12 poetas de são tomé e príncipe

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Coletânea de poesia de 12 poetas de São Tomé e Príncipe editada em comemoração dos 40 anos de Independência de São Tomé e Príncipe em 12 de julho de 2015 no IPJ em Moscavide, Lisboa, Portugal. Com poemas de Angela Barros Cardoso, Cláudio da Silva Almeida, Edgar Faustino, Emil Veloso, Humbah Aguiar, Ivys Martinho, Lord Strike, Lucy Amado, Ludger Carvalho, Mário Lopes, Orlando Piedade e Rither Tavares Formato: A5 Nº de páginas: 28 Acabamento original: Capa com aplicação de fibra de tronco de bananeira, miolo em papel reciclado, costura com cordão Tiragem original: 110 exemplares numerados

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12 POETASDE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

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Edição:

Blogue: http://afrofanzine.blogspot.ptE-mail: [email protected]

Copyright © AfroFanzine / Autores

Capa com aplicação de fibra de tronco de bananeirae miolo em papel reciclado

Fizeram-se 110 exemplares numerados em Julho de 2015

Editado em Portugal

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Humbah Aguiar

Nasceu em S. Tomé e viveu parte da sua infância em Angola (Luanda). Depoister concluído o 11.º ano do pré-universitário no Liceu Nacional de S. Tomé ePríncipe, onde também foi professor de Geografia, foi para Portugal completar osestudos. Em Aveiro completou o 12.º ano e em Lisboa frequentou o curso de Direito da Universidade Moderna de Lisboa.Escreve artigos de críticas sociopolíticas dirigidas à sociedade são-tomense.Tem dois livros publicados: «Morre Um Pedaço de Mim poemas de Dr. Gaivota»(poesia) e «Na luta pelo poder» (romance).Está a fazer o curso de Direito na Leeds Beckett Univesity.

Na Ponte de Água Grande

Na Ponte de Água GrandeManel espera Rosinha

Uma rosa escondida,um papel na mão.O coração que batia...E na boca, uma poesia.

Na Ponte de Água GrandeManel espera Rosinha

Que sai da catequesesorrindo p’ra si.Saia mini-saia,blusa da cor da saiaManel sorri p’ra elaManel a interpela.

Na Ponte de Água GrandeToda a gente olha...Manel está suadoe fala muito alto.Manel ama Rosinhae quer casar com ela.

Na Ponte de Água GrandeSeu poema revelou,do seu amor falou.

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Rosinha sorrindo chorou,e seu Manel abraçou.

Na Ponte de Água Grande

Sem manhas,gente bateu palmas.Na missa da manhã,Padre Leonel fez salvas.A Ponte de Água Grande,viu Manel casar com Rosinha

Gente emocionada assistiu,todo o mundo felicitou.Assim foi no beijo do rio com o mar,onde as flores os quiseram abençoar

Que a Ponte de Água GrandeMais uma vez,Feliz ficou.

Aos namorados que dão ou davam, à Ponte de Água Grande, em frente à igreja, todo o seu encanto.

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O meu sonho!

Todos temos um sonho nesta vidaDe olhos fechados imagino Sentada numa cadeira, atarefadaCom a cabeça flutuante

Sinto a minha alma a distanciar-se do meu corpoOlho para o relógio, as horas estão a passar Tenho pouco tempo para sair daí

A seguir mergulho no mundo dos tecidosQuero saber qual é o mais delicadoQue mostre e valorize o corpo de uma mulher

A máquina parece conversar comigoA agulha e a linha se unem num sóDando cor e vida ao meu sonho

Quando dou por mim estou na passarelaRecebendo aplausos Sonhar é bom, difícil é chegar lá.

Ivys Martinho (pseudónimo de Áurea Carvalho Martinho)

Nasceu na cidade capital de S.Tomé e Príncipe em Chácara, em 1992. Formadaem Turismo pela escola profissional de Pombal (ETAP) em Portugal.Vive actualmente em Almada.E-mail: [email protected]

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Ludger Carvalho

Nasceu no distrito de Lobato, há 28 anos, e reside actualmente no Seixal, emPortugal. Em 2007 viajou para Portugal e fez uma formação na Escola Tecnológica,Artística e Profissional de Pombal que terminou em 2010. Actualmente é estudante do curso de Gestão de Empresas na Universidade de Lusófona em Lisboa.Lançou, em 2015, o seu primeiro livro de poesia «A Minha Palavra».Contactos: http://lc-aminhapalavra.blogspot.pthttps://www.facebook.com/ludger.carvalho

O Inverso

A luz do dia que não amanhece,Aumenta o stress!A água do rio que não corre,A morte dos peixes!

Não consigo enxergar...Será dia ou noite?Estarei eu a dormir?Serei um sonâmbulo?

O vento de outono que não se faz!As folhas secas que não caem!Árvores plantadas que pairam no ar!As palavras que saem de uma boca fechada!Estarei a contradizer algo que não se diz?

A boca beijada de uma mulher não apaixonada!O coração que bate por um amor não correspondido!Um amor que se vive de dia,E à noite é esquecido!

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Lucy Amado

Nasceu em São Tomé em 1993. Fez os estudos primários na Escola de Oquê-Del-Rei e secundários na Escola Preparatória Patrice Lumumba e no LiceuNacional.Em 2010, após concluir o 11.º ano, matriculou-se no curso de Licenciatura emTurismo na actual Universidade São Tomé e Príncipe (Ex ISP) onde se encontra aconcluir os estudos.É secretária da Rádio Jubilar, Emissora Católica de São Tomé e Príncipe, desde 2012.

O Norte

O Norte, cheio de histórias e de contosAlegres e tristes Histórias de pessoas que existiram ou nãoMitos e lendas do norte.

Na vila de Santo Amaro San Lukessa, a mais linda mulher da vilaQuando estava no rio a pegar camarãoFoi levada pelo ximidó.

Mais ao Norte Fernão Dias e Agostinho NetoComunidades cheias de históriasMas esquecidas e degradadas No meio do verde mas sem esperança.

Mais um pouco ao Norte Guadalupe e Neves Duas cidades desflorestadasOnde a agricultura cedeu o seu lugar ao carvão.

No Norte, bem ao NorteÉ a indústria que orienta as pessoasEmbora a pesca ainda exista.

Também foi no NorteOnde tudo começouJoão de Santarém e Pêro Escobar No dia 21 de Dezembro de 1470 desembarcaram no Norte.

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Oh, Anambó esquecida Com a marca de PortugalSabias que foste a porta de entradaPara o povo que estava à procura de riquezas?

Norte, não tens falta de nada,Tens tudo para dar e venderSó tens que dizer às pessoas Para não te destruírem.

Diz às crianças que te valorizem Diz aos teus doutoresPara não se esquecerem de ti.

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Bandos?

Eu? Eu não me deixo levarPelas palavras e acontecimentosDo Mundo triste e doentioQue diz que triste e doentioSou eu e os meus pensamentos.Gentes que desconhecem o comprimentoDos seus próprios “pavios”, Córtex cerebral insólito e vadio.

Eu não me preocupo com a ignorância Pacóvia desta sociedade antissocialCheia de doentes disfarçados de médicosMas que choram calados para não…Para não mostrarem as suas lágrimasEnsanguentadas, que floram e dãoFalsas pulsações aos seus corações.

Eu não preciso ser antissocialPara ser aceite nesta sociedadeQue açoita os seusPara ver felizes os de outrém. Não preciso vender a minha almaPra espelhar o meu ínclito pensamento,Muito menos terceirizar comportamentosE emoções para carimbar a minha (in)existência.Tenham Santa Paciência! Eu não preciso deixar de ser gentePara ser reconhecido e aceite

Cláudio da Silva Almeida (pseudónimo)

Nasceu em 1989 na Cidade de São Tomé. Em 2009 emigrou para Portugal ondetirou o curso profissional de Técnico de Serviços Jurídicos e o Curso de Especialização na área de Técnico de Logística. Reside actualmente na Brandoa(Amadora) e é operador de armazém numa empresa de Logística. Foi um dosmembros fundadores da Associação de Estudantes Santomenses Residentes naFigueira da Foz. É escritor, poeta, cantor e compositor. Foi premiado em váriosconcursos de poesia em S. Tomé e Príncipe e em Portugal. Classifica os seus poemas como «psicossociófilosóficos». E-mail: [email protected]

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Como gente, enquanto genteQue sou…Demência!

Muito menos careço da vossa compreensão.Obrigado mas, dispenso a vossa opinião!Eu vivo como sei e não…e não…E não como querem ou me requerem.Não preciso fingir -me surdoPra encobrir que sou tísico.Não preciso e não preciso.

Eu? Estou num outro nívelMeu cérebro alimenta-se do nadaE os meus pensamentos São os meus combustíveis.

Bandos de hipócritas e doentes!Bandos de idiotas e inconsequentes!Bandos de minhocas e serpentes!Bandos de polvos disfarçado de gente!

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Emil Veloso

Nasceu em 1989 na cidade de S. Tomé e viajou para Portugal em 2007 para estudar. Tirou o curso profissional de Técnico de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos na Escola Profissional Beira-Aguieira (Mortágua - Viseu) eencontra-se actualmente no 4.º ano do Mestrado Integrado em Eng.ª Informáticana FCT/UNL (Torre de Caparica - Setúbal).Em 2009, cinco poemas seus foram incluídos numa antologia de poesia dosalunos de Mortágua.E-mail: [email protected]

Alegoria da caverna (séc. XXI)

Porque teimais em invadir-me o cogitar Persuadir o meu ser sossegadoDe gosto impuramente salgadoLábio secamente triste e caladoDe dormente coração solitário sem amar?

Deixai-me nesta caverna onde me tornei seco Idolatrei sentido e constantemente pecoNo sentimento ao longo desenvolvido.

Peço-vos, deixai-me aqui, temo o sol,O mundo, as pessoas, todas cruéis, Que se tornaram egoístas pelo mar ser a fonte do sal E pela vida ter preço, fonte do mal, e elas infiéis.

Quero ser o homem da caverna. E não o homem de fora que vive dentro.

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Edgar Faustino

Nasceu no meio do mundo na capital da paradisíaca ilha de São Tomé em 1947. Não terminou o Curso Complementar dos Liceus e deixou a sua terra natal parafazer o serviço militar obrigatório na província de Angola.O gosto pela poesia, que começou no fim da década de sessenta, tem um percurso que chega aos nossos dias. As vivências da violência da guerra colonial,a adaptação a uma nova sociedade em Angola e, mais tarde, em Portugal, depoisda década de oitenta, são a sua principal musa.Tem uma edição de autor de poemas seus.E-mail: [email protected]

O meu sangue

Nas minhas veias correm remotas misturas Dum sangue branco europeu, no além-mar, perdido Que já sabia seu destino e o mar cruzou E um sangue negro, forçado, com mil torturas, Escravo, do além-mar africano trazido Que São Tomé, minha terra-mãe, misturou.

A cor de minha pele, uma sombra mescladaNo seu todo, com matizes brancas e negrasQue tantas dores me causaram, sem remédio,Ao orgulho desta minha raça forjada No rude tronco da sanzala, onde as regrasDo chicote, ao pobre escravo, fazia assédio.

Meu sangue e minha pele, dois singelos laçosEntrelaçados, com magia, fortemente.Enquanto um deles vinha sempre acorrentadoO outro, à chegada, tinha fortes abraços.Um, o escravo acorrentado, nem era genteO outro, com outros valores era tratado.

De mim, duas entidades tão diferentes.Numa, gemidos e profundas cicatrizesDeixadas pela força do rude chicoteQue a outra infligia cerrando os seus dentes.Eu, dois distintos valores, duas raízes,Amores impossíveis, nasci seu filhote.

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Tenho orgulho desta marca assim deixadaPelo amor dos que foram meus antepassados.As marcas do meu corpo não me causam danoMas tenho muito orgulho na coisa herdada,De todos meus antepassados libertadosE mesmo daqueles do além-mar lusitano.

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Angela Barros Cardoso

Natural de São Tomé e Príncipe, nasceu em 1965.Reside no Luxemburgo.E-mail: [email protected]

O platónico medo de te perderÉ a platonidade de te verDe te querer De te abraçar O medo de errar é o erro do futuroNem sempre a prevençāo é a chaveAs chaves sāo diferenciadas Nāo abrem as mesmas portas.

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Mário Lopes

Nasceu em São Tomé e vive em Portugal. Pertenceu à União Literária, Artística e Juvenil (Ulaje - Clube Unesco) e ao Movimento de Ação dos Jovens da ASPF (Associação Santomense para a Promoção Familiar). Foi embaixador de São Tomé e Príncipe na Social Intelligence Platform (EUA) e Curador da Rádio “Somos Todos Primos”. Foi co-fundador do STP Digital (Agência de Informação e Comunicação Social) eé orador convidado em conferências e congressos. Foi vencedor, na categoria de poesia, no Concurso Literário “Escrever em Português” 2008/2009, em S. Tomé e Príncipe.Escreve regularmente para vários jornais nacionais e internacionais. E-mail: [email protected]

Saudade

A febre da minha dor É testemunha do meu pranto,Das lágrimas que livremente cantam em coroas saudades deixadas por ti.E o silêncio que hoje apregoa o tormentonada mais é, do que doces lembranças salpicadas na alma!

E assim me invade a existência incipientedos tempos de outrora, de um ser que do amor, já não é crente.Hoje, resta a penumbra da vida que tange em luto,uma esperança, incerteza do medo de quem senteque quando se ama, a saudade não é figura ausente!

Gritam os sábios no seu silêncio calado,que a saudade enriquece o fulgor da presença, mas abomino a saudade.Abomino a ideia que a esperançaviva às nossas custas, dos nossos prantos para progredir na suaidade.

Não seríamos mais felizes,sem a esperança e a saudade no incauto das nossas vidas?

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Rither Tavares (pseudónimo de Ridelgil de Carvalho Tavares)

Nasceu em 1991 em Queluz - S. Tomé. Concluiu os estudos secundários no LiceuNacional de S. Tomé e Príncipe e licenciou-se em Direito na Universidade Lusíadade S. Tomé e Príncipe.Actualmente é aluno de Mestrado em Direito, na área das Ciências Jurídico-empresariais, na Universidade Lusíada de Lisboa e vive na Amora.E-mail: [email protected]

Rainha da nossa pátria

Alda do Espírito Santo,Em trinta de Abril de mil novecentos e vinte e seis Chegou ao mundo,E hoje muito próxima de festejarOitenta e um anos de vida,Hoje está nos nossos corações E é a nossa alegria.

Corajosa e forte mulher,Com orgulho de ser são-tomense,Viveu momentos difíceis,Sofreu pela nossa liberdade,Mulher sem limites,Lutou com princípio e vontade.

Lutou com fortes garras pelo seu país,Tentando manter a nossa raiz,Ela é na verdade uma santa,Que veio ao mundoComo são-tomense de origem,Para defender a nossa pátriaE mostrar a grandeza do seu amorPor um povo desesperado de dor.

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Orlando Piedade

Nasceu em São Tomé em 1974. É Mestre em Engenharia Informática pelo ISCTE– Instituto Universitário de Lisboa e Licenciado em Informática de Gestão pelaUniversidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Desenvolve a sua actividade profissional em Sistemas de Informação. É autor dos romances «O Amor Proibido» (2011) e «Os Meninos Judeus Desterrados» (2014), ambos sobre a História de São Tomé e Príncipe.E-mail: [email protected]

Solidão feiticeira

De repente vejo as teias do afeto desatarem-seOlho-me ao espelho e os sinais do tempo vincadosPor dentro, a primitiva conclusãoO tempo levou a minha alma Instalou-se a solidãoPasso a ser sombra de mim mesmaProcuro no limite a razão para a solidão que me esmaga o peitoFaz-se nuvem e tudo é estranhoTodos partiram Já não tenho visitasDe todo o lado olhares assombrososNão há glória quando a solidão vence

Afinal estou sozinha porque danço nas chamas da fogueiraPorque subo o ocá de costas ao meio da noiteCoisas que nem sabia Poderes que não conhecia Então o meu olhar mata O meu olhar contamina É assim que olham para mimÉ o que pensam de mim

Já nem sei quem são os meus carrascosSe eu própria ou o tempoEu que dei à luz e moldei o homemO tempo que vinca em mim o seu sinalO tempo que levou as minhas faculdadesInsatisfeito vai ainda levandoTudo o que era próximo fez-se distante

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Dança nas chamas da fogueiraMeia-noite Caminho-cruzMeio-dia Aba d’ocaDefuntosAlma TrevasMaus espíritosUma criança enfermaTorcicolo Um vizinho próspero que desviveu

Chá de kundu-di-mwala-ve São CiprianoUm pacto com o demónio Ovo7 velasGalinha preta Sangue Caveiras… Chama navio!É ela, a velha vizinha feiticeiraChá de pelo púbico

Mas que raio de feiticeira souSe nem força para cuidar de mim tenhoSe não sou capaz de fazer um feitiço que me devolva o pingo dedignidade

Se não encarcero a solidão que julga ser dona do meu peitoSe não trago os sussurros dos meus netos para afugentar a solidãoSe não tenho pão Se não tenho águaSe vegeto no vão da escada por falta de força?

Afinal sou uma velha pobre e abandonada Pobreza fatal que é defeito e faz de mim uma feiticeira Uma feiticeira sem varinha nem vassoura Que país o meuQue gente a minha que não reconhece sua gente de outros tempos.

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Lord Strike (Ermelindo Quaresma)

Nasceu em Conceição, São Tomé, em 1972. Aos nove anos emigrou para Angolaonde teve o seu primeiro contacto com a cultura Hip-Hop. Em 1991 partiu paraPortugal. Gravou o seu primeiro vídeo-clip com o rapper Thugs e participou, em2005, no álbum de rap “Putos Qui a Ta Cria”. Participou em vários intercâmbios internacionais de Hip-Hop. Através da Associação Cultural Moinho da Juventude, onde trabalha, participou em váriosálbuns como rapper e director de produção. Em 2012 apresentou o seu primeirotrabalho a solo “Negritude”.E-mail: [email protected]

Ei-los aqui…

Ei-los aqui, nascidos e criados, Neste clima de rejeiçãoVivem no limiar da pobrezaVítimas da segregação

Na street, os putos fazem auto-educaçãoEscolhem a sua própria formatação

A televisão é uma escola Com direito ao zapping No teatro da vidaEntram sem casting

Há uma linha ténue, Entre ser marginalOu ser um cidadão exemplar

Escolas são hardwares obsoletosOs putos são como softwares Com requisitos dual core

São muitos putos, andam em gruposComo pack de cervejas SagresUns são 6, outros são 12

Um bom telelé, grife de marcaSó querem viver o imediatoO futuro é uma mentiraO passado não lhes diz respeito

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São como barcos à deriva No alto marSem terra à vista Pr’a alcançar

O momento é delicado, As pessoas, o mundo, estão perturbadasSonhar é o que lhes resta, Neste mundo desajustado, Desequilibrado

Ei-los aqui, Vestidos a rigor urbano,O que dizem, o que fazem, Para muitos é profanoEi-los aqui, Potenciais consumidores Do mercado sem escrúpulo, Autênticos saqueadores

Teenager em pausaSem propósito, sem causa

Múltiplas culturasConfundem as suas posturas

Ei-los aqui, mentes brilhantesPerdidos no tempoCarregam consigoDiscursos violentos

Sedentos pela liberdadeQue Abril levouDeambulando nas periferiasDa globalização que chegou

Jovens criançasAdultos prematurosEi-los aqui rumo ao futuro

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Humbah Aguiar............................................................................................................3

Ivys Martinho................................................................................................................5

Ludger Carvalho...........................................................................................................7

Lucy Amado...................................................................................................................9

Cláudio da Silva Almeida .......................................................................................11

Emil Veloso .................................................................................................................13

Edgar Faustino ...........................................................................................................15

Angela Barros Cardoso ...........................................................................................17

Mário Lopes ................................................................................................................19

Ridelgil de Carvalho Tavares.................................................................................21

Orlando Piedade .......................................................................................................23

Lord Strike ...................................................................................................................25

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Edições AfroFanzine:

«Nhu Manel Mentiroso»Horácio Santos (Lalaxu)

Cabo VerdeConto

«ParadoXos»Heduardo Kiesse

AngolaPoesia Visual

«ser ou não ser»May Ayim

Gana/AlemanhaPoesia

«A Kindumba da A.N.A.»ChiquinhaAngola

Banda Desenhada

«12 Poetas de São Tomé e Príncipe»12 autores

São Tomé e PríncipePoesia

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