secretaria de estado da educaÇÃo - … · dever do estado e da família, é de suma importância...
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
JOARES MAURÍCIO DA ROCHA
A AUTONOMIA DO ALUNO DO ENSINO MÉDIO
Versus
RENDIMENTO ESCOLAR
CURITIBA
2011
PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA
A AUTONOMIA DO ALUNO DO ENSINO MÉDIO
Versus
RENDIMENTO ESCOLAR Caderno Temático apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, área de Gestão Escolar, com estudo referente a autonomia do aluno do Ensino Médio versus Rendimento Escolar. Sob a orientação do Professor Mestre Maurício Cesar Vitória Fagundes, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
CURITIBA
2011
SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO..................................................................................................... 04
UNIDADE I
PRÁTICAS DO COTIDIANO DA ESCOLA QUE EXERCITAM A AUTONOMIA.... 05
UNIDADE II
EDUCAÇÃO: UM DEVER DOS PAIS E DO ESTADO E UM DIREITO DO
ESTUDANTE................................................................................................ 07
UNIDADE III
MUDANÇAS NA PRÁTICA DOCENTE E DISCENTE PARA CONSCIÊNCIA DA
RELAÇÃO (CAUSA X EFEITO)............................................................................ 12
UNIDADE IV
AÇÕES PARA O EXERCÍCIO CONSCIENTE DA AUTONO............................... 16
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 17
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 18
INTRODUÇÃO
O Programa de Desenvolvimento Educacional tem como um dos
aportes dos professores que dele se privilegiam, a contribuição com a aplicação
do estudo realizado aos demais docentes e membros da comunidade escolar da
rede pública estadual de educação.
O Tema escolhido, A AUTONOMIA DO ALUNO DO ENSINO MÉDIO
Versus RENDIMENTO ESCOLAR, visa aprofundar os estudos dentro de uma
postura comissiva já adotada na gestão escolar do Colégio Estadual Helena Viana
Sundin de Paranaguá, mas que necessita de um suporte legal, teórico e
metodológico para justificar sua continuidade.
O presente material faz uma coletânea de textos que tratará do
assunto em comento sobre o viés das ciências que estudam, conceituam e
regulam as relações do homem consigo mesmo e com seus pares.
Esse material não tem o condão de apresentar respostas do quê é e
de como estabelecer uma relação que busque a maturidade dos alunos do Ensino
Médio, mas sim problematizar o cotidiano escolar acerca do não exercício da sua
autonomia e, desse levante levar-nos a uma reflexão de um fazer escolar
diferente do que está posto e que tem servido de modelo às práticas relacionais e
metodológicas do ambiente escolar.
O direcionamento desse tema tem a motivação na busca da afirmação
ou negação da ação autônoma do aluno do Ensino Médio como ferramenta
pedagógica auxiliadora da consciência relacional dos seus atos com a escola,
família e todos os elementos normativos do seu cotidiano, e a possível
conseqüência no aproveitamento escolar.
Lorieri e Rios (2004) afirmam que a autonomia é a situação que
agimos levando em consideração regras das quais fomos os criadores ou que,
mesmo as encontradas prontas na sociedade, avaliamos como significativas e
incorporamos ou internalizamos em nossas ações (LORIERI E RIOS, 2004, p.
65).
Para deslinde do tema, estruturou-se este material em 4 unidades.
UNIDADE I
PRÁTICAS DO COTIDIANO DA ESCOLA QUE EXERCITAM A AUTONOMIA.
A escolha do tema para a realização do trabalho com enfoque no
Ensino Médio deu-se principalmente pela independência que a grande maioria
destes alunos tem quanto ao seu deslocamento para escola, utilizando-se das
mais variadas formas de locomoção. Dessa forma, essa é a primeira ação
autônoma que eles exercem em relação a sua vida acadêmica, e com raras
exceções, todos comparecem ao tempo que é determinado para o início das
aulas, ou seja, pela manhã às 7h 30 min. e no período noturno às 19h.
Já o cotidiano no interior da escola, muitas ações são propostas à
comunidade discente com vistas à promoção do exercício da liberdade com
responsabilidade.
Fundada na confiança, os profissionais da educação do Colégio
Estadual Helena Viana Sundin (Direção – Equipe Pedagógica, professores e
Funcionários) emprestam material esportivo para o aluno, para seu lazer na hora
do intervalo. Há a disponibilização do laboratório de informática e/ou de ciências
quando há falta imprevista de professor sem possibilidade de substituição. Serve-
se merenda escolar num bufê1, a fim de que desperte no aluno e também no
funcionário responsável por esse serviço, um respeito da apropriação do que
baste para seu consumo, dessa forma evita-se desperdício. Nas reuniões do
Conselho Escolar, o Grêmio Estudantil tem participação efetiva, sempre trazendo
a pauta reivindicações da comunidade estudantil e, sobretudo, tem a liberdade do
acesso à direção, bem como, toda equipe pedagógica para tratar de assuntos de
seu interesse.
Quanto a sua permanência na escola, o aluno vale-se do seu direito
de ir e vir, desta forma, terá liberdade para que, querendo possa ausentar-se da
escola ao tempo que julgar necessário. Embora haja profundas ressalvas dessa
permissão, ela nada mais é que o inverso do seu direito de adentrar ao colégio
para usufruir do seu direito aos dias letivos mínimos previstos em lei e do dever
do Estado em ofertá-los sem qualquer distinção.
1 Mesa em que se servem comidas.
Essa relação de confiança que redunda na prática da liberdade com
responsabilidade é extensiva também aos ex-alunos e à comunidade do entorno
da escola, tanto que, dois alunos egressos da instituição têm posse da chave do
portão da escola para que aos finais de semana possam se utilizar das
dependências físicas para atividades de esporte e lazer.
Nessa cooperação no uso do bem público para o uso do público, tem
havido a preservação, o cuidado e zelo pelo patrimônio da Instituição Escola.
UNIDADE II
EDUCAÇÃO: UM DEVER DOS PAIS E DO ESTADO E UM DIREITO DO
ESTUDANTE
O Estado tem como Dever Constitucional oferta da
educação em todos os níveis. Tal previsão está expressa no seu artigo 205 do
capítulo III, o qual menciona a divisão dessa responsabilidade com a família.
Constituição Federal
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Da interpretação do artigo supramencionado dessume-se que
todo o cidadão tem direito de freqüentar e permanecer na escola e cabe ao
Estado a responsabilidade de garantir o acesso universal a todos.
Nos § 1° e 2° artigo 208 também da Constituição Federal, traz o
dever do Estado para com a efetivação do direito à educação: tem o Estado a
obrigação de garantir o ensino fundamental, atendimento educacional
especializado, oferta ao ensino noturno, dentre outros direitos. Faz menção
também que é de responsabilidade do Poder Público a oferta do ensino público
gratuito, caso não o faça importa responsabilidade da autoridade competente.
Desse dever da oferta, está indissociável o direito aos que procuram
o acesso à Educação. O capítulo da Constituição Federal que trata dos Direitos
Fundamentais assim prescreve
Constituição Federal
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Desta forma, é imperiosa a garantia dos Direitos ao acesso à
educação, bem como, o Dever do Poder Público para a sua consecução. Com
esse intuito é que tal garantia redunda na Constituição e também traz previsão
nas normas infraconstitucionais que também tratam do assunto, vejamos:
Constituição Federal
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/90
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Do arcabouço normativo apresentado não resta dúvida quanto ao
dever do Estado e da Família e o direito do cidadão ao acesso à Educação.
Porém, o Estatuto da Criança e do Adolescente foi norma balizadora das ações
na escola, pois nossa clientela e composta pelo grupo etário ao qual a lei faz
menção, mas propriamente dito, dos alunos do Ensino Médio, que são da faixa
etária maior de doze anos, ou seja, adolescentes e alguns casos de adultos.
Vejamos:
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/90
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Abordada a obrigação do Poder Público e o Direito do cidadão ao
acesso à Educação, faz-se necessária trazer à discussão de que forma se
operacionalizará esta oferta. Para isso, mister se faz colacionar o disposto no
artigo 24º - I da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei
9394/96:
Art. 24º. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;
Isto posto, ressalta-se que disposto contido na legislação, acerca da
oferta mínima em dias e horas são cumpridos pela rede pública estadual de
educação, por conseguinte pelo Colégio Estadual Helena Viana Sundin.
Passada a apresentação dos Fundamentos Legais que regem o
Dever do Estado e da Família, é de suma importância apresentar os deveres e
direitos dos alunos na sua relação com a Instituição Escolar, as quais têm
representação através do Regimento Escolar.
O Regimento Escolar pode ser considerado como sendo um
conjunto de normas e regras que regulam o funcionamento de uma escola, bem
como dos direitos e deveres de todos que a compõem. Como toda norma, que
tem função precípua regular as relações sociais, o Regimento normatiza a relação
do aluno com seus pares, quais sejam, alunos, professores, funcionários e
direção.
Via de Regra, os Regimentos Escolares é uma reprodução dos
Direitos e Garantias constitucionais, porém, a que merece destaque no presente
trabalho é o DOS DIREITOS INDIVIDUAIS que estão previstos no art. 5º da
Constituição Federal e dessa forma merece recepção no documento interno da
escola.
Assim, com o fundamento legal é que se fez a propositura do
trabalho no Colégio Helena Viana Sundin, dentro da especificidade da faixa etária
que a Instituição atende, a dos adolescentes. Por isso, apresentamos:
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/90
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; (grifos meus)
II - opinião e expressão;
A aplicação do disposto no Regimento Escolar com substância na
Legislação Constitucional e Infraconstitucional cabe ao Diretor da Instituição. Essa
ação deve ser feita de forma conjunta com o Conselho Escolar, pois assim
garante uma análise democrática das possíveis infrações aos direitos e deveres
da comunidade escolar. Esta prevenção tem previsão no Estatuto da Criança e do
adolescente:
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/90
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.
Da relação entre o Direito de ir e vir e não violação dos direitos da
criança do adolescente, é que se traduziu a permissão do aluno do Ensino Médio
ausentar-se do colégio ao tempo que desejar. Ressalta-se que não há por parte
da direção uma “dispensa” do aluno, posto que o Diretor não é o responsável
legal pelo adolescente, assim não tem poderes pra isso. O aluno ao assumir sua
saída da escola, estará da mesma forma assumindo a mesma autonomia que lhe
é conferida pela família ao propiciar que ele se desloque de casa para a escola e
da escola para casa.
Como supedâneo da postura permissiva ao aluno, importante a
ressalvar o disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente acerca da aplicação
da norma ao indivíduo em desenvolvimento:
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/90
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. (grifos meus).
O Gestor, aplica o disposto no artigo acima citado, pois considera
o adolescente como uma pessoa em desenvolvimento, que já possui a
credibilidade da família, a fim de conduzir sua vida escolar, dessa forma sua
permissão só corrobora com os pais ou responsáveis.
UNIDADE III
MUDANÇAS NA PRÁTICA DOCENTE E DISCENTE PARA CONSCIÊNCIA DA
RELAÇÃO (CAUSA X EFEITO).
Embora haja uma defesa sistemática do exercício da autonomia
pelo aluno do ensino médio, é de suma importância que se ressalte como ela
deva ser exercida, a fim de que não se confunda essa prática.
Barroso (2001) traz o conceito de autonomia ampliado, e assim se
manifesta: “Está etimologicamente ligado à idéia de autogoverno, isto é, à
faculdade que os indivíduos (ou as organizações) têm de se regerem por regras
próprias. Contudo, se a autonomia pressupõe a liberdade (e capacidade) de
decidir, ela não se confunde com a “independência”. A autonomia é um conceito
relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa), pelo que a
sua ação exerce sempre num contexto de interdependência e num sistema de
relações. “A autonomia é também um conceito que exprime sempre certo grau de
relatividade: somos mais, ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em
relação a umas coisas e não o ser em relação a outras”. (BARROSO, 2001, p.16).
Corroborando com que o prescrito pelo autor, Lorieri e Rios (2004)
afirmam que a autonomia é a situação que agimos levando em consideração
regras das quais fomos os criadores ou que, mesmo as encontradas prontas na
sociedade, avaliamos como significativas e incorporamos ou internalizamos em
nossas ações (LORIERI E RIOS, 2004, p. 65).
Assim, a autonomia apregoada no trabalho do PDE, não está
desvinculada da legislação reguladora dos Direitos e Deveres dos alunos.
Entendemos que o exercício da autonomia se dá com o profundo conhecimento
de todas as regras que permeiam a relação do aluno com a escola e com o
sistema educacional.
Lorieri e Rios (2004), também traz como contraponto à autonomia a
heteronomia e problematizam o antagonismo desses dois valores e sobre a
heteronomia. Os autores enfatizam que se trata de uma situação na qual a ação
obedece a regras impostas externamente e aceitas passivamente e se realiza
levando-se em conta a punição ou a recompensa que se terá (id. ibid.). O
processo de heteronomia faz-se presente em nossas construções históricas e
muito latente na personificação do mercado, portanto sua superação é um
desafio. Nesse sentido, a autonomia é uma construção permanente que se dá no
tensionamento com a heteronomia.
Dessa inter-relação cabe apresentar aos alunos do ensino médio as
posturas heterônomas que acontecem e são necessárias no interior da escola,
quais sejam: Regimento Escolar, LDB, ECA e os demais atos normativos da
mantenedora e do gestor escolar. Dessas “contradições” entre o desejo do aluno
em se ausentar do colégio e a questão legal inerente a educação e todo o
processo educacional pressupõe a construção coletiva com a escola do conceito
de autonomia relacional.
Como enfatizam Lorieri e Rios (2004), se constitui em relação com
os outros e, portanto, é inadequado confundi-la com independência ou com
ausência de responsabilidade. Autonomia implica liberdade, que não é algo que
isola os indivíduos, mas, ao contrário, aponta para o que se chama
interdependência (p. 66).
Das ações heterônomas que terão como função o tensionamento
para o despertar da autonomia, algumas mudanças fazem-se necessárias
acontecer no cotidiano da escola. A principal delas é a oferta dos duzentos dias
letivos. Essa é a parcela mínima de um todo que deve ser mudado na escola.
Porém dela depende a garantia e a liberdade de ir e vir, pois está diretamente
ligada a possível Reprovação do aluno ante a necessidade da freqüência de 75%.
Para a consecução de tal postura, há a necessidade da redução de
faltas por parte dos professores, bem como, uma atitude mais imediata do Estado
em substituir professores que se afastam para tratamentos de saúde.
Outra mudança importante, é a implementação da transparência no
tratamento das notas dos alunos. É de suma importância para quem quer
exercitar sua autonomia, que se faça dentro do conhecimento de sua condição
real de aproveitamento e ara isso, deve-se partir para a prática do anúncio do
rendimento escolar bimestral do aluno de forma pública, clara e imutável.
Essa propositura do conhecimento das notas e dos critérios
avaliativos aplicados aos alunos, tem a previsão legal do artigo 53 – III do
Estatuto da Criança e do Adolescente que assim estabelece:
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
Embora haja a previsão supramencionada, nas relações
Professor x Aluno no que se refere a avaliação e Rendimento, nas escolas, a
prática que se observa é a subtração desse Direito, sob a égide de que as
informações devam ser repassadas para os pais ou responsáveis.
Na defesa desse direito do aluno, não subsiste a pretensão de
alijar os pais das suas responsabilidades, os quais por lei também tem o Dever de
acompanhar o rendimento do filho e o Direito de participar das propostas
educacionais da Escola.
Veja-se:
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/90
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar;
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/90
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.
Apesar do comando legal, direcionar a reportagem do
aproveitamento do aluno aos pais ou responsáveis, a escola ao tratar do assunto
primariamente com o próprio aluno que, como já foi dito já exerce várias ações
que conotam sua autonomia, estará dando respostas das suas ações, dessa
UNIDADE IV
AÇÕES PARA O EXERCÍCIO CONSCIENTE DA AUTONOMIA
O exercício consciente da autonomia se dá com a vivência dos
valores CAUSA X EFEITO. Para que o aluno tenha dimensão dos resultados de
suas ações, importante se faz definir de forma clara quais são as regras que
permearam seu processo de aprendizagem e da aprovação, e mais importante
fazer cumpri-las ao tempo em que são exigidas
A cultura inerente da nossa sociedade tem como certa o
descumprimento das regras, justificada sempre por questões subjetivas. Este
trabalho não tem o fito de abandonar os julgamentos dos fatos sobre o viés do
subjetivismo, pois as ciências humanas existem justamente para promover o
entendimento das diferentes relações que o homem estabelece com o meio e que
por vezes tem como pano de fundo a cultura forjada principalmente no ambiente
familiar.
Porém a subjetividade não pode ser a única justificadora das
decisões que, via de regra, é abandonada pelo professor e pela escola durante
todo o ano letivo para só então ser ressuscitada nos Conselhos de Classes finais.
A reprovação ou aprovação do aluno está além da média aritmética
que ele deva conseguir ao final do ano letivo como requisito mínimo do êxito. O
ato de aprovar ou reprovar deve ser trabalhado a cada dia e em cada ação ou
omissão do discente, bem como do professor. Por isso, é desumano esperar um
momento final para se decidir sobre a vida escolar do aluno sem que ele tenha
tido um retorno do seu desempenho que se explicite além da nota.
Essa abordagem temporânea, ao tempo dos fatos, deve ser prática
constante do professor. Cabe ao docente em conjunto com a equipe pedadógica
tratar de assuntos referentes à sua relação com o aluno e do aluno com o
aprendizado. Para efetivação de tal propósito, mister se faz que os Pré-conselhos
sejam invocados a fim de se avaliar o processo como um todo, e não somente os
resultados obtidos pelos alunos.
Desse retorno ao tempo que acontecem os atos ou fatos é que deve
ser construída a relação de CAUSA X EFEITO, vez que a cultura comportamental
é forjada pela repetição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há um profundo desejo que este trabalho tenha despertado nos
educadores, em especial nos Gestores Escolares, uma reflexão acerca do
tratamento com os alunos do ensino médio, levando em consideração o seu
estágio de desenvolvimento à busca da afirmação dos seus valores.
O Estágio de maturação que passa nossos alunos merece de nós,
adultos que somos, um crédito às suas ações, desvinculado de qualquer juízo de
valor que possa estar arraigado na cultura popular – “senso comum”.
Gestores: Nossa função é de extrema responsabilidade com aqueles
que creditaram em nós o privilégio de ordenar os trabalhos da comunidade
escolar a qual eles pertencem. Assim, é importante que jamais percamos a
dimensão de que somos educadores e seres sociais, e que de nossas ações
produziremos reações boas ou más, sabendo sempre que elas são e serão
interdependentes.
Por isso, deposite confiança para receber fidelidade, e lembre-se, já
fomos adolescentes um dia, e hoje somos educadores. Ou seja, o comportamento
que em princípio possa lhe parecer inadequado, é inerente à idade e é
passageiro, e servirá com aporte para a construção do discernimento do que é
esperado e aceitável para se viver em comunidade.
REFERÊNCIAS
BARROSO, J. O reforço da autonomia nas escolas: a flexibilização da
gestão escolar em Portugal. In: FERREIRA, N.S.C. (Org.) Gestão
Democrática da Educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo:
Cortez, 1998.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1989.
BRASIL. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990 . Estatuto da Criança e do
Adolescente.
BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996 . Diretrizes e Bases da
Educação Nacional.
CURY, Munir; SILVA, Antonio Fernando do Amaral; GARCIA MENDES, Emílio.
(Coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente comentado: comentários
jurídicos e sociais. 3 ed. 2. tir. São Paulo: Malheiros, 2001.
GHIGGI, Gomercindo. A pedagogia da autoridade a serviço da liberdade:
diálogos com Paulo Freire e professores em formação. Pelotas, Seiva,
2002.
LORIERI, Marcos Antônio e RIOS, Terezinha Azeredo. Filosofia na escola o
prazer da reflexão. São Paulo: Moderna, 2004.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo. Saraiva, 2002. p.
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SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 8ª ed. São