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SECRETARIA DA EDUCAÇAO DO ESTADO DO PARANÁ - SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – CAMPUS PARANAVAÍ
FICHA PARA CATÁLOGO - PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA Título Um Olhar Geográfico nas Lembranças da Menina Dulce
Autor Dulce Helena Gomes Vilar Garbelini
Escola de Atuação Colégio Estadual Paraná - E F M P
Município da Escola Loanda - PR
Núcleo Regional de Educação
Loanda
Orientador Me Aníbal Pagamunici
Instituição de Ensino Superior
Universidade Estadual do Paraná – Campus Paranavaí Disciplina/ Área Geografia
Produção Didático-pedagógica
Unidade Pedagógica Público Alvo Alunos do segundo ano do ensino médio
Localização Colégio Estadual Paraná, – EFMP, Rua Cristovão Colombo, nº 316, Loanda-PR
Apresentação:
Em nossa pesquisa, perseguiremos a conexão geográfica entre as lembranças da “menina Dulce” e a interpretação geográfica da professora Dulce Helena Gomes Vilar Garbelini. Esta percebeu que, no cotidiano da sua profissão, ao lecionar geografia, sempre lhe vinha à memória fatos do seu tempo de criança e juventude vividos no município de Loanda, Estado do Paraná, onde sempre morou.
Com a presente pesquisa, pretendemos resgatar aos “olhos da geografia”, o processo de ocupação e uso do solo do espaço rural de Loanda, contextualizando às lembranças da professora, autora deste estudo. O mesmo aborda os aspectos históricos e físicos do município de Loanda, onde esta vive e, atua hoje, como docente de geografia.
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INTRODUÇÃO
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica, o espaço
paranaense deve ser foco de estudo em todas as séries do ensino fundamental e médio.
Segundo Milton Santos (2002), o espaço local e o espaço regional são categorias
imprescindíveis no entendimento da organização do espaço geográfico e leitura do
mundo. Cabe a geografia a interpretação deste espaço, bem como a leitura do mundo e a
construção da cidadania. Tal estudo deve ser desenvolvido através do entendimento dos
conceitos geográficos existentes na realidade concreta das pessoas e na vida do
educando, com tempo e espaço claramente definidos.
O trabalho “Um Olhar Geográfico nas Lembranças da Menina Dulce”,
está de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica e, é importante
salientar que não se trata de um material elaborado com a pretensão de substituir o livro
didático, mas sim auxiliar e enriquecer metodologicamente as aulas de Geografia.
Nesta pesquisa perseguiremos a conexão geográfica entre as lembranças
da “menina Dulce”1 e a interpretação geográfica da professora Dulce Helena G.V.
Garbelini2, que ao lecionar geografia, percebeu que, vinha a sua memória fatos do seu
tempo de criança e juventude vividos no município de Loanda, estado do Paraná e tais
fatos eram conceitos geográficos ensinados no cotidiano da sua profissão.
Com a presente pesquisa, pretendemos resgatar aos “olhos da geografia” o
processo de ocupação e uso do solo do espaço rural de Loanda, contextualizando-o às
lembranças da professora, autora desse estudo, abordando aspectos históricos e físicos,
buscando o entendimento da construção do espaço geográfico.
Para a geografia, o estudo que apresenta suas marcas culturais e regionais
possui conteúdo didático significativo e pode dar dinamismo às aulas e despertar o
interesse dos alunos.
1 Cognome dado à autora desta pesquisa quando a mesma se referir aos tempos da sua infância e adolescência.
2 Nome da autora desta pesquisa, hoje professora na cidade de Loanda-Pr.
Na prática docente estudamos o conceito de lugar para compreendermos o
processo de construção do espaço geográfico pela sociedade. Desta forma, se tem uma
melhor compreensão de como essa se relaciona entre si e com o ambiente; como se
organiza para prover sua existência; como constrói sua história; enfim, estudar as marcas
culturais concretizadas nestas relações. Assim, entendemos que, o estudo do lugar e da
região em que o aluno vive, deve permitir e dar condições para que o mesmo aprenda e
se organize a partir da realidade local e regional. Daí esse tornar-se competente para
construir conceitos necessários, interpretar o presente e estar instrumentalizado ao porvir
de sua vida.
Desse modo, a presente pesquisa se justifica por conectar geograficamente
as lembranças da Menina Dulce, que perpassam constantemente nas aulas da professora
Dulce e, como conseqüência, dar à prática docente significado, dinamismo e concretude o
ensino da geografia.
Estudar o município é importante e necessário para o aluno, na medida em que ele está vivendo. Ali estão o espaço e o tempo delimitados, permitindo que se faça a análise de todos os aspectos da complexidade do lugar.[...] É uma escala de análise que permite que tenhamos próximos de nós todos aqueles elementos que expressam as condições sociais, econômicas, políticas do nosso mundo. É uma totalidade considerada no seu conjunto, de todos os elementos ali existentes, mas que, como tal, não pode perder de vista a dimensão de outras escalas de análise. (Callai e Zarth,1988, p.11 )
A problemática desse estudo relaciona-se com a ocupação e colonização na
região Noroeste do Paraná, especificamente no município de Loanda, cuja colonização foi
realizada com base na falta de leis e descumprimento das existentes na regulamentação
da posse e uso da terra, lá pelos anos da década de 1950, que gerou e, ainda gera,
muitos conflitos e mortes no noroeste do Paraná.
A modernização das tecnologias aplicadas ao campo nos anos 70 fez desse
estado um pólo agrícola e industrial de grande importância em nível nacional e mundial. O
Paraná, atualmente, é o quinto maior PIB do Brasil, portanto, ocupando posição de
destaque no cenário nacional (IBGE, 2010). O estado sofreu transformações, se
modernizou, mas ainda persistem conflitos e movimentos de luta pela apropriação e uso
do solo paranaense.
O processo histórico é construído pela sociedade, que lhe determina o ritmo
e a direção, conforme a escala dos aspectos de vida, local, regional e global que se
articulam entre si. A globalização é um processo de acumulação pela divisão do trabalho
em escala mundial e se constitui uma fase superior da espacialidade capitalista (Santos
2002).
As conquistas sociais nesse processo, em certos momentos, avançam, e,
em outros, retrocedem. Essas diferenças de ritmo resultam do jogo de interesses, de
necessidades e vontades de uma parcela dominante da sociedade. Todos nós fazemos
história. E essa é a visibilidade das mudanças ou permanências de elementos que
compõem a paisagem. À geografia cabe reconhecê-las, interpretá-las e assim,
demonstrar as variáveis que interferiram direta ou indiretamente na organização espacial
da sociedade em que vivemos.
A remodelação da organização espacial e as influências sociopolíticas do
espaço de Loanda foram determinadas por políticas de posse e uso do espaço na
perspectiva da política neoliberal de acumulação capitalista. Esta, por sua vez, dá ao
espaço geográfico valores sob sua ótica. Tal política se dá em um processo de exclusão,
pois nem todos que delas participam conseguem sua parte. Uns ganham apenas para
manter sua força de trabalho, maioria da população e despossuídos dos meios de
produção. Outros, a minoria da população recebe muito além do que necessitam para
repor a sua força de trabalho, pois são donos dos meios de produção. Desdobramentos
desse contexto são o que o presente estudo espera demonstrar.
Este material didático enfoca o Noroeste Paranaense, a microrregião de
Paranavaí, ou microrregião 01, com maior destaque ao município de Loanda, subsidiado
pelo município de São Pedro do Paraná, local onde a Menina Dulce veio morar com seus
pais. O recorte temporal nos leva à década de 1950, ápice da colonização no Noroeste do
Estado, e seguintes.
Espera-se que este material possa contribuir com o processo ensino-
aprendizagem dos conteúdos geográficos.
OBJETIVOS
Geral
• Contextualizar geograficamente as memórias da Menina Dulce aos conceitos
geográficos ensinados pela professora Dulce Helena G. V. Garbelini na
docência da geografia.
Específicos
• Compreender como se deu o processo de ocupação e uso do espaço rural de
Loanda;
• Conhecer as políticas Paranaenses que regiam a apropriação da terra na
década de 1950 no Paraná;
• Conhecer aspectos históricos da cidade de Loanda;
• Identificar os efeitos que as novas tecnologias nos anos 70 provocaram no
espaço rural do município de Loanda;
• Identificar políticas públicas desenvolvidas em defesa da preservação do meio
ambiente em Loanda;
• Implementar este estudo na forma de unidade didática para alunos do curso
profissionalizante em informática do Colégio Estadual Paraná de Loanda.
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
Os procedimentos metodológicos, para motivar as aulas, envolverão atividades
como: teatro de fantoches, uso de slides, análise de fotografias e oralidade.
Para apresentação dos conteúdos, serão utilizadas:
• Leitura, análise e discussão de textos.
• Desenvolvimento de atividades que contemplem a percepção do
educando e a elaboração do raciocínio geográfico.
• Pesquisas e entrevistas sobre o espaço de vivência do educando.
• Elaboração e desenvolvimento de atividades que contemplem a
representação do espaço.
• Pesquisa de dados sobre a evolução urbana do Município. Análise de
imagens e fotografias do espaço de vivência do educando.
• Produção de textos sobre o processo de urbanização e sobre o espaço
vivido.
O território do Norte do Paraná compreende a área formada pelos afluentes
da margem esquerda dos rios Paraná e Paranapanema, confinada por um arco que se
estende da região do município de Cambará ao de Guaíra. Segundo a época e a origem
da colonização, é tradicionalmente dividido em três sub-regiões: Norte Velho, Norte Novo
e Norte Novíssimo.( MORO, 1991).
Região Norte do Paraná de acordo com Moro, 1991. Fonte: IPARDES – 1995, Base cartográfica IAP -1997 (Adaptado pela Autora)
Localização e caracterização da região Noroeste do Paraná
O Norte Velho ou Norte Pioneiro, localizado no Nordeste do Estado, se
estende do rio Itararé até a margem direita do rio Tibagi e teve sua ocupação iniciada em
meados do século XIX, estendendo-se até as primeiras décadas do século XX.
O Norte Novo é a região que vai desde o rio Tibagi até as proximidades de
Maringá, foi colonizada principalmente pela Companhia de Terras Norte do Paraná entre
os anos de 1930 e 1947.
O Norte Novíssimo compreende a região que se estende das proximidades
de Maringá até o curso do rio Paraná, ultrapassa o rio Ivaí e abarca toda a margem direita
do rio Piquiri. A colonização ocorreu entre o ano de 1946 e 1960.
Destaque para o Norte Novíssimo e a Bacia Hidrográfica do Rio Paraná. Fonte: IPARDES – 1995, Base cartográfica IAP -1997 (Adaptado pela Autora)
A colonização teve início pelo Norte Pioneiro, com a colônia militar de Jataí
(1854); local que hoje é a cidade de Jataizinho. As terras devolutas e férteis atraíram
migrantes de várias partes do Brasil, principalmente de Minas Gerais e São Paulo. Entre
os imigrantes, destacaram-se os japoneses, italianos, alemães, que viam nas terras roxas
da região, um atrativo para a expansão cafeeira.
O Norte Novo era habitado por índios e por caboclos (posseiros). A parte
colonizada pela iniciativa privada se constituía em médios e pequenos lotes de terra. O
mesmo não aconteceu no Norte Pioneiro com a formação de latifúndios.
O Norte Novíssimo teve sua ocupação a partir de 1930. O café foi o balizador
dessa divisão. À medida que a cultura cafeeira avançava, surgiram as denominações:
Norte Velho, Norte Novo e Norte Novíssimo.
A partir de 1990, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estastística (IBGE), adota
a divisão territorial do Paraná em meso e microrregiões geográficas. Portanto, a
mesorregião Noroeste Paranaense é composta por três microrregiões geográficas: a de
Paranavaí (MRG01), Umuarama (MRG02) e Cianorte (MRT03), como demonstra o mapa:
.
Destaque para a Microrregião Geográfica de Paranavaí. Fonte da Base Cartográfica : Paraná (2000). Organização: HARACENO, Adélia.
A microrregião geográfica de Paranavaí é composta por 29 municípios: Alto
Paraná, Amaporã, Cruzeiro do Sul, Diamante do Norte, Guairaçá, Inajá, Itauna do Sul,
Jardim Olinda, Loanda, Marilena, Mirador, Nova Aliança do Ivaí, Nova Londrina, Paraiso
do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, Santa Izabel do Ivaí, Santa Mônica, Santo
Antonio do Caiuá, São Carlos do Ivaí, São João do Caiuá, São Pedro do Paraná,
Tamboara, Terra Rica, Paranacity, Paranapoema, Paranavaí, Planaltina do Paraná, Porto
Rico e Querência do Norte.
Localização da Microrregião Geográfica de Paranavaí.
Fonte: AMUNPAR, Associação dos Municípios do Noroeste Paranaense.
Mapa do Estado do Paraná identificando a Microrregião de Paranavaí. Em destaque o
Município de Loanda. Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Loanda, 2007.
Agora é com você! Analise e compare as três sub-regiões do Noroeste Paranaense, no que se refere às características e ao processo de ocupação.
Lembranças da Menina Dulce.
A primeira vez que viemos ao Paraná foi em Janeiro de 1952. Meu pai nos
trouxe para conhecer as novas terras que meu avô, seu pai, havia adquirido na região
Noroeste do Estado. Na fotografia abaixo eu estava com um ano e quatro meses de
idade.
A menina Dulce e seus irmãos: Luís e Roberto. Primeira viagem ao Paraná. Fazenda São João (1952). Fonte: Arquivo
pessoal da autora
UMA TERRA DE LEITE E MEL...
No ano de 1957, chegamos ao Paraná para morar definitivamente. Eu,
minha mãe Maria e meus irmãos: Wanderlei (1 ano), Edson (8), Ana Maria (10), Roberto
(12) e Luís (14). Eu com quase seis anos . Meu irmão mais velho, João, preferiu não vir
porque já trabalhava, e optou por permanecer no emprego. Meu pai, Sr. Luís, desde 1949,
vinha periodicamente para a fazenda do Paraná, como nós dizíamos. Viemos de Flórida
Paulista, cidade localizada a Noroeste do Estado de São Paulo. Era mais uma família de
migrantes paulistas que chegava para colonizar as terras do extremo Noroeste do Paraná,
para aqui fixar raízes e construir a sua história, trazendo na bagagem esperanças de uma
vida melhor, como todo migrante.
Desta forma, chegamos ao Noroeste do Paraná. Apesar de não
trabalharmos diretamente lavrando a terra, porque meu pai desejava que estudássemos,
a nossa ligação com a terra era muito forte, uma vez que nossos avós, bem como a
maioria dos tios eram lavradores.
A cidade escolhida para a família fixar residência foi Loanda, que surgia
timidamente na calha do rio Paraná, e que meu pai escolheu em razão de ficar próximo à
fazenda, e em razão de possuir mais “recursos”, como ele dizia, se referindo à
urbanização e prestação de serviços. Estes, embora precários, contava com um hospital,
uma escola, a igreja, um comércio que se projetava timidamente e outros pequenos
serviços. Enquanto construíam nossa casa na cidade, ficamos morando na fazenda pelo
período de seis meses, cujas terras pertencem ao município de São Pedro do Paraná e
tinha a denominação de Fazenda São João.
As fotografias que se seguem são do ano de 1952, quando meu pai nos trouxe
para conhecermos a fazenda, as mesmas foram feitas pelo meu irmão mais velho, João,
que trouxe máquina fotográfica, a qual foi a “sensação” da viagem.
Na região Noroeste, a designação Colônia se refere ao lote único de um colono, conjunto de glebas, assim como conjunto de casas intercaladas pela relação de vizinhança. Este último significado de colônia é bastante utilizado neste trabalho.
À direita: meu pai, Sr. Luís Gomez Fernandez , primos e tio André(1952). Arquivo pessoal da autora.
Durante o período que moramos na fazenda, vivenciamos muitas
experiências em contato com a terra e com a nova vida. Era um mundo novo que se
vislumbrava para mim e para meus irmãos. A natureza encontrava-se quase intacta, com
sua beleza exuberante. Cumpre destacar que, quando chegamos, meu pai já havia
derrubado uma parte da mata, plantado café e construído a colônia, conjunto de casas
onde moravam os trabalhadores da fazenda. Eram oito casas enfileiradas e nós
passamos a ocupar uma delas. As casas eram de duas águas, com janelas e portas
rústicas, o piso de chão batido, precisava ser varrido e salpicado água para assentar o pó,
uma das minhas tarefas. Os móveis eram muito simples. O fogão era à lenha, onde
ficávamos ao redor nos dias de frio. As casas foram construídas bem próximas à
vegetação e recebíamos constantemente a visita de animais, eles ainda viviam em paz no
seu habitat. As fotografias abaixo, nos mostram, as casas localizadas bem próximas à
mata nativa.
Casa da colônia, na qual moramos nos primeiros meses da nossa mudança em 1952. É possível observar a floresta
nativa próxima da construção. Arquivo pessoal da autora.
Casa da colônia (1952). Sr. Luis Gomez Fernandez, meu pai, irmãos e primos.
Arquivo pessoal da autora
Deve-se destacar que, nestas terras, devido à proximidade com o Rio
Paraná, existia uma fauna abundante e variada; entre outras, quatis, onças pintadas,
jaguatiricas, antas, porcos-do-mato, lagartos, jacutingas, mutuns, jaós, perdizes,
borboletas e cigarras. Entretanto, o desmatamento, não respeitando as margens dos rios
Ivaí e Paraná, muito contribuiu para o extermínio de várias espécies nativas de animais.
O Rio Paraná, fazendo parte desse contexto, apresenta-se como uma ampla
bacia sedimentar, com área de 1,5 milhões de Km2, situada na porção Centro-Leste da
América do Sul, abrangendo o Nordeste da Argentina, o Centro- Sul do Brasil, a porção
Leste do Paraguai e o Norte do Uruguai. Este importante Rio possui cerca de 4.900 Km
de extensão - sendo o segundo em comprimento da América do Sul - formado pela junção
dos Rios Grande e Paranaíba, tendo como afluentes principais tributários os rios:
Paraguai, Tietê, Paranapanema e Iguaçu. (Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos,2005).
O mapa abaixo ilustra as bacias hidrográficas do estado do Paraná.
Voltando às lembranças da menina Dulce, as imagens da mata primitiva da
propriedade são muito marcantes, a qual era densa e de uma beleza exuberante. O solo
apresentava vegetação composta originalmente de floresta tropical, mais pobre em
espécie do que a do Norte do Estado, sendo, esse tipo de solo, de terras mistas e
arenosas, menos propício ao cultivo do café, essas informações ouvíamos nas conversas
do meu pai.
Na mata meu pai nos levava para colhermos jabuticabas silvestres, fato que
nós encarávamos como uma grande aventura. Ele ia à frente com um facão, abrindo
caminho, e nós, atrás em fila indiana. Quando encontrávamos uma jabuticabeira
“carregada” de frutos, era uma alegria, apesar da apreensão, pois nas nossas fantasias
de crianças, o cenário era de uma enorme, sóbria e misteriosa floresta.
Essa floresta quase virgem, de grandes árvores e pouco transitável,
apresentava grande variedade de espécies vegetais, como peroba, marfim, louro, pau
d’alho, cedro, coração-de-negro, timbaúva e outras. Essas espécies de árvores e outras
da nossa flora possuem importância econômica, das quais algumas são cultivadas em
vários países.
Segundo Lorenzi (2002), as matas nativas abrigam e fornecem alimentos à
fauna e com isso garantem sua diversidade.
Na década de 50, a maioria dos trabalhadores dessa região era migrantes
nordestinos, que deixaram sua terra natal, suas famílias e foram em busca de melhores
condições de trabalho e salários. Encontraram aqui uma vida muito diferente da qual
estavam acostumados, principalmente um clima adverso ao semi-árido nordestino.
Tinham apenas sua força de trabalho para oferecer e dificilmente tornavam-se
proprietários de terras. Hoje, é menos comum esse tipo de migração.
Atualmente, a migração é pendular. Os trabalhadores (principalmente homens) deixam suas famílias no Maranhão, no Piauí, na Paraíba, e vêm trabalhar de seis a oito meses como cortadores de cana nas usinas de açúcar. Entre as conseqüências dessa migração está um processo de desintegração familiar. Na medida em que não há emprego nas regiões de origem, normalmente os jovens e homens adultos saem de casa deixando suas famílias. Isso não ocorria na década de 50, quando as migrações eram familiares e esses, criavam raízes nas áreas de atração. A migração pendular se torna necessária porque nas regiões de origem desses migrantes, como Maranhão, Piauí e Paraíba, não há alternativa de emprego para a juventude. A partir daí, ocorrem as migrações. Imaginemos uma família completamente desintegrada, migrando em busca da sobrevivência( José Roberto Novaes) Novaes,2011)
Assim, convivendo com os migrantes nordestinos, mesmo criança,
observava como era surpreendente o modo de vida daquelas pessoas. Costumes
diferentes dos nossos, como por exemplo, na alimentação, na maneira de falar, no hábito
de comer com as próprias mãos, sem o uso de talheres, que nós crianças, imitávamos,
para desespero da nossa mãe. Faziam a farinha de mandioca para o próprio consumo.
Parece que sinto até hoje o “cheiro” da mandioca curtindo ou fermentando nas águas do
riacho que passava perto das casas. Era mais uma etapa do processo do chamado
“progresso” e da degradação ambiental que o ciclo da farinha de mandioca traria para a
região, em virtude da negligência de inúmeros empresários.
Essas migrações seriam um mecanismo de ajuste destinado a eliminar os
desequilíbrios entre as regiões ou setores econômicos em que existam ”excedentes” de
mão-de-obra e aqueles onde ocorrem sua “falta”. Seriam fluxos entre áreas. Oriundos das
diferenças entre regiões, as migrações conduziriam à eliminação dessas diferenças, quer
dizer, as migrações seriam resultado dos desequilíbrios socioeconômicos no espaço e, ao
mesmo tempo, atuariam como fator de correção desses desequilíbrios.
As figuras abaixo ilustram fases dos movimentos migratórios no Brasil.
Importante observar o intenso fluxo migratório do Nordeste do país para o estado do
Paraná na década de 1950, época em que a região Noroeste se constituía em um pólo de
atração, tendo como principal bandeira a cultura do café.
Fonte: Prova ENEM - 2000
, 2000
Dos que migraram à procura de trabalho poucos vieram com a família. Aqueles
que eram sozinhos, trabalhadores volantes, chamados peões, empregavam-se,
geralmente, nas derrubadas da mata.
SALDOS MIGRATÓRIOS E TAXAS LÍQUIDAS DE MIGRAÇÃO ESTIMADAS PARA O
PARANÁ – 1940/1991
PERÍODO
SALDO
MIGRATÓRIO
TAXA LÍQUIDA DE MIGRAÇÃO
1940/50 510.083 24,0
1950/60 1 329.272 31,0
1960/70 886.345 12,8
1970/80 -1 376.188 -18,1
1981/91 -896.289 -10,6
FONTES: Para 1940/50 e 1950/60, MAGALHÃES (1996); para 1960/70 e 1970/80, CARVALHO e FERNANDES (s.d.); para 1981/91, LONGO e MAGALHÃES (1999)
Esses migrantes, que conviviam conosco, eram pessoas de caráter, que muito
ajudaram meu pai na “lida” com a terra e também o acompanhavam nos confrontos com
grileiros. Eram trabalhadores contratados por empreita, uns derrubando a mata, outros na
lavoura do café. Talvez por sermos as pessoas mais próximas, numa terra distante, eram
amigos, solidários e companheiros em todas as atividades. Entre eles, lembro-me bem do
José Pedro, pernambucano, grande companheiro do meu pai e sua mulher Estelita; do
Antônio Balbino, mineiro, que dormia no galpão da fazenda junto com os peões que não
tinham família, e do Sr. João Passarelli, que trabalhava na fazenda como meeiro,
“tocando uma roça de café”, como se dizia. Ele morava na colônia e tinha cinco filhos,
nossos companheiros de aventuras e brincadeiras de crianças.
A fazenda São João possuía um galpão que para nós era o armazém. Na
verdade tratava-se de um almoxarifado, onde eram guardados materiais de uso diário,
como arame para cercas, ferramentas para o trabalho na lavoura, sal e medicamentos
para os animais, arreios para montaria. Ali, também eram armazenadas as sacas de café,
para futura comercialização. Nesse “armazém” havia um espaço onde eram guardados os
alimentos, que eram comprados em maiores quantidades, em função das distâncias e
dificuldades de locomoção, portanto sem a finalidade comercial exploratória. Supria as
necessidades da fazenda e das famílias quando necessitavam de algum produto,
também, abastecia a cozinha da minha mãe, que fazia grandes quantidades de alimentos
para os trabalhadores sem família, que conosco faziam as refeições. Abaixo a imagem do
“armazém”.
O meeiro, geralmente, desprovido de recursos materiais e financeiros, dependia do
proprietário da terra para a condução de seus pequenos empreendimentos agrícolas,
como por exemplo, receber autorização para cultivar pequenas áreas e sementes para
plantar utilizando, apenas a força de trabalho de membros da própria família, com
garantia de ficar com a metade da produção.
Assim, sem condição financeira, a sustentação do grupo familiar é feita, em parte, pelo
proprietário da terra que adianta algum dinheiro e gêneros de primeira necessidade,
com garantia de ressarcimento dos empréstimos por ocasião da colheita das lavouras.
Esse tipo de relação de trabalho artesanal, com ligação de dependência material e
financeira entre produtores e proprietários de terras não se parece em nada com
associações produtivas modernas, nas quais predomina a autonomia e empreendedorismo
dos que a executam. (Revista Território, 2004).
“Armazém” da fazenda - 1957. Arquivo pessoal da autora
Era nesse contexto que vivíamos, estabelecendo nossas relações sociais.
Reuníamo-nos à noite nos terreiros de café para conversar, e sob a penumbra da “luz da
lua” vivíamos momentos de lazer, com nossas brincadeiras. Muitas dessas brincadeiras,
hoje, já foram esquecidas e não servem mais de entretenimento para as crianças
modernas. Porém, para nós, foi um privilégio tê-las vivido. Essas brincadeiras eram, entre
outras, roda, salva, esconde-esconde, gostávamos de capturar vagalumes para colocá-los
em uma garrafa, era a nossa “lanterninha”. A brincadeira de “passar anel” era uma das
preferidas, principalmente pelas meninas, por ser uma brincadeira delicada, não
apreciada pelos meninos, já imbuídos pelo espírito machista.
Ali, nos terreiros de café, sentados junto com os adultos, também ouvíamos
histórias de terras e épocas distantes. Histórias assustadoras, uma mistura de lenda e
realidade, que envolviam lobisomem, saci - pererê, mulas sem cabeça, caçadas de onças
pintadas que atacavam acampamentos ali por perto, entre outras. Quando íamos dormir,
ficávamos todos juntos, com medo das histórias ouvidas.
Durante o dia, a principal atividade das crianças era nadar no riacho próximo
às casas. Era lá que íamos lavar as roupas, louças e também brincávamos. Era comum
visualizarmos cobras, pequenas e grandes, sapos e outros animais que nos assustavam o
tempo todo. A vegetação ao redor do riacho era densa ou fechada como dizíamos. Ainda
se encontravam presentes as matas ciliares, que hoje são raras. Lembro-me que lá os
meninos se escondiam para ver as meninas tomando banho, porém, não viam muita
coisa, pois tomávamos banho com nossas roupas do dia-a-dia.
Fonte: www.wwf.org.br/informacoes/.../matas_ciliares/
As referidas matas ciliares foram destruídas principalmente pela ignorância dos
proprietários da época, que praticavam a pecuária até as margens dos ribeirões. A maior
umidade das várzeas e beira dos rios permite melhor desenvolvimento de pastagens na
estação da seca. Essas matas, consideradas pelo Código Florestal Federal como “áreas
de preservação permanente”, com diversas funções ambientais, devem respeitar uma
extensão específica de acordo com a largura de cada rio. Pode-se constatar que as leis
do código florestal não foram cumpridas, ou seja, quando as leis se fizeram cumprir, na
Região Noroeste, as matas já estavam praticamente devastadas. Atualmente restam
menos de 10% das florestas.
Terreiros de café são pisos, que podem ser de cimento, de tijolo, de chão batido ou de asfalto, onde o café é seco pela ação dos raios solares.
Mata Ciliar é a formação vegetal que fica às margens dos rios, igarapés, lagos, olhos d’água e represas. O nome “mata ciliar” vem do fato de serem importantes para a proteção dos rios e lagos assim como são os cílios para os nossos olhos. Também é conhecida como mata de galeria, mata de várzea, vegetação ou floresta Ripária.
A iniciativa de criação de um código florestal, que tanta polêmica provoca nos dias atuais, surgiu por volta de 1920, quando o presidente Epitácio Pessoa formou uma subcomissão para elaborar o anteprojeto do futuro Código Florestal. Em 1934, por fim, o projeto foi transformado no Decreto 23.793, que com o passar do tempo ficou conhecido como o “Código Florestal de 34”. Entre outras, este código estabelecia o limite do direito de uso da propriedade, a chamada “quarta parte”, ou seja, a reserva obrigatória de vinte e cinco por cento de vegetação nativa de cada propriedade rural (CNA,1998, n.137).
Existia na fazenda uma mina com vários “olhos d’água”, ou seja, as
nascentes, também cercada de densa vegetação. Próximas ao leito do rio, as folhagens
eram imensas e lindas e quando caía água nas mesmas, seus respingos pareciam gotas
de cristal. Eu ficava fascinada olhando essa maravilha da natureza. Para chegar lá era
preciso descer muitos degraus recobertos de toras de madeira, retiradas da mata recém
derrubada e colocadas ali para facilitar o acesso às minas. A água era cristalina, e de lá
retirávamos água potável para o nosso consumo. Lembro-me o quanto era cansativo subir
todos aqueles degraus com vasilhas de água na cabeça. Uma das nossas tarefas,
executadas com o intuito de ajudar nossa mãe.
Ainda com respeito à fazenda, a mesma possuía duas áreas ocupadas por
lavoura de café. Próximo das casas, a uns dois quilômetros, se localizava o “cafezinho”,
expressão utilizada por nós, o qual era cuidado pelo Sr. João Passarelli . A outra área de
lavoura de café ficava ao lado da estrada principal, na “cabeceira’3, como se costumava
dizer. Deve-se destacar que, o solo, Arenito Caiuá4, arenoso, é considerado pouco fértil
se comparado à terra roxa, mas, naquela época era ainda pouco explorado, o que o
tornava fértil e vigoroso. Assim, a quantidade de mamoeiros, pés de melancia, tomate
cereja, abóbora, alguns nativos, outros plantados no meio do cafezal, era grande. Meu pai
plantava também abacaxis, doces e deliciosos. Tudo que se plantava era colhido com
abundância. O cafezal era um dos nossos lugares preferidos, passeávamos, fazíamos a
“feira” e nos divertíamos muito comendo frutas em cima dos troncos de árvores caídos,
em meio ao cafezal. Troncos que restaram das queimadas, muito comuns naquela época
de desmatamento, bastante nocivas ao solo.
3 Cabeceira era a parte mais alta da propriedade, geralmente o espigão por onde passavam as estradas.
4 Arenito Caiuá solo arenoso e de origem eólica.
Essas queimadas são feitas com a finalidade de limpar os terrenos para o plantio. É uma prática antiga e barata, pois não é necessário gastar dinheiro com máquinas. O fogo mata, além das plantas, animais e microrganismos. As cinzas são transportadas facilmente para outros locais empobrecendo desta maneira o solo. Ressalta-se que o nitrogênio e o enxofre são perdidos na própria queima. Nos dois primeiros anos após as queimadas, a produção aumenta, porém, com o passar do tempo, a falta de nutrientes no solo faz diminuir a produção. O efeito das queimadas leva ao empobrecimento progressivo do solo.
Desta forma, o descuido com o solo, principalmente no período inicial de
ocupação das terras, era comum, juntamente com a idéia errônea de que, após as
queimadas, surgiria uma ”terra nova”. Essa falta de conhecimento, aliado aos interesses
capitalistas, resultaram na degradação do solo em pouco tempo, o qual já não
apresentava grande fertilidade.
Ainda sobre a fazenda que se formava, ela possuía algumas áreas de
pastagens artificiais, onde a mata foi derrubada para dar lugar ao plantio de capim para
alimentação do gado bovino e ovino. Esse rebanho, meu avô adquiriu no Estado de São
Paulo e trouxe para o Paraná. Os carneiros, enormes, da raça Merino, nos perseguiam
dando cabeçadas. Tínhamos muito medo deles.
Outra atração desse lugar era a “mangueira” ou curral, local onde o gado era
preso para ser vacinado e ordenhado. Muito freqüentada nas madrugadas pelos meus
irmãos, estes iam assistir a ordenha e tomar o leite “quente”, retirado na hora das vacas
leiteiras. Os colonos costumavam tomar o leite “quente”. Eu tinha muita vontade de
acordar, para acompanhar meus irmãos nessa “aventura”, mas como era pequena, não
conseguia acordar cedo para assistir ao “evento”.
Tenho lembranças adoráveis do pomar. O mesmo possuía grande variedade
de frutas. Meu pai, caprichoso, trazia mudas de frutas de vários lugares, gostava de frutas
exóticas. Nesse pomar, havia variedade de mangas, frutas cítricas, pessegueiros, figos e
outros. Minha mãe costumava fazer compotas deliciosas com as frutas.
É possível imaginar que em um mundo tão maravilhoso houvesse
problemas tão sérios, que chegavam a ameaçar as vidas de várias pessoas?
É oportuno destacar que, eram essas as terras devolutas, ou seja,
pertenciam ao estado do Paraná. Foi o governador do estado do Paraná, Sr. Moisés
Lupion, que num ato de privilégio doou grandes áreas dessas terras para seus amigos e
companheiros de campanha política, na década de 1950. O objetivo do texto: Uma Terra
de Leite e Mel é deixar evidente que, essas terras, além de donos, tinham benfeitorias,
resultado da luta e do trabalho de famílias empreendedoras e honestas. Trabalho, não
apenas de dias, mas de anos e que o governo, na época, parecia ignorar.
AS PEDRAS DO CAMINHO...
Neste lugar, fazenda São João, passamos nossa infância, lugar onde toda
criança gostaria de viver, em contato com a natureza quase virgem, livres, correndo pelos
pastos, subindo em árvores, andando a cavalo, procurando ninhos de galinhas, entre
outras aventuras. Enfim, seria uma verdadeira Terra de Leite e Mel se não fossem as
aflições que passamos nesse lugar. Angústias, ficaram gravadas na nossa memória e
ainda nos trazem medo, um medo sem motivo aparente, que surge do nada. São as
marcas que ficaram como fantasmas das nossas lembranças.
Paralelamente às maravilhas, à vivência alegre junto à natureza,
presenciamos momentos de grande tensão e aflição,que atingiam a nossa família, as
famílias dos colonos, e principalmente a nós, crianças, que não entendíamos o porquê
desses momentos de violência .Era comum nos escondermos debaixo das camas, toda
vez que ouvíamos o barulho de veículos se aproximando.
Essa violência era fruto dos litígios pela posse das terras do noroeste
paranaense ocorridos na década de 50, motivados pelo não cumprimento das leis
existentes, por parte de particulares e até mesmo pelos governadores do Estado, que
faziam da doação de terra moeda de troca de favores políticos. Essa inobservância da
Posseiros, fazendeiros e grileiros Chegaram para ocupar esta terra E da ocupação desordenada Muitos encontraram a morte Para o vencido a injustiça A lei do vencedor foi mais forte. (Vânia aparecida de Barros)
legislação causou sofrimento, mortes, com características de uma verdadeira guerra civil.
Tudo isso acontecendo sob o manto da omissão tanto dos poderes públicos, quanto da
imprensa, cujos noticiários não divulgavam a verdade do que acontecia.
O meu avô, Sr. João Gomez Balera, espanhol, chegou ao Brasil em 1915,
como tantos outros imigrantes. Buscava uma vida melhor, longe da crise que assolava a
Europa, em decorrência da Primeira Guerra Mundial. Veio com a família, inclusive meu
pai, com um ano de idade. Trabalharam como lavradores, no estado de São Paulo,
fixando residência na cidade de Garça, onde se tornaram proprietários de uma área rural.
Meus avós: Sr. João Gomez Balera e Sra. Ana Maria Fernandez Gomez. Imigrantes espanhóis que chegaram ao Brasil
em 1915. Arquivo pessoal da autora
Atraídos pela propaganda, meus avós paternos, adquiriram terras no
noroeste do Paraná. Desta forma, passamos a fazer parte desse cenário, que tinha como
pano de fundo terras, florestas virgens e sonhos de prosperidade.
Essas terras foram adquiridas em 1949, de uma Colonizadora com
documentos firmados em um cartório da cidade de Mandaguari. Esses documentos não
eram reconhecidos pelo Estado, portanto, meus avós eram considerados posseiros.
Foi nesse contexto que, entre momentos felizes da nossa infância, cercados
pela natureza esplendorosa, passamos por muitas turbulências. Éramos constantemente
ameaçados de “despejo” por parte de pessoas que se diziam os verdadeiros donos e que
tinham os documentos “legais” das terras.
Meu pai, Sr Luís Gomez Fernandez, administrava a fazenda. Era um homem
corajoso, às vezes até demais, pois nos fazia sofrer com sua ousadia. Ele, juntamente
com alguns colonos da fazenda, enfrentava os “jagunços”, pessoas contratadas pelos
grileiros para fazer a “limpeza” da área. Tais pessoas, segundo meu pai, a serviço do ex
desembargador, Sr. João Alves da Rocha Loures, que se dizia o verdadeiro dono da terra,
armavam acampamento nas propriedades e ali permaneciam para se apossarem das
mesmas, pressionando a saída dos posseiros.
Assim, meu pai e os outros colonos armados, enfrentavam esses jagunços,
expulsando-os e muitas vezes queimando suas casas. Um desses acampamentos, sede
de grileiros, localizado na área denominada Areia Branca do Tucum, tornou-se ponto de
referência como “a Casa Queimada”, a qual foi incendiada por meu pai e alguns colonos
da fazenda. Lembro do meu pai carregando galões de querosene e garrafões de vidro
cheios de balas de carabina, quando ia enfrentar os jagunços.
Eu no colo da minha mãe e meus irmãos, em frente a “Casa Queimada”, na Areia Branca do Tucum (1952). Fonte: arquivo pessoal
Além dessa sede de grileiros, na Areia Branca do Tucum, havia outra,
localizada na Fazenda Santo Antônio, também na gleba 21, no município de São Pedro
do Paraná, de propriedade do Sr. Guerino Garbelini, amigo do meu pai. Nessa
propriedade aconteceram alguns confrontos extremamente violentos, com a participação
do meu pai e dos trabalhadores da fazenda, enfrentando jagunços que estavam a serviço
dos grileiros.
Dessa forma, era violência gerando violência, numa época em que a lei se
fazia com as próprias mãos. Deve-se destacar que a “polícia” estava a serviço dos
grileiros, os posseiros eram considerados infratores. Ainda tenho gravado nas minhas
lembranças, a imagem da minha mãe e mulheres da fazenda, orando e chorando cada
vez que os homens saiam armados para mais um confronto. Imagine o que isso
representava para nós, crianças, que convivíamos constantemente com esse clima de
insegurança e medo.
Certa vez, estávamos, na mina, enchendo nossas vasilhas de água, quando
chegaram alguns jagunços que ocupavam os acampamentos dos grileiros. Assustamos-
nos com a aparência desses homens, fortemente armados e com os cantis cheios de
munição de armas de fogo, os quais foram esvaziados para e neles colocados água.
Saímos assustadas e fomos correndo para casa avisar meu pai. Essa, e outras imagens
traumatizantes ficaram gravadas para sempre na nossa memória Menina Dulce.
Era comum chegar à fazenda caminhões cheios de “policiais” a serviço dos
grileiros para exercerem a ação de despejo. Meu pai era despejado, saía da fazenda,
mas, logo em seguida voltava, enfrentava tudo com muita coragem, acreditando no
documento de compra das terras. Nunca desistia. Lutava contra tudo e contra todos para
defender a propriedade da família e também as dos amigos. Assim, era ameaçado de
morte, por ser um dos líderes que se opunham à invasão da terra pelos grileiros, na
região de São Pedro do Paraná.
Assim, quando já residíamos em Loanda, ele era constantemente
perseguido pelas ruas da cidade por “pistoleiros”. Meu avô, temendo pela vida do seu
filho, contratou dois guarda-costas, que na realidade, também eram pistoleiros, para fazer
a segurança do meu pai. Naquela época, certas atitudes eram consideradas necessárias,
como medidas de sobrevivência numa terra sem leis.
Sobre essa terra sem leis, Maurílio Rompatto comenta em sua pesquisa,
(1998, p.12), onde relata o depoimento de pioneiros na região de Paranavaí:
Estes relatos mostram a trágica realidade vivida pelos migrantes que vieram
para o Noroeste Paranaense. Tudo isso ocorreu por conta da ambição e da
irresponsabilidade de uma classe que detinha o poder na época.
Nomes como: Moisés Lupion, João Alves da Rocha Loures, tenente Pimpão,
Volpato, dentre outros, eram constantemente mencionados e ficaram gravados na nossa
memória de criança como inimigos do meu pai. Agora, através desta pesquisa, temos a
oportunidade de conhecê-los mais de perto e entender toda a estratégia política daquele
período, ou seja, a “politicagem da época”. Medidas inconseqüentes de um Estado
ausente transformaram-se em dramas para muitas famílias de migrantes que chegaram
ao Noroeste Paranaense com esperança de uma vida melhor. Trabalhando honestamente
a terra, encontraram aqui violência, sofrimento, e muitos, a morte. Outros pagaram pela
terra e mediante a pressão exercida pelos grileiros, recuaram e a abandonaram. Nem
todos tiveram a coragem do meu pai de lutar por aquilo que era seu, da sua família e dos
seus amigos.
“Aqui tudo era resolvido através da bala... Por isso que teve muitos ricos, muitas pessoas aqui com dinheiro, muitas fazendas, muitas coisa é porque era grilo de terra...o coitadinho do pequeno vinha e abria a terra, vinha o bandido lá, os jagunços pago por alguém e matava a família inteira”(pioneira, 1948).
“Exatamente, as terras eram realmente posses e no fim davam a escritura para outro, o que tinha posse não queria entregar, com isso tinha intriga, muita briga e muita morte, muitas coisas, dificilmente o “necrotério” não tinha três ou quatro mortos, era muito difícil não ter” (Pioneiro, 1952).
Considero meu pai um herói, lutou bravamente, foi jurado de morte,
enfrentou bandidos e pessoas de toda a sorte, mas nunca se intimidou, e o mais
importante, jamais praticou algo ilícito. Atribuo tudo isso aos valores que lhe foram
passados por sua família, imigrantes espanhóis, trabalhadores honestos, com princípios
cristãos e que muito trabalharam para o progresso local e nacional, como outros tantos
imigrantes, que ajudaram a construir o Brasil.
Meu pai faleceu em 2003, aos 89 anos, e não viu essa situação legalizada.
Meu pai, Sr. Luís Gomez Fernandez (1999). Fonte: Arquivo pessoal da autora
Os títulos oficiais dessas terras foram entregues aos verdadeiros
proprietários em Junho de 2006. (Cartório de Registros de Imóveis de Loanda, 22/02/2011)
Saiba Mais...
A posse existe no mundo antes da propriedade, afinal a posse é um fato que está na natureza, enquanto a propriedade é um direito criado pela sociedade; os homens primitivos tinham a posse dos seus bens, a propriedade só surgiu com a organização da sociedade e o desenvolvimento do direito.
Conceito de posse: é o estado de fato que corresponde ao direito de propriedade.
O posseiro é o primeiro a ocupar, isto é, a tomar a posse da terra. Uma terra que geralmente não tem dono nem documentação, ou, se pertence a alguém, está abandonada e sem uso produtivo. O posseiro chega, abre uma clareira, faz sua casa de pau a pique ou de madeira que tira da mata e começa a cultivar a terra. Em certos casos, a terra ocupada está nos limites de uma reserva indígena.
O grileiro é aquele que invade a terra do posseiro, pessoalmente ou por meio de capangas ou assistido por advogados. Como os posseiros não têm documentação que ateste sua propriedade sobre a terra, os grileiros utilizam-se de diversos artifícios para se apossar dela: se o posseiro resiste a deixar a terra, o grileiro pode oferecer-lhe dinheiro ou obriga-lo a sair por meio da violência(HISTOBLOG-HISTÓRIA GERAL)
Desapropriação - Procedimento pelo qual o Poder Público transfere, compulsoriamente, para si a propriedade de bem móvel ou imóvel pertencente a terceiro, para atender interesse social, utilidade pública ou necessidade pública, em regra, mediante pagamento de justa e prévia indenização( Fonte: http://pt.shvoong.com/law-and-politics).
Estrutura fundiária- a forma como as propriedades agrárias de
uma área ou país estão organizadas, isto é, seu número, tamanho e distribuição social. Um dos grandes problema agrários do Brasil é a sua estrutura fundiária: de um lado, um pequeno número de grandes proprietários de terras - os latifundiários -, que monopolizam a maior parte das propriedades rurais; no outro extremo, milhões de pequenos proprietários que possuem uma área extremamente pequena - os minifúndios -, insuficiente para permitir-lhes uma vida decente e com boa alimentação. Muitas grandes propriedades possuem enormes áreas ociosas, que não são utilizadas pela agropecuária, apenas a espera de valorização ([email protected])
Com fome de sangue, de ouro, de terra e de todas as sua riquezas,
trazendo numa das mãos a cruz e na outra a espada
sem conhecer ou querer aprender os costumes de nossos povos,
nos classificaram abaixo dos animais, roubaram nossas terras
e nos levaram para longe delas,
transformando em escravos os "filhos do Sol".
(Port Albemi, 1975, Conselho Mundial dos Povos Indígenas)
Pense, reflita, comente e registre. O texto nos reporta à década de 1950,destacando as
belezas e as dificuldades da época. Para a compreensão do mesmo, faz-se necessário o conhecimento de alguns conceitos.
• Diferencie: Posseiro e Grileiro.
• No que consiste a desapropriação?
• No Brasil, como se apresenta a Estrutura Fundiária? Explique.
• Produza um texto sobre as migrações e sua importância para a
colonização Noroeste do Paraná.
• Depois de ler e refletir sobre os textos: Uma Terra de Leite e Mel e As Pedras do Caminho, escreva um texto, retratando a década de 1950.
• Pesquise na internet ou nos livros didáticos e escreva um
pequeno texto sobre Reforma Agrária.
• Após reflexão sobre o poema de João Cabral de Melo Neto, Vida e Morte Severina, fazer uma análise da estrutura fundiária brasileira.
Com fome de sangue, de ouro, de terra e de todas as sua riquezas,
trazendo numa das mãos a cruz e na outra a espada
sem conhecer ou querer aprender os costumes de nossos povos,
nos classificaram abaixo dos animais, roubaram nossas terras
e nos levaram para longe delas,
transformando em escravos os "filhos do Sol".
(Port Albemi, 1975, Conselho Mundial dos Povos Indígenas)
A história do Noroeste não começa com a vinda dos “pioneiros”. A região foi
durante muito tempo colônia espanhola, com a construção de reduções jesuíticas.
Segundo historiadores, a área foi campo de batalha envolvendo portugueses, espanhóis,
bandeirantes e índios. O Noroeste do Paraná começou a ser habitado em 1501, quando
foram abertos os primeiros picadões por portugueses e espanhóis que disputavam a área.
A VIOLÊNCIA VEM DE MUITO TEMPO ATRÁS
Deve-se destacar que, os responsáveis pela invasão da área foram os
bandeirantes Borba Gato e Raposo Tavares. Essas invasões foram realizadas com muita
violência e crueldade e, sabemos disso através das cartas do jesuíta peruano Antonio
Ruiz de Montoya. Historiadores estimam que até 100 mil índios foram capturados na
região, sob o comando de Raposo Tavares. (David Arioc, 2010).
Até o início da década de 1950, a região da Bacia do Paraná I era
constituída por selvas pouco exploradas. Os índios Xetás que habitavam esta região não
possuem registros de contatos com não-indios até 1954. Em função dos aumentos das
lavouras e das disputas com outros povos, o povo indígena que habitava o território entre
os rios Ivaí e Paraná está, hoje, restrito a menos de uma dezena de indivíduos.
(Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, 2003).
Entretanto, a história do Noroeste paranaense começa a ser contada a partir
da colonização, passando a idéia de um vazio demográfico nesta região. Assim, a
historiografia oficial não considera a visão dos índios sobre o processo de colonização.
Este processo teve como principal vítima o povo indígena, que se sentiu totalmente
roubado, não perdendo somente as suas terras, mas também vidas, levando esse povo
quase a extinção. Essa é a história que os bancos insistem em esquecer.
O Paraná fazia parte da Província de São Paulo, nesse período começam a
surgir, timidamente, mecanismos legais para o acesso à propriedade da terra. A
incipiência desses instrumentos legais irá contribuir para o surgimento de focos de
violência no campo.
Ainda, de acordo com Serra, até 1614, com a concessão da primeira carta
de Sesmarias, o Paraná era propriedade pública da Coroa Portuguesa. “É a sesmaria que
vai marcar no Brasil, e por extensão no Paraná, a evolução da propriedade da terra da
forma pública para a particular, ao mesmo tempo em que vai se constituir no primeiro
regime jurídico regulamentando o acesso e a repartição da terra agrícola. Porém, o
regime de Sesmaria salienta a influência dominialista acobertada pela concessão estatal,
em benefício de alguns poucos privilegiados que, muitas vezes, não estavam
interessados em explorar economicamente a terra...” (COSTA, op cit SERRA, 2009, p.3).
Nesse sentido, é oportuno destacar que, na prática, não foi preservado o
direito dos trabalhadores rurais vinculados às categorias menos influentes, no máximo, foi
permitido que esses trabalhadores se estabelecessem em áreas já, ou não requeridas em
Sesmarias, mas apenas até que as terras onde se fixaram despertassem a cobiça ou o
interesse dos “verdadeiros donos”. Dessa forma, os pobres se estabeleciam nos terrenos
aparentemente sem donos, construíram pequenas casas e iniciaram o plantio.
Subitamente surgia um homem rico, portando o título que conseguira na véspera,
expulsando-os e ainda se utilizando do fruto de seu trabalho”... (SAINT HILLAIRE, op. cit
SERRA, 2009, p4).
Assim, com os posseiros atuando cada vez mais, a Sesmaria deixa de ser,
no Estado do Paraná, o único meio de acesso à terra durante o período colonial.
Ainda, segundo Serra (2009), o regime de Sesmarias foi extinto em Julho de
1822, pouco antes da Independência política do Brasil. Como as terras devolutas ficaram
sem uma legislação específica, as apropriações irregulares se intensificam com o
surgimento da figura dos “papa-terras”. Esses elementos tinham a proteção de pessoas
ligadas à área do poder dominante, e com a justificativa de prestação de serviços públicos
se apropriavam de grandes extensões de terra e de regalias que um cidadão comum não
tinha acesso. O que se observa no decorrer da história, é que o poder passa para outras
mãos, mas sempre, grupos de pessoas, os “amigos do rei” são beneficiados. Por isso a
história se repete!
Serra, explica que terras devolutas eram utilizadas pelos governos estaduais
e federais como moeda corrente para o pagamento de obras públicas. Um exemplo foi a
construção da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, com uma extensão até
Guarapuava. Como pagamento foi usado partes do Oeste e Noroeste Paranaense (Serra,
2005). As terras do Noroeste foram tituladas para a BRAVIACO, Companhia Brasileira de
Viação e Comércio.
É nesta área que se localiza o Extremo Noroeste, com uma extensão
geográfica de aproximadamente 25 mil quilômetros quadrados, onde se localizam 20
municípios, sendo Paranavaí, a principal unidade administrativa e o Município de
Querência do Norte, o maior palco de conflitos. Convém ressaltar que a construção da
estrada de ferro foi abandonada a partir do momento que se esgotaram os recursos
provenientes do acordo feito com o Estado, e que a empresa não aplicava devidamente,
porém, as terras já estavam tituladas em nome da BRAVIACO.
A referida empresa, de posse do título das terras, inicia a “limpeza” da área
já ocupada por posseiros e grileiros e sob a denominação de Colonizadora Paranavaí,
começa o desmatamento da área. Em 1928 é fundada a Fazenda Brasileira onde são
plantados mais de dois mil hectares de café e aproximadamente quinhentos hectares de
pastagens. Para trabalhar na lavoura de café, que exigia muitos trabalhadores, a fazenda
importou do Nordeste Brasileiro, cerca de 1200 pessoas, transportados em trens e
caminhões até o destino (SERRA, 1991).
Porém, a partir de 1930, com a crise econômica de 1929, aliada à política
contrária do presidente Getúlio Vargas, a classe dos latifundiários foi muito afetada,
perdendo bastante do seu poderio econômico e político. Só aí então começam a serem
tomadas medidas para a reversão da apropriação irregular de terras no nosso Estado.
Deve-se destacar ainda, que no dia 03 de Novembro de 1930, foi assinado o
Decreto 300, quando foram retomadas as áreas apropriadas em território paranaense,
que haviam se transformado em grandes “grilos”. Terras estas, concedidas como
pagamento de obras públicas que não se concretizaram e também terras cedidas para
colonização, cujos projetos fracassaram. Foram recuperados em torno de 6 milhões de
hectares de terras griladas, sendo uma boa parte delas localizadas no Extremo Noroeste
do Paraná. Entre essas terras estava a “Fazenda Brasileira” em toda sua extensão. O
referido Decreto foi assinado pelo Interventor Federal Sr Mário Tourinho, designado pelo
presidente Getúlio Vargas para governar o Paraná, após o afastamento do governador
Affonso Alves de Camargo Neto (Serra, 1991).
Dessa forma, na fazenda Brasileira, os cafezais plantados foram
abandonados e as famílias que haviam migrado, muitas foram para outras regiões do país
e, outras, permaneceram no local, na forma de posseiros.
A partir daí, o Estado começa a estabelecer as normas para a colonização,
e para tal, publica dois instrumentos jurídicos: o Decreto 800 em 1931, e a Lei 46 em
1935.
O Decreto 800, de autoria do interventor Mário Tourinho, estabelecia em seu
artigo 1.0 que “as terras devolutas só poderiam ser adquiridas, a título de compra, pelos
que nelas se comprometessem a morar e estabelecer cultura efetiva”. No artigo 5.0,
estabelecia em 200 hectares a área máxima que poderia ser adquirida por uma só pessoa
e o preço por hectare em 18 mil contos de réis como valor máximo, podendo variar de
acordo com a localização ou a qualidade das terras.
A Lei 46, estabelecia que a apropriação da terra deveria acontecer por
intermédio da colonização, através da compra, abrindo espaço, com isso, para a
participação da iniciativa privada. Essa Lei estabelecia em seu artigo 1.0 que “fica o poder
Executivo autorizado a promover a colonização das terras devolutas no Estado, mediante
concessão de glebas a empresas ou particulares, que assinarão contratos onde se
estipularão cláusulas garantidoras dos interesses públicos e da fiel execução das
condições de concessão”.
A colonização privada passou a ser a solução para a ocupação
desordenada e ilegal. A colonização privada proporcionava o acesso à terra àqueles que
não eram possuidores de riquezas. As formas de pagamento eram atraentes e as
colonizadoras ofereciam uma infra-estrutura básica.
Segundo Marcelo (1988), o interventor do Paraná Manoel Ribas, planeja a
colonização da extinta Fazenda Brasileira. O Tenente Aquiles Pimpão, foi designado pelo
interventor, para “domar” a região. Inicia-se uma espécie de colonização oficial por parte
do Estado, que vendia as terras devolutas aos colonos por um preço simbólico. Esses
modelos de colonização e acesso a terra propostos pelas colonizadoras eram atribuídos
como exemplos de reforma agrária.
Segundo Tomazi (1997), a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP),
adquiriu, em 1925, trezentos e cinqüenta mil alqueires de terras junto ao governo do
Estado. Em 1944, a companhia de terras Norte do Paraná, foi nacionalizada, passando o
controle desta, para capitalistas paulistas, passando a denominar-se Companhia
Melhoramentos Norte do Paraná.
A Companhia Norte do Paraná, depois sua sucessora Companhia
Melhoramentos Norte do Paraná, nacionalmente conhecida, tinha como atrativo para
vender suas terras o café, “ouro verde” que enriquecia muitos proprietários do Norte
paranaense. Porém, o grande sucesso do café estava nas áreas de terra roxa do norte e
não nas áreas em que predominava o Arenito Caiuá, no extremo Noroeste. Além do
problema do solo não ser propício, existia um agravante, esses lotes se localizavam na
calha do rio Paraná, em áreas de baixa altitude, o que favorecia a ocorrência de geadas.
As empresas colonizadoras e o Estado sabiam disso; o comprador não. Os clientes dessa
empresa eram, na maioria, catarinenses e gaúchos que não tinham experiência com a
atividade cafeeira.
Desse modo, as conseqüências foram evidentes em curto prazo. Sucessivas
geadas destruíram os cafezais, logo nas primeiras safras. Fato que gerou desânimo entre
os proprietários, pois viam na colheita a sobrevivência e o pagamento das prestações à
empresa colonizadora. Muitos desistiram, abandonando os lotes e, sem recursos, passam
a trabalhar como bóias-frias nas fazendas da região. Lotes abandonados são ocupados
por posseiros ou incorporados às grandes propriedades, reforçando a concentração
fundiária.
O primeiro mandato do governo do Sr. Moisés Lupion no Paraná foi
marcado pela violência no campo devido ao desvio de terras e da expulsão dos posseiros.
Para ilustramos esse fato, o então Desembargador João Alves da Rocha Loures requereu
junto ao governo quatro mil alqueires na Gleba 21 da Colônia de Paranavaí, a título de
compensação de terras que lhe pertenciam e que o Estado havia transferido a terceiros.
Lupion decidiu-se pela titulação da área para Rocha Loures e o documento foi assinado
pelo governador interino Guataçara Borba Carneiro. Entretanto, esse documento não
levou em conta quesitos importantes, como posses estabelecidas naquele local desde
muitos anos. Em Novembro de 1955, o governador interino, Adolfo de Oliveira Franco,
deferiu o pedido de Rocha Loures de compensação dos quatro mil alqueires, outorgando-
lhe terras devolutas anexas ao Porto São José, no atual Município de São Pedro do
Paraná. Da posse do título, Rocha Loures procurou adentrar na área, mas foi impedido
pelos posseiros que lá residiam, o que gerou um conflito, que obrigou o Estado a declarar
a área como terras do Estado, beneficiando principalmente correligionários que o
apoiavam financiando sua campanha política.
Como não tinha controle das terras que distribuía, nem tinha conhecimento
da situação dessas terras, quanto à sua titulação ou condições de uso, Lupion chegou a
destinar a mesma área para mais de um beneficiário e a doar terras produtivas e já
legalmente tituladas. É inaugurada assim a fase da dupla e até mais titulações
envolvendo a mesma área e que passa a se constituir nova onda de violência no campo
(Adélia Haracenko, 2007, op cit Serra, 2005).
Nesse contexto, a Gleba 21, requerida por Rocha Loures, foi palco de
conflitos e mortes para alguns que resistiram. Outros abandonaram as terras desistindo
dos seus sonhos. Os desvios de terras ocorreram principalmente no Extremo Noroeste
paranaense, envolvendo as 27-A, 28 e 29, onde se localiza, hoje, o município de
Querência do Norte. Segundo Gonçalves, (2004: p.113), até 1948, foram escriturados 214
lotes rurais, todos obtidos através do apadrinhamento político. Destes, 118 lotes
ocupavam áreas entre 5 e 50 hectares, somando juntos 29.968 hectares. Isto vem
demonstrar que o governador do Estado passou por cima das leis estabelecidas pelo
Decreto 800, que limitava em 200 hectares a extensão máxima de cada propriedade.
Estes desmandos contribuíram para a formação de latifúndios no Noroeste paranaense.
Agora é com você!
• Faça um comentário sobre a importância dos
povos indígenas,para a formação do povo brasileiro.
• Após a leitura do texto, procure descrever como se deu a apropriação da terra na região Noroeste do Paraná.
• Procure, na família ou na comunidade,
pioneiros que possam entrevistar, obtendo informações para complementar o texto.
LOANDA: LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO MUNICÍPIO
Terra boa, Loanda querida Berço augusto de sonho e de amor Nasce em ti a esperança que agita No sorriso de fé e de amor O teu céu, o teu Sol, tua gente, Tudo é glória perene imortal Que ilumina o porvir esplendente Filho altivo de nosso ideal [...] ( Ary de Amoroso Lima, Hino à Loanda,1965).
Saiba mais...
Na Colônia Paranavaí dos anos 1950, jagunços expulsaram a família Casarin das próprias terras. À época, toda a família que trabalhava no plantio de café ficou sem moradia e o patriarca ainda foi preso.
O imigrante italiano Zaqueo Casarin veio para o Paraná em 1940. Fixou residência em Bela Vista do Paraíso, no Norte Central Paranaense, onde trabalhou como colono na produção de café. Em 1950, de tanto ouvir falar da Colônia Paranavaí, Casarin decidiu se mudar. Em Paranavaí, o italiano conheceu o corretor de imóveis rurais Antonio Borba, funcionário da Colonizadora Paranapanema, do empresário José Volpato, que lhe ofereceu uma propriedade na Gleba 21, próxima ao Porto São José, em área que hoje pertence a São Pedro do Paraná. Casarin achou viável o preço das terras na região e comprou dez alqueires com todo o dinheiro guardado ao longo de anos. O registro de venda foi feito no Tabelionato Rocha, de Londrina, mas o documento só saiu em Mandaguari (pois Paranavaí ainda era distrito)”, relatou o imigrante italiano em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás. Naquele tempo, Casarin, que não recebeu o título de propriedade pelo fato de uma empresa privada não poder emitir títulos, nem imaginava que o sonho de sua vida, ter o próprio pedaço de chão, se tornaria um pesadelo. Em maio de 1952, a família Casarin recebeu a visita de 14 jagunços. Um deles, de forma intimista se aproximou de Zaqueo e falou: “Você é grileiro aqui!”. O imigrante italiano ficou sem reação, pois além de não entender o que estava acontecendo, segundo ele, nunca tinha dado nem mesmo um tapa em alguém. Com medo do pior, a família Casarin deixou a propriedade sem resistir. Antes, mesmo assustado, Casarin perguntou quem os mandou até ele. Afirmaram que estavam a serviço do ex-desembargador João Alves da Rocha Loures, revelou. Documentos do Departamento de Geografia, Terras e Colonização (DGTC) mostram que Rocha Loures havia requerido três mil alqueires junto ao Governo do Estado em 1951, nas imediações do Porto São José, alegando compensação por terras transferidas a terceiros. Contudo o que chama atenção é que a expulsão dos moradores da Gleba 21 aconteceu antes do ex-desembargador obter o título de terras daquela região, durante o segundo governo de Moisés Lupion (1956-1961). No conflito com jagunços em 1952, alémda família Casarin ficar sem moradia, Zaqueo ainda foi preso por um homem conhecido como tenente Antunes que, de acordo com pioneiros, participou de inúmeras injustiças envolvendo pequenos proprietários rurais de Paranavaí. A sorte de Casarin foi que um influente policial, jamais identificado, foi a delegacia e exigiu que o soltassem [...] (texto extraído do artigo escrito por David Aioch, O Sofrimento dos Cazarin).
Fonte: IPARDES - Vista parcial da cidade de Loanda, 2009.
Loanda, cidade localizada no Noroeste Paranaense, faz parte da
Microrregião de Paranavaí. Tem sua posição no paralelo 22°55’02”, latitude Sul e no
meridiano 53°08’57” longitude Oeste.
A área do Município é de 744km², correspondendo a aproximadamente
0,37% da área total do Estado do Paraná, sendo a área urbana de 5,5826km² e a área
rural de 738,417Km². A distância de Loanda até a capital, Curitiba, é de 585 km.
(Documentário Histórico 2004).
A população, de acordo com o IBGE, é de 23.211 habitantes (SENSO 2010).
O relevo do Município, que está localizado no Terceiro Planalto Paranaense,
varia de plano a ondulado, sendo sua altitude média de 500 metros. Na cidade de Loanda
encontramos a cota de altitude 560 metros.
Este município limita-se ao norte com o Município de Marilena, ao sul com
Santa Mônica, a leste com Planaltina do Paraná, a oeste com Santa Cruz do Monte
Castelo, a nordeste com Nova Londrina e Guairaçá, a sudeste com Planaltina do Paraná,
a noroeste com São Pedro do Paraná e Porto Rico, a sudoeste com Santa Isabel do Ivaí.
Nas figuras abaixo é possível ver a localização do município de Loanda com os
municípios limítrofes no desenho da declividade da microrregião de Paranavaí, o
esquema do Paraná mostrando a região noroeste esquema do globo o Paraná na
América do Sul.
A rede hidrográfica do noroeste área é formada pelos afluentes dos rios
Paranapanema e Ivaí, destacando-se o Ribeirão do Tigre, afluente do Paranapanema;
Ribeirão Tamandaré, Taquara e Selma, afluentes do Rio Ivaí. Além desses, o Município
de Loanda é banhado por outros ribeirões que são subafluentes dos rios Paranapanema e
Ivaí: Areia Branca, Pavão, Atibaia, Aceguá, Bonito, Água Vermelha, Água da Mina e
Todos os Santos.
O município, de acordo com o Paranacidade (2008), tem clima Subtropical
Úmido Mesotérmico, verões quentes com tendência de concentração de chuvas. A
temperatura média é superior a 22º C, com amplitude térmica anual de cerca de 7º C, em
média. O inverno é ameno, com geadas pouco freqüentes, temperatura média inferior a
18º C, sem estação seca definida. O verão apresenta média entre 31º C e 33º C. O
regime pluviométrico apresenta totais anuais entre 1.200 e 1.300 mm. A umidade relativa
do ar é em torno de 75%.
A vegetação nativa, floresta Estacional Semidecidual, que cobria os solos de
arenito Caiuá, foi quase toda retirada para dar lugar às lavouras de café posteriormente à
pecuária.
Atualmente a maior área do município é utilizada para pastagem (pecuária de
corte), plantações de mandioca e laranja.
A metalurgia, em destaque, a indústria metal – mecânica com a produção de
metais sanitários é a maior geradora de empregos no Município.
Observe e Registre
• Observe o mapa hidrográfico do Paraná e identifique a qual a
bacia hidrográfica pertence o seu município, destacando os
principais rios e sua influência para o Município de Loanda.
• Com o auxílio de fotos, compare a paisagem da cidade de Loanda,
na década de 1950 com a atual.
A paisagem se transforma acompanhando a dinâmica da sociedade
que nela se insere e também o avanço do capital.
• Registre suas observações e analise como a sociedade, ao longo do
tempo,tem criado e se relacionado com a paisagem no Município de
Loanda.
Os homens vieram, Arrancaram as matas, plantaram cafezais, fizeram cidades. O solo arenoso, sem as matas, foi sendo carregado pelas águas das chuvas. Erosão, terra enfraquecendo. Os cafezais foram sendo erradicados. As pastagens foram surgindo, O boi foi entrando, o homem saindo. Uma história rápida, curta e triste. (autor desconhecido).
Loanda, década de 50. Arquivo pessoal da autora
Estes versos, com palavras simples, retratam o que ocorreu com a Região
Noroeste do Paraná, especialmente o município de Loanda, a partir do momento em que
a ação antrópica começa a atuar. Uma interferência sem conhecimento, sem leis para
controlar o desmatamento e, principalmente, a serviço do capital, na busca da mais valia
transformando a natureza em mera mercadoria.
TERRA BOA, LOANDA QUERIDA...
A SUA HISTÓRIA
ASSIM NASCEU LOANDA
A história de Loanda tem o início na década de 50. Registros históricos
citam a chegada dos primeiros moradores da cidade nesse ano. Essas pessoas eram os
Srs. João Macena de Oliveira, Antônio Locheti, Francisco de Oliveira, Moysés de Souza,
Duarte Celestino de Oliveira e João Tavares de Souza (Documentário Histórico 2004).
A Empresa Colonizadora Norte do Paraná, com sede em Dracena, de
propriedade dos Srs. Ásio Montecuco, Sebastião Delfino Machado, Lino Spinardi e Írio
Spinardi, comprou dos Srs. David Bancow e Santiago Martin Corral, uma área de 200
alqueires, que foram demarcados e recortados em lotes urbanos e rurais.
A então exuberante mata primitiva, foi derrubada e queimada em nome do
progresso, e, no seu lugar, surgiu o projeto da cidade, a construção das primeiras casas,
as primeiras serrarias e uma indústria de cerâmica.
A fotografia abaixo ilustra os primeiros momentos da história de Loanda.
No ponto central da futura Loanda, o primeiro prédio de madeira construído na década de 50.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
Para a nova cidade que surgia vieram migrantes de várias partes do Brasil,
todos motivados pelo lucro proporcionado pelo café, alguns proprietários, outros,
trabalhadores braçais. Entre eles, muitos paulistas, mineiros, nordestinos, gaúchos e
catarinenses.
O nome da jovem cidade que desabrochava, teve sua origem em um
concurso promovido pela Rádio Clube de Dracena. O prêmio oferecido ao vencedor do
concurso foi um lote urbano na nova cidade. O vencedor, Sr. Lino Spinardi, buscou
inspiração na capital de Angola, Luanda, que se transformou em Loanda, e seus
habitantes passaram a denominar-se ”loandenses”.
Como em toda Região Noroeste, o povoado que surgia timidamente, tinha
sua economia centralizada no café. Os primeiros agricultores que iniciaram o plantio do
café, na área onde hoje é o município de Loanda, segundo fontes escritas, foram: Duarte
Celestino de Oliveira, Pedro Peterson Filho e Saturnino de Oliveira.
De acordo com o documentário histórico do Município (2004), o núcleo
Urbano foi elevado à categoria de Distrito Administrativo no dia 15 de Agosto de 1953,
através da Lei Estadual n.47. No dia 26 de Novembro de 1954, pela Lei Estadual n. 253,
teve seu território desmembrado da cidade de Paranavaí.
O município foi instalado oficialmente em 27 de Novembro de 1955 e no dia
08 de Maio de 1956 foi elevado à categoria de Comarca, tendo como primeiro Juiz de
Direito o Dr. Abraão Atem e como primeiro Promotor de Justiça o Dr. Lamartine Rollo
Soares.
O Brasão de Armas e o Hino à Loanda foram oficializados pela Lei Municipal N.
27 de 24 de Novembro de 1965.
O Hino à Loanda, tem música de Aniceto Matti e letra de Ary de Lima .
Na década de 70 a substituição da cultura do café pela pastagem para
criação de bovinos, principalmente, deu sustentação ao novo ciclo econômico do
município. Desta forma, a paisagem se transforma acompanhando a dinâmica da
sociedade que nela se insere, visando, principalmente os interesses do capital.
Para ilustrar este processo de decadência o Aeroporto Attílio Accorsi,
localizado na PR-218, distante 2 km da cidade, possuindo dimensões de pista de
1100/23m, com revestimento asfáltico na década de 1960, a VASP(Viação Aérea São
Paulo), utilizando um DC.03, fazia a rota São Paulo – Londrina - Loanda, duas vezes por
semana. No mesmo período, o município era atendido pelas empresas Starr e Reta
(serviço de táxi aéreo) com linhas diárias de Loanda para diversos pontos do país. Hoje
não possuímos mais esses serviços, tudo decaiu com saída da cultura cafeeira e a
entrada da pecuária extensiva.
Outro exemplo é o Cine Teatro Guanabara construída em Loanda no início
da década de 60, obra de grande porte, que cidades vizinhas maiores não possuíam.
Investimentos assim demonstravam as grandes perspectivas de progresso da cidade.
Esse cinema foi a nossa alegria na juventude, e mais tarde transformou-se em mais um
investimento sem retorno com o advento das transformações do espaço e pelo
surgimento de novas tecnologias audiovisuais. Ficou abandonado durante anos, como um
“elefante branco” no centro da cidade. Atualmente, graças a recursos federais, foi
restaurado e transformado em um maravilhoso teatro, com um confortável auditório, onde
acontecem os eventos do município.
Cine Guanabara, década de 1960. Fonte: arquivo pessoal da autora
Cine Teatro Guanabara, após restauração.
Fonte: arquivo pessoal da autora, 2011.
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Agora é com você!
• Com o auxílio de fotos, compare a paisagem da cidade de Loanda, na década de 1950 com a atual. A paisagem se transforma acompanhando a dinâmica da sociedade que nela se insere e também o avanço do capital.
• Registre suas observações e analise como a sociedade, ao longo do tempo, tem criado e se relacionado com a paisagem no Município de Loanda.
LOANDA: PRIMEIRAS FORMAS DE USO DO SOLO
FONTE: Portal Dia a Dia Educação
Como já citado, o município surgiu com a expansão cafeeira na década de
1950, período de intensas mudanças, que resultaram na transformação, em um curto
espaço de tempo, da paisagem natural em áreas de cultivo: a monocultura do café.
Até então, o centro produtor era o Norte Pioneiro, que a partir daí passa
para o Norte Novo, sendo Londrina considerada a capital mundial do café. Em seguida o
Norte Novíssimo dá continuidade a essa produção e no início da década de 1960, o
Paraná tornou-se o maior produtor brasileiro de café.
Segundo Serra (2009), o agricultor tinha no café, o vínculo efetivo com o
mercado e, nas lavouras de subsistência, a garantia da reprodução de sua força de
trabalho, sendo que, para o grande volume de mão-de-obra necessário para tocar as
lavouras, podia contar com a força de trabalho familiar não remunerada. Isto quer dizer
que o agricultor procurava manter, com pouco capital, a lavoura de café, utilizando mão
de obra não remunerada, sobrevivendo com certa dificuldade, através das culturas de
subsistência.
Durante o processo de ocupação, na Região Noroeste, e nesse contexto, o
Município de Loanda, não houve um efetivo conhecimento das características físicas do
solo. Os colonizadores imaginavam, a princípio, tratar-se de solos semelhantes aos
derivados do Basalto. A orientação técnica para o uso da terra foi altamente prejudicial,
aliada a uma política econômica equivocada, sujeita a flutuações do mercado
internacional. Essa política econômica visava, antes de tudo, aumentar as divisas para o
país.
O que motivava essas frentes de expansão agrícola eram as altas cotações
do café no mercado internacional, com manipulação das taxas cambiais pela classe dos
grandes produtores de café. Esta situação permaneceu até início da década de 1960.
Entretanto, a cafeicultura Norte Paranaense entra no mercado brasileiro
somente na década de 1930, quando já havia uma crise de superprodução, contribuindo
para um desequilíbrio ainda maior entre a oferta e a procura do produto. Esse
desequilíbrio leva o governo a adotar nos anos seguintes uma política que levou à criação
do Programa Nacional de Erradicação dos Cafezais, onde as plantações mais antigas e
com baixa produtividade passaram a ser substituídas por outras culturas e por pastagens.
O governo procurava desestimular a cultura do café, o que considerava antieconômico,
limitando o crédito para financiamentos destinados ao replantio, mas subsidiava os
agricultores que decidiam substituir a cultura do café por uma nova cultura. Podemos
concluir que a cultura do café começa a se desenvolver, especialmente, no extremo
Noroeste paranaense, quando sua decadência já estava decretada no mercado com
outros países.
Inicia-se assim, um processo de modernização da agricultura, em especial
no Norte, que impulsionou significativamente a mudança na configuração do espaço, com
a mecanização do campo, uso de insumos e sementes selecionadas, adquiridas através
do crédito agrícola.
No Noroeste do Paraná, porém, o solo, aliado a outros fatores, não
favoreceu a mesma modernização na agricultura como nos solos de terra roxa. Nas áreas
de Arenito Caiuá, o caso de Loanda, sobressai a formação de pastagens.
Mesmo com a crise, a produção de café nessas áreas ainda resiste até
meados da década de 1970, apesar da política do governo de desestímulo à cafeicultura.
A mudança era inevitável, principalmente pela descapitalização dos produtores de café,
bem como o agravante processo de degradação do solo, que se fazia sentir na baixa
produtividade e as sucessivas geadas que assolavam a Região. Em decorrência de tantas
dificuldades, muitos produtores decidiram arrendar suas propriedades e, outros,
venderam para um vizinho mais capitalizado, aumentando assim a concentração
fundiária.
Convém ressaltar que, na área em estudo, apesar de todas essas
dificuldades havia uma agravante: os proprietários que não tinham os documentos oficiais
de propriedade da terra não conseguiam financiamentos bancários oferecidos aos
produtores rurais, fazendo com que estes vivessem uma vida de dificuldades e
estagnação.
Com a queda da cafeicultura, que preservava um caráter familiar na região
Noroeste do Paraná, houve grandes facilidades para a formação dos latifúndios, o que
intensificou, mais ainda, as desigualdades sociais. Rapidamente as lavouras cafeeiras
começaram a serem substituídas por pastagens e, como a pecuária absorveu pouca mão-
de-obra, milhares de trabalhadores rurais ficaram desempregados.
Em 1980, a produção cafeeira do Noroeste Paranaense foi quase reduzida
pela metade, caindo de 30 milhões de cafeeiros para 16 milhões. O solo frágil e
comprometido pela falta de técnicas adequadas de plantio, manejo e cultivo fizeram com
que o milheiro de pés de café rendesse apenas 27 sacas, quantia muito inferior às 150
sacas, em média, que se colhiam nessa mesma área na década de 1960 (estatísticas do
extinto IBC).
Assim, o fim do ciclo do café, aliado ao processo de modernização, a Região
Noroeste, e também o município de Loanda, passam por transformações. Com um solo
predominantemente arenoso e desgastado pelo uso irracional, a cultura do café foi
perdendo espaço e em se lugar foram surgindo as pastagens, que não se necessitava de
mão-de-obra na quantidade empregada na cultura cafeeira, daí o êxodo rural nesses
anos. A estrutura física construída para a cultura do café foi sendo desativada. Do grande
fluxo de trabalhadores que habitavam as colônias, restam apenas as casas, os terreiros e
as tulhas de café abandonados. As escolas rurais, vendas na beira das estradas, que
atendiam essa população rural foram fechadas.
Com a decadência da cultura cafeeira surge no cenário rural do município
de Loanda, a pecuária, sobressaindo a bovinocultura de corte e leiteira. Em seguida,
aparece a suinocultura, a avicultura para corte e a piscicultura. Na agricultura, destacam-
se as culturas da mandioca, milho, laranja, café, algodão, feijão e outras.
Em função da expansão da pecuária no município, foi construído um parque
de exposição na cidade, onde durante as décadas de 60 e 70 eram realizadas feiras para
comercialização de gado bovino. Essas exposições aconteciam com muito sucesso,
atraindo criadores de várias partes do Brasil. Loanda nessa época era denominada a
“capital do Zebu”.
� Reflita , comente e registre.
Faça um estudo sobre a trajetória do café no município de Loanda.
Para isso, entreviste antigos agricultores e construa sua história.
Fonte: Portal Dia a Dia Educação
O solo do município de Loanda é formado por arenitos mesozóicos da
formação Caiuá, resultado da decomposição de arenitos e rochas eruptivas básicas,
friáveis e porosas, acentuadamente drenados, ácidos, de baixa fertilidade natural,
denominado latossolo vermelho escuro. Ocorrem também solos formados a partir de
materiais provenientes de arenitos, ácidos e moderadamente ácidos e de fertilidade
natural variável, apresentando-se através de manchas isoladas, denominado solo
podzólico vermelho-amarelo. (Documentário Histórico, 2004)
Este solo possui restrições para as práticas agrícolas, pois o mesmo possui
uma camada subsuperficial argilosa de pequena espessura, que dificulta a boa drenagem.
O escoamento superficial durante altas precipitações pluviométricas, provocando assim o
processo erosivo intenso. Essas características apresentadas por este tipo de solo
dificultam a penetração das raízes e exigem práticas conservacionistas diferenciadas. A
recomendação técnica para essas áreas tidas tecnicamente como problemáticas, é a
implantação de pastagens, pois faz uma maior cobertura vegetal, impedindo o processo
erosivo.
LOANDA: IMPACTOS AMBIENTAIS
Outro tipo de solo, que margeia todos os riachos e córregos da Região
Noroeste, incluindo o município de Loanda, é denominado areia quartzosa (AQ1). Este
solo se resume a uma pequena faixa, possuindo baixíssimo teor de argila, facilmente
erosionável, que após o desmatamento inconseqüente, acaba sendo transportado para o
leito dos rios ocasionando o assoreamento dos mesmos.
Originários em sua quase totalidade de arenito da formação Caiuá, que
ocupa a parte superior da série São Bento (Cretáceo), caracteriza-se por apresentar
sedimentação entrecruzada (eólica) e pela coloração violácea, manchas e pontos claros.
Esses solos apresentavam no início de sua exploração uma razoável fertilidade natural,
tendo sido usados por alguns anos, inclusive com culturas de café e algodão. O uso
inadequado destes solos de constituição extremamente arenosa e de baixa capacidade
de retenção de nutrientes bem como a destruição da matéria orgânica fez com que estas
culturas fossem sendo substituídas por pastagens que hoje cobrem quase toda a região
(IAPAR, 1988).
O relevo tem importância na formação e evolução dos solos, principalmente
por ser a declividade responsável pela maior ou menor penetração das águas das chuvas,
pois quanto mais acentuada for a declividade, maior será a velocidade da água que
escorre, dificultando sua penetração e favorecendo a erosão.
A floresta Estacional Semidecidual que ocupava a região sofreu o impacto
do desmatamento e, aliada ao solo arenito Caiuá, causou grandes prejuízos. Restam
hoje, rios assoreados, grandes voçorocas causadas pela erosão e falta de cobertura
florestal nativa. Encontra-se, hoje, a região quase que totalmente ocupada pela pecuária
extensiva. A cobertura florestal do Noroeste Paranaense aproxima-se de 1%.
Segundo depoimento, as primeiras áreas desmatadas, por ocasião da
colonização, foram justamente as beiras dos rios e nascentes, que eram usadas para
suprir as necessidades de água para uso doméstico. Não havia conhecimento nem
aplicabilidade das leis de proteção ambiental, ignorância esta que trouxe conseqüências,
gerando impactos ambientais de grandes proporções, causando prejuízos para o
município e região. Alguns desses desastres ambientais apresentam-se em condições
As voçorocas são as formas mais complexas e destrutivas do quadro evolutivo da erosão linear e devem-se à ação combinada das águas do escoamento superficial e subterrâneo(...). Em geral, as voçorocas são ramificadas, de grande profundidade, apresentando paredes irregulares e perfil transversal em U. São formas erosivas de difícil controle e tem como fator decisivo em seu surgimento o inadequado uso do solo (www.aguasparana.pr.gov.br).
irreversíveis, que para sua recuperação, seriam necessárias quantias vultuosas, como é o
caso das grandes Voçorocas que contornam o município de Loanda.
De acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 1986), a erosão
é o processo de desagregação e remoção de partículas do solo ou fragmentos de rocha,
provocada pela ação combinada da gravidade com a água, vento, gelo e outros
organismos. Esses processos erosivos são originados por alterações do meio ambiente,
provocados pelo uso inadequado do solo, a partir do desmatamento, em seguida a
agricultura e pecuária, incluindo as obras urbanas e viárias, favorecem a concentração
das águas de escoamento superficial.
A ação humana sobre o meio ambiente foi fator preponderante para a
aceleração do processo erosivo, cujas consequências foram: a perda de solos férteis, a
poluição e assoreamento de cursos d’água e reservatórios e a redução da produtividade.
O Município de Loanda apresenta processos erosivos em áreas periféricas
em conseqüência da rede de esgoto pluvial, cujas águas são carriadas e lançadas nessas
áreas.Não existe um planejamento, nem qualquer obra de engenharia para conter a
velocidade dessas águas. As fotografias abaixo ilustram esse processo erosivo.
Voçoroca nos arredores da cidade, próxima ao bairro do Sol Nascente. Propriedade do Sr. Auro Sato. 25/03/2011. Arquivo pessoal da autora
Essas voçorocas apresentam aproximadamente 2,5 Km de comprimento,
com largura média de 80 m e profundidade média de 10 m. Tal impacto se originou a
partir do carreamento das águas pluviais na nascente do córrego Areia Branca do Tucum,
afluente do Rio Paraná. Esse córrego apresenta-se assoreado em virtude da completa
destruição das matas ciliares, bem como em razão da falta de técnicas adequadas de
conservação de solo nas propriedades rurais. Além de estar assoreado, o córrego
apresenta um alto nível de poluição, cuja origem se deu, principalmente, a partir do
despejo de esgotos domésticos clandestinos, resíduos de postos de gasolina e rejeitos
industriais.
Voçoroca nos arredores da cidade, próxima ao bairro do Sol Nascente. Propriedade do Sr. Auro Sato. 25/03/2011. Arquivo pessoal da autora
No alto à direita, a voçoroca vista por satélite. Fonte: Google Eart, (2011)
Voçoroca nos arredores da cidade, próxima ao bairro do Sol Nascente. Propriedade do Sr. Auro Sato. 25/03/2011. Arquivo pessoal da autora.
A erosão urbana nas áreas do solo arenito Caiuá tem se constituído num
dos principais desafios para as administrações dos municípios, pois, a degradação
ambiental provocada pela erosão, requer grande dispêndio de recursos para ser sanada.
Recursos que na maioria dos casos não existem.
Segundo Mendonça (1990), a erosão ameaça 37% do território paranaense.
Essa erosão se intensifica nos solos de baixa coesão, como os solos do Arenito Caiuá.
Além da erosão nas áreas urbanas, é muito comum a erosão nas áreas agrícolas, onde o
plantio direto ainda não se efetivou, onde o arado, removendo o solo, facilita a ocorrência
da erosão.
A intervenção do homem no meio ambiente tem sido muito agressiva. Se
não houver respeito às regras básicas, os impactos ambientais serão inevitáveis, podendo
tornar-se irreversíveis.
Fazendo uma retrospectiva, considerando a cidade de Loanda, na época
em que era cercada de mata virgem. Nessa época, por ocasião de grandes chuvas, a
presença das árvores e arbustos enraizados, fixava o solo, ao mesmo tempo permitia que
a água nele penetrasse, sem que escorresse. Assim, não provocando a formação de
sulcos, que são projetos de grandes erosões. Porém, essa vegetação que protegia o solo,
foi substituída por ruas, calçadas e áreas internas residenciais, totalmente pavimentadas
e impermeabilizadas. Dessa forma, as águas pluviais vão se acumulando, adquirindo
volume e velocidade e quando saem do sistema de galerias, atingem agressivamente o
solo no fundo dos vales da cidade, provocando erosão.
Pense, reflita e responda: O solo, quando modificado para cultivo ou desprovido de sua vegetação originária, fica propício à erosão, capaz de remover mil vezes mais material do que se este mesmo solo estivesse coberto. Por ano, o Brasil perde aproximadamente, 500 milhões de toneladas de solos através da erosão.
• Na região Noroeste,como ocorre esse processo? O processo de degradação do solo pode começar pela retirada
da vegetação natural em função das atividades ligadas à agricultura e à pecuária. Desencadeia-se, então, um conjunto de processos que envolvem a degradação dos recursos hídricos, a erosão e o empobrecimento dos solos.
• Explique como ocorrem os seguintes processos: erosão do solo pelas
águas da chuva (erosão pluvial), empobrecimento dos solos e assoreamento dos cursos de água.( UEM/CVU Vestibular de Inverno/2007 ).
• Depois de uma visita à voçoroca Vila Vitória, em Loanda, analisar como iniciou e evoluiu esse processo de erosão.
Fonte: Projeto Paraná Biodiversidade (2009)
O Governo do Estado do Paraná vem propondo ações para neutralizar
esses impactos e diminuir os prejuízos, principalmente na área rural, em conseqüência de
erros do passado. Além da própria Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento
(SEAB), as principais instituições paranaenses que se ocupam da problemática da erosão
rural são: a EMATER/PR (Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão
Rural) e o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).
O Relatório Paraná Biodiversidade, no que se refere à política ambiental do
governo do Paraná, afirma que o Paraná não assistiu passivo à degradação de seu meio
ambiente e da sua diversidade biológica, ao contrário, agiu fortemente.
Na década de 1980, criou os seguintes programas: Programa de
Reflorestamento de Pequenas e Médias Propriedades Rurais (REPEMIR); Programa de
Desenvolvimento do Oeste do Paraná (PRODOPAR); Programa Especial de Controle de
Erosão dos Solos no Noroeste do Paraná (PRODONORTE); Programa de Apoio
Integrado ao Pequeno Produtor Rural (PRO-RURAL); Programa de Manejo Integrado do
Solo e da Água (PMISA).
Na segunda metade dos anos 80, foi criado o Paraná Rural. Com recursos
do Banco Mundial, o programa aprimora e amplia as ações da PMISA, passando a utilizar
microbacias hidrográficasi como unidades de planejamento e desenvolvimento, criando
comitês participativos locais. Seu principal foco era o manejo e conservação de solos e de
recursos naturais em sistemas agrícolas, com ênfase para as práticas de conservação de
solos e introdução do sistema de plantio direto.
Na década de 1990 esse projeto foi sucedido pelo Paraná 12 Meses,
também com recurso do Banco Mundial, com característica do Paraná Rural, mas
procurava atacar a pobreza no campo, promovendo melhorias em saneamento básico,
em moradias e também a industrialização de produtos primários. Nesse contexto de
ampla ação ambiental, surgiu o projeto Paraná Biodiversidade.
Tal projeto foi executado entre 2003 e início de 2009, também financiado
pelo Banco Mundial, com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), pelo
Governo do Paraná, tendo como formuladores e executores as secretarias estaduais do
Planejamento (SEPL), do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMA) e da Agricultura e
Abastecimento (SEAB), o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), o Instituto Emater e a
Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (CODAPAR).
De acordo com o Relatório do Projeto Biodiversidade (2009), no território do
arenito, a produção agropecuária sempre esteve aquém das variáveis da conservação
ambiental. Vasto o rol das inadequações: falta de planejamento que considerasse
cenários macro-estratégicos e o manejo sustentável dos recursos naturais e da
biodiversidade, uso aleatório de tecnologias e de agrotóxicos, descaso com terraços,
divisão de piquetes e distribuição das águas, falta de conservação das matas ciliares e de
implementação na disposição das reservas legais. Soma-se esse colar de equívocos à
pouca fiscalização sobre fenômenos igualmente perniciosos, como o tráfico de espécies,
incêndios florestais, exploração indevida dos recursos minerais, caça e pesca ilegais.
Ainda, segundo esse relatório, atualmente, a maior parte da Floresta
Estacional Semidecidual, remanescente da chamada “selva paranaense”, encontra-se
confinada em três unidades de conservação: o parque Nacional da Ilha Grande, na
fronteira com o Mato Grosso do Sul, com seu completo de várzeas, florestas aluviais e
mais de 300 ilhas; a Estação Ecológica do Caiuá, nos municípios de Diamante do Norte,
Terra Rica e Paranavaí; e a Reserva Ecológica de São Camilo, em Palotina, totalizando
pouco mais de 276 mil hectares.
Fonte: Relatório Projeto Paraná Biodiversidade (2009).
Fonte: Relatório Paraná Biodiversidade(2009)
Apesar de toda agressão, a riqueza ainda existe. A floresta resistiu, mesmo
se refugiando em pequenas manchas ou ao abrigo das unidades de conservação locais.
Ainda apresenta elevada representatividade de espécies de aves migratórias (22
espécies), grande número de espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção, raras
e vulneráveis (17% das 235 espécies vegetais em perigo de extinção no Estado, ocorrem
na região), elevado endemismo de peixes e a presença significativa de espécies vegetais
de interesse econômico, como a fafia, o pau marfim, o jaracatiá e aguapeva. Essa coleção
de preciosas e resistentes qualidades é que atestam a alta relevância, a níveis global,
regional e local, da Floresta Estacional Semidecidual. Mesmo com a redução drástica do
seu território ela abriga populações importantes, algumas ameaçadas, como a jacutinga, o
cervo-do-pantanal, o gavião-real, a onça-pintada (Relatório do projeto Paraná
Biodiversidade, 2009).
Fazer críticas ao desmatamento, extinção e outros temas ligados à
biodiversidade é relativamente fácil, porém, é muito difícil encontrar consenso entre visões
de pessoas em diferentes grupos de interesse e propor soluções que levem a um
desenvolvimento sustentável.
O Estado, em parceria com ONGs, através do Paraná Biodiversidade,
executou 41 projetos conservacionistas voltados à pesquisa, educação ambiental ou
proteção de remanescentes florestais em bom estado de conservação.
O referido projeto foi desenvolvido visando promover a conservação da
biodiversidade e o manejo sustentável de recursos naturais em duas ecorregiões no
Estado, onde se encontram remanescentes de dois biomas ameaçados: a Floresta
Estacional Semidecidual e a Floresta Ombrófila Mista(Floresta de Araucária). Para tal, o
Paraná Biodiversidade, implementou três corredores ecológicos, cada qual com
características ambientais e socioeconômica singulares, somando dois milhões de
hectares, o que equivale a 10% do território do Estado concentrando nas microbacias ali
existentes, procurando integrar harmonicamente as atividades produtivas e a conservação
ambiental. Esses corredores são: Corredor Iguaçu-Paraná; Corredor Araucária e Corredor
Caiuá-Ilha Grande, onde se insere o Município de Loanda.
Para efeito de planejamento e ação, o projeto repartiu seu território em 280
microbacias hidrográficas. Juntamente com representantes da comunidade local, definiu
como prioritárias aquelas que reuniam em seu território áreas expressivas de unidade de
conservação e remanescentes florestais. Segundo informações do relatório, um sistema
de informações geográficas permitiu identificar, em cada microbacia, os lugares em que a
pecuária era realizada de modo sustentável e aqueles em que havia conflitos do uso do
solo e passivos ambientais. Para cada caso, foram geradas propostas para a superação
dos problemas.
Atualmente, dando continuidade ao projeto Paraná Biodiversidade, os
órgãos governamentais estão empenhados em complementar os objetivos propostos,
realizando plantio de mudas nativas da região, mesclando-as aos plantios de eucaliptos.
Paralelamente foi criada uma cooperativa denominada Coopercarbono com o objetivo de
comercializar o carbono retirado da atmosfera, como se refere o artigo:
A partir desta pesquisa, concluímos que o governo do estado do Paraná tem
desenvolvido políticas com o objetivo de preservar o meio ambiente do nosso Estado,
especialmente a nossa biodiversidade. Os problemas ambientais ocorreram e ainda
ocorrem, não por falta de uma legislação norteadora para a ocupação e uso do solo, mas
pelo não cumprimento dessa legislação, em muitos casos. Isto demonstra que falta
consciência ambiental para a população de maneira geral.
Retornando à Loanda, objeto de destaque desta pesquisa, constatando que a
mesma se tornou um importante pólo metalúrgico, com especialização na produção de
torneiras.
No Paraná, agricultores se uniram em uma cooperativa, a Coopercarbono, e realizaram a primeira venda. Com técnicas como o plantio direto, agricultores podem retirar gás carbônico da atmosfera e até lucrar com a venda de crédito de carbono. O manejo correto do solo na agricultura pode ajudar o setor de agronegócio a sequestrar carbono da atmosfera e reverter a imagem de que a atividade traz danos ao ambiente e aumenta o aquecimento global. Práticas agrícolas como o plantio direto, a rotação de culturas e a agricultura de precisão podem em breve credenciar o setor a vender créditos de carbono no mercado internacional. (Fonte: Blog de Andrea Vialli - Estadão em 16/09/2009).
Maior produtor estadual de metais sanitários do Paraná, Loanda e região
produzem, entre outros itens, torneiras, materiais hidráulicos, registros, válvulas e
saboneteiras. A produção estimada em 800 mil peças/mês é comercializada para todo o
território nacional e chega inclusive a países do Mercosul. A região tem a segunda maior
concentração de empresas de torneiras do Brasil, perdendo apenas para São Paulo.
O potencial na produção de torneiras e na geração de renda (o faturamento
chega a R$ 80 milhões por ano) e empregos (2 mil empregos indiretos e 3 mil diretos
motivaram os empresários a se reunirem para formar o Arranjo Produtivo Local (Victor
Grein Neto - [email protected]).
A implantação dessas metalúgicas trouxe para o município progresso e
crescimento. Sabemos que no sistema capitalista tudo se constitui em mercadoria e tem
um preço. Partindo desta afirmação, esta pesquisa se encerra com um questionamento
que tenho certeza, preocupa muitos loandenses:
Qual o preço a ser pago pelo nosso município, quanto ao meio ambiente,
pelo progresso proporcionado pelas fábricas de torneiras?
Pesquise e responda
• Procure a EMATER e faça uma pesquisa, com o propósito de conhecer o que mudou em relação às políticas públicas de preservação dos solos no nosso Estado, com a mudança de governo.
• Pesquise , conheça mais sobre a Copecarbono e produza um texto sobre
essa cooperativa e o seqüestro de carbono.
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