sebenta_ representação social da diferença_1 (recuperado)

53
Ano Letivo: 2013/2014 Curso de Animador Sociocultural – 3º Ano Área de Estudo da Comunidade Módulo IX: Representação Social da Diferença e Intervenção Sociocultural 30 Horas

Upload: catarina-constantino

Post on 26-Dec-2015

36 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

Ano Letivo: 2013/2014

Curso de Animador Sociocultural – 3º Ano

Área de Estudo da Comunidade

Módulo IX: Representação Social da Diferença e Intervenção Sociocultural

30 Horas

Page 2: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Índice

Proposta de calendarização do Módulo..........................................................................3

Planificação do módulo...................................................................................................4

1. Definição de Conceitos.............................................................................................8

1.1. A teoria das representações sociais (Serge Moscovici).....................................8

1.2. Ser Normal vs. Ser Diferente...........................................................................10

Mas afinal o que é ser normal? O que é ser Diferente?.........................................10

1.3. A origem da Diferença.....................................................................................12

2. Cultura e Identidades Pessoais...............................................................................15

2.1. Multiculturalidade e Interculturalidade..............................................................15

2.1.1. Definição de Cultura.................................................................................15

2.2. Minorias Étnicas em Portugal..............................................................................21

2.2.1. A comunidade cigana (um exemplo)............................................................21

2.3. Deficiência e Desigualdades Sociais....................................................................23

2.3.1. A Escola Inclusiva..........................................................................................24

2.4. A representação social da velhice...................................................................26

2.4.1. A O processo de envelhecimento.................................................................28

2.5. Pobreza e Exclusão Social....................................................................................31

100 Razões – 100 Abrigo........................................................................................32

2.6. Desigualdades entre géneros..............................................................................34

Page 3: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Proposta de calendarização do Módulo1

30 Horas

1 Suscetível a alterações.

Início: 16-09-2013 Fim: 5-11-2013

Entrega do Trabalho de Grupo:

Entrega do Trabalho Individual:

Page 4: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Planificação do módulo

Ano/Turma: 3º Ano do Curso de Animador Sociocultural

Disciplina: Área de Estudo da Comunidade Módulo nº 9: Representação Social da Diferença Ano Letivo: 2013/2014

Nome do Formador: Início: 16-09-2013 Fim: 5-11-2013

Objetivos Globais da Disciplina

Refletir sobre as questões de desigualdade e de diferença em relação ao género, à idade, à etnia, à cultura, aos aspetos físicos, às necessidades educativas especiais, à pobreza, entre outros.

Reconhecer a diferença como um fenómeno positivo e que deve ser valorizado não reprimido. Analisar a intervenção e integração sociocultural em casos de representação social negativa da diferença.

Objetivos Específicos Conteúdos Teórico/PráticosAtividades/

MetodologiasRecursos Forma de Avaliação

Duração (Horas)

Definir os conceitos de normalidade

desvio e diferença;

Ser diferente versus normal; Representação Social da diferença; A origem da Desigualdade.

Método Expositivo:- Exposição de conteúdos por parte do docente.

Método Interrogativo:

Papel, lápis, caneta;

Sebenta; Quadro de

Cortiça; Post-its; Textos de

análise; Computador;

Domínios:

Cognitivo /Procedimental –85%

- Desenvolvimento intelectual;- Desenvolvimento metodológico;

30 Horas

Referir a importância da

multiculturalidade e interculturalidade

nas sociedades atuais;

Cultura e Identidades Pessoais; Multiculturalidade e

Interculturalidade; Fenómeno das migrações.

Page 5: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

- Formulação de questões para debate;

Método Ativo: - Brainstorming;- Construção de um quadro de reflexão da aprendizagem e exposição de conteúdos aprendidos;

- Debates partilhados;

- Análise de textos e imagens associadas;

Projetor; Partilha de

Testemunhos;

- Desenvolvimento da comunicação;

Através de:Trabalho de grupo (3 a 5

elementos)50%

Relatório individual35%

Autorregulador – 15%

- Responsabilidade;- Autonomia;- Sociabilidade;- Grau de empenho nas atividades desenvolvidas na escola;- Grau de desenvolvimento metacognitivo (capacidade critica e argumentativa)

15%

Analisar as implicações no ser

“normal” decorrentes de saúde mental

Como é encarada a deficiência atualmente?

Escola inclusiva – paradigma da educação para todos.

Analisar o processo de envelhecimento e

os fenómenos associados

Formas de exclusão do idoso; Estratégias de intervenção social

para a inclusão dos mais velhos – geração de novos papéis.

Analisar as questões quotidianas da

diferença de género

Diferenças representativas entre homem e mulher – a evolução dos papéis sociais;

A mulher e o homem no mercado de trabalho – formas de exclusão.

Debater sobre a relação com o outro

e o respeito pela diversidade;

O papel do Animador Sociocultural na promoção da integração social e minimização da exclusão;

O papel da escola na promoção da igualdade.

Page 6: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Método Demonstrativo;- Visionamento de pequenos vídeos.

Identificar formas de intervenção e

integração sociocultural de

grupos de risco e/ou em situações de

exclusão;

Bibliografia Proposta ACIDI. (s.d.). Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural - ACIDI. Consultado em setembro 17, 2013, em

http://www.acidi.gov.pt/ ANDRADE, Ana Bela & Moinhos, Rosa. 2009. Cursos Profissionais - Sociologia, Lisboa, Plátano Editora FERNANDES, A. T. 2000. Desigualdades e representações sociais. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. série I, VOL. 10,

203-214.

VIEIRA, Ricardo. 2011. Ser Igual Ser Diferente. ed. 3, 1 vol., ISBN: 972-8562-01-2. Porto: Profedições.

VIEIRA, Ricardo. ed. 2009. Diferenças, Desigualdades, Exclusões e Inclusões ed. 1, 1 vol., ISBN: 978-972-36-1041-3. Porto: Edições Afrontamento, Lda.

VIEIRA, Ricardo. 1999. "Da Multiculturalidade à Educação Intercultural: a Antropologia da Educação na Formação de Professores", Educação, Sociedade e Culturas, Revista da Associação de Sociologia e Antropologia da Educação, 12: 123 - 162.

Page 7: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Actividade 1 – Exploração de conceitos e perceções sobre os conteúdos do módulo

Para ti…

O que é ser Diferente?

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

O que é ser Normal?

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

O que é uma Representação Social?

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

Na tua opinião, qual a razão de estudar a “Representação Social da Diferença” no

curso de Animador Sociocultural?

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

Recorrendo à imaginação e criatividade, desenha um símbolo, uma figura, que possa, na tua opinião, retratar o módulo a lecionar.

Page 8: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

1. Definição de Conceitos

1.1. A teoria das representações sociais (Serge Moscovici)2

O conceito de representação social situa-se nas fronteiras entre a sociologia e a

psicologia. A origem provém do termo “representação coletiva”, desenvolvido por

Durkheim. Este sociólogo teorizou que as categorias básicas do pensamento teriam

origem na sociedade, e que o conhecimento só poderia ser encontrado na experiência

social, ou seja, a vida social seria a condição de todo pensamento organizado e vice-

versa. As representações coletivas designavam um conjunto de conhecimentos e

crenças (mitos, religião, ciência...)

Durkheim propôs, como condição essencial na elaboração do conhecimento, a formação

de conceitos que são repartidos pelos membros do grupo, com origem nas

características da vida na comunidade. Para o sociólogo, a individualidade humana se

constitui a partir da sociedade.

A “representação coletiva”, segundo Durkheim, não se reduz à soma das representações

dos indivíduos que compõem a sociedade, mas são, mais do que isso, um novo

conhecimento é formado, que supera a soma dos indivíduos e favorece uma recriação do

coletivo.

Uma função primordial da “representação coletiva” seria a transmissão da herança

coletiva dos antepassados, que acrescentariam às experiências individuais tudo que a

sociedade acumulou de sabedoria e ciência ao passar dos anos. É justamente nessa

questão que Moscovici diverge de Durkheim e acrescenta novos elementos à elaboração

do conceito de representação social.

2 Serge Moscovici, professor emérito da École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, é detentor de uma carreira ímpar no âmbito das ciências sociais, tendo contribuído para o desenvolvimento da disciplina Psicologia Social, com a introdução de novos modelos e paradigmas, como a teoria das representações sociais, a teoria das minorias ativas e do seu papel nos processos de influência e mudança social..

Page 9: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Para ele, não é apenas uma herança coletiva dos antepassados, que é transmitida de

maneira determinista e estática. O indivíduo tem papel ativo e autónomo no processo

de construção da sociedade, da mesma forma que é criado por ela. Ele também

participa na sua construção. Somos produtos e produtores de cultura, de novos ideais e

costumes. Através da relação com “o outro” recebemos e filtramos informação que se

irá refletir nos nossos comportamentos e maneiras de estar. Desta forma a nossa

identidade é uma identidade em construção, que se dá através de todas as trocas de

sociabilidade. Logo, não somos os mesmos desde um momento em particular, mas sim,

somos vários momentos, várias experiências e o resultado da interpretação de cada

uma delas. Logo o nosso comportamento é influenciado e a maneira como nos

relacionamos com os outros vai variando. (Crescer, Viver é isto mesmo!)

As representações sociais são “um conjunto de conceitos, frases e explicações

originadas na vida diária durante o curso das comunicações interpessoais”

São modalidades de conhecimento prático orientadas para a comunicação e para a

compreensão do contexto social, material e ideológico em que vivemos.

São formas de conhecimento que se manifestam como elementos cognitivos (imagens,

conceitos, categorias, teorias), mas que não se reduzem apenas aos conhecimentos

cognitivos. Sendo socialmente elaboradas e compartilhadas, contribuem para a

construção de uma realidade comum, possibilitando a comunicação entre os

indivíduos. Dessa maneira, as representações são fenómenos sociais que têm de ser

entendidos a partir do seu contexto de produção, isto é, a partir das funções simbólicas

e ideológicas a que servem e das formas de comunicação onde circulam.

“São uma forma de conhecimento socialmente elaborada e compartilhada, com um

objetivo prático, que contribuem para a construção de uma realidade comum a um

grupo social. Não são assimiladas de forma acabada, resultam de um lento processo de

construção em que os indivíduos reinterpretam as representações existentes de acordo

com as suas experiências e aspirações.” (Moinhos & Andrade: 2009:76)

Page 10: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Completa os espaços com as palavras que te parecem mais corretas, segundo o que acabaste de ler.

As representações sociais são assim construções ______________________ que, uma vez interiorizadas pelos indivíduos através do seu processo de ____________________, vão constituir-se como instrumentos que lhes permitem dar __________________ à informação que lhes chega da realidade social, contribuindo desta forma para orientar as suas práticas sociais. (Moinhos & Andrade: 2009:76)

Definido o conceito de representação social, o que é então a representação social da diferença?

1.2. Ser Normal vs. Ser Diferente.

Mas afinal o que é ser normal? O que é ser Diferente?

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, todos os seres humanos

nascem livres e iguais em dignidade e cm direitos, e que cada um pode prevalecer-se de

todos os direitos e de todas as liberdades nela enunciados, sem distinção alguma,

nomeadamente de raça, de cor ou de origem nacional; todos os homens são iguais

perante a lei e têm direito a uma igual proteção da lei contra toda a discriminação e

contra todo o incitamento à discriminação.

Ao procurarmos num dicionário o significado de diferença, deparamo-nos com a

seguinte definição: "Qualidade ou estado de diferente; Propriedade ou característica

pela qual pessoas ou coisas diferem". Neste sentido, a diferença é aquilo que nos torna,

de certa forma, semelhantes: afinal, somos todos diferentes, cada pessoa tem

características que são apenas dela e que a identificam e formam a sua identidade.

O Homem é um ser social e tem necessidade de se relacionar com os outros, formando

grupos, bairros, comunidades todas elas pertencentes a uma sociedade global, a uma

nação, ao Mundo. Nesta troca de relações, como já vimos, são formadas representações

sociais, ou seja construções simbólicas de determinados objetos, situações…

Page 11: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Ora, o Homem é um ser de hábitos, de regras, normas, costumes e tradições e que

orienta o seu comportamento tendo em conta o pensamento e a evolução das

sociedades. Contudo o peso da norma, do que é comum, igual, prevalece como sendo

um comportamento, ou acontecimento normal pois, representa uma maioria. Por

exemplo: considera-se normal casar com um individuo do sexo oposto e “anormal”

casar com um individuo do mesmo sexo. Embora que os paradigmas culturais tenham

evoluído, nas sociedades contemporâneas, os casais homossexuais, continuam a ser

uma minoria, logo conotados, representados socialmente como diferentes. A esta

representação vêm simbologias, ideias, sobre os casais homossexuais, neste caso, que

normalmente são preconceitos, estigmas que podem gerar casos de exclusão social.

Logo tudo o que foge à norma, ao socialmente aceite pela maioria é visto como um

comportamento desviante e assim diferente, não normal.

Mas, seremos assim tão possuidores da verdade absoluta para julgarmos o que é

normal e o que é diferente?!

Igualdade é uma palavra do nosso vocabulário e claramente nos remente para a

semelhança que contrasta com a diferença e a desigualdade. Conceitos que,

normalmente têm associados, sentidos de distinção, estigma, vulnerabilidade,

exclusão… Pois, somos seres sociais e se nos relacionamos uns com os outros e se a

nossa identidade se vai construindo tendo em conta o nosso processo de socialização,

somos todos diferentes. Apesar de sermos Homens, rapazes ou raparigas, somos seres

individuais com capacidades próprias que nos distinguem entre si, fruto da nossa cultura

e das trocas de sociabilidade. Somos cidadãos do Mundo, todos ligados entre si, pela

interdependência das relações interpessoais e pela necessidade da existência das

mesmas.

Desta forma, podemos concluir que ser diferente é normal e que assim o tem de ser.

Não há outra maneira de viver se não segundo normas e regras, para garantir a coesão

Page 12: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

social, e desta forma vivemos sobre padrões de comportamento iguais, mas somos

seres únicos, em construção identitária, que é o resultado da vida em sociedade.

Mas se somos cidadãos do mundo, porque é que muitas vezes assistimos a situações

como estas?

1.3. A origem da Diferença

Para Leite (2002, p.134) “[…]o fato de os conteúdos das representações sociais trazerem

em si atributos do sujeito é de suma importância. Demonstra com toda a nitidez, que

Page 13: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

elas não são meros reflexos passivos do exterior na mente desse sujeito.” Isso ocorre

porque, quando os sujeitos constroem representações de aspetos da realidade em que

vivem, fazem-no a partir de seu ser social, dos paradigmas prévios que trazem consigo: a

posição que ocupam na sociedade, seus valores culturais e ideológicos, suas histórias de

vida, seus conhecimentos anteriores sobre diferentes facetas da vida em sociedade,

seus afetos em relação aos diversos elementos da realidade etc. Na verdade, as

representações sociais respondem à necessidade que temos de transformar o

estranho (aquilo que é novo para nós) em familiar (Sá, 1995; Moscovici, 1978; Leite,

2002).

Reflete sobre a origem das representações sociais a partir do excerto dado.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Atividade 2 – Leitura e análise do texto Fernandes, A. T. (2000).

Desigualdades e representações sociais. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. série I, vol. 10, 203-214.

Como já vimos, fala-se em desigualdade social quando, numa determinada sociedade,

alguns grupos sociais se encontram em situações que se julgam mais vantajosas do que

outras. Portanto, a desigualdade é uma diferença que os indivíduos e grupos sociais

julgam segundo escalas de valor.

Rousseau e Marx viram na propriedade a origem da desigualdade, enquanto que, para

Durkheim, é a divisão do trabalho que a origina. Na obra Discours sur l'origine de

l'inégalité de Rousseau, "os homens no estado natural são livres e iguais e não possuem

propriedade; cada um contenta-se com as dádivas da Natureza [...].“ A partir do

momento em que os homens começam a cooperar e a acumular bens, este estado

primitivo vai alterar-se irremediavelmente: desaparece a igualdade, cria-se a

Page 14: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

propriedade e daí resulta a divisão do trabalho. (1995, Cherkaoui - "Estratificação". In

Tratado de Sociologia (org. R. Boudon). Porto: Edições ASA).

À medida que se expande a divisão do trabalho as pessoas tornam-se cada vez mais

dependentes umas das outras, pois cada um precisa dos bens e serviços dos outros. No

entanto, os agentes económicos usufruem de diferente modo desses bens e serviços,

pois estes não estão de igual modo acessíveis a todos: os seus rendimentos são

diferentes e as suas situações sociais também.

No mal-estar contemporâneo (que se caracteriza pela crise do Estado-providência, pela

crise do trabalho e pela crise do sujeito ou crise de identidade), a desigualdade mais

visível é a que procede das alterações económicas. Fala-se então, da desigualdade de

rendimentos, na medida em que uns têm uma parte maior do que outros. As

desigualdades são essencialmente sociais, não se referem apenas à estratificação

económica (relativa à repartição dos rendimentos, consumo, património...), mas

também estão ligadas à existência de desigualdades de carácter mais qualitativo:

políticas, de prestígio, etc. Por exemplo, em muitas sociedades, brancos e negros gozam

de estatutos diferentes que, por esse facto, lhes conferem vantagens ou desvantagens.

Estas desigualdades "tradicionais" ou estruturais subsistem ou tendem a acentuar-se,

mas, atualmente acrescem a estas outras formas de desigualdade: "desigualdade

perante o trabalho e o salário, ou ainda perante o endividamento, as incivilidades, as

consequências da implosão do modelo familiar, as novas formas de violência.

Instauradas pela dinâmica do desemprego ou pela da evolução das condições de vida",

são vividas de forma dolorosa e silenciosa. Entraram assim em cena desigualdades

novas. Procedem da requalificação de diferenças no interior de categorias consideradas

anteriormente homogéneas" (1997, Fitoussi e Rosanvallon - A nova era das

desigualdades. Oeiras: Celta Editora). Estas desigualdades "novas" são, antes de tudo,

"intracategoriais" e podem passar a ser mais importantes e tão persistentes como as

desigualdades intercategorias. No exemplo de uma situação de desemprego de longa

duração (com todas as consequências que isso implica) dentro de uma mesma

Page 15: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

categoria, pode levar o indivíduo a questionar-se: "Porque é que a sorte daquele que me

é próximo é tão diferente da minha?" (Fitoussi e Rosanvallon). Sente-se excluído, pondo

em causa a sua identidade, pois continua a ter como referência a categoria a que

pertencia antes.

"São assim os princípios de igualdade, que a intuição faz pensar serem essenciais à

coesão social e que são postos em causa pela multiplicação das desigualdades

complexas. [...] Estas desigualdades são precisamente sintoma da transformação social e

de uma modificação da relação do indivíduo com outrem" (Fitoussi e Rosanvallon).

Page 16: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Atividade 3 – Análise do Poema: “Lágrima de Preta” de António Gedeão

Mandei vir os ácidos,as bases e os sais,as drogas usadas

em casos que tais.

Ensaiei a frio,experimentei ao lume,

de todas as vezesdeu-me o que é costume:

nem sinais de negro,nem vestígios de ódio.

Água (quase tudo)e cloreto de sódio.

Page 17: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Encontrei uma pretaque estava a chorarpedi-lhe uma lágrimapara a analisar.

Recolhi a lágrimacom todo o cuidadonum tubo de ensaiobem esterilizado.

Olhei-a de um lado,do outro e de frente:tinha um ar de gotamuito transparente.

2. Cultura e Identidades Pessoais

2.1. Multiculturalidade e Interculturalidade.

As sociedades modernas, numa época frequentemente designada como a era da

globalização, “transportam” mudanças a vários níveis. A abertura das fronteiras

económicas e financeiras, o crescimento das trocas comerciais, a intensificação dos

fluxos de pessoas e bens e o desenvolvimento das redes de comunicação, facultam o

conhecimento da diversidade existente no globo e promovem a aproximação dos

indivíduos. O mundo é, atualmente, uma miscelânea de identidades, culturas, religiões e

línguas. Estamos, assim, perante uma diversidade cultural. Mas o que é a cultura?

2.1.1. Definição de Cultura

O conceito de cultura, tal como o de sociedade, é uma das noções mais

amplamente usadas em Sociologia. A cultura consiste nos valores de um

dado grupo de pessoas, nas normas que seguem e nos bens materiais que

criam. Os valores são ideias abstratas, enquanto as normas são princípios

definidos ou regras que se espera que o povo cumpra.

Page 18: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Quando usamos o termo, na conversa quotidiana comum, pensamos muitas

vezes na «cultura» como equivalente às «coisas mais elevadas do espírito» –

arte, literatura, música e pintura. Os sociólogos incluem no conceito, estas

atividades, mas também muito mais.

A cultura refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de

grupos dessa sociedade. Inclui a forma como se vestem, os costumes de

casamento e de vida familiar, as formas de trabalho, as cerimónias religiosas

e as ocupações dos tempos livres. Abrange também os bens que criam e que

se tornam portadores de sentido para eles – arcos e flechas, arados, fábricas

e máquinas, computadores, livros, habitações.

A “cultura” pode ser distinguida conceptualmente da “sociedade”, mas há

conexões muito estreitas entre estas noções. Uma sociedade é um sistema

de inter-relações que ligam os indivíduos em conjunto. Nenhuma cultura

pode existir sem uma sociedade. Mas, igualmente, nenhuma sociedade

existe sem cultura.

Sendo a diversidade a constatação da presença de várias culturas, é importante

definir dois conceitos relevantes para a discussão da diversidade e desta forma, as

diferenças culturais: multiculturalidade e interculturalidade.

Multiculturalidade

As sociedades multiculturais ocidentais foram constituídas especialmente a

partir do fim da Idade Média com o tráfico da escravatura, mas também com

os fluxos de comércio que levavam à deslocação de bens e pessoas. Mais

tarde, a procura de riqueza provocou os fenómenos de colonização, o que

levou a que muitas pessoas procurassem, sobretudo no chamado Novo

Mundo do continente americano, novas oportunidades de trabalho.

A industrialização criou a necessidade e a oportunidade da migração de

muitos povos da África e da Ásia que procuravam trabalho e melhores

condições de vida tanto no Novo Mundo como na Europa.

Page 19: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

O processo de globalização, patente na disseminação das novas tecnologias,

na circulação de capitais, bens, serviços, informações e ideias entre países e

entre continentes, tem tido um impacto desigual e provocadas acentuadas

disparidades, em termos de distribuição da riqueza nas diferentes partes do

mundo. O aumento da magnitude e âmbito das migrações internacionais é

um reflexo deste processo, havendo atualmente, segundo a Organização das

Nações Unidas, cerca de 200 milhões de migrantes internacionais em todo o

mundo. Muitas sociedades desenvolvidas contemporâneas, designadamente a norte-

americana e as europeias, vivem em situação de multiculturalidade por razões históricas

mais ou menos recentes.

Se considerarmos a Europa Central como um conjunto de países e de culturas caracterizados por uma interpenetração fértil de nacionalidades e uma história partilhada, vemos surgir as suas “cidades multiculturais” como uma das suas especificidades mais marcantes. E elas declinam-se em diversos modos, trate-se de metrópoles de impérios, de capitais regionais ou provinciais, porque são ao mesmo tempo avenidas de passagem, lugares de mestiçagens entre culturas, de rivalidades sociais e de conflitos inter-étnicos.

Os EUA são geneticamente multiculturais, dada a diversidade das populações que os

formaram, o que não significa que a integração dessas populações não tenha sido

problemática, e fonte de uma conflitualidade permanente (recorde-se o genocídio dos

índios autóctones ao longo do séc. XIX, e a luta pelos direitos cívicos das populações

afro-americanas, que chegou ao seu clímax na década de 60 do séc. XX). Apesar, porém,

do racismo e das tensões inter-étnicas, negros e hispânicos são, ali, hoje, minorias cada

vez mais importantes, a par de outras que nunca adquiriram a sua dimensão, como a

chinesa e a italiana.

Na Europa ocidental, há países que desde há décadas absorvem populações oriundas de

outros, e que se tornaram recetores tradicionais de grandes fluxos migratórios: a

Alemanha recebe tradicionalmente turcos, a França argelinos, magrebinos (e

Page 20: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

portugueses, até há pouco tempo atrás), a Inglaterra muçulmanos e hindus

provenientes do seu antigo império ou área de influência: Índia, Paquistão.

Com o alargamento da União Europeia, a abertura interna das respetivas fronteiras

internacionais e a nova pressão migratória Sul>Norte e Leste>Oeste, a Europa recebe

hoje migrantes de outras origens: ucranianos e russos, polacos e romenos, mas também

novas gerações de africanos que tentam a passagem para o Norte desenvolvido através

do Mediterrâneo espanhol.

Esta movimentação massiva de migrantes tem, hoje como ontem, motivações

sobretudo socioeconómicas: por um lado, milhões de pessoas continuam e continuarão

a procurar trabalho fora dos seus países de origem; por outro, a Europa precisa e vai

continuar a precisar de trabalhadores migrantes para reconstituir a sua força de

trabalho, ameaçada por uma demografia estagnada ou em regressão. Assim, nos países

de destino, as zonas empregadoras de mão-de-obra migrantes, sobretudo as suas

principais áreas metropolitanas e respetivas periferias, tornaram-se zonas de interface

étnico, rácico, linguístico, religioso, cultural. A fixação de populações migrantes em

territórios urbanos tradicionais gerou historicamente fenómenos como as Chinatowns e

Little-Italies nos EUA, fomentadas por políticas de receção - comunitaristas‖, que

favoreceram a perpetuação de bairros étnicos.

Desta forma, a situação de multiculturalidade não implica necessariamente a existência

de contactos e interações significativas entre as culturas copresentes, que podem

coexistir no mesmo território ou em territórios contíguos em mera posição de face-a-

face. Mas tende a evoluir para interfaces ora colaborativos, ora conflituais, ora de

ambas as espécies.

Em Portugal viveram, desde sempre, diversas minorias étnicas e religiosas ao

lado da população cristã dominante, ou com elas misturadas. Portadoras de

uma história, cultura e identidade próprias, todas elas contribuíram não só

para o enriquecimento e vitalidade da sociedade portuguesa nos mais

Page 21: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

diversos aspetos, mas também com as suas energias e capacidades para o

desenvolvimento económico do nosso país.

Interculturalidade

A que chamamos, então, interculturalidade? Segundo a UNESCO interculturalidade

remete para a existência e para a interação equitativa de diversas culturas, bem como

para a possibilidade de gerar expressões culturais partilhadas pelo diálogo e pelo

respeito mútuo.

Quando a interculturalidade não se torna o cenário real, por vezes os conflitos

multiculturais dão lugar a fenómenos como os preconceitos sociais, a exclusão social, a

xenofobia e o racismo.

Preconceito

Preconceito, como o próprio nome indica é um conceito formado antecipadamente e

sem fundamento concreto ou razoável; designa uma atitude que deriva de julgamentos

prévios e que leva os sujeitos a avaliar pessoas ou grupos sociais, geralmente de forma

negativa. Este tipo de comportamentos tem como objetivo uma diferenciação social e

conduz à discriminação. O preconceito pode ser definido como uma atitude

desagradável para com um indivíduo, simplesmente porque ele pertence a um grupo

desvalorizado socialmente.

Racismo

O racismo, por sua vez, ao contrário do preconceito, é muito mais do que uma atitude.

O racismo constitui-se num processo de hierarquização, exclusão e discriminação contra

um indivíduo ou toda uma categoria social que é definida como diferente, com base

nalguma marca física externa (real ou imaginada), a qual é identificada em termos de

marca cultural interna que define padrões de comportamento. Por exemplo, a cor da

Page 22: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

pele sendo negra (marca física externa) pode implicar que na perceção do sujeito

(indivíduo ou grupo) seja perspetivado como preguiçoso, agressivo e alegre (marca

cultural interna).

Deste modo, o racismo distingue-se do preconceito por várias características:

O racismo assenta sobre uma crença natural das diferenças entre os grupos,

visto estes possuírem elementos essenciais que os fazem diferentes e o

preconceito não implica a naturalização das diferenças, ou seja, não implica

conhecimento concreto sobre as diferenças que podem existir face a um

determinada etnia, ou grupo cultural.

O racismo, ao contrário do preconceito, não existe apenas a um nível individual,

mas também a nível institucional e cultural, isto porque é uma consequência do

racismo englobar os processos de discriminação e de exclusão social, enquanto o

preconceito permanece normalmente como uma atitude.

Xenofobia

O termo xenofobia provém do conceito grego composto por xenos (“estrangeiro”) e

phóbos (“medo”). A xenofobia faz, deste modo, referência à desconfiança, receio,

hostilidade e medo em relação aos estrangeiros. A palavra também é frequentemente

utilizada em sentido lato como a fobia em relação a grupos étnicos diferentes ou face a

pessoas cuja caracterização social, cultural e política se desconhece.

Curiosidades!

Meios jurídicos de combate à xenofobia: http://www.acidi.gov.pt/_cf/155801

Comissão para a igualdade e contra a discriminação racial: www.cicdr.pt

Alto comissariado para a imigração e o Diálogo Intercultural: www.acidi.gov.pt

Atividade 4 – Explica quais as diferenças entre multiculturalidade e interculturalidade

________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 23: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2.2. Minorias Étnicas em Portugal

2.2.1. A comunidade cigana (um exemplo)

Atividade 5 – Explica quais as diferenças entre multiculturalidade e interculturalidade

O que pensas sobre as comunidades ciganas em Portugal?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Durante muito tempo, as comunidades ciganas apenas mantiveram relações

com não ciganos em contextos de trocas comerciais ou de prestação de

serviços, sobretudo nas zonas rurais, onde os ciganos ainda hoje trabalham

em tarefas sazonais. Só recentemente houve a compreensão de que esta

população era alvo de exclusão social e se entendeu ser necessário alterar as

políticas e promover ativamente a sua inclusão.

Quando a ACIDI foi criada, tornou-se claro que os ciganos são uma população

especial, quer pelas suas características culturais, quer pela ausência de

participação na sociedade maioritária. Vivem uma dupla realidade: por um

lado, uma certa “invisibilidade” social no que toca à participação e, por outro,

uma excessiva visibilidade negativa.

Nunca houve propriamente uma política específica para as comunidades

ciganas. Os ciganos podem ser uma “minoria étnica” mas, para todos os

efeitos, são cidadãos portugueses de pleno direito, embora, na prática,

tenham dificuldade na vivência desse estatuto de cidadania e no acesso às

instituições do Estado. Este, por seu lado, tem sempre a tentação de não ter

Page 24: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

em conta particularidades culturais, numa postura que o cigano vê como

uma ameaça à sua especificidade e uma tentativa de assimilação.

A população cigana é a principal minoria étnica europeia. Estima-se que, na

atualidade, vivem na Europa entre sete e nove mil milhões de pessoas

ciganas, das quais, cerca de 2/3 habitam nos países centrais e de leste. A

maioria desta população concentra-se nos países candidatos à adesão e nos

membros mais recentes da União Europeia, tais como Roménia (cerca de dois

milhões e meio), Hungria (600.000), Bulgária (perto de 500.000), República

Eslovaca (cerca de 400.000) e República Checa (cerca de 300.000).

Com a criação da ACIDI, numa primeira abordagem traçaram-se linhas de

intervenção para estudo das comunidades ciganas, procurando elevar-se as

áreas mais sensíveis. Foram criados grupos de trabalho que ajudaram a

encontrar possíveis soluções em vários domínios: a venda ambulante, a

educação, a mediação, a habitação.

A promoção social dos ciganos passa também pelo conhecimento que a

sociedade maioritária tem da sua cultura. Assim, o ACIDI abriu a coleção

“Olhares” que integra estudos sociológicos em torno das temáticas que

envolvem as comunidades ciganas em Portugal, havendo neste momento

sete títulos já publicados.

Curiosidades!

Os livros encontram-se todos online em:

Comunidades ciganas - Alto comissariado para a

imigração e o Diálogo Intercultural: www.acidi.gov.pt

Page 25: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

O tema da diversidade cultural é pertinente não só no âmbito das políticas

sociais, mas também nas filosofias de educação. Uma educação multicultural

ou multiétnica tem vindo a ser defendida, sobretudo nas sociedades

ocidentais, para implementar uma evolução positiva da convivência entre as

diferentes culturas, não de assimilação ou subjugação por parte das culturas

minoritárias da cultura numérica e economicamente dominante, mas de

respeito mútuo pela diferença e defesa da diversidade. Nesse sentido,

quando se fala de educação multicultural pretende-se abranger não só a

educação no seio das minorias étnicas como também a educação de todas as

crianças ou indivíduos, quer estejam inseridos em sociedades multiculturais

ou uni-culturais. Esta educação no respeito pela diversidade cultural pretende

tornar legítima a pluralidade social e étnica, eliminando os preconceitos e os

ideais racistas.

2.3. Deficiência e Desigualdades Sociais

Ao longo da história social da deficiência constata-se que as pessoas assim definidas,

isto é, com deficiências e doença mental, foram objeto de perseguição, segregação,

exclusão, e discriminação, só para mencionar, de uma forma mais ou menos sequencial,

algumas das categorias que caracterizam essa história ao longo dos séculos.

Uma em cada 10 pessoas, ou seja, 650 milhões em todo o Mundo, tem alguma

deficiência. Estudos comparativos sobre Legislação e Deficiência mostram que apenas

em 45 países existem leis anti discriminação e outras leis específicas sobre deficiência

Page 26: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

(ONU). Em alguns países mais de ¼ das deficiências resultam de ofensas corporais

graves e violência (OMS).

Este valor, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, tende a aumentar com o

crescimento populacional, avanços médicos e envelhecimento das comunidades. 80%

das pessoas com deficiência estão em países em desenvolvimento, sendo que a maioria

habita em zonas rurais .

Em países com esperança de vida acima dos 70 anos, as pessoas vivem cerca de 8 anos,

ou 11,5% do seu tempo de vida, com deficiência ou incapacidades.

Estimativas apontam para que ao nível mundial 20% das pessoas mais pobres são

deficientes e que tendem a ser vistas pelas suas próprias comunidades como as mais

discriminadas e desfavorecidas.

Estas pessoas estão entre as mais estigmatizadas, mais pobres, com menor acesso aos

cuidados de saúde, incluindo a sexual e reprodutiva, e que têm os níveis de escolaridade

mais baixos de todo o Mundo, o que só por si constitui um desafio à boa consecução dos

objetivos do Milénio na sua dimensão de responsabilidade dos países.

“Estamos todos cientes que as pessoas com deficiência, as estimativas apontam para 650 milhões de pessoas em todo o mundo, ainda enfrentam limitações específicas e

absolutamente intoleráveis à sua igualdade de participação na sociedade. Consequentemente, é tempo de mudar as legislações, os comportamentos e as

atitudes.”

Directora Executiva de UNFPA,Thoraya Ahmed Obaid, 15/12/2006Idália Moniz, Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, cerimónia de

assinatura da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, na sededas Nações Unidas, Nova Iorque, 30/03/2007

Atividade 6 – Análise do excerto do texto: “Mais qualidade de Vida para pessoas com deficiência e incapacidades – Uma estratégia para Portugal” Em: http://www.crpg.pt/estudosProjectos/Projectos/modelizacao/Documents/Mais_qualidade_de_vida.pdf

Page 27: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

2.3.1. A Escola Inclusiva

A escola a inclusiva é uma escola onde se celebra a diversidade, encarando-a como uma riqueza e não como algo a evitar, em que as complementaridades das características de

cada um permitem avançar, em vez de serem vistas como ameaçadoras, como um perigo que põe em risco a nossa própria integridade, apenas porque ela é culturalmente

diversa da do outro, que temos como parceiro social.” (César, 2003: 119).

A escola inclusiva, a escola de qualidade para todos os alunos (Ainscow, 1991) faz-se, por um lado por aqueles que se encontram em situações problemáticas e, por outro, por todos os que no momento não vivenciam essas situações. Os primeiros têm de desejar e

querer ultrapassar, até quanto for possível, a situação em que se encontram e os segundos obrigam-se a ter a abertura e a disponibilidade necessárias para os deixar ir,

até onde for possível, e a ajudar a criar as condições necessárias a essa realização. Uns e outros têm a ganhar e a perder na trajetória a percorrer, mas o resultado final será

decerto positivo para ambas as partes, uma vez que, «se, como dizia João dos Santos17 (…) só construímos a nossa identidade por contraponto à existência de outros que se

distinguem de nós, então a inclusividade faz todo o sentido» (César, 2003:119).

Atividade 7 – Análise do excerto do texto: “Da integração à inclusão escolar:cruzando perspectivas e conceitos” de Isabel Sanches & António Teodoro em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rle/n8/n8a05.pdf

Page 28: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

2.4. A representação social da velhice

O envelhecimento da população revela-se como uma tendência positiva, que está

intimamente ligada à maior eficácia das medidas preventivas em saúde, ao progresso da

ciência no combate à doença, a uma melhor intervenção no meio ambiente e,

sobretudo, à consciencialização progressiva de que somos os principais agentes da

nossa própria saúde.

Portugal não foge a este fenómeno mas o envelhecimento da população não se

manifesta de forma homogénea em todo o território. Os fortes movimentos

migratórios, externos e internos, têm deixado mais envelhecido o interior, com a

migração das gerações mais jovens para o estrangeiro e, no território nacional, para os

grandes centros urbanos do litoral.

Page 29: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

As sociedades industrializadas e informatizadas de hoje constroem também o seu

próprio isolamento futuro: não há tempo para conviver, para comer corretamente, para

fazer novos amigos; faz-se uma vida profundamente sedentária, porque não há tempo,

ou meios económicos, para a prática regular de exercício físico.

Somos, pois, agentes ativos do nosso isolamento futuro. No mundo do trabalho,

passamos uma parte da vida a estudar, outra a trabalhar e outra, muito importante, em

tempo de reforma. Esta significa, em muitos casos, viver vinte anos fora de um contexto

social normal. Perde-se estatuto social e diminui-se a capacidade económica. Quer isto

dizer que todos os ganhos de aprendizagem, de conhecimento, de experiência, de

capacidades, não têm lugar, de repente, no contexto social. A sociedade propõe-nos,

pois, vinte anos de lazer ou de vida sem importância social. A injustiça desta forma de

abandono traduz-se em grandes perdas de interesse pela vida, com manifestações

depressivas e de agravamento de estados de doença já existentes.

A sociedade contemporânea rege-se por valores materiais o que implica ter como

principal objetivo a rentabilização da produção em que se privilegiam apenas os

indivíduos ativos. Este especto pode exercer efeitos depressivos nas pessoas o que leva

a situações “stressantes”, geradoras de doenças e que de algum modo poderão diminuir

a capacidade produtiva da pessoa mais fragilizada.

Como o idoso se encontra retirado da esfera do trabalho produtivo, deixando de exercer

funções que inativam a reciclagem e a aquisição de novos conhecimentos, não é difícil

prever que nestas circunstâncias ele tenda ao isolamento, e ao isolar-se assuma cada

vez mais uma situação de dependência. É importante mudar esta perspetiva e

consciencializar a sociedade que os idosos poderão ser muito úteis se soubermos

aproveitar as suas capacidades. Este afastamento do idoso do trabalho encontra

explicação no contexto da cultura ocidental, onde é dominante um modelo de

desenvolvimento, assente fundamentalmente sobre os mitos do crescimento

económico e do produtivismo, do qual resulta uma visão redutora do homem e da

Page 30: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

sociedade, que se encontra dividido entre membros ativos e membros inativos. Por

outras palavras, toda a população que já não é economicamente ativa, que apenas

produz despesa é, de certo modo, posta de parte pois já não contribui de forma positiva

para o desenvolvimento do país. Esta perspetiva é negativa e desmotivante, na medida

em que os próprios idosos interiorizam que já não têm capacidade para serem

socialmente úteis, nem para adquirir novos conhecimentos, e quando são confrontados

com novas situações não estão motivados para as enfrentar.

Esses desafios fazem apelo, nomeadamente, a novas formas de organização e

interajuda, de apoio e prestação de cuidados, particularmente nos casos em que, por

isolamento social ou doença, os recursos estabelecidos não são suficientes nem eficazes

para prevenir a dependência, o abandono e a solidão. É importante criar condições para

que toda a população idosa possa usufruir dos apoios mínimos necessários, espaços

físicos, alimentação, saúde, atividades, para que deste modo possam viver de uma

forma digna até ao fim das suas vidas.

2.4.1. A O processo de envelhecimento

Todos os seres vivos possuem um tempo de vida limitado e sofrem mudanças

fisiológicas com o passar do tempo. A vida de um ser vivo divide-se em 3 fases: fase de

crescimento e desenvolvimento, a fase reprodutiva e a senescência ou envelhecimento.

A fase da senescência caracteriza-se pelo declínio da capacidade funcional do

organismo. A senescência é o processo natural do envelhecimento, o qual compromete

progressivamente aspetos físicos e cognitivos. Segundo a OMS (Organização Mundial de

Saúde), a 3ª idade tem início entre os 60 e os 65 anos.

Fala-se do envelhecimento como um fenómeno exclusivo da 3ª idade. No entanto, o

envelhecimento não é um estado, mas um processo de degradação progressiva e

diferencial. Envelhecer é algo normal e natural, é universal, afeta todos os seres vivos e

o seu termo natural é a morte do organismo. O envelhecimento é um processo

Page 31: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

individual: ninguém envelhece ao mesmo ritmo e da mesma forma, no entanto, O

envelhecimento é um processo inevitável, mas é impossível determinar o seu começo

pois a sua velocidade e gravidade variam de indivíduo para indivíduo.

Infelizmente, muitos de nós quando falamos de pessoas idosas, temos imagens menos

bonitas desta faixa etária, e facilmente confundimos a demência, que algumas pessoas

idosas doentes apresentam, como uma sintomatologia inerente ao envelhecimento. Tal,

no entanto, não corresponde à verdade. Mas se existe um envelhecimento físico,

inevitável, será que existe um envelhecimento psicológico, cognitivo e social?

A sociedade atribui-nos muitas idades: a idade cronológica, a idade biológica, a idade

para andar, para tirar a carta de condução ou para a renovar, a idade da reforma.

Temos também a idade que sentimos que temos e a idade que os outros veem em

nós.

Sempre se acreditou que a velhice se traduzia por uma notável diminuição dos

processos cognitivos. Nos últimos vinte anos, diversas investigações têm permitido

matizar estas afirmações. Hoje podemos afirmar que é possível conservar a saúde

mental até ao fim da vida, e que a maior parte das pessoas o conseguem. A manutenção

da saúde mental na pessoa idosa é, em parte, devida a um envelhecimento bem-

sucedido, que a torna apta a controlar as tensões geradas pelo avançar da idade e pelas

perdas que acompanham essa realidade. Se envelhecer é tornar-se numa pessoa

madura, conservar a maturidade adquirida no decorrer dos anos nem sempre é fácil. Os

problemas psicológicos ligados ao envelhecimento raramente são causados pela

diminuição das capacidades cognitivas.

São sobretudo as perdas do papel social (ex.: reforma), as crises, as múltiplas situações

de stress, a doença, a fadiga, o desenraizamento (ex.: colocação num lar), que diminuem

a capacidade de concentração e de reflexão das pessoas idosas.

Page 32: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Envelhecer é também aceitar o inevitável, isto é, a perda gradual das funções orgânicas,

a mutilação, a separação, o sofrimento, o confronto com o desconhecido e a morte.

Adaptar-se ao envelhecimento, não é resignar-se, mas antes ter a inteligência de

aproveitar tudo o que ainda se possui, para continuar em atividade e com um papel

importante na família e na comunidade. Envelhecer bem é aceitar a velhice e continuar

a viver recorrendo a estratégias para conservar a auto estima é atingir a sabedoria e a

serenidade para inventar uma nova maneira de viver. O funcionamento mental do ser

humano liga-se às emoções e ao ambiente que o rodeia. Diversos fatores podem então

influenciar de diferentes maneiras, o aparecimento de problemas emotivos nas pessoas

idosas.

A mudança de papel

A passagem de um papel tradicional e utilitário tanto para a família como para a

sociedade, para um papel mais passivo traz habitualmente problemas psicológicos. Para

se ultrapassar esta fase é necessário que a pessoa idosa adquira novos papéis,

mantendo-se ativa e útil. A falta de ocupação tem efeitos nefastos sobre a perceção de

si, e pode conduzir à depressão.

O estatuto familiar e conjugal

A família e os amigos constituem muitas vezes a principal rede de suporte das pessoas

idosas. A sua separação da família ou dos amigos, qualquer que seja a causa, leva à

solidão, que por sua vez vai aumentar a insegurança e bloquear seriamente a

capacidade de adaptação.

Sentimento de impotência

As pessoas idosas deprimidas que têm uma diminuição da sua autoestima, sentem

dificuldade em se motivar para aprender e para fazerem um esforço de memorização.

Page 33: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

2.5. Pobreza e Exclusão Social

Produzem-se situações de exclusão social porque a sociedade não oferece a todos os

seus membros a possibilidade de todos esses direitos nem de cumprir alguns deveres

que lhes estão associados. O resultado é o das pessoas desfavorecidas perderem o

estatuto de cidadania plena, quer dizer, se verem impedidos de participar nos padrões

de vida tidos por aceitáveis na sociedade em que vivem.

Na definição de exclusão social está implícita a ideia do seu oposto, designado por

integração social ou inserção social. O trabalho exerce um papel integrador na

sociedade, daí que um emprego, mesmo que precário e mal pago, é preferível ao

desemprego, mesmo que o este corresponda um subsídio de desemprego razoável. A

fase extrema da exclusão social é caracterizada, não só pela rutura com o mercado de

trabalho, mas por ruturas familiares, afetivas e de amizade.

A exclusão social abrange formas de privação não material, ultrapassando a falta de

recursos económicos (que caracteriza a pobreza). A falta de recursos sociais, políticos,

culturais e psicológicos são considerados pelo conceito de exclusão social e são

importantes enquanto dimensões estratégicas de análise.

A exclusão configura-se como um fenómeno multidimensional, na medida em que

coexistem, dentro da exclusão, fenómenos sociais diferenciados, tais como o

desemprego, a marginalidade, a discriminação, a pobreza, o estigma, etc. As sociedades

europeias debatem-se, presentemente, com alguns tipos de problemas sociais que têm

vindo a preocupar cada vez mais os poderes públicos e os cidadãos em geral.

Nomeadamente os respeitantes à pobreza, às minorias culturais, aos idosos, ao

desemprego e aos sem-abrigo.

Page 34: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

100 Razões – 100 Abrigo

António Bento e Elias Barreto, na obra “Sem-Amor, Sem-Abrigo”, exploram esta

questão, reunindo uma série de situações comuns ao sem-abrigo, a saber:

Aqueles que vivem na rua;

Aqueles que ocupam, legal ou ilegalmente, casas abandonadas, barracas, etc;

Aqueles que se encontram alojados em refúgios ou centros de acolhimento

para sem-abrigo, quer do sector público, quer do privado;

Aqueles que vivem em pensões, camaratas ou outros refúgios privados;

Aqueles que vivem com amigos ou familiares, com os quais podem ver-se

forçados a coabitarem;

Aqueles que residem em instituições, estabelecimentos de cuidados infantis,

hospitais, prisões e hospitais psiquiátricos, e que não têm domicílio ao sair

destas instituições,

Aqueles que possuem uma casa, que, não se pode considerar adequada ou

socialmente aceitável, convertendo-se por isso em pessoas ou famílias mal

alojadas.

(Adaptado de Munoz e Vásquez, 1998, cit in: Bento, A. e Barreto, E. 2002:26)

As taxas de pobreza, os baixos salários, a crescente precarização do emprego e

desemprego, são dos maiores fatores que aumentam a população sem-abrigo em

Portugal. Além disso a impossibilidade, muitas vezes, de retomar um novo emprego em

caso de situação de emprego. “Vivemos nós, num mercado de trabalho cada vez mais

competitivo, exigente e precário, aqueles com menos educação e qualificação,

encontram-se facilmente vulneráveis neste campo.” (Bento, A. e Barreto, E. 2002:33)

A segurança de um emprego para toda a vida perdeu-se, embora a sociedade viva nessa

ilusão e otimismo, ou indiferença face à realidade, não criando novas formas, e

adaptações contras as dificuldades.

Page 35: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

Acrescentando ao fator económico, as perturbações psiquiátricas são uma evidente

causa de desintegração da sociedade, pois a existência de graves problemas mentais,

nesta população, condiciona fortemente as suas possibilidades de inserção.

A nível da desafiliação, que é outro dos fatores em ter em conta, quando se estuda este

fenómeno, são vários estudos têm evidenciado as relações interpessoais, fator de

inclusão na sociedade e inexistência ou fracas relações, exclusão social. A falta de poder

económico e o desemprego, atrás referido, muitas das vezes favorece “(…) a quebra dos

laços familiares e de amizade, caminhando-se lentamente para um processo de

isolamento e solidão, passando-se a contar apenas com outros indivíduos em condições

semelhantes, com quem se estabelecem, frequentemente relações meramente

funcionais, longe de se poderem constituir enquanto elementos efectivos de suporte.

(Baptista, I. 2004, cit in: Colectânea de ensaios CAIS, 2004:36)

Bento e Barreto (2002), descrevem-nos os Sem-Abrigo, da seguinte forma:

“No seu mundo interno, predominando a angústia de abandono; na sua vida afectiva, predominando as vinculações inseguras; na sua vida relacional, predomina o isolamento. A ruptura emocional, a ausência de um sentimento de pertença familiar, o empobrecimento da sua rede de relações sociais primárias; socialmente a sua desafiliação, a frouxidão dos laços com as instituições, a sua situação de exclusão social, mas também de auto marginalização” (Bento, A. eBarreto, E. 2002: 244).

A auto marginalização, aparece aqui descrita, como também um problema social,

relacionado com alguns casos de sem-abrigo que se autoexcluem, pelas constantes

tentativa de falhadas de integração e reinserção social na sociedade. O indivíduo, perde

a vontade de se integrar e aceita a sua condição social, fazendo a rua o seu lar. Alguns

dos técnicos que trabalham diretamente esta problemática, têm já nesta fase de

autoexclusão, problema em levar a pessoa a acreditar, mais uma vez, nela própria, para

sair da condição em que se encontra. A autoexclusão é dos problemas que aumenta a

condição de fraca autoestima, atentando, a um nível interno, contra a dignidade do ser

humano implicado.

Page 36: Sebenta_ Representação Social Da Diferença_1 (Recuperado)

3º Ano de Animador SocioculturalÁrea de Estudo da Comunidade

Módulo 9º - Representação Social da Diferença e Intervenção Social

2.6. Desigualdades entre géneros

Espera-se das mulheres obediência, submissão, alguma beleza e sobretudo muito

trabalho. Dos Homens espera-se força, competitividade, autoridade e pouco

sentimentalismo. Estas diferenças acreditam-se como inevitáveis, um dado da

“natureza”, realidades baseadas no sexo da pessoa. Mas prova-se, no dia-a-dia não

serem senão construções sociais e culturais enraizadas numa forma de ser biológica,

mas que dela se diferencia. Chamamos-lhe género e são as identidades passíveis de

modificação. Por isso se procura chegar à igualdade de género, ou seja, igualdade de ser

e estar para todas as pessoas, e não igualdade entre os sexos, o que não é desejável,

nem possível.

A igualdade de género, mais do que um princípio abstrato, mais do que uma compilação

de dados ou leis que raramente são cumpridas, deveria ser olhada como uma forma de

vida. (Alves, 2009)

Atividade 8 – Comente as imagens anteriores

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________