educaçao em museus

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Martha Marandino (org)

Educao em museus: a mediao em foco

Universidade de So Paulo Faculdade de Educao

Educao em museus: a mediao em focoMartha Marandino (org) Alessandra Fernandes Bizerra Ana Maria Navas Djana Contier Fares Lilia Standerski Luciana Magalhes Monaco Luciana Conrado Martins Maria Paula Correia de Souza Viviane Aparecida Rachid Garca

Realizao

So Paulo 2008

2008 Universidade de So Paulo Faculdade de Educao Geenf Grupo de Estudo e Pesquisa em Educao No-formal e Divulgao em Cincia Organizao: Martha Marandino Financiamento: Pr-Reitoria de Cultura e Extenso Universitria

Apoio: FEUSP, FAPESP e CNPq

Livro elaborado com apoio dos participantes do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educao No-formal e Divulgao em Cincia da Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo durante o 1 semestre de 2007: Adriano Dias Oliveira, Carla Wanessa A. Caffagni, Cynthia Iszlaji, Elizngela Florentino, Fabola A. C. Meireles, Mrcia Fernandes Loureno, Maurcio Salgado, Tnia Cerati. Edio: Geenf Grupo de Estudos e Pesquisa em Educao No-formal e Divulgao em Cincia/FEUSP Projeto grco e diagramao de capa e miolo: Celso Longo | Imageria Estdio Preparao e reviso de texto: Jorge de Lima | joralimaTEXTO

E24

Educao em museus: a mediao em foco/ Organizao Martha Marandino So Paulo, SP: Geenf / FEUSP, 2008. 48 p.; 21 x 28 cm. Texto em portugus. ISBN: 978-85-60944-04-0 1. Educao em museus 2. Educao no formal 3. Cincia Educao I. Marandino, Martha, org. CDD 21ed. 371.3

FEUSP Cidade Universitria, Butantan. Avenida da Universidade, 308. So Paulo / SP Brasil. CEP 05508-040. Telefone (55 11) 3091 2404 Geenf [email protected] | www.geenf.fe.usp.br

ndiceApresentao Captulo 1. Educao, comunicao e museus 1.1. Aspectos histricos da educao em museus at os dias atuais 1.2. Os museus como espaos de educao no-formal 1.3. A dimenso educativa dos museus 1.4. A dimenso comunicativa dos museus Capitulo 2. A mediao em foco 2.1. Aspectos da pedagogia museal 2.2. Aprendizagem em museus e processos de mediao 2.3. Pblico em museus 2.4. Relao museu-escola 2.5. A importncia da avaliao em museus 2.6. O papel do mediador nos museus Atividades Atividade 1. Explorando o setor educativo dos museus Atividade 2. Planejando a monitoria de um museu Atividade 3. Estudo de caso: visitas guiadas Atividade 4. Ocina de comunicao Referncias bibliogrcas 5

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ApresentaoEducao em Museus: a mediao em foco surge a partir da percepo, por um lado, da crescente importncia dada ao trabalho dos mediadores nos museus e, por outro, da certeza de que necessrio investir cada vez mais na sua formao. A experincia vem demonstrando que esse prossional gura chave nos processos de educao e de comunicao com o pblico. Especialmente no Brasil, a mediao humana amplamente utilizada. por meio dos mediadores que os visitantes conhecem os museus nos seus aspectos de contedo, mas tambm a sua organizao, a sua arquitetura e a sua funo social. No nos parece forte demais armar que o mediador a voz da instituio, mesmo que nem sempre se tenha plena conscincia do que isso representa. O livro tem origem em um curso de extenso com o mesmo nome, oferecido pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Educao No-formal e Divulgao em Cincia (GEENF), da Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo. A proposta do curso surgiu da inquietao de seus membros muitos deles com experincia passada ou atual na funo de mediadores e educadores de museus com relao atuao e formao desse prossional. Tal inquietao tem levado ao aprofundamento terico e formulao de projetos de pesquisa que buscam entender como tem sido feita a formao dos mediadores e como vem sendo realizada as aes de mediao em diferentes instituies museais. Dessas reexes surgiu a necessidade de propor um curso de formao que tivesse caractersticas prprias, diferentes daqueles que em geral so oferecidos pelos museus. Mas quais seriam essas diferenas e como isso determina os contedos desse livro? Em primeiro lugar, o GEENF no um museu, mas um grupo de estudo e pesquisa, localizado na Faculdade de Educao da USP. Esse contexto fornece uma viso particular sobre os processos de mediao dos museus com o pblico: a perspectiva da pesquisa e da educao. Nos propomos aqui a fornecer material que possa contribuir na formao dos mediadores em seus aspectos pedaggicos, especialmente conectados com a educao em museus. E quem so os mediadores dos museus? So aqueles que atuam nos setores educativos e/ou culturais

dessas instituies, educadores e monitores, mas tambm os professores, agentes de turismo, ou qualquer outro prossional que trabalhe mediando os conhecimentos apresentados nas aes educacionais dos museus com o pblico. Esses prossionais, em geral, possuem formao diversicada, seja nas reas especcas das cincias ou das humanidades, seja em reas mais tcnicas. Contudo, ao exercer a funo de mediadores, todos assumem a tarefa de tornar o conhecimento produzido acessvel aos mais variados pblicos, despertando curiosidades, aguando interesses, promovendo o contato com o patrimnio. Nessa unidade de ao encontra-se a especicidade do trabalho do mediador e sobre ela que esse livro pretende tratar. Educao em Museus: a mediao em foco est dividido em trs captulos, elaborados a partir de eixos temticos considerados fundamentais na formao de mediadores. O primeiro captulo, Educao, comunicao e museus, mais conceitual e busca discutir elementos tericos da dimenso educativa e comunicacional desses espaos, no que se refere aos aspectos histricos, polticos e sociais. O segundo captulo fornece elementos diretamente ligados atuao do mediador. A partir da discusso sobre a pedagogia museal, os pblicos dos museus, a aprendizagem, a relao com a escola e a avaliao, o captulo, intitulado A mediao em foco, busca reetir sobre o papel do mediador desses espaos de educao no-formal. Por m, o terceiro captulo prope atividades a serem desenvolvidas pelos mediadores no seu processo de formao que auxiliam no s a concretizar os temas abordados no livro, como tambm a reetir sobre a prtica desse prossional. O GEENF, desde sua origem, desenvolve atividades de estudo e pesquisa voltadas mais especicamente aos museus de cincias. Esse vis, oriundo da formao de grande parte dos prossionais do grupo, est impresso nesse livro. No poderia ser de outra forma, j que as idias que aqui trazemos tm por base os estudos realizados nesse universo especco de museus. Contudo, a dimenso educativa e, em especial, a formao e atuao dos monitores extrapolam qualquer tipologia de museus. Nesse sentido, consideramos que o livro possa ser utilizado para auxiliar a reexo sobre o tema em diferentes tipos de museus e em variados contextos nos quais a mediao humana entre conhecimento e pblico acontea.

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Captulo 1.

Educao, comunicao e museusEste captulo se prope a apresentar aspectos conceituais da educao em museus especialmente voltados para a percepo histrica, poltica e social dessas instituies. Aborda, de forma sucinta, aspectos histricos dos museus em geral e fornece informaes particulares sobre os museus de cincias nos contextos internacionais e nacionais. Faz referncia especial ao momento atual das polticas nacionais voltadas a essas instituies e busca desenvolver aspectos relativos s dimenses educativas e comunicativas desses locais.

1.1. Aspectos da histria da educao em museus at os dias atuaisO entendimento dos museus como espaos de educao uma percepo relativamente recente na histria dessas instituies. Para os autores Allard e Boucher (1991), o desenvolvimento da funo educativa dos museus est dividido em trs etapas sucessivas. A primeira delas marcada pela criao e insero de museus em instituies de ensino formais, no caso, as universidades. o caso do Ashmolean Museum da Universidade de Oxford, fundado em 1683, com amplas colees de histria natural e geologia. Seu acesso era restrito a estudiosos possuidores dos conhecimentos de referncia necessrios para a compreenso das exposies. A abertura do Ashmolean Museum, na Universidade de Oxford, tambm marca o incio da era dos museus pblicos. nesse perodo que muitos colecionadores particulares comeam a doar suas colees para o estado. A partir desse momento, imbudos do esprito do estudo e difuso do saber por meio da observao, so abertos em diversos pases europeus museus e colees pblicas estatais. Utilizando a exposio exaustiva de suas colees em grandes edifcios, esses museus tinham como objetivo principal a instruo do pblico por meio da observao dos objetos. Em um primeiro momento, eram colees misturadas de curiosidades, artes e objetos culturais e naturais que, paulatinamente, foram se transformando e se especializando, traduzindo uma organizao baseada na nascente delimitao das reas de pesquisa e conhecimento. Muitos museus desse perodo, que na Europa vai at o nal do sculo XVIII, traziam embutidas as conguraes prprias uma instituio de pesquisa e foram os responsveis pela estruturao de disciplinas cientcas como a Histria, a Geologia, a Paleontologia, a Biologia e a Antropologia, entre outras. A segunda etapa do desenvolvimento da funo educativa dos museus foi marcada pela progressiva entrada de um pblico mais amplo, e de classes sociais diferenciadas, nos recintos museolgicos. Foi como parte de um projeto de nao, em um esforo de modernizao da sociedade, que em ns do sculo XVIII o museu passou a ser considerado como um lugar do saber e da inveno artstica, de progresso do conhecimento e das artes, onde o pblico poderia formar seu gosto por meio da admirao das exposies. A partir Esses ideais democratizantes, inspirados na Revoluo Francesa, fomentaram, por um lado, a abertura de mais Perseguindo o ideal democrtico do sculo anterior, o museu do sculo XIX pretendia ser um espao pedaggico de vulgarizao, de difuso e de aculturao, inserido num esforo geral de modernizao da sociedade (KPTKE, 2001, 2002: p. 21). desse momento, os museus passaram a desempenhar um papel mais relevante na sociedade, em estreita colaborao com os governos nacionais de cada pas. O sculo XIX, chamado de sculo de ouro dos museus, testemunha o crescimento e a ampliao dessas instituies em todo o mundo. Foi tambm no sculo XIX que comearam a surgir os primeiros museus no Brasil. Criadas dentro dos moldes dos grandes museus europeus e norte-americanos, as instituies brasileiras tambm se preocupavam em coletar, catalogar e estudar os vrios elementos do mundo natural e cultural do pas. O primeiro museu a surgir no Brasil foi o Museu Real (Rio de Janeiro), criado em 6 de julho de 1808. Com uma coleo baseada nas cincias naturais, posteriormente tornou-se Museu Nacional. Foi esse o modelo que inspirou mais tarde a criao do Museu Paraense Emlio Goeldi (Belm, 1866), do Museu Paranaense (Curitiba, 1883) e do Museu Paulista (So Paulo, 1895).

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Educao em museus: a mediao em foco

museus pela Europa e pela Amrica e, por outro, a preocupao com o vis educativo das instituies. Tais preocupaes desembocaram, na Europa, em projetos governamentais nos quais a instruo formal obrigatria tinha como complemento natural as visitas a museus. Era o ideal da lio das coisas, no qual o aluno visitava o museu para observar ao vivo o que havia sido ensinado em teoria nos bancos escolares. Foi nesse contexto de exaltao das vantagens pedaggicas das visitas de escolares a museus que foram criados, dentro dessas instituies, os chamados servios educativos. Mas nem tudo era to simples. Voltados para o atendimento desse novo pblico, esses primeiros servios educativos contavam com prossionais pouco especializados na funo pedaggica. Na maior parte dos casos, as visitas eram guiadas pelos prprios curadores das exposies, que tambm eram os responsveis pela sua manuteno diria e estudo. Sendo especialistas no assunto, os curadores enfrentavam desaos para transmitir seu conhecimento a uma platia. J os professores das escolas, por desconhecerem as especicidades desses locais, no detinham as ferramentas pedaggicas necessrias para utilizar as colees dos museus. Nesse perodo foi determinante a inuncia dos museus ingleses. Responsveis pelo desenvolvimento de diversas aes voltadas para o pblico escolar, eles contribuiram para o fomento das primeiras reexes

sobre o papel educacional dessas instituies frente educao escolar, alm das melhores maneiras de se trabalhar com esse pblico dentro da instituio museal (GARCA BLANCO, 1999). A terceira e ltima etapa da consolidao do papel educativo dos museus, segundo Allard e Boucher (1991), aconteceu ao longo do sculo XX. Levados pelo aumento e diversicao do pblico, os museus no poderiam mais se contentar em apenas expor suas obras. Era necessrio encontrar os meios para assegurar que os visitantes as entendessem e apreciassem. A preocupao com a utilizao educacional dos acervos expostos levou cada vez mais os museus a introduzirem estratgias que facilitassem a comunicao com o pblico dentro de suas exposies. Durante a primeira metade do sculo XX, iniciaram-se em vrios pases pesquisas com os visitantes (GARCA BLANCO, 1999) que indicavam a necessidade de montar exposies a partir de selees do acervo especcas que respeitassem as caractersticas e os interesses de cada tipo de pblico especialista ou leigo. Dessa forma, as antigas exposies nas quais todo o acervo era exibido foram aos poucos sendo substitudas por selees representativas de cada temtica abordada. Nesse momento, foi importante para os museus europeus a inuncia dos museus norte-americanos. Os museus dos Estados Unidos eram famosos por usarem aparatos miditicos e reconstituies de ambientes (dioramas) que facilita-

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vam a compreenso das temticas, tornando as exposies mais inteligveis e educativas. Apesar dessas vrias modicaes na forma de expor os objetos e de estabelecer um relacionamento com o pblico, foi s a partir da segunda metade do sculo XX que os museus passaram a ser reconhecidos formalmente como instituies intrinsecamente educativas. Essa faceta dos museus surgiu quando os servios educativos iniciaram o atendimento especco para os diversos pblicos a partir da denio de objetivos pedaggicos precisos (KPTKE, 2003). Em 1948 foi fundado na Frana o International Council of Museums (ICOM), primeira associao internacional de prossionais de museus. Para sua presidncia foi eleito Georges-Henri Rivire, fundador do Muse des Arts et Traditions Populaires (Frana) e criador do conceito de ecomuseu. Esse conceito tinha como eixo principal o fomento da relao da sociedade com seu patrimnio em um determinado territrio. Sua inspirao vinha dos museus nrdicos ao ar livre, cujas preocupaes educativas ajudaram a fomentar uma nova maneira de contextualizar os objetos e de preservar as tradies culturais passadas e presentes de uma determinada sociedade. Os debates em torno da idia de ecomuseu inspiraram o surgimento da Nova Museologia, cujo eixo norteador baseado na ampliao da idia de museu e do conceito de patrimnio. Na Nova Museologia as aes educativo-culturais ganharam uma dimenso ampliada, na busca por novos mtodos e estratgias de engajar os diversos grupos sociais de forma a torn-los co-responsveis pela preservao de seu prprio patrimnio. Essa nova forma de pensar o papel dos museus inuenciou os prossionais dessas instituies ao redor do mundo. Especialmente na Amrica Latina esse tipo de reexo encontrou um campo frtil de desenvolvimento e, nesse contexto, nas dcadas posteriores, se fortaleceu a viso dos museus enquanto instrumento de ao social transformadora e se fortaleceu, tambm, a importncia das exposies e das aes educacionais como veculos dessa transformao. No que se refere especialmente aos museus de cincias, um outro movimento, advindo do campo especco da cincia e da divulgao cientca, inuenciou fortemente a ampliao dessas instituies no mundo todo. Se estabelecem, assim, no sculo XX, uma verdadeira indstria cultural voltada para a divulgao da cincia, formada por nanciadores, animadores cultu-

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rais, instituies etc. (FAYARD, 1999). Nos anos 1960 foi criado, nos Estados Unidos, o Exploratorium, centro de cincias interativo cuja exposio apoiava-se nos fundamentos das teorias cognitivistas de aprendizagem e na perspectiva do aprender fazendo. Esse tipo de museu ganhou fora e foi reproduzido em vrios lugares do mundo. Dentro desse contexto, tambm importante ressaltar o crescimento do nmero de museus e centros de cincia que ocorreu no Brasil a partir da dcada de 1980. So exemplos dessa fase o Museu de Astronomia e Cincias Ans (MAST), criado em 1985, no Rio de Janeiro; a Estao Cincias, criada em 1987, em So Paulo, e o Museu Dinmico de Cincias, criado tambm em 1987, em Campinas. Tais instituies desempenharam papel inovador ao apresentarem exposies interativas e ao adotarem princpios pedaggicos construtivistas no desenvolvimento das atividades propostas. Essa nova forma de se relacionar com o pblico teve como conseqncia o aumento da importncia das aes de divulgao cientca no pas. Como visto no breve histrico apresentado, os museus contam com mais de dois sculos de histria no Brasil e, ao longo desse perodo, o seu papel educativo vem-se consolidando e fortalecendo. Mas, que mecanismos possibilitam o desenvolvimento e a continuidade das iniciativas que vm sendo realizadas? Que recursos nanceiros estveis suportam hoje as suas aes? No Brasil, os recursos nanceiros destinados para museus foram sempre escassos (CAZELLI, 2005). No entanto, algumas iniciativas recentes devem ser conside-

radas, entre as quais a gesto do Ministrio de Cultura e, de forma especca, do Departamento de Museus e Centros Culturais, o qual criou, a partir de 2003, as bases para discutir a formulao de uma poltica pblica voltada para os museus brasileiros. Esta ao encontrou suporte em um dilogo estabelecido entre diferentes pessoas e entidades vinculadas museologia, academia e s secretarias estaduais e municipais de cultura. Como fruto da Poltica Nacional de Museus foi criado, em 2004, o Sistema Brasileiro de Museus (SBM), cujas funes se centram no apoio e fortalecimento de sistemas regionais, estaduais e municipais de museus. O SBM possibilitou o desenvolvimento de instrumentos dirigidos para estes espaos, como o Cadastro Nacional de Museus (2006) e o Observatrio Nacional de Museus e Centros Culturais (2006). Alm dessas iniciativas, a referida poltica possibilitou a consolidao de um programa nacional de formao e capacitao em museologia e a criao de um fundo de amparo ao patrimnio cultural e aos museus brasileiros. No caso dos museus de cincias, cabe destacar a gesto do Ministrio de Cincia e Tecnologia (MCT), no perodo 2003-2006, durante a qual diversas iniciativas de nanciamento foram promovidas, dentro da grande rea da popularizao da C&T. O Departamento de Popularizao e Difuso da C&T do MCT considerou, como parte das suas funes, o apoio a museus e centros de cincias no pas. Por conta disso, alguns editais de apoio a museus e centros de cincias foram propostos, nanciando diversas atividades, como

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a revitalizao e o aprimoramento de espaos existentes, a formao de clubes e outros locais de divulgao cientca, de equipamento cientco, a implantao de salas de informtica e de laboratrios e o desenvolvimento de tecnologias da informao, entre outros. Vale destacar que o impacto e a forma como as mudanas propostas em mbito nacional e internacional atingem os museus so diferentes. Entretanto, possvel armar que alguns novos caminhos passaram a ser trilhados pela instituio museal, principalmente na relao com seus pblicos. Uma das mudanas mais notveis foi o crescimento do seu papel educacional. Muitas instituies comearam a contar com prossionais especcos para os chamados servios educativos. Com importncia sempre crescente, esses prossionais passam a reivindicar um papel mais efetivo na montagem das exposies, como forma de evitar problemas de comunicao que possam ser contornados antes das montagens (HOOPERGREENHILL, 1999b). Nossa aposta aqui que quanto mais os prossionais dos setores educativos puderem se envolver com as diferentes dimenses do museu, melhor podero exercer a funo de tornar esta instituio conhecida pela populao. Atualmente, cada vez maior a importncia dada mediao nesses locais. Se, por um lado, sabemos que uma exposio no deve ser entendida somente se mediada por uma pessoa, por outro, parece que a mediao humana a melhor forma de garantir que a mensagem proposta pelos idealizadores seja compreendida (CAZELLI, 2003; MARANDINO, 2001; GRINDER e MCCOY, 1998). No entanto, no qualquer mediao que garante uma compreenso efetiva e uma experincia prazerosa em uma visita ao museu. Aqueles que costumam visitar exposies certamente j vivenciaram experincias positivas e negativas de mediao, ambas fornecendo material para reexo sobre essa ao. Alm disso, cada vez maior a conscincia de que o mediador , de certa forma, a voz da instituio, o elemento de ligao entre o museu e o pblico.

No por outra razo, a preocupao com a qualidade da mediao vem se reetindo em investimentos cada vez maiores na formao dos prossionais dos setores educativos dos museus.

1.2. Os museus como espaos de educao no-formalComo vimos, ao longo de sua existncia, os museus foram assumindo cada vez mais (e de formas diferenciadas) seu papel educativo. Nesse aspecto, os museus vm sendo caracterizados como locais que possuem uma forma prpria de desenvolver sua dimenso educativa. Identicados como espaos de educao no-formal, essa caracterizao busca diferenci-los das experincias formais de educao, como aquelas desenvolvidas na escola, e das experincias informais, geralmente associadas ao mbito da famlia. Contudo, a caracterizao e a diferenciao dos espaos de educao no-formal no se constituem tarefa simples. Apesar de se reconhecer as especicidades educativas que os museus possuem, muitas vezes, os termos formal, no-formal e informal so utilizados de modo controverso: o que considerado por alguns como educao no-formal, outros denominam de informal; isso faz com que suas denies estejam ainda longe de serem consensuais. Podemos perceber, por exemplo, diferenas de denies nas literaturas anglofnica e lusofnica (CAZELLI, 2000). Os autores de lngua inglesa usam os termos informal science education (educao informal em cincias) e informal science learning (aprendizagem informal em cincias) para todo o tipo de educao que pode acontecer em lugares como museus de cincias e tecnologia, science centers, zoolgicos, jardins botnicos, no trabalho, em casa, entre outros locais voltados para as cincias. J os de lngua portuguesa subdividem a educao em cincias que ocorre fora da escola em dois subgrupos: educao no-formal e educao

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informal, associando esse ltimo aos ambientes cotidianos familiares, de trabalho, do clube etc. Mas por que os museus tm sido considerados locais de educao no-formal, especialmente no Brasil? Para compreender melhor essa percepo, importante salientarmos em qual contexto os termos aqui tratados emergiram. A educao no-formal tornou-se parte do discurso internacional em polticas educacionais no nal dos anos 1960 (SMITH, 1996). Naquela poca, esse tipo de educao focava as necessidades de grupos em desvantagens, tendo propsitos claramente denidos e exibilidade de organizao e de mtodos. J o sistema de educao formal, principalmente dos pases em desenvolvimento, apresentava lenta adaptao s mudanas socioeconmicas em curso, exigindo que diferentes setores da sociedade se articulassem para enfrentar as novas demandas sociais. Marco desse movimento o documento da UNESCO, de 1972, Learning to be The Faure Report, que rmou metas quanto educao ao longo da vida (lifelong education) e sociedade de aprendizagem (learning society). Esse documento inuenciou uma diviso j visvel do sistema educacional em trs categorias, descritas por Combs, Prosser e Ahmed, em 1973 (apud SMITH, 1996), como: educao formal: sistema de educao hierarquicamente estruturado e cronologicamente graduado, da escola primria universidade, incluindo os estudos acadmicos e as variedades de programas especializados e de instituies de treinamento tcnico e prossional. educao no-formal: qualquer atividade organizada fora do sistema formal de educao, operando separadamente ou como parte de uma atividade mais ampla, que pretende servir a clientes previamente identicados como aprendizes e que possui objetivos de aprendizagem. educao informal: verdadeiro processo realizado ao longo da vida em que cada indivduo adquire atitudes, valores, procedimentos e conhecimentos da experincia cotidiana e das inuncias educativas de seu meio na famlia, no trabalho, no lazer e nas diversas mdias de massa. Essa categorizao do sistema educacional bastante aceita tambm pelos pesquisadores e educadores brasileiros. Embora alguns autores, como Gaspar (1993), defendam o uso da distino educao formal/infor-

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mal, muitos consideram tambm os ambientes chamados de no-formais. Chagas (1993), por exemplo, entende que a educao no-formal veiculada pelos museus, meios de comunicao e outras instituies com o propsito de ensinar cincia a um pblico heterogneo. Por outro lado, a educao informal ocorre de forma espontnea na vida cotidiana por meio de conversas e vivncias com familiares, amigos, colegas e interlocutores ocasionais. Gohn (1999) nos d uma outra perspectiva para essa discusso. Para ela, a concepo de educao mais ampla do que a de aprendizagem e se associa ao conceito de cultura. Desse modo, educao no-formal trata de um processo com vrias dimenses, relativas aprendizagem poltica dos direitos dos indivduos enquanto cidados; capacitao dos indivduos para o trabalho, por meio de aprendizagem de habilidades; aprendizagem e exerccio de prticas que habilitam os indivduos a se organizarem com objetivos voltados para a soluo de problemas coletivos; aprendizagem dos contedos da escolarizao formal, em formas e espaos diferenciados; e educao desenvolvida na e pela mdia, em especial a eletrnica. Essa autora destaca os vrios espaos nos quais se desenvolvem as atividades de educao no-formal, como as associaes de bairro, os sindicatos, as organizaes no-governamentais, os espaos culturais e as prprias escolas; ou seja, nos espaos interativos dessas com a comunidade educativa. Para ela, entretanto, a educao no-formal no contempla experincias vivenciadas na famlia, no convvio com amigos, nos clubes, nos teatros, na leitura de jornais, nos livros etc, sendo estas categorizadas como educao informal, j que possuem carter espontneo e permanente. Enquanto concepes como essa contemplam o processo educativo, outras focam-se no processo de aprendizagem. Falk e Dierking (2002) cunharam a expresso free-choice learning (aprendizagem por livre escolha) como forma de enfrentar a confuso entre os termos formal, no-formal e informal. Para eles, a aprendizagem por livre escolha todo tipo de aprendizagem que pode ocorrer fora da escola, especialmente em museus, centros de cincias, organizaes comunitrias e nas mdias impressa e eletrnica (incluindo a internet). Na aprendizagem por livre escolha, o interesse e a inteno do aprendizado tm origem no indivduo, logo, no so impostas por elementos externos, como ocorre na escola. Mas, independentemente dessas denies focarem na instituio ou no aprendiz, no processo de ensino ou no processo de aprendizagem, acabam tendo como parmetro de comparao a educao formal. Nesse aspecto, interessante a proposta de Rogers (2004), de que a educao no-formal e a informal, em conjunto com a educao formal, devem ser vistas como um continuum e no como categorias estanques. Se considerarmos os critrios que diferentes pesquisadores e educadores utilizam para denir esses contextos (MARANDINO et al., 2004) e tendo em mente a idia de continuum, de Rogers (2004), poderamos imaginar a seguinte representao:

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Educao em museus: a mediao em foco

Contextos Educacionais Formal Propsitos:

No-formalGeral, com certicao

Informal

Especco, sem necessidade de certicao Individualizada, prtica Curto prazo, tempo parcial Flexvel, ausncia de currculo, aprendiz determina perl da atividade, relacionada comunidade, no avaliativa Interno, democrtico Centrada no aprendiz

Organizao do conhecimento: Tempo: Estrutura:

Padronizada, acadmica Longo prazo, contnuo, sequencial Altamente estruturada, currculo denido, atividade determina perl do aprendiz, baseada na instituio, avaliativa Externo, hierrquico Centrada no educador

Controle: Intencionalidade:

Por meio desse continuum, podemos analisar nossas instituies, e as atividades que nela desenvolvemos, de forma integrada ou separadamente. Podemos ainda realizar essa anlise pelo ponto de vista do aprendiz. Dessa forma, um museu, por exemplo, poderia ser nomeado como um espao de educao no-formal quando o pensamos como instituio, com um projeto de alguma forma estruturado e com um determinado contedo programtico. Mas, ao pensarmos sob o olhar do pblico, poderamos consider-lo como educao formal, quando alunos o visitam com uma atividade totalmente estruturada por sua escola, buscando aprofundamento em um determinado contedo conceitual (ou, como muitos professores dizem, tentando ver na prtica o que tm em teoria na sala de aula). E podemos, ainda sob o olhar do pblico, imagin-lo como educao informal, ao pensarmos em um visitante que procura um museu para se divertir em um nal de semana com seus amigos ou familiares. Entender as caractersticas dos diversos contextos educativos e reetir sobre aproximaes e diferenas entre eles nos ajuda a aprimorar a nossa ao educativa em museus.

daggicas prprias da educao nas aes desenvolvidas por essas instituies. O trabalho de Cazelli et al. (2003) ajuda a compreender como essas tendncias foram sendo assumidas por esses museus ao longo de sua existncia. Para apresentar tais idias, os autores tomam por referncia o artigo de McManus (1992), o qual aborda historicamente as geraes de museus. Na primeira gerao dos museus (MCMANUS,1992), que teve incio no sculo XVII com os Gabinetes de Curiosidades, apresentava-se os objetos e as colees particulares de reis, de forma inicialmente desorganizada, sem critrios cientcos delimitados. No sculo XVIII, incio dos museus de histria natural, as colees comearam a se organizar e a serem utilizadas para estudos e pesquisas, apesar de seu objetivo ainda no ser o de educar o pblico em geral. O foco da segunda gerao dos museus (MCMANUS, 1992), que surgiu nos sculos XIX e XX, esteve na cincia e na indstria. Nesse momento, nem a escola nem o museu enfatizavam a participao do pblico a partir da interatividade e da comunicao. Por isso, essas duas geraes de museus se aproximam do que foi chamado de pedagogia tradicional (CAZELLI et al., 2003). Ainda na segunda gerao de museus, iniciou-se uma tentativa de dilogo com o pblico. Para tornar

1.3. A dimenso educativa dos museusOs museus sofreram forte inuncia das teorias educacionais no mundo todo. Ao longo de sua existncia, a perspectiva educativa dos museus de cincias foi se modicando, sendo possvel identicar tendncias pe-

mais claro o entendimento da cincia, surgem aparatos interativos nos museus como proposta de serem uma nova maneira de comunicao com os visitantes, procurando, assim, manter o interesse do pblico. Este movimento deu origem, nos museus, aos aparatos interativos com respostas programadas e interao limitada,

Captulo 1. Educao, comunicao e museus

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caractersticas do tecnicismo educacional, que surgiu nos anos 1960, dentro da pedagogia nova (Ibid.). A terceira gerao de museus de cincias (MCMANUS, 1992), caracterstica da segunda metade do sculo XX, teve como tema os fenmenos e os conceitos cientcos, sendo marcada pela interatividade com os aparatos. A importncia dos museus de cincias passou a ser informar a sociedade (CAZELLI et al., 2003). O foco desta terceira gerao foi o sujeito ativo no processo educativo no museu e a aposta no seu engajamento intelectual atravs de sua interao. De forma mais intensa, a partir da dcada de 1980, a concepo educativa das exposies em museus de cincia recebeu aportes das teorias construtivistas, que enfatizavam o papel ativo do indivduo na construo de seu prprio aprendizado e armavam que a aprendizagem um processo dinmico que requer uma interao constante entre o indivduo e o ambiente (STUDART, 2000). Atualmente, a preocupao em tornar a exposio acessvel ao pblico enfatizada, de maneira que este pblico a compreenda, tornando-a signicativa. preciso que o visitante seja ativo e engajado intelectualmente nas aes que realiza no museu e que as visitas promovam situaes de dilogo entre o pblico e deste com os mediadores. Para isso, os setores educativos dos museus devem no s planejar bem suas atividades como conceb-las a partir de opes educacionais claras. Que tipo de concepo ou tendncia pedaggica orienta as aes dos museus onde atuamos? A resposta a essa pergunta no simples e certamente a riqueza das atividades educativas desenvolvidas pelos museus poderia ser entendida em vrias perspectivas pedaggicas, sejam elas liberais ou progressistas (LIBNEO, 1994). Por outro lado, ter clareza sobre quais concepes embasam nossas prticas torna nosso trabalho mais relevante e aumenta as chances de sua eccia. Algumas pesquisas j vm identicando essas concepes e vale a pena consult-las para melhor fundamentar a prtica pedaggica museal .1

vista do planejamento das aes educativas nos museus, importante que os educadores, incluindo nesse grupo os mediadores, identiquem os aspectos mencionados e faam opes conscientes sobre os modelos pedaggicos preponderantes em suas prticas.

1.4. A dimenso comunicativa dos museusDurante as ltimas dcadas, as abordagens comunicacionais em museus vivenciaram uma mudana de paradigma, que teve por premissa assumir o pblico como ator central no processo de comunicao. Considera-se, hoje, que seria responsabilidade desses espaos produzir exposies e atividades que resultem de pesquisas sobre as suas audincias. Apesar destas reexes no serem atuais (HOOPER-GREENHILL, 1999a), em alguns museus as exposies so ainda planejadas e produzidas sem considerar o pblico que ir freqent-las. Essa viso est apoiada em um modelo tradicional de comunicao que, historicamente, dominou as prticas de museus e cujo foco a transmisso de mensagens desde os prossionais at o pblico. Nessa perspectiva, os prossionais so responsveis pela seleo e recortes da informao a ser apresentada, enquanto que os visitantes so caracterizados como leigos, como aqueles que no sabem (BETANCOURT, 2001). No mbito dos museus de cincias, essa abordagem poderia estar associada ao modelo de dcit de divulgao cientca, utilizado durante muito tempo para explicar e promover relaes entre a cincia e a sociedade. O foco desse modelo, vigente ainda hoje, suprir (por meio de informaes) um dcit ou vazio de conhecimentos cientcos do pblico (LEWEINSTEIN, 2003). Atividades como leituras de textos e cartazes que dem grande peso aos contedos ou visitas guiadas que privilegiem a apresentao extensiva de conceitos poderiam exemplicar esse processo passivo de transmisso de informao. As crticas aos modelos de dcit e unidirecionais de comunicao criaram condies propcias para que outras abordagens fossem concebidas. Nesse processo, as experincias e informaes prvias do pblico comearam a ser consideradas como elementos chave para favorecer a compreenso de assuntos especcos.

Ao denir os objetivos educativos da atividade, ao selecionar os contedos que sero enfatizados, ao planejar as formas e estratgias usadas na visita e durante a mediao, ao denir os papis do mediador, do pblico, do professor ou dos demais participantes da ao e como se relacionam, estaremos fazendo opes que remetem a determinadas concepes pedaggicas. Do ponto de1. Ver, por exemplo, Ianelli (2007), Fahl (2003) e Cazelli et al. (2002).

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Educao em museus: a mediao em foco

As tendncias atuais entendem a comunicao em museus como um processo cultural (HOOPER-GREENHILL, 1999a) que acontece no em uma nica via, mas em via dupla, dos especialistas at o pblico e do pblico at os especialistas. Nessa abordagem, o signicado construdo por meio de um processo ativo de negociao de saberes e experincias, no qual todas as partes trabalham em conjunto para produzir interpretaes compartilhadas. Partindo de pressupostos dialgicos, esse modelo impe desaos ao ser levado prtica. possvel conceber uma exposio que contemple os saberes dos visitantes? vivel pensar em um trabalho conjunto entre prossionais, tcnicos, monitores e visitantes para o desenvolvimento de uma exposio ou de outro tipo de atividade proposta no museu? Para ser levada prtica, essa abordagem de comunicao prope a incorporao de estratgias de participao e envolvimento do pblico que valorizem, justamente, o que o pblico sabe e que coloquem esses saberes no mesmo nvel que os dos especialistas, na perspectiva de possibilitar um dilogo entre eles. Alguns exemplos de iniciativas empreendidas com esta viso podem ser mencionados. Entre eles, exposies que contem com espaos para debates, conduzidos por monitores; exposies que apresentem diversas posturas sobre uma mesma temtica, com o intuito de que o visitante se posicione; ocinas que propiciem reexo e posturas crticas sobre um determinado assunto apresentado na exposio etc. Tomando conscincia do desao que implica abandonar os predominantes modelos passivos de comunicao, seria possvel pensar na convivncia de abordagens passivas e participativas nos museus? Os pesquisadores Einsiedel & Einsiedel (2004) sugerem, para pensar os modelos de comunicao nos museus, a existncia de um continuum, uma linha imaginria com dois extremos, um passivo e um participativo. Ao longo dessa linha possvel localizar diferentes tipos de prticas, no excludentes, que podem tender mais para um extremo que para o outro. As leituras, por exemplo, se encontrariam no extremo mais passivo desse continuum; atividades como expedies, viagens e fruns incluiriam maior envolvimento do pblico. Por m, atividades como as conferncias de consenso2, desenvolvidas hoje em alguns museus de cincia, se encontrariam no extremo mais participativo. A convivncia entre atividades passivas e participativas remete necessidade de disponibilizar, para o pblico, informaes e contedos e tambm espaos de encontro e dilogo, de forma que diferentes posturas e vises de mundo tenham voz e possam ser legitimadas. imprescindvel que os educadores dos museus tenham clareza sobre quais modelos de comunicao utilizam em suas aes e em quais desejam pautar seu trabalho.2. As conferncias de consenso so realizadas hoje em museus de cincias em pases como Inglaterra, Canad, Estados Unidos, Alemanha e Holanda. Nessas prticas, o museu se transforma em um espao de encontro e discusso entre especialistas e no-especialistas ao redor de temas controversos e atuais de cincia e tecnologia.

Captulo 1. Educao, comunicao e museus

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Captulo 2.

A mediao em focoNesse captulo sero aprofundados aspectos da educao em museus, destacando o papel do mediador nas diferentes aes desenvolvidas e nas possveis reexes e avaliaes nas quais esse prossional deve estar envolvido.

2.1. Aspectos da pedagogia musealComo referido no captulo anterior, a educao em museus implica processos especcos. Tais particularidades se referem a elementos como o lugar, o tempo e a importncia dos objetos (VAN-PRAET e POUCET, 1992). Outro elemento tambm importante diz respeito linguagem, forma com que textos, imagens e objetos so apresentados nas exposies. O tempo, no museu, breve. Ele essencial para as estratgias de comunicao, j que devemos levar em conta que a visita poder ser a nica na vida do indivduo ou do grupo. Dessa forma, o tempo gasto frente a um aparato, painel ou objeto numa exposio determinado tanto pela concepo da mesma como pelo trabalho do mediador. O espao fsico em um museu tambm determina a forma com que a visita realizada. Como trata-se, em geral, de um trajeto aberto, o visitante deve ser cativado pela exposio durante seu percurso. Nesse sentido, importante haver preparao dos mediadores, dos dispositivos de recepo e de organizao do tempo no museu para evitar o possvel cansao comum nessas experincias. Uma exposio no deve ser compreendida como uma sucesso de temas independentes e sua apropriao implica diretamente na forma com que pensado seu percurso. Os objetos so elementos centrais e a alma dos museus, sendo tambm fonte de contemplao e interatividade. Assim, nas aes educativas dos museus essencial favorecer o acesso aos seus objetos, dando-lhes sentido e promovendo leituras sobre eles. Por meio dos objetos o visitante pode se sensibilizar e se apropriar dos conhecimentos expostos, assim como compreender os aspectos sociais, histricos, tcnicos, artsticos e cientcos envolvidos. Tais conhecimentos podem ser usados tanto para uma anlise pessoal, quanto para discutir com os outros visitantes, com os animadores, com os professores, etc. Em uma exposio de museu, as informaes que aparecem na forma de textos, imagens, aparatos interativos, objetos contemplativos, entre outros, tm a funo de cativar o pblico, ensinar e divulgar conhecimentos. Estas informaes recebem um tratamento especco para torn-las acessveis e fazerem sentido para os variados pblicos que visitam os museus. possvel perceber que o conhecimento cientco passa por vrias transformaes (transposio museogrca) para

se tornar o conhecimento exposto. O discurso expositivo fruto de adaptaes e transformaes de vrios outros discursos cientco, educacional, comunicacional, museolgico, entre outros determinadas pelas nalidades e objetivos da exposio e tambm pelas especicidades de tempo, espao e objetos nos museus, que, por sua vez, conguram certa linguagem especca de comunicao com o pblico (SIMMONEUX, JACOBI, 1997). Durante as aes de mediao fundamental a ateno aos aspectos mencionados sobre as caractersticas da pedagogia museal. O mediador deve, ao planejar suas aes e ao realizar a mediao com o pblico, considerar que este no deve ser exposto a longos perodos de exposio oral, no deve ser submetido leitura de textos imensos, mas deve, sim, saber se localizar, se sentir vontade para interagir, podendo dialogar com seus pares e com o mediador. Estes e outros elementos so decorrentes da especicidade que esses locais imprimem para aes educativas neles realizadas. Uma forma de compreender o papel da mediao na abordagem aqui apresentada o mediador se perceber enquanto um decodicador das informaes contidas na exposio. Na mediao entre o conhecimento exposto e o pblico, o saber apresentado sofre transformaes com objetivo de se tornar compreensvel ao pblico (ALLARD et al.,1996). Para isso, o mediador deve obter informaes sobre o visitante, buscando estabelecer pontes entre os conhecimentos que trazem conceitos, vivncias, idias e aqueles apresentados nesses locais. Elaborar estratgias ecazes e estimulantes, que articulem processos educativos e comunicativos adequados e os objetivos esperados nas aes que participam, um momento de criao e de produo de conhecimento prprio dos mediadores.

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Esse processo deve acontecer com base nas concepes e orientaes do setor educativo da instituio. Com a responsabilidade de formar os mediadores, esse setor deve coloc-los em contato no s com os conceitos cientcos presentes na exposio, como tambm com os aspectos gerais da educao e da comunicao em museus, para que estes possam ser elementos orientadores da sua prtica prossional.

visitantes, assim como existem alguns trabalhos que sintetizam os resultados destas pesquisas (MARANDINO, 2006; CAZELLI et al., 2003; STUDART et al., 2003). Alguns desses trabalhos tm mostrado como a organizao da visita e o tipo de informao comunicada ao pblico podem determinar maior ganho cognitivo, levando as pessoas a desfrutarem e aprenderem mais facilmente. Como, por exemplo, numa visita predominantemente de pblico infantil, as informaes centradas nos interesses da criana (como alguns aspectos

2.2. A aprendizagem em museus e os processos de mediaoO que se espera ao nal de uma visita a um museu? Quando formulamos essa questo, tomando como referncia os temas at aqui discutidos, surgem vrias reexes. Qual a satisfao do pblico em relao ao entretenimento, s interaes estabelecidas entre os visitantes, aos elementos envolvidos na exposio (o tempo disponvel para desfrut-la, os objetos expostos, o espao fsico, os mediadores e o seu discurso)? Tais reexes encontram-se imersas na visita ao museu e esto associadas heterogeneidade de seus pblicos. Uma visita a um museu pode ser mais do que divertimento, no s por estimular o aprendizado e a observao, mas por promover o exerccio da cidadania indistintamente, tanto atravs de suas atividades educativas, como por estimular a participao dos mais diversos grupos de pessoas dos vrios nveis socioeconmicos. Existem pesquisas que se preocupam com a inuncia da visita e o modo como ela conduzida e como ocorre a apreenso de conhecimento de seus

prticos da visita: o que ser mostrado, o que e onde comer, localizao dos sanitrios e bebedouros, etc.) podem deix-las muito mais relaxadas para voltarem sua ateno exposio e aos seus mediadores (FALK e BALLING, 1982). O entendimento do que aprendizagem tem se apoiado em diferentes reas do conhecimento, passando por referenciais educacionais ou oriundos da psicologia. Entre os principais fatores apontados como facilitadores deste processo esto as relaes pessoais estabelecidas na famlia, na escola e nos diferentes grupos nos quais os sujeitos esto inseridos (FALK e DIERKING, 2000; FALK e STORKSDIECK, 2005). Somado a estes, tambm observamos que os diferentes tipos de mediao (comunicao via mediadores ou placas) e contexto (social, histrico e cultural) presentes no cotidiano do visitante tm grande inuncia nas escolhas pessoais e, conseqentemente, no sucesso do processo de ensino-aprendizagem em museus. Nessa perspectiva, a aprendizagem pode ocorrer num dilogo constante entre o indivduo e o ambiente e, para compreend-la, necessrio considerar o con-

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texto no qual transcorre uma visita. Devemos considerar o contexto fsico, o qual envolve a exposio e seus elementos, incluindo os objetos da exibio, o prdio da exposio, e todo o ambiente onde h interao; o contexto pessoal, abrangendo todas as motivaes, expectativas, experincias, conhecimento e interesses prvios, valores dos visitantes e o controle e a escolha do caminho da sua aprendizagem; e tambm o contexto sociocultural, que envolve todas as formas de mediao que o indivduo estabelece durante a visita (FALK e DIERKING, 1992; FALK e STORSDIEK, 2005). As especicidades que cada pblico visitante apresenta podem nortear a compreenso de como os indivduos aprendem nos museus e levar a aes mais ou menos direcionadas a contedos especcos, interveno de mediadores e a uma poltica associada educao nos espaos museais. No intuito de atingir a diversidade de pblicos, sem perder a qualidade da informao, os museus tm investido cada vez mais na formao de mediadores capazes de explorar no s o contedo especco, mas a forma como eles so trabalhados: via boa comunicao visual, seja interativa ou apenas contemplativa, ou por meio da medio humana, descontrada e democrtica. Deste modo, os diferentes conceitos circulantes nos museus, trabalhados tanto pelos seus visitantes como por seus mediadores, so relevantes. O que se almeja ao nal da visita no especialmente a quantidade do que foi aprendido sobre a exposio, mas sim a qualidade das interaes humanas estabelecidas. Essas interaes so expressas por meio das falas dos sujeitos envolvidos

e podem evidenciar como o aprendizado se processou durante a atividade (ALLEN, 2002; GARCIA, 2006). Para nos lanarmos frente das relaes entre mediao e aprendizagem necessrio abrirmos um espao para esclarecer e problematizar o que comumente chamado de interatividade nos museus (CAZELLI et al., 2003; FALCO et al., 2003). Em se tratando especicamente de museus de cincias, houve um movimento histrico muito forte que se contraps forma contemplativa de participao do pblico, na qual os objetos no podiam ser manipulados pelos visitantes. A partir de ento, exposies e centros de cincias foram criados com a ntida vocao de serem espaos nos quais as pessoas pudessem aprender fazendo, explorando objetos e aparatos que tratavam de conceitos cientcos e que pudessem ser manipulados. Esse movimento, forte nos anos de 1980 a 1990 e presente at os dias atuais, fez surgir inmeros locais que tratavam essa prerrogativa como principal foco. A interatividade foi um vis assumidamente inuenciado pelos movimentos pedaggicos que apostavam nas teorias construtivistas, tanto nas escolas como nos museus de cincias. Contudo, com a ampliao das investigaes no campo da aprendizagem, a interatividade fsica isolada de outros tipos de vivncia comeou a ser questionada. A idia de que modelos interativos nas exposies no garantem necessariamente uma compreenso dos conceitos cientcos se fortaleceu, ou seja, a manipulao de aparatos ou objetos no garantia de envolvimento intelectual. Pensando nos museus e suas exposies, quais as interaes possveis de ocorrer em uma visita, considerando todos os elementos que a compe? Uma resposta possvel pauta-se na categorizao dos tipos de interatividade: 1) hands-on: que considera o toque e a manipulao fsica como a principal forma de interao; 2) minds-on: quando h engajamento intelectual e quando idias e pensamentos do visitante podem se modicar durante ou depois da visita, suscitando questionamentos e dvidas e 3) hearts-on: quando h estmulo emocional, j que a idia atingir a sensibilidade do visitante (WAGENSBERG, 1998). As exposies podem privilegiar apenas um desses aspectos, mas desejvel a presena das trs possibilidades, mesmo que trabalhadas em intensidades diferentes. As estratgias de relacionamento dos mediadores com o grupo devem incentivar a participao ativa. De maneira geral, existem trs tipos de visitao possvel:

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a visita-palestra, a discusso dirigida e a visita-descoberta (GRINDER e MCCOY, 1998). Na primeira delas, a visita-palestra, ocorre o aprofundamento de um tema da exposio por um especialista ou educador. Esse tipo de visita tem baixo nvel interacional, atraindo o pblico adulto especicamente interessado no tema abordado. Na discusso dirigida, a mediao se faz por meio de questionamentos, de forma a proporcionar o entendimento de aspectos comunicacionais pertinentes quela exposio. Para elaborar esses questionamentos e fomentar o debate, o educador estrutura um roteiro lgico, cujos objetivos educacionais foram previamente denidos e que deve ser adaptado para cada grupo recebido. O nvel de interao bastante alto nesse tipo de mediao, j que, para funcionar, pressupe-se intensa participao do pblico. Na visita-descoberta, atividades ou jogos so propostos dentro do espao expositivo. Ela possibilita a descoberta de novos elementos e olhares para um determinado contedo exposto. o tipo de visita mais interativa, pois depende quase que exclusivamente do visitante para ser realizada. Na maior parte das vezes, as visitas guiadas utilizam a estratgia de exposio: o pblico escuta o que o mediador expe. Esse tipo de visita faz com que os visitantes situados mais prximos ao mediador consigam ver o objeto e escut-lo, enquanto os mais distantes pouco enxergam ou escutam. Esse tipo de organizao no estimula a participao e o questionamento por parte dos visitantes. Restringir os momentos de exposio , portanto, uma necessidade nas visitas guiadas. interessante, por exemplo, fazer o pblico sentar-se em frente ao local no qual se quer trabalhar, se isso for vivel. Assim, todos podero ver os objetos expostos e o mediador poder propor questionamentos diretos sobre o que est sendo observado. Essa estratgia estimula a fala do visitante ao mesmo tempo em que confere importncia a ela. interessante que as modalidades de visita indicadas sejam trabalhadas de forma combinada, conseguindo, assim, mltiplos nveis de interao. Na verdade, o mais interessante valorizar, nas exposies e na mediao, aquele tipo de interao que promove o dilogo e a fala dos visitantes. As investigaes no campo da aprendizagem indicam o quanto importante nesse processo a verbalizao de idias, conceitos, dvidas e inquietaes. exatamente no processo de troca entre os visitantes e entre eles e os mediadores que a com-

preenso dos contedos e dos objetos expostos pode acontecer (ALLEN, 2002; GARCIA, 2006; SPIRAS, 2006). Nessa perspectiva, o papel dos mediadores no pode se restringir apenas em apresentar o que est exposto, o que visto e compartilhado. Considerando a extenso da instituio museal por meio de seu discurso, esse prossional deve se valer da sua abordagem pessoal para reformular contedos acessveis a todos os freqentadores de museus (GARCIA, 2006). Esse processo deve ser feito de modo a garantir a correo conceitual, mas, ao mesmo tempo, promover a aproximao das idias expostas pelo pblico, levando-o a reetir, a perguntar, a duvidar e a querer buscar mais e novas informaes sobre o tema abordado. Contudo, nem s de falas se faz uma mediao; h que se prestar ateno no outro, se instigar a curiosidade, se estabelecer o contato e facilitar a democratizao do conhecimento produzido nos museus, seja por meio de conversas, seja atravs de atividades utilizadas para atingir o corao e a mente de quem entra em um museu por um dia.

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2.3. Pblico em museusComo destacado nas sees anteriores, um dos principais papis do mediador dentro do museu a aproximao entre o conhecimento exposto e o pblico. Da mesma forma que importante que o mediador conhea a fundo seu objeto de mediao ou seja, a exposio e suas potencialidades , importante que conhea tambm o pblico, ou melhor, os pblicos do museu. Cabe, aqui, se fazer a diferenciao dos pblicos freqentadores dos museus e espaos culturais. Ao utilizarmos a palavra pblico no singular como se estivssemos homogeneizando um grupo de indivduos que no necessariamente pertencem a um mesmo grupo (STUDART et al., 2003). Neste caso, seria mais adequado falarmos em termos de pblicos, ou seja, consideramos que existem diferentes tipos de pblico que se tornam um grupo apenas se possurem caractersticas que os agrupem de alguma maneira, como, por exemplo, pblico familiar, pblico escolar, entre tantos outros. Neste contexto, vale caracterizar brevemente o que seriam alguns tipos de pblico e, com isso, trazer as reexes para diferentes abordagens de mediao, estratgias de discurso, etc. Pblicos escolares: estudantes e professores Os servios educativos das instituies culturais brasileiras e estrangeiras tm como um de seus principais pblicos habituais as escolas. Essa instituio, por suas caractersticas estruturais, tem nas atividades culturais extra-classe uma demanda constante. As aes delineadas para essa tipologia de pblico pressupem o trabalho em parceria, respeitando as especicidades educacionais de ambas instituies o museu e as escolas. Esse pblico ser tratado em maior profundidade no item 2.4. Relao museu-escola. Famlias Os grupos familiares tm composio variada e freqncia ainda pouco constante nos ambientes culturais. Contudo, em vrios pases as famlias vm se constituindo como um grupo homogneo de freqentadores de museus. Vrias pesquisas esto sendo feitas especialmente com esse pblico a ponto de caracterizar uma matriz de estudos de pblico em museus (ELLENBOGEN et al., 2004). Essas pesquisas traam um interessante perl desses visitantes, com relao ao que esperam, ao que fazem e ao que aprendem nesses espaos. Alm disso,

importante prever o potencial multiplicador das outras categorias de pblico, como os grupos organizados (escolares e terceira idade) em trazer seus familiares ao espao j visitado. Pblico especializado Formado por artistas, crticos, cientistas, acadmicos e estudantes de graduao, esse pblico compe grande parte dos visitantes de espaos culturais e museus por todo pas. As aes para esse pblico podem incluir seminrios, ocinas e debates com organizadores e curadores das exposies. Grupos organizados de terceira idade Os grupos de terceira idade so, cada vez mais, freqentadores de espaos culturais. Seus objetivos vo do lazer e convivncia social ao aprendizado de novos conceitos e prticas. Acredita-se que as exposies podem recepcionar esse pblico por meio de uma ao educacional especca, que leve em considerao suas necessidades. Portadores de necessidades especiais A incluso desse pblico um dos novos desaos que se colocam para as instituies culturais. Suas necessidades exigem a confeco de estruturas expositivas adaptadas e materiais de apoio especcos para cada tipologia. Alm disso, os mediadores devem receber formao que os capacite para o atendimento desse pblico. Grupos oriundos de ONG, associaes, sindicatos e clubes diversos Esses grupos podem ter composies e caractersticas singulares. Muitas instituies culturais tm, portanto, buscado atender essa demanda, por meio de aes conjuntas que equalizem os objetivos de ambas organizaes. Com a estruturao de seu programa de aes educacionais, as instituies podem empreender aes especcas para essa tipologia de visitante.

2.4. Relao museu-escolaUm dos pblicos mais signicativos nas visitas aos museus, em todo o mundo, o escolar, seja pela quantidade, seja pelas aes organizadas para atend-lo. No Brasil, pesquisas mostram que, na maioria das vezes, somente por meio da escola que crianas e jovens das classes em desvantagens econmicas visitam as ins-

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tituies culturais (CAZELLI, 2005). Essas so algumas das razes pelas quais estamos dando destaque a esse pblico nesse material. Entre museus e escolas existem mltiplas formas de cooperao e de interao. Para compreend-las necessria uma anlise mais aprofundada acerca dos objetivos das instituies envolvidas. Estabelecer uma parceria entre museus e escolas, portanto, passa pela sistematizao dos objetivos e pela explicitao das bases que determinam as aes especcas de cada uma dessas instituies (JACOBI e COPPEY, 1996; MARTINS, 2006). A formao dos educadores envolvidos nesse processo passo fundamental para o estabelecimento dessa parceria, tanto no que se refere s suas prticas especcas, como tambm ao balizamento das expectativas desses parceiros. Desse modo, necessria a formao dos professores, oriundos das escolas, nas linguagens e prticas especcas do espao museal, tanto quanto dos educadores de museus acerca dos objetivos e necessidades das escolas ao visitarem o espao museal. No se trata de subordinao de um ao outro, mas da possibilidade da interao pedaggica entre ambas instituies que respeite as misses e exigncias particulares de cada uma. Espera-se, do desenvolvimento da parceria entre museus e escolas, a possibilidade dos alunos estabelecerem atitude positiva e prtica autnoma de visita a museus. Para isso, os professores devem ter participao efetiva na estruturao do processo pedaggico da visita, que parta de uma negociao com a equipe de educadores do museu e que passe pela explicitao e concordncia a partir de objetivos mtuos. Nesse processo, importante a percepo das caractersticas diferenciadas entre as duas instituies (KPTKE, 2003). Conhecer o outro e aprender a dialogar, mediando as diferenas, so alguns dos caminhos pelos quais passam o sucesso dessa parceria educativa. Para a construo dessa parceria existem alguns modelos didticos que trabalham as diferenas entre museus e escolas, possibilitando ambas instituies dotarem de uma base cientca para suas aes. Esse o caso do modelo proposto por Allard e Boucher (1991), que explica as diferenas e negocia os conitos a partir da estruturao de um mtodo de trabalho comum. Esse modelo dividido em trs fases: diagnstico, execuo e avaliao. Em todas essas fases, as equipes pedaggicas do museu e da escola trabalham em conjunto na construo de objetivos e estratgias de interao que permitam a elaborao de um plano de trabalho comum. Nos deteremos aqui na fase da execuo, que tambm a da realizao do programa educacional propriamente dito, a qual dividida em trs momentos: antes, durante e depois da visita ao museu. Antes da visita so feitas as atividades de preparao. Elas serviro para motivar o aluno visita, favorecendo o domnio dos conhecimentos escolares sobre o tema que ser abordado, e para desenvolver as ferramentas necessrias interpretao e compreenso do museu. Dessa forma, na atividade de preparao os alunos investigaro o tema da visita. A partir de questionamentos dirigidos, eles devero coletar o maior nmero de dados possvel sobre o assunto escolhido. O objetivo da proposta despertar sua curiosidade e interesse sobre o assunto da visita, motivando-os a se engajarem em uma investigao cuja resposta s se completar no prprio museu. No momento da preparao tambm importante trabalhar aspectos tcnicos, como a denio de museu, para que serve essa instituio e quais as caractersticas da instituio a ser visitada. Os professores devem, nessa etapa, deterem informaes organizacionais, como: a descrio, o horrio das atividades e a organizao material do museu, de forma a responder a questionamentos e dvidas dos alunos. Depois dessa preparao, realiza-se a visita propriamente dita. Esse o pice de todo o processo. Para sua boa organizao e aproveitamento pedaggico, alguns princpios gerais devem ser considerados. A visita inicia-se com a acolhida do grupo. A forma como organizado e realizado esse momento ter impacto so-

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bre o comportamento dos alunos durante toda a visita. Esse o momento das boas-vindas e da apresentao do educador e/ou mediador do museu, que fornecer uma srie de informaes: o que ir acontecer durante as visitas, como sero feitos os deslocamentos, quais as regras de comportamento esperadas, qual o papel que ele e os alunos desempenharo durante as atividades e quais contedos sero abordados. Dando continuidade atividade de investigao proposta em sala de aula, deve-se entender a visita como um momento de coleta de informaes. Dessa forma, ela no deve ser sobrecarregada de contedos. Pelo contrrio, necessrio selecionar o que deve ser visto, tendo em vista o programa escolar estabelecido, por um lado, e as colees do museu, por outro. As atividades propostas devem ter aspecto ldico e divertido. Os jogos educativos so importantes, por fazerem parte do universo infantil e, ao mesmo tempo, conseguirem desenvolver diversos aspectos da personalidade das crianas. Dessa forma, importante ter em conta a diverso dos alunos durante a visita. Tambm necessrio prever momentos de relaxamento durante as visitas guiadas, nos quais os alunos possam circular livremente pela exposio, se apropriando eles mesmos dos contedos expressos, e do museu como um todo, ou para que possam descansar ou se descontrair. Um aspecto crucial da visita que todas as atividades previstas devem ser especcas de museus. A observao de objetos, o estmulo curiosidade sob ngulos diversos e o toque nos objetos, quando possvel, devem ser estratgias recorrentes dentro de uma prtica pedaggica no museu. sempre importante considerar que no existe necessidade de sair da escola para fazer uma atividade que poderia ser melhor desenvolvida dentro de sala de aula. Nas visitas aos museus podem ser visados objetivos pedaggicos diversicados, com o estmulo aos aspectos afetivos e psico-motores, relacionados ao aprendizado de atitudes, conceitos ou habilidades. Mais do que a memorizao de fatos, a visita ao museu deve ser um momento de aprendizagens diferenciadas. A avaliao, prtica j consolidada nos grandes museus do mundo, fundamental para o aprimoramento permanente, tanto dos produtos desenvolvidos quanto dos processos de comunicao e educao. Como levantamento sistemtico de informaes teis tomada de deciso, os processos de avaliao permitem no Aps a realizao da visita os alunos devero proceder anlise a sntese dos dados coletados. Na anlise, eles devero organizar os dados, comparando os anteriormente obtidos com aqueles adquiridos durante a visita, no intuito de responder aos questionamentos propostos. Na sntese, os dados sero integrados em um todo coerente que apresentar as respostas aos questionamentos prvios. Inserindo os dados coletados no museu dentro do processo de formao dos alunos, a visita perde seu carter isolado e episdico, passando a integrar as atividades escolares em um todo contnuo e permanente de aprendizagem. A busca de um denominador comum entre museus e escolas o objetivo da parceria entre essas instituies (MARTINS, 2006). Essa relao, entretanto, no imune aos conitos e diferenas. Tanto escolas como museus partem de concepes e mtodos de trabalho fundados sob perspectivas distintas e justamente o dilogo entre essas duas partes que promover uma relao de parceria entre elas.

2.5. A importncia da avaliao em museus

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apenas medir a adequao das aes da instituio aos objetivos, como tambm conhecer qual a leitura e experincia do pblico. Essas prticas podem ser classicadas conforme seus objetivos, seus paradigmas de referncia ou seu foco de interesse. Existem inmeras classicaes. Apresentaremos algumas referentes avaliao de exposies, para propiciarmos uma viso panormica do assunto. O Audience Research Center, do Australian Museum, disponibiliza em seu site3 um material bem sucinto no qual apresenta o que entendem por um processo completo de avaliao de exposio. Esse processo prev quatro fases: Avaliao Preliminar (Front-End Evaluation), Avaliao Formativa (Formative Evaluation), Avaliao Corretiva (Remedial Evaluation) e Avaliao Somativa (Summative Evaluation). De acordo com essa categorizao, a Avaliao Preliminar desenvolvida durante a concepo de uma exposio, para identicar o interesse e os conhecimentos prvios do pblico-alvo sobre o assunto. Esse tipo de avaliao costuma ser usado para determinar os temas, os pblicos, os objetivos, as mensagens e as estratgias interpretativas e tambm os melhores recursos expogrcos. A Avaliao Formativa acontece durante o desenvolvimento e a produo da exposio para testar componentes, como legendas, textos e aparatos interativos. A Avaliao Formativa importante pois possibilita que alguns acertos sejam feitos antes da elaborao do produto nal. A Avaliao Corretiva conduzida logo aps a inaugurao da exposio para vericar como o conjunto dos elementos se integra, para propor melhorias e sugestes prticas. Costuma ser mais focada para elementos arquitetnicos como iluminao, circulao de pessoas, entradas e sadas, mas pode englobar outros elementos de carter prtico. A Avaliao Somativa acontece quando a exposio j est montada e funcionando e utilizada para avaliar seus resultados. Podemos chamar esses resultados de impactos: se a exposio transmitiu a mensagem pretendida; se ocorreu aprendizado; a satisfao do pblico; a ecincia das estratgias de marketing, etc. Embora a nomenclatura destas diferentes fases seja recorrente nesse meio, podemos encontrar variaes em suas denies. Cury (2005) apresenta algumas variaes, propostas por diferentes autores, e acaba por

denir uma categorizao-sntese. As primeiras quatro fases so bem similares s propostas pelo Audience Research Center, mas a autora acrescenta outras duas que valem ser descritas aqui. A quinta fase seria a da Avaliao Tcnica ou Apreciao Crtica, que seria realizada pela equipe responsvel pelo design da exposio. Nela, levanta-se questes tcnicas no satisfatrias, so avaliados o projeto e o desenho do espao expositivo. A avaliao tcnica ou apreciao crtica colabora para o aprimoramento da equipe e pode ser entendida como exerccio de autocrtica. A sexta fase seria a Avaliao do Processo, tambm promovida pela equipe, mas, nesse caso, pela equipe de concepo e/ou execuo, e visa o renamento das metodologias e tcnicas de trabalho e de planejamento. Inmeros recursos podem ser utilizados para a coleta de dados em um processo de avaliao: lmagens de grupos, entrevistas individuais com o pblico ao nal da visita, questionrios annimos, grupos focais, entrevistas com membros da prpria equipe, observao da exposio e de grupos, entre outros. As tcnicas de coleta vo ser escolhidas, principalmente, de acordo com os objetivos da avaliao. Por exemplo, para avaliaes de carter mais tcnico, talvez a melhor maneira de acessar as informaes seja realizando entrevistas com membros da prpria equipe. Para avaliar a capacidade comunicativa de determinado objeto expositivo, gravar conversas entre os visitantes perto do elemento uma maneira adequada de obter informaes. Alm dos objetivos, os recursos disponveis tambm interferem na determinao da tcnica de coleta. Existem avaliaes desenvolvidas com oramentos altssimos, utilizando tcnicas e equipamentos sosticados, mas tambm possvel realizar avaliaes com poucos recursos, restringindo-se, por exemplo, ao preenchimento de questionrios. As avaliaes podem ser terceirizadas e desenvolvidas por consultores externos, sejam empresas ou pesquisadores, ou podem ser desenvolvidas pela prpria equipe da instituio. Assim como as tcnicas de coleta, essa escolha vai depender tanto dos objetivos da avaliao quanto dos recursos disponveis na instituio. Os mediadores, como membros da equipe educativa dos museus, podem fazer parte dos processos avaliativos que ocorrem na instituio. O envolvimento desses prossionais nesses processos pode se dar de pelo menos duas maneiras: como pesquisadores-edu-

3. acessado em outubro de 2007.

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cadores ou como sujeitos de uma pesquisa. No primeiro caso, seriam pesquisadores de um projeto de avaliao dentro da instituio ou poderiam tambm desenvolver projetos de carter avaliativo vinculados mediao. Nesta funo, participariam, junto com a equipe educativa, do planejamento da avaliao, do desenvolvimento dos instrumentos de coleta e tambm da coleta em si, como realizao de entrevistas ou conduo de uma lmagem, por exemplo. No segundo caso, os mediadores poderiam ser sujeitos de uma pesquisa, sendo eles prprios entrevistados, ou fazer parte de um grupo focal num processo de avaliao externa. Os mediadores so, muitas vezes, os sujeitos mais prximos do pblico nos museus, por isso, podem contribuir de forma signicativa nesses processos avaliativos. Instrumentos como livro de ocorrncia, reunies de equipe semanais, etc. podem ser entendidos como prticas de coleta de informao para alguns tipos de avaliao; por exemplo, aquelas avaliaes que tm como objetivo avaliar o prprio cotidiano da instituio e que tm como meta a melhoria da prtica.

Nesse sentido, o questionamento constante deve fazer parte do dia-a-dia do mediador. De perguntas mais gerais, tais como: Por que eu trabalho como mediador? Qual a minha funo neste museu? Qual a funo do lugar no qual trabalho? Qual foi o meu percurso at aqui? At questes que remetem diretamente prtica: Por que eu escolhi essa atividade? Por que eu tomei essa deciso e no outra? Por que essa visita no foi boa? Por que essa visita foi boa? O que posso melhorar na prxima visita? Por que ser que eles no responderam s minhas perguntas? Essas questes so exemplos de inquietaes que colocam este prossional numa posio de busca constante. comum ouvirmos falar que um prossional tem o dom para fazer algo, ou at mesmo que faz algo to bem que nasceu para aquilo. O uso da palavra dom nos induz a pensar que determinada habilidade uma caracterstica inata e que, portanto, no pode ser aprendida, muito menos ensinada. O mesmo acontece, invariavelmente, quando se fala de mediadores de museus: alguns tm o dom para a monitoria e outros no. Essa avaliao, se levada ao extremo, torna invivel a melhoria dos servios de monitoria nos museus, dado que

2.6. O papel do mediador nos museusO papel social dos museus , sem dvida, o de formao do indivduo. Sob a ptica educativa, o museu deve, como uma de suas principais funes, permitir a esse indivduo tornar-se sujeito de sua aprendizagem. Nesse contexto, as aes realizadas pelas instituies, no sentido da comunicao museolgica, adquiriram carter de educao no-formal, pois tratam da apropriao de conhecimento cientco pela sociedade fora do espao escolar. Essa apropriao , muitas vezes, facilitada por um servio educativo, o qual dispe de mediadores adequadamente formados para tal atividade. Os mediadores ocupam papel central, dado que so eles que concretizam a comunicao da instituio com o pblico e propiciam o dilogo com os visitantes acerca das questes presentes no museu, dando-lhes novos signicados. Porm, preciso tomar o cuidado de delimitar o papel desse mediador, pois, se, por um lado, as exposies no podem depender de mediadores para serem compreendidas, por outro, talvez seja a mediao humana a melhor forma de obter um aprendizado mais prximo do saber cientco apresentado e do ideal dos elaboradores (CAZELLI et al., 2003).

se teria que procurar todas as pessoas com o dom e, no havendo um nmero suciente destas, os setores educativos de museus teriam que trabalhar com prossionais no qualicados (STANDERSKI, 2007). possvel, no entanto, entender o trabalho do mediador de outra forma. Se as habilidades de um prossional como este forem consideradas como um talento artstico (SCHN, 2000), este pode ser aprendido. Alguns trabalhos, no mbito da formao de mediadores de museus, vm assumindo essa perspectiva terica (QUEIROZ et al., 2003). Tal talento em geral acionado quando temos que lidar com situaes indeterminadas e de difcil previso. Quando se realiza uma mediao, h diversos aspectos que podem ser planejados, como o percurso pelo museu, os temas relevantes, as questes a serem colocadas em determinados locais do trajeto, o tempo da visita, entre tantos outros. No entanto, h uma gama de fatores que no so planejveis, mesmo sendo a equipe da monitoria a mais qualicada para o trabalho. Estes seriam os elementos surpresas da prtica. nesse momento que se confunde o dom com o talento artstico. Assim, observar outros prossionais atuando, analisando como lidam com as situaes no previstas, o que d certo, os desaos, uma excelente estratgia de formao.

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O mediador de museus convive com as imprevisibilidades da prtica e deve lidar com elas atravs da inteligncia; do exerccio da sistematizao de problemas, da implementao e da improvisao. Nesse caso, estamos falando de um processo que implica em uma reexo-na-ao. No cotidiano das aes educativas no museu, so incontveis os momentos em que deparamo-nos com situaes de imprevisto, que podemos aqui chamar de problemas. O que fazer? Uma das opes ignor-las, para que possamos manter o padro de conhecimento que sempre executamos. Segunda opo: reetir sobre a situao durante sua execuo e procurar uma maneira de solucionar o conito, reelaborando sua maneira de agir. Isto no implica parar o que se est fazendo, mas sim reetir-na-ao (SCHN, 2000). H tambm a dimenso da reexo sobre a reexo-na-ao. Argumenta-se que essa reexo permite ao prossional atingir algum nvel de conscientizao do processo prtico, essencial para a melhora de futuras aes. Durante a ao, o mediador passa por diferentes situaes-problema, como conitos, dvidas, desinteresse do grupo ou de algum visitante especco, entre outras. Para solucion-las ele reete sobre as vivncias e experincias adquiridas e, na prpria ao, toma uma deciso (nem precisando verbalizla). Assim, uma visita monitorada, considerada como processo de formao, constitui-se essencialmente de tomadas de deciso, mesmo que para esse mediador essas no sejam to claras e conscientes. A reexo-na-ao tambm pressupe uma predisposio por parte do mediador para experimentar. A experimentao justica-se pela necessidade de buscarmos continuamente melhorar, de forma que uma monitoria ou uma aula possam ser mais bem elaboradas e aproveitadas. E, nesse sentido, o agir para ver as conseqncias destaca-se como uma forma produtiva de proporcionar essa melhoria. Na medida em que o mediador se pergunta O que eu z de diferente na turma da manh visita excelente que eu no z na da tarde visitantes desmotivados?, ele traz grande parte da responsabilidade pela aprendizagem dos visitantes do museu para si e analisa sua atuao com o intuito de melhor aproveitar as prximas visitas. Ao observar e analisar a sua prpria vivncia e a de outros prossionais que atuam com ele, o mediador pode criar um repertrio de prticas que funcionem e

que no funcionem. Quanto mais coletivamente essas reexes so feitas, incluindo os vrios membros das equipes de educadores, maiores as chances de mudana na direo de prticas mais consistentes e ecazes. Outro momento importante de reexo pode ocorrer nas avaliaes contnuas da equipe de educao, por meio de reunies e aes de capacitao dos mediadores. Estes momentos promovem o olhar crtico sobre a ao e auxiliam, por meio da troca de experincia, a avaliar a sua prpria ao, a da equipe e at mesmo os objetivos propostos pela instituio. So diversas as possibilidades de ao dos mediadores no museu. Dependendo da instituio, atividades como exposies permanentes, temporrias e itinerantes, kits de emprstimo, produo de material impresso/jogos, planejamento e realizao de ocinas, palestras, animaes em vdeo, circo, teatro, contao de histrias, trilhas educativas e sites envolvem a participao desses prossionais. Se no na escolha e planejamento dessas aes, a atuao desses prossionais ocorre com certeza na sua execuo junto ao pblico. A situao ideal aquela na qual o mediador parte de uma equipe que envolve os demais educadores, que planejam as aes em conjunto com os demais setores do museu. Nesse sentido, a instituio deve investir na qualidade desse prossional. A formao do mediador, em geral, se d no cotidiano das aes educativas do museu. Em alguns casos, estes prossionais possuem alguma formao inicial em educao. O mais comum, porm, na realidade brasileira, serem selecionados dentre os universitrios nas reas de contedos especcos do museu, numa aposta de garantia de rigor conceitual. H, contudo, experincias interessantes de alunos de ensino mdio atuando como mediadores em museus. A formao continuada desses prossionais se d, muitas vezes, via um mediador tutor ou orientador, mas tambm por meio do desenvolvimento de projetos, da participao em congressos e em grupos de discusso, de reunies em grupo, de realizao de cursos e estgios nas instituies. Existem tambm experincias de incluso da perspectiva da mediao em espaos como museus na formao inicial do professor nos cursos de licenciatura. Essas iniciativas indicam ser cada vez maior a necessidade de se pensar a formao desse prossional nos aspectos de contedos especcos, mas tambm nos aspectos voltados educao e divulgao do conhecimento.

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AtividadesAs atividades aqui sugeridas podem ser realizadas como forma de concretizar vrias das discusses suscitadas nesse livro. Tambm inteno que, ao realizar as atividades aqui propostas, os mediadores possam conhecer diferentes experincias, analisando-as de forma crtica e aprofundando os aspectos tratados.

Atividade 1. Explorando o setor educativo dos museusObjetivo Realizar uma visita ao setor educativo de um museu e explorar a forma como o servio educativo organiza as aes de mediao com o pblico. Etapas e Realizao de uma pesquisa, no setor educativo de um museu, orientada pelas questes a seguir. Os dados podero ser obtidos a partir de diferentes fontes: internet, entrevistas, anlise de documentos, entre outros: Como organizado o setor educativo? Qual o perl dos mediadores que atuam na instituio? Qual vnculo possuem com a instituio? Qual o tempo de permanncia de cada mediador na instituio? Quanto tempo dedicado mediao com o pblico por cada mediador? Como est estruturado o processo de formao desses mediadores? (Ex. Participam de processos de seleo; existem cursos de treinamento; grupos de estudo, etc.). Quais atividades envolvem a mediao nesse espao? Quais funes esse prossional exerce no local? Com que tipo de pblicos os mediadores interagem? e Apresentao dos resultados da pesquisa aos outros grupos. e Confronto dessas experincias com as reexes tericas tratadas durante o curso.

pblico-alvo, localizao, etc.). Formulao, como situao problema, da necessidade de planejar a mediao para esse espao. e Planejamento da mediao para o museu apresentado tomando como referncia as caractersticas descritas no seguinte roteiro orientador: Qual deveria ser o perl dos mediadores para atuar nesse local? Qual vnculo os mediadores deveriam ter com a instituio? Como deveria ocorrer a sua formao? Que tipo de atividades o mediador deve exercer nesse local? e Apresentao do planejamento para os outros grupos. e Discusso sobre os diferentes tipos de planejamento sugeridos com base nas reexes tericas.

Atividade 3. Estudo de caso: visitas guiadasObjetivo Analisar uma visita guiada, focalizando a atuao do mediador. Esta atividade poder ser desenvolvida em trs situaes: Acompanhando uma visita guiada em um museu; Analisando um caso, apresentado na forma de um texto, que descreva uma visita guiada (Ex. um trecho das conversaes entre mediador e pblico); Analisando um registro em vdeo de uma mediao. Etapas e Realizao de anlise da visita, seguindo um roteiro orientador e selecionando, a partir desse roteiro, as questes de interesse a serem observadas. Como

Atividade 2. Planejando a mediao em um museuObjetivo Realizar o planejamento de uma mediao em um museu, frente a uma situao simulada proposta. Etapas e Apresentao da concepo de um museu ctcio, com caractersticas a serem detalhadas (tema geral,

exemplo, propomos: A visita tem uma estrutura que responde a um planejamento didtico feito pelo mediador ou o pblico quem desencadeia o tipo de visita? Qual o papel do mediador durante a visita? A mediao centrada no mediador ou no visitante (quem domina a fala)? uma visita centrada nos objetos? Ela incorpora outros elementos alm daqueles disponveis na exposio?

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H imprecises conceituais na fala do mediador? Em quais situaes elas ocorrem? O que ganha mais destaque na fala do mediador: os objetos ou os conceitos? e Descreva brevemente a visita tendo em considerao aspectos como o local, a exposio, o tipo de pblico. Essa representao tambm pode ser feita por meio de desenho.

Atividade 4. Ocina de comunicaoObjetivo Propiciar reexes sobre a questo da comunicao e mediao em museus por meio da construo de discursos sobre objetos expositivos. Etapas e Apresentao de um objeto expositivo polmico ou controverso. e Elaborao de um discurso de mediao sobre esse objeto. e Realizao de leitura dos diferentes textos produzidos. e Fomento de discusso coletiva sobre as diferentes apresentaes e abordagens.

Atividades

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