saude mental na atencao basica cartilha final[1]

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1 SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA I. Política de Saúde Mental Os transtornos mentais e comportamentais exercem considerável impacto sobre os indivíduos, famílias e/ou comunidades, sendo que, atualmente estima -se que 12% da população mundial sofrem de algum a doença mental, porém o relatório da Organização Mundial da Saúde de 2001, aponta que estes transtornos serão a segunda causa de adoecimento da população no ano se 2020. Diante deste quadro caótico, o Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado da Saúde têm avançado na definição de Políticas Públicas para a Saúde Mental no Brasil e no Estado do Tocantins, tendo como eixo norteador a Reforma Psiquiátrica Brasileira, que preconiza a inversão na lógica assistencial hospitalocentrica, colocando a internação psiquiátrica como último recurso a ser utilizado e investindo em alternativas de tratamento extra-hospitalar e a reinserção social. No Tocantins, o primeiro encontro para discutir a Saúde Mental no Estado ocorreu em novembro de 1995, sob a orientação d a Drª. Fátima de Oliveira e do Dr. Jorge Bichuetti, fieis colaboradores de todo o processo, ambos do Instituto Félix Guatarri de Minas Gerais. A partir daí, foi treinada uma equipe técnica e montado o primeiro Núcleo de Atenção Psicossocial – NAPS do Estado na cidade de Araguaína, seguidos dos NAPS de Palmas, Gurupi e Porto Nacional, respectivamente. Foram realizados encontros, seminários e supervisões, visando o aprimoramento desses serviços e a consolidação de um modelo de atenção não impregnado pela lógi ca manicomial. Em maio de 2002 foi publicada a primeira cartilha da área de saúde mental onde se descrevia as pilastras de sustentação norteadoras para a Política Pública de Saúde Mental para o Estado, fruto de várias reuniões com usuários, familiares, té cnicos e demais setores da sociedade civil organizada, objetivando montar estratégias e estabelecer prioridades para esta área em todo o Estado. Atualmente esta política têm como pressuposto básico a reinserção social e familiar das pessoas em sofrimento psíquico e a reabilitação psicossocial, mas tendo o cuidado como eixo central e garantindo a estes o exercício pleno de sua cidadania. Ainda faz parte desta política, a qualificação profissional, através de capacitações e parcerias com os municípios onde os serviços de saúde mental funcionam, assim como a supervisão

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  • 1SADE MENTAL NA ATENO BSICAI. Poltica de Sade Mental

    Os transtornos mentais e comportamentais exercem considervel impacto sobre

    os indivduos, famlias e/ou comunidades, sendo que, atualmente estima -se que 12% da

    populao mundial sofrem de algum a doena mental, porm o relatrio da Organizao

    Mundial da Sade de 2001, aponta que estes transtornos sero a segunda causa de

    adoecimento da populao no ano se 2020.

    Diante deste quadro catico, o Ministrio da Sade e a Secretaria de Estado da

    Sade tm avanado na definio de Polticas Pblicas para a Sade Mental no Brasil e

    no Estado do Tocantins, tendo como eixo norteador a Reforma Psiquitrica Brasileira,

    que preconiza a inverso na lgica assistencial hospitalocentrica, colocando a

    internao psiquitrica como ltimo recurso a ser utilizado e investindo em alternativas

    de tratamento extra-hospitalar e a reinsero social.

    No Tocantins, o primeiro encontro para discutir a Sade Mental no Estado ocorreu

    em novembro de 1995, sob a orientao d a Dr. Ftima de Oliveira e do Dr. Jorge

    Bichuetti, fieis colaboradores de todo o processo, ambos do Instituto Flix Guatarri de

    Minas Gerais. A partir da, foi treinada uma equipe tcnica e montado o primeiro Ncleo

    de Ateno Psicossocial NAPS do Estado na cidade de Araguana, seguidos dos

    NAPS de Palmas, Gurupi e Porto Nacional, respectivamente. Foram realizados

    encontros, seminrios e supervises, visando o aprimoramento desses servios e a

    consolidao de um modelo de ateno no impregnado pela lgi ca manicomial.

    Em maio de 2002 foi publicada a primeira cartilha da rea de sade mental onde se

    descrevia as pilastras de sustentao norteadoras para a Poltica Pblica de Sade

    Mental para o Estado, fruto de vrias reunies com usurios, familiares, t cnicos e

    demais setores da sociedade civil organizada, objetivando montar estratgias e

    estabelecer prioridades para esta rea em todo o Estado.

    Atualmente esta poltica tm como pressuposto bsico a reinsero social e familiar

    das pessoas em sofrimento psquico e a reabilitao psicossocial, mas tendo o cuidado

    como eixo central e garantindo a estes o exerccio pleno de sua cidadania. Ainda faz

    parte desta poltica, a qualificao profissional, atravs de capacitaes e parcerias com

    os municpios onde os servios de sade mental funcionam, assim como a superviso

  • 2tcnica e a estimulao aos servios para a superviso clinica, que resulta em umamelhor qualidade da assistncia psiquitrica em nosso Estado, conforme preconiza aReforma Psiquitrica Brasileira.

    A Poltica de Sade Mental instituda no Brasil atravs da Lei Federal No

    10.216/01, tem como premissa fundamental a desinstitucionalizao e a humanizao

    da assistncia, onde deve-se prever a ampliao da rede ambulatorial de sade mental,

    a partir do fortalecimento dos servios de sade mental substitutivos nos municpios e/ou

    estado proporcionando tratamento ambulatorial e internao em hospital geral, com

    nfase nas aes de reabilitao psicossocial dos pacientes, sendo que, estas aes

    devem ocorrer nos trs nveis de ateno sade.

    As diretrizes, Nacional e Estadual de Sade Mental, apontam para a necessidade

    da reorganizao da ateno sade mental em todos os nveis de ateno, tendo o

    conceito do cuidado como eixo central de reorienta o deste modelo, respondendo a

    uma concepo de sade no centrada somente na assistncia, mas, sobretudo, na

    promoo da qualidade de vida dos portadores de sofrimento psquico e de interveno

    nos fatores que colocam em risco esta qualidade, pela incorpor ao das aes

    programticas de uma forma mais abrangente e do desenvolvimento de aes inter -

    setoriais e interinstitucionais.

    Para a organizao deste modelo centrado no cuidado humanizado, deve -se

    pensar nos sujeitos em todos os ciclos de vida, com a cri ao de fluxos que impliquem

    em aes resolutivas das equipes de sade mental sobre os sujeitos, centradas no

    acolhimento, na informao, no atendimento e encaminhamento, (referncia e contra -

    referncia) e na reinsero social das pessoas portadoras de tra nstornos mentais.

    A rede de sade mental deve ser formada pelos diversos modos de cuidado com

    aes em sade mental na ateno bsica, Centros de Ateno Psicossocial CAPS,

    Ambulatrios de Sade Mental, Servios Residenciais Teraputicos, leitos para urg ncia

    e/ou Unidade de Sade Mental no Hospital Geral ou de referncia, entre outros. Ainda

    neste contexto, a Ateno Bsica, em especial a Estratgia Sade da Famlia, tem papel

    importante na reestruturao e reorganizao dos servios de sade dos municp ios,

    pois segundo o Ministrio da Sade as queixas psiquitricas so a segunda causa de

    procura por atendimento na ateno bsica pela populao, sendo as queixas mais

    comuns depresso, a ansiedade, fobias, o alcoolismo etc. Por outro lado, cabe s

    equipes de sade mental dos municpios proporcionarem capacitao em sade mental

  • 3as ESFs, dentro da lgica da Educao Permanente (EP) , com a inteno de assegurarresolutibilidade dos casos atendidos, e qualidade da assistncia prestada a populao,de acordo com as Portarias GM n 336/02; 154/08 do Ministrio da Sade. Contudo,

    sabe-se que, a implantao e qualificao destas equipes um desafio em todo o pas,

    mas sua efetivao constitui avano fundamental no processo de consolidao das

    mudanas no cuidado em sade mental.

    Portanto, a poltica de sade mental do Estado do Tocantins parte dos princpios

    do SUS, com um conjunto de aes articuladas nos diferentes nveis de complexidade

    de ateno sade, cabendo ento a Gerncia Tcnica de Sade Mental est a

    articulao com os servios e com os gestores municipais.

    II. Contextualizao do Modelo Assistencial em Sade Mental

    A reformulao das prticas em Sade Mental que vem ocorrendo no Brasil nos

    ltimos anos foi inicialmente um processo de sensibilizao do Movimento dos

    Trabalhadores de Sade Mental, que no admitia mais as prticas negligentes, de maus

    tratos e repressoras que marcaram a assistncia psiquitrica at ento. A viso

    hospitalocntrica, onde se encaminhava as pessoas com transtornos mentais para

    internaes que no raro perduravam por toda a vida, vem sendo progressivamente

    substituda, por aes mais humanas, inclusivas e geradoras de cidadania. Alm dos

    novos servios, essa nova concepo de Sade Mental, inclui um novo entendimento

    sobre as aes em sade, dentro dos princpios do SUS, em um processo de co -

    resposabilizao da famlia sociedade e da sade em todos os nveis.

    Diante deste novo olhar em sade, se faz necessrio c apacitar trabalhadores para

    atuarem na assistncia em sade mental no s nos servios especializados, mas

    tambm na ateno bsica, assim como ter atores qualificados para atuarem junto

    populao em uma escuta diferenciada, integrando o indivduo portador de transtorno

    mental na sua comunidade e identificando as pessoas em risco. Desta forma, a sade

    mental abordada no dia-a-dia do sujeito, no seio familiar e dentro do territrio,

    garantindo a estes o direito a cidadania, em uma lgica no manicomial, mas tendo

    como referncia permanente os servios especializados com os CAPS Centros de

    Ateno Psicossocial, Ambulatrios Especializados e Hospitais Pblicos com servios

    em sade mental, sendo esta a poltica de sade mental em nosso Estado.

  • 4III. ATENO BSICA E SADE MENTALDe acordo com a Portaria n 648/06, a Ateno Bsica concebida como a porta de

    entrada do SUS, tendo na ESF o seu principal eixo de orientao no modelo

    assistencial, sendo que os servios so componentes inerente aos cuidados globais em

    sade (tema transversal), dentro de princpios que possibilitam a convergncia de aes

    de sade mental nas ESFs (Ateno Bsica) como:

    Garantia dos princpios do SUS; Territorializao e responsabilidade pela demanda ; Desinstitucionalizao das pessoas inter nadas; Garantia do cuidado, da escuta e do vnculo, que potencializem as singularidades,

    as biografias, as razes culturais e as redes de pertencimento;

    Recusa nas formas de medicalizao, psiquiatrizao e psicologizao; Planejamento, desenvolvimento e avaliao das aes da equipe; Desenvolvimento das aes de sade mental nas unidades de sade, nos

    domiclios, nos lugares e recursos comunitrios;

    Garantia de aes efetivas que viabilizem o acesso dos sujeitos aos servios.

    A realidade das equipes de ateno bsica demonstra que, elas se deparam com

    problemas de sade mental com muita freqncia, pois segundo a OPAS/MS (2002)

    54,8% das equipes referem realizar alguma ao de sade mental.

    IV. FATORES QUE INTERFEREM POSITIVAMENTE NA INTEGRAO ENTRE ESF ESADE MENTAL

    A equipe de ateno primria tem c ontato com a comunidade e so b em aceitos; A equipe prov um elo vital entre a comunidade e o sistema de sade; Em lugares onde os servios de sade mental no esto estruturados, o

    profissional de ateno primria o prim eiro recurso de ateno sade;

    O seu conhecimento da comunidade permite -lhe reunir o apoio dos familiares,amigos e organizaes;

    a porta de entrada aos servios de sade para os que deles necessitarem.

  • 5Em resumo, os profissionais de sade da ateno primria so disponveis, acessve is,detentores de conhecimento e comprometidos com a promoo de sade.V. FATORES QUE INTERFEREM NEGATIVAMENTE NA INTEGRAO ENTRE ESF

    E SADE MENTAL

    distncia e a falta de vinculo dos servios de sade mental e a ateno bsica; Relutncia dos profissionais da ESF em assumir os problemas de sade mental

    no seu territrio;

    A falta de conscientizao da populao de que a ESF principal porta deentrada no servio pblico de sade.

    A sade mental no a prioridade nas aes bsicas de sade; Resistncia dos profissionais da sade mental e da ateno bsica quanto s

    possibilidades de integrao de ambos os servios.

    VI. COMO OPERAR A RELAO DAS EQUIPES DA ESF COM A SADE MENTAL

    Discusso de casos clnicos baseado em informaes do pronturio familiar; Avaliao de casos clnicos na UBS com a presena dos tcnicos, usurios e

    familiares atendimento compartilhado;

    Realizao de visitas domiciliares em conjunto ente a SM e a AB; Discusso terica breve referente a o diagnstico em sade mental, manejo

    racional de psicofrmacos e dinmica de atendimento de pacientes em geral ;

    Formao de vnculos entre profissionais da sade mental e do ESF: equipesvolante ou vinculadas a servios de sade (CAPS ou Ambulatrios de Sade

    Mental).

    VII. O QUE DOENA MENTAL

    Estudos epidemiolgicos comprovam que a incidncia de problemas mentais no mundo

    todo vem aumentando, independente da i dade, sexo ou classe social. Segundo a OMS

    (1999) esses problemas representam cinco das dez principais causas de incapacidade

    do mundo, ou seja, cerca de 400 milhes de habitantes do planeta sofrem de

  • 6Transtornos Mentais ou Neurolgicos ou de problemas psico ssociais associados, porexemplo ao abuso de lcool ou drogas.Qual a diferena entre doena mental e deficincia mental

    comum as pessoas conceituarem qualquer pessoa que tenha uma dificuldade

    em se enquadrar dentro dos padres socialmente aceitos como problemtica, louco,

    desviado. Por essa rotulao poucos se importaram em compreender as diferenas

    existentes entre eles. No caso dos problemas que acometem a capacidade reflexiva ou

    de comportamento, alm da ignorncia, do preconceito e do descaso, existe o medo. Os

    noticirios policiais com seus crimes brbaros alimentam o imaginrio de que qualquer

    pessoa que tenha problema m ental um criminoso potencial. Contudo, existem

    diferentes tipos de problemas mentais, de acordo com a forma que o problema

    ocasionado e o tipo de comprometimento resultante. Os problemas mentais podem ser

    classificados nos seguintes eixos

    Deficincia mental ou retardo mental Doena mental ou transtorno mental

    A principal caracterstica a reduo da

    capacidade intelectual (QI). O portador

    de deficincia mental na maioria das

    vezes apresenta dificuldades ou ntido

    atraso em seu desenvolvimento

    neuropsicomotor, aquisio da fala e

    outras habilidades (comportamento

    adaptativo). Geralmente pode estar

    associada a uma sndrome ou paralisia

    cerebral.

    Fruto de qualquer anormalidade na mente ou

    em seu funcionamento. Costuma-se

    considerar doente mental a pessoa que tem

    comportamento que foge mdia dos

    comportamentos sociais. Por isso, muitas

    injustias ou mesmo crimes foram cometidos

    com o ato de julgar o outro como doente

    mental, pelo seu comportamento dissociado.

    Estgios do tratamento: diagnstico,descrio do comprometimento e

    identificao dos apoios necessrios.

    Estgios do tratamento: De acordo com adoena a linha de tratamento segue uma

    direo. Como em qualquer outra doena, a

    possibilidade de cura depende muito da

    adeso e do envolvimento do paciente ou de

    sua famlia muitos com o tratamento.

  • 7O que so Transtornos Mentais?Entendem-se como Transtornos Mentais e Comportamentais as condies

    clinicamente significativas caracterizadas por alteraes do modo de pensar e do humor

    (emoes) ou por comportamentos associados com angstia pessoal e/ou deteriorao

    do funcionamento. Os Transtornos Mentais e Comportamentais no constituem apenas

    variaes dentro da escala do "normal", sendo antes, fenmenos claramente anormais

    ou patolgicos. (BRASIL, 2001). Os Distrbios comuns, que geralmente causam

    incapacitao grave, compreendem Transtornos Depressivos, Transtornos de uso de

    substncias, Esquizofrenia, Epilepsia, Doena de Alzheimer, Retardo Mental e

    Transtorno da Infncia e da adolescncia , sendo que a sua manifestao, progresso e

    remisso so influenciados pelas condies socioeconmicas e culturais da populao.

    O que so Demncias?As sndromes demenciais (ex. Alzheimer) caracterizam-se por um empobrecimento

    progressivo de todos os processo s psquicos, cognitivos e afetivos. decorrente de

    doena cerebral difusa, crnica, que afeta principalmente o crtex dos hemisfrios

    cerebrais, e tambm subcorticais e tem em geral um curso progressivo. uma sndrome

    de disfuno adquirida e persistente que compromete ao menos trs das seguintes

    atividades mentais: linguagem, memria, capacidade viso -espacial, personalidade,

    cognio, julgamento e soluo de problemas. (OLIVEIRA; COLVERO, 2001) .

    VIII. A DOENA MENTAL E SUA HISTRIA

    Como todos os conceitos que o ser humano cria, ele muda com o passar do tempo.

    Mesmo assim velhas terminologias continuam co -existindo com as mais novas. P or isso

    fcil ouvirmos falar em: doena mental; loucura; paciente psiquitrico; transtorno

    mental; sofrimento mental e outros termos para designar um determinado tipo de pessoa

    ou doena. Mas qual a diferena entre elas? Por que se muda tanto a terminologia para

    falar sobre a mesma coisa?

    No caso das mudanas das nomenclaturas em sade mental a coisa igual. No comeo

    acreditava-se em um determinado motivo para que a pessoa tivesse um comportamento

    muito estranho. Podia-se acreditar em aes espirituais passageiras ou permanentes.

    Neste caso a pessoa podia ser chamada de endiab rada ou simplesmente de bruxo e

  • 8somente a fogueira podia salv-la. Acreditava-se que a pessoa poderia sair de tal estadose agarrasse com muita f a uma determinada crena religiosa. Com o passar dostempos se percebeu que a pessoa tinha uma doena orgnica (nada a ver com

    espritos) e por isso tinha que ser tratada como tal. A soluo era trancafi -la em um

    local onde ela no poderia incomodar. O sujeito era reconhecido como incapaz de

    ordenar suas idias e comandar seus atos. Como estava sobrando espao nos

    leprosrios eles passaram a coabitar ess es locais. Passaram a ser chamados de

    Loucos.

    Voc sabia que at a dcada de 1990 qualquer pessoa poderia ser internada a revelia,

    somente porque o juiz a considerava louca?

    Passando mais algum tempo os mdicos como Plato e outros resolveram estudar o

    que poderia estar acontecendo com essas pessoas. D esde abrir-lhes a cabea, ainda

    vivos, a faz-los consumir diversas substncias, tudo se fez para compreend er o motivo

    e a forma de tais adoecimentos. No sculo XIX um jovem mdico chamado Phillipe Pinel

    percebe que o ambiente dos hospitais (que eram somente de conteno) no eram

    adequados para o sujeito. At ento eles no recebiam qualquer tratamento, somente

    eram sujeitos de experimentos. Pinel prope que se criem locais especficos para o

    tratamento, com tcnicas mais especficas para cada um dos casos. Dessa forma, saem

    s tcnicas invasivas e passa-se a um tratamento baseado na aproximao com o

    paciente e a conversa. Comea-se a fazer a diferenciao ent re os diferentes tipos de

    acometimentos e a classificao dos tipos de comprometimentos. Somente no final do

    sculo 19 que os estudos se voltaram para a idia de uma disfuno orgnica ou

    emocional e por isso no poderia ser compreendida como algo que pudesse ser visto

    fisicamente, e passaram a estudar o que poderia provocar tais estados. O sujeito

    continuava tendo como prescrio o internamento, mas alguns casos j eram

    acompanhados no convvio familiar, passando este a ser chamado de alienado.

    Em 1881 machado de Assis escreveu uma de suas obras p rimas com o tema da doena

    metal. A obra O Alienista discute o conceito de loucura e sanidade mental, numa

    interessante e divertida histria que se passa em uma cidade pequena neste pas.

  • 9Na primeira metade do sculo XX inicia-se utilizao de drogas sintticas(antipsicticos) no tratamento do paciente psiquitrico, e o uso indiscriminado daEletroconvulsoterapia (eletro-choque), passando este a ser um tema muito polmico . Na

    dcada de 70 comeou-se a se difundir mais fortemente a idia que o sujeito passava

    por um sofrimento com seu est ado mental, pois se percebia as limitaes e,

    principalmente, a falta de controle de seus atos e pensamentos. Comeou-se a design-

    lo como portador de sofrimento mental, sendo que o termo loucura comeou a ficar em

    desuso devido ao preconceito e ao estigma criado.

    Voc sabia que em muitos pases ainda se utiliza o argumento da insanidade mental

    para isolar dissidentes polticos? Discutam como a sociedade poderia utilizar esse

    argumento a favor ou contra algum.

    At idos de 1980 o paciente psiquitrico era tratado com medidas de confinamento e

    conteno de seu comportamento. O prognstico era o pior possvel. Uma vez

    internado, ele dificilmente sairia. Ele no mais conseguiria manter contato com as outras

    pessoas, pois entraria num processo de institucionalizao que o levaria a adquirir

    comportamentos repetitivos e que respondessem somente aos interesses dos tcnicos

    locais. Com a reforma psiquitrica ele passa a ser visto como um ser com potencialidade

    de convvio social e por isso sem a necessidade de estar sedado o tempo todo. A

    reforma do modelo assistencial em psiquiatria tem como princpio o tratamento

    humanizado, na desinstitucionalizao e na reinsero social da pessoa com sofrimento

    mental. Neste novo modelo, o tratamento do sujeito deixa de ser exclusivamente

    medicamentoso e a ele so agregadas novas tcnicas de diferentes profissionais , pois

    ele passa a ser visto como um todo . Mas em alguns casos, o sujeito manter

    determinados comportamentos, mas aprender a conviver com eles, desenvolvendo

    diferentes aes na sociedade. A famlia at ento era vista como a causa do transtorno

    mental, atualmente ela um elemento essencial no tratamento, sendo que o

    atendimento deve ser estendido tambm a famlia, pois estas sofrem percalos,

    angustias e adoecem, o que pode ocasionar desestruturao e consequentemente

    adquirir um comportamento de resistncia ao tratamento.

  • 10IX. A REFORMA DO MODELO ASSISTENCIAL EM PSIQUIATRIANa dcada de 80 teve incio a reforma psiquitrica brasileira, tendo seu pice na 8

    conferncia de Sade, que culminou com a III Conferncia de Sade Mental. Neste

    perodo, j no era mais aceitvel as condies de tratamento que eram impostas aos

    pacientes. O Movimento dos Trabalhadores de Sade Menta l, os familiares, os

    pacientes e a sociedade clamavam por mudanas, pois predominava neste modelo

    assistencial o asilamento, a institucionalizao dos doentes, os maus tratos, negligncia,

    ou seja, uma completa desasintncia , e continuava a situao de que se um dia entrou,

    no mais saa. Abrir as portas dos hospitais psiquitricos e comear o atendimento

    desse paciente em locais com outras lgicas de funcionamento foi a alternativa. A opo

    feita foi criar estruturas que pudessem atend -lo em suas necessidades e evitar criar

    situao de dependncia. Para isso , o sujeito teria que ficar uma parte do tempo em

    contato com a equipe e a outra parte estaria com a famlia. Foram criados ento os

    NAPS/CAPS, residncias teraputicas, Programa de Volta Para Casa etc.

    Mais do que retirar os pacientes dos hospitais, a reforma psiquitrica cunha uma nova

    lgica no tratamento do paciente com sofrimento mental.

    O principal marco legislativo deste movimento foi a promulgao da Lei Federal N

    10.216 no ano de 2001, que poss ibilitou o estabelecimento de diretrizes para assistncia

    em sade mental, centrada em recursos comunitrios, em atendimento extra -hospitalar,

    na desinstitucionalizao, garantindo os direitos dos sujeitos acometidos por transtornos

    psiquitricos.

    Mas afinal de contas, todas as doenas mentais so iguais? Todos os pacientes tem o

    mesmo comportamento? Todos so perigosos, ou existem aqueles que so inofensivos?

    Todos podero voltar a trabalhar e ser produtivos?

    Os distrbios da sade mental (psiquitricos ) envolvem as alteraes do pensamento

    (raciocnio), das emoes e do comportamento. Esses distrbios so causados por

    interaes complexas entre influncias fsicas, psicolgicas, sociais, culturais e

    hereditrias.

  • 11Na medicina, a classificao das doenas muda constantemente, medida que oconhecimento avana. De modo similar, na psiquiatria, o conhecimento da funocerebral e como ela influenciada pelo ambiente e por outros fatores vem se tornando

    cada vez mais sofisticado. Apesar dos avanos, o conhe cimento dos intricados

    mecanismos envolvidos no funcionamento cerebral encontra - se ainda no incio.

    Alm do paciente a famlia tem seu cotidiano fortemente alterada. Em muitos casos o

    adoecimento acaba sendo compartilhado por todos.

    X. OS DIFERENTES TIPOS DE DOENAS MENTAIS

    Voc que trabalha diretamente com usurios do servio pblico de sade j deparou

    com diferentes tipos de usurios e as mais diversas doenas. Existe aquelas pessoas

    que adoecem s de voc tocar a campainha de sua casa. Outros juram a t a morte que

    est tudo bem com ele (mesmo que venha morrer antes do trmino da visita), tem

    aquele que nem sabe que est doente, apesar de sentir uma coceira perm anente no

    meio dos dedos do p, naquele lugar que fica constantemente esbranquiado. Existe m

    aqueles que parecem que o mundo est caindo em sua cabea, que no tem foras

    para nada, mas no para quieto um minuto. Pelo lado das doenas voc j deve ter se

    deparado que existem umas que vem e vo. Vo sem se ter percebido que vieram.

    Umas ficam para sempre e outras parecem que foram embora, mas quando menos se

    espera ela aparece. Com a doena mental no diferente.

    Existem os acometimentos passageiros, que em funo de diversas coisas que se

    passam em nossa vida temos dificuldade de lidar com certas situaes. Existem os

    acometimentos que levaremos pelo resto de nossas vidas. Nascemos, crescemos e

    morremos com ele. Elas aparecem do nada e ficam. Deles aprendemos a control -los.

    Algumas doenas aparecem em um determinado momento de nossas vidas e fica ro

    para sempre. (ex. esclerose). Como nas demais doenas, existem aquelas que causam

    comprometimento maior e outras cujo comprometimento bem sutil.

    A falta de conhecimento sobre as doenas mentais tem levado a diferentes estigmas, os

    quais geram enormes preconceitos. A violncia um deles. Muitas pessoas acreditam

    que o as pessoas com doena mental so agressivas, como se todos fossem iguais. Se

    fosse assim, teramos que acreditar que todos os lutadores de boxe seriam agressivos, o

    que no verdade. Como todos, ns temos momentos que ficamos mais exaltados,

  • 12portanto, mais suscetveis a sermos agressivos ou perder o controle de nossos atos. Joutras pessoas no alteraro seu comportamento , de to calmas que parecem. O sujeitocom transtorno mental no diferente, uns podem ter acessos de fria e que precisa m

    ser contidos. Outros entram em estado de estupor ou embotamento e nada os tira dele.

    Afinal como podemos classificar as doenas mentais? O que pode desencade -las?

    As doenas mentais podem ser cl assificadas como:

    As que comprometem o comportamento E aquelas que comprometem a personalidade do sujeito.

    As que comprometem somente o comportamento so chamadas de neurose. J as que

    comprometem a personalidade so consideradas psicoses. Uma das principais

    diferenas entre o paciente com transtornos neurticos e o psictico que o prim eiro

    tem conscincia de seu estad o de sade, sabe que est doente, mas no consegue

    resolver sozinho o problema. J o psictico no se percebe doente , nem mesmo quando

    est em crise, e sua personalidade toda constituda em uma estrutura que o faz

    perceber como sendo assim.

    O que pode causar uma doena mental ?No existe um fator nico que desencadeia o aparecimento da doena mental.

    Causas orgnicasElas podem aparecer por fatores genticos, como no caso das maiorias das

    esquizofrenias, como por problema orgnico adquirido, como no caso de intoxicaes do

    fgado que pode levar a um comprometimento neurolgico. Temos o caso do Alzheimer,

    que provocado por problema gen tico, bem como a demncia.

    Causas ambientaisO meio ambiente e o ritmo de vida que temos influencia no nosso bem estar. A presso

    por produo e a necessidade de resolver um nmero de problemas cada vez maior,

    leva ao esgotamento psquico (junto com o or gnico) ocasionando um quadro de

    Estresse. Quando a presso grande o sujeito no a agenta, sendo comum que seu

  • 13corpo tente se proteger com alguma doena psicossomtica, ou mesmo aparecendo umquadro de doena mental.Causas psquicasOs traumas emocionais so causas de muitos acometimentos psquicos. Quem no

    conhece pessoas que por terem muito medo de algo no conseguem desenvolver

    determinadas atividades, sofrendo muito por isso. Imagine uma pessoa que tem medo

    de sair de casa. Seu sofrimento muito grande, visto que se torna impossvel o ato sair,

    e no vo conseguir nunca conseguiro sair. Determinadas situaes em nossas vidas

    nos causam traumas profundo, mudando significativamente nosso comportamento. So

    feridas em nosso psquico que podem e prec isam ser tratadas.

    Fatores bioqumicos

    Os avanos das tcnicas de pesquisa em biologia molecular tm demonstrado que boa

    parte dos transtornos mentais esto intimamente ligados a regulao dos

    neurotransmissores (ex. esquizofrenia e a dopamina). No entant o, ainda no se pode

    determinar o papel exato destes sobre os transtornos. Contudo, a busca por novos

    medicamentos com atividade reguladora nos neurotransmissoras ainda lenta. Por

    outro lado, o contato excessivo com determinadas substncias podem provoca r

    intoxicao em nosso organismo e agir diretamente no crebro, em determinadas

    regies que comprometem parte de nosso humor, ou percepes. Esse contato pode

    ser ocasionado por ao voluntria, (uso abusivo de lcool e outras drogas), ou por

    ao involuntria (exposio a determinados produtos como o mercrio ou chumbo.

    As doenas mentais podem ser divididas em : permanentes e temporrias.As doenas permanentes so aquelas que acometem o sujeito por toda sua vida.

    Normalmente elas aparecem aps uma determi nada idade e ficam sob controle, mas

    com uso de medicamentos ou outros processos teraputicos. Nesta categoria de

    doenas temos as psicoses e algumas neuroses. Em alguns casos, como na situao de

    dependncia qumica, apesar do paciente no manifestar mais sintomas do problema

    por longo tempo de abstinncia, o tratamento ter que ser pelo resto da vida (no caso a

    manuteno da abstinncia e em alguns casos o controle medicamentoso para tal).

  • 14As doenas temporrias possuem causa especfica e normalmente some m com aretirada dessa causa. So doenas com forte carga ambiental como suadesencadeadora. Costumeiramente so doenas neurticas. Neste grupo podemos

    encontrar o estresse, alguns tipos de depresso, alucinaes ou delrio por causa de

    intoxicao (medicamentosa ou por problema orgnico), traumas etc.

    NeuroseExistem diferentes tipos de neuroses. Normalmente elas tm carter orgnico em sua

    gnese, mas tambm forte influ ncia do meio ambiente. So momentos traumticos que

    interferem no funcionamento psq uico do sujeito.

    Principais sintomasOs sintomas das neuroses so bem diversos, visto que cada uma tem sua caracterstica

    e um grupo de motivos que a desencadeia. Abaixo apresentamos um quadro com os

    principais sintomas das principais neuroses. Para um di agnstico diferencial, o

    profissional tem que investigar a presena de sofrimento com o comportamento

    apresentado e o risco vida da pessoa ou de outras.

    PsicosesComo nas neuroses, existem diferentes tipos de psicoses. Normalmente o paciente

    psictico ocasiona maiores transtornos aos familiares, pois seu comportamento mobiliza

    um maior nmero de pessoas. Enquanto o neurtico a principal pessoa que sofre com

    seus transtornos, principalmente por ter conscincia do seu problema, o psictico, por

    no ter essa conscincia, no passa por sofrimento, mesmo quando em seus surtos ele

    se inflige flagelos. Ele capaz de se cortar sem sentir dor.

    Principais sintomasOs sintomas das psicoses tambm so bem diversos e dentro da mesma psicose

    existem diferentes cursos da doena, visto que cada uma tem sua caracterstica e um

    grupo de motivos que a desencadeia. Abaixo apresentamos um quadro com os

    principais sintomas das principais psicoses. Para um diagnstico diferencial, o

    profissional tem que investigar a presena de sofrimento com o comportamento

    apresentado e o risco vida da pessoa ou de outras, bem como a perda do contato com

    o mundo externo.

  • 15XI. UMA NOVA CLASSIFICAO DOS TRANSTORNOS MENTAISUma forma prtica de diferenciar as doenas mentais baseia -se na classificao destas

    em:

    Transtornos Mentais Menores (Tmm)TRANSTORNOS MENTAIS MAIORES (TMM)

    Transtornos Mentais MenoresSo as doenas em que, de forma geral, a capacidade do paciente em julgar a realidade

    e determinar-se de acordo com este julgamento est preservada; situaes em que o

    paciente tem conscincia de que algo diferente est acontecendo com seu

    comportamento. As doenas deste grupo afetam principalmente o humor, o pensamento,

    a capacidade para o trabalho, a capacidade de sentir -se bem, a forma de perceber o

    transcorrer do tempo (pode-se perceber acelerado em algumas situ aes e lentificado

    em outras), alteraes do sono (tanto em durao quanto em qualidade), alteraes do

    apetite (com conseqente ganho ou perda de peso) e dificuldades para se concentrar.

    Estas doenas podem acometer de 10 a 20% das pessoas, em algum momento de suas

    vidas.

    A principal caracterstica deste grupo o fato de que o paciente, quando em tratamento,

    retorna normalidade, no raras vezes com melhor qualidade de vida que comparado

    ao perodo prvio doena.

    Este grupo tambm j foi denominado como sendo o das neuroses.

    Transtornos Mentais Menores(Tmm)

    Sintomas

    Fobia

    Medo exagerado de algo especfico que a impede de

    seguir ativamente na vida

    Depresso Conjunto de sintomas composto por tristeza,

    desnimo, choro imotivado, sensao de perda de

    energia, dificuldades de concentrao, perda da

    habilidade de sentir esperana, alteraes do sono e

    da alimentao, pensamentos de runa e sobre

    morte

  • 16Ansiedade Inquietao, impacincia, irritabilidade, dificuldadespara se concentrar, taquicardia, dores no peito,diarria, dificuldades para iniciar o sono,

    preocupaes excessivas

    Transtornos Alimentares

    Situaes em que o paciente preocupa -se bastante

    com sua imagem corporal; mesmo estando com o

    peso normal, acha-se gordo, precisando perder

    peso; utiliza-se de manobras como induo de

    vmitos e/ou uso de laxantes. Em situaes

    extremas, a vida do paciente pode estar em risco

    Transtorno Obsessivo -

    Compulsivo

    Pensamentos de contedo inadequado que

    dominam a vontade do paciente, de forma intrusiva,

    que acabam obrigando-o a realizar determinadas

    atividades com o objetivo de diminuir a tenso

    provocada pelos pensamentos; preocupaes

    excessivas com limpeza, organizao, segu rana

    TRANSTORNOS MENTAIS MAIORES - TMMSo as doenas que afetam a capacidade de julgamento da realidade e determinao

    do paciente. Na maioria das vezes so doenas crnicas, em que o paciente necessitar

    de tratamento por tempo indeterminado da mesma forma que acontece com a

    hipertenso e diabetes, por exemplo.

    Os pacientes, por mais doentes que estejam, no conseguem perceber as diferenas

    em seus comportamentos. Mesmo com argumentos slidos e lgicos, no cedem em

    suas avaliaes continuam ouvindo vozes comentando seus atos, ou dando ordens

    para fazer isto ou aquilo; acreditando serem vtimas de perseguies das mais variadas

    formas; afirmando que determinado rgo de seus corpos estaria podre (ou teria sido

    trocado, ou simplesmente desaparecido). Algumas destas doenas evoluem de forma

    que o paciente tenha uma perda progressiva de suas habilidades sociais e produtivas.

    Neste grupo incluem-se as doenas incompreensveis de for ma lgica ou psicodinmica,

    com delrios, alucinaes, aparecimento de co mportamentos estranhos na vida normal

    da pessoa, euforia/excitao/inquietao fora do normal, aumento do contedo e da

    velocidade da fala, auto e hetero-agressividade significativas, perda de memria

    significativa.

  • 17Utilizando-se de outra classificao, este grupo seria o das psicoses.TRANSTORNOS MENTAIS

    MAIORES (TMM)Sintomas

    Esquizofrenia Trata-se da doena em que h uma ciso entre a

    capacidade de pensar, sentir a agir. O paciente acaba

    interpretando a realidade de forma completamente

    diferente das demais pessoas, e baseia sua conduta

    em tal interpretao.

    Os principais sintomas so: Alucinaes, delrios,

    embotamento ou rigidez afetiva, catatonia, apatia,

    desinteresse, incapacidade de sentir prazer,

    isolamento social, diminuio de iniciativa e

    diminuio da vontade, audio dos prprios

    pensamentos (sob a forma de vozes),alucinaes

    auditivas que comentam o comportamento do

    paciente, alucinaes somticas, sensao de ter os

    prprios pensamentos controlados, irradiao destes

    pensamentos, sensao de ter as aes controladas

    e influenciadas por alguma coisa do exterior.

    Deve-se levar em considerao que praticamente todas as doenas mentais podem ter

    sintomas psicticos (pseudo-percepes, de forma geral) sem que necessariamente

    estejamos diante de um caso de Esquizofrenia.

    XII. O PORQU DA EQUIPE DA ESF SE ENVOLVER COM A SADE MENTAL

    Segundo a Organizao Mundial de Sade e do Ministrio da Sade, 3% da

    populao necessitam de cuidados contnuos (transtornos mentais severos e

    persistentes), e 9% precisam de atendimento eventual (transtornos menos graves), ou

    seja, 12% da populao tm algum transtorno mental. Quanto a transtornos decorrentes

    do uso prejudicial de lcool e outras drogas, a necessidade de atendimento regular

    atinge a cerca de 6 a 8% da populao, embora existam estimativas ainda mais

    elevadas.

  • 18Em algumas das doenas apontadas no quadro acima podemos encontrar a

    somatizao como alguns sintomas delas. A somatizao a manifestao no corpo de

    uma carga emocional bloqueada. Isso no s ignifica que no exista um contedo

    orgnico na queixa, mas a existncia de energia emocional nas causas desta. Se o

    tratamento medicamentoso (ou outro que o profissional considerar adequado) se faz

    necessrio para o tratamento dos sintomas, uma investiga o mais apurada sobre as

    causas pode apontar outros contedos para o tratamento das causas. A escuta e o

    acolhimento pelos membros da equipe de ESF (mdico, enfermeiro, odontlogo, auxiliar

    e/ou tcnico de enfermagem e agente comunitrio de sade) pode proporcionar um

    distencionamento da musculatura e conseqentemente alvio nas dores da queixa. O

    resultado da escuta no permanente, mas pode auxiliar no diagnstico e cuidado do

    paciente.

    Segundo o Ministrio da Sade as queixas psiquitricas a segunda c ausa de

    procura por atendimento na Ateno Bsica, sendo as queixas mais comuns a

    depresso, a ansiedade, as fobias e o alcoolismo.

    XIII. RESISTNCIA NO ATENDIMENTO A PACIENTES PSIQUITRICOS

    Quando ouvimos falar em paciente psiquitrico imaginamos o ate ndimento de pessoas

    em surto psiquitrico. Pessoas agressivas ou com comportamento de difcil controle,

    necessitando de conteno forada. Esse tipo de surto especfico de um tipo de

    doena mental, a qual tem baixa incidncia no total de acometimentos (v er tabela

    acima).

    Um paciente psiquitrico pode aparecer na Unidade de sade da famlia com

    comportamento que vai da total apatia at um comportamento de agitao psicomotora.

    Essas manifestaes podem vir em conseqncia de uso de substncias psicoativas, ou

    por sintoma de um quadro da doena. P essoas com quadro de dependncia qumica,

    podem apresentar-se inquietas (quando sob efeito de substncias qumicas) ou bastante

    contidas (quando sob abstinncia por um curto espao de tempo) . Estudos realizados

    demonstram que 53% de usurios de drogas ilcitas possuem alguma doena mental

    como comorbidade.

  • 19O paciente em crise deve ser acolhido na ESF, e encaminhado para atendimentoespecializado e em local adequado (CAPS, ambulatrio de sade mental ou hospital),

    seguindo o fluxo do municpio e/ou do estado mediante laudo que justifique.

    O paciente que est sob cuidados psiquitricos oferecidos por unidade de sade

    especializada, precisar tambm de um acompanhamento definido pela equipe do ESF,

    uma vez que, o usurio portador de transtorno mental poder ter associado ao seu

    diagnstico outras patologias clnicas ou at mesmo cirrgicas , ocasionando doenas

    temporrias e/ou permanentes. Para atender tal problemtica necessita -se do apoio e da

    assistncia da ESF para uma ateno integral a esses usurios, objetivando assim um

    dos princpios do SUS, a Equidade , uma vez que estes esto dentro de seu territrio.

    XIV. AES DA EQUIPE DA ESF EM SADE MENTAL

    As equipes de sade da famlia devem atuar na comunidade na b usca ativa de pessoas

    com possibilidades de desenvolverem transtornos mentais, antecipando assim a

    deteco de casos e interrompendo mais precocemente o processo de adoecimento

    destas pessoas, alm de realizar oficinas teraputicas, atividades em grupo, co m o

    objetivo de socializao, expresso e reinsero social. Cabe as estas equipe ainda:

    Reconhecer o Territrio e a realidade das famlias pelas quais so responsveis,com nfase nas caractersticas sociais, demogrficas e epidemiolgicas;

    Identificar os problemas de sade prevalentes e condies de risco s quais apopulao est exposta;

    Elaborar, com a participao da comunidade, o plano local para o enfrentamentodos determinantes do processo sade e doena;

    Prestar assistncia integral; Acolher 100 % dos problemas prevalentes no territrio; Realizar assistncia domiciliar no intuito de humanizar e garantir maior qualidade

    e conforto ao paciente. Por isso, deve ser realizada quando as condies clnicas

    e familiares do paciente exigirem. A hospitaliza o deve ser a ultima alternativa a

    ser feita e s se necessria, mas com acompanhamento por parte da equipe;

  • 20 Participar de grupos comunitrios; a equipe deve estimular e participar dereunies de grupo, discutindo os temas relativos ao diagnstico e altern ativaspara a resoluo dos problemas identificados como prioritrios pela comunidade.

    AES DA ESF NA SADE MENTAL O ACS

    Cadastramento de pacientes com transtornos mentais; Identificao dos sujeitos em crise, na comunidade, e solicitar interveno da

    equipe da ESF;

    Visitas domiciliares com o intuito de acompanhar o uso correto dosmedicamentos;

    Atividades educativas em grupo ; Busca ativa de pessoas e famlias faltosas ao tratamento ; Relato de visita domiciliar; Preenchimento da ficha de acompanhamento em todas as visitas domiciliares

    (modelo em Anexo);

    Participao nas reunies e discusso de casos; Desenvolver aes intersetoriais e multidisciplinares para a promoo da sade

    mental.

    AES DA ESF NA SADE MENTAL O ENFERMEIRO

    Acolhimento e escuta; Interveno junto a crise; Consulta de enfermagem; Orientaes ao cliente e famlia; Palestras educativas; Acompanhamento das aes do ACS; Agendamento de consultas; Visita domiciliar; Encaminhamento se necessrio; Reunies Tcnicas junto equipe de sade mental e discusso de casos junto as

    ESF;

  • 21 Desenvolver aes intersetoriais e multidisciplinares para a promoo da sademental.AES DA ESF NA SADE MENTAL AUXILIARES E TCNICOS DEENFERMAGEM

    Acolhimento e escuta; Triagem; Administrao de medicamentos; Verificao do uso correto da medicao pelo paciente ; Visita domiciliar; Orientaes a familiares e pacientes; Reunies Tcnicas junto equipe de sade mental e discusso de casos junto as

    ESF;

    Desenvolver aes intersetoriais e multidisciplinares par a a promoo da sademental.

    AES DA ESF NA SADE MENTAL O ODONTLOGO

    Acolhimento e escuta; Identificao de casos e encaminhamento pela equipe ; Integrao interinstitucional ; Desenvolver aes intersetoriais e multidisciplinares para a promoo da sade

    mental;

    Educao em Sade (palestras educativas, oficinas etc.) ; Reunies Tcnicas junto equipe de sade mental .

    AES DA ESF NA SADE MENTAL O MDICO

    Acolhimento e escuta; Consulta mdica; Solicitao de exames complementares se necessrio; Identificao de casos e encaminhamento pela equipe; Prescrio mdica; Educao em Sade (palestras educativas, oficinas etc.) Orientao medicamentosa e teraputica ;

  • 22 Reunies Tcnicas junto equipe de sade mental e discusso de casos junto asESF; Acompanhamento peridico dos pacientes portadores de transtornos mentais

    (egressos dos servios de sade mental) ;

    Desenvolver aes intersetoriais e multidisciplinares para a promoo da sademental;

    Integrao interinstitucional.

    XV. REDE DE ATENO EM SADE MEN TAL NO TOCANTINS

    A Rede de Ateno em Sade Mental, aps a implantao da poltica de

    desinstitucionalizao do paciente com transtorno mental constituda de unidades com

    atendimento aberto, onde preferencialmente o paciente atendido durante um perod o

    do dia e retorna para sua casa ao trmino deste (CAPS I, II, III, CAPSi, CAPS ad,

    Ambulatrio de sade mental, unidades Psiquitricas nos hospitais pblicos e hospital

    psiquitrico). A internao somente acontece em casos de crise , ou que indique ameaa

    sua vida ou de outros. Nestes casos ela acontece no menor tempo possvel. Passado

    o perodo da crise ele retorna ao convvio social mais aberto. (esta foi a grande diferena

    com o modelo anterior que legava uma internao sem tempo definido, mesmo quando

    o momento da crise tinha passado).

    Composio da rede

    Unidade Aes

    ESF Acompanhamento peridico dos pacientes

    portadores de transtornos mentais menores

    ou leves, bem como os egressos dos servios

    de sade mental.

    Ambulatrio de Sade Mental O atendimento em sade mental prestado em

    nvel ambulatorial compreende um conjunto

    diversificado de atividades, que deve ser

    destinado pacientes portadores de

    transtornos mentais, com acompanhamento

  • 23teraputico, que no necessitem deatendimento pela equipe de CAPS ouinternao.

    CAPS (Centro de Ateno

    Psicossocial)

    Unidades de Sade Locais/ regionalizadas

    que oferecem atendimento de cuidados

    intermedirios entre o regime ambulatorial e

    internao hospitalar.

    Leito psiquitrico Funciona em estabelecimento hospitalar, em

    enfermaria, especialmente preparada pa ra

    receber o paciente em crise.

    O Objetivo do leito psiquitrico oferecer

    uma retaguarda hospitalar para os casos em

    que a internao se faa necessria aps

    esgotadas todas as possibilidades de

    atendimento em unidades extra hospitalares .

    Hospital psiquitrico Unidade hospitalar especializada, na qual a

    maioria dos leitos se destinam ao tratamento

    especializado de clientela psiquitrica em

    regime de internao, aps esgotadas todas

    as possibilidades de atendimento em

    unidades extra hospitalares.

    XVI. MEDICAO

    Nem toda a pessoa que desenvolve transtorno mental precisa de medicamento. Muitas

    vezes o acolhimento, a escuta e a orientao so extremamente teis e auxiliam a

    pessoa nos momentos de crise, n as situaes estressantes e na resoluo de seus

    problemas. Contudo, nos casos em que se faz necessrio o uso de medicamentos

    disponibilizado um elenco mnimo destes na rede de ateno bsica conforme quadro

    abaixo.

    Tabela 1: Elenco de medicamentos da At eno Bsica de responsabilidade dosmunicpios conforme Portaria GM do Ministrio da Sade n 3.237/2007.

  • 24Cloridrato de Amitriptilina Comprimido 25 mgCloridrato de Nortriptilina Cpsula 10, 25 e 50 mgCarbamazepina Comprimido 200 mg

    Carbamazepina Xarope 20 mg/ml

    Cloridrato de Clorpromazina Comprimido 100 e 25 mg

    Cloridrato de Clorpromazina Soluo oral 40 mg/ml

    Diazepan Comprimido 5 mg

    Fenitona sdica Comprimido de 100 mg

    Fenitona sdica Suspenso oral 25 mg/ml

    Fenobarbital Comprimido 100 mg

    Fenobarbital Soluo oral 40 mg/ml

    Haloperidol Comprimido 1 e 5 mg

    Haloperidol Soluo oral 2 mg/ml

    XVII. PSICOFARMACOLOGIA

    de fundamental importncia lembrar que este material no tem a menor pretenso de

    aprofundar-se nos conhecimentos farmaco lgicos. Trata-se de algumas observaes

    sobre as principais caractersticas destes frmacos, bem como algumas orientaes

    breves sobre suas prescries e utilizaes. Basicamente, os psicotrpicos disponveis

    na rede pblica compem os seguintes grupos: A ntidepressivos, Anticonvulsivantes,

    Antipsicticos e Benzodiazepnicos.

    AntidepressivosAmitriptilina: (at 300mg/dia) Antidepressivo tricclico, com efeitos sedativos. Boas

    respostas em quadros depressivos que cursem com insnia (de conciliao e

    manuteno). Os principais efeitos colaterais so boca seca, discretos tremores de

    extremidade, viso borrada e eventual sonolncia diurna.

    Nortriptilina: (at 200mg/dia) Antidepressivo tricclico com boa resposta em quadros

    ansiosos e depressivos. Apresenta meno res efeitos sedativos e cardiovasculares, sendo

    o tricclico com melhor perfil farmacolgico para utilizao por idosos.

  • 25Ressaltamos a importncia de iniciar o tratamento em doses baixas (10 a 25mg/dia)para adaptao aos efeitos colaterais, e informar ao paciente que a medicao comeaa fazer efeito aps 10-20 dias do incio do tratamento.

    AnticonvulsivantesCarbamazepina: (at 1200-1500mg/dia) Anticonvulsivante com importantes efeitos no

    tratamento de quadros de irritabilidade, alguns episdios de dores de cabea

    recorrentes, inquietao psicomotora em quadros de deficincia mental, e como

    estabilizador do humor (nos quadros de euforia). O ajuste da dose de manuteno deve

    ser feito de forma gradual, devido sua caracterstica de indutor enzimtico.

    Fenobarbital: (at 400-500mg/dia) Anticonvulsivante com boa resposta em quadros de

    inquietao psicomotora, com importantes efeitos sedativos.

    Fenitona: (at 400-500mg/dia) Anticonvulsivante com razovel resposta em quadros de

    inquietao psicomotora.

    AntipsicticosHaloperidol: (at 30mg/dia) Antipsictico de alta potncia e menor efeito sedativo. Pode

    ser usado em quadros psicticos francos, bem como em crises eufricas e quadros

    depressivos que cursem com sintomas alucinatrio -delirantes. Pode ser utilizado de 10-

    20mg/dia, no sendo obrigatria a associao com antiparquinsonianos (biperideno e

    prometazina); em casos de sintomas extrapiramidais (impregnao hipersalivao,

    rigidez muscular, dificuldades de locomoo) a dose deve ser reduzida at o

    desaparecimento dos sintomas. Em sua forma injetvel, trata -se de um dos frmacos de

    escolha para o tratamento medicamentoso das agitaes psicomotoras nos servios de

    urgncia/emergncia.

    Clorpromazina: (at 400-600mg/dia) Antipsictico de menor potncia e mai or efeito

    sedativo. Usado principalmente em quadros alucinatrio -delirantes que cursem com

    insnia. Como regra geral, dever -se-ia evitar seu uso em quadros de deficincia mental.

    BenzodiazepnicosDiazepan: (at 20mg/dia) Benzodiazepnico de meia -vida longa (e conseqente menor

    potencial de dependncia), com rpido incio de ao. Pode ser utilizado em quadros

    ansiosos agudos, no incio do tratamento de quadros de ansiedade e depresso e nos

    casos de abstinncia ao lcool e outras drogas.

  • 26Como regra geral deve-se evitar seu uso prolongado nos quadros de ansiedade, fatoque alm de precipitar dependncia, pode fazer com que o paciente no aceite o usodos antidepressivos (que apesar de demorarem um pouco mais para o incio da ao,

    no causam dependncia); os benzodiazepnicos, nestes casos, se usados de forma

    isolada, tem ao somente paliativa.

    XVIII. LCOOL E OUTRAS DROGAS

    J h algum tempo as dependncias qumicas so consideradas doenas. Entretanto,

    no meio leigo (e inclusive entre alguns profissionai s da sade), este assunto visto com

    uma avaliao moral O usurio de drogas um mau carter; S usa droga quem no

    tem fora de vontade; S vagabundo que no para de beber/fumar;

    Drogas so substncias que produzem mudanas nas sensaes, no grau de

    conscincia e no estado emocional das pessoas. As alteraes causadas por

    essas substncias variam de acordo com as caractersticas da pessoa que as

    usa, da droga escolhida, da quantidade, freqncia, expectativas e circunstncias

    em que consumida.

    As drogas podem ser classificadas em trs grupos, de acordo com a atividade

    que exercem em nosso crebro:

    1. Depressores da Atividade do SNC - tambm podem ser chamadas depsicolpticos:

    lcool; Sonferos ou hipnticos (drogas que promovem o sono) : barbitricos, alguns

    benzodiazepnicos;

    Ansiolticos (acalmam; inibem a ansiedade). As principais drogas pertencentes aessa classificao so os benzodiazepnicos: diazepam , lorazepam etc;

    Opiceos ou narcticos (aliviam a dor e do sonolncia): morfina, herona,codena, meperidina etc;

    Inalantes ou solventes: colas, tintas, removedores etc.

    2. Estimulantes da Atividade do SNC - tambm recebem o nome depsicoanalpticos, noanalpticos, timolpticos etc.

  • 27 Anorexgenos (diminuem a fome). As principais drogas pertencentes a essaclassificao so as anfetaminas. Ex.: dietilpropriona, fenproporex etc; Cocana.

    3. Perturbadores da Atividade do SNC - tambm chamados depsicoticomimticos, psicodlicos, alucingenos, psicometamrficos etc.

    De origem vegetal

    Mescalina (do cacto mexicano); THC (da maconha); Psilocibina (de certos cogumelos) ; Lrio (trombeteira, zabumba ou saia -branca).

    De origem sinttica

    LSD-25; xtase; Anticolinrgicos (Artane, Bentyl) .

    Calmantes e sedativosSedativos so medicamentos capazes de diminuir a atividade do crebro, principalmente

    quando este est em estado de excitao acima do normal. Quando um sedativo

    capaz de diminuir a dor, recebe o nome de analgsico. Quando capaz de afastar a

    insnia, produzindo sono, chamado de hipntico ou sonfero. E quando um calmante

    tem poder de atuar mais sobre estados exagerados de ansiedade, denominado

    ansioltico. Finalmente, existem algumas dessas drogas capazes de acalmar o crebro

    hiper-excitado dos epilpticos. So as drogas antiepilpticas, capazes de prevenir as

    convulses desses doentes.

    Aqui ser abordado um grupo de drogas - tipo sedativos-hipnticos - que so chamadas

    de barbitricos. Algumas delas tambm so teis como antiepilpticos.

    Os barbitricos so capazes de deprimir vrias reas do crebro; como conseqncia,

    as pessoas podem ficar mais sonolentas, sentindo-se menos tensas, com sensao de

    calma e relaxamento. As capacidades de raciocnio e de concentrao ficam afetadas

    tambm. Com doses um pouco maiores que as recomendadas pelos mdicos, a pessoa

  • 28comea a sentir-se como que embriagada: a fala fica "pastosa" e a pessoa pode sentir-se com dificuldade de andar direito. Esses efeitos deixam claro que qu em usa essesbarbitricos tem a ateno e as faculdades psicomotoras prejudicadas; assim, fica

    perigoso operar mquina, dirigir automvel etc.

    Os barbitricos so quase que exclusivamente de ao central (cerebral), isto , no

    agem nos demais rgos. Assim, a respirao, o corao e a presso do sangue s so

    afetados quando o barbit rico, em dose excessiva, age nas reas do crebro que

    comandam as funes desses rgos.

    Essas drogas so perigosas porque a dose que comea a intoxicar est prxima da que

    produz os efeitos teraputicos desejveis. Com essas doses comea a surgir sinais d e

    incoordenao motora, um estado de inconscincia comea a tomar conta da pessoa,

    ela passa a ter dificuldade para se movimentar, o sono fica muito pesado e, por fim,

    pode entrar em estado de coma. A morte ocorre por parada respiratria. muito

    importante saber que esses efeitos txicos ficam mais intensos se ela ingerir lcool ou

    outras drogas sedativas. Tem potencial teratognico se usado por mulheres grvidas,

    alm de provocarem sinais de abstinncia em recm -nascidos de mes que fizeram seu

    uso durante a gravidez.

    H evidncias de que essas drogas levam as pessoas a um estado de dependncia e

    com o tempo tolerncia. Quando a pessoa est dependente dos barbitricos e deixa

    de tom-los, passa a ter a sndrome de abstinncia, cujos sintomas vo desde i nsnia

    rebelde, irritao, agressividade, delrios, ansiedade, angstia, at convulses

    generalizadas. A sndrome de abstinncia requer obrigatoriedade tratamento mdico e

    hospitalizao, pois h risco de a pessoa vir a falecer.

    A legislao brasileira exige que todos os medicamentos que contenham barbitricos em

    suas frmulas sejam vendidos nas farmcias somente com a receita do mdico, para

    posterior controle pelas autoridades sanitrias.

    Tranqilizantes ou AnsiolticosExistem medicamentos que tem a propriedade de atuar quase exclusivamente sobre a

    ansiedade e a tenso. Essas drogas so os ansiolticos. De fato, esse o principalefeito teraputico desses medicamentos: d iminuir ou abolir a ansiedade das pessoas,

    sem afetar em demasia as funes psquica s e motoras.

    De fato, esses medicamentos esto entre os mais utilizados no mundo todo, inclusive no

    Brasil. Para se ter idia, atualmente existe mais de cem remdios em nosso pas base

  • 29desses benzodiazepnicos. Assim, relativamente fcil a pessoa, quando toma umremdio para acalmar-se, saber o que realmente est tomando: tendo na frmula umapalavra terminada em pam, um benzodiazepnico. Exemplos: diazepam,bromazepam, clobazam, clorazepam, estazolam, furazepam, funitrazepam,lorazepam, nitrazepam etc. Uma das excees a substncia chamadaclordizepxido, que tambm um benzodiazepnico.

    Opiceos ou narcticosMuitas substncias com grande atividade farmacolgica podem ser extradas de uma

    planta chamada Papaver somniferum, conhecida popularmen te com o nome de

    "Papoula do Oriente". Ao se fazer cortes na cpsula da papoula, quando ainda verde,

    obtm-se um suco leitoso, o pio (a palavra pio em grego quer dizer "suco").

    Quando seco, esse suco passa a se chamar p de pio. Nele existem vrias sub stncias

    com grande atividade. A mais conhecida a morfina, palavra que vem do deus da

    mitologia grega Morfeu, o deus dos sonhos. Pelo prprio segundo nome da planta

    somniferum, de sono, e do nome morfina, de sonho, j d para fazer uma idia da ao

    do pio e da morfina no homem: so depressores do sistema nervoso central, isto ,

    fazem o crebro funcionar mais devagar. Mas o pio ainda contm mais substncias,

    sendo a codena tambm bastante conhecida. Ainda possvel obter -se outra

    substncia, a herona, ao se fazer pequena modificao qumica na frmula da morfina.

    A herona ento, uma substncia semi -sinttica (ou semi-natural). Todas essas

    substncias so chamadas de drogas opiceas ou simplesmente opiceos, ou seja,

    oriundas do pio, que, por sua vez, podem ser opiceos naturais quando no sofrem

    nenhuma modificao (morfina, codena) ou opiceos semi -sintticos quando resultantes

    de modificaes parciais das substncias naturais (como o caso da herona).

    Mas o ser humano foi capaz de imitar a natureza fabricando em laboratrios vrias

    substncias com ao semelhante a os opiceos: a meperidina, a oxicodona, o

    propoxifeno e a metadona so alguns exemplos. Essas substncias totalmente sintticas

    so chamadas de opiides (isto e, semelhantes aos o piceos). Todas so colocadas em

    comprimidos ou ampolas, tomando -se, ento, medicamentos.

    Todas as drogas tipo opiceo ou opiide tm basicamente os mesmos efeitos no

    sistema nervoso central: diminuem sua atividade. As diferenas ocorrem mais em

    sentido quantitativo, isto , so mais ou menos eficientes em produzir os mesmos

    efeitos; tudo fica ento, sendo principalmente uma questo de dose. Assim, todas essas

  • 30drogas produzem analgesia e hipnose (aumentam o sono), dai receberam tambm onome de narcticos, que so exatamente as drogas capazes de produzir esses doisefeitos: sono e diminuio da dor. Agora, para algumas drogas a dose necessria para

    esse efeito pequena, ou seja, so bastante potentes, como, por exemplo, a morfina e a

    herona; outras, por sua vez, necessitam de doses cinco a dez vezes maiores para

    produzir os mesmos efeitos, como a codena e a meperidina.

    Algumas drogas podem ter, ainda, ao mais especfica, por exemplo, de deprimir os

    acessos de tosse. por essa razo que a codena to usada como antitussgeno.

    Outras apresentam a caracterstica de levar a uma dependncia mais facilmente; dai

    serem muito perigosas, como o caso da herona.

    Alm de deprimir os centros da dor, da tosse e da viglia (o que causa sono), todas

    essas drogas em doses um pouco maior que a teraputica acabam tambm por deprimir

    outras regies do crebro, como, por exemplo, as que controlam a respirao, os

    batimentos do corao e a presso sangunea.

    As pessoas sob ao dos narcticos apresentam contrao acen tuada das pupilas, h

    tambm uma paralisia do estmago e o indivduo sente -se empachado, com o estmago

    cheio, como se no fosse capaz de fazer a digesto. Os intestinos tambm ficam

    paralisados e, como conseqncia, a pessoa que abusa dessas substncias g eralmente

    apresenta forte priso de ventre. com base nesse efeito que os opiceos so

    utilizados para combater as diarrias .

    Os narcticos usados por meio de injees, ou em doses maiores por via oral, podem

    causar grande depresso respiratria e carda ca. A pessoa perde a conscincia e fica

    com uma cor meio azulada porque a respirao muito fraca quase no oxigena mais o

    sangue e a presso arterial cai a ponto do sangue no mais circular normalmente: o

    estado de coma que, se no tiver o atendimento ne cessrio, pode levar morte. Outro

    problema com essas drogas a facilidade com que levam a dependncia. E quando

    esses dependentes, por qualquer motivo, param de tomar a droga, ocorre um violento e

    doloroso processo de abstinncia, com nuseas e vmitos, diarria, cibras musculares,

    clicas intestinais, lacrimejamento, corrimento nasal etc., que pode durar de 8 a 12 dias.

    Inalantes e solventesA palavra solvente significa substncia capaz de dissolver coisas, e inalante todasubstncia que pode ser introduzida no organismo atravs da aspirao pelo nariz ou

    pela boca. Em geral, todo solvente uma substncia que evapora-se muito facilmente,

  • 31por esse motivo pode ser facilmente inalada. Outra caracterstica dos solventes ouinalantes e que muitos deles (mas no todos) so inflamveis, quer dizer, pegam fogofacilmente. Um nmero enorme de produtos comerciais, como esmaltes, colas, tintas,

    tinners, propelentes, gasolina, removedores, vernizes etc, contm esses solventes. Eles

    podem ser aspirados tanto involuntria (por exemplo, trabalhadores de industrias de

    sapatos ou de oficinas de pintura) quanta voluntariamente (por exemplo, a criana de

    rua que cheira cola de sapateiro).

    Todos esses solventes ou inalantes so substncias pertencentes um grupo qumico

    chamado de hidrocarbonetos, como o tolueno, xilol, n-hexano, acetato de etila,tricloroetileno etc. Para exemplificar, eis a composio de algumas colas de sapateiro

    vendidas no Brasil: Cascola - mistura de tolueno + n-hexano, Brascoplast toluenocom acetato de etila e solvente para borracha.

    Um produto muito conhecido no Brasil o "cheirinho" ou "lol". Trata-se de um

    preparado clandestino base de clorofrmio mais ter, utilizado somente para fins de

    abuso. Sabe-se que, quando esses "fabricantes" no encontram uma daquelas duas

    substncias, eles misturam qualquer outra coisa em substituio. Assim, em relao ao

    "lol" no se conhece bem sua composio, o que complica quando se tem casos de

    intoxicao aguda por essa mistura. Ainda, e importante chamar a ateno para o lana-

    perfume. Esse nome designa inicialmente aquele lquido que vem em tubos e que se

    usa no carnaval. A base de cloreto de etila ou cloretila proibida sua fabricao no

    Brasil e s aparece nas ocasies de carnaval, contrabandeada de outros pases sul-

    americanos. O incio dos efeitos, aps a aspirao, bastante rpido - de segundos a

    minutos no mximo - e em 15 a 40 minutos j desaparecem; assim, o usurio repete as

    aspiraes vrias vezes para que as sensaes durem mais tempo.

    Os efeitos dos solventes vo desde uma estimulao inicial at depresso, podendo

    tambm surgir processos alucinatrios. Vrios autores dizem que os efeitos dos

    solventes (quaisquer que sejam) lembram os do lcool, entretanto este no produz

    alucinaes, fato bem descrito para os solventes. Entre os efeitos, o predominante a

    depresso, principalmente a do funcionamento cerebral. De acordo com o aparecimento

    desses efeitos, aps inalao de solventes, foram divididos em quatro fases:

    Primeira fase: a chamada fase de excitao, que a desejada, pois a pessoa ficaeufrica, aparentemente excitada, sentindo tonturas e tendo perturbaes auditivas e

    visuais. Mas podem tambm aparecer nuseas, espirros, tosse, muita salivao e as

  • 32faces podem ficar avermelhadas. Segunda fase: a depresso do crebro comea a predominar, ficando a pessoaconfusa, desorientada, com a voz meio pastosa, viso embaada, perda do

    autocontrole, dor de cabea, palidez; ela comea a ver ou a ouvir coisas.

    Terceira fase: a depresso aprofunda-se com reduo acentuada do estado de alerta,incoordenao ocular (a pessoa no consegue mais fixar os olhos nos objetos),

    incoordenao motora com marcha vacilante, fala "engrolada", reflexos deprimidos,

    podendo ocorrer processos alucinatrios evidentes.

    Quarta fase: depresso tardia, que pode chegar a inconscincia, queda da presso,sonhos estranhos, podendo ainda a pessoa apresentar surtos de convulses

    ("ataques"). Essa fase ocorre com freqncia entre aqueles cheiradores que usam

    saco plstico e, aps certo tempo, j no conseguem afast-lo do nariz e, assim, a

    intoxicao toma-se muito perigosa, podendo mesmo levar ao coma e morte.

    Finalmente, sabe-se que a aspirao repetida, crnica, dos solventes pode levar a

    destruio de neurnios, causando leses irreversveis no crebro. Alm disso, pessoas

    que usam solventes cronicamente apresentam-se apticas, tem dificuldade de

    concentrao e dficit de memria.

    Existe um fenmeno produzido pelos solventes que pode ser muito perigoso. Eles

    tornam o corao humano mais sensvel adrenalina, que faz o nmero de batimentos

    cardacos aumentar. Essa adrenalina liberada toda vez que temos de exercer um

    esforo extra, como, por exemplo, correr, praticar certos esportes etc. Assim, se uma

    pessoa inala um solvente e logo depois faz esforo fsico, seu corao pode sofrer. A

    literatura mdica j cita vrios casos de morte por arritmia cardaca (batidas irregulares

    do corao), principalmente de adolescentes.

    Os solventes quando inalados cronicamente podem levar a leses da medula ssea,

    dos rins, do fgado e dos nervos perifricos que controlam os msculos.

    A dependncia entre aqueles que abusam cronicamente de solventes comum, sendo

    os componentes psquicos da dependncia os mais evidentes, tais como desejo de usar

    a substncia, perda de outros interesses que no seja o solvente. A sndrome de

    abstinncia, embora de pouca intensidade, est presente na interrupo abrupta do uso

    dessas drogas, sendo comum ansiedade, agitao, tremores, cibras nas pernas e

    insnia.

  • 33Estimulantes da atividade do SNC

    AnfetaminasAnfetaminas so drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso central, isto ,

    fazem o crebro trabalhar mais depressa, deixando as pessoas mais "acesas", "ligadas",

    com "menos sono", "eltricas" etc. So chamadas de "rebite", entre motoristas que

    precisam dirigir durante vrias horas seguidas sem descanso. Tambm so conhecidas

    como "bola" por estudantes que passam noites inteiras estudando, ou por pessoas que

    costumam fazer regimes de emagrecimento sem acompanhamento mdico. Nos

    Estados Unidos, a metanfetamina (uma anfetamina) tem sido muito consumida na forma

    fumada em cachimbos, recebendo o nome de "ICE" (gelo). Outra anfetamina,

    metilenodioximetanfetamina (MDMA), tambm conhecid a pelo nome de "xtase", tem

    sido uma das drogas com maior consumo pela juventude.

    As anfetaminas so drogas sintticas, fabricadas em laboratrio. No so, portanto,

    produtos naturais. Existem vrias drogas sintticas que pertencem ao grupo das

    anfetaminas, e como cada uma delas pode ser comercializada sob a forma de remdio,

    por vrios laboratrios e com diferentes nomes comerciais, temos um grande numero

    desses medicamentos. As anfetaminas agem de maneira ampla afetando vrios

    comportamentos do ser humano. A pessoa sob sua ao tem insnia, inapetncia

    (perde o apetite), sente-se cheia de energia e fala mais rpido, ficando "ligada". A

    pessoa que toma anfetaminas e capaz de executar uma atividade qualquer por mais

    tempo, sentindo menos cansao. Este s aparece horas mais tarde, quando a droga j

    se foi do organismo; se nova dose for tomada as energias voltam, embora com menos

    intensidade. De qualquer maneira, as anfetaminas fazem com que o organismo reaja

    acima de suas capacidades, esforos excessivos, o que logicamente prejudicial para a

    sade. E, o pior e que a pessoa ao parar de tomar sente uma grande falta de energia

    (astenia), ficando bastante deprimida, o que tambm prejudicial, pois nem consegue

    realizar as tarefas que normalmente fazia anterio rmente ao uso dessas drogas.

    As anfetaminas no exercem somente efeitos no crebro. Agem na pupila dos olhos

    produzindo dilatao (midrase); esse efeito prejudicial para os motoristas, pois a noite

    ficam mais ofuscados pelos faris dos carros em dire o contrria. Elas tambm causam

  • 34taquicardia e aumento da presso arterial.Se uma pessoa exagera na dose, todos os efeitos anteriormente descritos ficam maisacentuados e podem surgir comportamentos diferentes do normal: fica mais agressiva,

    irritadia comea a suspeitar de que outros esto tramando contra ela - o chamado

    delrio persecutrio. Essas intoxicaes so graves, e a pessoa geralmente precisa ser

    internada at a desintoxicao completa. s vezes, durante a intoxicao, a temperatura

    aumenta muito e isso bastante perigoso, pois pode levar a convulses.

    Trabalhos recentes em animais de laboratrio mostram que o uso continuado de

    anfetaminas pode levar a degenerao de determinadas clulas do crebro. Esse

    achado indica a possibilidade de que o uso crnico de anfetaminas produzir leses

    irreversveis em pessoas que abusam dessas drogas.

    CocanaA cocana uma substncia n atural, extrada das folhas de uma planta encontrada

    exclusivamente na Amrica do Sul, a Erythroxylon coca, conhecida como coca ou

    epadu, este ltimo nome dado pelos ndios brasileiros. A cocana pode chegar at oconsumidor sob a forma de um sal, o cloridrato de cocana, o "p", "farinha", "neve" ou

    "branquinha", que solvel em gua e serve para ser aspirado (cafungado) ou

    dissolvido em gua para uso intravenoso (pelos canos, baque), ou sob a forma de base,

    o crack, que pouco solvel em gua, mas que se volatiliza quando aquecida e,

    portanto, fumada em cachimbos.

    Tambm sob a forma base, a merla (mela, mel ou melado), um produto ainda sem refino

    e muito contaminado com as substncias utilizadas na extrao, preparada de forma

    diferente do crack, mas tambm fumada. Enquanto o crack ganhou popularidade em

    So Paulo regio norte foi vtima da merla.

    H ainda a pasta de coca, que um produto grosseiro, obtido das primeiras fases de

    extrao de cocana das folhas da planta quando estas so tratadas com lcali, solvente

    orgnico como querosene ou gasolina, e cido sulfrico. Essa pasta contm muitas

    impurezas txicas e fumada em cigarros chamados "basukos".

    Tanto o crack como a merla tambm so cocana; portanto, todos os efeitos provocados

    no crebro pela cocana tambm ocorrem com o crack e a merla. Porm, a via de usa

    dessas duas formas (via pulmonar, j que am bos so fumados) faz toda a diferena em

    relao ao "p".

    Assim que o crack e a merla so fumados, alcanam o pulmo, que um rgo

  • 35intensivamente vascularizado e com grande superfcie, levando a uma absoroinstantnea. Atravs do pulmo, cai quase ime diatamente na circulao, chegandorapidamente ao crebro. Com isso, pela via pulmonar, o crack e a merla "encurtam" o

    caminho para chegar ao crebro, surgindo os efeitos da cocana muito mais rpido do

    que por outras vias. Em l0 a 15 segundos, os primeiro s efeitos j ocorrem, enquanto os

    efeitos apos cheirar o "p" surgem apos 10 a 15 minutos, e aps a injeo, em 3 a 5

    minutos. Essa caracterstica faz do crack uma droga "poderosa" do ponto de vista do

    usurio, j que o prazer acontece quase instantaneamen te aps uma "pipada" (fumada

    no cachimbo). Porm, a durao dos efeitos do crack muito rpida. Em tomo de 5

    minutos, enquanto aps injetar ou cheirar, duram de 20 a 45 minutos. Essa curta

    durao dos efeitos faz com que o usurio volte a utilizar a droga com mais freqncia

    que as outras vias (praticamente de 5 em 5 minutos), levando -o a dependncia muito

    mais rapidamente que os usurios da cocana por outras vias (nasal, endovenosa) e a

    um investimento monetrio muito maior.

    Logo aps a "pipada", o usurio tem uma sensao de grande prazer, intensa euforia e

    poder. to agradvel que, logo aps o desaparecimento desse efeito, ele volta a usar

    a droga, fazendo isso inmeras vezes, at acabar todo o estoque que possui ou o

    dinheiro para consegui-la. A essa compulso para utilizar a droga repetidamente d -se o

    nome popular de "fissura", que uma vontade incontrolvel de sentir os efeitos de

    "prazer" que a droga provoca. A "fissura" no caso do crack e da merla avassaladora, j

    que os efeitos da droga so muito rpidos e intensos.

    Alm desse "prazer" indescritvel, que muitos comparam a um orgasmo, o crack e a

    merla provocam tambm um estado de excitao, hiperatividade, insnia, perda de

    sensao do cansao, falta de apetite. Em menos de um ms, ele perd e muito peso (8 a

    l0kg) e em um tempo maior de uso ele perde todas as noes bsicas de higiene,

    ficando com um aspecto deplorvel. Por essas caractersticas, os usurios de crack

    (craqueros) ou de merla so facilmente identificados. Aps o uso intenso e r epetitivo, o

    usurio experimenta sensaes muito desagradveis, como cansao e intensa

    depresso.

    A tendncia do usurio aumentar a dose da droga na tentativa de sentir efeitos mais

    intensos. Porm, essas quantidades maiores acabam por levar o usurio a

    comportamento violento, irritabilidade, tremores e atitudes bizarras devido ao

    aparecimento de parania (chamada entre eles de "nia"). Esse efeito provoca umgrande medo nos craqueros, que passam a vigiar o local onde usam a droga e a ter uma

  • 36grande desconfiana uns dos outros, o que acaba levando-os a situaes extremas deagressividade. Eventualmente, podem ter alucinaes e delrios. A esse conjunto desintomas d o nome de "psicose cocanica". Alm dos sintomas descritos, o craquero e

    o usurio de merla perdem de forma muito marcante o interesse sexual.

    Os efeitos provocados pela cocana ocorrem por todas as vias (aspirada, inalada,

    endovenosa). Assim, o crack e a merla podem produzir aumento das pupilas (midriase),

    que prejudica a viso; a chamada "viso borrada". Ainda pode provocar dor no peito,

    contraes musculares, convulses e at coma. Mas sobre o sistema cardiovascular

    que os efeitos so mais intensos. A presso arterial pode elevar -se e o corao pode

    bater muito mais rapidamente (taquica rdia). Em casos extremos, chega a produzir

    parada cardaca por fibrilao ventricular. A morte tambm pode ocorrer devido a

    diminuio de atividade de centros cerebrais que controlam a respirao.

    O uso crnico da cocana pode levar a degenerao irreversvel dos msculos

    esquelticos, conhecida como rabdomilise.

    As pessoas que abusam da cocana relatam a necessidade de aumentar a dose para

    sentir os mesmos efeitos iniciais de prazer, ou seja, a cocana induz tolerncia. como

    se o crebro se "acomodasse" quela quantidade de droga, necessitando de uma dose

    maior para produzir os mesmos efeitos prazerosos. Porem, paralelamente a esse

    fenmeno, os usurios de cocana tambm desenvolvem sensibilizao, ou seja, para

    alguns efeitos produzidos pela cocana, ocorre o inverso da tolerncia, e com uma dose

    pequena os efeitos j surgem. Mas para a angstia do usurio os efeitos produzidos

    com pouca quantidade de droga so exatamente aqueles considerados desagradveis,

    como, por exemplo, a parania.

    No h descrio convincente de uma sndrome de abstinncia quando a pessoa para

    de usar cocana abruptamente: no sente dores pelo corpo, c1icas, nuseas etc. s

    vezes pode ocorrer de essa pessoa ficar tomada de grande "fissura", desejar usar

    novamente a droga para sentir seus efeitos agradveis e no para diminuir ou abolir o

    sofrimento que ocorreria se realmente houvesse uma sndrome de abstinncia.

    Pertubadores da atividade do SNC

    MaconhaA maconha o nome dado aqui no Brasil a uma planta chamada cientificament e de

    Cannabis Sativa. At o inicio do sculo xx, a maconha era considerada em vrios

  • 37paises, inclusive no Brasil, um medicamento til para vrios males. Mas tambm j erautilizada para fins no-mdicos por pessoas desejosas de sentir "coisas diferentes", oumesmo que a utilizavam abusivamente. Em conseqncia desse abuso, e de um certo

    exagero sobre seus efeitos malefcios, a planta foi proibida em praticamente todo o

    mundo ocidental, nos anos 50 e 60 anos. Mas, atualmente, graas s pesquisas

    recentes, a maconha (ou substncias dela extradas) reconhecida como medicamento

    em pelo menos duas condies clnicas: reduz as nuseas e vmitos produzidos por

    medicamentos contra o cncer e tem efeito benfico em alguns casos de epile psia

    Entretanto, bom lembrar que a maconha (ou as substncias extradas da planta) tem

    tambm efeitos indesejveis que podem ser muito prejudiciais.

    O THC (tetraidrocanabinol) o principio ativo da maconha, sendo o principal

    responsvel pelos efeitos desta. Assim, dependendo da qua ntidade de THC presente (o

    que pode variar de acordo com solo, clima, estao do ano, poca de colheita, tempo

    decorrido entre a colheita e o uso), a maconha pode ter potncia diferente, isto ,

    produzir mais ou menos efeitos. Assim, a dose de maconha insu ficiente para um pode

    produzir efeito ntido em outro e at forte intoxicao em um terceiro.

    Podemos dividir os efeitos que a maconha produz sobre o homem em fsicos (ao

    sobre o prprio corpo ou partes dele) e psquicos (ao sobre a mente). Esses efeitos

    sofrero mudanas de acordo com o tempo de uso que se considera, ou seja, os efeitos

    so agudos (isto , quando decorrem apenas algumas horas aps fumar) e crnicos(conseqncias que aparecem apos o uso continuado por semanas, ou meses ou

    mesmo anos).

    Os efeitos fsicos agudos so muito poucos: os olhos ficam avermelhados (hiperemia

    das conjuntivas), a boca fica seca (xerostomia) e o corao dispara, podendo chegar a

    120 a 140 batimentos por minuto ou mais (taquicardia).

    Os efeitos psquicos agudos dependero da qualidade da maconha fumada e da

    sensibilidade de quem fuma. Para uma parte das pessoas, os efeitos so uma sensao

    de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, sentir -se menos fatigado, vontade

    de rir (hilaridade). Para outras pessoas, os efeitos so mais para o lado desagradvel:

    sentem angstia, ficam temerosas de per der o controle mental, trmulas e com

    sudorese intensa. o que comumente chamam de "m viagem" ou "bode". H, ainda,

    evidente perturbao na capacidade da pessoa em calcu lar tempo e espao e um

    prejuzo de memria e ateno. Assim, sob a ao da maconha, a pessoa erra

    grosseiramente na discriminao do tempo, tendo a sensao de que se passaram

  • 38horas quando na realidade foram alguns minutos; um tnel com 10m de comprimentopode parecer ter 50 ou 100m.Quanto aos efeitos na memria, eles se manifestam principalmente na chamada

    memria a curto prazo, ou seja, aquela que nos e importante por alguns instantes.

    Pessoas sob esses efeitos no conseguem, ou melhor, no deveriam executar tarefas

    que dependem de ateno, bom senso e disce rnimento, pois correm o risco de

    prejudicar outros e/ou a si prprio. Como exemplo disso: dirigir carro, operar mquinas

    potencialmente perigosas.

    Aumentando-se a dose e/ou dependendo da sensibili dade, os efeitos psquicos agudos

    podem chegar at a alteraes mais evidentes, com predominncia de delrios e

    alucinaes. Delrio uma manifestao mental pela qual a pessoa faz um juzo errado

    do que v ou ouve. J a alucinao uma percepo sem obj eto, isto , a pessoa pode

    ouvir a sirene da policia ou ver duas pessoas conversando quando no existe nem

    sirene nem pessoas. As alucinaes podem tambm ter fundo agradvel ou terrvel.

    Os efeitos fsicos crnicos da maconha j so de maior gravidade. De fato, com o uso

    continuado, vrios rgos do corpo so afetados. Os pulmes so um exemplo disso.

    No difcil imaginar como ficaro esses rgos quando passam a receber

    cronicamente uma fumaa que muito irritante, dado ser proveniente de um vegetal que

    nem chega a ser tratado como o tabaco comum. Essa irritao constante leva a

    problemas respiratrios (bronquites), alis, como ocorre tambm com o cigarro comum.

    Mas o pior que a fumaa da maconha contm alto teor de alcatro (maior mesmo que

    na do cigarro comum) e nele existe uma substncia chamada benzopireno (agente

    cancergeno).

    Outro efeito fsico adverso (indesejvel) do usa crnico da maconha refere-se a

    testosterona. Este o hormnio masculino que, como tal, confere ao homem maior

    quantidade de msculos, voz mais grossa, barba, e tambm responsvel pela

    fabricao de espermatozides pelos testculos. J existem muitas provas cientificas de

    que a maconha diminui em at 50 a 60% a quantidade de testosterona.

    Consequentemente, o homem apresenta um nmero bem reduzido de espermatozides

    no lquido espermtico, o que leva infertilidade. Assim, o homem ter mais dificuldade

    em gerar filhos. Esse um efeito que desaparece quando a pessoa deixa de fumar a

    planta. tambm importante dizer que o homem no fica impotente ou perde o desejo

    sexual, mas apresenta esterilidade, isto , fica incapacitado de engravidar sua

    companheira. H ainda a considerar os efeitos psquicos crnicos produzidos pela

  • 39maconha. Sabe-se que seu uso continuado interfere na capacidade de aprendizagem ememorizao e pode induzir a um estado de amotivao isto , no sentir vontade defazer mais nada, pois tudo fica sem graa e sem importncia. Alm disso, a maconha

    pode levar algumas pessoas a um estado de dependncia, elas passam a organizar sua

    vida de maneira a facilitar seu vcio, e tudo o mais perde seu real valor.

    Finalmente, h provas cientficas de que indivduos que tenham pr-disposio a uma

    doena psquica qualquer, mas que ainda no est evidente (a pessoa consegue "se

    controlar") ou a doena j apareceu, mas est controlada com medicamentos

    adequados, a maconha piora o quadro, ou faz surgir doena, isto , a pessoa no

    consegue mais "se controlar", ou neutraliza o efeito do medicamento e ela passa a

    apresentar novamente os sintomas da enfermidade. (exemplo a esquizofrenia)

    Cogumelos e plantas alucingenasA palavra alucinao significa, em linguagem mdica, percepo sem objeto; isto , a

    pessoa em processo de alucinao percebe coisas sem que elas existam. As sim,

    quando uma pessoa ouve sons imaginrios ou v objetos que no existem, ela esta

    tendo uma alucinao auditiva ou uma alucinao visual. As alucinaes podem

    aparecer espontaneamente no ser humano em casos de psicoses, e entre estas a mais

    comum a doena mental chamada esquizofrenia. Tambm podem ocorrer em pessoas

    normais (que no apresentam doena mental) que usam determinadas substncias ou

    drogas alucingenas, isto , drogas que "geram" alucinaes. Essas drogas so tambm

    chamadas de psicoticomimticas por "imitar" ou "mimetizar" um dos mais evidentes

    sintomas das psicoses - as alucinaes. Alguns autores tambm as chamam de

    psicodlicas. A palavra psicodlica vem do grego (psico = mente e delos = expanso) e

    utilizada quando a pessoa apresenta alucinaes e delrios em certas doenas

    mentais ou por ao de drogas. obvio que essas alteraes no significam expanso

    da mente. A alucinao e o delrio nada tm de aumento da atividade ou da capacidade

    mental; ao contrrio, so aberraes, perturba es do perfeito funcionamento do

    crebro, tanto que so caractersticas das chamadas psicoses.

    Um grande nmero de drogas alucingenas vem da natureza, principalmente de plantas.

    Estas foram "descobertas" por seres ancestrais que, ao sentir seus efeitos mentais,

    passaram a consider-las "plantas divinas", isto , que faziam com que quem as

    ingerisse recebesse mensagens divinas, dos deuses. Assim, at hoje em culturas

    indgenas de vrios paises o usa dessas plantas alucingenas tem esse significado

  • 40religioso.Com o progresso da cincia, vrias substncias foram sintetizadas em laboratrio e,dessa maneira, alm dos alucingenos naturais, hoje em dia tm importncia tambm os

    alucingenos sintticos, dos quais o LSD -25 o mais representativo.

    Alcoolismo

    1. Forma Aguda - Cuja exteriorizao a embriaguez que apresentamanifestaes digestivas, nervosas e psquicas.

    Estas alteraes neuropsquicas so as que caracterizam a embriaguez e se

    apresentam em trs perodos sucessivos:

    Eufrico - embriaguez ligeira; Mdico-legal - embriaguez completa; Depresso e coma - progressiva e pode levar a morte.

    2. Forma Crnica - Tem grande importncia pelos transtornos que produz eocupa lugar proeminente na patologia neuropsiquitrica e visceral (h trs formas

    de alcoolismo crnico).

    Alcoolismo comum - por hbito ou necessidade profissional ; Paixo alcolica - necessidade impostergvel de beber devido a uma

    predisposio especial ;

    Dipsomania alcolica - em forma de acessos de alcoolismo intercalados porperodos de abstinncia.

    Os principais sintomas do alcoolismo crnico so:

    Digestivos: sonolncia ps-prandial com peso abdominal, dispepsia alcolica(respirao actica, anorexia, intolerncia gstrica) podendo levar gastrite atrfica,

    vmitos; a anorexia progressiva e total.

    Hepticos: hepatite alcolica, caracterizada por hepatomegalia dolorosa, vmitosbiliares e sub-ictercia. O fgado aumenta de volume e se apresenta com

    infiltraes graxas (perodo pr -cirrtico). Pode chegar, caso a intoxicao

    persista, cirrose atrfica, com insuficincia heptica progressiva, ascite,

    circulao portal etc.

  • 41Cardiovasculares: A principio taquicardia, depois miocardite txica que leva adilatao cardaca. Ainda possvel hipertrofia com cardiomegalia. A morte podese dar por assistolia ou sncope. Os transtornos vasculares podem ocasionar

    hemorragias cerebrais. O lcool facilita a arteriosclerose.

    Sanguneos: Ligeira anemia sem caracteres especiais.Cutneos: Rubicundez, acne rosceo, ferimentos.Oculares: Conjuntivites e lacrimejo.Endcrinos: O lcool lesiona as glndulas de secreo interna: tireide, hipfise,ovrios, supra-renais, pncreas.

    Nervosos: Polineurites e paralisias alcolicas.

    Os quadros psquicos de maior interesse so:

    Delirium Tremens: comea com ansiedade, tremores terrorficos, insnia que acabaem um estado de confuso mental onrica, com alucinaes (zoopsias),

    incoerncia ideativa, delrio ocupacional, podendo haver febre ("delirium

    tremens" febril).

    Mania e Melancolia Alcolicas: Apresenta-se em ciclotmicos, com quadroscaractersticos em cada caso.

    Alucinaes Alcolicas: Psicose observada em pacientes lcidos. Existemalucinaes auditivas que podem durar dias ou semanas. Esto sempre de mau

    humor. s vezes se transformam num delrio sistematizado, que se torna

    crnico.

    Delrio Celotpico: Diminuio do desejo e da potn cia sexual, hipoafetividade.Pode ocorrer quadro de "Complexo de Otelo", o que torna o alcoolista perigoso,

    podendo chegar agresso homicida.

    Psicose de Korsakoff: Ocorre normalmente com pessoas mais idosas, comgraves transtornos de memria (vivem no presen te). H confabulaes. So

    normalmente instveis e tem pouca vontade.

    Demncia Alcolica: Anestesia moral, profunda deteriorao intelectual edepravao.

    Epilepsia Alcolica: Exteriorizao de um estado la tente de epilepsia genuna,que poderia nem aparecer.

    Pseudo paralisia geral alcolica: Muito parecida com a paralisia geral

  • 42progressiva, mas reversvel com a supresso do lcool.Tratamento:

    De forma ampla, este tratamento pode ser dividido em trs etapas: desintoxicao,

    desabituao e manuteno.

    Desintoxicao: perodo que varia de uma a oito semanas, onde o paciente sente afalta da droga de forma mais intensa (abstinncia). De acordo com a gravida de do caso

    e intensidade do uso, pode ser necessria a internao.

    Desabituao: perodo em que o paciente, j sem usar drogas, procura reori