAS JURDICAS,COMO SIGNIFICAES CONSTRUDAS A PARTIR DOS TEXTOS POSITIVADOS E

    ESTRUTURADAS CONSOANTE A FORMA LGICA DOS JUZOS CONDICIONAIS,COMPOSTOS PELA ASSOCIAO DE DUAS OU MAIS PROPOSIES

    PRECRITIVAS"46.

    Portanto, conclui-se haver distino entre os referidos vocbulos, uma

    vez que de todos serem relacionados e, resultantes um dos outros, se do em

    planos de significao diversos, com exceo do primeiro elemento que seria o

    veculo introdutor dos enunciados no sistema jurdico, ou seja, o objeto fsico parao qual nos voltamos para iniciar o processo de significao das normas jurdicas.

    5. Que tributo? Analise criticamente o art. 3 do Cdigo Tributrio Nacional.

    Exigi-lo em lei e mediante atividade administrativa plenamente vinculada

    aspecto fundamental da definio de tributo?

    Tal como ocorre com as palavras em geral, o vocbulo "tributo" contm

    o vcio da ambigidade, uma vez que pode ser entendida de diversas formas,

    valendo destacar como aviso inicial a lio de PAULO DE BARROS CARVALHO,

    segundo o qual:

    45 Ibidem, p. 12846

    Ibidem, p. 129

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    "TRIBUTO NOME DE UMA CLASSE DE OBJETOS CONSTRUDOSCONCEPTUALMENTE PELO DIREITO POSITIVO. TRATA-SE DE PALAVRAAMBGUA QUE PODE DENOTAR DISTINTOS CONJUNTOS DE ENTIDADES

    (RELAO JURDICA, DIREITO SUBJETIVO, DEVER JURDICO, QUANTIA EMDINHEIRO, NORMA JURDICA E, COMO PREFERE O CDIGO TRIBUTRIONACIONAL, A RELAO JURDICA, O FATO E A NORMA QUE JURIDICIZA OFATO)."47

    Como se no bastassem as diversas significaes estticas acima

    elencadas, FERNANDO GOMES FAVACHO prossegue afirmando que, nas lies de

    SOUTO MAIOR BORGES, o vocbulo em uma compreenso dinmica passa a ser

    entendido tambm como o processo todo de positivao, desde a norma

    constitucional autorizadora da instituio do tributo, at o seu termo final, razo

    pela qual o primeiro autor conclui que, "dinanicamente, ,o tributo pode ser visto,at antes do efetivo pagamento, na outorga constitucional de competncia (i), na

    instituio (ii) e na cobrana atravs do lanamento (iii)48.

    Como bem ressaltado por FAVACHO49, se faz necessrio que voltemos

    nossa anlise para um momento esttico, uma vez que somente assim poderemos

    nos aprofundar na anlise do conceito, sendo que, tal como fez o doutrinador,

    acreditamos que a investigao da definio do conceito de tributo deve ser a do

    "momento da instituio, porque ela quem diretamente autoriza a

    individualizao e concretude da exao tributria"50.

    Adotada tal premissa, logo percebemos que nossa anlise do vocbulo

    tributo est voltada para a norma jurdica, tanto que esse foi o objeto de estudo

    escolhido por ns ao definirmos o objetivo da Cincia do Direito, contudo, no

    estamos aqui pretendendo excluir do nosso objeto de estudo a relao jurdica

    tributria que se desencadeia no conseqente da norma, mas sim estudar a norma

    jurdica em sua plenitude, tanto a norma geral e abstrata, quanto a norma

    individual e concreta em que se aplica a primeira.

    nesse sentido inclusive que PAULO DE BARROS CARVALHO entende

    que deve ser analisado o vocbulo, pois entende que o smbolo "tributo" deve ser

    compreendido como "toda a fenomenologia da incidncia, desde a norma

    47Ibidem, p. 402

    48

    FAVACHO, Fernando Gomes. Definio do Conceito de Tributo. So Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 8349 Ibidem, p. 83-8550

    Ibidem, p. 84-85

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    instituidora, passando pelo evento concreto, nela descrito, at o liame obrigacional

    que surde luz com a ocorrncia daquele fato"51.

    Prosseguindo, h que se esclarecer que a definio de "tributo" no nos

    dada pelo texto constitucional, contudo, do mesmo podemos extrair a denotaode tributo, ou seja, temos diversos elementos que integram o conjunto formado

    pelo vocbulo tributo, contudo, no temos a conotao, uma vez que a Constituio

    no nos d expressamente os critrios do uso da palavra, tanto que relega para a

    lei complementar tal funo, conforme art. 146, inc. III, alnea "a", da Constituio

    Federal.

    nesse contexto em que se torna relevante analisarmos o que dispe a

    lei complementar, segundo a qual:

    "TRIBUTO TODA PRESTAO PECUNIRIA COMPULSRIA, EM MOEDA OUCUJO VALOR NELA SE POSSA EXPRIMIR, QUE NO CONSTITUA SANO DE ATOILCITO, INSTITUDA EM LEI E COBRADA MEDIANTE ATIVIDADEADMINISTRATIVA PLENAMENTE VINCULADA."52

    Cumpre esclarecer que no estamos reconhecendo que a lei

    complementar pode dispor sobre o que seria tributo sem qualquer restrio, umavez que, conforme j dito anteriormente, apesar da constituio federal no nos

    dar a "conotao" do vocbulo tributo, nos d sua denotao, ou seja, elementos da

    classe "tributo", razo pela qual a definio formulada pelo legislador

    infraconstitucional somente pode ser acolhida quando respeitados tais parmetros

    constitucionais.

    De qualquer forma, em uma primeira anlise sobre o que dispe o art.

    3 do CTN, logo percebemos que o vocbulo tributo no nos mostrado na acepo

    de norma jurdica, uma vez que, em um primeiro momento, entendemos tributo

    como uma prestao pecuniria.

    Contudo, conforme salienta PAULO DE BARROS CARVALHO, "a meno

    norma jurdica que estatui a incidncia est contida na clusula "instituda em

    51

    CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributrio / Paulo de Barros Carvalho. - 24. ed. SoPaulo: Saraiva, 2012. p. 55-5652

    Art. 3, do Cdigo Tributrio Nacional.

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    lei", firmando o plano abstrato das formulaes legislativas"53, sendo que por

    este motivo que voltamos nossa anlise norma jurdica, pois a "prestao" a que

    se refere o dispositivo legal nada mais do que a conduta intersubjetiva

    pretendida pelo legislador, sendo que esta compe o conseqente da norma

    jurdica primria.

    Entendermos tributo como norma jurdica se torna relevante para que

    possamos manter a congruncia do nosso discurso, uma vez que a Cincia do

    Direito se presta ao estudo das normas jurdicas, contudo, para fins de uma anlise

    mais aprofundada do vocbulo "tributo", muitas vezes teremos que por de lado a

    amplitude do objeto para destinar nossa investigao apenas alguns critrios da

    norma jurdica, de forma a possibilitar a compreenso do objeto, razo pela qualpassamos a analisar individualmente cada um dos elementos da definio dada

    pelo Cdigo Tributrio Nacional.

    O primeiro elemento, prestao pecuniria compulsria, conforme

    afirma PAULO DE BARROS CARVALHO, "quer dizer o comportamento obrigatrio

    de uma prestao em dinheiro, afastando-se, de plano, qualquer cogitao inerente

    s prestaes voluntrias"54, ou seja, nos demonstra que o comportamento inserto

    no conseqente da norma jurdica ser sempre modalizado com o modal

    "obrigatrio".

    O segundo elemento, "em moeda ou cujo valor nela se possa

    exprimir", visto com ressalva por PAULO DE BARROS CARVALHO55, segundo o

    qual o legislador teria ampliado exageradamente o mbito das prestao

    pecunirias ao tentar reafirmar o carter pecunirio antes mencionado.

    Em razo disso, alguns autores pensam ser permitida a instituio de

    obrigao tributria no s em pecnia, mas tambm in natura ou in labore, ainda

    que no seja este o nico fundamento adotado. Tanto que ALFREDO AUGUSTO

    BECKER apudFERNANDO GOMES FAVACHO "no v problemas em tributos no

    53CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributrio / Paulo de Barros Carvalho. - 24. ed. So

    Paulo: Saraiva, 2012. p. 5654 Ibidem, p. 5755

    Ibidem, p. 57

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    pecunirios: a expresso "tributo" abrangeria todos os tipos de exaes que o

    Estado pode exigir para a realizao de seus fins"56.

    Contudo, deste posicionamento discorda GERALDO ATALIDA57, pois a

    prestao ser sempre em pecnia, contudo, admite-se que a extino da obrigaotributria posse se dar por outros meios que no a entrega de dinheiro, como o

    caso da dao em pagamento de bem imvel.

    De qualquer forma, FERNANDO GOMES FAVACHO acaba por dar a

    soluo que melhor se encaixa na problemtica ao afirmar que "a interpretao

    que fazemos do artigo no a de uma dupla redundncia, mas de um processo de

    elucidao. Tributo prestao pecuniria. Por "pecnia", entende-se tanto a

    moeda corrente (reais) como os ndices de correo (Unidade Fiscal de Referncia

    - UFIR, Bnus do Tesouro Nacional - BTN)"58.

    J no que se refere ao terceiro elemento, que no constitua sano de

    ato ilcito, entendemos que isto importa em afirmar que a conduta escolhida pelo

    legislador na hiptese da norma jurdica nunca pode ser "proibida".

    Como antes j vimos, as condutas intersubjetivas so reguladas

    segundo trs modais denticos intraproposicionais, quais sejam: permitido,obrigatrio e proibido. Assim, quando afirmamos que tributo no pode ser sano

    por ato ilcito, queremos distinguir a obrigao tributria daquela decorrente do

    descumprimento de outra norma que havia proibido a conduta praticada.

    Prosseguindo, quanto necessidade do tributo ser institudo em lei,

    devemos sempre lembrar que o direito um sistema autnomo e, portanto, para

    novas normas ingressem no sistema deve ser seguido o procedimento competente,

    delimitado na Constituio Federal.

    Alis, j prev a Constituio Federal que ningum ser obrigado a fazer

    ou deixar de fazer algo seno em virtude de lei, razo pela qual seria absurdo

    admitirmos que uma norma jurdica que tem como objetivo regular uma conduta,

    56FAVACHO, Fernando Gomes. Definio do Conceito de Tributo. So Paulo: Quartier Latin, 2011. p.

    113-11457 Apud FERNANDO GOMES FAVADHO, Ibidem, p. 114-11558

    FAVACHO, Fernando Gomes. Definio do Conceito de Tributo. So Paulo: Quartier Latin, 2011. p. 115

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    ingresse no sistema sem seu respectivo veculo introdutor, o que nos levaria a

    concluso de que tal critrio no fundamental na definio do tributo.

    Contudo, precisamos nos aprofundar no assunto para evitar uma

    concluso errnea sobre ser tal critrio no ser essencial definio de tributo.Ora, as relaes sociais so todas baseadas na troca, ou seja, a sociedade somente

    existe em razo de alguns cederem alguns direitos para outros, enquanto estes

    efetuam uma contraprestao aos primeiros.

    Assim, se faz necessrio que tenhamos em mente que existe distino

    entre uma (i) conduta obrigatria em razo de uma norma jurdica e (ii) outra em

    razo de um acordo de vontades. Frise-se que quando falamos em acordo de

    vontades, estamos falando de um contrato bilateral, ou seja, onde ambos tem a

    vontade de celebrar o contrato.

    Assim que distinguimos que uma conduta obrigatria pode ser

    decorrente da lei, ou ainda de um acordo de vontades, devendo ser destacado que

    estamos falando sempre de um primeiro momento, pois em anlise final, todas as

    relaes intersubjetivas, por serem reguladas pelo direito, so decorrentes de lei.

    Portanto, consideramos que a caracterstica de ser o tributodecorrente de lei essencial para a delimitao do critrio do tributo .

    Por fim, o enunciado "cobrada mediante atividade administrativa

    plenamente vinculada" no integra a norma jurdica tributria, uma vez que visa

    regular conduta de momento posterior instituio do tributo.

    Para que fique mais claro, a nosso ver, tal enunciado vir a ser analisado

    por outra rea da Cincia do Direito, pois sua significao resultar em proposies

    prescritivas voltadas ao agente pblico no mbito do exerccio de suas atribuies,

    que dever observar que a cobrana do tributo no uma atividade discricionria.

    Portanto, verificamos que os critrios mais relevantes para a anlise do

    tributo so a (i) licitude da conduta e (ii) a obrigatoriedade decorrente da lei,

    sendo estes os critrios utilizados por GERALDO ATALIBA para distinguir as

    diversas obrigaes da dar dinheiro ao estado, quais sejam: (i) multa; (ii)

    obrigao convencional; (iii) indenizao por dano; e (iv) tributo.

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    Logo verifica-se que o tributo sempre conter em sua hiptese uma

    conduta lcita, ou seja, no proibida por outra norma jurdica, e no seu conseqente

    uma conduta sempre modalizada como obrigatria (Op).

    Dessa forma, podemos concordar com FERNANDO GOMES FAVACHO,segundo o qual "tributo, em uma definio de conceito, uma norma que tem como

    antecedente uma hiptese no vedada por outra norma, e que implica por

    imposio legal uma relao jurdica modalizada como obrigatria, qual seja, o

    dever do Contribuinte de levar dinheiro ao fisco"59, contudo acrescentamos a

    relao jurdica deve ser decorrente da lei, e no de um acordo de vontades.

    6. Com base na sua definio de tributo, quais dessas hipteses no so

    consideradas tributos? Fundamente sua resposta: (i) seguro obrigatrio de

    veculos; (ii) multa decorrente de atraso no IPTU; (iii) FGTS (vide anexos I e

    II e III); (iv) aluguel de imvel pblico; (v) custas judiciais (vide anexo IV);

    (vi) prestao de servio eleitoral; (vii) imposto sobre renda auferida por

    meio de atividade ilcita (ex. contrabando); (viii) tributo institudo por meio

    de decreto (inconstitucional vide anexo V).

    (i) seguro obrigatrio de veculos e (iii) FGTS

    Primeiramente h que se esclarecer que o critrio normalmente

    adotado pela jurisprudncia para afirmar que as contribuies ao FGTS no tem

    natureza tributria so em razo da destinao de tais verbas ser a de constituir

    um fundo em favor dos trabalhadores, alm de que seria um direito constitucional

    assegurado aos mesmos pela Constituio Federal.

    Portanto, desde logo se verifica que o critrio aqui utilizado o da

    destinao dos recursos, ou seja, estamos diante de um critrio econmico ou

    financeiro, e no jurdico.

    Alis, convm destacar que tal anlise, digamos imediatista, deixa de

    lado o fato de que todos os valores arrecadados pelo Estado se destinam, em

    ltima instncia, a cumprir funes sociais.59

    Ibidem, p. 202

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    De qualquer forma, certo que o critrio de gerar ou no receita

    pblica extrnseco definio de tributo, razo pela qual no podemos nos

    embasar em tal critrio para afirmarmos que a contribuio ao FGTS no tem

    natureza tributria.

    Da mesma forma ocorre com o seguro obrigatrio de veculos que,

    assim como ocorre com a contribuio ao FGTS, se trata de uma prestao

    pecuniria compulsria ex lege, ou seja, decorrente da lei, que no constitui um

    ilcito.

    Ora, ambos tem na hiptese uma conduta permitida, sendo certo que a

    obrigao de recolher a prestao pecuniria decorre do conseqente da mesma

    norma jurdica, estando assim evidente a natureza tributria das exaes.

    Portanto, uma vez que as exaes preenchem todos os critrios antes

    mencionados quando delimitamos o conceito de tributo, certo que estamos

    diante de um tributo.

    (ii) multa decorrente de atraso no IPTU

    As normas jurdicas que instituem multas, em geral, tem como hiptese

    o descumprimento de uma conduta obrigatria, o que tambm quer dizer que

    estamos diante de uma conduta proibida.

    Ora, uma vez que entendemos que a licitude da conduta prevista na

    hiptese um dos elementos essenciais em nossa definio de tributo, por

    conseqncia no restam dvidas de a multa decorrente de atraso no IPTU

    tributo.

    (iii) vide item (i)

    (iv) aluguel de imvel pblico

    Como j acima mencionado, tributo uma norma que tem como

    antecedente uma hiptese no vedada por outra norma, e que implica por

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    imposio legal uma relao jurdica modalizada como obrigatria, qual seja, o

    dever do Contribuinte de levar dinheiro ao Fisco.

    Ou seja, para ser tributo ser necessrio que o contribuinte pratique

    uma conduta no vedada, sendo que a conseqncia ser a obrigao, decorrenteda lei, de recolher o tributo.

    Vale destacar que esta estrutura lgica no se aplica exclusivamente ao

    Direito tributrio, mas sim todo o direito positivo que, como sabemos, uno e

    indivisvel.

    Tecido tal comentrio inicial, h que se destacar que no permitido a

    uma pessoa usufruir bens de outro, ou seja, no permitido pelo ordenamento

    jurdico que algum simplesmente ocupe um imvel, sendo que para tanto,

    necessrio um ajuste prvio de vontades, ou melhor dizendo, um contrato, mesmo

    quando em um dos plos se encontra a Administrao Pblica, como no caso do

    aluguel de um imvel pblico

    Vale ainda dizer que um imvel no pode ser disponibilizado para toda

    a coletividade, tal como ocorre com um servio pblico (ex. prestao

    jurisdicional), de forma que somente pessoas determinadas podero usufruir deum imvel pblico, sendo esta a distino entre um servio pblico que, via de

    regra, disponibilizado coletividade.

    Assim que o particular ao "alugar" um imvel pblico, na realidade

    est celebrando um contrato com a Administrao, sendo que seu dever de pagar

    um preo pelo aluguel no decorre da lei, mas sim de um contrato firmado com a

    Administrao.

    Frise-se que se a mesma pessoa entrasse em um imvel pblico e

    resolvesse utiliz-lo, estaria praticando uma conduta proibida, portanto, no

    haveria como falar em pagamento de tributo. Na realidade, somente h licitude na

    conduta de usufruir de um imvel pblico em razo de um contrato prvio

    celebrado entre as partes.

    Assim que o valor pago a ttulo de contraprestao pelo aluguel do

    imvel pblico no pode ser considerado tributrio, uma vez que tal obrigao no

    decorre da lei, mas sim de um contrato.

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    Cumpre esclarecer que, em ltima anlise, todas as obrigaes

    decorrem da lei, uma vez que o direito quem regula como as relaes

    intersubjetivas devem ser, contudo, a anlise da obrigatoriedade no tributo deve

    ser imediata, e no mediata.

    Portanto, conclui-se que o valor pago a ttulo de aluguel de imvel

    pblico no tributo, uma vez que no decorre da lei, mas sim de um contrato

    entre as partes.

    (v) custas judiciais

    Prosseguindo, quanto aos servios pblicos, h que se reconhecer queexiste uma grande distino, uma vez que o servio pblico disponibilizado para

    toda a coletividade, e no para pessoas certas e individualizadas.

    Assim, optando o sujeito por usufruir do servio pblico disponibilizado

    toda coletividade, o mesmo deve ser compelido efetuar o pagamento de uma

    prestao.

    Verifica-se que existe distino entre a figura anterior pois, ao contrrio

    do que ocorria, no existe acordo de vontade entre as partes, ou seja, o servio

    pblico disponibilizado para todas as pessoas em geral, e no mais para pessoas

    certas e individualizadas.

    Portanto, ao usufruir do servio (no caso, prestao jurisdicional)

    ocorreu a hiptese, surgindo assim como conseqente o dever de pagar tributo (no

    caso, as custas judiciais).

    Dessa forma, conclui-se que custas judiciais tributo, uma vez que odever jurdico de pagar tal prestao pecuniria decorre imediatamente da lei.

    (vi) prestao de servio eleitoral

    Como dito anteriormente, tributo ser sempre prestao em pecnia,

    sendo que pecnia pode ser entendida no apenas como moeda corrente, como

    tambm em ndices de correo (UFIR, BTN, etc.), sendo certo que eventual

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    pagamento de tributo de forma diversa, como a dao em pagamento de bem

    imvel, nada mais do que uma forma de extino da obrigao tributria.

    Assim, no h como admitir que a prestao de servio eleitoral tenha

    natureza tributria, pois no se confunde com tributo em razo da prestao noser em pecnia.

    (vii) imposto sobre a renda auferida por meio de atividade ilcita

    (ex. contrabando)

    tributo pois o que se est tributando no a atividade ilcita, mas sim

    o critrio material "auferir renda", sendo que tal conduta no ilcita, ou seja, permitida pelo ordenamento jurdico.

    O que no se considera tributo instituir a norma jurdica em que a

    hiptese seja uma conduta no permitida pelo ordenamento, pois neste caso sim

    estaramos diante de uma sano por ilcito, e no mais diante de uma norma

    jurdica tributria.

    (viii) tributo institudo por meio de decreto (inconstitucional -

    vide anexo V)

    considerado tributo pois a inconstitucionalidade do tributo no altera

    sua natureza, uma vez que tal critrio no essencial na definio de tributo, alm

    de que as normas em geral gozam de presuno de constitucionalidade, no

    podendo o contribuinte se furtar ao cumprimento de uma norma sob o argumento

    de que a mesma seria inconstitucional.

    No caso, um tributo institudo por meio de uma lei (em sentido amplo,

    inclusive decreto) que venha a ser declarado inconstitucional, somente deixa de

    ser exigvel quando surgir outra norma, inclusive podendo ser individual e

    concreta, que tire a validade da primeira.

    Portanto, fica claro que tanto antes de ser declarada a

    inconstitucionalidade, quanto aps sua declarao, o tributo mantm a mesma

    natureza jurdica.

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    7. O desconto de IPVA concedido para contribuintes que no incorreram em

    infraes de trnsito uma utilizao do tributo como sano de ato ilcito? E

    a progressividade do IPTU e do ITR em razo da funo social dapropriedade? Considerando que o tributo no pode ser sano de ato ilcito,

    pode haver majorao da obrigao tributria em substituio multa

    administrativa? Tal majorao pelo no cumprimento da funo social da

    propriedade ou em decorrncia de infrao de trnsito sano de ato ilcito

    tendo, portanto, carter no-tributrio? (Vide anexo VI).

    Conforme preceitua o art. 3 do CTN, bem como pelo que se verifica

    pela anlise dos tributos previstos na Constituio Federal, a hiptese da referida

    norma dever ser sempre uma conduta permitida, ou seja, o tributo no pode

    constituir sano por ato ilcito.

    Contudo, a prpria Constituio Federal aparenta trazer duas excees

    regra: o IPTU e o ITR. Tal como determina a Constituio Federal, o Fisco poder

    escalonar a alquota de forma a incentivar o contribuinte a cumprir a funo socialda propriedade ou, analisado pelo ponto de vista contrrio, punir aquele que no

    cumpre a referida funo social.

    No h que se discutir a possibilidade da Administrao Pblica cobrar

    valores pecunirios diferenciados nas duas figuras tributrias (IPTU e ITR), uma

    vez que existe expressa previso constitucional, ou seja, de hierarquia superior ao

    prprio Cdigo Tributrio Nacional.

    Contudo, h que se esclarecer que tal cobrana no uma exceo ao

    conceito de tributo, mas sim uma exao no-tributria, e sim punitiva. Ora, no h

    como admitir que tributo seja utilizado como sano por ato ilcito, uma vez que

    isso manifestamente incompatvel com a Constituio Federal.

    O que temos na realidade que, alm do tributo (IPTU ou ITR), o

    proprietrio do imvel, urbano ou rural, pode ser punido pelo descumprimento da

    funo social da propriedade, seja por meio de cobrana de prestaes pecunirias

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    no-tributrias, seja por meio de eventual desapropriao. Alis, o que entende

    ROQUE ANTONIO CARRAZA:

    "V - AINDA A RESPEITO DO IPTU, H UMA QUESTO POUCO ESTUDADA:NADA IMPEDE QUE SUAS ALQUOTAS AUMENTEM PROGRESSIVAMENTE, MEDIDA QUE O PROPRIETRIO DO IMVEL URBANO FOR PERSEVERANDO EM

    SEU MAU APROVEITAMENTO ( A CHAMADA "PROGRESSIVIDADE NOTEMPO"). TAL AUMENTO - O QUE ESTATUI O INCISO II DO 4 DO ART.182 DA CF- PODE REDUNDAR, AT, NA PERDA DA PROPRIEDADE.SEMPRECOM BASE EM LEI (AGORA LEI SANCIONATRIA., E NO TRIBUTRIA). DEFATO, ISTO SER FEITO EXATAMENTE PARA PUNIR O PROPRIETRIO DOIMVEL QUE RENITE EM NO AJUST-LO S DIRETRIZES DO PLANODIRETOR"60.

    Portanto, temos como firme a convico de que tributo no pode ter

    como hiptese um fato ilcito, sendo certo que os valores cobrados, no caso do

    IPTU e ITR, com expressa autorizao constitucional, em razo do

    descumprimento da funo social da propriedade, no possuem natureza

    tributria.

    J no que se refere ao IPVA, o dito "desconto" no autorizado pela

    Constituio Federal, valendo destacar que na realidade estamos diante de um"aumento" de tributo, uma vez que o tributo seria apenas o valor j descontado,

    enquanto o restante, por ter como hiptese um ato ilcito, seria um tributo

    institudo utilizado como sano por ato ilcito, o que vedado.

    Portanto, resta evidente que em nenhum dos casos podemos admitir

    que tributo seja utilizado como sano por ilcito, sendo certo que possui natureza

    distintas, de penalidade, todavia, por haver expressa autorizao constitucional no

    caso do IPTU e ITR, no h qualquer bice em se admitir referida exaopecuniria.

    8. Que direito tributrio? Sob as luzes da matria estudada, efetuar crtica

    seguinte sentena: Direito tributrio o ramo do Direito pblico positivo

    que estuda as relaes jurdicas entre o Fisco e os contribuintes, concernente

    60 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributrio - 24 ed. So Paulo: Malheiros,2008. p. 114

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    instituio, arrecadao e fiscalizao de tributos, e propor definio para

    direito tributrio.

    Primeiramente temos que esclarecer que o direito positivo uno e

    indivisvel, sendo certo que eventuais cortes epistemolgicos que fazemos para

    estud-lo em nada o altera, pois tais cortes efetuados pela cincia em nada alteram

    o objeto. Alis, o que afirma PAULO DE BARROS CARVALHO:

    "COM EFEITO, A ORDENAO JURDICA UNA E INDECOMPONVEL. SEUSELEMENTOS - AS UNIDADES NORMATIVAS - SE ACHAM IRREMEDIAVELMENTEENTRELAADOS PELOS VNCULOS DE HIERARQUIA E PELAS RELAES DE

    COORDENAO, DE TAL MODO QUE TENTAR CONHECER REGRAS JURDICASISOLADAS, COMO SE PRESCINDISSEM DA TOTALIDADE DO CONJUNTO, SERIAIGNOR-LO, ENQUANTO SISTEMA DE PROPOSIES PRESCRITIVAS."61

    Portanto, no h como conceber a idia de direito "positivo" tributrio,

    pois estamos ignorando a indivisibilidade do direito positivo, razo pela qual

    pensarmos em direito tributrio somente seria possvel se estivssemos falando de

    Cincia.

    E j que estamos falando de "tributrio", e j tendo firmado nossa

    premissa de que a Cincia do Direito tem por objeto normas jurdicas, por certo

    seria que voltssemos nossa ateno s normas jurdicas tributrias.

    Para tanto, se faz necessrio que tragamos para nossa anlise o conceito

    de tributo que, segundo j afirmamos anteriormente, seria:

    TRIBUTO UMA NORMA QUE TEM COMO ANTECEDENTE UMA HIPTESE NOVEDADA POR OUTRA NORMA, E QUE IMPLICA POR IMPOSIO LEGAL UMARELAO JURDICA MODALIZADA COMO OBRIGATRIA, QUAL SEJA, O DEVERDO CONTRIBUINTE DE LEVAR DINHEIRO AO FISCO.

    Portanto, a Cincia do Direito Tributrio deve se voltar ao estudo das

    normas jurdicas acima descritas, devendo, contudo, nos voltar tambm anlise

    61 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributrio / Paulo de Barros Carvalho. - 24. ed. SoPaulo: Saraiva, 2012. 46

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    das demais normas decorrentes das mesmas, ou seja, as normas secundrias ou

    ainda as que guardem relao com as primeiras.

    Portanto, entendemos que Direito Tributrio o ramo da Cincia do

    Direito que estuda as normas jurdicas que tratam de tributo, incluindo nestadefinio as relaes jurdicas existentes entre Fisco e contribuintes, tanto no que

    se refere instituio, arrecadao e fiscalizao de tributos.

    9. Dada a seguinte lei (exemplo fictcio):

    (...)

    Pergunta-se:

    a) Quantas normas h nessa lei?

    So construdas quatro normas jurdicas, sendo uma norma jurdica de

    instituio de tributo, uma de instituio de obrigao acessria e duas que

    veiculam sano.

    b) Identificar todas as normas jurdicas veiculadas nessa lei.

    b.1) 1 Norma Jurdica - Tributo

    Hiptese

    CM = prestao de servio de conservao de imveis; C.Temporal =

    momento da concluso efetiva do servio; C.Territorial = territrio municipal

    Consequente

    BC = preo do servio prestado, no qual no se incluem os valores

    referentes aos materiais empregados na prestao do servio

    AL = 5% (cinco por cento)

    Sujeito Ativo = Municpio de Caxias

    Sujeito Passivo = prestador de servio, podendo ser a empresa ou o

    profissional autnomo

    b.2) 2 Norma Jurdica - Obrigao Acessria

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    Hiptese: idem anterior (CM = prestao de servio de conservao de

    imveis; C.Temporal = momento da concluso efetiva do servio; C.Territorial =

    territrio municipal);

    Conseqente: O prestador de servio dever emitir "NOTA FISCAL DESERVIOS")

    b.3) 3 Norma Jurdica - Descumprimento de 1 NJ

    Hiptese: deixar de recolher aos cofres pblicos o tributo institudo na

    1 NJ at o dcimo dia til do ms subseqente quando o tributo passou a ser

    devido;Conseqente: pagar multa de 10% (dez por cento) sobre o valor do

    tributo devido em razo da incidncia da 1 NJ;

    b.4) 4 Norma Jurdica - Descumprimento da 2 NJ

    Hiptese: deixar de emitir a nota fiscal a que se refere a 2 NJ

    Consequente: Sujeito Ativo da 1 NJ dever lavrar auto de infrao com

    aplicao de multa de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da operao.

    Apenas uma ressalva quanto esta ltima norma jurdica que a

    mesma se refere ao valor da operao, e no do tributo, razo pela qual entendo

    que operao quer dizer o valor do servio prestado, ou seja, da base de clculo da

    primeira norma jurdica.

    c) Qual dessas normas institui tributo?

    A norma que institui tributo somente aquela que se constri a partir

    dos arts. 1 ao 4, cujo critrio material a prestao de servio de conservao de

    imveis, ou seja, aquela a qual atribumos o item "b.1".

    d) Qual dessas normas estudada pela Cincia do Direito Tributrio?

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    Uma vez que delimitamos que a Cincia do Direito Tributrio estuda

    no apenas as normas jurdicas tributrias propriamente ditas, como tambm

    aquelas que guardem correlao com as primeiras, temos que todas as normasacima mencionadas so estudadas pela Cincia do Direito.

    e) O texto legal, acima transcrito, Cincia do Direito? Justificar.

    O texto legal acima Cincia do Direito no sentido de que no foi

    produzido por agente competente para que o mesmo ingressasse na realidade do

    direito positivo, que um sistema fechado e, portanto, precisa de um veculointrodutor competente.

    Contudo, trata-se de uma representao do que seria direito positivo e

    no Cincia do Direito, uma vez que os textos de lei so o que constituem o direito

    positivo, desde que emitidos por agente capaz e autorizado pelo prprio direito,

    como o Poder Legislativo.