representaÇÃo social. conceituaÇÁo, dimensÃo e …

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REPRESENTAÇÃO SOCIAL. CONCEITUAÇÁO, DIMENSÃO E FUNÇÕES (*) Zulmira Áurea Cruz Bonfim (**) Sandra Francesca Conte de Almeida (***) RESUMO o texto aborda o conceito de representação social, suas dimensões e funções, tal como concebido na teoria elaborada, fundamentalmente, por S. Moscovici, inse- rindo-o no campo de psicologia social e discutindo sua origem a partir do conceilo de representação coletiva de Durkheim. Aspectos teóricos envolvendo o conteúdo e as funçOes das representações sociais são apresentados e discutida a relevância da utilização desse construto na articulação entre o social e o psicol6gico. Três exemplos de pesquisas, realizadas no Brasil, com base na teoria das representa- ções sociais, são citados para Ilustrar seu largo campo de aplicação e de Investiga- ção, ABSTRACT This paper discusses the concept of social representation, its range and role on lhe light of Moscovici's theory. It embels lhe notion on the social psychology area nd reviews its origin from Durkheim's conception of collective representation. It pre- ents theoretical aspects comprehending the meaning and role of social representa- lIons, and it considers the importance of using this construction on the interplay bet- ween the social and psychological fields. It shows three reserach projetes under ta- /(en in Brazil based on the theory of social representation to iIIustrate its large area of pplication and reseercb, " vista de Psicologia, Fortaleza, V. 9 (1/2), V. 10 (1/2); p.75 - p.89. Jan./Dez. 1991/92 75

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REPRESENTAÇÃO SOCIAL. CONCEITUAÇÁO,DIMENSÃO E FUNÇÕES (*)

Zulmira Áurea Cruz Bonfim (**)Sandra Francesca Conte de Almeida (***)

RESUMOo texto aborda o conceito de representação social, suas dimensões e funções,

tal como concebido na teoria elaborada, fundamentalmente, por S. Moscovici, inse-rindo-o no campo de psicologia social e discutindo sua origem a partir do conceilode representação coletiva de Durkheim. Aspectos teóricos envolvendo o conteúdo eas funçOes das representações sociais são apresentados e discutida a relevânciada utilização desse construto na articulação entre o social e o psicol6gico. Trêsexemplos de pesquisas, realizadas no Brasil, com base na teoria das representa-ções sociais, são citados para Ilustrar seu largo campo de aplicação e de Investiga-ção,

ABSTRACTThis paper discusses the concept of social representation, its range and role on

lhe light of Moscovici's theory. It embels lhe notion on the social psychology areand reviews its origin from Durkheim's conception of collective representation. It pre-ents theoretical aspects comprehending the meaning and role of social representa-

lIons, and it considers the importance of using this construction on the interplay bet-ween the social and psychological fields. It shows three reserach projetes under ta-/(en in Brazil based on the theory of social representation to iIIustrate its large area ofpplication and reseercb,

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A PSICOLOGIA E A PSICOLOGIA SOCIAL

A psicologia, tradicionalmente definida como "ciência do comportamento", temnegligenciado, tanto na sua atuação quanto no seu campo teórico, a clientela me-nos privilegiada.

No Brasil, a ciência psicológica tem seguido o modelo norte-americano e euro-peu, prioritariamente, em contraposição aos modelos mais compatfveis com a rea-lidade do Terceiro Mundo. Como exemplo dos que se enquadram nesta segundabordagem, podemos citar: Moffatt (1980), Pichon-Riviêre (1986), Loyello (1983),Lane (1981), Góis (1984), Vasconcelos (1985), Ciampa (1987), Leontiev (1978),entre outros. A atuação da psicologia tradicional restringe-se à área cltruca, cujoatendimento em consultórios particulares, em conformidade com o modelo profis-sional liberal clássico, obedece a uma abordagem essencialmente individualistacurativa, buscando a solução de problemas espedficos. A clientela atendida cor-responde a uma pequena parcela das classes sociais mais privilegiadas economlcamente. A grande maioria da população não se adapta ao universo cultural e aorituais desenvolvidos pelas técnicas psicológicas tradicionais, nem pode pagar porelas.

No campo teórico, tem-se estudado, mais enfaticamente, temas relacionadoao indivíduo, na maioria das vezes isolado do seu contexto sócio-cultural e histórlCOa Isto tem limitado a solução de graves problemas que afetam a população dopalses subdesenvolvidos, ao mesmo tempo em que limita a sistematização de conhecimentos novos na área de psicologia social e comunitária, os quais seriam impresclndlvels para uma atuação mais compatível com a realidade sôcio-econõmlc 1

e cultural desses pa'ses.A lacuna do social na psicologia é resgatada pela Psicologia Social contempo-

rânea, a partir de 1960 na Europa, principalmemte França e Inglaterra, criticando 1

Psicologia Social norte-americana da década de 50, que considerava o social cmo pano de fundo das teorias psicológicas e isolava o lndivlduo da sociedade. Avertente norte-americana estabelecia uma dicotomia entre o indivlduo e a sociedde, fundamentando-se na interrelação entre estas duas dimensões, mas considrando-as como dois fenômenos distintos (Lane, 1981).

A dualidade entre o indivrduo e o social é explicada por Leontiev (1978) comconseqüente das duas tendências de abordagem sobre o psiquismo humano: 1

naturalista e a histórico-social. Tal dualidade remonta, segundo o autor, à classlflcação das ciências feita por Bacon, que atribui o estudo do psiquismo à investig 1

ção anátomo-fisiológica (naturalista) e à compreensão do aspecto social à sociogia (histórico-social). Estas duas tendências refletem uma dificuldade da psicogia, que também está presente em outras ciências humanas.

Leotiev (1978) concebe que esta dicotomia só será resolvida a partir de um 1

concepção filosófica de mundo que amplie a explicação cientlfica e materialis\ 1

tanto aos fenômenos naturais como aos fenômenos sociais. Para ele,

"existe uma única concepção do mundo que responde a este objetivo:a filosofia do materialismo dietético" (Leontiev, 1978: 151).

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Uuscando uma concepção única sobre o homem, é que alguns teóricos da Psi-llogia Social assinalam a redundância do termo "social", Baseiam-se na argu-

11I ntação de que não há a possibilidade de uma psicologia que não tenha esse

" mento."O enfoque da Psicologia Social é estudar o comportamento nos indivl-

duos no que ele é influenciado socialmente" (Lane, 1981: 8).

Mo' ovici (1985) definiu a Psicologia Social como a ciência do conflito entre o indi-.'uo e a sociedade. O lndivlduo só existe dentro da rede social e toda sociedadeli resultado da interação de milhares de indivrduos. São objetos de estudo da

I Il.ologia Social, segundo Moscovici, os fenômenos da ideologia (cognição e r~-I" ntações sociais) e os fenômenos de comunicação, todos vinculados aos dl-

I os níveis das interações humanas., Imonari e Doise (1986) postularam que a grande tarefa do psicólogo social

111\ mporãneo é a de trabalhar na imbricação de diferentes campos teóricos, co-Kl opiniões, atitudes, tomada de decisão, processo de socialização, relações in-I Irupais, comportamentos agressivos, dinâmicas de influência social, represen-

o social, etc.Pontuamos como fundamental, no estudo da Psicologia Social, o que ela tem de

III'nal, que é questionar a separação entre o individual e o coletivo e contestar au IIdade entre o psíquico e o social, sem deixar de compreendê-Ios como camposli rdependentes.

A representação social torna-se um instrumento da Psicologia Social, na medi-I rn que articula o social e o psicológico como um processo dinâmico, que per-111 compreender a formação do pensamento social e prenunciar as condutas

I lTl nas. Ela favorece o desvendar dos mecanismos de funcionamento da elabo-social do real (Arruda, 1983) e, por isso, torna-se tão fundamental no estudo

Idéias e condutas sociais.,) ra Durkheim, o papel da Psicologia Social seria o de estudar

"de que modo as representaç6es se atraem e se excluem, se fundemumas com as outras ou se distinguem" (Durkheim, 1983: 80).

I Intermédio do aporte teórico da representação social, torna-se possfvel pene-I no cotidiero dos lndivlduos, considerando seus valores e identidades culturaisI cobrindo suas verdadeiras raízes e origens, propiciando o desvelar de as-10 antigos e novos de sua identidade (Arruda, 1985).A representação social, enquanto objeto de estudo da Psicologia Social, permiternculação do social e do psicológico, tornando-se um instrumento de compre-

o e de transformação da realidade.

r ORlA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

o conceito de representação social situa-se nas fronteiras entre a psicologia eoclologia, mais especificamente entre a psicologia e a sociologia do conheci-nto.

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A origem do conceito provém do de representação coletiva, desenvolvidopor Durkheim. Este teorizou que as categorias básicas do pensamento teriam orl-gem na sociedade e que o conhecimento só poderia ser encontrado na experiênclsocial, ou seja, a vida social seria a condição de todo pensamento organizado e vi-ce-versa. Durkheim propôs, ainda, como condição essencial na elaboração do co-nhecimento, a formação de conceitos que são partilhados pelos membros do gru-po, originados, inicialmente, de caracterfsíícas da vida da coletividade (Durkheim,1974). Diferentemente das experiências singulares dos indivrduos (percepções,imaginação, sensação, etc.) , os conceitos permitem a caracterização do ser es-sencial do homem, devido ao fato de que, para Durkheim,

••••• Um homem que não pensasse por meio de conceitos não seria umhomem, pois não seria um ser social. Reduzido apenas às percepções indi-viduais, seria indistinto do enimet" (Durkheirn, 1983: 239).

Para Durkheim, a individualidade humana se constitui a partir da sociedade. A rpresentação coletiva, segundo ele, não se reduz à soma das representaçoodos indlvíduos que compõem a sociedade, mais do que isto, um novo conhecimento é formado, que supera a soma dos índívlduos e favorece uma recriação docoletivo. Na representação coletiva encontra-se a primazia do social sobreindividual (Durkheim citado por Herzlich, 1972).

A religião, por exemplo, é analisada por Durkheim como possuindo um compo-nente ideacional essencial relacionado à criação de uma estrutura cognitiva, po:onde se compreende o mundo conceitualmente. Giddens, comentando as idéias dDurkheim, nos fala que a religião se origina das exigências práticas da vida em 50ciedade. "Os homens não inventaram primeiro os deuses para depois ligar essaidéias à sua atividade social. A formulação cognitiva de idéias religiosas é uma expressão de pensamentos sociais preexistentes que Ihes antecedem o aparecimento em reflexões conscientes." (Giddens, 1978:59).

Para Durkheim, uma função primordial da representação coletiva seria 1

transmissão da herança coletiva dos antepassados. As representações coletivacrescentariam às experiências individuais tudo que a sociedade acumulou de 5bed~:>riae ciência no decorrer dos tempos (Durkheim, 1974).

E justamente neste aspecto que Moscovici diverge de Durkheim e acrescenlnovos elementos à elaboração do conceito de representação social, Para el ,ela não é somente uma herança coletiva dos antepassados, que é transmitida dImaneira determinista e estática. O indivrduo tem papel ativo e autônomo no prcesso de construção da sociedade. Da mesma forma que o indivlduo é criado polela, ele também tem participação em sua construção (Moscovici, 1978).

Um outro ponto divergente entre o conceito de representação coletiva dDurkheim e o conceito elaborado por Moscovici de representação socialquanto à colocação teórica do primeiro, de que as representações socialconstituiriam uma classe muito genérica de fenômenos psíqulcos e sociais quabrangeriam a ciência, ideologia, mito, etc. Moscovici (1978) se contrapõe a esllidéia porque pensa a representação social como um conhecimento singul I,destacado de uma categoria geral de pensamento social que caminha paralelo ao

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utros tipos de conhecimento sobre o social, mas que conserva a sua específlcí-I de. Esta delimitação é essencial para a compreensão do seu significado.

Os mitos, estudados pelos antropólogos, se diferenciam da representaçãoocial por serem considerados em nossa sociedade uma forma arcaica e primitiva

tle e situar no mundo ou uma forma de conhecimento "anormal" ou "inferior"(Moscovici, 1978). Para o homem primitivo, o mito constitui um conhecimento total,1/11 Incluiu sua prática, sua percepção da natureza e suas relações sociais e não

11'1 sujeito a dúvidas ou mudanças. Já as representações sociais, embora jáI I am ter sido tratadas analogamente aos mitos, são consideradas formas "nor-f1I I " de conhecimento, que retratam o pensamento da sociedade presente na vi-I otidiana.

A formação das representações sociais a partir da realidade da vida cotidia-" constitui uma grande força para que estas possam ser tratadas e reconhecidas

Imo "conhecimento" pela sociedade. Isto porque a realidade da vida cotidianafi! senta-se como a realidade por excelência, porque, sendo decorrente das rela-n que o homem mantém no dia-a-dia com o mundo, possui um caráter predo-

11I111nternente impositivo e urgente à consciência. Em conseqüência, o indivrduoperlrnenta a vida cotidiana num estado total de atenção que lhe permite apreen-II de forma normal e natural (Berger & Luckman, 1983).A realidade da vida cotidiana é dominante em relação a outras realidades queI tem, como os sonhos, o pensamento teórico (ciência), arte e religião. Estes

1111nlam desviar a atenção da realidade da vida cotidiana, mas encontram um blo-lU 10,pelo caráter finito de significação.

A situação dominante da realidade da vida cotidiana, se mantém devido à exis-neta da linguagem, na qual se fundamenta, e fornece continuamente as objeti-

õ s necessárias que dão sentido aos elementos da realidade. A linguagem temri m e encontra sua referência primária na vida cotidiana. Ela fornece a imediata

Ibilidade da objetivação da experiência.A estrutura social é outro elemento essencial da realidade da vida cotidiana.

por intermédio da sociedade, da interação e das relações face a face que o indi-Iluo encontra a expressão de sua subjetividade. No compartilhar da intersubjeti-1!lldo, o indivlduo adquire a certeza da realidade vivida e diferencia a realidade da

t cotidiana de outras realidades de que tem consciência. A atitude natural élU Ia que é compartilhada pela consciência do senso comum, porque se refere a

UI1l mundo que é comum a muitos homens.ospecialmente na situação face a face que o outro pode ser considerado pie-

m nte real. Somente aqui a subjetividade do outro é expressivamente próxima.A realidade da vida cotidiana constitui a matéria ernplrica da sociologia, o co-

" cimento que dirige à conduta da vida diária. É definida pela sociologia do co-n" Imento como uma realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dota-li sentido, na medida em que forma um mundo coerente (Berger & Luckman,

, 11'1).N sociologia do conhecimento, a realidade é definida como uma qualidaderI ncente a fenômenos que se reconhece serem independentes da vontade

nhecimento como sendo a certeza de que os fenômenos são reais e pos-

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suem caracterfstlcas especfficas. Seu objeto de estudo se insere no estabeleci-mento das relações entre o pensamento humano e o seu contexo (Berger & Luck·man, 1983).

O interesse da sociologia do conhecimento pelas questões de realidade e co-nhecimento é justificado pela existência de uma relatividade social. Assim, o quereal para uma determinada cultura pode não ser real para outra. O conhecimentoclassificado como verdadeiro pode ser visto diferentemente por categorias profisionais distintas. Conhecimento e realidade deverão ser compreendidos dentro dcontextos sociais especfficos e analisadas suas relações a partir destes contextos. A relevância da sociologia do conhecimento se dá pelas diferenças observdas entre as sociedades em termos daquilo que é admitido como conhecimento.Em síntese,

"••• uma sociologia do conhecimento tem de tratar náo somente da mul-tiplicidade empfrica do conhecimento nas sociedades humanas, mas tam-bém dos processos pelos quais qualquer corpo de conhecimento chega aser socialmente estabelecido como realidade" (Berger & Luckman, 1983:13).

Embora os elementos básicos do conceito de representação social tenhamoriginado na sociologia, é na Psicologia Social que ele assume sua forma mcomplexa, tendo sido retomado por Serge Moscovici e depois desenvolvido pOIoutros autores da Psicologia Social francesa.

Na psicologia, o conceito de representação social foi resgatado pela vertenhsociológica da psicologia européia. O estudo da representação social rnan I

uma mudança no eixo tradicional das pesquisas em Psicologia Social, que se COIIcentravam principalmente na tradição behaviorista (watsoniana) de verificação (11

comportamentos observáveis. Durante muito tempo, os conteúdos latentes e implrcitos do comportamento foram negligenciados pela psicologia por, supostamenhnão estarem dentro do âmbito de estudo desta ciência. A vertente behaviori IIsob a grande influência anglo-saxônica, detinha a hegemonia não só na Psicolo IISocial como em todas as áreas da ciência psicológica.

A grande contribuição da corrente francesa à psicologia fundamenta-se na 1111

pliação dos objetivos e limites da Psicologia Social, alcançando resultados r Ivantes na compreensão do processo de elaboração psicológica e social do ri Iintegrando aspectos impllcitos e explícitos do comportamento à explicação d I

condutas.Mas é justamente na encruzilhada de conceitos sociológicos e psicológicos '1"

Moscovici resgata o conceito de representaçao social, definida por ele como:

"uma modalidade de conhecimento particular que tem por turçêo a ela-boreção de comportamentos e a comunicaçáo entre indivlduos" (Moscovici,1978: 26).

É uma modalidade particular porque não é todo conhecimento que pode ser ( 111

siderado representação social, mas somente aquele do senso comum, do viIIcotidiana dos indivlduos, que é elaborado socialmente e que funciona no sentido I

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,I rpretar, pensar e agir sobre a realidade. É um conhecimento prático que seI ao pensamento cientrtico, porém assemelha-se a ere, assim como aos mitos,

I I que concerne à elaboração destes conhecimentos a partir de um conteúdo sim-I IIco e prático.

( grande avan?~ na elaboração do conceito e teoria das representações so-I I por MOSCOVICI(1978) deu-se a partir dos resultados de uma pesquisa reali-ela por ele em :aris, com o objetivo de levantar as representações sociais deumas categorias da população parisiense sobre a psicanálise. A escolha daf( nálise, ~nquanto objeto de estudo das representações sociais, deveu-se à

11 qrance difusão na Europa e Estados Unidos, propiciando ao público um nrvelInformação ideal para a elaboração de opiniões (1) e de representaçõesI is acerca da mesma. A pesquisa comparou distintas categorias da popula-

o, nglobando amostras representativas da população em geral, das populações( lasse média, de profissionais liberais, estudantes e alunos de escolas técni-

Um outro aspecto na compreensão do conceito de representação social é o11 fi pel na formação das condutas. É ela que modela o comportamento e justifi-

lJ expressão. Moscovici nos fala, então, que a representação social é umali H ç~o ?ara a ação, tanto por conduzir o comportamento, como por modificar

onstituir os elementos do meio ambiente em que o comportamento deve terr.

"Ela consegue incutir um sentido ao comportamento, integril-Io numa redede teleções em que estil vinculado ao seu objeto, fornecendo ao mesmotempo as noções, as teorias e os fundos de observeçêo que tomam essasrelações estáveis e eficazes". (Moscovici, 1978.'49).

I t IIttch (1972) afirma que o aprimoramento do conceito de representação so-I v m a preencher uma lacuna na Psicologia Social, que era justamente o estu-111 modos de conhecimento e dos processos simbólicos na sua relação comIfIdutas.

t rceiro aspecto ?a definição que ressaltamos na representação social élunção ~a comunlcação entre indivrduos. Ela é um dos instrumentos pelos

I o Indlvrduos ou grupos apreendem seu envolvimento e suas relações que111 di tlzadas pela linguagem. '

Mil covici (citado por Palmonari & Doise, 1986) propõe uma relação particularI temas de comunicação e as representações sociais, apoiado num ca-

(Ir ulante e móvel destas últimas. Elas se modificam ou se atualizam dentroI çõos de comunicação diferentes. Desta forma, os jornalistas (a imprensa),

I vlci (1976) definiu opinião como uma forma socialmente valorizada a que um indivhldoI r, ondo também uma tomada de posição sobre um problema controvertido, na socieda-

f li ualmente descrita como sendo pouco estável e pode ser compreendida corno um mo.u.u da formação de atitudes e estereótipos. Assim como a atitude, a opinião é considerada

n pr paração ~ara uma ação, ~lribui-se a ela uma virtude preditiva, já que a partir daquilotil n Indlvrduo dIZ pode-se deduzir o que ele vai fazer.

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por exemp~o! sendo um grupo de especialistas (2) formadores de representções SOCiaiS, podem ser responsáveis pela estruturação de sistemas de comunicação que visam a difundir, propagar. ou fazer propagandas de determindas representações.

Na difusão não há modificação da comunicação emitida da fonte até o recep-tor. Os autores dos artigos da imprensa transmitem a informação que eles recbem de especialistas. A difusão produz. sobretudo. opiniões.

A propagação se caracteriza pela adaptação de outros saberes a uma visáde mundo organizada. a um quadro pré-estabelecido. A propagação trabalha aonfvel de formação de atitudes.

A propaganda é uma forma de comunicação que está inserida dentro de reições sociais fortemente antagônicas. É a oposição entre o verdadeiro e o falso s •ber, uma incompatibilidade entre a visão de mundo que a fonte propõe e aquelaproposta por uma parte antagônica. A propaganda forma estereótipos.

~.uanto à linguagem. ela tem origem e encontra sua referência primária na vidcotidiana. Fornece a imediata possibilidade da objetivação da experiência. A lin·guagem. além da representação (3). é condição de emergência de uma repre-sentação social.

A representaç.ão constitui um elemento essencial para a passagem do pro-cesso de elaboraçao da percepção à conceítuação, e vice-versa. Ela se constituiuma terceira instância. com propriedades mistas. que condiciona

" • • . ~ passagem da esfera sensorial-motora éI esfera cognitiva, do objetopercebido éI dlstêncie a uma concientização de suas dimensões, fonnas, ete.Representar-se alguma coisa e ter consciência de alguma coisa dA no mes-mo - ou quase" (Moscovici, 1978:57).

A representação é um processo fundamental. que toma possível intercambiarpercepção e conceito, ou seja,

"•••• o objeto do conceito pode ser tomado para objeto de uma percep-ção, o conteúdo do conceito pode ser percebido". (Moscovici, 1978: 58).

Ela, a representação, pode converter-se tanto em percepções como em conceitos.Do conceito. a representação absorve o poder de organizar de unir e de filtrar oque vai ser rei~t.roduzido e reaprendldo, no domfnio sensoriai. Da percepção. elaconserva a habilidade para percorrer e registrar o inorganizado. o que ainda irá seformar.

. A realização das representações tem grande significado para toda a vida cons-c~ente. ~em o processo de representar não poderfamos sair da experí'encia ime-diata. Diferentemente da percepção. que reproduz a imagem do objeto em si. a re-

2 - Os especialistas possuem um papel fundamental na formação das representações sociais:jomalistas, cientistas, técnicos e polfticos.

3 - Nem toda representação é representação social.

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entação é a imagem mesma do objeto que se reproduz sob a influência sen-rllll precedente. quando o dito objeto já não existe diretamente. Desta forma. osI~ tos que se encontram diante de nós atuaria diretamente sobre nossos órgãosI I ptivos e determinariam nossa conduta. Nossos pensamentos e nossas açõestnrlam submetidos exclusivamente ao presente. A vida interna seria impossfvel

IIIlllllnstein. 1967).( processo de representar e a conceituação estão vinculados um ao outro.

I li" Indo uma unidade. porém permanecem distintos. Ao conceito não se devetrlhulr a representação; nem tampouco se separam. No entanto. vinculam-se en-

I, Influenciando-se mutuamente. igualmente como acontece na realidade com ollÔmeno e a essência. com o singular e o geral (Rubinstein. 1967).

I m outras palavras. o processo de representar inclui a percepção (presençaI objeto) e o conceito (sua ausência). É exatamente neste processo de tornarp rcepção um conceito e o conceito uma percepção. que se configura or t r criativo da representação. Seu processo dinâmico reflete a complexa vidafi rsonalidade. Não é uma reprodução mecânica da percepção que se conser-

m qualquer lugar. como um elemento invariável. É mais uma configuraçãout vel que a cada vez se cria de novo sob determinadas condições (Rubinstein,

7). Tanto a percepção quanto o conceito são modificados a partir da entrada del1l ntos estranhos ao universo conhecido, os quais são incorporados e remo-I dos de acordo com o que existe naquele universo. A criação, na representa-

, se dá pela transformação de um conhecimento indireto em direto na realidadeIIcll na do indivfduo, de onde um novo conhecimento é produzido a partir do sen-comum da coletividade.O caráter criativo da representação manifesta-se também na forma como cada

kllllvfduo a processa. Ela não acontece da mesma maneira em todos os indivlduos,Ut renclando-se de acordo com as peculiaridades individuais. A concretizaçãoI atividades humanas no mundo é vista. por Rubinstein (1967). como conse-'O ncia das diferenças individuais que se relacionam com a atitude de produzir eI I xííücar representações. sendo que elas podem diferir consideravelmente numI mo indivíduo, no que se refere a diferentes campos sensoriais. Um indivíduo

I possuir representações visuais precisas. estáveis e claras. enquanto as re-I entações acústicas, podem se configurar imprecisas e sem colorido (Rubins-In.1967).t graças ao processo de representar que se tem a possibilidade de emergên-

, ,formação e elaboração das representações sociais na vida cotidiana.As representações. para serem consideradas sociais. precisam ter. como con-

Iç o. serem produzidas coletivamente. além de se destacarem como formadorascondutas e orientadoras das comunicações sociais.

A ciência e a ideologia. assim como as representações sociais, também sãongendradas originalmente na coletividade. As diferenças entre elas e a repre-

ntação social correspondem à função que esta última adquire exclusivamente11 mediação da formação de condutas e na orientação das comunicações sociais.

ciência busca compreender a natureza e procura descobrir a verdade sobre ela.

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A ideologia fornece um sistema geral de metas traçadas por um grupo, as qualjustificam seus atos. Embora ambas possam propor condutas e comunicaçõadequadas, elas precisam ter a representação social como mediadora destprocesso. Daí delineia-se esta função como exclusiva da representação soclll(Moscovici, 1978). Ela se constitui, assim, um conhecimento dotado de uma realldade própria, sólido, não emprestado de outras ciências (Palmonari & Dois ,1986).

Como instrumento de avaliação dos grupos sociais, as representações socialajudam na comparação, delimitação e definição dos grupos em torno das visõeque estes têm do mundo, de como os mesmos se relacionam com um objeto scialmente valorizado. Para que a representação social seja um instrumento dcomparação entre grupos é necessário levantar seu conteúdo e seu sentido, etruturados a partir de três dimensões: a informação, o campo de represent Ição e a atitude.

A informação é o montante de conhecimentos, tanto qualitativos quanto quantitativos, que existem acerca de um objeto social aprendido por um grupo especnlco. Na pesquisa desenvolvida por Moscovici (1978) sobre a representação socüdda psicanálise, constatou-se um baixo nível de informação dos operários entrevitados. Já os estudantes e sujeitos de classe média possufam um conhecimenlomais consistente e passfvel de verificação em relação à técnica psicanalrtica.

O campo de representação é a tendência de respostas em um grupo qUIengloba uma hierarquia de elementos, os quais reforçam grupo a outro, ou a partirdas influências que recebe no seu contexto. Por exemplo, os fatores ideológicopodem exercer uma influência na estruturação do campo de representação: osujeitos de opinião política de esquerda avaliam o universo pstcolõçtco como ditinto do de problemas sociais, enquanto os de centro-direita o posicionam no memo plano dos problemas sociais e polrticos (Moscovici, 1978).

A atitude expressa a orientação geral, positiva ou negativa, em relação ao ob-jeto da representação social.

As atitudes, na Psicologia Social, são usualmente definidas como predispo Ições aprendidas e, como tal, são concebidas como sendo sociais na origem. Porém, são sociais num primeiro sentido, pois possuem sua maior ênfase nos apectos interpessoais da realidade social mais do que nos aspectos estruturaisculturais. Relacionam-se com as disposições individuais, introduzidas na Psicologia Social, para explicar diferenças entre os indivfduos e sua relação a um estfmulusemelhante (Jaspes & Frazer, 1986).

As três dimensões do conteúdo da representação social podem não aconlcer simultaneamente num mesmo grupo. No caso da representação social da pcanálise, a tridimensionalidade somente se manifesta em quatro populações: estudantes, profissionais liberais, classes médias "A" e alunos de escolas técnica ,Os operários e as classes médias "B" têm uma atitude estruturada, mas uma 111formação e um campo de representação difusos. Moscovici concluiu, na sua pequisa, que

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n••• a Psicanálise suscita em todos os lugares tomadas de posição (ati-tudes) determinadas e, somente em parte, representaç6es sociais coeren-tes"(Moscovici, 1978:73).

A titude é analisada por ele como sendo a dimensão geneticamente primordial.

n••• Por conseguinte, é razoável concluir que uma pessoa se informa ese representa alguma coisa unicamente depois de ter adotado uma posiçêoe em tunção da posição tomada". (Moscovici, 1978.74).

( conteúdo das representações sociais nos possibilita, então, a compreen-li da dimensão dos grupos sociais e torna possfvel a comparação entre eles,

I I rvando suas caracterfsticas comuns e divergentes. O grau de estruturação doIIII údo das representações sociais nos fornece os elementos necessários para

11Irmos a emergência e consistência das representações sociais.N, o só o conteúdo das representações sociais nos fornece os subsldíos

I compreensão de sua elaboração e de seu funcionamento. Seu conteúdomostra as caracterfsticas estáticas das representações sociais. Outros pro-os estão envolvidos na construção social do real de forma dinâmica: a obje-

\I ção e a ancoragem. Estes processos fundamentam, segundo Herzlichf?), a maneira pela qual o social transforma um conhecimento em representa-

como esta representação transforma o social.) processo de objetivação ocorre, na representação social, quando há a

tu r tização ou materialização de um objeto abstrato representado; quando umqu ma conceitual se torna real e acessível ao senso comum. Jodelet (1984)I .centou que, por intermédio do processo de objetivação, é possfvel a repre-IIIIÇão tornar intercambiável o percepto e o conceito: colocam-se imagens em

r> s abstratas, dá-se uma textura material às idéias, faz-se corresponder asI às palavras.

A objetivação ocorre, comumente, no procedimento de vulgarização do saberII,"ICO. Neste caso, tal conhecimento é apreendido pelo homem comum, a partir

propriação de elementos conceituais, que normalmente são acessfveis so-111 a uma parcela de especialistas. Moscovici (1978) explica:

"Ao objetivar o conteúdo cientlfico da Psicanálise, a sociedade já náo sesitua com vistas <l Psicanálise ou aos psicanalistas, mas em reteçõo a umasérie de fenómenos que ela toma a liberdade de tratar corno muito bem en-tende. O testemunho dos homens converte-se em testemunho dos sentidos,o universo desconhecido torna-se familiarizar a todos". (Moscovici,1978:112).

N te procedimento de apropriação do saber clentülco, o homem comum passa1i Ir a sua própria relação com o objeto, dando forma às significações do seu

1111 nte. Para que isto aconteça, o objeto a ser representado passa primeiro por, lase de seleção e descontextualização daqueles elementos da teoria, que sãoIflldos em função de critérios sócio-culturais e sócio-norrnativos. A seleção iráI r de acordo com as informações existentes, que podem mudar de grupo para

uno, ou em função de valores aprendidos na cultura.

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Uma outra fase na objetivação de uma teoria cientrtica é a formação de um es-quema figurativo, que

': .. é uma estrutura imaginante que vai reproduzir de maneira visfveluma estrutura concehuet", (Jodelet; 1984).

Esquema figurativo é uma noção, introduzida por Moscovici, que traduz umnúcleo essencial da representação. Na psicanálise, o esquema figurativo cor-responde às noções de consciente, inconsciente, recalque e complexos. Estas noções não englobam a totalidade da teoria. Somente aqueles aspectos que sãoapreendidos pelo público e que condizem com os valores do grupo e da sociedadse configuram como esquema figurativo. Por exemplo, a noção de libido da teoriapsicanalrtica não é absorvida pelo público entrevistado porque, segundo Moscovicl,corresponde a uma área tabu que suscitou muitas controvérsias e choque de valo-res. Para que a teoria psicanalrtica pudesse se integrar totalmente ao discurso co-mum, foi necessária a omissão dos aspectos conflitantes da teoria que divergiamdos valores pré-estabelecidos na cultural local. O processo de elaboração das re-presentações sociais está intimamente vinculado à formação de um esquema figu-rativo.

A naturalização, outro processo da objetivação, ocorre quando o esquema fI-gurativo passa a fazer parte do senso comum, de forma que os elementos da teo-ria são qualificados segundo os critérios da própria cultura. Assim, o homem co-mum passa a lidar com o inconsciente como "inquieto"; os complexos como "a-gressivos"; consciente e inconsciente como "conflito" (Jodelet, 1984). Neste pro-cesso, as noções de inconsciente, complexo e recalque adquirem uma rnaterialí-dade quase tangrvel, de maneira que se misturam com a vida dinâmica da vida co-tidiana. Desta forma, o indivíduo esquece que em seu discurso estão presenteselementos estranhos originários de outros e o absorvem como seus, assumindo-os como criação própria (Herzlich, 1972).

O aperfeiçoamento e a concretização de uma representação social culminacom o processo da ancoragem. Situa-se num pólo oposto à objetivação, maambos constituerr. processos complementares. A ancoragem aparece como umaextensão da objetivação. Ela promove a inteqração cognitiva do objeto representa-do no sistema de pensamento pré-existente e também as transformações quemanam de um e de outra (Jodelet, 1984).

Por seu meio, articulam-se as três funções de base da representação: funçãocognitiva de integração da novidade, função de interpretação da reali-dade, função de orientação de condutas e de relações sociais. Além daatribuição de uma funcionalidade, a ancoragem possibilita a transformação de sigonificantes em signos ou do objeto representado em representação social Equlvale à inserção de um objeto novo dentro de um quadro de referência bem conhe-cido para poder interpretar (Palmonari & Doise, 1986). Por exemplo, a psicanálisé mais facilmente assimilada pelos não especialistas quando é comparada ao atoda confissão da religião católica.

O processo de ancoragem caracteriza uma das mais importantes funções drepresentação socia], que é a domesticação do estranho.

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Uma outra função social da representação social paralela a esta é de anteci-r o desdobramento das relações sociais, ou seja, funciona como uma ligação

fi" o passado e o futuro.

()NSIDERAÇÕES FINAIS

( construtos concebidos por Moscovici e por outros autores de corrente da11 ologia Social Francesa, sobre o conteúdo, sentido e funções assumidas pelar sentação social como instrumento da avaliação dos grupos sociais, vêm

lorçar a compreensão operacional de como as representações sociais são ela-r Idas coletivamente a partir da realidade cotidiana.I tes estudos fornecem subsfdios para que o cientista social possa desenvol-r I squisas com o intuito de desvelar o pensar e o agir de grupos sociais, tendo

1111 referencial a teoria das representações sociais.Corno exemplo de estudos desenvolvidos por pesquisadores brasileiros temos

Ir balho de Fávero, Tunes & Marchi (1991) sobre a representação social da1 II mática e desempenho na solução de problemas. Apoiados na tese de Mosco-I I ( 1986) de que a representação de um objeto de conhecimento, associada a va-

v I circunstâncias, influencia na resolução de tarefas, os autores encontraramultados, próximos de outros estudos, de que o desempenho de meninos é sig-

til, iíivamente superior ao das meninas, quando estes são requisitados à resolu-J d problemas de matemática. Estas diferenças estão baseadas em crenças,

I horadas socialmente, de que se espera que os sujeitos masculinos tenham umJI" desempenho em matemática e que, por sua vez, a vejam como relevante para11 futuro na sociedade. Os autores encontraram, também, diferenças significati-

no desempenho das meninas, quando o experimentador é do sexo masculino.111 utras palavras, a apreensão do conteúdo da matemática, pelas meninas, é

ktr quando o professor de matemática é homem.I tes resultados confirmam as idéias propostas por Moscovici de que o desen-vlmento cognitivo não se dá de forma isolada, como uma atividade individual,

"'1"1 realidade objetiva e neutra, mas que ele se constrói a partir da influência di-I do coletivo.I tuoos exploratórios, envolvendo populações de baixa renda, foram desenvol-

10 por Arruda (1985) sobre a representação social da saúde num bairro dempma Grande (Paraíba) e por Bomfim (1990) em "Representações Sociais do

I de Moradia, de Si Próprio e do Outro em um Grupo de Moradores do Pedre-I do Novo Gama" (Distrito Federal). Em ambos, o recurso à teoria das repre-nt ções sociais é justificado pelo fato de possibilitar uma avaliação do siste-do significação ou produção mental dessas populações, permitindo a entrada( u mundo simbólico, a partir da sua própria realidade cotidiana.

( s resultados encontrados apontam para a continuidade de linhas de pesquisa11 dlrecionem para uma nova polrtica de atuação nessas comunidades por parte

ições governamentais, partidos polrticos, cientistas sociais, profissionais dade saúde comunitária, etc.

No primeiro estudo, a pesquisa revela, por intermédio das representações so-

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ciais, estratégias e avaliações que servem de indicadores para uma nova pollticde saúde, já que expressa os anseios, as práticas e necessidades desse segmento da população.

No segundo, os resultados alcançados apontam para um possfvet processo dformação de uma identidade social do morador da periferia do Distrito Federal, avaliado a partir da relação entre os aspectos internalizados dos moradores (representações sociais) e o espaço urbano em que vivem. O estudo busca contribuirpara a polrtica de expansão urbana da capital federal que, em especial, tem sidoobjeto de estudo das áreas de geografia, arquitetura urbanismo, sociologia urban ,etc.

Os exemplos citados reforçam, mais uma vez, a relevância da teoria das rpresentações sociais aplicada à investigação, avaliação e compreensão dogrupos sociais a partir de suas próprias realidades e identidades culturais.

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