sa_jornal online 517 _história

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www.semanario-angolense.com SÁBADO 01 DE JUNHO DE 2013 Kz 250,00 EDIÇÃO 517 ANO VII [email protected] DIRECTOR SALAS NETO TEMPO máx min SÁB 28 °C 17 °C DOM 28 °C 18°C SEG 28°C 18 °C TER 30°C 17 °C QUA 26°C 18°C QUI 29°C 17°C SEX 26°C 22°C ARTUR ADRIANO ESTRANHO, NÊ? A distinção que ficou por se fazer «Capitão» Manucho excluído Página 6 Páginas 43 BATALHA DE KIFANGONDO ISAAC DOS ANJOS, SEM PAPAS NA LÍNGUA «O MPLA tem de definir a sua linha ideológica...» JANGO DA VERDADE O «27 de Maio» numa visão diferente Memórias puras de quem lá esteve Já se passou tempo mais que suficiente para que os passivos desta tragédia fossem superados, na esteira do que o próprio MPLA «orientara» às autori- dades estatais em 2002. Mas, ao que se sabe, nada de jeito foi feito desde então, no sentido de se exorcisarem os fantasmas que o «27 Maio» provocou entre os envolvidos e/ou seus descendentes, com consequências graves para o País. E isto só será possível se o assunto for «dissecado» sem complexos nem recriminações. Num «jango da verdade»...

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Page 1: SA_Jornal Online 517 _história

www.semanario-angolense.com SÁBADO  •  01 de Junho de 2013

Kz 250,00EDIÇÃO 517 ANO VII

[email protected]

DIRECTOR

SALAS NETO

TEMPO máx min

SÁB 28 °C 17 °C

DOM 28 °C 18°C

SEG 28°C 18 °C

TER 30°C 17 °C

QUA 26°C 18°C

QUI 29°C 17°C

SEX 26°C 22°C

ARTUR ADRIANO

ESTRANHO, NÊ?

A distinçãoque ficoupor se fazer

«Capitão»Manucho excluído

Página 6

• Páginas 43

BATALHA DE KIFANGONDO ISAAC DOS ANJOS, SEM PAPAS NA LÍNGUA

«O MPLA tem de definira sua linha ideológica...»

JANGO DA VERDADEO «27 de Maio» numa visão diferente

Memórias purasde quem lá esteve

Já se passou tempo mais que suficiente para que os passivos desta tragédia fossem superados, na esteira do que o próprio MPLA «orientara» às autori-dades estatais em 2002. Mas, ao que se sabe, nada de jeito foi feito desde

então, no sentido de se exorcisarem os fantasmas que o «27 Maio» provocou entre os envolvidos e/ou seus descendentes, com consequências graves

para o País. E isto só será possível se o assunto for «dissecado» sem complexos nem recriminações. Num «jango da verdade»...

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2 Sábado, 01 de Junho de 2013.

em Foco

Director: Salas Neto Editores — Editor Chefe: Ilídio Manuel; Economia: Nelson Talapaxi Samuel

Sociedade: Pascoal Mukuna; Desporto: Paulo Possas; Cultura: Salas Neto; Grande Repórter: joaquim AlvesRedacção: Rui Albino, Baldino Miranda, Adriano de Sousa, Teresa Dias, Romão Brandão, e Edgar Nimi

Colaboradores Permanentes: Sousa Jamba, Kanzala Filho, Kajim-Bangala, António Venâncio,Celso Malavoloneke, Tazuary Nkeita, Makiadi, Inocência Mata, e António dos Santos «Kidá»

Correspondentes: Nelson Sul D’Angola (Benguela) e Laurentino Martins (Namibe).Paginação e Design: Sónia Júnior (Chefe), Patrick Ferreira, Carlos Inácio Fotografia: Nunes Ambriz e Hélder Simões

Impressão: Lito Tipo Secretário de Redacção: Dominigos Júnior

Adminstracção: Marta PisaterraAntónio Feliciano de Castilho n.o 119 A • Luanda

Registro MCS337/B/03 Contribuinte n.o 0.168.147.00-9Propriedade: Media Investe, SA. República de Angola

Direcção: [email protected]; Edição: ediçã[email protected];Política: [email protected]; Economia: [email protected];Sociedade: [email protected]; Cultura: [email protected];

Desporto: desporto@@semanario-angolense.com; Redacção: [email protected];Administracção e Vendas: [email protected];

Publicidade e Marketing: [email protected]; sítio: www.semanario-angolense.com

As opiniões expressas pelos colunistas e colaboradores do SA não engajam o Jornal.

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30JÁ HÁ GÁSDepoisde25diasdeparalisação,devidoaum

incêndio,motivadoporumaavariatécnicanumabombahidráulica,afábricadaSonangolencarre-guedoenchimentodasbotijasdegásdecozinhaestánovamente em funcionamento.Acabamas-simaslongasfilasparaaquisiçãodogás.

DOENTES ASSISTIDOS?Cerca de 114mil pessoas comVIH/Sida

estãoaseracompanhadaspelasautoridadessanitárias do país, num universo de apro-ximadamente duzentos mil portadores, deacordo com dados oficiais. Porém, destenúmeroapenascerca55miltêmaderidoaotratamentoanti-retroviral.

SÓ OITAVOS-DE-FINALNodizer dodirectorNacional dosDespor-

tosdeMoçambique,InácioBernardo,emborahajacondiçõesparasurpreender,aselecçãodeAngola de hóquei empatins não passará dosoitavos-de-final.AngolaestánogrupoC,comPortugal,ÁfricadoSuleChile.Avervamos.

SELECÇÃO SEM MANUCHOJá se conhecem os jogadores seleccionados

paraojogoentreAngolaeoSenegal.Porém,aausênciadeManuchoGonçalveséodestaquenaconvocatória.Apartidaaconteceránodia8deJunho,noestádio11deNovembro.AsnovidadessãoKibechaeLibengue,ambosdoKabuscorp.

BENFIQUISTAS OPTIMISTASOempate frenteaoASAmantémoBenfica

deLuandaentreosúltimosdoGirabola.Aindaassim, o técnico adjunto da formação «encar-nada»perspectivamelhoriasnasegundavoltadaprova.«Atrabalharparamelhorar,osresul-tados»sãoaspalavrasdeordem.

KABUSCORP NA FRENTEOKabuscorpdoPalancaderrotou,nestedia,

noestádioJoaquimMorais,por2-0,oAtléticodoNamibe.Comessavitória,oclubedeBentoKangambatorna-secadavezmaislíderdoGi-rabola,agoracomtrintaetrêspontos.MeyongeLoveCabungulaforamosmarcadores.

VEM AÍ O JARDIM BOTÂNICOHaverá em breve (ou não) um jardim botâ-

nico,noCampusUniversitáriosdaUAN.Jáfoimesmoapresentadaamaquete.AdirectoradoCentrodeBotânicadaUAN,EsperançadaCos-ta,dissequeareferidainfraestruturavaialiarateoriaàpráticanasdisciplinasligadasàbiologia.

MEDICINA TRADICIONALNaregiãoSuldopaís,poderásurgirumhos-

pitaldedicadounicamenteàmedicinanatural.EsteéumdosprojectosdoFórumdeMedici-na,quejáestáàprocuradeumterrenoparaoefeito.OdirectorprovincialdaorganizaçãonaHuila,MiguelKatengue,équemgarantiu.

Num espaço temporalde quase dois meses,por duas ocasiões, oPresidentedaRepúbli-

ca,JoséEduardodosSantos,dei-xou o aconchego do seu PaláciodeChefedeEstado,despiu-sedosfatos, «arregaçou as mangas» efoielemesmoconstatarosfactos,quenormalmente lheencontramno seugabineteem formade re-latóriose,provavelmente,muitosfalatórios.

Primeiro:nodia9deAbril,DosSantosdispôs-seavisitaromaiormunicípio da província de Luan-da,oCazenga.Depoisde,nofim--de-semana anterior à visita, aschuvas terem castigado a capitaldopaís,oPRdeu-seaessetraba-lho com a finalidade de, oficial-mente,avaliarasobrasqueestãoaserrealizadasnaquelasbandas.

Segundo:recentemente,nodia23 de Maio, o Chefe de Estadodeslocou-se ao Bengo,onde,nasedeprovincial(Caxito),reuniu--se com os governantes locaisparasaberdobalançodasacçõesfeitasnaqueleredutodopaís,so-bretudo no que diz respeito aosplanoscontempladospeloOrça-mentoGeraldoEstado(OGE)de2013.

Pode ser que não, mas essasduas actividades, vistas «rustica-mente»delonge,despertamoen-tendimento para a prática da de-nominada«presidênciaaberta».OpróprioMPLA,partidonopoder,pormeiodo seu «site», consideradessa maneira essa última visitaqueoPresidenteDosSantosfezaoBengo.

A iniciativa da «presidênciaaberta», em Angola, não é umacoisa nova. Já passou por umperíodode «experiência», há al-gunsanos.Emboraospropósitosnão semostrassem tão exitosos,o plano propunha-se levar oChefe do Executivo a reunir-se

com o Conselho de Ministrosnascapitaisdasprovíncias.

Tudo leva a crer que, dessemodo,alémdoPresidentedaRe-pública tomar conhecimento darealidade de cada local, poderiatambém cobrar satisfações direc-tamente aos órgãos administrati-vos das regiões visitadas, quantoàimplementaçãodosprojectossu-periormentetraçados,aprovadosefinanciados.

Essa «pressão presidencial»,distante de pressupor qualquerdesvantagem, tem o seu quinhãodebenefícios,quenãoépouco,namedidaemquepermiteverificaracompetência dos governantes lo-caisnoexercíciodassuasfunções.

Além disso, num outro âmbi-to,politicamentesai fortalecidoobraçoexecutivodoPresidente,aomesmotempoquepodeficarnoarcertafraquezadosgovernoslocais,quantoàs suas responsabilidades,porquanto, no terreno, prevalecesempre o juízo de que as coisas«só» acontecem quando o ChefedeEstadoaparece.

Essa ideia ficou demostrada,maisumavez,napassagemdeJoséEduardodosSantospeloCazenga.AlgunsdiasantesdeoPresidentevisitaromercadoNovaLuzefazeroreconhecimentodasobrasdein-tervençãonazonadaLagoadeSãoPedro,nobairrodoHoji-Ya-Hen-da,eaveriguarasacçõesderequa-lificaçãodas5.ª,6.ªe7.ªavenidas,o «Zengá», como é conhecido nabocadopovo,passouporumari-gorosaarrumação.

Nas principais vias da região,as sucatas foram removidas; olixo, recolhido;e inclusiveaareiafoiapanhada.AsruasporondeoChefe de Estado iria passar fica-rammesmolimpas.Humanamen-temaisviáveis!

Masomesmonãosepodedi-zer,infelizmente,dorestantedasestradasinternasdessazona,que

éamaiorparte.Umalástimasu-burbanaesub-humana!

O Presidente reuniu-se como Conselho de Coordenação Es-tratégica para o OrdenamentoTerritorial e de DesenvolvimentoEconómico e Social de Luanda,noMarcoHistórico«4deFeverei-ro»,noCazenga.Analisouospro-blemasdacapital, assimcomoosprojectosaseremimplementados.Admitiu a existência de «gravesproblemas», sobretudo no domí-niodasinfraestruturasedosanea-mentobásico.

No encontro de balanço quepresidiu, emCaxito, com os go-vernantes do Bengo, o TitulardoPoderExecutivodecidiucriarumGrupodeTrabalhoparatra-tar dos embaraços financeirosdos projectos que constam doOGE2013,tendoemcontaasdi-ficuldades de ordem financeiraverificadas na sua execu¬ção naprovíncia. Além disso, Dos San-tos recomendou soluções paraosprojectosquenãoconstamdoOGE2013.

Com essas determinações, ba-seadasnaobservação«inloco»dopróprioJoséEduardodosSantos,a«presidênciaaberta»podeterres-surgidoedebomgrado,nummo-mento em que muitas acções doGoverno, no tocante às obras emcurso antes das últimas eleições,simplesmente estavam paralisa-das,paradesagradogeral.

A«presidênciaaberta»podeseruma injecçãodeânimonocorpocheio de «mangonha» de muitosgovernantes. Ou pode ser tam-bém a «injecção letal» capaz dedestituiresses«mangonheiros».Avidadopaísnospróximostemposdiráquepolíticaéessa.Atéláque-remos saber qual será o próximomunicípio ou província. É bomqueissosemantenhaemsegredo,seaintençãoé«fiscalizar»otraba-lhaqueestásendofeito.

Presidência aberta

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AF_Imprensa_JAngolense_285x395mm.pdf 1 14/05/13 01:00

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em Foco

4 Sábado, 01 de Junho de 2013.

Conselho de Ministros aprovou

Como fazer o OGE para 2014O Orçamento Geral do Estado para 2014 tem um Manual pronto para a sua elaboração. Além dele, as propostas sancionadas

pelo Conselho de Ministros foram sobre a oferta de energia eléctrica no Zaire e em Cabinda; a qualificação de servidores públicos e os seus salários; o Regulamento Sanitário Nacional; a Lei dos Direitos do Autor; e sobre aspectos da posição

de Angola no xadrez político internacional

As Instruções e o Ma-nualparaaElaboraçãodo Orçamento GeraldoEstado(OGE)2014

foiapropostademaiordestaqueentre as providências aprovadasna quarta-feira, 29 de Maio de2013,pela4ªSessãoOrdináriadoConselhodeMinistros(CM),quetevelugarnaSaladereuniõesdoPalácio Presidencial, na CidadeAlta,emLuanda.

Estesdocumentosautorizadospela reunião, que foi orientadapelo Presidente da República,José Eduardo dos Santos, «esta-belecemasregraseprocedimen-tos que devem ser observadosporcadaumadasunidadesorça-mentaisnoprocessodeprepara-çãodorespectivoOGE,

introduzindo melhorias nasnormasquepermitemarealiza-çãodeumaavaliaçãopermanen-tedasacçõesdoGoverno».

Assim diz o Comunicado deImprensa do Secretariado doConselho de Ministros, que di-vulgou as conclusões da referi-da Sessão. Além das melhoriasque devem permitir a observa-ção das acções governamentais,as Instruções e o Manuel paraa Elaboração do OGE 2014 re-comenda o« redireccionamentoem tempo útil da alocação dosrecursosparaasáreasconsidera-dasprioritárias, tendoemcontaasnecessidadesdaspopulaçõeseoProgramaNacionaldeDesen-volvimento».

Oferta de energia eléctrica

OConselhodeMinistrosapro-voutambémumcontratoparaareabilitaçãoeaexpansãodadis-tribuição de energia de baixa emédia tensão às zonas urbana esuburbanadacidadedeM’BanzaCongo.SegundooComunicado,ailuminaçãopúblicaearededeligaçõesdomiciliaresdevebene-ficiarcercade170milhabitantesdacapitaldaprovínciadoZaire.

Outros acordos que dizemrespeito a energia eléctrica fo-ram igualmente aprovados peloCM. Trata-se dos contratos quecontemplam o fornecimento emontagem de sete grupos ge-radores na cidade de Malange,a construção de subestações

de transformação e das linhasde transporte para a electrifi-cação das sedes municipais deLândana, do Dinge, de BucoZau e do Belize, em Cabinda.

Qualificação e salários

De acordo com o Comunica-do,umDecretoPresidencial so-breoperfildogestorderecursoshumanosnaFunçãoPública-di-ploma legal que visa assegurarum aperfeiçoamento constantedosquadrosedosservidorespú-blicos – foi ratificado pelo CM,tendo em conta o seuprogramade Modernização da Adminis-traçãodoEstado.

Neste domínio, o Conselhoassinou também um DecretoPresidencialqueregulaaforma-ção profissional dos titulares decargos de direcção e chefia doEstado, tanto na administraçãocentralcomonasadministraçõeslocais do Estado, incluindo osinstitutospúblicos.

Oprocedimentodemobilida-denaadministraçãopúblicame-receuigualmentearatificaçãode

um Título confirmativo. O do-cumento regula o procedimen-to administrativo a observar namobilidadedopessoalvinculadoao sector público administrati-vo, nomeadamente as situaçõesdedestacamento,transferênciaepermuta.

OCMdeucontinuidadeaoseuprogramadeajustamentodossa-láriosdafunçãopública,daspres-tações da Segurança Social, dosalário mínimo nacional, assimcomodaspensõesatribuídasaosantigos combatentes, deficientesde guerra e familiares de com-batentestombadosouperecidos.

Regulamento Sanitário

UmapropostadeLeiqueapro-vaoRegulamentoSanitárioNa-cional, do mesmo modo que asoutras sugestões, foi sancionadapelo CM, no âmbito do reforçodasmedidasdecontroloedevi-gilânciasanitáriaemtodooPaís.O Conselho de Ministros reco-mendouoenviodessapropostaàAssembleiaNacional.

ORegulamentoSanitárioNa-

cionaléumdocumentoauxiliardas autoridades sanitárias queestabeleceumconjuntodemedi-daseacçõesparaadefesaeapro-tecção da saúde pública, atravésda identificação e controlo per-manente dos factores de risco.

Lei dos Direitos do Autor

NodomíniodaCultura,oCMaprovou e remeteu à apreciaçãoda Assembleia Nacional, umapropostade«LeidosDireitosdoAutor eConexos».Estediplomaprevêafaculdadedetodoocria-dor,artista,intérprete,executan-te, produtor, organismos de rá-diodifusãoeentidadesdegestãocolectiva de obras intelectuaisdenaturezaliteráriaecientífica,usufruir de compensações mo-netárias decorrentes da utiliza-çãodassuasobrasporterceiros,bemcomoa faculdadeexclusivadeautorizarapossedessasobras,notodoouemparte,noslimitesetermosdalei.

O II Festival Nacional deCultura (Fenacult) deve rea-lizar-se no próximo ano, con-

forme aprovação do Conse-lho de Ministros. Contudo,está previsto que tenham lu-gar alguns eventos em 2013.

Política interna e externa

Noâmbitodoprocessodeade-quaçãodaorganizaçãoefuncio-namentodoExecutivoàsuanovaorgânica,oConselho ratificouarevisão dos EstatutosOrgânicosdo Ministério da Justiça e dosDireitosHumanos edoSecreta-riadodoConselhodeMinistros.Foi ainda objecto de revisão oEstatuto Orgânico do GuichéÚnicodeEmpresas.

Relativamenteàpolíticaexter-na,oCMapreciouoprojectodeResolução que aprova o AcordoQuadro para a Paz, Segurançae Cooperação para a Repúbli-ca Democrática do Congo e naRegião dos Grandes Lagos e oprojecto de Resolução sobre oAcordo Sede entre a RepúblicadeAngolaeaComissãodoGolfodaGuiné, tendorecomendadoaremissãodestesdiplomaslegaisàAssembleiaNacional.■

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em Foco

Sábado, 01 de Junho de 2013. 5

O Conselho Directivo da ADRAreuniu-se em sessão ordináriaaos 25 de Maio de 2013, numencontro em que analisou o

contextodopaísquantoaosefeitosdaseca,dinâmicasdasociedadeciviledagoverna-ção.

Na sua reunião de cúpula, fez ainda opontodesituaçãosobreaaquisiçãodoes-tatutodeutilidadepúblicaparaaADRA,aprovou a admissãodenovosmembros etomouconhecimentodasacçõeseproces-sosdosseusórgãosexecutivosedaparti-cipaçãodoseupresidenteemdoisseminá-rios,queversaramsobre«SociedadeCivilemAngola e o seupapel e influêncianasinstituições do Estado, no contexto dosimensosrecursosnaturaisàdisposiçãodoGovernodeAngola»,eventosorganizadospeloGrupoÁfricadaSuécia(GAS)empar-ceriacomoNAI-NordicÁfricaInstituto.

SobreosefeitosdasecaeestiagemnoSuldeAngola,oConselhoDirectivodaADRAdeplora a situação de emergência emqueaspopulaçõesestãoexpostas,lamentandoofactodenãosetertomandoemcontaosalertaslançadoshámaisdeumanoporlí-deres religiosos eOrganizações da Socie-dadeCivil(OSC)nosuldeAngola.

Osefeitosdasecaedaestiagemfazem--sesentirdemúltiplasediferenciadasfor-masnos agricultores e criadoresdegado;nasmulheres,crianças,jovenseidosos;nomercadodealimentos;nosistemadesaúdeede educação escolar.Assim sendo, paraa ADRA, a distribuição de alimentos às

populaçõesdevesertão-somenteumadasvariadasrespostasrequeridas.

Nestesentido,oseuConselhoDirectivomanifesta-se aberto a partilhar a experi-ência da organização no que diz respeitoà promoção de culturas agrícolas alter-nativaseresistentesàsecaedecomercia-lização, assim como a transferência desubsídios financeiros às populações – emparticular aos gruposmais vulneráveis –feitaemparceriacomoMINARSeoUNI-CEF, aonível local (municípios e provín-cias)noSuldeAngola.

A região semiárida do sul deAngola éecologicamentefrágil,propíciaàocorrên-cia de secas cíclicas. Visto destemodo, aquestãocentral,segundoainstituição,es-taránaprevençãodosefeitosdaseca,combase numa planificação local proactiva,regional ou nacional, que leve em contaa probabilidade de secas e estiagens e osmecanismosendógenosdemaneioqueaspopulações desenvolveram ao longo dosséculos, ao lidar com esta realidade am-biental.

Numaoutravertentenãomenosimpor-tante,oConselhoDirectivodaADRAla-mentaque,depoisdasexperiênciasmenosbem-sucedidasemalgumasprovínciasnopassado,seinsistanométododedesaloja-mentosforçadosdaspopulaçõesemzonassuburbanase foradoquadroestabelecidopela lei vigente, sem diálogo antecipadocomaspopulaçõesesemqueestejamcria-das condições alternativas de habitaçãoparaasuaacomodação.■

Em conselho directivo, entre outros

ADRA analisa efeitosda seca e aponta saídas

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em Foco

6 Sábado, 01 de Junho de 2013.

Artur Adriano foi a enterrar nesta quarta-feira em Luanda

A distinção que ficou por se fazerSalas Neto (*)

O músico angolano Ar-tur Adriano, falecidosábado, no HospitalMilitar de Luanda,

vítima de doença, foi a enterrarnesta quarta-feira, no cemitérioda Santana, em cerimónia bas-tanteconcorrida.

ArturAdrianotinhaacabadoderegressardeCuba,ondeforasubmetido a tratamento médi-co,depoisdeestarcomasaúdedebilitada, na sequência de umacidente cardio-vascular quesofrer há uns anos, algo que oobrigaraaumquasedesapareci-mentodospalcos.

A sua morte apanhou meio--mundo de surpresa, já que seesperavaqueasuaidaàCubalhehaveriaderejusvenecer.EstêvãoCosta,administradordo«Kilam-ba» foiumadaspessoas aquemo desaparecimento físico de Ar-tur Adriano mais surpreendeu,uma vez que vinha preparandouma homenagem da casa a esterepresentantedavelhaguardadamúsica popular urbana, à seme-lhançadoquefizerabemrecente-mentecomNik.

Segundo ele, as conversas jáestavam bem avançadas, regis-tando apenas umtur senão emrelação à sua eventual presençanopalconodiadahomenagem,que Estêvão Costa previa paraestemêsjá.

«Pedi-lhe que ele cantasse aomenos duas músicas, ao que ohomem ia refutando, sob a ale-gaçãodequenãoestavaemcon-dições de saúde para tal», expli-cou o administrador Kilamba,acrescentando que tivera estaconversanavésperadamortedeArturAdriano. Foi por isso quenãoconseguiuevitarumgritodesusto quando lhe anunciaram amortedoartista.

Ele diz que a homenagemda casa a Artur Adriano sem-pre acabará por ser feita, mas,como é óbvio, agora de formaalgo diferente, já que uma coi-saeraeleserdistinguidoaindaemvidaeoutra,infelizmente,atítulopóstumo.

Quandoelaacontecer,assuascanções deverão ser interpre-tadas ou por Calabeto ou porManuelito(oupelosdoisdumavez), segundo sugestãodopró-prioArturAdriano,nareferidaconversa que tivera com o ad-ministradordoKilambanavés-peradasuamorte.

Artur Adriano nasceu a 17deDezembrode1947nobairroMarçal, em Luanda. Fez partedo agrupamento Kissanguela,em 1974, que culminou com agravação da canção «Povo comNeto», em 1976, uma compo-sição em homenagem ao poetaAgostinhoNeto.

Masasuacançãomaisconhe-cida é a «Belita», uma exaltadoclássicodamúsicaangolana.

Enquanto músico, ArturAdrianodividiuestúdiosepalcoscomosKiezos,Gingas,Anazan-ga, Águias-Reais, Musangola eNdimbaNgola.

ArturAdriano já foihomena-geadopelaimportânciahistóricaeculturaldasuaobra,nodia27deMarçode2005,na35.ªediçãodoprogramaCaldodoPoeira,daRádio Nacional de Angola, emactorealizadonoCentroRecrea-tivoeCulturalKilamba.

Na ocasião, foi lançado o ál-bum«MemóriasdeArturAdria-no», um trabalho discográficoreferencialdacarreiradocantor,que inclui as canções: «Belita»,«Santa», «Kalunga», «Povo comNeto»,«NdoceyáLelé»,«Nvula»,«Carnaval»e«SãoSaravante».

Artur Adriano arrebatou, em

2005, o prémio Semba deOuro,num concurso realizado pelaUnião Nacional de Artistas eCompositores,tendosidodistin-guidocomoDiplomadeHonra,na categoria pilares da músicaangolana, pela mesma agremia-ção,nodia30Setembrode2011,peloseucontributoparaodesen-volvimentodaMúsicaPopularla

Artur Adriano deixa viúva eváriosfilhos(fala-seem20),entreosquaissedestacaojovemmúsi-coÉsio,otaldo«Dadão»,cançãoque já esteve na bera entre nós.Eraumapessoamuitoqueridanasua«C-7»decima,ruadoBairro

Nelito Soares, cujos moradorescomquemprivavaretinhamumseuvelhoensinamento,lembradono elogio fúnebre que fizeram:«Para te fazeres entender, nãoprecisas de gritar». E ele seguiaistoàrisca.Ninguémoviaagri-tarcomquemquerquefosse.

Mincult elogia

O Ministério da Cultura(Mincult) destacou, emLuanda,o músico Artur Adriano comouma figura cultural cujo exem-plodeveservirdereferênciaparaanovageração.

Em mensagem de condolên-cias pela morte do artista en-viada segunda-feira, à Angop,o Mincult realça ter sido comprofundadoreconsternaçãoquese tomouconhecimentodofale-cimentodo cantor e compositorArturAdriano.

«Militante activo da CançãoPolítica, (...)ArturAdriano estáentre os compositores angola-nos cujos trabalhos integram oPatrimónio Imaterial Nacional,a julgar pela importância histó-rica e cultural da sua obra, queexalta as ocorrências pitorescasdo quotidiano dos mussequesdeLuanda, abeleza feminina,oCarnaval, eas iguarias tradicio-nais»,lê-senamensagem.

RealçaqueArturAdrianotor-nou-se, cedo, numa importantefiguradaMúsicaPopularAngo-lana,pordecidir,em1966,seguiro percurso a solo, instaurandouma relevante transmutação es-téticadoseutrabalho,aoníveldoacompanhamentoinstrumentaledosarranjos,oquelhevaleuvá-riosprémiosedistinçõesdemé-ritoedehonra.

«Asuamortedeixaumvazioirreparávelnoseiodasgrandesfiguras históricas da Música eda Cultura Nacional. Em meunome pessoal, e do colectivode trabalhadoresdoministérioda Cultura, endereço os meusmais profundos sentimentosdepesar à família enlutada e àclasse artística em geral», con-clui a nota, assinada pela mi-nistaRosaCruzeSilva.

O Semanário Angolense, napessoado seudiretor,queprivouem várias ocasiões com ArturAdriano,endereçaàfamíliaenlu-tadaosseussentidospêsamespeloinfausto.Queasuaalmadescanseempaz,juntodoCriador.■

(*) Com Angop

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Capa

Sábado, 01 de Junho de 2013. 7

Nota de Abertura

Conversas do «27 de Maio» imediatamente para o jango!

Celso Malavoloneke

Trinta e seis anos sepassaram desde queaconteceu o que, hojepor hoje, já é unani-

memente aceite como um dosmaiores massacres da AngolaIndependente, curiosamente,apenasdoisanitosdepoisdo«11deNovembro»de1975.Porcau-sadedivergênciasideológicasnoseio do MPLA, então Partido--Estado,milharesdepessoas fo-rammortas, grande parte delassem certificado de óbito nemlocal conhecido de enterro. Oque, no contexto africano «queestamoscomele»,significadizerqueapessoanãomorreu.Ousemorreu, o seu espírito anda va-gueando por aí, importunandoossonhosdosseusdescendentes,no clamor por um competente«komba», para que as cinzas doóbitovoemparaoreinodosan-cestrais…

Ano sim, ano também, desde1990,quandoopaísseabriuaosventos da democracia, é sempreamesmacoisa.Osdescendentesdosmortos e desaparecidos cla-mampelascinzaseparadeirodeparentes, que só omuito tempomesmodesde a tragédia– e umou outro boato nunca confir-mado–vai insinuandocadavezmais insistentequeavidaqueocoração reclama é mesmo vidade ummorto. Enquanto a vozi-nhadaesperança,cadavezmaisténue, vai insistindo nummila-gre, sempre possível, que tragacomvidaoparentehá tantode-saparecido. E assim, em milha-resdefamíliasnestaangustiantesituação, ninguém ousa chamaro ausente de «falecido». Fica-sepelo meio-termo mais prudentede«desaparecido».

Nem os ensaios algo tímidosdasautoridades–afinalaindaasmesmas – demea culpa embru-lhada numa retórica propagan-dísticaquetornatudomaisinin-

teligível–qualmulherapanhadaem adultério que desconsegueconfessaremlinguagemterra-a--terraque andoua sedeitarporaí – nem as homenagens póstu-mascozinhadasalguresem«ga-binetes de pensologia» e nuncaconversadasporninguém;muitomenos as conversas de quintaisnofunjedesábado,depoisdeunstintóis a mais essas muito me-nos),logramdesfazerestaangús-tiaquesónãoresvalaemrevoltaporque há feridas mais recentespor sarar e lembranças «maispiores» por esquecer. Até quan-doeste statusquosevaimanteréaquestãoqueficaparageraçõesmenosacoitadasepor issomaisafoitas responderem. Mas, paraasquaisjáhouveumaviso:quan-

doo«27»aconteceu,elassequerhaviam nascido, pelo que o quetêmafazerécalaraboca.

Comoseatrágicaherançati-vessemaisoumenosdonosnesta«comunidade mwangolénica»;como se os herdeiros directosou indirectos dos perecidos eperecedores tivessem tempo oupachorra para prestar atenção adiscursotãoesfarrapado…

Por isso, o Semanário Ango-lense decidiu trazer à ribalta,comonosoutrosanos–anosim,anotambém–esteamargopen-dente, cujo «ciclo cíclico» já hámuitoaconselhaumanovaabor-dagem.Dezanosdepoisdocalardasarmasedoiscicloseleitoraisjácompletadosdepoisdisso,oSApropõeumolharcomosolhosde

ver a «velha mas sempre nova»questãodo«27deMaio».

Eaproposta,desta vez, équeolhemosparaatragédiadopon-to de vista do futuro e não dopassado. Por outras palavras,não nos desgastemos mais compensamentos sobre quemmatoue quemmorreu. Comomatou ecomo morreu. Como podia termortoenãomatou.Comopodiatermorridoesobreviveu.

Em vez disso, propomos umavisão centrada no futuro, poiso passado é passado e não voltamais,comodiriaopoeta.Comodeveremosfazerparaqueasferi-das se sarem. Para que os ódiosseesbatam.Paraqueosressenti-mentos desapareçam e com elesas sedes de vingança. Para que

osherdeirosdosmortos, feridose desaparecidos possam dormirem paz, sem serem importuna-dosporpesadelosdemortosembuscadosseusóbitosoudelem-brançasmanchadas de dor e desangue.Numa palavra, enviar o«27 de Maio» para o jango dasconversas, para que resolvamosaío«prubulêma».Equantomaiscedo isso acontecer,maiores se-rãoosganhos.

Feita a proposta, convidamosos leitores a acompanharem-nosnestedossier,quetalvezpossaseroprimeiro(?)passodacaminha-darumoàcartasequeseimpõe,para se exorcisar os demóniosque persistem à volta do «27 deMaio». A unidade daNação as-simoexige.■

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A história recente deAngolaestárecheadade factos e aconteci-mentos que tocaram

profundamenteváriasgeraçõesdeangolanos.

Opovoangolano foi ehá-decontinuaraseroprincipalpro-tagonista de todos estes factosque marcaram e marcarão anossahistória.

Depois demais de cincodé-cadas sofridas por conf litos devária ordem, guerras, destrui-ção,excessosdeváriostipos,osangolanos estão cada vezmaisdecididos a caminhar firmesna senda da responsabilidadeedatolerânciae,sobretudo,dareconciliaçãode todaa famíliaangolana.

A maturidade, o sentido deEstadoeoaltograuderespon-sabilidadeeoespíritodefrater-nidadeedef lexibilidadequeosangolanoseassuasinstituiçõesatingiram, conduziram-nos àpaz,àconcórdiaeàestabilida-depolítica.

Osexemplosque,nosúltimosdez anos nos têm sido dadoscom a finalização do conf litomilitarecomasmanifestaçõesdeperdão,detolerânciaedere-conciliação,sãoprovaseviden-tesdestanovarealidade.

Este foi, sem qualquer dúvida,umcaminhodifícildetrilhar,des-deodia11deNovembrode1975.

OMPLAnãopode,pois, es-tar dissociado dos principaismomentos nesta caminhadaparaaconstruçãodeumEstadoforte, com instituições credí-veis, emqueosdireitos,osde-veres,as liberdadeseasgaran-tiasfundamentaisdoscidadãossejamasseguradas,consolidan-do e ampliando a democracia,nosseusmúltiplosaspectos.

Hoje, numa altura em que seassinala a passagemdo trigésimosexto ano sobre a data do 27 deMaiode1977,oMPLAnãopodeficarindiferenteaela,reiterandoasuaposição inequívocasobreestefactosurgidonoseuseio,talcomojáohaviafeitohácercade11anos.

OMPLA,acredita,queaati-tude marcada por um elevadograude imaturidadede algunsdosseusmilitanteseaincipien-teorganizaçãoe funcionamen-todasinstituições

e excessos de zelo dos seus

principais agentes, contribuí-ram decisivamente naquela al-turaparaosfactosocorridos.

Comefeito,aoreconhecerqueosacontecimentosàvoltado27deMaiode1977,marcaram,deforma bastante negativa, umaépoca da nossa história recenteoMPLAconsideraque foramaNaçãoeoPovoAngolanoquemperderam com todos estes epi-sódios negativos, pelo que todaanossaacçãofuturadeveprocu-rarsempreevitarquecomporta-mentoseatitudesdestetipopos-sam,novamente,viraterlugar,quernasinstituiçõespartidáriasquernasestaduais.

A prática democrática deve,deste modo, constituir o ca-

minho idealparaqueos ango-lanos possam exprimir as suasposições e fazê-las prevalecer,qualquerquesejaoseuposicio-namento político, a sua condi-ção social, credoreligioso,ori-gemétnica,raçaougénero.

Estafoiarazãoprincipalporque se bateu firmemente peloalcance da Paz, quando todosos anosmilhares de angolanospereciaminjustamente.

Emrelaçãoatodosquantos,dealgummodo,estiveramenvolvi-dos nos acontecimentos em tor-nodo27deMaiode1977eaosdemais cidadãos que, de qual-quer forma, estiveram associa-dosàguerrafratricidaqueoPaísviveu, o MPLA recomenda que

asinstituiçõesdoEstado,comoapoiodaSociedade,devamcon-tinuar a trabalhar para que asconsequências produzidas porestes acontecimentos não criementravesoudificuldadesdequal-quernatureza,aoexercícioplenodosdireitosconstitucionaisele-gais,porqualquercidadão.

O MPLA considera que osaproveitamentos políticos dequalquerespécienãotêmrazãonenhuma para ocorrerem, so-bretudo por parte de cidadãosque, não tendo estado directa-mente envolvidos nas acções àvolta dos acontecimentos do27 deMaio de 1977 e das suasconsequências, distorcem averdadeirarazãodosfactos,ex-

plorameexacerbamtaisfactos,estimulandooódioeadivisãoentreosangolanos.

Neste sentido, a nossa pos-tura deve ser contrária a estespropósitos, de forma a cami-nharmos decididamente paraum processo de reconciliaçãoe unidade nacionais, cada vezmaisprofundoegenuíno.

Ao virarmosmais esta pági-na da nossa história devemosassumirocompromisso,peran-teopovoangolanoeomundo,detudofazermosparaqueAn-golasejaaPátriadaLiberdade,daTolerância,daDemocraciaedaJustiça.■

Luanda, aos 27 de Maio de 2013.

Declaração do BP do MPLAa propósito do «27 de Maio»

8 Sábado, 01 de Junho de 2013.

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Sábado, 01 de Junho de 2013. 9

Reginaldo Silva (*)

1 - Ao longo da história queforamestesúltimos36anos,o MPLA produziu, quantoa mim, quatro declarações

importantes sobre os aconteci-mentos do 27 de Maio de 1977que importa reter, para além detodas as outras que foram sendofeitasduranteosanosdopartidoúnico e com que anualmente seassinalavadeformatonitruanteatrágicaefeméride.

Destas últimas declarações, asmenosimportantes,quehojepos-soconsiderarcomosendoderoti-naepara«manteroferroquente/aquecido», já não conservo me-móriadenenhuma.

Só uma pesquisa pelo oficiosoesemprepresente«JornaldeAn-gola» poderia ajudar-nos a fazeruma revistação pelo que foramtodos esses «anos de chumbo»,queseseguirama77,atéaoiniciodadécadade90.

Apósaminhareclusãoforçadadecercadedoisanosrelacionadacom o 27 de Maio e tendo sidoexcepcionalmente autorizado avoltar a trabalharnaRNA, sem-pre escolhi o mês deMaio paragozar as minhas férias anuais,com o propósito firme de evitarqualquer contacto com a leituradedeclarações eoutras informa-ções que preenchiam os notici-áriosduranteo referidomês.Naaltura,naRNA,tinhaacategoriadeLocutor-Redactor-Repórter.

AchoquenaRNApoucaspes-soas desconfiavam das verdadei-ras razõesqueme levavamago-zar sempre as minhas férias emMaio, que era de facto um perí-odomuito difícil para todosnósque éramos conotados como talde«fraccionismo/nitismo».

Lembro-mecomosefossehoje,queumdia,numaconversacommaltadaRádio,fuiacusado,meioa brincar,meio a sério, de aindater «ideias nitistas» apenas por-queachavaquenãohaviamalne-nhumalínguaportuguesaincor-porarnoseuvocabuláriopalavrasprovenientesdo«linguajar»maispopular.

Penso que também foi porcausadessaminhapassagempe-las cadeias da DISA, que nuncafuichamadoacumpriroserviçomilitarobrigatórionas«gloriosasFAPLA», embora me tivesse re-censeadoem1976,noâmbitoda

«Mobilização Popular Generali-zada» decretada pelo PresidenteAgostinhoNeto.

Anosdepois,precisamenteem1988,viriaaregularizaraminhasituaçãomilitar como «manceboreservista», não tendo por issonunca disparado um único tironeste país, nem participado emqualquer guerra civil ou fratrici-da.

2 - Das quatro declaraçõesmencionadas,aprimeirafoi feitaemJunhode1977,asegundaemAbrilde1992,aterceiraemMaiode 2002 e a última agora nestemêsdeMaiode2013.

Asprimeirasduasdeclaraçõesdo MPLA sobre o 27 de Maiopara mim são para «esquecer»,porque contêm exclusivamente aversãodeumdos ladosquepro-tagonizaram os acontecimentos,constituindo deste modo apenasum contributo para o que virá aser futuramente a elaboração daverdadeira história de Angola,que não se pode circunscrever àchamada historiografia oficial/históriadosvencedores.

No meio de todas as versõesque já foram tornadas públicas,a última das quais, aponte-se,

foi assumida muito recentemen-te pelo jornalista português JoséMilhazes,quepublicouemLisboaum livro sobre Nito Alves (masnãosó),combaseemconsultasdearquivosqueomesmotemvindoa fazeremMoscovo,ondetraba-lhacomocorrespondenteestran-geirodesde1977.

Adeclaraçãode2002represen-taumaviragemmuitosignificati-vanaabordagemqueatéentãooBPdoMPLAfaziado«fenómeno27deMaio», que, ébomsempreressaltar-se, foia todosos títulose em todas as dimensões, umagrande maka produzida total-mente no interior do movimen-to então liderado por AgostinhoNeto.

Em 2002, vinte e cinco anosdepois dos sangrentos aconte-cimentos, finalmente o MPLAadmitequeéprecisodarsoluçãoao problema na vertente social,transferindoparaoEstadoares-ponsabilidadede agirnessa con-formidade.

Emabonodaverdadee jáoes-crevinoutraocasiãonomeu face-book,nestasuaúltimadeclaração,oMPLAvoltouadizer,maispala-vra,menospalavra,exactamenteoquejáhaviaditoháonzeanosatrás.

Pareciamais um “copy/paste”,do que uma nova declaração doseuBPsobreestatragédianacio-nal.

3 -Oquedemais importanteparamimfoiditopeloMPLAem2002équeninguémdeviaserpre-judicado nos seus direitos comocidadão, por qualquer envolvi-mentocomosacontecimentosdeMaiode77equeoEstadoangola-nodeviafazertudoaoseualcancepararesolvertodososproblemas/consequências decorrentes dasviolentas acções que afectaramdezenas de milhares de famíliasangolanas.

«Comrelaçãoatodosquantodealgum modo estiveram envolvi-dosnosacontecimentosemtornodo27deMaiode1977,oMPLArecomendaqueasinstituiçõesdoEstado, com apoio da sociedade,continuem a trabalhar para queas consequênciasproduzidasporestes acontecimentos não criementravesoudificuldadesdequal-quernatureza,aoexercícioplenodosdireitosconstituiçõeselegaisporqualquercidadão».

Passadosestesonzeanos,emque o MPLA não voltou a sepronunciar sobreo27deMaio,

estava à espera que nomínimoeste ano fosse produzido umbalançodoque temvindoaserfeito pelo Estado no âmbito daorientaçãogeraltraçada.

Para ser mais sincero, devoconfessar que de algum modofui surpreendido pela declara-ção deste ano, pois não estavaà espera que o MPLA voltasse«tãocedo»aoassunto.

Paramim, esteMPLA, tendoem conta todo o seu poderio earrogância,temestadoautilizaro que poderia ser chamado de«tácticadocansaço»,comaqualefectivamente tenta «resolver»os problemas, ignorando queeles existemounão lhes dandoqualquerimportância.

Eassimvãopassandoosanos.As pessoas vão morrendo, asvontades vão-se quebrando, osproblemas, comoo27deMaio,vão naturalmente desaparecen-dopelaviadoesquecimento.

Esta nova declaração do BPdo MPLA foi um verdadeirochovernomolhado.

Assim, de facto, não vamoslá...■

(*) Jornalista. Especial para o SA

O «27» continua nas calendas gregas

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Acontecimentos de 27 de Maio de 1977

«Intentona», contra-golpe ou etapa evolutiva do MPLA? - eis a questão!A 27 de Maio de 1977, apenas 19 meses depois da independência, teve lugar em Angola uma «intentona golpista», como foi denomi-

nada pelo governo de então, comandada por Alves Bernardo Baptista, vulgo Nito Alves, membro do Comité Central do MPLA. O golpe não resultou, tendo a repressão que se lhe seguiu feito cerca de 30 mil mortos, de acordo com estatísticas não oficiais

Kim Alves (*)

Assinalou-se, nesta se-gunda, a passagemde mais um «27 deMaio». E, como já se

tornouhábito a cada ano,o Se-manárioAngolensefazmanche-tecomesteassuntoquemarcouumimportantemomentohistó-rico do país, numa visão equi-distante e desapaixonada dosacontecimentosdeentão.

Segundoalgunspolíticoseso-breviventesdessatragédia,nadadenovoháaregistar-seemrela-çãoaofacto.

«Continuamos à espera quese faça o debate público que hátanto almejamos e se corrijamos erros cometidos contra asfamílias das vítimas e contra averdade histórica, para que osangolanos actuais e as geraçõesvindourasconheçamarealidadedos acontecimentos», afirmouMiguelFrancisco,«Michel»,umsobreviventedapurgaquesese-guiuaosacontecimentos.

Deacordocomdiversasteste-munhaseescritossobreoassun-to, «fraccionismo» foi o nomedado a ummovimento políticoangolano liderado por Nito Al-ves, ex-dirigente do MPLA,partido que está no poder des-de a independênciadopaís, emNovembro de 1975. Segundo osdados,foiummovimentoquesearticulou como dissidência noseiodoMPLA, após a indepen-dência de Angola, em oposiçãoao Presidente Agostinho Neto,lançandoemLuandaumatenta-tivadeGolpedeEstadoa27deMaiode1977.

Naaltura,comoconsequênciadaguerracivilqueopaísvivia,as Forças Armadas Cubanas(FAR) estavam emAngola e foigraçasaoseuapoioqueoalega-dogolpedeEstadofracassou.

Comofracassoda«intentonagolpista», seguiu-seumperíododedoisanosdeperseguiçãosan-grenta aos reais e alegados se-guidoresesimpatizantesdeNitoAlves,culminandoemmilharesde mortos. O número concreto

dessegenocídionãoéconhecidoatéaosdiasactuais.

Como tudo começou

Nito Alves foi militante ecombatente do MPLA desde1961. Em 1974, quando se dá o25deAbrilemPortugal,eraolí-dermilitardoMPLA,naregiãodos Dembos, a nordeste de Lu-anda.

DuranteoperíododoGover-nodeTransição,transformou-senolíderdosmilitantesdoMPLAnosmussequesdeLuanda,ondeorganizou os comités denomi-nados «Poder Popular», que lu-taramduranteaguerracivilemLuanda, contraosoutrosmovi-mentosdelibertação,sobretudoaFNLA(FrenteNacionaldeLi-bertaçãodeAngola).

QuandoAngola conquistouaindependênciaumanoealgunsmeses depois, segundo infor-mações atribuídas aos «frac-

cionistas», já havia no seio doMPLAuma alegada deturpaçãodos ideais para os quaismuitosmilitantes haviam lutado. Hou-vera uma grave cisão, no seiodomovimento,entreoschama-dos «moderados» empenhadosnum crescimento cuidadoso egradual, congregados à volta deAgostinhoNeto,LopodoNasci-mentoealgunspróximos,assimcomo uma facção radical, comNitoAlvesàcabeça,queobjecta-vaàpredominânciademestiçosebrancosnogoverno.

Segundoos radicais, «aspes-soas brancas e de sanguemistodesempenhavam um papel for-temente desproporcionado nofuncionamento do governo deuma nação predominantementenegra».Porém,referem,naquelaépocajáexistiamnegrosquefa-ziampartedopoder,atéporqueopresidenteAgostinhoNetoin-sistianatesedequererimplantaremAngola um governomultir-

racial. Alguns desses membrosdo governo viam a oportuni-dade de conquistar uma maiorfatiadopoder,lançandoaberta-menteumapelo racistaàsmas-sas, como Nito Alves, quando,numcomíciorealizadonumdosbairros periféricos de Luanda,afirmou que «Angola só seriaverdadeiramente independentequandobrancos,mestiços ene-grospassassema varrer as ruasjuntos».

Considerado, por alguns,comoosegundohomemdopo-der, logo a seguir a AgostinhoNeto, Nito Alves foi nomeadoministro da Administração In-terna, quando oMPLA formouo primeiroGovernodeAngola.Porém, o descontentamento deNitoAlvescomaalegadaorien-taçãodeAgostinhoNetoafavordos intelectuais urbanos mesti-ços, comoLúcio Lara, influentehistórico e um dos principaisideólogos do partido, o então

ministro dos Negócios Estran-geiros,PauloJorge,eoministrodaDefesa,«Iko»Carreira,cons-tituiu o foco de divisão no seiodoGoverno.

Esta divisão tornou-se maisevidente,quandoemLuandana3ª Reunião Plenária do ComitéCentral, realizadade23a29deOutubro de 1976, se decidiu asuspensãoporseismesesdeNitoAlveseJoséVan-Dúnem,acusa-dosformalmentede«fraccionis-tas» por terem sido protagonis-tas da criação de um «segundoMPLA».

Os relatos dão conta que,como resultado da sua sus-pensão, Nito Alves e José Van--Dúnem propuseram a criaçãode uma comissão de inquérito,para averiguar se havia ou não«fraccionismo»noseiodoparti-do,Areferidacomissão,quefoiliderada pelo actual PresidentedaRepública, JoséEduardodosSantos, arrastou no tempo assindicâncias, bem como a apre-sentaçãodassuasconclusõesso-breo«fraccionismo».

Sublinhe-sequedevidoaessacomissão de inquérito, o pró-prio José Eduardo dos Santos eo primeiro-ministro de então,Lopo do Nascimento, foramposteriormente acusados de«fraccionistas».Noentanto,JoséEduardo dos Santos foi ilibadopelo comissário provincial doLubango na altura, BelarminoVan-Dúnem.

Também consta que Sita Va-les,mulherdeJoséVan-Dúnem,era ligada ao PCUS (PartidoComunistadaUniãoSoviética),através do Komsomol, organi-zação soviética da juventude,remontando aoperíodo emquetinha feito parte da ComissãoCentraldaUEC(UniãodosEs-tudantes Comunistas), na altu-ra, considerada a número doisaseguirdeZitaSeabra,foitam-bémexpulsadoMPLA,acusadade ser uma agente infiltrada doKGB(policiasecretarussa).

A realização da assembleiamagnademilitantesrealizadaa21deMaiode1977nacidadela

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deLuanda,presididaporAgos-tinhoNeto,foiopontoderuptu-ra, sendo feitooanúnciooficialda expulsão deNitoAlves e deJoséVan-Dúnem.

Aproveitamentos

Aindaconformeosrelatosci-tados,depoisdetersidoouvidopela comissão de inquérito emFevereiro de 1977, Nito Alvescomeçouaconvenceropovodeque a acusação de «fraccionis-mo» que lhe era dirigida esta-va associada a uma intençãode«GolpedeEstado»que lhepro-curavamtambémimputar.

Realçava igualmente o fac-to de que alguns dirigentes doMPLA teriam transmitido in-formações a militantes, sobrea previsão de fuzilamento delepróprio,emJaneirodesseano.

Na mesma esteira, conven-ceu também os seus seguidoresde que as cadeias estavama serpreparadas pelas forças afectasa esse grupo, para receber pre-sosqueasegurançajátinhaemmira, em listas que circulavamnoseuseio.

Foi, pois, através deste climade desconfiança generalizada,criado dentro do MPLA e dasuposta tentativa de eliminaçãofísica de alguns dos seus mili-tantesqueNitoAlveseogrupodos seus apoiantes mais próxi-mospromoveramamobilizaçãode grande parte dos membrosdoMPLAemsuadefesa,comoapoiodealgumasdasorganiza-çõesdemassas,dealgunspopu-laresdeLuanda(particularmen-tedoSambizanga)edesectoresimportantesdoexército.

Deacordocomasdeclaraçõesde sobreviventes, os chamados«nitistas» manifestaram-se ge-nuinamentenopaísa27deMaiode 1977, de forma inequívoca,apoiados pelo exército, contraa linhadeorientação repressivaquepensavamestarasersegui-da,assimcomocontraadeterio-raçãodavidadopovoecarênciageneralizadadegénerosalimen-tares,procurandoobteroapoiodeAgostinhoNetoparaas suaspretensõesdedepuraraorgani-zação dos elementos da aliançadas«forçasmaoístas»ededirei-ta, para garantir o aprofunda-mentodarevoluçãopopular.

Os números da tragédia

Os testemunhos descre-vem que, na madrugada de 27de Maio de 1977 (sexta-feira),Nito Alves, então ministro daAdministração Interna, sob apresidência de Agostinho Neto,liderouummovimentopopulardeprotestoquesedirigiuparaoPalácioPresidencial,paraapelaraoPresidenteNetoque tomasse

uma posição contra o supostorumo de influência «maoísta»que o MPLA estava a seguir eparaquealterasseessatendênciacomoretornoàlinhamarxista--leninistapura.

Virinha e Nandy, dirigentesdo destacamento feminino dasFAPLA (ForçasArmadas Popu-lares de Libertação de Angola),dirigiram o assalto à cadeia deS.Paulo,ondeseencontrava,emvisitade inspeção,HélderNeto,chefe da INFANAL (serviço deInformação e Análise), órgãoparalelo à DISA (Direcção deInformaçãoeSegurançadeAn-gola).

Para tentar impediroataque,HélderNetolibertoualgunspre-soseentregou-lhesarmasparaoajudaremadefenderacadeia.Noentanto,Sambila,umcantorpo-pulardetidopordelito comum,prende-o pelos braços, quandoeleabriuasportasdacadeiaparanegociar comVirinha eNandy,acabando, supostamente, por sesuicidar.

Luís dos Passos, que foi líderdo PRD, a militar novamenteno MPLA, num jipe com seismilitares, dirigia à tomada daRádio Nacional, enquanto nosmussequesSitaValeseJoséVan--Dúnem incitavamosoperárioseospopularesàrevolta.

SaidyMingas,umdosirmãosdeRuiMingas,fielaAgostinhoNeto, entranoquartel daNonaBrigadaparatentarcontrolarastropas,sendopresopelossolda-dos e levado comEugénioCos-ta e outros militares contráriosà revolta para o Sambizanga,onde, alega-se, foramposterior-mentequeimadosvivos.

Por volta domeio-dia, oGo-verno,atravésdeOnambwe,di-rector-adjunto da DISA, reagiucomaajudadastropascubanas.Ossoldadosretomaramacadeiaearádioeabriramfogosobreosmanifestantes dispersando-os eabafandoassimogolpe.

Pelas16h00,acidadejáestavacontrolada, e os manifestantesprocuravamrefúgio.

Nocomeçodatarde,reinavaosilêncionacidade.NaRádioNa-cional, Agostinho Neto resumiaosacontecimentosqueporpoucashorasabalaramLuanda:«Hojedemanhã,pretendeu-sedemonstrarque já não há revolução emAn-gola. Será assim? Eu penso quenão...Alguns camaradasdesnor-tearam-seepensaramqueanossaopçãoeracontraeles».

Com o poder governamentalrestabelecido em Luanda, foiimposto o recolher obrigatóriocom início ao pôr-do-sol e fimaonascer-do-sol, realizadocoma ajuda de barreiras de rua portodaacidade.Cubanos,emtan-queseblindados,guardavamosedifíciospúblicos.

Contudo, alega-se que, numaúltimatentativadelevarogolpe

em frente, surgiu um atentadocontra Agostinho Neto, levadoacabopeloseusegurançaparti-culareorganizadoporNitoAl-ves.O PresidenteNeto escapouileso,masficoubastanteabaladoemocionalmenteepoucotempodepois, num discurso empolga-do, afirmou: «Não haverá con-templações… Não perderemosmuito tempo com julgamen-tos…».

Éassimque,referemtambémos testemunhos, nessa mesmanoiteaDISAcomeçouasbuscasàs casas, procurando os «nitis-tas».

Norescaldodogolpe,imensaspessoasforamsubmetidasapri-sõesarbitrárias, tortura, conde-nações sem julgamento ou exe-cuçõessumárias, levadasacabopelo Tribunal Militar Especial,vulgo «Comissão Revolucioná-

ria», criado para substituir osjulgamentos e que ficou conhe-cido por «Comissão das Lágri-mas».

Conforme se temdito emui-to já se escreveu sobre o facto,não se sabe a data exacta emque Nito Alves foi preso, massabe-se que foi fuzilado no en-tão Quartel do Grafanil, nãose sabendo, porém, onde o seucorpo foi enterrado. Sita Valese José Van-Dúnem foram apri-sionadosa16deJunhode1977.Em 1978, o escritor australianoWilfredBurchettconfirmouqueNitoAlves fora executado, bemcomoSitaVales. O seumaridoJoséVan-Dúnem,oministrodoComércio Interno, David AiresMachado, e dois comandantessuperiores das FAPLA, JacobJoãoCaetano(popularmenteco-nhecidocomoMonstroImortal)

e Ernesto Eduardo Gomes daSilva(Bakalof)foramigualmen-tefuzilados.

Asinformaçõesrevelamqueasperseguições duraram cerca dedois anos. Forammortosmuitosdosmelhoresquadrosangolanos,combatentes experientes,mulhe-rescombativas,jovensmilitantes,intelectuaiseestudantes.

Em Julhode1979,AgostinhoNeto, levando em consideraçãoos actos dos dois últimos anos,decide dissolver a DISA pelos«excessos»quehaviacometido.

Ironicamente,oMPLAacaba-ria por fazer o que os golpistasreivindicavam.EmDezembrode1977,noseuprimeirocongresso,muda de nome para MPLA-PT(MPLA Partido do Trabalho),adoptando oficialmente a ideo-logiamarxista-leninista, pedidaporNitoAlves.■

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Segundo Agostinho Neto

Houve vários fraccionismos

Apesar de este período históri-co ter ficado conhecido como«fraccionismo», a palavra emsi já tinha sido usada para

definir outras tentativas de ruptura noMPLA.OpróprioAgostinhoNetorefereissonodiscursoproferidoa5deFeverei-rode1977,numaassembleiademilitantesemNdalatando:

«...Houveacertomomentoem1962um‘fraccionismo’,quefoiconduzidoporVi-riatodaCruz,nomequenãoédesconhe-

cido dos camaradas, mas que produziua divisão doMovimento por não querersubmeter-seaessasregrasdecentralismodemocrático.Quandosediscutiaumpro-blema, no Comité Director, ele assumiasempre uma atitude contra a maioria.Mais recentemente, (1965/66) houve umoutrograndefraccionismo,quesebaseounatribo,queéodeChipenda.Eramem-brodirigentedoMPLA,estavaconnoscono Comité Director e, certa altura, foimobilizaragentedasuatribo–eleéna-

turaldoLobito.PensavaelequepoderiaserochefedosUmbundos.‘RevoltaActi-va’,chefiadoporGentilViana.Damesmamaneira, dentro domovimento, formouum grupo para combater aDirecção doMovimento. Claro que hoje está preso.Nóstemosdecombater,sempreecomfir-meza,qualquertentativadefraccionismo.Istonãopodeseradmitidonumaorgani-zaçãodemocráticacomoanossa,emquehá democracia, da base ao topo. Se essegruponão se convencer com a crítica, é

necessárioneutralizá-lo...NoMPLA,nóssomosumetemosregrasparaavidadaOrganização.Nãosomosdiversos.Somosumoudevemosserum.Portanto,quandonósdizemos ‘fraccionismo’ significaquealguémdentrodaOrganização,dentrodopaís,quisformargruposquefossemdife-rentesdoMPLA.Ora,nestepaís,oúnicoMovimentoqueexisteéoMPLAequemdefenderoutroMovimentoqualquer,nãopodesertolerado.Devodizeraoscamara-das,agorajáopossodizer,quealgunsde-les,algunsqueandamfugidos,ouosqueestãosob investigação,chegavamàsreu-niõese,emvezdediscutirosproblemasqueeraminscritosnaordemdetrabalho,pegavamnum livro epunham-se a ler àsocapa.Muitas vezes, tinham sono,dor-miam, talvez porque tivessem reuniõesdemais.Primeiramente foi o grupoquese chamava ‘Comités Henda’. Foi elimi-nado.Depois eramos ‘ComitésAmílcarCabral’. Foram eliminados. Apareceramdepois alguns deles, indivíduos que per-tenciam a esses dois grupos, apareceramnuma outra organização chamada ‘OCA– Organização Comunista de Angola’ etambémforameliminados.…».■

(*) Com agências

A versão oficial, publicada a 12 de Julho de 1977, bastante contestada pelos sobreviven-tes e familiares das vítimas,

afirma que se tratou de um Golpe de Estado e que ele já vinha a ser prepara-do desde 1974, compreendendo várias fases: infiltração, sabotagem das estru-turas existentes e, finalmente, golpe de estado, atribuído ao «Grupo de Nito».

Defende-se que o grupo se apresenta-va com uma capa aparentemente revo-lucionária, a de uma linha «marxista--leninista pura», mas procurou desviar o povo dos objectivos da Reconstrução Nacional e da defesa da integridade territorial, tentando, dessa forma, con-trolar as estruturas do MPLA e do Go-verno.

O Bureau Político acusou inclusi-

ve o «grupo de Nito» de ser um aliado do inimigo interno (UNITA e FNLA) e externo (Zaíre, África do Sul e EUA), de manipular as dificuldades do povo, efectuar calúnias contra dirigentes e de estar afastado das massas popula-res, recusando-se a conviver com elas. No plano ideológico, considerou que as acusações dos «fraccionistas», da exis-tência nas cúpulas de manifestações

«social-democratas» ou «maoístas» eram conceitos palavrosos, sem signifi-cado em Angola.

A direcção do MPLA discordava cla-ramente de que o «fraccionismo» fosse uma tomada de consciência da classe operária angolana. Considerou ainda que os conceitos de «anti-sovietismo» e «anti-comunismo», atribuídos a gran-de parte dos responsáveis ■

Versão oficial dos acontecimentos

12 Sábado, 01 de Junho de 2013.

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Capa

Sábado, 01 de Junho de 2013. 13

Celso Malavoloneke

Aqui chegados, repas-sada a história, ouvi-doum testemunhodecuja idoneidade seria

no mínimo insensato duvidar,elequeencarnaasmarcasdeixa-dasemhomensemulheres(eemcrianças também, afinal, por viade herança); ouvido o alerta deSilvaMateus,quedáo rostoporeles todos e que fala de catarseolhos nos olhos; lidas as paran-gonas dos jornais lusos mastur-bando-se com um pseudo ajustedecontascomahistóriaeestóriasdofracassodasuadesastradaco-lonização;eescolhendonapassa-da como vítima do fel fedorentodas suas diatribes, uma pobre einofensivaviúva,cujamaiordes-graça é manter-se compatriotadeles,paraalémdemãedaNaçãoangolana por via do casamentocom um negro em pleno EstadoNovodeaziagamemória;

depoisdastrêsdécadasemeiade choro intermitente por mor-tos desaparecidos, e por desapa-recidos vivos em famílias pelasquais nada se fez, senão cavaraindamaisfundasasferidasnãosaradas e recuar na caminhadaque se quer triunfal para todosangolanos, rumo à fraternidadenacional,umaperguntasecoloca:será(ainda)possível transformaressachagagigantescaepurulentanuma oportunidade de em con-juntobatalharparajuntossentir-mososabordasuacura?

Podemos ainda um dia olharpara essa amarga experiênciacomoumaliçãoparaqueosnos-sos vindouros saibam e sintamque isso é uma das coisas que aNaçãonuncadevevoltarafazer?

Como diria alguém que nãoidentificamos, a resposta é: sim,podemos!

Comecemos pelo discurso deSilva Mateus quando reagia aocomunicadodoBPdoMPLA.Sebem que chateado com o conte-údododocumento,deixou claroqueoqueeleeasdemaisvítimasdo «27 de Maio» mais desejam:umacatarse.

AvancemoscomoquedizRe-ginaldo Silva neste mesmo dos-sier, ele que s carrega asmarcassofridasemdoisanosdecárcere.Doisanosemquecadadiatermi-nadopodiamuitobemseroúlti-mo;destinopeloqualviupassarinúmeroscompanheirosdeinfor-túnio.Eaindaassim,oReginaldo,cujafrontalidadeéconhecida,la-mentaque,nesteprocessotodo,oquemaisfaltaéodiálogo.Alémda falta do reconhecimento dasfalhas eventualmente havidas e

do gesto necessário para se es-tabelecer as pontes emocionaisdestruídaspormotivosque,todosconcordam, não tinham qual-querrazãodeser.Eafazerfénaresenha com que o Kim Alvesnosbrinda, opróprioAgostinhoNeto, nos seusúltimosmesesdevida,reconheciaquetinhahavidoexcessosinsanáveis…

Tambémdizahistória«quees-tamoscomela»,poisaverdadeiraaindanãofoiescrita–enãomefa-lemdos cabritismos tugas saloiosque dizem que as suas atoardasdementes são a história da heca-tombe – que o actual Presidenteda República pela sua acção detentarevitarodesastrequeacon-teceuestevetambémcomacabeçapor um fio. Igualmente acusadodefraccionista,teriasidosafopeloentão comissário (governador)provincial da Huíla, BelarminoVan-Dúnen.Portanto,pode-sedi-zerqueeletambémsentiunapele

ocalafrioquetodososoutrosacu-sadostiverametemlegitimidadeajuntaraopoderquetemparator-narpossívelestacatarse,estediá-logoqueacadaanosetornamaisurgenteenecessário.

Legitimidade e poder que seprecisamparaqueosóbitoseoskombasdasvítimas«desapareci-das»possamacontecer,aindaquetrêsdécadasemeiadepois.

Équeparaqueumapessoa seconsidere morta na nossa cultu-ra, primeiro alguém temque vir«trazeroóbito».Queétambémaresponsávelporexplicarcomofoique a pessoamorreu.Não tendosidoissofeito,torna-senecessárioa criaçãodeummecanismoquedeclare as pessoasmortas, passeas certidões de óbito, mostre oslugaresondeelasestãoenterradasou,naimpossibilidadedisso,crieummemorialemqueosfamilia-respossamirprestarosseusres-peitosnoDiadosFinados.

Essa pessoa, essa entida-de, no caso das vítimas do 27deMaio, é o Estado.O Estadodevetrazeràluzdodiaaformacomoaspessoasmorreramefa-zer todas as outras obrigações,incluindoopagamentodosóbi-tosekombas.

Nanossacultura,nodiadofe-chodoóbito, reúne-se todaa fa-mília para resolver os pendentesqueofalecidodeixou.Parapagaras dívidas que tenha contraído,aspromessasquenão tenha tidotempo de cumprir, e a tutela dafamíliaedopatrimónioqueofa-lecido tenha deixado. A fazer-seisso no caso das vítimas do «27deMaio»–eépontoassentequesedevefazê-lo–émaisumavezaoEstadoquecompetearespon-sabilidadedepagarasindemniza-ções e pensões a que é justoquetenham direito, e o cuidado dosseus herdeiros. Apoios e indem-nizações, ainda que simbólicas,

que seria de justiça estender-sea todos os sobreviventes que an-damporaípenandoecarregandoasmarcas e asmágoasperante aindiferençadequemascausou–oEstado,nocaso.

Cumpridasestasformalidades,sem tibiezas e com um espíritogenuíno de reparação,maismo-ralquematerial,pelo tempoquejá passou, existem indicadoresparacrerqueacomemoração,pú-blicaouprivada,do«27deMaio»assumiráentãoocarizdemarcode reflexão que se pretenderiacomoavisoànavegaçãoàNação.Às gerações vindouras, o marcode uma direcção que jamais sepodepermitirqueserepitanestepaís.Pois as feridas causadas atésepodemcurar–oqueestamosadesconseguirfazer–masascica-trizeseasmarcasficamindeléveisparasempre.

Dequeestamosentãoàesperaparafazerisso,minhagente?■

Temos de enfrentar a catarse

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Memória

Na sequência dos insul-tosproferidos«soldadi-nho como osmilharesque cumpriram servi-

çomilitar», proferidas por ArturQueirozeconsentidospelosenhorJoséRibeiro,directordoJornaldeAngoa,noiníciodocorrenteano.Areacçãodosantigoscombaten-tes foram de indignação, entreos quais Sua Excelência senhorDinoMatross,secretário-geraldoMPLAesuaexcelênciasenhorge-neralNdalu,que,duranteaentre-vista,naAssembleiaNacional,dis-sequenão se lembravadealgumjornalistanas frentes,noentanto,iria consultar outros camaradas.Confirmou o pequeno grupo dejornalistas que esteve no Morrodepois doderradeiro combatenodia10,havendoentreelesumquetentoufazerumafotoequefoideprontoimpedido.

Os insultosaFilipeCorreiadeSá,administradordaMediaNova,e aHorácioDáMesquita, na se-quênciadeumaentrevistaaojor-nalOPAÍS,apanhoudesurpresaoConselhodeAdministraçãodasEdições Novembro, numa alturaem que Dá Mesquita desempe-nhavaocargodechefededepar-tamento na empresa. O senhorJosé Ribeiro impediu por escritoo direito de resposta, violando oartigo40.5daConstituiçãodaRe-pública,aLeideImprensaeaLeiGeraldoTrabalho.

A entrevista e as fotos tiradaspeloscombatentesfalamporsi.

Ana Medina

Conhece o Morro da Cal, ali

onde construíram as casas doPanguila, depois a subir tem aliumasbombas,aqueleMorrocha-ma-seMorrodaCal,antigamentetirava-sealicalparaaconstrução.O Horácio (Da Mesquita) estevecomigo nesse dia, quando cap-turámos esse tanque que esteveno 1º de Maio, vou-lhe mostrar,que está aqui. Gosto de mostraras coisas todas com factos, paraque esses senhores não venhampara aqui, agora, passados mui-tosanos…todomundoestavalá.Olhe,estemorreunaemboscada,o«Silencioso»,estaéumafotogra-fiamuitoantiga,de75,estáaquiotanque.Aí está Paulo Lara, o fa-lecidogeneralRuideMatos.EsteéoDembo,queestavanotaltan-quequefoiabatido,oBRDM,estávivo, este sou eu. Isto énaBarradoDande,estáaverorioDande?A gente a descer, nem tinha as-falto.Este é oUaz, onosso jepp,

aquelesUazantigos.Este jámor-reu,oDomKiko.Estáaquimais.EsteéumgrupoládaFunda,na-queletempo,nemhaviafarda,esteeraoBatalhãodeIntervençãodaFunda.EsteéoManico,tambémjá morreu. Olhe, o Horácio estáaqui. Conhece o Horácio, estáaqui,decostas.EletinhavindodeBelizeetrouxeessafardaqueusá-mosdeCabinda,né?EstáaíoHo-rácio.Essesgajossãoumacamba-dadementirosos,aldrabões!

Porque ele escreveu como tivesse razão.

Nada, é mentira, não vi lá nin-guém. O próprio Paulo Lara está aí vivo, o próprio Dembo, que es-teve comigo, está aí vivo, em Via-na, e outros mais. Os catangueses, muitos dos quais devem ter morri-do, foram lá para o Congo, para o Chaba e não sei quê

Quando é que vai para a cidade, devíamos fazer um scanner das fotografias?

Se a senhora prometer que me devolve, tudo bem, escolha, há umas repetidas aí, outras não es-tão bem visíveis. Tinha mais, mas com o tempo, fora desaparecendo.

Então, não houve jornalistas?Não. Eu não vi, porque nesse

dia, fizemos o avanço, tivemos o apoio dos BRDM atrás, ainda não havia 9ª Brigada, isso foi antes da independência.

Ele diz que havia 9ª brigada, ainda não existia?

Nâo, não havia brigada nenhu-ma, mentira, nem a 9ª Brigada, que foi a primeira, existia. Nós tiramos a FNLA do São Pedro da Barra, não puderam sair por terra, tiveram de sair por trás, pela falé-sia, porque a fragata do exército português encostou ali e uns foram de bote do exército português, ou-tros foram a nado, muitos morre-ram. Encontrámos lá mais de 100 mortos, deles e pessoas que anda-ram a prender e matar ali dentro, encontrámos quando fizemos o as-salto, tem várias pessoas aí vivas. Então, eles como recuaram, depois foram para o Ambriz e para o Nze-ro, no Norte e ficaram por lá. Nós aqui organizámo-nos a partir do Batalhão de Intervenção da Funda e do Estado Maior. Eu estava com os katangueses. O chefe deles era o Nataniel Mbumba, do Katanga. Avançamos em direcção ao Am-briz. Quando íamos a sair de Ca-xito, em direcção aos Libongos, no Morro do Bukula, eu nesse dia, era

o terceiro homem da frente.

E quantos eram no total?Éramos muitos, os blindados

vinham atrás de nós. Eu estava a

fazer o reconhecimento avançado, tive logo o primeiro choque com os katangueses. Quando nos aproxi-mámos da curva do Morro, apare-ce um AML90, igual a esse aí, que

foi abatido, esse chama-se AML60, esse onde está o Paulo Lara. Esse abatemos aqui no Morro da Cal, uma semana ou duas antes. Apa-rece um tanque igual este, afinal,

«Soldados fomos todos»Major-general Xavier

O SOLDADIMHO «Silencioso» morto em combate no Bukula

PORMENOR, General Ndalu sem blusão, atrás vai o soldadinho Dikiko, já falecido

OFENSIVA à Barra do Dande, com Ndalu ao comando, sem blusão

14 Sábado, 01 de Junho de 2013.

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Memória

Sábado, 01 de Junho de 2013. 15

eles estavam embosscados no Mor-ro. Combate, combate, os dois so-dados que estavam à minha frente caem, entro para o capim. O nosso BRDM onde vinha o Dembo é atin-gido, a tripulação consegue sair de lá de dentro, estivemos ali mais de quatro horas em combate. Depois

tivemos a informação de que cho-cámos com os mercenários., que vieram com a FNLA e com Santos e Castro, que era o comandante deles. Eles vinham com o AML90 e nós recuámos, uns pelo Piri, entre eles eu, estávamos mais avança-dos, e os que estavam mais atra-

sados recuaram por Porto Quipiri. Depois, eles derivam uma força a partir dos Libongos, que tinha uma estrada que dava para a Barra do Dande, que é a estrada que hoje se usa, já asfaltada, para se ir ao Ambriz já não se passa por Caxi-to, ao contrário de anteriormente.

Quando eles recuaram, partiram aquela ponte. Depois, recuámos, de Caxito e fui sair em Catete, en-tão fizemos a chamada frente de Kifangondo.

Essa batalha quanto tempo du-rou?

Combatemos aí 5 horas, desde manhã.

E nesse espaço de tempo, havia possibilidade de grupo de jorna-listas acompanharem?

Não, não tinha nenhuma, mi-nha senhora. Nós estávamos mes-mo ali, não vi ninguém, aliás, per-gunte a toda gente, não vi nenhum jornalista. Os jornalistas que eu vi nos combates, em Luanda, foi quando estávamos a combater ali no Marçal, quando expulsámos a UNITA e a FNLA daqueles dois prédios. Estavam dois jornalistas da Televisão, dois manos brancos, de barba, foram os únicos que vi em todos os combates que travei aqui. Eles ainda andam aí vivos, um andava com aquela máquina, daquelas bem grandes, ainda me lembro. Há um filme até que foi feito quando atacávamos aqueles prédios do Marçal, porque eu esta-va na base do Marçal, a base 2, o comandante até era o Ambrósio de Lemos «ALPEGA». E há um filme da TPA, em que aparece o meu ir-mão mais velho, que estava comigo nessa base, em que surge a disparar umam bazooka do exército portu-guês contra esse prédio . Esse com-bate passou-se exactamente assim conforme estou a contar.

Mais alguma coisa que queira acrescentar?

Em relação a isso, é o que tenho a dizer. Se eles lá estiveram à minha frente, podemos lá ir num carro, no meu jeep e depois eles dizerem-me onde foi, vamos lá a Caxito e vou

perguntar-lhes, onde foi, onde vo-cês estavam nesse dia. A senhora já viu o meu carro né? Eu conheço aquilo, não só da tropa, porque eu caço. Eles a mim não podem aldra-bar, talvez aldrabem alguém que passe por lá de vez em quando.

O Horácio, se calhar, agora vai precisar de testemunhas no tri-bunal?

Sim, sim, mas eles, não. O Ho-rácio nesse dia não estava nessa emboscada, porque ele é asmático, ele apanhou um ataque grande de asma e ficou no Batalhão, estava mesmo aflito. Eu disse-lhe «epá, fica calmo, nós vamos fazer o avan-ço.» Quando chegámos ao Ambriz, porque já uma semana antes, de-mos uma corrida terrível aos tipos e os gajos viraram-se lá para cima para o Nzeto, mas como estáva-mos à espera de reforços, nem os cubanos estavam aí, nem cubanos tinha, é mentia, nem um cubano havia, ainda não tinham chegado os cubanos aí, apareceram depois.

Mas a Batalha de Kifangondosó foi de algumas horas, também, não dias?

Não. A Batalha de Kifangondo foi muito depois, começou em Novem-bro. Isso foi a emboscada de Bukula.

Então, em Kifangondo, também não havia jornalistas?

Em Kifangondo, os jornalistas se apareceram, deve ter sido no próprio dia 11 de Novembro. De-pois saí da Funda, dali da zona de Kifangondo, antes do 11, transferi-do para a Kibala, para instrução, para a frente Sul, no CIR coman-dante Mamão Verde, na Kibala, e deixei os combates de Kifangondo, quando foi o avanço para o Norte, eu já não fiz, avancei para o Sul, porque não havia tropas, faltava tropa no Sul. ■

PORMENOR, Rui de Matos, no desvio da Barra do Dande

CONDUZIDO por Paulo Lara e Rui de Matos, Barra do Dande

AMIGO: capturado com perfuração de projéctil de 14.5

AMIGO: Dá Mesquita de costas, com Rui de Matos

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entrevista

Isaac dos Anjos, em grande entrevista ao SA

«Ser Governador de Benguela é um desafio muito grande

a que nos propusemos vencer» Nelson Sul D’Angola

eMaximianoFilipe(fotos)

Em 1987, quando saiu de Benguela, Isaac dos An-jos trabalhava como en-genheiro agrónomo no Gabinete de Desenvolvi-mento do Vale do Cavaco, um campo de produção do Estado, no qual tam-bém desempenhava o car-go de director. Hoje volta

como governa-dor, numa das

p r o v í n c i a s mais com-

p l i c a d a s de gerir,

devido a o ele-va-

d o grau

d e

e x i -gência que a socieda-de local impõe aos seus edis. Em con-versa com o Sema-nário An-golense,

na primeira grande entre-vista que concedeu a um órgão da Comunicação Social nessa qualidade, Isaac dos Anjos confirma que governar Benguela é efectivamente uma gran-de responsabilidade, até porque é um cargo que o MPLA só tem reservado a membros do seu Bureau Político, revelando que foi uma honra ter merecido a confiança do Presidente da República para exer-cer tal função. Para ele, é um desafio forte, mas a que se propõe vencer. Na passada, não deixou de tecer considerações algo audaciosas, quando fala que o MPLA tem de definir a sua linha ideoló-

gica, já que, nos tempos que correm, fica compli-cado saber-se se é um

partido de esquerda ou um partido de direita, tão confuso tem sido o seu posicionamento político nesses particulares. Em relação ao seu programa de governação, diz que vai apostar forte na pro-dução agrícola, na criação de indústrias e na cons-trução de infraestruturas habitacionais e noutras obras de impacto social, com base numa gestão em que se esforçará para que seja transparente e rigorosa. Porém, não se coibiu de fazer jus à «imagem de marca» que ganhou na Huíla, como «demolidor implacável», anunciando que, se for

preciso, não hesitará em proceder também a de-molições.

Semanário Angolense (SA) - Há muito pouco tempo o Sr. tinha ocupado o cargo de governador do Namibe saído da Huíla. Quan-do lhe foi transmitida a notícia de que viria para Benguela, mostrou alguma hesitação?

IsaacdosAnjos(IA)–Ocargode governador provincial não se exerce por eleição, é por nomeação. Portan-to, compete apenas aquém nomeia a decisão de poder nos manter ou não no mesmo sítio. Para beneficiãrmos dessa confiança, temos de ter desem-penho, senão não seremos indicados para outra posição. Em muito pou-co tempo, fui transferido da Huíla para o Namibe e, em consequência do pedido de demissão do general Armando, por manifestação de do-ença, entendeu o senhor Presidente indicar-me para Benguela. É sempre uma honra podermos aceitar uma indicação do Presidente da Repúbli-ca.

SA - O senhor saiu desta provín-cia para entrar no mundo da go-vernação, começando pelo cargo de vice-ministro da Agricultura. Ao fim deste tempo todo (mais de 20 anos), como encontra Bengue-la?

IA – Todo o país teve modifi-cações. Todo país sofreu as conse-quências da guerra de 30 anos. E durante esse período passamos por várias etapas de negociações de paz e de estabilidade. Em 1991 e 92, es-perávamos que o país entrasse numa normalidade, mas, infelizmente, re-tornou à guerra, que durou muito tempo. O alcance da paz foi em 2002 e, por conseguinte, é perfeitamente normal que assistamos a essa ex-plosão demográfica que tinham as cidades do litoral do ponto de vista da segurança governamental. É nor-mal encontrarmos uma Benguela superpovoada, assim como Lobito e Catumbela, que acabaram por ser os

centros de recuo da população imi-grante do interior. Ainda não tive a ocasião de visitar o interior.

SA - O que é para si sair daqui apenas como director dum gabi-nete e voltar governador?

IA – Os seus dados ao meu respei-to não estão completos. Eu fui nome-ado pela primeira vez com 17 anos para ser director de agrupamento de uma unidade de produção no Kwan-za Norte, em 1977. A minha carreira de função pública começa no Kwan-za Norte, depois de eu acabar o cur-so geral de agricultura. Sempre tive o privilégio de ser mandado para sítios onde pudesse exercer a minha profissão em larga escala. Também já fui director de departamento de produção do agrupamento da uni-dade n.° 1, na Chipipa (Huambo). E devido ao meu aproveitamento académico na universidade, comecei a trabalhar no gabinete do plano da Agricultura do governo do Huambo. Depois disso, fui colocado, a meu pe-dido, em Benguela, na unidade de produção do Cavaco. Outra grande verdade é que na visita do Presidente da República efectuada a Benguela naquela altura, eu fui indicado para a apresentação do Vale do Cavaco. Pode ser que a minha historia tenha começado a partir daí mesmo…

SA – Gostaríamos apenas de saber que sentimento tem de ter saído de Benguela como director dum gabinete e voltar governa-dor?

IA – Essa deveria ser uma razão de minha parte em aceitar o cargo, porque, gerei afinidades, amizades e relações com Benguela. Aceitei o car-go de governador em substituição do general Armando, numa província de grandes referências. Por cá passa-ram figuras importantes da história recente de Angola. Só têm passado por Benguela membros do Bureou Político (do MPLA), coisa que eu não sou. Por conseguinte, é uma res-ponsabilidade muito grande aceitar esse cargo. É um desafio importante, para o qual nos propusemos, a ver se conseguimos vencer. ■

16 Sábado, 01 de Junho de 2013.

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entrevista

Sábado, 01 de Junho de 2013. 17

Desenvolvimento agrícola em questão

«O sector camponês podeser uma grande empresa»

SA - Qual é o programa de governação que traz na mala e quais as suas principais linhas de força?

IA – Deveríamos nesta altura encontrar elaborado o programa de longo prazo da província para 2013/2017. Esse é o instrumento que o governo central mandou as províncias elaborarem. Se, o encontrássemos já elaborado, se-guiríamos esse plano, porque o governo angolano é unitário. Não há autonomia das regiões ou das províncias, portanto, há um pla-no nacional, há uma orientação do governo central que geralmen-te deve ser seguido. Assim sendo, você pode perguntar como é que pretendo adaptar o plano nacional às circunstâncias da minha gover-nação para produzir os resultados que o governo central espera e que a população ambiciona. Apro-veitamos essa oportunidade para introduzirmos nesse plano mais algumas ideias e vamos ver se con-siguimos dar a Benguela um pro-jecto que permita à província dar um salto expectável. Posto isto, o que encontrei absorvo e acrescento o meu saber, para no conjunto ter-mos um programa que satisfaça a província.

Convocamos uma reunião mais alargada com a participação da sociedade civil, de pessoas de vá-rios ramos, porque só temos 20 dias para apresentarmos o nosso plano de governo para os próximos 4 anos. Se fosse para estabelecer uma diferenciação, eu diria que estes são os últimos 20 dias que vão marcar o futuro da província nos próximos 4 anos.

SA - Quando foi vice-ministro da Agricultura garantiu, naquela altura, fazer exportação de ba-nana e de manga a partir do Vale do Cavaco e outras zonas verdes de Benguela. Passados mais de 20 anos, o que tem a dizer sobre isso?

IA – Enquanto profissional do ramo, continuarei a trabalhar em fruticultura. Promovi a introdu-ção no país de variedade de man-gas, divulguei-as e, hoje, temos um banco de germoplasma invejável. A exportação só se consegue se houver empresas a produzirem volumes de produtos também para

exportar e com alguma vaidade podemos dizer que trouxemos e estimulamos pessoas para irem buscar novas de variedades de banana e hoje temos variedades melhores, mais produtivas e a se-rem testadas em vários ambientes. Recentemente, o Bengo deu uma explosão na produção de banana. Tenho conhecimento de que uma virose está a afectar as bananas no Bengo. São essas experiencias de doenças e de qualidade que fazem ser possível ou não um projecto de exportação. Um projecto de expor-tação também é feito com a vonta-de do Estado, do governo, das suas populações e da economia. Entre-tanto, nesse período, com a guer-ra, houve desarticulação geral da economia e a minha boa vontade só não jogou.

SA - Naquela altura, o senhor criou o famoso Gabinete de De-senvolvimento do Vale do Cava-co. Olhando para o quadro actu-al, nota alguma decadência ou nem por isso?

IA – O sector da agricultura sofreu essa transição de maneiras diferentes. A perspectiva que nós tínhamos à saída da universida-de era a de primeiro restaurar os grandes bancos de experimen-tação e de investigação. Hoje, o Ministério da Agricultura está a

fazer esses esforços de recuperação das estações de experimentação agrícola, mas a formação do ho-mem tem que ser conseguida, por se tratar duma acção missionaria. Hoje, de um modo geral, os jovens e os profissionais estão muito pre-ocupados com a sua estabilidade financeira e, portanto, a entrega missionária é desqualificada por um grande sector da sociedade. A sociedade está doente. E, por isso, a investigação está baixa. É só olharmos para os recursos que são destinados à investigação para se concluir que o país está mal e por isso estamos a importar tudo.

SA - A antiga açucareira do Cassequel transformou-se no pólo de desenvolvimento indus-trial da Catumbela. Enquanto agrónomo, o que tem a dizer sobre o facto dessas áreas agrí-colas se terem transformado em zonas industriais e habitacio-nais?

IA – O problema não se põem apenas nessa dimensão. Põe-se, também, na dimensão da impo-tência que os órgãos ou os profis-sionais duma determinada área e em determinado momento sin-tam ante a conjuntura geral em que habitam ou vivem. O senhor jornalista não assistiu a nenhu-ma manifestação pública até hoje

relacionada com a falta de água nos talhões da açucareira arrima-dos para Benguela 5 anos depois. Portanto, o sector sozinho não pode fazer milagres. Se, cortaram a água que abastece os campos, fecharam os canais de drenagem, e ninguém reclamou, quer dizer que os terrenos estão a ficar de-volutos. E os terrenos a ficarem devolutos e o sector da construção a pressionar, naturalmente, que começa a ver uma reconversão de terras agrícolas para terras de ha-bitação. Acrescentamos a isso que as áreas eventuais de habitação nesta franja do território são de relevos acidentados, alcantilados, e requerem investimentos maiores. Portanto, é normal que haja essa pressão de terras agrícolas para construção.

SA - Muito se tem falado de que a solução dos problemas da agricultura está na grande em-presa. O senhor vai manter esse discurso ou, pelo contrário, vai dar um enfoque prioritário ao sector camponês?

IA – O problema está mal pos-to por si. O sector camponês pode ser uma grande empresa, só que o problema está na tecnologia que se aplica para o desenvolvimento da pequena agricultura familiar e da tecnologia que se aplica para a

grande agricultura. Se encontrar-mos um modelo de eficiência do uso de tecnologia, poderemos fa-zer pequenas empresas agrícolas altamente rentáveis. Então, esse modelo de eficiência do uso de tec-nologia pode ser em 12, 20 ou 30 hectares. A diferença deve ser me-dida nisso. Vale a pena comprar um tractor para lavrar meio hec-tares só? Não! Mas, um tractor só para 6 hectares, sim. Para 10 hec-tares, sim. Para 20 hectares, chega. Já é uma fazenda pequena.

As grandes fazendas vão no ra-ciocínio do espaço vital útil para o animal. Isso também define uma estratégia diferente do tipo de ex-ploração que queremos fazer. Na Europa, uma fazenda de 20 hec-tares pode comportar 100 bois, onde levamos alimento ao animal, quando, no nosso contexto, leva-mos o animal ao alimento. A dife-rença é tecnológica. E, é aí aonde vou investir exactamente, porque já não posso mais voltar a uma agricultura dos anos 60. O Bocoio, a Ganda e o Cubal podem voltar a ser «flores» sem precisar haver grandes fazendas, porque o que se quer é ter mais gente a produ-zir com eficiência e com rentabi-lidade económica. Nós já tivemos uma grande indústria de produ-ção de enxada, pás e etc., que é era a Lupral. Temos também que pedir a montagem duma indús-tria de tractores, já que a enxada e a catana que foram símbolos da escravatura que levou o desenvol-vimento para a América Latina, hoje já não são usadas. A América Latina produz tractores e nós esta-mos aqui a mandar sempre os ou-tros a trabalharem com enxadas e catanas…

SA - Como atrair investidores para a nossa indústria?

IA – Vamos incluir nesse pro-grama de desenvolvimento eco-nómico e social, a construção de pelo menos cinco fábricas de pequena dimensão, já que não há angolanos com dinheiro para investirem na construção de fá-bricas. Vamos investir nesse sec-tor, com o pouco dinheiro que o Estado tiver, associado iniciati-vas privadas. Vamos chegar lá. E nessa perspectiva faremos o mes-mo com outras indústrias. ■

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entrevista

O Lobito não é só à beira-mar...

«Se for necessário, iremos demolir»SA - A imagem do senhor está muito ligada às grandes de-

molições e desalojamentos forçados da Huíla. Acha que em algum momento foi mal percebido?

IA – A resposta você tem. Foi muito falado, foi muito badala-do, foi muito comentado, mas eu ganhei as eleições para o meu partido. Mantive a maioria de registos, portando, continuei e deixei a província da Huíla como a segunda maior praça elei-toral. Fiz o trabalho do governo que deu os votos necessários ao partido. Por outra, construímos em toda dimensão da província, com níveis que não têm comparação. E fizemos construções de-finitivas com qualidade em todos os municípios. Se eu fui, em determinada altura, mal compreendido, o povo respondeu. Os meus amigos ou os meus adversários (esses são os meus amigos de estima - risos) também não me vão poupar em Benguela. Mas, em todo caso, estou à espera deles, a ver se desta vez também lhes consiga dar mais ou menos algumas respostas adequadas. Vamos ver!

SA - A OMUNGA divulgou um comunicado, na altura da sua nomeação, realçando os aspectos positivos de Armando da Cruz Neto em relação a procedimentos ligados a desalo-jamentos e demolições. O senhor. como novo governador, compromete-se a dar continuidade aos processos negociais iniciados pelo seu antecessor?

IA – O governo é unitário. Não existem federações em Angola. Portanto, os programas do governo central, enquanto governo unitário, são comuns e para serem seguidos. Não houve aqui mu-dança de partido, a mudança é de figuras. O programa de go-vernação é o programa do MPLA que foi sufragado nas eleições de 2012 e que lhe deram confiança para continuar ser governo. Relativamente à Omunga, ela não faz comunicados, a Omunga faz uma análise de opinião…

SA – Mas enquanto instituição ou organização da socieda-de civil, pode fazê-lo.

IA – Uma organização da sociedade civil faz o seu comentá-rio. Se fosse tão importante, ela própria nomeava o governador que quisesse. Não sendo assim, ela opina, e a comparação só é possível quando existem tempos iguais e períodos de referencias semelhantes. Se o que se pretende é saber se vai ou não haver de-molições, é o que lhe respondi: acho que o Lobito pode crescer em outras direcções que são inóspitas e não necessariamente aí onde já tem gente. A dimensão do território do Lobito não se reserva exclusivamente à beira-mar. Lobito, enquanto município,deu origem à Catumbela. Então quer dizer que, se a Catumbela se

emancipou do Lobito, é porque houve necessidade de condizer o seu crescimento a uma nova realidade. Podemos fazer o mesmo com o Biopío e a Canjala, que são parte integrante do município do Lobito. Então, podemos levar as pessoas também a construí-rem nessas localidades e não necessariamente a demolir para ar-ranjar espaço. No Lubango, nós fizemos uma grande demolição ao longo da linha férrea para viabilizar a construção das linhas do comboio e isso foi conseguido. E ganhamos as eleições: o povo compreendeu votando no MPLA. Demos origem a partir daquilo a uma grande urbanização de cinco mil hectares que foi talho-nada e entregue a cada um dos cidadãos deslocado daquela po-sição, mil metros quadrados com título de propriedade. Aqueles cidadãos eram parte da sociedade, não tinham nenhum direito e passaram a ter. E não apenas um direito fictício, eles passaram a ter um direito material. E porque é que ninguém fala disso? Por-que é que essas organizações sociais não fazem sobressair isso?!

SA - Porque é que o MPLA local não faz sobressair isso, já que ele foi também um das principais opositores das demo-lições?

IA – O MPLA local foi agraciado agora com a nomeação do primeiro secretário a governador que continua a cortar as fitas do trabalho que nós deixamos. A reposta é essa. Não há melhor

etapa ao nível do nosso partido que àquela. Preciso dizer a algu-mas pessoas que, para se chegar a algum sítio, não é necessário fazer confusões indevidas. A seu tempo, você chegará lá.

Entretanto, agora ele está lá, o primeiro secretário. Mas, o tra-balho que tínhamos para ser feito nós fizemos. E ele é que sabe se vai continuar, se tem ou não interesse, se a imagem dele vai sobressair mais ou menos. Eu já não estou na Huíla, estou em Benguela. Benguela é uma nova realidade. Mas, se for necessário termos que o fazer, falo-emos.

SA - Benguela é uma das províncias de Angola que já tem uma sociedade civil interventiva na área de direitos huma-nos. O senhor, enquanto governador, como pensa relacio-nar-se com essa franja da sociedade benguelense?

IA – No meu discurso de apresentação tornei claro que estou aberto ao diálogo. Não se esqueça que eu sou um intelectual e com uma boa formação. E, portanto, apesar de estar a exercer actividades políticas, não se esqueça que eu sou um profissional e sou católico. Ora, se sou católico, eu abraço os valores da morali-dade. Então, o diálogo entre as pessoas e as instituições é possível. Mas é preciso frisar que o uso do discurso dos direitos humanos é divisa para o intervencionismo político. E o intervencionismo político também tem regras próprias. Se não houver intimidações deles para connosco e nem nossa para com eles, é possível, sim, um relacionamento saudável, para que possamos atender aos interesses dos cidadãos. Mas o cidadão tem que recuperar a sua auto-estima no sentido de valorizar-se mais e não ficar sob hum-belas de pessoas e de organizações que apenas estão a utilizar a sua condição de precariedade temporária.

SA - Outra questão muito badalada tem a ver com a int ole-rância política e alegada violação do direito à manifestação. Qual é a sua visão em relação ao assunto?

IA – As sociedades democráticas reconhecem o direito à mani-festação tal como a nossa constituição reconhece o direito à ma-nifestação política e organizada. E a nossa constituição foi mais longe porque permite aos membros da sociedade organizados a realização de manifestações com mera comunicação à autorida-de. Agora, se não houver essa mera comunicação à autoridade é possível um bloqueio. Em suma, nós não proibiremos nenhuma manifestação se elas forem comunicadas atempadamente. Ela não pode ser espontânea porque uma manifestação espontânea não tem responsável e pode provocar desordem. Quem se acha líder, tem que dar a cara e assumir as responsabilidades duma manifestação. ■

«Se plantarmos árvores na periferiaveremos os bairros de forma diferente»

SA – Em Benguela, em termos de melhoria da quali-dade de vida dos cidadãos, vê-se que o investimento não chega à periferia dos centros urbanos: há muita poeira, falta de luz e de água, sendo a relação directa entre isso e as doenças. Quando é que a periferia será também prioridade?

IA – Essa transcendência tem que ser também nacional. No nosso conceito de base, a cidade é a parte asfaltada e a não asfaltada é a periferia. Mas, deixa-me dizer que é preciso criar infraestruturas para transformar essa peri-feria no casco urbano real. Isso é que é o grande desafio que custa dinheiro, custa compreensão e tem que partir em discussão. Vamos educar a nossa gente a construir com urbanidade, de modo ordenado, a fim de que, mesmo que haja atraso na implantação dessa infraestrutura, tenha-mos um caminho a vencer e a integração possa vir a ser feita progressivamente. Vamos calcular quantos quilóme-tros de estradas é preciso fazer dentro desse alargamento das cidades, para que as periferias se integrem e deixem

de ser tratadas como tal, porque são bairros, são aglome-rados populacionais…

SA – Muitos investimentos são feitos no casco ur-bano. É aqui onde encontramos jardins e centros de recreação, coisas que não existem nos bairros. Olhando para esse quadro, o cidadão que vive no bairro não teria razão em pensar que está a ser in-justiçado?

IA – Se mudarmos de atitude e plantarmos árvores, cer-tamente passaremos a ver o bairro de outra forma. Por exemplo, não é admissível que numa cidade como Bengue-la as pessoas defequem ao ar livre. Temos que encontrar uma solução para isso. Se calhar, não vais publicar isso, porque lhe ofende, mas essa é a pura verdade. A diferença dos que vivem na cidade com os que vivem na periferia é que os primeiros se organizam para pedir melhores quali-dades de serviço. Contudo, do ponto de vista sociológico, o engenheiro agrónomo não vai fugir das suas obrigações.

Infelizmente, cheguei agora e ainda não tive tempo para constatar as áreas e estabelecer um programa…

SA - As estradas no centro da cidade (Lobito e Ben-guela) vêm sendo reparadas sem considerar a drena-gem. Os esgotos não funcionam, e quando chove, tudo vira bacia. Como inverter esse quadro?

IA – A própria cidade de Benguela foi construída sob o Vale do Cavaco. E ela está rimada do lado esquerdo do vale, sendo a sua quota de construção quase a quota do mar. A estrutura de saneamento de drenagem para Benguela tem que ser pensada nessa perspectiva. Temos o grande emissário da vala do Curin-ge que há anos atrás sofreu uma intervenção do Banco Mun-dial. Se calhar, estamos em tempo de pensar em outra vala ao meio da cidade, para produzirmos essas drenagens massivas.

Nas novas urbanizações temos que conceber a pers-pectivadasvalasgrandesdedrenagenseorebaixamentodosníveisdaságuasparaqueessasvalasdedrenagenssejamoslogradouros.■

18 Sábado, 01 de Junho de 2013.

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entrevista

Sábado, 01 de Junho de 2013. 19

É um partido de esquerda ou de direita?

«O MPLA tem que definir a sua linha ideológica»

SA – Benguela é apontada como um dos grandes palcos da corrup-ção e tráfico de influências, so-bretudo, na adjudicação de obras públicas. Até que ponto isso in-fluencia negativamente no cres-cimento económico da província?

IA – Cheguei agora e não posso lhe responder literalmente ao caso concreto e especifico de Benguela. Mas sobre o ponto a que se refere, gostaria também de me pronun-ciar. Em Angola, temos instru-mentos jurídicos que nos obrigam à contratação pública e à probi-dade administrativa, para com-batermos esses males e responder à crítica pública sobre o assunto. Se acompanhar os noticiários do mundo, nos países mais desenvol-vidos também há acusações sobre isso. A família do rei de Espanha e um ministro do governo britânico estão na boca da imprensa e a con-tas com a justiça por causa disso. Portanto, em todo lado também há esses problemas…

SA – O que vai fazer para evitar a corrupção na sua governação?

IA - Ainda assim vamos tentar fazer melhor pela via que é melhor. Vamos tentar fazer mais concursos abertos do que concursos selecti-vos. No resto, o risco de corrupção é normal, principalmente pela via de desenvolvimento que tempos em Angola. Para invertermos isso, é necessário que o privado aposte mais na autoconstrução, para evi-tar pagar comissões.

Por exemplo, nas fabricas que construiremos cá em Benguela, se forem bem acompanhadas, a pro-babilidade de haver corrupção será pequena. Mas, no final de tudo, as fábricas serão privatizadas. Acho que é uma boa altura de eu dizer que nós (MPLA) temos que nos es-clarecer se somos de esquerda ou de direita. Podem até estar juntas no

mesmo partido pessoas de esquer-da e de direita, mas, temos que nos entender em que momento é que ficam os de esquerda a governar e em que momento e que ficam os da direita a governar…

SA – Está a dizer que, actual-mente, o MPLA não tem defini-ção ideológica?

IA – Como estamos todos mis-turados, o partido (MPLA) como tal é de esquerda. Mas, entre as opiniões que rolam lá dentro, umas são de direita e outras de esquerda. Resultado: no final das coisas, não fazemos esquerda nem fazemos direita. Em matéria de economia, isso é fundamental. Se formos de esquerda, compete-nos

gerar empresas, criar infraestru-turas para geração de empregos e isso pode ser feito com recursos pú-blicos. Depois disso, que venham então os de direita para privatiza-rem tudo. Agora, querer tudo ao mesmo tempo, de um lado priva-tiza, do outro constrói, é evidente que isso gera uma imagem de cor-rupção e tráfico de influência em todo o momento…

SA – É uma crítica interna ao seu próprio partido…

IA – Graças a Deus, sou de um partido capaz de fazer esse exercí-cio, que nos autoriza a fazer isso publicamente. Por isso é que estou a fazê-lo consigo, para que possa haver uma interacção pública.

SA – Não temos terminado esse tipo de entrevista sem darmos a última palavra ao en-trevistado…

IA-Gostariade termais im-prensa a discutir as questõesprofundas da nossa socieda-de. Não estarei disponível paramuitasentrevistas,pois já estoucom idade avançada, além falaraberto em demasia. Tenho decomeçara cuidar-meumpouco(risos). Aliás, estou em fase decomeçarareduziraminhainter-vençãodesta formamuito aber-ta. Se calhar, você foi um pri-vilegiado ao conseguir que lheconcedesse essa entrevista logoàminhaentrada.Masfoiapenasparamedefinirdesdejá.■

Carreira políticaA carreira política de Isaac dos Anjos come-

çou em 1987, com a sua nomeação ao cargo de vice-ministro da Agricultura, onde permane-ceu até ao ano de 1990, altura em que é nome-ado ministro do pelouro. Um ano depois, por razões de reestruturação do governo, foi nome-ado Ministro da Agricultura e Desenvolvimen-to Rural, cargo que exerceu até 1997.

De 1998 a 2002, Isaac Francisco Maria dos Anjos exerceu acumulativamente os car-gos de deputado à Assembleia Nacional e o de Presidente do Conselho de Administra-ção do Fundo de Pensões das Forças Arma-das Angolanas (FAA).

De 2002 a 2005, foi Embaixador de Angola na África do Sul. Exonerado desta função, em

2006 volta ao cargo de deputado à Assembleia Nacional, e em função dos resultados eleito-rais de 2008 é nomeado governador provin-cial da Huíla.

Em Outubro de 2012, é exonerado do car-go de governador da Huíla, tendo sido no-meado para exercer a mesma função na vizi-nha província do Namibe, onde permaneceu por um período de apenas 8 meses, saindo daí para ocupar a mesma pasta na província de Benguela, em substituição do general Ar-mando da Cruz Neto.

Isaac Francisco Maria dos Anjos nasceu a 8 de Março de 1960, no Kuito, Bié. Engenheiro agrónomo de profissão, é casado e pai de oito filhos. ■

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Por: Makiadi

20 Sábado, 01 de Junho de 2013.

Engano na coroação da Miss Canadá

O reinado de Denise Garrido(na foto) comoMiss Canadádurousomente24horas.

Ojornal“TheStar”dácon-taqueteráhavidoerronapassagemdasavaliaçõesdojúri,dopapelparaocom-putador.Foicoroadaapessoaerrada,en-quantoaverdadeiramissterásidoanun-ciadaemterceirolugar.

Ao dar conta do erro, a organizaçãodeuoditopornãodito–retirouacoroaa Denise e entregou-a a Riza Santos, averdadeiravencedoradoconcurso.

Denise declarou ao jornal ter ficadomuito triste. Bem, o caso não era paramenos.Mas a organização vai consolá--la, colocando-a algumas vezes ao ladodeRizaduranteoreinadodesta.

Herói de Cleveland vai comer hambúrgueres toda a vida

Charles Ramsey, o lavadorde pratos que salvou astrês mulheres que viviamemcativeiroemCleveland

(EstadosUnidosdaAmérica),foire-compensado pelo seu acto heróico:vários restaurantes da cidade ofere-ceram-lhe a possibilidade de comerhambúrgueres gratuitamente até aofimdosseusdias.

Issoporqueojovemdeixoudeladoaseulanchenodiaemquelibertouasmulheres.

Charleséomaisrecenteheróiesta-do-unidense,depoisde ter libertadodocativeiroAmandaBerry,GinaDe-JesuseMichelleKnight.

Facebook destrói casamentosF

oiagoraprovadoque,afinaldecontas,oFacebookestájáadestruircasamentos.

A Academia America-na de Advogados Matrimoniais(AAML)veioapúblicocomduasre-velaçõessurpreendentes.Aprimeiraéque20%dosdivórciostêmligaçãocom o Facebook. Por outro lado,80% dos advogados americanos es-tãoconvencidosqueasredessociaiscausamdiscórdiaetêmdesmascara-dorelaçõesextraconjugais.

Ofactoéquecadavezmaisseuti-lizamfotosetextosdeconversasemredessociais,comoprovadetraição.OmaiscomuméapareceremnoFa-cebookantigosnamorados,querea-tamassimrelaçõesantesesquecidas.

DepoisdoFacebook,oMySpaceeoTwittersãoosmaisutilizadosparaprovarainfidelidade.

Semana da Moda Flutuante em Amsterdão

Decorreu, até à pas-sada quarta-feiraemAmsterdão (ca-pital holandesa),

umainsólitaSemanadaModaFlutuante.

AagênciaFrancePress as-seguraque,durantesetedias,

houve desfiles de moda embarcos turísticos que percor-reramoscanaisquecortamacidadeholandesa.

Afotorefere-seaosdesfilesdelingerieaoarlivre,quede-correram durante o passadosábado.

Decepou o próprio pénis durante uma discussão

Na semana passada,um indivíduo queestava a discutircom a namorada

decepou o próprio pénis eatitou-oàsanita.

O jornal “The Star” es-clarece que este caso insó-lito ocorreu em Jilong (noTaiwan). O indivíduo de 46anos estava bêbedo; discutiacomanamoradaederepen-tedecidiucortaropéniscomumatesoura.Atirou-odese-guidaparaasanitaepuxouoautoclismo.

A namorada levou-o aohospital, onde os médicosconseguiramapenasmanter--lheos3centímetrosdepénisque restaram, em condiçõesparaurinar.

Afinal pode-se mesmo morrer de amor

Sempreseconsideroubrincadeira a possi-bilidade de morrerde amor,mas agora

um cardiologista inglês veiodemonstrarque issoéamaispuraverdade.

Alexander Lyon, do Im-perial College de Londres,afirmouquea“dordeamor”afinal tem nome: cardiomio-patia de Takotsubo. Trata-sede uma espécie de enfarte,massemartériasbloqueadas.

Os pacientes com cardio-miopatia sentem dores nopeito e a principal câmarade bombeamento do coraçãodenota falha na contracção eapareceparcialoutotalmente

paralisada.Tudoindicaquehajaexces-

sodeadrenalina,queprovocaa diminuiçãodos batimentoscardíacos e a paralisaçãodosmúsculosdocoração.Aúnicacoisadebomnistotudoéqueoriscodemorrerde“coraçãopartido”ébastantebaixo.

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Sábado, 01 de Junho de 2013. 21

Christina Rogers e Sharon Terlep The Wall Street Journal Sergio Marchionne está tentan-do fechar o grande negócio da sua vida e os componentes em jogo envolvem bancos, advoga-dos e outras engrenagens do mundo de Wall Street.O diretor-presidente da Chrys-ler Group LLC e da sua acionista majoritária, a Fiat SpA, deseja que a empresa italiana adquira o controle total da montadora americana e ofereça ações em uma bolsa de valores dos Esta-dos Unidos, manobra que deve incluir uma complicada reação em cadeia e pode gerar mais de US$ 20 bilhões em acordos.O valor é quase tão grande quanto a oferta pública inicial de ações de US$ 23 bilhões feita pela General Motors Co. em 2010. A operação gerou US$ 260 milhões em comissões para os bancos que organizaram o negó-cio. Por isso, bancos americanos e europeus estão acompanhando as ambições de Marchionne.Os bancos de investimento vêm apresentando a ele ideias a sobre como articular essa transação excepcionalmente complicada. A italiana Fiat já abordou o Goldman Sachs Group Inc., o Bank of America Corp., o Deutsche Bank AG e outros bancos sobre possibilidades de financiamento, segundo pessoas a par do tema. A Chrysler não quis disponibilizar Marchionne para comentar.A meta final desse ítalo-cana-dense de 60 anos, que iniciou a carreira como contador e assumiu o comando da Fiat há quase uma década, é uma oferta de ações da nova empresa combinada na bolsa dos EUA, o que reforçaria o balanço da Fiat, segundo pessoas a par das suas ideias. Para isso, ele precisa conseguir novos financiamen-tos, comprar a fatia minoritária que um fundo administrado por um sindicato do setor automobi-lístico tem na Chrysler e, final-

mente, renegociar contratos de empréstimos e títulos de dívida da montadora.Ele tem sido reservado sobre detalhes e sobre quais bancos e corretoras farão parte da ope-ração. “Sempre considerei a Fiat e a Chrysler uma só entidade”, disse ele recentemente em nota a investidores. “Como vamos chegar lá é uma história que será escrita.”Marchionne é conhecido por conseguir o que quer mesmo que isso signifique confrontar os concorrentes. Há vários anos, ele obrigou a GM a pagar US$ 2 bilhões à Fiat para sair de uma parceria. Em 2009, como parte do pacote de socorro do governo à Chrysler, atingida pela crise financeira, ele convenceu o Departamento do Tesouro dos EUA a entregar o controle da Chrysler à Fiat sem que a em-presa italiana fizesse nenhum pagamento em dinheiro.Desde então, ele aumentou a participação da Fiat na Chrysler para 58,5%, fundiu equipes e fez com que as empresas trabalhas-sem juntas nas áreas de fabri-cação e engenharia. Mas elas

continuam separadas em muitos aspectos. A Fiat não pode usar dinheiro da Chrysler por causa dos termos de empréstimos ban-cários feitos à montadora ameri-cana e de contratos de títulos vendidos a investidores.Ter acesso ao caixa da Chrysler — que era de US$ 11,9 bilhões em 31 de março — e fundir o balanço das duas empresas é o grande objetivo dos acordos, segundo pessoas a par das nego-ciações. Unir os dois caixas tam-bém permitiria à Fiat desenvol-ver novos veículos para a futura empresa combinada competir com gigantes como a GM e a Volkswagen AG. A Fiat também está sob pressão dos problemas econômicos da Europa.Marchionne tem há meses foca-do em duas questões. Uma delas é tentar obter novos financia-mentos para a Fiat, para dar a ela um colchão financeiro en-quanto ele trabalha nos pontos da sua estratégia global. A outra é adquirir a participação de 41,5% da Chrysler hoje em mãos de um fundo que presta assis-tência médica aos funcionários aposentados da montadora ame-

ricana. Esse acordo está parado nos tribunais.Em 2012, a Fiat exerceu a opção de compra de uma participação de 3,3% do fundo, classificado nos EUA como associação bene-ficiária voluntária dos empre-gados, ou Veba. O fundo está interessado no negócio, mas os dois lados divergem quanto ao preço.Uma decisão judicial esperada para julho vai ajudar a oferecer uma fórmula para fixar o preço de uma fatia da participação. Depois, os dois lados devem negociar separadamente um preço para que a Fiat compre o restante. Se não houver acordo, o fundo quer vender a sua parte em uma oferta pública inicial de ações. Isso seria um passo caro e tornaria mais difícil para a Fiat realizar seu objetivo final de possuir 100% da Chrysler.Marchionne já disse que a Fiat, que terminou seu último tri-mestre com 11,1 bilhões de euros (US$ 14,4 bilhões) em caixa, tem dinheiro suficiente para com-prar a participação, a um preço entre US$ 1,75 bilhão e US$ 4,27 bilhões, com base nos cálculos

da Fiat e do fundo.Analistas discordam, ressal-tando que a Fiat está investindo pesado na Europa e correria o risco de um rebaixamento das agências de classificação de crédito se usar seu caixa para isso. Um rebaixamento poderia aumentar o custo de capta-ção. “É um negócio complexo, disse Eric Selle, analista do J.P. Morgan. “Você está lidando com tribunais, o sindicato e contra-tos de dívida.”Mesmo se a Fiat adquirir o restante da Chrysler, Marchio-nne ainda terá mais trabalho pela frente. Em 2011, a Chrysler conseguiu um empréstimo de US$ 2,9 bilhões para pagar o go-verno americano pelo pacote de socorro. Os termos do emprésti-mo limitam em US$ 500 milhões o montante que a Chrysler pode transferir para a Fiat. A Chrysler também tem US$ 3,2 bilhões em títulos de dívida com restrições semelhantes, mas menos rigorosas, quanto ao total do caixa da Chrysler que a Fiat pode usar.Para cancelar ou afrouxar esses limites, Marchionne vai preci-sar que a Chrysler refinancie os empréstimos com novos termos — e fazer os credores da Chrysler concordarem com alterações nos contratos dos títulos. Ambas as medidas provavelmente vão exigir novas rodadas de negociações e podem resultar em melhores retornos da Chrysler aos bancos e aos investidores.Ainda assim, vários bancos es-tão vendo um grande potencial de lucros futuros, segundo pes-soas a par das conversas. Muitos em Wall Street julgam que Marchionne é capaz de superar esses incontáveis desafios.“Ele é um negociador incan-sável”, disse Steven Rattner, financista que chefiou o socorro prestado pelo governo america-no às montadoras, em 2009, e negociou com Marchionne o res-gate da Chrysler. “Se há alguém capaz de conseguir isso, é ele.”

Fiat quer 100% da Chrysler e depois lançar ações nos EUABloomberg news

Marchionne articula com bancos e advogados uma complexa transação para dar à Fiat o controle total da Chrysler

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The Wall Street Journal

22 Sábado, 01 de Junho de 2013.

Indústria mundial de carros muda centro de gravidade

Pragas resistentes aumentam vendas de pesticidas nos EUA

Enda CurranThe Wall Street Journal

A indústria automobilística mun-dial está mudando seu centro de gravidade de locais tradicionais para novos e emergentes merca-dos, como a China. Recentemente a Ford anunciou que vai encerrar sua produção na Aus-trália em outubro de 2016, após 90 anos, e com isso eliminar 1.200 empregos. A medida acontece ao mesmo tempo em que a montado-ra americana fecha fábricas em países como a Bélgica e o Reino Unido, na Europa, outra região que se tornou pouco atraente devido a seus custos altos e economias estagnadas. “O negócio simplesmente deixou de ser viável”, disse o diretor-pre-sidente da Ford para a Austrália, Bob Graziano. “Nossos custos [na Austrália] são o dobro que os da Europa e quase quatro vezes maio-res que os da Ford na Ásia.” Enquanto isso, a Ford e outras montadoras estão correndo para abrir mais fábricas em mercados onde as vendas de automóveis estão crescendo rapidamente e os custos da mão de obra são baixos. A companhia vai gastar US$ 5 bi-lhões para construir quatro novas fábricas na China com uma sócia local nos próximos anos. A Ford também está se expandindo na Índia, na Tailândia e na Rússia.Muitas outras montadoras estão seguindo o mesmo caminho. A General Motors Co. e a Volkswagen AG vêm investindo bilhões de dó-lares em novas fábricas na China. Por outro lado, a GM está fechando sua fábrica na Alemanha para reduzir sua produção na Europa. Essas iniciativas são parte de uma reorganização mais abrangente da indústria automobilística iniciada dez anos atrás. Durante um século,

a grande maioria dos carros do mundo era fabricada nos Estados Unidos, na Europa ou no Japão. A Austrália era um polo secundário onde a Ford e a GM se estabe-leceram para suprir o mercado doméstico. Alguns carros feitos na Austrália eram também exporta-dos para países menos desenvolvi-dos da Ásia. Mas o surgimento de novos mer-cados emergentes como China, Rússia e Brasil deu às montadoras a oportunidade de ter um cresci-mento rápido e sustentável — e deflagrou uma mudança. Enquanto surgem novos centros de produção de automóveis nesses mercados emergentes, regiões menos com-petitivas, como Europa e Japão, vêm declinando lentamente. A China ultrapassou os EUA como o maior mercado do mundo em vendas de carros. O país asiático produziu 19 milhões de veículos em 2012, 9 milhões a mais que os EUA e mais que o dobro da pro-dução combinada da Alemanha, França e Reino Unido. O Japão já foi no passado o maior fabricante de automóveis do mundo, mas suas montadoras vêm reduzindo a produção doméstica porque a valorização do iene dimi-nuiu os lucros com a exportação de carros japoneses. O envelhecimen-to e declínio populacional também têm contribuído para a queda nas vendas de automóveis observada nos últimos anos.Ao contrário da Europa e do Japão, os EUA continuaram com-petitivos nessa reorganização do mercado global, em parte por causa da redução nos custos de mão de obra em reestruturações que acompanharam a recessão de 2008 e 2009. Desde então, as japonesas Toyota Motor Corp. e Honda Motor Co. vêm aumentan-do sua produção nos EUA para

exportar veículos para os mer-cados da Ásia, Europa e Oriente Médio.No ano passado, a Ford fechou uma fábrica nas Filipinas que vinha produzindo o utilitário esportivo Escape. Ao mesmo tempo, a mon-tadora produz o Focus, o Ranger e o Fiesta na Tailândia e abriu uma segunda planta no país em 2012. O anúncio do fechamento das fá-bricas da Ford na Austrália foi um revés para um país que investiu pesadamente para impulsionar sua indústria automobilística. A Ford afirmou que seus prejuízos na Austrália durante os últimos cinco anos totalizaram 600 milhões de dólares australianos (US$ 581,1 milhões). Ela produziu 37.000 veí-culos no país no ano passado. A unidade da GM na Austrália anunciou no mês de abril que vai cortar 500 vagas — cerca de 12% da sua força de trabalho —, citando a pressão da valorizada moeda local. De fato, a força do dólar austra-liano, que nos últimos anos vem sendo cotado acima do dólar americano, tem afetado todo o setor de manufatura da Austrália ao tornar as exportações menos competitivas e aumentar os custos das empresas estrangeiras. A queda na manufatura representa um desafio para o governo austra-liano, que está tentando tornar a economia menos dependente do setor de recursos naturais, o principal motor do crescimento do país nos últimos dez anos.O setor industrial da Austrália emprega cerca de 1 milhão de pessoas, 50.000 das quais no setor automotivo, de acordo com o go-verno. Em torno de um milhão de novos veículos são vendidos anu-almente no país, onde 65 marcas com 365 modelos competem pelos consumidores.

Ian BerryThe Wall Street Journal

As vendas de pesticidas estão crescendo nos Estados Unidos após anos de declínio à medida que o cultivo do milho aumenta e uma modifica-ção genética concebida para protegê-lo das pragas começa a perder o efeito. As vendas estão beneficiando fabricantes de pesticidas como American Vanguard Corp. e Syngenta AG. Mas organizações de defesa do meio--ambiente e alguns cientistas estão preocupados com o fato de que um dos benefícios mais alardeados do milho transgênico — que ele reduz a necessidade do controle de pragas — está se esgotando. Ao mesmo tempo, o ressurgimento dos pesticidas poderia trazer riscos tanto para agricultores quanto para insetos que são benéficos para a lavoura. Até recentemente, grande parte dos produtores de milho nos EUA ha-via abandonado os pesticidas de solo graças principalmente à adoção generalizada de uma modificação genética, desenvolvida pela Monsan-to Co., que faz as sementes do milho gerar suas próprias toxinas contra as pragas — mas que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (ou EPA, na sigla em inglês) afirma não ser nociva aos seres humanos. As sementes modificadas foram introduzidas pela primeira vez em 2003 e se mostraram altamente eficientes contra a diabrotica speciosa, a larva de um besouro voraz também conhecida como larva-alfinete, que é o pior inimigo dos produtores de milho do país. Hoje, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, dois terços de todo o milho cultivado inclui um gene contra essa larva chamado Bt. À medida que mais agricultores adotavam a semente modificada, a proporção da área plantada com milho que era tratada com inseticida caiu para 9% em 2010, ano mais recente para o qual há dados disponí-veis, comparado com 25% em 2005, segundo o Departamento de Agri-cultura. E os produtores que continuaram a usar inseticida fizeram menos pulverizações em 2010, segundo os dados. Em 2011, no entanto, entomologistas da Universidade do Estado de Iowa e da Universidade de Illinois começaram a identificar larvas que eram imunes ao gene da Monsanto e descobriram que essas pragas resistentes haviam se espalhado pelo chamado Centro-Oeste. Agora, muitos produtores já concluíram que precisam aplicar pesticidas no solo para matar as larvas que se tornaram resistentes ao Bt, assim como uma crescente população de outras pragas. Scott Greenlee, que cultiva 688 hectares em Iowa, disse que pretende começar a usar inseticidas este ano depois que as larvas destruíram parte de sua lavoura em 2012. Greenlee, que havia plantado o chamado milho Bt, da Monsanto, disse que a área afetada produziu somente cerca de 120 a 150 bushels por hectare, perto de um terço da produção normal. Outro fator que está impulsionando o uso de pesticidas é o aumento da área plantada com milho, resultado dos altos preços do grão hoje, cerca do dobro dos seus níveis históricos. Os agricultores americanos plantaram 39,3 milhões de hectares de milho no ano passado, a maior área desde os anos 30, comparado com 30,6 milhões em 2001. O governo americano não mede o uso de pesticidas anualmente, mas a American Vanguard e a FMC Corp., dos EUA, e a suíça Syngenta, que respondem por mais de três quartos do mercado americano de pestici-das de solo, divulgaram vendas maiores em 2012 e no começo de 2013. A Syngenta, um dos maiores fabricantes de pesticidas do mundo, informou que as vendas de seu principal inseticida para o milho mais do que dobrou em 2012. O diretor financeiro, John Ramsay, atribuiu o crescimento à “consciência maior do produtor” sobre a resistência da larva nos EUA. As vendas de inseticidas da Syngenta subiram 5% no primeiro trimestre, para US$ 480 milhões. A American Vanguard comprou uma série de tecnologias e empresas de inseticidas durante os últimos dez anos, apostando que a demanda por pesticida voltaria quando o Bt começasse a perder a eficácia. Essa aposta deu resultado nos últimos anos.A empresa, que tem sede na Califórnia, divulgou que seu faturamen-to com inseticidas de solo saltou 50% em 2012 e seu lucro, 70%. Suas vendas de inseticidas subiram 41% no primeiro trimestre, para US$ 79 milhões, crescimento que foi alimentado pelo pesticida do milho. Já a FMC, de Filadélfia, registrou um aumento de 9% nas vendas do primeiro trimestre no seu segmento agrícola, que inclui inseticidas e herbicidas, depois de ter tido um salto de 20% no quarto trimestre. “O setor inteiro está vendo um ressurgimento”, disse Aaron Locker, diretor de marketing da FMC, que tem uma receita anual de mais de US$ 3 bilhões.No Brasil, as vendas de defensivos agrícolas em geral vêm crescendo na esteira do aumento da produção. Para o milho, em particular, as

Bloomberg news

Sede da Ford na Austrália, onde custos altos tornaram o negócio inviável

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The Wall Street Journal

Sábado, 01 de Junho de 2013. 23

Em meio a críticas, Petrobras diz que vive bom momentoMatthew Cowley, Luciana Magalhães e Jeff Fick The Wall Street Journal, do Rio de Janeiro

O Brasil chacoalhou o mercado mundial de petróleo em 2007 com a descoberta de imensas reservas e a promessa de se tornar um grande exportador.A Petróleo Brasileiro SA fez naquele ano um dos maiores achados das últimas duas décadas ao encontrar, nas profun-dezas do Oceano Atlântico, grandes depósitos de petróleo aprisionados sob uma camada de sal de centenas de metros de espessura. Estimativas atuais indicam que a área do pré--sal pode conter até 100 bilhões de barris de petróleo, o que coloca o Brasil entre os dez países com as maiores reservas do mundo. “O pré-sal significa muito para a Petrobras. Significa que, em 2020, pelo menos 50% da produção da companhia virá do pré--sal”, disse Maria das Graças Foster, a presidente da estatal, durante uma entrevista ao The Wall Street Journal.As descobertas, entretanto, levaram a uma importante mudança de postura do governo brasileiro, que é dono de cerca de 46% do capital e 60% das ações com direito a voto da Petrobras. Depois que o Brasil abriu a exploração para empre-sas concorrentes, inclusive estrangeiras, em 1998, o setor de petróleo vive um auge de atividade, com empresas comprando concessões, fazendo descobertas e desenvolvendo novos cam-pos. Após a descoberta do pré-sal, o governo suspendeu a ven-da de novos blocos por cinco anos — até um leilão recente — e criou leis que deram à Petrobras o controle sobre a exploração das reservas do pré-sal. Os críticos argumentam que, como resultado, o setor perdeu o impulso e o país deixou de ganhar uma quantia considerá-vel em royalties e investimentos, enquanto as petrolíferas estrangeiras voltavam sua atenção para outras partes do mundo. Eles dizem também que é inviável encarregar a Petro-bras da operação dos campos do pré-sal e exigir da compa-nhia uma participação financeira de pelo menos 30% em todos os projetos. Segundo os críticos, a estatal não tem os recursos financeiros e o pessoal necessários para liderar a exploração.Enquanto isso, a produção total da Petrobras começou a de-clinar em 2011, quando ela começou a interromper a atividade para fazer a manutenção de envelhecidas plataformas nos campos tradicionais. Declínios naturais nos campos maduros também contribuíram para a queda da produção total.Muitos investidores minoritários venderam as ações da Petrobras nos últimos dois anos. O valor de mercado da em-presa diminuiu 34% desde dezembro de 2010, para R$ 250,63 bilhões na sexta-feira passada, segundo a firma de análise de investimentos Economática. “Creio que a Petrobras tenha sido talvez a empresa ou enti-dade pública mais prejudicada pela guinada ideológica do governo na direção do nacionalismo e da esquerda”, disse o ex-presidente do banco central Gustavo Franco, hoje econo-

mista da firma carioca de gestão de ativos Rio Bravo Investi-mentos. Foster foi nomeada para comandar a estatal há pouco mais de um ano. Seu escritório, no 23o andar da sede da empresa no centro do Rio, tem uma vista privilegiada da Baía de Guanaba-ra, mas executivos dizem que já houve vezes em que ela achou essa vista exasperante. Enquanto a produção da companhia continuava a declinar, no ano passado, imensas plataformas de petróleo estavam ancoradas na baía, esperando por licen-ças de operação. Foster diz que respira mais aliviada agora que elas já estão ativas. Foster apoia tenazmente a mão forte que o governo tem no conselho de administração da Petrobras. Seu papel, diz ela, é defender os interesses da empresa diante do conselho de administração. “Cabe a mim como presidente da companhia levar [ao con-selho] números que representam a saúde da empresa”, disse Foster. A executiva diz que o desempenho da Petrobras em termos de produção deve começar a melhorar em 2013, pois duas novas plataformas já vêm produzindo desde janeiro, uma delas no pré-sal, e outras cinco estão agendadas para iniciar a produção até o fim do ano. A empresa tem hoje 70 plataformas perfurando poços na costa brasileira. A produção da Petrobras saltou quase 60% entre 2000 e 2011, de 1,27 milhão para 2,02 milhões de barris de petróleo por dia. Desde 2011, porém, a produção declinou quase 9%. Apesar dos problemas na produção, Foster argumenta que a Petrobras foi rápida para colocar poços da camada do pré-sal em atividade. A empresa levou sete anos para atingir uma produção de 300.000 barris por dia na área, menos do que

os 13 anos que os Estados Unidos precisaram para chegar a este nível no Golfo do México, disse ela. Antes de 2020, diz Foster, a Petrobras estará produzindo 4,2 milhões de barris de petróleo por dia. A confiança do investidor aumentou recentemente. As ações preferenciais subiram 23% em abril e as ordinárias, 16%. Em maio, a Petrobras arrecadou US$ 11 bilhões nos mercados de capital para ajudar a financiar seus investimentos, na maior emissão já feita até hoje por uma empresa de um país emer-gente. “Creio que Graça tem uma boa ideia de como as coisas estão. Ela sabe que a Petrobras precisa ser lucrativa e precisa ter uma estrutura financeira independente do Estado”, disse o economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto, que é conselheiro da presidente Dilma Rousseff. Três mecanismos impostos pelo governo desagradam particularmente os críticos da companhia: uma política de combustível que mantém os preços da gasolina e do diesel para o consumidor abaixo dos preços de mercado, regras que obrigam as empresas a comprar mais equipamentos e servi-ços no Brasil e o controle maior do Estado sobre as descober-tas de petróleo do pré-sal. Masha Gordon, diretora de carteira de ações de mercados emergentes da Pacific Investment Management Company LLC, a Pimco, disse que “se acordarmos uma manhã e virmos os preços da Petrobras desregulamentados e seguindo o mercado [...] isso seria muito positivo”. O Fundo de Mercados Emergentes de US$ 581 milhões da Pimco, criado em março de 2011, nunca investiu em ações da Petrobras.(Colaborou Jeffrey T. Lewis.)

Aaron Gassmann/UNIVERSIDADE ESTADUAL DO Iowa

Lavoura de milho afetada por uma larva que danifica as raízes das plantas

vendas no ano passado subiram 23,5% em relação a 2011, para US$ 915 milhões, segundo dados do Sindag.Embora já tenham sido identifica-dos alguns focos de resistência da larva no Brasil, o fenômeno ainda não atingiu a mesma proporção que nos EUA porque o milho Bt foi introduzido mais tarde no país, em 2008, diz Flavio Hirata, da consul-toria de agronegócio Allier Brasil.“Quanto mais você usa [o trans-gênico], mais você propicia o desenvolvimento da resistência”, diz Hirata, que calcula que 80% das lavouras de milho do país usam hoje sementes transgênicas. A Monsanto — que foi a primeira, dez anos atrás, a vender um milho resistente à larva do milho e licen-ciou o gene Bt para outros fabrican-

tes de sementes — informou que continua recomendando aos produ-tores que façam o revezamento do milho com outras lavouras, como a soja, para “romper o ciclo da lar-va”. A empresa americana também afirmou que ela e outros fabrican-tes estão vendendo sementes com mais de um fator de resistência às pragas e que está substituindo as sementes Bt convencionais pela versão com múltiplos fatores.A empresa afirmou ainda que está desenvolvendo uma tecnologia para combater a larva do milho e que espera colocá-la no mercado até o fim da década. Mas alguns cientistas dizem que a resistência poderia ser um pro-blema persistente. A EPA já alertou que as larvas que desenvolveram resistência às primeiras sementes

transgênicas da Monsanto prova-velmente vão também se tornar resistentes a outros fatores. Con-sultores agrícolas e pesquisadores dizem que a população de outras pragas além da larva-alfinete aumentou em muitas regiões nos EUA porque os agricultores estão plantando milho todo ano e porque alguns pararam totalmente de usar pesticidas quando adotaram o milho da Monsanto, mesmo que ele não tenha sido feito para matar outras pragas. “Quando os híbridos com Bt foram lançados, uma vantagem foi a dimi-nuição dos inseticidas para o solo”, diz Michel Gray, entomologista da Universidade de Illinois. “Mas alguns desses ganhos estão sendo rapidamente revertidos.” (Colaborou Luis Garcia.)

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The Wall Street Journal

24 Sábado, 01 de Junho de 2013.

Recessão dá impulso a ativismo político na Europa Ilan Brat e Christopher Bjork The Wall Street Journalde Torrelodones, Espanha

O cheiro de esgoto foi o que fez Elena Biurrun despertar para a política.A mãe e dona de casa se conver-teu em ativista depois que as autoridades locais se recusaram a consertar um cano de esgoto quebrado, e uma causa levou a outra. Ela criou um grupo para defender uma floresta contra empreendedores do setor imobi-liário. Depois de seis anos de luta contra as autoridades de plantão, Biurrun foi eleita prefeita.Em dois anos de mandato, Biurrun tornou-se uma figu-ra nacional, um modelo para um incipiente movimento em defesa do “governo limpo” que está criando raízes na Espanha. A prefeita de 39 anos abriu a Câmara Municipal para uma maior participação dos cidadãos, aboliu muitos benefícios para membros do governo local e direcionou as economias resul-tantes para obras em escolas e estradas, com sobra suficiente para construir ciclovias e refor-mar um campo de futebol.“Aqueles que governam precisam saber que a legitimidade do voto não significa que eles podem fazer o que querem em quatro anos”, disse Biurrun.Ela recebe regularmente convi-tes para falar em fóruns por todo o país, dá entrevistas de rádio e foi tema do principal progra-ma noticioso da Espanha. “As pessoas estão começando a ficar realmente cheias”, disse. “Co-meçamos a ver mais iniciativas como a nossa”.Ao invés de alienar-se de um sistema político infestado por denúncias de nepotismo, falta de transparência e desfalques, mui-tos espanhóis estão se voltando ao ativismo comunitário.O número de espanhóis envolvi-dos em atividades políticas que vão além de votar ou participar em manifestações de rua cresceu de 27%, em 2008, para 39% em 2010, segundo dados da empresa de pesquisas European Social Survey, com sede em Londres.O fervor é impulsionado pelos efeitos da recessão na Espanha, incluindo uma taxa de desem-prego de 27,2% e uma sensação de que muitos líderes políticos ficaram ricos durante a bolha do setor imobiliário que estourou em 2008. Desde então, investigações criminais surgiram em pratica-mente todas as cidades grandes da Espanha contra autoridades de todos os níveis do governo.Líderes políticos novatos estão tentando roubar a base de apoio dos dois partidos nacionais

dominantes com a promessa de mais abertura e melhor gerenciamento. Se uma eleição acontecesse hoje, a União para o Progresso e a Democracia, uma aliança entre forças progres-sistas e conservadoras para um governo limpo, teria obtido 13,1% dos votos, praticamente três vezes mais do que conseguiu na eleição de novembro de 2011. O Partido Popular do primeiro-mi-nistro Mariano Rajoy teria 22,5% dos votos, quase a metade do que obteve para ser eleito.Outras partes da Europa em recessão também estão vendo um maior envolvimento dos cida-dãos e a ascensão de líderes que atacam gastos desnecessários.O grupo italiano de oposição Movimento 5 Estrelas, liderado pelo comediante Beppe Grillo, conquistou quase 25% dos votos na eleição nacional de fevereiro depois de uma campanha por melhor governança. Cinco meses antes, o grupo havia conquis-tado a maioria dos votos na assembleia regional da Sicília e manteve sua promessa. Seus 15 deputados eleitos estão doando 70% de seus salários mensais de 8 mil euros a um fundo para expandir o crédito a pequenas e médias empresas.

A cidade grega de Thessaloni-ki cortou gastos depois que o empresário Yannis Boutaris assumiu o governo e pôs fim a um relacionamento com alguns poucos fornecedores selecio-nados. Licitações competitivas reduziram em 80% os gastos com contabilidade, 25% com cami-nhões de lixo e 20% com papel para impressão. As economias permitiram a Boutaris gastar mais em serviços sociais, mesmo depois de reduzir impostos e pagar as dívidas que a prefeitura tinha com fornecedores.A pressão do ativismo comunitá-rio é forte na Espanha, particu-larmente em iniciativas locais para abrir as prefeituras ao exa-me minucioso do público. Trinta e três das 110 maiores cidades da Espanha ganharam as melhores notas no ano passado no Índice de Transparência Internacional, em comparação com apenas uma em 2008.Regalias oficiais estão sen-do cortadas. O empobrecido governo regional de Castilha-La Mancha já leiloou dezenas de carros oficiais e selecionou mais 400 para vendas futuras.“Até agora, os partidos políticos da Espanha não tinham motivo para combater seriamente a

corrupção porque os eleitores não os pressionavam enquanto a economia estava crescendo”, diz Fernando Jiménez, especialista em corrupção governamental da Universidade de Murcia.Tais reações tem acontecido de formas diferentes. Um grupo faz gravações de vídeo das reuniões públicas de câmaras municipais e as publica on-line, arriscando le-var multas onde isso não é permi-tido por lei. Ativistas garantiram mais de 1,4 milhão de assinaturas em defesa do relaxamento das rígidas leis de execuções hipote-cárias, o que levou o Parlamento a reconsiderá-las.Torrelodones parecia um lugar improvável para uma insurgên-cia reformista – uma bem estabe-lecida cidade satélite com cerca de 22 mil habitantes a menos de 30 quilômetros de Madri. A pre-feita Biurrun tinha ainda menos o perfil de rebelde.Filha de editores de cinema, ela cresceu em outro lugar, estudou Direito e se mudou para cá em 2000. Depois de trabalhar como publicitária, ela optou por ficar em casa com seus dois filhos pe-quenos e ajudar um tio a escre-ver scripts de rádio.Biurrun chorou na posse diante de uma multidão animada, mas

logo saiu cortando. Ela reduziu o salário de prefeito em 21% para 49,5 mil euros anuais, reduziu o salário de outros líderes do governo municipal e eliminou quatro posições assalariadas. Ela eliminou também a escolta poli-cial e o carro oficial e deu outro emprego ao motorista. Retornou um tapete com o selo oficial da cidade que custava 300 euros por mês para ser limpo e determinou que os membros do conselho mu-nicipal deveriam pagar por suas próprias refeições no trabalho ao invés de pedir reembolso. “Fiquei indignada de ver o que essas pes-soas vinham fazendo com o nosso dinheiro como se fosse delas”, disse Biurrun.Esses cortes, combinados com economias alcançadas pela renegociação de contratos para a coleta de lixo e outros servi-ços, ajudou a dar um impulso de milhões de euros para os cofres da cidade em seu primeiro ano de mandato. Isso permitiu à prefei-ta limitar o tipo de austeridade dolorosa que outras comunida-des espanholas enfrentam. A ci-dade pode, por exemplo, manter o atendimento psicológico a 20 crianças, mesmo depois de ter cortad o mesmo serviço para cer-ca de 50 adultos.

Antonio Heredia para o Wall Street Journal

Elena Biurrun (esq.), uma dona de casa que foi eleita prefeita de Torrelodones, na Espanha, está liderando uma reforma por mais transparência no governo.

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opinião

Sábado, 01 de Junho de 2013. 25

No dia 22 de Maio,em Woolwhich, umsubúrbio no sul deLondres, dois jovens,

Michael Adebolajo (28 anos) eMichael Adebowale (22), mata-ramedecapitaramLeeRigby,umsoldadode25anos.Depoisdesteacto horrível,MichaelAdebolajodirigiu-se ao público em choquepedindodesculpas. «Nasnossasterras muçulmanas», dizia ele, «isto vê-sediariamente». As suasdeclarações foram gravadas eespalharam-se de imediato pelasredessociais.

Aprimeira coisa quenotei noMichael Adebolajo foi o seu so-taque–típicodoSuldeLondres.Vivi na Grã-Bretanha quase de-zoitoanos–amaioriadosquaisnoSuldeLondres.Conhecimui-tos jovens como oMichaelAde-bolajo. Quando o ouvi a falar,vi logoque se tratavade alguémcomorigensnasCaraíbasouemÁfrica.

OMichaelAdebolajoéfilhodeemigrantes africanos que, comoeu,seinstalaramnoReinoUnidonosanos80.Váriosjornaisbritâ-nicosnotaramqueospaisdeMi-chael Adebolajo são cristãos quese dedicaram aos seus estudos etrabalho–opaidelechegouaserenfermeiro e a suamãe assisten-te social. Os seus outros irmãostambémtêmumaboaformação.

Os problemas começaram nasuaadolescência:nãosóoMicha-elAdebolajopassouaenvolver-seemcrimes,mastambémnocon-sumo de vários tipos de drogas.QuandoeuvivianoReinoUnido,agrandequestãoeracomoospaisafricanos podiam transmitir aambição de avançar – sobretudoacademicamente–aosseusfilhos.Muitos africanos ainda estavamfortemente ligados à terra natal;os nigerianos, por exemplo, fa-ziamquestãodeestarpermanen-temente ligados ao seu país. Osonho demuitos era o de podervoltarumdiacomosseusfilhos.

OMichael Adebolajo fala das«nossas terras muçulmanas».MasaverdadeéqueaterradeleéoReinoUnidoeaNigéria.Éque,navidadosfilhosdosemigrantes,hámomentosderebeldia,emquetudo que é associado ao mundodosparentesjánãovale.

Poralgunsanos,alugueinoSuldeLondresumestúdiodeumse-nhorafricanoquenãopodiacomos seus filhos. Ele dizia que osmesmoseramumadesgraçapor-quenãoqueriamestudar.Opro-prietáriodoedifícioemquevivianão parava de falar das dificul-dades que ele tinha enfrentado;eletinhaidoparaoReinoUnidopraticamentesemnada,masago-ra tinhaváriosedifícios.Osseusfilhos falavammuitoepassavama vida a ver activistas radicaisnegros como o Maulana Karen-ga. Estes jovens nunca perdiamaoportunidadeparaenumerarasfalhasdoOcidente–oudosbran-cos.Opaideleargumentavaqueas injustiças do passado tinhamquesersuperadas,masistotinhaqueserfeitocomdedicaçãoedis-ciplina.

Osnigerianos,comováriasfa-míliasafricanasnoReinoUnido,esperavam que os filhos fossempara uma boa universidade eestivessem a caminho de seremmédicos, advogados, engenhei-ros etc. Mas há filhos que, porvárias razoes, reagem contraisto: nos anos 70, muitos opta-vam, por exemplo, pela religiãodosrastafarianos,naqualasas-pirações burguesas não tinhamnenhum valor. Mas esta atrac-çãopelorastafarianismonãodu-

rava;osrebeldesvoltavamàcasaecontinuavamcomatradiçãodafamília.

A famíliaAdebajopassou, en-tão,aterumfilhorebeldequeseidentificou com uma versão doIslãomuitoradical.EmLondres,semprehouveumaespéciedepe-quenas seitas muçulmanas, lide-radas por figuras que reclamamserdetentorasdaverdade–apuraverdade... Paraestes senhores,omundoédicromático:tudosevêapretoebranco–deumladoháoOcidente,querepresentaomau;do outro, os que lutam para acriaçãodoReinodeDeus,quesãolouváveis. O Michael Adebolajitentou,acertomomento,estudarSociologia,masnãofoilongenes-sa sua pretensão académica por-queassuasnotaserampéssimas:uma formação acadêmica sólidanão só implica certa dedicação,mas,também,acapacidadedesedeterváriosargumentos.

Umadas característicasda ju-ventudedageraçãoemquestãoéa obsessão pela gratificação ins-tantânea. O Michael Adebolajo,soube-se,apareciaemmanifesta-ções de trajesmuçulmanos,maslogodepoisiaparaassuasvariasnamoradas–incluindoumamo-delo loira.Diz-seque este jovemde28anos,quenão trabalha, ti-nha duas esposas. Há quem diz

que o Michael Adebolajo nuncaparou de fumar liamba. Ligadoà obsessão pela gratificação ins-tantânea,estáodesejodesemprequererdarnasvistas.

Em2011,oMichaelAdebolajoe mais alguns amigos tentaramir para a Somália, para se junta-rema grupos radicais locais.NoQuênia, o Adebolajo, que foiidentificado comoumnigeriano,foipostona cadeia e só acabariasalvo pelas autoridades britâni-cas.Mesmoassimoseuódiopelanação britânica não diminuiu.É curioso que ele parece não termostrado nenhum interesse pelaNigéria–aterradosseuspais.

Quando eu vivia no ReinoUnido, lembro-mequenoverãosempre havia grandes festas ni-gerianas em que toda gente erabemvinda.Oobjectivodaquelesencontros era unir a comunida-de; asmeninas,muitas nascidasnoReinoUnido,vestiam-se tra-dicionalmente; os homens me-tiam os «agabadas» – os bubustradicionais.Tudoerafeitoparasedar ênfase àherança culturalnigeriana.

O Michael Adebolajo vem deumafamíliaquepertenceàetniaYoruba; alguém, de certeza, terálhe faladodeShango,oDeusdoferro, ou Yamanja, a Deusa domar, e como houve uma fusão

dessas crenças e o Cristianismo.Suspeitoqueeleteráouvidodistotudo, mas optou por valorizar amensagem, tão apocalíptica, dosseuscolegasradicais.

O Michael Adebolajo, comoos seus colegas de origem afri-cana que vão seguindo um islãoradical, passa anão ter umano-çãoexactadahistória.NaÁfricaOcidental, há uma grande tradi-ção acadêmica ligada ao Islão eà língua árabe. Os manuscritos,muito impressionantes, saídosdas bibliotecas de Timbuktu, nonortedoMali,foramescritosemárabeelínguaslocais.Seosradi-caismuçulmanospudessem,todoosaberdeTimbuktuiriaparaascinzas.

No norte do Mali, depois deassumir o poder, os radicais in-troduziram a lei muçulmana dasharia:amputaçõesdemãosparaos gatunos; apedrejamentosparaos adúlteros, etc.rios etc. Mas oquemais feriuopovodoMali éque,de repente, amúsica foiba-nida.Figurasmuçulmanas,mui-tasdelasidasdoMeioOriente,derepentecomeçarama impor-seeadenegrirtudoquedavaorgulhoaosmalianosporteremumahis-toriariquíssima.

OIslão,nocontinenteafricano,temsidobastantetolerante.OSe-negal, umpaísmaioritariamentemuçulmano,foi lideradoporumcatólico. Na Serra Leoa, há atécasamentosentrecristãosemul-çumanos.Opresidente daCostadoMarfim,AllasaneOuattara, émuçulmanopraticante,masasuaesposa é católica e a sua filha éevangélica.NaTanzânia, osmu-çulmanossemprederamapoioaocatólicoJuliusNyerereouaBen-jamin Mkhapa, que também écristão.Emváriaspartesdocon-tinente africano, porem, ouve-segritosde radicaismuçulmanos afalaremdoCalifado–umreina-do, claro, onde as outras confis-sõesnãoteriamlugar.

O Michael Adebolajo matoualguém – porém, ele vai viver,embora por detrás das grades,porque no ReinoUnido existe oprincipio de que ninguém, nemmesmooEstado,temodireitodefindarumavida.Umdia,eleesta-rágratoporternascidoem1984noReinoUnido.■

O Carniceiro de Londres

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opinião

Muitos dizem, comcertanostalgia,queomundodehojejánãoéigualaodosoutros

tempos. Isto pode remeter-nos auma «olhadela» comparativa en-treopassadoeopresente,dentroda lógica damutação das coisasnoespaçoenotempo.

Nistodemudanças,porexem-plo, nem sempre as novas ge-rações estão preparadas para atransição que ocorre. Daí que, enão entendendo devida e conve-nientementeopassadodageraçãoanterior,anovaignora-a,tentan-dofazerprevaleceroqueentendecomovaloresdasua.Éesteocho-que vulgarmente conhecido por«conflito de gerações», em quecada parte se pretende impor àoutra,quandoa«transição»ocor-rerdeforma«pacífica».

No passado, uma amizadeverdadeira era feita de umpactoindestrutível,emquesepartilha-vamosbons e osmausmomen-tos com igual intensidade. Nosdiasdehoje,étudofeitoàbasedeinteresses,emquesósevê«soli-dez»nosbonsmomentos.Àmí-nima contrariedade, em que umdos amigos esteja a passar pordificuldades,emregra,essa«soli-dez»desaparecedeimediato.Sãopornormaamizadesdeconveni-ências, meramente passageiras.Logo, descartáveis. Tal como asfraldasusadasactualmente.

Antigamente, as mamãs pu-nhamosseusfilhosbemreconfor-tados com «fraldas de pano», emalgodãoouflanela.Então, elas ti-nhamsempreasantapaciênciadelavá-las,ensaboarepô-lasasecaremestendaisrudimentares,depoisde devidamente esfregadas comsabão e lixívia. E ficavam comoqueimaculadas.Eapresentaçãodaroupaestendidaaosoltinhaumacargasimbólicadegrandealcance,jáqueeraassimqueseavaliavasea pessoa que a lavara era ou nãoumaboadonadecasa.Deresto,emmuitasfamílias,alavagemdasfraldas era um dos itens básicosrequeridos para se avaliar quemdavaounãonumaboanora.

Seas fraldasficassemencardi-das, a moça era reprovada ime-diatamente aos olhos dos maisvelhos da família do esperadomarido.Astiasdorapazdavam-

-na logopor inaptapor «incapa-cidadetécnica».Aindaassim,elanão escapava de um sermão das«tias», lembrando-lhe que elashaviamsidoavaliadasemcondi-ções bem mais difíceis: lavam aroupaem«selhas»,paradepoisaengomaremcomferrosàcarvão.E, ai delas, se algumapeça fossequeimada.Ou se pusessemmaisdeumvinconumacalçaounumacamisa.Tudo issoporque «man-ter», naquele tempo, não era aodeusdarácomoéhoje.

Se, no passado, para se «en-gatar» uma «garina», havia que«xixilar» (tantono«papo»comotambém nas solas de sapato),nostemposquecorrem,étudoà«nduta», isto é, comamaiordasfacilidades.Muitasvez,bastaumolhar, que já está.Não hámuitaconversa. É «toma lá-dá cá». Equeninguémvenhafalardemo-ralidade,queissoaquinãoconta.

De uma maneira geral, a im-pressãoquese teméqueas«da-mas» da actualidade estão maisque disponíveis, para o que dere vier. Mas, desengane-se quem

pensa em relações duradouras.Namaior parte dos casos, assimnão acontece. Mais do que umsimples«tchilo»ocasional,emre-gra,elasnãodarão.Sãointimida-des...descartáveis!

Tãodescartáveiscomoosãoaspilhas «não recarregáveis», queagoraestãomais«descarregáveis»que nunca. Antigamente, as pi-lhas secas duravam p’ra «xuxú»:os«kotas»,quandonotassemqueelas estavam já a «estrebuchar»,sobretudo, nos seus inseparáveisrádios, as punham ao sol que asditas,comoquemilagrosamente,voltavam a «ganhar carga». Nãoeramtãodescartáveiscomaspi-lhas de hoje, que, quando dão oberro,éparavaler...

Quase igual se passa com aslâmpadas actuais. No passado,as lâmpadasnormaisdeusoca-seiro podiam iluminar o «cubi-co»durante«séculos».Mashojepor hoje, se elas aguentaremumas «semanitas» lá emcasa, épurasorte.Pioraindaéque,paraalémdas lâmpadas, os própriossuportestambémvãoàvidacom

uma facilidade espantosa. Der-retem.Étudodescartável.

Descartáveis são também ospratos, os copos, os talheres, osguardanapos. Anteriormente, ospratos eram de vidro «duralex»:podiamiraochão,masdificilmen-tesepartiam.Àmesa,limpava-seabocacomguardanaposdepano,com bonitos bordados, feitos,manualmente. Nessa altura, boaparte das «boas» donas-de-casadominavaacostura.Muitasdelasviviamatédisso.Mas,as«pintas»,na sua maioria, mal conseguemcolocar um simples botão na suaprópriablusa,tampoucoumabai-nhanacalçadomarido.

Astiasdooutrotempoborda-vamtãolindamentequeatédavagosto.Atédavagosto ircompraro«kibéu»nosbelossaquinhosdepanocomapalavra«pão»lábembordada. Hoje, o pão, em regra,é levadoà casa emsaquinhosdeplástico azul ebranco.Por sinal,asmesmascoresqueasdoscarrosdos candongueiros que vãodan-do«mbaias»atortoedireito,algoquenãosevianooutrotempo.

Antigamente, era normal que,quem requisitasse os serviçosde um táxi, beneficiasse de tra-tamento personalizado, sendoo cliente levado à porta de casa,ondequerquemorasse.Istoagoranãoéassimtãofácil.

Atéoshábitosalimentaresen-trenósalteraram-se radicalmen-te:emboapartedasmesasnãohámaisespaçoparaasnossaservas(kizakas, menguelekas, husse eifuatas), comidas da produzidasnaterra,semdioxinasnemnada.Amaltadita«moderna»nãomaisseidentificacomisso.Atéofungejáépostoemcausa, sobaalega-çãodequefazmalànoite,porsermuitopesadoe tal.Mentira. Sãoessesmanjaresquesemprederamo «ngunzo» aos nossos velhos.Agora,opessoalglobalizadopre-fere as «pizzas», os «ketchups» eos frangos grávidos de dioxinas,comidas de «plástico» que tantomalfazemàsnossasgentes.

Emsubstância,olhamosànos-sa volta e observamosquequasetudooquenosrodeiaédescartá-vel.Eissoédesesperante!■

Esse nosso mundo descartável

26 Sábado, 01 de Junho de 2013.

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opinião

Sábado, 01 de Junho de 2013. 27

Tal como acontece nasviagens de longo curso,também aqui chegou ahora de parar por uns

instantes,antesdecontinuarmos.Passaramosprimeiroscincome-ses de 2013. Foi meio caminhoandado.Rápido,comosempre,otempopassoueavidanãoperdoa.

Paraquemsehabituouapres-tarcontas,estáachegarahoradoprimeirobalanço,ameiodoano.

E para quem já notou, «2013»aglutinouduas categoriasdenú-meros bastante curiosos: o «20»que traduzaexcelênciade resul-tadoseo«13»quesignificatragé-diaemaupresságio.Seanota20éomáximoquepodemosdesejar,o«13»(unsinvertemedizem«31»)éopiorazarquenospodeacon-tecer, se não fosse a publicidadedoTotobola.Nãosousupersticio-so,mascontinuodeolhoaoano2013!

Curiosamente, nos últimosdiasdeMaio,de2013,comentavaestascoincidênciascomdoisami-gos,online,ambosacentenasdequilómetrosdedistância,edizia:em Janeiro temia que este fosseumanomais imprevisível, comoumacaixadesurpresas,eomaisdifícildetodos,comooescalonardeumamontanha.E,tantoode-saire doBenfica que tudo quis etudoperdeu,comoarenúnciadoPapaBentoXVI,fenómenoquejánão se via há vários séculos, fo-ram osmelhores exemplos, paranãocitarmaisalertas,dequeain-danospodesurpreender.

Assustados e inseguros, osmeus amigos também se diziam“preocupados” comalgumasno-tíciasalarmantes, ilustradascommúsculos edentesdeaço,comoferas selvagens, que agitavamaquela linha ténue e longínqua,queparecedividirocéueamar;a paz e a turbulência; a fome eo luxo, ou a ilusão e a verdade,quandoolhamosparaohorizonteenãosabemosoquevemdepois.

Disse-lhes,claramente,quenãoestava nada preocupado com asdeclarações alarmantes deste oudaqueleorador, tipopersonagemdofilme«Agita-lhe,agora!»,fictí-cio,equetinhaumavisãomenospessimista. E dei-lhes o exemploda equipa fortíssima que escor-regou ruidosamente, depois de

meiocaminhoandado,afavordeum adversário que nunca desis-tiu da perseguição ao título! Poroutras palavras, só não exploraasfraquezasdoadversáriosuper-poderosoquemnãojogaparaga-nhar,talcomosónãoseemendaquemquerperder!RecordeitantoDavideGolias,comoahistóriadalebreedocágado!

Quando aceitamos, volunta-riamente, ser empurrados pelofanatismos de luxo, embriagadocomocantoprecoceda«Vitória,ninguémme tira a taça; vitória,já sou campeão!», não vemos osgraves perigos e armadilhas quenosespreitam.Hádefactoelogiosque provocam a cegueira e po-dem ser presentes envenenados.Aqui,nestepedaço;alí,nomun-do do desporto; mais longe, na

construçãodeenormeedifício;àesquerda e àdireita,na lutapelaconquista e pela posse dopoder,oudoestatuto,político,osprincí-pios parecem inevitavelmente osmesmos:Éprecisoavaliar,mudardearesereflectircomoatingiro«ponto»,coma«Nota20»,esemofatídiconúmerodoazar!

Aos meus amigos, eu dissecoisas picantes. Aqui, não! Éevidente que não posso repetir,nem há espaço para escrever«aquilo»,mascreioqueosleito-ressãointeligenteseconseguemcaptar a mensagem. Constata-mos, frequentemente, que len-doum livroduasou trêsvezes,descobrimos coisas que nosescapam à primeira leitura. Oinverso também é verdadeiro.Falando sem pensar, ou lendo

“a posteriori” o que se escreve,acorrer,somosforçadosalevarasmãosàcabeça,comlágrimassobreoleitederramado,quandovemosanossanudezaoespelho.Éoquesepassoucomaanedo-ta do individuo que comparouooutroaum«Palhaço»vulgar,semmedirrepercussões.

É precisamente por isso quepode haver declarações que àprimeira vista parecem inofensi-vas, pelo alto sentido de humor,ouprazerdomomento,masquepodemcriarconfusão,posterior-mente, abrindo brechas a falsasinterpretações, quando amplia-daspelafomedaopiniãopública.Principalmentenonossoseio,emqueamalícia,aignorânciaeamáfétêmmuitafomeesededefalarmaldooutro,vendendoempeda-

ços de intriga a «Nota Vinte», o«Treze»eo«TrintaeUm»...

Os primeiros cinco meses de2013 testemunharam euforias,mastambémpesadelos.Embreve,entraremosparaasegundameta-dedoano.Équasemeiocaminhoandado,mas nada está ganho. Éhoradebalanço.VamospararatéJulho.Navida,aprendemostodososdiaseacadainstante,adosearas coisas, indo devagar. Apren-demosarecuperarforçascomaspequenasparagensameiodoper-curso. Aprendemos com pessoassimpleseanónimas,masnemporissoignorantes.Aprendemosqueosgrandestropeçamondemenosesperam.Tudoisso,continuamaser atraentes lições em pedaços,parapróximasleituras,semmedodofuturo.■

Meio caminho andado!

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opinião

O professor e a formação contínua

Agostinho S. Neto (*)

A formação contínua deprofessores ocupa nasacções da DirecçãoProvincial doNamibe

da Educação um lugar de desta-que:desdeháquatroanos,osdo-centes, sobretudo os das escolasdoensinoprimárioesecundáriodo 1.º ciclo, têm beneficiado re-gularmente desta componenteformativa, com o objectivo decontribuirparaamelhoriadoseudesempenhoprofissional.

Aliás,diga-sedesdejá,que,deacordo comos programas curri-culares das disciplinas de cadaclasse, as direcções das escolasdestessubsistemasdeensinoestãoorientadasaestabeleceremmetasanuaisdasaprendizagens,parce-ladaspor trimestres lectivos.Porisso,ostemposquesevivemhojeno Namibe são de enormes exi-gênciasparaosprofessores.

Existemno país diferentes in-terpretações sobre o estado daqualidadedonossoensino,sendoumas mais ligadas aos aspectosdas políticas educativas e outrasfocadas no perfil do professor,enquanto um dos intervenientesactivos neste processo. A educa-çãoapresenta-secomoumsectorfecundo de intensa abordagemsocial, algo comprovado pelasopiniões que se ouvem todos osdias,peloqueasoluçãodosseusproblemas está longe da meraperspectiva de discursos ou re-clamações.Soudeopiniãodequeasinsuficiênciascomqueonossosistemadeensinoseconfrontaemtermos de qualidade devem-se,maioritariamente, à fraca capa-cidade profissional do professor,só podendo ser ultrapassadas seele,alémdanecessidadede terodomínio aprofundado dos con-teúdos da sua área de saber, seaproprie permanentemente demétodos que o habilitem a ensi-narconvenientemente.

De resto, em relação à forma-ção contínua do professor, o pe-dagogo brasileiro Paulo Freireaconselhaàreflexãocríticasobreaprática.E resumeo seu conse-lho nas seguintes palavras: «Épensando criticamente a práticadehojeoudeontemquesepodemelhorarapróximaprática».

Parece-me que a Direcção daEducaçãodoNamibebuscaasuainspiração nas convicções deste

destacado educador brasileiro.Daíquetemdedicadomuitaaten-ção em acções de treinamentos,como instrumento indispensávelpara conferir ao professor com-petênciasehabilidadesapropria-das ao exercício da sua activida-de. Práticas, aliás, presentes nosmelhores sistemas educativos domundo, como na Finlândia ouem Xangai, na China, onde osprofessores se aprimoram pro-fissionalmente mediante acçõesde intercâmbio.Relevo, por isso,o ânimo e a persistência desseesforço, sabendo-se o quanto édifícilestaempreitada,porhaveraindaentreosprofessores, aque-lesqueseachamsuficientementecompetentes,unsporostentaremdiplomas que os qualificam aca-demicamente e outros por acu-mularemlargosanosdeexercíciona actividade de docência. Per-cepção esta contrária às exigên-ciasdePauloFreireparacomestetipo de profissionais que se con-sideram insubstituíveis. Na suaobra«PedagogiadaAutonomia»,eledefendeque, para se serpro-fessor,énecessário,entreoutros:pesquisa,criticidade,assumirris-cos, aceitar onovo, ser humilde,estar convicto de que mudar épossíveleterconsciênciadoina-cabamento.

Ainda assim, em termos prá-ticos, algumas mudanças seoperaram nestes últimos quatroanos: os professores passaram a

sedisponibilizarmaisparaoseuaperfeiçoamento; as dificuldadesdetectadasnassalasdeaulastêmvindodediaparadiaadiminuir;as aprendizagens dos alunos co-nheceram uma significativa me-lhoria. Não é por acaso que, nacerimónia de abertura deste anolectivo,IsaacdosAnjos,entãogo-vernadorprovincial,animado,secalhar,pelas informaçõesdequedispunha, particularmente doensino primário, anunciara pu-blicamenteeperanteumaplateiacompostaporcentenasdeprofes-sores,queoseugovernotinhaes-colhidoaáreadeeducaçãocomobandeiraemmatériadeprojecçãodaprovíncia.

Comoqueembaladonotrilhodos resultados, aproveitando apausa pedagógica do 1.º trimes-tre lectivo,nasemanapassada,ouniversoacadémicodaprovínciaficoumarcadopela realizaçãodeum concorrido colóquio subor-dinadoao lema:«OprofessordoséculoXXIeaspráticaspedagó-gicasnassalasdeaula».Aactivi-dade,umapromoçãodaDirecçãoProvincialdoNamibedaEduca-ção,comportoutrêspainéiseteveJosé Serrano Freire, professor eescritor brasileiro, como orador.Beneficiaram da formação, queduroutrêsdias,professoreseges-tores de instituições de ensinonãouniversitário.

É sobre o comprometimentoprofissional do professor que ele

mais se debruçou, assinalandoabundantemente a necessidadedamudançadementalidade,porconstituir o elemento impulsio-nador do desenvolvimento nosector da educação. Para o pa-lestrante,osnovostempossãodepoucotempo.Quemsedisponibi-lizaaensinar,nãopodedeixardeaprender.Oprofessorqueinsistira fazer o que sempre fez, obterámenosdoquesempreobteve.Esedescurarabuscapelo saber, seráprevisívelemtudooquefizer.

Nalgumas escolas, os resulta-dos sãoosquenos temparecidoumaquaserealidade:osprofesso-resquaseensinam,osalunosqua-seaprendemeasociedadequasese mostra satisfeita. Se esta rea-lidade pode ser entendida comotendo alguma verdade, pelome-nos para aquilo que é a falta deentusiasmodealgunsprofessorespelaprofissão,parece-mequeelase deve constituir num chama-mentoàclasse,nosentidodoes-tabelecimentodeumarelaçãodeverdadeira produção de saberescom os alunos. Onde pretende-mos chegar como professores?Afinal,porque,entreosmilhões,somos os eleitos?Não é para fa-zermosadiferençapelaqualidadedonossotrabalho?

Foramaindalevantadasmuitassituações e problemas de gestão,pois o percurso profissional dopalestrante, consolidado pelosanosdeexperiência,lhepermitia

falarcomautoridade.Acomeçarpelosresultadosnãoesperadosdaequaçãoentreadeficientegestãoe os professores sem preparaçãoadequada. Entroncados na ges-tão de muitas escolas, as amea-ças e oportunidades dificilmentesão analisadas, senão elencadas.Quantomaisnãoseja,nemsem-pre há a preocupação de se im-plantar uma gestão ancorada naculturadecompetência,paranãodizerqueasliderançasquasenãotrabalhamosprincípioseosvalo-resdosprofessores.Ora,comestetipodegestãoéfácilcalcularqueos resultados não podem ser osdesejadospelasociedade.

Docolóquiosaiuentãoacon-vicçãodequeodesafiodefazermelhorpelaeducação,atodososníveis, passa pela existência delideranças visionárias, corajo-sas,pensadorasequesaibamto-mardecisões.Maisdoqueisso,ficou também a exortação aosprofessoresnosentidodeincor-poraremnasuaidentidadepro-fissional o treinamento comogarantia para o alcance da ex-celência. Para os participantes,eventos semelhantes devem serrealizadoscommais frequênciapelos benefícios que eles pro-duzem, sobretudo quando estáemcausaatrocadeexperiênciacom realidades educativas deoutraslatitudes.■

(*) Professor no Namibe

28 Sábado, 01 de Junho de 2013.

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Sociedade

Sábado, 01 de Junho de 2013. 29

Romão Brandão

As constantes ameaçasde despedimento, porreclamarem as condi-ções salariais e labo-

rais, fez com que os técnicos daOGR apontassem o nosso jornalcomoquepodendoajudarasolu-cionarosseusproblemas.Traba-lham,hámuitotempo,nareferidaempresa, a maior parte deles há15ou20anos,maso«cá-salário»,como preferiram designar, nãochega para fazer absolutamentenada.

Os operários, que, evidente-mente, preferiram conversar sobanonimato, auferem até 20 milKwanzas e já têm reclamado, háanos, contra essa condição,mas,infelizmente,emresposta,muitasvezessãoameaçadosdeexpulsão.A única resposta dada, que atéjá se tornou cântico para nós, é:«quemnãoquertrabalharassim,escreveearrumaasbotas»,disseum dos queixosos, forjando umsorrisoparadisfarçaratristesitu-açãoquevive.

Recordam que o problemados míseros salários e das con-dições de trabalho na OGR jávemdesdeostemposprimórdiose,dedirecçãoemdirecçãoqueéempossada,ascoisasnuncame-lhoraram. Todos os directoresquealipassaram,segundooquedisseram, no princípio dos seusmandatos, apenas alimentamesperanças de que as coisas vãomelhorar,masdepoismudamde«música» e deixam os coitadosmaisdesmotivados.

«Esquecem-se de nós, que so-mosfuncionáriosantigosepagambons salários (até120milkwan-zas) a um grupo de indivíduos,queforamadmitidosrecentemen-te.Somosmaltratadosenãodeviaserassim,jáqueestamosalides-de o tempo de guerra, a reparararmamento e carros militares»,disseram, acrescentandoque,di-ferentes dos novatos, nunca re-clamamquando são chamados asocorreràsoutrasprovíncias.

Quando há reparação aosequipamentosdasoutrasunida-desnointeriordopaís,ostraba-lhadorestêmdireitoaumsubsí-diodedeslocaçãoeestada,mas,segundonoscontaram,oschefesprivamamaiorpartedaquantia,senão toda. O subsídio vai até15milKwanzas,maselessabemque é mais do que isto, sendopordia10mil.Estãogeralmenteacostumadosanãorecebernadae a fazer «das tripas coração»,mexendo no «ca-salário» (doquimbundo,quesignificapeque-nosalário)paraaguentaros4ou5diasdetrabalho.

Equiparados entre o estudo e a experiência

Poroutrolado,ostécnicoslem-bram que, no princípio do ano2010, o coronel Artur Jorge, en-tãodirectorgeraldaOGR,tinhaprometidoque,naprimeiraquin-zenadoreferidoano,osaláriodetodosseriareajustado.Jánofinaldoano,convocouumareuniãoefez o seguinte pronunciamento:«quem está em condições de re-ceber aumento, é o profissionalqueestudou,quemachaqueoseusalárionãoedigno,escreveumacartaearruma.»

Osnossosinterlocutoresacres-centaramque,quantoaoaspecto

habilitações literárias, não estãocontraissonemseopõemaosqueseconseguiramformar,masque-remqueadirecçãolevetambémemcontaofactortempoeaexpe-riênciadetrabalho.

«Pedimosquerespeitemaqui-lo que sabemos ou aprendemosafazer,semtermospassadopelaescola. Nós reparamos viaturasde guerra, independentemen-te de termos ou não o médioconcluído. Estamos há muitotempoafazeristo,entãoquere-mostambémreceberumsaláriodigno.Onossosalárionãoseráigualado ao daquele que estu-dou, aliás ele sempre receberámais, só queremos que nos pa-guem em função do trabalhoquefazemos»,apontam.

Em 2012, como nos contam,o corpo directivo das oficinasmostrou-seinteressadoem,alega-damente, resolver este problema,tendo pedido, inclusive, aos tra-balhadores que assinassem umafichacompropostasdepromoção.Esperavamentãoque,naprimeiraquinzena deMarço de 2013, fos-sem promovidos, mas até agora,nãosefalamaisnoassunto.

Apenas se constata, na OGRque,depoisdeterempreenchidoasreferidasfichas,sóoschefesdesecção forampromovidos.Adi-recção tenta justificareste facto,

dizendoqueaunidadeestácomproblemas de enquadramentodopessoal da oficina. «Se tivés-semos realmente problemas deenquadramento do pessoal, nãoestariam a admitir mais gente(maisde80novostrabalhadores)e a promover apenas alguns»,protestamosfuncionários.

Engenheiros fogem e não há sindicato

Asnossasfontesdisseramquenem mesmo a guerra fez comquedeixassemde trabalhar, ali-ás,nessaalturaerammaisneces-sários do que nos dias de hoje.Aguentavamosatrasossalariais,pois trabalhavam todos emprolde umúnico objectivo (a paz) epor amor à camisola.Mas hoje,depois de tudo o que passaram,aOGR «cospe no prato em quecomeu».

«Osengenheiros–‘osqueestu-daram’ - não desempenham tra-balho.Nóstivemoscasosdepro-fissionais que não conseguiramficarmuitotempoeacabarampordesistir, devido a este problemasalarial»,disserameles,alegandoaindaquegostammuitodaquiloquefazemevãocontinuar,apesardetudo,porqueprestamumcon-tributomuitoimportanteànaçãoangolana.0

AOficinaGeraldeReparaçõesdasFAAestádivididaemváriassecções, dentre elas as áreas demecânica, serralharia, pintura,mecânica de armamento, fun-dição, construção civil e frio.Amaioria dos trabalhadores, cer-cade60,estádescontenteepor,temerem o desemprego, evitamqualquerconfrontocomadirec-çãodaempresa.

Não têm quem os defenda ejáalgumdiapensaramemfazergreve, mas, dadas as ameaças eporquenaquelemeionãohámui-tagentedeconfiança,atentativafracassou.Dizemque têm cora-gem e, ao mesmo tempo, medodadirecção,dequepossareagirmal, caso organizem uma para-lisaçãoouumabaixo-assinado.

Poroutrolado,segundoore-lato dos queixosos, esse grupodetrabalhadoresécompostodeindivíduos que, se hoje combi-nam algo, amanhã mudam deideias, em função de uma pe-quena corrupção da direcção,resolvendo denunciar os cole-gas.Anecessidadefazcomquemuitospercamamoral.

«Já um dia, tentámos fazeruma reunião, para reivindicar-mososnossosdireitosnoMinis-tério da Defesa, mas o homem,que era nosso líder foi chama-do, prometeram-lhe promoçãoe cartões de saldo, em troca deinformações possíveis sobre os«rebeldes»àdirecção.

O Semanário Angolense con-tactouadirecçãodaOficinaGeraldeReparação,nestecasoodirec-torgeral,generalArturJorge,masestedisseàequipadereportagemquenãoestavaautorizadoapres-tarqualquertipodedeclaraçõesàImprensa.

Entretanto, pediu-nos que en-dereçássemos uma carta, ao Es-tadoMaiordoExército,pedindoautorização para entrevista, peloquefizemos(hájáumasemana),mas atéNLaomomento,não re-cebemosqualquerresposta.

osboneco_equipamentos_mi-litares_abandonados(16) ■

OGR cospe no prato em que comeu

Trabalhadores da Oficina das FAA descontentes e ameaçados

Cerca de 60 trabalhadores da Oficina Geral de Reparação (OGR) encontram-se insatisfeitos com o salário que recebem e as condições de trabalho. Vêem-se desprezados por quem os tutela, quando deviam ser valorizados, dado o trabalho que prestaram e têm prestado,

há muitos anos, às Forças Armadas Angolanas, reparando desde viaturas a material bélico.

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Sociedade

30 Sábado, 01 de Junho de 2013.

Baldino Miranda

Manter sadio o esta-do de saúde é o quemuitos angolanostêm procurado, em

Angolaealém-fronteiras,e,paraefetivar esse desejo, principal-menteacamadamaisjovem,pro-curapraticarexercíciosfísicosemqualquer lugar, sem sequer umaorientaçãodeumprofissionalouseja,um«personaltreiner.»

Em Luanda, as ruas são, lite-ralmente falando, invadidas pormuitos cidadãos, entre jovens,adultoseaatémesmoadolescen-tes,quetambémprocuramobterumbomportefísicoatravésdessaprática, que,muitos a fazempororientação médica, mas de unaformageral,porsaberemquefazbemàsaúde.

A prática de exercícios físicosou fisioculturismo hámuito quese tornou numa moda entre osjovenseadultos,aliás,quemnãoquer parecer bem e pretende deumaformapositivachamaraten-çãodaspessoasparaoseuportefísico?

Averdadeéqueapráticadesteacto é positiva, quando é acom-panhada de recomendações efeita em locais apropriados, aocontrário do que se tem consta-tado.Ultimamente,oGovernodaProvíncia de Luanda tem estadoaapostarnaconstruçãodelocaisderecreaçãoumpoucoportodaacidadecapital.

Por exemplo nas áreas quecompreendem o antigo controlona Samba, há um espaço entreas duas faixas de rodagem, deaproximadamente250metrosdecomprimentoe100delargura.

LocaisentrefaixasderodagensÉ essencialmente um local

frequentado em qualquer épocapormuitos cidadãos e onde, emparticular,ascriançasgostamdeestar,devidoaqueolocalpropí-cioparaapatinagem,umamoda-lidadedesportiva,quetemvindo

adespertarinteressenosjovenseadolescentes, talvezpelo factodeopaísviraacolheremSetembropróximo,ocampeonatodomun-do damodalidade. São todos osdiasapartirdas18e30.

OSemanárioAngolenseouviunaquelemesmo localmuitosdospraticantes de exercícios físicos,que todos os dias atravessam deforma perigosa a avenida prin-cipal da Samba, arriscando dequalquerformaavida,devidoaoexcesso de velocidade dos auto-mobilistasimprudentes.

Adão da Costa, morador doMorro da Luz, tem praticadoconstantemente exercícios físi-cosnoantigocontrolo,apesardechegarsempretardeno local, fa-zendoalgumacoisanosentidode

reduziroexcessodegorduraquepossuinoorganismo.

«Apesar da enchente que setemverificadoneste local, temosa todocustopraticadoos exercí-cios, sabemos que corremos ris-cos de atropelamento, devido aque muitos automobilistas quenãorespeitamocódigodeestra-da, chegando a conduzirmesmoembriagados, colocando destemodo em risco a vidademuitostranseuntes»,deplorou.

Informou que a pratica exercí-cios nesse local desde 2011 e, deláparacá,orecinto temestadoaregistar um grande crescimentodefrequentadores.Dissehaverumproblemaentreospraticantes,poisestãosujeitosà inalaçãodedióxi-dodecarbonosemprequelávão,

devidoamálocalizaçãodoespaço.

Muitos locais impróprios

Realmente, o local não estábem posicionado, se se tiver emcontaastécnicasdeurbanização,oespaçopecaquantoàsualocali-zação,encontrando-seentreduasfaixas de rodagem principais,onde a circulação automóvel éumaconstante.

Adalberto Cavimbi, moradordaSamba,há10anos,étambémpraticante no mesmo sítio já hátrêsanoseconfessaquetaisexer-cíciosnaquelerecintotêmestadoa dar resultados positivos à suasaúde.

«Correr e praticar outro tipodeexercícioséfundamentalefaz

muitobemà saúde, aliás, perde-mos muitas calorias e deixamoso corpomais à vontade. Há umproblema que enfrentamos sem-prequecávimos,éasituaçãododióxidodecarbono,queinalamostodososdias.O espaçonão estábemlocalizado,entreduasfaixasderodagemsobpenadearriscar-mossempreavida»,concordou.

O nosso interlocutor afirmouqueogovernodaprovínciapecano que concerne à edificação delocais de recreação, pois essestinham de ser feitos em lugaresverdesou seja, emespaços apro-priados, onde não haja dióxidode carbono, onde o ar puro sejaoelemento fundamental e indis-pensável.

«Háregrasdourbanismoque

Devido à inalação excessiva do dióxido de carbono

Praticantes de exercícios físicos nas ruas correm sérios riscos de saúde Se o Governo Provincial de Luanda permitir que cidadãos continuem a praticar exercícios físicos em locais de recreação construídos

pela câmara supracitada, estará a caucionar a morte daqueles, por causa da inalação do dióxido de carbono proveniente dos automóveis, a que eles estão sujeitos. São muitos, que, todos os dias, frequentam várias avenidas,

praticando exercícios físicos para manter em bom estado a sua condição física.

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Sociedade

Sábado, 01 de Junho de 2013. 31

não foram cumpridas na execu-çãodessesprojectos,dáparaper-ceber, que, na feitura desses es-paços,nãohouveantesumplanourbanístico, fundamentalmente,no que diz respeito às técnicas»,explicou.

Na Avenida Deolinda Rodrigues não é diferente

O SA, como referimos acima,deslocou-seumpoucoporvárioslocais de recreação desde a viadireita da Samba, passando pelarotundadaCorimba,aoGolfe2,terminandonaAvenidaDeolindaRodrigues.

Esta última é, para além daMarginal, a nova Marginal, umdos locaismais frequentadospe-losluandenses.Oespaçoderecre-ação destaAvenida está tambémjustamente entre duas faixas derodagem,igualsituaçãoqueoes-paçodoAntigoControlo.

Olocalquecompreendeapraçadaindependência,concretamentedaestátuadoprimeiropresidente,António Agostinho Neto, até aosupermercado Jumbo, tem aco-lhidotodososdiaspessoasproce-dentesdeváriasáreasdacidade.

Adawas,moradordobairrodaPolícia,édeopiniãoque,umlocalparaapráticadefisioculturismo,nãodevia estar ao ar livre,prin-cipalmenteondehajaumacircu-lação constante de automóveis,para evitar o contraste entre oesforçoqueseempreendeeaina-

laçãodedióxidodecarbono.«Acho que há aqui alguma

coisa que não corre bem, talvezseja pelo facto de o governo daprovíncia ter errado, ao colocaresses lugares, tão importantesnavida para os cidadãos, em sítioserradíssimos. Por ser uma situa-çãotãopertinente,acreditoqueogovernodaprovíncia precisa veristo urgentemente, pois trata-sedeanossasaúdeestaremperigo»,aconselhou.

GPL furta-se

Manuel Damas, que tambémé frequentador daAvenida, dá omesmo conselho ao governo daprovíncia, uma vez que é a vidadaspessoasqueestáemrisco,embora os efeitos do excesso deinalação do dióxido de carbononãosejamimediatos,massãope-rigosíssimos.

«Aúnica vantagemque temosé apenas de praticarmos exercí-cios,esseséquenosfazemestar-mosaquisempre.Háperigosque

corremos todos os dias, desde atravessia,quesefazdeformatãopéssima,os semáforosnemsem-pre funcionameaíosautomobi-listas fazemoque todos já sabe-mos.Imprudência»,recordou.

Maximiliano, professor, fre-quentaolocalhá6anos.Deacor-do com o professor de educaçãofísica, o lugar foi feito para serusado e, têm estado a beneficiardeleaomáximo.«Treinamosaquitodososdias,aproveitamos tudodebomqueoespaçotemechegosempremaiscedo,esperoosmeus

alunosaquiequandoapareceumnúmeroconsiderável,começamoscomasatividades.Tenhoestadoatrabalharcommaisde30pessoasinteressadas em manter o corpoestável»,deuaconhecer.

Fazendo um enquadramentopossíveldopontodevistadoDi-reitodoUrbanismo,esteramodoDireitopúblicoreprovaaedifica-çãodeespaçosderecreaçãoentreasfaixasderodagemValelembrarqueesteramodoDireitoédefini-docomooquetratadaocupação,usoe transformaçãodosolo,en-globandomaisdoqueoterritóriodas cidades, o território urbanopropriamentedito.

Relativamente ao tema emvoga,astécnicasdoDireitourba-nísticorecomendamqueosluga-resderecreaçãodevemestaredi-ficadosjustamenteemzonascomumacertadistânciadacirculaçãodosautomóveis,comopropósitomesmodeseevitaroriscodesaú-denavidadoscidadãos.

Com o objectivo de nos in-teirarmos junto do Governo daProvíncia de Luanda, da cons-truçãodessesespaçosemlugaresinapropriados, anossaequipadereportagem procurou contac-tar o organismo acima referido,na segunda-feira, 27, pelo queaguardámos por uma respostadas secretarias que atenderam ojornalista, quando foi inviabili-zado, sobopretextodequenin-guémestavanaáreatécnicapararecebê-lo.■

O Governo Provincial de Luanda vaireforçar o combate à dengue e àmalária, coma fumigaçãoepulve-rização, durante trêsmeses conse-

cutivos,emtodososmunicípiosedistritosdacapitalangolana,anunciouadirectoraprovin-cialdaSaúdedeLuanda,RosaBessa.

Acrescentou que o Governo pretende, emparceria com a cooperação cubana, na lutaanti larval,diminuirapopulaçãodemosqui-tostransmissoresdamaláriaeadengue.

Sob orientação do governador provincialdeLuanda,BentoBento,aaberturadacampa-nhadecorreunasexta-feira,31,às16horas,noMarcoHistórico4deFevereiro,nomunicípiodoCazenga.realizando-seactosimilaremsi-multâneonaMaianga.

Apesar dos trabalhos desenvolvidos pelaequipa técnica cubana de luta anti-vectorial,acolaboraremLuandadesdeJaneirode2009ecujotrabalhoérealizadoprincipalmentededia,oGovernoProvincialdeLuandapretendereforçar essas actividades com as equipas de

pulverizaçãoquevãotrabalharaos finaisdastardesparaocombateaosmosquitosadultos.

Apulverizaçãoincidiráemáreascomchar-cosdeáguaouseja,demaiorconcentraçãodemosquitos,enquantoafumigaçãonasresidên-cias.Paraoefeito,vãoserutilizadasviaturasemotorizadascomcondutoresequipadoscompulverizadoresportáteis,permitindoumame-lhorpenetraçãonosbairros.

Os produtos que serão utilizados são bio-larvicidas, visando a redução do impacto dequímicosnoambiente,comoobactivecegris-lesfsão,usadosparaotratamentodecriadoresdomiciliareseextradomiciliares.

RosaBessaapelaàs famíliasqueabramasportas e janelas para beneficiarem da fumi-gação domiciliar, pois o insecticida utilizadonãoprejudicaasaúdehumana.Ocombateaosvectoreséumadasmedidaspreventivasmaiseficazes no combate às doenças transmitidasporeleseumadasdoençastransmitidaaoho-mempelapicadadeummosquitoinfectadoéamalária.■

Saúde

Governo de Luanda reforça programa de combate à dengue e à malária O

presidente do Con-selho de Adminis-traçãodaAssociaçãode Farmacêuticos

dosPaísesdeLínguaPortugue-sa (AFPLP), Daniel António,afirmou quinta-feira, 30, emLuanda, que a realização do XCongressoMundialdosFarma-cêuticos constitui uma oportu-nidade ímpar de aproximaçãoda comunidade farmacêuticalusófona,poispermiteconviver,interagir e partilhar conheci-mentos.

Aointervirnoactodeaberturadoevento,dissequeaactividadepromoveoexercíciodaprofissão,reafirmandoo compromisso éti-co-deontológicoehumano.

Referiuquereforçaopapeldaassociaçãonaconstruçãodeumaverdadeira comunidade de far-macêuticosdelínguaportuguesa,mais solidária e fraterna, prepa-radaparaenfrentarosnovosde-safiosdaprofissão.

Oprogramadocongressoin-

cluisessõesdedicadasàproduçãoeaocircuitodemedicamentos,àregulamentaçãodosectorfarma-cêutico,àintervençãodosprofis-sionaisnossistemasdesaúdeeàformaçãopréepósgraduada.

Entreostemasemfoco,desta-ca-seasessãosobre«produçãodemedicamentoscomopotenciadordedesenvolvimentolocal,»

Em simultâneo, decorre aExpo Farma Angola-2013, comoobjectivodeconhecereintera-gir face-a-face com centenas defarmacêuticos, médicos e outrosprofissionais,identificandoaindanovosclientes.

Visa ainda promover a ima-gem da marca e apresentar osseusprodutosrigorosamentejun-toaopúblico-alvo,numambienteprofissional.

Estão presentes representan-tes da Organização Mundial daSaúde (OMS), do Ministério daSaúde, instituições dos sectoresdasaúdeedosmedicamentosdetodosospaíseslusófonos.■

Congresso dos Farmacêuticos permite interacção de conhecimentos

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Crónica

32 Sábado, 01 de Junho de 2013.

As pessoas pensam queé fácil viver nos Hi-malaias ou no sopédomonteKilimanjaro

ou, melhor, na Groenlândia. Jávi pessoas a jactarem-se, na TV,de levaremumavidaparadisíacaem lugares cavernosos, onde atéumajiboiaperderiaavontadedeviver,num instante.Lugares tre-mendamente assustadores e quenemseriamconvidativosparaummorcegoviver.Ondenemsequerfazsentidoumavisita,aindaquefosse com objectivos científicos.Levando-seemcontaqueoMun-doestáviradoaoavesso,ouqueascoisasdevemservistaspelosdoislados da moeda, assinala-se debomgradoavidaquenós,mwan-golês,levamosequenostemfeitopensar que vivemosbemde ver-dade.Equelevamosumavida…porreira!

Masnãosabemosaocertoqueespécie de boa vida é esta quelevamos. Se tivermos em consi-deraçãoo«mwagolêwayof life»,chegaremos à conclusão de que,no geral, nos sentimos ou pelomenos fingimos que estamos sa-tisfeitoscomavidaquelevamos.Muitas vezes, esse «mwango-lêwayof life» resume-se aumasentada bem regada: vinhos deinsuspeitáveis marcas portugue-sas, chilenas e sul-africanas. Nocaso português, um balanço fei-to por um produtor tuga apontapara um incremento das expor-tações,delesparanós,denãoseimais quantos metros cúbicos deuvafermentadaengarrafada,paraajudaremos«mwangolês»a«tor-rar»paraesqueceremas«malam-bas»davida.

É um belíssimo caso, nas re-lações internacionais, em que abalança comercial entre dois pa-íses é imensamente favorável aoparceiroqueexporta«bebedeira»paraooutro.Coisasdessas,maisparecidascomumcontode…ca-verna!

O«mwangolê»contenta-seemviveràsuamaneira.Nãointeressaseissocontaounãoparaamedi-ção dos índices humanos de de-senvolvimento.Umalmoço,para«cuiar»,sóprecisaserregadocomos respectivos acompanhantes:umavintenadegarrafasdevinho

tinto,devariadasmarcaseprove-niências, para os homens barbu-dos,odobrodecaixasdecevada,para a camada mais jovem, 10garrafasdevinhobrancoe igualnúmero das de «laço vermelho»,para as damas, e um uma caixade «xarope» para neutralizar ascrianças.Esse ritual repete-se aolongodosquatrofins-de-semanado mês e depois cada um queaguente a «cossa» na segunda--feira.Eque saiba esconderbemo«kibuzo»doseuchefe.Anossafilosofiadevidaéassim.

Portanto, não é culpado oexportador português por essanossamaneira,desinteressadaefolgada,deestarnavida.Nessarelação, umpaís está a leste doque sepassanoMundoeoutroestá focado na sua sobrevivên-cia. Porque, quem está «atoa-mente»na vida somosnós como nosso estrondoso «mwangolêwayof life» enãoo exportadorportuguês, que não tem culpa

nenhuma de nós não produzir-moscomidaebebidasuficientespara nos abastecermos, apenasnos contentamos em sustentaruminsustentável«standard»devida.Todoumpaíscomsededevinho português está a abaste-ceroscofresportuguesesdedi-nheiro e, com isso, a sustentarumgovernoquenãoligapatavi-naaosprópriosportugueses.

Omeuvizinhodisse-me:issoélá«makadeles».Elesproduzemeexportamparanós«uiuarmos»enóspagamosparaelesprodu-ziremmais,acrescentou,sarcás-tico,dizendoqueachaqueessarelação é justa.«Absolutamentejusta,meucarocronista!», con-cluiu.

Entretanto,foraisso,o«mwan-golêwayoflife»contemplaaquelanossa maneira de ser generosa-mente exagerados em tudo. Namaneira de vestir e ornamentaro corpo com enormes correntesdeouroaopescoçoenosbraços.

Mais do que três telemóveis nasmãoseum«tablet»penduradoaoombro. Bem, é só um desabafo.Nada tenhocontraquem, comoseu esforço, tenha obtido rendi-mentos de forma honesta, parasustentar a sua vaidade. Outramaniado«mwangolê»éempatur-rar-sedetelenovelas,brasileirasemexicanas. Enquanto isso, paraoutros, o futebol é a escapatória.Há quem pense em empregar oseutempocomoutrascoisas,masnãoconsegue.Porque,o«mwan-golêwayof life» temumâmbitoreduzidíssimodeatractivos.

De modos que resta comprarumamoto,serrarocanoepassarafazerbarulho,todaanoiteema-drugada,divertindo-seemacabarcomosonoeatranquilidadedosoutros.Hátambémoutrasvaria-dasformasdeacabarcomosos-segodosdemais: atiraro lixonaporta do vizinho, por exemplo.Devedarumgozoimensoaovi-garista observar de longe a vizi-

nhaarecolherolixoqueelepro-duziu, mas não cuidou. Émoda«mwangolê» andar com cães deraçaaltamenteperigosasemaçai-me e às vezes soltá-los para es-trangularemcachorrosfarruscos.Portanto, as nossas ambições devidaestãobemlocalizadasenãocustam nada ao erário público,senão os hospitais, para onde sevaiparardepoisdeum«palú»docaraças.

A cabeça do «mwangolê» épreenchida por utilidades comoiràpraiacomenormescaixasde«birras»emiúdasde«tchuna».Senãohá internetemcasaparaes-tudar ou simplesmente navegarparaobterconhecimentos,nãohá«maka».Nãopodeéfaltarnovelase filmes, sobretudoos chamados«de acção», commuito sangue a«expirar»nasparedesdoscasinosedasmansõesondesãorodados.Um panorama destes é mesmoinspiradorparaumcronista.Mashojeestousempachorra!■

O «mwangolê way of life»

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Crónica

Sábado, 01 de Junho de 2013. 33

Um concurso de MissFreiraemItália,apri-meira estátua de BobMarleynaEuropa,eri-

gidanumapequenaaldeiadaSér-viaperdida entrepenhascos,ummilhardepessoasnaMalásiaemabstinência alimentar voluntáriadurantetrintahoras,umameninadeoitoprimaverasnaArábiaSau-ditafeitanoivacompulsivadeumhomem com mais de cinquentaanos de idade e umamulher se-xagenária no Japão a servir de«barrigadealuguer»aumafilhaestéril são situações susceptíveisdereflexão.Éfácilchamaraissoloucura e pensar em coisasmaisdivertidas, mas tudo isso não éparaencarardeânimoleve,por-quesetratamdefenómenosquepodemviraterefeitosdeboladeneve.

Que estranho mundo! Afinal,se algumas destas iniciativas en-volvemnasuagéneseatitudesdesolidariedadesocialedeajudaaopróximo, outras reflectem mal-dade humana. Há nelas humor,drama ou espectáculo e trazemsubjacente um mostruário deprocedimentosdeváriosmatizes:a grande generosidade em con-traste comaleivosias inaceitáveisneste actual e admirável mundomodernodaglobalização.

Senão,vejamos:paraobterfun-dos para obras de caridade, umpadrecatólicoitalianolançouumconcursonaInternetparaelegerafreiramaisbonitadeItália,noin-tuitodeacabarcomaideiadequeas freiras são menos atraentes.MissFreiraéonomedoconcursodebeleza idealizadopeloteólogoAntonio Rungi. As candidatasnão têm de desfilar numa tribu-na,bastaenviarumafotografiaapublicarnumsiteda Internet.Ocertame é só para religiosas dos18aos40anos,com«fotosbonitaseexpressivas,quemostremabe-lezatantonoplanoestéticocomoespiritual», ficando a escolha davencedora a cargo dos internau-tas.Opadreespertalhãoébomdenegócios! Pelo menos, os lucrosdapublicidadevãoparaobrasdecaridade. Trata-se do lado útil eaceitável da iniciativa sócio-reli-giosa.

Oprimeiromonumentoàme-móriadeBobMarleynaEuropa,

uma estátua de dois metros dealtura, representando o ícone doreggae jamaicano de guitarra namão, penteado com trancinhase boina rasta, foi há tempos eri-gido em Banatski Sokolac, umapequenaaldeiadaSérvia,habita-da por apenas 300 pessoas. Paraalém da homenagem aomúsico,ainiciativavisaatrairturistasquecontribuamparamelhorarasre-ceitasdocomérciolocal.Masnãoédecrerqueoobjectivosejaple-namente atingido, se à margemda estátua não houver oferta dederivados afins, nomeadamen-te de artesanato e «agricultura»proibidos pela lei. Ir tão longe enão fumar um xanguto com adivindade? Não faria qualquersentido.

Também por boas causas,ummilhardepessoasemKualaLumpurfazhabitualmenteabsti-nência alimentar durante trintahoras, sem serem muçulmanas.As poupanças com comida des-tinam-se a ajudar as vítimas decatástrofes naturais na Ásia. Aideiasurgiueprosperou,inspira-dapelosismodeSichuan(China)e do cicloneNargis que arrasouaBirmânia,ambosocorridosháuma década. Se os aderentes dosacrifício forem gente de comer

muito,aideiapodeestararesul-tar.

Estes foram gestos presididospor boas e generosas intenções,independentemente dos resulta-dos.Masomundoassistediaria-mente a proezas de outra natu-reza menos solidária, por vezesaté de grandemaldade e contraosdireitoshumanos,jásemfalaremguerras,crimeediscrimina-çãosocial.

Veja-seocasodeumameninade oito anos na Arábia Saudita,casadaàreveliapelopaicomumhomem demais demeio séculode idade, um tipo frequente detransacçãonapenínsula arábicaao abrigo da doutrina ultracon-servadoraislâmicado«wahhbi»,que considera legítimo este tipodepactonupcial.Valeu-lheade-terminaçãodamãe,que levouocaso a tribunal, e de organiza-çõesdedireitoshumanossaudi-tasquefizeramcampanhaa seufavor.

Na área da generosidade hátambém o caso recente de umamulherde61anosquesetornouajaponesamaisidosaadaràluz,aoservirde«barrigadealuguer»paraasuafilhaestéril,remeten-do-seàrarasituaçãodemãe-avó.

Em matéria de bom entendi-

mentohumano, háumexemplodignoderegistoemPortugal.Apovoação alentejana de Vale doPoço está construída sobre a li-nha de divisão administrativasdosconcelhosdeSerpaeMérto-la,mas tanto apopulação comoas duas autarquias até transfor-maram essa circunstância embenefíciocomum:emmatériadeobras públicas, apesar de serempresididas por autarcas de par-tidosdiferentes, uma fornece osmateriaisdeconstruçãoeaoutraamão-de-obra.

Háhabitantesqueaoentrarememcasapelaportada frentees-tão em Serpa e ao saírem pelastraseiras chegam a Mértola. Opárocoda igreja local, construí-daexactamentesobrea linhadedivisão, vive o mesmo proble-ma:oficiaamissanopúlpitoemMértolaparaosfiéisqueestãoalimesmo à sua frente, mas igual-menteparaosfiéisdeSerpa.

Estes são apenas alguns casosreaisquefuirecolhendodenotí-ciaspublicadasnaimprensa,masnãomais que uma gota de águanooceano,sepensarmosemes-túpidos actos e práticas de carizreligioso, social e até financeiro.Diz-se não haver quase nenhumclubede futebol, sobretudoaní-

velinternacional,quenãopossuabruxosavençadosparabenzeres-tádiosejogadores,especialmenteem vésperas de grandes derbies.E, afinal, a bola continua a serredonda. Os resultados do êxitodependem de múltiplos factoresconjugados,desdeascapacidadespessoaisdosatletas,àscompetên-ciasdetreinadores,preparadoresfísicos e dirigentes desportivos.Benzer os estádios com feitiçosfortes parece-lhes indispensável:de outra forma alguns jogadorespsicologicamente mais vulnerá-veis,nãorendememcampoedenada lhes serve, dizem os pró-prios, as capacidades que justifi-camcontrataçõesfinanceiramen-te milionárias. E, sobretudo, osgrandesclubesdaEuropaoptampor bruxos africanos, considera-dosmilagrososnacriaçãodecor-rentes de energia obscurantistas,que se desfazem como baralhosde cartas em grandes derrotasdesportivasinesperadas.

Nãohávoltaadar:aglobaliza-ção é uma maçã com minhocaspor dentro, embora, felizmente,amaioriadapolpanão sejades-baratada pelo apetite voraz dosbichinhos comensais. Mas queestemundotemmuitodesurpre-endente,láissotem!■

Estranho mundo louco

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Crónica

34 Sábado, 01 de Junho de 2013.

A últimavezquemedes-loqueiaLuandafoiem1991. Portanto, comodiria o consagrado

escritor Eça de Queiroz, grandeestilistanaformaenoconteúdo,estou desterrado na sanzala daPóvoadeSantoAdrião,concelhodeOdivelas,háumagrossuradeanos.

Destemodo, por vezes, no si-lênciolongodestaminhasanzala,sintosaudadesdaminhaLuanda,queestáaprogredir.Queseestáatransformar,empassadascertasecompridas,rumoaoprogresso.SintosaudadesdaminhaLuanda!

Encontra-se entre nós omeuneto e querido amigo PatrickCunha,MestreemRelações In-ternacionais,a fimdesematri-cular na Universidade Lusíadade Lisboa, para fazer o Douto-ramento.

Trocamos impressões sobreLuanda. Referiu aspectos que eudesconheçia, as diversas trans-formações que a cidade sofreue, sobretudo, a vivência das suasgentes. Traçou uma longa pa-norâmica das zungueiras, essasmulheresanónimasquepululampela cidade, com o seu alguidarequilibrado sobre a cabeça, ven-dendoosmaisdiversosprodutos.

Mas, o que mais me fascinoufoi o relato queoPatrick fez so-bre a zungueira Nga Manda. Éumpostaltípicoericodebeleza.Omeuinesquecívelamigoecom-padre, o sempre lembrado JorgeMacedo, esqueceu-se de escreveruma«Ode»àsmulhereszunguei-ras,que emprestamà cidadeumcoloridoinvulgar.

Oconceituadoetalentosocine-astaZezéGamboa, se explorasseesseinéditotema,produziriaumdocumentário digno de figurarem qualquer concurso interna-cionaldecinema.

Elachama-seMadalena.Nain-timidade, as amigas e familiarestratam-naporNgaManda.

EláiaaNgaManda,azunguei-ra,comumalguidardeananasesequilibradosobreacabeça.Éalta,bonitaeatraente, comumbron-zeado de se lhe tirar o chapéu.Trajava uma espécie de túnica ecalçava umas sandálias. Levavaumacriançanascostaseumfilhode quarto anos seguro pelamão

direita.Caminha serenamente, sob

a inclemência dos raios solares,vendendo o seu negócio. De vezem quando para. Abriga-se nasombra de uma árvore. Numasacola que levava a tiracolo, tiraumagarrafadeáguaedáaofilho,que já sequeixarade sede, abe-ber.Desamarraooutrofilhodascostas, da sacola retira uma gar-rafinhadeleitecondensadoedáàcriançaabeber.

Depois, retomaamarcha.Umcandongueiro, numa curva malfeita,porumpoucoqueaatrope-lava, embatendo a viatura numaárvores.Ela,numbradoderevol-ta,grita:

-Xê,seusacana!Estásbêbado?Éassimqueseandacomocarro?

Pousaoalguidarnochãoe,fu-riosa,dirige-seaomotorista,coma intenção de esbofeteá-lo. Masum guarda do trânsito interveiorapidamenteeacalmou-a.

ODr.PatrickCunha,quesur-giu duma esquina, estacionou asua viatura e, dirigindo-se-lhe,

inquiriu o que havia acontecido.Ela, ofegante e nervosa, narrouque,porumpouco,elaeas suascriançasseriamatropeladas.«Va-mos ali debaixo daquela árvoree tenhacalma. Jápassou.Agora,descansa»,disseparaela.

Tirouacriançadascostaseco-locou-aaocolo.Retiroudasacolaumasanduícheedeuaofilho.

–Mamã,faltaagasosa.EnarrouaoDr.PatrickCunha,

atentoecurioso tristesepisódiosdasuavida.

- Estaminha vida é demuitosacrifício. Estás admirado: tãonovacomosouealevaravidadezungueira!Nemtodastêmames-ma sorte. O trabalho, por maisrelesqueseja,éumahonra.Nãovendoomeucorpoparasobrevi-ver.Nãopodia arranjar trabalhomelhor,porquenãotenhohabili-tações.

Madalena silenciou. Contem-plouoscarrosquecirculavamembuzinadelas ensurdecedoras. Osmiúdos,descalçosesujos,ponta-peavamumabolafeitadetrapos.

Depois, rompendo o silêncio,continuou:

-Euestavaaestudara9.ªclasse.Tinhadezasseteanos,viviabem.Meupaitinhaosseusnegócioseauferiabonsrendimentos.Omeuobjectivo era fazer, mais tarde,um curso de medicina. Mas, senão fosse um episódio triste daminhavida,hoje,estariafrequen-tandoessecurso.

Madalena silenciou de novo.Suspirouprofundamente.Via-senoseusemblantequeestavatris-te.Easlágrimasrolaram.

-Nãochores!Porquechoras?- Choro. Choro de revolta.

Choro,porquesemquerer,estra-guei a minha vida que já estavabemencaminhada.Apareceuumrapaz bonito que também estavaaestudar.Apaixonei-me.Elegos-tava demim. Eu também gosta-va dele. Traçamos planos para ofuturo. Ele queria fazer o cursode engenharia. Eu, o demedici-na. Casaríamos, após concluídosos nossos cursos. Mas, no entu-siasmo do nosso namoro, com ainexperiência própria da idade,entreguei-me totalmente e ele.Resultado: ao roubar-me a vir-gindade, tudo se dissipou. Porpartedele, o afecto, adedicação,as jurasdeamorquesemprefez,arrefeceramcomoporencanto.Edesapareceu.Nuncamaisovi.

Madalena voltou a silenciar.Deixou escapar um suspiro. Oseu rosto adquiriu uma expres-são séria. Depois, já risonho, oseu pensamento estava distante,mergulhadonopassado.Eria-se.Ria-sedecontentamento.

EoDr.Patrick,querendodes-vendar o mistério, indagou comcuriosidade:

–Hábocadoestavasséria,dis-tante da realidade, e agora estásrisonha como recordando algoquesepassoucontigo...

–Estavaarecordar-medomeuantigonamorado.Dosmomentosalegresquepassámosjuntos.Dosbeijos que nós trocávamos. Eugostavamuito dele. E, apesar doqueaconteceu...

– Ainda gostas dele – acres-centou oDr. Patrick, cortando apausa.

Confirmoucomummovimen-todecabeça.

Madalena, após uma breve

pausa,continuou:–Nãoseicomoéqueomeupai

soubedoquehaviaacontecidoco-migo!Ficoufuriosoequisesbofe-tear-me!Masaminhamãeinter-veiorapidamenteeelerefreouosseus ímpetos! Depois expulsou--medecasa!

Muito mais tarde, apareceu ohomem com quem vivo. É me-cânico de automóveis. É meigo,carinhoso.Gostamuitodemim.Eeu,correspondendooseubemquerer,aprendiagostardele.Éopaidosmeusfilhos:OAbraãoeaRita.Nãotemsortenavida.Nãotem emprego certo. De quandoemquando,apareceunsbiscates.Eu tinha que sobreviver! Queriaarranjar um bom emprego!Maspor falta das habilitações exigi-das, fiz-me zungueira!Vendo detudo e com lucros consideráveis!Tenho bastante dinheiro deposi-tadonobanco.

-Equaissãoosteuplanosparaofuturo?

- O meu plano já está traça-do.Mudardevida…Azungadámuitodinheiro,masécansativa...Vouarranjarumpequenorestau-rante.

Como continuo a estudar denoite, quero concluir a 12.ª clas-se para ingressar na faculdadede medicina. Quero ser médica!Deus há-de me ajudar. Quandoconcluir o curso, já os meus fi-lhos,oAbraãoeaRita,estarãoaestudar.QueroqueoAbraãosejaengenheiro e a Rita locutora derádioetelevisão.

O Dr. Patrick ficou sensibili-zado com a história daMadale-na. Retirando duas notas demilkuanzas,disse:

–Uma éparaoAbraão, o fu-turoengenheiroeaoutraéparaaRita,afuturacolegadomeupai.Tensaquiomeuendereço.Quan-do precisares de alguma coisa,nãohesites!Faço-o,semqualquerinteresse.Nãoqueres que te leveacasa?

Eladissequenão. Iriaapé.Asuacasa eraaliperto.QuandooDr. Patrick se dirigia para a suaviatura,oAbraãolevantouobra-ço num adeus de despedida. ARitadespertoudoseusonoesor-riu.■

Póvoa de Santo Adrião, Lisboa

Nga Manda, a zungueira

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economia

36 Sábado, 01 de Junho de 2013.

N. Talapaxi S.

Toda apolítica económi-caprotecionista é comosefosseumaencruzilha-da:deumladoenquan-

to são agravadas asmedidas tri-butáriasquedificultamaentradanomercado interno de produtosproduzidosláfora,poroutroladohaverásempreumaproduçãona-cionalque,nasuainternacionali-zação,precisadisputaremoutrosmercados lá fora. Encontrar opontode equilíbriodessa «cordabamba»éumdesafiodosecono-mistas.

Embora,deummodogeral,osEstados e as organizações inter-nacionais condenem a prática depolíticasprotecionistas,averdadeéquetodos,semexcepção,fazemuso delas. E nos últimos tempos,comascriseseconómicasquevêmacontecendo, a tendência das na-çõesquantoaousodessaspráticasaumentouconsideravelmente.

Nãoépormenosqueháumno

ano, a directora-geral do FundoMonetário Internacional (FMI),ChristineLagardeconsiderouse-rem«alarmantes»ossinaisdeumproteccionismo crescente face à

deterioração das condições eco-nómicas globais. Ela baseava-senoúltimorelatóriodaOMC[Or-ganizaçãoMundialdoComércio]quesemostravabastantealarmis-

taporcausadoaumentodopro-teccionismo. Christine Lagardechamou ainda a atenção para ofacto de «nenhum país ser imu-ne»aosefeitosdoproteccionismo.

O caso de Angola

Aofinalda«1ªConferênciaIn-ternacionalsobreaTributaçãodoCicloAnualde2013,EficáciadosEstímulos ao DesenvolvimentoEconómico e a Problemática dasIsenções das Fiscais”, realizadanosdias15e16deMaio,emLu-anda,umacoisaficoupatenteen-treosespecialistas:anecessidadedetomarmedidasqueprotejamaproduçãonacionalenquantoem-brionária, até atingir certo cres-cimento que permita competirde igual para igual no mercadointernoeexterno.

Desse modo, o país pende--se declaradamente a favor demedidas protecionistas com ar-gumentos que, a priori, se mos-tramconvincentes.Assim, comomostra-sequeoapeloeapressãodo empresariadonacional que jáproduzosuficienteparaabasteceromercadointernoforamouvidos.

OsespecialistasdeváriosMi-nistérioseassociaçõesprofissio-nais, reunidos na Conferênciasobre a revisão da Pauta Adu-aneira, procuraram consensoparaacobrançadetaxasmaioressobre a importação de produtoscomocimento,mármore, grani-to, carnes, hortícolas e bebidas.Todos eles já produzidos emquantidadesuficientenopaís.

OServiçoNacionaldasAlfân-degas(SNA),aAssociaçãoIndus-trialAngolana (AIA),oMinisté-riodaAgriculturaeoMinistériodas Finanças concordaram queas taxas sobre a importação demateriaisdeconstruçãoedepro-dutos agro-pecuários precisamsofrerumaumento.

As taxas seriam adoptadasporumtempoaindanãodeter-minado que dependeria, prova-velmente, do desempenho dasempresas.Deacordocomoeco-nomistaManuelNunesJúnior,oEstadovaiprotegeraindústriaeosempresáriosnacionaisduran-te algum tempo, para que pos-sam competir com as empresasdereferênciainternacional.

Para esse especialista, a pro-tecçãoénecessária,porqueAn-gola está a iniciar um processode desenvolvimento historica-menteatrasadoemrelaçãoaou-

Para desenvolver produção nacional

Angola parte para o proteccionismoA acção não é assumida pelo governo angolano como protecionista, mas de facto, não deixa de ser. O Estado vai proteger a indústria

e os empresários nacionais durante algum tempo. A protecção será até que as empresas cheguem a um patamar a partir do qual pos-sam competir de igual para igual com outras organizações empresariais de referência internacional.

Concorrência obriga-nos ser cada vez melhoresAngola não tem que proibir qualquer tipo de bebida proveniente de qualquer ponto do mundo, as-sim como ninguém deve proibir os produtos que saem de Angola para qualquer parte do mundo.

ParaoDirectordeMarketingOpe-racionaldaRefriango,EuricoFeli-ciano,noquedizrespeitoaconcor-rênciadeprodutos importados e a

possível adopção de medidas protecionistas«acimadetudodevemsertomadasasmedi-dasjustasparanãoprejudicarninguém».

Entretanto,oresponsávelédeopiniãoquedeve«haveralgumaformadeprotegeredarcondiçõesparaqueasempresas,emAngola,possamcompetirdeigualparaigualcomasmarcasquesãoimportadas».

EuricoFelicianorecordaqueasmarcasim-portadasnãotêmcáqualquertipodeinvesti-mento,querdizerquenãoestãoazelarpelodesenvolvimentodaeconomiadopaís.«Issologicamentesãoargumentosmaisdoquesufi-cientesparaqueexistaalgumaprotecção;logi-camentedentrodedeterminadosparâmetrosparaquetodagentepossaconviverdeformaigualnummercadolivre»,defendeu.

«Aconcorrênciasónosobrigasercadavezmelhores».Arrematou.

FalandoespecificamentedosectoremqueactuaoDirectordeMarketingOperacionalda

Refriangodiantedaconcorrênciafundamen-taque«umadasgrandesvantagensdagloba-lização e dosmercados livres é isso:Angolanãotemqueproibirqualquertipodebebidaprovenientedequalquerpontodomundo,as-simcomoninguémdeveproibirosprodutosque saemdeAngolaparaqualquerpartedomundo».

ParaoDirectorGeral(DG)dogrupoCas-tel,ofrancêsPhilippeFrederic,emdeclaraçãoprestadaaoSemanárioAngolense,aquandodolançamentodaCucaMini,recentemente,«nãoénecessáriohavermedidasprotecionistasnemquotas»nomercado.Nasuaopinião,fazendo

alusão auma livre concorrência, «omercadovaisefazernaturalmenteporsipróprio».

PhilippeFredericconsiderouqueatendên-cia,nosectoremqueactua,éasimportações«diminuíremgradualmente»,comasempre-sasquehojeexportamparaAngolaapensa-remamanhãeminstalar-senopaís.

Ogestorgarantiuquenãotemnadacontraasimportações,masachaqueumpaíscomoAngola,comosinvestimentosqueforamfei-tosecomosquevãoserfeitonofuturo,devechegaraopontoemquesereduzamumpoucoasimportaçõesparaquesecriemmaisempre-sasemaisempregos.■

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economia

Sábado, 01 de Junho de 2013. 37

tros países que estãodesenvolvi-dos e altamente desenvolvidos.«Aprotecçãoseráatéqueasem-presas cheguemaumpatamar apartir do qual possam competirdeigualcomoutrasorganizaçõesempresariais de referência inter-nacional»,argumentou.

Manuel Nunes Júnior, que épresidente da 5ª Comissão deEconomia e Finanças daAssem-bleiaNacional,aodefenderane-cessidadedeumperíododuranteoqualdeveráexistirprotecçãoàsempresasnacionais,expõesqueoEstadoangolanotemvindoade-senvolverincentivosfinanceirosebenefíciosaduaneirosefiscais,deummodogeral,aosectorprivado,parapermitirquetenhaumpesosignificativonaeconomiadopaís.

Ele referiu também que desde2006 o sector não petrolífero temcrescidomais do que o sector pe-trolífero e é fundamental que essecrescimentosefaçadecadavezmaisharmoniosa,paraquetodosistemade benéficos fiscais, financeiros eaduaneirossejampostosempráticasnosentidodepermitirqueoinvesti-mentosejafeitoemtodoopaísparaevitarasassimetrias.

Comissoasmedidas,quesur-gemnumcontextodemoderniza-ção das práticas de colecta fiscaledeharmonizaçãocomasregrasdaOrganizaçãoMundialdasAl-fândegas,podemajudaroExecu-tivonoprocessodediversificaçãodaeconomia.

Taxas aumentam já

As taxas alfandegárias em vi-gor emAngola para alguns pro-dutossofremjáesteanoumagra-vamentode20para50porcentopara proteger a produção nacio-nal,conformeafirmaramrespon-sáveis das alfândegas do país àagênciafinanceiraBloomberg.

Cerveja, água, refrigerantese produtos agrícolas devem veras taxas alfandegárias aumen-tar,mashá«isençõesfiscaisparamatérias-primas usadas na pro-dução industrial», disse o direc-tordoDepartamentodeTarifaseComércionoServiçoNacionaldeAlfândegas,GarciaAfonso.

APautaAduaneiraprotegemaisos empresários nacionais e incen-tiva a produção interna, segundoGarcia Afonso, em declarações àAngop.O responsável disse haveruma expressa orientação do Exe-cutivonessesentido.«Estesfactoresfazem com que negociemos comos empresários nacionais para veronde é que se pode aumentar oudesagravarastaxas»,referiu.

Aspropostasfinaissobreare-visão das taxas da actual PautaAduaneira serão submetidas, apartir de Junho, a Conselho deMinistrosapósteremsidodiscu-tidas por técnicos e responsáveisdos Ministérios da Economia,Geologia e Minas e Indústria edosgovernosprovinciais.■

A Comissão para a EconomiaReal doConselho deMinis-tros reunida em Luanda, nasemana que findou, dedicou

atençãoaomemorandosobreorelança-mentodacadeiaprodutivadoalgodãoedaindústriatêxtilnopaís,noquadrodoprocessodediversificaçãodaeconomianacional.

Ao fimdo encontro, orientado peloseu coordenador, o vice-presidente daRepública, Manuel Vicente, chegou aoconsensodequeoEstadodevepriorizara conclusão da fábrica de tecidos Tex-tangII,emLuanda,eaproduçãodacul-turadoalgodão.

Consta que ss obras da Textang IIestão concluídas em 80 porcento en-quanto a produção de algodão seguenormalmente na comuna de Kipela,KwanzaSul.

Opasso seguinte,depoisda reabili-taçãodaTextangII,éarestauraçãodasunidadesdeproduçãodetecidos(Satec– do Dondo, Kwanza Norte; e ÁfricaTêxtil,emBenguela).■

Industrialização

Aproxima-se o relançamento da indústria têxtil

O ProgramadeDesenvolvimen-todoTurismodopaísestimaque dentro dez anos Angolavenham a receber quatromi-

lhõeseseiscentosmilturistasecriarummilhãodepostosde trabalho,deuaco-nhecernasegunda-feira,27deMaio,eosecretáriodeEstadodaHotelariaeTuris-mo,PaulinoBaptista,queprevêtambémumacontribuiçãodo seu sectornoPIB,calculadaem3%.

O governo central já seleccionou ospólosdedesenvolvimentodoturismodopaís, nomeadamente, o Projecto de De-senvolvimento Okavango-zambeze, oPólodoKuandoKubango,doCaboLedoeodeKalandula.

SobreoturismosustentávelemAngo-la,PaulinoBaptistaacreditaquedentrodedezanosjásepoderáfalarsobreoassunto,tendoemcontaquecadavezmaisturistastêmAngolacomodestino.Játemosrece-bidocruzeirosinternacionaiscomturistaseéprecisoopaíspreparar-separasupor-taraprocura.■

Estimativa a longo prazo

4,6 Milhões de turistas visitam Angola

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economia

38 Sábado, 01 de Junho de 2013.

Nosso Kumbu

O BNA, por meio do seu di-rector do Departamento de Estatísticas, Manuel Tiago, repudiou a atitude de bancos comerciais que rejeitam depó-sitos de moedas metálicas da nova família do kwanza. De-núncias de gestores de bombas de combustíveis apontam que bancos comerciais, com realce do banco BAI, têm rejeitado depósitos de moedas metáli-cas. O responsável bancário aconselhoua denunciar qual-quer situação do género por via do site do BNA ou dirigindo--se à sua sede.Entretanto ficou também aberta a possibilida-de das denúncias serem feitas através de uma linha telefónica caso o BNA disponha. As novas moedas metálicas do Kwanza entraram em circulação a 18 de Fevereiro e as notas come-çaram a ser introduzidas no mercado de forma progressiva, desde Março último.

Bromangol perde «monopólio»

Comaassinaturadeumpro-tocolo entre os ministérios dasFinançasedoComércio,nodia24 domês passado, Bromangoldeixade serúnica empresaqueefectua análises de controlo dequalidade aos produtos impor-tados. O acordo permitirá quemais laboratórios, principal-mente públicos, efectuem exa-mesdequalidadealimentaraosbens importados ou de produ-ção nacional. Assim, os impor-tadores têm agora mais opçõesde escolha e também poderãodesalfandegarmais rapidamen-teassuasmercadorianoPorto.

Safra de 1.500 toneladas

Asafraalcançadapeloscampo-nesesdeAmbaca,KwanzaNorte,durante a primeira fase da cam-panhaagrícola(Setembro/2012aMaio/2013) éde1.567 toneladas.A colheita é resultado das chu-vas regulares. As culturas maisproduzidasforamoamendoim,omilho,amandioca,abatata-docee o feijãomanteiga, como sendopeloscamponeseslocais.Ambacaficaa180kmdeNdalatando(ca-pital doKN), estima-se termaisde80milhabitantes,quevivees-sencialmenteda agricultura edaagro-pecuária.

Cela como gigante económico

O presidente da Associa-ção dos Empresários da Cela(Kwanza Sul), José Macedo deAlmeida, acredita que a locali-dade pode se tornar num pólode desenvolvimento económicodo país, se forem bem explo-rados os recursos naturais quepossui.Aprodução,adistribui-çãoeoconsumodebenseservi-çossãocondiçõesquepermitemum desenvolvimento sustentá-vel de qualquer região e omu-nicípio daCela tem todos estesaspectos. Para JoséMacedodeAlmeida o que falta é uma ex-ploração rentável das potencia-lidades.

Obras só para empresas

tributárias

AsadministraçõesmunicipaisdeCabindanãodevem entregarobrasàsempresasquenãoregu-larizaram a sua situação tribu-tária junto do Estado, segundo

o chefe da repartição fiscal definançasdeLândana,municípiode Cacongo, David Chana. Nosúltimostemposalgumasempre-sas procuram os municípios deCacongo,BucoZaueBelizeparanovos contratos inseridos nosprogramasde investimentospú-blicosdoExecutivo,masmuitasdelastêmproblemascomofisco.oprocessode reformasquevisaaumento de receitas fiscais forado sector petrolífero deve serumatarefadetodosenãoapenasdoMinistériodasFinanças,dis-seDavidChana.

ExpoCabinda alavancou negócios

Arealização,emCabinda,daprimeira edição da Feira Inter-nacional de oportunidades denegócios e parcerias constituiuma alavanca que vai dinami-zar o sector empresarial local,segundo o presidente da Asso-ciação dos Pequenos e MédiosEmpresáriosdeCabinda,Antó-nioSerrano.Serviuparaosem-presários dinamizarem os ne-gócios potenciando-os no comnovas parcerias para alavancaro desenvolvimento económicodaprovíncia.DuranteoFórumEmpresarial Antonio Serranoafirmouexistir jáolançamentodo concurso público para em-presasquevãoconstruiroPor-todeÁguasprofundasdoCaio,em Cabinda. Com essa infra--estruturahaveráfacilidadesnarecepção dos produtos e acaba--secomadependênciadoPortoAutónomo de Ponta Negra, naRepúblicadoCongoBrazaville.A segunda edição da ExpoCa-bindajáestamarcadaparaMaiode2014.■

Bancos negam depósitos em moedas metálicas

Giro Económico

BNA - EXECUÇÃO DOS MERCADOSSemana de 20 a 24 de maio de 2013.Venda de divisas ao sistema bancário: USD 450,0 milhões. Taxa de câmbio média de venda (KZ-USD): 96,386. Operações de mercado aberto, de venda de títulos com

acordo de recompra: Kz 15,7 mil milhões a 63 dias. Para a gestão da despesa corrente do Tesouro Nacional o

BNA colocou no mercado primário Títulos do Tesouro no montante de Kz 16,0 mil milhões, sendo Kz 5,5 mil milhões em Bilhetes do Tesouro e Kz 10,1 mil milhões em Obriga-ções do Tesouro. As taxas de juro médias apuradas foram de 2,88% e 4,08%, ao ano, para os Bilhetes do Tesouro com 91 e 364 dias de maturidade. Para as Obrigações do Tesouro as taxas de juro apuradas foram de 7,00%, 7,25%, 7,50% e 7,75% ao ano para as maturidades respectivas de 2, 3, 4 e 5 anos.

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economia

Sábado, 01 de Junho de 2013. 39

Para acudir eventuais situações de aci-dentenos camposde exploraçãodehi-drocarbonetos no offshore angolano,o director geral-adjunto da Total E&P

Angola,JorgeAbreu,fezsaberque,nospróximosmeses um sistema de dispersão de derrames pe-trolíferosdegrandesproporções,nomar, vai sercolocadonoGolfodaGuiné.

ApartirdoGolfodaGuiné,osistemadedis-persão,quevirádaNoruega,poderáseracciona-dorapidamenteparaacudirasituaçõesdeemer-gêncianosdiferentesblocospetrolíferosdomardeAngola.

EmSetembroosistemaseráensaiado.Comoexercício,ogrupoTotalpretende testaracapaci-dadedemobilizaçãoeimplementação,emtempoútil, do equipamento recentemente desenvolvido

noseguimentododerrameocorridodoGolfodoMéxicoem2010.

O secretário de Estado dos Petróleos, AníbalSilva,considerafundamentalaarticulaçãodeac-çõesparacombatereventuaisacidentesnoscam-posdeexploraçãodehidrocarbonetonooffshorenacional.

Aníbal Silva indicou que para enfrentar situa-çõesdecorrentesdederrames,opaístemaprovadooPlanoNacionaldeContingênciasContraDerra-mesdePetróleonoMar.desdeDezembrode2008.Aimplementaçãododocumentoestáemcurso.

Salientouquearesponsabilidadederesponderaosderramesésempredequemocausa,cabendo,igualmente,aele,desenvolverdiligênciasparaes-tancarasituação,conduzirasoperaçõesdelimpe-zaecompensarquemforafectado.■

Petróleo

Blocos no offshore angolano se armam contra derrames

A paralisaçãotemporáriadaInstalaçãodeEnchimentodeGásdaPetrangol (ICPN),amaior fábricadeen-chimentodegásdeAngola,devidoaumincêndiodepequenasproporções,estánaorigemdaescassezdo

gásbutanoqueseregistanomercado,emparticularnaprovín-ciadeLuanda,esclareceaSonangolEP.

ASonangoladmitequeoacidentedeterminou,pormotivosdeordemtécnica,aparalisação,poralgunsdias,daICPN,factoque,apesardatomadademedidaspreventivas,provocoucons-trangimentos e a redução da capacidade de abastecimento doproduto.

Noentanto,aInstalaçãodeEnchimentodeGásdaPetrangol-ICPN,unidadefabrilafectaàSociedadeNacionaldeCombus-tíveldeAngola(Sonangol-EP),localizadaemLuanda,naquintafeira,30deMaio,retomouasuaactividadeprodutiva,após25diasdeparalisação.

Porestefacto,aSonangolprevêestabilizar,noiníciodapró-xima semana, o abastecimento de gás butano (de cozinha) aomercado,particularmenteàcidadedeLuanda,ondeháduasse-manasseregistaumagrandeprocuradoproduto,dizocomu-nicado.■

Sonangol retoma produção

Acabou a escassez de gás no mercado

A capitalizaçãoda futuraBolsadeValoresdeAngo-lapoderárondaros10%doProdutoInternoBruto(PIB),conformeestimativaapresentadanasemanaqueacabou,peloPresidentedaComissãodeMerca-

dodeCapitais,ArcherMangueira.Falandoduranteumaconferênciadeimprensa,apropósito

dasactividadesdoCMC,ArcherMangueiradissequeerapre-maturopreveroníveldecapitalizaçãodafuturabolsadevalo-resdeAngola,masaindaassimestimouemfunçãodamédiadocontinenteafricanoquerondaos25porcento.

Atítulodeexemplodebolsasdocontinente,afontereferen-ciouadaÁfricadoSul,cujaacapitalizaçãoestima-seem38porcentodoPIB.

Apesardisso,oPCAdissequeaprincipalpreocupaçãodoCMCnessaalturaépartilharasexperiênciasdeoutrospaíses sobre bolsas e trabalhar para tornar a de Angolaumabolsaforte.

Asnegociaçõesdetítulosdedívidapúblicaeobrigaçõescor-porativas,nomercadosecundário,poderãoocorreraindanodecursodeste ano,umavez ter já sidonomeada aComissãoInstaladoradaSociedadeGestoradeMercadosRegulamenta-dos(SGMR),garantiuhoje,emLuanda,oadministradorexe-cutivodaComissãodeMercadodeCapitais (CMC),PatrícioVilar.

PatrícioVilarpontualizouqueaComissãodeMercadodeCapitaisjáidentificouplataformastecnológicasdenegociaçãoetambémdecustódia,liquidaçãoecompensaçãodosvaloresmobiliáriosasertransaccionados.

Salientouqueomercadovaiarrancarprecisamentecomomercadodetítulosdedívidatituladaecomomercadodeobri-gaçõescorporativasousejaobrigaçõesdeempresas.

O CMC é uma instituição pública vocacionada a regular,supervisionarepromoveroMercadodeCapitais,assimcomoregistarelicenciarentidadescorrectoraseoutras.■

Finanças

Capitalização da Bolsa de Valores pode ser de 10 % do PIB

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Cultura

Em saudação ao «25 de Maio», Dia de África

«União» leva literatura angolana a CoimbraInvestigadores de literatura africana, de várias nacionalidades, tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre

ficção e poética angolana, num encontro realizado no anfiteatro V da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), numa actividade organizada pela União dos Escritores Angolanos (UEA), em parceria com o Centro de Literatura Portuguesa

dessa instituição, programada para saudar o Dia de África, assinalado a 25 de MaioFrancisco Mateus

Emmesa de escritores, fizeram--se presentes Luandino Vieira,ZethoCunhaGonçalves,LopitoFeijóo eAntónioQuino, tendo

como moderador o Professor Pires La-ranjeira,umconhecidoestudiosodalite-raturaangolana.

Perante uma plateia demais de 60 es-tudiosos da literatura africana, entredocentes, doutorandos, mestrandos e li-cenciados de nacionalidades diversas, asboas-vindas vieram do Professor Antó-nioRebelo,representantedaDirecçãodaFLUC,seguidodebrevesconsideraçõesdotambémprofessorPiresLaranjeira,emre-presentaçãodoCentrodeLiteraturaPor-tuguesa(CLP).

Falandoemnomedasecularinstituiçãouniversitária, António Rebelo começoupor agradecer a escolha da UniversidadedeCoimbrapara tão importante eventoemostrou toda a disponibilidade para queacçõesdogéneropossamaconteceremproldomulticulturalismo,hojevigentenasáre-asdashumanidades.

Por seu lado, Pires Laranjeira, na qua-lidade de co-organizador do evento, des-tacou o papel de cada um dos escritorespresentes no enriquecimento e promoçãodaliteraturalusófonaemgeraleangolanaemparticular.

Medo do papel em branco

Paraabrirabateriadeintervenções,Pi-res Laranjeira instigouLuandinoVieira afalarsobresevaiounãoterminaratrilogiaintitulada«Deriosvelhoseguerrilheiros».

Gorandoasexpectativasdoauditório,oescritorangolanocomeçouporreferirquenãoésuaintençãoterminaroterceirolivroda trilogia, por pretender que ela seja deapenasdoislivros.

Falando para uma assistência bastanteatenta,LuandinoVieiradissetambémque,tal comonos anos 60 e 70, em que tinhamedo de papéis, porque eles podiam serapanhados e virados contra si, agora ga-nhoumaismedodopapelembranco.

«Não é preciso que alguém os apanheparaseremviradoscontramim.Bastaqueeutenteescreverqualquercoisae imedia-tamente aprimeirapalavra se vira contramim».

Além de pretender com isso explicar oseudistanciamentodeumprováveltercei-

rolivrodatrilogia,essaalusãoaomedodopapelembrancoterásurgidodeformapré-via para explicar a sua aversão ao acordoortográfico.

«Oterceirovolumedatrilogia,otalqueeununcahei-deescrever, játemapalavrainicial,escritajáháuns8anos.Tenhooca-dernoquediz‘olivroderiosIII’eestácomumasquatrooucincopáginas.Mas,talvezadivinhando certa inflação do termo, doconceitoedoalcancequeesseconceitopre-tende,termolusofonia,oromancecomeçacomapalavra‘river’,que,tantoquantosei,nãoéaindaumapalavradalínguaportu-guesa»,disse.

Igualasimesmo,oautordepersonagenscomoRicardoeMarina,dolivro«Acida-deeainfância»,aproveitoutecercríticasao

acordoortográfico,quenãoteveemlinhadecontaarealidadelinguísticadasdiferen-tescomunidadesutentesdalíngua,nomea-damenteamoçambicanaeaangolana.

«Estou convencido que os moçambi-canos, quehãode ter a oportunidade, talcomo nós angolanos, de apurar o nossovocabulário,comoqualhavemosdecon-tribuir para o vocabulário da língua por-tuguesa,que emprincípiodevia servirdebasedeumacordoortográfico,ficamosnatristesituaçãodejáhaveracordo,dejáestaraprovadoedejáestaremmarcha,oquenaminhaleitura,dequemjáviumuitacoisa,significaapenasqueéumfactoconsuma-do,eosangolanosemoçambicanosquesevirem.Porém,onãoaceitaremcomoques-tãopréviaque cadapaís contribua comoseuvocabuláriodificilita-nosbastante».

Motordaeditora«NósSomos»,Luandi-noVieiratambémexplicouosmotivosqueestiveramnabasedasuacriação,tendore-alçadoaintençãodelevarolivro,apreçosacessíveis,aosdistintospontosgeográficos,contribuindoassimnapromoçãodo livroedaleitura.

Luandino Vieira, um dosmais concei-tuadosescritores lusófonos, éautorde«ACidade e a Infância», «AVidaVerdadeiradeDomingosXavier»,«Nós,osdoMacu-luso», «João Venâncio: os seus Amores»,«Luuanda», «No Antigamente, na Vida»,«Macandumba», «Velhas Estórias, VidasNovas»e«Lourentinho,DonaAntóniadeSousa&Eu»,entreoutrasobras.Em1965,obteve o Prémio de Ficção da SociedadePortuguesadeEscritores,quenãopôdere-ceberporquenaalturaseencontravapresono Tarrafal. Em 2006, foi-lhe atribuído oPrémioCamões, que recusou receber porrazõespessoais.■

Flores em campo de batalhaD

andoseguimentoàactividade,opoetaJ.A.S.LopitoFeijóoKcomeçouporfalardoseulivro«Cartasdeamor»,queparaelefaladeumamorparaládacompreensãodotermo.Referiuque

oamornãoéumsentimentoexclusivode lugaresondeexistepazeharmonia.

«Mesmo no contexto de guerra, reinava o amor. NoKuando Kubango, zona fustigada pela guerra civil an-golana,nasciaflores.Osguerrilheiroslutando,porvezescorpoacorpo,ehaviafloresnascendo».

Nasuaintervenção,oautorde«EntreoÉcraneoEsper-ma»realçouaindaqueosmuitosanosdecaminhadanocam-podaliteraturapermitiram-lheperceberqueéprecisoser-seprofissionalnoramoparaseaperfeiçoaraescritapoética.

«ComodiziaDavidMestre, duma geração que, se seapurarem5escritores,jáébom,esedesses5apurarmos5livrosserámuitobom.Eseemcadaumdesses5livrosapurarmos 5 poemas,melhor ainda. Estamos sempre à

procuradocaminho,exercitandoaescritaedescobrindoalgumasmatreirices,queninguémnosensina,naformadearrumaraspalavras»,considerou.a.

LopitoFeijóo,emboratenhajáumpercursoassinalávelnocampoliterárioangolano,comprémioseobrascomo«Doutrina», «Rosa Cor de Rosa» e «Corpo a Corpo»,cujos textos se caracterizampelaquebradeumdiscur-sofluídodasintaxeedaprópriaortografiadaspalavras,garantequeaescritaéumexercícioincessantedabuscadoperfeitoeque todososdias secaminhaaoencontrodesseimaterialserperfeito.Paraexemplificarsobreosca-minhosquetemvindoapercorrerparaoapurodaescritapoética,LopitoFeijóodisse:

«Existeagramáticadalíngua,assimcomoaficçãoeapoesia têmgramáticaspróprias,queseaprendemlendomuitoemuito.Repito:paraseserumbomescritor,temqueseser,antesdemais,umbomleitoreumpoetaéobri-gadoasermuitomaisqueumbomleitor».

Poetaqueseassumecomoumdesconstrutordalínguaenquantoestratégiadeinovaçãoecontribuiçãoparaoseuenriquecimento,LopitoFeijóodefendeanecessidadedeatéosestudantesdecursos técnicosouciênciasexactasapostaremnaleituradetextosliterárioscomomecanis-modeaperfeiçoamentodoraciocíniológico.

«Estudantedematemáticatemqueconheceralín-guaportuguesa,temquelerpoesia,etemquelerfic-ção. Um estudante de física, ou ciências exactas nogeral, tem que ler, porque imaginem que se ele nãotem uma grande capacidade de entendimento ou decompreensão, comoéquevai solucionarumproble-ma matemático? Olha, quando nos apresentam umproblemaparaosolucionar,temosque,antesdemais,compreenderaquiloquenosépedido.Daí,arespon-sabilidade de quem escreve com consciência artís-tico–literária, porque vai ser lido para ajudar nesseprocessodavidadoleitor».■

40 Sábado, 01 de Junho de 2013.

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Cultura

Sábado, 01 de Junho de 2013. 41

Zetho Gonçalves: poeta de profissão

Uma auto-estrada de livros

Zetho CunhaGonçalvesfoi o terceiro a tomarda palavra. Trazendoconsigoacaracterística

devivênciadiferentedadoLopitoFeijóo, diferença até na constru-çãopoética, éumcultor clássicoda língua portuguesa, contra-riamente àquele,queadesregulaparaa inovar, conformeafirmouPires Laranjeira como nota in-trodutóriadoautorde«Apalavraexuberante»e«Riosemmargem.Poesiadatradiçãooral».

Se Lopito Feijóo aprimora adesregulação linguística, ZethoGonçalves aposta também emtextos poéticos que resgatam,traduzem e transformam fun-damentalmente provérbios datradição nganguela, talvez porinfluênciadeCutato,noKuandoKubango, regiãoqueopoetade-nomina como «minha pátria dapoesia».

«Tentoconheceromáximoso-brepoesiaem línguaportuguesaquesevaifazendoporessemun-dofora»,disse.

Tambémescritorde literaturainfanto-juvenil, autor do livro«Debaixo do arco-íris não pas-sa ninguém», que só no Brasil

já vendeumaisde25mil exem-plares, Zetho Cunha Gonçalvesfalou ainda da sua experiêncianosmaisde34anosde carreiraliterária, commais de 30 livrospublicados.

«Uma das coisas que a escolanunca me ensinou foi o prazerdeler.Todasascoisasqueeueraobrigado a ler, nunca lia. Comoestudeiagronomiaenãoliteratu-ra,paramimnaleituradeveexis-tiroacentodoprazerenãoodatortura. Fecho um livro quandonãomedáprazer,porqueoleitordeve seromaior emelhor escri-tor», refere para depois reforçarque«o leitoréoescritordaqueledeterminado textona sombradapágina».

Numa alusão aos que pensamserpossívelopoetafazer-senumdia, e reforçandoa ideiadeixadapor Lopito Feijóo, Zetho CunhaGonçalves lembrou que a apa-renteperfeiçãodeumtexto feitohoje, pode se tornar totalmenteimperfeitaamanhã.

«Éopoemaque fazopoeta,enãoopoetaquefazopoema.Pu-bliquei livros que hoje vejo quesãoumaporcaria.Relimuitodoqueescreviedecincolivrosjun-

tei fragmentosefizapenascincoouseispoemas.Orestonãoapro-veitei. É assim a vida do poeta»,ajuntou.

Além de escritor, com obrascomo«Oincêndiodofogo»e«Ovôodaserpente»(ediçãomanus-crita,com12exemplaresapenas,com quatro desenhos originaisdo autor), ZethoCunhaGonçal-vestambéméensaístaetradutor,tendotraduzido«Odesejoéumaágua», de Antonio Carvajal. Or-ganizouediçõesdaobradeMárioCesariny,LuísPignatelli,AntónioJosé Forte, Natália Correia, Eçade Queiroz, Fernando Pessoa, evárias antologias da poesia e docontoangolanos.

Entretanto,aindaparadestacaro papel do leitor, Zetho CunhaGonçalves, que como homemnasceu no Huambo, mas quecomo poeta nasceu no KuandoKubango,faloudanecessidadedacrítica.

«Onossotrabalhoétãosolitá-rio,mastãosolitárioquearazãodeleéexistiralguémcomquemsepossa um dia conversar, mesmoque sejadiscordandodele.Aliás,discordarinteligentementeésem-presaudável»,finalizou.■

A fechar o quadro, o professor,jornalista e ensaísta AntónioQuino foi chamado a apresen-tar três obras, designadamente

«Abaladadoshomensquesonham»,umaantologia do contos de autores angolanosorganizadaporsi,eosromances«Nambu-angongo» e «Hebo», do escritor JoãoMi-randa.

Sobrea«balada»,lembrouqueoprojectonasceu de uma solicitação do secretário--geraldaUniãodosEscritoresAngolanos(UEA),CarmoNeto,paraatenderaumpa-cotedoseumandatorelativoaoseuambi-ciosoprogramadedivulgaçãodaliteraturaangolanaanívelinternacional.

«Procuramos reunir textos que ex-pressassem interesse, contexto, realidade,consciência colectiva, escolhas estéticase temáticas de Angola e dos angolanos ecujos invariantes nãomarginalizassemosparadigmastambémsimbólicosdoseran-golano»,disseAntónioQuino.

Referiuquea1.ªediçãosaiucomotítulo«Conversas de homens no conto angola-no»,editadaemAngola,ea2.ª,melhorada,foidoClubedoautor,emPortugal.

«Daíparacá,tevetraduçãoemhebraico,lançadanafeiradeJerusálem,outratradu-ção emespanhol, lançadana feiradeHa-vana, emCuba.Prevê-seumaediçãobra-sileiraeestá jáemcarteiraa traduçãoemalemão,francêsejaponês»,informou.

SobreasobrasdeJoãoMiranda,quefoi

convidadoaapresentar,disseque,nãoha-vendoumaaparenteintençãoobjectivadetorná-losnumsó,«osdois livrosdoautorsãoumaespéciedeauto-estrada,cujapor-tagemdeentradaéNambuangongoeadechegadaéHebo».

AntónioQuinoenfatizouqueapresençada história recente deAngola émarcantenosdoisromances,emboranelesnãohajaimplicitamente apretensãode se fazerounarrarhistória.

«ComNambuangongo,destaca-seoinícioda luta armada de libertação nacional num

território muito complicado para os guerri-lheirosangolanos,deumlado,eparaoexérci-tocolonialportuguês,doutro.Háaindaaspec-tosqueajudamaconhecertambémoconflitoideológiconoseiodoMPLA,numprofundomomentodeintrospecção,talcomooquecul-minoucomochamadofraccionismo,de27deMaiode1977»,disseQuino.

Para esse docente, «Hebo» indicia umafase posterior a da proclamação da inde-pendêncianacional.

«AquioautorcontaumafasedaguerracivilemAngolaeaoperíodode4deAbril

de2002,comaconquistadapazefectiva,oreencontrodefamílias,areestruturaçãodefamílias,asestóriasromânticas,ângulosqueajudamacompreendermelhoro ladoinversoaodaforçadasarmase,comodisseoLopito,nocenáriodaguerratambémháamor;tambémnascemflores»,realçou..

Explicando o título do livro, AntónioQuinoafirmouque,desualeitura,«Hebo»tanto pode simbolizar a gravidez de umaviúva (personagemdo livro), frutodeuminfielenvolvimentocomumpastor,ouper-sonificarumapazquenuncamaischegavaaopaís.

«Era importante fazer pensar que agravidez era do seu finadomarido que,antes demorrer, a deixou grávida e quese tratava de um ‘hebo’, daí o supostoprolongamento do tempo da gestaçãoqueultrapassavadozemeses(issoéoquefez transparecernaaldeiaparadisfarçara gravidez nascida de uma relação comumpastormesesdepoisdamorte trági-cadoseuesposo);ouasváriastentativasdepaz,queoravinhamoraiam,otempocorrendo. Portanto, ‘Hebo’ tem tambémavercomaguerracivilqueseprolongaaté 4 de Abril de 2002 e nesse períodohouve várias tentativas de reconciliaçãoe de paz, numa espécie de gravidez queaparece edesaparece, até aonascimentoquesurgenodia4deAbril,muitotempodepoisparaládotempováriasvezespro-gramado»,rematou.■

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desporto

Crise directiva soma e segue no ASA

«Braço de ferro» entre JustinoFernandes e Manuela de OliveiraC

omo tivera avançadoemtemposestejornal,aapetênciaparadirigiroclube patrocinado pela

TAAGémuito grande.Quem láentra,jánãoquersair.

Zeca Venâncio, por exemplo,presidente cessante, permanecenoASAdepedraecal,mesmode-poisdeter«renunciado»aocargo,numaencenaçãodotiponãoestámas está,não lhe restandooutraalternativa senãomovimentar oscordelinhosàdistância,emdefe-sa de tudo quanto por lá deixouengendrado.Fala-sede fabulososproveitoscomumaespéciedear-rendamento de terrenos para asOrganizaçõesKinjololoLdaedeempréstimos especulativos comterceiros altamente rentáveis.Agora chegou a vez de JustinoFernandeslutarpeloseupedaço.

Interesses escondidos

Uma vez aí «colocado», pelasmãosdeseuvelhoamigoecom-panheiro de rota Hélder Preza,antigo vice-ministro dos Trans-portes, Justino Fernandes juroua pés juntos, num canal de tele-visão,quepornadadestemundoficaria sequerumminutoamaisno ASA tão logo se esgotasse otempo dado à sua comissão degestão. Qual quê?! O seu tempoexpirou,masapromessafeitafoiapenasparaboidormir.Elequercontinuar por lá a todo o custo.Os últimos acontecimentos noclubeaviadordesmontam-noporcompleto.

Iniciou-se agora no clubeaviador um verdadeiro «braçode ferro»entreomaisvelhodo«Espontâneo»eManueladeOli-veira, a presidente eleita, numaautêntica«batalhacampal»parase determinar quem «pilota» oASA,noespaçodetempoqueaprovidênciacautelar0017/012-Hdecidu.

Por enquanto, Justino Fer-nandespareceterperdidoovoo.Centenas de assinaturas recolhi-das entreos sócios emLuanda eprovíncias do país pedem o seuafastamentoeoregressoimedia-todapaz socialnoclube, comocumprimentorigorosodasenten-çadajuízadocaso.

Longe de ter o apoio popularqueanteshaviaconquistado,Jus-tino Fernandes não é mais ben-quisto no clube, onde detinha aaúreadevelhaglóriadecartasda-das.Jáchegoumesmoaservaiadopelaclaquedoclube,agoraqueosaviadoresmergulharamnumver-dadeiroinfernosobsualiderançanacomissãodegestão.

Iniciativa de sócios

Sucessivos comunicados subs-critosporsócios,amigoseadep-tos do clube, publicitados noJornal de Angola, acabaram pordenunciar as violações edesobe-diências ao tribunal, exigindo areposiçãodalegalidade.

Estas iniciativas levaram aorubro o mais velho Justino. Se-gundoumplanocuidadosamentegizado, já muito acima do ante-riorpatamarmédiodeinteresses,JustinoFernandespretendemes-moassimcomandaroclubeàdis-tância,nocurtoprazo.Odeside-rato foi anunciado ementrevistaporsiconcedidaàTPAeàRádio5,quandoafirmousemqualquerprurido que iria desobedecer àdecisãodajuíza,convocandono-vaseleições.NaópticadeJustinoFernandes,oprocessojudicialemrecursonoTribunalSupremonão

oengaja.No fundo,afirmouqueestá por cima da lei. Para isso,pretende a todo custo desenca-dear um processo relâmpago deeleições antecipadas, com vence-dor antecipado, no qual concor-reriam escolhidos seus, prontospara vencer o eventual pleito, àmargemdadecisãojudicialedasleis.O«seu»eleitoéatéagorades-conhecido.Paraoefeito,orienta-raHelderPrezadeconvocarparadia 15 corrente, mais uma «as-sembleia», segundo anúncio doJornaldeAngola.

Porsuavez,ManueladeOlivei-ratemsidovistaempermanentescavalgadas nos corredores noMinistério da Juventude e Des-portos,nosentidodeconseguiroapoioinstitucionalpararecolocaroASAnocaminhodalegalidade,ecomissocortarpelaraizases-tranhaspretensõesdomaisvelhoJustino.

O braço de ferro estende-setambém aos canais de televisão,ondeManuela deOliveira come-çaaganharalgumprotagonismo,oque temproporcionadoumex-celente contraditório. De acordocoma«dama»doclubeaviador,oqueestáemcausanoASAéalega-lidade permanentemente violada,oquetemprovocadodesorganiza-ção e falsas expectativas,prejudi-candoodesempenhodosatletas.

Para ela, a solução passa pelaobediência à decisão da juíza ereposiçãodalegalidade,comode-sabafounumarecenteentrevistaàTVZimbo.

Julga-sequeoalinhamentodoactual presidentedamesada as-sembleia-geral comaduplaZecaVenâncio/Justino, tem sido omaior «quebra-cabeça»deManúdeOliveira.

Divergências

No ASA, segundo algunsfuncionários, a luta nos últi-mos dias atingiu temperaturasincendiárias. Por um lado, de-nunciamqueJustinoFernandesnão pretende largar uma contachorudaquemandouabrirnumbanco em Luanda, onde não sesabe quanto dinheiro circula,já que ela é gerida por apenasduaspessoas, tal e exactamentecomo fazia Zeca Venâncio nosanosidos,àmargemdosdemaismembrosdedirecção.

NaausênciadeZecaVenâncio,ManueladeOliveiradirigeoASAtemporariamente, na qualidadede vice-presidente, sendo que aTAAG, como patrono do clube,conclamaa retomadoseu legíti-molugarnamesadaassembleia,usurpadoporHélderPreza.

Em 2012, enquanto ManueladeOliveiraestevenaliderançadoclube,oASAocupavaosegundolugar da tabela classificativa doGirabola. Hoje, os «aviadores»correm o risco de descer de di-visão. Aliás, é opinião unânimenosbastidoresdo clubequebas-tou Justino Fernandes «aterrar»noaeroporto,paraqueeleviras-seumautênticosacodepancada,estandonoúltimolugardatabelaclassificativadocampeonato.

Nemmesmo o sufoco do clubelevoualgumdiaJustinoFernandesaservistonumdosestádiosdefutebolmoralizando os atletas. No fundo,comele,oASAficousemcomando.

Obraçode ferroentre JustinoFernandes e Manuela de Olivei-ra transformou-se numa batalhasemrivalnodirigismodesportivoangolano.Masnãosesabeaindacomoculminará.Umaelite,lide-radaagoraàdistânciaporJustinoFernandes,constituídapormem-bros solidários com Zeca Ve-nâncio, representando interessesaindaporsedescobrir,confronta--se agora com os interesses pelarecuperação do clube e pela re-posiçãoda legalidadedefendidossuperiormente por Manuela deOliveira.Quemvencerá?Os«es-pontâneos»ouoclubeaviador?■

António Simões

42 Sábado, 01 de Junho de 2013.

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desporto

Sábado, 01 de Junho de 2013. 43

Para o jogo contra o Senegal

Ferrin aposta nos girabolistasPaulo Possas

AsPalancasNegrasrealizamestesábado,02,oseuprimeirojogoparticular contra o Interclubeou Bravos doMaqui, no qua-

drodasuapreparaçãoparaodesafiododia8 contra os Leões deTeranga (Senegal), acontar para a quarta jornada doGrupo J(zonaafricana)deapuramentoaoMundialde2014,noBrasil.

Nojogo-treino,asPalancasNegrascon-tarão apenas comodesempenhode joga-doresquemilitamnoGirabola,porqueosprofissionais que jogamnaEuropa come-çamachegaraLuandaapenasapartirdesegunda-feira,4.

A preparação da seleção nacional teveiníciona tardedequinta-feira,noestádio11deNovembro,apósaconcentraçãodosconvocados namanhã domesmo dia, noestádio daCidadela. Entre os girabolistasconvocados apenas se registou a ausênciadedoisdostrêsjogadoresdoKabuscorpdoPalanca (Kibecha e Libengue) chamados,algo que já foi questionado pelo técnicoGustavo Ferrín, uma vez queAdawa, damesmaequipa,estevepresente.

Curiosamente, os dois faltosos são asduasgrandesnovidadesdalistadeconvo-cados de Gustavo Ferrín, num grupo noqualaausênciadeManuchoGonçalves,doValladoliddeEspanha,ressaltapelanega-tiva.

GustavoFerrín eo seu assistenteHugoRossanoiniciaramapreparaçãocomuma

conversa sobre os objectivos perseguidosnojogocontraoSenegal,seguidaporumasessãoderecuperaçãofísicadosjogadores.

Estiveram presentes os guarda-redesHugo (1.º de Agosto) e Landu (Libolo);os defesas Bastos, Mabiná (Petro), DanyMassunguna (1.º de Agosto), Gomito (Li-bolo),Mussumary(RecreativodoLibolo),PirolitoeFabrício(Interclube);osmédiosAmaro eMingo Bille (1.º de Agosto), Ito(ProgressodoSambizanga),Manuel(ASA),Adawa(Kabuscorp),JobeMano(Petro);eoavançadoYano(Progresso).

AausênciadeManuchoGonçalveséqueestáaserbastantequestionadapormuitosadeptos e vários especialistas do futeboldoméstico.

Sobre este avançado, que nos últimostemposassumiaabraçadeiradecapitação,o argumento de exclusão levantado pelaequipa técnica é que ele tem estado comuma actuação irregular, no Valladolid,além de ressentir-se de uma lesão,mas oprópriojogadorjácontestou.

Manucho Gonçalves disse no entantoque,nasuaqualidadedecapitãodeequipa,

esperavaporumacomunicaçãodaFedera-çãoAngolanadeFutebol,masapercebeu-seatravésdaInternetquenão faziapartedaconvocatória.

OvogaldedirecçãodaFederaçãoAn-golanadeFutebol,paraomarketingere-lações internacional, João Lusevikueno,dissenaquarta-feira,29,queausênciadeManuchoGonçalvesnãopode sermoti-voparadramatizaras apostas feitasporGustavoFerín.

Segundo este responsável, ManuchoGonçalveséumatletacomgrandesqua-lidades,mas os vinte e cinco apontadospelo técnico Gustavo Ferrín convence-ram-nomaisduranteasobservaçõesquefezdosquejogamnasgrandesequipasdoGirabola,assimcomoosqueofazemnoestrangeiro.

Quem está satisfeito com a sua novachamada é omédioGeraldo doCuritiba,onde,hádias,emduasocasiões,esteveemdestaque,primeironavitóriade2-1dasuaequipasobreoAtléticoMineiro,naabertu-rademaisumaediçãodo«Brasileirão»,oCampeonatoBrasileirodeFuteboldaPri-meiraDivisãoedepoisfrenteaoNacionaldoMatoGrosso,paraaTaçadoBrasil,comumgolo.

Reagindoàsuaconvocatória,Geraldodisse : «Vamos trabalhar muito e bemparaquerealizemosumbomjogoecon-sigamos um resultado positivo que nosabra perspectivas para alcançarmos osnossosobjectivosde chegar à fase finaldomundial».■

YANO, do progresso, é uma das apostas de Ferrín

Só um jogador actua no país

Leões de Teranga vêm ao máximo da sua força

AocontráriodouruguaioGustavoFer-rín, que apostou na prata da casa, ofrancês Alain Giresse, que orienta osLeõesdeTarangadoSenegal,porestar

fortementeapostadoaviraLuandaparaconsoli-darasualiderançanoGrupoJ,convocouapenasumjogadorqueactuanopaís,oavançadoDiam-bars.

Ogrossodaseleçãosenegalesavemdefora,de-signadamenteos guarda-redesBounaCoundoul(Enosis Neon Paralimni do Chipre), OusmaneManeeCheikhNdiaye(RennesdeFrança);osde-fesasZarcoToure(LeHavredeFrança),SerigneModouKaraMbodj (Genk da Bélgica), LamineGassama(LorientdeFrança),LamineSane(Bor-deauxdeFrança),CheikhMbengue(FCToulousedeFrança),PapeSouareNdiaye(StadeReimsdeFrança),PapaGueye(MetalistKharkivdaUcrâ-nia),AbdoulayeSeck (SportsdoSenegal) e SalifSane (Nancy de França); osmédiosMouhamedDiame(WestHamdaInglaterra),PapeDiopQuli(LevantedeEspanha),SadioMane(RedbullSal-zburg daÁustria), IdrissaGueyeGana (Lille de

França)eRemyGomis(ValenciennesdeFrança);e os avançados Ndiaye Deme Ndiaye (Lens deFrance)BirameMameDiouf(HannoverdaAle-manha), Moussa Sow (Fenerbache da Turquia),ModouSougou(MarseilledeFrança),PapisDem-baCissé(NewcastledaInglaterra)eDameNdoye(FCLocomotivdeMoscovo).

Ograndeausentenestesconvocadoséoavan-çadoDembaBadoChelseadeInglaterra.

EstegrupodejogadoresàsordensdeAlainGi-resseestáapreparar-seemBruxelas,Bélgica,deondesaia6deJunhoparaAccra(Ghana)edeláparaLuanda.

O treinador francês disse ao jornal senegalêsL’Opinion: «Este jogo é essencial para nós e osjogadoresestãoconscientesdisso.Éessencialga-nharmosos trêspontos.Vamosa este jogocomumbomespírito.Háserenidadeeamobilizaçãoémuitoforte.Osmeusjogadoresparaatingiremeste resultadodevemmanter-semaisconcentra-dosedeterminados.Dispomosdeumaforteeboaconstelação de futebolistas profissionais fortes ecompetentes».■ O SENEGAL vem com tudo para ganhar

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Sábado, 01 de Junho de 2013. 44Sábado, 01 de Junho de 2013. 44Sábado, 01 de Junho de 2013. 44

O presidente do Movi-mento Nacional Espontâ-neoestáaterumcomporta-mentonadacondizentecomaimagemdepessoadebemquesempredeixoutranspa-recer.EntradonoASApelamãodoseucompadreHél-der Preza, à frente de umaimpostacomissãodegestão,ele recusa-se agora a aban-donaroclubeemtermosab-solutos, ao comandar uma«trupe»quequercontinuarafazerdassuasnaturmadoaeroporto.Nega-seinclusivea respeitar determinaçõesjudiciais, como se estivesseacimada lei.Tantoassiméquedisputaagoraum«bra-ço de ferro» com ManueladeOliveira,quetemestadoa resistir estoicamente àstentativas de subversão noclubeaviador.■

A corporação policialparece continuar a ter di-ficuldades para lidar commanifestantes.Não se sabese receberam ordens nessesentido, o que parece im-provável, mas tudo indi-ca que se terá excedido aocastigar severamente umjovem manifestante, que,depoisdeapanharumaex-celentíssima senhora sova,seriaabandonadosemapelonemagravonasimediaçõesdaShopritte,entreoPalan-caeaViana,comoreferemas informações disponíveisaesterespeito.Eseorapazmorresse? Nada justificaesta barbárie, não obstantea contrainformaçãodequeos«revús»seteriamporta-do mal, ao arremessarempedras contras os agentesdaordem.Mauserviço!■

AFederaçãoAngolanadeFutebolfoialtamenteincivi-lizadaparacomo«capitão»dasPalancasNegras,oavan-çado Manucho Gonçalves,do Valladolid de Espanha,ao não se ter dignado a in-forma-lo oficialmente queele tinha ido preterido peloselecionadorGustavoFerrínparao jogocontraosLeõesdeTerangadoSenegal,dia8,no«11deNovembro».Otéc-nico uruguaio diz queMa-nucho Gonçalves não estáemforma,alémdecontinu-ar em recuperação de umalesão.Tudobem,jáqueeleésoberano nas suas escolhas.Mas,nãofoidebomtomqueeletivessedesaberdissopelaInternet, comoopróprio sequeixou. Mais ainda paraquemdáolitrocomoele.Éingratidão!■

Este jornalista e homemde desporto ganhou cora-gemefezumbomexercíciode cidadania no quadro doexorcismo aos fantasmascriados pela repressão quese seguiu ao «27Maio», aopublicar memórias sobre odramapeloqualasuafamíliapassounessestemposdean-gústiaparamuitos.MarianodeAlmeida,queperdeuoseuirmãoMaurício, relatoude-sabridamenteno«facebook»a epopeia da família, actocom o qual não só ganhougrande admiração, comotambém lhe terá permitidosoltaroespíritonosentidodacartasequeospassivosdes-ses trágicos acontecimentosjá deveriam impor a todososqueestiveramenvolvidosnacoisa.Enãosó.Eorelatoestavabom.■

O árbitro angolano Hel-derMartinsestáemaltaemtermos de confiança juntoda Confederação AfricanadeFutebol (CAF) eFedera-çãoInternacionaldeFutebol(FIFA).Comojávemsetor-nandoquasehabitual,elefoimaisumavezescolhidoparaapitarumjogointernacional.Será hoje, em Maputo, nodesafioqueoporáaLigaMu-çulmanadeMoçambiqueaoTPMazembe(RDC),paraaTaçaCAF.Ele até jápareceser o único árbitro interna-cional angolana a quem aFIFAeaCAFaindadeposi-tarãoconfiança.Tantoassiméque,malchegueaLuanda,estará de mal aviadas paraCabo-Verde, onde ajuizaráo jogo entre «bodiúrras» eequato-guineenses, para oMundialdoBrasil.■

A proprietária da lavan-daria«Presstoke»,casazur-zidanasemanapassadanes-tejornal,porseternegadoaresponsabilizar-seporestra-gosdescobertosnocasacodeum seu cliente, fez melhorqueosseusfuncionários.ElafezquestãodeviraLuanda,saída do estrangeiro, paratentar resolver o imbróglio.Predispondo-se a repararos estragos num primeiromomento,chamouoclienteparaprovarqueelespodiamnãotersidofeitosnasuaem-presa.Equaseoconseguiu,após certas demonstraçõescom ferros de engomar equejandos. Estabelecida adúvida, o cliente (o diretordojornal)resolverdarobe-nefícioà«ré»,recusando-seareceberqualquercompensa-ção.Epontofinal!■

FAFJustinoFernandes«Press toke»

PolíciaNacional

Marianode Almeida

Hélder Martins

A Câmara dos Deputados daNigéria aprovou nesta quinta--feira (30) uma lei que tornacrime o casamento gay, “rela-

cionamentosamorosos”entrepessoasdomesmosexoemesmoa adesãoagruposdedireitosgays,desafiandoapressãodaspotênciasocidentaispararespeitarosdi-reitosdegayselésbicas.

Oprojetode lei, que contémpenasdeaté14anosdeprisão,passounoSenadodaNigérianofinalde2011,masopresidenteGoodluck Jonathan deve aprová-lo antesquesetornelei.Doisprojetosdeleiseme-lhantesforampropostosdesde2006,masestaéaprimeiravezquefoiaprovadopelaAssembleiaNacional.

Um porta-voz da presidência não res-pondeu a um pedido de comentário.ComoemgrandepartedaÁfricasubsaa-riana,osentimentoanti-gayeapersegui-çãoahomossexuaissãocomunsnaNigé-ria,demodoqueanovalegislaçãodeveserpopular.

Sob a atual lei federal nigeriana, a so-

domia épunida comprisão,mas esta leicaminhaparaumarepressãomaisamplasobreoshomossexuais.OReinoUnidoeoutros países ocidentais têm ameaçadocomocortedeajudainternacional,oquetemcontribuídopararetardarouinviabi-lizaraaprovaçãodesse tipode legislaçãoem países dependentes, como Uganda eMalawi.

Mas as ameaças têm pouca influênciasobre aNigéria, cujo orçamento é finan-ciadopelaproduçãode2milhõesdebarrisdedólarespordia.“Aspessoasqueentramemumcontratodecasamentodomesmosexoouuniãocivilcometemumcrimeesãopassíveldecondenaçãoaumapenade14anosdeprisão”,dizoprojetodelei.

“Qualquerpessoaqueseregistre,opereouparticipeemclubesgays,sociedadeseorganizações ou faz, direta ou indireta-mente, demonstração pública de relacio-namentoamorosodemesmosexonaNi-gériacometeumdelito,devendocadaumserpassíveldecondenaçãoaumapenade10anosdeprisão.”■

Nigéria criminaliza casamento gay

Câmara dos Deputados também sancionou proposta que proíbe pessoas de aderirem a grupos de direitos gays. Projeto de lei estabelece penas de até 14 anos de prisão