secretaria de estado da educaÇÃo · África e cultura afro-brasileira na educação básica....

25

Upload: truongnhan

Post on 23-Jan-2019

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se
Page 2: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Ficha para Catálogo

Artigo Final Professor PDE/2010

Título

O cinema como fonte de pesquisa para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana: uma abordagem sobre as representações do negro produzidas pelo cinema.

Autor Vania Maria Ariello Sanches

Escola de Atuação Col. Est. Benedita Rosa Rezende–Ens. Fundamental e Médio

Município da Escola Londrina – Pr.

Núcleo Regional de Educação Londrina – Pr.

Orientador Prof° Dr° Gilmar Arruda

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina – UEL Área do Conhecimento/Disciplina História

Público Alvo Alunos do 3º ano do Ensino Médio – matutino

Localização Col. Est. Benedita Rosa Rezende - Ensino Fundamental e Médio - Av: Robert Kock, 377 – Jd. Guararapes

Resumo

O referente artigo tem por objetivo relatar a intervenção pedagógica realizada no Colégio Estadual Benedita Rosa Rezende, com alunos do 3° ano do ensino médio, no segundo semestre de 2011. O objetivo da intervenção pedagógica foi de analisar e discutir a representação do negro no cinema brasileiro, por meio de apresentação de filmes nacionais, como forma de superar a história tradicional que analisa o negro sob a ótica da escravidão e discutir questões referentes ao processo que desencadeou o preconceito, a discriminação e o racismo. Foram analisados filmes do período do governo de Getúlio Vargas, da Ditadura Militar e da redemocratização do país. A metodologia utilizada desenvolveu-se em seis ações: levantar o perfil e o conhecimento prévio dos alunos; análise de textos e documentos sobre a temática do negro no Brasil; apresentação e discussão de filmes e documentários sobre a origem do cinema; pesquisa sobre o cinema e filmes brasileiros; analisar a representação do negro nestas produções; e, a sistematização dos conhecimentos dos alunos, por meio de produção de cartazes e narrativas Buscando, também, atender à necessidade de se trabalhar com a lei 10.639/2003, que determina a inclusão do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica.

Palavras-chave Cinema; Representação do negro; Lei10.639/2003.

Page 3: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

1

CINEMA COMO FONTE DE PESQUISA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E

CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA: UMA ABORDAGEM SOBRE AS

REPRESENTAÇÕES DO NEGRO PRODUZIDAS PELO CINEMA

Autora: Vania Maria Ariello Sanches1

Orientador: Gilmar Arruda2

RESUMO

O referente artigo apresenta uma experiência educativa desenvolvida em sala de aula com alunos do 3° ano do ensino médio do período matutino, no Colégio Estadual Benedita Rosa Rezende, localizado na cidade de Londrina/Pr, no segundo semestre de 2011. O objetivo da intervenção pedagógica na escola foi de analisar e discutir a representação do negro no cinema brasileiro, por meio de apresentação de filmes nacionais, como forma de superar a história tradicional que analisa o negro sob a ótica da escravidão e discutir questões referentes ao processo que desencadeou o preconceito, a discriminação e o racismo. Foram analisados filmes do período do governo de Getúlio Vargas, da Ditadura Militar e da redemocratização do país. A metodologia utilizada desenvolveu-se em seis ações: levantar o perfil e o conhecimento prévio dos alunos; análise de textos e documentos sobre a temática do negro no Brasil; apresentação e discussão de filmes e documentários sobre a origem do cinema; pesquisa sobre o cinema e filmes brasileiros; analisar a representação do negro nestas produções; e, a sistematização dos conhecimentos dos alunos, por meio de produção de cartazes e narrativas Buscando, também, atender à necessidade de se trabalhar com a lei 10.639/2003, que determina a inclusão do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica. O tema ainda é flexibilizado no sentido da utilização de filmes como instrumento pedagógico para o ensino de História.

Palavras-chave: cinema; representação do negro; Lei10.639/2003.

1 Bacharel em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Especialista em Ensino de Jovens e

Adultos pela Faculdade Bagozzi. Especialista em Administração, Orientação e Supervisão Escolar pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR). Professora no Colégio Estadual Benedita Rosa Rezende – Ensino Fundamental e Médio - Londrina-PR. 2 Bacharel em História pela Universidade Católica Dom Bosco. Mestre em História pela Universidade

Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Doutor em História pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis. Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) – Londrina-PR.

Page 4: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

2

1 INTRODUÇÃO

Este artigo trata de um projeto de ação pedagógica para o Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria do Estado do Paraná (SEED),

desenvolvido no Colégio Benedita Rosa Rezende, Londrina/Paraná, com alunos

do 3° ano do Ensino Médio, nos períodos de 11 de agosto a 30 de outubro de

2011. Tendo como proposta primeira desenvolver atividades que busquem uma

maior participação dos alunos nas aulas de História, por meio da utilização de

filmes que abordem temas relacionados à Cultura Afro-Brasileira.

O objetivo deste trabalho é o de analisar e discutir a representação do

negro no cinema brasileiro contemporâneo, como forma de superar a história

tradicional que analisa o negro sob a ótica da escravidão e discutir questões

referentes ao processo que desencadeou o preconceito, a discriminação e o

racismo. Serão analisadas as produções cinematográficas realizadas durante o

período do governo de Getúlio Vargas, da Ditadura Militar e da redemocratização

do Brasil. Busca-se neste projeto, utilizar o filme como fonte de pesquisa para o

ensino de história, procurando superar o tratamento tradicional dado ao

documento histórico. A metodologia a ser utilizada realiza-se em seis ações:

levantar o perfil e o conhecimento prévio dos alunos; análise de textos e

documentos sobre a temática do negro no Brasil; apresentação e discussão de

filmes e documentários sobre a origem do cinema; pesquisa sobre o cinema e

filmes brasileiros; analisar a representação do negro nestas produções; e, a

sistematização dos conhecimentos dos alunos, por meio de produção de cartazes

e narrativas.

Este trabalho visa ressignificar conteúdos presentes em livros didáticos de

história, aproveitando textos, imagens e filmografias como coadjuvantes. As

atividades desenvolvidas foram elaboradas segundo as orientações das Diretrizes

Curriculares Estaduais para o ensino de História no Paraná (DCE).

Buscando atender à necessidade de se trabalhar com a lei 10.639/2003,

que determina a inclusão do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana

na Educação Básica; e, também, o uso de novas tecnologias para o ensino de

História, é que se procura fazer uma reflexão sobre a representação do negro no

Page 5: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

3

cinema brasileiro, mais especificamente nos períodos do governo Vargas, da

Ditadura militar e da redemocratização.

2 PROPOSTA

Em janeiro de 2003, foi aprovada a Lei federal nº 10.639, que determina a

inclusão do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação

Básica. Esta medida vem atender a antigas reivindicações do Movimento Negro

no Brasil e procura promover e incentivar políticas de reparação aos

descendentes de africanos negros e a adoção de ações afirmativas que valorizem

a contribuição dos povos africanos na formação da cultura brasileira.

Durante muito tempo as escolas abordaram conteúdos sobre a

escravidão negra, com afirmativas negativas que evidenciavam a condição de

submissão e humilhação dos negros, causando muitas vezes constrangimento

aos educandos afrodescendentes.

Percebe-se, então, uma dificuldade muito grande em colocar em prática a

Lei n°10.639/03 nas escolas, devido à utilização de metodologias desenvolvidas

sob a ótica européia, sem levar em conta a cultura produzida na África e seus

reflexos na formação do povo brasileiro. Esta visão eurocêntrica acaba

provocando certa “invisibilidade” do negro na sociedade e na sala de aula,

colocando-o numa condição de inferioridade.

Para abordar a questão étnico-racial no Brasil, é necessário,

primeiramente entender as origens da formação do povo brasileiro e discutir os

conceitos relativos ao racismo, a discriminação e o preconceito sofridos pela

população negra brasileira.

O estudo sobre a História do Negro no Brasil e da História da África, deve

ser entendido como parte importante da construção da identidade do povo

brasileiro e, particularmente da população afro-descendente, que corresponde a

45% da população brasileira.

Em seu artigo Reflexão sobre a história do negro no Brasil, Claudia Lima,

afirma:

Page 6: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

4

O discurso da História, na atualidade, tem um perfil renovador, o vasto continente africano apresenta movimentos históricos próprios. A diversidade dos povos na África resulta de uma geografia variada e de uma longa pré-história. As interações entre os muitos povos africanos geraram movimentos populacionais surpreendentes nos últimos cinco mil anos como a expansão dos bantos no continente africano. Os grandes impérios africanos são destacados com suas características singulares, como também o movimento de islamização no século XI, até a chegada dos portugueses, espanhóis, holandeses, ingleses e franceses, que se lançaram ao mar e as conquistas econômicas e políticas, gerando dívidas históricas e deixando como legado, conflituosas heranças no território africano, refletidas até os dias de hoje. (2009,p.02)

Conhecer a História da África e da Cultura afro-descendente é um

caminho importante na construção de uma identidade afro-brasileira, resgatada

através da memória e da valorização do povo africano.

O Brasil é um país com uma diversidade cultural muito grande, é um país

multirracial, que apresenta diferenças sócio-econômicas enormes na formação da

sociedade brasileira. E, essas desigualdades são visíveis principalmente em dois

setores da sociedade: no mercado de trabalho e na educação.

De acordo com a Constituição brasileira, “todos são iguais perante a lei”,

mas as minorias étnico-raciais têm ficado à margem da sociedade, e os direitos

básicos contidos na Constituição não tem sido contemplados.

Diante dessa realidade, políticas de ação afirmativas têm surgido ao longo

da história, no sentido de reparar os prejuízos sofridos pela população negra no

Brasil.

De acordo com Gomes as ações afirmativas se definem como políticas

públicas (e privadas) voltadas à concretização do princípio constitucional da

igualdade material e à neutralização dos efeitos de discriminação racial, de

gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física. (2003, p. 21)

As ações afirmativas, então, tem como objetivo combater a qualquer

forma de discriminação racial e cultural, arraigada na sociedade. A esse respeito,

Gomes afirma que:

Page 7: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

5

As ações afirmativas constituem, pois, um remédio de razoável eficácia para esses males. É indispensável, porém, uma ampla conscientização da própria sociedade e das lideranças políticas de maior expressão acerca da absoluta necessidade de se eliminar ou de se reduzir as desigualdades sociais que operam em detrimento das minorias, notadamente as minorias raciais. (2003, p.23)

As políticas afirmativas se faz necessária diante da discriminação e

preconceito sofridos pela população negra no Brasil ao longo da história do Brasil,

quando lhes foi negado o direito à dignidade humana. Como revela Kabengele

Munanga e Nilma Lina Gomes:

As ações afirmativas constituem em políticas de combate ao racismo e à discriminação racial mediante a promoção ativa da igualdade de oportunidades para todos, criando meios para que as pessoas pertencentes a grupos socialmente discriminados possam competir em mesmas condições na sociedade. (2006, p. 186)

Entre as várias medidas afirmativas que tem como objetivo combater as

desigualdades sociais brasileiras e promover ações que busquem a igualdade

racial, foi criada a Lei nº 10.639/2003, que determina o estudo da História da

África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica.

Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no

Brasil, optou-se pelo uso de fontes históricas que permitam o diálogo do aluno

com realidades passadas e desenvolve o sentido da análise histórica. Segundo

Schmidt e Cainelli:

O contato com as fontes históricas facilita a familiarização do aluno com formas de representação das realidades do passado e do presente, habituando-o a associar o conceito histórico à análise que o origina e fortalecendo sua capacidade de raciocinar baseado em uma situação dada. (2005, p.94)

Neste sentido, justifica-se a utilização de filmes como recurso didático

para o Ensino de História, na medida em que tem como objetivo discutir a

Page 8: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

6

representação do negro em algumas produções cinematográficas nos períodos do

governo de Getúlio Vargas, Ditadura Militar e redemocratização do país.

Nesta perspectiva, surgiram novas correntes historiográficas que

trouxeram a renovação da concepção de documento histórico e da relação do

historiador com ele.

De acordo com Cainelli e Schimidt,

o trabalho com o documento histórico em sala de aula exige do professor que ele próprio amplie sua concepção e o uso do próprio documento. Assim, ele não poderá mais se restringir ao documento, mas introduzir o aluno na compreensão de documentos iconográficos, fontes orais, testemunhos de história local, além das linguagens contemporâneas, como cinema, fotografia e informática. Mas não basta o professor ampliar o uso de documentos; também deve rever seu tratamento, buscando superar a compreensão de que ele serve apenas como ilustração da narrativa histórica e de sua exposição, de seu discurso. (2005, p.95).

O uso do cinema como recurso pedagógico no ensino de História, é um

trabalho reflexivo e não um mecanismo de entretenimento ou uma simples

ilustração de um determinado conteúdo de História.

Segundo Ranzi:

O filme é um documento de História Contemporânea no campo das mentalidades, pois reflete a mentalidade dos homens e das mulheres que fazem filmes. Permite compreender o espírito do nosso tempo e aproximar o aluno do passado de uma maneira diferente, abrindo espaços de reflexão sobre a construção da História.(2002, p.186)

O cinema tem abordado a educação por meio de filmes que trazem para

as telas problemas e dilemas escolares e educacionais. Por sua vez, a educação

utiliza-se de filmes em diferentes contextos escolares e práticas pedagógicas.

Para Duarte, “ver filmes é uma prática social tão importante, do ponto de

vista da formação cultural e educacional das pessoas, quanto a leitura de obras

literárias, filosóficas, sociológicas e tantas mais”. O cinema, assim como a

educação, difunde padrões éticos e valores morais, produz conhecimentos e

Page 9: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

7

constitui-se também em espaço de sociabilidade entre os espectadores. (2002,

p.17)

Analisar as representações do negro no cinema traz à tona a discussão

sobre o mito da democracia racial no Brasil. Para Metz (1980) podemos

reconhecer o cinema como uma instituição que está estreitamente ligada com as

relações econômicas, ideológicas e expectantes de uma sociedade. A instituição

cinematográfica estabelece uma relação com o espectador que desencadeia uma

interlocução centrada no imaginário, no desejo e na construção simbólica de cada

um.

Por meio da análise do cinema como um veiculo de reprodução

ideológica, ou espaço de construção simbólica, é possível compreender porque a

imagem do negro no cinema é apresentada de maneira superficial e

estereotipada. Muitas vezes personalidades negras e fatos históricos, têm sua

participação ignorada ou minimizada.

3 IMPLEMENTAÇÃO

A implementação da proposta de intervenção pedagógica deste projeto

deu-se no Colégio Estadual Benedita Rosa Rezende – Ensino Fundamental e

Médio, na cidade de Londrina/Pr, sendo desenvolvida em uma turma do 3° ano do

ensino médio, no período matutino.

O projeto de implementação pedagógica teve a duração de 20 aulas,

divididas da seguinte forma:

1ª aula: Apresentação da proposta de trabalho e aplicação de um

questionário para levantar o perfil dos alunos, mais especificamente

sobre seus gostos e acesso às atividades culturais.

2ª aula: Com o objetivo de saber sobre as idéias prévias dos alunos foi

elaborado um mapa conceitual, no qual os mesmos escreveram suas

idéias sobre o negro no Brasil.

Page 10: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

8

3ª e 4ª aulas: Embasamento teórico sobre o negro no Brasil, a partir da

leitura e discussão do texto “Reflexão sobre a História do Negro no

Brasil”, de Claudia Lima e da Lei 10.639/2003.

5ª e 6ª aulas: Pesquisa sobre alguns conceitos relacionados ao tema do

trabalho.

7ª e 8ª aulas: Pesquisa de filmes e documentários sobre a origem do

cinema no Brasil e no mundo.

9ª, 10ª e 11ª aulas: Pesquisa sobre os filmes produzidos nos períodos

Vargas, da Ditadura Militar e da redemocratização.

12ª a 17ª aulas: Projeção e análise de filmes brasileiros. Aplicação de

roteiro de análise.

18ª aula: Elaboração de cartazes sobre a representação do negro no

cinema brasileiro.

19ª aula: Produção de narrativas históricas sobre o tema trabalhado.

20ª aula: Comparação entre os conhecimentos prévios dos alunos e as

narrativas históricas.

Ao apresentar a proposta de trabalho do projeto de implementação

pedagógica os alunos mostraram-se muito receptíveis, pois a idéia de se trabalhar

com cinema em sala de aula foge dos padrões das aulas tradicionais e agradou a

todos. Foi necessário esclarecer que a intenção não era trabalhar filmes como

forma de entretenimento, mas como fonte histórica para a análise da

representação do negro no cinema brasileiro.

Para uma melhor compreensão foram tratados primeiramente de se

conhecer as idéias prévias dos alunos a respeito da história do negro e identificar

as representações que historicamente foram construídas sobre os negros afro-

descendentes. Entende-se que a história ensinada precisava levar em conta

outros fatores em consideração no processo de ensino e aprendizagem, como por

exemplo, as idéias prévias dos alunos.

Para se alcançar um processo de aprendizagem que faça sentido e tenha

coerência para os alunos, é importante valorizar o que o aluno já sabe sobre

determinado assunto, pois é através da integração do conhecimento prévio e do

conhecimento formal que se desenvolve uma consciência histórica, contribuindo

assim para uma aprendizagem efetiva.

Page 11: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

9

Então, para levantar o conhecimento prévio dos alunos realizaram-se

duas atividades: A primeira atividade desenvolvida foi a aplicação de um

questionário cujo objetivo era verificar a realidade sócio-econômico dos alunos, no

sentido de perceber o seu acesso às atividades culturais, bem como investigar

quais são seus interesses e gostos pelo cinema. Após análise dos questionários,

constatou-se que os pais são, na maioria, os responsáveis pela vida escolar dos

filhos e que um número significativo de pais possuem formação em nível de

segundo grau e desenvolvem atividades relacionadas ao comércio e ao serviço

público.

A vida cultural da comunidade é bastante limitada, reduzindo-se às

práticas religiosas, programas de televisão, rádio e internet, que são os veículos

de comunicação que ocupam a maior parte do tempo das famílias. Foi possível

constatar a inexistência de outras práticas culturais como museus, hábitos de

leitura, teatro e cinema.

Através do questionário foi possível perceber que os alunos assistem

filmes em DVDs em casa, devido a facilidade de aquisição de filmes piratas na

cidade. E, que gostam das produções nacionais, pois citaram vários filmes da

atualidade, como também alguns clássicos do cinema brasileiro: Tropa de Elite 1

e 2, Se eu fosse você 1 e 2, O Auto da Compadecida, Cidade de Deus, Carandiru,

Canudos, dentre outros.

Como forma de delinear a proposta de intervenção na escola com a

temática a representação do negro no cinema brasileiro, o conhecimento prévio

(idéias tácitas) dos alunos foi considerado como ponto de partida para uma

aprendizagem significativa .Ainda, num segundo momento optou-se pela

aplicação de mapa conceitual, tendo como objetivo conhecer as idéias tácitas dos

alunos em relação ao negro no Brasil. Na elaboração do mapa conceitual foi

possível ao aluno expor suas idéias já adquiridas em relação ao tema. Faz-se

necessário observar que, em relação à questão proposta no instrumento de

pesquisa, obteve-se uma variedade de idéias reveladoras. A maioria dos alunos

relacionou o tema à escravidão, preconceito, racismo, discriminação,

desigualdade, desemprego, pobreza, sofrimento. E, em menor proporção à

valorização do negro e afro-descendente.

Page 12: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

10

Elaboração dos mapas conceituais sobre o negro no Brasil

A caracterização das idéias dos alunos no mapa conceitual tinha como

objetivo a sondagem de conceitos históricos prévios acerca do assunto. Os

alunos concebem a história e cultura dos afro-descendentes carregada de

estereótipos e de inferioridade, o que evidencia que o conhecimento adquirido

está restrito ao período da escravidão.

Mediante a análise das informações, foi possível verificar quais

conteúdos/conceitos foram aprendidos durante a vida escolar do estudante e,

portanto, pôde determinar as novas formas de aprendizagem utilizadas nesta

experiência educativa.

Sabe-se que construir conhecimento é aprender a elaborar uma

representação pessoal do conteúdo, do objeto de aprendizagem, portanto na

proposta de intervenção na escola procurou-se buscar meios pelos quais os

alunos formassem seu próprio conhecimento a partir de reflexões sobre as

diferenças raciais e culturais na formação da identidade do povo brasileiro.

Para Rüsen (2006, p. 7-16), é importante nos indagarmos sobre as

condições, finalidades e objetivos do ensino de História. Para este autor, a

cognição histórica só ocorre quando a aprendizagem se torna significativa para o

educando, ou seja, quando o mesmo consegue relacionar a sua vivência ao

conteúdo ensinado. Só há possibilidade de aprendizagem em História quando o

educando consegue refazer a trajetória do historiador, distinguindo a História do

senso comum do conhecimento científico.

Page 13: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

11

Nesta perspectiva, foi proposta a próxima atividade que constituiu na

leitura e análise de fragmentos do texto de Claudia Lima: Reflexão sobre a

História do Negro no Brasil. E, ainda a leitura e discussão da Lei n° 10.639/2003,

que estabelece a inclusão e valorização dos conteúdos sobre a “História e Cultura

Afro-Brasileira”, tendo como objetivo promover debates sobre as políticas

afirmativas sobre o negro, que estão num processo de ampla discussão no Brasil.

A partir dos textos foi possível refletir sobre a história do negro no Brasil

como processo importante da identidade do povo brasileiro. Também foi

necessário discutir alguns conceitos como raça, etnia, racismo, preconceito,

discriminação, estereótipos e outros, a fim de desconstruir pré-conceitos. A

atividade foi proposta aos alunos como forma de pesquisa. Então, alguns

utilizaram-se do laboratório de informática, pesquisando na internet, e outros

optaram pelos livros da biblioteca. Posteriormente houve o momento de

socialização e todos puderam falar sobre os conceitos pesquisados e expressar

suas opiniões.

Alunos do 3º ano do ensino médio realizando as pesquisas no laboratório de informática e biblioteca do Colégio

Quando os alunos foram questionados sobre os conceitos de raça e etnia,

por exemplo, os mesmos foram bastante controversos, especialmente quando

definiam raça e etnia como sinônimos e como classificatórios. O mesmo

aconteceu com os conceitos de racismo, preconceito, discriminação e estereótipo,

pois houve uma confusão de idéias e percebeu-se que os mesmos desconheciam

Page 14: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

12

os significados. Após a pesquisa foi possível estabelecer as semelhanças e

diferenças a partir da leitura de vários autores.

Por meio desta atividade foi possível mostrar aos alunos como os

conceitos, indispensáveis para o entendimento para exclusão da população negra

de espaços importantes da nossa sociedade, foram historicamente construídos.

É importante considerar que apenas explicar como os conceitos foram

construídos ao longo da História não é suficiente. É preciso mudar de atitudes e

comportamentos para a construção de uma sociedade que faz de negras e

negros sujeitos de sua própria história.

Então, foi lançada uma questão que tinha como objetivo relacionar o tema

abordado nesta atividade com realidade dos alunos: Você percebe em nossa

sociedade a presença de racismo, preconceito e discriminação? Dê exemplos.

Alguns relatos dos alunos:

Sim, as pessoas acham que os negros, por exemplo, são bandidos, pobres e só moram em favelas. (M.A.) Sim, quando vemos uma pessoa negra em uma rua mal vestida já pensamos que ele é um bandido (T.) Em uma Universidade particular o negro é discriminado por ser negro e por ser bolsista.” (C.) Sim. Aqueles grupos que se juntam para matar negros, homossexuais, piadas de mal gosto. (A.C.C.) Sim, ex: Quantos atores, apresentadores de TV, quantos médicos nós conhecemos que são negros. Não muito, são raros. (M.S.M.) A desigualdade social nos mostra a existência desses conceitos. As oportunidades dadas prioritariamente a brancos, magros, ricos, com sobrenome, e não há negros, gordos, pobres. Essa situação é muito comum e está aumentando pelo capitalismo que dá origem na escravidão no século atual (bolivianos, pobres do interior). (S.R.) Sim. Os negros são os principais afetados; ele geralmente é taxado de pobre, inferior, ladrão. Há poucos negros ocupando posições políticas e/ou comerciais no Brasil. (O.B.T.) Sim, muitas pessoas discriminam os negros somente pela cor, mesmo quando é uma autoridade. Ex: Obama. (C.G.D.) Sim, ex: quando um branco chama o negro de preto, macaco, etc. É quando o branco faz alguma coisa errada e fala que é coisa de preto(negros). (M.H.B.C.)

Page 15: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

13

Sim. Em nossa sociedade ainda há muito racismo como por exemplo no futebol, na procura de empregos, etc... (P.H.M.) Sim, em escolas, empregos, igrejas, redes sociais, em todo lugar. (R.) Sim, muitas pessoas dizem que negros não são gente só serve pra jogar futebol ou cantar Rap. (C.A.G.) Sim. O racismo está em todo lugar do mundo. Essa é uma coisa que vai ser muito difícil de se acabar. (C.)

A partir do relato dos alunos, percebeu-se que os mesmos têm

consciência da existência de racismo, preconceito e discriminação em relação aos

negros no Brasil. Mas, também percebe-se que há ausência de conhecimento

sobre o processo que desencadeou a exclusão do negro na sociedade brasileira.

Os alunos fizeram muitos questionamentos sobre tais temas e ficou

evidente que os mesmos são carentes de conhecimentos, análises e discussões

sobre a condição do negro. Muitos trazem uma carga de preconceitos, que são

impostos pela sociedade em que vivemos, tornando-se, portanto, difícil entender

questões sobre o processo histórico que desencadeou o preconceito e a

discriminação do negro no Brasil. Alguns alunos também questionaram as cotas

nas Universidades, mostrando-se contra ou a favor.

A aluna J.A. disse: Para que existir cota racial nas Universidades, se

pensamos sempre igual, temos o mesmo potencial, somos todos iguais.

Já o aluno L.E. argumenta: “As cotas nas Universidades é para reparar

uma dívida histórica que os país tem com os negros.”

Foi necessário neste momento levá-los a refletir sobre o tema abordando

algumas questões que levaram o negro à exclusão do processo social no Brasil.

Novamente os alunos foram levados ao laboratório de informática, onde puderam

pesquisar sobre o assunto e a discussão foi retomada na aula seguinte e esteve

em torno das pesquisas de vários autores.

A discussão acerca da política de cotas para negros em universidades

públicas foram apresentadas sob dois aspectos pelos alunos: alguns em defesa,

apresentando a proposta como sendo uma das ações afirmativas adotadas pelo

governo, cujo objetivo é combater o racismo e também incluir a população negra

e afro-descendente em diversos níveis da sociedade; outros apresentaram um

discurso contrário às cotas, tendo como principal argumento a valorização do

ensino médio nas escolas públicas.

Page 16: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

14

Para que haja o processo ensino e aprendizagem é importante que o

professor incentive o diálogo entre os alunos, de modo que todos participem e

expressem suas opiniões, respeitando sempre as opiniões dos colegas.

Havia chegado o momento de iniciar o trabalho com filmes, então, fez-se

necessário introduzir o tema apresentando uma proposta de pesquisa sobre a

origem do cinema, seus vários movimentos e sua importância para a sociedade

contemporânea, na perspectiva de redimensionar a prática educativa em sala de

aula, possibilitando a formação do aluno como leitor e produtor de imagens e

consequentemente, um aluno capaz de fazer uma leitura crítica do mundo.

Os alunos foram levados ao laboratório de informática e lá realizaram as

pesquisas sobre a invenção do cinema, dos irmãos Lumiére e do cinema

brasileiro. O objetivo desta pesquisa era levar os alunos a adquirirem

conhecimento sobre a origem do cinema no Brasil e no mundo, como forma de

ampliar seu repertório cultural e desenvolver sua formação crítico- reflexiva.

Atividade de pesquisa realizada no laboratório de informática

Um dos momentos mais interessantes deste trabalho, e que chamou a

atenção dos alunos, foi a pesquisa sobre as imagens produzidas por Eadweard

Muyotenbridge no final do século XIX, que dão a idéia da imagem em movimento.

Os alunos ficaram surpresos, porque não tinham idéia de que a origem do cinema

estava relacionado com a fotografia.

Page 17: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

15

“É muito interessante, pois a partir de um desenho simples você

consegue transformar em uma obra em movimento e isso pode se transformar em

um filme.” (A.P.I.)

J.A.,comentou: “Foi uma surpresa, porque imagens assim nunca tinha

visto antes.”

O aluno K.K. , relatou: “O que me chamou a atenção foi a criatividade do

homem em produzir arte. “

Procurou-se deixar claro a todos que o filme é uma via de acesso ao

conhecimento da História. Que o cinema apresenta mensagens fílmicas

individuais e múltiplas, mensagens que traduzem valores culturais, sociais e

ideológicos de uma sociedade.

A próxima ação proposta aos alunos foi a pesquisa das produções

cinematográficas brasileiras, para que tivéssemos subsídios para a escolha de

filmes que seriam analisados em sala de aula.

Foi imprescindível a busca por filmes nacionais nos períodos de Getúlio

Vargas, da Ditadura Militar e da redemocratização para que pudessem ser

analisados. Então foi lançada a tarefa aos alunos, que em grupos puderam

realizar um amplo levantamento dos filmes produzidos nos períodos citados.

Alguns alunos tiveram dificuldade em relacionar os filmes aos períodos sugeridos,

precisando neste momento da intervenção da professora. A pesquisa aconteceu

no laboratório de informática do Colégio.

Na aula seguinte os alunos apresentaram o resultado das pesquisas e foi

surpreendente o número de filmes que trouxeram. Não foi possível trabalhar com

todos os filmes sugeridos, isso se deu por diversos motivos, podendo-se destacar

a dificuldade encontrá-los em arquivos públicos, locadoras e até mesmo na

Page 18: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

16

internet. Então, juntamente com os alunos foram selecionados 14 filmes: Ganga

Bruta (1933), Primavera no Rio (1934), O Cangaceiro (1953), Rio 40 graus (1955),

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Ganga Zumba (1964), Terra em Transe

(1967), Vai Trabalhar Vagabundo (1973), Dona Flor e seus dois Maridos (1976),

Eles não usam Black Tie (1981), Pra frente Brasil (1982), Memórias do Cárcere

(1984), O Quatrilho (1981), Central do Brasil (1998). É necessário dizer que foram

exibidos somente fragmentos dos filmes.

Foram necessárias várias aulas para a exibição dos filmes. O objetivo

desta atividade era analisar os filmes observando se havia a presença de negros

e de que forma eram representados.

Alunos assistindo aos filmes selecionados

As interrupções durante as projeções dos filmes demonstraram que os

alunos estavam interessados e atentos à proposta do trabalho, pois os mesmos

fizeram várias considerações a respeito dos filmes assistidos. Em vários

momentos aconteciam debates sobre a presença ou não de negros nos filmes e

de que forma eram representados.

Ao final de cada exibição os alunos sistematizavam a análise por meio de

um roteiro escrito pré-elaborado. Esta atividade era realizada em grupos,

permitindo assim discussão entre os alunos.

Page 19: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

17

Alunos elaborando os roteiros dos filmes

Após a análise de todos os filmes selecionados, houve um momento de

discussão com todos os alunos e os mesmos chegaram à conclusão de que em

alguns filmes não há sequer a presença de negros e em outros há a presença,

mas de maneira estereotipada, em papéis secundários, como coadjuvantes e

marginalizados. Em outros filmes ele aparece como protagonista, mas com papéis

que retratam o negro escravo e ocupando uma posição inferiorizada na

sociedade.

Não se pode ignorar que pesquisas mostram que a representação do

negro é constantemente baseada em estereótipos. D’Adesky ( 1997) informa que

a representação da participação afro-descendente nas produções

cinematográficas, quase sempre é pautada de minimização, estereotipia ou

negação existencial. Ressalta, ainda que, a atribuição de parte dessa

inferiorização e da não representação do afro-descendente na produção

cinematográfica está na ausência de roteiristas, produtores e cineastas dessa

etnia.

Deve-se destacar que esta discussão em sala de aula pode contribuir

para uma melhor compreensão da situação do negro no Brasil. Através da análise

de filmes, foi possível identificar as representações do negro no cinema brasileiro

e acima de tudo possibilitar que a questão racial no país seja debatida e

enfrentada sem preconceitos nas escolas.

Após as reflexões em sala de aula, os alunos foram organizados em

grupos para que pudessem elaborar cartazes sobre a representação do negro no

Page 20: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

18

cinema brasileiro. O trabalho foi muito interessante, pois os alunos puderam

pesquisar imagens sobre os filmes estudados. Os cartazes foram expostos no

pátio da escola para que toda a comunidade escolar pudessem ver.

Produção de cartazes sobre a representação do negro no cinema brasileiro

E, por fim, foi solicitado aos alunos que elaborassem narrativas históricas

sobre o tema trabalhado, tendo como objetivo avaliar os conhecimentos

adquiridos durante o processo de aprendizagem, bem como comparar com as

idéias contidas no conhecimento prévio dos alunos, identificando as

permanências e mudanças.

Assim, S.R. em sua narrativa escreveu:

Conceitos como racismo, discriminação e preconceito geralmente são abordados através de retomadas históricas em livros didáticos ou em

Page 21: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

19

livros literários retratando a escravidão. Mas em uma nova perspectiva, aborda-se esses conceitos através de análise de filmes e a representação do negro no cinema. (...) Percebe-se que o racismo e outros conceitos podem ser abordados de outras formas, pois estes conceitos estão presentes em todas as áreas da sociedade, assim como no cinema.

Já o aluno Y. A. fez a seguinte consideração:

O negro vem sendo cada vez mais respeitado, vem sendo mais “considerado”, cada vez mais conquistando o seu espaço que é o seu direito, e isso não é somente no cinema, mas em tudo, afinal somos todos iguais!

O aluno K. K. P. fez a seguinte reflexão em torno dos filmes analisados:

Há dois filmes da mesma época que nos mostram a representação dos negros no cinema. O primeiro é o musical Primavera no Rio, de 1955, que transmitia o “glamour brasileiro”, que na verdade era cópia dos filmes de Hollywood, e não havia a presença de negros no filme. Será que o negro não transmite beleza? Será que o negro não transmite o glamour brasileiro? Vamos ver a representação do negro no filme Rio 40 graus, também de 1955. Por ser um filme que retratava a realidade brasileira o negro teve um destaque representando a massa pobre do Brasil, morando em favelas e cortiços. (...) Hoje em dia quando pensamos em favelas, pobreza, você consegue visualizar uma loira de olho verde ou uma negra? Esse é o conceito que é formado na cabeça de muitos brasileiros que se acham superiores pela cor de sua pele. (...) Os negros foram libertados da escravidão, ao contrário de muitos que estão presos em seus preconceitos e discriminação. Povo brasileiro seja libertado do cativeiro do preconceito!

O aluno T.A.S. destacou:

Hoje o negro interpreta inúmeros papéis no cinema brasileiro, mas nem sempre foi assim. Nos primeiros filmes nacionais o negro sequer aparecia, quando começou a aparecer era como figurante e ficou assim por um bom tempo. (...) Cada vez mais o negro vem conquistando seu espaço não só no cinema, mas também na televisão, no teatro, na música. Nada que não seja seu direito. (...) Na maioria das narrativas históricas os alunos escrevem sobre os filmes que assistiram e

Page 22: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

20

analisaram e percebe-se que conseguiram entender a transformação do negro no cinema brasileiro no decorrer do tempo e também fizeram uma relação com o processo histórico das lutas e conquistas do negro na sociedade.

A aluna R.Y., já afirma que:

Apenas em filmes temáticos é que o negro é protagonista. Diante de toda a história do cinema podemos observar que o negro não tem seu espaço, por mais que o negro tenha conquistado seu espaço através de leis rígidas, sistemas de cotas, ele ainda não obteve o lugar de protagonista. (...) O Brasil é o país onde há mais misturas de raças e o mais preconceituoso e racista também. Enquanto houver esse bloqueio, especialmente na mídia as pessoas não irão enxergar o negro. Por fim podemos esperar que o negro continue conquistando seu espaço, não só no cinema, mas em todo lugar.

Nas narrativas percebe-se claramente que os alunos tem consciência de

que o negro no Brasil ainda ocupa uma condição de minimização, tanto no

cinema como na sociedade. E que sofre a discriminação, preconceito e racismo.

Ao analisar as narrativas históricas dos alunos, foi possível notar

mudanças e avanços na forma de pensar historicamente. Nas primeiras

atividades os alunos apresentavam dificuldades ao referir-se a alguns conceitos

históricos referentes ao negro. E quando o faziam, apareciam de forma muito

simplista, demonstrando que suas idéias partiam do senso comum.

Cumpre lembrar que os alunos possuíam um conhecimento prévio a

respeito do tema e no processo de aprendizagem ocorreu uma interação com o

conhecimento obtido de forma sistematizada.

A análise das narrativas produzidas pelos alunos pretendeu avaliar a

produção escrita do processo de aprendizagem sobre o negro no Brasil. Dessa

forma permitiu-se visualizar que o conhecimento se tornou mais rico e elaborado,

apresentando um nível de compreensão mais amplo. Sendo assim, percebeu-se

avanços significativos no processo de aprendizagem dos alunos, os mesmos

adquiriram mais fundamentação e uma visão mais crítica a respeito do tema,

conhecimento esse que foi construído ao longo de várias aulas

Page 23: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

21

O processo de análise das narrativas construídas pelos alunos fez

suscitar o papel da escola em desconstruir as representações sociais criadas ao

longo da história em torno do negro no Brasil.

Pensando nesta possibilidade, acreditamos que esta iniciativa de análise

de filmes, pode contribuir para a formação de representações de valorização da

história e cultura afro-brasileira.

4 CONCLUSÃO

Ao realizar este trabalho buscou-se um entendimento de cinema não

apenas como arte, mas como prática social. Portanto, o objetivo era possibilitar

que o aluno percebesse a relação do cinema com a sociedade e, com a história e

com a cultura. Ressaltando, que ao analisar a representação do negro no cinema

brasileiro, ele estará tratando, também, de um contexto relacional, em que negros,

brancos e mestiços estão implicados historicamente e socialmente.

O uso de filmes como metodologia no ensino de história permitiu ouvir

todas as vozes e opiniões envolvidas no processo de reflexão. Envolver os alunos

em torno de um debate sobre o negro no Brasil foi uma experiência que

demonstrou a viabilidade de se trabalhar o cinema como forma de discutir

questões como racismo e preconceito construídos ao longo da história do Brasil.

É importante ressaltar que o trabalho com filmes como recurso

pedagógico e prática sócio-cultural, não implica na ausência do prazer, pois esse

deve permear todo o processo de aprendizagem. Dessa forma, foi possível

submeter os alunos a um processo de aprendizagem, por meio do qual refletiram

sobre o tema proposto e sobre a metodologia utilizada durante o processo. Ainda

foi percebido que as aulas se tornaram agradáveis devido ao grande interesse

dos alunos a respeito do tema e, também pelo fato de se utilizar o filme como

meio de se trabalhar os conteúdos propostos, fugindo das aulas tradicionais.

A análise de filmes em sala de aula, possibilitou inserir no cotidiano da

escola questões fundamentais à formação crítica do educando, de uma forma

articulada com as práticas sociais, além de favorecer com o processo de

Page 24: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

22

dinamização tecnológica da educação, a partir da prática da leitura imagética e da

reflexão sobre o componente político-ideológico inerente à toda produção cultural.

Enfim, por meio deste trabalho os alunos perceberam que a

representação da participação negra ou afro-descendente nas produções

cinematográficas, via de regra é pautada na depreciação, minimização,

estereotipada ou negação existencial, demonstrando que as relações inter-raciais

são ausentes e quando existem, predominam os papéis inferiorizados.

Por meio desta análise foi possível reconhecer a existência do

preconceito e da discriminação em relação aos negros na sociedade brasileira,

buscando conscientizá-los sobre a necessidade de transformar essa realidade.

O papel da análise dos filmes nos fez suscitar sobre a necessidade de

repensarmos uma prática educativa que forme cidadãos críticos, capazes de

pensar historicamente, isso significa dizer que precisamos desenvolver nos

alunos a capacidade de historicizarem não apenas acontecimentos, mas valores,

idéias, pensamentos e concepções.

Os resultados alcançados nesta intervenção pedagógica possibilitam

considerar que a análise de filmes como fonte histórica para identificar a

representação do negro no cinema brasileiro contribui de forma significativa para

o aprendizado dos alunos.

Page 25: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO · África e Cultura Afro-Brasileira na educação básica. Assim, buscando superar o discurso tradicional da história do negro no Brasil, optou-se

23

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.

______. Lei nº. 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Inclui a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da rede de ensino. Diário Oficial da União, Brasília, 2003.

______. MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: Outubro, 2004

D’ADESKY, JACQUES. Pluralismo Étnico e Multiculturalismo – Racismos e Anti-racismos no Brasil. São Paulo: Departamento de Antropologia Social da USP, 1997.

DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. GOMES, Joaquim Barbosa. O debate constitucional sobre as ações afirmativas. In: LOBATO, F. & SANTOS, R.E. (Orgs). Ações afirmativas: políticas públicas contra as desigualdades raciais. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

LIMA, Cláudia. Reflexão sobre a história do negro no Brasil. Disponível em: <www.claudialima.com.br/artigos> Acesso em: 8 Dez. 2010.

METZ, C. Psicanálise e cinema. São Paulo: Global, 1980. MUNANGA, K. GOMES, Nilma Lina. O Negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global, 2006. 224 p.

RANZI, Serlei Maria Fischer. Cinema e aprendizagem em História. In: História & Ensino: Revista do Laboratório de Ensino de História | UEL, Londrina, v. 08, 2002.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora, CAINELLI, Marlene. Ensinar História 1° ed. 2° impressão, São Paulo: Scipione, 2005.