são tomé e príncipe - relatório de desenvolvimento humano

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RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE 2002 As Mudanças de 1990 a 2002 e o Desenvolvimento Humano

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UN PNUD. As Mudanças de 1990 a 2002 e o Desenvolvimento Humano

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Page 1: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

RELATÓRIO DO

DESENVOLVIMENTO

HUMANO SÃO TOMÉ

E PRÍNCIPE 2002

As Mudanças de1990 a 2002 e oDesenvolvimentoHumano

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R E L A T Ó R I O D O D E S E N V O L V I M E N T O H U M A N O

S Ã O T O M É E P R Í N C I P E 2 0 0 2

As Mudanças de1990 a 2002 e oDesenvolvimentoHumano

Page 3: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Equipa de preparação do Relatório Nacional sobre oDesenvolvimento Humano em São Tomé e Príncipe

Supervisão do Representante Residente do PNUD em S.T.P.:Marta Ruedas (até Setembro de 2001)

Christian Lehembre (a partir de Julho de 2002)e sob a direcção técnica do Assistente do Representante Residente para o

ProgramaAntónio Viegas

Consultor Internacional: José Maria Caller Celestino - Coordenador da investigação, elaboração do

estudo de caso sobre "Migrantes são-tomenses em Portugal" e Redacção doRelatório.

Colaboração do PNUD Bolívia:Juan Fernando Calderón Calderón - Supervisão geral do Relatório; Armando

Ortuño - Elaboração do Perfil do Desenvolvimento Humano e Pobreza em SãoTomé e Príncipe

Consultores Nacionais:Norberto Costa Alegre - Elaboração das Mudanças Políticas e Económicas e

Coordenação da Publicação do Relatório; Paulo Fernando C. Silva Ramalho -Elaboração do Capítulo "Identidade Cultural e Desenvolvimento Humano" e do

estudo de caso "Estratégias suburbanas de luta contra a pobreza"; AlbertinoBragança - Participação na elaboração do capítulo Identidade Cultural e

Desenvolvimento Humano; Frederico Gustavo dos AnjosTranscrição/Assistente de campo:

Ana Sofia Coelho; Adilson Bil da Trindade; Nelma Lopes da Silva; CaustrinoAlcântara; Cecília C. David Viegas

Tradução:Margaita Etxegarai

Layout:Doria Design

Capa:Nilton Dória

Fotos: Maite Mendizabal, Nora Rizzo e Juvenal Rodrigues

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Relatório do Desenvolvimento Humano - STP 3

O primeiro Relatório Nacional sobre o Desenvolvimento Humano de São Tomé ePríncipe já evidenciava a di-mensão cultural do desenvolvimento de São Tomé ePríncipe, evocando o seu "percurso no tempo, curiosamente mar-cado por constantesinterrupções e por uma certa forma de estar permanente-mente em transição". Emboranão se aventurando no campo da antropologia, o 1º relatório levava o leitor a procurarestabelecer relação entre a "fragilidade das instituições e dos centros de decisão políti-ca" e um feliz deixar-andar, qualifi-cado oportunamente por "indisciplina, anarquia, faltade autoridade e de orien-tação", enquanto que a sociedade era vista como sendo um"mosaico, simulta- neamente, policromo e polifónico"

Um outro trabalho (NLTPS), reali- zado no ano seguinte, sob a direcção de "FuturosAfricanos", baseou-se na for-mulação de desejos e aspirações dos membros representa-tivos da população e propunha um factor de emenda na coesão nacional e no reassumirdas rédeas do país por aqueles que se tor-naram donos dos seus próprios destinos.

Era naquela altura em que, depois de se ter atribuído ao contexto internacio-nal a res-ponsabilidade pelos fracassos dos programas de desenvolvimento exe-cutados com oapoio da cooperação in-ternacional, começava-se a procurar in-ternamente as causas dofracasso. Duvi-dava-se assim de tudo e até mesmo da existência da solidariedade nacio-nal. Não seria esta uma sociedade formada por peças dispersas, desprovida de ética eexposta, sem qualquer protecção, às astúcias dos mais perniciosos? Como en-frentar econtornar esta fatalidade?

É nesse momento que os escritórios do PNUD em São Tomé e Príncipe decidiram con-tribuir para incentivar a reflexão e o debate inscrevendo-se na perspectiva da cultura eda mudança para melhor sitiar todas as questões que surgem à volta do paradigma dedesen-volvimento humano em São Tomé e Príncipe.

Foi para isso necessário recorrer a profissionais da antropologia que sabem deitar umolhar ao mesmo tempo dis-tante e penetrante sobre a sociedade. Um desses profissionaispermaneceu no país e formou uma equipa em técnicas de inquérito no terreno. Os dadosobti-dos serviram para elaborar, em seguida provar e finalmente validar a teoria domodelo cultural dominante no mundo das roças cuja história se confunde com a do País(Capítulo 2). É de tal forma dominante esse modelo que impregna os costumes, mesmodepois do declínio da ruralidade (Capítulo 3). Um outro método de inquérito permitiurestituir os comportamentos do mundo péri-urbano (Capítulo 5) e convidar o leitor amelhor entender o encadeamento sem fim da pobreza onde a sujeição à fatalidade é, emsimultâneo, a causa e o efeito.

Todavia, a esperança de se ver mudar as coisas existe. Uma parte do trabalho é dedica-da às mudanças políticas e eco-nómicas que já se operaram no país desde a indepen-dência e sobretudo de- pois da mudança para o regime multi-partidário (Capítulo 4) e,uma outra junto da comunidade são-tomense emi-grante em Lisboa, no seio da qualamos-tra representativa de estudantes e pro-fissionais foi consultada no que toca à suadisposição para participar na intro-dução de mudanças na sociedade são-tomense(Capítulo 6).

O estudo detalhado do desenvolvi- mento humano está no centro desta obra (Capítulo4). Foi, deste modo, confiado a especialistas que primeiramente calcularam o índice, emseguida compararam-no ao dos outros países da África subsariana assim como ao de

Prefácio

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Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

ÍPrefácio

4

outros pequenos países insulares, antes de o analisarem, segundo critérios de género eregiões.

Coube finalmente a um consultor na-cional a revisão do conjunto para subli-nhar a coe-são formulando um conjunto de recomendações (Capítulo 7) as quais perfilavam aolongo de toda a obra e que passaram a concentrar-se na me-lhoria das performances dodesenvol-vimento humano.

O grosso deste trabalho foi realizado em 2001. Em seguida foi consolidado e depoisforam actualizados alguns valo-res. Nesse lapso de tempo, as hipóteses sobre o potencialpetrolífero do país transformaram-se em certezas e o pro-cesso que vai fazer de STP umpaís pro-dutor de petróleo desencadeou-se deveras.

Mas, para quem e para quê? Os ele-mentos de resposta a esta crucial per-gunta encon-tram-se neste relatório. Nele pode-se ler esta declaração "O país deve decidir entre duasopções (cf Cap. 2, § que opções ?):

"Reproduzir uma vez mais o modelo de organização social, política e económica basea-do na construção do sentido de acordo ao que fora elaborado a partir das roças;

"Criar condições que permiti- rão uma cultura aberta baseada no desenvolvimentohumano".

Traduzido em termos de gestão de rendimentos do petróleo, isto significa que, quer

o grosso destes rendimentos seria monopolizado por alguns privilegiados, com uma cres-cente marginalização do co-mum dos cidadãos; quer estes rendimentos seriam con-side-rados como uma oportuni-dade para fazer participar toda a população no desenvolvi-mento equitativo do país, em termos de géneros, regiões e franjas sociais, com o des-apare-cimento da pobreza como consequência lógica.

O PNUD, tal como muitos outros, advoga a transparência na gestão dos recursos e tratade orientar a reflexão das autoridades e da sociedade civil para a filosofia do desenvol-vimento humano.

Mas o que fará a diferença é a facul- dade do país em mudar. Com efeito, é necessárioprosseguir pela via envere- dada desde a instauração do multiparti- darismo, com a refor-ma das instituições e interiorizar o espírito que anima toda a democracia. Tudo leva acrer que este espírito prevalece em algumas franjas da população local, mas tambémdentre os são-tomenses residentes em Portugal, inquiridos por necessidade deste estudo.

O nosso desejo é de que este trabalho possa contribuir para uma reflexão sobre asmudanças.

Christian Lehembre Marta Ruedas

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Relatório do Desenvolvimento Humano - STP 5

LISTA DAS ABREVIATURAS

CAPÍTULO IMUDANÇAS

CAPÍTULO IIIDENTIDADE CULTURAL E DESENVOLVIMENTO HUMANO (DH)

INTRODUÇÃO

A SITUAÇÃO EM STP

QUE FUTURO?

QUE OPÇÕES?

CAPÍTULO IIIMUDANÇAS POLÍTICAS E ECONÓMICAS

INTRODUÇÃO

EVOLUÇÃO DA I REPÚBLICA

Evolução Política

Política de Envolvimento do Cidadão

Evolução Económica

EVOLUÇÃO DA II REPÚBLICA

Mudanças Políticas na Década de 90

Caracterização da Situação em 1990/91

Mudanças Políticas durante a Década

Evolução da Situação Económica ao Longo da Década de 90

Caracterização da Situação em 1991

Evolução da Situação durante a Década

MUDANÇAS POLÍTICAS E DH

Participação Política dos Cidadãos

Participação Cívica dos Cidadãos

Desempenho Institucional

CAPÍTULO IVPERFIL DO DH E POBREZA EM STP

INTRODUÇÃO

CARACTERÍSTICAS DO DH DE STP

4.3 - EVOLUÇÃO DO DH EM STP

4.4- INIQUIDADE E POBREZA EM STP

Índice

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Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Índice

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CAPÍTULO VESTRATÉGIAS SUBURBANAS DE LUTA CONTRA A POBREZA

(ESTUDO DE CASO NO BAIRRO DO RIBOQUE)

METODOLOGIA

OBJECTIVOS

CARACTERIZAÇÃO DO RIBOQUE

CONDIÇÕES DE VIDA

REPRESENTAÇÃO COLECTIVA DA POBREZA

GRUPOS MAIS VULNERÁVEIS

IMPACTO DA POBREZA NA REDE DE RELAÇÕES SOCIAIS

ESTRATÉGIAS ADAPTATIVAS E MODOS DE VIDA

ASPIRAÇÕES DOS RIBOQUINOS

CAPACIDADES VERSUS OPORTUNIDADES

CONCLUSÃO

CAPÍTULO VIMIGRANTES SANTOMENSES EM PORTUGAL: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O DH

INTRODUÇÃO

O DESCONHECIMENTO DOS SANTOMENSES EM PORTUGAL

PROFISSIONAIS SANTOMENSES QUALIFICADOS ACTUAIS E FUTUROS

A LÓGICA CULTURAL E A MUDANÇA RUMO AO DH

CAPÍTULOVIIPROPOSTAS DE MUDANÇAS RUMO AO DH

SINOPSEBIBLIOGRAFIAANEXOS

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Relatório do Desenvolvimento Humano - STP 7

ADI - Acção Democrática Independente

AFD - Agência Francesa de Desenvolvimento

APD - Ajuda Pública ao Desenvolvimento

BAD - Banco Africano de Desenvolvimento

BCE - Banco Comercial do Equador

BCSTP - Banco Central de S. Tomé e Príncipe

BM - Banco Mundial

CEAC - Comunidade dos Estados da África Central

CFA - Comunidade Financeira Africana

CST - Companhia Sãotomense de Telecomunicações

DH - Desenvolvimento Humano

DTS - Doenças Sexualmente Transmissíveis

EB - Ensino Básico

EP - Ensino Primário

ES - Ensino Secundário

FENU - Fundo de Equipamento das Nações Unidas

FENUAP - Fundo das Nações Unidas para a População

FIDA - Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola

FMI - Fundo Monetário Internacional

HIPC - Iniciativa para os Países Pobres Altamente Endividados

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IDS - Índice de Desenvolvimento Ajustado aos Sexos

INE - Instituto Nacional Estatística

IPC - Índice de Preço ao Consumidor

IPH - Índice de Pobreza Humana

ISP - Instituto Superior Politécnico

MEC - Ministério da Educação e Cultura

MLSTP - Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe

MOPIRNA - Ministério das Obras Públicas, Infraestruturas, Recursos Naturais e Ambiente

MPF - Ministério do Planeamento e Finanças

MS - Ministério da Saúde

NLTPS - Estudos de Perspectiva a Longo Prazo

OGE - Orçamento Geral de Estado

Lista das abreviaturas

Page 9: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Lista das Abreviaturas

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OIT - Organização Internacional do Trabalho

OMS - Organização Mundial de Saúde

ONUDI - Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial

PAE - Programa de Ajustamento Estrutural

PAM - Programa Alimentar Mundial

PCD-GR - Partido da Convergência Democrática - Grupo de Reflexão

PIB - Produto Interno Bruto

PNAPAF - Programa Nacional de Apoio à Promoção da Agricultura Familiar

PNB - Produto Nacional Bruto

PNUD - Programa das nações Unidas para o Desenvolvimento

PPADPP - Projecto de Privatização Agrícola e Desenvolvimento de Pequenas Propriedades

PPC - Paridade dos Poderes de Compra

PRES - Programa de Reabilitação Económica e Social

RDSTP - República Democrática de S. Tomé e Príncipe

RGDH - Relatório Global do Desenvolvimento Humano

RNDH - Relatório Nacional do Desenvolvimento Humano

SAF- Facilidade de Ajustamento Estrutural (Strutural Adjustment Facility)

SNE - Sistema Nacional de Educação

SNS - Sistema Nacional de Saúde

STP - São Tomé e Príncipe

SWAP - Abordagem Sectorial Integrada

TBM - Taxa Bruta de Mortalidade

TBN - Taxa Bruta de Natalidade

TC - Taxa de Crescimento

TGF - Taxa Geral de Fecundidade

TMA5 - Taxa de Mortalidade para Menores de 5 anos

UNESCO - Organização das nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância

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11Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Mudanças

A mudança, nas suas dimensões política,económica e muito especialmente a socio-cultural, assim como a suas diversas rela-ções e efeitos sobre o DesenvolvimentoHumano (DH) constituem o objectivo prin-cipal de reflexão do presente Relatório deS. Tomé e Príncipe (STP), referente ao anode 2001.

Uma retrospectiva à historia de STP, per-mite-nos verificar apreciar que desde oséculo XV em que os portugueses desco-briram as Ilhas até a independência em1975, STP caracterizou-se por uma assus-tadora continuidade na sua forma de vida ena sua cultura.

Mas, num curto período de tempo , ape-nas 25 anos, a sociedade santomenseobserva rasgos emergentes de um país quepossui modelos económicos, sociais, políti-cos e culturais desconhecidos tanto para apopulação comum como para os especia-listas, a um ritmo acelerado. A grandemaioria da população enfrenta esta conjun-tura sem capacidade para a sua assimilaçãoplena.

Passaremos a expor de forma sumária asprincipias mudanças ocorridas neste perío-do, com especial realce para as mudançassocioculturais, para compreender melhoros desafios que se impõem.

No plano político o poder instauradoadopta em primeiro lugar um regimen departido único próximo do chamado blocosocialista.

Na base deste modelo, é aprovada a pri-meira Constituição Política do Estado, esta-belecem-se os diferentes órgãos de sobera-nia, nomeadamente o Presidente daRepublica, a Assembleia Nacional Popular,o Governo e os Tribunais, mas sem separa-ção de poderes. O Governo é nomeado pelo

Presidente da Republica e este por sua vezpela Assembleia sob a proposta doMovimento de Libertação de S. Tomé ePríncipe (MLSTP). Em 1987 cria-se a fun-ção do Primeiro Ministro, como Chefe doGoverno.

Este primeiro esforço de organizaçãopolítica do novo Estado independentecomeça a esgotar-se em meados dos anos80 e desaparece definitivamente com o des-membramento dos regimens socialistas daUnião Soviética e os países da EuropaOriental. STP opta então pela alternativa deiniciar uma democracia pluralista, o queprovoca mudanças notáveis de ponto devista institucional na esfera publica.

Com a adopção de uma novaConstituição Política em 1990, nasce o quese convencionou chamar a II República. Osórgãos de soberania ajustam-se a umEstado de Direito, partindo do principioque a soberania do Estado pertence ao povosantomense e que a mesma é exercida atra-vés do sufrágio universal.

São aprovadas leis em conformidadecom a nova Constituição Política, entre asquais se destacam: Lei do Direito aoSufrágio e do Recenseamento Eleitoral;dos Partidos Políticos; da Nacionalidade,do Estatuto dos Titulares de CargosPolíticos; das Comissões Eleitorais e a LeiEleitoral. Legisla-se também para reformar o sistemajudicial e ajustá-lo a um Estado de Direito:Lei de Base do Sistema Judiciário; LeiOrgânica do Ministério Público e Estatutodos Magistrados. E para garantir o exercí-cio dos direitos cívicos e laborais numasociedade democrática são aprovadas asseguintes leis: de Imprensa; do Direito àReunião e de Manifestação e as Leis

CAPÍTULO I

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12 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

A mudança

Sindicais, de greve e do Regime Jurídicodas Condições Individuais de Trabalho.

A nova Constituição facilita a autonomiado poder local e a descentralização, o quetambém é traduzida nas legislações corres-pondentes: Lei Eleitoral dos Órgãos dasAutarquias Locais; das Finanças Locais;Quadro das Autarquias Locais e daAutarquia Especial designada Região doPríncipe.

Estas reformas parecem ter consolidadoos direitos cívicos e políticos ao longo dosanos 90. O principal incidente desde a ins-tauração do processo democrático foi o fra-cassado golpe militar de 1995, que contudonão impediu que continuasse a verificar-sealternância do poder a partir das sucessivaseleições legislativas e presidenciais.

Não obstante as conquistas já alcançadasa governação necessita de desenvolver-semuito mais. O desenvolvimento daAdministração descentralizada está blo-queado na medida em que o poder localcarece de recursos económicos e de pesso-al necessário e a Administração central estalonge de se poder considerar eficiente. Aindependência real do poder judicial estáem vias de consolidação e as instituições dasociedade civil necessitam de ser fortaleci-das para desempenhar o papel social e polí-tico para o qual são chamados.

A economia também sofreu mudançasmuito notáveis neste período da Indepen-dência. Após o caos inicial que esteve asso-ciado a saída em massa da mão-de-obraqualificada portuguesa, STP adapta a suaeconomia ao modelo político assumido. Assubsequentes políticas de nacionalizaçõesafectam a terra, as actividades bancárias, ocomércio exterior, os transportes colectivos,a energia, os correios e as telecomunicaçõ-es. A gestão centraliza-se e ajusta-se as exi-gências do Estado, convertendo-o no dina-mizador da economia nacional.

A estratégia de desenvolvimento dirige-se para a diversificação da economia com oobjectivo de superar a quase dependênciada monocultura do cacau. Entretanto, nãose consegue este propósito, pelo contrário aqueda brusca do preço deste produto nomercado internacional contribui para ummaior agravamento da situação. Os crédi-tos e as ajudas ao desenvolvimento nãoconseguiram melhorar substancialmente asituação e aumenta consideravelmente adívida externa. A partir de 1987 o pais vê-

se obrigado a aplicar um Programa deAjustamento Estrutural (PAE) com apoioda cooperação internacional, iniciandoassim um ciclo de negociações para sair dacrise. Após os primeiros créditos do ajusta-mento - Facilidade de AjustamentoEstrutural (SAF) - o Programa fracassapela incapacidade de pagamento de umadivida já a descoberto em 1989.

As mudanças do modelo político come-çam a reflectir-se no modelo económico. OEstado deixa de desempenhar o papel dedinamizador da economia nacional e proce-de-se a privatização de terras. O modelo dasgrandes roças é substituído pelas pequenasparcelas numa tentativa de criar um novocampesinato, aumentar a produtividade ediversificar a economia agrária. O paisabre-se ao investimento estrangeiro e refor-mam-se os sistemas financeiro e fiscal.

As reformas empreendidas não atingemos objectivos desejados. Continua-sedependendo do cacau, que constitui 96%das exportações, as actividades económicasnão relacionadas com o sector primáriodepende basicamente de projectos comfinanciamento externo. A base industrial émuito débil, limitando-se a algumasempresas de energia e manufacturas quegeram 5,5% do PIB, a construção com13,8% do PIB. O comércio, transporte, osector bancário e o turismo contribuem com39,3% e a Administração Pública com 22%.O país tem uma das maiores dívidas percapita do mundo avaliada em mais de 700%do PIB. Associado ao frisado anteriormenteadiciona-se uma progressiva depreciaçãoda moeda e aumento considerável da taxade desemprego que atinge os 35%.

As mudanças sociais e culturais nestesúltimos 25 anos não são menos importan-tes. As políticas educacionais e sanitáriasdesenvolvidas fizeram melhorar conside-ravelmente os indicadores sociais associa-dos, todavia existem períodos pontuais deestancamento ou retrocesso.

O analfabetismo passa de mais de 40 % a17%. A extensão da educação escolar éapre-ciável, duplicando-se o número deanos da média de escolaridade nos maioresde 25 anos.

Não obstante os resultados alcançados,nem todas as mudanças são positivas. Oorçamento do Estado dedicado ao sector daeducação, reduziu-se em 40% nos últimos10 anos, como consequência da desvalori-

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13Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

A mudança

zação da Dobra, a redução dos rendimentosprovocados pela diminuição do volume deprodução e do preço do cacau, assim comodos efeitos do programa de ajustamentoestrutural que não contempla um programasocial paralelo que mantenha os resultadoseducacionais positivos.

Todavia o mais preocupante é a contínuadeterioração da qualidade do ensino, queparece ter entrado num ciclo vicioso. Asduras condições do ensino (falta de salas,materiais, salários, etc.) e as restriçõesorçamentais não estimula os professoresmais qualificados que são substituídos porprofessores com pouca ou nenhuma quali-ficação que por sua vez formam mal os alu-nos que convertem em professores com máqualidade que formam alunos cada vez piorformados. A tudo isso soma-se a insuficiên-cia do nível superior de ensino.

A esperança de vida continua muito altaem comparação com a grande maioria dospaíses subsaarianos, mas mantêm-se pro-blemas muito importantes por resolver, emespecial o paludismo. 72% dos doentes noscentros sanitários são motivadas por estadoença, que é a primeira causa da mortali-dade. A tendência da redução da mortalida-de infantil inverte-se desde 1966 passandoem um ano de 50 por mil a 65 por mil.Também vai-se diminuindo a capacidadede combate contra a difteria e pólio nestesúltimos anos e 17% dos menores de 5anossofrem de mal nutrição, causa subjacentede 13% da mortalidade infantil. Também setorna pior a aquisição e distribuição demedicamentos.

Uma notável mudança social é experi-mentada pelos numerosos residentes dasroças que estão no processo de se converte-rem em pequenos proprietários, campone-ses ou em população urbana, sem quetodavia esteja clara a sua posição final. Oque parece evidente é que uma quantidademuito considerável dessa população outro-ra encerrada nesses micro-mundos,engrossa hoje o principal colectivo queprovocou um rápido crescimento da capi-tal. A tentativa de controlar a emigração docampo para a cidade enfrenta-se com asituação económica mencionada no mundorural. Os que continuam nas antigas roçasvão organizando-se em associações, , esti-mulados com frequência pela cooperaçãointernacional e os projectos apoiados paraviabilizar o desenvolvimento rural. No

Projecto de Luta contra a Pobreza que é tra-tado com detalhe neste Relatório, podepermitir apreciar as mudanças ocorridasneste sentido.

A família sofre um processo de recom-posição marcante para se adaptar às novasrealidades sociais e económicas. Se é ver-dade que o sistema de parentesco tradicio-nal santomense - caracterizado pela poliga-mia masculina, alta incidência de uniões defacto e relações de visita, grande mobilida-de nas uniões domésticas e na composiçãodos agregados familiares - se mantém, étambém verdade que as relações de solida-riedade e de entreajuda dele decorrentes sefragilizam, como consequência da pressãoprovocada pela crise económica e peloalastramento da pobreza. Os deveres e obri-gações masculinas tornam-se mais ténues,aumentando ao mesmo tempo a importân-cia económica e social das mulheres nointerior das redes extensivas de parentesco.Constituída na sua essência por simplescoabitação (em 1991 apenas 6% da popula-ção com mais de 15 anos estava legalmen-te casada) e sujeita aos efeitos de uma poli-gamia masculina que, em muitos casos,está na base do aumento do número delares liderados por mulheres, as famíliassantomenses são cada vez menos famíliasalargadas (os tradicionais quintés glangjisestão a desaparecer) e cada vez mais famí-lias monoparentais, onde a importância dospapeis masculinos tende a esbater-se.Como resultado, são as mulheres quem,hoje em dia, asseguram uma parte signifi-cativa das responsabilidades ligadas à edu-cação e subsistência dos filhos. Se pensar-mos que o número de filhos por mulhercontinua a ser elevado (5,4 em 1991), com-preendemos porque motivo estes laresmonoparentais são um dos sectores maisvulneráveis à pobreza.

A miragem da cidade como centro propi-ciador do emprego e outras mais valiasausentes do mundo rural contribui tambémpara alguma perca de importância da famí-lia tradicional, fortemente hierarquizada eassente num sistema de valores ligados àconsanguinidade, à terra e à tradição.Indivíduos deslocados, desenraizados,afluem em grande número à capital e arre-dores (a população urbanizada passa de 6%em 1960 para 42% em 1992 e 45,9% em1998). O sentimento de individualismogerado por uma conjuntura de crise econó-

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14 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

A mudança

mica acaba por contribuir para esbater opapel de socialização e controlo que atéentão cabia à família. As pessoas viram-seobrigadas a multiplicar os seus esforçospara poderem assegurar a subsistência.Preocupados com a busca de sustento, ospais são obrigados a abandonar o lar duran-te todo o dia. Como consequência, deixoude haver tanto tempo para a família, o queprovocou o surgimento de fenómenosnovos, como os meninos da rua, e o agra-vamento de outros, como o trabalho infan-til ou a exclusão social dos idosos (em 1991mais de 2000 idosos vivem sozinhos; asituação entretanto agrava-se substancial-mente, com o consequente aumento doscasos de intolerância e acusação de feitiça-ria).

O papel dos jovens no interior das estru-turas de parentesco é também afectadopelas mudanças globais que se produzemna sociedade santomense. O "sentido defamília", expresso por um conjunto demaneiras de agir, de pensar e de sentir,transmitidos ao longo das gerações enquan-to herança cultural colectiva, é de algumaforma abalado, e eles sentem-no. A altera-ção do sistema de valores e das normas deconduta dá assim lugar ao aparecimentoentre os adolescentes de comportamentosde um novo tipo - individualismo crescen-te, com quebra de alguns padrões de soli-dariedade e entreajuda no interior das estru-turas de parentesco; valorização do sucessopesssoal, em detrimento do sucesso fami-liar; desprendimento em relação às tradiçõ-es.

A independência do país traz, no entan-to, consigo uma mudança lenta mas signi-ficativa no status dos diversos grupossociais em S. Tomé e Príncipe, devidasobretudo à massificação do ensino e àconsagração da igualdade dos cidadãosperante a lei. Na última década, a privati-zação e distribuição de terras aos trabalha-dores das antigas roças, independente-mente da sua origem, contribui tambémdecisivamente para esbater o sentimentode desprezo pelo trabalho agrícola porparte dos forros e fomentar o contactoentre os diferentes núcleos da população.O êxodo rural, as migrações internas e acrescente urbanização da população acen-tuam ainda mais esta tendência, provocan-do uma crescente interpenetração entre asdiferentes comunidades que compõem o

mosaico cultural santomense. Hoje, se jánão faz sentido falar numa "comunidadetonga", começa igualmente a fazer cadavez menos sentido falar numa "comunida-de caboverdeana " de segunda ou terceirageração.

Se há de facto, na última década, umamudança cultural de verdadeiro impacto esignificado no tecido etno-cultural santo-mense, não restam dúvidas que é o esbati-mento quase completo do fenómeno"gabon", enquanto barreira que separa ossantomenses e remete para um estatutosocial inferior os antigos serviçais e seusdescendentes. A grande mobilidade socialpromovida pelos factores atrás assinaladostraduz-se numa progressiva aproximaçãoentre a comunidade forra e as outras comu-nidades, facto que pode , aliás, ser compro-vado pelo trabalho comum realizado anível agrícola e pela cada vez maior inci-dência de famílias mistas.

Cumprindo o seu destino de "naçãocrioula", onde se misturam sangues dediversas proveniências, S. Tomé e Príncipeprepara-se para integrar completamente nasua cultura a última grande vaga vinda dealém-mar - a dos contratados e serviçaisdas grandes roças do cacau e do café.

Outro aspecto do contexto socio/culturalde S. Tomé e Príncipe, de certo modo rela-cionado com anterior, a merecer destaquenesta década consiste no surto migratóriovindo da costa africana.

Como que a reeditar um passado degrandes contactos com o continente, a S.Tomé vêm acorrendo, atraídos pelo relati-vo sucesso do comércio informal centradona feira do ponto e arredores, pequenoscomerciantes Nigerianos, Gaboneses,Camaroneses, Costa Marfinenses, Sene-galeses e de outras nacionalidades, cujapresença, não obstante a sua reduzidaexpressão do ponto de vista numérico, estájá na base de determinadas mudanças cul-turais no xadrez sociológico santomense -no vestuário (os panos e trajes africanos),na música (os ritmos do continente), noartesanato (as esculturas, os jogos tradicio-nais), etc. É um fenómeno de aculturação e"reinterpretação cultural" absolutamenteinevitável quando um povo enceta um pro-cesso de abertura ao exterior.

O mesmo se passa em relação à emigra-ção santomense em Portugal.

No plano cultural, S. Tomé e Príncipe

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A mudança

sempre esteve a meio caminho entre aEuropa e o continente africano; consequên-cia da tradição histórica, o ContinenteEuropeu sempre serviu de ponte privilegia-da para a transferência de valores culturaise padrões comportamentais. Ora, esta"aproximação psicológica" à Europa, conti-nua a ser muito intensa hoje em dia - não sópelo facto de muitos dos membros daactual elite político-administrativa teremestudado em Portugal, como também devi-do ao crescente retorno sazonal dos emi-grantes santomenses radicados em Lisboa eoutras cidades portuguesas. Novas tecnolo-gias, formas de construção, modas, músi-cas, danças e hábitos de consumo, chegamna bagagem desta gente que regressa dequando em quando, para matar saudades daterra e rever os familiares.

Uma outra mudança visível se verificanos últimos anos: a liberdade e a tolerânciadecorrentes do processo democrático ini-ciado em 1990 tiveram assinalável reper-cussão na prática religiosa em S. Tomé ePríncipe, o que se traduz no irromper denovas confissões religiosas, quase todas deinspiração cristã.

De facto, a acrescer às confissões católi-ca, adventista e evangelista, de longa tradi-ção na sociedade santomense - as duas últi-mas introduzidas inicialmente nas roçaspor trabalhadores da Serra Leoa, contrata-dos logo após a emancipação dos libertos(1875/1876) e prosseguidas nas primeirasdécadas deste século por serviçais vindosde Angola - assiste-se ao incremento daprática religiosa pelo advento de novasigrejas (Maná, Nova Apostólica, Reino deDeus, Ba'ha, Aprofundamento Cristão,Testemunhas de Jeová, Assembleia deDeus, Deus é Amor, etc) que, usufruindo daliberdade de culto, se vêm implantando nopaís como resposta ao desânimo e às per-plexidades provocadas pela crise económi-ca e social.

O carácter recente do fenómeno e aescassez de dados disponíveis torna,porém, difícil discernir quais são - na ópti-ca das mudanças de comportamento e dassuas implicações no desenvolvimentohumano - as consequências para o tecidosociocultural santomense dessa prolifera-ção de cultos e mensagens religiosas.

Sociedade de raiz antropológica europeiae africana, a prática do catolicismo veicula-da no passado pelos missionários europeus

confronta-se também, desde os seusinícios, com o vigor das práticas animistasde que eram portadores os escravos africa-nos. A religião católica é assim, desde osprimeiros tempos, "forçada" a adaptar-se aessa realidade, o que acaba por se traduzirnum sincretismo enriquecedor com outraspráticas e cultos de raiz tipicamente africa-na. Vêm-se, porém, desvanecendo, sobre-tudo na última década, alguns aspectosimportantes desse sincretismo mágico-reli-gioso, como o pagá-devê e o flecê, rituaisfortemente socializadores e com grandepopularidade no passado recente.

Refira-se por último as práticas feiticis-tas e xamanistas cada vez mais popularesno país, cuja difusão tem aumentado narazão directa da progressão da crise econó-mica e social. De facto, se estes rituais sem-pre constituíram peça importante do uni-verso cosmogónico santomense, a verdadeé que o seu actual incremento é típico deum contexto sociocultural abalado pelacrise económica e pela rápida erosão dosvalores tradicionais. Se alguma coisa corremal isso deve-se cada vez mais, no imagi-nário colectivo santomense, à feitiçaria. Ese dantes o recurso às práticas ocultas ou àparticipação no djambi (ritual de xamanis-mo oriundo de Angola) era quase exclusivodos substractos sociais de menor visibilida-de, é hoje incontestável que se incrementao número de indivíduos pertencentes aosescalões superiores da sociedade quedemandam os stlijons, os fiticêlos ou osterreiros de djambi.

A comunicação social tem um papeldeterminante nas mudanças ocorridas apartir de 1990 em S. Tomé e Príncipe. Podemesmo dizer-se que a rádio e a televisão -se nos ativermos à insipiência da empresaescrita santomense enquanto factor mode-lador da sociedade - estão na base da aber-tura ao mundo exterior, fazendo sentir a suainfluência em todos os aspectos da vidasocial.

Pese embora as limitações de naturezahumana e material com que vêm há muitoconvivendo e cujos reflexos condicionam aqualidade dos seus programas, os citadosórgãos de comunicação social contribuemsignificativamente para a integração de S.Tomé e Príncipe no cenário mundial, paraalém de se terem vindo a assumir comoveículos de mudança por excelência, con-cedendo espaço a novas ideias e motivando

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A mudança

a participação dos cidadãos no processo demudanças políticas e económicas.

A multiplicidade e a diversidade dosorgãos de comunicação surgidos nasequência da democratização concorrempara fomentar a pluralidade de opiniões nasociedade santomense, para além de teremfavorecido uma maior aproximação aomundo, bem como uma melhor compreen-são do processo de crescente interdepen-dência dos povos e culturas, provocadopela expansão das tecnologias da informa-ção e das redes de comunicação mundiais -a globalização.

Toda esta sucessão de mudanças provo-ca para além das relações concretas deriva-das pela melhoria ou não nos diferentescampos, um apreciável grau de mal estarcolectivo, perante a dificuldade de assimi-lar, controlar e dirigir a Mudança que noseu conjunto supõe todo o anterior.

Ligado a esse incómodo partilhado está aincerteza das expectativas sobre o futuro ea aceleração progressiva das mudanças emcurso, pois STP vê-se imerso, de formaaparentemente inevitável, no mencionadoprocesso de globalização.

A recente descoberta do petróleo e a suaexploração vai acentuar mais a conexãocom o exterior. A chegada de companhiasestrangeiras, do pessoal parte do processo,os movimentos de capitais necessários e aabertura de novos serviços associados pare-cem operar neste sentido.

Por sua parte a cooperação internacionalcontinua disposta a ajudar o país nos novosdesafios, ao mesmo tempo que tentarámanter a sua influência em função da suaparticipação chave no processo de desen-volvimento económico do pais.

As novas tecnologias, cada vez maisvisíveis e disponíveis em STP, vão permitiraos seus usuários um mundo maior commais possibilidades e opções desconheci-das. O avanço relativo destas comunicaçõ-es em relação a África subsariana marcaráuma diferença a favor dos santomenses,mas ao mesmo tempo ira ser mais cons-ciente as limitações económicas e as difi-culdades de participar em boas condiçõesnesse mundo de novas ofertas que se apre-sentam, o que poderá gerar frustrações.

A previsível integração regional, tendoem conta a experiência das áreas económi-cas e se quiser aumentar as oportunidadespara STP, exigirá também novas e melho-

res capacidades humanas, económicas einstitucionais para competir adequadamen-te, de contrário, a integração será aprovei-tada mais pelos demais membros do blocoque pelos santomenses interessados.

A constituição de uma zona franca e umacentuado desenvolvimento do turismotambém provocará o aumento das mudan-ças e a necessidade de enfrentar os efeitosprevisíveis o mais cedo possível.

Estes feitos apresentam-se de forma des-ordenada e não tão controlada como se des-ejaria. A grande questão que se põe é saberse STP, a sua sociedade, as suas instituiçõ-es, a sua gente poderão enfrentar os des-afios derivados de todas estas mudanças ouserá a dinâmica própria da mudança quetransformará a sociedade, a economia, apolítica e a cultura de STP sem a necessi-dade de uma intervenção endógena.

O presente Relatório de Desenvolvi-mento Humano pretende contribuir para areflexão sobre o grande fenómeno daMudança num país como STP, partindo nãosó da sua conjuntura política, económica esocial, como também da sua identidade cul-tural e as opções abertas de reconfiguraçãopara ajustar-se a um mundo que se globali-za e facilitar melhor o desenvolvimentohumano.

Sendo o Programa das Nações Unidaspara Desenvolvimento o principal impul-sionador desta reflexão, os grupos maispobres e vulneráveis constituem a máximaprioridade, pelo que a analise e as oportu-nidades que se apresentam e os cenários noqual poderão vir a desenvolver-se tomamsempre em consideração a visão destescolectivos e os efeitos dos processos sobreos mesmos.

O Relatório esta dividido em oito capítu-los que mantêm entre si uma relação orde-nada, mas, poderão ser lidos de forma inde-pendene.O capítulo 1 é a presente introdu-ção que pretende-se expôr o problema cen-tral do Relatório.

Parte da posição de STP como um paísemergente enfrentando um processo deMudança geral, manifestado em múltiplasmudanças pontuais, que contrasta de formamuito visível com uma assombrosa conti-nuidade da sua historia comum antes daIndependência. Nesta primeira apresenta-ção das mudanças concede-se principalrelevância aos aspectos socioculturais peloenfoque privilegiado que o mesmo tem

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A mudança

neste Relatório e que está associado àimportância que pensamos ter a cultura noproblema de mudanças em STP. Esta intro-dução sociocultural facilita também umainformação básica para se poder abordar ocapitulo 2, dedicado a identidade cultural.

Uma vez apresentadas as mudanças maissignificativas, perfilam-se as que surgirão acurto prazo, devido aos processos internose externos em curso. Coloca-se à continua-ção a questão básica relativa aos actores ouactor que devera enfrentar estas mudançase tratar de orientá-las na direcção desejada,no suposto de serem assim, pois existe apossibilidade real de que as mudanças pos-sam suceder segundo uma dinâmica fora docontrolo dos santomenses.

O capítulo 2 aborda duas questõesessenciais:1) A complexidade das tensões existentes

entre uma sociedade cultural forjadadurante séculos pelo domínio colonial eas circunstâncias muito restritivas para osantomense comum emergido no mundodas roças e possibilidade de uma novaidentidade a partir das procuras surgidasna nova conjuntura;

2) o país possível que pode surgir dasMudanças e o perfil identitário associa-do, partindo da hipótese de que aindaexiste a possibilidade real de construir-seuma nova identidade como a sociedade ecomo o país, no qual o desenvolvimentohumano desempenha um papel funda-mental, mas também é factível pensarnum cenário que gera uma nova identi-dade apoiada numa profunda desigualda-de de oportunidades e capacidades quesempre marcou a historia de STP.O capítulo 3 debruça-se sobre as

mudanças políticas e económicas maisrecentes para que se possa dispor de ummarco objectivo desde uma aproximaçãodiacrónica.

Depois de se fazer uma breve referênciaao período de transição e a evolução daPrimeira República, analisa-se com maisprofundidade as principais reformas insti-tucionais da Segunda República, a transfor-mação de STP num Estado de Direito e oprocesso de ajustamento a uma economialivre de mercado. Faz uma revisão dosprincipais problemas económicos e os indi-cadores básicos nos últimos 10 anos e dedi-ca uma especial atenção a reforma agraria eos seus primeiros efeitos sociais e econó-

micos sobre a população rural.O capítulo 4 apresenta um perfil de des-

envolvimento humano de STP o mais geralpossível, tendo em conta a limitação dosdados disponíveis.

Em primeiro lugar expõem-se as caracte-rísticas mais salientes deste desenvolvimen-to, em comparação com outros países,situando-o com as novas medições no nívelde DH médio. Desagrega-se as componen-tes do Índice de Desenvolvimento Humano(IDH) para mostrar as particularidades deSTP, que dispõe de uma privilegiada situa-ção relativa a esperança de vida e a educa-ção, mas marginal no seu nível de vida. Emsegundo lugar reflecte-se com uma aproxi-mação diacrónica, as mudanças no DH pro-duzidas nos últimos vinte anos, facilitandoassim as tendências mais claras. Uma ter-ceira parte está dedicada à análise dasiniquidades e os níveis de pobreza existenteno país, partindo da importância dos gruposmais desfavorecidos para um estudo destascaracterísticas. Utiliza-se um enfoque depobreza de capacidade. Por ultimo sugere-se algumas linhas que deveriam ser respei-tadas com o objectivo de melhorar o DH ereduzir as iniquidades detectadas.Os doiscapítulos seguintes são sobre os estudos decasos dirigidos a reflexão sobre a realidadeda mudança desde distintas perspectivas eposições, dedicando-se um peso específicoa subjectividade da mudança a partir davisão dos actores sociais envolvidos.

O capítulo 5 é um estudo realizado nacapital de S.Tomé, como modelo dasmudanças no mundo urbano.

A diferença do caso rural, aqui parte-sedas estratégias populares de luta contra apobreza, com pouca intervenção dos pode-res públicos e ausência total da cooperaçãointernacional, principal investidor e agentedo desenvolvimento de STP. A analise per-mite aprofundar na percepção dos actoressociais sobre as mudanças que estão suce-dendo, o futuro que se avizinha e a formacomo se enfrenta a situação de incertezatão marcada; tudo isso desde uma posiçãomarginal dessas pessoas. Neste estudo ovalor da cultura reflecte-se em situaçõesreais e de mesmo modo que se ilustramproblemas da luta diária associada ao pro-cesso de mudanças (por exemplo, a rápidae desordenada emigração do campo para acidade) permitindo desta maneira penetrarnas formas de se enfrentar estas mudanças.

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A mudança

É um bom exemplo da importância da cul-tura na Mudança, observada a partir daspessoas afectadas.

O capítulo 6 incorpora no Relatório osque emigraram de STP para terras portu-guesas.

Pressupõe um esforço adicional parasituar os migrantes no centro do DH já quetranscendendo pontualmente o caso santo-mense, o desenvolvimento humano é de epara as pessoas, independentemente dolugar onde residem. Num mundo em que omovimento das pessoas é caca vez maiornão se pode continuar a apresentar o graude desenvolvimento de cada país excluindoos seus emigrantes.

A distancia relativa de STP permite-nosabordar as Mudanças sem a percepçãoimediata e visível dos que vivem no país.Por outra parte o peso do estudo recaisobre alguns profissionais qualificadosque se encontram emersos num mundoeuropeu, pelo que poder-se-ia abrir novasvias para uma reflexão aproveitando a suaactual intenção.Três propósitos funda-mentais pretende este trabalho: em primei-ro lugar conhecer a visão dos emigrantessobre o futuro de STP, tratando de apreciar

os actores e os factores mais relevantespara as mudanças e o DH; em segundolugar, tentar entender a sua relação comoutros santomenses e com STP e a possí-vel participação no seu futuro; terceiro,compreender melhor STP e os santomen-ses, sobretudo a sua cultura a relação deestes com as mudanças.

O capítulo 7 recolhe uma série de pro-postas a partir das ideias geradas tantopelos estudos mais gerais como pelo trêsestudos particulares.

Não se pretende emitir conclusões defi-nitivas dada a complexidade dos problemasque se apresentam em relação àsMudanças, mas sim abrir um espaço e pis-tas de reflexão que facilitem o confronto deuma conjuntura real iniludível que possi-velmente afectará de maneira profunda ofuturo dos santomenses.

O Relatório termina com a bibliografia eos anexos, que reúnem os detalhes metodo-lógicos de cada uma das investigações rea-lizadas e os quadros sobre os diversos indi-cadores ligados ao desenvolvimento huma-no (actualizados na medida do possível,considerando as muitas limitações existen-tes em STP).

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Identidade culturale desenvolvimentohumano

IntroduçãoA conjuntura das sucessivas e rápidasmudanças descritas de forma sucinta nãopode ser enfrentada se não a partir da deci-são dos próprios santomenses tendo emconta a sua identidade cultural.

É necessário precisar que não se entendeidentidade cultural como uma exacerba-ção de determinados rasgos culturais atri-buídos a um colectivo que precisaria delespara a sua existência (o costume românti-co relativo ao décimo nono), tão enraiza-do nos nacionalismos europeus). Pelocontrário, parte-se de uma concepçãomuito mais aberta na qual os povos cons-troem e negoceiam permanentemente asua identidade cultural, podendo estevariar em função de factores complexos.Neste sentido pode-se destacar que pare-cem desempenhar um papel muito signifi-cativo nas imagens mútuas (de grupos-povos implicados), as expectativas deinteracção e, sobretudo as aspirações parao futuro. De acordo com o anterior, o factode querer e chegar a ser um colectivo deuma determinada maneira ou de adaptar-se a modelos específicos, induz a reduçãoda visibilidade de alguns rasgos- os quemais obstaculizam a aproximação aoobjectivo - enquanto que os outros adqui-rem uma presença considerável - pela suaconcordância com o desejado -.

Esta forma de conceber a identidade resul-ta operativa nos casos aplicados (no casoconcreto deste estudo) por permitir a apro-ximação dela desde uma visão dinâmica eflexível das modificações que de facto oco-rrem em toda a identidade, sem que impli-que necessariamente a sua perda.

O que é verdadeiramente importante ter emconta é que a identidade colectiva ligada acultura pode constituir um apoio chave ouum profundo problema para abordar amudança, dependendo da coincidência masou menos significativa entre ambos. Se aidentidade cultural, entendida de formadinâmica, aproxima-se do perfil que adqui-re a mudança, será muito mais plausívelajustar a identidade e os processos vincula-dos a mudança. Se a identidade culturaldistancia-se do sentido da mudança é pre-visível a existência de maiores dificuldadese conflitos de índole diversa que podemreorientar tanto a mudança como a identi-dade.

Qual é a situação em STP?Coincidência, aproximação,distanciamento, debate?

Sem poder fazer afirmações acabadasdada a complexidade dos fenómenos eprocessos em curso, pode-se afirmar queSTP experimenta uma dura tensão entreuma identidade apoiada num padrão histó-rico de longa duração e outra nova identi-dade induzida a partir de padrões quequestionam essa versão tradicional. Masseria precipitado situar ambas numa posi-ção de força similar ou aproximada, nãosendo previsível um conflito aberto ime-diato e uma reorientação que seja conse-quência disso. Nesta perspectiva, poderexpor o problema com antecedência podeser um privilegio que deve-se aproveitar,pois que dentro de alguns anos, talvez oconflito seja virulento e com poucas opçõ-es para reflexões.

Passemos a expor em primeiro lugar ambos

Para efeito desteRelatório deDesenvolvimentoHumano em STPpretende-se afirmar arelevância de partir daidentidade culturalpara melhorar o DH sea ter a determinadaspautas tradicionais,mas sim naquelas emque os santomenses seidentificam comodiacríticos para aidentidade que desejamassumir. Esta poderácoincidir ou não comuma ou outracaracterística dopassado seleccionadocomo o maisrepresentativo "dopróprio".

CAPÍTULO II

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modelos para facilitar a compreensão dasidentidades em jogo.

O padrão histórico tradicional encontra-seprofundamente ligado a um sistema deroças que é preciso explicitar.

A roça é, na sua origem, uma unidade deprodução, mas ao mesmo tempo desenvol-ve-se como o espaço onde o sistema socialé construído na base dos que chegaram aum local em princípio estranho.

O processo de decadência do sistema demonocultivo do açúcar ao longo do séculoXVII e a sua substituição por um outrobaseado em vários cultivos de subsistênciafaz com que a roça deixe de ser a antigaunidade de produção, mas continue a ser omodelo de referência social, inclusive noprocesso de urbanização do século XVIII1.O cultivo do cacau desde o século XIXvolta a fazer recuperar todos os seus valo-res iniciais.

Esta vivência antecipada da roça comoentidade de referencia social, política eeconómica manifesta-se em última instân-cia numa cultura forjada em relação a estaantiga tradição. Esta cultura não fica res-tringida a esse âmbito rural onde se desen-volve pois que se difunde no conjunto dossantomenses, incluindo os que vivem nascidades. Isto não implica como é lógico,que as atitudes e visões em relação a essacultura e o sistema de origem rural associa-do sejam similares entre os sectores sociaise grupos étnicos. Como em qualquer outrolugar convivem formas distintas de pensare de reflectir sobre si próprio, mesmo com-partilhando o sistema simbólico que dásentido e faz possível a comunicação.

As características que mais se destacamneste padrão histórico que serve de referên-cia comum são: 1. A criação e reprodução de relações de

solidariedade constituídas através de umintercâmbio desigual de favores entre ospatrões e os antigos escravos em primei-ro lugar e os assalariados depois. Estalógica de solidariedade encontra-se emSTP estreitamente ligada ao estabeleci-

mento de um sistema económico basea-do numa mão-de-obra completamentedesenraizada. Levados a força para onovo território produz-se uma perda dasreferencias físicas, sociais e simbólicas,traduzindo-se numa desintegração da suaanterior identidade pessoal e colectiva.Como explica Caldeira2 os que chega-ram a STP perderam até o seu nome pró-prio e a língua e tentam aculturar-sesegundo modelos europeus, produzindouma brutal reconstrução de uma identi-dade. As tentativas de reconciliação pro-vocam constantes fugas e revoltas duran-te séculos, mas os que permanecem nasroças vêm-se obrigados a reconverterem-se, procurando apoio em quem possagaranti-lo. Por outro lado, os que ocupamposições privilegiadas neste sistema dasroças, sejam portugueses ou mestiços,podem também beneficiar-se, contandodesta maneira com uma mão de obraestável e controlada, aumentando a suaprodutividade e o seu poder. Este padrãopassa assim a exercer uma função deconstrutor e garante da ordem social, quese tem conservado ao longo dos tempos,e difundindo-se entre os sectores locaislibertados que foram ocupando lugaresno poder.

2 O exercício de mediação por parte dosque ocupam o poder simbólico entre ariqueza produzida e a gente comumimersa nos intercâmbios de favores.Vinculado ao estabelecimento de um sis-tema de apoio mutuo, mas desigual, é alógica de admitir a acumulação por partedaquele que se encontra na situação depoder. Não estamos falando dos meiosconvencionais de acumular riquezanuma economia livre de mercado mas deaproveitar essa posição privilegiada, parautilizar os recursos colectivos e públicospara enriquecer, sem ter em conta crité-rios de propriedade publica ou privada,nem de produtividade, competitividade,mercado etc. O poder de acumulação éassegurado pela posição privilegiada quese ocupa e que está legitimada social-mente pela reprodução desse papel e pelafunção redistribuidora de quem o exerce.Quer dizer, acumula-se, mas distribui-se,de maneira a aumentar o estatus e aomesmo tempo reproduz-se o modelosocial, dotando-o de coesão, pela aceita-ção dessa lógica. Esta forma de conceber

1 Ver Caldeira, 1999:722 Ver Caldeira, 1999:72

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a relação com a coisa publica e a suamanipulação choca frontalmente com oconceito de Estado e de serviço publicoque opera nos Estados modernos.Entretanto, não é uma peculiaridade deSTP, na medida em que se encontraenraizada em outros lugares de África,pelo que o seu desenvolvimento localnão deve necessariamente a resultadosde valores diferentes dos levados paraestas ilhas. Por outro lado, o conceito deEstado moderno não corresponde às for-mas políticas existentes em África antesda época colonial e, talvez se perceba deuma forma muito distinta aos europeusda denominada função pública.

3 O estratagema de constituir alianças entreos investidores estrangeiros e o patrona-to local com o objectivo de canalizarbenefícios próprios para o exterior dopais e gerar novos recursos a partir doexterior. É um facto, que uma grandeparte dos recursos dos patrões locais dospaíses da África Subsariana, podemobter está muito condicionados peloinvestimento estrangeiro. Se esta afirma-ção é valida para a maioria dos paísesdesta parte do continente, muito maisainda é para STP. Realmente nenhumsector poderia funcionar na actualidadesem esse investimento estrangeiro, mastambém no passado não o podia fazer,pois que a própria formação do país rea-liza-se por e para expatriados, que nãotinham interesse em dotar o actual paísde uma estrutura económica solida e umaadministração eficiente. Parte-se de prin-cípio que nem os escravos, nem os servi-çais pode acumular seja o que for paraalém de que os mais privilegiados utili-zam o seu capital para diversificar a eco-nomia, desenvolver um sistema bancáriolocal e criar uma mão de obra local qua-lificada. A saída da mão de obra qualifi-cada portuguesa e o seu capital, a quaseque anulam a a possibilidade que se apre-senta dos santomenses viabilizarem opaís sem apoio exterior. Esta evidênciafacilita as novas relações e confirma deforma inequívoca o peso do investimen-to estrangeiro no desenvolvimento eco-nómico do país, ao mesmo tempo queconsolida o poder dos que formam asnovas alianças. Um dos resultados é umpaís muito dependente do exterior, com asegunda dívida externa per capita mais

elevada do mundo, um PIB formado emmais de 90% por investimento estrangei-ro e uns padrões muito fortalecidos emtodo o processo.

4 Converter o forro no representante deSTP, usufruindo dos seus direitos históri-cos, afastado do resto dos grupos étnicosque têm uma associação unívoca com otrabalho agrícola. STP é um país resul-tante de uma amálgama de povosgenteschegadas fundamentalmente de diversaspartes de África, desde o seu descobri-mento até a actualidade. Áreas corres-pondentes aos actuais Golfo de Benin,Angola, Moçambique, Cabo Verde eGabão - fazendo referência aos contin-gentes mais signifícativos, mas sem apretensão de generalizar - forneceramum número considerável de pessoas quepassaram a formar parte do tecido etno-cultural sãotomense. Mas a lógica danegociação das identidades é diferente daexposição fria dos feitos e a pertença ounão de um grupo a uma categoria não sedefine em si, mas sim por relações entretodas as partes implicadas, outros facto-res mencionados tais como as expectati-vas e as imagens mútuas e fundamental-mente a posição face ao símbolo dopoder. No caso sãotomense os forrosconstituem por si próprios, povo autócto-ne, representante de STP, em função deuma origem mais antiga, que alguns che-gam a situar antes da chegada dos portu-gueses, embora nada até hoje demonstreinequivocamente esse povoamento ante-rior existisse. Para efeitos de identidadepouca relevância tem a demonstração,mas sim o acto de excluir outros gruposda condição de representantes de STP.Esta deslocação até aos limites, especial-mente dos denominados "tongas" - filhosdos trabalhadores contratados de Angolae Moçambique - parece surgir do desejodos forros de desvincularem de qualquerassociação com a escravatura. O trabalhoagrícola executado nas roças está na ima-ginação do forro ligado a escravatura e,para além desta consideração, a mudan-ça jurídica de escravo a contratado nãoanula a associação simbólica de origem.Esta digressão e reflexão pode permitirentender um pouco melhor a razão queleva os forros a se erigirem como repre-sentantes de STP e a razão históricadesse afastamento do resto dos grupos.

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5 Representar a virilidade através da poli-gam e de maior número possível de fil-hos. Uma das características mais repre-sentativas do modelo tradicional em STPé o relativo ao sistema de parentesco. Emprimeiro lugar por ter sido capaz de man-ter sem alterações significativas atémuito recentemente, o que facilitou asua utilização como sinal distintivo. Emsegundo lugar pela estreita conexão entreo clientelismo e o sistema de parentesco.Do ponto de vista descritivo e explicadode forma sucinta este sistema baseia-senuma rede extensa de apoio mútuo, cons-truída a partir da poligamia e de umafamília extensa que absorve uma grandequantidade de membros que se unempor vínculos simbólicos. Estes vínculosprocedem das relações de solidariedadeconstruídas em torno do clientelismo,que transcende o intercâmbio meramentematerial e estende-se à representaçãosimbólica do próprio e do alheio. Isto é,aqueles que fazem parte deste sistemapassam a ser membros, por afinidade, deuma família, a que devem lealdade ecooperação, mas de que recebem segu-rança e assistência específicas. A virilida-de inscreve-se nesta lógica proporcio-nando numerosos membros a essas famí-lias e reproduzindo um determinadomodelo de organização social em que oshomens situam-se nas posições do sím-bolo do poder e as mulheres vão sesituando em função da relação estabele-cida com os homens, que fundamental-mente é de esposa, união de facto ou derelação de visita. Deve-se sublinhar queesta posição simbólica não correspondenecessariamente à posição económica,pois pode acontecer que as mulheresconservem a sua situação económica,enquanto os homens a percam em con-junturas como a actual. São numerososos lares mantidos por mulheres, que dei-xaram de receber mesadas dos pais dosseus filhos. Estas características constru-ídas ao longo dos séculos e ainda vigen-tes até ao presente parecem reproduziruma cultura assente em lógicas muitorígidas de relações de poder. Cada carac-terística pode ser entendida respectiva-mente também como a expressão derelações sociais, políticas, económicas,entre etnias e sexuais de poder. Todas,consideradas conjuntamente, constituem

o sistema simbólico referencial apoiadona tradição.

Que Futuro?Perante o peso da história e a tradicionalconstrução do sentido são apresentadosoutros rasgos que o questionam e quepodem ter influência nas mudanças emcurso e sobretudo, nas que estão por vir:1. Os mesmos santomenses que ocupam

uma posição privilegiada, na perspectivasimbólica, começam a estar conscientesdos problemas de enfrentar as mudançasde uma cultura que se poderia denominarde intercâmbio desigual do "senhor" oude clientelismo. Este sistema parece-lhesincapaz de proporcionar uma soluçãorazoável à médio prazo, pelo menos nascondições actuais. O sistema de roçasque serviu durante tanto tempo de refe-rência simbólica básica e de espaço pri-vilegiado de organização social e econó-mica está a passar por profundas mudan-ças nas suas dimensões social, económi-ca e política.Como se sabe, STP temvindo a ser um país de monocultura,embora se perceba que a viabilidadeeconómica seja impossível a médioprazo. Nem a estrutura económica inter-nacional, nem os preços do cacau abremopções realistas de continuidade. O pro-cesso de privatização de terras e os ren-dimentos decrescentes das antigasempresas rurais confirmam estefacto.Para além disso, já se produziu umforte êxodo para a cidade, que não pare-ce vir a interromper-se, pelo que o antigomodelo de uma grande maioria vivendonos seus micromundos das roças já nãoexiste. Por outro lado, as comunicaçõespossibilitam a abertura dos espaços maisfechados e a tendência é a ampliação dosmesmos, tanto através da rede de estra-das, como dos telecomunicações. Arepercussão dos meios audiovisuais emsi mesmo pressupõe já uma mudançaqualitativa fundamental. De igual modo,já não parece tão factível determinar asbarreiras que evidenciem as característi-cas intrínsecas dos antigos forros e dostrabalhadores das roças chegados noséculo XIX. O processo de urbanização eo desmoronamento do sistema de roçasesbatem os velhos contornos, sem que ascategorias e actividades socio-económi-cas possam facilitar hoje a associação

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Identidade cultural e desenvolvimento humano

com grupos étnicos determinados.Todos estes acontecimentos mais a criseeconómica que atravessa o país e as exi-gências dos doadores incidem na limita-ção das margens caducas de controlosocial que dificultam a mediação na lógi-ca acumulação-distribuição. Se o desper-tar da consciência dos sãotomenses maisprivilegiados é crescente, ainda é prema-turo concluir que actuarão de acordocom os novos critérios.

2. Existe um crescente capital social comum papel cada vez mais notório na vidapública. Na medida em que os políticosnão respondem aos desafios de mudança,o testemunho vai sendo passado para asociedade civil que anseia participar acti-vamente nos processos nos quais STP seencontra implicado. Os últimos anos têmsido um período de experiências de par-ticipação social, da consciencializaçãodas opções de intervenção real nos desti-nos individuais e colectivos. SurgemOrganizações Não Gover-namentais(ONGs) locais, que se juntam às chega-das do exterior. O espírito do associati-vismo prolifera e traduz-se em novosactores sociais nas áreas mais diversas.Mulheres, comerciantes, pescadores ouintelectuais organizam-se para juntaresforços e defender os seus interesses.Os empresários e a classe operária come-çam também a ter alguma preponderân-cia como colectivos, apesar de ainda per-sistirem bloqueios ao desenvolvimentode sector privado e o facto de uma gran-de quantidade de mão-de-obra informalser instável o que não favorecer a suaconsolidação institucional.A cooperaçãointernacional fomenta-as e fornece-lhessuporte com a esperança de chegar aondeos políticos convencionais não conse-guem e assumem os valores que a novasociedade civil vai adquirir. Ao mesmotempo introduzem-se através destasorganizações novas ideias e crenças. Nãogarantem somente as formas sociais liga-das a prioridades materiais ou sectoriais.Mesmo a oferta religiosa multiplica-se,ultrapassando os limites e privilégiosanteriores e fazem-no com uma diversi-dade de matizes próprias de sociedadesabertas. As consequências são ainda difí-ceis de prever, mas a existência de todosestes actores indica o aparimento denovas tendências que podem desempen-

har um papel de relevo na mudança.3 A mulher santomense vai tomando cons-

ciência das suas possibilidades, da suasituação e do papel crescente na vidapolítica e económica. Ao mesmo tempouma quantidade significativa de novosprofissionais são mulheres e parecemdispostas a participar activamente e con-seguir obter maiores quotas de poder emesferas ainda fechadas . Além disso acooperação internacional mostra-semuito sensível à situação da mulher e asvantagens comparativas de investir nelascomo agentes da mudança. O modelo deparentesco baseado na poligamia, asuniões de facto, ter um grande número defilhos em lares diferentes faz com que amulher jogue um papel chave comochefe de família (num terço dos lares naactualidade). Questões essenciais come-çam a ser colocadas.Se a situação econó-mica geral, cada vez mais crítica, dificul-ta o sistema do clientelismo, o sistema deparentesco também vê-se afectado damesma maneira. Para o homem santo-mense de hoje é muito complicado man-ter um certo nível económico e estabili-dade de rendimentos, por isso vê amea-çada a sua capacidade de contribuiçãoem vários lares. A mulher santomensesuporta, em consequência, cargas cres-centes, o que se repercute no modo deentender o velho modelo de masculinida-de e na sua vontade de ter a quantidadede filhos quase ilimitada de outrora. Aurbanização opera nesta direcção tam-bém, pois o valor da mão-de-obra no sis-tema de roças não é semelhante na cida-de, onde os filhos têm muito mais difi-culdades para incorporar-se ao mercadolaboral. A educação recebida por umapercentagem significativa de mulheresdesde a Independência e a crescente pro-porção, em relação aos homens nacio-nais, nas universidades estrangeiras podedesempenhar um papel crucial como fac-tor de mudança. Em termos gerais aexperiência internacional mostra que umnível mais alto de educação escolar nasmulheres traduz-se numa redução donúmero de filhos, em retardar tê-los euma substancial melhoria económica.Écerto também que a participação nos cen-tros de poder é fundamental e que asmulheres, apesar da sua formação acadé-mica, ficam com frequência relegadas a

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um segundo plano. Mas como é lógicohá maiores possibilidades de mudança seas mulheres constituirem parte da mão-de-obra qualificada, como começa aacontecer em STP.O factor cooperaçãointernacional pode ser muito importantenesta matéria, dada a forte dependênciado país. Na medida em que, as sugestõ-es da cooperação incluam a perspectivade género, as opções de câmbio multi-plicar-se-ão.

4.Apesar da crise económica e a alta mobi-lidade dos cargos públicos, sobretudogovernamentais, a democracia santo-mense encontra-se fortalecida e apoiadapela população. Foram ultrapassados osriscos de instabilidade grave próprios dealguns países subsarianos. As pessoasvalorizam a paz que usufruem e isto per-mite enfrentar mudanças profundas semo temor de reacções muito violentas ougolpistas.Na análise da vida política emSTP, são muito comentadas a mudançasministeriais e o que se denomina de"crise de Governo" na Europa. Uma revi-são da última década - correspondente ademocracia, mas que poderia estender-seaté a Independência - permite observarque se sucedem cada ano. Uma previsãotão alta numa democracia consolidadaseria observada com grave preocupação,podendo-se catalogar de um Governomuito frágil e instável, quase incapaz deexercer as suas funções. Mas a leitura emSTP deve ser um pouco mais cuidadosa.Um sistema social como o que se descre-veu marca as instituições do país. Asobrigações daí decorrentes não se extin-guem pela surgimento de um novomodelo político. O que parece produzir-se é uma adaptação a esse Estado, sejaapoiado no partido único ou num regimemultipartidário.Na medida em que asrelações sociais, de acordo com o siste-ma do clientelismo, são dinâmicas, aspessoas estão habituadas as mudançaspontuais de referência, sempre dentrodos limites impostos por essas famíliasextensas. Isto é, podem mudar umas pes-soas, mas não as estruturas sociais asquais pertencem. Esta estabilidade con-tribui para evitar confrontos radicais, porisso o clima de paz vê-se muito fortaleci-do. Uma aproximação positiva permiteapreciar que, a comparação com muitosoutros espaços africanos, STP desfruta

de uma tranquilidade invejável. E esteprivilégio abre opções claras para reali-zar reformas profundas, incluindo asdemocráticas.

5.Nota-se uma forte exigência de ética noexercício dos cargos públicos, ultrapas-sando a antiga lógica de utilizar esteargumento somente para desqualificar osadversários políticos. A sociedade come-ça a estar farta de corrupção e manifestaessa tendência cada vez mais abertamen-te. No quadro do que se indicou anterior-mente as exigências não se restringem àreforma legal das instituições, mas tam-bém ao funcionamento, de acordo comum código ético. Estas críticas são muitosignificativas num país onde o modelotradicional pode ser visto como um siste-ma corrupto na perspectiva do Estado deDireito, pois apresentando dois exemplosclaros, considera-se um delito o enrique-cimento através de recursos públicosdestinados a outros fins, ou o aproveita-mento das relações pessoais ou familia-res para ganhar um concurso público. Aimportância da cooperação internacio-nal, tantas vezes mencionada, tem servi-do para que os santomenses utilizem osargumentos do Estado de Direito contradeterminados governos ou pessoas, massem que isso obrigasse os denunciantes aterem no fundo o mesmo ponto de vista.Serve como instrumento de acordo comcritérios de oportunidade e se utilizavasegundo os interesses em jogo. Mas hojeem dia as críticas generalizaram-se e nãosomente entre sectores da oposição polí-tica ou de posições sociais marginais. Aexigência de ética é feita mesmo entre osfamiliares dos que ocupam o poder, semdisputá-lo, e isto já indica uma novidadesignificativa. Também a crise económicaactua em certo sentido a favor da exigên-cia de ética, pois à medida em que seestende a pobreza e há um maior descon-tentamento nos grupos sociais do poder ,mais complicado será continuar a igno-rar determinados princípios no exercícioda função pública.

Que Opções?Apesar de tudo, ainda é difícil prognosti-car qual será o resultado das tensões exis-tentes, mas tudo parece indicar que não sedispõe dum tempo muito longo para con-trolar as mudanças. O país deve decidir

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fundamentalmente entre duas grandesopções, se está disposto a participar deforma activa e não como agente passivo:1. Reproduzir uma vez mais o modelo de

organização social, político e económicobaseado numa construção de acordocom o elaborado a partir das roças.

2. Criar as condições para permitir uma cul-tura aberta na base do desenvolvimentohumano. Neste sentido e tomando emconta as aspirações dos santomenses, des-envolver as comunicações e as infra-estruturas acompanhados de melhorias nasaúde e na educação e fomentar um turis-mo sustentàvel. Igualmente deverá haverum reforço na qualidade das instituições ecom uma nova ética da função pública.

O primeiro modelo parece conduzir a umanova roça, talvez actualmente com umperfil mais turístico e apoiada pelos rendi-mentos do petróleo. O futuro previsível éa consolidação de uns poucos privilegia-dos e a crescente marginalização das pes-soas comuns.

O segundo pode ser o começo da participa-ção plena do sãntomense no seu desenvol-vimento e a oportunidade de decidir o per-fil do futuro STP sem que as mudanças seimponham pela sua própria dinâmica.

Ambas opções são ao mesmo tempo umaescolha da identidade colectiva que se des-eja construir. Deve-se partir de alguns valo-res do passado e aos quais deve-se adicio-nar novos princípios e formas de articulá-los. Deve-se potencializar a unidade nadiversidade ou deixar que cada grupo serelacione sem grandes preocupações, se aidentidade cultural deve apoiar e apoiar-seno desenvolvimento humano ou deve-sedeixar uma vez mais que sejam só critériospolíticos ou económicos os que pressionemnum ou noutro sentido.

O desafio parece claro e perante o mesmo acooperação internacional deve contribuirpara fomentar a reflexão, o debate e a res-ponsabilidade histórica.

A cultura, como se poderá apreciar commuito maior profundidade ao longo doRelatório, é fundamental para o desenvol-vimento humano e no entanto, foi o sectormais esquecido nos programas de desen-

volvimento e de mudança. Talvez por seassociar cultura com as manifestações lite-rárias ou artísticas ou com o folclore maisdo que com esse sistema que constrói eordena a realidade e sem o qual não é pos-sível entender nem a singularidade santo-mense nem a de nenhum outro.

STP tem a oportunidade de abrir um camin-ho a partir desta constatação, e servir talvezde modelo para outros países africanos, eincluindo os de outros continentes.

1.º A Cultura e o SistemaProdutivoAo analisarmos a problemática da Iden-tidade Cultural uma das questões que senos levanta é saber, até que ponto osValores Culturais facilitam ou dificultam aInovação Científica e Tecnológica e aModernização da Sociedade sãotomense.A Identidade Cultural, tal como a entende-mos, significa um conjunto de ValoresCulturais de referência que servem desuporte, por um lado, a uma lógica de coe-são social progressivamente abrangente epor outro, a construção de espaços identi-tários resultantes da dinâmica dos diferen-tes grupos sociais.

Debrucemo-nos um pouco sobre a formacomo cada grupo específico se foi posicio-nando em relação ao trabalho agrícola, quetem sido ao longo dos séculos a maisimportante fonte de produção de riqueza eque apesar dos desejos várias vezes expres-sos do poder pós-independência em nada seconseguiu alterar esta realidade objectiva,até ao presente .

A produção de cacau esteve sempre asso-ciada à presença de trabalhadores recruta-dos no exterior, que atingiu o auge em1921, com uma população de 38.696 con-tratados, representando então cerca de 65%da população. A partir da década de 20começa a queda de produção de cacau quese agrava substancialmente nos anos 50 e60, com uma produção média que oscilaentre as 10.000 e as 11.000 ton por ano.

Como consequência disso, há um progres-sivo abandono das roças pelos então pro-prietários que ficam confinados apenas àsáreas mais produtivas. Como resultado, ini-cia-se o êxodo rural que vai prosseguir até

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ao presente. Nos recenseamentos de 1981e 1991, 37% e 38% dos residentes em ÁguaGrande são provenientes de outros distri-tos, para além disso, 36% da populaçãototal vive no referido distrito. Mais recente-mente, o Estudo sobre o Perfil da Pobrezaem STP, de Maio de 2001 indica que 64%da população habita nos distritos centraisde Água Grande e Mé Zochi, o que mostraa que ponto prossegue a fuga do campopara a cidade.

Face a progressiva degradação do sistemaprodutivo do cacau e do café, enquantofontes principais de receita, e as potenciali-dades do país, quer em termos de belezanatural, quer em termos de localização geo-estratégica, que inovações tecnológicas,que alternativas de gestão e que mudançassociais serão necessárias para que se tenha,noutras actividades geradoras de rendimen-to, nomeadamente nos sectores de Serviçose do Turismo as actividades complementa-res ao cacau de que tanto se necessita?

2.º Os Grupos Sociais maisImportantesPodemos considerar que actualmente apopulação está dividida em quatro gruposdistintos: Os Trabalhadores Rurais; osPescadores; os Forros e a Elite; a NovaPopulação Urbana e os Marginalizados.

Os Trabalhadores RuraisO sistema de plantação exige uma mão deobra importante, cujo recrutamento se fazno exterior no início proveniente essen-cialmente de Angola e Moçambique. Apartir dos anos 1950, Cabo Verde torna-sea fonte principal de fornecimento dessamão de obra, forçados a abandonar o seupaís, como consequência da seca.Recrutados como trabalhadores sob con-trato, eram designados serviçais, maistarde contratados.

Nas roças a organização do trabalho erabaseada em relações socioprofissionais

fortemente hierarquizadas e especializadasem complemento das distinções raciais.Cada grupo social, mesmo no seio da popu-lação nativa (forros, longuias (naturais dailha do Príncipe) e angolares ) é caracteri-zada por trajectórias professionais diferen-tes no seio das plantações. Os forros e lon-

guias ocupavam funções inferiores naadministração colonial, exercendo váriastarefas nos escritórios, oficinas e nas esco-las e hospitais. Os angolares realizavamtrabalhos ocasionais, como corte de árvo-res, transporte do cacau por via marítimaaté ao cais e pesca para assegurar peixefresco à roça. Os descendentes dos trabal-hadores contratados nascidos em STP sãodesignados tongas e constituem hoje alarga maioria da população das roças, namedida em que mesmo antes da indepen-dência tinha cessado a vinda de novos tra-balhadores, vindos do exterior.

A distribuição de terras introduziu umaprofunda alteração no sistema produtivo docacau e do café, na medida em que tornoudetentores de posse de terras, antigos assa-lariados que no entanto, não foram treina-dos para tomar iniciativas, nem actuarcomo camponeses, devendo tudo isso pas-sar por um grande processo de aprendiza-gem.

Os trabalhadores rurais constituem comuni-dades bastante fechadas nas quais, contudo,não há muito o espírito de comunidade.Como essas pessoas são oriundas de lugarese culturas diferentes, e são obrigadas a par-tilhar um espaço físico superlotado, elasesforçam-se por manter alguma privacida-de, evitando relações demasiado estreitascom os vizinhos. São pessoas que vêm, nasua grande maioria do exterior, não podendopor isso contar com apoio familiar. Tambémnão têm muitas ligações com outros indiví-duos fora das suas comunidades.

Os PescadoresOs angolares mostraram sempre uma gran-de vocação para o mar. Não surpreendeportanto, que tenham desenvolvido a capa-cidade de explorar os recursos marinhos,como meio de subsistência. As aldeias pis-catórias foram surgindo sempre ao longoda costa e a pouco e pouco foi-se verifican-do a integração de populações doutras ori-gens. Além da pesca, estas populações tam-bém fazem canoas e utensílios ligados àsartes de navegar. Utilizam barcos motoriza-dos e integram como profissionais as tripu-lações das embarcações modernas. Nestascomunidades, as mulheres dedicam-se nãosó à venda e salga do peixe, como tambéma outros pequenos negócios.

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No conjunto, representam cerca de 9% dapopulação total. Eles formam um grupo queviveu sempre isolado e no período pós-independência recusaram-se a engrossar asfileiras do funcionalismo público, tendosido sempre reconhecidos como trabalhado-res independentes. Por esta razão estavammelhor preparados para se adaptarem àsReformas Estruturais introduzidas a partirde 1987, com vista a assegurar uma econo-mia de mercado. Como resultado da pestesuína africana e outras doenças que reduzi-ram substancialmente a pecuária nacional,associado às limitações decorrentes das dis-ponibilidades financeiras para importação,tornou-se cada vez mais relevante a impor-tância económica deste grupo. Com efeito,a pesca contribui com 40,00Kg/hab/anopara o consumo da proteína animal,enquanto que a pecuária entra com apenas4,00 Kg/hab/ano. Por outro lado, os rendi-mentos auferidos na pesca não baixaramtanto como nas outras actividades económi-cas, ao longo dos últimos anos.

Os Forros e a EliteSTP foi a partir do século XV um entre-posto para o comércio marítimo destinadoao tráfico de escravos e os portuguesesestabeleceram aí uma economia de planta-ção visando a produção de cana de açúcar.Devido à escassez de colonos brancos e àameaça de doenças tropicais foram enco-rajadas as uniões inter-raciais entre euro-peus e africanos e foram sendo gradual-mente concedidos direitos iguais aosnegros livres e mulatos(forros) , permitin-do-lhes participar activamente na econo-mia e nos assuntos políticos locais. Essaelite nativa não estava unida, mas sim pro-fundamente dividida em facções rivais.Estas proeminentes famílias crioulasdominaram a câmara municipal e o clerocatólico local e competiam, por um ladoentre si, por outro com os colonos e fun-cionários coloniais brancos pelo poderpolítico e económico. O sistema de autori-dade tripartida entre a igreja, o governadore a câmara municipal, provocou contínuaslutas políticas, cujos efeitos polarizadoresnuma sociedade pequena e insular contri-buíram para uma constante instabilidade econsequente incerteza da administraçãolocal. Em consequência disso desenvol-veu-se e estruturou-se uma importanterede de parentesco e irmandades religio-

sas, enquanto fontes de solidariedade e deacção colectiva entre os forros. Foi depoisda recolonização das ilhas, em meados doséculo XIX, que a elite nativa perdeu o seupoder político e económico efectivo afavor dos portugueses, que estabeleceramlargas plantações de cacau e café em terrasadquiridas ou extorquidas aos forros eimportaram milhares de trabalhadorescontratados de Angola e Moçambique emais tarde de Cabo Verde.

O grupo social mais numeroso e importan-te é o dos forros. A descendência familiar, aposse de uma pequena parcela de terra(gleba), a recusa de trabalhar nas plantaçõ-es que era parte intrínseca da sua identida-de e cultura, a filiação em instituições cató-licas e nas associações culturais tornaram-se atributos exclusivos da categoria forra.Concentrados em aglomerados dispersos,conhecidos como luchans, em bairros eassociações culturais e religiosas, a suavida social continuou estruturada em tornode redes pessoais baseadas no parentesco enos vínculos entre patronos e cliente

As relações patrono-cliente e os laços fami-liares entranharam-se profundamente nasociedade são-tomense. O papel desempen-hado pelas irmandades e famílias funda-menta as raízes históricas da lógica culturalespecífica que rege vastas redes de solida-riedade, contribuindo para as pressõessociais actuais.

A distribuição geográfica dos forros faz-sepor todo o país, com particular incidêncianas zonas do centro e arredores da capital,onde estão concentradas as regiões das gle-bas(pequenas propriedades agrícolas fami-liares que raramente ultrapassam 1,00 a2,00 ha e que normalmente se transmite porherança) e quintais (logradouro em tornoda residência familiar). Um dos indícios deassimilação neste grupo dominante é aposse de qualquer tipo de propriedaderural: gleba ou quintal. Admite-se que ogrupo forro possa representar cerca de45,0% da população.

É também um grupo estratificado: há umacamada instruída e com ligações interna-cionais composta por umas centenas defamílias que constituem a elite. Estas pes-soas têm familiares que vivem no estran-

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geiro, já lá viveram ou estudaram no exte-rior e é possível que tenham meios investi-dos no estrangeiro. Neste aspecto não sepode ignorar o que tem significado, comomelhoria do rendimento global de um certonúmero de reformados, as aposentaçõespagas em Portugal aos antigos funcionáriosque serviram no período colonial. Os res-tantes membros deste grupo são artífices,funcionários públicos, empregados deempresas públicas e privadas e pequenosproprietários.

Os integrantes deste grupo partilham nogeral o mesmo sistema de valores e podemalargar as relações sociais através de laçosfamiliares, amizades fiéis (feitas nos ban-cos da escola), clientilismo político, etc.

A Nova População Urbana e osMarginalizadosComo foi visto anteriormente os centrosurbanos e muito particularmente, as zonasperiféricas da capital vêm sendo invadidospor antigos trabalhadores agrícolas quefogem das difíceis condições de vida nomeio rural, jovens em busca de emprego emulheres de baixa condição social quedesejam abandonar as relações domésti-cas. Este segmento da população que temum nível de vida precário, não tem acessoaos recursos naturais, nem tem a possibili-dade de recorrer ao apoio de uma estrutu-ra familiar, que eventualmente nunca teráexistido, ou que se desfez, quando os cus-tos financeiros para a manter se tornaramdemasiado elevados. Estes grupos, são osmais vulneráveis e constituem uma boaparte dos 54% da população que viveabaixo do limiar da pobreza ou os 15%que vivem na pobreza extrema. De salien-tar que estas pessoas não partilham osmesmos valores, nem contam de um modogeral com qualquer tipo de apoio.

A Dinâmica dos Grupos SociaisAlguns acontecimentos determinaram quehouvesse uma profunda Mudança na lógi-ca do relacionamento social. Com efeito,após a independência desencadeou-se umprocesso que punha em causa os valoresdo sistema colonial e que se traduziu nageneralização do ensino básico, na grati-tuidade dos serviços médicos e medica-mentosos e na efectiva igualdade dos cida-

dãos perante a lei, proporcionando-se apossibilidade de participação política eafirmação social, independentemente dasua origem. O serviço militar obrigatórioestendido a todos os cidadãos de sexomasculino, maiores de 18 anos e aptospara tal, foi outro importante factor deintegração.

Estes factos fizeram atenuar as diferençassociais, particularmente entre as massas deforros e os trabalhadores rurais. Maisrecentemente, com o processo de distribui-ção de terras, os trabalhadores rurais trans-formaram-se em pequenos proprietáriosagrícolas habilitando-se, deste modo, nãosó a assegurarem uma fonte importanterendimento para si e para a sua família, ini-ciando assim um percurso de auto-suficiên-cia e independência a que não estavamhabituados, assim como permitindo a suamais fácil integração na economia de mer-cado em construção.

Embora nos encontremos num país profun-damente religioso, onde mais de 90% dapopulação aceita ou pratica a religião cris-tã, a cultura religiosa não parece ter contri-buído grandemente para Mudanças Sociaisno sentido de uma maior justiça social. Nãose pode, no entanto, negar a importância eo contributo da religião cristã e das váriasreligiões e seitas que mais recentementetêm proliferado pelo país, como forma deassegurar uma relativa paz social que setornou já parte dos valores culturais sãoto-menses.

Ficam, no entanto, algumas questões quecarecem de discussão e debate de modo apodermos definir de forma mais precisaqual o contributo que cada Grupo Socialpode aportar ao processo de Mudançavisando o DH:I) O que é que une os sãotomenses ?II) Qual pode ser o papel da Religião,

enquanto factor de unidade entre os são-tomenses ?

III) Será que a grave Crise de Autoridadepor que passa actualmente o país temque ver com uma orientação e culturapolíticas inadequadas para assegurar odiálogo entre o Estado e a Sociedade oudecorre essencialmente da incapacida-de do Estado em garantir os meios desobrevivência dos cidadãos, mesmo

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contando com um largo apoio da coo-peração internacional?

IV) Face ao imobilismo secular que carac-teriza a sociedade e a economia sãoto-menses será possível desenhar um qua-dro social que integre num mesmo pro-jecto de sociedade segmentos da popula-ção que os circuitos económicos aindamantêm separados?

V) Face às imensas carências com que asociedade sãotomense se debate, porque

não apoiarmo-nos nos métodos partici-pativos de solução de problemas (habita-ção, saneamento do meio, mobilizaçãode poupanças, etc), de modo que na basede uma divisão de trabalho menos espe-cializada e sobretudo socorrendo-nos deacções de Solidariedade /Reciprocidade(Quitembu, Xiquilá, etc) enraizadas nastradições culturais, possamos encontrarsolução para alguns dos graves proble-mas sociais que nos afectam?

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Mudanças Políticase Económicas

IntroduçãoAs Mudanças verificadas durante a déca-da de 90, correspondiam a duas reinvin-dicações do povo, a saber, DemocraciaPolítica e Liberalização Económica.Porque quer uma, quer outra, são proces-sos relativamente morosos, vamos noessencial, socorrermo-nos da legislaçãoentão publicada conformadora das novasopções, embora nos servamos também deindicadores específicos, com os quais con-tamos traduzir de forma objectiva a evolu-ção observada. Não nos podemos, noentanto, esquecer que a maior ou menorcapacidade de resposta da economia e dasociedade santomenses está intimamenteassociada à forma particular como se des-envolveu a história económica do país,nos séculos mais recentes.

A capacidade de resposta da sociedade àsmudanças está largamente ligada à rigidezsocial herdada da história, que conduziu àjustaposição de grupos sociais num modode funcionamento social caracterizado poruma economia de renda (virada para amonocultura do cacau e do café); uma fortedependência em relação ao exterior; umafraqueza da iniciativa individual e a ausên-cia de um verdadeiro projecto social queseja aglutinador.

Com efeito durante mais de cem anos o sis-tema de produção e exportação do cacaupermaneceu no essencial o mesmo, comrecurso durante muito tempo à mão de obravinda do exterior, primeiro escrava e depoisrecrutada de forma forçada nos outros paí-ses de expressão portuguesa. As grandescompanhias proprietárias das terras queocupavam cerca de 93% de todo o territó-

rio do país, para além de não se interessa-rem por outros produtos que não fossem osdestinados à exportação, fizeram tudo paradissuadir a sua produção e desenvolvimen-to, concentrando nos seus territórios, não sóas sedes sociais das companhias, comotambém as habitaçöes dos trabalhadores eas instalaçöes sociais, o que levou a que osestudiosos do caso santomense de produ-ção de cacau falassem de ilhas transforma-das em "fábricas rurais".

Por outro lado, as graves fraquezas institu-cionais do país decorrem em grande medi-da da limitada capacidade estrutural doEstado em gerir as Mutações Sociais neces-sárias à diversificação das fontes de rique-za e de oportunidade de emprego.

Em qualquer dos casos, o reforço das capa-cidades de gestão e de iniciativa constituium elemento chave das Mudanças, quer setrate do sector privado, cuja dinamizaçãocondiciona o desenvolvimento das oportu-nidades de rendimento directos e indirec-tos, quer seja o sector público para o qual ascapacidades necessárias devem ser criadasa fim de que o Estado possa assegurarcorrectamente a sua função reguladora e asua missão de orientação e seguimentoestratégico.

Também aqui se torna necessário esclare-cer que de uma função totalitária inicial,em que o Estado se encarregava de tudo,produzir, controlar e regular, nos encontra-mos hoje, em fase de construção de umaoutra realidade onde se estimula a iniciati-va individual e a participação, não só sobponto de vista político, esforçando-nos porconsolidar o processo democrático, como

CAPÍTULO III

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Mudanças Políticas E Económicas

criando uma economia de mercado aberta àiniciativa e participação do cidadão, for-çando deste modo a redefinição do papeldo Estado.

Nesta perspectiva, o trabalho que a seguirse apresenta, traça nos dois primeiros capí-tulos, a evolução da situação política, eco-nómica e social na I e II Repúblicas e nosoutros dois, a articulação entre essa evolu-ção e o desenvolvimento humano.

Evolução da PrimeiraRepública

Evolução PolíticaOs ideais que conduziram à independên-cia nacional em 1975 animaram e deramcorpo a uma política social extremamentevoluntarista que deu frutos até ao início dadécada de 80, suportados, no essencial,pelos preços do cacau relativamente ele-vados no mercado internacional, assimcomo uma razoável produção interna. Opaís atingiu uma esperança de vida de 67anos e uma mortalidade infantil de 84 porcada mil nados vivos. No domínio da edu-cação os indicadores melhoraram signifi-cativamente, tendo-se atingido um nívelde alfabetização de 94%, para os jovensdos 10 aos 24 anos, o que colocava STPmuito acima dos outros países africanosao sul do Sahara.

A primeira Constituição Política daRepública estabelecia os órgãos clássicosde soberania - o Presidente da República, aAssembleia Nacional Popular, o Governo eos Tribunais - mas não havia de facto sepa-ração de poderes. Com efeito, os membrosdo Bureau Político do MLSTP (Movimien-to de Libertacao de Sao Tome) faziam parteda Assembleia Nacional e do Governo, as-sim como os dirigentes das organizações demassas, nomeadamente os da Juventude edas Mulheres.

Estava na lógica do poder de então, que amesma pessoa ocupasse simultâneamentefunções em diferentes órgãos de soberania.O Governo não resultava da vitória numprocesso eleitoral e os seus membros eramnomeados e demitidos segundo o livrearbítrio do Presidente da República, embo-ra houvesse um Primeiro Ministro. OPresidente da República era eleito pela

Assembleia Nacional Popular, sob propos-ta do MLSTP e era ao mesmo tempo, pre-sidente do partido no poder, Chefe doGoverno. O Primeiro Ministro era um sim-ples coordenador da acção governativa,sob as ordens do Presidente da República.Só em 1987, no quadro da liberalizaçãopolítica e económica em curso, se proce-deu a uma emenda à Constituição Política,criando o cargo de Primeiro Ministro, quepassava a ser Chefe do Governo.

Em Dezembro de 1989, na fase final da"guerra fria", o regime de partido únicorealizou uma conferência nacional para aqual foram convidados sãotomenses devárias tendências políticas. Os principaisproblemas do país foram identificados,tendo-se chegado à conclusão que o regimedevia democratizar-se. Foi anunciada umanova revisão da Constituição que acaboupor ser aprovada pela Assembleia NacionalPopular, em Março de 1990 e ratificada,por Referendo Popular, em Agosto domesmo ano.

Política de Envolvimento doCidadãoA crise económica que se iniciou em1981, foi-se acentuando com o temposendo particularmente agravada pela secaque se verificou em 1982 e 1983. Devidoa acentuada baixa de receitas, o Governovia-se sem meios para importar, de formaregular e atempada, os géneros de primei-ra necessidade, enquanto que no planointerno, se constatava uma grande baixade produção alimentar de origem localdevido a seca. A profunda crise económi-ca e social trouxe consigo a crise política,ao despertar as consciências dos cidadãos,particularmente da sociedade civil e dosector privado nacional.

Os maus resultados da política económicaadoptada até aí, determinaram a necessida-de do Governo dotar as instituições públi-cas de uma maior capacidade de organiza-ção e gestão, que se consubstanciaram numprograma de Ajustamento Estrutural, adop-tado em 1987.

Depois de um longo período de gestão esta-tal quase exclusiva da economia nacional, oDecreto-lei nº 32/87, de 31 de Dezembro,surge num contexto marcado pelo início do

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Mudanças Políticas E Económicas

PAE e pelas primeiras tentativas de liberali-zação económica e mais tarde, de aberturapolítica. O referido decreto "preconiza oafastamento do Estado da esfera económi-ca, de forma a garantir a reabilitação dasestruturas de produção ou de serviço e oestabelecimento de mecanismos de enqua-dramento susceptíveis de envolver e res-ponsabilizar o maior número possível decidadãos na exploração dos recursos e dosresultados do seu trabalho".

Ele define igualmente as modalidades parao afastamento do Estado da gestão das uni-dades produtivas, destacando-se que asmesmas deviam ser feitas por cedência deEmpresas ou parte de uma Empresa aoscidadaos para exploraçao e usufruto colec-tivo ou individual. Esta exploraçao deviamreger-se por contrato entre o(s) cidadao(s) eo Estado, através do organismo de tutela,com o visto do Ministéria das Finanças.

Evolução EconómicaO período pós independência foi marcadopor um grande desafio que consistia emdar a devida atenção aos profundos proble-mas estruturais que dificultavam o esforçode desenvolvimento, nomeadamente aextrema fraqueza das instituições e osgrandes desequilíbrios económicos, factoque não tendo acontecido originou a estag-nação do sector produtivo. À data da inde-pendência o corpo técnico e os quadros daadministração portuguesa abandonaram opaís, deixando uma frágil capacidadeadministrativa, a inexistência de um sectorprivado estruturado, quer nacional, querestrangeiro e um conjunto de unidadesagrícolas em declínio há já várias décadas.

Pode-se dizer que a estratégia de desenvol-vimento então adoptada compreendeu duasfases distintas. Uma primeira fase que seseguiu imediatamente à independência eem que a pretensão de diversificar a econo-mia e a inexistência de dívida externa, con-duziram a contracção de avultados créditoscomerciais por parte do Estado, a um rítmoinsustentável para a economia.

Os investimentos foram realizados em sec-tores onde o país não tinha vantagens com-parativas, pelo que não produziram osresultados que se esperavam e os atrasadosda dívida contraída foram-se acumulando.

A situação foi substancialmente agravadapela queda abrupta dos preços do cacau nomercado internacional no início da décadade 80, a que se associou uma baixa genera-lizada de produção e produtividade. A pro-dução do cacau que constituia o esteio fun-damental da economia, caiu de 10.000 ton,em 1975, para 3.900ton, nos meados dadécada de 80. Face a escassez de receitas, oGoverno adoptou uma política expansio-nista de crédito visando cobrir os déficesdas empresas públicas estatais.

A inflação disparou, com uma taxa de câm-bio nominal fixa, a taxa de câmbio real apre-ciou-se, os preços reais no produtor também,diminuindo a competitividade e agravando asituação da balança de pagamentos.Estavacriado o quadro para a grave crise económi-ca que iria marcar toda essa década.

A segunda fase do esforço de desenvolvi-mento conta com o apoio financeiro dacomunidade internacional, na forma de cré-ditos concessionais e donativos, que se con-cretizaram, essencialmente, a partir de 1985.Neste ano, foi aprovada uma linha de créditomulti-sectorial do Banco Mundial, cobrindosectores como agricultura, energia e infraes-truturas, num esforço para atender aos pro-blemas com que se confrontava o país.

Em 1987, tornou-se claro para o Governoque as políticas económicas seguidas apósa independência não estavam a resultar. OPIB per capita caiu significativamente dosníveis da decada de 70, havia uma enormedívida externa e graves desequilíbrios dascontas externas. O rácio da dívida externapassou de menos de 1% em 1975 paracerca de 100% em 1987. As receitas deexportação tinham aumentado apenas 43%,no mesmo período e, em 1987, cobriamapenas 35% dos custos da importação,sendo a diferença financiada com ajudaexterna e acumulação de atrasados. É nestecontexto que o Governo decidiu aplicar umPrograma de Ajustamento Estrutural(PAE), tendo sido aprovado o primeiroCrédito de Ajustamento Estrutural do IDA,em Maio de 1987, sendo igualmente supor-tado pelos apoios à balança de pagamentosconcedidos pelo Banco Africano deDesenvol-vimento (BAD) e pela Suécia,para além da assistência técnica do FundoMonetário Internacional (FMI).

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Mudanças Políticas E Económicas

Durante o período que vai de meados de1987 a meados de 1990, o Governo fezesforços para estabilizar a economia.Houve uma maior disciplina fiscal, com-plementada com uma prudente políticamonetária que conduziu à redução da infla-ção. Foi também levada a cabo uma políti-ca de câmbio mais realista que levou adepreciação da dobra em termos reais, emcerca de 75%.

Paralelamente a isso, o Governo começou aliberalizar o comércio e os preços, que-brando o monopólio das empresas estataisde comércio e desmantelando o sistema decontrolo dos preços. Os subsídios aos bensalimentares importados foram eliminados.No entanto, as tarifas de água, electricidadee transporte não foram ajustadas com a fre-quência necessária para assegurar que fos-sem suficientes para cobrir os custos opera-cionais das respectivas empresas. Iniciou-se igualmente, a reforma das empresaspúblicas que se traduziu na liquidação, res-truturação e privatização de várias empre-sas estatais comerciais e industriais, assimcomo a reforma da administração pública,que arrancou em 1988, com apoio o doPNUD. Os modestos resultados, até então,conseguidos se deveram, em parte, à máconcepção do projecto e à fraqueza da res-pectiva assistência técnica.

Em consequência dos resultados positivosobtidos, foi acordado com o FMI o primeirocrédito de ajustamento, Facili-dade deAjustamento Estrutural (SAF), aprovado emMaio de 1989, cobrindo o período de 1989 a1991. A queda dos preços do cacau no mer-cado internacional fez com que não fossepossível atingir as metas previstas para1989. Com base nessa situação o FMI adiouas negociações com vista a obtenção dosegundo SAF para 1990, optando pela exe-cução de um Programa sombra com o país.

Face aos critérios de elegibilidade de então,duas condições eram indispensáveis paraque o FMI retomasse o Programa comSTP, ou seja, assegurar a viabilidade exter-na da economia a médio prazo, i. é., portrês anos e, dar provas de uma boa e conti-nuada execução das metas previstas.

Dois factores vieram inviabilizar completa-mente a possibilidade de se retomar o

Programa com o FMI em 1991, o primeiro,foi a contracção de um empréstimo, em ter-mos comerciais, em 1988, para a aquisiçãode casas pré-fabricadas italianas, no valorde 13,8 Milhões de dólares americanos,para ser reembolsado a curto prazo, o queagravou substancialmente a situação dadívida externa do país. O segundo foram asdespesas incontroladas e fora do orçamen-to realizadas aquando das eleições legislati-vas e multipartidárias em Janeiro de 1991.

Evolução da SegundaRepúblicaCom a aprovação da nova ConstituiçãoPolítica referendada em Agosto de 1990, éestabelecida uma ruptura com o sistemade governação em vigor de 1975 a 1990,como resultado da profunda revisão cons-titucional realizada. É assim que se con-vencionou chamar de II República aonovo quadro político-institucional, criadocom a aplicação da nova Constituição.

Nos termos da nova Constituição, a sobera-nia do Estado sãotomense pertence ao povoque o exerce através de sufrágio universal,igual, directo e secreto. O MLSTP, partidoúnico no poder de 1975 até 1990, deixavaassim de o ser, passando a existir o multi-partidarismo.

Aos cidadãos passou a ser reconhecida aliberdade de consciência, de religião, deculto, de criação intelectual, artística ecientífica, a liberdade de expressão, infor-mação, reunião, manifestação e associaçãobem como o direito à vida, à intergridadepessoal, à identidade e à intimidade. Atodos é reconhecida a igualdade de direitose deveres perante a lei, sem distinção deorigem social, raça, sexo, tendência políti-ca, crença religiosa ou convicção filosófi-ca. Do mesmo modo fica estabelecido quea mulher é igual ao homem em direitos edeveres, sendo-lhe assegurada plena parti-cipação na vida política, económica, sociale cultural.

Estão consagrados na nova Constituição osquatro órgãos de soberania, nomeadamentePresidente da República, Assem-bleiaNacional, Governo e Tribunais.

O Presidente da República é eleito, porsufrágio universal, directo e secreto para

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Mudanças Políticas E Económicas

um mandato de cinco anos. Ele é o Chefede Estado e o comandante supremo dasForças Armadas, representando o Estado,garantindo a independência nacional eassegurando o regular funcionamento dasinstituições.

A Assembleia Nacional composta por 55diputados é eleita por sufrágio universal,directo e secreto, para um mandato de qua-tro anos e é o mais alto órgão representati-vo e legislativo do Estado.

O Governo é politicamente responsávelperante o Presidente da República e aAssembleia Nacional e é o órgão executivoe administrativo do Estado, a que cabe con-duzir a política geral do país.

Os Tribunais são órgãos de soberania comcompetência para administrar a justiça emnome do povo, sendo independentes eestando sujeitos apenas às leis. As decisõesdos tribunais são obrigatórias para todas asentidades públicas e privadas e prevalecemsobre as de quaisquer outras autoridades.

A nova Constituição consagra o sistema degoverno semi-presidencial, definido pelacoexistência de um Governo parlamentar ede um Chefe de Estado de tipo presiden-cial.

Mudanças Políticas na Décadade 90

Caracterização da Situaçãoem 1990/91

Após a realização do Referendo popularque aprovou a nova Constituição emAgosto de 1990, seguiu-se uma grandemovimentação política e o despertar dasociedade civil que se organizou paraintervir de forma mais activa e participati-va nas acções tendentes a definir o futuroda nação.

Ainda em 1990 foi aprovado e publicadoum conjunto de legislação eleitoral e básicapara a garantia dos direitos, e liberdadesfundamentais, assim como para a imple-mentação da democracia representativa.Estão neste quadro as Leis do Direito doSufrágio e do Recenseamento Elei-toral; daNacionalidade; dos Partidos Políticos; doEstatutos dos Titulares de Cargos Políticos;das Comissões Eleito-rais e a Lei Eleitoral.

A Lei do Sufrágio e do RecenseamentoEleitoral fixa a obrigatoriedade do recense-amento para todos os cidadãos nacionaismaiores de 18 anos que não estejam feridosde incapacidade eleitoral. Diz ainda que asentidades recenseadoras devem, indepen-dentemente da promoção dos interessados,inscrever nos cadernos eleitorais todos ostitulares de direito de voto ainda não inscri-tos, de que tenham conhecimento.

A Lei da Nacionalidade define as condiçõ-es de atribuição, aquisição, perda e reaqui-sição da nacionalidade santomense.

A Lei dos Partidos Políticos define comopartidos políticos as associações que con-correm, em liberdade e igualdade, para aformação e expressão da vontade políticado povo, nos termos da Constituição e dasleis da República. Estabelece ainda a com-pleta liberdade de criação de partidos polí-ticos, ao indicar que não depende de autori-zação,a formação de qualquer partido polí-tico. Impõe, que todos os partidos tenhamcarácter ou âmbito nacional e proíbe parti-dos de carácter ou âmbito regional ou local.Estabelece por outro lado, que só podemser associados ou militantes de partidospolíticos, os cidadãos santomenses, commais de 18 anos de idade, no pleno gozo dedireitos políticos.

O Estatuto dos Titulares de CargosPolíticos fixa o início, a posse, o termo domandato e os poderes, para além dos direi-tos, deveres, regalias e imunidades dos titu-lares dos cargos políticos. Define, ainda, ostitulares de cargos políticos como sendonomeadamente, o Presidente da República,os Deputados e os Membros do Governo e,em casos devidamente tipificados, tambémos titulares de altos cargos públicos, sendocomo tais considerados aqueles, cujanomeação resulte da aplicação do princípioda livre designação, baseada em razões deespecial confiança ou responsabilidade e,como tal, sejam considerados por lei.

A Lei Eleitoral e das Comissões Eleito-rais, estabelecem que o Presidente daRepública e os Deputados à AssembleiaNacional são designados mediante eleiçãobaseada no sufrágio universal, igual,directo, secreto, e periódico dos cidadãos,nos termos da lei. Indicam ainda que o

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Mudanças Políticas E Económicas

sufrágio é um direito pessoal, inalienávele irrenunciável e o seu exercício constituium dever cívico. Determi-nam tambémque o processo eleitoral implica a liberda-de de propaganda, a igualdade das candi-daturas e a imparcialidade das entidadespúblicas e privadas. Para garantir a obser-vância da liberdade, igualdade e imparcia-lidade são criadas Comissões Eleitorais,Nacional e Distritais para organizar o pro-cesso eleitoral. A Comissão EleitoralNacional exerce a sua competência relati-vamente a todos os actos de recenseamen-to e de eleições para órgãos de soberania ede poder local. Por outro lado, indicamque as Comissões Eleitorais Distritais,cada uma dentro da área da sua jurisdição,funcionarão sob as orientações daComissão Eleitoral Nacional e cumprirãoas funções determinadas por lei.

É neste quadro completamente novo e deprofundas Mudanças políticas que surgi-ram vários partidos políticos entre os quais,o Partido da Convergência Demo-crática,Grupo de Reflexão (PCD-GR), que viria aganhar as eleições legislativas em Janeirode 1991, enquanto que a legalização doMLSTP teve relevância constitucional.

Verifica-se assim em 1991 uma verdadeiraalternância política com a vitória de umanova força política nas eleições legislativase novo Presidente da Republica nas eleiçõ-es presidenciais de Março do mesmo ano.

Mudanças Políticas durante aDécadaMuito cedo, os efeitos sociais resultantesdas primeiras medidas macro-económicasadoptadas pelo novo Governo despertaramo descontentamento da população que habi-tuada ao ambiente gerado pelo Estado pro-vidência vivido na Primeira República, viaassim defraudadas as expectativas criadascom o advento da abertura democrática.

Assistimos assim ao longo da década aqueda sucessiva de Governos, um dos quaisapós uma moção de censura interposta pelasua própria base de sustentação parlamen-tar (o MLSTP/PSD em Setembro de 1996).

Como reflexo dessa instabilidade, o paísconheceu sete Primeiros Ministros aolongo da década, a uma média de quase um

por ano, facto que naturalmente terá sidoresponsável pelos modestos resultadosalcançados ao longo da década, quer sob oponto de vista económico, quer em relaçãoaos indicadores sociais.

O balanço da evolução da situação políticana década de 90 é no entanto positivo secompararmos com os acontecimentos oco-rridos um pouco por todo o continente,onde os conflitos armados marcam deforma trágica a situação de degradaçãoeconómica e social.

Apesar da instabilidade verificada, a situa-ção nunca chegou a um ponto de descon-trolo total, mesmo quando nos referimos àtentativa de golpe militar ocorrido a 15 deAgosto de 1995, a que pelos seus contor-nos, analistas houve que preferiram deno-miná-lo de "pronunciamento militar de 15de Agosto".

As eleições legislativas (Janeiro de 1991 ede 1994 e Novembro de 1998) e presiden-ciais (Março de 1991, Junho de 1996 eJulho de 2001) decorreram sempre numclima de paz, onde cada cidadão pôdeexprimir-se livremente e sem grandes agi-tações, tendo-se verificado alternâncias sig-nificativas quer em relação a mudanças deGoverno, quer em relação às eleiçõesPresidenciais que recentemente deram ori-gem à eleição de um novo Presidente daRepública.

Porém, o quadro das Mudanças políticas éainda incipiente, quer pela fragilidade dasinstituições, quer pela não realização cabaldo processo regular de instalação e funcio-namento do poder autárquico e regional.

Sistema JudiciárioO I Governo da II República fez publicarum Decreto, transferindo as competênciasda Polícia de Investigação Criminal doMinistério da Defesa e Ordem Internapara o Ministério da Justiça, sendo poste-riormente publicada a Lei orgânica dareferida polícia. Tratou-se de um passoimportante com vista a garantir que os tri-bunais sejam capazes de cumprir cabal-mente as suas competências e poderesconstitucionais, nomeadamente adminis-trar a justiça e assegurar a defesa dosdireitos e interesses dos cidadãos.

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Mudanças Políticas E Económicas

No mesmo quadro foi aprovada e publica-da a Lei de Base do Sistema Judiciário. Onovo poder legislativo em cumprimento danorma constitucional, estabelece a separa-ção de poderes entre os órgãos de soberaniae a indepedência do poder judicial. Atravésdela se consagra a indepedência dos tribu-nais e a sua autonomia financeira. Por outrolado, definem-se as categorias dos tribu-nais, hierarquizando-os para fins de recursoe cria-se o Conselho Superior Judiciárioque é o órgão de auto-governo da Magistra-tura, superintendendo na sua gestão e dis-cilplina.

Foram igualmente aprovadas a LeiOrgânica do Ministério Público e osEstatutos dos Magistrados, assegurando-se, deste modo que o Ministério Públicoseja o titular da acção penal e o órgão doEstado encarregue de, nos tribunais, repre-sentar o Estado, defender a legalidadedemocrática e promover os interesses pos-tos por lei ao seu cargo.Fica também con-sagrada, por lei, a autonomia doMinistério Público em relação aos demaisórgãos do poder central e autárquicos,caracterizada pela sua vinculação a crité-rios de legalidade e objectividade e pelaexclusiva sujeição dos magistrados eagentes do Ministério Público às directi-vas, ordens e instruções previstas na lei.

Através dessa legislação que moderniza osistema judiciário, fica estabelecido que osMagistrados Judiciais não podem ser res-ponsabilizados pelas suas decisões, excep-to nos casos especialmente previstos na leie os efectivos não podem ser transferidos,suspensos ou demitidos, senão nos casosprevistos na lei. As Magistra-turas Judiciale do Ministério Público são independentesuma da outra e os Magis-trados doMinistério Público são responsáveis e hie-rarquicamente subordinados.

Liberdades e DireitosFundamentais

A Constituição santomense considera quea liberdade de expressão e de informação,constitui um dos princípios essenciais deuma sociedade democrática e uma dascondições basilares para o seu desenvolvi-mento, assim como para o de qualquer serhumano. Do mesmo modo, no quadro dodireito de reunião e manifestação diz que

os cidadãos têm o direito de se reunir,pacificamente e sem armas, mesmo emlugares abertos ao público. A todos oscidadãos é reconhecido o direito de mani-festação, nos termos da lei.

As leis de Imprensa e do Direito deReunião e de Manifestação, aprovadas epublicadas em 1993, vem regulamentaresses direitos. A lei de imprensa reafirma oapego aos princípios da livre circulação dainformação e ideias, e da independência dacomunicação social, atendendo à suaimportância para o desenvolvimento dacultura e para a livre formação de opiniões,em condições que permitam salvaguardar opluralismo e a igualdade de oportunidadesentre todos os grupos e os partidos políticosdemocráticos. No que concerne ao direitode reunião e manifestação, a lei aclara oslimites imanentes do exercício destes direi-tos fundamentais, assegurando a sua execu-ção na vida real, disciplinando o modo euso e previnindo conflitos.

A consagração constitucional de mecanis-mos de economia de mercado, bem comoda diversidade de sectores de propriedadede meios de produção exige que se regula-mente os direitos, liberdades e deveres dostrabalhadores por conta de outrem. É assimque foram aprovadas e publicadas em1992, as Leis Sindical, da Greve e doRegime Jurídico das Condi-ções Indivi-duais de Trabalho.

Por elas se estabelece que todos os trabal-hadores têm direito à greve. O direito àgreve é exercido nos termos da lei, visandoapenas a salvaguarda dos interesses sociaise profissionais legítimos dos trabalhadores,bem como da economia nacional. Define-se a greve como sendo a recusa colectiva econcertada da prestação de trabalho porparte dos trabalhadores por conta deoutrem, tendo em vista a defesa e promo-ção de interesses profissionais comuns.Diz-se que nenhum trabalhador pode serprejudicado por motivo de adesão ou nãoadesão a uma greve. Fixa-se também queos trabalhadores são obrigados a prestardurante a greve, os serviços necessários àsegurança e manutenção dos equipamentose instalações, de modo que, terminada agreve, a actividade possa ser retomada emcondições normais.

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Mudanças Políticas E Económicas

Quanto aos sindicatos estabelece-se que ostrabalhadores têm o direito de constituirassociações sindicais para defesa dos seusdireitos e protecção dos seus interessessocio-profissionais. A lei consagra tambéma independência dos sindicatos. As associa-ções sindicais são independentes doEstado, dos partidos políticos e das institui-ções religiosas, sendo proibida qualqueringerência destes na sua organização edirecção, bem como o seu recíproco finan-ciamento.

Está consagrado na Constituição que todosos trabalhadores têm direito a retribuiçãodo trabalho, segundo a quantidade, nature-za e qualidade, observando-se o princípiode que para trabalho igual salário igual, deforma a garantir uma existência condigna.Relativamente ao trabalho das mulheres, alei garante às mulheres a igualdade com oshomens, em oportunidades e tratamento, noacesso ao emprego e no trabalho.

Poder Local e RegionalA consagração constitucional do princípioda autonomia do poder local e da descen-tralização da Administração Pública, noquadro global da organização democráticado Estado, impõe que seja dada a devidarelevância aos aspectos inerentes à defini-ção das atribuições das autarquias locais, àcompetência dos respectivos órgãos, aoestatuto dos eleitos locais e ao respectivosistema de tutela administrativa.

Foi neste quadro que foram aprovadas epublicadas as Leis Eleitoral dos Órgãos dasAutarquias Locais, das Finanças Locais,Quadro das Autarquias Locais, daAutarquia Especial designada Região doPríncipe e os Estatutos Remuneratórios dosCargos Políticos Especiais e Regionais.Através delas se define que as autarquiassão sufragadas pelos votos das populaçõeslocais e têm autonomia administrativa,financeira e patrimonial, dispondo de poderregulamentar próprio, dentro dos limites daConstituição, das leis e dos regulamentosemanados das autoridades com poder tute-lar. A tutela sobre a gestão patrimonial efinanceira das autarquias locais é mera-mente inspectiva e só pode ser exercidasegundo as formas e nos casos previstos nalei, salvaguardando sempre a democratici-dade e a autonomia dos órgãos do poder

local. O mandato dos órgãos das autarquiaslocais e da Região do Príncipe é de trêsanos.

A organização das autarquias compreendea divisão de poderes entre um órgão delibe-rativo, a Assembleia Distrital, responsávelpela aprovação das linhas essenciais dapolítica autarquica, e um órgão executivo,que concebe e excuta as políticas, a CâmaraDistrital. No caso específico da Região doPríncipe são órgãos do poder, a AssembleiaRegional e o Governo Regional.

As primeiras e únicas eleições locais dopaís, tanto autárquicas, como regionaistiveram lugar, respectivamente emDezembro de 1992 e em Julho de 1995.Hoje, os mandatos tanto dos órgãos autar-quicos, como dos regionais estão largamen-te ultrapassados.

Evolução da SituaçãoEconómica ao Longo daDécada de 90

Caracterização da Situaçãodurante o Ano de 1991

O novo Governo instalado, em Fevereirode 1991, na sequência da vitória eleitoraldo mês anterior tinha pela frente uma tare-fa extremamente difícil. Por um lado, rea-lizar acções, visando alterar a situação deextrema miséria e dificuldades com que seconfrontava a população e ao mesmotempo manter e sustentar a adesão popularpara se assegurar a vitória nas eleiçõespresidenciais dois meses mais tarde, e, poroutro lado, dar resposta tão urgente quan-to possível ao profundo descontentamentoda comunidade doadora que se exprimiaessencialmente, através dos representantesdas instituições de Bretton Woods peranteo incumprimento verificado particular-mente, durante a segunda metade do anode 1990.

Face ao incumprimento do ano 1991, a res-posta era de que devia haver medidasinequívocas e urgentes indicando a vontadepolítica de repôr o PAE sobre os carris. Odilema era como conciliar medidas duras edraconianas para com uma população quejá vinha sofrendo os efeitos dessas medidassem ver resultados palpáveis e sem acredi-tar nelas e por outro lado, solicitar a essamesma população que votasse pela

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Mudanças Políticas E Económicas

Mudança nas eleições presidenciais doismeses mais tarde. A saída, foi prolongar asnegociações e assumir os compromissosapenas para o fim do I trimestre, isto é, logoa seguir às eleições presidenciais.

Com efeito, a inflação acelerou e a taxa decâmbio que já se tinha apreciado em 22%durante o ano de 1990, voltou a apreciar-seem 15%, durante os primeiros seis mesesde 1991. Em Maio de 1991 a dobra foi des-valorizada em 21% e os preços do combus-tível foram ajustados de modo que o efeitoda desvalorização se transmitisse aos con-sumidores. Lamentavelmente porém, estasmedidas foram consideradas muito fracas ede efeitos duvidosos, eram necessáriasmedidas mais duras e convincentes.

Em Agosto de 1991, o novo Governotomou medidas mais fortes para a estabili-zação da economia e relançe das reformasestruturais mais importantes. A dobra foimais uma vez desvalorizada, em 38% parase obter o nível de câmbio dos finais de1989. Para além disso, o Governo adoptouo " crawling peg ", a desvorização desli-zante para gestão do câmbio e a obtençãode uma resposta mais atempada ao incre-mento da inflação. Paralelamente a isso,foram adoptadas medidas restritivas napolíticas fiscal e monetária. As tarifas deelectricidade foram aumentadas em cercade 50%, enquanto que as taxas de jurosforam substancialmente incrementadaspara se tornarem reais e positivas em fun-ção da inflação.

Relativamente às reformas estruturais, foipublicada a legislação sobre a distribuiçãodas terras, iniciou-se uma profunda reformafiscal transformando todas as taxas especí-ficas em taxas "ad valorem "e estabelece-ram-se as bases para levar a cabo a profun-da reforma do sistema financeiro cujalegislação foi publicada no ano seguinte.No domínio comercial foram completa-mente abolidas as margens de lucro queainda limitavam a comercialização de trêsprodutos: fijão, arroz e óleo alimentar.Como não podia deixar de ser, o conjuntodessas medidas e a sua dureza tiveram umefeito político devastador sobre o Governorecentemente instalado, situação substan-cialmente agravada pelas divergâncias depontos de vista entre o Governo e o

Presidente da República sobre a premênciadas medidas adoptadas pelo Governo.

Estava assim criado o ambiente de difícilrelacionamento que iria marcar a coabita-ção entre o Presidente da República e o IGoverno da II República.

As notórias diferenças de ponto de vistaentre o Governo e o Presidente daRepública sobre a urgência, profundidade eextensão das reformas e das medidas deajustamento provocaram a demissão dosgovernos do PCD-GR.

Evolução da Situação duran tea Década

Evolução do PIBAo avaliarmos a performance da economiasãotomense somos levados a concluir queos resultados são muito modestos. Já o tin-ham sido na década de 80 e continuavam aser na década seguinte. Com efeito, nos dezprimeiros anos que se seguiram à indepen-dência, o PIB real por habitante diminuiuem cerca de 30%. No período entre 1986 e1995 em termos reais o PIB aumentouanualmente apenas +1,2%, ou seja umvalor muito inferior à taxa de crescimentomédio anual da população (+2,6%).Convém assinalar que só a partir de 1995se tem verificado uma relativa melhoria,sendo respectivamente: em 1995 em 2,0%;em 1996, em 1,5%; em 1997, em 1,0%; em1998, em 2,5% e em 1999, em 2,5%.Contudo, face ao controlo da inflação queem 2000 passou a escala de um dígito, oritmo de crescimento do PIB real, a partirdeste ano, ultrapassou o ritmo de cresci-mento da população para se situar entre3,5% e 4% em 2001. Este aumento nãose deve à agricultura porque devido sobre-tudo à fraca produtividade, sua participa-ção no PIB tem estado a diminuir duranteos últimos anos. Como principal fonte deemprego do país, a agricultura foi dimi-nuindo a sua participação no PIB ao longodo período. Em 1994 a participação daagricultura no PIB dominada pelo cacaurepresentava 25,5 %, cinco anos depois,caiu para 20,7%.Esta tendência manteve-se, sobretudo com a queda da produção docacau que atingiu cerca de 2900 toneladasem 2000. Por conseguinte, o ritmo decrescimento da riqueza pode não ser pro-porcional ao processo de redução da pobre-

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Mudanças Políticas E Económicas

za porque ela concentra-se fundamental-mente nas zonas rurais.

No sector secundário em que a construçãotem uma participação preponderante(68%), também tem tido um comportamen-to descendente. Em 1994 tinha uma parti-cipação de 20,1% e em 2000 baixou para14,4%. Face a esta situação, o sector terciá-rio tem adquirido protagonismo na forma-ção do PIB do País. Já em 1994, a sua par-ticipação representava 55,4% para atingir58 % em 2000. Neste sector, o destaque vaipara a Administração Pública que tem tidode 1996 a 2000 uma participação médiaanual no sector terciário na ordem de 38%.

Embora marginais , os outros sectores deserviço onde se destaca o turismo têm tidoum ritmo de crescimento que importasalientar. Em 1994 representavam 5,9% doPIB, tendo conhecido uma retoma no cres-cimento que atingiu 7% do PIB em 2000.

Conclui-se que a agricultura na quali-dade da principal fonte de rendimento dopaís, apesar de avultados investimentosfeitos no cacau (USD 50 milhões ), comofoi dito anteriormente, tem estado a dimi-nuir a sua participação no PIB. Isto sig-nifica que o país deve encontrar comurgência alternativas ao cacau. Tudo pare-ce indicar que para além do petróleo quemudará por certo a fisionomia do país , asalternativas fundamentais estão na produ-ção de bens alimentares com vista a alte-rar o quadro das importações do país e oturismo cujo potencial ainda não estásendo explorado.

Investimentos PúblicosOs investimentos públicos constituem,desde a independência um dos principaismotores do crescimento. Ao longo doperíodo de 1990-2001 as despesas deinvestimento público efectivamente reali-zadas oscilaram entre 17,00 e 24,00Milhões de USD, com uma média de20,50 Milhões de USD por ano. Em 2001para uma previsão de despesas de 40,70Milhões de USD, foram apenas efectuadas20,22 Milhões de USD. É preciso salien-tar a extrema dependência do PIP em rela-ção ao exterior. Ao longo da última déca-da a situação agravou-se substancialmentepassando de 84% em 1990, para 95% em1999. Em 2000 a percentagem de finan-

ciamento externo foi de execução de93,5%. Contudo em 2001 graças ao con-tributo dos Fundos HIPC a participaçãointerna no financiamento do PIP foi de 2,4Milhões de USD, o corresponde a 11,9%do total do investimento realizado, fican-do assim claramente evidenciado a impor-tância dos Fundos da Iniciativa HIPC.

Finanças PúblicasEm relação às Finanças Públicas o balan-ço da década não é muito melhor. Depoisde uma pequena melhoria entre 1991 e1993, com a manutenção de um saldocorrente positivo do OGE, verificou-seuma nova deterioração das finanças públi-cas em 1994, com um saldo deficitário decerca de 29% do PIB. Após um significa-tivo esforço de estabilização com resulta-dos positivos em 1995, verificou-se umanova degradação em 1996 e 1997, comsaldos primários negativos, respectiva-mente de -4,7% e -0,7%. A situação alte-rou-se a partir de 1998, sendo de assinalarsaldos primários excedentário de +0,7%do PIB, de +1,3% em 1999 e de 2,1 doPIB em 2000. Contudo, a partir do segun-do trimestre de 2001, devido sobretudo ainstabilidade institucional que se geroucom o desencadeamento do processo elei-toral, verificaram-se importantes derrapa-gens que originaram o incumprimento dasmetas orçamentais. Assim, de um saldoprimário de 2,7% do PIB programado,passou-se a um déficit de -9,9% do PIB.Neste sentido, conclui-se que STP temtido um comportamento oscilante emmatéria do rigor na execução das despesaspublicas.

Balança de PagamentosNo que respeita a balança de pagamentosé conhecida a sua extrema e crónicadependência em relação às ajudas exter-nas. A balança comercial que é estrutural-mente deficitária e dependente de pratica-mente um só produto de exportação, tevea sua situação agravada com a queda dospreços no mercado internacional, sobretu-do a partir do início da década de 80. Arelativa melhoria dos preços a partir de1993, não teve grande significado noaumento do valor das exportações, que sesituaram entre os 4,00 e os 5,00 Milhõesde USD. As exportações atingiram 6,4Milhões de USD em 1998 e tiveram um

Page 40: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

41Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Mudanças Políticas E Económicas

incremento de 10% em 1999. A partir de2000 houve uma melhoria para se atin-gir um montante de 17,7 milhões de USDem 2001, onde se destaca o papel do sec-tor de serviços com um participação decerca de 77%. Quanto às importações elasevoluíram de 28,00 Milhões de USD para32,00 Milhões de USD entre 1991 e 1995.

Há que assinalar uma redução nos últimosanos, embora as estatísticas disponíveis nãosejam muito fiáveis. Em 1998 as importa-ções orçaram em 18,00 Milhões de USD econheceram um incremento de 32% em1999, invertendo a tendência decrescentepara atingir o valor de 43.4 Milhões deUSD em 2001, em que os serviços não fac-toriais representam 46 %. De 1991 a 1996,os produtos alimentares representaram 20 a25% do total das importações, enquantoque os produtos petrolíferos se situaram naordem dos 7 a 15%. A fraca cobertura dabalança comercial, o pouco peso das recei-tas provenientes do turismo e das transfe-rências dos emigrantes sãotomenses noexterior, assim como os elevados custosdos transportes dos produtos destinados àSTP, constituem factores de pressão sobre abalança de transacções correntes.

Assim, esta tem vindo a deteriorar-se(excepto as transferências sem contraparti-da), ao longo dos anos, passando de (-)23,00 Milhões de USD , ou seja 37,3% doPIB em 1986, para(-)53,80% do PIB em1997, agravando-se em 2001 para 64,1%do PIB. Constata-se pois, que os ráciosultrapassam em muito os valores normal-mente admitidos.

Problemática da DívidaTal como se indicou anteriormente emconsequência dos empréstimos contraídospara financiar os investimentos públicos -pesados e de rentabilidade duvidosa - adívida externa do país cresceu fortementeao longo dos anos 80. Ela elevou-se paramais do dobro entre 1984 e 1989, paraatingir nessa altura cerca de 136,00Milhões de USD.

Durante a década de 90 a dívida continuoua aumentar, particularmente devido a acu-mulação de atrasados, e empréstimos con-cessionais atingindo em finais de 1999, ovalor total de 289,30Milhões de USD. O

valor actual da dívida é cerca quatro vezeso PIB e mais de quarenta vezes o montantedas exportações anuais do país. Entretanto,o serviço da dívida externa corresponde amais de 60% das receitas anuais de expor-tação e tem um peso considerável no OGE,equivalendo a cerca de 31% das receitascorrentes para o exercício de 2001.

A estrutura da dívida externa sãotomense édominada pela parte multilateral (57%)cujos principais credores são: BAD (30%)e o Banco Mundial (23%), enquanto que adívida bilateral se fica pelos 47%.

Em Maio de 2000 o país conseguiu com oscredores bilaterais agrupados no CLUB dePARIS, um alívio do serviço da dívida atéAbril de 2003 de 67%. Assim, foi atingi-do um alívio de cerca de 26 Milhões deUSD, dos quais 20 Milhões de USD sãoatrasados. No quadro multilateral, oGoverno concluiu as negociações com oFMI, graças a estabilidade política e o cum-primento do plano macro-económico, queconduziu a assinatura de um Programa deRedução da Pobreza e CrescimentoEconómico no 1º semestre do ano 2000.Este programa, previsto para 3 anos, deve-rá permitir à STP preencher as condiçõespara a renegociação da sua dívida externano quadro da iniciativa HIPC. Contudo,como foi dito anteriormente, face às derra-pagens verificadas na gestão das FinançasPublicas, o programa em causa foi suspen-so em 2001 e adoptado um programa dereferência que visa repor o rigor no con-trolo das despesas publicas.

Reforma FundiáriaNo final da década de 80, com os maisbaixos preços desde 1975 a situação eco-nómica das empresas era bastante difícil.O Estado viu-se obrigado a reconsiderar omodelo resultante das nacionalizações,

EmpresaEmpresa Estatal Bela Vista

Empresa Estatal Uba Budo

Empresa Santa Margarida

Empresa Monte Café

Total

Montante (US$)10.000,000,00

8,000,000,00

18,000,000,00

14,000,000,00

50,000,000,00

Fonte: Avaliaçãodo Impacto doProjecto dePrivatização(AGRO.GES/CINFORMA)

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42 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Mudanças Políticas E Económicas

afastando-se progressivamente da gestãodas então 15 propriedades.

Desta forma o Estado deixaria de ter opesado encargo do pagamento dos saláriose beneficiaria ainda, pelo menos indirecta-mente das receitas geradas pelas novasempresas que, de origem privada, iriamcertamente aplicar sistemas mais eficientesde gestão.

Algumas das 15 empresas (as melhores)beneficiaram então de importantes finan-ciamentos destinados à sua recuperação.Quatro delas através de contratos de gestãoe duas com contratos de arrendamento.Estes contratos foram estabelecidos tendocomo base planos de reabilitação das plan-tações que envolveram importantes volu-mes de crédito externo.

Mais uma vez a solução implementada nãocolheu os frutos desejados. A pesadíssimaestrutura das empresas e a continuação dabaixa do preço do cacau, provocou um des-interesse por parte das empresas gestorasque, na sua quase totalidade, desistiram doscontratos de gestão. Mais uma vez, oEstado "herdou" pelo menos parte das suaspropriedades e, naturalmente, a sua gestão.

Assim, em 6 de Maio de 1992, a RepúblicaDemocrática de S. Tomé e Príncipe e aAssociação Internacional de Desenvolvi-mento estabeleceram um Acor-do deCrédito de Desenvolvimento, para finan-ciar o Programa de Privatização Agrícola eDesenvolvimento de Pequenas Proprie-dades (PPADPP). Este programa tinha porfinalidade primeira aumentar e diversificara produção agrícola através da privatizaçãodas plantações estatais e da promoção dodesenvolvimento da pequena propriedade.

Com a privatização, aumentaria a eficiên-cia da produção, eliminar-se-iam as perdasfinanceiras das plantações e proporcionar-se-iam incentivos para a diversificação emprodutos alimentares e outras colheitaspelo sector privado e pelos pequenos pro-prietários.

Como objectivos centrais do projectoencontravam-se:– Aumentar e diversificar a produção agrí

cola no território;– Aliviar a pobreza rural;– Melhorar a gestão dos recursos naturais.

Os benefícios previstos na formulação doprojectos eram:– edução do déficit do sector estatal

mediante a redução do excesso de fun-cionários;

– aumento da produção alimentar nacionale redução as importações; (aumento de65% na produção anual de alimentos

– inversão do contínuo declínio dasexportações (esperava-se um aumentode 60% nas exportações no final do pro-jecto)

– protecção os recursos florestais e oambiente.

Os beneficiários seriam favorecidos com oacesso à terra, o ultrapassar da dependênciade salários insustentáveis e o aumento doseu "status social".

Até Junho de 2000, o Gabinete de ReformaFundiária (GRF) actuou numa área bruta de41.682 ha (mais precisamente 41.681,87ha) dos quais 14.617,57 ha atribuídas àpequena empresa familiar e 4.369,2 ha amédias empresas. Nestas áreas era incluídaa reconfirmação das áreas atribuídas noâmbito do processo de envolvimento docidadão.

Áreas distribuídas(até 30/6/2000)

Distribuição prevista (até ao final do PPADPP)

Total do PPADPP

Área (ha)

14.616

4.369

18.985

(%)

77%

23%

100%

(%)

23%

77%

100%

Área (ha)

1.206

3.972

5.179

(%)

65%

35%

100%

Área (ha)

15.822

8.342

24.163

Pequenos Agricultores

Médios Agricultores

Total

Fonte: Gabinetede Reforma

Fundiária, Julhode 2000

Page 42: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

43Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Mudanças Políticas E Económicas

Em termos globais, o PPADPP distribuiuaté aquela data 18.984,77 ha, cifra muitopróxima aos 20.000 ha previstos no Acordode Crédito.

Segundo as informações da Unidade deGestão do Projecto (UGP), até Julho de2000, foram distribuídas terras a 6448pequenos agricultores dos quais cerca deum terço não residiam nas comunidades.Em área, foram distribuídos aos pequenosagricultores 14616 ha. Até ao final do pro-grama, serão ainda distribuídos, cerca de1200 ha o que corresponderá a mais de 400agregados familiares

O PPADPP abrangerá assim uma populaçãode mais de 7000 famílias (cerca de 35 milpessoas), ou seja cerca de um quarto dapopulação de São Tomé e Príncipe e metadeda população rural. Em termos de área, estaspequenas parcelas atribuídas representarãomais de 40% da área agrícola do país.

A evolução da condiçãosocial

A passagem de assalariado (trabalhadoragrícola ou não) a agricultor trouxe impor-tantes modificações no estatuto dos daspessoas envolvidas. Para os que eram tra-balhadores agrícolas apesar de haver umconhecimento da tarefas a efectuar e deum acompanhamento das necessidadesdas culturas, as novas exigências eramsignificativas– Responsabilização pela condução da

exploração e tomada de decisões;– Necessidade de melhor conhecimento

do ciclo das culturas;– Domínio das tecnologias de produção;– Noções de Planeamento de actividades

(trabalho, terra, culturas, ...)– Fim de receitas monetárias regulares e

"garantidas";– Capacidade financeira para investimen-

tos;– Alteração dos hábitos de trabalho.

Mesmo ao nível da sociedade foi todo umsistema de ocupação e organização do terri-tório que foi posto em causa e que aindahoje, passados 8 anos do início do proces-so, não foi normalizado.

De facto toda a estrutura da sociedade esta-va assente nas roças (coloniais primeiro,

estatais após a independência e depois de1985 algumas sob gestão privada). Com odesmembramento das roças, verifica-seum vazio de poder local, que apenas par-cialmente tem vindo a ser ocupado pelasassociações de pequenos agricultores.

Condições de vidaA deterioração das infra-estruturas e dosserviços de apoio social foi-se acentuandoao longo dos anos. Com o processo de pri-vatização esta situação agravou-se embastantes aspectos. A causa principal estáno abandono do estado, que deixou estasinfra-estruturas, enquanto que as médias egrandes empresas constituídas nem sem-pre se interessaram pela sua manutenção(pois acarretava enormes custos) e aindapela total ausência de capacidade financei-ra dos pequenos agricultores em assumi-rem este tipo de despesas.

Embora com alguma lentidão, foram sendoefectuadas algumas beneficiações, semprea cargo de ONG's e de Doadores interna-cionais, a maioria externos ao PPADPP .Destaque-se neste caso o PNAPAFF e oprograma de Luta Contra a Pobreza.

Assim as comparações efectuadas entre1997 e 2000 permitem evidenciar algumas

0

20

40

60

80

100

Alojam entos

individuais

Água de

chafariz

Casas de

banho

M esas e

cadeiras

Rádio Fogão a

petróleo

Evolução das condições de vida dos Agricultores

1997

2000

Fonte : PNAPAF, Julho 2000

1994

76%

8%

6%

9% 1%

Cacau

Banana

Matabala

Banana pão

Outros

1998

43

36%

12%

5% 4%

Im portânc ia das diferentes culturas para o rendimento da exploração

Fonte : R odrigues, Paulo - G TZ, Jan99

Gráfico 1

Gráfico 2

Page 43: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

44 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Mudanças Políticas E Económicas

melhorias nas condições de vida das popu-lações rurais inquiridas, embora parte des-tes indicadores esteja igualmente relaciona-dos com a evolução dos rendimentos dosagricultores.

Refira-se ainda que no âmbito doPPADPP foram construídas, na compo-nente realojamento 304 casas até Julho de2000 (estavam inicialmente previstas 400)destinadas a famílias que moravam foradas plantações.

Actividades PraticadasUma importante parte dos agricultoresreceberam terras que já não eram cultiva-das há muito tempo, encontrando-se"encapoeiradas". É uma situação que àpartida se prende com a pressão sobre aterra e que leva a distribuição de área que,as condições económicas das roças esta-

tais tinham obrigado a abandonar por faltade rentabilidade.

O programa de apoio ao desbravamento deterras previa o desbravamento, "abertura"de 200 ha tendo sido efectuados 140 até aofinal de Julho de 2000.

Na sua maioria estas parcelas possuíamcacau, tendo-se a actividade inicial dos agri-cultores centrado na introdução de culturasalimentares. Esta tendência intensificou-secom o decorrer do processo do privatização,agudizada pelo decréscimo do preço docacau e pelas pragas de Rubrocintus.

Assim, a importância do cacau no rendi-mento das famílias tem progressivamentevindo a decrescer.

O interesse pelas novas culturas está bempatente no gráfico seguinte :

O café tem mesmo sido a cultura industrialque mais tem interessado os pequenos agri-cultores, à qual recentemente se têm junta-do as fruteiras e a pimenta.

Acesso aos mercados ecomercialização

Como resultado do incremento da produ-ção de culturas alimentares começaram-sea fazer sentir sintomas de saturação dosmercados, quer com matabala quer com

0

20

40

60

80

100

Banana Cacau M atabala Café M ilho Outros

Culturas económicamente mais interessantes

1994

1998

Fonte : Rodrigues, Paulo - GTZ, Jan99

E volução da P ro dução de C acau

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

an o

áre

a (h

a)

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

prod

ução

(ton

)

Área

Produção

F onte : F AO

início do P P A D P P

Gráfico 3

Gráfico 4

Page 44: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

45Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Mudanças Políticas e Económicas

hortícolas e frutícolas (prejudicada igual-mente pela sazonalidade da produção). Asproduções são vendidas directamente nomercado ou, a operadores "informais":palaiês que posteriormente revendem nomercado local.

A transformação dos excedentes e a buscade novos mercados (exportação) aparecemcomo únicas possibilidades de inverter estatendência, uma vez que o crescimento domercado interno dificilmente acompanharáo verificado na capacidade de produção.

Mesmo a produção de cacau, destinada àsgrandes e médias empresas de transforma-ção aparece com problemas, ligada com ogrande baixa de preços no mercado inter-nacional e com o reduzido interesse dosoperadores privados em ir comprar cacauaos sítios mais distantes e de acesso maisdifícil.

Acréscimo de produtividade Na sua formulação inicial eram previstossignificativos aumentos da produção agrí-cola de STP. Teremos claramente de dis-tinguir dois tipos de situações:

A produção de cacau que ficou praticamente ao mesmo nível;

A produção de culturas alimentares quecresceu significativamente.

A produção de cacau teve alguns aumentosiniciais, à medida que as parcelas eram dis-tribuídas, devido a uma maior eficiência nacolheita. Nos anos seguintes, a deficienteou mesmo ausência de aplicação de fito-

fármacos para combate de míldio eRubrocintus, a diminuição do ensombra-mento, a proliferação de outras culturas namesma parcela e o baixo nível de replanta-ções motivaram quebras acentuadas na pro-dução de cacau.

Assim, o aumento de produção (1993/94)deveu-se sobretudo a uma maior atenção nacolheita (disponibilidade da mão-de-obrafamiliar) do que a quaisquer investimentosfundiários melhores aplicações de fitifár-macos;

Com efeito, no período subsequente(1995 eseguintes), as produções decresceramdevido à falta de investimentos e de cuida-dos culturais (também por falta de apoiosdos projectos de acompanhamento - PNA-PAF e LCP/DR (anos 1995/96) em fase dearranque) associado a inexperiência emgestão e organização da actividade agrícolados novos detentores de terras agrícolas.Nos anos subsequentes (1997/98) com o

aumento da taxa de cobertura da assistên-

Evolução do Comércio Externo de São Tomé e Principe

0

2

4

6

8

10

12

1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

anos

milh

ões

de U

SD

Prod. Agríc. Imp.

Prod. Agríc. Exp

82848688909294

M aior liberdade de

desisão

Aumento dos

rendimentos

M elhoria da

alimentação

Principais ganhos com a Privatização

1994

1998

Gráfico 5

Fonte:AGRO.GES/CINFORMA, Fevereiro2001

Page 45: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

46 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Mudanças Políticas E Económicas

cia e apoios técnicos têm-se registado umligeiro aumento ainda que sempre aquémdos volumes previstos.

Nas culturas alimentares, apenas no milhose não verificaram acréscimos, enquantoque na banana e na matabala foram enor-mes os aumentos da produção conseguidos,como se observa nos gráficos seguintes.

De facto, um dos problemas mais citadosactualmente é o problema da comercializa-ção das produções de culturas alimentaresdas pequenas e médias empresas. Assim,face a um aumento generalizado da produ-ção, à sua sazonalidade (principalmentehortícolas), à baixa capacidade de conser-vação destas produções, e à muito limitadacapacidade de compra e consumo a nívelinterno, verificam-se excedentes de produ-ção que não são comercializados e, signifi-cativas quebras de preços.

Impacto sobre o ComércioExterno

Um dos efeitos mais esperados doPPADPP era um aumento das exportaçõ-es, quer das culturas tradicionais quer denovas culturas alimentares, e uma conse-quente redução das importações de bensalimentares.

Como já vimos, nem a produção de cacausubiu nem as quantidades exportadas (pra-ticamente toda a produção exportada)

Por outro lado, nas exportações de culturasoleaginosas e óleos não se verificaram signi-ficativas variações ao longo da vigência doPPADPP. Em termos de importações de cul-turas alimentares, continua a grande depen-dência dos cereais importados, arroz e trigo,muito ligados ao fornecimento da ajuda ali-mentar "via PAM". Desde 1990 a importa-ção de óleos alimentares vegetais tem-semantido a níveis relativamente mais baixosdo que os verificados na década de oitenta,embora não se verifiquem sinais de decrés-cimo. Nos produtos animais destaque-se oenorme crescimento das importações desuíno depois dos surtos de peste , e o decrés-cimo de carne de bovino desde 1995:

Globalmente, o PPADPP não veio trazer,por enquanto, significativas alterações aocomércio externo de produtos agrícolas de

STP. Apenas no último ano de análise, 1998,parece existir uma clara subida das exporta-ções, que pela primeira vez nesta década seaproximas do valor das importações.

É certo que as produções alimentares estãoa crescer, mas não tem existido a dinâmicasuficiente e as condições para permitir aexportação destes produtos. De facto, aexportação de hortícolas e matabala para oGabão têm sido apontadas como muito pro-missora. Todavia as dificuldades de trans-porte e logística e as barreiras alfandegáriasmuito elevadas têm impedido significativosvolumes de exportação. As quantidadesexportadas têm-no sido principalmente deforma "informal" com operadores geral-mente não licenciados.

Caso se aproveitem estas potencialidades(grandes diferenças entre preços no Gabãoe em STP e falta de produtos no Gabão), éprovável que se possa encontrar uma viaque faça crescer de forma sustentada asexportações de culturas alimentares e assimfaça ultrapassar as importações de alimen-tos em STP.

Balanço finalApesar dos aspectos negativos que foramsendo referidos, entre 1994 e 1998 há umbalanço claramente positivo feito pelospequenos agricultores, quer em aumentodos rendimentos, quer em melhorias naalimentação.

S. Tomé tem hoje cerca de 6500 Famíliasbeneficiadas com a distribuição de terra. Asua actual situação económica, apesar dedifícil , será melhor do que a anterior situa-ção de empregados de empresas inviáveis,usufruindo de baixíssimos salários. Embo-ra não seja possível generalizar ou mesmoquantificar, os contactos mantidos mostramclaramente diferenças entre o grau de satis-fação dos pequenos agricultores. Estas dife-renças têm exactamente a ver com o suces-so da aplicação de algumas medidas com-plementares aplicadas, como sejam a assis-tência técnica, a manutenção de algumasmedidas de caracter social, a sua inserçãoem associações de produtores, crédito, etc.

A componente de insucesso tem , a nossover, algumas causas que importa identifi-car:

Page 46: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

47Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Mudanças Políticas E Económicas

muitas parcelas foram distribuídas em maestado e a situação de total descapitaliza-ção dos agricultores impede a sua recu-peração;as terras são por vezes muito dis-tantes e de difícil acesso;o título de usu-fruto não transmite a confiança suficienteao agricultor e não constitui instrumentojurídico suficiente para efeitos de garantiabancária ou outras;o objectivo de muitostrabalhadores beneficiados era somenteconstituírem uma reserva de sobrevivên-cia a prazo;em alguns casos os beneficiá-rios demonstram falta de vocação oumesmo interesse em trabalhar as terrasdistribuídas;alguns benefícios sociaisdesapareceram completamente; a nãoexistência de empregos complementares,obriga em muitos casos a opção não agrí-cola originando o abandono das terrasdistribuídas;

Estas circunstâncias estão na origem de,pelo menos, parte do abandono de muita daterra distribuída. Constituindo, sem dúvida,um dos impactos negativos do Projecto nãoé possível quantificar a área abandonadanem tão pouco o número de beneficiáriosque não exploram as terras que lhes foramdistribuídas. Estima-se , no entanto, queeste número possa ascender a 15% do totaldos beneficiários, constituindo sem dúvidauma preocupação para o futuro da agricul-tura S.Tomense.

Um segundo impacto negativo decorrenteda forma como os pequenos agricultoresreceberam as terras, é o abate de árvoresque se tem verificado após a distribuiçãodas parcelas. Este impacto vai muito paraalém das consequências para a produção decacau das parcelas afectadas.

Mudanças Politicas eDesenvolvimento HumanoO conjunto das Mudanças políticas reali-zadas durante a década de 90, mostraram amaturidade do povo santomense. A quedasucessiva dos Governos, a regularidade doexercício parlamentar apesar da instabili-dade política subjacente à sucessão dosGovernos e o descontentamento da popu-lação manifestado de forma viva, em nadaperturbaram a realização das eleições quedecorreram sempre num clima de paz,tendo-se verificado a alternância política,sem qualquer sobressalto.

Participação Política dosCidadãosParticipando politicamente, usando asliberdades e direitos que a Constituiçãolhe confere, o cidadão faz valer, por umlado, os seus direitos individuais ou degrupo, e, por outro, legitima o poderdemocraticamente constituído. A lei dizque votar é um dever cívico do cidadão ecabe essencialmente aos partidos políti-cos, em liberdade e igualdade concorre-rem para a formação e a expressão da von-tade política das populações.

Envolvimento dos Eleitoresnos Processos Eleitorais

Convém notar que a abstenção que traduza vontade ou não do eleitor em participarnas eleições tem vindo a aumentar, embo-ra com pequenas oscilações:

Quanto às eleições autarquicas e regionais,elas tiveram lugar respectivamente em1992 e 1995 e as abstenções corresponde-ram a 40,6% (autarquicas) e 41,1% (regio-nais). Da apreciação global destes resulta-dos se pode concluir que a abstenção temvindo a aumentar, reflectindo o pouco entu-siasmo dos eleitores pela forma como sedesenvolve a actividade política no país.Pode-se ainda dizer que as eleições anteci-padas, realizadas em 1994, não tiveramgrande adesão. Também nas presidenciais,tem havido uma diminuição da participa-ção popular se excluirmos, os 40% de abs-tenção das eleições presidenciais de 1991,devido ao facto de só ter havido um candi-dato.

Ano

1991

1994

-

1998

-

Legislativas

23,2

47,9

-

35,3

-

Presidenciais

40,0

-

1ª Volta - 25,2

2ª Volta - 21,3

-

29,3

Ano

1991

-

1996

-

2001

Nível de Abstenções nas Eleições ( % )

Fonte: Cálculos doConsultor, combase nos resultadoseleitorais

Page 47: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

48 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Mudanças Políticas E Económicas

Participação Cívica dosCidadãos

Actividade Cívica eProfissional

Com a publicação das legislação relativaàs leis da greve, da actividade sindical edo regime jurídico dos trabalhadores porconta de outrem criou-se o ambientenecessário para que os cidadãos de ummodo geral e os trabalhadores em particu-lar, se organizassem para melhor defende-rem os seus intersses ecómicos, e profis-sionais. Vemos assim, ao longo de toda adécada multiplicarem-se as discussões ereinvindicações para a melhoria das con-dições de vida e de trabalho, em quasetodos os sectores de actividade. Foi o des-pertar da sociedade para o exercício daactividade profissional e sindical, comple-tamente diferente daquele que existiaanteriormnete. A pouco e pouco, primeiroas autoridades, depois as organizaçõespatronais foram reconhecendo nos sindi-catos, agrupados em duas grandes centraissindicais, a Organização Nacional dosTrabalhadores de STP (ONSTP) e a UniãoGeral dos Trabalhadores de STP (UGT),parceiros com quem era necessário discu-tir e estabelecer as bases para as acçõesfuturas e a resolução das questões pre-mentes e pontuais. De toda a actividadesindical desenvolvida, há que destaca-laem duas profissões, a enfermagem e oprofessorado, qualquer delas largamente,senão mesmo maioritariamente represen-tada pela população feminina.

Organização Profissional eComunitária

No domínio agrícola e no quadro da distri-buição de terras também se multiplicou acriação de organizações profissionais, masde índole comunitário associando pequenosagricultores e criadores residentes nomesmo espaço físico. Essas associaçõesque se foram agrupando, tomando âmbito

regional e assumiram depois a forma deuma federação nacional, Fede-raçãoNacinal dos Pequenos Agricul-tores deSTP (FENAPA). Esta associação represen-tativa dos pequenos agricultores de to-dasas regiões do país, acabou por ser umaestrutura nascida das bases e com umadirecção democraticamente eleita e manda-tada para falar e discutir em nome dos seusassociados. Com um programa de acçãoextremamente ambicioso, a FENAPA temcontado no seu trabalho de desnvolvimentocomunitário, essencialmente com o contri-buto da Zatona Adil, uma ONG nacionalespecializada no desenvolvimento comuni-tário e o apoio técnico e financeiro doProjecto Nacional de Apoio aos PequenosAgricultores (PNAPAF).

Desempenho InstitucionalAo apreciarmos o efeito das mudançasintroduzidas durante a década para o des-envolvimento humano, é preciso que ana-lisemos um pouco, a administração públi-ca que temos no país. No âmbito de acçõ-es destinadas a Avaliar o AmbienteInstitucional levadas a cabo em 1995 eprosseguidas em 1998, constatou-se aexistência de quatro causas principais,para o fraco desempenho institucional emSTP. Seguem-se as quatro causas e o seupeso relativo:– Falta de Decisão Política, com 32,8%– Carências na Organização e Gestão, ava-

liadas em 26,2%– Insufiência de Recursos Humanos quali-

ficados, com cerca de um sexto do pesototal, ou seja cerca de 16,2%

– Falta de Recursos Materiais e Finan-cei-ros, com apenas 10,8%.

Isto é tanto mais importante, quanto é sabi-do que face a uma herança tão complexa epesada, os esforços de mudança são destor-cidos e atenuados por forças inerentes aopróprio sistema, nem sempre facilmenteidentificáveis e ultrapassáveis.

Page 48: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

49Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

IntroduçãoO conceito de desenvolvimento humanotem vindo a ser promovido pelo PNUDdesde finais da década de 80. Define odesenvolvimento como a faculdade daspessoas poderem adquirirem capacidadesque lhes proporcionem os tipos de vidaque elas mais desejam. Este conceito tema sua origem na tentativa de superar e dis-cutir formas de perspectivar o bem estarassociadas exclusivamente a dimensõesmateriais ou económicas . Este enfoquepropõe uma óptica integral e multidimen-sional para entender os problemas de des-envolvimento, que sugere que o bem estardas pessoas depende das opções e oportu-nidades em diferentes âmbitos da vidahumana. Para além disso, esses factoresdo desenvolvimento humano reforçar-se-iam e complementar-se-iam mútuamente.

O IDH tenta avaliar algumas dimensõesessenciais possíveis de medir o desenvolvi-mento humano. Este indicador não pretendeesgotar todas as dimensões do desenvolvi-mento. Como se sabe as necessidades daspessoas são diversas e variam com o andardo tempo. Apesar disso, existem algumascondições básicas que são comuns a todasas sociedades em todos os tempos: (1) teruma vida longa e sã, (2) possuir os conheci-mentos necessários para compreender erelacionar-se com a sociedade à sua volta(3) possuir os recursos suficientes para atin-gir um nível de vida decente. Estas são asdimensões que constituem a base dos indi-cadores específicos que compõem o IDH.

Os indicadores que servem para mediras três dimensões que caracterizam o IDHsão os seguintes:1. Longevidade (Ter uma vida longa e sã):

Esperança de vida ao nascer

2.Nível educacional (Possuir conhecimen-tos necessários): Combinação da taxade alfabetização de adultos (ponderaçãode dois terços) e a taxa bruta de matrí-cula combinada primária, secundária esuperior (ponderacão de um terço).

3. Nível de vida (Ter recursos suficientes):PIB real per capita (PPA em dólares)Uma das primeiras preocupações meto-

dológicas dos investigadores nesta áreafoi a de criar uma série de ferramentas quepermitam medir e avaliar os avanços dospaíses em termos de desenvolvimentohumano. Esta foi e continua a ser uma dasquestões principais no momento de levar oconceito a prática.

Tradicionalmente a medição e avaliaçãodo desenvolvimento era realizada a partirde indicadores relacionados com o cresci-

Perfil deDesenvolvimentoHumano e Pobreza deSão Tomé e Príncipe

CAPÍTULO IV

O IDH tenta avaliar algumas dimensões essenciais possíveis demedir o desenvolvimento humano. Este indicador não pretende esgo-tar todas as dimensões do desenvolvimento. Como se sabe as necessi-dades das pessoas são diversas e variam com o andar do tempo.Apesar disso, existem algumas condições básicas que são comuns atodas as sociedades em todos os tempos: (1) ter uma vida longa e sã,(2) possuir os conhecimentos necessários para compreender e rela-cionar-se com a sociedade à sua volta (3) possuir os recursos sufi-cientes para atingir um nível de vida decente. Estas são as dimensõesque constituem a base dos indicadores específicos que compõem oIDH.

Os indicadores que servem para medir as três dimensões que carac-terizam o IDH são os seguintes:1. Longevidade (Ter uma vida longa e sã): Esperança de vida ao nas-

cer2.Nível educacional (Possuir conhecimentos necessários): Combina-

ção da taxa de alfabetização de adultos (ponderação de dois terços)e a taxa bruta de matrícula combinada primária, secundária esuperior (ponderacão de um terço).

3. Nível de vida (Ter recursos suficientes): PIB real per capita (PPAem dólares).

Caixa1Índice deDesenvolvimentoHumano

Page 49: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

50 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

miento económico e com o aumento dosrecursos das pessoas. Apesar do conceitode desenvolvimento humano considerarque a dimensão económica é muito impor-tante para avaliar o nível do bem estar,considera a existência de outras dimensõ-es que deveriam ser tomadas em conta eque para além disso refletem de maneiramais directa o bem estar das pessoas.Neste sentido, pode-se mencionar aspec-tos como a longevidade, o acesso aos con-hecimentos ou às liberdades políticas.

Portanto, um indicador de nível do bemestar, do ponto de vista do desenvolvimentohumano, deveria procurar refletir o caráctermúltiplo dos factores que o explicam. Aomesmo tempo, este indicador ou indicadoresdeveriam ser suficientemente simples parapoderem ser aplicados em diversos contex-tos e países. Em consequência disso, oPNUD criou em 1990 um indicador combi-nado chamado Índice de DesenvolvimentoHumano (IDH) que foi utilizado em diver-sos estudos na última década, e cuja lógica édescrita como se segue : Pretende ser um olhar que dê uma visão

sintética do desenvolvimento humano.Por isso o índice resume dimensõesvitais num só valor.

É um olhar atento aos resultados alcança-dos por um país na acumulação de capa-cidades e oportunidades que as pessoaspossuem. O IDH avalia capacidades quesão essenciais e que só são capazes degerar desenvolvimento humano se foremcomplementares e se se reforçaremNa sua estrutura, o índice orienta-se emdirecção à metas definidas em relação aníveis ideais de desenvolvimento huma-no. O IDH dá a conhecer os avanços jáconseguidos e o caminho que ainda restaa percorrer para se chegar a uma situaçãoóptima de bem estar. O índice procurarefletir características estruturais e dedesenvolvimento a longo prazo e não émuito sensível a situacões ou mudançasconjunturais.O Índice capta mudanças estruturaisquando são criadas oportunidades ecapacidades para as pessoas.Um perfil de desenvolvimento humano

de um país tem o índice de desenvolvi-mento humano (IDH) como uma das suasprincipais ferramentas. Não obstante,como dissemos anteriormente, o IDH nãoesgota o enfoque de desenvolvimento

humano e portanto, a comprensão dascondicões de desenvolvimento de um paísrequer uma análise combinada de diferen-tes indicadores, muitos deles não quantita-tivos. Esta é a opção escolhida para o pre-sente trabalho.

As questões que se procuram dar res-posta no presente capítulo, sobre os níveisde bem estar em São Tomé e Príncipe sãoas seguintes:

Quais são os níveis de desenvolvimentohumano do país? Como poderíamoscaracterizar o desenvolvimento humano?Como evoluiram algumas variáveischave do desenvolvimento humano nosúltimos 20 anos?Do ponto de vista específico da pobre-za, qual é o perfil da situação de SãoTomé e Príncipe? Como evoluíu apobreza nos últimos vinte anos? Há diferenças entre as diversas regiões dopaís? Elas manifestam-se a nível do des-envolvimento humano de homens e mul-heres? Qual é a dimensão das mesmas?Estes pontos são dessenvolvidos da

seguinte maneira: a parte 1 que analiza ascaracterísticas do desenvolvimento huma-no de São Tomé e Príncipe em compara-ção com diversos grupos de países; a parte2 que analiza a evolução do desenvolvi-mento humano de São Tomé e Príncipenalgumas variáveis chaves; a parte 3 queaprofunda o tema de desenvolvimentohumano e pobreza nas diferentes regiõesdo país e entre homens e mulheres.Finalmente tiram-se algumas conclusões.

Caraterísticas doDesenvolvimento Humana deSão Tomé e PríncipeDe uma maneira geral, São Tomé ePríncipe encontra-se entre os países denível de Desenvolvimento HumanoMédio. Com as novas estimativas atravésde variáveis que permitiram calcular oIDH para este relatório (Quadro 1) o paísocuparía a posición 109 na escala elabo-rada pelo PNUD em 2001 melhorandodesta maneira significativamente a suaposição tradicional. Situar-se-ia entre paí-ses como Guatemala, Honduras, Gabão eGuiné Equatorial. Apesar disso, deve-seressaltar que STP continuaría pertencendoaos países mais atrasados dentro do grupode DH Médio.

No Quadro 1 pode-se notar que as

Page 50: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

51Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

principais componentes do IDH são sen-sívelmente superiores aos que prevale-cem em média nos países da ÁfricaSubsariana; particularmente no que serefere à esperança de vida e a taxa dealfabetização. A diferença em termos dematrícula combinada é menos acentuadae em relação ao PIB per capita STP temum atraso evidente . Apesar de tudo, oIDH é superior a média regional.

Pode-se observar que o IDH é maior doque a média da África Subsariana, ultra-passa a média da Ásia Meridional (Índia,Sri Lanka, etc), e aproxima-se da médiade regiões como os países árabes, einclusive América Latina (Quadro 2).

Fazendo uma análise mais aprofunda-da, foram seleccionados três grupos depaíses com os quais São Tomé e Príncipepoderia ser comparado: (i) alguns paísesvizinhos (Camarões, Guiné Equatorial,Gabão, e República do Congo), (ii) umgrupo de países insulares africanos (CaboVerde, Comores, Maurícias, Seycheles), e(iii) um grupo de países insulares de popu-lação semelhante na Europa, Ásia e sobre-tudo as Caraíbas.

Fazendo uma comparação pode-se con-cluir que STP apresenta melhores níveisde desenvolvimento humano do que ospaíses africanos vizinhos e a média daregião subsariana de África, mas em rela-ção as médias de outros países insularesda região e do resto do mundo o seu IDHé sensívlemente inferior; em particular éevidente o seu atraso face aos países insu-lares das Caraíbas muitos dos quais têmpara além disso populações semelhantes omenores (Quadro 3).

Se considerarmos as componentes doIDH (Quadros 4, 5 e 6) podemos afir-mar o seguinte:

Em relação ao grupo de países de des-envolvimento humano médio, o maioratraso do país é em termos do PIB percapita. Os seus níveis de resultado

educacionais são semelhantes à estamédia, e os avanços em esperança devida são ligeiramente inferiores àmédia. Esta tendência torna-se clarana comparação com a África Subsa-riana, como dissemos anteriormente:em todos os casos e com marcada

Índice de Desenvolvimento Humano 98-2000São Tomé África Subs.

Esperança de vida 64,7 48,9Alfabetização (%) 83,1 58,5Taxa Matrícula Combinada (%) 57,7 42,0PIB per capita ($PPA) 1469 1607

0,47

0,57

0,69 0,71 0,74 0,74

0,9

0,2

0,4

0,6

0,8

1

Africa Asia M eridional Estados

Arabes

Asia Oriental Europa

Oriental/CEI

America Latina Paises

Desarrollados

Mayor valor región Menor valor región Promedio regional

SA O : 0,618

Quadro 2Posição de São Tomé e Príncipe em termosde Índice de Desenvolvimento Humano

Quadro 1Índice de Desenvolvimento Humano 98-2000

Quadro 3. Comparación del IDH con grupos de países

0,619

0,464

0,545

0,687

0,788

0,673

SAO TOME

Africa Subsahariana

Países africanosvecinos

Países africanosinsulares

Países insularesCaribe

Países DesarrolloHumano Medio

3 - Para una revisão das origens do conceitode desenvolvimeno humano e a sua relaçãocom importantes debates na economia do des-envolvimento ver Streeten (2000). Para umadiscussão sobre o bem estar na óptica de umaliberdade mais alargada: Sen (1999).4 - Parte destes aspectos foram apresentadosem PNUD-Chile (1998)

Page 51: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

52 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

1.00.95.90.85.80.75.70.65.60.55.50.45.40.35.30

1.00

.95

.90

.85

.80

.75

.70

.65

.60

.55

.50

.45

.40

.35

.30

Maurice

Comores

Salomon Islands

VanuatuCape Verde

Samoa

Mald ives

St.LuciaSt. Vincent

Seych

Dominica Antigua-Barbados

Bahamas

MaltaIslandia

Rep. del CongoGuinea Ecuat.

Gabon

Camerun

SAO TOME

00,1

0,20,3

0,40,5

0,60,7

0,8

Indice deDesarrolloHumano

Indice deesperanza

de vida

Indice delogro

educativo

Indice de PIBper capital

SAO TOME

Países DH Medio

Africa Subsahariana

excepção para a dimensão económicaSTP tem melhores indicadores dedesenvolvimento humano que o con-tinente.

Se compararmos o índice de esperança devida com o índice do PIB per capita dogrupo de países analizados vemos queexiste uma relação entre uma maior espe-rança de vida e melhores níveis de recur-sos per capita (Quadro 5), No entanto évisível que São Tomé e Príncipe temmaiores resultados a nível de esperançade vida do que países como Gabão,Camarões, Guiné Equatorial, Repúblicado Congo ou Comores apesar de terníveis semelhantes ou até inferiores derecursos per capita.Na comparação entre o índice deobjectivos educacionais atingidos e onível de PIB per capita observa-setambém claramente a relação positivaentre estas duas variáveis (Quadro 6).Uma vez mais, embora de formamenos acentuada que anteriormente,São Tomé e Príncipe apresenta maio-res avanços nesta dimensão do queoutros países com níveis de PIB percapita semelhantes ou maiores ,Gabão é um exemplo eloquente destatendência: é interesante notar que oelevado nível do PIB deste país deve-se em grande medida a sua riquezapetrolífera, a qual apesar de tudo nãolhe permite melhorar o seu nível glo-bal de desenvolvimento humano. Estefacto pode constituir una referênciainteressante que se deveria tomar emconsideração no futuro em STP.

Evolução doDesenvolvimento HumanoEm São Tomé e PríncipeSão Tomé e Príncipe aumentou significa-tivamente os valores de alguns indicado-res sociais que compõem o IDH nos últi-mos 20 años (1981-2000). Particular-

Indice PIB per capita

1.00.95.90.85.80.75.70.65.60.55.50.45.40.35.30

Indi

ce lo

gro

educ

ativ

o

1.00

.95

.90

.85

.80

.75

.70

.65

.60

.55

.50

Maurice

Comores

Salomon IslandsVanuatu

Cape VerdeSamoa

Mald ives

St.LuciaSt. Vincent

Seych

DominicaAntigua-Barbados

BahamasMalta

Islandia

Rep. del CongoGuinea Ecuat.

GabonCamerun

SAO TOME

Quadro 4Comparação decomponentes doIDH

5 - Para una revisão das origens do conceitode desenvolvimeno humano e a sua relaçãocom importantes debates na economia do des-envolvimento ver Streeten (2000). Para umadiscussão sobre o bem estar na óptica de umaliberdade mais alargada: Sen (1999).6 - Parte destes aspectos foram apresentadosem PNUD-Chile (1998).

Quadro 6Índice de objectivoseducacionaisatingidos em relaçãocom o Índice do PIBper capita

Quadro 5Índice de esperança devida em relação comÍndice de PIB per capita

Page 52: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

53Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

mente, o analfabetismo diminuiu signifi-cativamente sofrendo uma reducção de43% em 1981 para menos de 17% em2000 (Quadro 8). Estes avanços na dimen-são educacional do desenvolvimentohumano confirmam-se pelo aumento dosníveis de escolaridade média da popula-ção: em 1980 as pessoas com mais de 25anos tinham em média 2,3 anos de escola-ridade; em 2000 este valor atingiu 5,4, oque representa quase o dobro do que noinício da década de 80. Igualmente, acobertura dos serviços de educação primá-ria melhorou sensívelmente (Quadro nº 7).

Apesar de existirem ganhos no sectoreducacional deve-se ressaltar que aindapersistem problemas de qualidade doensino ministrado e sobretudo, há umainsuficiência notória na educação secun-dária e a quase inexistência de opções deformação superior e profissional. Estasdeficiências refletem-se no nível da taxade cobertura combinada (primária, secun-dária e superior) com níveis muito inferio-res relativamente aos níveis que deveriater um país com as taxas de alfabetizaçãoe as médias de escolaridade que se regis-tam em STP. Isto representa uma grandebarreira para as oportunidades de desen-volvimento do país e dos seus habitantes.

No sector da saúde, num prazo longo,nota-se uma pequena melhoria: a espe-

rança de vida aumentou ligeiramente, oupelo menos não se deteriorou. Não obs-tante, é evidente o retrocesso que estavariável conheceu na década de 80, embo-ra se viesse a registar o seu posteriorincremento na década de 90 a ritmosmuito lentos. Isto pode estar relacionado

com os avanços limitados do país na erra-dicação de doenças como a malária.Apesar de que a esperança de vida em SãoTomé e Príncipe é superior a existente emoutros países de África, é evidente que se

quadro 7. Escolaridad promedio Sao Tome (Mayores 25 años)

2,3

5,36

1980

2000

64,662,15

64,7

57,4

73,2

83,1

50

55

60

65

70

75

80

85

1981 1991 1998

Esperanza de vida(años)

Tasa de alfabetismo(%)

0,0%

0,5%

1,0%

1,5%

2,0%

2,5%

3,0%

3,5%

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

Quadro 8Evolução de indicadoresde desenvolvimentohumano 81-98

Quadro 9Crescimento do PIB1986-1998

7 - De acordo com Lok-Desallien (2000) a rela-ção entre uma estratégia de reducção dapobreza e um plano de desenvolvimento , eportanto entre pobreza e subdesenvolvimentodepende da incidência da pobreza e do graude desigualdade num determinado país.8 - Não se realizou uma comparação urbana-rural devido a falta de uma diferenciação preci-sa desta correlação no inquérito que serviu deprincipal fonte de informação para este capítulo.9 - Os limiares de pobreza utilizados no estu-do (Inquérito sobre as Condições de Vida dasCasas 2000) foram calculadas a partir da esti-mativa dos gastos médios de uma casa:3.957.926 dobras por ano a preços constantesda cidade de São Tomé. Sobre esta base,fixou-se um primeiro limiar de pobreza(2.638.618 dobras) que representa os 2/3 damédia anterior e um segundo limiar de pobre-za (1.319.309 dobras) identificado com a"pobreza extrema" que representa um terço damédia.

Page 53: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

54 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

poderia atingir no futuro maiores avançosneste sector.

Na dimensão económica do desenvol-vimento humano, como se demonstroucom detalhe no Capítulo III, a economiade São Tomé e Príncipe experimentoudiversas mudanças estruturais a partir dadécada de 80. Isto não permitiu acelerar astaxas de crescimento da economia do país;para além disso persistem condições des-favoráveis para o seu desempenho econó-

Iniquidade e Podreza em SãoTomé e PríncipeEnfoque da pobreza do ponto de vista dodesenvolvimento humano

O nosso enfoque para avaliar a pobrezaé definido por Amartya Sen, isto é, a cha-mada pobreza de capacidades que sedefine como a carência ou privação dascapacidades e liberdades para que as pes-soas possam desenvolver-se de acordocom os seus valores. Nese sentido, apobreza de capacidades refere-se essen-cialmente a ausência ou a dificuldade noacesso das pessoas à um conjunto de capa-cidades (activos, dotações ou habilida-des), que costumam estar associados acertos direitos das pessoas (entitlements)(por exemplo, a capacidade das pessoasem ter acesso ao conhecimento está geral-mente associada ao direito a educação gra-tuita para todos os cidadãos estabelecidamediante determinadas normas legais), asquais lhes permitem mobilizar recursos ehabilidades para fazer face à situações devulnerabilidade ou privação no presente eno futuro.

O panorama de desenvolvimento huma-no de São Tomé e Príncipe será completa-do com uma análise das iniquidades e osníveis de pobreza existentes no país, devi-do a três razões: Uma primeira justifica-ção é de carácter conceptual pois as preo-cupações sobre os cidadãos mais desfavo-recidos deveriam estar sempre no centrodo desenvolvimento humano. Por outrolado, é evidente que existem importantesdiferenças nos níveis de desenvolvimentoentre as diferentes regiões e grupos sociaisdo país. De facto, as iniquidades sociaisexplicam em grande medida as condiçõesde pobreza e exclusão social de importan-tes grupos da população. Por outro lado,no caso específico de São Tomé e Príncipeé muito difícil ultrapassar os problemas deexclusão e de pobreza numa sociedadeonde mais do que 50% dos seus cidadãosnão têm os rendimentos mínimos parasatisfazer as suas necessidades básicas,para tomar sòmente um indicador decarência. Situação que nos indica quequalquer estratégia de luta contra a pobre-za em São Tomé e Príncipe deveria neces-sáriamente ser associada a um plano inte-grado de desenvolvimento humano e vice-versa .

No presente estudo assumiremos funda-

Caixa 2Enfoque da pobreza do

ponto de vista dodesenvolvimento humano

mico (por exemplo, a diminuição do preçodo cacau) e mantiveram-se os altos níveisde cooperação externa como componentesimportantes do investimento público. Emresumo, a economia de São Tomé ePríncipe continua a ser muito vulnerável eportanto os seus níveis de crescimento sãopouco satisfatórios perante as demandassociais da sua população.

No Quadro 9 pode-se observar os bai-xos níveis de crescimento económico dopaís no período 86-98: são poucos os anosem que a taxa de crescimento da economiaultrapassou os 2%, valor insuficiente con-siderando que a taxa de crescimento dapopulação situa-se cerca de 1,9%.

Deve-se notar que o desfasamento entrecertas melhorias na educação da popula-ção, e a ausência de melhores oportunida-des económicas pode eventualmente pro-vocar níveis de frustração e de desconten-tamento que limite as oportunidades dedesenvolvimento e de consolidação dademocracia no país. O desafío é promoverum maior crescimento económico queaproveite os melhores níveis de educaçãoexistentes e fazer uma vinculação maisestreita entre os esforços na área social eos avanços na economia.

O nosso enfoque para avaliar a pobreza é definido por Amartya Sen,isto é, a chamada pobreza de capacidades que se define como acarência ou privação das capacidades e liberdades para que as pes-soas possam desenvolver-se de acordo com os seus valores. Nese sen-tido, a pobreza de capacidades refere-se essencialmente a ausência oua dificuldade no acesso das pessoas à um conjunto de capacidades(activos, dotações ou habilidades), que costumam estar associados acertos direitos das pessoas (entitlements) (por exemplo, a capacidadedas pessoas em ter acesso ao conhecimento está geralmente associa-da ao direito a educação gratuita para todos os cidadãos estabeleci-da mediante determinadas normas legais), as quais lhes permitemmobilizar recursos e habilidades para fazer face à situações de vulne-rabilidade ou privação no presente e no futuro.

Page 54: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

55Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

mentalmente a filosofía do enfoque dapobreza de capacidades (ver Caixa 2), istoé, a necessidade de una análise integradada pobreza e de um esforço para exploraras interacções entre diferentes tipos decarências. Para efectuar essa análise reco-rrernos-emos à vários indicadores de pri-vações tanto de carácter monetário comonão monetário.

Pelo facto de dispormos de informaçõessuficientes, a análise de indicadores seráfeita para quatro regiões do país (Norte,Centro, Sul e Príncipe), para os 7 distritosque o compõem (Lembá, Lobata, ÁguaGrande, Mé Zochi, Cantagalo, Caué ePríncipe), e por género .

A continuacão descreveremos as carac-terísticas e tendências mais importantes dapobreza e a iniquidade em São Tomé nassuas diferentes dimensões:Carências e iniquidades não monetáriasNeste item exploraremos as desigualdadesexistentes em São Tomé e Príncipe nasdimensões educação, de saúde e de acessoaos serviços básicos.

No quadro 10 observa-se que a RegiãoCentro tem os melhores indicadores deresultado educacionais. Particularmente, odistrito de Água Grande, o mais urbaniza-do e povoado do país, tem relativamenteos melhores indicadores educacionais dopaís. No outro extremo encontram-se aregião Norte e Centro que mostram indi-cadores sistemáticamente inferiores amédia nacional, sobretudo o distrito deLembá, Caué e Cantagalo. Estes últimosdistritos caracterizam-se por se situaremem zonas rurais, com uma grande parte dasua população ocupada em actividadesagrícolas, anteriormente especializadas nacultura do cacau, e com dificuldadesacentuadas de vias de acesso. A ilha do

Príncipe aparece numa situação interme-diária.

Em termos de desigualdades, a diferen-ça entre o distrito mais avançado e o maisatrasado é importante: alfabetização daordem dos 88% contra 69% (19% de dife-rença), ou 5,9 anos de escolaridade contra4,3 anos no outro extemo (cerca de 2 anosde diferença).

Do ponto de vista das diferenças de

género, é evidente uma sistemática situa-ção desfavorável das mulhres nos três indi-cadores educacionais analisados o que dálugar a uma diferença do nível de alfabeti-zação muito elevada(91% contra 75%) ede escolaridade (5,7 contra 4,9 anos emmédia). Estas diferenças são bastantesemelhantes as existentes entre a regiãomais desfavorecida e a mais adiantada(Quadro 10).

Em termos regionais, a disparidade entregéneros é maior nas zonas com menor

10 - Os dados para a comparação foram obti-dos do UNDP(1998) Progress against povertyin Africa, UNDP-Africa. São dados para o perí-odo 1991-96.11 - Dados obtidos de "O Limiar da Pobrezaem S.Tomé e Príncipe (período 1991-1994)";PNUD.Março de 1995. Estes dados têmproblemas de comparação (limiares de pobre-za diferentes e metodologias) com os obtidosno ICV 2000; deve-se então analizar as com-parações realizadas como uma referênciaimportante de tendências.

TOTAL NACIONALDISTRITO/REGIÃO

Região NorteLembáLobata

Região CentroÁgua Grande

Mé-ZochiRegião Sul

CantagaloCaué

Região do PríncipeGÉNERO

HomemMulher

Alfabetização (> 15anos) (%)

83,1

76,569,981,586,488,283,778,279,376,080,7

91,175,6

Média de escolaridade(>25 anos)

5,36

4,884,934,855,725,965,364,534,634,305,02

5,714,97

Quadro 10Inequidadeseducacionais enSãoTomé ePríncipe(2000)

Quadro 11Alfabetização (%) porregião e por género

87%94%

87% 86%

66%

80%

69%75%

Norte Centro Sur Principe

HombreMujer

Page 55: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

56 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

desenvolvimento educacional relativo,isto é no Norte e Sul aonde as diferençasentre homens e mulheres são mais acen-tuadas. Em grande medida, o atraso edu-cacional destas regiões pode ser atribuídoaos níveis muito elevados de analfabetis-mo feminino, e de atraso educacional dasmulheres da zona (Quadro 11). Portanto,obter um desenvolvimento educacionalmais homogéneo entre as regiões implicaactuar de forma mais eficaz e de maneiraincisiva para aumentar o nível educacionaldas raparigas e mulheres.

Em termos de acesso aos serviços desaúde, de saneamento básico e energia, astendências identificadas na educaçãoadaptam-se com algumas pequenas varia-ções:

O Centro aparece com melhores taxas

12 - O índice de Gini é um indicador que medea desigualdade de rendimentos (ou de gastosde consumo) entre indivíduos ou lares peranteuma distribução equitativa. O valor 0 no índicerepresenta uma situação de perfeita igualdade,e o 100% representa uma situação de perfeitadesigualdade. À medida que o índice se apro-xima de 100%, a desigualdade de rendimentosno país é mais elevada.13 - Os dados para a comparação foram obti-dos de UNDP(1998) Progress against povertyin Africa, UNDP-Africa. São dados para o perí-odo 1990-95.14 - World Bank (1998), World DevelopmentIndicators.

TOTAL NACIONALDISTRITO/REGIÃO

Região NorteLembáLobata

Região CentroÀgua Grande

Mé-ZochiRegião sul

CantagaloCaué

Região do PríncipeGÉNERO

HomemMulher

Taxa de cobertura deserviços de saùde (%)

79,6

70,368,572,179,874,789,376,174,878,394,8

81,877,8

MCobertura de serviçosde água (safe water) (%)

73,8

83,197,172,273,390,250,177,383,066,944,4

Cobertura de serviçossaneamento (%)

30,3

23,328,319,635,644,922,821,118,725,323,0

Cobertura serviçoseléctricos (%)

52,4

41,849,436,162,068,652,934,039,124,335,9

Quadro 12Iniquidades no acceso de serviços de saùde, saneamentobásico e energia (2000)

54%

25%34%

45%55%

63%68% 69%

SAO TOME Y PRIN

CIPE

Zimba

bwe

Benin

Burkina

Faso

Ugand

aNige

r

Zambia Mali

36%41%

48% 46%

54%

15%

35%39%

33%

23%

1987 1990 1992 1994 2000

% Pobl. Pobre

% Pobl. Extrema Pobreza

Quadro 14Evolução da pobreza1990-2000

Quadro 13Comparação de níveis de pobreza monetária

Page 56: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

57Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

de cobertura com a única excepção que éo abastecimento regular de água , e asregiões Norte e sobretudo Sul com taxasde cobertura inferiores.

Apesar disso, existem dimensões nasquais algumas destas regiões apresentamas coberturas de acesso ao serviço maiselevadas do país (particularmente no quese refere a segurança em água potável).

Finalmente, a ilha do Príncipe é propen-sa a ter uma situação pior nesta óptica e aaproximar-se do grupo de regiões commenores resultados sociais (Cuadro 12).

Por distritos, são novamente Lembá,Lobata e Caué os que têm os indicadoresmais baixos de cobertura de serviços bási-cos no país e Água Grande que apresen-ta os indicadores mais elevados em rela-ção a média nacional.

Na variável que se pode avaliar pordiferenças de género (acesso aos serviçosde saùde) põe-se em evidência novamen-te a lacuna existente entre homens e mul-heres. Nas restantes variáveis não é pos-sível diferenciar desigualdades nesteâmbito uma vez que os indicadoresbaseiam-se nas características das casas.

Carências e iniquidades monetáriasO Inquérito sobre as Condições de Vida2000 (ICV-2000) mostra que 54% dapopulação do país tem receitas abaixo dolimiar da pobreza , isto é, não têm rendi-mentos suficientes para adquirir um cabazmínimo de bens básicos (alimentos, ves-tuário, combustível para a cozinha, etc)(pobreza de rendimentos).

Numa situação ainda mais precáriaencontra-se 5%, que não teria recursossuficientes para satisfazer inclusive assuas necessidades básicas alimentares(extrema pobreza).

Estes são níveis elevados de pobreza secompararmos com outros países africanos(Quadro 13) e mais ainda com o nívelexistente em alguns países de desenvolvi-mento humano médio como Chile (20%de pobres).

De acordo com estudos realizadosdesde os finais da década de 80 e comresultados do ICV 2000, a pobreza de ren-dimentos teria aumentado durante a déca-da de 90, embora a "extrema pobreza"tivesse diminuído significativamente(Quadro 14). Esta tendência pode expli-car-se pela elevada sensibilidade da

"extrema pobreza" relativamente a acçõese políticas incisivas de luta contra a pobre-za, por exemplo distribuição de alimentos,ou programas de assistência à grupos vul-neráveis com o ajuda da cooperação inter-nacional. Portanto, esta redução pode estarrelacionada com o aumento do apoioexterno em programas de assistência aosgrupos mais pobres do país. Pelo contrá-rio, para reduzir o nível de pobreza sãonecessárias não somente acções dirigidasde ajuda internacional aos grupos maisnecessitados: É necessário um considerá-vel crescimento económico devidamentesustentado e uma adequada distribuiçãodos resultados do mesmo entre a popula-ção, aspectos que como se demonstrou no

49

3741 43 46 47

54 57 57 58

SAO TOME Y PRIN

CIPE

Nigeria

Ugand

a

Madaga

scar

Zambia

Guinea

Seneg

al

Kenya

Zimba

bwe

Sudafr

ica

Quadro 15Desigualdade derendimentos

Quadro 16Níveis de pobreza porregião geográfica

TOTAL NACIONALDISTRITO/REGIÃO

Região NorteLembáLobata

Região CentroÁgua Grande

Mé-ZochiRegião Sul

CantagaloCaué

Região do PríncipeGÉNERO

HomemMulher

População em situaçãode pobreza (%)

53,8

70,676,666,446,439,459,865,158,682,260,1

52,955,7

População em situação deextrema pobreza (%)

15,1

26,729,624,710,87,4

16,719,39,9

43,918,8

14,915,6

Page 57: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

58 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

Capítulo 1 não foram resolvidos na déca-da de 90.

Em termos de desigualdade de rendi-mentos, ICV 2000 estimou um índice deGini de 49% . Este nível é elevado emrelação a outros países africanos(Quadro15) , Apesar disso São Tomé ePríncipe ainda está longe dos níveis dedesigualdade económica existentes nospaíses como Kénia, Zimbabwe, África doSul ou de Brasil (país com a maior des-igualdade de rendimentos no mundo, quetinha um índice de Gini de 60% en 1995 ).

Do ponto de vista geográfico, as maio-res percentagens de população em situa-ção de pobreza situam-se na região Nortee Sul. É notória a difícil situação dos laresnos distritos de Caué (82,2% de pobres e44% de pobres extremos), e de Lobata(77% de pobres e 30% de pobres extre-mos). A região do Príncipe situa-se nazona intermédia e a região Centro apre-senta os melhores indicadores de pobrezado país, embora tenha-se que ressaltar assensíveis diferenças entre o distrito deÁgua Grande e Mé-Zochi (Quadro 16).

Este panorama espacial da pobreza emSão Tomé e Príncipe tem muita semelhan-ça com o perfil de carências não monetá-rias (na educação, saùde e serviços bási-cos) desenvolvido anteriormente: De umamaneira geral pode-se afirmar que as mes-mas regiões e distritos com maiores carên-cias na saùde e educação, são também asque têm maiores níveis de pobreza de ren-dimentos. Portanto, principalmente nasregiões Norte e Sul pode-se falar de con-dições de pobreza estrutural (combinaçãode pobreza monetária e não monetária)bem acentuadas. Nestas zonas provável-mente os esforços serão maiores paragarantir os serviços públicos. No resto do

país (Centro e Príncipe) existem melhoresindicadores educacionais e de saùde masmantêm-se percentagens elevadas depobreza de recursos (entre 40% e 50%),portanto provávelmente são necessáriasacções que dêem maior ênfase no melho-ramento das oportunidades económicasnestas zonas

No entanto, embora as percentagensrelativas de pobreza nos indiquem que asregiões Norte e Sul sejam as mais desfa-vorecidas, devido ao peso demográfico decada região, encontramos que 56% dospobres do país vivem na região Centro(Quadro 17). Portanto, as situações depobreza nestas zonas devem ser enfrenta-das pelo governo, tomando em conta assuas características próprias (melhoresindicadores educacionais e coberturas deserviços).

Em resumo, a estratégia de redução dapobreza em STP deve tomar em contaestes perfis de pobreza diferenciados paraoptimizar os programas e canalizar osinvestimentos a serem realizados. Não é omesmo lutar contra a pobreza em Lobataque em Caué ou em Água Grande.

Se analizarmos a pobreza do ponto devista do género e do grupo socioeconómi-co (Quadro 16 e 18), vemos que o nível depobreza é mais acentuado nas mulheres doque nos homens, 56% contra 53% respec-tivamente. Estes valores vão de encontroàs tendências identificadas noutras variá-veis sociais.

Finalmente, o Quadro 18 ilustra a impor-tância dos problemas de desenvolvimentorural e agrícola para reduzir a pobreza (68%dos agricultores-pescadores é pobre e 29%está na extrema pobreza). De igual modochamam a atenção dos elevados níveis depobreza no grupo dos assalariados.

Análise de alguns factores determinan-tes da pobreza: salários e sector informalA dificuldade de reduzir a pobreza em SãoTomé e Príncipe está relacionada com aevolução dos salários e com o crescimen-to do sector informal no país.

Uma análise da evolução dos saláriospermite-nos chegar a conclusão de que háum decréscimo do valor dos salários , comligeira recuperação nos anos 1998 a 2000.No ano 1997, há uma grande recuperaçãodo valor dos salários, que no entanto éanulado pelo valor da taxa de inflação

Quadro 17. Total de población pobre por área geográfica

N orte

23%

C entro

56%

Sud

16%

Principe

5%

Page 58: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

59Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

Quadro 20 - Sector Informal da EconomiaFonte: Cálculos com base no Censo de 1991

muito elevada. Relativamente à funçãopública, vemos que só nos anos de 1995 e1996 é que os salários mínimos da funçãopública foram superiores ao saláriosmédios verificados naqueles anos.

Por outro lado, durante o ano de 1991foram feitos inquéritos à actividade infor-mal, que mostraram que uma parte signifi-cativa da população que trabalha no sectorformal da economia busca no informal,uma actividade adicional (52,7% da popu-lação activa), como se pode ver no quadroseguinte (Quadro 20)

Lamentavelmente, não se prosseguiu arecolha de informações sobre o sector infor-mal nos anos seguintes. Há no entanto quedestacar que já em 1991, o total de pessoasque trabalham no sector informal era decerca de 63%, admitindo-se que este núme-ro tenha crescido significativamente aolongo da década de noventa, com o aumen-to dos licenciados tanto da AdministraçãoPública, como das Empresas Públicas, oprosseguimento da liberalização da econo-mia e a incapacidade das autoridades deassegurar a sua reconversão.

Actualmente o sector informal é prati-

camente o único a oferecer emprego e ren-dimento nos centros urbanos, representan-do cerca de 60% do PIB. Ele compõe-seessencialmente de micro e pequenasempresas que têm um papel importante nacriação de emprego e de rendimentos.

Segundo um estudo do CIDR, realizadono mês de Janeiro de 1997, as micro epequenas empresas ocupam, 15% dapopulação activa da capital ( 1725 Chefesde empresas e 1425 empregados ). Elesfazem viver um pouco mais de 14.000pessoas. As micro empresas e pequenasempresas repartem-se essencialmente pelopequeno comércio, pelas actividades pro-dutivas e os serviços. O racio Número deHabitantes / MPE, é de 169 à escala do

41%

55%

44%

68%61%

53%

8%13%

8%

29%19%

14%

A salariados

sector público

A salariados

sector privado

Independientes A gricultores-

P escadores

R etirados D esem pleado

s-Inactivos

% Pobres % Extrema Pobreza

Quadro 18Pobreza por gruposócio-económico

Quadro 18PIndicadoressalariais

Designação 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000Salário médio (USD) 62,6 44,5 28,0 21,4 12,4 8,3 5,4 33,3 22,0 21,3 25,9Salário mínimo F.Pública (USD) 36,3 30,8 19,4 14,7 8,5 8,9 5,8 8,8 5,8 5,6 28,0Salário médio real (USD) 154,5 123,3 102,2 98,2 32,9 28,2 10,4 41,3 105,2 130,4 242,4Salário mínimo realF.Pública(USD) 89,6 85,2 70,6 67,2 22,4 30,3 11,1 10,9 27,8 34,5 261,3Taxa de cambio 143,3 201,6 320,4 429,9 732,6 1420,34 2203,16 4552,51 6884,02 7122,03 7978,2Taxa de inflação 40,5 36,1 27,4 21,8 37,7 29,5 51,7 80,5 20,9 16,3 10,7

país, e 78 ao nível da cidade capital.

Relação entre as carências não monetá-rias e pobreza de rendimentoosNo Quadro 21 pode-se apreciar a relaçãoentre a pobreza de recursos e alguns indi-cadores de carências não monetárias. Deuma forma geral, pode-se concluir queexiste una relação entre as carências nãomonetárias e a pobreza de recursos. Mas,há certas diferenças de acordo com o tipode carências sociais: (i) as diferenças são

Descrição

Produção de bens não Agrícolas e ReparaçõesServiços pessoais (domésticas)

ComércioTOTAL

Pessoas com actividades informais temporais para rendimento adicionalTotal - no sector informal

Outros somente activos no sector formalTOTAL GERAL

Desempregados

POPULAÇÃO ACTIVA (POTENCIAL)

Número dePessoas

1.070930

2.5004.50023.50028.0006.06834.06810.500

44.568

(ParticipaçãoPercentual

(86% masculina)(90% feminina)(75% feminina)(64% feminina)

(52,7%)(62,8%)(13,7%)(76,5%)(23,5%)

(100%)

Page 59: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

60 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

pequenas entre o grupo "pobre" e "muitopobre" na maioria das variáveis, (ii) asmaiores diferenças existem nos indicado-res educacionais e de acesso aos serviçosde saùde e saneamento, (iii) no indicadorde acesso à " segurança em água potável"as diferenças são relativamente pequenas(Quadro 19).

ConclusõesA partir do perfil de desenvolvimentohumano e pobreza pode-se concluir oseguinte:

São Tomé e Príncipe tem níveis de des-envolvimento humano superiores aos depaíses del Africa Subsariana, mas com-parado com um grupo de países insula-res com população semelhante o seunível de desenvolvimento humano ésensívelmente inferior.Embora São Tomé e Príncipe possuaindicadores de alfabetização e esperan-ça de vida semelhantes aos existentesnos países de desenvolvimento humanomédio, as variáveis cobertura escolarcombinada e principalmente o PIB percapita são significativamente mais bai-xos do que as existentes neste grupo. SeSão Tomé e Príncipe pudesse melhorarestas duas dimensões, o seu IDH situa-lo-ia numa posição muito superior aoseu lugar actual e muito distante damédia da África Subsariana. Este pano-rama explica-se pelo escasso dinamis-mo e a alta volatilidade que a economíasãotomense experimentou nos anos 80e 90, aspecto aprofundado no Capítulo1, e pelo grande défice de serviços edu-cacionais existentes à nível secundário esuperior.

A evolução dos indicadores de desen-volvimento humano de São Tomé ePríncipe nos anos 80 e 90 é heterogé-nea: põe-se em evidência importantesavanços na eliminação do analfabetis-

mo e no aumento da escolaridade, avan-ços muito modestos na esperança devida e uma paragem na dimensão eco-nómica. Inclusive apesar dos resultadosdestas décadas existem défices muitoimportantes no sector da educação (qua-lidade do ensino e ensino secundário esuperior) e de saùde (persistência decertas doenças como a malária).Em termos de desenvolvimento humanoregional pôs-se em evidência a presençade atrasos importantes e baixas taxas decoberturas de serviços nas regiões Nortee Sul. Estas são as zonas que têm indi-cadores sociais relativamente inferioresque a média nacional. Este panoramaparece estar associado com as difíceiscondições de acesso às referidas zonas,e pela presença de populações rurais ede trabalhos agrícolas de baixos rendi-mentos.

Os hiatos de desenvolvimento humanorelativas a condição de género sãomuito importantes, particularmente noque se refere a educação. Estas iniqui-dades suscitam um grande desafío paraas políticas públicas de desenvolvimen-to humano no país pelo facto das dife-renças regionais poderem ser atribuidasas diferenças sociais entre homens emulheres. Assim, para resolver asiniquidades regionais deve-se actuarprioritáriamente sobre as condições devida das mulheres, pois quanto maispobre é a região, maiores são as dife-renças entre homens e mulheres .

Do ponto de vista da pobreza de rendi-mentos, o capítulo mostrou que osníveis de pobreza e de desigualdade derendimentos são elevados inclusive paraas médias africanas. Isto justifica adebilidade da dimensão económica nodesenvolvimento humano de STP. Deigual modo, manifestou-se nos anos 90uma tendência para o agravamento dapobreza atribuída a debilidade da eco-nomía, e a redução da extrema pobrezadevido possívelmente a um maior esfor-ço da cooperacção internacional na atri-buiçção de programas de assistência.Em resumo, não é plausível que apobreza diminua somente com a aplica-ção de maiores recursos da cooperaçãoe com programas dirigidos aos gruposvulneráveis, como sugerem os dadospara o período 80-90. Torna-se necessá-

% asistencia escolar às crianças (6-14)% Alfabetizados

% que não consultam médico por motivoseconómicos ou de dificuldade de acesso a

serviços% com acesso precário à segurança em

água % sem serviços sanitários adequados

Pobre87,977,4

24,8

27,9

78,4

Não Pobre93,983,4

18,4

22,5

65,3

Muito Pobre86,371,1

34,8

27,6

84,1

Quadro 21Carências sociais e

pobreza de recursos

Page 60: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

61Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Perfil de Desenvolvimento Humano e Pobreza de São Tomé e Príncipe

rio um maior crescimento económico euma melhor distribuição dos rendimen-tos nos próximos anos.Do ponto de vista geográfico, as regiõesNorte e Sul têm os maiores níveis relati-vos de pobreza, mas em percentagem dapopulação total, o maior número depobres situa-se na região Centro. De uma análise combinada dos défices

sociaise e os níveis de pobreza de rendi-mentos nas regiões pode-se concluir nanecessidade de definir estratégias dife-renciadas de luta contra a pobreza, poiscada região tem um perfil de desenvol-vimento humano e de pobreza particu-lar. As políticas públicas devem ajustar-se a tais particularidades se se pretendeser eficaz.

Page 61: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

63Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Metodologia Utilizou-se, para a realização deste trabal-ho, uma metodologia qualitativa, baseadaem quarenta e cinco entrevistas em pro-fundidade, semi estruturadas, construídasem torno de alguns tópicos escolhidos,mas que procuravam encorajar os inquiri-dos a relatarem as suas experiências devida, dificuldades quotidianas e aspiraçõ-es em relação ao futuro. Procurou-se tam-bém (através de um método de amostra-gem baseado em quatro critérios funda-mentais - sexo, idade, profissão e zona deresidência) que os indivíduos interrogadosformassem um painel representativo davida social e económica riboquina.O tratamento e divulgação dos dados pes-soais obtidos no decorrer das entrevistasgravadas obedeceu a critérios de confiden-cialidade, o que implicou a atribuição denomes fictícios a cada um dos inquiridos.

As respostas dos entrevistados não sãotranscritas de forma integral e linear - háum trabalho de síntese que, respeitando oessencial dos testemunhos recolhidos, osreordena em função da economia internado texto. As características do trabalho e aespecificidade do português local torna-ram também necessários alguns arranjosgramaticais e lexicais.

Embora os resultados da investigação rea-lizada tivessem permitido identificardeterminados modos de vida, padrões decomportamento e estratégias adaptativascomuns a uma parte significativa da popu-lação do Riboque - fornecendo assim indi-cadores fiáveis quanto aos diversos itensabordados - o tratamento, análise e apre-

sentação dos dados baseia-se exclusiva-mente nos métodos de análise qualitativa.Alguns aspectos poderiam ser facilmentequantificados com recurso aos dadosrecolhidos nas entrevistas; mas, não sendotodas as dimensões do problema mensurá-veis, uma parte não desprezível da reali-dade continuaria a ser refractária a estetipo de analises. A pobreza é multidimen-sional e, como tal, tem uma importantevertente psicosociológica, difícil de abor-dar através da análise estatística; os valo-res culturais são também difíceis de medirquantitativamente, e quaisquer esforçosnesse sentido arriscam-se a diluir o alcan-ce do próprio conceito.

O caracter qualitativo desta pesquisaencontra-se assim ligado à exigência decompreender os significados: a partir daconstatação da relativa frequência de umcomportamento, trata-se de o interpretar eavaliar com base na intencionalidade dosactores sociais e das influências a queestão submetidos, individualizando osvalores culturais, modelos simbólicos eregras sociais que contribuem, na situaçãoespecífica, para a construção da realidaderiboquina.

Objectivos Este trabalho partiu de uma constataçãoinicial - a existência, nas zonas periféricasda cidade de S. Tomé, de uma situaçãoquase generalizada de pobreza, caracteri-zada por condições de vida precárias, gra-ves carências económicas e elevado des-emprego (ou subemprego). Apesar de, poruma questão de fiabilidade e rigor nasmetodologias utilizadas, se ter optado por

Estratégiassuburbanas de lutacontra a pobrezaestudo de caso nobairro do Riboque

CAPÍTULO V

Page 62: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

64 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Estratégias suburbanas de luta contra a pobreza estudo de caso no bairro do Riboque

delimitar uma área de investigação con-creta - o bairro do Riboque - o estudoaborda uma realidade suburbana típica,focando problemas que (apesar de algu-mas singularidades não negligenciáveis)são em grande parte comuns a todos osbairros que rodeiam a capital santomense. A pobreza é um fenómeno complexo, decarácter multidimensional, que resulta dainteracção entre factores económicos,sociais, ambientais e culturais; as suasprincipais causas - a falta de recursos e aausência de capacidades individuais ecolectivas para a mudança - interagemcom muitos outras variáveis, que contri-buem por sua vez para a exacerbar.Considerou-se assim que uma aproxima-ção multifacetada, capaz de abordar asvárias dimensões do problema, seria amelhor forma de reflectir sobre esta reali-dade.Mas a noção de pobreza não é con-sensual - a sua definição depende do con-texto da investigação e varia com as con-dições sociais e económicas das comuni-dades e dos indivíduos. Importa por issocircunscrever o âmbito do conceito. Apobreza é entendida, neste estudo, como anegação das condições necessárias ao des-envolvimento humano. As três condiçõesessenciais a esse desenvolvimento são -ter uma vida longa e saudável, adquirirconhecimentos e capacidades, ter acessoaos recursos necessários para um padrãode vida decente, digno e participativo. Seo desenvolvimento humano consiste emampliar estas opções, a pobreza consisteem estar privado delas; manifesta-se nanegação da vida que as pessoas poderiamou gostariam de viver. A pobreza implica,não só a falta do que é necessário para obem estar material, mas também a priva-ção de oportunidades e opções básicas.

Utilizaremos assim, em articulação com oconceito de desenvolvimento humano, oconceito complementar de pobreza huma-na - entendida como empobrecimento emmúltiplas dimensões, e não apenas no queaos rendimentos e às necessidades básicasdiz respeito. A falta de rendimento sufi-ciente e a ausência de meios para satisfa-zer as necessidades humanas (alimentos,saúde, educação) são importantes factoresde privação, mas a ausência de oportuni-dades e de capacidades não o são menos.A prova disso é que a ligação entre cresci-

mento económico e progresso humanonão é automática - níveis consideráveis dedesenvolvimento humano são possíveis,mesmo com níveis modestos de rendi-mento.

Os conceitos de desenvolvimento humanoe pobreza humana reflectem duas formascomplementares de pensar a mesma ques-tão. Ambas as abordagens se interessampelo processo de desenvolvimento, mas aperspectiva conglomerativa, concentra-senos progressos de todos os grupos de cadacomunidade, desde os ricos aos pobres,enquanto a perspectiva da privação julga odesenvolvimento pela forma como vivemem cada comunidade os pobres e as pes-soas privadas de recursos 1. A vida e ossucessos individuais devem contar, masuma parte do interesse geral no progressode uma comunidade concentra-se especi-ficamente na situação das pessoas em des-vantagem.

Determinar a importância real da rede derelações sociais e de parentesco no com-bate à pobreza; saber quais as principaisestratégias adaptativas dos riboquinos;conhecer as suas expectativas quanto aofuturo; perceber em que medida as pesso-as conseguem por si próprias, com poucoou nenhum apoio do Estado ou das ONGs,criar as suas oportunidades e desenvolveras capacidades necessárias à realizaçãodas suas aspirações; descobrir quais osprincipais obstáculos à concretização des-ses projectos; compreender, através dealgumas histórias de vida, que tipo de fac-tores podem determinar o êxito ou o fra-casso de um pequeno negócio ou outraqualquer iniciativa individual; analisar emque medida as mudanças produzidascorrespondem ou não às aspirações ini-ciais; reflectir, por último, sobre a suaimportância do ponto de vista doDesenvolvimento Humano - estes sãoalguns dos propósitos deste trabalho.

Saliente-se, porém, que o objecto centralda investigação, consiste não tanto emanalisar exaustivamente as causas e conse-quências do fenómeno da pobreza noRiboque (esse é apenas o ponto de parti-da), mas em compreender a importânciados factores culturais - entendidos comosistemas de símbolos que elaboram signi-

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65Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Estratégias suburbanas de luta contra a pobreza estudo de caso no bairro do Riboque

ficações - nas estratégias populares decombate a essa mesma pobreza.

Existem determinadas continuidades cul-turais fundamentais nesta área suburbanada cidade de S.Tomé. As páginas seguin-tes procurarão determinar quais são e emque medida favorecem ou impedem o des-envolvimento humano. Será dada particu-lar atenção à relação entre os sistemassocial e económico e o sistemacultural/simbólico.

A hipótese central que orienta a investiga-ção é a de que, no Riboque, algumas lógicassimbólicas dificultam as mudanças sociais eoutras, pelo contrário, as facilitam. Alterarou manter determinados aspectos culturais -tal como se faz no campo da economia ouda política - pode tornar possível o desen-volvimento humano.

Caracterização do RiboqueO Riboque é um bairro popular nos arre-dores da cidade de S. Tomé, habitado porgente de proveniência diversa (das roçasdo interior às localidades do litoral) e dife-rentes origens étnicas (Forros2, Cabover-deanos, Tongas3, Angolares4. Uma boaparte desta população migrante, vinda detodos os cantos da ilha em busca de umavida melhor, estabeleceu-se às portas dacapital nos últimos dez/quinze anos, nasequência do processo de profundas trans-formações económicas que acompanhou atransição para a democracia. Trata-se por-tanto, em grande parte, de indivíduos des-enraizados, sem fonte de rendimentoscerta ou trabalho regular (pelo menos nosector formal da economia), que trocaramno espaço de uma geração o modo de vidarural por um modo de vida suburbano. Éverdade que aqui vivem também algu-mas famílias da pequena burguesia santo-mense (existem meia dúzia de vivendascom sinais exteriores de alguma prosperi-dade e, até, um bloco de apartamentoshabitado sobretudo por funcionáriospúblicos), mas os riboquinos são, na suaesmagadora maioria, gente pobre oumesmo muito pobre.

O bairro tem uma forte densidade popula-cional e uma grande concentração decasas num espaço relativamente reduzido,organizado em torno da rua principal; é

além disso, tal como todos as outras zonaspobres dos subúrbios, uma área com enor-mes carências de diversa ordem: habitaçãoe infra-estruturas básicas, emprego, saúdee educação, assistência social, etc. Estesproblemas, embora comuns a todas aslocalidades periféricas, são, neste casoconcreto, agravados pelo facto de o bairroser o aglomerado suburbano mais antigoda cidade de S. Tomé: com efeito, se ante-riormente as relações familiares e as rela-ções de entreajuda entre vizinhos constitu-íam a rede fundamental de suporte de todaa vida social, cultural, económica e, atépolítica (ao Riboque está associada todauma história de luta e resistência durante aépoca colonial), a pressão demográficadas últimas décadas introduziu um factorde maior conflitualidade nas relaçõesentre as pessoas, fez desaparecer os últi-mos sinais de ruralidade (os pequenosquintais, a criação de animais) e tornoumais complexa a gestão das formas tradi-cionais de sociabilidade.

Apesar disso, o Riboque continua a seralgo mais do que um mero dormitório àsportas da cidade: a sua movimentada ruaprincipal é, por tradição, um centro bas-tante activo de pequenos negócios, nelaproliferando os postos improvisados devenda, as quitandas5, as petisqueiras, osterreiros de dança.

Tudo isto confere a este bairro uma vidamuito própria , um certo "ambiente" que odiferencia das outras áreas suburbanas dacapital. É sobretudo ao anoitecer, quandoas pessoas regressam dos seus trabalhos(ou das suas deambulações em busca detrabalho), que esta atmosfera peculiar setorna mais evidente - o movimento na ruaaumenta, torna-se febril, as lojas e baresenchem-se de gente, a multidão aglomera-se em frente dos candeeiros das vendedo-ras, que expõem, em pequenas bancas ouno chão, os seus produtos - comida con-feccionada, vinho de palma, cacharam-ba6, banana, matabala7, lenha, carvão,óleo de palma…

Ao longo de duas ou três horas (algumasmais aos sábados) não cessa este vai evem frenético, esta ruidosa maré humana -indivíduos que sobem e descem a estrada,que entram e saem das casas, que se jun-

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tam nas esquinas, a conversar ou a jogarcartas; carros que rompem com dificulda-de por entre bêbados, pares de namoradose grupos de amigos. Depois, de repente,tudo cessa, tudo se acalma, e a noite caisobre o Riboque adormecido.

Os Riboquinos partilham esta vida socialintensa (e muitas vezes conflituosa) numespaço reduzido, densamente povoado, decasas degradadas, sobrelotadas, paredesmeias umas com as outras, viradas quasesempre para o grande palco que é a ruaprincipal. Nestas circunstâncias, não só oequilíbrio entre o domínio público e odomínio privado se torna difícil de gerir,como as próprias relações entre os habitan-tes da mesma casa, da mesma rua, domesmo bairro, se tornam muitas vezes pre-cárias, frágeis, voláteis: as vidas cruzam-see descruzam-se; perdem-se e ganham-seamigos e vizinhos; tecem-se e destecem-serelações passionais; vive-se no seio defamílias em constante recomposição.

Condições de vida Habitação e infra-estruturasbásicas

A habitação no Riboque tem um caractermuito precário: a construção em alvenariaé rara, e as casas - quase todas de madeirae telhado de zinco, erguidas sobre estacas- são quase sempre demasiado pequenas

para o número de pessoas que nelas habi-tam. Estão, além disso, muitas vezes emavançado estado de deterioração ou anecessitarem de obras urgentes de manu-tenção.

Os antigos quintais que, rodeando ascasas, delimitavam o espaço privado decada família, vão também cedendo lugar anovas edificações, à medida que a popula-ção aumenta no bairro. A malha urbanaaperta-se, a construção torna-se caótica,aparentemente anárquica.

O número de pessoas com casa própria é,nestas circunstâncias, relativamente redu-zido. A maioria das famílias vive em habi-tações arrendadas ou então construiu a suamoradia em terreno alugado. Outros,sobretudo os casais mais jovens, vivem emcasa de parentes ou de amigos. Algumasfamílias alugam partes de casa. E há aindao caso daqueles que, a troco de uma rendasimbólica, vivem na casa de alguma "mul-her de idade" e lhe prestam apoio na velhi-ce.

Felícia, se pudesse, consertava a sua casa eaumentava-a um pouco, dava-lhe umademão de pintura, punha latrina. Mas nãohá dinheiro. Por isso tem de continuar aviver com seis filhos, alguns primos ealguns sobrinhos (quinze pessoas ao todo)na mesma velha casa com quatro divisõesminúsculas .

A grande maioria das casas do Riboquenão tem ligação à rede de água canalizada;em alguns casos não há sequer por pertoqualquer ponto de abastecimento públicode água. A esmagadora maioria não temtambém casa de banho ou mesmo latrina(quando interrogadas sobre o assunto, aspessoas declaram que vão fazer as suasnecessidades "ao mato" ou "à grota"8). Aelectricidade está ausente em quase meta-de dos lares riboquinos. Não existe no bai-rro iluminação pública, rede de esgotos,sistema de escoamento das águas pluviais,recolha de lixo.

Se muitos dos entrevistados têm algumadificuldade em pagar as rendas das suashabitações, a situação agrava-se quando setrata de cumprir com o pagamento dos ser-viços básicos. A disparidade entre os ren-

Viver sem luzVelcy, de 41 anos, está separada do companheiro e vive com a enteada("o pai dela abandonou-nos"). Há alturas em que não têm dinheirosequer para comprar petróleo. "Quando isso acontece dormimos naescuridão; jantamos cedo e vamos logo para a cama".Vicência, de 36 anos, enviuvou há oito meses. Com seis filhos paracriar, não tendo trabalho certo nem fonte de rendimentos regular, a suasituação económica é desde então muito difícil. Os sinais de degrada-ção do seu nível de vida são evidentes. "A energia foi cortada a semanapassada, porque eu já não tenho condições de pagar", lamenta-se.

Partilhar espaços reduzidosJerónimo vive na casa de uma senhora idosa, "que está sempre doente".Não paga renda com regularidade, mas quando tem dinheiro "dá algumà velhota". Ao todo são treze pessoas a partilharem um espaço exíguo ebastante degradado: Jerónimo, seis irmãos, a mãe, a mulher deJerónimo, a mulher de um irmão, dois filhos da irmã mais velha e, bementendido, a dona da casa.

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dimentos dos indivíduos e os custos daágua e electricidade, por exemplo, consti-tui um problema para uma boa parte dasfamílias que utilizam estes serviços, sendomuitas vezes uma causa importante deendividamento. Muitos lares no Riboqueoptam assim por prescindir destas infraes-truturas. Para os que não prescindem, asdespesas mensais (sobretudo com a electri-cidade) consomem uma fatia significativados seus orçamentos familiares. Algumasdestas pessoas tiveram que aprender a usara electricidade apenas durante uma hora ouduas em cada noite. Outras permitiram quea electricidade lhes fosse cortada paradepois restabelecerem ilegalmente a sualigação à rede. Viver sem luz

Saúde e NutriçãoA maioria dos inquiridos afirma que a suasaúde e a dos seus se deteriorou em con-sequência do agravamento das condiçõesde vida. A alimentação tornou-se maisdeficiente e as doenças provocadas, tantopor alguma má nutrição como pelas máscondições higiénico-sanitárias (com espe-cial relevo para o paludismo), tornaram-semais frequentes. Há também a percepçãode que adoecer se transformou num pro-blema de caracter económico e que, se nãose tiver um conhecido no hospital ounuma clínica, os altos custos dos medica-mentos e dos cuidados médicos são umfactor impeditivo do direito à saúde.

É, no entanto, importante distinguir entreaquilo que os actores sociais afirmam e arealidade observável. Com efeito, osdados recolhidos sugerem que os riboqui-nos são agentes activos no acesso aos cui-dados de saúde, muito mais do que bene-ficiários passivos no termo de um proces-so organizado por outros. Os inquiridosformulam estratégias alternativas para tor-nearem as dificuldades e terem acesso aoscuidados terapêuticos, utilizando meiostão diversos, como:

o recurso às redes de relações sociais (éde grande utilidade ter um familiar ouum amigo no hospital, numa clínica ounuma farmácia);

o apoio dos vizinhos (há sempre alguém"entendido" por perto, para ajudar emcaso de necessidade);

a automedicação, quer através da medi-cina tradicional (quase todos os riboqui-

nos possuem um conhecimento práticorazoável dos mindjja'n mato - os remé-dios do mato, compostos, em largamedida, por folhas, cascas e raízes col-hidas na natureza), quer através damedicina convencional (é possível com-prar na rua um grande número de medi-camentos que nas farmácias só são ven-didos mediante receita médica);

O recurso aos curandeiros ("ir ver mato"significa visitar um curandeiro; talcomo em muitos outros contextos etno-gráficos, em S. Tomé estes curandeirossão convocados para agirem sobre umconjunto extenso de infortúnios, tantosociais como individuais, tanto metafí-sicos como físicos9).

O problema da alimentação é talvez aquestão diária mais importante com que amaioria dos riboquinos se debate: ao con-trário do que se passa nos outros bairrosperiféricos da capital, no Riboque, pormotivos que adiante se explicarão, quaseninguém possui quintais ou faz criação degado; isso significa que a comida deve serobtida através do trabalho quotidiano ou,na impossibilidade, através de qualqueroutra estratégia informal (compra-se"fiado", "toma-se" emprestado, pede-se

Depender dos amigos para ter acesso à saúde Isilda esteve internada no hospital com o filho e ninguém a ajudou."Eu estava doente e o meu homem não dava dinheiro para comprarmedicamento, por isso eu fiquei a dever ao enfermeiro trinta mildobras, mas como o enfermeiro é amigo do meu pai ele me disse quequando eu tiver pago".Firmina, quando tem alguém doente na família vai ter com uma ente-ada que trabalha no hospital e consegue desviar alguns medicamen-tos. Mas nem sempre: "esses dias ela diz que está difícil".Às vezes ir ao médico não resolve nada. Veja-se o caso de Filó: "Agente vai fazer consulta, médico passa receita e nós não compramosporque não temos possibilidade; ficamos assim mesmo". A solução érecorrer a uma vizinha que é enfermeira e "faz tratamento mesmo sempagar, depois quando temos dinheiro a gente paga".

Remédios tradicionaisIdalécio, quando tem paludismo, resolve o caso sozinho: "Se doença

começa, vou para o mato e como folha; levo lata, fervo remédio, bebo,tomo banho e durmo lá mesmo". Mas ele também conhece outrosremédios eficazes. Por exemplo: "Um cálice de cacharamba. Ponhosal, limão, e mexo bem, quando o sal derreter tomo e pronto; depoisde cinco, dez minutos passa".

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aos parentes, aos vizinhos, aos amigos).

Para as famílias numerosas e para os indi-víduos sem recursos, a viverem sozinhos,o agravamento da situação socioeconómi-ca significou assim um efectivo agrava-mento da situação nutricional: passou-sedas tradicionais três refeições por dia paraapenas duas, o que aponta para um estadode relativa carência alimentar. Embo-ra osdados sejam bem diferentes dos registadosem outros países africanos, a verdade éque a malnutrição, sobretudo entre ascrianças, tende a agravar-se, sendo já con-siderada uma das mais importantes causas

Comer do que há, quando há"Não conseguimos fazer uma refeição adequada, nem um arroz desubstância, sempre falta qualquer coisa" (Firmina, viúva de 56 anos,quatro filhos e cinco netos a seu cargo)."Há dias em que eu saio de casa só com um pão na barriga até à horade jantar" (Velcy, 41 anos, sem filhos, separada do companheiro)."Isto varia: se tomar pequeno almoço, tomo jantar; se não tomarpequeno almoço, tomo almoço e jantar. Mas hoje, pessoas de camadabaixa, como eu, não fazem três refeições; ou então é refeição de jaca,safú11, para enganar a barriga até ao jantar" (Alberto, reformado, de60 anos)."Nós fazemos duas refeições, mata-bicho e jantar. Ao mata-bicho, emvez de comer pão, a gente come arroz ou banana, para aguentar até àhora de jantar. Houve tempo em que a gente falava de almoço e lan-che, mas agora não dá para falar dessas coisas" (Felícia, costureirade 46 anos, seis filhos menores).

Estudar? Para quê?! Eduardo é alfaiate, mas podia dar aulas. Só não o faz porque o salário émuito baixo. "Gasta-se sapatos para nada", afirma. Estudou porque anda-va iludido, achava que a escola era importante para o seu futuro. Hoje achaque errou: "uma arte está acima de tudo".

Escola?E quem paga?! Anastácia tem cinco filhos em idade escolar, mas só três deles estudam:"Um está por conta da avó e dois estão por minha conta, para os outros eunão tenho dinheiro". Ao contrário de muitos pais, ela acha que a escolacontinua a ser importante, mas tem sérias dificuldades em assegurar aeducação dos filhos: "Eu nunca fui à escola porque o meu pai dizia quemulher só tem que saber lavar roupa e cozinhar, mas eu gostaria muito depoder ter estudado, tanto é que faço os possíveis por pôr os meus filhos naescola; mas agora tem problema da bata, que eu não tenho dinheiro parafazer, e então eu disse aos meus filhos para irem assim mesmo, se correremcom eles paciência".

de mortalidade10. A situação só não émais grave porque a dieta alimentar santo-mense - à base de banana, matabala, frutapão, peixe seco e óleo de palma - tem umelevado valor nutritivo e algum podercalórico

Educação e Protecção àinfáncia

A maioria das famílias riboquinas gastauma parte não negligenciável dos seusorçamentos na educação dos filhos, reali-zando assim um investimento produtivona sua formação (quando se enviam ascrianças à escola está-se muitas vezes arenunciar a um rendimento presente - querdevido ao custo da educação, quer devidoà perca do trabalho dos filhos - para finan-ciar um rendimento futuro).

No entanto, um número apreciável deentrevistados pensa que, nas condiçõesactuais, a educação não é particularmenteimportante ou útil para os seus filhos, por-que não os ajuda a encontrar um bomemprego. Há o sentimento de que aEscola, em virtude da sua deficiente arti-culação com o mundo laboral, não signifi-ca hoje em dia uma particular mais valiapara um jovem à procura de trabalho.Acresce a isso que os empregos onde ashabilitações são ainda um critério prioritá-rio se situam quase todos na pouco apete-cível - porque muito mal paga - área dofuncionalismo público. Os pais queixam-se também que os custos relacionadoscom a educação (material escolar e, muitoem especial, o uniforme), são muito eleva-dos e incomportáveis para o orçamentofamiliar.

Como consequência disso, um númerocrescente de crianças tem vindo a aban-donar a escola com a complacência oumesmo o apoio explícito dos pais.Começam desde cedo a trabalhar, a trocode alimentação, como aprendizes em ofi-cinas de automóveis, marcenarias, etc.

A maioria das crianças, embora conti-nuando a frequentar a escola, falta muitasvezes às aulas para ajudar os pais, tendoalém disso, extra horário escolar, que con-tribuir para a economia familiar (venden-do sacos de plástico, bolos e doces casei-ros, etc)

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Mas se, na opinião de muitos riboquinos, aEscola falha, os mecanismos de transmissãofamiliar de conhecimentos e valores estãotambém mais fragilizados. A falta de tempo éa principal causa desta vulnerabilidade doslaços familiares. As mulheres, em especial -cuja contribuição para a reprodução social éfundamental - sofrem de escassez de tempo,como consequência da sua tripla carga: terfilhos e criá-los, gerir a vida doméstica ededicar-se a actividades produtivas12

Representação Colectiva daPobrezaQuando interrogadas sobre o sentido dasmudanças materiais ocorridas na sua vidadurante a última década, a grande maioria daspessoas responde que a situação é actualmen-te bastante mais difícil do que era há dez anosatrás. As dificuldades económicas alastraram,o desemprego aumentou, a inflação disparou.Torna-se cada vez mais problemático sobre-viver sem acumular diversos trabalhos.Profissões que anteriormente garantiam umcerto status económico e social, deslizarampara patamares de pobreza. Grupos inteirosde pessoas mais vulneráveis e desprotegidasficaram completamente à margem do proces-so produtivo ou de qualquer tipo de assistên-cia social.

Para a maior parte dos inquiridos este aumen-to da pobreza e das dificuldades de sobrevi-vência das famílias é uma consequênciadirecta das mudanças políticas e económicasregistadas em S. Tomé e Príncipe nos últimosdoze anos. Embora quase ninguém pareça pôrem causa as transformações políticas ocorri-das a partir de 1989, a verdade é que pratica-mente toda a gente se interroga sobre o rumotomado pela economia santomense a partirde então. Existe entre os riboquinos o senti-mento de que o processo de reestruturaçãoeconómica é o principal responsável peloagravamento das injustiças sociais, pelo con-tínuo alargar do fosso entre os mais ricos e osmais pobres. De uma forma ou de outra,todos se tentam adaptar aos novos tempos,mas a desconfiança e o desânimo em relaçãoao futuro são evidentes, sobretudo entre osentrevistados com mais de 30/35 anos.

Verifica-se uma tendência generalizada paraatribuir a culpa da situação à incompetência,indiferença e corrupção dos sucessivosgovernos e demais entidades públicas; mas há

também, entre os que passaram pela expe-riência traumática da mudança, a tentaçãode continuar a cultivar uma relação dedependência em relação a esse mesmo

O alastrar da pobreza Damiana tem mais habilitações literárias do que amaioria das mulheres da sua idade: frequência da 9ªclasse. "Cheguei a ser professora primária, mas háquatro anos que não apanho lugar e estou em casa",afirma. Como recurso vende na rua azeite de palma,lenha e doces de coco. Habita, com os seus três filhos,a sua mãe, a irmã e os dois filhos da irmã, numapequena casa - ao todo oito pessoas para três quartosmuito degradados, sem água canalizada, electricidadeou casa de banho. A família de Damiana em nada sedistingue de muitas outras famílias pobres doRiboque. Os dias em que foi professora pertencem aopassado. O artesanato em tartaruga já foi um bom negócio, masagora é cada vez menos rentável - o comércio foi proi-bido e a procura diminuiu drasticamente. Sandrino,que nasceu numa família de tartarugueiros, passaactualmente por grandes dificuldades. Ele sabe que "apartir do momento que a obra ficou proibida deixou devaler a pena", mas custa-lhe abandonar a arte, demodo que "força só para não estar parado". Era umaactividade que dava lucro, Sandrino tinha ajudantes,muitos clientes. Agora "a vida está difícil".Vicência é uma mulher viúva com seis filhos para criar.A morte do companheiro deixou-a numa situaçãomuito difícil: "Era artista canalizador. Pessoas vinhamchamá-lo, ele ia, fazia o seu trabalho, pegava dinhei-ro, fazia compras e vinha para casa. Agora, se eu nãodesenrascar ninguém come". E Vicência desenrasca avida vendendo no mercado. "Há momentos que eu des-animo", confessa, "mas como não tenho outro meio,aguento assim mesmo. Às vezes, se eu não for mulherconcentrada, cabeça vai querer abrir - matabicho,almoço, jantar, doença, escola…, tudo é comigo".Ajudas? "Eu não conto com ninguém porque ninguémme dá nada; tenho que ser eu própria". Planos para ofuturo? "Com dinheiro é que se faz dinheiro; sem din-heiro não tem passo à frente a dar". As obras na casade Vicência ficaram por concluir: "Quarto de banhoainda não está acabado e faltam quatro chapas paraalargar outro quarto". E tem mais: "Energia foi corta-da a semana passada porque eu não tive condiçõespara pagar".Capiano, desempregado e doente "de um abcesso numpé", tem vendido a sua vida aos bocados para fazerface às dificuldades económicas: "Panela, prato..,quando sinto falta de dinheiro eu tiro de casa e mandovender. Praticamente, nesses dez anos, eu vendi tudo oque tinha de valor; agora estou desgraçado".

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Estado, responsabilizando-o pelos insu-cessos individuais e ocultando a falta deiniciativa própria atrás da lamentada faltade apoio governamental. Muitas pessoas(sobretudo as mais velhas) continuam aver-se como beneficiárias passivas de umprocesso organizado por outros, em vez dese considerarem agentes activos do seupróprio desenvolvimento humano.

Em que medida devem os cidadãos assu-mir-se como os principais responsáveispela melhoria das suas condições de vida eem que medida devem as Instituições(governamentais ou não) constituir-secomo parte importante nessa tarefa? Qualo papel do Estado na vida económica esocial dos indivíduos? - são questões que,como este estudo sobre o Riboque indicia,estão ainda por resolver no seio da socie-dade santomense, sendo hoje em dia objec-to de um conflito latente de gerações.

Durante o período anterior os santomen-ses adquiriram a convicção de que, deuma forma ou de outra, embora com salá-rios baixos, os seus empregos estavamgarantidos. Estes empregos estatais, dimi-nuindo a capacidade de iniciativa indivi-dual, da-vam, apesar de tudo, uma garan-tia mínima de segurança e estabilidade. Ocolapso da economia centralizada condu-ziu a uma situação social tensa, com umagrande quantidade de pessoas de algumaidade, sem recursos ou confiança para ten-tarem os seus negócios próprios, a compe-tir por trabalho cada vez mais escasso,precário e mal pago. A verdade, no entan-to, é que os empregos públicos são cadavez menos atractivos e a nova geração nãoencara a hipótese de um regresso à situa-

ção inicial. Das instituições esperam ape-nas "um apoio" no momento certo

São dois os sentimentos que irmanam hojeem dia a maioria dos riboquinos entre osvinte e os trinta anos: a consciência dassuas limitações económicas e a ambiçãode ultrapassar essas limitações. Isto repre-senta, sem dúvida, uma clivagem em rela-ção à geração anterior: muitos jovens jánão se vêem apenas como pobres à esperade uma ajuda mas como pobres à espreitade uma oportunidade.

Mas há que dize-lo - o fenómeno dapobreza é comum a quase toda a popula-ção do Riboque; o que varia é apenas omodo de a encarar. A verdade é que, sejaqual for a sua idade, a maioria dos ribo-quinos adultos só consegue hoje em diasobreviver através de um conjunto hetero-géneo de duplos e triplos empregos, acti-vidades informais, negócios de esquina,ajudas ocasionais e pequenos biscates malpagos. A estratégia é encontrar tantos tra-balhos ocasionais quanto possível, ser um"habilidoso", um "conhecedor" no máxi-mo número de áreas (a capacidade parareparar qualquer coisa ou executar qual-quer tipo de tarefa constitui hoje em diauma significativa mais valia)14.

Nesta circunstância de crise económica edegradação acentuada do nível de vida, osinquiridos, ao considerarem a pobrezarelacionam-na com os seguintes factoresde insucesso pessoal e familiar:

insuficiência de recursos para satisfazeras necessidades básicas (alimentação,saúde, escolaridade dos filhos);

incapacidade para adquirir algo mais queo estritamente necessário à sobrevivên-cia quotidiana;incapacidade económica para constituirfamília ou para sobreviver sem depen-der de outros;deficientes condições de habitabilidade(casas degradadas, falta de espaço,inexistência de água ou electricidade).

As principais causas da pobreza - que con-duzem às situações atrás descritas - são,na opinião dos inquiridos, as seguintes:

desemprego ou ausência de rendimentoscertos;salários baixos;

alto custo dos géneros de primeira neces-

Trabalhar para o Estado ?! Chê!-"Trabalhar para o Estado?! Chê13! Se quem lá está há 30 anos recla-ma, eu se fosse agora seria muito pior".-"Agora não vale a pena trabalhar para o Estado porque já não háEstado. Estado é só para cada um tratar da vida dele".-"Se me dissessem para escolher entre trabalhar para o Estado e con-tinuar com os meus negócios, eu escolhia as duas coisas, porque oEstado não paga bem".-"Negócio é uma coisa já diferente do que trabalhar para o Estado,porque negócio eu sei que ganho dia a dia, enquanto no Estado sei quetenho de esperar pelo fim do mês, e nem sempre tenho capacidade deaguentar um mês".-"Estado!… Estado é para estragar teu sapato".

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sidade;inflação;falta de apoio às iniciativas empresariais;incompetência e corrupção dos gover-nos;

ausência de apoio familiar; comportamentos destrutivos ou associais

(alcoolismo, deficiências mentais).Um número minoritário mas significativode mulheres associa também, explicita ouimplicitamente, o número excessivo defilhos ao fenómeno da pobreza.

Grupos mais vulneráveisEmbora a grande maioria da população doRiboque viva em situação de pobreza,existem alguns grupos mais vulneráveisaos seus efeitos. O género, a idade, onúmero de filhos, as deficiências físicas ementais, constituem obstáculos importan-tes, que agravam as condições de vida edificultam a sobrevivência económica dosindivíduos e das famílias. De facto, aoconsiderarmos as pessoas mais afectadaspela pobreza extrema e suas consequên-cias verificamos que, de um modo geral,se incluem nos seguintes grupos:

mulheres que lideram lares monoparen-tais (a situação é tanto mais grave quan-to maior for o número de filhos);

mulheres idosas, com pouco ou nenhumapoio familiar;homens idosos, com pouco ou nenhumapoio familiar;

indivíduos doentes; alcoólicos; deficien-tes físicos e mentais.

Se os handicaps físicos e mentais, asdoenças de longa duração ou o alcoolismosão situações limite que se traduzem emfenómenos de ruptura social, a verdade éque estes casos de autentica exclusãopotenciam, na maior parte das vezes, fra-gilidades que assentam no género ou naidade. Analisemos por isso, com umpouco mais de detalhe, a vulnerabilidade àpobreza de dois grupos chave: as mulhe-res e os idosos.

As MulheresHá certamente diferenças importantesquanto ao impacto da pobreza nos doissexos. No Riboque os problemas econó-micos e sociais têm um efeito multiplica-dor quando recaem sobre as mulheres,uma vez que continuam a existir na socie-dade santomense poderosos mecanismos

discriminatórios em relação ao género: no trabalho, as mulheres defrontamconstrangimentos nas oportunidadesque os homens não defrontam: a maiorparte das suas actividades continuam aser não remuneradas, não reconhecidase subvalorizadas; as suas oportunidadesde emprego no sector formal são muitoreduzidas;as famílias monoparentais dirigidas pormulheres estão entre as mais fortementeatingidas pelas políticas de reajusta-mento estrutural15; em muitos aspectos,o fardo da transição económica carrega-do por estas mulheres é mais pesado queo dos homens: elas são afectadas comomães, chefes de família, e produtoras debens e serviços.

Muitas das inquiridas do sexo femininosentem também que enquanto os homensse podem dar ao luxo de falhar nos seusdeveres para com a família, elas são sem-pre "obrigadas", devido às suas responsa-bilidade para com os filhos, a ter umamaior capacidade de adaptação às situaçõ-es. Um grande número destas mulheres(as que vivem sozinhas e também as quenão são apoiadas pelos seus companhei-ros) passa diariamente por situações difí-ceis para conseguir alimentar a família. Asestratégias de recurso adoptadas para con-seguir esse objectivo são diversas e, fre-quentemente, múltiplas:

pedir ajuda aos parentes mais chegados; realizar todo o tipo de pequenos traba-lhos remunerados (limpar casas, lavarroupa para fora, tomar conta de idosos,capinar…);

colocar alguns filhos em casa de outraspessoas ou arranjar-lhes bons padrin-hos; vender na rua (comida confeccionada,lenha, carvão, vegetais, etc) .

Quando uma mulher tem um filho, passa adedicar mais horas por dia às tarefas fami-liares, mas o tempo dedicado às activida-des remuneradas ou ao comércio de ruanão diminui significativamente. Há assimum acréscimo significativo de trabalho.Sendo o tempo um recurso escasso relati-vamente às tarefas que têm de ser realiza-das, a alternativa das mulheres riboquinasé quase sempre aumentar a intensidade doseu trabalho. Numa situação de crise elas

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compram menos, produzem mais bens emcasa e conciliam as actividades no exteriorcom os deveres familiares. Como conse-quência, diminuem as horas de lazer oumesmo o tempo de sono.

O trabalho feminino é também altamentesubvalorizado em termos económicos porser em grande parte não remunerado e nãomercantil. Parte do problema reside naprópria noção de valor: "(…) para objecti-vos de avaliação económica valor é sinó-nimo de valor de mercado. Contudo, mui-tos bens e serviços com valor económiconão são colocados no mercado. Muito dotrabalho familiar e comunitário mantém-

O fardo de ser mulherCamila (39 anos) já viveu com vários homens e dessas relações tevenove filhos, dos quais quatro ainda estão a seu cargo. Há um mês queCamila não trabalha porque tem estado doente, por isso lá em casanão há refeições certas - quando aparece alguma coisa come-se.Habitam em duas pequenas divisões de uma casa cedida por umaamiga que está em Angola. Essa amiga envia-lhe de vez em quando, "à sociedade", alguma mercadoria ("bacias, caldo, sal chouriço…")que ela vende na Feira do Ponto. "Também já vendi peixe", afirma, "etambém dava a outra pessoa dinheiro para comprar vinho tinto edepois dividíamos o lucro, mas ela começou a me enganar e então dei-xei esse negócio". Por vezes, quando não tem nada para cozinhar,vale-lhe a ajuda do pai ou de uma irmã: "Ás vezes me dão comida, eudou aos meus filhos e vou para a cama com fome, só alimento comvinho de palma e vou para a cama". Quanto ao seu actual compan-heiro, e pai de alguns dos seus filhos, "não ajuda nem um pouco: seuma família minha morrer ele não ajuda, se tiver festa na minha famí-lia ele nunca aparece, eu estava doente e ele não dava dinheiro paracomprar medicamento". Camila conclui: "Eu vou deixar esse homemporque parece que a outra mulher dele está fazendo feitiço para mim- de cada vez que eu tenho dinheiro, não sei como, esse dinheiro acabasem que eu consiga fazer alguma coisa de importante".

se assim sem valor, e as contribuições eco-nómicas de muita gente, especialmente asmulheres, não são reconhecidas nem com-pensadas"16.

O trabalho familiar das mulheres transcen-de, de facto, o valor de mercado para assu-mir:

um valor humano (uma hora de trabalhomercantil e uma hora de trabalho nãomercantil têm o mesmo valor quando setrata de medir o bem-estar; para o des-envolvimento humano o tempo gasto acriar, alimentar e a manter a vida huma-na tem tanto valor quanto o tempo gastoa produzir bens e serviços para o merca-do);

um valor cultural (o trabalho familiarreproduz e interpreta a sociedade; gra-ças a estas actividades, a família, asrelações comunitárias e as tradições cul-turais são mantidas e, ao mesmo tempo,continuamente reformuladas à luz dasnecessidades sociais).

Saliente-se, no entanto, que esta discrimi-nação com base no género acaba (parado-xalmente ou talvez não) por ser a principalresponsável pelo papel cada vez mais acti-vo das mulheres na busca de soluções eco-nómicas criativas. Com efeito, à semelhan-ça do que se passa um pouco por toda acidade de S. Tomé, onde grande parte docomércio informal está em mãos femini-nas, também no Riboque é bastante eleva-da a contribuição económica das mulheresatravés da sua participação nas diversasactividades informais, sobretudo no serviçodoméstico e no pequeno comércio de rua.

A população feminina é assim, ao mesmotempo, o principal motor da economiadoméstica e um dos grupos mais vulnerá-veis ao fenómeno da pobreza. Os progres-sos conseguidos nos últimos anos pelasmulheres riboquinas podem resumir-senuma expressão: capacidades crescentes eoportunidades ainda limitadas.

Os Idosos Se a população feminina do Riboque émuito vulnerável à crise económica, a situa-ção assume contornos particularmente gra-ves no caso das mulheres com mais de 50anos que vivem sozinhas e, ou não têmfamília, ou não recebem qualquer tipo de

O fardo da idadeIdalécio, aos 76 anos, vive sozinho numa casa com uma única divisão.Filhos, são dois, mas "é como se não os tivesse", uma vez que um foipara Angola e o outro está no Gabão "desde o tempo dos colonos".. Oseu pai era moçambicano e a mãe angolana. Conheceram-se na roçaonde trabalhavam como contratados - a mesma distante roça onde Ida-lécio nasceu e passou a infância. Em 1947, "no tempo do senhorGovernador Gorgu-lho", chamaram-no para a tropa. Em 1950, após adesmobilização, foi viver para o Riboque. Uma vida de canseiras e tra-balhos passou a correr por ele. Agora está velho e não tem quem oapoie. "O meu trabalho é levantar de manhã e ir carregar carvão nomercado", declara. Também ca-pina quintais e, quando a necessidadeaperta, "tomo esmolas nas lojas". Ida-lécio ontem não co-meu, deitou-se com fome; esta manhã ainda não

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apoio da família. É neste grupo etário que adesprotecção social atinge valores máxi-mos e a privação se torna mais preocupan-te. Para muitas destas mulheres idosas aprincipal estratégia de sobrevivência con-siste na cedência de parte da sua casa aestranhos - geralmente famílias jovens, comas suas próprias dificuldades económicas - atroco de ajuda e segurança (explícita ouimplícita) na velhice. Está-se assim peranteuma "coabitação interessada", tanto maisque os inquilinos acabam muitas vezes porherdar a casa após a morte da proprietária.Também os homens, mesmo aqueles quepossuíram durante a sua vida activa umacompetência específica (uma arte), passampor grandes dificuldades na velhice.

As reformas - quando existem - são insigni-ficantes, pelo que, para quem já não podetrabalhar, só resta um último recurso -depender da solidariedade dos filhos. É,porém, verdade que, nestas circunstânciaspenosas, de desprotecção extrema, os laçosde consanguinidade funcionam com maiseficácia em relação aos homens do que emrelação às mulheres, sendo em menornúmero os casos de abandono familiar eexclusão social entre a população masculinado Riboque.

Impacto da pobreza narede de relações sociaisA crise económica e o êxodo rural tiveramum duplo efeito - só aparentemente con-traditório - sobre a intrincada rede de rela-ções sociais existente no bairro: se é ver-dade que confirmaram a capacidade dosindivíduos para se manterem dentro datrama tradicional das relações de parentescoe de amizade, é igualmente verdade quederam origem a alterações significativas emalguns aspectos da interligação entre aestrutura social e a ordem simbólica. Asrelações pessoais, sendo ainda bastantedeterminadas pela tradição, estão sujeitas aum processo de permanente revisão emudança, à luz das novas realidades.

Vejamos, no concreto, como se desenrolaeste dialogo tenso e criativo entre tradiçãoe mudança.

A família e o parentescoO sistema de parentesco santomense -marcado por uma quase ausência de casa-

mento monogâmico, uma alta incidênciade uniões de facto e relações de visita, umelevado índice de lares monoparentaisliderados por mulheres e uma prevalênciados chamados "filhos ilegítimos" - deuatravés dos tempos origem a uma lógicacultural específica que determinou, segun-do Seibert17, uma rede extensiva de soli-dariedade familiar e contribuiu para umapressão social no sentido da entreajuda eda redistribuição.No entanto, parece haver hoje em dia umafractura de continuidade em certos aspec-tos dessa ordem simbólica, o que dá ori-gem a um processo de revisão e mudançacultural, uma ruptura dos papeis sociaisem torno de certas normas e valores liga-dos à família.

Importa, por tudo isto, identificar as carac-terísticas mais marcantes do sistema deparentesco tradicional em S. Tomé18, paradepois nos debruçarmos sobre o casoespecífico do Riboque.

As "uniões de facto" em série (serial cus-tomary unions) são muito comuns em S.Tomé, especialmente entre os grupos debaixo rendimento. De acordo com a tra-dição, quando uma rapariga tem um pri-meiro pretendente, deve apresentá-lo aosseus pais. Para formalizar uma união defacto o rapaz tem que fazer uma propostanesse sentido aos pais da moça. No casode uma segunda união já não é maisnecessário pedir a aprovação dos pais,podendo os dois parceiros fazer o acordoentre eles. Uma mulher que tem a sua pri-meira ligação sexual deve, em princípio,abandonar o lar dos pais. Se o seu com-panheiro ainda for jovem, sem recursos,ela deve ir viver para a casa dos pais dele.Se o futuro parceiro já viver em união defacto (ou união co-residêncial) com umamulher, deve arranjar uma outra casapara a nova mulher. Inicia-se então entreos dois uma relação de visita (visitingunion).

Grande parte das mulheres que lideramlares monoparentais (35% em 1991;a per-centagem sobe para 85% se considerarmosos agregados sem rendimentos próprios)mantêm relações de visita com homens quetêm este tipo de relacionamento em adiçãoà sua união co-residencial.

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As relações de visita são particularmentecomuns entre as mulheres de baixo rendi-mento. Uma mulher pobre a viver sozinhapode estabelecer uma relação de visitacom um homem, tornando-se a sua segun-da ou terceira mulher e concedendo-lhe osseus favores sexuais em troca de uma con-tribuição em bens ou em dinheiro.Normalmente o homem só suporta mate-rialmente essa mulher e os seus filhosenquanto a relação durar.

Ter filhos é o maior motivo de orgulho paraas mulheres santomenses. A vida é, segundoesta concepção natalista, um acto de pro-criação contínua. Fecundidade é igual afeminilidade e viver é igual a dar à vida.Uma mulher que renuncie à procriaçãorompe esta corrente vital e torna-se suspeitade esterilidade; se pretender planear a suafecundidade perde o mais importante atri-buto de feminilidade. Para os homens, terfilhos é sobretudo um acto de potência, umaafirmação de masculinidade. Se um homemnão tiver filhos torna-se suspeito de impo-tência, se tiver poucos filhos diz-se que tem

falta de vigor sexual19.

Neste sistema de parentesco, marcadopela poliginia e pelo culto da fecundidade,em que as uniões domésticas não são está-ticas e a composição das famílias mudacom frequência ao longo do tempo, asmulheres tendem a ser muito mais mãesdo que esposas. São elas, de facto, quemdeve assumir a principal responsabilidadepelos filhos.

Contudo não é raro entregar-se esse encar-go a outros elementos femininos da famí-lia - as mulheres jovens, que não têmmeios de subsistência ou que iniciam umanova relação, podem pedir à mãe do seu"pai de filhos" ou à sua própria mãe paratomar conta de uma ou mais crianças; noentanto, as crianças mais novas ficamquase sempre com a mãe. Quando a crian-ça cresce, se o seu pai está numa outraunião co-residencial, pode leva-la para anova casa, mas essa não é a regra. Umhomem, ao iniciar uma relação com umamulher que já tem filhos, deve garantir asubsistência dos seus "enteados", desdeque a mulher os não consiga colocar emcasa de parentes.Identificadas as princi-pais características do sistema de paren-tesco tradicional santomense, vejamosagora o que se passa no Riboque.

As entrevistas e observações feitas nodecorrer deste trabalho sugerem que:

a rede extensiva de solidariedade fami-liar baseada nos laços tradicionais deparentesco (irmãos e meios irmãos,sobrinhos e tios em vários graus, pais,mães e avós, enteadas e enteados) con-tribui, de forma complexa e criativa,para amortecer as consequências doprocesso de ajustamento estrutural efazer face às dificuldades económicas;

há em simultâneo, como resultado dessemesmo processo de mudança, uma rup-tura na relação papeis sociais/consensossimbólicos em torno de algumas normase valores ligados à família.

De uma forma geral, o sistema de paren-tesco e de alianças consanguíneas existen-te no Riboque parece, de facto, continuara reproduzir as características mais impor-tantes do sistema de parentesco tradicionalsantomense: poliginia, alta incidência de

Vidas que se cruzam e descruzamTelmo, de 27 anos, tem a seu encargo quatro menores: um filho damulher com quem hoje em dia vive e outras três crianças, fruto deuma relação anterior da sua companheira. "O pai deles não ajuda,mas a minha mulher é uma pessoa que desenrasca um pouco", afirma.Antes disso Telmo viveu em relação co-residencial com outra mulher,de quem também teve um filho, que "vive longe", com a mãe e o seunovo companheiro. "Comecei a ser pai aos 22 anos. A princípio eu eraresponsável por essa família, mas depois de seis meses a moça mulherque eu tive não estava a dar, era um pouco teimosa, então eu preferidizer a ela , vamos acabar com a história e cada um vai para a suavida. Daí eu fiquei um ano e tal sem mulher, depois eu tive essa mul-her que agora tenho". Camila, de 39 anos, tem nove filhos que são o resultado, quer de algu-mas relações de visita, quer de algumas uniões co-residenciais; qua-tro deles ainda estão a seu cargo. O seu actual companheiro mantémuma relação de visita com outra mulher, mas a relação entre os três édifícil: "Ele não ajuda nem um pouco, estamos juntos há 5 anos e elenão ajuda em quase nada. Eu vou deixar esse homem porque pareceque a outra mulher dele está fazendo coisas de mal para mim". Juca, de 26 anos, tem duas mulheres ("uma em casa e outra fora") ede cada uma tem um filho. "Vivo bem com elas, sem conflitos, o que sepõe às vezes são problemas financeiros".Tomé, de 43 anos, também vive entre duas casas e duas mulheres. Dasua companheira tem seis filhos e da outra - a mais nova, que visitaregularmente - tem apenas um filho, "mas ela tem outros três, por issocom o meu faz quatro". Além disso, há que contar com "mais dois fil-hos fora, numa miúda com quem já não vivo".

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uniões de facto e relações de visita, núme-ro significativo de lares monoparentaisliderados por mulheres, grande fluidez nasuniões domésticas e na composição dosagregados familiares, elevadas taxas denatalidade.

Para muitas dos riboquinos o alastramentoda crise económica contribuiu para reforçar,ou pelo menos manter, a lógica culturalespecífica destas relações de parentesco -os indivíduos sabem que, através dos seuslaços de consanguinidade e de aliança, estãoinseridos numa rede extensiva de solidarie-dade familiar que actua no sentido da entre-ajuda (quem ajuda é por sua vez ajudadoamanhã) e da redistribuição (o que se temdeve ser partilhado dentro do círculo alarga-do da família). Muitos dos inquiridos conti-nuam, assim, a achar que conseguem fazerface às dificuldades quotidianas com tantomais eficácia quanto melhor estiverem inse-ridos numa rede de relações de parentesco.

De uma forma geral os pais continuam aser apoiados na velhice pelos filhos; nou-tros casos são os filhos que, passando elespróprios por dificuldades, são apoiadospelos pais. Alguma assistência em dinhei-ro, produtos agrícolas e outro tipo de bens,além de apoio na doença e trocas de servi-ços de diversa ordem (educação das crian-ças, partilha de informações sobre empre-gos e biscates), acontecem assim com fre-quência entre os membros de uma família,por mais dispersa e fragmentada que estaaparente estar.

Existe, além disso, quase sempre umarelação privilegiada, de maior proximida-de, com pelo menos alguns dos familiares- a mãe, o pai, um tio, os irmãos (as rela-ções de solidariedade entre irmãos pare-cem assumir especial importância no con-texto dos lares monoparentais: de facto, àmedida que a imagem do pai ausente setorna cada vez menos nítida, a autoridadee a protecção do irmão mais velho tende asurgir como uma nova referência, capazde contribuir para a unidade do agregadofamiliar).

Mas apesar de, no Ribo-que, as redes deparentesco continuarem a cumprir umimportante papel social e económico, osdados reco-lhidos parecem indicar a exis-

Ter família é ter um apoioFabiano é pintor da construção civil, mas tem estado parado por falta detrabalho. Vive, com a mulher e os três filhos, "em casa da velhota". Amãe, reformada, não o pode ajudar com dinheiro, mas "tem os seusmeios, que vêm de fora", e além disso ajuda com géneros alimentícios."Quando ela tiver eu recebo, quando eu tiver ela recebe", afirma. Masque apoios são esses? Fabiano tem dois irmãos a viverem em Portugal.Além disso outra irmã, que é polícia, "também dá um bocado de apoio". Herculano reconhece: "Eu não ligava muito à família, mas depois de umcerto tempo comecei a crescer e a saber que "sa lumon n'guê" (irmãossão parentes) e então comecei a me relacionar com a família".Apesar de ainda não ter constituído família, Xavier já tem um encargo:criar os três filhos de uma irmã que viajou para Libreville: "Eles esta-vam com a minha mãe, mas ela faleceu e eu não posso abandoná-los",explica. Mas a mãe dos miúdos também ajuda: "Manda-me às vezes ali-mentos, dinheiro, roupa, materiais de escola… por acaso ela dá apoio".Ele conta, além disso, com a ajuda de um irmão que está em Portugal:"Uma vez ou outra envia-me algum dinheiro. Além disso, quando voltatraz sempre alguma coisa para nós - roupa, sapato… Ele veio para aquiagora, eu não tinha um televisor, mas ele comprou para mim".

Homens que não "assumem as suas responsabilidades"Chama-se Betina, tem 22 anos e é Príncipe. Há dois anos que está emS. Tomé. Quando chegou à cidade foi viver no Riboque, "em casa de umasenhora". Nesse entretanto começou uma relação com um homem.Passaram a viver os dois na casa onde Betina já antes morava, mas arelação durou pouco tempo: "Depois que eu engravidei ele deixou-me",explica, "e até agora não dá nada para a criança". Conheceu outrohomem e tornou a engravidar. Passaram a viver juntos, de novo na resi-dência de Betina: "Vivemos juntos depois que eu engravidei, mas essesegundo homem que eu tomei também me deixou e agora não dá nadapara o filho".Vicência, de 36 anos, viúva, prefere viver sozinha, mesmo passando porgrandes dificuldades, a manter uma relação de visita com alguém. Ela éda opinião que os homens já não assumem as suas responsabilidades:"hoje em dia não existe homem, porque homem só vem nos dois dias dele,mais nada24.

Controlar a fecundidadeLúcia, 26 anos e cinco filhos de pais diferentes, lamenta-se: "nestes últi-mos anos só tenho estado a parir e parir".

Adália, de 23 anos, estudante de enfermagem, mantém uma relação devisita há quatro anos. O companheiro, de quem tem um filho, vive comoutra mulher, "que é a esposa dele", mas Adália não tem razões de quei-xa: "apoia no que é preciso". Ela sabe que para terminar os estudos nãopode, de momento, ter mais filhos. Está decidida a consegui-lo: "pornada desse mundo, nem por homem algum, vou deixar de fazer essecurso".

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tência, no plano simbólico, de uma fractu-ra de continuidade entre alguns aspectosdeste sistema e os seus actores. Se é ver-dade que a cultura é um sistema de símbo-los que constrói significação - ou, na defi-nição de Talcott Parsons, "um sistemacomplexo e relativamente coerente de nor-mas e valores que orientam a acçãosocial"20 - também não é menos verdade

Uma mulher independente"Chamo-me Rosário e tenho quarenta anos:. Eu fiz um curso de educa-dora de infância. Foi em 81. Tudo para mim era mais fácil porque eu sótinha uma criança. Depois que eu comecei a ter mais filhos, dinheiro erapouco e eu desisti do jardim de infância. Fui trabalhar no jardim daescola francesa, ganhava um pouco mais. Depois comecei a fazer viagempara Luanda. Levava azeite de palma, essas coisas assim, vendia, faziacompra de fardos lá, depois trazia e dava a uma minha comadre paravender. Conseguia assim dinheiro para as crianças. Naquela altura dojardim de infância eu tinha um filho, mas quando falo de ir para Luandaeu já tinha quatro. Saltei directamente de um para quatro. Quando eumultipliquei para quatro a vida já foi um bocado mais difícil.

Eu tive-os com pais diferentes. Tive-os com pais diferentes porquenaquela altura eu tinha minha maneira de ser, não gostava de ser presapor homem. Se homem dizia ou fazia qualquer coisa que eu não gostava,eu retirava só. Não dizia nada, não dava muita satisfação, não rogavamuito. Os homens nunca me deixaram. Não foi assim, os meus pais defilho nunca me abandonaram. Pelo contrário, eu é que os abandonava,eu é que tinha essa mania de os deixar por isto ou por aquilo. Agora con-tinuo com o mesmo homem que arranjei em 95. Eu arranjei esse homem,mas como não gosto de pedir para dar meus filhos de comer, não quisarranjar mais filhos com ele. Decidi fazer planeamento para não termais, manter apenas esses quatro. Eu evitei fazer cinco, repetir a mesmacoisa outra vez, com cinco e com pai diferente, com medo de um dia vira acontecer a mesma coisa: ter assim um aborrecimento.

Depois que eu deixei de fazer viagem para Luanda, era um bocado pesa-do para mim. Aí eu consegui arranjar este marido. Não é bem directa-mente um marido que eu viva com ele, eu sou como uma segunda pessoa,mas trata-me bem, trata os filhos como se fossem dele. Dá-me um pou-cochinho de dinheiro e eu também faço pequenas coisas: gelado, vendouma roupas, umas coisas.

O que eu quero mesmo, o que gostaria era de ter dois ou três negóciosmeus, para me sentir livre, livre , livre mesmo. Às vezes queria viajar denovo para fazer mais negócio, homem é que não deixa. Mas se eu tiver aminha oportunidade eu vou, se ele não me deixar ele fica por cá. Eu vivobem, mesmo só. De 96 para cá é que comecei a depender mais um boca-do dele, muito não, um bocado. Mas eu giro sozinha. Se o deixar consi-go sobreviver porque sou lutadora. Mas torna-se outra vez pesado paramim e eu queria acabar com isso…De certo modo sou um bocado inde-pendente, mas ao mesmo tempo já não. Às vezes aturo meu homem porcausa de dinheiro. Só. Com a idade que eu tenho eu sinto-me bem sozin-ha. Eu tive problemas graves mas não é como agora, ter de aturarhomem por causa de dinheiro. Se não fosse pelo dinheiro eu me afasta-ria. É o maior problema que eu tenho."

que, quando uma sociedade se encontraem pleno processo de mudança, se tornanecessário um contínuo reajustamento dasformas culturais à nova realidade econó-mica e social. É a chamada "função inte-gradora da cultura"21. Tanto a ordem sim-bólica como as estruturas sociais seencontram assim, numa situação destegénero, em constante trans-formação,sendo estes processos de mudança interde-pendentes. "Umas vezes são as transfor-mações das expressões culturais que pre-cedem as do contexto social, outras vezessão estas a provocar uma readaptação dasprimeiras, enquanto noutros casos ambosos níveis atravessam fases de mudança,que podem actuar segundo direcções con-vergentes ou divergentes, dando lugar adinâmicas sociais muito diversas"22.

Uma dada cultura pode assim compreen-der elementos contraditórios ou dar lugara interpretações diferenciadas por partedos membros de uma sociedade, pelo queo problema da relação entre cultura e inte-gração é bastante complexo. Bourdieu falamesmo da "relativa autonomia da lógicadas representações simbólicas relativa-mente às determinantes materiais da con-dição social"23.

Os dados recolhidos no Riboque indicamque - não obstante a importância da redetradicional de relações familiares enquan-to estratégia adaptativa face à pobreza e àcrise económica - tanto a ordem simbólicacomo as estruturas sociais ligadas aoparentesco se encontram num processodinâmico, e por vezes contraditório, demudança e renovação.

Alguns sinais disso:a maior complexidade e frequência dasrelações de intimidade sexual fora doâmbito codificado pela tradição (entreos jovens parecem ser mais frequentesos relacionamentos esporádicos, quenão podem ser considerados nem rela-ções de visita, nem de co-habitação;parece também haver mais mulheres aromperem com os padrões de monoga-mia feminina e a assumirem envolvi-mentos amorosos extraconjugais);o esbater de alguns códigos de condutainerentes às relações uniões de facto (atradição espera que o homem estabeleça

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uma residência para o casal, mas estaregra tem vindo a ser constrangida pelasdificuldades económicas - na prática, aco-residência quer dizer muitas vezesque é o homem quem se desloca para acasa de uma mulher já estabelecida);o esbater de alguns códigos de condutainerentes às relações de visita (um núme-ro crescente de homens envolvidos numarelação deste tipo não quer ou não podecomparticipar nos encargos com o agre-gado familiar da sua companheira);

uma maior autonomia pessoal e económi-ca de algumas mulheres em relação àdominância masculina (para uma mulhersem recursos, a sua sexualidade pode serum trunfo que ela usa com algum calcu-lismo; nesses casos, o dinheiro torna-seum agente para regular uma relaçãosocial - se o homem já não está em con-dições de contribuir para a subsistênciado seu agregado familiar, a mulher pode-rá procurar um parceiro melhor);uma tendência crescente para um maiordomínio das mulheres sobre a suafecundidade (este desinvestimento sim-bólico no vínculo entre fertilidade efeminilidade tem sido lento, mas é,ainda assim, notório - sobretudo entre asjovens - uma maior preocupação emcontrolar o número de filhos e os inter-valos entre os nascimentos).

Em resumo - o padrão de relações conju-gais e familiares existente no Riboqueparece reproduzir, no essencial as caracte-rísticas mais marcantes do sistema tradi-cional de parentesco santomense: poliga-mia masculina, monogamia feminina,relações de visita e uniões co-residênciais.O conjunto destas relações de aliança e deconsanguinidade traduz-se num sistemasocial com algumas características especí-ficas: redes familiares extensivas, grandefluidez nas uniões domésticas, grandemobilidade na composição dos agregadosfamiliares e número elevado de laresmonoparentais, muitos dos quais chefia-dos por mulheres. A esta realidade socialcorresponde, no plano simbólico, um sis-tema de significações assente, entreoutros, nos seguintes conceitos: solidariedade familiar (entreajuda e redistri-

buição no interior da família);valorização das relações de parentescoextensivas (tios, primos, meios-irmãos,

enteados, etc);associação fertilidade/feminilidade;

predomínio do papel de mãe sobre o papelde esposa;

associação poligamia/masculinidade.

A pressão económica e social no sentidoda mudança parece estar a submeteralgum destes valores a um processo dereorganização simbólica:

a solidariedade familiar torna-se mais difu-sa, sobretudo no que diz respeito ao papeldos homens no interior das redes de paren-tesco tradicionais;um número crescente de mulheres tentaobter algum controlo sobre a sua sexuali-dade, separando-a da natalidade; ao faze-rem-no estão a promover uma ruptura sim-bólica entre feminilidade e fecundidade.

Amigos e vizinhosUm dos resultados mais evidentes da crise

Viver do alheioFrancisca diz que não cria animais "porque as pessoas roubam e

matam"; Firmina já fez criação, mas chegou à conclusão que "não dá,porque há muito roubo e confusão no Riboque"; Benvinda não temespaço para criar, mas mesmo que tivesse não o fazia, porque " já sesabe, as pessoas roubam"."Sabe", diz Xavier, "aqui no Riboque quando nós pomos uma coisa nochão, há pessoa que vem e tira como se fosse dela". Ele conta comoassaltaram a sua capoeira com pombos: "Arrebentaram a porta, maseu não soube quem fez isso, se é pessoa que vive aqui ou se é pessoade fora. Por toda a parte aqui no bairro isso acontece, mas nuncaapanhamos ninguém. Eu não sei como eles vão saber o momento parafazerem isso. Eu acho que não é gente de muito longe, mas eu não vininguém, eu não posso falar".

Vizinhos? Bom dia, boa tarde"Com vizinho, é cada um em sua casa", afirma Vicência, "Se eu nãotenho sal hoje e vou pedir, amanhã já não posso ir, eu tenho que des-enrascar. Cada um desenrasca".

"Cada pessoa no seu sítio, bom dia, boa tarde, sem arranjar contra-dição", defende também Sandrina. Quanto a recorrer aos vizinhospara pedir qualquer coisa, ela confessa que prefere o contrário - "quesejam eles a virem me pedir". Conflitos? Até que tem alguns: "há pes-soas que jogam lixo onde calha, e depois há o caso desse esgoto queestá aqui em frente à minha casa - quando fizeram a estrada fizeramessa vala da chuva, mas vizinho pôs esgoto e agora há muito mosqui-to".

"No Riboque, mesmo evitando conflitos com as pessoas, parece queelas nascem para o conflito" , diz Adália. Por isso ela prefere estar noseu canto.

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económica é, na opinião da maioria dosinquiridos, a deterioração progressiva daatmosfera de boa vizinhança no Riboque.Multipli-cam-se as brigas de rua, os con-flitos públicos, as discussões provocadaspor dívidas não saldadas, aumentam oscasos de pequeno furto (o roubo de ani-mais, por exemplo, tornou-se tão frequen-te que a maioria das pessoas desistiu defazer criação de gado) - generaliza-se

Os amigos são para as ocasiõesOrlando tem alguns amigos do peito, com quem pode contar em casode necessidade - arranjam-lhe trabalho, emprestam-lhe dinheiro,pagam-lhe cervejas etc. Em contrapartida, ele não ignora que tem odever de os ajudar sempre que for preciso. Dá um exemplo: "Se eutenho um amigo que tem trabalho no quintal, uma semana antes eleavisa-me, marca dia e eu vou. Trabalhamos a conversar e a rir, depoisquando acabamos ele põe mesa, a gente senta, come, bebe. Eu nãopeço ele nada porque é um amigo que atende minhas necessidades.Quando ele pergunta quanto custa todo esse trabalho que eu fiz, eufalo que não é preciso pagar".

Mas, porque nem todos os amigos são iguais, cada amizade implicaum tipo diferente de entreajuda . Veja-se o caso de Xavier: "O amigoque me arranja biscates é meu colega na obra, mas o amigo a quemeu peço dinheiro é outro, é meu compadre" (…) "Eu conto com o apoiode certos amigos quando tenho algum trabalho - meter umas plantasde bananeira no chão, capinar minha horta…Todos não, mas unsdois, até três, me dão apoio".

A importância de se ter um bom padrinho Vicência, desde que enviuvou há oito meses, passa por grandes difi-culdades para conseguir criar os seus seis filhos . O seu marido tra-balhava como canalizador para um dos empresários mais importantesde S. Tomé. O empresário, que também é padrinho de uma das filhas,tem desde então prestado alguma ajuda à família de Vicência: "Dácem mil dobras, cento e cinquenta mil…consoante". Uma das grandesdificuldades de Vicência é conseguir manter quatro crianças na esco-la: "Dificuldade de bata, caderno, lapiseira, mochilas, tudo. Às vezeseu mando elas sair onde o pai trabalhava para ir pedir apoio que épara comprar material de escola, porque eu não consigo". O padrin-ho cumpre as suas obrigações e ajuda.

Pagar, quanto mais tarde melhor"Quando eu trago pão há vizinhos que pagam no dia seguinte e háoutros que demoram dois ou três dias, mas nunca ficam a dever muitotempo porque eu estou sempre a bater à porta" (Firmina, vendedorade pão).

"Há pessoas que não pagam, entrego roupa lavada e eles ficam a medar voltas. Por isso às vezes eu lavo roupa e deixo aqui; se dinheironão vier, roupa também não.

assim um sentimento de desconfiança ealguma insegurança antes desconhecidono bairro.

A sobrelotação deste bairro, agravadapelos problemas sociais e económicos,provoca assim constantes conflitos na ges-tão do espaço e no controlo dos recursoscomuns, corroendo lentamente as anterio-res relações de vizinhança - assentes nasolidariedade e na entreajuda - ao ponto deas transformar com frequência em relaçõ-es de desconfiança, ou pelo menos de dis-tanciamento. Nos tempos que correm cadaum trata da sua vida. Vizinhos? Claro quese pode contar com eles em caso de doen-ça ou de alguma pequena falta - sal, fósfo-ros, essas coisas assim. Mas, na opinião degrande parte dos entrevistados, só manten-do alguma distância se conseguem evitarabusos e intromissões.

Os recintos de baile, sociedades recreati-vas e grupos culturais têm vindo tambéma perder grande parte da sua importânciaenquanto locais de convivialidade, repro-dução social e reforço da coesão comuni-tária.

No entanto, se a pobreza tem um evidenteimpacto negativo sobre as relações devizinhança, a verdade é que as relações deamizade continuam a desempenhar umpapel muito importante no quotidiano damaioria dos riboquinos. As redes e laçosde cumplicidade entre um indivíduo e osseus conhecidos continuam a ser determi-nantes, e um número muito significativode inquiridos reconhece que recorre comfrequência a ajudas deste tipo na sua vidadiária.

O apoio dos amigos nem sempre assume aforma de assistência monetária ou presta-ção de serviços - pode consistir, por exem-plo, em informação sobre algum emprego,biscate ou negócio. Com efeito, muitosdos entrevistados sentem que a sua rede derelações e contactos pessoais constitui,nos tempos que correm, a forma maissegura de arranjar um trabalho ou de rea-lizar um proveitoso negócio de ocasião.

Em muitos casos torna-se difícil estabele-cer uma distinção nítida, dentro das redesde solidariedade, entre parentesco e ami-

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zade. Com efeito, as características difu-sas e extensivas do parentesco fazem comque as relações de amizade sejam frequen-temente um prolongamento de laços desangue ou de aliança - é sempre possível,fazendo apelo a uma ligação em segundoou terceiro grau, pelo lado do pai ou pelolado da mãe, encontrar raízes comuns quecimentem uma conjunção de interesses oudêem origem a uma relação de assistênciamútua. "Somos todos primos", diz-se comfrequência em S. Tomé - e o Riboque nãofoge a esta regra.

Por outro lado, os laços entre indivíduosde famílias diferentes estão muitas vezesna origem de alianças, que podendo ser declientelismo, reproduzem no essencial odiscurso do parentesco e dão origem a umrelacionamento afectivo que pode assumircontornos práticos de relacionamentofamiliar. É o caso das ligações entre com-padres ou entre padrinhos e afilhados.

Estratégias adaptativase modos de vidaOs gastos com a alimentação consomemuma parte importante do orçamento fami-liar da maioria dos riboquinos - é preciso"esticar" todos os dias o dinheiro de modoa que chegue pelo menos para duas refei-ções diárias. Quando não há outra solução,tem que se contar com a solidariedadefamiliar, pedir emprestado a alguém, ouentão "tomar fiado" na loja mais próxima.

Praticando, nos limites do possível, estacomplicada ginástica orçamental, conse-gue-se ainda poupar algum para a electrici-dade, o material escolar das crianças, o ves-tuário. Mas é difícil. Chega sempre o diaem que é preciso tomar a difícil decisão decortar despesas nalgum lado. Normalmentecomeça-se pela electricidade.

Algumas pessoas fazem, assim, esta difí-cil gestão diária dos seus recursos, priori-zando certos pagamentos e eliminandodeterminadas despesas (a roupa, porexemplo, passa a ser adquirida em segun-da mão na "feira do fardo"); outras pesso-as optam por fazer ao mesmo tempopequenos pagamentos em várias dívidas e"contas fiadas"; outras fazem apelo àsobrigações de assistência mútua decorren-tes dos laços de solidariedade extensiva;

outras pedem emprestado num lado parapagar no outro; e outras ainda acumulamdívidas, mantendo os credores na esperan-ça de um negócio ou de um trabalho bemremunerado que lhes permitirá saldartodas as contas em atraso.

A esmagadora maioria dos inquiridos achaque, devido ao elevado custo de vida,necessita agora de trabalhar bastante maisdo que há dez anos atrás para conseguirassegurar a sua sobrevivência económicadiária.

De facto, com a crise económica e ocolapso das empresas agrícolas estatais, odesemprego disparou e o mercado de tra-balho na capital não conseguiu correspon-der às necessidades de uma populaçãosuburbana em crescimento. Como resulta-do o emprego - pelo menos no sentido deemprego estável, com uma relação formalempregador/empregado - tornou-se raro.Um número cada vez maior de pessoastentou adaptar-se a esta nova realidadeatravés de uma grande variedade de estra-tégias informais, tais como:

prestando serviços aos vizinhos;fazendo limpezas e outros trabalhos parafora;

comprando, vendendo e trocando todo otipo de coisas;

vendendo excedentes (sobretudo aquelesque têm glebas noutras áreas, longe doRiboque);fazendo pequenos serviços de reparaçãoe outros biscates remunerados;

"desenrascando" uma arte nova (ou, depreferência, mais do que uma);

alugando uma parte da casa (ou cedendo-a a troco de ajuda);

confeccionando alimentos para vender.A maioria das pessoas tenta, assim, sobre-viver através de um conjunto muito hete-

Pedir a quem temVicência não tinha dinheiro para mandar fazer pelo menos um unifor-me para cada um dos seus quatro filhos em idade escolar. Resolveu oproblema através do padrinho de uma das filhas: "Eu mandei minhafilha ir pedir dinheiro ao padrinho, que tem posses. Ele entregou-lhecem mil dobras. Com esse dinheiro eu comprei pano para as quatrobatas. Pus na costura e pediram quinze mil dobras por cada uma.Então eu falei com outra pessoa que me deu quarenta mil. Com issoeu paguei três batas, o que faltava eu desenrasquei. Mas agora está afaltar dinheiro para mais uma bata".

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rogéneo de actividades informais, negó-cios de ocasião, ajudas várias e pequenosbiscates. A estratégia parece ser encontrartantos trabalhos quanto possível, paraassim suprir a falta de trabalho certo. Éimportante ser-se um "habilidoso" nomáximo número de áreas - reparar qual-quer coisa, realizar qualquer tarefa paranão perder nenhuma hipótese de ganhardinheiro.

Estes biscates e pequenos negócios de rua,na sua grande maioria ocasionais e irre-gulares, são quase sempre encontradosatravés da informação boca-a-boca, peloque é fundamental que cada indivíduoesteja integrado numa malha apertada eeficiente de relações sociais. As redesextensivas de parentesco, amizade e com-padrio são, mais uma vez, determinantes.

O desenvolvimento destas actividadesinformais no Riboque e zonas envolventesé um bom exemplo das estratégias daspopulações suburbanas para atenuarem osefeitos da pobreza e diversificarem aomáximo os seus rendimentos - o sectorinformal é, neste bairro, composto pormuitas dezenas de micro e pequenas"empresas", a maior parte das quais nosector da produção de bens e serviços,com especial incidência para a construçãoe o pequeno comércio de rua. As profissõ-es mais comuns entre os homens (muitasvezes em acumulação) são: pedreiro, pin-tor, marceneiro, carpinteiro, alfaiate, sapa-teiro, "candongueiro", mecânico. As mul-heres são sobretudo vendedoras de rua,vendedoras no mercado (palaiês), lavadei-ras, modistas, cabeleireiras.

As vantagens deste sector informal sãoóbvias: rapidez de adaptação às contingên-cias impostas pelo mercado local, oferecen-do pequenas oportunidades de emprego ede negócio aos sectores mais desfavoreci-dos da população; grande enraizamento naeconomia local, utilizando mão de obralocal e produzindo para o mercado local.

A maioria dos riboquinos - apesar de pro-duzir um discurso pessimista em relação àsua situação económica - revela-se assimcapaz de formular estratégias complexas erecorrer a um conjunto dinâmico e diver-sificado de meios para fazer face à pobre-za e à adversidade. Uma família que perdeum emprego, por exemplo, pode tentarrecuperar esse rendimento através de umsérie de meios alternativos: alugar umquarto da sua casa, apanhar lenha paravender, realizar pequenos trabalhos remu-nerados, tratar de uma senhora idosa,recorrer à ajuda de familiares e amigos,etc. Estas actividades envolvem todos osmembros do agregado familiar, cada umprocurando, de diversos modos e em

Um trabalho só não chegaIlione é pedreiro, mas tem cada vez mais dificuldade em assegu-rar trabalho regular - enquanto há dois anos teve seis ou sete obras,no ano passado só encontrou duas; por isso faz também diversospequenos serviços como carpinteiro ou pintor. Além disso dedica-seao negócio dos búzios, confeccionando-os à noite para a mulher ven-der no dia seguinte no mercado - "quando não tenho trabalho desen-rasco desse jeito", afirma.

Caustrino vende ferragens num mercado de rua, à sociedade com umamigo: "essas coisas de dobradiça, fechadura, cadeado…;mas cadaum tem a sua parte, se ele ganhar é dele, se eu ganhar é meu dinhei-ro". Dia em que as ferragens não dão rendimento, um deles tem que"sair mão seca" à procura de negócio noutro local. "Vender a andar,procurar produto de ocasião - caldo, esparguete, margarina, leite empó, pasta de dentes, o que calhar" - a regra é comprar barato nas lojaspara revender na rua com uma pequena margem de lucro. Caustrinoé insistente: "se o freguês está na preguiça eu chamo-o, vou ter comele". Por isso a mercadoria vende-se: "da forma que eu ando a puxarfreguês, tem que vender sim".

Há pessoas, como Orlando, que estão sempre aptas a fazer tudo. Elenunca recusa qualquer serviço - é marceneiro, mas dá um jeito comocarpinteiro, pintor, pedreiro, electricista; além disso cose sapatos,abre caboucos, capina…Orlando sabe que "trabalho certo é coisa deoutros tempos".

Xavier é da mesma opinião: "hoje em dia nós não podemos parar àespera só de um trabalho, temos de saltar de um lado par o outro a verno que dá".

Terras longe de porta não alimentam ninguémIlione tem algumas pequenas glebas, mas estão demasiado longe paralhe serem de alguma utilidade. "Podemos ir de carro até lá, sair comfome e chegar lá, não encontrar nada, e depois voltar com mais fomeainda", afirma. "Quando morava em Angolares eu plantava batata,mandioca, matabala, mas na cidade já não tenho esse espaço, e porisso tenho apostado mais nas obras", conclui.Velcy tem um terreno em Cova Barro que pouco lhe serve porque "ascoisas não param: fruta, banana, é tudo roubado". Também tem umaparcela em Melhorada, mas não compensa ir até lá: "às vezes eu voue a senhora que está a tomar conta diz que não tem nada, ou então dá-me um litro de azeite de palma; assim não vale a pena pagar o carroe deslocar-me".

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diversos lugares, diferentes fontes de ali-mentação, combustível, dinheiro e ajuda.

O conceito de modo de vida (liveliho-od)25, muito mais que o de emprego,parece ser o que melhor se ajusta ao carac-ter plural desta realidade económica. Naprática, "os conceitos de emprego e dedesemprego pertencem apenas aos paísesindustrializados, nos quais um trabalha-dor, sustentado pelos benefícios da segu-rança social, se pode dar ao luxo de passaralgum tempo desempregado. Muitos tra-balhadores nos países mais pobres nãotêm essa opção. Têm de trabalhar emqualquer coisa, não importa quão impro-dutivo ou mal pago seja o seu trabalho"26.

Os modos de vida cobrem todas as activi-dades que asseguram a sobrevivência e ascondições de vida das famílias. O empre-go pode, por si só, assegurar um modo devida, mas na maior parte dos casos asestratégias adaptativas dos riboquinosenvolvem uma variedade grande de activi-dades dos diversos membros do agregadofamiliar e baseiam-se em múltiplas formasde acesso a bens, alimentos, rendimentos esegurança. Não faria, por exemplo, senti-do valorizar apenas o trabalho remuneradoquando a contribuição da produçãodoméstica não remunerada (sobretudo dasmulheres) é de extrema importância para oconsumo privado das famílias no Riboque.

O número de pessoas que combinam osseus diversos trabalhos informais com ocultivo de pequenas parcelas de terreno oua criação de alguns animais, sendo apre-ciável, não é tão significativo como emoutros bairros suburbanos da capital santo-mense. Para isso concorrem principalmen-te três factores: a elevada densidade popu-lacional e habitacional do bairro, quedeixa pouco terreno livre para as práticasagrícolas; o êxodo rural que, afastou mui-tos dos novos habitantes do Riboque dassuas glebas ou roças de origem; e, final-mente, o roubo cada vez mais frequente esistemático de géneros agrícolas e de gado.

As entrevistas demonstraram igualmenteque um número cada vez maior de famíliascomplementa as suas economias domésti-cas com as remessas ocasionais - em din-heiro ou em géneros - de algum parente a

trabalhar no estrangeiro. Gabão e Angola e,sobretudo, Portugal, são os países paraonde o fluxo migratório de habitantes doRiboque foi mais intenso nos últimos anos.

As aspirações dosriboquinosOs riboquinos dão valor a muitas outras coi-sas para além de um rendimento elevado -quase todos eles desejam ter uma habitaçãoadequada, alimentação variada, acesso aágua e electricidade, melhores serviçosmédicos, escolas mais eficientes, subsistên-cia segura, empregos satisfatórios.

O rendimento parece ser, para a maioriados inquiridos, um meio para atingir osseus fins, não um fim em si mesmo (aprova disso é que uma parte substancialdas mais valias realizadas é redistribuídaem actividades que tornam a vida digna deser vivida mas não têm preço - o fomentodas relações com os amigos ou a solida-riedade familiar, por exemplo). Nem todasas actividades social e culturalmente valo-rizadas possuem, assim, um preço de mer-cado. Além disso, se gerar rendimentosajuda a resolver algumas das necessidadesbásicas, não garante, por si só, a saúde, aeducação dos filhos, a estabilidade fami-liar ou a assistência social.

Família lá foraO irmão de Lucindo vive em Portugal. Este ano, quando veio de férias,deixou-lhe algum dinheiro: "vai que não vai, com esse dinheiro é quea gente fez um bocadinho de coisa".Zé Rocha também tem um irmão em Portugal que o ajuda: "apoio queeu tenho mais é que ele às vezes me manda algum dinheiro; se eu estoua necessitar de uma coisa que sei que não posso comprar, esse din-heiro vem, eu compro".Vitória tem vários irmãos em Portugal que a apoiam regularmente:"ajudas materiais, alguma coisa que necessito, caso de material [decabeleireiro] que mando pedir - quando tiver ao alcance deles, elesmandam; por acaso é uma grande ajuda".Adelino tem alguns familiares em Lisboa: "sabe, no caso de roupa esapato é difícil a gente comprar aqui, porque fica muito caro; sãoesses apoios que nós pedimos e eles mandam".

Ter medo do futuro"Planos para futuro? Eu posso ter planos, mas não tenho dinheiro, oque é a mesma coisa que nada. Eu não tenho nenhum futuro. Qualfuturo que eu tenho aqui? Para mim eu até podia morrer, se não fos-sem as crianças. Eu não quero ficar velha, não!" (Felícia, 46 anos).

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A verdade, porém, é que, quando interro-gados sobre as suas aspirações concretasem relação ao futuro, a maioria dos ribo-quinos com mais de 35 anos tem um dis-curso pessimista. Eles acham que a faltade rendimentos constitui uma barreirapoderosa à concretização dos seus sonhose, neste sentido, as suas limitações econó-micas são também encaradas como limita-

ções de oportunidade. Preferem por issonão fazer muitos planos a prazo nem gas-tar demasiada energia com o que está paraalém do dia a dia. As expectativas são, deuma forma geral, baixas. A desilusão, oconformismo, o cepticismo, são sentimen-tos comuns a grande parte das pessoas quepassaram pela experiência da transiçãopara uma economia de mercado.

Sente-se, contudo, à medida que desce-mos na faixa etária dos inquiridos, que oinconformismo, a insatisfação, e - aomesmo tempo - o desejo de estabelecermetas, de ter ambições, aumentam narazão inversa da idade. Há uma determi-nada altura (que podemos situar entre os20 e os 30/35 anos) em que quase todos osriboquinos têm ideias bem definidas eambicionam o seu "lugar ao sol".

A maioria dos jovens tenta então desen-volver iniciativas que lhes permitam con-cretizar os seus sonhos (quase sempre denatureza profissional). Para isso precisamsobretudo de oportunidades adequadas àssuas capacidades e de capacidades adapta-das às oportunidades existentes. As expec-tativas em relação ao futuro tornam-se,obviamente, tanto menores quanto maistempo passar sem que - por ausência decapacidades ou de oportunidades essasaspirações se concretizem.

Capacidades VersusOportunidadeA época actual é universalizante e globali-zadora. A difusão de uma cultura interna-cional através da globalização é tão impor-tante como a difusão de processos econó-micos ou políticos. Por muitos meios -música, televisão, moda, comércio - ideiase valores exógenos misturam-se por todo olado com ideias e valores locais. Por outrolado, "a sociedade de hoje é de mudança,risco e incerteza. "Tudo aquilo que até hápouco parecia imutável é agora motivo dereflexão crítica, desde os avanços tecnoló-gicos e científicos até às práticas culturaismais tradicionais"27. Assistimos àquiloque Touraine designa por "ruptura entre osactores e os sistemas estabelecidos28.Estas transformações globais afectam deforma íntima as pessoas, transformando asubjectividade e produzindo novas subjec-tividades. Existe uma interconexão cres-

Jovens com sonhosJuca, de 26 anos, acumula o trabalho numa escola de condução comalguns outros biscates - reparação de bicicletas, pequenos serviços depedreiro, etc. "Tenho de fazer muita coisa para conseguir chegar comalgum a casa", afirma. Mas ele também tem o seu sonho: comprar umdia um televisor com leitor de video e passar filmes nos terreiros."Estou a tentar viabilizar a ideia, mas não está a dar resultado", lamen-ta-se. O problema é que não há dinheiro.

Adália, de 23 anos, frequenta o 2º ano de um curso de obstetrícia. Nãoé fácil conciliar o papel de estudante com os seus outros papeis - com-panheira de um homem, dona de casa e mãe de um bebé de 4 meses -mas está decidida a conseguí-lo. "Nada deste mundo, nem homemalgum", a irá impedir de ter o seu diploma de parteira. Depois, os seusplanos são ambiciosos: "Do jeito que as coisas estão na área da saúde,eu não pretendo trabalhar sempre para o Estado. Daqui por cinco, seisanos, espero ter tudo o que preciso para montar uma clínica".

Eduardo tem 27 anos. É jardineiro, mas como o salário não chega faztambém alguns biscates como ajudante de pedreiro. No entanto ele sabeque tem um trunfo: a carta de condução. Necessita apenas de "apanharmais prática de conduzir antes de procurar emprego". No futuro esperaconseguir um lugar na praça como taxista ou um emprego como moto-rista.

"Futuro…, eu para mim queria uma vida melhor: ter a minha própriacasa, o meu próprio salão de cabeleireiro…", diz Vitória, de 29 anos.Mas acrescenta: "nessa terra é melhor não sonhar muito porque essesonho fica aqui mesmo, nunca se torna realidade". Hesita: "bem…, sehouvesse um sítio para a gente dizer: vou explorar naquele sítio paraver se consigo um financiamento, um apoio ou quê, eu ia".

Para Juvenal (26 anos) os projectos quanto ao futuro passam pelo sec-tor formal: ele quer abrir a sua própria oficina de sapateiro, "com alva-rá e tudo oficializado". De momento trabalha como jardineiro e às vezesconserta calçado em casa, mas falta-lhe tudo para "apostar no sapato"- materiais, ferramentas, um pequeno espaço de trabalho. "O que ganhoé para o dia a dia, não chega para resolver o problema do futuro", afir-ma, "mas se tiver uma oficina eu sei que a situação normaliza".

Caustrino (24 anos) era um ajudante de alfaiate na oficina do seu primoFernando até ao dia em que este decidiu partir para Portugal. Aos 20anos, herdou o pequeno atelier, com todas as ferramentas do ofício ealguns clientes certos. Agora, a sua ambição é expandir o negócio, criarpostos de trabalho, ampliar a alfaiataria. " Só que, para isso, o meupoder económico é um pouco fraco", lamenta-se. "Gostaria que hou-vesse mais apoio, instituições que pudessem financiar jovens com ini-ciativas sérias", desabafa.

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cente entre as influências universalizantesda sociedade e as disposições pessoais.Uma das consequências disso é a expansãode mecanismos que extraem as relaçõessociais e os sistemas simbólicos das suascircunstâncias locais para os rearticular emcontextos mais vastos (ou vice-versa)29.

No Riboque, as novas dinâmicas impostaspelo reajustamento estrutural e pela transi-ção para a economia de mercado, forne-cem alguma matéria de reflexão sobre oque acima ficou exposto. Com efeito, anecessidade de adaptação dos jovens ribo-quinos a esta conjuntura de mudançaparece ser a principal responsável pelaemergência de formas de interacçãosocial, baseadas na valorização de concei-tos excêntricos à cultura tradicional santo-mense: as virtudes da poupança, o espíritode risco, a iniciativa empresarial, o trabal-ho como um fim em si mesmo.

As entrevistas realizadas permitiram detec-tar alguns destes padrões de comportamen-to num número significativo (emboraminoritário) de entrevistados. Trata-sesobretudo de jovens do sexo masculino,com idades compreendidas entre os 20 e os35 anos, quase sempre com um percursobastante atribulado e uma personalidademoldada nessa luta diária contra as adversi-dades. Tendo conseguido "subir a pulso" navida, atingiram níveis de desempenho eco-nómico desconhecidos da maioria da popu-lação e têm uma história de sucesso paracontar. São, aos olhos dos outros riboqui-nos, pequenos empresários bem sucedidos.

Estas pessoas souberam interpretar o sen-tido das mudanças sociais e económicasdos últimos anos, traduzindo-as em altera-ções efectivas de comportamento. Ada-ptando os seus hábitos e atitudes às carac-terísticas voláteis de uma sociedade emtransição, conseguiram gerir tensões econflitos, amortecer choques culturais epsicológicos e criar as suas próprias opor-tunidades. A sua capacidade de concreti-zar aspirações e produzir mudanças reaisna qualidade de vida continua, apesardisso, a estar intimamente ligada à capaci-dade de convocar solidariedades no inte-rior das redes extensivas de parentesco ede amizade. É certo que, em paralelo àlógica familiar de acumulação e redistri-

buição30, passa a existir uma lógica mer-cantilista de acumulação e investimento,mas a ajuda dos familiares e dos amigoscontinua a ser o melhor e mais rápidomeio para se conseguirem os apoiosnecessários à viabilização de um determi-nado empreendimento ou negócio.

Agarrar as oportunidadesDa primeira vez que o entrevistámos, Lucindo (25 anos) apresentou-se assim:" Sou pedreiro, pintor, canalizador.., entendo um pouco decada coisa. Agora estou a lutar para a abertura de uma loja, com aajuda de um irmão que está em Portugal". Cinco meses depois a lojajá estava aberta e o negócio corria mais ou menos. "Eu padeci muito",desabafa, "minha mãe me abandonou e eu tive de lutar demais. Entreicostura, saí costura; a seguir entrei bate-chapa, mas não aprendinada; depois entrei numa obra, dediquei pedreiro e aprendi qualquercoisa, mas trabalho era muito duro. Agora esse irmão deixou-me umbocadinho de dinheiro e com esse apoio é que eu abri loja". Os seusplanos para o futuro: "subir na vida trabalhando".

Cesário (30 anos) tem uma história de sucesso para contar: "Minhavida de comércio surgiu porque o meu pai arranjou mulheres fora eabandonou a casa. Era altura que eu estive a terminar 11º classe,minha mãe fazia bolos e punha aqui na porta e as minhas irmãs ven-diam. A vida tornou-se mais difícil e eu também fui forçado a nego-ciar: ir buscar latas de sumos e cerveja nos bares e depois lavar parafazer iogurte31. Então tive a ideia de fazer esse negócio: comecei acomprar algumas tábuas e ripas e instalei esse quiosque; tinha umamigo que na altura me emprestou dinheiro, o meu tio também me deualgum material e eu consegui arrancar. Comprei alguns produtos,arranjei um frigorífico através do mesmo amigo, e o negócio foi evo-luindo. Consegui me casar, mandar fazer mobília e outras coisas mais.Mais tarde fiz um quiosque ao pé de casa, depois arranjei outro maislonge e depois instalei mais outro ainda".

A vida de Salvador (29 anos) tem sido atribulada: "Para os meus paiseu tinha que ter uma carreira profissional, já que perdi a escolar, porisso em 85 fui para uma marcenaria. Em 86 saí de lá e fui para outramarcenaria. Em 87 era um miúdo em via de aprendizagem. Em 88 fuitrabalhar com outro marceneiro, tinha imensas dificuldades mas jásabia fazer alguma coisa para ganhar dinheiro. Até que tive um aci-dente e fiquei desempregado. Fui trabalhar no mato, a fazer pulveri-zação das plantas. Uma vez saí sem matabichar, trabalhei com umproduto muito tóxico, apanhei uma fraqueza e fui acolhido por pes-soas conhecidas. Daí abandonei esse trabalho. Depois fui ajudar afazer aguardente. Em final de 89 trabalhei de marceneiro. Passei anova situação de desemprego. Em 90, tinha eu 19 anos, comecei a tra-balhar sozinho. Queria sobreviver e tinha uma profissão, por issocomecei a trabalhar para algumas pessoas e quando tinha dificulda-de fazia biscate. Em 92 aparece situação militar. Quando saí da tropafui trabalhar de marceneiro para um senhor, mas ele viajou para longee eu tive um bocado de vida difícil. Trabalhei como segurança e depoisfui forçado a ser ajudante de motoserra. Nessa altura eu já tinha mul-her e filhos. Então vi que este terreno estava abandonado, pedi donoque me desse espaço para fazer oficina [de marcenaria] e, graças aisso, desde então tenho vivido mais ou menos equilibrado".

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É também significativo o facto de estesjovens estabelecerem um vínculo casualentre capacidades e oportunidades, recon-hecendo assim que a possibilidade deexplorar um leque mais variado de opçõesnos diversos domínios da sua vida estáligada ao desenvolvimento das suas apti-dões nesses mesmos domínios.

As entrevistas realizadas demonstramigualmente que a resposta das mulheresaos novos dinamismos, tensões e conflitosimpostos pela liberalização da economiacontinua a ser condicionada por fortesmecanismos discriminatórios - em grandemedida de origem cultural - que criamuma desigualdade de oportunidades e decapacidades em relação aos homens.

Cumprindo papeis tradicionais numasociedade em mudança, sujeitas a diversostipos de abandono, discriminação e carên-cias materiais, inseridas nos escalões maisbaixos da estratificação social e económi-

ca, nelas se reflectem de forma marcantetodas as tensões, todos os conflitos entretradição e modernidade.

No Riboque, são elas quem controla opequeno comércio informal (e, neste sen-tido, são também elas o principal cimentode ligação entre as dinâmicas microeco-nómicas e macroeconómicas), mas o pesodos mecanismos de reprodução social ecultural ligados à família e à maternidadeimpedem-nas muitas vezes de se assumi-rem como agentes mais activos demudança.

Para a maioria destas mulheres a economiainformal é sobretudo uma extensão da eco-nomia doméstica e, à racionalidade produ-tiva do mercado, opõem um outro tipo deracionalidade, assente na entreajuda fami-liar e na redistribuição das mais valias.

A alteração, entre as mulheres riboquinas,dos códigos de conduta e dos comporta-mentos associados ao fenómeno da pobre-za parece assim ser um problema deordem cultural, tanto quanto uma questãosocial ou económica. A capacidade decontrolo simbólico sobre a sua sexuali-dade e fecundidade é certamente decisiva,mas outro factor, não menos fundamental,é a capacidade de controlo e gestão dosrendimentos gerados.

Com efeito, à medida que a solidariedademasculina no interior das redes de paren-tesco se torna mais difusa, cresce a impor-tância económica das redes de entreajudaassentes no trabalho feminino - o dinheiroganho é obrigatoriamente redistribuído nocírculo alargado das relações familiares. Édifícil, nestas circunstâncias em que osrendimentos são quase todos canalizadospara a subsistência das famílias, gerarpoupanças que se possam depois traduzirem mais desenvolvimento humano.

Para as mulheres riboquinas de baixo ren-dimento a dificuldade em fazer poupançasé, deste modo, uma barreira que as impe-de de alcançar a sua independência econó-mica e aumentar as suas oportunidades ecapacidades.

A solução parece passar pelo crédito popu-lar, mas as experiências neste domínio nem

Desenvolver as capacidadesCom o crescimento do negócio dos quiosques Cesário começou a teralguns problemas gestão: "Eu não tinha contabilidade organizada e,como consequência, estavam a surgir roubos que eu não dava conta",afirma, "quem deu conta disso foi o fornecedor, porque eu entregavamuito dinheiro e depois as entregas foram diminuindo. Ele chamou-mee perguntou o que se passava. Então eu decidi alugar duas das min-has quatro lojas; assim recebo pagamento por grosso, sem proble-mas". Cesário sente que, para progredir no negócio, precisa deampliar as suas capacidades: "Gostava de fazer uma formação naárea que estou a desenvolver, que é gestão de hotelaria ou gestãocomercial, para que possa gerir melhor e tornar mais lucrativa aminha actividade".

Salvador está satisfeito com a sua marcenaria. "Desde que tenho aoficina tenho vivido mais ou menos equilibrado e tenho feito com queos outros vivam mais ou menos equilibrados", afirma. "Porque eu aquitenho um indivíduo que trabalha comigo que é chefe de família, etenho dois mais novos que não são chefes de família mas em curtoespaço de tempo o serão, porque já têm 18 anos. Quer dizer que euemprego três pessoas e, quem sabe, com financiamento que há-de virpara o meu projecto, um dia poderei ter possibilidades de empregarmais quatro". O projecto de que Salvador fala surgiu na sequência dasua participação num curso de gestão para pequenas e medias empre-sas: "Aproveitei tudo de bom que podia durante esses três meses, maso maior proveito, aquele que mais precisamos - que é o financiamen-to - não surgiu ainda. A formação terminou na elaboração desses pro-jectos e ficou a promessa de procurar financiamento. Não sei qual aconclusão final, mas dizem-nos que as coisas estão a andar no bomcaminho".

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sempre têm sido bem sucedidas - há algumadesconfiança em relação aos apoios institu-cionais, considerados demasiado complica-dos e exigentes.

Apesar disso, a experiência de muitas mul-heres em iniciativas de crédito de grupoparece estar a deixar sementes muito impor-tantes. Nota-se que existe uma crescentecapacidade de auto organização e entreaju-da, uma maior facilidade em criar - semquaisquer apoios exteriores - esquemas ori-ginais de autofinanciamento que se baseiamem princípios de coesão corporativa e deresponsabilização colectiva.

ConclusãoO Riboque é um aglomerado suburbano àsportas da capital santomense habitadomaioritariamente por gente pobre oumuito pobre, sem fonte de rendimentoscerta ou trabalho regular no sector formalda economia.

O bairro tem enormes carências de diver-sa ordem: habitação, infraestruturas bási-cas, saúde, assistência social. Neste senti-do, podemos afirmar que possui caracte-rísticas idênticas às dos outros bairrosperiféricos da cidade. No entanto, o factode ser a mais antiga das localidades peri-urbanas confere-lhe uma certa especifici-dade, que se traduz num conjunto de tra-ços urbanos muito acentuados, por oposi-ção ao caracter semi-rural das outraszonas circunvizinhas da capital.

O Riboque tem, de facto, uma maior den-sidade populacional e uma maior concen-tração de casas num espaço relativamentereduzido - o que, além de ter provocado odesaparecimento de alguns sinais de rura-lidade (os pequenos quintais, a criação deanimais), tornou mais complexa, quer agestão das formas tradicionais de sociabi-lidade, quer a distinção clara entre osdomínios público e privado.

Há um afrouxamento dos laços comunitá-rios, visível no relacionamento mais tensoe distante entre vizinhos ou na progressi-va perca de importância de alguns locustradicionais de reprodução cultural e deconvívialidade - as sociedades recreativas,os terreiros de baile, os grupos de tragé-dia32 ou de socopé33, etc.

Apesar disso, o Riboque continua a seralgo mais do que um mero dormitórioàs portas da cidade: a sua movimenta-da rua principal é um centro bastanteactivo de pequenos negócios informaise os seus habitantes partilham umavida social intensa, assente numa redealargada de relações de parentesco e deamizade.

Os riboquinos têm muitas vezes um dis-curso pessimista em relação ao presente.Atribuem com frequência a fonte dosseus problemas a questões políticas eeconómicas, externas ao seu círculo dedecisões e responsabilidades (e, por isso,virtualmente incontroláveis por eles) -como a incompetência e corrupção dosgovernos, o desemprego ou os saláriosbaixos.

É difícil poupar Cacilda, vendedora de rua no Riboque, esteve ligada a um "projectoque emprestava dinheiro a palaiês". O programa tinha duas compo-nentes distintas: uma formação socio-económica e um sistema demicrocrédito. Cacilda estava integrada, com outras oito mulheres,num "grupo de actividade económica" - todas elas mantinham os seuspequenos negócios de rua, mas o acesso ao crédito estava dependen-te de um princípio de responsabilização colectiva.

As coisas funcionavam assim: suponhamos que Cacilda pedia empres-tadas 200.000 dobras; passados quinze dias começava a amortizar asua dívida, repondo 20.000 dobras por semana. Se falhasse um dospagamentos, na semana seguinte teria que entregar 40.000 dobras,mais os respectivos juros de mora. A concessão de um novo créditoestava dependente de dois factores: a liquidação total do anteriorempréstimo e a inexistência de dívidas no interior do grupo - com efei-to, se alguma das mulheres tivesse dívidas acumuladas, isso inviabili-zava a concessão de crédito a todas as outras. Além da quantia esti-pulada para a amortização da dívida, cada uma das mulheres deviatambém depositar semanalmente 3.ooo dobras numa "caixa de pou-pança"; quem não tivesse dividas podia, quando assim o pretendesse,levantar as suas poupanças.

Cacilda acha que era difícil pôr de lado o dinheiro necessário paraamortizar a dívida: "essa quantia que tomávamos emprestado, tínha-mos que fazer sacrifício para pagar; ora a gente vive segundo o negó-cio - se o negócio não dá, a gente não tem dinheiro para pagar". Eladesabafa: "Toda a semana eu andava com a cabeça a ferver por causado dinheiro. Eu ainda estou com medo do dinheiro!"

Cacilda conclui: "prefiro não tomar dinheiro e viver consoante o queganho - de manhã faço compra de mercadoria no valor de 50.000; sevender pelo menos 10.000/15.000 compro banana e peixe para comer;se vender mais 2.000 compro azeite; se vender mais 3.000 compropetróleo. Depois, o que vender já é para, no dia seguinte, comprarmais mercadoria".

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86 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Estratégias suburbanas de luta contra a pobreza estudo de caso no bairro do Riboque

Quando interrogados sobre as mudançasocorridas nos últimos anos, a maioria afir-ma que a sua situação é actualmente maisdifícil que há dez ou doze anos atrás.Existe o sentimento generalizado de que oprocesso de reajustamento estrutural agra-vou as injustiças sociais e provocou umadegradação do nível de vida. A abertura aoexterior (sobretudo através dos audiovi-suais) reforçou a consciência da sua pobre-za. A confiança nas instituições é muitofraca, as queixas em relação ao Estado fre-quentes.

Importa, no entanto, estabelecer uma dis-tinção entre o discurso que os actoressociais produzem sobre si próprios e a rea-lidade efectivamente observável.

Os dados recolhidos indicam que os indi-víduos formulam, nos mais diversosdomínios - saúde, alimentação, educação,emprego - estratégias complexas e criati-vas para fazerem face à adversidade e tor-nearem as dificuldades. Estas estratégiasassentam em redes extensivas de solida-riedade familiar e de compadrio queactuam no sentido da entreajuda e daredistribuição.

Os riboquinos sabem que conseguemfazer face às dificuldades quotidianas comtanto mais eficácia quanto melhor estive-rem inseridos numa trama complexa deobrigações e deveres mútuos.

O sistema de parentesco, caracterizadopela transitoriedade das uniões domesticase pela grande mobilidade na composiçãodos agregados familiares, dá assim origema comportamentos codificados que valori-zam a redistribuição no interior de redesalargadas, assentes na consanguinidade ena aliança.

As relações de amizade, compadrio e apa-drinhamento criam também redes e laçosde cumplicidade que assumem formasdiversas de entreajudaA importância eco-nómica das solidariedades convocadas nointerior das redes relacionais é particular-mente evidente no caso das estratégiasinformais de subsistência (ou modos devida): a maioria dos riboquinos - na ausên-cia de trabalho certo - subsiste através deum conjunto heterogéneo e irregular deactividades informais, negócios de rua eserviços vários; sendo as informaçõessobre esses biscates quase sempre passa-das através do sistema "boca a boca", évital que cada indivíduo esteja inseridonuma malha apertada e eficiente de rela-ções sociais.

Por outro lado, estas actividades de sub-sistência envolvem praticamente todos osmembros do agregado familiar, cada umprocurando diferentes fontes de alimenta-ção, combustível, rendimentos e ajuda.

O modo de vida riboquino, ao cobrir todasas actividades que asseguram a subsistên-cia de uma unidade doméstica, dependeassim em grande medida do bom funcio-namento das redes extensivas de entreaju-da e redistribuição familiar.Mas apesar daimportância dos códigos tradicionais decomportamento, a verdade é que algumassociabilidades se tornaram mais frouxas edeixaram de funcionar como rede amorte-cedora para a crise económica; gruposanteriormente protegidos pelas malhasapertadas das atitudes codificadas - osdoentes, os idosos, as mulheres - contam-se mesmo, hoje em dia, entre os mais vul-neráveis e expostos à pobreza.

É possível pouparSami e Alda vendem roupa em segunda mão no "mercado do fardo",situado num dos acessos ao Riboque. Elas acham que é difícil fazerpoupanças, porque há sempre obrigações morais e deveres familiaresque as pressionam no sentido da partilha dos rendimentos. "O dinhei-ro que levamos para casa não funciona, gasta-se todo", explica Sami.Já estiveram as duas integradas num projecto de microcrédito paramulheres, mas não gostaram, porque "tinha muita confusão, muitodirector". Uma destas semanas Alda propôs que se organizasse um"xiquilá" entre as vendedoras do mercado. O "xiquilá" é uma formatradicional de autofinanciamento e autopoupança de novo muitopopular entre palaiês e vendedoras de rua. "A diferença em relaçãoaos projectos é que xiquilá é assunto nosso", afirma Alda.

Sami, Alda, e outras dezasseis vendedoras chegaram a acordo sobre omontante a entregar diariamente para o xiquilá: 25.000 dobras."Fazemos rifas e sorteamos todos os dias essas 450.000 dobras",explica Sami: "Em cada vez uma de nós recebe o dinheiro. Se alguémnão consegue pôr quantia nesse dia, gente pára e espera; esperatempo que for preciso até ela pôr o dinheiro, só então é que xiquiláavança". Ao fim de dezoito dias úteis, se tudo correr bem (isto é, seninguém se atrasar), o esquema recomeça.

Segundo Sami, "o dinheiro é para cada uma comprar o que quiser:roupa para negócio, tacho, colchão, rádio, mochila de escola…; sócomida e bebida não". Para Alda, a vantagem do xiquilá "é que genteassim tem esse dinheiro que não leva para casa".

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87Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Estratégias suburbanas de luta contra a pobreza estudo de caso no bairro do Riboque

O caso das mulheres é particularmentesignificativo: no Riboque, os problemassociais e económicos têm um efeito multi-plicador quando recaem sobre elas, dadoque continuam a existir poderosos meca-nismos discriminatórios em relação aogénero.

O fardo das políticas de ajustamento estru-tural é mais pesado para as mulheres doque para os homens, uma vez que sãoafectadas como mães, chefes de família(os lares monoparentais são maioritaria-mente chefiados por elas), trabalhadorasdomésticas (estas tarefas são subvaloriza-das, dado o seu caracter não mercantil) eprodutoras de bens e serviços (apesar dadesigualdade de oportunidades, são elasquem controla a maior parte do comércioinformal). A ruptura dos consensos simbó-licos e dos papeis masculinos em torno dealgumas normas e valores ligados à famí-lia é um dos factores responsáveis pelamaior vulnerabilidade das mulheres face àcrise económica: se é verdade que as redesextensivas de solidariedade familiar cum-prem uma importante função social e eco-nómica, não é menos verdade que o siste-ma de parentesco tradicional revela sinaisde fractura em relação aos seus actoresmasculinos - o que é particularmente visí-vel no esbater dos códigos de condutainerentes às relações co-residênciais e àsrelações de visita.

Tal facto, num contexto familiar marcadopor altas taxas de natalidade e grandenúmero de lares monoparentais, represen-ta um significativo acréscimo de tarefaspara as mulheres. A isto elas respondemaumentando a quantidade do seu trabalho,diversificando as estratégias de subsistên-cia e reforçando as cadeias de solidarieda-de feminina no interior das redes de paren-tesco extensivo. Apesar disso, a sua vulne-rabilidade social e económica aumentasignificativamente.

Por outro lado, esta multiplicação de res-ponsabilidades tem também uma outravertente: ela promove uma maior autono-mia pessoal e económica das mulheres emrelação à dominância masculina e dá ori-gem a uma recomposição cognitiva dealguns comportamentos femininos. Énotório, por exemplo, que a crescente

capacidade de controlo das mulheres ribo-quinas mais jovens sobre a sua sexualidadeestá a provocar um desinvestimento sim-bólico no vínculo entre fertilidade e femini-lidade.

Há o reconhecimento de que o númeroexcessivo de filhos é um factor que agravaas condições de vida e potência a misé-ria.Um número crescente de jovens tentaassim obter um maior controlo sobre o seucorpo. Ao fazerem-no, estão a promoveruma ruptura de papeis sociais e consensossimbólicos no interior do sistema de paren-tesco tradicional.

Todos os riboquinos têm as suas aspiraçõ-es, os seus sonhos (que passam por muitasoutras coisas além de um rendimento ele-vado - condições de habitabilidade, saúde,estabilidade familiar, etc), mas essas expec-tativas são mais elevadas entre os jovens. Acapacidade de estabelecer metas específi-cas e perseguir objectivos definidosaumenta na razão inversa da idade.

São de facto aqueles, entre os 20 e os 35anos, que desconhecem os impactos psico-lógicos dos dois grandes acontecimentosestruturantes da actual sociedade santo-mense - a independência e a transição paraa II Répública - que estão em melhorescondições para interpretarem os sinais demudança, codificando-os em aspirações ecomportamentos concretos. Entre os maisvelhos, o sentimento de orfandade em rela-ção ao Estado traduz-se frequentemente ematitudes de conformismo, falta de iniciativae cepticismo em relação ao futuro.

A gradual alteração de hábitos e mentalida-des entre os jovens riboquinos é assim umaresposta às mudanças políticas e económicaslocais, um esforço de adaptação dos seuscódigos valorativos às características de umasociedade em pleno processo de transição.Mas é também uma reacção aos estímulos einfluências que vêm do exterior.

Numa época crescentemente globalizadora,em que se assiste à difusão de uma culturamundial e à relativização das diferenças,produzem-se transformações que afectamos indivíduos e as comunidades. Uma dasconsequências disso é a co-existência, nummesmo sistema simbólico, de práticas cul-

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88 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Estratégias suburbanas de luta contra a pobreza estudo de caso no bairro do Riboque

turais tradicionais e influências culturaisexógenas. Existe, além disso, uma conexãocrescente entre as tendências universalizan-tes da sociedade e as disposições pessoais:aos indivíduos é dada mais liberdade mas éexigido um esforço constante de subjecti-vação e de reinterpretação simbólica dosseus papeis sociais.

No Riboque, a necessidade de adaptaçãodos jovens a uma conjuntura de mudança eprogressiva abertura ao exterior, está a pro-vocar a emergência de novas formas deinteracção social baseadas na valorizaçãode conceitos excêntricos à cultura tradicio-nal: capacidade de poupança, espírito derisco, ambição empresarial. A aptidão des-tes jovens para concretizarem as suas aspi-rações parece estar dependente da formacomo conseguem, em simultâneo, gerirsolidariedades redistributivas no interiordas redes tradicionais de entreajuda e pôrem pratica uma nova lógica mercantilistade acumulação e investimento.

Nas mulheres, essa capacidade de reinves-tir os rendimentos acumulados é bastantemenor. A causa principal para esta dificul-dade em fazer poupanças parece ser a cres-cente importância económica das redesfemininas de redistribuição e entreajuda.

Com efeito, a contribuição do trabalhofeminino para a subsistência das famíliasaumenta à medida que a solidariedademasculina no interior das estruturas deparentesco tradicionais se fragiliza;torna-se, nestas circunstâncias, cada vezmais difícil para as mulheres gerar maisvalias que depois se possam traduzir eminvestimentos produtivos ou num acrés-cimo de bem estar.

Apesar disso, algo está a mudar - as jovensriboquinas que se dedicam ao comércioinformal revelam uma crescente capacida-de de organização e tentam, pelos seus pró-prios meios, criar esquemas de auto finan-ciamento que lhe permitam ampliar as suasopções de vida.

A pobreza manifesta-se através da privaçãoda vida que as pessoas poderiam ter. Podeimplicar não só a falta de bens necessáriosao bem estar material, mas também a nega-ção de oportunidades e de capacidades para

viver uma vida tolerável. Assim sendo, oDesenvolvimento Humano - entendidocomo um processo destinado a ampliar aspossibilidades reais de os indivíduos reali-zarem as suas aspirações - adquire especialsignificado em articulação com outro con-ceito - o de modo de vida sustentável.

Modo de vida sustentável (sustainable live-lihood)34 designa todas as formas de vidaque:

não comprometem a segurança pessoal; são razoavelmente estáveis durante um

período significativo de tempo (sem, éclaro, qualquer garantia);

são benéficas para os indivíduos, ascomunidades e os consumidores dos pro-dutos/serviços;não são incompatíveis com o meioambiente.

No Riboque o modo de vida da maiorparte das famílias, embora adaptado àscircunstâncias, é claramente instável - e,por isso, não sustentável. Existem, comovimos, excepções significativas entre ascamadas mais jovens da população, mas amaioria das pessoas continua a estar pri-vada de oportunidades e capacidades fun-damentais.

O que fazer então para promover, neste bai-rro suburbano, as condições necessárias aodesenvolvimento humano? Sendo a pobre-za em grande medida uma questão cultural,a resposta a esta questão depende, entreoutras coisas, da articulação entre a subjec-tividade dos indivíduos e a racionalidadesimbólica dos sistemas sociais e económi-cos. O ponto de encontro entre sujeito ecultura é indicado, segundo Bourdieu, peloconceito de habitus35.

A noção de habitus abrange todas as dispo-sições duradouras que são interiorizadaspelo indivíduo no decurso da sua vida e quedeterminam a sua forma de pensar e actuar.

O habitus gera sentido individual, porqueestá incorporado em cada pessoa, mas é aomesmo tempo um produto social e colecti-vo, porque reproduz práticas compartilha-das entre os membros de uma comunidade.

Ele é em certa medida um mecanismodefensivo, dado que tende a iludir a

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Estratégias suburbanas de luta contra a pobreza estudo de caso no bairro do Riboque

mudança e rejeitar a diferença, mas nãopode ser entendido num sentido determi-nista e imutável - "as disposições colecti-vas que gera são perduráveis, de largaduração e lenta transformação, mas nãoimutáveis"36.

É possível modificar o habitus se as per-cepções estruturadas e os sistemas simbó-licos de uma comunidade mudarem deforma reflexiva, tornando consciente ouinconsciente e alterando as representaçõesdo mundo real. Isso significa converter ossujeitos em actores, afirmando, por umesforço de subjectivação, cada indivíduocomo artífice das transformações na vidada comunidade.

O habitus pode, nestas condições, consti-tuir um modo de afirmação da identidadeatravés de uma acção dotada de sentidoindividual e colectivo; as fracturas de con-tinuidade nas ordens simbólicas estabele-cidas provocam então verdadeiras revolu-ções culturais, que interessam à maioriados membros da sociedade37

Quando, pelo contrário, o habitus actuadefensivamente, dá-se um corte entre ins-trumentalidade e identidade, uma disso-ciação entre as condições objectivas demudança social e económica e o sistemavalorativo estruturado histórica e cultural-mente pela comunidade38. Duas coisaspodem então acontecer: ou a vida damaioria das pessoas passa a ser um con-junto descontínuo de respostas a estímulosexternos, ou a fractura de continuidade naordem simbólica dá lugar a comportamen-tos desviantes por parte de grupos especí-

ficos, sem que a maioria da população sejaenvolvida39.

Espaço de tensões dinâmicas e pulsõesdiversas, palco de conflitualidades e diálo-gos, o habitus riboquino é o ponto de con-fluência entre tradição e inovação, entresentido individual e sentido colectivo.

Nele se cruzam continuidades culturais fun-damentais (as redes extensivas de parentes-co e de compadrio, a pressão social no sen-tido da entreajuda e da redistribuição) efenómenos complexos de mudança (oafrouxamento dos laços de convívialidade ede vizinhança, a ruptura de alguns papeisrelacionados com o parentesco ou a sexua-lidade, a valorização simbólica de concei-tos e atitudes exteriores ao círculo dos com-portamentos herdados).

Nestas condições, o desenvolvimentohumano joga-se tanto no interior do siste-ma económico e social, como no interiordo sistema cultural e simbólico: é possível- desde que o habitus não actue defensiva-mente - alterar determinados aspectos cul-turais, da mesma forma que se modificamdeterminadas variantes económicas e polí-ticas. Isto passa pela promoção das capa-cidades autoreflexivas (individuais ecolectivas) da sociedade riboquina parapensar as condicionantes da sua práticapresente e futura.

Canalizando a subjectividade dos actoressociais no sentido da liberdade individuale da responsabilidade colectiva, produzir-se-ão certamente mudanças favoráveis aodesenvolvimento humano.

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Estratégias suburbanas de luta contra a pobreza estudo de caso no bairro do Riboque

Notas1 Relatório D.H. 97, cap I2 Principal grupo étnico santomense3 Antigos contratados das roças, originários de Angola eMoçambique4 Grupo étnico do sul da ilha5 Pequenas lojas, construídas em madeira6 Aguardente de cana7 Tubérculo comestível, com sabor e consistência semelhan-tes à batata8 Pequeno vale ou depressão no terreno9 Valverde, 200010 Relatório Desenvolvimento Humano S.T.P. - 1008, pags72/7411 Frutos vulgares em S. Tomé12 Sobre o tema, ver capitulo V deste trabalho13 Expressão de espanto, incredulidade14 Sobre o tema, ver cap VII deste trabalho15 Mudança estrutural básica da economia16 Relatório do D.H. 95: cap IV17 Seibert, 1999: 37118 Utilizaremos como principal referência a já citada obra deSeibert (em especial o capítulo IX)19 Sobre a questão da feminilidade e da masculinidade nocontexto mais vasto das sociedades de raiz Banto, ver Altuna,1993: 66-68 e Mulago, 1979: 287-28920 Parsons, 195121 idem22 Archer, 1979: cap III, 3.823 Bourdiou, 1972: 477-47924 Ou seja: divide a semana entre várias mulheres25 Chambers, 199526 Relatório D.H. 97, cap II27 Loayza, 1999: 1328 Touraine, 196529 Loaysa, 1999: 1730 A acumulação serve para criar status e para promover aredistribuição, que por sua vez mantém o status e reforça acoesão da comunidade31 As latas de sumo e de cerveja, abertas ao meio, são utili-zadas como recipientes para os iogurtes caseiros (bastantepopulares em S. Tomé)32 A "tragédia" (ou Tchilolí) é uma forma sincrética de tea-tro popular com origem num texto medieval europeu33 Os grupos de Socopé são sociedades musicais organiza-das segundo uma rigorosa estrutura hierárquica. Os textosdas músicas servem quase sempre para expor os principaisproblemas da comunidade ou para fazer crítica social ou decostumes34 Chambers, 1995; Lawrence e Singh, 199735 Bourdieu, 1972: 17836 Loayza, 1999: 2537 Heinrich, 1976: 3838 Loayza, 1999: 2539 Heinrich, 1976: 38

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91Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

IntroduçãoA hipótese central que orienta a investiga-ção é que existem lógicas culturais quedificultam poderosamente não só asmudanças sociais desejadas mas tambéma materialização, a práxis, das mudançaspolíticas e económicas supostamente rea-lizadas para o DH. Dentro deste marco geral, o estudo decaso dos sãotomenses em Portugal pressu-põe um esforço adicional por situar osemigrantes no centro do DH já que, trans-cendendo pontualmente o caso sãotomen-se, quando se trata de analisar o DH váriasrazões deveriam obrigar a tê-los em conta:

Primeiro, porque a ubiquidade no exteriornão é um óbice para continuar a fazerparte de um país e ignorá-los pressuporiaexcluir de facto a uma parte das populaçõ-es. O desenvolvimento humano é de epara as pessoas, independentemente doseu lugar de residência. Num mundo comcada vez maiores movimentos de popula-ção não se pode continuar a apresentar ograu de desenvolvimento de cada paíscomo se os seus emigrantes não fizessemparte dele.

Segundo, porque os emigrantes apresen-tam com frequência níveis de desenvolvi-mento humano muito diferentes dos quepermanecem no país e ignorá-los podepressupor distorcer a realidade de algumadas suas partes e, por conseguinte, do con-junto. Isto é particularmente relevantequando se tratam de países com índices deemigração elevados de população muitomarginal ou muito qualificada. No primei-ro pressuposto os índices de desenvolvi-mento humano vão parecer maiores do

que na realidade são, ao não contar com ossectores que o reduziriam mais; no segun-do, vai ocorrer o contrário, ao não figura-rem os de maior índice.

Terceiro e relacionado com o ponto ante-rior, porque se os níveis de desenvolvi-mento humano são muito diferentes entrea população no país de origem e os emi-grantes, pode ser de vital importânciaintervir com prioridade sobre estes últi-mos. Se esses emigrantes são os que apre-sentam os níveis mais baixos, essa inter-venção é necessária porque por si mesmosdificilmente vão poder gerar capacidadespara o desenvolvimento, pois os estadosde extrema necessidade não o permitemnormalmente. Se o desvio face à popula-ção do seu país se produz num nível muitosuperior devem ocupar o centro de aten-ção por razões de efectividade e eficiên-cia. A denominada "transferência inversade tecnologia" não pode ser ignoradaquando se refere a países com uma muitolimitada mão de obra qualificada e comescassos meios para capacitar outra nova.

Se, de maneira muito sucinta, os argumen-tos anteriores podem permitir considerarde modo geral a pertinência de incluir osemigrantes nos RDH, no caso particularsãotomense as migrações são parte subs-tancial da sua história, por se ter constitu-ído num lugar de passagem, como vere-mos em seguida.

Desde a sua descoberta no ano de 1471 atéao presente, São Tomé e Príncipe temsido terra de migrantes. Durante cincoséculos foi-o como receptor e lugar depassagem; muito recentemente como emi-

Migrantes são-tomensesem Portugal:uma contribuição aodesenvolvimentohumano

CAPÍTULO VI

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

sor. Uma breve resenha histórica podepermitir uma sucinta abordagem dos perí-odos mais significativos do fenómenomigratório nestas terras.

No século XV chegaram da Europa os por-tugueses em plena expansão ultramarina,convertendo as ilhas em centro de concen-tração de escravos e de uma agricultura deexportação baseada na cana de açúcar.

Se bem que ao longo do século XVI seobserve a chegada de outros comercianteseuropeus, segundo relata o cronista conhe-cido como "o piloto anónimo" , são osescravos procedentes da costa ocidentalafricana quem constitui o grosso da popu-lação que permanece nas ilhas. Os imi-grantes europeus, incluindo os da metró-pole portuguesa, sempre constituíram umaminoria. No início do século XVI crê-seque não ascendiam a mil, descendo per-manente e progressivamente desde então(Caldeira, 1999:45).

Uma segunda chegada notável de imigran-tes produz-se ligada à exploração do café edo cacau nos séculos XIX e XX. Para alémdos escravos procedentes do Golfo deBenim inicialmente, com a abolição daescravatura chegam os trabalhadores deno-minados serviçais , provenientes da Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e, por último,de Cabo Verde.

Esse carácter de receptor de migrantes émodificado de maneira substancial com aIndependência. Com a saída de uma gran-de parte da colónia portuguesa agrega-se,de forma contínua até ao presente, umaparte considerável dos sãotomenses.Gabão, Angola e Portugal constituem osprincipais destinos até hoje .

A existência recente de uma apreciávelpopulação emigrante depois de séculos deimigração deveria justificar por si mesmaa sua inclusão em qualquer estudo sobreos sãotomenses, pois pode constituir umindicador de mudança muito significativo.

Ao mesmo tempo deveria permitir realizaruma leitura de STP e da mudança rumo aoDH a partir de uma situação de controlosocial hipoteticamente muito menor que aexistente nas ilhas e numa conjuntura eco-

nómica e política também distinta. Esta dis-tância pode facilitar o aprofundamento dalógica cultural sãotomense, pois os contex-tos de emigração -sobretudo na primeirageração - são com frequência privilegiadospara representar, reproduzir e reflectirsobre a própria cultura.

Também pode abrir um espaço de diálogoentre residentes e emigrantes sãotomensese facilitar a análise da possível participa-ção dos profissionais qualificados actuaise futuros nessa mudança.

Realizar um estudo de alguma profundida-de com os profissionais qualificados são-tomenses em Portugal é facilitado pelo seureduzido número e a sua ubiquidade nasáreas concretas mencionadas.

Considerando esta vantagem e o facto deter por tema a mudança foi decidido inclu-írem-se os estudantes universitários, possí-veis peças chave no futuro de STP e pri-meira referência de comparação no tempo.Ao contrário dos adultos estes estudantescresceram num STP independente e o regi-me de partido único desenvolveu-se sendoeles ainda meninas/os. A sua formação uni-versitária desenvolve-se num contextodemocrático no seu país de origem e emPortugal e numa economia livre de merca-do generalizada, o que os distingue clara-mente da geração anterior, o grosso dosactuais profissionais qualificados.

O peso do estudo sobre profissionais qua-lificados presentes e futuros tem-se cen-trado em três questões fundamentais:

Primeira, conhecer a sua visão sobre ofuturo de STP, tentando compreender osactores e os factores mais relevantes paraa mudança e o DH.

Segunda, tentar entender a sua relaçãocom outros sãotomenses e com STP e asua possível participação no seu futuro.

Terceiro, compreender melhor STP e ossãotomenses, sobretudo a sua cultura e arelação desta com a mudança.

O início das pesquisas baseou-se emescassos estudos prévios sobre imigrantesem Portugal. A explicação encontra-se no

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93Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

capítulo I.O capítulo II começa por abor-dar o perfil dos sãotomenses qualificados- tanto os actuais como os futuros - e,sempre desagregando homens e mulheres,continua tentando sempre reflectir sobreas duas primeiras questões centrais jámencionadas, isto é, a visão sobre o futu-ro e as relações actuais e possíveis entre sie com STP.

O capítulo III tenta comprender melhor arelação entre cultura e mudança para ossãotomenses, deixando aberta a reflexãopara a aprofundar no conjunto do Relató-rio de Desenvolvimento Humano.

O desconhecimemto dossão-tomenses em PortugalNo caso de STP as reflexões sobre aexclusão, distorção, necessidade e efecti-vidade-eficiência referentes aos emigran-tes ocupam o nosso ponto de partida numSTP emergente quase não estudado . Sobre a exclusão e a distorção há quesublinhar que se bem que o primeiroRelatório de Desenvolvimento Humano(RDH) em 1998 tenha permitido apresen-tar em traços gerais uma boa descrição deSTP, a população emigrante não foi inclu-ída nem como dado geral nem como refe-rência específica para a sua caracterizaçãoe possível comparação com os residentes.

Relativamente à efectividade-eficiênciapara melhorar o DH, parte-se da hipótesede que a interacção contínua na Europa ea qualificação deveriam facilitar visõesmais propensas à mudança que o isola-mento e a limitada formação académicado comum dos sãotomenses . Se estahipótese é correcta alguns elementosessenciais dos obstáculos para a mudançarumo ao desenvolvimento humano pode-riam ser abordados com maiores garantiascom a participação dos profissionais qua-lificados residentes no exterior e dos futu-ros profissionais qualificados, hoje estu-dantes universitarios.

Há que mencionar que a importância dosprofissionais qualificados no estrangeirotem sido posta em causa em várias oca-siões.

Primeiro, por parte deles mesmos ressal-tando o seu possível papel e contributo no

recente encontro de profissionais qualifi-cados em São Tomé .

Nessa reunião em STP o Grupo deTrabalho de Saúde expressa:Quanto ao regresso dos quadros, o grupoconclui que não existe uma política deaproveitamento dos recursos humanosqualificados que trabalham no exterior

E introduz como sugestão:Aproveitar da melhor forma os recursoshumanos na diáspora, negociando a suaintegração nas missões técnicas no exte-rior

O Grupo de Educação refere-se aos pro-fissionaiss qualificados tanto nas reco-mendações específicas para o seu sectorcomo nas propostas genéricas:Diligências devem ser encetadas junto deentidades de países de acolhimento dequadros são-tomenses com os quais SãoTomé e Príncipe mantém relações de coo-peração no domínio da educação, desig-nadamente Portugal, no sentido de seremimplementados no país projectos de for-mação contínua, isto é, de formação deformadores com a colaboração de qua-dros residentes no exterior. (...)1. Criação de um banco de dados sobre os

recursos humanos sãotomenses espal-hados pelo mundo, com especificaçãodos seus interesse para que o paíspossa, em caso de necessidade, recorreraos seus préstimos, designadamente noque se refere a opiniões técnicas deapoio à tomada de decisão no âmbitodas relações com parceiros de desen-volvimento.

2. Quando haja missões técnicas ao exte-rior, que essa prática se estenda aosquadros aí residentes (no exterior),nomeadamente quanto à sua participa-ção nas missões ou ao acompanhamen-to das mesmas.

Por último o Grupo de Economia reco-menda:O Estado sãotomense deve encarar osquadros residentes no país e no exteriorcomo um factor fundamental do proces-so de desenvolvimento de S. Tomé ePríncipe. (...)

A Organização Internacional para as

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94 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

Migrações (OIM) tem realçado igualmen-te a importância de contar com os profis-sionais qualificados no exterior para odesenvolvimento dos seus países de ori-gem.

Entendendo que é um ponto chave conse-guir a sua participação in situ, através doPrograma de Retorno e Reintegração deNacionais Africanos Qualificados 1995-1999 (RNAQ) reincorporou em STP, 17destes profissionais qualificados, encon-trando-se a grande maioria (94, 1%) nosector público (B. Rocha, 2000:44) .

Terceiro, ainda que de forma mais ambí-gua, mencionam-se os profissionais noexterior no documento Estudo Nacionalde Perspectivas a Longo Prazo (NLSTP),mas só pontualmente numa das suas aspi-rações: Integração dos emigrantes noesforço de desenvolvimento nacional(NLSTP, 1997:19).

No entanto a vontade de incluír os profis-sionais qualificados no exterior ou o con-junto dos emigrantes sãotomenses enfren-ta um grave problema de falta de informa-ção.

Não existe uma base de dados com o devi-do rigor que nos permita conhecer onúmero e o perfil, pelo menos demográfi-co, dessa população. Esta afirmação nãose limita apenas aos países africanosreceptores, mas também à velha metrópo-le. Portugal dispõe de um registo dos são-tomenses com residência legal - 4795 -,mas não utiliza a informação sobre os ile-gais que, segundo a informação oral recol-hida, poderia duplicar e inclusivé triplicarface aos legais.

O Registo da Embaixada de STP emPortugal mantém inscritos 14.251, masnão tem excluídos os que já adquiriramnacionalidade portuguesa (não existe tra-tado de dupla nacionalidade entre os doispaíses; ao obter a portuguesa perde-se asãotomense) nem os que somente estive-ram temporariamente no país e já o aban-donaram. Por outro lado não se pode espe-rar que o comum dos ilegais esteja inscri-to no Registo da Embaixada.

Sobre a base dos residentes legais só se

conhece o seu ano de registo (desde1980), ubiquidade, profissão e ocupação(até 1998).

No ano de 1980 residiam legalmente 715sãotomenses. Desde esse ano até 1991 oincremento é quase constante e limitado a100-150 pessoas ano. A queda do regimede partido único coincide com uma subidamuito mais pronunciada e entre 1991 e1995 passa-se de 2183 a 4082. Depoiscontinua outra vez o ritmo inicial até 1998e parece subir de novo nos dois últimosanos, 407 legalizados em 1999 (situandoem 4795 a cifra oficial) e outros 410 compedidos de legalização até Agosto de2000.

Os sãotomenses encontram-se desde 1999no quarto lugar em número de imigrantesentre os países africanos de língua oficialportuguesa (PALOP), sendo Cabo Verde(43.797) o mais numeroso, seguido deAngola (17.695) e Guiné Bissau (14.140).Moçambique fecha a lista (4.503).

O grosso dos residentes legais sãotomen-ses encontra-se registado em Lisboa (75,3%) e Setúbal (15,4 %). O resto está muitodisperso por todo o país.

Os profissionais qualificados constituem10,3 % do pessoal sãotomense classifica-do por profissão pelo Serviço deEstrangeiros e Fronteiras (SEF), o que emnúmeros absolutos equivale a 199 pessoasO maior número de sãotomenses em idadede trabalhar (58,2 %) está qualificado nasáreas da produção das indústrias extracti-vas e transformadoras e condutores demáquinas fixas e de transporte e depoisde pessoal dos serviços de protecção esegurança, serviços pessoais e domésticose similares (22,9 %). Há que destacar quesomente 0,3 % trabalha por conta própriae 6,7 % são empresários.

A ocupação do resto dos residentes legaise de acordo com o SEF é a seguinte:domésticos 35 %, estudantes 61,7 %,reformados 0,9 % e outros o 2,2 %.Destaca-se claramente o contraste entre onúmero de reformados e o de estudantes.

Como se pode verificar a informação ofi-cial anterior é escassíssima não só para os

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95Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

investigadores mas também para os própriospolíticos e a tal acrescenta-se a carência deestudos qualitativos sobre os sãotomenses emPortugal.

Os profissionais qualificadossãotomenses actuais e futurosAs pesquisas começaram com um inquéritorealizado durante o primeiro trimestre de2001 com 60 sãotomenses, sendo 32 profis-sionais qualificados (sobre 199 existentes) -dos quais 19 são homens e 13 mulheres - e 28estudantes universitários (dos 207 registra-

dos) - 17 homens e 11 mulheres -.

Com o objetivo de valorizar as possíveisdiferenças segundo o sexo, toda a infor-mação foi desagregada a partir deste crité-rio, estabelecendo-se mais quatro subgru-pos que servem de referência comparativano tempo, entendendo-se que uns repre-sentam o presente e outros o futuro: pro-fissionais qualificados homens (PH), pro-fissionais qualificadas mulheres (PM),estudantes universitários homens (EUH) eestudantes universitárias mulheres(EUM).

Perfil básico dos sãotomenses Para determinar o perfil destes sãotomen-ses, como totalidade, consideraram-se seisvariáveis : sexo, idade, formação, tempode residência em Portugal, estado civil enacionalidade do cônjuge, que serãoexpostos de seguida gra-ficamente . A amostra recolheu um maior número demulheres que a representada no própriouniverso de estudo partindo-se do interes-se específico que este colectivo tem para ainvestigação.

Como se pode verificar na ilustraçãosomente uma baixíssima percentagemsupera os 50 anos, o que se explica pelaescassez de sãotomenses que antes daIndependência possuía formação universi-tária.

A desagregação da informação permiteobter outros dados significativos:

A população masculina qualificada éconsideravelmente mais velha que afeminina. Perto do 60 % dos PH têmmais de 40 anos enquanto que nenhumPM supera essa idade.No caso dos estudantes confirma-se quea idade das mulheres estudantes émenor que a dos homens. Todas elastêm menos de 30 anos, enquanto quenos EUH essa franja situa-se em 64, 7%.

Estas diferenças levam-nos a retirar duasconclusões iniciais: primeiro, que a mul-her sãotomense incorporou-se mais tardena universidade e em nenhum caso antesda Independência; segundo, que o homemsãotomense demora mais anos para acabaros estudos que a mulher, pois sabemos queos EUH acima dos 30 não têm essa idade

Sexo

60%

40%MasculinoFeminino

Idade

38%

41%

15%

3%

3%

Menos de 30Entre 30 e 40Entre 41 e 50Mais de 50NC

F o rm a ç a o

0

1 0

2 0

3 0

4 0

5 0

%

D ip lom a tu ra

L ic e n c ia tu ra

M e s t ra d o

D o u to ra d o

O u tro

E s tu d a n teun ive rs it á rio

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96 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

por ter começado os estudos mais tarde .A diferença de duração dos estudos podeindiciar que a necessidade de gerar recei-tas em Portugal seja assumida peloshomens, mas não existe sobre esta questãonenhum estudo esclarecedor.

Deixando à margem os estudantes há quedestacar que 68,7 % dos profissionais qua-lificados está licenciado, tendo somente6,2 % mestrado . Os PH são mais qualifi-cados no conjunto do que os PM. Entre osque têm estudos universitários concluídoshá mais mulheres que homens com carrei-ras de três anos (38,4 e 15,7 % respectiva-mente) e nenhuma tem o grau de mestre.

Relativamente à profissão o interesse cen-trou-se em conhecer quantos destes profis-sionais qualificados formam parte doempresariado e se os empregados estãoinseridos laboralmente no âmbito públicoou no privado.

A preocupação de se obter informaçãobásica sobre a existência do empresariadoestá ligada à debilidade deste sector emSTP e à hipótese de uma relação futuracom STP em termos económicos.

O desenvolvimento do sector privadoexige empresários e também deve serfavorecido por trabalhadores que tenhamdesempenhado o seu trabalho numaempresa privada. Este facto, tão habitualnos países capitalistas, não o tem sido nosantigos países da órbita socialista - caso deSTP -, sendo uma lacuna para ajustar-se àeconomia livre de mercado e concorrernas melhores condições possíveis.

A percentagem de empresários em relaçãoaos profissionais qualificados existentes énotável e deve destacar-se que todos sãohomens. Por outro lado metade das mul-heres não o manifesta, o que talvez signi-fique que não trabalhem em profissõesrelacionadas com a sua formação acadé-mica.

Significativo é que a metade destes sãoto-menses trabalhem no sector público, quiçápela falta de experiência no sector priva-do, como já foi indicado.

Somente um reduzido número de sãoto-

Profissao

13%

49%

19%

19% Em presário

Em pregado público

Em pregado emem pres a privadaNC

Tempo de residência em Portugal

32%

32%

33%

3%

Menos de 5 anosEntre 5 e 10Entre 11 e 25Mais de 25

Estado civil

58%27%

8%7%

Solteiro/aCasado/aUniao de factoOutro -NC_

Nacionalidade do cónjuge/casal de facto

9%

91%

0%

PortuguesaSaotomenseOutra

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97Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

menses reside em Portugal desde antes daIndependência. Desde então tem havidoum notável incremento.

Pode-se observar que o estabelecimentoda residência em Portugal foi afectadapela mudança do regime de partido únicoà democracia. Quase um terço dos sãoto-menses estabelece a residência entre1990-95. Nos últimos cinco anos concen-trou-se outro terço, mas neste caso osestudantes marcam a diferença, sem quese possa afirmar que permanecerão emPortugal terminados os estudos. Nesteintervalo encontramos 63,8 % das EUM.

É difícil verificar se os residentes emPortugal apresentam diferenças notáveisface aos que vivem em STP relativamenteao matrimónio, pois as cifras em STP nãoestão suficientemente desagregadas.Sabemos que em STP o matrimónio é aexcepção se se tomar o conjunto da popu-lação, mas também que é muito maiscomum entre os forros e, sobre tudo,entre os acomodados.

Os profissionais qualificados homenscasam-se muito mais que as mulheres(52,7 e 30,7 % respectivamente). Porém,nenhuma PM indica tampouco as uniõesde facto, a diferença dos PH, um quartodos quais assinala esta opção. É provávelque, neste caso, o inquérito não recolha arealidade em relação às PM, talvez porqueem Portugal não é tão aceitável como emSTP.

Os EUH e as EUM compartilham a eleva-da percentagem de solteiros, ambos acimade 80 %. Neste caso são os EUH os quenão assinalam a união de facto, enquantoque uma pequena percentagem de EUM,similar ao de casadas, especificam-no ( 9%). Muito poucos EUH são casados, ape-nas 5,8 %, o que contrasta muito com os52,7 % dos PH . Esta diferença não podeatribuir-se de forma exclusiva à idade, jáque ambos os subgrupos compartilhampercentagens elevadas numa mesma fran-ja de idade (de 31 a 40 anos) sem corres-pondência na prática matrimonial, nemnuma estratégia de nacionalização ouobtenção de permissão de residência pormatrimónios com portuguesas, conside-rando o quadro seguinte. Talvez a causa

principal seja o grau de fragilidade dosEUH, consequência de ainda não teremterminado os estudos e, por conseguinte,não estarem estabelecidos social e labo-ralmente.

Esta representação pode ter uma impor-tância chave em todo o estudo sobre ossãotomenses e a mudança, máxima se seconsiderar que, no caso de todas as mul-heres - profissionais qualificadas e estu-dantes - e no dos estudantes homens, 100% dos/as inquiridos/as estariam com umcônjuge ou em união de facto com pesso-as de origem sãotomense. Nos PH são 86%, uma percentagem também muito ele-vada. Entre os que rompem esta regra assuas mulheres têm nacionalidade portu-guesa e metade delas outra nacionalidade.Isto significa provavelmente que são dealgum dos PALOP que mantêm tratadosde dupla nacionalidade com Portugal .

Estamos perante um caso extremo deendogamia e com uma população imi-grante bastante reduzida. Este facto e asrelações sociais deste grupo serão anali-sados com profundidade pela sua provávelrelevância na lógica cultural sãotomense.

A visão sobre o futuro de STP:agentes e factores para amudançaO modo de pensar sobre o futuro pode tra-zer pistas fundamentais para diagnosticara situação presente, conhecer os desejosda população e analisar as possibilidadesde mudança considerando a subjectivida-de. Por conseguinte, a formulação de umahipótese futura implica uma dupla refle-xão: a do porvir e a do presente, ambasrelevantes para entender a mudança.

No caso concreto do inquérito interessa-nos saber em que agentes depositam assuas expectativas estes sãotomenses,como percebem a virtualidade da mudan-ça, que factores económicos e políticosconsideram mais significativos para ofuturo e que outros factores sociais e cul-turais valorizam mais para a melhoria daqualidade de vida.

Também tem especial importância saberse existem diferenças sobre tudo isto entreprofissionais qualificados e estudantes e

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98 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

Ocupam um lugar intermédio empresáriossãotomenses, investidores estrangeiros ecooperação internacional.

Esta hierarquização permite entendervários pontos muito importantes para amudança:

Segundo os inquiridos o futuro depende,sobretudo, dos sãotomenses e não tantodos agentes externos, a pesar de se vivernum contexto de globalização e de SãoTomé manter uma fortíssima dependên-cia da cooperação internacional (commais do 90 % do PIB gerado pela coo-peração e com uma dívida exorbitante )

O papel principal é concedido à cidada-nia e ao Governo e não aos agentes eco-nómicos, apesar de existir uma percep-ção generalizada de deterioriação eco-nómica.

entre homens e mulheres, o que poderiaajuda-nos não só a comprender melhor asvisões distintas como colectivos mas tam-bém a estabelecer a hipótese de mudançasegundo o papel desempenhado por cadaum destes sub-grupos.

Tendo em conta o anterior serão represen-tados os totais e os quatro subgruposexplicando-se separadamente, quando forsignificativo, de forma a facilitar a leituradiferenciada.

O quadro seguinte permite a visualização davalorização dos agentes no futuro de STP:Destaca-se claramente a identificação doscidadãos em geral como o agente maisrelevante, seguido do Governo. Tambémsobressai, pelo seu baixíssimo peso, oPresidente da República.

Agentes mais relevantes para o futuro de STP

0

1020

30

4050

60

70

8090

100

%

Empresários sãotomenses

Governo

Ciudadãos em geral

Investidores estrangeiros

Presidente da República

Cooperação internacional

Sãotomenses residentes noestrangeiroOutros

Agentes mais relevantes para o futuro de STP

0102030405060708090

100

Empresá

rios s

ãotom

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Govern

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entre

as

suas

três

op

çoes

Profissionais homens

Profissionais mulheres

Estudantes homens

Estudantes mulheres

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99Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

ao Governo pelos PH

As diferentes leituras dos agentes susci-tam as primeiras reflexões sobre o que écomum e a diversidade interna destes são-tomenses em Portugal.

O situar os cidadãos como o agente prin-cipal é o ponto de encontro e, portanto, departida para pensar sobre o futuro de STP.Parece indicar um caminho distinto doemprendido até agora, caracterizado poruma participação omnipresente dos agen-tes externos, como já foi indicado.

O valor do Governo como agente tambémé uma referência comum. Contudo, émuito mais para os PH que para o resto, oque pode estar muito ligado à elevada par-ticipação política deste subgrupo emcomparação com os outros três.

Liberato destaca a importância doGoverno e a cidadania:O futuro de ST pode ser risonho... se osgovernantes assim quiserem.Tudo depen-de dos governos, do governo que for elei-to para ST. Agora dá-me a impresão queeste ano há eleições, não sei... em ST.Depende. Porque ST tem possibilidadesde ter uma vida próspera, folgada. E dar,proporcionar um bom ambiente aos filhosdo país. Mas é preciso que de ipso ogoverno queira fazer qualquer coisa porST. Tá a ver? É uma ilha pequenina comcento e tal mil habitantes. Eu estive emAngola muitos anos. Só uma populaçãozi-ta pequenina dentro de Luanda tem maisde cento e tal mil habitantes.

Um bairro por exemplo, o bairro de Golfeou outros bairrositos ligados a Luandatêm muito mais gente que o país, em ST.Até, diga-se de pasagem, podia ser gover-nado até por duas ou três meia dúzia depessoas. O que são cento e vinte mil peso-as? Ou mesmo 130 ou 150, como dizemque não tem, eu não acredito que ST tenha150 mil habitantes. Mas mesmo que tenha,o que é isso? Para governar 150 mil pes-soas... Portanto, 'tá a ver?.

Tudo depende do governo de ST. E é porisso que se costuma dizer "O povo tem ogoverno que merece". Se o povo quisercolaborar eu acho que o governo também

A menção quase nula da Presidência daRepública parece restar validez às hipó-teses de mudança recolhidas em STPbaseadas no reforço dos poderes presi-denciais. De facto, inclusivé para o pre-sente, pode-se salientar que não figuracomo agente de peso para o futuro.

Esta leitura geral deve ser matizada aodesagregar-se a informação por sexo eentre cada sub-grupo.

Ao compararem-se homens e mulherespode-se observar que:

Os primeiros dão maior peso a cidadãose Governo.Somente um quarto dos homens escolheos empresários enquanto que são selec-cionados por metade das mulheres (verinfra).

Quanto aos agentes procedentes do exte-rior os homens inclinam-se para osinvestidores estrangeiros enquanto queas mulheres optam pela cooperaçãointernacional e é muito marcada a dife-rença face aos sãotomenses no estran-geiro, quase ignorados pelos homens eque são contudo identificados pelaquarta parte das mulheres.

Se se efectuar a comparação entre profis-sionais qualificados e estudantes não seobservam as diferenças anteriores.

Pode mencionar-se que os profissionaisqualificados dão mais peso a si mesmosdo que os estudantes e que a cooperaçãointernacional é vista com maior importân-cia entre os estudantes que entre os profis-sionais qualificados.

A leitura obtida cruzando os dois critériosé mais significativa pois entre os quatrosubgrupos produzem-se dois desvios cla-ros e dois menores:

A valorização dos empresários sãoto-menses, agentes escolhidos por 72,7 %dos EUM e só por 17,6 % dos EUH, dis-torcendo as diferenças homem-mulherglobais, pois PH e PM compartilham ocritério. O peso dado pelas PM aos sãotomensesno exterior em comparação com o restodos subgrupos.

O alto papel outorgado pelas EUM àcooperação internacional e o concedido

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100 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

fazê-lo.

A relevância que as EUM reconhecem noempresariado sãotomense pode estarmanifestando uma dupla situação:

Primeiro, contemplam o crescente papeldo empresariado no futuro porque visuali-zam a perda relativa de poder do sectorpúblico frente ao sector privado.

Segundo, vêem-se a elas mesmas comopotenciais empresárias, o que tem corres-pondência com as carreiras escolhidas(Direito e Administração de Empresas) eas perspectivas de intervenção em STP. Adiferença em relação ao resto dos subgru-pos parece, relativamente à participaçãoprópria, bastante clara e pode-se verificarnas relações estabelecidas com STP e nasexpectativas de regresso. Os EUH são osmenos inclinados a actividades em STP eapresentam sérias dúvidas de regresso aoacabar os seus estudos (ver II. 3.).

As PM também não se incluem nem entreas potenciais empresárias nem entre ascrentes no papel do empresariado de sexofeminino. De facto nem uma só mulherinquirida é empresária como já foi assina-lado.

Os PH parecem confiar pouco nas possibi-lidades dos empresários sãotomenses,sendo para além disso muito críticos coma atitude dos seus concidadãos e, em espe-cial dos grupos de poder, para as iniciati-vas dirigidas à criação de empresas.

colabora. E quando o governo não cola-bora o povo ... é soberano e pode muitobem resolver esses problemas.

As mulheres, salvo algumas excepções,têm sido excluídas da tomada de decisõespolíticas nos sucessivos governos e não éde estranhar que uma parte delas, sobretu-do as já profissionais, não vislumbremudanças significativas neste campo.

Diz a este respeito Candelaria:Considera que a mulher é... não um tape-te, mas é quase um tapete, percebes (ligei-ro riso). Alguns homens em ST pensamassim. Mesmo os que estudaram fora.Pensam que o lugar da mulher não é napolítica, por exemplo. Porque é que há tãopoucas mulheres na política sãotomense,não sei se já reparou? Moçambique não,tem n mulheres na política. Tem umascinco ou seis ministras ou secretárias deestado ou assessoras. Mas St não. Pelomenos em relação às mulheres eles pen-sam de uma maneira muito... inferioriza-da. Não pensam que as mulheres atingemo topo onde eles podem atingir. Eles vêma mulher como um objecto, vá lá, algunshomens. E há algumas mulheres que tam-bém apoiam esses homens. Isso é que épior ainda. 'Tá a ver? Eu não vivo lá masvou para lá de vez em quando e eu, quan-do estou assim nesses meios políticos, porexemplo, eu sento isso

Os estudantes actuais, na sua maioria, nemse têm implicado nas contínuas lutas polí-ticas nem dão sinais de estar dispostos a

Possibilidades de melhorar a situação económica e social em STP

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Mui difícil Difícil Fácil Impossível NC

%

Profissionais homens

Profissionais mulheresEstudantes homens

Estudantes mulheres

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101Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

Conta, por exemplo, Juvenal:Quem quer ir a São Tomé, seja ele qua-dros, seja pessoas que têm capitaisenquanto não colaborar com aquela elitenão há possibilidade para nada.

Eu vou-lhe dar um exempo: eu, em 1900e... 93, conheci cá um amigo portuguêsque queria investir em São Tomé ePríncipe, para nós fazermos uma promo-ção de camarão de água doce. Porque osestudos que oe tinha feito de São Tomé ePríncipe, em termos climatéricos óptimo eem termos, pronto, da natureza era ópti-mo, e esse tipo de produto podia-se desen-volver muito bem em São Tomé e Príncipe.Entrou em contacto comigo... eu respon-sabilizei da parte de São Tomé, fazer os"demarches" e o estudo. E, fomos lá.Numa semana comseguimos ir ver a zonae abrir o capital da empresa, e tudo omais. Mas, entretanto, eu vim a saber,como não estava incluído nenhum dessesgrupos de elite nesse projecto, o projectofoi, acabou-se... pronto, não havia nada afazer.

Como percebem estes sãotomenses a pos-silidade de melhorar a situação económicae social?

Existe consenso na existência da possibili-dade de melhoria, se bem que algumasobservações devam ser tomadas em contaao desagregar a informação. Vejamos pri-meiro o gráfico. A visão das mulheres é menos esperan-

çada que a dos homens. Um terço das

mulheres pensa que a melhoria é muitodifícil assim como mais da quarta partedos homens e a facilidade da mudança épercebida por mais do triplo de homensque de mulheres (13,8 % versus 4,1 %).

Ao opor profissionais qualificados eestudantes sem considerar o sexo não severificam diferenças notáveis, o que ésalientado dada a geração predominantenum e outro caso.

Dos quatro subgrupos cabe ressaltar quenem uma só EUM considera fácil a mel-horia. Porquê essa unanimidade?

A forma de contemplar a situação econó-mica e social futura em STP está muitomarcada tanto pela posição relativa dehomens e mulheres no passado como navirtual participação no futuro, associadapor sua vez ao contacto com a realidadesãotomense.

A mulher sãotomense dispõe de uma pers-pectiva pessoal no tempo que não facilitatanto optimismo como o de algunshomens. Têm verificado algumas melho-rias pontuais na sua consideração social,mas sem que se traduza num apoio doshomens às mudanças dirigidas a criar umamelhor posição para elas. Ao mesmotempo estão conscientes da sua prepara-ção, umas como profissionais e outrascomo estudantes universitárias que o dei-xarão de ser em pouco tempo, de que têmmais formação que os seus próprios pais.O futuro apresenta-se difícil ou muito difí-cil para a grande maioria, sobretudo nocaso das mulheres, mas percebem possi-

Factores políticos valorados com a máxima importância para o futuro de STP

0

10

20

30

40

50

60

70

80

%

Reorganização do aparelho doEstadoEstabilidade política

Honestidade no exercicio doscargos públicosReforço da autoridade doEstadoConf iança nas instituiçoespúblicasReforço das competências doPresidentePromoção do diálogo econcertaçao socialRevisão da Constituiçao

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102 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

bilidades de mudança se lutarem para quetal se produza.

As EUM são o caso mais extremo poissabem que vão enfrentar uma sociedadecom regras de comportamento muito dife-renciadas por sexo e elas, pelo menos umaparte significativa, pensam participar acti-vamente no futuro de STP.

Sobre esta problemática é interessanterecolher as palavras de Victoria:E como mulher acho que também tenhoque enfrentar muitas coisas. Porque aindaa mulher é vista como ... um individuopassivo na sociedade . Já está a melhorar.Já melhorou muito . Eu acho que depoisda independência isso já melhorou bas-tante. A mulher já não é vista só ... pron-to, da forma como a mulher é vista nospaíses africanos. Os homens já se 'tão ahabituar que as mulheres tenham algumcontributo para dar, mas ainda isto está air muito lentamente. E eu sei que isto vaiser um dos factores que vão tornar, aminha e a das outras mulheres, numasituação mais difícil. E conciliar a profis-são, conciliar a casa ... porque ainda nãose admite mulheres totalmente viradaspara a vida profissional, como na Europajá se admite. Não se admite. E em SãoTomé, pelo menos com um marido sãoto-mense, isso não é possíel. Neste momentoeu acho que não é possível. O marido nãoconsegue ver a mulher fora de casadurante muito tempo. A mulher tem quedar assistência em casa e ao mesmotempo na profissão. Para eles preferívelmais em casa, Por tanto, vou tentar conci-liar. Estar presente em casa, porque tam-bém quer viver em casa um ambiente está-vel, e ao mesmo tempo tentar dar o máxi-mo na minha profissão, e eu sei que issovai exigir muito da minha pessoa, masmesmo assim vou aceitar o desafio, voutentar.

Quais são os factores de maior importân-cia para o futuro de STP? Existem discre-pâncias apreciáveis entre o conjunto des-tes sãotomenses? Hierarquizam-nos deforma diferente homens e mulheres? Eprofissionais qualificados e estudantes?

De seguida expõem-se, por factores agru-pados (políticos, económicos e outros

diversos), os gráficos resultantes dos valo-res máximos outorgados pelo conjuntodos sãotomenses. Depois introduzem-seos gráficos que reflectem os valores máxi-mos dos quatro subgrupos, facilitando aleitura desagregada segundo os critériosestabelecidos. Porém, para dispor de umavisão muito mais completa e contrastar ainterpretação de todo o material é reco-mendável ver aos anexos e rever astábuas. Se somente se observarem os grá-ficos deve ter-se em conta que ao oporhomens e mulheres as percentagens consi-deram os profissionais e estudantes de ummesmo sexo inquiridos. Do mesmo modoao situar profissionais frente a estudantesestão-se a obter as percentagens a partir dasoma dos homens e mulheres inquiridosnessas categorias.

Várias são as questões destacáveis numaprimeira abordagem: A honestidade no exercício dos cargos

públicos constitui a máxima preocupa-ção, superando a de qualquer reformainstitucional. Se se acrescentarem ossãotomenses que dão um valor 5 aosque dão um valor 4 aproximam-se 90 %dos inqueridos.

Quase metade dos inquiridos identificama estabilidade política como um factorchave e cerca de dois terços, se se soma-rem máxima e alta importância, assina-lam a confiança nas instituições públi-cas.

Parece claro a reijeção a modelos autori-tários e especialmente a dar mais pode-res ao Presidente da República, o queparece confirmar o mencionado a esterespeito quando se valorizam os agentes(ver supra).

Menos de um quarto destes sãotomensesconcede a máxima importância à pro-moção do diálogo e concertação socialpara o futuro de STP

Porque é que uma reijeção ao autoritaris-mo não tem correspondência com umavalorização consequente do diálogo e aconcertação?

Os discursos dos actores sociais sobre ahonestidade no exercício dos cargos públi-cos, valorizada de máxima importância,expressam-se a partir de diferentes pers-pectivas mas ao mesmo tempo convergen-tes.

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103Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

pessoas sabem ... sabem, têm dados e nãosabem o que fazer com ese saber. As peso-as sabem do que se pasa, não sabem oque fazer com esse saber. Precisamenteporque existe uma teia tão... tão esclava-gista de relações em STP que impede quequalquer pessoa sancione, que qualquerpessoa exerça com isenção o seu cargo. Enão é possível. Porque a pessoa é primade não sei quem, que deve favores a nãosei quem, que por sua vez fez favores anão sei quem. Fica uma teia tão, tão, tãodifícil, tão difícil. (...)

Não existe nunca transparência. E a nãoexistência de transparência nos processosde nomeáção em STP é das coisas maisatrozes para a comstrução da ideia denação... da ideia de patriotismo. As pesso-as não são patriotas em STP. Não podemser patriotas em STP (riso suave), porqueSTP é um país que trata mal os seus filhos.Trata mal os seus filhos. Trata mal os seusfilhos precisamente por causa desasredes. As pessoas não são patriotas. Nãoexiste transparência em processos, emprocessos que, de alguma forma, se pensaque são vaotajosos para pessoas que látrabalham. O que existe é um imenso deinteresses para pôr em determinados pos-tos pessoas... pessoas que são da minhaigreja. Quando eu digo igreja, portanto, éuma metáfora: que são do meu grupo. Eisso é lamentável quando se está a falarde país.

Honestidade e confiança nas instituiçõesestão a formar parte de um mesmo discur-so, no qual as pessoas ocupam o lugar cen-tral e as relações entre as mesmas confi-guram o perfil do problema. As manifesta-ções mais claras deste produzem-se noâmbito da justiça, mas podem-se observarnão só nos tribunais mas também nocomum das decisões quotidianas, comoilustra Nelma:Eu quando falo de injustiça eu falo decoisas tão simples quando isso: é justiçaem relação aos processos que estão notribunal e justiça no quotidiano. No quo-tidiano. Eu tenho, tenho, tenho situaçõesperfeitamente aberrantes de injustiça noquotidiano que toda a gente diz: "Pois é...aqui é assim". Mas não tem que serassim. É um país injusto. É injusto.Comentam todo o dia injustiças e achamque isso é "Ah, em todo o lado é assim".Não. Em todo o lado não é assim não. Emtodo o lado não é assim não. Não, não,não é assim. Por muito má que eu acheque a justiça portuguesa funcione, a jus-tiça portuguesa funciona. Eu meto, pormuito mal que eu ache, e funciona mal,mas há, existe. Uma margem de funciona-mento existe. Que eu não tenho que reco-rrer a ninguém para que o meu caso sejaouvido, que o meu caso vá para os tribu-mais. Este é outro aspecto. Se nós quiser-mos a moralização da justiça. E essamoralização da justiça pasa por umacoisa tão semples quanto isso: é que as

Factores políticos valorados com a máxima importância para o futuro de STP

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104 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

Ao ler a informação repartida por homens emulheres confirmam-se as observaçõesgerais, mas verificam-se algumas matizesque devem ser assinaladas: Mais homens concedem maior importân-

cia à honestidade no exercício dos car-gos públicos que mulheres e o mesmoocorre com a confiança nas instituiçõespúblicas. Mas em ambos os casos existeuma distorção pelas EUM, o que éexplicado na desagregação por subgru-pos.

Só 12,5 % das mulheres (frente a 30,5 %dos homens) crê que é da máximaimportância promover o diálogo e aconcertação social.

Somente alguns homens entendem comoprioritário o reforço dos poderes doPresidente, opção não compartilhadapor nenhuma mulher.À luz da valorização dada à reorganiza-ção do aparelho de Estado e à revisão daconstituição pode-se dizer que oshomens são mais partidários das refor-mas políticas que as mulheres.

O facto de que o diálogo e a concertaçãosocial no inquérito estejam menos valori-zados nas mulheres do que nos homens esem ser referido por uma só profissionalnão significa que as mulheres menospre-zem a importância deste factor. Pelo con-trário, o tratamento em profundidade doproblema deixa muito claro que o diálogodeve ser criado, como expressa Ana:Em STP não existe a mentalidade de que opolítico deve explicações ao povo. O polí-tico deve explicações ao povo! . Ele estálá porque existe o povo. Se não existisse opovo ele não estava lá. O político sãoto-mense acha que ele não deve explicaçõesa ninguém! Ele só dá explicações ... equando ele dá ele dá com uma arrogânciaterrível. Chama nomes às pesoas. Que éisso?! Que raio de país democrático éesse que eu não posso criticar um políticosem receber um insulto na volta? É umacoisa impressionante aquele país!. É arro-gância porque ele acha que ele não tem...E isso, esse problema não é de agora.Esse problema vem do tempo do partidoúnico. Porque no tempo do partido únicoo Pinto da Costa não dava explicações aninguém. E como se faz uma democraciasem demócratas o resultado é esse. Claroque eu estou a falar de questões genéricas

mas eu acho muito importante nós discu-tirmos primeiro princípios. E são os prin-cípios que não são discutidos em STP. (...)

Resumindo tudo isso: eu acho que STP éuma sociedade em que falta o diálogo. (...)

E vou-lhe dar um exemplo tão simplesquanto isso: eu quando oiço aquelas gre-ves contínuas de professores...eu fico tris-te. Primeiro...não é que eu ache que osprofessores não devam fazer greve. É queas reivindicações deles...não são exequí-veis. Por muito que o governo queira, ogoverno não pode satisfazer aquelas rei-vindicações. Quem diz profesores, diz fun-ção pública. Eles fazem reivindicaçõesperfeitamente que não se pod... só se umBill Gates resolve-se injectar o seu exce-dente de dinheiro em STP. Governo nen-hum comsegue satisfazer aquelas reivindi-cações. E o que é que acontece? É verda-de que neste caso das greves, eu posso nãoestar muito certa porque eu acompanhoatravés da rádio e da televisão. E que éque eu vejo? Eu vejo, é que não existe diá-logo entre as partes em conflito. E as par-tes em conflito são: os trabalhadores queestão em greve e o governo. Não existediálogo. O que se passa, me parece que sepassa, é que cada um vem à comunicaçãosocial dizer aquilo que pensa. Eles nãodialogam. Eles não dialogam. Cada umvem à comunicação social dizer o quepensa, não é. Porque o diálogo é umacoisa muito tensa em STP, as pessoas nãosabem debater ideias. As pessoas não con-seguem ficar uma hora a debater ideias.As pessoas vão para o insulto, as pessoasvão para o fulanização, para a personali-zação e eu penso que é essa mentalidadede diáogo que é preciso criar em STP.

Se o diálogo é tão necessário mas não éassinalado como opção prioritária, quiçá sedeva ao cepticismo que provoca falar domesmo sobretudo na vida política. Para asmulheres profissionais o diálogo em STPpode ser tão inexistente na lógica das rela-ções pessoais e como colectivo, que carecede sentido de realidade dar a máxima valo-rização a este factor num âmbito, o políti-co, que para além disso ocupam muitomarginalmente. Esta incredulidade podeestender-se às reformas políticas formais edaí o limitado valor que lhes destinam.

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105Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

encaixa o sistema democrático em STP.

Assim explica este problema João, um dosprofissionais:Mas também com essas mudanças políti-cas também... Depois é uma das coisasimportantes em São Tomé: estabilidade,estabilidade política. Porque aqulio queeu vi, depois da mudança, que houve mui-tos partidos, quer dizer, não se conseguenum país. Primeiro, é que é uma coisa quenós importamos os modelos democráticos,que universalmente se diz que é daEuropa, que muitas das vezes não é muitoadaptado a nós, por nós termos ... O que ébom nessa coisa é que há os direitoshumanos que é uma coisa fundamentalpara a humana. Então quando houve essamudança que houve um partido que gan-hou eleições, não fazia sentido falar seismeses para um partido acabar a sua legis-latura, o Presedente da República pura esimplesmente a seu bel prazer, sem ver ointeresse do país, fez cair o governo. Querdizer caiu sucessivamente governos que oque é que acarreta ao país em termos eco-nómicos, em termos de comfiança interna-cional, isso caiu num descrédito que real-mente, que muitas das vezes se culpasobre todos nós, sobretudo pessoas quesão representantes. Quer dizer, seis mesespara um governo acabar a sua legislaturafaz derrubar o governo. Depois é outravez eleições, é outra vez esses conflitos.Por isso é que São Tomé e Príncipe estáassim. Mas que há possibilidade para tal,

Maiores diferenças se verificam ao oporprofissionais qualificados e estudantes,sobretudo ao considerar os valores alto emáximo nas tábuas. Quase o dobro dos profissionais qualifi-

cados comparativamente aos estudantesdão o máximo valor à estabilidade polí-tica e à confiança nas instituições.

Os profissionais qualificados concedemmuito mais peso ao reforço da autorida-de do Estado que os estudantes.

A promoção do diálogo e a concertaçãosocial é mais importante para os estu-dantes que para os profissionais qualifi-cados, mas fundamentalmente pelavisão das PM já antecipado.

A experiência desempenha um papelchave para entender a diferente relevânciaoutorgada à estabilidade política e às ins-tituições. STP tem-se caracterizado poruma volubilidade na vida política muitomarcada, o que parece encontrar-se emestreita relação com a pessoalização dosvínculos políticos.

Os governos desfazem-se e reconstroem-se com extraordinária rapidez, sobretudocomparativamente aos europeus ou norte-americanos. Parece lógico que os profis-sionais estabelecidos num país muito maisestável e que têm contemplado ou padeci-do das contínuas mudanças em STP valo-rizem mais os efeitos positivos da estabili-dade, ainda que alguns destes sãotomen-ses acabem por não ver com clareza como

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Desenvolvimento do turismo

Redução da divida externa

Creação de um sectorempresarial forteAumento da cooperaçãointernacionalCaptação das popanças dosemigrantesExploração do petroleo

Diversificação das exportaçoes

Atracção do investimentoestrangeiro

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106 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

eu penso que há. É preciso realmente queos homens mudem de mentalidade e quepessoas que está lá querem mesmo trabal-har a bem de São Tomé e Príncipe.

Mais uma vez os sub-grupos apresentamsingularidades destacáveis: En termos gerais as EUM dão valores

mais baixos que o resto dos subgrupos,o que talvez contribua para explicar oporquê da tão alta valorização dosempresários como agentes chave nofuturo de STP (ver supra); quiçá confí-em mais neles que nos actores políticos.

Seguindo a linha anterior destaca-se obaixo peso relativo que as EUM outor-gam à honestidade no exercício dos car-gos públicos e muito baixo na confiançanas instituições públicas e autoridade doEstado.Uma quantidade nada depreciável de17,6 % dos EUH entende da máximaimportância reforçar os poderes doPresidente, o que parece consequentecom que seja este subgrupo o mais par-tidário da reforma constitucional.Nenhum PM se inclina por valorizarmuito a promoção do diálogo e a con-certação social, o que já se tentou expli-car.

As PM são as que mais importância parao futuro de STP vêem na honestidade noexercício dos cargos públicos, contras-tando significativamente com as EUM.

Quanto aos factores económicos e toman-do o conjunto destes sãotomenses, esta é arepresentação gráfica à qual se concede omáximo valor na sua importância para ofuturo de STP:

O desenvolvimento do turismo e a atrac-ção de investimentos estrangeiros sãoidentificados como os factores maisimportantes, seguidos pela diversifica-ção das exportações.

A captação das remessas dos emigrantes,que poderiam ser utilizadas para inves-timentos - incluindo no sector turístico -ocupa o último lugar.

Surpreendente, do ponto de vista econó-mico, é que somente um terço conside-re da máxima importância reduzir adívida externa, dado o volume damesma e o peso da frágil economia são-tomense.

A exploração do petróleo também ocupaum lugar muito baixo se se pensar a par-

tir da perspectiva da riqueza que pode-ria gerar. Seguindo as reflexões realizadas emrelação aos juízos sobre os agentes e ofuturo de STP confirma-se o pouco pesorelativo que se atribui ao sector empre-sarial.

O desenvolvimento do turismo é um fac-tor de menção recorrente entre estes são-tomenses e as principais condições paraque seja possível, são identificadas poruma grande maioria: transportes, infra-estruturas, erradicação do paludismo,higiene-saneamento público, etc.Contudo, o conhecimento destas circuns-tâncias não se traduz em resolução dosproblemas e o discurso das implicaçõesque teria o desenvolvimento deste sectoracaba eclipsado pela realidade que, até aopresente, o impossibilita.

Explica Liberato:Para já o turismo está de rastos, quandodevia ser uma das principais riquezas deST, podia ser muito bem o turismo. Temcomdições excepcionais como o senhorcertamente já verificou. Durante a suapermanência em ST certamente já viuisso. E o turismo não está a ser explorado.E porquê?

Uns dizem que é por falta de hotéis, masmesmo assim, já há lá uns hoteizitos, nãohá muitos, mas se estivessem apetrecha-dos e com pesoal à altura, talvez para asprimeiras impresões, resolve-se o proble-ma dos turistas.

Um dos entraves é a malária, o paludis-mo.E também porque é que isso não estáerradicado? Isso já podia estar erradica-do em ST, mas é claro, principiou-se umtrabalho de combate e erradicação dopaludismo mas não se concluiu.

E depois também é a falta de limpeza. Nãose acabam com os pântanos que aindaexistem em ST na própria cidade, aqelestufos), aquilo é um foco propício para aproliferação dos mosquitos. Não há limpe-zas, não há nada. O lixo também comtribuipara um aumento dos mosquitos.

O valor concedido à atracção do investi-mento estrangeiro e à diversificação das

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107Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

amigos de quem gosto muito, não é issoque está em causa, estão todos muito feli-zes por causa do petróleo. Ora, país ...Nós temos em África exemplos de paísesprodutores de petróleo em que os povosdesses países vivem abaixo do limiar depobreza. O petróleo em si, a riqueza natu-ral em si, não resolve o problema de nin-guém. Não resolve o problema de nin-guém! Eu já não vou para a Suíça, quenão tem riqueza natural nenhuma. Eu jánão vou para a Suíça; isso é invejar, éaspirar no topo. Vamos a Cabo Verde. EmCabo Verde as pessoas não vivem tão malcomo em São Tomé. Em ST as pessoasvivem muito mal. Isso faz mal ao espíritodas pessoas. E não tem riqueza. Bem, vol-tando ao petróleo,eu não acho que opetróleo vá resolver o nosso problema. Opetróleo vai resolver o seguinte: o petró-leo vai resultar num número reduzido degente mais rica em STP, porque em STPhá gente rica já. Rica! Gente rica. Esaspessoas vão ficar mais ricas e o resto dopovo vai continuar assim, vai continuarpobre. Obviamente que isto não é tão line-ar assim, quer dizer, não é tão... Claro quese os sãotomenses quiserem, se os sãoto-menses quiserem não vai ser assim. O din-heiro vai reverter para, ou pode reverterpara coisas, para bens mais colectivizan-tes como estradas, escolas, hospitais. Éóbvio. Obras de saneamento. Claro! Masà partida por aquilo que eu tenho vistonesses 25 anos, isto não me parece queseja um futuro. Quer dizer, por laqulo queeu tenho visto nos últimos 25 anos, eu souobrigada a dizer eu vi o futuro e não gos-tei. Porque é verdade que pode ser dife-rente. Há países, sobretudo países árabesem que o petróleo tem sido aproveitado,claro, muito pela oligarquia, seja essa oli-garquia presidencial ou dinástica. Muitopela oligarquia mas que reverte em coisasconcretas: obras de saneamento, estra-das, escolas, saúde. Eu sei porque STP édos países mais endividados do mundo.Aonde é que está o dinheiro dessa dívida?Investido, esse dinheiro está investido emquê? Não se vê. Porque repare, que se sevisse. Pronto, foi investido em hospitais.Não se vê isso.

Esta interpretação da apropriação dosbenefícios do petróleo por parte de umaminoria sem se repercutir em melhorias

exportações provoca dúvidas se se asso-ciar o pouco valor concedido à criação deum sector empresarial forte, à captação dapoupança dos emigrantes e à exploraçãodo petróleo.

A primeira dúvida que suscita esta escalaé em que medida se tem modificado amentalidade económica do regime de par-tido único . Pensar-se-á que o desenvolvi-mento turístico, assinalado como primeirofactor económico, corresponde aoEstado?. Quem supõe que vai gerar rique-za se se conseguir aumentar o investimen-to estrangeiro? Como se espera diversifi-car as exportações sem desenvolvimentoempresarial?.

Poder-se-ia formular a hipótese de quenão é tanto um problema de diferençasentre uma economia centralizada e umaeconomia livre de mercado como a formacomo estes sãotomenses depositam o des-envolvimento do país nos estrangeiros,incluindo a do seu sector empresarial.Contudo, esta interpretação é pouco con-sequente com a identificação dos agentesmais relevantes para o futuro de STP, ondeficou explícito que são os sãotomensesquem devem ser os principais actores doseu próprio futuro.

As respostas são um pouco mais comple-xas e devem dar-se a partir de novas per-guntas que podem facilitar uma interpreta-ção mais holística.

Há que tentar clarificar primeiro porque éque num país com tanta falta de capitalpróprio não se valoriza a potencialidadeda poupança dos seus emigrantes e sim ocapital procedente do investimento estran-giero e porque é que a exploração dopetróleo, que poderia atrair muito capitalexterno e gerar um altíssimo capital pró-prio, ocupa um peso tão baixo em compa-ração com os restantes factores anteriores.

Vejamos o que dizem os sãotomensessobre isto, começando pelas reflexões deSofia sobre o petróleo:Eu acho que não se está a investir nasalternativas. Claro que me vai dizer "masestão a investir no petróleo". Para mim,quanto a mim, pessoalmente, é outra des-graça que vai entrar em STP. Os meus

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108 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

para o conjunto da população pode ajudara explicar o cepticismo das expectativasgeradas face à futura exploração do petró-leo. Destaque-se, além disso, como se estáa pensar na repercussão da actividade eco-nómica no desenvolvimento humano, nãose limitando a uma mera crítica ao enri-quecimento ilícito ou à riqueza em si.

Sobre as remessas e a sua relevância comofactor económico os sãotomenses nãoignoram o seu potencial e contam com ocaso caboverdiano como uma referêmciaclara de sucesso. Conta Idalecio:

Costumo dizer como é possível que oscabo-verdianos, por exemplo, indepen-dentemente de ter muito ou pouco, pensemsempre em Cabo Verde, querem voltarpara Cabo Verde. Ganham bem, escolhemcinco em Cabo Verde.

Em ST não. O homem sãotomense conti-nua, continua ainda hoje, que se ele temdez quer dez para ele, se eu tenho dezquero mais cinco, vem cinco para mim.Não pensa sequer em dizer assim "Eutenho cinco,mas eu vou ajudar o meu paíscom mais cinco, posso" Ou seja, pensar

um pouco mais no seu povo no seu paísem vez dele próprio. E isso vê-se muitonos dirigentes. (...)

E depois é uma coisa que eu acho que acon-tece em Cabo Verde.Cabo Verde não temagua, é um país extremamente pobre emque as pessoas ganharam um amor à fami-lia porque saíram do país à procura do mel-hor, e souberam que deixaram em CaboVerde outras pessoas. E então estão suces-sivamente preocupadas com as pessoas queficaram lá. Ou seja, eles entendem queaquilo que arranjaram cá, hoje, pode aju-dar sobremaneira para o desenvolvimentode Cabo Verde e isso tem acomtecido, opaís tem estado a desenvolver. (...)

Tenho colegas cabo-verdianos, falo commuitos, por aí fora e conheço alguns, éuma maneira totalmente diferente. Eu vejoa ir para o banco, a fazer transferênciaspara ST, para Cabo Verde, a mandar osseus contentores para Cabo Verde, a faze-rem as suas casas em Cabo Verde, aarranjarem um terreno em Cabo Verde, oestar sempre no terreno. Em ST é quaseimpensável, um terreno em ST e ter eseterreno. Dão simplesmente às pessoas que

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

Todas estas reflexões permitem, quiçá,considerar que comprender a valorizaçãodos factores económicos em STP exigeum esforço de inserir o discurso económi-co na lógica de outros discursos, pois emtermos economicistas não parece possívelresponder a bastantes interrogaçõesimportantes.

Vejamos o que pode trazer a desagregaçãona clarificação destas interrogações.

eles acham que faz falta. Ou seja, aos seusamigos pura e simplesmente. E não fazemos políticos porque é assim: esse homem édescomhecido mas é um quadro sãoto-mense, que regressa, vai fazer uma casa, éuma mais valia para o próprio país, nãoé?E deixa de ser um problema para o pró-prio governo. É que não vêem iso. Ouseja, quanto mais nós dependermos dacooperação em ST para eles melhor. Issoé uma forma errada de ver a política,

Factores valorados com a máxima importância para melhorar a qualidade de vida dos saotomenses

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Controlo do paludismo

Salários mais elevados

Meio ambiente equilibrado

Condições de habitação

Alteraçao do comportamentoleve-leveOferta cultural

quanto a mim, na minha opinião muitoparticular. Mas olhe, neste momentoainda não se conseguiu fazer melhor ...

Pensar no interesse próprio acima docolectivo, em relações pessoais acima deinteresses gerais e numa afirmação sobre obeneficio que supõem ter os dirigentes naalta dependência da cooperação interna-cional são problemas percebidos poralguns destes sãotomenses.

Na mesma linha parece situar-se a valori-zação tão limitada que se dá à reducçãoda dívida, sabendo-se que como factoreconómico objectivo é um problema deprimeira magnitude para o futuro de STP.E não só se situa em níveis de prioridademais baixos mas também parece nãohaver a preocupação de que continue aaumentar, pois continua-se a pôr a ênfaseno investimento estrangeiro (grande partedo qual se tem produzido e se produziráatravés de créditos) e não no sectorempresarial.

Seguindo a divisão por homens e mulhe-res podem observar-se alguns pontos inte-ressantes:

Os homens assinalam a máxima impor-tância a muitos mais factores económi-cos que as mulheres.É especialmente alta a diferença relati-vamente ao aumento da cooperaçãointernacional (36,1 % homens e 8,3 %mulheres) e na captação da poupançados emigrantes (25 % homens e 4,1 %mulheres).Somente na reducção da dívida externase encontra maior percentagem entre asmulheres, mas não muita (37,5 versus33,5).

As diferenças entre profissionais qualifica-dos e estudantes são também apreciáveis: Os profissionais qualificados dão menor

importância a reduzir a dependênciaexterna (28,1 versus 42,8 % dos estu-dantes) e muita mais ao aumento dacooperação internacional (31,2 e 17,8%), à poupança dos emigrantes (25 e 7,1

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110 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

Para além dos factores políticos e econó-micos expostos questionaram-se os sãoto-menses acerca de outros factores vincula-dos à mudança da qualidade de vida e odesenvolvimento humano.

Expõe-se a seguir a representação gráficados valores máximos para o conjunto des-tes sãotomenses.

Não há dúvida de que estes factores susci-tam uma notável coincidência ao seremmuito mais valorizados que os económi-cos ou políticos já expostos. Seis delesestão valorizados com a máxima impor-tância, acima dos 40 % (só dois entre ospolíticos e três entre os económicos) e

%) e ao investimento de capital estran-geiro (59,3 e 46,4 %).

Os estudantes concedem maior protago-nismo aos próprios sãotomenses, redu-zindo o procedente do exterior e poten-ciando o que se deve desenvolver nointerior (através do empresariado e dadiversificação das exportações)

A leitura diferenciada por subgrupos per-mite destacar a singularidade nesta maté-ria das EUM: Situam em primeiro lugar a reducção da

dívida externa, com clara diferença faceao resto.

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Valorizam muito pouco o aumento dacooperação internacional e ainda menosa atracção do investimento estrangeiro ea exploração do petróleo.São o sub-grupo que mais valoriza acriação de um sector empresarial forte.

As sucessivas desagregações abrem umespaço para a mudança ao contrapôr asEUM e os PH.

Os PH parecem ser os que mais estão areproduzir um modelo claramente apoia-do no procedente do exterior, à custa deum endividamento crescente, um baixodesenvolvimento endógeno e um prová-vel acentuar das diferenças sociais pela

apropriação dos beneficios derivados dopetróleo ou de outros investimentosestrangeiros.

As EUM parecem representar um mode-lo muito mais orientado para o desenvol-vimento das próprias capacidades, queprecisa fazer-se a partir do saneamentoeconómico mas também social. Apostamem alternativas ao sector público e aopapel económico que desempenha hoje oEstado, depositando a ênfase no empre-sariado, mas também no próprio papelque elas devem desempenhar no futuroSTP.

Page 109: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

111Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

Mas, quiçá, estes sãotomenses prefirammostrar a relevância de factores que, deum ponto de vista social, são comtempla-dos como imprescíndiveis e sobre os quaisse espera uma sensibilidade por parte detodos. Não pareceria muito correcto que,de forma explícita, os profissionais emmelhores condições situassem os saláriosem níveis de importância superior à saúdeou educação. E, além disso, a maior partedestes sãotomenses não vai regressar paraviver em STP a curto prazo, pelo que tam-pouco vão padecer dos salários actuaisque ali se pagam. Muito diferente seriaanalisar o factor salários a partir da pers-pectiva dos que recebem na realidade,como ocorre ao identificar os problemaspara concretizar o regresso a STP. Nessecaso todos os PH situam a carência demeios económicos no valor máximo2

Em relação ao denominado leve-leve a suaimportância é reconhecida, sem dúvida,

somente a honestidade no exercício doscargos públicos se aproxima às percenta-gens mais elevadas destes factores.

O controlo do paludismo e as infra-estru-turas destacam-se claramente sobre oresto e se se somar a valorização máxi-ma à alta situamo-nos em níveis naordem dos 90%. No caso educativotambém se aproximam a esse grau, mascom uma percentagem de máximaimportância bastante inferior. 70 % dos inqueridos valoriza comomuito importante a alteração do com-portamento leve-levé (46,7 % com amáxima e 23,3 % com o seguinte valor). Se se pensar que o rendimento per capi-ta é o componente mais baixo do Índicede Desenvolvimento Humano em STPparece surpreendente o lugar ocupadopelos salários como factor de melhoriada qualidade de vida. Somente o meioambiente é situado abaixo e é superadopela oferta cultural.

Contudo, a valorização do factor saláriosnesta parte do inquérito não supõe que aoaprofundar o tema os sãotomenses menos-prezem a sua importância. As diferençassalariais entre STP e Portugal são muitoaltas e o custo de vida em STP, mantendoumas condições mínimas segundo os parâ-metros seguidos em Portugal, é tambémmuito elevado. Para que um profissionalpossa satisfazer essas condições mínimasnecessita que os salários em STP aumen-tem consideravelmente.

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Váriasvezes por

ano

Anualmente Dois emdois anos

Raramente Nunca Nãocontesta

%

Profissionais homens

Profissionais mulheresEstudantes homens

Estudantes mulheres

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112 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

por estes sãotomenses e se se abordassemos residentes que nunca estiveram emSTP, é muito provável que os valoresresultantes fossem ainda mais altos. Oleve-leve associa-se com a mentalidadesãotomense e requer uma reflexão maispormenorizada na análise global.

Anticipamos umas referências de Mari eJoao: Também um bocadinho do noso leve-leve, eum bocadinho... quer dizer, não sei se jáesteve em ST? Porque nós muitas vezes fala-mos de leve-leve: a vida vai devagarinho,deixa passar, deixa andar e as pessoas tam-bém não comtribuem grande coisa, porqueestão sempre à espera que os outros façam.Estão sempre à espera que os outros façam etambém não comtribuem grande coisa.

É preciso incutir nas pessoas um espírito decidadania mais forte, um espírito de amor àterra mesmo e passa por muita cultura,muita educação. As pessoas têm que saberque o país é delas. É delas, e elas tambémpodem fazer o pouco mesmo, pouco podemir fazendo pelo país. E passa muito por isso.

E ST vive um ... para mim é grave, vivenum estado que é grave. Porque as pesso-as estão acomodadas com o status quo,com o que existe. As pessoas não se esfor-çam por alterar a mentalidade sãotomen-se. O Sãotomense vive naquela mentalida-de leve-leve, eu não sei se conheces aexpresão leve-leve, mole mole? Vamoslevando a vida ... E isto não dá. Isto nãodá. Eu já vi ST melhor do que é hoje. Deforma diferente ao observado sobre os fac-tores políticos e económicos, assim comoa respeito dos agentes e das expectativasde mudança, nas valorizações destes últi-mos factores ligados à qualidade de vida adesagregação não apresenta variaçõesnotáveis, nem entre mulheres e homens,nem entre profissionais qualificados eestudantes nem entre os quatro subgrupos.

Há somente que mencionar que os homensapresentam valores máximos um poucomais altos que as mulheres e que os EUHparecem mais exigentes globalmente queo resto dos subgrupos, sendo os que maisconcedem a máxima importância ao meioambiente, às condições da habitação, àalteração do comportamento leve-leve eaos salários mais elevados.

O gráfico seguinte reflecte a desagregação:

Relações entre sãotomensesA distância permite obter uma perspectivadistinta de abordar os fenómenos, as pes-soas e as instituções, em especial quando

Hipótese de regresso definitivo a STP

0 20 40 60 80 100

Sim

Não

NC

%

Estudantes mulheres

Estudantes homens

Prof issionais mulheres

Prof issionais homens

Tempo previsto para o regresso definitivo

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

A breve prazo

A medio prazo

A longo prazo

Depois da reforma

Não sabe

%

Estudantes mulheres

Estudantes homensProfissionais mulheres

Profissionais homens

0

10

20

30

40

%

Problemas para concretizar o regresso

Motivos f amiliares

Motivos prof iss ionais

Falta de conf iança nofuturo de STPA usência de meioseconómicosOutros

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113Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

anualmente) enquanto que só 8,2 % doshomens o faz.São muito mais os estudantes que nãovão nunca a STP que os profissionaisqualificados, o que provavelmente sedeva ao alto custo da viagem.3Os PH vão mais que os PM e tambémsão mais os PM as que vão raramente oununca.

As EUM vão muito mais que os EUH etambém são muitas menos as EUM quenão viajam nunca ou raramente.

Os sãotomenses interrogam-se acerca doregresso definitivo? Aparentemente sim,pelo menos ao responder de forma directae sem que exista diferença apreciável nempor sexo, nem por idade.

A minoria que declara não questionar-seacerca do regresso definitivo expressacomo argumento central a ausência dequalidade de vida em STP.

O propósito de concretizar um tempo paraa volta definitiva apresenta maior diferen-

se trata dos que afectam o indivíduo direc-tamente por formar parte da própria bio-grafia. Entender as relações dos sãotomensesemigrantes entre si e destes com STP podefacilitar uma melhor compreensão detodos. A partir deste conhecimento podemabrir-se formas de diálogo e de colabora-

Areas de possível colaboração em STP

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Turismo Comércio Actividadesliberais

Ensino Debates eencontros

Outros

%

Profissionais homens

Profissionais mulheres

Estudantes homens

Estudantes mulheres

c

ção ligadas à mudança e ao desenvolvi-mento humano em STP.

O inquérito enfatizou três aspectos: con-hecer a atitude dos emigrantes perante ahipótese de regressar ao seu país de ori-gem, verificar os contactos entre sãoto-menses em Portugal e indagar sobre a suapossível implicação em actividades con-cretas.

Estes são os resultados das pesquisasaproveitando mais uma vez as representa-ções gráficas como primeira imagem paraa reflexão e mantendo as formas de des-agregação anteriores.

Comprovar a frequência de viagens a STPé um primeiro passo para se entender asrelações com o país de origem e com osseus concidadãos.

O gráfico permite verificar que somenteum reduzido número destes sãotomensesviaja com regularidade a STP e que três

em cada quatro não o faz nunca ou quasenunca.

Mas algumas diferenças internas podemverificar-se ao desagregar a informação.

Um quinto das mulheres vai com fre-quência a STP (várias vezes por ano ou

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114 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

do básico que é ter um alojamento; aloja-mento não é problema. O maior problemaé encontrar uma estrutura que dá paracomeçar uma carreira profissional nonível que eu tenho cá em Portugal. Portanto o nível em ST está muito caro eposso contar com uma despesa mensalque ronda os 150 mil escudos. Por tanto énesta base que certamente vou pensarpara ST. O aspecto fundamental é oaspecto financeiro.

Para além dos problemas explícitos assi-nalados, em alguns sãotomenses produz-se uma mudança de hábitos de consumo eexigências muito pronunciada, esperandoreceber do Governo condições que nemsequer se oferecem nos países onde agoraresidem. O nível de algumas exigênciasleva, por exemplo, a exigir uma habitaçãopor uns anos e a equiparar a utilidade esuposta necessidade do telefone emPortugal e em STP, chegando a convertê-lo num "bem primario" . Veja-se porexempo, as exigências de Jacinta referen-tes a estes temas: Eu quis muito voltar para o meu país, querdizer... Eu eu estou cá a viver em Portugale não gosto de estar aqui. Todos os diaspenso em pegar as malas e arrumar e ir-me embora. Mas eu cada vez que vou deférias e vejo as coisas como estão...não meapetece ficar. Isto porquê? Porque nãotenho lá uma casa. Se o governo sãoto-mense fizesse como o governo cabo-ver-dian, .quando os jovens acabam o curso,arranjam casas. Nem são aquelas casaspré-fabricadas. Ficam durante algumtempo, dois, três anos e depois cada umconstrói a sua casa e vai para sua casa.Muitos quadros aqui iam. (...)

Portanto, se houvesse condições de habi-tação, melhores condições salariais,maiores apoios os jovens regressariamquase todos, os quadros.

E quando sai para fora para estudar vocêadquire outros hábitos. Qualidade de vidapara mim é importante. Eu acho que jánão nunca vou pensar em 'tar numa casasem casa de banho. Estar numa casa semluz para mim só se tiver mesmo com umproblema de saúde bastante grave de nãopoder trabalhar. Aí, olhe que remédio.Mas enquanto tiver pés e mãos para tra-

ciação interna, mas são poucos os sãoto-menses que situam uma data próxima ( 3,8%), o que supõe abrir sérias dúvidas sobrea questão central inicial. Talvez a respostaobrigada socialmente entre eles seja decla-rar a vontade de regressar, sem que tenhaa ver com a realidade.

A desagregação não facilita muito as res-postas relativas às tendências de concreti-zação do regresso, mas permite umaorientação acerca os subgrupos e o tempobreve e a incerteza:

Somente os estudantes se propõem a vol-tar a breve prazo, o que parece indicarque a sua permanência em Portugal éconsequência dos estudos. As EUM vis-lumbram prazos mais curtos que osEUH.

É muito alto o grau de incerteza entre osestudantes e o contrário ocorre entre osPH.

Que exista uma maior incerteza entre osestudantes que nos profissionais está deacordo com o esperado dado o diferentegrau de integração social e as diferentesmargens de manobra. Se a idade, o trabal-ho e os filhos não permitem demasiadasalternativas numa sociedade tão competi-tiva como a europeia, menos predispostoainda se está para fazer experiências emSTP. Mas continuemos com as perguntasbásicas sobre este assunto para esclarecermelhor as dúvidas.

Quais são os problemas para não concreti-zar o regresso?

A ausência de meios económicos e a faltade confiança no futuro de STP figuramcomo os problemas mais citados, sendomenos os que alegam motivos profissio-nais e familiares, se bem que com fre-quência estejam relacionados.

Diz Manuel:Mas há muito trabalho para fazer. É claroque um segundo aspecto que é o aspectosócio-financeiro, portanto, isto é um dosaspectos muito difíceis, que dificulta-me oregresso. Eu tenho muitos interesses detrabalhar com ST, trabalhar para ST,mas, por enquanto não encontrei condiçõ-es para regressar... Eu não falo somente

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115Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

'tá a ver?. E a pessoa 'tá em Portugal.Quer dizer que não mudou, 'tá com aque-la mentalidade tapada, fechada, como eucostumo a dizer. É isso que é precisomudar. Porque a mentalidade do povosãotomense dalgumas pessoas é umamentalidade muito, muito, muito ... deixamuito a desejar. É preciso conhecê-los. Éum povo muito hospitaleiro, muito simpá-tico mas tem algumas minhoquices nacabeça que é preciso dar a volta.

Como são as relações dos sãotomenses emPortugal?

Em primeiro lugar há que destacar que éaltíssimo o número dos que mantêm con-tactos regulares, superior ao 90 % . Aocomparar homens e mulheres verifica-seuma pequena diferença sendo a percenta-gem de homens de 88, 8 % e das mulhe-res de 95,8 %. Ambos os dados são coe-rentes com o alto grau de endogamiaobservado no perfil dos sãotomenses ecom as mínimas diferenças entre homense mulheres já assinaladas (ver supra).

Os tipos de contacto apresentados emseguida reflectem claramente que: A amizade e a familia marcam a pauta

geral de relação 4Os contactos de vizinhança são muitobaixos, o que permite afirmar que nãose produz agrupamento físico por bai-rros ao contrário do que normalmenteocorre com os sãotomenses imigrantesmenos qualificados.

Desagregando a informação podem-seobservar algumas particularidades:

Os estudantes apresentam índices umpouco mais altos que os profissionaisqualificados em relações de amizade ede vizinhança.

Os homens relacionam-se mais atravésde associações do que as mulheres 5.

As diferenças mais notáveis nos contac-tos de amizade produz-se entre as EUM(100 %) e as PM (menos de 60 %).

É notável a diferença de percentagem decontactos via familiar entre as EUM(superior ao 90 %) e o resto, sobre todoos EUH (dois terços).

Mas independentemente destas matizes oque ressalta é o mencionado grau de endo-

balhar acho que vou ... tenho que esforçarpara ter melhores condições de vida.Qualidade de vida para mim é fundamen-tal. E ter um telefone, por exemplo. Euquando vou para ST as pessoas não mecontactam porque não tenho telefone emcasa. Telemóvel não dá lá em ST, porexemplo. Isso não é uma coisa muito cara,mas a maior parte das pessoas não temtelefone em ST. Pelo menos em minhacasa não temos. Isso é um bem primário.As pessoas precisam de comunicar, consi-dera-se entre aspas, não é. Para mimentre aspas é um bem primário.

Mas na desagregação observam-se algunsdesvios que convém destacar, sobretudopela distorção que provoca o problemaeconómico nos PH.

- Não se verificam diferenças notáveis noconjunto entre homens e mulheres

- Os estudantes desconfíam mais do futu-ro de STP que os profissionais qualifi-cados

- Todos os PH consideram o problemaeconómico, enquanto que nenhum dosrestantes subgrupos chega aos 40 %.

- As EUM são distintamente as que indi-cam motivos profissionais como proble-ma para o regresso e os EUH falta deconfiança no futuro de STP

Já se tem comentado o problema da incer-teza nos estudantes e ajusta-se a estamaior falta de confiança no futuro de STP.

Muito significativo e coerente é que asEUM aasinalem motivos profissionaiscomo problema que dificulta o regressopois, se é difícil a reincorporação e a inser-ção profissional para o comum dos sãoto-menses, muito mais o é para as mulheresque chegam com uma formação universi-tária.

Candelária pode explicar melhor proble-mas previsíveis, considerando a sua expe-riência recente e sem se ter instalado emSTP:

Por exemplo, eu falei hoje com umaamiga minha (...) que me dizia "Olhasabes que é que um homem me disse? Queo lugar da mulher é na cama. Não é elaestar a ocupar um espaço num gabinete",

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116 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

opção em STP.

As hipóteses de colaboração podem-se vera seguir, se bem que seja importante escla-recer que os sãotomenses têm-se inclinadode forma generalizada pelas opções apr-sentadas explícitamente (distintas paraPortugal e para STP), concedendo muitoescassa atenção a outras possibilidadesabertas à sua formulação e que não podemficar descartadas7.

As actividades para colaborar circunscre-vem-se quase exclusivamente às que seproduzem na actualidade através das asso-ciações, pois habitualmente são estas asque apoiam as manifestações culturaissãotomenses e as que organizam os deba-tes e encontros.

Chama a atenção o pouco interesse que des-perta o apoio jurídico, sendo um serviçobásico e necessário para os emigrantes afri-canos na União Europeia e, não menos, aquase ausência de menção a qualquer acti-vidade económica ou política.

Vejamos as matizes a que conduz a des-agregação:

As mulheres estão mais dispostas que oshomens a colaborar no apoio jurídicoaos sãotomenses (25 e 6,8 % respectiva-mente).

Os profissionais qualificados mostram-se muito mais predispostos à organiza-ção de debates e encontros que os estu-dantes

Somente as EUM identificam a área eco-nómica como de possível colaboração,ainda que só 10 %

Sobre as áreas de colaboração em STPestes são os resultados obtidos:

O ensino e a organização de debates eencontros situam-se como principais acti-vidades, o que parece confirmar as possi-bilidades nas áreas socio-culturais já avan-çadas para a colaboração em Portugal8.

Em STP, no entanto, abrem-se opçõesmuito mais ligadas à economia, ao exercí-cio profissional e à assistência social. Astrês actividades marcam uma diferençasustancial com as escolhidas em Portugal.

Quiçá o sãotomense não contemple vanta-

gamia e a altíssima interacção entre sãoto-menses. As razões de fundo têm estreitarelação com a cultura sãotomense. Assimcomeça Celia a expressar este problemacentral6: (...) a maioría dos sãotomenses eu pensoque lida com sãotomenses ... Porque osãotomense tem muita dificultade em lidarcom outras culturas ... alguma, nao muita,alguma.

Eu penso que embora possa não parecer acultura sãotomense é muito forte. Ocupagrande parte da maneira de ser dos são-tomenses. O ser sãotomense é uma coisamuito forte. E os sãotomenses nãao abremmão da sua maneira de estar, da suamaneira de viver e a maneira de não abrirmao disso é casarem-se tambem com são-tomenses. (...)

Se a existência de contacto é uma condi-ção básica para projectos colectivos comsãotomenses é também necessário come-çar a colocar as possibilidades de colabo-ração específicas, primeiro a partir da pre-disposição geral e depois a partir da prefe-rência de lugar e de actividade.

Mais de 90 % destes sãotomenses dizemcolocar a hipótese de colaborar em activi-dades que envolvam os seus concidadãos,sem variações apreciáveis nem por sexonem por idade.

Onde começam as diferenças é no referen-te ao lugar de interacção, o que podevisualizar-se nos seguintes gráficos:

Se a coincidência é geral ao colocar-se apossibilidade de colaborar em Portugalsomente metade está disposto a fazê-lo emSTP. A desagregação neste caso é impor-tante:

A ruptura clara representam-na as EUMcom 100 % dispostas a colaborar eminiciativas que se produzam em STP,posição distintiva do resto e muito espe-cialmente dos EUH.

Os EUH apresentam uma posição extre-ma, ao declarar-se 100 % dispostos acolaborar em Portugal e menos de 30 %em STP.

Embora eclipsado pelas diferenças ante-riores é também notável a distância decerca de 20 % entre PH e PM sobre a

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

abertos a colaborar em STP, chegandoaos 100 % em turismo, actividades libe-rais e ensino e com valores muito supe-riores ao resto em comércio e organiza-ção de debates e encontros. Quer dizerque estão muito menos os dispostos acolaborar em STP (menos do 30 %como se tem indicado), mas muito maisabertos que os do resto dos subgrupos.Somente uma pequeníssima parte dosprofissionais qualificados masculinosestá disposta a colaborar em actividadesturísticas, apesar da alta percentagem(acima do 63 %) coincidente em outor-gar a máxima importancia ao desenvol-vimento turístico.

As EUM, pelo contrário, davam a estefactor muita menos relevância, mas elassim estão muito mais dispostas a cola-borar (ver factores económicos para ofuturo de STP).

100 % dos PM dispostas a apoiar inicia-tivas que se desenvolvam em STP abrea possibilidade de colaborar no ensino. As EUM são as únicas que declaramabertamente opções de assistênciasocial, em concreto na área de saúde ena da infância.As PM abrem alternativas lúdicas: pas-seios e excursões

A Lógica cultural e amudança rumo aodesenvolvimento humano Desvelar os agentes e os factores que ossãotomenses consideram que terão umpapel central no futuro de STP e conheceras relações existentes e prováveis entreeles permite identificar os cenários ondese estão a representar os processos gera-dores das possíveis mudanças.

Cada um destes processos, sejam políti-cos, económicos ou sociais, pode ser ana-lisado como um discurso em si mesmo eem relação a cada um dos sub-gruposseleccionados, mas para comprender o seusignificado profundo é preciso conhecer acultura da qual todos formam parte.Partimos da hipótese de que os sãotomen-ses, residam no seu país ou em Portugal,sejam homens ou mulheres, profissionaisou estudantes, compartilham essa culturae é a partir e através dela que se produz ointercâmbio das palavras e das acções queos vão definindo. Este intercâmbio inclui

gens comparativas em colaborar entre siem Portugal e sim em STP, onde as rela-ções podem ser fundamentais para atingiro sucesso profissional ou empresarial.

Sobre a assistência social parece reprodu-zir-se a habitual situação de maior dispo-sição a apoiar às populações "necessita-das" que vivem nos países "subdesenvol-vidos" que aos residentes nos países "des-envolvidos". Talvez seja resultado darepercussão negativa, em termos de inte-gração, que os imigrantes melhor situadospercebem ao manter uma relação muitoestreita com os sectores de imigrantes piorcolocados social e simbólicamente. Pelocontrário, em STP podem ser percebidosde forma diferenciada e positiva, pois oprestar assistência reproduz uma imagemde sensibilidade e boa vontade para o seupaís de origem, não questionando alémdisso o estatuto alcançado em Portugal.

A desagregação mostra diferenças muitoapreciáveis entre as divisões utilizadaspara a análise e não contribui, em princí-pio, para esclarecer as principais incógni-tas, como veremos. Observemos primeiroo gráfico:

Homens e mulheres apresentam asseguintes diferenças:

O comércio e as actividades liberais sãomuito mais escolhidas pelos homensque pelas mulheres.Somente as mulheres escolhem outrasopções às apresentadas explicitamente emostram um interesse em actividadesde assistência social e lúdicas ignoradaspelos homens.

Profissionais qualificados e estudantesdistinguem-se sobretudo em: As valorizações sobre a área turística -

muitíssimo mais indicada pelos estu-dantes que pelos profissionales (85 ver-sus 14,2 %) - e o comércio (42,8 % dosestudantes e 14,2 % dos profissionalesqualificados).A maior disposição dos estudantes paraas actividades liberais e a organizaçãode debates e encontros, se bem comodistorções por subgrupos que veremosem seguida.

Os resultados por subgrupo destacam:As altíssimas percentagens entre os EUH

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

mos, mas como? O grande problema éeste. E quer dizer, e é por isso com criaçãode ... com a sociedade civil organizada,que é uma das coisas que nós pensamosque é possível, seja das associações ougrupo de pessoas organizadas que é parafazer valer também a sua voz, porque nóstambém somos parte daquele país. Porquequando uma pessoa sai de São Tomé ePríncipe para Portugal, seja quadro ounão só, é visto por muita gente que aque-la pessoa é desertora, que veio embora,não quer saber de nós. Quando um estu-dante vem também e termina a sua forma-ção, que não regressa, aí também é vistocomo um desertor, percebe?. E essa men-talidadee prevalece na cabeça de muitosdirigentes, com responsabilidade em SãoTomé. E temos que os tocar e eu ainda nãovi nenhum sinal do governo sãotomensede dizer "Sim senhor, vocês estão aqui,vocês são quadros, nós queremos dialogarabertamente convosco e num enquadra-mento institucional o que é que vocêsrealmente podem dar do vosso contributonaquele país". Pelo contrário, você se vaipara São Tomé passar férias muita gentefica preocupado "Quando é que vocêvolta? Quando é que você volta?. Eu mui-tas das vezes interrogo-me "Eu estou naminha terra São Tomé e Príncipe, porqueé que vocês têm assim tanta pressa de per-guntar quando é que eu volto? Vocês nãome querem aqui?". Porque há semprealgum receio, percebe? E eles muitasvezes quando a gente chega lá, dizem"Fulano já chegou e tal, mas eles pergun-tam mas seria para ficar?". Quer dizer, euconsidero uma pergunta dessas quasehipócrita, porque para ficar, ficar, ficarmesmo eles não gosta, porque parece quea pessoa irá lá fazer-lhe alguma sombra,não é?. E é por isso, eu penso que a socie-dade civil organizada, por via das asso-ciações ou grupos ou quê, fazer o governode São Tomé, sobretudo a instância quenós não somos contra nada. Pelo contrá-rio, nós queremos um espaço, claro, quediz "Vossa participação pode ser aqui,pode ser aqui, pode ser aqui, não é?",alguns incentivos e alguns hostilizados,quer dizer, quase que "Ouve, vocês estãolá, estão lá".

O sãotomense patriarca redistribuídor éposto em causa não só pela negação do

divergências e conflitos que, além demanifestar a diversidade interna existenteem toda população, podem produzir por simesmos ou com outros factores exógenosmudanças na própria cultura.

A partir da perspectiva da diáspora emPortugal, STP parece estar submetido auma cultura questionada, pelo menos, nasseguintes lógicas:

Uma lógica das relações de solidarieda-de que, através do intercâmbio desigualde favores, reproduz as relações sociaisde poder. Uma lógica de acumulação e redistribu-ção que, através da apropriação do queé público, do Estado, reproduz as rela-ções políticas de poder.

Uma lógica de relações com o investidorestrangeiro que, baseado na negação deum empresariado próprio, reproduz asrelações económicas de poder.

Uma lógica de afirmação da singularida-de forra que, a partir da negação do tra-balho agrícola e por extensão dos afri-canos de origem moçambicana, angola-na ou cabo-verdiana, reproduz as rela-ções inter-étnicas de poder.Uma lógica da afirmação da masculini-dade que, apoiada na poliginia e nopapel reproductor da mulher, reproduzas relações sexuais de poder.

Todas estas lógicas podem ser tambéminterpretadas como representações simbó-licas das relações identitárias que os são-tomenses de Portugal mantêm com os deSTP, através da cultura.

Isto é, o sãotomense solidário é questiona-do não só pela sua reprodução de relaçõessociais desiguais, mas também pela repre-sentação simbólica de um sãotomensecolectivo submetido - o de STP - por ummodelo de relação obrigada que nega apossibilidade de incluir um sãotomenseindividual - o de Portugal - subtraído aessa dinâmica.

Assim explica Enrique a tentativa de sediferenciar e a oposição que suscita,apoiando-se no caso dos emigrantes: Mas aqui, os quadros que estão aquí,podem dar um grande contributo, mas épreciso que em São Tomé criem um espa-ço para tal. Tem ... quer dizer, nós quere-

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

Estado de Direito e o sentido das institui-ções a ele ligadas, mas também porquerepresenta simbólicamente a reproduçãode um sãotomense submetido às relaçõesclientelistas, negando a opção de umadiferenciação baseada noutros critériosalheios à lógica patrão-cliente, como sãoos da igualdade.

Vários sãotomenses salientam estes as-pectos ligados a factores associados comoa mentalidade.

Rui: Agora depois destes quinze anos que esti-vemos sob um poder único, que é oMLSTP, toda a mudança para serem maispartidos o que é que acontece? O que agente vê as pessoas que estão (...) -de SãoTomé e Príncipe foram as mesmas pesso-as que estiveram quinze anos no poder. E,para mim, eu acho que é um bocado difí-cil de um dia para o outro mudar de men-talidade. E isso realmente, possibilidadepara a gente melhorar mesmo São Tomé ePríncipe, primeira coisa é a mudança dementalidade dos homens sãotomenses.Ahaaa, porque criou-se nessa sociedadegrupos que têm acesso a tudo e estes gru-pos mandam e desmandam. E (...) em SãoTomé e Príncipe quem vai ao poder.Porque em São Tomé e Príncipe é assim:para se viver lá mais ou menos melhortem que se estar na política. E para essemesmo grupo é que sai um, entra outro, éum ciclo. Enquanto não se quebrar comesse ciclo, a possibilidade de São Tomé ePríncipe para mudar é um bocado difícil.Mas, como eu continuo a dizer, a possibi-lidade que São Tomé e Príncipe tem paramudar, mas tudo depende dos homens,esses homens, que, eu digo recursoshumanos, e que esses homens de forma-ção ... Porque, pronto, a maior riquezaque um país pode ter são os homens for-mados, que consegue transformar. Mas, eabstraindo realmente desses grupos, por-que são grupos que estão instalados nasociedade que eles é que têm possibilida-de para tudo: é o poder económico, é opoder político, com essa liberalização quehouve.

João:Não, são sempre as mesmas pessoas. Ouseja, o que é que acontece? Em ST há

famílias, não é? como há em todos ossítios. Os que ocuparam os cargos de diri-gente em ST em 75, foram rodando. Masforam rodando como? Entre família eamigos. Se reparar bem, veio o (...) e osque têm (...) como nome hereditário e hojeestá o (...) que é (...) também; ou seja quesão, que é o mesmo gueto que auto-prote-ge. O (...) também é do mesmo grupo. Eeles protegem entre eles, até hoje. E não,não abrem para que possa haver outrasalternativas no país, cancelam. Eu achoque isso é grave. As pessoas devem ... apolítica deve ser aberta.

Manuel:Não, quando eu digo os quadros sãoaqueles com quem nós mais falamos. Nãosão todos os quadros. Porque, como disseinicialmente, os quadros por exemplo nos-sos colegas que estão em ST, que por umarazão ou outra ocupam os cargos políti-cos em ST a visão continua a ser a de 75,que é aquela visão fechada. É separarpara reinar o mais tempo possível... Eessa visão é que é mau. O que nós temosque fazer e eu ... já, já, já, agora, o quenós temos que fazer é tentar ao máximoque os quadros com bons princípios nãose percam, não entrem, não façam partedesse mesmo grupo. Porque é assim, maseles entram naquele grupo e já não que-rem sair mais. Então a solução é puxá-loao máximo possível dessa visão fechadada política em ST, tirá-los desse grupo edeixá-los com uma visão aberta. Ou seja,e essas pessoas como eu dizia, existem emST, são quadros que estão em ST. Tambémexistem no estrangeiro e é preciso darmoscondições mínimas, não é? e orientá-lospara que as coisas possam ser feitas.Porque de resto não. De resto é a visãototal, total como em 75 (risos). E é muitocomplicado.

O sãotomense dependente do capitalistaestrangeiro é discutido não só por impos-sibilitar a iniciativa privada mas porquerepresenta no plano simbólico a reprodu-ção da associação do poder local com oestrangeiro, negando a possibilidade deuma tensão endógena pelo modelo econó-mico.

Diz João:Se alguém tentar fazer alguma coisa, tra-

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

balhar, trabalhar a sério terá grandesdificuldades em fazê-lo porque eles ...Tudo passa pelo primeiro-ministro, pelapresidência, e isso cria grandes dificulda-des. A pessoa tem iniciativa de querer,por exemplo, desenvolver a área em que...Se eu sou Ministro da Saúde, eu tenho umprojecto que eu quero levar a cabo. Tenhograndes dificuldades em fazê-lo porquequando os projectos que estiverem emdeterminada fase eu terei dificuldade emcontinuá-los. Porque essas pessoas nãodeixam que as coisas continuem. Querdizer, são coisas como essas é que... E euacho que as Nações Unidas ou as insti-tuições internacionais que queiram aju-dar ST, na minha maneira de ver, deviamapostar em pessoas. Por exemplo, imagi-nemos que haja um indivíduo em Françaou Inglaterra, que seja um indivíduo, umsãotomense que tivesse um projecto viá-vel, que fosse, que ele apresentasse o pro-jecto e que eles vissem que o projectofosse um projecto que tivesse pernas paraandar, apostassem nessas pessoas. E por-quê? Porque se tu chegas a ST com umprojecto, se não tiveres dinheiro mesmoque o projecto seja mais bonito o melhordo mundo, que até traz, até leva para opaís benefícios grandes em termos dedesenvolvimento do país, eles não...Primeiro eles pensam neles, dizem assim"Esse projecto é bom... mas eu tambémtenho que pertencer, o meu nome tem queconstar nesse projecto". Os dirigentesdizem "Olha, o projecto é óptimo e tal,mas se esse, se vocês querem que esseprojecto ande, eu tenho que... eu tenhoque fazer parte do projecto.Obrigatoriamente, senão o projecto nãoterá perna para andar". Isso é uma dascoisas que limita o desenvolvimento dasituação de STP. Ah! O que eu acho é quealguém, se tiver um projecto bom, apre-senta aqui na Comunidade Europeia ouonde quer que seja... As pessoas fazemuma avaliação do projecto e vêm que oprojecto é viável, através mesmo daComunidade Europeia, com alguém daCE ou das Nações Unidas ou de quemquer que seja, acompanhasse directamen-te isto mas pessoalmente ou um grupo depessoas que quisesse fazer coisas dessas.Isto era um mecanismo para o desenvol-vimento. Porque, eu tenho exemplo de umcolega. Quis colocar no país uma empre-

sa lá, no meu país. Mas ele simplesmentefoi criado dificuldades mas grandes difi-culdades em colocar essas empresas emesse projecto em coiso. E não conseguiucolocar até hoje e já vai mais de cinco,seis ou sete anos que ele anda a tentar verse consegue levar o projecto a coiso. Masnão consegue porque os dirigentes nãoestão dispostos, eles não estão dispostosque apareça alguém.

Observe-se a associação do investidorcom a cooperação nesta declaração deIsmael:E depois há um ponto que eu acho fulcralé tentar levar a mensagem aos investido-res em ST, investidores, aos doadores, aoscooperantes em ST: que cooperar com STnão é cooperar com a, b ou c, não é coo-perar com o ministro. Porque o que acon-tece hoje é que a cooperação é mais de ...para resolver problemas de pessoas queestão em ST, de uma ou outra pessoa. Não.Nós temos que levar a mensagem, temosque conseguir o contacto que for possível,desde o exterior. Todo e qualquer apoioque não seja em benefício concreto dopovo de STP. Porque é assim a dívida fica,não é? a dívida fica para STP e o benefí-cio fica com uma ou duas pessoas e isso éo que tem acontecido. E nós próprios emST temos feito com que isso aconteça. Eisso não pode ser. Então também é assim:nós temos que saber negociar para o bemde STP. E nós cá podemos contribuir, cáem Portugal, Europa, nos EU, em Françae isso tudo, não é?. Temos que começar aexercer influência suficiente junto a insti-tuições para que a cooperação seja feitacom base no desenvolvimento de STP enão no desenvolvimento de uma ou outrapessoa. O projecto é para ser cumprido enão para ser alterado em função de a, b, cque eventualmente esteja em ST.

O sãotomense forro, urbano e burocrata, éinterditado não só por reproduzir as velhasrelações interétnicas impedindo o desen-volvimento mas por representar simboli-camente a negação de uma identidadecolectiva baseada no "melting pot" , quesupere o conflito esclavagista.

Estas são duas declarações que expressambem este ponto, a primeira de António e asegunda de Rosa:

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Eu quando tinha aí os meus 7, 10 anosfalava com muita gente, e diziam-me sem-pre que os sãotomenses não são escravos.E se reparar bem hoje em ST o forro, ohomem sãotomense, forro, continua emguerra... em guerra entre aspas, com otrabalho agrícola. Eles não querem fazero trabalho agrícola. Porque eles achamque o trabalho agrícola é feito por cabo-verdianos, por angolanos, por aí fora. Sãoas pessoas que vieram e que (...) para ST,para fazer esse tipo de trabalho, comoescravos. Ao passo que os sãotomensesviviam nas cidades, nas ruas e chegavamao fim de semana e vestiam o seu fato eiam para as festas e dançavam e por aífora, não é? E realmente como rentabili-zar esse homem, 'tá a ver. Ou seja, onde éque eles realmente podem valer mais? Ouseja, ou mesmo como levá-los a fazer tra-balho agrícola através de outra forma?Ou seja, que tipo de trabalho, como orga-nizar? E preciso conhecer bem o homemsãotomense para que se consigam fazer. Ogrande problema da independência, porexemplo, foi que nós em 75 saíram de láquase todos, cabo-verdianos, angolanos epor aí fora. O que é que acontece? A agri-cultura baixou automaticamente! Porqueos homens sãotomenses não foram trabal-har. Eles continuaram nos escritórios, naadministração, não é?, que não gerariqueza quase nenhum.

Rosa:É muito geral em África e em ST é muitomais característico. Porque nós ...

Mas isso explica-se pela História, por queé assim: nós antigamente, época colonialnós éramos uns escravos, digamos aque-les escravos privilegiados. Porquê?Porque nas nossas terras só trabalharambasicamente moçambicanos, angolanos ecabo-verdianos. Nós não trabalhávamos.Nós éramos mais aqueles trabalhos leves,tomar conta dos colonos e não sei quê e'tar ali sentadinhos e tal, e mandávamosescravos de outros outras terras . E entãoisso continuou anos e anos, décadas edécadas e milhares e milhares não, sãoquinhentos anos. E então deu nisso. Hojeninguém quer trabalhar. Nós temos umaterra extremamente fértil e na agriculturaaquilo é péssimo. A produção do cacauque é a matéria-prima que nós temos,

mais em quantidade, digamos. E o nossocacau é muito bom. Ninguém quer produ-zir, ninguém quer trabalhar nas roças,ninguém quer trabalhar na agricultura. Ocafé que é excepcional, o nosso café, nin-guém quer também trabalhar. Toda agente quer é trabalhar nos escritórios ouentão 'tar na função pública, estar emcargos, digamos, que se possa fazer omenos possível.

O sãotomense masculino, poligínico eprocriador, é avaliado não só pela reivin-dicação de uma sexualidade igualitáriamas pela representação simbólica da nega-ção da independência e participação dasmulheres em todos os âmbitos.

Vejamos duas referências, a primeira deCandelaria, mais directa e simples, e asegunda de Ana, que expõe como ohomem sãotomense expressa através dasletras da música como deseja que a mulherseja e como a mulher sãotomense vê ohomem :Uma vez participei em 98, houve umfórum da reconstrução nacional, fui con-vidada como diáspora para ir para ST. Ogoverno pagou-me tudo para ir, pagou-meas passagens, deu-me dinheiro para viverlá e pagou-me o hotel só para 'tar com aminha família. E, então, quando mederam palavra para eu falar houve umcolega que disse-me assim: "Ah, mas tuaqui não tens hipóteses, porque tu o teulugar é em casa, ter filhos e cuidar domarido e não sei quê". E era uma pessoalicenciada.

Diz Ana:As músicas dizem que confiaram nela eela não soube, não soube aproveitar essaconfiança, que abandonaram, depoisabandonaram, não é? As músicas dizemmais. As músicas dizem que tiverampouca sorte porque foram casar ... ino-centemente casaram com uma mulher quenão sabia cozinhar, que não sabia lavar,que não sabia fazer nada, não sabia nadae ele também teve que abandonar. Asmúsicas falam de muita coisa. Já não seibem. Falam da mulher, o que é que a mul-her pensa da outra mulher. Falam muitonisso, na outra mulher. Que a mulher alamentar-se porque a outra mulher está aganhar espaço, está a ganhar terreno em

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relação a ela. Agora as músicas falammuito que as mulheres que não vale apena as mulheres aborrecerem os mari-dos, só têm que tratar bem é a única. Asmúsicas dizem que a única maneira deuma mulher conseguir o marido, não é alhe chatear, é a tratar-lhe bem. Se elechega tarde põe a gravata, vai por a comi-da na mesa, se ele traz os amigos, levan-ta-te vai cozinhar, se ele vier cansado faz-lhe uma festinha. Não é guerreando que tuvais conseguir nada. No fundo os homensquerem que as mulheres posicionem dessamaneira, é a melhor maneira que elesficam melhores. Mas nem por isso querdizer que eles fiquem só com esta mulher.O homem sãotomense gosta de ter mais doque uma mulher. E eles tentam chamar aatenção que a mulher moderna não tem...a mulher moderna não consegue fazer umlar de filhos convém ser a mulher tradi-cional. É isso.

E eles também não falam muito na novageração de mulheres que vai havendo emST. Eles nunca referem isso, nunca ... Jácomeçam a falar nas mulheres que vêm defora, já começam. Há uma música ououtra: que vem com o cabelo liso, asunhas pintadas, que a mulher que elesconheceram antes de para o exterior jánão é a mesma da mulher que regressou.Já começa a haver esse tipo de ...(...)

As mulheres criticam... as mulheres criti-cam mas gostam dos homens de ST. Asmulheres criticam, as mulheres já nãoestão muito dispostas a ter homens passi-vos. As mulheres também já ambicionamum certo status na sociedade. As mulheresquerem um homem que seja activo, queseja presente na sociedade, um homemque não esteja agarrado à bebida. Essetipo de homem as mulheres já não querem.As mulheres já não querem esse tipo dehomens. As mulheres querem homensfinos, finos (risos). As mulheres criticam,começam um pouco a criticar mas nofundo não conseguem combater. Mesmoas mulheres mais sobressaídas na socie-dade sãotomense ainda não conseguiramfazer o que elas querem dos homens. Atéagora não conheço nenhuma que consigaque o homem esteja bastante presente emcasa, que não tenha uma amante, que atrate bem. Muito pelo contrário, por vezes

eu acho que são as mulheres, às vezes,com o maior status que às vezes são umpouco mal tratadas pelos homens. Oshomens sentem uma certa rivalidade comuma mulher que tenha um curso, tem umacerta rivalidade. E é isso que as mulherescriticam. Porque as mulheres já estão aquerer homens que sejam um pouco maisparecidos com os homens europeus, umpouco mais. Já não querem aquele homemde que as mães tiveram. Já não queremisso. Querem homens que responsabili-zem-se pela casa ...

Todas as anteriores tensões simbólicasrepresentam o conflito existente dos são-tomenses que continuam a sentir-se partede STP, mas que percebem que só lhes épermitido participar se aceitarem todas asrelações desiguais de poder e o modelo decultura associada.

A mudança rumo ao desenvolvimentohumano de STP parece exigir um exercí-cio de modificação, pelo menos parcial,em direcção a uma lógica cultural maisaberta à diversidade interna e dirigida paraa integração.

A emigração de sãotomenses não é pro-priamente uma novidade dos nossos tem-pos. A sociedade foi sempre marcada porfamiliares que se deslocam para o exteriorpara estudar ou para buscar melhoria dassuas condições de vida. STP tem no exte-rior do país uma parte significativa dosseus filhos sem que haja até ao presenteuma clara percepção desta realidade.Aqueles que por diversas razões se vêmforçados a emigrar, estão completamenteentregues à sua sorte. Não houve até aopresente um levantamento detalhado quepermita definir em que países estão con-centradas as maiores comunidades sãoto-menses no exterior, assim como a caracte-rização de quem emigra e porquê.

Constatações O estudo anteriormente exposto assentanuma amostra que se espera representati-va da comunidade sãotomense emPortugal, composta por dois grupos asaber: o dos profissionais qualificados e odos estudantes, que são posteriormentedesagregados por sexo. A definição daamostra obedeceu à preocupação de se

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identificar agentes e factores que pudes-sem contribuir para facilitar a realizaçãodas mudanças sociais que se preconizamno âmbito do desenvolvimento humanodo país. Na falta de estudos ou dados esta-tísticos que indiquem de forma precisaquantos e que emigrantes existem, foifeito o necessário para definir o perfil dosinquiridos constatando-se que:

Os profissionais qualificados homenssão mais velhos do que os profissionaismulheres e que cerca de 60% dos PHtêm mais de 40 anos, enquanto que nen-huma PM supera essa idade;No caso dos estudantes confirma-se quea idade das mulheres estudantes émenor que a dos homens. Todas elastêm menos de 30 anos, enquanto quenos EUH essa franja cobre 64,7% dosinquiridos.

Isto terá por certo que ver com o facto deser muito mais fácil à mulher emigrarenquanto não constituir a sua própriafamília. Na falta de estudos mais exausti-vos deve-se entender tais resultados comoreflectindo uma tendência que se enquadraperfeitamente nos hábitos culturais sãoto-menses, que deixa às mulheres muitomenos liberdade e iniciativa após assumi-rem compromissos familiares. Do inquéri-to constata-se que mais de 80% das EUMsão solteiras, embora 9% assinalem esta-rem unidas por união de facto. Há quesalientar que as EUM constituem o únicosubgrupo disponível a 100% para colabo-rar na realização de actividades em STP ea 90% em Portugal.

Outros resultados permitem caracterizarmelhor o subgrupo:

Sendo 72,7% das EUM que consideramos empresários nacionais como os agen-tes mais relevantes para o futuro de STPe destacam, por outro lado e em primei-ro lugar, a redução da dívida externa,como sendo o facto económico demáxima importância para o futuro,apreciação na qual não são acompanha-das por nenhum outro subgrupo; Relativamente aos factores sociais demáxima importância para mudar a qua-lidade de vida dos sãotomenses o sub-grupo à semelhança dos outros apontamas infraestruturas públicas, o controlodo paludismo e um sistema educativo

eficaz. Na lógica das respostas anterio-res as EUM responderam positivamenteao regresso definitivo, sendo o subgru-po que apresenta os prazos mais curtospara a concretização do regresso, mos-trando claramente que a sua permanên-cia em Portugal se deve aos estudos quedesenvolvem. Apresentam, no entanto,muitas dúvidas sobre o futuro de STP ecomo principal problema para o regres-so motivos profissionais. Constata-separa além disso, que EUM vão maisvezes de visita à STP que os seus cole-gas masculinos e que os seus contactosem Portugal são essencialmente na baseda amizade e das relações familiares,sendo diminuta a sua participação emassociações;

Prosseguindo a análise das respostas dosestudantes, constatamos que os EUH estãoa 100% disponíveis para participar emactividades com sãotomenses emPortugal. Quando a actividade se desen-volve em STP tal disponibilidade cai paramenos de 30%. Também este subgrupotem mais de 80% de solteiros sendo ape-nas de 5,8% os casados. Há que assinalarque 100% dos inquiridos têm cônjuges deorigem sãotomense:

Ao serem analisados os agentes maisrelevantes para o futuro de STP, os EUHdão maior peso aos cidadãos e aoGoverno. Do mesmo modo, dentre osfactores políticos valorizados com amáxima importância, o subgrupo colo-ca, em primeiro lugar, a honestidade noexercício dos cargos públicos e emsegundo lugar a reorganização do apa-relho de Estado. No que respeita aosfactores económicos de máxima impor-tância este subgrupo aponta, em primei-ro lugar, o desenvolvimento do turismoe em seguida a diversificação dasexportações e a atracção do investimen-to estrangeiro.Quando a questão é determinar os facto-res de máxima importância para a mel-horia das condições de vida dos sãoto-menses, os EUH, à semelhança das suascolegas, destacam a melhoria dasinfraestruturas públicas, o controlo dopaludismo e um sistema educativo efi-caz. No que respeita aos contactos com opaís os EUH nunca ou raramente viajam

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para STP. Responderam positivamente aum possível regresso definitivo, mastêm muitas dúvidas em relação ao futu-ro do país e encaram o regresso, mais amédio e longo prazos. Como problemafundamental que dificulta o seu regres-so levantam a falta de confiança nofuturo de STP, seguindo-se-lhe a faltade meios económicos. Relativamenteaos contactos com sãotomenses eles sãoessencialmente na base da amizade edas relações familiares, sendo diminutatanto a participação nas relações devizinhança, como em associações.

Passando à análise das respostas dos pro-fissionais qualificados necessário se tornacaracterizarmos um pouco melhor o grupolembrando-nos que 68,7% dos profissio-nais qualificados são licenciados e que só6,2% têm mestrado. Os PH são mais qua-lificados no conjunto do que as PM. Entreos que têm estudos universitários concluí-dos há mais mulheres que homens comcarreira de três anos ( 38,4% e 15,7% res-pectivamente ) e nenhuma tem o grau demestre. Para além disso, entre os profis-sionais qualificados os homens casam-semuito mais do que as mulheres. Em qual-quer dos casos os cônjuges são em 100%e em 86% de nacionalidade sãotomense,para as PM e PH respectivamente:

Interpelados sobre os agentes mais rele-vantes para o futuro de STP os PH iden-tificaram, em primeiro lugar, os cida-dãos em geral, seguindo-se-lhes oGoverno e os investidores estrangeiros.A visão que tanto as PM, como PH têmdo futuro é de pouca esperança quantoàs possibilidades de melhorar a situaçãoeconómica e social que eles classificamde difícil ou muito difícil. Quanto aosfactores políticos considerados de máxi-ma importância para o futuro de STP,tanto os PH, como as PM colocam, emprimeiro lugar, a honestidade no exercí-cio de cargos públicos, apontando aseguir a estabilidade política e a con-fiança nas instituições públicas. A reor-ganização do aparelho do Estado vem aseguir. Quando se passa aos factores económi-cos com a máxima importância para ofuturo os PH identificam dois factorescom peso relativo semelhante, o desen-volvimento do turismo e a atracção do

investimento estrangeiro, seguindo-se-lhe outros dois factores com peso relati-vo equiparado, a diversificação dasexportações e o aumento da cooperaçãointernacional. Só depois disso é quevem a captação das poupanças dos emi-grantes. A postura das PM é diferente.Se é verdade que atribuem o primeirolugar com peso equiparado ao desenvol-vimento do turismo e à atracção doinvestimento estrangeiro, os factoresseguintes são a exploração do petróleo ea diversificação das exportações.Seguem-se com peso relativo equipara-do a criação de um sector empresarialforte e a redução da dívida externa.

Ao apreciarmos os factores sociais quepodem determinar uma melhor qualidadede vida dos sãotomenses constatamos que:

As posições dos PH e PM são coinci-dentes ao identificarem o controlo dopaludismo, as infraestruturas públicas eum sistema educativo eficaz. Há, noentanto, a assinalar que o peso daexpressão feminina é inferior em qual-quer dos resultados;Os dois factores seguintes diferem emfunção do sexo. Enquanto que as PMidentificam com peso equiparado ascondições de habitação e o comporta-mento leve-leve, os seus colegas apon-tam a oferta cultural, para além do com-portamento leve-leve;

Quando o tema é o regresso definitivo háalguma diferença de posicionamento entreos sexos:

Os PH apontam com peso relativo equi-valente a opção de regresso a médio elongo prazos, vindo a seguir, commenor peso a possibilidade de regressoapós a reforma. As PM optam clara-mente pelo regresso a longo prazo e dei-xam para segundo plano a possibilidadede médio prazo, com o mesmo pesorelativo que as imensas incertezas asso-ciadas ao regresso. Ainda no quadrodos problemas ligados ao regresso todosos PH apontam a ausência de meioseconómicos seguindo-se-lhes a falta deconfiança no futuro de STP. As PMindicam duas outras causas com pesoequiparado à falta de confiança no futu-ro de STP, ou seja a ausência de meioseconómicos e motivos familiares. Ao

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

analisarmos o tipo de contacto entre ossãotomenmses também se notam dife-renças. Os PH optam em mais de 80%pelos contactos de amizade relegandopara segundo e terceiros planos respec-tivamente, o relacionamento familiar e aparticipação em associações. Pelo seulado, as PM apontam em mais de 70% eem primeiro lugar razões familiares,seguindo-se-lhe a amizade, ficando emterceiro lugar e sendo de peso quasenegligenciável a participação em asso-ciações; Quando se analisa a possibilidade decolaboração em Portugal e em STP sur-gem pequenas diferenças, embora a ten-dência seja a mesma ou seja mais de90% para as actividades em Portugal,mas um pouco mais de 50% e de 30%,respectivamente para os PH e PM emSTP. Por fim, três temas, embora compesos relativos diferentes retêm a aten-ção dos profissionais qualificados, parapossível participação em STP: o ensino,os debates e os encontros e actividadesliberais.

Conclusões:Ao apreciarmos os agentes e os factos queos sãotomenses da diáspora consideramimportantes para as mudanças sociaisvisando o DH, somos tentados a fazer umaanálise comparativa no seio do mesmogrupo e entre os grupos (Estudantes eProfissionais) em função do sexo.

Começando pelos estudantes somos leva-dos a concluir que:

Há um maior empenho, sentido profis-sional e mais rápido fim do curso daparte das EUM que os seus colegasmasculinos;As EUM contactam de forma maisregular o país e estão mais sensíveis àrealidade que aí se vive, predispondo-semais facilmente a contribuir para o pro-cesso de mudanças;Os EUH têm uma visão política maisprofunda da realidade que as suas cole-gas mulheres e identificaram os cidadãosem geral e o Governo como agentes cujocontributo poderá determinar as mudan-ças sociais de que o país necessita;A maior lucidez na análise política leva-lhes a estabelecerem, de forma larga-mente maioritária (mais de 70%), como

factor político prioritário para asmudanças sociais a honestidade noexercício de cargos públicos, seguindo-se-lhe a necessidade de se empreender areorganização do aparelho do Estado e arestauração da confiança dos cidadãosnas instituições públicas. As EUM dãomenos peso à honestidade no exercíciode cargos públicos, embora continue aser a primeira opção e apontam a estabi-lidade política, seguida da reorganiza-ção do aparelho de Estado.

Pode-se dizer que os homens são mais pro-pensos a que se realizem reformas estrutu-rais do que as suas colegas mulheres;

Quando se passa às questões económi-cas nota-se que as escolhas anterior-mente indicadas, estão coerentes com asopções neste domínio. Com efeito, osEUH têm como factores económicos damáxima importância para o futuro, odesenvolvimento do turismo, a diversi-ficação das exportações e a atracção aoinvestimento estrangeiro, o que implicareformas estruturais de modo a criar oambiente favorável a tais iniciativas. AsEUM optam pela redução da dívidaexterna, a criação de um empresariadonacional forte e a diversificação dasexportações, o que se articula com oesforço tendente ao saneamento da eco-nomia, a criação da estabilidade internae o reforço da iniciativa e intervençãodos nacionais; Quando se passa à discussão das condi-ções de regresso definitivo, qualquerdos grupos se exprime positivamente,mas os EUH exprimem uma grandefalta de confiança no futuro de STP. AsEUM indicam razões profissionaiscomo obstáculo maior, enquanto que osseus colegas homens apontam comosegunda razão, a falta de meios econó-micos para assegurar o regresso;Não surpreende pois, que as EUM este-jam 90% disponíveis para participar emactividades que se desenvolvam emPortugal, mas 100% para as que reali-zem em STP, enquanto que os EUH têminversamente 100% de disponibilidadepara as actividades em Portugal, masapenas 30% para em STP. Estas opçõestraçam uma diferença de fundo nasopções de cada um dos subgrupos, numdos casos (EUM) há uma aposta em

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

contribuir para o processo de mudança etudo o que isso implica, no outro (EUH)há uma atitude mais cautelosa de espe-rar para ver.

De notar que só os estudantes se propõemvoltar a curto prazo e neste aspecto osprazos que as EUM vislumbram são maiscurtos que os dos seus colegas.

Sendo os contactos entre sãotomenses,para qualquer dos subgrupos feitos nabase da amizade e do relacionamentofamiliar, fica em aberto a possibilidadede se aproveitar a disponibilidade dosestudantes para participarem tanto emSTP, como em Portugal em áreas espe-cíficas como: manifestações culturais eassociações sãotomenses, assim comoem STP no turismo, ensino, sendo osdebates e os encontros opção tanto emSTP, como em Portugal.

Se pretendermos fazer uma análise semel-hante em relação aos profissionais qualifi-cados devemos antes de mais caracterizarmelhor o grupo, ou seja referir que 68,7%são licenciados e só 6,2% têm mestrado,mais concretamente e por sexo temos que:

Os PH são no conjunto mais qualifica-dos que as PM e também se casam maisque as suas colegas ( 52,7%e 30,7% )respectivamente. Em qualquer doscasos os cônjuges são de nacionalidadesãotomense ( 100%para as PM e 86%para PH, respectivamente );A visão quetanto os PM, como os PH têm do futurodo país é de pouca esperança quanto apossibilidade de melhorar a situaçãoeconómica e social que eles classificamde difícil ou muito difícil;Interpelados sobre os agentes mais rele-vantes para o futuro de STP os PHacham que cabe em primeiro lugar aoscidadãos em geral, em seguida aoGoverno e aos investidores estrangeiroscontribuíram para as mudanças sociaisde que o país necessita.

Isto mostra até que ponto foi interiorizadopelos inquiridos que as mudanças sociaisse devem fazer enriquecendo cada vezmais o processo democrático , por umlado e por outro, preservando a livre ini-ciativa;

Quanto aos factores políticos considera-dos de máxima importância para o futu-

ro de STP, tanto os PH, como as PMcolocam em primeiro lugar a honestida-de no exercício dos cargos públicos,apontando a seguir a estabilidade políti-ca e a confiança nas instituições públi-cas. A reorganização do aparelho doEstado vem a seguir com maior pesoatribuído pelos PH.

Mais uma vez, as possibilidades demudanças que assegurem o DH só podemocorrer em condições políticas muito cla-ramente definidas pelos inquiridos, comosejam a honestidade no exercício dos car-gos públicos, a estabilidade política, aconfiança nas instituições públicas e acoragem necessária para levar a cabo areorganização do aparelho de Estado;

Os PH vêem as questões económicas deforma diferente das suas colegas. Elesidentificam o desenvolvimento do turis-mo e a atracção do investimento estran-geiro, como os factores de máximaimportância para o futuro de STP,seguindo-se-lhes a diversificação dasexportações e o aumento da cooperaçãointernacional.

Mostram assim que a recuperação econó-mica deve contar essencialmente comapoio e actividades viradas para o exterior.As PM têm uma visão um pouco diferen-te, embora identifiquem as mesmas acçõ-es como prioritárias, acabam por dar rele-vo à criação de um empresariado nacionalforte e à redução da dívida externa, o quemostra uma grande preocupação com osaneamento da economia e a aposta nasforças internas como forma de vencer asdificuldades;

Na área social os dois subgrupos atri-buem a máxima importância ao contro-lo do paludismo, às infraestruturaspúblicas e um sistema educativo eficaz,como forma de assegurar melhorias nascondições de vida dos sãotomenses.Prosseguindo com a identificação deoutros factos sociais que podem contri-buir para o bem estar dos sãtomenses,tanto os PH, como as PM apontam anecessidade de mudança do comporta-mento leve-leve. As PM dão maisimportância às condições de habitação,enquanto que os PH atribuem maiorpeso à oferta cultural;Quando o tema é o regresso definitivo,

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Migrantes são-tomenses em Portugal: uma contribuição ao desenvolvimento humano

tanto as PM como os PH apostam noregresso numa perspectiva de médio elongo prazos agravado, no caso das PM,pelas enormes incertezas associadas aoregresso;Quando se trate de problemas associadosao regresso os PH apontam a ausência demeios económicos, seguindo-se-lhe afalta de confiança no futuro de STP,coincidindo neste aspecto com o princi-pal problema identificado pelas PM aque se seguem os motivos familiares;Analisando a possibilidade de participa-

ção em Portugal ou STP nota-se a ten-dência para a diminuição da disponibili-dade quando a actividade se desenvolveem STP. De uma disponibilidade supe-rior a 90% para colaborar em Portugalpassa-se a pouco mais de 50% e 30%,respectivamente para os PH e para asPM em STP. Por fim, três temas, embo-ra com peso relativo diferente retêm aatenção dos profissionais qualificados,como possíveis actividades em STP: oensino, os debates e os encontros e asactividades liberais.

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S.Tomé e Príncipe (STP) é um país jovem,emergente, independente apenas a um qua-tro de século em condições de precariedadepolítica e económica. A relativa acalmia decentenas de anos vê-se alterada de formairremediável por factores fundamentalmen-te exógenos. Não só o passado portuguêsafecta a sua evolução, mas também o pro-cesso de globalização em curso que se vaiintercalando independentemente da suavontade. Se difícil resultaria para qualquerpaís abstrair-se desse processo, muito maisseria para um país tão frágil e dependentedo exterior, em especial pela sua economia.

É evidente que STP terá que enfrentar aosdesafios gerados pelas incessantes suces-sões de mudanças que condicionam a suaparticipação na esfera internacional e adinâmica da sua própria sociedade. O des-afio central é assumir que o destino degrande parte dos acontecimentos é daresponsabilidade dos actores implicados.Em definitivo é aos sãotomenses quecorresponde decidir para onde dirigir osseus esforços. A comunidade internacionalem geral e o PNUD em particular podemproporcionar opções, apoiar iniciativas,sugerir os melhores caminhos, mitigar afragilidade de um pequeno Estado inci-piente, proporcionar a visibilidade dasvantagens comparativas. Mas, sempre apalavra deve ser dada em primeiro lugaraos potenciais beneficiários e ninguémpode substituir a sua vontade nem as suasaspirações. Desta convicção surge o des-envolvimento humano e, por conseguinte,deveriam estar sempre presente nas inter-venções relativas a mudanças.

O êxito das aspirações guarda estreita

relação com as condições de partida e comos meios disponíveis para alcança-las.

No que respeito as condições temos quedestacar que STP é um pais com um altograu de segurança, de paz e, portanto, éum lugar onde é factível reflectir em vozalta sobre os problemas e as possibilidadesde escolha.

O seu nível de DH em comparação com oresto dos países do mundo, situa-o nonível médio, com índices de educação eesperança de vida consideravelmentealtos, sobre tudo se se estabelecer a rela-ção com outros países sub-saharianos.Entretanto a sua posição económica,começando pelo PIB é muito pior e a suavulnerabilidade é muito alta, dependendoquase exclusivamente da cooperaçãointernacional. Em pior situação estaria nosprincipais indicadores se a comparação éfeita com países insulares de populaçãosimilar. Esta deficiência é fruto de umafragilidade institucional visível e comapreciáveis inquietudes em género eregionais, que desvirtuam os níveis de DHglobais. Para alem disso, enquanto a extre-ma pobreza é mitigada com a ajuda dacooperação internacional, aumenta apobreza no seu conjunto agravada pelacrise económica. O frisado anteriormenteparece que está afectado consideravel-mente por uma cultura baseada numpadrão histórico de longa duração ligadoao sistema das roças, que não facilitamudanças favoráveis para o santomensecomum e, em especial, para os sectoresmais desfavorecidos. Mas este modelocada vez está mais contestado pelo desejode pelo menos uma parte dos santomenses

Em jeito de reflexão:propostas demudanças rumo aodesenvolvimento

CAPÍTULO VII

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130 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Em jeito de reflexão: propostas de mudanças rumo ao desenvolvimento

e pela tendência internacional que afectamo pais, abrindo-se serias opções para umarevisão de fundo e uma posterior reconfi-guração.

Considerando a situação actual, as aspira-ções e as mudanças em curso, mas com aperspectiva de um desenvolvimentohumano equilibrado e sustentável, isto é,em grandes traços, a nossa referência ini-cial sobre a foram construídas as propos-tas que se apresentam a continuação:1. Os fossos do desenvolvimento humano

sustentável ligado à mulheres e asregiões podem reduzir-se se actuarmosprioritariamente sobre as capacidades eoportunidades das mulheres. Para isto, éfundamental reforçar as redes e as asso-ciações de mulheres ou aquelas voca-cionadas para seu apoio, facilitar o aces-so das mulheres aos serviços financei-ros e a criação de empresas, e elevar asua educação escolar até aos limitesatingidos já pelos homens.

2. Os recursos humanos são essenciaispara o desenvolvimento de qualquerpais. STP não é uma excepção e precisade realizar um investimento considerá-vel para melhorar a sua formação eadaptá-la as necessidades do país. Criarum fundo de competitividade para odesenvolvimento dos recursos humanose um programa de educação tecnológicae humanista são os objectivos mínimospara o início desta caminhada, oferecen-do desta forma alternativas sugestivasaos jovens, as mulheres e aos empresá-rios.

3. O futuro de STP não deveria limitar-seas realizações dos actuais residentes.Muitos santomenses encontram-selonge do seu país, mas desejariam epoderiam contribuir para o desenvolvi-mento do país se o mesmo estivessedotado de condições mínimas de con-fiança. É necessário criar espaços dedialogo para que isto seja possível, tantopela via política oficial, como pela viada sociedade civil. Uma boa estratégiade participação nos projectos de desen-volvimento humano conjunto, indepen-dentemente da sua residência, seriamuito vantajoso tanto para os objectivosad hoc como para fortalecer o sentidocolectivo e reconstruir uma identidadeintegradora e respeitadora da diversida-

de interna.4. A cooperação internacional desempen-

ha um papel chave no presente e futurode STP. Talvez não se tenha dado adevida atenção a importância de se pro-fundar a cultura santomense e facilitarque esta seja impregnada na filosofia dodesenvolvimento humano. Algumaspautas culturais ajustam-se mais ao DHe, embora sejam os próprios santomen-ses os que devem decidir em último ins-tância a criação de condições de refle-xão para facilitar o desenvolvimento dedeterminadas sensibilidades. Têm queser criados espaços de comunicaçãofísica e simbólica, ambientes de discus-são, de pensamento, de crítica.

5. O aspecto institucional é necessário e oseu reforço é urgente se se quer dispordas condições mínimas para enfrentaràs mudanças em curso e aquelas queainda estão por vir. Competir interna-cionalmente, qualquer que seja o âmbi-to - económico, político ou intelectual -sem instituições que apoiem os actoressantomenses será situá-los numa posi-ção desvantajosa partida. Desenvolver opaís com critérios de equidade mas semum sistema ordenado e sustentado pelasinstituições parece uma utopia.

Ajustar-se ao que as populações desejam éum bom começo para orientar as mudan-ças na direcção correcta. Mas para cum-prir tais desejos é preciso criar, reforçar edesenvolver todas as capacidades indivi-duais e colectivas. Isto requer desenvolvi-mento humano, que por sua vez, retroali-menta as capacidades. O sentido da opor-tunidade também é importante. Uma espe-ra muito prolongada num mundo demudanças tão rápidas poderá provocar odescontrolo dos recursos próprios. Talveztenha chegado o momento de reagir comdeterminação e, unindo todos os esforçospossíveis, evitar que isto aconteça.

Sinopsis S.Tomé e Príncipe (STP) é umpaís jovem, emergente, independente ape-nas a um quatro de século em condiçõesde precariedade política e económica. Arelativa acalmia de centenas de anos vê-sealterada de forma irremediável, tendo queenfrentar os desafios gerados pela inces-sante sucessão de mudanças que condicio-naram a sua participação na esfera inter-

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Em jeito de reflexão: propostas de mudanças rumo ao desenvolvimento

nacional e pela dinâmica da sua própriasociedade.

O desafio central é assumir que o rumo degrande parte dos acontecimentos e da res-ponsabilidade dos santomenses, a quemcorresponde decidir para onde dirigir osseus esforços, mas também do resto dosactores implicados na medida em quepodem facilitar a STP o cumprimento dassuas aspirações.

O presente Relatório de DesenvolvimentoHumano pretende abarcar a reflexão sobreo problema das Mudanças num país comoSTP, partido não só da sua conjunturapolítica, económica e social, mas tambémda sua identidade cultural e as opçõesabertas de reconfiguração para ajustar-sea um mundo globalizado. Parte-se dahipóteses de que a identidade culturalpode desempenhar um valor fundamentalde medição para o desenvolvimentohumano.

Partindo dos pressupostos anteriores oRelatório tenta:1)Facilitar uma visão da situação do des-

envolvimento humano no país, tanto doponto de vista sincrónico como diacró-nico. Isto obriga a uma actualização dosdados e uma analise de como se chegouao perfil que é apresentado.

2)Conhecer e compreender melhor a cul-tura santomense e as possíveis identida-des adequadas a mesma e ao desenvol-vimento humano.

3)Contribuir com a reflexão sobre aMudança, a Cultura e o DesenvolvimentoHumano, de forma que a sua utilidadeteórica possa servir para posterioresinvestigações em outros países.

4)Realizar propostas que unam consensos,tanto no interior de STP como no exte-rior, em especial dos emigrantes saoto-menses.

Anexos Primeira parte: MetodologiaPara realizar o estudo sobre os sãotomen-ses em Portugal considerou-se convenien-te chegar a um acordo de colaboração coma principal associação de sãotomensesnesse país, Associação da Comunidade deS.Tomé e Príncipe (ACOSP), e operarcom o seu apoio. Esta opção foi adoptadapor três razões: facilitar o contacto e a

confiança dos sãotomenses em Portugal,poder realizar o trabalho de campo numtempo razoavelmente curto - ao dispor dosseus recursos humanos - e abrir o maisbreve possível o diálogo para futurasacções conjuntas com sãotomenses emSTP ou em Portugal.

A população alvo deste trabalho foi esta-belecida em STP em função da sua poten-cialidade para contribuir para a mudançarumo ao desenvolvimento humano, queera o tema principal do Relatório deDesenvolvimento Humano 2000-2001.Essa população foi definida em função daqualificação académica adquirida - ummínimo de uma carreira universitáriamédia ou em vias de obtê-la - e a sua resi-dência em Portugal, país que alberga ogrosso da mão de obra qualificada quevive no estrangeiro e que mantém um sis-tema de bolsas que possibilita a continui-dade da realização de estudos universitá-rios a alguns sãotomenses.Aos que já fina-lizaram a sua carreira foram denominadosprofissionais e aos que estudam para aconcluir e chegar a sê-lo, estudantes uni-versitários ou futuros profissionais. Paramanter a perspectiva de género tentou-seque todas as pesquisas e dados obtidosestivessem desagregados por sexo.Profissionais e estudantes, homens e mul-heres foram assim subgrupos de referênciaobrigatória em todo o ensaio e objecto decomparações entre si para tentar apreciarcorrelações positivas ou negativas faceaos temas de reflexão. Independentementedo grupo alvo ou de qualquer dos subgru-pos anteriores, note-se que o título do tra-balho utiliza o conceito "migrantes" e não,"emigrantes" ou "imigrantes".

Metodologicamente é muito importanteressaltar que a visão de uma população éafectada pela perspectiva a partir da qual éobservada. É muito distinto contemplá-ladesde a terra da qual partiu, isto é, comoemigrante, que abordá-la a partir do lugarque a recebeu, quer dizer conceptualizadacomo imigrante. O migrante é o resultadode ambas as perspectivas e correspondeaos actores sociais reflectir e actuar emfunção de um ou outro olhar.A primeiraetapa do trabalho centrou-se em recompi-lar a informação disponível sobre os são-tomenses em geral residentes em Portugal

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Em jeito de reflexão: propostas de mudanças rumo ao desenvolvimento

e, no suposto de que existisse, sobre osseus estudantes universitários e profissio-nais em particular. Perante a práticainexistência de bibliografia publicada, abase desta primeira aproximação ao grupoalvo foram os documentos proporciona-dos pelo Ministério dos Negócios Estran-geiros e Cooperação e pela Embaixada deSTP em Portugal, a Organização Interna-cional para as Migrações (OIM), o AltoComissariado para a Imigração e MinoriasÉtnica o Ministério da AdministraçãoInterna - Serviço de Estrangeiros eFronteiras (SEF)-e a ACOSP.

Foi evidente desde o primeiro momento adeficiência das poucas estatísticas dispo-níveis, sem poder assegurar nem o núme-ro de estudantes actuais na universidadeportuguesa nem os profissionais sãoto-menses existentes em Portugal. Conhecidaa informação disponível passou-se à faseda implementação do trabalho de campo,tendo por base, principalmente, três técni-cas: o inquérito, a entrevista em profundi-dade e a observação participante.O inqué-rito foi preparado e submetido a umaprova com sãotomenses que viajaram paraSTP em Dezembro de 2000. Posterior-mente realizou-se em Portugal, fundamen-talmente em Lisboa, Coimbra e Porto, nosmeses de Janeiro e Fevereiro de 2001.Contou-se com o apoio de ACOSP a partirda sua implantação nestas cidades, sobre-tudo na universidade. Realizaram-se 60inquéritos, o que constitui 14,7 % dos 406sãotomenses do grupo alvo. Por ser objec-tivo prioritário do estudo, e querer conhe-cer o melhor possível a sua diversidadeinterna, foram mais as mulheres inquiridas( 40 %) das que corresponderia estatistica-mente. Quanto às percentagens de profis-sionais e estudantes inquiridos são de 54,4e 46,6 % respectivamente, o que supõe umligeiro desvio estatístico sem efeitos sobreos resultados O inquérito, semiaberto,contém três secções:A primeira parte pretende obter algunsdados básicos do perfil destes sãotomen-ses, sempre em relação com as hipótesesdo estudo geral. Assim, os intervalos deidade e a antiguidade na residência emPortugal estão estabelecidos considerandoos períodos mais significativos da recentehistória sãotomense, permitindo a compa-ração dos efeitos de cada conjuntura histó-

rica nas migrações em relação a Portugal.A profissão dos inquiridos tem em contaas oposições, o público versus o privado eempresário versus empregado, porqueinteressa conhecer a sua potencialidadepara a mudança numa conjuntura sãoto-mense que parece precisar de um sectorprivado forte. As pautas de parentescoinduzidas do estado civil e a nacionalida-de do cônjuge podem permitir uma pri-meira apreciação sobre se o envolventeportuguês produz diferenças neste campocom STP e orientam a reflexão sobre asrelações intra e inter-étnicas. A segundaparte está delineada para começar a com-preender a sua visão sobre o futuro deSTP. Sob o título genérico de "Aspiraçõespara STP" inclui-se uma primeira aproxi-mação das suas expectativas sobre diver-sos agentes, a partir de uma selecção detrês entre sete pré-determinados e umaberto. A selecção dos sete agentes foiefectuada para permitir, pelo menos, duasleituras.

Uma relativa à área das categorias selec-cionadas, tendo em conta que duas cate-gorias são económicas (empresários einvestidores), duas são político-institucio-nais (governo e Presidente da República),duas sociais (cidadãos e sãotomenses resi-dentes no estrangeiro) e uma tem uma pre-tensão mais extensa, abrangendo áreas dastrês anteriores (cooperação internacional).E outra de categorias associadas com oque está em STP e o que vem do exterior:empresários sãotomenses versus investi-dores estrangeiros, cidadãos em geral ver-sus sãotomenses residentes no estrangeiroe governo-Presidente da República versuscooperação internacional.

De seguida avalia-se de forma simples edirecta a sua percepção sobre as possibili-dades de melhorar a situação sócio-econó-mica.

Os três pontos seguintes tentam desvendarque factores identificam os sãotomensespara atingir o STP aspirado e que impor-tância relativa lhes concedem face ao restodos avaliados. Partindo do trabalho decampo prévio em STP e do documentoNLSTP, que recolhe as aspirações do con-junto dos sãotomenses, foram selecciona-dos vinte e quatro factores divididos em

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Em jeito de reflexão: propostas de mudanças rumo ao desenvolvimento

melhor possível a diversidade interna des-tes sãotomenses em relação aos temascolocados e sempre considerando a pers-pectiva de género.

Aos sãotomenses com os quais se trabal-hou foi-lhes assegurado o anonimato peloque os seus nomes foram mudados nascitações extraídas das entrevistas. Asentrevistas foram transcritas literalmente eanalisadas como textos com técnicassemióticas, em especial da semiótica grei-masiana e o denominado "Grupo deEntrevernes" . Nas transcrições para oensaio foram introduzidas, só muito pon-tualmente, correcções de forma a facilitara leitura, mas a prioridade tem sido man-ter a sua linguagem e o seu estilo discursi-vo para permitir ao leitor a sua própriaanálise com os textos originais e uma per-cepção o mais directa possível.

Simultaneamente à realização das entre-vistas formais esteve-se a conviver comsãotomenses para poder observar e apro-fundar as principais interrogantes dainvestigação, sobretudo as referidas àsrelações intra-étnicas e inter-étnicas e adeterminadas mudanças nas pautas decomportamento em comparação com asobservadas em STP.

As análises dos inquéritos e as entrevistasforam discutidas, em primeiro lugar, comprofissionais das ciências sociais e, poste-riormente, foram remetidos a uma selec-ção dos sãotomenses em Portugal pararecolher os seus comentários, reflectirsobre os mesmos e introduzir as modifica-ções subsequentes antes de discutir oensaio com a equipa das Nações Unidasem STP.

três tabelas. Cada uma delas tenta abran-ger os factores mais associados a um enfo-que e, se bem que os limites entre um eoutro possam ser difusos, estão muitorelacionados e um mesmo factor poderiaser incluído também noutro (caso da coo-peração internacional), o conjunto de cadatabela permite apreciar com clareza se serefere ao enfoque económico, político ousocial, ainda que não exista uma epígrafeno inquérito que o indique. Espera-sedesta forma visualizar a ênfase depositadaa partir de cada uma dessas leituras e con-trastá-la com as expectativas sobre osagentes. A terceira parte do inquérito estáconcebida para conhecer um pouco mais assuas relações com STP e os sãotomenses eas primeiras opções de possível coopera-ção. Parte-se de uma pergunta objectiva -frequência de viagens a STP - para entrarposteriormente em questões subjectivas -hipótese de um regresso, os seus motivospara não concretizá-lo e o prazo previsto.Em seguida pretende-se apreciar se existerelação e de que características com outrossãotomenses em Portugal, partindo de tiposde contacto comuns (familiares, amizade,vizinhança, etc.). Por último tenta-se con-hecer a predisposição para colaborar emactividades com sãotomenses em Portugale em STP e em que áreas. A eleição daspropostas tenta ajustar-se a interesses jáconhecidos, esperando que os inquiridosagreguem outras, o que só se produziu deforma muito pontual.

As primeiras conclusões do inquérito per-mitiram orientar melhor as 25 entrevistasem profundidade, semi-estruturadas eabertas. O número foi decidido no decur-so da investigação em função das necessi-dades de informação para compreender o

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135Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

S.Tomé e Príncipe (STP) é um país jovem, emergente, independente apenas a um quatrode século em condições de precariedade política e económica. A relativa acalmia de cen-tenas de anos vê-se alterada de forma irremediável, tendo que enfrentar os desafios gera-dos pela incessante sucessão de mudanças que condicionaram a sua participação na esfe-ra internacional e pela dinâmica da sua própria sociedade.

O desafio central é assumir que o rumo de grande parte dos acontecimentos e da res-ponsabilidade dos santomenses, a quem corresponde decidir para onde dirigir os seusesforços, mas também do resto dos actores implicados na medida em que podem facili-tar a STP o cumprimento das suas aspirações.

O presente Relatório de Desenvolvimento Humano pretende abarcar a reflexão sobre oproblema das Mudanças num país como STP, partido não só da sua conjuntura política,económica e social, mas também da sua identidade cultural e as opções abertas de recon-figuração para ajustar-se a um mundo globalizado. Parte-se da hipóteses de que a iden-tidade cultural pode desempenhar um valor fundamental de medição para o desenvolvi-mento humano.

Partindo dos pressupostos anteriores o Relatório tenta:

1) Facilitar uma visão da situação do desenvolvimento humano no país, tanto do pontode vista sincrónico como diacrónico. Isto obriga a uma actualização dos dados e umaanalise de como se chegou ao perfil que é apresentado.

2) Conhecer e compreender melhor a cultura são-tomense e as possíveis identidades ade-quadas a mesma e ao desenvolvimento humano.

3) Contribuir com a reflexão sobre a Mudança, a Cultura e o Desenvolvimento Humano,de forma que a sua utilidade teórica possa servir para posteriores investigações emoutros países.

4) Realizar propostas que unam consensos, tanto no interior de STP como no exterior,em especial dos emigrantes são-tomenses.

Sinopse

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137Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

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Bibliografia

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138 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Bibliografia

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VALVERDE, P2000 Máscara, Mato e Morte em S. Tomé, Celta Editores, Oeiras.

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139Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Para realizar o estudo sobre os sãotomen-ses em Portugal considerou-se convenien-te chegar a um acordo de colaboração coma principal associação de sãotomensesnesse país, Associação da Comunidade deS.Tomé e Príncipe (ACOSP), e operarcom o seu apoio. Esta opção foi adoptadapor três razões: facilitar o contacto e aconfiança dos sãotomenses em Portugal,poder realizar o trabalho de campo numtempo razoavelmente curto - ao dispor dosseus recursos humanos - e abrir o maisbreve possível o diálogo para futurasacções conjuntas com sãotomenses emSTP ou em Portugal.

A população alvo deste trabalho foi esta-belecida em STP em função da sua poten-cialidade para contribuir para a mudançarumo ao desenvolvimento humano, queera o tema principal do Relatório deDesenvolvimento Humano 2000-2001.Essa população foi definida em função daqualificação académica adquirida - ummínimo de uma carreira universitáriamédia ou em vias de obtê-la - e a sua resi-dência em Portugal, país que alberga ogrosso da mão de obra qualificada quevive no estrangeiro e que mantém um sis-tema de bolsas que possibilita a continui-dade da realização de estudos universitá-rios a alguns sãotomenses .

Aos que já finalizaram a sua carreiraforam denominados profissionais e aosque estudam para a concluir e chegar a sê-lo, estudantes universitários ou futurosprofissionais.

Para manter a perspectiva de género ten-tou-se que todas as pesquisas e dados obti-

dos estivessem desagregados por sexo.Profissionais e estudantes, homens e mul-heres foram assim subgrupos de referênciaobrigatória em todo o ensaio e objecto decomparações entre si para tentar apreciarcorrelações positivas ou negativas faceaos temas de reflexão.

Independentemente do grupo alvo ou dequalquer dos subgrupos anteriores, note-se que o título do trabalho utiliza o con-ceito "migrantes" e não, "emigrantes" ou"imigrantes".

Metodologicamente é muito importanteressaltar que a visão de uma população éafectada pela perspectiva a partir da qual éobservada. É muito distinto contemplá-ladesde a terra da qual partiu, isto é, comoemigrante, que abordá-la a partir do lugarque a recebeu, quer dizer conceptualizadacomo imigrante. O migrante é o resultadode ambas as perspectivas e correspondeaos actores sociais reflectir e actuar emfunção de um ou outro olhar.

A primeira etapa do trabalho centrou-seem recompilar a informação disponívelsobre os sãotomenses em geral residentesem Portugal e, no suposto de que existis-se, sobre os seus estudantes universitáriose profissionais em particular.

Perante a prática inexistência de bibliografiapublicada, a base desta primeira aproxima-ção ao grupo alvo foram os documentos pro-porcionados pelo Ministério dos NegóciosEstrangeiros e Cooperação e pela Embaixadade STP em Portugal, a Organização Interna-cional para as Migrações (OIM), o AltoComissariado para a Imigração e Minorias

Metodologia

ANEXOS

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140 Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Metodologia

Étnicas, o Ministério da Admi-nistraçãoInterna - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras(SEF)-e a ACOSP.

Foi evidente desde o primeiro momento adeficiência das poucas estatísticas dispo-níveis, sem poder assegurar nem o núme-ro de estudantes actuais na universidadeportuguesa nem os profissionais sãoto-menses existentes em Portugal.

Conhecida a informação disponível pas-sou-se à fase da implementação do trabal-ho de campo, tendo por base, principal-mente, três técnicas: o inquérito, a entre-vista em profundidade e a observação par-ticipante.

O inquérito foi preparado e submetido auma prova com sãotomenses que viajarampara STP em Dezembro de 2000.Posteriormente realizou-se em Portugal,fundamentalmente em Lisboa, Coimbra ePorto, nos meses de Janeiro e Fevereiro de2001. Contou-se com o apoio de ACOSP apartir da sua implantação nestas cidades,sobretudo na universidade. Realizaram-se60 inquéritos, o que constitui 14,7 % dos406 sãotomenses do grupo alvo. Por serobjectivo prioritário do estudo, e quererconhecer o melhor possível a sua diversi-dade interna, foram mais as mulheresinquiridas ( 40 %) das que corresponderiaestatisticamente. Quanto às percentagensde profissionais e estudantes inquiridossão de 54,4 e 46,6 % respectivamente, oque supõe um ligeiro desvio estatísticosem efeitos sobre os resultados

O inquérito, semiaberto, contém três sec-ções:A primeira parte pretende obter algunsdados básicos do perfil destes sãotomen-ses, sempre em relação com as hipótesesdo estudo geral. Assim, os intervalos deidade e a antiguidade na residência emPortugal estão estabelecidos considerandoos períodos mais significativos da recentehistória sãotomense, permitindo a compa-ração dos efeitos de cada conjuntura histó-rica nas migrações em relação a Portugal.A profissão dos inquiridos tem em contaas oposições, o público versus o privado eempresário versus empregado, porqueinteressa conhecer a sua potencialidadepara a mudança numa conjuntura sãoto-

mense que parece precisar de um sectorprivado forte. As pautas de parentescoinduzidas do estado civil e a nacionalida-de do cônjuge podem permitir uma pri-meira apreciação sobre se o envolventeportuguês produz diferenças neste campocom STP e orientam a reflexão sobre asrelações intra e inter-étnicas.

A segunda parte está delineada para come-çar a compreender a sua visão sobre ofuturo de STP. Sob o título genérico de"Aspirações para STP" inclui-se uma pri-meira aproximação das suas expectativassobre diversos agentes, a partir de umaselecção de três entre sete pré-determina-dos e um aberto. A selecção dos sete agen-tes foi efectuada para permitir, pelomenos, duas leituras.

Uma relativa à área das categorias selec-cionadas, tendo em conta que duas cate-gorias são económicas (empresários einvestidores), duas são político-institucio-nais (governo e Presidente da República),duas sociais (cidadãos e sãotomenses resi-dentes no estrangeiro) e uma tem uma pre-tensão mais extensa, abrangendo áreas dastrês anteriores (cooperação internacional).

E outra de categorias associadas com oque está em STP e o que vem do exterior:empresários sãotomenses versus investi-dores estrangeiros, cidadãos em geral ver-sus sãotomenses residentes no estrangeiroe governo-Presidente da República versuscooperação internacional.

De seguida avalia-se de forma simples edirecta a sua percepção sobre as possibili-dades de melhorar a situação sócio-econó-mica.

Os três pontos seguintes tentam desvendarque factores identificam os sãotomensespara atingir o STP aspirado e que impor-tância relativa lhes concedem face ao restodos avaliados. Partindo do trabalho decampo prévio em STP e do documentoNLSTP, que recolhe as aspirações do con-junto dos sãotomenses, foram selecciona-dos vinte e quatro factores divididos emtrês tabelas. Cada uma delas tenta abrangeros factores mais associados a um enfoquee, se bem que os limites entre um e outropossam ser difusos, estão muito relaciona-

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141Relatório do Desenvolvimento Humano - STP

Metodologia

dos e um mesmo factor poderia ser incluí-do também noutro (caso da cooperaçãointernacional), o conjunto de cada tabelapermite apreciar com clareza se se refereao enfoque económico, político ou social,ainda que não exista uma epígrafe noinquérito que o indique. Espera-se destaforma visualizar a ênfase depositada a par-tir de cada uma dessas leituras e contrastá-la com as expectativas sobre os agentes.

A terceira parte do inquérito está concebi-da para conhecer um pouco mais as suasrelações com STP e os sãotomenses e asprimeiras opções de possível cooperação.

Parte-se de uma pergunta objectiva - fre-quência de viagens a STP - para entrarposteriormente em questões subjectivas -hipótese de um regresso, os seus motivospara não concretizá-lo e o prazo previsto.Em seguida pretende-se apreciar se existerelação e de que características com outrossãotomenses em Portugal, partindo detipos de contacto comuns (familiares, ami-zade, vizinhança, etc.). Por último tenta-seconhecer a predisposição para colaborarem actividades com sãotomenses emPortugal e em STP e em que áreas. A elei-ção das propostas tenta ajustar-se a inte-resses já conhecidos, esperando que osinquiridos agreguem outras, o que só seproduziu de forma muito pontual.

As primeiras conclusões do inquérito per-mitiram orientar melhor as 25 entrevistasem profundidade, semi-estruturadas eabertas. O número foi decidido no decur-so da investigação em função das necessi-dades de informação para compreender omelhor possível a diversidade interna des-tes sãotomenses em relação aos temas

colocados e sempre considerando a pers-pectiva de género.

Aos sãotomenses com os quais se trabal-hou foi-lhes assegurado o anonimato peloque os seus nomes foram mudados nascitações extraídas das entrevistas.

As entrevistas foram transcritas literal-mente e analisadas como textos com téc-nicas semióticas, em especial da semióticagreimasiana e o denominado "Grupo deEntrevernes".

Nas transcrições para o ensaio foramintroduzidas, só muito pontualmente,correcções de forma a facilitar a leitura,mas a prioridade tem sido manter a sualinguagem e o seu estilo discursivo parapermitir ao leitor a sua própria análisecom os textos originais e uma percepção omais directa possível.

Simultaneamente à realização das entre-vistas formais esteve-se a conviver comsãotomenses para poder observar e apro-fundar as principais interrogantes dainvestigação, sobretudo as referidas àsrelações intra-étnicas e inter-étnicas e adeterminadas mudanças nas pautas decomportamento em comparação com asobservadas em STP.

As análises dos inquéritos e as entrevistasforam discutidas, em primeiro lugar, comprofissionais das ciências sociais e, poste-riormente, foram remetidos a uma selecçãodos sãotomenses em Portugal para reco-lher os seus comentários, reflectir sobre osmesmos e introduzir as modificações sub-sequentes antes de discutir o ensaio com aequipa das Nações Unidas em STP.

Page 137: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano
Page 138: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Inquéritos

Page 139: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 1

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 1

Anexo 1: Inquérito com 60 são-tomenses Realizados em Janeiro - Fevereiro, 2001, em Portugal. Resultados em percentagens. Desenvolvimento Humano de São Tomé e Príncipe: Participação dos quadros e estudantes residentes em Portugal I – Dados do entrevistado 1. Sexo (assinalar com um x)

A. Masculino 60 B. Feminino 40

2. Idade

A. Menos de 30 anos 38,3 B. Entre 31 e 40 anos 40 C. Entre 41 e 50 anos 15 D. Mais de 50 anos 3,3

3. Habilitações

A bacharelato 13,3 B. Licenciatura 36,6

C mestrado 3,3 D. Doutoramento E. Outro (especificar) 46,6 estudantes

4. Profissão principal

A. Empresário (especificar) B. Empregado público (especificar) C. Empregado em empresa privada (especificar)

5. Há quanto tempo reside em Portugal?

A. Menos de 5 anos 31,6 B. Entre 5 e 10 anos 31,6 C. Entre 11 e 25 anos 33,3 D. Mais de 25 anos 3,3

6. Estado civil

A. Solteiro 58,3 B. Casado 26,6 C. União de facto 8,3 D. Outro (especificar) 6,6 não contesta (nc)

7. Se respondeu b, c ou d na questão anterior, especifique a nacionalidade de seu cônjuge

A. Portuguesa 8,6 B. São-tomense 91,3 c. Outra

II. Aspirações para STP 8. Quais destes agentes pensa que terão um papel mais relevante no futuro de stp? (assinale três opções)

A. Empresários são-tomenses 35 B. Governo 56,6 C. Cidadãos em geral 73,3 D. Investidores estrangeiros 38,3 E. Presidente da república 5 F. Cooperação internacional 36,6

Page 140: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 1

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 2

G. São-tomenses residentes no estrangeiro 15 H. Outros (especificar)

9. Considera que melhorar a actual situação económica e social de São Tomé e príncipe é uma tarefa … (assinalar apenas uma resposta) A. Muito difícil 30 B. Difícil 58,3 C. Fácil 10 D. Impossível

10. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Reorganização do aparelho do estado 1,6 8,3 28,3 20 36,6 5 B Estabilidade política 1,6 1,6 18,3 25 48,3 5 C Honestidade no exercício dos cargos públicos 3,3 18,3 71,6 6,6 D Reforço da autoridade do estado 3,3 18,3 30 15 25 8,3 E Confiança nas instituições públicas 5 3,3 13,3 36,6 36,6 5 F Reforço dos poderes do presidente 40 18,3 20 3,3 6,6 11,6 G Promoção do diálogo e concertação social 1,6 3,3 25 38,3 23,3 8,3 H Revisão da constituição 16,6 21,6 30 15 10 6,6 11. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto à sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Desenvolvimento do turismo 1,6 11,6 26,6 56,6 3,3 B Redução da divida externa 5 5 26,6 20 35 8,3 C Criação de um sector empresarial forte 1,6 20 35 33,3 8,3 D Aumento da cooperação internacional 1,6 3,3 28,3 36,6 25 5 E Poupanças dos emigrantes 1,6 6,6 28,3 38,3 16,6 8,3 F Exploração do petróleo 11,6 16,6 28,3 38,3 5 G Diversificação das exportações 3,3 5 13,3 30 45 3,3 H Atracção do investimento estrangeiro 18,3 20 53,3 8,3 12. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para

uma mudança da qualidade de vida da população são-tomenses, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Infra estruturas públicas (agua, luz, hospitais, etc.) 1,6 3,3 15 76,6 3,3 B Sistema educativo eficaz 3,3 1,6 30 58,3 6,6 C Controlo do paludismo 1,6 3,3 11,6 78,3 5 D Salários mais elevados 1,6 23,3 33,3 36,6 5 E Meio ambiente equilibrado 1,6 5 18,3 36,6 30 10 F Condições de habitação 1,6 13,3 31,6 48,3 5 G Alteração do comportamento leve-leve 1,6 6,6 11,6 23,3 46,6 10 H Oferta cultural (bibliotecas, cinemas, salas exposição, etc.) 1,6 1,6 13,3 31,6 41,6 10 III. Relações com STP 13. Com que regularidade vai a STP?

A. Várias vezes por ano 3,3 B. Anualmente 10 C. Dois em dois anos 13,3 D. Raramente 45 E. Nunca 23,3

Nc 5

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Anexo 1

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 3

14. Encara hipótese de um dia regressar definitivamente a STP? A. Sim 86,6 B. Não 10

Nc 3,3 15. Se respondeu b na pergunta 14, indique porque razão (assinale 1 ou 2 respostas):

Motivos profissionais 10 Motivos familiares 10 Ausência de qualidade de vida em STP 50 Desilusão 10 Desinteresse Outro (especifique) 10 falta de dinheiro

16. Se respondeu a na pergunta 14, indique quando pensa poder regressar: A. A breve prazo 3,8 B. A médio prazo 32,6 C. A longo prazo 28,8 D. Depois da reforma 11,5 E. Não sabe 23

17. No caso de ter respondido a, b, ou c na pergunta 16 indique se enfrenta alguns destes problemas para concretizar

esse regresso: A. Motivos familiares 20,5 B. Motivos profissionais 26,4 C. Falta de confiança no futuro de STP 35 D. Ausência de meios económicos 38,2 E. Outro (especificar) 2,9 fim de formação

18. Costuma contactar regularmente com outros são-tomenses a residir em Portugal?

A. Sim 91,6 B. Não 5

Nc 3,3

19. Se respondeu a, especifique que tipos de contacto: A. Familiares 76,3 B. De vizinhança 16,3 C. De amizade 81,8 D. Associações 32,7 E. Outro (especifique) 3,6

20. Considera a hipótese de colaborar em actividades que envolvam os são-tomenses? A. Sim 91,6 B. Não 1,6 C. Não sei 1,6

Nc 3,6 (se respondeu a passar à pergunta 21; se respondeu b passar à pergunta 24)

21. Se respondeu a na questão anterior, especifique (pode assinalar uma ou as duas hipóteses)

A. Comunidade são-tomense em Portugal 96,3 B. Iniciativas que decorram em STP 50,9

22. Se respondeu a na pergunta 21, especifique (pode assinalar uma o várias hipóteses)

A. Manifestações culturais são-tomenses 58,4 B. Associações são-tomenses 64,1 C. Organizações de debates e encontros 71,6 D. Apoio jurídico 16,9 E. Outro (especifique) 7,5 F.

Page 142: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 1

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 4

23. Se respondeu b na pergunta 21, indique a área: A. Turismo 50 B. Comércio 28,5 C. Actividades liberais 39,2 D. Ensino 67,8 E. Organizações de debates e encontros 60,7 F. Outro (especifique) 17,8

24. Se respondeu b na questão 20, explique porquê:

Page 143: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 2

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 1

Anexo 2: Inquérito com as profissionais mulheres Realizados em Janeiro - Fevereiro, 2001, em Portugal. Resultados em percentagens. Desenvolvimento humano de São Tomé e Príncipe: Participação dos quadros e estudantes residentes em Portugal I – dados do entrevistado 1. Sexo (assinalar com um x)

A. Masculino B. Feminino

2. Idade

A. Menos de 30 anos 7,6 B. Entre 31 e 40 anos 91,3 C. Entre 41 e 50 anos D. Mais de 50 anos

3. Habilitações

A Bacharelato 38,4 B. Licenciatura 61,5

C mestrado D. Doutoramento E. Outro (especificar)

4. Profissão principal

A. Empresário (especificar) B. Empregado público (especificar) 46,1 C. Empregado em empresa privada (especificar) 15,3

Nc 53,8 5. Há quanto tempo reside em Portugal?

A. Menos de 5 anos 15,3 B. Entre 5 e 10 anos 38,4 C. Entre 11 e 25 anos 46,1 D. Mais de 25 anos

6. Estado civil

A. Solteiro 61,5 B. Casado 30,7 C. União de facto D. Outro – nc - 7,6

7. Se respondeu b, c ou d na questão anterior, especifique a nacionalidade de seu cônjuge

A. Portuguesa B. São-tomense 100 c. Outra

II. Aspirações para STP 8. Quais destes agentes pensa que terão um papel mais relevante no futuro de stp? (assinale três opções)

A. Empresários são-tomenses 30,7 B. Governo 46,1 C. Cidadãos em geral 69,2 D. Investidores estrangeiros 30,7 E. Presidente da república 7,6 F. Cooperação internacional 38,4

Page 144: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 2

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 2

G. São-tomenses residentes no estrangeiro 38,4 H. Outros (especificar)

9. Considera que melhorar a actual situação económica e social de São Tomé e príncipe é uma tarefa … (assinalar apenas uma resposta)

A. Muito difícil 38,4 B. Difícil 53,8 C. Fácil 7,6 D. Impossível

10. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Reorganização do aparelho do estado 15,3 30,7 15,3 30,8 7,6 B Estabilidade política 23,0 15,3 61,5 C Honestidade no exercício dos cargos públicos 7,6 15,3 76,9 D Reforço da autoridade do estado 30,7 15,3 7,6 38,4 7,6 E Confiança nas instituições públicas 7,6 15,3 30,7 46,1 F Reforço dos poderes do presidente 46,1 23,0 15,3 7,6 7,6 G Promoção do diálogo e concertação social 38,4 53,8 7,6 H Revisão da constituição 7,6 15,3 46,1 23,0 7,6 11. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto à sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Desenvolvimento do turismo 15,3 23,0 53,8 7,6 B Redução da divida externa 15,3 38,4 23,0 23,0 C Criação de um sector empresarial forte 7,6 23,0 46,1 23,0 D Aumento da cooperação internacional 46,1 38,4 7,6 7,6 E Poupanças dos emigrantes 23,0 61,5 7,6 7,6 F Exploração do petróleo 15,3 15,3 30,7 38,4 G Diversificação das exportações 7,6 30,7 30,7 30,7 H Atracção do investimento estrangeiro 23,0 23,0 53,8 12. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para

uma mudança da qualidade de vida da população são-tomense , os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Infra estruturas públicas (agua, luz, hospitais, etc.) 7,6 30.7 61,5 B Sistema educativo eficaz 7,6 46,1 46,1 C Controlo do paludismo 7,6 7,6 76,9 7,6 D Salários mais elevados 38,4 30,7 30,7 E Meio ambiente equilibrado 30,7 38,4 23,0 7,6 F Condições de habitação 15,3 30,7 46,1 7,6 G Alteração do comportamento leve-leve 15,3 30,7 46,1 7,6 H Oferta cultural (bibliotecas, cinemas, salas exposição, etc.) 15,3 38,4 38,4 7,6 III. Relações com STP 13. Com que regularidade vai a STP?

A. Várias vezes por ano B. Anualmente 15,3 C. Dois em dois anos 7,6 D. Raramente 61,5 E. Nunca 15,3

14. Encara hipótese de um dia regressar definitivamente a STP? A. Sim 92,3 B. Não 7,6

Page 145: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 2

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 3

15. Se respondeu b na pergunta 14, indique porque razão (assinale 1 ou 2 respostas): Motivos profissionais Motivos familiares Ausência de qualidade de vida em STP 100 Desilusão Desinteresse Outro (especifique)

16. Se respondeu a na pergunta 14, indique quando pensa poder regressar: A. A breve prazo B. A médio prazo 25,0 C. A longo prazo 41,6 D. Depois da reforma 8,3 E. Não sabe 25,0

17. No caso de ter respondido a, b, ou c na pergunta 16 indique se enfrenta alguns destes problemas para concretizar

esse regresso: A. Motivos familiares 25,0 B. Motivos profissionais 12,5 C. Falta de confiança no futuro de STP 25,0 D. Ausência de meios económicos 25,0 E. Outro (especificar)

18. Costuma contactar regularmente com outros são-tomenses a residir em Portugal?

A. Sim 92,3 B. Não 7,6

19. Se respondeu a, especifique que tipos de contacto:

A. Familiares 75,0 B. De vizinhança 8,3 C. De amizade 58,3 D. Associações 16,6 E. Outro (especifique)

20. Considera a hipótese de colaborar em actividades que envolvam os são-tomenses?

A. Sim 92,3 B. Não 7,6 C. Não sei (se respondeu a passar à pergunta 21; se respondeu b passar à pergunta 24)

21. Se respondeu a na questão anterior, especifique (pode assinalar uma ou as duas hipóteses)

A. Comunidade são-tomense em Portugal 91,6 B. Iniciativas que decorram em STP 33,3

22. Se respondeu a na pergunta 21, especifique (pode assinalar uma o várias hipóteses)

A. Manifestações culturais são-tomenses 63,6 B. Associações são-tomenses 54,5 C. Organizações de debates e encontros 90,9 D. Apoio jurídico 9,0 E. Outro (especifique)

23. Se respondeu b na pergunta 21, indique a área:

A. Turismo 25,0 B. Comércio C. Actividades liberais 25,0 D. Ensino 100 E. Organizações de debates e encontros 50,0 F. Outro (especifique) 25 (passeios, excursões)

24. Se respondeu b na questão 20, explique porquê:

Page 146: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 3

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 1

Anexo 3: Inquérito com os profissionais homens Realizados em Janeiro - Fevereiro, 2001, em Portugal. Resultados em percentagens. Desenvolvimento humano de São Tomé e Príncipe: Participação dos quadros e estudantes residentes em Portugal I – dados do entrevistado 1. Sexo (assinalar com um x)

A. Masculino B. Feminino

2. Idade

A. Menos de 30 anos B. Entre 31 e 40 anos 42,1 C. Entre 41 e 50 anos 47,3 D. Mais de 50 anos 10,5

3. Habilitações

A Bacharelato 15,7 b. Licenciatura 73,6

C mestrado 10,5 D. Doutoramento E. Outro (especificar)

4. Profissão principal

A. Empresário (especificar) 21,0 B. Empregado público (especificar) 52,6 C. Empregado em empresa privada (especificar) 21,0

Nc 5,2 5. Há quanto tempo reside em Portugal?

A. Menos de 5 anos 10,5 B. Entre 5 e 10 anos 42,1 C. Entre 11 e 25 anos 36,8 D. Mais de 25 anos 10,5

6. Estado civil

A. Solteiro 21,0 B. Casado 52,6 C. União de facto 26,3 D. Outro (especificar)

7. Se respondeu b, c ou d na questão anterior, especifique a nacionalidade de seu cônjuge

A. Portuguesa 13,3 B. São-tomense 86,0 c. Outra 6,6

II. Aspirações para STP 8. Quais destes agentes pensa que terão um papel mais relevante no futuro de STP? (assinale três opções)

A. Empresários são-tomenses 31,5 B. Governo 68,4 C. Cidadãos em geral 84,2 D. Investidores estrangeiros 47,3 E. Presidente da república 5,8 F. Cooperação internacional 26,3

Page 147: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 3

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 2

G. São-tomenses residentes no estrangeiro 10,5 H. Outros (especificar)

9. Considera que melhorar a actual situação económica e social de São Tomé e príncipe é uma tarefa … (assinalar apenas uma resposta) A. Muito difícil 26,3 B. Difícil 63,1 C. Fácil 10,5 D. Impossível

10. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Reorganização do aparelho do estado 26,3 26,3 42,1 5,2 B Estabilidade política 15,7 21,0 63,1 C Honestidade no exercício dos cargos públicos 21,0 73,6 5,2 D Reforço da autoridade do estado 10,5 26,3 31,5 26,3 5,2 E Confiança nas instituições públicas 47,3 47,3 5,2 F Reforço dos poderes do presidente 47,3 15,7 21,0 5,2 10,5 G Promoção do diálogo e concertação social 10,5 31,5 21,0 31,5 5,2 H Revisão da constituição 15,7 31,5 15,7 15,7 10,5 10,5 11. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto à sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Desenvolvimento do turismo 5,2 31,5 63,1 B Redução da divida externa 5,2 5,2 26,3 21,0 31,5 10,5 C Criação de um sector empresarial forte 15,7 36,8 31,5 15,7 D Aumento da cooperação internacional 10,5 10,5 26,3 47,3 5,2 E Captação das poupanças dos emigrantes 5,2 21,0 31,5 36,8 5,2 F Exploração do petróleo 5,2 15,7 31,5 36,8 10,5 G Diversificação das exportações 5,2 5,2 42,1 47,3 H Atracção do investimento estrangeiro 15,7 10,5 63,1 10,5 12. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para

uma mudança da qualidade de vida da população sãotomense , os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Infra estruturas públicas (agua, luz, hospitais, etc.) 15.7 84,2 B Sistema educativo eficaz 5,2 15,7 63,1 15,7 C Controlo do paludismo 15,7 84,2 D Salários mais elevados 21,0 36,8 36,8 5,2 E Meio ambiente equilibrado 26,3 36,8 26,3 10,5 F Condições de habitação 21,0 36,8 36,8 5,2 G Alteração do comportamento leve-leve 15,7 21,0 21,0 42,1 H Oferta cultural (bibliotecas, cinemas, salas exposição, etc.) 5,2 5,2 36,8 42,1 10,5 III. Relações com STP 13. Com que regularidade vai a STP?

A. Várias vezes por ano 5,2 B. Anualmente 10,5 C. Dois em dois anos 21,0 D. Raramente 52,6 E. Nunca 5,2

Nc 5,2 14. Encara hipótese de um dia regressar definitivamente a STP?

A. Sim 89,4 B. Não 10,5

Page 148: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 3

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 3

15. Se respondeu b na pergunta 14, indique porque razão (assinale 1 ou 2 respostas): Motivos profissionais Motivos familiares 100 Ausência de qualidade de vida em STP Desilusão Desinteresse Outro (especifique)

16. Se respondeu a na pergunta 14, indique quando pensa poder regressar:

A. A breve prazo B. A medio prazo 35,2 C. A longo prazo 35,2 D. Depois da reforma 29,4 E. Não sabe

17. No caso de ter respondido a, b, ou c na pergunta 16 indique se enfrenta alguns destes problemas para concretizar

esse regresso: A. Motivos familiares 25,0 B. Motivos profissionais 25,0 C. Falta de confiança no futuro de STP 33,3 D. Ausência de meios económicos 100 E. Outro (especificar)

18. Costuma contactar regularmente com outros são-tomenses a residir em Portugal?

A. Sim 89,4 B. Não 10,5

19. Se respondeu a, especifique que tipos de contacto: A. Familiares 76,4 B. De vizinhança 11,7 C. De amizade 82,3 D. Associações 52,9 E. Outro (especifique)

20. Considera a hipótese de colaborar em actividades que envolvam os são-tomenses?

A. Sim 100 B. Não C. Não sei

(se respondeu a passar à pergunta 21; se respondeu b passar à pergunta 24)

21. Se respondeu a na questão anterior, especifique (pode assinalar uma ou as duas hipóteses)

A. Comunidade são-tomense em Portugal 94,7 B. Iniciativas que decorram em STP 52,6

22. Se respondeu a na pergunta 21, especifique (pode assinalar uma o várias hipóteses)

A. Manifestações culturais são-tomenses 50,0 B. Associações são-tomenses 83,3 C. Organizações de debates e encontros 88,8 D. Apoio jurídico 5,5 E. Outro (especifique)

23. Se respondeu b na pergunta 21, indique a área:

A. Turismo 10,0 B. Comércio 20,0 C. Actividades liberais 40,0 D. Ensino 60,0 E. Organizações de debates e encontros 30,0 F. Outro (especifique)

24. Se respondeu b na questão 20, explique porquê:

Page 149: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 4

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 1

Anexo 4: Inquérito com as estudantes universitárias mulheres Realizados em Janeiro - Fevereiro, 2001, em Portugal. Resultados em percentagens. Desenvolvimento humano de São Tomé e Príncipe: Participação dos quadros e estudantes residentes em Portugal I – dados do entrevistado 1. Sexo (assinalar com um x)

A. Masculino B. Feminino

2. Idade

A. Menos de 30 anos 100 B. Entre 31 e 40 anos C. entre 41 e 50 anos D. Mais de 50 anos

3. Habilitações

A Bacharelato B. Licenciatura

C Mestrado D. Doutoramento E. Outro (especificar)

4. Profissão principal

A. Empresário (especificar) B. Empregado público (especificar) C. Empregado em empresa privada (especificar)

5. Há quanto tempo reside em Portugal?

A. Menos de 5 anos 63,6 B. Entre 5 e 10 anos 27,2 C. Entre 11 e 25 anos 9,0 D. Mais de 25 anos

6. Estado civil

A. Solteiro 81,8 B. Casado 9,0 C. União de facto 9,0 D. Outro (especificar)

7. Se respondeu b, c ou d na questão anterior, especifique a nacionalidade de seu cônjuge

A. Portuguesa B. São-tomense 100 c. Outra

II. Aspirações para STP 8. Quais destes agentes pensa que terão um papel mais relevante no futuro de STP? (assinale três opções)

A. Empresários são-tomenses 72,7 B. Governo 54,5 C. Cidadãos em geral 63,6 D. Investidores estrangeiros 27,2 E. Presidente da república 9,0 F. Cooperação internacional 54,5 G. São-tomenses residentes no estrangeiro 9,0 H. Outros (especificar)

Page 150: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 4

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 2

9. Considera que melhorar a actual situação económica e social de são tomé e príncipe é uma tarefa … (assinalar apenas uma resposta) A. Muito difícil 27,2 B. Difícil 72,7 C. Fácil D. Impossível

10. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para o

futuro de stp, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Reorganização do aparelho do estado 9,0 18,1 27,2 18,1 27,2 0 B Estabilidade política 9,0 36,3 9,0 36,3 9,0 C Honestidade no exercício dos cargos públicos 9,0 27,2 54,5 9,0 D Reforço da autoridade do estado 9,0 27,2 36,3 9,0 18,1 E Confiança nas instituições públicas 27,2 18,1 36,3 9,0 9,0 F Reforço dos poderes do presidente 27,2 27,2 27,2 9,0 9,0 G Promoção do diálogo e concertação social 9,0 9,0 36,3 27,2 18,1 H Revisão da constituição 27,2 18,1 27,2 18,1 9,0 0 11. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto à sua importância para o

futuro de stp, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Desenvolvimento do turismo 9,0 18,1 36,3 36,3 B Redução da divida externa 9,0 9,0 18,1 54,5 9,0 C Criação de um sector empresarial forte 9,0 27,2 18,1 45,4 D Aumento da cooperação internacional 9,0 36,3 45,4 9,0 E Poupanças dos emigrantes 9,0 9,0 36,3 45,4 F Exploração do petróleo 27,2 27,2 9,0 27,2 9,0 G Diversificação das exportações 9,0 9,0 9,0 27,2 45,4 H Atracção do investimento estrangeiro 36,3 18,1 36,3 9,0 12. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para

uma mudança da qualidade de vida da população são-tomense , os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Infra estruturas públicas (agua, luz, hospitais, etc.) 9,0 9,0 81,8 B Sistema educativo eficaz 9,0 36,3 54,5 C Controlo do paludismo 9,0 9,0 9,0 72,7 D Salários mais elevados 18,1 36,3 36,3 9,0 E Meio ambiente equilibrado 9,0 9,0 45,4 27,2 9,0 F Condições de habitação 9,0 9,0 36,3 45,4 G Alteração do comportamento leve-leve 9,0 9,0 9,0 27,2 36,3 9,0 H Oferta cultural (bibliotecas, cinemas, salas exposição, etc.) 9,0 27,2 45,4 18,1 III. Relações com stp 13. Com que regularidade vai a STP?

A. Várias vezes por ano 9,0 B. Anualmente 18,1 C. Dois em dois anos 18,1 D. Raramente 27,2 E. Nunca 27,2

14. Encara hipótese de um dia regressar definitivamente a STP?

A. Sim 90,9 B. Não 9,0

15. Se respondeu b na pergunta 14, indique porque razão (assinale 1 ou 2 respostas):

Page 151: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 4

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 3

Motivos profissionais 100 Motivos familiares Ausência de qualidade de vida em STP Desilusão 100 Desinteresse Outro (especifique) …

16. Se respondeu a na pergunta 14, indique quando pensa poder regressar: A. A breve prazo 10,0 B. A medio prazo 40,0 C. A longo prazo 10,0 D. Depois da reforma E. Não sabe 40,0

17. No caso de ter respondido a, b, ou c na pergunta 16 indique se enfrenta alguns destes problemas para concretizar

esse regresso: A. Motivos familiares 16,6 B. Motivos profissionais 50,0 C. Falta de confiança no futuro de STP 33,3 D. Ausência de meios económicos 33,3 E. Outro (especificar)

18. Costuma contactar regularmente com outros são-tomenses a residir em Portugal?

A. Sim 100 B. Não

19. Se respondeu a, especifique que tipos de contacto:

A. Familiares 90,9 B. De vizinhança 18,1 C. De amizade 100 D. Associações 27,2 E. Outro (especifique)

20. Considera a hipótese de colaborar em actividades que envolvam os são-tomenses?

A. Sim 100 B. Não C. Não sei (se respondeu a passar à pergunta 21; se respondeu b passar à pergunta 24)

21. Se respondeu a na questão anterior, especifique (pode assinalar uma ou as duas hipóteses)

A. Comunidade são-tomense em Portugal 90,9 B. Iniciativas que decorram em STP 100

22. Se respondeu a na pergunta 21, especifique (pode assinalar uma o várias hipóteses)

A. Manifestações culturais são-tomenses 70,0 B. Associações são-tomenses 60,0 C. Organizações de debates e encontros 40,0 D. Apoio jurídico 40,0 E. Outro (especifique) 10,0 (económico)

23. Se respondeu b na pergunta 21, indique a área:

A. Turismo 72,7 B. Comércio 27,2 C. Actividades liberais 18,1 D. Ensino 45,4 E. Organizações de debates e encontros 36,3 F. Outro (especifique) 36,3 (saúde, crianças carenciadas, melhoria de vida)

24. Se respondeu b na questão 20, explique porquê:

Page 152: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 5

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 1

Anexo 5: Inquérito com os estudantes universitários homens Realizados em Janeiro - Fevereiro, 2001, em Portugal. Resultados em percentagens. Desenvolvimento humano de São Tomé e Príncipe: Participação dos quadros e estudantes residentes em Portugal I – dados do entrevistado 1. Sexo (assinalar com um x)

A. Masculino B. Feminino

2. Idade

A. Menos de 30 anos 64,7 B. Entre 31 e 40 anos 23,5 C. Entre 41 e 50 anos D. Mais de 50 anos

nc 11,7 3. Habilitações

A Bacharelato B. Licenciatura

C mestrado D. Doutoramento E. Outro (especificar)

4. Profissão principal

A. Empresário (especificar) B. Empregado público (especificar) C. Empregado em empresa privada (especificar)

5. Há quanto tempo reside em Portugal? A. Menos de 5 anos 47,0 B. Entre 5 e 10 anos 17,6 C. Entre 11 e 25 anos 35,2 D. Mais de 25 anos

6. Estado civil

A. Solteiro 82,3 B. Casado 5,8 C. União de facto D. Outro – nc - 11,7

7. Se respondeu b, c ou d na questão anterior, especifique a nacionalidade de seu cônjuge

A. Portuguesa B. São-tomense 100 c. Outra

II. Aspirações para STP 8. Quais destes agentes pensa que terão um papel mais relevante no futuro de stp? (assinale três opções)

A. Empresários são-tomenses 17,6 B. Governo 52,9 C. Cidadãos em geral 70,5 D. Investidores estrangeiros 41,1 E. Presidente da república 5,8 F. Cooperação internacional 35,2 G. São-tomenses residentes no estrangeiro 5,8

Page 153: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 5

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 2

H. Outros (especificar) 9. Considera que melhorar a actual situação económica e social de são tomé e príncipe é uma tarefa … (assinalar

apenas uma resposta) A. Muito difícil 29,4 B. Difícil 47,0 C. Fácil 17,6 D. Impossível

Nc 5,8

10. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para o futuro de STP, os seguintes factores:

1 2 3 4 5 Nc A Reorganização do aparelho do estado 5,8 29,4 17,6 41,1 5,8 B Estabilidade política 5,8 5,8 47,0 29,4 11,7 C Honestidade no exercício dos cargos públicos 11,7 76,4 11,7 D Reforço da autoridade do estado 5,8 11,7 41,1 11,7 23,5 5,8 E Confiança nas instituições públicas 5,8 23,5 29,4 35,2 5,8 F Reforço dos poderes do presidente 35,2 11,7 17,6 17,6 17,6 G Promoção do diálogo e concertação social 17,6 47,0 29,4 5,8 H Revisão da constituição 17,6 17,6 35,2 5,8 17,6 5,8 11. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto à sua importância para o futuro de STP, os seguintes factores:

1 2 3 4 5 Nc A Desenvolvimento do turismo 11,7 17,6 64,7 5,8 B Redução da divida externa 5,8 29,4 17,6 35,2 11,7 C Criação de um sector empresarial forte 17,6 35,2 35,2 11,7 D Aumento da cooperação internacional 29,4 41,1 23,5 5,8 E Poupanças dos emigrantes 11,7 35,2 23,5 11,7 17,6 F Exploração do petróleo 5,8 11,7 35,2 47,0 0 G Diversificação das exportações 5,8 11,7 17,6 52,9 11,7 H Atracção do investimento estrangeiro 5,8 29,4 52,9 11,7 12. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para

uma mudança da qualidade de vida da população são-tomense, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Infra estruturas públicas (agua, luz, hospitais, etc.) 11.7 76,4 11,7 B Sistema educativo eficaz 29,4 64,7 5,8 C Controlo do paludismo 11,7 76,4 11,7 D Salários mais elevados 17,6 29,4 41,1 11,7 E Meio ambiente equilibrado 11,7 5,8 29,4 41,1 11,7 F Condições de habitação 5,8 23,5 64,7 5,8 G Alteração do comportamento leve-leve 17,6 58,8 23,5 H Oferta cultural (bibliotecas, cinemas, salas exposição, etc.) 5,8 23,5 23,5 41,1 5,8 III. Relações com STP 13. Com que regularidade vai a stp?

A. Várias vezes por ano B. Anualmente C. Dois em dois anos 5,8 D. Raramente 35,2 E. Nunca 47,0

Nc 11,7

Page 154: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 5

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 3

14. Encara hipótese de um dia regressar definitivamente a STP? A. Sim 82,3 B. Não 5,8

Nc 11,7 15. Se respondeu b na pergunta 14, indique porque razão (assinale 1 ou 2 respostas):

Motivos profissionais Motivos familiares Ausência de qualidade de vida em STP Desilusão Desinteresse Outro (especifique) …falta de dinheiro

16. Se respondeu a na pergunta 14, indique quando pensa poder regressar: A. A breve prazo 7,1 B. A médio prazo 28,5 C. A longo prazo 21,4 D. Depois da reforma E. Não sabe 42,8

17. No caso de ter respondido a, b, ou c na pergunta 16 indique se enfrenta alguns destes problemas para concretizar

esse regresso: A. Motivos familiares 12,5 B. Motivos profissionais 25,0 C. Falta de confiança no futuro de STP 50,0 D. Ausência de meios económicos 37,5 E. Outro (especificar) ………………………………………………………………………

18. Costuma contactar regularmente com outros são-tomenses a residir em Portugal?

A. Sim 88,2 B. Não

Nc 11,7

19. Se respondeu a, especifique que tipos de contacto: A. Familiares 66,6 B. De vizinhança 26,6 C. De amizade 86,6 D. Associações 26,6 E. Outro (especifique) 13,3

20. Considera a hipótese de colaborar em actividades que envolvam os são-tomenses?

A. Sim 82,3 B. Não 5,8 C. Não sei

Nc 11,7 (se respondeu a passar à pergunta 21; se respondeu b passar à pergunta 24)

21. Se respondeu a na questão anterior, especifique (pode assinalar uma ou as duas hipóteses)

A. Comunidade são-tomense em Portugal 100 B. Iniciativas que decorram em STP 28,5

22. Se respondeu a na pergunta 21, especifique (pode assinalar uma o várias hipóteses)

A. Manifestações culturais são-tomenses 57,1 B. Associações são-tomenses 64,2 C. Organizações de debates e encontros 57,1 D. Apoio jurídico 14,2 E. Outro (especifique)

Page 155: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 5

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 4

23. Se respondeu b na pergunta 21, indique a área: A. Turismo 100 B. Comércio 75 C. Actividades liberais 100 D. Ensino 100 E. Organizações de debates e encontros 75 F. Outro (especifique)

24. Se respondeu b na questão 20, explique porquê:

Page 156: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 6

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 1

Anexo 6: Inquérito com os homens são-tomenses Realizados em Janeiro - Fevereiro, 2001, em Portugal. Resultados em percentagens. Desenvolvimento humano de São Tomé e Príncipe: Participação dos quadros e estudantes residentes em Portugal I – dados do entrevistado 1. Sexo (assinalar com um x)

A. Masculino B. Feminino

2. Idade

A. Menos de 30 anos 30,5 B. Entre 31 e 40 anos 33,3 C. Entre 41 e 50 anos 25 D. Mais de 50 anos 5,5 Não contesta (nc) 5,5

3. Habilitações

A Bacharelato 8,3 b. Licenciatura 38,8

C mestrado 5,5 D. Doutoramento E. Outro (especificar) … 47,2………estudantes

4. Profissão principal

A. Empresário (especificar) B. Empregado público (especificar) C. Empregado em empresa privada (especificar)

5. Há quanto tempo reside em Portugal?

A. Menos de 5 anos 27, 7 B. Entre 5 e 10 anos 30,5 C. Entre 11 e 25 anos 36,1 D. Mais de 25 anos 5,5

6. Estado civil

A. Solteiro 50 B. Casado 30,5 C. União de facto 13,8 D. Outro – nc - 5,5

7. Se respondeu b, c ou d na questão anterior, especifique a nacionalidade de seu conjuge

A. Portuguesa 12,5 B. São-tomense 87,5 C. Outra 6,2

II - Aspirações para STP 8. Quais destes agentes pensa que terão um papel mais relevante no futuro de STP? (assinale três opções)

A. Empresários são-tomenses 25 B. Governo 61,1 C. Cidadãos em geral 77,7 D. Investidores estrangeiros 44,4

Page 157: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 6

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 2

E. Presidente da república 2,7 F. Cooperação internacional 30,5 G. São-tomenses residentes no estrangeiro 8,3 H. Outros (especificar)

9. Considera que melhorar a actual situação económica e social de São Tomé e príncipe é uma tarefa … (assinalar

apenas uma resposta) A. Muito difícil 27,7 B. Difícil 55,5 C. Fácil 13,8 D. Impossível

Nc 2,7

10. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para o futuro de STP, os seguintes factores:

1 2 3 4 5 Nc A Reorganização do aparelho do estado 2,7 27,7 22,2 41,6 5,5 B Estabilidade política 2,7 11,1 33,3 47,2 5,5 C Honestidade no exercício dos cargos públicos 16,6 75 8,3 D Reforço da autoridade do estado 2,7 11,1 33,3 22,2 25 5,5 E Confiança nas instituições públicas 2,7 11,1 38,8 41,6 5,5 F Reforço dos poderes do presidente 41,6 13,8 19,4 11,1 13,8 G Promoção do diálogo e concertação social 5,5 25 33,3 30,5 5,5 H Revisão da constituição 16,6 25 25 11,1 13,8 8,3 11. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto à sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Desenvolvimento do turismo 8,3 25 63,8 2,7 B Redução da divida externa 2,7 5,5 27,7 19,4 33,3 11,1 C Criação de um sector empresarial forte 16,6 38,8 33,3 11,1 D Aumento da cooperação internacional 5,5 19,4 33,3 36,1 5,5 E Poupanças dos emigrantes 8,3 27,7 27,7 25 11,1 F Exploração do petróleo 5,5 13,8 33,3 41,6 8,3 G Diversificação das exportações 2,7 2,7 8,3 30,5 50 5,5 H Atracção do investimento estrangeiro 11,1 19,4 58,3 11,1 12. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para

uma mudança da qualidade de vida da população são-tomense , os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Infraestruturas públicas (agua, luz, hospitais, etc.) 13,8 80,5 5,5 B Sistema educativo eficaz 2,7 22,2 63,8 11,1 C Controlo do paludismo 13,8 80,5 5,5 D Salários mais elevados 19,4 33,3 38,8 8,3 E Meio ambiente equilibrado 5,5 16,6 33,3 33,3 11,1 F Condições de habitação 13,8 30,5 50 5,5 G Alteração do comportamento leve-leve 8,3 11,1 19,4 52,7 16,6 H Oferta cultural (bibliotecas, cinemas, salas exposição, etc.) 2,7 2,7 13,5 30,5 41,5 8,3 II. Relações com STP

2. Com que regularidade vai a STP? A. Várias vezes por ano 2,7 B. Anualmente 5,5 C. Dois em dois anos 13,8 D. Raramente 44,4 E. Nunca 25

Page 158: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 6

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 3

3. Encara hipótese de um dia regressar definitivamente a STP? A. Sim 86,1 B. Não 8,3

Nc 5,5

4. Se respondeu b na pergunta 14, indique porque razão (assinale 1 ou 2 respostas): Motivos profissionais Motivos familiares 33,3 Ausência de qualidade de vida em STP 33,3 Desilusão Desinteresse Outro (especifique) 33,3 falta de dinheiro

5. Se respondeu a na pergunta 14, indique quando pensa poder regressar: A. A breve prazo 3,2 B. A médio prazo 32,2 C. A longo prazo 29 D. Depois da reforma 16,1 E. Não sabe 19,3

6. No caso de ter respondido a, b, ou c na pergunta 16 indique se enfrenta alguns destes problemas para concretizar

esse regresso: A. Motivos familiares 20 B. Motivos profissionais 25 C. Falta de confiança no futuro de STP 40 D. Ausência de meios económicos 45 E. Outro (especificar)

7. Costuma contactar regularmente com outros são-tomenses a residir em Portugal? A. Sim 88,8 B. Não 5,5

Nc 5,5

8. Se respondeu a, especifique que tipos de contacto: A. Familiares 71,8 B. De vizinhança 18,7 C. De amizade 84,4 D. Associações 40,6 E. Outro (especifique) 6,2

9. Considera a hipótese de colaborar em actividades que envolvam os são-tomenses? A. Sim 88,8 B. Não 2,7 C. Não sei D. Nc 8,3 (se respondeu a passar à pergunta 21; se respondeu b passar à pergunta 24)

10. Se respondeu a na questão anterior, especifique (pode assinalar uma ou as duas hipóteses)

A. Comunidade são-tomense em Portugal 100 B. Iniciativas que decorram em STP 40,6

11. Se respondeu a na pergunta 21, especifique (pode assinalar uma o várias hipóteses)

A. Manifestações culturais sãotomenses 53,1 B. Associações sãotomenses 75 C. Organizações de debates e encontros 75 D. Apoio jurídico 9,3 E. Outro (especifique)

Page 159: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 6

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 4

12. Se respondeu b na pergunta 21, indique a área: A. Turismo 38,4 B. Comércio 38,4 C. Actividades liberais 61,5 D. Ensino 76,9 E. Organizações de debates e encontros 46,1 F. Outro (específique)

13. Se respondeu b na questão 20, explique porquê:

Page 160: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 7

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 1

Anexo 7: Inquérito com as mulheres são-tomenses Realizados em Janeiro - Fevereiro, 2001, em Portugal. Resultados em percentagens. Desenvolvimento humano de São Tomé e Príncipe: Participação dos quadros e estudantes residentes em Portugal I – dados do entrevistado 1. Sexo (assinalar com um x)

A. Masculino B. Feminino

2 Idade A. Menos de 30 anos 50 B. Entre 31 e 40 anos 50 C. Entre 41 e 50 anos D. Mais de 50 anos

3. Habilitações

A Bacharelato 20,8 B. Licenciatura 33,3

C Mestrado D. Doutoramento E. Outro (especificar) 45,8 estudantes

4. Profissão principal

A. Empresário (especificar) B. Empregado público (especificar) C. Empregado em empresa privada (especificar)

5. Há quanto tempo reside em Portugal?

A. Menos de 5 anos 37,5 B. Entre 5 e 10 anos 33,3 C. Entre 11 e 25 anos 29,1 D. Mais de 25 anos

6. Estado civil

A. Solteiro 70,8 B. Casado 20,8 C. União de facto D. Outro – nc - 8,3

7. Se respondeu b, c ou d na questão anterior, especifique a nacionalidade de seu conjuge

A. Portuguesa B. São-tomense 100 C. Outra

II. Aspirações para STP 8. Quais destes agentes pensa que terão um papel mais relevante no futuro de STP? (assinale três opções)

A. Empresários são-tomenses 50 B. Governo 50 C. Cidadãos em geral 66,6 D. Investidores estrangeiros 29,1 E. Presidente da república 8,3

Page 161: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 7

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 2

F. Cooperação internacional 45,8 G. São-tomenses residentes no estrangeiro 25 H. Outros (especificar)

9. Considera que melhorar a actual situação económica e social de São Tomé e Príncipe é uma tarefa … (assinalar apenas uma resposta) A. Muito difícil 33,3 B. Difícil 62,5 C. Fácil 4,1 D. Impossível

10. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Reorganização do aparelho do estado 4,1 16,6 29,1 16,6 29,1 4,1 B Estabilidade política 4,1 29,1 12,5 50 4,1 C Honestidade no exercício dos cargos públicos 8,3 20,8 66,6 4,1 D Reforço da autoridade do estado 4,1 29,1 25 4,1 25 12,5 E Confiança nas instituições públicas 12,5 4,1 20,8 33,3 29,1 4,1 F Reforço dos poderes do presidente 37,5 25 20,8 8,3 8,3 G Promoção do diálogo e concertação social 4,1 25 45,8 12,5 12,5 H Revisão da constituição 16,6 16,6 37,5 20,8 4,1 4,1 11. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto à sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Desenvolvimento do turismo 4,1 16,6 29,1 45,8 4,1 B Redução da divida externa 8,3 4,1 25 20,8 37,5 4,1 C Criação de um sector empresarial forte 4,1 4,1 25 33,3 33,3 D Aumento da cooperação internacional 4,1 41,6 41,6 8,3 4,1 E Poupanças dos emigrantes 4,1 4,1 29,1 54,1 4,1 4,1 F Exploração do petróleo 20,8 20,8 20,8 33,3 4,1 G Diversificação das exportações 4,1 8,3 20,8 29,1 37,5 H Atracção do investimento estrangeiro 29,1 20,8 45,8 4,1 12. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para

uma mudança da qualidade de vida da população são-tomense , os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Infraestruturais públicas (agua, luz, hospitais, etc.) 4,1 8,3 16,6 70,8 B Sistema educativo eficaz 8,3 41,6 50 C Controlo do paludismo 4,1 8,3 8,3 75 4,1 D Salários mais elevados 29,1 33,3 37,5 4,1 E Meio ambiente equilibrado 4,1 20,8 41,6 25 8,3 F Condições de habitação 4,1 12,5 33,3 45,8 4,1 G Alteração do comportamento leve-leve 4,1 4,1 12,5 29,1 41,6 8,3 H Oferta cultural (bibliotecas, cinemas, salas exposição, etc.) 12,5 33,3 41,6 12,5 III. Relações com STP

2. Com que regularidade vai a STP? A. Várias vezes por ano 4,1 B. Anualmente 16,6 C. Dois em dois anos 12,5 D. Raramente 45,8 E. Nunca 20,8

3. Encara hipótese de um dia regressar definitivamente a STP?

A. Sim 87,5 B. Não 12,5

Page 162: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 7

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 3

4. Se respondeu b na pergunta 14, indique porque razão (assinale 1 ou 2 respostas): Motivos profissionais 33,3 Motivos familiares Ausência de qualidade de vida em STP 66,6 Desilusão 33,3 Desinteresse Outro (especifique)

5. Se respondeu a na pergunta 14, indique quando pensa poder regressar: A. A breve prazo 4,7 B. A medio prazo 33,3 C. A longo prazo 28,5 D. Depois da reforma 4,7 E. Não sabe 28,5

6. No caso de ter respondido a, b, ou c na pergunta 16 indique se enfrenta alguns destes problemas para concretizar

esse regresso: A. Motivos familiares 21,4 B. Motivos profissionais 28,5 C. Falta de confiança no futuro de STP 28,5 D. Ausência de meios económicos 28,5 E. Outro (especificar) 7,1 fim de formação

7. Costuma contactar regularmente com outros são-tomenses a residir em Portugal? A. Sim 95,8 B. Não 4,1

8. Se respondeu a, especifique que tipos de contacto:

A. Familiares 82,6 B. De vizinhança 13 C. De amizade 78,2 D. Associações 21,7 E. Outro (especifique) …

9. Considera a hipótese de colaborar em actividades que envolvam os são-tomenses? A. Sim 95,8 B. Não 4,1 C. Não sei

(se respondeu a passar à pergunta 21; se respondeu b passar à pergunta 24)

10. Se respondeu a na questão anterior, especifique (pode assinalar uma ou as duas hipóteses) A. Comunidade são-tomense em Portugal 91,3 B. Iniciativas que decorram em STP 65,2

11. Se respondeu a na pergunta 21, especifique (pode assinalar uma o várias hipóteses)

A. Manifestações culturais são-tomenses 66,6 B. Associações são-tomenses 57,1 C. Organizações de debates e encontros 66,6 D. Apoio jurídico 23,8 E. Outro (especifique) 4,7

12. Se respondeu b na pergunta 21, indique a área:

A. Turismo 60 B. Comércio 20 C. Actividades liberais 20 D. Ensino 60 E. Organizações de debates e encontros 40 F. Outro (especifique) 33,3 crianças, saúde, qualidade de vida, passeios

13. Se respondeu b na questão 20, explique porquê:

Page 163: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 8

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 1

Anexo 8: Inquérito com os profissionais santamente Realizados em Janeiro - Fevereiro, 2001, em Portugal. Resultados em percentagens. Desenvolvimento humano de São Tomé e Príncipe: Participação dos quadros e estudantes residentes em Portugal I – dados do entrevistado 1. Sexo (assinalar com um x)

A. Masculino 59,3 B. Feminino 40,6

2. Idade A. Menos de 30 anos 3,1 B. Entre 31 e 40 anos 65,6 C. Entre 41 e 50 anos 28,1 D. Mais de 50 anos 6,2

3. Habilitações

A Bacharelato 25 B. Licenciatura 68,7

C mestrado 6,2 D. Doutoramento E. Outro (especificar)

4. Profissão principal

A. Empresário (especificar) 12,5 B. Empregado público (especificar) 50 C. Empregado em empresa privada (especificar) 18,7

Nc 18,7 5. Há quanto tempo reside em Portugal?

A. Menos de 5 anos 12,5 B. Entre 5 e 10 anos 40,6 C. Entre 11 e 25 anos 40,6 D. Mais de 25 anos 6,2

6. Estado civil

A. Solteiro 37,5 B. Casado 43,7 C. União de facto 15,6 D. Outro (especificar)

Nc 3,1

7. Se respondeu b, c ou d na questão anterior, especifique a nacionalidade de seu cônjuge A. Portuguesa 10,5 B. São-tomense 100 C. Outra 5,2

II. Aspirações para STP 8. Quais destes agentes pensa que terão um papel mais relevante no futuro de STP? (assinale três opções)

A. Empresários são-tomenses 31,2 B. Governo 59,3 C. Cidadãos em geral 78,1 D. Investidores estrangeiros 40,6 E. Presidente da república 3,1

Page 164: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 8

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 2

F. Cooperação internacional 31,2 G. São-tomenses residentes no estrangeiro 21,8 H. Outros (especificar)

9. Considera que melhorar a actual situação económica e social de São Tomé e Príncipe é uma tarefa (assinalar apenas

uma resposta) A. Muito difícil 31,2 B. Difícil 59,3 C. Fácil 9,3 D. Impossível

10. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Reorganização do aparelho do estado 6,2 28,1 21,8 37,5 6,2 B Estabilidade política 18,7 18,7 62,5 C Honestidade no exercício dos cargos públicos 3,1 18,7 75 3,1 D Reforço da autoridade do estado 18,7 21,8 21,8 31,2 6,2 E Confiança nas instituições públicas 3,1 6,2 40,6 46,8 3,1 F Reforço dos poderes do presidente 46,8 18,7 18,7 3,1 3,1 9,3 G Promoção do diálogo e concertação social 6,2 34,3 34,3 18,7 6,2 H Revisão da constituição 12,5 25 28,1 18,7 6,2 9,3 11. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto à sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Desenvolvimento do turismo 9,3 28,1 59,3 3,1 B Redução da divida externa 9,3 3,1 31,2 21,8 28,1 6,2 C Criação de um sector empresarial forte 3,1 18,7 43,7 28,1 6,2 D Aumento da cooperação internacional 6,2 25 31,2 31,2 6,2 E Poupanças dos emigrantes 3,1 21,8 43,7 25 6,2 F Exploração do petróleo 9,3 15,6 31,2 37,5 3,1 G Diversificação das exportações 3,1 3,1 15,6 37,5 40,6 H Atracção do investimento estrangeiro 18,7 15,6 59,3 6,2 12. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para

uma mudança da qualidade de vida da população são-tomense , os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Infra estruturas públicas (agua, luz, hospitais, etc.) 3,1 21,8 75 B Sistema educativo eficaz 3,1 3,1 28,1 56,2 9,3 C Controlo do paludismo 3,1 12,5 81,2 3,1 D Salários mais elevados 28,1 34,3 34,3 9,3 E Meio ambiente equilibrado 28,1 37,5 31,2 6,2 F Condições de habitação 18,7 34,3 40,6 6,2 G Alteração do comportamento leve-leve 9,3 18,7 25 43,7 3,1 H Oferta cultural (bibliotecas, cinemas, salas exposição, etc.) 3,1 9,3 37,5 40,6 9,3 III. Relações com STP

2. Com que regularidade vai a STP? A. Várias vezes por ano 3,1 B. Anualmente 12,5 C. Dois em dois anos 15,6 D. Raramente 56,2 E. Nunca 9,3

Nc 3,1

Page 165: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 8

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 3

3. Encara hipótese de um dia regressar definitivamente a STP? A. Sim 87,5 B. Não 12,5

4. Se respondeu b na pergunta 14, indique porque razão (assinale 1 ou 2 respostas):

Motivos profissionais Motivos familiares 25 Ausência de qualidade de vida em STP 50 Desilusão Desinteresse Outro (especifique)·

5. Se respondeu a na pergunta 14, indique quando pensa poder regressar: A. A breve prazo B. A médio prazo 32,1 C. A longo prazo 39,2 D. Depois da reforma 21,4 E. Não sabe 10,7

6. No caso de ter respondido a, b, ou c na pergunta 16 indique se enfrenta alguns destes problemas para concretizar

esse regresso: A. Motivos familiares 25 B. Motivos profissionais 20 C. Falta de confiança no futuro de STP 30 D. Ausência de meios económicos 40 E. Outro (especificar)

7. Costuma contactar regularmente com outros são-tomenses a residir em Portugal?

A. Sim 90,6 B. Não 9,3

8. Se respondeu a, especifique que tipos de contacto:

A. Familiares 75,8 B. De vizinhança 10,3 C. De amizade 72,4 D. Associações 37,9 E. Outro (especifique) …

9. Considera a hipótese de colaborar em actividades que envolvam os são-tomenses? A. Sim 96,8 B. Não 3,1 C. Não sei

(se respondeu a passar à pergunta 21; se respondeu b passar à pergunta 24)

10. Se respondeu a na questão anterior, especifique (pode assinalar uma ou as duas hipóteses) A. Comunidade são-tomense em Portugal 93,5 B. Iniciativas que decorram em STP 45,1

11. Se respondeu a na pergunta 21, especifique (pode assinalar uma o várias hipóteses)

A. Manifestações culturais são-tomenses 55,1 B. Associações são-tomenses 72,4 C. Organizações de debates e encontros 89,6 D. Apoio jurídico 6,8 E. Outro (especifique)

Page 166: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 8

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 4

12. Se respondeu b na pergunta 21, indique a área: A. Turismo 14,2 B. Comércio 14,2 C. Actividades liberais 35,7 D. Ensino 71,4 E. Organizações de debates e encontros 35,7 F. Outro (especifique) 7,1 passeios

13. Se respondeu b na questão 20, explique porquê:

Page 167: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 9

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 1

Anexo 9: Inquérito com os estudantes são-tomenses Realizados em Janeiro - Fevereiro, 2001, em Portugal. Resultados em percentagens. Desenvolvimento humano de São Tomé e Príncipe: Participação dos quadros e estudantes residentes em Portugal I – dados do entrevistado 1. Sexo (assinalar com um x)

A. Masculino 60,7 B. Feminino 39,2

2. Idade A. Menos de 30 anos 78,5 B. Entre 31 e 40 anos 14,2 C. Entre 41 e 50 anos D. Mais de 50 anos

Nc 7,1 3. Habilitações

A Bacharelato b. Licenciatura

C Mestrado D. Doutoramento E. Outro (especificar)

4. Profissão principal

A. Empresário (especificar) B. Empregado público (especificar) C. Empregado em empresa privada (especificar)

5. Há quanto tempo reside em Portugal?

A. Menos de 5 anos 53,5 B. Entre 5 e 10 anos 21,4 C. Entre 11 e 25 anos 25 D. Mais de 25 anos

6. Estado civil

A. Solteiro 82,1 B. Casado 7,1 C. União de facto D. Outro – nc - 10,7

7. Se respondeu b, c ou d na questão anterior, especifique a nacionalidade de seu cônjuge

A. Portuguesa B. São-tomense 100 C. C. Outra

II. Aspirações para STP 8. Quais destes agentes pensa que terão um papel mais relevante no futuro de STP? (assinale três opções)

A. Empresários são-tomenses 39,2 B. Governo 53,5 C. Cidadãos em geral 67,8 D. Investidores estrangeiros 35,7 E. Presidente da república 7,1 F. Cooperação internacional 42,8

Page 168: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 9

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 2

G. São-tomenses residentes no estrangeiro 7,1 H. Outros (especificar)

9. Considera que melhorar a actual situação económica e social de São Tomé e príncipe é uma tarefa (assinalar apenas uma resposta) A. Muito difícil 28,5 B. Difícil 57,1 C. Fácil 10,7 D. Impossível

Nc 3,5

10. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para o futuro de STP, os seguintes factores:

1 2 3 4 5 Nc A Reorganização do aparelho do estado 3,5 10,7 28,5 17,8 35,7 3,5 B Estabilidade política 3,5 3,5 17,8 32,1 32,1 10,7 C Honestidade no exercício dos cargos públicos 3,5 17,8 67,8 10,7 D Reforço da autoridade do estado 7,1 17,8 39,2 7,1 17,8 10,7 E Confiança nas instituições públicas 10,7 3,5 21,4 32,1 25 7,1 F Reforço dos poderes do presidente 32,1 17,8 21,4 3,5 10,7 14,2 G Promoção do diálogo e concertação social 3,5 14,2 42,8 28,5 10,7 H Revisão da constituição 21,4 17,8 32,1 10,7 14,2 3,5 11. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto à sua importância para o

futuro de STP, os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Desenvolvimento do turismo 3,5 14,2 25 53,5 3,5 B Redução da divida externa 7,1 21,4 17,8 42,8 10,7 C Criação de um sector empresarial forte 3,5 21,4 28,5 39,2 14,2 D Aumento da cooperação internacional 3,5 32,1 42,8 17,8 10,7 E Poupanças dos emigrantes 3,5 10,7 35,7 32,1 7,1 10,7 F Exploração do petróleo 14,2 17,8 25 39,2 10,7 G Diversificação das exportações 3,5 7,1 10,7 21,4 50 7,1 H Atracção do investimento estrangeiro 17,8 25 46,4 10,7 12. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 corresponde ao mínimo e 5 ao máximo) classifique, quanto a sua importância para

uma mudança da qualidade de vida da população são-tomense , os seguintes factores: 1 2 3 4 5 Nc A Infraestruturas públicas (agua, luz, hospitais, etc.) 3,5 3,5 7,1 78,5 7,1 B Sistema educativo eficaz 3,5 32,1 60,7 3,5 C Controlo do paludismo 3,5 3,5 3,5 35,7 75 7,1 D Salarios mais elevados 17,8 32,1 39,2 10,7 E Meio ambiente equilibrado 10,7 7,1 35,7 35,7 10,7 F Condições de habitação 3,5 7,1 28,5 57,1 10,7 G Alteração do comportamento leve-leve 3,5 3,5 3,5 21,4 50 17,8 H Oferta cultural (bibliotecas, cinemas, salas exposição, etc.) 3,5 17,8 25 42,8 7,1 III. Relações com STP

2. Com que regularidade vai a STP? A. Várias vezes por ano 3,5 B. Anualmente 7,1 C. Dois em dois anos 10,7 D. Raramente 32,1 E. Nunca 39,2

Page 169: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 9

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 3

3. Encara hipótese de um dia regressar definitivamente a STP? A. Sim 85,7 B. Não 7,1

Nc 7,1

4. Se respondeu b na pergunta 14, indique porque razão (assinale 1 ou 2 respostas): Motivos profissionais 50 Motivos familiares 50 Ausência de qualidade de vida em STP 50 Desilusão 50 Desinteresse Outro (especifique) 50 falta de dinheiro

5. Se respondeu a na pergunta 14, indique quando pensa poder regressar: A. A breve prazo 8,3 B. A medio prazo 33,3 C. A longo prazo 16,6 D. Depois da reforma E. Não sabe 37,5

6. No caso de ter respondido a, b, ou c na pergunta 16 indique se enfrenta alguns destes problemas para concretizar

esse regresso: A. Motivos familiares 14,2 B. Motivos profissionais 35,7 C. Falta de confiança no futuro de STP 42,8 D. Ausência de meios económicos 35,7 E. Outro (especificar) 7,1 fim de formação

7. Costuma contactar regularmente com outros são-tomenses a residir em Portugal?

A. Sim 92,8 B. Não

Nc 7,1

8. Se respondeu a, especifique que tipos de contacto: A. Familiares 76,9 B. De vizinhança 23 C. De amizade 92,3 D. Associações 26,9 E. Outro (especifique) 7,6

9. Considera a hipótese de colaborar em actividades que envolvam os são-tomenses? A. Sim 85,7 B. Não 3,5 C. Não sei

Nc 10,7 (se respondeu a passar à pergunta 21; se respondeu b passar à pergunta 24)

10. Se respondeu a na questão anterior, especifique (pode assinalar uma ou as duas hipóteses)

A. Comunidade são-tomense em Portugal 100 B. Iniciativas que decorram em STP 58,3

11. Se respondeu a na pergunta 21, especifique (pode assinalar uma o várias hipóteses)

A. Manifestações culturais são-tomenses 62,5 B. Associações são-tomenses 62,5 C. Organizações de debates e encontros 50 D. Apoio jurídico 25 E. Outro (especifique) 4,1 economia

Page 170: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano

Anexo 9

Relatório do Desenvolvimento Humano STP 4

12. Se respondeu b na pergunta 21, indique a área: A. Turismo 85,7 B. Comércio 42,8 C. Actividades liberais 42,8 D. Ensino 64,2 E. Organizações de debates e encontros 50 F. Outro (especifique) 28,5

13. Se respondeu b na questão 20, explique porquê:

Page 171: São Tomé e Príncipe - Relatório de desenvolvimento humano