rui duarte morais et al [comissão para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs,...

Upload: luiz-carvalho

Post on 03-Jun-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    1/157

    COMISSO PARA A REFORMA DO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DASPESSOAS SINGULARES - 2014

    ANTEPROJETO DA

    REFORMA DO IRSUMA REFORMA DO IRS ORIENTADA

    PARA A SIMPLIFICAO, A FAMLIA E AMOBILIDADE SOCIAL

    JULHO DE 2014

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    2/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 1

    ACOMISSO PARA A REFORMA DO IRS

    Professor Doutor Rui Duarte Morais (Presidente)

    Professor Doutor Joo Catarino

    Mestre Diogo Feio

    Dra. Rosa Freitas

    Dra. Teresa Gil

    Professora Doutora Paula Rosado Pereira

    Dra. Maria Quintela

    Professor Doutor Miguel Gouveia

    Dra. Cristina Pinto

    Dr. Filipe Abreu (Secretrio Tcnico)

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    3/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 2

    ndice

    1 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................. ................................. ................................. ........ 6

    2 INTRODUO........................................................................................................................................... 7

    2.1 O Mandato da Comisso ................................ ................................ ................................ ............... 7

    2.1.1 O Despacho de nomeao e as linhas gerais do trabalho efetuado ............................... 7

    2.1.2 O exerccio do mandato ............................... ................................ ................................ ......... 8

    2.1.3 Limitaes ............................................................................................................................... 9

    2.2 A necessidade de reforma do IRS ....................................................... ................................ ......... 9

    2.2.1 A tributao por diferentes categorias: a semi-dualizao e o direito de opo ........10

    2.2.2 A residncia adaptada liberdade de circulao ................................ .............................11

    2.2.3 A unidade fiscal ................................ ................................. ................................ ...................11

    2.3 Grandes linhas orientadoras ........................................................................................................12

    2.3.1 Simplicidade ..........................................................................................................................13

    2.3.2 A opo tomada ................................ ................................ ................................ ...................13

    2.3.3 A considerao da famlia ................................ ................................. ................................ ..14

    2.3.4 A opo tomada ................................ ................................ ................................ ...................15

    2.3.5 A mobilidade social ................................ ................................ ................................. .............16

    2.3.6 A opo tomada ................................ ................................ ................................ ...................16

    2.4

    Outras propostas relevantes ........................................................................................................17

    2.4.1 Categorias A (trabalho dependente) e H (penses) ................................ ........................17

    2.4.2 Categoria B (rendimentos empresariais) ............................... ................................ ............18

    2.4.3 Categoria E (rendimentos de capitais) e mais-valias mobilirias ................................ ..18

    2.4.4 Categoria F (rendimentos prediais) ...................................................................................18

    2.4.5 Categoria G (incrementos patrimoniais) ..........................................................................19

    2.5 Concluses .....................................................................................................................................20

    3 AEVOLUO RECENTE DO IRS .........................................................................................................22

    3.1 As alteraes verificadas em 2012 ............................ ................................. ................................ .223.1.1 Estratgia de consolidao oramental ................................ ................................ .............22

    3.1.2 A progressividade em sede de IRS ................................. ................................ ...................22

    3.1.3 Manuteno do nvel de tributao efetiva ......................................................................23

    3.1.4 As dedues coleta............................................... ................................ .............................24

    3.2 As alteraes verificadas em 2013 ............................ ................................. ................................ .25

    3.2.1 Estrutura de taxas em IRS ..................................................................................................25

    3.2.2 Resumo das medidas tomadas em 2013 ...........................................................................25

    3.3 O combate fraude e evaso fiscais no mbito do IRS .........................................................26

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    4/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 3

    3.3.1 A Declarao Mensal de Remuneraes .............................. ................................ ............27

    3.3.2 Pr-preenchimento das declaraes de impostos sobre o rendimento .......................28

    3.3.3 Alertas no preenchimento e receo da declarao Modelo 3 de IRS.........................28

    4 PRINCIPAIS PROPOSTAS DE ALTERAO LEGISLATIVA..................................................................304.1 No mbito da incidncia objetiva ...............................................................................................30

    4.1.1 Unificao do regime de tributao dos rendimentos das categorias A e H ..............30

    4.1.2 Categoria B - Deduo de contribuies obrigatrias para regimes de proteosocial no mbito do regime da transparncia fiscal ............................... ................................ ............30

    4.1.3 Categoria B - Enquadramento nos regimes simplificado e de contabilidadeorganizada ................................................................................................................................................31

    4.1.4 Categoria B - Opo pela tributao de acordo com as regras da categoria A ..........31

    4.1.5 Categoria B - Indicadores objetivos de base tcnica ou cientfica ...............................31

    4.1.6 Categoria B - Atos isolados ................................................................................................31

    4.1.7 Categoria B - Regime simplificado ....................................................................................32

    4.1.8 Categoria B - Regime da contabilidade ................................ ................................ .............33

    4.1.9 Categoria B - Deduo de perdas .............................. ................................. .......................33

    4.1.10 Categoria B - Reduo da tributao para empreendedores que iniciem atividade ...34

    4.1.11 Categorias E e G - Reestruturao ................................. ................................ ...................34

    4.1.12 Categorias E e G - Aperfeioamentos do quadro legal ............................................... ..35

    4.1.13 Categorias E e G - Reforo da semi-dualizao do imposto ................................ ........394.1.14 Categorias E e G - Regime de reinvestimento de mais-valias imobiliriasamortizao de emprstimos ................................................................................................................40

    4.1.15 Categorias E e G - Incentivos fiscais poupana dos agregados familiares ..............41

    4.1.16 Ampliao da possibilidade de englobamento ............................... ................................ .42

    4.2 No mbito de questes de tributao internacional ................................................................43

    4.2.1 Residncia fiscal parcial .......................................................................................................43

    4.2.2 Residncia por atrao.........................................................................................................45

    4.2.3 Deslocalizao da residncia fiscal por nacionais portugueses ............................... ......454.2.4 Obrigaes declarativas .......................................................................................................45

    4.2.5 Rendimento de fonte portuguesa ......................................................................................46

    4.2.6 Eliminao da dupla tributao jurdica internacional ...................................................46

    4.2.7 Eliminao da dupla tributao econmica internacional ................................ .............47

    4.2.8 Prazo de entrega da declarao rendimentos...................................................................47

    4.2.9 Residentes No HabituaisAtividades de alto valor acrescentado ............................47

    4.2.10 Representao fiscal - Renncia ........................................................................................48

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    5/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 4

    4.2.11 Fim da presuno de que o representante fiscal o gestor de bens ou direitos deno residentes ..........................................................................................................................................48

    4.2.12 Estruturas fiducirias ...........................................................................................................49

    4.2.13 Incompatibilidades com o Direito Europeu ............................. ................................. ......50

    4.3 No mbito das questes associadas famlia ...........................................................................51

    4.3.1 Quociente familiar ...............................................................................................................51

    4.3.2 Vales sociais de educao (at aos 16 anos de idade) .............................. .......................56

    4.3.3 Tributao separada ................................ ................................ ................................ .............57

    4.3.4 Comunicabilidade de perdas entre cnjuges ............................. ................................. ......60

    4.3.5 Procedimento declarativo ...................................................................................................60

    4.3.6 Responsabilidade pela dvida de imposto no mbito do casamento ...........................61

    4.3.7 No atrao da situao de residncia do cnjuge..........................................................614.3.8 Rendimentos e dedues dos dependentes .....................................................................61

    4.3.9 Penses de alimentos ...........................................................................................................62

    4.3.10 Converso da generalidade das dedues coleta a valores fixos a atribuir por contadas despesas do agregado, numa base de capitao .............................. ................................ ............62

    4.4 No mbito de questes procedimentais e processuais ................................ ............................64

    4.4.1 Alargamento do regime de dispensa de declarao ................................ ........................64

    4.4.2 Reformulao do regime de reteno na fonte .............................. ................................ .64

    4.4.3 Simplificao dos deveres de cooperao - Dispensa de entrega de declarao ........654.4.4 Opo pelo englobamento .................................................................................................66

    4.4.5 Prazos de entrega da declarao anual de rendimentos ................................ .................66

    4.4.6 Obrigaes de registo ..........................................................................................................66

    4.4.7 Deveres de cooperao de terceiros..................................................................................67

    4.4.8 Reforo da proteo das garantias do contribuinte ................................ ........................67

    4.4.9 Reviso do regime das manifestaes de fortuna ...........................................................67

    5 RECOMENDAES .................................................................................................................................70

    5.1 Reduo do nvel de tributao ................................ ................................. ................................ ..70

    5.2 Renncia ao mandato de representante fiscal ............................... ................................ ............71

    5.3 Taxas liberatrias e especiais em sede de IRS e de IRC ............................. .............................71

    5.4 Declarao/Liquidao simplificada de IRS ................................ ................................ .............71

    5.5 Reembolso de retenes na fonte ............................. ................................. ................................ .72

    ANEXO IANTEPROJETO DA PROPOSTA DE ALTERAO LEGISLATIVA............................... ............73

    ANEXO IIANTEPROJETO NOMBITO DAS MANIFESTAES DE FORTUNA.............................. 150

    ANEXO IIIANTEPROJETO DA CRIAO DOSVALES SOCIAIS ESCOLARES.................................. 155

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    6/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 5

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    7/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 6

    1 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASATAutoridade Tributria e Aduaneira

    ATI Acordos para Troca de Informaes em Matria Fiscal

    CDTConvenes para evitar a Dupla Tributao

    CFICdigo Fiscal do Investimento

    CGI - Code Gnrale des Impts

    Cdigo do IRSCdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

    Cdigo do IRCCdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

    Cdigo do IVACdigo do Imposto sobre o Valor Acrescentado

    CMVMComisso do Mercado de Valores Mobilirios

    DGCIDireo-Geral dos Impostos

    DMRDeclarao Mensal de Remuneraes

    EBFEstatuto dos Benefcios Fiscais

    EMEstados-membros da Unio Europeia

    IAS-Indexante de Apoios Sociais

    IES/DAInformao Empresarial Simplificada /Declarao Anual de Informao Contabilstica e Fiscal

    IMIImposto Municipal sobre Imveis

    IMTImposto Municipal sobre as Transmisses onerosas de Imveis

    IPImpostos sobre o Patrimnio

    IRImpostos sobre o Rendimento

    IRCImposto sobre o Rendimento das Pessoas ColetivasIRPF - Impuesto sobre la Renta de las Personas Fsicas

    IRSImposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

    ISSInstituto da Segurana Social

    ISVImposto sobre Veculos

    IVAImposto sobre o Valor Acrescentado

    mMilhares de Euros

    MMilhes de Euros

    MMMilhares de milhes de Euros

    MFMinistrio das Finanas

    OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    p.p. Pontos percentuais

    PAEF - Programa de Assistncia Econmica e Financeira

    RGITRegime Geral das Infraes Tributrias

    TFUETratado sobre o Funcionamento da Unio Europeia

    TJUETribunal de Justia da Unio Europeia

    UEUnio Europeia

    VPTValor Patrimonial Tributrio

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    8/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 7

    2 INTRODUO2.1 O Mandato da Comisso2.1.1

    O Despacho de nomeao e as linhas gerais do trabalho efetuado

    No passado dia 19 de maro, foi publicado, na II Srie do Dirio da Repblica, o Despachon 4168-A/2014, do Secretrio de Estado dos Assuntos Fiscais, nomeando a Comisso paraa Reforma do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS)2014, em que seassumia como objetivos primordiais ...promover a simplificao do imposto, a mobilidade social e a

    proteo das famlias, tendo nomeadamente em considerao a importncia da natalidade.

    O contexto da nomeao extraordinariamente exigente tendo em ateno a necessidade deconcretizar as propostas de alterao do regime do imposto num contexto nico de...consolidao oramental, respeitando os objetivos com que Portugal se comprometeu com os seus parceiros

    internacionais, nomeadamente atravs da reduo estrutural da despesa pblica e do reforo da nova estratgia

    de combate fraude e evaso fiscais, com o correspondente alargamento das bases tributveis..

    No mesmo despacho, entende-se que a Comisso de Reforma dever proceder a uma avaliaoaprofundada do IRS (...) considerando neste exerccio o trabalho realizado por grupos de trabalho

    anteriormente constitudos com o mesmo desiderato, e propondo as alteraes legislativas consideradas

    necessrias, ainda que no mbito de um calendrio faseado:

    a) Reviso e simplificao do IRS e demais regimes fiscais aplicveis ao rendimento das pessoas

    singulares, de forma a simplificar o regime das respetivas obrigaes declarativas e a facilitar o

    cumprimento das obrigaes inerentes a este imposto, de acordo com as melhores prticas

    internacionais;

    b) Promoo da mobilidade social atravs, designadamente, da avaliao da tributao que incide

    sobre os rendimentos do trabalho, com o objetivo de reconhecer e valorizar o mrito e o esforo;

    c) Proteo das famlias, tendo nomeadamente em considerao a importncia da natalidade, atravs

    da avaliao das bases gerais da tributao da famlia em sede de IRS e do reforo das polticas

    fiscais familiares, de forma a contribuir para a inverso do atual dfice demogrfico na sociedade

    portuguesa..

    Dentro destes parmetros, a Comisso produziu um trabalho de natureza eminentementetcnica, que se consubstancia num alargado conjunto de propostas de alteraes legislativase de recomendaes. Para que fique claro, o trabalho da Comisso passou apenas por sugeriralteraes de natureza tcnica que possam servir como guio para o legislador decidir o queentender por conveniente. At ao dia 30 de setembro a Comisso desenvolver o seutrabalho, depois ser o tempo e a hora do legislador.

    Com este desiderato, fica sugerida a introduo de novas normas, capazes de darem melhorresposta aos grandes problemas que o imposto hoje suscita, tornadas necessrias em razo

    da desatualizao, por fora do decurso do tempo, de solues pensadas na dcada de oitentado sculo passado. O objetivo foi o de produzir um trabalho em que resultem equilibrados

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    9/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 8

    a necessria estabilidade, o acompanhamento das novas realidades e a praticabilidade dassolues propostas.

    Foi precisamente com esse intuito que se caminhou, tambm, para a reviso pontual de

    (numerosas) solues legais vigentes, em ordem a desbloquear pontos de frico que aexperincia da sua aplicao mostra existirem. Para esse efeito, foi tida em ateno no s aperceo dos membros da Comisso, as principais questes concretas que se colocaram anvel jurisprudencial e na prtica corrente de diversos agentes, como tambm os contributosque lhe foram remetidos em 218 propostas que analisou.

    2.1.2 O exerccio do mandatoNeste enquadramento, o trabalho da Comisso foi desenvolvido no respeito das orientaes

    genricas que lhe foram transmitidas e que atrs ficaram enumeradas. O acervo de propostasagora tornado pblico passou pelo estudo de alternativas possveis e pela escolha dassolues tidas por mais capazes de traduzirem, na medida do desejvel, os objetivos que lheforam apontados.

    Procurou-se sempre que as solues preconizadas fossem sistemicamente coerentes com osprincpios estruturantes da proposta elaborada e com o restante normativo do IRS. Tambmse tentou que esta reforma, melhorando o imposto, no pusesse em causa a sua estabilidade,to necessria para a reposio da confiana em todo o sistema. Com isto, assumiu-se oobjetivo de lograr o enquadramento sistemtico das inmeras alteraes que foram sendo

    introduzidas ao longo dos anosnum processo em constante mutao, por vezes excessiva atravs da remodelao do sistema por forma a conceder-lhe coerncia, recorrendo acritrios orientadores e corporizando uma reforma fiscal atual e respeitadora do mandatoatribudo.

    Para alm destes elementos de natureza geral, teve-se um cuidado especial e circunstancial,excluindo-se das propostas solues que, por geradoras de uma significativa diminuio dareceita, resultassem incompatveis com o continuado equilbrio oramental que o pas precisaatingir. A referncia a este elemento afigura-se especialmente pertinente num momento emque ainda no se identificaram alternativas possveis ao atual nvel de tributao. Desta forma,

    a Comisso apresenta propostas de articulado que podero ser mais desenvolvidas quantoaos seus efeitos oramentais, no mdio prazo, bem como recomendaes que se poderotransformar em alteraes circunstanciais da lei, quando as condies de natureza econmicaassim o vierem a permitir.

    precisamente nesse plano que se encontra a necessidade de, logo que os constrangimentosse mostrem ultrapassados, promover uma reduo da carga fiscal neste imposto. Por essarazo e quanto a essa questo, a Comisso entendeu, preservando toda a sua autonomia denatureza tcnica e no respeito do mandato recebido, estabelecer apenas uma recomendao.

    A sua concretizao depender de decises no plano legislativo, que podero assumir uma

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    10/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 9

    determinao mais ou menos faseada de acordo com a avaliao que se v fazendo dosenquadramentos existentes e das circunstncias que se apresentem.

    2.1.3 LimitaesO cabal cumprimento da misso de que a Comisso foi incumbida implicaria mais tempopara a executar. No entanto, apesar desta limitao, a Comisso prope uma amplamodificao da estrutura do IRS, em que se compreendem algumas solues muitoinovadoras que colocaro o imposto ao nvel das melhores prticas internacionais.

    Poder-se-ia ir mais longe? Obviamente que sim. H tarefas que no puderam ser realizadas,a principal das quais seria a reviso global do articulado, com a produo de um novo Cdigo,simplificando totalmente a porventura complexa redao de muitas normas. No obstante,

    houve um aturado esforo para tornar o texto legal mais claro e, portanto, maiscompreensvel para a generalidade dos contribuintes, eliminando obrigaes fiscais eexpurgando solues que, a seu tempo, foram introduzidas como resposta a situaesconcretas que, ento, se colocavam, mas cuja manuteno, entretanto, perdeu a suajustificao.

    Neste contexto, a Comisso no se debruou apenas sobre as urgncias. Pelo contrrio, foibem para alm desse desiderato, propondo alteraes profundas a diversos regimes legais.

    Acresce que a Comisso procedeu ao expurgo, no Cdigo do IRS, de normas que, em virtude

    da posterior entrada em vigor de diplomas de carter geral (casos da Lei Geral Tributria e,at, do Cdigo de Procedimento e de Processo Tributrio), se tornaram repetitivas oucontraditrias com o nele disposto.

    Adicionalmente, estabeleceram-se as adaptaes possveis no sentido de uniformizar assolues normativas dos impostos sobre o rendimento (IRS e IRC). A Comisso tambmprope uma atualizao das solues normativas do Cdigo do IRS face a novos problemasque tm surgido, simplificando um conjunto relevante das suas disposies com a retiradade referncias desnecessrias, procurando uma relao mais equilibrada e equitativa entre oscontribuintes e a administrao tributria, sem deixar de realar o papel essencial que esta

    ltima deve assumir na relao jurdica de imposto.

    2.2 A necessidade de reforma do IRSCriado no final da dcada de 80 do sculo passado, e objeto de reestruturaes sucessivas, oatual sistema de tributao do rendimento das pessoas singulares mostra algumdesajustamento face realidade econmico-social do Pas e s solues tcnicas que vmsendo internacionalmente defendidas nesta matria. De facto, assistiu-se crescentecomplexidade, ao agravamento da tributao, instabilidade e a alguma falta de coernciainterna do regime das diferentes categorias de rendimento.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    11/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 10

    Perante este contexto, pretendeu-se a alterao de aspetos estruturais do sistema, poroposio a uma reviso legislativa meramente casustica. Porque se alteraram aspetosestruturais do sistema, justo dizer que a proposta da Comisso corresponde a uma

    verdadeira reforma deste imposto, que deve ser analisada luz de uma evoluo de elementos

    centrais do IRS, tal como ficaram expressos na sua arquitetura inicial.

    2.2.1 A tributao por diferentes categorias: a semi-dualizao e o direito de opoO princpio da unicidade do imposto foi sempre matizado, de forma a assegurar a eficinciado imposto e a sua adaptabilidade realidade. A demonstrao de que este princpio nuncafoi concretizado na ntegra nota-se, por exemplo, na existncia de rendimentos de capitaisou de mais-valias que sempre estiveram sujeitos a taxas proporcionais, que podem serliberatrias ou especiais, pois a concorrncia fiscal internacional - que se faz sentirespecialmente em relao a estes rendimentos, dada a facilidade de deslocao das suas fontesgeradoras - tem criado um conflito permanente com o ideal de maior justia na distribuioda carga tributria.

    evidente que a globalizao tem levado a que os Estados acabem com as barreiras legaisque limitam a circulao de bens e capitais, gerando um mercado que quase alcana aconcorrncia perfeita. Em consequncia, hoje, os Estados em geral, e os da Unio Europeiaem especial, encontram-se tambm numa situao muito prxima da concorrncia tributriaperfeita. Isso tem levado a que se alterem os equilbrios existentes dentro do sistema fiscal,

    com a admissibilidade crescente de elementos de semi-dualizao, os quais acabam porfacilitar a tributao efetiva dos rendimentos cuja fonte o capital.

    Por essa razo, foi aceite e reforada a j existente semi-dualizao do sistema: tributaodiferenciada por categorias de rendimentos e uniformizao genrica das taxas liberatrias eespeciais aplicveis s diferentes categorias de rendimentos. Deste modo, ser possveltributar de forma mais eficiente este tipo de rendimentos relacionados com o capital sujeitos a uma taxa de 28%, seja na categoria E (rendimentos de capital), seja na categoria G(mais-valias mobilirias e alguns outros incrementos patrimoniais) - e simplificar todo osistema do IRS, por forma a alcanar uma maior amplitude de rendimentos tributveis.

    As solues preconizadas cumprem com os princpios constitucionais em matria deimposto sobre o rendimento das pessoas singulares, porquanto garantida a possibilidade,por opo, do englobamento da generalidade dos rendimentos que, em regra, esto sujeitosa taxas especiais e liberatrias. Em resumo, no s se mantm o peso significativo dosrendimentos que esto obrigatoriamente sujeitos a taxas progressivas, como tambm sedetermina, mesmo para os casos em que as taxas liberatrias e especiais tm que existir, queo contribuinte possa optar pela tributao atravs do regime de taxas gerais, mantendo-seassim os princpios da unicidade e da progressividade do imposto.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    12/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 11

    2.2.2 A residncia adaptada liberdade de circulaoTambm quanto vertente da sujeio pessoal convm salientar algumas das linhas que aComisso assumiu. Procurou acompanhar-se as mais recentes evolues no que se refere

    residncia fiscal. Este conceito essencial, pois os residentes so tributados, no nossoordenamento jurdico, numa base mundial, ou seja, por todos os rendimentos obtidos,independentemente do local em que sejam produzidos, ao contrrio dos no residentes, queso tributados numa base mais estrita, que apenas considera os rendimentos obtidos noterritrio nacional.

    A Comisso vem propor a admissibilidade de residncia fiscal parcial como modo deresponder a situaes de alterao de residncia no decurso do ano fiscal, que tantas vezestm levado a situaes jurdicas de enorme complexidade.

    Nos termos deste conceito, possvel que algum que, no ano em que muda a sua residnciapara outro Estado, passe a ser qualificado por este como seu residente fiscal a partir da dataem que efetivamente passou a residir no seu territrio. Por outro lado, quem se ausenta parapassar a residir noutro Estado, continua a ser qualificado como residente fiscal at data darespetiva partida. Desta forma, proposta a adequao do nosso sistema fiscal aosComentrios da Conveno Modelo da OCDE, sendo sugerida uma soluo que limita osconflitos de competncia de tributao entre Estados.

    Ainda quanto residncia, prope-se que seja aferida de forma separada relativamente a cadasujeito passivo do agregado familiar, enquadrando-se assim dinmicas familiares cada vez

    mais comuns, bem como um aperfeioamento pontual do regime dos residentes nohabituais, para que este possa ser mais efetivo na atrao de novos residentes para o nossopas.

    Em resumo, aquilo que se prope no so alteraes capazes de desvirtuar o conceito deresidncia, mas sim moldar tal conceito a novas realidades. Realidades que so cada vez maisestruturais e resultam na necessidade de o sistema fiscal se adequar evoluo de um mundoe de uma Europa cada vez mais globais.

    2.2.3 A unidade fiscalDesde o incio da vigncia do IRS que se coloca a questo de responder a uma opoestrutural. A capacidade econmica alvo de tributao deve ser aferida relativamente famliaou ao indivduo? A opo inicial do nosso legislador, favorvel tributao conjunta, foicondicionada por uma determinada leitura dos princpios enformadores do Cdigo, a qual,porm, tem sido consistentemente posta em causa. Hoje genericamente aceite que aconsiderao da famlia e das suas necessidades pode ser alcanada em sistemas de tributaoseparada.

    Para alm de toda a discusso terica e ideolgica volta do tema, convm tomar em atenoa evoluo genrica entretanto ocorrida nos sistemas fiscais mais desenvolvidos, bem como

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    13/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 12

    o pensamento doutrinal hoje dominante, os quais vo no sentido da tributao separada,com base em princpios de eficincia e simplicidade na tributao.

    A esta evoluo no estranha a eroso de que o sistema de tributao conjunta tem sido

    alvo, seja relativamente aos casados, seja aos unidos de facto. Quanto aos primeiros, desdelogo pela inadaptao da tributao conjunta face aos diferentes regimes civis de bens; quantoaos segundos, fundamentalmente, por uma questo de princpio e de reconhecimento da suasituao, o que levou a que fosse admitida a possibilidade de optarem pela tributaoconjunta. Este direito de opo gerou uma discriminao, para muitos inconstitucional, queurge resolver.

    Por essa razo, proposto que a tributao separada seja a regra, salvaguardando, no entanto,a possibilidade de opo pela tributao conjunta para os contribuintes casados e para osunidos de facto. A Comisso f-lo, alis, na sequncia de vrias autorizaes legislativas que

    acabaram por no ser executadas. A soluo mais radical (obrigatoriedade da tributaoseparada) embora sendo, reconhecidamente, uma soluo mais simples que a que decorre dapreconizada existncia de uma dualidade de sistemas, foi afastada por duas ordens deconsideraes:

    i) A existncia de referncia expressa, no n. 1 do artigo 104. da Constituio daRepblica Portuguesa (CRP), ao agregado familiar; e

    ii) O facto de a tributao conjunta proteger os casais em que os sujeitos passivosobtenham rendimentos de valores dspares, sendo que, na realidade atual, tal

    corresponde, em numerosos casos, a situaes de desemprego de um dos sujeitospassivos.

    Assim, e mais uma vez, a Comisso optou pelo estrito cumprimento do acervo constitucionalvigente e pela adaptao do IRS s novas circunstncias existentes.

    Aproveitou-se para compatibilizar a responsabilidade dos cnjuges pelo cumprimento dasdvidas de imposto com o regime de bens a que se encontrem sujeitos, acabando-se com aincompreensvel contradio existente entre o disposto na lei civil e na lei fiscal. Nos casosde opo pela tributao conjunta, a responsabilidade ser sempre solidria; na tributaoseparada, relativamente aos casados, aplicar-se-, quanto comunicabilidade das dvidas de

    imposto, o regime da lei civil.

    H que notar que, mais uma vez, a proposta da Comisso preconiza uma adaptao snecessidades estruturais da vida atual, neste caso por via de uma opo dos contribuintes.

    Assim se mantm a estrutura inicial do IRS, mas adaptada ao contexto social contemporneo.

    2.3 Grandes linhas orientadorasComo j foi referido, o Despacho do Senhor Secretrio de Estado dos Assuntos Fiscaismandatou esta Comisso para a realizao de trs grandes tarefas: simplificao, maior

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    14/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 13

    adequao da tributao da famlia e ateno mobilidade social. sobre as mesmas que aComisso pretende, agora, debruar-se.

    2.3.1 Simplicidade por demais evidente que existe um conflito permanente entre a relevncia fiscal dasinfinitas situaes factuais possveis, com reflexo direto na capacidade contributivaindividual, e a consagrao de um sistema muito mais simples, como , genericamente,reclamado. No sistema de tributao das pessoas singulares existe uma anttese entre anecessidade de abarcar novos ndices da capacidade tributria, cada vez mais complexos, e oimperativo de tornar a aplicao do imposto uma tarefa mais simples, o que, naturalmente, positivo para todos, contribuintes e administrao.

    bastante evidente o desperdcio resultante da complexidade de um sistema fiscal: (i)custos de cumprimento elevados (no contabilizados), para os sujeitos passivos; (ii) custoselevados de administrao do imposto pela autoridade tributria; (iii) um enorme potencialde litigiosidade, que a prtica tem vindo a confirmar; e (iv) um aumento de operaes deplaneamento fiscal abusivo. certo que esta tarefa apenas ficaria completa com uma revisoglobal do IRS, por via de um novo Cdigo. No entanto, a sugesto de um conjunto demedidas de simplificao na aplicao do imposto, que no se ficam pelas obrigaesdeclarativas, foi uma tarefa que a Comisso decidiu executar como forma de defender oprincpio da cooperao entre a administrao e os contribuintes.

    2.3.2 A opo tomadaPara alm da deciso de consagrar a tributao separada e da simplificao associada sujeio dos rendimentos das categorias E e G (neste ltimo caso, com exceo de algunstipos especficos de rendimento) a uma mesma taxa proporcional, a Comisso caminhou paraa consagrao de solues que permitem dispensar de obrigaes declarativas, cerca de 30obrigaes declarativas, um elevado nmero de contribuintes e, em muitos outros casos, areduo de tais obrigaes a um ato de simples confirmao de uma liquidao pr-elaborada

    pelos servios. Demonstra-se assim a capacidade de reduzir e facilitar, em muito, os deveresde cooperao que ora recaem sobre os contribuintes e sobre terceiros, sem que seja postaem causa a segurana da liquidao e a cobrana do imposto.

    A viabilidade prtica das solues agora preconizadas, em termos de controlo documprimento das obrigaes fiscais, resulta do elevado grau de informatizao daadministrao tributria e do manancial de informao que, por essa via, lhe disponibilizado, desde logo por terceiros. o efeito direto do investimento que tem vindo aser realizado na informatizao da administrao tributria. S com os nveis de eficinciaque hoje se alcanaram na disponibilizao da informao essencial para a liquidao do

    imposto que possvel dar este passo. Aps se ter consolidado a transio do papel para

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    15/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 14

    os dados informticos, altura de reforar as vantagens que estes podem ter na liquidaodo imposto.

    A simplificao das obrigaes acessrias que a Comisso preconiza e prope tambm exige

    simplicidade legislativa: cada particularismo que seja introduzido no sistema dificulta estedesiderato. Por exemplo, cada benefcio fiscal que seja criado implica, por regra, custos deadministrao elevados, para os contribuintes e para a administrao tributria, muitas vezesde valor superior ao efeito til de uma tal regra especial. Devido a esse motivo, a introduode medidas com objetivos extra fiscais deve ser reduzida ao verdadeiramente essencial e deveser especialmente ponderada. A aplicao das solues do IRS, independentemente dacomplexidade da realidade subjacente, deve ser o mais simples possvel. Mais do que umalegislao cheia de regras, excees e contra regras, deve-se trilhar um caminho de umalegislao simples e de fcil aplicao. A simplificao do sistema redunda muitas vezes emmaior justia, muito embora, numa primeira anlise, tal possa no surgir como uma evidncia.

    Num exemplo, a consagrao de dedues fixas coleta relativas a despesas de sade,educao e habitaoque a Comisso preconizapode ser entendida como menos justaque a possibilidade de deduo de determinada percentagem das despesas efetivamenterealizadas. Todavia, para alm da radical simplificao, em termos de obrigaes declarativase de necessidade de controlo, que assim se atinge, verifica-se que:

    i) Por um lado, os contribuintes de rendimentos relativamente modestos, por falta demeios, no aproveitam totalmente das dedues que a lei lhes faculta; e

    ii)

    Por outro lado, relativamente aos contribuintes com maiores rendimentos (que soos que apresentam maior volume de despesas deste tipo) tais dedues so, hoje,fixas (quando no inexistentes).

    O mesmo dizer que a existncia de dedues fixas coleta, mormente as relativas a despesasdo agregado, atribudas numa base de capitao (tal como proposto) redundar numa maiorjustia na tributao e, mesmo, num acentuar parcial da progressividade deste imposto. Mais,um sistema de dedues fixas torna ainda o imposto relativamente imune a tentativas deintroduo de benefcios fiscais, muitas vezes ditados por circunstancialismos pontuais,permitindo, a mdio prazo, lograr aquilo que hoje se entende dever ser caracterstica essencial

    de um bom imposto: uma ampla base tributvel e taxas mais baixas.Outra das reas que passou por um teste de simplicidade a das retenes na fonte. AComisso no s prope a sua dispensa de modo a resolver um problema que tem sido fontede litigiosidade, o das retenes na fonte sobre rendimentos em espcie, como tambmdefende a reformulao global do regime, como adiante melhor se dir.

    2.3.3 A considerao da famliaO IRS assumiu, desde o incio, uma viso estrita, mas adequada, do agregado familiar, o qual,em traos largos, abarca apenas os progenitores ou progenitor e filhos dependentes. O

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    16/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 15

    conceito de dependente, que assenta num misto de elementos relativos incapacidade deexerccio de direitos e falta de autonomia econmica, assume grande relevncia, mais queno seja pela obrigatoriedade de consagrao, num imposto com caratersticas depessoalizao, de dedues coleta derivadas da existncia de tais pessoas e de despesas a

    que elas do causa.

    Acresce que o atual sistema consagra o quociente conjugal. De acordo com esse regime, -assumindo-se que o imposto incide, pelo menos, sobre a soma dos rendimentos dos cnjugesou unidos de facto e independentemente do nmero de dependentes o rendimentocoletvel dividido por dois, aplicando-se a tabela das taxas de acordo com esse resultado.Para todos os sujeitos casados e para os unidos de facto que optem pela tributao conjunta,tal conduz a um resultado econmico equivalente tributao de cada um dos sujeitospassivos por metade do rendimento do agregado familiar.

    2.3.4 A opo tomadaComo expressamente sugerido no mandato da Comisso, procurou-se, nos limites dopossvel, uma maior e mais realista traduo fiscal da composio do agregado familiar.Entende-se que esta questo apenas deve relevar, em termos de tributao, na medida doestritamente necessrio, aceitando-se que problemas como o fomento da natalidade emaiores apoios educao ou sade devem encontrar resposta em mecanismos de apoiosocial, ou seja, em prestaes do Estado. A via fiscal deve ser apenas complementar face a

    estes elementos principais.De todo o modo, no que ao IRS diz respeito, esta no uma questo que deva serconsiderada de forma neutra. Bem pelo contrrio, admite-se nesta matria a procura deefeitos extrafiscais. O legislador fiscal no deve ser indiferente a necessidades que,relativamente famlia, a nossa sociedade vem demonstrando.

    A Comisso debruou-se fundamentalmente sobre duas hipteses para acentuar a vertentefamiliar da tributao: o aumento das dedues pessoalizantes (em funo do nmero demembros do agregado) ou a introduo do quociente familiar (diviso, para efeitos dedeterminao da taxa, do rendimento tributvel por um quociente que atende ao nmero de

    membros do agregado).

    Optou-se por uma soluo mista: dedues fixasper capitae introduo do quociente familiar.Deste modo, para efeitos de determinao da taxa aplicvel, o rendimento coletvel serdividido por um divisor que traduz a existncia de cada sujeito passivo (naturalmente, umaunidade por cada um), ao qual se soma um valor relativo a cada dependente. Nas situaesde tributao separada dos sujeitos passivos integrantes de um mesmo agregado familiar, odivisor relativo aos dependentes ser, obviamente, objeto de repartio entre aqueles.

    A nossa proposta no impede que, no futuro, e de acordo com as concretas circunstncias,

    a expresso da proposta da Comisso possa vir a ser maior. Por enquanto, e por mera cautela

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    17/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 16

    de natureza tcnica derivada das condies oramentais, a Comisso prope que esta medidapossa ser compensada com uma diminuio do montante das dedues pessoalizantes.Diminuio que, h que frisar, no acontecer em muitos casos concretos, uma vez que osnovos valores, alm de fixos (i. , independentes da prova da efetiva realizao de despesas)

    passam a ser aferidos em funo do nmero de membros do agregado familiar e no, comohoje sucede, em funo do agregado familiar considerado no seu todo. O que, obviamente,representa uma vantagem significativa para as famlias numerosas.

    2.3.5 A mobilidade socialUma das vertentes que assume maior relevncia, no contexto de qualquer sistema detributao dos indivduos, a imposio a que est sujeito o rendimento derivado do fatortrabalho, dadas as suas profundas consequncias, no s em termos de justia fiscal mastambm em termos de evoluo econmica e social.

    A considerao de que o mrito e o esforo devem ser premiados deveria, por princpio, sertomada em ateno no momento da tributao. Esta exigncia resulta ainda mais acentuadanuma altura, como aquela que neste momento vivemos, em que existe uma necessidade defomentar o empreendedorismo e a produtividade.

    2.3.6 A opo tomadaA Comisso debruou-se sobre vrias formas possveis de alcanar este objetivo. Com basenessa reflexo, concluiu que qualquer soluo quanto a esta matria deve ser extremamentecautelosa, sob pena de se poder estimular formas de fraude que no s so contraproducentescomo, tambm, podem corresponder a um sinal contrrio face ao enorme esforo que setem produzido para combater a evaso fiscal.

    Da que se tenha concludo no ser recomendvel diferenciar fiscalmente as vrias formas deremunerao do trabalho dependente.

    Ainda neste contexto, e como modo de facilitar a mobilidade do fator trabalho, a Comisso

    sustenta que, dentro de cuidadosos condicionalismos, se deve excluir a tributao, nacategoria A (trabalho dependente), dos valores atribudos como compensao pela mudanade residncia motivada pela alterao do lugar habitual de prestao do trabalho.

    Com o objetivo de facilitar a integrao no mercado de trabalho, prope-se, ainda, a dispensade quaisquer obrigaes declarativas relativamente a situaes meramente pontuais detrabalho por conta de outrem, o que bem se compreende porquanto, dado o valor dosrendimentos em causa, no existir sujeio a tributao.

    Por outro lado, quanto categoria B (trabalho independente) a Comisso prope a reduo

    da tributao dos empreendedores que iniciem atividade pela primeira vez no mbito doregime simplificado.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    18/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 17

    2.4 Outras propostas relevantes2.4.1

    Categorias A (trabalho dependente) e H (penses)

    Relativamente s categorias A e H, consagrou-se o princpio da igualdade das regras detributao aplicveis, o que parece conforme ao facto de estarem em causa rendimentos denatureza equivalente. Estabeleceu-se, assim, o princpio da unificao do regime detributao destes rendimentos, com o consequente fim de discriminaes verdadeiramenteincompreensveis, hoje existentes.

    Porm, optou-se pela no integrao formal das duas categorias, por se entender serconveniente esperar pela consolidao definitiva da opo ora tomada.

    Prope-se tambm uma reformulao do regime das retenes na fonte, para que este sejamais simples e adequado, limitando em muito a necessidade de pagamentos ou devoluesaps a liquidao final do imposto. As regras relativas reteno na fonte passam aincorporar o articulado do prprio Cdigo, o que no deve ser entendido como umaalterao meramente formal, antes como expresso do intuito de limitar a intervenoadministrativa nesta matria.

    A Comisso tem em devida conta que a grande questo que se coloca, relativamente aosrendimentos derivados do trabalho, por conta de outrem ou por conta prpria, e de penses a da sua sobretributao, comparativamente com rendimentos de outras fontes, em razo

    de serem os rendimentos mais significativos obrigatoriamente sujeitos s taxas progressivas. relativamente a estes rendimentos (sujeitos s taxas gerais do imposto) que, no entenderda Comisso, se deve concentrar o esforo de reduo da carga tributria, logo que para talestejam reunidas as necessrias condies.

    Por essa razo avanou-se com uma recomendao, de natureza tcnica, no sentido que essatarefa se inicie pela progressiva eliminao da sobretaxa.

    Ainda relativamente sobretributao que claramente hoje se verifica neste imposto, no sepode concluir sem deixar de se fazer mais duas consideraes. Primeira, a deciso de reduzir

    as taxas do imposto e a sua medida, de acordo com as condies que sejam presentes, no competncia desta Comisso. Segunda, no podemos deixar de salientar que o conforto, noque ao IRS diz respeito, conferido pelas sugestes do relatrio da OCDE Aprofundarreformas estruturais para apoiar o crescimento e a competitividade , de julho de 2014, bemcomo a declarao final da reunio do Eurogrupo, de 7 de julho de 2014, que afirma aexistncia de desafios no que respeita elevada carga fiscal sobre o trabalho, aponta Estados queesto a promover reformas para responder a este problema e a necessidade de mais esforospara cumprir essa tarefa.

    Em resumo, a Comisso aponta, atravs de uma recomendao e com as cautelas devidas, o

    sentido que, quanto a esta matria, deve vir a ser seguido.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    19/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 18

    2.4.2 Categoria B (rendimentos empresariais)Quanto categoria B (rendimentos empresariais e profissionais), procurou-se que,relativamente aos sujeitos passivos cujo rendimento seja apurado com base em contabilidadeorganizada, se apliquem solues equivalentes s vigentes em IRC.

    Na realidade, nada justifica que a opo pela forma jurdica societria para titular umadeterminada atividade econmica (que, muitas vezes, continua, na forma do seu exerccio, arevestir caratersticas individuais) se projete em acentuadas diferenas na tributao. Porm,sem embargo de todo o esforo possvel de uniformizao, no se pode deixar de constatara impossibilidade de total correspondncia entre os dois regimes, pois h diferenasestruturais entre os dois impostos que no podem nem devem ser ultrapassadas.

    Paralelamente, propem-se outras modificaes tais como: (i) as relativas deduo dasimportncias pagas para regimes de segurana social, nos casos de scios de sociedadessujeitas ao regime da transparncia fiscal e de profissionais independentes abrangidos peloregime simplificado; e (ii) as relativas definio do momento em que ocorre o facto geradordo imposto.

    2.4.3 Categoria E (rendimentos de capitais) e mais-valias mobiliriasRelativamente aos rendimentos de capitais e s mais-valias mobilirias procurou-se, de formaessencialmente pragmtica, clarificar o diferente enquadramento de alguns rendimentosnuma ou noutra dessas categorias.

    Assim, foram deslocados da categoria E para a categoria G rendimentos que, embora nodiretamente resultantes da alienao do bem gerador do rendimento, derivam de situaeseconomicamente equivalentes, como seja a extino da fonte do rendimento. Taisrendimentos passam a estar sujeitos s taxas especiais, permitindo-se igualmente a relevaode eventuais perdas.

    Entende-se que a opo seguida tem o mrito de clarificar as regras de tributao atualmente

    existentes e, mais, de possibilitar que os contribuintes passem a pagar imposto (apenas) peloacrscimo patrimonial que efetivamente obtiveram.

    2.4.4 Categoria F (rendimentos prediais)A categoria F mereceu especial ateno. Na realidade, por razes conhecidas, ocorreurecentemente uma profunda alterao na forma de resoluo do problema habitacional dasfamlias, com o recrudescer do recurso ao arrendamento face aquisio de habitao. Este

    facto, para alm de implicar a necessidade de alteraes legislativas no regime doarrendamento, tambm tem, naturalmente, de ter consequncias de natureza fiscal.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    20/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 19

    por demais conhecido que a oferta de prdios para arrendamento, quando assegurada porpessoas individuais, esbarra na sobretributao a que as rendas esto sujeitas em IRS, questoque s recentemente foi parcialmente atenuada pela recente consagrao da possibilidade dasua sujeio a uma taxa especial. Apesar disso, tal sobretributao mantm-se, em resultado,

    essencialmente, de dois fatores: (i) a cumulao da sujeio dos prdios arrendados a IMIcom a sujeio a IRS das rendas; e (ii) a reduzida considerao fiscal dos gastos implicadospor esta atividade econmica. Acrescem dificuldades de delimitao de tais gastos,nomeadamente quando relativos a despesas de conservao e manuteno.

    Perante estes elementos, a Comisso ponderou dois cenrios: o estabelecimento de umapresuno de gastos ( semelhana do que acontece no regime simplificado da categoria B)ou um alargamento das dedues especficas consideradas para efeito de determinao dorendimento desta categoria, atualmente quase restritas, para alm do IMI, s despesas deconservao e manuteno.

    A existncia de um coeficiente fixo, como forma de traduo fiscal dos gastos suportadoscom a atividade de arrendamento, teria o mrito de pr fim s numerosas questes que hojese colocam na identificao das despesas dedutveis. Porm, a informao estatsticadisponvel mostrou que uma tal medida teria efeitos perniciosos, contribuindo para a criaode desigualdades profundas entre contribuintes titulares de rendimentos desta categoria.

    Assim, atendendo aos efeitos pretendidos, a soluo encontrada, pese embora implicaralguma complexidade administrativa, passou por admitir a deduo da maioria dos gastosque sejam efetivamente suportados e pagos pelo sujeito passivo para obter tais rendimentos.

    Esta ampliao das dedues especficas permitidas levou a que se tenham tomado algumascautelas capazes de prevenir abusos que, de outro modo, certamente ocorreriam. Emprimeiro lugar, mantm-se a necessidade de apresentao de documentos comprovativos dasdespesas que se pretende deduzir; em segundo lugar, prope-se o estabelecimento da regrade que as perdas apenas podem ser deduzidas aos ganhos de cada prdio em concreto, mascom a consagrao de um generoso prazo de reporte para futuro.

    Para aqueles sujeitos passivos que exercem a locao imobiliria num contextoverdadeiramente empresarial, fica aberta a possibilidade de serem tributados segundo asregras da categoria B.

    Com este conjunto de propostas de alterao, a Comisso pretende dar um sinal claro daabertura que o IRS deve demonstrar perante as evidentes alteraes que esto a acontecerno mercado do arrendamento e, mais, criar estmulos reais a uma maior oferta e, ainda, recuperao de prdios que j esto ou vo passar a estar nesse mercado.

    2.4.5 Categoria G (incrementos patrimoniais)Relativamente categoria G, para alm do que se deixou j referido no tocante delimitao

    entre mais-valias mobilirias e rendimentos de capitais, assinala-se, quanto s mais-valias

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    21/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 20

    imobilirias, a proposta de uma norma, necessariamente transitria, isentando os ganhosobtidos com a alienao de prdios, afetos a habitao prpria, quando o produto daalienao seja utilizado no pagamento ou amortizao parcial de emprstimos contradospara a sua aquisio. De forma excecional, sugere-se este benefcio fiscal (que, por estar em

    causa a consagrao de uma iseno, no tem implicaes diretas na determinao dorendimento tributvel, e, portanto, no obriga a maior complexidade administrativa) porqueo mesmo se tem por plenamente justificado, atentas as atuais dificuldades de muitas famliasem solver compromissos assumidos para aquisio da sua habitao.

    Mostra-se, ainda, necessria uma reviso profunda das regras de tributao relativas aosincrementos patrimoniais decorrentes da constatao de manifestaes de fortuna nojustificadas, pois as atuais regras, aplicveis a pessoas singulares, demonstraram serincoerentes, contraditrias mesmo, sendo fonte de permanentes litgios. A Comissoaproveitou o trabalho desenvolvido por um grupo que, no seio da AT, j havia sido

    incumbido da reformulao de tais normas, cujas solues propostas, no essencial,mereceram concordncia. Contudo, preconizam-se alguns importantes ajustamentos, aindaque meramente pontuais, quer no que toca definio de algumas das manifestaes defortuna, quer quanto aos meios de garantia ao dispor dos sujeitos passivos, por se entenderque tais regras, ainda que plenamente justificadas em termos de justia na tributao, podemresultar na penalizao de contribuintes que, por negligncia ou outros fatores, no esto emcondies de justificar a origem dos rendimentos utilizados em tais aquisies ou despesas.

    2.5 ConclusesEm todo o trabalho produzido houve o cuidado, genrico, de no ultrapassar os limites domandato da Comisso. Assim, por exemplo, optou-se, no possvel e necessrio, poruniformizar as normas do IRS com as do IRC, recentemente alterado. Apenas foramsugeridas algumas alteraes pontuais de outros diplomas, respeitando um princpio deestabilidade, quando tal se demonstrasse imprescindvel e inevitvel face manuteno dacoerncia do sistema fiscal no seu todo.

    A tomada de posio sobre outras necessrias alteraes legislativas, em relao s quais se

    refletiu mas que se entende excederem o mbito do mandato, surge sob a forma derecomendaes. So variadas e podem servir de bssola a um legislador, presente ou futuro,que pretenda tomar opes polticas de fundo ou adaptar o IRS face aos novos desafios queconstantemente vo surgindo.

    No decurso do trabalho da Comisso tomou-se conhecimento das alteraes legislativas, emsede de IRS, preconizadas por outras Comisses cujos trabalhos decorreram em paralelo.Independentemente de terem subsistido algumas divergncias, perfeitamente compreensveispela diversidade de objetivos propostos aos diferentes grupos de trabalho, teve-se emconsiderao tais contributos, naquilo que diretamente relevam em sede de IRS.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    22/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 21

    Caber, por ltimo, assinalar que no integrando o mandato da Comisso promover areduo da carga fiscal, muitas das solues preconizadas tero esse efeito, pelo menosrelativamente grande maioria dos contribuintes por elas abrangidos. Pese embora esteefeito, a necessidade e a bondade de tais propostas de alteraes resultou de imperativos de

    maior justia na repartio do encargo do imposto e necessidade de adequao do IRS adesafios que se colocam na nossa sociedade de forma to diversa. Entre estes, e s parasalientar alguns temas, no passaram em claro as questes da natalidade, do excesso deburocracia a cargo dos cidados, da segurana e eficcia na cobrana dos impostos e, at, dasmodificaes ocorridas em algumas atividades econmicas especficas, como o mercado doarrendamento.

    A Comisso acredita que aps esta reforma do IRS 2014 se garante uma maior justia,eficincia e equidade na tributao dos cidados. Foi esse o seu objetivo e para ele trabalhounuma vertente eminentemente tcnica. Com o comeo da discusso pblica a Comisso

    aguarda por mais propostas que nos venham a ser feitas, em especial por parte dos parceirossociais, sempre com um esprito de total abertura para modificar aquilo que se venha ademonstrar necessrio para melhorar o IRS.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    23/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 22

    3 AEVOLUO RECENTE DO IRSCom a descrio que se segue, a Comisso no pretende fazer um qualquer juzo valorativosobre a evoluo recente do IRS.

    Considerou-se importante transmitir, no mbito deste relatrio, a imagem fiel (extrada dedocumentos oficiais) do que , hoje, a realidade deste imposto porquanto, necessariamente,ela esteve sempre presente e condicionou, em muito, o trabalho da Comisso.

    Dito de forma mais simples, se a realidade fosse outra, a Comisso poderia ter ido mais almnaquilo que prope.

    3.1 As alteraes verificadas em 20123.1.1 Estratgia de consolidao oramentalNo obstante os compromissos internacionais assumidos no mbito do Programa de

    Assistncia Econmica e Financeira (PAEF), assumiu-se como prioridade o respeito peloprincpio da equidade social na austeridade, protegendo os grupos mais vulnerveis dasociedade portuguesa e salvaguardando o esforo necessrio de proteo social. Assim, ageneralidade das alteraes legislativas aprovadas nos ltimos anos foram no sentido de exigiruma contribuio acrescida s famlias com maior capacidade contributiva.

    3.1.2 A progressividade em sede de IRSA progressividade do IRS encontra-se patente no facto de, em 2012:

    Os 10% com rendimentos mais elevados terem suportado cerca de 75% da receitatotal do IRS;

    Mais de metade das famlias portuguesas no paga IRS, por auferir rendimentosreduzidos.

    Dados oficiais disponibilizados pela Autoridade Tributria e Aduaneira (AT) referentes a2012, relativos s declaraes de IRS apresentadas em 2013, confirmam que as famlias comrendimento anual superior a 50.000 (agregados com rendimento mensal a partir de

    3.571,43), pagaram 12 vezes mais IRS que a mdia (agregado representativo comrendimento anual de 15.933,66, ou seja, de 1.138,12 mensais).

    Nestes termos, da anlise dos dados oficiais publicados pela AT possvel constatar que:

    As famlias com rendimento anual bruto at 50.000 representam cerca de 96% dototal, mas contribuem com menos de metade da receita do IRS;

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    24/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 23

    Uma minoria de cerca de 4% das famlias, com rendimento anual bruto superior a 50.000, suporta cerca de 53% da receita do IRS.

    A Lei do Oramento do Estado para 2012 concretizou um conjunto variado de medidas de

    poltica fiscal, no sentido de uma maior progressividade, de que se destacam:

    i) Criao da taxa adicional de solidariedade: Sujeio das famlias comrendimentos mais elevados pertencentes ao ltimo escalo a uma taxa adicionalde 2,5% sobre o respetivo rendimento coletvel.

    ii) Reviso das dedues coleta:Eliminao a possibilidade das famlias comrendimentos mais elevados, ou seja, as famlias que integram os dois ltimosescales de rendimento, beneficiarem de dedues coleta relativas a despesasde sade, educao, encargos com lares e penses de alimentos e encargos com

    imveis.Adicionalmente, foi mantida a possibilidade de deduo coleta ilimitada porparte das famlias com rendimentos mais reduzidos, abrangidas pelos 1. e 2.escales de rendimento. Em paralelo, introduziram-se, de forma progressiva,limites globais s dedues coleta das famlias integradas nos 3., 4., 5. e 6.escales de rendimento, majorveis em 10% por cada dependente, mantendo-seainda as dedues de carter pessoalizante ou relativas aos portadores dedeficincia.

    iii) Aumento da tributao dos rendimentos de capitais e das mais-valiasmobilirias:Aumento de 21,5% para 25% da taxa de tributao aplicvel aosrendimentos de capitais e s mais-valias de partes sociais, outros valoresmobilirios e instrumentos financeiros derivados. Posteriormente, com efeitos apartir de novembro de 2012, aquelas taxas foram incrementadas em 1,5 p.p., para26,5%.

    3.1.3 Manuteno do nvel de tributao efetivaNuma anlise em termos agregados, com base em dados oficiais coligidos pela AT, em 2012a taxa efetiva de tributao das famlias manteve-se em linha com os anos anteriores,situando-se em cerca 10%. No entanto, refletindo a forte progressividade do IRS, a taxaefetiva de tributao das famlias com rendimentos mais elevados superou largamente aquelataxa, ascendendo a 40,05% para as famlias do ltimo escalo do IRS.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    25/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 24

    Quadro 1 Taxa efetiva de tributao por escalo de rendimento em 2012

    (Fonte: AT)

    3.1.4 As dedues coletaRelativamente ao ano de 2012, o total das dedues coleta ascendeu a 2.852M,representando, assim, 34,77% do IRS Liquidado. Deste montante global, 65,32% respeitams dedues pessoalizantes e 24,89% s despesas com sade, habitao e educao, conforme evidenciado no seguinte grfico:

    Grfico 1 Distribuio das dedues coleta em 2012 (despesa fiscal)

    (Fonte: AT)

    Taxa Efetiva

    Escalo () 2012

    0 - [ 0 ] n.a.

    01 - [ 1 A 5.000 [ 0,57%

    02 - [ 5.000 A 10.000 [ 0,66%

    03 - [ 10.000 A 13.500 [ 2,25%

    04 - [ 13.500 A 19.000 [ 3,88%

    05 - [ 19.000 A 27.500 [ 6,91%

    06 - [ 27.500 A 32.500 [ 11,08%

    07 - [ 32.500 A 40.000 [ 13,33%

    08 - [ 40.000 A 50.000 [ 15,26%

    09 - [ 50.000 A 100.000 [ 20,99%

    10 - [ 100.000 A 250.000 [ 28,90%

    11 - [ 250.000 A *** [ 40,05%

    Total 10,12%

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    26/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 25

    3.2 As alteraes verificadas em 20133.2.1 Estrutura de taxas em IRS

    A estrutura das taxas gerais aplicveis em 2013 sofreu uma alterao profunda. O grfico seguinteevidencia, por rendimento bruto escalonado em decis (por grupos correspondentes a 10% doscontribuintes), o efeito estimado para 2013 em termos de aumento mdio do imposto.

    Grfico 2 - Aumento mdio de IRS em 2013 - Por decil de rendimento bruto, em euros

    (Fonte: Ministrio das Finanas)

    Por outro lado, a sobretaxa de IRS, equivalente a 3,5% do rendimento coletvel que excedeo valor anual do salrio mnimo nacional, em combinao com a taxa de solidariedade de2,5% para rendimentos entre 80.000 e 250.000, e 5% acima deste valor , traduziu-se num

    aumento adicional da taxa mdia em cerca de 1,5%, ou seja, elevando a taxa mdia de IRSpara cerca de 13,5%.

    Grfico 3 - Taxa Mdia de IRS por escales em 2013 (em %)

    (Fonte: Ministrio das Finanas)

    3.2.2 Resumo das medidas tomadas em 2013A Lei do Oramento de Estado para 2013 introduziu as seguintes alteraes estruturais no

    mbito do Cdigo do IRS:

    0.5

    7.0

    17.7

    25.3

    35.0

    1.5

    10.7

    22.4

    31.4

    42.3

    0.0

    5.0

    10.0

    15.0

    20.0

    25.0

    30.0

    35.0

    40.0

    45.0

    de 0 a 7000 de 7000a

    20000

    de 20000 a

    40000

    de 40000 a

    80000

    maior que

    80000

    Escalo de Rendimento Coletvel

    Inicial

    Final

    Mdia - Inicial

    Mdia - Final

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    27/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 26

    i) Tabela Geral A nova tabela geral de IRS foi restruturada, tendo-se reduzidode 8 para 5 os escales de rendimentos, nos termos seguintes:

    Quadro 2 Tabela geral do IRS em 2013

    Rendimento coletvel (em euros)Taxas (em percentagem)

    Normal (A) Mdia (B)

    At 7 000 14,50 14,500

    De mais de 7 000 at 20 000 28,50 23,600

    De mais de 20 000 at 40 000 37,00 30,300

    De mais de 40 000 at 80 000 45,00 37,650

    Superior a 80 000 48,00 -

    ii) Taxas adicionais de solidariedade Para os sujeitos passivos comrendimentos mais elevados pertencentes ao ltimo escalo manteve-se a taxaadicional de solidariedade de 2,5% sobre o rendimento coletvel, tendo-secontudo reduzido o limiar desse escalo de 153.300 para 80.000.

    Adicionalmente, foi criada uma nova taxa adicional de solidariedade de 5% sobrerendimentos coletveis superiores a 250.000.

    iii) Dedues pessoalizantes Foram reduzidas em 10 p.p. do IAS as deduespessoalizantes dos sujeitos passivos de IRS, aumentando-se, por sua vez, em 5p.p. a deduo pessoalizante aplicvel aos dependentes, com possibilidade deaumento em 10 p.p. nos agregados familiares com 3 ou mais dependentes.

    iv) Encargos com imveis Foram tambm atualizados os limites da deduo dosencargos com juros e rendas relacionados com imveis, reduzindo para metadeo limite mximo desta deduo coleta (de 591 para 296).

    v) Limite geral das dedues coleta - Por fora da reformulao da tabela geraldo IRS, os limites gerais para as dedues relativas a despesas de sade, educao,

    encargos com lares, penses de alimentos e encargos com imveis foramreestruturados para 2013, passando a abranger os novos 2., 3. e 4. escales.Manteve-se para os contribuintes do ltimo escalo a impossibilidade de deduzirquaisquer encargos relativos a sade, educao, lares, penses de alimentos eimveis. Foi ainda reduzido o limite para o 4. escalo.

    3.3 O combate fraude e evaso fiscais no mbito do IRSO alargamento da base tributvel atravs do combate fraude e evaso fiscais constitui umobjetivo que essencial atingir. De facto, este alargamento da base no apenas conduz a um

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    28/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 27

    sistema fiscal mais justo e equitativo, uma vez que conduz a uma maior repartio do esforofiscal, como tambm uma das condies para uma futura, e desejvel, reduo do nvelgeral de tributao em sede de IRS, ao mitigar o impacto oramental da diminuio da cargafiscal sobre as famlias portuguesas.

    3.3.1 A Declarao Mensal de RemuneraesA Declarao Mensal de Remuneraes, que foi criada com a Lei n. 66 -B/2012, de 31 dedezembro, veio estabelecer a obrigatoriedade de entrega mensal, por parte das entidadesdevedoras de rendimentos do trabalho dependente, de declarao de modelo oficial comindicao, por trabalhador, dos rendimentos e retenes de imposto, das contribuiesobrigatrias para regimes de proteo social e subsistemas legais de sade, assim como dequotizaes sindicais.

    Esta nova declarao permite um reforo do controlo sobre as retenes na fonte entreguespor mais de 400 mil empresas, atravs do cruzamento de dados recebidos mensalmente naDeclarao Mensal de Remuneraes com as retenes efetivamente entregues, devendo asua utilizao ser aprofundada enquanto ferramenta essencial no combate atempado evasofiscal.

    Em resultado do cruzamento de informao efetuado entre os valores declarados nas DMRe os apresentados nas guias de reteno na fonte foram identificadas e notificadas 12.599empresas em situao de divergncia. Em 80,9% dos casos estas situaes foram

    regularizadas voluntariamente, atravs da entrega de uma DMR de substituio (58,3%) oumediante o pagamento do imposto em falta, dado que a ele havia lugar, em 22,6% dos casos.

    Em apenas 345 divergncias (2,7%), at 31 de dezembro de 2013, foi efetuado olevantamento por indicao dos servios de finanas.

    Quadro 3 Divergncias entre as DMR e as Guias de Pagamento

    CDIGO DE SITUAO N DIVERGNCIAS

    Divergncias Ativas 2.063

    Levantamento por Entrada de Dec. Substituio 7.349

    Levantamento por Entrada de Dec. Reteno Fonte 2.842

    Levantamento por Indicao dos Servios de Finanas 345

    Total 12.599

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    29/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 28

    3.3.2 Pr-preenchimento das declaraes de impostos sobre o rendimentoDesde 2007 que se tem dado continuidade ao projeto do pr-preenchimento das declaraesModelo 3 do IRS. Assim a declarao j tem os seguintes dados pr-preenchidos:

    Rendimentos de trabalho dependente (categoria A) e penses (categoria H) pagos oucolocados disposio dos respetivos titular de:

    Rendimentos de capitais (categoria E) de englobamento obrigatrio;

    Retenes na fonte efetuadas sobre os rendimentos das categorias A, B (rendimentosprofissionais e empresariais), E, G (incrementos patrimoniais) e H;

    Descontos obrigatrios para a Segurana Social relativos aos rendimentos dascategorias A e H;

    Quotizaes sindicais efetuadas em sede das categorias A e H;

    Pagamentos por conta no mbito da categoria B;

    Planos individuais de poupana-reforma (PPR);

    Contribuies individuais para fundos de penses, para associaes mutualistas eoutros regimes complementares de segurana social;

    Prmio de seguros ou contribuies pagas a associaes mutualistas que cubramexclusivamente riscos de sade;

    Juros e amortizaes de dvidas com a aquisio, construo, beneficiao de imveise prestaes de contratos celebrados com cooperativas de habitao ou no regime decompras em grupo, com imveis para habitao prpria e permanente ouarrendamento para habitao permanente do arrendatrio;

    NIB constante do registo de contribuintes;

    Sobretaxa extraordinria.

    Em 2013, foram pr-preenchidas 5.159.899 declaraes Modelo 3 de IRS, as quaiscorrespondem totalidade das declaraes submetidas eletronicamente.

    3.3.3 Alertas no preenchimento e receo da declarao Modelo 3 de IRSA AT tem intensificado o sistema de alertas com o objetivo de evitar erros e ou omisses nopreenchimento das declaraes Modelo 3 entregues pela Internet. Este sistema assenta nocruzamento da informao constante das suas bases de dados, nomeadamente das DMR e

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    30/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 29

    das declaraes Modelo 10, permitindo que os tempos de liquidao sejam menores e ocontrolo dos elementos declarados mais eficaz.

    De realar a forte adeso que se tem verificado no envio de declaraes pela Internet que,

    em 2013, atingiu 5.159.899 declaraes correspondendo a 87% do total de declaraesrececionadas (5.930.995). Em 2012 a percentagem de declaraes submetidaseletronicamente foi de 85% do total.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    31/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 30

    4 PRINCIPAIS PROPOSTAS DE ALTERAO LEGISLATIVA4.1 No mbito da incidncia objetiva4.1.1

    Unificao do regime de tributao dos rendimentos das categorias A e H

    A Comisso de Reviso do IRS, constitudo pelo Despacho n. 1.041/98 (2. srie), de 9 dejaneiro, do Ministro das Finanas, j havia recomendado a unificao das categorias A e Hface inexistncia de razes prticas para as diferenas de tratamento fiscal entre osrendimentos de trabalho e os rendimentos de penses derivados do trabalho.1

    Os nicos impedimentos apontados adoo imediata desta medida eram os seguintes: (i) adeduo especfica aplicvel aos rendimentos de penses ser, ao tempo, de montantesuperior ao aplicvel aos rendimentos de trabalho dependente; e (ii) o contexto da categoriaH abranger outros rendimentos que no eram passveis de enquadramento na mesmacategoria que os rendimentos de trabalho.

    Os valores das dedues das duas categorias encontram-se, atualmente, igualizados. A nicadiferena que subsiste a regressividade do montante da deduo na categoria H quando orendimento bruto exceda determinado valor. Face continuada existncia de realidadesintegradas na categoria H que no so passveis de serem unificadas com os rendimentos detrabalho, prope-se a manuteno desta categoria, mas com eliminao da regra daregressividade da deduo especfica.

    4.1.2 Categoria B - Deduo de contribuies obrigatrias para regimes deproteo social no mbito do regime da transparncia fiscal

    Atualmente, os rendimentos imputveis aos scios das sociedades abrangidas pelo regime datransparncia fiscal so considerados lquidos na categoria B, sem haver lugar a quaisquerdedues.

    Tal suscetvel de conduzir a situaes de desigualdade no que respeita dedutibilidade dascontribuies obrigatrias para regimes de proteo social, quer entre os contribuintes queexercem a atividade profissional em nome individual e aqueles que o fazem atravs desociedade de profissionais, quer por comparao com o tratamento deste tipo decontribuies no mbito da categoria A.

    Assim, a Comisso prope que ao rendimento lquido da categoria B resultante da imputaode lucros de sociedades sujeitas ao regime de transparncia fiscal sejam dedutveis ascontribuies obrigatrias para regimes de proteo social, comprovadamente efetuadas,desde que o contribuinte exera a sua atividade profissional atravs de uma tal sociedade.

    1Relatrio da Comisso de Reviso do IRS, Direo-Geral dos Impostos, 1998

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    32/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 31

    4.1.3 Categoria B - Enquadramento nos regimes simplificado e de contabilidadeorganizada

    A determinao dos rendimentos empresariais e profissionais faz-se com base no regime

    simplificado ou da contabilidade.O enquadramento dos contribuintes num ou noutro regime tem sido fonte de significativalitigiosidade, relacionada, designadamente, com a existncia de um perodo mnimo depermanncia de trs anos.

    Acresce que as regras de enquadramento no regime simplificado de IRS e de IRC sodistintas, o que se traduz numa maior complexidade do sistema, sem razo aparente.

    Prope-se, assim, a revogao da norma que prev o referido perodo mnimo depermanncia.

    4.1.4 Categoria B - Opo pela tributao de acordo com as regras da categoria ATambm no que respeita opo pela tributao de acordo com as regras da categoria A,possvel quando os rendimentos auferidos resultarem de servios prestados a uma nicaentidade, a obrigatoriedade de o contribuinte manter a opo por trs anos apenas introduzcomplexidade no sistema fiscal, sem qualquer ganho do ponto de vista da eficincia.

    Em nome da simplificao e desburocratizao, sugere-se a eliminao de tal

    obrigatoriedade.

    4.1.5 Categoria B - Indicadores objetivos de base tcnica ou cientficaPrope-se a revogao das normas que remetem para a aplicao de indicadores objetivosde base tcnica ou cientfica.

    Na realidade, tais indicadores nunca foram aprovados, no se prevendo que tal venha aacontecer.

    Assim, todas as situaes em que a lei se refere a estes indicadores constituem um elementode complexidade do sistema, sem qualquer efeito til.

    4.1.6 Categoria B - Atos isoladosO objetivo da alterao legislativa proposta clarificar que os contribuintes que obtenhamrendimentos superiores a 200 000,00 em resultado de um ato desta natureza, no estoobrigados a dispor de contabilidade organizada, no obstante o seu rendimento tributvel ser

    apurado segundo as regras previstas para o regime da contabilidade.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    33/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 32

    4.1.7 Categoria B - Regime simplificadoCom a reintroduo, pela Lei n. 2/2014,de 16 de janeiro, do regime simplificado em sedede IRC, tornou-se imperioso que as regras aplicveis em IRS sejam, no possvel,harmonizados com as previstas naquele imposto, desde logo para obviar a que a opo doscontribuintes entre o exerccio de atividades profissionais e empresariais a ttulo individualou com recurso a estruturas societrias no seja ditada por razes de natureza fiscal.

    Na Lei do Oramento de Estado para 2014 (Lei n. 83-C/2013, de 31 de dezembro) foramj introduzidas algumas alteraes ao regime simplificado em sede de IRS visando esteobjetivo. Subsistem, no entanto, alguns aspetos a melhorar, nomeadamente:

    i) O coeficiente de 0,75 deve passar a ser exclusivamente aplicvel s prestaes de

    servios expressamente previstas na tabela a que se refere o artigo 151. do Cdigo,propondo-se a instituio um novo coeficiente 0,35 aplicvel s demaisprestaes de servios.

    Pretende-se, assim, distinguir, semelhana do que sucede em sede de IRC, entre asprestaes de servios de natureza profissional, em que os gastos associados obteno dos rendimentos tm expresso relativamente diminuta, e as prestaes deservios que so efetuadas com recursos a estruturas empresariais, em que, portanto,o peso dos gastos bastante mais significativo.

    ii) Sugere-se a harmonizao do coeficiente aplicvel aos subsdios destinados explorao e restantes rendimentos da Categoria B com o coeficiente estabelecidopara as vendas de mercadorias e produtos e para os servios prestados no mbito deatividades hoteleiras e similares, restaurao e bebidas.

    Isto porquanto no se vislumbram razes que justifiquem a existncia de umatributao diferenciada. Prope-se, assim, a reposio da soluo que j vigorou nopassado.

    iii) Sugere-se a clarificao da referncia ao resultado positivo de rendimentos prediais,

    no sentido de que tal rendimento corresponde ao rendimento lquido apurado nostermos previstos na categoria F.

    iv) Sugere-se a introduo de uma norma que visa suprir a lacuna que existerelativamente aos casos em que o contribuinte, tendo, em ano(s) anterior(es), estadoabrangido pelo regime da contabilidade organizada e beneficiado, nos termosprevistos no artigo 48. do Cdigo do IRC, da excluso de tributao de mais-valiaspor ter declarado a inteno de reinvestir, no concretize o reinvestimento e o prazopara tal termine em ano em que est abrangido pelo regime simplificado.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    34/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 33

    Tal como sucede no regime simplificado do IRC, o rendimento tributvel do ano emque se verifica o incumprimento da condio de que ficou dependente a excluso detributao ser acrescido do valor no reinvestido, majorado em 15%.

    v) Sugere-se a introduo de uma norma visando obviar a que, em consequncia dapreconizada reduo dos coeficientes nos dois primeiros anos de atividade, oscontribuintes recorram, de forma sistemtica, a cessaes e reincios de atividadecomo forma de perpetuarem a aplicao de tais redues.

    vi) Sugere-se ainda, no mbito do regime simplificado, a possibilidade de os sujeitospassivos que obtenham rendimentos relativos a prestaes de servios poderemdeduzir os montantes comprovadamente suportados com contribuies obrigatriaspara regimes de proteo social, conexas com as atividades em causa, na parte emque excedam 10% dos rendimentos brutos, quando no tenham sido deduzidas a

    outro ttulo.

    4.1.8 Categoria B - Regime da contabilidadeO artigo 33. do Cdigo do IRS prev um conjunto de gastos que no so dedutveis nadeterminao do rendimento da categoria B.

    Algumas das disposies deste artigo so redundantes, porquanto a no dedutibilidade dedeterminados encargos a mencionados j decorre de disposies do CIRC aplicveis por

    remisso legal.Inversamente, alguns dos encargos previstos neste artigo no sofrem de idntica exclusoem IRC, no se justificando tratamento diferenciado.

    Da que, neste mbito, a alterao proposta visa, a par com a eliminao de normasredundantes, alcanar tambm maior uniformidade de tributao em sede de IRS e IRC.

    4.1.9 Categoria B - Deduo de perdasO prazo previsto para a deduo do saldo negativo apurado num determinado ano relativos operaes previstas nas alneas b), e), f) e g) do n. 1 do artigo 10. de dois anos, sendosignificativamente mais reduzido do que os prazos previstos para os restantes rendimentosda categoria G e das restantes categorias. Neste contexto, prope-se o alargamento do prazode deduo para 5 anos.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    35/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 34

    4.1.10 Categoria B - Reduo da tributao para empreendedores que iniciematividade

    Um dos vetores de desenvolvimento dos trabalhos desta Comisso foi a promoo da

    mobilidade social, procurando-se incentivar a produtividade e a capacidade de iniciativa dostrabalhadores portugueses.

    Neste mbito, prope-se a adoo no IRS das regras de ingresso no regime simplificado,estabelecidos no Cdigo do IRC, nos termos dos quais nos exerccios de arranque deatividade haver uma reduo do lucro tributvel estimado, procurando, tanto quantopossvel, acolher no regime as condies usualmente prevalecentes nestes perodostemporais.

    Desta forma, incentiva-se o empreendedorismo individual e, dessa forma, a mobilidade socialem geral.

    4.1.11 Categorias E e G - ReestruturaoA categoria Erendimentos de capitaisabrange atualmente um conjunto de rendimentoscuja natureza est mais prxima da das mais-valias, na medida em que a sua obteno implicaa extino da fonte geradora.

    Esta circunstncia, para alm de encerrar um desajustamento entre a natureza dosrendimentos e a norma de incidncia aplicvel, conduz a que apenas seja dada relevnciafiscal aos rendimentos positivos (aos ganhos), desconsiderando-se os resultados negativos(as perdas), com prejuzo de princpios enformadores do IRS, como sejam o da tributaopelo rendimento real efetivo e o da capacidade contributiva.

    A Comisso entende que necessrio proceder a uma restruturao das normas de incidnciadas Categorias E e G de forma a corrigir os desajustamentos antes referidos, assegurando-seuma tributao mais justa.

    Neste sentido, prope-se que passem a ser tributados na categoria G, como mais-valias, osrendimentos provenientes de:

    i) Reembolso de obrigaes e outros ttulos de dvida;

    ii) Resgate de unidades de participao em fundos de investimento e da liquidaodestes fundos;

    iii) Cesso de crditos;

    iv) Cedncia de prestaes acessrias e de prestaes suplementares.

  • 8/12/2019 rui duarte morais et al [comisso para a reforma do irs 2014] 2014_ante-projecto da reforma do irs, uma reforma

    36/157

    ANTEPROJETO DA REFORMA DO IRS

    JULHO DE 2014

    Pgina 35

    4.1.12 Categorias E e G - Aperfeioamentos do quadro legalUma das linhas de atuao da Comisso refere-se ao aperfeioamento do atual quadro legal,tendo como objetivos no apenas a sua maior clarificao como, tambm, a supresso de

    situaes de incompletude e de indefinio ora existentes.De seguida explicitam-se os principais desajustamentos que, no mbito destas categorias,foram identificados e tratados pela Comisso.

    4.1.12.1 Lucros distribudosOs lucros distribudos a sujeitos passivos de IRS constituem sempre rendimentos de capitais,pelo que a referncia a lucros das entidades sujeitas a IRC, que consta da alnea h) do n.

    2 do artigo 5. do Cdigo do IRS, suscetvel de conduzir a uma errada interpretao noscasos em que este tipo de rendimentos no seja distribudo por entidades sujeitas a IRC,como, por exemplo, lucros distribudos por sociedades no residentes em territrioportugus.

    Entende-se assim que aquela referncia no tem razo de existir. Com o intuito de meraclarificao, harmonizou-se a redao deste preceito com a terminologia utilizada em sede deIRC.

    4.1.12.2Tributao dos rendimentos decorrentes de warrants autnomosAtualmente, regista-se uma omisso no quadro legal quanto ao tratamento fiscal dosrendimentos decorrentes de operaes relativas a warrants autnomos quando os mesmossejam objeto de disposio anteriormente ao respetivo exerccio.

    Por outro lado, no momento do exerccio, a lei apenas faz referncia s diferenas positivas,o que determina a impossibilidade de compensao das perdas registadas nestes instrumentoscom ganhos da mesma natureza. Tal consubstancia uma injustificada diferena detratamento, no s em relao s perdas relativas a outros valores mobilirios, como,

    tambm, relativamente s perdas decorrentes da alienao de warrantsautnomos.A Comisso entende ser de propor que a lei expressamente preveja as situaes em que oswarrantsautnomos so objeto de negcio de disposio anteriormente ao exerccio e, bemassim, que se igualize o tratamento das perdas ao previsto pa