“saúde não se misturacom política”

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TODO OUVIDO Em busca da inspiração perdida: Gilberto Gil estava com saudade de gravar. Também pudera. O último trabalho autoral foi o robusto Quanta, de 1997. PÁGINA 10 Lançamento: Brandon Flowers, vocalista da banda The Killers, confirmou no site oficial do grupo o lançamento de seu primeiro disco solo. PÁGINA 10 OFICINA BRASÍLIA Recall: a Toyota do Brasil confirmou que irá convocar um recall do Corolla, por conta dos tapetes que cobrem o assoalho e podem prender o pedal do acelerador. PÁGINA 11 www.odistrital.com.br BRASÍLIA-DF | DOMINGO | 2 A 8 DE MAIO DE 2010 | ANO X | NÚMERO 70 R$ 2,00 SOLUÇÃO SERIA NOVO CENTRO URBANO, AFIRMA ESPECIALISTA Alain Bertaud, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, sustenta que essa pode ser única saída para o caos nas ruas de Brasília. PÁGINA 4 UM JORNAL A SERVIÇO DA POPULAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL A PANDORISTA DAS CONTRADIÇÕES Depoimentos e argumentação que deveriam favorecer Eurides Brito (PMDB) complicam ainda mais a situação da parlamentar na Comissão de Ética. PÁGINA 5 CONSELHEIRO É SABATINADO Foi aprovada na Comissão de Economia, Orçamento e Finanças da Câmara Legislativa a indicação do procurador Inácio Magalhães para a vaga de conselheiro aberta no Tribunal de Contas do DF. PÁGINA 5 TAKANE NO TRABALHO O governador Rogério Rosso (PMDB) nomeou o novo secretário de Trabalho. PÁGINA 5 A SÍNDROME DOS TEMPOS MODERNOS Doença que pode incapacitar para o trabalho, a Lesão por Esforço Repetitivo – também conhecida como LER – assombra a carreira de trabalhadores que dependem do emprego, mas sofrem com as dores causadas pela falta de postura adequada no local de trabalho. PÁGINA 8 ENTREVISTA “Saúde não se mistura com política” Secretário de Saúde do Distrito Federal por quatro vezes, o deputado federal Jofran Frejat (PR) foi um dos responsáveis pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no país e é hoje uma das referências em Saúde Pública no Distrito Federal. PÁGINA 6 Thyago Arruda Thyago Arruda EDITORIAS OPINIÃO 2 CIDADE 4 POLÍTICA 5 BRASIL 8 CULTURA 10 VEÍCULOS 11 Thyago Arruda Thyago Arruda

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Secretário de Saúde do Distrito Federal por quatro vezes, o deputado federal Jofran Frejat (PR) foi um dos responsáveis pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no país e é hoje uma das referências em Saúde Pública no Distrito Federal.

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Page 1: “Saúde não se misturacom política”

todo ouvidoEm busca da inspiração perdida: Gilberto Gil estava com saudade de gravar. Também pudera. O último trabalho autoral foi o robusto Quanta, de 1997.página 10

Lançamento: Brandon Flowers, vocalista da banda The Killers, confirmou no site oficial do grupo o lançamento de seu primeiro disco solo. página 10

oficina brasíliaRecall: a Toyota do Brasil confirmou que irá convocar um recall do Corolla, por conta dos tapetes que cobrem o assoalho e podem prender o pedal do acelerador.página 11

www.odistrital.com.br brasília-df | domingo | 2 a 8 de maio de 2010 | ano X | númERo 70R$ 2,00

solução seria novo centro urbano, afirma especialistaAlain Bertaud, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, sustenta que essa pode ser única saída para o caos nas ruas de Brasília.página 4

Um JoRnaL a sERviço da popULação do distRito FEdERaL

A pAndoristA dAs contrAdições

Depoimentos e argumentação que deveriam favorecer

Eurides Brito (PMDB) complicam ainda mais a situação da parlamentar

na Comissão de Ética.PÁginA 5

conselheiro é sabatinadoFoi aprovada na Comissão de Economia, Orçamento e Finanças da Câmara Legislativa a indicação do procurador Inácio Magalhães para a vaga de conselheiro aberta no Tribunal de Contas do DF.página 5

takane no trabalhoO governador Rogério Rosso (PMDB) nomeou o novo secretário de Trabalho.página 5

a síndrome dos tempos modernosDoença que pode incapacitar para o trabalho, a Lesão por Esforço Repetitivo – também conhecida como LER – assombra a carreira de trabalhadores que dependem do emprego, mas sofrem com as dores causadas pela falta de postura adequada no local de trabalho. página 8

entrevista

“saúde não se mistura com política”Secretário de Saúde do Distrito Federal por quatro vezes, o deputado federal Jofran Frejat (PR) foi um dos responsáveis pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no país e é hoje uma das referências em Saúde Pública no Distrito Federal.Página 6

Thyago Arruda

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EDITORIAS

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6 |o distritAl | dominGo | 2 a 8 de maio de 2010

polítiCA

» Paola limaRepoRTagem loCal

o distrital - o governador rogério rosso (Pmdb) anunciou uma série de medidas esta semana para descentralizar as ações de saúde e tentar fortalecer uma área que enfrenta hoje uma das piores crises do distrito federal. dá tempo e há como resolver isso?

JoFRan FREJat – O tem-po é curto, sim. Mas se houver vontade política, resolve. Por-que, na verdade, o que mudou no Distrito Federal foi o enten-dimento do governo com rela-ção à Saúde. No tempo em que estive à frente da Secretaria de Saúde (Frejat foi secretário por quatro vezes, entre 1979 e 2002), nós nunca nos utili-zamos de UTI particular. Nós sempre procuramos ampliar as UTIs, como foi ampliada a do Hospital de Base, do Hran, criada a de Ceilândia, reaber-ta a de Sobradinho que havia sido fechada. Tudo isso é uma demonstração de que se está preocupado com o serviço público.

Mas qual foi o caminho que a Saúde tomou nos últimos anos? O caminho da terceiri-zação dos serviços. E qual é o raciocínio? O serviço tercei-rizado, o particular, tem um

objetivo que é o lucro. A priorida-de não é a prevenção. É fazer transplante, cirurgia cardíaca, hemodiálise, que são os pro-cedimentos que dão lucro. E é nesta direção que estamos caminhando. Voltar a ter um serviço público de saúde de qualidade é difícil, mas é pos-sível. Só que vai demorar mais um tempo.

mas a explicação para a procura pela iniciativa pri-vada é a incapacidade do atual sistema de atender à demanda da população. isso, aliado ao fato de os pacientes recorrerem ao ministério Público para assegurar seu atendimento, ainda que na rede privada...

FREJat - Claro. Mas, por que não se cria UTIs? Qual é a dificuldade em fazer isso? Recursos financeiros existem. Com tantos hospitais aí nos quais seria possível ampliar o atendimento de UTI... Apesar de que há uma pressão mui-to grande, por parte dos pro-fissionais, para botar na UTI porque o médico opera e deixa o paciente internado na tera-pia intensiva para ir cuidar de outros negócios. Mas se está precisando de UTI? Abre-se espaço para ela. São precisos novos leitos? Abre-se espaço

para eles. Há quanto tempo não se faz um hospital novo no Distrito Federal? A não ser o de Santa Maria, que até hoje não tem atendimento comple-to. Por que não ampliar a rede pública?

mas a demanda, com certeza, aumentou.

FREJat – A demanda aumentou, não tem jeito de a demanda não aumentar. Eu até acho graça quando o pessoal reclama que está vindo muita gente para Brasília. E a gente veio de onde? Todos nós vie-mos buscar uma oportunidade aqui, então não podemos recla-mar que outros venham fazer o mesmo. Agora o projeto inicial da rede pública de Brasília, o projeto piramidal que a gente criou, ele funcionou bem, mas não poderia parar. Todo plano pronto e acabado envelhece precocemente. É preciso cres-cer. Recanto das Emas precisa de um hospital, Riacho Fundo

precisa de um hospital. Se você comparar com o setor privado, onde eles percebem que tem

demanda, eles entram. Já o governo ficou parado.

Sei que não é fácil condu-zir o governo, mas é preciso enfrentar os problemas. Não se deve ter medo do Ministério Público. Ele age porque as pes-soas não podem morrer, é um

direito delas serem atendidas. Mas isso tem de ser a exceção, não a regra. Agora, em minha opinião, já há algum tempo há no Distrito Federal uma políti-ca de precarização do serviço público de saúde com o obje-tivo de entregá-lo para o setor privado. Um sinal é a falta de valorização do servidor públi-co. Como é que eles foram tão competentes no passado e hoje não são mais? Não dá para entender.

Outro problema é manter os servidores mais perto da população. Hoje o funcionário que entra no centro de saúde lá em Planaltina ou Brazlândia, no dia seguinte já está pedindo transferência para o Hran, para o Hospital de Base. Por quê? Porque ele tem um consultório aqui perto e ele quer algumas facilidades. Então é preciso ser rigoroso nisso. Senão ocor-rem equívocos grandes como a desativação dos centros de saúde.

■ entrevista // JOFran FreJat

“Saúde não se mistura com política”

objetivo que é o

Secretário de Saúde do Distrito Federal por quatro vezes, o deputado federal Jofran Frejat (PR) foi um dos respon-sáveis pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no país e é hoje uma das referências em Saúde Pública no Distrito Federal. Como especialista,

Frejat acredita que, nos últimos anos, o GDF adotou uma política de sucateamento da rede para privatização do setor. Contrário a essa pos-tura, ele defende: “É preciso fortalecer a rede pública e reconquistar a confiança da população”. O caminho é longo e difícil, diz, mas não impossível. E uma das primeiras medidas seria acabar com a ingerência política na gestão da Saúde. Suas bandeiras podem virar programa de governo para as eleições de outubro. Frejat é pré-candidato a vice-governador na chapa do ex-governador Joaquim Roriz (PSC). A aliança ainda precisa de oficialização do partido, mas Frejat já participa dos eventos políticos ao lado de Roriz. “O eleitor precisa ficar mais atento e decidir em quem votar reconhecendo aquilo que as pessoas fazem e os compromissos que têm”, afirma.

“ VolTaR a TeR um seRViço púBliCo de saúde de Qualidade é diFíCil, mas é possíVel. só Que Vai demoRaR mais um Tempo”

“ há no disTRiTo FedeRal uma políTiCa de pReCaRização do seRViço púBliCo de saúde, Com o oBjeTiVo de enTRegá-lo paRa o seToR pRiVado”

Thyago Arruda

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6 |o distritAl | dominGo | 2 a 8 de maio de 2010

polítiCA

» Paola limaRepoRTagem loCal

o distrital - o governador rogério rosso (Pmdb) anunciou uma série de medidas esta semana para descentralizar as ações de saúde e tentar fortalecer uma área que enfrenta hoje uma das piores crises do distrito federal. dá tempo e há como resolver isso?

JoFRan FREJat – O tem-po é curto, sim. Mas se houver vontade política, resolve. Por-que, na verdade, o que mudou no Distrito Federal foi o enten-dimento do governo com rela-ção à Saúde. No tempo em que estive à frente da Secretaria de Saúde (Frejat foi secretário por quatro vezes, entre 1979 e 2002), nós nunca nos utili-zamos de UTI particular. Nós sempre procuramos ampliar as UTIs, como foi ampliada a do Hospital de Base, do Hran, criada a de Ceilândia, reaber-ta a de Sobradinho que havia sido fechada. Tudo isso é uma demonstração de que se está preocupado com o serviço público.

Mas qual foi o caminho que a Saúde tomou nos últimos anos? O caminho da terceiri-zação dos serviços. E qual é o raciocínio? O serviço tercei-rizado, o particular, tem um

objetivo que é o lucro. A priorida-de não é a prevenção. É fazer transplante, cirurgia cardíaca, hemodiálise, que são os pro-cedimentos que dão lucro. E é nesta direção que estamos caminhando. Voltar a ter um serviço público de saúde de qualidade é difícil, mas é pos-sível. Só que vai demorar mais um tempo.

mas a explicação para a procura pela iniciativa pri-vada é a incapacidade do atual sistema de atender à demanda da população. isso, aliado ao fato de os pacientes recorrerem ao ministério Público para assegurar seu atendimento, ainda que na rede privada...

FREJat - Claro. Mas, por que não se cria UTIs? Qual é a dificuldade em fazer isso? Recursos financeiros existem. Com tantos hospitais aí nos quais seria possível ampliar o atendimento de UTI... Apesar de que há uma pressão mui-to grande, por parte dos pro-fissionais, para botar na UTI porque o médico opera e deixa o paciente internado na tera-pia intensiva para ir cuidar de outros negócios. Mas se está precisando de UTI? Abre-se espaço para ela. São precisos novos leitos? Abre-se espaço

para eles. Há quanto tempo não se faz um hospital novo no Distrito Federal? A não ser o de Santa Maria, que até hoje não tem atendimento comple-to. Por que não ampliar a rede pública?

mas a demanda, com certeza, aumentou.

FREJat – A demanda aumentou, não tem jeito de a demanda não aumentar. Eu até acho graça quando o pessoal reclama que está vindo muita gente para Brasília. E a gente veio de onde? Todos nós vie-mos buscar uma oportunidade aqui, então não podemos recla-mar que outros venham fazer o mesmo. Agora o projeto inicial da rede pública de Brasília, o projeto piramidal que a gente criou, ele funcionou bem, mas não poderia parar. Todo plano pronto e acabado envelhece precocemente. É preciso cres-cer. Recanto das Emas precisa de um hospital, Riacho Fundo

precisa de um hospital. Se você comparar com o setor privado, onde eles percebem que tem

demanda, eles entram. Já o governo ficou parado.

Sei que não é fácil condu-zir o governo, mas é preciso enfrentar os problemas. Não se deve ter medo do Ministério Público. Ele age porque as pes-soas não podem morrer, é um

direito delas serem atendidas. Mas isso tem de ser a exceção, não a regra. Agora, em minha opinião, já há algum tempo há no Distrito Federal uma políti-ca de precarização do serviço público de saúde com o obje-tivo de entregá-lo para o setor privado. Um sinal é a falta de valorização do servidor públi-co. Como é que eles foram tão competentes no passado e hoje não são mais? Não dá para entender.

Outro problema é manter os servidores mais perto da população. Hoje o funcionário que entra no centro de saúde lá em Planaltina ou Brazlândia, no dia seguinte já está pedindo transferência para o Hran, para o Hospital de Base. Por quê? Porque ele tem um consultório aqui perto e ele quer algumas facilidades. Então é preciso ser rigoroso nisso. Senão ocor-rem equívocos grandes como a desativação dos centros de saúde.

■ entrevista // JOFran FreJat

“Saúde não se mistura com política”

Secretário de Saúde do Distrito Federal por quatro vezes, o deputado federal Jofran Frejat (PR) foi um dos respon-sáveis pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no país e é hoje uma das referências em Saúde Pública no Distrito Federal. Como especialista,

Frejat acredita que, nos últimos anos, o GDF adotou uma política de sucateamento da rede para privatização do setor. Contrário a essa pos-tura, ele defende: “É preciso fortalecer a rede pública e reconquistar a confiança da população”. O caminho é longo e difícil, diz, mas não impossível. E uma das primeiras medidas seria acabar com a ingerência política na gestão da Saúde. Suas bandeiras podem virar programa de governo para as eleições de outubro. Frejat é pré-candidato a vice-governador na chapa do ex-governador Joaquim Roriz (PSC). A aliança ainda precisa de oficialização do partido, mas Frejat já participa dos eventos políticos ao lado de Roriz. “O eleitor precisa ficar mais atento e decidir em quem votar reconhecendo aquilo que as pessoas fazem e os compromissos que têm”, afirma.

“ VolTaR a TeR um seRViço púBliCo de saúde de Qualidade é diFíCil, mas é possíVel. só Que Vai demoRaR mais um Tempo”

“ há no disTRiTo FedeRal uma políTiCa de pReCaRização do seRViço púBliCo de saúde, Com o oBjeTiVo de enTRegá-lo paRa o seToR pRiVado”

Thyago Arruda

| 7o distritAl | dominGo | 2 a 8 de maio de 2010

polítiCAPor que sem centro de saúde a população sobre-carrega os hospitais?

FREJat – Sim. Em 1979, quando eu assumi pela primei-ra vez a Secretaria de Saúde, 70% dos atendimentos eram feitos nos prontos-socorros de hospitais. Eu construí os cen-tros de saúde e comecei a colo-car o pessoal nos centros – o clí-

nico, o pediatra, o ginecologis-ta, o dentista, um programa de vacinação. Em menos de dois anos conseguimos atender, nos ambulatórios, 62% dos pacien-tes e 38% nos prontos-socor-ros. Nossa meta era chegar aos 80%/20%, não chegamos. Mas aí começaram os problemas de profissionais querendo sair dos postos de saúde e aqueles que estavam no hospital não acei-tavam fazer o rodízio nos cen-tros. Porque não é justo deixar um ginecologista no posto de saúde sem nunca ter oportu-nidade de fazer um parto. Ao mesmo tempo, aquele que está no hospital precisa ir, ao menos dois dias, ao centro de saúde, até para ele entender que, se ele adotar a “reboqueterapia”, encaminhando o paciente para o hospital de qualquer jeito, esse paciente pode cair nas suas próprias mãos lá na frente.

Só que, diante dos proble-mas, começaram a esvaziar os postos de saúde politicamen-te. Os apadrinhados políticos começaram a deixar os pos-tos para ir para os hospitais. Esvaziaram o centro de saúde e a credibilidade inicial dos centros, dos quais a popula-ção gostava, começou a ser

desmerecida. A população começou a dizer “eu não vou ao centro de saúde porque não tem doutor, não tem remédio”. Aí o paciente passou a abando-nar o centro. E entra uma coi-sa que digo sempre: para você criar uma reputação é difícil, agora reconstruir uma repu-tação destruída é mais difícil ainda.

e tem como reconstruir? FREJat – A primeira coisa

é assegurar: “não haverá inge-rência política”.

isso não é difícil no cenário político que vivemos hoje?

FREJat – Não é, não. Eu nunca deixei. Não tinha esse negócio de colocar diretor de hospital a pedido de fulano de tal. Porque isso nunca dá cer-to, o diretor não te obedece, ele está ligado a uma outra pes-soa. E essas pessoas (políticos) muitas vezes, por maiores que sejam seus interesses, não estão dentro do sistema para saber como resolver os problemas. Então o primeiro passo é aca-bar com essa prática. Se você não faz isso, se complica. Até com o servidor, que diz “ah, se estão fazendo isso aqui, por que é que eu não vou fazer?”. Saúde não se mistura com política. Tem de haver é uma política de saúde e não política na saúde.

Para isso é preciso agir com seriedade. Como eu venho para o Hran, ou Hras, ou Hospital de Base? Tem uma fila. Você vai dar sua colaboração tanto tempo lá em Brazlândia, ou em Planaltina, ou em Arapoanga e, à medida que houver vagas no Plano Piloto, você vem.

A Inglaterra faz isso. Nin-guém chega recém-formado no sistema de saúde inglês e vai

para os hospitais de Londres. Vão para onde mandam. E lá fica o tempo que for necessário até galgar sua posição. Hoje, por exemplo, se nomeia para um hospital alguém que saiu ontem da residência médica. Nada contra isso. Mas há o pessoal antigo, que deu o san-gue, que tem conhecimento do funcionamento da rede. E isso desmotiva aqueles que não têm

padrinho. Para esses, é melhor ficar na oposição.

Veja só, em 2001, nós fomos líderes nacionais, propor-cionalmente, em transplante renal. Nós tínhamos os melho-res índices de vacinação, fomos os primeiros a acabar com a pólio no Brasil. Isso a partir de um trabalho feito a médio e longo prazo. É possível conse-

guir de novo? É. Mas demanda tempo. Até porque é preciso restabelecer a credibilidade e a confiança da população. Eu digo para os meus colegas, que reclamam da carga de trabalho e da relação com os pacientes, que ninguém sabe mais quem está atendendo. O paciente não tem mais nome, é apenas “o próximo”. E o paciente já entra de má vontade, afinal o médico não sabe nem quem ele é.

É preciso mudar tam-bém a cultura dos pro-fissionais da área?

FREJat – Com certeza. Se isso não mudar – e é por isso que a Faculdade de Saúde do DF ficou tão importante para uma nova formação profissio-nal – nós seguramente vamos continuar neste distanciamen-to entre médico e paciente. (A Escola Superior de Ciências da Saúde foi criada em 2000, por Jofran Frejat). Na facul-dade, desde o primeiro ano, o estudante freqüenta os centros de saúde, acompanha os aten-dimentos. Ele vai saber quem

é Dona Maria, qual é a condi-ção sanitária dela, como vive, o que come e o que não come, e passa a se relacionar com esses pacientes. O aluno tem um conhecimento geral da Medici-na. O corpo humano não é um olho, um coração. É um com-plexo. E essas coisas a gente tem de repensar.

a esCs, no último enade da

área, foi considerada uma das oito melhores esco-las de medicina do país. o bom desempenho é resul-tado desse conceito?

FREJat – A faculdade é dife-rente das outras. O aprendizado é conseguido diante de pro-blemas práticos. Na busca pela solução desses problemas é que o aluno aprende. Neste ponto é

que ela é diferente das demais. Tanto é que o conceito dela foi tão bom no exame que já exis-tem outras escolas imitando, copiando esse estilo de ensinar Medicina. Os meninos que têm saído da faculdade são os pri-meiros a serem aprovados nas residências médicas por aí. Por quê? Porque a formação deles é diferente, eles têm uma visão geral, humanística. Coisa que desapareceu hoje em dia. `

todo esse conceito de forta-lecimento da saúde Pública entra na proposta de gover-no de quem levar o deputado federal Jofran frejat para sua chapa majoritária?

FREJat – Ah, entra. Para a aliança que se concretizar, a proposta é essa. Quem não tiver compromisso com a população, para mim, não tem valor. De que adianta você ser um parlamentar, um governa-dor, se você não tem compro-misso com a população?

e quem está levando essa proposta é o ex-governador Joaquim roriz (PsC)? o senhor está confirmado como vice na chapa dele?

FREJat – Bom, eu recebi sondagens de todos. Todos falaram comigo sobre isso. Só que o único que me fez um convite formal foi Roriz. Os outros ficaram apenas nas conversas. Na prática, eu acho que o PT já está definido com o PMDB e que outros não tinham condições reais de saí-rem candidatos. Então eu dis-se a Roriz “a princípio eu acei-to, agora eu preciso saber do partido, porque não adianta eu querer ir sozinho”. E as con-versas estão andando. O que acontece é que meu partido,

o PR, está na base do governo federal. Naturalmente há pres-sões para que esta aliança se repita no Distrito Federal. Só que para isso é preciso saber quais posições serão defini-das aqui. Por que as coisas já podem estar definidas do outro lado (do lado do PT) e eles continuam falando “que-remos você aqui”. Mas como? Como seria minha participa-ção? Já ouvi até que gostariam muito que eu ficasse com um grupo porque estaria dando credibilidade ao grupo adver-sário. Até isso já foi colocado. Eu digo “ótimo, fico feliz. Por-que como estou sendo deseja-do por vocês e pelos outros é sinal de que não há restrições ao meu nome. Então amanhã vocês não podem me atacar”.

Agora vamos ver o que vai acontecer. Porque o que nós queremos é fortalecer o PR. E faremos isso abrindo espaço para mais deputados e mais cargos eletivos. Nós queremos prestigiar o partido.

o senhor acredita que, depois de toda essa crise, vivemos um novo momento na polí-tica do distrito federal?

FREJat – Com certeza. É um novo momento da polí-tica. Eu acho que dessa crise surgiu uma oportunidade. De a gente dar um novo caminho para o Distrito Federal. Até porque o eleitor precisa ficar mais atento. O eleitor tem de ver se ele vai votar nas pessoas reconhecendo aquilo que elas fazem e os compromissos que têm ou se ele vai votar sim-plesmente em alguém que fez propaganda. Eu acho que o eleitor tem de cobrar posições políticas.

“ esse negóCio de ColoCaR diReToR de hospiTal a pedido de Fulano de Tal nunCa dá CeRTo, o diReToR não Te oBedeCe, ele esTá ligado a ouTRa pessoa”

“ ninguém saBe mais Quem esTá aTendendo. o paCienTe não Tem mais nome, é apenas ‘o pRóximo’”

“ eu ReCeBi sondagens de Todos (paRa seR ViCe). só Que o úniCo Que me Fez um ConViTe FoRmal Foi joaQuim RoRiz”

“ Como esTou sendo desejado poR Todos é sinal de Que não há ResTRições ao meu nome. enTão amanhã não podem me aTaCaR”